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AULA 3 AUDITORIA DE RISCOS Prof. Denis Pereira Martins 2 INTRODUÇÃO A gestão de riscos é uma prática essencial em todas as organizações, independentemente do seu porte ou setor. Quando falta, pode acarretar consequências graves, incluindo perdas financeiras, danos à reputação e violações legais e regulatórias. Assim, as auditorias de conformidade legal, normativa e financeira têm se tornado cada vez mais importantes para garantir que as organizações possam gerir os riscos de maneira adequada. A fim de estabelecer uma estrutura clara para a gestão de risco, diversas normas foram desenvolvidas para orientar as organizações em sua implementação. A chamada Norma de Gestão de Risco da Ferma e a Norma de Gestão de Riscos AS/NZS n. 4360 servem para estabelecer um processo de gestão de risco com etapas claras, desde a identificação até a monitorização contínua dos riscos, ajudando as organizações a melhorar a sua capacidade de identificar e gerir riscos, reduzindo custos operacionais e melhorando a imagem da organização com as partes interessadas. Nesta etapa, vamos estudar auditorias de conformidade legal, normativa e financeira com risco, norma de gestão de risco da Ferma, norma de Gestão de Riscos AS/NZS n. 4360, tipos de riscos que afetam e ameaçam um modelo de negócio e a importância da gestão de risco em sua implementação. Bom estudo! TEMA 1 – AUDITORIAS DE CONFORMIDADE LEGAL, NORMATIVA E FINANCEIRA COM RISCO As auditorias de conformidade legal, normativa e financeira são importantes para que as organizações garantam a sua conformidade com as leis e regulamentos aplicáveis ao seu setor. Elas são conduzidas para avaliar a adequação dos controles internos da empresa e identificar riscos que possam afetar a conformidade da organização. Uma auditoria de conformidade legal busca garantir que a empresa esteja cumprindo todas as leis e regulamentos relevantes em sua jurisdição, o que inclui leis trabalhistas, leis ambientais, leis fiscais e outras leis aplicáveis ao setor em que a empresa opera, avaliando a adequação das políticas e os procedimentos da empresa em relação à conformidade legal. Também verifica se essas políticas estão sendo seguidas adequadamente pelos funcionários (Gil, 2000). 3 A auditoria de conformidade normativa, por outro lado, busca garantir que a empresa esteja cumprindo as normas internas e os padrões estabelecidos pela empresa ou pela indústria. Isso pode incluir políticas e procedimentos internos, bem como normas e padrões estabelecidos pela indústria, como as normas ISO. Por fim, a auditoria de conformidade financeira deve garantir que a empresa esteja cumprindo todas as leis e os regulamentos financeiros aplicáveis ao setor. Pode incluir leis de contabilidade, leis tributárias e leis de relatórios financeiro, avaliando a adequação das políticas e dos procedimentos financeiros e verificando se estão sendo seguidos adequadamente. Em relação aos riscos associados às auditorias de conformidade, é importante ressaltar que a não conformidade com as leis e os regulamentos aplicáveis pode acarretar multas, penalidades e até processos legais. Além disso, a não conformidade pode prejudicar a reputação e afetar os negócios negativamente (Crepaldi, 2013). Portanto, é essencial que as empresas realizem auditorias de conformidade regularmente, para identificar e corrigir quaisquer problemas antes que se tornem uma ameaça para a empresa. É importante que as auditorias sejam conduzidas por auditores independentes e experientes, para que possam fornecer uma avaliação imparcial da conformidade da empresa. A área de auditoria é responsável por proteger os interesses empresariais, através da verificação da eficácia e da eficiência dos processos internos e das transações do patrimônio das entidades, sendo essencial para fornecer suporte à tomada de decisões e para garantir a conformidade com as leis e os regulamentos aplicáveis (Gil, 2000). Com o passar dos anos, o mercado de auditoria tem experimentado um crescimento constante, impulsionado por uma série de fatores, entre os quais destacamos a necessidade crescente de transparência, a globalização dos mercados, a complexidade crescente das operações empresariais e a sofisticação dos objetivos da auditoria. Como resultado, os campos de atuação da auditoria se expandiram, incluindo áreas como auditoria ambiental, auditoria de governança corporativa e auditoria de tecnologia da informação (Oliveira, 2014). No século XVII, embora não fossem conhecidos como auditores, alguns contadores já realizavam atividades de verificação das contas, além das rotinas habituais de contabilidade. Com o crescimento do capitalismo a partir de 1900, e a decorrente expansão dos mercados, as empresas começaram a buscar 4 investimentos externos, o que levou ao surgimento de novas demandas e à institucionalização da profissão de auditoria, tanto interna quanto externa (Auditoria..., 2016). Com o aumento da complexidade das operações empresariais, a auditoria tornou-se cada vez mais importante. A auditoria interna foi criada para apoiar os administradores na otimização dos processos e, consequentemente, melhorar os resultados. Já a externa surgiu para atender às necessidades dos investidores e fornecer uma avaliação independente da conformidade legal e financeira das empresas. Com a evolução dos objetivos da auditoria, surgiram novas áreas de atuação. A profissão de auditoria interna remonta, no Brasil, a 1949, mas foi somente com a criação do Instituto dos Auditores internos do Brasil, por volta de 1960, que a profissão começou a ganhar força no país. Com a difusão da importância dessa profissão, as empresas passaram a compreender os seus benefícios, independentemente de seu tamanho ou localização no país. Outro fator relevante para a consolidação da profissão de auditoria no Brasil foi a homologação da Lei n. 6.404/1976, que determinou que as demonstrações financeiras das companhias abertas fossem obrigatoriamente submetidas a avaliação por auditores independentes registrados na Comissão de Valores Mobiliários – CVM (Auditoria..., 2016). Atualmente, as chamadas Big-Four, que são as quatro principais empresas de auditoria do mundo, dominam o mercado brasileiro: EY – Ernest Youg, PwC – Price Waterhouse Coopers, KPMG e Deloitte. A contratação de empresas de auditoria externa é uma opção para todas as empresas que desejam verificar a sua situação econômica e financeira e obter outros serviços. No entanto, essa prática é obrigatória para as empresas com ações negociadas na bolsa de valores, aspecto normativo que contribuiu para o desenvolvimento da profissão. A auditoria contábil é responsável por averiguar as principais áreas financeiras da empresa, como o imobilizado, o caixa e outros ativos e passivos relevantes. Com base nessas informações, é possível emitir um parecer sobre a veracidade dos dados contábeis, sendo importante destacar que a análise não deve se limitar a uma área financeira, mas considerar também as demais áreas e controles-chave da empresa. 5 A auditoria interna pode ser dividida em subáreas. Encontramos aqui maior liberdade para transitar entre as diversas áreas, a fim de avaliar os processos internos e identificar possíveis melhorias. A auditoria interna é realizada para atender às necessidades da administração da empresa, diferentemente da auditoria contábil, que tem o objetivo de atender aos interesses dos acionistas e financiadores. Embora a auditoria não tenha como finalidade principal a identificação de fraudes e erros operacionais, ela pode evidenciar essas ocorrências de forma estruturada, caso sejam identificadas durante o trabalho. Ambas as auditorias, tanto a interna quanto a externa, buscam analisar tecnicamenteos dados das empresas auditadas, para emitir um parecer sobre as informações, buscando também a recomendação de ações de correção e melhoria (Oliveira, 2014). As vantagens de um trabalho de auditoria são diversas, incluindo a identificação de fraudes, que é uma das funções mais conhecidas mesmo por quem não atua diretamente na área. É importante destacar que, embora a auditoria não tenha como finalidade principal identificar fraudes, ela pode ser útil para identificar essas ocorrências e prevenir problemas futuros. Segundo Gil (2000), a auditoria realizada por empresas independentes é uma exigência legal para as empresas de capital aberto. No entanto, o seu principal objetivo não é habilitá-la para operar no mercado de ações, mas sim fornecer aos acionistas uma opinião transparente e independente sobre a situação econômico-financeira da empresa. Esse processo contribui para aumentar a credibilidade dos números apresentados, agregando valor, com contribuição ampla. A auditoria está centrada na confiabilidade de informações e processos, tendo como principal vantagem a oferta de opiniões, orientações e sugestões de aprimoramento por parte do auditor, considerando o escopo de seu trabalho. Além disso, enquanto a auditoria contábil atende os interesses de acionistas e financiadores, a auditoria interna visa atender às necessidades da administração da empresa. Ela pode, em alguns casos, avaliar a qualidade dos produtos da empresa, com o objetivo de contribuir para a melhoria contínua desses itens. Porém, a recomendação de criação de controles não é obrigatória no processo, uma vez que a empresa auditada pode apresentar controles satisfatórios que atendem às demandas do negócio. 6 TEMA 2 – NORMA DE GESTÃO DE RISCO DA FERMA A Ferma – Federação Europeia de Associações de Gestão de Riscos tem o objetivo de auxiliar as instituições a gerenciar riscos com maior eficácia. A seriedade da proposta é evidente pela sua colaboração com diversas organizações de gestão de risco para o desenvolvimento de normas mais inteligentes. O alvo dessa colaboração é a melhoria da terminologia usada na gestão de riscos, dos processos para aplicação de iniciativas de gestão e da estrutura organizacional necessária para gerenciar os riscos com sucesso, entre outros aspectos (Ferma, 2003). De maneira geral, a criação de um padrão reconhecido universalmente é sempre benéfica para ampliar o entendimento e a aplicação do conhecimento sobre um tema. No caso da gestão de riscos, isso significa equipar as instituições para o trabalho com riscos mais controlados. A Norma de Gestão de Risco da Ferma é um documento que define os padrões para a gestão de risco empresarial, estabelecendo um processo sistemático para identificar, avaliar e mitigar os riscos que uma organização poderá enfrentar. Através da implementação da Norma de Gestão de Risco da Ferma, as organizações podem melhorar a sua capacidade de gerir riscos e tomar decisões baseadas em informações. A Norma de Gestão de Risco da Ferma é baseada em princípios sólidos de gestão de risco, que incluem a adoção de uma abordagem proativa para identificar e avaliar riscos e a criação de um sistema de gestão eficaz e integrado com todos os níveis da organização. Ao seguir essas diretrizes, as organizações podem melhorar a sua capacidade de prever e gerir riscos, e assim reduzir os impactos negativos sobre a operação (Melo, 2014). Em última análise, a implementação da Norma de Gestão de Risco da Ferma pode ajudar as organizações a atingir os seus objetivos estratégicos, garantindo o seu sucesso no longo prazo. A Norma de Gestão de Risco da Ferma também estabelece uma estrutura para a comunicação e o reporte de riscos dentro da organização, permitindo que as partes interessadas, tanto internas quanto externas, tenham uma compreensão clara dos riscos enfrentados pela organização, bem como das medidas que estão sendo tomadas para geri-los. Além disso, a norma incentiva a monitorização e a revisão contínuas do sistema de gestão de risco, a fim de garantir que as 7 abordagens e os processos utilizados estejam alinhados com as mudanças nas circunstâncias de risco da organização (Malacrida; Yamamoto, 2006). A implementação da Norma de Gestão de Risco da Ferma pode trazer vários benefícios para uma organização. Entre eles, podemos destacar a redução do impacto negativo dos riscos na operação, a melhoria da tomada de decisões informadas, a redução dos custos operacionais e a melhoria da imagem da organização para as partes interessadas. Além disso, a adoção da norma ajuda a criar uma cultura de gestão de risco dentro da organização, o que pode levar a uma abordagem mais proativa para lidar com situações e melhorar a resiliência organizacional. A Federation of European Risk Management Associations (Ferma) publicou o guia “Risk Management Standard”, resultado do esforço conjunto de diversas entidades europeias, com o intuito de promover o uso da gestão de riscos pelas organizações, incluindo o setor público (Ferma, 2003). As boas práticas de gestão de riscos apresentadas no guia são semelhantes às prescritas por outros modelos, aumentando as probabilidades de sucesso no alcance dos objetivos. A gestão de riscos deve ser integrada à cultura da organização, com uma política efetiva direcionada pela alta administração, estabelecendo critérios contra os quais os riscos são comparados e estabelecendo uma separação clara de responsabilidades entre gestores, funções de apoio à governança e gestão dos riscos e auditoria interna. TEMA 3 – NORMA DE GESTÃO DE RISCOS AS/NZS N. 4360 O governo australiano estabeleceu uma política geral para a gestão de riscos, chamada de Commonwealth Risk Management Policy do Australian Government Department. Essa política faz parte dos esforços para melhorar os níveis de responsabilidade de órgãos e entidades governamentais, considerando objetivos, riscos e controles internos. O principal objetivo dessa política é incorporar a gestão de riscos à cultura das instituições governamentais, de modo que o entendimento compartilhado sobre riscos leve a tomadas de decisão bem-informadas. É importante notar que a Commonwealth Risk Management Policy do Australian Government Department não é de aplicação obrigatória. Ainda assim, é altamente recomendado que cada organização governamental revise e alinhe a sua estrutura de gestão de riscos com o modelo descrito no documento. 8 Esse modelo se baseia na norma técnica ISO 31000/2009. Ele traz nove elementos-chave: instituir uma política de gestão de riscos; estabelecer um framework para a gestão de riscos; definir as responsabilidades pela gestão de riscos; incorporar a gestão de riscos sistemática nos processos de negócio; desenvolver uma cultura de riscos; comunicar e consultar fatores sobre o risco; compreender e gerir o risco partilhado; manter a capacidade de gestão de riscos; e rever e melhorar continuamente a gestão de riscos. A Norma de Gestão de Riscos AS/NZS n. 4360 é um documento que estabelece as diretrizes para a gestão de risco em organizações australianas, sendo baseada em cinco etapas. Ela inclui identificação de riscos, avaliação de riscos, tratamento de riscos, monitoramento e revisão do processo de gestão de riscos. A implementação da Norma AS/NZS n. 4360 pode ajudar as organizações a identificar e gerir riscos, bem como melhorar a tomada de decisões informadas, A primeira etapa do processo de gestão de risco estabelecido pela Norma AS/NZS 4360 é a identificação de riscos, que envolve a identificação de todos os riscos que a organização pode enfrentar em suas operações. Uma vez identificados, a próxima etapa é a avaliação dos riscos, que envolve a análise de sua probabilidade de ocorrência e do seu impacto potencial. Essa avaliação permite que a organização priorize os riscosque demandam maior atenção e recursos. Posteriormente, na terceira etapa do processo de gestão de risco, temos o tratamento dos riscos, que contempla a implementação de medidas para gerir os riscos identificados, com o objetivo de reduzir a sua probabilidade de ocorrência ou minimizar o impacto potencial. Essas medidas podem incluir a transferência do risco para terceiros e a aceitação ou a implementação de medidas de mitigação para reduzir a probabilidade de ocorrência ou minimizar o impacto. A quarta etapa do processo de gestão de risco é a monitorização contínua dos riscos identificados e das medidas implementadas para geri-los, permitindo que a organização identifique se as medidas implementadas estão sendo eficazes e se os riscos identificados ainda são relevantes. Por fim, a quinta etapa de gestão de risco é a revisão do processo, buscando melhorias contínuas e garantindo que ele esteja alinhado com as necessidades da organização, em constante mudança. A implementação da Norma AS/NZS 4360 pode trazer vários benefícios para uma organização, incluindo a melhoria da capacidade da organização para identificar e gerir riscos, a melhoria da tomada de decisões informadas, a redução 9 dos custos operacionais e a melhoria da imagem da organização para as partes interessadas. Além disso, a implementação da norma pode ajudar a criar uma cultura de gestão de risco dentro da organização, o que pode levar a uma abordagem mais proativa e melhorar a resiliência organizacional. TEMA 4 – ISO 31000: NORMA INTERNACIONAL DE GESTÃO DE RISCO Em 2009, a ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, uma organização privada e sem fins lucrativos, responsável por padronizar técnicas de produção no país, lançou a ABNT NBR ISO 31000. Esse documento oferece diretrizes genéricas para a gestão formal de riscos, que podem ser adaptadas a diversos contextos organizacionais e aplicadas a qualquer tipo de risco. O objetivo principal é fornecer um guia de referência para a vida útil da organização, orientando a estruturação de estratégias, decisões, processos e outras atividades, sempre levando em consideração as particularidades de cada organização (Rosa; Toledo, 2015). A ISO 31000 foi criada com o objetivo de padronizar a terminologia e os conceitos usados na gestão de riscos pelas organizações. Ela se baseia na primeira norma mundial a tratar de gestão de riscos empresariais, a Norma AS NZS n. 4.360/2004, tendo o propósito de atender às necessidades de uma ampla gama de partes interessadas, a fim de garantir uma gestão adequada dos riscos. A norma ISO 31000 define diversos termos relevantes. Por exemplo, o risco é definido como efeito da incerteza nos objetivos. Abarca atividades coordenadas para dirigir e controlar uma organização considerando o risco. A sua estrutura é definida como um conjunto de componentes que fornecem os fundamentos e os arranjos organizacionais de concepção, implementação, monitoramento, análise crítica e melhoria contínua da gestão de riscos em toda a organização. A política de gestão de riscos traz uma descrição dos objetivos e princípios gerais de uma organização em relação à gestão de riscos, considerando ainda a postura diante do risco e a maneira como a organização avalia e decide lidar com eles, seja buscando-os, mantendo-os, assumindo-os ou evitando-os. O apetite pelo risco descreve o tipo e a quantidade de riscos que a organização está disposta a assumir ou manter (Rosa; Toledo, 2015). Por outro lado, a aversão ao risco é a atitude de evitá-los. O plano de gestão de riscos descreve a estrutura e os componentes de gestão da organização, 10 incluindo os recursos a serem aplicados para gerenciá-los. O proprietário do risco é a pessoa ou entidade responsável por gerenciá-lo. O processo de gerenciamento de riscos envolve a implementação de políticas, procedimentos e práticas de gestão de riscos para as atividades de comunicação, consulta, estabelecimento de contexto, identificação, análise, avaliação, tratamento, monitoramento e análise crítica. O estabelecimento do contexto refere-se à definição dos parâmetros externos e internos relevantes para o gerenciamento de riscos, bem como ao estabelecimento do escopo e dos critérios para a política de gerenciamento. Trata- se de uma abordagem sistemática para lidar com os riscos que podem afetar o sucesso de uma organização. Segundo Rosa e Toledo (2015), o ambiente externo é composto pelos fatores externos que impactam os objetivos da organização, enquanto o ambiente interno refere-se ao ambiente dentro da organização, onde são buscados os seus objetivos. A comunicação e a consulta são processos interativos contínuos que uma organização realiza para fornecer, compartilhar ou obter informações relacionadas ao gerenciamento de riscos. Uma parte interessada é uma pessoa ou organização que pode ser afetada, afetar ou perceber-se afetada por uma decisão ou atividade. O processo global de identificação de riscos, análise de riscos e avaliação dos riscos é conhecido como processo de avaliação de riscos. A identificação de riscos é o processo de busca, reconhecimento e descrição de riscos, alinhado com o contexto interno e externo da organização e com o perfil do risco, considerando fatores humanos e culturais. A gestão de riscos é transparente e inclusiva, com o envolvimento apropriado e oportuno de partes interessadas e dos tomadores de decisão em todos os níveis da organização. Ela é dinâmica, iterativa e capaz de reagir a mudanças. Ela facilita a melhoria contínua da organização. Convém que as organizações desenvolvam e implementem estratégias para aumentar a sua maturidade na gestão de riscos, abarcando ainda todos os demais aspectos da sua organização. A ISO 31000 busca fornecer orientações genéricas sobre a gestão de riscos, apresentando princípios importantes que devem ser adotados ou adaptados pelas organizações em todos os níveis, incluindo o planejamento estratégico e todos os processos de gestão de projetos e mudanças. 11 Um dos seus objetivos principais é contribuir para a realização dos objetivos da organização e para a melhoria do desempenho em vários aspectos, como segurança, saúde, conformidade legal e regulatória, aceitação pública, proteção do meio ambiente, qualidade do produto, eficiência nas operações, governança e reputação. A gestão de riscos é uma parte integrante de todos os processos organizacionais. Auxilia os tomadores de decisão a fazer escolhas conscientes, priorizar ações e distinguir entre formas alternativas de ação. Além disso, ela considera explicitamente a incerteza, sendo sistemática, estruturada e oportuna, com base nas melhores informações disponíveis. A gestão de riscos também é feita sob medida, alinhada com o contexto interno e externo da organização e com o perfil do risco. É importante reconhecer capacidades, percepções e intenções do pessoal interno e externo, que possam facilitar ou dificultar a realização dos objetivos da organização. O envolvimento apropriado e oportuno de partes interessadas (e, em particular, dos tomadores de decisão), em todos os níveis da organização, assegura que a gestão de riscos permaneça pertinente e atualizada. Por fim, a gestão de riscos é dinâmica, iterativa e capaz de reagir a mudanças, facilitando a melhoria contínua da organização. Assim, a ISO 31000 tem o objetivo principal de proporcionar subsídios concretos às organizações, para o desenvolvimento de planos de gestão de riscos adaptados à sua realidade. A gestão de riscos deve fazer parte da gestão da organização em todos os níveis e funções relevantes, sendo incorporada em sua cultura e em suas práticas. A estrutura do processo de gestão de riscos é baseada nas atividades descritas nos itens 5.2 a 5.6 da norma ISO 31000. A norma fornece princípios e orientações genéricas sobregestão de riscos, com o objetivo de fornecer subsídios concretos às organizações, para facilitar o desenvolvimento de planos adaptados à sua realidade. Para que a gestão de riscos seja eficaz, é importante que a organização considere a intenção de comunicar e consultar, de maneira clara e explícita. Essa comunicação deve ocorrer em todas as fases do processo, desde o estabelecimento dos critérios de risco até as etapas de identificação, avaliação e tratamento dos riscos, considerando a ocorrência de sinistros. É importante ainda realizar a consulta às partes interessadas, tanto internas como externas. Essa etapa é fundamental para o sucesso do processo. 12 Além disso, é necessário que a organização disponha de técnicas e ferramentas adequadas de comunicação e consulta, como softwares que possam servir como plataforma de gestão do conhecimento. Ao projetar a estrutura do processo de gestão de riscos, é importante considerar e expressar, de forma explícita, tanto a intenção quanto os recursos disponíveis para garantir comunicação e consulta eficazes. Outro ponto é a definição dos critérios para a gestão de riscos. O escopo da gestão, além das áreas e dos setores envolvidos, devem ser divididos em contextos interno e externo. No contexto interno, serão considerados os seguintes aspectos: estrutura organizacional, responsabilidades, processos, sistemas de informação internos e diálogo e relações com as partes interessadas internas. No contexto externo, é preciso avaliar: ambiente legal, social, cultural, político, financeiro, tecnológico, econômico, entre outros, assim como a relação com as partes externas interessadas, a sua percepção e os seus valores. A avaliação de riscos é o processo de identificação, análise e avaliação de riscos. Na identificação, é crucial que a organização identifique as fontes de risco, as áreas de impacto, os eventos e as suas possíveis causas e consequências. Essa análise deve gerar uma lista de riscos que podem afetar a realização dos objetivos. É importante dedicar atenção e esforço a essa etapa, para identificar todos os riscos possíveis. Para melhorar esse processo continuamente, é comum que as organizações atualizem a lista com novas fontes de risco. Recomenda-se que pessoas com conhecimento adequado estejam envolvidas na fase de identificação dos riscos. TEMA 5 – ESTUDO PRÁTICO: COSO ERM FRAMEWORK PARA GERENCIAMENTO DE RISCOS O Coso, iniciativa independente de entidades profissionais contábeis e de auditoria dos Estados Unidos, foi criado em 1985 para estudar as causas das fraudes em relatórios financeiros e contábeis. A organização traz recomendações para empresas e auditores. Suas publicações e metodologia foram ajustadas ao longo do tempo, para acompanhar as mudanças e a evolução do cenário empresarial, com foco em gerenciamento de riscos corporativos, controles internos e fraudes. A missão do Coso é fornecer um pensamento de liderança para essas áreas, enquanto a sua visão é ser líder global em orientação para risco 13 e controle, permitindo boa governança organizacional, com redução de fraudes (Pereira, 2015). No início dos anos 2000, grandes escândalos corporativos deixaram claro que muitas organizações eram bem-sucedidas por conta de fraudes e da manipulação de informações financeiras, quadro que abalou a confiança dos investidores, sublinhando a necessidade de maior transparência e confiabilidade na preparação e divulgação de informações. Em 2002, foi aprovada a Lei Sarbanes-Oxley, com o objetivo de reformular e regulamentar o mercado de capitais, combatendo a manipulação de informações financeiras. As principais mudanças propostas repousavam sobre as regras de governança corporativa, buscando aumentar a responsabilidade dos executivos e responsáveis pela emissão e divulgação de relatórios financeiros, com ênfase no uso de controles internos mais rígidos. Diversos estudos foram realizados em resposta aos escândalos corporativos da época, buscando identificar as principais falhas nos controles das instituições. De acordo com Pereira (2015), os eventos do início dos anos 2000 evidenciaram a importância dos controles internos nas organizações. Estudos realizados pelo Coso identificaram os objetivos essenciais do negócio das empresas, definindo os controles internos e fornecendo critérios para avaliar e validar esses controles. O Coso Report, publicado em 1992, é um modelo integrado de controle interno que se tornou referência mundial para estudos e para a aplicação dos controles internos. O seu foco é identificar, detectar e reagir aos riscos de um negócio, destacando a relevância dos aspectos financeiros e a transparência nas demonstrações contábeis. Por isso, é também conhecido como Coso Contábil, sendo adequado para prestar contas da administração da entidade e aumentar a transparência para acionistas e sociedade. O modelo Coso II, ou Coso-ERM, publicado em 2004, estendeu o Coso I, com foco na gestão de riscos corporativos. Ele ampliou o alcance dos controles internos, prevendo ou prevenindo os riscos inerentes aos processos das organizações que poderiam impedir ou dificultar o alcance de seus objetivos. Esse modelo se tornou referência mundial, levando à uniformização das definições de controle interno. Ele também definiu componentes, objetivos e objetos do controle interno em um modelo integrado, delimitando os papéis e as responsabilidades da administração e estabelecendo padrões para a implementação e a validação dos controles internos. Com a sua publicação, o interesse das autoridades de 14 supervisão do mercado de capitais dos Estados Unidos foi confirmado, incluindo a Securities and Exchange Commission (SEC) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) norte-americana. Imagine que você é um consultor de governança corporativa e foi contratado por uma empresa de grande porte para revisar e avaliar os seus controles internos. A empresa está preocupada com a possibilidade de fraudes e de manipulação de informações financeiras. Ela quer garantir que os seus processos internos estejam alinhados com as melhores práticas do mercado. Construa uma proposta com o passo a passo da forma como você faria a análise dos riscos da organização, com base na metodologia da Coso. Espera-se que o(a) leitor(a) inicie a proposta apresentando os objetivos essenciais do negócio da empresa. Em seguida, ele deverá identificar os principais riscos que podem impedir ou dificultar o alcance desses objetivos. Depois, seria necessário avaliar os controles internos existentes na empresa e verificar se eles são adequados para mitigar os riscos. O modelo Coso I pode ser utilizado para avaliar os controles internos financeiros, enquanto o modelo Coso II pode ser utilizado para avaliar os controles internos relacionados à gestão de riscos corporativos. O(a) leitor(a) pode propor a identificação das principais áreas da empresa que precisam ser avaliadas, como a financeira, a de recursos humanos, a de tecnologia da informação e a de compras. Em cada uma dessas áreas, seria necessário avaliar os controles internos existentes e verificar se eles são eficazes na mitigação dos riscos identificados. Ao final da avaliação, o(a) leitor(a) poderá apresentar um relatório com recomendações para a empresa, destacando os pontos fortes e as oportunidades de melhoria dos controles internos e incluindo, por exemplo, recomendações para a implementação de novos controles internos ou para a melhoria dos controles existentes. 15 REFERÊNCIAS AUDITORIA: modalidades e assuntos. Portal de auditoria, 2016. Disponível em: <http://www.portaldeauditoria.com.br/sobreauditoria.asp>. Acesso em: 5 maio 2023. CREPALDI, S. A. Auditoria contábil: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2013. FERMA – Federation of European Risk Management Associations. Norma De GestãoDe Riscos. 2003. Disponível em: <https://www.ferma.eu/app/uploads/2011/11/a-risk-management-standard- portuguese-version.pdf>. Acesso em: 5 maio 2023. GIL, A. de L. Auditoria operacional e de gestão. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2000. MALACRIDA, M; YAMAMOTO, M. Governança corporativa: nível de evidenciação das informações e sua relação com a volatilidade das ações do Ibovespa. Revista Contabilidade e Finanças, 2006. MELLO, P. T. Escândalos corporativos globais respigaram nas firmas de contabilidade e auditoria. O Globo, 2014. Disponível em:<https://oglobo.globo.com/economia/escandalos-corporativos-globais- respigaram-nas-firmas-de--contabilidade-auditoria-14565408/>. Acesso em: 5 maio 2023. OLIVEIRA, C. A. de. Origem da auditoria e conceitos básicos. Goiânia: Faculdade Delta, 2014. Disponível em: <http://www.faculdadedelta.edu.br/ downloads_alunos/1345746737_Conteudo_01.pdf>. Acesso em: 5 maio 2023. PEREIRA, H. Coso 2013: visão geral. LinkedIn, 2015. 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