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CBI of Miami 1 CBI of Miami 2 DIREITOS AUTORAIS Esse material está protegido por leis de direitos autorais. Todos os direitos sobre ele estão reservados. Você não tem permissão para vender, distribuir gratuitamente, ou copiar e reproduzir integral ou parcialmente esse conteúdo em sites, blogs, jornais ou quaisquer veículos de distribuição e mídia. Qualquer tipo de violação dos direitos autorais estará sujeito a ações legais. CBI of Miami 3 Reforço e Punição Lucelmo Lacerda Reforço Já falamos bastante sobre contingência, o conceito fundamental da Análise do Comportamento. A contingência é composta pelo estímulo ambiental S, pela ação propriamente dita do sujeito, a resposta R e pela consequência C. Se o comportamento está presente no repertório do sujeito, isto é, se está entre as coisas que a pessoa faz, então podemos dizer com certeza que esta consequência é, muitas vezes, de um tipo específico a que chamamos de “reforçadora”. Mas quando dizemos que uma consequência é reforçadora, não estamos falando se ela é boa ou ruim, se ela é bonita ou feia. Ou seja, quando falamos que um certo estímulo é reforçador, não estamos falando sobre como ele parece, sua forma, ou, como dizemos em Análise do Comportamento, sua TOPOGRAFIA. Quando afirmamos que um certo estímulo é reforçador, é uma afirmativa matemática, é porque ele teve um efeito de aumentar a probabilidade de uma resposta. Imagine uma criança que limpa sua casa uma vez por semana. Então um belo dia sua mãe decide fazer o seguinte, quando ele limpa a casa ela fica conversando com ele por uma hora, mesmo que ela não fale nada sobre a casa, só conversa sobre coisas interessantes. Ela não faz isso só desta vez, mas torna isso uma constante. Este menino então passa a limpar sua casa não uma, mas três vezes por semana. Então podemos dizer que a resposta de limpar a casa aumentou de probabilidade de ocorrência quando passou a ser consequenciado com a conversa da mãe. Então podemos dizer que a conversa com a mãe foi um estímulo reforçador para o comportamento do menino de limpar a casa. Por outro lado, vamos imaginar que o comportamento do menino não tivesse se alterado, então a conversa, mesmo bonita, mesmo bacana, mesmo que ele relatasse que amasse a conversa, não poderia ser considerada como reforçadora e sim neutra. E ainda se o comportamento tivesse diminuído para CBI of Miami 4 somente uma limpeza a cada 2 semanas, então poderíamos dizer que a consequência teria sido punitiva. Então reforçamento não é algo bom, não é recompensa, é uma consequência que aumenta a probabilidade da resposta. Qual a diferença de uma recompensa? Em todos os casos exemplificados acima, a mãe pode caracterizar como recompensa a seu filho. No entanto, em 2 das 3 hipóteses apresentadas está “recompensa” não aumentou a probabilidade da resposta, portanto, não poderia ser considerada como “reforçadora”. Este princípio foi bem demonstrado, primeiramente, em laboratório, aumento a probabilidade de animais como pombos e ratos, de emitirem certos comportamentos que, sem estímulos como comida logo após as respostas selecionadas, jamais emitiriam estes comportamentos como ratos jogando basquete e pombos jogando tênis. O reforço é, portanto, o aumento de probabilidade de uma resposta através de uma consequência. O estímulo que, quando consequência uma resposta, produz este reforço pode ser chamado de “reforçador”. O estímulo, no entanto, ocorre sempre após uma certa resposta e, claro, não pode alterar a resposta que já passou e sim a probabilidade de sua ocorrência no futuro. Assim, é sempre fundamental o conhecimento da história de interação de uma pessoa, pois são as consequências do comportamento que determinam sua ocorrência no futuro. O organismo se comporta, portanto, a partir das relações estabelecidas entre si (como organismo particular) e o ambiente individual de interação do sujeito e a cultura em que ele se insere. Punição Punição é uma palavra bem conhecida de todos nós e se perguntarmos a qualquer pessoa ela dirá que punição é uma surra, uma bronca, algo sim. Ela poderia dizer também que é uma consequência ruim para um comportamento. O problema desta definição é que ela se baseia na forma da consequência e não no efeito sobre o sujeito que se comporta. Primeiramente vamos nos lembrar daquele conceito trabalhado até aqui, o de contingência, que é uma relação entre três coisas, os estímulos antecedentes, o ambiente em que o comportamento ocorre (S), a resposta CBI of Miami 5 emitida pelo sujeito que se comporta, que é especificamente a ação, o ato que estamos analisando (R) e, claro, a consequência, que é o reforçador que mantém aquele comportamento ocorrendo. No entanto, existe um outro tipo de consequência, muito diferente, e que não mantém a resposta ocorrendo, pelo contrário, diminui sua probabilidade. Isto é que é a Punição em Análise do Comportamento Aplicada, uma consequência que diminui a probabilidade de uma resposta voltar a ser emitida. Vamos a um exemplo, Joãozinho joga uma pedra na cabeça da vizinha, a mãe vê e dá-lhe uma bela surra, com direito a cintadas e vergalhões. Qualquer pessoa em sã consciência diria que esta surra foi uma punição, já que ele ficou visivelmente marcado pelas intenções da mãe. O Analista do Comportamento, por sua vez, dirá: “parece uma punição, mas para eu realmente saber se é, preciso ver quantas vezes ele jogava pedra na vizinha antes da surra e quantas vezes ele fará o mesmo após”. Entendeu a diferença? Não basta uma consequência parecer punitiva, é preciso que ela realmente faça o comportamento diminuir de frequência. Vamos a outro exemplo clássico, na sala de aula temos um aluno chamado Gabriel (pura invenção, nenhuma semelhança com a realidade) e ele é uma peste, fala alto e dificulta o trabalho dos professores. Uma professora fica em pé e diz “Gabriel, de novo isso, você todo dia atrapalha aula, não é civilizado para estar em um grupo .............” e o tira da sala, a Coordenadora dá um xingo semelhante e a Diretora também, além de passar uma advertência. Gabriel, no dia seguinte, faz a mesma coisa em sala de aula. Eu pergunto, essas broncas têm toda a forma de serem punitivas, se você estivesse em uma sala de aula de uma pós-graduação e ocorresse isso com vocês, provavelmente seriam punitivas, MAS, PARA GABRIEL, estas broncas foram punitivas? Não, não foram. E se não foram punitivas, foram o que? Foram reforçadoras. As broncas atuaram como Reforço Positivo (tem gente que agora pensou assim “agora não entendo mais nada, bronca não é uma coisa positiva”). Basta vocês lembrarem que Reforço Positivo não é quando se reforça algo bom, nem quando algo bom é a consequência do comportamento, a Análise do Comportamento, como ciência, não classifica as coisas como CBI of Miami 6 boas ou ruins, já que esses juízos de valor variam entre pessoas. O Reforço Positivo é uma consequência, tenha ela qualquer forma que seja, que aumenta a probabilidade de uma certa resposta voltar a ocorrer no futuro. Se o Gabriel “bagunça” na sala e após uma bronca ele volta a fazê-lo é porque a bronca foi reforçadora. Casos como este de Gabriel apareceram inúmeras vezes em pesquisas e eram comportamentos cuja consequência reforçadora era a atenção disponibilizada a ele sempre que ele fazia comportamentosinadequados. Você poderia dizer que não é um bom tipo de atenção, mas para essas crianças analisadas, era uma atenção fundamental, provavelmente porque lhes faltava atenção em casa. Assim, para Gabriel, talvez outra consequência pudesse fazer seu comportamento de bagunça diminuir de probabilidade, mas não a bronca. Esta outra coisa, fosse qual fosse, seria uma punição. Vamos pensar, imagine que Gabriel bagunçasse a valer e a professora simplesmente fosse até ele e dissesse que ele era ótimo e então ele passasse a ficar mais tempo sentado, fazendo a lição. Então neste caso, esta consequência tão bonitinha seria punidora dos comportamentos de “indisciplina”.