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A “democracia racial” e a negação do racismo no Brasil História
Racismo ontem e hoje!
Atualmente, ainda existem pessoas que afirmam não haver racismo no Brasil ou, melhor dizendo, que os atos de preconceito, discriminação e segregação ocorridos diariamente são atitudes individuais que não correspondem ao comportamento geral da população brasileira. 
Racismo: previsto na Lei Federal no 7.716/1989, a conduta discriminatória a determinados grupos e coletividade em virtude de sua origem étnica ou “racial” é um crime inafiançável e imprescritível. Parte da ideia de superioridade de uma “raça” em relação a outra.
A “democracia racial” e a mestiçagem como atributo da identidade brasileira
· No contexto da década de 1930, a identidade nacional foi associada e forjada, a partir da valorização da integração, do “amálgama” dos diferentes grupos “raciais” formadores da população brasileira. Tendo como referência uma visão culturalista de Gilberto Freyre, estabeleceu-se a noção de que o Brasil seria uma sociedade na qual, em vez da discriminação e da segregação raciais absolutas, a miscigenação tornou-se um aspecto positivo de nossa cultura e possibilitaria o “convívio harmonioso” entre as diferentes “raças”.
· Gilberto Freyre (1900-1987) foi um sociólogo, historiador e ensaísta brasileiro. É considerado um dos mais importantes sociólogos do século XX. Cursou o mestrado e o doutorado em ciências políticas, jurídicas e sociais na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, recebendo grande influência do antropólogo Franz Boas. Fotografia de 1945. O Diário de Pernambuco, autor desconhecido.
“[...] Assim, dentro da imaginária democracia racial brasileira, um bom negro era o empregado doméstico, o motorista da família, a babá, o sambista, a ‘mulata assanhada’, o jogador de futebol etc. Então, a mentirosa e demagógica ‘democracia racial brasileira’ é um recurso que muitos ainda continuam usando para negar a existência do racismo entre nós. Essas pessoas, mesmo reconhecendo a baixa condição social e econômica dos afro-brasileiros, alegam que ela não se deve a racismo e sim a fatores puramente econômicos. Por desconhecimento ou má-fé, essas pessoas negam o fato de a origem africana constituir uma barreira invisível e intransponível à mobilidade social, econômica e política do povo negro no Brasil. Temos casos de ascensão individual. Mas isso é sempre exceção.” (LOPES, 2007, p. 151-152).
A escravidão “edulcorada” e a construção da “democracia racial”
Nos anos 1930, o livro Casa-grande & Senzala, do antropólogo e sociólogo pernambucano Gilberto Freyre (1900-1987), promoveu uma interpretação distinta do negro e da mestiçagem na sociedade brasileira. As raças ditas “inferiores” no século XIX, símbolos do subdesenvolvimento nacional, na obra, passaram a ser consideradas um dos pilares da formação da nossa sociedade e da identidade brasileira. Segundo Freyre, diferentemente da segregação racial mais rígida, ocorrida em outros países, como nos EUA, as relações entre brancos e negros, no Brasil, teria se dado na proximidade, na intimidade e na afetividade, ou seja, seria uma escravidão edulcorada, harmoniosa entre as diferentes raças, resultando na mestiçagem. Essa relação teria viabilizado uma convivência pacífica, o que, mais tarde, foi transformada na ideia de democracia racial brasileira. Edulcorar: adoçar
“Era assim que o cruzamento de raças passava a singularizar a nação nesse processo que leva a miscigenação a parecer sinônimo de tolerância e [...] se transformarem em modelos de sociabilidade. Não que inexistissem relatos violentos na obra de Freyre, mas o fato é que o antropólogo idealizava uma nova civilização, cujo modelo era o da Casa-Grande nordestina. 
Uma sociedade da cana, em que inclusão social casava-se com exclusão; opostos se equilibravam e a escravidão aparecia de alguma maneira explicada pelo inóspito da colonização.” (SCHWARCZ, 2012, pp. 37-38)
A novidade estava na interpretação que descobria no cruzamento de raças um fato a singularizar a nação, nesse processo que fazia com que a miscigenação parecesse, por si só, sinônimo de tolerância. É nesse ambiente, também, que, para além do debate intelectual, nos espaços mais oficiais, ‘o mestiço vira nacional’, paralelamente a um processo de desafricanização de vários elementos culturais, simbolicamente clareados. A feijoada, por exemplo, até então conhecida como ‘comida de escravos’, a partir dos anos 1930 se converte em ‘prato nacional’, carregando a representação simbólica da mestiçagem. 
O feijão e o arroz remeteriam metaforicamente aos dois grandes segmentos formadores da população [...]. A capoeira – reprimida pela polícia do final do século 19 e incluída como crime no Código Penal de 1890 – é oficializada como modalidade esportiva nacional em 1937. Também o samba sai da marginalidade e ganha as ruas, enquanto as escolas de samba e seus desfiles passam, a partir de 1935, a ser oficialmente subvencionados. [...] Da mesma maneira, a partir de 1938 os atabaques do candomblé passam a ser batidos sem interferência policial. Até mesmo o futebol, originariamente um esporte inglês, foi sendo associado a negros, sobretudo a partir de 1933, quando a profissionalização dos jogadores tendeu a mudar a coloração dos clubes futebolísticos.” (SCHWARCZ, 2001, pp. 27-28).
As falácias da democracia racial – a desconstrução do mito
· Na década de 1950, após duas guerras mundiais, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) propôs um estudo – já que, no imaginário internacional, o Brasil vivia uma democracia racial, um verdadeiro “paraíso racial”, ainda que com um passado marcado pela escravidão.
· Nesse contexto, ao atuar na proposta da Unesco, o sociólogo Florestan Fernandes (1920-1995), em suas pesquisas e análises desdobradas em obras, como A integração do negro na sociedade de classes (1965) e O negro no mundo dos brancos (1972), desconstruiu a teoria da democracia racial, transformando-a em um mito, demonstrando que o Brasil não vivia uma experiência harmônica e sem conflitos, mas era um país racista e profundamente desigual. 
· Havia uma interpretação enraizada, na teoria de alguns autores anteriores ao sociólogo, que se pautava na ideia de que, após a abolição, os negros não tinham se inserido no mercado de trabalho, porque eram “indolentes, incapazes, não se adequavam”, e Florestan Fernandes revela que a falta de inserção da população negra deveu-se pela omissão das elites, que não promoveram uma transição e alternativas para o trabalho livre e vida digna. Na disputa com brancos por trabalho, tornam-se explícitos os conflitos raciais.
· Fernandes pontua, com base nas pesquisas encomendadas pela Unesco, que a cor da pele marcava a posição social no Brasil. Em um sistema de hierarquização social, em que o prestígio se dava por critérios de classe, no capitalismo (em uma sociedade de mercado, supostamente democrática), haveria uma “acomodação racial vigente”, do branco, camuflando o conflito de classes. O racismo dissimulado levou à exclusão social pela cor da pele, “do negro”, “do preto”, apagando o sentido de classe subalterna explicitada na estrutura social brasileira.
Trabalho
Leia os trechos de entrevistas responda
Quais são os argumentos trazidos pelos antropólogos Lilia Schwarcz e Kabengele Munanga acerca das “particularidades do racismo” no Brasil?
Entrevista 1
Lilia Schwarcz: quase pretos, quase brancos 
                                                                                Por Carlos Haag
“[...] Aqui [no Brasil], ‘ninguém é racista’, como determinou, em 1988, no centenário da Abolição, uma pesquisa cujos resultados eram sintomáticos: 97% dos entrevistados afirmaram não ter preconceito. Mas, ao serem perguntados se conheciam pessoas e situações que revelavam a discriminação racial no país, 98% responderam com um sonoro ‘sim’. ‘A conclusão informal era que todo brasileiro parece se sentir como uma ilha de ‘democracia racial’, cercado de racistas por todos os lados’ - avaliaa antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo”. (Pesquisa Fapesp, 2007, no 134).
Entrevista 2 
“[...] Cada país que pratica o racismo tem suas características. As características do racismo brasileiro são diferentes. Por que o brasileiro não se considera racista ou preconceituoso em termos de raça? Porque o brasileiro não se olha no seu espelho, nas características do seu preconceito racial. Ele se olha no espelho do sul-africano, do americano, e se vê: ‘olha, eles são racistas, eles criaram leis segregacionistas. Nós não criamos leis, não somos racistas. Tem mais: tem o mito da democracia racial, que diz que não somos racistas. Esse mito (da democracia racial) já faz parte da educação do brasileiro. [...] Se você pegar um brasileiro até em flagrante em um comportamento racista e preconceituoso, ele nega. Isso tem a ver com as características históricas que o nosso racismo assumiu, um racismo que se constrói pela negação do próprio racismo.” (Portal Geledés, 2016).
 Leia os excertos de textos a seguir e registre suas análises!
1. O que seria a denominada “democracia racial” no Brasil? Explique com suas palavras.
2. Por que a democracia racial, segundo o autor do Texto I, seria um recurso de negação do racismo em nosso país? Qual seria a origem desse discurso? Explique.
3. Qual é a crítica contida no Texto II sobre o racismo ser um atributo do “outro”? O que isso quer dizer? Em que espaços se manifesta e por quê?
TEXTO I – Nossa “democracia racial”
“No Brasil, a alegada e aparente convivência pacífica entre negros e brancos, em harmonia e sem conflitos, assentava-se no estabelecimento, para o indivíduo negro, de um território social específico, de lugares hierárquicos, de ‘bantustões’ invisíveis, dos quais ele só sairia se portador de um ‘passaporte’ muito especial; ou se disposto a abandonar sua identidade negra. E dentro dos seus ‘lugares de negro’ (morros, favelas, cortiços, subúrbios, periferias), ele sempre deveria se comportar segundo os papéis a ele determinados pela escritura dominante, dentro de estereótipos, enfim.” (LOPES, 2007, p. 151-152).
Vocabulário:
Um bantustão era um território separado para os habitantes negros da África do Sul e do Sudoeste Africano, como parte da política de apartheid adotada no final da década de 1940.
TEXTO II “Raça como outro”
“[...] ninguém nega que exista racismo no Brasil, mas ele é sempre um atributo do ‘outro’. Seja da parte de quem preconceitua, seja da parte de quem é preconceituado, difícil é reconhecer a discriminação, e não o ato de discriminar. Além disso, o problema parece se resumir a afirmar oficialmente o preconceito, e não a reconhecê-lo na intimidade. Esse conjunto de argumentos demonstra como estamos diante de um tipo particular de racismo; um racismo sem cara, que se esconde por trás de uma suposta garantia da universalidade das leis que lança para o terreno do privado o jogo da discriminação. 
Leia trecho da obra Casa-grande & Senzala, de Gilberto Freyre, e identifique:
· Elementos que revelam as relações desiguais de poder entre brancos e negros no Brasil.
Fonte 1. O “cadinho das raças” em Casa-grande & Senzala
“Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo [...] a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro. [...] Na ternura, na mímica excessiva, no catolicismo em que se deliciam nossos sentidos, na música, no andar, na fala, no canto de ninar menino pequeno, em tudo que é expressão sincera de vida, trazemos quase todos a marca da influência negra. Da escrava ou sinhama que nos embalou. Que nos deu de mamar. Que nos deu de comer [...]. Da negra velha que nos contou as primeiras histórias de bicho e de mal-assombrado. Da mulata que nos tirou o primeiro bicho-de-pé de uma coceira tão boa. [...] Do moleque que foi o nosso primeiro companheiro de brinquedo.” (FREYRE, 1983, p. 283).
Cadinho: recipiente em material refratário, geralmente de barro, ferro ou platina, utilizado para fusão das reações químicas em altas temperaturas.
Sinhama: escravizada de mais idade, geralmente encarregada do cuidado das crianças da casa-grande.
Leia o fragmento de texto “O negro no mundo dos brancos”,
Qual a reflexão trazida por Florestan Fernandes sobre a inclusão/exclusão do negro e do “mulato” após a Abolição? 
Quais as críticas apresentadas e como se desconstrói a ideia de “democracia racial”? 
TEXTO – O negro no mundo dos brancos
“[...] a sociedade colonial foi montada para o branco. A nossa história também é uma história do branco privilegiado para o branco [...]. O negro foi exposto a um mundo social que se organizou para os segmentos privilegiados da raça dominante. Ele não foi inerte a esse mundo. Doutro lado, esse mundo também não ficou imune ao negro. [...] O negro permaneceu sempre condenado a um mundo que não se organizou para tratá-lo como ser humano e como ‘igual’. Quando se dá a primeira grande revolução social brasileira [a Abolição da escravatura], na qual esse mundo se desintegra em suas raízes, [...] nem por isso ele contemplou com equidade as ‘três raças’ e os ‘mestiços’ que nasceram do seu intercruzamento. Ao contrário, para participar desse mundo, o negro e o mulato se viram compelidos a se identificar com o branqueamento psicossocial e moral. Tiveram de sair de sua pele, simulando a condição humana-padrão do ‘mundo dos brancos’. (FERNANDES, 2007)
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