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<p>145</p><p>ECONOMIA</p><p>Unidade III</p><p>7 ATIVIDADE ECONÔMICA NACIONAL: INTRODUÇÃO À TEORIA MACROECONÔMICA</p><p>Esta unidade está dedicada a apresentar a você alguns assuntos introdutórios e relacionados à Teoria</p><p>Macroeconômica, seus questionamentos centrais, evolução histórica e importância. Aborda assuntos</p><p>relacionados à contabilidade social, notadamente as medidas de atividade econômica, a identidade</p><p>entre renda e produto, bem como os conceitos de valor bruto da produção e valor agregado até chegar</p><p>à medida maior, que é o PIB e suas variantes. Moeda e inflação também estão presentes nesta unidade.</p><p>A Teoria Macroeconômica tem por objetivo fundamental analisar como são determinadas as</p><p>variáveis econômicas na sua forma agregada. Essa teoria, também chamada de abordagem de equilíbrio</p><p>geral, procura analisar se o nível de atividade econômica tem crescido ou diminuído, se os preços das</p><p>mercadorias, conjuntamente, têm apresentado elevação ou diminuição.</p><p>Diferentemente da Teoria Microeconômica, a Teoria Macroeconômica observa grandes mercados,</p><p>como todos os de bens e serviços, o de trabalho, o mercado monetário – em decorrência da participação</p><p>da moeda como meio de troca por mercadorias –, o mercado de títulos e, por fim, analisa também o</p><p>mercado de divisas internacionais, pois os países mantêm relações entre si, de modo que as moedas,</p><p>as chamadas divisas, que são reguladas pelo mercado cambial ou pelo governo, também são objeto de</p><p>investigação dessa teoria.</p><p>Preocupa‑se, portanto, em estudar o grupo dos consumidores de uma sociedade, assim como o seu</p><p>conjunto de empresas. O interesse é determinar os fatores que influenciam o nível total de renda e do</p><p>produto do sistema econômico.</p><p>7.1 Questionamentos centrais da Teoria Macroeconômica</p><p>Os fatos macroeconômicos afetam a vida de todos nós. Muitos empresários planejam a elevação</p><p>ou diminuição das quantidades produzidas de seus bens levando em conta qual será, por exemplo, o</p><p>comportamento da renda da sociedade durante um determinado período de tempo.</p><p>Observação</p><p>A preocupação macroeconômica reside em conhecer o nível de renda de</p><p>todos os indivíduos de uma sociedade, diferentemente da microeconomia,</p><p>que está preocupada com a renda do consumidor individual.</p><p>146</p><p>Unidade III</p><p>Observação</p><p>Podemos, por uma primeira aproximação, listar alguns dos</p><p>questionamentos levantados pela Teoria Macroeconômica:</p><p>• qual o comportamento do nível geral de preços;</p><p>• qual o comportamento do nível geral de produção de mercadorias;</p><p>• qual a taxa de salários dos trabalhadores;</p><p>• qual o nível de emprego e de desemprego;</p><p>• qual o comportamento da taxa de juros da economia;</p><p>• qual a quantidade de moeda que circula em um sistema econômico;</p><p>• qual a quantidade de divisas internacionais que um país mantém</p><p>como reservas;</p><p>• qual a variação da taxa de câmbio entre a moeda nacional e a</p><p>internacional;</p><p>• qual o tamanho do endividamento do governo;</p><p>• qual a taxa de investimento das empresas.</p><p>Segundo Gregory Mankiw (1995, p. 2),</p><p>[...] os macroeconomistas são cientistas que procuram explicar o funcionamento</p><p>da economia como um todo. Reúnem dados sobre rendas, preços, desemprego</p><p>e outras variáveis em diferentes épocas e diferentes países. Procuram, então,</p><p>elaborar teorias gerais que ajudem a explicar esses dados.</p><p>1929 1930</p><p>60</p><p>80</p><p>100</p><p>200</p><p>300</p><p>desocupação</p><p>Desocupação e produção industrial</p><p>produção</p><p>1931 1932 1933 1934</p><p>Figura 53 – Emprego e produção industrial: preocupação macroeconômica desde a década de 1930</p><p>147</p><p>ECONOMIA</p><p>A Teoria Macroeconômica compreende, então, a análise de todos os mercados, envolvendo os</p><p>preços e quantidades das mercadorias, admitindo que modificações em algum mercado específico ou</p><p>modificações em qualquer de suas variáveis afetam o comportamento de outros mercados. Vamos</p><p>exemplificar para ficar mais claro aonde queremos chegar.</p><p>Pense que, num determinado momento, uma empresa do ramo farmacêutico não esteja muito bem</p><p>em suas finanças. A empresa é de grande porte, tem aproximadamente duzentos e cinquenta funcionários</p><p>diretos e, para ajustar sua estrutura de custos, anuncia uma política de demissão envolvendo oitenta</p><p>funcionários. Está bem. Oitenta pessoas perderão seus empregos e, dessa forma, deixarão de ter renda.</p><p>Se deixarão de ter renda, como conseguirão atender às necessidades de consumo de sua cesta? Pense</p><p>que essas oitenta pessoas sejam chefes de família e essas famílias são compostas por quatro membros:</p><p>pai, mãe e dois filhos. Esse chefe de família, agora desempregado, não tem mais condições de pagar o</p><p>estudo particular dos filhos, que ainda são menores de idade. Dessa forma, os filhos passarão a depender</p><p>do ensino público. A família também possuía convênio médio (seguro saúde), que também deixará de</p><p>ser pago em função da falta da renda. Caso algum membro desta família venha a necessitar de cuidados</p><p>médicos, dependerá também do serviço público. Menos roupas serão adquiridas, as idas ao cinema serão</p><p>cortadas, assim como os refrigerantes e o sorvete no final de semana. Quem foi afetado com a demissão</p><p>efetuada pela indústria farmacêutica?</p><p>• os funcionários, com a perda do emprego;</p><p>• os membros da família dos funcionários que perderam o emprego;</p><p>• a escola dos filhos dos funcionários que perderam o emprego, pois deixarão de receber as</p><p>mensalidades, e poderá vir a ter dificuldades em manter sua estrutura de custos;</p><p>• a empresa que administrava o convênio médico dessa família, que pode vir a ter dificuldades em</p><p>remunerar os médicos conveniados;</p><p>• o governo duplamente: primeiro, pela perda de arrecadação com impostos em função da queda</p><p>de consumo; segundo, pelo aumento das despesas tanto na rede pública de ensino quanto no</p><p>sistema único de saúde, pois aumentarão os atendimentos;</p><p>• a empresa de exibição de filmes nos cinemas, já que algumas famílias cortarão esse tipo de lazer;</p><p>• a empresa que produz refrigerantes bem como o mercadinho da esquina que vende os refrigerantes;</p><p>• o sorveteiro e a indústria que produz sorvetes.</p><p>Vamos adiante. As escolas que deixarão de receber mensalidades também têm funcionários, e se o</p><p>número de alunos diminuir, o número de professores também reduzirá, bem como o de assistentes e</p><p>demais trabalhadores que, por sua vez, também perderão renda e já sabemos o que ocorrerá. A empresa</p><p>que administra convênio médico incorrerá no mesmo problema: mais pessoas sem renda. Nesse ponto,</p><p>você já é capaz de pensar o que acontecerá com os demais setores da economia.</p><p>148</p><p>Unidade III</p><p>Numa situação como a descrita, algo deve ser feito para que a atividade econômica volte a ser</p><p>operante bem como os empregos retomados. É nesse contexto que a atuação do governo se faz presente</p><p>na análise macroeconômica. É a partir da análise de equilíbrio geral que são formuladas as diretrizes</p><p>da política econômica. Portanto, o conhecimento da macroeconomia ajuda as autoridades públicas a</p><p>avaliarem políticas alternativas, por meio dos instrumentos de intervenção, sejam eles por parte fiscal,</p><p>monetária, cambial, de rendas ou demais instrumentos de política.</p><p>Conforme Moraes (1996, p. 196):</p><p>A macroeconomia estuda o comportamento de variáveis que representam</p><p>a soma (ou a média) de quantidades e preços em mercados numa escala</p><p>nacional. O tipo de modelo que se associa à macroeconomia é, por essa</p><p>razão, chamado de agregativo. Os principais problemas estudados pelo</p><p>enfoque macroeconômico são o desemprego, a inflação, os efeitos das</p><p>políticas econômicas sobre essas variáveis, o crescimento econômico e a</p><p>distribuição de renda.</p><p>Podemos esquematizar a divisão do estudo da economia:</p><p>Economia</p><p>Divide‑se em</p><p>Microeconomia</p><p>Empresas Famílias Governo País</p><p>Macroeconomia</p><p>Estudo do</p><p>comportamento econômico</p><p>Estudo do</p><p>comportamento econômico</p><p>Figura 54 – Divisão do estudo da economia: micro e macro</p><p>7.2 Evolução da Teoria Macroeconômica a partir da história</p><p>A partir das guerras mundiais, entremeadas pela crise de 1929 e a Grande Depressão, a Teoria</p><p>Econômica convencional passa a ser objeto</p><p>de um fator de produção;</p><p>• elevação nos preços dos fatores de produção;</p><p>• elevação nos custos da produção derivado de elevação de tributação;</p><p>• elevação nos salários pagos pelas empresas, caso sejam reajustados acima da correção monetária</p><p>do período ou por convenção coletiva e sindical;</p><p>• monopolização de determinado setor, diminuindo as possibilidades de concorrência;</p><p>• demais ocorrências que representem estreita relação entre custos de produção de um bem e</p><p>seu preço.</p><p>Resumindo, para Silva e Luiz,</p><p>[...] a inflação de custos tem origem na oferta de bens e serviços. É causada</p><p>pela elevação dos custos de produção, repassados para o consumidor pelo</p><p>aumento do preço do produto. Um fator agravante é o controle do mercado</p><p>(monopólio ou oligopólio), que permite aos empresários obterem lucros</p><p>extraordinários pelo aumento dos preços dos seus produtos, pois não há</p><p>perigo de concorrência (SILVA; LUIZ, 2010, p. 116).</p><p>O outro tipo de inflação, a inercial, difere das outras, pois nesta há tendência à perpetuidade. Significa</p><p>que a inflação de um período é automaticamente repassada para o período que se segue. De que forma?</p><p>Pela indexação, que consiste em reajustar pagamentos ou valores futuros, pela inflação do presente.</p><p>Observe o exemplo muito bem desenvolvido por Silva e Luiz:</p><p>Imaginemos que o Sr. Alberto tome emprestado R$ 100.000,00 de seu amigo,</p><p>Sr. Carlos, e prometa pagar‑lhe em dois meses. Nesse período, supondo</p><p>uma economia inflacionária com taxas mensais de 10%, teremos uma</p><p>inflação acumulada de 21% nos dois meses que correspondem ao prazo</p><p>do empréstimo. Pontualmente, no final do período, o Sr. Alberto entrega</p><p>ao amigo os R$ 100.000,00 que havia tomado emprestado. Resultado, o Sr.</p><p>Carlos foi prejudicado, pois os R$ 100.000,00 que recebeu do amigo valem</p><p>177</p><p>ECONOMIA</p><p>menos do que os R$ 100.000,00 que ele havia emprestado dois meses antes.</p><p>Por sua vez, o Sr. Alberto saiu ganhando, pois pagou apenas R$ 100.000,00,</p><p>quando deveria ter pago, pelo menos R$ 121.000,00. [...]. Se o Sr. Alberto e o</p><p>Sr. Carlos tivessem combinado, na ocasião do empréstimo, que o montante</p><p>emprestado seria corrigido pela inflação, o Sr. Carlos receberia R$ 121.000,00</p><p>e não se sentiria lesado pelo favor que prestou ao amigo (SILVA; LUIZ, 2010,</p><p>p. 116‑117).</p><p>Em função disso, ou seja, para não haver distorções entre ganhadores e perdedores, contratos de</p><p>trabalho, contratos de aluguel, preços de mercadorias e valores de outras transações são protegidas,</p><p>pelo uso da indexação, de correção monetária.</p><p>Uma observação a ser feita acerca da inflação inercial é que ela tende a se manter em determinado</p><p>patamar por um determinado período, depois volta a crescer e, finalmente, estabiliza‑se em um</p><p>novo patamar por algum tempo. Esse processo ocorre porque as correções dos preços satisfazem os agentes</p><p>por um determinado tempo, ou seja, essas correções elevam a participação dos agentes na renda.</p><p>Saiba mais</p><p>Para que você possa compreender melhor o processo inflacionário no</p><p>Brasil, sugerimos a leitura de alguns textos complementares.</p><p>Sobre o Plano Cruzado, leia:</p><p>BRESSER‑PEREIRA, L. C. Inflação inercial e plano cruzado. Revista de</p><p>Economia e Política, São Paulo, v. 6, n. 3, jul./set. 1986. Disponível em:</p><p>http://www.rep.org.br/pdf/23‑2.pdf. Acesso em: 23 mar. 2011.</p><p>Sobre o Plano Collor, leia:</p><p>BRESSER‑PEREIRA, L. C.; NAKANO, Y. Hiperinflação e estabilização no</p><p>Brasil: o primeiro Plano Collor. Revista de Economia e Política, São Paulo, v.</p><p>11, n. 4 (44), out./dez. 1991. Disponível em: http://www.rep.org.br/pdf/44‑6.</p><p>pdf. Acesso em: 23 mar. 2011.</p><p>Sobre o Plano Real, sugerimos a leitura de:</p><p>BRESSER‑PEREIRA, L. C. A economia e a política do Plano Real.</p><p>Revista de Economia e Política, São Paulo, v. 14, n. 4 (56), out./dez.</p><p>1994. Disponível em: http://www.rep.org.br/pdf/56‑10.pdf. Acesso em:</p><p>23 mar. 2011.</p><p>178</p><p>Unidade III</p><p>8 O DESENVOLVIMENTO E O CRESCIMENTO ECONÔMICO</p><p>É com os cálculos agregativos que podemos ter noção da forma como uma economia gera sua</p><p>renda e como é distribuída entre os agentes econômicos. Portanto, com as medidas agregativas,</p><p>notadamente o PIB (que é uma medida meramente quantitativa), é que podemos medir o crescimento</p><p>de uma economia. Outra de igual importância é o desenvolvimento, uma medida qualitativa.</p><p>Nesse aspecto, expressões como desenvolvimento, desenvolvimentismo, subdesenvolvimentismo e</p><p>economias em desenvolvimento devem ser consideradas.</p><p>8.1 Características de uma economia subdesenvolvida</p><p>Dois olhares podem ser empregados para falar do assunto subdesenvolvimento. Um deles trata</p><p>a questão de maneira ideológica, como uma mera classificação no tempo das condições sociais e</p><p>econômicas de um país comparado a outros, mesmo que de estruturas diferentes. Por esse olhar, a</p><p>caracterização se daria por análises conjunturais, sem que uma raiz econômica fosse, de fato, concreta.</p><p>O outro olhar reside na escolha de fatos mais concretos ligados à estrutura econômica e social de</p><p>uma nação e que permitam sua classificação como subdesenvolvida. Aos fatos concretos são atribuídos</p><p>fatores históricos, territoriais e regionalização, acesso aos meios de produção e geração de renda, para</p><p>citar apenas alguns.</p><p>Conforme destaca Souza (2009), a definição de subdesenvolvimento passa pela noção de que o</p><p>crescimento demográfico ocorre de forma mais rápida do que o crescimento econômico e, diante de tal</p><p>irregularidade, não tarda para que a renda e a riqueza se concentrem nas mãos de poucos, o que gera,</p><p>por consequência, pobreza e miséria para as classes menos favorecidas. Ainda como decorrência disso,</p><p>indicadores sociais e ambientais apresentam menor qualidade em relação aos de países considerados</p><p>desenvolvidos e as estruturas econômicas, no que diz respeito à inovação tecnológica, não se apresentam</p><p>totalmente adequadas para que sejam superados os entraves colocados aos países nessa situação.</p><p>Para Sandroni (1996, p. 580), subdesenvolvimento é uma</p><p>[...] situação inferior do sistema econômico‑social de um país em relação aos</p><p>padrões econômicos das nações industrializadas. Evidencia‑se por indicadores</p><p>como exportação baseada em produtos primários, forte participação de</p><p>produtos industrializados na pauta de importação, importação acentuada</p><p>de tecnologia e capitais estrangeiros, persistência de elevadas taxas de</p><p>desemprego, baixa produtividade, baixa renda per capita, mercado interno</p><p>bastante limitado, baixo nível de poupança e subconsumo acentuado.</p><p>[...] O subdesenvolvimento está ligado ao problema da dependência, que</p><p>atinge desde países extremamente pobres, como Bangladesh, até países de</p><p>considerável nível de industrialização e diversificação do aparelho produtivo,</p><p>como Brasil, México e mesmo os ricos Estados árabes produtores de petróleo.</p><p>179</p><p>ECONOMIA</p><p>Outra característica marcante do subdesenvolvimento é que os países classificados dessa forma</p><p>apresentam instabilidade política e econômica, além de serem altamente dependentes de acesso à</p><p>tecnologia e capitais de países ditos “desenvolvidos”. Mesmo que exista produção industrial, a maior parte</p><p>do que é produzido tem como destino o consumo interno, a base exportadora trabalha principalmente</p><p>com produtos de baixo valor agregado, notadamente aqueles provenientes do setor primário.</p><p>Na medida em que uma maior quantidade de países entra no comércio internacional, a questão</p><p>da produtividade e da competitividade impera, desfavorecendo aqueles cuja pauta exportadora não</p><p>é diversificada ou tão competitiva com relação aos demais. Nesse aspecto, o que dita a regra da</p><p>competitividade são custos de produção, preços internos e para exportação, bem como custos logísticos,</p><p>determinados pela questão territorial.</p><p>Junto com as questões de produtividade e competitividade, elevadas taxas de inflação e as dificuldades</p><p>orçamentárias de governos de países subdesenvolvidos colocam‑se como entraves à capacidade do setor</p><p>público para financiar projetos em áreas chamadas estratégicas – ou infraestruturais – a exemplo de</p><p>transportes,</p><p>educação, saúde, comunicações e área social na tentativa de diminuir suas desigualdades.</p><p>No mundo contemporâneo, uma questão que gera controversa quanto à classificação de países</p><p>como subdesenvolvidos e desenvolvidos é que, uma vez classificados como tal, o seriam para todo o</p><p>sempre. Assim, uma vez que um país seja caracterizado como subdesenvolvido, isso lhe dá uma marca,</p><p>independentemente se por determinação ideológica ou por condições reais de classificação.</p><p>Da mesma forma como em alguns períodos a classificação dos países atendia à denominação de</p><p>centro‑periferia, a literatura econômica passou a adotar uma nova denominação: desenvolvidos e</p><p>emergentes, em que aos primeiros dá‑se uma conotação permanente e, aos segundos, uma condição</p><p>não permanente, mas de possibilidades de conquista ao desenvolvimento.</p><p>Observação</p><p>Muitas vezes faz‑se referência a um país como emergente com o</p><p>emprego do termo big emerging markets (BEM).</p><p>A denominação centro‑periferia é um conceito cunhado pela Comissão Econômica para a América</p><p>Latina (Cepal) e empregado para descrever um processo de multiplicação do avanço tecnológico na</p><p>economia mundial que seja passível de explicar a distribuição de seus ganhos entre os participantes.</p><p>Ocorre que, com o avanço do capitalismo industrial e a chamada nova divisão internacional do trabalho,</p><p>os ganhos derivados das relações entre diferentes regiões não foram distribuídos uniformemente.</p><p>Para Bielschowsky (2000, p. 16),</p><p>[...] a tese parte da ideia de que o progresso técnico se desenvolveu de forma</p><p>desigual nos dois polos. Foi mais rápido no centro, em seus setores industriais,</p><p>e, ainda mais importante, elevou simultaneamente a produtividade de</p><p>todos os setores das economias centrais, provendo um nível técnico mais</p><p>180</p><p>Unidade III</p><p>ou menos homogêneo em toda a extensão dos seus sistemas produtivos.</p><p>Na periferia, que teve a função de suprir o centro com alimentos e</p><p>matérias‑primas a baixo preço, o progresso técnico só foi introduzido nos</p><p>setores de exportação, que eram verdadeiras ilhas de alta produtividade,</p><p>em forte contraste com o atraso do restante do sistema produtivo.</p><p>É, portanto, com base em tal ideia que reside a tese, também desenvolvida pela Cepal, da deterioração</p><p>dos termos de troca, pois, enquanto o progresso técnico ocorre nos países ditos já industrializados, as</p><p>economias em processo de industrialização estão produzindo bens primários e seus preços relativos de</p><p>troca são bastante díspares: a economia da periferia exporta bens de baixo valor agregado para importar</p><p>bens de elevado valor agregado, fazendo com que ocorra transferência de excedente e de ganhos de</p><p>produtividade para o centro. Assim, a divisão internacional do trabalho somente acirraria a disparidade</p><p>entre os polos, visto que o centro apresenta tendência a reduzir sua taxa de expansão das importações</p><p>de bens primários conforme seu progresso técnico avança para a forma poupadora de bens primários.</p><p>8.1.1 Fundamentos teóricos da economia subdesenvolvida</p><p>Conforme destaca Souza (2009), na economia subdesenvolvida, considerada em sua forma mais</p><p>simples, na assim chamada forma primitiva, estão alguns setores entendidos como os de subsistência,</p><p>de mercado interno e de mercado externo, e há relações entre eles.</p><p>O setor de subsistência é composto de pequenos latifúndios de baixa produtividade e dedicados</p><p>à produção agrícola. Nele está concentrada a produção das atividades relacionadas à agricultura de</p><p>subsistência, pois a monetização é quase inexistente. O consumo exercido pelo setor é de sua própria</p><p>produção, restando apenas uma pequena parte do que foi produzido para abastecimento do mercado</p><p>de setor externo que, de acordo com seu desempenho, pode beneficiar ou prejudicar o dinamismo do</p><p>mercado rural, assim como o urbano e industrial.</p><p>Observação</p><p>É recorrente, quanto às características indicadas do setor de</p><p>subsistência, encontrar alusão ao setor terciário da economia, composto</p><p>de desempregados das áreas rurais ou mesmo aqueles que exercem</p><p>trabalho ocasional.</p><p>Quanto ao setor de mercado interno, Souza (2009, p. 18‑19) diz que,</p><p>[...] em seu estágio inicial de desenvolvimento, é formado por atividades</p><p>ligadas ao atendimento da população residente e ao fornecimento de</p><p>insumos e serviços às empresas e pessoas vinculadas ao comércio externo,</p><p>como alimentos, matérias‑primas beneficiadas, embalagens, transportes.</p><p>No processo de desenvolvimento, o setor industrial urbano leva vantagens em</p><p>seu relacionamento com o setor agrícola, através da extração do excedente</p><p>181</p><p>ECONOMIA</p><p>gerado neste último setor. O setor agrícola apresenta superávits em balança</p><p>comercial, porque suas exportações excedem o volume de importações, uma</p><p>vez que suas necessidades de consumo são supridas pelo setor de mercado</p><p>interno. Esse superávit em moeda estrangeira é utilizado no financiamento</p><p>de importações e máquinas, equipamentos e insumos industriais utilizados</p><p>no setor industrial urbano.</p><p>Figura 59 – Colheita de café no estado de São Paulo em 1902, caracterizando a economia agroexportadora</p><p>A figura a seguir mostra a estrutura de uma economia subdesenvolvida. Porém, para que se possa</p><p>compreendê‑la, Souza (2009, p. 19) adverte que algumas considerações devem ser efetuadas:</p><p>(a) A balança comercial da economia nacional mantém‑se equilibrada;</p><p>(b) o valor das exportações do meio rural (XR) apresenta‑se significativamente</p><p>superior ao valor das exportações do meio urbano industrial (XU), pelo</p><p>menos nas fases iniciais do processo de desenvolvimento; (c) o meio rural</p><p>mantém superávit na balança comercial (XR > MR); (d) o meio urbano e</p><p>industrial apresenta déficit em sua balança comercial com o exterior</p><p>(XU < MU), pela necessidade de importar bens de capital e insumos</p><p>industriais; e (e) o meio urbano e industrial possui um superávit com o meio</p><p>rural, ou seja, o valor da produção do meio urbano e industrial destinado</p><p>ao meio rural (YUR) supera o valor da parcela da produção do meio rural</p><p>endereçada ao meio urbano e industrial (YRU).</p><p>182</p><p>Unidade III</p><p>Meio rural</p><p>Setor externo</p><p>Meio urbano</p><p>e industrial</p><p>YRU</p><p>YRR</p><p>YUR</p><p>XU MU</p><p>YUU</p><p>XR</p><p>MR</p><p>Figura 60 – Estrutura de uma economia subdesenvolvida</p><p>O que é possível depreender da análise da estrutura anteriormente apresentada?</p><p>Podemos notar que a produção exercida pelo setor denominado de meio rural (YR) tem três vias de</p><p>destino: a primeira é seu próprio consumo, aquele considerado de subsistência devido a atividades pouco</p><p>monetizadas (YRR); a segunda é a exportação (XR); a terceira é o consumo no meio urbano e industrial</p><p>(YRU), sendo que a produção destinada a esses mercados (YRU + XR) é majoritariamente composta de</p><p>alimentos e matérias‑primas com baixo valor agregado.</p><p>O equilíbrio do meio rural será conquistado quando as exportações do setor rural forem maiores do</p><p>que suas importações e a renda do setor urbano for maior do que a renda do setor rural. A identidade a</p><p>seguir ilustra o que acabamos de afirmar:</p><p>(XR > MR) = (YUR > YRU)</p><p>Para Souza (2009, p. 20), a equação</p><p>[...] diz que, no equilíbrio, o déficit do meio rural com o meio urbano e industrial</p><p>(YUR > YRU) fica financiado por seu superávit com o exterior (XR > MR). Por seu</p><p>turno, a produção do meio urbano e industrial (YU) destina‑se ao próprio</p><p>meio urbano (YUU), à exportação (XU) e ao meio rural (YUR). A produção</p><p>destinada ao mercado externo e ao meio urbano e industrial (XU + YUR)</p><p>compõe‑se de produtos industrializados e serviços. O equilíbrio do meio</p><p>urbano industrial é dado por (XU < MU) = (YUR > YRU), ou seja, o déficit</p><p>do meio urbano e industrial com o exterior (XU < MU), no equilíbrio, fica</p><p>integralmente financiado por seu superávit com o meio rural (YUR > YRU).</p><p>Como o segundo membro das duas equações anteriores é o mesmo, temos</p><p>que (XR > MR) = (XU < MU).</p><p>Da tautologia (XR > MR) = (XU < MU) pode‑se concluir que, em condição de equilíbrio, em termos de</p><p>balança comercial, sendo X = M, um superávit produzido pelo meio rural com relação ao exterior</p><p>será</p><p>183</p><p>ECONOMIA</p><p>igualado ao déficit externo provocado pelas importações do meio urbano e industrial. Considerando</p><p>uma economia em que impere o modelo de substituição de importações, vê‑se que a produção e a</p><p>exportação daquilo que é exercido pelo meio rural deve financiar as importações exercidas tanto pelos</p><p>meios urbanos quanto pelos industriais. Mais: deve, ainda, financiar o desenvolvimento desses meios.</p><p>Observação</p><p>Perceba que estamos tratando da extração de excedente por um setor do</p><p>que foi produzido por outro: no caso, o excedente é extraído do setor rural</p><p>em favorecimento do desenvolvimento daqueles ditos mais avançados.</p><p>Várias são as formas de extração do excedente produzido pelo setor rural em favorecimento dos</p><p>setores urbano e industrial. Dentre elas estão:</p><p>• Elevação da tributação sobre produtos que devem ser importados pelo setor rural e que tenham</p><p>como origem de produção os setores urbanos e industriais, ou mesmo produtos oriundos do setor</p><p>exportador, para o caso de importação pelo setor urbano.</p><p>• Confisco cambial representado pela quantidade de dólares que é apropriada pelo governo diante</p><p>daqueles obtidos pelos exportadores de produtos específicos, a exemplo do que fez o Brasil em</p><p>1953 com as exportações de café (SANDRONI, 1999).</p><p>• Deterioração dos termos de troca entre setor urbano e industrial em que o volume de dólares</p><p>necessários para importação de bens pelo setor rural é maior do que o necessário para que o setor</p><p>urbano importe os bens produzidos por aquele setor.</p><p>Saiba mais</p><p>Entenda mais sobre a deterioração dos termos de troca lendo a definição</p><p>que Paulo Sandroni oferece à expressão “relações de troca” em sua obra:</p><p>SANDRONI, P. Novíssimo dicionário de economia. São Paulo: Best Seller, 1999.</p><p>Considerando então que a economia consiga se industrializar via modelo de substituição de</p><p>importações, as importações do setor urbano (MU) tendem a apresentar elevação devido a esse tipo</p><p>de indústria ser dependente de alguns meios de produção manufaturados, bem como bens de capital</p><p>que lhe oferecerão condições de produzir bens de consumo na economia doméstica interna.</p><p>Para o caso de as exportações exercidas pelo meio rural (XR) não apresentarem crescimento ao</p><p>mesmo tempo em que cresce o potencial importador do setor urbano e industrial, o que se verificará</p><p>na economia serão déficits comerciais (X < M) que serão considerados entraves ao processo de</p><p>crescimento econômico.</p><p>184</p><p>Unidade III</p><p>Desse modo, a expansão das exportações agrícolas e mesmo de produtos</p><p>manufaturados, desde as fases iniciais da industrialização, torna‑se</p><p>indispensável para evitar estrangulamentos no processo de desenvolvimento</p><p>(SOUZA, 2009, p. 21).</p><p>Para o mesmo autor:</p><p>Com a expansão da economia de mercado, cai a participação da produção</p><p>destinada à subsistência na produção rural (YRR/Y). Em muitas regiões</p><p>subdesenvolvidas, isso ocorre principalmente em função da elevação dos</p><p>preços de exportações. Tal participação aumenta no caso de reduções</p><p>dos preços dos bens agrícolas exportados, quando cresce YRR e diminui XR.</p><p>Nas crises do setor de mercado externo no Brasil, no passado, as populações</p><p>voltavam às atividades de subsistência e esse setor expandia‑se. Ele funciona</p><p>como elemento de estabilidade da economia, amortecendo as crises do</p><p>setor de mercado externo e mantendo o nível de emprego do meio rural,</p><p>embora com baixa produtividade. [...] A economia estaciona nas crises e</p><p>evolui nos surtos exportadores, pelos encadeamentos das exportações sobre</p><p>as atividades urbanas e os investimentos que afetam o nível da produção</p><p>do setor de mercado interno. A produção destinada ao consumo próprio do</p><p>meio rural se reduz, enquanto aumenta a demanda urbana por produtos</p><p>agropecuários. O desenvolvimento econômico tende ao setor de mercado</p><p>interno e às exportações. Entretanto, essa transformação de estrutura</p><p>depende do dinamismo das exportações e de suas ligações com o setor de</p><p>mercado interno. Assim, torna‑se importante aumentar sua competitividade</p><p>pela redução de custos e melhoria da qualidade dos produtos exportados</p><p>(SOUZA, 2009, p. 21).</p><p>O que se faz necessário entender é que o setor externo representa a agricultura comercial voltada</p><p>para a exportação, bem como para as atividades comerciais ligadas ao comércio de importação e de</p><p>exportação da economia urbana.</p><p>Observação</p><p>Pode‑se entender o setor externo como aquele caracterizado por</p><p>atividades atravessadoras, de prestação de serviços de importação e</p><p>de exportação a outros setores, sem que dele provenha produção física.</p><p>Trata‑se, assim, somente de um sistema que facilita o escoamento da</p><p>produção e o aprovisionamento de bens que as economias não produzem,</p><p>mas necessitam importar.</p><p>185</p><p>ECONOMIA</p><p>Por sua vez, como o setor externo não é produtor, seu dinamismo está completamente dependente</p><p>da demanda do mercado internacional no que diz respeito à necessidade de bens primários, de que é</p><p>majoritariamente exportador. Como o bom desempenho do setor externo depende dos “bons ventos” da</p><p>economia internacional, os preços de exportação são influenciados por dois fatores:</p><p>• demanda externa que impulsiona para cima em época de aquecimento e para baixo em período</p><p>de recessão;</p><p>• potencial produtivo quanto à oferta de bens pelos setores de subsistência nos países</p><p>subdesenvolvidos (excesso de oferta influencia os preços negativamente enquanto os eleva em</p><p>períodos de escassez).</p><p>Para países cuja pauta de exportações é bastante restrita, ou seja, concentrada em poucos produtos,</p><p>há baixa oportunidade de manipulação dos preços internacionais, o que dificulta o desenvolvimento do</p><p>setor de mercado interno. Porém, se a economia diversifica sua pauta de exportações, a situação pode</p><p>vir a ser diferente.</p><p>8.2 Características do desenvolvimento</p><p>O que irá, de certa forma, diferenciar um do outro – subdesenvolvimento do desenvolvimento – é o</p><p>grau de industrialização, que necessita de elevados níveis de investimento e, portanto, de capital, muitas</p><p>vezes é produzido no âmbito das exportações de bens primários. Nesse aspecto, conforme ressalta Souza</p><p>(2009), como os investimentos são constituídos, em grande parte, por bens de capital importados, são as</p><p>exportações que representam a contrapartida da poupança para seu financiamento. Assim,</p><p>[...] há uma mudança no caráter da base exportadora, e foi isso que ocorreu</p><p>no Brasil após 1950: as exportações, de fator determinante do nível de</p><p>renda, passaram a ser o elemento estratégico no processo de formação</p><p>de capital (SOUZA, 2009, p. 23).</p><p>Para a economia que já se encontra industrializada, a importância do que se chama de base</p><p>exportadora tem efeitos sobre o multiplicador do setor de mercado interno, bem como sobre</p><p>a necessidade de financiamento de importação de bens de capital, se assim necessário. O que é</p><p>importante perceber é que somente haverá exportação de bens em duas condições: a primeira é a</p><p>demanda externa, e a segunda, a produção interna com excedente.</p><p>O aumento das exportações de bens produzidos internamente injeta recursos na economia</p><p>doméstica, os quais tanto podem ser utilizados para ampliar o consumo interno por bens internos como</p><p>para ampliar as condições de aquisição de bens de capital que são importados. Dessa forma, saldos</p><p>comerciais positivos impulsionam o acesso à tecnologia, gerando economias de escala e elevação da</p><p>produtividade da economia doméstica.</p><p>186</p><p>Unidade III</p><p>Para Souza (2009, p. 23),</p><p>[...] a base exportadora aparece como a causa do crescimento econômico</p><p>das regiões subdesenvolvidas, principalmente nos seus primeiros estágios, e</p><p>como elemento dinâmico de aumento de eficiência e competitividade em</p><p>economias industrializadas. A industrialização surge em uma etapa posterior</p><p>e como consequência do desenvolvimento inicial da base exportadora.</p><p>Em outras palavras, uma agricultura em expansão e uma base econômica</p><p>diversificada representam maiores níveis de renda, que se traduzem em</p><p>maior grau de consumo, de poupança e de investimento.</p><p>Até que não sejam superados os entraves do subdesenvolvimentismo, a base exportadora estará</p><p>restrita a poucos bens agrícolas e, por consequência, seus efeitos multiplicadores serão instáveis.</p><p>Assim, a decolagem da economia em desenvolvimento estará na dependência:</p><p>• do crescimento de suas exportações, o que é determinado pelo nível de produtividade e</p><p>competitividade da economia doméstica;</p><p>• do grau de integração das cadeias produtivas internas;</p><p>• da estrutura interna de distribuição de renda;</p><p>• da eliminação dos estrangulamentos do desenvolvimento econômico.</p><p>Antes de caracterizar o que vem a ser desenvolvimento, é necessário conceituar crescimento</p><p>econômico: há tempos economistas percebem que são imensas as diferenças entre crescimento e</p><p>desenvolvimento. Se crescimento significa apenas o aumento da renda per capita, desenvolvimento</p><p>implica conhecer os beneficiários do aumento da renda.</p><p>Em outras palavras, desenvolvimento requer distribuição de renda, para que o crescimento não seja</p><p>concentrador ou excludente. Além disso, desenvolvimento requer respeito ambiental, já que isso está</p><p>intrinsecamente ligado às condições de sustentabilidade da atividade econômica.</p><p>O debate entre os conceitos de desenvolvimento e crescimento nasceu da percepção de que, apesar</p><p>das elevadas taxas de desempenho econômico, vários países apresentavam baixos níveis de qualidade</p><p>de vida aos seus habitantes. Essa análise fez com que os economistas elaborassem outras medidas de</p><p>mensuração que não as meramente quantitativas de produção, ou de “crescimento”.</p><p>Quer dizer, buscou‑se entender o que poderia determinar o padrão de qualidade de vida, estabelecendo</p><p>que esse padrão seria mensurador do desenvolvimento humano (incluído aí o desenvolvimento</p><p>econômico); a partir daí, foram criados indicadores para que o padrão pudesse ser determinado.</p><p>De uma forma extremamente simplificada, procurou‑se entender não apenas o tamanho do “bolo”</p><p>(representativo da produção de bens e serviços), mas o quanto ele poderia saciar a fome das pessoas.</p><p>187</p><p>ECONOMIA</p><p>O raciocínio é simples: o fato de um bolo ser grande ou pequeno não significa que ele tem condições</p><p>de saciar a fome das pessoas. Se forem poucas pessoas, é possível que todas fiquem satisfeitas, contudo,</p><p>se o bolo for pequeno e uma das pessoas ficar com a metade, ainda que sejam poucas pessoas, a</p><p>satisfação será menor. O mesmo raciocínio vale para um bolo grande e um contingente enorme de</p><p>pessoas. Ainda que o bolo cresça, se o número de pessoas aumentar mais do que o crescimento do bolo,</p><p>é bem provável que a insatisfação persista.</p><p>Dessa forma, o crescimento seria dado pelo tamanho do bolo; em contrapartida, o desenvolvimento</p><p>seria dado pela saciedade das pessoas ao se alimentarem dele. Além disso, não seria suficiente o tamanho</p><p>médio de cada fatia do bolo para que se pudesse concluir pela saciedade ou não das pessoas; seria</p><p>necessário saber o quanto de justiça teria sido utilizada para a divisão do bolo.</p><p>8.2.1 Características do desenvolvimentismo enquanto prática e política</p><p>As discussões acerca do desenvolvimentismo nas economias capitalistas surgiram por volta dos anos</p><p>1930, em função da Grande Depressão, em que as políticas de desenvolvimento passam a enfatizar a</p><p>industrialização via substituição de importações, com incentivos eventuais às exportações. Trata‑se, além</p><p>disso, de se pensar o desenvolvimento econômico das nações liderado por políticas governamentais</p><p>que impulsionam a demanda agregada, bem como a produção.</p><p>Do ponto de vista da teoria econômica, haverá uma mudança de eixo em termos de análise</p><p>econômica. As economias capitalistas antes da Grande Depressão eram analisadas do ponto de vista da</p><p>oferta. As ideias em voga eram a máxima de Jean‑Baptiste Say de que a oferta cria sua própria procura,</p><p>e a noção de magic hands smithiana. Com a Depressão e seus efeitos, e diante do surgimento das teorias</p><p>keynesianas, a análise econômica voltou‑se, então, para o ponto de vista da demanda – a demanda efetiva.</p><p>Algumas medidas governamentais fazem‑se necessárias para haver desenvolvimentismo em</p><p>ambiente de substituição de importações (SOUZA, 2009), por exemplo:</p><p>• adoção de barreiras alfandegárias e intervenções no mercado cambial, com a manipulação da</p><p>taxa de câmbio e confisco de divisas;</p><p>• controle quantitativo de importações, a fim de evitar a fuga de divisas com gastos supérfluos e</p><p>proporcionar mercado para a indústria nacional nascente;</p><p>• incentivos a indústrias específicas através de créditos subsidiados e renúncias fiscais, com a</p><p>participação de empresas estatais e de empresas estrangeiras;</p><p>• aumento do poder de compra das populações rurais por meio de políticas agrícolas envolvendo</p><p>crédito, seguro, preços mínimos, estoques reguladores, investimentos em estradas rurais,</p><p>comercialização da produção e reforma agrária;</p><p>• implantação de infraestrutura de transportes, energia e comunicações.</p><p>188</p><p>Unidade III</p><p>Para que a economia consiga atravessar o estágio do subdesenvolvimento para o desenvolvimento,</p><p>a política desenvolvimentista deverá estar centrada em alguns pontos chamados de estrangulamento,</p><p>cuja solução no curto prazo não é tão simples. Vejamos alguns desses entraves.</p><p>Um deles está relacionado à dificuldade da economia doméstica em conseguir diversificar a</p><p>produção interna e, por consequência, melhorar sua pauta de exportações para que sejam conquistados</p><p>saldos superavitários em transações correntes no balanço de pagamentos. Por que é difícil diversificar</p><p>a produção interna?</p><p>Para que haja diversificação da produção, o empresário deve entrar em ação no sentido de buscar novas</p><p>alternativas em produzir aquilo que o mercado deseja. Mais do que isso: é necessário o tino empreendedor,</p><p>criativo, arrojado e visionário para verificar e acompanhar o que a demanda está esperando de sua produção</p><p>– e não somente a demanda interna, mas, principalmente, a internacional. Em um ambiente de economia</p><p>em que as relações internacionais não são tão fortes, o acesso a novos meios de produção e novas formas de</p><p>invenção se apresenta como entrave ao empreendedorismo e à criação.</p><p>Outros fatores que prejudicam bastante o dinamismo da indústria, em termos de modernização,</p><p>residem nos baixos índices de escolaridade da população, causando escassez de qualificação profissional,</p><p>o que gera custos empresariais de desenvolvimento profissional. Como a taxa de poupança da economia</p><p>também não é tão elevada, a capacidade creditícia fica reduzida, influenciando para cima as taxas de</p><p>juros, o que inibe o empresariado na tomada de crédito. Resultado: poucos recursos para investimentos</p><p>produtivos, tanto de qualificação técnica quanto de força de trabalho.</p><p>Geralmente, é o Estado quem exerce uma ação coordenada do desenvolvimento</p><p>e quem procura vencer esses estrangulamentos. Em fases mais avançadas do</p><p>processo de desenvolvimento, os principais estrangulamentos decorrem</p><p>do esgotamento do modelo de substituição de importações, em razão da</p><p>pequena dimensão do mercado interno para algumas substituições, como</p><p>bens de capital, da insuficiência de capital e da concentração da renda</p><p>(SOUZA, 2009, p. 24).</p><p>Souza (2009, p. 24) continua:</p><p>A transição de uma economia de subsistência para uma economia industrializada,</p><p>com amplo setor de mercado interno, pressupõe a transição de inúmeros</p><p>obstáculos criados pelo próprio crescimento econômico. Nesse processo,</p><p>o desenvolvimento ocorreria por etapas, começando pela economia de</p><p>subsistência, passando pelas exportações e pelas inovações tecnológicas, e</p><p>terminando pela era do consumo de massa com altos níveis de bem‑estar</p><p>para o conjunto da população nacional, a exemplo do welfare state.</p><p>Deve‑se a Rostow (1974) a noção de que o desenvolvimento ocorre por etapas em que a economia</p><p>apresenta dinâmica como característica. Para ele, o desenvolvimento pode ser visto como um processo</p><p>de evolução de economia de subsistência, primitiva, a uma forma mais avançada, com tecnologia</p><p>189</p><p>ECONOMIA</p><p>avançada</p><p>e de consumo de massa. O pensamento rostowiano está enraizado em considerações de que</p><p>nações insuficientemente desenvolvidas conseguem superar seus entraves até conseguir alcançar</p><p>o desenvolvimento econômico dito satisfatório. O modelo de desenvolvimento estaria dividido em</p><p>cinco etapas:</p><p>• Primeira etapa: economia predominantemente agrícola em que a maior parcela da população</p><p>está empregada nesse setor. Devido à baixa tecnologia de produção e a processos rudimentares,</p><p>a produtividade é baixa e o quantum produzido é suficiente para atender à demanda com certa</p><p>folga. A posse da terra é símbolo de poder e riqueza, e se dá grande importância aos clãs, famílias</p><p>e castas.</p><p>• Segunda etapa: etapa chamada de criação das pré‑condições para o arranco ou para a decolagem</p><p>rumo ao crescimento. Aqui, já se verifica avanço tecnológico na produção do setor primário e</p><p>alguns insights na indústria ainda modesta e leve expansão da demanda em mercados mundiais.</p><p>Há uma demanda social por melhores níveis educacionais devido à ascensão da classe média e</p><p>a classe dominante tradicional passa a sofrer com a concorrência de grupos industriais urbanos.</p><p>O Estado é induzido a efetuar gastos em benefício do bem‑estar da população e se verificam</p><p>aumentos nos investimentos em infraestrutura de transporte, comunicações e energia, bem</p><p>como na produção de matérias‑primas estratégicas para a indústria, favorecidas pelo crédito</p><p>bancário devido ao surgimento dessa atividade. Pelas palavras de Souza (2009, p. 247),</p><p>“criam‑se, desse modo, forças endógenas e autônomas para o crescimento econômico</p><p>autossustentado” em que prevalece a ideia da valorização da expertise individual do ser humano</p><p>quanto ao seu potencial criativo.</p><p>• Terceira etapa: fase do arranco ou decolagem propriamente dita, em que foram superados os</p><p>entraves até então vigentes. É uma fase em que o desenvolvimento surge com normalidade</p><p>e tem‑se o surgimento de novas indústrias, tecnologicamente interligadas, cujos lucros são</p><p>reinvestidos na criação de novas condições de produção. Verifica‑se a criação de novos grupos</p><p>empresariais, o que favorece o crescimento do emprego inclusive no setor de serviços, apoiando</p><p>o bom desenvolvimento do comércio e da indústria do setor produtor de bens de consumo.</p><p>Não tardam a aparecer as inovações tecnológicas e a produção de novos itens, bem como o acesso</p><p>a novas fontes de insumos de produção, inclusive no campo agrícola, que agora também consome</p><p>bens industrializados.</p><p>• Quarta etapa: denominada etapa da marcha para a maturidade, com:</p><p>[...] um longo intervalo de crescimento econômico continuado, no qual a</p><p>economia assimila a tecnologia moderna. Implanta‑se a indústria de bens de</p><p>capital e a economia aumenta suas exportações de produtos manufaturados,</p><p>com tecnologia intensiva. A sociedade passa a gerar internamente grande</p><p>parte da tecnologia que adota em seu processo produtivo. Na fase da</p><p>maturidade econômica, a economia desenvolve indústrias diferentes</p><p>daquelas que geraram a decolagem. É uma etapa em que a economia</p><p>demonstra que possui as aptidões técnicas e organizacionais para produzir</p><p>não tudo, mas qualquer coisa que decida produzir (SOUZA, 2009, p. 247).</p><p>190</p><p>Unidade III</p><p>• Quinta etapa: é chamada etapa do consumo em massa, em que a economia é liderada pelos</p><p>setores produtores de bens de consumo duráveis e setor de serviços que facilitam a vida da</p><p>população. Há ligeira queda de preços da economia devido a melhores condições de oferta e</p><p>maior competitividade entre as empresas, o que faz com que o salário real se eleve, permitindo,</p><p>assim, o consumo em massa. “Nesta fase, o Estado investe mais na assistência social. É o chamado</p><p>estado de bem‑estar social característico dos anos 1950‑1970, nos países desenvolvidos” (SOUZA,</p><p>2009, p. 247).</p><p>8.2.2 Desenvolvimentismo no pensamento econômico brasileiro</p><p>O desenvolvimentismo no Brasil marca uma ideologia econômica que sustenta um projeto de</p><p>industrialização como forma de superar entraves até então colocados pela economia agroexportadora</p><p>(ou primária) e pelo próprio modelo de substituição de importações: economia fechada e baixa</p><p>produtividade, para citar alguns.</p><p>Bielschowsky (2000) indica haver, para o Brasil, duas linhas de interpretação acerca do</p><p>desenvolvimentismo: uma ligada ao setor privado e outra ao setor público. No que diz respeito ao</p><p>setor privado, a ideia prevalecente era a da proteção aos interesses da classe empresarial, propondo</p><p>uma visão nacionalista, enquanto economistas que trabalhavam no setor público apresentavam certa</p><p>dualidade: enquanto uns, os não nacionalistas, propunham que as ações desenvolvimentistas deveriam</p><p>ser tomadas pelo mercado, a partir dos interesses empresariais, outros, chamados de nacionalistas,</p><p>preconizavam a estatização de setores estratégicos, a exemplo de energia, mineração e transporte, além</p><p>do favorecimento à indústria de base.</p><p>Assim, durante o período de 1930‑1945 percebem‑se as origens do desenvolvimentismo, que</p><p>se consolidaria na década de 1950, sob dois pilares distintos, mas interligados. O primeiro, ligado</p><p>ao setor privado, propunha um projeto de industrialização de forma planejada e que atendesse aos</p><p>interesses do capital industrial dominante na época. Aqui forte papel foi desempenhado por dois</p><p>núcleos de reflexão sobre o tema: Conselho Econômico (CNI) e Departamento Econômico. Bielschowsky</p><p>(2000, p. 79) destaca que</p><p>Essa pequena elite empresarial vivenciava o que se pode denominar, sem</p><p>risco, de experiência pioneira em planejamento econômico. No esquema</p><p>corporativo do Estado Novo, os líderes empresariais tiveram participação</p><p>em várias das muitas agências econômicas governamentais que se criaram.</p><p>Estabeleceu‑se, dessa forma, um fértil cruzamento ideológico entre sua visão</p><p>de mundo e as ideias e conceitos desenvolvimentistas que se formavam nos</p><p>novos órgãos federais, nos quais se discutia a respeito de comércio exterior,</p><p>energia, transportes, indústria siderúrgica e tantos outros temas de âmbito</p><p>nacional. O ponto culminante desse momento pioneiro de concepção</p><p>desenvolvimentista foi a apresentação, por Roberto Simonsen, em 1944,</p><p>do projeto de criação de uma Junta Nacional de Planificação no Conselho</p><p>Nacional de Política Industrial e Comercial.</p><p>191</p><p>ECONOMIA</p><p>O desenvolvimentismo interpretado pelas ideias de Simonsen (BIELSCHOWSKY, 2000), representando</p><p>a classe do setor privado baseava‑se nos seguintes aspectos:</p><p>• uma das formas de dizimar a pobreza seria a industrialização integrada;</p><p>• a industrialização brasileira acompanharia um processo de reestruturação que vinha acontecendo</p><p>nas economias da América Latina;</p><p>• a industrialização somente avançaria com apoio das correções pelo Estado, das falhas de mercado:</p><p>para tanto, protecionismo e intervenção estatal seriam indispensáveis;</p><p>• a intervenção estatal deveria ir além dos instrumentos triviais de políticas públicas: teria de incluir</p><p>investimentos em setores estratégicos.</p><p>Pelo lado do setor público, havia duas correntes: a dos não nacionalistas e a dos nacionalistas.</p><p>Como bem afirma Bielschowsky (2000, p. 103),</p><p>Desde suas origens, nas décadas de 1930 e 1940, o desenvolvimentismo</p><p>foi uma ideologia econômica com fortes vínculos com o nacionalismo.</p><p>Havia então toda uma inclinação ideológica, por parte da maioria dos adeptos</p><p>do projeto de superação do atraso brasileiro pela via da industrialização, no</p><p>sentido de desconfiar das possibilidades de se obter um concurso positivo do</p><p>capital estrangeiro nesse projeto. Os mais radicais viam o capital estrangeiro</p><p>como um bloco monolítico de interesses imperialistas, antagônicos ao</p><p>projeto. E, mesmo entre os moderados, predominava a visão de que, pelo</p><p>menos nos setores fundamentais para a industrialização (energia, transporte,</p><p>mineração etc.), o Estado deveria garantir o controle decisório, deslocando o</p><p>capital estrangeiro ou impedindo sua entrada.</p><p>De visão não nacionalista, destaca‑se Roberto Campos, considerado o economista de maior</p><p>expressão em um período em</p><p>que a economia brasileira passava de sua estrutura agroexportadora para</p><p>a economia industrial, então internacionalizada. O projeto não nacionalista de desenvolvimento deveria</p><p>incluir a questão do planejamento da industrialização. Propunha que</p><p>[...] se deveria procurar contornar a arcaica máquina administrativa brasileira,</p><p>incapaz de executar as tarefas do desenvolvimentismo através da formação de</p><p>equipes de planejamento e administração voltadas para a formulação e execução</p><p>de uma política de investimentos básicos (BIELSCHOWSKY, 2000, p. 109).</p><p>Quanto à visão nacionalista do desenvolvimentismo, a defesa era da constituição de um capitalismo</p><p>industrial moderno no País. Para os defensores desse ponto de vista, o desenvolvimento seria alcançado</p><p>pela intervenção por investimentos estatais em setores estratégicos, admitindo que o setor privado não</p><p>teria fôlego para tanto. Conforme destaca Bielschowsky (2000, p. 129),</p><p>192</p><p>Unidade III</p><p>O grande encontro dos desenvolvimentistas nacionalistas deu‑se em meados</p><p>dos anos 1950, quando Furtado e Barbosa Oliveira fundaram o Clube dos</p><p>Economistas, órgão que reuniu algumas dezenas de técnicos nacionalistas</p><p>do governo federal e alguns desenvolvimentistas do setor privado.</p><p>Vale destacar alguns pontos importantes do pensamento desenvolvimentista nacionalista:</p><p>• defesa de intervenção estatal na economia;</p><p>• políticas econômicas orientadas ao planejamento;</p><p>• subordinação da política monetária à política de desenvolvimento;</p><p>• adoção, por parte do Estado, de medidas econômicas de cunho social.</p><p>Saiba mais</p><p>O principal expoente do pensamento nacionalista é Celso Furtado.</p><p>Leia mais em:</p><p>BIELSCHOWSKY, R. Pensamento econômico brasileiro: o ciclo ideológico</p><p>do desenvolvimentismo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2000.</p><p>Concentre‑se no capítulo cinco: “O pensamento desenvolvimentista”.</p><p>8.3 Economia internacional</p><p>A chamada teoria “pura” do comércio internacional, ao adotar uma perspectiva de longo prazo,</p><p>concentra‑se na explicação de fatores reais como determinantes do fluxo comercial entre países. Para tanto,</p><p>conforme Baumann (2004) ressalta, essa teoria apoia‑se em algumas hipóteses simplificadoras:</p><p>• todas as variáveis do sistema econômico são determinadas de forma independente dos fluxos monetários;</p><p>• todos os preços da economia são flexíveis e os mercados de produtos e de fatores de produção</p><p>funcionam sob a lógica da concorrência perfeita;</p><p>• para cada país considerado, o estoque de fatores de produção deve ser encarado como uma variável</p><p>exógena, independentemente de sua remuneração;</p><p>• como a utilização dos fatores de produção independe de sua remuneração, os fatores são móveis</p><p>entre setores, mas imóveis entre países.</p><p>193</p><p>ECONOMIA</p><p>Dadas as restrições, a preocupação central desse tipo de teoria está em descobrir a existência ou não</p><p>de ganhos com o comércio internacional, bem como qual será o padrão do fluxo comercial, ou seja, que</p><p>produtos uma economia deveria exportar e importar e a que nível de preços. Em outras palavras, a teoria</p><p>“pura” procura identificar o que determina o comércio internacional.</p><p>8.4 O mercantilismo</p><p>Durante o período em que se desenvolve a Revolução Comercial e consolida‑se o pensamento</p><p>mercantilista, as teorias explicativas das relações comerciais prescreviam que cada nação deveria exportar o</p><p>máximo e importar o mínimo para que fosse mantido saldo positivo em sua balança comercial. Nesse contexto,</p><p>o comércio longínquo era visto como fonte de riqueza para os países e a prosperidade de uma economia era</p><p>medida pelo seu estoque de metais preciosos.</p><p>A visão dominante entre os séculos XVI e XVIII foi essencialmente uma postura mercantilista, em que o</p><p>comércio era admitido como uma fonte de riqueza, mas sob uma ótica bastante peculiar: a de acumulação</p><p>sem limites de poder de compra, possibilitada por crescentes ganhos derivados de superávits comerciais.</p><p>Para Dowbor (1990) e Singer (1989), a exacerbação do comércio produziu dois efeitos sobre a</p><p>estrutura econômica europeia. O primeiro corresponde ao fluxo de metais preciosos para a Europa,</p><p>pois a quantidade de ouro chegou a dobrar em meados do século XVI. Como a produção de bens pouco se</p><p>alterou, houve elevação de preços e redução dos rendimentos dos senhores feudais. Sobre o tema, Dowbor</p><p>(1990, p. 13) ressalta que:</p><p>nessa época, os senhores feudais recebiam as contribuições anuais dos servos</p><p>ainda em trabalho e em produtos, mas a forma dominante já era de simples</p><p>pagamento, em moeda, de uma taxa fixa por pessoa. Ao dobrar a quantidade</p><p>de ouro, enquanto a produção de bens permanecia pouco alterada, os preços</p><p>duplicaram [...], reduzindo pela metade os rendimentos dos senhores feudais.</p><p>O segundo desses efeitos foi o reforço da produção, pois conforme Dowbor (1990, p. 14) explica:</p><p>a rápida acumulação de capital nas mãos dos comerciantes e a abertura dos</p><p>mercados internos criam uma atuação em que há ao mesmo tempo a procura</p><p>pela produção e a procura pelos meios para desenvolver essa produção.</p><p>Dessa maneira, o comércio internacional promovido pelo maior relacionamento entre países passava a</p><p>ser encarado como uma disputa por uma quantidade limitada de metal precioso. Cada país, assim, poderia</p><p>obter vantagens às custas dos demais, por intermédio da acumulação de metal.</p><p>A visão mercantilista, além de ser altamente nacionalista e priorizar o bem‑estar do próprio país, implicava</p><p>uma percepção estática da disponibilidade de recursos. A atividade econômica era, portanto, reduzida a um</p><p>jogo de soma zero no qual os ganhos de um país têm lugar em detrimento dos resultados obtidos pelos</p><p>demais. Sobre isso, vejamos uma passagem de Araújo (1989, p. 22):</p><p>194</p><p>Unidade III</p><p>Os mercantilistas, por seu lado, preocupavam‑se sobretudo com a política</p><p>econômica, com saldos favoráveis na balança comercial, com o estoque de</p><p>metais preciosos e com o poder do Estado. Este seria tão mais forte quanto</p><p>maior fosse seu estoque de metais preciosos. Para alcançar isso, ele deveria</p><p>restringir as importações e estimular as exportações. Mas essa é uma política</p><p>inconsequente. Se todos os países restringirem suas importações, quem</p><p>conseguirá exportar? As importações de um são as exportações do outro.</p><p>Não podia dar outra coisa. A política mercantilista exacerbou o nacionalismo,</p><p>estimulou as guerras e promoveu uma maior presença do Estado nos</p><p>assuntos econômicos.</p><p>Diante desse quadro, as proposições mercantilistas passam a ser objeto de críticas. Um dos primeiros</p><p>pensadores a opor‑se veementemente a essa lógica foi David Hume, ao questionar o argumento básico de</p><p>uma economia poder acumular indefinidamente divisas sem com isso afetar sua posição competitiva no</p><p>mercado internacional.</p><p>8.5 Visão de David Hume</p><p>Conforme Kuntz (1983), há três traços principais na explanação de Hume que explicitam o que viria a ser</p><p>o comércio internacional: a concepção de um mecanismo de ajuste automático nas contas externas,</p><p>que inutilizaria qualquer intervenção governamental; a aplicação da teoria quantitativa da moeda</p><p>quanto aos efeitos econômicos de superávits ou déficits na balança comercial de cada país e a alegação</p><p>de que vantagens comparativas são variáveis determinantes na mobilidade de recursos em um sistema</p><p>sem intervenção.</p><p>O argumento é o de que a acumulação de divisas na forma prescrita pelos mercantilistas, ou seja, via</p><p>superávits comerciais, acabaria por afetar a oferta interna de moeda e, assim, elevar o nível de preços e salários</p><p>internos. Em sua obra, Escritos sobre economia, de 1777, David Hume dedica um capítulo à análise da moeda.</p><p>Dentre outras considerações, efetua a que se segue:</p><p>O dinheiro não é, propriamente falando, um dos objetos do comércio, mas</p><p>apenas o instrumento sobre o qual concordaram os homens para facilitar</p><p>a troca de uma mercadoria por outra. Não é uma das rodas do comércio:</p><p>é o óleo que torna mais suave e fácil o movimento das rodas. A grande</p><p>abundância de dinheiro tem uso bastante limitado, e pode às vezes até</p><p>mesmo constituir uma perda</p><p>para o comércio de uma nação com os</p><p>estrangeiros (HUME, 1983, p. 201‑202).</p><p>Ainda sobre a moeda, David Hume (1983, p. 203) esclarece que:</p><p>em qualquer reino onde o dinheiro comece a afluir com maior abundância</p><p>que anteriormente, tudo assume novo aspecto: o trabalho e a indústria</p><p>ganham vida; o comerciante torna‑se mais empreendedor; o fabricante</p><p>mais hábil e diligente e até mesmo o agricultor empurra o arado com</p><p>maior alegria e atenção. Não é fácil explicar isto, se considerarmos apenas a</p><p>195</p><p>ECONOMIA</p><p>influência que a maior abundância de moeda exerce sobre o próprio reino,</p><p>elevando o preço das mercadorias e obrigando todos a pagarem um número</p><p>maior dessas cédulas amarelas ou brancas por tudo que compram. Quanto ao</p><p>comércio exterior, parece que uma grande quantidade de dinheiro é bastante</p><p>desvantajosa, porque eleva o custo de todo tipo de mão de obra.</p><p>Se admitirmos que o excesso de dinheiro pode comprometer a competitividade das exportações</p><p>do país superavitário, admitiremos também que se reduz a possibilidade de que se continue a geração de</p><p>excedente comercial, ou seja, de que sejam aumentados indefinidamente os superávits comerciais.</p><p>Acerca disso, Baumann (2004, p. 11) resume que:</p><p>o movimento de divisas entre dois países opera como um mecanismo</p><p>automático, que leva à igualdade entre os valores de exportações e importações.</p><p>Esse raciocínio é conhecido como o mecanismo preço‑fluxo‑espécie, de Hume.</p><p>Sobre tal mecanismo, vejamos a contribuição de Williamson (1988: p. 131):</p><p>David Hume havia desacreditado a base macroeconômica da posição</p><p>mercantilista. Em 1752 mostrou que um superávit permanente nos</p><p>pagamentos não era viável e que, portanto, não tinha sentido algum como</p><p>objetivo de política, enquanto um déficit seria solucionado por si mesmo, de</p><p>modo que não era preciso preocupar‑se com a possibilidade de um país perder</p><p>toda a sua oferta monetária e ter de, por isso, deixar de produzir. A alegação</p><p>básica era que o padrão ouro tinha um mecanismo de ajuste automático.</p><p>Pelos argumentos de David Hume, o mecanismo de ajuste automático funcionaria da seguinte forma:</p><p>um déficit em balanço de pagamentos ensejaria uma saída de ouro do país, ocasionando uma queda na</p><p>oferta monetária. Esta contrai a demanda interna por mercadorias, diminuindo seus preços e diminui a</p><p>demanda interna por produtos estrangeiros, o que, em outras, palavras, reduz as importações. A queda</p><p>nos preços das mercadorias produzidas internamente eleva a competitividade internacional, ampliando,</p><p>portanto, as exportações. Por fim, reduz‑se o déficit no balanço de pagamentos.</p><p>Williamson (1988) ressalta que há algumas premissas necessárias a serem atendidas para se garantir</p><p>que o mecanismo de fluxo‑espécie‑preço funcione da forma descrita por Hume. São elas:</p><p>• que a taxa de câmbio seja fixa;</p><p>• que se evite a esterilização completa, ou seja, que não seja compensada uma queda nas reservas</p><p>com elevação do crédito interno;</p><p>• que se aceite a Teoria Quantitativa da Moeda;</p><p>• que os preços externos permaneçam constantes ou que se elevem;</p><p>196</p><p>Unidade III</p><p>• que seja satisfeita a condição Marshall‑Lerner;</p><p>• que não exista mobilidade de capital.</p><p>8.6 Produtividade do trabalho e vantagens comerciais</p><p>Enquanto no século XVI os mercantilistas ainda viam a aquisição de ouro e da prata como forma</p><p>mais importante de enriquecer o país, a própria necessidade de dispor de cada vez mais produtos para</p><p>exportar e adquirir o ouro gera uma outra visão de fonte de riqueza: a capacidade de produzir, que se</p><p>desenvolve com a Revolução Industrial. Na Inglaterra, esta teve seu auge por volta das três últimas</p><p>décadas do século XVIII e começo do século XIX.</p><p>Nesse período, a Inglaterra tinha um mercado interno bem desenvolvido, comparativamente aos</p><p>demais países da Europa, no qual se procurava a produção em maior quantidade para vender a preços</p><p>mais baixos, o que significava lucros crescentes.</p><p>Além disso, a busca por maiores lucros conjugada ao aumento das vendas foi estimulada pela</p><p>demanda externa por bens produzidos na Inglaterra, dando motivos para a explosão de inovações</p><p>tecnológicas então ocorridas. Segundo Dowbor (1990, p. 36‑37), a Revolução Industrial promoveu</p><p>efeitos positivos para países desenvolvidos, como a Inglaterra do século XIX. Vejamos sua explanação:</p><p>(a) com a progressão da divisão do trabalho e da mecanização, a produtividade</p><p>do trabalho dá um salto imenso, reduzindo, pela primeira vez na história,</p><p>o custo unitário dos produtos manufaturados, permitindo assim realizar</p><p>grandes economias de escala; (b) a industrialização leva a custos decrescentes,</p><p>à medida que exige um processo permanente de inovações tecnológicas;</p><p>(c) a industrialização acarreta a multiplicação de economias externas: abrem‑se</p><p>estradas, formam‑se trabalhadores, estende‑se a rede de comercialização,</p><p>desenvolvem‑se transportes e comunicação, constituindo um conjunto de</p><p>infraestrutura que torna mais barato o funcionamento de cada empresa nova</p><p>que se instala.</p><p>Em outras palavras, ainda para Dowbor (1990), a Revolução Industrial generalizou a utilização</p><p>da tecnologia ao desenvolver a produção de ferramentas, especializou e modernizou a produção</p><p>manufaturada, promoveu, nos países desenvolvidos, o processo de enriquecimento cumulativo através</p><p>da conquista de novos mercados a cada progresso técnico da sua indústria, invadiu diversas partes do</p><p>mundo com produtos manufaturados, e por fim, estimulou a industrialização.</p><p>8.6.1 Adam Smith e suas vantagens absolutas</p><p>Em 1776 com A riqueza das nações, de Adam Smith, e em 1817, com Princípios de economia política</p><p>e tributação de David Ricardo, ocorre uma evolução no pensamento econômico. Incorporando os fatos e</p><p>os valores da Revolução Industrial, forma‑se a teoria clássica do liberalismo. Segundo ela, dentre outros</p><p>197</p><p>ECONOMIA</p><p>aspectos, o sistema econômico livre do Estado permite a cada capitalista e a cada trabalhador buscar o</p><p>seu próprio interesse no mercado. Trata‑se da recomendação do laissez‑faire, laissez‑passer, que podemos</p><p>identificar como a recomendação da irrestrita abertura dos portos, ou dos mercados, na promoção de</p><p>maior relacionamento entre as nações, fato que na época favorecia o poder industrial inglês.</p><p>A abertura dos mercados seria importante, pois como enfatiza Smith (1996, p. 77):</p><p>quando o mercado é muito reduzido, ninguém pode sentir‑se estimulado a</p><p>dedicar‑se inteiramente a uma ocupação, porque não pode permutar toda</p><p>a parcela excedente de sua produção que ultrapassa seu consumo pessoal,</p><p>pela parcela de produção do trabalho alheio, da qual tem necessidade.</p><p>Ainda para Smith (1996, p. 420):</p><p>com plena segurança, achamos que a liberdade do comércio, sem que seja</p><p>necessária nenhuma atenção especial por parte do governo, sempre nos</p><p>garantirá o vinho de que temos necessidade; com a mesma segurança</p><p>podemos estar certos de que o livre comércio sempre nos assegurará o ouro</p><p>e a prata que tivermos condições de comprar ou empregar, seja para fazer</p><p>circular as nossas mercadorias, seja para outras finalidades.</p><p>Com esse argumento, percebe‑se que o comércio externo beneficiaria todos os países participantes,</p><p>já que em primeiro lugar, daria escoamento à produção excedente de manufaturados, caso não existisse</p><p>demanda interna. Em segundo lugar, valorizaria, no mercado externo, mercadorias que poderiam tornar‑se</p><p>supérfluas no mercado interno, e em terceiro lugar, o comércio externo provocaria a elevação da produção,</p><p>“aumentando assim a renda e a riqueza reais da sociedade” (SMITH, 1996, p. 430).</p><p>Com isso, Adam Smith defende a teoria das vantagens absolutas, entendidas em custos de produção – na</p><p>sua época, notadamente custos de mão de obra. Seu argumento difere daquele postulado pelas teorias</p><p>“puras”, pois parte do pressuposto de que as trocas comerciais beneficiam todas as nações que delas</p><p>participam, e que cada país obtém vantagens maiores ou menores na produção de cada mercadoria.</p><p>Mais claramente, se o mercado internacional fosse encarado</p><p>como forma de competição e sem qualquer</p><p>interferência governamental, cada país procuraria especializar‑se na produção de mercadorias, que lhe daria</p><p>maior vantagem absoluta, tanto natural quanto adquirida.</p><p>Dessa forma, se cada nação participante do comércio internacional procurasse sua produção mais</p><p>vantajosa, ou seja, aquela vantagem absoluta, todas as mercadorias seriam trocadas ou vendidas pelo seu</p><p>valor mais baixo, e daí surgiria a riqueza de todas as nações, pois para Smith (apud SINGER, 1989, p. l47):</p><p>riqueza significa obter bens de uso necessários ao consumo da população</p><p>com o menor gasto de tempo de trabalho humano. Nesse sentido, o comércio</p><p>internacional, livre de interferências não econômicas promoveria a riqueza de</p><p>todas as nações.</p><p>198</p><p>Unidade III</p><p>Smith (1996) assegura então que toda pessoa procura empregar seu capital da forma mais vantajosa</p><p>possível, visando à manutenção de sua própria vantagem. Com efeito, se todas as pessoas o aplicarem no</p><p>fomento da atividade nacional, a sociedade como um todo atingirá o emprego mais vantajoso de seu capital,</p><p>e cada indivíduo se esforçará para aumentar ao máximo possível a renda anual da sociedade, já que</p><p>os produtores individuais consideram de seu interesse empregar toda sua</p><p>atividade de forma que obtenham alguma vantagem sobre seus vizinhos,</p><p>comprando, com uma parcela de sua produção, tudo o mais de que tiverem</p><p>necessidade (SMITH, 1996, p. 435‑438).</p><p>Sendo assim, se algum país puder fornecer uma mercadoria a um custo mais baixo do que aquele de</p><p>sua produção interna, para Smith seria melhor comprá‑la do que produzi‑la, ou seja, seria melhor importá‑la.</p><p>Dessa forma, deixando de produzir tal mercadoria, encaminha‑se o capital e o emprego necessário para</p><p>outra produção, que poderá fornecer maior vantagem. Ao produzir internamente aquela mercadoria, que é</p><p>mais barata quando se importa, há um desperdício de recursos produtivos, provocando, então, uma queda</p><p>no valor da produção anual da atividade do país, e não é isso que um país deseja.</p><p>Smith acrescenta ainda que as vantagens naturais que um país pode deter frente a outro na produção de</p><p>determinadas mercadorias tornam‑se, às vezes, tão grandes que não ensejariam provocar um processo</p><p>de concorrência com relação a essa mercadoria:</p><p>não interessa se as vantagens que um país leva sobre o outro são naturais</p><p>ou adquiridas. Enquanto um dos países tiver suas vantagens, e outro desejar</p><p>partilhar delas, sempre será mais vantajoso para este último comprar que</p><p>fabricar ele mesmo (SMITH, 1996, p. 44).</p><p>8.6.2 David Ricardo e suas vantagens comparativas</p><p>David Ricardo dá forma definitiva a essa concepção, argumentando que cada país não precisaria ter</p><p>uma vantagem absoluta na produção de todas as mercadorias, mas deveria especializar‑se na produção</p><p>de mercadorias em que tivesse maiores vantagens relativas ou comparativas, também em custos.</p><p>Nesse sentido, Ricardo sustenta, assim como Smith que, em uma economia de livre mercado, cada</p><p>nação procurará aplicar todo o seu capital, bem como todo o seu trabalho, em atividades que lhe tragam</p><p>o máximo benefício, como se cada país buscasse sua “vantagem individual”. Obter vantagem significaria</p><p>ter eficiência na produção derivada da utilização de uma quantidade menor de trabalho na produção.</p><p>Assim, para Ricardo (1996, p. 97‑98):</p><p>um país dotado de grandes vantagens em maquinaria e em capacidade</p><p>técnica, e que consiga produzir certas mercadorias com muito menos trabalho</p><p>do que seus vizinhos, poderá importar em troca dessas mercadorias parte</p><p>dos cereais necessários ao consumo.</p><p>199</p><p>ECONOMIA</p><p>Dessa forma, dois países poderiam tirar proveito do comércio, se cada um tivesse uma vantagem</p><p>relativa na produção.</p><p>Vantagem relativa ou comparativa significa que a quantidade de trabalho incorporado em duas</p><p>mercadorias seria diferente entre dois países, de modo que cada um poderia ter pelo menos uma mercadoria</p><p>cuja quantidade relativa de trabalho incorporado seria menor do que a de outro país (HUNT, 1989, p. 137).</p><p>Assim, o comércio internacional seria importante para uma nação, pois ampliaria a quantidade de</p><p>mercadorias transacionadas, elevaria a diversidade dos produtos nos quais os salários poderiam ser</p><p>gastos a um custo menor e, por fim, aumentaria o grau de satisfação da sociedade (RICARDO, 1996,</p><p>p. 93‑97). Por suas palavras:</p><p>se Portugal não tivesse nenhuma ligação comercial com outros países, em</p><p>vez de empregar grande parte de seu capital e de seu esforço na produção de</p><p>vinhos, com os quais importa, para seu uso, tecidos e ferramentas de outros</p><p>países, seria obrigado a empregar parte daquele capital na fabricação de</p><p>tais mercadorias, com resultados provavelmente inferiores em qualidade</p><p>e quantidade.</p><p>Para Singer (1989, p. 147), Ricardo (1996) demonstra então, que mesmo que um país tivesse grandes</p><p>vantagens naturais ou adquiridas em todas as esferas de produção, conforme explicava Smith, a</p><p>especialização de sua produção apenas nos ramos em que suas vantagens comparativas fossem maiores,</p><p>trar‑lhe‑ia mais vantagens que a autossuficiência econômica.</p><p>Ainda que essa teoria não explicite que os ganhos de especialização se deem no consumo ou na</p><p>acumulação de capital, não se repartem homogeneamente entre as nações participantes do intercâmbio</p><p>comercial (SINGER, 1989). Durante boa parte do século XIX, as políticas comerciais das nações capitalistas</p><p>mais avançadas e das menos desenvolvidas observaram suas recomendações de política econômica,</p><p>notadamente a política de “portos abertos”, em que se entende ampliação das relações comerciais internacionais.</p><p>As poucas exceções a essa visão e a essa política derivam do argumento da indústria infante, cujo</p><p>conteúdo, em última instância, sugere um fechamento temporário do país ao livre comércio, contrariando</p><p>as relações de comércio até então apresentadas.</p><p>A abordagem clássica dos custos comparativos desempenhou importante papel no quadro da teoria</p><p>das vantagens resultantes da especialização e das trocas internacionais. Suas conclusões tiveram grande</p><p>utilidade e, nesse sentido, as bases teóricas do enfoque ricardiano puderam ser aplicadas a situações reais,</p><p>principalmente em sua época, quando o trabalho era considerado o fator básico determinante dos custos</p><p>de oferta da maior parte dos bens e serviços produzidos pelas nações.</p><p>Se o trabalho fosse o único fator de produção, as vantagens comparativas poderiam surgir apenas por</p><p>causa de diferenças internacionais da produtividade da mão de obra, mas no mundo real elas também</p><p>refletem diferenças entre os recursos dos países, por exemplo: terra, capital, recursos minerais, entre</p><p>outros. Dessa forma, diante de novos recursos teóricos e em decorrência das consideráveis modificações</p><p>200</p><p>Unidade III</p><p>na estrutura de produção das nações, a teoria clássica das vantagens comparativas passa a ser objeto</p><p>de diversas reformulações.</p><p>8.6.3 Recursos e comércio: o modelo Heckscher-Ohlin</p><p>O teorema desenvolvido pelos suecos Eli Heckscher e Bertil Ohlin enfatiza as razões e os ganhos com o</p><p>comércio internacional, pois fatores diferentes de produção estão disponíveis nos mais diversos países</p><p>e mostram que as vantagens comparativas de cada nação são influenciadas pela interação entre a</p><p>abundância relativa dos fatores de produção e a tecnologia da produção – ou seja, a quantidade e</p><p>a intensidade relativa com que os fatores de produção são usados na geração de bens diferentes.</p><p>Tomando por base Krugman e Obstfeld (1999), Gonçalves (1998) e Williamson (1988), passamos a</p><p>exemplificar o teorema. Esse modelo considera que cada economia pode produzir dois bens, tecidos e</p><p>alimentos, e que a produção de cada um deles requer o uso de dois fatores de produção específicos</p><p>e com oferta limitada: mão de obra e terra. Nesse caso simples de dois itens, dois produtos e duas regiões,</p><p>ou seja, modelo 2x2x2, o comércio praticado entre os países seria baseado na troca dos produtos mais</p><p>baratos de cada região, portanto, aqueles cuja produção utilize relativamente</p><p>maior quantidade do fator</p><p>abundante em termos domésticos.</p><p>Assume também que os consumidores dos diferentes países têm preferências idênticas e que a</p><p>sociedade pode maximizar seu bem‑estar como se fosse um indivíduo e que um maior nível de bem‑estar</p><p>para a sociedade implica maior nível de produto para cada indivíduo.</p><p>Sendo assim, o modelo de Heckscher‑Ohlin diz respeito ao comércio em equilíbrio entre duas</p><p>economias, passando a ideia de que o país, por exemplo, onde o trabalho for relativamente abundante será</p><p>capaz de produzir o bem intensivo em trabalho a um custo relativamente baixo, obtendo uma vantagem</p><p>comparativa em sua produção. Para Williamson (1988, p. 37), o modelo pode ser enunciado da seguinte</p><p>maneira: “cada país exportará o bem intensivo em seu fator abundante”.</p><p>Sabemos que o custo de produção de um bem depende dos preços dos fatores de produção. Se o</p><p>aluguel da terra, por exemplo, for mais elevado, então o bem cuja produção seja intensiva terá preços</p><p>mais altos. Nesse caso, a importância do preço de fator particular no custo de produção de um bem</p><p>depende, entretanto, da quantidade do fator que a geração do bem envolve. Se a produção de tecido</p><p>utiliza pouca terra, então um aumento no preço da terra não terá muito efeito sobre o do tecido.</p><p>A partir da determinação do preço dos tecidos e dos alimentos, bem como do estabelecimento do padrão</p><p>de oferta limitado de terra e mão de obra, podemos identificar quanto de cada recurso será direcionado</p><p>na economia à produção de cada bem – e, portanto, a quantidade produzida de qualquer mercadoria na</p><p>economia, de acordo com a curva de possibilidade de produção.</p><p>Se a oferta de terra na economia aumenta, isso favorecerá a produção intensiva e será desfavorável</p><p>à produção dos bens de trabalho intensivo. A terra e a mão de obra não mais utilizadas na produção</p><p>de tecidos serão transferidas para o setor de alimentos, cuja produção aumentará mais do que</p><p>201</p><p>ECONOMIA</p><p>proporcionalmente ao incremento na oferta de terra, ocasionando um deslocamento para fora na curva</p><p>de possibilidade de produção. Agora, a economia pode produzir mais alimentos do que antes. Para Krugman</p><p>e Obstfeld (1999, p. 75‑76):</p><p>o efeito enviesado dos incrementos dos recursos nas possibilidades</p><p>de produção é a chave para entender como as diferenças em recursos</p><p>aumentam o comércio internacional.</p><p>Uma vez que a economia doméstica tem uma proporção maior de mão de obra do que de terra do</p><p>que a economia estrangeira, a doméstica é abundante em mão de obra e a estrangeira, em terra.</p><p>Se o tecido for um bem intensivo em mão de obra, a fronteira de possibilidade de produção da economia</p><p>doméstica relativa à estrangeira é deslocada para fora, mais na direção dos tecidos do que na dos</p><p>alimentos. Assim, coeteris paribus, a economia doméstica tende a produzir uma proporção mais elevada</p><p>de tecidos do que de alimentos.</p><p>Nas palavras de Krugman e Obstfeld (1999, p. 77):</p><p>sinteticamente, eis o que aprendemos sobre os padrões de comércio: a</p><p>economia doméstica tem uma proporção maior de mão de obra em relação</p><p>à terra do que a economia estrangeira; isto é, a economia doméstica é</p><p>abundante em mão de obra e a economia estrangeira é abundante em</p><p>terra. A produção de tecidos utiliza uma proporção maior de mão de obra</p><p>em relação à terra que a produção de alimentos: ou seja, tecidos são</p><p>intensivos em mão de obra e alimentos em terra. A economia doméstica,</p><p>país abundante em mão de obra, exporta tecidos, o bem intensivo em</p><p>mão de obra; a economia estrangeira, país abundante em terra, exporta</p><p>alimentos, o bem intensivo em terra. A regra geral dessa teoria é: os países</p><p>tendem a exportar bens cuja produção é intensiva em fatores com os</p><p>quais eles são favorecidos em abundância.</p><p>Diante das considerações anteriores, ao ser confrontado com os fluxos de comércio internacional,</p><p>o modelo Heckscher‑Ohlin parece ser o que mais se aproxima da realidade. Em sua mais simples</p><p>manifestação, as causas fundamentais das redes de trocas entre as nações parecem encontrar‑se nas</p><p>diferenças estruturais quanto à disponibilidade de recursos. Estes não se encontram distribuídos na</p><p>mesma proporção entre as nações e, diante das dificuldades para a sua mobilização de uma para outra,</p><p>cada uma tende a se especializar na produção dos bens e serviços mais apropriados à sua tipologia</p><p>de recursos. Os excedentes resultantes tendem a ser trocados no exterior por produtos cuja obtenção</p><p>não se ajuste à estrutura interna de recursos. Assim, poderíamos dizer que, do ponto de vista da teoria</p><p>neoclássica das relações internacionais, o comércio internacional é, na realidade, uma espécie de troca</p><p>de recursos abundantes por recursos escassos.</p><p>202</p><p>Unidade III</p><p>8.7 Balanço de pagamentos</p><p>O balanço de pagamentos é o registro sistemático de todas as transações econômicas efetuadas entre</p><p>residentes e não residentes de um país durante determinado período. Esse registro atende à subdivisão</p><p>de transações correntes (TC), movimentos do mercado real de bens e serviços e movimentos de capitais</p><p>(CF) representados por fluxos de moeda, renda, crédito e investimentos. Portanto, o registro do balanço</p><p>de pagamentos considera o lado real e o lado monetário das relações internacionais.</p><p>O saldo de TC é o resultado das contas do lado real da economia: balança comercial, balança</p><p>de serviços e a balança de rendas, essa última dividida em duas subcontas: renda primária e renda</p><p>secundária. A conta balança comercial (BC) apresenta o saldo free on board (FOB) de exportações e</p><p>importações de bens realizadas durante determinado período. A conta balança de serviços (BS) registra</p><p>os saldos das operações de serviços realizadas entre o país e os outros, a exemplo de transportes, seguros</p><p>e aluguéis de equipamentos. Já a conta de rendas, em sua primeira e maior subconta, a renda primária,</p><p>registra o envio e recebimento de lucros obtidos por empresas domiciliadas no Brasil ou no exterior; os</p><p>lucros obtidos através da posse de ativos financeiros; a remuneração de empregados e reinvestimentos.</p><p>Na conta de renda secundária ficam registradas as transferências pessoais que, na versão anterior</p><p>do balanço de pagamentos, eram chamadas simplesmente de transferências unilaterais. Elas se referem</p><p>ao saldo das transações que não envolvem contrapartida, a exemplo de donativos (na forma monetária</p><p>ou em produtos) que um país envia a outro sem que o país recebedor ofereça algo em troca. Em geral,</p><p>apresentam‑se na forma de ajuda humanitária, remessa de alimentos e medicamentos. Assim,</p><p>TC = BC + BS + BR (Primária + Secundária)</p><p>Os saldos das contas capital e financeira representam os fluxos monetários realizados entre</p><p>diferentes países durante determinado período, subdivididos em conta capital, que representam os</p><p>envios e recebimentos de recursos para pagamentos de bens não financeiros não produzidos como,</p><p>por exemplo, o pagamento de royalties ou de passes de atletas, e em conta financeira, na qual ficam</p><p>registrados os saldos de investimento direto no país (IDP), que se constituem em investimento</p><p>em ativos fixos e investimentos financeiros (investimento em carteira) por exemplo: ações, títulos</p><p>públicos, debêntures etc.</p><p>No balanço de pagamentos, o registro sistemático das transações atende ao princípio contábil</p><p>das partidas dobradas, a partir do qual um lançamento a débito em uma conta corresponderá a um</p><p>lançamento a crédito em outra conta, sendo o contrário verdadeiro. Assim, pela lógica contábil, o saldo</p><p>das contas deve ser zero. Sistematizando:</p><p>BP = TC + CC + CF = 0</p><p>Conforme Silva e Carvalho (2003): “no balanço de pagamento, o que garante essa igualdade são</p><p>os capitais compensatórios, compostos de reservas, empréstimos de regularização do FMI e atrasados”.</p><p>203</p><p>ECONOMIA</p><p>O balanço de pagamentos apresenta a seguinte estrutura:</p><p>Quadro 5 – Estrutura do balanço de pagamentos</p><p>Balanço de pagamentos</p><p>A Balança comercial (mercadorias)</p><p>Importações FOB (débito)</p><p>Exportações FOB (crédito)</p><p>B</p><p>Balança de serviços (saldos de</p><p>contas: podem apresentar tanto débitos como créditos)</p><p>Viagens internacionais (turismo, negócios), transportes (fretes), seguros, rendas de capitais (juros,</p><p>dividendos e lucros), serviços diversos (royalties, assistência técnica, aluguéis de equipamentos), serviços</p><p>governamentais (embaixadas, consulados, representações no exterior)</p><p>C</p><p>Balança de rendas (remuneração de fatores)</p><p>Renda primária (emolumentos obtidos através de investimento e trabalho): salário, lucros, dividendos e juros</p><p>Renda secundária: transferência de recursos sem a exigência de contrapartida, por exemplo, o envio de</p><p>donativos para outro país</p><p>D</p><p>Conta capital: (recursos para pagamentos de bens não financeiros não produzidos)</p><p>Royalties, passes de atletas, direitos autorais</p><p>E</p><p>Conta financeira</p><p>Investimento direto estrangeiro (IDE) e investimento direto no país (IDP)</p><p>Reinvestimentos (reinvestimentos de empresas já instaladas no país)</p><p>Empréstimos e financiamentos (financiamentos de bancos estrangeiros de curto e longo prazo)</p><p>Investimentos em ativos financeiros (ações, títulos e debêntures, por exemplo)</p><p>F</p><p>Erros e omissões</p><p>Saldo da conta financeira (‑) saldo de transações correntes (‑) saldo da conta capital = erros e omissões</p><p>Adaptado de: Vasconcellos (2001).</p><p>Saiba mais</p><p>Desde 2015, o Banco central sistematiza as informações do balanço</p><p>de pagamentos de acordo com a mais nova edição do Manual de Balanço de</p><p>Pagamentos e Posição Internacional do Fundo Monetário Internacional (FMI),</p><p>o BPM 6. Para ter mais informações sobre isso, acesse:</p><p>BANCO CENTRAL DO BRASIL. Perguntas frequentes (FAQs) sobre a</p><p>conversão de BPM5 para BPM6. [s.d.]c. Disponível em: https://www.bcb.gov.</p><p>br/ftp/infecon/faqbpm6p.pdf. Acesso em: 9 jul. 2020.</p><p>204</p><p>Unidade III</p><p>Na tabela a seguir é possível acompanhar os últimos resultados do balanço de pagamento do Brasil:</p><p>Tabela 26</p><p>Data Transações</p><p>correntes</p><p>Conta</p><p>capital</p><p>Conta</p><p>financeira</p><p>Erros e</p><p>omissões</p><p>2010 ‑79.014 242 ‑69.950 8.823</p><p>2011 ‑76.288 256 ‑80.512 ‑4.480</p><p>2012 ‑83.800 208 ‑83.040 552</p><p>2013 ‑79.792 322 ‑78.626 844</p><p>2014 ‑101.431 232 ‑96.587 4.613</p><p>2015 ‑54.472 461 ‑56.152 ‑2.141</p><p>2016 ‑24.230 274 ‑15.713 8.243</p><p>2017 ‑15.015 379 ‑9.926 4.709</p><p>2018 ‑41.540 440 ‑42.422 ‑1.322</p><p>2019 ‑49.452 369 ‑51.511 ‑2.428</p><p>8.8 O papel das instituições multilaterais</p><p>Entre 1942 e 1944, em Bretton Woods, foi realizada uma conferência que reuniu os países aliados</p><p>contra o eixo fascista. Seu objetivo era a estabilização econômica e o alcance do pleno emprego. Várias</p><p>propostas foram apresentadas, porém, as únicas levadas realmente em consideração foram as britânicas,</p><p>desenvolvidas por John Maynard Keynes, e as dos Estados Unidos, apresentadas por Harry Dexter White.</p><p>Era necessário que se criasse um sistema que superasse as deficiências do padrão‑ouro e do câmbio</p><p>livre, sendo que a crítica mais acirrada quanto ao padrão‑ouro vinha da Inglaterra e de Keynes</p><p>(MODESTO, 2013).</p><p>8.9 A Conferência de Bretton Woods e suas instituições</p><p>Para Keynes, o padrão‑ouro criava problemas fundamentais. Ele acreditava que uma economia em</p><p>crescimento necessitava de expansão monetária, a fim de que se pudesse fazer frente a esse maior</p><p>volume de produtos, não pressionando os juros para cima e/ou os preços para baixo. No padrão‑ouro,</p><p>a disponibilidade de moeda dependia de um fator exógeno que, no caso, era a disponibilidade de ouro.</p><p>Caso o ouro fosse escasso, poderia não haver moeda suficiente para que se realizassem as transações</p><p>normais dessa economia. Uma forma de se combater esse problema era o aumento na taxa de juros, de</p><p>modo a atrair ouro de outros países; essa política, entretanto, não era prejudicial apenas para os outros</p><p>países (que, de certa forma, agem da mesma forma), mas também para o próprio país que havia adotado</p><p>tal medida, dado que um aumento na taxa de juros prejudicava o consumo e o investimento interno.</p><p>O outro problema era o “ajuste assimétrico”. Para Keynes, quando uma economia crescia mais do</p><p>que as outras, ela incorria em problemas de déficit comercial. Afinal, quando cresce a renda de um país,</p><p>também cresce a necessidade de se importar bens, enquanto as exportações dependem da renda de</p><p>outros países. Sendo assim, segundo Keynes, se um país crescesse mais do que os outros, a demanda por</p><p>importação cresceria mais depressa que a possibilidade de exportar; logo, haveria o problema de como</p><p>205</p><p>ECONOMIA</p><p>se pagar pela diferença. Havia duas soluções nesse caso: ou o país se endividava (o que não podia ser</p><p>feito infinitamente) para cobrir os déficits, ou restringia as importações, o que era prejudicial para todos</p><p>os envolvidos. Por exemplo: o país A importava do país B; quando o país A criava impedimentos aos</p><p>produtos importados do país B, ele reduzia a renda do país B; com uma menor renda, o país B importaria</p><p>menos produtos, que poderiam ser, no caso, os produtos do país A.</p><p>Já o câmbio livre (que foi adotado por praticamente todos os países no início da década de 1930)</p><p>consistia na estratégia de que cada país determinasse a taxa de câmbio que julgasse a correta para cada</p><p>momento. O problema é que em momentos de depressão e desemprego, os países desvalorizavam a</p><p>sua moeda com o intuito de elevar as suas exportações líquidas, transferindo assim os seus problemas</p><p>para os seus vizinhos. Com o tempo, esse tipo de política foi perdendo a eficácia, pois quando um país</p><p>desvalorizava a sua moeda, o outro reagia da mesma forma a fim de se proteger de tal medida.</p><p>Por outro lado, a proposta americana era muito mais modesta, pois a grande preocupação dos</p><p>EUA no pós‑guerra era a adoção de práticas restritivas quanto ao comércio internacional. O Plano</p><p>White previa a criação de uma instituição com um papel duplo. O primeiro seria o de funcionar como</p><p>um fórum: esse fórum avaliaria se poderiam ou não ser feitos os ajustes nas taxas de câmbio entre</p><p>os países‑membros, sendo esses ajustes permitidos quando o país provasse que a sua economia</p><p>havia passado por mudanças fundamentais, tornando necessários ajustes na taxa. Esse mecanismo</p><p>eliminaria as desvalorizações oportunistas, cujo objetivo era o de transferir problemas para os seus</p><p>vizinhos. A segunda função era a de financiar o ajuste de curto prazo do balanço de pagamentos,</p><p>de modo que esse desajuste não causasse pressão sobre a taxa de câmbio. O tesouro seria composto</p><p>pelas moedas dos países‑membros, em quantidades proporcionais à importância dessas moedas no</p><p>comércio e na economia internacional. Assim, um país poderia recorrer à instituição comprando a</p><p>moeda que precisasse para ajustar a sua economia.</p><p>Segundo Modesto (2013), é importante notar que o Plano Keynes estava preocupado com as crises de</p><p>balanço de pagamentos causadas por fugas de capitais, pois ele tinha convicção de que algumas classes</p><p>de capitais desestabilizavam a economia internacional e doméstica, sem trazer nenhum beneficio. O</p><p>Plano White, em contrapartida, se preocupava com o funcionamento do comércio internacional. A</p><p>instituição prevista pelo Plano White não tinha condições de criar liquidez internacional; esta dependia</p><p>de um estoque definido de moedas nacionais e, sendo assim, a liquidez internacional dependeria da</p><p>política monetária dos países que emitissem essas moedas internacionalmente aceitas. Logo, haveria um</p><p>limite para a ajuda financeira dessa instituição, a qual, alías, não poderia promover o ajuste expansivo</p><p>proposto pelo Plano Keynes, pois não teria controle sobre as reservas dos países‑membros e nem a</p><p>autoridade para coagir países superavitários a expandir a sua demanda.</p><p>Como não podia deixar de ser, o Plano White foi o vencedor e, então, foram criados o FMI (Fundo</p><p>Monetário Internacional) e o Banco Mundial (CARVALHO, 2004). Temos então que as medidas adotadas</p><p>foram as do Plano White, e não as do Plano Keynes. Ainda como parte do efeito dominó ocasionado pela</p><p>crise de 1929 e envoltos na comoção causada pela Segunda Guerra Mundial, os países industrializados</p><p>estabeleceram um conjunto de normas para a paridade cambial, tornando</p><p>de investigação e passível de mudanças. A partir das catástrofes</p><p>causadas pela Grande Depressão, há uma ruptura com a ciência clássica, pois os chamados economistas</p><p>clássicos, dos quais é exemplo Jean Baptiste Say, acreditavam que as economias de mercado tinham a</p><p>capacidade de, sem a interferência do governo, utilizar de maneira eficiente os recursos disponíveis, ou</p><p>seja, produzir esses recursos com pleno emprego. A partir do momento em que as economias atingissem</p><p>ponto de pleno emprego, o produto da economia e o emprego já estariam determinados, representando</p><p>então a efetiva disponibilidade de recursos.</p><p>149</p><p>ECONOMIA</p><p>Lembrete</p><p>Lembra o que significa ponto de pleno emprego de recursos? Vimos isso</p><p>no início de nossa viagem pela economia com a apresentação da curva de</p><p>possibilidade de produção. Vale recordar.</p><p>A macroeconomia, até então prevalecente, sugeria a existência de uma tendência automática ao</p><p>pleno emprego de recursos e, dessa forma, a inexistência de desemprego de trabalhadores. No entanto,</p><p>por conta principalmente da Grande Depressão dos anos de 1930, a evidência empírica mostrava pessoas</p><p>buscando constantemente emprego sem alcançar sucesso.</p><p>Neste ambiente, em 1936 surge A Teoria Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro, em que John</p><p>Maynard Keynes mostrava que, contrariamente aos resultados apontados pela teoria clássica, as</p><p>economias capitalistas não tinham a capacidade de promover automaticamente o pleno emprego. Assim,</p><p>abriria oportunidade para a ação governamental e seus clássicos instrumentos de política econômica</p><p>para direcionar a sociedade econômica rumo à utilização total dos recursos.</p><p>Nesse sentido, para que se justificassem políticas de estímulo ao emprego e à renda dos trabalhadores,</p><p>pensadores como Keynes e seus seguidores ganham espaço na Teoria Econômica. Após diversas leituras</p><p>do livro de Keynes, surge a análise predominante na Teoria Macroeconômica, com o aprimoramento do</p><p>instrumental IS‑LM, desenvolvido por Hicks e Hansen, estruturando uma nova escola no pensamento</p><p>econômico que viria a ser chamada de síntese neoclássica.</p><p>i</p><p>i*</p><p>E</p><p>Y* Y</p><p>IS</p><p>LM</p><p>Figura 55 – Instrumento IS‑LM</p><p>Com o desenvolvimento da análise IS‑LM, a economia passa a ser estudada a partir das noções</p><p>de equilíbrio, assim como o é na Teoria Microeconômica, mas o equilíbrio a ser estudado pela Teoria</p><p>Macroeconômica é entre taxa de juros (i*) e renda (Y*). No instrumental IS‑LM:</p><p>150</p><p>Unidade III</p><p>i = taxa de juros.</p><p>i* = taxa de juros de equilíbrio.</p><p>Y = renda.</p><p>Y* = renda de equilíbrio.</p><p>A curva IS (investiment‑saving) representa o equilíbrio no mercado de bens, em que a</p><p>poupança seria igual ao investimento. A curva LM (liquidit‑money) representa o equilíbrio no</p><p>mercado monetário, em que a oferta da moeda (M) seria igual à demanda por moeda (L). A partir</p><p>desses equilíbrios, qualquer evento econômico passa a ser analisado como impacto no equilíbrio</p><p>proporcionado por esses dois mercados.</p><p>Observação</p><p>Perceba que voltamos a falar do fluxo circular da renda demonstrado na</p><p>unidade I. Agora, a curva IS representa o mercado de bens, mercado real, e</p><p>a curva LM, o mercado monetário.</p><p>Saiba mais</p><p>Para melhor contato com o modelo IS‑LM, consulte o livro:</p><p>VASCONCELLOS, M. A. S.; LOPES, L. M. Manual de macroeconomia: básico</p><p>e intermediário. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2008.</p><p>Há um capítulo específico ao assunto, bem como a descrição da evolução</p><p>histórica da Teoria Macroeconômica.</p><p>Num sistema econômico moderno, produz‑se grande variedade de bens e serviços, desde automóveis</p><p>até parafusos e alfinetes, como aparelhos eletroeletrônicos, produtos hortifrutigranjeiros e serviços</p><p>médicos e bancários. Sem contar laranjas, sapatos, ventiladores e mais uma infinidade de bens</p><p>e serviços que você possa pensar. Como medir tudo isso? Uma das maneiras de avaliar o desempenho</p><p>da economia é por meio da medição da produção agregada de bens e serviços. Porém, como é possível</p><p>somar a produção de pares de sapatos com quilos de maçãs e litros de leite? Como medir tudo isso em</p><p>uma única unidade de medida para verificar qual o produto agregado de uma nação?</p><p>151</p><p>ECONOMIA</p><p>7.3 Medidas de atividade econômica e distribuição da renda nacional</p><p>Nesse momento, é pertinente perguntar como medir a produção realizada pelo sistema</p><p>econômico, tendo em mente que ela é contínua no tempo: os bens e serviços são produzidos e</p><p>consumidos, sendo necessário produzi‑los novamente, pois grande parte das necessidades humanas</p><p>exige um consumo ininterrupto, como é o caso da alimentação, que precisa ser feita diariamente</p><p>(SILVA; LUIZ, 2010).</p><p>É neste contexto que surge a contabilidade nacional: “[...] método de mensuração e interpretação</p><p>da atividade econômica que tem como objetivo medir a produção que se realiza em um sistema</p><p>econômico em um determinado período” (SILVA; LUIZ, 2010, p. 44). Para medir o produto de uma</p><p>nação, temos que ter em mente as quantidades de mercadorias que são vendidas em determinado</p><p>período de tempo e seus respectivos preços. Quando são usados os preços de mercado, pares de</p><p>sapatos, quilos de maçãs e litros de leite podem ser somados e comparados, conforme segue:</p><p>Tabela 21 – Utilização dos preços de mercado para somar diferentes produtos</p><p>Produto Quantidade Preço Valor de mercado</p><p>Pares de sapatos 1.000 pares R$ 40,00 o par R$ 40.000,00</p><p>Maçãs 3.000 quilos R$ 3,00 o quilo R$ 9.000,00</p><p>Leite 5.000 litros R$ 1,30 o litro R$ 6.500,00</p><p>Total R$ 55.500,00</p><p>Com o exemplo apresentado, podemos chegar à medida de produto nacional, que será dado pelo</p><p>valor monetário dos bens e serviços finais produzidos durante um determinado período de tempo,</p><p>normalmente um ano. Nesse exemplo, o produto nacional dessa nação hipotética seria de R$ 55.500,00.</p><p>Vamos adiante, lembrando‑nos do fluxo circular da renda para ver como isso opera.</p><p>Observação</p><p>Veja: não é possível somar unidades com quilos mais litros, mas é</p><p>possível somar o valor monetário que representam.</p><p>7.3.1 Identidade entre renda e produto</p><p>Já sabemos que o fluxo circular da renda mostra os fluxos reais e monetários. No fluxo real, temos</p><p>de um lado bens e serviços sendo destinados das empresas para as famílias. Quanto ao fluxo monetário,</p><p>as famílias geram receitas às empresas como pagamento da aquisição de bens e serviços, e as empresas</p><p>geram rendas às famílias como remuneração à utilização dos fatores de produção. Relembrando:</p><p>152</p><p>Unidade III</p><p>Gastos ($) (=PIB) Receitas ($) (=PIB)</p><p>Bens e serviços</p><p>comprados</p><p>Terra, capital, trabalho</p><p>e empreendedorismo</p><p>Salários, aluguéis, juros e</p><p>lucros ($) (PIB)</p><p>Renda ($) (PIB)</p><p>Insumos para</p><p>a produção</p><p>Bens e serviços</p><p>vendidos</p><p>Fluxo de bens e serviços</p><p>Fluxo de dinheiro</p><p>Mercado de fatores de</p><p>produção</p><p>Famílias Empresas</p><p>Mercado de produtos</p><p>Figura 56 – Fluxo circular da renda e do produto</p><p>O fluxo circular da renda mostra o desenvolvimento de outros dois mercados: o mercado de</p><p>bens e o mercado de fatores, que fazem parte do mercado real. No mercado de bens, aquele em que</p><p>as empresas vendem às famílias sua produção, são estabelecidos os preços das mercadorias e suas</p><p>respectivas quantidades.</p><p>Já no mercado de fatores, aquele em que as famílias vendem às empresas fatores de produção, são</p><p>estabelecidas as remunerações de cada um desses fatores e em quais quantidades serão utilizadas. Por</p><p>exemplo, é no mercado de fatores que serão determinados os valores dos salários da mão de obra que</p><p>será empregada.</p><p>Lembrete</p><p>Lembre‑se de que na Teoria Microeconômica os mercados também são</p><p>considerados, tanto em termos de demanda como de oferta e, portanto, de</p><p>determinação de preços e quantidades. Lá, a discussão é individual. Aqui,</p><p>no agregado.</p><p>Portanto, o fluxo circular da renda, na forma apresentada, é uma versão bastante simplificada da</p><p>realidade ou do funcionamento de uma economia. No entanto, apesar de simples, podemos retirar a</p><p>partir dele vários conceitos, como os de produto nacional e de renda nacional.</p><p>153</p><p>ECONOMIA</p><p>Já sabemos que o produto nacional (PN) é o valor monetário de todos os</p><p>as moedas indexadas ao</p><p>dólar, sendo este ancorado na conversibilidade ao ouro. Data dessa época o surgimento do Banco</p><p>Internacional de Reconstrução de Desenvolvimento (Bird), constituinte do Banco Mundial e do Fundo</p><p>Monetário Internacional (FMI), como mais um resultado de Bretton Woods.</p><p>206</p><p>Unidade III</p><p>Conforme Manzalli e Gomes (2006, p. 89‑90),</p><p>[...] o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional são dois importantes</p><p>organismos criados para promover a coordenação de políticas entre países,</p><p>notadamente na área financeira, mas muitas vezes tal coordenação ocorre em</p><p>detrimento de interesses de sociedades. Com o avanço do comércio de longa</p><p>distância na Europa, surge certa tendência de que as coordenações financeiras,</p><p>predominantemente administradas por famílias dos comerciantes locais, passem</p><p>a desempenhar um papel primordial na definição dos interesses políticos e</p><p>econômicos de diversos grupos no continente. Com o tempo, o desenvolvimento</p><p>do comércio privado de moedas e instrumentos financeiros.</p><p>De acordo com Sandroni (1996), a criação do FMI em 1944 foi impulsionada pela tentativa de</p><p>promover a cooperação monetária entre todos os países do mundo. Essa iniciativa partiu da necessidade de</p><p>equilibrar paridades monetárias justas entre diferentes moedas, evitando desvalorizações concorrenciais</p><p>e formando um grande fundo com recursos dos países‑membros. Esses recursos seriam utilizados em</p><p>favor de países que encontrassem dificuldades nos pagamentos internacionais, principalmente aqueles</p><p>que apresentavam recorrentes déficits em sua conta de transações correntes.</p><p>Uma das principais funções do Fundo era regular as paridades das moedas.</p><p>Tinha o objetivo essencial de presidir um regime internacional de câmbio</p><p>praticamente fixo, promovendo a cooperação monetária internacional mediante</p><p>uma instituição permanente que servisse de mecanismo para consulta e</p><p>colaboração sobre problemas monetários. Em seu instrumento constitutivo</p><p>estabeleceu‑se, ainda, que recursos financeiros do Fundo seriam oferecidos</p><p>temporariamente aos países‑membros para proporcionar‑lhes oportunidades</p><p>de corrigir desequilíbrios no seu balanço de pagamentos, sem recorrer a</p><p>desvalorizações cambiais, consideradas destrutivas da prosperidade internacional</p><p>(MANZALLI; GOMES, 2006, p. 96).</p><p>Já o Banco Mundial, instituição financeira internacional ligada à Organização das Nações Unidas</p><p>(ONU) e também criada em 1944, tinha como propósito o financiamento de projetos de recuperação e</p><p>de promoção de desenvolvimento econômico dos países atingidos pela guerra (SANDRONI, 1996).</p><p>Figura 61 – Edifício sede da ONU, em Nova York</p><p>207</p><p>ECONOMIA</p><p>Na prática, esse papel ficou a cargo do chamado Plano Marshall, e o banco passou a lidar de modo</p><p>crescente com o tema do desenvolvimento econômico e a atuar, sobretudo, nos países subdesenvolvidos</p><p>(BAUMANN, 2004). Formalmente, seu intuito era canalizar capital para investimentos que permitissem</p><p>elevar a produtividade das empresas, o padrão de vida das pessoas e as condições de trabalho nos</p><p>países‑membros. Assim, a preocupação primordial do Banco Mundial seria aquela ligada à melhoria</p><p>das condições de vida da população, quer dizer, às questões de cunho qualitativo (e não quantitativo‑</p><p>financeiro, a exemplo do FMI).</p><p>Conforme salientam Manzalli e Gomes (2006), o objetivo básico do Banco Mundial era o de auxiliar</p><p>a reconstrução e o desenvolvimento de territórios dos países‑membros atingidos pela destruição da</p><p>guerra. Esse objetivo deveria ser atendido por meio de atividades dedicadas a:</p><p>• Prover capital para fins produtivos.</p><p>• Promover o investimento externo privado.</p><p>• Complementar o investimento privado mediante o fornecimento de capital para fins produtivos.</p><p>• Promover o crescimento equilibrado de longo prazo do comércio internacional.</p><p>• Manter o equilíbrio nos balanços de pagamento mediante o incentivo internacional a investimentos</p><p>para o desenvolvimento de recursos produtivos.</p><p>Os resultados das políticas keynesianas logo se fariam sentir e a economia americana viveria o seu</p><p>período de maior riqueza e crescimento.</p><p>8.10 A globalização como fenômeno multidimensional</p><p>Já na segunda metade do século XIX, a economia dos países então desenvolvidos atinge a maturidade</p><p>e, nos tempos e nos padrões de um capitalismo industrial ainda caracterizado por mercados dominados</p><p>por empresas de porte relativamente pequeno, alcança também um grau elevado de evolução tecnológica.</p><p>Importantes mudanças se verificam nos setores de siderurgia, metalurgia, mecânica pesada e ferrovias,</p><p>e com a capacidade produtiva crescente nessas indústrias, aumenta a necessidade de mercados para</p><p>o escoamento da produção e a necessidade de matérias‑primas baratas, fazendo com que os países</p><p>desenvolvidos fornecessem aos países subdesenvolvidos estradas de ferro e pequeno equipamento industrial.</p><p>Portanto, as economias capitalistas mais avançadas conseguiam exportar os processos que haviam sido</p><p>o eixo principal de sua expansão e modernizavam a extração de matéria‑prima via exploração intensiva</p><p>(DOWBOR, 1990).</p><p>Retomando um pouco das teorias das vantagens comparativas de Smith e Ricardo, de que cada</p><p>país deveria se especializar na produção de mercadorias com maiores vantagens naturais ou adquiridas</p><p>na produção, e ainda as ideias dos mercantilistas, de que o comércio exterior era visto como uma</p><p>maneira de obter mais metais preciosos, conjugadas com as reformulações de Heckscher‑Ohlin quanto à</p><p>dotação de fatores, estas posições já davam base para um processo de internacionalização da atividade</p><p>econômica, como se têm discutido desde a década de 1990, porque quebravam barreiras e abriam</p><p>208</p><p>Unidade III</p><p>novos mercados em busca de maior lucratividade. Além disso, Marx identificava no comércio exterior</p><p>uma influência compensatória contra a tendência à queda da taxa de lucro, Sweezy dava importância</p><p>à exportação de capitais e Luxemburg dizia que as economias capitalistas necessitavam de economias</p><p>não capitalistas para sua expansão.</p><p>Nesse sentido, a tendência à internacionalização da economia é uma ideia e um fato antigo, e</p><p>conforme as economias se especializam em determinados produtos e trocam estes produtos entre si,</p><p>conseguem atingir um nível mais elevado de produtividade, de consumo e de acumulação de capital,</p><p>ainda que com distribuição não homogênea entre os países envolvidos no processo. Deste modo, o</p><p>conceito de internacionalização está ligado à possibilidade de comércio entre países facilitado pelo</p><p>desenvolvimento dos meios de transporte (BAUMANN, 1996), resultando na interdependência de uma</p><p>economia com relação a outras, no que toca a mercados.</p><p>Já o conceito de globalização é mais abrangente, e em certo sentido mais próximo da visão</p><p>marxista, pois em vez de enfocar o relacionamento comercial entre países através de trocas de</p><p>produtos, se refere a fluxos, entre as nações, de fatores de produção, processos produtivos e produtos,</p><p>acompanhados de fluxos de informação (FIGUEIREDO, 1993).</p><p>Para Baumann (1996), o aspecto que diferencia o processo de globalização do de internacionalização</p><p>é a intensidade dos acontecimentos, bem como seus efeitos, que têm caráter de constante ampliação e</p><p>afetam todos os agentes econômicos dos mais diversos países.</p><p>8.11 Diferentes conceitos de globalização</p><p>De acordo com os ensinamentos de Chesnais (1996) e de Mattei (1997), o termo globalização surgiu</p><p>no início dos anos 1980 nas escolas americanas de administração de empresas, dando significado a uma</p><p>Nova Ordem Mundial Única, representando um processo de interdependência e interação entre países e</p><p>povos no que diz respeito às relações produtivas, comerciais, financeiras, tecnológicas e culturais e ainda</p><p>interligando o mundo através da participação dos meios de comunicação.</p><p>Para Batista Jr. (1997b, p. 159), trata‑se de um termo carregado de ideologia e que invadiu o discurso</p><p>político e cotidiano com muita facilidade e conveniência por sugerir um “processo de unificação do</p><p>mundo, de formatação de</p><p>uma única sociedade mundial, sem conflitos ou fronteiras”. Para Regina</p><p>Gadelha (1997, p. 256), “globalização é uma velha palavra, com a qual se procura dar nova roupagem</p><p>a velhos processos estruturais da expansão do capitalismo em escala mundial”, pois transportando‑nos</p><p>ao passado, esse processo já ocorre sob o nome de imperialismo, conforme considerado anteriormente</p><p>por Rosa Luxemburg.</p><p>Seguindo a mesma linha de raciocínio, Batista Jr. (1997a, p. 85; 1997b, p. 162) afirma que globalização</p><p>é a palavra da moda para designar um fenômeno muito antigo, como as grandes navegações do final</p><p>do século XV impulsionadas por Portugal e Espanha. Para ele, esse fato já dá indícios de um mercado</p><p>mundial. Desta forma, sendo uma palavra da moda, deveria estar sempre acompanhada de aspas, dada</p><p>a “carga de fantasia e mitologia” que transforma o termo em algo enganoso e numa “falsa novidade”.</p><p>209</p><p>ECONOMIA</p><p>Assim, a palavra globalização tem sido utilizada pelos governantes de países subdesenvolvidos como</p><p>uma “cortina de fumaça”, uma espécie de desculpa para tudo o que acontece de bom ou de ruim em</p><p>um país, no intuito de paralisar o pensamento crítico dos países periféricos, porque “governos fracos e</p><p>omissos servem‑se desta retórica para isentar‑se da responsabilidade, transferindo‑a para um fenômeno</p><p>impessoal e vago, fora do controle nacional”.</p><p>Para Aldaiza Sposati (1997, p. 43‑4), o processo de globalização não é um processo uniforme, pois</p><p>não atinge todos os cidadãos da mesma forma e com a mesma intensidade, já que o processo procura</p><p>“universalizar a diferenciação”. Quando o processo avança no sentido de horizontalizar valores,</p><p>trata‑se de um processo positivo, mas tem‑se mostrado um processo de verticalização de valores, “numa</p><p>forma de hierarquização de cidadãos e dominação da elite”.</p><p>Dowbor (1995, p. 4) tem posição assemelhada à de Sposati por também acreditar que a globalização</p><p>é um processo hierarquizado, pois aproveitam‑se disso cerca de 500 a 600 empresas transnacionais que</p><p>comandam 25% da atividade econômica mundial, controlando 80‑90% das inovações tecnológicas,</p><p>principalmente na chamada tríade. Sendo assim, o processo de globalização também não é geral, pois</p><p>“se olharmos nosso cotidiano, desde a casa onde moramos, a escola de nossos filhos, o médico da família,</p><p>o local de trabalho, até os hortifrutigranjeiros da nossa alimentação cotidiana, trata‑se de atividades do</p><p>espaço local e não global”. Diante disso, seria necessário então mudar a ideia de que tudo se globalizou.</p><p>Para Franco (1996), o processo de globalização nada mais é do que a representação do maior</p><p>crescimento dos fluxos comerciais de produtos e do avanço dos investimentos externos diretos, em</p><p>comparação ao crescimento produtivo. Para ele, a capacidade produtiva não avança com a mesma</p><p>intensidade que avança o comércio internacional de produtos e finanças e, portanto, o processo de</p><p>globalização resume‑se num crescimento da propensão a exportar e a importar.</p><p>Observação</p><p>A chamada tríade, ou mundo triádico, é composta por Estados Unidos,</p><p>Japão e Alemanha.</p><p>Dando outras conotações para o conceito de globalização, Otavio Ianni (1997, p. 15‑6) traz para discussão</p><p>conceitos inovadores e nos remete a diferentes pontos de vista sob os aspectos sociais, econômicos, políticos,</p><p>culturais e até religiosos. Para ele, na época da globalização, “o mundo começou a ser taquigrafado como</p><p>‘aldeia global’, ‘fábrica global’, ‘terra pátria’, ‘nave espacial’, ‘nova babel’, entre outras expressões que ele chama</p><p>de ‘metáforas da globalização’ que correspondem às conquistas e dilemas da modernidade e ‘expressam</p><p>inquietações sobre o presente e ilusões sobre o futuro’”. Segundo Ianni (1997, p. 13),</p><p>A descoberta de que a Terra se tornou mundo, de que o globo não é mais</p><p>apenas uma figura astronômica, e sim o território no qual todos encontram‑</p><p>se relacionados e atrelados, diferenciados e antagônicos – essa descoberta</p><p>surpreende, encanta e atemoriza. Trata‑se de uma ruptura drástica nos</p><p>210</p><p>Unidade III</p><p>modos de ser, sentir, agir, pensar e fabular. Um evento heurístico de amplas</p><p>proporções, abalando não só as convicções, mas também as visões de mundo.</p><p>Ao mesmo tempo em que a inexistência de barreiras geográficas ou políticas entre os países reverbera</p><p>na mente das pessoas, outros significados são também atribuídos à “globalização”, e isso de tal forma</p><p>ocorre que podemos encontrar o termo sendo utilizado tanto para descrever a hegemonia do hambúrguer</p><p>no cardápio alimentar quanto para representar a comunicação via internet, rápida, simultânea e</p><p>integradora. Na verdade, globalização significa que o termo acabou por resultar quase vazio de sentido,</p><p>e para traçar (ao menos) algumas fronteiras demarcadoras, é necessário que um esforço especial seja</p><p>feito para compreendermos seus conceitos, contextualizados no tempo e na história, entendidos a partir</p><p>das diferentes correntes ideológicas daqueles que vêm estudando o fenômeno. Afinal,</p><p>Desde que o capitalismo desenvolveu‑se na Europa, apresentou sempre</p><p>conotações internacionais, multinacionais, transnacionais e mundiais,</p><p>desenvolvidas no interior da acumulação originária, do mercantilismo,</p><p>do colonialismo, do imperialismo, da dependência e da interdependência</p><p>(IANNI, 1997, p. 14).</p><p>De maneira simplificada, o termo, que passou a ser utilizado na década de 1980, comparece no</p><p>vocabulário acadêmico ou popular sob duas principais formas: ou no sentido positivo, relacionado ao</p><p>processo de integração da economia mundial, ou normativo, prescrevendo e sugerindo estratégias de</p><p>desenvolvimento baseadas na hegemonia política do capital internacional. Segundo Prado (2003, p. 2),</p><p>Como todo conceito imperfeitamente definido, globalização significa coisas</p><p>distintas para diferentes pessoas. Pode‑se, no entanto, perceber quatro linhas</p><p>básicas de interpretação do fenômeno: (I) globalização como uma época</p><p>histórica; (II) globalização como um fenômeno sociológico de compressão</p><p>do espaço e tempo; (III) globalização como hegemonia dos valores liberais;</p><p>(IV) globalização como fenômeno socioeconômico.</p><p>Vejamos, portanto, como cada um desses pontos de vista contribui para a compreensão do fenômeno</p><p>da globalização.</p><p>8.11.1 A perspectiva histórica</p><p>Do ponto de vista histórico, o termo faz referência a vários e diferentes eventos. Para alguns</p><p>historiadores, globalização se refere ao período iniciado com o término da Guerra Fria, sendo seu ato</p><p>fundador a queda do muro de Berlim e a capitulação final do socialismo à superioridade do capitalismo</p><p>ocidental. Outros preferem situá‑la na década de 1950, quando, após o término da Segunda Guerra,</p><p>os Estados Unidos iniciaram sucessivas intervenções militares na Ásia, na América Central e no Oriente</p><p>Médio, todas elas com o objetivo de defender os interesses do capital ocidental.</p><p>211</p><p>ECONOMIA</p><p>Lembrete</p><p>Lembre‑se de que a Guerra Fria marcou um estado de beligerância e</p><p>de confrontos políticos entre Estados Unidos e União Soviética que teve</p><p>início após o final da Segunda Guerra Mundial, quando acordos assinados</p><p>entre os países envolvidos no conflito armado dividiram o mundo em duas</p><p>grandes áreas de influência.</p><p>Observação</p><p>Observe que, quanto à discussão do fim do socialismo e à prosperidade</p><p>do capitalismo ocidental, alguns autores fazem questão de enfatizar que</p><p>tal socialismo do período nada mais era do que um outro formato do</p><p>capitalismo, daquela vez sob forma estatal.</p><p>Outros datam o processo como tendo início no século XVI, com as grandes navegações e a ação</p><p>colonizadora da Europa na América, na África e na Ásia. A razão pela qual se defende a descoberta</p><p>do Novo Mundo como o primeiro patamar do que seria a globalização é que, a partir daí, ter‑se‑ia</p><p>criado um sistema econômico de interferência mundial, com importação e exportação de escravos</p><p>e produtos primários, e transformador da vida tanto das colônias como dos países compradores e</p><p>portadores de tecnologia.</p><p>Essa transformação seria impulsionada depois pela Revolução Industrial,</p><p>que, mecanizando</p><p>os meios de produção e barateando os produtos finais, teria obrigado os países proprietários dos</p><p>meios de produção a procurar mercados consumidores além dos que já haviam conquistado em</p><p>seus próprios países.</p><p>Na época, o desenvolvimento da economia dependia muito da expansão geográfica dos fluxos</p><p>de transporte, criando‑se através do comércio marítimo uma rede que permitia transformar</p><p>em consumidor qualquer habitante, mesmo que de uma região isolada. A dicotomia entre os</p><p>países que detinham novas tecnologias em mãos e aqueles que só consumiam o produto final</p><p>da modernização foi se reforçando, ao passo que a onda de internacionalização motivada pela</p><p>Revolução Industrial foi se alastrando pelo mundo.</p><p>8.11.2 A perspectiva da compressão do espaço e do tempo</p><p>No que diz respeito à interpretação relativa à compressão do espaço e do tempo, há também</p><p>diferentes leituras: tanto o fenômeno pode ser explicado a partir da dissolução das fronteiras geográficas</p><p>(evidenciada pela formação de grandes blocos tais como a União Europeia) como pela criação de um</p><p>espaço global, comum e virtual. A velocidade da informação, disseminada via web, teria finalmente</p><p>possibilitado o surgimento da grande aldeia global, nave espacial em que todos a bordo caminhariam</p><p>212</p><p>Unidade III</p><p>rumo a um espaço sem fronteiras, verdadeira Torre de Babel redimida dos pecados, romântica e utópica.</p><p>Essa leitura de mundo (imersa na crença do progresso representado pelos avanços tecnológicos da</p><p>informática) teria, em 2001, sua mais completa tradução e receberia também o seu maior golpe: perto</p><p>das oito horas da manhã do dia 11 de setembro, em Nova York, os ataques às Torres Gêmeas reuniriam</p><p>todos em frente à televisão, acompanhando os trágicos eventos que finalmente marcariam o início do</p><p>século XXI.</p><p>8.11.3 A perspectiva da ideologia</p><p>Do ponto de vista ideológico, globalização também pode significar a hegemonia dos valores liberais.</p><p>Essa interpretação consideraria o colapso de Bretton Woods e as dificuldades do capital internacional</p><p>após os choques do petróleo em 1973 e 1979 como demarcadores da formalização de uma forma de</p><p>pensar o mundo distante do keynesianismo e do monetarismo, uma forma alternativa que garantiria o</p><p>crescimento, o desenvolvimento e a distribuição da riqueza.</p><p>Dignos representantes dessa maneira de interpretar a realidade, Ronald Reagan (nos Estados</p><p>Unidos) e Margaret Thatcher (na Inglaterra) se encarregariam de propagar o advento do neoliberalismo</p><p>triunfante, continuação e reinterpretação do liberalismo clássico: se antes as forças de mercado</p><p>deveriam se libertar das garras da Igreja e dos resquícios do sistema feudal, agora deveriam se colocar</p><p>contra qualquer coisa que se opusesse à mão invisível dos agentes econômicos. Enfim, a vitória final da</p><p>revolução burguesa, como resultado de um acordo das elites econômicas globais libertas de quaisquer</p><p>entraves para consolidação hegemônica dos interesses do capital, foi simbolizada pelo Consenso de</p><p>Washington. Em resumo, era o fim da história, se a considerarmos como a sucessão de embates entre o</p><p>capital e o trabalho.</p><p>8.11.4 A perspectiva econômica</p><p>No que se refere à interpretação socioeconômica, o termo “globalização” está relacionado à atuação</p><p>das empresas multinacionais e à internacionalização da economia mundial. Dessa forma, processos</p><p>de produção cada vez mais rápidos e dinâmicos, bem como a repartição internacional das etapas da</p><p>produção entre diferentes países, dariam ao mundo uma nova face: o pós‑fordismo seria o responsável</p><p>pela consolidação de uma economia baseada em processos integrados, um único e pulsante mercado</p><p>global em que o capital, as mercadorias, os recursos e as pessoas circulariam livremente. Para Prado</p><p>(2003, p. 4), a globalização então poderia ser definida como</p><p>A interação de três processos distintos, que têm ocorrido ao longo dos últimos</p><p>20 anos, e que afetam as dimensões financeira, produtiva‑real, comercial</p><p>e tecnológica das relações econômicas internacionais. Estes processos são:</p><p>a expansão extraordinária dos fluxos internacionais de bens, serviços e</p><p>capitais; o acirramento da concorrência nos mercados internacionais; e a</p><p>maior integração entre os sistemas econômicos nacionais.</p><p>Para efeito desta disciplina, vamos considerar a globalização um processo que se dá a partir</p><p>da aceleração de intercâmbios e fluxos entre os países do mundo, nos planos econômico, político</p><p>213</p><p>ECONOMIA</p><p>e social. Mais: dentre todos os planos sob os quais se apresenta, o econômico é o que nos</p><p>interessa, especialmente no que reverbera em outros campos. Assim, a produção de mercadorias</p><p>em determinados países significaria mais do que apenas a produção local, uma vez que os</p><p>locais de produção escolhidos pelas empresas poderiam ser (e costumam ser) países diferentes</p><p>daqueles nos quais está instalada sua sede principal, acarretando o que ficou denominado de</p><p>mundialização da produção.</p><p>Também é econômico o plano gerador da abertura nos países subdesenvolvidos que precisam do</p><p>capital estrangeiro para se desenvolver e da maior participação do capital internacional, advinda de</p><p>estratégias financeiras (em especial dos países desenvolvidos). É o plano que põe em xeque estruturas e</p><p>costumes construídos e mantidos há muito, sobrepondo‑se a eles e, algumas vezes, comprometendo a</p><p>identidade cultural de muitos povos.</p><p>Assim, a globalização não significa apenas um processo de expansão</p><p>dos mercados e de aceleração dos fluxos econômicos entre as fronteiras</p><p>nacionais. Junto consigo, como um de seus efeitos, surge uma consciência</p><p>de que valores morais e sociais fundamentais devem ser estendidos para</p><p>todos os povos (BARBOSA, 2006, p. 12).</p><p>Utilizando‑se da contribuição de Fiori (apud MATTEI, 1997, p. 66), o conceito de globalização é</p><p>algo que ainda está em construção, pois procura refletir uma nova formatação do desenvolvimento do</p><p>sistema capitalista, dado o avanço do processo de acumulação de capital, tanto no âmbito produtivo</p><p>quanto no financeiro e de sua internacionalização.</p><p>Para efeito deste estudo, e após análise das contribuições anteriormente apresentadas, temos que</p><p>o processo de internacionalização diz respeito à capacidade de os países manterem relações comerciais</p><p>entre si, seja no âmbito da produção, no das informações ou no financeiro, à medida que se dá o</p><p>desenvolvimento do capitalismo e, portanto, da concorrência, tornando‑se necessária a manutenção</p><p>de boas relações internacionais.</p><p>Já o processo de globalização é aqui entendido como um aprofundamento do processo de</p><p>internacionalização. Dizemos isso pois as relações internacionais são um processo extremamente</p><p>antigo, mas agora, com o desenvolvimento de um maior padrão tecnológico e concorrencial, bem como</p><p>da facilidade advinda dos meios de comunicação e transportes, o processo de globalização trata‑se,</p><p>portanto, de uma maior intensidade na interdependência entre economias. Sendo assim, não encaramos</p><p>a chamada globalização como processo novo e nem como fenômeno, em se tratando de produtos,</p><p>processos produtivos e informações. Tratar‑se‑ia por fenômeno, ou por processo novo, a capacidade e</p><p>intensidade nos fluxos de capital em sua forma monetária, a chamada indústria das finanças, com sua</p><p>valorização autônoma, mas nesse aspecto aplicaríamos o conceito de mundialização.</p><p>Reforçando nosso argumento, dentro do conceito de internacionalização, estaria a capacidade</p><p>adquirida pelos países de manterem trocas de bens de capital e de consumo, de processos produtivos,</p><p>de informações e de capitais no sentido financeiro. No conceito de globalização, estaria apenas a noção</p><p>da maior intensidade, nos dias de hoje, de tais trocas, com exceção da última, quais sejam, as trocas</p><p>214</p><p>Unidade III</p><p>monetárias, que se inserem no conceito de mundialização, ligado aos investimentos externos diretos e</p><p>à valorização autônoma do capital, em sua forma especulativa.</p><p>Dentro desse contexto, a realidade alheia nunca esteve tão próxima da realidade de qualquer</p><p>cidadão</p><p>do mundo, se ele tiver acesso aos meios de comunicação através dos quais se dá a disseminação</p><p>dos acontecimentos mundiais. De fato, as interligações das empresas, das aplicações financeiras, das</p><p>exposições da mídia e do fluxo de pessoas nunca afetaram tanto as pessoas, e os reflexos dos resultados</p><p>da globalização podem ser observados em quaisquer países. A questão é a desigualdade com que isso</p><p>se dá, podendo‑se fazer uma divisão nítida entre países cuja política interna afeta com mais peso as</p><p>políticas de outros países e aqueles que são geralmente mais afetados, fazendo desses últimos dignos da</p><p>colocação de marginalizados da produção intelectual, política e financeira internacional.</p><p>Barbosa (2006) ainda lembra: é importante ressaltar que o processo de globalização nunca foi</p><p>inevitável; por mais que o isolamento de qualquer nação seja impossível, também é improvável a</p><p>aplicação de uma nova ordem global, feito que a globalização não foi ou é um processo homogêneo e</p><p>de igual acesso para todos. Para Stiglitz (2007, p. 62),</p><p>A grande esperança da globalização é que ela elevará os padrões de vida em</p><p>todo o mundo: dará aos países pobres acesso aos mercados externos para</p><p>que possam vender seus produtos, permitirá a entrada de investimentos</p><p>estrangeiros que fabricarão novos produtos a preços menores e abrirá as</p><p>fronteiras, de tal modo que as pessoas possam viajar para o exterior a fim de</p><p>estudar, trabalhar e mandar para a casa dinheiro para ajudar suas famílias e</p><p>financiar novos negócios.</p><p>Esse seria o projeto de globalização, e o mal‑estar presente no imaginário dos políticos, jornalistas e</p><p>da população em geral encontraria explicação não na globalização em si, mas no seu mau gerenciamento.</p><p>Em resumo, a onda neoliberal – hoje caracterizada pelo maior alcance do capital estrangeiro, pela política</p><p>de liberalismo econômico e incentivo à privatização e pelo crescente surgimento de novas tecnologias</p><p>– apresentaria variações em termos de aplicabilidade nos países inseridos no contexto de globalização,</p><p>tornando‑os suscetíveis a crises, à elevação dos juros, ao desemprego e a outros efeitos negativos das</p><p>políticas da conjuntura mundial. Isso explicaria as críticas que cercam as práticas globalizadoras e as</p><p>tentativas de controle da economia por parte dos governos não tão adeptos do excesso de liberdade</p><p>atribuído ao capital do mercado financeiro.</p><p>Internacionalização, mundialização, universalização, ocidentalização. São vários os significados, ora</p><p>complementares, ora opostos. “Faz tempo que a reflexão e a imaginação sentem‑se desafiadas para</p><p>taquigrafar o que poderia ser a globalização do mundo. Essa é uma busca antiga, iniciada há muito</p><p>tempo, continuando no presente, seguindo pelo futuro. Não termina nunca” (IANNI, 1997, p. 23).</p><p>Baumann (1996, p. 34) sustenta que a dificuldade em conceituar o que realmente designa o processo</p><p>de globalização está na variedade de significados que têm sido atribuídos às transformações, já que</p><p>trata‑se de um processo que impacta diversas áreas da economia. Para ele, o start para a globalização</p><p>ocorreu através de alguns acontecimentos e condições favoráveis ao crescimento do comércio</p><p>internacional pós‑Segunda Guerra Mundial.</p><p>215</p><p>ECONOMIA</p><p>Resumo</p><p>Nesta unidade apresentamos as medidas de atividade econômica,</p><p>efetuando uma introdução ao estudo da Teoria Macroeconômica. Vimos</p><p>as diferenças entre os diversos agregados macroeconômicos, bem como</p><p>entre o valor bruto da produção e o valor agregado. Aprendemos ainda</p><p>como se calcula o PIB. Além disso, foram consideradas as políticas de que</p><p>o governo se utiliza para conduzir a sociedade e, nesse sentido, foi possível</p><p>perceber que a macroeconomia estuda a coordenação geral das atividades</p><p>econômicas, isto é, a forma e os meios pelos quais uma economia, com</p><p>milhares de produtos e de agentes, pode funcionar em harmonia e, na</p><p>maioria das vezes, encontrar o equilíbrio ou tender a ele. Porém, como nem</p><p>sempre esse equilíbrio geral é atingido, a macroeconomia também estuda as</p><p>razões ou causas das falhas dessa coordenação, bem como as suas possíveis</p><p>correções, por meio de políticas econômicas apropriadas. Essas falhas se</p><p>manifestam por desequilíbrios, tais como instabilidade do nível de preços,</p><p>do balanço de pagamentos e do crescimento da renda com repercussões</p><p>na oferta de emprego. Diante dessas falhas, temos a condução da política</p><p>econômica como norteadora dos objetivos que um governo pretende traçar</p><p>para sua sociedade.</p><p>A política monetária enfatiza sua atuação sobre os meios de pagamento,</p><p>títulos públicos e taxas de juros, modificando o custo e o nível de oferta do</p><p>crédito. O Banco Central costuma realizar diversos empréstimos, conhecidos</p><p>por empréstimos de assistência a liquidez, às instituições financeiras,</p><p>visando equilibrar suas necessidades de caixa diante de um aumento mais</p><p>acentuado de demanda por recursos de seus depositantes. A esse tipo de</p><p>instrumento dá‑se o nome de operação de redesconto.</p><p>A política fiscal centraliza suas preocupações nos gastos do setor</p><p>público e nos impostos cobrados da sociedade, procurando, por meio de</p><p>maior eficácia no equilíbrio entre a arrecadação tributária e as despesas</p><p>governamentais, atingir determinados objetivos macroeconômicos e</p><p>sociais. Se o governo elevar a cobrança de impostos das empresas, duas</p><p>importantes repercussões estão previstas: redução dos resultados – o que</p><p>torna o capital investido menos atraente –, e também menor capacidade de</p><p>investimento, por acumular menores fluxos de caixa, tornando a empresa</p><p>mais dependente de empréstimos para financiar sua atividade.</p><p>Por sua vez, a política cambial está baseada na administração das taxas</p><p>de câmbio, promovendo alterações das cotações cambiais, e, de forma mais</p><p>216</p><p>Unidade III</p><p>abrangente, no controle das transações internacionais executadas por um</p><p>país. É fixada, na maior parte das vezes, para facilitar as necessidades de</p><p>expansão da economia e promover seu desenvolvimento econômico.</p><p>A unidade finaliza discutindo aspectos relacionados à inflação, sendo</p><p>esta caracterizada pela contínua, persistente e generalizada expansão do</p><p>nível geral de preços. O processo de expansão dos preços, por sua vez, resulta</p><p>em uma perda do poder aquisitivo da moeda e pode, com isso, causar sérios</p><p>distúrbios à economia e à sociedade de forma geral. Geralmente, é um</p><p>processo que prejudica as classes mais pobres da população, na medida</p><p>em que beneficia as classes mais ricas, levando ao aumento do nível de</p><p>desigualdade social.</p><p>Exercícios</p><p>Questão 1. Observe a charge a seguir:</p><p>Disponível em: http://blogreporteronline.files.wordpress.com/2010/12/bolsa_familia_charge.jpg.</p><p>Acesso em: 25 jun. 2011.</p><p>A charge faz referência ao Programa Bolsa Família que, segundo o Ministério do Desenvolvimento</p><p>Social, é um programa:</p><p>de transferência direta de renda com condicionalidades, que beneficia</p><p>famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza. O Programa integra a</p><p>Fome Zero que tem como objetivo assegurar o direito humano à alimentação</p><p>217</p><p>ECONOMIA</p><p>adequada, promovendo a segurança alimentar e nutricional e contribuindo</p><p>para a conquista da cidadania pela população mais vulnerável à fome. O</p><p>Bolsa Família atende mais de 12 milhões de famílias em todo território</p><p>nacional. A depender da renda familiar por pessoa (limitada a R$ 140),</p><p>do número e da idade dos filhos, o valor do benefício recebido pela família</p><p>pode variar entre R$ 32 a R$ 242. Esses valores são o resultado do reajuste</p><p>anunciado em 1º de março e vigoram a partir dos benefícios pagos em abril</p><p>de 2011. Diversos estudos apontam para a contribuição do Programa na</p><p>redução das desigualdades sociais e da pobreza. O 4° Relatório Nacional</p><p>de Acompanhamento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio aponta</p><p>queda da pobreza extrema de 12% em 2003 para 4,8% em 2008. O Programa</p><p>possui três eixos principais: transferência de renda, condicionalidades e</p><p>programas complementares. A transferência de renda promove o alívio</p><p>imediato da pobreza.</p><p>As condicionalidades reforçam o acesso a direitos</p><p>sociais básicos nas áreas de educação, saúde e assistência social. Já os</p><p>programas complementares objetivam o desenvolvimento das famílias, de</p><p>modo que os beneficiários consigam superar a situação de vulnerabilidade.</p><p>Disponível em: http://www.mds.gov.br/bolsafamilia. Acesso em: 20 set. 2014.</p><p>Considerando os dois textos, podemos afirmar que:</p><p>A) O Bolsa Família é ineficaz no combate à fome.</p><p>B) O Estado é sempre incompetente quando se trata de políticas públicas de atendimento às</p><p>demandas sociais.</p><p>C) Um programa como o Bolsa Família, por si só, não resolve o problema da fome e da miséria,</p><p>devendo ser complementado com outras ações.</p><p>D) O combate à fome se apresenta como um esforço inócuo.</p><p>E) Os setores mais pobres da população brasileira estão insatisfeitos com o Bolsa Família.</p><p>Resposta correta: alternativa C.</p><p>Análise das alternativas</p><p>A) Alternativa incorreta.</p><p>Justificativa: se a questão pedisse para considerar apenas a charge, essa seria uma alternativa correta.</p><p>No entanto, o texto explicativo do Ministério do Desenvolvimento Social revela resultados extremamente</p><p>positivos do Programa. Portanto, a análise conjunta do texto e da charge torna a alternativa incorreta.</p><p>218</p><p>Unidade III</p><p>B) Alternativa incorreta.</p><p>Justificativa: se a questão fizesse referência apenas à charge, talvez a alternativa estivesse correta.</p><p>Dizemos talvez porque, no máximo, poderíamos afirmar a incompetência do Estado em relação ao</p><p>problema da fome; jamais, porém, em relação a todas as demandas sociais. De qualquer forma, a questão</p><p>pede para considerarmos também o texto explicativo do Ministério e, fazendo ou não referência única e</p><p>exclusivamente ao problema da fome, não podemos considerar certo o que a alternativa sugere.</p><p>C) Alternativa correta.</p><p>Justificativa: a charge nos remete à ineficácia do Programa e o texto nos mostra resultados. A pergunta</p><p>que poderíamos fazer é: por que, apesar dos resultados positivos, há a percepção de inoperância</p><p>do Programa? Uma resposta provável é que um programa social, por melhor que seja, não resolve</p><p>absolutamente nada se for considerado por si só. O Programa, como o texto explicativo mostra, tem</p><p>provocado efeitos positivos, embora não tenha conseguido resolver o problema da miséria. Não por</p><p>incompetência do Estado (não há qualquer evidência disso em nenhuma das duas fontes), mas pela</p><p>amplitude e pelo tamanho do problema da miséria no país. Portanto, a alternativa está correta.</p><p>D) Alternativa incorreta.</p><p>Justificativa: o texto explicativo do Ministério do Desenvolvimento nos revela que o Programa surte</p><p>resultados, não sendo, portanto, inócua qualquer tentativa no sentido de acabar com o problema da</p><p>fome ou da miséria.</p><p>E) Alternativa incorreta.</p><p>Justificativa: não há na charge, e tampouco no texto explicativo, qualquer menção à insatisfação</p><p>dos setores mais pobres com o Programa. Há a crítica, apenas, de os esforços do governo não serem, até</p><p>o momento, suficientes para resolver o problema da miséria no país.</p><p>Questão 2. A respeito da moeda, considere as afirmativas a seguir:</p><p>I − A moeda constitui‑se em instrumento de troca, promovendo o intercâmbio de certos bens e</p><p>serviços por outros.</p><p>II − A moeda pode também ser utilizada como medida de valor, servindo de parâmetro para se</p><p>apurar o valor monetário de transação de bens e serviços, permitindo, inclusive, comparações.</p><p>III − A função reserva de valor atribui à moeda liquidez absoluta, possibilitando sua conversibilidade</p><p>imediata em qualquer outro ativo.</p><p>Está correto apenas o que se afirma em:</p><p>219</p><p>ECONOMIA</p><p>A) I.</p><p>B) I e II.</p><p>C) II e III.</p><p>D) I e III.</p><p>E) II.</p><p>Resposta correta: alternativa B.</p><p>Análise das afirmativas</p><p>I – Afirmativa correta.</p><p>Justificativa: a moeda é um instrumento de troca, o que explica o seu uso nas relações de troca entre</p><p>os agentes econômicos.</p><p>II – Afirmativa correta.</p><p>Justificativa: a moeda serve como medida de valor, o que inclusive explica a sua utilização como</p><p>meio de troca. Ela permite que se mensure o valor de cada coisa, possibilitando comparações.</p><p>III – Afirmativa incorreta.</p><p>Justificativa: a moeda tem liquidez, mas sua conversibilidade imediata em qualquer outro ativo</p><p>depende da vontade e da disposição dos agentes econômicos durante a relação de troca.</p><p>220</p><p>FIGURAS E ILUSTRAÇÕES</p><p>Figura 1</p><p>3395839321_5612790F27_B.JPG. Disponível em: http://www.ebc.com.br/sites/default/files/styles/large/</p><p>public/3395839321_5612790f27_b.jpg. Acesso em: 26 jan. 2014.</p><p>Figura 3</p><p>APARELHO_DE_TV.JPG. Disponível em: http://radios.ebc.com.br/sites/_radios/files/aparelho_de_tv.jpg.</p><p>Acesso em: 26 jan. 2014.</p><p>Figura 4</p><p>28072011ANT_3456.JPG. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/sites/_agenciabrasil/files/</p><p>imagecache/300x225/gallery_assist/25/gallery_assist675563/prev/28072011ANT_3456.jpg. Acesso em:</p><p>26 jan. 2014.</p><p>Figura 13</p><p>A_28_1.JPG. Disponível em: http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_2141/A_28_1.</p><p>jpg. Acesso em: 21 jan. 2014.</p><p>Figura 14 A)</p><p>61.JPG. Disponível em: http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_2215/61.jpg. Acesso</p><p>em: 22 jan. 2014.</p><p>Figura 14 B)</p><p>072.GIF. Disponível em: http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_9671/072.gif.</p><p>Acesso em: 22 jan. 2014.</p><p>Figura 21</p><p>PET.JPG. Disponível em: http://www.ebc.com.br/sites/default/files/styles/medium/public/pet.jpg. Acesso</p><p>em: 15 fev. 2014.</p><p>Figura 25 A)</p><p>VACA.JPG. Disponível em: http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_8958/vaca.jpg.</p><p>Acesso em: 28 jan. 2014.</p><p>221</p><p>Figura 25 B)</p><p>LEITE.JPG. Disponível em: http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_8958/leite.jpg.</p><p>Acesso em: 28 jan. 2014.</p><p>Figura 27</p><p>5372983686_F445030517_B_0.JPG. Disponível em: http://www.ebc.com.br/sites/default/files/styles/</p><p>large/public/5372983686_f445030517_b_0.jpg. Acesso em: 15 fev. 2014.</p><p>Figura 29</p><p>MILHO_ELZAFIUZA_2308.JPG. Disponível em: http://www.ebc.com.br/sites/default/files/styles/large/</p><p>public/milho_elzafiuza_2308.jpg. Acesso em: 15 fev. 2014</p><p>Figura 31</p><p>COLHEITA_120809_ARQUIVO_ABR_0.JPG. Disponível em: http://www.ebc.com.br/sites/default/files/</p><p>styles/conteudo_ckeditor/public/colheita_120809_arquivo_abr_0.jpg. Acesso em: 15 fev. 2014.</p><p>Figura 39</p><p>MAQUINA_FLEXOGRAFICA_0.JPG. Disponível em: http://www.ebc.com.br/sites/default/files/styles/</p><p>conteudo_ckeditor/public/maquina_flexografica_0.jpg. Acesso em: 26 jan. 2014.</p><p>Figura 40</p><p>PAC‑2.JPG. Disponível em: http://www.ebc.com.br/sites/default/files/styles/large/public/pac‑2.jpg.</p><p>Acesso em: 26 jan. 2014.</p><p>Figura 41</p><p>44.JPG. Disponível em: http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_2198/44.jpg. Acesso</p><p>em: 3 fev. 2014.</p><p>Figura 43</p><p>_114.JPG. Disponível em: http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_8572/_114.jpg.</p><p>Acesso em: 26 jan. 2014.</p><p>Figura 45</p><p>FEIRA‑ORGANICA.JPG. Disponível em: http://www.ebc.com.br/sites/default/files/styles/medium/public/</p><p>feira‑organica.jpg. Acesso em: 26 jan. 2014.</p><p>222</p><p>Figura 47</p><p>LARANJAS1_0.JPG. Disponível em: http://www.ebc.com.br/sites/default/files/styles/conteudo_ckeditor/</p><p>public/laranjas1_0.jpg. Acesso em: 26 jan. 2014.</p><p>Figura 48</p><p>A_8_21.PNG. Disponível em: http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_9375/A_8_21.png.</p><p>Acesso em: 26 jan. 2014.</p><p>Figura 50</p><p>AVIAO_4.JPG. Disponível em: http://www.ebc.com.br/sites/default/files/styles/large/public/aviao_4.jpg.</p><p>Acesso em: 26 jan. 2014.</p><p>Figura 51</p><p>MULTINACIONAL.PNG. Disponível em: http://www.brasilescola.com/upload/e/multinacional.jpg. Acesso</p><p>em: 8 fev. 2014.</p><p>Figura 52</p><p>BAR_CHAIRS_1180.JPG. Disponível em: http://morguefile.com/archive#/?q=restaurantes&sort=pop&p</p><p>hoto_lib=morgueFile. Acesso em: 8 fev. 2014.</p><p>Figura 53</p><p>CONTEUDO_4582/67.JPG. Disponível em: http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/</p><p>conteudo_4582/67.jpg. Acesso em: 18 fev. 2014.</p><p>Figura 57</p><p>85265. Disponível em: http://morguefile.com/archive#/?q=dinheiro&sort=pop&photo_</p><p>lib=morgueFile. Acesso em: 10 fev. 2014.</p><p>Figura 58</p><p>85275. Disponível em: http://www.morguefile.com/archive/#/?q=dolar.</p><p>Acesso em: 10 fev. 2014.</p><p>Figura 59</p><p>16.JPG. Disponível em: http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_8901/16.jpg. Acesso</p><p>em: 10 mar. 2017.</p><p>223</p><p>Figura 60</p><p>SOUZA, N. de J. de. Desenvolvimento econômico. São Paulo: Atlas, 2009. p. 20. Adaptada.</p><p>Figura 61</p><p>A_27_2.JPG. Disponível em: <http://www.objetivo.br/conteudoonline/imagens/conteudo_446/A_27_2.</p><p>jpg>. Acesso em: 7 out. 2016.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>Audiovisuais</p><p>A GUERRA do Fogo. Dir. Jean‑Jacques Annaud. França; Canadá; EUA: International Cinema</p><p>Corporation/Ciné Trail/Belstar Productions/Stéphan Films/Gruskoff Film Organization/Royal Bank of</p><p>Canada/Famous Players, 1981. 100 minutos.</p><p>GERMINAL. Dir. Claude Berri. França; Bélgica; Itália. Renn Productions/France 2 Cinéma/DD</p><p>Productions, 1993. 160 minutos.</p><p>Textuais</p><p>AFEBRAS. Associação dos fabricantes de refrigerantes do Brasil. Produção. Guarapuava, [s.d.].</p><p>Disponível em: http://afrebras.org.br/setor/refrigerante/producao/. Acesso em: 13 fev. 2014.</p><p>BESANKO, D.; BRAEUTIGAM, R. R. Microeconomia: uma abordagem completa. Rio de Janeiro: LTC,</p><p>2004. Disponível em: http://online.minhabiblioteca.com.br/books/978‑85‑216‑1922‑2. Acesso em: 15</p><p>fev. 2014.</p><p>BONENTE, B. I.; CORRÊA, H. 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Portanto, a renda nacional (RN) será o total</p><p>de pagamentos efetuados aos fatores de produção que foram utilizados para a obtenção desse produto.</p><p>Então, estamos dizendo que há uma identidade entre produtos e renda: PN = RN.</p><p>Vejamos um exemplo.</p><p>Tabela 22 – Produção e renda</p><p>Produção Renda</p><p>Sapatos R$ 40.000,00 Salários R$ 25.900,00</p><p>Maças R$ 9.000,00 Juros R$ 10.480,00</p><p>Leite R$ 6.500,00 Aluguel R$ 8.430,00</p><p>Total R$ 55.500,00</p><p>Lucros R$ 10.690,00</p><p>Total R$ 55.500,00</p><p>Do exemplo, temos que o produto total da economia, o produto nacional, foi de R$ 55.500,00 e,</p><p>para que fossem produzidos sapatos, maçãs e leite neste país, foi necessário utilizar trabalhadores,</p><p>capital, terra e capacidade empresarial. Se esses fatores de produção foram utilizados, então eles</p><p>foram remunerados.</p><p>Lembrete</p><p>Lembra que o uso de fatores gera remuneração e que a soma de todas as</p><p>remunerações resulta na renda da sociedade? Explicamos isso na unidade I</p><p>e agora com números.</p><p>O total de produção de sapatos, maçãs e leite gerou R$ 25.900,00 em salários, R$ 10.480,00 de</p><p>juros, R$ 8.430,00 de pagamentos pelo aluguel e, por fim, gerou R$ 10.690,00 de lucros, que foram</p><p>reinvestidos na própria produção. No entanto, essa renda que foi gerada na produção deve retornar à</p><p>produção na forma de consumo.</p><p>Observação</p><p>Estamos, por simplificação, supondo que essa economia hipotética</p><p>produza apenas três bens, mas sabemos que além destes há uma enorme</p><p>variedade. Os valores são meramente ilustrativos.</p><p>154</p><p>Unidade III</p><p>Portanto, chegamos a outra identidade:</p><p>Produto = renda = consumo</p><p>De outra forma:</p><p>Produto nacional = renda nacional = dispêndio nacional</p><p>PN = RN = DN</p><p>Vejamos:</p><p>Tabela 23 – Produção, renda e consumo (em R$)</p><p>Produção Renda Dispêndio</p><p>Sapatos 40.000,00 Salários 25.900,00 Despesas de consumo</p><p>Maçãs 9.000,00 Juros 10.480,00 Alimentação 17.400,00</p><p>Leite 6.500,00 Aluguel 8.430,00 Vestuário 3.420,00</p><p>Lucros 10.690,00 Habitação 7.330,00</p><p>Higiene 1.480,00</p><p>Saúde 5.330,00</p><p>Transporte 2.900,00</p><p>Educação 10.280,00</p><p>Lazer 730,00</p><p>Outras despesas</p><p>Impostos 1.080,00</p><p>Despesas com acumulação</p><p>Poupança 5.550,00</p><p>Total 55.500,00 Total 55.500,00 Total 55.500,00</p><p>Observação</p><p>Ao analisar a tabela anterior, você consegue visualizar o fluxo circular</p><p>da renda? A produção está representando as empresas, a renda representa</p><p>os consumidores e o dispêndio, a renda que retorna às empresas.</p><p>Além dos conceitos de produto nacional, renda nacional e de dispêndio nacional, devemos proceder</p><p>ao conhecimento de outros conceitos, que também surgem por meio do fluxo circular da renda.</p><p>7.3.2 Valor bruto da produção e valor agregado</p><p>Vamos supor que essa economia hipotética da qual estamos tratando produza, além de sapatos,</p><p>maçãs e leite, também pães, já que existem gastos com alimentação, conforme demonstrado pelas</p><p>categorias de dispêndio.</p><p>155</p><p>ECONOMIA</p><p>Sabemos que os pães que nos alimentam quando tomamos nosso café pela manhã não surgem</p><p>do nada, mas, sim, são produzidos por meio da combinação de fatores de produção. Sabemos</p><p>ainda que um dos fatores de produção bastante importante à produção de pães é a farinha, que é</p><p>derivada do trigo.</p><p>O trigo, por sua vez, é proveniente da atividade agrícola, setor primário da economia, e será</p><p>transformado em farinha por meio do processo de industrialização, categorizando, então, o setor</p><p>secundário da economia. Após o trigo ser transformado em farinha, ela será utilizada para, dentre as</p><p>demais coisas, ser transformada em pão a ser comercializado pelo setor terciário da economia.</p><p>Vamos admitir que quem transforma o trigo em farinha não produz esse cereal, mas, sim, o adquire,</p><p>e que o mesmo acontece com o produtor de pães. Ele não produz farinha, mas a compra para utilização.</p><p>Então, no preço do pão estão inclusos os custos de fabricação; da mesma forma, no preço da venda final</p><p>da farinha está incluso o gasto com a aquisição de trigo.</p><p>Vejamos um exemplo que apresenta relações entre diferentes setores de atividade econômica. Os</p><p>setores de atividade econômica são:</p><p>• setor primário: atividades de extração, agricultura e pecuária;</p><p>• setor secundário: atividades da indústria;</p><p>• setor terciário: atividades do comércio e dos serviços.</p><p>Vamos então ao exemplo:</p><p>Tabela 24 – Estágios de produção de pão (em R$)</p><p>Estágios da produção Vendas do período Custos do período Valor adicionado</p><p>Trigo 30,00 – 30,00</p><p>Farinha 50,00 30,00 20,00</p><p>Pão 90,00 50,00 40,00</p><p>Total 170,00 80,00 90,00</p><p>Do exemplo, temos que o trigo foi vendido ao mercado pelo valor de R$ 30,00. Portanto, quem</p><p>comprou o trigo teve um dispêndio total de R$ 30,00. Provavelmente, quem o adquiriu é aquela indústria</p><p>que o transformará em farinha. Após a transformação do trigo, a farinha é vendida ao mercado ao valor</p><p>de R$ 50,00. Como nesse preço de venda está embutido o custo de produção, ou seja, o custo com a</p><p>aquisição de fatores de produção, o que o setor secundário agregou ao produto dessa economia foi</p><p>somente R$ 20,00, ou seja, a diferença entre o preço de venda de sua mercadoria e os valores gastos</p><p>com bens intermediários.</p><p>156</p><p>Unidade III</p><p>Seguindo esse raciocínio, a farinha foi vendida no mercado ao preço de R$ 50,00 e quem a adquiriu</p><p>incorreu em um dispêndio total de mesmo valor. Porém, quem comprou a farinha vai transformá‑la</p><p>em pão, que será o produto da venda do setor terciário da economia. O pão, de acordo com o exemplo,</p><p>será vendido por R$ 90,00, mas, como foram gastos R$ 50,00 em custos de fatores de produção, foram</p><p>agora agregados ao produto nacional dessa economia somente R$ 40,00. Portanto, chegamos a novos</p><p>conceitos: valor bruto e valor agregado.</p><p>Entende‑se por valor bruto da produção o cálculo do que cada ramo de atividade recebeu com as</p><p>vendas de bens, que no exemplo anterior representaria R$ 170,00. Entende‑se por valor agregado ou</p><p>valor adicionado o cálculo do que cada ramo de atividade adicionou ao valor do produto final, em cada</p><p>etapa do processo produtivo, que nesse exemplo é de R$ 90,00.</p><p>Assim, o valor do produto agregado dessa economia é R$ 90,00, que corresponde à produção</p><p>do último bem final dessa economia. Esse valor pode também ser encontrado somando‑se o valor</p><p>adicionado em cada etapa do processo produtivo. Já o valor bruto da produção é a soma do valor de</p><p>cada um dos bens na economia que, no nosso exemplo, é igual a R$ 170,00. Esse valor apresenta o</p><p>problema da dupla contagem, já que no valor de cada produto também foram incluídos os valores dos</p><p>insumos necessários à sua produção, ou seja, o chamado consumo intermediário. Então,</p><p>VBP – VBI = VA</p><p>Onde:</p><p>VA = valor agregado ou valor adicionado.</p><p>VBP= valor bruto da produção.</p><p>VBI = valores de bens intermediários.</p><p>A tabela que segue sumariza os valores encontrados em cada setor de atividade econômica.</p><p>Tabela 25 – Valor bruto da produção, valor de bens intermediários, valor agregado</p><p>Setor de atividade econômica Atividade VBP VBI VA</p><p>Setor primário</p><p>Trigo</p><p>(agricultura)</p><p>30,00 – 30,00</p><p>Setor secundário</p><p>Farinha</p><p>(indústria alimentícia)</p><p>50,00 30,00 20,00</p><p>Setor terciário</p><p>Pão</p><p>(comércio)</p><p>90,00 50,00 40,00</p><p>Total 170,00 80,00 90,00</p><p>157</p><p>ECONOMIA</p><p>Saiba mais</p><p>Convidamos você a visitar a biblioteca virtual e pesquisar em livros de</p><p>macroeconomia, ou mesmo naqueles que tenham o título de Introdução à</p><p>Economia, o que vem a ser o problema da dupla contagem e o porquê da</p><p>maior importância do valor agregado em comparação ao valor bruto da</p><p>produção.</p><p>7.3.3 Demais medidas agregadas</p><p>A partir da identidade macroeconômica básica em que produto é igual à renda, que é igual ao</p><p>dispêndio, podemos verificar então como são demonstradas as demais medidas agregativas de um</p><p>sistema econômico. Iniciaremos pelo produto interno bruto.</p><p>O produto interno bruto, PIB, refere‑se ao valor agregado de todos os bens e serviços finais produzidos</p><p>dentro do território econômico do país, independentemente da nacionalidade dos proprietários das</p><p>unidades produtoras desses bens e serviços,</p><p>excluindo as transações intermediárias. É obtido por meio</p><p>da seguinte fórmula:</p><p>PIB = C + I + G + X + M</p><p>Onde:</p><p>PIB = produto interno bruto.</p><p>C = consumo das famílias.</p><p>I = investimento das empresas.</p><p>G = gastos do governo.</p><p>X = exportações.</p><p>M = importações.</p><p>Outra medida agregada é o produto nacional bruto. O PNB é obtido pelo valor de mercado de todos</p><p>os bens e serviços finais produzidos na economia em um dado período de tempo. Em fórmula:</p><p>PNB = C + I+ G + (X – M)</p><p>Onde:</p><p>Mobile User</p><p>158</p><p>Unidade III</p><p>PIB = produto interno bruto.</p><p>C = consumo das famílias.</p><p>I = investimento das empresas.</p><p>G = gastos do governo.</p><p>(X – M) = exportações líquidas.</p><p>Exemplo de aplicaçãoExemplo de aplicação</p><p>Procure pesquisar nos mais diversos meios de informação por que motivo o Brasil anuncia PIB e os Procure pesquisar nos mais diversos meios de informação por que motivo o Brasil anuncia PIB e os</p><p>Estados Unidos anunciam PNB. Você verá que há um motivo forte.Estados Unidos anunciam PNB. Você verá que há um motivo forte.</p><p>Saiba mais</p><p>Acesse o site do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,</p><p>www.ibge.gov.br, e veja como esse instituto divulga os dados da produção</p><p>dos três setores da economia, bem como a estimação do produto interno</p><p>bruto. Temos certeza de que obterá informações muito interessantes.</p><p>Tendo sido então o PNB definido como o valor de mercado dos bens e serviços finais produzidos na</p><p>economia, em um determinado período de tempo, e que, portanto, é avaliado em termos monetários,</p><p>precisamos observar um aspecto bastante importante.</p><p>Se, por exemplo, anunciamos que de um ano para outro houve aumento da ordem de 25% no PNB</p><p>de um país, resta descobrir o que levou a esse aumento: se foram as quantidades de mercadorias que</p><p>aumentaram ou se foram os preços das mercadorias que sofreram elevação. Para tanto, precisamos</p><p>diferenciar PNB nominal de PNB real. O PNB nominal mede o valor da produção com relação aos preços</p><p>prevalecentes no período durante o qual o bem é produzido. Já o PNB real mede o valor da produção em</p><p>qualquer período com relação aos preços de um ano‑base. Ele nos mostra uma estimativa real ou física</p><p>na produção entre anos específicos.</p><p>Outra medida de atividade econômica pode ser verificada por meio do produto nacional líquido. O</p><p>PNL é o agregado econômico que define o valor dos bens e serviços finais realmente acrescentados à</p><p>riqueza nacional. Consiste na produção líquida total gerada pela economia de um país no período de</p><p>um ano. Ele se diferencia do PNB por considerar apenas os investimentos líquidos, ou seja, exclui dos</p><p>investimentos brutos a depreciação. Desconsidera o desgaste de fatores de produção fixos da economia.</p><p>159</p><p>ECONOMIA</p><p>Desta forma,</p><p>PNL = C + I</p><p>l + G + (X‑M)</p><p>Onde:</p><p>PNL = produto nacional líquido.</p><p>C = despesas com consumo.</p><p>I = despesas com investimentos líquidos.</p><p>G = despesas do governo.</p><p>(X‑M) = exportações líquidas.</p><p>Se o assunto aqui foram as medidas de atividade econômica e, como vimos, estas são avaliadas em</p><p>unidades monetárias, torna‑se interessante considerar questões relacionadas à moeda, outro assunto</p><p>da Teoria Macroeconômica.</p><p>7.4 Considerações acerca da teoria monetária</p><p>Inicialmente, vamos refletir sobre o que vem a ser moeda. A moeda é um artigo utilizado para</p><p>efetuar trocas. Dá‑se moeda em troca de algo. Trabalhamos em troca de moeda. O termo moeda designa</p><p>moedas metálicas e papel moeda, as cédulas que utilizamos.</p><p>Vamos pensar um pouco. A moeda tem valor? Você, por acaso, já encontrou alguém nas ruas</p><p>de sua cidade vendendo moedas, vendendo dinheiro? Possivelmente não. Por qual motivo? Antes</p><p>da resposta, reflita mais um pouco! Qual o valor de uma cédula, nota, de R$ 20,00? Quanto vale</p><p>uma nota de R$ 100,00? Qual o valor de uma moeda metálica de R$1,00? Parece estranho dizer, mas,</p><p>nas economias modernas, as notas bem como as moedas não têm qualquer valor. Representam valor!</p><p>Representar valor significa ter poder aquisitivo. Uma cédula de R$ 50,00 representa um poder de compra</p><p>de cinquenta unidades monetárias. Uma cédula de R$ 10,00 representa um poder de compra de dez</p><p>unidades monetárias e assim por diante. Esse deve ser o motivo pelo qual não encontramos pessoas nas</p><p>ruas vendendo moedas, pois qualquer pessoa não aceitaria vender uma nota de R$ 100,00 por um valor</p><p>mais baixo do que ela vale e também ninguém aceitaria pagar mais do que esse valor pela nota.</p><p>7.4.1 Funções e histórico da moeda</p><p>Podemos pensar que a moeda é uma mercadoria, mas não qualquer mercadoria. Uma mercadoria</p><p>específica, que reúne a propriedade de ser trocada por qualquer outra mercadoria. Basta ter em mãos</p><p>cédulas ou moedas metálicas para poder trocar por qualquer artigo que represente exatamente as unidades</p><p>monetárias incorporadas na moeda. Se tivermos em mãos R$ 80,00, podemos adquirir qualquer mercadoria</p><p>que tenha um preço idêntico ou menor do que esse valor e que esteja disponível para venda, obviamente.</p><p>160</p><p>Unidade III</p><p>Figura 57 – Moeda</p><p>A especial característica que a moeda reúne é a de ser aceita em qualquer situação. Veja um exemplo:</p><p>seria muito difícil, numa economia moderna, adquirir mercadorias pagando, ou trocando, por outras</p><p>mercadorias como à época do escambo. Caso você queira um sapato novo, você não conseguirá trocar no</p><p>mercado pelo seu trabalho direto. Haveria a necessidade de dupla coincidência de desejos: o seu desejo em</p><p>ter os sapatos e o do vendedor em utilizar sua força de trabalho. Agora, de posse da moeda, tudo fica mais</p><p>fácil. Se o vendedor coloca à venda os sapatos que você deseja, basta que você tenha poder de compra,</p><p>representado pela moeda, e os compre, pagando em moeda. Pronto. Efetuamos uma troca indireta. Moeda</p><p>por mercadoria, no caso do comprador, e mercadoria por moeda, no caso do vendedor.</p><p>Observação</p><p>Se a moeda, então, pode ser pensada como uma mercadoria, mas uma</p><p>mercadoria especial, ela deve também desempenhar algumas funções.</p><p>Devido ao desenvolvimento da divisão do trabalho que especializou pessoas e empresas como</p><p>produtores de mercadorias, nas economias modernas há um volume absurdamente grande de</p><p>mercadorias à disposição da sociedade. Ainda mais: com a divisão do trabalho, os agentes econômicos</p><p>tornaram‑se cada vez mais interdependentes uns dos outros, cada um depende do trabalho do outro ou</p><p>depende, para seu bem‑estar, da produção do outro (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011). Dessa forma,</p><p>um volume grandioso de trocas indiretas é realizado e, nesse aspecto, a moeda desempenha uma de</p><p>suas principais funções: ser intermediária de trocas (meio de trocas).</p><p>A função de intermediária de trocas, ou, se preferir, meio de troca, ou ainda, meio de pagamento,</p><p>permite que mercadorias sejam compradas e vendidas em diferentes períodos de tempo sem depender</p><p>da coincidência de desejos. Além de servir como intermediário de trocas, a moeda exerce ainda outras</p><p>duas funções básicas: servir como unidade de conta e também como reserva de valor.</p><p>161</p><p>ECONOMIA</p><p>A função unidade de conta da moeda está representada nos diversos contratos existentes na</p><p>economia. Em um contrato de trabalho, por exemplo, a função unidade de conta aparece no valor do</p><p>salário ali grafado: x unidades monetárias. Num contrato de prestação de serviços, também desempenha</p><p>sua função unidade de conta no valor que será pago pelo contratante ao contratado, mediante o</p><p>serviço prestado. Está ainda representada nos preços dos produtos. Uma camisa, por exemplo, que está</p><p>à disposição numa vitrine de uma loja qualquer: lá está, possivelmente numa etiqueta, a indicação do</p><p>valor daquele produto, tantas unidades monetárias. Ali está, portanto, a moeda exercendo sua função</p><p>de unidade de conta. Outro nome que pode ser atribuído a essa função da moeda é moeda de conta. A</p><p>moeda de conta, que aparece ou nos contratos ou nos preços dos produtos, determina qual o montante</p><p>de moeda corrente necessário para aquela troca.</p><p>Uma última função desempenhada pela moeda é servir de reserva de valor. De posse de unidades</p><p>monetárias, e dada a existência</p><p>de mercados à vista e a prazo, seu possuidor tem o direito de reservar</p><p>tal moeda para consumo ou para pagamento futuro. Em economias com estabilidade monetária (sem</p><p>inflação), a moeda consegue exercer tal função, de poder reservar ou preservar seu valor ao longo do</p><p>tempo. Em períodos de inflação elevada, a erosão dos ativos monetários será uma consequência.</p><p>Para que a moeda desempenhe suas funções, algumas características, particulares devem ser</p><p>reunidas. Dentre as características estão as econômicas, entendidas como custo de estocagem e custo de</p><p>transação negligenciáveis ou próximos de zero. O que isso significa? Significa que para manter moeda,</p><p>seu custo é zero e que transportar moeda também tenha um custo zero. As outras características da</p><p>moeda, as físicas, dizem que a moeda deve ser divisível, durável, que haja dificuldade em falsificação,</p><p>que exista manuseabilidade e que também seja favorecida sua transportabilidade. Somente reunindo</p><p>características físicas e econômicas a moeda consegue exercer suas funções de intermediária de trocas,</p><p>unidade de conta e reserva de valor (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).</p><p>É necessário efetuar um “passeio” pela história e conhecer as diversas formas que a moeda assumiu</p><p>ao longo dos tempos. Desde a antiguidade, os povos utilizam moeda para efetuar trocas de mercadorias.</p><p>Inicialmente as trocas eram efetuadas de forma direta, pois o homem vivia em pequenas comunidades,</p><p>nas mais primitivas culturas, em que a economia funcionava à base de escambo. Esse sistema exigia a</p><p>coincidência de desejos, pois apenas produtos encontravam‑se disponíveis para trocas. Conforme Passos</p><p>e Nogami:</p><p>[...] imaginem um indivíduo que tenha maçãs e queira castanhas. Seria</p><p>uma coincidência fora do comum encontrar um outro indivíduo que</p><p>tivesse gostos exatamente opostos, ansioso por vender castanhas e</p><p>comprar maçãs. Ainda que aconteça o fora do comum, não há garantia</p><p>de que os desejos das duas partes, no que se refere às quantidades e aos</p><p>termos de troca exatos, coincidam. Da mesma forma, a menos que um</p><p>alfaiate faminto encontre um fazendeiro nu que tenha alimentos e o</p><p>desejo de ter um par de calças, nenhum dos dois pode realizar o negócio</p><p>(PASSOS; NOGAMI, 2003, p. 446).</p><p>162</p><p>Unidade III</p><p>Observação</p><p>Percebe‑se, então, que com o desenvolvimento da divisão do trabalho</p><p>e a maior especialização na produção de mercadorias, a prática rudimentar</p><p>de escambo é dificultada.</p><p>Nos primórdios, o homem vivia em pequenas comunidades de uma única família, e se utilizava</p><p>da vegetação e da caça disponíveis na região que habitava. Esses recursos eram os únicos com os</p><p>quais contava para a sua subsistência. Imagine um agricultor de cenouras, por exemplo. Se ele produz</p><p>cenouras, o produto de seu trabalho são cenouras. Só que, não só de cenouras vive tal agricultor e</p><p>sua família, eles dependem da produção alheia para sobreviver. Dependem, portanto, da troca de seu</p><p>excedente pelo excedente de produção de outra pessoa. Suponha que tal agricultor de cenouras precise</p><p>adquirir carne para sua alimentação. O que ele tem para trocar são cenouras e precisará encontrar no</p><p>mercado algum produtor que venda carnes e que deseje cenouras em troca. Fácil, não? Não, não é fácil!</p><p>E o manuseio? E o transporte? E a durabilidade, características físicas da moeda? E a divisibilidade?</p><p>Parece realmente não ser fácil.</p><p>Assim, as sociedades se empenharam para desenvolver um sistema em que um equivalente geral</p><p>fosse aceito como meio de trocas, iniciando, desse modo, um sistema de trocas indiretas que passa</p><p>a ser intermediado por algum bem que represente aceitação e curso geral. Estamos tratando da Era</p><p>Mercadoria‑Moeda ou, simplesmente, moedas‑mercadorias. Foram utilizadas como moedas‑mercadorias</p><p>o gado, o fumo, o azeite de oliva, os escravos, o sal, dentre outros produtos.</p><p>Lembrete</p><p>Para que uma mercadoria possa ser utilizada como moeda, ela deve</p><p>apresentar as características de durabilidade, divisibilidade, homogeneidade,</p><p>bem como facilidade no manuseio e transporte, características que não</p><p>eram reunidas em alguns dos exemplos anteriormente citados, apesar de as</p><p>moedas‑mercadorias terem facilitado um pouco a vida dos agentes.</p><p>Outra forma de moeda utilizada pelas sociedades antigas foram as moedas preciosas, representando</p><p>a Era da Moeda Metálica ou do Metalismo, notadamente pelo uso do ouro e da prata. Também fizeram</p><p>parte desse período o cobre, o bronze, o ferro. O ouro, em barra, tem um valor incorporado. O mesmo</p><p>ocorre com as unidades de prata. São mercadorias que, por não apresentarem depreciação, carregam</p><p>seu valor ao longo dos tempos, permitindo às pessoas guardá‑las para serem utilizadas em trocas de</p><p>mercadorias no melhor momento. Apesar de mais se assemelharem com as funções e características da</p><p>moeda, são também mercadorias que, para serem trocadas por outras, dependem da dupla coincidência</p><p>de desejos. Novamente: e o manuseio? E o transporte? E a durabilidade, características físicas da</p><p>moeda? E a divisibilidade? Parece que o ouro e a prata também não foram as melhores alternativas</p><p>para a moeda, daí então que a sociedade caminha para outra forma alternativa: a Era da Moeda‑Papel</p><p>(JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).</p><p>163</p><p>ECONOMIA</p><p>Conforme Passos e Nogami,</p><p>[...] a moeda representativa ou moeda‑papel veio eliminar, portanto, as</p><p>dificuldades que os comerciantes enfrentavam em seus deslocamentos pelas</p><p>regiões europeias, facilitando a efetivação de suas operações comerciais e</p><p>de crédito, especialmente entre as cidades italianas e a região de Flandres. A</p><p>sua origem está na solução encontrada para que os comerciantes pudessem</p><p>realizar os seus empreendimentos comerciais. Em vez de partirem carregando</p><p>a moeda metálica, levavam apenas um pedaço de papel denominado</p><p>certificado de depósito, que era emitido por instituições conhecidas como</p><p>‘Casas de Custódia’, e onde os comerciantes depositavam as suas moedas</p><p>metálicas, ou quaisquer outros valores, sob garantia (PASSOS; NOGAMI,</p><p>2003, p. 451).</p><p>Tal modalidade de moeda, um papel, um certificado de depósito, desempenhava boa função. Tinha</p><p>nele incorporado um valor representativo, inicialmente com lastro de 100% e garantia de aceitação, vez</p><p>que representava ali uma determinada quantidade de valor. Dessa modalidade, a sociedade avança para</p><p>outro tipo de moeda: a moeda fiduciária ou papel‑moeda. Moeda fiduciária, de fidúcia, garantia. Para</p><p>Lopes e Rossetti,</p><p>[...] a experiência de custódia e da conversibilidade mostrou que o lastro</p><p>metálico integral (de 100%) em relação aos certificados em circulação não</p><p>era necessário para a operacionalização desse novo sistema monetário. Essa</p><p>constatação decorreu da percepção de que a reconversão da moeda‑papel</p><p>em metais preciosos não era solicitada por todos os seus detentores ao</p><p>mesmo tempo. Além disso, enquanto uns solicitavam a reconversão, outros</p><p>ensejavam novas emissões, levando às casas de custódia novas quantidades</p><p>de ouro e prata para depósito (LOPES; ROSSETTI, 2005, p. 33).</p><p>Vamos entender melhor isso. As casas de custódia funcionavam como uma espécie de banco, onde</p><p>alguns agentes depositavam barras de ouro, bem como suas peças de prata e, em troca, recebiam um</p><p>papel representando aquele valor.</p><p>Quilos de ouro x preço do ouro = valor do ouro.</p><p>Valor do ouro depositado = um papel escrito o quanto vale.</p><p>De posse de tal documento, papel‑moeda, exerciam suas trocas comerciais. O recebedor de tal</p><p>documento possuía agora o direito de ir até a casa de custódia e resgatar o valor ali identificado.</p><p>Tal reconversão nem sempre era necessária de forma que grande quantidade de ouro permanecia</p><p>depositada em tais casas e os “guardiões dos metais preciosos” podiam começar a emitir papéis não</p><p>mais lastreados (LOPES; ROSSETTI, 2005, p. 33). Inaugura‑se, então, um período em que a emissão de</p><p>papel‑moeda será exercida por particulares até que o governo chame para si tal responsabilidade.</p><p>164</p><p>Unidade III</p><p>Da modalidade de moeda fiduciária (papel‑moeda) até a modalidade da moeda bancária,</p><p>manual ou</p><p>escritural como conhecemos na atualidade, foi questão de tempo.</p><p>7.4.2 Da moeda aos meios de pagamento</p><p>Consideradas todas as formas que a moeda assumiu durante os tempos, podemos verificar as formas</p><p>que assume numa economia moderna como a de nossos tempos. Assim, podemos dizer que, sobre o</p><p>montante de moeda que temos à nossa disposição, os meios de pagamento (MP) dividem‑se em papel</p><p>moeda em poder do público (PMPP) e os depósitos à vista nos bancos comerciais (DVbc). Portanto,</p><p>MP = PMPP + DVbc</p><p>Ademais, podemos considerar ser PMPP moeda manual (cédulas e moedas metálicas) e DVbc moeda</p><p>escritural (depósitos ou representação de saldos positivos e/ou negativos em contas correntes). Para</p><p>que PMPP seja efetivamente utilizado pela coletividade, o Banco Central, na qualidade de autoridade</p><p>monetária, precisa emitir moeda, PME, ou seja, papel‑moeda emitido. No entanto, nem todo PME</p><p>converte‑se em PMPP, pois o próprio Banco Central retém parte desses recursos. Portanto,</p><p>Papel moeda em circulação = papel moeda emitido – caixa do Banco Central (retenção)</p><p>Por sua vez, os bancos comerciais também não colocam à disposição da sociedade todo o volume monetário</p><p>de que o Banco Central injetou. Parte desses recursos, os bancos comerciais retêm em encaixe técnico. Assim,</p><p>Papel moeda em circulação = papel moeda emitido – caixa do Banco Central – encaixe técnico bancário</p><p>Vimos que a moeda manual é criada pela autoridade monetária e chega às mãos da coletividade</p><p>via bancos comerciais. Esses últimos são responsáveis pela expansividade dos meios de pagamento por</p><p>meio da criação de moeda escritural. A moeda escritural é criada, então, pelos bancos comerciais a partir</p><p>do recebimento de depósitos à vista. Por meio de uma operação contábil, dá‑se a criação de meios de</p><p>pagamento, e tal atividade aparece no balancete do banco comercial onde, a título de exemplo, no lado</p><p>do passivo são registrados valores de depósitos recebidos e no lado do ativo são registrados todos os</p><p>empréstimos concedidos a partir dos recursos recebidos pelos depósitos à vista.</p><p>7.5 O setor público na economia e a política econômica</p><p>Para que seja possível compreender o papel que o governo desempenha em economias capitalistas,</p><p>bem como a importância da política econômica, começaremos com as funções do governo e seus objetivos.</p><p>É consenso entre os autores Nascimento (2014), Giacomoni (2012), Giambiagi e Além (2008), Riani</p><p>(2012) e Matias‑Pereira (2012) que deve‑se a Richard Musgrave a definição do que são as funções do</p><p>governo. Segundo Giacomoni (2012, p. 22),</p><p>165</p><p>ECONOMIA</p><p>Richard Musgrave propôs uma classificação das funções econômicas do</p><p>Estado, que se tornaram clássicas no gênero. Denominadas as “funções fiscais”,</p><p>o autor as considera também como as próprias “funções do orçamento”,</p><p>principal instrumento de ação estatal na economia. São três as funções:</p><p>a) promover ajustamentos na alocação de recursos (função alocativa); b) promover</p><p>ajustamentos na distribuição de renda (função distributiva); e c) manter a</p><p>estabilidade econômica (função estabilizadora).</p><p>Vejamos então as três funções básicas conforme identificadas no excerto anterior.</p><p>Função alocativa</p><p>Designa a alocação de recursos pela atividade estatal quando não houver eficiência da iniciativa</p><p>privada ou quando a natureza da prática indicar a necessidade da presença do Estado. A intervenção</p><p>estatal na alocação de recursos justifica‑se naqueles casos que não são de interesse do setor privado.</p><p>É o processo pelo qual o governo divide os recursos para utilização no setor público e privado, oferecendo</p><p>bens públicos, semipúblicos e meritórios, como rodovias, segurança, educação, saúde aos cidadãos.</p><p>Dessa forma, está associada ao fornecimento de bens e serviços não oferecidos adequadamente</p><p>pelo sistema de mercado (NASCIMENTO, 2014). Nesse sentido, cabe ao governo decidir pelo tipo e pela</p><p>quantidade de bens públicos que ofertará, ou seja, a quais tipos de necessidades atenderá.</p><p>Conforme Riani (2012), para assegurar uma alocação mais eficiente dos recursos, o governo não</p><p>precisa produzir ou gerar diretamente o bem ou o serviço. Ele poderá fazê‑lo ou induzir a oferta pelo</p><p>setor privado. Nesse aspecto, existem quatro possibilidades de atuação:</p><p>• alocação por parte do governo de recursos diretos para a produção e, portanto, a oferta dos bens,</p><p>de que são exemplos a defesa nacional e seus serviços de segurança pública;</p><p>• compras governamentais em que o governo adquire a produção efetuada por outras empresas</p><p>e repassa os bens à sociedade, de que são exemplos medicamentos, merenda escolar ou mesmo</p><p>campanha de vacinação;</p><p>• indução do setor privado a aumentar a produção via subsídios ou incentivos fiscais, favorecendo</p><p>a produção e provocando queda de preços de venda, beneficiando determinada população;</p><p>• empresas estatais em que o governo chama para ele a responsabilidade da produção de algum</p><p>bem ou serviço que não seja oferecido pela iniciativa privada.</p><p>Função distributiva</p><p>Nem sempre toda a riqueza que é gerada em um país é distribuída de forma igualitária entre seus</p><p>pertencentes, o que, por vezes, gera a chamada desigualdade social. Nesse sentido, Riani (2012, p. 22)</p><p>esclarece que:</p><p>166</p><p>Unidade III</p><p>fatores tais como oportunidade educacional, mobilidade social, habilidade</p><p>individual, mercado de trabalho, propriedades dos fatores de produção etc. levam,</p><p>dentro de uma economia de livre mercado, a desigualdades na apropriação da</p><p>renda e da riqueza gerada pelo sistema econômico. [...]. O mercado funcionando</p><p>livremente sem a interferência do governo não se preocupará com a concentração</p><p>de renda e da riqueza, uma vez que as atividades econômicas alcancem seus</p><p>objetivos, atingindo frações segmentadas da sociedade detentoras de recursos</p><p>para suas compras. Assim, a possibilidade espontânea da desconcentração da</p><p>renda torna‑se ilusória.</p><p>Diante o exposto, vê‑se que cabe ao Estado promover a melhoria na distribuição da renda por</p><p>intermédio do gasto público como principal instrumento de política pública. Essa afirmação apoia‑se</p><p>em Nascimento (2014, p. 80), segundo o qual a “função distributiva refere‑se à distribuição, por parte</p><p>do governo, de rendas e riquezas”.</p><p>Por outro lado, Rezende (2012), bem como Giambiagi e Além (2008) destacam que, além dos gastos</p><p>governamentais a exemplo de transferências, a tributação progressiva aliada aos subsídios auxiliam</p><p>no processo de distribuição do produto. Enquanto os programas de transferência apresentam‑se de</p><p>forma direta quanto à redistribuição, a tributação progressiva oferece condições de o governo arrecadar</p><p>recursos das camadas mais abastadas da sociedade e utilizá‑los como forma de financiamento de</p><p>programas voltados para a parcela da população de mais baixa renda. Aqui, a forma de redistribuição</p><p>seria uma melhoria dos atendimentos públicos nos sistemas de saúde ou mesmo nos utilizados para</p><p>financiamento da construção de moradias populares.</p><p>Giacomoni (2012, p. 25) complementa que, por mais que as políticas distributivas estejam inseridas</p><p>no ambiente de correção de falhas de mercado, acabam por vezes sendo encaradas como “problemas</p><p>de política e de filosofia social” pois cabe à sociedade avaliar o que vem a ser justiça distributiva.</p><p>Concordando que a distribuição de renda também seja uma questão de orçamento público, são exemplos</p><p>de política pública com efeito distributivo: educação gratuita, capacitação profissional e programas de</p><p>desenvolvimento comunitário.</p><p>Saiba mais</p><p>Conheça mais sobre os programas de distribuição de renda no Brasil e</p><p>seus efeitos na economia. Para tanto, convidamos a ler o texto:</p><p>SOUZA, A. P. Políticas de distribuição de renda no Brasil e o Bolsa‑família:</p><p>texto para discussão n. 281. C‑Micro Working Paper Series, n. 1, maio de 2011.</p><p>Disponível em: https://bityli.com/9iRSL. Acesso em: 19 mar. de 2020.</p><p>167</p><p>ECONOMIA</p><p>Função estabilizadora</p><p>A função estabilizadora está estreitamente ligada ao desemprego e à inflação enquanto falhas de</p><p>mercado pois, de forma</p><p>abrangente, visa assegurar um desejável nível de emprego e estabilidade nos</p><p>preços que não são totalmente controlados pelo sistema de livre mercado. Conforme Riani (2012, p. 22),</p><p>quando o desemprego prevalece, o governo aumenta o nível de demanda</p><p>no mercado, elevando seus gastos ou diminuindo seus tributos, recolocando</p><p>a produção no pleno emprego. Por outro lado, se há inflação, o governo</p><p>pode reduzir a demanda de mercado, ajustando seus gastos e/ou a carga</p><p>tributária, o que contribui para a diminuição e controle de preços.</p><p>Do ponto de vista da política fiscal, o governo pode corrigir o desemprego como falha de mercado</p><p>pela elevação dos gastos públicos, aumentando a quantidade de dinheiro no sistema econômico, o</p><p>que incentiva a sociedade a elevar o consumo, bem como as empresas a aumentarem seus níveis</p><p>de produção.</p><p>Dessa forma, com maior produção, as empresas passam a contratar maior quantidade de pessoas, o</p><p>que expande a renda. O mesmo efeito será gerado se a opção for pelo uso da diminuição de tributação.</p><p>Porém, com a expansão da demanda, os preços sobem, o que ocasiona inflação. Assim, paralelamente, o</p><p>governo pode utilizar demais instrumentos, a exemplo da política monetária, para manter a estabilidade</p><p>de preços.</p><p>7.5.1 Política monetária</p><p>Agora temos condições de tratar das questões relacionadas à política monetária. Entende‑se por</p><p>política monetária toda ação tomada pelo Banco Central com relação ao padrão monetário de um país.</p><p>O Banco Central, considerada autoridade monetária em qualquer país, além de demais atividades, tem a</p><p>função de preservar o valor da moeda ao longo do tempo. É responsável pelo controle direto da liquidez</p><p>no sistema econômico de determinado país. Para o Banco Central desempenhar suas funções, ele pode</p><p>adotar alguns instrumentos de política monetária. São eles:</p><p>• emissão de moeda;</p><p>• administração da taxa de juros;</p><p>• coeficiente de recolhimento compulsório;</p><p>• operação de redesconto;</p><p>• operação de open market;</p><p>• seleção do crédito.</p><p>168</p><p>Unidade III</p><p>Observação</p><p>Entre as principais atribuições de competência do Banco Central do</p><p>Brasil no sistema monetário e financeiro nacional, podemos destacar:</p><p>• Fiscalizar as instituições financeiras, aplicando, quando necessário,</p><p>as penalidades previstas em lei. Essas penalidades podem ir desde</p><p>uma simples advertência aos administradores até a intervenção para</p><p>saneamento ou liquidação extrajudicial da instituição.</p><p>• Conceder autorização às instituições financeiras, no que se refere</p><p>ao funcionamento, instalação ou transferências de suas sedes, e aos</p><p>pedidos de fusão e incorporação.</p><p>• Executar a emissão de moeda e controlar a liquidez do mercado,</p><p>bem como efetuar as operações de compra e venda de títulos</p><p>públicos e federais.</p><p>Vejamos as características de cada um dos instrumentos de política monetária.</p><p>A emissão monetária é a forma primária de controle monetário por parte do governo, pois expande</p><p>e contrai o volume de moeda disponível na economia, de acordo com seus objetivos. Com isso, é possível</p><p>controlar a liquidez da economia e, por consequência, o multiplicador bancário – capacidade dos bancos</p><p>comerciais expandirem meios de pagamento – também é controlado.</p><p>Entende‑se por recolhimento compulsório a reserva legal determinada pelo Banco Central.</p><p>Trata‑se da parcela dos depósitos à vista e a prazo que os bancos devem manter em caixa ou junto ao</p><p>Banco Central. Para que você entenda melhor: os bancos comerciais são obrigados por lei a repassar</p><p>ao Banco Central certa quantidade dos depósitos à vista que a coletividade efetua. Assim, o Banco</p><p>Central regula a liberdade de os bancos comerciais negociarem todo o volume de dinheiro que têm</p><p>à sua disposição e exercita a sua função de banqueiro dos bancos e salvaguarda os direitos dos</p><p>correntistas (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).</p><p>Da mesma forma que os bancos comerciais estão obrigados a repassar parte de seus saldos monetários</p><p>captados por meio dos depósitos à vista, podem, quando necessário e atendendo a certas exigências,</p><p>solicitar auxílio ao Banco Central. Para tanto, utilizam‑se da operação de redesconto.</p><p>Com esse instrumento de política monetária, o Banco Central tem o objetivo de auxiliar instituições</p><p>financeiras em dificuldades monetárias. Tal instrumento é acionado por bancos comerciais que já recorreram</p><p>ao mercado interbancário na tentativa de cobrir seus saldos deficitários e não obtiveram sucesso por motivo</p><p>justificado. Portanto, a última opção seria pedir ajuda, ou cobertura monetária, junto ao Banco Central.</p><p>Nesse aspecto, o Banco Central desempenha outro papel que é o de ser emprestador de última</p><p>instância. Motivo: quando um banco comercial recorre a ele para cobrir possível déficit de caixa, faz</p><p>169</p><p>ECONOMIA</p><p>com que o Banco Central intensifique sua fiscalização naquele banco. O Banco Central emprestará os</p><p>recursos necessários, mas a taxas de juros punitivas.</p><p>Outro instrumento de política monetária é a operação de open market, ou, se preferir, operação</p><p>de mercado aberto. É com esse instrumento que o Banco Central efetua leilões de venda e compra de</p><p>títulos públicos para arrecadar recursos com a sociedade, para efetuar gastos ou simplesmente diminuir</p><p>liquidez, ou para recomprar os títulos vendidos anteriormente.</p><p>Se admitirmos um open market de venda, significa que o Banco Central está vendendo títulos</p><p>públicos, colocando‑os à disposição para a aplicação por parte da sociedade e, dessa forma, retirando</p><p>moeda de circulação. Esse é um exemplo de política monetária contracionista. De outra forma, será</p><p>expansionista quando for utilizado um open market de compra. Assim, o Banco Central devolve os</p><p>recursos tomados emprestados anteriormente.</p><p>No Brasil atual, o principal instrumento de política monetária utilizado é a administração da taxa</p><p>de juros. Podemos entender por juros o custo da moeda, do dinheiro. Agentes superavitários de moeda,</p><p>que têm poupança ou qualquer outra aplicação financeira, recebem juros por deixar seu dinheiro à</p><p>disposição para uso de outrem. De forma contrária, agentes deficitários de moeda pagam juros quando</p><p>necessitam de recursos que são de outra pessoa.</p><p>O juro é uma variável muito importante na economia e, por essa razão, um dos mais importantes</p><p>instrumentos de política monetária. São trabalhados como taxa, taxa de juros, e toda vez que essa taxa</p><p>sobe, investimentos industriais produtivos são freados, desencorajados, pois um empresário que toma</p><p>junto a um banco certa quantia de dinheiro para investir na produção deve levar em consideração o</p><p>quanto pagará pela tomada de empréstimo e o quanto receberá de lucros pelo investimento produtivo</p><p>efetuado. Assim, dada uma taxa de juros mais elevada num tempo qualquer, o custo do dinheiro</p><p>também fica mais elevado. O mesmo ocorrerá com o custo do crédito. Diante uma taxa de juros mais</p><p>elevada, o crédito ao consumidor também sobe, pois as sociedades de crédito cobrarão um preço mais elevado</p><p>pelo montante de dinheiro que emprestarão. Resultado: diminuição dos investimentos na produção,</p><p>conforme o caso do nosso empresário, e também diminuição do consumo por parte de nosso cidadão</p><p>tomador de crédito. Quando os empresários não investem na produção e os consumidores não adquirem</p><p>produtos, temos a queda da produção de mercadorias, do emprego e da geração de renda. A economia</p><p>entra, então, num processo recessivo, contracionista (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).</p><p>Saiba mais</p><p>Você pode obter mais informações acerca do uso da política monetária</p><p>no site do Banco Central do Brasil:</p><p>www.bcb.gov.br</p><p>Procure pelas Atas de Reunião do COPOM – Comitê de Política Monetária.</p><p>Nas Atas, você poderá perceber de que forma a política monetária está</p><p>sendo conduzida no Brasil.</p><p>170</p><p>Unidade III</p><p>7.5.2 Política fiscal</p><p>A política fiscal compreende ações do governo relacionadas ao seu orçamento, o Orçamento do</p><p>Setor Público. Ela definirá o quanto o governo irá arrecadar e o quanto poderá gastar. O Estado adquire</p><p>receita via impostos, tributos e</p><p>taxas, pagas pelo contribuinte, no intuito de manter a ordem e os</p><p>serviços providos pelo governo.</p><p>A arrecadação governamental, chamada de receita do governo é feita via produção, circulação e consumo</p><p>de mercadoria, além de movimentações financeiras, renda, entre outros. Para Judensnaider e Manzalli (2011),</p><p>entre os principais geradores de renda do governo, citamos como exemplo, e de forma genérica:</p><p>• Receitas provenientes da produção e circulação de mercadorias:</p><p>— Circulação de mercadorias: ICMS (imposto sobre circulação de mercadorias e serviços).</p><p>— Produção industrial: IPI (imposto sobre produtos industrializados).</p><p>• Receitas provenientes da geração e apropriação da renda:</p><p>— Geração de renda: IR (imposto de renda).</p><p>• Receitas provenientes da propriedade, da acumulação de capital e das relações internacionais:</p><p>— Sobre a propriedade: IPTU (imposto predial e territorial urbano).</p><p>—― Sobre herança: IH (imposto sobre herança).</p><p>— Sobre operações financeiras: IOF (imposto sobre operações financeiras).</p><p>— Sobre relações internacionais: II (imposto sobre importações).</p><p>O governo realiza gastos no intuito de suprir as necessidades da população não preenchidas pela</p><p>iniciativa privada. Entre esses gastos, estão:</p><p>• máquina do governo: manutenção dos serviços básicos e administrativos;</p><p>• investimentos: construção de escolas, hospitais, rodovias, entre outros;</p><p>• transferência de renda: programas que visam a auxiliar a população de baixa renda.</p><p>Uma política fiscal será expansionista quando o governo aumenta seus gastos ou mesmo quando</p><p>diminui a carga tributária sobre a sociedade. Ou seja, quando repassa maior volume de recursos</p><p>monetários para a sociedade por meio de seus gastos ou quando deixa a sociedade com maior volume</p><p>de dinheiro, diminuindo sua arrecadação.</p><p>171</p><p>ECONOMIA</p><p>Quando o governo adota uma política fiscal expansionista, alguns efeitos na economia são gerados:</p><p>• descontrole das contas públicas, pois os gastos podem ser, em algum momento, superiores às</p><p>receitas e, dessa forma, o governo não consegue formar poupança;</p><p>• aumento da inflação, uma vez que haverá maior volume de dinheiro em circulação, aumentado o</p><p>consumo e os preços dos produtos;</p><p>• redução na credibilidade externa devido ao descontrole orçamentário;</p><p>• redução dos investimentos empresariais, pois o governo assume a liderança de aumentar a</p><p>demanda agregada via gastos governamentais e produção;</p><p>• redução do desemprego, por ativar a atividade econômica (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).</p><p>E no caso de uma política fiscal contracionista? As consequências, dentre outras, serão:</p><p>• equilíbrio nas contas do governo ou o que podemos chamar de superávit orçamentário;</p><p>• aumento da credibilidade no exterior, devido austeridade;</p><p>• elevação dos níveis de investimento estrangeiros, pois o país transmite maior segurança administrativa;</p><p>• diminuição das transferências governamentais com relação à sociedade.</p><p>O governo necessita da política fiscal para poder prover a sociedade de bens públicos. Os bens</p><p>públicos são aqueles cujo consumo/uso é indivisível. Em outras palavras, o seu consumo por parte</p><p>de um indivíduo ou de um grupo social não prejudica o consumo do mesmo bem pelos demais</p><p>integrantes da sociedade. Ou seja, todos se beneficiam da produção de bens públicos mesmo que,</p><p>eventualmente, alguns mais do que outros. São exemplos de bens públicos os bens tangíveis, como</p><p>as ruas ou a iluminação pública, e os bens intangíveis, como a justiça, a segurança pública e a</p><p>defesa nacional.</p><p>Ademais, para poder arcar com as funções alocativa, distributiva e estabilizadora, o governo</p><p>precisa gerar recursos. Como vimos, dentre as diversas fontes de receita, a principal é a arrecadação</p><p>tributária. A fim de aproximar um sistema tributário do “ideal” é importante que alguns aspectos</p><p>principais sejam observados.</p><p>Um dos princípios da tributação, chamado princípio dos benefícios, diz que as pessoas deveriam</p><p>pagar os impostos com base nos benefícios que recebem dos serviços do governo. Esse princípio tenta</p><p>tornar os bens públicos semelhantes aos bens privados, para chegar, por aproximação, ao valor dos bens</p><p>para o agente que o adquire.</p><p>172</p><p>Unidade III</p><p>Por sua vez, o princípio da capacidade de pagamento versa que os impostos deveriam ser cobrados</p><p>de acordo com a possibilidade que o agente tem de suportar o imposto. Tal princípio leva a duas</p><p>noções de equidade: a equidade horizontal, que diz que contribuintes com capacidades de pagamento</p><p>similares devem pagar a mesma quantia; e a equidade vertical, que afirma que contribuintes com maior</p><p>capacidade de pagar impostos devem pagar mais impostos. Certamente, a equidade vertical atenderia</p><p>ao princípio da progressividade.</p><p>Outro princípio, o da neutralidade, requer que o sistema tributário não provoque uma distorção da</p><p>alocação de recursos, e que, dessa forma, não prejudique a eficiência do sistema.</p><p>O sistema tributário brasileiro está longe de representar um ótimo de Pareto, ou seja, está longe</p><p>da eficiência administrativa e da justiça social. Devido à multiplicidade de impostos e alíquotas e à</p><p>incidência sobre insumos, o efeito final do sistema brasileiro de impostos indiretos sobre os preços</p><p>também não é muito transparente. Com relação à tributação direta e indireta, algumas considerações</p><p>devem ser feitas:</p><p>• Impostos indiretos são aqueles cobrados de produtores com relação à produção, venda,</p><p>compra ou uso de bens e serviços. Frequentemente, impostos indiretos são arrecadados em</p><p>vários estágios do processo de produção e venda, de forma que seus efeitos sobre os preços</p><p>pagos pelo consumidor final na cadeia de transações não são claros. O efeito final sobre os</p><p>preços, diante da tributação indireta, depende não apenas da medida em que os impostos são</p><p>transferidos para a frente em cada estágio de produção, mas também da estrutura precisa</p><p>das transações interindustriais.</p><p>• Impostos diretos, a exemplo do imposto sobre o patrimônio, podem ser cobrados regularmente</p><p>em função do simples ato de posse dos ativos durante um determinado período. É o caso do IPTU</p><p>(imposto predial territorial urbano) e do IPVA (imposto sobre propriedade de veículos automotores)</p><p>e atendem ao princípio da equidade e da progressividade.</p><p>Os impostos diretos incidem sobre o indivíduo, mas nem sempre estão associados à capacidade de</p><p>pagamento de cada contribuinte. O imposto de renda pessoa física é o imposto pessoal por excelência</p><p>e, sendo assim, é aquele que se adapta aos princípios da equidade e progressividade, à medida que</p><p>permite, de fato, uma discriminação entre os contribuintes no que diz respeito à sua capacidade de</p><p>pagamento (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).</p><p>Do lado das empresas, o imposto de renda pessoa jurídica incide sobre o lucro e apresenta um</p><p>problema: ele pode contrariar os princípios da equidade e da progressividade, tendo em vista que não</p><p>se pode ter certeza de que o ônus do imposto sobre o lucro recaia integralmente sobre o produtor. Em</p><p>outras palavras, a empresa pode reagir à cobrança do imposto sobre os lucros repassando‑o, pelo menos</p><p>em parte, para os preços finais de seus produtos, onerando, assim, os consumidores.</p><p>173</p><p>ECONOMIA</p><p>7.5.3 Política cambial</p><p>É a política responsável pelo fluxo de moeda internacional no país. O controle da quantidade de</p><p>moeda estrangeira é feito pela taxa de câmbio. A taxa de câmbio é a relação existente entre duas</p><p>moedas de diferentes países e ela pode ser valorizada ou desvalorizada. Quando a moeda nacional está</p><p>mais cara que a moeda estrangeira, dizemos que a taxa de câmbio está valorizada. Por exemplo, com</p><p>R$1,00 se adquire US$ 1,20. Veja: com uma unidade da moeda nacional é possível adquirir mais que</p><p>uma unidade da moeda estrangeira. Já no momento em que a moeda nacional é mais barata que a</p><p>moeda estrangeira, percebe‑se um câmbio desvalorizado. Assim, para adquirir US$ 1,00, é necessária</p><p>uma quantidade maior de reais; no caso, R$ 1,20. A política cambial tem sido de suma importância para</p><p>a manutenção do</p><p>nível de emprego no país, principalmente para os setores exportadores, que, com uma</p><p>taxa de câmbio desvalorizada, têm maior incentivo para vender produtos ao exterior.</p><p>Figura 58 – Dólar como moeda estrangeira e divisa internacional</p><p>Portanto, a taxa de câmbio reflete as necessidades de unidades monetárias nacionais para adquirir</p><p>uma unidade monetária de uma moeda estrangeira. É no mercado cambial que são determinadas as</p><p>taxas de câmbio, variável nominal, sob diferentes regimes cambiais: câmbio fixo, câmbio flutuante, dirty</p><p>floating ou ainda o currency board. Num regime cambial fixo, a taxa de câmbio é administrada pelo</p><p>Banco Central, que determina o valor do câmbio para um período específico. Já no câmbio flutuante, ou</p><p>flexível, a taxa de câmbio é determinada pelo mercado, ou seja, pelas interações entre demanda e oferta</p><p>de divisas internacionais (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).</p><p>Admite‑se por dirty floating câmbio com flutuação suja. O que isso significa? Significa que o</p><p>Banco Central de um país pode, mesmo num câmbio flutuante, exercer pressão sobre a taxa de</p><p>câmbio, ou seja, pode fazê‑la flutuar até seja fixada numa meta estabelecida. Exemplo: suponha um</p><p>país em que o regime cambial seja flutuante, e que as interações entre demandantes e ofertantes</p><p>de divisas internacionais tenha conduzido a taxa de câmbio para um nível que somente favorece o</p><p>importador de mercadorias. Assim, se se aumenta o volume de importações de mercadorias de um</p><p>país, menor será a produção interna dele e, portanto, pode ter elevada sua taxa de desemprego.</p><p>Diante tal preocupação, o Banco Central pode interferir no mercado cambial e, por meio de compra</p><p>e/ou venda de divisas internacionais, faz flutuar a taxa de câmbio até um ponto em que sejam</p><p>favorecidas as exportações.</p><p>174</p><p>Unidade III</p><p>Por sua vez, o currency board é um regime cambial em que um país adota como moeda corrente</p><p>a moeda estrangeira, na qual está ancorada, quando atravessa ou adota políticas de estabilização</p><p>monetária, na tentativa de controlar a inflação. Há ainda que acrescentar outra diferença: a diferença</p><p>entre a taxa de câmbio real e a taxa de câmbio nominal, que reside na diferença de inflação entre os</p><p>países e entre uma e outra.</p><p>7.5.4 Política de rendas</p><p>A política de rendas é um tipo de política utilizada pelo governo que procura melhorar a distribuição</p><p>da renda e a justiça social. Ela atua diretamente sobre os fatores de produção e tenta reduzir os conflitos</p><p>entre o capital e o trabalho. Melhorias nas condições de salários e trabalho, encargos trabalhistas mais</p><p>justos, distribuição de resultados por parte das empresas aos seus funcionários são alguns de seus</p><p>objetivos, assim como a proposta de um sistema de preços mínimos garantidores de consumo para</p><p>população de baixa renda.</p><p>No caso da economia brasileira, podemos utilizar como exemplo de política de rendas os</p><p>seguintes programas:</p><p>• política de preços mínimos;</p><p>• política salarial;</p><p>• programas de renda mínima;</p><p>• Bolsa Família.</p><p>Saiba mais</p><p>Saiba mais sobre o programa Bolsa Família acessando o link a seguir:</p><p>https://www.caixa.gov.br/programas‑sociais/bolsa‑familia/Paginas/</p><p>default.aspx</p><p>7.6 Inflação</p><p>Mas, o que vem a ser inflação? Caracteriza‑se pelo generalizado e persistente crescimento nos</p><p>níveis de preços, ou seja, ocorre inflação num período em que um elevado volume de mercadorias tem</p><p>seus preços majorados e sequencialmente, de forma que, dia a dia, mês a mês, os preços sobem sem</p><p>que, necessariamente, seus custos de produção tenham apresentado também elevação. Assim, quando</p><p>há inflação, torna‑se necessária maior quantidade de moeda para adquirir as mesmas mercadorias.</p><p>Resultado: perda do poder aquisitivo da moeda, que pode, com isso, causar sérios distúrbios à economia</p><p>e à sociedade de forma geral (SILVA; LUIZ, 2010).</p><p>175</p><p>ECONOMIA</p><p>Em períodos de inflação elevada, a moeda deixa de desempenhar uma de suas principais funções,</p><p>que é a de preservar valor ao longo do tempo. Em período de inflação elevada, como viveu a sociedade</p><p>brasileira boa parte dos anos 1970 e dos oitenta, a moeda perde seu valor na medida em que é</p><p>recebida! Suponha uma pessoa que receba hoje seu salário, digamos de R$ 1.500,00, e que o índice</p><p>de inflação no mês corrente, medido pelos mais diversos índices disponíveis, esteja em torno de</p><p>40% ao mês. Se tal pessoa deixar guardado, digamos num bolso de algum paletó no armário, e for</p><p>usar tal recurso daqui a trinta dias, os R$ 1.500,00 representarão poder de compra de exatamente</p><p>R$ 900,00. Mas, como assim? É que receber um valor hoje dentro de um período inflacionário e</p><p>não utilizar esse recurso o mais rápido possível faz com que haja a perda de seu valor. Em nosso</p><p>exemplo hipotético, perda de R$ 600,00. Significa que os preços das mercadorias ficaram 40% mais</p><p>elevados e a quantidade de moeda disponível não mais será capaz de adquirir a mesma quantidade de</p><p>mercadoria que era adquirida anteriormente. Quem sofre? Na maior parte das vezes, e como salienta</p><p>Mankiw (2008), a população de baixa renda.</p><p>Precisamos, então, entender como é produzida a inflação, ou seja, por que existe e quais suas causas.</p><p>Basicamente, são três os tipos de inflação, sendo um deles o de demanda. Vejamos o que diz Mankiw:</p><p>Vamos supor que observamos, ao longo de um determinado período de</p><p>tempo, o preço de um sorvete de casquinha aumentar de 5 cents para um</p><p>dólar. Que conclusão poderíamos tirar do fato de que as pessoas estão</p><p>dispostas a dar muito mais dinheiro em troca de um sorvete? É possível que</p><p>as pessoas estejam gostando mais de sorvete (talvez porque algum químico</p><p>tenha desenvolvido um novo e maravilhoso sabor). Mas, provavelmente, não</p><p>é esse o caso. O mais provável é que as pessoas continuem apreciando o</p><p>sorvete da mesma forma e que, com o passar do tempo, a moeda usada para</p><p>comprá‑lo tenha se tornado menos valiosa. De fato, o primeiro entendimento</p><p>sobre a inflação é de que ela tem mais a ver com o valor da moeda do que</p><p>com o valor dos bens (MANKIW, 2010, p. 636).</p><p>Portanto, o que determina o valor da moeda é a relação entre sua demanda e sua oferta, assim como</p><p>é determinado o preço do tomate nos mais variados mercados. Se há mais tomate sendo ofertado, o</p><p>preço do tomate será relativamente baixo e caso exista pequena quantidade de tomate sendo ofertado,</p><p>ou seja, disponível à sociedade, seu preço tende a ser relativamente mais elevado.</p><p>Voltando à inflação, conforme Samuelson (1979), a inflação de demanda, ou de consumo, é causada</p><p>pelo crescimento do volume de moeda disponível ao público, não necessariamente acompanhado pelo</p><p>crescimento da produção. Como para a demanda poder concretizar‑se é necessária a existência de</p><p>moeda, a inflação de demanda pode ser entendida como excesso de moeda em circulação, ou seja,</p><p>quando há expansão de liquidez. Nesse caso, os preços tendem a aumentar devido à grande quantidade</p><p>de dinheiro em circulação influenciando consumo por parte da população. Por seu turno, os empresários,</p><p>diante elevado consumo e percebendo que há grande quantidade de moeda em poder do público,</p><p>elevam preços no afã de que a venda será certa.</p><p>Ribeiro (1990) explica que uma das características da inflação de demanda é que ela ocorre</p><p>em períodos de expansão da economia a exemplo do experimentado pelo milagre econômico</p><p>176</p><p>Unidade III</p><p>brasileiro, no qual o governo investiu fortemente na industrialização do país, elevando os níveis</p><p>de produção e superando períodos anteriores. Tais medidas diminuíram o desemprego, expandindo</p><p>renda e consumo.</p><p>Outro tipo de inflação é o de oferta, ou seja, explicado ou pelas condições de oferta de produtos</p><p>ou pelo comportamento de seus custos de produção, ou mesmo pela disponibilidade de fatores de</p><p>produção que são utilizados como bens intermediários. A inflação de oferta ocorre quando os custos</p><p>de produção aumentam, ou seja, quando se paga mais para produzir determinados bens ou ofertar</p><p>determinados serviços. Assim, pode ocorrer inflação de oferta diante de:</p><p>• diminuição da oferta</p>