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Paula Peixoto O’Dwyer 
Faculdade Baiana de Direito 
2024.1 
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Caderno da AV 1 de Administrativo III – Luciano Chaves 
 
- Responsabilidade Civil do Estado: 
 
1. Considerações Gerais: 
Diz respeito a como a pessoa jurídica estatal vai se responsabilizar civilmente pelos danos que 
seus representantes (agentes públicos) provoquem a terceiros (administrados). 
A Responsabilidade Civil do Estado apresenta correspondência em um capítulo da Constituição 
Federal de 1988, não existindo um diploma específico sobre o tema. 
É um tema de ordem jurisprudencial e doutrinária, justamente por conta da carência de 
dispositivos legais aprofundados, e que evolui significativamente com o passar do tempo. Causa 
falta de segurança jurídica porque as grandes Cortes divergente em seus entendimentos, mas dá 
uma dinamicidade e atualização ao tema. 
 
O Estado pode provar danos aos particulares no exercício de suas atividades, ensejando na sua 
Responsabilização Civil (é uma Responsabilidade Civil Extracontratual, ou seja, não é ligada a 
uma relação obrigacional, como o contrato). A Responsabilidade Civil Contratual é aquela 
oriunda do descumprimento de cláusulas contratuais. A Responsabilidade Extracontratual é a 
responsabilidade que surge do direito, do ordenamento, das regras do direito e não de um contrato. 
A prescrição para pleitear a Responsabilidade Civil Extracontratual é de 3 anos. 
O ilícito não é pressuposto da Responsabilidade Civil. Dessa forma, a prática de ilícitos pode 
gerar somente danos a serem reparados, não imputando uma Responsabilização Civil do Estado. 
Não se cogita a não responsabilização do Estado por danos gerados a terceiros por terceiros. 
A Responsabilidade Extracontratual do Estado é a obrigação que tem o Estado de indenizar os 
danos lesivos a terceiros, causados por seus agentes públicos, em comportamentos lícitos e 
ilícitos, comissivos ou omissivos. 
Exemplo > obras públicas são lícitas, mas podem provocar danos e o 
estado vai responder, mesmo que não haja ilicitude. 
 
O Dano Lesivo é o dano moral e/ou patrimonial. Uma ação de um agente público pode causar nas 
duas esferas e o Estado, na hora de se responsabilizar, vai se responsabilizar por ambas. 
 
2. Evolução da Responsabilidade do Estado: 
A Teoria do Risco é a mais aceita em nosso ordenamento jurídico. Vejamos a evolução histórica: 
a. Irresponsabilidade do Estado: Principalmente nos regimes absolutistas, o Estado 
não se responsabilizava por danos que pudesse causar a terceiros, de modo a não 
se falar em uma Responsabilidade Civil do Estado. A figura do Rei se confundia 
com a figura do Estado. O monarca possuía incontestável poder e autoridade 
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sobre seus súditos e a sua vontade prevalecia contra tudo e contra todos. Tinha a 
ideia de que o rei não errava, logo, o Estado também não. 
 
b. Responsabilidade com Culpa Civil do Estado: Com a consolidação dos regimes 
democráticos, final do século XVIII, surge uma teoria com os ideais civilistas, 
lastreando-se na culpa civil, personalizada na figura do agente causador do dano. 
Quando o sujeito demonstrasse que o agente causador do dano agiu com vontade 
de causar o dano ou por negligência, imprudência ou imperícia, o Estado era 
responsabilizado civilmente. Ou seja, cai por terra a ideia de que o Estado nunca 
erra, a Responsabilização Civil se dá com a com a identificação do sujeito 
causador do dano + comprovação da culpa ampla (qualificação da sua conduta). 
Precisava de (i) comportamento, (ii) culpa, (iii) dano e (iv) nexo causal. 
 
c. Teoria da Culpa Administrativa/Culpa do Serviço: Direito Administrativo se 
consolida como uma ciência autônoma no século XIX. O Brasil incorpora uma 
teoria publicista (França). Aqui, há uma Responsabilidade Subjetiva, não sendo 
mais uma culpa civil, mas sim uma culpa administrativa (culpa do serviço/falha 
do serviço. Denominada de “Culpa Anônima” pela doutrina). A grande evolução 
é a desvinculação da culpa do Estado com a culpa do agente, ou seja, o Estado 
passa a se responsabilizar. A vítima comprovava a culpa administrativa através 
da: (i) Não Prestação do Serviço, (ii) Mau Funcionamento do Serviço ou (iii) 
Atraso no Funcionamento do Serviço. Há uma desnecessidade de se personificar 
o agente causador do dano (servidor público) e de demonstrar imprudência, 
imperícia ou negligência. 
Exemplo 1 > A prefeitura foi notificada cinco minutos depois do 
derramamento de óleo na Av. Paralela (via pública). Carros começaram a 
derrapar e colidir, gerando danos a particulares. Ninguém da prefeitura 
apareceu. Haverá a Responsabilidade Civil do Estado – não 
funcionamento. 
Exemplo 2 > A prefeitura foi notificada cinco minutos depois do 
derramamento de óleo na Av. Paralela (via pública). Carros começaram a 
derrapar e colidir, gerando danos a particulares. Meia hora depois da 
notificação, agentes da prefeitura estavam isolando a área. A área foi 
liberada ainda com óleo na pista, em quantidade suficiente para ainda gerar 
colisões e danos. Haverá a Responsabilidade Civil do Estado – mau 
funcionamento. 
Exemplo 3 > A prefeitura foi notificada cinco minutos depois do 
derramamento de óleo na Av. Paralela (via pública). Carros começaram a 
derrapar e colidir, gerando danos a particulares. Os primeiros agentes só 
começaram a chegar duas horas depois, razão pela qual danos 
significativos aconteceram. Haverá a Responsabilidade Civil do Estado – 
funcionamento atrasado. 
 
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d. Teoria do Risco (Caso Agnes Blanco de 1873): É a Responsabilização Objetiva 
do Estado. Não se discute culpa do Estado (agente público), restando a (i) 
conduta, o (ii) dano e o (iii) nexo de causalidade como pressupostos da 
responsabilidade. Consolida-se a ideia de a atividade administrativa, por si só, 
gera risco. O caso Agnes Blanco foi o motivo para começarmos a responsabilizar 
o Estado, pois ela foi atropelada por um vagão de empresa pública na França. 
Este caso se tornou um Leading case. A doutrina divide esta teoria em Teoria do 
Risco Integral e Teoria do Risco Administrativo. 
i. Teoria do Risco Integral: Não admite que o Estado se exima da 
responsabilidade por alegar causas de exclusão da responsabilidade (fato 
exclusivo da vítima ou de terceiros, caso fortuito ou força maior...). 
Porém, é usada para danos nucleares e atentados terroristas. 
ii. Teoria do Risco Administrativo: Admite as excludentes de 
responsabilidade por parte do Estado, se coadunando com a sistemática 
da responsabilidade civil atual. É a mais aceita pelo ordenamento 
brasileiro. 
 
A Responsabilidade do Estado Brasileiro é a objetiva. 
 
e. Teoria do Estado como Garantidor dos Direitos Fundamentais: Mesmo que o 
Estado não provoque um dano, ele pode ser responsabilizado pela inércia no que 
tange às garantias e aos direitos fundamentais. Entretanto, a garantia de direito 
fundamentais é muito abstrata, não havendo como o Estado se responsabilizar ao 
não concretizar todos os direitos fundamentais dos cidadãos. 
 
3. Responsabilidade do Estado Brasileiro: 
Teoria do Risco foi recepcionada pela Constituição Federal de 1946, dando início à 
Responsabilidade Objetiva. institui a responsabilidade objetiva, mas assegura ao Estado o direito 
de reaver do seu agente o que pagou, nos casos de dolo ou culpa – responsabilidade subjetiva. 
 
Este tipo de responsabilidade ainda é vigente na Constituição de 1988. Vejamos: 
 
A doutrina e jurisprudência consolidam este assunto. A menção ao dolo e à culpa só é feita no 
final do artigo, a fim de que o Estado possa se valer desse argumento para exercer o direito de 
regresso contra o causador do dano (agente público). 
Outrossim, as prestadoras de serviço público só se responsabilizam se houver relação de 
fornecedor-usuário. 
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Exemplo > Quando há interrupções abruptas do serviço de energia elétrica 
e se provoca danos, danificado um eletrodoméstico ou a placa de um 
computador. O cidadão tem o direito de cobrar da empresa privada o 
ressarcimento do dano. A COELBA geralmente paga sem intervenção 
judicial, mas exigindo o laudo que comprove o nexo de causalidade entre 
a queda de energia e o dano. 
Exemplo > Agora, se um carro oficial da Coelba bate no carro de um 
cidadão, aqui não se está estabelecendo uma relação entre usuário e 
fornecedor. Porque o sujeito dono do carro não está na condição de usuário 
naquele momento, então vai gerar uma reponsabilidade subjetiva e vai se 
discutir culpa. Se fosse o carro da PM ou uma ambulância, não haveria 
discussão e a responsabilidade seria objetiva. 
 
Este artigo (37, parágrafo 6, CF) disciplina duas relações jurídicas de responsabilidade: O Estado-
Vítima (responsabilidade objetiva) e o Agente-Estado (responsabilidade subjetiva) – Estado só 
consegue responsabilizar o agente caso comprove que este agiu com dolo/culpa. 
A jurisprudência modificou-se com o RE 591874 do STF, em que uma concessionária que 
realizava transportes públicos interestaduais, seu motorista, perdeu a direção do veículo e 
atropelou um ciclista, pessoas em um ponto de ônibus e pedestres. Antigamente, se entendia haver 
duas responsabilidades, (i) em relação aos usuários – objetiva - e (ii) em relação aos não usuários 
- subjetiva -, porém, como os danos foram ocasionados pelo menos fato, se entendeu que ambas 
as responsabilidades seriam objetivas. Dessa forma, consolidou-se o entendimento que a 
Responsabilidade Civil das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público é 
objetiva em relação a terceiros usuários e não usuários do serviço (art. 37, par. 6 da CF/88). 
O agente público, ao causar dano ao cidadão, deverá estar no pleno exercício das suas funções 
para que o estado se responsabilize. 
Exemplo > Um policial, de folga, em um estádio de futebol, que atira 
contra um civil responde pessoalmente pelos danos que ele provocou, não 
cabendo a responsabilidade do Estado. 
Dessa forma, a Constituição criou duas relações de Responsabilidade, sendo (i) o Estado perante 
as vítimas da sociedade (responsabilidade objetiva) e (ii) do agente perante o Estado 
(responsabilidade subjetiva, pois o Estado vai ter que provar que o agente produziu o dano ou 
agiu com imprudência, imperícia ou negligência). 
 
a. Responsabilidade por Ação/Atos Comissivos: 
A vítima precisa comprovar o (i) comportamento estatal (comissivo ou omissivo), o (ii) dano e o 
(iii) nexo de causalidade. Não é necessário a demonstração de culpa do agente causador do dano. 
A doutrina entende que somente a conduta comissiva do Estado gera responsabilidade objetiva. 
A ilicitude não é pressuposta da responsabilidade civil, o Estado pode ser responsabilizado por 
causar danos a civis através da prática de atos lícitos também. 
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Exemplo > Ainda que tenha obedecido a todas as regras de segurança em 
uma obra pública, é possível que o Estado gere danos a terceiros, como a 
desvalorização imobiliária. 
Exemplo > Você está andando na via pública e cai em sua cabeça um 
pedaço de concreto, 
 
Obs: No caso de o Estado ser culpado, mas ocorreu por culpa ou dolo da empresa privada, o 
Estado vai reaver através de uma ação regressiva com essa empresa. 
Obs: Sobre obra pública executada por terceiros, uma vez concluída, a responsabilidade será 
sempre do Estado, podendo exercer o direito de regressos nos casos que se caracterizam culpa de 
terceiro. 
 
Não se deve conceber ao Estado o papel de garantidor universal. 
Se o Estado causar o dano (ato comissivo) ele será objetivamente responsável, não sendo 
necessário dolo ou culpa. 
Exemplo > quando um policial bate em um preso, é uma ilicitude; obras públicas que causem 
dano a um terceiro, lícito. O elemento ilicitude é irrelevante na responsabilidade civil. 
 
b. Responsabilidade por Omissão: 
Quando o Estado se omitir, entende-se atualmente que a sua responsabilidade é subjetiva, 
lastreada na Teoria do Risco da Culpa Administrativa/Culpa Anônima (falha de serviço: 
funcionou mal, atrasado ou não funcionou). O Estado tem a obrigação de cumprir algo e não 
cumpriu. Se o dano provocado ao particular foi oriundo de um comportamento omissivo do 
estado, mesmo assim o Estado vai ser responsabilizado, porém subjetivamente. A vítima tem que 
mostrar que o serviço não funcionou, funcionou mal, ou funcionou atrasado, ou seja, provando a 
culpa administrativa. 
 
A omissão que gera responsabilidade do Estado é aquela omissão relevante/qualificada com dano 
qualificado. 
Exemplo > Omissão do Estado diante de assaltos sucessivos durante a noite 
em um mesmo bairro. 
Exemplo > podar árvores, tampar bueiros, falta de vacinas. 
Exemplo > Se o dano provocado ao particular foi oriundo de um 
comportamento omissivo do estado, mesmo assim o Estado vai ser 
responsabilizado, porém subjetivamente. A vítima tem que mostrar que o 
serviço não funcionou, funcionou mal, ou funcionou atrasado, ou seja, 
provando a culpa administrativa. 
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Exemplo > Pneu soltou e quebrou a suspensão do carro. Isso gera a 
responsabilidade estatal? Não, porque até teve omissão, mas não teve culpa 
da administração, porque o Estado não é segurador universal. Agora, veja 
que se notificaram a prefeitura várias vezes para tapar o buraco, aí sim pode 
configurar a culpa administrativa, pois verifica-se que o poder público se 
omitiu mesmo, foi avisado, mas não agiu. 
 
Não se deve conceber ao Estado o papel de garantidor universal. 
Exemplo > As pessoas que dirigem alcoolizadas e causam danos a outros 
veículos, como regra, arcam com tal prejuízo. Na visão de um segurador 
universal, o Estado permitiu que pessoas dirijam bêbados ao se omitir na 
fiscalização do trânsito - não é razoável. 
Entretanto: 
Exemplo > Cidadão bêbado no volante foi parado em uma blitz, policial 
não apreendeu o veículo e o sujeito continuou a dirigir embriagado, se 
envolvendo em um acidente. Nessas circunstâncias, ao passar na blitz do 
Estado embriagado, há uma omissão qualificada/relevante, se tornando 
mais plausível se sustentar a responsabilidade do Estado. 
 
Para Guilherme Castro, a omissão pode ser genérica ou específica: 
i. Omissão Genérica: Gera Responsabilidade Subjetiva e a vítima deverá 
comprovar a culpa administrativa (falha de serviço: funcionou mal, 
atrasado ou não funcionou). Quando o Estado deveria agir, mas não o 
faz. Esta omissão precisa ser relevante e qualificada. 
Exemplo > acidentes ocorram reiteradamente em virtude de motoristas 
dirigindo alcoolizados em determinado bairro é mais fácil sustentar a 
responsabilidade do Estado. 
Exemplo > A prefeitura tem a obrigação de tapar buracos, cortar árvore e 
o Estado não faz, isso é omissão genérica. 
1. Aqui, não estamos falando da culpa do agente causador (Teoria 
Civilista), mas sim da culpa administrativa (Teoria Publicista). 
2. A periodicidade e a duração da omissão é um parâmetro objetivo, 
sendo habitual ou por um longo período. 
 
ii. Omissão Específica (admitido pela doutrina e jurisprudência): Gera 
Responsabilidade Objetiva. É associada a não observância de 
determinado dever de tutela assumido pelo Estado de agir ou não agir e 
o negligência. 
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Exemplo > dever de tutela do Estado para com a integridade física dos 
presos, dos pacientes e dos alunos em penitenciárias, hospitais públicos e 
escolas públicas. 
Exemplo > O Estado tem que garantir educação a crianças 
(responsabilidade genérica), se algo acontece com uma criança dentro de 
uma escola (responsabilidade específica), o Estado se responsabiliza. 
Exemplo > Se um rival dopaciente (criminoso) entra no hospital e o mata, 
o Estado responde objetivamente em virtude de uma omissão específica. O 
hospital que deixa de fornecer o mínimo serviço de segurança, 
contribuindo de forma determinante e específica para homicídio praticado 
em suas dependências, responde objetivamente pela conduta omissiva. 
Exemplo > A Transalvador, ao rebocar um veículo, veio a causar danos ao 
veículo do proprietário, há uma omissão específica pois o Estado assume 
o dever de tutela. 
Esta omissão, seja ela genérica ou específica, precisa ser relevante. 
 
Resuminho: Conforme doutrina, a omissão genérica se configura na inação do Estado quando 
deixa de cumprir suas obrigações gerais, acarretando na sua responsabilidade subjetiva e a 
omissão específica ocorre quando há um descumprimento a um dever específico de tutela, 
gerando uma responsabilidade objetiva. 
 
c. Responsabilidade Objetiva: 
O ordenamento brasileiro adota a Teoria do Risco Administrativo. Entretanto, será lastreada na 
Teoria do Risco Integral estes dois casos a seguir: 
i. Danos Nucleares: A União responde, independente de culpa, pelos danos 
nucleares, por comportamentos comissivos ou omissivos. Prevista no art. 
21, XXIII, d da CF/88. 
 
ii. Danos Provocados por Atentados Terroristas (Lei n. 10.744/2003): Não 
é possível alegar causas de excludente de responsabilidade do Estado por 
danos provocados por atentados terroristas causados à população. A 
União SEMPRE responderá. 
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Obs: O dano para ser indenizável precisa ser jurídico, real e específico, ou seja, quando houver 
lesão a direito. Pode-se até ter uma conduta, um dano e um nexo, mas se o dano não for jurídico, 
não haverá o dever de indenizar. 
Exemplo > A alteração do local do campus de uma universidade pode gerar 
danos a um restaurante devido à queda das receitas, mas isso não gera o 
dever de indenizar. 
 
4. Excludentes de Responsabilidade do Estado: 
Caso haja causa exclusiva, o Estado não responderá em relação ao evento danoso. Por outro lado, 
na hipótese de culpa concorrente, haverá apenas uma mitigação ou redução na responsabilidade 
do Estado. 
A Doutrina e jurisprudência apontam quatro espécies de causas de excludentes que o Estado pode 
se valer para ser isento de responsabilidade: 
a. Culpa Exclusiva da Vítima: O dano não foi provocado por um comportamento 
estatal, mas por um comportamento da própria vítima. 
Exemplo > Se o cidadão dirige na contramão ou no sinal vermelho e colide 
com um veículo pertencente à Administração Pública, não haverá 
responsabilidade estatal. 
Exemplo > Caso ambos tivessem concorrido para o evento danoso, haverá 
apenas uma mitigação ou redução na responsabilidade estatal (cada um 
responderá de acordo com o seu quinhão). 
 
b. Fato de Terceiros: Um terceiro é o responsável direto e responderá pelo dano 
causado à vítima. 
Exemplo > Assalto. Entretanto, no caso concreto em que há uma falta de 
segurança em um bairro que sofre periodicamente com assaltos, pode-se 
lastrear a responsabilidade do Estado por omissão. 
Exemplo > Uma pessoa oferece um alimento contendo substância 
entorpecente e a outra aceita, vindo a dormir no ônibus. Enquanto dormia, 
o ofertante furtou a bolsa do passageiro. A vítima não faz jus, consoante o 
STJ, à indenização pela concessionária. 
 
c. Caso Fortuito: Somente pautado no fortuito EXTERNO, ou seja, circunstância 
alheia à atividade-fim do Estado. 
Exemplo > A guerra é comportamento humano e que pode gerar danos à 
população. O Estado não pode alegar guerra para excluir a sua 
responsabilidade. 
Exemplo > Greve. 
 
d. Força Maior: Origem da natureza. 
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Exemplo > O Estado, durante a pandemia da Covid-19, esteve amparado 
para restringir a liberdade das pessoas e dos estabelecimentos, a fim de 
salvaguardar a saúde da coletividade e evitar uma crise ainda maior. 
Exemplo > Tsunami. 
 
e. Concausas: São causas paralelas atribuídas ao Estado e que evitam a incidência 
das excludentes de sua responsabilidade. 
Exemplo > Durante uma chuva muito forte (200mm em 1h de chuva – 
força maior), um volume de água se acumulou em uma única rua da cidade, 
vindo a causar danos a veículos. Se naquela rua os bueiros estiverem 
entupidos, provando os moradores esse fato, por meio de fotografias ou 
notificações prévias à prefeitura acerca da situação, por exemplo, é 
possível a configuração de uma causa paralela atribuída ao Estado que 
culmina na sua responsabilidade. 
Exemplo > Poça d'água na estação do metrô e o indivíduo ia se matar, mas 
morreu antes por cair na poça. 
 
Resuminho: As concausas são causas paralelas atribuídas ao Estado e que evitam a incidência das 
excludentes de sua responsabilidade. Dessa forma, uma vez ocorrendo, mesmo que haja também 
causa das causas de excludentes, a responsabilidade do Estado será mantida, pois elas 
desqualificam as casas de excludentes de responsabilidade. 
 
5. Direito de Regresso: 
a. Pressupostos: 
O art. 37, § 6º da CF permite o ente administrativo cobrar ao agente causador do dano aquilo que 
se pagou à vítima do dano. Há de se apresentar culpa ampla + efetivo pagamento dos prejuízos 
da vítima. Precisa haver vontade de cometer o crime. 
 
Este artigo possui dois pressupostos: dolo/culpa do agente causador do dano + configuração do 
efetivo prejuízo (Estado precisa REALMENTE pagar a vítima). 
 
b. Impossibilidade de Acionar Diretamente o Causador do Dano: 
Não possui dispositivos legais, é contemplado pela doutrina e jurisprudência. Em 2006, o STF 
consolidou entendimento de que a vítima do dano não deve acionar o agente causador do dano, 
deve acionar o Estado. Dessa forma, predomina a impossibilidade de a vítima acionar 
DIRETAMENTE o causador do dano (agente público). 
 
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Resuminho: Atualmente, o entendimento predominante é de que a CF/88 estabelece dupla 
garantia: aos administrados e aos agentes públicos, que só responderão pelos seus atos, nos casos 
de dolo ou culpa e, exclusivamente, perante o Estado. 
 
c. Impossibilidade de Denunciação da Lide: 
Possui consolidação na doutrina e jurisprudência. Não é possível a vítima acionar 
DIRETAMENTE o causador do dano. Porém, aquele magistrado que a permite, estará amparado 
nos princípios da proporcionalidade, razoabilidade, celeridade e duração razoável do processo. 
 
d. Prazo de Prescrição: 
O direito de regresso inerente ao Estado é IMPRESCRITÍVEL (art. 37, parágrafo 5 da CF) 
 
 
e. Obrigatoriedade na Propositura: 
É um poder-dever da Administração. Não se pode exercer o direito ou renunciar contra 
determinado servidor em razão da afinidade, amizade ou inimizade. Princípio da 
indisponibilidade do interesse público. 
 
6. Responsabilidade do Estado por Atos Legislativos: 
O Poder Legislativo é autônomo para exercer as suas funções típicas de legislar e fiscalizar. Se 
determinada lei é declarada inconstitucional pelo controle concentrado de constitucionalidade 
(STF/TJ) e o agente público causar danos a terceiros, o Estado será responsabilizado. 
Exemplo > Lei estadual que obriga a trocar de redes telefônicas faz com 
que muitas pessoas tenham que arcar com o ônus financeiro. Depois essa 
lei foi declarada inconstitucional. A vítima pode cobrar os valores pagos. 
 
7. Responsabilidade do Estado por Atos Judiciais: 
Como regra, o Estado não se responsabiliza por atos judiciais. 
Em primeiro plano, entretanto, o Estado se responsabilizará objetivamente caso condene um 
inocente por erro judiciário ou quando o sujeito ficar preso para além do tempo fixado na sentença 
(art. 5, LXXV da CF). 
 
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Essa responsabilidade, no entanto, só alcança a esfera penal e não se aplica às prisões provisórias, 
asquais visam a salvaguardar as investigações. 
Se o juiz fraudar um processo cível, caberá à vítima buscar responsabilizar o juiz pessoalmente 
mediante a comprovação de dolo/culpa – não o Estado. 
 
8. Artigos importantes para a prova: 
(Responsabilidade do Estado por Atos Judiciais) Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem 
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País 
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos 
termos seguintes: 
LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além 
do tempo fixado na sentença. 
 
Art. 21. Compete à União: 
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio 
estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o 
comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições: 
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; 
 
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, 
do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, 
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: 
§ 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, 
servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de 
ressarcimento. 
 
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, 
do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, 
moralidade, publicidade e eficiência. 
 
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§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos 
responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o 
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Considerações Finais 
Este caderno possui partes tiradas do caderno de Thiago Coelho (@taj_studies) e do caderno de 
Alice Kimie Nakagawa (monitora dessa matéria quando cursei).

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