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GEOLOGIA E PEDOLOGIA AULA 6 Profª Maria Carolina Stellfeld 2 CONVERSA INICIAL Solos são um importante componente da superfície terrestre. É no solo que assentamos as nossas aglomerações, produzimos nossos alimentos e, por vezes, retiramos recursos minerais importantes para a vida moderna. Nesta aula, conheceremos como os solos são formados, suas principais características e quais os fatores que influenciam nessa formação. Saberemos distinguir os principais elementos de um solo, do ponto de vista do seu perfil. Veremos como as ações antrópicas podem ser prejudiciais à conservação dos solos e de que modo elas podem também ser conservadora de solos. TEMA 1 – O QUE É SOLO? A pedologia (do grego, pedon – solo) é a ciência que estuda os solos e que divide espaço com a edafologia, a qual, no entanto, trata da relação dos solos com os seres vivos, plantas, organismo e o homem, visando o desenvolvimento e o cultivo de plantas. Nesta aula, trataremos da parte física do solo – formação e constituição. Essas diferenças trazem variações na definição dos solos, conforme o observador. Para as pessoas, de modo geral, solo é onde pisamos; para os engenheiros, solo é onde se podem erguer construções e para os agrônomos, solo é um meio para o cultivo de plantas. Já para a geologia, solo é o produto da decomposição da rocha, associada ao intemperismo. Portanto, são inúmeras das definições de solo, mas vamos conhecer a do Soil Taxonomy (1975, citado por IBGE, 2007), que é bastante completa e mostra a complexidade do entendimento pedológico: Solo é a coletividade de indivíduos naturais, na superfície da terra, eventualmente modificado ou mesmo construído pelo homem, contendo matéria orgânica viva e servindo ou sendo capaz de servir à sustentação de plantas ao ar livre. Em sua parte superior, limita-se com o ar atmosférico ou águas rasas. Lateralmente, limita-se gradualmente com rocha consolidada ou parcialmente desintegrada, água profunda ou gelo. O limite inferior é talvez o mais difícil de definir. Mas, o que é reconhecido como solo deve excluir o material que mostre pouco efeito das interações de clima, organismos, material originário e relevo, através do tempo. De acordo com essa definição, basicamente o solo é derivado da decomposição por intemperismo dos minerais que compõem as rochas, formando uma camada de material intemperizado sobre rochas sãs, também chamada de regolito. 3 Quando o solo é desenvolvido sobre uma rocha e não há transporte desses sedimentos pela erosão, mantendo a camada de intemperismo no mesmo local em que foi formada, o solo é designado como residual ou autóctone. Quando os solos formados pelo intemperismo são carregados pela erosão e depositam-se em outros sobre outras rochas ou solos, são chamados de solos transportados ou alóctones. Nem sempre é fácil distinguir um solo transportado de um solo residual, mas essa observação é muito importante do ponto de vista geotécnico e de uso do solo. Os solos residuais têm um desenvolvimento de perfil de maneira gradual, já os transportados normalmente apresentam descontinuidades no seu perfil. Uma das feições mais comuns de serem encontradas nessas descontinuidades é a presença da linha de seixos ou stoneline, que corresponde a um horizonte (superfície planar) de fragmentos rochosos, quase sempre compostos por quartzo proveniente de veios ou ainda de carapaças lateríticas – materiais resistentes ao intemperismo. Essa superfície pode ter diferentes gêneses, sendo que as mais comuns são a concentração de cascalhos por escoamento superficial, em uma paleosuperfície, ou uma acumulação residual resultante da dissolução e erosão de partículas mais finas de uma paleosuperfície. Figura 1 – Linha de seixos em perfil de solo, indicada na seta amarela Créditos: Joaquin Corbalan P/Shutterstock. 4 Em relação à composição, o solo contém três porções básicas: • Fração sólida – sedimentos e matéria orgânica; • Fração líquida – água e outras soluções; • Fração gasosa – aeração, gases de decomposição orgânica. A fração sólida é a mais presente, compondo 50% do solo, seguida das fases liquida e gasosa, com 25% cada uma, em média. Esses valores podem variar conforme os tipos de solo e as condições climáticas a que estão submetidos. Uma coisa importante a se notar é que, se existe fase líquida e fase gasosa no solo, é porque ele possui poros. A porosidade de um material está relacionada ao volume não ocupado por partículas sólidas. De modo geral, os poros maiores são ocupados por ar e os menores por água. Após um evento de precipitação, todos os poros ficarão saturados em água, que infiltrará lentamente até voltar a sua condição normal de umidade. Quando falamos em compactação do solo, estamos falando dessa estrutura porosa que quando compactada diminui (por exemplo, a infiltração da água), aumentando o escoamento superficial e diminuindo a recarga do aquífero livre. Além da porosidade, outras características são usadas na identificação e na classificação dos solos e de seus horizontes. A cor do solo pode indicar a presença de óxidos de ferro, quando tem cor avermelhada; ou presença de matéria orgânica quando são escuros. Os técnicos utilizam a Carta de cores Munsell para determinar as cores de solo corretamente, no entanto saber distinguir as diferenças tons amarelados, avermelhados, escuros ou claros é suficiente e fundamental para uma classificação mais assertiva. A textura de um solo está relacionada à granulometria dos componentes minerais do solo, como quantidade de areia, argila ou silte presentes. A textura influencia no comportamento físico-químico dos solos e podemos imaginar o quanto se comporta diferente um solo com uma porção de areia maior em relação a um solo predominantemente argiloso. A estrutura do solo relaciona-se com o arranjo das partículas que compõem o solo. Essas partículas podem estar agregadas ou não, influenciando diretamente o desenvolvimento de raízes e o armazenamento de água. As estruturas podem ser no formato laminar, prismática, coluna, granular ou ainda 5 em blocos angulares ou subangulares, sendo que estes agregados podem variar em seu tamanho e coesão. A consistência do solo é avaliada em função da adesão e da coesão das partículas sólidas, sendo que pode variar de seca a úmida, ou ainda molhada, quando o material adquire plasticidade, adquirindo capacidade de ser moldado ou não, conforme a quantidade e tipo dos argilominerais presentes no solo. A observação de nódulos e concreções também é importante na classificação dos solos e devem ser descritos em função da sua quantidade, tamanhos, formas e natureza. São corpos sólidos cimentados e que se destacam na matriz, diferenciando-se pela organização interna presente nas concreções e ausente nos nódulos. TEMA 2 – FATORES FORMADORES DOS SOLOS A esta altura já conseguimos compreender que a dinâmica interna e externa do planeta são condicionantes das paisagens, de modo geral. Na formação dos solos, isso mais uma vez fica evidente, pois as diferentes características ambientais da dinâmica externa, somada a características minerais provenientes da dinâmica interna são os fatores formadores do solo, representados basicamente pela matéria de origem ou rocha parental, pelo clima – condição climática, relevo – topografia, organismos ou biosfera, além do tempo geológico, que permite os processos pedogenéticos atuarem de maneira mais ou menos intensa. 2.1 Material parental Os minerais que compõem as rochas reagem de modo diferente ao intemperismo. Alguns são mais resistentes, como é o caso do quartzo, que praticamente não se decompõe, e outros muito instáveis, como sais e carbonatos. Na Figura 2, temos a série de Goldich, que mostra a relação da estabilidade do minerais peranteas intempéries. Vale comentar que uma porção dessa série é praticamente o inverso da série de cristalização magmática de Bowen. 6 Figura 2 – Série de Goldich e sua relação com a Série de Bowen Fonte: Teixeira, 2009. Nessa série, podemos ver que os minerais mais resistentes ao intemperismo são os óxidos de ferro e alumínio, justamente por serem produtos de intemperismo de minerais ricos em ferro e alumínio, seguidos do quartzo, que é o último mineral a se cristalizar em uma rocha magmática. Os argilominerais também são produtos de processos pedogenéticos (que serão vistos no próximo tema), e os minerais que os originam (os feldspatos) aparecem logo em seguida. Os minerais ferromagnesianos, apesar de silicáticos, não são muito resistentes ao intemperismo, e vale ressaltar que são os primeiros a se cristalizar. Minerais como calcita e halita (um sal e um carbonato) são altamente suscetíveis ao intemperismo, dissolvendo-se com facilidade na água. Assim, a composição mineralógica também altera a composição da água percolante, podendo variar seu pH e contribuir mais ou menos na dissolução ou precipitação de minerais. Podemos, então, concluir, de maneira simplista, que rochas graníticas – ricas em quartzo – são mais resistentes do que rochas basálticas, ricas em anfibólios. Sempre é bom lembrar que as estruturas e texturas da rocha também irão influenciar como o intemperismo atua naquele material rochoso. 7 2.2 Clima O clima é fundamental na gênese de solos. De maneira individual, é o fator que mais influencia o intemperismo porque é em função da condição climática que o regime pluviométrico e as temperaturas se estabelecem, e já sabemos que a água é fator imprescindível nos processos intempéricos e erosivos. É a quantidade de água que regula, por exemplo, a velocidade das reações químicas dos processos intempéricos e pedogenéticos. Portanto, quanto mais abundante for a quantidade de água e sua renovação no sistema, mais completas serão as reações químicas. A Figura 3 ilustra como os fatores climáticos influenciam os graus de intemperismo das rochas. Percebam que quanto maior a precipitação, mais profundo é o manto de alteração. Isso é bem visível em solos de florestas tropicais como a Amazônia, onde a profundidade dos solos pode atingir dezenas de metros. Assim, podemos sintetizar que em regiões tropicais os processos intempéricos e pedológicos se intensificam, e em regiões desérticas, os solos são menos complexos e mais rasos. Figura 3 – Relação entre os fatores climáticos e a espessura do manto de alteração e os diferentes processos pedogenéticos Crédito: Flávio Oliveira. 8 2.3 Topografia Imagine duas superfícies: uma plana e uma inclinada. Obviamente, na plana qualquer material tem a tendência de permanecer sem se movimentar, enquanto na inclinada o material tende a escorrer ou escoar. É dessa forma que o relevo topográfico influencia na formação dos solos. Em regiões de maiores declividades de encostas, a água escoa com uma velocidade maior, diminuindo seu poder de infiltração e carregando mais sedimentos em seu trajeto, entretanto em áreas mais planas, a água diminui sua velocidade de escoamento, permitindo uma maior infiltração e mantendo os sedimentos no local. Porém, é mister ressaltar que a drenagem das águas que infiltram também é fator importante para o desenvolvimento do perfil pedológico, pois é através do drenagem da água infiltrada que se carregam elementos solúveis para fora do ambiente, favorecendo o intemperismo químico. Assim, áreas planas com um bom poder de infiltração e de drenagem produzem solos mais espessos e evoluídos do que áreas planas e mal drenadas, e áreas íngremes normalmente produzem perfis de solo muito finos e pouco evoluídos, desfavorecendo o intemperismo químico e favorecendo a erosão. Figura 4 – Influência da topografia na intensidade do intemperismo e da erosão Crédito: Flávio Oliveira. 9 2.4 Biosfera A ação de microrganismos, plantas e animais favorece o intemperismo químico, pois eles secretam substâncias que deterioram mais facilmente as rochas. Líquens secretam ácidos sobre as rochas, iniciando processos formadores mais intensos do que se houvesse somente água. A decomposição da matéria orgânica também produz CO2, que diminui o pH do solo, favorecendo alguns processos intempéricos. Esses ácidos orgânicos conseguem ser mais eficientes na retirada de elementos químicos como ferro e alumínio de minerais silicáticos do que a água pura, mostrando que a biosfera é fator preponderante na formação do solo. Figura 5 – Exemplos de animais que contribuem para a formação do solo Crédito: Elias Dahlke. 2.5 Tempo Não menos importante na formação dos solos temos o tempo, que está intrinsecamente ligado aos processos da terra. Sabemos que, ao longo do tempo geológico, a crosta terrestre já foi muito modificada. Desse modo, o tempo 10 também é capaz de produzir solos mais ou menos desenvolvidos, justamente por controlar quanto a duração dos processos intempéricos e pedogenéticos. São admitidos valores entre 20 a 50 milhões de anos para a formação de 1 metro de solo, lembrando que as condições climáticas e a rocha original também têm influência direta nessas taxas de formação de solo. Portanto, quanto mais tempo uma rocha for submetida a fatores formadores de solo, mais complexos serão os solos. Mas é importante observar que, mesmo em condições extremamente favoráveis para os processos intempéricos e pedogenéticos, como alta precipitação, rochas pouco resistentes e topografia adequada, são necessários milhões de anos para constituir um metro de solo. Daí conclui-se que a conservação dos solos é inadiável, visto que é um recurso natural não renovável na escala de tempo humana. Figura 6 – Como o tempo geológico influencia na formação de solos Crédito: Flávio Oliveira. TEMA 3 – PERFIL Durante a aula, já falamos sobre o perfil do solo, mas agora vamos conhecer mais detalhadamente o que é isso. Os solos podem ser analisados levando-se em conta um perfil, que é a representação de seus estratos – horizontes –, em um corte vertical da superfície até a rocha sã, como vemos na Figura 7. 11 Figura 7 – Perfil de solo, com horizontes bem distintos Créditos: Levgenil Meyer/Shutterstock. Um horizonte de solo pode ser compreendido como uma camada de porção sólida (minerais e/ou matéria orgânica) aproximadamente paralela à superfície do terreno e que apresenta características produzidas por processos pedogenéticos. Os horizontes de solo ainda interagem entre si, sendo às vezes a origem ou a causa de outro horizonte. Os horizontes podem ser classificados como horizontes genéticos ou pedogênicos que, como o próprio nome diz, descreve geneticamente o horizonte com uma percepção qualitativa, e em horizonte diagnóstico onde são descritas característica distintivas, de caráter mais quantitativo. De modo geral, as classificações dos perfis baseiam-se nas características distintivas dos horizontes. A seguir, são descritos os principais horizontes encontrados num perfil típico de solo. Ressalta-se que nem sempre todos os horizontes estão presentes num perfil, variando conforme as condições de formação de cada solo. • Horizonte O: de cor escura, com muita matéria orgânica e detritos animais e vegetais. Pode estar saturado de água, sendo então denominado H em alusão a hidromórfico; 12 • Horizonte A: apresenta cores escuras e muita matéria orgânica, porém, com proporção maior de componentes minerais, onde se desenvolvem raízes e outras atividades biológicas. Está logo abaixo do horizonte O, quando este é presente. Aqui também se desenvolve a decomposição de minerais, com destaque para Fe, Al e argilominerais; • Horizonte B: constituído em sua maior parte por minerais argilosos,é espesso quando os solos são desenvolvidos e profundos. Associado à argila, é comum a presença de Fe, Al, Si e acúmulo de óxidos, todos concentrados por processos pedogenéticos; • Horizonte C: por ser pouco afetado pelos processos pedogenéticos, guarda semelhança com a rocha de origem, principalmente em relação à cor e às vezes à estrutura da rocha. Pode ser chamado de saprolito. Tendo em vista as condições de horizonte C, podem ser formados os horizontes acima dele, ou seja, o material parental começa a ser afetado pelo intemperismo, iniciando os processos formadores do solo; • Horizonte R: corresponde à rocha sã, ou seja, que não sofreu intemperismo nem processos pedogenéticos. Nem sempre esse horizonte é uniforme, pois depende de a rocha-mãe ter estruturas ou não que o intemperismo pode ter atacado. No entanto, para questões de distinção, nesse horizonte predomina a rocha sem alteração. Quando nos deparamos com um perfil de solo, é necessária a compreensão desses horizontes para entendermos as características de cada tipo de solo. Nesse sentido, uma descrição de solo deve incluir a descrição dos perfis, com uma descrição dos seus parâmetros morfológicos. 13 Figura 8 – Representação esquemática dos tipos de horizontes em um perfil de solo típico Créditos: Amadeu Blasco/Shutterstock. TEMA 4 – PROCESSOS PEDOGENÉTICOS Processos pedogenéticos são derivados dos fatores de formação de um solo, ou seja, cada fator de formação de solo desencadeia reações e mecanismos físicos, químicos e biológicos, que vão originar os diferentes tipos de solos e seus horizontes distintos. Esses processos são divididos em múltiplos e específicos. Os processos múltiplos são divididos em quatro categorias: processos de adição, de remoção, de translocação e de transformação. 14 Figura 9 – Processos pedogenéticos múltiplos Créditos: Elena Arkadova/Shutterstock. As adições são processos que somam elementos provenientes do ambiente de modo geral. A maior parte das adições é proveniente da biota, principalmente da parte aérea e raízes de plantas e excrementos de animais, assim como sedimentos trazidos pela água ou vento. Elementos químicos 15 ionizados, nitrogênio capturado da atmosfera, fertilizantes e corretivos também podem fazer parte dos processos de adição de matéria ao solo. Já os processos de remoção são aqueles que subtraem matéria do solo. Destacam-se os sais, lixiviados e eluviados, assim como sedimentos levados pela erosão. A perda de sílica em solos bem desenvolvidos também é um importante processo pedogenético de remoção, assim como a absorção de nutrientes pelas plantas. Deve-se ter em conta que os materiais que são retirados em um horizonte podem ser depositados em outro ou serem levado para fora do sistema. Processos pedogenéticos de translocação são aqueles em que as trocas de material se dão dentro do sistema (ou do perfil), sendo que não há nem adição nem subtração de substâncias, e estão associados à manutenção da água no perfil, seja por uma precipitação inadequada ou por drenagem ruim, provocando uma demora nos processos de lixiviação e percolação da água no solo, originando a movimentação de partículas entre os horizontes. A argila notadamente é um material que está envolvido em processos de translocação, sendo movimentada para cima ou para baixo no perfil, conforme os fatores formadores atuam. Do mesmo modo, o produto da decomposição da matéria orgânica e sesquióxidos de ferro e alumínio são comuns em processos de translocação, acumulando-se e dando origem a outros horizontes diagnósticos. Por fim, os processos múltiplos de transformações podem ser de caráter físico ou químico. Os de caráter físico relacionam-se à formação da estrutura do solo por processos de mudança de volume por presença ou não de água, além do efeito do crescimento de raízes e de bioturbação. As transformações químicas estão ligadas aos processos de intemperismo químico como a oxidação e a redução, assim como os processos de dissolução, hidratação e hidrólise. Essas transformações causam a alteração química das rochas (o verdadeiro intemperismo), fornecendo as mudanças químicas e elementos que farão parte dos processos pedogenéticos. Os processos específicos tratam cada mudança ocorrida no solo de maneira individualizada, como a silicificação, que é acúmulo de sílica em determinado horizonte, ou a ferruginização, que é a oxidação dos minerais de ferro – a conhecida ferrugem. O quadro a seguir lista os processos pedogenéticos específicos, relacionando aos processos múltiplos uma breve descrição de cada um e o exemplo de ocorrência. 16 Quadro 1 – Processos pedogenéticos Processos pedogenéticos específicos Processos múltiplos Descrição resumida do processo Exemplo de ocorrência Ferralitização Remoção, transformação e translocação Remoção de sílica e concentração de óxidos de Fe e Al. Latossolos, Nitossolos, caráter ácrico Silicificação Transformação e translocação Migração e acúmulo de sílica cimentando estruturas ou a matriz do solo Latossolos e Argissolos Amarelos coesos Plintitização e laterização Transformação e translocação Redução e translocação de Fe e oxidação e precipitação originando mosqueados, plintita ou petroplintita Plintossolos Lessivagem ou argiluviação Translocação Migração vertical de argila no solo Argissolos, Luvissolos, horizontes E, lamelas Podzolização Transformação e translocação Migração de complexos de Fe, Al e matéria orgânica no solo com acúmulo em horizonte iluvial, com ou sem sílica Espodossolos, Ortstein Gleização Remoção, transformação e translocação Redução de Fe em condições anaeróbias e translocação formando horizontes acinzentados com ou sem mosqueados Gleissolos, Planossolos Calcificação ou carbonatação Translocação Acumulação de CaCO3 com nódulos ou horizonte endurecido Luvissolos, Chernossolos Rêndzicos Ferrólise Remoção, transformação e translocação Destruição de argila com formação de horizonte B textural Planossolos, Argissolos Salinização Translocação Acumulação de sais por evaporação no horizonte superficial ou na superfície do solo Gleissolos sálicos Sulfurização ou tiomorfismo Transformação e translocação Acidificação do solo causada pela oxidação de compostos de enxofre Gleissolos Tiomórficos Fonte: Kämpf; Curi, 2012. TEMA 5 – USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E SUA CONSERVAÇÃO Solos são estruturas presentes em todo o globo, com diversas características e ambientes, e todos têm fragilidades naturais. Além disso, os solos são um recurso natural não renovável, ao menos na escala de vida humana. Desse modo, práticas sustentáveis devem ser norteadoras para o uso e ocupação do solo. Aqui cabe lembrar do conceito de paisagens e perceber que cada tipo de solo pode originar um tipo de paisagem, como num equilíbrio natural de desenvolvimento natural de acordo com as situações que ocorrem naquele espaço. Quando falamos de ocupação antrópica, tanto rural quanto urbana, ela 17 sempre vai alterar o equilíbrio de uma paisagem e, consequentemente, dos solos que ela apresenta. Situações como o desmatamento expõem os solos a diferentes fatores que reduzem os nutrientes presentes, deixando um solo pobre, num processo chamado de lixiviação. Mas a redução se dá também em nível não só de elementos químicos que denotam fertilidade a um solo, mas também nos próprios sedimentos. A exposição do solo a gotas de chuva desagrega as partículas que são carregadas para outros locais, causando o que chamamos de erosão laminar. Se o desmatamento se segue com a produção de pecuária extensiva, o pisoteamento compacta o solo, diminuindo a porosidade, mudando sua estrutura e muitas vezes reduzindo também a infiltração da água, além de prejudicaro desenvolvimento da biota do solo. A diminuição de infiltração dos solos também é causada pela impermeabilização do solo, principalmente em paisagens urbanas. São necessárias ações mais efetivas para que o escoamento superficial não seja intensificado com a impermeabilização. Alternativas de infiltração artificial de águas pluviais ajudam a recompor o escoamento subterrâneo, diminuindo o volume do escoamento superficial. Além da impermeabilização do solo, ocupações urbanas desordenadas, principalmente em áreas de recarga – ou de mananciais – podem poluir as áreas de recarga do lençol freático, prejudicando o abastecimento de água. Ortogonalmente, o uso consciente do solo traz benefícios imensuráveis, como a garantia dos serviços ambientais e o equilíbrio das funções sistêmicas que os solos garantem para o ambiente. A gestão ambiental de áreas degradas identifica o tipo de degradação e suas extensões, apontando soluções para a recuperação de áreas degradadas usando técnicas de manejo e conservação, transformando paisagens degradadas novamente em paisagens equilibradas do ponto de vista ambiental. Este deve ser o mote das ações de uma área que estuda técnicas para recuperar áreas em que o uso do solo foi degradante. Portanto, mesmo que o uso do solo tenha sido de algum modo degradante, sempre é tempo de recuperar o ambiente. 18 Mesmo assim, a consciência de que o solo é um recurso natural não renovável e precisa de conservação é premissa para o desenvolvimento sustentável, que é papel de todo profissional das geociências. Figura 10 – O uso e a ocupação do solo conscientes são fundamentais para a conservação do solo e da vida Créditos: 89Stocker/Shutterstock. NA PRÁTICA Busque o mapa das províncias estruturais brasileiras e veja em qual delas está inserido o município onde você mora. Estude as principais características dessa província e encontre seus crátons, bacias e faixas presentes. FINALIZANDO Hoje vimos onde o território brasileiro está situado em termos globais, em relação às placas tectônicas. Vimos as grandes estruturas geológicas do país, que são divididas em províncias estruturais, ou seja, regiões com semelhanças em sua gênese geológica. Vimos, em maiores detalhes, os grandes grupos estruturais que fazem parte do Brasil. E também entendemos a importância da geologia e das geociências em relação ao desenvolvimento sustentável dos seres humanos no planeta Terra. 19 REFERÊNCIAS ÄMPF, N.; MARQUES, J. J.; CURI, N. Mineralogia dos solos brasileiros. In: KER, J. C. et al. (Eds.). Pedologia: fundamentos. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2012. p. 81-145. EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Formação do solo. Embrapa, S.d. Disponível em: <https://www.embrapa.br/solos/sibcs/formacao- do-solo>. Acesso em: 14 out. 2021. IBGE – Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia. Coordenação de Recursos Naturais e Estudos Ambientais. 2019. Províncias estruturais, compartimentos de relevo, tipos de solos e regiões fitoecológicas. Rio de Janeiro: IBGE, 2019. _____. Manual técnico de pedologia. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. (Manuais técnicos em Geociências, n. 4). TEIXEIRA, W. et al. 2009. Decifrando a Terra. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009.