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CLÉIA CÂNDIDO DE OLIVEIRA MONOGRAFIA DE DIREITO AMBIENTAL CRIMES AMBIENTAIS UNIVERSIDADE DE CUIABÁ FACULDADE DE DIREITO CUIABÁ - MT 2014 CLÉIA CANDIDO DE OLIVEIRA MONOGRAFIA DE DIREITO AMBIENTAL CRIMES AMBIENTAIS Monografia de Direito Ambiental, Apresentado à Faculdade de Direito da UNIC como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito à Universidade de Cuiabá - UNIC. Sob as orientações da Professora Ms Marli CUIABÁ – MT 2014 Agradeço a Deus em primeiro lugar, por ter me separado de maneira diferenciada. Por ter me dado uma família maravilhosa, oportunidade e saúde para realização de um sonho. “Tu me cercas, por trás e pela frente, e pões a tua mão sobre mim”. (Salmos 139:5) Dedico este trabalho ao marido Fabio Oliveira aos meus filhos Victor e Vinicius e a minha Mãe e a minha irmã Claudia Oliveira que tanto me ajudou. “Nem pode o meio ambiente ser um bem autônomo, sem qualquer finalidade para o homem, nem tampouco considerada algo a ser destinado pura e simplesmente à satisfação dos desejos dos seres humanos”. (Gilberto e Vladimir Passos de Freitas) ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT – Associação Brasileira de normas típicas Ac. - Acordão AC – Apelação Cível ACP – Ação Civil publica ACrim – Apelação Criminal ADIn - Ação Direta de Inconstitucionalidade AgI – Agravo de Instrumento AgRg – Agravo Regimental AIIPA – Auto de Infração de Penalidade Ambiental ANA - Agencia Nacional de Aguas Ap. – Apelação APA (s) Area de Preservação Ambiental APPs – Area sde Preservação Permanente Art. – Artigo CAO-UMA – Centro de Apoio Operacional de Urbanismo e Meio Ambiente CETAS - Centro de Triagem de Animais Silvestres CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental CNUCED - Conferência das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento ou Rio-92 ou Eco-92 CITES – Convenção sobre o Comercio Internacional das Espécies de Fauna e da Flora Selvagens em Perigo e extinção CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente CRAM – Centro de Recuperação de Animais Marinhos DAIA – Departamento de Avaliação de Impacto Ambiental de Licenciamento Ambiental DEPAVE – Departamento de Parques e Aguas Verdes DEPRN – Departamento Estadual de Proteção dos Recursos Naturais GAEMA – Grupo de Atuação Especial na Defesa do Meio Ambiente GALA – Grupo de Apoio IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBDF - Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal JEC - Juizado Especial Criminal LA – Lei Ambiental (Lei n. 9605, de 12-2-1998) MMA - Ministério do Meio Ambiente NURFS - Núcleo de Reabilitação da Fauna Silvestre NURFS-CETAS/UFPEL - Núcleo de Reabilitação da Fauna Silvestre e Centro de Triagem de Animais Silvestres da Universidade Federal de Pelotas 1º BABM - 1ª Batalhão Ambiental da Brigada Militar da 3º Companhia SEMA - Secretaria Especial do Meio Ambiente SEMAM - Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente SINIMA - Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente SUDHEVEA - Superintendência da Borracha SUDEPE - Superintendência da Pesca UNB - Universidades de Brasília SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11 CAPÍTULO I DOS CRIMES AMBIENTAIS CONSIDERAÇÕES GERAIS .................................................................................... 14 CONCEITO DE CRIME AMBIENTAL ....................................................................... 15 CAPITULO II DA LEI DOS CRIMES AMBIENTAIS LEI 9.605/1998...........................................................................................................16 CAPITULO III CRIMES AMBIENTAIS EM ESPECIE CRIMES AMBIENTAIS CONTRA A FAUNA.............................................................18 CRIMES AMBIENTAIS CONTRA A FLORA.............................................................23 DESTRUIÇÃO DE FLRESTA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE.......................24 CRIMES CONTRA O ORDENAMENTO URBANO E PATRIMONIO CULTURAL...27 CRIMES CONTRA A DMINISTRAÇÃO AMBIENTAL..............................................27 CAPITULO VI DA APLICAÇÃO DA PENA PENAS APLICADAS A PESSOA JURIDICA............................................................31 5- PENAS APLICADAS A PESSOA FISICA.............................................................36 5.1-PENAS RESTRITIVAS DE LIBERDADE............................................................36 5.3 – PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO ...............................................................37 5.4 – MINISTÉRIO PÚBLICO E MEIO AMBIENTE ..................................................39 CAPITULO V EPISODIOS O VAZAMENTO DE PETRÓLEO NO GOLFO DO MÉXICO (2010).........................44 ACIDENTE NUCLEAR DE CHERNOBYL (1986).....................................................45 ACIDENTE COM CÉSIO 137 EM GOIÂNIA (1987)..................................................47 CONCLUSÃO............................................................................................................51 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS..........................................................................56 11 INTRODUÇÃO É sabido que grande problema mundial, da atualidade, diz respeito aos crimes praticados contra o meio ambiente, que se tornam cada dia mais frequentes, e mais danosos e impactantes ao meio ambiente como um todo, e, consequentemente, a toda coletividade, que é a titular do bem ambiental, afirma Copola “No Brasil, esse panorama ensejou a edição da Lei federal nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1.998, o chamado Código Penal Ambiental, que sistematizou as leis extravagantes que existiam, sem, contudo, no que seria a melhor técnica, revogá-las expressamente, para apenas revogar disposições em contrário. Tal diploma, apesar de em alguns pontos se revelarem omisso, revela grande relevância para o direito ambiental brasileiro, na medida em que prevê diversas hipóteses criminosas, com aplicação de penas restritivas de direito, ou de prestação de serviços à comunidade, ou de multa, dependendo do potencial ofensivo do crime praticado.”1 O objetivo primordial do presente trabalho científico consiste em mostrar as controvérsias referentes à responsabilidade penal da pessoa jurídica nos crimes ambientais, na forma em que a mesma foi inserida na legislação pátria. O interesse por este tema partiu dos princípios que orientam o Direito Penal Ambiental, fazendo ligação com os princípios da Lei nº 9.605/98, de maneira a Identificar as infrações onde a pessoa jurídica é responsabilizada, mostrando os mecanismos utilizados para a reparação. Comparados os pontos relevantes da questão da preservação ambiental, demonstrando a atual da responsabilidade penal no direito pátrio, através da análise comparativa, favoráveis e desfavoráveis à responsabilização penal das pessoas jurídicas, bem como demonstrado os principais dispositivos da Lei n°.9.605/98, 1 COPOLA. 2005. 12 referentes ao tema e também os benefícios trazidos pela prevenção ambiental e os malefícios ocasionados pelo desinteresse e descuido da sociedade em geral. A constituição Federal de 1988, no seu artigo 225, trouxe umgrande avanço ao estabelecer, que “Todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. As declarações do Estocolmo, bem de uso comum do povo e essencial a qualidade de vida, importando se ao poder publico e a coletividade o dever de defendê-lo e apresenta-lo para os presentes e futuras gerações”.2 No seu paragrafo 3° a Constituição federal afirma “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão aos infratores, pessoas físicas ou jurídicas, as sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”3. Por sua vez o artigo 5° inciso LXXIII, elevou à proteção ambiental a categoria de direito fundamental de todo cidadão. Demonstrando assim a intenção para responsabilização dos danos ambientais. Para alcançar esses objetivos a sociedade precisa de dotados de força cogente erga homines. O direito ambiental é o entendimento de que não são só mensuráveis os termos econômicos, mas que inclui outros aspectos imprescindíveis e basilares da condição humana: a saúde física e emocional, os valores culturais, estéticos e recreativos, em fim a qualidade de vida. O nosso maior objetivo está em reorientar o sentido do desenvolvimento, garantindo o crescimento econômico. Porem, o principal instrumento que o Estado põe a disposição do cidadão é a Lei. Uma vez procurando demostrar os fundamentos e princípios justificadores das sanções penais impostas pela lei, objetivando dessa forma estabelecer harmonia do ambiente social com a proteção de um meio ambiente sustentável. Para tanto, a abordagem metodológica utilizada teve como tipo de pesquisa a bibliográfica, documental, e doutrinária com base na descrição do 2 Constituição da República Federativa do Brasil. Artigo 225. 3 Idem. 13 tema, historicamente e tendo em vista o Direito comparado, pretende-se realizar uma abordagem legal para demostrar a problemática da imputabilidade da pessoa jurídica no polo ativo da prática de crimes ambientais e reflexos sociais de sua conduta. A pretensão analisada são as eventuais causas e consequências do ilícito penal cometido, à luz da abordagem jurídica, tornando possível o estudo das controvérsias acerca da responsabilidade penal e a aplicação da Lei nº 9.605/98. 14 CAPÍTULO I CRIMES AMBIENTAIS: CONCIDERAÇÕES GERAIS A Lei 9.605/98 de 12/12/98 enviado pelo poder Executivo Federal, do secretario do meio ambiente. Inicialmente o projeto tinha o objetivo de sistematizar as penalidades administrativas e unificar os valores das multas. Após o amplo debate do congresso nacional, optou- se pelas tentativas de consolidar a legislação relativa ao meio ambiente no que diz respeito à matéria, Machado assim explica: “A Lei trata, especialmente, de crimes contra o meio ambiente. Dispõe também sobre o processo penal e cooperação internacional para a preservação do meio ambiente. A Lei tem também como inovações marcantes a não utilização do encarceramento como norma geral para as pessoas físicas criminosas, e responsabilização das pessoas jurídicas e a valoração da intervenção da administração publica, através de autorizações, licenças e permissões.”4 Nasceu de projeto proposta pelo governo e aprovada em regime de urgência pelo poder legislativo. Trata se de Lei de natureza Hibrida em que se misturam conteúdos dispares - penal administrativo e internacional em que aos avanços não foram propriamente significativos5. Diante de tal assertiva, indaga-se: será que esse quadro realmente mudou com essa Lei? Sem duvida, a referida lei, lapidada por juristas de renome, assemelha – se no seu formato, ao Estatuto da criança e do adolescente, e ao código de defesa do consumidor, que são Leis de terceira geração, visando promover a qualidade de vida e a dignidade humana, num Pais cheios de contrastes e marginalização social. Ter Leis boas é ótimo, é um bom passo e um excelente começo. Mas não basta parar por aí, a norma é apenas um 4 MACHADO, 2013, p.823. 5 PRADO, 2001, p.31 15 pontapé inicial. Para sua efetividade é necessários à adoção de outras medidas destinadas a institucionalizar os órgãos responsáveis pela preservação ambiental. Para promoção desse desenvolvimento é a proteção do meio ambiente é preciso eficácia dos políticos não resumida apenas na teórica. Não podemos deixar de lado a realidade devastadora em que o meio ambiente se encontra. A experiência Brasileira mostra uma omissão enorme à administração publica na importação de sanções administrativas diante das agressões ambientais. Tentar-se a, contudo, um mínimo para que a nossa descendência possa encontrar um planeta habitável. Conservar a responsabilidade de pessoas física frente aos crimes ambientais é aceitar a inutilidade do direito penal para a melhoria e recuperação do meio ambiente. A Constituição em seu artigo 225 paragrafo 3° diz: “§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.”6 Isso mostra mais um passo inovador que lançou assim, o alicerce necessário para termos uma dupla responsabilidade no âmbito penal: a responsabilidade da pessoa física e a responsabilidade da pessoa jurídica. Essa modificação foi importante, pois foi amplamente discutida entre os próprios constituintes, juristas como também em todo Pais. CONCEITO DE CRIME AMBIENTAL Para entendermos o exato significado da expressão “crime ambiental”, é de Suma importância que tenhamos o conceito de crime e de 6 Constituição da República Federativa do Brasil. Artigo 225, parágrafo 3º. 16 ambiente. O atual Código Penal brasileiro não traz o conceito de crime, sendo tal conceituação delegada à doutrina. Crime, “em acepção vulgar, significa toda ação cometida com dolo, ou infração contrária aos costumes, à moral e à lei, que é igualmente punida, ou que é reprovado pela consciência”7. O crime ambiental, portanto, pode ser conceituado como um fato típico e antijurídico que cause danos ao meio ambiente. De tal sorte, e partindo do pressuposto constitucional que reza não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal (art. 5º, inc. XXXIX, da CF/88), para uma conduta ser enquadrada como crime ambiental, deve estar expressamente prevista na Lei dos Crimes Ambientais. Art. 5º, inc. XXXIX, da CF/88: “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”8. Dessa forma, e exemplificativamente, o ato de exportar peles e couros, por mais danosa e perniciosa que possa ser ao meio ambiente, não constitui crime se praticada com autorização da autoridade ambiental competente. Conclui-se, portanto, que nem toda atividade que causa danos ao meio ambiente será, forçosamente, crime ambiental, uma vez que tal qualificação depende do enquadramento aos termos da legislação ambiental. Analisemos, portanto, a chamada Lei dos Crimes Ambientais, artigo por artigo. A LEI DOS CRIMES AMBIENTAIS A Lei dos Crimes Ambientais, como ficou conhecida, veio dar efetividade à penalização constitucional de condutas lesivas ao meio ambiente, de acordo com Milaré; “Atendidas as recomendações inseridas na Carta da Terra e na Agenda 21, aprovadas na Conferência no Rio de Janeiro, criou-se 7 DE PLÁCIDO E SILVA, 2006, p.399. 8 Constituição da República Federativa do Brasil, Artigo 5º. 17 meios efetivos para que os Estados formulassem leis na intenção de responsabilização por dano ambiental e para compensação às vitimas de poluição”9. O avanço trazido pela lei na questãoda política ambiental brasileira trouxe também uma nova fase: a não utilização do encarceramento como norma geral para as pessoas físicas criminosas, a responsabilização penal da pessoa jurídica, a valorização da intervenção da Administração Pública (através de autorizações, licenças e permissões), a sistematização da punição administrativa com severas sanções e por tipificar organicamente os crimes ecológicos, inclusive na modalidade culposa. Nesse contexto Sirvinskas mostra que se encontram capitulado: “[...] crimes contra a fauna (arts. 29 a 37), crimes contra a flora (arts. 38 a 53), crime de poluição (art.54), crimes contra a administração ambiental (arts. 66 a 69). Recebem tratamento específico as atividades mineradoras exercidas em desconformidade com os requerimentos ambientais (art. 55); a importação, exportação, produção, armazenamento, comercialização, transporte, uso e descarte indevido de produtos ou substancias tóxicas (art.56), instalação e funcionamento de estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores, sem as devidas licenças ou autorizações dos órgãos ambientais (art. 60) e a disseminação de doença ou praga ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas.”10 9 MILARÉ, 2004, p.792. 10 SIRVINSKAS, 2004, p.60 18 CAPITULO II CRIMES AMBIENTAIS EM ESPECIE Os tipos penais em espécie estão arrolados na parte especial da lei 9.605/98: Dos Crimes contra a Fauna: Na sessão I do capitulo V da LA, o legislador reservou nove artigos para os crimes contra a Fauna, tipificando condutas delituosas praticadas contra a espécie de fauna silvestre. O que se entende por fauna silvestre? Art. 29 paragrafo 3° da lei 9605/98: “São todas aquelas pertencentes a uma espécie nativa, migratória e qualquer outra, aquática ou terrestre, que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou aguas jurisdicionais brasileiras”11. Ou seja, é um conjunto de animais próprios de um País ou região que vivem em determinada época e tem seu habitar natural nas matas, nas florestas, nos rios e mares, animais estes que ficam afastados do meio ambiente humano. No entanto nem todos os animais são protegidos por lei contra crimes ambientais. Os artigos 29 a 37, da Lei nº 9.605/98, procuram dar proteção máxima à flora brasileira enquanto bem ambiental, já que os animais não são sujeitos de direitos, porquanto a proteção do meio ambiente existe para favorecer o próprio homem e, somente por via reflexa, as demais espécies12. Os crimes contra a fauna estão descritos do artigo 29 até o artigo 37 da Lei nº 9.605/98, e do artigo 11 até o 24 do Decreto 3.179/99, cuja 11 Lei de Crimes Ambientais nº 9.605/98. Artigo 29, parágrafo 3º. 12 Lei de Crimes Ambientais nº 9.605/98. Disponível no site http://www.portaliab.org.br/do/Conteudo/459 . Acesso em 30 de Outubro de 2013. http://www.portaliab.org.br/do/Conteudo/459 19 penalidade pode ser de detenção ou reclusão, além da possibilidade do pagamento de multa cumulativamente. As penas de detenção variam de três meses a três anos, e a de reclusão de um a cinco anos, as penas poderão ser aumentadas ou reduzidas mediante a configuração de certos elementos que permitam esta adequação. Agressões cometidas contra animais silvestres, nativos ou em rota migratória, como caçar, pescar, matar, perseguir, apanhar, utilizar, vender, expor, exportar, adquirir, impedir a procriação, maltratar, realizar experiências dolorosas ou cruéis com animais quando existe outro meio, mesmo que para fins didáticos ou científicos, transportar, manter em cativeiro ou depósito, espécimes, ovos ou larvas sem autorização ambiental ou em desacordo com esta. Ou ainda a modificação, danificação ou destruição de seu ninho, abrigo ou criadouro natural. Da mesma forma, a introdução de espécime animal estrangeira no Brasil sem a devida autorização também é considerado crime ambiental, assim como o perecimento de espécimes devido à poluição. “Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida: E INCISOS: Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa. § 1º Incorre nas mesmas penas: I - quem impede a procriação da fauna, sem licença, autorização ou em desacordo com a obtida; II - quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro natural; III - quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente. 20 § 2º No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada ameaçada de extinção, pode o juiz, considerando as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. § 3° São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras. Com relação à aplicação da pena a Lei considera: § 4º A pena é aumentada de metade, se o crime é praticado: I - contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que somente no local da infração; II - em período proibido à caça; III - durante a noite; IV - com abuso de licença; V - em unidade de conservação; VI - com emprego de métodos ou instrumentos capazes de provocar destruição em massa. § 5º A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do exercício de caça profissional. § 6º As disposições deste artigo não se aplicam aos atos de pesca. Art. 30. Exportar para o exterior peles e couros de anfíbios e répteis em bruto, sem a autorização da autoridade ambiental competente: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. Art. 31. Introduzir espécime animal no País, sem parecer técnico oficial favorável e licença expedida por autoridade competente: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Art. 32. Praticar ato de abuso, maus- tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. 21 § 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. § 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal. Art. 33. Provocar, pela emissão de efluentes ou carreamento de materiais, o perecimento de espécimes da fauna aquática existentes em rios, lagos, açudes, lagoas, baías ou águas jurisdicionais brasileiras: Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas cumulativamente. Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas: I - quem causa degradação em viveiros, açudes ou estações de aqüicultura de domínio público; II - quem explora campos naturais de invertebrados aquáticos e algas, sem licença, permissão ou autorização da autoridade competente; III - quem fundeia embarcações ou lança detritos de qualquer natureza sobre bancos de moluscos ou corais, devidamente demarcados em carta náutica. O Artigo 34 estabelece a pena relativa à pesca: Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibidaou em lugares interditados por órgão competente: Pena - detenção de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem: I - pesca espécies que devam ser preservadas ou espécimes com tamanhos inferiores aos permitidos; II - pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos; III - transporta, comercializa, beneficia ou industrializa espécimes provenientes da coleta, apanha e pescas proibidas. 22 Art. 35. Pescar mediante a utilização de: I - explosivos ou substâncias que, em contato com a água, produzam efeito semelhante; II - substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela autoridade competente: Pena - reclusão de um ano a cinco anos. Art. 36. Para os efeitos desta Lei, considera-se pesca todo ato tendente a retirar, extrair, coletar, apanhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos dos peixes, crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aproveitamento econômicas ressalvadas as espécies ameaçadas de extinção, constantes nas listas oficiais da fauna e da flora. E a Lei também caracteriza o abate animal não penalizado: Art. 37. Não é crime o abate de animal, quando realizado: I - em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família; II - para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora de animais, desde que legal e expressamente autorizado pela autoridade competente; III – (VETADO) IV - por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente. Em relação à fauna terrestre as principais infrações verificadas no Estado de Alagoas são as vendas de animais em feiras livres, maus trato, destruição do habitat natural, apanha de ovos em ninhos e a caça. Em relação à pesca a prática mais comum é a utilização de redes com malha inferior a permitida, captura de espécimes abaixo dos padrões estabelecidos, exercício da atividade de pesca sem a devida licença, utilização de explosivos, substâncias ou http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/Mensagem_Veto/1998/Vep181-98.pdf 23 apetrechos proibidos a exemplo do candango.”13 Dos Crimes Contra a Flora: O legislador também descreveu inúmeras situações que poderiam configurar os denominados delitos contra a flora: “Assim, a proteção da flora deve ser adaptada às necessidades da pessoa humana, já que é vidente a volúpia dos países de primeiro mundo de "internacionalizar" a nossa biodiversidade. A proteção das florestas é o fundamento básico para a aplicação dos crimes contra a flora, fato que motivou o legislador a adotar desde logo critérios preventivos e repressivos, visando a aplicação das sanções penais ambientais”.14 Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção: “Destruir ou danificar floresta de preservação permanente mesmo que em formação, ou utilizá-la em desacordo com as normas de proteção assim como as vegetações fixadoras de dunas ou protetoras de mangues; causar danos diretos ou indiretos às unidades de conservação; provocar incêndio em mata ou floresta ou fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocá-lo em qualquer área; extração, corte, aquisição, venda, exposição para fins 13 Idem. 14 Ibidem. Artigo 38 a 53. Disponível no site http://www.portaliab.org.br/do/Conteudo/459. Acesso em 01 de Novembro de 2013. http://www.portaliab.org.br/do/Conteudo/459 24 comerciais de madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal sem a devida autorização ou em desacordo com esta; extrair de florestas de domínio público ou de preservação permanente pedra, areia, cal ou qualquer espécie de mineral; impedir ou dificultar a regeneração natural de qualquer forma de vegetação; destruir, danificar, lesar ou maltratar plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada alheia; comercializar ou utilizar motosserras sem a devida autorização”15. A situação pode complicar ainda mais no caso de degradação: “Neste caso, se a degradação da flora provocar mudanças climáticas ou alteração de corpos hídricos e erosão a pena é aumentada de um sexto a um terço. Entende-se por flora o conjunto de espécies vegetais localizadas em determinada região. A flora brasileira é constituída pelos seguintes espaços que são protegidos por lei: Áreas de Preservação Permanente- APP (Cód. Florestal, arts. 2º e 3º). Espaços Territoriais Especialmente Protegidos (CF, art. 225, § 1º, III), que são as Reservas Biológicas, Reservas Ecológicas, Estações Ecológicas, Parques Nacionais, Estaduais e Municipais, Florestas Nacionais, Estaduais e Municipais, Área de Proteção Ambiental, Áreas de Relevante Interesse Ecológico e Reservas Extrativistas. Patrimônio Nacional (CF, art. 225, § 4º), sendo a Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Serra do Mar, Pantanal Mato- Grossense e Zona Costeira.”16 DESTRUIÇÃO DE FLORESTA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE Poluição e outros crimes ambientais 15 Ibidem. 16 Ibidem. 25 De acordo com a Lei nº 6.938/81, em seu artigo 3º, inciso III, são considerados crimes com pena da reclusão as seguintes atividades: "III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota (conjunto de seres vivos de um ecossistema, o que inclui a flora, a fauna, os fungos e outros grupos organismos); d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.17 Como mencionado anteriormente a poluição acima dos limites estabelecidos por lei é considerada crime ambiental. Mas, também o é, a poluição que provoque ou possa provocar danos a saúde humana, mortandade de animais e destruição significativa da flora. Também é crime a poluição que torne locais impróprios para uso ou ocupação humana, a poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público e a não adoção de medidas preventivas em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível. São considerados outros crimes ambientais a pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem autorização ou em desacordo com a obtida e a não recuperação da área explorada; a produção, processamento, embalagem, importação, exportação, comercialização, fornecimento, transporte, armazenamento, guarda, abandono ou uso de substâncias tóxicas, perigosas ou nocivas a saúde humana ou em desacordo com as leis; construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar empreendimentos de potencial 17 Lei da Política Nacional do Meio Ambiente nº 6.938/81. Artigo 3º, inciso III. 26 poluidor sem licença ambiental ou em desacordo com esta; também se encaixa nesta categoria de crime ambiental a disseminação de doenças, pragas ou espécies que posam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora e aos ecossistemas. POLUIÇÃO E OUTROS CRIMES AMBIENTAIS LEI 9605/98 Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora: Pena - reclusão,de um a quatro anos, e multa.18 Como mencionado anteriormente à poluição acima dos limites estabelecidos por lei é considerada crime ambiental. Mas, também o é, a poluição que provoque ou possa provocar danos a saúde humana, mortandade de animais e destruição significativa da flora. Também é crime a poluição que torne locais impróprios para uso ou ocupação humana, a poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público e a não adoção de medidas preventivas em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível. São considerados outros crimes ambientais a pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem autorização ou em desacordo com a obtida e a não recuperação da área explorada; a produção, processamento, embalagem, importação, exportação, comercialização, fornecimento, transporte, armazenamento, guarda, abandono ou uso de substâncias tóxicas, perigosas ou nocivas a saúde humana ou em desacordo com as leis; construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar empreendimentos de potencial poluidor sem licença ambiental ou em desacordo com esta; também se encaixa nesta categoria de crime ambiental a disseminação de doenças, pragas ou 18 Lei de Crimes Ambientais nº 9.605/98. Disponível no site http://www.pm.al.gov.br/bpa/down_fauna.html. Acesso em 01 de Novembro de 2013. http://www.pm.al.gov.br/bpa/down_fauna.html 27 espécies que posam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora e aos ecossistemas. CRIMES CONTRA O ORDENAMENTO URBANO E O PATRIMÔNIO CULTURAL: A proteção do meio ambiente cultural e artificial merece destaque, tendo em vista a imposição de sanções penais muito bem adequadas às necessidades de salvaguardar a natureza imaterial dos bens ambientais culturais, assim como as relações fundamentais normativas que vinculam o “direito à moradia com as necessidades de adquirir quantia em dinheiro a partir da disponibilização da força de trabalho físico-psíquica humana no capitalismo para as necessidades de consumo essencial e não essencial”19. “Destaca se as seguintes condutas delitivas, ou seja, destruir, inutilizar ou deteriorar: bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial. Arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação cientifica ou similar protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial”20. CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL Os crimes contra a administração incluem afirmação falsa ou enganosa, sonegação ou omissão de informações e dados técnico-científicos em processos de licenciamento ou autorização ambiental; a concessão de licenças ou autorizações em desacordo com as normas ambientais; deixar, aquele que tiver o dever legal ou contratual de fazê-lo, de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental; dificultar ou obstar a ação fiscalizadora do Poder Público. “Os artigos 66 a 69, da Lei nº 9.605/98, tentam detalhar critérios no sentido de que o Poder Público, por meio da atuação de seus agentes, 19 FIORILLO, 2012, p.793 20 Lei de Crimes Ambientais nº 6938/81, artigo 62. 28 possa realizar a importante tarefa que lhe foi destinada pela Constituição Federal, artigo 225, que é defender e preservar o direito ambiental para os presentes e futuras gerações”21. Lei nº 9.605 de 12 de Fevereiro de 1998 Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Art. 66. Fazer o funcionário público afirmação falsa ou enganosa, omitir a verdade, sonegar informações ou dados técnico-científicos em procedimentos de autorização ou de licenciamento ambiental: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. § 1º Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. (Alterado pela L-009.983-2000)22 21 FIORILLO, 2012, p.793. 22 Lei de Crimes Ambientais nº 9.605/98. Disponível no site http://www.pm.al.gov.br/bpa/down_fauna.html. Acesso em 01 de Novembro de 2013. http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/104091/lei-n-9-605-de-12-de-fevereiro-de-1998#art-66 http://www.dji.com.br/leis_ordinarias/2000-009983/2000-009983-.htm http://www.pm.al.gov.br/bpa/down_fauna.html 29 CAPITULO III APLICAÇÃO DA PENA No que se relaciona à aplicação das penas, o referido diploma legal (lei. 9.605/98) não dista em nada do Código Penal Brasileiro (Decreto-Lei. 2.848, de 07 de dezembro de 1940), prevendo penas de multa, restritivas de liberdade e restritivas de direito. Entretanto destaca-se a preferência legislativa em relação às penas restritivas de direito e as pecuniárias e isso se explica por dois motivos. Inicialmente as referidas penas aplicam-se a quaisquer pessoas, ou seja, às pessoas físicas e jurídicas; e, haja vista a enorme diferença entre os delinquentes ambientais e àqueles que têm ocupado o sistema prisional brasileiro. Ainda em relação a segunda situação notar-se-ia um contrassenso se o legislador optasse pela pena restritiva de liberdade, vez que a sociedade suportaria o dano causado e às custas no que se relaciona a privação de liberdade do delinquente. “De acordo com o artigo 8º, da Lei nº 9.605/9823, as penas restritivas de direito são: I - prestação de serviços à comunidade; II - interdição temporária de direitos; III - suspensão parcial ou total de atividades; IV - prestação pecuniária; V - recolhimento domiciliar".24 Destruir, inutilizar, deteriorar, alterar o aspecto ou estrutura (sem autorização), pichar ou grafitar bem, edificação ou local especialmente 23 Ibidem 24 FIORILLO, 2005. 30 protegido por lei, ou ainda, danificar, registros, documentos, museus, bibliotecas e qualquer outra estrutura, edificação ou local protegidos quer por seu valor paisagístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico e etc.. Também é considerado crime a construção em solo não edificável (por exemplo, áreas de preservação), ou no seu entorno, sem autorização ou em desacordo com a autorização concedida.25 25 Lei de Crimes Ambientais nº 9.605/98. Disponível no site http://www.pm.al.gov.br/bpa/down_fauna.html. Acesso em 01 de Novembro de 2013. http://www.pm.al.gov.br/bpa/down_fauna.html 31 CAPITULO IV APLICAÇÃO DA PENA ; das penas aplicadas às pessoas jurídicas Penas da Pessoa Jurídica Após descrever as penas aplicáveis as pessoas físicas, a Lei dos Crimes Ambientais elucida acerca das penas cabíveis as pessoas jurídicas. Dispõe o art. 21: “as penas aplicáveis isoladas, cumulativa ou alternativamente às pessoas jurídicas, de acordo com o art. 3º são: I – multa; II – restritivas de direitos; III – prestação de serviços à comunidade”26. No que se relaciona à aplicação da pena, define o artigo anteriormente citado, três possibilidade. Inicialmente as penas são impostas: isoladas, assim sendo uma só pena a ser aplicada; alternativa, onde nota-se que há mais de uma pena, no entanto tão somente uma é aplicada, e; por fim as cumulativas, onde se verifica mais de uma pena e sendo, então, aplicadas ambas em cumulo. Em se tratando da pessoa jurídica a pena alternativa, ou seja, a restritiva de direito será aplicada como regra, vez que a Parte Especial do diploma legal em questão prevê tão somente penas privativas de liberdade, o que se verifica como sendo fator motivador de muitos contrários a punição penal da pessoa jurídica. Ainda neste, foi citada as modalidades de penas no que se relaciona à sua aplicação.Na prática, quando, porventura, se verificar uma pena alternativa, aplicar-se-á a restritiva de direito; quando notar-se a cumulativa, aplicar-se-á tão somente a restritiva de direito. Em face ao grau dos danos causados, os prejuízos causados e a extensão da degradação visualizada, entendem doutrinadores que ao lado da pena de multa, poderá ser aplicada outra restritiva de direito, como a prestação de serviços à comunidade. 26 Idem. 32 A Lei 9.605/98 devidamente elencou as penas restritivas de direito a serem aplicadas à pessoa jurídica, sendo elas, de acordo com o art. 22: “as penas restritivas de direito da pessoa jurídica são: I – suspensão parcial ou total das atividades; II – interdição temporária de estabelecimento, obra, atividades; III – proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações”27. Em se tratando da su8spensão das atividades, explicada no § 1º do artigo supracitado, assim como se verifica no direito administrativo, constitui- se um ato punitivo. Dada a gravidade do dano, verificar-se-á a aplicação da suspensão parcial ou total, no entanto nota-se que a suspensão susta tão somente a execução (continuação). Em se tratando da interdição, explica o § 2º: “a interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver funcionando sem a devida autorização ou em desacordo com a concedida, ou com a violação de disposição legal ou regulamentar”28. Nota-se que este acima traz de forma taxativa os casos onde caberá a aplicação da interdição. São sujeitas á interdição em face das disposições legais: a) obra ou atividade – aqui, trata-se de qualquer execução, inclusive se esta tiver natureza tão somente de reparos, como, por exemplo, reforma em galerias de águas pluviais. Nota-se que para a sua aplicação há a necessidade de que esta esteja contrariando a lei ou a regulamento; b) estabelecimento – nota-se aqui que há a necessidade da participação de uma empresa ou firma que está a desenvolver atividades que não estão de acordo com as disposições legais. No que se relaciona à interdição, verificar-se-á esta quando: 1 – autorização: tal verifica-se por em relação ao funcionamento, bem como a construção de uma obra. Em ambos os casos a não existência da autorização torna a atividade clandestina; 27 Ibidem 28 Ididem 33 2 – em desacordo: aqui, há a autorização para realização de determinada atividade, no entanto, tal poderá ser verificada em duas situações distintas. a) concedida: verifica-se quando a autorização é dada para a consecução de atividade diversa da que realmente se verifica ocorrendo; b) violação: quando apesar de ter autorização para realização daquela determinada atividade, não a executa de acordo com as disposições legais. Por fim, a proibição de contratar com o Poder Público é aplicada às pessoas jurídicas de grande repercussão em suas áreas de atuação. Dispõe o § 3º, do art. 22 da Lei dos Crimes Ambientais que: “A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou doações não poderá exceder a dez anos29”. No que se relaciona á pessoa física, tal restrição foi fixada de 03 (nos casos de crimes culposos) a 05 anos (nos casos de crimes dolosos). No caso da pessoa jurídica, previu o legislador o prazo máximo de 10 anos. Sabe- se que as penas que vedam subsídios e adjacências repercutem em muito nas empresas, haja vista sua natureza financeira. Do art. 23 ao art. 25, prevê a Lei dos Crimes Ambientais acerca da prestação de serviços, da liquidação forçada e da apreensão de produtos. Inicialmente da prestação de serviços à comunidade tal se verificará num desenvolvimento por parte da pessoa jurídica condenada de programas e projetos de cunho social, bem como o desenvolvimento de recuperação de áreas degradas. Na impossibilidade de se verificar o cumprimento destas, poderá se aplicada a contribuição a entidades, sendo que pela ordem, tais deverão ser: ambientais culturais e públicas. Da liquidação forçada percebe-se que esta se configura como sendo uma pena de morte, haja vista, ter por escopo por fim à pessoa jurídica. Destaca-se o fato de seu patrimônio ser revertido para a união, e, assim como a pena de multa, são revertidos ao Fundo Penitenciários. 29 Ibidem. 34 Da apreensão do produto destaca-se o fato ser esta ligada diretamente aos que foram utilizados na prática do crime. Tal apreensão é praticada pela autoridade policial o a quem faz suas vezes: Art. 21 No âmbito do direito penal, conforme se depreende do art. 21, da Lei nº 9.605/98, são aplicadas às pessoas jurídicas as seguintes penas: a) multa; b) restritiva de direito; c) prestação de serviços à comunidade; d) liqüidação forçada, e e) desconsideração da pessoa jurídica. A pena de multa está prevista no art. 21, inc. I, da Lei dos Crimes Ambientais, e, ainda, perfeitamente autorizada pelo art. 5º, inc. XLVI, letra c, da Constituição Federal. Para a aplicação da penalidade multa, utiliza-se a regra determinada pelo art. 18, da citada Lei nº 9.605/98, que é aplicável para pessoas físicas e jurídicas indistintamente. Ou seja, a mesma pena pecuniária é aplicada para todos, fato que tem ensejado muita discussão, uma vez que a vantagem obtida através do crime ambiental pelas pessoas jurídicas é sempre muito maior do que o obtido por uma pessoa física, e, dessa forma, a multa aplicada às primeiras deveria ser sempre em maior valor. Sobre as penas restritivas a Lei esclarece: Art. 22 As penas restritivas de direitos aplicadas às pessoas jurídicas, previstas pelo art. 21, inc. II, e art. 22, ambos da Lei federal nº 9.605/98, são as seguintes: a) suspensão parcial ou total de atividades, que ocorre quando não estão sendo obedecidas as disposições legais ou regulamentares relativas à proteção do meio ambiente; b) interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade, que ocorre no caso de funcionamento sem a devida autorização, ou em desacordo com a concedida, ou com violação de disposição legal ou regulamentar, e c) proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações, que 35 não poderá exceder o prazo de 10 (dez) anos. Da pena através de prestação de serviços: Art. 23 A pena de prestação de serviços à comunidade, que, conforme é cediço em direito penal, também é restritiva de direito, está prevista no art. 21, inc. III, e no art. 23, ambos da Lei nº 9.605/98, consiste em: a) custeio de programas e de projetos ambientais; b) execução de obras de recuperação de áreas degradadas; c) manutenção de espaços públicos, e d) contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas. Tais referidas penas de prestação de serviços à comunidade, que constituem prestação social alternativa, nos termos ditados pela Constituição Federal, em seu art. 5º, inc. XLVI, letra d, a nosso ver, revelam-se as mais acertadas, dentre todas as cabíveis contra pessoas jurídicas, uma vez que proporcionam auxílio a programas ambientais, assim como a recuperação de áreas degradadas, entre outros. Isso não significa, entretanto, que as empresas possuem “carta branca” para degradar, desde que, futuramente, custeiem programas, executem obras de recuperação, mantenham espaços públicos, ou contribuam para entidades ambientais. O objetivo da lei, é óbvio, é o de que tais empresas não degradem, não poluam, não causem danos ao meio ambiente. Art. 24 A liquidação forçada, conforme preceitua o art. 24, da Lei dos Crimes Ambientais, é decretada à pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderantemente, com o fim de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime ambiental, hipótese em que o patrimônio da pessoa jurídica será considerado instrumento do crime, e, dessa forma, será perdido em favor do Fundo Penitenciário Nacional. Tal pena, a nosso ver, é perfeitamenteconstitucional, 36 uma vez que o art. 5º, inc. XLVI, letra b, da Carta, prevê como espécie de pena a perda de bens. Tal pena também é restritiva de direito, assim como as demais acima elencadas. [1] In Direito Penal - Parte Geral, 23ª ed. Saraiva, SP, 1.999, p. 151, com grifos originais. [2] In Revista Fórum de Direito Urbano e Ambiental, ed. Fórum, BH, jan./fev./03, p. 659. [3] In Elementos de Direito Ambiental, ed. Temas e Idéias, RJ, 2.003, p. 218. [4] In Direito do Ambiente, 2ª ed. Revista dos Tribunais, SP, 2.001, p. 453.30 Das penas aplicáveis às pessoas físicas. Ambas as penas do referido diploma legal aplica-se às pessoas físicas, sendo elas, as anteriormente citadas, ou seja, as restritivas de liberdade, de direito e multa. Penas restritivas de liberdade. As penas privativas de liberdade que se verificam no ordenamento jurídico nacional são as de detenção e as de reclusão, e prisão simples em se tratando de contravenção penal. Diferencia-se a detenção e a reclusão por um aspecto meramente formal, de acordo com o art. 33 do Código Penal. Dispõe este da seguinte redação: “a pena de reclusão de ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção, em regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado”. Assim sendo, tal diferença consiste tão somente no regime de cumprimento de pena. Em se tratando da Lei dos Crimes Ambientais, como anteriormente citado, fez o legislador explicita preferência pela restritiva de direito, podendo até, em determinados casos, ser substituída pelas restritivas 30 Ibidem http://www.acopesp.org.br/artigos/Dra.%20Gina%20Copola/a_lei_dos_crimes_ambientais1.htm#_ftnref1 http://www.acopesp.org.br/artigos/Dra.%20Gina%20Copola/a_lei_dos_crimes_ambientais1.htm#_ftnref2 http://www.acopesp.org.br/artigos/Dra.%20Gina%20Copola/a_lei_dos_crimes_ambientais1.htm#_ftnref3 37 de direito. Assim sendo, verifica-se que sua aplicabilidade se dá tão somente no último caso. Penas Restritivas de direito. Face ao disposto no artigo 7º da Lei 9.605/98, que dispõe da seguinte redação: “as penas privativas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade quando: I – trata-se de crime culposo ou for aplicada pena privativa de liberdade, inferior a quatro anos; II – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do crime indicar que a substituição seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime”31, verifica-se como anteriormente referido, que o legislador brasileiro sem dúvida fez estrita opção pela pena restritiva de direito. O fato acima descrito se deu face algumas características dos crimes ambientais. Inicialmente nota-se que há, indubitavelmente, uma diferença entre o perfil do delinquente que o comete em relação ao que comete um crime, como por exemplo, de homicídio, assim sendo, não é concebível a lei preveja a estes, a mesma cominação de pena, nem mesmo o regime de cumprimento. De acordo ainda a disposição do art. 7º, parágrafo único, da Lei dos Crimes Ambientais, as penas restritivas de direito terão a mesma duração das restritivas de liberdade. Sem dúvida é uma evolução do direito moderno, haja vista a busca incessante de se afastar as penas restritivas de liberdade em função do colapso que vive o sistema prisional brasileiro, e são elencadas de acordo dispõe o art. 8º do referido diploma legal: “I – prestação de serviços à comunidade; II – interdição temporária de direitos; III – suspensão parcial ou total de atividades; IV – prestação pecuniária; V – recolhimento domiciliar”32. 31 Ibidem 32 Ibidem 38 Das penas acima citadas, é mister enfatizar que não se verifica uma sobreposição ou uma hierarquia entre elas, tendo o juiz discricionariedade na aplicação das mesmas, no entanto verifica-se ao passo da atual conjuntura econômica nacional, a maior aplicação da pena de prestação de serviços à comunidade e a pena de prestação pecuniária, sendo que historicamente a primeira se deriva da segunda, ao passo que era aplicada àquelas pessoas que não reuniam condições de solver com as pecuniárias.33 A lei 9605/98 procurou sistematizar toda a legislação esparsa. Trata se de uma legislação moderna, que trouxe muitos avanços e alguns retrocessos, mas no geral, melhorou alguns tipos penais e criou outros, acrescentando a culpa como modalidade inexistente anteriormente e inserindo mais crimes de perigo. Espera se que a legislação seja bem entendida e corretamente aplicada, No entanto não é isso que vem acontecendo. O então presidente da republica, atendendo ao pedido de empresários poluidores, baixou a medida provisória nº 2163 de 23 de agosto de 2001, suspendendo por até 10 anos a aplicação dessa lei, permitindo que órgãos ambientais integrantes do SISNAMA firmassem termo de compromisso com pessoas físicas ou jurídicas responsáveis pela construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerando ofensiva ou potencialmente poluidoras. Já na segunda edição da medida de 08 de setembro de 1998, o então presidente diminuiu o prazo para até 6 anos , entre outras alterações necessárias . Tal medida em outras palavras concedeu aos empresários o direito de poluir, não há duvida de que essa medida é inconstitucionais consoantes aos artigos 225 e 5° da constituição federal. 33 Idem. Disponível no site http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4994. Acesso em 03 de Novembro de 2013. http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4994 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4994 39 Ninguém poderá dispor do direito que é de todos e não do governante. Trata se de direito indisponível a qualidade de vida da coletividade, não podendo ser matéria disciplinada por mera medida provisória. O presidente da republica, após baixar a medida provisória tenta postergar a aplicação da lei por até seis anos. Dessa forma como podemos lutar por um meio ambiente ecologicamente equilibrado, se o nosso governante maior dispôs desse direito mediante mera medida provisória? “Assim não basta apenas termos uma legislação forte, e aparentemente eficaz, se não formos educados para defendermos o patrimônio universal. È necessários que nas escolas, nossas crianças tenham aula de meio ambiente. Só assim estaremos contribuindo para fazer um País mais humano e solidário”.34 MINISTERIO PUBLICO E MEIO AMBIENTE. A constituição de 1988 estabeleceu um sistema de atribuições bastante amplo para o ministério publico em matéria de proteção ambiental. Em linhas gerais tais atribuições são originarias de regime jurídico que hora se passa a examinar. A BASE CONSTITUCIONAL DA ATUAÇÃO DO MINISTERIO PUBLICO Já se tornou lugar comum afirmar que a constituição de 1988 atribuiu ao Ministério Público papel de grande relevância aos interesses difusos. De fato a vigente lei fundamental brasileira foi bastante positiva aos atribuir as funções aos ministérios publico. Os artigos 127 a 130 da CF moldaram o perfil do parquet como um importante instrumento de expressão da sociedade.35 34 SIRVINSKAS, 2012, p.804 35 Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível no site http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm acesso em 01 de novembro de 2013. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm 40 A organização constitucional do Ministério Público no Brasil não encontra paralelo em nenhum outro País do mundo. O nível de independência e autonomia que foi deferido ao MP pelo constituinte é absoluto.O MP e seus integrantes somente se encontram submetidos a lei e a própria consciência. Sem duvida alguma, é no artigo 127 da CF que se encontra o cerne das contribuições ministeriais determina o recém mencionado do dispositivo constitucional. Art. 127 - O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.36 Em razão de suas atribuições básicas, conforme atribuídas no caput do art 127 CF, decorrem as funções institucionais estabelecidas ao longo do artigo 129. Estas em realidade se constituem em um conjunto de atribuições pelas quais são estabelecidas instrumentos para que o MP possa exercer os misteres ao seu encargo. Dentre as diversas funções institucionais mencionadas no artigo 129, encontra se o exercício da ação civil publica e do inquérito civil. As funções institucionais estabelecidas na lei fundamental são exercidas na forma da legislação de menor hierarquia. Atualmente é bastante grande o numero de leis que tratam de ação civil publica e inquérito civil. Hoje o direito brasileiro consagra, no mínimo, cinco ações civis publica típica, que são aquelas previstas na lei: • 7.347/85 • 7.853/89 • 7.913/89 • 8.069/90 • 8.078/9037 36 Idem 37 ANTUNES, 2007. 41 Penso que os dispositivos constantes de todas as leis mencionadas são complementares e podem ser aplicadas em processos judiciais versando matéria ambiental. O Ministério Público é, no Brasil, o principal autor de ações civil publicas e desempenha um papel de extraordinária relevância quanto ao particular. De fato o precário nível de organização de nossa sociedade não permite que ela própria, e por meios autônomos, busque a defesa de seus interesses. O Ministério publico em razão disto passou a desempenhar um tipo de advocacia pro bono quando acionado por pessoas e associações preocupadas com problemas ambientais38. As Áreas de Preservação Permanente Área de Preservação Permanente (APP), nos termos do artigo 1, §2, inciso II, da Medida Provisória n° 2.166-67/01 que alterou o Código Florestal, é a: “área protegida nos termos dos artigos 2° e 3° desta lei, área coberta ou não por vegetação nativa, com função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem- estar das populações humanas”39. Ainda MILARÉ, diz que: Consistem em uma faixa de preservação de vegetação estabelecida em razão da topografia ou relevo geralmente ao longo dos cursos d’água, nascentes, reservatórios e em topos de morros, destinados à manutenção da qualidade do solo, das águas e também para funcionar como ‘corredores de fauna.40 Significa que: “A cobertura vegetal tem um papel importante, tanto no deflúvio superficial 38 Idem, p.758. 39 Código Florestal Lei 4771/65. Disponível no site http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4771.htm. Acesso em 01 de novembro de 2013. 40 Milaré, 2000. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4771.htm 42 parte da chuva que escoa pela superfície do solo – como no deflúvio de base - resultado da percolação da água do solo – onde ela se desloca em baixas velocidades, alimentando os rios e lagos. A remoção da cobertura vegetal reduz o intervalo de tempo observado entre a queda da chuva e os efeitos nos cursos d’água, diminui a capacidade de retenção de água nas bacias hidrográficas e aumenta o pico das cheias. Além disso, a cobertura vegetal limita a possibilidade de erosão do solo minimizando a poluição dos cursos d’água por sedimentos.”41 É vedado, portanto, ao particular, pessoa física ou jurídica, qualquer alteração ou modificação em APP, incluindo a mata ciliar, no meio rural ou urbano uma vez que esta deve estar assegurada pelo plano diretor e às leis de uso e ocupação do solo como explicita o Código Florestal. A razão da existência das áreas de preservação permanente está voltada ao fato da garantia de manutenção da água, flora, fauna e recursos naturais e minerais e o bem-estar social. MACHADO expõe o seguinte sobre a finalidade das APPs: “Dessas florestas estão o dever de proteger os cursos d’água, evitar o assoreamento dos rios e as enchentes e fixar as montanhas, evitando-se o frequente soterramento de pessoas nos grandes centros urbanos (...). Temos assim, com a característica da preservação permanente, florestas de proteção física do solo, florestas de proteção dos mananciais e das águas em geral, florestas de proteção das ferrovias e das rodovias, florestas de defesa do território nacional, florestas de conservação dos valores estéticos, florestas de conservação dos valores científicos, florestas de proteção dos valores históricos, florestas de preservação do ecossistema local, florestas de conservação do ambiente das populações indígenas, florestas para a 41 ANTUNES, 2002. 43 preservação do bem-estar público e florestas situadas nas áreas metropolitanas definidas em lei.”42 Na legislação brasileira encontramos vários conceitos de Área de Preservação Permanente. “A função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem estar das populações humanas”. 42 MACHADO, 2002. 44 CAPÍTULO V – Episódios Infelizmente o que não faltam são episódios trágicos envolvendo crimes ambientais no Brasil e no mundo que podem exemplificar a importância da adoção e efetiva aplicação das leis ambientais e das penalidades relacionadas a este tipo de crime. O que se percebe facilmente é que a simples penalização não basta uma vez que os danos ambientais acarretam inúmeras consequências não só ao meio adjacente, mas a toda população próxima das áreas afetadas, conforme se pode verificar nas fotos em anexo. O vazamento de petróleo no golfo do México (2010) Ao menos 5.000 barris de petróleo estão vazando diariamente no Golfo do México, um volume cinco vezes superior ao estimado previamente, informou nesta quarta-feira a Guarda Costeira dos Estados Unidos. "Descobriram um novo ponto de vazamento", assinalou o oficial Erik Swanson. Equipes de emergência iniciaram a queima controlada da gigantesca mancha de petróleo provocada pela explosão de uma plataforma no Golfo do México, diante da ameaça de o óleo chegar à costa da Louisiana. 45 "É incendiada com uma pequena boia que se desloca pela mancha e a inflama. A queima ocorre satisfatoriamente"43, disse o oficial da Guarda Costeira Cory Mendenhall sobre a operação para paliar os efeitos do vazamento provocado pelo afundamento da plataforma petroleira diante da costa americana, na quinta-feira passada. Estragos - A drástica decisão de atear fogo à maré negra foi adotada após a mancha chegar a cerca de 40 quilômetros dos pântanos de Louisiana, hábitat de diversas espécies. Uma frota de barcos da Guarda Costeira e da companhia britânica de petróleo BP empurrava as partes mais densas da mancha para uma barreira flutuante resistente ao fogo. "O plano é queimar, de forma restrita e controlada, milhares de galões de petróleo, e cada operação dever durar cerca de uma hora", explicaram autoridades.44 A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) americana advertiu mais cedo que os fortes ventos de sudeste previstos para os próximos dias poderão empurrar a maré negra para os pântanos da Louisiana. A plataforma Deepwater Horizon, operada pela BP, afundou na quinta-feira passada 240 quilômetros a sudeste de Nova Orleans, dois dias depois de uma explosão que causou a morte de 11 trabalhadores. A queima da mancha de petróleopara proteger a costa provocará seus próprios problemas ambientais, criando enormes nuvens de fumaça tóxica e deixando resíduos no mar. 43 Revista Veja online. Disponível no site http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/vazamento-petroleo-golfo-mexico-5-000-barris-dia. Acesso dia 05 de Novembro de 2013. 44 Idem. http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/vazamento-petroleo-golfo-mexico-5-000-barris-dia 46 Na terça-feira, fracassaram as tentativas de fechar dois focos de vazamento no oleoduto ligado à plataforma, realizadas por quatro submarinos robotizados a 1.500 metros de profundidade. (Com agência France-Presse)45 Acidente Nuclear de Chernobyl (1986)46 No ano de 1986, os operadores da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, realizaram um experimento com o reator 4. A intenção inicial era observar o comportamento do reator nuclear quando utilizado com baixos níveis de energia. Contudo, para que o teste fosse possível, os responsáveis pela unidade teriam que quebrar o cumprimento de uma série de regras de segurança indispensáveis. Foi nesse momento que uma enorme tragédia nuclear se desenhou no Leste Europeu. Entre outros erros, os funcionários envolvidos no episódio interromperam a circulação do sistema hidráulico que controlava as temperaturas do reator. Com isso, mesmo operando com uma capacidade inferior, o reator entrou em um processo de superaquecimento incapaz de ser revertido. Em poucos instantes a formação de uma imensa bola de fogo anunciava a explosão do reator rico em Césio-137, elemento químico de grande poder radioativo. Com o ocorrido, a usina de Chernobyl liberou uma quantidade letal de material radioativo que contaminou uma quilométrica região atmosférica. Em termos comparativos, o material radioativo disseminado naquela ocasião era assustadoramente quatrocentas vezes maior que o das bombas utilizadas no bombardeio às cidades de Hiroshima e Nagasaki, no fim 45 Revista Veja online. Disponível no site http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/vazamento-petroleo-golfo-mexico-5-000-barris-dia. Acesso dia 05 de Novembro de 2013. 46 Artigo de História. Disponível no site http://www.brasilescola.com/historia/chernobyl-acidente- nuclear.htm. Acesso em 05 de Novembro de 2013. http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/vazamento-petroleo-golfo-mexico-5-000-barris-dia http://www.brasilescola.com/historia/chernobyl-acidente-nuclear.htm http://www.brasilescola.com/historia/chernobyl-acidente-nuclear.htm 47 da Segunda Guerra Mundial. Por fim, uma nuvem de material radioativo tomava conta da cidade ucraniana de Pripyat. Ao terem ciência do acontecido, autoridades soviéticas organizaram uma mega operação de limpeza composta por 600 mil trabalhadores. Nesse mesmo tempo, helicópteros eram enviados para o foco central das explosões com cargas de areia e chumbo que deveriam conter o furor das chamas. Além disso, foi necessário que aproximadamente 45.000 pessoas fossem prontamente retiradas do território diretamente afetado. Para alguns especialistas, as dimensões catastróficas do acidente nuclear de Chernobyl poderiam ser menores caso esse modelo de usina contasse com cúpulas de aço e cimento que protegessem o lugar. Não por acaso, logo após as primeiras ações de reparo, foi construído um “sarcófago” que isolou as ruínas do reator 4. Enquanto isso, uma assustadora quantidade de óbitos e anomalias indicava os efeitos da tragédia nuclear. Buscando sanar definitivamente o problema da contaminação, uma equipe de projetistas hoje trabalha na construção do Novo Confinamento de Segurança. O projeto consiste no desenvolvimento de uma gigantesca estrutura móvel que isolará definitivamente a usina nuclear de Chernobyl. Dessa forma, a área do solo contaminado será parcialmente isolada e a estrutura do sarcófago descartada. Apesar de todos esses esforços, estudos científicos revelam que a população atingida pelos altos níveis de radiação sofre uma série de enfermidades. Além disso, os descendentes dos atingidos apresentam uma grande incidência de problemas congênitos e anomalias genéticas. Por meio dessas informações, vários ambientalistas se colocam radicalmente contra a construção de outras usinas nucleares.47 47 Artigo de História. Disponível no site http://www.brasilescola.com/historia/chernobyl-acidente- nuclear.htm. Acesso em 05 de Novembro de 2013. http://www.brasilescola.com/historia/chernobyl-acidente-nuclear.htm http://www.brasilescola.com/historia/chernobyl-acidente-nuclear.htm 48 Acidente com Césio 137 em Goiânia (1987)48 Um dos maiores acidentes com o isótopo Césio-137 teve início no dia 13 de setembro de 1987, em Goiânia, Goiás. O desastre fez centenas de vítimas, todas contaminadas através de radiações emitidas por uma única cápsula que continha césio-137. O instinto curioso de dois catadores de lixo e a falta de informação foram fatores que deram espaço ao ocorrido. Ao vasculharem as antigas instalações do Instituto Goiano de Radioterapia (também conhecido como Santa Casa de Misericórdia), no centro de Goiânia, tais homens se depararam com um aparelho de radioterapia abandonado. Então tiveram a infeliz ideia de remover a máquina com a ajuda de um carrinho de mão e levaram o equipamento até a casa de um deles. O maior interesse dos catadores era o lucro que seria obtido com a venda das partes de metal e chumbo do aparelho para ferros-velhos da cidade. Leigos no assunto, não tinham a menor noção do que era aquela máquina e o que continha realmente em seu interior. Após retirarem as peças de seus interesses, o que levou cerca de cinco dias, venderam o que restou ao proprietário de um ferro-velho. O dono do estabelecimento era Devair Alves Ferreira que, ao desmontar a máquina, expôs ao ambiente 19,26 g de cloreto de césio-137 (CsCl), um pó branco parecido com o sal de cozinha que, no escuro, brilha com uma coloração azul. Ele se encantou com o brilho azul emitido pela substância e resolveu exibir o achado a seus familiares, amigos e parte da vizinhança. Todos acreditavam estar diante de algo sobrenatural e alguns até levaram amostras para casa. A exibição do pó fluorescente decorreu 4 dias, e a área de 48 Artigo de História. Disponível no site http://www.brasilescola.com/quimica/acidente-cesio137.htm acesso em 01 de Novembro de 2013. http://www.brasilescola.com/quimica/acidente-cesio137.htm 49 risco aumentou, pois parte do equipamento de radioterapia também fora para outro ferro-velho, espalhando ainda mais o material radioativo.49 Algumas horas após o contato com a substância, vítimas apareceram com os primeiros sintomas da contaminação (vômitos, náuseas, diarreia e tonturas). Um grande número de pessoas procurou hospitais e farmácias clamando dos mesmos sintomas. Como ninguém fazia ideia do que estava ocorrendo, tais enfermos foram medicados como portadores de uma doença contagiosa. Dias se passaram até que foi descoberta a possibilidade de se tratar de sintomas de uma Síndrome Aguda de Radiação. Somente no dia 29 de setembro de 1987, após a esposa do dono do ferro-velho ter levado parte da máquina de radioterapia até a sede da Vigilância Sanitária, é que foi possível identificar os sintomas como sendo de contaminação radioativa. Os médicos que receberam o equipamento solicitaram a presença de um físico nuclear para avaliar o acidente. Foi então que o físico Valter Mendes, de Goiânia, constatou que havia índices de radiação na Rua 57, do Setor Aeroporto, bem como nas suas imediações. Diante de tais evidências e do perigo que elas representavam, ele acionou imediatamente a Comissão Nacional Nuclear (CNEN). O ocorrido foi informado ao chefe do Departamento de Instalações Nucleares, José Júlio Rosenthal, que se dirigiu no mesmo dia para Goiânia. No dia seguinte a equipe foi reforçada pela presença do médico AlexandreRodrigues de Oliveira, da Nuclebrás (atualmente, Indústrias Nucleares do Brasil) e do médico Carlos Brandão da CNEN. Foi quando a Secretaria de Saúde do estado começou a realizar a triagem dos suspeitos de contaminação em um estádio de futebol da capital. A primeira medida tomada foi separar todas as roupas das pessoas expostas ao material radioativo e lavá-las com água e sabão para a descontaminação externa. Após esse procedimento, as pessoas tomaram um quelante denominado de “azul da Prússia”. Tal substância elimina os efeitos da 49 Idem. 50 radiação, fazendo com que as partículas de césio saiam do organismo através da urina e das fezes. As remediações não foram suficientes para evitar que alguns pacientes viessem a óbito. Entre as vítimas fatais estava a menina Leide das Neves, seu pai Ivo, Devair e sua esposa Maria Gabriela, e dois funcionários do ferro-velho. Posteriormente, mais pessoas morreram vítimas da contaminação com o material radioativo, entre eles funcionários que realizaram a limpeza do local. O trabalho de descontaminação dos locais atingidos não foi fácil. A retirada de todo o material contaminado com o césio-137 rendeu cerca de 6000 toneladas de lixo (roupas, utensílios, materiais de construção etc.). Tal lixo radioativo encontra-se confinado em 1.200 caixas, 2.900 tambores e 14 contêineres (revestidos com concreto e aço) em um depósito construído na cidade de Abadia de Goiás, onde deve ficar por aproximadamente 180 anos. No ano de 1996, a Justiça julgou e condenou por homicídio culposo (quando não há intenção de matar) três sócios e funcionários do antigo Instituto Goiano de Radioterapia (Santa Casa de Misericórdia) a três anos e dois meses de prisão, pena que foi substituída por prestação de serviços. Atualmente, as vítimas reclamam da omissão do governo para a assistência da qual necessitam, tanto médica como de medicamentos. Fundaram a Associação de Vítimas contaminadas do Césio-137 e lutam contra o preconceito ainda existente. O acidente com Césio-137 foi o maior acidente radioativo do Brasil e o maior do mundo ocorrido fora das usinas nucleares.50 50 Ibidem 51 CONCLUSÃO A Resolução CONAMA nº 369, de 28 de março de 200651, que dispõe sobre as APP’s urbanas, representa um marco para a gestão das margens dos rios urbanos no Brasil. Pela abertura da possibilidade de utilização sustentável das margens, aproxima as relações entre as cidades e os corpos d’ água. Uma demanda crescente para espaços abertos, dedicados aos lazeres, de proximidades e coletivos emergiu nesses últimos dez anos. Habitantes das cidades e dos subúrbios franceses que constituem área de habitação de baixa renda reivindicam espaços capazes de acomodar diferentes tipos de atividades ao ar livre, práticas esportivas simplesmente lugares de caminhadas e contemplação. Observamos também um aumento da frequência das trilhas e das pistas de bicicleta. Os parques públicos e os jardins existentes não são mais suficientes, em um contexto onde o neo-rural, fugindo das cidades, vai à busca de um quadro de vida bucólico, enquanto que o neo- urbano busca uma estrutura agradável para o seu lazer, próxima a um ambiente urbano. Existe uma demanda que é cada vez mais forte de incorporar a “natureza” na cidade, de maneira a responder os desejos de todas as categorias da população. A valorização da água, um componente fundamental da qualidade da paisagem humana, torna-se nesse contexto um elemento essencial tanto pelo seu potencial ecológico como pelo seu potencial para atividades de lazer.52 Hoje, após um período marcado pela degradação da água, nos somos levados a observar que a água é um elemento estruturante da paisagem, que traz uma continuidade dentro das rupturas múltiplas, no labirinto da urbanização contemporânea. Apesar da urbanização desenfreada a água 51 Artigo acadêmico. Disponível no site http://www.anppas.org.br/encontro5/cd/artigos/GT12- 823-933-20100903192602.pdf acesso em 01 de Novembro de 2013. 52 Idem. http://www.anppas.org.br/encontro5/cd/artigos/GT12-823-933-20100903192602.pdf http://www.anppas.org.br/encontro5/cd/artigos/GT12-823-933-20100903192602.pdf 52 continua a afirmar sua presença. O curso dos rios desenha uma trama contínua de montante a jusante. O estudo urbano-ambiental das APP´s pretende propor uma discussão: como ocupar as APP’s; quebrar a dicotomia conceitual “natureza- cidade”, vistas como opostos. Isto é vital quando se intervém num contexto tão antrópico; compreender e reafirmar que elementos tão “artificiais”, elaborados culturalmente são importantíssimos do ponto de vista ambiental: um rio parcialmente revitalizado, mas com as margens preservadas e solo permeável é essencial para o equilíbrio ambiental e a qualidade de vida dos cidadãos. Romper com analises do espaço segregado, com fronteiras demarcadas entre áreas urbanas e áreas de proteção, abordar o espaço a partir de analises mais amplas que consideram corredores verdes, APP’s. Considerar essas áreas um espaço híbrido e com múltiplas funções: proteção ambiental, urbanísticas e paisagísticas. O que leva ao contraponto que parece paradoxal: desconstruir, intervir, modificar, alterar a paisagem, não é sempre e inevitavelmente uma fonte de destruição e desequilíbrio ambiental.53 O presente estudo partiu de uma análise do tema do cabimento da responsabilidade penal das pessoas jurídicas na prática de crimes ambientais, com o intuito de conhecer as questões relacionadas com as consequências jurídicas do ente coletivo figurando como sujeito ativo do ilícito penal ambiental, e sua repercussão tanto no âmbito penal, quanto no civil e administrativo. O meio ambiente como direito fundamental difuso e transindividual como está presente na Carta Magna, equipara-se à sua proteção, ao bem da VIDA. Por isso se justifica a presente tutela penal ambiental, pois sem o meio ambiente equilibrado, não há que se falar em desenvolvimento econômico e continuidade da vida no planeta.54 O tratamento constitucional dado à matéria ambiental desde sua promulgação em 1988, é em decorrência do intenso debate mundial, baseado 53 Ibidem 54 Ibidem 53 no interesse social ambiental emergente da adoção da Teoria da Realidade concebida por Gierke, no qual o ente coletivo faz parte da realidade jurídico- social e tem capacidade de delinquir. As premissas lançadas ao longo deste trabalho autorizam afirmar que a questão da imputação criminal ao ente coletivo ainda hoje é objeto de controvérsia e discussão entre os doutrinadores. Isto porque, sob o enfoque do direito penal clássico, fundado no caráter pessoal da culpabilidade do agente e da conduta lesiva, somado aos princípios da taxatividade e intervenção mínima, verificou-se a necessidade da aplicação de uma sanção penal baseada na responsabilidade social emergente. Sabe-se, por exemplo, que no âmbito jurisprudencial já consolidado, admite-se tal responsabilização, apesar de divergências doutrinárias já debatidas neste trabalho. A nova realidade econômica, fundamentada em princípios constitucionais como o da dignidade da pessoa humana e na valorização do trabalho, faz nascer um novo modo de crescimento mundial: o desenvolvimento sustentável. A pesquisa mostrou que a admissibilidade do posicionamento adotado encontra respaldo jurídico na Carta Magna, legislações infraconstitucionais, entendimento jurisprudencial do STF e doutrinário majoritário, além do Direito Comparado. Quanto à eficácia das sanções penais aplicadas, percebeu-se, pela análise dos dados obtidos pela jurisprudência, que grande parte das ações penais onde figura a pessoa jurídica no polo ativo da ação (juntamente com a pessoa física que a represente) são trancadas devido à dificuldade de se pormenorizar as condutas pessoais do(s) agente(s), na medida de sua culpabilidade.O intuito da aplicação de sanções penais às pessoas jurídicas e não somente ao agente (pessoa física) que age em seu nome se deve, na esmagadora realidade, ao fato de que 16 a empresa ao agir em desconformidade perante a legislação ambiental em vigor, estará multiplicando seus lucros em detrimento de pequenos reflexos na aplicação de outros ramos 54 do direito, como o Direito Civil (reparação do dano) e na esfera administrativa (perda da faculdade de contratar com o serviço público). 55 Aspecto também importante em questão, é que o pano de fundo dessa proteção ambiental ainda guardava o interesse econômico por trás do aparente desenvolvimento e benefício social: retirados pelo Direito Penal os coadjuvantes (pessoa que age em nome do ente coletivo), ainda restava impune o protagonista (pessoa jurídica de elevado poder aquisitivo), que sempre alcançara sua finalidade de lucro a qualquer custo. Em contrapartida, o Direito Penal se modernizou, levando em consideração o caráter social da ação, admitindo que os maiores poluidores da atualidade a pessoa jurídica figure como sujeito ativo na prática de crimes ambientais. O que não deveria ocorrer nas brechas existentes na legislação, é a cessação da responsabilidade penal da pessoa jurídica mediante assinatura do Termo de Ajustamento de Conduta. Ato este que deverá servir de salvo- conduto para a empresa voltar a poluir. Um dos objetivos da sanção penal é seu caráter educativo e não somente punitivo. Outro aspecto controvertido debatido no trabalho é a não utilização do encarceramento como forma mais drástica dos efeitos da aplicação da responsabilidade penal. Assim como o Direito Penal clássico (com respaldo constitucional) admite pena de morte para pessoa física, é admissível também, no mesmo intuito, a liquidação forçada da sociedade (pena de morte da empresa). Porém, o que se assiste na realidade é bem diferente: não há relatos jurisprudenciais de ocorrências destes fatos, tanto com a pessoa natural quanto ao ente coletivo. A maioria das ações penais em matéria ambiental são trancadas, devido à grande dificuldade de se aferir com precisão a medida de culpabilidade de cada um dos envolvidos, principalmente o protagonista. Apenas um aspecto resta em comum: as sanções penais conseguem atingir 55 Ibidem 55 sua finalidade, quer seja educativa na base da coerção, ou na completa restrição da liberdade do indivíduo ou da empresa.56 A responsabilidade penal da pessoa jurídica mostra-se o meio mais adequado de inibir o crescimento econômico desenfreado (baseado na privatização do lucro e socialização dos prejuízos aferidos) e promover um debate social mundial de como gerar um desenvolvimento sustentável com a adoção de políticas publicas voltadas para a educação ambiental, e garantir um futuro próspero a todos. 56 Ibidem. 56 REFERÊNCIAS ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental 10° edição. São Paulo: editora lumens juris, 2007. FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso De Direito Ambiental Brasileiro Editora Saraiva 13° Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2012. MACHADO, P.A.L. Direito Ambiental Brasileiro. 10ª. Ed., revista, ampliada e atualizada. São Paulo: Malheiros, 2002. MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 3ª ed. rev. Atual. E ampliada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. SIRVINSKAS, Luis Paulo. Tutela Penal do Meio Ambiente: breves considerações à Lei n. 9.605 de 12-02-1998. 3ª ed. ver. atual. e ampliada. São Paulo: Editora Saraiva, 2004. SIRVINSKAS, Luiz Paulo. Manual De Direito Ambiental 10° Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2012. 57 ANEXOS DOS CRIMES AMBIENTAIS INOVAÇÕES DA LEI57 Antes Depois Leis esparsas, de difícil aplicação. A legislação ambiental é consolidada; As Penas têm gradações adequadas e as infrações são claramente definidas. Pessoa jurídica não era responsabilizada criminalmente. Define a responsabilidade da pessoa jurídica - inclusive a responsabilidade penal - e permite a responsabilização também da pessoa física autora ou co- autora da infração. Pessoa jurídica não tinha decretada liquidação quando cometia infração ambiental. Pode ter liquidação forçada no caso de ser criada e/ou utilizada para permitir, facilitar ou ocultar crime definido na lei. E seu patrimônio é transferido para o Patrimônio Penitenciário Nacional. A reparação do dano ambiental não extinguia a punibilidade. A punição é extinta com apresentação de laudo que comprove a recuperação do dano Ambiental. Impossibilidade de aplicação direta de pena restritiva de direito ou multa. A partir da constatação do dano ambiental, as penas alternativas ou a multa podem ser aplicadas 57 Artigo acadêmico. Disponível no site: http://www.ladesom.com/marli/artigos/monografia/CRIMES-CONTRA-O-MEIO-AMBIENTE.pdf Acesso em 26 de Outubro de 2013. http://www.ladesom.com/marli/artigos/monografia/CRIMES-CONTRA-O-MEIO-AMBIENTE.pdf 58 imediatamente. Aplicação das penas alternativas era possível para crimes cuja pena privativa de liberdade fosse aplicada até 02 (dois) anos. É possível substituir penas de prisão até 04 (quatro) anos por penas alternativas, como a prestação de serviços à comunidade. A grande maioria das penas previstas na lei tem limite máximo de 04 (quatro) anos. A destinação dos produtos e instrumentos da infração não era bem definida. Produtos e subprodutos da fauna e flora podem ser doados ou destruídos, e os instrumentos utilizados quando da infração podem ser vendidos. Matar um animal da fauna silvestre, mesmo para se alimentar, era crime inafiançável. Matar animais continua sendo crime. No entanto, para saciar a fome do agente ou da sua família, a lei descriminaliza o abate. Maus tratos contra animais domésticos e domesticada era contravenção. Além dos maus tratos, o abuso contra estes animais, passa a ser crime. Não havia disposições claras relativas a experiências realizadas com animais. Experiências dolorosas ou cruéis em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, são considerados crimes, quando existirem recursos alternativos. Pichar e grafitar não tinham penas claramente definidas. A prática de pichar, grafitar ou de qualquer forma conspurcar edificação ou monumento urbano, sujeita o infrator a até um ano de detenção. A prática de soltura de balões não era Fabricar, vender, transportar ou soltar 59 punida de forma clara. balões, pelo risco de causar incêndios em florestas e áreas urbanas, sujeita o infrator à prisão e multa. Destruir ou danificar plantas de ornamentação em áreas públicas ou privadas era considerado contravenção. Destruição, dano, lesão ou maus tratos às plantas de ornamentação é crime, punido por até 01 (um) ano. O acesso livre às praias era garantido, entretanto, sem prever punição criminal a quem o impedisse. Quem dificultar ou impedir o uso público das praias está sujeito a até 05 (cinco) anos de prisão. Desmatamentos ilegais e outras infrações contra a flora eram considerados contravenções. O desmatamento não autorizado agora é crime, além de ficar sujeito a pesadas multas. A comercialização, o transporte e o armazenamento de produtos e subprodutos florestais eram punidos como contravenção. Comprar, vender, transportar, armazenar. Madeira, lenha ou carvão, sem licença da autoridade competente, sujeita o infrator a até 01 (um) ano de prisão e multa. A conduta irresponsável de funcionários de órgãos ambientais não estava claramente definida. Funcionário de órgão ambiental que fizer afirmação falsa, omitir a verdade, sonegar informações ou dados em procedimentos de autorização ou licenciamento ambiental,pode pegar até 03 (três) anos de cadeia. As multas, na maioria, eram fixadas através de instrumentos normativos passíveis de contestação judicial. A fixação e aplicação de multas têm a força da lei. A multa máxima por hectare, metro A multa administrativa varia de R$ 50 60 cúbico ou fração era de R$ 5 mil. a R$ 50 Milhões. IMAGENS Imagem 1: Pássaro preso em petróleo derramado no mar. Fonte:http://golddicas.blogspot.com.br/2009/04/o-maior-desastre-ambiental-da- historia.html 61 Imagem 2: Navio Costa Concórdia naufragado na Itália em 2012. Fonte:http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/01/italia-corre-risco-de-ter-pior-desastre- ambiental-em-20-anos-1.html 62 Imagem 3: Desmatamento na Amazônia (Foto: (Divulgação)) 63 Imagem 4: Desmatamento na Amazônia Fonte: http://meioambiente-ifcemaracanau.blogspot.com.br/2011/05/noticia-desmatamento-na- amazonia-e.html http://meioambiente-ifcemaracanau.blogspot.com.br/2011/05/noticia-desmatamento-na-amazonia-e.html http://meioambiente-ifcemaracanau.blogspot.com.br/2011/05/noticia-desmatamento-na-amazonia-e.html 64 Imagem 5: Rio Capibaribe – PE Fonte: http://www.essaseoutras.xpg.com.br/os-10-rios-mais-poluidos-do-brasil-lista-com- nomes-dos-sujos-fotos/ http://www.essaseoutras.xpg.com.br/os-10-rios-mais-poluidos-do-brasil-lista-com-nomes-dos-sujos-fotos/ http://www.essaseoutras.xpg.com.br/os-10-rios-mais-poluidos-do-brasil-lista-com-nomes-dos-sujos-fotos/ 65 Imagem 6: Rio Citarum - Indonésia Fonte: http://www.mundocerto.com.br/portal/artigo-interna.aspx?id=84 http://www.mundocerto.com.br/portal/artigo-interna.aspx?id=84