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<p>1</p><p>EQUIPE MULTIPROFISSIONAL</p><p>1</p><p>Sumário</p><p>NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2</p><p>Introdução ................................................................................................ 3</p><p>Campo estudado ..................................................................................... 6</p><p>Características da amostra estudada ...................................................... 8</p><p>Ideias centrais do discurso do sujeito coletivo ....................................... 10</p><p>Representações sobre o trabalho no serviço público de saúde ............. 10</p><p>DSC da ideia central A - Trabalho Programado ..................................... 12</p><p>Representações sobre o trabalho multiprofissional ............................... 14</p><p>Representações sobre a prática do trabalho multiprofissional no serviço</p><p>público de saúde .............................................................................................. 17</p><p>Representações da participação dos profissionais de saúde para o</p><p>desenvolvimento do trabalho multiprofissional ................................................. 21</p><p>Aspectos éticos ...................................................................................... 29</p><p>População e amostra ............................................................................. 29</p><p>Protocolo do estudo ............................................................................... 30</p><p>Avaliação do processo de cuidado com órteses, próteses e materiais</p><p>especiais .......................................................................................................... 38</p><p>Limitações do estudo ............................................................................. 41</p><p>Contribuições para a área da Enfermagem, saúde ou política pública .. 41</p><p>Referências ............................................................................................ 43</p><p>2</p><p>NOSSA HISTÓRIA</p><p>A nossa história inicia-se com a ideia visionária e da realização do sonho</p><p>de um grupo de empresários na busca de atender à crescente demanda de</p><p>cursos de Graduação e Pós-Graduação. E assim foi criado o Instituto, como uma</p><p>entidade capaz de oferecer serviços educacionais em nível superior.</p><p>O Instituto tem como objetivo formar cidadão nas diferentes áreas de</p><p>conhecimento, aptos para a inserção em diversos setores profissionais e para a</p><p>participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e assim, colaborar na</p><p>sua formação continuada. Também promover a divulgação de conhecimentos</p><p>científicos, técnicos e culturais, que constituem patrimônio da humanidade,</p><p>transmitindo e propagando os saberes através do ensino, utilizando-se de</p><p>publicações e/ou outras normas de comunicação.</p><p>Tem como missão oferecer qualidade de ensino, conhecimento e</p><p>cultura, de forma confiável e eficiente, para que o aluno tenha oportunidade de</p><p>construir uma base profissional e ética, primando sempre pela inovação</p><p>tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. E dessa</p><p>forma, conquistar o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta</p><p>de cursos de qualidade.</p><p>3</p><p>Introdução</p><p>No decorrer do século XX, a sociedade observou várias transformações</p><p>de ordem econômica, social, cultural e tecnológica, com reflexos nas</p><p>organizações, constituindo grandes modificações no mundo do trabalho, o que</p><p>provocou mudanças nas filosofias de administração, controle e gestão da</p><p>produção de bens e serviços (Alves e col., 1999).</p><p>Peduzzi (1998) caracteriza o trabalho como um processo de</p><p>transformação que ocorre porque o homem tem necessidades que precisam ser</p><p>satisfeitas.</p><p>Um dado processo de trabalho não ocorre isoladamente, mas sim numa</p><p>rede de processos que se alimentam reciprocamente.</p><p>Nessa rede, ocorre o encadeamento de distintos processos de trabalho</p><p>que se diferenciam pela sua peculiar conexão dos elementos constituintes</p><p>(objeto, instrumentos, atividades) e se integram por meio das relações entre as</p><p>necessidades que precisam internalizar para se realizar.</p><p>Tal como ocorre no campo da saúde, em que distintas áreas profissionais,</p><p>cada qual realizando um processo de trabalho próprio, encontram nas</p><p>necessidades de saúde seu ponto de confluência.</p><p>Ao longo da história, as práticas assistenciais, as formas de</p><p>desenvolvimento de trabalho, a divisão do trabalho e o processo de formação</p><p>profissional e de produção de conhecimentos modificaram-se, sendo</p><p>influenciados pelo modo de produção hegemônico, pela cultura e pela forma de</p><p>organização da produção nos setores mais dinâmicos da economia (Pires,</p><p>2000).</p><p>Há uma tendência, segundo Peduzzi (2002), à maior qualificação dos</p><p>trabalhadores, pois o produto depende cada vez menos das operações diretas</p><p>do trabalhador individual, e cada vez mais de trabalhos coletivos articulados.</p><p>Esse novo trabalhador, no qual convergem, em graus variados, a</p><p>concepção e a execução do trabalho, em um novo ambiente tecnológico e</p><p>organizacional, necessita de uma qualificação que inclua múltiplos aspectos:</p><p>4</p><p>habilidades cognitivas, de abstração e análise simbólica, comunicacionais; de</p><p>inter-relação com clientes e demais trabalhadores; iniciativa e criatividade;</p><p>capacidade de trabalhar cooperativamente em grupo e para a formação mútua</p><p>no próprio local de trabalho; competência para avaliar o produto de seu trabalho</p><p>e tomar medidas para melhorar sua qualidade; e domínio de técnicas de</p><p>planejamento e organização do trabalho (Bernardes, 1994).</p><p>A abordagem do trabalho em saúde é essencial para o aprimoramento e</p><p>desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (SUS).</p><p>Para Almeida e Mishima (2001) o movimento para construir o trabalho</p><p>multiprofissional, conceitualmente e na prática concreta dos serviços, pode levar</p><p>para além de um trabalho técnico hierarquizado, um trabalho com interação</p><p>social entre os trabalhadores, com maior horizontalidade e flexibilidade dos</p><p>diferentes poderes, possibilitando maior autonomia e criatividade dos agentes e,</p><p>maior integração dos trabalhadores.</p><p>Neste sentido é relevante avaliar se a multiprofissionalidade é fator</p><p>decisivo para o desempenho do profissional na busca da atenção integral, dentro</p><p>do SUS e se o trabalho multiprofissional favorece maior integração entre os</p><p>profissionais de saúde e as ações que desenvolvem no Serviço Público de</p><p>Saúde.</p><p>Uma ferramenta para isso é, segundo Minayo (2000), a pesquisa</p><p>qualitativa, que aprofunda o significado e a intencionalidade e que, a rigor,</p><p>qualquer investigação social deveria contemplar, uma vez que traz para o interior</p><p>da análise o subjetivo, o objetivo, os atores sociais, os fatos e seus significados,</p><p>trabalha o caráter de antagonismo, de conflito entre os grupos sociais, permitindo</p><p>aprofundar o caráter social, as dificuldades de construção do conhecimento e</p><p>responde a questões muito particulares de pesquisa.</p><p>Ainda segundo essa autora, a pesquisa qualitativa é importante para</p><p>compreender os valores culturais, as representações de determinado grupo</p><p>sobre temas específicos e para a formulação de políticas públicas e sociais.</p><p>Para Lefèvre e Lefèvre (2005a), as representações sociais não são fatos</p><p>dados, mas reconstruídos, que, utilizando-se procedimentos de resgate e</p><p>5</p><p>organização apropriados, são descritas, explicitadas e apresentadas, tendo</p><p>como base o material empírico dos pensamentos individuais agregados por</p><p>semelhança semântica.</p><p>Segundo a escola francesa organizada em torno de Moscovici (2003) as</p><p>Representações Sociais são "uma modalidade de conhecimento particular que</p><p>tem por função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre os</p><p>indivíduos".</p><p>A Representação Social pode ser acessada de diversos modos. Segundo</p><p>Herzlich, que aplicou o conceito a estudos na área da saúde:</p><p>... o mais das vezes, ela [a Representação Social] é parte</p><p>quase que diário, gerenciar e desenvolver</p><p>competências para esses profissionais, bem como dimensioná-los</p><p>corretamente com o propósito de melhorar os resultados assistenciais.</p><p>Por outro lado, a falha de comunicação durante a transferência de</p><p>informações pode estar presente, pois envolve o fator humano e não só a</p><p>falha tecnológica.</p><p>De acordo com a Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro</p><p>Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de Materiais e Esterilização é</p><p>função do enfermeiro conferir os materiais implantáveis necessários aos</p><p>procedimentos e verificar a disponibilidade e funcionalidade de materiais,</p><p>instrumentos e equipamentos à realização do ato cirúrgico.</p><p>O enfermeiro do centro de materiais e esterilização deve definir os</p><p>prazos de recebimento de produtos passíveis de reprocessamento e quais</p><p>são esses produtos.</p><p>Aos técnicos de enfermagem, no centro cirúrgico, cabe a</p><p>responsabilidade pela conferência de todos os materiais necessários para a</p><p>40</p><p>realização do ato operatório, disponibilização dos mesmos de maneira</p><p>ordenada e a garantia dos registros e rastreabilidade dos produtos</p><p>implantáveis.</p><p>Dessa forma, entende-se que os profissionais da enfermagem,</p><p>atualmente, representam a força de trabalho com a maior capacitação,</p><p>competência e segurança para atuar nos processos de OPME, tanto nas</p><p>funções de líderes das etapas quanto na função técnico- -operacional das</p><p>atividades.</p><p>Outra proposta foi a organização de uma matriz de capacitação</p><p>permanente dos profissionais que atuam em todas as etapas do trabalho</p><p>intrainstitucional quanto ao desenvolvimento de capacidades para a</p><p>mobilização no ambiente de trabalho e sua evolução em três dimensões</p><p>específicas: o conhecimento (saber), a habilidade (saber fazer) e a atitude</p><p>(querer saber).</p><p>Essas dimensões auxiliam o profissional a desenvolver habilidades</p><p>com segurança, bem como acompanhar os avanços tecnológicos.</p><p>A capacitação permanente representa um conjunto de oportunidades</p><p>de aprendizado aos profissionais, proporcionando o domínio acerca de</p><p>conhecimentos específicos para a sua função e resultando em melhor</p><p>formação, melhor performance e maiores experiências, que podem ser</p><p>utilizadas imediatamente no desempenho de suas atividades.</p><p>O desafio passa a ser o de tornar essa dinâmica uma constante,</p><p>favorecendo a prática e a visão compartilhada por meio de programas</p><p>estruturados focados nas necessidades do profissional, da empresa e da</p><p>segurança do paciente.</p><p>Apesar da complexidade do processo de cuidado com OPME existe a</p><p>possibilidade de erros, os quais além de gerarem custos irreversíveis à</p><p>instituição e aos planos de saúde, também suscitam insegurança ao</p><p>paciente.</p><p>41</p><p>Com a introdução do FMEA a redução de erros pode trazer benefícios</p><p>ao sistema, garantindo uma assistência de qualidade com o menor dano</p><p>possível ao usuário.</p><p>Limitações do estudo</p><p>Uma vez que os resultados são referentes à um hospital privado e de</p><p>ensino deve-se ter a precaução ao extrapolar para outras instituições, que</p><p>podem variar conforme os diferentes contextos.</p><p>Estudos futuros são necessários para quantificar outras variáveis</p><p>possivelmente relacionadas à adesão ao processo de trabalho da OPME e</p><p>para explicar, de forma mais abrangente, a variabilidade no sucesso da</p><p>implantação.</p><p>Contribuições para a área da Enfermagem, saúde</p><p>ou política pública</p><p>O processo de trabalho com OPME coordenado pelo enfermeiro é</p><p>considerado de alto custo para a operação do hospital.</p><p>Desta maneira, este processo deve ser desenhado minuciosamente e</p><p>cumprido com rigor pelos profissionais envolvidos, desde o controle de</p><p>ingresso, preparo, conservação, utilização, devolução e faturamento dos</p><p>42</p><p>insumos.</p><p>Os achados sugerem que a estratégia do FMEA, visando a melhoria do</p><p>processo de OPME e a segurança do paciente se inicia com uma boa</p><p>comunicação.</p><p>Embora as intervenções tenham sido realizadas, minimizando os erros</p><p>neste processo, a comunicação ainda depende das pessoas.</p><p>Entende-se que estudos futuros possam abordar a temática do processo</p><p>de trabalho com OPME sob a ótica da FMEA, com vistas à análise econômico-</p><p>financeira do mesmo, possibilitando o cruzamento de informações com os dados</p><p>do presente estudo para um entendimento mais amplo dos impactos desse</p><p>processo nas instituições.</p><p>43</p><p>Referências</p><p>ALMEIDA, M. C. P.; MISHIMA, S. M. O desafio do trabalho em equipe na</p><p>atenção à saúde da família: construindo "novas autonomias" no</p><p>trabalho. Interface: Comunicação, Saúde, Educação, Marília, v. 9, p. 150-153,</p><p>ago. 2001.</p><p>ALVES, M.; CARVALHO, H.; AMARAL, M. A. Fundação de assistência</p><p>integral à saúde/hospital Sofia Feldman: uma experiência de administração</p><p>flexível? Revista Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 7, n. 4, p.</p><p>5-11, out. 1999.</p><p>ARAÚJO, A. L. A.; FREITAS, O. Concepções do profissional farmacêutico</p><p>sobre a assistência farmacêutica na unidade básica de saúde: dificuldades e</p><p>elementos para a mudança. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, São</p><p>Paulo, v. 42, n. 1, p. 137-146, jan./mar. 2006.</p><p>BELLUSCI, D. G. P. Programa de Saúde da Família: manual de</p><p>implantação para gestores municipais, médicos e equipes. São Paulo: Lawbook,</p><p>2003.</p><p>BERNARDES, R. Trabalho: a centralidade de uma categoria</p><p>analítica. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 8, n. 4, p. 33-41, jan./mar.</p><p>1994.</p><p>BOTTI, M. L.; SCOCHI, M. J. O aprender organizacional: relato de</p><p>experiência em uma unidade básica de saúde. Saúde e Sociedade, São Paulo,</p><p>v. 15, n. 1, p. 107-114, jan./abr. 2006.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução</p><p>nº 196/96, de 10 de outubro de 1996. Aprova as diretrizes e normas</p><p>regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Disponível em:</p><p><http://conselho.saude.gov.br/docs/Resolucoes/Reso196.doc> Acesso em: 28</p><p>jul. 2006.</p><p>44</p><p>CAMPOS, G. W. S.; DOMITTI, A. C. Apoio matricial e equipe de</p><p>referência: uma metodologia para gestão do trabalho interdisciplinar em</p><p>saúde. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23, n. 2, p. 399-407, fev.</p><p>2007.</p><p>CASTRO, J. L. Gestão do trabalho no SUS: entre o visível e o oculto.</p><p>Natal: Observatório RH, 2007.</p><p>FARIAS, L. O.; VAITSMAN, J. Interação e conflito entre categorias</p><p>profissionais em organizações hospitalares públicas. Cadernos de Saúde</p><p>Pública, Rio de Janeiro, v. 18, n. 5, p. 1229-1241, set./out. 2002.</p><p>FEUERWERKER, L. C. M.; SENA-CHOMPRÉ, R. R. Interdisciplinaridade,</p><p>trabalho multiprofissional e em equipe: sinônimos?: como se relacionam e o que</p><p>têm a ver com a nossa vida? Revista Olho Mágico, Londrina, v. 5, n. 18, p. 5-6,</p><p>mar. 1999.</p><p>FORTUNA, C. M. et al. Alguns aspectos do trabalho em saúde: os</p><p>trabalhadores e os processos de gestão. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v.</p><p>26, n. 62, p. 272-281, set./dez. 2002.</p><p>FRANCO, T. B.; MERHY, E. E.; BUENO, W. S. O acolhimento e os</p><p>processos de trabalho em saúde: o cão de Betim (MG). In: MERHY, E. E. et al. O</p><p>trabalho em saúde: olhando e expericiando o SUS no cotidiano. 3. ed. São Paulo:</p><p>Hucitec, 2006. p. 37-54.</p><p>GIL, C. R. R. Formação de recursos humanos em saúde da família:</p><p>paradoxos e perspectivas. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21, n.</p><p>2, p. 490-498, mar./abr. 2005.</p><p>HERZLICH C. A problemática da representação social e sua utilidade no</p><p>campo da doença. Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, p.</p><p>57-70, 2005. Suplemento.</p><p>IBGE - INSTITUO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.</p><p>Estimativas populacionais para os municípios brasileiros em julho de 2007.</p><p>Disponível em:</p><p>45</p><p><http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/contagem2007/PR.pdf>.</p><p>Acesso em: 25 ago. 2007.</p><p>IGNARRA, R. M. Medicina: representações</p><p>de estudantes sobre a</p><p>profissão. 2002. Tese - Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São</p><p>Paulo, São Paulo, 2002.</p><p>LEFÉVRE, F.; LEFÉVRE, A. M. C. O pensamento coletivo como soma</p><p>qualitativa. São Paulo, 2003. Disponível em:</p><p><http://hygeia.fsp.usp.br/qualisaude/soma%20qualitativa%209%20de%20fever</p><p>eiro%20de%202004.htm>. Acesso em: 20 fev. 2007.</p><p>LEFÈVRE, F., LEFÈVRE, A. M. C. O discurso do sujeito coletivo: um novo</p><p>enfoque em pesquisa qualitativa (desdobramentos). Caxias do Sul: Educs,</p><p>2005a.</p><p>LEFÈVRE, F.; LEFÈVRE, A. M. C. Depoimentos e discursos: uma</p><p>proposta de análise em pesquisa social. Brasília, DF: Líber Livro, 2005b.</p><p>LEFÈVRE, F.; LEFÈVRE, A. M. C.; TEIXEIRA, J. J. V. T. O discurso do</p><p>sujeito coletivo: uma nova abordagem metodológica em pesquisa qualitativa.</p><p>Caxias do Sul: Educs, 2000.</p><p>MACHADO, M. H. Perfil dos médicos e enfermeiros do Programa Saúde</p><p>da Família no Brasil. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2000. Relatório</p><p>final.</p><p>MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em</p><p>saúde. 7. ed., São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Abrasco, 2000.</p><p>MOSCOVICI, S. Representações sociais: investigações em psicologia</p><p>social. Petrópolis: Vozes, 2003.</p><p>PEDUZZI, M. Equipe multiprofissional de saúde: a interface entre trabalho</p><p>e interação. Campinas. 1998. Tese (Doutorado em Saúde Coletiva) - Faculdade</p><p>de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, Campinas,</p><p>1998.</p><p>46</p><p>PEDUZZI, M. Equipe multiprofissional de saúde: conceito e</p><p>tipologia. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 35, n. 1, p. 103-109, fev.</p><p>2001.</p><p>PEDUZZI, M. Mudanças tecnológicas e seu impacto no processo de</p><p>trabalho em saúde. Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p.</p><p>75-91, 2002.</p><p>PIRES, D. A estrutura objetiva do trabalho em saúde. In: LEOPARDI, M.</p><p>T. et al. (Org.). Processo de trabalho em saúde: organização e subjetividade.</p><p>Florianópolis: Papa Livros, 1999. p. 25-48.</p><p>PIRES, D. Reestruturação produtiva e conseqüências para o trabalho em</p><p>saúde. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, DF, v. 53, n. 2, p. 251-263,</p><p>abr./jun. 2000.</p><p>SCHRAIBER, L. B. et al. Planejamento, gestão e avaliação em saúde:</p><p>identificando problemas. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2, p.</p><p>221-242, 1999.</p><p>SENA-CHOMPRÉ, R. R.; EGRY, E. Y. A enfermagem no projeto UNI: um</p><p>novo projeto político para a enfermagem brasileira. São Paulo: Hucitec,</p><p>1998.</p><p>SILVA, I. Z. Q. J.; TRAD, L. A. B. O trabalho em equipe no PSF:</p><p>investigando a articulação técnica e a interação entre os profissionais. Interface:</p><p>Comunicação, Saúde, Educação, Marília, v. 9, n. 16, p. 25-38, set.2004/fev.</p><p>2005.</p><p>de um material</p><p>verbal constituído, seja através de respostas a um questionário, seja através do</p><p>discurso emitido em entrevistas individuais. Isso coloca, de início, o problema da</p><p>mediação da representação pela linguagem.</p><p>Mas, por outro lado, a partir desses discursos específicos, dessas</p><p>expressões particulares, o pesquisador tenta apreender a lógica comum</p><p>subjacente, o código partilhado, portanto mais geral, que se aplica a todas essas</p><p>discussões, que é o nível das representações sociais.</p><p>Acredito que exista aí um nível de análise específico, correspondente ao</p><p>funcionamento de configurações sociocognitivas bastante globais, graças às</p><p>quais o individual e o coletivo se interpenetram.</p><p>Esta foi a opção aqui adotada, já que o material de base desta pesquisa</p><p>foi constituído por depoimentos coletados individualmente de um tipo</p><p>determinado de ator social: os profissionais de saúde de nível superior.</p><p>Tendo como fundamento a teoria da representação social e seus</p><p>pressupostos sociológicos, o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) (Lefèvre e</p><p>Lefèvre, 2005b) é uma técnica destinada a tornar mais claras e expressivas as</p><p>representações sociais, permitindo que determinado grupo social passe a ser</p><p>visto como autor e emissor de discursos compartilhados.</p><p>A opinião coletiva processada de forma discursiva, segundo esses</p><p>autores, apresenta nítidas vantagens em relação à processada de forma</p><p>6</p><p>puramente categorial: ela é semanticamente mais rica, pois é plena de</p><p>conteúdos significativos, fazendo emergir os variados detalhamentos individuais</p><p>de uma mesma opinião coletiva diante do tema pesquisado.</p><p>Esta pesquisa pretende conhecer as representações dos profissionais de</p><p>saúde, no município de Bandeirantes (PR), sobre o trabalho multiprofissional no</p><p>Serviço Público de Saúde.</p><p>Campo estudado</p><p>Esta pesquisa foi desenvolvida no município de Bandeirantes, localizado</p><p>na região Norte do Estado do Paraná, Brasil, com uma população estimada em</p><p>32.290 mil (IBGE, 2007), onde o atendimento à saúde é prestado pelos seguintes</p><p>servivos: posto central: pronto atendimento médico, pronto atendimento</p><p>odontológico, atendimento médico especializado, atendimento materno-infantil,</p><p>farmácia básica e de manipulação municipal e fisioterapia; unidades</p><p>descentralizadas de saúde: quatro equipes de PSF/PSB.</p><p>As entrevistas foram realizadas no posto central e nas unidades</p><p>descentralizadas.</p><p>Participaram da pesquisa profissionais de saúde de nível superior com</p><p>vinculação à instituição, totalizando 45 profissionais de saúde do Posto Central</p><p>e das Unidades Descentralizadas.</p><p>Neste estudo, utilizou-se o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) (Lefèvre e</p><p>col., 2000; Lefèvre e Lefèvre, 2003) e o software Qualiquantisoft, como técnica</p><p>e instrumento para o processamento de dados.</p><p>A técnica do DSC é um processo complexo, que resulta, ao final, num</p><p>conjunto de discursos coletivos ou DSCs, subdividido em vários momentos,</p><p>efetuados por meio de uma série de operações realizadas sobre o material verbal</p><p>coletado nas pesquisas.</p><p>7</p><p>Para que se produzam os DSCs, são necessárias: expressões-chaves,</p><p>que são trechos selecionados do material verbal de todos os depoimentos</p><p>individuais que melhor descrevem seu conteúdo; ideias centrais, que são</p><p>fórmulas sintéticas que descrevem os sentidos presentes nos depoimentos de</p><p>cada resposta e também nos conjuntos semanticamente semelhantes de</p><p>respostas de diferentes indivíduos.</p><p>Ao final, o conteúdo das respostas de sentido semelhante é reunido em</p><p>discursos-sínteses redigidos na primeira pessoa do singular (Lefèvre e Lefèvre,</p><p>2005b).</p><p>Para analisar as práticas multiprofissionais na atenção primária do Serviço</p><p>Público de Saúde, foi realizada uma entrevista gravada, com base em roteiro</p><p>estruturado contendo perguntas abertas, porém direcionadas a um tema</p><p>específico, visando coletar depoimentos por meio da fala dos atores sociais.</p><p>Compuseram as entrevistas quatro questões abertas direcionadas:</p><p>"Conte para mim como seria o seu dia típico de trabalho no serviço público</p><p>de saúde.";</p><p>"Como você definiria trabalho multiprofissional em saúde no serviço</p><p>público?";</p><p>"O trabalho que você desenvolve normalmente no serviço público de</p><p>saúde é ou tem alguma coisa de trabalho multiprofissional?</p><p>Fale um pouco sobre isso."; "O que você acha que poderia ser feito aqui</p><p>em Bandeirantes para o desenvolvimento do trabalho multiprofissional no serviço</p><p>público de saúde?".</p><p>Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram um gravador</p><p>(Minicassette Recorder RQ-L11) e um roteiro de entrevista contendo duas</p><p>partes: a primeira, com dados cadastrais do entrevistado (sexo, data de</p><p>nascimento, categoria profissional, vínculo empregatício e tempo de serviço na</p><p>rede pública de saúde) e a segunda, contendo quatro perguntas sobre as</p><p>representações dos profissionais de saúde no trabalho multiprofissional no</p><p>Serviço Público de Saúde.</p><p>8</p><p>De acordo com os aspectos éticos, legais e atendendo às orientações da</p><p>Resolução n° 196/96 do Conselho Nacional de Saúde/MS (Brasil, 1996), o</p><p>projeto de pesquisa deste estudo foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética</p><p>em Pesquisa envolvendo Seres Humanos da Universidade Estadual de Londrina</p><p>(CEP/UEL), sob o protocolo n° 267/06, e com autorização da Secretaria</p><p>Municipal de Saúde.</p><p>Antes de iniciar cada entrevista, os sujeitos foram informados sobre os</p><p>objetivos do estudo e a importância da gravação, assegurando o sigilo de todos</p><p>os depoimentos e a liberdade de recusar-se a participar da pesquisa a qualquer</p><p>momento, sem qualquer prejuízo ao entrevistado assinando um Termo de</p><p>Consentimento Livre e Esclarecido.</p><p>Os dados foram coletados pela pesquisadora no período de novembro a</p><p>dezembro de 2006, seguindo rigorosamente no roteiro. As entrevistas duraram</p><p>em média 23 minutos, sendo que a mais curta durou cinco minutos e a mais</p><p>longa, 56 minutos.</p><p>Características da amostra estudada</p><p>Os dados a seguir referem-se ao perfil dos profissionais que aceitaram</p><p>participar da pesquisa; um profissional não aceitou participar da investigação.</p><p>Fizeram parte desta pesquisa as seguintes categorias profissionais:</p><p>Enfermeiro (6), farmacêutico (4), médico (17), nutricionista (1),</p><p>fisioterapeuta (3) e odontólogo (13), totalizando 44 profissionais de saúde.</p><p>Quanto ao sexo, observou-se predominância do sexo feminino entre os</p><p>enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas e nutricionista, compatível com</p><p>outros dados encontrados, que revelaram uma tendência à feminilização das</p><p>profissões no mercado de trabalho em saúde, conforme estudos de Machado</p><p>(2000) e Gil (2005). Segundo o Ministério da Saúde (Bellusci, 2003), na categoria</p><p>médica, há predominância do sexo masculino 115 (55,9%), estando abaixo dos</p><p>dados encontrados neste estudo (76%) para esta categoria.</p><p>9</p><p>A faixa etária dos entrevistados indicou idades menores que dados</p><p>apontados por Machado (2000), segundo os quais há predominância de idade</p><p>de 30 a 39 anos (40%).</p><p>Na faixa etária entre 22 a 29 anos a categoria profissional predominante</p><p>foi enfermeiro (33%); entre 30 a 39 anos, odontólogo (45%), entre 40 a 59 anos</p><p>e acima de 60 anos, médico, com 55% e 80% respectivamente.</p><p>Ignarra (2002) relata que, como consequência do incremento de novas</p><p>escolas médicas, desde o final da década de 1960, e acompanhando a tendência</p><p>de rejuvenescimento da força de trabalho em saúde em geral, hoje a profissão</p><p>médica é exercida majoritariamente por profissionais com menos de 45 anos de</p><p>idade.</p><p>Relata ainda que a maioria dos profissionais de medicina pertence à</p><p>classe média urbana e dificilmente abandonará a estrutura de equipamentos</p><p>sociais e culturais disponíveis nos grandes centros para fixar-se no interior do</p><p>país, o que não corresponde ao encontrado nesta pesquisa.</p><p>Quanto ao tempo de serviço na rede pública de saúde, ao analisarmos</p><p>cada categoria profissional</p><p>isoladamente, pode-se destacar que os médicos</p><p>foram os que apresentaram o maior tempo de serviço, seguido pelos</p><p>odontólogos, em contraposição aos enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas</p><p>e nutricionista.</p><p>O tipo de contrato predominante entre os sujeitos foi o regime CLT</p><p>(Consolidação das Leis do Trabalho), que mesmo estando em conformidade</p><p>com a legislação vigente, tem descaracterizado o perfil do servidor público.</p><p>Esse predomínio de relações trabalhistas formais com contratos sem</p><p>concurso público é um importante dado a ser destacado, considerando que o</p><p>município não tem Planos de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS) e, desta</p><p>forma, não há oportunidade de ascensão profissional para esses trabalhadores.</p><p>Segundo Farias e Vaitsman (2002), as diferentes formas de contrato</p><p>podem gerar tensões, latentes ou manifestas, produzindo, não raro, uma</p><p>hierarquia entre os estáveis e os contratados.</p><p>10</p><p>A precarização dos vínculos de trabalho coloca, ainda, problemas</p><p>derivados do cálculo custo/benefício envolvido no investimento em capacitação</p><p>dos profissionais cuja permanência na organização é incerta ou manifestamente</p><p>transitória.</p><p>Em concordância com Castro (2007), tem se tornado urgente criar</p><p>iniciativas e soluções de enfrentamento do problema e repensar a forma como</p><p>profissionais de saúde, de diferentes categorias ocupacionais, comprometidos</p><p>com a prestação de serviços à população, têm desempenhado suas funções,</p><p>expostos à instabilidade, insegurança e vulnerabilidade.</p><p>Ideias centrais do discurso do sujeito coletivo</p><p>Os resultados qualiquantitativos do DSC serão apresentados por questão,</p><p>com as respectivas ideias centrais e a proporção obtida para cada uma delas.</p><p>Apenas o DSC da ideia central mais frequente, portanto, a mais compartilhada,</p><p>será aqui apresentado.</p><p>No entanto, os comentários referem-se a todos os discursos encontrados.</p><p>Representações sobre o trabalho no serviço</p><p>público de saúde</p><p>Dos depoimentos dos 44 profissionais entrevistados à questão: "Conte</p><p>para mim como seria o seu dia típico de trabalho no serviço público de saúde",</p><p>podendo cada sujeito ter contribuído com mais de uma ideia central.</p><p>É interessante observar que 50% dos profissionais de saúde</p><p>compartilham da ideia de que um dia típico de trabalho no serviço público de</p><p>saúde representa um "atendimento programado", destes, 45% são médicos;</p><p>32%, odontólogos; 9%, enfermeiros; 9%, fisioterapeutas e 5%, nutricionistas.</p><p>Trinta e seis por cento dos profissionais de saúde compartilham da ideia de que</p><p>um dia típico de trabalho no serviço público de saúde representa um</p><p>11</p><p>"atendimento a demanda"; destes, 50% são médicos; 12%, odontólogos; 19%,</p><p>enfermeiros; 12%, farmacêuticos e 6%, fisioterapeutas.</p><p>Dos 27% que compartilham da ideia de que um dia típico de trabalho no</p><p>serviço público de saúde representa um "trabalho desgastante", 50% são</p><p>médicos; 17%, odontólogos; 17%, enfermeiros e 17%, farmacêuticos.</p><p>Sete por cento que compartilham da ideia de que um dia típico de trabalho</p><p>no serviço público de saúde representa um "trabalho vocacionado"; destes, 33%</p><p>são médicos e 67%, odontólogos.</p><p>Nove por cento compartilham da ideia de que um dia típico de trabalho no</p><p>serviço público de saúde representa um "trabalho administrativo"; destes, 75%</p><p>são enfermeiros e 25%, farmacêuticos.</p><p>O mais interessante é observar que para esses profissionais a visão</p><p>administrativa está presente em duas categorias, enfermeiros e farmacêuticos,</p><p>ao passo que o nutricionista só aparece nas atividades programáticas.</p><p>Segundo Araújo e Freitas (2006), o objeto de trabalho farmacêutico na</p><p>unidade de saúde é fortemente marcado pela gestão burocrática, ou seja,</p><p>garantir a disponibilidade do medicamento ao usuário.</p><p>As atividades desenvolvidas estão condicionadas às condições do local</p><p>de trabalho e ao modelo de gestão.</p><p>Silva e Trad (2005) afirmam que os enfermeiros acabam mediando as</p><p>relações não só entre os trabalhadores da equipe, mas também destes com a</p><p>coordenação municipal, o que pode ser atribuído ao fato de que, historicamente,</p><p>o profissional de enfermagem tem assumido preferencialmente funções de</p><p>gerência e administração nos serviços de saúde.</p><p>O enfermeiro insere-se nessa produção com fazeres técnicos</p><p>(atendimentos específicos) e burocráticos (escalas, pedidos de materiais).</p><p>(Fortuna e col., 2002).</p><p>12</p><p>DSC da ideia central A - Trabalho Programado</p><p>Chego às sete e trinta da manhã, já tem os pacientes agendados, e</p><p>começo a chamá-los pela ordem de horário.</p><p>Para atender os pacientes portadores de necessidades especiais tem</p><p>uma diferenciação que é a contenção, tem o controle do programa de hiperdia,</p><p>glicemia capilar e pressão arterial, orientações porque é necessário que o</p><p>paciente tenha todo o acompanhamento.</p><p>Tem também, o programa do sis/pré-natal que é o Sistema de Informação</p><p>a Atenção ao Pré-natal e o grupo de gestantes.</p><p>As gestantes participam nove meses desse grupo e, além dos trabalhos</p><p>manuais, é promovido o aleitamento materno, preparo da mama, o planejamento</p><p>familiar, para promover a saúde dessas gestantes.</p><p>A obstetrícia não é uma rotina porque sempre tem alguma coisa diferente</p><p>a ser verificada, onde todo dia nós temos situações diferentes que vem até a</p><p>incentivar o trabalho.</p><p>Quando nasce esse nenê vamos trabalhar o programa de puericultura que</p><p>é o acompanhamento nos primeiros dias de vida até um ano de vida e a</p><p>vacinação.</p><p>O atendimento de fisioterapia, pacientes de ortopedia, cardiologia,</p><p>pneumologia, ortopedia, traumatologia, pediatria, neurologia, tuberculose,</p><p>hanseníase e acompanhamento nutricional são feitos conforme a necessidade e</p><p>patologia do paciente: se é semanal, mensal, bimestral ou trimestral; também</p><p>fazemos atendimento no asilo.</p><p>Pedimos exames radiológicos; fazemos gesso ambulatoriamente;</p><p>infiltrações; exames laboratoriais e as medicações são receitados de acordo com</p><p>as medicações disponíveis no posto do SUS.</p><p>Temos também que dar conta das visitas domiciliares: isso é infalível, é</p><p>obrigação do ofício, e dos curativos domiciliares para atender pacientes</p><p>acamados.</p><p>13</p><p>Os pacientes que são debilitados pedimos ajuda da ambulância para</p><p>poderem fazer a fisioterapia.</p><p>Então dentro do possível, procuramos resolver a maioria dos casos, mas</p><p>temos dificuldade porque dependemos de muitos exames que não dá para se</p><p>fazer no momento.</p><p>Esses discursos revelam que os profissionais de saúde entrevistados</p><p>consideram seu dia-a-dia de trabalho no serviço público um atendimento</p><p>programado, administrativo, determinado pela demanda, desgastante, porém</p><p>vocacionado.</p><p>Essa aparente simplicidade de um trabalho encadeado oculta as</p><p>contradições do processo de trabalho, conforma a manutenção da alienação do</p><p>trabalhador em relação à sua inserção nesse processo de produção (Fortuna e</p><p>col., 2002).</p><p>Semelhante ao que ocorre em outras áreas da administração pública,</p><p>como educação, segurança e assistência social, o processo organizativo das</p><p>Unidades Básicas Saúdes (UBS) ainda é deficiente, dificultando a concretização</p><p>das políticas públicas (Botti e Scochi, 2006).</p><p>Contudo, segundo Silva e Trad (2005), a necessidade de responder às</p><p>demandas do serviço impede, muitas vezes, de serem colocadas em prática</p><p>ações programadas.</p><p>Além disso, o grande número de atividades que cada profissional exerce</p><p>faz com que, ao longo do tempo, a concepção de trabalho se fragmente.</p><p>Então, o planejamento é realizado de forma individualizada, isto é, cada</p><p>profissional de nível superior define suas ações e programa suas atividades.</p><p>Os principais problemas deveriam ser identificados na comunidade</p><p>mediante estudos epidemiológicos que orientam a oferta organizada ou</p><p>programada no nível local, o que implica na incorporação de planejamento em</p><p>saúde no cotidiano dos profissionais.</p><p>14</p><p>No entanto, o discurso expressa que o planejamento</p><p>global, de caráter</p><p>coletivo, não faz parte da realidade dos profissionais desta pesquisa.</p><p>Representações sobre o trabalho multiprofissional</p><p>Nas respostas dos 44 profissionais entrevistados à questão "Como você</p><p>definiria trabalho multiprofissional em saúde no serviço público?",</p><p>Podendo cada sujeito ter contribuído com mais de uma ideia central.</p><p>Observa-se que 18% dos profissionais de saúde compartilham da ideia de</p><p>que o trabalho multiprofissional em saúde no serviço público é um "trabalho</p><p>desenvolvido por áreas/setores/serviços diferentes";</p><p>Destes 50% são médicos; 25%, odontólogos; 12,5%, enfermeiros e</p><p>12,5%, fisioterapeutas.</p><p>Sessenta e um por cento dos profissionais de saúde compartilham da</p><p>ideia de que o trabalho multiprofissional em saúde no serviço público é um</p><p>"trabalho desenvolvido por profissionais diferentes (equipe multiprofissional)";</p><p>destes, 37% são médicos; 26%, odontólogos; 15%, enfermeiros; 15%,</p><p>farmacêuticos; 4%, fisioterapeutas e 4% nutricionista.</p><p>Dos 18% que compartilham da ideia de que o trabalho multiprofissional</p><p>em saúde no serviço público é um "trabalho em equipe", 37,5% são médicos;</p><p>12,5%, odontólogos; 25%, enfermeiros; 12,5%, farmacêuticos e 12,5%,</p><p>fisioterapeutas.</p><p>Onze por cento compartilham da ideia de que o trabalho multiprofissional</p><p>em saúde no serviço público é um "trabalho multifuncional"; destes, 20% são</p><p>médicos; 60%, odontólogos e 20%, enfermeiros.</p><p>Vinte por cento compartilham da ideia de que o trabalho multiprofissional</p><p>em saúde no serviço público é um "trabalho humanizado"; destes, 56% são</p><p>odontólogos; 22%, enfermeiros; 11%, farmacêuticos e 11%, fisioterapeutas. Dois</p><p>por cento não responderam à questão.</p><p>15</p><p>DSC da ideia central B - Trabalho desenvolvido por profissionais</p><p>diferentes (equipe multiprofissional)</p><p>O trabalho multiprofissional é a integração, o envolvimento de vários</p><p>profissionais de formação e especialidades diferentes como médico, dentista,</p><p>farmacêutico, fonoaudiologista, fisioterapeuta, psicóloga, enfermeira padrão,</p><p>nutricionista, assistente social, auxiliares e técnicos de enfermagem, moça da</p><p>limpeza, o atendente do balcão e agentes comunitários para que se tenha uma</p><p>equipe formada, para poder assim solucionar os problemas necessários que há</p><p>de surgir no dia-a-dia do atendimento do posto de saúde.</p><p>Tem que ter certa harmonia, respeitar a inter-relação com as outras</p><p>disciplinas da odontologia e médica, uma concatenação, todos falando a mesma</p><p>língua, um dando respostas pra necessidades do outro, para gerar uma</p><p>totalidade, um resultado eficiente que seria o atendimento global.</p><p>Os discursos expressam uma divergência ao destacar as concepções</p><p>quanto ao trabalho multiprofissional.</p><p>Observa-se que predomina a concepção de equipe do senso comum, em</p><p>que a equipe é representada como o conjunto de profissionais em situações</p><p>comuns de trabalho. Se assim fosse, todo conjunto de trabalhadores configuraria</p><p>equipe e todo trabalho seria trabalho em equipe (Peduzzi, 2001).</p><p>Sendo assim, é importante diferenciar trabalho multiprofissional de</p><p>trabalho em equipe. No trabalho multiprofissional, existe uma interação entre os</p><p>vários conhecimentos técnicos específicos com a produção de uma</p><p>solução/proposta de intervenção que não seria produzida por nenhum dos</p><p>profissionais isoladamente.</p><p>O trabalho em equipe é fundamental e implica no compartilhar do</p><p>planejamento, na divisão de tarefas, na cooperação e na colaboração, que pode</p><p>(e deve) acontecer entre profissionais de uma mesma disciplina, entre</p><p>profissionais de uma mesma carreira e também dentro de uma equipe</p><p>multiprofissional.</p><p>16</p><p>No entanto, não implica necessariamente construção de um novo saber</p><p>ou de uma nova prática. O que cria a possibilidade do novo é a interação</p><p>democrática entre diferentes atores, saberes, práticas, interesses e</p><p>necessidades (Feuerwerker e Sena-Chompré, 1999).</p><p>O trabalho em equipe multiprofissional consiste em modalidade de</p><p>trabalho coletivo que se configuraria na relação recíproca entre as múltiplas</p><p>intervenções técnicas e a interação dos agentes de diferentes áreas</p><p>profissionais. Por meio dessa relação dialética entre trabalho e interação, os</p><p>agentes poderiam construir um projeto assistencial comum e pertinente para a</p><p>atenção integral às necessidades de saúde dos usuários do serviço (Peduzzi,</p><p>1998).</p><p>A multiprofissionalidade, conforme Sena-Chompré e Egry (1998), diz</p><p>respeito à atuação conjunta de várias categorias profissionais, ou seja, à</p><p>organização do processo de trabalho que se realiza por diferentes profissionais.</p><p>Multidisciplinar refere-se ao campo da organização do conhecimento e do</p><p>pensar.</p><p>O trabalho em equipe requer a compreensão de várias disciplinas para</p><p>lidar com a complexidade que é a atenção primária, que toma à saúde no seu</p><p>contexto pessoal, familiar e social, bem como a promoção da saúde, a prevenção</p><p>e reabilitação, trazendo a intersetorialidade como parceira na resolutividade dos</p><p>problemas de saúde.</p><p>Para que haja um trabalho multiprofissional não basta apenas ter uma</p><p>equipe formada.</p><p>Para caminhar em direção ao trabalho multiprofissional e o sujeito decidir</p><p>mudar ou incorporar novos valores à sua prática e conceitos, é necessário o</p><p>contato com os desconfortos experimentados no cotidiano do trabalho e a</p><p>percepção de que a maneira vigente de fazer ou de pensar é insuficiente ou</p><p>insatisfatória para dar conta dos desafios do trabalho.</p><p>Esse desconforto tem que ser intensamente admitido, vivido e percebido.</p><p>17</p><p>A reflexão sobre as práticas vividas é que podem produzir o contato com</p><p>o desconforto e, depois, a disposição para produzir mudanças na prática.</p><p>A articulação das ações ou dos trabalhos requer, da parte de cada agente,</p><p>um dado conhecimento acerca do trabalho do outro e o reconhecimento de sua</p><p>necessidade para a atenção integral à saúde, ou seja, a própria articulação das</p><p>ações requer, ao menos, certa modalidade de relação entre os agentes, em que,</p><p>ao menos algumas informações sejam trocadas, mesmo que não se estabeleça</p><p>um agir comunicativo como interação (Schraiber e col., 1999).</p><p>Representações sobre a prática do trabalho</p><p>multiprofissional no serviço público de saúde</p><p>Ideias centrais obtidas nas respostas dos 44 profissionais à questão "O</p><p>trabalho que você desenvolve normalmente no serviço público de saúde é ou</p><p>tem alguma coisa de trabalho multiprofissional? Fale um pouco sobre isso.",</p><p>podendo cada sujeito ter contribuído com mais de uma ideia central.</p><p>Quarenta e oito por cento dos profissionais de saúde respondeu "sim,</p><p>porque conta com profissionais de várias especialidades"; destes, 43% são</p><p>médicos; 14%, odontólogos; 14%, enfermeiros, 14%, farmacêuticos, 10%,</p><p>fisioterapeutas e 5%, nutricionista.</p><p>Dois por cento responderam "sim, porque integra áreas e setores</p><p>diferentes"; destes, 100% são odontólogos. Dos 14% que responderam "sim,</p><p>porque é um trabalho que integra vários profissionais com especialidades e</p><p>várias áreas/setores", 33,3% são médicos; 33,3%, odontólogos e 33,3%,</p><p>farmacêuticos.</p><p>Quatro por cento responderam "sim, porque é um trabalho humanizado",</p><p>destes, 50% são enfermeiros e 50 % fisioterapeutas.</p><p>Nove por cento responderam é "sim porque é um trabalho multifuncional";</p><p>destes, 75% são médicos e 25% enfermeiros.</p><p>18</p><p>Vinte e sete por cento respondeu "não, porque não há interação entre os</p><p>profissionais"; destes, 42% são médicos, 8%, enfermeiros, 33%, odontólogos e</p><p>17%, fisioterapeutas.</p><p>Quatro por cento responderam "Não, porque atualmente não há o trabalho</p><p>multifuncional"; destes, 100% são odontólogos.</p><p>DSC da ideia central A - Sim, porque conta com profissionais de</p><p>várias especialidades</p><p>Sim, o trabalho que desenvolvo é multiprofissional porque a assistência</p><p>farmacêutica tem que estar integrada com todos os outros profissionais, na</p><p>seleção dos medicamentos tem a participação do</p><p>médico, enfermeiro e do</p><p>dentista com o objetivo de ter uma seleção racional visando o menor custo e</p><p>maior qualidade.</p><p>Também tem a participação do enfermeiro, do agente comunitário de</p><p>saúde e dos auxiliares de enfermagem na fiscalização quanto ao uso dos</p><p>medicamentos pelos pacientes, para que consiga uma boa assistência e um bom</p><p>trabalho na secretaria.</p><p>Na assistência a gestantes tem o envolvimento das enfermeiras,</p><p>dentistas, fisioterapeutas, nutricionistas e outras áreas para o bem-estar das</p><p>gestantes e futuros bebê com instruções e orientações.</p><p>Quanto à assistência nutricional, os médicos que encaminham à</p><p>nutricionista, e esta passa as informações para o médico de como está o</p><p>paciente dele.</p><p>Ao lado da minha sala existe o serviço de odontologia, então, quase</p><p>sempre peço a presença do dentista para reforçar o atendimento, ela vem e</p><p>reforça.</p><p>As outras especialidades (fonoaudiologia, otorrino, fisioterapia</p><p>respiratória) por ficar em outro lugar e o médico também não ficar em um lugar</p><p>19</p><p>específico não tem contato um pessoal, uma comunicação muito assídua, de</p><p>comunicar a outro profissional o que aconteceu com o paciente.</p><p>No Programa Saúde da Família, os profissionais trabalham mais ou</p><p>menos em equipe porque atendemos as consultas, fazemos as visitas</p><p>necessárias, temos os agentes de saúde que fazem o trabalho de campo e que</p><p>procuram aqueles pacientes que tenham a maior necessidade, a maior carência</p><p>para ser chamado; quando chega à ocasião é feita uma colocação daqueles que</p><p>tem uma urgência um pouco antes.</p><p>Quando [há] alguma coisa que não anda correto, encaminho ao médico</p><p>para o médico encaminhar para "fono", nutrição, neurologista, de certa forma</p><p>todos os profissionais integram um trabalho multiprofissional, principalmente os</p><p>especialistas.</p><p>Então não sou eu que acompanho esse paciente, sempre peço ao</p><p>superior [médico] para encaminhar ao especialista e para outros centros para</p><p>que seja tratado da maneira correta, porque na minha realidade não tem como</p><p>trabalhar um profissional sozinho e tenho mais facilidade de contatos com os</p><p>médicos para obter resolutividade e agilidade do atendimento respeitando, claro,</p><p>a hierarquia [médico] que existe.</p><p>E também em determinadas situações, no caso de gestante, paciente</p><p>especial, hipertenso, diabético paciente com uma deficiência renal tenho que</p><p>fazer um pequeno contato ou encaminhá-lo ao médico que vai encaminhá-lo.</p><p>Então no dia-a-dia consigo fazer algumas coisas; sem dúvida, não tem</p><p>como atuar sozinho muitas vezes nem sei como atuar por falta de preparação,</p><p>então necessito de todos os profissionais trabalhando juntos dentro da limitação</p><p>que existe no SUS.</p><p>Esses depoimentos vêm de encontro ao que relatam Fortuna e</p><p>colaboradores (2002) quanto ao fato de que parcelamento pode continuar se</p><p>reproduzindo mesmo quando contamos com trabalhadores de outras</p><p>especialidades como fonoaudiologia, psicologia e serviço social, cada um</p><p>fazendo uma parte, mas perdendo a dimensão do todo.</p><p>20</p><p>De fato, nesse parcelamento os trabalhadores vão se fazendo</p><p>responsáveis por partes, por parcelas, ao mesmo tempo em que se reproduzem</p><p>enquanto homens fragmentados. Assim, perde-se a finalidade do trabalho e o</p><p>próprio sentido de existência da unidade dentro do sistema local de saúde.</p><p>O processo de trabalho é estruturado e comandado pelos saberes e atos</p><p>do médico; o discurso mostra que os profissionais não-médicos não têm</p><p>autonomia para o trabalho assistencial nem mesmo para exercer o que lhes é</p><p>facultado como competência profissional.</p><p>Ainda quanto à comunicação, observa-se que é mínima, restringindo-se</p><p>quase sempre a um conteúdo técnico sendo que a unidade odontológica não é</p><p>considerada parte integrante da equipe de PSF, o que é imprescindível para o</p><p>prosseguimento ou encadeamento das ações.</p><p>O rompimento deste paradigma depende essencialmente de condutas</p><p>administrativas centrais ou locais. Os modelos mostram têm se revelado</p><p>ultrapassados e desgastados.</p><p>A busca de coerência com a realidade, em que o termômetro é a</p><p>insatisfação do profissional, a ineficiência do atendimento e a negação dos</p><p>princípios e diretrizes do SUS, é a única maneira de se encontrar uma saída para</p><p>a modernização e a atualização do sistema.</p><p>Para Pires (1999), o trabalho é compartimentalizado, cada categoria</p><p>profissional organiza-se e presta parte da assistência de saúde separada dos</p><p>demais, muitas vezes duplicando esforços e tomando atitudes contraditórias.</p><p>O médico é o elemento central do processo assistencial institucional em</p><p>saúde; os demais profissionais que participam da assistência estão</p><p>subordinados às decisões médicas, ou seja, executam as atividades delegadas.</p><p>As pessoas tendem a cristalizar-se em identidades reativas, que as</p><p>induzem a desconfiar do outro e a se defender da concorrência alheia.</p><p>É comum o profissional construir identidade e segurança apegando-se à</p><p>identidade de seu núcleo de especialidade, o que dificulta a abertura para a</p><p>interação inevitável em espaços interdisciplinares (Campos e Domitti, 2007).</p><p>21</p><p>Representações da participação dos profissionais</p><p>de saúde para o desenvolvimento do trabalho</p><p>multiprofissional</p><p>"O que você acha que poderia ser feito aqui em Bandeirantes para o</p><p>desenvolvimento do trabalho multiprofissional no serviço público de saúde?",</p><p>Observa-se que 27% dos profissionais de saúde compartilham da ideia de</p><p>que para o desenvolvimento do trabalho multiprofissional no serviço público de</p><p>saúde é necessária “interação entre os setores/profissionais de saúde";</p><p>Destes, 34% são médicos; 33%, odontólogos; 8%, enfermeiros, 17%,</p><p>fisioterapeutas e 8%, nutricionista.</p><p>Trinta e seis por cento dos profissionais de saúde compartilham da ideia</p><p>de que para o desenvolvimento do trabalho multiprofissional no serviço público</p><p>de saúde são necessários “recursos materiais e físicos para a melhoria do</p><p>atendimento";</p><p>Destes, 31% são médicos; 37%, odontólogos; 19%, enfermeiros, 27%,</p><p>farmacêuticos e 9%, fisioterapeutas.</p><p>Dos 25% que compartilham da ideia de que para o desenvolvimento do</p><p>trabalho multiprofissional no serviço público de saúde é necessária</p><p>“capacitação/conscientização dos profissionais de saúde", 27% são médicos;</p><p>18%, odontólogos, 18%, enfermeiros, 27%, farmacêuticos e 9%, fisioterapeutas.</p><p>Dezoito por cento que compartilham da ideia de que para o</p><p>desenvolvimento do trabalho multiprofissional no serviço público de saúde é</p><p>necessária “educação em saúde"; destes, 50% são médicos, 37,5%,</p><p>odontólogos e 12,5%, fisioterapeutas.</p><p>Sete por cento que compartilham da ideia de que para o desenvolvimento</p><p>do trabalho multiprofissional no serviço público de saúde é necessária</p><p>“contratação de profissionais para o serviço público de saúde"; destes, 67% são</p><p>médicos e 33%, enfermeiros.</p><p>22</p><p>Onze por cento que compartilham da ideia de que para o desenvolvimento</p><p>do trabalho multiprofissional no serviço público de saúde é necessária</p><p>“fiscalização/coordenação do serviço de saúde"; destes, 60% são médicos, 20%,</p><p>farmacêuticos e 20%, fisioterapeutas.</p><p>Onze por cento que compartilham da ideia de que para o desenvolvimento</p><p>do trabalho multiprofissional no serviço público de saúde é necessária</p><p>“remuneração salarial dos profissionais de saúde"; destes, 40% são médicos,</p><p>40%, odontólogos e 20%, enfermeiros.</p><p>Dois por cento relataram que "não falta nada".</p><p>DSC ideia central B - Recursos materiais e físicos para a melhoria do</p><p>atendimento</p><p>O hospital pelas dificuldades está sem condições de dar aquele</p><p>atendimento, e as verbas transferidas, quando não atrasa, vêm diminuída.</p><p>O atendimento para mulher, principalmente as gestantes, por exemplo,</p><p>quando chega na hora do parto é o médico plantonista que atende, seria muito</p><p>melhor se ela tivesse do lado dela o médico que fez o pré-natal e este a</p><p>acompanhasse no puerpério, mas o que falta é a verba,</p><p>é o medicamento e é o</p><p>instrumental.</p><p>Quando você precisa de um medicamento, que você confiaria, para</p><p>resolver o problema, o paciente não pode comprar e a farmácia pública não tem</p><p>o medicamento, então você procura economizar e resolver com o medicamento</p><p>que poderia classificá-los em até não-confiáveis.</p><p>O número de consultas que existe no posto de saúde deveria diminuir</p><p>para cada médico poder dar uma avaliação melhor em cada paciente, para poder</p><p>encaminhar adequadamente para cada setor ou então poder realizar um</p><p>diagnóstico, porque não tem tempo de avaliar adequadamente o paciente, são</p><p>muitas consultas no dia-a-dia de cada médico neste posto.</p><p>23</p><p>Apesar da reforma no SUS, onde as salas ficaram mais distribuídas, mais</p><p>adequadas para o tratamento, falta um investimento maior na saúde, precisa de</p><p>mais aparelhos, equipamentos, materiais, todos os atendimentos deveriam ser</p><p>informatizados.</p><p>Deveria ser feito um aumento na estrutura para que os profissionais</p><p>possam se encontrar e discutir os casos com uma junta de profissionais de</p><p>interesse para aquele paciente; assim seria mais fácil ter informações e</p><p>melhoraria o atendimento, pois o paciente tem que ter o direito a uma dignidade</p><p>maior.</p><p>Tem muita coisa que tem que ser melhorada, não resta dúvida, apesar de</p><p>terem investido um pouco, falta verba. Teria que ter mais investimentos de outras</p><p>áreas, das outras esferas porque só o município não tem condições e toda vez</p><p>que a paciente precisa de um atendimento especializado, tem que deslocar para</p><p>cidade vizinha, isso dificulta o atendimento.</p><p>Mas porque não se resolve aqui? Porque não tem estrutura adequada,</p><p>sendo que podia ser resolvido aqui se tivesse o serviço montado de</p><p>especialidades como: raio X; oftalmologista; ortopedia; psiquiatria; CEO (Centro</p><p>de Especializações Odontológicas) que teria a área de periodontia, de</p><p>endodontia, de prótese e de ortodontia; Programa Sorridente; um centro de</p><p>prevenção infantil separado da pediatria, da ginecologia e da obstetrícia;</p><p>neurologia; um atendimento hospitalar para as pessoas carentes com igualdade</p><p>e que tivessem condições de atender todos que fossem encaminhados.</p><p>As nossas gestantes [com] sobrepeso, por exemplo, tem que ser</p><p>encaminhadas imediatamente ao atendimento com a nutricionista, mas não</p><p>consegue porque não tem vaga, ela sozinha não dá conta, são nove meses.</p><p>Então se a nutricionista e a psicóloga rodassem mais nas unidades,</p><p>poderíamos dividir esses pacientes e não ficaríamos com aquelas agendas que</p><p>dura aí de dois a três meses. É necessário dar melhores condições de trabalho,</p><p>seria o ideal para melhorar o atendimento nosso e ir tocando.</p><p>24</p><p>Esse discurso expressa a dificuldade estrutural de comunicação entre os</p><p>profissionais de saúde e o anseio por melhores condições de trabalho no</p><p>desenvolvimento de ações e programas de saúde.</p><p>Para isso, as criações de espaços coletivos, em que equipes de saúde</p><p>compartilhem a elaboração de planos gerenciais e de projetos comuns,</p><p>dependem ainda de uma ampla reformulação da mentalidade dos profissionais</p><p>e gestores e da legislação do sistema de saúde.</p><p>Em concordância com Farias e Vaitsman (2002), afirmamos que a</p><p>necessidade de mudanças orientadas para o alcance de maior eficiência e</p><p>qualidade implicam compreensão dos ambientes interno e externo, nos quais as</p><p>organizações efetivamente operam, ou seja, das representações, valores e</p><p>práticas instituídas na organização específica e na sociedade em que se insere.</p><p>Na área da saúde, a construção de unidades de gestão obedece à lógica</p><p>corporativa e das profissões, que a organiza em departamentos, diretorias ou</p><p>coordenações, recortadas segundo profissão ou especialidade médica, como</p><p>está organizado o sistema de saúde do município estudado.</p><p>Esse tipo de estrutura contribui para diluir a responsabilidade sanitária</p><p>sobre os casos acompanhados, devido à dupla fragmentação, do processo de</p><p>trabalho e da unidade de gestão, que dificulta a identificação clara do</p><p>responsável clínico, bem como torna impossível uma integração comunicativa</p><p>das abordagens diagnósticas e terapêuticas.</p><p>Esse fenômeno está sendo denominado, por Campos e Domitti (2007), de</p><p>obstáculo estrutural à prática de uma clínica ampliada, bem como do trabalho</p><p>interdisciplinar.</p><p>Apesar de o discurso apontar para necessidades de materiais e</p><p>equipamentos para o atendimento integral, inovações no processo de trabalho</p><p>podem contribuir para um atendimento eficiente.</p><p>Para Franco e colaboradores (2006), as unidades da rede básica</p><p>poderiam contar com outras equipes de apoio, nos casos opcionais, na</p><p>dependência sempre do diagnóstico situacional.</p><p>25</p><p>Referem-se às equipes de saúde mental, reabilitação, cirurgia</p><p>ambulatorial, bem como de outras especialidades consideradas importantes, por</p><p>sua contribuição para a elevação da capacidade de o nível local resolver</p><p>autonomamente problemas de saúde.</p><p>Esta pesquisa permitiu entender como o trabalhador da área da saúde</p><p>pensa e age na realização de suas atividades e como compreende seu trabalho.</p><p>Consequentemente, permitiu vislumbrar os passos para a tomada de</p><p>decisões no sentido de promover melhorias nas condições de trabalho e de</p><p>fatores associados intervenientes.</p><p>Com a metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo foi possível conhecer</p><p>o conjunto de representações sociais dos profissionais de saúde sobre o trabalho</p><p>multiprofissional no serviço público de saúde municipal, configurando uma</p><p>determinada cadeia significante e argumentativa.</p><p>No que diz respeito especificamente ao conteúdo destas representações</p><p>que enfocam o tema do trabalho multiprofissional nas práticas dos profissionais</p><p>de atenção primária do Serviço Público de Saúde, nota-se claramente a</p><p>fragmentação do trabalho assistencial entre as categorias de profissionais.</p><p>Desvela-se o relacionamento interno dos profissionais e a inexistência de</p><p>responsabilidade coletiva pelos resultados do trabalho, levando à</p><p>descontinuidade das ações específicas de cada profissional, observando-se</p><p>desarticulação entre ações curativas, educativas, administrativas e baixo grau</p><p>de interação entre médicos, enfermeiras, farmacêuticos, fisioterapeutas,</p><p>odontólogos e nutricionistas.</p><p>Suas ações são isoladas, sendo que cada profissional ou grupo</p><p>profissional se organiza e presta parte da assistência à saúde separadamente</p><p>dos demais. São perceptíveis os indícios dessa prática isolada em contextos</p><p>como o da estrutura dos serviços de saúde e campanhas educativas, que</p><p>reforçam a divisão do trabalho, em detrimento da possibilidade de interação entre</p><p>os profissionais das diferentes áreas.</p><p>26</p><p>Os depoimentos expressam a convivência de características do trabalho</p><p>parcelado: inexistência de práticas interdisciplinares no processo assistencial em</p><p>saúde, de modo que a especialização do conhecimento, em vez de possibilitar</p><p>avanço, gera fragmentação e alienação. Ocorre, ainda, a inexistência de</p><p>coordenação da assistência prestada pelos diversos grupos de profissionais de</p><p>saúde, bem como de instâncias de planejamento coletivo e de espaços conjuntos</p><p>de avaliação da assistência prestada.</p><p>O trabalho em saúde mantém fortes características da lógica taylorista,</p><p>permeado por ideias preconizadas pela gerência clássica, ou seja, a divisão do</p><p>trabalho nos moldes tradicionais: chefias intermediárias por categoria</p><p>profissional definem o trabalho a ser realizado pelos menos qualificados.</p><p>Os discursos explicitam a existência de barreiras para o desenvolvimento</p><p>do trabalho multiprofissional, como a ausência de novas formas de gestão, a</p><p>flexibilização das relações de trabalho e a necessidade de resolução de questões</p><p>antigas, como remuneração salarial, planos de cargos e carreiras, e organização</p><p>do serviço com instalação de mecanismos que possam evitar a intensa</p><p>rotatividade de profissionais.</p><p>O profissional de saúde não se vê como</p><p>parte do coletivo organizado para</p><p>a produção de ações, falta a ele uma reflexão de suas próprias representações</p><p>sobre o trabalho multiprofissional.</p><p>A prática (exercício) profissional dos atores entrevistados necessita de</p><p>novos posicionamentos e relações interpessoais, substanciadas na</p><p>responsabilidade e complementaridade da ação multiprofissional, da construção</p><p>do objeto de conhecimento e de autonomia para utilizar estratégias de</p><p>intervenção, que devem primeiro atuar no âmago deles, pois estão quase</p><p>sempre desestimulados e atuando sob pressão e transferindo para o</p><p>vocacionado a insistência em continuar atuando como profissional de saúde.</p><p>Sabemos que as mudanças demandam tempo; que as organizações de</p><p>saúde são espaços sociais por natureza conflituosos, nos quais a solidariedade</p><p>e a coesão apresentam as mesmas fragilidades encontradas em outros</p><p>ambientes de interação social; que diferentes grupos e indivíduos possuem</p><p>27</p><p>expectativas e objetivos distintos, e as estratégias mobilizadas para alcançá-los</p><p>produzem, não raro, situações de conflito.</p><p>O primeiro passo na direção de conhecer as representações, os valores</p><p>e as práticas instituídas pelos profissionais no serviço de saúde do município foi</p><p>dado.</p><p>As instituições hospitalares trabalham diariamente com um alto número</p><p>de atendimentos de pacientes e demandam procedimentos e serviços</p><p>hospitalares de alta complexidade, dentre eles: as unidades de centro cirúrgico,</p><p>exames e procedimentos de endoscopia digestiva e colônica, hemodinâmica,</p><p>diagnósticos por imagem e terapia intensiva com a utilização, muitas vezes, de</p><p>órtese, prótese e materiais especiais (OPME).</p><p>Para tanto, as políticas de qualidade e segurança do paciente são</p><p>fundamentais para diminuir a probabilidade de erros e risco de falhas no</p><p>processo de trabalho, aumentando a confiabilidade e a qualidade assistencial.</p><p>Diversos pontos do processo podem ser críticos para o atendimento</p><p>adequado do paciente e, qualquer falha em uma dessas etapas pode acarretar</p><p>na ausência de disponibilidade da OPME e impactar direta e negativamente</p><p>sobre a condição de saúde do paciente.</p><p>A complexidade deste processo exige da equipe multiprofissional um</p><p>desempenho afinado e um conhecimento técnico-científico muito específico.</p><p>Convém enfatizar que os processos administrativos em áreas específicas são</p><p>gerenciados por enfermeiros.</p><p>O processo de trabalho do cuidado com OPME é considerado de alto</p><p>custo para a operação do hospital. Para que uma OPME seja utilizada na</p><p>atenção ao paciente, é necessária a participação tanto de profissionais da</p><p>assistência quanto daqueles da tecnologia de informação para que os processos</p><p>sejam desenhados minuciosamente e cumpridos com rigor para o controle de</p><p>ingresso, preparo, utilização, devolução e faturamento desses insumos.</p><p>28</p><p>Tratamentos específicos em saúde, tais como os procedimentos</p><p>cirúrgicos que utilizam OPME são discutidos apenas pelos médicos podendo</p><p>gerar falhas no sistema.</p><p>Quando o processo falha em algum ponto, o custo da operação</p><p>permanece ativo, pois os recursos humanos, tecnológicos e logísticos continuam</p><p>instalados, sendo acrescidos, nessas situações, os custos de ociosidade de sala</p><p>de cirurgia, preparo inadequado do paciente e família, entre outros.</p><p>A OPME representa entre 15 a 25% de todos os gastos resultantes de um</p><p>atendimento.</p><p>Desta forma, este processo torna-se quase inadministrável,</p><p>especialmente quando se trata do volume atual de OPME utilizado nas</p><p>instituições hospitalares.</p><p>Em 2005, a Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, reconhecendo</p><p>a necessidade da redução dos danos devido a erros no ambiente cirúrgico</p><p>estabeleceu aumentar os padrões de qualidade com quatro ações: prevenção</p><p>de infecção do sítio cirúrgico, anestesia segura, equipes cirúrgicas seguras e</p><p>indicadores de assistência cirúrgica.</p><p>Baseado nisto, a Organização Mundial da Saúde iniciou a campanha</p><p>“Cirurgias Seguras Salvam Vidas”.</p><p>Impulsionadas pela necessidade prática de melhorias e controle de</p><p>qualidade nos processos voltados à assistência de pacientes, algumas</p><p>ferramentas criadas e utilizadas amplamente pela indústria têm sido adotadas e</p><p>difundidas no âmbito hospitalar, dentre eles: a FMEA (Failure Mode and Effects</p><p>Analysis) ou Análise dos Modos de Falha e seus Efeitos.</p><p>Esta ferramenta é uma excelente metodologia utilizada na detecção de</p><p>modo de falhas conhecidas ou potenciais em produtos ou processos, permitindo</p><p>que ações sejam planejadas antes que esses cheguem ao cliente final, isto é,</p><p>trabalham a ocorrência de eventos adversos de forma prospectiva.</p><p>A FMEA pode ser de quatro tipos: de produto utilizado para avaliar</p><p>deficiências no projeto de desenvolvimento de um produto, antes que o mesmo</p><p>29</p><p>seja produzido; de sistemas, indicado para a identificação de falhas nos sistemas</p><p>e subsistemas antes do desenvolvimento de um projeto; de processo focado em</p><p>modos de falhas causados por deficiências nos processos de fabricação e</p><p>montagem e de serviço utilizadas para identificação dos modos de falha de</p><p>processo e sistemas antes que o mesmo chegue ao consumidor final.</p><p>Aspectos éticos</p><p>O presente estudo seguiu as determinações da resolução do Conselho</p><p>Nacional de Saúde e foi aprovado pelos comitês de ética e pesquisa das</p><p>instituições envolvidas.</p><p>Desenho, local do estudo e período Estudo do tipo intervencionai,</p><p>realizado em um hospital privado de grande porte e alta complexidade na cidade</p><p>de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, realizado de março a outubro de</p><p>2013, cuja central específica regula a utilização de OPME, composta por três</p><p>núcleos: central de autorizações pré-operatória, recebimento e devolução de</p><p>materiais e central de autorização pós-operatória.</p><p>Apesar de existir a central de OPME, este processo ultrapassa os limites</p><p>de atuação da mesma e acaba percorrendo outros setores, como: agendamento</p><p>cirúrgico, centro de materiais e esterilização, farmácia satélite do centro cirúrgico</p><p>e áreas assistências.</p><p>População e amostra</p><p>Para o desenvolvimento da avaliação do processo, formou-se uma equipe</p><p>multiprofissional (grupo avaliador - GA) composta por seis líderes dos setores</p><p>envolvidos no apoio à atividade com OPME: central de autorização pré-</p><p>operatória, recebimento e devolução de materiais, agendamento cirúrgico,</p><p>centro de materiais e esterilização, tecnologia da informação e um profissional</p><p>que representou as áreas assistenciais de centro cirúrgico, hemodinâmica e</p><p>endoscopia.</p><p>30</p><p>A escolha dos profissionais para constituir este grupo se deu pela visão</p><p>abrangente que tem do seu setor específico e da instituição como um todo, no</p><p>processo de OPME.</p><p>Protocolo do estudo</p><p>O método conhecido como FMEA, originalmente desenvolvido na área da</p><p>engenharia, foi ajustado para ser utilizado proativamente no processo de cuidado</p><p>de saúde, utilizando uma equipe multidisciplinar experiente e envolvida no</p><p>processo denominada como Grupo Avaliador (GA).</p><p>O GA utiliza uma pontuação para determinar as potenciais</p><p>vulnerabilidades no processo de cuidar e avaliar o seu efeito potencial no</p><p>atendimento prestado ao paciente.</p><p>Para a avaliação do processo de OPME foram realizados sete encontros,</p><p>uma vez por semana, dentro do horário de trabalho, com duração de uma hora</p><p>cada. Nesses encontros foram abordados os aspectos metodológicos do FMEA,</p><p>do processo de OPME, bem como o detalhamento da ferramenta Análise dos</p><p>Modos de Falhas e Efeitos que permite determinar as ações para as falhas</p><p>potenciais encontradas.</p><p>Todas as discussões e sugestões oriundas dos encontros foram gravadas</p><p>e transcritas.</p><p>Análise dos resultados para a análise das informações de cada etapa do</p><p>processo de trabalho de OPME foram determinadas as causas potenciais e o</p><p>índice de risco calculado pela multiplicação dos valores da análise de gravidade</p><p>(G), probabilidade de</p><p>ocorrência (O) e possibilidade de detecção (D).</p><p>Para o cálculo do índice de risco, as escalas de G, O e D foram adaptadas</p><p>para a realidade do serviço em estudo.</p><p>Para a análise de cada valor foram criados índices de risco (R=GxOxD)</p><p>da atividade em cada etapa do processo, gerando uma escala que varia de 1 a</p><p>1000 pontos, ou seja: baixo risco (1 a 135 pontos), risco moderado (136 a 500</p><p>pontos) e alto risco (501 a 1000 pontos).</p><p>31</p><p>Após a priorização dos riscos, definiram-se medidas corretivas para cada</p><p>etapa do processo e após, o risco foi recalculado. Para cada atividade em que o</p><p>risco recalculado for menor que 500 pontos, a ação e a correção passam a ser</p><p>denominadas ações implementadas.</p><p>A primeira ação realizada pelo grupo avaliador foi a revisão do processo</p><p>de trabalho de OPME, pela análise detalhada em fluxograma.</p><p>A partir da revisão do fluxograma de OPME da instituição, o GA passou a</p><p>analisar as etapas relacionadas ao Agendamento Cirúrgico, Área de Pré-</p><p>Autorizações, Áreas Assistenciais e Área de Logística, em busca de falhas que</p><p>determinassem risco assistencial ao paciente.</p><p>Todas as etapas analisadas apresentaram pelo menos um modo de falha</p><p>potencial, totalizando 16 falhas e nenhuma classificada como alto risco. Primeira</p><p>etapa do processo: agendamento cirúrgico na análise das oito etapas realizadas</p><p>pela área de agendamento cirúrgico foram encontrados cinco modos de falhas</p><p>potenciais.</p><p>A primeira etapa descrita pelo GA foi o recebimento do contato médico,</p><p>cujo modo de falha foi a falta de conhecimento técnico com efeito potencial de</p><p>ausência de material correto para a cirurgia, causado por falta de conhecimento</p><p>do médico e do agente de agendamento (R=360).</p><p>As ações implantadas para diminuir o risco foram a padronização na</p><p>nomenclatura dos materiais e a contratação de profissionais técnicos com</p><p>experiência em materiais especiais, para executarem a atividade administrativa</p><p>dentro do serviço de agendamento cirúrgico.</p><p>A segunda etapa avaliada pelo GA foi a solicitação de todos os dados</p><p>relativos ao paciente fornecidos pelo médico assistente no momento do</p><p>agendamento.</p><p>O modo de falha está relacionado aos dados incompletos ou incorretos,</p><p>cujos efeitos potenciais são a falta de autorização do procedimento (R=288</p><p>pontos), a ausência de material correto para a cirurgia (R=200 pontos).</p><p>32</p><p>As causas relacionadas com esses efeitos foram a falta de conhecimento</p><p>do médico e do agente de agendamento.</p><p>A criação de um formulário padrão para a solicitação de agendamento</p><p>cirúrgico foi uma alternativa viável para a redução da ocorrência dessa falha e,</p><p>consequentemente, de seus efeitos potenciais.</p><p>A próxima etapa analisada pelo GA foi a de inserção de todos os dados</p><p>do paciente, do convênio e do procedimento cirúrgico no sistema de informática</p><p>da instituição, que apresentou como modos de falha dados incompletos ou</p><p>incorretos com dois efeitos potenciais:</p><p>(a) Falta de autorização do procedimento (R=108 pontos) e (b) ausência de</p><p>material correto para a cirurgia (R=180 pontos).</p><p>(b) As causas potenciais geradas por (a) e (b) foram os dados inconsistentes</p><p>fornecidos pelo médico e erro de digitação por parte do agente de</p><p>agendamento. As ações para minimizar os riscos potenciais foram a</p><p>revisão de todos os dados antes e após a sua inserção no sistema e a</p><p>sinalização deste com o bloqueio de dados incorretos; adoção de</p><p>confirmação de agendamento através de formulário específico.</p><p>A quarta etapa relaciona-se com a inserção de todos os dados do</p><p>OPME no sistema, cujo modo de falha foi apresentado pelos dados</p><p>incompletos ou incorretos.</p><p>Os efeitos potenciais no processo de trabalho são a falta de</p><p>autorização do procedimento (R=108 pontos), ausência de material correto</p><p>para a cirurgia (R=450 pontos), as causas relacionadas nesta etapa são os</p><p>dados inconsistentes fornecidos pelo médico e o erro de digitação por parte</p><p>do agente de agendamento.</p><p>Para esta etapa as ações implementadas foram descritas nas etapas</p><p>anteriores.</p><p>A quinta etapa, orientação do médico quanto à entrega de</p><p>documentos, o modo de falha detectado é a falta de informação ao médico,</p><p>gerando ausência de documentos para a conferência do setor e</p><p>33</p><p>encaminhamento a operadora e fornecedor, cujas causas relacionam-se ao</p><p>esquecimento ou à alta demanda de trabalho e a inexistência de um padrão</p><p>(R=24 pontos).</p><p>As ações previstas para eliminar essa falha são a criação ou a adoção</p><p>de um formulário padrão e a determinação de obrigatoriedade de entrega do</p><p>mesmo ao hospital, em tempo hábil para a solicitação de agendamento</p><p>cirúrgico.</p><p>A sexta etapa avaliada relaciona-se com a recepção de todos os</p><p>documentos, que cujo modo de falha é o médico não encaminhar o</p><p>documento.</p><p>Como efeito potencial percebeu-se a não conferência de documento</p><p>no setor e o encaminhamento deste para a operadora e fornecedor, cuja</p><p>causa é a inexistência de um formulário padrão e a obrigatoriedade de</p><p>entrega do mesmo ao hospital, em tempo hábil, para a solicitação de</p><p>agendamento cirúrgico.</p><p>Na sétima etapa, a conferência e correção do cadastro das</p><p>informações, o GA identificou como falha os dados incompletos ou incorretos,</p><p>cujos efeitos são a falta de autorização do procedimento (R=108 pontos),</p><p>ausência de material correto para a cirurgia (R=450 pontos).</p><p>Como causas potenciais identificaram-se dados inconsistentes</p><p>fornecidos pelo médico e erro de digitação por parte do agente de</p><p>agendamento.</p><p>A sugestão para minimizar essas falhas foi contratar profissionais</p><p>técnicos de enfermagem para a realização da atividade de agendamento</p><p>cirúrgico, criação ou adoção de um formulário padrão para a realização de</p><p>agendamento e a revisão dos dados e parâmetros cadastrados no sistema</p><p>de tecnologia de informação do hospital.</p><p>A última etapa do processo de OPME dentro do setor de agendamento</p><p>cirúrgico é o encaminhamento da solicitação de autorização para a realização</p><p>do procedimento à operadora de saúde.</p><p>34</p><p>Durante a análise dessa etapa, o GA identificou que a falta de</p><p>atendimento aos prazos estipulados pelo convênio é o principal modo de</p><p>falha existente (R=96 pontos), causado especificamente pela solicitação</p><p>médica encaminhada fora do prazo e a ausência de documentação</p><p>especifica. Essas duas causas têm o mesmo efeito sobre a assistência do</p><p>paciente que se caracteriza pela falta de autorização para realização do</p><p>procedimento.</p><p>A ação sugerida foi estabelecer uma comunicação eficiente entre o</p><p>profissional médico, setor de agendamento e operadora.</p><p>Segunda etapa do processo: Central de órtese, prótese e materiais</p><p>especiais - área de pré-autorizações.</p><p>Na análise das cinco etapas, dois modos de falhas com possível</p><p>impacto sobre a assistência aos pacientes, a descrição e o cadastro incorreto</p><p>de materiais no orçamento têm duas causas primárias: a solicitação</p><p>inadequada por parte do hospital e a empresa fornecedora que encaminha</p><p>os dados com base no histórico do médico.</p><p>Os efeitos podem acarretar na ausência de autorização para uso dos</p><p>materiais (R=224 pontos), na ausência de materiais corretos para a</p><p>realização do procedimento (R=320 pontos) e na autorização incorreta</p><p>(R=315 pontos).</p><p>As medidas de ação para diminuir esses riscos são as mesmas</p><p>indicadas para a correção dos problemas que envolvem as solicitações</p><p>médicas, cadastro dos materiais, encaminhamento e recebimento de</p><p>orçamentos e de autorizações.</p><p>Acredita-se que essas medidas são suficientes para a redução</p><p>drástica do risco assistencial apresentado pela falha apontada nessa etapa</p><p>do processo de OPME.</p><p>Terceira etapa do processo: área assistencial</p><p>35</p><p>A área assistencial é responsável por diversas atividades do processo</p><p>de OPME, contudo, para melhor entendimento do fluxo desse processo, suas</p><p>atividades foram divididas em duas partes: antes e após da atuação da</p><p>área</p><p>de logística.</p><p>Na primeira parte das atividades realizadas pelas áreas assistenciais</p><p>foram analisadas duas etapas: a recepção das informações do agendamento</p><p>com as autorizações e a solicitação dos OPME indicados para a cirurgia ao</p><p>fornecedor.</p><p>Foram encontrados três modos de falha: o primeiro relaciona-se ao</p><p>material cadastrado de forma errônea no sistema do hospital (R=400 pontos),</p><p>o segundo, a informação não disponível para as áreas assistenciais (R=49</p><p>pontos) e o terceiro, solicitação inapropriada do material (R=200 pontos).</p><p>Os efeitos potenciais envolvidos são a solicitação incorreta, incompleta</p><p>ou errada do material e seu atraso ao fornecedor.</p><p>A ação desencadeada por parte da instituição foi um programa formal</p><p>de capacitação de profissionais para o trabalho com OPME e a revisão do</p><p>banco de dados para a realização de um refinamento de informações.</p><p>Após a atuação da área de logística, três etapas foram avaliadas:</p><p>(a) Recebe OPME e instrumentais; (b) prepara a OPME e instrumentais para</p><p>o uso e (c) utiliza os OPME no paciente.</p><p>Na etapa (a) o modo de falha identificado foi a recepção do material</p><p>errado ou incompleto, na (b) preparo incorreto ou incompleto do material e na</p><p>(c) ausência de material adequado para a realização do procedimento.</p><p>As causas potenciais relacionam-se diretamente aos modos de falha,</p><p>representando um risco variável de 160 a 400 pontos.</p><p>As ações propostas foram a contratação de profissionais com</p><p>qualificação para o trabalho com o OPME e educação permanente.</p><p>36</p><p>Quarta etapa do processo: área de logística A área de logística da</p><p>central de OPME é responsável pelo recebimento, conferência e</p><p>encaminhamento dos materiais para as áreas assistenciais.</p><p>Duas etapas foram analisadas: recepção e conferência dos OPME</p><p>indicados para a cirurgia e o encaminhamento dos OPME e instrumentais</p><p>devidamente protocolados para as áreas assistenciais de destino. Foram</p><p>identificados quatro modos de falhas nas etapas:</p><p>(a) recebe material errado ou incompleto;</p><p>(b) encaminha o material errado para a área assistencial;</p><p>(c) encaminha o material para a área assistencial errada; e</p><p>(d) não encaminha o material para a área assistencial. Os modos de</p><p>falhas são diretamente proporcionais com as suas causas, com risco variado</p><p>de 16 a 120 pontos.</p><p>Dentre as várias medidas adotadas com vistas a reduzir as causas e</p><p>consequentemente o efeito dessas falhas sobre a assistência dos pacientes</p><p>está a revisão do cadastro dos OPME no sistema de informação, a troca e o</p><p>recebimento de informações dos materiais, a contratação de profissionais</p><p>técnicos especializados e a realização de capacitações permanentes desses</p><p>profissionais.</p><p>O FMEA é uma ferramenta bem aceita pela equipe no que diz respeito</p><p>à segurança do paciente, pois permite a identificação e prevenção de falhas</p><p>para minimizar os riscos na assistência.</p><p>O presente estudo foi desenvolvido para analisar as falhas no</p><p>processo de trabalho de OPME com vistas ao desenvolvimento de</p><p>estratégias de redução do risco assistencial e, ressalta-se que, nenhum alto</p><p>risco foi identificado.</p><p>Entretanto, algumas vulnerabilidades foram identificadas no processo</p><p>de cuidado de OPME, demonstrando falhas que podem acontecer em</p><p>qualquer etapa do fluxograma.</p><p>37</p><p>Para diminuir os possíveis riscos, algumas medidas foram</p><p>incorporadas ao processo, sendo que essas recomendações descritas</p><p>também são consistentes com outros estudos que avaliaram a segurança do</p><p>atendimento ao paciente, sendo esta, uma prioridade para qualquer serviço</p><p>de saúde.</p><p>Ao analisar a padronização do cadastro de OPME no sistema de</p><p>informação da instituição pesquisada, pode-se averiguar que a instituição</p><p>reguladora da fabricação e comercialização de OPME no território brasileiro</p><p>é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).</p><p>Essa instituição define através da RDC nº 185 que todo produto</p><p>médico, odontológico ou laboratorial, também conhecido como “produto para</p><p>a saúde” ou “produto correlato”, só poderá ser fabricado ou importado após</p><p>obter o registro ou cadastramento do mesmo, junto ao Ministério da Saúde.</p><p>Embora existam todos os cadastros de materiais passíveis de utilização e</p><p>comercialização no mercado nacional, constantemente, as empresas</p><p>fornecedoras se utilizam de codificação própria para realizar a identificação</p><p>e controlar a distribuição e utilização dos mesmos.</p><p>Na busca de uma padronização na troca de informações em saúde,</p><p>bem como na nomenclatura de procedimentos, materiais, honorários e</p><p>serviços, a Agência Nacional de Saúde (ANS) implantou, em todo o território</p><p>nacional, a TISS (Troca de Informações em Saúde Suplementar), que se</p><p>caracteriza por uma padronização na troca de informações e registros entre</p><p>operadoras de planos de saúde e prestadores de serviços.</p><p>Assim sendo, uma instituição de saúde que trabalhe ativamente com</p><p>OPME precisa manter os cadastros desses materiais atualizados como forma</p><p>de apoiar os profissionais da linha operacional na consulta, identificação e</p><p>registro de recebimento, distribuição e utilização de cada um desses itens,</p><p>bem como atender a todas as exigências da legislação vigente, visando a</p><p>segurança do paciente.</p><p>38</p><p>Os dispositivos médicos, além de serem de uma diversidade enorme,</p><p>também apresentam sofisticação tecnológica e um ciclo vital curto, tornando-</p><p>se rapidamente obsoletos.</p><p>Apesar do baixo consumo em relação aos outros produtos médico-</p><p>hospitalares, as OPME são de alto custo e a sua compra não é regular ou em</p><p>grande quantidade; muitas vezes sendo individualizados por paciente e</p><p>preferência médica.</p><p>Outro fato é que dificilmente existem materiais idênticos e, a</p><p>comparação técnica entre os fabricantes é de difícil execução.</p><p>Para tanto, a ANVISA criou um grupo de trabalho interinstitucional para</p><p>padronizar o cadastro de OPME, propondo medidas de reestruturação,</p><p>induzindo o mercado (fabricante e profissionais) a corrigir irregularidades, o</p><p>que pode auxiliar na reestruturação de uma etapa no processo analisado.</p><p>Avaliação do processo de cuidado com órteses,</p><p>próteses e materiais especiais</p><p>A criação e a adoção de um formulário específico para solicitação de</p><p>OPME foi discutido pelo GA de forma que representasse um protocolo ou</p><p>checklist, iniciando com a solicitação do médico e perpassando por todas as</p><p>etapas do processo; desde a manutenção do sistema de tecnologia de</p><p>informação, solicitações de orçamento e autorizações, solicitação e</p><p>recebimento de materiais até o preparo e utilização dos insumos na</p><p>assistência ao paciente.</p><p>A ANVISA define como checklist em saúde, toda a lista de verificação</p><p>criada por especialistas que auxilie e apoie as equipes de saúde na</p><p>prevenção de danos aos pacientes.</p><p>A utilização deste checklist, além de servir como uma ferramenta de</p><p>memória, possibilita uma avaliação do paciente antes, durante e depois de</p><p>cada procedimento, além de garantir que eventos adversos apresentados em</p><p>39</p><p>salas de cirurgia e recuperação sejam registrados de forma efetiva pela</p><p>equipe.</p><p>No desenvolvimento de um formulário específico para a solicitação e</p><p>acompanhamento de OPME, a ANS indica um formulário padrão que entra</p><p>em vigor juntamente com todas as ações implantadas. Essa padronização</p><p>foi instituída pela Organização Mundial da Saúde e implantada em vários</p><p>países.</p><p>Outra proposta para a correção das falhas apresentadas no processo</p><p>de OPME da instituição foi a contratação de pessoal técnico na área de</p><p>enfermagem cirúrgica, para atuar em todas as etapas do referido processo.</p><p>Na prática diária, as instituições hospitalares precisam manter-se</p><p>atualizadas em relação ao mercado e investir em trabalhadores com alta</p><p>competência profissional, qualificação específica para determinadas funções</p><p>ou tarefas e diferenciação na assistência e segurança dos pacientes.</p><p>Assim, torna-se um desafio,</p>

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