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ÍNDICE TEMA COMENTADO – O QUE É IMPERATIVO DO PRAZER? .............................................. 2 INTRODUÇÃO AO TEMA .................................................................................................. 2 A VENDA DA FELICIDADE ................................................................................................. 3 JUVENTUDE E REDES SOCIAIS .......................................................................................... 5 OBRIGATORIEDADE DO “SIM” ......................................................................................... 7 BUSCAS PELA FELICIDADE ............................................................................................... 8 Licensed to Jose Adriano Leite mergulhao - Adrianomergulhao@hotmail.com.br TEMA COMENTADO – O QUE É IMPERATIVO DO PRAZER? Tema comentado pelo Prof. Ari – O Brabo Da Redação! INTRODUÇÃO AO TEMA Estou aqui para falar sobre Jacques Lacan. E não sei te dizer há quanto tempo, há quantos meses, eu estou adiando essa discussão. Sim, eu já tinha começado, desmanchado e não continuei. E por que essa batalha e essa implicância com Lacan? Porque é difícil, é pesado à beça. Ele é considerado um dos maiores estudiosos da matriz freudiana e expandiu os estudos de Freud para a formação da sociedade do século XX. Você já deve imaginar que, se Freud já é muito complicado, uma pessoa que expandiu as ideias freudianas, com certeza, é mais difícil Licensed to Jose Adriano Leite mergulhao - Adrianomergulhao@hotmail.com.br ainda. É difícil para mim, porque eu não sou formado em psicanálise nem em psicologia. Eu sou só atrevido mesmo. Então, me dá muito trabalho entender. No entanto, eu separei um conceito dele que, para mim, é decisivo: o hedonismo compulsório, esse imperativo do prazer. O que eu quero dizer com isso? Então, vamos começar! A VENDA DA FELICIDADE Vivemos a obrigação de ser feliz, de curtir tudo ao máximo, de aproveitar a vida na mais profunda sensação de alegria que possa existir. Isso é tão forte que a publicidade só trabalha hoje em cima desse conceito. Afinal de contas, é uma Coca-Cola fazendo slogan com “beba felicidade”, as marcas de carros vendendo a ideia de satisfação, nas empresas de moda trabalhando o valor da beleza e a sensualidade sendo a matriz para trazer a felicidade. Hoje compramos comida com foco na felicidade que ela possa proporcionar. Portanto, a nossa vida hoje se converteu em uma busca insana e descontrolada por nos sentirmos felizes, contentes, por Licensed to Jose Adriano Leite mergulhao - Adrianomergulhao@hotmail.com.br sentirmos satisfação com a existência. Todo o amplo espectro de emoções e sentimentos que fazem parte da existência humana foram convertidos nessa vidinha cor-de-rosa que perseguimos pautada só em felicidade. A felicidade se tornou, praticamente, o único sentimento válido e aceitável para viver. Por isso, você vê a grande quantidade de produtos lícitos e ilícitos para vender a ideia de felicidade, para trazer a felicidade da Geração Prozac. Prozac é, praticamente, o primeiro antidepressivo popular na história do país e, de fato, foi vendido como a pílula da felicidade (até hoje é). Doces, condimentos, fast-foods e o hiperconsumismo que marca a formação dessa sociedade vendem a felicidade. Além disso, a quantidade desenfreada de álcool, que as pessoas consomem nas festas, nas baladas, nos bares e dentro de casa vende essa felicidade. Aliás, é surpreendente como as pessoas gostam de falar que estão tribêbadas e acham isso maravilhoso. Nós criamos uma cultura em que entorpecer para alcançar esse nirvana da felicidade é válido, bonito e incentivado. Da mesma forma que nós temos uma quantidade demasiada de substâncias químicas para produzir essa felicidade artificialmente. Sua vida está uma ruína, está custando a você juntar os cacos para acordar de manhã, então você decide recorrer a qualquer substância. Licensed to Jose Adriano Leite mergulhao - Adrianomergulhao@hotmail.com.br Sem mencionar as inúmeras substâncias ilícitas que algumas pessoas usam tentando alcançar essa felicidade. Nós nos sentimos devastados quando qualquer outro sentimento faz parte da nossa vida. Não suportamos estar um pouco mais introspectivos, melancólicos, nervosos ou agitados. Nada disso é aceito como normal, mas sim patológico. Então, nós, praticamente, transformamos a diversidade dos sentimentos e das emoções humanas em patologia e colocamos como saúde só a felicidade. Dessa forma, criamos uma culpa todas as vezes que essa felicidade não é sentida, porque precisamos ser felizes, gratos (geração gratiluz). Nós precisamos aproveitar a vida ao máximo que ela pode proporcionar. É a geração beat sobre a qual Jack Kerouac escreveu na obra “On the Road”. JUVENTUDE E REDES SOCIAIS Nós criamos a imposição de esgotar todos os recursos que a vida possa oferecer para produzir essa sensação de felicidade. Nós precisamos ser jovens para sempre, porque jovens são felizes, conseguem aproveitar a vida na sua intensidade, suportam tudo. Nós não sabemos aonde nós queremos chegar, não queremos reproduzir o que o passado nos trouxe, mas queremos criar um momento de êxtase e felicidade profunda agora. Faz sentido para você? Licensed to Jose Adriano Leite mergulhao - Adrianomergulhao@hotmail.com.br Hoje toda a construção do mercado e dos valores associados estão dentro disso. Não só a moda, o automobilismo e a indústria alimentícia, mas outros vieses também, como o mercado hoteleiro, a dinâmica das viagens, a grande profusão de festas vendidas por toda parte ou o megamercado hiperpotente das redes sociais. As redes sociais estão sendo criadas para transferir para as pessoas essa sensação de felicidade e para divulgar a felicidade como padrão dos seus produtores de conteúdo. Afinal, produtor de conteúdo bom, de sucesso, é influencer, instagrammer e TiKToker. O símbolo de alguém feliz é aquele que faz você rir, que te faz viajar, que te faz sonhar. É preciso haver a atmosfera da felicidade e do prazer. Isso, obviamente, cria patologias pavorosas não só pelo nível estratosférico de drogadição em que nós estamos, pela dependência desses recursos que criam artificialmente essa sensação de felicidade, mas também pela forma como a nossa saúde mental desmorona. Não damos conta de tudo, mas tentamos criar esse personagem que vive feliz o tempo todo, que está sorrindo para as paredes, que está grato e contente por tudo, que simula a vida perfeita e vende nas redes sociais essa imagem, que gasta tudo que ganha, que Licensed to Jose Adriano Leite mergulhao - Adrianomergulhao@hotmail.com.br bebe tudo que consegue beber. Tentamos, mas isso aos poucos vai minando as nossas resistências. Chega ao ponto em que, obviamente, o conto de fadas entra em ruína. Sabemos que essa queda por uma busca de felicidade a qualquer custo tem o seu preço e nós estamos pagando esse preço. A depressão e a ansiedade são consideradas os maiores males deste milênio (começado com o pé esquerdo). Nós estamos começando o milênio e acabando com o mundo, pelo que parece, estamosdestruindo a civilização, mas, de toda forma, boa parte disso se deve a essa necessidade incontrolável de demonstrar felicidade, de viver essa sensação de “como eu sou uma pessoa feliz” e vender a ideia, a imagem, o vídeo. OBRIGATORIEDADE DO “SIM” Comprar, comprar, injetar produtos na cara, congelar sorrisos. Boa parte dessa questão, segundo o próprio Lacan, nasce com o fim da Guerra Fria, com a queda do muro de Berlim, que também acaba com boa parte das instituições e dos valores da época (ou de todas as épocas). Começou-se um grande questionamento sobre o que é sociedade, sobre o que é valor e, naquele momento, em que o “não” estava proibido, já que os tabus, as grades e as imposições do Velho Mundo também estavam em ruínas, era a vez de dizer “sim”. É proibido proibir, geração Coca-Cola. No momento em que emissões caem, cria-se uma obrigação do prazer, cria-se a obrigação do “sim”, de viver tudo ao máximo, de aproveitar o mundo que, até então, era proibido. Licensed to Jose Adriano Leite mergulhao - Adrianomergulhao@hotmail.com.br Dessa forma, começam as revoluções sexuais, o universo do consumo, o movimento hippie, os festivais de rock, o Woodstock - marcante e que determina a ação de uma era - o rock- and-roll e assim começa essa loucura de vida que estamos experimentando até agora. Todos nós estamos meio perdidos, porque a única aprendizagem foi “você precisa ser feliz e você precisa disso agora”. Entretanto, não estamos felizes e não conseguimos isso agora. BUSCAS PELA FELICIDADE Escolhemos a profissão pensando em ser feliz, só que profissão não faz ninguém feliz, profissão paga as contas. Você cansa e já vem a frustração. Você procura relacionamento para ser feliz, mas relacionamento é complicado, convivência é difícil e nem sempre é feliz. Você pensa o corpo e a sexualidade para ser feliz, mas nem sempre o seu corpo corresponde aos padrões de felicidade que são vendidos pelas vitrines, nem sempre a sua sexualidade é vivida com a intensidade que mostram os filmes de romance e vem a frustração. Você vê a imagem de felicidade nos comerciais de margarina ou Coca-Cola, mas não consegue ter isso. Licensed to Jose Adriano Leite mergulhao - Adrianomergulhao@hotmail.com.br Nenhum de nós tem essa felicidade. Você não compra um carro e se sente uma pessoa automaticamente poderosa. Pelo contrário, você está acumulando dívida, já que carro dá despesa. Então, você nunca tem o bastante. Você nunca é bonito o bastante, nunca é magro o bastante, nunca é sensual o bastante, nunca é bem- sucedido o bastante, nunca é famoso o bastante. Você nunca é nada o bastante, você nunca é feliz o bastante. Então, esse imperativo do prazer e da felicidade nos distancia cada vez mais de sermos realmente felizes e de estarmos satisfeitos, uma vez que nós trocamos o contentamento pela felicidade extrema e é mais complicado alcançá-la. Da mesma forma que nós eliminamos o passado e o futuro, nós não queremos os tabus e as imposições do Velho Mundo, os valores antigos, e nós não sabemos exatamente o que queremos para o futuro nesse turbilhão de felicidade a qualquer custo. É o que Jack Kerouac discute em sua obra e que é marcante também na obra “On the Road”. Nas outras obras dele também está bastante claro seu posicionamento. O que você vai ser na vida? Só feliz? Basta? E a felicidade que você tem é a felicidade com a qual você sonhou? Sempre temos sonhos muito maiores do que a capacidade de realização. Licensed to Jose Adriano Leite mergulhao - Adrianomergulhao@hotmail.com.br Então, com esse imperativo do prazer, cria-se uma lógica de vícios, de excessos, de frustrações, de adoecimentos e de mais tristeza. Por mais paradoxal que seja. É um dos hedonismos mais tóxicos do mundo. Cria-se essa positividade tóxica que tem sido tema de praticamente tudo o que nós encontramos pela frente. Cria-se esse bando de charlatões, de coachings e psicólogos de Facebook achando que eles têm a fórmula da felicidade para vender para nós (e não tem). A felicidade não é a vida, esse é o segredo. Será que a outra pílula que ofereceram para o Neo em “Matrix” revelava isso? Fico pensando que talvez fosse, não é? Uma das pílulas levaria você de uma realidade para outra e te contaria o que felicidade é essa. O mundo real da Matrix é esse, a vida não é feita de felicidade e ambições mesquinhas. O mundo é mais profundo que isso. Maiakovski, poeta russo extraordinário, tem um poema em que o verso diz: “No mundo e na vida existem mais coisas do que a pobre da felicidade” Licensed to Jose Adriano Leite mergulhao - Adrianomergulhao@hotmail.com.br Existem mais coisas do que felicidade. Com certeza, mas não conseguimos enxergar isso, tudo precisa se traduzir em felicidade e, assim, entramos nessa onda da felicidade do açúcar e o açúcar tem efeito efêmero, não é? O açúcar dura pouco. Você come um chocolate, vem o êxtase e, dentro de cinco minutos, já está triste de novo. É essa felicidade de açúcar que o consumo te oferece, que as baladas te oferecem, que os reels fazendo dancinhas te oferecem. E não é a vida. Então, avalia se Lacan estava viajando muito ou, na verdade, estava em uma onda profética enxergando a vida no século XXI. Eu fico assustado, porque nós somos isso e não está tudo bem. Licensed to Jose Adriano Leite mergulhao - Adrianomergulhao@hotmail.com.br Eu quero ver você falando sobre Lacan e o imperativo do prazer nas suas redações, sobre como isso detona a saúde mental, sobre a criação dessa positividade tóxica e esses excessos do mundo contemporâneo. Combinado? Use Lacan, estude Lacan, entenda Lacan! Abraço! Prof. Ari Licensed to Jose Adriano Leite mergulhao - Adrianomergulhao@hotmail.com.br