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Fu n ciona l ismo: 
Sua F u ndação 
e S u a Evol uçã o 
A Evolução Chega aos 
Estados Unidos 
Por volta de 1900, a psicologia nos Estados Unidos havia 
assumido um caráter próprio, distinto da psicologia de 
Wundt e do estruturalismo de Titchener, já que nenhum 
dos dois se preocupava com o objetivo ou com a utilidade 
das funções da consciência.:. O movimento funcionalista 
�eriva<ig dos tra11�Jhg_s de_QMW.D-�. Galton coÍlç�ntrava-sé 
no moaus operandi dos processos conscientes e não na 
estrutura ou no conteúdo. Para realizar um estudo do 
desenvolvimento formal 
'da psicologia funcional como 
uma escola de pensamento, é necessário passarmos da 
Inglaterra para os Estados Unidos do final do século XIX e 
início do XX. 
Por que a psicologia funcional prosperou nos Estados 
Unidos e não na Inglaterra, o berço do espírito funciona­
lista? A explicação está no temperamento americano, nas 
suas características sociais, econômicas e políticas ímpa­
res. O Zeitgeist americano estava pronto para aceitar a 
evolução e a atitude funcionalista dela derivada. 
il A Evolução Chega aos 
Estados Unidos 
Herbert Spencer (1 820-1903) 
O Darwinismo Social 
A Filosofia Sintética 
A Evolução Contínua das 
Máquinas 
Henry Hollerith e os Cartões 
Perfurados 
William James (1 842-
1 91 O): o Precursor da 
Psicologia Funcional 
A Biografia de ]ames 
Os Princípios da Psicologia 
O Objeto de Estudo da 
Psicologia: a Nova Visão 
sobre a Consciência 
Texto Original: Trecho sobre 
a Consciência, Extraído 
de Psychology (Briefer 
Course) (1892), de 
William ]ames 
Os Métodos da Psicologia 
O Pragmatismo 
A Teoria das Emoções 
O Hábito 
A Desigualdade Funcional 
das Mulheres 
Mary Whiton Calkins (1863-
1930) 
Helen Bradford Thompson 
Woolley (1874-1947) 
Leta Stetter Hollingworth 
(1886-1939) 
1 5 1 
1 5 2 H iSTÓRIA DA PSICOLOGIA MODERNA 
I 
A Fundação do 
Funcionalismo 
A Escola de Chicago 
John Dewey (1 859-1952) 
O Arco Reflexo 
Comentários 
)ames Rowland Angell 
(1 869-1 949) 
A Biografia de Angell 
A Esfera de Ação da 
Psicologia Funcional 
Comentários 
Harvey A. Carr (1 873-1 954) 
Funcionalismo: o Formato 
Final 
O Funcionalismo na 
Columbia University 
Robert Sessions 
Woodworth (1 869-1962) 
A Biografia de Woodworth 
A Psicologia Dinâmica 
As Críticas ao 
Funcionalismo 
As Contribuições do 
Funcionalismo 
Herbert Spencer (7820- 1903) 
Em 1882, Herbert Spencer, um filósofo inglês autodidata 
de 62 anos que costumava usar protetores de orelhas para 
proteger os pensamentos das interferências externas, che­
gou aos Estados Unidos e acabou sendo aclamado herói. 
Spencer foi recebido em Nova York por Andrew Carnegie, 
o multimilionário patriarca da indústria siderúrgica ame­
ricana. Carnegie costumava chamar o filósofo de messias 
e, aos olhos de vários líderes americanos da economia, 
ciência, política e religião, Spencer era um verdadeiro sal­
vador. Diversos jantares e festas foram promovidos em 
sua homenagem. 
Batizado de "nosso filósofo" por Charles Darwin, seu 
impacto no cenário americano foi monumental. Dotado 
de mente prolífera, produzia grande quantidade de 
livros, muitos dos quais ditados a uma secretária entre 
sets de partidas de tênis ou durante passeios em um barco 
a remo. Seus trabalhos foram publicados em série nas 
revistas populares, milhares de cópias dos seus livros 
foram vendidas e seu sistema de filosofia foi ensinado em 
quase todas as disciplinas universitárias. Seu biógrafo 
observou que Spencer "atingiu as universidades america­
nas no início da década de 1860 como um raio, dominan­
do-as por 30 anos" (Peel, 1971 . p. 2). Suas idéias atraíram 
pessoas de todos os níveis sociais e influenciaram uma 
geração de americanos. Se a televisão já tivesse sido in­
ventada, ele teria aparecido em vários programas de 
entrevista e se tornado alvo de muita publicidade e noto­
riedade. Teria escrito. mais obras se não fosse acometido 
por uma neurose aos 35 anos, agravada pela presença de 
pessoas indesejáveis e pela interrupção de sua rotina diá­
ria. Os protetores de orelha asseguravam que ele não fosse 
perturbado por vozes, permitindo assim que trabalhasse 
com tranqüilidade. Entretanto, sempre que se sentia per­
turbado por interferências externas, queixava-se de insô­
nia, palpitações cardíacas e indisposição estomacal. Assim 
como Darwin, seus males físicos começaram exatamente 
quando ele deu início ao desenvolvimento do sistema ao 
qual acabou dedicando a vida inteira. 
O Darwinismo Social 
A filosofia que rendeu a Spencer o reconhecimento e a 
aclamação foi o darwinismo - a noção da evolução e da 
sobrevivência do mais apto. Spencer levou a teoria muito 
mais adiante do que o próprio Darwin. 
CAPÍTULO 7 FUNCIONALISMO: SUA FUNDAÇÃO E SUA EVOLUÇÃO 1 53 
O interesse na teoria de Darwin nos Estados Unidos era muito grande � suas idéias 
foram aceitas com entusiasmo. O evolucionismo foi abarcado não apenas pelas univer­
sidades e sociedades científicas, como também pelas revistas populares e até' mesmo por 
algumas publicações religiosas. 
Spencer alegava ser evolucionário o desenvolvimento de todas as espécies, inclusive 
do caráter humano e das instituições sociais, em conformidade com o princípio da 
"sobrevivência do mais apto" (expressão cunhada por ele). Essa ênfase na aplicação da 
teoria evolucionista à natureza humana e à sociedade é que se constituiu no denomina­
do darwinismo social, recebido com muito entusiasmo nos Estados Unidos. 
Na visão utópica de Spencer, se o princípio da sobrevivência do mais apto operasse 
com liberdade, apenas os melhores sobreviveriam. Portanto, a perfeição humana seria 
inevitável, caso nenhuma ação interferisse na ordem natural das coisas. O individualis­
mo e o sistema econômico do laissez-faire eram vitais, ao passo que a interferência gover­
namental na economia e no bem-estar da população (com subsídios à educação, moradia 
e pobreza) era uma força contrária. 
A população, as organizações e a sociedade deveriam ter liberdade para se desenvol­
ver por contra própria, utilizando-se de meios próprios, do mesmo modo que as demais 
espécies vivas se desenvolviam e adaptavam-se livremente ao ambiente natural. Qualquer 
auxílio do Estado interfere no processo evolutivo natural. As pessoas, os programas, a eco­
nomia ou as instituições que não se adaptassem eram considerados inaptos para sobre­
viver e deviam perecer (tornarem-se "extintos"), para a melhoria de toda a sociedade. Se 
o Estado continuasse a sustentar empresas que não funcionassem bem, elas conseguiriam 
sobreviver, mas acabariam enfraquecendo a sociedade, violando a lei básica natural de 
que apenas o mais forte e mais apto deve sobreviver. Mais uma vez, a idéia de Spencer 
era que somente com a sobrevivência dos melhores a sociedade atingiria a perfeição. 
Essa mensagem era compatível com o espírito individualista americano e as expres­
sões "sobrevivência do mais apto" e "a luta pela existência" rapidamente passaram a 
fazer parte da consciência nacional. ]ames J. Hill, o magnata da indústria ferroviária, rei­
terou a mensagem de Spencer: "O êxito das companhias ferroviárias é determinado pela 
lei da sobrevivência do mais apto". E John D. Rockfeller declarou: "O crescimento das 
grandes empresas é apenas o resultado da sobrevivência do mais apto" (Hill e Rockefeller 
apud Hofstadter, 1992, p. 45). A expressão refletia claramente a sociedade norte-america­
na do final do século XIX, ou seja, os Estados Unidos consistiam um exemplo vivo das 
idéias de Spencer. 
Essa nação pioneira estava sendo formada por sérios trabalhadores que acredita­
vam na livre iniciativa, na auto-suficiência e na independência da interferência do 
Estado. E eles conheciam bem de perto a lei da sobrevivência do mais apto no seu dia­
a-dia. A terra estava disponível para os dotados de coragem, sagacidade e habilidade 
para tomá-la e transformá-la no seu meio de vida. Os princípios da seleção natural 
eram claramente demonstrados nas experiências diárias, principalmentena fronteira 
oeste dos Estados Unidos, onde a sobrevivência e o sucesso dependiam da capacidade 
de adaptação do homem às difíceis condições e exigências do ambiente; quem não se 
adaptou não sobreviveu. 
O historiador americano Frederick ]ackson Turner descreveu assim os sobreviventes: 
Aquela rudeza e força combinadas com a agudeza e curiosidade; aquela mentalidade prá­
tica engenhosa e astuta para encontrar recursos; aquele hábil domínio das coisas mate-
1 54 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA MODERNA 
riais ( ... ) poderoso para realizar grandes feitos; aquela energia incansável e agitada; aque­
le individualismo dominante. (Turner, 1947, p. 235.) 
Os americanos eram voltados ao prático, útil e funcional. Os estágios iniciais da psi­
cologia americana refletiram essas qualidades. Por essa razão, a teoria evolucionista foi 
mais bem aceita nos Estados Unidos do que em outras nações. A psicologia americana 
transformou-se em uma psicologia funcional porque a evolução e o espírito funcional 
eram compatíveis com esse temperamento básico, assim como a compatibilidade entre 
a visão de Spencer e o ethos americano permitiu que seu sistema fiiosófito influenciasse 
todos os campos do conhecimento. O famoso pastor americano Henry Ward Beecher 
escreveu a Spencer, dizendo: "As condições peculiares da sociedade americana permiti­
ram que seus escritos produzissem efeitos mais rápidos aqui do que na Europa" (Beecher, 
apud Hofstadter, 1992, p. 3 1) . 
A Filosofia Sintética 
Spencer formulou um sistema denominado filosofia sintética. (Ele usou a palavra "sin­
tética" no sentido de sintetização ou combinação e não com o significado de algo artifi­
cial ou não natural.) Ele baseou esse sistema amplamente abrangente na aplicação dos 
princípios evolucionistas ao conhecimento e à experiência humana. Suas idéias foram 
publicadas em uma série de 10 livros, entre 1860 e 1897. Os volumes foram considera­
dos pelos principais intelectuais da época um trabalho de gênio. Conwy Lloyd Morgan 
escreveu a ele, dizendo: "A nenhum outro mestre intelectual devo tanta gratidão quan­
to ao senhor". Alfred Russel Wallace batizou seu primeiro filho com o nome de Spencer. 
Darwin disse, após ler um dos livros de Spencer, que ele "era uma dúzia de vezes supe­
rior a mim" (apud Richards, 1987, p. 245). 
Filosofia sintética: a idéia de Spencer que atribui a explicação sobre o conhecimento e a experiên­
cia aos princípios do evolucionismo. 
Dois volumes da filosofia sintética constituíram a obra The Principies of Psychology, 
publicada inicialmente em 1855, mais tarde adotada por William James como livro-base 
para o primeiro curso de psicologia que lecionou em Harvard. Nesse livro, Spencer dis­
cute a noção de que a forma atual da mente é resultado dos esforços passados e contí­
nuos na adaptação a diversos ambientes. Ele enfatizava a natureza adaptável dos processos 
nervosos e mentais e afirmava que uma complexidade crescente de experiência - e 
assim de comportamento - faz parte do processo normal de evolução. O organismo pre­
cisa se adaptar ao ambiente se desejar sobreviver. 
O História On-/ine 
http:/ /www.utm.edu/research/iep/s/spencer.htm 
Esse site contém informações sobre a vida e o trabalho de Spencer, além de 
uma análise de suas contribuições e uma bibliografia. 
CAPiTULO 7 FUNCIONALISMO: SuA FUNDAÇÃO E SUA EvOLUÇÃO 1 5 5 
A Evolução Contínua das Máquinas 
_. ... . .-' ; 
Observou-se no Capítulo 2 que as máquinas, assim como os seres humanos, precisam 
adaptar-se ao ambiente para sobreviverem. Esse processo contínuo de adaptação e evolu­
ção aplica-se prirtcipalmente às máquinas destinadas a copiar ou a imitar o funcionamen­
to cognitivo humano. Por volta do final do século XIX, o tipo de máquina calculadora de 
Babbage não era mais adequado. Os cálculos realizados por dispositivos mecânicos ou por 
meios humanos exigiam máquinas cada vez mais adequadas. Um fato que exemplificou 
essa necessidade foi o censo populacional norte-americano de 1890. 
O censo realizado 10 anos antes fora tão complexo que levou sete anos para ser con­
cluído. Cerca de 1 .500 funcionários computaram a mão dados referentes a idade, sexo, 
etnia, residência e outras características (que esperavam obter) de cada cidadão america­
no. Os resultados foram compilados em um relatório de mais de 21 mil páginas. Nesse 
intervalo, a população cresceu tão rapidamente que era óbvia a necessidade de uma 
mudança nos procedimentos ou, do contrário, o censo de 1890 não seria concluído 
antes de 1900, já no início do censo seguinte. Havia a necessidade de uma nova e avan­
çada máquina processadora de informações. 
Henry Hollerith e os Cartões Perfurados 
Henry Hollerith (1859-1929) foi o engenheiro que desenvolveu a nova e avançada forma 
de processar as informações. Dois historiadores sobre a origem dos computadores descre­
veram a inovadora criação de Hollerith dizendo que seu método 
registrava as respostas dos questionários de cada cidadão em uma fita de papel com um 
padrão de perfuração ou em um conjunto de cartões perfurados, parecidos com os utili­
zados para a gravação de músicas dos pequenos órgãos de exposição (como os pianos] 
daquela época. Desse modo, era possível utilizar uma máquina para contar automatica­
mente os orifícios e tabular os resultados. (Campbell-Kelly e Aspray, 1996. p. 22.) 
Hollerith utilizou 56 milhões de cartões para computar os resultados obtidos de 62 
milhões de pessoas. Cada cartão tinha capacidade para armazenar o equivalente a até 36 
bytes de 8 bits de informações (Dyson, 1997). 
Assim, o censo norte-americano de 1890 produziu mais informações do que se havia 
acumulado até então e, em apenas dois anos, rendeu uma economia de 5 milhões de 
dólares em comparação com o método de tabulação manual. O sistema de cartão perfu­
rado de Hollerith alterou radicalmente o processamento desse tipo de informação e reno­
vou as esperanças (e os temores) de que as máquinas, com o tempo, seriam capazes de 
reproduzir o funcionamento cognitivo humano. Um artigo na revista Scientific Arnerican 
foi publicado com o seguinte título "How strips of paper can endow inanimate machi­
nes with brains of their own" (Como tiras de papel podem dotar as máquinas inanima­
das de mentes próprias) (Dyson, 1997) . 
Em 1896, Hollerith estabeleceu a própria empresa, a Tabulating Machine Company, 
que foi vendida em 1911 . A nova corporação, a Computing-Tabulating-Recording 
Company, foi rebatizada em 1924, sendo hoje a famosa IBM. 
1 5 6 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA MODERNA 
William James (784 2- 79 7 0): o Precursor da 
Psicologia Funcional 
Tanto o próprio William ]ames como o seu papel na psicologia americana são muito 
paradoxais. Seu trabalho foi o principal precursor americano da psicologia funcional e 
ele foi o pioneiro da nova psicologia científica desenvolvida nos Estados Unidos. Uma 
pesquisa realizada pelos historiadores da psicologia 80 anos após a morte de ]ames reve­
lou que ele era considerado a segunda figura mais importante da psicologia, perdendo 
apenas para Wilhelm Wundt, além de ser apontado como o principal psicólogo ameri­
cano (Korn, David, e Davis, 1991). 
No entanto, alguns colegas de ]ames o consideravam uma força contrária ao desen­
volvimento da psicologia científica. Ele mantinha um notório interesse em assuntos 
como telepatia, clarividência, espiritismo, comunicação com os mortos em sessões espí­
ritas e outros fatos místicos. Os psicólogos americanos, como Titchener e Cattell, critica­
vam a sua entusiástica exposição a esses fenômenos psíquicos e mentalísticos que eles, 
como psicólogos experimentais, estavam tentando banir do campo. 
]ames não fundou nenhum sistema formal de psicologia ou sequer teve algum dis­
cípulo; não houve uma escola de pensamento "jamesiana". Embora a forma de psicolo­
gia a ele associada fosse uma tentativa de ser científica e experimental, a própria atitude 
e as realizações de ]ames não eram experimentalistas. A psicologia, que um dia ele cha­
mara de "pequena ciênciadetestável", não era a sua paixão eterna, como era para Wundt 
e Titchener. ]ames trabalhou com a psicologia durante algum tempo e depois mudou sua 
área de interesse. 
Nos últimos anos da vida, esse homem complexo e fascinante, que tanto contribuí­
ra para a psicologia, acabou deixando-a de lado. (Em uma ocasião, quando ia realizar 
uma palestra na Princeton University, pediu para que não fosse apresentado como psi­
cólogo.) Ele até insistia em afirmar que a psicologia não passava de "uma elaboração do 
óbvio". Mesmo que com a sua ausência a psicologia não deixasse de seguir adiante, e às 
vezes cambaleante, ]ames ocupou o seu lugar e teve a sua importância garantida na his­
tória da psicologia. 
]ames não fundou a psicologia funcional, mas apresentou de forma clara e eficaz as 
suas idéias dentro da atmosfera funcionalista impregnada na psicologia americana. 
Dessa forma, influenciou o movimento funcionalista, inspirando as gerações posteriores 
de psicólogos. 
A Biografia de James 
William ]ames nasceu no Astor House, um hotel da cidade de Nova York, em uma famí­
lia destacada e rica. Seu pai (naquela época, o segundo homem mais rico dos Estados 
Unidos) dedicou-se com entusiasmo, embora de forma inconsistente, à educação dos 
filhos, que alternava entre a Europa e os Estados Unidos. Assim, os anos escolares iniciais 
de ]ames foram passados na Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Suíça e nos Estados 
Unidos. Essas experiências estimulantes expuseram ]ames às vantagens culturais e inte­
lectuais da Inglaterra e do restante da Europa. 
Durante toda a sua vida, ]ames viajou muitas vezes para o exterior. O método favo­
rito do pai para tratar das pessoas doentes da família era mandá-las para a Europa, e não 
CAPÍTULO 7 FUNCIONALISMO: SUA FUNDAÇÃO E SUA EVOLUÇÃO 157 
para o hospital. E a sua mãe dispensava atenção e carinho aos filhos somente quan­
do estavam doentes. Talvez não fosse surpresa o fato de ]ames dificilmente apresen-
tar boa saúde. "'" ' ' 
Embora o velho ]ames não esperasse que nenhum dos filhos se preocupasse em 
ganhar a vida, incentivou o interesse precoce de William pela ciência. Deu-lhe um jogo 
de química contendo um "bico de Bunsen e pequenas amostras de líquidos estranhos 
que, para desgosto do pai, misturava, aquecia e transfundia, manchando os dedos e as 
roupas, chegando até a provocar perigosas explosões" (Allen, 1967, p. 47). 
Com 18 anos, ]ames decidiu tornar-se artista, e seis meses no ateliê do pintor 
William Hunt em Newport, Rhode Island, convenceram-no de que, apesar da boa técni­
ca, não era dotado de talento suficiente para tornar-se um grande artista. Desistiu da car­
reira e acabou matriculando-se na Lawrence Scientific School em Harvard. Nessa época 
estourava a guerra civil americana e, mais tarde, ]ames confessou que desejara servir o 
exército, mas o pai o proibira, alegando não existir nenhum governo ou qualquer outra 
causa que valesse a vida como sacrifício.! 
Pouco tempo depois de chegar a Harvard, começou a perder a autoconfiança e a 
saúde, transformando-se em uma pessoa extremamente neurótica para o resto da vida. 
Abandonou o interesse pela química, aparentemente em função da precisão exigida no 
trabalho laboratorial, e tentou prosseguir com a medicina que, no entanto, não lhe des­
pertava muito interesse, tal como comentou: 
Há muito farsante nesse meio. ( ... ) Exceto nas cirurgias, em que às vezes é possível obter 
algum resultado positivo, o médico realiza mais pelo efeito moral da sua presença diante 
do paciente e da sua família do que por qualquer outro motivo, além de poder extrair -lhe 
o dinheiro. Games apud Allen, 1967, p. 98.) 
]ames abandonou a medicina para auxiliar o zoólogo Louis Agassiz em uma expedi­
ção à bacia do rio Amazonas, para colher espécies de animais marinhos. A viagem deu­
lhe a oportunidade de ter uma amostra da carreira na biologia, mas logo percebeu que 
não conseguiria suportar a precisão das coletas e da classificação das espécies, bem como 
as exigências físicas do trabalho de campo. Em uma carta que escreveu para a família, 
disse: "Minha vinda foi um erro. Estou definitivamente convencido de que sou talhado 
para a elaboração teórica e não para o trabalho de campo" (apud Simon, 1998, p. 93). 
Essa reação ao trabalho científico na química e na biologia professava a sua posterior 
aversão pela experimentação no campo da psicologia. 
Embora a viagem ao Brasil, em 1865, não conseguisse tornar a medicina de alguma 
forma atraente para ]ames, ele relutou mas acabou retomando os estudos médicos por 
não haver nenhuma outra área que lhe despertasse o interesse. Estava freqüentemente 
doente, queixando-se de depressão, problemas digestivos, insônia, dificuldades visuais e 
dores nas costas. "Era óbvio que ele estava sofrendo de América; a Europa era a única 
cura." (Miller e Buckhout, 1973, p. 84). 
]ames recuperou-se em um balneário na Alemanha, dedicando-se à literatura e escre­
vendo longas cartas aos amigos, mas a depressão persistia. Freqüentou aulas de psicolo­
gia na University of Berlin que o levaram a refletir que talvez fosse chegada a hora de a 
"psicologia começar a se tornar ciência" (apud Allen, 1967, p. 140). Também afirmou 
1 Seu irmão Henry james também não serviu na guerra, mas outros dois irmãos mais novos serviram. 
1 5 8 HiSTÓRIA DA PSICOLOGIA MODERNA 
que, se sobrevivesse à doença e conseguisse suportar o inverno, desejava aprofundar os 
estudos de psicologia com o grande Helmholtz e, usando exatamente estas palavras, com 
um homem chamado Wundt. Sobreviveu ao inverno, mas não conheceu Wundt naque­
la época. No entanto, o fato de ter ouvido falar de Wundt mostra a consciência que ele 
tinha das tendências científica e intelectual, mesmo 10 anos antes de Wundt fundar seu 
laboratório. 
]ames conseguiu formar-se em medicina na universidade de Harvard em 1 869, mas 
sua insegurança e depressão pioravam. Acometido de males indeterminados e medos ter­
ríveis, chegou a pensar em suicídio. Seu pavor era tão imenso que não conseguia sair de 
casa sozinho à noite. Internou-se em uma clínica de repouso em Somerville, Massa­
chusetts, mas nenhum tratamento era capaz de aliviar seu sofrimento (Townsend, 1996) . 
]ames não era a única pessoa a sofrer desse mal naquela época. 
Uma epidemia de neurastenia. O neurologista americano George Beard cunhou o 
termo "neurastenia" para referir-se a um estado nervoso peculiar do americano. Listou 
uma variedade de sintomas como insônia, hipocondria, dor de cabeça, erupções cutâ­
neas, cansaço nervoso e um estado que chamou de colapso cerebral (Lutz, 1991). ]ames 
chamou a síndrome de "americanite" (Ross, 1991) . 
Durante a segunda metade do século XIX, aquilo que muitos observadores chamaram de 
"epidemia de neurastenia" varria as classes mais altas. ( ... ) Neurastenia era, literalmente, 
a falta de força nervosa, ou seja, depressão paralisante e perda de ânimo. Os mais educa­
dos e conscientes eram os que tinham mais chances de sucumbirem. O adiamento na 
escolha da carreira tornou-se uma experiência comum entre esses filhos problemáticos 
da burguesia. (Lears, 1987, p. 87.) 
Muitos \amigos, parentes e colegas de ]ames sofriam desses sintomas debilitantes. 
Um amigo escreveu-lhe, dizendo: "Fico imaginando se alguém na Nova Inglaterra tenha 
conseguido chegar aos 35 anos sem pensar em suicídio". E James respondeu: "Creio não 
haver nenhum intelectual que não haja flertado com a idéia do suicídio" (apud 
Townsend, 1996, p. 32-33). A condição estava tão disseminada entre o segmento mais 
rico e intelectual da sociedade americana que uma revista foi lançada com o título de 
Anybody Who Was Anybody Was Neurasthenic (Miller, 1991). Obviamente, William ]ames 
estava bem acompanhado. 
A indústria farmacêutica Rexall tirou proveito da oportunidade criada por essa doen­
ça, introduzindo um remédio patenteado com o nome de Americanitis Elixir (Elixir para 
Americanitis), recomendado para distúrbios nervosos, fadiga e todos os problemas cau­
sadospela americanite (Marcus, 1998). 
As mulheres que sofriam desse mal, claramente as intelectuais e feministas, eram 
aconselhadas a "passar seis semanas ou mais de cama, sem executarem qualquer traba­
lho, leitura ou atividade social e ganhar muito peso por meio de uma dieta à base de 
muita gordura". Os homens não precisavam se submeter a um tratamento tão rígido 
assim. O conselho para eles incluía "viagens, aventuras [e] muito exercício físico" 
(Showalter, 1997, p. 50, 66). 
Descobrindo a psicologia. No período de depressão em 1869, ]ames começou a 
desenvolver uma filosofia de vida incentivado não tanto pela curiosidade intelectual, 
mas pelo desespero. Leu muita filosofia, inclusive os ensaios de Charles Renouvier sobre 
o livre-arbítrio, o que o convenceu da sua existência. Decidiu que seu primeiro ato de 
CMiTULO 7 fUNCIONAUS,\\0: SUA FUNDAÇÃO E SUA EVOLUÇÃO 1 59 
vontade própria seria a crença no livre-arbítrio. Em seguida, passou a crer que consegui­
ria curar a depressão apenas acreditando na força de vontade. Aparentemente obteve 
certo êxito, pois, em 1872, aceitou lecionar fisiologia em Harvard, comentando ser 
"nobre para o espírito de uma pessoa ter um trabalho responsável para rea1izar" Games, 
1902, p. 167) . No entanto, apenas um ano depois, teve de tirar licença para visitar a 
Itália, mas retornou pouco tempo depois e continuou lecionando. 
Mais ou menos nessa mesma época, ]ames interessou-se pelos efeitos de alguns 
elementos químicos na alteração da mente. Leu a respeito das experiências por que 
passaram pessoas sob a influência do óxido nitroso (o "gás hilariante") e do nitrato de 
amila, que afetam a oxigenação do cérebro, causando assim movimentos bruscos. 
Decidiu experimentar essas substâncias. Como escreveu um biógrafo, essa fora "a pri­
meira entre as várias experiências [de ]ames] com estados conscientes alterados, que o 
fascinaram devido à forma como as alterações físicas influenciavam a consciência" 
(Croce, 1 999, p. 7) . 
No ano letivo de 1875-1876, ]ames lecionou seu primeiro curso de psicologia, que 
chamou de The Relations between Physiology and Psychology (As relações entre a fisiologia 
e a psicologia). Por isso, a Harvard foi a primeira universidade dos Estados Unidos a ofe­
recer o curso de psicologia experimental. ]ames nunca freqüentara cursos formais de psi­
cologia - o primeiro foi o seu. Pediu dinheiro à faculdade para adquirir um laboratório 
e equipamentos de demonstração para suas aulas e recebeu 300 dólares. 
Em 1878, dois acontecimentos importantes marcaram a vida de ]ames: o casamen­
to com Alice Howe Gibbens, a mulher escolhida por seu pai, e a assinatura de um con­
trato com o editor Henry Holt, que resultou em um dos livros clássicos da psicologia. Ele 
levou 12 anos para escrever o livro, que começara durante a lua-de-mel. 
Uma das razões de tanta demora para ]ames escrevê-lo é que ele era um viajante 
compulsivo. Quando não estava na Europa, podia ser facilmente encontrado nas mon­
tanhas de Nova York ou New Hampshire. 
Suas cartas dão a entender que suas relações familiares eram muito desgastantes e que 
freqüentemente sentia necessidade de ficar sozinho. As viagens eram a única forma de 
conseguir lidar com essa situação. Ele arranjava uma viagem após o nascimento de cada 
um dos seus filhos e, obviamente, sentia-se culpado. Freqüentemente se ausentava das 
comemorações de Natal, Ano Novo e aniversários, mesmo não estando muito distante, 
como, por exemplo, em Newport. ( . . . ) As viagens de ]ames eram fugas das confusões 
familiares para a natureza, a solidão e o alívio místico. (Myers, 1986, p. 36-37.) 
Os nascimentos dos filhos foram muito perturbadores para o temperamento sensí­
vel de ]ames. Não conseguia trabalhar direito e ressentia-se da atenção dispensada pela 
esposa aos recém-nascidos. Depois do nascimento do segundo filho, passou um ano no 
exterior, viajando de uma cidade a outra. 
Escreveu de Veneza para sua esposa, dizendo-se apaixonado por uma italiana. Ele 
disse: "Você vai acabar se acostumando com esses meus entusiasmos e acabará gostan­
do" (apud Lewis, 1991, p. 344). Mas Alice ficava contrariada com o que ela mesma des­
crevia como a "tendência [do meu marido] de flertar casualmente com conhecidas e até 
mesmo com as empregadas da família". Ficara furiosa quando ele lhe contara haver bei­
jado uma delas. ]ames, no entanto, achava que essa sua natureza afetiva devia deixá-Ia 
feliz. Conforme explicava, muitas vezes tinha o "desejo de beijar as pessoas" (apud 
Simon, 1998, p. 215-216). 
1 6 0 HiSTÓRIA DA PSICOLOGIA MODERNA 
]ames continuava a lecionar em Harvard quando se encontrava na cidade e, em 
1 885, foi promovido a professor de filosofia. Quatro anos mais tarde, passou a ter o títu­
lo de professor de psicologia. Nessa época já havia conhecido vários psicólogos europeus, 
dentre eles Wundt, que "causou-me uma agradável impressão pessoal, com a sua voz 
agradável e o eterno sorriso franco nos lábios". No entanto, alguns anos depois, ]ames 
percebeu que Wundt "não é um gênio, ele é um professor, um ser cuja tarefa é conhecer 
tudo e ter opinião própria sobre qualquer assunto" Games apud Allen, 1967, p. 25 1, 304). 
O livro de ]ames, The principies of psychoiogy, foi finalmente publicado em 1890, em 
dois volumes. Foi um tremendo sucesso e uma importante contribuição para a área. 
Quase 80 anos após a sua publicação, um psicólogo declarou: "O livro Principies de ]ames 
é sem sombra de dúvida a obra mais culta e provocante e, ao mesmo tempo, o livro de 
psicologia mais compreensível escrito até hoje em inglês e em qualquer outro idioma" 
(MacLeod, 1969, p. iii). Essa obra foi o livro de referência mais importante para várias 
gerações de estudantes de psicologia e até hoje é lida por várias pessoas que não têm a 
obrigatoriedade de lê-la. 
A reação favorável ao livro não foi unânime. Wundt e Titchener, criticados na obra, 
não reagiram bem. Wundt declarou: "Trata-se de uma literatura dotada de beleza, mas 
não é psicologia" (Wundt, apud Bjork, 1983, p. 12). Wundt continuou criticando severa­
mente o trabalho de ]ames na psicologia. De acordo com C. H. Judd, um estudante ame­
ricano do laboratório de Wundt em Leipzig, havia 
tido muito pouco respeito pelos líderes da psicologia americana que houvessem estuda­
do em outro lugar que não em Leipzig. Havia especial antipatia por ]ames. Ele fez algo 
considerado totalmente insensato, não somente criticou Wundt ( . . . ) como o fez de forma 
sarcástica. Isso era demais. ( . . . ) ]ames não era considerado um pensador de primeira 
linha. (1930/1961, p. 215.) 
O próprio ]ames não reagiu favoravelmente ao seu livro. Escreveu uma carta ao edi­
tor e descreveu o manuscrito como uma "massa repugnante, distendida, intumescida, 
inflada e hidrópica que certifica nada além de dois fatos: primeiro, não existe uma ciên­
cia da psicologia; segundo, que [William James] é um incapaz" Games apud Allen, 1967, 
p . 3 14-3 15). 
Com a publicação do livro The principies, ]ames decidiu que não tinha nada mais a 
dizer a respeito da psicologia. Além disso, não se interessava mais na supervisão do labo­
ratório de psicologia em Harvard. Conseguiu que Hugo Münsterberg, naquela época na 
University of Freiburg, Alemanha, se tornasse diretor do laboratório e lecionasse os cur­
sos de psicologia, ficando livre para trabalhar com a filosofia. Münsterberg nunca chegou 
a desempenhar o papel que ]ames esperava dele: tornar-se uma liderança na pesquisa 
experimental em Harvard. Ao contrário, Münsterberg procurava estudar uma variedade 
de problemas do mundo real e dedicava pouca atenção ao laboratório. Ele foi importan­
te por ter ajudado a popularizar a psicologia e transformá-la em uma disciplina mais apli­
cada (veja no Capítulo 8). 
Embora ]ames houvesse instalado e equipado o laboratório de psicologia de 
Hatvard, ele não era experimentalista. Nunca se convencera do valor do trabalho labo­
ratorial e pessoalmente não gostava de realizar essa tarefa. Dizia que as universidadesamericanas tinham laboratórios demais e, no livro The principies, destacou que os resul­
tados do trabalho de laboratório não eram proporcionais aos enormes esforços exigidos. 
Portanto, não causa estranheza o fato de sua contribuição à psicologia constituir-se de 
tão pouco trabalho experimental. 
CAPiTULO 7 FUNCIONALISMO: SUA FUNDAÇÃO E SUA EVOLUÇÃO ' 1 6 1 
]ames passou os últimos 20 anos da vida refinando seu sistema filosófico e, por volta 
da década de 1890, foi reconhecido como o principal filósofo americano. Entre os princi­
pais trabalhos de filosofia publicados está The varieties ofreligious experience_(l�02). A sua 
obra Talks to teachers (1899) marcou o início da psicologia educacional e divtilgou as idéias 
de ]ames sobre a aplicação da psicologia na sala de aula em situações de aprendizagem. 
História On-Jine 
http:/ /www.emory.edu/EDUCATION/mfp/james. html 
Esse site contém tudo que se deseja conhecer sobre James, inclusive textos 
completos da maioria de seus livros, artigos, ensaios, além de uma cronolo­
gia, fotos, bibliografias e artigos a seu respeito e links para outros sites. 
http:/ /www.sh ip.edu/-cgboeree/wundtjames.html 
Esse endereço apresenta uma comparação interessante entre as vidas e os 
trabalhos de James e Wundt e as divergências entre eles. 
http:/ /website.lineone.net/ -williamjames1 I 
Esse site apresenta a biografia de James, comentários sobre a sua influên­
cia na psicologia e o texto completo da sua obra The varieties of religious 
experience. 
Os Princípios da Psicologia 
Por que tantos estudiosos consideram ]ames o maior psicólogo americano? Três hipóte­
ses são levantadas para explicar tamanha importância e influência creditadas a ele. 
Primeiro, ]ames escrevia com uma clareza rara na ciência. Sua escrita era dotada de mag­
netismo, espontaneidade e charme. Segundo, ele se posicionou contra o objetivo de 
Wundt na psicologia - a análise da consciência a partir dos seus elementos. E terceiro, 
]ames ofereceu uma forma alternativa de analisar a mente, uma visão congruente com a 
abordagem funcional da psicologia. Em resumo, a era da psicologia americana estava 
preparada para ouvir o que ]ames tinha a dizer. 
No livro The principies of psychology, ]ames apresentou a visão que acabou tornando­
se a doutrina central do funcionalismo americano - a psicologia não tem como meta a 
descoberta dos elementos da experiência, mas o estudo da adaptação dos seres humanos 
ao seu meio ambiente. A função da nossa consciência é guiar-nos aos fins necessários para 
a sobrevivência. A consciência é vital para as necessidades dos seres complexos em um 
ambiente complexo; de outra forma, a evolução humana não ocorreria. 
]ames também enfatizava os aspectos não-racionais da natureza humana. As pessoas 
eram criaturas dotadas de emoção e paixão, assim como de pensamento e razão. Mesmo 
quando discutia os processos puramente intelectuais, ]ames destacava o não-racional. 
Alegava que a condição física afetava o intelecto, que os fatores emocionais determina­
vam as crenças e que as necessidades e os desejos humanos influenciavam a formação da 
razão e dos conceitos. Assim, ]ames não considerava as pessoas seres totalmente racionais. 
Em The principies, ]ames escreveu sobre as mais variadas áreas. 
1 62 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA MODERNA 
O Objeto de Estudo da Psicologia: a Nova Visão sobre a Consciência 
]ames afirmava logo no início da obra que "A psicologia é a ciência da vida mental, 
abrangendo tanto os seus fenômenos como as suas condições" (James, 1890, v. 1, p. 1) . 
No que tange ao objeto de estudo, as palavras-chave são fenômenos e condições. Com fenô­
menos, ele queria dizer que o objeto de estudo da psicologia devia ser buscado na expe­
riência imediata; com condições, referia-se à importância do corpo, principalmente do 
cérebro, na vida mental. 
De acordo com ]ames, as subestruturas físicas da consciência formam uma parte 
básica da psicologia. A consciência deve ser analisada no seu ambiente natural, que é o 
físico do ser humano. Essa noção biológica da ação do cérebro sobre a consciência é uma 
característica exclusiva da abordagem de psicologia de ]ames. 
Ele rebelava-se contra a artificialidade e a estreiteza da posição de Wundt. Acreditava 
serem as experiências conscientes simplesmente experiências conscientes e não grupos 
ou conjuntos de elementos. A descoberta de elementos mínimos da consciência por 
meio da análise introspectiva não demonstra que eles existam independentemente de 
um observador treinado. Os psicólogos realizam leituras da experiência com base na sua 
posição sistemática e com o seu ponto de vista. 
Um degustador treinado é capaz de distinguir os elementos individuais do sabor de 
um alimento que não são percebidos por uma pessoa não-treinada, a qual percebe um 
misto de sabores, uma mistura total de ingredientes impossível de distinguir. Do mesmo 
modo, o fato de algumas pessoas serem capazes de analisar suas experiências conscien­
tes em um laboratório de psicologia não quer dizer que os elementos por elas relatados 
estejam presentes na consciência de qualquer outra pessoa exposta à mesma experiên­
cia. ]ames considerava essa afirmação uma "falácia dos psicólogos". 
Atingindo bem no ponto central a abordagem de Wundt, ]ames declarou que as sen­
sações simples não existem na experiência consciente, existindo apenas como resultado 
de algum processo retorcido de inferência ou abstração. Em uma declaração grosseira e 
eloqüente, disse: 
Ninguém jamais experimentou uma sensação simples por si próprio. A consciência, 
desde o dia do nosso nascimento, gera urna imensa multiplicidade de objetos e relações 
e o que denominamos sensações simples é resultado da atenção discriminativa, levada a 
um grau muito alto. Uarnes, 1890, v. 1, p. 224.) 
No lugar da análise artificial e da redução da experiência consciente aos ditos elemen­
tos componentes, ]ames criou um novo programa de psicologia. A vida mental consiste 
em uma unidade, em uma experiência total que se modifica. A consciência é um fluxo 
constante e qualquer tentativa de dividi-la em fases temporariamente distintas pode dis­
torcê-la. Para expressar essa idéia, ]ames cunhou a expressão fluxo de consciência. 
Fluxo de consciência: o conceito de James que afirma ser a consciência um processo de fluxo con­
tínuo e qualquer tentativa de reduzi-la a elementos pode distorcê-la. 
Como a consciência está em constante modificação, não é possível experimentar o 
mesmo pensamento ou a mesma sensação mais de uma vez. Pode-se pensar em um obje­
to ou um estímulo em mais de uma ocasião, mas os pensamentos não são idênticos em 
CAPiTULO 7 fUNCIONALISMO: SUA fUNDAÇÃO E SUA EVOLUÇÃO ; 1 63 
cada situação. São diferentes devido às experiências intervenientes. Desse modo, a cons­
ciência é definida como cumulativa e não recorrente. 
A mente é igualmente contínua. Não há interrupção abrupta no fluxo . .de consciên­
cia. É possível notar lapsos de tempo, por exemplo, quando estamos sonolentos, mas, 
quando estamos despertos, não temos dificuldade de estabelecer relações com nosso 
fluxo de consciência em andamento. Além disso, a mente é seletiva: como somos capa­
zes de prestar atenção em apenas uma pequena parte do universo das nossas experiên­
cias, ela escolhe entre os vários estímulos aos quais é exposta. A mente filtra algumas 
experiências, combina ou separa outras, seleciona e rejeita outras mais. O principal cri­
tério de seleção é a relevância - a mente seleciona os estímulos relevantes de modo que 
permita que a consciência opere de modo lógico, criando assim uma série de idéias que 
possam resultar em uma conclusão racional. 
Por fim, ]ames destacou a função ou o propósito da consciência. Acreditava que ela 
desempenhava alguma função biológica, de outro modo não teria sobrevivido ao tempo. 
A função da consciência é proporcionar a capacidade de adaptação ao ambiente, permitin­
do-nos escolher. Para desenvolver essa idéia, ]ames fazia a distinção entre a escolha e ohábito; acreditava que os hábitos eram involuntários e não conscientes. Quando estamos 
diante de um novo problema e temos de escolher uma forma de enfrentá-lo, a consciên­
cia entra em cena. Essa ênfase da intencionalidade reflete o impacto da teoria da evolução. 
� Texto Original 
.. 
Trecho sobre a Consciência, Extraído de Psychology 
(Briefer Course) (1 892), de William James 
A consciência encontra-se em constante mudança. Não quero dizer com essa afirmação que 
o estado mental seja dotado de alguma duração - e mesmo que fosse verdade, seria difí­
cil estabelecer essa duração. O que desejo destacar com essa afirmação é a impossibil idade 
de um estado do passado recorrer e ser idêntico ao que fora anteriormente. Neste momen­
to sentimos, ouvimos; pensamos, desejamos; lembramos, esperamos; amamos, odiamos; e 
vivenciamos outras centenas de estados que sabemos estarem relacionados alternadamen­
te em nossas mentes. Todavia todos esses estados são complexos, podendo-se assim dizer, 
produzidos pela combinação dos estados mais simples; mas os estados simples não seriam 
regidos por uma lei distinta? Não seriam, por exemplo, as sensações extraídas do mesmo 
objeto sempre as mesmas? A tecla do piano pressionada com a mesma intensidade não pro­
vocaria a sensação de ouvirmos e o mesmo som? Não provocaria a mesma grama a idênti­
ca sensação de verde, o mesmo firmamento, a igual sensação de azul, e não teríamos a 
mesma sensação olfativa independentemente do número de vezes que encostamos o nosso 
nariz no mesmo frasco do perfume? Pode soar como um sofisma metafísico a sugestão de 
que não percebemos as sensações dessa forma; e uma atenção mais cuidadosa do assunto 
demonstra que não há provas de que a sensação de receber um choque elétrico provoque 
duas vezes percepções corporais idênticas. 
O que está presente duas vezes é o mesmo objeto. Ouvimos a mesma nota executada 
diversas vezes; enxergamos a mesma tonalidade da cor verde, a fragrância do mesmo perfu­
me ou a experiência da mesma espécie de dor. As realidades, concretas e abstratas, físicas e 
1 64 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA MODERNA 
ideológicas, em cuja permanente existência acreditamos, parecem surgir constantemente no 
nosso pensamento e conduzir-nos, devido à nossa falta de cautela, a supor que as nossas 
" idéias" a respeito dessas realidades consistem nas mesmas idéias. ( . . . ) A grama que vislum­
bro pela janela parece ter o mesmo tom de verde tanto sob o sol como sob a sombra, e, no 
entanto, o pintor pode pintar uma parte dela de marrom escuro, outra parte de amarelo claro, 
tentando criar o efeito sensorial da realidade. Normalmente, não prestamos atenção nas d ife­
rentes formas de aparência, som e odor que os mesmos objetos assumem quando observados 
de distâncias distintas e sob diversas circunstâncias. A igualdade dos objetos é que consiste no 
alvo de nossa investigação; e qualquer sensação que nos garanta essa igualdade será prova­
velmente considerada, de um modo geral, como a mesma para todos. 
Essa característica é que traz o ju lgamento precipitado sobre a identidade subjetiva das 
diferentes sensações bem próximo da invalidade como u ma evidência do fato. Toda a des­
crição daqu ilo que se chama sensação consiste em um comentário sobre a nossa incapaci­
dade de afirmar se duas qualidades sensoriais recebidas separadamente são exatamente 
idênticas . O q ue chama a nossa atenção m u ito mais do q ue a qualidade absoluta de uma 
i mpressão é a sua proporção em relação a q ualquer outra impressão que possamos vivenciar 
ao mesmo tempo. Quando a escuridão é total, a mínima sensação de claridade nos faz 
enxergar u m objeto branco. Helmholtz calcula que o mármore branco pintado em uma tela 
representando uma paisagem arquitetônica sob o luar, quando visto à luz do dia, é de 1 O a 
20 vezes mais claro do que seria o mármore visto sob o luar verdadeiro. 
U m a diferença como essa n u nca poderia ser aprendida por meio da sensação; teria 
de ser deduzida com base em uma série de considerações indiretas. Isso tudo nos faz crer 
q u e a n ossa sensibi l idade vai se a lterando com o tempo, de modo que o mesmo objeto 
não nos proporciona facilmente a mesma sensação novamente. Sentimos os objetos de 
modo d iferente, de acordo com o nosso estado, se estamos sonolentos ou despertos, com 
fome ou satisfeitos, d ispostos ou cansados; de forma distinta à noite e pela manhã, no 
verão e no i nverno; e, acima de tudo, na infância, na vida adulta e na velh ice. No entan­
to, n u nca duvidamos de que os nossos sentimentos revelam o mesmo universo, com as 
mesmas características sensoriais e com os mesmos objetos sensoriais o ocupando. A dife­
renciação da sensibilidade é mais bem demonstrada por meio da distinção da nossa emo­
ção a respeito dos objetos de uma idade a outra, ou quando nos encontramos em estados 
orgânicos distintos. O que era alegre e excitante torna-se tedioso, simples e inúti l . O canto 
do pássaro é entediante, a brisa é melancólica e o céu é triste. ( . . . ) 
É óbvio e palpável que nosso estado mental jamais é exatamente o mesmo. Cada pen­
samento produzido por meio de um determinado fato é, falando rigorosamente, exclusivo, 
e possui apenas certa semelhança com os demais pensamentos provenientes do mesmo 
fato. Quando o fato idêntico for recorrente, devemos pensar nele de forma independente, 
a n alisá-lo de um ângulo distinto e compreendê-lo dentro das diferentes relações nas quais 
s u rg i u a nteriormente. E o pensamento por meio do qual o percebemos é aquele que surge 
dentro das d iferentes relações, que se espalhou com a consciência de todo aquele contex­
to i n d istinto. M uitas vezes nos vemos atingidos por estranhas diferenças nas nossas visões 
s ucessivas do mesmo objeto. Pensamos como pudemos opinar desse modo no mês passa­
do sobre o mesmo assunto. Acabamos de desenvolver a possibilidade daquele estado men­
tal e nem sabemos como. De um ano para o outro visual izamos os objetos sob u ma nova 
l uz. O q u e era irreal torna-se real e o que era excitante torna-se insípido. Os a migos mais 
i mportantes do mundo passaram para a obscuridade; a mulher antes divina, as estrelas, as 
florestas, as á guas, como podem ser agora tão estúpidas e banais ! 
Os Métodos da Psicologia 
CAPÍTULO 7 FUNCIONALISMO: SUA FUNDAÇÃO E SUA EVOLUÇÃO 1 65 
Como a psicologia lida com a consciência pessoal e imediata, a introspecÇaó 'deve ser 
o seu método básico. }ames dizia: "A observação introspectiva é o método em que 
devemos nos basear primeiramente e sempre ( ... ) a visão da nossa mente e a descrição 
do que observamos. Todos concordam que é na nossa mente que descobrimos os esta­
dos da consciência" Games, 1890, v. 1, p. 185). ]ames tinha ciência das dificuldades da 
introspecção e a aceitava mesmo considerando-a um método imperfeito de observa­
ção. No entanto acreditava na possibilidade de uma verificação mais apurada dos 
resultados produzidos mediante a comparação das constatações obtidas por diversos 
observadores. 
Embora não utilizasse amplamente o método experimental, considerava-o um cami­
nho importante para o conhecimento psicológico, especialmente nas pesquisas psicofí­
sicas, como na análise da percepção espacial e no estudo da memória. 
Como complementação dos métodos introspectivo e experimental, }ames reco­
mendava o método comparativo. A averiguação do funcionamento psicológico de 
populações distintas, como de animais, crianças e pessoas não-alfabetizadas ou indiví­
duos emocionalmente desequilibrados, permitiria descobrir variações significativas na 
vida mental. 
Os métodos citados na sua obra The principies salientam a principal diferença entre 
a psicologia estrutural e a funcional: o movimento funcionalista não se restringia a um 
único método como as formas de introspecção de Wundt ou Titchener. Ele também acei­
tava e adotava outras metodologias. Esse tratamento eclético ampliou consideravelmen­
te a área de estudo da psicologia americana. 
O Pragmatismo 
]ames enfatizavaa importância do pragmatismo na psicologia, cuja doutrina baseia-se 
na comprovação da validade de uma idéia ou de um conceito mediante a análise das 
conseqüências práticas. A conhecida expressão do ponto de vista pragmático afirma que 
"se funcionar, é verdadeiro". 
Pragmatismo: doutrina que afirma estar o significado das idéias em suas conseqüências práticas. 
O pragmatismo foi desenvolvido na década de 1870 por Charles Sanders Peirce, 
matemático, filósofo e amigo de longa data de]ames. Seu trabalho somente foi reconhe­
cido após a publicação da obra escrita por ]ames, Pragmatism (1907), que formalizou a 
doutrina como um movimento filosófico. (Peirce foi o primeiro a escrever a respeito da 
nova psicologia de Fechner e Wundt para os intelectuais americanos em um artigo publi­
cado em 1869.) 
A Teoria das Emoções 
A teoria das emoções de ]ames, publicada em um artigo em 1884 e posteriormente no 
livro The principies, contradizia o pensamento corrente sobre a natureza dos estados emo-
1 66 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA MODERNA 
cionais. Os psicólogos partiam do princípio de que a experiência mental subjetiva da 
emoção antecedia a expressão ou a ação corporal. O exemplo clássico de avistar um ani­
mal selvagem, sentir medo e fugir correndo, ilustra a idéia de que a emoção (o medo) 
ocorre antes da reação do corpo (a fuga). 
]ames inverteu essa ordem e afirmou que a reação física ocorre antes do surgimento 
da emoção, principalmente das emoções que considerava "grosseiras" como o medo, a 
ira, a dor e a compaixão. Por exemplo: vemos o animal, corremos e, então, vivenciamos 
a emoção do medo. "Nosso sentimento em relação às reações [físicas] que ocorrem é a 
emoção" Uames, 1890, v. 2, p. 449). 
Para defender essa idéia, ]ames analisou, mediante a observação introspectiva, que, 
quando não ocorrem alterações físicas, como a aceleração do batimento cardíaco, a res­
piração ofegante e a tensão muscular, não há emoção. As visões de ]ames acerca das emo­
ções provocaram muita polêmica e incentivaram a realização de diversas pesquisas.2 
O Hábito 
O capítulo do livro The principies que trata do hábito reafirma o interesse de ]ames pelas 
influências psicológicas. Ele descreve todas as criaturas vivas como um "pacote de hábi­
tos" Uames, 1890, v. 1, p. 104). As atitudes repetitivas ou habituais envolvem o sistema 
nervoso e servem para aumentar a plasticidade da matéria neural. Como conseqüência, 
os hábitos facilitam a execução das subseqüentes repetições e exigem menor atenção 
consciente. 
Os hábitos têm enormes implicações sociais, como exemplifica o trecho a seguir. 
O hábito ( . . . ) per se é o que nos mantém dentro dos limites da ordem. ( . . . ) Ele nos con­
dena a lutar a batalha da vida de acordo com as orientações da nossa criação ou da nossa 
escolha inicial e a fazer o melhor de uma atividade, mesmo que nos desagrade, porque 
não há outra para a qual estamos aptos e é tarde demais para recomeçar ( . .. ) 
Já com 25 anos é possível enxergar o tino profissional de um jovem representante 
comercial, do jovem médico, ministro ou advogado. É possível enxergar as tênues linhas 
divisórias do caráter, das elaborações do pensamento, dos preconceitos ( . . . ) das quais logo 
o homem não consegue mais escapar, assim como são inevitáveis as marcas deixadas 
pelo tempo. No final, é melhor que ele não escape e que, para o bem da humanidade, a 
maioria de nós, aos 30 anos, já tenha o caráter solidificado e que nunca mais volte a amo­
lecer. aames, 1890, v. 1, p. 121.) 
A obra The principies exerceu grande influência na psicologia americana e, mesmo 
passado um século, a sua publicação foi alvo de elogios (Donnelly, 1992; Johnson e 
Henley, 1990). Ela alterou a visão de milhares de alunos e inspirou psicólogos a transfe­
rirem o enfoque da nova ciência da psicologia da perspectiva estruturalista para a funda­
ção formal da escola de pensamento funciona!ista. 
Como exemplo de descoberta simultânea, o fisiologista dinamarquês Carl Lange publicou uma teoria parecida, em 
1885. Devido à semelhança entre as duas teorias, ela acabou sendo denominada "Teoria das emoções de james­
Lange". 
(AI'JTULO 7 FUNCIONALISMO: Su,\ FUNDAÇÃO E SUA EVOLUÇÃO 1 67 
A Desigualdade Funcional das Mulheres 
Mary Whiton Ca/kins {1863- 7930) 
}ames foi o grande responsável pelos estudos de pós-graduação de Mary Whiton 
Calkins, ajudando-a a vencer as barreiras do preconceito e da discriminação. · Calkins 
acabou desenvolvendo a técnica da associação de pares usada no estudo da memória, 
além de haver contribuído de forma significativa e duradoura para a psicologia 
(Madigan e O'Hara, 1 992). Foi a primeira mulher a tornar-se presidente da APA e, em 
1906, ocupava a 12ª colocação entre os 50 psicólogos mais importantes dos Estados 
Unidos, reconhecimento muito significativo por parte dos colegas a uma pessoa a quem 
havia sido recusada a concessão do título de Ph.D. (Furumoto, 1990). 
A Harvard University nunca aceitou sua matrícula formal, mas William}ames a rece­
bia de braços abertos nos seus seminários e pressionava a universidade a conceder-lhe a 
graduação. Quando a direção recusou-se a fazê-lo, ]ames escreveu a ela, dizendo que bas­
tava "produzir explosivos juntando você e todas as mulheres. Tenho esperanças e acre­
dito que a sua dedicação acabará explodindo a barreira" (]ames, apud Benjamin, 1993, p. 
72). Apesar dos esforços de ]ames, a Harvard recusava-se a conceder o doutorado a uma 
mulher, embora o teste de Calkins (ministrado informalmente por }ames e outros docen­
tes) fosse considerado "o mais brilhante exame de Ph.D. até então realizado em Harvard" 
(]ames, apud Simon, 1 998, p. 244). 
Sete anos depois, quando Calkins estava lecionando na Wellesley e realizando a sua 
pesquisa a respeito da memória, a Harvard ofereceu-lhe a graduação da Radcliffe College, 
criada pela Harvard para oferecer cursos de graduação para as mulheres. Ela recusou, pois 
havia completado as exigências de graduação na Harvard e não na Radcliffe. A Harvard 
a discriminava apenas por ser mulher e ignorou várias solicitações suas de graduação 
para a qual havia completado todos os requisitos. Acabou obtendo uma graduação hono­
rária da Columbia University (Denmark e Fernandez, 1992). 
A experiência de Calkin é um exemplo da discriminação sofrida pelas mulheres que 
almejavam a educação superior, condição que persistiu até o século XX. Ainda assim, 
Calkin considerava-se privilegiada, quando se comparava às mulheres das gerações 
anteriores, que jamais foram admitidas nas universidades. As mulheres foram tradicio­
nalmente excluídas da maioria das áreas acadêmicas das faculdades, e universidades 
européias e americanas. Quando a Harvard foi fundada, em 1 636, não aceitava alunas. 
Somente depois da década de 1830 algumas faculdades americanas relaxaram a sua proi­
bição e admitiram mulheres para o curso de graduação. 
A primeira razão alegada para essa restrição era a crença generalizada na chamada 
superioridade intelectual masculina. Como afirmava esse argumento, embora certas 
mulheres recebessem as mesmas oportunidades educacionais dadas aos homens, as defi­
ciências intelectuais femininas inatas não permitiam que tirassem proveito dos benefícios. 
Muitos cientistas importantes do século XIX - como Darwin - e a maioria dos psicólo­
gos da época concordavam com essa visão. 
Hoje, a maioria dos estudantes formados e que obtiveram Ph.D. em psicologia são 
mulheres, assim como a maioria dos estudantes de graduação e de pós-graduação na 
área. No entanto vimos que o homem dominou a história da psicologia. Apenas para 
relembrar, Margaret Washburn não pôde matricular-se na Columbia University porque 
era mulher. Somente depois de 1892 as universidades de Yale e de Chicago e mais algu-
1 68 HiSTÓRIA DA PSICOLOGIA MODERNA 
mas outras instituições aceitaram a matrícula de mulheres nos cursos de graduação. Por 
cerca de 20 anos depois da fundação formal da psicologia como disciplina científica, as 
mulheres enfrentaram barreiraspara tornarem-se psicólogas e para contribuírem de 
forma significativa para o desenvolvimento do campo. 
Grande parte do mito da superioridade intelectual do homem surgiu da chamada 
hipótese da variabilidade, baseada nas idéias de Darwin a respeito da variabilidade 
masculina (Shields, 1982) . Darwin descobriu que em diversas espécies o macho demons­
trava uma variedade mais ampla de desenvolvimento das características físicas e das 
habilidades do que as fêmeas. As características e habilidades femininas encontravam-se 
concentradas em torno de um valor médio. Acreditava-se que essa tendência mediana 
feminina fazia com que a mulher se beneficiasse menos da educação formal e tivesse 
menos possibilidades de êxito no trabalho intelectual ou de pesquisa. Faltava apenas um 
passo para supor que o cérebro masculino fosse mais evoluído do que o feminino. 
D evido à grande variedade de talentos demonstrada pelo homem, acreditava-se estar ele 
mais apto a se adaptar e tirar proveito dos diversos ambientes desafiadores. Dessa forma, 
a mulher era considerada inferior ao homem, tanto nas qualidades mentais como nas 
físicas necessárias para se obter êxito na adaptação às exigências do ambiente. Como 
conseqüência, a idéia da desigualdade funcional entre os sexos foi amplamente aceita. 
Hipótese da variabilidade: noção de que o homem demonstra uma gama maior de variação no 
desenvolvimento físico e mental do que a mulher; as habilidades da mulher são consideradas mais 
medianas. 
Uma teoria popular a esse respeito afirmava que a mulher exposta à educação supe­
rior além da formação básica sofreria de danos físicos e emocionais. Alguns psicólogos 
alegavam que a mulher com nível de educação superior colocava em risco as condições 
biológicas necessárias para a maternidade, interrompendo o ciclo menstrual e enfraque­
cendo o instinto maternal. Um psicólogo chegou a afirmar que, se a mulher desejasse 
algum tipo de educação, "que fosse educada para a maternidade" (G. S. Hall, ápud Diehl, 
1 986, p. 872) . 
Um professor da escola de medicina de Harvard declarou que a educação produzia 
n a mulher "cérebros monstruosos e corpos franzinos; atividade cerebral anormal e diges­
tão extremamente deficiente; raciocínios dispersos e mal funcionamento do intestino" 
(E. Clarke, apud Scarborough e Furumoto, 1987, p. 4). O professor também advertiu: "A 
igualdade da educação entre os sexos é um crime perante Deus e a humanidade" (Clarke, 
1 873, p. 127). 
Nos primeiros anos do século XX, duas psicólogas obtiveram êxito ao desafiarem a 
idéia da desigualdade funcional entre os sexos. Utilizando as técnicas empiristas da psico­
logia funcional, Helen Bradford Thompson Woolley e Leta Stetter Hollingworth demons­
traram que Darwin e os demais estavam equivocados a respeito da mulher. 
Helen Bradford Thompson Wool/ey (7874- 7947) 
Helen Bradford Thompson Woolley nasceu em Chicago, em 1874. Seus pais apoiavam 
a idéia da educação das mulheres e as três filhas da família Thompson freqüentaram a 
faculdade. Helen Thompson formou-se na University of Chicago, em 1897, e recebeu o 
CAPÍTULO 7 FUNCIONALISMO: SUA FUNDAÇÃO E SUA EVOLUÇÃO 1 69 
Ph.D. em 1900. Seus principais professores foram ]ames Rowland Angell e John Dewey, 
o qual a considerava uma de suas alunas mais brilhantes (apud ]ames, 1994). Depois de 
completar a pós-graduação com bolsa de estudos em Paris e em Berlim, tornou-se dire­
tora do laboratório de psicologia da Mount Holyoke College, em Massachusetts. 
Casou-se com o médico Paul Woolley e acompanhou-o às Filipinas, onde ele foi dire­
tor de um laboratório. Em 1908, o casal mudou-se para Cincinnati, em Ohio, onde Helen 
aceitou a direção do departamento vocacional do ensino público, preocupada com as 
questões do bem-estar das crianças. Suas pesquisas acerca do efeito do trabalho infantil 
provocaram mudanças nas leis trabalhistas estaduais. (Em vários estados, crianças de 
apenas 8 anos trabalhavam, cumprindo uma jornada diária de 10 horas de trabalho, 6 
dias por semana. Em poucos estados existiam leis de proteção referentes à idade, à jor­
nada de trabalho e ao salário mínimo infantil.) Em 1921, Helen atuou como presidente 
da National Vocacional Guidance Association (Associação Nacional de Orientação 
Vocacional). 
Naquele ano, sua família mudou-se para Detroit, em Michigan, e ela foi trabalhar no 
Merrill-Palmer Institute (Instituto Merrill-Palmer), onde criou um programa de educação 
infantil para estudar o desenvolvimento e as habilidades mentais das crianças. Em 1924, 
tornou-se diretora do novo Institute of Child Welfare Research (Instituto de Pesquisa do 
Bem-estar Infantil) da Columbia University e prosseguiu no seu trabalho sobre a apren­
dizagem na primeira infância, a educação vocacional e a orientação educacional. 
A apresentação da dissertação de doutorado de Helen Woolley na University of 
Chicago foi o primeiro teste experimental do conceito darwiniano da inferioridade bio­
lógica da mulher em relação ao homem, idéia considerada, na época, tão óbvia que dis­
pensava qualquer comprovação científica (]ames, 1994). Ela aplicou um teste em 25 
homens e 25 mulheres para medir a habilidade motora, os limiares sensoriais (paladar, 
olfato, audição, visão e tato), a capacidade intelectual e os traços de personalidade. 
Os resultados revelaram não haver diferenças no funcionamento emocional entre 
homens e mulheres e apenas uma diferença insignificante na capacidade intelectual. Os 
dados também mostraram pequena superioridade das mulheres em habilidades como a 
memória e a percepção sensorial. Woolley deu um passo inédito ao atribuir as diferenças 
aos fatores ambientais e sociais - às diferentes práticas na criação da criança e às expec­
tativas distintas para os meninos e as meninas - e não às determinantes biológicas 
(Rossiter, 1982). 
Woolley publicou os resultados em The mental traits o f sex: an experimental inves­
tigation of the normal mind in men and women (Thompson, 1903) . Suas conclusões 
não foram bem recebidas pelos psicólogos masculinos do meio acadêmico. G. Stanley 
Hall acusou-a de atribuir uma interpretação feminista aos dados (Hall, 1904). O fato de 
ser uma mulher a autora da pesquisa que demonstra não haver inferioridade biológica 
da mulher em relação ao homem produz, de alguma forma, resultados distorcidos ou 
tendenciosos (]ames, 1994). Mais tarde, ela escreveu mais dois trabalhos a respeito da 
crescente literatura de pesquisa sobre a psicologia das diferenças entre os sexos para a 
renomada revista Psychological Bulletin (Woolley, 19 10, 1914). 
Durante 30 anos, Woolley trabalhou como professora, pesquisadora e orientadora de 
psicólogas nas áreas do desenvolvimento e da educação infantil. Quando a saúde precá­
ria e o traumático divórcio forçaram-na à aposentadoria precoce, o foco da psicologia 
feminina passou para outras mãos. 
1 70 HISTÓRIA DA PSICOLOGitl MODERN,\ 
Leta Stetter Hollingworth (7886- 7939) 
Leta Stetter nasceu em Nebraska e formou-se, com louvor, na University o f Nebraska, em 
1906. Foi professora do ensino médio por dois anos, enquanto o seu noivo, Harry 
Hollingworth, completava o doutorado em psicologia, sob a orientação de ]ames 
McKeen Cattell na Columbia University. Leta e Harry casaram-se em 1 908. Ele leciona­
va na Barnard College, na cidade de Nova York, mas, para surpresa e decepção de Leta, 
havia uma lei que proibia a mulher casada de lecionar nas escolas públicas. 
Ela começou a escrever romances, mas não conseguia publicar seus contos. O casal 
levava uma vida simples e Harry aceitava trabalhos de consultoria para ter dinheiro para 
que Leta pudesse freqüentar o curso de pós-graduação. Em 1916, ela obteve o doutorado 
na Teacher's College da Columbia University, havendo estudado com Edward L. 
Thorndike e trabalhado como psicóloga no serviço público da cidade de Nova York. 
Cinco anos depois, foi citada na American Men of Science devido às suas contribuições 
para a psicologia feminina. 
Leta Hollingworth realizou amplapesquisa empírica a respeito da hipótese da varia­
bilidade, o conceito de que, em relação ao funcionamento físico, psicológico e emocio­
nal, as mulheres constituíam um grupo mais homogêneo e mediano do que os homens, 
demonstrando, assim, menor variação. A pesquisa de Hollingworth entre 1913 e 1916 se 
concentrou no funcionamento físico, sensorial e motor e nas habilidades intelectuais de 
diversos tipos de pessoas, como crianças, estudantes universitários do sexo masculino e 
do feminino, mulheres no período menstrual (quando se presume que suas condições 
emocionais e mentais sejam afetadas pelos processos naturais do corpo). Seus dados des­
mentiram a hipótese da variabilidade e outras noções de inferioridade feminina. Por 
exemplo: ela constatou, ao contrário do que se afirmava havia muito tempo, que o ciclo 
menstrual não estava relacionado com os desempenhos deficientes das habilidades 
motoras e perceptuais ou das capacidades intelectuais (Hollingworth, 19 14). 
Mais tarde, ela desafiou o conceito de instinto inato da maternidade, questionando 
a noção de que a mulher atingia a plena satisfação somente sendo mãe e descartou o 
conceito de que o desejo da mulher de obter êxito em outros campos, que não no casa­
mento ou na constituição de família, fosse anormal ou não-saudável. Ela sugeriu não 
serem os fatores biológicos e sim as atitudes sociais e culturais que exerciam influência, 
i mpedindo as mulheres de se tornarem membros mais ativos na sociedade (Benjamin e 
Shields, 1990; Shields, 1975). Hollingworth também alertou as orientadoras vocacionais 
a não conduzirem as mulheres no sentido de restringir suas aspirações apenas às áreas 
consideradas socialmente aceitas como a maternidade ou o trabalho doméstico, nas 
quais não há reconhecimento. E afirmou: "Ninguém conhece a melhor dona de casa 
americana". "Dona de casa famosa não existe e nem pode existir" (apud Benjamin e 
Shields, 1990, p. 1 77) . 
Leta Hollingworth também contribuiu de forma significativa para a psicologia clíni­
ca, educacional e acadêmica, principalmente em relação às necessidades emocionais e 
educacionais das crianças "talentosas", termo cunhado por ela (Benjamin, 1975). Apesar 
da quantidade e da qualidade das suas pesquisas, nunca conseguiu apoio para realizar os 
trabalhos (Hollingworth, 1943). Participou ativamente do movimento pelo sufrágio 
feminino, realizando campanhas em favor do direito ao voto feminino (finalmente apro­
vado em 1920) e participando de manifestações e comícios em Nova York. 
CAPiTULO 7 FUNCIONALISMO: SUA FUNDAÇÃO E SUA EVOLUÇÃO 1 71 
.O História On-line 
http:/ /www. webster.edu/ -woolflm/ma rycalkins.html ..... . .-- ; 
Esse site contém informações sobre a vida, o trabalho e as contribuições de 
Mary Whiton Calkins. 
http:/ /psychclassics. yorku.ca/ 
Clique em "CHP Special Collections" para conhecer a pesquisa sobre a hipó­
tese da variabilidade e as características psicológicas da mulher. 
http://www.webster.edu/-woolflm/wooley.html 
http://www.webster.edu/-woolflm/letahollingsworth.html 
Os dois endereços contêm informações a respeito da vida e do trabalho de 
Helen Woolley e Leta Hollingworth. 
A Fundação do Funcionalismo 
Os estudiosos relacionados com a fundação do funcionalismo não ambicionavam iniciar 
uma nova escola de pensamento. Eles apenas protestavam contra as restrições e limita­
ções da psicologia de Wundt e do estruturalismo de Titchener e não desejavam substituí­
los com outro "ismo" formal. A primeira razão era pessoal e não ideológica, já que 
nenhum dos principais proponentes do funcionalismo ambicionava estabelecer um 
movimento, do modo como fizeram Wundt e Titchener. Naquela época, o funcionalis­
mo incorporava diversas características de uma escola de pensamento, mas esse não era 
o objetivo dos líderes. Eles pareciam satisfazer-se apenas em modificar a ortodoxia exis­
tente, sem lutar ativamente para substituí-la. 
Desse modo, o funcionalismo jamais se constituiu em uma posição sistemática rígi­
da ou diferenciada formalmente como o estruturalismo de Titchener. Não houve uma 
psicologia funcional única, assim como houve uma psicologia estrutural única. Várias 
psicologias funcionais coexistiram e, embora apresentassem algumas diferenças, todas 
compartilhavam o interesse no estudo das funções da consciência. Posteriormente, 
como resultado dessa ênfase nas funções mentais, os funcionalistas interessaram-se pelas 
possíveis aplicações da psicologia aos problemas cotidianos em relação ao comporta­
mento e à adaptação do homem nos diferentes ambientes. A rápida evolução da psico­
logia aplicada nos Estados Unidos pode ser considerada a herança mais importante do 
movimento funcionalista (veja no Capítulo 8). 
Paradoxalmente, a formalização desse movimento de protesto foi imposta pelo fun­
dador do estruturalismo: E. B. Titchener. Ele fundou indiretamente a psicologia funcional, 
ao adotar a palavra "estrutural" em oposição a "funcional" no artigo "The postulates of a 
structural psychology" (Os postulados da psicologia estrutural) publicado na Phi/osophical 
Review em 1898. Nesse artigo, Titchener ressaltou as diferenças entre a psicologia fun­
cional e a estrutural e argumentou que o estruturalismo era o único estudo adequado 
de psicologia. 
Ao estabelecer o funcionalismo como oposição, Titchener sem querer ofereceu-lhe 
uma identidade e um status que talvez nunca viesse a obter. "O que Titchener estava cri­
ticando, na verdade, não tinha nome, até ele batizá-lo; a partir de então, ele deu impu!-
1 72 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA MODERNA 
so ao movimento, destacando e divulgando o termo funcionalismo, que acabou tornan­
do-se conhecido" (Harrison, 1963, p. 395). 
A Escola de Chicago 
Nem todo o crédito pela fundação do funcionalismo deve-se a Titchener, mas os psicó­
logos que a história batizou de fundadores da psicologia funcional foram, no máximo, 
fundadores relutantes. Dois psicólogos que contribuíram diretamente na fundação da 
escola de pensamento funcionalista foram John Dewey e ]ames Rowland Angell. Em 
1894, eles chegaram à recém-criada University of Chicago; mais tarde, foram capa da 
revista Time. Foi nada menos do que William ]ames a anunciar posteriormente Dewey e 
Angel como responsáveis pela fundação do novo sistema que ele designou a "escola de 
Chicago" (in Backe, 2001, p. 328). 
John Dewey (7 859- 7 952) 
John Dewey teve uma infância comum e não demonstrava grande capacidade intelec­
tual até começar a freqüentar a University of Vermont. Depois de se formar, lecionou no 
ensino médio durante alguns anos e estudou filosofia por conta própria, escrevendo 
alguns artigos acadêmicos. Iniciou a pós-graduação na Johns Hopkins University, em 
Baltimore, completando o doutorado em 1 884. Lecionou nas universidades de Michigan 
e Minnesota e, em 1886, publicou o primeiro livro didático americano com base na nova 
psicologia (intitulado, adequadamente, de Psychology), que foi bastante popular até ser 
ofuscado em 1890 pelo The principies ofpsychology, de ]ames. 
Dewey permaneceu 10 anos na University of Chicago. Criou a escola-laboratório, 
uma inovação radical na educação que se tornou um marco do movimento educacional 
progressivo. Em 1904, foi para a Columbia University, em Nova York, onde prosseguiu 
com seu trabalho de aplicação da psicologia aos problemas educacionais e filosóficos, tor­
nando-se, assim, outro exemplo da orientação prática de vários psicólogos funcionalistas. 
Apesar de brilhante, Dewey não era bom professor. Um de seus alunos lembrou-se 
de que ele usava uma boina verde. 
Ele entrava [na classe], sentava-se à mesa e colocava a boina à sua frente, falando sempre 
no mesmo tom de voz, como se estivesse dando aula para a boina. ( ... ) Era inevitável que 
muitos alunos caíssem no sono. Todavia, se você fosse capaz de prestar atenção ao que ele 
falava, realmente valia a pena! (May, 1978, p. 655.) 
O Arco Reflexo 
O artigo de Dewey "The reflex are concept in psychology" (O conceito do arco reflexo 
na psicologia),publicado na Psychologica/ Review (1896), foi o ponto de partida da psico­
logia funcional. Realmente, um historiador afirmou ter sido o artigo o "tiro inaugural" 
do movimento funcionalista (Bergmann, 1956, p. 268). Ele se tornou tão popular que foi 
votado como o "artigo mais importante publicado nos primeiros 50 volumes da 
Psycho/ogica/ Review" (Backe, 2001, p. 329). 
CAPÍTULO 7 FUNCIONAliSMO: SUA FUNDAÇÃO E SUA EVOlUÇÃà ' 1 73 
Nesse importante trabalho, Dewey criticava o aspecto molecular, elementar e redu­
cionista psicológico do arco reflexo, devido à sua distinção entre o estímulo e a respos­
ta, Por meio dessa crítica, Dewey alegava não ser possível reduzir o comportamento ou 
a experiência consciente aos seus elementos componentes, como afirmavam Wundt e 
Titchener. Assim, Dewey atacava o ponto principal das suas abordagens da psicologia. Os 
proponentes do arco reflexo argumentavam que qualquer unidade de comportamento 
extingue a resposta a um estímulo, por exemplo, quando a criança afasta a mão do fogo. 
Dewey sugeria que o reflexo formava mais um círculo do que um arco, já que a percep­
ção da criança sobre a chama muda, servindo, assim, a diferentes funções. 
Arco reflexo: a l igação entre os estímulos sensoriais e as respostas motoras. 
Inicialmente, a chama atrai a criança, mas, logo em seguida, ao sentir seus efeitos, 
repele o fogo. A resposta altera a percepção da criança sobre o estímulo (a chama). Por­
tanto, a percepção e o movimento (o estímulo e a resposta) devem ser vistos como uma 
unidade e não como uma composição de sensações e respostas individuais. 
Assim, Dewey argumentava não ser possível a redução do comportamento envol­
vido na resposta reflexiva a elementos sensório-motores básicos, assim como era 
impossível analisar de forma adequada a consciência, dividindo-a em partes compo­
nentes elementares. 
Esse tipo de análise e redução artificiais faz com que o comportamento perca todo o 
sentido, deixando apenas abstrações na mente do psicólogo que está realizando o exer­
cício. Dewey observou que o comportamento não deve ser tratado como um constructo 
científico artificial, mas em termos do seu significado para o organismo, na adaptação 
ao ambiente. Ele concluiu que o objeto de estudo mais adequado para a psicologia seria 
a análise do organismo inteiro e o seu funcionamento no ambiente. 
Comentários 
O evolucionismo exerceu grande influência sobre as idéias de Dewey. Na luta pela sobre­
vivência, tanto a consciência como o comportamento trabalham para o organismo; a 
co�s5iência gera_�_�!!!J;!Qitªme_nto ad�l:l_ado _ _g1!�.!2�!E!.\!LªQ-Qfgª!li�!llQ. . .?()Rf��v�l­
Como conseqüência, a psicologia funcional dedicou-se ao estudo do organismo em fun­
cionamento. 
· · ··· ·- ·-- -·-······-· ·-- · · · . .. . 
-t"rn:teréssante observar que Dewey jamais chamou a sua psicologia de funcionalismo. 
Aparentemente, não acreditava que a estrutura e a função tivessem sentido separada­
mente, apesar do seu ataque contra a premissa básica do estruturalismo. Angell e outros 
psicólogos ficaram encarregados de declarar que o funcionalismo e o estruturalismo 
eram formas contrárias de psicologia. 
A importância de Dewey para a psicologia está na sua influência sobre os psicólogos 
e outros estudiosos e no desenvolvimento da estrutura filosófica da nova escola de pen­
samento. Quando ele deixou a University of Chicago em 1904, Angell passou a ser o 
líder do movimento funcionalista. 
1 74 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA MODERNA 
·O História On-/ine 
http://www.radicalacademy.com/phildewey.htm 
Esse site apresenta informações biográficas de Dewey, além de suas contri­
buições para a psicologia, a filosofia e a educação. 
http:/ /psychclassics.yorku.ca/Dewey/reflex.htm 
Esse endereço contém o texto completo do artigo de Dewey a respeito do 
arco reflexo. 
James Rowland Ange/1 (1869- 7949) 
]ames Rowland Angell moldou o movimento funcionalista, transformando-o em uma 
escola de pensamento utilitária. Graças ao seu trabalho, o departamento de psicologia da 
University of Chicago foi o mais importante da sua época e a principal base de orienta­
ção para os psicólogos funcionalistas. 
A Biografia de Ange/1 
Angell nasceu em uma família de acadêmicos, em Vermont. Seu avô fora reitor da Brown 
University, em Providence, Rhode Island, e seu pai, reitor da Vermont University e 
depois da University of Michigan, onde Angell se formou e teve aulas com Dewey. Leu 
também The principies ofpsychology, de ]ames, e afirmou ter sido o livro que mais influen­
ciou seu pensamento. Angell trabalhou um ano com]ames, em Harvard, e obteve o mes­
trado em 1892. 
Seguiu para a Europa para continuar seus estudos de pós-graduação nas universida­
des de Halle e Berlim, na Alemanha. Em Berlim, assistiu às aulas de Ebbinghaus e 
Helmholtz. Desejava seguir para Leipzig, mas Wundt não estava mais aceitando alunos 
naquele ano. Angell não conseguiu completar seu trabalho de doutorado. Sua tese fora 
aceita mediante a condição de que a redação em alemão fosse melhorada, mas para isso 
teria de permanecer em Halle sem qualquer fonte de renda. Decidiu aceitar a indicação 
para lecionar na University of Minnesota, cujo salário, embora baixo, era razoável para 
quem desejava casar-se depois de um noivado de quatro anos. Apesar de jamais ter con­
cluído o doutorado, orientou diversos doutorandos e, no curso da sua carreira, recebeu 
23 títulos honorários. 
Depois de um ano em Minnesota, Angell aceitou trabalhar na University of Chicago, 
onde permaneceu por 25 anos. Seguindo a tradição familiar, foi reitor da Yale University 
e ajudou a desenvolver o Instituto de Relações Humanas. Em 1906, foi eleito 15Q presi­
dente da APA e, depois de se aposentar da vida acadêmica, foi conselheiro da National 
Broadcasting Company (NBC). 
A Esfera de Ação da Psicologia Funcional 
O livro de Angell, Psychology (1904), incorpora a abordagem funcionalista e obteve tanto 
sucesso que foram publicadas quatro edições em quatro anos, sinalizando o apelo da 
CAPÍTULO 7 FUNCIONALISMO: SUA FUNDAÇÃO E SUA EVOLUÇÃO : 1 75 
posição funcionalista. Nele, Angell afirmava ser função da consciência a melhoria da 
capacidade de adaptação do organismo. O objetivo da psicologia era estudar de que 
modo a mente auxilia o organismo a se adaptar ao seu ambiente. .,. - : 
No discurso de posse como presidente da APA em 1906, publicado ná .
Psychological 
Review, Angell descreveu o que chamou de "esfera de atuação" da psicologia funcional. 
Até aqui observamos que os novos movimentos ganharam impulso somente quando se 
referiram ou se opuseram à posição popular naquele momento. Angell traçou as linhas 
da batalha com avidez, mas concluiu com modéstia: "Renuncio formalmente a qualquer 
intenção de traçar novos planos; estou comprometido com o que se propõe ser um 
sumário imparcial das condições reais" (Angell, 1907, p. 61). 
A psicologia funcional, afirmou Angell, não consiste, de todo, em uma novidade 
e sim em uma parte significativa da psicologia desde o seu início. Foi a psicologia 
estrutural que se colocou à parte da forma de psicologia funcional mais antiga e ver­
dadeiramente mais difusa. Assim Angell descreveu os três principais temas do movi­
mento funcionalista: 
1. A psicologia funcional é a psicologia da operação mental, ao contrário do estru­
turalismo, que é a psicologia dos elementos mentais. O aspecto elementar da 
psicologia de Titchener ainda contava com defensores e Angell promovia o fun­
cionalismo em oposição direta a ele. A tarefa do funcionalismo é descobrir o 
modus operandi do processo mental, as suas realizações e as condições sob as 
quais ele ocorre. 
2. A psicologia funcional é a psicologia das utilidades fundamentais da consciência. 
Desse modo, a consciência é vista como um instrumento utilitário, já que faz a 
mediação entre as necessidades do organismo e as condições do ambiente. As 
estruturas e as funções orgânicas existem a fim de permitir que o organismo se 
adapte ao ambiente para, assim, sobreviver.Angell sugeria que a consciência 
· sobrevivia para executar alguma função essencial para o organismo. Os psicólo­
gos funcionalistas precisavam descobrir exatamente qual era essa função, não 
apenas da consciência como também dos processos mentais mais específicos, 
como o julgamento e a vontade. 
3 . A psicologia funcional é a psicologia das relações psicofísicas (as relações mente­
corpo) e dedica-se ao estudo de todas as relações entre o organismo e seu ambien­
te. O funcionalismo abrange todas as funções mente-corpo e não faz qualquer 
distinção entre a mente e o corpo. Ele os considera pertencentes à mesma classe 
e admite a facilidade de transferência entre eles. 
Comentários 
O discurso de posse de Angell na APA foi realizado em uma época em que o espírito do 
funcionalismo já era amplamente aceito. Angell moldou esse espírito em uma empreita­
da ativa e destacada, tendo como instrumentos um laboratório, um corpo de dados de 
pesquisa, um grupo de professores entusiasmados e um núcleo de dedicados estudantes 
de pós-graduação. Ao dirigir o funcionalismo para ocupar o status de escola formal, atri­
buiu-lhe o enfoque e a importância para efetivá-lo. Todavia continuou a afirmar que o fun­
cionalismo não constituía na verdade uma escola de pensamento separada nem devia ser 
1 76 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA MODERNA 
relacionado exclusivamente com a University of Chicago. Apesar das objeções de Angell, 
o funcionalismo prosperou e freqüentemente referiam-se a ele como a "escola de 
Chicago", sendo permanentemente associado com o tipo de psicologia ensinado e pra­
ticado ali. 
História On-line 
http://spartan.ac.brocku.ca/-lward/angell/ Angell_1 906/ Angell_1 906_00.html 
Esse site contém o texto completo da obra de Angell, Psycho/ogy: an intro-
ductory study of the structure and function of human consciousness (1 904). 
Harvey A. Carr (7 873- 7954) 
Harvey Carr fez especialização em matemática na DePauw University, Indiana, e na 
University of Colorado. Passou a se interessar pela psicologia aparentemente por admi­
rar o professor. "Decidi tornar-me psicólogo", declarou, "embora conheça muito pouco 
a respeito da natureza da matéria" (Carr, 1930/1961. p. 71) . Não existia laboratório de 
psicologia em Colorado, então, Carr transferiu-se para a University of Chicago, na qual 
seu primeiro professor de psicologia experimental foi o jovem professor assistente, ]ames 
Rowland Angell. 
No seu segundo ano em Chicago, Carr trabalhou como assistente de laboratório de 
]ohn B. Watson que, na época, era instrutor e mais tarde viria a fundar a escola de pen­
samento behaviorista. Watson apresentou a Carr a psicologia animal. 
Depois de obter o doutorado em 1905, Carr lecionou em uma escola de ensino 
médio no Texas e, em Michigan, em uma faculdade para professores estaduais. Em 1908, 
retornou a Chicago para substituir Watson que havia aceitado uma posição na Johns 
Hopkins University. Por fim, Carr sucedeu Angell como chefe do departamento de psi­
cologia da University of Chicago. Durante o mandato de Carr (1919-1938), o departa­
mento de psicologia concedeu 150 títulos de doutorado. 
Funcionalismo: o Formato Final 
Carr aprimorou a posição teórica de Angell e seu trabalho representava o funcionalis­
mo, quando não precisava mais batalhar contra o estruturalismo. O funcionalismo 
superara a oposição e adquirira direitos legítimos sobre a própria posição. No período 
de C arr, o funcionalismo em Chicago atingiu o ápice como sistema formal. Carr alega­
va ser a psicologia funcional a psicologia americana. Afirmava que as demais versões de 
psicologias propostas naquela época, como o behaviorismo, a psicologia da Gestalt e a 
psicanálise, dedicavam-se apenas a alguns aspectos limitados do campo. Acreditava que 
essas visões não tinham muito a acrescentar na tão abrangente psicologia funcionalista. 
O livro básico de Carr, Psychology (1925), apresenta a forma mais refinada de funcio­
nalismo, do qual se destacam dois pontos principais: 
• 
CAPiTULO 7 fUNCIONALISMO: SUA fUNDAÇAO E SUA EVOLUÇAO 1 77 
Carr definiu a atividade mental como objeto de estudo da psicologia - os pro­
cessos mentais, como a memória, a percepção, o sentimento, a imaginação, o jul-
gamento e a vontade. . ... .. : 
A função da atividade mental é a aquisição, fixação, retenção, organização e ava­
liação das experiências e a sua utilização para determinar a ação de uma pessoa. 
Carr chamou a forma específica de ação na qual aparece a atividade mental de 
comportamento de "adaptação" ou "ajuste". 
É possível perceber, nas idéias de Carr, a ênfase familiar da psicologia funcional nos 
processos mentais e não nos elementos nem no conteúdo da consciência. E, ainda, 
observa-se uma descrição da atividade mental em termos das realizações que permitem 
a adaptação do organismo a seu ambiente. É importante ressaltar que, em 1925, essas 
questões já eram aceitas como fatos e não mais como objeto de debate. Nesse período, o 
funcionalismo já era considerado psicologia geral. 
Como muitos psicólogos se consideravam, de alguma forma, funcionalistas, essa deno­
minação começou a perder o significado. Os profissionais da área denominavam-se sim­
plesmente psicólogos e não era necessário afirmar que a atitude funcional fazia parte do 
comportamento do psicólogo. (Wagner e Owens, 1992, p. 10.) 
Carr aceitava os dados obtidos por meio dos métodos experimental e introspectivo. 
Assim como Wundt, acreditava que as criações artísticas e literárias de uma cultura 
dariam indicações sobre as atividades mentais que a produziram. Embora o funciona­
lismo não adotasse uma metodologia única, como fazia o estruturalismo, na prática, a 
ênfase estava na objetividade. Quando se empregava a introspecção, ela era limitada ao 
máximo por controles objetivos. Além disso, é importante observar que o funcionalis­
mo empregava nas pesquisas tanto animais como seres humanos. 
A escola funcionalista de Chicago promoveu a transferência do estudo exclusivo da 
mente e da consciência subjetiva para o estudo do comportamento objetivo e patente. 
O funcionalismo ajudou a redefinir a psicologia americana, que acabou concentrando o 
foco no comportamento e eliminando o estudo da mente como um todo. Nesse senti­
do, os funcionalistas criaram uma ponte entre a psicologia estruturalista e a psicologia 
comportamental de Watson, que viria a ser a subseqüente proposta revolucionária. 
O Funcionalismo na Columbia University 
Como observamos até agora, não existiu uma forma única de psicologia funcional nos 
mesmos moldes da psicologia estrutural exclusiva de Titchener. Embora a evolução ini­
cial e a fundação da escola de pensamento funcionalista houvessem ocorrido na 
University of Chicago, outro ponto de vista vinha sendo formado por Robert 
Woodworth na Columbia University. Essa universidade também foi a base acadêmica de 
outros dois psicólogos de orientação funcionalista. Um foi ]ames McKeen Cattell, cujo 
trabalho sobre os testes mentais incorporou o espírito funcionalista americano (veja no 
Capítulo 8), e o outro foi E. L. Thorndike, cuja pesquisa a respeito dos problemas da 
aprendizagem animal reforçou a tendência funcionalista à maior objetividade (veja no 
Capítulo 9). 
1 78 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA MODERNA 
Robert Sessions Woodworth (7 869- 1962) 
Robert Woodworth não pertencia formalmente à escola de pensamento funcionalista 
como pertenciam tradicionalmente Carr e Angell. Ele não apreciava as restrições impos­
tas por membros de qualquer escola de pensamento. Entretanto grande parte do traba­
lho que escreveu sobre a psicologia seguia o espírito funcionalista da escola de Chicago, 
além de haver introduzido um importante ponto de vista. 
A Biografia de Woodworth 
Woodworth trabalhou ativamente na psicologia como pesquisadôr por mais de 60 anos e 
foi um amado professor, escritor e editor. Depois de obter o bacharelado na Amherst 
College de Massachusetts, lecionou ciências em um colégio e matemática em uma modes­
ta faculdade. Nesse período, duasexperiências mudaram a sua vida: a primeira, a palestra 
a que assistiu do famoso psicólogo G. Stanley Hall e a segunda, a leitura do livro The prin­
cipies of psychology, de William ]ames. Decidiu que deveria tornar-se um psicólogo. 
Matriculou-se na Harvard University, onde obteve o mestrado e, em 1899, na 
Columbia, recebeu o título de Ph.D., de ]ames McKeen Cattell. Woodworth deu aulas de 
fisiologia em hospitais da cidade de Nova York por três anos e durante um ano trabalhou 
na Inglaterra com o fisiologista Charles Scott Sherrington. Em 1903, retornou à 
Columbia, onde lecionou até a sua primeira aposentadoria, em 1945. Sua popularidade 
entre os alunos era tão grande que continuou a dar aulas a classes enormes até aposen­
tar-se pela segunda vez, com 89 anos. 
Gardner Murphy, um ex-aluno, recorda-se de Woodworth como o melhor professor 
que tivera no curso de psicologia, descrevendo-o assim: ele entrava "na sala de aula ves­
tindo um velho terno folgado e todo amassado e calçando coturnos do exército". Dirigia­
se até o quadro-negro e "pronunciava alguma palavra inimitável pela extravagância e 
perspicácia e que anotávamos no caderno para nos lembrarmos dela por muitos anos 
seguintes" (Murphy, 1963, p. 132). 
Woodworth descreveu sua visão de psicologia em diversos artigos de revistas e em 
dois livros, Dynamic psychology (1918) e Dynamics of behavior (1958). ,Escreveu um texto 
introdutório, Psychology (1921), que foi lançado em cinco edições, em 25 anos, e que 
superou em vendagem os demais textos relativos à psicologia na época. A obra 
Experimental psychology (Psicologia experimental) (1938, 1954) também tornou-se um 
livro de referência clássico. Em 1956, recebeu a primeira medalha de ouro concedida pela 
American Psychological Foundation (Fundação americana de psicologia) devido à sua 
"inigualável contribuição na formação de destino da psicologia científica" e por ser 
"integrador e organizador do conhecimento psicológico". 
A Psicologia Dinâmica 
Woodworth dizia que sua abordagem não consistia em nenhuma novidade e que era a 
mesma seguida pelos melhores psicólogos, mesmo antes de a psicologia tornar-se ciên­
cia. O conhecimento psicológico deve começar com uma investigação sobre a natureza 
do estímulo e da resposta, que são, com objetividade, os fatos externos. Mas, quando os 
psicólogos consideram somente o estímulo e a resposta para explicar o comportamento, 
CAPÍTULO 7 FUNCION,\LISMO: SUA FUNDAÇÃO E SUA EvOLUÇAO· 1 79 
perdem o que pode ser a parte mais importante do estudo, o organismo vivo propria­
mente dito. O estímulo não é a única causa de determinada resposta. O orgànismo, com 
seus níveis de energia variáveis e as experiências passadas e presentes, também atua para 
determinar a resposta. 
A psicologia precisa considerar o organismo interposto entre o estímulo e a respos­
ta. Portanto, Woodworth sugeria que o objeto de estudo da psicologia fosse tanto a 
consciência como o comportamento. (Essa posição foi adotada posteriormente pelos 
psicólogos humanistas e pelos teóricos da aprendizagem social.) 
É possíve_l estudar o organismo de forma objetiva, analisando o estímulo externo 
tanto como ª resposta, mas o que ocorre dentro do organismo só pode ser conhecido 
pela introspecção. Sendo assim, Woodworth aceitava a introspecção como uma ferra­
menta útil para a psicologia, juntamente com os métodos experimental e de observação. 
Woodworth introduziu no funcionalismo a psicologia dinâmica, que desenvolveu 
com base nos ensinamentos de ]ohn Dewey e William ]ames. (Dewey usara a palavra 
"dinâmico" nesse contexto já em 1884, e ]ames, em 1908.) A psicologia dinâmica diz res­
peito ao estudo da motivação e a intenção de Woodworth era desenvolver o que chama­
va de "motivatologia" (o estudo da motivação). 
Psicologia dinâmica: sistema de psicologia de Woodworth, que se dedica aos fatores causais e às 
motivações que influenciam os sentimentos e o comportamento. 
Embora se observem semelhanças entre a visão de Woodworth e a dos funcionalis­
tas de Chicago, ele enfatizava os fatos psicológicos que estão por trás do comportamen­
to. Sua psicologia dinâmica concentrava-se nas relações causa-efeito e principalmente 
nas forças que direcionam ou motivam os seres humanos. Acreditava que a psicologia 
devia dedicar-se a identificar por que as pessoas se comportam de determinado modo. 
Woodworth não adotou um sistema único nem desejava estabelecer a própria esco­
la de pensamento. Seu ponto de vista não foi construído com base em um protesto, mas 
estendendo, elaborando e sintetizando as características apropriadas de outras aborda­
gens que selecionava. 
-0 História On-Jine 
http:/ /psychclassics. yorku.ca/Woodworth/murchison.htm 
Esse site contém o texto da autobiografia de Woodworth. 
As Críticas ao Funcionalismo 
Os ataques contra o movimento funcionalista surgiram rápida e veementemente dos 
estruturalistas. Pela primeira vez, pelo menos nos Estados Unidos, a nova psicologia divi­
dia-se em facções rivais: o laboratório de Titchener na Cornell University como quartel­
general do estruturalismo e o departamento de psicologia da Chicago University, para os 
funcionalistas. As acusações, as investidas e os contra-ataques partiam de um lado a 
outro entre os inimigos que se consideravam no direito de se denominarem, cada um, o 
dono da verdade. 
1 80 H ISTCÍRIA DA PSICOLOGIA 1Y\ODERNA 
Uma das críticas contra o funcionalismo era que o próprio termo não era muito bem 
definido. Um aluno de Titchener, C. A. Ruckmick, examinou 15 livros de introdução à 
psicologia para identificar como cada autor definia o termo fimção. As duas definições 
mais comuns eram no sentido de atividade ou processo e no sentido de servir a outros 
processos ou ao organismo como um todo (Ruckmick, 1913) . 
Na primeira definição, função é sinônimo de atividade, por exemplo: as ações de 
lembrar e perceber são funções. Na segunda, a função é definida com relação à utilidade 
de alguma atividade para o organismo, como as funções digestivas ou respiratórias. 
Ruckmick acusava os funcionalistas de inconsistência e ambigüidade, já que às vezes 
empregavam a palavra função para descrever uma atividade e outras referindo-se à sua 
utilidade. 
Durante 1 7 anos não houve resposta da escola funcionalista para essa acusação, até 
que Harvey Carr alegou não haver inconsistência nas duas definições, já que ambas se 
referiam aos mesmos processos (Carr, 1930). Os psicólogos funcionalistas estavam inte­
ressados em uma atividade específica em benefício próprio (a primeira definição) e tam­
bém nas suas relações com outras condições ou atividades (a segunda definição). 
Observou que os biólogos geralmente seguiam uma prática semelhante. No entanto "pri­
meiro o funcionalismo empregava o conceito para depois defini-lo e essa seqüência é 
característica do movimento" (Heidbreder, 1933, p. 288). 
Outra crítica de Titchener e seus seguidores está relacionada à definição da psicolo­
gia. Os estruturalistas afirmavam que o funcionalismo não era psicologia. Por quê? 
Porque, alegavam, o funcionalismo não adotava os métodos e o objeto de estudo do 
estruturalismo! Assim, na visão de Titchener, qualquer abordagem da psicologia que se 
desviasse da análise introspectiva da mente com base nos elementos componentes não 
podia ser chamada de psicologia. E é óbvio que era exatamente essa definição de psico­
logia que os funcionalistas estavam questionando. 
Os críticos também consideravam equivocado o interesse dos funcionalistas pelas 
questões práticas, reacendendo, assim, a interminável polêmica entre a ciência pura e 
a aplicada. Os estruturalistas ignoravam qualquer aplicação do conhecimento psicoló­
gico aos problemas do mundo real, enquanto os funcionalistas não viam a menor uti­
lidade em manter a psicologia como uma ciência pura e jamais abriram mão do seu 
interesse prático. 
Carr acreditava na possibilidade de adoção do procedimento científico rigoroso 
tanto na psicologia pura como na aplicada e tambémna realização de pesquisas váli­
das nas fábricas, escritórios, salas de aulas, bem como nos laboratórios universitários. 
É o método e não o objeto de estudo que determina a validade científica de qualquer 
campo de investigação. Essa incessante disputa entre a ciência pura e a aplicada não é 
mais tão acirrada na psicologia americana como foi um dia, principalmente por causa 
do grande poder de penetração da psicologia aplicada. A aplicação prática da psicolo­
gia nos problemas reais está entre as principais e mais duradouras contribuições dQ 
funcionalismo. 
As Contribuições do Funcionalismo 
A forte oposição do funcionalismo ao estruturalismo teve enorme impacto na evolução 
da psicologia, nos Estados Unidos. A amplitude das conseqüências da transferência da 
ênfase da estrutura para a função também foi bastante significativa. Um dos resultados 
CAPÍTULO 7 FUNCIONALISMO: SUA FUNDAÇÃO E SUA EVOLUÇÃO· 1 81 
foi a incorporação da pesquisa do comportamento animal, que não fazia parte do trata­
mento estruturalista como área de estudo da psicologia. 
A ampla base da psicologia funcionalista também incorporava os e§.t�.J_dos sobre 
bebês, crianças e adultos com dificuldades mentais. Os funcionalistas complementavam 
o método introspectivo com dados obtidos por meio de outros métodos, como a pesqui­
sa fisiológica, os testes mentais, os questionários e as descrições objetivas do comporta­
mento. Essas abordagens, rejeitadas pelos estruturalistas, transformaram-se em fontes 
respeitáveis de informação para a psicologia. 
Na época da morte de Wundt, em 1920, e de Titchener, em 1927, suas abordagens 
já estavam obscuras nos Estados Unidos. Por volta de 1 930, consolidava-se a vitória 
do funcionalismo. Como veremos no Capítulo 8, o funcionalismo deixou a sua marca 
na psicologia americana contemporânea mais significativamente devido à ênfase na 
aplicação dos métodos e das descobertas da psicologia para a solução dos problemas 
práticos. 
Temas para Discussão 
1 . Descreva a noção d e Spencer a respeito do darwinismo social. Por que o dar­
winismo social tornou-se tão popular nos Estados Unidos? 
2. Por que o tipo de calculadora criado por Babbage em meados do século XIX 
não era mais adequado no final do mesmo período? Descreva a abordagem 
de Hollerith quanto ao processamento de informações com a utilização da 
máquina. 
3. Descreva os sintomas da neurastenia. Que segmento da sociedade ameri­
cana do século XIX tinha mais propensão a ser atingido por esse mal? 
Qual a diferença entre o tratamento prescrito para os homens e para as 
mulheres? 
4. Por que ]ames foi considerado o principal psicólogo americano? Descreva a 
sua atitude em relação ao trabalho laboratorial. 
5 . Qual a diferença entre a visão de ]ames e a de Wundt a respeito da consciên­
cia? Para ]ames, qual era o propósito da consciência? 
6. Quais os métodos considerados adequados por ]ames para o estudo da cons­
ciência? Qual foi o valor do pragmatismo na nova psicologia? 
7. Descreva a hipótese da variabilidade e sua influência na idéia da superiori­
dade masculina. Como as pesquisas de Woolley e Hollingworth refutaram 
essas idéias? 
8. De que forma Titchener e Dewey contribuíram para a fundação da psicolo­
gia funcional? Por que o funcionalismo não era dotado de uma forma única, 
assim como o estruturalismo? 
9. Para Angell, quais eram os três principais temas do funcionalismo? Que 
métodos de pesquisa Carr considerava adequados para a pskologia 
funcional? 
1 8 2 HIST<ÍRIA DA PSICOLOGIA MODERNA 
10. Descreva a psicologia dinâmica de Woodworth e a sua visão sobre a intros­
pecção. O próprio Woodworth considerava-se um psicólogo funcionalista? 
Por que sim ou não? 
1 1 . Faça uma comparação entre as contribuições do funcionalismo e do estrutu­
ralismo na psicologia. Por que a psicologia aplicada desenvolveu-se no fun­
cionalismo e não no estruturalismo? 
Sugestões de Leitura 
Campbell-Kelley, M. e Aspray, W. Computer: a history of the information machine. Nova 
York: Basic Books, 1996. Traça o desenvolvimento do computador a partir do traba­
lho de Hollerith e o seu tabulador de cartões perfurados utilizado no censo de 1890. 
Carr, H. A. Autobiography. In Murchison, C. (Ed.). A history of psychology in autobio­
graphy. Nova York: Russell & Russell, 1 961, v. 3, p.69-82. (Trabalho original publica­
do em 1930.) As lembranças de Harvey Carr sobre a sua carreira. 
Crissman, P. The psychology of John Dewey. Psychologica/ Review, nº 49, p. 441-462, 
1942. Analisa a abordagem de Dewey para a psicologia da época. 
Furumoto, L. From "paired associates" to a psychology of self: the intellectual odyssey 
of Mary Whiton Calkins. In KIMBLE, G. A.; Wertheimer, M. e White, C. (Eds.) . 
Portraits of pioneers in psychology. Washington, DC: American Psychological 
Association, 1991, p. 57-58. Descreve a abordagem de Calkin sobre a pesquisa expe­
rimental em psicologia dentro do contexto acadêmico de uma faculdade para 
mulheres (Wellesley, 1887-1930). 
Lewis, R. W. B. The Jameses: a family narrative. Nova York: Farrar, Straus and Giroux. Um 
relato da família de ]ames, incluindo William (psicólogo), Henry (romancista) e 
Alice (ativista política). 
Lutz, T. American nervousness, 1903: an anecdotal history. Ithaca, NY: Cornell University 
Press, 1991. Discute a neurastenia, doença cultural prevalecente nos Estados Unidos 
no início do século XX, e especula sobre seus efeitos provocados em William ]ames, 
entre outros. 
McKinney, F. Functionalism at Chicago - memories of a graduate student: 1929-193 1 . 
fournal of the History o f the Behavioral Sciences, n º 14, p. 142-148, 1978. Descreve o 
corpo docente, o corpo discente, o programa do curso e o clima intelectual do depar­
tamento de psicologia da University of Chicago. 
Ryan, A. fohn Dewey and the high tide of American liberalism. Nova York: W. W. Norton, 
1995. Examina o pragmatismo de Dewey e suas idéias a respeito da liberdade indi­
vidual para produzir o aperfeiçoamento da sociedade. 
Simon, L. William [ames remembered. Lincoln: University of Nebraska Press, 1996. Cole­
tânea de lembranças de membros da família, amigos e líderes intelectuais daquela 
época, a respeito de ]ames. 
Thorne, F. C. Reflections on the Golden Age of Columbia's psychology. fournal of the 
History ofthe Behavioral Sciences, nº 1 2, p. 159-165, 1976. Descreve o corpo docente 
e os interesses em pesquisas do departamento de psicologia da Columbia University 
(1920-1940).

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