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Fisiologia do músculo cardíaco SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................................................................... 3 2. Organização Básica das Células Musculares Cardíacas .......................................... 3 3. Contração Cardíaca ..................................................................................................... 5 4. Relaxamento da Musculatura Cardíaca ..................................................................... 9 5. Regulação da Contração ............................................................................................. 9 6. Sistema Nervoso Simpático ...................................................................................... 10 7. Estiramento e Leis de Frank-Starling ........................................................................ 10 8. Hipertrofia Ventricular ............................................................................................... 11 9. Conclusão .................................................................................................................. 12 Referências ...................................................................................................................... 14 Fisiologia do músculo cardíaco 3 Autor: Rafael Magalhães Carvalho 1. INTRODUÇÃO O coração, um órgão muscular vital, é o principal componente do sistema cardio- vascular. Este artigo explora a fisiologia do músculo cardíaco, abordando desde a organização celular básica até a hipertrofia ventricular. 2. ORGANIZAÇÃO BÁSICA DAS CÉLULAS MUSCULARES CARDÍACAS As células musculares cardíacas, ou miócitos, são células alongadas com um único núcleo central. Elas são conectadas por discos intercalares, permitindo a rápida pro- pagação de sinais elétricos e a contração coordenada do coração. Figura 1. Anatomia do músculo cardíaco Fonte: stockshoppe/shutterstock.com Fisiologia do músculo cardíaco 4 Sincício Elétrico e Conexões Mecânicas e Elétricas O coração é composto por um sincício elétrico, uma rede de células cardíacas (mi- ócitos) que trabalham em uníssono para contrair e relaxar o coração. Isso é possível graças às conexões mecânicas e elétricas entre as células. Os discos intercalares são estruturas especializadas que conectam as células cardíacas. Eles contêm três tipos de junções: junções de aderência, desmossomos e junções comunicantes. • Junções de aderência: Estas junções mantêm as células cardíacas unidas duran- te a contração do coração. Elas estão localizadas onde as células cardíacas se conectam end-to-end e ajudam a transmitir a força da contração de uma célula para a próxima. • Desmossomos: Estas são estruturas semelhantes a rebites que mantêm as cé- lulas cardíacas unidas, especialmente durante a contração do coração. Eles são particularmente importantes para prevenir o rasgamento do tecido cardíaco. • Junções comunicantes: Estas junções permitem a passagem de íons e pequenas moléculas entre as células cardíacas, facilitando a propagação rápida do poten- cial de ação (sinal elétrico) através do coração. Isso permite que o coração se contraia como uma unidade. Titina, Tropomiosina e Troponina A titina é a maior proteína conhecida e desempenha um papel crucial na contração muscular. Ela atua como uma mola molecular que restaura a forma do sarcômero após a contração e o alongamento. A tropomiosina é uma proteína que se enrola ao redor dos filamentos de actina no músculo. Na ausência de cálcio, a tropomiosina cobre os locais de ligação da miosina na actina, impedindo a contração. A troponina é um complexo de três subunidades: troponina C, troponina I e troponi- na T. A troponina C se liga ao cálcio e inicia a contração muscular. A troponina I inibe a atividade da miosina ATPase, impedindo a interação entre a actina e a miosina. A troponina T ancora o complexo de troponina ao filamento de actina. Diferenças entre o Músculo Esquelético e o Cardíaco Existem várias diferenças importantes entre o músculo esquelético e o cardíaco: • Marca-passo: O músculo cardíaco tem células marca-passo que iniciam a contra- ção, enquanto o músculo esquelético requer um estímulo nervoso para começar a contração. • Contração: A contração do músculo cardíaco é geralmente mais lenta que a do músculo esquelético. Fisiologia do músculo cardíaco 5 • Resistência à fadiga: O músculo cardíaco tem uma resistência muito maior à fadiga em comparação com o músculo esquelético. • Regeneração: As células do músculo esquelético têm uma capacidade limitada de regeneração, enquanto as células do músculo cardíaco têm uma capacidade de regeneração muito limitada. Figura 2. Tipos de tecido muscular Fonte: Designua/shutterstock.com 3. CONTRAÇÃO CARDÍACA A contração do coração é um processo complexo que envolve a interação de várias estruturas e moléculas. O processo começa com a propagação de um potencial de ação através das junções comunicantes, que desencadeia a liberação de íons cálcio do retículo sarcoplasmático (uma estrutura semelhante a uma rede dentro das células musculares). O cálcio então se liga à troponina, uma proteína localizada nos filamentos de actina, causando uma mudança na forma da tropomiosina, outra proteína que normalmente bloqueia os locais de ligação da miosina na actina. Isso permite que a miosina se ligue à actina, formando uma “ponte cruzada”. A miosina então puxa a actina, causando a contração do músculo. Fisiologia do músculo cardíaco 6 Sarcômero e sua Organização O sarcômero é a unidade funcional do músculo, composto por filamentos de actina (finos) e miosina (grossos) que se sobrepõem para formar uma estrutura em faixas. O sarcômero é delimitado por duas linhas Z, às quais os filamentos de actina estão ancorados. A região entre duas linhas Z é chamada de banda I, que contém apenas filamentos de actina. A linha A é a região que contém a totalidade do filamento de miosina, incluindo a sobreposição com a actina. O sarcolema é a membrana que envolve a célula muscular e contém túbulos T, que são extensões do sarcolema para o interior da célula. Eles estão localizados em regiões chamadas de cisternas terminais do retículo sarcoplasmático. Juntos, um túbulo T e duas cisternas formam uma tríade, que desempenha um papel crucial na iniciação da contração muscular. As miofibrilas são feixes de filamentos de actina e miosina que compõem a maior parte do citoplasma das células musculares. Elas são organizadas em sarcômeros repetidos, permitindo a contração coordenada do músculo. Figura 3. Estrutura do sarcômero Fonte: VectorMine/shutterstock.com Fisiologia do músculo cardíaco 7 Sarcômero Troponina Tropomiosina Filamentos de Actina Filamentos de Miosina Mapa mental - Organização do sarcômero Banda I Titina Linha MLinha Z Banda A Fonte: Elaborado pelo autor. Nó Sinoatrial, Nó Atrioventricular e Fibras de Purkinje O nó sinoatrial (SA) é a principal marca-passo natural do coração. Ele inicia cada batimento cardíaco e determina a frequência cardíaca. O nó SA está localizado na parede do átrio direito. Depois que o nó SA dispara, o impulso elétrico se propaga através dos átrios até o nó atrioventricular (AV). O nó AV, localizado na parte inferior do átrio direito, atua como uma espécie de porta, retardando o impulso elétrico antes de permitir que ele passe para os ventrículos. Isso garante que os átrios tenham tempo para se contrair comple- tamente e esvaziar o sangue nos ventrículos antes que eles comecem a se contrair. As fibras de Purkinje são uma rede de células especializadas que conduzem o impulso elétrico dos átrios para os ventrículos. Elas estão localizadas no sistema de condução do coração e permitem uma rápida propagação do impulso elétrico, garantindo uma contração ventricular coordenada. Fisiologia do músculo cardíaco 8 Figura 4. Passagem do impulso elétrico pelo coração Fonte: Alila Medical Media/shutterstock.com MAPA MENTAL –CASCATA DA CONTRAÇÃO CARDÍACA Despolarização Ativa canais de Ca2+ do retículo sarcoplasmático Ca2+ se liga à troponina C Potencial de Ação Entrada de Ca2+ do meio extracelular Liberação de Ca2+ do retículo sarcoplasmático Mudança conformacional da troponin Sítios de ligação da actina expostos Formação de pontes cruzadas Contração Deslocamento da tropomiosina Ligação da miosina à actina Deslizamento dos filamentos de actina sobre a miosina Fonte: Elaborado pelo autor Fisiologia do músculo cardíaco 9 4. RELAXAMENTO DA MUSCULATURA CARDÍACA O relaxamento cardíaco, ou diástole, ocorre quando os íons cálcio são bombeados de volta para o retículo sarcoplasmático, permitindo que as proteínas contráteis se separem e o coração se expanda para receber o sangue. O relaxamento do coração é um processo complexo que envolve várias etapas: 1. Liberação de Cálcio: Durante a contração, o cálcio é liberado do retículo sarco- plasmático (RS) para o citosol, onde se liga à troponina C, permitindo a interação entre a actina e a miosina e, consequentemente, a contração do músculo. 2. Reacumulação de Cálcio no RS: Após a contração, o cálcio é rapidamente reacu- mulado no RS pela bomba SERCA (Ca2+-ATPase do retículo sarcoplasmático). Isso diminui a concentração de cálcio no citosol, fazendo com que a troponina C libere o cálcio, o que resulta no deslizamento dos filamentos de actina e miosina de volta à sua posição original, causando o relaxamento do músculo. 3. Antiporter 3-Na+-Ca2+: Este é um mecanismo de troca de íons que ajuda a remover o cálcio do citosol para o exterior da célula, enquanto traz o sódio para dentro da célula. Isso também ajuda a diminuir a concentração de cálcio no citosol, promovendo o relaxamento. 4. Inibição da Bomba de Na+-K+-ATPase: A inibição desta bomba pode levar a um aumento na concentração intracelular de sódio, o que pode, por sua vez, inibir o antiporter 3-Na+-Ca2+, resultando em uma maior concentração de cálcio no citosol e, portanto, uma contração mais prolongada. 5. REGULAÇÃO DA CONTRAÇÃO A regulação da contração cardíaca é controlada por uma série de fatores, incluindo a frequência e a força dos sinais elétricos, a disponibilidade de íons cálcio e a sensibi- lidade das proteínas contráteis ao cálcio. A contração cardíaca é regulada por vários mecanismos, incluindo os efeitos ino- trópicos e cronotrópicos. • Efeitos Inotrópicos: Refere-se à força da contração do coração. Um efeito ino- trópico positivo aumenta a força da contração, enquanto um efeito inotrópico negativo a diminui. Isso é geralmente mediado por alterações na concentração de cálcio no citosol. Por exemplo, a estimulação do sistema nervoso simpático libera norepinefrina, que se liga aos receptores beta-1 adrenérgicos no coração, Fisiologia do músculo cardíaco 10 levando a um aumento na concentração de cálcio no citosol e, portanto, a um efeito inotrópico positivo. • Efeito Cronotrópico: Refere-se à taxa de batimentos cardíacos. Um efeito crono- trópico positivo aumenta a frequência cardíaca, enquanto um efeito cronotrópico negativo a diminui. Isso é geralmente mediado por alterações na atividade do nó sinoatrial, que é o marca-passo natural do coração. 6. SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO O sistema nervoso simpático desempenha um papel crucial na regulação da função cardíaca. Quando ativado, ele libera norepinefrina, que se liga aos receptores beta-a- drenérgicos nas células cardíacas. Isso leva à ativação da adenil-ciclase, uma enzima que converte ATP em AMP cíclico (AMPc). O AMPc atua como um mensageiro secundário, ativando a proteína quinase A (PKA). A PKA, por sua vez, fosforila várias proteínas nas células cardíacas, incluindo canais de cálcio, o que leva a um aumento na entrada de cálcio nas células. Isso resulta em uma maior liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático, levando a uma contração mais forte (efeito inotrópico positivo). Além disso, a ativação do sistema nervoso simpático tem um efeito direto nas cé- lulas do marcapasso, aumentando a taxa de despolarização espontânea e, portanto, aumentando a frequência cardíaca (efeito cronotrópico positivo). 7. ESTIRAMENTO E LEIS DE FRANK-STARLING As leis de Frank-Starling descrevem a relação entre o volume diastólico final (ou a distensão das fibras cardíacas) e a força de contração do coração. Segundo essas leis, um aumento no volume diastólico final leva a uma maior distensão das fibras cardíacas, o que resulta em uma contração mais forte. Isso ocorre porque a maior distensão das fibras melhora a sobreposição dos filamentos de actina e miosina, permitindo uma interação mais eficaz e, portanto, uma contração mais forte. Fisiologia do músculo cardíaco 11 8. HIPERTROFIA VENTRICULAR A hipertrofia ventricular é um aumento no tamanho do coração, mais especificamente dos ventrículos, que são as câmaras inferiores do coração. Este aumento é uma res- posta adaptativa a uma sobrecarga de pressão ou volume no coração. Existem dois tipos principais de hipertrofia ventricular: • Hipertrofia ventricular esquerda (HVE): Esta é a forma mais comum de hipertro- fia ventricular e ocorre quando o ventrículo esquerdo do coração se torna mais espesso. A HVE é frequentemente causada por condições que aumentam a pres- são que o ventrículo esquerdo deve superar para bombear sangue para o corpo, como a hipertensão arterial (pressão alta) e a estenose aórtica (estreitamento da válvula aórtica). • Hipertrofia ventricular direita (HVD): Este tipo de hipertrofia ocorre quando o ventrículo direito do coração se torna mais espesso. A HVD é geralmente causa- da por doenças pulmonares ou condições que aumentam a pressão no pulmão, como a hipertensão pulmonar. A hipertrofia ventricular pode ser uma resposta adaptativa inicialmente benéfica, pois um coração maior pode bombear mais sangue. No entanto, se a sobrecarga de pressão ou volume persistir, a hipertrofia pode se tornar prejudicial. O aumento do tamanho do coração pode levar a uma diminuição da função diastólica (a capacidade do coração de relaxar e encher-se de sangue) e, eventualmente, da função sistólica (a capacidade do coração de contrair e bombear sangue). Além disso, a hipertrofia ventricular está associada a um risco aumentado de eventos cardiovasculares adversos, incluindo infarto do miocárdio (ataque cardíaco), insuficiência cardíaca e morte súbita cardíaca. O tratamento da hipertrofia ventricular geralmente envolve o tratamento da causa subjacente, como o controle da pressão arterial em pacientes com hipertensão. Além disso, certos medicamentos, como os inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) e os bloqueadores dos receptores da angiotensina II (BRA), demonstraram ser eficazes na regressão da hipertrofia ventricular esquerda. Fisiologia do músculo cardíaco 12 Figura 5. Hipertrofia ventricular esquerda Fonte: Alila Medical Media/shutterstock.com 9. CONCLUSÃO A compreensão da fisiologia do músculo cardíaco é fundamental para a prática médi- ca, pois permite uma melhor compreensão das doenças cardíacas e de seu tratamento. Fisiologia do músculo cardíaco 13 MAPA MENTAL DA FISIOLOGIA DO MÚSCULO CARDÍACO Entrada de Ca2+ Contração Relaxamento Hipertrofia Cardíaca Ligação de Ca2+ àTroponina C Liberação de Ca2+ doRetículo Sarcoplasmático Deslocamento daTropomiosina Deslizamento dosFilamentos Ativação da Adenil-Ciclase Ativação dos Receptores Beta-Adrenérgicos Ativação do PKA Sistema Nervoso Simpático Fonte: Elaborado pelo próprio autor. Fisiologia do Músculo Cardíaco Potencial de Ação Formação de Pontes Cruzadas Maior Força Contrátil Maior Distensão das Fibras Leis de Frank-Starling Reacumulação do Ca2+ noRetículo Sarcoplasmático Inibição da Bomba de Na-K-ATPase Liberação do Ca2+ Prejuízo Funcional Aumento do Tamanho doCoração Regulação da Contração Efeitos Inotrópicos Positivose Negativos Efeito Cronotrópico Fisiologia do músculo cardíaco 14 REFERÊNCIAS 1. GuytonAC, Hall JE. Textbook of Medical Physiology. 13th ed. Philadelphia: Elsevier; 2016. 2. Klabunde RE. Cardiovascular Physiology Concepts. 2nd ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2011. 3. Boron WF, Boulpaep EL. Medical Physiology. 3rd ed. Philadelphia: Elsevier; 2016. 4. Lilly LS. Pathophysiology of Heart Disease: A Collaborative Project of Medical Students and Faculty. 6th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2016. 5. Braunwald E. Heart Disease: A Textbook of Cardiovascular Medicine. 11th ed. Philadelphia: Elsevier; 2019. 6. Gaasch WH, Zile MR. Left ventricular structural remodeling in health and disease: with special emphasis on volume, mass, and geometry. J Am Coll Cardiol. 2011;58(17):1733-1740. 7. Drazner MH. The progression of hypertensive heart disease. Circulation. 2011;123(3):327-334. 8. Cuspidi C, Sala C, Negri F, Mancia G, Morganti A. Prevalence of left-ventricular hyper- trophy in hypertension: an updated review of echocardiographic studies. J Hum Hypertens. 2012;26(6):343-349. Escrito por Rafael Magalhães Carvalho em parceria com inteligência artificial via chat GPT 4.0. sanarflix.com.br Copyright © SanarFlix. Todos os direitos reservados. Sanar Rua Alceu Amoroso Lima, 172, 3º andar, Salvador-BA, 41820-770