Prévia do material em texto
SUMÁRIO CAPÍTULO 11: E COM RELAÇÃO A APOCALIPSE 20? 3 CAPÍTULO 12: AVALIANDO O PÓS-MILENISMO 6 CAPÍTULO 13: A RESSURREIÇÃO DO CORPO 9 CAPÍTULO 14: O JUÍZO FINAL 14 CAPÍTULO 15: A DOUTRINA DO CASTIGO ETERNO 18 CONSIDERAÇÕES FINAIS 19 CAPÍTULO 11: E COM RELAÇÃO A APOCALIPSE 20? Nenhuma abordagem relacionada ao milênio pode deixar de lidar diretamente com o ensinamento presente em Apocalipse 20.1-11 e, em especial, os versículos 1-6. Essa é uma passagem da Bíblia que fala de maneira clara a respeito do milênio, utilizando uma expressão que significa literalmente "1.000 anos" e o faz nada menos do que seis vezes. George Eldon Ladd observou, de forma correta, que, embora as Escrituras não instruam claramente sobre o milênio em outras passagens, uma passagem que instrui de maneira nítida sobre o reinado milenar de Cristo depois de sua vinda é o suficiente para estabelecer a doutrina. Posto ele e outros pré-milenistas estarem convencidos de ser Apocalipse 20 uma passagem tão clara, nossa avaliação sobre o Pré-milenismo, seja pela variante histórica ou dispensacionalista, estaria incompleta e não seria convincente caso não dispensássemos atenção especial a ela. A maioria dos pré-milenistas afirma que Apocalipse 20 apresenta uma imagem clara e persuasiva do milênio. De acordo com os pré-milenistas históricos e dispensacionalistas, a mencionada passagem constitui um obstáculo intransponível para qualquer entendimento não pré-milenista a respeito do milênio. Na visão de Apocalipse 19.11-16, Cristo é descrito como o vencedor, o guerreiro divino que vem derrotar todos os seus inimigos. Ele é retratado nesses versículos como montado em um cavalo branco e vindo para julgar e pelejar com justiça. Seu nome é "Verbo de Deus" (v.13) e "tem no seu manto e na sua coxa um nome inscrito: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES" (v.16). Ademais, a arma utilizada por esse Cristo glorioso e vencedor para destruir e vencer as nações a quem ele governa com cetro de ferro é uma espada afiada que sai de sua boca (v.15). A linguagem usada nesses versículos se encaixa melhor com uma descrição do retorno de Cristo no final da era quando ele destruirá tanto os seus inimigos como os inimigos de seu povo (veja 2Ts 1.6-10). A arma com a qual Cristo conquistará a vitória não é o exército deste mundo, mas a Palavra de Deus que é "viva, e eficaz, mais cortante do que qualquer espada de dois gumes" (Hb 4.12). Se Apocalipse 19 é uma descrição do retorno de Cristo, então, é óbvio o porquê de tamanha dependência da relação entre sua visão e a presente em Apocalipse 20. No ponto de vista pré-milenista de que a visão de Apocalipse 20 vem em seguida à visão de Apocalipse 19, parece bastante natural considerar a sequência dos acontecimentos futuros como sendo uma só quando o retorno de Cristo será seguido pelo milênio apresentado em Apocalipse 20. Por essa razão, retornaremos a essa questão na próxima seção. Dentro do contexto dessa compreensão quanto à relação entre Apocalipse 19 e 20, os pré-milenistas acreditam que a descrição do milênio em Apocalipse 20.1-6 fundamenta claramente sua posição. Nesses versículos, várias vezes se faz referência ao período de 1.000 anos, o qual se inicia com a prisão de Satanás. Tal período se trata de um tempo literal durante o qual Cristo reinará com seus santos na terra depois de seu retorno no fim do presente século. No decorrer de todo esse período, com exceção da "curta temporada" de rebelião de Satanás ao seu fim, as nações estarão sujeitas ao reinado abençoado de Cristo, e os frutos de seu reinado serão bem evidentes na terra. As nações e os povos da terra estarão, em grande medida, sujeitos a Cristo, e a rebelião e desobediência das nações serão extintas da terra. Para os pré-milenistas, tal descrição sobre o reavivamento dos santos que reinam com Cristo durante o milênio é de suma importância. Diz-se que somente os santos reviverão dessa forma e participarão da primeira ressurreição. Em contrapartida, os demais falecidos permanecerão em suas sepulturas e não reviverão até terem se completado os 1.000 anos. Diferente dos santos que não estão sujeitos à segunda morte, o incrédulo que não desfruta da primeira ressurreição reviverá apenas para ser lançado para sempre no lago de fogo com a besta e o falso profeta (vs. 13-15). Posto ser traçado um paralelo contíguo entre aqueles que revivem na primeira ressurreição e aqueles que revivem na segunda ressurreição, a leitura mais óbvia e plena desse texto seria aquela que considera ambas as ressurreições como ressurreições dos corpos, uma dos santos antes do milênio, e a outra dos incrédulos depois do milênio. Essa é precisamente a visão do Pré-milenismo. A afirmação clássica desse ponto quase sempre citada na literatura continua sendo a de Henry Alford: Se, em uma passagem em que duas ressurreições são mencionadas, e que certas [almas que reviveram] vêm em primeiro lugar, e os demais [mortos que reviveram] vêm apenas no fim de um período específico depois do primeiro - caso, em tal passagem, a primeira ressurreição possa ser compreendida de modo a significar ressurreição espiritual com Cristo enquanto a segunda signifique a ressurreição literal da sepultura - então, há um fim de todo o sentido na linguagem, e as Escrituras são anuladas, pois passam a ser um testemunho definido de coisa alguma. Quando essas várias peças da argumentação pré-milenista são reunidas, uma imagem bem nítida emerge de sua compreensão quanto à visão de Apocalipse 20.1-6. Depois de Cristo retornar e subjugar as nações debaixo de seus pés, Satanás será preso e o milênio terá início. Esse período milenar consistirá de 1.000 anos de bem-aventuranças e bem-estar jamais vistos na terra. As nações e os povos da terra serão unidos em obediência ao Senhor Jesus Cristo. Coincidindo com a prisão de Satanás, os santos serão ressuscitados corporalmente e lhes será concedido o privilégio de reinar com Cristo na terra por 1.000 anos. Ao final do milênio e da curta temporada de rebelião de Satanás, ocorrerá a segunda ressurreição, a dos incrédulos. Estes serão ressuscitados a fim de serem julgados por Cristo e enviados para o castigo eterno no lago de fogo. Apesar de a afirmação pré-milenista nesse ponto possuir certa plausibilidade, há diversas razões, algumas mais significativas que outras, pelas quais as visões devam ser interpretadas como descrições paralelas do mesmo período. Um estudo cuidadoso sobre essas visões dentro do contexto do livro de Apocalipse como um todo sugere descreverem elas o mesmo período da história, porém, a partir de diferentes prismas. Estudiosos do livro de Apocalipse têm observado ser ele estruturado de acordo com uma série de visões, muitas das quais se repetem ou recapitulam acontecimentos e períodos da história abrangidos nas visões precedentes ou posteriores. Cada uma delas abrange acontecimentos que ocorrem dentro de um período entre a primeira e a segunda vindas de Cristo. Sendo assim, o livro dificilmente pode ser lido como uma profecia sobre acontecimentos futuros segundo sua exata ordem cronológica. As visões registradas se sobrepõem em partes grandes e quase sempre pulam de uma série de acontecimentos para outra. Apesar da gama de interpretações do livro, a maioria dos intérpretes concorda que o livro deva ser interpretado como uma narrativa histórica, uma prévia dos acontecimentos vindouros listados segundo a ordem de seus acontecimentos. CAPÍTULO 12: AVALIANDO O PÓS-MILENISMO Os pré-milenistas que reconhecem tal discrepância talvez vinham a sugerir, a fim de abrandar as implicações óbvias de sua leitura, que as nações de Apocalipse 20 são sobreviventes da batalha descrita em Apocalipse 19. Tal sugestão, no entanto, apresenta duas objeções. Por um lado, a linguagem da derrota das nações em Apocalipse 19 é extremamente inquestionável para permitir a ideia de que alguma nação sobreviva ilesa. E por outro lado, a terminologia "as nações" em Apocalipse denota tipicamente as nações em oposição a Cristo e sua igreja. As nações são aquelas em rebeliãocontra o ungido do Senhor. No entanto, nessa construção pré-milenista, as nações de Apocalipse 20, na realidade, seriam os povos da terra durante o reinado milenar de Cristo. As nações de Apocalipse 20 teriam uma referência diferente das nações mencionadas pouco antes em Apocalipse 19. Existem diversos paralelos surpreendentes entre Ezequiel 38-39 e Apocalipse 19 e 20. Em Apocalipse 19.17-18, um anjo faz um convite para a grande ceia de Deus. Essa é praticamente a exata citação do convite estendido ao conflito do Gogue e Magogue na profecia de Ezequiel (39.17-20). Contudo, em Apocalipse 20.7-10, quando o apóstolo João descreve a grande profecia de Ezequiel com relação a Gogue e Magogue é, outra vez, retratada de maneira extensiva. As nações em rebelião são denominadas Gogue e Magogue (v.8; cf. Ez 38.2; 39.1,6). A arma utilizada por Deus para destruir Gogue e Magogue é fogo descendo do céu (v.9; cf. Ez 38.22; 39.6). Isso quer dizer que o apóstolo João, em suas respectivas descrições quanto à rebelião e derrota das nações em Apocalipse 19 e 20, está formulando uma linguagem e imagem idênticas à profecia de Ezequiel. Parece difícil de acreditar; portanto, que os episódios descritos nessas visões sejam episódios diferentes na história, separados por um período com duração de 1.000 anos. Uma leitura muito mais plausível concluiria que essas visões descrevem o mesmo acontecimento e têm de ser lidas como descrições paralelas do mesmo período histórico. Intérpretes do livro de Apocalipse reconhecem, com facilidade, os paralelos entre a descrição presente em Apocalipse 16.14-21 da peleja no grande dia da segunda vinda de Cristo e a descrição presente em Apocalipse 19.19-21. A última peleja é considerada, geralmente, como uma retomada e conclusão da primeira batalha descrita em Apocalipse 16. Poucos intérpretes observam similaridades na linguagem utilizada em Apocalipse 20.7-10 em sua descrição sobre a revolta de Gogue e Magogue. Isso, provavelmente, se deve à suposição de que a peleja de Apocalipse 20.8 se refira a uma peleja diferente, depois do milênio, da peleja ocorrida antes do milênio no momento da segunda vinda de Cristo. O termo "Pós-milenismo" significa simplesmente "depois do milênio", e tal posição ensina que Cristo retornará depois do milênio no fim da presente era. Dentro desse amplo sentido, ele abrange dois pontos de vista milenistas distintos, os quais são a era de ouro do Pós-milenismo e o Amilenismo. Embora essas duas visões diferentes sejam comumente designadas Pós-milenismo e Amilenismo, elas compartilham de uma mesma convicção quanto ao retorno de Cristo: tal acontecimento ocorrerá depois do milênio e encerrará o período atual da história. Defenderemos que o Amilenismo, quando não expressa uma visão pessimista da presença do reino de Cristo, é a visão que mais corresponde aos ensinamentos bíblicos. Os pós-milenistas diferem quanto às opiniões com relação ao início da era de ouro. Alguns sugerem que terá início de forma gradual e aumentará. Enquanto o evangelho se insere progressivamente entre as nações e resulta na conversão delas, o milênio, por fim, alcançará a completa manifestação. Outros sugerem que o milênio terá início de modo mais abrupto e repentino com a futura conversão das nações pela obra sem precedentes do Espírito por meio do evangelho. As opiniões também variam quanto ao lugar e serviço do magistrado civil na concretização do reino milenar. Para complicar as coisas ainda mais é a tendência, hoje, entre alguns pós-milenistas, de identificar todo o período entre o primeiro e segundo adventos de Cristo como sendo o período do milênio. Embora essa última tendência corresponda a uma posição basicamente indistinguível do Amilenismo - sendo, contudo, talvez mais otimista em sua expectativa - ela mantém a ênfase característica sobre a era de ouro por vir. A primeira objeção ao Pós-milenismo pode ser feita por meio da pergunta: Quando Cristo se torna rei? A era de ouro do Pós-milenismo sugere que o senhorio de Jesus Cristo é uma realidade mais futura do que presente. A vinda de Cristo na plenitude do tempo, mesmo tendo iniciado um novo período na história da redenção, não constitui por si só o grande ponto de virada na história até onde o reino de Deus diz respeito. Pelo contrário, ele dá inicio a uma série de acontecimentos que somente com base na evolução subsequente conduz ao reino milenar. Independente de quando começa o milênio, ele só começa algum tempo depois dos grandes acontecimentos redentores atestados pelo Novo Testamento. O nascimento, vida, morte, ressurreição e ascensão de Jesus Cristo, concomitante ao derramamento do Espírito Santo no Pentecostes, deram início à cadeia de acontecimentos que, por fim, conduzirão ao reino milenar. No entanto, eles não coincidiram com o começo do reinado milenar de Cristo, o qual vem posteriormente na história da redenção. Com respeito à visão sobre o milênio presente em Apocalipse 20.1-6, não queremos retomar os argumentos do capítulo anterior, sobre os quais se fundamentavam a visão de que ele abrange todo o período interadventual. A fim de fundamentar, a partir de Apocalipse 20, a visão relacionada à era de ouro na história, duas coisas precisariam ser provadas. A primeira é o fato de os acontecimentos descritos em Apocalipse 19.11-21 não se referirem à segunda vinda de Cristo, mas a um período de transição na história, conduzindo ao início do milênio de Apocalipse 20. O texto de Apocalipse 19.11-21 parece, por outro lado, se referir claramente ao retorno de Cristo na consumação da presente era. A segunda é o fato de que os acontecimentos descritos em Apocalipse 20.1-6 têm de ocorrer depois dos acontecimentos registrados em Apocalipse 19.11-21. No entanto, como já defendemos anteriormente, isso não foi provado e é, na realidade, bastante improvável. Em resposta à afirmação de que a era de ouro do Pós-milenismo abrange a atual realidade do reinado de Cristo, alguns pós-milenistas de hoje insistem no fato de a diferença não ser uma questão de maneira, mas apenas de intensidade entre a manifestação presente e a futura do reino de Cristo. Cristo já é rei, mas seu reinado se manifestará de modo crescente conforme o evangelho alcança, progressivamente, o triunfo na terra. Logo, alguns pós-milenistas de hoje reconhecem que o milênio é agora, começou com o advento de Cristo e irá terminar em sua vinda na consumação do século. De acordo com esses pós-milenistas, a única diferença básica entre as visões pós-milenista e amilenista é o fato de a primeira ter uma expectativa mais otimista e bíblica quanto ao sucesso do evangelho no presente século do que a segunda. De modo geral, aqueles que defendem esse padrão criticam os amilenistas pelo pessimismo antibíblico e falta de confiança no prometido sucesso do discipulado das nações feito pela igreja. Em alguns aspectos, a dificuldade enfrentada aqui pelos pós-milenistas é a mesma dificuldade enfrentada por qualquer doutrina chilianista que defende uma era milenar distinta na história da redenção. Tal dificuldade se dá em como justificar a necessidade de um reino intermediário, um período de reinado vitorioso de Cristo, anterior à forma eterna do reino. Essa inserção de uma era milenar entre o primeiro e o segundo advento de Cristo parece um dilema desnecessário da história. Uma nova era irrompe e essa não se trata da era presente nem da era vindoura no sentido bíblico dessas expressões. Talvez essa seja a razão pela qual alguns pós-milenistas contemporâneos, quando descrevem o milênio, alternam entre descrições que ecoam as referências da Bíblia ao novo céu e à nova terra e as descrições que parecem imperceptíveis a partir do que tem sido verdadeiro no decorrer de todo o período presente da história. Mesmo se as referências à grande tribulação (Mt 24.21; Ap 2.22; 7.14) fossem restritas às circunstâncias adjacentes à destruição de Jerusalém em 70 d.C. e da igreja do 1º século, o Novo Testamento contém referências frequentes à tribulação relacionada à experiência dos crentes no decorrerdo presente período da história. Na seção introdutória do discurso de Jesus em Mateus 24, por exemplo, a tribulação descrita parece ser uma circunstância geral que marcará todo o período da pregação do evangelho por parte da igreja para as nações (Mt 24.8-9). Tal fato está declarado de modo claro em João 16.33, texto que registra as palavras de Jesus para seus discípulos: "Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo". De semelhante modo, o apóstolo Paulo previne Timóteo: "Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos" (2Tm 3.12). Essa tribulação assume diversas formas e produz paciência (Tg 1.2-4; Rm 5.3-4) e disciplina (Hb 12.6) na vida cristã. Sofram ou não os crentes e as igrejas com uma ou mais formas de tribulação, com maior ou menor intensidade, ou mesmo em algumas circunstâncias excepcionais eles não sofram nada, o testemunho das Escrituras é que se trata de uma circunstância comum dos crentes nesta vida. CAPÍTULO 13: A RESSURREIÇÃO DO CORPO O ponto dessas passagens não é que todo crente e toda igreja do presente século sofrerão da mesma maneira ou na mesma medida. Tampouco negam que por muitas vezes e em vários lugares a causa do evangelho de Cristo e do reino desfrutrará do mais maravilhoso sucesso e bênção. Sem dúvida - como os crentes já testemunharam - as nações serão discipuladas, os reinos contrários a Cristo cairão e os padrões do reino transformarão a vida das pessoas e nações. As passagens citadas não contradizem nenhuma dessas coisas. Certamente, não ensinam, por exemplo, que os crentes que desfrutam de prosperidade e paz devam, de alguma forma, ser culpados de concessões antibíblicas ou acomodação. No entanto, ensinam o seguinte: na presente era, o crente e a igreja devem sempre esperar e prever alguma comunhão nos sofrimentos de Cristo. A pregação do evangelho e o progresso do reino sempre inspiram uma oposição ao evangelho, uma reação de incredulidade e contrariedade. Assim, os crentes aprendem a obediência por meio de seu sofrimento, assim como aconteceu com Cristo, seu Senhor e Mestre (Hb 5.8). Eles entendem, de imediato, o significado de Hebreus 13.13-14: "Saiamos, pois, a ele, fora do arraial, levando o seu vitupério. Na verdade, não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a que há de vir". A quinta e última objeção a ser discutida com relação à era de ouro do Pós-milenismo é o fato de ela alterar o foco da esperança do crente quanto ao futuro. Considerando que o Novo Testamento descreve a igreja no presente século como participando continuamente dos sofrimentos de Cristo e aguardando, com avidez, o seu retorno na consumação do século, a visão pós-milenista incentiva uma perspectiva para o futuro que foca em um período antecipado de um inabalável estado de bênção. A expectativa e esperança do crente para o futuro foca no milênio em vez de focar no retorno de Cristo. Em primeiro lugar, apesar de a era de ouro do Pós-milenismo ser inconsistente com a ênfase bíblica discutida por nós, não defendemos que tal posição entre em conflito direto com o ensinamento explícito das confissões da Reforma. A única confissão da Reforma que condena, de maneira explícita, certa forma da era de ouro do Pós-milenismo é a Segunda Confissão Helvética, um dos padrões históricos das igrejas reformadas da Suíça, escrita por Heinrich Bullinger. Tal fato serve como precaução contra qualquer crítica em demasia à visão pós-milenista entre aqueles que professam tais confissões da Reforma. Muitos adeptos da Confissão de Fé de Westminster, por exemplo, defendem uma ou outra forma de ensinamento pós-milenista. Ao fazer isso, não contradizem nem comprometem qualquer parte do sistema bíblico da doutrina resumida nessa confissão. Conquanto as confissões da Reforma sejam claramente incompatíveis com o Pré-milenismo Dispensacionalista e, em menor intensidade, com o Pré-milenismo Histórico, elas são compatíveis com as duas formas de Pós-milenismo por nós identificadas como Amilenismo e era de ouro do Pós-milenismo. O debate entre amilenistas e pós-milenistas, portanto, é subjetivo. As diferenças entre tais visões dizem respeito à ênfase teológica dentro de um elo confessional comum. Os acontecimentos que levaremos em consideração são: a ressurreição dos mortos, justos e injustos; o juízo final de todos os seres humanos por Cristo; o castigo eterno do incrédulo e do ímpio no inferno; e a criação do novo céu e da nova terra. Neste capítulo, abordaremos o primeiro desses acontecimentos e o faremos à luz da Palavra de Deus, atentos ao fato de que, especialmente em tais assuntos, quando nos desviamos do caminho certo estabelecido na Palavra, somos compelidos a seguir em direções especulativas e incertas. Observamos que a expectativa bíblica para o futuro dos crentes não está focada principalmente no que é quase sempre chamado de Estado Intermediário. Embora a Bíblia ensine que a comunhão do crente com Cristo não pode ser rompida nem mesmo pela própria morte e no momento da morte o crente começará a desfrutar de uma comunhão mais íntima com Cristo (2Co 5.1-9), essa não é sua principal ênfase; muito menos o é a imortalidade da alma. A atenção da Bíblia recai sobre a ressurreição do corpo, ou seja, a restauração e renovação da pessoa por inteiro, corpo e alma, em um estado renovado de integridade dentro do contexto de novo céu e nova terra. A objeção mais conclusiva contra a separação no tempo dessas ressurreições é a incompatibilidade com a associação comum nas Escrituras da ressurreição dos justos com a dos injustos. Em uma das poucas referências diretas à ressurreição no Antigo Testamento, Daniel 12.2, lemos que "muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno". Nessa passagem, as ressurreições do crente e do incrédulo estão intimamente ligadas. Uma ligação similar é refletida nas palavras de Jesus proferidas aos seus discípulos em João 5.28-29: "Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo". Jesus fala a respeito do grande acontecimento no qual todos os mortos serão ressuscitados com o propósito de serem julgados. Embora alguns pré-milenistas sugiram que tal referência a uma hora possa incluir um longo período de tempo - recorrendo ao uso da palavra "hora" no versículo 25 do mesmo capítulo em que se refere ao período no qual os mortos espiritualmente devem ser trazidos à vida - seu significado nesses versículos é paralelo ao seu significado comum no Evangelho de João. Diz respeito a um período distinto no qual os propósitos de Deus serão cumpridos. Assim como em outras passagens das Escrituras, o ensinamento dessa passagem afirma que a ressurreição de todos os mortos, crentes e incrédulos igualmente, ocorrerá em determinado momento no futuro. Ademais, a passagem mais frequentemente citada pelos pré-milenistas como embasamento de sua visão de duas ressurreições distintas, uma antes e outra depois do milênio, apresenta evidência de que a ressurreição e o julgamento incluirão todas as pessoas, crentes e incrédulos. Em Apocalipse 20.11-15, a visão do "grande trono branco do juízo final", o qual ocorrerá depois do milênio, retrata "os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono" (v.12). Esses mortos não incluem somente os grandes e pequenos, mas também todos aqueles "perdidos" pelo mar, pela morte e pelo inferno. Todos esses mortos são, então, julgados, "um por um, segundo as suas obras" (v.13). Como consequência desse julgamento, a morte e o inferno, e "aqueles cujo nome não foi encontrado no Livro da Vida" são lançados para dentro do lago de fogo, a segunda morte. A descrição da ressurreição e do julgamento apresentada nessa visão implica que todas as pessoas são envolvidas e somente aquelas dentre elas cujos nomesestão escritos no Livro da Vida do Cordeiro serão salvas do lago de fogo. Caso essa visão descrevesse somente a ressurreição e o julgamento daqueles cujos nomes não estivessem escritos no Livro da Vida, a linguagem utilizada para a descrição de tal visão seria confusa, na melhor das hipóteses, e enganosa na pior das hipóteses. Com frequência, aqueles que insistem nas duas ressurreições separadas no tempo recorrerão à linguagem de 1 Tessalonicenses 4.16 e 1 Coríntios 15.23-24. Essas passagens descrevem certa prioridade e ordem entre os acontecimentos da vinda de Cristo, a ressurreição dos crentes e a chegada do fim da era. Segundo os pré-milenistas, tal prioridade e ordem confirmam a distinção entre as duas ressurreições. No entanto, nenhuma dessas passagens apresenta uma conjectura convincente sobre tal posição. Quando o apóstolo Paulo em 1 Tessalonicenses 4.16 fala a respeito dos mortos em Cristo ressuscitarem primeiro, ele não está traçando um contraste entre a ressurreição dos crentes e dos incrédulos, mas sim, entre a ressurreição dos mortos, aqueles que adormeceram em Jesus, e o arrebatamento dos crentes que ainda estarão vivos no momento da vinda de Cristo. Longe de serem excluídos do benefício da vinda do Senhor, aqueles que adormeceram nele terão preeminência - ressuscitarão primeiro. Ademais, conforme argumentamos anteriormente, a ordem descrita em 1 Coríntios 15.23-24 - "Cristo, as primícias; depois, os que são de Cristo, na sua vinda" - não é uma ordem que permite um período intermediário de 1.000 anos entre a vinda de Cristo e o fim. Os acontecimentos descritos, apesar de ocorrerem em uma ordem definida, são compostos por um grande complexo de acontecimentos na consumação do século. A despeito desse foco claro na ressurreição de Cristo e na participação do crente nela, o Novo Testamento deixa claro que o autor de tal ressurreição é o Deus Trino. Pai, Filho e Espírito Santo. Cada pessoa da Trindade desempenha uma parte integral na concessão da vida ressurreta àqueles que pertencem a Cristo. Quando Jesus responde à negação dos saduceus com relação à ressurreição, ele atribui o poder de conceder vida ressurreta a Deus: "Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus. Porque, na ressurreição, nem casam, nem se dão em casamento; são, porém, como os anjos no céu" (Mt 22.29-30). No texto de 2 Coríntios 1.9, o apóstolo Paulo, de semelhante modo, descreve os crentes como aqueles que não devem confiar em si mesmos, mas "no Deus que ressuscita os mortos". Em outras passagens, a ressurreição dos mortos é atribuída, em especial, ao poder e obra de Cristo. Em João 5, é o Filho de Deus que, junto com o Pai, chama os mortos de suas sepulturas e lhes concede vida (v. 21,25,27-29). Essa autoridade de ressuscitar os mortos é, de acordo com o ensinamento de Cristo, uma prerrogativa concedida a ele pelo Pai, bem como fruto de sua obra salvífica (Jo 6.38-40, 44-45; 11.25-26). Além disso, o Espírito Santo, o qual emprega e comunica os benefícios da obra salvífica de Cristo, dá aos crentes uma prévia e uma participação no poder da ressurreição de Cristo. O mesmo Espírito "que ressuscitou a Jesus dentre os mortos" habita nos crentes e também concede viva aos seus "corpos mortais" (Rm 8.11). Portanto, assim como os crentes participam dos benefícios pertencentes a eles na comunhão com Cristo, lhes é prometido o dom da ressurreição dos mortos, dom esse que o Pai se agrada em conceder por intermédio do Filho e no poder do Espírito que dá a vida. CAPÍTULO 14: O JUÍZO FINAL Os textos sobre a ressurreição, por exemplo, consistentemente testificam o fato de que a sepultura na qual o corpo do Senhor fora colocado, em virtude de ter sido ressuscitado dentre os mortos, agora está vazia (Mt 28.6; Mc 16.6; Lc 24.3,6; Jo 20.1-10). O mesmo corpo no qual o Senhor sofreu e foi crucificado está agora ressurreto e glorificado. A verdade a respeito da sepultura vazia valida o fato de a ressurreição não ter sido um acontecimento espiritual à parte daquilo que aconteceu com o corpo de Jesus na sepultura. Existe uma continuidade genuína entre o corpo de Jesus pré-ressurreto e pós-ressurreto (não corpos). Um contraste similar é traçado em 2 Coríntios 5.1-9, em que o corpo atual do crente é descrito como "casa terrestre" que, depois de desfeita ou destruída, é substituída por "um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus" (v.1). Então, essa passagem segue adiante a fim de utilizar outra metáfora. Assim como o corpo atual se compara ao corpo ressurreto da maneira como uma casa terrestre se compara a um edifício celestial, também o corpo presente se compara ao corpo ressurreto da mesma forma como o ser revestido com mortalidade se compara ao ser revestido com a imortalidade. Essa passagem, embora de maneira mais extensa e detalhada, confirma o ensinamento das Escrituras presente em outros lugares a respeito da natureza da ressurreição. Quando Cristo retornar na consumação do século, os mortos serão ressuscitados. Alguns, injustos e incrédulos, serão ressuscitados para julgamento. Outros, justos e fiéis, aqueles que pertencem a Cristo, serão ressuscitados para a glória. A natureza dessa ressurreição será como semente que é plantada e morre, e renasce, de acordo com o seu tipo, em novidade de vida. O corpo ressurreto dos crentes será igual ao corpo da glória de Cristo. Ele não será totalmente diferente do corpo atual; terá semelhança e continuidade. Será o corpo como fora ressuscitado ou glorificado, não um corpo novo em sua totalidade e não relacionado. Além disso, será um corpo real, material e carnal, não imaterial e espiritual de forma a negar a continuidade entre o corpo atual e o corpo ressurreto. No entanto, esse corpo será tão igual à imagem e glória de Cristo a ponto de não haver mais vestígios do poder e dos efeitos destrutivos do pecado. Dentre as primeiras perguntas levantadas com relação ao Juízo Final estão o momento e a existência ou não de um ou mais juízos. Os pré-milenistas históricos e dispensacionalistas falam a respeito de vários juízos, os quais são distinguíveis de acordo com o tempo, o lugar e os assuntos. Apesar de as opiniões diferirem bastante entre os representantes de tais visões, a posição dispensacionalista mais comum fala sobre quatro juízos diferentes: o juízo dos crentes no arrebatamento; o juízo de Israel no fim do período de sete anos de tribulação; o juízo das nações; e o "juízo do grande trono branco" no fim da era milenar (Ap 20.11-15). Os três primeiros julgamentos precedem o milênio e o último vem depois. Esses juízos distintos são uma parte necessária do conceito pré-milenista sobre o futuro. Por exemplo, pelo fato de o Pré-milenismo fazer distinção entre a ressurreição dos crentes antes do milênio e a ressurreição dos incrédulos depois do milênio, são necessários no mínimo, dois juízos distintos. Uma vez reconhecido, entretanto, que o retorno de Cristo ocorrerá depois do milênio descrito em Apocalipse 20, não restam mais razões para afirmar que haverá mais de um juízo. Ademais, uma vez reconhecido que o juízo final ocorrerá após a ressurreição do corpo e intimamente ligado a ela, logo, se entende ser esse um acontecimento único no qual todos serão julgados, crentes e incrédulos da mesma maneira, judeus e também gentios. Assim como vimos que a ressurreição será um acontecimento no final da era, o qual engloba crentes e incrédulos da mesma maneira (Jo 5.25-29), então, o juízo final incluirá todas as pessoas. Como diz o apóstolo Paulo: "Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo" (2Co 5.10). Quando Cristo descreve o juízo final em Mateus 25, todas as nações são julgadas juntas e as "ovelhas" separadas dos "cabritos" (Mt 25.31-46). Embora seja evidente que o juízo final ocorrerá como um acontecimento único depois da ressurreição, não está claro, a partir das Escrituras, se ele precederá ou virá após a transformação da criação na consumação do século. Algumaspassagens parecem sugerir que o juízo acontecerá antes da recriação do céu e da terra (por exemplo, 2Pe 3.7). No entanto, em outras, o juízo final está simplesmente ligado ao fim da era presente (por exemplo, Mt 13.40-43; 25.31-32, 2Ts 1.7-10), sem qualquer indicação de que ocorrerá antes da renovação de todas as coisas. Em Apocalipse 20.12, sugere-se que o juízo seguirá de imediato a ressurreição geral: "Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros". Na sequência de Apocalipse 20, o julgamento do grande trono branco é seguido de uma série de visões que descrevem o novo céu e a nova terra. Sem dúvida, como já tivemos a oportunidade de observar anteriormente, as visões de Apocalipse não estão ordenadas de modo nitidamente cronológico. A disposição das visões sobre o novo céu e a nova terra depois daquela do julgamento do grande trono branco, entretanto, sugere ser esta uma possível sequência dos acontecimentos na consumação do século: primeiro, a ressurreição, segundo, o juízo final e, terceiro, a transformação da criação. Um ensinamento proeminente e claro das Escrituras com respeito ao juízo final é o de que Cristo será o juiz. Dentre as prerrogativas caracterizadoras do governo de Cristo à direita do pai está a prerrogativa de realizar o juízo final. De acordo com a ênfase bíblica, o Credo Apostólico fala a respeito do retorno de Cristo como sua vinda "para julgar os vivos e os mortos". A grande obra na qual Cristo estará engajado em sua vinda é a obra do julgamento, defendendo o seu povo e a causa do evangelho, bem como condenando todos os inimigos dele e seus. Todos os crentes, portanto, estarão sujeitos ao juízo. Embora não seja isso o que tenham de temer, trata-se de um julgamento genuíno para eles. Quando, em 2Coríntios 5.10, o apóstolo Paulo fala que "todos nós" devemos comparecer perante o tribunal de Cristo, ele está se referindo especificamente aos crentes. O texto de Hebreus 10.30 afirma que "o Senhor julgará o seu povo". Ao escrever para os crentes em Roma, o apóstolo Paulo os admoesta quanto ao julgamento de seus irmãos, observando que "importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo". O texto de Tiago 3.1 fala a respeito de um juízo mais severo a ser aplicado àqueles crentes que são mestres. E, no texto de 1Pedro 4.17, os crentes são advertidos quanto ao fato de "o juízo começar pela casa de Deus". Essa sujeição ao juízo, entretanto, não contradiz o evidente ensinamento bíblico de que os crentes já passaram da morte para a vida (Jo 5.24). Tampouco entra em conflito com a certeza expressada em Romanos 8.1 de que "agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus". Significa apenas que no dia do julgamento, um veredito e um pronunciamento serão feitos com relação a todas as pessoas que já viveram, incluindo os crentes. As Escrituras são bem veementes em seu ensinamento de que todos serão julgados pelo que tenham feito. Isso inclui não apenas todos os pensamentos, palavras e feitos, mas também as coisas ocultas. O texto de 2Coríntios 5.10 fala de modo muito aberto a respeito do "bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo". Nada será excluído. O texto de Mateus 25.35-40 fala especificamente a respeito dessas coisas feitas "a um destes meus pequeninos irmãos". O texto de Apocalipse 20.12 fala sobre os mortos serem julgados "segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros". Deus não ignorará, no dia do julgamento, as obras feitas de acordo com a vontade dele. Tampouco negligenciará as palavras frívolas proferidas ou as coisas "ocultas das trevas" (1Co 4.5). Assim como todos serão julgados, também tudo o que eles tenham feito estará sujeito ao julgamento. A pergunta quase sempre levantada é: O que acontecerá com as pessoas que não tiveram a oportunidade de ouvir o evangelho ou aprender da Palavra de Deus? É justo serem julgadas de acordo com um padrão desconhecido para elas? Para responder a essa pergunta, eu reiteraria: o padrão do julgamento será a lei e a vontade de Deus até onde foram revelados. No texto de Romanos 1.18-23 e 2.11-16, somos ensinados que a todas as pessoas, judeus e gentios da mesma maneira, foi dado certo conhecimento sobre Deus por meio de coisas criadas por ele e da lei cuja norma está gravada em seus corações. Ninguém pode ser desculpável perante Deus sob o pretexto da falta de conhecimento. À medida que o Senhor se revelou a todos, logo, todos são responsáveis e não têm desculpas perante ele. Falando sobre essa questão, "É justo que Deus julgue aqueles que não têm pleno conhecimento de sua Palavra e evangelho? ", Carl F. H. Henry dá a sábia resposta a seguir: A integridade de Deus é demonstrada porque ele condena os pecadores não pela falta de conhecimento, mas por causa da resposta rebelde deles. Sua misericórdia é demonstrada porque concede aos seres humanos caídos um chamado privilegiado à redenção não estendido aos anjos caídos. Ele continua a estender tal chamado a todo o mundo mesmo quando alguns rebeldes o rejeitam de modo desafetuoso e injusto, preferindo morrer em seus pecados. Todos são julgados pelo que fazem com o conhecimento que possuem e ninguém é totalmente desprovido dele. A linguagem utilizada nessas parábolas para o cômputo final e recompensa dos servos sugere serem eles uma descrição do juízo final ao término da era. O retorno do homem de sua longa viagem e do homem nobre de seu país distante coincide com a consumação do século. O contexto para a parábola de Mateus 25 refere-se, de forma explícita, ao juízo final e à separação que ocorrerá entre o justo e o injusto. Tal fato também é confirmado pela linguagem da colheita utilizada para descrever o reconhecimento do mestre junto a seus servos em seu retorno. Logo, tais parábolas parecem ensinar que Cristo distribuirá uma diversidade de níveis de recompensa aos justos no juízo final. Dessa maneira, a diversidade dos dons e chamados entre o povo de Deus não passará despercebida no juízo final por Cristo. Cada um receberá a recompensa segundo o serviço prestado. A obra dos servos do Senhor não será negligenciada. Pelo contrário, Cristo reconhecerá e recompensará explicitamente os servos fiéis quando, juntos, entrarem no gozo do Senhor. A terceira abordagem, e a preferível aqui, defende ser a ideia das recompensas consistente com o ensinamento bíblico relacionado à salvação somente pela graça, estipulando serem as recompensas pela graça, e não por mérito. Segundo essa abordagem, reconhece-se prontamente que o crente recebe todas as coisas provenientes da graça de Deus em Cristo. Nada recebido pelo crente da parte de Deus é merecido, nem no sentido estrito ou menos estrito do mérito devido ou congruente. Quando o Senhor recompensa os justos por suas boas obras, apenas acrescenta graça à graça, recompensando os crentes pelos feitos que ele mesmo realizou nos crentes pelo Espírito (Jo 15.1-17). Em sentido algum o crente é merecedor daquilo que recebe da parte de Deus. O crente que obedece ao Pai perfeitamente - o que, claro, não é o caso - não passaria de um "servo inútil", o qual fez somente a sua obrigação (Lc 17.7-10). Tal pessoa não seria merecedora de nenhum elogio especial ou recomendação da parte de Deus. Todas as dádivas da graça do Senhor são apenas isso - "dádivas", favores imerecidos concedidos por causa de Cristo. CAPÍTULO 15: A DOUTRINA DO CASTIGO ETERNO Uma rápida passada de olhos nas abordagens modernas relacionadas à doutrina do inferno confirma, de pronto, sua impopularidade. Os autores falam a respeito de [O Julgamento do Inferno], [O outro lado das boas-novas], Banindo o Lago de Fogo] e [O problema do castigo eterno]. Os teólogos católico-romanos falam sobre os crentes "anônimos" ou a respeito de uma ampla esperança de que todos serão salvos. Mesmo dentre os autores evangélicos, visões alternativas do estadofinal para os não salvos vêm sendo afirmadas. A doutrina do inferno, nunca uma doutrina fácil de ser afirmada, tornou-se uma discussão renovada, na maior parte por aqueles que procuram alguma alternativa para a visão tradicional. A doutrina tradicional ensina que todas as pessoas a quem Deus não salvar por meio da obra de Cristo, logo depois da ressurreição e do juízo final, serão enviadas para o inferno. Este, embora sua natureza e localização continuem, de certa forma, incertos, será um lugar de castigo eterno para os inimigos de Deus. Aqueles que viveram com inimizade contra Deus serão declarados banidos para sempre de sua presença abençoada em um estado de total consciência sobre a desaprovação dele. Dentre as confissões reformadas, as seguintes declarações representam bem a compreensão tradicional cristã sobre o inferno: Portanto, pensar neste juízo é realmente horrível e pavoroso para os homens maus e ímpios [11], mas muito desejável e consolador para os justos e eleitos. A salvação destes será totalmente completada e eles receberão os frutos de seu penoso labor [12]. Sua inocência será reconhecida por todos e eles presenciarão a vingança terrível de Deus contra os ímpios, que os tiranizaram, oprimiram e atormentaram neste mundo [13]. Os ímpios serão levados a reconhecer sua culpa pelo testemunho da própria consciência. Eles se tornarão imortais, mas somente para serem atormentados no "fogo eterno [14], preparado para o diabo e seus anjos" (Confissão Belga, Art. 37). CONSIDERAÇÕES FINAIS O livro A Promessa do Futuro de Cornelis P. Venema traz uma enorme contribuição ao que se refere à Escatologia. Sua divisão em seis partes principais, traz em suas duas primeiras partes, as características essenciais do futuro escatológica, mostrando de forma clara que a inauguração desse futuro se deu na primeira vinda de Cristo, passando pelo estado intermediário dos mortos, e pintando um detalhado quadro sobre o retorno de Cristo, e as consequências geradas por tal retorno. "Os Novos Céus e a Nova Terra", traz de forma esmiuçada os conceitos bíblicos sobre a glória futura. Sendo que o autor explica a argumentação das linhas contrárias, e as desconstrói através de uma breve exegese de alguns textos bíblicos que tratam dos temas, digamos, em que trazem a maior divergência entre as diferentes correntes escatológicas. image1.emf RAUL BARBOSA SOUZA RESUMO DO LIVRO “ A PROMESSA DO FUTURO ”, P. 259-409. Resumo apresentad o atendendo as exigências da matéria Teologia Sistemática 7. Prof. Rev. Hermisten Maia. SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO REV. JOS É MANOEL DA CONCEI ÇÃO São Paulo - 2022