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<p>PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS</p><p>AMANDA METZKER</p><p>A INFLUÊNCIA DO AGRO LOBBY NAS MUDANÇAS DA POLÍTICA EXTERNA</p><p>BRASILEIRA: de Dilma a Temer(2011 a 2019)</p><p>CAMPINAS</p><p>2024</p><p>PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS</p><p>CENTRO DE ECONOMIA E ADMINISTRAÇÃO</p><p>BACHARELADO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS</p><p>AMANDA METZKER</p><p>A INFLUÊNCIA DO AGRO LOBBY NAS MUDANÇAS DA POLÍTICA EXTERNA</p><p>BRASILEIRA: de Dilma a Temer(2011 a 2019)</p><p>Trabalho de Conclusão de Curso</p><p>apresentado à Faculdade de Relações</p><p>Internacionais do Centro de Economia e</p><p>Administração, da Pontifícia Universidade</p><p>Católica de Campinas, como exigência</p><p>para obtenção do Grau de Bacharel em</p><p>Relações Internacionais.</p><p>Orientadora: Prof(a). Dr(a). Ana Paula</p><p>Lage</p><p>CAMPINAS</p><p>2024</p><p>RESUMO</p><p>Este trabalho explora a influência do lobby do agronegócio na formulação da</p><p>política externa brasileira durante o período de 2011 a 2019, com foco particular nas</p><p>ações da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e do Instituto Pensar</p><p>Agropecuária (IPA). O agronegócio brasileiro, setor vital para a economia do país,</p><p>tem desempenhado um papel crescente não apenas na produção e exportação de</p><p>commodities, mas também na arena política, moldando políticas públicas e</p><p>influenciando decisões estratégicas de comércio exterior. O atual estudo visa</p><p>desvendar os mecanismos de atuação desses grupos de interesse e suas</p><p>estratégias de lobby, que se intensificaram em um período de significativa</p><p>instabilidade política e econômica no Brasil, a partir de 2011. A pesquisa é</p><p>contextualizada pelo histórico desenvolvimento do agronegócio no Brasil,</p><p>destacando sua transição de uma agricultura tradicional para um modelo de</p><p>agroindústria moderna. Essa transformação é analisada à luz da "revolução</p><p>tecnológica" e do progresso científico aplicado ao setor agrícola, que redefiniu a</p><p>atividade agrícola no país, elevando o Brasil a uma posição de destaque global em</p><p>várias commodities agrícolas. A terminologia "agronegócio", cunhada por Davis e</p><p>Goldberg, é explorada como um reflexo dessas mudanças profundas. No contexto</p><p>político, a ascensão do agronegócio coincide com a consolidação de grupos de</p><p>pressão como a FPA, que exercem influência significativa sobre a formulação de</p><p>políticas públicas. A análise das atividades da FPA e do IPA entre 2011 e 2019</p><p>revela como esses grupos articulam interesses do setor agrícola dentro do</p><p>legislativo, especialmente durante os governos de Dilma Rousseff e Michel Temer.</p><p>Palavras-chave: agrolobby, Bancada Ruralista, FPA</p><p>SUMÁRIO</p><p>INTRODUÇÃO ………………………………………………………………………... 4</p><p>1. DEFINIÇÃO DE ATORES E CONTEXTUALIZAÇÃO DO LOBBY NO BRASIL</p><p>………………………………………………………………………………………………... 9</p><p>1.1. Lobby e sua evolução histórica no Brasil ………………………………………... 9</p><p>1.2. Lobby do agronegócio no Brasil: FPA e IPA ………….…………………… 15</p><p>1.3. O Poder Legislativo no Brasil …………………………………………….… 15</p><p>2. DECISÕES LEGISLATIVAS DA BANCADA RURALISTA ………….…… 19</p><p>2.1. Bancada Ruralista nos Governos Dilma e Temer ……………….……… 19</p><p>2.2. Avanços e estratégias do IPA ……………………………………….……… 19</p><p>2.3. Estudo de Caso da influência do lobby do agronegócio …….………… 19</p><p>REFERÊNCIAS ……………………………………………….……………………… 19</p><p>4</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>O agro brasileiro emergiu como um protagonista vital na economia nacional,</p><p>moldando não apenas o panorama econômico, mas também influenciando</p><p>diretamente as políticas públicas e as relações exteriores do país. Para Veiga (1975)</p><p>a alavancagem da economia brasileira baseou-se em alguns produtos de exportação</p><p>(apud. MENEZES E PINHEIRO, 2005), em consonância, Menezes e Pinheiro</p><p>ressaltam o fenômeno de crescimento, a partir de 1999, com a flexibilização da taxa</p><p>de câmbio e aumento da demanda global, foi quando o Brasil se tornou o maior</p><p>produtor mundial de café, laranja e cana-de-açúcar; segundo maior produtor de soja,</p><p>carne de frango e carne bovina; e terceiro de frutas e milho.</p><p>À época citada, esse setor da economia do Brasil já era reconhecido como</p><p>agronegócio, construção terminológica que vem desde de 1980, a transição da</p><p>agricultura moderna para a agroindústria e, posteriormente, para o agronegócio</p><p>reflete não apenas mudanças na nomenclatura, mas sim uma redefinição</p><p>fundamental da atividade agrícola no Brasil e no mundo. Segundo Mendonça (2015),</p><p>a mudança está associada à revolução tecnológica e progresso científico, aplicados</p><p>ao setor agrícola. O termo agronegócio (agribusiness) surge com o livro intitulado “O</p><p>conceito do Agronegócio”, tradução livre, escrito por John Davis e Ray Goldberg. Na</p><p>obra, os autores explanam o conceito de agricultura como parte integrante da</p><p>indústria. De acordo com os teóricos, isso já vem sendo consolidado há mais de 150</p><p>anos quando, além de alimentos, os camponeses produziam seus próprios</p><p>equipamentos, insumos, combustível, moradia, roupas e utensílios domésticos.</p><p>Ademais, é citada a principal mudança observada nas chamadas por eles de</p><p>fazendas modernas, descrita quando o uso da terra deixa de ser autossustentável e</p><p>passa a ter função comercial, com a produção baseada em monocultivos.</p><p>No contexto brasileiro, a ascensão do agronegócio desperta tanto elogios</p><p>quanto críticas e sua literatura diverge entre textos apologéticos e de denúncia,</p><p>ambas vertentes utilizadas para a base bibliográfica desta monografia.</p><p>Dentre os laudatórios, Menezes e Pinheiro (2005) buscaram expor os anos de</p><p>ouro do agronegócio brasileiro, quando o campo econômico demonstrava seu</p><p>potencial de crescimento e competitividade. Segundo os autores, houve um</p><p>progresso sem precedentes em toda a história e elevaram o saldo da balança</p><p>comercial de US$15 bilhões, em 1995, para U$34 bilhões, em 2004.</p><p>5</p><p>Em divergência, Canuto aborda um importante tópico em sua tese ao</p><p>questionar: “O que se esconde por trás de todos os discursos que colocam o</p><p>agronegócio no mais alto patamar da economia brasileira?” (Canuto, 2004, p.2). O</p><p>autor é crítico em chamar o agronegócio de devastador, ressaltando o</p><p>desmatamento ilegal em imensas áreas de florestas e do cerrado, secando</p><p>nascentes e mananciais. Além de lembrar dos malefícios dos agrotóxicos,</p><p>despejados por aviões e tratores, culminando na contaminação de solos, águas, ar e</p><p>as plantações camponesas,sendo os principais causadores de doenças e mortes.</p><p>Além do conceito de agronegócio e as implicâncias do setor, serão</p><p>apresentados ao longo deste trabalho outros aspectos fundamentais para entender o</p><p>papel e a influência do agronegócio no Brasil. Um deles é o fenômeno do lobby</p><p>agrário, por definição da doutora Oliveira (2004) em sua tese “Lobby e</p><p>Representação de Interesses”, lobby é uma articulação utilizada por grupos de</p><p>pressão para participarem do processo de tomada de decisões estatal e assim</p><p>contribuírem para a elaboração das políticas públicas de cada país.</p><p>Neste contexto, este trabalho se propõe a investigar como o lobby do</p><p>agronegócio influenciou a formulação da política externa brasileira no período de</p><p>2011 a 2019, com foco na arena legislativa federal. Por meio de uma análise</p><p>detalhada das ações da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e do Instituto</p><p>Pensar Agropecuária (IPA), principais atores desse processo, busca-se</p><p>compreender os mecanismos de influência e os interesses em jogo na interseção</p><p>entre agronegócio, agro lobby e política externa.</p><p>Durante o período de 2011 a 2019, o Brasil passou por um cenário político</p><p>conturbado, caracterizado por mudanças significativas nos governos liderados por</p><p>Dilma Rousseff e Michel Temer. A autora Pompeia (2022) afirma que o poder da</p><p>FPA, em meados de 2010, e sua influência ultrapassaram as barreiras do</p><p>socioambiental, tendo exercido uma atuação notável nos processos macropolíticos</p><p>que culminaram no impeachment da então Presidente Dilma Rousseff (Partido dos</p><p>Trabalhadores-PT, 2011-2016) em 2016. Bem como o subsequente apoio a</p><p>manutenção do Governo de seu vice, Michel Temer (Movimento Democrático</p><p>Brasileiro-MDB,2 2016-2018).</p><p>A análise desse período é crucial para compreender como as dinâmicas</p><p>políticas e econômicas moldaram a relação entre o agronegócio</p><p>e a política externa</p><p>brasileira durante os governos de Dilma Rousseff e Michel Temer.</p><p>6</p><p>A estrutura deste estudo seguirá uma progressão lógica, dividida em três</p><p>capítulos. No primeiro capítulo, são definidos os atores envolvidos no lobby do</p><p>agronegócio e contextualizar sua atuação no cenário político brasileiro. O segundo</p><p>capítulo analisará o desenvolvimento das decisões legislativas da Bancada Ruralista</p><p>e os avanços do IPA no período analisado. Por fim, o terceiro capítulo investigará a</p><p>formulação da política externa durante os governos de Dilma Rousseff e Michel</p><p>Temer, destacando a influência do lobby do agronegócio nesse processo.</p><p>7</p><p>1. DEFINIÇÃO DE ATORES E CONTEXTUALIZAÇÃO DO LOBBY NO BRASIL</p><p>O presente capítulo busca fornecer uma análise aprofundada sobre o lobby</p><p>do agronegócio no Brasil, com foco na definição de seus principais atores e na</p><p>contextualização histórica e institucional desse fenômeno, como os grupos de</p><p>interesse. O lobby, enquanto prática de influência política, desempenha um papel</p><p>significativo na formulação de políticas e na tomada de decisões em diferentes</p><p>esferas do poder público. Nesse sentido, compreender a atuação dos atores</p><p>envolvidos e as dinâmicas que permeiam esse processo torna-se fundamental para</p><p>uma análise crítica e abrangente das relações entre o agronegócio e o sistema</p><p>político brasileiro.</p><p>1.1. Lobby e sua evolução histórica no Brasil</p><p>Em uma sociedade democrática, as tomadas de decisões estão envoltas num</p><p>emaranhado de interesses, os tomadores de decisão por sua vez, validam suas</p><p>ideias e opiniões em grupos de pressão, de acordo com Oliveira (2004) os grupos de</p><p>pressão são responsáveis por fornecerem informações confiáveis e comprováveis</p><p>aos tomadores de decisão.</p><p>Lobbying é o processo pelo qual os grupos de pressão buscam participar do</p><p>processo estatal de tomada de decisões, contribuindo para a elaboração</p><p>das políticas públicas de cada país (OLIVEIRA, 2004, p. 1)</p><p>A essa altura é importante que se faça uma definição conceitual de grupo de</p><p>interesse e grupo de pressão. Para Castro (2004 apud. Ribeiro 2016), assume-se</p><p>grupo de interesse como uma força social nascida num grupo total, que se articula e</p><p>atua objetivando vantagens e benefícios comuns ao grupo. Os grupos de interesse</p><p>podem ter um caráter profissional - como é o caso dos lobistas -, econômicos,</p><p>religiosos ou ligados a qualquer outra função social. Castro (2004 apud. Ribeiro</p><p>2016) afirma ainda que grupos de interesse, não raramente, se tornam grupos de</p><p>pressão.</p><p>Santos (2011) argumenta que não há um consenso entre os especialistas</p><p>acerca do uso dos termos grupos de interesse, grupos de pressão e interesses</p><p>organizados e faz uso indistinto entre os termos, mesmo reconhecendo que a</p><p>literatura em geral faz distinção entre os termos. Outra contribuição importante, no</p><p>campo da diferenciação, trazida por Santos (2011) é a distinção entre grupos de</p><p>interesses econômicos e grupos de interesses promocionais, enquanto o primeiro</p><p>8</p><p>busca representar e alcançar interesses econômicos de seus próprios membros e de</p><p>suas causas particulares - por exemplo bancadas setoriais, como a do agronegócio -</p><p>o segundo, busca defender e representar causas do interesse de todos - como por</p><p>exemplo grupos ambientais.</p><p>Borin e Resende (2018) por sua vez fazem uso da definição e uso atribuída</p><p>por Santos (2011), reconhecendo os consensos e dissensos em torno do conceito de</p><p>grupo de interesse e assumindo em seu artigo o uso do termo grupo de interesse</p><p>como sinônimo de grupos de pressão e interesses organizados. Para esta</p><p>monografia, assume a definição e uso dado por Santos (2011), onde entende-se que</p><p>há divergência na literatura, mas faz uso do termo grupo de interesse como</p><p>sinônimo de grupos de pressão e interesses organizados.</p><p>Agora em termos de lobby, Graziano (1994 apud. Oliveira, 2004), afirma que</p><p>os lobistas podem ser descritos como o “sustentáculo da informação de um</p><p>especialista técnico-político”, logo o lobbying atua como um saber especializado e</p><p>representação técnica, e enquanto representa seus próprios interesses, também se</p><p>faz pilar da formulação de propostas políticas. Justamente por sua proximidade da</p><p>sociedade civil, o lobista, do mesmo modo que ajuda na formação, também</p><p>consegue perceber a reação dessa sociedade diante dessas propostas. Segundo</p><p>Figueira (1987 apud. Oliveira 2004), o lobby desempenha um significativo papel</p><p>como força social de aproximação entre a sociedade civil e o Estado.</p><p>A etimologia da palavra “lobby” é interessante, em inglês, traz um significado</p><p>de ante-sala, vestíbulo e saguão, contudo, alguns importantes dicionários ingleses já</p><p>deixaram esse significado de lado e reconhecem o lobby como algo do âmbito</p><p>político, o Dicionário de Cambridge descreve como “persuasão para fazer os</p><p>politicos mudarem”, porém, segundo Lemos (1988 apud. Oliveira 2004) o primeiro</p><p>autor a usar o termo lobby para designar a busca de influência em decisões políticas</p><p>pelo poder legislativo foi o cientista político Arthur F. Bentley em seu livro The</p><p>Process of Government em 1967.</p><p>De acordo com Oliveira (2004) o lobby ou o lobbying - que seria a prática ou o</p><p>ato de fazer lobby - começa a se desenvolver no Brasil na década de 70, ainda sem</p><p>espaço para que os grupos de pressão participassem, uma vez que, o país passava</p><p>por um regime de ditadura militar que vinha desde 1964 e enfraquecia o Congresso</p><p>fragilizando o Poder Legislativo e centralizando o atendimento de demandas e a</p><p>formulação de políticas públicas ao Poder Executivo. Para a mídia da época,</p><p>9</p><p>qualquer atitude que se aproximasse da “influência e convencimento” era chamada</p><p>de lobbying, não havendo um olhar ao caráter de representação de interesses.</p><p>Em um contexto histórico, Figueira (1987 apud. Oliveira 2004), afirma que</p><p>desde o século XIX já havia lobby no Brasil e associa o movimento da abolição da</p><p>escravatura como um exemplo de prática de Lobby, o autor pode estar fazendo essa</p><p>associação porque, embora o conceito moderno de lobby não existisse na época, os</p><p>movimentos em prol da abolição da escravatura compartilham características</p><p>semelhantes às atividades de lobby contemporânea. Aragão (1994 apud. Oliveira</p><p>2004) em consonância, cita a organização da Associação Comercial do Rio de</p><p>Janeiro, que em 1808, tinha o objetivo de participar ativamente de tudo que pudesse</p><p>envolvesse os interesses de desenvolvimento das classes que representava, mais</p><p>uma característica em comum com as práticas de lobby contemporâneas.</p><p>Outro exemplo, segundo Oliveira (2004), é o da Associação Comercial da</p><p>Bahia, que desde sua fundação em 1811 atua na defesa de interesse dos seus</p><p>associados perante o Congresso Nacional da Primeira República. Contudo, de</p><p>acordo com Aragão (apud. Oliveira, 2004) no Brasil, antes da ditadura militar, não</p><p>havia uma organização plural dos interesses no país. Entretanto, Boarin e Resende</p><p>(2018) argumentam, com base na Ciência Política, que reconhecem a atuação dos</p><p>grupos de interesse</p><p>Na Ciência Política, a atuação dos grupos de interesse em sistemas</p><p>políticos democráticos se desenvolveu a partir das abordagens pluralista</p><p>(DAHL, 1989; BENTLEY, 1994; TRUMAN, 1951)5, neo-pluralista (DAHL,</p><p>1997), neo-marxista (JESSOP, 1990; OFFE, 1984), corporativista</p><p>(MIDDLEMAS, 1979; PANITCH, 1976; SCHIMITTER, 1974; 1979) e</p><p>neo-institucionalista (IMMERGUT, 1992; PIERSON, 2006; SKOCPOL,</p><p>1985). (BOARIN E RESENDE, 2018, p.212)</p><p>Os autores ressaltam como a Constituição Federal de 1988 representou o</p><p>marco legal da mescla desse sistema, uma vez que práticas pluralistas de influência</p><p>se somaram aos elementos corporativistas sobreviventes. Segundo Diniz e Boschi</p><p>(apud. Boarin e Resende, 2018), os grupos de interesse passaram a empregar uma</p><p>variedade de estratégias ao longo do processo decisório, com destaque para sua</p><p>atuação na arena congressual.</p><p>Em consonância, os autores Thomas e Gozetto (2014 apud. Boarin e</p><p>Resende, 2018) afirmam que as mudanças podem ser percebidas nas estratégias</p><p>adotadas por</p><p>tradicionais grupos corporativistas e nos novos interesses que vieram</p><p>a tona, como a organização dos interesses de trabalhadores rurais em 1966, que</p><p>10</p><p>mesmo durante o regime militar, se articularam na Confederação Nacional dos</p><p>Trabalhadores Rurais. De acordo com Boarin e Resende (2018), esse acesso aos</p><p>interesses, por parte de pessoas que eram excluídas desse espaço decisório - como</p><p>pessoas com menor poder econômico e grupos de minorias - dava a Nova</p><p>República um tom de representação, que para o país marcava a primeira</p><p>experiência de democracia pluralista palpável, e atribuía a concretização</p><p>democrática ao acompanhamento por parte dos grupos, tendo em vista o novo lugar</p><p>que ocupavam.</p><p>Com as mudanças trazidas pela Constituição Federal de 1988, por meio do</p><p>sistema de representação de interesses, o Congresso Nacional passou a simbolizar</p><p>uma maneira efetiva para a formulação de políticas públicas (BOARIN E RESENDE,</p><p>2018, p. 213). De acordo com Boarin e Resende (2018), foi a partir disso que os</p><p>grupos de interesse passaram a atuar, na arena congressual, em diferentes</p><p>momentos do processo decisório, fazendo uso de diversas estratégias para exercer</p><p>pressão.</p><p>Resumindo, o parlamento tem sido espaço de decisão e atuação</p><p>política cada vez mais disputado. Considerando que o lobby e a</p><p>representação sistemática de interesses têm custos elevados e exigem a</p><p>mobilização de recursos por parte dos grupos de pressão, a mobilização</p><p>cada vez maior desses grupos visando atuar no parlamento parece um</p><p>indicador relevante para confirmar, como já dito, as duas proposições que a</p><p>literatura vem sugerindo. A primeira é que o Legislativo foi revalorizado</p><p>como espaço decisório, convertendo-se em uma arena política relevante no</p><p>período pós-1988. A segunda é que o pluralismo vem aumentando,</p><p>acompanhado por uma observação cada vez mais criteriosa do Estado</p><p>(SANTOS, 2014, p. 18 apud. BOARIN E RESENDE, 2018, p.213).</p><p>Logo se propõe a discussão de como essa influência no comportamento</p><p>congressista se consolida na relação entre o Poder Legislativo e os grupos de</p><p>interesse, sobretudo no aspecto das doações de campanha e das atividade de lobby,</p><p>que são assumidas por Boarin e Resende (2018), como principais atividade capazes</p><p>de influenciar o processo de tomada de decisão na arena parlamentar.</p><p>Para Oliveira (2004), é importante distinguir o lobbying da corrupção, a autora</p><p>ressalta o forte estigma criminoso associado ao lobbying, pois durante décadas o</p><p>mesmo foi confundido com a prática de corrupção e tráfico de influência, ambos não</p><p>podem estar no conjunto de estratégias utilizada pelos lobistas, a autora traz a visão</p><p>europeia, onde o lobby é considerado uma “anarquia organizada” e junto a isso seis</p><p>fatores de diferenciação.</p><p>Aponta seis fatores: a) lobbying é representação política de interesses, os</p><p>clientes são identificáveis e instituições de prestígio recorrem à prática; b) a</p><p>11</p><p>atividade vem sendo prevista como o exercício de liberdade de expressão,</p><p>reunião e direito de petição de desagravo; c) o lobby é regulamentado e</p><p>institucionalizado; d) o lobista é empregado em uma organização a fim de</p><p>representá-la politicamente; e) as associações que recorrem ao lobby</p><p>exercem uma regulação social sobre ele e f) o lobby não é só pressão; para</p><p>exercer a atividade deve-se coletar informações, redigir propostas políticas,</p><p>pensar em estratégias apropriadas para dar suporte a essas demandas,</p><p>confeccionar pesquisas e procurar aliados.(OLIVEIRA, 2004, p.18)</p><p>Contudo, é justamente no já citado, financiamento de campanhas eleitorais</p><p>que o lobby e a corrupção se misturam de modo tendencioso. Apesar da literatura</p><p>divergente, a doutora Oliveira (2004) diferencia o lobbying da corrupção com base</p><p>na durabilidade dos resultados alcançados. Enquanto o agro lobby busca influenciar</p><p>o processo político por meio de representação legítima de interesses, a corrupção</p><p>envolve práticas ilegais e antiéticas, visando resultados imediatos e muitas vezes</p><p>obscuros.</p><p>O lobby se baseia na articulação de grupos de pressão para participar do</p><p>processo democrático de tomada de decisões, fornecendo informações, redigindo</p><p>propostas políticas e buscando aliados para defender seus interesses de maneira</p><p>transparente e legal. Por outro lado, a corrupção se caracteriza pela obtenção de</p><p>vantagens ilícitas, como subornos e favores, para alcançar objetivos particulares,</p><p>muitas vezes à margem da lei e em prejuízo do bem comum. Enquanto o lobby</p><p>busca resultados duradouros e legítimos, a corrupção busca benefícios imediatos e</p><p>muitas vezes efêmeros, sem se preocupar com os impactos a longo prazo na</p><p>sociedade e na política.</p><p>12</p><p>1.2. Lobby do agronegócio no Brasil: FPA e IPA</p><p>De acordo com Bruno et. al. (2009 apud. Siebeneichler, 2021), a chamada</p><p>Bancada Ruralista se mostrou um importante ator no espaço de construção de</p><p>identidade e representação de interesses, não só no Congresso Nacional, mas</p><p>também perante a sociedade brasileira, tendo tido seu desponte em 1980 com os</p><p>debates constituintes.</p><p>De acordo com Graciano et. al (2023) a elite rural brasileira encontrou nas</p><p>frentes parlamentares uma maneira eficaz de garantir sua representação no</p><p>legislativo federal. Inicialmente, os ruralistas estabeleceram um grupo informal</p><p>chamado Frente Parlamentar de Apoio à Agropecuária em 2002, popularmente</p><p>conhecida como “Bancada Ruralista” ou “Bancada do Boi”.</p><p>Segundo Siebeneichler (2021), o lobby do agronegócio no Brasil, vem sendo</p><p>representado pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), evolução da Frente</p><p>Parlamentar citada anteriormente, foi formalizada através do Ato da Mesa Diretora n°</p><p>69 em 10 de novembro de 2005, da Câmara dos Deputados. Segundo o autor</p><p>Siebeneichler (2021), a denominação “Bancada Ruralista” ficou para trás após essa</p><p>data. Apesar do seu nome de origem ainda perpetuar nos dias de hoje.</p><p>Para Graciano el. al. (2023) a FPA herdou os valores reacionários da União</p><p>Democrática Ruralista (UDR)1, além de ampliar sua agenda para abraçar a defesa</p><p>dos interesses das grandes corporações ligadas ao agronegócio.</p><p>Pompeia (2022) define brevemente a FPA como um bloco multipartidário, líder</p><p>na promoção do enfraquecimento do Código Florestal em meados de 2010 e</p><p>principal ator de movimentações legislativas entre os anos de 2012 e 2022.</p><p>A FPA atua formalmente na defesa dos interesses dos proprietários rurais,</p><p>segundo Siebeneichler (2021), a FPA recebe suporte financeiro de entidades como o</p><p>Instituto Pensar Agro (IPA) e só em 2014 terminou o ano com 191 deputados em</p><p>exercício. Pompeia (2022), em concordância, define o IPA como um núcleo político</p><p>que orienta as posições da FPA. Esse mecanismo de coerção funciona como um</p><p>canal para a influência de grandes corporações do mercado agroalimentar global</p><p>1 A União Democrática Ruralista (UDR), formada em 1985, se autodissolveu oficialmente no</p><p>início dos anos 90. Entretanto, frequentemente reaparece no cenário político nacional, tendo</p><p>como prática caracterizada o enfrentamento aberto e a violência contra trabalhadores rurais</p><p>e os sem-terra. Desponta também como referência e sinônimo de mobilização do patronato</p><p>rural, do corporativismo e como símbolo da defesa absoluta de monopólio fundiário.</p><p>(BRUNO, 1996, p, 69)</p><p>13</p><p>dentro dos espaços públicos de tomada de decisão, interferindo diretamente nesses</p><p>processos.</p><p>De acordo com Pompeia (2022), o IPA surgiu na metade dos anos 2000 pelas</p><p>mãos de um pequeno grupo de parlamentares, a associação da soja e do algodão.</p><p>Se consolidou anos depois como uma força no campo político dos sistemas</p><p>alimentares. Para a autora, o instituto não tem destaque por si só, pois ele foi</p><p>articulado para atuar às margens da política, nos bastidores,</p><p>O lobby no agronegócio brasileiro tem sua maior força hoje na FPA. Nesse</p><p>contexto, Pompeia (2020) expõe que, no âmbito privado, associativo e nacional, o</p><p>setor do agronegócio é representado por três categorias principais: (1) entidades</p><p>que representam produtos agropecuários, (2) sindicatos e associações tradicionais</p><p>da agricultura patronal e (3) grupos intersetoriais que incluem representantes das</p><p>indústrias relacionadas. Dentro desta terceira forma de representação, que é a mais</p><p>proeminente, o IPA se destaca como o ator mais influente no cenário, atuando em</p><p>apoio à FPA.</p><p>A FPA representa um conjunto diversificado de interesses no setor</p><p>agroindustrial, abrangendo desde entidades que representam produtos</p><p>agropecuários até sindicatos e associações patronais da agricultura, além de grupos</p><p>intersetoriais. A influência da FPA é notável, segundo informações do o</p><p>Departamento Intersindical De Assessoria Parlamentar (Diap), ela conta com o</p><p>apoio de 77 deputados e exercendo influência sobre pelo menos 41% dos votos na</p><p>Câmara dos Deputados em questões relacionadas à causa agrária (Cioccari,</p><p>Persichetti, 2020). Essa influência se manifesta principalmente na capacidade da</p><p>bancada ruralista de articular e mobilizar outras bases políticas, o que lhes permite</p><p>exercer pressão e influenciar decisões políticas, formulação de leis e votações no</p><p>Congresso Nacional (Cioccari, Persichetti, 2020). Entender a influência do lobby do</p><p>agronegócio na formulação da Política Externa Brasileira é fundamental para</p><p>compreender como os interesses do agronegócio moldam a atuação do Brasil no</p><p>cenário internacional (Siebeneichler, 2021).</p><p>14</p><p>1.3 O Poder Legislativo no Brasil</p><p>Segundo a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), ao</p><p>Legislativo compete basicamente legislar e fiscalizar os atos do Executivo. Este</p><p>poder é exercido em três níveis: federal, estadual e municipal, cada um com suas</p><p>respectivas atribuições e estruturas.</p><p>De acordo com a Alesp (2023), no âmbito federal, o Poder Legislativo é</p><p>exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe de duas casas: a Câmara dos</p><p>Deputados e o Senado Federal. A Câmara dos Deputados representa o povo e é</p><p>composta por deputados federais eleitos para mandatos de quatro anos, com o</p><p>número de representantes de cada estado variando conforme a população. Por</p><p>outro lado, o Senado Federal, representa os estados e o Distrito Federal, sendo</p><p>composto por três senadores de cada unidade federativa, eleitos para mandatos de</p><p>oito anos, com eleições alternadas para renovar um terço e dois terços do Senado a</p><p>cada quatro anos.</p><p>Segundo o próprio Senado Federal (2024), por meio do documento “O poder</p><p>legislativo no Brasil”, disponibilizado pela página oficial do senado brasileiro e escrito</p><p>por Antonio José Barbosa - Consultor Legislativo do Senado Federal, as funções do</p><p>Poder Legislativo incluem a elaboração de leis e a fiscalização do Executivo. No</p><p>Congresso Nacional, estas atividades abrangem uma vasta gama de temas, desde o</p><p>orçamento nacional, impostos e planos de desenvolvimento até a regulamentação</p><p>das telecomunicações e a estruturação de ministérios e órgãos públicos.</p><p>Competências exclusivas do Congresso incluem a ratificação de tratados</p><p>internacionais, a autorização para declarações de guerra e paz, a convocação de</p><p>plebiscitos, e o julgamento das contas do Presidente da República.</p><p>Apesar das definições, o entendimento de fato do funcionamento complexo da</p><p>formulação legislativa no Brasil pode ser elucidado pela Figura 1, que ilustra tal</p><p>funcionamento. A primeira diferenciação, segundo o próprio portal da Câmara dos</p><p>Deputados (2024), o processo legislativo compreende a elaboração, análise e</p><p>votação de vários tipos de propostas, dentre elas: leis ordinárias, medidas</p><p>provisórias, emendas à Constituição, decretos legislativos e resoluções, entre</p><p>outras. Cada tipo de proposta segue uma tramitação diferente.</p><p>15</p><p>Figura 1: Entenda o processo legislativo</p><p>Fonte: Câmara dos Deputados (2024).</p><p>De acordo com a Figura 1 e a explanação da própria Câmara dos Deputados</p><p>(2024) sobre o funcionamento do processo legislativo, a proposição de projetos de</p><p>lei no Congresso Nacional pode ser feita por qualquer deputado ou senador, por</p><p>qualquer comissão da Câmara, do Senado ou do Congresso Nacional, pelo</p><p>16</p><p>Presidente da República, pelo Supremo Tribunal Federal, pelos tribunais superiores,</p><p>pelo Procurador-Geral da República e pelos cidadãos, através da iniciativa popular.</p><p>Todos os projetos de lei apresentados por deputados ou comissões da Câmara</p><p>começam a tramitar na própria Câmara dos Deputados, enquanto aqueles</p><p>apresentados por senadores ou comissões do Senado começam a tramitar no</p><p>Senado Federal. No caso da iniciativa popular, o projeto deve ser subscrito por pelo</p><p>menos 1% do eleitorado nacional, distribuído por pelo menos cinco estados, com</p><p>pelo menos 0,3% dos eleitores de cada um desses estados. A tramitação de um</p><p>projeto de lei de iniciativa popular segue as mesmas etapas de um projeto de lei</p><p>ordinária.</p><p>Como segunda etapa deste processo, o projeto de lei é distribuído pelo</p><p>presidente da Câmara dos Deputados para até três comissões temáticas que tratam</p><p>dos assuntos correlatos ao projeto. Estas comissões, conhecidas como comissões</p><p>de mérito, analisam o conteúdo e a pertinência do projeto. Na Câmara, existem 30</p><p>comissões permanentes. Em cada comissão, o projeto é analisado por um relator,</p><p>que pode receber e incorporar sugestões (emendas) dos deputados, modificando ou</p><p>não a proposta original. Após a análise e votação do parecer do relator, o projeto</p><p>segue para a próxima comissão designada.</p><p>Como podemos observar na Figura 1, nesta etapa o processo pode ou não</p><p>bifurcar, a depender do impacto financeiro do projeto. Se o projeto for analisado por</p><p>mais de quatro comissões, a Câmara dos Deputados pode criar uma comissão</p><p>especial para evitar uma tramitação excessivamente longa. As últimas comissões a</p><p>analisar os projetos são a Comissão de Finanças e Tributação (CFT) e a Comissão</p><p>de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC). A CFT avalia se os projetos que</p><p>criam despesas ou tratam de finanças públicas estão adequados ao Orçamento</p><p>federal, enquanto a CCJC verifica a conformidade dos projetos com a Constituição.</p><p>Estas análises são denominadas de admissibilidade. Se a CFT ou a CCJC</p><p>considerarem que um projeto não pode ser admitido, ele é arquivado. Além da</p><p>admissibilidade, essas comissões também podem analisar o mérito dos projetos, se</p><p>assim designadas.</p><p>A maioria dos projetos em tramitação na Câmara dos Deputados segue um</p><p>rito conclusivo nas comissões, ou seja, se aprovados por todas as comissões,</p><p>seguem diretamente para o Senado ou para a sanção presidencial, caso já tenham</p><p>sido apreciados pelo Senado. No entanto, alguns projetos precisam ser votados no</p><p>17</p><p>Plenário da Câmara. Entre esses, estão os projetos de lei complementar, de código,</p><p>de iniciativa popular, de comissão, projetos aprovados pelo Plenário do Senado,</p><p>projetos em regime de urgência e aqueles que receberam pareceres divergentes nas</p><p>comissões.</p><p>Para a votação no Plenário, é necessário um quórum - quantidade mínima</p><p>obrigatória de membros presentes ou formalmente representados, para que uma</p><p>assembleia possa deliberar e tomar decisões válidas - de maioria absoluta, ou seja,</p><p>a presença de pelo menos 257 deputados. Para a aprovação de um projeto de lei</p><p>ordinária, é necessária a maioria simples dos votos, em turno único. Durante a</p><p>votação no Plenário, os deputados costumam aprovar o texto principal do projeto e</p><p>"destacar" alguns trechos para votação posterior. Esses trechos destacados podem</p><p>ser emendas ou partes específicas do texto principal que requerem deliberação</p><p>adicional.</p><p>Após a aprovação no Plenário da Câmara, o projeto segue para o Senado,</p><p>onde será analisado e votado. Se o projeto for alterado no Senado, retorna à</p><p>Câmara para que esta análise apenas as modificações feitas pelos senadores. A</p><p>Câmara pode optar por manter as alterações do Senado ou recuperar o texto</p><p>original. Em seguida, o projeto vai para sanção ou veto do Presidente da República,</p><p>que tem um prazo de 15 dias úteis para tomar essa decisão.</p><p>Ainda segundo o portal da Câmara dos Deputados (2024), se o Presidente da</p><p>República sancionar o projeto, ele se torna lei e é publicado no Diário Oficial da</p><p>União. No entanto, o Presidente pode vetar total ou parcialmente o projeto. Se</p><p>houver vetos, as partes sancionadas tornam-se lei, e os vetos são enviados para</p><p>análise do Congresso Nacional em sessão conjunta da Câmara e do Senado. Se o</p><p>Congresso mantiver os vetos, a lei permanece como está. Se os vetos foram</p><p>derrubados, os trechos antes vetados passam a integrar a lei.</p><p>Esse processo de tramitação de projetos de lei no Congresso Nacional</p><p>assegura que todas as proposições sejam cuidadosamente analisadas e debatidas,</p><p>garantindo a criação de leis que atendam aos interesses e necessidades da</p><p>sociedade brasileira, ao mesmo tempo em que respeitam os princípios</p><p>constitucionais e os limites orçamentários.</p><p>Embora para este trabalho, o funcionamento legislativo do plano estadual e</p><p>municipal não sejam figuras de destaque, cabe diferenciar o Poder Legislativo</p><p>estadual do federal, de acordo com a Alesp (2024), no plano estadual, o Poder</p><p>18</p><p>Legislativo é exercido pelas Assembleias Legislativas, formadas por deputados</p><p>estaduais eleitos para mandatos de quatro anos. As funções dessas assembleias</p><p>incluem a criação de leis estaduais em conformidade com as Constituições Federal</p><p>e Estadual, além de fiscalizar as ações do Poder Executivo estadual. A Alesp, por</p><p>exemplo, é composta por 94 deputados e possui atribuições específicas como a</p><p>elaboração de leis estaduais e a fiscalização dos atos do Executivo estadual. A</p><p>tramitação de um projeto de lei na Alesp envolve várias etapas, desde a proposição</p><p>e leitura inicial até a votação em plenário e eventual sanção pelo governador.</p><p>Graciano et. al (2023) ressalta a ostensiva estratégia de ocupação das</p><p>arenas parlamentares por parte da FPA, principalmente nas quais assuntos de seus</p><p>interesses são debatidos. A Frente conta com representação em todas as</p><p>Comissões Permanentes, tendo maior ênfase nas temáticas que tratam da questão</p><p>fundiária na Câmara e no Senado Federal. Só em em 2022, na Comissão de</p><p>Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (CAPADR) da</p><p>Câmara dos Deputados, dos 90 lugares preenchidos por titulares e suplentes, 55</p><p>estavam ocupados por membros da FPA, o equivalente a mais de 60% das cadeiras.</p><p>No que diz respeito à Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado</p><p>Federal, membros da FPA ocupavam 17 das 31 vagas, totalizando 54% do total de</p><p>membros na comissão. Dessa maneira, é notório que um dos maiores setores da</p><p>economia exerça influência na maneira com a qual o Brasil se relaciona no sistema</p><p>internacional por meio de sua Política Externa (SIEBENEICHLER, 2021)</p><p>O Poder Legislativo no Brasil é uma instituição complexa, desempenhando</p><p>funções essenciais para a governança e a manutenção da democracia. A atuação</p><p>de grupos como a FPA demonstra como os interesses setoriais podem influenciar a</p><p>legislação e as políticas públicas, destacando a importância do Legislativo na</p><p>representação e mediação de interesses diversos. A estrutura e as atribuições deste</p><p>poder, conforme delineadas pela Constituição, refletem a diversidade e a dinâmica</p><p>do sistema político brasileiro, fundamental para o desenvolvimento e a governança</p><p>do país.</p><p>19</p><p>2. DECISÕES LEGISLATIVAS DA BANCADA RURALISTA</p><p>2.1. Bancada Ruralista nos Governos Dilma e Temer</p><p>2.2. Avanços e estratégias do IPA</p><p>2.3. Estudo de Caso da influência do lobby do agronegócio</p><p>Participação do IPA junto aos principais pleitos discutidos dentro dos três poderes,</p><p>sendo o instituto catalisador de vários debates prioritários para o setor agropecuário,</p><p>dentre eles:</p><p>● Participação nas discussões e construção de propostas de melhoria para o</p><p>processo de Regularização Fundiária (MP 910; Projeto de Lei 2633/20);</p><p>● Participação na construção da proposta de texto da Medida Provisório do Agro (MP</p><p>897/90), convertida na Lei nº 13.986, de 7 de Abril de 2020;</p><p>● Elaboração de carta aberta com participação de entidades do setor agropecuário</p><p>em defesa do marco legal para o licenciamento ambiental no Brasil;</p><p>● Participação nas discussões para garantia das condições de trabalho aos</p><p>produtores rurais junto à Medida Provisória 905/19, Contrato de Trabalho Verde e</p><p>Amarelo;</p><p>● Apoio junto à FPA com nota em defesa das relações bilaterais entre Brasil e China;</p><p>● Contribuição em defesa da publicação do Decreto 10.282/20 e da Medida</p><p>Provisória (MP 926/20) que garante ao governo federal a competência sobre</p><p>serviços essenciais, como a agricultura e o transporte de cargas;</p><p>● Participação e apoio junto à FPA para renovação do prazo de vigência do Convênio</p><p>100/97 para dezembro de 2020.</p><p>● Contribuição de propostas para o Plano Safra 2020/2021;</p><p>● Apoio ao PLN nº 8/2020, no qual garantiu ao setor agropecuário a subvenção ao</p><p>Prêmio do Seguro Rural, e o pagamento de indenizações do Proagro, com aporte</p><p>de R$ 4,3 bilhões ao setor;</p><p>● Apoio junto à FPA com relação à questão do Marco Temporal de 05/10/1988 para</p><p>as Demarcações de Terras Indígenas;</p><p>● Participação nos debates e contribuições da proposta do setor agropecuário sobre</p><p>a Reforma Tributária em discussão no Congresso Nacional e Poder Executivo;</p><p>● Participação e apoio nas discussão sobre o processo de ratificação do Protocolo de</p><p>Nagoya pelo Brasil no Congresso Nacional;</p><p>● Apoio junto à FPA e o Ministério da Agricultura (MAPA) na criação da Plataforma</p><p>Nacional de Registro e Gestão de Tratores e Equipamentos Agrícolas (AGID).</p><p>20</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BOARIN, Paula Vivacqua de Souza Galvão; RESENDE, Ciro. Lobby E Política</p><p>Externa No Legislativo Brasileiro: a Comissão De Relações Exteriores E Defesa</p><p>Nacional Da Câmara Dos Deputados. CSOnline- Revista Eletrônica de Ciências</p><p>Sociais, n. 27, 2018.</p><p>BRUNO, Regina. Revisitando a UDR: ação política, ideologia e representação.</p><p>Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, Brasil, n. 40, p. 69–89,</p><p>1996. DOI: 10.11606/issn.2316-901X.v0i40p69-89. Disponível em:</p><p>https://www.revistas.usp.br/rieb/article/view/72151.. Acesso em: 11 maio 2024.</p><p>CÂMARA DOS DEPUTADOS. Entenda o processo legislativo. Câmara dos</p><p>Deputados, 2024. Disponível em:</p><p>https://www.camara.leg.br/entenda-o-processo-legislativo/. Acesso em: 20 maio</p><p>2024.</p><p>CANUTO, Antônio. Agronegócio: a modernização conservadora que gera exclusão</p><p>pela produtividade. Revista Nera, n. 5, p. 1-12, 2012.</p><p>CAMBRIDGE. Cambridge Dictionary Online. Disponível em:</p><p><https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles-portugues/lobby> . Acesso em:</p><p>26 abr. 2024.</p><p>CIOCCARI, Deysi; PERSICHETTI, Simonetta. O Brasil agrário: o conservadorismo e</p><p>a direita na bancada ruralista. Em Tese, v. 17, n. 1, p. 7-32, 2020.</p><p>HEREDIA, Beatriz; PALMEIRA, Moacir; LEITE, Sergio Pereira. Sociedade e</p><p>economia do" agronegócio" no Brasil. Revista brasileira de ciências sociais, v. 25,</p><p>p. 159-176, 2010.</p><p>MENEZES, Antônio Hélio de; PINHEIRO, José César Vieira. O potencial do</p><p>agronegócio para alavancar a economia brasileira. 2005.</p><p>MENDONÇA, Maria Luisa. O papel da agricultura nas relações internacionais e a</p><p>construção do conceito de agronegócio. Contexto Internacional, v. 37, p. 375-402,</p><p>2015.</p><p>OLIVEIRA, Aline de Jesus. Subdesenvolvimento e dependência brasileira:</p><p>apontamentos sobre o avanço do agronegócio. 2020. 71 p. Dissertação (Mestrado</p><p>Profissional em Tecnologia, Ambiente e Sociedade) – Programa de</p><p>Pós-Graduação em Tecnologia, Ambiente e Sociedade, Universidade Federal dos</p><p>Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Teófilo Otoni, 2020.</p><p>OLIVEIRA, Andrea Cristina de Jesus. Lobby e representação de interesses: lobistas</p><p>e seu impacto sobre a representação de interesse no Brasil. 2004. 296p. Tese</p><p>(doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e</p><p>Ciencias Humanas, Campinas, SP. Disponível em:</p><p>https://hdl.handle.net/20.500.12733/1596841. Acesso em: 9 out. 2023.</p><p>21</p><p>OLIVEIRA, H. A. D. Política Externa Brasileira. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p.</p><p>1-291.</p><p>POMPEIA, Caio. Uma etnografia do Instituto Pensar Agropecuária. Mana, v. 28, p.</p><p>e282206, 2022.</p><p>RIBEIRO, Renata Albuquerque. CONGRESSO E AGRONEGÓCIO NA POLÍTICA</p><p>EXTERNA BRASILEIRA: DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS?.</p><p>SIEBENEICHLER, A. J. O agrolobby em múltiplas escalas: uma análise da influência</p><p>do agronegócio na política externa brasileira. Monções: Revista de Relações</p><p>Internacionais da UFGD, [S. l.], v. 10, n. 19, p. 436–479, 2021. DOI:</p><p>10.30612/rmufgd.v10i19.12389.</p>

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