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Direito Constitucional Resumido - Roger R Oliver

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Direito Constitucional Resumido
Roger R. Oliver
Independente
 
Direitos autorais © 2022 Roger R. Oliver
Todos os direitos reservados
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou armazenada em um sistema de recuperação, ou transmitida
de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro, sem a permissão
expressa por escrito da editora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei n. 9.610/98 e punido
pelo artigo 184 do Código Penal.
Informação bibliográfica deste livro, conforme diretrizes da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):
 OLIVER, Roger R. Direito Constitucional Resumido. 2. ed. Recife: Independente, 2022. ISBN: 9798797943167
Copyright © 2022 by
Roger R. Oliver
Contato: rroliverlivros@gmail.com
Sumário
1.Aspectos Introdutórios
1.1.Conceito
1.2.Princípio da separação dos poderes
1.3.Classificações da Constituição Federal
2.Organização político-administrativa do Estado
2.1.Forma de governo
2.2.Sistema de governo
2.3.Regime de Governo
2.4.Formas de estado
2.5.Federalismo
2.6.Classificação quanto ao equacionamento das desigualdades
2.7.Classificação quanto à repartição de competências
2.8.Classificação quanto ao processo de formação
2.9.Classificação quanto à concentração de poder
2.10.A Federação brasileira
2.11.União
2.12.Estados
2.12.1.Alterações nas estruturas do Estados
2.12.2.Criação de regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões
2.13.Municípios
2.13.1.Alteração na estrutura dos Municípios
2.14.Distrito Federal
2.15.Territórios Federais
3.PODERES DA UNIÃO
3.1.Sistema de freios e contrapesos
3.2.Poder Executivo
3.3.Poder Legislativo
3.3.1.Composição do poder legislativo em âmbito federal
3.3.2.Composição do poder legislativo em âmbito estadual
3.3.3.Composição do poder legislativo em âmbito municipal
3.3.4.Comissões Parlamentares de Inquérito
3.3.5.Poderes Judiciais de Investigação das CPIs
3.3.6.Imunidades parlamentares
3.3.7.Fiscalização contábil, financeira e orçamentária
3.3.8.Autonomia administrativa, financeira e funcional do TCU
3.3.9.Julgamento das contas públicas
3.3.10.Sustação de atos e contratos administrativos
3.4.Poder Judiciário
3.4.1.Garantias institucionais do Poder Judiciário
3.4.2.Garantias dos juízes
3.4.3.Promoção dos magistrados
3.4.4.Vedações dos magistrados
3.5.Sobre a polícia judiciária
4.Tópicos Complementares
4.1.Sobre os direitos sociais
4.2.Sobre a nacionalidade
4.3.Sobre os direitos políticos
5.Teoria geral dos direitos fundamentais
5.1.Conceito material e formal
5.2.Titulares de direitos fundamentais
5.3.Sobre a titularidade das pessoas jurídicas
5.4.Tratados internacionais de direitos humanos
5.5.Características básicas dos direitos fundamentais
5.5.1.Relatividade
5.5.2.Historicidade
5.5.3.Universalidade
5.5.4.Inalienabilidade
5.6.Aplicabilidade das normas constitucionais (dimensão de
aplicação)
5.7.Eficácia das normas constitucionais
5.7.1.Normas de eficácia plena
5.7.2.Normas de eficácia contida
5.7.3.Normas de eficácia limitada
5.8.Julgados do Supremo Tribunal Federal sobre a dignidade da
pessoa humana
5.9.Objetivos fundamentais
5.10.Refúgio e asilo político
5.11.Princípios regentes das relações internacionais
5.12.Direitos e garantias fundamentais
5.13.Gerações ou dimensões dos direitos fundamentais
6.Direitos e deveres individuais do artigo 5º
6.1.Direito à vida
6.2.Princípio da igualdade
6.3.Princípio da Legalidade
6.4.Vedação à tortura
6.5.Vedação ao anonimato
6.6.Liberdade de consciência
6.7.Liberdade de atividade intelectual, artística, científica ou de
comunicação
6.8.Direito à privacidade
6.9.Inviolabilidade de domicílio, correspondência e comunicações
6.10.Liberdade de profissão
6.11.Direito à informação
6.12.Liberdade de reunião
6.13.Liberdade de associação
6.14.Liberdade de pensamento
6.15.Direito de propriedade
6.16.Desapropriação
6.17.Impenhorabilidade da pequena propriedade rural
6.18.Inafastabilidade do judiciário, segurança, irretroatividade da lei,
personalização da pena, outros
6.19.Crimes inafiançáveis e imprescritíveis, e crimes inafiançáveis e
insuscetíveis de graça ou anistia
6.20.Extradição
6.21.Direitos e garantias processuais
6.22.Remédios Constitucionais
6.22.1.Habeas corpus
6.22.2.Habeas data
6.22.3.Mandado de segurança
6.22.4.Mandado injunção
6.22.5.Ação popular
7.Referências Bibliográficas
8.Contato:
1. Aspectos Introdutórios
O Direito Constitucional é o ramo do estudo jurídico que diz respeito à estrutura
basilar do ordenamento normativo. Nesse sentido, o Texto Constitucional, lei
fundamental do Estado (também chamada pela doutrina de Lei Maior, Lei
Fundamental, Carta Magna, Carta Maior, Carta Política), reside no topo da
hierarquia normativa (segundo a distribuição vertical e hierárquica das normas do
Direito, proposta por Hans Kelsen), consolidando-se como uma norma de validade
do sistema como um todo.
A ideia da existência de uma norma superior vem de muito antes. Por exemplo,
ao ler os livros da obra Política, escrito por Aristóteles, é possível encontrar
reflexões sobre as leis constitucionais, governos constitucionais, regras
constitucionais, que exercem supremacia sobre as demais leis (leis comuns).[1] No
entanto, quando se pensa em base jurídico-normativa, a qual se origina de um poder
constituinte formal, somente no final do século XVIII surgem aplicações não só
teóricas, mas também práticas.[2]
Nesse sentido, a Constituição, por ser a norma central do ordenamento
jurídico (a base do Direito), dá origem a vários ramos de estudos (Direito
Administrativo, Direito do Trabalho, Direito Tributário), passa pela organização e
funcionamento do Estado, enfim delineia as relações do indivíduo e da
sociedade. Sendo assim, entende-se que o Direito Constitucional, por ser uma
norma instituidora do Estado, posiciona-se no direito público, com enfoque nos
interesses da coletividade (em contraposição ao direito privado, que diz respeito
sobretudo aos interesses individuais). Cabe ressaltar, contudo, que cada vez mais é
defendida a tese em favor da unicidade e indivisibilidade do Direito, não havendo,
pois, sua divisão em direito público e privado.[3]
Para fins didáticos, classificaremos o nosso ordenamento como direito
dicotômico (público e privado), com o Direito Constitucional pertencendo ao
direito público.
 
A Constituição brasileira, particularmente, é classificada como analítica, uma
vez que o constituinte achou por bem incluir vários dispositivos que materialmente
falando não pertencem a um Texto Constitucional. Indo além, nas palavras de Luís
Roberto Barroso, temos que “a euforia constituinte — saudável e inevitável após
tantos anos de exclusão da sociedade civil — levou a uma Carta que, mais
do que analítica, é prolixa e corporativa.[4]
Atualmente, nos textos constitucionais, nota-se mecanismos sólidos contra
ações arbitrárias, o qual garante respeito à vontade da maioria.
Nesse sentido, por exemplo, a Carta Magna brasileira estabelece normas
programáticas, confirmando o sentido de Constituição dirigente (imposição de
deveres de atuação positiva ao legislador e administrador) proposto por Canotilho.[5]
Também descrito como “totalitarismo constitucional” por Uadi Lammêgo Bulos.[6]
A constituição programática (dirigente) é aquela que possui normas de
eficácia limitada definidoras das tarefas e programas, cuja concretização deve
ser realizada pelos Poderes Públicos.
 
A esse fenômeno contemporâneo, muitos autores dão o nome de
neoconstitucionalismo, nascido após a Segunda Guerra Mundial.
Por essa razão, ao se estabelecer uma Constituição, é importante observar
que:
a) não haja falsas expectativas contidas na Constituição, pois tal ocorrência
não passaria de uma “falsa promessa”;
b) o texto Constitucional seja elaborado via consenso democrático — isso
inclui a presença de efetiva participação dos corpos intermediários da
sociedade (democracia participativa);
c) haja continuidade dos avanços já conquistados e presentes nas
Constituições pretéritas; e
d) haja integraçãocom órgãos internacionais, respeitando, por exemplo, os
direitos fundamentais internacionais.
Segundo Barroso, as marcas do neoconstitucionalismo são: (1) presunção de
constitucionalidade das normas e atos do poder público, (2) supremacia da
constituição, (3) interpretação conforme a Constituição, (4) unidade, (5)
razoabilidade, (6) efetividade.
1.1. Conceito
O que é uma Constituição?
 
Devemos conceituá-la da maneira como é cobrada em provas; ou seja, ao longo
da história, renomados doutrinadores traçaram suas definições para os diferentes
sentidos que o termo Constituição pode assumir, tais como: sociológico, político,
material e formal, jurídico, culturalista.
Vamos ao breve detalhamento de tais acepções.
1) Sentido sociológico (Ferdinand Lassalle): a Constituição é a “junção dos
fatores reais de poder de uma sociedade.” Em outras palavras, sabendo que o poder
emana do povo, para que uma constituição não seja uma mera “folha de papel”, seu
conteúdo deve refletir os anseios da sociedade (anseios de toda a coletividade).
2) Sentido político (Carl Schmitt): a Constituição é a decisão política daqueles
que detém o poder constituinte. Nesse sentido, a Carta Maior não é dotada de
decisão política fundamental.
3) Sentido material e formal (Carl Schmitt): o Brasil segue uma tendência
mista, por exemplo, tratados internacionais de direitos humanos são incorporados
como emenda constitucional, quando seguida a forma mais rígida de incorporação
(art. 5º, § 3º).
a) Material: materialmente falando, para que uma suposta “folha de papel”
seja de fato uma Constituição, não importará o conteúdo desse documento,
nem como foi inserido no ordenamento jurídico; mas sim se ela aborda a
temática precípua: regras estruturais da sociedade (conteúdo basilar:
órgãos, poderes, divisão de competência, forma de Estado, governo, e
tantos outros). Ao se fazer uma análise do ponto de vista estritamente
material, poderemos encontrar normas constitucionais “fora do texto
constitucional.”
b) Formal: ainda dentro do que explanou Carl Schmitt, o sentido formal diz
respeito às adequadas e às rígidas formalidades adotadas para a inserção
de um dispositivo Constitucional no ordenamento jurídico; por exemplo, o
texto constitucional (uma Emenda Constitucional) deve se materializar após
o devido processo legislativo que corretamente aprove seu texto; não
importando seu conteúdo, mas a maneira como foi titulado e aprovado pelos
representantes da sociedade. Um bom exemplo é a inclusão do art. 242, §
2º em nossa Constituição, o qual informa que o Colégio Pedro II será
mantido na esfera federal — isso é claramente um texto constitucional
apenas do ponto de vista formal, já que, conforme vimos, no sentido
material, para ser classificado como tal, é preciso se tratar de assuntos
basilares, de regras estruturais da sociedade.
4) Sentido Jurídico (Hans Kelsen): o autor posiciona a Constituição na órbita
do “dever-ser”, e não na do “ser”; ou seja, temos que, no sentido jurídico, a
Constituição é o resultado do arbítrio racional do homem, e não das leis naturais.
Para melhor compreender seu raciocínio, fazemos uso do termo “escalonamento de
normas”, o qual segue uma hierarquia, cuja função é fundamentar e validar as
normas (a norma de hierarquia inferior busca fundamento e validade na norma
superior); a Constituição está localizada no topo da pirâmide de Kelsen (situa-se no
plano lógico, mas não no jurídico), e fundamenta todo o ordenamento jurídico.
Pirâmide de Kelsen:
No topo da hierarquia, temos a Constituição Federal, seguida
respectivamente pela Constituição Estadual, Lei Estadual, Decreto do
Governador, Resolução do Secretário de Estado, Portaria do Diretor de Divisão,
Ordem do Chefe de Seção.
 
5) Sentido culturalista (J. H. M. Teixeira): a Carta Maior é uma formação
objetiva de cultura (elementos históricos, sociais e racionais), contendo não apenas
fatores reais, como também espirituais. Abrangendo aspectos filosóficos, jurídicos,
sociológicos, econômicos; formando, nos termos do autor: “uma Constituição Total,
uma perspectiva unitária.”
a) Fatores reais: tradição, costume, economia, natureza humana,
necessidades tanto sociais quanto individuais, conceitos geográficos e
técnicos, dentre tantos outros;
b) Fatores espirituais: ideias e valores morais, sentimentos, crenças
religiosas, dentre outras.
1.2. Princípio da separação dos poderes
A separação dos poderes é necessária para conter os abusos cometidos por
aqueles que possuem o poder. Os estudos iniciais sobre a temática remontam uma
vez mais a Aristóteles, na obra Política; a John Locke, em seu Tratado sobre o
governo; a Jean Jacques Rousseau, no Contrato social;[7] a Montesquieu, na obra
O espírito das leis, a qual consagrou a divisão e separação clássica dos poderes.
Por conta disso, nossa Constituição, em consonância com o princípio da
tripartição dos poderes, dividiu o Poder do Estado, com base no critério funcional
(execução, legislação e jurisdição), em três grandes poderes independentes e
harmônicos entre si, os quais exercem controles recíprocos.
1) Poder Executivo
✓ Função típica: administrar;
✓ Funções atípicas: legislar (medida provisória, lei delegada) e julgar (PAD),
nesse último caso, há controvérsias: alguns pensadores do direito
constitucional dizem que não é tecnicamente função judiciária de forma
atípica, mas sim administrativa.
2) Poder Legislativo
✓ Função típica: legislar e fiscalizar;
✓ Funções atípicas: julgar (o Senado julga o Presidente da República pelo
crime de responsabilidade) e administrar (realização de concurso público,
concessão de férias).
3) Poder Judiciário
✓ Função típica: julgar;
✓ Funções atípicas: legislar (regimento interno) e administrar (concursos,
concessão de férias).
Antigamente o rei exercia essas três funções.
 
De modo sucinto, temos:
Representativa (Chefia de Estado): Poder Executivo;
▪ Governativa (Chefia de Governo): Poder Executivo;
▪ Administrativa (prática dos atos administrativos): Poder Executivo;
Legislativa: Poder Legislativo;
Jurisdicional: Poder Judiciário.
1.3. Classificações da Constituição Federal
A nossa Constituição (CF/88) pode ser classificada da seguinte maneira:
✓ Quanto à origem: promulgada (ou popular), logo, não é outorgada;
✓ Quanto à mutabilidade (ou estabilidade, ou modo de alteração): rígida,
sendo assim, ela não é semirrígida, nem semiflexível, nem flexível, nem
granítica, nem intocável, nem super-rígida, nem muito menos imutável
(essas foram variações de nomes ligados à mutabilidade que não se aplicam
à nossa Constituição);
✓ Quanto à extensão: analítica, e não é sintética;
✓ Quanto ao conteúdo: formal, e não material, nem substancial;
✓ Quanto à forma: escrita;
✓ Quanto ao modo de elaboração: dogmático (ou seus sinônimos:
heterodoxa, eclética, pragmática), logo não é histórico.
Em provas e livros, podemos encontrar diversas classificações (menos
comuns):
1) Quanto à correspondência com a realidade: normativa;
2) Quanto à finalidade: dirigente;
3) Quanto ao conteúdo ideológico: social;
4) Quanto ao local da decretação: autoconstituição;
5) Quanto ao sistema: principiológico ou aberto;
6) Quanto à ideologia: eclética (também chamada de pragmática, ou
heterodoxa).
Mnemônicos para memorizar essas classificações Carta Maior:
✓ “pedra formal”, para memorizar: promulgada, escrita, dogmática, rígida,
analítica, formal;
✓ “pra fed”, com as iniciais das seguintes classificações: promulgada, rígida,
analítica, formal, escrita, dogmática.
2. Organização político-administrativa do Estado
2.1. Forma de governo
A CF/88 adota a “república” como forma de governo.
 
Como forma de governo, temos república e monarquia, vejamos essa tabela
comparativa.
República Monarquia
O representante é eleito O representante assume o poderpor vias hereditárias
O mandato é temporário O tempo de seu “mandato” évitalício
Há responsabilização de seusatos (o
que pode resultar em impeachment)
Não há responsabilidade de seus
atos (irresponsabilização)
Apesar de parecer fácil, as bancas continuam cobrando a temática, e, se não
ficar atento, pode escorregar (Cespe, 2021):[8]
Com relação ao Poder Executivo e à defesa do Estado e das instituições
democráticas na CF, julgue o item subsequente.
A CF adota o presidencialismo como forma de governo, cabendo ao
presidente da República a chefia de Estado e de governo.
Gabarito: Errado.
A forma de governo adotada no Brasil é a republicana; portanto, não é o
presidencialismo, uma vez que esse é classificado como sistema de governo.
2.2. Sistema de governo
O Brasil adota como sistema de governo o presidencialismo.
O presidencialismo não é cláusula pétrea
 
O sistema de Governo pode ser dividido em presidencialismo e
parlamentarismo, veja os detalhes na tabela:
Presidencialismo Parlamentarismo
Unipessoalidade das chefias de Estado
(representação) e de Governo (administração), as
chefias são exercidas pela mesma pessoa.
Um chefe de Estado, outro
chefe de Governo (1º Ministro):
pessoas diferentes.
Legitimidade popular direta (a escolha é
realizada pelo povo).
Legitimidade popular
indireta (a escolha é realizada
pelo parlamento).
Independência entre os poderes Executivo e
Legislativo.
Interdependência entre os
poderes Executivo e
Legislativo.
2.3. Regime de Governo
O regime de governo democrático divide-se em democracia direta, indireta
(representativa) e semidireta (participativa).
No que concerne à democracia direta, temos: plebiscito, referendo e
iniciativa popular:
✓ Plebiscito (antes);
✓ Referendo (depois);
✓ Iniciativa Popular (lei ordinária e lei complementar, 1% do eleitorado
nacional, dividido em pelo menos 5 estados, nenhum com menos de 0,3%).
Já a democracia indireta (também chamada de democracia representativa) é
realizada por representantes eleitos pelos cidadãos.
A CF/88 adota a democracia semidireta como regime de governo, uma vez
que os instrumentos de democracia direta se misturam com os instrumentos de
democracia indireta.[9]
 
2.4. Formas de estado
Algumas possíveis formas de estado são:
✓ Estado unitário: é aquele que possui apenas um Poder Político;
✓ Estado composto ou complexo: é aquele que possui mais de um Poder
Político, podendo ser federação ou confederação.
 
Federação Confederação
Formado por entes
autônomos. Formado por entes Soberanos (países).
Unidos por uma
Constituição. Tratado ou acordo internacional
Não existe direito à
secessão (princípio da
indissolubilidade).
Existe direito de secessão, uma vez que a
Confederação é composta por entes soberanos.
Existe um órgão do
poder judiciário (imparcial)
para solucionar os conflitos
entre as entidades
federadas.
Inexistência de um órgão do Judiciário para
solucionar os conflitos, logo entende-se que o
acordo pode ser desfeito com mais facilidade por
um dos entes soberanos que formam a
Confederação.
Mnemônico:[10]
“O Estado FEDE, 
→ Forma de Estado: federação;
a República é FOGO,
→ FOrma de GOverno: republicano;
o Presidente é SISTEMÁTICO,
→ SISTEMA de Governo: presidencialista;
e o regime é DEMOCRÁTICO.”
→ Regime: democrático (democracia semidireta).
2.5. Federalismo
Nessa forma de estado, temos uma situação em que todos os entes abrem
mão de parte de suas soberanias para se unirem, formando uma Federação, cuja
indissolubilidade não é admitida, ou seja: não existe direito de secessão aos entes
indissolúveis. Em termos constitucionais, um ente federativo não pode se separar da
Federação, nesse sentido a simples tentativa de secessão do Estado-membro dará
ensejo à decretação de intervenção federal (CF/88, art. 34, I).
Informações preliminares:
✓ Constituição Federal: é o documento formal que estabelece o vínculo
federativo;
✓ Repartição de competências: é o que gerou os entes federados: são
pessoas jurídicas de direito público interno (dotados de autonomia entre si:
auto-organização, autogoverno, autoadministração);
✓ A soberania do Estado Federal não afeta a autonomia dos entes federados;
✓ Vontades parciais (através dos Senadores): com representação central;
✓ Intervenção federal: requisito de manutenção da Federação;
✓ Controle jurisdicional de constitucionalidade: realizado pelo Supremo
Tribunal Federal.
Apesar de não possuírem soberania (pois a perderam no momento que
ingressaram na federação), os entes federativos são dotados de autonomia política
limitada.[11]
O Brasil se formou por desagregação (ou segregação, que também significa
separação, afastamento):
● havia um único Poder que se tornou vários;
● a isso damos o nome de movimento centrífugo (de dentro para fora);
● no Brasil é adotado o federalismo cooperativo.
Nos EUA foi adotado o federalismo dual (rígida), cuja formação se deu pelo
movimento centrípeto (de fora para dentro). Na época em que isto ocorreu, os
Estados soberanos desistiram de uma parcela de sua soberania, isso explica o
porquê de os estados norte-americanos terem maior autonomia quando
comparado aos estados brasileiros. Isto posto, ressalta-se que os Estados-
membros detêm ampla autonomia, agindo, em muitos casos, como órgãos
isolados (por exemplo, é aplicada a pena de morte em um Estado, mas não no
outro).
 
Atenção: ao analisar a abrangência de concentração de atribuições, o jogo de
palavras se altera:
✓ maior concentração de competências no ente central: modelo centrípeto
(também chamado de federalismo centrípeto por Georges Scelle);
✓ por outro lado, maior distribuição de atribuições aos estados-membros:
modelo centrífugo (federalismo centrífugo).
2.6. Classificação quanto ao equacionamento das
desigualdades
Apesar de já mencionado, o assunto merece maiores detalhamentos.
 
Quanto ao equacionamento das desigualdades, pode-se localizar nas doutrinas
o federalismo de equilíbrio (simétrico) e o federalismo heterogêneo (assimétrico).
Esses nomes podem variar a depender do material em estudo, mas o entendimento
é uniforme.
Ambos os tipos não dizem respeito meramente à distribuição de renda, mas
também ao tratamento, à concessão de vantagens diversas (incluindo a
concessão de maior autonomia, por exemplo, no que tange à auto-organização
administrativa, territorial, política).
 
O federalismo de equilíbrio visa a estabelecer harmonia, conciliando e
integrando os entes autônomos, limitando, de certo modo, as ambições desmedidas
de solidariedade (a exemplo disso: distribuindo recursos de forma igualitária,
ignorando as reais necessidades financeiras de cada estado-membro). Devido à
paridade distributiva, dá-se também a esse processo a nomenclatura federalismo
simétrico. No Brasil, conforme vimos, a distribuição de recursos não é igualitária.
Por outro lado, na federação heterogênea (assimétrica), busca-se ajustar a
distribuição de renda conforme a necessidade de cada estado-membro. Essa
modalidade de distribuição de renda é utilizada em federações cujas desigualdades
regionais são elevadas.
2.7. Classificação quanto à repartição de competências
Na classificação quanto à repartição de competências, temos a federação dual
(clássica) e a federação cooperativa (cada vez mais presente nos tempos
contemporâneos).
Federação dual, ou dualista (foi adotada pelo Brasil por meio da constituição de
1891, é adotada pelos Estados Unidos atualmente). As competências são exercidas
sem comunicação entre entes federativos, gerando um elevado grau de autonomia.
Agora, na federação cooperativa (adotada atualmente pelo Brasil), as
competências são exercidas em conjunto pelos entes (de modo comum ou
concorrente).
Há de se atentar para o fato de que o modo cooperativo de federação pode
dar ensejo a práticas autoritárias veladas, uma vez que, para que haja a
integração e cooperação entre as entidades federativas, inevitavelmente, há o
engrandecimento de um órgão central. Apesar do risco, em países cuja
democracia prevalece, a cooperação,chancelada pelo consentimento geral
(explicitado nas urnas), acontece de modo harmônico.
 
Por fim, para a sua prova, é aconselhável saber que existem classificações
diversas das mencionadas (algumas chegam a se confundir com as anteriores), mas
que, devido ao fato de existirem reflexões colidentes que não chegam
verdadeiramente a serem relevantes para a matéria, as bancas, de um modo geral,
não as exploram e cobram apenas a definição dada pelo doutrinador que a originou:
● federalismo de integração (não é o caso do Brasil), esse, quando em
incidência extrema, seria equivalente ao mencionado “federalismo de
fachada”, inexistindo o devido arranjo de competências para os entes
federativos. Nesse sentido, conforme leciona André Tavares, o federalismo
de integração é similar ao modelo orgânico, os quais enfatizam a
proeminência do governo central, cuja forte assimetria na distribuição de
poderes pode gerar um “federalismo meramente formal”;[12]e
● federalismo orgânico: situação na qual o poder central se sobrepõe, de
modo expresso, aos demais entes federados. Nota-se aqui uma presença
marcante do órgão central, um organismo que busca se fortalecer mesmo
que prejudique as partes. Nas palavras de Augusto Zimmermann “unidades
federadas se formam à simples imagem e semelhança do todo-poderoso
poder central”.[13]
2.8. Classificação quanto ao processo de formação
Quanto à origem de uma federação, temos formação por agregação ou
desagregação (esse último também chamado de segregação).
O processo de agregação é quando Estados soberanos se unem para formar
um estado federal, ficando então denominados Estados-membros, cada qual com
sua autonomia, os quais juntos formam uma soberania. Por exemplo, temos os
Estados Unidos.
No fenômeno da agregação, nota-se um movimento para o centro:
movimento centrípeto. Há também maior autonomia aos entes que resolveram
se juntar, ao abrir mão de parte de suas autonomias.
Já a desagregação (ou segregação), inversamente, há um movimento de dentro
para fora: movimento centrífugo. Por exemplo, no Brasil, em 1891 houve a
desagregação do poder político.
2.9. Classificação quanto à concentração de poder
Quanto à concentração de poder, temos a federação centrípeta e centrífuga:
✓ Federação Centrípeta, situação em que o Poder é concentrado na União;
✓ Já na Federação Centrífuga o Poder é espalhado. Por exemplo, nos
Estados Unidos, as entidades regionais têm mais poder.
Atenção, há uma inversão de termos a depender da classificação em análise:
✓ Quanto ao processo de formação, conforme vimos, o federalismo brasileiro
se deu por desagregação (também chamado de segregação), ou seja:
realizou-se um movimento centrífugo, aquele que se afasta, ou que ao
menos tende a se afastar do centro.
Logo, ambos os termos, centrípeta ou centrifuga, relacionam-se à federação
brasileira.
 
Compilado das principais informações sobre o assunto (algumas serão
abordadas nos capítulos subsequentes):
✓ O Estado é indissolúvel (não existe direito à secessão);
✓ A soberania do Estado Federal não afeta a autonomia dos entes;
✓ Constituição Federal: documento formal que estabelece o vínculo
federativo;
✓ Repartição de competências: em seus entes;
✓ Vontades parciais (através dos Senadores): com representação central;
✓ Intervenção federal: requisito de manutenção da Federação;
✓ Controle jurisdicional de constitucionalidade: realizado pelo Supremo
Tribunal Federal;
✓ O Federalismo brasileiro se formou por desagregação (cuidado: é o mesmo
que segregação): era um poder que se tornou vários, cujo movimento se dá
de dentro para fora, movimento centrífugo;
✓ O federalismo cooperativo é o adotado no Brasil (nos EUA, por exemplo, é o
federalismo dual, federalismo rígido);
✓ O federalismo brasileiro é também classificado como federalismo
assimétrico (heterogêneo), com tratamento diferenciado para com os entes
federados, por exemplo, passando mais recursos para entes que precisam
mais — por outro lado, há o federalismo simétrico (de equilíbrio), o qual visa
estabelecer uma equidade entre os entes da federação (distribuindo
recursos, e dando tratamento de forma igualitária);
✓ Tem-se aqui (federalismo brasileiro) uma estrutura tricotômica, estrutura de
3º grau, contudo há divergência doutrinária (alguns dizem ser de 2º grau);
✓ O Brasil não adota o Federalismo de Integração (seria um Federalismo de
fachada, sem muitas competências para os Estados), nem o Federalismo
Orgânico (situação na qual o poder central se sobrepõe aos demais);
✓ A Capital Federal é Brasília, não é o DF;
✓ Brasília é uma região administrativa, não é um município;
✓ Não existe hierarquia entre os Entes da Federação.
2.10. A Federação brasileira
A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil
compreende a União, os Estados-membros, o Distrito Federal e os municípios,
todos autônomos, nos termos desta Constituição (CF/88, art. 18). Juntos, esses
entes compõem o Estado soberano, e este é representado pela União (que exerce
dupla função).
Atenção: sozinhos os Estados possuem apenas autonomia (política,
administrativa e financeira), mas juntos formam um ente soberano.
 
A República Federativa do Brasil tem como fundamento, além de outros: a
soberania popular. Em seu artigo 1º (caput), a Constituição consagra formalmente o
Estado Democrático de Direito, equivalendo-se à soberania popular: “todo o
poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta Constituição” (CF/88, caput do art. 1º).
No tocante ao exercício do poder de forma indireta, temos a seguinte
composição de representantes eleitos no âmbito do Legislativo (democracia
representativa):
i) Deputados Federais (art. 45);
ii) Deputados Estaduais (art. 27, caput);
iii) Deputados Distritais (art. 32, §2º);
iv) Deputados Territoriais (art. 33, § 3º — ocorrerá caso for criado um
Território Federal);
v) Vereadores (art. 29, IV — âmbito municipal).
Não confundir: os símbolos da República Federativa do Brasil são: a bandeira, o
hino, as armas e o selo nacional.[14] Aos Estados-membros, municípios e Distrito
Federal será permitido ter seus próprios símbolos.
Outra informação relevante, é o fato de o art. 1º da CF/88 não mencionar a União,
uma vez que tal dispositivo se refere à união territorial (união com inicial minúscula,
pois é sinônimo de junção) e não à organização político-administrativa, veja: “A
República Federativa do Brasil, formada pela união [junção] indissolúvel dos
Estados e municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático
de Direito e tem como fundamentos: (...)”.[15]
Estamos a falar da forma de Estado, que é a Federada (considerada um
princípio fundamental). Portanto, isso não se confunde com a forma de governo
(republicana), nem com o sistema de governo (presidencialista).[16]
 
Conforme vimos, o federalismo brasileiro se deu por desagregação (também
chamado de segregação), ou seja: realizou-se um movimento centrífugo, aquele
que se afasta, ou que ao menos tende a se afastar do centro.
O modelo federativo é considerado cláusula pétrea.
 
A Constituição poderá ser emendada mediante proposta (CF/88, art. 60):
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a
abolir.
I - a forma federativa do Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.
§ 5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por
prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão
legislativa.
Informações basilares:
a) povo (pessoas vinculadas juridicamente ao Estado, o que não se confunde
com população, a qual diz respeito às pessoas em território nacional,
independentemente de haver vínculo ou não);
b) território (espaço geográfico); e
c) governo soberano (é o elementopolítico-jurídico[17], materializado pela
junção dos quatro entes federados: União, estados, Distrito Federal e
municípios).
 
Portanto, os entes da federação brasileira que juntos compõem o governo
soberano, são:
✓ União,
✓ Estados,
✓ Distrito Federal,
✓ Municípios.
No Brasil, cada estado-membro é regido pela sua Constituição (não originária),
não possuem, pois, um poder ilimitado, mas um poder derivado da Carta Maior, com
prerrogativas de auto-organização, conforme delimitado pelo Poder Originário.[18]
Os territórios federais não são entes federativos.
Os entes federativos são dotados de: auto-organização (capacidade de
elaborar suas próprias Constituições, ou, para o Distrito Federal e municípios, leis
orgânicas), autogoverno (capacidade de escolher os representantes de seus
poderes Executivo e Legislativo), autolegislação (capacidade de editar suas
próprias leis, desde que não extrapolem os limites hierárquicos, com a Constituição
no topo, conforme disposto na pirâmide de Kelsen), e autoadministração (gestão
sem interferências de suas competências, delineadas pela Carta Maior, “como
melhor lhes aprouver, desde que não ponham em risco o pacto federativo”[19]).
Atenção: na auto-organização do Distrito Federal, apesar de ser por Lei
Orgânica, guarde que essa é dotada de status de Constituição estadual.
Outro detalhe importante: apesar de o DF ter uma Lei Orgânica, é bom frisar que
ela tem status de Constituição estadual (ou seja, tem a mesma importância e está no
mesmo nível das Constituições Estaduais.
Atenção:
● A Capital Federal da República Federativa do Brasil é Brasília, logo não é o
Distrito Federal;
● Brasília é uma região administrativa, logo não é um município;
● Não existe hierarquia entre os entes da Federação.
Não confundir:[20]
a) Poder Constituinte originário: diz respeito à Constituição Federal;
b) Poder Constituinte reformador: diz respeito ao poder derivado da Carta
Maior que pode reformá-la;
c) Poder Constituinte decorrente: diz respeito ao poder de criação das
Constituições dos Estados-membros.
Ainda sobre o Poder Constituinte Reformador, a depender do doutrinador,
pode ser chamado de “poder constituinte constituído, poder constituinte
derivado, poder constituinte instituído ou poder constituinte de segundo grau.”[21]
 
Tanto o Poder reformador quanto o decorrente são derivados do poder
constituinte originário, logo são limitados pela Constituição. No entanto, ressalta-se
que alguns livros reservam a nomenclatura “Poder Constituinte derivado” para se
referir apenas ao Poder Constituinte reformador.
Há também o fenômeno da mutação constitucional, situação em que,
diferentemente da alteração no Texto Constitucional através do Poder Constituinte
reformador, há uma mudança de sentido ao longo dos anos — sem que haja
modificação textual.
Vejamos algumas classificações do federalismo adotado no Brasil.
Nota: em tópicos pretéritos, vimos, de modo geral, as possíveis variações
que as federações (em âmbito global) podem assumir. Embora tenha sido
destacado qual classificação se aplica ao Brasil, para não restar dúvidas, cabe
neste momento frizar as classificações aplicáveis à Federação brasileira.
 
Quanto ao equacionamento das desigualdades, temos a adoção pátria do
federalismo assimétrico (heterogêneo), com tratamento diferenciado para com as
entidades federadas. Por exemplo, isso acontece ao se passar quantidades
diferenciadas de recursos financeiros aos estados mais necessitados, não se
limitando apenas a questões pecuniárias, podendo ser outros tipos de privilégios,
vantagens, tratamentos diferenciados, tal como a possibilidade de um estado-
membro melhor gerir sua localidade, ou seja, concedendo maior autonomia ao ente.
Essa característica, apesar de guardar semelhanças, não se confunde com o
federalismo de cooperação (o qual diz respeito à repartição de competências e
não ao equacionamento das desigualdades).
 
Quanto à repartição de competências, o Brasil adota o federalismo de
cooperação, distribuindo as competências de modo harmônico entre os entes
federativos (competência comum entre os estados, ou concorrente, situação na qual
a União estabelece regras mais abrangentes, permitindo com que os estados,
concorrentemente, atue naquilo que não seja conflitante); isso se opõe ao
federalismo dual (clássico), por exemplo, adotado pela Constituição de 1891, e
adotado atualmente pelos Estados Unidos, onde os Estados-membros são mais
independentes e autônomos e se comunicam menos com os demais estados.
Classificação quanto ao grau da federação brasileira: Federalismo de terceiro
grau (3 níveis federativos, formando uma estrutura tricotômica): Federal, Estadual e
Municipal.
O Brasil possui uma estrutura tricotômica, também chamada estrutura de
terceiro grau: situação na qual os municípios são alçados à condição de ente
federativo, estando ao lado dos Estados, DF e União.[22] No entanto, há
divergências doutrinárias, uma vez que alguns autores dizem que no Brasil há um
federalismo de segundo grau: os municípios se submetem a apenas dois graus
constitutivos, à Constituição Federal e à Constituição Estadual a que pertencer
(defendido por Manuel Gonçalves Ferreira Filho).
2.11. União
Além das características já mencionadas genericamente no tópico anterior (auto-
organização, autogoverno, autoadministração e autolegislação — aplicadas aos
quatro entes federativos), para a União, cabe ressaltar os pontos que se seguem.
A União é entidade federativa autônoma em relação aos Estados-membros,
municípios e Distrito Federal, constituindo pessoa jurídica de Direito Público
Interno, cabendo-lhe exercer também as atribuições da soberania do Estado
brasileiro.[23] Nesse sentido, a União, por ser um órgão central, pode atuar tanto em
nome próprio (função de Governo) quanto em nome da República Federativa do
Brasil (função de Estado), no último caso, em relações internacionais.[24]
Logo, a União tem a competência para agir em nome da Federação (República
Federativa do Brasil). Perceba a sutileza: a União não é tecnicamente dotada de
soberania, dado que somente atua em nome do ente soberano.
Sua capital federal é Brasília (logo, não é o Distrito Federal).
Não confundir lei federal com lei nacional, uma vez que a lei federal (por
exemplo, lei nº 8.112/90) se aplica aos Jurisdicionados da União, ou seja, aplica-
se aos seus servidores federais e ao seu aparelho administrativo; já a lei
nacional é de abrangência nacional (incide sobre todos os habitantes do
território federal), tal como o Código Penal.
 
Os Territórios Federais integram a União, portanto não são dotados de
autonomia nem de capacidade política. São meras descentralizações administrativas
da União, classificados como espécie de autarquias, mais especificamente:
autarquias territoriais.[25]
2.12. Estados
Conforme vimos, os Estados-membros são autônomos, visto que possuem
capacidade de auto-organização (elaboram suas próprias Constituições, que
consistem em manifestação do Poder Constituinte derivado), de autolegislação
(capacidade de editar suas leis estaduais), de autogoverno (Assembleia Legislativa,
Governador do Estado, Tribunais e Juízes, referentes, respectivamente, aos Poderes
Legislativo, Executivo e Judiciário) e de autoadministração (gestão autônoma das
competências constitucionalmente atribuídas).
Os Estados-membros, ao elaborarem suas Constituições estaduais, devem
observar o princípio da simetria, o qual preceitua que as regras contidas na
Constituição Federal se aplicam aos municípios (simetricamente), impondo limites à
capacidade de auto-organização e autolegislação estadual (ou seja, impondo
limites ao poder constituinte decorrente). Por exemplo, a Constituição de um Estado
não poderá exigir o quórum qualificado de 4/5 em contraste com os 3/5 exigíveis
para alteração da Constituição Federal.[26]
Essa limitação foi classificada por Uadi Lammêgo Bulos, em três princípios, a
saber:[27]
1) Princípios constitucionais sensíveis(CF/88, art. 34, VII): por exemplo, temos
a forma republicana, direitos da pessoa humana, prestação de contas etc;
cuja violação dará ensejo à decretação de intervenção federal.
2) Princípios constitucionais extensíveis: dizem respeito a dispositivos,
contidos na Constituição, tangentes, por exemplo, às Administração Pública,
ou processo legislativo, e que são estendidos para os Estados (em simetria).
3) Princípios constitucionais estabelecidos: são aquelas limitações, vedações
ou proibições que a Carta Maior expressamente imputou aos Estados (por
exemplo, normas relacionadas ao sistema tributário, aos direitos políticos, à
organização dos Poderes).
Sobre o Poder Legislativo Estadual: temos que o número de Deputados
Estaduais (presentes nas Assembleias) será equivalente ao triplo dos Deputados
Federais (presentes nas Câmara dos Deputados) correspondente ao Estado em
análise; com a seguinte regra adicional: a regra do triplo se aplica até o total de 12
Deputados Federais, após isso, será acrescentado o total unitário que passou de 12.
Por exemplo: se determinado Estado for representado por 15 Deputados Federais,
as Assembleias Estaduais serão compostas por 39 Deputados Estaduais (com a
seguinte fórmula matemática: 12 x 3 + 3).
Caso ainda não tenha compreendido, tente esse raciocínio:
● Deputados Estaduais = 3 vezes o total Deputados Federais (limitado a 12);
○ Acima de 12 Deputados Federais: soma-se o total excedente ao triplo dos
12 primeiros.
○ Por exemplo, com 50 Deputados Federais, temos:
■ 36 + (50-12);
■ 36+38 = 74 Deputados Estaduais.
2.12.1. Alterações nas estruturas do Estados
Para a criação ou subdivisão de Estados, é necessária a realização de
plebiscito, responsável pela consulta prévia à população diretamente interessada.
Ademais, para satisfação dos requisitos legais, uma lei complementar deverá ser
editada pelo Congresso Nacional.
A edição de lei complementar consiste em ato discricionário. Isto é, os
congressistas, representantes do povo, têm a prerrogativa para escolher editar
ou não a medida complementar que subdividirá um Estado.
Amparo constitucional (CF/88, art. 18, § 3º):
⚖ Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou
desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou
Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada,
através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar.
Esse assunto é cobrado recorrentemente em provas (Sefaz, 2021):[28]
Considerando a organização político-administrativa da República Federativa
do Brasil, julgue o item a seguir.
Os estados podem subdividir-se para formarem novos estados, desde que
haja aprovação da população diretamente interessada, mediante plebiscito, e
sejam satisfeitos os requisitos de aprovação legal por lei complementar.
Gabarito: Certo.
Essa regra se aplica nos seguintes casos:
● Incorporação dos Estados entre si (chamado de fusão, dado que dois ou
mais Estados se combinam, formando outro Estado ou Território Federal);
● Subdivisão (chamado de cisão, pois dessa subdivisão são criados novos
Estados-membros ou Territórios Federais, extinguindo o antigo Estado, o
qual foi subdividido); ou
● Desmembramento (diferentemente da subdivisão, a qual extingue um
Estado para criar outros, no desmembramento o Estado desmembrado cede
parte de seu território para que outro Estado ou Território Federal seja
criado, ou que essa parte cedida seja anexada a um Estado ou Território já
existente).
Em resumo, essas alterações serão feitas através de:
1. Plebiscito (a proposta de alteração na estrutura do Estado deve ser
aprovada pela população interessada, para que então seja apresentado o
projeto de lei complementar);
2. Lei complementar (deve ser aprovada por maioria absoluta do
Congresso Nacional).
Cabe reforçar que a Assembleia Legislativa do Estado apenas emitirá um
parecer não vinculativo, favorável ou contrário à alteração estrutural; sendo assim,
ela não é responsável pela aprovação ou não da lei complementar (será o
Congresso Nacional). Por fim, não custa reforçar: a aprovação via plebiscito, sim,
é essencial para que haja a adequada propositura de projeto de lei complementar
nesse sentido.
Não confunda com a criação de regiões metropolitanas, aglomerações
urbanas e microrregiões, visto que, nesses casos, não será preciso a consulta
via plebiscito: os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões
metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por
agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o
planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum (CF/88, art.
25, § 3º).
 
2.12.2. Criação de regiões metropolitanas, aglomerações
urbanas e microrregiões
As regiões metropolitanas consistem em agrupamentos de municípios
vizinhos, em que seja possível notar, em maior ou menor grau, a “mescla” entre duas
ou mais cidades com interesses em comum, e que se beneficiem desse
agrupamento formal, cuja finalidade é melhor planejamento organizacional e maior
eficiência na execução dos serviços comuns aos municípios envolvidos. Tais
serviços, em muitos casos, quando praticados de modo isolado, são
economicamente inviáveis ou muito onerosos aos cofres públicos.
Os Estados podem, através de lei complementar estadual, aprovada pela
Assembleia Legislativa do Estado, criar as regiões metropolitanas, aglomerações
urbanas e microrregiões.
Estamos diante de uma competência privativa dos Estados (CF/88, art. 25, §
3o).
 
Em resumo, entende-se que:
✓ Nas regiões metropolitanas: há certa continuidade urbana em torno de um
Município-polo;
✓ Nas aglomerações urbanas: há homogeneidade e problemas
administrativos comuns, e suas sedes não se unem por continuidade
urbana; e
✓ Nas microrregiões: não há um conceito claro, contudo, é possível notar a
inexistência de um polo ou sede.
Temos, por exemplo, o fornecimento de água e esgoto, ou coleta de lixo nas
regiões metropolitanas.
 
Observações:
✓ A participação dos Municípios é compulsória;
✓ Havendo interesse comum, serão criadas funções e serviços públicos supra
municipais;
✓ Deve ser mantida a divisão de responsabilidades entre Estado e municípios;
✓ Criação de órgão colegiado com representação: com representação
Estadual e Municipal (não precisa ser paritária).
2.13. Municípios
Apesar de possuírem relativa autonomia (política, administrativa e financeira),
cada município não possui sua própria Constituição, mas lei orgânica.
2.13.1. Alteração na estrutura dos Municípios
Para criação, incorporação, fusão ou desmembramento de municípios,
temos algumas diferenças quando comparado aos Estados, tal como a lei federal,
que definirá as diretrizes gerais para alterações dos municípios, e o estudo de
viabilidade, atestando, dentro outros requisitos, que um novo município que venha a
ser criado conseguirá suprir suas demandas orçamentárias ao longo do tempo —
detalhes esses explorados com frequência pelas bancas examinadoras.
Amparo constitucional (CF/88, art. 18, § 4º):
⚖A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios,
far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar
Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações
dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade
Municipal, apresentados e publicados na forma da lei.
Logo, temos algumas exigências a mais para alteração estrutural de municípios:
1) Lei complementar federal (diretrizes gerais);
2) Estudo de viabilidade;
3) Plebiscito;
4) Lei ordinária estadual.
A primeira exigência de nossa lista é a lei complementar federal:
✓ Essa lei definirá o período dentro do qual podem ocorrer as alterações
federativas envolvendo municípios;
✓ Contudo, até hoje não foi editada, e tal fato configura omissão legislativa;
✓ Atualmente não podem ser criados novos municípios.A segunda exigência consiste no estudo de viabilidade municipal, regulado
por lei ordinária federal.
Já a terceira exigência é o plebiscito, que consiste em consulta às populações
dos municípios envolvidos.
Por fim, a quarta exigência é a lei ordinária estadual:
a) Ato discricionário (a decisão sobre editar a lei ou não fica a cargo do
congresso);
b) Não precisa ser lei complementar.
Ainda sobre os municípios (CF/88, art. 29):
✓ A autonomia municipal é um princípio sensível (cuja inobservância dá
ensejo a intervenção federal[29]);
✓ Passaram a existir a partir da CF/88: os municípios, juntamente com a
União, Estados-membros e DF compõem os entes federados (antes da
promulgação de nossa atual Carta Maior, os municípios não eram entes
federados, em outras palavras, após sua entrada em vigor, os municípios
foram alçados ao mesmo nível dos demais entes federados);
✓ Não possuem Poder Judiciário;
✓ Lei Orgânica municipal: aprovação em 2 turnos, interstício mínimo de 10
dias, 2/3 dos membros;
✓ Auto-organização (limitada pela CF/88);
✓ Julgamento do Prefeito:
Competência do Tribunal de Justiça: crimes de competência da Justiça
Estadual; crime doloso contra vida (foro por prerrogativa de função);
Competência do TRF: crimes federais;
Competência do TRE: crimes eleitorais;
Por derradeiro, sobre a imunidade material dos vereadores: não esquecer da
inviolabilidade penal ou civil por palavras, opiniões e votos, limitada, no entanto, à
circunscrição do município.
2.14. Distrito Federal
O Distrito Federal possui natureza jurídica híbrida, visto que acumula
competências dos Estados e municípios, nesse sentido, em regra, possuem todas as
competências legislativas e tributárias dos municípios e Estados-membros.
Não lhe é permitido subdividir-se em municípios, por esse e outros motivos não
é tecnicamente correto chamar o Distrito Federal de município nem de Estado.
Além disso, cumpre dizer que o Poder Judiciário, o Ministério Público, a Polícia
Civil, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal são organizados e
mantidos pela União. Atenção: no entanto, a Defensoria Pública do Distrito Federal é
organizada e mantida pelo próprio Distrito Federal.
É dotado de auto-organização, a respeito desta prerrogativa, guarde que a lei
orgânica do Distrito Federal:
✓ É aprovada em 2 turnos de votação;
✓ Com interstício mínimo de 10 dias entre os turnos;
✓ E quórum de aprovação de 2/3 dos membros da Câmara Legislativa.
O Distrito Federal é regido por suas leis distritais (autolegislação). Segundo o
parágrafo 1º do artigo 32 de nossa Constituição, “ao Distrito Federal são atribuídas
as competências legislativas reservadas aos Estados e Municípios.”
Atenção: sobre a autolegislação, conforme atribuído pela Carta Maior,
haverá leis de caráter “estaduais” e “municipais”, disto decorre o fato de que as
leis distritais nem sempre poderão ser objeto de Ação Direta de
Inconstitucionalidade: são objetos de ADI somente as leis que tratam de
matérias de competência dos Estados.
 
Possui também capacidade de autogoverno, elegendo seu governador, vice-
governador, Deputados Distritais com votação apenas dos cidadãos pertencentes ao
Distrito Federal, conforme regras contidas na Constituição (CF/88, art. 77). Sua
autonomia é parcialmente tutelada pela União: compete privativamente à União
organizar e manter o Distrito Federal.
Por fim, vale lembrar que não existem eleições para Prefeitos ou
Vereadores no Distrito Federal.
 
2.15. Territórios Federais
Atualmente não existem Territórios Federais, mas podem vir a ser criados
através de lei complementar (com autorização via plebiscito). Por exemplo,
Fernando de Noronha, um dos últimos Territórios Federais, foi extinto, com a
reincorporação de sua área ao Estado de Pernambuco.[30] Nesse sentido, salienta-se
que haverá a possibilidade de divisão de um Território Federal em Municípios.[31]
Eles não são considerados entes federativos, são espécies de autarquias, em
regime especial, pertencentes à União, por esse motivo, eles não são dotados de
autonomia.
Sobre os Territórios Federais não há incidência do Poder Constituinte
Decorrente (não possuem Constituição nem lei orgânica).
 
Seu Poder Executivo será dirigido por Governador nomeado pelo Presidente da
República (após aprovação pelo Senado Federal). Ademais, as contas do Governo
serão submetidas ao Congresso Nacional (essa fiscalização necessita de parecer
prévio do Tribunal de Contas da União (TCU).
Sobre o Poder Legislativo: os Territórios Federais possuem Câmara Territorial
com função de legislar, com eleições periódicas de seus membros. 
Ainda sobre o Legislativo, haverá representação no Congresso Nacional: com
número fixo de quatro Deputados Federais (exceção ao princípio proporcional dos
deputados federais, visto que não temos aqui a variação quantitativa de
representantes). Ademais, cumpre frisar: não há Senadores (pois não é ente
federativo).
Em territórios com mais de 100 mil habitantes, além do Governador, ter-se-á
órgãos judiciários (de primeira e segunda instância), Ministério Público e
Defensoria Pública (a organização e manutenção dessas entidades é de
competência da União).
Não confundir com regras aplicadas ao Distrito Federal: a Constituição
atribuiu à União a competência de organizar e manter a polícia civil, polícia
militar e corpo de bombeiros exclusivamente do Distrito Federal (logo, não se
aplica aos Territórios Federais).
 
3. PODERES DA UNIÃO
Os poderes da União são: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Atenção: Ministério Público, Defensoria Pública e Tribunal de Contas não
são classificados como Poderes.
 
3.1. Sistema de freios e contrapesos
Partindo da premissa de que o Poder é uno e indivisível (além de ser cláusula
pétrea), ele somente pode ser freado pelo próprio Poder (Legislativo, Executivo e
Judiciário controlando uns aos outros, através das interseções harmônicas de
suas funções).
Esse sistema de controle, freios e contrapesos, originou-se do Direito inglês
(checks and balances), lecionado por Montesquieu.
 
Para que isso aconteça de modo harmônico, é preciso que cada poder tenha
sua autonomia e independência.
Com a utilização desse mecanismo de freios e contrapesos, a tripartição de
poderes continua a existir, mas não de modo engessado.
Por exemplo, o Legislativo tem seu poder limitado pelo Executivo (esse sanciona
ou veta as leis caso as julgue inoportunas).
Vejamos as funções de cada poder.
O Poder Executivo tem a função típica de administrar, e, como funções
atípicas, legislar (medidas provisórias, leis delegadas) e julgar (PAD, Processo
Administrativo Disciplinar).
Há controvérsias sobre a função de julgar: alguns dizem que não é
tecnicamente Função Judiciária de forma atípica, mas meramente
administrativa.
 
O Poder Legislativo tem como funções típicas legislar e fiscalizar, e, como
funções atípicas, julgar (o Senado julga o Presidente da República pelo crime de
responsabilidade) e administrar (concurso, concessão de férias).
Por fim, o Poder Judiciário possui a função típica de julgar, e, como funções
atípicas, legislar (regimento interno) e administrar (concursos, concessão de
férias).
3.2. Poder Executivo
Para entender o funcionamento do Poder Executivo, é importante registrar de
início que a CF/88 adota o presidencialismo como Sistema de Governo.
Atenção: nesse ponto não podemos mais confundir quatro princípios
elementares do Direito Constitucional brasileiro: forma de estado, forma de
governo, sistema de governo e regime.
PRESIDENCIALISMO
 
O presidencialismo é um sistema de governo, e não uma forma de governo ou
de estado.
A essência do sistema presidencialista de governo consiste no fato de que o
presidente da república exerce, ao mesmo tempo, duas atribuições: chefe de estado
e chefe de governo.
CHEFE DE ESTADO
 
O Presidente da República atua externamente, na condição de chefe da
república federativa do Brasil. Exerce soberania. Como exemplo,temos:[32]
Compete privativamente ao Presidente da República:
✓ manter relações com Estados estrangeiros, creditando seus representantes
diplomáticos;
✓ celebrar tratados, convenções e atos internacionais sujeitos a referendo
do Congresso Nacional;
✓ declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo
Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo
das sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou
parcialmente, a mobilização nacional;
✓ celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional.
CHEFE DE GOVERNO
 
Ao atuar como chefe de governo, o Presidente da República exerce autonomia,
pois atua em nome da União (Governo Federal). Trata-se, portanto, de atuação que
ocorre no âmbito interno. Exemplo:[33]
⚖Compete privativamente ao Presidente da República:
I - nomear e exonerar os Ministros de Estado;
II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da
administração federal;
III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta
Constituição;
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir
decretos e regulamentos para sua fiel execução;
Com isso, é possível concluir que no sistema presidencialista de governo, a
chefia do poder executivo é unipessoal, e cabe ao Presidente da República — os
Ministros de Estados são auxiliares do Presidente da República.
3.2.1.1. Impedimento e vacância no poder executivo
 
Não podemos confundir dois conceitos técnicos do Direito Constitucional
brasileiro: impedimento e vacância.
 
Impedimento Vacância
É um obstáculo temporário
ao exercício do mandato.
É um obstáculo definitivo ao exercício do
cargo.
Exemplos: viagem ao
exterior, férias, licenças. Exemplos: morte, renúncia, “impeachment”.
No caso de impedimento,
haverá substituição.
No caso de vacância, haverá a sucessão da
autoridade que deixou o cargo vago.
Atenção: no caso de impedimento é substituição; já, no caso de vacância, é
sucessão.
 
Amparo constitucional (CF/88, art. 79):
⚖Substituirá o Presidente, no caso de impedimento, e suceder- lhe-á, no de
vaga, o Vice-Presidente.
O Art. 79, prevê as regras que se aplicam nas hipóteses de impedimento e de
vacância apenas do Presidente da República. Se ocorrer impedimento do
Presidente da República, o Vice-Presidente irá substituí-lo. Já, no caso de vacância,
o Vice-Presidente irá sucedê-lo em qualquer momento do mandato.
Os artigos 80 e 81 tratam do duplo impedimento e da dupla vacância (Presidente
mais Vice-Presidente da República):
⚖ Art. 80 — Em caso de impedimento do Presidente e do Vice-
Presidente, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente
chamados ao exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos
Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal.
⚖Art. 81 — Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da
República, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga.
Na hipótese de duplo impedimento no Poder Executivo, haverá a convocação
das autoridades previstas no artigo 80 da Constituição.
A ordem de convocação:
1º – Presidente da Câmara dos Deputados;
2º – Presidente do Senado Federal;
3º – Presidente do Supremo Tribunal Federal.
Para fins de memorização, perceba que, coincidentemente, está em ordem
alfabética: Câmara, Senado e Supremo.
 
O Art. 81 da CF/88 prevê que, no caso de dupla vacância no Poder Executivo,
deve ocorrer a realização de novas eleições.
1) Dupla vacância nos 2 primeiros anos do mandato: serão realizadas
eleições diretas (povo) em 90 dias;
2) Dupla vacância nos 2 últimos anos do mandato: serão realizadas eleições
indiretas (Congresso) no prazo de 30 dias.
No caso de dupla vacância, cabe fazer mais uma observação:
i) os novos presidentes e Vice-Presidentes terão o chamado “mandato
tampão”, isto é, terão o tempo que restar do mandato anterior; e, enquanto
não forem realizadas as novas eleições, convoca-se as autoridades
previstas no art. 80.
Amparo constitucional:[34]
⚖Substituirá o Presidente, no caso de impedimento, e suceder-lhe-á,
no de vaga, o Vice-Presidente.
Parágrafo único. O Vice-Presidente da República, além de outras
atribuições que lhe forem conferidas por lei complementar, auxiliará o
Presidente, sempre que por ele convocado para missões especiais.
⚖ Em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Presidente, ou
vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao
exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o do
Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal.
⚖Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República,
far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga.
§ 1º - Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período
presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da
última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei.
§ 2º - Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de
seus antecessores.
3.2.1.2. Crimes do Presidente da República
JUÍZES NATURAIS DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA EM MATÉRIA
PENAL
 
O termo “juiz natural” se refere ao órgão jurisdicional constitucionalmente
competente para realizar o julgamento de determinada ação.
Em matéria penal o Presidente da República tem dois juízes naturais a
depender do tipo de crime praticado: crime comum e crime de responsabilidade.
CRIME COMUM
 
O Supremo Tribunal Federal (STF) julga crime comum (infração penal) praticado
pelo Presidente da República desde que exista autorização prévia de julgamento por
2/3 da Câmara dos Deputados.
Esquematizando:
1 Denúncia (PGR) ou requerimento (também chamado de queixa: feita pelo
querelante ou ofendido);
2 A Câmara dos Deputados fará juízo de admissibilidade (art. 86 e art. 51, I):
 
1. ou Admite: quórum de ⅔,
2. ou Rejeita: se rejeitar, o processo será arquivado;
3 O STF fará um novo juízo de admissibilidade, pois não está vinculado à
Câmara dos Deputados (art. 86, §1, I):
 
1. podendo admitir, ou
2. rejeitar, e, nesse caso, a denúncia será arquiva;
4 4º Conclusão do processo (art. 86, §2):
 
1. O Presidente da República ficará afastado de suas funções por até 180
dias,
2. Caso não termine dentro desse prazo de 180 dias: cessará o
afastamento sem prejuízo do processo
5 5º Decisão do Supremo Tribunal Federal (Art. 86, §3):
 
1. Condena: Sentença condenatória transitada em julgado.
2. Absolve.
Atenção: esse procedimento não se aplica ao Vice-Presidente.
CRIME DE RESPONSABILIDADE
 
O Senado Federal julga os crimes de responsabilidade (infração político-
administrativo) praticados pelo Presidente da República, desde que exista
autorização prévia de julgamento por 2/3 da Câmara dos Deputados. Esse é o
processo de impeachment.
Esquematizando:
✓ há denúncia pelo Procurador Geral da República (PGR) ou através de
requerimento de qualquer cidadão;
✓ a Câmara dos Deputados fará o juízo de admissibilidade (art. 86 e art. 51,
I), gerando duas hipóteses: admissão ou rejeição:
Admite (necessário quórum de 2/3), ou
Rejeita (resultando no arquivamento do processo);
Caso haja autorização pela Câmara dos Deputados, o Senado Federal realizará
o Juízo de admissibilidade:
i) Antes da ADPF 378: não fará juízo de admissibilidade, pois ficará vinculado
à Câmara dos Deputados (art. 86, §1, II),
ii) Após a ADPF 378: fará novo juízo de admissibilidade, pois não ficará
vinculado à Câmara dos Deputados.
Poderá ser admitido por maioria simples; no entanto, se for rejeitado, será
arquivado.
Continuando com as etapas, após passar pela Câmara e Senado:
1) Instauração do processo (art. 52, § único, primeira parte):
a) Presidido pelo Presidente do STF,
b) Limita-se à condenação;
2) Conclusão do processo (art. 86, §2):
a) O Presidente da República ficará afastado de suas funções por até 180
dias,
b) Caso não termine dentro desse prazo de 180 dias, o Presidente da
República retornaráao cargo, sem prejuízo do processo.
3) Decisão do Senado Federal (Por resolução e voto nominal/aberto) (art. 52,
§ único, segunda parte)
a) Condena: 2/3 = (Perda do cargo + Inabilitação por 8 anos + outras
sanções), ou
b) Absolve.
Atenção para dois pontos:
O artigo 86, § 1º e § 2º da CF/88 prevê que, iniciada a ação penal contra
o Presidente da República no Supremo Tribunal Federal (crime comum)
ou no Senado Federal (crime de responsabilidade), o Presidente da
República ficará afastado por até 180 dias das suas funções presidenciais.
Caso o processo não termine dentro desse prazo, o Presidente da
República retornará ao cargo sem prejuízo do andamento do respectivo
processo.
O referido afastamento do Presidente da República por até 180 dias não
se inicia com a autorização de julgamento por 2/3 da Câmara dos
Deputados: exige-se, para isso, o início efetivo da ação penal no STF ou
no Senado Federal.
 
3.3. Poder Legislativo
Considerações introdutórias:
1. O Poder Legislativo está presente em âmbito: municipal, estadual,
distrital e federal;
2. É regido pelo bicameralismo federativo, isso é, apenas em âmbito
federal.
Apenas no Legislativo em âmbito federal é que teremos duas casas:
Câmara dos Deputados e Senado Federal, esta é composta por representantes
dos Estados, aquela, por representantes do povo.
 
O Poder Legislativo desempenha duas grandes funções:
✓ típicas (são as funções que o Legislativo executa com preponderância):
legislar (elaboração de leis, decretos, emendas constitucionais) e
fiscalizar;
✓ atípicas (são as funções desempenhadas de modo secundário ou sem
preponderância pelo Poder Legislativo): julgar (o Senado Federal julga o
Presidente da República pelo crime de responsabilidade, esse julgamento
consiste em processos de impeachment do Chefe do Poder Executivo) e
administrar (realização de concursos públicos, concessões de férias aos
seus servidores).
Sobre a função fiscalizatória (realização de modo típico): diz respeito à atuação
dos Tribunais de Conta, atuação das CPIs[35] e convocação das autoridades
subordinadas ao Presidente da República para prestar esclarecimentos à Câmara
dos Deputados, Senado Federal e às respectivas Comissões.[36] Ademais, cabe
dizer que o Tribunal de Contas “integra” a estrutura do legislativo, desempenhando
funções fiscalizatórias. Amparo constitucional: atuação dos tribunais de contas.[37]
São os membros do poder executivo que podem ser convocados, exceto o
Presidente da República. Autoridades do poder judiciário (juízes), membros do
MP também não podem ser convocados, pois não são do poder executivo.
Cuidado: as provas gostam de dizer que a função fiscalizatória é atípica;
mas vimos que essa é uma função típica.
 
Agora, sobre a função administrativa (realização atípica), temos que cada casa
legislativa cuida do regime jurídico dos seus servidores. Por exemplo: férias,
gratificações, licenças, julgamento de processo administrativo disciplinar. Sobre os
julgamentos, uma comissão, formada pelos próprios servidores, julga os PADs. O
julgamento disciplinar não pode ser considerado como função jurisdicional, mas sim
função administrativa.
3.3.1. Composição do poder legislativo em âmbito federal
A composição do poder Legislativo em âmbito federal consta nos artigos 44, 45
e 46 da CF/88. O artigo 44 “caput” da CF/88 prevê que o Poder Legislativo da União
seja exercido pelo Congresso Nacional.
O Congresso Nacional, conforme mencionado, é bicameral, ou seja, é formado
por duas Casas Legislativas: Câmara dos Deputados e Senado Federal.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
 
1) Câmara dos Deputados:[38] a função institucional da Câmara dos Deputados
é representar o povo. Nesse sentido, tenha em mente que a Câmara dos Deputados
não representa os entes federado (pois isso cabe ao Senado Federal).
O número de Deputados Federais é fixado com base nas seguintes regras:
A) Estados e DF: cada Estado e o DF terão, no mínimo, 8 Deputados
Federais e, no máximo, 70 Deputados Federais, variando esse número
conforme a população. Quanto maior a população, maior o número de
deputados.
B) Territórios: cada Território elegerá o número fixo de 4 Deputados Federais.
A Câmara dos Deputados adota o sistema eleitoral proporcional, o voto é
computado para o partido e distribuído entre os candidatos do partido.
A Câmara dos Deputados adota o sistema eleitoral proporcional.
 
Observações para a sua prova:
● O mandato dos Deputados Federais é de 4 anos;
● Deputado Federal não precisa ser brasileiro nato, essa exigência se aplica
apenas ao presidente (o mesmo se aplica à presidência do Senado
Federal), isso acontece porque, em determinadas situações, esse membro
pode vir a substituir a vacância do Presidente da República, por motivos de
segurança nacional, optou-se em vedar determinados cargos aos
estrangeiros;
● Outros requisitos para a candidatura dos Deputados Federais são: ser maior
de 21 anos, estar em pleno exercício dos direitos políticos, estar quite com a
obrigatoriedade de alistamento eleitoral, possuir domicílio eleitoral na
circunscrição a ser concorrida, além da filiação partidária.[39]
SENADO FEDERAL
 
2) Senado Federal:[40] a função institucional do Senado Federal é representar
dois tipos de entes federais: os Estados e o DF. Cada Estado e o DF terão o número
fixo de 3 senadores. Portanto, a variação acontece apenas na Câmara dos
Deputados.
Atenção: Território Federal não elege senadores.
Em qual casa do Congresso Nacional o Distrito Federal e os Estados-
membros são representados?
No Senado Federal (SF).
 
O Senado Federal adota o sistema eleitoral majoritário. Nesse sistema, cada
Senador é eleito com 2 suplentes (cabe frisar que, diferentemente dos Senadores, os
Deputados Federais não possuem suplentes, e, em caso de morte ou renúncia,
quem assume é o próximo Deputado mais votado).
O mandato no Senado Federal é de 8 anos, porém a cada 4 anos ocorrem
eleições para senadores. A cada 4 anos ocorre a renovação parcial do Senado
Federal, mudando-se alternadamente 1/3 e 2/3 dos senadores.
Amparo constitucional (CF/88, art. 44, 45 e 46):
TÍTULO IV DA ORGANIZAÇÃO DOS PODERES - CAPÍTULO I DO
PODER LEGISLATIVO SEÇÃO I - DO CONGRESSO NACIONAL
⚖Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que
se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração de quatro anos.
⚖Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do
povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado, em cada Território
e no Distrito Federal.
§ 1º O número total de Deputados, bem como a representação por
Estado e pelo Distrito Federal, será estabelecido por lei complementar,
proporcionalmente à população, procedendo-se aos ajustes necessários, no
ano anterior às eleições, para que nenhuma daquelas unidades da
Federação tenha menos de oito ou mais de setenta Deputados.
§ 2º Cada Território elegerá quatro Deputados.
⚖Art. 46. O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados
e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário.
§ 1º Cada Estado e o Distrito Federal elegerão três Senadores, com
mandato de oito anos.
§ 2º A representação de cada Estado e do Distrito Federal será
renovada de quatro em quatro anos, alternadamente, por um e dois terços.
§ 3º Cada Senador será eleito com dois suplentes.
⚖Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações
de cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por maioria dos votos,
presente a maioria absoluta de seus membros.
Qual é a diferença entre legislatura e sessão legislativa?
Vejamo-las:[41]
✓ Nas legislaturas (com duração de quatro anos), o Poder Legislativo é
exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal.
✓ Nas sessões legislativas, temos que o Congresso Nacional reunir-se-á,
anualmente, na Capital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de
agosto a 22 de dezembro. 
Para confundir esses dois termostécnicos (legislatura e sessão legislativa)
temos ainda um quadro resumitivo:
Legislatura Sessão Legislativa
Corresponde ao
período de 4 anos no
Poder Legislativo
Corresponde ao “ano Parlamentar”, que se inicia em 2
de fevereiro e termina em 22 de dezembro, com recesso
entre 17 de julho e 1 de agosto.
Logo, o mandato no Senado Federal é de 8 anos, o que vale a 2 legislaturas
e a 8 sessões legislativas. Não existe legislatura de 8 anos.
 
3.3.2. Composição do poder legislativo em âmbito estadual
O total de deputados estaduais presentes nas assembleias dos estados será
igual ao triplo do total de deputados que o Estado possui na Câmara dos Deputados
(federais). A regra do triplo se aplica até o número 12, após isso, será acrescentado
o total que passar de 12.
Sei que pode causar confusão (apesar do tema já ter sido abordado), mas a
regra “do triplo limitada a 12” é assim:
✓ se o Estado X possuir 10 deputados em âmbito federal, terá o triplo em
âmbito estadual, totalizando 30 deputados estaduais;
✓ se o Estado Y possuir 16 deputados em âmbito federal, terá o triplo (limite
da regra do triplo para em 12, totalizando 36), mais 4 (total que passou de
12), totalizando 40 deputados estaduais.
Curiosamente, percebe-se que, em termos relativos, os Estados menores
possuem uma proporção maior de representantes em âmbito federal.
Por derradeiro, cabe destacar que os Deputados Estaduais terão mandato de 4
anos; e possuirão remuneração não superior a 75% do estabelecido aos Deputados
Federais do Estado correspondente.[42]
3.3.3. Composição do poder legislativo em âmbito municipal
Similarmente ao aplicado aos estados, à Câmara dos Vereadores será adotado
a regra do unicameralismo, cuja quantidade de vereadores é definida com base no
total de habitantes do município,[43] fixado por lei orgânica municipal, que não pode
ser modificada pelos vereadores.
A remuneração dos vereadores corresponderá a, no máximo, 75% do subsídio
pago aos Deputados Estaduais, podendo ser alterada conforme o total de habitantes
de cada município.
3.3.4. Comissões Parlamentares de Inquérito
Comissões Parlamentares de Inquérito são as famosas CPIs, as quais possuem
caráter temporário, cuja criação se dá mediante um terço dos membros do
Congresso, ou por apenas uma de suas casas, Câmara ou Senado.[44]
Possuem poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, com as
devidas limitações, evitando assim, ingerências arbitrárias — aplica-se aqui os “freios
e contrapesos” idealizados por Montesquieu.
A CPI é um órgão de investigação do poder legislativo (o qual apura eventos
certos e determinados), portanto não possui competência para julgar e condenar os
investigados.
Após as conclusões investigativas, a Comissão Parlamentar de Inquérito
poderá encaminhar suas conclusões ao Ministério Público, ou para
autoridades judiciais e administrativas, para que então se promova as ações
pertinentes — podendo resultar em responsabilidade administrativa, civil e
criminal.
 
Cabe reforçar o conteúdo do artigo 58, § 3º, CF/88, que prevê as seguintes
regras sobre CPIs:
a) Podem ser criadas pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal,
em conjunto (CPI mista) ou separadamente (CPI simples);
b) A criação das CPIs exige requerimento de 1/3 dos parlamentares da casa
legislativa envolvida;
c) A CPI deve investigar fato determinado;
d) Deve atuar por prazo certo, que varia conforme a complexidade do fato a ser
investigado.
3.3.5. Poderes Judiciais de Investigação das CPIs
O art. 58, § 3º, CF/88 prevê que as CPIs têm poderes de investigação próprios
das autoridades judiciais. Todavia, não apresenta nenhum rol sobre quais são esses
poderes.
Em nossa Constituição (incluindo a legislação infraconstitucional) não consta
quais são os poderes de uma CPI.
 
Cabe ao STF, em suas manifestações, definir quais são os poderes judiciais de
investigação das CPIs.
A CPI pode:
✓ Intimar investigados e testemunhas;
✓ Ouvir suspeitos e testemunhas (ambos possuem direito ao silêncio, no caso
das testemunhas, essas estão obrigadas a dizerem a verdade);
✓ Pode determinar a condução coercitiva de testemunha;
✓ Pode requerer a realização de provas periciais;
✓ Pode realizar prisão em flagrante;
✓ Pode, por ordem própria, determinar a quebra do sigilo telefônico (acessa
apenas o extrato da conta telefônica, não pode, portanto, instalar “grampo”, ou de
qualquer outra forma escutar as conversas sem que as partes saibam), bancário e
fiscal, isto é, acessar dados e registros documentais escritos;
✓ Realizar diligências a qualquer ponto do território nacional para fins de
investigações ou audiências públicas;
✓ Requisitar informações (documentos) de repartições públicas;
✓ Requisitar ajuda de servidores de qualquer Poder para as investigações; e
✓ Determinar ao Tribunal de Contas da União (TCU) a realização de inspeções
e auditorias.
A CPI não pode:
✓ Não pode condenar investigados;
✓ Não pode bloquear bens, nem pode restringir direitos (por exemplo:
apreensão de passaporte), nesse sentido, a CPI não pode impedir que o cidadão
deixe o território nacional;
✓ Não pode adotar medida assecuratória real ou restritiva do jus libertatis
(direito de poder se defender), incluindo-se, conforme disposto no item anterior, a
apreensão, sequestro ou indisponibilidade de bens ou mesmo a proibição de se
afastar do país;[45]
✓ Não pode realizar prisão preventiva, nem realizar prisão provisória, nem
determinar medida cautelar que envolva prisões, indisponibilidade de bens, arresto,
sequestro (poderá, contudo, haver prisão em caso de flagrante delito;[46]
✓ Não pode determinar a realização de busca e apreensão domiciliar;
✓ Não pode quebrar o sigilo das conversas telefônicas, isto é, determinar a
realização de interceptação de chamadas telefônicas (instalar grampos).
✓ Não pode impedir a presença de advogado do depoente na reunião (o
advogado pode ter acesso a documentos da CPI, falar para esclarecer equívoco ou
dúvida, opor a ato arbitrário ou abusivo, ter manifestações analisadas pela CPI até
para impugnar prova ilícita). 
Portanto: as CPIs não possuem todos os poderes instrutórios dos juízes,
apenas investigam fatos determinados, mas não processam e julgam.
Segundo o STF, as CPIs não podem formular acusações, nem punir
delitos, nem desrespeitar o privilégio contra a autoincriminação, direito de
qualquer indiciado ou testemunha, além das vedações listadas acima.[47]
 
Os excessos praticados pelas CPIs podem ser objeto de apreciação pelo
Supremo Tribunal Federal (e isso não fere o princípio da separação dos poderes).
3.3.6. Imunidades parlamentares
As imunidades parlamentares são prerrogativas que a nossa Carta Maior
disponibiliza aos Congressistas (Deputados e Senadores), para garantir o exercício
de suas múltiplas funções.
Ao interpretar o artigo 53 da CF/88 a doutrina identificou 2 tipos de imunidades
parlamentares: materiais e formais.
IMUNIDADE MATERIAL
 
Previstas no art. 53, caput, da CF/88:
⚖ Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por
quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.
As imunidades parlamentares materiais (também denominadas imunidade
real ou substantiva) passam a valer a partir do início do mandato, com o efeito de
descaracterizar ilícitos penais por delitos de opinião e honra.
Em âmbito federal, as imunidades parlamentares materiais não ficam restritas
ao recinto parlamentar. Acompanham o Deputado e o Senador em qualquer lugar
em que estejam exercendo o mandato (mesmo que indiretamente). Nessa linha de
raciocínio, o parlamentar estará com imunidade material ao participar de programas
de rádio ou TV, inauguração de obras públicas, passeatas; mesmo que um
parlamentar esteja em uma pousada de sunga nas férias, e inicie uma discussão
sobre política, terá imunidade parlamentar, pois no exato momento que iniciou a
discussão política, a imunidade parlamentar se materializou, visto que estava
exercendo sua função parlamentar.A imunidade em sentido material afasta a responsabilidade dos Congressistas
por danos advindos de suas manifestações orais ou escritas, desde que realizadas
no desempenho de seus mandatos (denominada prática in officio) ou externadas
em razão destes (prática propter officium), independentemente do local que venha
a ser realizadas tais manifestações.[48]
Outro exemplo: é possível concluir que, mesmo em situações inusitadas
(confraternização ao final de semana com amigos e conhecidos), caso o Deputado
ou Senador inicie um discurso político, ter-se-á instaurada sua imunidade material.
Essa imunidade não garante irresponsabilidade por quebra de decoro
parlamentar. Nessa linha de raciocínio, foi considerada correta a seguinte afirmação
(VUNESP, 2021):[49]
A imunidade material, fornece aos membros do Legislativo de qualquer
esfera de governo irresponsabilidade penal e civil por opiniões, palavras e votos,
mas não impede a perda do cargo em caso de quebra do decoro parlamentar.
Por quebra de decoro parlamentar, o político poderá inclusive perder o mandato
(CF/88, art. 55):
⚖Perderá o mandato o Deputado ou Senador:
[...]
II) cujo procedimento seja declarado incompatível com o decoro
parlamentar;
As hipóteses que ensejam quebra de decoro estarão majoritariamente
regulamentadas em regimento interno, as outras hipóteses são: abuso das
prerrogativas asseguradas a membro do Congresso Nacional, e percepção de
vantagens indevidas (penalidade imposta pela Lei de Improbidade por ato que
importe enriquecimento ilícito).
IMUNIDADE FORMAL
 
As imunidades parlamentares formais[50] passam a valer a partir da diplomação,
isto é, um ato formal da Justiça Eleitoral que antecede a posse do Deputado ou
Senador eleito.
As imunidades parlamentares formais se dividem em 2 subespécies: imunidade
à prisão e imunidade ao prosseguimento da ação penal.
a) Imunidade à prisão:[51] desde a diplomação, Deputados e Senadores apenas
podem ser presos em virtude de prisão em flagrante por crime inafiançável. Caso
ocorra essa prisão em flagrante por crime inafiançável, a maioria absoluta da casa
legislativa respectiva poderá suspender a prisão realizada.
b) Imunidade ao prosseguimento da ação penal:[52] caso seja ajuizada ação
penal contra Deputado ou Senador por crime praticado após a diplomação, o STF
informará a Casa Legislativa respectiva para que, por decisão de maioria absoluta,
resolva-se suspender ou não o andamento da ação penal em curso (a maioria de
seus membros poderá sustar a ação enquanto essa ainda não tenha sido concluída).
Pontos importantes:
✓ O pedido de sustação será apreciado em no máximo 45 dias do
recebimento (prazo improrrogável);
✓ Caso haja sustação, e enquanto durar o mandato, a prescrição do crime
(pendente de julgamento) permanecerá suspensa;
✓ Os Congressistas não ficam obrigados a testemunhar sobre informações
recebidas ou prestadas em razão do mandato;
✓ Tais imunidades permanecerão ativas durante o estado de sítio, exceto
se suspensas pelos membros da Casa (Câmara ou Senado), por maioria de
dois terços.
Cuidado com as pegadinhas em provas:
1) a CF/88 não exige autorização prévia para processar Deputados e
Senadores;
2) não é possível sustar o andamento de ação penal se o crime foi praticado
por Deputado ou Senador antes da diplomação;
3) Vereadores não possuem imunidade formal, mas apenas material e desde
que a prática do ato esteja relacionada com o mandato e seja manifestada
dentro do Município.
3.3.7. Fiscalização contábil, financeira e orçamentária
O art. 70 da Constituição prevê que a Administração Pública (direta e indireta) se
submete a dois sistemas de controle contábil, financeiro e orçamentário. São eles:[53]
✓ Sistema de controle interno: cada Poder criará órgãos próprios de controle
interno. Exemplo: o Poder Judiciário tem as corregedorias e o Conselho
Nacional de Justiça (CNJ).
✓ Sistema de controle externo: é realizado pelo Congresso Nacional.
Pegadinha: O art. 71, “caput”, CF/88, prevê que o congresso nacional, ao
realizar o controle externo da Administração Pública, será auxiliado pelo
Tribunal de Contas da União (TCU).
Amparo constitucional (CF/88, art. 70):
⚖ A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e
patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta,
quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das
subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional,
mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada
Poder.
Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica,
pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre
dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que,
em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária. 
3.3.8. Autonomia administrativa, financeira e funcional do
TCU
A jurisprudência do STF entende que o TCU é um órgão do poder legislativo
incumbido de auxiliar o Congresso Nacional na realização do controle externo. No
entanto, o TCU não está subordinado em relação ao Congresso Nacional: goza de
autonomia administrativa, funcional e orçamentária (ou financeira), o que lhe
garante independência para exercer suas atribuições.
O principal fundamento adotado pelo STF para justificar a autonomia do TCU é o
artigo 73, § 3 da CF/88, que prevê que os Ministros do TCU serão equiparados aos
Ministros do Superior Tribunal de Justiça no tocante às garantias e
impedimentos:
O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros, tem sede
no Distrito Federal, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o
território nacional [...].
§ 3° Os Ministros do Tribunal de Contas da União terão as mesmas
garantias, prerrogativas, impedimentos, vencimentos e vantagens dos
Ministros do Superior Tribunal de Justiça, aplicando-se-lhes, quanto à
aposentadoria e pensão, as normas constantes do art. 40. 
Logo, para a sua prova: o TCU atua na fiscalização externa como órgão
auxiliar. Não cair em pegadinhas: Não compete ao TCU a realização da
fiscalização externa. A competência é do Congresso Nacional, o TCU é apenas
auxiliar.
 
3.3.9. Julgamento das contas públicas
A CF/88 prevê dois órgãos competentes para realizar o julgamento de contas
públicas, a depender da autoridade que terá as contas julgadas: Congresso Nacional
ou do Tribunal de Contas da União.
1) Congresso Nacional:
O art. 49, IX, da Constituição prevê que o Congresso Nacional tem competência
para julgar as contas do Presidente da República.
Amparo constitucional (CF/88, art. 49):
⚖É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
[...]
IX - julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da República
e apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de governo;
Atenção: o art. 71, I, CF, prevê que o TCU irá emitir um parecer prévio sobre as
contas do Presidente da República no prazo de 60 dias contados do seu
recebimento.
Esse parecer prévio do TCU não é vinculante. É meramente opinativo.
 
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será
exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da
República, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em sessenta
dias a contar de seu recebimento;
2) Tribunal de Contas da União:
O Art. 71, II, CF/88, prevê que o TCU tem competência para julgar as contas
públicas dos demais responsáveis por bens, valores, e dinheiros da União.
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será
exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
[...]
II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por
dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e indireta,
incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder
Público federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou
outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público;
3.3.10.Sustação de atos e contratos administrativos
Competência para sustar atos e contratos administrativos.
Os atos administrativos e os contratos são sustados por órgãos diferentes,
podendo ser o Tribunal de Contas da União ou o Congresso Nacional.
Dica para facilitar a memorização:
✓ ato administrativo envolve menos dinheiro, então fica para o Tribunal de
Contas da União (TCU);
✓ O contrato administrativo envolve mais dinheiro, então fica para o
Congresso Nacional (CN).
1) TCU:
O art. 71, X, CF/88, prevê ao TCU sustar atos administrativos (após sustar atos
administrativos, o TCU deverá informar a sustação à Câmara dos Deputados e ao
Senado Federal). Por exemplo, os seguintes atos administrativos são passíveis de
sustação: concessão de gratificações, licenças, aposentadorias a servidores
públicos.
O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o
auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
[...]
X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando
a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal;
2) Congresso Nacional:
O art. 71, § 1, CF/88, prevê que compete ao Congresso Nacional realizar a
sustação de contratos administrativos.
§ 1º No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pelo
Congresso Nacional, que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas
cabíveis.
Atenção: as bancas examinadoras pode tentar induzir o candidato,
perguntando “como funciona a sustação de contratos pelo TCU”. Você deve ter
em mente de pronto que TCU não susta contrato.
 
Após sustar a execução de contratos administrativos, o Congresso Nacional
determinará ao Poder Executivo as providências cabíveis.
Conclusão: o entendimento que prevalece na jurisprudência e na doutrina é que
em matéria de controle externo da administração pública os órgãos envolvidos
(Congresso Nacional e Tribunal de Contas da União) devem sempre atuar se for
identificada alguma irregularidade, uma vez que fiscalizam o emprego de dinheiro
público, o qual é indisponível.
3.4. Poder Judiciário
Poder Judiciário exerce funções típicas e atípicas.
1) Função típica (desempenha de modo preponderante): a função
jurisdicional é a que o Poder Judiciário desempenha de modo preponderante. Ou
seja, é o julgamento de casos concretos que envolvem autor e réu.
2) Função atípica (desempenha de modo secundário ou sem preponderância):
i) Função administrativa: cada tribunal cuida do regime jurídico dos seus
próprios servidores. (Por exemplo: férias, gratificações, licenças, julgamento
de processo disciplinar). Observação: ao julgar um processo disciplinar o
Poder Judiciário exercerá a função administrativa e não jurisdicional (são
julgados pelos próprios servidores)
ii) Função legislativa: cada tribunal elabora seu regimento interno que tem
força de lei.
3.4.1. Garantias institucionais do Poder Judiciário
Amparo constitucional: art. 99 da CF/88.
O Poder Judiciário, como instituição, goza de duas garantias: autonomia
administrativa e autonomia financeira.
1) Autonomia Administrativa: o art. 96, I, CF/88, prevê competências que
ilustram a autonomia administrativa do Poder Judiciário, ao dispor que cada Tribunal
elegerá seus órgãos diretivos, decidirá sobre a criação de varas e secretarias,
definirá a realização de concursos para juízes e servidores.
2) Autonomia Financeira: cada Tribunal elaborará suas propostas
orçamentárias.
Cuidado para não confundir, misturando as garantias do Poder Judiciário
(autonomias administrativas e financeiras) com as garantias dos juízes
(vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídios).
 
3.4.2. Garantias dos juízes
Os juízes gozam de três garantias, em especial, que lhes asseguram
independência funcional: vitaliciedade, irredutibilidade de subsídios e
inamovibilidade.
Amparo constitucional: CF/88, art. 95, I, II, III.
VITALICIEDADE
 
É a garantia de apenas perder o cargo de juiz em virtude de sentença judicial
transitada em julgado.
Existem dois modos de adquirir a vitaliciedade:
1) Juiz de Primeiro Grau aprovado em concurso (nesse caso a vitaliciedade é
adquirida após 2 anos de efetivo exercício).
2) Juiz de Tribunal nomeado pelo Chefe do Poder Executivo (nesse caso, a
aquisição da vitaliciedade é automática com a posse).
Duas observações sobre o primeiro caso (Juiz de Primeiro Grau):
✓ Observação 1: sobre o momento em que a vitaliciedade é adquirida, frisa-se
que acontece 2 anos após o efetivo exercício, ou seja, não começa a
contar a partir da posse, mas somente depois de exercer suas
atividades.
✓ Observação 2: no período aquisitivo da vitaliciedade, o magistrado ocupa o
cargo de juiz substituto, e, enquanto estiver nesta função, poderá perder o
cargo somente por deliberação do próprio tribunal em relação ao qual se
encontra vinculado.
IRREDUTIBILIDADE DE SUBSÍDIOS
 
Os subsídios dos magistrados não poderão sofrer redução como método de
intimidação. Isso garante mais autonomia ao livre exercício de suas atividades.
Todos os juízes têm essa garantia desde a posse.
Atenção: não existe prazo para ter direito a essa garantia. Sendo assim, os
Juízes Substitutos também têm direito.
INAMOVIBILIDADE
 
Como regra geral, os juízes não podem ser removidos compulsoriamente para
outra localidade (vedada a remoção ex officio).
Nos dizeres de Gilmar Mendes, também não se permite que, “mediante qualquer
mecanismo ou estratagema institucional”, o juiz seja afastado da apreciação de um
dado caso ou de determinado processo.[54]
Também é uma garantia assegurada a todos os juízes desde a posse.
Como exceção, a Constituição prevê a chamada remoção de ofício ou
involuntária, as quais não exigem concordância do magistrado:[55]
Para ocorrer a remoção de ofício (ex officio), é preciso verificar três requisitos
cumulativos:
i) Interesse público;
ii) Decisão por maioria absoluta do Tribunal ou do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ);
iii) Deve ser assegurada ampla defesa.
3.4.3. Promoção dos magistrados
Amparo constitucional (CF/88, art. 93):
Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá
sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:
(...)
II - promoção de entrância para entrância, alternadamente, por
antiguidade e merecimento, atendidas as seguintes normas:
a) é obrigatória a promoção do juiz que figure por três vezes
consecutivas ou cinco alternadas em lista de merecimento;
A promoção acontece de entrância para entrância, de modo alternado, por
antiguidade e merecimento.
É obrigatória a promoção de juiz constar, por três vezes consecutivas ou cinco
alternadas, na lista de merecimento; em caso de recusa por parte do magistrado
“merecedor”.
Basicamente, o merecimento pressupõe dois anos de exercício na entrância
cujo merecimento é exigido, mais o atendimento de critérios objetivos de cursos
(especializações oficiais) e produtividade.
3.4.4. Vedações dos magistrados
Amparo legal: CF/88, art. 95, § único.
Os juízes devem notadamente obedecer a cinco proibições que asseguram a
manutenção da sua imparcialidade.
1ª) Proibição de acumular o cargo de juiz com outro cargo ou função pública,
ainda que exista disponibilidade (por exemplo, essa proibição se aplica ao juiz que
estiver em licença ou afastamento temporário). Cabe mencionar uma exceção a
essa proibição: o juiz poderá acumular apenas um outro cargo público de
magistério (professor).
2ª) Proibição de receber custas e participações nos processos.
3ª) Proibição de exercer atividades político-partidárias.
4ª) Proibição de receber, a qualquer título, valores de pessoas físicas e pessoas
jurídicas. Há uma exceção: os juízes poderão receber valores previstos em lei (a
exemplo disso, temos o aluguel de imóvel privado, a restituição de Imposto de
Renda).
5ª) Proibição de exercer a advocacia, pelo prazo de 03 anos contados da
aposentadoria ou da exoneração, perante o juízo ou Tribunal em que atuava como
magistrado.
Não confundir:o juiz que se aposentar ou que for exonerado não precisará
aguardar três anos para exercer a advocacia. Esse período de “quarentena”
somente é exigido se a advocacia for exercida perante o tribunal ou juízo em
que o antigo magistrado exercia o cargo de juiz.
 
Observação: as garantias e os impedimentos dos magistrados também são
assegurados a essas carreiras:
✓ Membros do Ministério Público (Promotores de Justiça), art. 128, § 4º, I e
II, CF/88.
✓ Ministros do Tribunal de Contas da União (TCU), art. 73, § 3º, CF/88.
O artigo 134, § 1º da CF/88 prevê expressamente que os Defensores Públicos
têm apenas uma garantia e um único impedimento consagrado no texto
constitucional. Trata-se da garantia da inamovibilidade e da proibição de exercer
a advocacia fora das atribuições institucionais.
Por fim, não esquecer da Súmula Vinculante 37: não cabe ao Poder Judiciário,
que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob o
fundamento de isonomia.
3.5. Sobre a polícia judiciária
Não confundir: a Polícia Judiciária da União, apenas desempenha função
auxiliar da Justiça, exercendo atividade judicial de modo típico (no entanto, não
estamos diante de atividade jurisdicional).
 
A polícia judiciária é de atuação repressiva, significa dizer que sua ação se dá
após a constatação da prática delituosa.
A depender do âmbito de atuação, teremos diferentes entidades competentes:
em âmbito federal, temos a polícia federal, no estadual, a polícia civil.
A polícia federal (órgão permanente, instituído por lei e estruturado em carreira)
é organizada e mantida pela União.
Dentre suas funções temos (CF/88, art. 144, § 1º):
✓ apurar infrações penais contra a ordem política e social, ou em detrimento
de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades
(administração direta e indireta, ou seja: autarquias, fundações, empresas
públicas, sociedades de economia mista);
✓ apurar infrações com repercussão que abranja mais de um Estado, incluindo
a abrangência internacional e que exija repressão uniforme;
✓ exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União
(deixando a polícia judiciária estadual para as polícias civis).
Duas informações sobre as polícias civis que costumam causar dúvidas (CF/88,
art. 144, § 4º):
1) As polícias civis são dirigidas por delegados de polícia de carreira —
deduz-se que estamos diante de uma competência exclusiva, e essa
informação foi explorada recentemente pela Banca Cebraspe[56], com a
seguinte afirmativa correta: “As polícias civis estaduais devem ser
necessariamente dirigidas por delegados de polícia de carreira e são
subordinadas aos respectivos governadores dos estados.” A banca
acrescentou uma informação implícita no texto constitucional, e, devido à
ausência da palavra taxativa “necessariamente”, até mesmo os que estavam
familiarizados com o texto estranharam essa assertiva espinhosa.
2) compete às polícias civis (ressalvada as competências já atribuídas à União)
as funções de polícia judiciária (portanto, estaduais, visto que a de âmbito
federal ficou para a União) e a apuração de infrações penais, exceto as
militares.
Ainda sobre a polícia civil, dado que a atividade penitenciária, ligada à guarda
dos estabelecimentos prisionais, não foi especificamente atribuída à polícia civil, ter-
se-á a possibilidade de criação da Carreira de Atividades Penitenciárias.[57]
A polícia judiciária da união é exercida pela polícia federal, já a dos estados,
pela polícia civil.
Veja como foi cobrado em prova pela Cespe recentemente:[58]
Com relação ao Poder Executivo e à defesa do Estado e das instituições
democráticas na CF, julgue o item subsequente.
O exercício das funções de polícia judiciária da União é de competência
exclusiva da Polícia Federal.
Gabarito: Certo.
A questão cobrou o art. 144, IV, § 1º, da CF/88, o qual nos informa que a
segurança pública, dever do Estado (direito e responsabilidade de todos) é exercida
para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, através dos seguintes órgãos:
✓ A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e
mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, dentre outros, a
exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.
Existem dispositivos legais que ampliam o conceito de polícia judiciária,
mas, para o escopo de nossa disciplina, nesse caso específico, devemos nos
ater à Constituição.
Cumpre salientar, por derradeiro, que a defesa civil não é de incumbência da
polícia civil, mas dos corpos de bombeiros militares. [59]
4. Tópicos Complementares
4.1. Sobre os direitos sociais
Amparo legal (CF/88, art. 6º):
São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição. 
Mnemônico sugerido para memorizar o artigo 6º (Educação, moradia, lazer,
saúde, trabalho, alimentação, assistência aos desamparados, segurança,
previdência social, transporte):
✓ Edu mora Lá,
✓ Sau trabalha Ali,
✓ Assis prossegue preso no transporte.
Atenção:
✓ O direito à moradia (direito social) é diferente do direito à propriedade
(direito individual);
✓ A segurança pública (direito social) é diferente da segurança jurídica
(direito individual).
Algumas características dos direitos sociais:
✓ Eles são imperativos: o Estado é compelido a fazer;
✓ Tais direitos também são invioláveis;
✓ Possuem aplicação imediata (cujo remédio constitucional é o mandado de
injunção);
✓ Teoria da reserva do possível (o Estado realiza o que é economicamente
possível), sem prejuízo da teoria do mínimo existencial, isso é, será
obrigado a prestar o que for minimamente necessário para garantir a
dignidade da pessoa humana.
Os direitos sociais são os denominados direitos de segunda geração, os
quais demandam uma prestação estatal (prestação positiva do Estado).
As bancas costumam cobrar de modo simples e sucinto essa temática, vejamos
um exemplo (Cebraspe, 2021):
Acerca dos direitos sociais, da nacionalidade e dos direitos políticos, julgue o
item seguinte.
A segurança é um direito social assegurado expressamente na CF.
Gabarito: Certo.
Sobre a contribuição profissional ou sindical (CF/88, art. 8º):
É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:
[...]
IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de
categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema
confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da
contribuição prevista em lei;
Espécies de contribuições:
✓ Confederativa: fixada em assembleia, caráter não tributário, cobrado de seus
filiados;
✓ Sindical (essa contribuição foi revogada pela reforma trabalhista revogou):
era fixada em lei (contribuição legal), e tinha natureza tributária (imposto),
sendo cobrada de todos os trabalhadores, independentemente de haver ou
não filiação. Atualmente a súmula vinculante nº 40 diz que só pode ser
descontada de quem for filiado.
4.2. Sobre a nacionalidade
A nacionalidade consiste no vínculo jurídico-político do indivíduo para com o
Estado. Nos dizeres de Gonçalves F. Filho, “por nacionalidade, compreende-se o
status do indivíduo em face do Estado.”[60]
Nesse sentido, o cidadão é o indivíduo em pleno gozo dos direitos políticos,
direitos esses que, para serem adquiridos, necessitam, dentre outros, da
regularidade quanto ao vínculo jurídico-político que fornece sua nacionalidade,
tornando-se cidadão nato ou naturalizado, podendo, através deste vínculo, participar
da “vida do Estado”.
Temos duas modalidades de nacionalidade: primária e secundária (brasileiro
naturalizado, decorrente de ação voluntária, manifestada após o nascimento).
Nacionalidade primária é aquela decorrente de fato natural (involuntário): como
nascimento, por sanguinidade ou territorialidade (brasileiro nato).
Critérios para aquisição da nacionalidade primária:
✓ ius solis (adotado em regra no Brasil): diz respeito à territorialidade, ou
seja, a pessoa que nasça em território brasileiro, em regra, será brasileiro
nato;
✓ ius sanguinis: filho de pai ou mãe brasileiro.
Há também o critério do ius matrimoniale (aquisição de nacionalidade através
do casamento), não adotado pela CF/88.
 
Vejamos o que diz o Texto Constitucional (CF/88, art. 12, I):
São brasileiros:
I – natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais
estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde
que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira,
desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou
venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer
tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira;
Nos casos de pais (pai e mãe) brasileiros que tenham o filho no exterior e
depois voltem a residir no Brasil (trazendo o filho para o território brasileiro),
segundo a Suprema Corte: se ele tiver residência fixa no Brasil, será
considerado nato, entretanto é preciso que, após esse filho completar 18 anos,
confirmar sua nacionalidade em órgão competente.
 
Sobre a nacionalidade secundária, temos o inciso II do mesmo artigo:[61]
São brasileiros:
II - naturalizados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas
aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um
ano ininterrupto e idoneidade moral;
Sobre o prazo ininterrupto: quando um indivíduo sai do país em caráter
temporário, não se utiliza esse período para interrupção; o que não pode é
permanecer em outro país com intenção definitiva e depois se arrepender e voltar
para o Brasil, nesse caso começa a contar do início.
A CF se refere a dois tipos: estrangeiros de países diversos que atendam
aos requisitos da lei, e estrangeiros originários de países de língua portuguesa.
 
Sobre conflitos de nacionalidade:
1) Conflito positivo: é aquele que deixa o sujeito como polipátrida (múltiplas
nacionalidades).
2) Conflito negativo: é aquele que deixa o sujeito como apátrida, ou seja, sem
pátria (o critério secundário de aquisição da nacionalidade, ius sanguinis, é utilizado
não só pelo Brasil, mas por diversos países, para evitar que uma pessoa que tenha
nascido em seu país, mas que esteja residindo em um país que não a aceite como
nacional daquele país, torne-se apátrida).
Vejamos um exemplo que pode levar uma pessoa a ser considerada apátrida.
Uma pessoa que nasceu no território X, e é filho de pais com nacionalidade do
Estado Y, pode vir a ser considerada apátrida pelo seguinte motivo:
a) Nasceu no território X, que somente reconhece como nacionais daquele
país os que tiverem sangue nacional, ou seja: usam o critério sanguíneo de
aquisição de nacionalidade;
b) É filho de pais com nacionalidade do país Y, que somente reconhece como
nacionais os que nasçam dentro do território.
Ainda a respeito do ius solis, cabe ressaltar uma situação que costuma
causar dúvidas: se um casal de estrangeiros estiver em solo brasileiro a serviço
de outro país, que não o seu de origem (por exemplo, são estadunidenses, mas
vêm ao Brasil a serviço do Canadá), enquadrar-se-á, também, no critério do ius
solis, isso é: filhos desse casal que nasçam em território nacional (enquanto
seus pais permanecerem em solo brasileiro, a serviço de países que não os
seus de origem) serão considerados brasileiros natos. Essa é uma exceção da
exceção, que por sinal é muito cobrada em provas.
A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados,
salvo nos casos previstos nesta Constituição (§ 2º II, art. 12, CF/88). No parágrafo
seguinte, a Carta Magna reserva determinados cargos apenas aos brasileiros natos.
Os cargos a seguir são privativos de brasileiro nato:[62]
I) Presidente e Vice-Presidente da República;
II) Presidente da Câmara dos Deputados;
III) Presidente do Senado Federal;
IV) Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V) carreira diplomática;
VI) oficial das Forças Armadas;
VII) Ministro de Estado da Defesa.
Mais duas hipóteses em que a Constituição restringe direito aos estrangeiros:
✓ O Conselho da República, órgão superior de consulta do Presidente da
República, é composto por 6 cidadãos natos (“o Vice-Presidente da
República; o Presidente da Câmara dos Deputados; o Presidente do Senado
Federal; os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados; os
líderes da maioria e da minoria no Senado Federal; o Ministro da Justiça;
seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade,
sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo
Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com
mandato de três anos, vedada a recondução”).[63]
✓ Para ser proprietário de empresa jornalística ou de radiodifusão, é
necessário ser brasileiro nato ou naturalizado há mais de 10 anos.
Ainda sobre a temática:[64]
Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
I) tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude
de atividade nociva ao interesse nacional;
II) adquirir outra nacionalidade.
Sobre o inciso II, a Constituição apresenta duas exceções:
i) sobre o reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; e
ii) sobre a imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro
residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu
território ou para o exercício de direitos civis.
Nesses dois casos, o brasileiro naturalizado não perderá sua naturalização,
podendo acumular mais de uma nacionalidade, conforme compatibilidade com
as normas dos países envolvidos. Perceba que a aquisição da nacionalidade é
imposta ou simplesmente reconhecida pelo país estrangeiro (é o que acontece
na grande maioria dos casos), portanto não acarretando o cancelamento da
nacionalidade brasileira.
Os detalhes que invalidam uma afirmativa de prova podem passar
despercebidos ao primeiro momento, e, somente depois de errar a questão é que o
estudante percebe o termo inválido.
Conforme cobrado na questão abaixo (Cebraspe, PC-AL, 2021), a banca
acrescentou “ou administrativa”, invalidando a afirmativa:
Acerca dos direitos sociais, da nacionalidade e dos direitos políticos, julgue o
item seguinte.
Perderá a nacionalidade o brasileiro cuja naturalização for cancelada, por
decisão judicial ou administrativa, em virtude de atividade nociva ao interesse
nacional.
Gabarito: Errado.
Se preciso for, leia uma vez mais o dispositivo constitucional para fins de
familiarização com o texto.
4.3. Sobre os direitos políticos
Os direitos políticos são classificados como positivos e negativos:
✓ Positivos (participação popular): ativa (alistabilidade, votar), passiva
(elegibilidade, ser votado);
✓ Negativos: peculiaridades impeditivas individuais.
Inelegibilidades se dividem em absoluta e relativa.
✓ Absoluta: são inalistáveis os estrangeiros e os conscritos (militar alistado,
recrutado); e são igualmente inalistáveis os analfabetos.
✓ Relativa: por exemplo, em casos de perda ou suspensão dos direitos
políticos.
Requisitos de elegibilidade:
✓ Nacionalidade,
✓ Pleno exercício de direitos políticos,
✓ Alistamento eleitoral,
✓ Domicílio eleitoral,
✓ Filiação partidária.
Sobre a alistabilidade (competência da Justiça Eleitoral):
✓ É obrigatória aos maiores de 18 anos e menores de 70 anos;
✓ É facultativa aos maiores de 16 anos e menores de 18 anos, facultativa
também aos analfabetos (contudo, não é facultativo para analfabetos
funcionais, esses são os que não compreendem um texto, mas
conseguem, por exemplo, escrever o próprionome);
✓ É proibida aos estrangeiros e conscritos (serviço militar obrigatório).
Atenção: essa vedação não se aplica aos portugueses equiparados, com
residência fixa no Brasil. Porém, para considerarmos essa hipótese, a banca do
concurso deve se referir expressamente a esse caso. No geral as bancas se
referem apenas à regra (literalidade do Texto Constitucional), e, nesses casos,
consederaremos como proibido o alistamento aos estrageiros, sem elocubrar a
respeito dessa especificidade ou marcaremos a alternativa como errada, quando
na verdade essa estava certa (e vice-versa).
 
Idade Mínima (comprovada na data da posse):
✓ 35 anos → Presidente e Vice-Presidente da República, Senador;
✓ 30 anos → Governador, Vice-Governador (de Estado e do Distrito Federal);
✓ 21 anos → Deputado (inclusos os Deputados federais, estaduais e
distritais), Prefeito, Vice-Prefeito, Juiz de paz;
✓ 18 anos → Vereador.
Em nosso modelo de democracia, o sufrágio (modo de escolha dos
representantes) é exercido através do voto (CF/88, art. 60, § 4º):
✓ Direto → cláusula pétrea,
✓ Secreto → cláusula pétrea,
✓ Universal → cláusula pétrea,
✓ Periódico → cláusula pétrea,
✓ Obrigatório → não é cláusula pétrea (pode ser abolido).
Por fim, o escrutínio (processo de votação) será direto e secreto, sem prejuízo
do escrutínio público para algumas decisões dos parlamentares.
Tabela comparativa:
Ativo Passivo
Alistável (Votar) Elegível (Ser Votado)
Brasileiro
Obrigatório: +18 anos
Facultativo: +16 anos e -18 anos; +70
anos; analfabetos
Brasileiro
Alistável
Alfabetizado
Pleno gozo dos direitos políticos
Dentro da circunscrição de seu
domicílio eleitoral
Filiação Partidária (salvo militar)
Idade Mínima: 35, 30, 21, 18.
Inalistável Inelegível
Estrangeiro
Conscrito
Definitiva Provisória
Estrangeiro
Conscrito
Analfabeto
Reeleição
Outros cargos
Em ricochete
/reflexo
5. Teoria geral dos direitos fundamentais
Termos importantes:
✓ fundamentos: são diretrizes que inspiram o estado;
✓ soberania: qualidade máxima de poder, seja do ponto de vista interno, seja
do ponto de vista externo;
✓ cidadania: é a participação do cidadão nos negócios do estado;
✓ dignidade da pessoa humana: evita a “coisificação” do ser humano, esse é
sempre o fim e nunca o meio para as conquistas sociais;
✓ valores sociais do trabalho e livre iniciativa: preceitua que o Estado
incentiva e participa da economia (extrafiscalidade);
✓ pluralismo político: nossa democracia é semidireta, pois adota
concomitantemente a democracia direta (iniciativa popular, referendo,
plebiscito) e indireta (mandatos, representantes eleitos);
Sobre o preâmbulo da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988:
“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional
Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-
estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de
uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia
social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica
das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.”
Não possui força normativa, não confere direitos ou obrigações, é considerado
“mera inspiração político-filosófica”, por esse motivo, não serve como parâmetro
de controle.
5.1. Conceito material e formal
Conceito (associação direta com a existência humana):
✓ Fundamento material: diretos e garantias a tangentes à dignidade da
pessoa humana e que não é encontrado expressamente na Constituição;
✓ Fundamento formal: direitos e garantias contidos na CF/88 (aparece
formalmente no Texto Constitucional).
Cobrado recentemente pela Quadrix (2021, CRP/MA):
Com relação aos direitos e às garantias fundamentais, julgue o item.
Os direitos e as garantias fundamentais, em sentido material, são pretensões
que, em cada momento histórico, se descobrem a partir da perspectiva do valor
da dignidade humana.
Gabarito: Certo.
De modo sucinto, antes de aparecer formalmente em uma Constituição, os
direitos e garantias fundamentais, por serem dotados da característica da
historicidade, surgem a partir de conquistas sociais ao longo dos anos, fruto de
muitas reflexões, criando normas materialmente constitucionais, que ainda não
passaram pelo processo burocrático e dificultoso, necessário para que constem
formalmente no texto constitucional.
5.2. Titulares de direitos fundamentais
Os titulares (sujeitos ativos) são:
✓ Brasileiros (natos e naturalizados);
✓ Estrangeiros (residentes e não-residentes), incluindo os estrangeiros de
passagem;
✓ Mediante julgados do STF, entende-se que tais direitos são aplicáveis
também aos apátridas (aqui de passagem), os quais não são tecnicamente
estrangeiros (não pertencem a outro país ou nação), e às pessoas
jurídicas.
Faz-se necessário adotar uma interpretação ampliativa do artigo 5º para
abranger também o turista (estrangeiro não residente). Entretanto, se a prova cobrar
expressamente “nos termos expressos da Constituição” você considera apenas os
brasileiros e estrangeiros residentes.
5.3. Sobre a titularidade das pessoas jurídicas
Ainda sobre as pessoas jurídicas, temos que:
✓ Elas serão detentoras dos direitos fundamentais, na medida do possível, e
desde que compatível com sua estrutura jurídica;
✓ Essa extensão decorre da característica da universalidade, todos têm
direito;
✓ Os direitos não são aplicados indistintamente às pessoas físicas e jurídicas,
há de se analisar a natureza do direito e a sua compatibilidade;
✓ Pessoas jurídicas podem impetrar o habeas corpus? Sim. Pode ser
impetrante (causa em favor de uma pessoa física), no entanto, não poderá
ser paciente de um habeas corpus, dado que uma empresa é uma estrutura
abstrata.
Não há impedimento absoluto de direitos fundamentais em favor de pessoas
jurídicas. Tais princípios fundamentais são destinados preferencialmente às pessoas
físicas, mas as empresas possuem direitos e garantias fundamentais sempre que
cabíveis.
Atenção: isso não se confunde com o direito pleno de pleitear em justiça: por
exemplo, uma empresa de food truck, apesar de não possuir direito
fundamental do habeas corpus contra ato que impeça seu direito de
locomoção, pode entrar com pedido de habeas corpus em favor de pessoa
física, que integre ou não seu quadro de pessoal.[65]
Vale frisar que a pessoa jurídica também é titular do direito de propriedade,
de imagem, da honra, dentre tantos outros.
Exemplificando o direito à honra objetiva em favor de pessoa jurídica: o
Facebook perdeu uma ação há pouco tempo; nessa ocasião, uma usuária da
plataforma disseminou fake news, dizendo que pedaços de sementes contidos
em um molho eram, na verdade, larvas, dando a entender que o produto estava
podre. A empresa afetada, após perder valor de mercado, processou o
Facebook por não ter removido a página do ar quando solicitado inicialmente.
 
O tema é recorrente em prova (Quadrix, 2021, Técnico de Orientação e
Fiscalização, CRP):
Com relação aos direitos e às garantias fundamentais, julgue o item.
Apenas as pessoas físicas podem ser titulares de direitos fundamentais.
Gabarito: Errado.
5.4. Tratados internacionais de direitos humanos
Os tratados internacionais de direitos humanos são normas supralegais, isso é:
estão acima das leis, mas abaixo da Constituição.
 
TIDH é a abreviação de tratados internacionais de direitos humanos.
 
De modo prático, sobre os tratados internacionais de direitos humanos, leve isso
para a sua prova:
✓ Para possuírem status de normas supralegais, necessariamente devem ser
tratados sobre direitos humanos;
✓ Devem ser aprovados nas duas casas do Congresso Nacional;
✓ Aprovação em 2 turnos (normalmente, o texto principal é aprovado noprimeiro turno, ficando o segundo turno para confirmar, alterar ou excluir
trechos do texto);
✓ Aprovação com quórum de pelo menos 3/5 dos membros.
Quais são as duas casas? Câmara dos Deputados e Senado Federal (CD
e SN, respectivamente).
 
As lides (pleitos, disputas judiciais) envolvendo a temática serão tratadas pelo
Tribunal Penal Internacional, TPI (CF/88, art. 5º, EC 45/04):
§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja
criação tenha manifestado adesão.
O Tribunal Penal Internacional, localizado na Holanda, é responsável por
crimes contra a humanidade. Esse tribunal, porém, não viola a soberania dos
Estados membros. Funcionando como um tribunal complementar.
5.5. Características básicas dos direitos fundamentais
5.5.1. Relatividade
A característica da relatividade (ou limitabilidade) preceitua que os direitos
fundamentais não são absolutos. Deve-se existir um juízo de ponderação.
Apesar disso, Norberto Bobbio, em suas obras, cita duas exceções a essa
relativização. Ou seja, dois direitos que são absolutos por completo. São eles: o
direito de não ser escravizado (o que implica a eliminação do direito a possuir
escravos), e o direito de não ser torturado.
 
Para as provas, fiquemos com a regra: os direitos fundamentais são relativos.
Temática muito recorrente em provas (CRP-MA, 2021):[66]
Com relação aos direitos e às garantias fundamentais, julgue o item.
Os direitos fundamentais, em razão de sua importância, não podem ser
objeto de limitações.
Gabarito: Errado.
Eventual colisão ou conflito de direitos fundamentais resolve-se pelo princípio
da proporcionalidade ou concordância prática.
Logo, será o caso concreto que definirá qual direito fundamental prevalecerá em
detrimento do outro. Esse julgamento está relacionado à relatividade (também
chamado de “convivência das liberdades públicas”, pelo Ministro Alexandre de
Moraes[67]).
5.5.2. Historicidade
Os direitos fundamentais não são meros resultados de um acontecimento
histórico específico, mas de todo um processo de afirmação.[68]
Basta observar os direitos fundamentais que foram surgindo ao longo da
história. Constitucionalmente falando, antigamente tolerava-se a existência de
escravos, após a abolição da escravatura, as empresas mantinham trabalhadores
com carga laboral diária de 16 horas (hoje a jornada padrão de trabalho é 44 horas
por semana, sendo, em regra, 8 horas por dia). Na época, muitos atos que hoje
consideramos absurdos eram práticas permitidas pela constituição vigente na época,
toleradas pelos cidadãos.
5.5.3. Universalidade
Os direitos fundamentais têm por finalidade a proteção de todas as pessoas,
sem distinção de classe, ou categorias. Por esse motivo, não é possível utilizar
questões culturais para impedir o reconhecimento de certos direitos.
Apesar disso, existem posicionamentos contrários à universalidade dos direitos
fundamentais, uma vez que, a depender da cultura, costumes, tradições de uma
nação, o direito sofre ajustes e relativizações admitindo práticas inconstitucionais
do ponto de vista de outra nação, por exemplo: mutilação genital feminina.[69]
5.5.4. Inalienabilidade
Também chamada de irrenunciabilidade ou imprescritibilidade, tal característica
nos informa que a titularidade dos direitos fundamentais não são renunciáveis,
isso é: sua titularidade não é passível de negociação mercantil, por exemplo.
Atenção: caso o direito fundamental não seja exercido por um certo período
de tempo, não há que se falar em prescrição.
 
Tal característica consiste em direito personalíssimo e indisponível, arraigado à
dignidade da pessoa humana, acompanhando-a por toda a vida.
Para isso, recorremos ao exemplo clássico, já citado, envolvendo o arremesso
de pessoas como “bala de canhão” em um circo (elas eram arremessadas a vários
metros em direção ao alvo posicionado próximo de uma rede de proteção). A
suprema corte da época impediu a continuidade dessa prática que feria os
princípios básicos da dignidade da pessoa humana. Ou seja, a irrenunciabilidade
dos direitos humanos entrou em cena.
Outros exemplos comuns no Brasil são:
✓ O que ocorre com os reality shows (por exemplo, temos “Big Brother Brasil”
e “A Fazenda”) onde os participantes abrem mão de seus direitos à
privacidade por um curto período de tempo. Perceba que a alienação da
privacidade é proibida, por isso deve haver nos contratos, entre os
participantes do reality show e a emissora, um prazo razoável para que esse
princípio não seja violado.
✓ Quando os cantores abrem mão do direito de privacidade da sua voz e
imagem especificamente contidas na gravação do evento apresentado.
Apenas por não estar exercendo um direito ele não será prescrito (não tem
prazo de validade). Atenção: a imprescritibilidade não se aplica, por exemplo, à
propriedade que não cumpre sua função social, e à outras situações envolvendo
restrições de direito; uma vez que o Estado soberano, tem o poder de intervir na
propriedade. Nesse sentido, temos a “limitação administrativa”, que, nas palavras
de Hely Lopes Meirelles, resume-se em: “toda imposição geral, gratuita, unilateral e
de ordem pública condicionadora do exercício de direitos ou de atividades
particulares às exigências do bem-estar social”.[70]
Todo direito fundamental está no mesmo nível de hierarquia, e isso nos remete
novamente à sua relatividade. Significa dizer, por exemplo, que a dignidade da
pessoa humana de um cidadão pode entrar em conflito com a de outro cidadão,
apenas no caso prático será possível decidir o que fazer.
Outros pontos importantes:
✓ A relativização pode afetar até mesmo o princípio da proibição do
retrocesso;
✓ Ao relativizar um direito fundamental, deve-se observar em especial o
princípio da máxima efetividade (utilizar o sentido normativo que forneça a
maior eficácia possível);
✓ Observa-se a ocorrência de relativização com bastante frequência nos casos
de concorrência (utilização dos direitos fundamentais em concomitância
com outros).
5.6. Aplicabilidade das normas constitucionais
(dimensão de aplicação)
Na tradição, sempre se defendeu a relação vertical dos direitos fundamentais,
era reconhecida apenas a eficácia vertical de tais direitos (relações entre indivíduos
e Estado, com este acima dos cidadãos).
No entanto, recentemente, tem prevalecido a eficácia horizontal direta dos
direitos fundamentais (relações privadas, as quais regulam os direitos fundamentais
nas relações entre particulares de ambos os lados) — conceito jurídico criado
originalmente na Alemanha[71], com o termo drittwirkung[72]). Como exemplo de
aplicação horizontal dos direitos fundamentais temos o crime de racismo (afronta ao
princípio da dignidade humana) que se configura quando o dono de um
estabelecimento comercial demite seu funcionário (ou não contrata um candidato à
vaga de emprego) meramente por questões envolvendo a cor de sua pele.
Outro exemplo de eficácia horizontal é a negativa do direito ao
contraditório e à ampla defesa à pessoa excluída da qualidade de sócio de
uma sociedade civil sem fins lucrativos.[73] Na visão do Ministro Gilmar Mendes,
a entidade, embora detentora do direito fundamental da autonomia da vontade e
da livre-iniciativa, acabou por ferir o direito à dignidade da pessoa humana (e
outros direitos fundamentais) quando excluiu, de modo arbitrário, um de seus
membros sem que esse tivesse o direito de se defender de modo apropriado (na
ocasião o sócio excluído não pode saber ao menos o porquê de estar sendo
excluído).
 
Esse raciocínio se estende aos ambientes privados, que possuam caráter
coletivo (caráter público), tais como: clubes e áreas de lazer restrita aos
membros.
Mais recentemente, surgiu a eficácia diagonal dos direitos fundamentais
(particulares em níveis hierárquicos distintos), que consiste na incidência dos direitos
fundamentais em relações privadas marcadas pela desigualdade entre os
particulares, especialmente onde se verifique um contraponto entre o poder
econômicoe a vulnerabilidade (jurídica ou econômica).[74]
Por exemplo, encontramos tais casos sobretudo nas relações trabalhistas e
consumeristas.
 
Pode-se citar aqui um princípio extraído do Direito do Trabalho: princípio da
proteção, o qual, apesar de mitigado pela reforma trabalhista,[75] tenta proporcionar
igualdade jurídica entre empregado e empregador, esse, na grande maioria dos
casos, com maior poderio econômico.
Ainda sobre as relações trabalhistas, mais especificamente, sobre a incidência
da eficácia direta dos direitos fundamentais sobre as relações trabalhistas (chamada
de eficácia diagonal por Sergio Gamonal[76]), a título exemplificativo: há alguns anos,
existia um circo na França, e uma das práticas circenses culturais da época era o
arremesso de anões. Conclusão: entraram com processo judicial para impedir tal
prática contra esses trabalhadores (trabalhadores que, entre um espetáculo e outro,
utilizavam o próprio corpo como “bala de canhão”, voando vários metros em direção
a um alvo ladeado por uma rede de proteção), com a tese de que isso estigmatizava
as pessoas de baixa estatura, e que os direitos fundamentais são irrenunciáveis e
inalienáveis. Agora que vem a parte curiosa: os anões não gostaram nem um
pouco de perder o emprego (pelo menos alguns) e resolveram apelar para a
Suprema Corte (alegando que, apesar da satisfação de fazer parte dos espetáculos,
estavam sendo impedidos de trabalhar), na tentativa de continuarem sendo
arremessados. No final, ficou decretada a proibição da prática de arremesso de
anões.[77]
5.7. Eficácia das normas constitucionais
A princípio, cabe listar os termos que não se confundem com o instituto da
eficácia da norma, a qual está ligada à capacidade de produção de efeitos:
✓ existência da norma (ligada ao ingresso normativo);
✓ validade da norma (ligada ao modo de produção válido, do ponto de vista
formal ou material);
✓ aplicabilidade da norma (ligada à área de incidência).
5.7.1. Normas de eficácia plena
As normas de eficácia plena produzem ou estão aptas a produzir todos os
efeitos desde sua entrada em vigor. Note que são normas com informações
completas, que permitem inferir a correta ação a ser seguida (podendo ser uma
conduta positiva ou negativa).
Não é necessário edição de lei que complemente o seu alcance.
Para fins exemplificativos, temos que as normas constitucionais do art. 5º
possuem aplicação imediata.
A aplicabilidade (produção de efeitos) pode ser jurídica ou social:
✓ Jurídica: capacidade de revogar toda norma contrária ao seu texto
(presente em toda norma constitucional);
✓ Social: efetividade (nem toda norma a possui).
Portanto, é correto dizer que tais normas possuem aplicabilidade direta,
imediata e integral.
 
Pontos importantes sobre este tópico:
✓ As normas constitucionais de eficácia plena podem ter caráter proibitivo
(para impedir que o legislador edite lei contrária ao dispositivo em análise);
✓ Podem ter caráter positivista (vinculando o legislador a implementar os
direitos fundamentais em análise);
✓ Podem ter caráter corretivo ou reformador: revogando ou alterando atos e
disposições contrários ao dispositivo em análise.
5.7.2. Normas de eficácia contida
Correspondem às normas constitucionais cujas eficácias podem sofrer
restrições.
Possuem aplicabilidade direta e imediata, mas possivelmente não integral. O
termo “possivelmente” foi utilizado para indicar que uma norma contida, é aquela cuja
eficácia é passível de redução, por essa razão, Michel Temer a classifica como
norma de eficácia restringível.[78]
São normas com margem à restrição.
Cabe salientar que, se não houver lei que a limite, essas normas terão eficácia
plena. Não as confundir com as normas de eficácia limitada, uma vez que essas
nascem com a eficácia branda, e, somente após edição de lei complementadora
(dispositivo infraconstitucional ulterior à Carta Magna), ela passa a ter o grau de
eficácia pretendido pelo constituinte.
A restrição das normas de eficácia contida pode acontecer de três formas:
1) por meio do legislador infraconstitucional (art. 5º, XIII e art. 95, parágrafo
único, IV);
2) por outras normas constitucionais (arts. 136 a 141: vigência de estado de
sítio e estado de defesa);
3) através de conceitos jurídicos indeterminados, como bons costumes,
utilidade pública etc.
Como exemplo, tem-se:
i) a necessidade de qualificação para o exercício legal de determinadas
atividades profissionais (perceba que a liberdade profissional é plena, mas
pode vir a ser impedida caso o profissional não cumpra as exigências
impostas por lei superveniente, amparo legal: CF/88, art. 5º, XII);
ii) a restrição do direito de greve dos empregados da iniciativa privada, um
ano após a promulgação da Carta Maior (lei 7.783/89), situação na qual os
serviços essenciais foram definidos (tais serviços não podem sofrer
interrupção total). 
Existem dispositivos constitucionais que contemplam normas de eficácia
contida e limitada no mesmo parágrafo. Para melhor compreensão, antes de
apresentar um exemplo do tipo, vejamos primeiro quais são as normas de eficácia
limitada.
5.7.3. Normas de eficácia limitada
As normas de eficácia limitada, carregam em si a informação de que é
necessária a edição de ato normativo que a complemente, tornando possível a
produção de seus efeitos.
Essas normas possuem aplicabilidade indireta, mediata e reduzida.
Embora sejam limitadas, essas normas produzem os seguintes efeitos:
✓ Revogam disposições em sentido contrário;
✓ Impedem a validade de leis que se oponham a seus comandos.
As normas limitadas são subclassificadas como normas programáticas e
normas de princípios institutivos:
i) Normas programáticas (são as normas que dependem de políticas
públicas): são metas, objetivos do Estado (por exemplo: construção de
escola), ligados às relações econômico-sociais;
Para Jorge Miranda, as normas programáticas são dotadas de aplicação
diferida, que explicitam comandos-valores.
 
ii) Normas de princípios institutivos (são as normas que dependem da
edição de leis): visam a instituir, criar, organizar, estruturar entidades (por
exemplo: criar um órgão fiscalizador) — podendo ser uma obrigação (norma
impositiva) ou uma possibilidade (norma permissiva), apesar disso, ambos
os casos, segundo opinião de José Afonso da Silva, são atos normativos
discricionários, uma vez que “o legislador não pode ser constrangido a
legislar”.[79]
Tais normas ora são facultativas, ora obrigatórias.
 
Conforme mencionado a pouco, podem haver, no mesmo dispositivo
constitucional, normas de eficácia contida e limitada, vejamos (CF/88, art. 37):
Os cargos, empregos e funções são acessíveis aos brasileiros sempre que
preencherem os requisitos constantes em lei; assim como os estrangeiros na
forma da lei.
Na parte tangente aos brasileiros, estamos diante de uma norma constitucional
de eficácia contida: apesar dos efeitos imediatos, é possível sofrer restrições
através de lei. Já, sobre os estrangeiros, estamos diante de uma norma de eficácia
limitada, pois é necessário haver edição de lei para viabilizar sua eficácia.
Cabe deixar registrado que a classificação das normas como contidas ou
limitadas nem sempre são claras, pois, segundo explica Virgílio Afonso da Silva,
toda regulação é também uma restrição.[80] Nesse sentido, quando se diz que
determinado direito é regulamentado por lei, implica considerar a exclusão dos
direitos afastados pela regulação.
Vejamos um quadro resumitivo:
Plena Contida Limitada
Autoaplicáveis. Autoaplicáveis. Não autoaplicáveis
Direta;
imediata; integral.
Direta; imediata; não
é integral (a lei pode
restringir os efeitos).
Indireta, mediata, diferida.
Programáticas (dependem de
políticas públicas). Princípios
institutivos (dependem de criação
através de lei).
5.8. Julgados do Supremo Tribunal Federal sobre a
dignidade da pessoa humana
Esses julgados possuem caráter vinculativo, servindo como diretrizespara a
atuação soberana do Estado, sobretudo para a justiça brasileira. Ademais, pode-se
dizer que esses julgamentos da Suprema Corte representam conquistas sociais.
1º Julgado (transgênero):[81] a partir de então, fica permitida a mudança do
prenome e alteração da classificação de gênero no registro civil:
✓ independentemente de cirurgia de transgenitalização;
✓ independentemente de tratamento hormonal;
✓ independentemente de pedido judicial.
2º Julgado (cotas raciais):[82] o STF, quando questionado sobre a
constitucionalidade das cotas raciais, decidiu pela ratificação (confirmação,
aprovação) da constitucionalidade desse direito. Seja pelo critério da autodeclaração,
seja pelo critério da heteroidentificação, desde que respeitado o critério da dignidade
da pessoa humana, essas ações afirmativas serão consideradas legítimas quando
embasadas por demonstrações empíricas, evidenciando que a passividade do
ordenamento jurídico é prejudicial a determinados grupos de indivíduos. A
exemplo disso, ficou proclamada a constitucionalidade da lei 12.990/14, a qual
garante a reserva de vagas em concursos públicos para negros.
3º Julgado (união homoafetiva):[83] fica permitida a união homoafetiva
(receberá o mesmo tratamento de uma união estável). O STJ reconheceu a “parceria
homoafetiva como uma das modalidades de entidade familiar”, assegurando o direito
ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Ademais, segundo o STF, existe, em
nosso texto constitucional, a garantia de “não sofrer discriminação pelo fato em si da
contraposta conformação anatomofisiológica e de fazer ou deixar de fazer ouso da
respectiva sexualidade; além de, nas situações de uso emparceirado da sexualidade,
fazê-lo com pessoas adultas do mesmo sexo ou não”.
4º Julgado:[84] fica permitido o proselitismo religioso na programação de rádios
comunitárias do país. Estendendo o raciocínio, por exemplo, fica permitido que as
“testemunhas de Jeová” batam em sua porta aos domingos de manhã. Indo ao
encontro dessa liberdade religiosa, a nossa Constituição é dogmática, incentivando a
livre circulação das mais diversas ideias; além disso, a liberdade religiosa tem como
pressuposto intrínseco a disseminação da crença.
5º Julgado:[85] fica proibido barrar a posse de candidatos em concursos públicos
apenas por estes possuírem tatuagens. Exceção: ainda assim, há de se analisar o
teor da tatuagem, possivelmente violarão os princípios constitucionais as seguintes
imagens: suástica nazista, expressões racistas, símbolos que denigram a imagem de
instituições e agentes públicos etc.
5.9. Objetivos fundamentais
Amparo legal (CF/88, art. 3º):
Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
Leve para a sua prova:
✓ Cada inciso é iniciado por um verbo;
✓ Perceba que são “metas” governamentais e legislativas, estando presente
nos discursos políticos (os discursos menos criativos tendem a recitar os
objetivos fundamentais do artigo 3º);
✓ Mnemônico: Com Garra Erra Pouco.
5.10. Refúgio e asilo político
Apesar de haver muita semelhança entre refúgio político e asilo político, a
doutrina afirma ser tratar de institutos diversos.
O refúgio pode ocorrer devido à perseguição política, social, cultural, étnica,
religiosa, sexual e outras. Está ligado a “reunificação das famílias”, e a qualificação
de um indivíduo como refugiado não transforma automaticamente a
pessoa em asilado territorial.[86] Os refugiados contam com a ajuda da ONU, através
do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados).
Por outro lado, o asilo é de natureza discricionária (sua concessão configura ato
de soberania estatal, de competência do Presidente da República, o qual pode
conceder ou não o asilo político, isso é, pode negar o pedido de extradição feito por
país que tenha interesse em “por as mãos” no asilado para que este cumpra uma
pena, receba alguma sanção, conforme a jurisdição do país que o persegue). Por
fim, igualmente ao refúgio, o asilo pode ocorrer por questões envolvendo
perseguição política, social, cultural, étnica, religiosa, sexual e outras.
Conforme exposto na obra de Alexandre de Moraes, o “asilo político apresenta
natureza territorial, ou seja, será concedido ao estrangeiro que tenha ingressado nas
fronteiras do novo Estado, colocando-se no âmbito especial de sua soberania”.[87]
 
Refúgio Asilo
Quem cuida dos refugiados é a ONU, através
do ACNUR (Alto Comissariado das Nações
Unidas para os Refugiados), fornecendo:
alimentação, saúde, moradia, educação e água
potável.
O responsável pelo
asilado é o Estado, o
qual discricionariamente
pode conceder o asilo
ou não.
Ambos os casos são passíveis de controle por parte do Supremo Tribunal
Federal.
Cabe destacar, uma vez mais, que esses institutos muitas vezes se confundem,
nesse sentido temos as palavras de Gros Espiel, “asilo e refúgio são dois institutos
distintos, com regulamentações diferentes”, continua o autor, “os conceitos de asilo
territorial e refugiado, nos termos da Convenção da ONU de 1951, às vezes estão
unidos, mas que eles são distintos.”[88]
A exemplo da confusão dos termos, temos o caso do italiano Cesare Battisti
(condenado a prisão perpétua pelo assassinato de quatro pessoas entre 1977 e
1979), o qual “esteve muitos anos na França, onde o ex-presidente francês François
Mitterrand deu asilo político ao italiano. Com a eleição de Jacques Chirac, Battisti
perdeu o asilo e fugiu”[89], após isso acabou se refugiando no Brasil. O Presidente
na época negou o pedido de extradição, após alguns anos, com a troca de governo,
a Itália solicitou a revisão do pedido de extradição. Resumindo, após autorização da
Suprema Corte (que já havia se manifestado sobre o caso) foi decretada pelo
Presidente a extradição do italiano Cesare Battisti (esse chegou a fugir pra a
Bolívia, mas foi encontrado e enviado à Itália, onde está cumprindo a pena).[90]
O caso do italiano Cesare Battisti é um bom exemplo da confusão de
termos entre refúgio e asilo: esse caso não está ligado ao ACNUR (que presta
assistência aos refugiados: alimentação, saúde, moradia, educação e água
potável). No entanto, o caso do italiano foi majoritariamente tratado como
refúgio político.
 
5.11. Princípios regentes das relações internacionais
Amparo legal (CF/88, art. 4º):
⚖ A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações
internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração
econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando
à formação de uma comunidade latino-americana de nações.
Para facilitar a memorização (são apenas sugestões):
✓ Inicia-se por substantivos (já os dispositivos sobre as garantias
fundamentais, conforme vimos, inicia-se por verbos);
✓ Estamos diante de metas para fora do país.
Mnemônico sugerido para os incisos (Conde preso não reina, coopera igual):
concessão de asilo político; defesa da paz; prevalência dos direitos humanos;
solução pacífica dos conflitos; não-intervenção; repúdio ao terrorismo e ao racismo;
independência nacional; autodeterminação dos povos; cooperação entre os povos
para o progresso da humanidade; igualdade entre os Estados.
Mnemônico sugerido para memorizar o parágrafo único, deve-se “pescar
lambari”: política, econômica, social, cultural, lam = latino-americanade nações
(buscar a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América
Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações).
Repúdio ao terrorismo e ao racismo: a respeito do antissemitismo (aversão
aos Semitas, sobretudo aos hebreus ou judeus) e do antissionismo (movimento que
se opõe à existência do Estado de Israel),[91] temos que “o pensamento antissemita
certamente influencia as posições de um indivíduo sobre Israel; assim como o
pensamento racista influencia as opiniões de um indivíduo sobre a África.”[92]
Conforme definido pela Suprema Corte, tanto o antissemitismo quanto o
antissionismo são práticas de crimes imprescritíveis e inafiançáveis, já que foram
equiparados ao racismo.
5.12. Direitos e garantias fundamentais
Ao longo do Texto Constitucional, é possível notar a existência de normas
declaratórias e assecuratórias, as quais instituem e garantem o direito,
respectivamente.
Os direitos fundamentais (normas declaratórias) são prestações básicas para
que o indivíduo tenha uma vida digna, longe de injustiças, arbitrariedades estatais,
livre de qualquer cerceamento de direitos fundamentais, dos quais todos necessitam
para viver “em paz”.
Já as garantias fundamentais (normas assecuratórias) são os mecanismos
que asseguram o cumprimento dos direitos fundamentais; são os recursos que
utilizamos para recorrer quando nossos direitos (constitucionalmente assegurados)
não se fazem presentes.
Em muitos casos, apenas o “fato concreto” será capaz de dizer o que é
direito e o que é garantia.
 
Constitucionalmente, os direitos e garantias fundamentais são classificados em
grupos (conforme o Título II da CF/88):
✓ direitos e deveres individuais e coletivos,
✓ direitos sociais,
✓ direitos de nacionalidade,
✓ direitos políticos, e
✓ partidos políticos.
Os direitos e garantias fundamentais não se limitam aos listados acima, estão
presentes por toda a Carta Magna e também em tratados e convenções
internacionais.
Toda garantia é um direito, mas nem todo direito é uma garantia.
Nesse sentido, conforme defendido por Rui Barbosa (sob o prisma da
Constituição de 1891), garantias são os meios e instrumentos para assegurar os
direitos. Por exemplo:
✓ Para o direito do juiz natural, existe a garantia da vedação dos tribunais
de exceção;
✓ Para o direito de locomoção, existe a garantia do habeas corpus (é um
remédio constitucional, ou seja: uma espécie de garantia constitucional);
✓ No art. 5º, VI, temos um exemplo de direito e garantia no mesmo dispositivo:
“é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o
livre exercício dos cultos religiosos, garantindo-se na forma da lei a
proteção aos locais de culto e suas liturgias”;
✓ Indo além, dentro desta temática, encontraremos garantias com ação
preventiva (assecuratória), e corretiva (reparação imediata a direito
violado).
Todos os remédios constitucionais (habeas data, habeas corpus e demais, art.
5º, LXIX ao LXXIII) são espécies de garantia (existem mais garantias além dessas
mencionadas no art. 5º, tal como a ação civil pública, contudo nem todos os
doutrinadores a consideram uma garantia).
Mais à frente, há um tópico sobre os remédios constitucionais.
 
Não custa lembrar que, mesmo nas garantias expressas, não há que se falar em
direito absoluto, principalmente em casos de conflito com outros direitos (princípio
da relatividade das normas constitucionais em consonância com a característica da
limitabilidade dos direitos fundamentais); logo, em muitas situações, apenas o caso
concreto definirá qual direito prevalecerá em detrimento de outro.[93]
Por fim, conforme defendido por Canotilho, uma garantia não deixa de ser
também um direito dotado de caráter instrumental.
5.13. Gerações ou dimensões dos direitos fundamentais
Existem divergências de opiniões sobre esse tópico: alguns doutrinadores
consideram a existência de apenas 3 dimensões, já outros, por exemplo, catalogam
5 dimensões. Por fim, conforme mencionado, existem diferentes nomenclaturas
para agrupar esses direitos (dimensão ou geração), com justificativas plausíveis
para a escolha da nomenclatura; entretanto, as bancas examinadoras de concursos
públicos consideram sinônimos tanto dimensão quanto geração. Cabe salientar que,
no geral, até a 4ª dimensão existe um certo consenso.
Nossos antigos doutrinadores (clássicos), entendiam que uma geração
substituía a outra. A doutrina contemporânea, porém, prefere utilizar o termo
dimensão, pois afirma que as dimensões coexistem — uma conquista não
substitui a outra —, proibindo assim uma “evolução reacionária”. Para a sua
prova, trate ambos os termos como sinônimos.
 
Para facilitar a memorização as três primeiras dimensões, constam no lema da
Revolução Francesa — liberdade, igualdade e fraternidade, que são respectivamente
a primeira, segunda e terceira dimensão —, para então (segundo parte da doutrina)
evoluírem para uma quarta e quinta dimensão; conforme esquematizado a seguir.
Por exemplo: Norberto Bobbio, Ingo Sarlet e Paulo Bonavides consideram
existir cinco dimensões/gerações de direitos fundamentais.[94]
1ª DIMENSÃO (ou GERAÇÃO):
 
Essa dimensão representa direito à liberdade, possuindo um status negativo
(absenteísmo estatal: situação em que o Estado não interfere indevidamente na vida
dos indivíduos de uma sociedade);
Ademais:
✓ Referem-se aos direitos civis e políticos;
✓ Focam nos direitos de caráter individual;
✓ Surgiu no século XVIII.
As liberdades negativas estão ligadas ao não fazer, que por sua vez está
ligado ao absenteísmo ou abstencionismo estatal.
 
Os direitos de primeira dimensão possuem aplicabilidade direta e imediata
(abarcando as normas de eficácia plena e contida), já os de segunda geração, nem
sempre o são, uma vez que muitos deles precisarão de normas que viabilizem sua
aplicação (e essas serão classificadas como normas de eficácia limitada).
2ª DIMENSÃO (OU GERAÇÃO):
 
Os direitos de segunda dimensão, tidos como direitos sociais, possuem status
positivo (direito à igualdade).
Originado a partir da Revolução Industrial europeia (século XIX).
 
Como exemplo, temos: direitos sociais, econômicos, culturais, trabalhistas
(estão ligados ao equilíbrio de condições de vida, melhora das classes menos
favorecidas).
Vejamos dois exemplos de prova.
Primeiro exemplo (Cespe/Cebraspe, DPU, 2010):
Os direitos sociais são exemplos típicos de direitos de segunda geração.
Gabarito: Certo.
Segundo exemplo (Cespe/Cebraspe, TRE, 2016):
Enquanto os direitos civis e políticos se baseiam em abstenções por parte do
Estado, os direitos sociais pressupõem prestações positivas do Estado.
Gabarito: Certo.
Igualdade está relacionada ao “fazer”, que por sua vez está relacionado ao
termo prestacional. Surgiu em meados de 1919 (primeira Guerra Mundial, na
Constituição Alemã de Weimar, chamado de Estado de bem-estar social, ou, se
preferir, Welfare State).
Cabe enfatizar que o tratamento igualitário absoluto inexiste em nosso
ordenamento, dado que o tratamento desigual dos casos desiguais, proporcional às
suas desigualdades, é exigência tradicional do próprio conceito de Justiça.[95]
Para a sua prova, em resumo, lembre-se que a segunda dimensão está ligada à
reivindicação de melhorias pelas classes de cidadãos menos favorecidos, em busca
de garantias de condições mínimas e tratamento igualitário a todos.
3ª DIMENSÃO (OU GERAÇÃO):
 
Os direitos da terceira dimensão não possuem destinatários específicos (o titular
de tais direitos é a coletividade como um todo, o titular é o gênero humano). Essa
dimensão surge em meio ao pujante desenvolvimento tecnológico e científico pós-
guerra — após anos de reflexões sobre as catástrofes de guerras passadas.
Os seres envolvidos no coletivo possuem:
✓ Direito à solidariedade ou fraternidade (possuem caráter coletivo);[96]
Por exemplo: direito ao meio ambiente saudável, progresso da
humanidade, direito do consumidor, direito previdenciário, direitoao
preservacionismo ambiental. Podemos incluir nesse rol exemplificativo o direito à
paz, mas há controvérsias.
 
Lembre-se para a sua prova:
✓ A terceira dimensão surgiu a partir de 1970;
✓ São Direitos difusos ou transindividuais (para o coletivo, ou seja, são os
direitos que perpassam os interesses de um único indivíduo);
✓ Solidariedade e fraternidade;
✓ Meio ambiente, direito do consumidor e paz;
✓ São direitos transindividuais.
4ª DIMENSÃO (OU GERAÇÃO):
 
A quarta dimensão diz respeito ao direito à globalização (aquele que rompe as
fronteiras dos Estados soberanos), à diversidade de pensamentos, à democracia,
ao acesso de informação, ao biodireito, à bioética, à biotecnologia (ligada à
engenharia genética) — dentre outras temáticas, que surgiram com o avanço
tecnológico, tal como a temática legislativa-espacial, a qual transpassa as
fronteiras terrestres.
Tais avanços tecnológicos merecem total atenção, pois, mais do que nunca:
colocam em risco toda a existência humana.
 
Um relevante defensor dessa dimensão é o mestre italiano Norberto Bobbio.
Para o autor, essa dimensão decorre da globalização dos direitos fundamentais
(também chamada de universalização dos direitos fundamentais).
Por exemplo, temos a problemática do lixo espacial: sem que o cidadão comum
perceba, esse “entulho espacial” circula nosso planeta, inviabilizando, cada vez mais,
a órbita ideal de satélites (e outros equipamentos), os quais fornecem, por exemplo,
internet às comunidades afastadas das grandes cidades e estados. Quanto maior os
objetos (milhões e milhões de destroços, peças, ferramentas, lixos em geral)
circulando em velocidades impressionantes, maior é a probabilidade de colisões e
acidentes espaciais.
Por essa razão, a 4ª dimensão ganha cada vez mais importância aos nossos
estudos, principalmente agora que as empresas espaciais (SpaceX, Blue Origin, até
mesmo a Agência Espacial Chinesa anunciou que está prestes a concluir um
foguete extremamente econômico e reutilizável, como vem fazendo a empresa de
Elon Musk) têm iniciado a prestação de serviços de turismo espacial.
Atenção ao tema, pois claramente as provas de concursos incluirão esse
assunto no Direito Constitucional.
5ª DIMENSÃO (OU GERAÇÃO):
 
Podemos incluir aqui o direito à paz. No entanto, conforme mencionado, este
direito pode vir associado à terceira dimensão (é a concepção de muitos
doutrinadores).
O grande defensor do direito à paz como de 5ª dimensão é Bonavides,
classifica, atualmente, o direito à paz como sendo de uma dimensão autônoma. O
doutrinador afirma que a paz é axioma da democracia participativa, ou seja: consiste
no maior direito que a humanidade possui.[97]
Por fim, tenha em mente que existem outras dimensões (ou gerações), a
depender do doutrinador em estudo, que causa confusão, sobretudo o direito à
identidade individual, ao patrimônio genético, à proteção contra o abuso das técnicas
de clonagem, à paz, à água potável (defendido pela ONU).
6. Direitos e deveres individuais do artigo 5º
Os capítulos a seguir reproduzem todo o texto contido no artigo 5º da
Constituição, com acréscimo das informações relevantes sobre a temática abordada
em cada dispositivo.
Cumpre lembrar, ainda, que os direitos e deveres individuais e coletivos não se
limitam aos dispositivos contidos no art. 5º, mas estão espalhados por toda a
Constituição.
CF/88, art. 5º, caput:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: [...]
6.1. Direito à vida
O direito à vida é o bem jurídico mais importante da Constituição, portanto está
previsto (de modo genérico) no artigo 5º da Carta Magna, abrangendo tanto o direito
de não ser morto (de permanecer vivo) quanto o de ter uma vida digna no que
tange à subsistência.[98] Ele é um direito elementar e necessário para que os demais
direitos e liberdades sejam usufruídos.
Ter uma vida digna, apesar de complexo e multifacetário, força o Estado a
assegurar que todo indivíduo tenha acesso aos bens e recursos (saúde, educação,
liberdades, moradia etc.) necessários para uma vida apropriada; e isso está
intrinsecamente ligado a um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, que
é o princípio da dignidade da pessoa humana.
Cabe ressaltar que diversos pontos controversos foram deixados em aberto pela
atual Constituição, tais como:
✓ a definição do início da vida humana (pois a partir desse ponto, a vida
intrauterina estaria protegida constitucionalmente);
✓ a prática do aborto (interrupção voluntária da gestação no primeiro
trimestre);[99]
✓ eutanásia (antecipar a morte de um paciente em eminência de falecimento,
mas que a agonia e sofrimento, cujas irreversibilidades foram devidamente
comprovadas, justifiquem a cessação antecipada da vida);
✓ ortotanásia (permitir a morte natural, sem interferência da ciência, uma vez
que, conforme argumentos favoráveis a essa prática, persistir no tratamento,
em casos irrecuperáveis, pode vincular-se à morte com sofrimento
prolongado);
✓ pesquisas com células-tronco embrionárias;
✓ Interrupção da gravidez envolvendo a gestação de feto anencéfalo
(ausência do encéfalo, ou seja, falta o “conjunto de todas as partes do
sistema nervoso central que estão alojadas no crânio”[100]).
✓ dentre outros.
Parte dessas controvérsias foram solucionadas pela Suprema Corte, por
exemplo:
1) Segundo o Superior Tribunal Federal, a vida não se origina com a
fecundação do óvulo, mas num estágio posterior de desenvolvimento do
embrião — depois da formação da placa neural. Apesar disso, o Código
Penal e o Direito Civil protegem o nascituro, que possui grande
probabilidade de se tornar uma pessoa humana, e isso é suficiente para que
seus direitos sejam resguardados contra atitudes levianas que o impeçam
de viver (aborto ilegal). A partir de então, após o julgamento da ADI 3.510
em 2008, ficou definido que as pesquisas com célula-tronco, quando
realizadas nos termos da lei, não configuram violação ao direito à vida,
uma vez que, sem o cérebro, não há que se falar em vida (tanto é que após
a morte cerebral de um paciente, entende-se cessada a sua vida, abrindo
possibilidade de doação de seus órgãos para os que ainda estão vivos).
2) O aborto pode ser feito legalmente para salvar a vida da gestante, ou, por
exemplo, quando a gestação resultar de estupro. Em tais casos, teremos,
respectivamente, o aborto necessário[101], e o aborto sentimental[102].
Exceções ao direito à vida:
● Legítima defesa: visando à autopreservação, deve-se reagir de maneira
comedida e proporcional;
● Estado de necessidade: matar alguém em caso de necessidade ou morte;
vejamos dois exemplos: (1) em meio a um incêndio no cinema, um cidadão,
ao sair em disparada, pisa na cabeça de uma pessoa, que é resgatada, mas
morre em seguida, ficando comprovado que aquele cidadão foi o autor da
pisoteada fulminante (nesse caso não haverá crime), nesse outro exemplo, o
resultado da ação também não ofenderá o direito à vida, (2) imagine que
algumas pessoas estão pescando no meio de um rio extenso, e o barco, o
qual possuía um único colete salva-vidas, tomba, e, por fim, aquele que
pegar o colete, mesmo que todos os outros não sobrevivam ao incidente,
estará legitimamente defendendo o seu direito à vida;
● Lei do abate de aeronaves: o abate de aeronaves hostis, apesar de ser
pouco divulgado pela mídia, ocorre com certa frequência em nossas
fronteiras, nesses casos há um aviso, depois um tiro de alerta, por fim, o
caça brasileiro abate a aeronave hostil (na grande maioria dos casos, são
aeronaves utilizadas no tráfego de armas ou drogas ilícitas).
● Lei de biossegurança: temos aqui a manipulação de células troncos
embrionárias, em consonância com a nossa Constituição.
6.2. Princípio da igualdade
Amparo constitucional(CF/88, art. 5º, I):
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição;
Faz-se necessário diferenciar igualdade formal de igualdade material. A
igualdade formal é a igualdade jurídica onde todos devem ser tratados de maneira
igualitária, sem quaisquer distinções (será como um norte não só para o legislador,
mas para os três poderes). A igualdade material é a busca pela igualdade real,
tratando de forma desigual pessoas que se encontram em condições desiguais, na
medida e proporção de suas desigualdades (consistem em ações afirmativas
temporárias até que os necessitados não precisem mais, tais como as cotas raciais,
a lei maria da penha, igualdade nos concursos públicos, válida somente através de
lei, e somente se necessário ao exercício do cargo;).[103] Há os que acrescentam
nesse rol um subtópico chamado igualdade material-dinâmica (ou militante), que
consistem num objetivo a ser perseguido pelo Estado (políticas públicas que
diminuam a desigualdade).
Sobre a isonomia nos concursos públicos: os candidatos concorrem em
igualdade, utilizando a mesma “nota de corte” para classificação, a não ser que
se enquadrem nos critérios de cotas raciais ou cotas para deficientes. Segundo
o STF, as cotas são ações afirmativas necessárias, logo são constitucionais.
 
Para as questões referentes a discriminações positivas ou reversas (sinônimo de
ações afirmativas), temos a questão das cotas em universidades e a do princípio
meritocrático, que consiste em uma cláusula de barreira em concursos públicos —
o examinador também pode chamar de cláusula de desempenho (por exemplo,
obter desempenho acima de 50% tanto na parte de conhecimentos gerais quanto na
parte de conhecimentos específicos).
Dúvida: caso ainda exista, em determinado órgão público, concurso com seu
prazo de validade ainda não expirado e com candidatos aprovados, aguardando
nomeação, poderá haver novo concurso?
Em resposta, temos dois exemplos:
1) Segundo a Lei 8.112/90, não poderá abrir novo concurso;
2) Segundo a CF/88, poderá abrir novo concurso, ficando os aprovados no
primeiro concurso com preferência de nomeação. Candidato aprovado
dentro do número de vagas possui direito subjetivo à nomeação.
Veja como a Cebraspe (que na época se chamava CESPE) cobrou isso:[104]
Ações afirmativas são mecanismos que visam viabilizar uma isonomia
material em detrimento de uma isonomia formal por meio do incremento de
oportunidades para determinados segmentos.
Gabarito: Certo.
Esse foi um bom exemplo das famosas pegadinhas: está correto dizer que uma
ação afirmativa é um mecanismo que viabiliza a isonomia material em detrimento da
isonomia formal. A banca utilizou o termo “em detrimento” no sentido de “em vez de”,
muitos erraram devido à redação, dando a entender que a isonomia material traria
prejuízos à formal.
As ações afirmativas possuem a transitoriedade como essência (não são
permanentes), visto que são práticas políticas que tratam de modo diferenciado
grupos vulneráveis; tais práticas visam à redistribuição de bens e oportunidades para
amenizar distorções (por exemplo, os negros que não eram visto como cidadãos no
passado, o que acarretou uma série de prejuízos a esse grupo).
6.3. Princípio da Legalidade
Em seguida, temos (CF/88, art. 5o, II):
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei;
Percebemos aqui uma liberdade de ação: essa legalidade se aplica ao
particular; não se aplica ao Poder Público (esse faz o que a lei determina,
ausentando-se de fazer quando a lei nada disser a respeito).
É possível classificar duas espécies de liberdade:
1) Legalidade ampla: consiste em um comando geral e abstrato, informando
que somente a lei poderá criar direitos, deveres e vedações;
2) Legalidade estrita: aparece simultaneamente como um limite e como uma
garantia, pois, ao mesmo tempo em que é um limite à atuação do Poder
Público (atua somente com base na lei), é também uma garantia aos
administrados, os quais cumprem as exigências do Estado somente se
estiverem previstas na lei. Se as exigências não estiverem de acordo com a
lei, serão inválidas e estarão, pois, sujeitas a um controle do Poder
Judiciário.[105]
Algumas limitações em concursos públicos que geram dúvidas:
✓ Exame psicotécnico,
✓ Limite de idade,
✓ Limite de altura.
Essas limitações são permitidas desde que estejam definidas em lei. Portanto,
apenas a previsão em edital não será suficiente.
A respeito da 2ª chamada em teste de aptidão física (TAF), será permitido
apenas se houver previsão em edital dando esse direito a todos. Entretanto, para
as gestantes, esse direito será concedido independentemente de constar ou não
em edital.
Não esquecer que a legalidade pode ser dividida em legalidade civil (direito
privado) e legalidade administrativa (direito público): na legalidade civil é possível
fazer tudo o que a lei não proíbe; já, na legalidade administrativa, o agente público
apenas pode fazer o que a lei expressamente determina.
Esse princípio tem por finalidade o combate ao poder arbitrário estatal. Nesse
sentido, o princípio da legalidade abarca o ordenamento jurídico como um todo,
diferenciando-se do princípio da reserva legal (o qual prevê que a regulamentação de
determinadas matérias deve ser feita necessariamente por lei formal).
6.4. Vedação à tortura
Nossa Carta Maior veda a prática de tortura, assim como o tratamento
desumano ou degradante (CF/88, art. 5o, III):
ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou
degradante;
Conforme vimos, todo ser humano tem o direito de estar vivo e com dignidade.
Conforme dito em outra ocasião, Norberto Bobbio considera o direito de não
ser torturado como um dos raríssimos exemplos de um direito que não pode ser
relativizado. Assim como o direito de não ser escravizado, que está ligado a esse
dispositivo. Ambos os exemplos, segundo o autor, são absolutos.
6.5. Vedação ao anonimato
Para viabilizar a responsabilização por manifestações ofensivas, a Constituição
associou a proibição do anonimato ao direito da livre manifestação do pensamento,
que se aplica, de modo análogo, à liberdade de expressão (CF/88, art. 5º):
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; 
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem; 
Busca-se coibir o abuso do direito da manifestação de pensamento que viole
direito de terceiros (vida privada, honra, intimidade).
Ainda sobre a temática: não se permite o uso de máscaras em gravação de
vídeo público com manifestação de opinião.
Segundo o STF, a denúncia anônima não viola a Constituição (tais denúncias
são muito utilizadas por jornalistas, que, ao exibirem suas matérias investigativas,
não são obrigados a expor o autor da denúncia). Aproveitando a oportunidade: o STF
considera inconstitucional a exigência de diploma para profissão de jornalismo.
Cabe registrar também que o Supremo Tribunal Federal decidiu que a
Marcha da Maconha (expressão da livre manifestação do pensamento) não
viola a constituição.
 
Direito de resposta proporcional (envolve o âmbito civil, administrativo e penal),
pode ser somado ao:
✓ Dano material (dinheiro);
✓ Dano moral (sofrimento pessoal);
✓ Dano de imagem (como passaram a “enxergar” o prejudicado por injúria,
calúnia ou difamação).
6.6. Liberdade de consciência
A liberdade de consciência (também associada à liberdade religiosa) pode ser
encontrada em nossa Constituição:[106]
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o
livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos
locais de culto e a suas liturgias; 
Ressalta-se:
✓ O Estado Laico é aquele que não adota uma religião oficial;
✓ Símbolos religiosos são símbolos culturais, portanto são permitidos, por
exemplo, em órgãos públicos;
✓ Feriados religiosos são símbolos culturais.Temos também:[107]
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa
nas entidades civis e militares de internação coletiva; 
Prestação de assistência religiosa:
✓ Civis,
✓ Militares.
Sobre a escusa de consciência (também chamado de objeção ou imperativo de
consciência: [108]
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de
convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação
legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em
lei;
Em situação com obrigação a todos imposta, e que haja recusa do cumprimento
dessa obrigação e também de prestação alternativa: haverá perda dos direitos
políticos (cancelamento do título de eleitor).
Atenção: essa punição exige o descumprimento de dois
pressupostos constitucionais:
(1) recusa de cumprir uma obrigação a todos imposta por motivo
de crença, convicção filosófica ou política;
(2) recusa de prestação alternativa.
Por exemplo: pode-se ter o pagamento de multa, a prestação de
serviço ou atividade em horário diverso, conforme constar em lei para
aqueles que não realizarem determinada atividade em dia incompatível com
suas crenças religiosas. Não custa lembrar que a invocação de crença
religiosa, filosófica ou política deve ser razoável (aceita pelo Estado), e que
haja possibilidade de prestação alternativa sem que isso entre em conflito
insolúvel com os anseios da coletividade.
O tema foi cobrado em diversas provas ao longo dos anos, a exemplo disso,
temos (Cebraspe, 2020):[109]
Se, com o intuito de eximir-se de obrigação legal a todos imposta, uma
pessoa se recusar a cumprir prestação alternativa, invocando convicção
filosófica e política ou crença religiosa, os direitos associados a tais convicções
poderão ser restringidos.
Gabarito: Certo.
6.7. Liberdade de atividade intelectual, artística,
científica ou de comunicação
A liberdade de atividade intelectual, artística, científica ou de comunicação liga-
se intrinsecamente à dignidade da pessoa humana:[110]
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença;
Pontos importantes:
✓ Ilicitude é diferente de censura: um conteúdo ilícito pode ser barrado. Por
exemplo: música que faça apologia ao uso de drogas;
✓ Não confundir com classificação indicativa para filmes e programas.
Nesses casos não está correto afirmar que se trata de censura (são
exigências, evitando danos maiores, tal como o aviso ao público antes da
exibição de conteúdo impróprio para crianças);
✓ Censura extraordinária: é possível a censura no estado de sítio interno.
Em caso de guerra declarada, somente se o decreto autorizar.
6.8. Direito à privacidade
Temos aqui um direito relativamente recente, que surge com a promulgação de
nossa atual Constituição Federal (CF/88, art. 5o, X):
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;
O direito à privacidade se divide em:
✓ Intimidade (ligado ao pensamento, à convicção), e vida privada (ligada à
exposição da intimidade);
✓ Honra objetiva (ideia pela qual é conhecido, diz respeito à reputação de um
indivíduo), e honra subjetiva (referente à própria ideia que uma pessoa tem
de si, ligado à autoestima, ao amor próprio);
✓ Direito de imagem:
Voz;
Retrato;
Atributo (normalmente de pessoa jurídica, tal como a marca empresarial,
e o símbolo).
6.9. Inviolabilidade de domicílio, correspondência e
comunicações
Segundo a Carta Maior:[111]
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar
sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre,
ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;
Para que as autoridades policiais adentrem na casa de qualquer indivíduo é
necessária a autorização desse mesmo indivíduo que estiver em posse do imóvel no
momento do arrombamento da porta, ou seja, é preciso da autorização do morador,
e não do dono legal, cujo nome constar em matrícula de registro do imóvel.
Veja bem como isso costuma ser cobrado (Cespe, 2021):[112]
Com base nos dispositivos da Constituição Federal de 1988 (CF) acerca dos
direitos e das garantias fundamentais e da segurança pública, julgue o item
subsequente.
É vedada a utilização, como prova de crime, de arma de fogo com
numeração raspada apreendida durante invasão desautorizada à residência do
investigado.
Gabarito: Certo.
Há de se focar no termo “desautorizada”, indicando a violação de pressuposto
constitucional, inquinando as provas derivadas do ato ilícito, o que, por exemplo, não
ocorreria em caso de flagrante delito.
São inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos (CF/88,
art. 5°, LVI).
 
Também se aplica aos locais de hospedagem provisórias, tais como hotéis (e
similares); trailers; locais profissionais privados (escritórios de um médico,
advogado).
No entanto, cabe ressaltar que, para o STF, é possível a instalação de escuta
ambiental em escritórios durante o período noturno. Esse caso se aplica quando o
próprio advogado é suspeito da prática de crime.[113]
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último
caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins
de investigação criminal ou instrução processual penal; 
A exigência de ordem judicial se aplica ao último caso, ou seja, às
comunicações telefônicas. A lei a que o dispositivo se refere é a nº 9.296/96.
Ainda sobre a comunicação telefônica: não é possível interceptação telefônica
através de processo administrativo, nem com processo cível; sendo a colheita de tais
provas coletadas apenas em investigação criminal ou instrução processual
penal. Cabe reforçar que essa prova pode ser emprestada para um processo
administrativo ou cível.
Quanto ao sigilo telefônico, é importante distinguir dados de conversa:
✓ Sigilo dos dados o poder Judiciário ou C.P.I. poderá quebrar;
✓ Sigilo das conversas (interceptação telefônica) apenas o Poder Judiciário
para fins criminais poderá quebrar;
✓ Sigilo de correspondência pode ser quebrado: pelo Poder Judiciário, por
C.P.I., dentro de presídios. 
Veja como o tema foi cobrado pela Cebraspe em 2021 (Agente de Polícia,
PC/AL):
Com base nos dispositivos da Constituição Federal de 1988 (CF) acerca dos
direitos e das garantias fundamentais e da segurança pública, julgue o item
subsequente.
Dado que a autoridade policial tem a obrigação de colher todas as provas
que possam influenciar na apuração do fato tido como criminoso, em se tratando
de dados armazenados em celular, a sua apreensão prescinde de autorização.
Gabarito: Errado.
No que tange ao acesso aos dados armazenados em dispositivo móvel
apreendido pela autoridade policial sem autorização judicial: será nulo.
Sem prévia autorização judicial, são nulas as provas obtidas pela polícia por
meio da extração de dados e de conversas registradas no WhatsApp presentes
no celular do suposto autor de fato delituoso, ainda que o aparelho tenha sido
apreendido no momento da prisão em flagrante.[114]
Para a mesma situação, caso haja autorização judicial: não haverá nulidade.
Se o telefone celular foi apreendido em busca e apreensão determinada
por decisão judicial, não há óbice para que a autoridade policial acesse o
conteúdo armazenado no aparelho, inclusive as conversas do WhatsApp.[115]
Por fim, cabe apresentar outra peculiaridade: caso os dados sejam de um
dispositivo de vítima morta, não haverá ilegalidade.
Não há ilegalidade na perícia de aparelho de telefonia celular pela polícia,
sem prévia autorização judicial, na hipótese em que seu proprietário - a vítima
- foi morto, tendo o referido telefone sido entregue à autoridade policial por sua
esposa.[116]Interceptação
Telefônica Escuta Telefônica Gravação Telefônica
Mandado Terceiro Uma das partes
Judicial
Autorização
Judicial
Autorização de um dos
interlocutores (Sem o conhecimento
do outro)
Sem o Conhecimento
do outro
Fins Criminais Prova lícita para defesa e ilícitapara acusação
Prova lícita para
defesa e ilícita para
acusação
Duas observações:
1) Se a outra pessoa for informada de que a ligação está sendo gravada, será
lícito tanto para defesa, quanto para acusação;
2) Se houver autorização judicial, será lícito tanto para defesa, quanto para
acusação.
6.10. Liberdade de profissão
A necessidade de qualificação para o exercício legal de determinadas
atividades profissionais é restrição à plenitude do direito de liberdade profissional, por
esse motivo utiliza-se o inciso XII como exemplo de norma com eficácia contida
(CF/88, art. 5o, XIII):
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas
as qualificações profissionais que a lei estabelecer;
O direito será cerceado apenas se o profissional não cumprir as exigências
impostas por lei superveniente.
Segundo o Supremo Tribunal Federal, haverá necessidade de inscrição em
conselho de fiscalização apenas quando houver potencial lesivo. Nesse sentido, é
inconstitucional exigir inscrição em conselho para exercer atividade de músico
(o STF teve que se manifestar, caso contrário teríamos ainda mais burocracia
impedindo o livre exercício profissional).
6.11. Direito à informação
A todos é assegurado o direito fundamental ao acesso à informação:[117]
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da
fonte, quando necessário ao exercício profissional;[118]
Cabe frisar:
✓ Ao indivíduo é dado o direito à informação (ou à publicidade), resguardado o
sigilo da fonte, visando a interesse particular, coletivo ou geral;
✓ Poderão ser mantidos em sigilo quando a exposição de determinada
informação comprometa a segurança da sociedade, Estado ou em defesa
da intimidade ou interesse social.
A constituição trouxe consigo o habeas data, remédio constitucional que visa a
garantir esse direito (em resumo o habeas data possibilita que um cidadão obtenha
acesso às informações relativas a si mesmo, ou as retifique).
6.12. Liberdade de reunião
A liberdade de reunião se liga fortemente à liberdade de expressão, uma vez
que “a formação da opinião e mesmo a formação da vontade política pressupõem
uma comunicação que em grande parte se processa mediante reuniões”[119],
vejamos a literalidade da Constituição:[120]
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao
público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra
reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido
prévio aviso à autoridade competente;
As reuniões são utilizadas para que os indivíduos manifestem publicamente uma
determinada opinião (garantia do pluralismo político).
Ressaltando que, em termos constitucionais, uma reunião deve ser:
✓ Pacífica;
✓ Sem armas (a exemplo dessa irregularidade: encontros de membros do
PCC[121]);
✓ Realizada em locais abertos.
Não custa lembrar que as reuniões prescindem de autorização (isso é: não
precisam de autorização), sendo necessário apenas o aviso prévio às autoridades
responsáveis, visto que outra reunião incompatível possa estar já marcada. Isso
previne que outra reunião previamente marcada para aquele mesmo local possa ser
frustrada.
Por fim, haverá restrição ou suspensão desse direito em caso de:
✓ Estado de defesa gera restrição;
✓ Estado de sítio gera suspensão.
6.13. Liberdade de associação
Os indivíduos possuem a liberdade de se unirem de modo estável, visando a fins
lícitos, tais como: religiosos, altruísticos, democráticos, econômicos. Vejamos os
incisos do artigo 5º que nossa Carta Maior dedicou especialmente à liberdade de
associação:
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de
caráter paramilitar;
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas
independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu
funcionamento;
XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou
ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro
caso, o trânsito em julgado;
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer
associado;
XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas,
têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou
extrajudicialmente;
Expressamente autorizadas: equivale à autorização formal (escrita).
Decisão extrajudicial: a exemplo disso, temos a decisão administrativa
(que consiste naquela emitida por um órgão público).
 
Em caso de filiação para fins ilícitos, entrará em cena a reserva de jurisdição,
ou seja, o poder judiciário será o responsável por decidir sobre a paralisação ou
não dessas atividades.
Toda decisão judicial deve ser devidamente fundamentada, caso contrário será
nula[122]. Cabe salientar que os despachos, por exemplo, não são dotados de
conteúdo decisório, por conseguinte não exigem fundamentação. Essa informação
sobre os despachos é cobrada em provas com bastante frequência, tal como na
prova do TJ-RO, para Técnico Judiciário, em 2021.
Em resumo, temos:
✓ Paralisação provisória: suspensão (somente por decisão judicial);
✓ Paralisação definitiva: dissolução compulsória (será necessário haver o
trânsito em julgado).
6.14. Liberdade de pensamento
O direito de liberdade de pensamento é o gênero que abrange a liberdade
artística, política, de expressão, de imprensa.
Com base em leading cases[123] da Suprema Corte, temos o que se segue.
1) A lei de imprensa (lei nº 5.250, que “regula a liberdade de manifestação do
pensamento e de informação”, publicada em 1967) não foi recepcionada pela atual
Carta Magna, pois foi considerada incompatível com a liberdade de imprensa.
Nos dias de hoje, para a publicação de uma matéria, não se exige licença
prévia, nem haverá censura posterior. Nessa linha de raciocínio, por não
precisar de licença prévia, não se exige diploma de jornalista dos que trabalham
nessa área.
2) Eventual informação falsa (fake news) ou desagradável pode gerar ao
prejudicado o direito de resposta, ou, ao responsável pela publicação, o dever de
retratação ou, até mesmo, o dever de reparação (pagamento de indenização). Por
exemplo: um dia antes da eleição o candidato X é prejudicado por uma fake news;
nesse caso não daria tempo de haver direito de resposta ou retratação, mas sim
indenização. Excepcionalmente, as informações podem ser retiradas do ar — são
casos raros em que, por exemplo, o judiciário manda deletar matérias (página, vídeo,
imagem) veiculadas em websites.
3) Conforme mencionado, a Constituição garante a liberdade de pensamento,
com a condição de que o pensamento não seja manifestado de modo anônimo.
4) Montagem, trucagem (recurso que cria uma ilusão ou efeito inesperado, muito
utilizado no cinema) e humor em período eleitoral é permitido pela Constituição.
6.15. Direito de propriedade
O direito de propriedade, juntamente com o direito à vida e à liberdade de
locomoção, é um dos mais antigos já previstos em Constituições pretéritas.
Termos constitucionais:[124]
XXII - é garantido o direito de propriedade;
Como bem se sabe, nem mesmo os direitos fundamentais são absolutos. Nesse
sentido, o Supremo Tribunal Federal, ponderou que o direito de propriedade está
relativizado pela própria Constituição:
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
A propriedade deve cumprir sua função social, isso é: se não a utilizar
adequadamente, ou não tomar conta, poderá perder o direito de posse sobre a
propriedade esquecida. Por exemplo, caso um cidadão se mude para outro Estado,
abandonando sua antiga casa, e, após duas décadas, decida voltar à sua antiga
propriedade há muito esquecida, e encontrar uma família morando nesse mesmo
local (e essa família inclusivepossuir uma escritura pública atestando o usucapião,
[125] embora apenas o animus manendi, apenas a intenção de permanecer, já
bastasse para, se preciso fosse, obter o ganho de causa em justiça), e que essa
família não esteja disposta a voluntariamente ceder o imóvel que agora lhe pertence,
o antigo dono terá que encontrar outra habitação para morar.
Portanto, o descumprimento da função social pode resultar na perda da
propriedade, resultando em “desapropriação-sanção”. Nem toda desapropriação é
uma penalidade, por isso essa se chama “desapropriação-sanção”. Não confundir
com a desapropriação-confisco.
Função social:
 
✓ Imóvel rural: relacionado ao meio ambiente e às relações trabalhistas, “a
função social é cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em
lei, aos seguintes requisitos: aproveitamento racional e adequado; utilização
adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio
ambiente; observância das disposições que regulam as relações de
trabalho; exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos
trabalhadores.[126]
✓ Imóvel urbano: competência municipal de dizer qual é a função social do
imóvel urbano. Por exemplo, “a propriedade urbana cumpre sua função
social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade
expressas no plano diretor”.[127]
6.16. Desapropriação
Para que o interesse social seja cumprido, a Constituição trouxe, como direito e
dever individual, a possibilidade de desapropriação:
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por
necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e
prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta
Constituição;
XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá
usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização
ulterior, se houver dano;
A requisição é temporária: na requisição administrativa apesar de não possuir
caráter sancionatório, frisa-se que não é um pedido, mas uma ordem. Conforme
mencionado, ordem essa necessária ao bem da nação (interesse da coletividade).
Estamos diante de uma indenização condicionada: indenização ulterior em caso de
dano; ou seja: a indenização posterior, em regra, acontecerá somente se o
interessado entrar com ação alegando os prejuízos sofridos. Não confundir com a
servidão pública: a requisição é um direito pessoal.
Nem toda desapropriação é forma de sanção, vejamos a desapropriação-
sanção:
 
Imóvel Rural Imóvel Urbano
Títulos da dívida agrária Títulos da dívida pública
Reforma agrária Casas populares
Título: resgatável em até 20 anos
(com a 1ª parcela a partir do 2º ano) Título: resgatável em até 10 anos
Não é permitido desapropriar a
pequena/média propriedade rural
(desde que seja única)
Deve seguir a Ordem: 1) o fiscal informa
o dever de edificar/lotear; 2) majorar IPTU;
3) desapropriação
Não é permitido desapropriar a
propriedade produtiva
Temos também desapropriação (não sancionatória, mas necessária à
concretude do interesse de toda a coletividade):
Desapropriação Motivo Quem? Indenização
Necessidade
Pública
Necessário (mesmo que
todas as funções sociais
sejam cumpridas)
União,
Estados, DF,
Municípios
Prévia; justa;
em dinheiro.
Utilidade Pública Útil
União,
Estados, DF,
Municípios
Prévia; justa;
em dinheiro.
Interesse Social Função Social Urbano:
Município;
Prévia;
justa; em títulos
Rural: União da dívida
Cumpre observar que no caso de incidência de desapropriação confisco, o
morador pratica ato ilícito. Não terá direito a indenização. Exemplo: plantação de
maconha, manter trabalhadores em condição análoga à escravidão.
A desapropriação pode ser utilizada para a construção de uma estrada, um
viaduto, um aeroporto em local que melhor beneficie a maioria das pessoas (em
contraposição aos interesses da minoria afetada pela construção da obra).
 
6.17. Impenhorabilidade da pequena propriedade rural
Para que a impenhorabilidade seja assegurada, a propriedade rural deve, além
de outros requisitos, satisfazer sua função social, e para tal deve em especial
preservar o meio ambiente em que se insere (o que inclui a utilização adequada dos
recursos naturais), observar preceitos legais (por exemplo, trabalhistas).
Vejamos sua disposição (CF/88, art. 5º, XXVI):
a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada
pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes
de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu
desenvolvimento;
Logo, temos a impenhorabilidade da pequena propriedade rural assegurada
na junção dessas hipóteses em especial:
1) Único imóvel (bem de família);
2) Laborado pela família (inexistência de dívidas trabalhistas);
3) Quanto às dívidas existentes, devem pertencer a esse próprio imóvel rural
(se for dívidas de uma outra propriedade rural, nesse caso, sim, esse
fazendeiro deverá abrir mão de uma de suas fazendas para ficar em dia com
suas dívidas).
O ITR (Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural), e o financiamento de
propriedade rural são hipóteses de penhorabilidade (que podem ensejar a
penhora de bens e valores), assim como os créditos de trabalhadores da
própria residência (visto que isso gera conflito de direitos fundamentais: o
trabalhador utiliza esses créditos para seu sustento e de sua família).
 
A penhora é um ato judicial que enseja a perda de bens em virtude de dívida.
Para tal é necessário mandado judicial (emitido por juiz, e executado por oficial de
justiça). Ressalta-se que a entrada na residência é permitida das 6h às 20h.
O bem de família é impenhorável quando for o único imóvel residencial próprio
do casal (incluindo outras modalidades de entidade familiar).[128]
Salvo quando se tratar de dívida do próprio imóvel. Por exemplo: IPTU,
financiamento, fiador, taxa de condomínio.
 
6.18. Inafastabilidade do judiciário, segurança,
irretroatividade da lei, personalização da pena, outros
Princípio da inafastabilidade de jurisdição, também chamado de princípio do
acesso ao judiciário (CF/88, art. 5º, XXXV):
a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito;
Princípio da irretroatividade da lei, temos aqui três situações já consolidadas
no tempo (CF/88, art. 5º, XXXVI):
a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa
julgada;
1) Direito adquirido: é aquele direito já incorporado de forma definitiva ao
patrimônio jurídico do seu titular (conjunto dos nossos direitos e deveres),
mesmo que não tenha usufruído porque não quis ou não sabia.
2) Ato jurídico perfeito: ação humana que resulta na
criação/extinção/modificação de um direito, que já esteja consumado.
3) Coisa julgada: decisão judicial definitiva (transitada em julgada).
Princípio do juiz natural (CF/88, art. 5º, XXXVII):
não haverá juízo ou tribunal de exceção;
Princípio da anterioridade penal, ou também chamado de princípio da reserva
de lei penal (CF/88, art. 5º, XXXIX):
não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação
legal;
Personalização da pena (CF/88, art. 5º, XLV):
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a
obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos
termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite
do valor do patrimônio transferido;
Sobre a individualização da pena (CF/88, art. 5º, XLVI), a lei regulará a
individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:
i) privação ou restrição da liberdade;
ii) perda de bens;
iii) multa;
iv) prestação social alternativa;
v) suspensão ou interdição de direitos.
Ainda sobre o cumprimento das penas (CF/88, art. 5º, XLVII), não haverá
penas:
✓ de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
✓ de caráter perpétuo;
✓ de trabalhos forçados;
✓ de banimento;
✓cruéis.
Por fim, temos que (CF/88, art. 5º): 
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo
com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam
permanecer com seus filhos durante o período de amamentação;
6.19. Crimes inafiançáveis e imprescritíveis, e crimes
inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia
Crimes inafiançáveis e imprescritíveis (CF/88, art. 5º):
XLII) a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível,
sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
XLIV) constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos
armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático;
Crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia (CF/88, art. 5º):
XLIII) a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou
anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;
Mnemônicos:
✓ Ração (imprescritíveis e inafiançáveis): Racismo e Ação de Grupos
Armados.
✓ 3TH (insuscetíveis de graça ou anistia e inafiançáveis): tráfico,
terrorismo, tortura e crimes hediondos.
Questão cobrada em 2021, Cebraspe, Escrivão de Polícia, PC-SE:
A respeito dos direitos e deveres individuais e coletivos previstos na
Constituição Federal de 1988 (CF), julgue o item a seguir.
São inafiançáveis e imprescritíveis os crimes de racismo e terrorismo, bem
como a ação de grupos armados contra a ordem constitucional e o Estado
democrático.
Gabarito: Errado.
6.20. Extradição
Texto Constitucional:[129]
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de
crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado
envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da
lei;
LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou
de opinião;
Sobre a temática, temos a extradição ativa e passiva.
A extradição ativa ocorre quando o Brasil pede a outro Estado alguém para ser
julgado aqui).
Por outro lado, a extradição passiva ocorre quando outro país pede a alguém
para ser julgado lá. Nesse caso, teremos duas hipóteses:
✓ Envolvendo um brasileiro nato: esse nunca será extraditado;
✓ Envolvendo um brasileiro naturalizado: esse pode ser extraditado se tiver
praticado um crime comum antes da naturalização; podendo também ser
extraditado se o crime envolvendo tráfico ilícito de entorpecentes ocorrer
antes ou depois da naturalização;
✓ Envolvendo estrangeiros, os quais, em regra, serão extraditados
normalmente, salvo em caso de crime político ou crime de opinião.
Esquematizando ainda mais:
A Constituição Federal, os demais dispositivos legais e a jurisprudência do STF
preceituam que em determinados casos não será concedida a extradição em
nenhuma hipótese, nem mesmo com a anuência do extraditando (esse pode estar
sendo coagido). E na situação em que for cabível a extradição essa será sempre
condicionada ao controle de legalidade pelo STF.
Conforme consta na Lei de Migração, o extraditando poderá entregar-se
voluntariamente ao Estado requerente, desde que o declare expressamente,
esteja assistido por advogado e seja advertido de que tem direito ao processo
judicial de extradição e à proteção que tal direito encerra, caso em que o pedido
será decidido pelo Supremo Tribunal Federal (lei n° 13.445, art. 87). Nenhuma
extradição será concedida sem prévio pronunciamento do Supremo Tribunal
Federal sobre sua legalidade e procedência, não cabendo recurso da decisão
(lei n° 13.445, art. 90).
Ratificando o ponto sobre a aceitação voluntária de extradição, temos
(jurisprudência do STF, Ext.1476/2017):
É certo que o magistério jurisprudencial desta Suprema Corte tem entendido
que a mera circunstância de o extraditando estar de acordo com o pedido
extradicional e de declarar que deseja retornar ao Estado requerente, a fim
de submeter-se, naquele País, aos atos da persecução penal lá instaurada, não
exonera, em princípio, o Supremo Tribunal Federal, até mesmo em obséquio
ao princípio constitucional do “due process of law”, do dever de efetuar rígido
controle de legalidade sobre a postulação formulada pelo Estado requerente. A
jurisprudência desta Corte tem proclamado a irrenunciabilidade, em face de
nosso ordenamento positivo, das garantias jurídicas que se revelam inerentes ao
processo extradicional. Mostra-se irrelevante, nesse contexto, a mera
declaração do extraditando de que deseja ser imediatamente entregue à
Justiça do Estado requerente".[130]
Por fim, cabe salientar que a competência para deferir (ou não) a extradição é
do Presidente da República (CF/88, art. 84, VII). Sendo assim, não basta o STF
validar os requisitos formais da extradição, sendo necessária a “palavra final” emitida
pelo Chefe do Executivo Federal.
É necessário analisar o artigo 84, VII, “compete privativamente ao Presidente
da República manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus
representantes diplomáticos”, e o artigo 102, I, g, “compete ao Supremo Tribunal
Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe processar e
julgar, originariamente a extradição solicitada por Estado estrangeiro”.
Por exemplo, a Argentina solicita ao STF a extradição de um cidadão argentino
que esteja residindo no Brasil; o STF, por sua vez, julga e valida o pedido, e entrega
a decisão final ao Presidente da República (o deferimento da extradição é, em regra,
um ato de soberania, portanto, é discricionário).
6.21. Direitos e garantias processuais
Amparo constitucional (CF/88, art. 5º):
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente;
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes;
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
ilícitos;
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória;
LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação
criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;
LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta
não for intentada no prazo legal;
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando
a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita
e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de
transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão
comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à
pessoa por ele indicada;
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de
advogado;
Sobre o inciso LXII (relacionado ao princípio do nemo tenetur se detegere,
direito de não se autoincriminar, de não produzir provas contra si mesmo), tenha em
mente que a banca examinadora pode dizer as mesmas coisas, mas com palavras
diferentes (e geralmente de modo truncado ou ambíguo), vejamos como esse inciso
foi cobrado pela prestigiada Cebraspe em 2021:
Com base nos dispositivos da Constituição Federal de 1988 (CF) acerca dos
direitos e das garantias fundamentais e da segurança pública, julgue o item
subsequente.
Ao agente que tiver praticado fato criminoso será garantido o privilégio contra
a autoincriminação, isto é, o direito de manter-se em silêncio.
Gabarito: Certo.
Apesar do termo “privilégio” não ser o mais adequado, por dar margens a
interpretações ambíguas, devemos considerá-locorreto, uma vez que os dicionários
dão como significado ao termo, dentre outros, “direito, prerrogativa, vantagem ou
imunidades especiais gozadas por uma ou mais pessoas, em detrimento da maioria”.
[131]
A banca tenta, com essas alterações truncadas, confundir e eliminar candidatos,
pois a alta concorrência torna o processo de eliminação cada vez mais difícil.
Continuando (CF/88, art. 5º):
LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua
prisão ou por seu interrogatório policial;
LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade
judiciária;
LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei
admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança;
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do
depositário infiel;
[...]
LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a
razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação.
6.22. Remédios Constitucionais
Ainda no artigo 5º da CF/88, os remédios constitucionais são os mecanismos
assecuratórios dos direitos garantidos em nossa Carta Maior. São instrumentos que
entram em ação assim que um desses direitos é violado, não atendido, ou quando
está na iminência de ser violado. A expressão remédio constitucional, em outras
palavras, é utilizada para corrigir atos viciados para que então, nas palavras da
professora Nathalia Masson, possamos “recuperar a saúde da liberdade pública
lesionada ou ameaçada de lesão”.[132]
Dever-se-á constar em qualquer Constituição: as condições assecuratórias
da mínima dignidade da pessoa humana. Tendo como grande desafio a busca
por mecanismos para a concretização desses dispositivos.
 
Temos o seguinte rol de garantias constitucionais:
✓ habeas corpus (art. 5.º, LXVIII);
✓ mandado de segurança individual (art. 5.º, LXIX) e mandado de
segurança coletivo (art. 5.º, LXX);
✓ mandado de injunção (art. 5.º, LXXI);
✓ habeas data (art. 5.º, LXXII); e ação popular (art. 5.º, LXXIII).
Alguns doutrinadores (poucos) incluem a ação civil pública nesse rol.
 
6.22.1. Habeas corpus
Em tempos de paz, todos os indivíduos têm o direito de andar ou se transportar
livremente pelo território nacional, podendo, nos termos da lei, dele sair (CF/88, art.
5º, XIV):
é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo
qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com
seus bens;
A restrição ocorrerá em casos envolvendo decretação de estado de defesa ou
estado de sítio.
O habeas corpus é o remédio constitucional (mecanismo jurídico garantidor)
para restrições irregulares desse direito.
Para os casos envolvendo qualquer limitação, de maneira ilícita, no direito de
locomoção: ir, vir e permanecer (eficácia contida, restringível). É um remédio gratuito,
e também não precisa de advogado, não segue formalidades processuais. Pode ser
preventivo (impetrado antes de sofrer a ameaça), ou liberatório/repressivo (fazer
cessar a coação à liberdade de ir, vir e permanecer do indivíduo).
O habeas corpus pode ser impetrado informalmente. Como o caso
noticiado em que um preso, ao balançar um pedaço de tecido branco,
materializou o habeas corpus.
 
Não confundir impetrante com paciente, muito menos com coator:
✓ Impetrante: quem entra com a ação (pode ser pessoa física ou jurídica);
✓ Paciente: aquele que sofre a restrição de direito de locomoção;
✓ Coator: quem pratica o ato ilícito; aqui existe prerrogativa de foro (único
quem não tem é a ação popular);
✓ Impetração: ato de ajuizar um remédio constitucional.
Contra Presidente da República, no polo de paciente ou coator, deverá
ser no STF. Ministro de Estado, como paciente, no STF.
Atenção: se o Ministro de Estado for coator, será impetrado no STJ.
 
Leve para a sua prova:
✓ O habeas corpos é um remédio gratuito;
✓ Não necessita de advogado (a impetração é feita por particular, não sendo
necessário obedecer a formalidades processuais ou instrumentais);
✓ Pode ser feito de ofício;
✓ Pode ser impetrado de modo informal;
✓ Deve conter a assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quando
não souber ou não puder escrever, e a designação das respectivas
residências;[133]
✓ Não cabe para punições disciplinares militares. [134]
Não cabe habeas corpus (HC) nas seguintes hipóteses (são situações cobradas
em provas e que às vezes se repetem, mas com diferente jogo de palavras):
❖ Não cabe HC para trancar processo de impeachment;
❖ HC não é meio processual adequado para se discutir direito de visita a
preso;
❖ Não se admite habeas corpus para se questionar nulidade cujo tema não
fora trazido antes do trânsito em julgado da ação originária e tampouco
antes do trânsito em julgado da revisão criminal;
❖ Não cabe HC contra decisão monocrática de Ministro do STF;
❖ Não cabe HC contra decisão monocrática de Ministro do STJ;
❖ O STF decidiu que não tem competência para julgar habeas corpus cuja
autoridade apontada como coatora seja delegado federal chefe da Interpol
no Brasil;
❖ Não cabe HC em favor de pessoa jurídica, nem mesmo para trancamento
de inquérito policial sem justa causa no qual se investiga crime ambiental;
❖ Não cabe HC para trancamento de persecução penal referente à infração
penal à qual seja cominada tão somente pena de multa;
❖ Não cabe HC quando já tiver havido o cumprimento da pena privativa de
liberdade (PPL);
❖ Não cabe HC contra exclusão de militar, perda de patente ou de função
pública;
❖ Não cabe HC contra o efeito extrapenal de perda do cargo advindo de
sentença condenatória transitada em julgado;
❖ Não cabe HC contra a apreensão de veículos;
❖ Não cabe HC contra a suspensão do direito de dirigir;
❖ Não cabe HC para eventual pedido de reabilitação do paciente;
❖ Não cabe HC para assegurar a preservação da relação de
confidencialidade entre cliente e advogado;
❖ Não cabe HC para pleitear a extração gratuita de cópias de processo
criminal;
❖ Não cabe HC para requerimento de aditamento da denúncia a fim de incluir
outro acusado;
❖ Não cabe HC contra a perda de direitos políticos;
❖ Não cabe HC para discutir a reparação civil fixada na sentença
condenatória criminal;
❖ Não cabe HC para discussão de mérito administrativo de prisão em
punições disciplinares militares.
Cabe habeas corpus nas seguintes situações (novamente, esses são exemplos
já cobrados em provas):
✓ Cabe HC para análise de legalidade de prisão em punições disciplinares
militares;
✓ Cabe HC para trancamento de processo no qual se apura o delito de porte
de drogas para consumo;[135]
✓ Cabe HC contra instauração de inquérito policial ou indiciamento, sem que
haja justa causa para estes atos (dito habeas corpos trancativo);
✓ Cabe HC contra o indeferimento de prova de interesse do investigado ou
acusado;
✓ Cabe HC contra o deferimento de prova ilícita ou deferimento inválido de
prova lícita;
✓ Cabe HC contra a autorização judicial de quebra de sigilos (bancário, fiscal,
telefônico etc.) em procedimento penal;
✓ Cabe HC para questionar medidas protetivas de urgência previstas na Lei
Maria da Penha que restrinjam a liberdade de ir e vir.
6.22.2. Habeas data
Segundo nossa Constituição, o habeas data é uma ação gratuita e possui três
finalidades (as duas primeiras são as ditas finalidades primordiais do habeas data):
1) Conhecer: a primeira finalidade é possibilitar que um cidadão obtenha
acesso às informações relativas a si mesmo, as quais constem em banco
de dados públicos (ou registros públicos), incluindo banco de dados privados
cujo caráter seja público;
2) Retificar: a segunda finalidade primordial é possibilitar que uma pessoa
corrija (retifique) taisdados mencionados na primeira finalidade — essa
hipótese ocorrerá nos casos em que a pessoa não optar por realizar a
retificação de modo sigiloso, por ajuizamento de ação, ou por processo
administrativo;
3) Anexar: existe também uma terceira finalidade: que diz respeito à
possibilidade de anexar informações complementares em registro público;
por exemplo, em uma certidão referente à dívida de uma empresa qualquer,
é possível incluir um adendo sobre uma disputa judicial ainda em julgamento
(dessa forma, caso essa dívida conste em registro cartorário, esse, ao emitir
certidão positiva, deve acrescentar a informação anexada).
Cumpre ressaltar que, diferentemente do habeas corpus, a presença de um
advogado é requisito necessário para impetração do habeas data.
Logo, o habeas data serve para conhecer, retificar, ou, até mesmo, anexar
novas informações em banco de dados governamentais ou de caráter público.
Antes da propositura do habeas data, a negativa administrativa deve ter
acontecido (isso é um requisito indispensável).[136] O impetrante necessita
comprovar seu “interesse de agir”, sendo assim, a prova da recusa por parte da
autoridade administrativa deve ser apresentada na petição inicial (caso não haja
recusa, a lentidão pode ensejar o habeas data — ocorre quando a informação não é
fornecida dentro do prazo legal).
Segundo o art. 8º da Lei 9.507/97, ao se realizar a petição inicial do habeas
data, o impetrante poderá se fazer dos seguintes requisitos comprobatórios:
✓ Recusa ou atraso de mais de 10 dias para o fornecimento das
informações;
✓ Recusa ou atraso de mais de 15 dias para a retificação das informações;
✓ Recusa em se fazer a anotação complementar para os registros ainda em
disputa judicial.
Logo, entende-se que o habeas data é uma exceção ao princípio da
inafastabilidade da jurisdição; ou seja, antes de impetrar esse remédio
constitucional, é necessária uma negativa administrativa (recusa ou atraso no
fornecimento da informação ou retificação). Observação sobre a retificação ou
inclusão de anexo com informação complementar sobre os registros ainda sob
pendência judicial: retificar um dado sensível requer, em muitos casos, uma
ordem vinda do poder judiciário, por exemplo, os cartórios somente
acrescentarão anexo de informação em registro de título protestado se
receberem um ofício do judiciário.
 
Entretanto, cuidado para não confundir uma hipótese muito explorada pelas
bancas examinadoras:
✓ O habeas data não é para os casos de negativa ao direito genérico à
informação; para tais casos será o mandado de segurança.
Em nossa Carta Magna, consta o direito basilar de acesso à informação de
caráter coletivo em posse do Poder Público (todo cidadão possui), chamado de
direito genérico à informação. Esse direito está relacionado não apenas às
informações privadas, mas a todo tipo de informação de caráter público — de
interesse particular, de relevância geral ou coletiva). Caso haja negativa a esse
direito, o prejudicado deve entrar com mandado de segurança[137] contra a
autoridade que negou injustamente tal direito líquido e certo. Já o habeas data[138] é
para conhecer ou retificar informações relativas a si mesmo.
O remédio habeas data (também chamado de ação) possui natureza civil e
rito processual especial. [139]
 
Sobre a terceira hipótese de cabimento do habeas data (anexar), cabe frisar que
ela não está na constituição, mas na Lei 9.5507/97. Além de “obter o acesso às
informações referentes à pessoa do impetrante” e “promover retificação”, o habeas
data pode ser utilizado com a finalidade de “proceder à anotação de informações
relativas à pessoa do impetrante”.
Essa terceira hipótese serve para manter o nome de uma empresa “limpo”,
mesmo que conste dívida (em disputa judicial) nos registros de protestos dos
cartórios (conforme explicado, em certidões de protesto emitida por um tabelião,
constará a informação, solicitada via habeas data, de que a dívida “x” está sob
pendência judicial). Esse anexo será de muita utilidade, por exemplo, para casos em
que o nome de uma pessoa, física ou jurídica, conste em um banco de dados público
de devedores, e que seja referente a um ataque de hackers que clonaram seus
dados bancários e geraram dívidas fraudulentas); ou seja, juntamente com a
“negativa” emitida pelos órgãos de caráter público, com base na ação de habeas
data, deverá constar a informação complementar, a qual dirá que tal registro é
oriundo de uma dívida ainda em pendência judicial, e que portanto deve ser
analisada com cautela.
Leve para a sua prova:
✓ O HD serve para assegurar conhecimento de informações, retificação ou
anexação de dados;
✓ O HD é de natureza civil e rito sumário;
✓ Em regra, é uma garantia de caráter personalíssimo, mas existe uma
exceção: o cônjuge supérstite tem legitimidade para impetrar habeas
data em defesa do interesse do falecido;[140]
✓ É uma ação gratuita;
✓ Não se sujeita a decadência ou prescrição;
✓ Pode ser impetrado por pessoa física ou jurídica.
6.22.3. Mandado de segurança
O mandado de segurança é o remédio residual (subsidiário), ou seja, tudo que
não couber nos outros remédios, virá para cá, em outras palavras, em termos
constitucionais, serve para direito líquido e certo não amparado por habeas corpus e
habeas data. Serve para nos proteger contra ilegalidade ou abuso de poder
perpetrado por autoridade pública ou privada (com atribuições do poder público).
O legitimado passivo será a autoridade coatora, podendo ser essa a
praticante do ato ou apenas a mandante (a autoridade que praticou o ato, muitas
vezes, não será a responsável, mas meramente a executora).
A autoridade coatora (que tem o poder de decisão) será o legitimado
passivo, e não o “mero executor da ação”.
 
Amparo constitucional (CF/88, art. 5º LXIX):
conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo,
não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável
pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa
jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. 
Direito líquido e certo: algo indiscutível (não precisa de testemunha ou
perícia, pois quando se impetra, todas as provas devem ser pré-constituídas, ou
seja, não admite dilação probatória posterior).
 
A título exemplificativo, temos: supondo que o Governador do estado de São
Paulo (poderia ser qualquer outra autoridade pública investida de poder de decisão)
impeça, de modo abusivo, que um grupo de cidadãos exerçam sua liberdade de
associação. Nessa situação, não caberá outro remédio constitucional senão o
mandado de segurança.
Dizeres que caíram em provas:
✓ Pode ser direito individual ou coletivo (em sentido estrito);
✓ O MS serve para proteger direitos individuais homogêneos;
✓ O MS é utilizado quando não existir meio próprio de impugnação.
Entes que podem impetrar o MS (esses entes não precisam de autorização, já
que são substituições processuais):
✓ Partido político com representação no Congresso Nacional (Senador ou
Deputado), e a perda de representação superveniente não afeta a
continuidade do remédio;
✓ Organização sindical;
✓ Entidade de classe;
✓ Associação constituída e em funcionamento há pelo menos 1 ano.
Na Constituição consta que, para a representação, é preciso autorização
expressa, no entanto, na substituição processual, não.
Para certidão ou vista (cópia), o remédio correto é o mandado de
segurança.
 
Não cabe mandado de segurança:
Em ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo,
independente de caução (independe de valor pago como garantia do
cumprimento de uma obrigação);
Em ato de gestão comercial por Empresa Pública, Sociedade de
Economia Mista e concessionárias de serviço público;
Em decisão judicial da qual caiba recurso COM efeito suspensivo;
Em decisão judicial transitada em julgado;
Contra lei em tese;[141]
Em ato judicial passível de recurso ou correição;[142]
Não é substitutivo deação de cobrança.[143]
Cabe mandado de segurança:
✓ Para controle incidental de constitucionalidade;
✓ Para lei de efeitos concretos.
Sobre a lei em tese e lei de efeitos concretos:
Lei em tese (não cabe mandado de segurança): é a lei que ainda não incidiu,
logo inepta para provocar lesão à direito líquido e certo. Por exemplo: caso uma
pessoa pretenda importar uma mercadoria cuja alíquota de imposto de importação foi
aumentada, e considera que o aumento se deu contrariando a Constituição, mas
ainda não adquiriu a mercadoria do exterior, não poderá dizer que tem um direito sob
ameaça de lesão. Se impetrar ação, estará atacando a norma, em tese, que
elevou a alíquota do imposto, logo não é cabível MS.
Lei de efeitos concretos (cabe mandado de segurança): essas leis, embora
com conteúdo de ato administrativo, são consideradas como tais por possuírem
imperatividade (obrigatoriedade) e normatividade (atribuem poder ou dever de fazer
ou de não fazer), porém, diferentemente das leis em sentido próprio,
possuem concretude e individualização (não possuem a abstração necessária para
se repetirem em infinitas situações). Exemplos: leis que criam municípios e leis
orçamentárias. Também podemos citar os Decretos Legislativos e as Resoluções da
Câmara ou do Senado. No âmbito infraconstitucional podem ser citadas as leis que
estabelecem indenização a determinada pessoa, as leis que concedem anistia, as
leis que determinam que tal ou qual imóvel seja área de preservação ambiental, as
leis que mudam o nome de um Município (CF/88, art. 18, §4º; e art. 165).
Por fim, cabe dizer que o prazo para impetração do mandado de segurança, é
de 120 dias, valendo a partir da ciência do ato.
6.22.4. Mandado injunção
O mandado de injunção é um remédio constitucional à disposição de qualquer
pessoa prejudicada pela falta de norma regulamentadora que inviabilize o exercício
dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à
nacionalidade, soberania e cidadania. É cabível não só para omissões de caráter
absoluto ou total como também para as omissões de caráter parcial. 
Logo, o mandado de injunção é de natureza civil, e possui a finalidade de
suprir a falta de norma regulamentadora, que torne inviável o exercício de
direitos e liberdades constitucionais (CF/88, art. 5º, LXXI, regulamentado pela
Lei 13.300/16). Note-se que a falta de norma regulamentadora deve obstaculizar
o exercício de direito fundamental.
 
Seu legitimado ativo pode ser qualquer pessoa, física ou jurídica, nacional ou
estrangeira. Seu legitimado passivo pode ser qualquer autoridade que tenha se
omitido quanto à proposição da lei.
Cumpre ressaltar que o impetrante do mandado de injunção não fica isento de
custas.
O Mandado de Injunção compreende omissões totais ou parciais. Segundo a
teoria concretista (STF): o MI pode ter eficácia geral (erga omnes, servindo para
todos) e individual (inter partes, servindo apenas para a parte prejudicada).
Lei nº 13.300/2016, art. 2º:
Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta total ou parcial de
norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à
cidadania. Parágrafo único. Considera-se parcial a regulamentação quando
forem insuficientes as normas editadas pelo órgão legislador competente.
Os legitimados a impetrar mandado de injunção coletivo são (em comparação
com o mandado de segurança, temos aqui dois legitimados a mais, MP e DP,
ampliação conferida pela LMI):[144]
✓ Entidades de classe, organização sindical, e associações constituídas
e em funcionamento há pelo menos 1 ano;
✓ Partido político com representação no Congresso Nacional (no mínimo
um Deputado ou um Senador);
✓ Ministério Público;
✓ Defensoria Pública.
Mandado de injunção individual e coletivo:
 
Individual Coletivo
Independe de autorização (já que não é
representação, mas sim uma substituição processual, ou
legitimação extraordinária)
1 – Pessoa Física 1 - Sindicato
2 – Pessoa Jurídica 2 - Entidades de classe
3 - Associações Constituídas há pelo menos 1 ano
4 - Partido Político com representação no Congresso
Nacional (no mínimo 1 Deputado ou 1 Senador)
5 - Ministério Público
6 - Defensoria Pública
A decisão será inter
partes (só vale para as
A decisão será ergas omnes (terá efeito vinculante,
isso é: valerá para todos)
partes)
Após entrar com mandado de injunção, conforme entendimento da Suprema
Corte, não caberá medida liminar, pois esse remédio se destina a verificar se há
lentidão na elaboração de norma regulamentadora ou não. Já em impetração de
ADO (que também é utilizada para aplacar essa ineficiência constitucional), poderá
ser concedida medida liminar, conforme disciplinado em lei (Lei 9.868/99, art. 12-F).
Cabe salientar que o mandado de injunção também é um remédio para curar a
síndrome da inefetividade constitucional.
Também chamada de moléstia da inefetividade constitucional.
 
A “Síndrome da Inefetividade das Normas Constitucionais”, as quais
correspondem à ausência de regulamentação adequada de normas de eficácia
limitada (que dependem de edição de lei para produzirem seus efeitos), o que
impede o efetivo exercício dos direitos previstos na Constituição.
Não é apenas o mandado de injunção (art. 5º, LXXI) capaz de aplacar essa
problemática, mas também a ADI por omissão (ADO, no art. 103, §2º da CF/88).
Corroborando esse raciocínio, temos uma recente questão de prova da
VUNESP:[145]
Foi considerada correta a seguinte afirmação: “tanto o Mandado de
Injunção quanto a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) são
instrumentos processuais utilizados ao combate da chamada “síndrome da
inefetividade das normas constitucionais”.
Chega de síndromes e moléstias obstaculizadoras, e sigamos com o pouco que
falta deste livro.
6.22.5. Ação popular
A ação popular (instrumento judicial para exercício imediato da soberania),
possui caráter cívico, e fornece ao cidadão a legitimidade para propositura de ação
com a finalidade de anular ato lesivo ao patrimônio público, moralidade
administrativa, meio ambiente, patrimônio histórico e cultura.
Em termos constitucionais, temos (CF/88, art. 5.º, LXXIII):
Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular
ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural,
ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência.”
Protege direito líquido e certo, ou seja, protege direito difuso (aquele que afeta a
todos, sem possibilidade de identificação dos afetados);
Apenas cidadão pode entrar com ação popular. Por exemplo: se a questão vier
dizendo que o Ministério Público ajuizou ação popular estará errada, ao menos que a
assertiva afirme que o processo foi arquivado por falta de legitimidade. O Ministério
Público deve entrar com ação civil pública, a qual também protege direito difuso.
Entretanto, o Ministério Público tem legitimidade para recorrer da decisão.
A ação popular pode ser preventiva ou repressiva (nesse último caso o dano já
ocorreu).
No polo passivo de uma ação popular deve-se incluir todos os responsáveis
(exemplo, empreiteira e subempreiteira). Não se admitindo a prerrogativa de foro.
Isso significa que mesmo que no polo passivo esteja o Presidente da República, a
ação popular deverá ser impetrada em juízo federal de primeira instância.
Os legitimados são os cidadãos em pleno gozo dos direitos políticos, ou seja,
com capacidade eleitoral ativa. O autor da ação popular fica isento das custas e do
ônus de sucumbência, exceto se houver comprovação de má-fé (o ônus de
sucumbência corresponde à cobrança de custas e despesas judiciais daquele que
perdeu a ação, mas, conforme dito, na ação popular, desde que impetrada de boa-fé,
não se aplicará esse ônus, mesmo que o impetrante perca a ação).
Cidadão é a junção desses trêselementos:
1) Pessoa física (sendo assim, do rol de legitimados, deve-se excluir os
termos: “qualquer pessoa física” ou “pessoa jurídica”);
2) Brasileiro nato ou naturalizado (ficam excluídos os termos “qualquer
brasileiro” ou “estrangeiro”);
3) Que estiver em pleno gozo dos direitos políticos (excluir quem estiver
com perda ou suspensão dos direitos políticos).
Através da ação popular, os cidadãos fazem uso da tutela jurisdicional para
preservação dos interesses da coletividade, anulando ou declarando a nulidade
de atos lesivos ao patrimônio público, à moralidade administrativa, ao meio
ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.
 
A ação popular pode ser preventiva (antes da efetivação da lesividade) ou
repressiva (após) com o intuito de anular o ato lesivo, e consequentemente obter o
ressarcimento dos danos, e a restauração do patrimônio lesionado. Serão dois
requisitos a serem observados, o subjetivo (cidadão), e o objetivo (lesão ou
ameaça de lesão).
Aproveitando o ensejo, recentemente o STF entendeu que a pena de
ressarcimento ao erário prescreverá sempre que não for constatado o dolo do
agente. Antigamente essa pena era imprescritível em qualquer hipótese; atualmente
a imprescritibilidade será aplicada apenas às penalidades de ressarcimento ao
erário por servidor que tenha cometido ato de improbidade dolosamente.
TABELA COMPARATIVA:
 
Remédio Direito Gratuidade Advogado LegitimidadeAtiva Prazo
Habeas
Corpus Locomoção Sim Não Universal Não
Habeas
Data Informação Sim Sim Personalíssimo Não
Mandado
de Segurança
Dir. líquido
e certo não
amparado por
HC ou HD
Não Sim Individual (P.
Física ou PJ) /
Coletivo (ver rol de
legitimados)
120
dias
Mandado
de Injunção
Norma de
eficácia limitada Não Sim
Individual (P.
Física ou PJ) /
Coletivo (ver rol de
legitimados)
Não
Ação
Popular Difuso
Ônus
sucumbencial
quando impetrado
de má-fé
Sim Qualquer cidadão 5 anosprescric.
7. Referências Bibliográficas
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ARISTOTLE. The Politics. Oxford: Clarendon Press, 1885. 2v. Disponível em:
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pessoa humana no direito constitucional contemporâneo: a construção de um
conceito jurídico à luz da jurisprudência mundial. Belo Horizonte: Editora Fórum,
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BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal Anotada. 1. ed. São Paulo:
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bolivia.ghtml>. Acesso em: 5 jan. 2022.
Tudo o que você precisa saber sobre o caso da extradição de Cesare
Battisti | Instituto Politeia. Disponível em:
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Acesso em: 5 jan. 2022.
https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/01/13/italiano-cesare-battisti-e-preso-na-bolivia.ghtml
https://www.gazetadopovo.com.br/instituto-politeia/tudo-extradicao-cesare-battisti/
8. Contato:
Peço que tenha paciência,jovem, visto que alguns tópicos estão mais
embasados e aprofundados do que outros.
Não obstante minhas limitações, venho trabalhando diária e paulatinamente na
ampliação e aperfeiçoamento deste trabalho.
rroliverlivros@gmail.com
 
 
[1] A título de exemplo, em The Politics, pág. 32: (versão traduzida do grego para o inglês por Benjamin
Jowett): “The rule of which I am speaking, is not the rule of the master over the slave, but the constitutional rule
of freemen and equals”, grifo meu. Passagens mais incisivas sobre normas constitucionais podem ser
encontradas nos livros finais (VII: 1323b - 1337a; e livro VIII: 1337b - 1342b). Aristotle, The Politics, Oxford:
Clarendon Press, 1885.
mailto:rroliverlivros@gmail.com
[2] SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel, Curso de direito
constitucional, 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
[3] GROSS, Aeyal M., Globalization, Human Rights, and American Public Law Scholarship - A Comment on
Robert Post, Theoretical Inquiries in Law, v. 2, n. 1, 2001.
[4] BARROSO, Luis R., Doze Anos da Constituição Brasileira de 1988: Uma breve e acidentada história de
sucesso, 1978.
[5] CANOTILHO, J. J. Gomes, Direito constitucional e teoria da constituição, 2a. ed. Coimbra:
Almedina, 1998.
[6] BULOS, Uadi Lammêgo, Curso de direito constitucional, São Paulo: Saraiva, 2000.
[7] SILVA, Oliveira, Erival Da, Prática Jurídica: Constitucional, São Paulo: Saraiva, 2020, p. 183.
[8] Cebraspe, PC-SE, Agente de Polícia Judiciária, 2021.
[9] CANOTILHO, J. J. Gomes et al, Comentários à Constituição do Brasil, 2. ed. São Paulo: Saraiva,
2018, p. 1332.
[10] MORAES, Thállius, 2020.
[11] Dalmo de Abreu Dallari, 1985.
[12] TAVARES, André Ramos, Curso de Direito Constitucional, 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 1049.
[13] ZIMMERMANN, Augusto, Teoria Geral do Federalismo Democrático, 1. ed. São Paulo: Lumen Juris,
1999, p. 65.
[14] CF/88, art. 13, §§ 1o e 2o.
[15] CF/88, art. 1º.
[16] CF/88, arts. 1° e 18.
[17] Luigi Ferrajoli, 2002.
[18] Gonçalves Filho, 2012.
[19] Marcelo Novelino, Manual de Direito Constitucional.
[20] CUNHA JÚNIOR, Dirley da, Curso de direito constitucional, Salvador: JusPODIVM, 2015.
[21] MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet, Curso de direito constitucional, 12. ed.
São Paulo: Saraiva, 2017, p. 190.
[22] NOVELINO, Marcelo, Curso De Direito Constitucional, 8. ed. São Paulo: Método, 2014, p. 152.
[23] MORAES, Alexandre de, Direito constitucional, 34. ed. São Paulo: Atlas, 2018.
[24] BARCELLOS, Ana Paula de, Curso de Direito Constitucional, Rio de Janeiro: Forense, 2018.
[25] NETO, Diogo de Figueiredo Moreira, Curso de Direito Administrativo: Parte Introdutória, Parte
Geral, Parte Especial, 16a edição. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2014, p. 366.
[26] ADI 486-7/DF, STF, Diário da Justiça, Seção I, 10 nov. 2006, p. 48
[27] BULOS, Uadi Lammêgo, Constituição Federal Anotada, 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
[28] Auditor Fiscal Jurídico da Receita Estadual, SEFAZ/CE, Cebraspe, 2021.
[29] CF/88, art. 34: “A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: [...] VII -
assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: [...] c) autonomia municipal”.
[30] Ibid., Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), art. 15.
[31] Tais municípios criados a partir dos Territórios Federais seguirão as mesmas regras do art. 29 e demais
que se aplicam aos Municípios (CF/88, arts. 29 a 31): “O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois
turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que
a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e
os seguintes preceitos: [...]”.
[32] CF/88, art. 84, VII, III, XIX, XX.
[33] CF/88, art. 84, I, II, III, IV, CF/88.
[34] CF/88, arts. 79, 80 e 81.
[35] CF/88, art. 58, § 3º.
[36] CF/88, art. 50.
[37] CF/88, art. 70 a 75.
[38] CF/88, art. 45.
[39] CF/88, art. 14, § 3º, I ao V.
[40] CF/88, art. 46
[41] CF/88, art. 44, parágrafo único, e art. 57, caput.
[42] CF/88, art. 27, § 2º.
[43] CF/88, art. 37, XI.
[44] CF/88, art. 58, § 3.
[45] Os poderes das CPIs, Correio Braziliense, 1999.
[46] CF/88, art. 5º, X.
[47] RDA, 196/197, 199/205.
[48] STF, AI 473.092, 2005.
[49] VUNESP, 2021, em prova elaborada para o cargo de Advogado, CODEN.
[50] Previstas no art. 53, § 2º, § 3º, § 4º, § 5º e § 8º.
[51] CF/88, art. 53, § 2º.
[52] CF/88, art. 53, § 3º.
[53] CF/88, art. 70 a 75.
[54] MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet, Curso de direito constitucional, 9. ed.
rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 1421.
[55] CF/88, art. 93, VIII.
[56] 2021, Escrivão de Polícia, PC/AL.
[57] ADI 3.916, STF, 2010.
[58] Cespe/Cebraspe, Escrivão de Polícia, PC-SE, 2021.
[59] Art. 144, § 5º, CF/88.
[60] Manoel Gonçalves Ferreira Filho, 2012.
[61] CF/88, art. 12, II.
[62] CF/88, art. 12, § 3º, I ao VII.
[63] CF/88, art. 89, VII.
[64] CF/88, art. 12, § 4º, I e II.
[65] Raciocínio originado de uma piada de um aluno em sala de aula envolvendo o direito de locomoção de
um carro de food truck.
[66] Quadrix, 2021, CRP-MA 22ª Região.
[67] MORAES, Direito constitucional, p. 83.
[68] Dirley da Cunha Júnior, 2008.
[69] PUCCINELLI JÚNIOR, André, Curso de direito constitucional, 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2012,
p. 252.
[70] MEIRELLES, Hely Lopes, Direito Administrativo Brasileiro, 32. ed. São Paulo: Malheiros Editores,
2006.
[71] CLAPHAM, Andrew, Direitos humanos na esfera privada, Oxford, 1993.
[72] BARROSO, Luis Roberto; MELLO, Humberto Laport de, A dignidade da pessoa humana no direito
constitucional contemporâneo: a construção de um conceito jurídico à luz da jurisprudência mundial,
Belo Horizonte: Editora Fórum, 2013, p. 69.
[73] Inf. 405/STF.
[74] João Pedro, 2019.
[75] O princípio da proteção foi abrandado pela Reforma Trabalhista (lei 13.467/17), que suprimiu diversos
dispositivos que protegia o trabalhador, a parte fraca da relação.
[76] CONTRERAS, Sergio Gamonal, Cidadania Na Empresa E Eficácia Diagonal Dos Direitos
Fundamentais, 1a edição. São Paulo: LTr Editora, 2011, p. 667.
[77] Conseil d’Etat, Assemblée, du 27 octobre 1995, 136727, publié au recueil Lebon.
[78] TEMER, Michel, Elementos de direito constitucional, 24. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2017.
[79] Manual de Direito Constitucional, 8ª edição, Marcelo Novelino.
[80] SILVA, Virgílio Afonso da, Direitos fundamentais: conteúdo essencial, restrições e eficácia, 2. ed.
São Paulo: Malheiros Editores, 2017.
[81] STF, RE 670.422/RS, 2018.
[82] STF, ADC 41/DF, 2017.
[83] STF, ADI 4277DF e ADPF 132/RJ, 2011.
[84] STF, Plenário, ADI 2566/DF.
[85] STF, 2016.
[86] MELLO, Celso Duvivier de Albuquerque, Curso de Direito Internacional Público, 15. ed., v. 2, 2004, p.
1095. apud MENDES; BRANCO, Curso de direito constitucional, p. 1044.
[87] MORAES, Direito constitucional, p. 69.
[88] apud MENDES; BRANCO, Curso de direito constitucional, p. 1044.
[89] PROFESSOR, Oscar Valente Cardoso et al, Extradição x refúgio: o caso Cesare Battisti -
Jus.com.br | Jus Navigandi, disponível em: <https://jus.com.br/artigos/14487/extradicao-x-refugio-o-caso-
cesare-battisti>. acesso em: 5 jan. 2022.
[90] Italiano Cesare Battisti é preso na Bolívia, Política, G1, disponível em:
<https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/01/13/italiano-cesare-battisti-e-preso-na-bolivia.ghtml>. acesso em:
5 jan. 2022; Tudo o que você precisa saber sobre o caso da extradição de Cesare Battisti | Instituto
Politeia, disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/instituto-politeia/tudo-extradicao-cesare-battisti/>.
acesso em: 5 jan. 2022.
[91] Antissemitismo e antissionismo no Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha].
Porto: Porto Editora, 2003-2022. [consult. 2022-01-06 11:11:14].
[92] Paulo Maltz, Folha de São Paulo, 2016.
[93] David Araújo e Serrano Nunes Júnior, Curso de Direito Constitucional.
[94] Direito Constitucional Esquematizado 2020, 24ª Edição, pág. 757.
[95] Fábio Konder, 1996.
[96]Norberto Bobbio, A era dos direitos.
[97] Bonavides, Curso de direito constitucional, 25ª Edição, pág. 593.
[98] Cadernos de Direito Constitucional e Ciência Política, nº 04, pág. 299-302.
[99] Conforme HC 124.306.
[100] Encéfalo no Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico. Porto: Porto Editora, 2003-
2021. [consult. 2021-12-26 08:39:32]. Disponível na Internet: http:// www. infopedia. pt/ dicionarios/ lingua-
portuguesa/ encéfalo.
[101] Art. 128, I, do Código Penal.
[102] Art. 128, II, do Código Penal.
[103] Cintia Barudi, 2019.
[104] Técnico Judiciário, STJ, 2015.
[105] Jus, Cibele Bumbel e João Neto, 2020.
[106] Ibid., art. 5o, VI.
[107] Ibid., art. 5o, VII.
[108] Ibid., art. 5o, VIII.
[109] Cebraspe, MPE, 2020.
[110] CF/88, art. 5o, IX.
[111] Ibid., art. 5o, XI.
[112] Cespe/Cebraspe, PC-AL, 2021.
[113] Supremo Tribunal Federal (INQ 2.424).
[114] STJ, Info 593 e 583.
[115] STJ, RHC 77.232/17.
[116] STJ, Info 617, RHC 86.076-MT.
[117] Ibid., art. 5o, XIV.
[118] Esse inciso é ligado ao XXXIII (CF/88, art. 5º): todos têm direito a receber dos órgãos públicos
informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei,
sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e
do Estado.
[119] SARLET; MARINONI; MITIDIERO, Curso de direito constitucional, p. 1660.
[120] CF/88, art. 5o, XVI.
[121] PCC é a sigla de Primeiro Comando da Capital, uma facção criminosa brasileira que comanda
diversos atos ilícitos, como assaltos, sequestros, assassinatos, tráfico de drogas e rebeliões nos presídios.
Significado de PCC (O que é, Conceito e Definição), Significados, disponível em:
<https://www.significados.com.br/pcc/>. acesso em: 27 dez. 2021.
[122] CF/88, art. 93, IX.
[123] Leading-case (ou também standard-case), significa respectivamente “caso líder” (ou “caso
paradigmático”).
[124] Ibid., art. 5o, XXII.
[125] Usucapião significa: “Aquisição de propriedade ou de outros direitos reais de gozo sobre bem móvel
ou imóvel, com fundamento na posse prolongada, ininterrupta, pacífica e não oculta, durante determinado prazo
legal estabelecido" — usucapião no Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto:
Porto Editora, 2003-2021. [consult. 2021-12-27 10:17:42]. Disponível na Internet:
http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/usucapião.
[126] CF/88, art. 186, I ao IV.
[127] Ibid., art. 182, § 2o.
[128] Lei 8.009/90, arts. 1º e 2º.
[129] CF/88, art. 5o.
[130] RTJ 64/22, Rel. Min. Bilac Pinto.
[131] "1. direito ou vantagem exclusiva concedida a alguém 2. diploma que
confere essa vantagem 3. regalia 4. prerrogativa; imunidade 5. condão privilégio
creditório faculdade que a lei concede a certos credores de serem pagos com
preferência a outros, independentemente do registo dos seus créditos" — privilégio
no Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto
Editora, 2003-2022. [consult. 2022-01-07 11:09:48]. Disponível na Internet:
http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/privilégio
[132] MASSON, Nathalia, Manual de Direito Constitucional, 9a edição. São Paulo: Editora Juspodivm,
2021.
[133] Código de Processo Penal, Art. 654. § 1º, c.
[134] 142, §2, CF/88
[135] Lei 11.343/2006, art. 28.
[136] Art. 8º da Lei 9.507/1997 e a Súmula 2 do STJ.
[137] CF/88, Art. 5º, XXXIII.
http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/
[138] CF/88, Art. 5º, LXXII.
[139] Tal procedimento é regulamentado pela Lei nº 9.507/1997.
[140] Informativo 342/STJ.
[141] Súmula 266, STF.
[142] Súmula 267, STF.
[143] Súmula 269, STF.
[144] Rol de legitimados ampliado pela LMI, lei que disciplina o processo e o julgamento dos mandados de
injunção (art. 12, I a IV).
[145] Prova da VUNESP, para o cargo de Advogado da CODEN, em 2021.
	1.
	Aspectos Introdutórios
	1.1.
	Conceito
	1.2.
	Princípio da separação dos poderes
	1.3.
	Classificações da Constituição Federal
	2.
	Organização político-administrativa do Estado
	2.1.
	Forma de governo
	2.2.
	Sistema de governo
	2.3.
	Regime de Governo
	2.4.
	Formas de estado
	2.5.
	Federalismo
	2.6.
	Classificação quanto ao equacionamento das desigualdades
	2.7.
	Classificação quanto à repartição de competências
	2.8.
	Classificação quanto ao processo de formação
	2.9.
	Classificação quanto à concentração de poder
	2.10.
	A Federação brasileira
	2.11.
	União
	2.12.
	Estados
	2.12.1.
	Alterações nas estruturas do Estados
	2.12.2.
	Criação de regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões
	2.13.
	Municípios
	2.13.1.
	Alteração na estrutura dos Municípios
	2.14.
	Distrito Federal
	2.15.
	Territórios Federais
	3.
	PODERES DA UNIÃO
	3.1.
	Sistema de freios e contrapesos
	3.2.
	Poder Executivo
	3.3.
	Poder Legislativo
	3.3.1.
	Composição do poder legislativo em âmbito federal
	3.3.2.
	Composição do poder legislativo em âmbito estadual
	3.3.3.
	Composição do poder legislativo em âmbito municipal
	3.3.4.
	Comissões Parlamentares de Inquérito
	3.3.5.
	Poderes Judiciais de Investigação das CPIs
	3.3.6.
	Imunidades parlamentares
	3.3.7.
	Fiscalização contábil, financeira e orçamentária
	3.3.8.
	Autonomia administrativa, financeira e funcional do TCU
	3.3.9.
	Julgamento das contas públicas
	3.3.10.
	Sustação de atos e contratos administrativos
	3.4.
	Poder Judiciário
	3.4.1.
	Garantias institucionais do Poder Judiciário
	3.4.2.
	Garantias dos juízes
	3.4.3.
	Promoção dos magistrados
	3.4.4.
	Vedações dos magistrados
	3.5.
	Sobre a polícia judiciária
	4.
	Tópicos Complementares
	4.1.
	Sobre os direitos sociais
	4.2.
	Sobre a nacionalidade
	4.3.
	Sobre os direitos políticos
	5.
	Teoria geral dos direitos fundamentais
	5.1.
	Conceito material e formal
	5.2.
	Titulares de direitos fundamentais
	5.3.
	Sobre a titularidade das pessoas jurídicas
	5.4.
	Tratados internacionais de direitos humanos
	5.5.
	Características básicas dos direitos fundamentais
	5.5.1.
	Relatividade
	5.5.2.
	Historicidade
	5.5.3.
	Universalidade
	5.5.4.
	Inalienabilidade
	5.6.
	Aplicabilidade das normas constitucionais (dimensão de aplicação)
	5.7.
	Eficácia das normas constitucionais
	5.7.1.
	Normas de eficácia plena
	5.7.2.
	Normas de eficácia contida
	5.7.3.
	Normas de eficácia limitada
	5.8.
	Julgados do Supremo Tribunal Federal sobre a dignidade da pessoa humana
	5.9.
	Objetivos fundamentais
	5.10.
	Refúgio e asilo político
	5.11.
	Princípios regentes das relações internacionais
	5.12.
	Direitos e garantias fundamentais
	5.13.
	Gerações ou dimensões dos direitos fundamentais
	6.
	Direitos e deveres individuais do artigo 5º
	6.1.
	Direito à vida
	6.2.
	Princípio da igualdade
	6.3.
	Princípio da Legalidade
	6.4.
	Vedação à tortura
	6.5.
	Vedação ao anonimato
	6.6.
	Liberdade de consciência
	6.7.
	Liberdade de atividade intelectual, artística, científica ou de comunicação
	6.8.
	Direito à privacidade
	6.9.
	Inviolabilidade de domicílio, correspondência e comunicações
	6.10.
	Liberdade de profissão
	6.11.
	Direito à informação
	6.12.
	Liberdade de reunião
	6.13.
	Liberdade de associação
	6.14.
	Liberdade de pensamento
	6.15.
	Direito de propriedade
	6.16.
	Desapropriação
	6.17.
	Impenhorabilidade da pequena propriedade rural
	6.18.
	Inafastabilidade do judiciário, segurança, irretroatividade da lei, personalização da pena, outros
	6.19.
	Crimes inafiançáveis e imprescritíveis, e crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia
	6.20.
	Extradição
	6.21.
	Direitos e garantias processuais
	6.22.
	Remédios Constitucionais
	6.22.1.
	Habeas corpus
	6.22.2.
	Habeas data
	6.22.3.
	Mandado de segurança
	6.22.4.
	Mandado injunção
	6.22.5.
	Ação popular
	7.
	Referências Bibliográficas
	8.
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