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Introdução ao Direito Constitucional | 
Introdução ao Direito Constitucional 
www.cenes.com.br | 1 
 
 
 
 
 
DISCIPLINA 
INTRODUÇÃO AO DIREITO 
CONSTITUCIONAL 
 
CONTEÚDO 
Conceitos Introdutórios e Poder 
Constituinte 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Introdução ao Direito Constitucional 
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Introdução ao Direito Constitucional | 
Introdução ao Direito Constitucional 
www.cenes.com.br | 3 
Sumário 
Sumário ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 3 
1 Introdução ao Direito Constitucional ---------------------------------------------------------------- 4 
1.1 Da Definição de Estado ------------------------------------------------------------------------------------------------- 4 
1.2 Da Responsabilidade do Estado -------------------------------------------------------------------------------------- 5 
1.3 Da finalidade do Estado ------------------------------------------------------------------------------------------------ 5 
2 Elementos Constitutivos do Estado ------------------------------------------------------------------- 6 
2.1 Povo ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 7 
2.2 Território ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 8 
2.3 Governo -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 8 
3 Organização do Estado ---------------------------------------------------------------------------------- 9 
4 Poderes do Estado ---------------------------------------------------------------------------------------- 11 
5 Poder Constituinte ---------------------------------------------------------------------------------------- 13 
5.1 Poder Constituinte Originário -------------------------------------------------------------------------------------- 14 
5.1.1 Limitações do Poder Constituinte Originário ------------------------------------------------------------------------------ 15 
5.2 Poder Constituinte Derivado---------------------------------------------------------------------------------------- 16 
5.2.1 Poder Constituinte Derivado Decorrente ----------------------------------------------------------------------------------- 16 
5.2.2 Poder Constituinte Derivado Reformador ---------------------------------------------------------------------------------- 17 
5.2.3 Poder Constituinte Derivado Revisor ---------------------------------------------------------------------------------------- 18 
5.3 Poder Constituinte Supranacional --------------------------------------------------------------------------------- 21 
5.4 Poder Constituinte Difuso ------------------------------------------------------------------------------------------- 22 
6 Fenômenos que Surgem com Uma Nova Constituição ----------------------------------------- 23 
7 Conclusão --------------------------------------------------------------------------------------------------- 25 
8 Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------------------------------ 26 
 
 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Introdução ao Direito Constitucional 
www.cenes.com.br | 4 
1 Introdução ao Direito Constitucional 
Em seu Manual de Direito Constitucional, Nathalia Masson define o Direito 
Constitucional como sendo um dos ramos do Direito Público oriundo de ideais 
liberais, os quais estão voltados para a “a organização estrutural do Estado, o exercício 
e transmissão do poder e a enumeração de direitos e garantias fundamentais dos 
indivíduos”. Na mesma direção, é definido por Jose Afonso da Silva (2014) “como ramo 
do Direito Público que expõe, interpreta e sistematiza os princípios e normas 
fundamentais do Estado, os quais compõem o conteúdo das constituições”. 
 
A Constituição, por sua vez, pode ser definida como “o conjunto de normas 
fundamentais e supremas, que podem ser escritas ou não, responsáveis pela criação, 
estruturação e organização político-jurídica de um Estado”, trata-se de um documento 
essencial que prevê os elementos organizadores, a forma de exercício delimitado de 
poder, que assegura os direitos e as garantias fundamentais do homem e 
consequentemente faz possível a existência de um Estado. De todo o conjunto de 
normas vigentes dentro de um espaço territorial, a Constituição é a norma primeira e 
serve de fundamentação para todas as outras. 
 
Neste sentido, e tendo em vista que a Constituição rege a estruturação e organização 
do Estado, faz-se necessário primeiramente estudarmos os fundamentos do Estado, 
seus elementos constitutivos e seus poderes. É sobre isso que trataremos nos 
capítulos seguintes. 
 
1.1 Da Definição de Estado 
O Estado pode ser definido como uma sociedade organizada política e juridicamente 
que ocupa um território definido, onde a lei máxima normalmente é uma Constituição 
escrita e dirigida por um Governo que possui soberania reconhecida, tanto interna 
quanto externamente. 
 
O conceito de Estado e Nação distintos e inconfundíveis. Conforme Sahid Maluf 
(2019), “A Nação é uma realidade sociológica; o Estado, uma realidade jurídica. O 
conceito de Nação é essencialmente de ordem subjetiva, enquanto o conceito de 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Introdução ao Direito Constitucional 
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Estado é necessariamente objetivo”. Neste sentido, diz-se que a Nação é anterior ao 
estado, é definida como a “substância humana do Estado”, pois se trata de um 
“conjunto homogêneo de pessoas ligadas entre si por vínculos permanentes de 
sangue, idioma, religião, cultura e ideais”, de modo que um Estado pode comportar 
pessoas de diversas nações, assim como uma única nação pode se dividir em diversos 
Estado. 
 
1.2 Da Responsabilidade do Estado 
O Estado é responsável pela organização e pelo controle social, pois detém o direitode soberania (ius imperii), ou o chamado poder extroverso do Estado. Mediante uma 
analogia, podemos pensar no Estado como um grande “fantasma”, cujo poder pesa 
como uma mão invisível sobre o povo. Ele é uma criação por nós reconhecida, com 
forma própria, concebida e conceituada como uma pessoa jurídica no direito 
brasileiro. 
 
O Estado nasceu para organizar um povo, uma nação, para convencer esse povo a 
viver sob o manto de uma ordem, sob certas regras, dogmas, direitos e deveres. 
Conforme explica Sahid Maluf (2019), o Estado é “criação da vontade humana”, não 
possui “autoridade nem finalidade próprias, mas é uma síntese dos ideais da 
comunhão que ele representa [...]: O Estado é o órgão executor da soberania nacional”. 
 
 
 
1.3 Da finalidade do Estado 
Em consonância com o entendimento compartilhado por diversos doutrinadores, 
podemos dizer que a finalidade do Estado é assegurar a vida humana em 
coletividade, torná-la possível e viável, regulando, quando necessário, as relações 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Elementos Constitutivos do Estado 
www.cenes.com.br | 6 
públicas e privadas. Além disso, o Estado é responsável por garantir a ordem interna 
e assegurar a soberania na ordem internacional. Neste sentido, o governo deve ser 
um ente que demonstra poder internamente, sendo reconhecido por seu povo e, ao 
mesmo tempo, represente esse povo para além das suas fronteiras, fazendo-se 
reconhecido e respeitado. O Estado deve ser visto como soberano. 
 
Por fim, o Estado deve elaborar as regras de conduta e distribuir a justiça, ou seja, 
organizar e manter o homem em sociedade. Em outras palavras, determinar e 
normatizar os direitos e deveres englobados pelo amplo arcabouço jurídico do direito 
civil, penal, tributário, empresarial etc. 
 
2 Elementos Constitutivos do Estado 
O Estado soberano é sintetizado pela máxima “um governo, um povo, um território”. 
Essa máxima remete à teoria tripartite de governo, segundo a qual, em havendo um 
povo dentro de um território com um governo soberano passível de ser identificado, 
haverá um Estado. Para analisarmos pormenorizadamente cada um desses elementos, 
devemos considerar as causas constitutivas do Estado, que nos levam ao 
entendimento científico de como o Estado se constitui. Para tanto, recorremos a 
Acquaviva (2010), observando as três causas por ele expostas: as causas materiais, as 
causas formais e a causa final. Para o autor: 
São causas materiais do Estado o povo, ou o elemento humano, e o território, ou base física, 
área material ou ideal em que o Estado faz valer seu Direito positivo. Quanto às causas formais, 
vale dizer, aquelas que identificam o Estado quanto à sua forma jurídica ou constituição 
política, graças à qual um Estado não se confunde com outros - daí, a importância de conhecer 
o Estado por sua constituição! - são a ordem jurídica e o poder político, exercido pelos 
governantes (do grego kubernetes, piloto de embarcação) que o encarnam em dado momento 
histórico. Quanto à causa final do Estado, vale lembrar que cada sociedade tem, conforme sua 
natureza, uma causa final específica. [...] Quanto ao Estado, tem por causa final o bem com um 
de todas as sociedades menores que atuam em seu território (ACQUAVIVA, 2010, p. 24). 
 
Na sequência, vamos detalhar cada uma destas causas. 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Elementos Constitutivos do Estado 
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 Figura 1 - Elementos constitutivos do Estado 
Fonte: Núcleo editorial Focus 
 
2.1 Povo 
O povo é o elemento humano formado pelo conjunto de pessoas submetidas à ordem 
jurídica estatal. É o grupo de pessoas que possuem as mesmas características, que 
falam a mesma língua, que seguem as mesmas tradições e são unidas por diversos 
elos de ligações. Conforme aponta, Marcus Claudio Acquaviva, 
Ao Direito, em especial o direito constitucional, interessam os sentidos jurídico e político. Povo, 
no sentido jurídico, é o conjunto de indivíduos qualificados pela nacionalidade. Nele não se 
incluem, já se vê, estrangeiros e apátridas. Todavia, o sentido político é ainda mais restrito, pois 
exclui não só estrangeiros e apátridas, como também os menores de 16 anos (CF, art. 14, §§ I 
o, II, c, e 2o), estando o povo político, tido como o conjunto dos cidadãos do Estado, vinculado 
à ideia de cidadania (ACQUAVIVA, 2010, p. 25). 
 
Neste sentido, o conceito não deve ser confundido com o de população, esta é uma 
medida definida pelo conjunto de indivíduos da mesma espécie que vivem na mesma 
região em determinado período. Por exemplo, o povo baiano é o povo que nasceu na 
Bahia, que fala a mesma variedade linguística, tem práticas religiosas próprias da 
região, entre outras características que os une. Mas, em época de carnaval, a 
população da Bahia pode ser triplicada em virtude dos turistas que se alocam na 
região. Este fato, contudo, não altera as características do povo Baiano, somente a 
população, porque esta é definida pelo conjunto de pessoas na mesma área por 
determinado espaço de tempo, (os cinco dias de carnaval). 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Elementos Constitutivos do Estado 
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2.2 Território 
O território é o elemento material (espacial ou físico) do Estado, é a base geográfica 
que compreende a superfície do solo que o Estado ocupa, seu mar territorial e o 
espaço aéreo. É todo e qualquer espaço físico ou ideal delimitado e dominado pelo 
Estado, no qual exerce seu poder com exclusividade. 
 
Segundo Acquaviva (2010), quanto à etimologia da palavra, “Não provém, conforme 
se poderia pensar, de nada ligado à terra, espaço geográfico, mas do verbo latino 
terreo, territo, isto é, intimido, causo medo, receio, mesmo porque o Estado exerce o 
seu poder antevendo a possibilidade de, a qualquer momento, utilizar a força 
(coerção) para ver suas determinações cumpridas pelos súditos. Diga-se o mesmo no 
âmbito externo, quando o Estado, para manter a soberania íntegra, procura, na força 
das armas, impor respeito às demais sociedades políticas”. 
 
2.3 Governo 
O governo é a organização necessária para o exercício do poder político e é composto 
por pessoas escolhidas nas diretrizes da Carta Política que rege o Estado. Embora a 
conceituação varie a depender do viés doutrinário, “exprime sempre o exercício do 
poder soberano”, dado que a soberania é a “foça geradora e justificadora do elemento 
governo (MALUF, 2018). 
 
Existem várias formas e modelos de governo, tais como a monarquia parlamentarista, 
o presidencialismo, o parlamentarismo puro, entre outros. Cada constituição, cada 
Estado determina como seu governo será organizado. O importante é que o governo 
seja reconhecido e soberano, que seja respeitado pelo povo internamente e que tenha 
poderes para representar o povo externamente. 
 
Além disso, é o governo que define o futuro político da sociedade, discutindo assuntos 
sensíveis ao povo, políticas públicas, políticas econômicas e monetárias, assuntos 
sensíveis de segurança nacional, entre outros. 
 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Organização do Estado 
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Para que esse governo exista, contudo, ele precisa ter governabilidade e governança, 
pois não basta ele ser legalmente eleito pela população e reconhecido pelo 
ordenamento jurídico brasileiro, ele precisa ser capaz de implementar políticas 
públicas. Neste sentido, a governança, para além de seguir as leis de acordo com a 
Constituição, representa o poder de criar e aplicar políticas públicas, de ter condições 
de impor essas políticas, colocá-las em prática e governar o povo. 
 
 
Figura 2 - Governabilidade e governança 
Fonte: Núcleo editorial Focus 
 
É oportuno destacar que tratamos aqui da divisão tripartite clássica da teoria geral 
do Estado (povo, território e governo), que prevê três elementos basilares para 
constituição do Estado. Contudo, existem outrasvisões que aprofundam esse tema 
com outros elementos, tais como a doutrina moderna de Pedro Lenza e Vicente Paulo 
Marcelo Alexandrino. Para estes autores e para parte da doutrina moderna, são quatro 
os elementos constitutivos do Estado: soberania, finalidade, povo e território. No 
entanto, no mesmo viés de Sahid Maluf, entendemos que a soberania está 
compreendida no conceito de Estado, pois um Estado não soberano ou 
semissoberano não caracterizaria de fato um Estado. 
 
3 Organização do Estado 
Conforme descreve Sahid Maluf (2018), as variações dos elementos que constituem o 
Estado caracterizado como um fato social (povo, território e governo) ensejam 
diversas classificações de Estado. Por exemplo, quanto ao povo, ele pode ser nacional 
ou plurinacional; quanto ao território, central ou marítimo. 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Organização do Estado 
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Neste sentido, em que pese a estrutura material do Estado (e não a sua organização 
política), Maluf afirma que ele pode ser: a) perfeito ou imperfeito ou b) simples e 
composto, sendo tipos característicos de Estado composto a união pessoal, a união 
real, a união incorporada e a confederação. Ao passo que Acquaviva classifica as 
formas do Estado em: união pessoal; união real; Estado unitário; e Estado federal. 
 
No entanto, Flavia Bahia (2017) afirma que hoje existem apenas duas formas principais 
de Estado, que são: 
a) Estado Unitário ou Simples – no qual o Poder Central concentra o poder 
político, não havendo divisão geográfica deste poder. Ou seja, existe apenas um 
núcleo de comando, que é no âmbito nacional, estendendo-se uniformemente 
sobre todo o seu território. Exemplo: França, Bélgica, Itália, Portugal e Uruguai. 
 
b) Estado Federado ou Composto – no qual ocorre a divisão geográfica do poder 
político. Isto é, a Federação é formada por vários Estados-membros, são vários 
núcleos de comando, cada um com sua autonomia política, bens próprios, 
renda e responsabilidades entregues pela Carta política. Exemplo: Alemanha, 
Suíça, Brasil e EUA. 
 
O que difere um Estado Unitário de um Federado é que neste último existem outros 
entes com autonomia política. É claro que os Estados Unitários, como a França e o 
Uruguai possuem uma forma descentralizada de organização, porém essa 
descentralização não é política. Por outro lado, em um Estado Federado, como o Brasil, 
delega-se aos estados-membros competências políticas e não meramente 
administrativas. O Estado unitário pode ser descentralizado, facilitando a 
administração por parte do governo central, mas isso não o torna um Estado 
Federado. 
 
Por fim, vale salientar que o Estado, em suas relações internacionais, possui soberania, 
enquanto a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, nas suas relações 
internas, possuem apenas autonomia. Em outros termos, dizemos que a União, 
Estados, Distrito Federal e Municípios que compõem a organização administrativa da 
nossa República possuem apenas autonomia, ao passo que a República Federativa do 
Brasil possui total soberania. 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Poderes do Estado 
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4 Poderes do Estado 
Esse “espírito superior” chamado Estado precisa de poderes para se impor perante o 
particular, pois a ele é dado o ius imperii, para que possa organizar e aplicar as normas 
preestabelecidas na sociedade, inclusive com punição para aqueles que as 
desobedecem. De acordo com o art. 2º da Constituição Federal de 1988, são Poderes 
da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o 
Judiciário. A título de elucidação, a primeira Constituição Imperial de 1824 previa um 
quarto poder, o Poder Moderador, que era o poder do Imperador. Este, contudo foi 
removido da Constituição desde sua primeira versão Republicana, em 1891. 
 
Assim, o Estado se impõe à sociedade, já que cabe a ele organizá-la, por meio dos três 
poderes – um poder administra, o outro faz leis e normas, e o outro distribui a justiça 
para o povo. Cada um desses Poderes do Estado exerce predominantemente uma 
função estatal específica, porém não há uma separação absoluta de funções, uma vez 
que essa teoria dos três poderes não é absoluta. Dessa forma, em não havendo 
separação absoluta de funções, assegura-se a aplicação da teoria do sistema de freios 
e contrapesos, de acordo com a qual um poder pode controlar o outro para garantir 
que o Estado progrida, conforme expôs Dalmo de Abreu Dallari no excerto extraído 
da obra Elementos da Teoria Geral do Estado: 
 
“O sistema de separação dos poderes, consagrado nas Constituições de quase todo 
o mundo, foi associado à ideia de Estado Democrático e deu origem a uma 
engenhosa construção doutrinária, conhecida como sistema de freios e contrapesos. 
Segundo essa teoria os atos que o Estado pratica podem ser de duas espécies: ou 
são atos gerais ou são especiais. Os atos gerais, que só podem ser praticados pelo 
poder legislativo, consistem na emissão de regras gerais e abstratas, não se 
sabendo, no momento de serem emitidas, a quem elas irão atingir. Dessa forma, o 
poder legislativo, que só pratica atos gerais, não atua concretamente na vida social, 
não tendo meios para cometer abusos de poder nem para beneficiar ou prejudicar 
uma pessoa ou um grupo em particular. Só depois de emitida a norma geral é que 
se abre a possibilidade de atuação do poder executivo, por meio de atos especiais. 
O executivo dispõe de meios concretos para agir, mas está igualmente 
impossibilitado de atuar discricionariamente, porque todos os seus atos estão 
limitados pelos atos gerais praticados pelo legislativo. E se houver exorbitância de 
qualquer dos poderes surge a ação fiscalizadora do poder judiciário, obrigando cada 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Poderes do Estado 
www.cenes.com.br | 12 
um a permanecer nos limites de sua respectiva espera de competências” (DALLARI, 
2010, p. 216). 
 
Isto posto, resumimos as funções típicas dos poderes da seguinte maneira: 
Poder Legislativo 
É aquele que tem como principal função a de legislar (fazer leis), ou seja, inovar o 
ordenamento jurídico, estabelecendo regras gerais e abstratas, criando comandos a 
todos os cidadãos, visto que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer 
alguma coisa senão em virtude de lei. No Brasil, o Legislativo tem ainda como função 
típica a de fiscalizar a Administração Pública, sendo o único poder do Estado a ter 
duas funções típicas previstas na Constituição. 
 
Poder Executivo 
É aquele que tem como principal função executar e administrar a coisa pública com 
a finalidade de atender o interesse público, dentro dos limites impostos pela lei em 
sentido amplo. 
 
Poder Judiciário 
É aquele que tem como principal função julgar, solucionar conflitos de interesses 
entre as partes, fazer direito e aplicar a lei nos casos concretos. Tal poder não se 
acha em todas as esferas, como os anteriores, dado que os municípios não possuem 
Poder Judiciário próprio. 
 
 
Retomando o conteúdo, o Estado surge com a junção de um povo dentro de um certo 
território, onde se tem, reconhecidamente, um governo soberano, o qual pauta-se em 
essência na governabilidade e governança, sendo que sem um ou o outro não é 
possível manter o governo. Ora, não há como manter um governo sem 
governabilidade eleito de forma ilegal ou imposto, assim como não há como manter 
um governo que, no decorrer da sua existência, não consiga impor as suas políticas 
públicas. Foi precisamente isso que ocorreu no exemplo mais recente que temos do 
governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Ela possuía governabilidade, pois foi eleita 
pelo povo brasileiro, porém perdeu sua governança ao longo do mandato, uma vez 
que não conseguiu implementar as suas políticas públicas. 
 
Quando analisamos conceito de governo passamos a entender como ele trabalha para 
Introdução aoDireito Constitucional | 
Poder Constituinte 
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administrar o Estado e percebemos emergir desse conceito outro, o de Administração 
Pública. Este, por sua vez, divide-se em dois vieses, o viés objetivo e o viés subjetivo. 
No sentido objetivo, buscamos compreender o que a Administração Pública faz, 
portanto falamos sobre fomento, serviço público, poder de polícia e outras funções 
de sua responsabilidade. Já no sentido subjetivo, buscamos compreender quem faz a 
administração, quem é o governo, quem é responsável por fazer a administração 
pública, ou seja, buscamos compreender o agente público. 
 
5 Poder Constituinte 
Poder Constituinte é o nome dado ao poder que pertence ao povo para organizar 
juridicamente a política e o Estado ou, conforme cita Sahid Maluf, “é uma função da 
soberania nacional. É o poder de constituir e reconstituir ou reformular a ordem 
jurídica estatal”. Sua titularidade é dada ao povo através de seus legitimados, que, em 
razão da complexidade do Estado moderno, representam seus interesses. 
 
Por óbvio, esse poder pode não se aplicar a regimes de governo que não sejam 
democráticos. Nas teocracias, por exemplo, o poder pertence a um conjunto de 
normas religiosa; em uma autocracia, o poder pertence a um detentor soberano. Mas, 
em um regime democrático, o poder constituinte pertence ao povo e é a partir deste 
poder que nasce a Constituição que organiza o Estado-nação. Este poder “tanto pode 
se exercido para a organização originária de um agrupamento nacional ou popular 
quanto para constituir, reconstituir ou reformular a ordem jurídica de um Estado já 
formado” (MALUF, 2019) 
 
Podemos classificar o Poder Constituinte de várias formas. A forma mais tradicional o 
classifica em Poder Constituinte Originário e Poder Constituinte Derivado. Hoje, 
contudo, existem outras espécies de Poder Constituinte, dentre as quais destacam-se 
o Poder Constituinte Supranacional e o Poder Constituinte Difuso. Assim, nesta aula, 
falaremos sobre essas quatro classificações. 
 
É importante salientar que o Poder Supranacional e o Poder Difuso não são 
ramificações do Poder Constituinte Derivado, pois, como veremos mais adiante, o 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Poder Constituinte 
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Poder Derivado possui somente três vertentes: derivado decorrente, derivado 
reformador e derivado revisor. 
 
 
Figura 3 - Classificações do poder constituinte 
Fonte: Núcleo editorial Focus 
 
5.1 Poder Constituinte Originário 
O Poder Constituinte Originário (também chamado de poder inicial, fundacional, 
inaugural, genuíno, primário ou de primeiro grau) é o que sustenta a criação de uma 
nova constituição, que estabelece uma nova ordem jurídica, rompendo com a 
precedente. De acordo com Nathalia Masson, 
O poder constituinte é a energia (ou força) política que se funda em si mesma, a expressão 
sublime da vontade de um povo em estabelecer e disciplinar as bases organizacionais da 
comunidade política. Autoridade suprema do ordenamento jurídico, exatamente por ser 
anterior a qualquer normatização jurídica, o poder é o responsável pela elaboração da 
Constituição, esta norma jurídica superior que inicia a ordem jurídica e lhe confere fundamento 
de validade (MASSON, 2018). 
 
Sua existência precede a compreensão teórica da Constituição, remetendo às 
primeiras organizações políticas, pois, conforme cita Luís Roberto Barroso, “Onde quer 
que exista um grupo social e poder político efetivo, haverá uma força ou energia inicial 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Poder Constituinte 
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que funda esse poder, dando-lhe forma e substância, normas e instituições” 
(BARROSO, 2020). 
 
Quanto a sua natureza, pode ser considerado como um “poder de fato, detentor de 
natureza essencialmente política, ou um poder de direito, possuidor de natureza 
jurídica” (MASSON, 2018). Caracteriza-se por ser político, inicial, autônomo, 
incondicionado, juridicamente ilimitado, inalienável e permanente, e é de titularidade 
do povo. 
 
 
Figura 4 - Poder constituinte originário 
Fonte: Núcleo editorial Focus 
 
5.1.1 Limitações do Poder Constituinte Originário 
Em relação à existência ou não de limitações ao Poder Constituinte Originário, a 
corrente jusnaturalista afirma que este poder possui freios, portanto, possui 
limitações. Contudo, pela teoria positivista, este poder se caracteriza como sendo 
ilimitado. 
 
Para a corrente jusnaturalista, as limitações materiais deste poder são abordadas em 
três categorias. 
➢ Limitações transcendentes: envolvem os direitos fundamentais da sociedade 
e proibição do retrocesso. 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Poder Constituinte 
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➢ Limitações permanentes: estão relacionadas à soberania e à forma do Estado. 
 
➢ Limitações heterônomos: são impostas pelas obrigações internacionais, pelos 
direitos internacionais e direitos humanos. 
 
Novamente, essas limitações são contempladas na teoria jusnaturalista, e esta é 
apenas uma das correntes de pensamento. Se analisadas pelo viés da teoria positivista, 
que se volta mais para aquilo que está propriamente escrito no texto jurídico, este 
poder será ilimitado. 
 
5.2 Poder Constituinte Derivado 
O Poder Constituinte Derivado, como o próprio nome já diz, é aquele que deriva do 
poder originário. Não é um poder inicial, mas sim de segunda mão, e por essa razão 
é também chamado de poder instituído, constituído ou de segundo grau. São 
características principais desse poder ser derivado, limitado e condicionado às 
determinações do poder originário, devendo sempre respeitar a lei da Constituição 
Federal. Este poder se subdivide em três categorias, são elas: 
▪ Poder Constituinte Derivado Decorrente: pode ser subdividido em dois: o inicial 
e o reformador. O poder decorrente inicial foi entregue aos estados-membros 
para formularem cada qual sua própria Constituição. Assim, as constituições 
estaduais são constituídas a partir do poder decorrente inicial e reformuladas a 
partir do poder decorrente reformador. 
▪ Poder Constituinte Derivado Reformador: envolve a alteração, a reforma da 
Constituição Federal de 1988 via emenda constitucional (difere-se do poder 
decorrente reformador). 
▪ Poder Constituinte Derivado Revisor: remete às emendas constitucionais de 
revisão da Constituição Federal de 1988. 
 
5.2.1 Poder Constituinte Derivado Decorrente 
O poder constituinte derivado decorrente surge para os Estados-membros e Distrito 
Federal criarem uma constituição, a fim de se adaptar à nova realidade. O poder 
responsável pela auto-organização dos Estados-membros costuma ser classificado em 
duas espécies. 
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a) Poder Constituinte Derivado Decorrente Inicial, o qual é responsável pela 
criação das constituições estaduais. 
b) Poder Constituinte Derivado Decorrente Reformador, o qual tem a função 
de fazer alterações no texto das constituições estaduais. 
 
 
 
5.2.2 Poder Constituinte Derivado Reformador 
O Poder Constituinte Derivado Reformador é o poder que garante a possibilidade de 
reforma e modificação da Constituição por meio de emenda, restringindo-se às 
limitações impostas pelo texto constitucional, tais como: as limitações materiais, as 
chamadas clausuras pétreas; as limitações formais, que remetem aos procedimentos 
para emendar a constituição; as limitações circunstanciais, que dizem respeito a 
circunstâncias ou períodos em que a constituição não pode ser alterada; e as 
temporais. 
 
5.2.2.1 Limitações Materiais 
As limitações impostas pela constituição estão em sua grande maioria no art. 60, § 4º 
da CF/88. Este dispõe sobre as clausuras pétreas, ou seja, sobre as clausuras que não 
podem ser retiradas da Constituição Federal. De acordo com o posicionamento do 
STF, as clausuraspétreas podem até ser objeto de emenda, porém essa emenda não 
pode ser tendente a abolir o assunto que está previsto no § 4º do art. 60, que prevê o 
seguinte. 
 
Art. 60, § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: 
I - a forma federativa de Estado; 
II - o voto direto, secreto, universal e periódico; 
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III - a separação dos Poderes; 
IV - os direitos e garantias individuais. 
 
5.2.2.2 Limitações Circunstanciais 
A limitação circunstancial está prevista no art. 60, § 1º da CF/88, segundo o qual a 
Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado 
de defesa ou de estado de sítio. Ora, a Constituição Federal é a maior lei que nós 
temos, por isso ela deve ser preservada, e uma das formas de fazer isso é não a 
alterando em tempos e circunstâncias que estão fora da situação de normalidade, 
como ocorre nesses casos. 
 
5.2.2.3 Limitações Formais 
As limitações formais se referem à forma e ao procedimento de tramitação e 
aprovação de uma Proposta de Emenda Constitucional – PEC. A nossa CF/88 é uma 
constituição rígida, portanto o procedimento para sua alteração é muito mais 
rigoroso. 
 
5.2.2.4 Limitações Temporais 
A limitação temporal consiste na proibição de alteração do texto constitucional 
durante certo período de tempo após ser promulgada uma nova constituição. Esta 
limitação, no entanto, não foi adotada pela atual Carta Magna. Lembre-se que embora 
o poder constituinte reformador não tenha essa limitação, o poder constituinte revisor 
tem. 
 
5.2.3 Poder Constituinte Derivado Revisor 
O poder constituinte derivado revisor é usado para revisar e alterar a Constituição, é 
diferente do derivado reformador tendo em vista que sustenta a total revisão e 
reformulação da Constituição havendo decorrido certo prazo a contar da sua 
promulgação. A CF/88 previu que após um lapso temporal de cinco anos haveria uma 
revisão constitucional e essa revisão já ocorreu, dessa forma não é mais possível 
aplicar à nossa constituição o poder constituinte derivado revisor, ele se exauriu em 
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uma única revisão feita em junho de 1994, da qual surgiram seis emendas 
constitucionais de revisão, as chamadas ECRs. 
 
Art. 3º ADCT. A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da 
promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso 
Nacional, em sessão unicameral. 
 
Conforme esclarece Nathalia Masson, no entanto, há quem defenda na doutrina a “a 
viabilidade de uma emenda constitucional que altere o art. 3° do ADCT, propiciando 
uma nova revisão. Essa alteração, porém, só se legitimaria se grandiosas e substanciais 
mudanças fossem percebidas na sociedade, de modo que necessária se tornaria uma 
revisão global do texto, com o fito de adequar a Constituição a (nova) realidade a ser 
normatizada”, desde que haja uma “manifestação popular direta favorável a realização 
da nova revisão”. Para a autora, isso caracterizaria, todavia, uma tentativa de ferir a 
vontade do poder originário, portanto advoga em sentido oposto a tal entendimento. 
 
Observe o quadro sinóptico extraído do Manual de Direito Constitucional (2020), de 
Nathalia Masson, com as principais diferenças entre o poder derivado revisor e o 
reformador. 
 
Tabela 1 - Principais diferenças entre os poderes derivados revisor e reformador. 
MECANISMOS FORMAIS DE ALTERAÇÃO DO TEXTO CONSTITUCIONAL 
 REFORMA (art. 60, CF/88) REVISÃO (art. 3º, ADCT) 
POSSIBILIDADE DE 
MODIFICAR O 
TEXTO 
CONSTITUCIONAL 
VIA REGULAR E PERENE MEIO EXCEPCIONAL E PRECÁRIO 
LIMITAÇÕES 
TEMPORAIS 
INEXISTEM NO ATUAL TEXTO 
CONSTITUCIONAL 
5 ANOS 
LIMITAÇÕES 
MATERIAIS 
▪ EXPRESSAS (constantes do art. 60, 
§ 4º, CF/88): 
a) a forma federativa de Estado; 
b) o voto direto, secreto, universal e 
periódico; 
c) a separação de poderes; 
APLICA-SE A MESMA PREVISÃO 
VÁLIDA PARA O PROCEDIMENTO 
DE REFORMA 
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d) os direitos e as garantias 
individuais. 
▪ IMPLÍCITAS: 
a) imutabilidade do art. 60, CF/88; 
b) titularidade do poder 
constituinte originário e do 
poder derivado de reforma; 
c) impossibilidade de supressão 
dos fundamentos da República 
Federativa do Brasil. 
LIMITAÇÕES 
CIRCUNSTANCIAIS 
A constituição não poderá ser 
emendada na vigência de (art. 60, § 
1º, CF/88): 
a) INTERVENÇÃO FEDERAL; 
b) ESTADO DE DEFESA; 
c) ESTADO DE SÍTIO. 
APLICA-SE A MESMA PREVISÃO 
VÁLIDA PARA O PROCEDIMENTO 
DE REFORMA 
LIMITAÇÕES 
FORMAIS 
Art. 60, caput, I, II, III, §§ 2º e 5º, 
CF/88: 
▪ A Constituição poderá ser 
emendada mediante proposta: 
a) de um terço, no mínimo, dos 
membros da Câmara dos 
Deputados ou do Senado 
Federal; 
b) do Presidente da República; 
c) de mais da metade das 
Assembleias Legislativas das 
unidades da Federação, 
manifestando-se, cada uma 
delas, pela maioria relativa de 
seus membros. 
▪ A proposta será discutida e cotada 
em Casa do Congresso Nacional, 
em dois turnos, considerando-se 
aprovada se obtiver, em ambos, 
três quintos dos votos dos 
respectivos membros. 
▪ A matéria constante de proposta 
de emenda rejeitada ou havida por 
prejudicada não pode ser objeto 
de nova proposta na mesma 
sessão legislativa. 
▪ VOTO DA MAIORIA ABSOLUTA 
DOS MEMBROS DO CONGRESSO 
NACIONAL 
▪ SESSÃO UNICAMERAL 
Fonte: Nathalia Masson (2018, p. 182) 
 
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5.3 Poder Constituinte Supranacional 
O poder constituinte supranacional nasceu a partir da Emenda Constitucional 45/04 e 
foi incluído no art. 5º da CF/88, na forma do § 3º, prevendo o seguinte: 
CF, Art. 5º, § 3º - Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem 
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos 
dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. (Incluído pela 
Emenda Constitucional nº 45, de 2004) 
 
Esse poder é baseado na teoria da interconstitucionalidade e no 
transconstitucionalismo. Segundo Masson (2018), “A partir dos ideais de cidadania 
universal, pluralismo, integração e soberania remodelada, que surge o (ainda 
incipiente) conceito de poder constituinte supranacional, destinado a equacionar uma 
Constituição supranacional legítima, com aptidão para vincular toda a comunidade de 
Estados sujeita à sua ação normatizadora”. 
 
Além disso, a ideia de se ter um poder como este, voltado para equivaler tratados e 
convenções internacionais a emendas constitucionais, remete à ideia de cidadania 
universal, ou monismo jurídico (um único ordenamento jurídico mundial), que 
representam, por sua vez, o constitucionalismo global. 
 
 
Figura 5 - Poder constituinte supranacional 
Fonte: Núcleo editorial Focus 
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O poder constituinte supranacional é utilizado quando se autoriza, no mesmo 
procedimento da PEC, a homologação de tratados internacionais e de direito 
humanos. Com isso, um tratado assinado fora do Brasil, que não pertence ao texto 
constitucional, é reconhecido e ganha um status constitucional. 
 
5.4 Poder Constituinte Difuso 
O poder constituinte difuso diz respeito às novas interpretações dadas pelo Supremo 
Tribunal Federal ao texto da Constituição que consolidam a mutação constitucional. É 
definido por Pedro Lenza (2021) como “um poder de fato e que serve de fundamento 
para os mecanismos de atuação da mutação constitucional”. 
 
É importante lembrar que o poder constituinte difuso não trabalha com alterações 
materiais, mas sim com novas interpretações. Ou seja, não há PEC no processo, não 
háalteração material ou formais, trata-se apenas de um poder entregue aos Ministros 
do Supremo Tribunal Federal para darem uma nova interpretação ao texto da 
Constituição Federal, por isso dizemos que esse poder permite somente a mutação 
constitucional. Conforme explica Lenza (2021), 
Se por um lado a mudança implementada pelo poder constituinte derivado reformador se 
verifica de modo formal, palpável, por intermédio das emendas à Constituição, a modificação 
produzida pelo poder constituinte difuso se instrumentaliza de modo informal e 
espontâneo, como verdadeiro poder de fato, e que decorre dos fatores sociais, políticos e 
econômicos, encontrando-se em estado de latência. Trata-se de processo informal de 
mudança da Constituição, alterando-se o seu sentido interpretativo, e não o seu texto, que 
permanece intacto e com a mesma literalidade (LENZA, 2021, grifo do autor). 
 
No decorrer do nosso curso, conforme formos adentrando no estudo da Constituição, 
nos depararemos com vários exemplos de mutações constitucionais. O art. 5º, por 
exemplo, é repleto delas. 
 
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Fenômenos que Surgem com Uma Nova Constituição 
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Figura 6 - Poder constituinte difuso 
Fonte: Núcleo editorial Focus 
 
6 Fenômenos que Surgem com Uma Nova Constituição 
Em regra, quando surge uma nova Constituição ela revoga a anterior, podendo 
apenas recepcionar normas infraconstitucionais, feitas de acordo com a Constituição 
anterior, desde que estas não contrariem materialmente os direitos estabelecidos pela 
nova. Em outras palavras, quando surge uma nova Constituição, a anterior é “jogada 
fora”, as leis da velha Constituição que estiverem de acordo com a nova Constituição 
serão recepcionadas, ou seja, “reutilizadas”, e as leis que não estiverem de acordo com 
a nova Constituição serão “jogadas fora” junto com a velha constituição. 
 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Fenômenos que Surgem com Uma Nova Constituição 
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Além do fenômeno da recepção, existem outros dois fenômenos, que, no entanto, não 
são admitidos no atual ordenamento jurídico. São eles: 
 
▪ DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO: ocorre quando a nova Constituição recebe a 
Constituição anterior como norma infraconstitucional. Esse fenômeno não é 
admitido no atual ordenamento jurídico, portanto não é adotado. 
 
▪ REPRISTINAÇÃO: ocorre quando a nova Constituição revigora as normas 
infraconstitucionais que a Constituição anterior havia revogado. Ocorre, por 
exemplo, quando uma lei A é revogada por uma segunda lei B, que por sua vez é 
revogada por uma terceira lei C. Uma vez que a lei C revogou a lei B, que havia 
revogado a lei A, ocorre a repristinação da lei A, ou seja, a lei A volta a vigorar. Este 
é um fenômeno que ocorre no âmbito das leis, por isso dizemos que ele existe no 
plano infraconstitucional. No entanto, não existe no plano de normas de caráter 
constitucional. 
 
REGRA: A nova CF REVOGA a CF anterior 
RECEPÇÃO: a nova CF recepciona as normas infraconstitucionais feitas de 
acordo com a CF anterior desde que não contrariem materialmente os direitos 
estabelecidos pela nova CF. 
ATENÇÃO: As normas infraconstitucionais anteriores não podem contrariar 
materialmente, mas podem contrariar formalmente a nova CF. 
Exemplo: CP de 1940 foi criado via Decreto Lei (espécie normativa inexistente no 
ordenamento jurídico atual); outro exemplo é o CNT, que foi feito por Lei Ordinária, 
mas foi recepcionado pela CF/88 como Lei Complementar, assim como parte do 
Código Eleitoral de 1965. 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Conclusão 
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Figura 7 - Fenômenos que surgem com uma nova Constituição 
Fonte: Núcleo editorial Focus 
 
7 Conclusão 
Neste material vimos que o Estado se constitui a partir da existência um povo dentro 
de um território em que há, reconhecidamente, um governo soberano que se pauta 
essencialmente na governabilidade e na governança, sendo que sem um ou o outro 
não se mantém. Na sequência estudamos os poderes constituintes do Estado, o poder 
originário, responsável pela formação da Constituição, que remete às primeiras 
organizações políticas e se caracteriza por ser uma força política que se funda em si 
mesma, existindo “onde quer que exista um grupo social e poder político efetivo”, e 
seus poderes derivados (o poder decorrente, o reformador e o revisor). 
 
Vimos, ainda, que podem resultar alguns fenômenos do surgimento de uma nova 
Constituição; o primeiro, aplicável ao nosso sistema, é a revogação da Constituição 
anterior, recepcionando apenas as normas que não contrariam materialmente os 
direitos estabelecidos pela nova Constituição; o segundo é a desconstitucionalização, 
não adotado pelo nosso sistema jurídico, e o terceiro é a repristinação, o qual existe 
apenas no âmbito das normas infraconstitucional, não sendo adotado no plano das 
normas de caráter constitucional. Por fim, entendemos que o estudo da parte do 
Direito Constitucional que se caracteriza como a teoria geral do Estado é de suma 
importância para compreendermos a finalidade do Estado de assegurar a vida humana 
em coletividade, regulando as relações públicas e privadas por meio de regras de 
conduta e normatização de direitos e deveres englobados pelo amplo arcabouço 
jurídico do direito em todas as suas vertentes. 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Referências Bibliográficas 
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8 Referências Bibliográficas 
ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Teoria geral do Estado. -3. ed. Barueri, SP: Manole, 
2010. 
BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo: os 
conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. – 9. ed. São Paulo: Saraiva 
Educação, 2020. 
LENZA, Pedro. Direito Constitucional. – 25. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021. 
MALUF, Sahid. Teoria Geral do Estado. Atualizado por prof. Miguel Alfredo Malufe 
Neto. -35. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. 
MASSON, Nathalia. Manual de Direito Constitucional. -8. ed. Salvador: JusPODVM, 
2020. 
SILVA, José Afonsa da. Curso de Direito Constitucional Positivo. -37. ed. São Paulo: 
Malheiros Editores, 2014. 
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Referências Bibliográficas 
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Introdução 
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DISCIPLINA 
INTRODUÇÃO AO DIREITO 
CONSTITUCIONAL 
 
CONTEÚDO 
Concepções e Classificações das 
Constituições 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Introdução 
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Introdução 
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Sumário 
Sumário ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 3 
1 Introdução --------------------------------------------------------------------------------------------------- 4 
2 Concepções de Constituição ---------------------------------------------------------------------------- 4 
2.1 A Concepção Sociológica ----------------------------------------------------------------------------------------------- 5 
2.2 Concepção Política ------------------------------------------------------------------------------------------------------- 6 
2.3 Concepção Jurídica ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 7 
3 Concepção Moderna da Constituição ---------------------------------------------------------------- 9 
3.1 O Constitucionalismo de Konrad Hesse ---------------------------------------------------------------------------- 9 
3.2 Constituição em Sentido Cultural---------------------------------------------------------------------------------- 10 
4 Tipologia das Constituições ---------------------------------------------------------------------------- 11 
4.1 Quanto ao Conteúdo -------------------------------------------------------------------------------------------------- 11 
4.2 Quanto à Forma -------------------------------------------------------------------------------------------------------- 12 
4.3 Quanto à Elaboração -------------------------------------------------------------------------------------------------- 14 
4.4 Quanto à Origem ------------------------------------------------------------------------------------------------------- 14 
4.5 Quanto à Estabilidade ------------------------------------------------------------------------------------------------ 15 
4.6 Quanto à Finalidade --------------------------------------------------------------------------------------------------- 16 
4.7 Quanto à Extensão ---------------------------------------------------------------------------------------------------- 17 
4.8 Quanto ao Critério ontológico -------------------------------------------------------------------------------------- 18 
5 Conclusão --------------------------------------------------------------------------------------------------- 19 
6 Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------------------------------ 19 
 
 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Introdução 
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1 Introdução 
A palavra constituição, em sentido amplo, normalmente denota o modo como está 
formado ou estruturado determinado conjunto de coisas ou seres vivos; em sentido 
estrito, remete ao conjunto de normas que regulamentam e que compõe a grande lei 
que fundamenta o Estado. Por esse prisma, a Constituição é, para nós, a lei maior, a 
norma de ordem superior que dispõe sobre a organização do Estado, garantias, 
direitos e deveres individuais do cidadão e outros temas considerados de maior 
relevância no contexto da sociedade em que é elaborada. 
 
Nathalia Masson explica, no entanto, que as Constituições também são “organismos 
vivos, documentos receptivos aos influxos da passagem do tempo, em constante 
diálogo com a dinâmica social”, e tendo em vista seu caráter aberto e comunicativo 
com outros sistemas, sempre haverá certa dificuldade na conceituação, pois existe 
uma “pluralidade de concepções que fornecem noções acerca do assunto” (MASSON, 
2020). Assim, neste material, falaremos a respeito das quatro concepções de 
constituição mais estudadas pela doutrina – a sociológica, a política, a jurídica e a 
moderna –, além dos critérios utilizados para classificação. 
 
2 Concepções de Constituição 
Nathalia Masson (2020) define Constituição como “o conjunto de normas 
fundamentais e supremas, que podem ser escritas ou não, responsáveis pela criação, 
estruturação e organização político-jurídica de um Estado”. Assim, a Constituição não 
só descreve a organização do Estado, como também se consolida como um alicerce 
para todas as demais normais. 
 
Ao longo do tempo, contudo, a doutrina pensou sobre a natureza, o sentido e o papel 
da Constituição, produzindo diversas concepções acerca da forma como elas devem 
ser entendidas. Dentre estas, as que tiveram maior repercussão foram a concepção 
sociológica, a jurídica e a positivista. 
 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Concepções de Constituição 
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2.1 A Concepção Sociológica 
A concepção sociológica foi desenvolvida pelo alemão Ferdinand Lassalle na obra “A 
essência da Constituição”, na qual pensou a constituição sob o aspecto da relação 
entre os fatos sociais dentro do Estado. Para ele, “a constituição de uma país é, em 
essência, a soma dos fatores reais do poder que regem nesse país. Esta seria a 
constituição real e efetiva, ao passo que a constituição escrita não passaria de uma 
“folha de papel”. 
 
Na explicação de Luis Roberto Barroso (2020), a Constituição real e efetiva do Estado 
é um conjunto de forças políticas, econômicas e sociais, que atuam dialeticamente, 
estabelecendo uma realidade e um sistema de poder. Neste sentido, “a Constituição 
jurídica, mera ‘folha de papel’, limita-se a converter esses fatores reais do poder em 
instituições jurídicas, em Direito”. 
 
Essa soma de fatores reais do poder que regem o país pode, ou não, coincidir com a 
constituição escrita, que, no entanto, sucumbiria caso fosse contrária à constituição 
real, devendo, por esse motivo, coadunar-se com ela. Segundo Nathalia Masson 
(2020), “como num eventual embate entre o texto escrito e os fatores reais de poder 
estes últimos sempre prevalecerão, deverá a Constituição escrita sempre se manter 
em consonância com a realidade, pois, do contrário, será esmagada (como uma 
simples "folha de papel") pela sua incompatibilidade com o que vige na sociedade”. 
 
É importante compreender que Lassalle pensou a constituição a partir do prisma 
sociológico em uma época em que havia muitas Constituições oriundas de poderes 
monárquicos, imperiais e autocratas, e que, muitas vezes, não correspondiam aos 
anseios da sociedade. Para ele, só seria eficaz a constituição que correspondesse aos 
valores presentes na sociedade, e nesta concepção a situação ideal é aquela em que 
a constituição real e a escrita são inequivocamente correspondente (MASSON, 2020). 
 
 
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Concepções de Constituição 
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Figura 1 - Concepção sociológica da Constituição 
Fonte: Núcleo Editorial Focus 
 
2.2 Concepção Política 
A concepção política da constituição foi pensada por Carl Schmitt na obra “Teoria da 
Constituição”, segundo a qual a Constituição é vista como “decisão política 
fundamental, decisão concreta de conjunto sobre o modo e forma de existência da 
unidade política” (SILVA, 2014). Neste sentido, Nathalia Masson aponta que 
A Constituição corresponde à decisão política fundamental que o Poder Constituinte 
reconhece e pronúncia ao impor uma nova existência política. [...] Sob o prisma político, 
portanto, pouco interessa se a Constituição corresponde ou não a fatores reais de poder, o 
importante é que ela se apresente enquanto o produto de uma decisão de vontade que seimpõe, que ela resulte de uma decisão política fundamental oriunda de um Poder Constituinte 
capaz de criar uma existência política concreta, tendo por base uma normatividade escolhida 
(MASSON, 2020). 
 
Dessa forma, Carl Schmitt faz uma distinção entre constituição e leis constitucionais, 
defendendo que a constituição “só se refere à decisão política fundamental (estrutura 
e órgãos do Estado, direitos individuais, vida democrática etc.); e as leis constitucionais 
são os demais dispositivos inscritos no texto do documento constitucional, que não 
contenham matéria de decisão política fundamental” (SILVA, 2014). Em suma: 
 
▪ Constituição: é aquilo que traz as normas materiais, ou seja, as normas que 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Concepções de Constituição 
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decorrem da decisão política fundamental, as normas estruturantes do Estado, tais 
como: forma de estado; forma de governo; regime político; composição e 
competência dos entes; divisão dos poderes; direitos e garantias fundamentais. As 
normas estruturantes do Estado são aquelas que que regem e devem 
obrigatoriamente estar presentes em qualquer constituição. 
 
▪ Lei Constitucional: é tudo o que está no texto escrito, mas não é decisão 
fundamental do Estado, e mesmo assim possui hierarquia constitucional. É tudo 
aquilo que não é norma estruturante do Estado, tudo aquilo que, embora esteja no 
texto constitucional, não precisaria estar, pois poderia simplesmente ser 
regulamentado em forma de Lei Complementar. 
 
 
Figura 2 - Concepção política da Constituição 
Fonte: Núcleo Editorial Focus 
 
2.3 Concepção Jurídica 
A concepção jurídica da constituição foi preconizada por Hans Kelsen na obra “Teoria 
Pura do Direito”, segundo a qual a Constituição é puro dever-ser, é fruto da vontade 
racional do homem, e não das leis naturais. Conforme explica Barroso, 
Em busca de um tratamento científico que conferisse “objetividade e exatidão” ao Direito, 
Kelsen desenvolveu sua teoria pura, na qual procurava depurar seu objeto de elementos de 
outras ciências (como a sociologia, a filosofia), bem como da política e, em certa medida, até 
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Concepções de Constituição 
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da própria realidade. Direito é norma; o mundo normativo é o do dever-ser, e não o do ser. 
Nessa dissociação das outras ciências, da política e do mundo dos fatos, Kelsen concebeu a 
Constituição (e o próprio Direito) como uma estrutura formal, cuja nota era o caráter 
normativo, a prescrição de um dever-ser, independentemente da legitimidade ou justiça de 
seu conteúdo e da realidade política subjacente. A ordem jurídica é um sistema escalonado de 
normas, em cujo topo está a Constituição, fundamento de validade de todas as demais normas 
que o integram (BARROSO, 2020). 
 
Por esse viés, a palavra constituição pode ser entendida em dois sentidos, no sentido 
lógico-jurídico e no sentido jurídico-positivo. “De acordo com o primeiro, a 
constituição significa norma fundamental hipotética, cuja função é servir de 
fundamento lógico transcendental da validade da constituição jurídico-positiva que 
equivale à norma positiva suprema, conjunto de normas que regula a criação de outras 
normas, lei nacional no seu mais alto grau” (SILVA, 2014). 
 
Em outras palavras, para Kelsen, não é necessário que constituição se limite àquilo que 
corresponde aos anseios reais do povo, tampouco às normas estruturantes do Estado, 
mas sim, que seja tudo aquilo que nela está escrito. Desse modo, o autor dá à 
constituição um sentido jurídico, desconsiderando o clamor do povo e do poder 
constituinte, e considerando somente aquilo que está escrito no texto. 
 
 
Figura 3 - Concepção jurídica da Constituição 
Fonte: Núcleo Editorial Focus 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Concepção Moderna da Constituição 
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Em resumo, estas são as teorias clássicas que fundamentam a constituição: 
 
 
Figura 4 - Concepções da Constituição 
Fonte: Núcleo Editorial Focus 
 
3 Concepção Moderna da Constituição 
José Afonso da Silva descreve, em seu Curso de Direito Constitucional Positivo (2014), 
como as três concepções abordadas anteriormente pecam pela unilateralidade dos 
conceitos apresentados, o que justificaria a busca de vários autores em formular um 
conceito unitário de constituição, que a conceba em “sentido que revele conexão de 
suas normas com a totalidade da vida coletiva, na unidade de uma ordenação 
fundamental e suprema”. Assim, neste capítulo veremos duas das concepções que 
derivaram dessas três teorias clássicas. 
 
3.1 O Constitucionalismo de Konrad Hesse 
Ao analisar a essência da Constituição no pensamento de Lassalle e de Konrad Hesse, 
a Professora Iacyr de Aguilar Vieira discorre sobre como o pensamento de Konrad 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Concepção Moderna da Constituição 
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Hesse se contrapõe às reflexões desenvolvidas por Ferdinand Lassalle de modo a 
completá-las e trazê-las a uma nova realidade, realçando o caráter normativo da 
Constituição. De forma bem sintetizada, para ele, a Constituição possuiria uma força 
normativa capaz de modificar a realidade e obrigar as pessoas, de tal forma que nem 
sempre ela poderia vir a ceder em face dos fatores reais de poder. Ou seja, tanto pode 
a Constituição escrita sucumbir, quanto prevalecer, modificando a sociedade. 
Na concepção de Hesse, a realização da Constituição importa na capacidade de operar na vida 
política, nas circunstâncias da situação histórica e, especialmente, na vontade de Constituição, 
que procede de três fatores: da consciência da necessidade e do valor específico de uma ordem 
objetiva e normativa que afaste o arbítrio; da convicção de que esta ordem constituída é mais 
do que uma ordem legitimada pelos fatos e que necessita estar em constante processo de 
legitimação, e da consciência de que se trata de uma ordem que não logra ser eficaz sem o 
concurso da vontade humana, principalmente das pessoas envolvidas no processo 
constitucional, isto é, de todos os partícipes da vida constitucional (VIEIRA, 1998). 
 
Para Konrad Hesse, não é o povo que decide se a Constituição se tornará somente 
“uma folha de papel”, mas é a constituição que decidirá sobre o povo, o qual deverá 
se adequar ao que diz o texto constitucional. 
 
3.2 Constituição em Sentido Cultural 
Na concepção culturalista, a constituição é entendida como um produto da cultura, 
um fato cultural. Conforme aponta Bernardo Gonçalves Fernandes (2020), essa 
concepção desenvolve a lógica de que “a Constituição possui fundamentos diversos 
arraigados em fatores de poder, decisões políticas do povo e normas jurídicas de 
dever ser vinculantes. Surge daí a ideia de uma constituição total, com a junção dos 
aspectos econômicos, sociológicos, políticos, jurídicos-normativos, filosóficos e 
morais a fim de construir uma unidade para a Constituição. Nesse sentido, a 
Constituição se coloca como um conjunto de normas fundamentais condicionadas 
pela cultura total e, ao mesmo tempo, condicionante, numa perspectiva 
eminentemente dialética”. 
 
Segundo essa teoria, a constituição deve ser percebida como realidade social, decisão 
política fundamental e norma suprema positivada, dessa forma, ela abarca todas as 
teorias anteriores. Seus propulsores, no Brasil, foram Konrad Hesse, Peter Häberle e 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Tipologia das Constituições 
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Paulo Bonavides. 
 
4 Tipologia das Constituições 
Além das diversas formas de conceber as constituições, existem formas de classificá-
las de acordo com os mais variados critérios e perspectivas. De acordo com Nathalia 
Masson, em seu Manual de Direito Constitucional (2020), as constituições podem ser 
classificadas em: 
 
 
Figura 5 - Classificação das Constituições 
Fonte: Adaptado de MASSON (2020)Na sequência, sem dispensar a necessidade de estudo das demais perspectivas 
existentes, enfatizaremos as classificações tradicionais apresentadas pela maioria dos 
manuais de Direito Constitucional. 
 
4.1 Quanto ao Conteúdo 
Quanto ao conteúdo, as constituições podem ser classificadas em materiais e formais. 
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Tipologia das Constituições 
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▪ Constituição Material: É aquela que, escrita ou não em documento 
constitucional, traz as normas fundamentais e estruturantes do Estado, como a 
divisão dos poderes e das competências dos entes, bem como dos princípios e 
dos direitos fundamentais. “Ou seja, são as normas fundantes (basilares) que 
fazem parte do “núcleo ideológico” constitutivo do Estado e da sociedade” 
(FERNANDES, 2020). Nessa classificação, somente matéria essencialmente 
constitucional possui status constitucional, as demais, mesmo que integrem o 
corpo da constituição, não são tidas como constitucionais (ex.: Constituição 
Imperial de 1824). 
 
▪ Constituição Formal: É aquela que elege como principal critério de existência 
de suas normas o processo de sua formação, e não seu conteúdo. Nesta 
classificação, todo o texto constitucional é de fato constitucional, pois o que 
importa na Constituição Formal não é o texto ou a norma, mas sim o processo. 
Ou seja, os textos que passaram pelo mesmo processo são considerados 
constitucionais, mesmo que não sejam normas estruturantes do Estado (ex.: 
Constituição Federal de 1988). Em relação à Constituição Formal, Bernardo 
Gonçalves Fernandes (2020) aponta que é “dotada de supralegalidade 
(supremacia), estando sempre acima de todas as outras normas do 
ordenamento jurídico de um determinado país. Nesse sentido, “só pode ser 
modificada por procedimentos especiais que ela no seu corpo prevê, na medida 
em que as normas ordinárias não a modificam [...], a Constituição formal, sem 
dúvida, quanto a estabilidade, será rígida. 
 
4.2 Quanto à Forma 
Quanto à forma, as constituições podem ser instrumental (escritas) ou costumeiras 
(não escritas). 
 
▪ Constituição Instrumental ou Escrita: é aquela codificada e sistematizada em 
um texto único, isto é, escrita em documento solene e uniforme, o qual possui 
as normas fundamentais do Estado. Como explica André Ramos Tavares (2020), 
“Constituições escritas são fruto do processo de codificação do Direito Público, 
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Tipologia das Constituições 
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ocorrendo onde o Direito Constitucional se encontra sistematizado em um 
único corpo textual” (ex.: Constituição Federal de 1988). 
 
▪ Constituição Costumeira ou não escrita: é aquela cujas normas 
constitucionais não constam em um documento único e solene, baseando-se 
nos costumes, na jurisprudência e convenções. A mutação dessa constituição se 
dá de acordo com a evolução da sociedade e do seu ordenamento jurídico, “as 
normas costumeiras têm como característica fundamental o surgimento 
informal, desligado de solenidades”, elas originam da sociedade, “e não de uma 
entidade especificamente designada para isso” (TAVARES, 2020). Atualmente 
inexistem constituições totalmente costumeiras, que foram predominantes até 
o fim do século XVIII. Até mesmo a constituição inglesa, que é o maior símbolo 
de constituição costumeira, possui princípios constitucionais em textos escritos. 
Conforme cita Tavares, “o ordenamento jurídico inglês compõe-se do 
denominado Direito estatutário e das convenções constitucionais, ao lado da 
jurisprudência e dos costumes (especialmente parlamentares)”. 
 
▪ Constituição Legal (também denominada Constituição não formal): As 
constituições escritas podem tanto estar sistematizadas em um único corpo de 
lei (constituições codificadas) ou dispersas em diversos documentos, sendo 
estas denominadas Constituições Legais. Estas estão “integradas por 
documentos diversos, vale dizer, fisicamente distintos, que se reagrupam sob o 
epíteto de perfazerem a Constituição de determinado país” (TAVARES, 2020). 
 
Atualmente, nossa Constituição é classificada como formal (quanto ao conteúdo) e 
escrita (quanto à forma), uma vez que está codificada e sintetizada em um 
documento único. Porém, com a redação dada pela Emenda Constitucional n. 45/04, 
passou-se a reconhecer também como norma constitucional outras que não estão 
escritas na nossa Constituição (art. 5º, § 3º: Os tratados e convenções internacionais 
sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso 
Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, 
serão equivalentes às emendas constitucionais). 
 
Com isso, a doutrina concluiu que a nossa Constituição, quando à forma, não pode 
ser classificada como instrumental ou meramente escrita, uma vez que a partir do 
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Tipologia das Constituições 
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implemento do art. 5º, § 3º, nós adotamos uma outra deia de constituição, a de 
constituição legal, uma que admite normas escritas em outros documentos. 
 
4.3 Quanto à Elaboração 
Quanto à elaboração, a constituição pode ser sistemática (dogmática) ou histórica 
(costumeira). 
 
▪ Constituição Sistemática ou Dogmática: sempre escrita, é aquela elaborada 
por um órgão constituinte que sistematiza os dogmas ou ideias fundamentais 
da teoria política do direito dominante naquele momento. Parte de teorias 
preconcebidas, sistemas prévios e institutos já consagrados na teoria, na 
doutrina e em dogmas políticos, e é feita em prazos certos e determinados. Este 
modelo permite quebrar dogmas, pois faz olhar para trás, analisar o que está 
certo ou errado e, com base nessas reflexões, escrever aquilo que se tomará por 
certo ou errado a partir daquele momento (ex.: Constituição Federa de 1988). 
 
▪ Constituição Histórica ou Costumeira: não escrita, é aquela resultante de 
lenta formação histórica, do lento evoluir das tradições, dos fatos sócio-políticos 
que se cristalizam como normas fundamentais da organização de determinado 
Estado ou, como explica Tavares (2020), “da gradativa sedimentação jurídica de 
um povo, por meio de suas tradições” (ex.: Constituição Inglesa). 
 
4.4 Quanto à Origem 
Quanto à origem, as constituições podem ser classificadas em quatro tipos. 
 
▪ Constituição Votada, Popular, Democrática ou Promulgada: são aquelas 
que derivam do trabalho de um órgão constituinte composto de representantes 
eleitos pelo povo para esse fim, a chamada Assembleia Nacional Constituinte 
(ex.: Constituições Brasileiras de 1891, 1934, 1946 e 1988). 
 
▪ Constituição Imposta ou Outorgada: são aquelas impostas pelos 
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Tipologia das Constituições 
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governantes, sem a participação do povo e independentes do sistema ou forma 
de governo. Alguns doutrinadores não reconhecem essa forma de constituição, 
dando a esse tipo de constituição imposta ou outorgada o nome de cartas 
constitucionais (ex.: Constituições Brasileiras de 1824 e 1937). 
 
▪ Constituição Bonapartista ou Cesarista: são aquelas elaboradas por um 
Imperador ou Ditador e submetida a plebiscito ou a referendo popular para 
mera ratificação da vontade do detentor do poder (ex.: plebiscitos 
Napoleônicos e o plebiscito de Pinochet, no Chile). 
 
▪ Constituição Dualista ou Pactuada: origina-se de um compromisso entre duas 
classes políticas antagônicas; o poder constituinte originário se encontra nas 
mãos de mais de um titular. O equilíbrio é precário ou camuflado (ex.: Magna 
Carta de 1215 e a Constituição Francesa de 1791). 
 
 
4.5 Quanto à Estabilidade 
Quanto à classificação das constituições em relação à estabilidade, ou alterabilidade, 
é importante lembrar, em primeiro lugar, que não existe no mundo uma classificação 
para constituição imutável, porque todas as constituições são mutáveis. Por isso,as 
constituições são classificadas somente em relação ao nível de complexidade para 
realização de alterações. 
 
▪ Constituição Rígida: é aquela que para ser alterada exige um procedimento 
especial solene e mais rigoroso que os de formação das leis ordinárias ou 
complementares (ex. Constituição Federal de 1988). “Na Constituição rígida, 
para todas as normas constitucionais se exige, na eventualidade de sua 
alteração, um processo legislativo mais trabalhoso, mais dificultoso do que 
comumente é exigível. Geralmente, e principalmente no caso brasileiro, esse 
processo mais trabalhoso se resume a uma iniciativa mais reduzida, a um 
quorum de aprovação maior e, por fim, à não participação do Poder Executivo 
(por meio da exclusão do veto ou da sanção)” (TAVARES, 2020). 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Tipologia das Constituições 
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▪ Constituição Flexível: é aquela que pode ser modificada pelo legislador 
segundo o mesmo procedimento utilizado para as leis ordinárias ou 
complementares (ex.: Itália/1848). Segundo Tavares (2020), “as constituições 
flexíveis são as primeiras formas de estruturação que aparecem nas sociedades 
políticas organizadas”. 
 
▪ Constituição Semirrígida ou Semiflexível: é aquela que contém uma parte 
rígida e outra flexível, exigindo, normalmente, um quórum de alterações distinto 
e um poder limitado, mas para algumas normas o processo é o mesmo que o 
de lei ordinária (ex.: Constituição do Império de 1824). 
 
▪ Constituição Super-rígida: é aquela que se caracteriza pela impossibilidade de 
alteração, ou “pretensão de eternidade”, conforme expõe Tavares (2020). É 
aquela que, além de rígida, possui cláusulas que não podem ser alteradas – as 
denominadas cláusulas pétreas. No entendimento de Alexandre de Moraes, a 
Constituição de 1988 seria super-rígida, haja vista possuir normas imutáveis 
(cláusulas pétreas constantes no art. 60, § 4º, CF/88). Conforme aponta Nathalia 
Masson, contudo, este não é “o entendimento da doutrina majoritária, que 
compreende a Constituição de 1988 enquanto rígida, sob a justificativa de que 
o que caracteriza a rigidez é exatamente o procedimento diferenciado de 
alteração — marcado por quorum de votação qualificado, rejeição ao turno 
único, ampliação das discussões — e não a existência de um núcleo insuperável, 
insuscetível à ação restritiva ou abolitiva do poder reformador, que pode existir 
ou não nos documentos rígidos”. 
 
4.6 Quanto à Finalidade 
Existem três classificações quanto à finalidade de uma constituição. 
 
▪ Constituição Garantia, Abstencionista ou Negativa: é aquela que busca 
garantir a liberdade e os direitos pessoais, delimitando o Poder Estatal (ex.: 
Constituição Norte-Americana). De acordo com Fernandes (2020), “ela tem um 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Tipologia das Constituições 
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viés no passado, visando garantir direitos assegurados contra possíveis ataques 
do Poder público. Trata-se de Constituição típica de Estado liberal que se 
caracteriza pelo seu abstencionismo e sua atuação negativa (de não 
interferência ou ingerência na sociedade)”. 
 
▪ Constituição Balanço: é aquela que se limita a demonstrar a ordem existente, 
que visa o presente. É típica dos regimes socialistas, “essa constituição propõe-
se a explicitar as características da atual sociedade, trazendo parâmetros que 
devem ser observados à luz da realidade econômica, política e social já 
existente” (FERNANDES, 2020) (ex.: Constituição soviética de 1924, 1936 e 1977). 
 
▪ Constituição Dirigente: é aquela que não se limita a organizar o poder, mas 
determinar a atuação do governo, impondo verdadeiras diretrizes políticas 
permanentes. É a constituição do “dever ser” (ex. Constituição Federal de 1988). 
Segundo Fernandes (2020), é uma constituição típica de Estado social e de 
seu pano de fundo pragmático (democracias-sociais, sobretudo do pós-
Segunda Guerra Mundial). Constituições dirigentes são planificadoras e visam 
predefinir uma pauta de vida para a sociedade e estabelecer uma ordem 
concreta de valores para o Estado e para a sociedade, ou seja, programas e fins 
para serem cumpridos pelo Estado e também pela sociedade”. 
 
4.7 Quanto à Extensão 
Quanto à extensão, uma constituição pode ser classificada como concisa ou prolixa. 
 
▪ Constituição Concisa ou Sintética: é aquela que possui texto enxuto, curto, 
tratando apenas de regras básicas de organização do sistema político-jurídico 
do Estado, deixando para a legislação infraconstitucionais as demais matérias 
(ex.: Constituição Norte-Americana, com apenas 10 emendas originais e outras 
17 acrescentadas posteriormente, desde 1791). 
 
▪ Constituição Prolixa ou Analítica: é aquela com conteúdo extenso (formato 
amplo), minucioso e que contempla regras programáticas e normas 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Tipologia das Constituições 
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formalmente constitucionais. Este modelo de constituição, explica Fernandes 
(2020) “acaba por regulamentar outros assuntos que entenda relevantes num 
dado contexto, estabelecendo princípios e regras, e não apenas princípios” (ex.: 
Constituição Federal de 1988, com 250 artigos originais mais 106 emendas até 
o momento). 
 
4.8 Quanto ao Critério ontológico 
Quanto à ontologia, isto é, ao nível de correspondência com a realidade, as 
constituições são classificadas em normativa, nominalista e semântica. 
 
▪ Normativa: é aquela que está integrada na sociedade, refletindo os anseios da 
sociedade, e todos a cumprem lealmente, inclusive os agentes de poder. Há 
uma correspondência com a realidade. Na explicação de Nathalia Masson 
(2020), neste tipo de Constituição, “há perfeita sintonia entre o texto 
constitucional e a conjuntura política e social do Estado, de forma que a 
limitação ao poder dos governantes e a previsão de direitos à população sejam 
estritamente observadas e cumpridas. O texto constitucional é de tal forma 
eficaz e seguido à risca que, na prática, vê-se claramente a harmonia entre o 
que se estabeleceu no plano normativo e o que se efetiva no mundo fático” (ex.: 
Constituição Americana de 1787). 
 
▪ Nominativa: é meramente educativa e insuficiente em concretização 
constitucional, não se alcança a verdadeira normatização do processo real do 
poder. Para Masson (2020), “esta já não é capaz de reproduzir com exata 
congruência a realidade política e social do Estado, mas anseia chegar a este 
estágio. Seus dispositivos não são, ainda, dotados de força normativa capaz de 
reger os processos de poder na plenitude, mas almeja-se um dia alcançar a 
perfeita sintonia entre o texto (Constituição) e o contexto (realidade)” (ex.: 
Constituições brasileiras de 1934 e 1946). 
 
▪ Semântica: é aquela que, apesar de aplicada, revela somente o interesse 
exclusivo dos detentores do poder, buscando legitimá-los. Em outras palavras, 
é aquela que é imposta. “É a Constituição que nunca pretendeu conquistar uma 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Conclusão 
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coerência apurada entre o texto e a realidade, mas apenas garantir a situação 
de dominação estável por parte do poder autoritário. Típica de estados 
ditatoriais, sua função única é legitimar o poder usurpado do povo, 
estabilizando a intervenção dos ilegítimos dominadores de fato do poder 
político (MASSON, 2020).” (ex.: Constituições Federais de 1937 e 1967). 
 
5 Conclusão 
Nesta aula abordamos as principais concepções de constituição tradicionalmente 
trabalhadas pela doutrina – a concepção sociológica, política e jurídica –, além da 
concepção culturalista, entendendo que, fundamentalmente, a Constituição concebe 
o conjunto de normas supremas, responsáveis pela constituição e organização 
político-jurídica de um Estado. Falamos, por fim, sobre o constitucionalismo difundido 
por Konrad Hesse e as principais tipologias das constituiçõesclassificadas quanto ao 
conteúdo, forma, elaboração, origem, estabilidade, finalidade, extensão e 
correspondência com a realidade. 
 
6 Referências Bibliográficas 
BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os 
conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. – 9. ed. São Paulo: Saraiva 
Educação, 2020. 
FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. – 12 ed. Salvador: 
Ed. JusPodivm, 2020. 
MASSON, Nathalia. Manual de direito constitucional. -8. ed. Salvador: Ed. JusPodvm, 
2020. 
SILVA, José Afonsa da. Curso de Direito Constitucional Positivo. -37. ed. São Paulo: 
Malheiros Editores, 2014. 
TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. – 18 ed. São Paulo: Saraiva 
Educação, 2020. 
VIEIRA, Iacyr de Aguilar. A essência da Constituição no pensamento de Lassalle e de 
Konrad Hesse. In: Revista de informação legislativa, v. 35, n. 139, 1998. Disponível 
em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/388>. Acesso em: set. 2021. 
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Referências Bibliográficas 
www.cenes.com.br | 20 
 
 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Introdução 
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DISCIPLINA 
INTRODUÇÃO AO DIREITO 
CONSTITUCIONAL 
 
CONTEÚDO 
Aplicação das Normas 
Constitucionais 
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Introdução 
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Introdução 
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Sumário 
Sumário ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 3 
1 Introdução --------------------------------------------------------------------------------------------------- 4 
2 Aplicabilidade das Normas Constitucionais -------------------------------------------------------- 4 
3 Espécies de Normas Constitucionais------------------------------------------------------------------ 5 
3.1 Normas de Eficácia Plena ---------------------------------------------------------------------------------------------- 7 
3.2 Normas de Eficácia Contida ------------------------------------------------------------------------------------------- 8 
3.3 Norma Limitada ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- 9 
4 Conclusão --------------------------------------------------------------------------------------------------- 10 
5 Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------------------------------ 10 
 
 
 
 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Introdução 
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1 Introdução 
No Brasil, o tema da eficácia e aplicabilidade das normas constitucionais foi estudado 
por José Afonso da Silva, com monografia publicada em 1968 versando sobre o 
assunto. Atualmente, ele é considerado um dos expoentes na Teoria Geral da 
Constituição em razão da sua proposta de classificação tripartida das normas, 
dividindo-as em normas de eficácia plena, de eficácia contida e de eficácia limitada. 
 
Neste material, iremos estudar a aplicabilidade, isto é, a capacidade de produção de 
efeitos jurídicos das normas que compõem nossa Constituição. Veremos qual “a 
potencialidade de realização normativa dos dispositivos constitucionais” (MASSON, 
220), atentando-nos, entretanto, ao que pontua André Ramos Tavares (2020) sobre a 
necessidade de se “ter como parâmetro que determinado critério classificatório só se 
presta quando útil for ao fim perseguido. Fora dessa situação, as classificações são 
totalmente impensáveis”. 
 
2 Aplicabilidade das Normas Constitucionais 
Especializado em Direito Constitucional, o Professor José Afonso da Silva defende a 
premissa de que não há norma constitucional destituída de eficácia, uma vez que 
todas produzem, pelo menos, dois efeitos, um positivo, que é a “capacidade que toda 
norma constitucional detém de impedir a recepção das normas anteriores à sua 
vigência que com ela não guardem compatibilidade” e o outro negativo, que diz 
respeito à capacidade que toda norma constitucional possui de “vedar, ainda que 
implicitamente, ao legislador ordinário, a edição de normas que a contrariem”. Neste 
sentido, podemos afirmar que todas as normas constitucionais têm aplicabilidade e 
eficácia no plano abstrato (plano jurídico), mesmo aquelas conceituadas com normas 
de eficácia limitada. 
 
Para o autor, a eficácia da norma remonta à capacidade da norma de atingir os 
objetivos e metas taxados pelo legislador, ou seja de produzir efeitos jurídicos ao 
regular as situações, relações e comportamentos de que cogita. A eficácia remete, 
portanto, “à aplicabilidade, exigibilidade ou executoriedade da norma, como 
possibilidade de sua aplicação jurídica”. O alcance dos objetivos da norma, por sua 
vez, constitui a efetividade. “Esta é, portanto, a medida da extensão em que o objetivo 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Espécies de Normas Constitucionais 
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é alcançado, relacionando-se ao produto final”. 
 
Em contraponto, embora em sentido conexo, a eficácia social “designa uma efetiva 
conduta acorde com a prevista pela norma; refere-se ao fato de que a norma é 
realmente obedecida e aplicada”, sendo este conceito equivalente ao de efetividade 
da norma. Conforme explica Luis Roberto Barroso (2020), 
A ideia de efetividade expressa o cumprimento da norma, o fato real de ela ser aplicada e 
observada, de uma conduta humana se verificar na conformidade de seu conteúdo. 
Efetividade, em suma, significa a realização do Direito, o desempenho concreto de sua função 
social. Ela representa a materialização, no mundo dos fatos, dos preceitos legais e simboliza a 
aproximação, tão íntima quanto possível, entre o dever-ser normativo e o ser da realidade 
social. 
 
No entanto, nem sempre a norma possuirá eficácia jurídica e social ao mesmo tempo, 
ela pode, por exemplo ter efeito jurídico, como, por exemplo, revogar uma norma 
anterior, mas não ser cumprida no plano social (SILVA,1982). 
 
Quanto à aplicabilidade, José Afonso da Silva afirma que embora sejam aspectos do 
mesmo fenômeno encarados por enfoques diferentes, a eficácia seria entendida como 
a potencialidade, ao passo que a aplicabilidade seria entendida como a realizabilidade 
ou praticidade. “Se a norma não dispõe de todos os requisitos para sua aplicação aos 
casos concretos, falta-lhe eficácia, não dispõe de aplicabilidade. Esta se revela, assim, 
como a possibilidade de aplicação. Para que haja esta possibilidade, a norma há que 
ser capaz de produzir efeitos jurídicos”. Assim, toda norma eficaz será também 
aplicável, um não se destitui do outro, mas isso não significa dizer que toda norma 
aplicável será de fato aplicada, mesmo porque, por vezes, a forma como se dará sua 
aplicação carece de regulamentação. Dessa forma, a depender da norma, a 
aplicabilidade pode se dar de forma plena, contida ou limitada. 
 
3 Espécies de Normas Constitucionais 
Segundo José Afonso da Silva, conforme o grau de eficácia, podem existir três espécies 
de normas constitucionais: normas de eficácia plena, normas de eficácia contida e 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Espécies de Normas Constitucionais 
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normas de eficácia limitada. Na definição apresentada por Bernardo Gonçalves 
Fernandes (2020), temos o seguinte: 
 
▪ Normas de aplicabilidade plena: têm aplicabilidade direta, imediata ou integral, 
“reúnem todos os elementos necessários para a produção de todos os efeitos 
jurídicos imediatos. São dotadas de uma aplicabilidade imediata, direta”, ou seja 
não carecem de complementação. 
 
▪ Normas de aplicabilidade contida: “nascem com eficácia plena, reúnem todos os 
elementos necessários para a produção de todos os efeitos jurídicos imediatos, 
mas terão seu âmbito de eficácia restringido, reduzido ou contido pelo legislador 
infraconstitucional”. Ou seja, têm aplicabilidade direta e imediata, porém não 
integral e podem ser reduzidas por lei posterior. 
 
▪ Normas de aplicabilidade limitada: têm aplicabilidade indireta, mediata e são 
reduzida, ou seja, requerem uma lei que a complemente, pois não são bastantes 
em si. “Nesses termos, elas não reúnem todos os elementos necessários para a 
produção de todos os efeitos jurídicos. São normas que têm aplicabilidade apenas 
indireta ou mediata”. Para produção de efeitos jurídicos, requerem regulamentação 
e complementação infraconstitucional. Estas normas se dividem em: a) limitadas 
de princípios institutivos, que são normas de organização e estruturação de órgãos 
do Estado; e b) limitadas de princípios programáticos, que “traçam tarefas, fins e 
programas, para cumprimento por parte dos Poderes Públicos e atualmente pela 
própria sociedade”. 
 
A norma de eficácia contida e a norma de eficácia limitada têm um fator em comum: 
ambas contam com complementação legal. A diferença é que, se a lei vem para a 
norma de aplicabilidade contida, é para limitar ou restringi-la. Em contrapartida, 
quando vem para a norma de aplicabilidade limitada, é para que essa norma seja 
expandida. Nesta última, a Lei é imperativa para que a norma possa valer. 
 
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Espécies de Normas Constitucionais 
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Figura 1 - A classificação de José Afonso da Silva 
Fonte: Adaptado de MASSON (2020) 
 
3.1 Normas de Eficácia Plena 
De acordo com José Afonso da Silva, as normas constitucionais de eficácia plena são 
“aquelas que, desde a entrada em vigor da Constituição, produzem, ou têm 
possibilidade de produzir, todos os efeitos essenciais, relativamente aos interesses, 
comportamentos e situações, que o legislador constituinte, direta e normativamente, 
quis regular”, tais como os remédios constitucionais. 
 
É oportuno atentarmos à observação feita por Nathalia Masson quanto à 
aplicabilidade das normas definidoras de direitos e garantias fundamentais. Segundo 
a autora, “de fato, como regra, a Constituição Federal estabelece que as normas 
definidoras de direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata (art. 5°, g 1°, 
CF/88). Porém, afirmar que uma norma constitucional é dotada de aplicabilidade 
imediata não significa dizer que ela dispensa a atuação positiva por parte dos poderes 
públicos. Significa dizer, apenas, que o direito nela previsto poderá ser exigido pelo 
seu destinatário de imediato, sem necessidade de regulamentação por lei” (MASSON, 
2020). Dessa forma, as normas de aplicabilidade plena: 
▪ não dependem de regulamentação; 
▪ são normas de aplicabilidade direta, imediata e integral; 
▪ são independentes e absolutas; 
▪ via de regra, o verbo da norma é o “ser” no presente do indicativo. 
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Em geral, normas PLENAS: 
São responsáveis 
▪ pela criação de órgãos; 
▪ pela atribuição de competência aos entes federativos (Títulos III e IV da 
CF/88); 
Estabelecem 
▪ proibições (art. 145, § 2º); 
▪ vedações (art. 19); 
▪ isenções (art. 184, §5ºI); 
▪ imunidades (arts. 53 e 150, I a VI) 
▪ prerrogativas (art. 128, § 5º, I). 
 
3.2 Normas de Eficácia Contida 
São normas de eficácia redutível/restringível. São aquelas em que “o legislador 
constituinte regulou suficientemente os interesses relativos a determinada matéria, 
mas deixou margem à atuação restritiva por parte da competência discricionária do 
poder público, nos termos que a lei estabelecer ou nos termos de conceitos gerais 
enunciados”. Dessa forma, as normas de aplicabilidade contida: 
▪ não dependem de regulamentação, mas a CF/88 autoriza ao legislador reduzir 
o direito previsto nela; 
▪ são normas de aplicabilidade direta, imediata e não integral; 
▪ via de regra, o verbo da norma é o “ser” no presente do indicativo, aparecendo 
expressões que envolvem ressalvas vinculadas à “lei”; 
 
Em geral, normas CONTIDAS: 
Tratam de direitos individuais ou de entidades públicas ou privadas, que são 
passíveis de limitação por uma lei futura como: 
 
▪ direito de greve (art. 9º), restringido pela Lei da Greve Privada; 
▪ o sigilo das comunicações (art. 5º, XII), restringido pela lei 9.296/96; 
▪ o exercício da profissão (art. 5º, XIII), restringido pelos Estatutos da OAB e 
do CRC. 
 
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Espécies de Normas Constitucionais 
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3.3 Norma Limitada 
As normas de eficácia limitada dependem de regulamentação futura, “na qual o 
legislador infraconstitucional vai dar eficácia à vontade do constituinte. Não 
produzem, com a simples entrada em vigor da Constituição, consoante o autor, todos 
os efeitos essenciais, porque o legislador constituinte, por qualquer motivo, não 
estabeleceu sobre a matéria uma normatividade para isso bastante, deixando essa 
tarefa ao legislador ordinário ou a outro órgão do Estado” (TAVARES, 2020). Nestas 
normas, a CF/88 apenas prevê o direito, que será exercido se, e somente se, o 
legislador infraconstitucional o regular, porque somente incide totalmente sobre esses 
interesses após uma normatividade ulterior que lhes desenvolva a aplicabilidade. 
 
Assim, as normas de aplicabilidade limitada: 
▪ são limitadas programáticas quando estabelecem programas a serem 
desenvolvidos ou direitos a serem criados; 
▪ são limitadas instrutivas quando estabelecem a criação de órgãos e entidades; 
▪ são normas indiretas, mediadas e reduzidas; 
▪ em regra, o verbo da norma é voltado para o futuro, aparecendo expressões 
como “de acordo com a lei”, “definidos em lei” etc. 
 
São exemplos de normas LIMITADAS: 
▪ Art. 18, § 2º; 
▪ Art. 22, parágrafo único; 
▪ Art. 25, § 3º; 
▪ Arts. 33 e 37, XI; 
▪ Arts. 88 e 90, § 2º; 
▪ Art. 91, § 2º; 
▪ Art. 93; 
▪ Art. 102, § 1º; 
▪ Art. 107, § 1º; 
▪ Art. 109, VI e § 3º; 
▪ Arts. 113; 121 e 125, § 3º; 
▪ Art. 128, § 5º; 
▪ Arts. 131 e 146; 
▪ Arts. 161, I; 163; 192 e 224. 
 
Introduçãoao Direito Constitucional | 
Conclusão 
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Outras vezes, essas normas veiculam programas a serem implementados pelo 
Estado, visando a realização de fins sociais como: 
→ Direito à alimentação (art. 6º); 
→ Direito à saúde (art. 106); 
→ Direito à educação (art. 205). 
 
4 Conclusão 
Neste material falamos sobre a classificação tripartida das normas, proposta por José 
Afonso da Silva, e suas principais características. Concordamos com o entendimento 
de Andre Ramos Tavares ao afirmar que a “proposta classificatória é importante na 
medida em que nela se baseiam os operadores do Direito para reconhecer que nem 
todas as normas constitucionais possuem idêntico grau de eficácia, de capacidade de 
incidência plena automática e independente de outro texto normativo”. 
 
5 Referências Bibliográficas 
BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os 
conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. – 9. ed. São Paulo: Saraiva 
Educação, 2020. 
FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. – 12 ed. Salvador: 
Ed. JusPodivm, 2020. 
MASSON, Nathalia. Manual de direito constitucional. -8. ed. Salvador: Ed. JusPodvm, 
2020. 
SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das Normas Constitucionais. – 2 ed. São 
Paulo: Malheiros Editores, 1982. 
SILVA, José Afonsa da. Curso de Direito Constitucional Positivo. -37. ed. São Paulo: 
Malheiros Editores, 2014. 
TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. – 18 ed. São Paulo: Saraiva 
Educação, 2020. 
 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Referências Bibliográficas 
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Introdução 
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DISCIPLINA 
INTRODUÇÃO AO DIREITO 
CONSTITUCIONAL 
 
CONTEÚDO 
A Estrutura do Estado 
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Introdução 
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Introdução 
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Sumário 
Sumário ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 3 
1 Introdução --------------------------------------------------------------------------------------------------- 4 
2 Estrutura Básica do Estado ----------------------------------------------------------------------------- 5 
3 Forma de Estado ------------------------------------------------------------------------------------------- 6 
3.1 Estado Unitário ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- 6 
3.2 Estado Federado --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 7 
3.3 Outras Classificações ---------------------------------------------------------------------------------------------------- 8 
4 Classificações das Federações -------------------------------------------------------------------------- 9 
4.1.1 Quanto à Formação/Origem de uma Federação -------------------------------------------------------------------------- 10 
4.1.2 Quanto à Concentração do Poder de uma Federação ------------------------------------------------------------------- 11 
4.1.3 Quanto à Repartição de Competências de uma Federação ------------------------------------------------------------ 11 
4.1.4 Quanto ao equacionamento das desigualdades -------------------------------------------------------------------------- 11 
4.1.5 Quanto às esferas integrantes da federação------------------------------------------------------------------------------- 12 
5 Conclusão --------------------------------------------------------------------------------------------------- 13 
6 Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------------------------------ 13 
 
 
 
 
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Introdução 
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1 Introdução 
Ao analisar as perspectivas de evolução do Estado, André Ramos Tavares (2020) 
explica que os Estados de hoje foram formados por meio de uma longa e vagarosa 
evolução histórica e que “só deixarão de existir como tais pelo surgimento de novas 
realidades que tornem imprescindível uma transformação profunda da noção atual de 
Estado soberano”. 
 
Historicamente, houve um tempo em que os blocos de Estados se constituíam sobre 
a necessidade de demonstrar supremacia bélica em relação aos demais, como os 
Estados de caráter continental (ou regional), e outros se constituíam a partir de 
elementos religiosos. Estas formas de constituição de Estado, contudo, se mostraram 
falhas ao longo do tempo e só mais adiante o fenômeno da economia tornou viável 
o agrupamento de Estados, que agora possuíam um objetivo comum. É dessa forma 
que “a crescente inviabilidade econômica de os Estados menores sobreviverem no 
mundo torna os fenômenos de integração uma realidade desejável e possível. O fator 
econômico guia essa transformação, tornando-a juridicamente factível”. 
 
O autor empresta as palavras de Dalmo Dallari para esclarecer que essa realidade 
viabilizou a formação de duas ideias fundamentais que decidiriam o tema: “ou se daria 
a redução do número de Estados por sua concentração em blocos políticos, ou seriam 
constituídas algumas grandes federações”. 
 
Conforme aponta, “a integração em blocos políticos era uma ideia forjada sob o 
conceito de soberania, que se manteria pela mera criação de alianças entre os diversos 
Estados. Essa teoria foi incrivelmente desenvolvida na época da divisão bipolar do 
mundo, marcado pela superioridade militar de dois Estados, alinhando-se os demais 
ou a um ou ao outro, o que se considerava inevitável. Contudo, logo os Estados mais 
fracos notaram que o seu alinhamento a uma das potências interessava mais a esta 
do que a si mesmos. Desenhou-se, então, uma situação diversa no cenário mundial, 
com o não alinhamento a esse dualismo do que se denominou países de Terceiro 
Mundo, muitos deles fundados em ditaduras ou em sistemas que não chegavam a ser 
puramentecapitalistas, sem, por isso, apresentar cunho socialista”. 
 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Estrutura Básica do Estado 
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Assim, a ideia de unir vários Estados em um único de caráter supranacional, “inclusive 
com a criação de uma única Constituição, com objetivos econômicos e políticos, e 
com base de cultura comum” é considerada bastante recente. O mais próximo que 
temos dessa constituição é o que se vê na Europa. 
 
Para que se possa criar essa organização política suprema, com uma Constituição 
comum, primeiramente os Estados precisam ser unificados de alguma forma, processo 
este que resultaria na perda de soberania como atributo jurídico no campo 
internacional para alguns Estados que decidam se submeter a autoridades comuns 
para constituir um novo Estado soberano. 
 
Neste sentido, o autor aponta para duas formas teóricas clássicas existentes utilizadas 
para entrelaçar diversos Estados, que se traduzem no modelo dos Estados 
confederados, e no modelo federal. “Na confederação cada Estado integrante da 
união mantém íntegra sua soberania. Dessa forma, não há como pensar numa 
Constituição como o documento supremo da confederação. Os Estados, neste 
modelo, organizam-se em torno de tratados, celebrados entre as partes envolvidas, 
numa espécie de cooperação. Tudo se passa de maneira diversa na federação. Aqui, 
os Estados se agrupam em torno de um documento comum, a Constituição, atuando 
cada qual de maneira integrada, e não por meio de mera cooperação 
intergovernamental”. 
 
Uma lógica parecida pode ser aplicada quando analisamos o Estado-nação e os 
Estados-membros. Neste material falaremos sobre as formas de estado, voltando 
nossa atenção mais especificamente às características e classificações das federações. 
 
2 Estrutura Básica do Estado 
Sabemos que o Estado é uma instituição complexa e dinâmica, em constante 
evolução. Historicamente já assumiu diversas formas, tais como a do Estado grego, 
Estado romano, Estado medieval, entre outras e, mesmo o Estado moderno também 
consta com várias ramificações, podendo ser democrático, social, liberal etc. 
 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Forma de Estado 
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De todo modo, existem algumas características ou elementos constitutivos que 
caracterizam um Estado como tal. Se conceituado pelo critério dos elementos que o 
constituem, o Estado é “a formação política na modernidade, e é composto pelo 
POVO, seu elemento subjetivo, pelo TERRITÓRIO, que representa a sua porção física, 
pelo GOVERNO, que instrumentaliza a sua vontade e pela SOBERANIA, que é o 
reconhecimento perante a comunidade jurídica internacional” (BAHIA, 2017, p. 253). 
 
3 Forma de Estado 
Conforme Nathalia Masson (2020), a forma de Estado diz respeito à “distribuição do 
exercício do poder político em razão de um território, de forma que a existência (ou 
não) de descentralização dará o tom da opção feita pelo poder originário ao estruturar 
o Estado”. Assim, alguns Estado serão organizados a partir de um único centro de 
poder, que emanará os comandos decisórios, e outros terão a descentralização como 
característica, distribuindo o exercício do poder. 
 
Na sequência, falaremos brevemente sobre as duas principais formas de Estado, 
destacando as principais características. 
 
3.1 Estado Unitário 
Tavares define o Estado unitário como aquele no qual o poder “encontra-se enraizado 
em um único ente interestatal”. Por ser a forma de Estado na qual o poder fica 
concentrado nas mãos de uma única pessoa ou órgão, foi aquela adotada 
originariamente por governos autoritários. 
 
Basicamente, o Estado unitário é formado por um único Estado não descentralizado 
politicamente e, embora possa até mostrar uma descentralização administrativa, por 
meio da divisão interna, “deve estar presente, contudo, a subordinação ao poder 
central de qualquer entidade, órgão ou departamento criado para exercer parcela de 
atribuições”. Ou seja, as unidades internas não são dotadas de competência política, 
pois não são autônomas. Conforme aponta Tavares: 
 
Todas as entidades inferiores encontram-se dependentes da vontade central. Na estrutura do 
Estado unitário não há lugar para a vontade dos entes desconcentrados impor-se sobre a 
vontade do poder central. [...] As entidades desconcentradas encontram-se, na realidade, na 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Forma de Estado 
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própria estrutura central, não constituindo um segmento separado ou autônomo (TAVARES, 
2020). 
 
Na mesma linha, Nathalia Masson (2020) afirma que “é importante que o Estado 
promova divisões administrativas (não divisões políticas) para alcançar a 
governabilidade”. Neste sentido, criou-se a tipologia denominada “Estado unitário 
descentralizado administrativamente”, que é adotada por muitos países na atualidade. 
São exemplos de Estados unitários a Itália, Bélgica e Uruguai. 
 
3.2 Estado Federado 
O Estado Federado é aquele no qual existe descentralização no exercício do poder 
político, estando este pulverizado em mais de uma entidade política, todas 
funcionando como centros emanadores de comando normativos e decisórios” 
(MASSON, 2020). 
 
Assim, o Estado federado é formado pela união entre estados, entre entes que 
conservam autonomia política, sendo que a soberania é transferida para o Estado 
Federal, embora os entes sejam dotados de capacidade política, sua unidade é 
fundamental para a manutenção do Estado Federado. O Brasil, que já foi um Estado 
unitário no período Brasil-Império, assumiu a forma federada desde a Proclamação da 
República como forma de Governo (Decreto n. 01). “Todas as Constituições que 
sucederam referido decreto, a começar pela primeira republicana (a de 1891) 
mantiveram referida escolha”. 
 
Nathalia Masson pontua as características da estrutura política que é assumida 
quando se opta pela forma federada de Estado. Em resumo, são elas: 
▪ Descentralização no exercício do poder político, da qual deriva a aptidão para 
realização de três capacidades: auto-organização; autogoverno; e 
autoadministração. 
▪ Indissolubilidade do vínculo federativo; 
▪ Rigidez constitucional, associada a imutabilidade da forma federativa; 
▪ Existência de um Tribunal Constitucional; 
▪ Previsão de um órgão legislativo que represente os poderes regionais (princípio 
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Forma de Estado 
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da participação) 
 
 
Figura 1 - Características da estrutura política da forma federada de Estado 
Fonte: Adaptado de MASSON (2020) 
 
3.3 Outras Classificações 
Outras formas de Estado apontadas pela doutrina que se apresentam no direito 
comparado são: 
▪ Estado Regional: “assemelha-se ao unitário na medida em que não possui 
descentralização administrativa”. Ex.: Itália. 
 
▪ Estado Autonômico: “é marcado ela inexistência de descentralização política e 
existência de descentralização administrativa e legislativa”, mas constitui-se de 
“baixo para cima”. Ex.: Espanha. 
 
▪ Confederação: “formada pela reunião de Estados soberanos, é usualmente 
criada por meio de tratados, podendo, eventualmente, até mesmo adotar um 
documento comum intitulado “Constituição” – mas a natureza desse texto, 
independentemente da questão terminológica, será de tratado ou acordo, haja 
vista não haver qualquer alienação da soberania dos entes componentes ao 
Estado Confederado. Na confederação, ao contrário da federação, as entidades 
componentes são Estados Nacionais, que não deixam de ser soberanos e 
podem se separar a qualquer momento, já que o direito à secessão, ou seja, a 
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Classificações das Federações 
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dissolubilidade do vínculo entre eles, é nota marcante”. 
 
 
Figura 2 - Formas de Estado 
Fonte: Adaptado de MASSON (2020) 
 
4 Classificações das Federações 
Os Estadosfederados não são todos homogêneos, cada federação possui 
características próprias e pode ser classificada de forma distinta. Essas classificações 
são dadas de acordo com a formação, a concentração de poder e a repartição de 
competências, quanto ao equacionamento das desigualdades e quanto às esferas 
integrantes da federação. 
 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Classificações das Federações 
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Figura 3 - Classificação das federações 
Fonte: Núcleo Editorial Focus 
 
4.1.1 Quanto à Formação/Origem de uma Federação 
De acordo com Masson (2020), uma federação pode ser originada de duas formas, 
por agregação, que é “o resultado da reunião/junção de alguns Estados Nacionais, até 
então soberanos, que decidem se reunir em um vínculo federativo. Para tanto, cedem 
sua soberania para o conjunto (o Estado Federal) e se tornam parte da federação, 
como entidades meramente autônomas”. Esta forma ocorre em um movimento 
centrípeto (de fora para dentro), uma vez que se forma “a partir de um deslocamento 
de poder que se dá da periferia para o centro”. 
 
 
 
Ainda, uma federação pode ser originada por segregação, resultado do “desfazimento 
de um Estado unitário (marcado pela centralização do poder em um único polo 
emanador de comandos decisórios) que pretende se tornar federado”. Este é 
denominado o movimento centrífugo, “em que o deslocamento do poder se dá do 
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Classificações das Federações 
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centro para a periferia”. 
 
 
 
4.1.2 Quanto à Concentração do Poder de uma Federação 
A concentração do poder de um Estado também pode revelar se ele é centrípeto 
(centralizador) ou centrífugo (descentralizador). Quando a concentração do poder é 
mais rígida, mais centralizadora, no plano federal, temos um Estado federado 
centrípeto; quando a concentração do poder é mais flexível, descentralizada, e as 
competências das entidades regionais são abundantes, temos um Estado federado 
centrífugo. 
 
4.1.3 Quanto à Repartição de Competências de uma Federação 
Quanto à repartição de competência entre os Poderes de uma Federação, destacamos 
duas formas, a Federação Dual, em que há uma divisão um pouco mais brusca da 
Federação, uma divisão de competências mais latentes e nítidas, e a Federação 
Cooperativa, em que existe uma competência comum, concorrente; 
consequentemente, a descentralização dessas competências é menos rígida e mais 
branda. Ou seja, há maior cooperação entre os entes. O Brasil é um exemplo de 
Federação Cooperativa, tal como podemos constatar nos arts. 23 e 24 da CF/88, que 
falam sobre a competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Municípios. 
 
4.1.4 Quanto ao equacionamento das desigualdades 
Quanto ao equacionamento das desigualdades, as federações podem ser simétricas 
ou assimétricas. Na federação simétrica, a “distribuição de competências e receitas é 
feita de modo equânime entre as entidades, sem disparidades ou diferenças”, já na 
federação assimétrica, existe um desequilíbrio no tratamento dos entes, 
principalmente em razão de desigualdades regionais bastante latentes ou de 
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Classificações das Federações 
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diferenças culturais muito marcantes. 
 
Conforme aponta Masson (2020), “no Brasil, por possuirmos alguns momentos 
constitucionais de assimetria (todos tendentes à reversão da situação de desigual 
entre os entes, como observamos nos seguintes dispositivos: art. 3º, III; art. 43; art. 
151, I; art. 159, I, “c”, todos da CF/88), alguns autores identificam nossa federação 
como assimétrica”. Contudo, a autora a considera simétrica, uma vez que “todas as 
entidades federativas que estejam no mesmo grau possuem a mesma gama de 
atribuições”. 
 
4.1.5 Quanto às esferas integrantes da federação 
Quanto às esferas integrantes da federação, existem duas: o federalismo de segundo 
grau e o de terceiro grau. No Federalismo de segundo grau (ou bidimensional), o 
Estado se constitui a partir de uma ordem jurídica central (primeiro grau) e das ordens 
jurídicas regionais (segundo grau). Em contrapartida, no Federalismo de terceiro 
grau soma-se a essas duas ordens existentes uma terceira ordem, que é a local (os 
Municípios), logo temos a União representando a ordem central, os Estados-membros 
representando a segunda ordem, e os Municípios representando a terceira ordem. 
Nathalia Masson (2020) classifica a forma de federação do Estado brasileiro da 
seguinte maneira: 
 
 
Figura 4 - Classificação da Federação Brasil 
Fonte: adaptado de Masson (2020) 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Conclusão 
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5 Conclusão 
Nesta aula falamos sobre duas possíveis formas de Estado, a forma unitária, 
caracterizada pela centralização política e a concentração de poder, e a forma 
federada, por sua vez caracterizada pela descentralização no exercício do poder 
político. Além disso, vimos que existem diferentes tipos de federações, que são 
classificadas quanto à forma, quanto à concentração de poder, quanto à repartição de 
competências, quanto ao equacionamento das desigualdades e quanto às esferas 
integrantes da federação e que, diante dessa classificação, o Brasil pode ser entendido 
como um federação formada a partir da segregação, com concentração centrípeta de 
poder, cuja repartição de competências é feita de modo cooperativo, simétrica em 
termos de equacionamento, e classificada como uma federação de terceiro grau. 
 
6 Referências Bibliográficas 
BAHIA, Flavia. Direito Constitucional. Recife: Armador, 2017. 
MASSON, Nathalia. Manual de direito constitucional. -8. ed. Salvador: Ed. JusPodvm, 
2020. 
TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. – 18 ed. São Paulo: Saraiva 
Educação, 2020. 
 
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Referências Bibliográficas 
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DISCIPLINA 
INTRODUÇÃO AO DIREITO 
CONSTITUCIONAL 
 
CONTEÚDO 
Estado e Pensamento Político 
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Sumário 
Sumário ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 3 
1 Introdução --------------------------------------------------------------------------------------------------- 4 
2 Formação do pensamento político ------------------------------------------------------------------- 4 
2.1 Pensamento político na Grécia Antiga ----------------------------------------------------------------------------- 5 
2.1.1 Platão ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 5 
2.1.2 Aristóteles ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 7 
2.2 Percepção de Estado Durante a Idade Média -------------------------------------------------------------------- 9 
2.2.1 Santo Agostinho ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 10 
2.2.2 São Tomás de Aquino ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 12 
3 Pilares do Estado Moderno ---------------------------------------------------------------------------- 13 
3.1 Nicolau Maquiavel ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 13 
3.1.1 O Príncipe ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 14 
3.1.2 Discurso sobre a primeira década de Tito Lívio --------------------------------------------------------------------------- 15 
4 Os contratualistas e o Estado Moderno ------------------------------------------------------------ 16 
4.1 Thomas Hobbes -------------------------------------------------------------------------------------------------------- 17 
4.2 Jean-Jacques Rousseau ----------------------------------------------------------------------------------------------- 19 
4.3 John Locke --------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 21 
5 Formação do pensamento político contemporâneo -------------------------------------------- 23 
5.1 Immanuel Kant --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 23 
5.2 Karl Marx ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 25 
5.3 Friedrich Nietzsche ---------------------------------------------------------------------------------------------------- 27 
5.4 Max Weber -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 28 
6 Concluindo -------------------------------------------------------------------------------------------------- 30 
7 Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------------------------------ 30 
 
 
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Introdução 
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1 Introdução 
O Estado é o principal elemento nos estudos a respeito da Teoria Política, desta forma, 
o estudo acerca do seu surgimento e, principalmente, de suas origens se faz muito 
importante para compreendermos a sociedade em que vivemos atualmente. Diante 
disso, podemos destacar grandes contribuições à época, de filósofos clássicos como 
Platão, Aristóteles, Hobbes, Locke e Rousseau, bem como de filósofos 
contemporâneos, como Kant, Marx, Nietzsche e Weber. 
 
Nesse momento, muitos autores do pensamento clássico se questionavam sobre os 
pilares que serviram como bases para a construção do Estado, da mesma forma que 
buscavam definir os limites de sua intervenção na vida privada das pessoas. Um 
exemplo disso foi Rousseau que, na sua obra “O Contrato Social”, definiu o porquê de 
o homem nascer livre e ter sua vida privada limitada pelo poder estatal. Esses são 
aspectos fundamentais que devem ser trabalhados para que o estudante possa 
compreender o movimento realizado pelos Estados atuais. 
 
2 Formação do pensamento político 
Inicialmente, para que seja possível analisarmos de forma coerente a formação do 
pensamento político e as contribuições feitas ao longo dos séculos, precisamos partir 
do início. Com a evolução da sociedade humana surgiram diversos pensamentos, 
dogmas, teorias, correntes filosóficas e sociológicas que contribuíram 
significativamente para o desenvolvimento na época e, até hoje, são considerados 
essenciais para o estudo do pensamento político. 
 
Neste sentido, merece um papel de destaque o pensamento político grego, 
representado pelos pensadores Sócrates, Platão e Aristóteles, pois, assim como em 
outras áreas, esses três filósofos foram imprescindíveis para a formação dos pilares da 
política na sociedade. 
 
Conforme destacam Ramos, Melo e Frateschi (2012, p. 17), “tanto a ética quanto a 
política, tal como as concebemos hoje, nasceram nas cidades gregas, entre os séculos 
VI e IV antes da era corrente. Não é por acaso que ainda as designamos com palavras 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Formação do pensamento político 
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gregas: ética vem do grego ethos (algo como “costumes”) e política de polis (algo 
como “cidade”)”. Na sequência, falaremos melhor sobre cada um desses autores, 
examinando a perspectiva de cada um. 
 
2.1 Pensamento político na Grécia Antiga 
Inicialmente, precisamos lembrar que a noção de política que temos hoje na sociedade 
surgiu como uma forma de crítica radical à democracia e ao movimento dos sofistas 
que a defendiam. Desta forma, podemos dizer que a ideia de política já era muito 
suscitada na antiguidade. No entanto, durante a época, os pensamentos eram 
simplesmente falados e as poucas coisas escritas acabavam se perdendo com 
facilidade. 
 
2.1.1 Platão 
O primeiro grande filósofo que apresentou inúmeras contribuições nesta área foi 
Sócrates, porém seus ensinamentos são passados através de terceiros, mais 
precisamente através de seu discípulo Platão, uma vez que o filósofo não deixou 
nenhuma obra escrita. 
 
 
SÓCRATES foi um grande filósofo, os registros datam seu nascimento em 
aproximadamente 470 a.C, na cidade de Atenas, na Grécia Antiga. Devido a sua 
inteligência e sagacidade, durante os anos de 406 e 405 a.C, integrou o conselho 
legislativo de Atenas, mas, no ano seguinte, arriscou a própria vida quando se negou 
a colaborar com as manobras políticas idealizadas pela dinastia dos Trinta Tiranos, que 
governavam a na época cidade. Depois desse período, o filósofo ocupava seu tempo 
meditando e auxiliando seus discípulos na busca pela verdade, uma vez que as 
discussões da época giravam em torno do que é a verdade, o que é o bem e o que é 
a justiça. 
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Figura 01 – Sócrates 
 Fonte: Revista Esfinge. Disponível em: https://www.revistaesfinge.com.br/2018/09/01/socrates/.
 Acesso em: 18 mar. 21. 
 
No ano de 399 a.C, o filósofo foi acusado de cometer o crime de “impiedade”, também 
chamado de heresia, por negligenciar a adoração dos deuses e, consequentemente, 
corromper os jovens. Sócrates foi condenado e sentenciado à morte, devendo ingerir 
veneno. 
 
De acordo com Dalmo de Abreu Dallari (2011, p. 72), “no estado Grego o indivíduo 
tem uma posição peculiar. Há uma elite, que compõe a classe política, com intensa 
participação nas decisões do Estado, a respeito dos assuntos de caráter público. 
Entretanto, nas relações de caráter privado a autonomia da vontade individual é 
bastante restrita”.Assim, seguindo os passos de seu mentor, Platão não acreditava que a contagem de 
votos na assembleia, na polis (cidade), poderia ser capaz de determinar a verdade 
sobre os fatos que lhes eram suscitados. A principal questão para o filosofo era 
determinar o que seria uma polis totalmente justa. Durante este período, enquanto 
tentava solucionar tal questão, Platão escreveu a obra “A República”, que trata 
basicamente sobre a administração da cidade, em forma de diálogos. 
 
Geralmente, os diálogos apresentados por Platão não apresentavam respostas, pois o 
filósofo acreditava que o ser humano se tornava mais sábio pelo simples fato de 
Introdução ao Direito Constitucional | 
Formação do pensamento político 
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reconhecer sua ignorância. No entanto, como escreveu a obra com o intuito de 
apresentar seu ponto de vista sobre o que achava ser uma cidade justa, destacam 
Ramos, Flamarion e Frateschi (2012, p. 24) que “Platão propõe uma mudança de 
perspectiva: que se deixe de considerar este ou aquele homem justo, esta ou aquela 
lei ou constituição justas (sempre pessoas e coisas particulares) e se passe a pensar 
no que seria a Cidade justa em geral. Será a partir da perspectiva da Cidade justa, 
ideal, que se poderá definir a justiça e distinguir o que é justo do que apenas parece 
justo”. 
 
Por óbvio, o modelo de cidade ideal apresentado pelo filósofo nunca foi colocado em 
prática, mas também não se trata de um modelo totalmente fantasioso. Atualmente, 
as cidades tentam seguir o modelo de justiça, contudo a sociedade, perdida nos 
conceitos de bem e justiça, muda constantemente de opinião. Assim, considerando os 
ensinamentos passados por Platão, os homens só serão bons e justos quando 
realmente conhecerem o bem e a justiça. 
 
No mais, dentre os grandes feitos de Platão, é válido destacar que, aos 40 anos de 
idade, o filósofo fundou uma instituição destinada à investigação filosófica, intitulada 
como “Academia”. Durante os anos em que lecionou na Academia, Platão orientou 
diversos discípulos, mas um deles merece destaque especial, Aristóteles iniciou seus 
estudos na Academia com 17 anos de idade e, embora discordasse de seu mentor em 
alguns aspectos, foi muito influenciado por ele. 
 
2.1.2 Aristóteles 
Aristóteles nasceu em 384 a.C, na cidade de Estagira, na Macedônia. Com 17 anos de 
idade partiu para Atenas em busca de conhecimento, chegando lá iniciou seus estudos 
na Academia de Platão e, devido a sua notória inteligência, logo caiu nas graças de 
seu mentor. No entanto, talvez pelo fato de não compartilhar a visão platônica sobre 
a República, divergia do filósofo Platão em alguns aspectos, uma vez que Aristóteles 
não buscava um rei filosófico que, por meio da ciência política, fosse capaz de 
solucionar todos os problemas do Estado. 
 
Para Aristóteles, não bastava apenas o conhecimento teórico sobre determinado 
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assunto, o filósofo defendia que, para realmente aplicar os princípios gerais às 
circunstâncias, era necessário algum tipo de conhecimento prático, pois algumas 
situações, quando implementadas no mundo prático, apresentam algumas variáveis e 
contingentes não previstas, esse pensamento era chamado, sabiamente, pelo autor de 
“prudência”. 
 
Assim, a partir deste pensamento, Aristóteles desenvolveu um corpo de pesquisa 
muito mais empírico do que seu mentor sobre a política, uma vez que além de reunir 
material sobre o assunto, teceu comentários a respeito, expondo seu pensamento, por 
exemplo, sobre as constituições das cidades bárbaras e gregas. 
 
Conforme alegam Ramos, Melo e Frateschi (2012, p. 28-29), “conhecimento e 
qualidade moral não estão necessariamente unidos, já afirmava Aristóteles contra seu 
mestre Platão e o mestre deste, Sócrates”. Os autores complementam dizendo que, 
seguindo a filosofia defendida por Aristóteles, “o caráter de uma pessoa não é bom 
porque ela simplesmente conhece o que é a justiça ou a coragem, mas porque ela 
quer ou deseja agir em conformidade com o que seja justiça ou coragem”. 
 
De acordo com a filosofia aristotélica, o caminho natural do homem é a política, uma 
vez que ele já nasceu inserido nesse contexto, sendo que nenhuma pessoa humana 
seria capaz de viver sozinho, isolado da polis ou da civilização. Assim, considerando a 
natureza humana, o indivíduo deve ser entendido como uma pessoa patriota, social 
ou integrado por natureza, uma vez que a polis é o propósito que une todos os 
indivíduos à sociedade. Por fim, é importante mencionar que, para o filosofo, não há 
ruptura entre ética e política, pois ambas estão associadas às “ciências das coisas 
humanas”. 
 
 
Lembrando que a visão doutrinária da política aristotélica é caracterizada por tentar 
equilibrar tanto os abusos democráticos (o despotismo) quanto os abusos da 
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oligarquia, ambos muito presentes na época. 
 
2.2 Percepção de Estado Durante a Idade Média 
O momento da história conhecido como Idade Média é o período de tempo 
compreendido entre os anos de 476 e 1453. De acordo com Dalmo de Abreu Dallari 
(2011, p. 73), nesta época, “no plano do Estado não há dúvida de que se trata de um 
dos períodos mais difíceis, tremendamente instável e heterogêneo, não sendo tarefa 
das mais simples a busca das características de um Estado Medieval. Portanto, não 
nos alongaremos muito neste ponto. 
 
Conforme destacam Lenio Streck e José Luiz Bonzan (2014), três elementos foram 
essenciais durante o estado medievo e contribuíram significativamente para a 
construção de sua forma estatal, culminando, posteriormente, no Estado Moderno. 
 
O CRISTIANISMO 
Neste período, o cristianismo vinha ganhando cada vez mais visibilidade e aceitação 
na sociedade, logo não demorou muito para que surgisse a ideia de universalidade, 
ou seja, de que todos os povos se tornassem cristãos. Nem precisamos dizer que a 
tentativa foi falha, pois, embora tenha ocorrido uma grande disseminação do ideal 
cristão, dois fatores o influenciaram, quais sejam: 1º) os centros de poder foram 
multiplicados e 2º) o Imperador não aceitou com facilidade a ideia de se submeter 
às autoridades da igreja e se recusava ficar sujeito a elas. 
 
AS INVASÕES BÁRBARAS 
O termo “bárbaro”, surgiu na Grécia Antiga e inicialmente era utilizado para 
diferenciar os povos que possuíam uma cultura ou idioma diferentes daqueles 
cultuados pelos gregos. Com o passar do tempo, o termo era utilizado para se referir 
a povos que mantinham um comportamento primitivo e violento, atribuindo suas 
conquistas à força física e não ao intelecto. 
 
Os bárbaros não podiam ser descritos como um único grupo de pessoas, 
geralmente referia-se aos povos vindos do norte, do oeste e do centro da Europa. 
Assim, de acordo com Streck e Bonzan (2014), as invasões realizadas pelos povos 
bárbaros geraram grandes transformações na época, uma vez que “os povos 
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invasores estimularam as regiões invadidas a se afirmarem como unidades políticas 
independentes. Percebe-se, pois, que, no Medievo, a ordem era bastante precária, 
pelo abandono de padrões tradicionais, constante situação de guerra, indefinição 
de fronteiras políticas, etc.”. 
 
O FEUDALISMO 
Devido a crescente busca por riquezas e territórios, as sociedades que se formavam 
na época foram obrigadas a desenvolver um sistema que garantisse a proteção de 
seu povo e de suas posses, foi então que surgiram os chamados feudos. Neste 
sentido, Streck e Bonzan (2014) afirmam que o sistema feudal cresce baseado em 
três institutos: a vassalagem, de modo que os proprietários de terras menos 
poderosos viviam a serviço do senhor feudal em troca de proteção; o benefício,que 
era uma espécie de contrato firmado entre o senhor feudal e o chefe de família que 
não tivesse patrimônio, o qual estabelecia que o servo deveria receber uma porção 
de terras para cultivo e seria tratado como parte inseparável da gleba; por fim, a 
imunidade, que garantia a isenção de tributos às terras sujeitas ao benefício. 
 
Foram esses fatores que, de forma conjunta, definiram os aspectos mais importantes 
na formação do pensamento político na era medieval. Assim, podemos citar como 
principais características deste período a constante instabilidade política, econômica 
e social, o conflito entre os poderes temporal e espiritual, o desmembramento do 
poder centralizado em vários pequenos polos, o sistema jurídico baseado nos 
costumes e nas regalias nobiliárquicas e, por fim, nas relações de dependência devido 
à hierarquia de privilégios. 
 
Além disso, devido à influência do cristianismo na época, quando a própria igreja 
católica, mesmo que na intenção de preservar a ascensão da cristandade, incentivava 
a formação do império como uma unidade política, os pensadores que ganharam 
destaque no âmbito político, na era medieval, foram Santo Agostinho e Santo Tomás 
de Aquino. 
 
2.2.1 Santo Agostinho 
Também conhecido como Agostinho de Hipona, Santo Agostinho nasceu no ano de 
354 em Tagaste, no norte da África, foi um grande filósofo, escritor, bispo e teólogo 
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cristão na idade média, falava principalmente sobre as relações entre fé e razão e entre 
a igreja e o Estado, ambos muito influentes na época. 
 
De acordo com Leo Strauss e Joseph Cropsey (2013, p. 161), “Santo Agostinho é o 
primeiro autor a lidar, de forma mais ou menos abrangente, com o tema da sociedade 
civil à luz da nova conjuntura gerada pelo surgimento da religião revelada e seu 
embate com a filosofia no mundo greco-romano”. Embora não se considere um 
filósofo por completo, Santo Agostinho defende que a filosofia complementa as 
questões religiosas e fornece conhecimento, assim, apesar de escrever primeiramente 
como um teólogo, publicou diversas obras com um viés político e filosófico. 
 
O ponto principal dos ideais defendidos por Santo Agostinho são as considerações 
feitas sobre a virtude, pois os ensinamentos do teólogo passam tanto pela filosofia 
quanto pela tradição bíblica trazida pelo catolicismo. Conforme ressaltam Leo Strauss 
e Joseph Cropsey (2013, p. 161), Santo Agostinho acreditava que 
A virtude que caracteriza o cidadão como cidadão e comanda todos os cidadãos para a meta 
ou bem comum da cidade é a justiça. A justiça é a pedra angular da sociedade civil. É dela que 
dependem a unidade e a nobreza de qualquer sociedade humana. Ao regular as relações entre 
os homens, preserva a paz, o bem comum intrínseco à sociedade e a precondição para todos 
os outros benefícios que a sociedade proporciona. Sem paz, a “tranquilidade na ordem”, 
nenhuma sociedade pode prosperar nem mesmo sobreviver. Citando Cícero com aprovação, 
Agostinho define a sociedade civil ou nação como “um conjunto (de homens), associado por 
um reconhecimento comum do direito e por uma comunidade de interesses”." Explica “direito” 
como “justiça” ao invés de “lei”, e insiste em que nenhuma nação pode ser administrada sem 
justiça, pois onde não há justiça não há direito e vice-versa (STRAUSS; CROPSEY, p. 165). 
 
Assim, para definir o que é justiça, Santo Agostinho se vale do entendimento de um 
dos maiores teóricos do direito romano, Cícero. Neste sentido, afirmam Ramos, Melo 
e Frateschi (2012, p. 53) que, “segundo essas definições, o direito (ius) não pode ser 
separado da justiça (iustitia), uma vez que a “concordância no direito”, núcleo da 
definição de povo, pressupõe que “a república não possa ser gerida sem justiça”: onde 
não há verdadeira justiça, não pode haver direito”. 
 
No mais, com relação ao conceito de justiça, considerando os argumentos de Cícero, 
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Santo Agostinho afirma que o direito e a justiça caminham juntos e não podem ser 
separados. Assim, uma república não pode ser governada sem justiça, uma vez que, 
onde não houver justiça, não haverá direito, logo também não haverá povo e 
tampouco uma república. Desta forma, conclui Santo Agostinho que a justiça nada 
mais é do que a virtude que oferece a cada um o que é seu. 
 
2.2.2 São Tomás de Aquino 
Assim como Santo Agostinho, São Tomás de Aquino foi um grande teólogo e filósofo 
que contribuiu significativamente para o desenvolvimento do pensamento político na 
Idade Média. Nascido em 1225, em Sicília, na Itália, São Tomás de Aquino foi um frei 
católico da Ordem Dominicana na Idade Média e autor da obra “Suma Teológica”, que 
aborda questões entre a ciência, razão, filosofia, fé e teologia. 
 
São Tomás de Aquino foi um grande apreciador da filosofia pregada por Aristóteles e 
considera o filósofo como a principal autoridade filosófica do Ocidente cristão. 
Durante sua vida, Aquino se esforçou para reinterpretar as obras de Aristóteles através 
de uma ótica cristã. 
 
Neste sentido, ressaltam Leo Strauss e Joseph Cropsey (2013, p. 226) que, “nas obras 
de Aquino, é a teologia que precisa de justificação diante do tribunal da razão ou da 
filosofia. O primeiro artigo de sua obra mais conhecida, a Summa Theologiae, não 
pergunta se o estudo da filosofia é admissível e desejável, mas se, além das disciplinas 
filosóficas, é necessária outra ciência, ou seja, a doutrina sagrada”. 
 
Além disso, de acordo com Ramos, Melo e Frateschi (2012, p. 61), São Tomás de 
Aquino acredita que “a política é o resultado de um ajuste promovido entre a natureza, 
o intelecto e a vontade humana: seu objeto é o estudo racional da cidade, o tipo ideal 
de todas as comunidades humanas”. Assim, “Aquino propõe uma versão da política 
cuja face religiosa parece obrigada a ter peso já nesta vida: o bom governo deve 
auxiliar o homem a alcançar não apenas aquele que é seu fim natural, o bem comum, 
mas deve auxiliá-lo a alcançar aquele que é também seu fim último: o sumo bem ou 
a fruição de Deus”. 
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Pilares do Estado Moderno 
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3 Pilares do Estado Moderno 
Conforme vimos a pouco, a Idade Média perdurou entre os anos de 476 e 1453, 
momento em que o cristianismo era disseminado por todo o mundo, fato que 
contribuiu com a formação dos principais filósofos da época – Santo Agostinho e São 
Tomás de Aquino –, mas, posterior a isso, adentramos na era chamada Idade Moderna. 
 
O sistema feudal implementado na época contribuiu para a formação de um novo 
modelo estatal, o Estado Moderno. Esse período foi decisivo para a formação do 
pensamento político filosófico, com as contribuições de pensadores como Nicolau 
Maquiavel, Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau. Na sequência, trabalharemos 
melhor a ideia apresentada por cada um deles, procurando compreender as 
influências do pensamento político clássico. 
 
3.1 Nicolau Maquiavel 
Nicolau Maquiavel nasceu em 1469, na cidade de Florença, na Itália. Foi um grande 
filósofo político, historiador, escritor e diplomata italiano, foi autor de grandes obras, 
dentre elas, “O Príncipe” e o “Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio”. Desde 
muito novo, incentivado pela família, Nicolau se interessava pelas questões 
vivenciadas na época e, com 29 anos, durante o governo de Piero Soderim, assume o 
cargo de Secretário da Segunda Chancelaria na República Florentina. 
 
De acordo com Leo Strauss e Joseph Cropsey (2013, p. 268), 
Maquiavel é o único pensador político cujo nome está em uso corrente para designar um tipo 
de política, que existe e continuará existindo, independentemente de sua influência, uma 
política guiada com exclusividade por questões de conveniência, queusa todos os meios, 
legais ou ilegais, ferro ou veneno, para atingir sua meta - sendo esta o engrandecimento de 
um país ou pátria -, mas também usando a pátria a serviço do autoengrandecimento do 
político, ou estadista, ou partido de cada um (STRAUSS e CROPSEY, 2013, p. 268). 
 
O trabalho apresentado por Maquiavel representa um aspecto muito importante na 
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construção do pensamento político, uma vez que ele marca o fim do agostinismo 
político vivenciado até aquele momento. Além disso, é importante ressaltar que, pelo 
fato de ter atuado desde muito novo em cargos do governo, era um excelente 
conhecedor das complexidades do poder, pois a função de diplomata permitia que 
visse de perto diversas formas de governo. 
 
No entanto, depois de servir o governo por 14 anos, quando os Médici assumiram o 
governo de Florença e derrubaram a república, Maquiavel foi afastado de suas funções 
públicas e redesignado ao novo poder, mas, logo em seguida, foi preso e acusado de 
conspirar contra o novo regime imposto. Não muito tempo depois, o filósofo foi solto 
e decidiu se exilar em uma propriedade rural localizada em San Casciano, próximo de 
Florença. É durante o período de afastamento que Maquiavel se dedica a suas obras, 
como O Príncipe, Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio, O Diário em Torno 
de Nossa Língua e A Arte da Guerra. 
 
Assim, podemos dizer que o filósofo submetia a virtude à política, de modo que a 
primeira só era útil quando relacionada aos aspectos políticos. Resgatando os 
pensamentos de Aristóteles e adaptando para o contexto vivenciado na época, 
Maquiavel defende a existência de uma ordem de direito, recusando a possibilidade 
de uma meta natural do homem. 
 
Na sequência, vamos falar um pouco mais sobre duas das principais obras de 
Maquiavel, abordando alguns pontos importantes que influenciaram na construção 
do pensamento político na época. 
 
3.1.1 O Príncipe 
A obra intitulada como “O Príncipe” é fruto de uma reflexão feita por Maquiavel em 
uma carta enviada a Francesco Vettori. Na ocasião, o filósofo analisava as diferentes 
formas de principado, como eles eram conquistados, quais fatores faziam com que 
continuassem no poder e, acima de tudo, quais elementos eram responsáveis por sua 
queda. 
 
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Pilares do Estado Moderno 
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Assim como destacam Ramos, Melo e Frateschi (2012, p. 90), um dos elementos mais 
importantes do livro é a forma como Maquiavel acreditava que o príncipe deveria se 
portar. De acordo com o filósofo, 
mesmo que não seja mau, o príncipe deve aprender a usar da força quando for preciso, 
fazendo-se temer, pois esse é um sentimento, diferente do amor, que não se abandona jamais. 
Segundo Maquiavel, aquele que governa deve recorrer não apenas às leis, próprias do ser 
humano, mas também à força, que é maneira de combater dos animais, empregando as 
qualidades da raposa, para conhecer as armadilhas, e do leão, para aterrorizar os oponentes. 
(RAMOS; MELO; FRATESCHI, 2012, p. 90) 
 
Desta forma, quando o príncipe precisar escolher entre ser amado ou temido, uma 
vez que é difícil ser os dois ao mesmo tempo, deve optar por ser temido, pois essa 
posição pode ser alcançada com mérito próprio, sem ajuda de terceiros. Lembrando 
que o príncipe deve fazer o máximo para não ser odiado pelo reino, mesmo que isso 
implique ficar longe das mulheres e, principalmente, do patrimônio de seus súditos. 
 
3.1.2 Discurso sobre a primeira década de Tito Lívio 
Neste livro, diferentemente de “O Príncipe”, que abordava questões relativas ao 
principado como forma de governo, Maquiavel traz à tona alguns aspectos 
relacionados ao sistema republicano. 
 
Conforme destacam Leo Strauss e Joseph Cropsey (2013, p. 274), “nos Discursos, 
Maquiavel trata, em certa medida, do conjunto da história romana, tal como abarcada 
pela obra de Tito Lívio: o livro de Tito Lívio é composto de 142 livros, e os Discursos 
consistem em 142 capítulos. A obra de Tito Lívio conduz até a época do imperador 
Augusto, isto é, os primórdios do cristianismo”. 
 
Assim, de acordo com Ramos, Melo e Frateschi (2012, p. 92), “a preocupação de 
Maquiavel parece ser, na esteira dos humanistas, com a crise que envolvia os 
fundamentos constitucionais das repúblicas italianas de seu tempo, em particular 
Florença, e suas possibilidades de sobreviver como comunidades livres num mundo 
reconfigurado pelas grandes potências territoriais”. 
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Nos primeiros capítulos da obra, Maquiavel se ocupa em demonstrar a origem e o 
desenvolvimento político na antiga Roma, ressaltando a mudança do regime 
monárquico para o republicano, bem como a criação de instituições que tinham o 
intuito de preservar a liberdade conquistada com o sistema. Em um segundo 
momento, o filósofo evidencia como a crescente expansão de Roma, aliada ao seu 
poderio militar, foi determinante para manter a liberdade conquistada pelo novo 
sistema. Por fim, na terceira parte do livro, Maquiavel examina quais comportamentos 
os cidadãos de Roma mantêm, em prol de preservar a liberdade da república. 
 
Em consonância, Ramos, Melo e Frateschi (2012, p. 94) complementam dizendo que, 
seguindo os pontos centrais do sistema desenvolvido na antiga Roma e adaptando-
os a realidade em que vive, Maquiavel determina 
a diferença entre as repúblicas capazes de expansão e as projetadas apenas à conservação. Ele 
sustenta que somente aquelas que optaram pela expansão, buscando a potência, como Roma, 
garantiram ao longo do tempo a manutenção da liberdade. A República romana foi capaz de 
conservar sua liberdade, porque se manteve aberta aos acontecimentos, enfrentando os 
contínuos desafios da contingência das coisas humanas. Como a liberdade não é garantida 
por uma forma constitucional estável, como o governo misto, mas pela criação contínua das 
condições de potência, Roma era o melhor modelo a ser seguido pelas repúblicas 
contemporâneas (RAMOS; MELO; FRATESCHI, 2012, p. 94). 
 
Assim, Maquiavel considera que as repúblicas são superiores e mais bem preparadas 
do que os principados, uma vez que elas têm mais facilidade em se adaptar às 
mudanças trazidas com o tempo, em função da variedade e da diversidade dos 
cidadãos. Além disso, ela se mostra muito mais resistente com relação aos outros 
modelos de governo, pois a habilidade de muitos homens se mostra mais valiosa do 
que a de apenas um. 
 
4 Os contratualistas e o Estado Moderno 
Depois de falarmos sobre o republicano Nicolau Maquiavel, direcionamos nossos 
estudos aos contratualistas Thomas Hobbes, Jean-Jacques Rousseau e ao liberalista 
John Locke. A era do contratualismo vivenciada por esses pensadores, como o próprio 
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nome já diz, pressupõe que tanto a sociedade quanto o poder político se originaram 
a partir de um contrato entre as pessoas que estão no poder e aqueles que estariam 
sujeitos a ele. 
 
Nas palavras de Ramos, Melo e Frateschi (2012, p. 109), 
A tese de que a origem da sociedade política está num contrato implica que a sociedade 
política é um artifício, isto é, uma forma de associação a que os homens não são conduzidos 
pelo movimento natural de suas paixões e na qual não estão desde sempre inseridos de 
maneira espontânea ou irrefletida (como a família, por exemplo), mas uma comunidade que 
os homens resolvem instituir voluntariamente, na medida em que têm razões e motivos para 
isso (RAMOS; MELO; FRATESCHI, 2012, p. 109). 
 
Em seguida, vamos falar um pouco mais a respeito desses pensadores, pontuando e 
destacando as principais características do pensamento de cada um. 
 
4.1 Thomas HobbesO contratualista Thomas Hobbes nasceu em 1588, na cidade de Westport na 
Inglaterra, foi um grande teórico político, filósofo e matemático inglês. Acredita-se 
que Hobbes foi o precursor do contratualismo político, pois formulou a tese sobre o 
contrato social e a desenvolveu a partir da relação com status civil e autoridade 
soberana. 
 
De acordo com Leo Strauss e Joseph Cropsey (2013, p. 355), “pode-se conceber que 
as intenções de Hobbes tenham sido duplas: (1) assentar, pela primeira vez, a filosofia 
moral e política sobre uma base científica; e (2) contribuir para a concretização da paz 
cívica e da amizade e para a criação de uma disposição, na humanidade, para o 
cumprimento de seus deveres cívicos”. 
 
Assim, podemos dizer que Hobbes acreditava que um governo civil faria com que as 
pessoas voltassem ao estado de natureza, tornando presente e manifesta a tensão de 
conflitos, sendo a função do poder soberano proporcionar a paz para seus súditos. 
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Os contratualistas e o Estado Moderno 
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Ao passo que, segundo o pensamento defendido por Hobbes, no estado de natureza 
a única lei que impera é a Lei Natural, uma vez que as pessoas têm direito a tudo 
aquilo que pode ser conquistado através da força bruta. Durante esse estado, as 
pessoas viveriam constantemente em conflitos e, nem as propriedades nem as 
pessoas se manteriam seguras. O princípio que moveria a sociedade é o da 
autopreservação, devido ao medo. 
 
Conforme destacam Leo Strauss e Joseph Cropsey (2013, p. 361), “não há recurso à 
justiça no estado de natureza; nada ali pode ser injusto, pois a justiça e a injustiça 
existem tão somente em termos de uma lei anterior e não há lei fora da sociedade 
civil. Em suma, o homem não é social por natureza; ao contrário, a natureza dissocia 
o homem”. Na concepção de Hobbes, “o homem é o lobo do homem”. 
 
Todavia, embora inicialmente as sociedades tenham se formado desta forma, a 
situação acaba se tornando insustentável a longo prazo, uma vez que nenhuma 
sociedade é capaz de sobreviver à sombra de tanto medo e insegurança. Assim, os 
indivíduos abandonam a Lei Natural junto com o estado de natureza a fim de obter 
garantias mínimas de paz, firmando uma espécie de contrato social. 
 
No contrato social ocorre uma troca entre o soberano e seu povo, na qual, 
basicamente, os indivíduos cedem poderes à figura de um soberano, que, por sua vez, 
é responsável por garantir o cumprimento da lei e manter a ordem dentro de um novo 
estado civil. 
 
 
Para Hobbes, o poder do monarca deveria ser absoluto, a fim de garantir a 
estabilidade ou a impossibilidade de conflitos entre membros da sociedade civil, uma 
vez que o poder soberano governa de maneira absoluta, denominado por ele como 
o Leviatã. 
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Neste sentido, Ramos, Melo e Frateschi (2012, p. 114-115) complementam dizendo 
que o contratualista 
pretende fazer da política uma ciência racional e do corpo político um construto da razão, o 
que quer dizer que tanto o conhecimento quanto a ação política dependem da percepção de 
certas relações necessárias e universais entre as ideias, pois é nisso o que consiste a razão, 
segundo o modelo matemático a partir do qual foi pensada nos quadros do racionalismo 
cartesiano, com o qual a filosofia de Hobbes manteve estreitas relações (RAMOS; MELO; 
FRATESCHI, 2012, p. 114-115). 
 
Desta forma, podemos dizer que o ponto central do sistema estabelecido pelo 
contrato social era fundamentado na transição do estado da natureza para o estado 
civil. Assim, as pessoas deveriam obedecer e seguir a figura do soberano, pois ele seria 
o responsável por preservar os bens dos indivíduos e manter a paz na sociedade. 
 
Por fim, é importante mencionar que não adianta de nada o soberano possuir o dever 
de zelar pelas pessoas adeptas do contrato, se não dispõe de meios para tanto. 
Pensando nisso, Hobbes defende que aliado ao dever de proteger, o soberano adquire 
alguns direitos, como o direito de punir, de exercer poder de polícia, o direito de não 
ser punido, o direito de decretar guerra ou paz, de cobrar impostos. Além disso, é 
passado ao soberano os poderes legislativo, da espada e o judiciário. Assim, o poder 
do soberano, nada mais é do que absoluto na sociedade que governa. 
 
4.2 Jean-Jacques Rousseau 
Jean-Jacques Rousseau nasceu em 1712, na cidade de Genebra, na Suíça. Foi um 
grande filósofo social, teórico político, escritor e fez grandes contribuições para a 
construção do pensamento político durante o Estado Moderno. 
 
Rousseau é considerado o um dos principais filósofos do período iluminista, além de 
ser um dos precursores do romantismo. Apresenta uma alternativa ao absolutismo 
político defendido por Hobbes, uma vez que a ideia central do seu pensamento é 
totalmente o oposto daquilo que o filósofo acredita. 
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Na concepção de Rousseau, quando o homem consegue se livrar de todas as amarras 
da sociedade civil para viver em um estado de natureza, podemos perceber que o 
indivíduo é bom em sua essência. Ao contrário do que Hobbes dizia, Rousseau 
defende que o homem não é lobo do homem, muito pelo contrário, o homem é bom 
por natureza, mas a sociedade o corrompe, uma vez que vive preso diante de tanta 
hipocrisia e aparências. 
 
De acordo com Leo Strauss e Joseph Cropsey (2013, p. 500), o filósofo defendia que 
“a sociedade civil acorrenta o homem e fez dele um escravo da lei ou de outros 
homens ao passo que ele, como homem, nasceu para a liberdade, para o direito de se 
comportar como lhe aprouver. Além disso, a sociedade civil, tal como é hoje 
constituída, não tem direito a invocar a adesão moral de seus súditos: é injusta”. 
 
Neste sentido, afirmam Ramos, Melo e Frateschi (2012, p. 111) que Rousseau 
lança mão da ideia de contrato e conceitua a política a partir dela, ao mesmo tempo que faz 
uso de todo o seu talento literário para mostrar que as instituições políticas do seu tempo e 
as relações de poder historicamente constituídas não se ajustam a esse conceito. Ao pensar a 
política a partir do contrato, Rousseau a pensa do ponto de vista de como ela deveria ser, não 
de como ela é. Seu ponto de vista é normativo, não descritivo. (RAMOS; MELO; FRATESCHI, 
2012, p. 111) 
 
A visão da filosofia sustentada por Rousseau remonta ao fundamento da soberania 
política no contexto do contrato social que estava em evidência na época. O filósofo 
defendia que enquanto o homem vivia sob a égide da lei natural não precisava se 
associar politicamente, porém com a mudança para a sociedade civil, associada à 
escassez de recursos, acabou por se sentir obrigado a firmar um contrato social. 
 
Assim, conforme destacam Leo Strauss e Joseph Cropsey (2013, p. 509), Rousseau 
acreditava que 
A liberdade do homem, que parece ser independente e oposta ao governo da moral, é a única 
fonte de moralidade. Com esta descoberta, Rousseau completa a ruptura com os 
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ensinamentos políticos da Antiguidade clássica iniciada por Maquiavel e Hobbes. Seus 
predecessores imediatos mantiveram a noção de lei natural que limitava a liberdade humana 
que eles próprios ensinavam. (STRAUSS e CORPSEY, 2013, p. 509) 
 
Desta forma, segundo a doutrina política rousseauniana, o contrato social nada mais 
é do que uma espécie de acordo, firmado com o objetivo de constituir uma sociedade 
civil, bem como de estabelecer uma figura de autoridade, no caso, o soberano. 
 
 
De acordo com Rousseau, toda a dificuldade política representa a relação existente 
entre a vontade particular e a vontade geral. Isto é, segundo o contrato sociale a 
Filosofia Política a ele subjacente, não haveria um esquema de leis mais eficiente, uma 
vez que o contrato constituiria a sociedade anterior ao governo, que, 
independentemente das alterações governamentais, seria mantida. 
 
4.3 John Locke 
O contratualista John Locke nasceu em 1632, em Wrington, na Inglaterra. Ele foi um 
importante filósofo inglês e um dos principais representantes do empirismo, além de 
ser considerado o pai do liberalismo político. Seus ideais defendiam a liberdade 
individual e o igualitarismo. 
 
De acordo com Leo Strauss e Joseph Cropsey (2013, p. 437), “os ensinamentos 
políticos de Locke podem ser expressos em termos opostos, com similar brevidade, 
desta forma: Todo governo é limitado em seus poderes e existe somente pelo 
consentimento dos governados. A fundação sobre a qual ergue seu pensamento é 
esta: Todos os homens nascem livres”. 
 
A partir desse pensamento, Locke questionava o que seria de fato o poder político e 
a sociedade política, concluiu que não passavam de uma invenção, fruto da criação 
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humana. Contudo, embora seja artificial, fruto da criação humana, uma vez que a 
sociedade política é criada, teria natureza própria, logo seria aplicável uma lei natural. 
Desta forma, para o liberalista, a sociedade civil apenas perseveraria se o governo 
fosse firmado de uma única vez, situação em que a sociedade política necessitaria do 
governo. 
 
Além disso, é importante mencionar que os ideais defendidos pelos contratualistas 
Locke e Hobbes são distintos, embora ambos falem sobre a lei natural, o primeiro 
defende-a como não sendo apenas um preceito da razão, mas um mandamento de 
Deus, que obriga os indivíduos e deve ser respeitada. Ao passo que Hobbes defende 
a lei natural como sendo um conjunto de preceitos da razão, mas que, em momento 
algum, obrigam propriamente o indivíduo, e sim os aconselham a adotar determinada 
conduta. 
 
Conforme destacam, Locke “se esforça por mostrar que as leis de natureza que 
determinam a constituição da propriedade é um mandamento de Deus, o que para 
ele é uma forma de mostrar que elas constituem obrigação e que há, portanto, 
contrariamente ao que diz Hobbes, obrigações naturais e pré-contratuais”. 
 
Ainda, no que diz respeito à função do contrato político, a opinião de Locke e Hobbes 
é divergente. De acordo com Ramos, Melo e Frateschi (2012, p. 125), para o liberalista 
Locke, o contrato político possui a função de 
evitar que esses laços, existentes no âmbito da natureza, deixem de ser aqueles pelos quais os 
homens se pautam em suas relações recíprocas, o que ocorre quando o estado de natureza se 
degenera num estado de guerra, quando as relações entre os homens deixam de ser relações 
de direito e dever, pautadas pela lei natural, para se tornarem relações de puro poder (RAMOS; 
MELO; FRATESCHI, 2012, p. 125). 
 
Sendo assim, podemos dizer que, segundo a visão de Locke, a liberdade não existe 
onde não há lei, uma vez que, considerando a condição natural do indivíduo, não 
existe uma lei preestabelecida. Logo, consoante a filosofia sustentada pelo liberalista 
Locke, os homens só seriam realmente livres se fossem legisladores. 
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Formação do pensamento político contemporâneo 
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Se você tem interesse pela formação do pensamento político no Estado Moderno e 
pretende aprofundar seus estudos, indicamos a leitura na íntegra das obras publicadas 
pelos contratualistas modernos, como: 
→ De Cive (1642) – Thomas Hobbes; 
→ Leviatã (1651) – Thomas Hobbes; 
→ Do Contrato Social (1762) – Rousseau; 
→ Ensaio Sobre o Conhecimento Humano (1689) – John Locke 
→ Dois tratados sobre o governo (1689) – John Locke 
 
5 Formação do pensamento político contemporâneo 
Superadas nossas considerações sobre a construção do pensamento político no 
Estado Moderno e, principalmente, a respeito dos contratualistas da época, passamos 
à análise da formação do pensamento político contemporâneo. 
 
Grandes pensadores contribuíram para a formação do pensamento político na era 
contemporânea. No entanto, os mais importantes foram Immanuel Kant, Karl Marx, 
Friedrich Nietzsche e Max Weber. 
 
5.1 Immanuel Kant 
Immanuel Kant nasceu em 1724, na antiga Prússia Oriental, foi um grande filósofo 
alemão, conhecido por fundar a chamada filosofia crítica, por meio da qual procurava 
estabelecer os limites da razão humana. Neste sentido, também é importante ressaltar 
que a filosofia de Kant recebe esse nome devido ao título de suas três principais obras: 
a Crítica da razão pura (1781), a Crítica da razão prática (1788) e a Crítica do juízo 
(1790). 
 
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Com relação ao pensamento político, Kant não desenvolveu seus ideais de forma 
isolada como os outros filósofos, mas sim de forma conjunta, aliada a outros campos 
do conhecimento, essa fusão dá origem a uma verdadeira revolução teórica 
comparada ao pensamento da época. 
 
Segundo a doutrina sustentada por Kant, a república seria a única constituição política 
legítima do Estado, uma vez que o sistema político deve ser representativo, refletindo 
os anseios da sociedade. Isto é, ao contrário dos sistemas absolutistas, os governantes 
republicanos estão vinculados à vontade popular, logo devem prestar contas aos 
cidadãos. Ainda, no sistema republicano não há necessidade de o poder estar 
concentrado na mão de apenas uma pessoa, é preciso que suas funções estejam 
fragmentadas em várias esferas a fim de conter eventuais abusos e despotismos 
políticos. 
 
De acordo com Leo Strauss e Joseph Cropsey (2013, p. 520), 
Os ensinamentos políticos de Kant podem ser resumidos em uma frase: governo republicano 
e organização internacional. Em termos mais caracteristicamente kantianos, trata-se de uma 
doutrina do estado com base no direito (Rechtstaat) e da paz eterna. De fato, em cada uma 
dessas formulações, ambos os termos expressam a mesma ideia: a da constituição legal ou 
“paz através da lei”. Dentro e entre os estados, trata-se de uma questão de passar do estado 
de natureza, que é um estado de guerra, para o estado de direito, que é um estado de paz. [...] 
Kant realiza sua tarefe inspirando-se em suas concepções de moralidade e de história, 
mostrando como a paz depende da lei, e o direito, da razão, e o impulso na natureza das coisas 
em direção a um estado livre e racional e, portanto, pacífico (STRAUSS e CROPSEY, 2013, p. 
520). 
 
Assim, Kant acreditava basicamente que o contrato social era uma espécie de 
condição da possibilidade teórica que representava o consentimento das pessoas com 
relação ao governo, dado que, por viverem em um estado natural, semelhante àquele 
citado por Hobbes, as partes estariam enfrentando grandes conflitos e não poderiam 
recorrer a um órgão superior para resolvê-los. 
 
Neste sentido, divergindo da ideia comum de liberdade, segundo a qual ser livre é 
fazer o que quiser, quando quiser e onde quiser, sem precisar seguir nenhuma regra, 
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afirmam Ramos, Melo e Frateschi (2012, p. 167-168) que “a concepção kantiana 
aponta no sentido contrário da concepção do senso comum: liberdade não é agir sem 
nenhuma regra, mas ser capaz de seguir uma regra livremente imposta pela própria 
razão”. 
 
Assim, o filósofo defende que é totalmente possível garantir a paz entre os Estados, 
ao passo que as pessoas se comprometem em cumprir uma série de regras que 
vinculam a todos de forma igualitária, garantindo o respeito à integridade territorial, 
à publicidade de decisões ou à proibição de guerras e agressão. 
 
Por fim, conforme salientam Leo Strauss e Joseph Cropsey(2013, p. 522), “Kant tem 
importância capital não só para a filosofia, mas para a consciência política, exatamente 
devido às consequências políticas de seus ensinamentos morais e à dimensão moral 
de seus ensinamentos político”. Isto é, o filósofo atribui um viés político a 
determinados temas morais e uma concepção moral a alguns temas políticos. 
 
5.2 Karl Marx 
Nascido em 1818, Karl Marx foi um importante filósofo e revolucionário socialista 
alemão. Discípulo da filosofia de Georg Wilhelm Friedrich Hegel, buscou, de todas as 
formas, demonstrar que a realização da ordem de direito é um subproduto necessário 
do conflito dialético, das cegas paixões egoístas no processo da história. 
 
Marx iniciou sua carreira política em meio ao caos de dois reinos, o da Prússia e da 
Áustria, que, posteriormente, em 1871, iriam se unificar e formar a Alemanha. Após a 
eclosão da Revolução Francesa, responsável por abolir diversos privilégios feudais, os 
alemães também acreditavam que o movimento pudesse interferir no governo 
absolutista da Prússia, instaurando no país uma Constituição Liberal que garantisse 
aos cidadãos os direitos políticos de representação e os direitos civis de liberdade de 
expressão. 
 
Marx seguia os ensinamentos transmitidos por seu professor Hegel, que criticou o 
formalismo moral definido por Kant, uma vez que para ele os ideais transmitidos pelo 
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filósofo contrastavam com uma filosofia da História, segundo a qual o motivo se torna 
consciente de si, nunca de maneira individual e unilateral, mas seguindo uma evolução 
coletiva de grandes momentos e tempos. 
 
Na concepção de Hegel, a história avança dialeticamente e a razão é incorporada nos 
interesses do Estado. Portanto, não é possível iniciar a filosofia política seguindo 
apenas os princípios abstratos da razão, uma vez que, antes disso, deveriam ser 
entendidas as concreções e as dinâmicas históricas de cada um. Isto é, na visão de 
Hegel, a missão da Filosofia seria compreender a racionalidade do real. 
 
No entanto, quando Marx tenta aplicar e expandir o conceito filosófico de alienação 
para além das fronteiras da filosofia da religião, seguindo o estudo da filosofia política 
de Hegel, “descobre que todos os jovens hegelianos caem no mesmo equívoco que a 
teologia e a filosofia hegeliana da religião cometeram, invertendo a essência e a 
aparência” (RAMOS; MELO; FRATESCHI, 2012, p. 201). 
 
Além disso, os autores destacam que, de acordo com Marx, o Estado não seria 
considerado “uma esfera independente e superior, que ao se tornar racional resolveria 
todos os problemas da sociedade, mas, sim, dependente e subordinada com relação 
à sociedade civil, isto é, das relações sociais capitalistas”. Ou seja, Marx acredita que a 
filosofia hegeliana do Estado racional não consegue perceber a verdade do 
movimento social vivenciado pela sociedade moderna. Para o filósofo, o único regime 
capaz de superar o absolutismo alemão seria o socialismo, e não o liberalismo como 
todos acreditavam. 
 
 
Karl Marx foi o responsável por criar a dialética marxista, também conhecida como 
materialismo dialético, prática que recorre à dialética – a arte do diálogo, poder de 
persuasão, convencimento da verdade por meio de um discurso – para entender as 
lutas de classes sociais. 
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5.3 Friedrich Nietzsche 
O filósofo alemão Friedrich Nietzsche nasceu em 1844, na cidade de Röcken. Além da 
filosofia, Nietzsche também se dedicava à escrita e era um excelente crítico. De acordo 
com Leo Strauss e Joseph Cropsey (2013, p. 742), os pensamentos de Nietzsche 
destoavam da época “porque visam ser contrários a seu tempo, mas, no entanto, a 
serem uma influência sobre este tempo para o bem de um tempo futuro. O ensaio é 
uma crítica de uma “falha e defeito” específicos do tempo, o historicismo, ao qual 
Nietzsche denomina o movimento histórico [...]”. 
 
Ao contrário do dogma cristão, o filósofo afirma que não existia qualquer relação entre 
Deus e o Estado. Além de criticar a cultura e a religião, o filósofo contemporâneo 
Nietzsche tecia duras críticas a respeito da relação existente entre o Estado e os 
sistemas de educação. Ele defende que a criação do Estado foi uma das piores 
perversões já inventadas pelo homem, dado que, além de representar algo abstrato, 
trata os indivíduos de forma indiscriminada, transformando a sociedade em meros 
escravos. 
 
Neste sentido, Leo Strauss e Joseph Cropsey (2013, p. 749) complementam dizendo 
que, segundo Nietzsche, “o Estado é apenas uma superestrutura com base nas 
qualidades únicas de um povo, mas que distorce a singularidade: o Estado prega 
doutrinas universais, como os direitos do homem. Seu universalismo superficial 
destrói a criatividade dos indivíduos; sua máquina impessoal despersonaliza o 
homem”. 
 
Portanto, de acordo com o filósofo, a partir do momento em que o Estado deixasse 
de existir, a verdadeira face do homem viria à tona, e não uma massa que compartilha 
seus interesses com os do Estado. No entanto, o objetivo de Nietzsche não era 
exterminar a política, mas sim dizer que ela era totalmente possível, desde que 
conduzida à reconstrução do povo e, para que isso acontecesse, deveria ser resgatada 
do estado catastrófico no qual se encontraria devido a ação do igualitarismo 
democrático enaltecido pela modernidade, uma vez que o povo era, em sua essência, 
político. 
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5.4 Max Weber 
Max Weber nasceu em 1864, na cidade de Erfurt, em Turíngia na Alemanha. Foi um 
importante sociólogo, jurista e destacado economista alemão. Dedicou grande parte 
de sua trajetória à vida acadêmica, escreveu diversas obras e contribuiu 
significativamente para a construção do pensamento político contemporâneo. 
 
 
Em seu livro “A política como vocação”, conferência transcrita e datada de 1919, 
Weber formula uma importante tese que se constitui na base do pensamento político 
ocidental, definindo o Estado como aquele que é caracterizado pelo exercício do 
monopólio legítimo da violência em um determinado território, em que o uso da força 
física é característico na sua atuação. Portanto, a política se traduziria na construção 
de uma entidade em que homens dominam homens por meio da violência legitimada. 
 
De acordo com Weber, a atuação ativa do parlamento na estrutura política é muito 
importante, pois o sociólogo entende-o como uma estrutura capaz de: 
✓ limitar a atuação das burocracias estatais; 
✓ fiscalizar a ação do poder executivo; 
✓ selecionar líderes pela competência, com participação popular parcial, realizada 
apenas em períodos espaçados. 
 
Assim, Weber salienta que a estrutura e a atuação política podem ser classificadas 
através de dois preceitos éticos, quais sejam: 
 
ÉTICA DA RESPONSABILIDADE 
A consciência do governante, diante do bem-estar de toda a nação e da ponderação 
dos mais variados interesses formados na sociedade, é um dos elementos que deve 
espelhar a disputa parlamentar. 
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ÉTICA DA CONVICÇÃO NA AÇÃO POLÍTICA 
Nada mais é do que o conjunto de preceitos ideológicos e morais que formam os 
líderes políticos, os quais devem ser perseguidos independentemente dos 
resultados ou das consequências. 
 
Por fim, Ramos, Melo e Frateschi (2012, p. 234) complementam dizendo que, na visão 
de Weber, 
O bom funcionamento do sistema político depende, segundo ele, de algumas variáveis: 1. o 
apoio para aqueles que exercem o poder; 2. os privilégios a que têm acesso; 3. a legitimidade 
conferida às posições dos detentoresdo poder; e 4. a lealdade que a população demonstra 
para com as instituições políticas que fazem parte da sociedade a qual pertencem (RAMOS; 
MELO; FRATESCHI, 2012, p. 234). 
 
 
Encaminhando-nos para o fim do material, elaboramos uma tabela para que você 
consiga compreender com clareza as principais ideias apresentadas pelos pensadores 
contemporâneos. 
 
Immanuel Kant 
• Governantes sujeitos à vontade popular; 
• Poder centralizado. 
Karl Marx 
• Socialista, crítico ao capitalismo; 
• Criador do materialismo dialético. 
Friedrich Nietzsche 
• Estado é perverso; 
• Política deve existir para reconstrução do povo. 
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Concluindo 
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Max Weber 
• Estado como detentor do monopólio da violência; 
• Participação popular parcial, seleção de líderes pelo 
parlamento. 
 
6 Concluindo 
O conteúdo aqui desenvolvido possibilita ao estudante comparar os principais 
destaques dos pensadores que influenciaram a formação do Estado, os quais, na 
primeira impressão desses filósofos, iriam resolver os problemas existentes do homem 
vivendo em sociedade, que, naquela época, já apresentava sinais de que seria 
necessário o seu estudo. 
 
Desse modo, os pensadores clássicos se voltaram mais para o contexto de formação 
do Estado e para a necessidade de proteção e regulação do ser humano em seu estado 
natural. Nessa perspectiva, surgiram as primeiras teorias de proteção estatal, bem 
comum, estado de direito e democracia. Esperamos que tenha gostado deste 
conteúdo. Continue avançando. 
 
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versão inglesa de W. D. Ross In: Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1973, v.4. 
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Introdução ao Direito Constitucional | 
Referências Bibliográficas 
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Construção histórica 
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DISCIPLINA 
INTRODUÇÃO AO DIREITO 
CONSTITUCIONAL 
 
CONTEÚDO 
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Neoconstitucionalismo | 
Construção histórica 
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Apresentação 
Prezado Acadêmico! 
É um privilégio tê-lo como nosso aluno e, desde já, dou as boas-vindas a nossa 
unidade, aqui no CENES. 
 
Nesta aula, aprenderemos que a doutrina constitucionalista, a partir do século XX, 
passou a desenvolver uma nova perspectiva do constitucionalismo. Veremos que o 
chamado pós-positivismo busca, para além da ideia de limitação do poder estatal, a 
eficácia da Constituição; que o texto maior deixou de ter um caráter meramente 
teórico para ser mais efetivo, buscando diretamente a concretização dos direitos 
fundamentais. 
 
Perceberemos que a Constituição passará a ocupar a posição de dentro do 
ordenamento jurídico, sendo dotada de imperatividade e superioridade. Por fim, 
veremos que essa nova fase do constitucionalismo buscará, sobretudo, a proteção da 
proteção da dignidade humana. 
 
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Construção histórica 
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Sumário 
Apresentação ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 3 
Sumário ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 4 
1 Construção histórica -------------------------------------------------------------------------------------- 5 
2 Neoconstitucionalismo ----------------------------------------------------------------------------------- 7 
2.1 Influências da Primeira e Segunda Guerra Mundial no Neoconstitucionalismo ------------------------ 9 
2.2 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana --------------------------------------------------------------------- 11 
3 Movimento neoconstitucionalista no Brasil ------------------------------------------------------- 14 
4 Neoconstitucionalismo e a centralidade da Constituição ------------------------------------- 15 
4.1 Teoria Pura do Direito ------------------------------------------------------------------------------------------------ 15 
4.2 Competência Legislativa --------------------------------------------------------------------------------------------- 18 
5 Nova interpretação da Constituição ---------------------------------------------------------------- 20 
6 Conclusão ---------------------------------------------------------------------------------------------------22 
7 Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------------------------------ 23 
 
 
Neoconstitucionalismo | 
Construção histórica 
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1 Construção histórica 
Inicialmente, antes de direcionar nossos estudos no chamado “neoconstitucionalismo”, 
ou novo constitucionalismo, você precisa compreender as origens desse termo. A 
compreensão do constitucionalismo pode ser estabelecida a partir do momento 
histórico em que o movimento ocorreu, durante as revoluções liberais norte-
americana e francesa, que ocorreram, respectivamente, em 1787 e 1791. No entanto, 
alguns doutrinadores defendem que a ideia do constitucionalismo como limitação do 
poder estatal tenha surgido muito antes desses movimentos, datando suas origens a 
partir da idade média. 
 
Conforme exemplifica Nathalia Masson (2020), existem quatro formas de 
constitucionalismo ao longo da história, o antigo, o medieval, o moderno e o 
contemporâneo (neoconstitucionalismo), além de uma previsão do 
constitucionalismo futuro. De forma sucinta, essas modalidades podem ser definidas 
da seguinte forma: 
a) Constitucionalismo antigo: o constitucionalismo antigo tem sua origem nos 
tempos primórdios, durante a sociedade Hebraica, onde o Estado era 
organizado de forma teocrática através da Torah ou do Pentateuco, de modo 
que o poder do monarca já era limitado pelos dogmas religiosos. Durante este 
período, a Grécia também teve muita influência no campo da democracia. 
 
b) Constitucionalismo medieval: durante a idade média, enquanto perdurava a 
ideia do feudalismo com os senhores feudais, o desenvolvimento do 
mercantismo através dos burgos e a implementação do absolutismo 
monárquico modificaram o cenário da época. A realeza passou a reivindicar 
uma certa liberdade perante as decisões imprevisíveis dos governantes 
absolutos. 
 
Assim, diante da pressão dos nobres e dos burgueses, o constitucionalismo 
medieval acabou ganhando força e, posteriormente, durante o reinado de João 
Sem-Terra na Inglaterra, originou-se a Magna Carta de 1215, a qual impunha 
certos limites ao monarca. Contudo, é válido mencionar que, embora represente 
um grande passo para o constitucionalismo, durante este período os privilégios 
conquistados através da Magna Carta ainda eram restritos à nobreza, deixando 
o resto da população à margem do absolutismo; 
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c) Constitucionalismo moderno: o termo constitucionalismo moderno surgiu 
durante as grandes revoluções liberais desencadeadas entre os séculos XVIII, 
XIX e XX, na França e nos EUA, que culminaram nas Constituições pós-guerra. 
Grande parte da doutrina considera que foi somente a partir desse momento 
que o constitucionalismo conhecido atualmente surgiu. 
 
Assim, as revoluções ocorridas na época acabaram por influenciar, mesmo que 
indiretamente, a instituição de um novo modelo de Estado, conhecido como 
liberal, através das novas Constituições escritas que, diferente da Magna Carta 
de 1215, limitaram o poder dos governantes e asseguraram alguns direitos 
políticos e individuais a todos os cidadãos. 
 
Como bem menciona Nathalia Masson (2020, p. 34) “o constitucionalismo do 
período, intitulado de liberal, ficou marcado pelo enaltecimento do indivíduo, 
pelo surgimento das primeiras constituições escritas e rígidas, pela consagração 
de direitos civis e políticos e pelo distanciamento do Estado que, numa postura 
nitidamente absenteísta, pouco atuava”. 
 
d) Constitucionalismo contemporâneo: o constitucionalismo contemporâneo, 
também conhecido como neoconstitucionalismo, surge depois da Segunda 
Grande Guerra e tem como princípio norteador a dignidade da pessoa humana. 
Embora represente um grande avanço para a sociedade, o 
neoconstitucionalismo só foi possível devido a todas as barbáries que 
ocorreram antes dele. 
 
À vista disso, junto com o movimento surgiram os direitos fundamentais de 3ª, 
4ª e 5ª dimensão; 
 
e) Constitucionalismo do futuro: diferente dos outros movimentos, o 
constitucionalismo do futuro é uma projeção. Apesar de alguns doutrinadores 
já defenderem que a transição do constitucionalismo contemporâneo para o 
constitucionalismo vindouro ou do porvir já pode ser identificada. 
 
O constitucionalismo futuro deve estar relacionado com sete valores diferentes, 
quais sejam: 
• Verdade; 
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Neoconstitucionalismo 
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• Solidariedade; 
• Consenso; 
• Continuidade; 
• Participação; 
• Integração; 
• Universalidade. 
 
 
 
 
Agora que você já tem uma noção dos aspectos iniciais e introdutórios a respeito do 
constitucionalismo, vamos dar continuidade ao nosso estudo, focando no objeto 
principal do material, o neoconstitucionalismo. 
 
2 Neoconstitucionalismo 
A denominação do movimento moderno constitucional do Neoconstitucionalismo 
gera discussão e controvérsia entre os estudiosos da matéria. Alguns doutrinadores 
brasileiros, a exemplo de Ferreira Filho (2011), fazem críticas a esse neologismo, 
entendendo que, o que se chama de Neoconstitucionalismo, na verdade, já se 
observava desde os primórdios do Constitucionalismo no século XVIII. 
 
No mesmo sentido, em sua obra sobre o Neoconstitucionalismo, Cunha Júnior (2012), 
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assevera: 
O Neoconstitucionalismo representa o constitucionalismo atual, contemporâneo, que emergiu 
como uma reação às atrocidades cometidas na segunda guerra mundial, e tem ensejado um 
conjunto de transformações responsável pela definição de um novo direito constitucional, 
fundado na dignidade da pessoa humana. O Neoconstitucionalismo destaca-se, nesse 
contexto, como uma nova teoria jurídica a justificar a mudança de paradigma, de Estado 
Legislativo de Direito, para Estado Constitucional de Direito, consolidando a passagem da Lei 
e do Princípio da Legalidade para a periferia do sistema jurídico e o trânsito da Constituição e 
do Princípio da Constitucionalidade para o centro de todo o sistema, em face do 
reconhecimento da força normativa da Constituição, com eficácia jurídica vinculante e 
obrigatória dotada de supremacia material e intensa carga valorativa (CUNHA JÚNIOR, 2012, 
p. 29). 
 
Contudo, Luís Roberto Barroso (2018, p. 280) explica que o direito constitucional 
passou por muitas transformações ao longo dos anos, e “é possível reconstituir essa 
trajetória, objetivamente, levando em conta três marcos fundamentais: o histórico, o 
filosófico e o teórico. Neles estão contidas as ideias e as mudanças de paradigma que 
mobilizaram a doutrina e a jurisprudência nesse período, criando uma nova percepção 
da Constituição e de seu papel na interpretação jurídica em geral”. Assim, podemos 
afirmar que o contemporâneo surge após a Segunda Guerra Mundial, com o intuito 
de garantir a dignidade da pessoa humana à população, que tanto sofreu com as 
atrocidades da época. 
 
À vista disso, os três marcos fundamentais do direito constitucional – histórico, 
filosófico e teórico –, suscitados por Barroso (2018), podem ser definidos, 
basicamente, como: 
• MARCO HISTÓRICO: no marco histórico devemos analisar os eventos que 
ocorriam na época e influenciaram o movimento. No século XX, após passar por 
diversas revoluções e duas Grandes Guerras, a Europa encontrava-se arrasada 
e buscava uma recuperação, principalmente a Alemanha e a Itália, que sofreram 
mais com o conflito. Por outro lado, no Brasil, o marco histórico do 
neoconstitucionalismo é a Constituição Federal de 1988, juntamente com o 
processo de redemocratização proporcionado por ela; 
• MARCO FILOSÓFICO: na questão filosófica, o ponto principal é o pós-
positivismo, que apresenta a ideia de união entre o jusnaturalismo e o 
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positivismo; 
• MARCO TEÓRICO:com relação ao marco teórico, podemos citar três eventos 
importantes que contribuíram para a ascensão do neoconstitucionalismo, quais 
sejam: a) a força normativa da Constituição Federal passa a ser reconhecida por 
todos; b) há um crescimento significativo da jurisdição constitucional; c) ocorre 
a evolução de um novo pensamento, e a Constituição é analisada por outra 
ótica. 
 
2.1 Influências da Primeira e Segunda Guerra Mundial no 
Neoconstitucionalismo 
O neoconstitucionalismo, assim como os outros movimentos, não surgiu do dia para 
a noite, é uma construção baseada em diversos acontecimentos históricos que 
culminaram na implementação de um novo pensamento. 
 
Portanto, considerando a perspectiva mundial, as duas Grandes Guerras foram peças 
fundamentais para essa evolução. A Primeira Guerra Mundial, desencadeada nos anos 
de 1914 a 1918, foi influenciada principalmente pelos processos de imperialismo e 
neocolonialismo. A batalha foi marcada pela disputa da Tríplice Aliança, composta 
pela Alemanha, Império Austro-Húngaro e Itália, contra a Tríplice Entente, inicialmente 
encabeçada pela França, Inglaterra e Rússia, com a posterior aliança dos EUA, presença 
decisiva para o fim do conflito, movidos pelo forte sentimento nacionalista e pelo 
desejo incessante de expansão de territórios. 
 
As batalhas travadas nesta época eram extremamente violentas e, diante do potencial 
bélico das superpotências, o armamento utilizado durante o conflito foi se 
aperfeiçoando, com o uso de tanques de guerra e aviões de combate, a vida de 
milhares de soldados foi ceifada. Além disso, a população não tinha praticamente 
nenhum amparo constitucional, uma vez que os direitos conquistados durante o 
constitucionalismo moderno protegiam, quase que exclusivamente, os nobres e os 
burgueses. 
 
O conflito encerrou-se com a assinatura do Tratado de Versalhes, consolidando a 
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vitória da Tríplice Entente. Países saíram economicamente devastados do confronto, 
além de terem reduzido sua força militar a quase zero. O saldo de mortes, na época, 
foi de aproximadamente 8 milhões de soldados, dos quais 1.800.000 eram apenas 
alemães. 
 
Ainda, neste contexto, é importante ressaltar que a Alemanha, dentre os perdedores, 
foi a mais impactada, pois teve que arcar com os custos da guerra, sendo obrigada a 
ceder territórios já conquistados e a reorganizar sua economia para ressarcir os danos 
causados, principalmente à França. Esse fato é muito importante e teve grande 
influência na Segunda Grande Guerra. 
 
Passados 20 anos do primeiro conflito, uma nova batalha é travada pelos chamados 
Aliados (Reino Unido, França, EUA, URSS etc.) contra o Eixo (Itália, Alemanha, Japão 
etc.). A Segunda Guerra Mundial ocorreu entre os anos de 1939 a 1945 e foi motivada 
pela expansão dos regimes totalitários na Europa, pelo expansionismo germânico e, 
principalmente, pelo sentimento de humilhação que tomou conta da Alemanha 
depois da derrota da Primeira Grande Guerra, culminando em uma grande crise 
econômica que assolou o País por muito tempo. 
 
O período da Segunda Guerra foi marcado pela ascensão dos nazistas comandados 
por Adolf Hitler na Alemanha, que, através de um governo totalitário, buscavam 
reascender a economia do País, bem como o poder bélico e militar. Como era de se 
esperar, a segunda batalha foi muito mais violenta que a primeira, levando a vida de 
aproximadamente 60 milhões de pessoas, mortas na linha de frente e nos campos de 
concentração utilizados pelos nazistas. Além das bombas atômicas, lançadas sobre 
Hiroshima e Nagasaki, em 1945, que concedeu às superpotências um altíssimo poder 
de destruição. 
 
A Segunda Guerra Mundial chegou ao fim em 1945, quando os Aliados invadiram o 
território Alemão, conquistando a capital Berlim. Depois da invasão, o líder do partido 
nazista, Adolf Hitler, cometeu suicídio, pondo fim à batalha. 
 
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Neoconstitucionalismo 
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Após esse período obscuro da história, quando a população tomou conhecimento 
sobre o horror que era implementado nos campos de concentração, foi que o discurso 
sobre os Direitos Humanos começou a ganhar força no cenário internacional, junto 
com os direitos fundamentais de 3ª, 4ª e 5ª dimensão. 
 
2.2 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana 
Superado esses aspectos iniciais a respeito do Neoconstitucionalismo, passamos à 
análise do princípio da dignidade da pessoa humana, preceito fundamental para esse 
movimento pós-guerras. 
 
De acordo com Luís Roberto Barroso (2018, p. 152) “o constitucionalismo democrático 
tem por fundamento e objetivo a dignidade da pessoa humana. Após a Segunda 
Grande Guerra, a dignidade tornou-se um dos grandes consensos éticos do mundo 
ocidental, materializado em declarações de direitos, convenções internacionais e 
constituições”. 
 
Em consonância com José Afonso da Silva (2014, p. 107), a “dignidade da pessoa 
humana é um valor supremo que atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais 
do homem, desde o direito à vida”, e desse valor decorrem outros princípios, os quais 
a ordem econômica deve preservar. 
 
Ainda, Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino (2017, p. 90) complementam dizendo que 
“a dignidade da pessoa humana como fundamento da República Federativa do Brasil 
consagra, desde logo, nosso Estado como uma organização centrada no ser humano, 
e não em qualquer outro referencial”. Além disso, os autores defendem que o princípio 
pode ser analisado sob duas ópticas. “De um lado, apresenta-se como um direito de 
proteção individual, não só em relação ao Estado, mas, também, frente aos demais 
indivíduos. De outro, constitui dever fundamental de tratamento igualitário dos 
próprios semelhantes”. 
 
Além disso, Luís Roberto Barroso (2014, p. 14) é categórico em afirmar que “a 
dignidade humana, como atualmente compreendida, se assenta sobre o pressuposto 
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de que cada ser humano possui um valor intrínseco e desfruta de uma posição 
especial no universo”. Dessa forma, podemos concluir que o princípio da dignidade 
da pessoa humana é o elemento base da nossa sociedade, servindo como fonte do 
direito constitucional contemporâneo. 
 
 
Se você tem interesse em aprofundar seu conhecimento acerca do princípio da 
dignidade da pessoa humana, recomendamos a leitura das obras “A Crítica da Razão 
Pura” e a “Crítica da Razão Prática” do estudioso Immanuel Kant. Outro estudioso que 
trata do assunto com maestria é Giovanni Pico della Mirandola, ambos os autores 
fizeram grandes contribuições a respeito do tema Dignidade da Pessoa Humana. 
 
Além disso, autores brasileiros, como o Min. Luís Roberto Barroso, na obra “A 
dignidade da pessoa humana no direito constitucional contemporâneo”, e Daniel 
Sarmento, no livro “Dignidade da Pessoa Humana - conteúdo, trajetória e 
metodologia”, falam sobre o princípio com maestria, relacionando os aspectos 
históricos com o cenário atual. 
 
No plano filosófico, valor intrínseco é o elemento ontológico da dignidade ligado à 
natureza do ser. Trata-se da afirmação da posição especial da pessoa humana no 
mundo que a distingue dos outros seres vivos e das coisas. As coisas têm preço, mas 
as pessoas têm dignidade, um valor que não tem preço (KANT, 1998). Além disso, o 
autor apresenta um valor social, visto que se preocupa com os impactos das escolhas 
individuais na sociedade. 
 
A inteligência, a sensibilidade e a capacidade de comunicação (pela palavra, pela arte, 
por gestos, pelo olhar ou por expressões fisionômicas) são atributos únicos que 
servem para lhes dar essa condição singular. No plano jurídico, o valor intrínseco está 
na origem de uma série de direitos fundamentais, que incluem: direito à vida, à 
igualdade, à integridade física, à integridade moral oupsíquica (BARROSO, 2017). 
 
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Neoconstitucionalismo 
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Nesse sentido, sobre o referido princípio, Ferreira Filho (2011) assevera que: 
A dignidade é o fundamento dos direitos humanos. O problema é que essa dignidade é 
concebida de modo diferente pelas filosofias, religiões e culturas, o que põe em risco a 
objetividade da interpretação. Muitas vezes já tem servido abusivamente de “chave falsa” 
(perdoe-me a imagem) para que o intérprete arbitrariamente faça prevalecer a sua concepção 
ideológica contra legem ou praeterlegem. Isto “sem uma justificação política substantiva”, 
como reclama Sunstein. (FERREIRA FILHO, 2011, p. 231) 
 
 
Falando um pouco mais sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos, para 
você que tem interesse nessa área, trazemos alguns aspectos relevantes sobre esse 
assunto. A D.U.D.H. é um documento adotado e proclamado pela Assembleia Geral 
das Nações Unidas, em Paris, através da resolução 217 A III, no dia 10 de dezembro 
de 1948, que tem por objetivo assegurar a proteção universal dos direitos humanos. 
 
Assim, logo no seu 1º artigo, a Declaração firma um de seus princípios basilares: “todos 
os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de 
razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de 
fraternidade”. 
 
Note que o pacto foi firmado três anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, e os 
Países membros fizeram questão de mencionar no preâmbulo o seguinte: 
“considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em 
atos bárbaros que ultrajaram a consciência da humanidade e que o advento de um 
mundo em que mulheres e homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da 
liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais 
alta aspiração do ser humano comum [...]”. 
 
A Declaração Universal dos Direitos do Homem surge como um reflexo às atrocidades 
cometidas durante as duas Grandes Guerras, servindo como base para a elaboração 
de diversas constituições. 
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Movimento neoconstitucionalista no Brasil 
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Por fim, se a sua intenção é se aprofundar mais nessa área, indicamos alguns 
documentários que falam a respeito e podem ser úteis: 
→ 20 anos da Conferência de Viena 
 Link: https://www.youtube.com/watch?v=I4bTmVyAXDg 
→ Para todos em todo lugar: o ‘making of’ da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos 
 Link: https://www.youtube.com/watch?v=D4p3aJvFq3A&feature=emb_title 
→ 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948 
 Link: https://www.youtube.com/watch?v=SJy1M4iYiMo 
 
3 Movimento neoconstitucionalista no Brasil 
No cenário brasileiro, o movimento neoconstitucionalista foi consolidado com a 
Constituição Federal de 1988, também conhecida como a Constituição Cidadã, que foi 
pautada na Declaração Universal dos Direitos Humanos e garantiu aos brasileiros 
inúmeros direitos. 
 
De acordo com Luís Roberto Barroso (2018, p. 280), “a Constituição promoveu uma 
transição democrática bem-sucedida e assegurou ao país estabilidade institucional, 
mesmo em momentos de crise aguda. Sob a Constituição de 1988, o direito 
constitucional passou da desimportância ao apogeu em menos de uma geração”. 
 
Ainda, é importante ressaltar que, na opinião de José Afonso da Silva (2014, p. 90), 
assim como no cenário mundial, a luta pela democracia no Brasil se intensificou 
durante períodos de muita repressão, de modo que: 
A luta pela normalização democrática e pela conquista do Estado Democrático de Direito 
começara assim que se instalou o golpe de 1964 e especialmente após o AIS, que foi o 
instrumento mais autoritário da história política do Brasil. Tomara, porém, as ruas, a partir da 
eleição dos Governadores em 1982. Intensificara-se, quando, no início de 1984, as multidões 
acorreram entusiásticas e ordeiras aos comícios em prol da eleição direta do Presidente da 
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Neoconstitucionalismo e a centralidade da Constituição 
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República, interpretando o sentimento da Nação, em busca do reequilíbrio da vida nacional, 
que só poderia consubstanciar-se numa nova ordem constitucional que refizesse o pacto 
político-social (SILVA, 2014, p. 90). 
 
Dessa forma, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, o Brasil finalmente 
consolidou sua transição democrática, elevando o indivíduo a um grau máximo de 
importância na sociedade. 
 
4 Neoconstitucionalismo e a centralidade da Constituição 
Como bem destaca Luís Roberto Barroso (2018, p. 286), a principal característica do 
Constitucionalismo contemporâneo é “a centralidade da Constituição, que, além de 
reger o processo de produção das leis, impõe limites ao seu conteúdo e institui 
deveres de atuação para o Estado”. 
 
Assim, considerando que o marco inicial do neoconstitucionalismo na Europa foi com 
a reconstitucionalização da Alemanha e da Itália, ao final da década de 40, no território 
brasileiro não foi diferente, uma vez que o neoconstitucionalismo no Brasil foi 
marcado pela redemocratização que se operou sobre a Constituição de 1988, após a 
ditadura militar. 
 
Esse novo movimento constitucional que surgiu em meados do século XX na Europa 
visou reconhecer a supremacia material e axiológica da Constituição, cujo conteúdo 
passou a ser dotado de força normativa. No entanto, para compreendermos melhor 
esse aspecto, precisamos relembrar alguns conceitos básicos que veremos adiante. 
 
4.1 Teoria Pura do Direito 
Hans Kelsen foi um jurista e filósofo austríaco que fez grandes contribuições para o 
mundo do Direito, como quando fundou a teoria pura do direito, também conhecida 
como a pirâmide de Kelsen. De acordo com Nathalia Masson (2020, p. 39): 
 
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Neoconstitucionalismo e a centralidade da Constituição 
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Kelsen estruturou o ordenamento de forma estritamente jurídica, baseando-se na constatação 
de que toda norma retira sua validade de outra que lhe é imediatamente superior. Segundo o 
autor, no mundo das normas jurídicas uma norma só pode receber validade de outra, de modo 
que a ordem jurídica sempre se apresente estruturada em normas superiores fundantes —que 
regulam a criação das normas inferiores — e normas inferiores fundadas — aquelas que 
tiveram a criação regulada por uma norma superior (MASSON, 2020, p. 39). 
 
 
Observe, a seguir, a representação da teoria, na forma de pirâmide, apresentada pelo 
autor: 
 
Para tornar mais didática essa questão, podemos utilizar o exemplo da Lei 8.666/1993, 
lei federal que regulamenta os contratos administrativos e licitações no âmbito da 
administração pública. Por ser uma lei federal, todos deverão observar estes 
parâmetros, estando ela acima na “pirâmide das normas”. 
 
Além disso, é importante destacar que, até a Segunda Guerra Mundial, a teoria jurídica 
centrava-se na influência do Estado Legislativo de Direito, tendo por fonte única do 
Direito a lei. Dessa forma, uma norma jurídica tinha sua validade, eficácia e vigência 
vinculadas à autoridade que a editou, e não ao seu valor de justiça. Sob o fundamento 
de observância da lei, barbáries foram cometidas no mundo, a exemplo do genocídio 
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cometido pelo governo nacional-socialista alemão quando judeus foram 
exterminados pelos nazistas no período de 1939 a 1945. 
Esse acontecimento fez o mundo repensar esse Estado Legislativo de Direito, formulando um 
sistema jurídico que tivesse seus fundamentos no respeito aos direitos fundamentais. Instalou-
se, então, a constitucionalização do Direito, evidenciando, a supremacia da Carta Magna. Essa 
constitucionalização do Direito é um processo de transformação de um ordenamento jurídico, 
ao fim do qual a ordem jurídica emquestão resulta totalmente impregnada pelas normas 
constitucionais, que passam a condicionar tanto a legislação como a jurisprudência, a doutrina, 
as ações dos atores políticos e as relações sociais (GUASTINI, 2009). 
 
No entanto, após esse período, a Constituição tornou-se o centro do sistema jurídico, 
devendo toda interpretação jurídica ser feita em consonância com os valores e 
princípios constitucionais. Além disso, a supremacia da Constituição impõe deveres 
negativos e positivos ao legislador quando da elaboração de leis, e impõe ao julgador, 
quando este decide casos resultantes de conflitos de interesses decorrentes da lei, 
respeitar e observar os fins estabelecidos pela Constituição. 
 
O processo de constitucionalização é uma característica essencial da própria jurisdição 
constitucional, que permite possibilidades interpretativas fundamentadas nessa 
supremacia, como o controle de constitucionalidade, possibilitando a revogação de 
leis inconstitucionais e a interpretação conforme a Constituição. Essa 
reconstitucionalização, observada após a Segunda Guerra Mundial, também fez surgir 
um patriotismo constitucional, o qual, segundo Habermas (1998): 
[...] produziu de forma reflexiva uma identidade política coletiva conciliada com uma 
perspectiva universalista comprometida com os princípios do Estado Democrático de Direito. 
Isto é, o patriotismo constitucional foi defendido como uma maneira de conformação de uma 
identidade coletiva baseada em compromissos com princípios constitucionais democráticos e 
liberais capazes de garantir a integração e assegurar a solidariedade, com o fim de superar o 
conhecido problema do nacionalismo étnico, que por muito tempo opôs culturas e povos 
(HABERMAS, 1998, p. 55). 
 
Por fim, é importante lembrar que, embora a teoria de Hans Kelsen tenha sido baseada 
na hierarquia das normas, quando elas estão no mesmo plano, esse critério não é 
considerado, pois não há hierarquia entre as leis federais ou estaduais, por exemplo. 
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Dessa forma, além da teoria pura do direito, existem outras variáveis que devem ser 
consideradas diante de um eventual conflito de normas, como o critério da 
competência. 
 
4.2 Competência Legislativa 
Antes de falarmos especificamente sobre a competência legislativa, precisamos 
compreender alguns aspectos relativos à nossa Magna Carta. A Constituição Federal 
que conhecemos hoje foi promulgada no dia 05 de outubro de 1988 e instituída pelo 
chamado Poder Constituinte Originário, o qual, por meio de uma Assembleia Nacional 
Constituinte, firmou as normas constitucionais originárias. 
 
No entanto, assim como a sociedade, o direito deve estar em constante evolução para 
que seja capaz de solucionar, de forma eficiente, os conflitos que lhe são 
apresentados. Dessa forma, quando o texto constitucional carece de mudanças, o 
Poder Constituinte Derivado, representado pelo Congresso Nacional, propõe sua 
alteração através de Emendas Constitucionais. 
 
Todavia, nesse ponto é importante lembrar que não existe hierarquia entre normas do 
mesmo plano. Assim, conforme explica Nathalia Masson (2020, p. 32) “se houver um 
conflito entre essas leis, a solução não será dada por critério hierárquico. Teremos que 
verificar qual ente da federação (União, Estados-membros ou Municípios) possui a 
competência para legislar sobre o tema. Se, por exemplo, a competência para legislar 
é dos Estados, a lei estadual vai prevalecer; se é dos Municípios, a lei municipal 
prevalecerá”. 
 
Assim, por mais que alguns doutrinadores organizem a estrutura do ordenamento 
jurídico em forma de pirâmide, de modo a situar as normas federais acima das 
estaduais, e estas acima das municipais, o pacto federativo pressupõe a autonomia de 
suas partes. Portanto, o mais correto seria dizer que todas as normas devem obedecer 
aos parâmetros estabelecidos pela Constituição Federal e, por menor que seja um 
município, apenas ele poderá legislar a respeito de alguns assuntos, sem qualquer 
interferência ou usurpação de competência por parte dos outros entes. 
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Nesse sentido, Luís Roberto Barroso (2018, p. 285-286) complementa dizendo que 
“nas democracias contemporâneas, as Constituições desempenham duas funções 
principais: a) a de veicular os consensos mínimos e essenciais da sociedade, que se 
expressam nos valores, instituições e direitos fundamentais; e b) assegurar o 
funcionamento adequado dos mecanismos democráticos, com a participação livre e 
igualitária dos cidadãos, o governo da maioria e a alternância do poder”. 
 
Assim, a Constituição determina a competência para legislar sobre determinados 
assuntos, se será privativa ou concorrente entre os entes federativos. Um exemplo que 
reflete essa situação é o art. 30 da CF, que fixa a competência legislativa dos 
municípios. Além disso, no que diz respeito à competência concorrente, o art. 24 da 
Constituição Federal reconhece a possibilidade de que a União, os Estados e o Distrito 
Federal - os municípios são contemplados, no que couber, pelo art. 30, II, CF - legislem 
a respeito de temas comuns, mas cada um exercerá essa atribuição em relação a um 
conteúdo ou especificidade própria, sem que haja uma sobreposição de normas. 
 
 
Imagine a seguinte situação: um dos assuntos que é de COMPETÊNCIA LEGISLATIVA 
concorrente entre os entes federativos é a saúde (art. 24, XII, CF). Recentemente 
(15/04/2020), no julgamento da medida cautelar na ADI 6341, o STF afirmou, uma vez 
mais, que NÃO É POSSÍVEL compreender que as normas federais a respeito da 
matéria prevalecem, por força hierárquica, em relação às normas dos Estados e 
Municípios, devendo-se atentar sempre às competências organizadas no âmbito do 
pacto federativo (art. 24, §1º ao 4º, CF). 
 
Veja que interessante, a Constituição Federal concede competência concorrente, ou 
seja, ambos podem legislar e, nesse sentido, os Estados e Municípios podem sim criar 
suas normas sobre a saúde. Tudo porque é competência concorrente, e não privativa. 
Se na Constituição estivesse expresso como competência privativa da União, teríamos 
prevalência da lei federal, mas neste caso isso não ocorre. 
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No mais, outro ponto que deve ser observado são os limites estabelecidos pela Magna 
Carta. A Constituição Federal permite que os Estados tenham Constituição própria, 
mas, para tanto, devem OBSERVAR ALGUNS PRECEITOS (cláusulas de simetria), que 
são previstos pela CF e que não podem ser modificados na organização dos Estados. 
De modo semelhante, os Municípios também podem ter as suas Leis Orgânicas, mas 
precisam observar os preceitos/princípios (limites e obrigações) previstos na 
Constituição Federal e Estadual. Esse é o entendimento manifestado no art. 29, CF: 
 
Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício 
mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a 
promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do 
respectivo Estado e os seguintes preceitos. 
 
Sendo assim, devemos considerar a Constituição Federal como norma máxima e 
superior a todas as demais, uma vez que tem a função de estabelecer as diretrizes 
fundamentais que servirão como base para as normas inferiores. Entretanto, 
considerando que adotamos a forma federativa, dividindo o território brasileiro em 
União, Estados, Distrito Federal e Municípios, devemos observar o critério da 
competência legislativa, pois em determinados casos, a hierarquia será colocada em 
segundo plano e a competência prevalecerá. 
 
5 Nova interpretação da Constituição 
Seguindo para a finalizaçãodos apontamento acerca do conteúdo, faremos uma 
análise da nova interpretação da Constituição Federal, realizada através do 
constitucionalismo contemporâneo. 
 
Nas palavras de Luís Roberto Barroso (2010), onde havia unidade, passou a existir uma 
pluralidade. A recente interpretação incorporou um conjunto de novas categorias, 
destinadas a lidar com as situações mais complexas e plurais referidas anteriormente. 
Dentre elas, a normatividade dos princípios (como dignidade da pessoa humana, 
solidariedade e segurança jurídica), as colisões de normas constitucionais, a 
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Nova interpretação da Constituição 
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ponderação e a argumentação jurídica. 
 
Além disso, Barroso (2010) comenta ainda que 
[Passa], por fim, a ideia de casos difíceis. Casos fáceis são aqueles para os quais existe uma 
solução pré-pronta no direito positivo. Por exemplo: a) a Constituição prevê que aos 70 anos 
o servidor público deve passar para a inatividade. Se um juiz, ao completar a idade limite, 
ajuizar uma ação pretendendo permanecer em atividade, a solução será dada de maneira 
relativamente singela: pela mera subsunção do fato relevante – implementação da idade – na 
norma expressa, que determina a aposentadoria; b) a Constituição estabelece que o Presidente 
da República somente possa se candidatar a uma reeleição. Se o Presidente Lula, por exemplo, 
tivesse pretendido concorrer a um terceiro mandato, a Justiça Eleitoral teria indeferido o 
registro de sua candidatura, por simples e singela aplicação de uma norma expressa. A 
verdade, porém, é que para bem e para mal, a vida nem sempre é fácil assim. Há muitas 
situações em que não existe uma solução pré-pronta no Direito. A solução terá de ser 
construída argumentativamente, à luz dos elementos do caso concreto, dos parâmetros 
fixados na norma e de elementos externos ao Direito (BARROSO, 2010, p. 13). 
 
Por outro lado, Lênio Streck (2011) tece algumas críticas a respeito do que chama 
positivismo normativista pós-kelseniano. Isto é, ao positivismo que admite 
discricionariedades (ou decisionismos e protagonismos judiciais). Para o jurista, esse 
ativismo possui uma origem solipsista; passando, dessa forma, a democracia e os 
avanços a dependerem de posições individuais da Suprema Corte. O autor considera 
que, no âmbito destas reflexões, está superado 
[...] o velho positivismo exegético. Ou seja, não é (mais) necessário dizer que o “juiz não é a 
boca da lei” etc.; enfim, podemos ser poupados, nessa quadra da história, dessas “descobertas 
polvolares”. Essa “descoberta” não pode implicar um império de decisões solipsistas, das quais 
são exemplos as posturas caudatárias da Jurisprudência dos Valores (que foi “importada” de 
forma equivocada da Alemanha), os diversos axiologismos, o realismo jurídico (que não passa 
de um “positivismo fático”), a ponderação de valores (pela qual o juiz literalmente escolhe um 
dos princípios que ele mesmo elege prima facie) etc. (STRECK, 2011, p. 31). 
 
Contudo, não restam dúvidas de que o Neoconstitucionalismo trouxe uma mudança 
de postura na elaboração das Constituições contemporâneas. Se no surgimento do 
movimento constitucionalista, no final do século XVIII, as Constituições limitavam-se 
a estabelecer regras atinentes à organização do Estado e do Poder, após a Segunda 
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Conclusão 
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Guerra Mundial as Constituições inovaram com a inserção em seus textos de valores 
(dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais). 
 
Esse fenômeno aprofundou a forma de se realizar a interpretação constitucional, 
fundamental para soluções de casos jurídicos decorrentes da complexidade da vida 
contemporânea, especialmente os já mencionados casos difíceis (situações para as 
quais não há soluções pré-prontas no ordenamento jurídico, exigindo a atuação 
criativa de juízes e tribunais). 
 
Assim, conforme exemplifica Luís Roberto Barroso, embora o modelo do 
constitucionalismo democrático tenha chegado com um certo atraso ao território 
brasileiro, não é tarde demais. O autor comente que: 
“As últimas três décadas representam não a vitória de uma Constituição específica, concreta, 
mas de uma ideia, de uma atitude diante da vida. O Estado constitucional democrático, que se 
consolidou entre nós, traduz não apenas um modo de ver o Estado e o Direito, mas de desejar 
o mundo, em busca de um tempo de justiça, liberdade e igualdade ampla” (BARROSO, 2018, 
p.283). 
 
Portanto, percebe-se que o ativismo judicial tem se manifestado como forma para 
atender as questões sociais não enfrentadas pelo processo legislativo, sobretudo as 
que envolvem assuntos de forte impacto religioso e moral. 
 
6 Conclusão 
Nesta aula, compreendemos que o movimento constitucionalista pode ser dividido 
em várias etapas, de acordo com sua origem e fases, e que o chamado 
Neoconstitucionalismo é um movimento que tem origem na Europa, no contexto de 
pós-Segunda Guerra Mundial. 
 
Além disso, vimos que esse movimento busca concretizar a supremacia material e 
formal da Constituição, a partir da observação do princípio da dignidade humana, e 
percebemos que, além do critério hierárquico, esse movimento estabelece a 
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Referências Bibliográficas 
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concretização material dos direitos fundamentais. Compreendemos também que uma 
parcela da doutrina constitucionalista faz críticas a essa nomenclatura – 
Neoconstitucionalismo –, afirmando que pode ser chamado, entre outros, de pós-
positivismo. 
Para concluir, refletimos sobre a forma desregulada da utilização do princípio da 
dignidade humana para justificar a ampliação de direitos e o exercício de 
interpretação do judiciário. 
 
7 Referências Bibliográficas 
BARROSO, L. R. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos 
fundamentais e a construção do novo modelo. 7 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 
2018. 
_______. Curso de direito constitucional contemporâneo. 2 ed. São Paulo: Editora 
Saraiva, 2010. 
______. O Constitucionalismo democrático no Brasil: crônica de um sucesso 
imprevisto. [2017]. Disponível em: 
http://www.luisrobertobarroso.com.br/wpcontent/uploads/2013/05/O 
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CUNHA JÚNIOR, D. Curso de direito positivo constitucional. 6. ed. Salvador: 
Juspodivm, 2012. 
FERREIRA FILHO, M. G. Aspectos de direito constitucional contemporâneo. 3. ed. 
São Paulo: Saraiva, 2011. 
GUASTINI, R. La “Constitucionalización”’ dei ordenamiento jurídico: el caso Italiano. In: 
CARBONEL, M. (Org.). Neoconstitucionalismo(s). 4.ed. Madrid: Trotta, 2009. 
HABERMAS, J. Identidades nacionalesy postnacionales. Madrid: Tecnos, 1998. 
KANT, I. Groundwork of the Metaphysics of Morals. Cambridge: Cambridge 
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Referências Bibliográficas 
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SILVA, J. A. Curso de Direito Constitucional Positivo. 37 ed. São Paulo: Malheiros 
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STRECK, L. L. Verdade e consenso: constituição, hermenêutica e teorias discursivas. 4. 
ed. São Paulo: Saraiva, 2011. 
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Referências Bibliográficas 
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