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MAYER, H (1989) Histeria

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<p>Farei agora uma breve referência à relação entre identificação e sintomas histéricos. Temos visto que, apesar da identificação poder se constituir no núcleo a partir do qual se desenvolve um sintoma histérico, nem todo sintoma histérico 4 pressupõe necessariamente uma identificação. Afirmei também que uma iden- tificação histérica nem sempre culmina em uma manifestação sintomática, tal como no caso de uma identificação onírica. Entre identificação e sintoma há, pois, algo em comum: ambos remetem a desejos condenados pelo Ideal, mas, ao invés de haver uma a eles, o que ocorre é uma ânsia e uma busca por seu cumprimento através de diversas vias. Contudo, haveria também uma diferença entre ambas: A ESTRUTURA DE CARÁTER HISTÉRICO enquanto a identificação corre pelo caminho do que há de semelhante ou comum, no sintoma nos deparamos com duas forças opostas o desejo e a repressão que acabam por se conciliar, amalgamando-se. Mas por que algumas identificações histéricas culminam em sintomas neuróticos? À primeira vista nos encontraremos com sinais de sofrimento que parecem ser manifestações de uma autopunição (tosse, desmaios, paralisias, convulsões, etc.) por um cumprimento de desejos inconscientes que é condenado pelo Ideal. Mas, podemos assegurar que há uma formação de compromisso como no sintoma? Temos que interpretar que como já o expus a identificação Quando falamos de estrutura, nos referimos a ela como um conjunto histérica que se faz sintomática é mista e na verdade, duas identifi- de relações, propriedades ou operações de um campo determinado, ou somente cações, uma desiderativa, invisível, que se mantém oculta por trás de outra que consideramos pertinentes dentro deste campo? Por exemplo, identificação manifesta com a instância repressora que impõe a punição? se falamos de estrutura social, nos referimos ao conjunto de relações, proprie- É uma interpretação atraente, mas à medida que o tema se desenvolvia dades e operações que ocorrem no campo social, ou há algumas, tais como esta atração foi se Neste momento defendo a idéia de que as de ordem física, química, geométrica... amorosa, que descartamos por o conceito de identificação histérica deve ser restringido apenas à identificação não considerá-las pertinentes? desiderativa, à identificação que se apóia em um desejo proibido que procura, Outras vezes utilizamos este termo para nos referir à semelhança legal através dela, cumprir-se. o sintoma sobreviria, pois, como uma reação da ou formal de conjuntos configurados como, por exemplo, uma fila de pessoas, instância censora que tende a prevenir e/ou a punir esse desejo que, no incons- uma fila de livros, uma fila de cadeiras, etc. Outras vezes, ainda, dizemos que estrutura é um conjunto configurado é tido como cumprido. em que a alteração de qualquer um de seus elementos modifica os demais. Ou, então, afirmamos que se trata de um conjunto configurado de tal modo que somente a alteração (causal ou lógica) de algum componente especí- fico modifica a totalidade. E, efetivamente, não é o mesmo para a estrutura de um organismo a morte de uma célula da pele do que a morte do tecido cerebral ou cardíaco. Poderíamos continuar enumerando dezenas de definições, mas o que importa precisar aqui é qual a definição que é usada quando se fala de estrutura histérica, obsessiva, perversa, etc. Com o termo "conduta" ocorre algo parecido. Também para "conduta" existem muitas definições, seja no sentido do condutismo como "fenômenos visíveis, objetivamente comprováveis ou suscetíveis de registro ou verificação", seja ao modo de Lagache como "conjunto de operações (fisiológicas, motrizes, / Hugo Mayer Histeria 55</p><p>verbais, mentais) pelas quais um organismo em situação reduz as tensões b) Ego Id, por um lado, e Ego realidade, por outro lado? que o motivam e realiza suas possibilidades". 2) Do nível em que se propõe o conflito: Creio que o que foi dito até aqui basta como indício que nos deve fazer a) edípico? suspeitar que os conceitos de estrutura e conduta, longe de se excluir, impli- b) narcisista e pré-edípico? cam-se mutuamente quando pensamos em neuroses, em perversões ou em c) ambos...? qualquer quadro psicopatológico. Podemos imaginar, por acaso, uma conduta 3) Do grau de afastamento da realidade, da defesa empregada, do modo humana que não tenha uma estrutura e que não seja, ao mesmo tempo, de "restituir" o rechaçado da realidade? expressão, momento ou parte de outra à qual nos remete? E, por outro 4) Do grau de aceitação, desafio ou rechaço da lei e da função paterna? lado, como pensar uma estrutura psicopatológica (neurose, perversão, psico- 5) Da área e do modo como se manifesta a sexualidade infantil que se...) se não a partir da valorização de uma conduta que a evidencia? Evidente- demanda ser satisfeita? mente, falamos sempre de estruturas e conditas. 6) Da fixidez, estereotipia e exclusividade na maneira de se relacionar Sabemos que a homossexualidade, por exemplo, é avaliada de maneiras com os objetos ou com o objeto sexual? bastante distintas conforme se trate da adjetivação de uma fantasia, de uma 7) De uma valorização social que brota de uma ideologia preconceituosa ação circunstancial ou de uma "escolha sexual" por parte de um adulto. e, às vezes, compartilhada pela maioria? Percorremos, assim, um trajeto que vai desde uma manifestação neurótica É impossível e pouco pertinente tentarmos aqui responder semelhante a uma perversa. Porém... em que momento cruzamos a fronteira entre a espectro de questões que somente nos permitem vislumbrar a complexidade neurose e a perversão? do tema. Retomemos, pois, a mais simples das idéias sobre a estrutura de Isto nos conduz ao problema não apenas do que caracteriza cada entidade, caráter. Quando fizermos referência a ela será para aludir aos mecanismos mas também à questão da sua "pureza". Ou, para dizê-lo com outras palavras: habituais aos quais apela o aparato psíquico de uma pessoa em seu por por um lado, o que marca 0 limite entre uma neurose, uma perversão e resolver conflitos psíquicos que lhe geram angústia. Quando a angústia é uma psicose? E, por outro, são elas categorias excludentes, ou é possível muito intensa, ou os mecanismos se mostram insuficientes, recorre-se incons- concebê-las como graus ou modos de organização psíquica que podem coexistir cientemente a operações mentais - particularmente inadequadas - como, no aparato psíquico de um indivíduo? Em um neurótico histérico ou obssessivo por exemplo, a atuação, o sintoma, ou uma exacerbação dos traços de caráter todas as suas condutas são de nível "neurótico", ou é possível encontrar acompanhada de uma notável rigidez, à maneira de uma couraça defensiva. nele condutas que não hesitaríamos em qualificar como perversas ou psicóticas? Poderá se falar de mecanismos psicopáticos, neuróticos ou caractereo- em um perverso ou psicótico, não existem condutas neuróticas ou "nor- páticos, respectivamente, mas o importante é assinalar que têm algo em mais"? mum: conflito, cujas raízes permanecem incólumes no inconsciente, as quais Freud (1938)2 explicava esta coexistência através do conceito de cisão procuramos conscientizar através da tarefa analítica. do ego. Afirmava que até mesmo em afastamentos tão radicais da realidade Por outro lado, não há razão para que estes comportamentos, mais ou como nas psicoses alucinatórias existia em "um recanto de sua alma (...) menos isolados, ou frequentes e sistematizados, sejam excludentes. Para um uma pessoa normal que passar diante de si a fantasmagoria patológica, histérico com sintomas neuróticos pode haver momentos em que se acentuam como se fosse um observar imparcial". seus traços de caráter, e outros em que "atua" os impulsos que não consegue Mas, embora não exista uma completa "pureza" dos diferentes quadros processar psiquicamente. De qualquer maneira, o que precisa ser destacado psicopatológicos, ficam pendentes algumas questões como: por um lado, em é que estas são algumas das diversas formas de descompensação que ocorrem função de que parâmetros avaliamos uma conduta como neurótica, perversa quando a estrutura de caráter não consegue desviar a angústia gerada por ou psicótica? E, por outro, quando e em função do que nos sentimos no um conflito (edípico) infantil, cuja atividade por qualquer motivo tenha direito de dizer que as condutas de uma pessoa são sinais de uma neurose sido intensificada. Estas descompensações geralmente constituem um recurso ou de uma perversão? oposto à resolução analítica do conflito, isto é, em vez de ampliar os canais Será em relação à prevalência: de comunicação e intercâmbio transformador com o meio, acarretam uma 1) Do tipo de conflito: acentuada restrição egóica e um empobrecimento dos recursos pessoais para a) Ego vs. Id. ou alcançar uma transformação aloplástica do mundo que permita a satisfação José Psicología de la conducta. 8. ed. Buenos Aires, Paidós, 1973, cap. I, p. pulsional. Deixemos de lado, no momento, as modalidades de descompensação Freud, Esquema del 2. ed. Buenos Aires, Paidós, 1966, parte, p. 97 do caráter histérico e vejamos seus traços e sua razão de Hugo Mayer Histeria 57</p><p>1. A TEATRALIDADE, EXIBICIONISMO E A SEDUÇÃO por sua vez, o que ele busca é ser confirmado em sua virilidade por esta "supermulher" que representa a mãe idealizada com quem tanto desejara Podemos nos referir a estes traços também como "histrionismo histérico". fundir-se na infância. Por isso, o ato sexual (se ocorrer) implicará uma mútua L. nos lembra que "histrião" era a denominação reservada, em Roma, decepção. Ela acreditará que está sendo "usada" como um objeto; ele, que aos atores que representavam "farsas bufonas ou grosseiras". Trata-se de sua capacidade viril não é suficiente para fazer gozar e deixar satisfeita uma um histrionismo subjacente à rotulação que se faz das histéricas como pessoas "mulher". Ela sente-se inferiorizada (castrada); ele, um menino impotente. que estão "representando que são "simuladoras", "teatrais", "inautên- Por certo são muitas as variantes e os graus de inibição genital, mas ticas", etc. Se eliminarmos o tom pejorativo com que se revestem estas (des) o que é comum observar nestes casos é uma prática sexual que sistematicamente qualificações, nos encontraremos com uma afirmação que, em parte, é verda- decepciona. o encanto da fantasia é que, graças a ela, a mulher histérica deira. De fato, podemos constatar com as pessoas com esse caráter necessitam consegue ser o objeto de amor de um pai idealizado. E mais ainda, pois mostrar-se, exibir-se, convocar seus espectadores através de uma represen- não tem apenas o pai, tem tudo: beleza, perfeição, completude. Encanto tação da qual não são sequer conscientes. Mas o que representam? Estes para dissimular, para silenciar o que, todavia, agora sente insconscientemente: variados personagens que elas próprias assumem, como também os outros que é feia, incompleta, vazia, que os homens têm mais, que para eles tudo personagens que atribuem ao "público" à sua volta, formam parte de uma é mais fácil, etc. trama argumental. Trama argumental apoiada em fantasias inconscientes que Este apego por um mundo fantasioso no qual grande parte da libido encenam e condensam os condenados desejos sexuais da infância. fica introvertida, subtraindo-se do mundo exterior, a conduz a uma patologia. Neste argumento nos encontraremos frequentemente com uma "menina" De fato, para evitar as duras exigências que a realidade lhe propõe, ela se fortemente apegada à figura dos pais, que luta para ser o par tanto da mãe, refugia em um universo imaginário regido pelo princípio de prazer que como do pai. Disso resulta a eterna dúvida sobre sua identidade sexual: o direta ou encobertamente lhe permite cumprir as aspirações infantis que, que sou, homem ou mulher? A resposta não se faz esperar. Surge antes de outro modo, teria que abandonar. São sujeitos que "sofrem" uma realidade que essa pergunta se torne consciente: ela representa ser mulher. Isto que que não se atrevem a enfrentar e "sonham acordados" com outra realidade tanto a angustia, a diferença sexual anatômica, interpretada por ela como mais complacente, onde os desejos parecem cumprir-se magicamente. "castração", é o que a impele a reagir exagerando a importância de tal diferença Quando o princípio de realidade se apresenta tão subjugado pelo princípio através de uma "hiperfeminilidade", ou minimizando-a através de uma modali- de prazer, nas áreas em que isso ocorre, a passividade motriz contrasta dade "unisex" que pode abarcar todas as áreas da sua vida, ou fazendo, com a força dos afetos que podem dar crédito às suas crenças fantasiosas. sucessiva ou alternadamente, uma mescla das duas coisas. Quando uma dessas É então que alguns observadores destacam a mitomania como traço de caráter mulheres está em análise e surgem com clareza suas fantasias e desejos reprimi- histérico. Em outras circunstâncias, a natureza proibida dos desejos que ali- dos, é muito comum que a escutemos dizer com certa decepção: "Ah! e mentam tais fantasias faz com que sejam reprimidas. Porém, quando o empuxe eu que acreditava ser tão feminina!", ou o contrário: "E eu que sempre pulsional adquire certa intensidade e a repressão fracassa, estas podem mani- dei tão pouca importância à roupa (ou à maquiagem, etc.)...". festar-se como sintomas conversivos. Através de um vestuário calculadamente natural, de um manejo corporal corpo aparece, assim, como o lugar em que se expressa aquilo que administrado até o detalhe, de olhares carregados, do enigma de seu a censura impede que seja dito em palavras. Por isso, é histérica representa ante o homem não somente que é uma mulher excep- única e desejável, mas também que tem algo mais que não se vê, algo que a torna mais desejável ainda. A ferida infantil, surgida da crença 5 Fenichel sustenta que quando a inveja do pênis é muito intensa, ou quando tenha sido de que falta algo o falo quer agora transferi-la ao homem. Ela reprimida prematuramente, há um exagero patológico de certos traços de caráter. Apóia-se em Abraham para diferenciar duas maneiras de enfrentar esta conflitiva: "A primeira surge teria algo que falta a ele. que lhe interessa é despertar o desejo de um no caso da mulher que se caracteriza pelo desejo de assumir o papel de varão e por fantasias homem, mais do que alcançar o prazer sexual com um companheiro. de ter ou adquirir um pênis. No segundo caso existem, em primeiro plano, impulsos de vingar-se Um homem fixado a uma mãe "fálica" é o candidato ideal para enamo- do varão mais afortunado, castrando-o. estas mulheres vêem o coito como deste tipo de mulher. Isso porque, no curso da sedução exibicionista, algo humilhante para um ou outro dos participantes. Seu objetivo é humilhar os homens antes deverá, através do seu desejo, confirmá-la como mulher, enquanto que, de serem elas mesmas humilhadas. A vingança pode ser percebida como de caráter masculino ('Te mostrarei que posso ser tão masculina como tu'), ou como de caráter feminino ('Já que Op cit tens me desprezado, te obrigarei a admirar o que desprezas')." Fenichel, Teoria psicoanalítica Da mesma forma, o histérico masculino tende, em sua representação, a apagar qualquer de las neurosis. Buenos Aires, Paidós, 1976, cap. XX, p. 552.) dávida sobre sua esplendorosa 6 Imagem narcisista na qual pai e mãe idealizados chegam, por momentos, a confundir-se Hugo Mayer Histeria 59</p><p>sugerido que se conceba o corpo sintomático da histérica como um corpo ficaria bloqueada e uma torrente de angústia e culpa inundaria seu Ego. prenhe de metáforas, as quais é necessário dar à luz. Para que isto não ocorra faz uso da repressão. As representações verbais Por que a histérica alcança este alto nível de simbolização que podemos ficam privadas de significação pessoal8, a que resulta de uma história singular. constatar em seus sintomas e em suas produções oníricas? De suas represen- Tanto seu discurso verbal manifesto, como o discurso plástico das imagens tações parentais infere-se que ela foi amada por seus pais não apenas de oníricas ou corporais, são metáforas eróticas que todos entendem, menos uma forma narcisista, mas também objetivamente, isto é, que, em certa medi- ela que se mostra surpreendida e escandalizada quando alguém toma suas da, desenvolveu seu complexo de Édipo positivo, que, em certa medida, palavras e seus gestos ao pé da letra. Seu discurso se parece ao dessas crianças descobriu e aceitou a "castração" materna, assim como a sua própria. Como que podem dizer diante de qualquer pessoa aquilo que comumente se considera toda menina, desejará que o pai lhe dê o falo que lhe falta. Poderemos como "palavras feias" porque nelas não se desenvolveu ainda o significado falar do "pai fálico" da histérica? Em todo o caso, é um pai extremamente individual que já existe na comunidade em que vivem. idealizado, tanto mais quanto menor tenha sido a elaboração do complexo A ingenuidade da histérica parece insinuar a seus interlocutores uma de castração por parte de ambos os pais. É um pai para o qual se dirige disposição sexual que está muito longe de sua consciência. afirma toda a sedução infantil. Para um pai e uma filha (ou para uma mãe e um que "a personalidade demonstrativa (histérica) utiliza como canais de trans- filho) a barreira do incesto nunca é tão frágil como aqui. missão a mente, o corpo e a ação e que, na medida em que o complexo desejo incestuoso e sua repressão não são, por certo, privativos da de Édipo positivo está estimulado pela regressão ela perde histeria, mas nela se fazem presentes de muitas maneiras e com particular a sincronização entre as três áreas e passa a transmitir, então, em um código intensidade. A sedução infantil, a mútua sedução incestuosa, se constitui em simbólico que se exterioriza por sintomas de conversão histérica e por trans- um ponto de fixação ao qual a fantasmagoria inconsciente resistirá a renunciar tornos de comportamento na sessão, que têm sido descritos nas classificações pelo resto da vida. Que satisfação sexual pode, um simples homem, procurar sob o rótulo de caráter histérico". dar a uma mulher histérica, frente a um rival fantasmático tão poderoso? Em minha não se trataria tanto de uma falta de sincronização Para estas mulheres, a realidade é uma pobre alternativa. tempo, entre as três áreas, nem do deslocamento de uma delas em relação às outras o que faz é enfeitar o rosto, deteriorar a carne, tornar grisalho o cabelo. duas, pois a repressão atuaria dentro da totalidade unitária do sujeito, disso- Ao irem perdendo os valorizados atributos formais nos quais se apoiavam ciando representação e afeto ao descatexizar tão-somente a representação a máscara de sua identidade feminina e grande parte da sua auto-estima, no nível "Vorstellung" pré-consciente, distanciando, assim, a representação- transformam-se, com os anos, em mulheres depressivas ou paranóicas. coisa inconsciente da palavra que a expressa esvaziada de significação indivi- dual. 11 Se nenhum traço neurótico deixa de implicar ao outro, ao semelhante, na histeria trata-se de um verdadeiro "público", um público implicado, porém Além do mais, poder-se-ia hoje situar os impulsos reprimidos na histeria distante, para um teatro quase real. somente no complexo de Édipo positivo? Cremos que não. Isto nos pareceria uma visão muito estreita depois do epílogo em que Freud retifica sua interpre- tação do caso "Dora", depois que descreve (1923) o complexo de Édipo 2. A INGENUIDADE completo e, particularmente, depois da clínica constantemente nos mostrar a importância do vínculo homossexual na histeria. Pelo erotismo que no modo de vestir-se, de falar, assim como também 8 Para maior ampliação deste tema veja-se: H. Mayer, "Sobre la función des-cubridora no conteúdo do que diz que tem uma clara alusão sexual que ela parece del interpretar Rev. Argentina de Psicología, 1984, 36. A esse respeito veja-se também a rica conceitualização que fazem F. Cesio e col. em seu artigo "La 'palavra' en la ignorar a mulher histérica tende a impressionar o outro tanto do ponto obra de Freud", Rev. de Psicoanálisis, Buenos Aires, 1982, XXXIX, 6. de vista estético, como do ponto de vista do desejo sexual direto. Isto lhe 9 D. Liberman: La comunicación en terapéutica psiconalítica. 2. ed. Buenos Aires, Eudeba, esse an de ingenuidade ou infantilismo que tantas vezes se 1966, cap. IX, pp. 217-218. assinala na histeria. 10 grifo é meu. Fla não pode tomar consciência do intenso erotismo que irradia 11 D. Liberman parece aproximar-se desta idéia quando, mais adiante, acrescenta, ao refe- entre seus espectadores e do matiz incestuoso que há em suas relações em rir-se ao mecanismo ao qual Ego tem que recorrer para não se sentir invadido por reações de asco, de vergonha ou de culpa: "pode consegui-lo desconectando-se, desconectando a represen- virtude das suas fixações Se tivesse consciência disso se perturbaria, tação fonética ou verbal da representação plástica. Ao produzir-se esta produz-se o que comumente se chama de repressão. Então, a pessoa em questão não tem angústia, não um dos traços que se sobressaem no que classicamente tem sido descrito como tem asco, vergonha nem culpa; simplesmente tem um Tem um ponto cego..." (D. da Liberman Op 60 Hugo Mayer Histeria / 61</p><p>3. O INFANTILISMO a base de um vínculo de intensa dependência com uma figura endeusada que representa o pai fálico da infância. Este termo pode descrever uma série de traços habituais no caráter histé- Uma dependência extrema não é facilmente aceita. Isto se traduz em rico: egocentrismo, dependência de certos personagens idealizados, sugestibi- condutas litigiosas, de oposição e diferenciação sistemática de tudo o que lidade, ingenuidade, frigidez ou graus diversos de inibição genital, etc. faça ou sugira seu parceiro. Muitas vezes o medo de entregar-se a um homem Estas características são as que fazem com que se diga que a mulher que pode abandoná-la é tal que provoca uma dissociação. Estabelece com histérica "seduz e frustra". Mas, como muito bem sugere L. ela o cônjuge, com quem está sexualmente insatisfeita, um vínculo terno e depen- não é uma mulher que se proponha consciente ou inconscientemente a "cas- dente, enquanto coloca a satisfação sexual em um vínculo imaginário ou atual trar" homens. Ao menos isto não é tudo. Por que não pensar que, por trás fora da relação marital, ou o inverso. deste protótipo de mulher que ela exibe, há uma menina desvalorizada que desesperadamente para alcançar o amor parental que lhe faltou como filha? Como chegar a ser mulher se o modelo nada mais faz do que se queixar 4. A NECESSIDADE DE de seu ser mulher, se hostiliza permanentemente seu marido, desqualifican- do-o? Como, também, se a mãe somente se dedica a demonstrar sua hiperfemi- A histérica anseia pela perfeição e para tanto recorre a uma estratégia nilidade e é incapaz de um gesto de ternura ou de íntima comunicação afetiva complexa e sutil e a uma infinita gama de recursos: roupas, maquiagem, com sua filha? uma evidência clínica que o complemento desta mãe será, perfumes, presentes... e até a um homem excepcional. Mas se tem tanta com um pai submisso e dependente, que busca compensar sua necessidade de alcançar a perfeição é porque essencialmente se sente imper- humilhação através da filha a quem, manifesta ou latentemente, erotiza, refor- feita. E isso já atribuímos ao fato de que, desde sua posição infantil, interpretou cando suas fantasias de transformar-se em sua parceira. a ausência do pênis como uma "falta" humilhante e inaceitável. Se agora Pode-se observar, na histérica, uma acentuada dependência de seu marido não dissimula sua imperfeição, o outro vai rechaçá-la, vai ridicularizá-la. Se ou de algum personagem idealizado que representa a autoridade. No passado, tirar a máscara, o outro a desprezará e a abandonará. Daí resulta sua quase dependência infantil não pôde ser bem tolerada pelo pais, especialmente compulsiva busca de perfeição em todos os territórios e não apenas no corpo pela mãe. Muitas vezes há uma tentativa de compensar o rechaço materno e seus adornos: perfeição mental, cultural, artística, ideológica, etc. com um deslocamento da dependência da mãe para o pai idealizado. Idealizado Esta busca insaciável de perfeição pode ser entendida como a necessidade superestimado como representação materna, como uma compensação dela, de se preencher, de dissimular sua falta de pênis (falo), ou como a busca porém também como "salvador" que poderia tirá-la de um vínculo materno identificatória de um modelo ideal de mulher, para o qual sua própria mãe como deserto afetivo e transformá-la em uma mulher amada com ter- não serviu, e de muitas outras maneiras. Porém, ela duvidará permanen- temente do que lhe é próprio. Mas, por outro lado, o que lhe é próprio, Não nos espantará que na adulta esta dependência adquira um matiz próprio como mulher? Outras são mais belas, ou mais encantadoras, ou mais hostil, como quando trata seu parceiro da mesma forma que a mãe tratava ricas, ou têm casas melhores, ou maridos mais potentes e carinhosos. Isto o pai e/ou ela própria. Simultânea ou alternadamente, ela pode desenvolver vai corroendo seu templo narcisista. Como dissemos, sua identidade feminina um vínculo de dependência idealizada com quem representa, em sua vida não está definida, na medida em que não conseguiu superar totalmente o fantasmal, o pai adorado da infância, o aliado e protetor. Procura ter, então, complexo de Édipo e, então, apela ao generoso mundo da fantasia, no qual na realidade material, uma relação amorosa na qual funcione como filha se identifica com a mulher mais perfeita, no qual encontra o amante perfeito, colaboradora incondicional. Pode postergar ou inibir seu desenvolvimento etc. Mas, como é histérica e não psicótica, a realidade não foi completamente pessoal em função de um objetivo deste tipo: ser reconhecida com o status abolida (repudiada): nunca está segura de ter escolhido bem. Se está segura de filha excepcional, única ou predileta do pai. Pai idealizado que, na prática, de algo é de não ter escolhido suficientemente bem. pode ter para com ela mais as características (sádicas) da mãe que as compla- Tenta neutralizar esta falta de um critério pessoal para uma escolha amo- centes do rosa procurando arrancar os "segredos" de como ser mulher através de vínculos As primeiras pistas que mais precisamente conduziram ao descobrimento de cumplicidade com certas mulheres idealizadas. Em outras situações, procura da psicanálise foram dadas pelos fenômenos de fácil sugestibilidade sobre ser mulher por identificação com outra que toma como modelo compartilhando 13 Na redação deste ponto tive presente a leitura do desenvolvimento que faz embora minha interpretação não coincida sempre com a 62 Hugo Mayer Histeria / 63</p><p>seu desejo ou usurpando o objeto do seu desejo como, por exemplo, quando Dentro deste tipo caracterológico incluir-se-iam diversas formas ativas seduz o marido de uma amiga. de homossexualidade masculina e feminina, formações paranóicas e distintas Onde existe o melhor, o único, o incomparável? Não na realidade. Qual- perversões sexuais com um importante componente sádico. Mas também, quer homem - por genial ou nobre que seja - é um homem qualquer. entre outros, é possível incluir casos não tão extremos, qualificados em nosso Nada mais, mas também nada menos. Para ela o de mais será o de menos. meio como "mulheres fálicas". Designação que assinalaria nem tanto a tendên- Não importa o que seu homem seja ou tenha: nunca estará suficientemente cia a um falo, mas sim a impossibilidade de elaborar a carência de ser ou arrumado, ou bastante brilhante no terreno intelectual, ou demasiado ambi- de ter semelhante atributo ideal. cioso. E sem falar do âmbito sexual: ou é um bruto que não sabe como A histérica não tardará a decepcionar-se quando, em vez de assumir-se tratar uma mulher, ou um apático que não toma a iniciativa, ou um erotômano como Ideal, orienta seu desejo de perfeição para a sedução de alguém que que só pensa "nisso", ou tem um pênis muito pequeno, ou ejacula sem espe- representa essa "perfeição ideal" e com quem pretende unir-se para alcançá-la. rá-la, ou lhe falta ternura, etc. Neste processo estarão presentes aspectos de dependência idealizada, geral- L. mostra qual o vazio que, para a histérica, deve ser preenchido mente antes do encontro sexual, aspectos que são a condição mais importante pelo homem: "Deve ser mais forte, mais potente que o pai. Amo e Senhor de sua sugestibilidade. que atende o desejo da histérica: encontrar um mestre". Porém, é impossível Se no amante-aluno o que a histérica busca é o encontro com um pai preencher esse vazio: "O mestre, como todos os demais, decepciona a histérica. idealizado que compense as faltas do pai real, o amante-aluno deverá permi- A decepção, a insatisfação, se transformam em uma necessidade (...) A tal tir-lhe reproduzir o vínculo frustrante que ela teve com sua mãe, porém inver- ponto que podemos acabar nos perguntando se o maior desejo da histérica tendo-o. Ela se identifica com o lugar de mãe fálica e insatisfeita que maltrata não consiste justamente em conservar intacto seu desejo, tendo que, para e denigre a quem fica assim colocado no lugar de isso, acumular fracassos e decepções". Em ambos os o que ocorre é uma recusa de assumir o fato Algumas vezes, escolherá um mestre; outras, alguém que a coloque nesse de que é simplesmente uma mulher. Alguém deve ter o falo. Seus vínculos lugar. Embora não seja fácil discriminar os limites entre a necessidade de podem parecer um tanto estereotipados; entretanto, há nela uma profunda perfeição buscada no outro e aquela atribuída a si mesma - como será visto necessidade de amor, ainda que bloqueada pelo temor de que a entrega no material clínico exposto mais adiante é que desempenhe total a um homem implique repetir a traumática experiência de rechaço, um papel em determinado vínculo e um oposto em outro, seja sucessiva abandono ou humilhação a que foi submetida pela mãe. ou simultaneamente. Isto poderá ser melhor entendido se pensarmos que, no primeiro caso, a mulher (histérica) busca um ideal naquele que considerar desejável como objeto de amor. No segundo, em troca, pretende ser o ideal 5. FRIEZA EMOCIONAL, DISSOCIAÇÃO de perfeição e procura uma confirmação como tal. AFETIVO-SEXUAL E INIBIÇÃO GENITAL Esta necessidade de encarnar a perfeição encontra sua modalidade expres- siva mais ostentosa e caricaturesca em uma formação caracterológica que, termo frigidez é sempre ambíguo, frequentemente preconceituoso e para muitos, transcende as fronteiras da histeria propriamente dita e que pode fazer-nos supor um ponto de vista fálico, seja um homem ou uma mulher Reich descreveu separadamente como caráter Nessa quem o empregue. Por isso, prefiro falar de "inibição genital", embora esta categoria se enquadram pessoas arrogantes, de aparência segura e agressiva expressão não solucione completamente o problema. Contudo, ao menos que, mais do que amor pelo objeto, procuram ter com ele um vínculo de nos permite pensar com maior amplitude no que ocorre com a sexualidade domínio frequentemente sádico ao extremo. Em franca competição com o da histérica como quando, por exemplo, nos referimos à inibição parcial, outro sexo, o qual podem ridicularizar, constroem suas vidas em função do seletiva, etc. seu de se tornarem pessoas ideais nas quais não haja lugar nem possibilidade A inibição não explica tudo, pois há mulheres que alcançam o orgasmo de sentirem-se débeis, inferiores, equivocadas ou com carências. Como neces- mas que, durante o coito e/ou depois dele, permanecem frias com relação sitam ser reconhecidas como seres "perfeitos", reagem com desmedida agres- ao homem e tendem a "fugir" da cama: se deprimem, se mostram queixosas, são a qualquer observação, comentário ou crítica que possa ferir sua casca ou se afastam sob qualquer pretexto. Outras mulheres são relativamente in de onipotência ou sua ilusão de admirável excepcionalidade. com seu cônjuge e alcançam a plenitude do orgasmo em uma relação extraconjugal esporádica ou permanente. por isso que se considera simulta 14 cap. II, neamente a genital junto com a dissociação 15 Wilhelm Reich del Buenos Aires, 1978, X, 16 Por certo modalidades intermediárias ou mistas de escolha amorosa 64 / Hugo Mayer Histeria / 65</p><p>uma determinada mulher. Mas, como disse, por mais atrativa que pareça Muitas vezes, nota-se um escasso interesse e surge a quase convicção esta proposta de identificar o orgasmo com a morte, não posso deixar de de que o coito é uma experiência frustrante para a mulher histérica. Ela prefere o que se pode chamar de a parte "romântica" do amor, que consiste expressar minhas reservas. O medo de entregar-se a um homem, medo que a bloqueia, inibe e no prazer proporcionado pelos jogos de sedução aos quais se entrega em frustra, o conectaria nem tanto com a conservação de um prazer (ou gozo) sua fantasia. fantasmático que pode estar presente mas sim com o fato de que Alguns autores sustentam que para as histéricas o orgasmo seria a morte, a morte do desejo, já que faz diminuir a tensão. Elas identificam ela não pôde, até este momento, constituir-se como mulher. E este déficit constitutivo em sua psicossexualidade se explicaria porque, em virtude da o desejo com sua própria vida. "O orgasmo significa o fim do prazer. A sua fixação edípica à mãe (Édipo invertido), não fez uma plena passagem histérica frígida é capaz de sentir esse prazer, porém o rechaça. As mulheres ao pai como objeto de amor. Por outro lado, devido à sua intensa fixação atingem o orgasmo não porque o homem o proporcione mediante a arte e a forma de proceder, mas sim porque elas querem (...), a frigidez não edípica positiva, não fez mais do que uma insuficiente e parcial substituição é uma impotência, a frigidez é "não É improvável que esse rechaço do pai por outro homem como objeto de amor exogâmico. Por isso, a frigidez histérica seria nem tanto um problema de "não querer" como afirma seja sempre consciente e voluntário (...) Manter o prazer não é somente Isräel mas sim de "não poder". a busca de uma excitação feliz ou agradável, mas também (...) conservar Não contamos com mais do que nossa escuta analítica para "medir" a vontade de viver. Se o prazer está morto, quem nos garante que ressusci- a importância desse componente homossexual. Mas me arrisco a atribuir a taremos novos desejos? (...) Curar a histérica de sua frigidez seria permitir-lhe ele o núcleo de desconfiança que impregna a relação amorosa da histérica, morrer?"18 assim como o desenlace mais ou menos paranóico (e não somente depressivo) Agora que o transcrevo, este parágrafo de me parece tão fascinante com que a histérica se encontrará no caso de sua vida como dissemos como da primeira vez que o li. Entretanto, não posso deixar de perguntar-me: será que a histérica precisa sempre manter seu desejo insatisfeito para conser- quando sua máscara de "perfeição", "beleza" ou "originalidade" for per- dendo tanto sua função encobridora como sua função de gratificação e reasse- vá-lo vivo e preservar sua própria vida? Ou será o caso de que a permanente insatisfação da histérica tem como fonte não somente a convicção de que guramento narcisista. Neste vínculo homossexual, com maior ou menor força se defrontarão, por um lado, a submissão a uma mãe idealizada e o amor não há homem no mundo que possa ter os atributos viris que faltaram a infantile por outro, a rebeldia e a raiva contra ela ou contra quem a represente, seu pai, mas também a convicção de que não há homem que possa dar-lhe mas sempre no seio de um vínculo de visível ou invisível dependência de a ternura que a mãe não lhe deu, entre outras razões por ter nascido menina (mulher)? uma figura feminina. Quanto maior for a dependência da mãe, menor espaço terá o homem como Mestre para fazer sua aparição, e mais prematura será Esta atitude sexual da histérica permite muitas interpretações. Podemos a uma necessidade de manter uma relação clandestina na fantasia sua decepção. Ela já não necessitará dissociar a figura do homem em um homem-mestre idealizado e um homem-aluno denegrido, já que todos os ou na realidade - com um representante paterno ao mesmo tempo desejado homens encontrarão facilitado o caminho que coloca neste último lugar, e proibido, como um sintoma que expressa a consumação e a punição frente mais desvalorizado. cumprimento de um desejo condenado pelo Ideal, ou que expressa uma A mãe da histérica não é consciente do dano que causa à filha ao medida preventiva para não realizar tal desejo. trar-lhe uma imagem tão deteriorada do pai. que faz é defender-se atacando, Poderá ser interpretado que ela não consegue deixar de identificar-se defender-se de seu próprio sentimento de desvalorização como mulher. Ela com a mãe na desconfiança professada ao homem, embora tente substituí-la se apresenta como vítima do marido. Ele é quem não a compreende, ele e superá-la frente a seu pai, tão incompreendido como tal. Poderá ser dito é quem não a ajuda, ele é quem não a atende, ele que é brutal e grosseiro que, sua rivalidade com o homem, precisa mostrar-lhe sua impotência, sexopata... É a sociedade inteira que é injusta, a que sempre marginalizou para penetrá-la, seja para fazê-la gozar. Poderá ser remontada essa rivali- a mulher e segue fazendo, condenando-a a ser mulher! A filha adivinha dade ao complexo de castração (inveja do pênis) ou a uma vingança contra e sofre o rechaço de sua identidade sexual por parte da mãe que, acima pai, contra sua minguada potência viril, deslocada ao resto dos homens. de tudo, a "ajudará" a construir um ideal inalcançável: "o principe azul" Poderia, se fosse o caso, acumular mais explicações. Talvez todas sejam, em certa medida, talvez alguma pareça descrever melhor que outra o mestre, como ideal narcisista que ela não pôde conseguir. Por sua parte, a suposta vítima trata de "demonstrar" aos olhos de sua 17 Entre eles L. na obra já citada. filha que, apesar de tudo, tão impotente não é. Que modelo de mulher, 18 66 / Hugo Mayer Histeria / 67</p><p>que modelo de homem e que modelo de mãe pode edificar em seu interior que me excitavam Recordo me que, às vezes, estava sentada sobre seus joelhos uma filha nesta trama familiar? na poltrona grande da sala de jantar e ele me beijava a orelha, metia dentro Entre muitas variantes possíveis, encontraremos histéricas nas quais pre- de minha orelha e me provocava cócegas em todo o corpo, e eu dizia que ele fazia domina a busca do amante idealizado (o mestre), ou aquelas nas quais é a 'pepita' rir, porque eu chamava a vagina de 'pepita' quando era Essa cena, a tenho bem gravada. Depois, quando me tornei um pouco maior, eu mesma pus uma mais evidente a franca rivalidade com o homem, outras, ainda, que pretendem distância física entre nós". erigir-se como objeto idealizado (falo) dos homens exaltando suas inclinações exibicionistas, sem que faltem também aquelas que optam por refugiar-se Pode-se pensar que se trata apenas de uma fantasia criada por um desejo na maternidade, nem tanto como uma realização feminina, mas sim como ou apenas de uma recordação encobridora. Mas também pode-se considerar compensação de uma feminilidade sentida como insuficiente ou como incom- como creio - que se trata de um fragmento da realidade material pletude intolerável. ainda que não seja "pura" uma amostra que sintetiza e ilustra a impossi- Assim se explicaria a deficiente integração quando não o enfrentamento bilidade de desprender-se de suas fantasias edípicas. de diversos aspectos que uma mulher não deve descuidar se pretende De fato, esta paciente sofre de uma inibição parcial de seu prazer gozar em plenitude de sua condição como tal: aspectos femininos, masculinos É quase insensível à penetração do pênis de seu marido. A ardente paixão e maternais. Aspectos cujas fronteiras se confundem conforme a cultura e fica reservada em suas fantasias para alguém com quem a relação é impossível, a época que se considere. pelo menos socialmente impossível ou condenável. poderíamos concluir afirmando que a mulher é um ser dual, provido, Pode-se verificar aqui como os papéis aparecem invertidos, pois é a filha por um lado, de uma atitude e um comportamento instintivo - passivo quem se afasta tentando respeitar a lei e o pai é quem promove a sua penetrado que busca a complementação com o companheiro masculino, e são. Quanto mais intensa for esta sedução paterna, maior será a catexia confe- que possui, por outro lado, outra atitude e outro comportamento materno rida ao fantasma no qual se encenifica o desejo incestuoso edípico direto ativo - penetrante que a induz à relação protetora com sua cria, a qual da infância, maior será sua fixação a ele e menor sua possibilidade de descarga constitui o par para tal estrutura". (de em uma atividade sexual com outro homem que substitua se vê como as mulheres histéricas dissociam e contra- um pai que não admite substituição, pois ele mesmo não soube sair do lugar o ser mulher com o ser mãe ou o amor sexual genital com o amor de homem frente à filha. terno. Esta necessidade de dissociar, dosificar e distribuir sua entrega amorosa Se o pai não pode conter a atração sexual frente à filha e se esta tampouco em lugar de integrá-la somente pode ser entendida em função da sua história pode fazê-lo frente a ele, com quem convive, que outra possibilidade dentro de um núcleo familiar a cujos caracteres gerais já aludimos anterior- resta - a partir da puberdade - além de inibir a genitalidade, conservando mente. Entretanto, insistirei em destacar o quão difícil resulta para a filha todo seu erotismo na fantasia e nos sonhos diurnos? Assim, consegue continuar alcançar uma satisfatória estruturação feminina quando a mãe protesta e des- sendo uma menina que não pode e nem quer renunciar completamente qualifica o homem que escolheu para compartilhar sua vida e quando este vínculo incestuoso com seu pai, no qual o recria e o revive com aceita uma união com uma mulher assim. Além disso, como se entende que desfiguração de maneira incessante. O "ardor" se concentra na mente a mãe proteste contra os homens, mas a estimule a se casar? Toda filha e a "frieza" se expressa como inibição genital, a nível de corpo. Desse alguma vez quis substituir a mãe como companheira do pai. Porém, a mãe fica garantido o "cumprimento" do desejo inconsciente no plano da histérica, com suas falências, estimula esta fantasia, pois aparenta ser facil- uma vez que está prevenida, defendida, sua possível "realização" na realidade mente superável como mulher do pai. Naturalmente que como todo sintoma a inibição genital da histérica Do mesmo modo, toda menina é "seduzida" pelo pai, que estimula na está sobredeterminada. Nela intervêm muitos outros fatores, cuja intensidade filha a condição feminina. pai da histérica está insatisfeito (sobretudo na dependerá da história pessoal: a autopunição que parte do Superego pelo auto-estima), e a sedução já não poderíamos colocá-la entre aspas, despro- cumprimento de um desejo proibido, a rivalidade com o homem, a submissão vida como está de intermediação simbólica. ao mandato de uma mãe fálica que a impede de gozar como mulher, Assim como o pai que não pôde integrar senão que, em vez disso, Uma paciente me dizia: "Se eu tivesse demonstrado a papai o que eu sentia por ele... Mas tinha medo, tinha a fantasia de que podia chegar a me agarrar. Muitas vezes pensei o amor genital e o amor terno frente à sua filha, esta a partir da que papai não deveria ter se comportado comigo desta forma. Evidentemente sentia uma - precisará manter dissociados ambos os componentes do amor sexual atração muito grande por mim. Demonstrava-me seu carinho com carícias ou com beijos meta sexual genital e a meta sexual terna que resulta da restrição do 19 - A Rascovsky Conocimiento de la Buenos Aires, 1980, cap. 6, p. 51. genital. 68 Hugo Mayer</p><p>Ao mesmo tempo, em um movimento complementar, deslocaria a hostili- pensa "se o tenho e há quem não o tem, posso perdê-lo". Surge, dade sentida em relação ao pai até o marido, ou a certos homens facilmente toda uma série de comportamentos que tendem a reassegurar-lhe tanto de impressionáveis, a quem demonstrará que nunca poderão satisfazer seu desejo, que tem" como de que não há nenhum perigo de perdê-lo. o desejo sexual que ficou em suspenso na vida infantil e ao qual como A tentativa de agradar a todos, de ser querido por todos, implica incons dissemos - não pode e nem quer renunciar. Fica-lhe a raiva de que o pai, cientemente o desejo de ofuscar a todos. o homem histérico quer ser em vez de ter sido um terno estimulador que mantivesse firme a proibição, melhor e o único, o que equivale a dizer que não superou a rivalidade tenha sido um cúmplice excitador de fantasias em que o proibido era transgre- seus pais, nem, tampouco, seu temor à punição por seus desejos proibidos dível. Esta raiva aparece referida aos demais homens, aos quais "castiga" De um modo geral o pai frágil ou despótico foi inseguro no por sua condição como tal. Talvez porque esta seja uma forma de expressar da lei. (O de Fedor Dostoievski, brutal, narcisista e competitivo, é um exemplo a crítica à falta de hombridade de seu pai, tanto na relação com sua mãe, do tipo despótico.). ao "suportá-la", como na relação com ela própria, ao confundir seus desejos Em qualquer dos dois casos, ao menino fica faltando a proteção amorosos infantis com o amor de uma mulher já constituída. que debilite a "periculosidade" que atribui aos seus desejos infantis. comple mento de um pai com estas características é uma mãe que sutil ou tamente o desqualifica como homem, uma vez que dirige seu olhar O CARÁTER NA HISTERIA MASCULINA a um terceiro idealizado. Esta mãe poderá seduzir o filho em maior ou grau, porém o fará com um predominantemente narcisista, faltando caráter histérico masculino não difere muito do feminino. Também o verdadeiro amor de mãe, o amor terno. ao homem histérico agrada seduzir, quer ser amado por todos e não pode Nesta conjuntura familiar, perseguido por seus fantasmas castratórios escolher. Escolher algo ou alguém é renunciar a todo o resto, e ele não nos encontraremos com uma multidão de condutas e atitudes que habitual quer perder nada. Como a histérica, sempre se acha insatisfeito pelo que mente são catalogadas como histéricas. Incluem-se desde defesas tem, e lhe parece mais valioso o que os outros possuem. Por isso, precisa bicas, pelas quais procura mostrar a seu público sua hiperpotência agradar para ser confirmado ou reassegurado a partir do desejo do outro. exibindo sua "vitória" sobre a angústia de castração que o persegue Como bem disse L. ele não mostra, não faz ver como a histérica toda parte, até o grande sedutor que na intimidade do leito sofre para demonstrar que tem algo a exibir, senão que ele necessita mostrar-se. lamento porque seu pênis se com sua detestável flacidez Ele pretende ser o ponto de convergência dos desejos de todos os demais seus anseios conscientes. que talvez não possa confessar é que, por o filho único e maravilhoso quando sua realidade vivencial é exatamente de sua impotência, há nele mais necessidade de ternura do que de oposta. Sente-se com o pênis mais insignificante do mundo, com a mulher genital. menos apropriada, com a carreira menos moderna, etc. Não é nossa intenção dar conta dos sintomas histéricos, pois cada histérico tem tanta insegurança de sua identidade sexual como a mulher deles, além de ser multiplamente determinado, tem uma história singular da sua. Como ela, precisa fazer demonstrações, cobrindo-se de insígnias ou cujo deciframento não apenas seria uma tarefa exaustiva, mas também objetos emblemáticos que o assinalem como alguém "superviril" (supercarros, de fato incompleta e insatisfatória. Há, por acaso, apenas um tipo superlanchas, supermulheres...) para que todos o desejem. É frente a esta frigidez? E não ocorre o mesmo com os desmaios, as convulsões, as paralisias ostentação machista que a histérica se rebela frustrando-o. A relação amorosa as impotências sexuais e as ejaculações precoces, etc.? entre dois histéricos é uma interminável disputa ou uma representação tragi- Nossa referência era dirigida somente para uma caracterização de cômica. traços que se sobressaem na estrutura de caráter histérico, tanto na No homem, a angústia de castração aparece mais diretamente como sín- quanto no homem. dromes de angústia ou, em virtude de certos deslocamentos, como pequenas ou grandes fobias; porém, embora não com a mesma nem eficácia, 1923 também nele aparecem sintomas conversivos. Como dissemos, trata-se de homens muito inseguros de sua identidade DE sexual que, regidos pela teoria sexual infantil da castração, supervalorizam UM DE narcisicamente o pênis, equiparando-o ao falo. Podem dizer ou sentir "sou (homem) porque o tenho", mas a angústia aparece no instante seguinte quando Freud 70 Hugo Mayer</p><p>História: Norma provém de uma família humilde do interior de uma província. 5 Mãe: 59 anos. Terapeuta ocupacional. Pai: 66 anos. "Caudilho Norma (38 a.) é a mais velha das três irmãs mulheres. Paula (36 a.), casada. Marcela (30 a.), casada. Viviam de forma humilde e precária. "Meu pai dedicava-se somente à política. Política de comitês. Sem trabalho estável. Épocas de instabilidade NORMA: HISTÓRIA e dificuldades econômicas". Norma conta que o pai também funcionava dentro de casa como um DE UM AMOR INALCANÇÁVEL caudilho, e que a mãe submetia-se aos seus mandatos. "O valor estava colocado no intelectual. A comunicação passava e passa através do político". Norma tinha medo do pai. "Diziam que era brigão, agressivo, combativo, em suas atividades politi Norma era a única da família que o enfrentava. Medo e admiração pelo pai. Sentimentos que ainda hoje Enquanto escrevia estas linhas chegou-me às mãos, de um lugar distante Norma conta: "Meu pai era e é machista, mulherengo, mas era rígido desta um fragmento da história de uma mulher que, embora resumido conosco em relação à moral e ao e esquematizado, pode servir para ilustrar muitas das idéias e descrições até Quando Norma tinha 6 anos de idade, seu pai abandona a casa por aqui expostas. Apresentarei primeiro o material tal como me foi causa de outra mulher. Este fato é relatado como traumático: e depois farei uma interpretação psicanalítica que como disse não pre- "Nós nos sentimos abandonadas, não somente por meu pai ele tende outra coisa senão exemplificar clinicamente os desenvolvimentos teóricos visitava e dizia à mamãe que cuidasse de suas filhas mas também por no que diz respeito à estrutura de caráter histérico e seus modos de funcio- mamãe. Ela adoeceu, teve desmaios, internações. Mamãe era fria, pouco namento. expressiva. Sua família, de origem estrangeira loiros e de olhos claros não aceitava papai por ser de origem negra". Norma visitava o pai no hotel onde vivia. RESENHA DA PACIENTE vezes almoçava com ele. Ficava com um nó no estômago". Desta época conta um fato difícil vivido por ela. Uma tentativa de violação Norma: 38 anos. Enfermeira universitária. Empregada de uma instituição por parte de um senhor mais velho conhecido da família. "Nunca estatal. Casada com Heitor (38 a.), empregado da mesma instituição. Três a meu pai, nem a ninguém. Temia a violência de meu pai. Poderia chegar filhos: André Maria Cristina (10 a.), Maria Cecília a). matar a pessoa em questão". O pai, depois de um ano, volta para casa Motivo da consulta: Problemas afetivos. Dúvidas sobre seus sentimentos Nascimento da irmã. em relação ao seu casamento. Sensação de aflição. Dificuldades sexuais. Seve- O nascimento foi vivido por Norma como produto da união do casal ras enxaquecas. Vertigens. Metrorragia, etc. (Está em tratamento há aproxi- Somente nesse momento os pais legalizaram a união matrimonial. madamente um ano.) Aos 21 anos de Norma, o pai adoece. Sintomas: Manifestam-se há oito anos. Complicação neurológica após a aplicação de vacinas anti-rábicas. Fator desencadeante: Infidelidade do marido. la: dificuldade nos movimentos das mãos. "Me custou e me custa ver meu pai debilitado, dimunuído e doente". Capital Federal, República Argentina. Norma foi crescendo "independente, rígida, orgulhosa, auto-suficiente 2 Realizei apenas por óbvias razões de ética pequenas alterações que não afetam paladina da o essencial do 72 / Hugo Mayer Histeria / 73</p><p>Casa-se aos 23 anos com aquele que foi o seu primeiro noivo, sem relações Continua unida a seu marido, que tem se desenvolvido: torna-se respon- sexuais prévias. sável pela casa, enfrenta a realidade, faz progressos em seu trabalho. Continua "A família de meu marido também é de origem humilde. A diferença unida a Augusto. "É oportuno, sua opinião é sempre adequada, é sereno, em relação à minha família diz respeito ao nível intelectual, ético e cultural. maduro, posso apoiar-me nele". O pai era passivo e alcoolista. A mãe e a irmã, prostitutas. irmão menor, Com Augusto a sexualidade é frustrada. Sente-se reclamada por Augusto, sente-se exigida pelo marido. Norma procura afastar o marido de sua família, sobretudo pelo que essa "Não consigo resolver isto, daí resultam minhas aflições e angústias". família significa para ela: "Imoralidade, promiscuidade". Enquanto está em tratamento, retoma sua carreira de Enfermagem. Di- Norma é "ambiciosa e progressista", como ela mesma se define. ploma-se. o marido incorpora-se à família de Norma. Admira o pai dela e filia-se Incorpora-se ativamente na área sindical. ao mesmo partido político. Norma é "ativa, organizada, estabelece as pautas familiares". "Tenho visto meu marido como frágil e infantil. Muitas vezes tenho UMA RECONSTRUÇÃO POSSÍVEL tido que enfrentar eu mesma as situações. Bebia, às vezes ainda o faz. Sinto que o tenho ajudado a crescer". Em uma primeira observação nos encontramos com um universo onde Para Norma foi importante o nascimento do seu primeiro filho. se vislumbram e confundem identificações e sintomas diversos, assim como Varão e primeiro neto. Dois anos depois nasce uma menina. fatos ou situações que se repetem aparentemente de modo casual, mas que Crescem seus filhos. assinalam coisas carregadas de significação para uma leitura psicanalítica. Norma decide trabalhar. Ingressa na instituição onde seu marido trabalha. Temos a impressão de que a compreensão está logo ali, próxima, ao alcance Infidelidade do marido. Depressões, desmaios. Primeiras consultas psi- da mão. Porém, basta que nos acerquemos e tratemos de apreendê-la para Aborto. sentir que ela nos escapa, que nos falta algo. Hesitamos e não encontramos "Não-aceitação do filho por parte de meu marido". uma saída ou não sabemos qual delas escolher. E é exatamente este o problema Ressentimento. que leva Norma a procurar o tratamento e o qual poderíamos fazer extensivo Gravidez. a toda estrutura de caráter histérico: essa dificuldade ou, melhor ainda, essa Nascimento de sua terceira filha. Sente que nessa gravidez foi acompa- impossibilidade de realizar uma escolha satisfatória. Escolher pressupõe sacri- nhada por seu marido. ficar algo e ela a histérica por suas intensas fixações narcisistas e edípicas Diz: "Repetição da história de meus pais". não pode, e dá a impressão de que não quer, renunciar a nada. "Meu marido continua junto a mim. Modifica-se. Começa a defender Norma. Nome que, à primeira vista, é tão lindo e comum como tantos nossa família. Mas eu continuo tensa, com dificuldades sexuais, angústias..." outros: como Mariana, como como Raquel... e, entretanto, neste Durante a gravidez, no seu local de trabalho, conhece um homem mais caso veremos que o nome condensa outros sentidos que são significativos velho do que ela e que tem um cargo de chefia. Augusto é casado, com na vida desta mulher. Norma remete à regra, à lei. Isso pode parecer casuali- já crescidos. dade, mas não o é quando a primeira filha é identificada como a que há "Afetivo, terno, compreensivo. Enamora-se de mim". de personificar a Lei em um casal de pais que, para a sociedade, estão em Começam os encontros e as conversas no café. Amor ideal, sente-se uma relação ilegítima, e que se casam ao término de 8 anos e depois de gostada incondicionalmente. ter 3 filhas. Este não é o único indício de que se colocam nas fronteiras Augusto é conhecido do marido e também admirado por ele. da lei. Deixam entrever certa necessidade de desprezá-la ou de rebelar-se Norma tem amigas que, se caracterizam por ter problemas no casamento. contra ela. Algumas delas são "feministas". O pai dedica sua vida à política, a questionar, polemizar ou propor novas Norma, não sabe por que, exerce grande sedução sobre os homens. leis. É caracterizado como autoritário, machista, mulherengo e "caudilho" "Creio que me segura e forte. Aproximam-se contando-me seus não somente no meio social, mas também dentro do ambiente familiar. É problemas e acabam enamorando-se de mim. um homem que parece caricaturar estes personagens que, envoltos em um As consultas duram aproximadamente um ano, pois não define sua situa- manto de arrogância narcisista, pretendem legislar nem tanto em benefício dos demais como de si mesmos, criando leis que se ajustem às suas aspirações 74 / Hugo Mayer Histeria / 75</p><p>narcisitas para que sejam respeitadas e acatadas pelos que os rodeiam como a lei. E ela faz próprio este mandato. Onde quer que vá procura colocar lei universal. Porém, por mais que ele se diga político, não desempenha tudo em ordem, organizar. Sou - diz - "independente, rígida, orgulhosa, bem tal função de representar (ou pretender representar) a lei, pois ele, auto-suficiente. Paladina da justiça. ambiciosa e progressista. ativa, organi- que é tão mulherengo, mostra-se repressor da sexualidade das zada, a que estabelece as pautas familiares". filhas. Talvez por uma formação reativa que encobre seus desejos incestuosos? Aliada à mãe por um vínculo homossexual, olha o pai com olhos que Então pode-se perguntar: que tipo de leis ou normas pode engendrar um o vêem como alguém depreciável por seu machismo, sua insensibilidade, pai assim? Alguém que, ocupando o lugar de autoridade familiar e social, sua brutalidade, etc. Sem dúvida, isso ocorre pela rivalidade oriunda do seu transmite como modelo o que o dito pupular resume desta forma: "Faça complexo de Édipo invertido, mas tal rivalidade encontra sua máxima susten- o que eu digo, mas não faça o que eu faço". tação no ressentimento materno. Por isso disse que teme a seu pai, mas, Com relação à lei, quando falo do casal e não apenas do pai em especial apesar disso, não se amedronta e o enfrenta. Procura reivindicar o lugar é porque também na mãe se percebem sinais de sublevação. Ela demonstra de mulher como não soube fazê-lo sua mãe, submetida e desvalorizada. rebelar-se contra a submissão familiar quando, em vez de casar-se com o enfrentamento, além de expressar a hostilidade ao pai rival, tenta ser uma "loiro de olhos claros", como espera a família, casa-se com um "negro", lição para sua mãe ao mostrar-lhe como uma mulher que se valoriza deve oposto do ideal familiar. defender seus direitos. É esta uma escolha amorosa ou uma expressão de sua rebeldia? Pouca Assim que fala do seu medo ao pai sente a necessidade de acrescentar coisa nos inclina até a primeira opção. Recordemos simplesmente a descrição que também admira" (o ama), como se dissesse: há momentos em que da filha: "Mamãe era fria, pouco expressiva. Sua família, de origem estrangeira predomina em mim o amor à mãe e o ódio ao pai (complexo de Édipo loiros e de olhos claros não aceitava papai por ser de origem negra". invertido) e, em outros momentos, dá-se o inverso (complexo de Édipo direto). Este é um elemento que nos faz pensar que ela escolhe reativamente, isto Neste último caso, sente que sua mãe não compreende nem ama seu pai é, que escolhe nem tanto o que lhe agrada, mas sim o que desagrada à como ela própria seria capaz de fazê-lo, pois é uma "omissa e desorganizada" sua família. a quem deprecia por sua inaptidão como mulher, como esposa e como mãe. Por ser assim, como parece mostrar toda a história que podemos imaginar Vemos aqui a dupla triangulação edípica em que ela se debate. Em a partir deste fragmento que nos é dado a conhecer, ela - a mãe - escapa, plena efervescência do seu complexo de Édipo (completo) ela pôde desejar de casa e troca uma submissão por outra. Não há uma mudança do como a maioria das crianças - que os pais se separassem para formar pai para outro homem que como tal o substitua simbolicamente. que parece um casal separadamente com cada um deles. E eis que se realiza seu desejo. operar é o deslocamento de um pai dominador e narcisista para um marido O pai, provavelmente farto das sutis e sistemáticas desqualificações (e frustra- com características que, pelo menos manifestamente, não são muito diferentes, ções), sai de casa. Tem outra mulher. Norma ainda não completou 7 anos exceto pela cor negra, o que teria sido para seu pai como uma punhalada de vida, mas está próxima disso. no O pai vai morar em um hotel. Norma, que vive com a mãe, visita-o Os ressentimentos acumulados em sua vida familiar seriam assim transfe- nesse hotel, onde pode almoçar a sós com ele, talvez fantasiando ser sua ridos seu marido, frente a quem pode mostrar uma aparente submissão, amante. Tudo parece sugerir que ocorre o máximo de realização de seus mas sem deixar de desautorizá-lo, de insinuar-lhe o mesmo desprezo que desejos edípicos: formar um casal com cada um dos genitores, excluindo seus para com os negros como uma espécie de homem inferior, aquele que ocupa o lugar de rival. Assim cumpriria os desejos homo e heteros- de segunda categoria. Torna-se objeto de um permanente e silencioso rechaço, sexuais incestuosos do Édipo positivo e do Édipo negativo e também o anseio desses que não se diz, mas que se transmite em gestos, olhares, narcisista de ser o elo que une e separa seus pais à sua vontade. Como primeira reação, o pai teria intensificado as atitudes "machistas Não satisfeita com o romance imaginário com seu pai, apela novamente autoritárias" como forma de reassegurar seu sentimento de virilidade questio- à realidade objetiva para que satisfaça seus desejos sexuais, esses que seu nada, até que não aguenta mais e sai de casa. Não deve espantar, pois, pai provavelmente alimenta com sua atitude sedutora, dando a entender à que a imagem de homem autoritário, brutal, egoísta e abandonador que Norma sua filha que recebe mais amor e compreensão dela do que de sua mulher. relata de seu pai não seja outra que a que sua própria mãe lhe transmitiu É por essa época que um senhor mais velho, conhecido da família dele óbvia representação do pai, apesar de deformada por um deslocamento se pode constatar que não é indiferente, nem casual, o fato de que tenta Norma o relata como um fato traumático, e sem dúvida paciente tenha sido identificada como Norma, aquela que há de representar que Mas seu caráter de "trauma psíquico" não seria tanto pela tentativa Mayer Histeria / 77</p><p>de violação em si, para a qual possivelmente contribuiu com sua sedução por suas intensas fixações narcisistas e edípicas, não puderam superar adequa- infantil e com sua real e ao mesmo tempo aparente ingenuidade, mas sim damente seus respectivos complexos de castração e não puderam querer sua pelo fato de que aquele que deveria representar, sustentar e transmitir a filha com ternura. lei sobre a qual se edificou a cultura, isto é, a proibição do incesto, tentou Por esta época, ou pouco depois, Norma fica noiva de Heitor, com quem ignorá-la. mais tarde se casa, virgem. Desta união nasce André, seu primeiro filho, A imagem de um pai ciumento e possessivo para com suas fêmeas, como de quem se sente orgulhosa. Pode-se pensar que ela teve o varão que sua o da "horda primitiva", aparece refletida também no temor de que ele descubra mãe não pôde ter e que deu a seu pai um neto-filho que compensa a menos-valia este fato, porque era "capaz de matá-lo". E, no caso de que assim fosse, infantil vivenciada na sua infância pela falta do pênis. por que "proteger" seu presumido violador? Manter o segredo lhe permite Depois tem uma segunda filha que, na repetição da sua história familiar, continuar gozando, em suas fantasias inconscientes, de uma relação incestuosa representaria a irmã que lhe segue, Paula. com pai. Neste ponto ela parece querer deter a história, pois corresponde ao perío- Logo surge outro fato traumático, talvez maior que o anterior, a compro- do de sua infância em que ela cumpre seus desejos edípicos: separar ambos vação de que seus pais têm relações sexuais: a mãe que engravida pela terceira os pais e formar um casal com cada um deles, em uma dupla triangulação vez e tem uma nova filha. A decepção deve ter sido imensa. Sentiu-se enganada na qual Norma-é o ponto de convergência amorosa de ambos os pais. por ambos os pais e com ciúmes fratricidas de sua irmã menor. nascimento É neste momento que reaparecem, como se viessem do futuro, os doloro- desta, aos seus 8 anos, haveria de causar-lhe a maior desilusão da sua infância. SOS fatos inaceitados do passado: a infidelidade do pai, representada pela Uma desilusão difícil de superar pelo resto de seus dias e que será decisiva infidelidade do marido. Infidelidade que não remete apenas protago- para a estruturação do seu caráter. Nunca mais poderá confiar totalmente nizada pelo pai com sua amante, mas também - e fundamentalmente nem em um homem, nem em uma mulher. à infidelidade do pai e da mãe para com ela quando descobre que eles mantêm Talvez, cheia de rebeldia, tenha planejado dedicar sua vida a demonstrar relações sexuais. Passa, assim, de uma identificação edípica positiva, do lugar mãe que se pode ser uma mulher auto-suficiente que não depende dos idealizado de amante do pai, ao lugar da mãe enganada, onde fica identificada homens, e que mais vale submetê-los do que ser submetida por eles. com uma mulher desvalorizada e submissa. Lugar contra o qual ela se rebela. Esta atitude dominadora e narcisista, para a qual convergem uma identifi- Fica grávida pela terceira vez, mas aborta. Segundo ela, a decisão foi cação com o pai e a reivindicação do lugar da mãe, aparece encoberta por do marido e disso nasce seu ressentimento contra ele. Entretanto, o mais de ingenuidade quando aparenta surpreender-se pela grande sedução é que, dentro dos múltiplos determinantes que confluíram nesse que exerce sobre os homens: "Creio que me vêem segura e forte. Aproxi aborto, tenham desempenhado um papel destacado tanto o desejo de que mam-se contando-me seus problemas e acabam enamorando-se de mim" seu pai não houvesse tido relações sexuais com sua mãe, e sim com ela Quer repetir o caminho percorrido por sua mãe, porém retificando seus em outras palavras, que a terceira gravidez não houvesse existido quanto erros, mas, por sua vez, não pode desligar-se do gozo fantasmal que obtém os desejos ciumentos e fratricidas de que sua mãe abortasse para que conti- através de diversas fantasias nas quais se imagina protagonizando um amor nuasse sendo ela, e não sua irmã menor, o objeto de amor e o elo através imenso com um personagem idealizado que encobertamente representa seu do qual seus pais se comunicavam. pai (o pai idealizado da sua infância). Porém, a história rechaçada insiste e, se não é aceita como representação, Quando seu pai adoece pelas complicações da vacina anti-rábica, isto impõe-se como repetição. quando perde sua fachada de homem vigoroso e aparece de modo manifesto Os tiveram três filhas: Norma (38 a.), Paulo (36 a.) e Marcela (30 sua impotência vital, sua dependência infantil e sua progressiva decadência Norma, por sua vez, tem 3 filhos: André (12 a.), Maria Cristina (10 Norma não consegue evitar o sentimento de compaixão por Compaixão Maria Cecília (4 a.). reativa desejos retaliativos, à hostilidade para com o homem porém Entre o e 2. de cada série há uma diferença de 2 anos, e de 8 também compaixão terna para com quem tem amado e Uma paixão entre Mera coincidência ou repetição compulsiva? que se apagou na realidade para retrair se à Oito anos tinha ela quando, com o nascimento de Marcela, seus pais Não é sugestivo que esta desilusão compassiva apareça nos 21 anos de e legalizam sua situação como casal. Norma, que é a mesma idade que a mãe tinha quando ela nasceu? N anos que sofre dos sintomas desencadeados pela descoberta da coincidência não será uma alusão do casal com o do de um a primeira filha? inevitável para 7N / Hugo Mayer Histeria / 79</p><p>Chama suas filhas de Maria C. e Maria C., o que sugere que seu incons- Para ocupar este lugar ela precisa complementar-e com alguém que possa ciente não as diferencia o suficiente. É como se tratasse de neutralizar, ape- vê-la assim, e que, tendo características semelhantes às suas, possa também lando ao nome da Virgem, uma hostilidade fratricida que as filhas atualizam encarnar sua falta imaginária, seu ser desvalido e dependente que precisa nela, e cujo vestígio se refletiria na similitude do começo dos 3 nomes: Mar. ser salvo do caos familiar. Desta forma, escolhe para marido alguém parecido cela, Mar. ia, Mar com ela própria, com a mesma idade e com grande necessidade de apoio, São repetições demais para serem reduzidas a uma simples coincidência. resgatando-o de um ambiente "promíscuo" que não é senão a caricatura Freud e a observação clínica nos ensinaram a prestar particular atenção aos do seu próprio ambiente. Separa-o de sua família, a qual faz depositária dados que insistem em repetir-se, pois assinalam um ponto em que fracassa de tudo o que é execrável na sua própria, onde trata de incorporá-lo. Ele a repressão que mantinha determinados conteúdos sufocados no inconsciente. é sua réplica masculina, da qual não pode separar-se porque reapareceria Norma tem então sua terceira filha. Entre outros determinantes, não nela a "falta imaginária" deslocada do nível genital e expressada nas múltiplas será esta uma tentativa de conseguir o mesmo que a mãe com sua terceira áreas que compartilha com seu marido. filha: que seu homem deixasse a amante e, cheio de culpa, voltasse para Heitor, como todos os homens que a desejam e a conhecem como Nor- a casa inquestionavelmente "vencido"? ma-lei, é desvalorizado por ela ao fazê-lo depositário da imagem de uma marido, a partir de então, muda de atitude. Torna-se mais maduro, menina "castrada", que algumas vezes acreditou ser e como ainda continua mais dedicado à família, como ela queria. Mas já é tarde, ela não o perdoa acreditando inconscientemente. Juntamente com uma identificação imaginária totalmente. com o pai ideal, apareceria nesta atitude a rivalidade com o homem, sua Mas qual é o principal motivo para seu ressentimento? Que ele a inveja do pênis, e a necessidade de inverter os papéis. Não é que ele tenha tenha induzido a abortar? Ou que seu pai, por trás de sua aparente fortaleza, o que a ela falta, senão que é a ele que falta o que ela tem. Parece não não fosse capaz de separar-se completamente de sua mãe? E, se não pôde poder reconhecer que a um e a outro, a ambos, falta algo e que só assumindo evitar ter relações sexuais com ela com a mãe por que não a obrigou a falta é que poderia unir-se de maneira satisfatória e complementar. a abortar? E sua mãe, por que o aceitou de volta? Por que, embora estivesse Por que sua necessidade de manter esta dissociação entre a dependência grávida, não abortou e ficou com suas filhas, ou não buscou um amante e a auto-suficiência, entre o afetivo e o sexual? Já apontamos para várias protetor como ela o faria? hipóteses em um capítulo anterior, mas reiteremos uma que considero funda- Obrigada a repetir a história inaceitada e querendo retificá-la, vai em mental. busca de sua terceira filha. E é no curso dessa gravidez que conhece Augusto, Norma - como muitas mulheres de caráter histérico - necessita, por uma pessoa mais velha, que é chefe, que é casada e que a "ama incondicio- sua fixação edípica, vincular-se afetivamente com dois homens. Não consegue nalmente". Aqui aparece novamente representada a figura paterna, só que desprender-se de uma imagem masculina desvalorizada, não somente devido deformada pela censura. Pai idealizado com quem se vincula amorosamente à sua inveja do pênis, mas também em função da aliança homossexual com da mesma forma como gostaria de tê-lo feito na infância, pai que de a mãe que olha o esposo com desprezo (Édipo negativo). É a esse homem, lado a esposa por sua causa e que não pode renunciar ao seu amor. Que "menino" e "rival", que faz "crescer" ou "enfrenta" conforme os momentos importa não sentir prazer sexual com ele? Basta que lhe permita conservar e situações. Porém, tampouco pode desprender-se da imagem de um homem- vivas as fantasias que expressam seu desejo de ser correspondida amorosa- amante idealizado, que lhe permita tanto eliminar a mulher rival, quanto mente por um personagem (paterno) proibido com quem tem uma relação contactar homossexualmente com ela (Édipo completo). Imagem que repre- "E oportuno, adequado, sereno, maduro, posso apoiar-me nele" e sentaria o amor (narcisista) dos pais que a amam de modo incondicional, "me ama como desejou ser amada, independentemente do seu sexo. Diante dele pode mostrar-se como uma menina dependente e platonica- Em vias de concluir este esboço aparece em minha mente - e talvez, mente enamorada (infantilismo e ingenuidade histérica). Mas também precisa na de quem leia a resenha e sua interpretação um chamamento a continuar dissociar esse vínculo amoroso. Por um lado, mantém um vínculo idealizado desembaraçando a teia. com Augusto, do qual fica fora a área sexual, pois é onde aparece a falta, Como não falar da identificação histérica com a mãe quando reage como a Seria isto, entre outras coisas, uma alusão à intuída ou desejada ela com desmaios frente às evidências da infidelidade do marido? impotência sexual do pai com suas amantes? Por outro lado, assume o lugar Como não fazer referência à tarefa de reparação à qual mãe e filha da mulher completa e auto-suficiente, da mãe fálica, da mulher-lei a quem pretendem dedicar-se com a escolha profissional? todos os homens consultam e desejam. Como não pensar em um déficit na sublimação da sua homossexualidade? NO / Hugo Mayer Histeria 81</p><p>Como não correlacionar a tarefa política, à qual seu pai dedica sua vida, com a tarefa sindical de Norma? Ou como não correlacionar a tarefa sindical com o seu intenso reivindicativo? Como não perceber as múltiplas conexões entre a sua infidelidade, a 6 do marido, a do pai com as amantes, e a de seus próprios pais para com ela? Porventura iríamos muito mais longe sustentando que seus desmaios são expressão de uma reação punitiva frente ao desejo de ocupar o lugar da MESA-REDONDA* mãe ou da amante do pai, excluindo a mãe rival? leitor poderá continuar pensando e descobrindo relações talvez insuspei- HISTERIA tadas por mim, e tomara que assim seja. De minha parte me conformo em haver oferecido uma ilustração clínica que reflete muito dos principais traços MANIFESTAÇÕES E ESTRUTURA da estrutura e da dinâmica do caráter histérico. Ainda que pareça um truísmo esclarecê-lo, compreender-se-a que, devido à precariedade de dados e à natu- reza do material, tenha-me abstido de tentar o deciframento dos sintomas. José Abadi, Abraham Banchetrit (coord.), Hugo Mayer, Jorge M. Pantolini e Rascovsky Abraham Benchetrit (coord.) Gostaria de abrir esta Mesa-Redonda sobre a histeria fazendo a seguinte reflexão: sabemos que o tema da histeria que é aquela com que Freud surge e entra na psicanálise atravessa todo o campo freudiano, desde o início até o final de sua obra. Podemos resgatá-lo ainda a partir do segundo tópico, nos adendos de Inibição, sintoma e ansiedade, A perda da realidade na neurose e na psicose e em outros artigos. Sabemos também que a histeria deu lugar não somente à descoberta da técnica, mas também que os trabalhos teóricos sobre a histeria estão intima- mente vinculados com uma imensidão de outros temas da Por isso, hoje, ao falar da histeria, é provável que venhamos a nos referir a muitos outros temas. Minha tarefa será a de coordenador, que significa escutá-los e facilitar o diálogo, mais do que a busca de um impossível denomi nador comum. Como sempre haverá primeiro exposições Passo-te a palavra, José. José Abadi Concordo plenamente com a observação que Efeti- vamente uma introdução à temática da histeria é também para mim como iniciar um itinerário por quase toda a teoria Observar os estudos, os trabalhos que Freud realiza em seus dez primeiros anos como psicanalista que o inauguram como tal é assistir a todas as descobertas que logo configurariam os pilares do edifício * Publicada na Rev. de Psicoanálisis, Buenos Aires, / Hugo Mayer</p>

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