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Setting Psicanalítico: Compreensão e Escuta

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<p>SETTING PSICANALÍTICO</p><p>AULA 3</p><p>Prof. Marcelo de Oliveira</p><p>2</p><p>CONVERSA INICIAL</p><p>O setting, comumente traduzido como enquadramento, é definido pela</p><p>soma de todos os procedimentos que organizam, normatizam e possibilitam o</p><p>processo psicanalítico (Zimerman, 2007). Dentre estes, destacam-se os</p><p>aspectos que organizam o local onde se realiza, ou se enquadra o setting</p><p>analítico, seja em consultório presencial ou on-line, seja em uma organização de</p><p>atenção e tratamento à saúde mental, e os procedimentos que compõem a</p><p>técnica analítica, a normatizam e possibilitam seu setting: as intervenções do</p><p>analista. Ou seja, as intervenções do analista não se realizam de qualquer modo</p><p>e/ou em qualquer lugar.</p><p>Freud (1912; 1913) afirma que a situação analítica é efetivamente</p><p>caracterizada, não simplesmente pelos seus dispositivos, mas principalmente</p><p>pela posição simbólica assumida pelo analista.</p><p>A posição simbólica é um termo para destacar as representações e</p><p>significados que a função de psicanalista pode despertar no analisante, ou</p><p>naquele que virá a ocupar este lugar de onde se dirige uma demanda para o</p><p>analista. Associada a estas representações está o modo como o analisante irá</p><p>respondê-las. Esta relação, para além de duas pessoas, é também caracterizada</p><p>pelas representações simbólicas que a determinam, estabelecendo um campo</p><p>de força a partir do qual o analista deverá considerar para realizar suas</p><p>intervenções.</p><p>Desse modo, veremos que há uma ligação inextinguível entre as técnicas</p><p>e o enquadramento que compõe o setting. Este regime instituído pelo encontro</p><p>analítico traz em seu escopo estratégias pelas quais o analista se serve para</p><p>fazer avançar a análise. Nesta abordagem, vamos estudar aspectos da técnica</p><p>psicanalítica que configuram o setting. As técnicas utilizadas nas sessões</p><p>estruturam o setting e, ao mesmo tempo, são por este estruturadas. A</p><p>formulação do setting é necessária para produzir as condições de uma análise,</p><p>contudo não deve ser uma “camisa de força” nem para o analista, nem para o</p><p>analisante.</p><p>Os aspectos técnicos que aqui serão estudados são: escutar e</p><p>compreender, fazer perguntas, pontuar, escanear e interpretar.</p><p>3</p><p>TEMA 1 – ESCUTAR E COMPREENDER</p><p>Compreender é uma função diretamente relacionada ao sentido. O</p><p>sentido é produzido e produz vínculo social. Compartilhar sentidos (significados)</p><p>é um processo presente na formação da identificação e pertencimento.</p><p>Ao escutar, o analista busca alcançar o que está para além do sentido</p><p>coletivamente atribuído. Sem desconsiderar o contexto, visa a intencionalidade</p><p>do sujeito, que nem sempre é compartilhada ou pode estar subentendida no</p><p>conteúdo manifestado pela fala. A escuta do analista está direcionada para o</p><p>que está dito nas “entrelinhas”, no que está “inter-ditado”, posto que aí se</p><p>encontra o material do recalque. Suspender, ou adiar a compreensão, é função</p><p>de um tempo necessário para que se produza, através da fala, a abertura para</p><p>o sentido inconsciente.</p><p>O modo como geralmente escutamos, deixamos passar ou rejeitamos</p><p>a alteridade do outro. Raramente escutamos o que torna única a</p><p>história contada por outra pessoa específica apenas para aquela</p><p>pessoa; rapidamente assimilamos às outras histórias que ouvimos</p><p>alguém contar com relação a elas próprias, ou que poderíamos contar</p><p>sobre nós mesmos, omitindo as diferenças entre a história contada e</p><p>aquela que nos é familiar. Apressamo-nos para encobrir as diferenças</p><p>e contamos uma história parecida, se não idêntica. Na pressa para nos</p><p>identificarmos com o outro, e termos alguma coisa em comum,</p><p>forçosamente igualamos as histórias que são normalmente</p><p>incompatíveis, reduzindo aquilo que estamos escutando ao que já</p><p>conhecemos. O que achamos mais difícil de ouvir é o totalmente novo</p><p>e diferente: pensamentos, experiências, e emoções que são muito</p><p>diferentes de nossos próprios, e até de qualquer um que tenhamos</p><p>conhecido em algum momento. (Fink, 2015)</p><p>É possível perceber, portanto, que a posição do analista em relação à</p><p>compreensão é de se manter à distância. Não compreender demasiadamente</p><p>rápido, posto que isso pode incentivar a assimilar o que o outro diz com o que já</p><p>é conhecido. A compreensão, neste sentido, está diretamente relacionada à</p><p>categoria das representações já assimiladas e acomodadas com sentidos</p><p>definidos, obliterando acolher o significante que não é familiar e que não tem</p><p>ainda uma fixação em um sentido.</p><p>Ao agir assim, é recomendável que o analista fique atento para não</p><p>impossibilitar a fala do outro, mas, ao contrário, que a incompreensão seja um</p><p>convite para falar mais… falar livremente, sem ter a necessidade de explicar e/ou</p><p>justificar, o que pode vir a acontecer na medida em que o analisante busque</p><p>tornar claro para o analista o que está dizendo.</p><p>4</p><p>Nestes casos, o analista poderá lembrar ao paciente que não deve se</p><p>preocupar em dar explicações e que fique à vontade para falar o que lhe vier à</p><p>cabeça. Em termos técnicos, é um exercício de evitar que o recalque, sob a</p><p>função do entendimento que sedimenta sentidos, venha a estabelecer uma fala</p><p>impermeável ao inconsciente.</p><p>O analista, atento a esta dinâmica, fica com as “orelhas em pé” para ouvir</p><p>na fala do analisante o que lhe é estranho ou quando o sentido tropeça. Este é</p><p>o momento, por exemplo, em que pode se apresentar uma formação do</p><p>inconsciente como o ato falho ou um chiste.</p><p>Muitas das coisas que convidamos nossos pacientes a escutar já foram</p><p>ditas por muitos de seus amigos, cônjuges, chefes, professores ou</p><p>figuras fortuitas da sua história, às vezes até mesmo por figuras</p><p>imaginárias como heróis literários. Ocorre que é difícil “encaixar” o que</p><p>a gente já sabe com “outras formas de saber” que parecem impossíveis</p><p>para quem está preso em um problema ou em um circuito de</p><p>fechamento para a experiência ou para o outro.</p><p>Por isso o psicanalista Jacques Lacan dizia que o mais importante na</p><p>escuta é não compreender cedo demais e não tentar compreender</p><p>tudo. O bom escutador é um fingidor que finge tão completamente sua</p><p>tolice que chega a fingir a ignorância que deveras experimenta.</p><p>(Dunker, 2019)</p><p>A escuta que o analista encampa, portanto, é uma estratégia para</p><p>dissolver os sentidos pré-estabelecidos (pré-conceitos) que, desse modo, podem</p><p>produzir um modo de repetição. Uma repetição que tem a ver com a manutenção</p><p>do lugar do sujeito como puro objeto do gozo (sentido) do outro e, desse modo,</p><p>repetindo “sem saber o porquê faz isso”.</p><p>Na medida em que a compreensão é um estilhaçamento da relação entre</p><p>significado e significante, torna-se possível novas relações de significação, ou</p><p>em outras palavras, possibilita a ressignificação.</p><p>TEMA 2 – FAZENDO PERGUNTAS</p><p>Dado o grau em que a repressão e a transferência podem fazer o</p><p>analisante “distorcer” as histórias, uma grande parte do trabalho do analista é</p><p>fazer perguntas (Fink, 2015). É importante destacar que são perguntas que</p><p>visam a reverberação do inconsciente, ou seja, visam produzir a emergência dos</p><p>significantes constitutivos do discurso do analisante que se apresentam em sua</p><p>5</p><p>fala como um emaranhado de sentidos e, que por vezes, surgem como algo de</p><p>menor importância, sem sentido aparente ou distorcido.</p><p>A função significante da palavra, que é a função primordial no inconsciente</p><p>e que, na leitura lacaniana, é um dos principais eixos teóricos, é derivada da</p><p>leitura freudiana acerca dos processos primários constitutivos do inconsciente.</p><p>Para Freud, os afetos, quando não estavam ligados a uma representação,</p><p>produziam o que chamou de energia livre. No inconsciente, segundo a leitura</p><p>freudiana, o processo primário, que é preponderante, assinala a dinamicidade</p><p>com que as representações se conectam, desconectam e se reconectam entre</p><p>os diversos impulsos afetivos.</p><p>Quanto às intensidades de carga de investimentos presentes</p><p>no Ics, o</p><p>quadro é bem diferente, veremos que há uma mobilidade muito maior</p><p>do que no Pcs. Utilizando-se do processo de deslocamento, uma ideia</p><p>ou representação pode passar toda a soma de sua carga de</p><p>investimento para outra ideia. Além disso, empregando o processo de</p><p>condensação, a ideia ou representação pode apropriar-se da carga de</p><p>investimento de várias outras ideias. Já sugeri em outra ocasião que</p><p>se encarasse o deslocamento e a condensação como as marcas que</p><p>caracterizam o chamado processo psíquico primário. (Freud, [1915]</p><p>2006)</p><p>Portanto, para o analista as perguntas que propõe não são um mero</p><p>processo de inquirir para preencher uma anamnese. É verdadeiramente um tipo</p><p>de intervenção que busca fazer ressoar a dinâmica inconsciente na fala do</p><p>analisante, através da associação livre.</p><p>Certamente que, considerando os tempos constitutivos do setting</p><p>analítico, nas primeiras entrevistas, nem sempre todas as perguntas são</p><p>realizadas com este intuito exclusivamente. De início, pode ser cabível fazer</p><p>perguntas que tenham como objetivo “puxar uma conversa”, “quebrar o gelo”,</p><p>estabelecer as condições necessárias para o início do tratamento.</p><p>Perguntas mais curtas e abertas tendem a estimular mais a fala do</p><p>analisante e, portanto, são mais recomendáveis. Contudo, pode ser necessário</p><p>que, diante de uma inibição ou resistência, o analista necessite estimular a fala</p><p>do analisante através de brevíssimas intervenções.</p><p>Como toda fala é potencialmente ambígua, quanto menos o analista se</p><p>expressar, mais precisa será sua pergunta. Perguntas longas podem</p><p>confundir ou fazer a paciente se perder, e quase sempre faz com que</p><p>aquilo que foi dito fique em segundo plano, se não completamente</p><p>esquecido.</p><p>6</p><p>Se a paciente diz, “tive muitas dificuldades na escola primária porque</p><p>minha família fez muitas mudanças”, e o analista quer saber que tipo</p><p>de dificuldades, seria suficiente simplesmente perguntar</p><p>“Dificuldades?” Ao invés do analista perguntar, “Pode me dar alguns</p><p>exemplos?” e receber como resposta explicações das diversas</p><p>mudanças feitas pela família, de cidade a cidade, ao invés dos</p><p>exemplos das dificuldades. Menos é sempre mais, ao fazer perguntas,</p><p>e se a paciente responder “sim, dificuldades,” o analista pode adicionar</p><p>facilmente, “que tipo de dificuldades?”. (Fink, 2015)</p><p>É importante destacar que é recomendável ao analista evitar colocar</p><p>“palavras na boca” do analisante, o que seria uma tentativa de adivinhar o que</p><p>iria ser dito. O melhor a fazer é incentivar que se continue a falar através de um</p><p>“e?” ou “como assim?” ou “como você reagiu?”</p><p>A maneira como formulamos a pergunta pode determinar, em parte, a</p><p>resposta. A principal função das perguntas é, mais até do que as respostas, em</p><p>um primeiro movimento, estimular que o próprio analisante adquira o “hábito” de</p><p>se interrogar. Perguntar é o modo mais direto de convocar a função desejante:</p><p>formular uma pergunta é um modo de “formul-ação” do desejo.</p><p>Freud inaugura a psicanálise ao interrogar o que o sintoma histérico</p><p>significa ou, o que quer dizer? Encontrou nesta modalidade sintomática uma fala</p><p>oculta, presa sob recalque. E, mais do que estabelecer respostas fixas para o</p><p>enigma que se apresentava como histeria (buscou estabelecer algumas</p><p>respostas sobre a feminilidade, porém, atualmente, percebe-se o quão são</p><p>limitadas), tomou a interrogação como fomentadora da associação livre como</p><p>direção norteadora no processo psicanalítico.</p><p>Lacan, no retorno a Freud, estabelece como eixo fundamental do grafo do</p><p>desejo a questão: Che vuoi? Questão que inaugura a dimensão desejante no ser</p><p>humano.</p><p>Em seus primórdios de vida, os bebês normais, assim como em outras</p><p>etapas, crianças severamente perturbadas, como os autistas (Laznik-</p><p>Penot, 1997), não dispõe de uma mente suficientemente estruturada,</p><p>de modo a estabelecer apelos ou demandas (via atos interrogativos)</p><p>que implicam o reconhecimento de existência externa ao eu, do outro.</p><p>Em observações sequenciais de crianças normais, temos identificado</p><p>que após os 24 meses começam a surgir perguntas explícitas, que vão</p><p>se intensificando até os indefectíveis “porquês?”, em torno dos 4 anos.</p><p>Mas, estudos psicolinguísticos sugerem que, bem antes, ainda na fase</p><p>do infans (“aquele que não dispõe da palavra”), durante o primeiro ano</p><p>de vida, algumas das vocalizações experimentais do bebê parecem já</p><p>conter uma conotação indagadora (Cabral, 1999). Estas observações</p><p>convergem no sentido de poder-se afirmar que os atos interrogativos,</p><p>se as condições do ambiente forem favoráveis, surgem precocemente</p><p>na vida e podem ser tomados como marcos referenciais do</p><p>7</p><p>desenvolvimento do eu em sua relação com o mundo (outro). (Souza</p><p>et al., 2000)</p><p>Ora, estes atos interrogativos, na perspectiva psicanalítica, já são o efeito</p><p>do significante que possibilita o efeito de sujeito. Em outras palavras, não se trata</p><p>de um simples reflexo sonoro, mas este som já está associado com uma intenção</p><p>que tem um endereçamento, sem precisar que contenha já um significado</p><p>determinado. O que se tem é a relação do infans com o Outro já mediada pelo</p><p>elemento linguístico, o significante.</p><p>Se estas condições do ambiente estiverem presentes e forem favoráveis</p><p>à constituição do sujeito, ocorrerá que este infans estará enredado no circuito</p><p>discursivo de sua família (Outro), entrando assim no jogo dialético do desejo.</p><p>Este circuito discursivo, permeado pelas linhas de força do desejo, sofrerá</p><p>mutações, variações e atravessamentos das circunstâncias históricas e sociais</p><p>a que esta criança estará submetida, mas se mantém em funcionamento ao</p><p>longo de sua vida. E, em uma análise, as perguntas devem propiciar ao sujeito</p><p>os momentos em que, ouvindo a si próprio — em outras palavras, o modo como</p><p>se coloca na relação com o Outro — reafirmará ou ressignificará novos contornos</p><p>para o circuito no qual está inserido.</p><p>2.1 Setting on-line</p><p>No setting analítico on-line são preservados os elementos que compõem</p><p>o setting presencial, com as seguintes diferenças:</p><p>• ausência do divã;</p><p>• inserção de plataforma digital como espaço da sessão.</p><p>O setting on-line introduz o manejo transferencial através da webcam. A</p><p>presença focalizada pela câmera do dispositivo eletrônico está suscetível e será</p><p>modulada pelas intercorrências da transmissão. O analista deve, a partir do</p><p>distanciamento físico, potencializar a relação pela escuta, e as interferências e</p><p>interrupções que compõem o universo da linguagem, baseada no equívoco,</p><p>serão ressaltadas uma vez que a fala será o principal elo e meio de aproximação</p><p>neste contexto virtual.</p><p>Assim sendo, o mal-entendido é um exercício de dissolução da ilusão</p><p>narcísica de compreensão. Na modalidade on-line pode haver uma “vantagem”</p><p>8</p><p>quanto à dissolução da consistência imaginária da transferência. Desde que a</p><p>linha prevalente seja o fio simbólico da linguagem e não o engessamento da</p><p>imagem, o processo psicanalítico pode, na modalidade on-line, diminuir os</p><p>efeitos narcísicos relacionados à imagem do eu, uma vez que esta imagem ficará</p><p>reduzida à tela, ou mesmo, sem esta imagem, quando realizada a sessão com</p><p>chamada apenas de áudio.</p><p>O que parece absolutamente essencial, penso, é a escuta: analista e</p><p>paciente devem ser capazes de ouvir um ao outro. É o que a paciente</p><p>diz, e como ela diz, que é de grande importância na análise. Uma vez</p><p>que seja estabelecida uma ligação por telefone que seja clara e boa</p><p>(sem barulho no fundo, ecos atrasos ou interferência de conversas) e</p><p>que analista e paciente possam ouvir um ao outro muito bem — bem o</p><p>suficiente para ouvir cada lapso, tropeço, gagueira, hesitação, suspiro</p><p>e bocejo — a análise pode prosseguir. Curiosamente, certos pacientes</p><p>me contaram que eles sentem que as sessões por telefone são mais</p><p>íntimas que as sessões presenciais, porque eles me ouvem falando</p><p>diretamente em seus ouvidos e sentem que estou mais perto pelo</p><p>telefone do</p><p>que quando estão deitados no divã a poucos metros de</p><p>mim. (Fink, 2015)</p><p>Também, pelo fato de não estar fisicamente na mesma sala que o analista</p><p>nas chamadas à distância, pode ocorrer de a fantasia do analisante emergir com</p><p>mais intensidade, seja sobre o próprio processo de análise — “Será que vai</p><p>funcionar por ser on-line?”; “Acho que não funciona tão bem quanto no</p><p>presencial…” — seja sobre a pessoa do analista, que ausente presencialmente,</p><p>pode ser exageradamente imaginada.</p><p>Entretanto, uma análise se faz tendo como suporte a fala do analisante.</p><p>Ainda que não haja consenso sobre se algo se perde ou o que se perde quando</p><p>não é no modo presencial, é possível afirmar que não é pelo simples fato de ser</p><p>on-line que uma análise não possa ocorrer.</p><p>Uma vez que sejam garantidos o sigilo e uma boa conexão, o setting on-</p><p>line tem os recursos mínimos para ser constituído, considerando, certamente, as</p><p>condições das primeiras entrevistas, estudadas anteriormente. Vale lembrar que</p><p>esta característica contemporânea do setting on-line convoca também para</p><p>refletir sobre as intervenções do analista, pois interrupções mais sutis que antes</p><p>eram comuns, tais como algumas expressões — humm, hãhã ou mesmo um</p><p>suspirar — no modo remoto, podem ocorrer de passarem despercebidas.</p><p>Na situação de atendimento de criança pelo modo on-line, há a</p><p>necessidade de o responsável estar presente com a criança. O atendimento</p><p>ocorrerá com o analista como mediador e propositor da interação entre a criança</p><p>9</p><p>e o outro. Com crianças, há uma limitação maior no atendimento on-line, pois, a</p><p>depender das condições de desenvolvimento da criança, isso pode dificultar o</p><p>estabelecimento da transferência com o analista via on-line, posto que a</p><p>interação estará limitada pela tela e, durante a infância, há uma etapa importante</p><p>de constituição simbólica do corpo.</p><p>TEMA 3 – PONTUANDO</p><p>A pontuação, uma vez feita, estabelece o significado; mudar a pontuação</p><p>pode renovar ou reorganizá-lo. Parte da tarefa do analista é propor uma</p><p>pontuação que promova o sentido que anteriormente permanecia inaudito.</p><p>Pontua-se a partir do sentido dado pelo analisante; o analista não</p><p>pressupõe que exista uma pontuação ou interpretação correta à fala do</p><p>analisante. Sua pontuação visa à desestabilização do sentido dado, buscando a</p><p>formulação de novos sentidos. O critério que orienta a pontuação do analista é</p><p>o sentido reprimido, conteúdo que está sob recalque. Pontuar é liberar o sentido</p><p>que ficou “inter-ditado” pelo esquecimento, pelo ato falho, pelo lapso.</p><p>Parte da tarefa do analista é estabelecer uma pontuação levemente</p><p>diferente, uma pontuação que dê sentido ao “texto” da fala do paciente</p><p>que antes não estaria visível. Não precisamos supor, em situação</p><p>analítica, que exista uma pontuação ou interpretações corretas da fala</p><p>do paciente, para concluir que, não obstante, algumas formas de</p><p>pontuar são mais produtivas que outras. Começamos com um texto</p><p>que tem uma pontuação pronta dada pelo paciente e procuramos</p><p>interpretar de maneira que desestabilize ou perturbe o sentido dado</p><p>por ele e é, portanto, transformador para o paciente. (Fink, 2015)</p><p>Não supor que haja um sentido correto do “texto” do paciente é não</p><p>naturalizar a sua condição psíquica. Isto é, o ser humano, na perspectiva do ser</p><p>desejante, é orientado pela ética e não pela fisiologia. Há comportamentos que</p><p>o sujeito realiza que não estão de acordo com uma boa saúde do corpo, mas</p><p>que podem lhe proporcionar alguma satisfação e “não incomodar a ninguém”.</p><p>Isto pode ser motivo suficiente para que faça e repita determinado</p><p>comportamento.</p><p>Portanto, a pontuação não está regida pela norma biológica do corpo, mas</p><p>sim pela ética que a condição desejante lhe determina. De acordo com esta, seu</p><p>desejo é originariamente advindo do Outro e como tal há uma operação sutil,</p><p>mas definitivamente importante a ser realizada: até que ponto o desejo que</p><p>realizo é para a satisfação do outro ou para a minha?</p><p>10</p><p>Esta questão, que não admite uma resposta única e fixa, serve como um</p><p>guia a respeito da pontuação. Pontuar a fala do paciente pode ter como objetivo</p><p>reposicioná-lo na sua relação com o desejo e, desde então, um</p><p>reposicionamento sobre suas conquistas e seus fracassos. Tal como em um</p><p>texto, a pontuação enquanto marca de pausas e entonações tem a propriedade</p><p>de reposicionar a ênfase e a relação entre o sujeito e a ação. Por exemplo:</p><p>• Eu não procuro…</p><p>• Eu não, procuro!</p><p>O sentido é completamente diverso nas duas frases acima. A mudança</p><p>da pontuação expressa uma posição do sujeito. Certamente, que aqui, com este</p><p>singelo exemplo gramatical, apenas é possível observar a alteração do sentido.</p><p>Mas, em uma sessão de análise, onde o sujeito não está falando apenas “da</p><p>boca pra fora”, uma pontuação altera sua percepção e, consequentemente, seu</p><p>juízo sobre o que diz.</p><p>Por este mesmo motivo, é recomendável ter o máximo de cuidado e não</p><p>“brincar” de alterar arbitrariamente o sentido da frase. Isso é altamente destrutivo</p><p>para o processo analítico. A pontuação deve ser orientada pela ética, como foi</p><p>afirmado acima e, também, considerando o contexto que o paciente está</p><p>construindo.</p><p>Outro exemplo: imaginando uma situação em que o paciente está se</p><p>queixando que é pelo motivo que seus pais sempre lhe deram tudo o que quis,</p><p>que atualmente ele não sabe dizer não quando lhe pedem algo. Dado este</p><p>contexto, é possível perceber uma espécie de isenção com a explicação dada,</p><p>estabelecendo uma relação causal forçada.</p><p>Seguindo este exemplo, a pontuação serviria para desestabilizar a</p><p>casuística estabelecida e reposicionar o sujeito em relação à sua inibição. Não</p><p>sabe, não consegue ou não quer dizer não?</p><p>TEMA 4 – ESCANSÃO</p><p>A escansão é uma forma mais enfática de pontuação, através do</p><p>encerramento da sessão. Não fixar a duração exclusivamente pelo aspecto</p><p>cronológico (45, 50 ou 55 minutos) é um modo de dar ênfase ao tempo lógico</p><p>pelo qual o inconsciente se articula.</p><p>11</p><p>A interrupção da sessão sob a forma da escansão tem o objetivo de fazer</p><p>o paciente trabalhar (consciente ou inconscientemente) entre uma sessão e</p><p>outra. O pressuposto é que uma tarefa não concluída permanece mais “ativa” no</p><p>psiquismo em comparação a uma tarefa finalizada.</p><p>Sobre o tempo (duração) da sessão, é recomendável não estar submetido</p><p>exclusivamente aos imperativos do “horário comercial”, pois o tempo (sua</p><p>percepção) é também um elemento que compõe a cena inconsciente, e como</p><p>tal, se furta aos ditames da consciência.</p><p>A questão de tempo variável na sessão foi um tema que gerou muita</p><p>divergência entre os anos 1963/1964, momento em que culminou com a</p><p>exclusão do nome de Jacques Lacan do quadro dos analistas didatas da</p><p>Associação Internacional de Psicanálise.</p><p>Em seus seminários dirigidos a psicanalistas, J. Lacan defendia a ideia,</p><p>presente em Freud, que o inconsciente não conhece a negação nem o tempo.</p><p>Como tal, determinar o fim da sessão pelo tempo do relógio é fazer do tempo da</p><p>sessão de análise uma espécie de mercadoria. Desse modo, estando o analista</p><p>sob o funcionamento das leis do mercado e não sob as leis do inconsciente.</p><p>Lacan recomenda que as sessões sejam encerradas no ponto mais</p><p>surpreendente, quando possível — isto é, quando o paciente faz uma</p><p>afirmação ou uma pergunta mais surpreendente na sessão. Não</p><p>devemos subentender que o significado daquele ponto, afirmação ou</p><p>questão precise ser manifestado, transparente ou óbvio. A afirmação</p><p>ou questão em que o analista encerra a sessão pode ser entendida de</p><p>diversas formas, e a paciente poderá pensar nela entre aquela sessão</p><p>e a próxima. (Fink, 2015)</p><p>O encerramento da sessão deve propiciar o início ou a continuidade do</p><p>processo associativo do analisante sem estar com o analista e, desse modo, sem</p><p>incorrer na tentativa de se explicar ou justificar sua fala. A intenção é a</p><p>sustentação, por parte do analisante,</p><p>da suspensão do sentido. Durante a</p><p>sessão isso também pode ocorrer, mas com a continuidade da sessão a</p><p>tendência é que o analisante busque um significado para o estabelecimento de</p><p>sentido.</p><p>É importante lembrar que a questão não é que fazer sentido seja um</p><p>problema para o processo analítico. Certamente, é necessário que algumas</p><p>coisas façam sentido em nossas vidas. Porém, o que aqui é alvo das</p><p>intervenções do analista é a satisfação neurótica advinda do gozo do sentido.</p><p>12</p><p>Isto é, um engessamento do aspecto simbólico do psiquismo. Da condição</p><p>humana que nos permite criar e reconstruir sentidos, razões, motivos e que</p><p>podem servir e ajudar por um determinado período da vida, mas por uma</p><p>infinidade de razões, em determinado momento da vida, solicitam que sejam</p><p>revistos. No gozo neurótico do sentido, esta mobilidade fica travada. É como se</p><p>o sujeito buscasse reviver o que já passou.</p><p>A escansão é mais enfática dado o aspecto real da intervenção. O</p><p>encerramento da sessão é a colocação em ato do corte da relação de sentido</p><p>estabelecida pelo acoplamento do significado ao significante.</p><p>TEMA 5 – INTERPRETANDO</p><p>A interpretação pelo analista visa inspirar ou engajar o analisante no</p><p>processo de simbolização, colocando em palavras o que ainda não foi dito. Em</p><p>outras palavras, é atingir o real através da simbolização.</p><p>A verdade em análise está relacionada com o real, com o que não foi</p><p>simbolizado. Em termos freudianos, é a operação de fazer advir no lugar do</p><p>“isso” (o que não tem nome) a nomeação: wo es war soll ich werden (onde era o</p><p>isso, o eu deve advir).</p><p>A interpretação também visa evitar a repetição, promovendo uma espécie</p><p>de modelo de leitura que busca prevenir o analisante sobre o automatismo</p><p>presente na repetição.</p><p>A interpretação deve ser avaliada pelo efeito que ela provoca, a intenção</p><p>é que ela convoque ao trabalho de análise produzindo e facilitando as</p><p>associações (psíquicas) do analisante. Não deve ser confundida como se fosse</p><p>um processo de tradução, posto que não se parte da premissa que o analista é</p><p>um tradutor, ou seja, como aquele que sabe o que o analisante tem a dizer.</p><p>O analista favorece a interpretação na medida em que interroga o que a</p><p>analisante quer dizer, estimulando assim um dizer novamente o que tentou na</p><p>primeira vez. Freud dizia que utiliza para a interpretação dos sonhos a estratégia</p><p>de pedir que o analisante conte seus sonhos com todos os detalhes que</p><p>pudesse. E, após o analisante terminar seu relato, depois de algumas outras</p><p>palavras, Freud pedia para que contasse novamente, focando toda a sua</p><p>atenção no que surgia como diferente entre uma versão e outra.</p><p>13</p><p>Freud entendia que era no lapso, no tropeço, na ausência ou</p><p>esquecimento onde se poderia encontrar com um pouco mais de certeza uma</p><p>formação do inconsciente.</p><p>A compreensão lacaniana acerca da interpretação está intimamente</p><p>relacionada à estrutura do desejo. Ou seja, a interpretação é um dos momentos</p><p>constitutivos da dialética desejante, estabelecendo a distinção entre demanda e</p><p>desejo. Para exemplificar, em uma cena do cotidiano, quando um determinado</p><p>sujeito fala sobre algo qualquer ao seu interlocutor, este pode vir a ter um</p><p>pensamento do tipo: mas porque ele disse isso para mim? E, em seguida, ser</p><p>tomado por um grande sentimento de vergonha.</p><p>Ora, uma interpretação psicanalítica entenderia que a vergonha é, neste</p><p>caso, o índice que permitiria a interpretação do desejo. Em outras palavras, a</p><p>vergonha que o sujeito sentiu é já uma interpretação, mesmo que parcial. Mas,</p><p>está aí constituindo uma sequência, ou estrutura que aponta para o desejo. O</p><p>analista, por sua vez, como incentivador para que a interpretação seja mais</p><p>precisa, deve indagar sobre a vergonha que aí surge.</p><p>NA PRÁTICA</p><p>Um jovem estudante solicita um horário para iniciar seu processo de</p><p>análise. No dia marcado chega com antecedência ao consultório, estando</p><p>ansioso para começar seu tratamento.</p><p>— O que lhe traz aqui? — pergunta o psicanalista.</p><p>— Quero iniciar minha análise, pois meu desejo é ser analista — diz o</p><p>jovem.</p><p>— Me fale sobre este seu desejo de ser analista.</p><p>— Eu sempre gostei de assuntos relacionados ao comportamento</p><p>humano. Já estudei filosofia, psicologia e agora psicanálise. E para ser um bom</p><p>analista é preciso fazer a própria análise, não é mesmo?</p><p>— Sim, isso pode ajudar. Mas não é garantia que se tornará um bom</p><p>analista. O que você quer dizer quando fala em se tornar um bom analista?</p><p>— Minha mãe sempre precisou realizar consultas médicas, até que</p><p>descobriram que ela tem depressão. Hoje ela toma remédios, já está com uma</p><p>certa idade e fica em casa o tempo todo. Mas, já fiquei muito preocupado com</p><p>ela, achando que ela não melhorava, mesmo fazendo as consultas. Ela vivia de</p><p>14</p><p>mau-humor, entristecida, sempre preocupada com as tarefas de casa, o que</p><p>tinha que fazer, o que não podia esquecer, fazia listas e mais listas para lembrar-</p><p>se de tudo. Eu ajudava a ela em casa, e às vezes me sentia entristecido e com</p><p>raiva também.</p><p>— Raiva?</p><p>— Sim, pois era uma infinidade de coisas que tinha que fazer, mas parecia</p><p>que nunca terminava. E meu pai parecia nem dar muita importância, ele dizia</p><p>que mulher era assim mesmo, sempre preocupada com as coisas da casa…</p><p>nunca concordei com isso… na minha adolescência eu brigava muito com meu</p><p>pai e insistia em dizer para minha mãe que ela tinha que cuidar mais dela, da</p><p>saúde dela.</p><p>— Estas brigas… como era isso para você?</p><p>— Geralmente começava porque eu tentava dizer para minha mãe que as</p><p>listas que ela fazia não estavam lhe ajudando. Ela ficava o tempo todo</p><p>consultando aquilo como se fosse a coisa mais importante para ela… e meu pai</p><p>dizia para eu me calar, que quem mandava lá em casa era ele pois ele era o</p><p>primeiro, o cabeça da família.</p><p>— Ele era o primeiro?</p><p>— É… ele dizia que em primeiro lugar ele que tinha que se servir, tomar</p><p>banho… essas coisas, pois ele que botava comida na mesa, pagava as contas…</p><p>totalmente machista!</p><p>— Humm… você quer ser um bom analista…</p><p>— Isso mesmo!</p><p>— Me parece importante começarmos por indagar sobre seu desejo que</p><p>move sua procura pela análise. Você me falou que quer ser um bom analista. Eu</p><p>lhe pergunto: você quer fazer análise para se tornar A na lista?</p><p>FINALIZANDO</p><p>A escuta do analista está direcionada para o que está dito nas</p><p>“entrelinhas”, no que está “inter-ditado”, posto que aí se encontra o material do</p><p>recalque. Suspender, ou adiar a compreensão, é função de um tempo necessário</p><p>para que se produza, através da fala, a abertura para o sentido inconsciente.</p><p>As perguntas que o analista propõe não constituem um mero processo de</p><p>inquirir para preencher uma anamnese. É verdadeiramente um tipo de</p><p>15</p><p>intervenção que busca fazer ressoar a dinâmica inconsciente na fala do</p><p>analisante, através da associação livre. Perguntas mais curtas e abertas tendem</p><p>a estimular mais a fala do analisante e, portanto, são mais recomendáveis.</p><p>Contudo, pode ser necessário que, diante de uma inibição ou resistência,</p><p>o analista necessite estimular a fala do analisante através de brevíssimas</p><p>intervenções.</p><p>Na modalidade on-line pode haver uma “vantagem” quanto à dissolução</p><p>da consistência imaginária da transferência. Desde que a linha prevalente seja</p><p>o fio simbólico da linguagem e não o engessamento da imagem, o processo</p><p>psicanalítico pode, na modalidade on-line, diminuir os efeitos narcísicos</p><p>relacionados à imagem do eu, uma vez que esta imagem ficará reduzida à tela,</p><p>ou mesmo, sem esta imagem, quando realizada a sessão com chamada apenas</p><p>de áudio.</p><p>A pontuação, uma vez feita, estabelece o significado. Mudar a pontuação</p><p>pode renovar ou reorganizá-lo. Parte da tarefa do analista é propor uma</p><p>pontuação que promova o sentido que anteriormente permanecia inaudito.</p><p>Pontuar a fala do paciente pode ter como objetivo reposicioná-lo na sua</p><p>relação com o desejo</p><p>e, desde então, um reposicionamento sobre suas</p><p>conquistas e seus fracassos. Tal como em um texto, a pontuação, enquanto</p><p>marca de pausas e entonações, tem a propriedade de reposicionar a ênfase e a</p><p>relação entre o sujeito e a ação.</p><p>A interrupção da sessão sob a forma da escansão tem o objetivo de fazer</p><p>o paciente trabalhar (consciente ou inconscientemente) entre uma sessão e</p><p>outra. O pressuposto é que uma tarefa não concluída permanece mais “ativa” no</p><p>psiquismo em comparação a uma tarefa finalizada.</p><p>O encerramento da sessão deve propiciar o início ou a continuidade do</p><p>processo associativo do analisante sem estar com o analista e, desse modo, sem</p><p>incorrer na tentativa de se explicar ou justificar sua fala. A intenção é a</p><p>sustentação, por parte do analisante, da suspensão do sentido.</p><p>A escansão é mais enfática dada o aspecto real da intervenção. O</p><p>encerramento da sessão é a colocação em ato do corte da relação de sentido</p><p>estabelecida pelo acoplamento do significado ao significante.</p><p>A interpretação deve ser avaliada pelo efeito que ela provoca. A intenção</p><p>é que ela convoque ao trabalho de análise, produzindo e facilitando as</p><p>16</p><p>associações (psíquicas) do analisante. Não deve ser confundida como se fosse</p><p>um processo de tradução, posto que não se parte da premissa que o analista é</p><p>um tradutor, ou seja, como aquele que sabe o que o analisante tem a dizer.</p><p>A interpretação está intimamente relacionada à estrutura do desejo. Ou</p><p>seja, a interpretação é um dos momentos constitutivos da dialética desejante,</p><p>estabelecendo a distinção entre demanda e desejo.</p><p>A interpretação pelo analista visa inspirar ou engajar o analisante no</p><p>processo de simbolização, colocando em palavras o que ainda não foi dito. Em</p><p>outras palavras, é atingir o real através da simbolização.</p><p>17</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>DUNKER, C. O palhaço e o psicanalista: como escutar os outros pode</p><p>transformar vidas. São Paulo: Planeta do Brasil, 2019.</p><p>FINK, B. Fundamentos da técnica psicanalítica: uma abordagem lacaniana</p><p>para praticantes. Karnac Books, 2015.</p><p>FREUD, S. [1913]. Sobre o início do tratamento. In: Obras Psicológicas</p><p>Completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro:</p><p>Imago, 2006. v. XII.</p><p>_____. [1915]. O inconsciente. In: Obras Psicológicas Completas de Sigmund</p><p>Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 2006. v. XII.</p><p>SOUZA, R. L. P.; SILVA, R. A; PINHEIRO, R. T. O que é uma pergunta? Diálogos</p><p>entre a psicanálise e a linguística de Austin e Searle. Linguagem & Ensino, v.</p><p>3, n. 2, p. 29-47, 2000.</p><p>ZIMERMAN, D. E. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica uma</p><p>abordagem didática. Porto Alegre: Artmed, 2007.</p>

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