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Paula Peixoto O’Dwyer Faculdade Baiana de Direito 2024.1 1 Caderno da AV 1 de Administrativo III – Luciano Chaves - Responsabilidade Civil do Estado: 1. Considerações Gerais: Diz respeito a como a pessoa jurídica estatal vai se responsabilizar civilmente pelos danos que seus representantes (agentes públicos) provoquem a terceiros (administrados). A Responsabilidade Civil do Estado apresenta correspondência em um capítulo da Constituição Federal de 1988, não existindo um diploma específico sobre o tema. É um tema de ordem jurisprudencial e doutrinária, justamente por conta da carência de dispositivos legais aprofundados, e que evolui significativamente com o passar do tempo. Causa falta de segurança jurídica porque as grandes Cortes divergente em seus entendimentos, mas dá uma dinamicidade e atualização ao tema. O Estado pode provar danos aos particulares no exercício de suas atividades, ensejando na sua Responsabilização Civil (é uma Responsabilidade Civil Extracontratual, ou seja, não é ligada a uma relação obrigacional, como o contrato). A Responsabilidade Civil Contratual é aquela oriunda do descumprimento de cláusulas contratuais. A Responsabilidade Extracontratual é a responsabilidade que surge do direito, do ordenamento, das regras do direito e não de um contrato. A prescrição para pleitear a Responsabilidade Civil Extracontratual é de 3 anos. O ilícito não é pressuposto da Responsabilidade Civil. Dessa forma, a prática de ilícitos pode gerar somente danos a serem reparados, não imputando uma Responsabilização Civil do Estado. Não se cogita a não responsabilização do Estado por danos gerados a terceiros por terceiros. A Responsabilidade Extracontratual do Estado é a obrigação que tem o Estado de indenizar os danos lesivos a terceiros, causados por seus agentes públicos, em comportamentos lícitos e ilícitos, comissivos ou omissivos. Exemplo > obras públicas são lícitas, mas podem provocar danos e o estado vai responder, mesmo que não haja ilicitude. O Dano Lesivo é o dano moral e/ou patrimonial. Uma ação de um agente público pode causar nas duas esferas e o Estado, na hora de se responsabilizar, vai se responsabilizar por ambas. 2. Evolução da Responsabilidade do Estado: A Teoria do Risco é a mais aceita em nosso ordenamento jurídico. Vejamos a evolução histórica: a. Irresponsabilidade do Estado: Principalmente nos regimes absolutistas, o Estado não se responsabilizava por danos que pudesse causar a terceiros, de modo a não se falar em uma Responsabilidade Civil do Estado. A figura do Rei se confundia com a figura do Estado. O monarca possuía incontestável poder e autoridade Paula Peixoto O’Dwyer Faculdade Baiana de Direito 2024.1 2 sobre seus súditos e a sua vontade prevalecia contra tudo e contra todos. Tinha a ideia de que o rei não errava, logo, o Estado também não. b. Responsabilidade com Culpa Civil do Estado: Com a consolidação dos regimes democráticos, final do século XVIII, surge uma teoria com os ideais civilistas, lastreando-se na culpa civil, personalizada na figura do agente causador do dano. Quando o sujeito demonstrasse que o agente causador do dano agiu com vontade de causar o dano ou por negligência, imprudência ou imperícia, o Estado era responsabilizado civilmente. Ou seja, cai por terra a ideia de que o Estado nunca erra, a Responsabilização Civil se dá com a com a identificação do sujeito causador do dano + comprovação da culpa ampla (qualificação da sua conduta). Precisava de (i) comportamento, (ii) culpa, (iii) dano e (iv) nexo causal. c. Teoria da Culpa Administrativa/Culpa do Serviço: Direito Administrativo se consolida como uma ciência autônoma no século XIX. O Brasil incorpora uma teoria publicista (França). Aqui, há uma Responsabilidade Subjetiva, não sendo mais uma culpa civil, mas sim uma culpa administrativa (culpa do serviço/falha do serviço. Denominada de “Culpa Anônima” pela doutrina). A grande evolução é a desvinculação da culpa do Estado com a culpa do agente, ou seja, o Estado passa a se responsabilizar. A vítima comprovava a culpa administrativa através da: (i) Não Prestação do Serviço, (ii) Mau Funcionamento do Serviço ou (iii) Atraso no Funcionamento do Serviço. Há uma desnecessidade de se personificar o agente causador do dano (servidor público) e de demonstrar imprudência, imperícia ou negligência. Exemplo 1 > A prefeitura foi notificada cinco minutos depois do derramamento de óleo na Av. Paralela (via pública). Carros começaram a derrapar e colidir, gerando danos a particulares. Ninguém da prefeitura apareceu. Haverá a Responsabilidade Civil do Estado – não funcionamento. Exemplo 2 > A prefeitura foi notificada cinco minutos depois do derramamento de óleo na Av. Paralela (via pública). Carros começaram a derrapar e colidir, gerando danos a particulares. Meia hora depois da notificação, agentes da prefeitura estavam isolando a área. A área foi liberada ainda com óleo na pista, em quantidade suficiente para ainda gerar colisões e danos. Haverá a Responsabilidade Civil do Estado – mau funcionamento. Exemplo 3 > A prefeitura foi notificada cinco minutos depois do derramamento de óleo na Av. Paralela (via pública). Carros começaram a derrapar e colidir, gerando danos a particulares. Os primeiros agentes só começaram a chegar duas horas depois, razão pela qual danos significativos aconteceram. Haverá a Responsabilidade Civil do Estado – funcionamento atrasado. Paula Peixoto O’Dwyer Faculdade Baiana de Direito 2024.1 3 d. Teoria do Risco (Caso Agnes Blanco de 1873): É a Responsabilização Objetiva do Estado. Não se discute culpa do Estado (agente público), restando a (i) conduta, o (ii) dano e o (iii) nexo de causalidade como pressupostos da responsabilidade. Consolida-se a ideia de a atividade administrativa, por si só, gera risco. O caso Agnes Blanco foi o motivo para começarmos a responsabilizar o Estado, pois ela foi atropelada por um vagão de empresa pública na França. Este caso se tornou um Leading case. A doutrina divide esta teoria em Teoria do Risco Integral e Teoria do Risco Administrativo. i. Teoria do Risco Integral: Não admite que o Estado se exima da responsabilidade por alegar causas de exclusão da responsabilidade (fato exclusivo da vítima ou de terceiros, caso fortuito ou força maior...). Porém, é usada para danos nucleares e atentados terroristas. ii. Teoria do Risco Administrativo: Admite as excludentes de responsabilidade por parte do Estado, se coadunando com a sistemática da responsabilidade civil atual. É a mais aceita pelo ordenamento brasileiro. A Responsabilidade do Estado Brasileiro é a objetiva. e. Teoria do Estado como Garantidor dos Direitos Fundamentais: Mesmo que o Estado não provoque um dano, ele pode ser responsabilizado pela inércia no que tange às garantias e aos direitos fundamentais. Entretanto, a garantia de direito fundamentais é muito abstrata, não havendo como o Estado se responsabilizar ao não concretizar todos os direitos fundamentais dos cidadãos. 3. Responsabilidade do Estado Brasileiro: Teoria do Risco foi recepcionada pela Constituição Federal de 1946, dando início à Responsabilidade Objetiva. institui a responsabilidade objetiva, mas assegura ao Estado o direito de reaver do seu agente o que pagou, nos casos de dolo ou culpa – responsabilidade subjetiva. Este tipo de responsabilidade ainda é vigente na Constituição de 1988. Vejamos: A doutrina e jurisprudência consolidam este assunto. A menção ao dolo e à culpa só é feita no final do artigo, a fim de que o Estado possa se valer desse argumento para exercer o direito de regresso contra o causador do dano (agente público). Outrossim, as prestadoras de serviço público só se responsabilizam se houver relação de fornecedor-usuário. Paula Peixoto O’Dwyer Faculdade Baiana de Direito2024.1 4 Exemplo > Quando há interrupções abruptas do serviço de energia elétrica e se provoca danos, danificado um eletrodoméstico ou a placa de um computador. O cidadão tem o direito de cobrar da empresa privada o ressarcimento do dano. A COELBA geralmente paga sem intervenção judicial, mas exigindo o laudo que comprove o nexo de causalidade entre a queda de energia e o dano. Exemplo > Agora, se um carro oficial da Coelba bate no carro de um cidadão, aqui não se está estabelecendo uma relação entre usuário e fornecedor. Porque o sujeito dono do carro não está na condição de usuário naquele momento, então vai gerar uma reponsabilidade subjetiva e vai se discutir culpa. Se fosse o carro da PM ou uma ambulância, não haveria discussão e a responsabilidade seria objetiva. Este artigo (37, parágrafo 6, CF) disciplina duas relações jurídicas de responsabilidade: O Estado- Vítima (responsabilidade objetiva) e o Agente-Estado (responsabilidade subjetiva) – Estado só consegue responsabilizar o agente caso comprove que este agiu com dolo/culpa. A jurisprudência modificou-se com o RE 591874 do STF, em que uma concessionária que realizava transportes públicos interestaduais, seu motorista, perdeu a direção do veículo e atropelou um ciclista, pessoas em um ponto de ônibus e pedestres. Antigamente, se entendia haver duas responsabilidades, (i) em relação aos usuários – objetiva - e (ii) em relação aos não usuários - subjetiva -, porém, como os danos foram ocasionados pelo menos fato, se entendeu que ambas as responsabilidades seriam objetivas. Dessa forma, consolidou-se o entendimento que a Responsabilidade Civil das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público é objetiva em relação a terceiros usuários e não usuários do serviço (art. 37, par. 6 da CF/88). O agente público, ao causar dano ao cidadão, deverá estar no pleno exercício das suas funções para que o estado se responsabilize. Exemplo > Um policial, de folga, em um estádio de futebol, que atira contra um civil responde pessoalmente pelos danos que ele provocou, não cabendo a responsabilidade do Estado. Dessa forma, a Constituição criou duas relações de Responsabilidade, sendo (i) o Estado perante as vítimas da sociedade (responsabilidade objetiva) e (ii) do agente perante o Estado (responsabilidade subjetiva, pois o Estado vai ter que provar que o agente produziu o dano ou agiu com imprudência, imperícia ou negligência). a. Responsabilidade por Ação/Atos Comissivos: A vítima precisa comprovar o (i) comportamento estatal (comissivo ou omissivo), o (ii) dano e o (iii) nexo de causalidade. Não é necessário a demonstração de culpa do agente causador do dano. A doutrina entende que somente a conduta comissiva do Estado gera responsabilidade objetiva. A ilicitude não é pressuposta da responsabilidade civil, o Estado pode ser responsabilizado por causar danos a civis através da prática de atos lícitos também. Paula Peixoto O’Dwyer Faculdade Baiana de Direito 2024.1 5 Exemplo > Ainda que tenha obedecido a todas as regras de segurança em uma obra pública, é possível que o Estado gere danos a terceiros, como a desvalorização imobiliária. Exemplo > Você está andando na via pública e cai em sua cabeça um pedaço de concreto, Obs: No caso de o Estado ser culpado, mas ocorreu por culpa ou dolo da empresa privada, o Estado vai reaver através de uma ação regressiva com essa empresa. Obs: Sobre obra pública executada por terceiros, uma vez concluída, a responsabilidade será sempre do Estado, podendo exercer o direito de regressos nos casos que se caracterizam culpa de terceiro. Não se deve conceber ao Estado o papel de garantidor universal. Se o Estado causar o dano (ato comissivo) ele será objetivamente responsável, não sendo necessário dolo ou culpa. Exemplo > quando um policial bate em um preso, é uma ilicitude; obras públicas que causem dano a um terceiro, lícito. O elemento ilicitude é irrelevante na responsabilidade civil. b. Responsabilidade por Omissão: Quando o Estado se omitir, entende-se atualmente que a sua responsabilidade é subjetiva, lastreada na Teoria do Risco da Culpa Administrativa/Culpa Anônima (falha de serviço: funcionou mal, atrasado ou não funcionou). O Estado tem a obrigação de cumprir algo e não cumpriu. Se o dano provocado ao particular foi oriundo de um comportamento omissivo do estado, mesmo assim o Estado vai ser responsabilizado, porém subjetivamente. A vítima tem que mostrar que o serviço não funcionou, funcionou mal, ou funcionou atrasado, ou seja, provando a culpa administrativa. A omissão que gera responsabilidade do Estado é aquela omissão relevante/qualificada com dano qualificado. Exemplo > Omissão do Estado diante de assaltos sucessivos durante a noite em um mesmo bairro. Exemplo > podar árvores, tampar bueiros, falta de vacinas. Exemplo > Se o dano provocado ao particular foi oriundo de um comportamento omissivo do estado, mesmo assim o Estado vai ser responsabilizado, porém subjetivamente. A vítima tem que mostrar que o serviço não funcionou, funcionou mal, ou funcionou atrasado, ou seja, provando a culpa administrativa. Paula Peixoto O’Dwyer Faculdade Baiana de Direito 2024.1 6 Exemplo > Pneu soltou e quebrou a suspensão do carro. Isso gera a responsabilidade estatal? Não, porque até teve omissão, mas não teve culpa da administração, porque o Estado não é segurador universal. Agora, veja que se notificaram a prefeitura várias vezes para tapar o buraco, aí sim pode configurar a culpa administrativa, pois verifica-se que o poder público se omitiu mesmo, foi avisado, mas não agiu. Não se deve conceber ao Estado o papel de garantidor universal. Exemplo > As pessoas que dirigem alcoolizadas e causam danos a outros veículos, como regra, arcam com tal prejuízo. Na visão de um segurador universal, o Estado permitiu que pessoas dirijam bêbados ao se omitir na fiscalização do trânsito - não é razoável. Entretanto: Exemplo > Cidadão bêbado no volante foi parado em uma blitz, policial não apreendeu o veículo e o sujeito continuou a dirigir embriagado, se envolvendo em um acidente. Nessas circunstâncias, ao passar na blitz do Estado embriagado, há uma omissão qualificada/relevante, se tornando mais plausível se sustentar a responsabilidade do Estado. Para Guilherme Castro, a omissão pode ser genérica ou específica: i. Omissão Genérica: Gera Responsabilidade Subjetiva e a vítima deverá comprovar a culpa administrativa (falha de serviço: funcionou mal, atrasado ou não funcionou). Quando o Estado deveria agir, mas não o faz. Esta omissão precisa ser relevante e qualificada. Exemplo > acidentes ocorram reiteradamente em virtude de motoristas dirigindo alcoolizados em determinado bairro é mais fácil sustentar a responsabilidade do Estado. Exemplo > A prefeitura tem a obrigação de tapar buracos, cortar árvore e o Estado não faz, isso é omissão genérica. 1. Aqui, não estamos falando da culpa do agente causador (Teoria Civilista), mas sim da culpa administrativa (Teoria Publicista). 2. A periodicidade e a duração da omissão é um parâmetro objetivo, sendo habitual ou por um longo período. ii. Omissão Específica (admitido pela doutrina e jurisprudência): Gera Responsabilidade Objetiva. É associada a não observância de determinado dever de tutela assumido pelo Estado de agir ou não agir e o negligência. Paula Peixoto O’Dwyer Faculdade Baiana de Direito 2024.1 7 Exemplo > dever de tutela do Estado para com a integridade física dos presos, dos pacientes e dos alunos em penitenciárias, hospitais públicos e escolas públicas. Exemplo > O Estado tem que garantir educação a crianças (responsabilidade genérica), se algo acontece com uma criança dentro de uma escola (responsabilidade específica), o Estado se responsabiliza. Exemplo > Se um rival dopaciente (criminoso) entra no hospital e o mata, o Estado responde objetivamente em virtude de uma omissão específica. O hospital que deixa de fornecer o mínimo serviço de segurança, contribuindo de forma determinante e específica para homicídio praticado em suas dependências, responde objetivamente pela conduta omissiva. Exemplo > A Transalvador, ao rebocar um veículo, veio a causar danos ao veículo do proprietário, há uma omissão específica pois o Estado assume o dever de tutela. Esta omissão, seja ela genérica ou específica, precisa ser relevante. Resuminho: Conforme doutrina, a omissão genérica se configura na inação do Estado quando deixa de cumprir suas obrigações gerais, acarretando na sua responsabilidade subjetiva e a omissão específica ocorre quando há um descumprimento a um dever específico de tutela, gerando uma responsabilidade objetiva. c. Responsabilidade Objetiva: O ordenamento brasileiro adota a Teoria do Risco Administrativo. Entretanto, será lastreada na Teoria do Risco Integral estes dois casos a seguir: i. Danos Nucleares: A União responde, independente de culpa, pelos danos nucleares, por comportamentos comissivos ou omissivos. Prevista no art. 21, XXIII, d da CF/88. ii. Danos Provocados por Atentados Terroristas (Lei n. 10.744/2003): Não é possível alegar causas de excludente de responsabilidade do Estado por danos provocados por atentados terroristas causados à população. A União SEMPRE responderá. Paula Peixoto O’Dwyer Faculdade Baiana de Direito 2024.1 8 Obs: O dano para ser indenizável precisa ser jurídico, real e específico, ou seja, quando houver lesão a direito. Pode-se até ter uma conduta, um dano e um nexo, mas se o dano não for jurídico, não haverá o dever de indenizar. Exemplo > A alteração do local do campus de uma universidade pode gerar danos a um restaurante devido à queda das receitas, mas isso não gera o dever de indenizar. 4. Excludentes de Responsabilidade do Estado: Caso haja causa exclusiva, o Estado não responderá em relação ao evento danoso. Por outro lado, na hipótese de culpa concorrente, haverá apenas uma mitigação ou redução na responsabilidade do Estado. A Doutrina e jurisprudência apontam quatro espécies de causas de excludentes que o Estado pode se valer para ser isento de responsabilidade: a. Culpa Exclusiva da Vítima: O dano não foi provocado por um comportamento estatal, mas por um comportamento da própria vítima. Exemplo > Se o cidadão dirige na contramão ou no sinal vermelho e colide com um veículo pertencente à Administração Pública, não haverá responsabilidade estatal. Exemplo > Caso ambos tivessem concorrido para o evento danoso, haverá apenas uma mitigação ou redução na responsabilidade estatal (cada um responderá de acordo com o seu quinhão). b. Fato de Terceiros: Um terceiro é o responsável direto e responderá pelo dano causado à vítima. Exemplo > Assalto. Entretanto, no caso concreto em que há uma falta de segurança em um bairro que sofre periodicamente com assaltos, pode-se lastrear a responsabilidade do Estado por omissão. Exemplo > Uma pessoa oferece um alimento contendo substância entorpecente e a outra aceita, vindo a dormir no ônibus. Enquanto dormia, o ofertante furtou a bolsa do passageiro. A vítima não faz jus, consoante o STJ, à indenização pela concessionária. c. Caso Fortuito: Somente pautado no fortuito EXTERNO, ou seja, circunstância alheia à atividade-fim do Estado. Exemplo > A guerra é comportamento humano e que pode gerar danos à população. O Estado não pode alegar guerra para excluir a sua responsabilidade. Exemplo > Greve. d. Força Maior: Origem da natureza. Paula Peixoto O’Dwyer Faculdade Baiana de Direito 2024.1 9 Exemplo > O Estado, durante a pandemia da Covid-19, esteve amparado para restringir a liberdade das pessoas e dos estabelecimentos, a fim de salvaguardar a saúde da coletividade e evitar uma crise ainda maior. Exemplo > Tsunami. e. Concausas: São causas paralelas atribuídas ao Estado e que evitam a incidência das excludentes de sua responsabilidade. Exemplo > Durante uma chuva muito forte (200mm em 1h de chuva – força maior), um volume de água se acumulou em uma única rua da cidade, vindo a causar danos a veículos. Se naquela rua os bueiros estiverem entupidos, provando os moradores esse fato, por meio de fotografias ou notificações prévias à prefeitura acerca da situação, por exemplo, é possível a configuração de uma causa paralela atribuída ao Estado que culmina na sua responsabilidade. Exemplo > Poça d'água na estação do metrô e o indivíduo ia se matar, mas morreu antes por cair na poça. Resuminho: As concausas são causas paralelas atribuídas ao Estado e que evitam a incidência das excludentes de sua responsabilidade. Dessa forma, uma vez ocorrendo, mesmo que haja também causa das causas de excludentes, a responsabilidade do Estado será mantida, pois elas desqualificam as casas de excludentes de responsabilidade. 5. Direito de Regresso: a. Pressupostos: O art. 37, § 6º da CF permite o ente administrativo cobrar ao agente causador do dano aquilo que se pagou à vítima do dano. Há de se apresentar culpa ampla + efetivo pagamento dos prejuízos da vítima. Precisa haver vontade de cometer o crime. Este artigo possui dois pressupostos: dolo/culpa do agente causador do dano + configuração do efetivo prejuízo (Estado precisa REALMENTE pagar a vítima). b. Impossibilidade de Acionar Diretamente o Causador do Dano: Não possui dispositivos legais, é contemplado pela doutrina e jurisprudência. Em 2006, o STF consolidou entendimento de que a vítima do dano não deve acionar o agente causador do dano, deve acionar o Estado. Dessa forma, predomina a impossibilidade de a vítima acionar DIRETAMENTE o causador do dano (agente público). Paula Peixoto O’Dwyer Faculdade Baiana de Direito 2024.1 10 Resuminho: Atualmente, o entendimento predominante é de que a CF/88 estabelece dupla garantia: aos administrados e aos agentes públicos, que só responderão pelos seus atos, nos casos de dolo ou culpa e, exclusivamente, perante o Estado. c. Impossibilidade de Denunciação da Lide: Possui consolidação na doutrina e jurisprudência. Não é possível a vítima acionar DIRETAMENTE o causador do dano. Porém, aquele magistrado que a permite, estará amparado nos princípios da proporcionalidade, razoabilidade, celeridade e duração razoável do processo. d. Prazo de Prescrição: O direito de regresso inerente ao Estado é IMPRESCRITÍVEL (art. 37, parágrafo 5 da CF) e. Obrigatoriedade na Propositura: É um poder-dever da Administração. Não se pode exercer o direito ou renunciar contra determinado servidor em razão da afinidade, amizade ou inimizade. Princípio da indisponibilidade do interesse público. 6. Responsabilidade do Estado por Atos Legislativos: O Poder Legislativo é autônomo para exercer as suas funções típicas de legislar e fiscalizar. Se determinada lei é declarada inconstitucional pelo controle concentrado de constitucionalidade (STF/TJ) e o agente público causar danos a terceiros, o Estado será responsabilizado. Exemplo > Lei estadual que obriga a trocar de redes telefônicas faz com que muitas pessoas tenham que arcar com o ônus financeiro. Depois essa lei foi declarada inconstitucional. A vítima pode cobrar os valores pagos. 7. Responsabilidade do Estado por Atos Judiciais: Como regra, o Estado não se responsabiliza por atos judiciais. Em primeiro plano, entretanto, o Estado se responsabilizará objetivamente caso condene um inocente por erro judiciário ou quando o sujeito ficar preso para além do tempo fixado na sentença (art. 5, LXXV da CF). Paula Peixoto O’Dwyer Faculdade Baiana de Direito 2024.1 11 Essa responsabilidade, no entanto, só alcança a esfera penal e não se aplica às prisões provisórias, asquais visam a salvaguardar as investigações. Se o juiz fraudar um processo cível, caberá à vítima buscar responsabilizar o juiz pessoalmente mediante a comprovação de dolo/culpa – não o Estado. 8. Artigos importantes para a prova: (Responsabilidade do Estado por Atos Judiciais) Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença. Art. 21. Compete à União: XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições: d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: § 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento. Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Paula Peixoto O’Dwyer Faculdade Baiana de Direito 2024.1 12 § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. Paula Peixoto O’Dwyer Faculdade Baiana de Direito 2024.1 13 Considerações Finais Este caderno possui partes tiradas do caderno de Thiago Coelho (@taj_studies) e do caderno de Alice Kimie Nakagawa (monitora dessa matéria quando cursei).