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Introdução ao Estudo da Vitimologia

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Aula 6: Introdução ao Estudo da Vitimologia
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1. Conhecer os estudos da Vitimologia;
2. Analisar estudos de vitimização e pensar políticas direcionadas para redução da
vulnerabilidade de determinados grupos;
1. Discutir quais grupos no cenário nacional estão em situação de risco e vulneráveis a
vitimização.
Estudo dirigido da aula
...
Introdução ao estudo da Vitimologia.
O último tema a ser analisado nesta disciplina será a Vitimologia. Estes estudos são importantes para sua formação, pois através das pesquisas de vitimização podemos conhecer dados recolhidos sobre grupos e tipos de vítimas mais recorrentes. Isto implica dizer que as pesquisas de vitimização fornecem subsídios para a formulação de políticas e estratégias que possam ser direcionadas a redução dos riscos em determinados casos freqüentes.
Importa ressaltar que as pesquisas estatísticas e qualitativas para o mapeamento dos índices de criminalidade e violência são fundamentais para a formulação das políticas publicas de segurança.
Esteja onde você estiver nesse imenso Brasil, valorize e estimule a pesquisa e o levantamento dos dados em sua região, pois a partir deles poderemos pensar quais são as melhores estratégias de ação e conhecer melhor quem são os grupos mais atingidos pelas diferentes formas de violência.
Boa aula!
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O holocausto ocorrido durante a II Guerra Mundial chamou a atenção para o processo brutal de vitimização coletiva sofrida por judeus, ciganos, deficientes entre outros. Em 1947 Benjamim Mendelsohn, sobrevivente do Holocausto, propõe a vitimologia para compreensão dos processos de vitimização. Sua questão inicial foi: Por que algumas pessoas ou grupos tem tendências maiores de se tornarem vítimas?
Dessa forma Mendelsohn inaugurou a preocupação de prevenir processos vitimizantes, pesquisando personalidades, comportamentos, ocasião e formas de reparação.
Revendo um pouco o papel da vitima na história do Ocidente destaca-se que em algumas sociedades houve o protagonismo da vítima, ocorrendo a justiça privada. Mas a partir do Final da Idade Média, no Ocidente inicia-se uma neutralização da vítima, pois ocorre a transferência para a Igreja e para o Rei da punição. De igual modo a formação do Estado Moderno representou o afastamento da vítima do processo penal. O Estado chamou para si a administração da justiça, e a vítima passou a ter um papel subalterno.
O termo vítima do latim Victima, que significa pessoa ou animal sacrificado, talvez seja por isso que a coletividade enxerga a vítima como perdedora, sofredora e co-responsável pelos danos.
Entretanto a vítima é a aquela pessoa que sofre danos de ordem física, mental e econômica, bem como a que perde direitos fundamentais, seja em relação à violações de direitos humanos ou em razão de atos criminosos.
Benjamim Mendelsohn criou uma Tipologia da Vítima que sofreu duras criticas porém é utilizada por estudiosos e advogados de defesa, são elas:
1- Vítima completamente inocente ou vítima ideal = nada fez ou nada provocou (ex: incêndio)
2- Vítima de culpabilidade ou por ignorância = impulso involuntário (ex: aborto)
3- Vítima tão culpável como o infrator ou voluntária = consciência do ato (ex: suicídio, pacto de morte, eutanásia)
4- Vítima mais culpável que o infrator Vítima provocadora = incitou o infrator (ex: adultério explícito)
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Vítima por imprudência = acidente por falta de cuidados (ex: álcool e direção)
5- Vítima unicamente culpável Vítima infratora = comete a infração por legítima defesa (ex: assassinato do seu estuprador)
Vítima simuladora = premeditou o ato e colocou a culpa no acusado ( ex: planeja homicídio do marido com amante e simula um roubo)
As críticas à Tipologia da Vítima referem-se a forma estigmatizante que a rotulação produz, tais como:
 “Culpa é da vítima!”
 “Pediu para ser vitimizada!”
 “Alguma coisa ela fez para merecer isso!”
 “Onde há fumaça a fogo!”
Há uma subjetividade dos conceitos de provocadora, colaboradora, voluntária e a transferência da responsabilidade ou a co-responsabilidade para a vítima é geradora de discriminação. O correto seria analisar suas características para diminuir a vulnerabilidade; essa tipologia é utilizada por advogados para amenizar a punição dos réus.
Conceito de Vítima (Declaração dos Princípios Básicos de Justiça Relativos às Vítimas da Criminalidade e de Abusos de Poder da ONU).
 “Entende-se por vítima as pessoas que individual ou coletivamente, tenham sofrido danos, inclusive lesões físicas ou mentais, sofrimento emocional, perda financeira ou diminuição substancial de seus direitos fundamentais, como conseqüência de ações ou omissões que violem a legislação penal vigente nos Estados-membros, incluída a que prescreve o abuso criminal de poder”.
(...)
 “Na expressão vítima estão incluídos também, quando apropriado, os familiares ou pessoas dependentes que tenham relação imediata com a vítima e as pessoas que tenham sofrido danos ao intervir para dar assistência à vítima em perigo ou para prevenir a ação danificadora” (ONU, 1985)
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 Lembrando que há crimes sem vitimas aparentes: ambientas e econômicos por exemplo.
VITIMIZAÇÃO
A vitimização pode ocorrer devido às características das pessoas (sexo, cor, idade, local de moradia, etc). Mas também por acidentes, exclusão social, guerras. No Brasil é preciso destacar que há uma grande vitimização até/ e principalmente no seio familiar.
As vítimas sofrem não apenas fisicamente, mas também, psicologicamente e
moralmente, e somam-se ainda os estigmas impostos pelo grupo. Alem disso, no sistema de justiça criminal são meros objetos de investigação.
Contribuindo para essa estigmatização a mídia, por exemplo, em determinados casos invade a privacidade e produz uma repercussão social da violência sofrida o que reforça ainda mais a vitimização.
Nos casos de crianças ou mulheres que sofreram abusos sexuais ou estupro há ainda a revitimização, pois a cada vez que a vítima tem que contar, e recontar inúmeras vezes a violência que sofreu, ela sofre relembrando o ocorrido.
Há também uma vitimização anterior, que muitos criminosos carregam em suas vidas, como por exemplo, casos de adultos pedófilos que sofreram abusos sexuais na infância, delinqüentes que tiveram uma infância marcada pela violência e pelo abandono (exemplo: vitimização anterior dos infratores: nos lares, na trajetória de vida – veja o documentário Ônibus 174)
Finalidades da Vitimologia
 Proteção da vítima
 Reconhecimento do seu papel como sujeito de direitos
 Agregar a vítima o atributo da dignidade humana a colocá-la como partícipe da justiça criminal
 Estudo dos processos de vitimização
 Estudo das agressões aos direitos fundamentais
 Criação de políticas públicas para assistência as vítimas
 Reformulação na legislação para atender as vítimas
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Vitimização de Jovens no Brasil
Importante chamar a atenção para a vitimização de jovens no Brasil. Dados
preocupantes revelam que o grupo social que mais sofre hoje com a violência é o de jovens homens na faixa etária de 15 a 24 anos. A maior parte desse processo de vitimização está relacionado ao uso de drogas, aos acidentes de trânsito, e ao envolvimento com grupos criminosos. É preciso que políticas públicas estejam direcionadas para esse grupo que hoje possui uma taxa de mortalidade altíssima.
Como é possível verificar na tabela abaixo, segundo dados do Mapa da Violência IV (UNESCO), a taxa de mortalidade de jovens é bem maior do que a taxa de mortalidade nacional; e se compararmos a taxa nacional em 2002 com o Estado do Rio de Janeiro o número torna-se alarmante.
Vitimização de Jovens no Brasil Mapa da Violência IV (UNESCO)
1993* 2002*
Taxa de óbitos da população (todas as faixas) – Brasil 20,3 28,4
Taxa de óbitos da população juvenil (15 a 24 anos) – Brasil 34,5 54,7
Taxa de óbitos da população (todas as faixas) – Rio deJaneiro) 41,2 56,5
Taxa de óbitos da população juvenil (15 a 24 anos) – Rio de
Janeiro 73,2 118,9
(Fonte: JACOBO, 2007)
*Taxa calculada por cem mil habitantes.
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Algumasexperiências têm sido realizadas com a finalidade de promover políticas públicas direcionadas para a juventude vulnerável, vale destacar algumas.
Caso Belo Horizonte
A referência teórica que o projeto “Fica Vivo” utiliza é a Teoria da desorganização social ou Ecológica (ambiente desordenado e falta de vínculos primários de socialização e instituições formais/ Escola de Chicago). Nesse sentido a proposta é interferir nos processos de socialização das comunidades violentas = prevenção social.
Projetos de redução de vulnerabilidade
 “Fica vivo” = projeto de prevenção social redução da mortalidade de jovens em aglomerados de BH. Em áreas onde há maior concentração de crimes juvenis e homicídios foram desenvolvidos projetos de inserção através de esportes, oficinas e inserção no mercado de trabalho.
Conheça os dados do Mapa da Violência nos municípios brasileiros e identifique que políticas seriam mais eficazes para redução da vitimização juvenil.
Tema: No que consiste a Vitimologia (seu objeto e suas finalidades)? Podemos falar de vitimização de “grupos sociais” no Brasil? (Dê exemplos e analise casos de vitimização no Brasil)

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