Prévia do material em texto
<p>DESCRIÇÃO</p><p>A violência na sociedade brasileira, as políticas públicas referentes às populações menorizadas e o</p><p>combate à impunidade na perspectiva de diminuição da violência cotidiana.</p><p>PROPÓSITO</p><p>Apresentar de que modo a violência e o conflito atravessam a vida em sociedade, tema fundamental</p><p>para o pensamento crítico de qualquer profissional e cidadão.</p><p>PREPARAÇÃO</p><p>Levando-se em conta a riqueza e as múltiplas possibilidades de análise do tema, seria importante ter à</p><p>mão um bom dicionário de Teoria Política ou de Ciências Sociais. Sugerimos o Dicionário de Política, de</p><p>Norberto Bobbio, e o Dicionário de Sociologia, da UFSC/Repositório, ambos disponíveis em formato</p><p>virtual.</p><p>OBJETIVOS</p><p>MÓDULO 1</p><p>Definir como a violência se tornou uma marca constitutiva da sociedade brasileira</p><p>MÓDULO 2</p><p>Reconhecer a relação entre políticas públicas e as populações menorizadas</p><p>MÓDULO 3</p><p>Identificar a impunidade no âmbito social e a busca pela diminuição da violência cotidiana</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>A violência é um fenômeno presente em diversas sociedades e períodos históricos. Segundo a</p><p>Organização Mundial da Saúde (OMS), ela é definida como o uso de força física ou poder, em</p><p>ameaça ou na prática, contra si próprio, outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade que</p><p>resulte ou possa resultar em sofrimento, morte, dano psicológico, desenvolvimento prejudicado</p><p>ou privação (DAHLBERG e KRUG, 2007). Essa definição ampla já aponta a complexidade do tema.</p><p>Para identificar suas causas e criar políticas públicas adequadas para resolver a questão, as diferentes</p><p>formas de violência devem ser compreendidas caso a caso, de acordo com sua especificidade.</p><p>Esse fenômeno é tão presente em nossa sociedade que as autoridades de saúde pública definiram a</p><p>violência no Brasil como uma epidemia, ou seja, como uma doença que se alastra coletivamente e</p><p>cresce de forma descontrolada. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA,</p><p>2020) ocorreram 57.956 homicídios no Brasil em 2018. Embora todos os cidadãos convivam com o</p><p>medo da violência, ela toma contornos mais cruéis de acordo com critérios como a cor, a classe social e</p><p>o gênero. Mais de 90% dos assassinados no Brasil em 2018 foram homens e 75% deles eram negros.</p><p>Fonte: EnsineMe</p><p>A desigualdade racial cria situações bem distintas para brancos e negros. De 2008 a 2018, por exemplo,</p><p>as taxas de homicídios entre brancos foram reduzidas em 12% enquanto entre negros aumentou em</p><p>11%. Mas a violência não se restringe aos homicídios e os números da violência contra mulheres e</p><p>crianças são ainda mais acentuados. Foram registrados 66.041 casos de violência sexual em 2018 e</p><p>mais de 200 mil ocorrências de violência doméstica. Esses dados podem ser conferidos no Atlas da</p><p>Violência (IPEA 2020).</p><p>A seguir, investigaremos as causas que tornam o Brasil um dos países mais violentos do mundo, quais</p><p>os mecanismos para compreender esse fenômeno e como é possível combatê-lo.</p><p>MÓDULO 1</p><p> Definir como a violência se tornou uma marca constitutiva da sociedade brasileira</p><p>VIOLÊNCIA COLONIAL E GENOCÍDIO</p><p>O Brasil é frequentemente descrito como o país do Carnaval, marcado pela cordialidade de seu povo</p><p>hospitaleiro e pela riqueza de sua cultura. Por muito tempo, afirmou-se que viveríamos uma espécie de</p><p>“democracia racial”, onde negros, brancos e indígenas seriam tratados como iguais. Esse imaginário,</p><p>infelizmente, não condiz com a história real da construção do Brasil como Estado-nação.</p><p>A colonização portuguesa e o processo histórico que resultou no país como o conhecemos foram</p><p>caracterizados pela violência contra os povos indígenas que aqui habitavam, bem como pelo tráfico e a</p><p>escravização de povos africanos. Neste módulo, veremos como a violência tornou-se parte constitutiva</p><p>da identidade nacional e qual o seu papel no desenvolvimento do Estado brasileiro.</p><p>VIOLÊNCIA COMO FORMA DE DOMINAÇÃO</p><p>De acordo com Weber (2008), o Estado é aquele que detém o monopólio legítimo da violência física</p><p>dentro de um território e que constitui, em última instância, uma forma de dominação de homens sobre</p><p>outros homens. Nessa perspectiva, a relação de dominação pode se legitimar de três formas:</p><p>Poder tradicional, que remete a costumes antigos</p><p></p><p>Poder carismático de um líder que angarie alguma forma de admiração por parte dos dominados</p><p></p><p>Poder racional legal que se baseie na aceitação de um conjunto de leis de competência positiva e</p><p>racionalmente determinadas</p><p>Weber (2008) afirmava que toda dominação organizada necessita de um “Estado-maior administrativo” e</p><p>de meios materiais de gestão. A política seria a disputa entre diferentes grupos pelo poder de assumir o</p><p>Estado e assim exercer o monopólio da violência legítima.</p><p>O que é, então, um país?</p><p> ATENÇÃO</p><p>A ideia de que todos somos brasileiros, diferentes de espanhóis, argentinos, ou angolanos, é de certa</p><p>forma uma abstração. Podemos apontar o Brasil no mapa, ou justificar a unidade de nosso território pelo</p><p>fato de que falamos português. Mas as fronteiras de um território são demarcações arbitrárias, fruto de</p><p>disputas, conflitos e guerras. O português também não é a única língua falada no Brasil, uma vez que</p><p>povos de diferentes etnias indígenas se comunicam em mais de 200 línguas diferentes de acordo com o</p><p>Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010).</p><p>VIOLÊNCIA CONTRA COMUNIDADES</p><p>INDÍGENAS</p><p>Até meados do século XVIII, a língua mais falada em muitos estados brasileiros era o nheengatu, uma</p><p>mistura do dialeto tupinambá com outras línguas indígenas. Muitos elementos que atualmente</p><p>compreendemos como características da identidade nacional foram construídos através de séculos de</p><p>conflitos e violência ao longo dos quais um “Estado” brasileiro foi se consolidando.</p><p>De acordo com a Fundação Nacional do Índio (FUNAI, 2010), estima-se que, em 1500, quando os</p><p>portugueses chegaram ao litoral de Porto Seguro, na Bahia, três milhões de indígenas habitavam o</p><p>território que atualmente conhecemos como Brasil. Em 1650, esse número caiu para 650 mil e, em</p><p>1957, chegou a ser estimado em apenas 70 mil indivíduos. Tais índices estarrecedores refletem séculos</p><p>de violência brutal contra os povos originários. Aqueles habitantes chamados genericamente de “índios”</p><p>pelos colonizadores eram, na verdade, povos diversos com línguas, culturas, hábitos e costumes</p><p>variados.</p><p>Fonte: EnsineMe</p><p>Ao contrário dos portugueses e outros europeus, as culturas indígenas não consideravam a mata, os</p><p>rios, o solo e os animais como recursos que deveriam ser explorados exaustivamente. Suas culturas e</p><p>seus conhecimentos prezavam pela harmonia com a natureza, que era vista como um lar do qual eles</p><p>faziam parte. Isso não significa que os indígenas não travassem guerras e batalhas entre si, mas essas</p><p>guerras ocorriam por razões próprias de suas culturas e não eram motivadas pela exploração da terra e</p><p>pelo comércio.</p><p>EXPLORAÇÃO DA TERRA</p><p>Como forma de aprofundarmos essa visão, bastante corriqueira em toda nossa formação escolar,</p><p>vale comparar a ótica apresentada por Thomas Woods (Historiador de Harvard) em seu artigo Os</p><p>índios americanos realmente eram ambientalistas?.</p><p>Se para os indígenas a ideia de que a terra podia ser propriedade de alguém era um absurdo, os</p><p>europeus, por outro lado, rapidamente demarcaram fronteiras imaginárias e se autointitularam os</p><p>proprietários de áreas imensas. Para fazer valer o seu domínio sobre o território, os recém-chegados</p><p>utilizaram a força bruta em guerras que dizimaram populações inteiras. Essa violência capaz de dizimar</p><p>uma população é atualmente definida como genocídio.</p><p>Fonte: José Rosael/Hélio Nobre/Museu Paulista da USP/Wikimedia Commons, Domínio público.</p><p> Bandeirantes e a caça aos índios, José Rosael/Hélio Nobre/Museu Paulista da USP, 1925.</p><p>No Brasil, a Lei n. 2.889, promulgada no ano de 1956, que define e pune o crime de genocídio, afirma a</p><p>imputabilidade de:</p><p>ART. 1. QUEM, COM A INTENÇÃO DE DESTRUIR, NO TODO</p><p>OU EM PARTE, GRUPO NACIONAL, ÉTNICO, RACIAL OU</p><p>RELIGIOSO, COMO TAL: A) MATAR MEMBROS</p><p>DO GRUPO;</p><p>B) CAUSAR LESÃO GRAVE À INTEGRIDADE FÍSICA OU</p><p>MENTAL DE MEMBROS DO GRUPO; C) SUBMETER</p><p>INTENCIONALMENTE O GRUPO A CONDIÇÕES DE</p><p>EXISTÊNCIA CAPAZES DE OCASIONAR-LHE A</p><p>DESTRUIÇÃO FÍSICA TOTAL OU PARCIAL; D) ADOTAR</p><p>MEDIDAS DESTINADAS A IMPEDIR OS NASCIMENTOS NO</p><p>SEIO DO GRUPO; E) EFETUAR A TRANSFERÊNCIA</p><p>FORÇADA DE CRIANÇAS DO GRUPO PARA OUTRO GRUPO.</p><p>(LEI 2.889/1956)</p><p>Como veremos nos módulos seguintes, a existência dessa lei infelizmente não evita que a violência em</p><p>patamares semelhantes continue acontecendo.</p><p>ESCRAVISMO NEGRO</p><p>A colonização do Brasil também foi feita a partir da maior migração forçada da história. Embora a</p><p>escravidão já ocorresse na África, a demanda dos europeus por escravos gerou um aumento jamais</p><p>visto no tráfico de seres humanos.</p><p> VOCÊ SABIA</p><p>Ao longo de mais de 300 anos, cerca de 4,9 milhões de africanos foram trazidos para o Brasil, o país</p><p>que recebeu quatro em cada dez africanos escravizados no mundo. A título de comparação, os Estados</p><p>Unidos respondem por 489 mil (ROSSI, 2018), um número dez vezes menor. Aqueles que sobreviviam à</p><p>travessia eram obrigados a realizar trabalhos forçados e submetidos à tortura e outras formas de</p><p>violência. Em busca de uma vida digna, homens e mulheres africanos fugiam das plantações e se</p><p>organizavam em quilombos.</p><p>No decorrer de todo o período escravista, inúmeras batalhas foram travadas entre africanos nos</p><p>quilombos e aqueles dedicados a recapturá-los, como os bandeirantes e capatazes pagos pelos</p><p>senhores de engenho e pelos governadores das capitanias hereditárias.</p><p>O quilombo mais famoso foi Palmares, liderado por Zumbi, contra quem holandeses e depois</p><p>portugueses travaram batalhas por anos. Estima-se que, em 1670, cerca de 20 mil africanos fugidos dos</p><p>engenhos chegaram a viver em Palmares. A título de comparação (MOURA, 1981), cerca de sete mil</p><p>pessoas moravam no Rio de Janeiro naquele mesmo período.</p><p>Fonte: Antônio Parreiras – ARTExplorer/Wikimedia Commons, Domínio público.</p><p> Zumbi dos Palmares, Antônio Parreiras – ARTExplorer, sem data.</p><p>ZUMBI</p><p>Zumbi dos Palmares é, sem dúvida, uma figura emblemática e que, exatamente por isso, está sob</p><p>os holofotes de quem busca santificá-lo ou condená-lo.</p><p>Para derrotar o poderoso Quilombo dos Palmares, o governador de Pernambuco contratou os serviços</p><p>do bandeirante Domingos Jorge Velho, que reuniu um contingente de seis mil homens armados a fim de</p><p>combater os quilombolas liderados por Zumbi.</p><p>javascript:void(0)</p><p>Fonte: Shutterstock.com</p><p> Região quilombola, Leonardo Mercon, sem data.</p><p>Palmares não foi o primeiro nem o último quilombo do Brasil. Milhares de escravos fugiram dos domínios</p><p>de senhores de engenho ao longo dos séculos e ainda existem no Brasil comunidades remanescentes</p><p>de quilombos. Essas comunidades são habitadas por descendentes de africanos que fugiram da</p><p>escravidão e passaram a viver em terras livres.</p><p>PATRIARCALISMO</p><p>O período colonial foi profundamente marcado por conflitos, guerras e batalhas que por diferentes</p><p>motivos contestaram a ordem vigente e o domínio da coroa portuguesa. A repressão por parte dos</p><p>colonizadores foi fundamental para que os senhores de engenho e a coroa portuguesa mantivessem o</p><p>seu domínio ao longo dos séculos.</p><p>De acordo com a historiadora Eulália Lobo (1970), um dos mais marcantes traços da história brasileira é</p><p>o seu elemento de continuidade. Em suas pesquisas, a autora observou que certas características como</p><p>a distribuição de terras pautada no sistema latifundiário sofreram poucas alterações do período colonial</p><p>até o século XX. Esse sistema, em um contexto em que a terra representava o centro da produção de</p><p>riquezas, permitiu que o senhor rural angariasse grande poder na sociedade colonial – poder esse que</p><p>se manteve até a primeira metade do século XX. No auge de sua dominação, o senhor rural controlava</p><p>a terra, a mão de obra e as finanças, e representava o principal elemento de continuidade do</p><p>poder no Brasil (LOBO, 1970).</p><p>Fonte: Frans Post – Itamaraty Safra catalogue | Wikimedia Commons, Domínio público.</p><p> Engenho colonial, Frans Post – Itamaraty Safra catalogue, 1993.</p><p>O TERMO PATER FAMILIS, ORIUNDO DA ESTRUTURA SOCIAL DA</p><p>ROMA CLÁSSICA (IDADE ANTIGA), PODE TAMBÉM NOS AJUDAR A</p><p>ENTENDER O SENHOR RURAL, QUE, DE ACORDO COM FREYRE</p><p>(2002), EXERCIA O PODER DESPÓTICO SOBRE MULHER, FILHA,</p><p>ESCRAVOS E CLIENTELA NO COMPLEXO CASA GRANDE-SENZALA.</p><p>Os senhores de engenho tinham grande influência política do Período Colonial ao Império. Essa forma</p><p>de dominação tradicional exercida sobre uma comunidade e determinada pelo pertencimento a uma</p><p>família – o patriarcalismo – contribuiu para o desenvolvimento do clã familiar como um núcleo de</p><p>extrema importância para a compreensão da vida política brasileira.</p><p>A violência contra as mulheres era fundamental para o domínio patriarcal do senhor de engenho. Além</p><p>de ter total autoridade sobre suas esposas, geralmente mulheres brancas de origem europeia, os</p><p>senhores de engenho violentavam mulheres negras e indígenas escravizadas.</p><p> SAIBA MAIS</p><p>Segundo Carneiro (2018), pode-se inferir que o estupro colonial perpetrado pelos senhores brancos</p><p>portugueses sobre negras e indígenas origina todas as construções de identidades brasileiras e as</p><p>hierarquias de gênero e raça existentes em nossa sociedade. É a partir das relações do “estupro</p><p>colonial” cometido por senhores brancos contra mulheres escravizadas negras e indígenas que se</p><p>constrói a nossa massa de população mestiça.</p><p>Esse tipo de violência sexual era tão disseminado que deixou marcas profundas na população brasileira</p><p>que podem ser sentidas até os dias atuais. Pesquisadores do Instituto de Biociências da Universidade</p><p>de São Paulo (USP) sequenciaram em 2019 o genoma de brasileiros e brasileiras em diferentes regiões</p><p>do país (ESCOBAR, 2020). A descoberta feita por eles é que 70% das mães que deram origem à nossa</p><p>população têm ascendência africana ou indígena, mas 75% dos pais foram europeus.</p><p>Outra percepção sobre o período pode nos chegar também pela Arte. As contradições internas dos</p><p>escravismos e das complexas relações sociais – e mesmo pessoais – que eram geradas é bem explícita</p><p>na letra da música Morro Velho, de Milton Nascimento:</p><p>Filho do branco e do preto, correndo pela estrada atrás de passarinho</p><p>Pela plantação adentro, crescendo os dois meninos, sempre pequeninos (...)</p><p>Filho do senhor vai embora, tempo de estudos na cidade grande</p><p>Parte, tem os olhos tristes, deixando o companheiro na estação distante (...)</p><p>Quando volta já é outro, trouxe até sinhá mocinha prá apresentar</p><p>Linda como a luz da lua que em lugar nenhum rebrilha como lá</p><p>Já tem nome de doutor, e agora na fazenda é quem vai mandar</p><p>E seu velho camarada, já não brinca, mas trabalha.</p><p>(NASCIMENTO, 1967)</p><p> RESUMINDO</p><p>O desenvolvimento da sociedade brasileira não ocorreu a partir da ideia de que os cidadãos deveriam</p><p>ser tratados da mesma forma. Da colonização, a partir do século XVI até meados do século XX, eram os</p><p>senhores de engenho e grandes proprietários rurais que detinham toda a riqueza e poder.</p><p>De acordo com Hollanda (2002), a formação da sociedade brasileira se deu a partir do patrimonialismo,</p><p>uma forma de dominação concentrada nas opiniões e valores do senhor de engenho e não com base</p><p>em critérios de igualdade entre toda a população. A união entre uma burocracia em expansão e a cultura</p><p>patrimonialista gera um Estado ineficiente em diversos sentidos. Aqueles que detinham o poder</p><p>econômico podiam usar o Estado para seus próprios interesses e não para o bem comum, ou seja, o</p><p>interesse privado ganha espaço em detrimento do público, gerando práticas corruptas e clientelistas.</p><p>HEGEMONIA</p><p>O processo histórico que formou o Brasil como o conhecemos é profundamente marcado pela</p><p>dominação de alguns grupos políticos sobre outros menos favorecidos. Essa correlação de forças é o</p><p>pilar dos fenômenos políticos (GRAMSCI, 1984). Na argumentação desse ponto de vista, para analisar</p><p>as forças que atuam na história de um período, é preciso compreender</p><p>a relação entre estrutura e</p><p>superestrutura e procurar as relações de forças sociais intrínsecas à estrutura.</p><p>Aqui se está baseando em um aparato dialético:</p><p>A sociedade civil, cuja dominação seria fundamentada na hegemonia. Nesta categoria, inserem-se as</p><p>instituições capazes de difundir os valores da classe dirigente por toda a sociedade: a Igreja, a mídia</p><p>corporativa, a escola etc.</p><p></p><p>A sociedade política, baseada na dominação coercitiva. Esta categoria seria composta pelo aparelho</p><p>jurídico-coercitivo responsável por manter, pela força, a ordem estabelecida.</p><p>NOS MOMENTOS DE CRISE ORGÂNICA, A CLASSE</p><p>DIRIGENTE PERDE O CONTROLE DA SOCIEDADE CIVIL E</p><p>APOIA-SE NA SOCIEDADE POLÍTICA PARA MANTER SUA</p><p>DOMINAÇÃO.</p><p>(CYMROT, 2013)</p><p>Deve-se também avaliar o grau de homogeneidade e de consciência de classe atingidos pelos vários</p><p>grupos sociais e compreender a relação das forças militares, que podem ter um grau técnico-militar, ou</p><p>político-militar.</p><p>Os conflitos entre grupos que disputam o aparato do Estado muitas vezes se manifestaram de forma</p><p>violenta ao longo da história. Quando ouvimos falar de violência, a primeira coisa que pensamos é nos</p><p>assaltos à mão armada e nos altos índices de homicídio que caracterizam o Brasil contemporâneo.</p><p>Muitas vezes escutamos de nossos pais e avós que, no tempo deles, “não era assim”. Embora seja</p><p>verdade que há algumas décadas a violência armada não era tão presente no cotidiano, a violência e o</p><p>conflito sempre fizeram parte da própria constituição da sociedade brasileira.</p><p>Fonte: Shutterstock.com</p><p> Assalto à mão armada, Apiwan Borrikonratchata, sem data.</p><p>O processo histórico que levou à construção do Brasil como o conhecemos foi marcado por séculos de</p><p>violência colonial, de modo que esse fenômeno sempre esteve presente em nosso país. Como veremos</p><p>nos próximos módulos, as sequelas deixadas por séculos de escravidão e pelo patriarcalismo</p><p>atravessam de várias formas a violência que vivemos atualmente.</p><p> ATENÇÃO</p><p>A repressão e a violência não são a única forma de construir um país democrático. Ao refletirmos sobre</p><p>as formas de organização e ação coletiva da sociedade civil, podemos entender que tanto a busca por</p><p>cooperação entre indivíduos a fim de atingirem um resultado ótimo a todos quanto a deserção em</p><p>situações em que haveria a possibilidade de associação constituem soluções racionais que trazem</p><p>potencial estabilidade aos grupos sociais que as adotam (PUTMAN, 1999).</p><p>A solução óbvia encontrada em um contexto no qual os indivíduos não conseguem associar-se entre si</p><p>nem contar com o cumprimento de acordos por parte dos outros é recorrer a um poder coercitivo,</p><p>baseado na repressão, que garanta certa estabilidade à sociedade.</p><p>Segundo Putman (1999), a partir do conceito de capital social – cujo pilar principal é a confiança –, os</p><p>indivíduos se associam com o cumprimento de acordos por parte uns dos outros, por meio de normas,</p><p>regras e sistemas. Essa situação aumenta a eficiência da sociedade, pois nesse caso busca-se um</p><p>resultado ótimo a todos sem recorrer à repressão. A verdadeira democracia, para Robert Putman (1999),</p><p>seria um sistema baseado na confiança mútua e na cooperação, aumentando a eficiência da sociedade</p><p>e ao mesmo tempo fazendo com que o Estado não se baseie apenas na coerção e na violência.</p><p>javascript:void(0)</p><p>A construção de uma sociedade mais justa e menos violenta depende de que todos os cidadãos se</p><p>comprometam com o reconhecimento dos conflitos sociais e busquem formas de reparar coletivamente</p><p>as bases da violência.</p><p>CONCEITO DE CAPITAL SOCIAL</p><p>Capital social diz respeito a características da organização social, como confiança, normas e</p><p>sistemas, que contribuam para aumentar a eficiência da sociedade (PUTMAN, 1999).</p><p>No vídeo a seguir, o especialista Dennis Novaes comenta sobre fatores históricos, como o escravismo e</p><p>patriarcalismo, que contribuíram para uma sociedade marcadamente violenta. Vamos assistir!</p><p>VERIFICANDO O APRENDIZADO</p><p>1. SOBRE A VIOLÊNCIA NO BRASIL, PODEMOS AFIRMAR QUE:</p><p>A) É um fenômeno recente que teve início nas grandes cidades a partir da segunda metade do século</p><p>XX.</p><p>B) Trata-se de uma violência limitada às periferias urbanas, onde facções criminosas comandam o</p><p>tráfico de drogas.</p><p>C) A violência fez parte da própria constituição do Estado-nação brasileiro de uma forma que moldou o</p><p>país como atualmente o conhecemos.</p><p>D) Os povos indígenas exterminaram grandes massas de colonizadores, por isso a maior parte da</p><p>população brasileira atual tem origem indígena.</p><p>E) Os africanos escravizados exterminaram indígenas e portugueses, por isso a maior parte da</p><p>população brasileira atual tem origem negra.</p><p>2. DE ACORDO COM AS REFLEXÕES DO CIENTISTA POLÍTICO ROBERT</p><p>PUTMAN (1999), A DEMOCRACIA IDEAL DEVE SER UM REGIME:</p><p>A) No qual alguns grupos políticos disputam o controle do aparelho estatal e a dominação hegemônica.</p><p>B) Baseado na confiança e na cooperação entre os cidadãos, de modo que o Estado não recorra à</p><p>repressão e à coerção.</p><p>C) No qual poucos homens de bem tenham controle sobre o aparelho burocrático do Estado.</p><p>D) Baseado no controle da classe operária sobre os meios de produção das mercadorias.</p><p>E) Em que todos tenham direitos iguais, contanto que sigam as mesmas crenças religiosas, tenham as</p><p>mesmas orientações sexuais e ideologias políticas.</p><p>GABARITO</p><p>1. Sobre a violência no Brasil, podemos afirmar que:</p><p>A alternativa "C " está correta.</p><p>A constituição da sociedade brasileira foi moldada por séculos de violência colonial, o que definiu as</p><p>características linguísticas e socioculturais do Brasil contemporâneo.</p><p>2. De acordo com as reflexões do cientista político Robert Putman (1999), a democracia ideal</p><p>deve ser um regime:</p><p>A alternativa "B " está correta.</p><p>O cientista político Robert Putman (1999) defende que tanto a busca por cooperação entre indivíduos a</p><p>fim de atingirem um resultado ótimo a todos quanto a deserção em situações em que haveria a</p><p>possibilidade de associação constituem soluções racionais que trazem potencial estabilidade aos grupos</p><p>sociais que as adotam.</p><p>MÓDULO 2</p><p> Reconhecer a relação entre políticas públicas e as populações menorizadas</p><p>MINORIAS POLÍTICAS E PROCESSOS DE</p><p>ESTEREOTIPIA</p><p>Em 1960, a escritora Carolina Maria de Jesus lançava a sua obra mais famosa. O livro Quarto de</p><p>Despejo: diário de uma favelada reunia trechos do diário escrito pela autora sobre a dura condição de</p><p>uma mulher negra e moradora da favela do Canindé, em São Paulo. Em uma das passagens mais</p><p>marcantes de seu livro, ela afirmou:</p><p>O BRASIL PRECISA SER DIRIGIDO POR UMA PESSOA QUE</p><p>JÁ PASSOU FOME. A FOME TAMBÉM É PROFESSORA.</p><p>QUEM PASSA FOME APRENDE A PENSAR NO PRÓXIMO E</p><p>NAS CRIANÇAS.</p><p>(JESUS, 1963)</p><p>Pobre, negra e escritora, Carolina Maria de Jesus era uma exceção, tendo em vista que a maioria dos</p><p>moradores de favelas e periferias daquela época eram analfabetos.</p><p>MINORIAS POLÍTICAS</p><p>No ano de 1960, foi publicada uma grande pesquisa sobre as favelas do Rio de Janeiro que nos ajuda a</p><p>compreender a dimensão do problema. O relatório da Sociedade de Análises Gráficas e Mecanográficas</p><p>Aplicadas aos Complexos Sociais (SAGMACS) foi a iniciativa mais robusta, até aquele momento, de</p><p>análise da conjuntura em que viviam os moradores de favelas.</p><p>O levantamento (SAGMACS apud MELLO et al, 2012), cuja direção técnica ficou sob a responsabilidade</p><p>de José Arthur Rios, foi realizado em 58 favelas e apontava um cenário que ainda nos soa familiar:</p><p>praticamente 80% da população era composta de pretos e pardos e quase metade era analfabeta. Os</p><p>estudos sobre o acesso à educação apresentados no relatório deixavam claro que esse cenário não</p><p>estava perto de ser transformado.</p><p>O Brasil ainda estava longe de ser governado por alguém que passou fome, como queria Carolina de</p><p>Jesus. Naquela época, analfabetos ainda eram proibidos de votar e, portanto, uma enorme parcela da</p><p>população não podia escolher os seus representantes. O direito ao voto foi por muito tempo restrito em</p><p>nosso país. As mulheres, por exemplo, só</p><p>votaram pela primeira vez em 1934. Mas ainda assim não</p><p>eram todas as mulheres, apenas aquelas com certo grau de instrução e condições financeiras.</p><p>Foi só a partir da constituição de 1988, também conhecida como a “Constituição Cidadã”, que o direito</p><p>universal ao voto foi consolidado no Brasil. Mesmo que isso represente um avanço para a nossa</p><p>democracia, aprofundando os direitos da população, trata-se de pouco mais de trinta anos de voto</p><p>universal comparados a séculos em que os direitos políticos eram reservados para um restrito grupo de</p><p>homens brancos e ricos.</p><p>Fonte: Shutterstock.com</p><p>ESSA CONJUNTURA NA QUAL ALGUNS GRUPOS TÊM MAIS</p><p>DIREITOS EM RELAÇÃO A OUTROS É O QUE GERA AS MINORIAS</p><p>POLÍTICAS, TAMBÉM CHAMADAS DE MINORIAS SOCIAIS. A NOÇÃO</p><p>SOCIOLÓGICA DE MINORIA NÃO É A MESMA DA MATEMÁTICA. UM</p><p>GRUPO NUMERICAMENTE MAIOR PODE SER SISTEMATICAMENTE</p><p>EXCLUÍDO DOS PRINCIPAIS ESPAÇOS DE PODER NA SOCIEDADE.</p><p>Embora cerca de 54% da população brasileira seja composta por negros, eles ocupam apenas 20% das</p><p>cadeiras no Congresso Nacional (GONÇALVES, 2018). Algo semelhante ocorre com as mulheres, que</p><p>compõem 51% da nossa população, mas ocupam apenas 15% das vagas na Câmara dos Deputados</p><p>(HAJE; BECKER, 2018).</p><p>Fonte: EnsineMe</p><p> VOCÊ SABIA</p><p>O Brasil é um dos países mais atrasados do mundo em relação à participação das mulheres na política,</p><p>ocupando a 154ª posição no ranking de participação elaborado pela ONU, que compara 174 países.</p><p>Esses exemplos demonstram que uma minoria política não é necessariamente a que está em</p><p>desvantagem numérica na população, mas aquela que está distante das principais instâncias</p><p>coletivas de poder e decisão. Antes, trata-se de grupos que são sistematicamente marginalizados em</p><p>função de aspectos econômicos, sociais, culturais, físicos ou religiosos.</p><p>AS MINORIAS SOCIAIS SÃO AS COLETIVIDADES QUE</p><p>SOFREM PROCESSOS DE ESTIGMATIZAÇÃO E</p><p>DISCRIMINAÇÃO, RESULTANDO EM DIVERSAS FORMAS DE</p><p>DESIGUALDADE OU EXCLUSÃO SOCIAIS. SÃO EXEMPLOS</p><p>DE MINORIAS SOCIAIS, ATUALMENTE, NEGROS,</p><p>INDÍGENAS, IMIGRANTES, MULHERES, HOMOSSEXUAIS,</p><p>IDOSOS, MORADORES DE FAVELAS, PORTADORES DE</p><p>DEFICIÊNCIAS E MORADORES DE RUA.</p><p>(NOVO, 2019)</p><p>A desigualdade manifesta-se para além dos quadros políticos, como o Congresso Nacional, as</p><p>prefeituras, as assembleias ou os governos estaduais, em todos os âmbitos da sociedade.</p><p>PROCESSOS DE ESTEREOTIPIA</p><p>Essa imagem trata de uma propaganda de calças masculinas veiculada nos Estados Unidos nos anos</p><p>1960. Na peça publicitária, uma mulher é feita de tapete por um homem que pisa sobre sua cabeça e na</p><p>legenda se lê: “É bom ter uma mulher na casa”.</p><p>A imagem em questão reforça uma série de estereótipos sobre as relações entre homens e mulheres em</p><p>que os primeiros são retratados como superiores e as segundas como submissas. Esse imaginário é</p><p>ainda difundido por diversos setores da sociedade, e sua perpetuação faz com que a desigualdade entre</p><p>homens e mulheres seja tida como algo natural na sociedade. Chamamos isso de “naturalização”,</p><p>que é a inculcação de valores culturais dos quais perdemos o distanciamento crítico em função</p><p>da sua recorrência.</p><p>Fonte: propagandashistoricas.com.br</p><p> Calças Dracon (machista) – Anos 1960.</p><p>O mesmo se pode dizer de estereótipos de cunho racista, homofóbico, xenófobo etc., que são</p><p>perpetuados por propagandas, novelas, programas televisivos, ou na mídia em geral. Há aí um reforço</p><p>sistemático de certas imagens estereotipadas que representam os grupos minoritários e que</p><p>retroalimentam a cultura da exclusão e estigmatização desses mesmos grupos.</p><p>O processo de estereotipia de populações memorizadas passa, então:</p><p>Pela ausência dessas figuras em espaços de poder, como os ambientes decisórios da política</p><p>institucional</p><p></p><p>Pelas representações midiáticas, que fazem circular certas imagens em detrimento de outras</p><p>A recorrente exibição de certos aspectos visuais, como imagens estereotipadas de mulheres, negros,</p><p>homossexuais, indígenas etc., significa também a invisibilidade de outros aspectos que poderiam</p><p>contribuir com a desconstrução dos estereótipos. Mas por que as grandes emissoras de televisão, as</p><p>revistas que mais vendem seus conteúdos e as empresas publicitárias arriscariam investir em imagens</p><p>cuja boa repercussão/circulação/aceitação não seria garantida, uma vez que esteja instituída uma</p><p>cultura de exclusão dessas minorias e repetição de estereótipos relacionados a essa lógica? Voltaremos</p><p>a essa questão mais adiante. Por hora, o que importa é reconhecer as dinâmicas de desigualdade</p><p>estabelecidas.</p><p>O PROCESSO DE ESTEREOTIPIA DE POPULAÇÕES MENORIZADAS</p><p>TAMBÉM PASSA PELA AUSÊNCIA DAS MINORIAS SOCIAIS NOS</p><p>ESPAÇOS DE PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO, COMO AS</p><p>UNIVERSIDADES, POR EXEMPLO, O QUE IMPEDE QUE OS</p><p>INTERESSES DESSES GRUPOS SE MANIFESTEM NAQUILO QUE É</p><p>DADO COMO VERDADES CIENTÍFICAS, ARTÍSTICAS E TÉCNICAS.</p><p>Voltemos à pergunta sobre por que a grande mídia investiria em imagens que vão contra os estereótipos</p><p>estabelecidos. Uma leitura atenta e crítica desse texto coloca a dúvida sobre se o que a mídia tem feito</p><p>atualmente é, de fato, a reprodução dos estereótipos tão alardeada pelos movimentos sociais. E</p><p>podemos pensar, nesse caso, nas campanhas publicitárias da Natura, por exemplo, grande empresa de</p><p>cosméticos brasileira.</p><p> EXEMPLO</p><p>Uma busca rápida sobre o assunto na internet nos mostra as polêmicas dos últimos anos envolvendo as</p><p>campanhas publicitárias da Natura, grande empresa de cosméticos brasileira, como as campanhas de</p><p>Dia dos Namorados, que mostram casais gays presenteando-se com cosméticos da marca, além de</p><p>casais inter-raciais, pessoas negras, velhas ou gordas.</p><p>A marca tem assumido como estratégia de divulgação de seus produtos a quebra de estereótipos</p><p>relacionados a padrões de beleza como a campanha “sou mais que um rótulo”, que exibe mulheres</p><p>descolando de suas peles adesivos onde se pode ler “brava”, “histérica”, “mal resolvida”, “irritada” e</p><p>“chorona”, como metáfora para os estereótipos sociais normalmente usados para definir mulheres. A</p><p>modelo protagonista da campanha é uma mulher negra de cabelos crespos e volumosos, e a fotografia</p><p>de divulgação a mostra entre outras mulheres; com diversos biótipos, inclusive uma modelo de perna</p><p>amputada usando prótese mecânica.</p><p>Como a Natura, diversas outras marcas têm feito o mesmo, uma vez que o problema das minorias</p><p>políticas, pelas reivindicações dos movimentos sociais ao longo dos anos, vem ganhando notoriedade e,</p><p>portanto, contornos de um nicho de mercado inexplorado pelos mais diversos setores da economia.</p><p>Utilizar imagens de propaganda na contramão dos estereótipos passa a ser viável, em termos do risco</p><p>que isso implica para as empresas.</p><p>Enquanto os ciclos culturais de manutenção de desigualdades se sustentarem, a opressão de certos</p><p>grupos por outros, organizados em relações de poder estabelecidas na sociedade, tendem a se manter.</p><p>E com a opressão, a violência, em sua dimensão simbólica.</p><p>VIOLÊNCIA SIMBÓLICA E POLÍTICAS PÚBLICAS</p><p>Essa forma de dominação inculcada no imaginário social é definida por Bourdieu (2018) como “violência</p><p>simbólica”. Em suas palavras:</p><p>O QUE DENOMINO DE VIOLÊNCIA SIMBÓLICA OU</p><p>DOMINAÇÃO SIMBÓLICA, OU SEJA, FORMAS DE COERÇÃO</p><p>QUE SE BASEIAM EM ACORDOS NÃO CONSCIENTES</p><p>ENTRE AS ESTRUTURAS OBJETIVAS E AS ESTRUTURAS</p><p>MENTAIS.</p><p>(BOURDIEU, 2018)</p><p>Trata-se de uma forma de violência que pode ser reproduzida por todos os indivíduos, reforçando a</p><p>dominação de alguns grupos sobre os outros. A violência simbólica permeia as mentes dos</p><p>indivíduos que violentam ou são violentados, fazendo com que fenômenos como o racismo, o</p><p>machismo, a homofobia, entre outros, sejam reproduzidos cotidianamente.</p><p>Fonte: Shutterstock.com</p><p>Um bom exemplo seria o caso do homem que retém, escondidos, os documentos da própria</p><p>mulher/esposa com objetivo de impedir seu afastamento (ou mesmo fuga) da realidade imposta por ele.</p><p>Embora legalmente reconhecida como violência patrimonial, não deixa de ser uma violência simbólica</p><p>a partir do momento que um indivíduo</p><p>(homem) se considera no direito de tomar decisões sobre outro</p><p>indivíduo (mulher) por entendê-lo inferior ou submisso.</p><p>Fonte: Shutterstock.com</p><p>Também podemos pensar nas interações das crianças na escola. Em como os indivíduos, em uma idade</p><p>em que estão descobrindo a si mesmos e aos outros, e ainda não têm condições socioemocionais para</p><p>a elaboração de críticas autônomas aos sistemas de dominação e relações de poder em que estão</p><p>inseridos, tanto reproduzem quanto se fragilizam diante desses jogos relacionais. Repetem os</p><p>preconceitos dos familiares, das gerações anteriores, que são os porta-vozes do que consideram “o</p><p>certo” e podem se mostrar tanto violentos quanto vulneráveis aos esquemas de opressão raciais, de</p><p>classe e aos estereótipos de maneira geral.</p><p> ATENÇÃO</p><p>A escola seria um dos principais espaços onde a violência simbólica é exercida. Ao valorizar tipos</p><p>específicos de conhecimento em detrimento de outros, a instituição escolar muitas vezes contribui para</p><p>que minorias políticas sejam inferiorizadas simbolicamente.</p><p>Um exemplo é o fato de que, embora o Brasil seja o país com a maior população de origem africana do</p><p>mundo, até pouco tempo a história da África e de seus povos não era ensinada nas escolas. Isso mudou</p><p>com a Lei n. 10.639/2003, que entre outras coisas determinou o ensino obrigatório da história da África.</p><p>É muito recente que negros passaram a ter maior conhecimento sobre suas origens e as culturas</p><p>ancestrais dos povos africanos. Os efeitos desse tipo de apagamento são muito profundos e contribuem</p><p>enormemente para a manutenção dos preconceitos contra minorias políticas.</p><p>De volta à escritora Carolina Maria de Jesus, podemos citar outro trecho de sua obra em que ela reflete</p><p>sobre a invisibilização das mulheres, outro grupo que tem sua história apagada na sociedade brasileira.</p><p>Em uma passagem de Quarto de Despejo, a autora relata:</p><p>QUANDO EU ERA MENINA, O MEU SONHO ERA SER</p><p>HOMEM PARA DEFENDER O BRASIL, PORQUE EU LIA A</p><p>HISTÓRIA DO BRASIL E FICAVA SABENDO QUE EXISTIA</p><p>GUERRA, SÓ LIA OS NOMES MASCULINOS COMO</p><p>DEFENSORES DA PÁTRIA ENTÃO EU DIZIA PARA MINHA</p><p>MÃE: – POR QUE A SENHORA NÃO FAZ EU VIRAR HOMEM?</p><p>(JESUS, 1963)</p><p>A reflexão de Carolina Maria de Jesus demonstra de que forma a violência simbólica – nesse caso o</p><p>apagamento da contribuição das mulheres na história do Brasil – é inculcada no imaginário dos</p><p>indivíduos. Para combater essas formas de violência simbólica, que impedem que a sociedade se</p><p>desenvolva de forma mais justa e igualitária, é preciso criar políticas públicas, a exemplo da Lei n.</p><p>10.639/2003.</p><p>UMA SOCIEDADE REALMENTE DEMOCRÁTICA É AQUELA ONDE OS</p><p>INDIVÍDUOS NÃO SÃO DISCRIMINADOS POR ORIGEM, COR, RAÇA,</p><p>GÊNERO, CLASSE SOCIAL OU RELIGIÃO. PARA ISSO, É PRECISO</p><p>QUE AS INSTITUIÇÕES ESTATAIS GARANTAM QUE AS DIFERENÇAS</p><p>E AS INDIVIDUALIDADES DAS PESSOAS SEJAM RESPEITADAS,</p><p>DESDE QUE NÃO FIRAM OS DIREITOS UMAS DAS OUTRAS.</p><p>DE QUE FORMAS O ESTADO DEVERIA ATUAR, NA</p><p>PRÁTICA, NO ESTABELECIMENTO DESSAS</p><p>GARANTIAS?</p><p>RESPOSTA</p><p>O Estado Nacional Moderno já assumiu diversas formas ao longo do tempo. No Brasil, a forma atual do</p><p>Estado é reconhecida como sendo a de um Estado Democrático de Direito, o que significa que o seu</p><p>funcionamento acontece a partir de uma tripartição do poder do Estado: Executivo, Legislativo e Judiciário.</p><p>Para que haja uma coordenação harmoniosa das garantias dos direitos de grupos minoritários e dos direitos</p><p>individuais por parte do Estado, é necessário, inicialmente, que o equilíbrio de forças pactuado seja</p><p>respeitado.</p><p>javascript:void(0)</p><p>A relação entre democracia e direitos individuais foi o principal objeto de investigação do filósofo e</p><p>economista britânico John Stuart Mill, considerado um dos pais do liberalismo político. Em seu livro</p><p>Sobre a Liberdade, publicado originalmente em 1859, ele observou como a sociedade britânica escolhia</p><p>seus representantes e criava suas leis.</p><p>JOHN STUART MILL</p><p>John Stuart Mill (1806-1873) foi um filósofo inglês, um dos mais influentes pensadores do século</p><p>XIX, responsável por lançar as bases da revisão do utilitarismo como ideologia suprema e dedicou-</p><p>se ao estudo de numerosas questões sociais de seu tempo.</p><p>Fonte: ebiografia.com</p><p>Para Stuart Mill, o estabelecimento de cargos eletivos ocupados por representantes do povo criou a</p><p>impressão de que não havia mais por que temer a tirania, já que o povo não devia temer sua própria</p><p>vontade. Acontece que o povo pode desejar reprimir uma parte de si mesmo, ou seja, grupos numérica</p><p>ou politicamente minoritários.</p><p>Contra essa repressão, Stuart Mill observava que as leis devem definir mecanismos de proteção aos</p><p>grupos minoritários. A sociedade deveria respeitar a esfera individual, restringindo-se apenas à definição</p><p>de penalidades civis, estando proibida de envolver-se em assuntos referentes à alma e à conduta</p><p>individual.</p><p>O homem comum é movido por preferências individuais no que tange aos seus gostos, costumes e</p><p>moralidade; mas quando essas preferências individuais são transplantadas a nível público por homens</p><p>detentores da autoridade secular – transformando-se em leis –, o que há é incompreensão, abuso de</p><p>poder e o despertar do ódio.</p><p>O PODER QUE RESTRINGE O COMPORTAMENTO DOS INDIVÍDUOS</p><p>NA ESFERA PÚBLICA NÃO SE FUNDAMENTA EM SUAS</p><p>PREFERÊNCIAS, NO QUE É BOM PARA ELES, MAS NO QUE PODE</p><p>CAUSAR DANO A OUTREM. OU SEJA, A LIBERDADE INDIVIDUAL</p><p>ENCONTRA SEU LIMITE QUANDO PASSA A PREJUDICAR O OUTRO</p><p>E NESSES TERMOS É QUE DEVEM SER RESTRINGIDOS OU</p><p>DETERMINADOS OS CAMPOS DE ATUAÇÃO DO ESTADO. AS</p><p>POLÍTICAS PÚBLICAS DEVEM GARANTIR AS LIBERDADES</p><p>javascript:void(0)</p><p>INDIVIDUAIS DE MODO QUE A VONTADE DA MAIORIA NÃO IMPEÇA</p><p>A LIBERDADE DAS MINORIAS.</p><p>No vídeo a seguir, o especialista Dennis Novaes aprofunda o conceito de violência simbólica. Vamos</p><p>assistir!</p><p>VERIFICANDO O APRENDIZADO</p><p>1. A RESPEITO DA DISCUSSÃO SOBRE MINORIAS POLÍTICAS, MARQUE A</p><p>ALTERNATIVA INCORRETA:</p><p>A) Minorias políticas são apenas aqueles grupos numericamente inferiores na sociedade. Os</p><p>descendentes de asiáticos no Brasil, por exemplo, são uma minoria porque representam 1,09% da</p><p>população.</p><p>B) As minorias são grupos sub-representados em espaços de poder na sociedade.</p><p>C) O conceito de minoria política não se restringe à ordem numérica da Matemática. Trata-se, na</p><p>verdade, de um conceito usado para falar da representatividade política.</p><p>D) Uma minoria política pode ser a maioria numérica em uma sociedade.</p><p>E) As minorias políticas geralmente sofrem com a violência simbólica.</p><p>2. TENDO ESTUDADO SOBRE O CONCEITO DE "VIOLÊNCIA SIMBÓLICA" DE</p><p>BOURDIEU, QUAL DAS ALTERNATIVAS ABAIXO REPRESENTA UM EXEMPLO DO</p><p>FENÔMENO DESCRITO PELO AUTOR?</p><p>A) Relações entre alunos e professores em que os alunos são agressivos, de maneira inadequada à</p><p>hierarquia estabelecida nas instituições de ensino.</p><p>B) Violência familiar e doméstica em que os abusos são entendidos como parte natural da dinâmica de</p><p>poder da casa.</p><p>C) O crime comum violento, como o caso dos assaltos na rua, em que as vítimas são surpreendidas</p><p>pelos meliantes que lhes subtraem seus bens.</p><p>D) Violência policial, em que as vítimas são mortas ao serem confundidas com criminosos gerando</p><p>revolta e comoção entre seus familiares e redes de vizinhança.</p><p>E) Nos casos em que pessoas sistematicamente aviltadas pela ordem social conseguem se rebelar e</p><p>procuram fazer valer seus direitos por meio da força.</p><p>GABARITO</p><p>1. A respeito da discussão sobre minorias políticas, marque a alternativa incorreta:</p><p>A alternativa "A " está correta.</p><p>A noção sociológica de minoria não é a mesma da Matemática. Um grupo numericamente maior pode</p><p>ser sistematicamente excluído dos principais espaços de poder na sociedade.</p><p>2. Tendo estudado sobre o conceito de "violência simbólica" de Bourdieu, qual das alternativas</p><p>abaixo representa um exemplo do fenômeno descrito pelo autor?</p><p>A alternativa "B " está correta.</p><p>Violência abrigada na hierarquia familiar (seja de homens sobre mulheres ou de pais sobre filhos) e</p><p>naturalizada porque entendida como parte do sistema de manutenção</p><p>da ordem naquele grupo pode ser</p><p>considerada como violência simbólica devido a estar entranhada na cultura de tal forma que leve ao não</p><p>reconhecimento da violência pela própria vítima.</p><p>MÓDULO 3</p><p> Identificar a impunidade no âmbito social e a busca pela diminuição da violência cotidiana</p><p>PUNIÇÃO E TIPOS DE PENA</p><p>As perspectivas sobre a impunidade possuem uma variação disciplinar. E as Ciências Sociais podem</p><p>contribuir para uma apreciação histórica da “punição”, problematizando o seu lugar nas sociedades</p><p>contemporâneas, sobretudo no Brasil. Por exemplo, é possível em clássica abordagem sociológica</p><p>estabelecer um contraste entre as penas punitivas e as restitutivas (DURKHEIM, 1999). Quando um</p><p>crime é cometido, sua forma de reparação pode se processar de duas maneiras:</p><p>Reparação do dano causado</p><p></p><p>Punição àquele que comete o crime (quando a reparação do dano causado não for possível)</p><p>Pensemos, a título de exemplo, no crime de difamação, previsto pelo nosso Código Penal.</p><p>ART. 139. DIFAMAR ALGUÉM, IMPUTANDO-LHE FATO</p><p>OFENSIVO À SUA REPUTAÇÃO: PENA – DETENÇÃO, DE</p><p>TRÊS MESES A UM ANO, E MULTA.</p><p>(DECRETO-LEI 2.848/1940)</p><p>Fonte: Shutterstock</p><p>Quando aquele que causou o dano é condenado à pena de multa, entende-se que o valor pago restitui o</p><p>dano causado, restabelecendo a ordem das coisas, a “justiça”. Assim, se um indivíduo processa uma</p><p>empresa que lhe prestou um mau serviço, a empresa pode ser condenada a indenizá-lo, pagando um</p><p>valor que funciona, em sentido filosófico e material, como compensação por aquele mau serviço. Trata-</p><p>se de uma pena restitutiva, sob esse ponto de vista de entendimento da sociedade e suas formas de</p><p>regulação e ordem.</p><p>Fonte: Shutterstock</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>No caso da pena de detenção, reclusão (que são penas restritivas da liberdade do sujeito condenado) e,</p><p>no caso de ordenamentos jurídicos de outros Estados-nação que não o Brasil, da pena de morte, o que</p><p>está em jogo não é a reparação do dano causado via restituição material ou pagamento. Nesses casos,</p><p>aplicados como penas de maior severidade, a “restituição” acontece em um nível mais sutil, filosófico, e</p><p>que no limite passa por infligir sofrimento àquele que cometeu o crime.</p><p> VOCÊ SABIA</p><p>Em muitos ordenamentos jurídicos antigos como o código de Hamurabi, por exemplo, havia a chamada</p><p>Lei de Talião. Talião vem do latim talio, talis e significa “tal qual”, “idêntico”. “Olho por olho, dente por</p><p>dente”. Assim, se um indivíduo batesse em seu pai, o que era considerado um ato contra o valor da</p><p>honra, sua mão deveria ser cortada; se matou, deveria ser morto. Essa lei é a antecessora dos</p><p>ordenamentos jurídicos atuais no sentido de estabelecimento de uma proporcionalidade da pena em</p><p>relação à lesão.</p><p>CÓDIGO DE HAMURABI</p><p>Khammu-rabi, rei da Babilônia no 18º século A.C., estendeu grandemente o seu império e</p><p>governou uma confederação de cidades-Estado. Erigiu, no fim do seu reinado, uma enorme</p><p>"estela" em diorito, na qual ele é retratado recebendo a insígnia do reinado e da justiça do rei</p><p>Marduk. Abaixo mandou escrever 21 colunas, 282 cláusulas que ficaram conhecidas como Código</p><p>de Hamurabi (embora abrangesse também antigas leis).</p><p>Fonte: dhnet.org.br</p><p>Historicamente, tratou-se de vulgarização da pena de morte, uma vez que o ofendido, especialmente se</p><p>provinha de camadas mais abastadas da sociedade, precisava sentir-se vingado.</p><p>Algumas leis do código de Hamurabi mostram a amplificação do escopo da pena de morte:</p><p>javascript:void(0)</p><p>SE ALGUÉM ROUBAR A PROPRIEDADE DE UM TEMPLO OU</p><p>CORTE, DEVE SER CONDENADO À MORTE, E AQUELE QUE</p><p>RECEBER O PRODUTO DO ROUBO DO LADRÃO DEVE SER</p><p>IGUALMENTE CONDENADO À MORTE. SE ALGUÉM</p><p>RECEBER EM SUA CASA UM ESCRAVO FUGITIVO DA</p><p>CORTE, HOMEM OU MULHER, E NÃO O TROUXER À</p><p>PROCLAMAÇÃO PÚBLICA NA CASA DO GOVERNANTE</p><p>LOCAL OU DE UM HOMEM LIVRE, O MESTRE DA CASA</p><p>DEVE SER CONDENADO À MORTE. SE ALGUÉM</p><p>ARROMBAR UMA CASA, ELE DEVERÁ SER CONDENADO À</p><p>MORTE NA FRENTE DO LOCAL DO ARROMBAMENTO E</p><p>SER ENTERRADO. SE UM CONSTRUTOR CONSTRUIR UMA</p><p>CASA PARA OUTREM, E NÃO A FIZER BEM FEITA, E SE A</p><p>CASA CAIR E MATAR SEU DONO, ENTÃO O CONSTRUTOR</p><p>DEVERÁ SER CONDENADO À MORTE. SE MORRER O</p><p>FILHO DO DONO DA CASA, O FILHO DO CONSTRUTOR</p><p>DEVERÁ SER CONDENADO À MORTE.</p><p>(QUEIROZ, 2019)</p><p>Esse tipo de penalidade que segue, quando em uma cultura religiosa mais primitiva, a lógica do</p><p>sacrifício, trata-se de uma restituição no sentido de estabelecimento da justiça, entendendo-se justiça</p><p>como um tipo de equilíbrio mágico que, se corrompido, pode ser cruel, pode trazer morte e dor, sendo</p><p>essa crueldade entendida como parte indelével de um bem maior.</p><p>Trata-se de uma austeridade que institui o sentido de importância e de valor da ordem e da própria vida,</p><p>abrigada nessa ordem social. Esse pensamento estaria na origem do próprio sentido da vingança, sendo</p><p>uma espécie de impulso pouco refinado que os indivíduos experimentam quando lesados por outrem.</p><p> COMENTÁRIO</p><p>Neste caso, Cunha (2019) afirma podermos dizer que a pena é entendida como suplício e expiação,</p><p>aplicada passional e difusamente, muitas vezes associada à vergonha pública. Na abordagem</p><p>sociológica aqui adotada, é importante perceber que ela identifica uma genealogia das penas quanto a</p><p>esses dois tipos, ligada às sociedades primitivas ou complexas.</p><p>Para o autor, o direito punitivo faz muito mais sentido nas sociedades primitivas, como sociedades da</p><p>Idade Média e de períodos históricos anteriores, ou nas sociedades tribais onde exista uma comunidade</p><p>de valores considerados sacros e que deveriam ser incorruptíveis, enquanto as penas restitutivas teriam</p><p>surgido em momentos históricos subsequentes e seriam características das sociedades mais</p><p>contemporâneas e complexas, onde a divisão do trabalho é estratificada e existe uma pluralidade de</p><p>valores em disputa, possibilitada pelo multiculturalismo.</p><p>Nas sociedades complexas, como é o caso da nossa, temos assim um dispositivo jurídico que combina:</p><p>Penas restitutivas</p><p></p><p>Penas punitivas</p><p>As penas punitivas, expiatórias, são aplicadas quando o bem jurídico tutelado pelo Estado está</p><p>relacionado a um valor de importância central na nossa sociedade. Assim, atentados contra a “vida”, a</p><p>“infância”, a “propriedade privada”, por exemplo, são punidos com prisão e, em outros países, até</p><p>mesmo com a morte do criminoso.</p><p>Devemos acrescentar que a prisão, assim como a condenação à morte, possui um caráter prático,</p><p>entendido como a retirada daquele indivíduo do convívio social, uma vez que se considera que o</p><p>crime cometido possui enorme potencial ofensivo dos valores tutelados pelo Estado. Isso não exclui,</p><p>contudo, o sentido de expiação desse tipo de pena, basta observar o clamor público, a comoção social</p><p>em torno de crimes que ofendam nossos valores mais caros como crimes hediondos cometidos contra</p><p>crianças ou pessoas incapazes, por exemplo.</p><p>Fonte: Bain News Service – Divisão de Gravuras e Fotografias da Biblioteca do Congresso dos Estados</p><p>Unidos/Wikimedia Commons, Domínio público.</p><p>Podemos refletir sobre a gana social, feroz, por justiça quando se ofende gravemente a ordem social</p><p>mediante algumas práticas tradicionais do folclore nacional como a “malhação do Judas”, ou nas</p><p>iniciativas populares de “fazer justiça com as próprias mãos”, como os linchamentos de estupradores.</p><p>Fonte: Shutterstock.com</p><p>Podemos ainda pensar em instâncias medianas entre a iniciativa solitária ou espontânea dos que se</p><p>vingam de um crime brutal e as respostas do Estado a esses crimes pela aplicação das penalidades</p><p>previstas em lei. Entre uma coisa e outra, há os tribunais do tráfico e as tropas de milícias em grandes</p><p>cidades brasileiras. Esses grupos armados se estabelecem no vácuo do poder público e atendem,</p><p>muitas vezes, a uma demanda de ordem que o Estado não é capaz de suprir. Aplicam pena de morte em</p><p>casos como o de estupro e centralizam a aplicação da violência nas regiões onde atuam.</p><p>O PROBLEMA DO ESTABELECIMENTO DA</p><p>VERDADE</p><p>Curiosamente, o suplício do criminoso tem em si um valor social. É como</p><p>se mediante aquele suplício</p><p>tivéssemos uma extirpação do próprio crime. Ao longo da história, a extirpação do crime pela expiação</p><p>do criminoso assumiu muitas formas no Ocidente, as quais flertavam com as cosmologias cristãs muitas</p><p>vezes, dada a importância cultural do cristianismo ao estabelecer os entendimentos do que seria justiça</p><p>e sua relação com a transcendência. É o caso da pena de morte na fogueira para mulheres acusadas de</p><p>bruxaria pelos tribunais do Santo Ofício.</p><p>Acreditava-se que o fogo pudesse “queimar a praga” espiritual e salvar a alma da mulher acometida</p><p>pelas tentações demoníacas. É o mesmo princípio dos sacrifícios rituais, em que se abre mão, oferece-</p><p>se ou se descarta algo importante em prol de um bem maior.</p><p>Fonte: Jan Luyken – Cl Roger-Viollet/Wikimedia Commons, Domínio público.</p><p> Representação, feita por Jan Luyken (1685), da execução na fogueira de Anneken Hendriks</p><p>(Amsterdã, 1571), durante as Guerras Religiosas (Reforma e Contrarreforma), Jan Luyken – Cl Roger-</p><p>Viollet, 1685.</p><p>javascript:void(0)</p><p>SANTO OFÍCIO</p><p>A temática da Inquisição e do Santo Ofício também é bastante controversa. Embora não seja o</p><p>objetivo deste estudo aprofundar tais questões, vale destacar que, entre 1998 e 2004, um grupo de</p><p>30 renomados historiadores, especialistas no tema, realizaram o Simpósio Internacional sobre</p><p>as Inquisições. Por ter acontecido na Cidade do Vaticano (que abriu sua biblioteca para esses</p><p>profissionais), era de se esperar que o resultado fosse também controverso (BORROMEO, 2003).</p><p> ATENÇÃO</p><p>As penas têm, nesses casos, sempre algum castigo que envolva o corpo do criminoso e sua aflição.</p><p>Essa relação com o corpo esteve presente, nos séculos passados, não apenas na pena, mas no</p><p>estabelecimento da verdade. Experimentos sociojurídicos envolvendo o corpo mostravam resultados</p><p>espirituais que eram interpretados pelos juristas numa fase do processo que era anterior à da aplicação</p><p>da pena.</p><p>Como era predominante a visão de que o suplício físico (desde jejuns a dores infligidas), aplicado de</p><p>forma voluntária ou imposta, purificaria a alma – e, consequentemente, a relação com Deus –, era</p><p>comum entender a importância do juramento ou confissão nesse processo (FOUCAULT, 2005). As</p><p>palavras ditas pelo acusado recebiam uma gama de interpretações, que implicaria pena.</p><p>Pode-se destacar ainda, nesse contexto, os chamados ordálios (provas físicas), que consistiam em</p><p>submeter uma pessoa a uma espécie de jogo, de luta com seu próprio corpo, para constatar se venceria</p><p>ou fracassaria.</p><p>Por exemplo, na época do Império Carolíngio, havia uma prova célebre imposta a quem fosse acusado</p><p>de assassinato em certas regiões do norte da França. O acusado devia andar sobre ferro em brasa e,</p><p>dois dias depois, se ainda tivesse cicatrizes, perdia o processo.</p><p>Havia ainda outras provas como o ordálio da água, que consistia em amarrar a mão direita ao pé</p><p>esquerdo de uma pessoa e atirá-la na água. Se ela não se afogasse, perdia o processo, porque a</p><p>própria água não a recebia bem e, se ela se afogasse, teria ganho o processo, visto que a água não a</p><p>teria rejeitado.</p><p>Todos esses afrontamentos do indivíduo ou de seu corpo com os elementos naturais são uma</p><p>transposição simbólica, cuja semântica deveria ser estudada, da própria luta dos indivíduos entre si. No</p><p>fundo, trata-se sempre de uma batalha, trata-se sempre de saber quem é o mais forte. No velho Direito</p><p>germânico, o processo é apenas a continuação regulamentada, ritualizada da guerra (FOUCAULT,</p><p>2005).</p><p>Ao longo das Idades Média e Moderna, diversos procedimentos de inquérito foram experimentados na</p><p>medida em que as resoluções dos litígios entre indivíduos foram sendo centralizadas pelo Estado. Com</p><p>isso, os métodos de depuração da verdade se formaram e se modificaram culturalmente.</p><p>IMPUNIDADE X PUNITIVISMO</p><p>O estabelecimento da verdade, das penas cabíveis aos crimes, a aplicação dessas penas e a garantia</p><p>de seu cumprimento pelo Estado Moderno concorrem para o estabelecimento do princípio da</p><p>“segurança jurídica”, que rege o entendimento de que ao Estado cabe prover às relações humanas o</p><p>maior grau de previsibilidade e estabilidade possível. A questão é que nossa cultura penal, que é</p><p>herdeira da Lei de Talião, desenvolveu-se historicamente fundamentada na importância da</p><p>extirpação do crime através da expiação do criminoso.</p><p>Temos, na verdade, toda uma cultura da punição que atravessa os séculos. Corrompê-la gera um</p><p>sentimento de insegurança nas pessoas, um temor de que se estabeleça a desordem social. Desde a</p><p>Inglaterra do séc. XVII já era chamado de “luta de todos contra todos” a um estado de natureza em que</p><p>os indivíduos, sem a regulação do Estado, estariam livres para exercer os seus impulsos uns sobre os</p><p>outros, como animais, fazendo valer, no final das contas, a lei do mais forte, sem nenhuma racionalidade</p><p>que organizasse o convívio humano em função de um princípio abstrato de justiça (HOBBES, 2003).</p><p>Fonte: Shutterstock.com</p><p> Manifestação não pacífica, Hayk_Shalunts, 2020.</p><p>O CRIME É REVERSO DA LEI. ESTA, DE CERTA FORMA, CRIA O</p><p>CRIME, AO PREVER, TIPIFICAR DETERMINADA CONDUTA COMO</p><p>ILEGAL. ASSIM, UM ESTADO EFICIENTE DEVERIA REGULAR O</p><p>CONJUNTO DE LEIS QUE REGE O CONVÍVIO, PUNINDO</p><p>ADEQUADAMENTE OS INFRATORES E A RADICALIZAÇÃO DESSA</p><p>LÓGICA QUE CRIA E SUSTENTA UMA CULTURA DAS PUNIÇÕES,</p><p>ESTABELECENDO A APLICAÇÃO DA PENA COMO CONDIÇÃO</p><p>FUNDAMENTAL PARA A PAZ SOCIAL.</p><p>O sociólogo Loïc Wacquant fez um amplo estudo sobre a cultura punitivista na Europa e no continente</p><p>americano, mostrando a inserção dessa cultura no sistema capitalista de produção. Ele conclui sobre o</p><p>viés de classe social que recorta a aplicação de penalidades pelos Estados nos dois continentes.</p><p>Segundo o autor, o Estado mínimo preconizado pelo neoliberalismo – a “mão invisível” (SMITH, 2013) –</p><p>possui um revés: a mão de ferro do punitivismo que se abate preferencialmente sobre as classes</p><p>pobres.</p><p>LOÏC WACQUANT</p><p>Eu nasci e cresci no sul da França. Fiz meus estudos na França, inicialmente em Economia</p><p>Industrial e depois em Sociologia. Fui para os EUA em 1985 para fazer meu doutorado na</p><p>Universidade de Chicago. Trabalhei inicialmente sobre as desigualdades urbanas e a</p><p>marginalidade social na cidade.</p><p>Foi meu trabalho sobre a marginalidade urbana que me levou a encontrar a prisão, porque, para</p><p>fazer um estudo sobre a transformação do gueto negro de Chicago, inscrevi-me em um clube de</p><p>boxe do gueto como forma de fazer uma observação participante e descobri que todos os meus</p><p>colegas de boxe haviam passado pela prisão. Fiz esse trabalho de campo para me aproximar da</p><p>realidade cotidiana, em particular, da juventude negra e pobre do gueto de Chicago. (WACQUANT</p><p>apud BOCCO et al, 2008)</p><p>POLICIAMENTO PERMANENTE</p><p>O estabelecimento de políticas de segurança pública que passa pelo policiamento permanente de áreas</p><p>socioeconomicamente degradadas, como é o caso das citès na França, dos guetos norte-americanos e</p><p>das favelas brasileiras, com suas relativamente recentes Unidades de Polícia Pacificadora.</p><p>javascript:void(0)</p><p>javascript:void(0)</p><p>PRIVATIZAÇÃO DOS PRESÍDIOS</p><p>O processo de privatização dos presídios norte-americanos, que indica a transformação das penalidades</p><p>em um lucrativo negócio, uma vez que a reclusão penal é um sistema que muito onera o Estado e que</p><p>as prisões tendem a ser mal administradas pelo poder público, que não consegue, de fato, com esse</p><p>sistema, ressocializar o criminoso.</p><p>No fim das contas, é como se o encarceramento em massa fosse uma forma eficaz, na</p><p>contemporaneidade, de gerir o enorme contingente de mão de obra que não encontra lugar no</p><p>mercado de trabalho. E numa perspectiva ainda mais atual, a questão racial pode ser percebida,</p><p>presente na dinâmica cultural do encarceramento:</p><p>O QUE PODERÍAMOS CHAMAR DE GERME DO SISTEMA</p><p>CRIMINAL BRASILEIRO JÁ SE INICIOU PUNITIVISTA. DE</p><p>1500 A 1822, O QUE SERIA UM CÓDIGO PENAL ERAM AS</p><p>ORDENAÇÕES FILIPINAS, NOTADAMENTE O LIVRO V,</p><p>ONDE PREDOMINAVA A ESFERA PRIVADA E DA RELAÇÃO</p><p>SENHOR/PROPRIETÁRIO-ESCRAVIZADO/PROPRIEDADE.</p><p>COM ISSO, A LÓGICA DO DIREITO PRIVADO IMPERAVA JÁ</p><p>NO NASCEDOURO DO NOSSO SISTEMA E, DADO O</p><p>CARÁTER VIOLENTO DO ESCRAVISMO, JÁ TINHA EM SEU</p><p>CERNE AS PRÁTICAS DE TORTURA, FOSSEM</p><p>PSICOLÓGICAS, FOSSEM FÍSICAS, POR MUTILAÇÕES E</p><p>ABUSOS SOFRIDOS PELOS ESCRAVIZADOS. HAVIA, COM</p><p>ISSO, DIFERENCIAÇÃO DAS PENAS ENTRE</p><p>ESCRAVIZADOS E LIVRES. UM EXEMPLO É A EXECUÇÃO</p><p>DA PENA CAPITAL EM QUE OS “BEM-NASCIDOS” ERAM</p><p>EXECUTADOS PELO MACHADO, CONSIDERADA UMA</p><p>MORTE DIGNA, E AOS DEMAIS ERA UTILIZADA A CORDA,</p><p>CONSIDERADA UMA MORTE DESONROSA.</p><p>POSTERIORMENTE ESSA DIFERENCIAÇÃO NÃO</p><p>́</p><p>javascript:void(0)</p><p>APARECERÁ NA LETRA DA LEI, MAS SERÁ́ EXERCIDA E</p><p>SENTIDA NA APLICAÇÃO DA PUNIÇÃO AOS RÉUS.</p><p>(BORGES, 2019)</p><p>A população carcerária, no Brasil atual, caracteriza bem isso, por ter uma cor de pele específica. Não</p><p>será porque pessoas negras delinquem mais que brancas, nem porque pessoas pobres (em sua maioria</p><p>negras) delinquem mais que as ricas. Há, talvez, um recorte social do tipo de crime cometido pelos</p><p>indivíduos e um direcionamento do aparato punitivista do Estado para esses crimes, que passam a ser</p><p>considerados de maior poder ofensivo, seja porque o racismo é estrutural e pode orientar</p><p>subliminarmente os próprios julgamentos e sistemas de acusações, seja porque pessoas pobres (em</p><p>sua maioria negras) não possuem os recursos necessários para custear profissionais com maior</p><p>formação e experiência.</p><p>Essa situação não nasceu em nossos dias:</p><p>COM RELAÇÃO AOS PADRÕES DE DETENÇÃO, AS</p><p>PESQUISAS DE 1810 A 1821 DEMONSTRAM O CRITÉRIO DE</p><p>COR. SÃO POUQUÍSSIMOS OS BRANCOS PRESOS. NO RIO</p><p>DE JANEIRO DA ÉPOCA (QUASE METADE DA POPULAÇÃO</p><p>ERA NEGRA), 80% DOS JULGADOS ERAM ESCRAVOS, 95%</p><p>NASCIDOS NA ÁFRICA, 19% EX-ESCRAVOS E APENAS 1%</p><p>LIVRES. NO SISTEMA PENAL DIRIGIDO À ESCRAVIDÃO, OS</p><p>PRINCIPAIS MOTIVOS PARA A PRISÃO DE ESCRAVOS</p><p>ERAM FUGA OU PRÁTICA DE CAPOEIRA.</p><p>(BATISTA, 2003)</p><p>Resta-nos, portanto, não somente aprofundar o conteúdo aqui apresentado, mas, principalmente,</p><p>compreender nosso papel nesse processo, buscando formas, cada vez mais eficientes, institucionais e</p><p>pessoais, de combatermos a violência.</p><p>No vídeo a seguir, o especialista Dennis Novaes apresenta a relação entre os conceitos de impunidade</p><p>e violência no contexto do tema estudado. Vamos assistir!</p><p>VERIFICANDO O APRENDIZADO</p><p>1. SOBRE A RELAÇÃO ABORDADA ENTRE PUNITIVISMO E IMPUNIDADE,</p><p>PODEMOS AFIRMAR QUE:</p><p>A) A impunidade pode ser pensada como uma propaganda de uma cultura punitivista.</p><p>B) A impunidade e o punitivismo são, na verdade, o mesmo processo social.</p><p>C) O punitivismo é um dispositivo cultural superado pelas sociedades contemporâneas após o</p><p>surgimento do que Durkheim chamou de penas restitutivas.</p><p>D) O punitivismo possui estreita relação com a igualdade de direitos na nossa sociedade.</p><p>E) A impunidade é o maior motivo da proliferação da violência no Brasil e no mundo.</p><p>2. PARA DURKHEIM, AS PENAS PUNITIVAS ESTÃO PRESENTES:</p><p>A) Exclusivamente nas sociedades complexas, uma vez que as sociedades primitivas possuem maior</p><p>habilidade política para a resolução de conflitos.</p><p>B) Exclusivamente nas sociedades contemporâneas tribais, em que os líderes políticos precisam de</p><p>fortes exemplos daquilo que não pode ser feito.</p><p>C) Exclusivamente em sociedades simples ou primitivas, como é o caso de tribos e das grandes</p><p>sociedades da Idade Média.</p><p>D) Principalmente em sociedades cujos valores sociais mais fundamentais e compartilhados por todos</p><p>possam sofrer atentados na forma de ilegalismos.</p><p>E) Tanto em sociedades simples quanto em sociedades complexas, tendo sido o fruto do</p><p>desenvolvimento das penas restitutivas.</p><p>GABARITO</p><p>1. Sobre a relação abordada entre punitivismo e impunidade, podemos afirmar que:</p><p>A alternativa "A " está correta.</p><p>A impunidade, vista através das lentes da desnaturalização, é um dispositivo cultural, uma imagem que</p><p>a sociedade pode ter a respeito de si mesma. De acordo com os exemplos históricos em que isso se dá,</p><p>tem a ver com o estabelecimento de uma demanda de justiça atrás do anseio da população por uma</p><p>mais ampla aplicação das punições legais e de um reforço cultural da importância da</p><p>punição/condenação.</p><p>2. Para Durkheim, as penas punitivas estão presentes:</p><p>A alternativa "D " está correta.</p><p>As penas punitivas são aquelas mais primitivas em termos de surgimento histórico, originadas em</p><p>sociedades nas quais a violação de valores importantes tinha um grande efeito emocional na população,</p><p>o que gerava a demanda por expiação/suplício do criminoso.</p><p>CONCLUSÃO</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>No decorrer dos três módulos, vimos como a violência é um fenômeno complexo com implicações</p><p>variadas para a vida em sociedade.</p><p>Em primeiro lugar, analisamos de que forma a violência esteve presente na constituição da identidade</p><p>nacional. O processo histórico que deu origem ao Brasil enquanto Estado-nação foi permeado por</p><p>conflitos e disputas violentas pelo domínio sobre um território.</p><p></p><p>Em seguida, refletimos sobre as populações menorizadas e como as políticas públicas podem fomentar</p><p>uma sociedade verdadeiramente democrática. Para isso, é necessário que os grupos alijados dos</p><p>espaços de poder tenham voz e sejam representados, mas também que as minorias tenham seus</p><p>direitos preservados.</p><p></p><p>Por fim, apresentamos como a punição e os tipos de pena se constituíram em diferentes períodos</p><p>históricos e sociedades. A relação entre impunidade e violência é mais complexa do que o senso comum</p><p>muitas vezes faz parecer e, por esse motivo, uma abordagem socioantropológica sobre esse fenômeno</p><p>é fundamental para a criação de políticas públicas eficazes.</p><p>AVALIAÇÃO DO TEMA:</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BATISTA, V. M. O medo na cidade do Rio de Janeiro: dois tempos de uma história. Rio de Janeiro:</p><p>Revan, 2003</p><p>BOCCO, F.; NASCIMENTO, M. L.; COIMBRA, C. A segurança criminal como espetáculo para ocultar</p><p>a insegurança social: entrevista com Loïc Wacquant. In: Fractal, Rev. Psicol., Rio de Janeiro, v. 20, n.</p><p>1, p. 319-329, jun. 2008.</p><p>BORGES, J. O que é encarceramento em massa? São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.</p><p>BORROMEO, A. L'inquisizione: atti del Simposio internazionale, Città del Vaticano, 29-31 ottobre 1998.</p><p>Roma: Biblioteca apostólica vaticana, 2003. 788 páginas.</p><p>BOURDIEU, P. Sobre o Estado. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.</p><p>BRASIL. Casa Civil. Decreto-lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Brasília, 1940.</p><p>BRASIL. Casa Civil. Lei n. 2.889, de 1 de outubro de 1956. Define e pune o crime de genocídio. Brasília,</p><p>1940.</p><p>CARNEIRO, A. S. Escritos de uma vida. São Paulo: Pólen Livros, 2018.</p><p>CUNHA, W. Três conceitos jurídico-sociológicos para a compreensão do caso da tatuagem na</p><p>testa. In: Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 24, n. 5726, 6 mar. 2019.</p><p>CYMROT, D. “Proibidão” de Colarinho-Branco. In: BATISTA, C. B. (org.). Tamborzão: olhares sobre a</p><p>criminalização do funk. Rio de Janeiro: Revan, 2013</p><p>DAHLBERG, L. L.; KRUG, E. G. Violência: um problema global de saúde pública. In: Ciência & Saúde</p><p>Coletiva, 11 (Sup.): 1163-1178, 2007.</p><p>DURKHEIM, E. Da divisão do trabalho social. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.</p><p>ESCOBAR, H. DNA preserva história de populações escravizadas no genoma dos brasileiros. In:</p><p>Jornal da USP. São Paulo, USP, Caderno Ciências Biológicas, 4 nov. 2020.</p><p>FOUCAULT, M. A Verdade e as Formas Jurídicas. Rio de Janeiro: Nau, 2005.</p><p>FREYRE, G. Casa Grande e Senzala. Coleção Intérpretes do Brasil, v. II. Rio de Janeiro: Nova Aguiar,</p><p>2002.</p><p>FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO. FUNAI. Índios no Brasil / Quem são? [online] 2010. Consultado</p><p>em: 27 nov. 2020.</p><p>GONÇALVES, C. Número de negros na Câmara cresce, mas não chega a um quarto do total. In:</p><p>Agência Brasil de Comunicação. Publicado em: 9 out. 2018.</p><p>GRAMSCI, A. Maquiavel, a Política e o Estado Moderno. Tradução: Luiz Mário Gazzaneo. Rio de</p><p>Janeiro: Civilização Brasileira, 1984.</p><p>HAJE, L.; BECKER, M. Bancada feminina na câmara sobre de 51 para 77 deputadas. In: Agência</p><p>Câmara de Notícias. Câmara dos Deputados, 8 out. 2018.</p><p>HOBBES, T. Leviatã, ou matéria, forma e poder de um Estado</p><p>eclesiástico e civil. (Tradução: João</p><p>Paulo Monteiro, Maria Beatriz Nizza da Silva e Cláudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2003.</p><p>HOLLANDA, S. B. Raízes do Brasil. Coleção Intérpretes do Brasil, v. III. Rio de Janeiro: Nova Aguiar,</p><p>2002.</p><p>INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE. Brasil indígena. [online] 2010.</p><p>Consultado em: 27 nov. 2020.</p><p>INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. IPEA. Atlas da Violência. [online] 2020.</p><p>Consultado em: 27 nov. 2020.</p><p>JESUS, C. M. Quarto de Despejo. São Paulo: Edição Popular, 1963.</p><p>LÔBO, E. M. L. Conflito e continuidade na história brasileira. In: KEITH, H. H.; EDWARDS, S. F.</p><p>Conflito e continuidade na sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1970.</p><p>MELLO, M. A. S. et al. (org.). Favelas Cariocas Ontem e Hoje. Rio de Janeiro: Garamond, 2012.</p><p>MILL, J. S. Sobre a liberdade. Tradução: Pedro Madeira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.</p><p>MOURA, C. Os quilombos e a rebelião negra. São Paulo: Brasiliense, 1981</p><p>NASCIMENTO, M. Morro Velho. Álbum Milton Nascimento. Belo Horizonte: Codil, 1967.</p><p>NOVO, B. N. Direito das minorias. In: Revista Jus Navigandi, jul. 2019.</p><p>PUTMAN, R. Comunidade e Democracia: a experiência da Itália Moderna. Rio de Janeiro: FGV, 1999.</p><p>QUEIROZ, C. A. M. Comentários ao Código de Hamurabi. São Paulo: Pontes, 2019.</p><p>ROSSI, A. Navios portugueses e brasileiros fizeram mais de 9 mil viagens com africanos</p><p>escravizados. In: BBC News Brasil. São Paulo, 7 ago. 2018.</p><p>SMITH, A. A Mão Invisível. Rio de Janeiro: Cia das Letras, 2013.</p><p>WACQUANT, L. Punir os Pobres – a nova gestão da miséria nos Estados Unidos. A onda Punitiva.</p><p>Rio de Janeiro: Revan, 2001.</p><p>WEBER, M. A política como vocação. Tradução: Jean Melville. São Paulo: Martin Claret, 2008.</p><p>EXPLORE+</p><p>A obra de Michel Foucault é uma referência que atravessa diversas áreas disciplinares a respeito</p><p>do tema da punição. Para se aprofundar na discussão, leia o livro Vigiar e Punir, obra clássica do</p><p>autor.</p><p>Veja a dissertação de mestrado em Antropologia Social de Andréa Regina Moura Mendes sobre</p><p>o ritual popular de “malhação do Judas” na Semana Santa. O trabalho se chama: A Malhação do</p><p>Judas: rito e identidade.</p><p>Para conhecer a instigante reflexão de Eliane Tânia Martins de Freitas sobre a relação entre</p><p>crimes violentos e santificação nas crenças populares sobre cangaceiros famosos no Nordeste,</p><p>leia o artigo Violência e Sagrado, o que no criminoso anuncia o santo?</p><p>O livro O que é encarceramento em massa?, escrito por Juliana Borges, apresenta de forma</p><p>didática a situação dramática do sistema carcerário no Brasil. Somos um dos países que mais</p><p>prendem no mundo, mas isso não tem se refletido na redução dos índices de violência, pelo</p><p>contrário. A autora traz reflexões fundamentais para quem deseja compreender o encarceramento</p><p>e a violência no Brasil contemporâneo.</p><p>Para conhecer uma das polêmicas em torno da figura de Zumbi dos Palmares, leia a breve</p><p>reportagem da revista Veja (21 nov. 2015), assinada por Leandro Narloch e intitulada Zumbi tinha</p><p>escravos. E daí?.</p><p>Como forma de aprofundarmos a visão da relação dos indígenas com a terra, vale a leitura</p><p>apresentada por Thomas Woods (Historiador de Harvard) em seu artigo Os índios americanos</p><p>realmente eram ambientalistas?.</p><p>CONTEUDISTA</p><p>Dennis Novaes</p><p> CURRÍCULO LATTES</p><p>Natânia Lopes</p><p> CURRÍCULO LATTES</p><p>javascript:void(0);</p><p>javascript:void(0);</p>