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Daniel Mitidiero - Colaboração no Processo Civil

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DE ACORDO COM 
O NOVO CPC
- L E I 13.105/2015
Diretora Responsável
Marisa Harms
Diretora de Operações de Conteúdo
Juliana Mayumi Ono
Editores:Andreia Regina Sehneider Nunes, Cristiane Gonzalez Basile de Faria, Iviê A. M. Loureiro Gomes e Luciana Felix
Assistente Administrativo Editorial: Juliana Camilo Menezes
Produção Editorial
Coordenação
Juliana De C icco Bianco
Analistas Editoriais: Danielle Rondon Castro de Morais, Flávia Campos Marcelino Martines, Gabriele Lais 
Sant'Anna dos Santos, George Silva Melo, Luara Coentro dos Santos e Luciano Mazzolenis J. Cavalheiro
Analistas de Qualidade Editorial: Carina Xavier Silva, Cinthia Santos Galarza, Cíntia Mesojedovas Nogueira e 
Maria Angélica Leite
Capa: Chrisley Figueiredo
Administrativo e Produção Gráfica
Coordenação
Caio Henrique Andrade
Analista Administrativo: Antonia Pereira
Assistente Administrativo: Francisca Lucélia Carvalho de Sena
Analista de Produção Gráfica: Rafael da Costa Brito
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Mitidiero, Daniel
Colaboração no processo civil : pressupostos sociais, lógicos e éticos / 
Daniel Mitidiero. ~ 3. ed. rev., atual, e ampl. de acordo com o novo código de 
processo civil. — São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2015.
Bibliogrtafia.
ISBN 978-85-203-6502-1 
1. Processo civil - Brasil I. Título.
15-06019 CDU-347.9(81)
índices para catálogo sistemático: 1. Brasil : Direito processual civil 
347.9(81)
Parte I
A COLABORAÇÃO COMO MODELO 
E COMO PRINCÍPIO DO PROCESSO CIVIL
1. Processo e cultura
Ao apresentar o Projeto do Código de Processo Civil de 1973, 
expondo-lhe os motivos, Alfredo Buzaid asseverava que a elaboração de 
um Código de Processo encerra uma empresa “eminentemente técnica”.1 
Em outra oportunidade, ao traçar as linhas fundamentais de nosso Có­
digo anterior em conferência na Universidade de Keyo, Buzaid foi ainda 
mais enfático: o “processo civil é uma instituição técnica”.2 Essas asser­
tivas encerram o espírito de toda uma época: o processualismo ,
período de efetiva construção da ciência processual civil (“ 
Prozessrechtsmssenschaft"),3 cujo início normalmente se assinala com 
Oskar Bülow no final dos Oitocentos,4 parcialmente sistematizado ainda
1. Alfredo Buzaid (1914-1991), Exposição de motivos. Brasília, 1972, n. 5.
2. Linhas fundamentais do sistema do Código de Processo Civil brasileiro, 
Estudos e pareceres de direito processual civil, com notas de adaptação ao 
direito vigente de Ada Pellegrini Grinover e Flávio Luiz Yarshell. São Paulo: 
Ed. RT, 2002, p. 34.
3. Bemhard Hahn, Kooperationsmaxime im Zivilprozess ? Kõln: Carl Heymanns, 
1983, p. 7.
4. Niceto Alcalá-Zamora y Castillo (1906-1985), Evolución de la DoctrinaPro- 
cesal (1950), Estúdios de Teoria General e Historia dei Proceso (1945-1972). 
México: Instituto de Investigaciones Jurídicas, 1974, t. II, p. 308. Alude 
Niceto à conhecidíssima obra de Bülow (1837-1907), Die Lehre von den 
Processeinreden und die Processvoraussetzungen. Giessen: EmilRoth, 1868. 
Essa é a communis opinio doctorum (Miguel Teixeira de Sousa, Apontamento 
sobre a ciência processual civil, Revista de Processo, p. 70-71, n. 235. São 
Paulo: Ed. RT, 2014). Todavia, para uma defesa do início do processo civil
2 2 COLABORAÇÃO NO PROCESSO CIVIL - PRESSUPOSTOS SOCIAIS, LÓGICOS E ÉTICOS
àquele tempo por Adolf W ach,5 desembarcado no Brasil pela mão da 
Escola Italiana da primeira metade dos Novecentos (a chamada Escola 
“sistemática"),6 cujo mestre maior foi Giuseppe Chiovenda,7 trazido 
na bagagem de seu discípulo Enrico Tullio Liebman.8
Não se mostra difícil associar o intento de Buzaid ao de Chioven­
da, que, no início dos Novecentos, postulava a assimilação do direito 
processual civil germânico e austríaco na Itália.9 Percebe-se subjacente 
a esse modo de pensar o direito processual civil a mesma ideia central: 
o processo como fenômeno técnico, como algo em larga medida inde­
pendente de fatores culturais.10
como disciplina autônoma a partir da ideia de procedimento no período 
do jusnaturalism o, igualmente com boas razões, Knut Wolfgang Nòrr, 
Naturrecht und Zivilprozess. Tübingen: Mohr Siebeck, 1976, p. 18 e ss.; 
Vittorio Denti (1919-2001), Dottrine dei Processo e Riforme Giudiziarie 
tra Iluminismo e Codificazioni (1981), Un Progetto per la 
Bologna: II Mulino, 1982, p. 97 e ss.
5. Adolf Wach (1843-1926), Handbuch des Deutschen Lei-
pzig: Duncker & Humblot, 1 8 8 5 ,1.1.
6. Vittorio Denti, Sistemática e Post-sistematica nell’Evoluzione dele Dottrine 
dei Processo Civile (1986), Sistemi e Riforme - Studi sulla Giustizia Cviile. 
Bologna: II Mulino, 1999, p. 13 e ss.
7. Giuseppe Chiovenda (1872-1937), “fundador da nova escola processual 
italiana”, como observa Alfredo Buzaid à Introdução da edição brasileira das 
Instituições de direito processual civil (1933). Trad. J . Guimarães Menegale 
e notas de Enrico Tullio Liebman (1942). 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1969, 
vol. I, p. VII.
8. Enrico Tullio Liebman (1903-1986). Sobre o assunto, Daniel Mitidiero, O 
processualismo e a formação do Código Buzaid, Revista de Processo, n. 183. 
São Paulo: Ed. RT, 2010. Ainda, Marinoni; Arenhart; Mitidiero, Novo curso 
de processo civil-Teoria do processo civil. São Paulo: Ed. RT, 2015, vol. I, p. 
558 e ss.; Jonathan Iovane de Lemos, A organização do processo civil - Uma 
análise cultural da estruturação do processo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 
2013, p. 105 ess.
9. Giuseppe Chiovenda, Del Sistema negli Studi dei Processo Civile (1908),
Saggi di DirittoProcessuale Civile (1894-1937). Milano: Giuffrè, 1993, vol.
I,p . 229.
10. Nada obstante abaixo dessa aparente neutralidade técnica escondessem-se 
opções culturais, conforme GiovanniTarello (1934-1987), II Problemadella
PARTE 1 - A COLABORAÇÃO COMO MODELO E COMO PRINCÍPIO DO PROCESSO CIVIL 23
Essa não nos parece, porém, a melhor compreensão do tema. É 
certo que o direito processual civil contém uma estruturação técnica.11 
Isso não elide, no entanto, o caráter cultural das opções técnicas eleitas 
para conformação do próprio processo,12 viés que acaba condicionando 
a organização do tecido processual.13 O direito processual civil não
Riforma Processuale in Italia nel Primo Quarto dei Secolo. Per uno Studio 
delia Genesi Dottrinale e Ideológica dei Vigente Códice Italiano di Procedura 
Civile (1977), Dottrine dei Processo Civil - Studi Storici sulla Formazione 
dei Diritto Processuale Civile, a cura di R. Guastini e G. Rebuffa. Bologna: II 
Mulino, 1989, especialmente p. 43 e ss.; LOpera di Giuseppe Chiovenda nel 
Crepúsculo delloStato Liherale (1973), Dottrine dei 
Storici sulla Formazione dei Diritto Processuale Civile, a cura di R. Guastini 
e G. Rcbu/fa. Bologna: II Mulino, 1989, p. 109-214. As observações de Ta- 
rello quanto ao papel de Chiovenda na história do direito processual civil 
italiano, todavia, foram vivamente criticadas por Enrico Tullio Liebman, 
Storiografia Giuridica “Manipolata”, Rivisía di Diritto Processuale, p. 100 
e ss. Padova: Cedam, 1974, especialmente p. 122-123. Sobre o assunto, 
ainda, Michele Taruffo, La Giustizia Civile in Italia dal’700 a Oggi. Bologna: 
II Mulino, 1980, p. 183-192; Sistema e Funzione dei Processo Civile nel 
Pensiero de Giuseppe Chiovenda, Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura 
Civile. p. 1.133-1.168. Milano: Giuffrè, 1986.
11. Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito processual civil (2001). 
3. ed. São Paulo: Malheiros, 2003, vol. I, p. 58.
12. O problema da conformação do processo - tanto na sua perspectiva subjetiva 
quanto objetiva - foi tratado na doutrina brasileira principalmente a partir 
da expressão “formalismo do processo” (Álvaro de Oliveira (1942-2013), 
Do formalismo no processo civil (1997). 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2010), que 
abrange “a totalidade formal do processo, compreendendo não só a forma, 
ou as formalidades, mas especialmente a delimitação dos poderes, faculdades 
e deveres dos sujeitos processuais, coordenaçãode sua atividade, ordenação 
do procedimento e organização do processo, com vistas a que sejam atingi­
das suas finalidades primordiais”, investindo-se, assim, na “tarefa de indicar 
as fronteiras para o começo e o fim do processo, circunscrever o material a 
ser formado, estabelecer dentro de quais limites devem cooperar e agir as 
pessoas atuantes no processo para o seu desenvolvimento”, com o que “con­
tém, portanto, a própria ideia do processo como organização da desordem, 
emprestando previsibilidade a todo o procedimento” (Idem, p. 28).
13. Idem, p. 92-98. Sobre as relações entre processo e cultura, ainda, Daniel 
Mitidiero, Elementos para uma teoria contemporânea do processo civil brasi­
leiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 11-16.
24 COLABORAÇÃO NO PROCESSO CIVIL - PRESSUPOSTOS SOCIAIS, LÓGICOS E ÉTICOS
escapa à sorte do direito em geral: compete à autonomia da pessoa 
humana, sendo fruto dessa percepção de m undo.14
Embora a caracterização do direito em geral e do processo ci­
vil em especial como fenômenos culturais seja algo pouco mais do 
que evidente hoje, a ponto mesmo de autorizada doutrina colocar 
com o uma das características incontroversas do direito atual a sua 
humanidade,15 certo é que a discussão a respeito do tema se coloca se 
tivermos presente a perspectiva histórica do problema. Quem quer que 
tenha se interessado em compreender o direito a partir da filosofia dos 
Setecentos certamente não estranhará a necessidade de uma justificação 
um pouco mais aprofundada a respeito do assunto.
A partir dos Seiscentos, como é notório, fixa-se o paradigma 
científico da modernidade,16 fincando aí a contraposição entre ciências 
naturais e ciências culturais ou, como às vezes igualmente se alude, entre 
ciências técnicas e ciências culturais (no fundo, contraposição entre 
natureza e pessoa humana),17 ainda hoje normalmente utilizada.18 A
14. Conforme, para o direito em geral, Antônio Castanheira Neves, Metodolo­
gia jurídica-Problem as fundamentais. Coimbra: Coimbra Ed., 1993, p. 47; 
Norbert Hom, Einführung in die Rechtswissenschaft und Rechtsphilosophie 
(1996). 5. ed. Heidelberg: C. E Müller, 2011, p. 33-35 ; para o direito pro­
cessual civil em particular, Ovídio Baptista da Silva (1929-2009) Jurisdição 
e execução na tradição Romano-Canônica (1996). 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 
1997, p. 192-219; Luiz Guilherme Marinoni, Novas linhas do processo civil 
(1993). 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 20-21 ; Galeno Lacerda (1922- 
2012), Processo e cultura, Revista de Direito Processual Civil, p. 74, vol. III. 
São Paulo: Saraiva, 1961.
15. Por todos, Ângelo Falzea, Introduzione alie Scienze Giuridiche - II Concetto 
di Diritto (1975). 5. ed. Milano: Giuffrè, 1996, p. 492.
16. Michel Villey (1914-1988), a propósito dos Seiscentos, fala mesmo em 
“nascimento” da ciência moderna (La Formation de la Pensée Juridique 
Modeme (1961-1966) (2003). 2. ed. Paris: PUF, 2013, p. 493).
17. Boaventura de Sousa Santos, Um Discurso sobre as ciências (1987). 13. ed. 
Porto: Edições Afrontamento, 2002, p. 12.
18. Vide, por exemplo, a referência em Peter Háberle, Constitución como Fenô­
meno Cultural, Constitución como Cultura (1998). Trad. Ana Maria Montoya. 
Bogotá: Instituto de Estúdios Constitucionales Carlos Restrepo Piedrahita, 
2002, p. 63.
PARTE 1 - A COLABORAÇÃO COMO MODELO E COMO PRINCIPIO DO HROCESSO CIVIL 25
ciência está onde há exatidão e certeza, onde há mensurabilidade,|g 
sendo protótipo do saber científico aquele desenvolvido no campo das 
ciências da natureza - como, por excelência, a matemática.19 20
Nessa quadra, o direito vai adquirindo uma feição cada vez mais 
técnica com o correr da história, afeiçoando-se lcntamente às ciências 
de pesar e contar. Vale dizer, vai matemat izando-se, orientando-se para 
um discurso natural e técnico.21 Essa inclinação histórica inicia com 
Althusius,22 23 já nos Seiscentos, cujo intento central estava em aplicar 
ao direito a lógica de Picrre de la Ramée‘' 1 - com o que pretendeu 
construir um sistema coerente para o direito, ordenando os conceitos 
essenciais ao trato do fenômeno jurídico.24 25 Essa empreitada preparou 
o caminho para logo em seguida os cartesianos deduzirem todo o direito 
de axiomas.2> Daí para a “genealogia dos conceitos", de Puchta,26 em 
pleno Oitocentos, em que se procurou organizar o direito como uma 
“pirâmide de conceitos" não há qualquer ruptura.27
A compreensão do direito como um conjunto de normas formais 
e abstratas, deduzidas conceitualmente, teve como consequência a 
sua própria colocação fora do âmbito cultural. O fenômeno jurídico
19. Michel Villey, La Formation de la Pensée Modeme (1961 -1966)
(2003). 2. ed. Paris: PUF, 2013, p. 494.
20. Boaventura de Sousa Santos, Um discurso sobre as ciências (1987). 13. ed. 
Porto: Edições Afrontamento, 2002, p. 14-15.
21. Ovídio Baptista da Silva, Processo e ideologia-O paradigm a racionalista. Rio 
dejaneiro: Forense, 2004, p. 58.
22. Johannes Althusius (1557 ou 1563-1638).
23. Pierre de la Ramée (1515-1572), também conhecido como Petrus Ramus.
24. Michel Villey, La Formation de la Pensée Juridique Moderne (1961-1966) 
(2003). 2. ed. Paris: PUF, 2013, p. 520.
25. Idem, ibidem. Para uma análise das consequências do pensamento de Al­
thusius especificamente para o direito processual civil, consulte-se Nicola 
Picardi, I - Processo Civile: c) Diritto Moderno, Enciclopédia dei Diritto, 
Milano: Giuffrè, 1987, vol. XXXVI, p. 106 e ss.
26. Georg Puchta (1798-1846).
27. Karl Larenz (1 9 0 3 -1 9 9 3 ), Metodologia da ciência do direito (1960). Trad. 
José Lamego (1986). 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997, 
p. 23.
26 COLABORAÇÃO NO PROCESSO CIVIL - PRESSUPOSTOS SOCIAIS, LÓGICOS E ÉTICOS
- seus problemas e suas respectivas soluções - acabou congelado no 
tempo e desligado da realidade social. Nenhuma surpresa, portanto, 
que já se tenha observado que essa maneira de pensar tenha levado a 
um inevitável “alheamento da ciência jurídica em relação às realidades 
sociais, políticas e morais do direito”.28
Daí por que, quando hoje se afirma o caráter cultural do direito, 
sublinham-se justamente as características de humanidade, socialidade 
e normatividade, frisando-se a gênese axiológica e cultural de nossa 
ciência.29 A ligação entre sistema cultural e sistema jurídico é hoje 
insuprimível do horizonte do jurista.30
A colocação do direito no campo da cultura, porém, ainda não 
explica totalmente o problema. Isso porque o próprio conceito de 
cultura reclama uma maior precisão.
Já se observou que “é difícil escapar à conclusão de que a palavra 
‘cultura’ é ao mesmo tempo ampla demais e restrita demais para que seja 
de muita utilidade”.31 Nada obstante, visando outorgar-lhe contornos 
menos fluidos, é possível reconhecer ao menos dois significados básicos 
que normalmente se lhe imputam: o de e o de civilidade.32
No primeiro sentido, normalmente associado à Antiguidade 
Grega, reconhece-se ao termo cultura a própria educação do indivíduo
28. Franz Wieacker (1908-1994), Privatrec der Neuzeit (1952). 2. 
ed. Gòttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1967, p. 401.
29. Ângelo Falzea, Introduzione alie Scienze Giuridiche. 5. ed. Milano: Giuffrè, 
1996, p. 492.
30. Ângelo Falzea, Sistema Culturale e Sistema Giuridico (1988), Ricerche di 
Teoria Generale dei Diritto e di Dogmatica Giuridica. Milano: Giuffrè, 1999, 
p. 189-219.
31. Terry Eagleton, A ideia de cultura (2000). Trad. Sandra Castello Branco. 
Revisão técnica Cezar Mortari. São Paulo: Unesp, 2005, p. 51.
32. Ângelo Falzea, Sistema Culturale e Sistema Giuridico (1988), Ricerche di 
Teoria Generale dei Diritto e di Dogmatica Giuridica. Milano: Giuffrè, 1999, 
p. 189; na doutrina brasileira, Miguel Reale (1910-2006) igualmente parte 
de semelhantes acepções do termo cultura (uma pessoal e subjetiva e outra 
social e objetiva) para explicá-la (Conceito de cultura - Seus temas fun­
damentais, Paradigmas da cultura contemporânea (1996). 2. ed. São Paulo: 
Saraiva,2005, p. 3).
PARTE I - A COLABORAÇÃO COMO MODELO E COMO PRINCÍPIO DO PROCESSO CIVIL 27
dentro das disciplinas superiores (por exemplo, a filosofia), o seu 
refinamento e o desenvolvimento das suas capacidades intelectuais 
e morais. A tônica dessa acepção de cultura vai posta no indivíduo, 
embora a polis e a civitas constituam o local em que se manifesta e 
se realiza a cultura individual (aspecto social do con ceito).33 No 
segundo, a palavra cultura exprime uma ideia mais coletiva, social, 
transindividual, identificando-se com determinados estágios de evo­
lução social (ou mesmo com o seu progressivo desenvolvimento), 
aparecendo essa maneira de compreender o tema principalmente a 
partir dos Setecentos.34 O aspecto social ganha destaque. Em ambos 
os sentidos, contudo, aparece o termo marcado pela especificidade 
humana.
Nesse particular, interessa notar que a dupla acepção do termo 
contribui para explicar o direito como um produto cultural, como 
algo inerente aos domínios da cultura. A partir da ideia de cultura 
como cultura animi, explica-se a ligação entre cultura e espiritualidade 
(entrando em cena a pessoa, considerada individualmente), servindo 
a sua compreensão como civilidade para marcar o elemento social, 
bem marcando os laços entre espiritualidade e sociedade.35 Aparece, 
então, a ideia de cultura como algo que espiritualiza a vida social,36 
bem apontando os nexos indeléveis existentes entre a cultura e o tipo 
de vida levado por determinada agremiação de pessoas, fundado em 
valores comuns.37 Nessa linha, a cultura realiza os valores sociais.38
Segue-se daí que o direito, com as suas características de huma­
nidade e de socialidade, pode ser caracterizado como um autêntico 
produto cultural, entendida a cultura como a espiritualidade inerente à
33. Ângelo Falzea, Sistema Culturale e Sistema Giuridico (1988), Ricerche di 
Teoria Generale dei Diritto e di Dogmatica Giuridica. Milano: Giuffrè, 1999, 
p. 189-190.
34. Idem, p. 190-191.
35. Idem, p. 195.
36. Idem, p. 196.
37. Idem, p. 197.
38. Johannes Hessen (1889-1971), Filosofia dos valores (1937). Trad. Luís Cabral 
de Moncada. Coimbra: Almedina, 2001, p. 184.
28 COLABORAÇÃO NO PROCESSO CIVIL - PRESSUPOSTOS SOCIAIS, LÓGICOS E ÉTICOS
realidade humana socialmente considerada.39 Dentre todas as manifes­
tações da cultura, o direito é fruto da cultura positiva, isto é, da cultura 
encarnada em comportamentos sociais reconduzíveis aos valores que 
caracterizam determinado contexto histórico.40
Partindo-se dessa perspectiva cultural, compreendem-se facil­
mente as razões pelas quais o direito processual civil tenha experimen­
tado diferentes perspectivas metodológicas, já que toda experiência nesse 
fecundo campo encerra um modo de ver e trabalhar com o processo, 
evidentemente condicionada à cultura social historicamente conside­
rada41 - j á que essa opera mesmo como uma “lente através da qual o 
homem vê o mundo”.42 Náo constitui privilégio do direito processual 
civil, a propósito, essa evolução metodológica, dado facilmente com- 
provável na rápida e livre consulta da bibliografia sobre outros ramos 
jurídicos.43
39. Ângelo Falzea, Sistema Culturale e Sistema Giuridico (1988), Ricerche di 
Teoria Generale dei Diritto ed i Dogmatica Giuridica. Milano: Giuffrè, 1999, 
p. 198-199.
40. Idem, p. 198-205.
41. Elio Fazzalari (19 2 5 - 2 0 1 0 ), EEsperienza dei Processo nella Cultura
Contemporânea, Rivistadi Diritto Processuale,p. 29. Padova: Cedam, 1965;
Fritz Baur (1911-1992), II Processo e le Correnti Culturali Contemporanee. 
Trad. Corrado Ferri. Rivista di Diritto Processuale, p. 253. Padova: Cedam, 
1972. Nesse sentido, o processo pode ser encarado como uma espécie de 
“sismógrafo, um aparelho de grande precisão, capaz de registar, a distân­
cia, os mínimos movimentos e deslocações das camadas de terreno mais 
profundas no subsolo da vida social”, conforme a sugestiva imagem de Luís 
Cabral de Moncada (1888 - 1974), O processo civil perante a filosofia do 
direito (1945), Estudos de filosofia do direito e do Estado, p. 167-168, vol. II. 
Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2004.
42. Roque de BarrosLaraia, Cultura-U m (1986). 19. ed.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006 , p. 67.
43. Apenas a título de exemplificação, tomemos o direito privado, conforme 
Natalino Irti, Códice Civile e Plusvalore Político, Códice Civile e Società Politica 
(1995). 7. ed. Roma: Laterza, 2005 , p. 5-18 ; Judith Martins-Costa, Direito 
e cultura: entre as Veredas da Existência e da História, Diretrizes teóricas 
do novo Código Civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 169 e ss., em 
coautoria com Gerson Luiz Carlos Branco; Luiz Edson Fachin, Teoria crítica 
do direito civil (2000). 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 25 e ss.
PARTE 1 - A COLABORAÇÃO COMO MODELO E COMO PRINCÍPIO DO PROCESSO CIVIL 29
Em termos de fases metodológicas, alinham-se quatro grandes 
linhas atinentes ao direito processual civil: o praxismo, o processualis- 
mo, o instrumentalismo e o processo civil no Estado Constitucional. 
A existência dessas diferentes formas de pensar o processo civil, aliás, 
já indicam o alto grau de comprometimento existente entre cultura e 
processo, autorizando a sua caracterização como um fenômeno emi­
nentemente cultural.44
O praxismo corresponde à pré-história do direito processual civil,
tempo em que se aludia ao processo como “procedura" e não ainda 
como “diritto processual civile".45 Época em que não se vislumbrava 
o processo como um ramo autônomo do direito, mas como mero 
apêndice do direito material.46 47 Direito adjetivo, pois, que só ostentava 
existência útil se ligado ao direito sub
44. Sobre o assunto, ainda, Marcojobim, Cultura, escolas e fases metodológicas 
do processo (2011). 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2014, p. 111
ess.
45. A contraposição vem indicada, por exemplo, em Salvatore Satta (1902- 
1975), Diritto Processuale Civile, Enciclopédia dei Diritto. Milano: Giuffrè, 
1964, vol. XII, p. 1.101.
46. Sintomática dessa orientação, a propósito, a impostação que o direito pro­
cessual civil merecia nos livros jurídicos de então: sirva de exemplo, conso­
ante aponta Riccardo Orestano (1909-1988), as Pandectas de Thibaut, que 
até a 7.a edição, datada de 1828, incluíam uma ampla exposição do direito 
processual civil em seu terceiro volume (conforme Azione. I - LAzione in 
Generale: a) Storia dei Problema, Enciclopédia dei Diritto. Milano: Giuffrè, 
1959, vol. IV, p. 790).
47. A respeito do ponto, a acertada crítica de Galeno Lacerda: “erro arraigado, 
cometido até por autores de tomo, consiste em definir o direito processual 
como direito adjetivo, ou como direito formal. O primeiro, de improprie- 
dade manifesta, legou-nos Bentham. Tão impróprio é definir o arado como 
adjetivo da terra, o piano como adjetivo da música, quanto o processo 
como adjetivo do direito em função do qual ele atua. Instrumento não 
constitui qualidade da matéria que modela, mas ente ontologicamente 
distinto, embora a esta vinculado por um nexo de finalidade. Se não é 
qualidade, também não será forma, conceito que pressupõe a mesma e, no 
caso, inexistente integração ontológica com a matéria. A toda evidência, 
processo não significa forma do direito material. Aqui, o erro provém de 
indevida aplicação aos dois ramos do direito das noções metafísicas de
30 COLABORAÇÃO NO PROCESSO CIVIL - PRESSUPOSTOS SOCIAIS, LÓGICOS E ÉTICOS
Leciona-se que nesse período sincretista do direito processual 
civil (que denominamos de praxista), “os conhecim entos eram pura­
mente empíricos, sem qualquer consciência de princípios, sem con­
ceitos próprios e sem a definição de um m étodo. O processo mesmo, 
como realidade da experiência perante os juízos e tribunais, era visto 
apenas em sua realidade física exterior e perceptível aos sentidos: 
confundiam-no com o mero procedimento quando o definiam como 
sucessão de atos, sem nada se dizerem sobre a relação jurídica que 
existe entre seus sujeitos (relaçãojurídica processual), nem sobre 
a conveniência política de deixar caminho aberto para a participa­
ção dos litigantes (contraditório)”.48 Nessa quadra, a jurisdição era 
encarada como um sistema posto para tutela dos direitos subjetivos 
particulares, a ação era compreendida com o um desdobramento
matéria e forma, como conceito com plem entares. Definidas as normas 
fundamentais, reguladoras das relações juríd icas, com o direito material, 
ao direito disciplinador do processo outra qualificação não restaria senão 
a de formal. O paralelo se revela primário em seu sim plism o sofistico. 
O direito material há de regular as formas próprias que substanciam e 
especificam os atos jurídicos materiais, ao passo que o direito processual, 
como instrumento de definição e realização daquele em concreto, há de 
disciplinar, também, as formas que substanciam e especificam os atos 
jurídicos processuais. Em suma, a antítese não é direito material - direito 
formal e sim, direito material - direito instrum ental. Isto porque instru­
mento, como ente a se, possui matéria e formas próprias, independentes 
da matéria e da forma da realidade ju ríd ica, dita material, sobre a qual 
opera” ( Comentários ao Código de Processo Civil (1 9 8 0 ) . 7. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1998, vol. VIII, t. I, p. 2 3 -2 4 ). A despeito da crítica, 
alguns processualistas portugueses ainda hoje insistem em considerar 
o processo civil como “direito adjetivo” (com o, entre outros, José Lebre 
de Freitas, Introdução ao processo civil. Coimbra: Coim bra Ed., 1996, p. 
8; Jorge Augusto Pais de Amaral, Direito processual civil (1 9 9 9 ), 2. ed. 
Coimbra: Almedina, 2001 , p. 160; outros, no entanto, rejeitam a termi­
nologia, preferindo aludir ao direito processual civil corretam ente como 
“direito instrum ental” (com o Miguel Teixeira de Sousa, Introdução ao 
processo civil. Lisboa: Lex, 1993, p. 3 5 -36 ; Antônio Montalvão Machado; 
Paulo Pimenta, O novo processo civil (1 9 9 7 ). 4. ed. Coim bra: Almedina, 
2002, p. 14-15).
48. Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito processual civil (2001). 
3. ed. São Paulo: Malheiros, 2003, vol. I, p. 255.
PARTE I - A COLABORAÇÃO COMO MODELO E COMO PRINCÍPIO DO PROCESSO CIVIL 31
do direito subjetivo49 e o processo como simples procedimento.50 O 
clima privatista do direito material permeava integralmente o direito 
processual, envolvendo-o no mesmo plano.51
A dissociação operada entre o direito material e o direito proces­
sual foi uma empresa moderna,52 devida fundamentalmente à pro-
49. Sobre as teorias da açâo, tema que ora evidentemente desborda de nossa 
análise, consulte-se a coletânea de ensaios Polêmica sobre a a çã o -A tutela 
jurisdicional na perspectiva das relações entre direito e processo, organizada 
por Fábio Cardoso Machado e Guilherme Rizzo Amaral. Porto Alegre: 
Livraria do Advogado, 2006, que conta com ensaios de Álvaro de Oliveira, 
Daniel Mitidiero, Fábio Cardoso Machado, Gabriel Pintaúde, Guilherme 
Rizzo Amaral, Hermes Zanetijr., Luiz Guilherme Marinoni e Ovidio Araújo 
Baptista da Silva. Vide ainda Álvaro de Oliveira, Teoria e prática da tutela 
jurisdicional. Rio dejaneiro: Forense, 2008; Ovidio Araújo Baptista da Silva, 
Jurisdição, direito material eprocesso .Rio dejaneiro: Forense, 2008, Mari­
noni; Arenhart; Mitidiero, Novo curso de processo civil - Teoria do processo 
civil. São Paulo: Ed. RT, 2015, vol. I, p. 189 e ss.
50. Cândido Rangel Dinamarco , A instrumentalidade do p(1987). 8. ed. 
São Paulo: Malheiros, 2000, p. 18.
51. É lugar comum, a propósito, qualificar o direito judiciário civil do início 
dos Oitocentos como um direito altamente “privatista e individualista”, 
justamente pelo seu íntimo relacionamento com o direito material (Mauro 
Cappelletti (1927-2004), Liberta Individuale e Giustizia Sociale nel Processo 
Civile Italiano (1972), Giustizia e Società. Milano: Edizioni di Comunità, 
1977, p. 32). Daí, aliás, a predominância do princípio dispositivo (ou dispo­
sitivo em sentido formal, Mauro Cappelletti, La Testimonianza delia Parte 
nel Sistema deWOralità-Contributo alia Teoria delia Utilizzazione Probatória
dei Saperedelle Parti nel Processo Civile. Milano: Giuffrè, 1962, vol. I,p. 353- 
365) na estruturação do processo de então (Antonio Nasi, Disposizione dei 
Diritto e Azione Dispositiva - Contributo alio Studio dei Principio Dispositivo 
nel Processo Civile di Cognizione. Milano: Giuffrè, 1965, p. 07 e ss.), alta­
mente liberal (Giovanni Tarello, II Problema delia Riforma Processuale in 
Italia nel Primo Quarto dei Secolo. Per uno studio delia Genesi Dottrinale 
e Ideológica dei Vigente Códice Italiano di Procedura (1977), Dottrine dei 
Processo Civile-Studi Storici sulla Formazione dei Diritto Processuale Civile. 
Bologna: II Mulino, 1989, p. 42-43).
52. Como observa, entre outros, Alessandro Giuliani, II Conceito di Prova - 
Contributto alia Lógica Giuridica. Milano: Giuffrè, 1971, p. 232 , nota de 
rodapé n. 1.
32 COLABORAÇÃO NO PROCESSO CIVIL - PRESSUPOSTOS SOCIAIS, LÓGICOS E ÉTICOS
cessualística alemã da segunda metade dos Novecentos. O praxismo, 
com o seu iniludível estado de confusão entre direito e processo, perde 
espaço para um tratamento científico do direito processual civil, sendo 
precisamente aí fundada a nova ciência.
Assim, o processualismo nasce com o conceito de relação jurídica 
processual (Prozessrechtsverháltni/3) , sendo esse o objeto da ciência 
processual.53 A partir daí a tarefa da doutrina cifra-se à racional cons­
trução do arcabouço de conceitos do direito processual civil. Não por 
acaso, aponta-se como marco inicial do processo civil o direito racional, 
presidido pelas altas e abstratas idéias inerentes ao clima científico da 
modernidade.54 Nem pode surpreender que já se tenha identificado 
na produção intelectual de Chiovenda um mentalismo conceituai 
exacerbado,55 já que o “doutrinarismo”56 dominou mesmo os primei­
ros tempos da história do direito processual civil57 - o que se deu, vale
53. A obra de Bülow, já citada, é tida como a “certidão de nascimento do di­
reito processual civil” (Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito 
processual civil (2001). 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2003, vol. I, p. 258). 
Antes de Bülow, contudo, a doutrina já esboçava a compreensão do proces­
so como relação jurídica. A ideia de que o processo é uma relação jurídica 
veio de Hegel (1770-1831), sendo lembrada mais tarde por Theobald von 
Bethmann-Holweg (1856-1921) para só então ser trabalhada por Bülow 
(Pontes de Miranda (1892-1979), Comentários ao Código de Processo Civil 
(1974). 4. ed. Rio dejaneiro: Forense, 1997, t. III, p. 435).
54. Knut Wolfgang Nòrr, Alcuni Momenti delia Storiografia dei Diritto Proces­
suale. Trad. Rosaria Giordano, Rivista di Diritto Processuale, p. 2. Padova: 
Cedam, 2004.
55. Giovanni Tarello, Quattro Buoni Giuristi per una Cattiva Azione (1977), 
Dottnne dei Processo Civile - Studi Storici sulla Formazione dei Diritto Pro­
cessuale Civile, a cura di R. Guastini e G. Rebuffa. Bologna: II Mulino, 1989, 
p. 243-246.
56. Na feliz e eloquente expressão de Sérgio Chiarloni, Introduzione alio Studio 
dei Diritto Processuale Civile. Torino: G. Giappichelli Editore, 1975, p. 8.
57. Assertiva que de modo nenhum pode ser motivo de assombro: o pano de 
fundo teórico-jurídico dos Oitocentos, com o seu positivismo lógico e o seu 
formalismo exacerbado, apontava mesmo para a tendência de tratar-se o 
direito, de um modo geral, como “um puro jogo de conceitos, manobrados 
por uma lógica exclusivamente formal e abstrata” (Luís Cabral de Moncada, 
O processo civil perante a filosofia do direito (1 9 4 5 ), Estudos de filosofia do
PARTE I - A COLABORACÀO COMO MODELO E COMO PRINCÍPIO DO PROCESSO CIVIL 33
frisar, por absoluta necessidade, porque se tratava de fundar uma nova 
ciência, surgindo então a necessidade de se forjar todos os instrumentos 
conceituais necessários para o alcance de semelhante objetivo.
As grandes linhas do direito processualcivil - enquanto disciplina 
autônoma - foram traçadas no processualismo, também por isso nor­
malmente chamado de período “conceitualista” ou “autonomista”.58 
As discussões inerentes à ação, verdadeiro polo metodológico da nova 
ciência,59 60 61 e à caracterização de inúmeros outros institutos do processo 
civil (por exemplo, atos processuais, litispendência, eficácia de senten­
ça e coisa julgada), dominaram a atenção dos processualistas, crentes de 
que praticavam uma ciência pura,80 totalmente infensa a valores-uma 
ciência, enfim, eminentemente técnica81 (o Código Buzaid, de 1973, a 
propósito, é fruto eloquente dessa postura científica).62
A partir da obra de Oskar Bülow o processo deixa de ser mero pro­
cedimento, convertendo-se na abstrata relação jurídica, que obedece a 
pressupostos próprios de existência e validade.63 A jurisdição assume 
a condição de poder vocacionado já não mais à tutela dos direitos sub-
direito e do Estado. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2004, vol. 
II, p. 172).
58. Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito processual civil (2001). 
3. ed. São Paulo: Malheiros, 2003, vol. I, p. 255.
59. Elio Fazzalari, La Dottrina Processualistica Italiana: dali “Azione” al “Pro­
cesso” (1864-1994), Rivistadi Diritto Processuale, p. 911. Padova: Cedam, 
1994.
60. Álvaro de Oliveira, Procedimento e ideologia no direito brasileiro atual,
Revista da Ajuris.p. 79, n. 33. Porto Alegre, 1985.
61. Portanto, despolitizada (conforme Giovanni Tarello, Storia delia Cultura
Giuridica Moderna. Bologna: II Mulino, 1976, p. 16), reduzindo os seus 
operadores a verdadeiros “escravos do poder” (consoante Ovidio Baptista 
da Silva, Jurisdiçãoe execução na tradição Romano-Canónica (1996). 2. ed.
São Paulo: Ed. RT, 1997, p. 219).
62. Daniel Mitidiero, Elementos para uma teoria contemporânea do processo civil 
brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 37-38; Marinoni; 
Arenhart; Mitidiero, Novo curso de processo civil - Teoria do processo civil. 
São Paulo: Ed. RT, 2015, vol. I, p. 557 e ss.
63. Oskar Bülow, Die Lehre von den Processeinreden und die 
ngen. Giessen: Ernil Roth, 1868, p. 01-04.
34 COLABORAÇÃO NO PROCESSO CIVIL - PRESSUPOSTOS SOCIAIS, LÓGICOS E ÉTICOS
jetivos, mas sim voltada à função de realizar o direito objetivo estatal 
e pacificar a sociedade.64 65 A ação deixa de ser compreendida como um 
apêndice do direito material, passando a representar um direito público 
subjetivo autônomo de ir a juízo e obter sentença.63 Nega-se, portan­
to, toda a perspectiva metodológica do praxismo: o direito judiciário 
converte-se em direito processual - passa-se de uma “ ” de
inspiração privatista para um “ diritto ” de veio publicístico.
É claro, porém, que esse clima processualista acabou por isolar 
demasiadamente o direito processual civil do direito material e da rea­
lidade social. Paulatinamente, o processo passa a perder o seu contato 
com os valores sociais. Quanto mais precisos ficavam os seus conceitos, 
quanto mais elaboradas as suas teorias, mais o processo se distanciava 
de suas finalidades essenciais.66
Ganha consistência, então, a ideia de que o direito processual civil 
- sem se descuidar de sua refinada dogmática já conquistada - deve ser 
encarado como um instrumento a serviço do direito material, atento 
às necessidades sociais e políticas de seu tempo. Surge, portanto, a 
perspectiva instrumentalista do direito processual civil, cujo arauto 
maior na doutrina brasileira veio a ser Cândido Rangel Dinamarco.67
64. Adolf Wach, Handbuch des Deutschen Civilprozessrechts. Leipzig: Duncker 
& Humblot, 1885 ,1.1, p. 04-05; entre nós, Pontes de Miranda, Comentários 
ao Código de Processo Civil (1974). 5. ed. Rio dejaneiro: Forense, 1997, t. 
I, p. XVIII.
65. Eduardo Couture (1904-1956), Fundamentos dei Derecho Procesal Civil 
(1942). 3. ed. Buenos Aires: Depalma, 1969, p. 57.
66. José Roberto dos Santos Bedaque, Direito e processo - Influência do direito 
material sobre o processo. São Paulo: Malheiros, 1995, p. 17.
67. Cândido Rangel Dinamarco, A instrumentalidade do p(1987). 8. ed. 
São Paulo: Malheiros, 2000. Como assinalado, a primeira edição da obra é 
de 1987. Na realidade, a preocupação com a instrumentalidade do processo 
pode ser sentida muito antes da aludida obra de Dinamarco em ensaios 
seminais de Galeno Lacerda (como, por exemplo, O Código como sistema 
de adequação legal do processo, Revista do Instituto dos Advogados do Rio 
Grande do Sul - Comemorativa do Cinquentenário, p. 161-170. Porto Alegre, 
1976; O Código e o Formalismo Processual, Revista daAjuris, p. 07-14, n. 
28. Porto Alegre, 1983). A ele, aliás, ao que se saiba, coube a primazia com o 
trato do tema na doutrina brasileira (rigorosamente, além dos ensaios antes
PARTE I - A COLABORAÇÃO COMO MODELO E COMO PRINCÍPIO DO PROCESSO CIVIL 35
Constitui mérito da obra de Cândido Rangel Dinamarco a su­
peração em larga escala da perspectiva puramente técnica do direito 
processual civil. A negação do caráter puramente técnico do processo, 
aliás, perpassa e informa toda a sua obra de cátedra.68
A perspectiva instrumentalista do processo assume o processo 
civil como um sistema que têm escopos sociais, políticos e jurídicos 
a alcançar, rompendo com a ideia de que o processo deve ser encarado 
apenas pelo seu ângulo interno.69 Em termos sociais, o processo serve 
para persecução da paz social e para educação do povo,70 no campo 
político, o processo afirma-se como um espaço para afirmação da au­
toridade do Estado, da liberdade dos cidadãos e para participação dos 
atores sociais,71 no âmbito jurídico finalmente ao processo confia-se a 
missão de concretizar a “vontade concreta do direito”.72
Essa nova postura conceituai pressupõe a relativização do 
binômio direito material e processo,73 uma maior interação entre a 
Constituição e o direito processual civil74 e a colocação da jurisdição 
como instituto-centro do sistema processual.75 Processo como ins­
trumento mais aderente ao direito material, de matriz constitucional
lembrados, já em sua clássica tese de cátedra, publicada pela vez primeira 
em 1953, Galeno Lacerda preocupava-se com o tema da instrumentalidade 
do processo; apenas, na oportunidade, aludia à “função de economia do 
processo” para designar aquilo que a doutrina, posteriormente, passou a 
identificar com a ideia de instrumentalidade, conforme Despacho saneador 
(1953). 3. ed. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 1990, p. 05-06). O 
papel de destaque que se dá a Dinamarco nesse campo deve-se, no entanto, 
ao fato de a ideia de “instrumentalidade” ter ganhado a partir dele foros de 
ideia síntese de Escola.
68. Cândido Rangel Dinamarco , A instrumenta (1987). 8. ed. 
Sâo Paulo: Malheiros, 2000, p. 212, nota de rodapé n. 16.
69. Idem, p. 153-154.
70. Idem, p. 159-167.
71. Idem, p. 168-176.
72. Idem, p. 209-218.
73. Idem, p. 181 ess.
74. Idem, p. 24-30.
75. Idem, p. 77-82.
36 COLABORAÇÃO NO PROCESSO CIVIL - PRESSUPOSTOS SOCIAIS, LÓGICOS E ÉTICOS
e com a jurisdição posta como novo polo metodológico do direito 
processual civil.
Quanto às relações entre direito e processo, semelhante doutrina, 
sem deixar de reconhecer e problematizar a existência de “pontos de 
estrangulamento” nesse binômio,76 opta firmemente pela teoria du- 
alista do ordenamento jurídico (ou “declarativa”) em detrimento da 
teoria unitária (ou “constitutiva”) .77 Faz ponto firme de sua tomada 
de posição ao afirmar, por exemplo, que “a atividade declaratória do 
juiz constitui exercício de típica função reveladora”.78 De conseguinte, 
analisando as relações entre o órgão jurisdicional e o direito material, 
ainda na perspectiva das relações entre direito e processo, assevera que 
“o clima de legalidade ditado constitucionalmente no Estado de direito 
repele a institucionalização de sentenças contra legem, ainda que ‘a lei 
vigente conduza a resultados viciados ou injustos’”.79 A mesma solução 
calha para pautar as relações entre o juiz e o direito processual:“a ma­
nutenção do clima de segurança exige também o respeito à legalidade 
no trato do processo pelo juiz”.80
No plano das relações entre processo e Constituição, ressalta-se 
a existência do “direito processual constitucional”,81 que constitui a 
“condensação metodológica e sistemática dos princípios constitucio­
nais do processo”.82 Essa colocação metodológica revela ao processua- 
lista “dois sentidos vetoriais” em que se podem sentir as relações entre 
processo e Constituição: de um lado, na via Constituição-processo, 
“tem-se tutela constitucional deste e dos princípios que devem regê-lo,
76. Notadamente, três pontos de estrangulam ento: condições da ação, dis­
ciplina da prova e disciplina da responsabilidade patrim onial, Idem, p. 
183.
77. Idem, p. 189 ess.
78. Idem, p. 194.
79. Idem, p. 199.
80. Idem, p. 200.
81. Idem, p. 24.
82. Ada Pellegrini Grinover; Antônio Carlos de Araújo Cintra; Cândido Rangel 
Dinamarco, Teoria geral do processo (1974). 15. ed. São Paulo: Malheiros, 
1999, p. 79.
PARTE I - A COLABORAÇÃO COMO MODELO E COMO PRINCIPIO DO PROCESSO CIVIL 37
alçados a nível constitucional”;83 de outro, na perspectiva processo- 
-Constituição, “a chamada jurisdição constitucional, voltada ao contro­
le da constitucionalidade das leis e atos administrativos e à preservação 
de garantias oferecidas pela Constituição”.84
No que concerne, finalmente, à colocação da jurisdição como 
elemento central da teoria processual, assevera-se que não se pode 
mais colocar a ação como polo metodológico do direito processual, na 
medida em que essa orientação revela uma postura “individualista e 
restrita ao processo civil”,85 não considerando a teoria geral do processo. 
Ainda, sustenta-se, tampouco se pode guindar o processo à dignidade 
de instituto-chave do direito processual, porque esse “não é fonte 
substancial de emanação e alvo de convergência das idéias, princípios 
e estruturas que integram a unidade do direito processual”.86 Para essa 
visão, o processo, ademais, não pode ser encarado como polo atrativo 
dos demais institutos de direito processual,87 porquanto “marcada- 
mente formal”, traz “profunda e indisfarçável marca de formalismo”. 
Portanto, a jurisdição ocupa o lugar de destaque na teoria do processo, 
haja vista que essa constitui uma manifestação do poder estatal exercido 
pelos juizes para consecução dos fins do próprio Estado.88
83. Cândido Rangel Dinamarco, A instrumentalidade do p(1987). 8. ed. 
São Paulo: Malheiros, 2000, p. 25.
84. Idem, ibidem.
85. Idem, p. 79.
86. Idem, ibidem.
87. Idem, ibidem.
88. Consoante Dinamarco, “mediante a utilização do sistema processual, 
propõe-se o Estado, antes de tudo, a realizar objetivos que são seus. 
Quer se pense na pacificação social, educação para o exercício e respeito 
a direitos, ou na manutenção da autoridade do ordenamento jurídico- 
-substancial e da sua própria, nas garantias à liberdade, na oferta de 
meios de participação dem ocrática, ou mesmo no objetivo ju ríd ico- 
-instrumental de atuar a vontade da lei (e tais são os escopos da ordem 
processual) - , sempre é algo ligado ao interesse público que prepondera 
na justificação da própria existência da ordem processual e dos institutos, 
princípios e normas que a integram. Preestabelecidos os fins do Estado, 
ele não dispensa o poder para caminhar na direção deles; e, precisando
38 COLABORAÇÃO NO PROCESSO CIVIL - PRESSUPOSTOS SOCIAIS, LÓGICOS E ÉTICOS
É interessante a compreensão do processo civil a partir de um 
ponto de vista mais amplo que não o meramente processual-vale dizer, 
interno ao próprio processo. Essa é uma importante contribuição do 
instrumentalismo. Todavia, não é possível confundir escopos comuns 
a toda a atuação estatal com o escopo do processo civil. O processo civil 
visa a dar tutela aos direitos89 - e não propriamente pacificar a socieda­
de ou educá-la. Além disso, é possível colocar em xeque igualmente a 
maneira como se articulam as soluções dos problemas atinentes i) às 
relações entre o direito material e o direito processual, ii) às relações 
entre o processo civil e a Constituição e iii) a colocação da jurisdição 
no centro da teoria do processo civil.
exercer o poder, precisa também o Estado de direito estabelecer as regras 
pertinentes, seja para endereçar com isso a conduta dos seus numerosos 
agentes (no caso, os juizes), seja para ditar condições, limites e formas 
do exercício do poder. Em torno deste, portanto (no caso, em torno da 
jurisdição), é que gravitam os demais institutos do direito processual e sua 
disciplina. Porque os órgãos que exercem o poder speciejurisdictionis 
são inertes, é necessária a provocação do interessado: e por isso é que o 
ordenamento jurídico institui e modela a ação, como poder de exigir do 
Estado o exercício da jurisdição. Porque o exercício acabado da jurisdi­
ção projetará efeitos sobre a esfera jurídica de pelo menos duas pessoas, 
é natural que a ambas seja dada oportunidade de influir participando: e 
daí a consagração da defesa como instituto fundamental, sendo garantida 
constitucionalmente com referência a qualquer processo. Porque o exer­
cício desses três poderes não pode ser desordenado, nem arbitrário o da 
jurisdição, nem ilimitado qualquer deles, é preciso um plano para a sua 
coordenação: e tal é o procedimento ditado em lei e que, para cumprimen­
to da regra constitucional do contraditório, assenta sobre as situações 
jurídicas ativas e passivas integrantes de uma relação juríd ica de direito 
público (é o processo, em sua estrutura com plexa). Como se vê, da visão 
publicista da ordem processual, a partir de seus objetivos e inserção 
no sistema político-jurídico da nação, deflui com muita naturalidade a 
jurisdição ao centro” (Idem, p. 77-78).
89. Daniel Mitidiero, A tutela dos direitos como fim do processo civil no estado 
constitucional, Revista de Processo, n. 229. São Paulo: Ed. RT, 2014; Daniel 
Mitidiero, Cortes Superiores e Cortes Supremas - Do controle à interpretação, 
da jurisprudência ao precedente(2013). 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2014, p. 23 
e ss.; Marinoni; Arenhart; Mitidiero, Novo curso de processo c iv il- Teoria do 
processo civil. São Paulo: Ed. RT, 2015, vol. I,p . 151-152.
PARTE I - A COLABORAÇÃO COMO MODELO E COMO PRINCÍPIO DO PROCESSO CIVIL 39
Sem negar a teoria dualista do ordenamento jurídico,90 não se pode 
mais afirmar que à jurisdição cumpra tão somente uma decla-
ratória da ordem jurídica preestabelecida pelo legislador. A revolução 
no campo do significado da interpretação do direito dos Novecentos 
legou aos livros de história do processo civil semelhante visão do pro­
blema.91 Diga-se o mesmo das lições de nossa doutrina no sentido de
90. Contra, formulando uma proposta monista para compreensão do orde­
namento jurídico, Darci Guimarães Ribeiro, La Pretensión Procesal y la 
Tutela Judicial Efectiva - Hacia una Teoria Procesal dei Derecho. Barcelona: 
Bosch, 2004. É preciso perceber, contudo, que o direito objetivo não se 
limita a hierarquizar os interesses sociais. As proposições textuais - em 
que muitas vezes vão implicadas preferências sobre necessidades, bens 
e interesses - obviamente não são ainda normas, mas inequivocamente 
oferecem grande parte da sua matéria-prima. Talvez aí resida o equívoco de 
Darci Guimarães Ribeiro: afirmar que o papel do juiz é criativo porque os 
dispositivos ainda não são normas. É certo que a norma que irá disciplinar 
o caso concreto aparece com a interpretação do Direito. Se esse momento 
é judicial, então o seu aparecimento ocorre no processo. Isso não autoriza, 
contudo, a afirmação de que antes do processo inexistem d ireitos-ou , dito 
de outro modo, que o direito objetivo não cria direitos. O papel do juiz no 
processo é de reconstrução da ordem jurídica a partir de dados preexistentes. 
Até meados do século XX existiam basicamente duas alternativas para o 
problema: entendia-se a jurisdição como atividade declaratória da norma 
preexistente e então se caracterizava a ordem jurídicacomo uma ordem 
dualista ou então se entendia a jurisdição como atividade criativa da norma 
e então se caracterizava o monismo do ordenamento jurídico. A percepção, 
contudo, de que texto e norma não se confundem, de que a interpretação é 
adscritiva de sentido e que a aplicação da norma não é meramente lógico- 
-indutiva fizeram com que aparecesse uma nova maneira de compreender 
o dualismo da ordem jurídica - não mais a simples e ingênua declaração, 
mas a reconstrução da ordem jurídica no processo.
91. Humberto Ávila, Teoria dos princípios (2003). 16. ed. São Paulo: Malheiros,
2015, p. 50-55; Daniel Mitidiero, Cortes Superiores e Cortes Supremas - Do 
controle à interpretação, da jurisprudência ao precedente (2013). 2. ed. São 
Paulo: Ed. RT, 2014; Marinoni; Arenhart; Mitidiero, Novo curso de processo 
civil - Teoria do processo civil. São Paulo: Ed. RT, 2015, p. 47-52; Giovanni 
Tarello, LIntepretazione delia Legge.Milano: Giuffrè, 1980; Riccardo Gua­
stini, InterpretareeArgomentare. Milano: Giuffrè, 2011; Pierluigi Chiassoni, 
Técnica deli Interpretazione Giuridica. Bologna: 11 Mulino, 2007; Adalberto 
Hommerding, Fundamentos para uma compreensão hermenêutica do processo
40 COLABORAÇÃO NO PROCESSO CIVIL - PRESSUPOSTOS SOCIAIS, LÓGICOS E ÉTICOS
que o juiz oferece ao mundo sempre algo novo - sempre a reconstrução 
da ordem jurídica a partir do diálogo judiciário - gravado pelo selo da 
imperatividade da jurisdição.92
civil. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007, p. 135 e ss.; na doutrina 
italiana, Giuseppe Zaccaria, EErmcneutica e la Teoria dei Diritto (1989), 
EArteddl’lnterpretazione-Saggisull’Ermeneutica Giuridica Contemporânea. 
Padova: Cedam, 1990, p. 71-118.
92. Álvaro de Oliveira, O problema da eficácia da sentença (2003), Polêmica 
sobre a ação. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p. 50-51: “deve-se 
atentar cm que o direito material constitui a matéria-prima com que irá 
trabalhar o juiz, mas sob uma luz necessariamente diversa. O resultado 
desse trabalho, que é a tutela jurisdicional, refletida na eficácia da sentença, 
já não apresenta o direito material em estado puro, mas transformado, em 
outro nível qualitativo. O provimento jurisdicional, embora certamente 
se apoie no direito material, apresenta outra força, outra eficácia, e com 
aquele não se confunde, porque, além de constituir resultado de trabalho 
de reconstrução e até de criação por parte do órgão judicial, exibe o selo da 
autoridade estatal, proferida a decisão com as garantias do devido processo 
legal”. Igualmente, Ovidio Baptista da Silva, Processo e ideologia - O para­
digma racionalista. Rio dejaneiro: Forense, 2004, p. 26-27: “este modo de 
compreender o fenômeno jurídico [refere-se Ovidio à geometrização do 
direito] tornou-se anacrônico. Hoje ninguém mais duvida de que o processo 
não tenha por finalidade produzir verdades e que a lei admite duas ou mais 
soluções legítimas, como já proclamara Kelsen. Depois de haver François 
Gény, nos albores do século XX, denunciado a ilusão de imaginar a lei como 
um ‘sistema dotado de exatidão matemática', ou de advertir Goldschmidt 
que a futura sentença nada mais é do que um ‘prognóstico’ que perdurará 
como simples prognóstico até que se conheça seu conteúdo, depois de Chaim 
Perelman investir-se na condição de um Aristóteles moderno, construindo 
a ‘nova retórica’, ou de Theodor Viehweg recuperar a tópica aristotélica e 
de Luis Recasens Siches postular para a interpretação jurídica o ‘logos de lo 
humano' ou de Jo razonable’, ou depois de Josef Esser - para citar apenas 
alguns dos mais expressivos do moderno pensamento jurídico - haver 
transferido para o Direito as proposições básicas de Gadamer; afinal, depois 
de tudo o que apreendemos com o chamado realismo americano - nosso 
sistema permanece petrificado, na suposição de que juizes continuam 
irresponsáveis, enquanto a ‘boca da lei’, com o desejava o aristocrático 
Montesquieu, e de que o processo seria um milagroso instrumento capaz 
de descobrir a ‘vontade concreta da lei’ (Chiovenda)”; Hermes Zaneti Jr., 
A constitucionalização do processo (2007). 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p-
PARTE I - A COLABORAÇÃO COMO MODELO E COMO PRINCÍPIO DO PROCESSO CIVIL 41
Na mesma linha, igualmente não se pode mais sustentar que o 
juiz, diante do direito material e do direito processual, encontra-se 
atado a uma pauta de legalidade. A pauta do direito contemporâneo é 
a juridicidade, que aponta automaticamente à ideia de justiça,93 a qual 
forma o substrato material ao lado da constitucionalidade e dos direi­
tos fundamentais do Estado Constitucional.94 O juiz tem o dever de 
interpretar a legislação à luz da Constituição95 (art. l.° do CPC/2015). 
Esses são os novos contornos do princípio da legalidade no Estado 
Constitucional.96
No que tange ao direito material, registra-se que “o direito é 
círculo maior a ultrapassar a mera regra de lei”.97 Nesse sentido, a 
“decisão judicial pode revestir características praeter legem e even­
tualmente até contra legem. Nunca, porém contrária ao direito”.98 
Trata-se de solução afinada com a importante preocupação da teoria 
do direito com a justiça das decisões judiciais.99 De acordo ainda 
com a necessidade de prolação de uma “decisão de mérito justa e
189 e ss.; na doutrina italiana, ainda, Elio Fazzalari, Sentenza. II-Sentenza 
Civile, Enciclopédia dei Diritto. Milano: Giuffrè, 1989, vol. XLI,p. 1.251.
93. JoséJoaquim Gomes Canotilho, Direito constitucional e teoria da Constituição 
(1997). 3. ed. Coimbra: Almedina, 1999, p. 239-241.
94. Idem, p. 239.
95. Sobre o impacto do advento do Estado Constitucional, consulte-se, por
todos, Gustavo Zagrebelsky, II Diritto Mite-Legge, Diritti, (1992).
Torino: Einaudi, 2005, p. 20 e ss.
96. Marinoni; Arenhart; Mitidiero, Novo curso de processo civil - Teoria do pro­
cesso civil. São Paulo: Ed. RT, 2015, vol. I, p. 53-66.
97. Álvaro de Oliveira, Doformalismo no processo civil (1997). 4. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2010, p. 283.
98. Idem, ibidem.
99. Conforme, na teoria do direito, Karl Larenz, Metodologia da ciência do di­
reito (1960). Trad. José Lamego (1986). 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste 
Gulbenkian, 1997, p. 190-201; no âmbito da filosofia do direito, Michel 
Villey, Philosophie du Droit - Définitionset Fins du Droit (1980). Les Moyens 
duDroit (1982). Paris: Dalloz, 2001, p. 39-41. Na doutrina brasileira, Juarez 
Freitas alude à “máxima justiça possível” como sendo o resultado ideal da 
interpretação do direito (Juarez Freitas ,
(1995). 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 140 e ss.).
42 COLABORAÇÃO NO PROCESSO CIVIL - PRESSUPOSTOS SOCIAIS, LÓGICOS E ÉTICOS
efetiva” como fim do processo civil (art. 6.° do C P C /2 0 1 5 )100 - ou, 
mais precisamente, como meio de prestação de tutela aos direitos na 
sua dimensão particular.101
Outra solução não se oferece ao problema quando se passa a 
analisá-lo na perspectiva do direito processual. A observância do sim­
ples processo legal cede às exigências ligadas à conformação de um 
processo justo.102 O fato desse se encontrar em permanente construção 
ante as necessidades evidenciadas pela riqueza inesgotável dos casos 
concretos, registrado pela doutrina,103 impede de acorrentá-lo sempre 
e aprioristicamente a prévias e abstratas soluções infraconstitucionais 
- daí a necessidade de se pensar, inclusive, o direito de ação como 
direito à tutela jurisdicional adequada, efetiva e tempestiva mediante 
processo justo (arts. 5.°, XXXV, LIV e LXXVIII da C F/1988, e 1 ° , 3 o 
e 4.° do CPC/2015).
100. Álvaro de Oliveira, Do formalismo no processo civil (1997). 4. ed. São Pau­
lo: Saraiva, 2010, p. 283. Nesse mesmo sentido, ainda, consulte-se Sérgio 
Corazza, Sobreprincípio da máxima de justiça, Gênesis Revista de Direito 
Processual Civil, p. 396-426, n. 40. Curitiba: Gênesis, 2006.
101. Daniel Mitidiero, A tutela dos direitos como fim do processo civil no estado 
constitucional, Revista de Processo, n. 229. São Paulo: Ed. RT, 2014; Daniel 
Mitidiero,Cortes Superiores e Cortes Supremas - Do controle à interpretação, 
da jurisprudência ao precedente (2013). 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2014; Ma- 
rinoni; Arenhart; Mitidiero, Novo curso de processo civ il-T eoria do processo 
civil. São Paulo: Ed. RT, 2015, vol. I.
102. Para uma crítica da expressão devido processo legal, Daniel Mitidiero,
Direito fundamental ao processo justo, Revista de Direito Civil e
Processual Civil. n. 45. Porto Alegre: Magister, 2011; Marinoni; Arenhart; 
Mitidiero, Novo curso de processo civil - Teoria do processo civil. São Paulo: 
Ed.RT, 2015, vol. I.
103. Na doutrina brasileira, Daisson Flach, Processo e realização constitucional: 
a construção do “devido processo”. In: Guilherm e Rizzo Amaral; Márcio 
Louzada Carpena (coords.), Visões críticas do processo civil brasileiro 
- Uma homenagem ao Prof. Dr. José Maria Rosa Tesheiner. Porto Alegre: 
Livraria do Advogado, 2005, p. 11-30 ; na doutrina italiana, Giovanni 
Verde, Giustizia e Garanzie nella Giurisdizione Civile, Rivisía di Diritto 
Processuale, p. 308. Padova: Cedam, 2000. Para um m aior detalhamento 
bibliográfico, consulte-se, ainda, Daniel M itidiero, Elementos para uma 
teoria contemporânea do processo civil brasileiro. Porto Alegre: Livraria do 
Advogado, 2005, p. 127-128.
PARTE I - A COLABORAÇÃO COMO MODELO E COMO PRINCÍPIO DO PROCESSO CIVIL 43
O relacionamento entre o direito processual civil e o direito cons­
titucional, de seu turno, também evoluiu sensivelmente. Para além da 
tutela constitucional do processo (constitucionalização das normas 
jurídicas fundamentais de processo) e da jurisdição constitucional, 
importa observar a incorporação no âmbito do direito processual 
civil da metodologia constitucional, com inequívoco destaque para 
o incremento teórico propiciado pela nova teoria das normas,104 aí 
incluído obviamente o tema da interpretação, e para o processo civil 
encarado na perspectiva dos direitos fundamentais.105 106 Enquanto a pri­
meira constitucionalização do processo teve por desiderato incorporar 
normas processuais na Constituição, a segunda constitucionalização 
visa atualizar o discurso processual civil com normas principiológi- 
cas e com normas que visam regular a aplicação de outras normas (os 
postulados normativos), além de empregar como uma constante a 
eficácia dos direitos fundamentais para solução dos mais variegados 
problemas de ordem processual.
Em termos de metódica constitucional, o Estado Constitucional 
incorporou na pauta do direito o modo de pensar por princípios (o 
“ diritto per principi”) ,106 o que inclusive fez o direito voltar a ser en­
carado como “juris pnidentia” e não mais tão somente como 
juris”,107 tornando a evidenciar o seu caráter marcadamente prático108 
- tendencialmente sufocado pelo pensamento “moregeométrico”, pró­
prio do direito do Estado dos Oitocentos, cujo “espelho e metáfora”109
104. Humberto Ávila, Teoria dos princípios - Da definição à aplicação dos princípios 
jurídicos (2003). 16. ed. São Paulo: Malheiros, 2015.
105. Álvaro de Oliveira, O processo civil na perspectiva dos direitos fundamen­
tais (2003), In :_______; Carlos Alberto (orgs.), Processo e Constituição. Rio
dejaneiro: Forense, 2004, p. 01-15; Luiz Guilherme Marinoni, O direito 
à efetividade da tutela jurisdicional na perspectiva da teoria dos direitos 
fundamentais, Gênesis Revista de Direito Processual Civil, n. 28. Curitiba: 
Gênesis, 2003.
106. Gustavo Zagrebelsky, IIDirittoMite-Legge,Diritti, Giustizia (1992). Torino: 
Einaudi, 2005, p. 151.
107. Idem, p. 167-173.
108. Idem, p. 163-167.
109. Judith Martins-Costa , A boa-fé no direito privado(1999). reimp. São Paulo: 
Ed. RT, 2000, p. 169.
44 COLABORAÇÃO NO PROCESSO CIVIL - PRESSUPOSTOS SOCIAIS, LÓGICOS E ÉTICOS
constituiu o movimento codificatório (que encerra fundamentalmente 
um “dirittoper regole”) .110 Nesse espaço surge ainda uma nova proposta 
de classificação das normas, responsável pela boa acomodação teórica 
de normas como a igualdade, a ponderação, a razoabilidade e a propor­
cionalidade na categoria dos postulados normativos.111A importância 
de normas dessa espécie para a prática do direito contemporâneo é um 
dado assente. O direito processual civil evidentemente não poderia 
restar infenso a essa influência.
Ainda, o regime eficacial dos direitos fundamentais112 trouxe 
inegável contribuição à compreensão e à aplicação do direito proces­
sual civil. A teorização acerca da aplicabilidade imediata e da plena 
eficácia dos direitos fundamentais (art. 5.°, § I o, da C F /1988),113 da 
interpretação conforme aos direitos fundamentais114 e da vinculação 
do Estado e dos particulares aos direitos fundamentais115 constituem 
aspectos que já não se podem mais ignorar no momento da aplicação 
do processo civil.116 Não por acaso, o art. l.° do C PC/2015, tem exa­
110. Gustavo Zagrebelsky, IIDirittoMite-Legge, Diritti, Giustizia ( 1992). Torino: 
Einaudi, 2005, p. 151.
111. Humberto Ávila, Teoria dos princípios (2003). 16. ed. São Paulo: Malheiros, 
2015, p. 163 e ss. Consoante a proposta de Humberto Ávila, as normas podem 
ser divididas em princípios, regras (normas de primeiro grau) e postulados 
normativos (normas de segundo grau). Muito brevemente, os princípios 
são normas de finalidade; as regras, normas de conduta e os postulados, 
normas de método.
112. Ingo Sarlet, A eficácia dos direitos fundamentais (1998). 6. ed. Porto Alegre: 
Livraria do Advogado, 2006, p. 241 e ss.
113. Idem, p. 271 ess.
114. José Carlos Vieira de Andrade, Os direitos fundamentais na Constituição 
Portuguesa de 1976 (1983). 2. ed. Coimbra: Almedina, 2001, p. 154-155.
115. Ingo Sarlet, A eficácia dos direitos fundamentais (1998). 6. ed. Porto Alegre: 
Livraria do Advogado, 2006, p. 381 e ss.
116. Para uma aplicação da teoria dos direitos fundamentais no âmbito do pro­
cesso civil, consulte, entre outros, Álvaro de Oliveira, O processo civil na 
perspectiva dos direitos fundamentais (2003), Processo e Constituição. Ri° 
dejaneiro: Forense, 2004, p. 01-15 ; Luiz Guilherme Marinoni, O direito 
à efetividade da tutela jurisdicional na perspectiva da teoria dos direitos 
fundamentais, Gênesis Revista de Direito Processual Civil. n. 28. Curitiba:
PARTE I - A COLABORAÇAO COMO MODELO E COMO PRINCÍPIO DO PROCESSO CIVIL 45
tamente a função de colocar o seu intérprete nessa trilha: ‘ o processo 
civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e 
as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República 
Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código*.
Pensar o processo civil sem esses aportes oriundos da teoria do 
direito e do direito constitucional (isto é, da Constituição, que é a 
forma histórica do direito do nosso tempo, tal como fora o ^Código” a 
forma histórica da legislação, por excelência, dos Oitocentos)117 sig­
nifica mantê-lo refém de uma postura descompassada das exigências 
do direito contemporâneo e, portanto, fundamentalmente alheio à 
sociedade civil - em suma, as determinantes culturais de nossa época.
Finalmente, a jurisdição não pode mais ser colocada como centro da 
teoria do processo civil. Insistir nessa postura revela uma visão um tanto 
quanto unilateral do fenômeno processual, sobre ignorar a dimensão 
essencialmente participativa que a democracia logrou alcançar na 
teoria do direito constitucional hodiemo.
Já diziam as nossas Ordenações Afonsinas (o que fora repetido 
tanto pelas Manuelinas, Livro III, Título XV, próemio, como pelas Fili­
pinas, Livro III, Título XX, próemio) que para composição dojuízo “£aõ 
neceffarias três peffoas, o Juiz, Autor, e Reo; o Autor pera demandar, e o 
Reo pera fe defender, e o Juiz perajulguar” (Livro III, Título XX, § 1.°).118 
Vale dizer: processo é ato de três pessoas (“ est actum írium
Gênesis, 2003; Marcelo Lima Guerra, Direitos do
credor na execução civil. São Paulo: Ed. RT, 2003; Daniel Mitidiero, Processo 
civil e Estado Constitucional. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.
117. NatalinoIrti, Idea dei Códice Civile, (1995).
7. ed. Roma: Laterza, 2005, p. 21. Sobre o assunto, ainda, Pietro Rescigno, 
La “Forma” Códice: Storia e Geografia di una Idea, Rivista di Diritto Civile, 
p. 29-35. Padova: Cedam, 2002.
118. Sobre o significado da palavra “juízo” no contexto do direito comum (e, 
pois, das nossas Ordenações, exemplo por excelência desse período, con­
forme atesta, por todos, Enrico Tullio Liebman, Istituti dei Diritto Comune 
nel Processo Civile Brasiliano (1948), Problemi dei Processo Civile. Napoli: 
Morano, 1962, p. 498), vide Nicola Picardi, Processo Civile: c) Diritto 
Moderno, Enciclopédia dei Diritto. Milano: Giuffrè, 1987, vol. XXXVI, p. 
101-118.
46 COLABORAÇÃO NO PROCESSO CIVIL - PRESSUPOSTOS SOCIAIS, LÓGICOS E ÉTICOS
personarum”) .119 Não se nega, evidentemente, o papel fundamental 
que se atribui à jurisdição no quadro do processo. De modo nenhum. 
Antes, reforça-se a condição das partes, igualmente fundamental, para 
o bom desenlace do processo. A divisão de trabalho ideal no processo 
civil encerra um justo equilíbrio entre as posições jurídicas das partes 
e do juiz.120 Não por outra razão, o Código de Processo Civil enuncia 
com o uma de suas normas fundamentais a colaboração (art. 6.° do 
C P C /2015), deslocando o centro do processo civil da atuação do juiz 
para o trabalho em conjunto do juiz com as partes.
Essa ideia de processo como polo metodológico central da teoria 
do processo civil contem porâneo bem responde ao caráter essen­
cialmente problemático assumido pelo direito atual,121 cuja solução 
concorrem , argumentativamente, todos aqueles que participam do
119. Giovanni Verde, Profili dei Processo Civile (1 9 7 8 ). 6. ed. Napoli: Jovene, 
2002, vol. I, p. 107, repetindo a célebre definição atribuída a Bulgarus 
(1 .115-1 .166), Summa d ejudiciis (1 .1 4 1 ), Título VIII, conforme Nicola 
Picardi, I - Processo Civile: c) Diritto Moderno, Enciclopédia dei Diritto. 
Milano: Giuffrè, 1987, vol. XXXVI, p. 102.
120. Álvaro de Oliveira, Do formalismo no processo civil(1 9 9 7 ). 4. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2010, p. 87.
121. Norbert Horn, Einführung in die Rechtswissenschaft and Rechtsphilosophie
(1996). 5. ed. Heidelberg: C. E Müller, 2011, p. 132-133. O movimento 
pela revalorização da dialética e do pensar problemático para o direito teve 
em Theodor Viehweg (1907-1988) o seu precursor com a obra Topik und 
Jurisprudenz. München: C. H. Beck, 1953, em que o professor alemão rei­
vindica a tópica e a dialética de Aristóteles para caracterizar o pensamento 
jurídico como um pensamento essencialmente problemático (Karl Larenz, 
Metodologia da ciência do direito (1960). Trad. José Lamego (1986). 3. ed. 
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997, p. 211). Ademais, para uma 
exposição geral da obra de Viehweg, consulte-se, entre outros, Luis Recasens 
Siches (1903-1977), Panorama dei Pensamiento Jurídico en el Siglo Mé­
xico: Porrúa, 1963, t II, p. 1 .060-1 .080 ; para um debate entre pensamento 
sistemático e pensamento tópico, Claus-Wilhelm Canaris, Systemdenken und
Systembegriffin derJurisprudenz(1969). 2. ed. Berlin: Duncker & Humblot, 
1983, p. 135 e ss.; para uma conjugação da tópica e do sistema, consulte-se 
Judith Martins-Costa, A boa-Jé no di (1 9 9 9 ). reimp. São Paulo: 
Ed. RT, 2000, p. 39 e ss.; Juarez Freitas, A interpretação sistemática do direito 
(1995). 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 146 e ss.
PARTE l - A COLABORAÇÃO COMO MODELO E COMO PRINCÍPIO DO PROCESSO CIVIL 47
feito. A propósito, a passagem da jurisdição ao processo corresponde, 
em termos de lógica jurídica, à passagem da lógica apodítica à lógica 
dialética: do monólogo jurisdicional ao diálogo judiciário.122 Não por 
acaso, ao lado da colaboração, o novo Código prevê como um de seus 
compromissos fundamentais a fiel observância pelo juiz e pelas partes 
do direito ao contraditório (arts. 9.° e 10 do C PC/2015).
Ademais, a democracia participativa, tida mesmo como um di­
reito fundamental de quarta dimensão,123 sugere a caracterização do 
processo como um espaço privilegiado de exercício direto de poder 
pelo povo.124 Nessa quadra, potencializa-se o valor da participação no 
processo, incrementando-se as posições jurídicas das partes no pro­
cesso a fim de que esse se constitua firmemente como um democrático 
ponto de encontro de direitos fundamentais125 (arts. l.°, 7.°, 9.° e 10 
do CPC/2015).
É importante perceber, por último, que não cabe argumentar 
contra a colocação do processo como polo metodológico da teoria do 
processo civil com o seu pretenso caráter “marcadamente formal”.126 
Processo não é sinônimo de direito formal127 - na verdade, processo
122. Álvaro de Oliveira, A garantia do contraditório (1998), Do formalismo no 
processo. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 227 e ss.
123. Paulo Bonavides, Teoria do Estado (1967). 5. ed. São Paulo: Malheiros, 
2004, p. 475. Mais extensamente, Paulo Bonavides, Teoria constitucional 
da democracia participativa (2001). 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2003.
124. Darci Ribeiro, O papel do processo na construção da democracia: para uma 
nova definição de democracia participativa (2009), Da tutela jurisdicional 
às formas de tutela. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010, p. 105.
125. Marinoni; Arenhart; Mitidiero, Novo curso de processo civil - Teoria do pro­
cesso civil. São Paulo: Ed. RT, 2015, vol. I, p. 431 e ss.; na doutrina italiana, 
Elio Fazzalari, Procedimento: I - Procedimento e Processo (Teoria Generale), 
Enciclopédia dei Diritto. Milano: Giuffrè, 1986, vol. XXXV, p. 820.
126. Como sustentado por Cândido Rangel Dinamarco, A instrumentalidade do 
processo (1987). 8. ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 79.
127. Galeno Lacerda, Comentários ao Código de Processo Civil (1980). 7. ed. 
Rio dejaneiro: Forense, 1998, vol. VIII, 1.1, p. 23-24; Hermes ZanetiJr., 
A constitucionalizãção do processo (2007). 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 
207 e ss.
48 COLABORAÇÃO NO PROCESSO CIVIL - PRESSUPOSTOS SOCIAIS, LÓGICOS E ÉTICOS
justo constitui antes de tudo processo substancializado em sua estru­
tura íntima mínima pela existência de direitos fundamentais.
Tendo em conta todo o exposto, parece-nos que o processo civil 
brasileiro já se encontra mergulhado em sua quarta fase metodológica, 
tendo sido superada a fase instrumentalista. Com efeito, da instrumen­
talidade passa-se à compreensão do processo civil no Estado Constitucio­
nal, que ora se assume como um verdadeiro método de pensamento e 
programa de reforma de nosso processo.128 Trata-se de uma nova visão 
metodológica, uma nova maneira de pensar o direito processual civil.
E xistem várias expressões que visam delinear essa quar­
ta fase m etodológica. Dentre as mais conhecidas encontram-se o 
“neoprocessualismo”129 e o “formalism o-valorativo”130 - expressão 
inclusive utilizada nas edições anteriores deste livro. Ambas são boas 
expressões.
A expressão neoprocessualismo pretende uma ancoragem direta 
com o neoconstitucionalism o. Com isso, a sua invocação pretende 
apontar para “um dos principais aspectos deste estágio metodo­
lógico dos estudos do direito processual: a revisão das categorias 
processuais (cuja definição é a marca do processualismo do final dos 
Oitocentos e meados dos N ovecentos), a partir de novas premissas 
teóricas, o que justifica o prefixo ‘neo’”.131 O principal problema 
da expressão, porém , está justam ente nessa imediata ligação: ao 
solidarizar o novo processo civil com o neoconstitucionalismo, a 
doutrina colabora com o esfumaçamento do pano de fundo teórico
128. Parafraseando-se notoriamente Mauro Cappelletti, Acesso alia Giustizia 
come Programma di Reforma e come Método di Pensiero, Rivista di Diritto 
Processuale, p. 233 e ss. Padova: Cedam, 1982.
129. Fredie Didier Jr., Curso de direito processual civil (2003). 12. ed. Salvador: 
JusPodivm, 2010, vol. I, p. 28-29; Eduardo Cambi, Neoconstitucionalismoe 
neoprocesssualismo - Direitos fundamentais, políticas pública e protagonismo 
Judiciário. SãoPaulo: Ed. RT, 2009, p. 115.
130. Expressão notoriamente devida a Álvaro de Oliveira, Do formalismo no 
processo civil (1997). 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, incorporada inclusive 
como subtítulo a partir da 3 edição (2009).
131. Fredie Didier Jr., Curso de direito processual civil (2003). 12. ed. Salvador: 
JusPodivm, 2010, vol. I, p. 28.
PARTE I - A COLABORAÇÃO COMO MODELO E COMO PRINCÍPIO DO PROCESSO CIVIL 49
- em termos de teoria geral do direito - com que o processo civil 
necessariamente tem de lidar.132
A expressão formalismo-valorativo padece de dois problemas. 
O primeiro deles é que a expressão “formalismo” carrega um sen­
tido negativo,133 normalmente relacionado no plano do processo 
àquilo que foi bem identificado pela doutrina como “formalismo 
pernicioso”.134 Aliás, a ressignificação do termo “formalismo” ope­
rada pela doutrina135 não foi capaz de realçar o seu conteúdo posi­
tivo - que, de seu turno, continuava bem associado ao conceito de 
procedimento, aí entendido como conjunto de posições processuais 
que visa disciplinar a interação entre os participantes do processo 
e promover o adequado desenvolvimento do processo. O segundo 
deles é ainda mais profundo: no campo da teoria do direito, existe um 
amplo debate a respeito do formalismo jurídice do formalismo inter- 
pretativo136- que em nada se confunde com o conceito de formalismo 
processual e de formalismo-valorativo. A identidade terminológica, 
no entanto, contribui para identificações e assimilações teóricas 
indevidas.137 Essa é a razão pela qual também sob o ponto de vista da
132. Para uma crítica do neoconstitucionalismo enquanto movimento teórico, 
Humberto Ávila, “Neoconstitucionalismo”: entre a “ciência do direito” e o 
“direito da ciência”, vinte anos da Constituição Federal de 1988. Rio dejaneiro: 
Lumenjuris, 2009, p. 187-202.
133. No plano do processo, A. Troller, Dos fundamentos do formalismo processual 
civil (1945). Trad. Álvaro de Oliveira. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris 
Editor, 2009, p. 15; no plano da teoria do direito, Frederick Schauer, For- 
malism, The Yale Law Journal, 1988, n. 97.
134. Álvaro de Oliveira, O formalismo-valorativo no confronto do formalismo 
excessivo, Gênesis Revista de Direito Processual Civil, n. 39. Curitiba, 
2006.
135. Álvaro de Oliveira, Do formalismo no processo civil (1997). 4. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2010, p. 28-31.
136. Norberto Bobbio (1909-2004), II Positivismo Giuridico-Lezioni di Filosofia 
dei Diritto (1960-1961). Torino: Giappichelli, 1996, p. 143-145; Mariojori 
e Anna Pintore, Manuale di Teoria General (1970). 2. ed. Torino: 
Giappichelli, 1995, p. 123-130.
137. Como aquela formulada por Lênio Strecke Francisco Motta, Um debate com 
(e sobre) o formalismo-valorativo de Daniel Mitidiero, ou “colaboração no
50 COLABORAÇÃO NO PROCESSO CIVIL - PRESSUPOSTOS SOCIAIS, LÓGICOS E ÉTICOS
teoria do direito a palavra formalismo mais turva do que esclarece - o 
que acaba recomendando a sua substituição.
Daí que se opta simplesmente por referir que o processo civil 
deve ser, sistematicamente, interpretado e aplicado a partir das raias 
do Estado Constitucional e pelos avanços teóricos que os Novecentos 
portaram para a compreensão do direito como um todo, porque antes 
de tudo ele encerra um processo cuja estruturação responde, de um 
lado, a valores constitucionais e a direitos fundamentais138 (art. l.° do 
CPC/2015), e, de outro, ao caráter interpretativo do direito139 (é por 
essa razão, a propósito, que as Cortes Supremas devem dar unidade 
ao direito provendo segurança jurídica a partir de um direito coerente e 
universalizável, art. 926 do CPC/2015). Nessa perspectiva, o proces­
so aparece marcado pelos valores liberdade, igualdade, participação, 
segurança e justiça (arts. l.° , 7.°, 8.°, 9.° e 10 do C PC /2015), base 
axiológica da qual ressaem princípios, regras e postulados para sua 
elaboração dogmática, organização, interpretação e aplicação. Vale 
dizer: do plano axiológico ao plano deontológico.
A compreensão do processo civil na perspectiva do Estado Cons­
titucional - e, portanto, dos direitos fundamentais processuais - é o 
pano de fundo que alimenta toda a interpretação e aplicação do processo 
civil atual (art. 1,° do C PC /2015). A consciência do caráter cultural do 
direito processual civil e de seu íntimo relacionamento com a teoria do 
direito, com o direito material e com direito constitucional evidenciam a 
necessidade de se pensar o processo civil a partir de uma renovada base 
teórica. Isto é, a partir de um caldo de cultura capaz não só de oferecer
processo civil” é um princípio?, Revista de Processo, p. 13-34, n. 213. São 
Paulo: Ed. RT, 2012.
138. Sobre a diferença, na teoria dos valores, entre o “ter valor” e o “ser um 
valor”, consulte-se Robert Alexy, Theorie der Grundrechte. Frankfurt am 
Main: Suhrkamp, 1986, p. 127 e ss.
139. Giovanni Tarello, Llnterpretazione delia Legge. Milano: Giuffrè, 1980, p. 
09; Riccardo Guastini, Interpretare e Argomentare. Milano: Giuffrè, 2011, 
p. 08; Pierluigi Chiassoni, Técnica deWlnterpretazione Giuridica. Bologna: 11 
Mulino, 2007, p. 142; Humberto Ávila, Teoria da segurança jurídica (2011)- 
3. ed. São Paulo: Malheiros, 2014, p. 151; Marinoni; Arenhart; Mitidiero, 
Novo curso de processo civil. São Paulo: Ed. RT, 2015, vol. I, p. 50-52.
PARTE I - A COLABORAÇÃO COMO MODELO E COMO PRINCÍPIO DO PROCESSO CIVIL 51
soluções constitucionalmente comprometidas com um ângulo interno 
de análise do processo (como, por exemplo, aquele ligado à equilibrada 
distribuição do trabalho entre o juiz e as partes - a que a colaboração 
procura oferecer uma resposta), mas também com um ângulo externo 
(como, por exemplo, aquele ligado à tutela dos direitos).140
Um dos frutos mais evidentes dessa nova postura teórica é o 
novo Código de Processo Civil - e, mais especificamente, a previsão 
de normas fundamentais como compromissos centrais do legislador 
para com a Justiça Civil (arts. l .°a 12 do CPC/2015).141 É sintomática 
essa abertura: se olharmos para a ZPO alemã, de 1877, e para o Códice 
di Procedura Civile italiano, de 1942, perceberemos que em ambos os 
casos o legislador principia tratando da jurisdição: a ZPO dedica o seu 
§ l.° à competência material dos tribunais (“ ”),
ao passo que o Códice alude em seu art. l.°à jurisdição Cgiurisdizione 
dei giudici ordinari”). Se, porém, saltarmos no tempo, veremos que o 
Nouveau Code de Procédure Civile francês, de 1975, não inicia da mes­
ma maneira: ele começa enunciando princípios diretores do processo 
(“príncipesdirecteurs du procès'\ arts. l.° a 24). O legislador inglês 
igualmente inicia anunciando o seu objetivo fundamental (“ 
objective”, Rule 1.1).
Nosso novo Código de Processo Civil segue nesse particular esse 
último caminho: desde o início, o legislador entorna normasfundamen-
140. Apontando a necessidade de o processo civil conjugar ambos os ângulos, 
Vicente de Paula Ataíde Júnior, Processo civil pragmático, Tese de Doutora­
do, UFPR, Orientador Professor Doutor Sérgio Cruz Arenhart, 2013. Para 
compreensão do processo civil a partir da tutela dos direitos em sua dupla 
dimensão (particular - ligada à produção de uma “decisão de mérito justa 
e efetiva”, art. 6.° do CPC/2015 - e geral - ligada à promoção da unidade 
do direito pelos precedentes, enriquecendo-o de forma segurança, coerente 
e universalizável, art. 926 do CPC/2015), Marinoni; Arenhart; Mitidiero, 
Novocursodeprocessocivil-Teoriadoprocessocivil. São Paulo: Ed. RT, 2015, 
vol. I; Daniel Mitidiero, Cortes Superiores e Cortes Supremas (2013). 2. ed. 
São Paulo: Ed. RT, 2014; Daniel Mitidiero, A tutela dos direitos como fim 
do processo civil no Estado Constitucional, RePro n. 229. São Paulo: Ed. 
RT, 2014.
141. Marinoni; Arenhart; Mitidiero, Novo Código de Processo Civil comentado. 
São Paulo: Ed. RT, 2015, p. 90.
52 COLABORAÇÃO NO PROCESSO CIVIL - PRESSUPOSTOS SOCIAIS, LÓGICOS E ÉTICOS
tais que servem para densificar o direito ao processojusto previsto na 
Constituição (art. 5.°, LIV) e daras linhas-mestras que o estruturam. 
Dentre essas normas, consta do art. 6.°: “Todos os sujeitos do proces­
so devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, 
decisão de mérito justa e efetiva”. Se adotada uma chave de leitura 
apropriada, trata-se de norma da mais alta importância que ao mesmo 
tempo visa caracterizar o processo civil brasileiro a partir de um modelo 
e fazê-lo funcionar a partir de um princípio: o modelo cooperativo de 
processo civil e o princípio da colaboração.142 143
2. Colaboração como modelo
2. 7 Pressupostos culturais
A colaboração é um modelo que visa dividir de maneira equilibrada 
as posições jurídicas do juiz e das partes no processo civil, estruturando-o 
como uma verdadeira comunidade de trabalho (
em que se privilegia o trabalho processual em conjunto do juiz e das partes 
( prozessualen Zusammenarbeit). 144 Em outras palavras: visa a dar feição
ao aspecto subjetivo do processo, dividindo de forma equilibrada o tra­
balho entre todos os seus participantes - com um aumento concorrente 
dos poderes do juiz e das partes no processo civil.145
142. Daniel M itidiero, Kooperation ais Modell und Prinzip im Zivilprozess,
Zeitschriftfür Zivilprozess International. Kõln: Carl Heymanns, 2013, p. 
379-391, n. 18. Enquanto a colaboração como modelo é algo que aparece 
com a l .a edição deste livro, o desenvolvimento da colaboração como prin­
cípio é fruto principalmente dos trabalhos de Fredie Didier Jr., Princípio 
da cooperação: uma apresentação, Revista de , n. 127. São Paulo:
Ed. RT, 2005; Fundamentos do princípio da cooperação no direito processual 
civil português. Coimbra: Coimbra Ed., 2010, e Antonio do Passo Cabral, 
Nulidades no processo moderno. Rio dejaneiro: Forense, 2009.
143. Walter Rechberger; Daphne-Ariane Simotta, Zivilprozessrecht (1982). 8. 
ed. Wien: Manz, 2010, p. 399-407.
144. RudolfWassermann (1925-2008), DerSozialeZivilprozess-ZurTheo 
Praxis des Zivilprozesses im sozialen Rechtsstaat. Neuwied und Darmstad: 
Luchterhand, 1978, p. 97.
145. Heitor Sica, Preclusão processual civil (2006 ). 2. ed. São Paulo: Altas, 2008, 
p. 324.

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