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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS Targino de Araújo Filho Reitor Pedro Manoel Gaíetti Junior Vice-Reitor Oswaldo Mário Serra Truzzi Diretor da EdUFSCar EdUFSCar - Editora da Universidade Federal de São Carlos Conselho Editorial José Eduardo dos Santos José Renato Coury Nivaldo Nale Paulo Reali Nunes Oswaldo Mário Serra Truzzi (Presidente) Fernanda do Nascimento Secretária Executiva Universidade Federal de São Carlos Editora da Universidade Federal de São Carlos Via Washington Luís, km 235 13565-905 - São Carlos, SP, Brasil Telefax: (16)3351-8137 E-mail: edufscar@ufscar.br http://w ww.editora.ufscar.br Twitter: ©EdUFSCar mailto:edufscar@ufscar.br http://w/ Ana Lucia Cortegoso Danila Secolim Coser Elaboração de Programas de Ensino São Carlos EdUFSCar 2011 material autoinstrutivo © 2011, Ana Lucia Cortegoso e Danila Secolim Coser Coordenação Editorial Vítor Massoia Gonzales Lopes Preparação e Revisão de Texto Aline Cristina Dias Galvão Neves Marcelo Dias Saes Peres Daniela Silva Guanais Costa Editoração Eletrônica Ricardo Erlo Vítor Massoia Gonzales Lopes Impressão e Acabamento Departamento de Produção Gráfica da Universidade Federal de São Carlos Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da Biblioteca Comunitária da UFSCar Cortegoso, Ana Lucia. C827e Elaboração de programas de ensino : material autoinstrutivo / Ana Lucia Cortegoso, Danila Secolim Coser. -- São Carlos : EdUFSCar, 2011. 225 p. - (Série Apontamentos). ISSN - 978-85-7600-243-7 1. Programa de ensino. 2. Programação de ensino. 3. Anãlise do comportamento. I. Título. COO - 375 (20a) CDU - 371.214 Ana Lucia Cortegoso é docente do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos. Danila Secolim Coser é doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer for- ma e/ou quaisquer meios (eletrônicos ou mecânicos, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema de dados sem permissão escrita da editora. SUMARIO INTRODUÇÃO ....................................... . ................ . ....................... . ......... 7 UNIDADE 1 ELABORAÇÃO DE PROGRAMAS DE ENSINO: MATERIAL INSTRUCIONAL PRODUZIDO PARA CAPACITAÇÃO DE ALUNOS DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DA UFSCar PARA ELABORAR PROGRAMAS DE ENSINO ....................................... ...... ........................... ... ......... 9 UNIDADE 2 O CONCEITO DE COMPORTAMENTO .... .. .......................... . ..... .. ............... ..... 19 UNIDADE 3 PONTO DE PARTIDA PARA ELABORAR PROGRAMAS DE ENSINO: DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA ................................. .. .......................... .................... .. ... .. ................ 45 UNIDADE 4 FORMULAÇÃO DE OBJETIVOS TERMINAIS DE PROGRAMA DE ENSINO ........... . .................. 57 UNIDADE 5 ANÁLISE DE OBJETIVOS TERMINAIS: IDENTIFICAÇÃO DOS OBJETIVOS INTERMEDIÁRIOS NO PROGRAMA DE ENSINO ............... .. ............................................................... . 79 UNIDADE 6 DESCRIÇÃO DAS PARTES FUNCIONAIS DOS OBJETIVOS INTERMEDIÁRIOS DE UM PROGRAMA DE ENSINO ................................. . .................. ... ............... . ........................ 125 UNIDADE 7 ESPECIFICAÇÃO DO REPERTÓRIO DE ENTRADA DOS APRENDIZES DE UM PROGRAMA DE ENSINO .... .................. .. ........... . ...... ... . .......... . ......................................... . 147 UNIDADE 8 DEFININDO SEQUÊNCIA PARA ENSINAR OBJETIVOS ............................................. .....157 UNIDADE 9 PLANEJAMENTO DAS CONDIÇÕES DE ENSINO ..................... . ................ . .... . ....... 167 UNIDADE 10 PLANEJAMENTO DA AVALIAÇÃO NO PROGRAMA DE ENSINO........................................ 207 ALGUMAS PALAVRAS FINAIS ............................................................................ 225 INTRODUÇÃO Este material existe... ... porque tive a felicidade de contar, em minha formação, com a participação do professor Sílvio Paulo Botomé, que me proporcionou oportunidades ímpares de aprendizagem, entre as quais as relacionadas à elaboração de programas de ensino a partir do conhecimento produzido sobre comportamento humano no âmbito da Análise do Comportamento. Foi por meio dessas oportunidades que adquiri o que considero as mais importantes ferramentas conceituais e práticas para atuar com Psicologia, e que aprendi o valor dessa forma de compreender e de lidar com educação. A ele, meus agradecimentos pelo que pude aprender, minhas desculpas pelo que [ainda] não consegui; meus votos de que este material seja estímulo para que uma publicação de sua autoria sobre “programação de ensino” e sobre como elaborar programas de ensino não tarde e torne acessível sua grande experiência nessa temática a quem dela necessite. ... porque tive a chance de, como pesquisadora no Departamento de Psicologia da UFSCar, como professora no curso de graduação em Psicologia e no curso de pós-graduação em Educação Especial, aprender continuamente, por mais de 10 anos, sobre o processo de elaboração de programas de ensino e, principalmente, sobre como lidar com a formação de outras pessoas para elaborar programas de ensino. ... porque tive a grande sorte de encontrar, entre esses alunos, alguns que também se entusiasmaram com as possibilidades que se abrem a partir do exame criterioso e da prática cuidadosa em relação ao processo de elaboração de programas de ensino, a ponto de transformarem esse processo em objeto de investigação, em ferramenta de atuação profissional e em recurso para ensinar. Em particular, por isso ter acontecido com a Danila, minha colega nesta publicação, que soube transformar seu entusiasmo em motivação para o trabalho a quatro mãos, iniciado como monitora e estagiária na disciplina que deu origem a este material, alcançando agora o nível de doutorado, ainda empenhada em estudar programação de ensino e em tornar acessível o acúmulo construído nesses anos de trabalho. Um tempo em que as disposições de observar os efeitos produzidos pelas condições de ensino oferecidas, sobre os aprendizes, e de responder a essa observação com permanente busca de aprimoramento, trouxeram as melhores recompensas que, considero, pode ter um professor. Ana Lucia Cortegoso 7 EdUFSCar - Série Apontamentos “Seguindo o mestre”... ... porque na graduação contei com inúmeros professores que me estimularam a buscar e produzir conhecimento em Psicologia. Em especial, tive o privilégio de contar com a presença da professora Ana Lucia, que sempre utilizou, de forma fiel, os princípios da Análise do Comportamento, tanto nas disciplinas que ministrou como nas orientações de estágio, monografias, projetos de extensão e pós-graduação que orientou. Fazer parte de oportunidades de aprendizagem baseadas na programação de ensino, em comparação com outras estratégias adotadas de planejamento, foi essencial para perceber em mim, como sujeito da intervenção, e nos frequentes comentários positivos dos colegas de sala, os resultados que podem ser alcançados com a forma de planejar e ensinar apresentada neste material. Tudo o que está nas próximas páginas se deve essencialmente ao trabalho e conhecimento da professora Ana Lucia. Ao propor a publicação do material, que já tinha sido construído e definido por ela para a disciplina de Programação de Ensino e Treinamento da UFSCar, contei com mais uma oportunidade de aprender e aprimorar meus conhecimentos em programação de ensino. A Ana, todo meu agradecimento pelo tempo que dedicou (e ainda dedica!) a me ensinar, e reensinar quando necessário, os princípios e técnicas da programação de ensino e outros tantos comportamentos. Danila Secolim Coser 1 Docente do Departamento de Psicologia daUniversidade Federal de São Carlos. Contato: <cortego@ufsear.br>. 2 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos. Con- tato: < danila.coser@gmail.com >. UNIDADE 1: ELABORAÇÃO DE PROGRAMAS DE ENSINO: MATERIAL INSTRUCIONAL PRODUZIDO PARA CAPACITAÇÃO DE ALUNOS DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DA UFSCar PARA ELABORAR PROGRAMAS DE ENSINO Ana Lúcia Corcegoso1 Danila Secoltm Coser2 1. PROGRAMAÇÃO DE ENSINO E ANÁLISE EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO: CONCEITOS E HISTÓRIA A Análise Experimental do Comportamento tem relação com, mas não é o mesmo que, Beha- viorismo ou Psicologia Experimental; a expressão refere-se ao “modo de trabalhar em ciência que se originou na década de 1940 a partir de uma postura em filosofia da ciência denominada Beha- viorismo Radical” (MATOS, 1993, p. 143). De acordo com esta autora, o Behaviorismo Radical se distingue das outras formas de Behaviorismo principalmente por considerar o comportamento: a) não apenas como uma reação ao meio, mas como a própria interação com o meio, que pode fortalecer, enfraquecer ou manter comportamentos específicos; b) por não negar a existência de estados internos, já que a impossibilidade de observação e estudo desses estados não descarta sua existência (MATOS, 1993). De modo geral, o objeto de estudo da Análise Experimental do Comportamento é o comportamento, mais precisamente o comportamento operante, considerado aquele que atua sobre o ambiente e é afetado pelas consequências dessa atuação. O principal instrumento do analista do comportamento é a análise funcional da interação organismo-ambiente, ou seja, a identificação da função de um determinado tipo de resposta, partindo de uma unidade mínima de três termos, que inclui essa resposta, seus antecedentes e seus consequentes (MATOS, 1999). O cientista que propôs e aprimorou a filosofia de uma ciência do comportamento (Behaviorismo Radical), e estabeleceu as bases dessa ciência denominada Análise Experimental do Comportamento, foi Burrus Frederic Skinner. De acordo com Lu na (2007), por meio da Análise do Comportamento, Skinner analisou todos os grandes problemas relacionados ao homem, incluindo a educação. Embora esta não tenha sido uma das áreas enfocadas sistematicamente pelo autor como tema de análise, ele foi responsável por estender as bases da sua filosofia aos problemas 10 EdUFSCar — Série Apontamentos educacionais e interpretar tais problemas a partir dos princípios estabelecidos pela pesquisa em análise do comportamento. Em sua produção de mais de vinte e cinco artigos ou capítulos sobre o tema educação, Skinner apresenta a possibilidade de aplicação dos princípios básicos da Análise do Comportamento na área acadêmica. Em relação a esse tema, é enfático na proposição de uma melhoria do ensino por meio de uma tecnologia da qual seria possível derivar programas, esquemas e métodos de instrução (MAUAD, GUEDES Sc AZZI, 2011). A partir do conhecimento sobre o comportamento humano, Skinner desenvolveu, como tecnologia de ensino, a instrução programada, que consiste em dividir o material a ser ensinado em pequenos segmentos logicamente encadeados e denominados módulos. Cada fato ou conceito é apresentado em módulos sequenciais. Cada módulo termina com uma questão que o aluno deve responder preenchendo espaços em branco. O estudante deve ler o fato ou conceito e é imediatamente questionado. Se a resposta está correta, o aluno pode passar para o próximo módulo. Se a resposta é errada, a resposta certa pode ser fornecida pelo programa, ou o aluno é convidado a rever módulos anteriores ou, ainda, a realizar outros módulos, cujo objetivo é corrigir o processo de ensino (VALENTE, 1993). Juntamente com Holland, Skinner escreveu o livro TheAnalysis of Behamor: a Programfor Seif-Instruction (HOLLAND Sc SKINNER, 1969), pioneiro de instrução programada para ensino da Análise do Comportamento. A instrução programada pode ser aplicada sem a intervenção direta do professor, por meio de livros, apostilas ou máquinas de ensinar; estas últimas foram criadas e utilizadas por Skinner desde o começo da década de 1950, e podem ser consideradas precursoras dos métodos de ensino virtual ou por computador. As máquinas de ensinar e textos programados se tornaram a grande novidade nos EUA na década de 1960. Em entrevista à Revista Veja [em 1974], Skinner (2011) explicou o princípio básico do ensino programado, mais precisamente da máquina de ensinar ao dizer: Minha “máquina de ensinar” consiste, muito simplesmente, em programar o material didático de maneira que o estudante seja recompensado pelos seus esforços não no fim do curso ou de seus estudos - o que é causa de baixa produtividade mas em cada uma das etapas de sua aprendizagem. Isto é, ao aprender uma lição, o aluno não é recompensado pelos seus esforços um mês depois, quando recebe a nota x, mas enquanto está trabalhando na liçâo. Se um aluno pode ver a resposta de um problema matemático apenas quando terminou de resolvê-lo, ele é estimulado por vários fatores: o triunfo de ter resolvido o problema corretamente ou o descobrimento da resposta correta. Se ele fica esperando a nota do professor, que pode ter um valor punitivo, ele não tem verdadeiras razões positivas para se interessar por problemas matemáticos. É fundamental entender que o organismo humano, em relação com o seu comportamento, é reforçado pela sua capacidade de efetividade (SKINNER, 2011, p. 4). Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 11 3 O texto tbi republicado, mais recentemente, na Revista Brasileira de Terapia Cognitivo Comportamental e pode ser encontrado no endereço: <http://www.terapiaporcontingenciasxom.br/pdf7outros/AdeusMesiTe.pdf>. Uma vasta publicação relativa à programação de ensino, denominação do processo de elaboração de programas de ensino a partir do conhecimento sobre comportamento humano e da tecnologia de ensino derivada desse conhecimento, foi trazida para o Brasil com a vinda do professor Fred S. Keller, no início dos anos 1960, para ministrar aulas no curso de Psicologia da USP (MATOS, [1998] 2011a). Nesse período, tomando como ponto de partida as experiências iniciais de utilização da instrução programada (ou ensino programado) na Universidade de São Paulo, Carolina M. Bori e Rodolfo Azzi, com mais dois professores americanos (um deles era o professor Keller), iniciaram a proposição de uma maneira de ensinar Psicologia na nova Universidade de Brasília. De acordo com o relato de Kubo 6c Botomé (2011), o trabalho do grupo tinha como princípios básicos que o ensino deveria ser definido pela atuação do aluno (e não pela do professor); a aprendizagem deveria ser feita em etapas pequenas, de acordo com as características do aluno e de suas possibilidades de aprendizagem; o aluno deveria poder prosseguir (demorando ou tendo mais ou diferentes condições) no curso conforme ocorresse sua aprendizagem; a cada aprendizagem, em lugar de notas, o aluno deveria ter consequências informativas, tanto técnicas como sociais, conforme seu desempenho; e, finalmente, os processos de aprendizagem dos alunos e os procedimentos do professor deveríam ser objeto de estudo constante e no próprio curso, de forma a fornecer conhecimento para aperfeiçoamento, não apenas das técnicas, mas também dos conceitos fundamentais envolvidos nos processos de ensinar e de aprender (KUBO 6c BOTOMÉ, 2011, p. 2). Começava aí o desenvolvimento do que seria, mais tarde, conhecido como Ensino Personalizado, Ensino Individualizado ou Sistema de Ensino Personalizado, ou, ainda mais tarde, como Ensino Programado Individualizado. O início desse trabalho está relatado em parte no texto Adeus, Mestre! de Fred S. Keller (1972).1 De acordo com Matos ([1998] 2011a), a proposta de Brasília resultou, nos Estados Unidos, no PSI - The Personalised System oflnstructiony e, no Brasil, na Análise de Contingências em Programação de Ensino,duas propostas de ensinar que tiveram o mesmo início, Com a demissão de cerca de 200 professores na Universidade de Brasília, incluindo os professores americanos que fizeram parte da proposição do novo modelo de ensino, os participantes da experiência na UnB procuraram dar continuidade ao trabalho ao voltarem a suas universidades (KUBO 6c BOTOMÉ, 2011). No Brasil, diferentemente da versão do PSI do professor Keller, que se centrava na análise dos temas e textos a serem estudados e na avaliação da aprendizagem, a Análise de Contingências em Programação de Ensino proposta pela professora doutora Carolina M. Bori voltava-se para a análise das habilidades e conhecimentos necessários para o exercício de uma atividade, e para o planejamento das condições de ensino que favorecessem a aquisição dessas habilidades e conhecimentos (MATOS, [1998] 2011b). Segundo Botomé (1980), o ensino programado enfatizava um produto e seu uso; em programação de ensino, por sua vez, a ênfase era no comportamento de quem ensina; para Kubo (2005, em resenha a HÜBNER Sc MARINOTTI, 2011), com o conceito de programação de ensino, era considerado, pela primeira vez, o comportamento do programador de ensino como contingência para o ensinar e o aprender. Dessa forma, foi com as iniciativas de Bori, como professora e pesquisadora da Universidade de São Paulo, que a noção de "ensino programado” de Skinner, que colocava ênfase na tecnologia elaborada, 1 Justificar a relevância dos objetivos terminais de um programa em relação aos aprendizes; 12 EdUFSCar - Série Apontamentos passou por uma mudança, surgindo a expressão "programação de ensino” que enfatiza os processos comportamentais complexos envolvidos na construção de programas de ensino. De acordo com Kubo & Botomé (2011), com essa mudança a tecnologia saiu do âmbito da ‘solução’e passou a ser parte do problema’ a ser conhecido, resolvido, superado etc. O que inicialmente era uma proposição de técnicas passou a ser alvo de investigação constante e de estudo sistemático por vários pesquisadores no país (KUBO & BOTOMÉ, 2011, p. 3). Como apresenta o levantamento de Nale (2011), do trabalho de Carolina Bori surgiram centenas de programas de ensino, pesquisas e artigos com testes e avaliações em diferentes áreas de conhecimento e em diversos campos de atuação profissional. Para uma revisão conceituai, como suporte para a compreensão do processo de programação de ensino e sua relação com a Análise Experimental do Comportamento, é recomendada a leitura integral, cuidadosa e, pre- ferencialmente, antecipada, do livro: ZANOTTO, M. L. B. Formação de professores: a contribuição da análise do comportamento. São Paulo: EDUC, 2000. Ao examinar o processo de "ensinar através de condições de ensino programadas”, Botomé (1980) propôs, na época, quatro amplas classes de comportamentos que comporiam esse processo: construir programas de ensino; aplicar programas de ensino; avaliar a eficácia de programas de ensino; e modificar programas de ensino a partir de dados de avaliação de sua eficácia. Em relação à classe “construir programas de ensino” propôs, naquela oportunidade, treze classes de comportamento como competências desejáveis do programador: 2 3 3 4 5 6 Planejar as atividades de ensino para aprendizagem de cada um dos objetivos intermediários da sequência; 7 Organizar as atividades planejadas para ensino em unidades ou passos a serem realizados pelo aprendiz; 8 Planejar os procedimentos de avaliação do desempenho do aprendiz; 9 Organizar o material a ser utilizado pelo aprendiz das diferentes unidades do programa; 10 Redigir as instruções para cada unidade de trabalho do aprendiz em um programa de ensino; 11 Planejar o procedimento de avaliação da eficácia de um programa de ensino; 12 Redigir a apresentação de um programa de ensino contendo objetivos, recursos, procedimentos e sistema de avaliação do programa; 13 Comunicar e examinar os programas de ensino sob a forma comportamental. Aplicações sucessivas de programas de ensino voltadas para formar programadores (incluindo a avaliação desses programas como parte de sua implementação), bem como estudos sistemáticos acerca do processo de programação de ensino e da formação de programadores, desde então, levaram a revisões dessas classes de comportamentos pelo próprio autor e por outros que tomaram esse conjunto de habilidades como referência. No contexto específico do curso de graduação em Psicologia da UFSCar, considerando as condições propostas para essa formação do profissional psicólogo no projeto pedagógico 2 Escolher o tema ou assunto para o programa de ensino; 3 Especificar os objetivos terminais do programa de ensino sob a forma comportamental; 4 Analisar os objetivos terminais em seus componentes intermediários necessários para sua consecução; 5 Organizar os objetivos intermediários resultantes da análise em uma sequência para ensino; Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 13 4 Os objetivos estão apresentados de forma sintética, com ênfase nas classes de respostas componentes; descrições mais completas dos comportamentos a que se reterem são apresentadas nas unidades correspondentes a esses objetivos, no decorrer do material. em vigor no período de 1998 a 2008 (disciplina de quatro créditos, sendo dois teóricos e dois práticos, para alunos do 5- semestre), as revisões do programa de ensino resultaram em objetivos e condições de ensino apresentadas neste material, que pode ser utilizado tanto como apoio para atividades de aula quanto individualmente por pessoas interessadas em desenvolver habilidades relacionadas à programação de ensino. Objetivos do programa de ensino para capacitar futuros psicólogos para elaboração de programas de ensino em diferentes contextos de atuação profissional4 Terminal: capacitar pessoas para que, diante de diferentes necessidades e oportunidades de ensino, possam elaborar programas destinados a instalar comportamentos desejáveis nos aprendizes, como forma de atender a necessidades e problemas identificados. Intermediários: 14 EdUFSCar - SérteApontamentos 1 Descrever situações-problema de forma a identificar e caracterizar necessidades de ensino ou treinamento; 2 Propor objetivos terminais para programa de ensino em termos de comportamentos desejáveis dos aprendizes para lidar com a situação-problema; 3 Analisar objetivos terminais de programas de ensino em objetivos intermediários; 4 Descrever objetivos de um programa de ensino em termos de relações comportamentais (classes de estímulos antecedentes, classe de estímulos subsequentes e classes de resposta); 5 Sequenciar objetivos propostos para um programa de ensino de modo a favorecer a aprendizagem; 6 Especificar repertório de entrada dos aprendizes para o programa de ensino; 7 Organizar objetivos do programa em unidades de ensino; 8 Propor condições de ensino (atividades, procedimentos e materiais) para diferentes objetivos propostos para o programa; 9 Elaborar procedimentos e instrumentos para avaliação no e do programa de ensino. Condições de ensino neste programa O material inclui um conjunto de unidades de aprendizagem, estruturadas em termos de alguns tipos de atividades: • Informações de apresentação da unidade; • Texto com informações básicas sobre o tema da unidade; • Exemplos de produtos correspondentes à unidade em relação a programas de ensino desenvolvidos em diferentes situações; • Tarefas práticas para treino de habilidades correspondentes às unidades; e sempre que possível; • Bibliografia sobre o tema da unidade. A tarefa de elaborar programas de ensino pode parecer difícil, principalmente quando feita pela primeira vez - e, de fato, nao é banal mas, como argumenta Luna (2007), uma coisa é admitir a complexidade; outra é tomar a complexidade como razão para não programar. 2. ELABORAR PROGRAMAS DE ENSINO COMO PROCESSO DE SOLUÇÃO DE PROBLEMAS O que você encontra aseguir é o enunciado de um exercício desses que costumam aparecer em revistas de entretenimento. a) Tente (mesmo) resolvê-lo antes de conferir as respostas na nota ao final deste texto.5 Oito carros, de marcas e cores diferentes, estão alinhados, lado a lado, para uma corrida. Descubra a marca e a cor de cada carro a partir das seguintes informações: 1 A Ferrari está entre os carros vermelho e cinza; 2 O carro cinza está à esquerda do Lotus; 3 O McLaren é o segundo carro à esquerda da Ferrari e o primeiro à direita do carro azul; 4 O Tyrrel não tem carro à sua direita e está logo depois do carro preto; 5 O carro preto está entre o Tyrrel e o carro amarelo; 6 O Shadow não tem carro algum à esquerda: está à esquerda do carro verde; 7 A direita do carro verde está o March; 8 O Lotus é o segundo carro à direita do carro creme e o segundo à esquerda do carro marrom; 9 O Lola é o segundo carro à esquerda do Iso. Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 15 5 As respostas dos exercícios encontram-se no final deste capítulo. b) Responda às seguintes perguntas; anote suas respostas para comparar com as informações que virão adiante. 1 Esta situação era um problema para você? 2 Por quê? 3 O que você fez para chegar à resposta? c) Compare suas respostas com as características indicadas por Skinner em relação a o que seria um problema. Para Skinner (1969).,. ... há um problema quando a resposta-solução não pode ser emitida, e há motivação para solucionar o problema: ou seja, se você não sabe quais são os carros que estão em cada posição (antes de “buscar” essa resposta), e ficou interessado, por algum motivo, em conhecer essas posições, o enunciado do exercício representa um problema, de acordo com essa definição; se, por outro lado, você já conhece as posições, ou não tem qualquer interesse ou necessidade de sabê-las, o exercício não representa um problema; ... resolver o problema não é apresentar a resposta-solução, é o processo por meio do qual se chega a ela: ou seja, simplesmente ser capaz de dizer a sequência dos carros (resposta-solução), olhando as respostas em um gabarito (ou obtendo-as de alguém), por exemplo, não significa ser ca- paz de resolver o problema; ... resolver um problema implica em emitir respostas que tornem possível a emissão da resposta- solução; essas respostas, que tomam possível emitir a resposta-solução, são denominadas precorrentes: no caso específico deste exercício, representar graficamente as oito posições lado a lado, ler cada uma das informações (pistas) oferecidas, indicar na representação cada uma das informações disponíveis, são comportamentos precorrentes, para que seja possível apresentar a resposta-solução; tecnicamente, dos comportamentos precorrentes resultam condições antecedentes (estímulos discriminativos ou condições necessárias) para que seja possível apresentar comportamentos cada vez mais “próximos” da resposta-solução... Para melhor compreensão do processo de solução de problemas, é recomendada a leitura do texto de Skinner: Contíngencies of Reinforcement. New York: Appleton Century Crofts, 1969. capítulos I, VI e VII. Publicado também com o título Uma análise operante da resolução deproblemas^ em Coleção Os Pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1975 (entre outras edições). O processo de elaboração de um programa de ensino pode ser entendido como o equivalente a um processo de solução de problema à medida que o programador estará, no início, diante de um problema a ser resolvido, representado por uma necessidade ou demanda de elaboração de um programa de ensino, frequentemente vaga e pouco clara. De um modo geral, o programador desconhece, ao iniciar seu trabalho, as especificidades da situação que requer ou justifica a elaboração de um programa, as habilidades e competências a serem desenvolvidas e as condições de ensino que precisará garantir para que a aprendizagem necessária ocorra. Conta, para iniciar seu trabalho, com conhecimento que pode ajudá-lo no processo de elaboração do programa, tanto no que se refere a procedimentos (para elaboração e execução de programas de ensino) quanto a assuntos relativos à necessidade específica a ser enfrentada (temas, assuntos, informações das áreas do programa). Para conseguir chegar ao programa, contudo, deverá emitir respostas que produzem condições para emissão de novas respostas Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 16 (como aquelas que constituem objetivos intermediários nesse programa) até que o programa - res- posta-solução para uma determinada situação-problema que dá origem à necessidade de elaborar um programa de ensino - esteja elaborado e pronto para ser implementado. Neste programa de ensino, é esperado que os aprendizes se tornem capazes de emitir pelo menos alguns dos comportamentos precorrentes identificados como relevantes para a elaboração de programas de ensino eficazes, considerando o conhecimento disponível sobre o comportamento humano na Análise Experimental do Comportamento. REFERÊNCIAS BOTOMÉ, S. P. Objetivos comportamentais no ensino: a contribuição da Análise Experimental do Comportamento. Tese (Doutorado em Ciência) — Departamento de Psicologia Experimental, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1980. HOLLAND, J. G.; SKINNER, B. F.A Análise do Comportamento. Tradução de Rodolpho Azzi e Caro- Una M. Bori. São Paulo: EPU, 1969. HÜBNER, M. M. C,; MARINOTTI, M. Análise do comportamento para a educação: contribuições recentes. Santo André: ESETec, 2004. Resenhado por KUBO, O. M. 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Estes, por sua vez, são condição essencial para desenvolvimento das demais etapas de elaboração de programas de ensino - correspondentes aos vários comportamentos esperados de um programador. Assim, antes de iniciar o estudo e o treino do processo de programação de ensino propriamente dito, será feita uma revisão do conceito de comportamento. Nesta unidade você encontrará: 1 Texto Aplicação do conceito de comportamento, de Ana Lucia Cortegoso, no qual é apresentado o conceito de comportamento, tal como adotado para efeito de elaboração de programas de ensino, considerando o conhecimento produzido no âmbito da Análise do Comportamento, 2 Procedimento para descrição de comportamentos. Nesta seção é apresentado e ilustrado um procedimento para descrição de comportamentos em conformidade com o conceito de comportamento operante. 3 Descrição de comportamentos: demonstração participativa. São propostos dois comportamentos para descrição; para cada um deles, são oferecidas informações e instruções para realização da descrição, conforme procedimento proposto, e condições para que o leitor possa comparar suas respostas com outras elaboradas em consonância com o conceito. 4 Atividade prática: exercício de descrição de comportamento. Trata-se de um exercício de descrição de comportamento (“fazer um curativo”), com descrições para comparação, e sugestões de outros comportamentos a serem descritos são indicados como oportunidade para exercitar essa habilidade. Bom trabalho! 18 EdUFSCar — Série Apontamentos 6 Texto elaborado com base na sistematização do conceito de comportamento operante realizada por Botomé (1980, 1997). Texto Leia o texto a seguir, no qual é apresentado o conceito de comportamento. Durante a leitura, o leitor poderá anotar ou destacar partes principais e dúvidas; em caso de dúvidas, veja a bibliografia sugerida ou procure os responsáveis pelo material. 1. APLICAÇÃO DO CONCEITO DE COMPORTAMENTO6 Ana Lucia Cortegoso De acordo com Botomé (1997, s/p), entre outros trabalhos, a Análise Experimental do Comportamento, ao definir o que é o comportamento, enfatizou a “relação entre aquilo que o organismo faz e o ambiente no qual ele o faz”. De acordo com essa concepção, é insuficiente definir comportamento em termos das características da ação do organismo (forma, latência, velocidade, frequência, força, etc.), das intenções de quem age (motivos, interesses, expectativas, objetivos, etc.) ou por meio de estruturas diversas subjacentes à ação (inconsciente, consciente, subconsciência, etc.). Ao examinar as contribuições, em termos de conhecimento disponível, sobre o comportar-se humano, o autor destaca ainda que o ambiente em que um organismo se comporta deve ser dis- tinguido pelo menos em relação a dois aspectos fundamentais para compreender e lidar com o comportamento: o ambiente no qual a ação ocorre e um ambiente que decorre (ou existe depois) da ação (BOTOMÉ, 1997). No trecho a seguir, transcrito de versão não publicada do texto em que o autor sistematiza suas considerações sobre a noção de comportamento, podem ser identificados alguns aspectos importantes para a possibilidade de aplicação do conceito de comportamento, O autor diz que uma das primeiras exigências para perceber o que é o comportamento é exatamente distinguir entre o que um organismo faz e a situação em que o faz. Embora esses dois conceitos (são conceitos e não coisas, como podería parecer) pareçam simples e fáceis de identificar, de fato, porém, a distinção é mais difícil do que aparenta ser. Alguns exemplos podem ajudar a perceber isso um pouco melhor. Basta imaginar alguém segurando um objeto entre os dedos polegar e indicador de uma das mãos, mantendo sempre a mesma postura (forma de segurar o objeto), pressão dos dedos, etc. Mude-se apenas o objeto existente entre os dedos. Sequendalmente, pode ser dito que a pessoa segure uma borracha, um lápis, uma colher, um giz, uma pedra, uma pequena fruta, um papel, um pedaço de algodão, um copo de papel, etc. conforme mudar o que está entre os dedos. O que mudou não foi a resposta do organismo, mas o ambiente (ou a situação na qual ele segurava algo). A pessoa, aparentemente, faz a mesma coisa (formato, pressão, posição, etc.). Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 19 Mas ao fazê-lo em relação a diferentes aspectos do ambiente (ou situação), o comportamento é outro (é outro conjunto de relações entre situação, ação e consequência). E possível imaginar o que será considerar o mesmo comportamento alguém segurar, da mesma forma, uma pedra e um pequeno inseto venenoso. Ou, então, tentar ensinar uma criança a segurar pequenos objetos sem ensinar os diferentes aspectos do meio em relação aos quais isso não deve ser feito. Não ensinará mais os movimentos, a forma, a força, a duração das ações, mas sim fazer isso em relação a determinados aspectos do meio nos quais pode ser feito, em função das decorrências desse mesmo ‘fazer em relação a diferentes aspectos desse meio (BOTOME, 1997, s/p). Outros exemplos examinados pelo autor: Ao segurar um objeto como um copo de papel, dependendo de propriedades da ação (maior força, por exemplo), o comportamento poderá se transformar de “segurar o copo” em ‘amassar o copo”. O que faz a diferença, no caso, é a mudança que é produzida no ambiente nos dois casos, a partir da ação. Ao fazer movimentos de balanço da mão direita, à altura do ombro, uma pessoa poderá estar acenando para alguém ou apagando uma lousa, se os movimentos forem feitos sobre a superfície de um quadro negro. Ou limpando uma porta ou parede, ou apenas esfregando alguma dessas partes de uma casa. O que está acontecendo com o meio em que essa pessoa faz os movimentos é o que indica (revela) o que está ocorrendo. Passar a mão no cabelo de uma pessoa poderá ser apenas passar a mão no cabelo, ou “consolar” ou “acalmar” (se a outra pessoa estiver chorando, por exemplo), “cumprimentar” (se quem faz isso acabou de chegar a um lugar onde estão outras pessoas). A diferença entre “martelar uma mesa” e “pregar um prego em uma mesa” pode ser simplesmente a ausência ou presença de um prego sob as batidas do martelo. A diferença entre “espetar crianças” e “vacinar crianças” pode ser apenas a presença de um microrganismo vivo no que é injetado no corpo das crianças... Destaca o autor: O que as pessoas percebem ou conhecem sobre as características da ação, do meio antecedente a essa açãoe do meio consequente a ela permite identificar o comportamento (qual a relação que está sendo estabelecida) e nomear esse comportamento. Conforme o observador note ou identifique (o grau em que consegue fazer isso) cada uma das características importantes de cada tipo de componente envolvido na relação em exame (ou de interesse) poderá caracterizar mais ou menos acertadamente o comportamento que está ocorrendo e nomeá-lo com maior ou menor adequação (BOTOMÉ, 1997, s/p). A utilização do conceito de comportamento, no âmbito do estudo da Psicologia da Aprendizagem, por pessoas que estão sendo capacitadas para atuar como agentes educativos, é justificada tanto pela necessidade que esses profissionais terão de compreender comportamentos humanos com os quais vão lidar ao promover aprendizagem quanto pelo potencial que oferece como ferramenta para definir o ponto de partida essencial de qualquer programa de ensino: a caracterização clara dos comportamentos que devem ser promovidos no aprendiz a partir da aplicação do programa. Da babá que dá atendimento ao recém-nascido ao professor universitário que atua na formação de cientistas, ensinar significa não mais do que capacitar indivíduos para que possam lidar com seu ambiente de forma apropriada. Ou, em outras palavras, promover comportamentos. Quais comportamentos (relações ambiente-organismo) devem ser promovidos? Quais são as propriedades definidoras e essenciais nas relações de interesse? Alguns aspectos parecem fundamentais para caracterizar um comportamento aparentemente simples (para quem não tem de enfrentar as muitas variações que podem ser encontradas no desempenho de auxiliares de limpeza, mesmo no âmbito doméstico), como limpar uma mesa. O esquema abaixo ilustra os 20 EdUFSCar - Série Apontamentos aspectos (mínimos) do ambiente que foram identificados como componentes da relação de modo que possamos efetivamente nomear o comportamento em questão como “limpar a mesa”: Condições antecedentes (diante de quê) Ação (faz) Condições subsequentes (com que efeitos, resultados, produtos) • Sujeira na mesa • Material de limpeza Passar a mão Sujeira eliminada Mesa com características mantidas (assim como o ambiente em torno) Outros aspectos poderiam ser acrescentados ao quadro, dependendo do rigor pretendido na definição do que seja limpar uma mesa, em um determinado contexto: por exemplo, o grau de economia a ser feito do material de limpeza e a duração da limpeza poderiam sugerir aspectos relevantes a serem indicados como resultantes desejáveis da ação (material utilizado com economia, limpeza realizada com presteza, etc.). As condições antecedentes de um determinado comportamento correspondem a aspectos do ambiente a que o organismo que se comporta está (ou deve estar) atento ao agir. Elas se referem a pelo menos dois tipos de aspectos: as condições que “sinalizam” que a ação em questão é necessária, desejável, apropriada (a presença de sujeira na mesa indica que limpar a mesa é uma ação apropriada) e as condições para que a ação, e suas propriedades relevantes, seja “possível” ou “viável”. No caso do exemplo anterior, o material de limpeza (qualquer que seja ele, e isso pode variar em função de muitos aspectos, tais como o material de que é feito a mesa, a natureza da sujeira, etc.) é uma condição necessária para que a ação possa ocorrer, ainda que esse material seja, em alguns casos, a própria mão da pessoa. Um exame da ação (resposta) “banhar-se” em diferentes contextos ajuda a compreender um pouco mais a noção de comportamento, e o papel das condições antecedentes e subsequentes na definição de uma classe de comportamentos. Apresentar a ação “banhar-se” diante de febre alta, de cansaço, de sono, de insônia, de suor ou outros tipos de sujeira no corpo implica em comportamentos diferentes. Diante de febre, o comportamento resultante pode ser mais bem identificado como “baixar a febre com banho”; diante de “sono”, é possível falar em “despertar com um banho”; diante de “insônia”, o comportamento talvez possa ser indicado como “relaxar por meio de banho”, etc. No exemplo a seguir, considerando o comportamento “realizar limpeza corporal por meio de banho”, são indicados alguns dos aspectos do ambiente (antecedentes e subsequentes à ação) que caracterizam esse comportamento: Condições antecedentes (diante de quê) Ação (faz) Condições subsequentes (com que efeitos, resultados, produtos) • Sujeira, suor no corpo • Agua • Sabonete • Toalha Lavar-se Sujeira eliminada do corpo Ambiente e material em condições de uso por outras pessoas Nesse caso, foram indicadas como condições antecedentes aquelas que sinalizam ser a ação oportuna, desejável, apropriada (presença de sujeira) e as que possibilitam a ação, sendo a água a principal delas. Em relação às condições subsequentes, foram indicadas condições que são esperadas como resultado da ação: sujeira efetivamente eliminada (muitas crianças aprendem, ao invés de tomar banho, a “passar pela água” e, não estando preocupadas com esse aspecto, saem do banho pouco melhor do que entraram); ambiente e material em condições de uso por outras pessoas (muitos adultos que compartilham banheiro e utensílios de banho com outras pessoas deixam de considerar condições como essas resultado desejável de suas condutas ao tomar banho; neste caso, o comportamento em questão talvez seja mais apropriadamente identificado Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 21 como “emporcalhar”o ambiente...). No caso de uma criança que “toma banho”, resultando daí efetiva higienização ou não, mas apenas diante da ordem (ou súplica) da mãe, e não por identificar o aspecto do ambiente que deve “sinalizar” que esse comportamento é apropriado, o comportamento observado pode ser mais bem denominado como “obedecer ordens”. Muito frequentemente, agentes educativos se comportam de modo a promover comportamentos muito diferentes daqueles que imaginam estar promovendo. No caso de uma pessoa que toma diversos banhos por dia, independentemente de existir de fato uma condição corporal que possa ser caracterizada como sujeira, já não será possível considerar seu comportamento de “tomar banho” no sentido caracterizado; a função do banhar-se, nessas condições, não será produzir higienização, sendo então necessário averiguar qual a função desse comportamento para o indivíduo. Banhar-se pode ser apenas uma das maneiras de a pessoa fugir de alguma situação aversíva, eventualmente sem fundamento, imaginária, tal como usualmente ocorre com indivíduos denominados “compulsivos”. Quais os comportamentos que devem ser promovidos como resultado de um programa de ensino qualquer? Esta é uma das questões a serem mais satisfatoriamente respondidas pelo programador de ensino com a ajuda de um conceito de comportamento entendido como uma relação entre aquilo que o organismo faz e o ambiente em que o faz, em termos das condições diante das quais a ação ocorre (antecedentes) e o que dela resulta (subsequentes). 22 EdUFSCar - Série Apontamentos 2. PROCEDIMENTO PARA DESCRIÇÃO DE COMPORTAMENTOS A seguir você encontrará uma demonstração, comentada, de um procedimento para favorecer a descrição de um comportamento cotidiano, conforme o conceito adotado de comportamento operan- te. Leia com atenção: o procedimento consiste em responder a um conjunto de perguntas orientadoras que ajudam a realizar a descrição de cada um dos componentes de comportamentos operantes de forma consistente com esse conceito. Lembre que: Comportamento é a relação entre o que um organismo faz e o ambiente em que esse organismo atua, em termos de condições antecedentes6 7 e condições subsequentes® a essa ação.8 Imagine, agora, que você vê uma pessoa (um professor em uma sala de aula, por exemplo) passando a mão repetidamente sobre uma mesa, e conclui que essa pessoa está “limpando a mesa”. Veja, agora, algumas descrições de comportamentosrelacionadas a esse comportamento, “limpar a mesa”, como forma de relacionar a descrição desse comportamento e os aspectos destacados no texto como relevantes para descrever um comportamento. A primeira providência para essa descrição, utilizando o esquema que indica quais são os componentes de um comportamento, é indicar a ação (resposta) que represente aquilo que o organismo faz no comportamento em questão. Partindo da situação específica sugerida (uma pessoa passando a mão sobre uma mesa, de forma repetida), essa resposta poderia ser indicada como: Comportamento: limpar uma mesa Condições antecedentes (diante de quê) Ação (faz) Condições subsequentes (com que efeitos, resultados) Esfregar a mesa9 Suponha, agora, que você tem interesse em dispor de uma (boa) descrição do comportamento “limpar a mesa” para utilizar em um programa de treino de auxiliares domésticos. Essa descrição seguiria, então, buscando identificar condições ambientais antecedentes e subsequentes capazes de caracterizar bem a relação comportamental que esse programa de treinamento deveria instalar. Isso pode ser feito, conforme o texto, a partir de um esforço por responder, da melhor forma possível, algumas perguntas. O primeiro tipo de condição antecedente a ser identificado, para descrever o comportamento de interesse, surge como resposta a uma determinada pergunta: DIANTE DE QUE É ESPERADO, DESEJÁVEL, OPORTUNO... “LIMPAR UMA MESA”? Respostas a essa pergunta indicarão a que aspectos do ambiente a pessoa terá de atentar para identificar se e quando a apresentação da resposta considerada é adequada; em outras palavras, qual ou quais são os estímulos discriminativos para o caso do comportamento de interesse. “Presença de sujeira” é, nesse caso, uma resposta possível e, considerando o tipo de atividade realizado por auxiliares domésticos usualmente, 6 Tecnicamente, a denominação mais apropriada dessas condições é “classes de estímulos antecedentes”. 7 Tecnicamente, a denominação mais apropriada dessas condições é “classes de estímulos subsequentes”. 8 Tecnicamente, a denominação mais apropriada para “ações” é “classe de respostas”. 9 E possível que “esfregar a mesa” não seja uma boa forma de expressar a classe de respostas, considerando que a limpeza de uma mesa pode ser feita por meio de respostas que não se enquadrariam como esfregar (aplicar um determinado material capaz de eliminar a sujeira sem a necessidade de esfregar, por exemplo); a expressão serve, contudo, para os propósitos didáticos deste material. Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 23 relevante; em outras palavras, é aspecto do ambiente a que uma auxiliar doméstica deve atentar para decidir se “limpar a mesa” é algo que deve ocorrer, pelo menos se for considerado desejável que esses profissionais tenham autonomia para a apresentação desse comportamento. Nesse sentido, a presença de sujeira deveria se estabelecer, por meio do processo de ensino, como estimulo discriminativo para a apresentação, pelos aprendizes do programa, de respostas de uma classe que produzissem, entre outros resultados apresentados adiante, a remoção da sujeira. Para algumas pessoas, a resposta à pergunta acima (diante de que é oportuno, adequado, desejável realizar uma ação pertinente ao comportamento de limpar um móvel de uma casa) poderia scr “uma ordem”. Isso significaria que, ao invés de “atentar” à presença da sujeira, a auxiliar dependería de uma ordem para apresentar uma resposta dessa classe; é possível considerar que o comportamento de interesse, nesse caso, poderia deixar de ser (do ponto de vista de sua função) “limpar a mesa”, e passar a ser “atender ordens”. Isso ilustra, então, a importância de descrever comportamentos da forma mais completa e criteriosa possível no âmbito da elaboração de programas de ensino (e não só nesse contexto), sendo a identificação dos estímulos que devem adquirir a função discriminativa para o aprendiz fundamental nesse processo. No esquema a seguir, aparece então a indicação da resposta apresentada à pergunta sobre o que sinaliza que a apresentação de respostas da classe de interesse é conveniente, necessária ou desejável na coluna das “condições antecedentes”. Ou, remetendo à situação-exemplo (um professor passando a mão repetidamente sobre a mesa), o que sustentaria uma conclusão de que ele está limpando a mesa (entre outros aspectos que serão comentados adiante). Comportamento: limpar uma mesa Condições antecedentes (diante de quê) Ação (faz) Condições subsequentes (com que efeitos, resultados) Presença de sujeira Esfregar a mesa Compare, agora, a descrição anterior com uma outra possibilidade de descrição daquilo que teria sido observado em uma situação em que um professor estivesse passando a mão na mesa repetidamente: 24 EdUFSCar - Série Apontamentos 11 Por enquanto está sendo utilizada a expressão desejável, por uma opção didática de apresentação do conceito de comportamento e do processo de descrição de comportamentos operantes. O que será uma resposta desejável depende, entre outros aspectos, dos resultados que ela deve produzir, algo que será comentado adiante quando abordada a indicação das condições subsequentes à resposta no processo de descrição do comportamento. Comportamento: coçar a mão Condições antecedentes {diante de quê) Ação (faz) Condições subsequentes (com que efeitos, resultados) Presença de picada de inseto na mão Esfregar a mesa (com a mão) Note que, a despeito de a resposta ser a mesma (em termos do que é observado), a condição antecedente diante da qual essa resposta ocorreria, nesse caso, modifica completamente o contexto ambiental e o comportamento cuja descrição foi iniciada, de “limpar a mesa” para “coçar a mão”. No primeiro caso, “esfregar a mesa” faria parte de uma classe de respostas na qual se enquadrariam, entre outras, aplicar um produto de remoção de sujeira, ou esfregar um pano, ao invés de a mão; neste último caso, a classe de respostas pertinente à relação que define o comportamento (coçar a mão) incluiría esfregar a mão em outros lugares (outra parte do corpo, parede, etc.), aplicar ou tomar medicamento de redução de coceira, etc. Da mesma forma, seriam outros os comportamentos observados se a condição antecedente com função discriminativa fosse, ao invés de “sinais de sujeira na mesa”, “sinais de sujeira na mão”: por exemplo, “limpar a mão”, ou “sujar a mesa”, e assim por diante. Um segundo tipo de condição antecedente que deve ser identificado, para alcançar uma descrição útil de comportamentos de interesse, refere-se às classes de estímulos antecedentes relevantes (necessárias, com as quais necessitará entrar em contato ou levar em consideração; de um certo modo, as “ferramentas”) para que a ação possa ocorrer, a partir da busca de respostas de perguntas como: O que é necessário para apresentar a resposta desejável?11 Com que o organismo entra ou deve entrar em contato para apresentar a resposta desejável? O que o organismo deve levar em consideração? Respostas a essas perguntas podem indicar, como condições antecedentes relevantes, materiais de limpeza, de uma maneira genérica, ou diferentes materiais de limpeza usualmente utilizados para essas finalidades. Considerando que existem diferentes tipos de mesas e materiais de limpeza, uma forma de fazer essa indicação, mais genérica, pode ser preferível à enumeração das diferentes possibilidades, que inclusive não poderia garantir a inserção de tudo que existe. Confira uma forma de fazer isso, assim como outros tipos de classes de estímulos que poderíam surgir a partir dessas perguntas para esse comportamento específico: Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 25 Comportamento: limpar uma mesa Condições antecedentes (diante de quê) Ação (faz) Condições subsequentes (com que efeitos, resultados) • Presença de sujeira • Materiaisde limpeza para remoção de sujeira em móveis (necessário para... itens com os quais terá que entrar em contato para...) • Conhecimento sobre diferentes tipos de materiais utilizados para mesa em relação à remoção de diferentes tipos de sujeiras (informações que terão de ser levadas em conta) • Características dos materiais de limpeza em relação à sua eficácia na remoção de sujeiras e compatibilidade com materiais de que são feitas mesas (informações que terão de ser levadas em conta) Esfregar a mesa Considere uma situação concreta em que, apesar de a resposta de interesse ter sido apresentada tal como descrita acima, os sinais de sujeira não tenham sido eliminados. E possível afirmar, nessas condições, que o comportamento em questão foi limpar a mesa? Isso seria muito difícil, assim como seria difícil sustentar que alguém abotoou uma blusa se o resultado da ação não for uma blusa abotoada (fechada, com os botões passados por suas respectivas casas). Assim, uma adequada descrição das condições subsequentes à ação é fundamental para a descrição de um comportamento operante, que é uma relação do que o organismo faz com o ambiente, e se define por sua “função” nesse ambiente. A identificação de classes de estímulos subsequentes à ação que são relevantes para uma adequa- da descrição do comportamento de interesse (ou seja, uma relação funcional) pode ser feita a partir de perguntas como: Que resultados, produtos e efeitos são esperados (desejáveis) da ação? No caso do comportamento “limpar a mesa”, “sujeira removida” (ou uma expressão equivalente a essa) seria uma resposta imediata a essa pergunta, e fundamental para possibilitar a afirmação de que o comportamento é efetivamente esse. A manutenção da sujeira, mesmo após um processo de “esfregar” 26 EdUFSCar — Série Apontamentos 12 No âmbito da Análise do Comportamento, o uso de expressões que remetem a explicações mentalistas do comportamento devem ser evitadas; nesse contexto, o uso da expressão “propósito” não se destina a explicar o comportamento, e está sendo utilizada apenas para ajudar na construção didática do conceito de comportamento operante, para enfatizar que, utilizando uma linguagem de senso comum, mesmo que uma resposta seja apresentada por alguém com a “intenção” de produzir um certo resultado, se esse resultado não é produzido, o comportamento ocorrido não será aquele eventualmente pretendido. essa sujeira, implicaria em concluir que, mesmo tendo havido um “propósito de limpeza”, a relação comportamental em questão não é “limpar a mesa”, se ela não fica, ao final do processo, limpa.12 A descrição do comportamento de interesse fica, até o presente momento, assim: Comportamento: limpar uma mesa Condições antecedentes (diante de quê) Ação (faz) Condições subsequentes (com que efeitos, resultados) * Presença de sujeira * Materiais de limpeza para remoção de sujeira em móveis (necessário para... itens com os quais terá que entrar em contato para...) * Conhecimento sobre diferentes tipos de materiais utilizados para mesa em relação à remoção de diferentes tipos de sujeiras (informações que terão de ser levadas em conta) * Características dos materiais de limpeza em relação à sua eficácia na remoção de sujeiras e compatibilidade com materiais de que são feitas mesas (informações que terão de ser levadas em conta) Esfregar a mesa Sujeira removida Contudo, mesa limpa não é, provavelmente, o único resultado, produto ou efeito desejável da resposta de interesse: e se a pessoa retira a sujeira, mas danifica a mesa? Ainda pode ser considerado limpar, ou esse seria um outro comportamento: estragar, por exemplo? Uma boa descrição de um comportamento, como relação organismo-ambiente, resulta de um esforço por identificar as várias propriedades dessa relação que podem ser relevantes para bem caracterizar a relação e, no caso de elaboração de programas de ensino, promover condições necessárias para instalar esses comportamentos (e não apenas as respostas que fazem parte deles). Avançando então nesse processo, parece relevante buscar outras respostas a essa pergunta, por exemplo a partir de possibilidades de resultados, produtos e efeitos significativos para a ação considerada, evidenciados inclusive por eventuais equívocos observados (ou possíveis) no desempenho de quem realiza atividades dessa natureza (auxiliares domésticos, por exemplo): e se a pessoa suja Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 27 ou estraga o chão durante o processo de retirar a sujeira?; se adoece em função dessa atividade?; se usa produtos em excesso? será um comportamento com tais resultados o “limpar a mesa” desejável? A descrição a seguir procura indicar outros efeitos, resultados ou produtos que poderiam fazer parte de uma descrição do comportamento “limpar a mesa” esperado de aprendizes submetidos a um programa de ensino com essa finalidade. Comportamento: limpar uma mesa Condições antecedentes (diante de quê) Ação (faz) Condições subsequentes (com que efeitos, resultados) • Presença de sujeira • Materiais de limpeza para remoção de sujeira em móveis (necessário para... itens com os quais terá que entrar em contato para...) • Conhecimento sobre diferentes tipos de materiais utilizados para mesa em relação à remoção de diferentes tipos de sujeiras (informações que terão de ser levadas em conta) • Características dos materiais de limpeza em relação à sua eficácia na remoção de sujeiras e compatibilidade com materiais de que são feitas mesas (informações que terão de ser levadas em conta) Esfregar a mesa Sujeira removida Características originais da mesa preservadas Ambiente em que está a mesa, conservado em suas características originais Pessoa que realiza a limpeza, e que utiliza o ambiente em que está a mesa, em boas condições de saúde Menor quantidade possível de material utilizado no processo da limpeza, gasto Menor tempo possível despendido na limpeza Material utilizado limpo e organizado Se você considerava as tarefas de “limpar uma mesa” e a de ensinar alguém a limpar uma mesa banais, talvez agora tenha concluído que promover a aprendizagem de outras pessoas não é uma tarefa tão simples, mesmo quando aquilo para o que a pessoa está sendo preparada não é tão complicado. Identificar e descrever os comportamentos que devem ser instalados nos aprendizes é parte fundamental do processo de programação de ensino, embora a noção de comportamento como relação não seja útil apenas neste contexto. Compreender que comportamento não é apenas aquilo que alguém faz, e sim uma relação desse fazer com o ambiente, é fundamental para lidar bem com comportamentos, seja para identificar e caracterizar situações-problema que envolvem fenômenos da esfera psicológica (haverá algum que não envolve essa dimensão?), seja para interferir em situações concretas; descrições de comportamentos de interesse serão, por sua vez, tão melhores quanto maior e melhor for o conhecimento de quem faz essas descrições sobre os fenômenos envolvidos. Talvez todos nós tenhamos experiência pessoal suficiente para arriscar a descrição do comportamento “limpar a mesa”, embora necessariamente variada em função das histórias de vida de cada um. Por isso, descrever comportamentos cotidianos, como forma de preparo para descrever outros que venham a ser identificados como relevantes em contextos de atuação profissional (elaboração de programas de ensino entre elas), pode ajudar a melhorar nossa competência profissional para lidar com comportamentos mais complexos. Retomando... Comportamento é a relação entre uma classe de respostas e classes de estímulos antecedentes e subsequentes. Na prática, isso significa a relação entre a ação de um organismo e ambiente, definido em 28 EdUFSCar - Série Apontamentos termos de: a) Condições antecedentes: i) aquilo que sinaliza que a ação é desejável, oportuna, necessária (estímulos discriminativos...);e ii) aquilo que torna a ação possível (necessárias para que a ação possa ocorrer) ou com que o organismo necessita entrar em contato ou levar em consideração para apresentar a resposta adequada. b) Condições subsequentes: resultados, produtos ou efeitos que devem decorrer da resposta (e que, espera-se, tornem-se eventos mantenedores dessa resposta, ou seja, reforçadores para o organismo). 3. DESCRIÇÃO DE COMPORTAMENTOS: DEMONSTRAÇÃO PARTICIPATIVA A seguir, para consolidação do conceito e treino do procedimento sugerido para descrição de comportamentos, é feita a demonstração da descrição de dois comportamentos, sendo o primeiro deles “Elaborar currículos”, que possivelmente você já tenha apresentado em sua vida - ou ao menos deve ter conhecimentos básicos para acompanhar e participar de uma descrição desse comportamento. Você receberá informações e “dicas” para realizar a descrição, e terá oportunidade de compará-la com nossas sugestões. De acordo com o exemplo anterior, considerando as características definidoras de um comportamento operante e as perguntas orientadoras que ajudam a realizar a descrição desses comportamentos, a primeira providência é indicar a ação (resposta) que represente aquilo que o organismo faz, no comportamento em questão. Proponha uma ação correspondente a esse comportamento, e confira com nossa proposta adiante: Elaborar currículos Condições antecedentes (diante de quê) Ação (faz) Condições subsequentes (com que efeitos, resultados) Veja a seguir a expressão que propusemos para representar a ação nesse comportamento e compare com a sua; se considerar necessário, faça adequações à sua formulação. Elaborar currículos Condições antecedentes (diante de quê) Ação (faz) Condições subsequentes (com que efeitos* resultados) Preparar documento com informações curriculares sobre si mesmo Após a indicação da resposta, a descrição deve buscar identificar condições ambientais antecedentes e subsequentes capazes de caracterizar bem a relação comportamental existente, ou desejável, e que poderá ser instalada por meio de um programa de treinamento. Condições antecedentes incluem aquelas que “sinalizam” que um determinado tipo de resposta (classe de respostas) é desejável, oportuno, necessário. Para ajudar na identificação das condições antecedentes pode ser utilizada a pergunta: O que sinaliza que a resposta é desejável, necessária, oportuna? Como Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 29 respostas a ela, devem ser indicados estímulos discriminativos para a resposta utilizada na descrição do comportamento de interesse. Você consegue indicar diante de que é desejável preparar um documento com informações curriculares sobre si mesmo? Utilize o esquema a seguir para esta finalidade, e confira as considerações sobre esta tarefa na sequência. Elaborar currículos Condições antecedentes (diante de quê) Ação (fez) Condições subsequentes (com que efeitos, resultados) Sd: Preparar documento com informações sobre si mesmo A elaboração de um currículo é provavelmente desejável quando há algum tipo de demanda, própria ou de outras pessoas da rede de relações de uma pessoa, de emprego, ocupação, ou renda, decorrente de desemprego, insatisfação com o emprego, demanda financeira, anseio ou necessidade de se ocupar com atividades profissionais, etc.; nessas condições, a apresentação de informações ordenadas sobre a vida profissional e escolar de alguém que busca esse tipo de oportunidade é a primeira exigência feita por instituições diversas responsáveis por vagas. Contudo, a necessidade de oferecer informações curriculares não ocorre apenas em relação a trabalho. Elaborar um currículo também pode ser necessário quando há oportunidades de formação, bolsas de estudo, prêmios, etc. Se o comportamento de “elaborar currículos” de interesse, no caso, tiver que incluir todas essas alternativas, que estímulos discriminativos podem ser indicados na descrição desse comportamento? Veja no esquema a seguir uma possível maneira de indicar esse tipo de condição antecedente, com esse grau de abrangências: Elaborar currículos Condições antecedentes (diante de quê) Ação (faz) Condições subsequentes (com que efeitos, resultados) * Solicitação ou exigência • Situação em que há necessidade de Preparar documento com informações apresentar informações curriculares sobre si mesmo (Sd) Ainda quanto às condições antecedentes que devem ser identificadas para alcançar uma descrição útil de comportamentos de interesse, é necessário verificar as classes de estímulos antecedentes relevantes para que a ação possa ocorrer; dito de outra forma, as condições “necessárias” ou “desejadas” para que aquela resposta possa ocorrer de forma a produzir a relação desejada. Nesse caso, são respostas às perguntas como: Com que o organismo deve entrar em contato para apresentar a resposta com as propriedades que deve ter? O que deve levar em conta para apresentar a resposta com tais propriedades? O que é necessário para que a resposta possa ocorrer?, que auxiliam nessa identificação. O que você identifica como condições necessárias ou desejáveis ao elaborar um currículo? Responda às perguntas antes de prosseguir com a leitura, e preencha a coluna de condições antecedentes com suas respostas a elas. Elaborar currículos 30 EdUFSCar - Série Apontamentos Condições antecedentes Ação Condições subsequentes (diante de quê) (faz) (com que efeitos, resultados) Sd: • Solicitação ou exigência • Situação em que há necessidade de apresentar informações curriculares Condições necessárias/envolvidas: Preparar documento com informa- ções sobre si mesmo Considerando que os currículos tradicionalmente são entregues em folhas de papel, você pode ter indicado a necessidade de materiais para elaboração de currículo como papel, computador, impressora. Contudo, nem sempre é necessário a impressão do currículo em papel, uma vez que é crescente a exigência de currículos em formato eletrônico. Nesse caso, o material necessário seria o computador com acesso a internet. No âmbito de uma descrição geral da classe de comportamentos (elaborar currículos), cada uma das classes de estímulos e de respostas deve ser descrita de forma geral. Nesse caso, é preferível indicar, de forma geral, algo como “materiais”. Contudo, o aprendiz deverá ser capaz (ou se tornar capaz, se o comportamento que está sendo descrito é objetivo de um programa de ensino) de selecionar os materiais a partir da natureza da solicitação que requer a apresentação de informações curriculares, ou seja, a quem será apresentado o currículo. Além disso, de acordo com a natureza da necessidade de apresentação, o currículo deve respeitar normas e convenções estabelecidas como, por exemplo, o tipo de informações que deve conter e a forma de apresentar essas informações (ordem cronológica, escrita objetiva, etc.). As informações que deverão ser colocadas no currículo são também condições necessárias, assim como prazos e outros aspectos estabelecidos por quem vai receber o currículo. A partir dessas considerações, confira os aspectos que lembrou comparando-os com o quadro a seguir: Elaborar currículos Condições antecedentes (diante de quê) Ação (faz) Condições subsequentes (com que efeitos, resultados) Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 31 Sd: * Solicitação/exigência de informações curriculares Considerando: * Natureza da situação que requer apresentação de informações curriculares • Exigências/normas relativas a formato, linguagem e tipos de informações curriculares a serem apresentadas * Informações e fontes de informações pertinentes a aspectos curriculares existentes e disponíveis • Prazos estabelecidos * Tempo disponível para elaboração do currículo • Modelo/convençÕes estabelecidas para apresentação de currículo • Material e equipamento disponível(papel, computador, impressora, internet) Preparar documento com informações sobre si mesmo Após a indicação das condições antecedentes, é desejável identificar as condições subsequentes e que completam a relação. A pergunta orientadora para identificação das condições subsequentes é: Quais são os resultados, produtos ou efeitos que a resposta deve produzir? Responda a esta pergunta, completando o esquema a seguir, antes de prosseguir com a leitura. 12 No âmbito da Análise do Comportamento, o uso de expressões que remetem a explicações mentalistas do comportamento devem ser evitadas; nesse contexto, o uso da expressão “propósito” não se destina a explicar o comportamento, e está sendo utilizada apenas para ajudar na construção didática do conceito de comportamento operante, para enfatizar que, utilizando uma linguagem de senso comum, mesmo que uma resposta seja apresentada por alguém com a “intenção” de produzir um certo resultado, se esse resultado não é produzido, o comportamento ocorrido não será aquele eventualmente pretendido. 32 EdUFSCar — Série Apontamentos Elaborar currículos Condições antecedentes Ação Condições subsequentes (diante de quê) (fez) (com que efeitos, resultados) Sd: • Solicitação/exigênda de informações curriculares Considerando: • Natureza da situação que requer apresentação de informações curriculares • Exige ncias/normas relativas a formato, linguagem e tipos de informações curriculares a serem apresentadas • Informações e fontes de informações pertinentes a aspectos curriculares existentes e disponíveis • Prazos estabelecidos • Tempo disponível para elaboração do currículo • Modelo/convençÕes estabelecidas para apresentação de currículo • Material e equipamento disponível (papel, computador, impressora, internet) Preparar documento com informações curriculares sobre si mesmo Uma possível resposta para a pergunta sobre resultados esperados é o currículo elaborado. Contudo, esse não é o único efeito que a resposta deve produzir. Um currículo que apresente informações não relevantes para o objetivo a que foi produzido provavelmente não seja um resultado esperado. Assim, é desejável indicar, como resultado, que o currículo esteja (bem) elaborado, significando que tenha atendido às normas estabelecidas convencionalmente (apresentando informações de forma clara, objetiva, ordenadas cronologicamente, na linguagem convencional e com texto sintético) ou, ainda, estabelecidas pela situação específica ao qual ele deverá ser utilizado. Ademais, podem ser indicados como resultados desejáveis: materiais utilizados sem desperdício ou avarias, currículo produzido no menor tempo possível e de forma que seja cumprido o prazo estabelecido na solicitação ou exigência. Veja, a seguir, uma descrição completa possível do comportamento de “elaborar currículo”. Elaborar currículos Condições antecedentes (diante de quê) Ação (faz) Condições subsequentes (com que efeitos, resultados) Sd: • Solicitação/exigência de informa- ções curriculares Currículo apresentado em conformidade com as exigências, prazos, nor- Considerando: mas e características da situação que • Natureza da situação que requer requer apresentação de currículo Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 33 apresentação de informações Normas/convenções estabelecidas curriculares para este tipo de documento respei- • Exigências/normas relativas a for- tadas, em termos de formato e lin- mato, linguagem e tipos de informa- guagem (a menos que estas estejam ções curriculares a serem Preparar documento com informa- em desacordo com as exigências da apresentadas ções sobre si mesmo situação específica), com informa- • Informações e fontes de informa- ções apresentadas de forma clara e ções pertinentes a aspectos objetiva curriculares Materiais utilizados na quantidade * Prazos estabelecidos mínima possível • Tempo disponível Equipamentos conservados em suas • Modelo/convenções estabelecidas características originais para apresentação de currículo Tempo mínimo despendido na ela- * Material e equipamento disponível (papel, computador, impressora, internet) boração do currículo Veja agora outro comportamento, também presente na vida diária: “Conduzir veículos para transporte de pessoas e objetos”. Esse poderia ser um comportamento-objetivo para um treinamento de futuros condutores de veículos. Esse exemplo é importante para destacar peculiaridades que podem existir ao descrever diferentes tipos de comportamentos que se deseja ensinar. Prime iramente, indique uma classe de respostas relacionada ao comportamento de interesse. Você encontra, mais adiante, nossa sugestão de classe de resposta para esse comportamento. Conduzir veículos para transporte de pessoas e objetos Condições antecedentes (diante de quê) Ação (faz) Condições subsequentes (com que efeitos, resultados) Conforme o conceito de comportamento considerado, as condições antecedentes em uma relação comportamental devem indicar tanto os estímulos discriminativos, que “sinalizam” que um determinado tipo de resposta (classe de respostas) é desejável, oportuno ou necessário, quanto as condições “necessárias” para que aquela resposta possa ocorrer de forma a produzir a relação desejada. As perguntas que colaboram para identificação das condições antecedentes são: a) Diante de que a resposta é desejável, necessária, oportuna? b) Com que o organismo deve entrar em contato para apresentar a resposta com as propriedades que deve ter? O que deve levar em conta para apresentar a resposta? O que é necessário para que a resposta possa ocorrer? Antes de prosseguir, transcreva a expressão que utilizou para indicar a classe de respostas para a coluna correspondente no esquema abaixo, e responda às perguntas acima para o comportamento que está sendo descrito. Conduzir veículos para transporte de pessoas e objetos Condições antecedentes Ação Condições subsequentes (diante de quê) (faz) (com que efeitos, resultados) Sd: Condições necessárias: Confira, em seguida, nossas sugestões para classe de respostas e condições antecedentes. Conduzir veículos para transporte de pessoas e objetos Condições antecedentes Ação Condições subsequentes (diante de quê) (fez) (com que efeitos, resultados) Sd: • Necessidade de deslocamento próprio ou de outras pessoas (que não possa ser atendida de outra forma) Condições necessárias a serem consideradas: • Condições de funcionamento e legalidade do carro para utilização • Condições das vias para deslocamento • Condições próprias de saúde, estado de alerta e legalidade para dirigir • Leis de trânsito e para condução de veículos em rigor Dirigir um veículo Observe que o estímulo discriminativo sugerido por nós indica que a resposta (dirigir um carro) deve ocorrer (apenas) quando há necessidade de deslocamento que não pode ser atendida por outro meio. Nesse caso, a preocupação com aspectos ambientais diversos pode justificar a indicação de que o comportamendo de conduzir um carro deve ser apresentado apenas em caso de impossibilidade de utilizar outros meios de deslocamento menos impactantes ao ambiente (como transporte coletivo, caminhar ou bicicleta, etc.).Tempo insuficiente para uso desses outros meios e urgência em alcançar o destino, inexistência dessas alternativas e impedimento físico de quem tem de se deslocar são exemplos destas impossibilidades. Essa dimensão evidencia, então, uma preocupação em que os aprendizes não apenas dirijam seus veículos, mas o façam com responsabilidade, também do ponto de vista do bem-estar da coletividade. Você sentiu falta, em nossa resposta, da indicação de alguma condição antecedente que esperava encontrar? Algumas condições são usualmente indicadas, principalmente por pessoas que iniciam sua capacitação para descrever comportamentos em conformidade com o conceito de comportamentooperante, de forma inconsistente com Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 35 o conceito, embora representem aspectos relevantes para o que é esperado de motoristas de automóveis. Note que, nas condições antecedentes, não foi indicado “saber dirigir”. Isso ocorre porque essa expressão não se refere a um estímulo ambiental, sendo exatamente aquilo que é esperado que o programa de ensino promova (no caso de uma descrição de comportamento sendo descrito como orientação para a elaboração de um programa de ensino). Assim, “saber fazer” é necessário para que a pessoa dirija, mas não define o que é esse fazer. Identificadas as condições antecedentes, para descrever um comportamento é necessário indicar efeitos, resultados ou produtos esperados, ou seja, as condições subsequentes. A pergunta que colabora na identificação das condições subsequentes é: Quais são os resultados, produtos ou efeitos que a resposta deve produzir? Importante lembrar que na identificação das condições subsequentes devem ser considerados tanto os resultados ou efeitos imediatos esperados quanto outros efeitos, de médio e longo prazos. Note que quanto mais amplo e de melhor qualidade for o conhecimento de quem está descrevendo o comportamento sobre aspectos relevantes da relação, melhor será a descrição obtida. Transcreva para o esquema suas indicações de classe de respostas e condições antecedentes (modificadas naquilo que considerar necessário após conhecer nossas indicações, se esse for o caso). Indique as condições subsequentes que identificou ao responder à pergunta relativa a esse aspecto da relação comportamental antes de prosseguir com a leitura. Conduzir veículos para transporte de pessoas e objetos Condições antecedentes Ação Condições subsequentes (diante de quê) (faz) (com que efeitos, resultados) Sd: Condições necessárias: Veja, no esquema a seguir, as condições subsequentes que indicamos como exemplo para o comportamento considerado. Conduzir veículos para transporte de pessoas e objetos Condições antecedentes Ação Condições subsequentes (diante de quê) (faz) (com que efeitos, resultados) Sd: * Necessidade de deslocamento próprio ou de outras pessoas (que não possa ser atendida de outra forma) Locomoção realizada conforme Condições necessárias a serem consideradas: • Condições de funcionamento e legalidade do carro para utilização • Condições das vias para deslocamento ■ Condições próprias de saúde, estado de alerta e legalidade para dirigir • Leis de trânsito e para condução de veículos em vigor Dirigir um veículo necessidade Leis respeitadas Pedestres, motorista, passageiros, carro e vias utilizadas em boas condições Dano ambiental mínimo causado (mínimo de combustível utilizado, mínimo de emissão de poluentes, etc.) 4. ATIVIDADE PRÁTICA: EXERCÍCIO DE DESCRIÇÃO DE COMPORTAMENTO Considerando a noção de que o comportamento humano é uma relação entre condições antecedentes, ação e condições subsequentes, descreva o comportamento a seguir, a ser ensinado a um profissional da área de enfermagem. Retome, em primeiro lugar, as perguntas que auxiliam a identificar cada um dos componentes da relação que constitui um comportamento, e transcreva-as a seguir: Classe de respostas: ___________________________________________________________________________ Condições antecedentes: a) ___________________________________________________________________________________ b) _________________________________________________________________________________________ Condições subsequentes: _______________________________________________________________________ Indique, no esquema a seguir, as respostas que formular para as perguntas orientadoras do procedimento de descrição de comportamentos. Cuidar de ferimentos Condições antecedentes Ação Condições subsequentes Leia as descrições que aparecem a seguir. Identifique aspectos que estão presentes nessas descrições e não foram considerados por você, e vice-versa. Descrição 1 Comportamento: cuidar de ferimentos (profissional da área de enfermagem) Condições antecedentes Ação Condições subsequentes Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 37 Sds: Lesão limpa e protegida de acordo * Lesão com procedimentos e recursos • Pedido ou solicitação de médico disponíveis ou momento definido para realização Minimização de probabilidade de do curativo infecções ou demais complicações Fazer curativo médicas Condições necessárias: Atendimento realizado no menor * Materiais disponíveis tempo possível * Procedimentos disponíveis para Materiais utilizados e descartados de realização de curativos forma adequada • Condições do ambiente Ambiente limpo Descrição 2 Comportamento: cuidar de ferimentos (profissional da área de enfermagem) Condições antecedentes Ação Condições subsequentes Sd: Lesão limpa e protegida de acordo ■ Pessoa com lesão com procedimentos e recursos * Pedido ou solicitação de médico disponíveis ou momento definido para realização Pessoa com lesão tranquilizada, do curativo informada sobre como lidar com o curativo e com o ferimento Condições necessárias: Fazer curativo Minimização de probabilidade de • Materiais disponíveis infecções ou demais complicações * Procedimentos disponíveis para médicas realização de curativos Atendimento realizado no menor • Condições do ambiente tempo possível Materiais utilizados e descartados de forma adequada Ambiente limpo Responda às seguintes perguntas: 1) Por qual profissional de enfermagem você prefere ser atendido, se necessitar de um curativo: pelo que foi preparado para fazer o atendimento conforme sua descrição, com o que foi treinado a apresentar o comportamento descrito em 1 ou em 2? Por quê? 2) Você faria adequações à sua descrição, considerando as que foram apresentadas? Depois de fazer as modificações que considerar adequadas à sua descrição do comportamento Cuidar de ferimentos» compare sua nova descrição com a que aparece a seguir, produto de várias melhorias que foram feitas por pessoas que realizaram este exercício. Cuidar de ferimentos Condições antecedentes Ação Condições subsequentes Diante de que é esperado, desejável, oportuno (Sds) • Pessoa com lesão passível de ser cuidada por meio de curativo • Pedido ou solicitação de médico • Momento definido para realização do curativo Com que, ou o que é necessário para: • Materials para curativo Considerando... • Material disponível e suas características (tipo, grau de adequação para a situação, quantidade, etc.) • Procedimentos indicados para realização de curativos, manipulação de materiais • Condições do ambiente (higiene, privacidade, etc.) • Características e condições da pessoa que será atendida (grau de ansiedade, nível de informação sobre a situação e como lidar com ela na hora e após o ferimento, etc.) • Características e condições da pessoa e da lesão (gravidade, urgência, etc.) Fazer curativo (de forma cuidadosa, tecnicamente correta, gentil e rápida) Lesão limpa e protegida de acordo com o tipo e gravidade da lesão, procedimentos adequados para a situação e recursos disponíveis Ausência de outros danos para a pessoa atendida Pessoa atendida informada sobre como lidar com o curativo e com o ferimento Pessoa em tratamento, o mais possível, tranquilizada Probabilidade de infecções ou demais complicações médicas decorrentes do curativo e de complicações no ferimento minimizadas Atendimento realizado no menor tempo possível Materiais utilizados e descartados ou guardados de forma adequada e em conformidade com normas e procedimentos indicados e recursos disponíveis na situação específica Ambiente limpo e em condições de uso para finalidade a que se destina posteriormente Pessoa que atende em boas condições de saúde Se desejar treinar um pouco mais como descrever comportamentos operantes,escolha um ou mais dos indicados na lista a seguir, e vá aprimorando sua capacidade de identificar aspectos relevantes nestas descrições. Consultar especialistas nas áreas a que se referem os comportamentos pode ser de ajuda para isso, mesmo que estes não saibam descrever comportamentos. Lista de sugestões de comportamento/tipo de aprendiz Apagar um incêndio: bombeiro Lavar roupas: auxiliar doméstica Preparar um café: auxiliar doméstica Atender cliente no balcão: lanchonete Ler um texto para uma platéia: ator Trocar de roupa: adolescente Cumprimentar uma pessoa: criança Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 39 Dar uma informação sobre endereço na rua: policial Estudar: aluno de graduação Escolher arroz: auxiliar de cozinha Dar um banho num bebê: mãe de criança recém-nascida Escrever uma dissertação: aluno de curso pré-vestibular Resumir um capítulo lido: aluno de graduação Guardar as roupas lavadas: auxiliar doméstica Fazer um diagnóstico: médico Atender telefone: recepcionista Consertar um aparelho eletrodoméstico: técnico REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOTOMÉ, S. P. Objetivos comportamentais no ensino: a contribuição da Análise Experimental do Comportamento. Tese (Doutorado em Ciência) - Departamento de Psicologia Experimental, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1980. _____ .A noção de Comportamento, 1997. (Texto manuscrito). 12 No âmbito da Análise do Comportamento, o uso de expressões que remetem a explicações mentalistas do comportamento devem ser evitadas; nesse contexto, o uso da expressão “propósito” não se destina a explicar o comportamento, e está sendo utilizada apenas para ajudar na construção didática do conceito de comportamento operante, para enfatizar que, utilizando uma linguagem de senso comum, mesmo que uma resposta seja apresentada por alguém com a “intenção” de produzir um certo resultado, se esse resultado não é produzido, o comportamento ocorrido não será aquele eventualmente pretendido. UNIDADE 3: PONTO DE PARTIDA PARA ELABORAR PROGRAMAS DE ENSINO: DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA No livro Contestação: Nova Fórmula de Ensino, de Postman ScWeingartner (1974), os autores fazem uma brilhante provocação para que educadores reflitam sobre seu trabalho; no trecho a seguir, em particular, sobre a partir de que constitui, muito frequentemente, a referência para elaboração de programas de ensino. Leia atentamente o texto a seguir: Em busca da relevância Imaginemos esta cena: O Dr. Gillupsie reuniu à sua volta um grande número dos jovens cirurgiões residentes do Hospital Geral de Blear. Estão prestes a iniciar sua análise semanal das várias operações que realizaram nos quatros dias precedentes. Gillupsie acena na direção de Jim Kildear, indicando que os casos de Kildear serão discutidos em primeiro lugar. Gillupsie: Bem, Jim, que teve você esta semana? Kildear: Apenas uma intervenção. Extraí a vesícula biliar do paciente do quarto 421. Gillupsie: Qual era o problema dele? Kildear: Problema? Nenhum. Acho que é peculiarmente bom remover vesículas. Gillupsie: Peculiarmente bom? Kildear: Quero dizer que é bom por si mesmo. Estou falando da extração de vesículas. Gillupsie: Ah, você quer dizer a remoção de vesículas per se. Kildear: Precisamente, chefe. A extração da vesícula desse paciente tinha um mérito intrínseco. Foi, como se costuma dizer, bom em si mesmo. Gillupsie: Ótimo, Jim. Se há uma coisa que eu não toleraria neste hospital seria um cirurgião simplesmente prático. E o que tem programado para próxima semana? Kildear: Duas lobotomias frontais. Gillupsie: Lobotomias frontais como lobotomias frontais, espero? Kildear: Que outra coisa poderia ser? Gillupsie: E você, Dr. Fuddy? Que fez esta semana? Fuddy: Bastante ocupado. Fiz quatro excisões de quistos pilonidais. Gillupsie: Não sabia que tínhamos tantos casos. Fuddy: Não temos, mas o senhor sabe como eu sou vidrado em excisões de quistos pilonidais. Foi meu forte na faculdade, como sabe. Gülupsie: É claro, é claro, já ia me esquecendo. Se bem recordo, foi a perspectiva de fazer excisões de quistos pilonidais que o atraiu para a Medicina, não foi, Fuddy? Fuddy: Exatamente, chefe. Sempre me interessei muito por isso. Francamente, nunca fui atraído para apendicectomias. Gillupsie: Apendicectomias? Fuddy: Bom, parecia ser este o problema do paciente do 397, Gillupsie: Mas você se manteve firme na excisão do quisto pilonidial, hein? Fuddy: Certo, chefe. Gillupsie: Bom trabalho, Fuddy. Sei muito bem como você se sente. Quando eu era da sua idade, sentia uma profunda atração pelas hísterectomias. Fuddy (com um risinho): Para os homens, a coisa não é mole, hein, chefe? Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 41 Gillupsie: Bom, de fato (tosse). Mas vocês ficariam espantados com o que um cirurgião hábil pode fazer. (Depois, solenemente): E você, Carstairs, como vão as coisas? Carstairs: Receio bem que tenha sido um semana azarada, meus pacientes morreram. Gillupsie: Bom, teremos de fazer alguma coisa a esse respeito, não é verdade? Você não pode ficar uma semana toda sem operar. Teremos que dar um jeito nisso, hein? De que eles morreram? Carstairs: Não tenho certeza, Dr. Gillupsie. Mas dei a cada um deles doses maciças d< penicilina. Gillupsie: Ah! O tradicional critério “bom porque é bom”, hein Carstairs? Carstairs: Não foi exatamente isso, chefe. Pensei apenas que a penicilina os ajudaria ; melhorar. Gillupsie: De que você os estava tratando? Carstairs: Bom, os três estavam muito doentes, chefe, e sei que a penicilina ajuda as pessoa a melhorarem. Gillupsie: Certamente que sim, Carstairs. Acho que você agiu sensatamente, Carstairs: E as mortes, chefe? Gillupsie: Maus pacientes, meu filho, maus pacientes. Um médico.nada pode fazer contra o maus pacientes. E nada há que um bom remédio possa também fazer por eles. Carstairs: Mesmo assim tenho o pressentimento desagradável de que talvez eles não preci sassem de penicilina. Talvez necessitassem de alguma outra coisa. Gillupsie: Ridículo! A penicilina nunca falha nos bons pacientes. Todos nós sabemos diss< Eu não ficaria tão preocupado com o caso, Carstairs. Talvez a nossa peçazinha não precise de explicações, mas gostaríamos de sublinhar alguns d seus pontos. Primeiro, se tivéssemos continuado a conversa entre o Dr. Gillupsie e os seus jovens c: rurgiões residentes poderiamos facilmente ter incluído meia dúzia de outras “razões” para aplicar : crianças os tipos de currículos irrelevantes que dominam a maior parte da escolaridade convencic nal. Por exemplo, poderiamos incluir um médico que ainda praticava a “sangria” nos seus pacienft por não ter ainda descoberto que tal prática não faz bem algum. Outro médico poderia insistir qi “curou” os seus pacientes, apesar de eles todos terem morrido (“Oh, eu lhes ensinei isso, mas eles não aprenderam”). Ainda outro médico poderia defender uma determinada prática argumentado que, embora a sua operação não tivesse trazido grande melhora para o paciente, mais tarde, ele talvez viesse a necessitar exatamente dela e, se assim fosse, voilã> ela já estava feita. O segundo ponto que gostaríamos de sublinhar é que não “inventamos” essas “razões”. Nossa peçazinha é somente uma paródia no sentido de que semelhante conversa é inconcebível entre médicos. Se, em vez de médicos, usássemos um diretor de escola e seus professores, e se eles discutissem o que tinham “ensinado” durante a semana, é porque nossa pequena peça seria um documentário gravado ao vivo, e não dos mais implacáveis. Há milhares de professores que acreditam na existência de certas matérias que são “inerentemente boas”, que são “boas em si mesmas”, que são “boas porque são”. Se nós lhes perguntarmos “Boas para quem?”ou “Boas para que fim?”, seremos rejeitados como pessoas “meramente práticas” e vão nos explicar que eles estão falando sobre literatura como literatura, de gramáticacomo gramática e de matemática per se. A tais professores dá-se correntemente o nome de “humanistas”. Há milhares de professores que ensinam matérias como Shakespeare, ou a Revolução Industrial, ou geometria analítica, porque eles sentem uma inclinação para esses assuntos e gostam de falar sobre isso. De fato, foi o que os levou a serem professores. É também o motivo por que seus alunos não conseguem ser aprendizes competentes. Há milhares de professores que definem um “mau estudante” como sendo qualquer estudante que não reage como 42 EdUFSCar - Série Apontamentos supostamente deveria ao que lhe foi receitado. E ainda muito mais são os professores que ensinam uma coisa ou outra na suposição de que a matéria fará algo de bom pelos seus estudantes quando, de fato, não faz e nunca fez, e, na verdade, como a grande maioria das provas indica, tem um efeito justamente oposto. E assim por diante. O terceiro ponto que gostaríamos de assinalar a respeito da nossa analogia é que o “problema” com todas essas “razões” consiste, simplesmente, em que o aprendiz (paciente) é deixado de fora, o que realmente é outra maneira de dizer que tais razões estão fora da realidade. Com pleno conhecimento das limitações da nossa metáfora paciente-aprendiz, diriamos ser rematada loucura (literal ou metaforicamente, ao leitor a escolha) realizar uma excisão do quisto pilonidal, a menos que o paciente dela necessite para conservar a sua saúde e bem-estar; e também é loucura (deixamos de novo à escolha o advérbio de modo) que um professor “ensine” alguma coisa, a menos que seus alunos dela necessitem para alguma finalidade importante e identificável, isto é, para alguma finalidade relacionada com a vida do aprendiz. A sobrevivência das aptidões e do interesse do aprendiz em aprender está em jogo. E sentimos que, ao dizer isso, não estamos sendo melodramáticos. (...) Postman & Weingartner (1974) chamam a atenção, com esta pequena fábula (fábula?), para a questão da relevância no ensino, e destacam alguns aspectos que, usualmente, controlam o comportamento do educador mais do que a relevância do que será ensinado para a vida dos aprendizes - e daqueles que necessitarão da atuação profissional desses aprendizes, no caso de formação de profissionais: o que o professor gosta de ensinar, o que sabe ensinar, o que ensinaram para ele... Nesta unidade, você entrará em contato com informações sobre como proceder, diante da necessidade de elaborar um programa de ensino, de modo a identificar critérios de relevância como parte do processo de programar. Por essa razão, o primeiro comportamento do programador é “descrever um problema que, supostamente, um programa de ensino a ser elaborado deve contribuir para resolver ou atenuar”, estabelecendo, assim, um ponto de partida que aumenta a probabilidade de desenvolver um programa de ensino relevante para a sociedade em que se inserem os aprendizes do programa. “Descrever a situação-problema” implica em identificar e caracterizar possíveis necessidades de aprendizagem, permitindo decidir o que e como ensinar sob controle do problema a ser resolvido com um programa de ensino. Elaborar tal descrição como parte do processo de programação de ensino aumenta a probabilidade de o programador propor as aptidões que os aprendizes necessitam ter em seus repertórios para lidar com a situação-problema. Ao final desta unidade é esperado que você apresente o seguinte comportamento, descrito em consonância com o conceito apresentado na Unidade 2 deste programa. Leia o objetivo a seguir e aproveite para conferir se nossa descrição atende, efetivamente, ao conceito: Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 43 Diante de... • Solicitação de elaboração de um programa de ensino, necessidade identificada que supostamente deva ser enfrentada por meio de um programa de ensino Considerando... Com... • Informações sobre aspectos da situação a que se refere a solicitação ou necessidade • Fontes para obtenção de informações • Procedimentos e instrumentos para obtenção de informações relevantes para descrever uma situação-problema Descrever a situação-problema a ser enfrentada, supostamente, por meio de um programa de ensino Resultados, produtos, efeitos desejáveis Indicação clara e mais completa possível de qual é o problema, para quem é problema, que comportamentos humanos deveríam ocorrer e não estão ocorrendo, quais não deveríam ocorrer e estão, por que devem ou não ocorrer, quais as consequências de intervir ou não em relação ao problema Essa unidade é formada por: 1 Texto básico Descrição de situação-problema a ser resolvida por meio de um programa de ensino, escrito por Ana Lucia Cortegoso. Neste texto, a autora apresenta características importantes que a descrição do problema deve apresentar. 2 Textos para aprofundamento de estudos sobre descrição de situação-problema. São indicados, para leitura, textos relacionados à descrição do ponto de partida para intervenção profissional. 3 Exemplo de descrição de situação-problema como ponto de partida para elaboração de programa de ensino. Nesta seção é apresentado um exemplo de descrição de situação-problema que, supostamente, poderia ser enfrentada por meio da elaboração de um programa de ensino voltado para estudantes universitários, em relação a como lidam com resíduos sólidos domiciliares. 4 Atividade prática: exercício de descrição de situação-problema. A partir de alguns subsídios, você vai realizar a descrição de uma situação-problema que, supostamente, pode ser en- frentada por meio de um programa de ensino. Texto básico Leia o texto a seguir, no qual são apresentadas as características desejáveis para um boa descrição do problema que, supostamente, um programa de ensino pode contribuir para resolver. 1. DESCRIÇÃO DE SITUAÇÃO-PROBLEMA A SER RESOLVIDA POR MEIO DE UM PROGRAMA DE ENSINO Ana Lucia Cortegoso O primeiro “problema” com o qual se defronta um programador de ensino é estabelecer um bom ponto de partida para decidir o que e como ensinar. Qual a situação a ser resolvida por meio do programa de ensino? Que características apresenta? É uma situação em relação à qual é necessário intervir? Por quê? Para quem a situação é ou implica em problema? Um nível de descrição da situação-problema é aquele que permitirá ao profissional responder à questão sobre se é necessário (relevante, pertinente, etc.) intervir em uma situação existente. Ocorre que profissionais são, muitas vezes, solicitados a realizar intervenções diante de situações que não constituem, de fato, “problemas”; ou, o que é entendido como problema por quem solicita não corresponde de fato a um problema que justifique a intervenção do profissional; ou, ainda, que até existem problemas, mas não aquilo que é apresentado como tal. Todo profissional deve 44 EdUFSCar - Série Apontamentos garantir uma boa descrição da situação existente que possibilite uma conclusão sua sobre a existência, relevância e características doaf eventuais “problemas” relacionados a uma determinada situação em relação à qual é solicitado ou pretende intervir. Outro nível de descrição da situação-problema refere-se à produção de respostas, pelo profissional, sobre se a implementação de um programa de ensino é a forma apropriada (ou uma delas) para lidar com a situação-problema existente. Muitas vezes, o profissional é solicitado a desenvolver programas de ensino (ou tende a oferecer esta como alternativa de intervenção), quando na verdade a situação-problema não está relacionada (ou não está prioritariamente relacionada) ao repertório inadequado (ou insuficiente) dos envolvidos, pelo menos não no sentido de que devam ser capacitados * a atuar. E o caso de uma solicitação de treinamento para melhorar as condições de atendimento telefônico quando na verdade a qualidade desse atendimento estásendo afetada pela má qualidade do equipamento disponível ou pela sobrecarga de trabalho de quem tem a responsabilidade de fazer isso. Antes de desenvolver um programa de ensino, é necessário ter alguma segurança de que variáveis que influem na determinação da situação-problema podem ser alteradas por meio dessa estratégia. Um nível adicional de descrição de uma situação-problema a ser resolvida por meio de um programa de ensino diz respeito aos comportamentos humanos que estão envolvidos nessa situação. Afinal, um programa de ensino é uma forma de desenvolver comportamentos novos nos aprendizes (ou aperfeiçoar, complementar, atualizar, corrigir seu repertório), sendo então necessário indicar, com a maior clareza possível, que comportamentos os aprendizes do programa não estão apresentando e deveríam, e que comportamentos apresentam e não deveríam. Uma boa descrição da situação-problema existente inclui, ainda, informações sobre o que torna tais condutas (presentes ou ausentes) desejáveis ou indesejáveis, considerando a situação-problema e o conhecimento disponível sobre ela e sobre como lidar com ela. Dessa forma, descrever uma situação em relação à qual há uma demanda por intervenção significa construir visibilidade sobre ela, de modo a poder tomar as melhores decisões. 2. TEXTOS PARA APROFUNDAMENTO DE ESTUDOS SOBRE DESCRIÇÃO DE SITUAÇÃO-PROBLEMA BOTOMÉ, S. P. Cuidados básicos ao comportar-se para obter uma descrição do problema comportamental sobre o qual se deve intervir, 1977. (Texto não publicado). _______________ . A quem nós, psicólogos, servimos de fato? Psicologia, v. 5, n. 1, p. 1-15,1979. _______________ . O exercício do controle na intervenção social do psicólogo. Ciência e Cultura, v. 33, n. 4, p. 517-524,1981. _______________ . Em busca de perspectivas para a psicologia como área de conhecimento e como campo de atuação profissional. In: CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (Org.). Quem é opsicólogo brasileiro f São Paulo: Edicon, EDUC, Scientia & Labor, 1988. p. 273-297. CORTEGOSO, A. L. Intervenção como instrumento para conhecer e conhecimento como condição para intervir. administração de relações no atendimento a crianças e jovens. Tese (Doutorado em Psicologia da Educação) - Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Educação, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1994. CORTEGOSO, A. L.; RONCA, A. C. C.; BOTOMÉ, S. P. Integração dos processos comportamentais de intervir em situações e de produzir conhecimento, como objeto de estudo e como objetivo de intervenção profissional. Chronos, Caxias do Sul, v. 30, n. 1, p. 70-102,1997. Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 45 MELCHIORI, L. E. Derivação de comportamentos institucionais e profissionais em relação a pessoas com “deficiência mental” a partir da caracterização da incidência desse problema na população de um município. Dissertação (Mestrado em Educação Especial) - Centro de Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 1987. MELCHIORI, L. E.; SOUZA, D. G.; BOTOMÉ, S. P. Necessidades da população como condição para um trabalho profissional: uma análise em Educação Especial. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 7, n. 1, p. 25-46,1991. REBELATTO, J. R.; BOTOMÉ, S. P. Fisioterapia: possibilidades de redefinição da atuação profissional em relação ao objeto de trabalho, ao conhecimento e ao ensino superior. In: _________ . Fisioterapia no Brasil. 2. ed. São Paulo: Manole, 1999. p. 175-226. 3. EXEMPLO DE DESCRIÇÃO DE SITUAÇÃO-PROBLEMA COMO PONTO DE PARTIDA PARA ELABORAÇÃO DE PROGRAMA DE ENSINO A seguir, é apresentada uma descrição de situação-problema relativa ao modo como universitários, aparentemente de um modo muito frequente, lidam com resíduos sólidos. Leia o exemplo; procure identificar aspectos do problema que são apresentados na descrição que colaboram para decisões sobre a efetiva existência ou não de um problema sobre o qual intervir e sobre a conveniência da elaboração de um programa de ensino como forma para enfrentar esse problema. Descrição da situação-problema com potencial para ser enfrentada por meio de um programa de ensino para universitários sobre geração de resíduos sólidos Geração, uso e destinação de resíduos sólidos10 A produção brasileira diária de lixo era, em 1995, de cerca de 90 mil toneladas (Jornal da USP, 6,12/11/95). Grande parte destes resíduos é descartada sem que sejam tomados cuidados como a limpeza das embalagens (dado que a presença de material orgânico inviabiliza o processo de reci- 10 Texto adaptado do documento produzido por Alessandra Arnold Tavares, Kellen Costa Santos e Nancy Capretz Batista da Silva como parte das exigências da disciplina Programação de Ensino e Treinamento no Curso de Graduação em Psicologia da UFSCar, em 2002.0 texto deve ser considerado como um exemplo, e não como modelo, já que apresenta limitações próprias do grau de conhecimento das pessoas que o elaboraram sobre esse tipo de problema (eram, eles próprios, estudantes universitários como os aprendizes), do contexto em que foi produzido e do repertório para este tipo de atividade (a descrição foi elaborada como exercício em um programa para capacitar alunos do curso de Psicologia da UFSCar a elaborar programas de ensino). 12 No âmbito da Análise do Comportamento, o uso de expressões que remetem a explicações mentalistas do comportamento devem ser evitadas; nesse contexto, o uso da expressão “propósito” não se destina a explicar o comportamento, e está sendo utilizada apenas para ajudar na construção didática do conceito de comportamento operante, para enfatizar que, utilizando uma linguagem de senso comum, mesmo que uma resposta seja apresentada por alguém com a “intenção” de produzir um certo resultado, se esse resultado não é produzido, o comportamento ocorrido não será aquele eventualmente pretendido. 46 EdUFSCar - Série Apontamentos clagem), a separação do lixo orgânico e reciclãvel (e este em metal, plástico, vidro e papel), além da entrega de baterias em postos de coleta. Esta falta de cuidado causa, em primeira instância, uma maior dificuldade no tratamento do lixo, aumento no acúmulo de lixo e poluição ambiental, uma vez que os resíduos mal encaminhados poluem o lençol freático, entopem as “bocas de lobo”, causando enchentes e acumulando-se nos aterros sanitários. A consequência em longo prazo é a degradação do ambiente e o uso cada vez mais intenso de recursos naturais não renováveis, alterando a qualidade de vida no planeta. Maiores gastos financeiros ocorrem devido ao descarte de materiais que poderíam ser reutilizados, a necessidade de produção de novos materiais, um consumo ampliado de matéria-prima e maior uso dos recursos ambientais. Este problema afeta tanto a população atual quanto a futura, pois a situação tende a piorar gradativamente se uma atitude efetiva não for tomada. A maior parte da população consome produtos com grande quantidade de materiais descartáveis, como suportes e embalagens. Este consumo tende a ser ainda maior nas classes média e alta, uma vez que estas adquirem muito mais produtos. A população universitária, composta em sua maioria de estudantes provenientes destas classes, é um exemplo disso. Grande parte dessa população não costuma tomar providências no sentido de redução do consumo (exceto diante de restrições financeiras) e de trato dos resíduos de forma adequada, conforme demonstra a experiência dos próprios alunos da disciplina. Tendo em vista as consequências desse problema, parece se justificar a realização de um programa de ensino destinado a preparar este segmento da população para um melhor aproveitamento de resíduos sólidos, em especial se considerado o papel social que os indivíduos com formação de nível superior devem desempenhar como modelos e educadores. Contribui para esta conclusão, ainda, a existência de conhecimento disponível tanto em relação ao problema e às condições que contribuem parasua ocorrência quanto a possibilidades alternativas em termos de como lidar com resíduos de forma a reduzir os problemas observados em decorrência das práticas preponderantes, não apenas, mas também, na população universitária. Responda: Você considera que a situação descrita corresponde, efetivamente, a um problema em relação ao qual é necessário e relevante intervir? Que aspectos da descrição levam a esta conclusão? Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 47 Se identificar outras informações que, de seu ponto de vista, deveríam fazer parte desta descrição, complete-a utilizando o espaço livre ao final da descrição. Do ponto de vista das pessoas que elaboraram esta descrição, foi possível identificar aspectos do problema que remetem a consequências tanto em curto quanto em médio e longo prazos, e constatar que esse problema tem abrangência que vai além do próprio indivíduo que se comporta, alcançando a sociedade no seu conjunto. Para aqueles que se dedicaram a sistematizar estas informações, a conclusão foi que as informações sobre a situação sinalizam que havia efetivamente um problema, que ele tinha relevância para a sociedade, e que ele envolvia comportamentos humanos a serem alterados, sendo que alguns deveriam ser eliminados ou modificados em relação a pelo menos parte de suas propriedades, e outros necessitavam ser instalados na população-alvo de um programa de ensino como o indicado. A elaboração (e implementação) de um programa de ensino, nesse sentido, pareceu a essas pessoas constituir parte da solução do problema identificado na maneira como estudantes universitários lidam com resíduos. 4. ATIVIDADE PRÁTICA: EXERCÍCIO DE DESCRIÇÃO DE SITUAÇÃO- PROBLEMA A tarefa prática proposta é descrever uma situação-problema que, de acordo com sua percepção, pode requerer a elaboração de um programa de ensino como forma de resolver ou atenuar o problema existente, de tal forma que esta descrição indique claramente: a) Se há de fato problema(s); b) Qual é (ou quais são) e para quem, e por que constituem problema; c) Se envolvem necessidade de ensino-aprendizagem de algum tipo; d) Para quem se destinaria; e) Que condutas humanas (ausentes e/ou presentes) fazem parte desse problema. Para definir uma situação-problema em relação a qual realizar o exercício, lembre-se de situações cotidianas que sugerem que pessoas estão atuando de forma inadequada, ou não sabem como atuar; ou relacionadas com aquelas com que profissionais de sua área usualmente lidam ou podem lidar, que requerem atenção em termos de promoção de condutas. Dê preferência, neste exercício, para situações em relação às quais você já dispõe de pelo menos algumas informações, ou sobre as quais pode, com facilidade, obter informações que levem a responder às perguntas (acima) que orientam a descrição de um problema sobre o qual intervir (a seguir, oferecemos algumas sugestões para ajudar você nessa definição). Exemplos de situações que podem servir para este exercício (ou podem ajudar a pensar em outras similares):11 • Cuidado com a casa (auxiliar doméstica); • Elaboração de currículo (profissional recém-formado); • Apresentação de seminários (alunos de graduação); • Cuidado com higiene (crianças, pessoas com necessidades especiais); • Atendimento ao público (telefonista); • Atenção a crianças (cuidadoras em creches). Atividade: descrição de uma situação-problema que pode requerer, como forma de intervenção (única ou entre outras), a elaboração e execução de um programa de ensino. 11 Para efeito desta atividade, considerando que a situação escolhida nesta etapa será base para as seguintes, sugerimos evitar situações que envolvam problemas complexos ou cuja solução pode depender pouco da aplicação de um programa de ensino e mais de outras formas de intervenção, como campanhas de divulgação, intervenção clínica ou modificação do ambiente. Procure selecionar entre as situações sugeridas ou outras similares a estas, em termos de grau de complexidade e probabilidade de que envolvam, efetivamente, a necessidade de promover novos comportamentos por meio de ensino sistemático. 48 EdUFSCar — Série Apontamentos Situação-problema (identificação): Descrição: Ao concluir sua descrição, confira se conseguiu responder satisfatoriamente às questões sobre se há um problema, para quem é um problema, qual sua abrangência, etc. Caso tenha concluído que a elaboração de um programa de ensino é desejável, você poderá tomar essa situação como ponto de partida para o desenvolvimento do programa nas próximas unidades. Se concluiu não que é esse o caso, ou se não tem interesse em trabalhar com essa situação-problema daqui em diante, selecione outra possível situação-problema e faça a descrição. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA POSTMAN, N.; WEINGARTNER, C. Contestação: nova fórmula de ensino. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1974.237 p. 12 No âmbito da Análise do Comportamento, o uso de expressões que remetem a explicações mentalistas do comportamento devem ser evitadas; nesse contexto, o uso da expressão “propósito” não se destina a explicar o comportamento, e está sendo utilizada apenas para ajudar na construção didática do conceito de comportamento operante, para enfatizar que, utilizando uma linguagem de senso comum, mesmo que uma resposta seja apresentada por alguém com a “intenção” de produzir um certo resultado, se esse resultado não é produzido, o comportamento ocorrido não será aquele eventualmente pretendido. UNIDADE 4: FORMULAÇÃO DE OBJETIVOS TERMINAIS DE PROGRAMA DE ENSINO Diante da descrição da situação-problema a ser enfrentada com um programa de ensino, o próximo passo é formular os possíveis objetivos a serem alcançados, ou seja, o que os aprendizes devem ser aptos a fazer. E nesse momento que será definido o que é esperado que os aprendizes desenvolvam, como repertório comportamental, para enfrentar a situação-problema, de modo que ela se modifique em uma direção desejável a partir do programa de ensino. Ao final desta unidade é esperado que você apresente o seguinte comportamento: Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes Diante de... • Descrição clara e completa do problema Considerando... • Conhecimento disponível sobre o que está envolvido com o problema e sobre os comportamentos humanos apropriados para lidar com a situação-problema, de forma a eliminá-la, atenuá-la ou melhorá-la • Conhecimento disponível sobre características de objetivos de ensino Propor objetivos terminais que supostamente resolveríam o problema, sob uma forma comportamental Resultados, produtos, efeitos desejáveis Objetivos terminais propostos como comportamentos (relações organismo-ambiente definidas em termos de condições antecedentes- ação-resultados, efeitos ou produtos das ações) que os aprendizes deverão estar aptos a apresentar como resultado do programa de ensino, supostamente relevantes para eliminar ou atenuar os problemas existentes ou, ainda, produzir melhora significativa na situação existente, em termos de qualidade de vida para os envolvidos na situação-problema Nesta unidade você encontrará: 1 Texto básico Características de objetivos terminais de programas de ensino, de Ana Lucia Cortegoso, no qual são apresentadas características que devem ser levadas em conta ao propor objetivos comportamentais de ensino. 2 Procedimento paraformulação de objetivos comportamentais terminais de um programa de ensino. Nesta seção é apresentado um procedimento para formulação dos objetivos terminais. 3 Exemplos de objetivos terminais em programas de ensino. São apresentados exemplos de descrições de situação-problema e objetivos terminais correspondentes a programas de ensino propostos como formas de lidar com estas situações-problema. 4 Descrição de objetivos terminais: demonstração participativa. São apresentados e descritos objetivos terminais em um programa de ensino para preparar estudantesuniversitários a lidar adequadamente com resíduos domiciliares sólidos. 5 Atividade prática — exercício de descrição de objetivos terminais, retomando o procedimento indicado para esta descrição. Texto básico Leia o texto a seguir, que apresenta o que são e as principais características dos objetivos terminais de programas de ensino. 50 EdUFSCar - Série Apontamentos 1. CARACTERÍSTICAS DE OBJETIVOS TERMINAIS DE PROGRAMAS DE ENSINO Ana Lucia Cortegoso Os objetivos terminais de um programa de ensino referem-se ao que o aprendiz deve ser capaz de fazer em situação natural como resultado do programa de ensino de que participará, ou seja, os objetivos terminais correspondentes aos comportamentos finais que se pretende que os alunos aprendam com o programa para que possam lidar de forma mais apropriada com as situações de interesse. Tais objetivos são expressos em termos de comportamentos potencialmente relevantes para lidar com a situação-problema, de forma a eliminar (ou atenuar) prejuízos ou promover benefícios contribuindo para a “solução do problema”. Dessa forma, os objetivos terminais devem corresponder a classes gerais de comportamentos para lidar com a situação-problema considerada. É importante lembrar que objetivos são comportamentos, e comportamentos são relações entre a ação de um organismo e o ambiente em que a ação ocorre, em termos das condições antecedentes e subsequentes. As antecedentes incluem os aspectos do ambiente que “sinalizam” que determinada ação é necessária, desejável ou oportuna, bem como os aspectos do ambiente que são necessários para que a ação possa ocorrer adequadamente. Em termos de condições subsequentes, devem ser indicados os resultados, produtos e efeitos desejáveis da ação. Além disso, os objetivos terminais de um programa de ensino devem ser viáveis (considerando conhecimento e recursos disponíveis, e características dos aprendizes) e passíveis de verificação empírica (quanto à sua ocorrência, propriedades e capacidade de efetivamente contribuir para a solução da situação-problema). Entendido dessa maneira, a formulação de objetivos de ensino implica em uma grande quantidade de decisões e requer que, para cada um dos objetivos propostos, seja elaborada uma descrição da relação comportamental que expressa esse objetivo, para a continuidade do processo de decisão sobre o que e como ensinar. Caso deseje ou necessite aprofundar sua compreensão sobre o que são e como devem ser formulados objetivos comportamentais em programas de ensino, veja Botomé (1981). 2. PROCEDIMENTO PARA FORMULAÇÃO DE OBJETIVOS COMPORTAMENTAIS TERMINAIS DE UM PROGRAMA DE ENSINO Depois de ler cuidadosamente a descrição da situação-problema que indica a conveniência de desenvolver um programa de ensino, e utilizando o esquema de três colunas indicado para descrição de comportamentos (modelo adiante): 1) Indicar comportamentos finais desejáveis dos aprendizes que você considere que devam apresentar nas situações concretas correspondentes à situação-problema descrita. Atenção: a) Devem ser indicadas classes gerais de comportamentos, e não tudo o que o aprendiz terá que fazer na situação concreta; b) Deverão ser indicados comportamentos significativos para a situação-problema; c) Podem ser utilizadas expressões parciais para indicar os comportamentos, das quais façam parte pelo menos as ações que representam os comportamentos desejáveis. A descrição compor- tamental de cada um deles será feita quando todos os objetivos terminais estiverem indicados. 2) Indicar ações (classes de respostas) na parte central do esquema de três colunas, de preferência a lápis. Atenção: Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 51 a) Cada comportamento deve ser representado por uma única ação, que corresponde a um verbo (de ação!); certifique-se que não há verbos escondidos atrás de gerúndios que parecem completar a ação, mas na verdade indicam outra; b) Confira se, ao indicar o comportamento, já não incluiu na expressão aspectos das condições antecedentes ou subsequentes, e deixe na coluna central apenas a indicação da ação. ______________ 3) Descrever cada um dos objetivos propostos, um por vez, a partir de respostas que forem dadas às seguintes questões, formuladas nesta sequência: a) Para as condições antecedentes: que aspectos do ambiente indicam ou sinalizam que a ação é desejável, necessária, apropriada? Que condições são necessárias para que a ação possa ocorrer? b) Para as condições subsequentes: que resultados, efeitos ou produtos devem decorrer da ação? Atenção: Não utilize verbos, já que as condições antecedentes são aspectos ambientais (classes de estímulos). Resultados de comportamentos podem, contudo, ser indicados. Se surgir algum verbo, procure identificar substantivos e adjetivos correspondentes e faça a substituição. Esse recurso ajuda a diferenciar a função de cada um dos componentes do objetivo. Lembre-se de incluir não apenas resultados imediatos e não apenas os mais óbvios e aparentes, mas os que pareçam “definidores”, essenciais para caracterizar a relação comportamental prevista. _____________________________________________________________ 4) Registre todas as “respostas” que obtiver às perguntas indicadas no item 3 nas colunas correspondentes. 5) Confira cada um dos objetivos, comparando-os com a noção de comportamento e com a situa- ção-problema a ser resolvida por meio do programa de ensino. 3. EXEMPLOS DE OBJETIVOS TERMINAIS EM PROGRAMAS DE ENSINO 3.1 Avaliação no ensino12 Descrição da situação-problema Os métodos de avaliação, que vêm sendo empregados sobretudo nas universidades, consistem em um problema não só para os alunos, que na maioria das vezes sentem diretamente o impacto de tal problema por meio das recuperações e reprovações, mas, também, para os próprios docentes, que muitas vezes não entendem o motivo de tantas reprovações, notas bancas e até mesmo a falta de motivação dos alunos. Além disso, tais métodos requerem grande esforço por parte do professor, já que exigem um maior tempo gasto em correções de prova do que no próprio processo de ensino, diminuindo, assim, a qualidade desse ensino. O sistema de avaliação atual tem se dado, principalmente, na forma de provas formais e escritas, realizadas após a administração de uma certa quantidade de informações, para verificar se o aluno aprendeu o que foi ensinado. Alguns professores vêm usando as avaliações escritas e formais como único meio para avaliar os alunos, deixando a avaliação de ser um processo contínuo. Ao escolher apenas a prova como meio de avaliação e aplicá-la ao final de um prolongado período de ensino, o professor perde a oportunidade de diagnosticar as dificuldades dos alunos e enfrentá-las adequadamente, de modo que essas dificuldades não impeçam ou dificultem o processo de aprendizagem. Considerando a importância de 12 Descrição de ponto de partida e objetivos de ensino formulados pela equipe do ProEstudo - Programa de Capacitação Discente para o Estudo, em 2002. 52 EdUFSCar “ Série Apontamentos que o ensino seja sequendado de maneira que conhecimento/habilidades que sejam pré-requisito para outros sejam desenvolvidos primeiro, no caso de dúvidas não solucionadas, fica comprometida toda a aprendizagem subsequente. Ao diversificar seus instrumentos de avaliação, incluindo resolução de exercícios, trabalhos em grupo, seminários, participação em sala de aula, autoavaliação, etc., o professor amplia a oportunidade de seus alunos demonstrarem seus conhecimentos; além disso, tem, com maior frequência, oportunidade de identificar problemas no desenvolvimento das aulas e corrigi-los com rapidez, promovendo a manutenção dos comportamentos de estudo dos alunos. Com excessiva frequência, a avaliação no ensino tem sido usada por professores, principalmente como forma de controlar o comportamento de estudo dos alunos. Com frequência, também, como parte de umacontingência de controle aversivo desses comportamentos, que acaba por produzir comportamentos de fuga/esquiva, tais como “cola”, adoecimento, agressão, etc. Ou até mesmo comportamentos de estudo, embora com propriedades muito diversas daquelas que seriam promovidas por meio de controle positivo. Mesmo com tal objetivo, a demora com que muitos docentes divulgam as notas compromete a função de “consequência” que essa nota pode significar, além do fato de que esta demora frequentemente significa que os alunos estudam para as provas subsequentes sem terem acesso ao resultado de seu desempenho anterior. Isso se torna um problema, pois o aluno não tem um retorno imediato de seu desempenho, o que facilitaria a compreensão sobre aspectos em que surgiram dificuldades e em relação aos quais é necessário maior investimento. Esse tipo de situação não possibilita, portanto, condições favorecedoras para que estudantes aprimorem ou desenvolvam seu comportamento de estudo. Nos casos em que esse retorno acontece, mesmo que tardiamente, não é raro que o aluno conheça apenas o conceito final atribuído pelo professor, sem ter acesso à prova, para que possa verificar seus erros e acertos. O tratamento de “documento a ser guardado para uso contra o aluno” dado a provas em muitas instituições, ou por parte de docentes, evidencia o papel que a avaliação tem no processo de ensino-aprendizagem sob a responsabilidade desses professores. Informar aos alunos com antecedência as datas de provas e tornar acessíveis informações sobre os resultados alcançados, dando a oportunidade de apreciação das provas o mais breve possível, ajudam na motivação do aprendiz para enfrentar novas provas com maior tranquilidade e organizar seu tempo para a preparação futura, dando atenção para aqueles temas em que apresentaram menor sucesso, além de promover a manutenção do comportamento de estudo. A falta de motivação do aluno, que por vezes preocupa o professor, pode se dever ao fato de que, em muitas ocasiões, aquilo que é exigido em uma prova não condiz com o exposto em aula ou até mesmo pedido nos exercícios realizados. A avaliação acaba colocando, então, o aprendiz diante de exercícios ou questões que ele não tem condições de resolver porque não teve oportunidade de aprender adequadamente o que é solicitado. Exercícios que, embora sejam baseados nos assuntos apresentados e desenvolvidos em aula, exigem esforço adicional para resolução em relação aos que o aluno teve oportunidade de se preparar, podem estar exigindo um nível de generalização que não foí promovido - embora seja esperado pelo professor. Outro fato que também se observa, com alguma frequência, no caso de avaliações, é a falta de compatibilidade entre a prova apresentada e o tempo disponível para a sua realização, condição que, notada pelo aluno, é fonte de ansiedade excessiva, que pode comprometer o desempenho no atendimento às solicitações feitas. Há situações, ainda, em que uma vasta gama de conceitos e informações é avaliada em Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 53 apenas uma questão, diminuindo a probabilidade de o aluno demonstrar o que aprendeu, o que pode configurar, também, um excessivo distanciamento entre o comportamento que deseja instalar no aprendiz e a forma de avaliação empregada. Além disso, fatores externos ao instrumento e procedimentos utilizados pelo professor para avaliação e à relação ensino-avaliação podem interferir no bom desempenho de aprendizes na situação de avaliação. Por exemplo, ter acabado de resolver uma outra prova difícil ou recebido a notícia de uma nota baixa em outra matéria pode criar condições desfavorecedoras para um bom desempenho em uma situação de avaliação. Em algumas circunstâncias, isso pode não estar sob controle de um único professor, mas há situações em que é o professor quem, por meio da maneira como apresenta e desenvolve as situações de avaliação, cria tais condições desfavorecedoras, impedindo que o aluno possa efetivamente agir para sua recuperação de um momento para o subsequente. Em decorrência disso tudo, os professores deparam-se com um elevado índice de notas baixas e reprovações e, na maioria dos casos, quando notam tal fenômeno já não há mais tempo para recuperar o rendimento dos alunos. Um problema a considerar, nesse caso, é o ponto de vista equivocado de muitos professores, considerando o conhecimento disponível sobre ensino-aprendizagem, de que alto índice de reprovação é sinônimo de boa qualidade no ensino, e que a maneira correta (ou única possível) de promover aprendizagem é mantendo os alunos sob constante ameaça. Outro problema a considerar, em relação à avaliação, é que o conceito de ensino de muitos professores inclui a concepção de que a avaliação possui apenas o objetivo de medir o quanto o aluno aprendeu e, se o aluno fracassa, a falha cabe (apenas) ao próprio aluno. Atribuir a falha do processo de ensino ao aluno é muito comum e talvez seja consequência da unidirecionalidade da avaliação: em geral, ela é apenas atribuição do professor, só o professor tem poder de avaliar e de usar os resultados. Além da decorrência mais óbvia de desequilíbrio nas relações que se estabelecem no processo, outra é o fato de que os aprendizes ficam privados da possibilidade de aprender a avaliar - e a se avaliar. Neste contexto, é fácil notar porque as situações de prova tornam-se geralmente aversivas, afetando a visão que o aluno tem do professor, da própria disciplina e do processo de aprender, além de trazer decorrências para a vida futura do indivíduo, que poderá apresentar dificuldades para lidar com situações de avaliação. O conhecimento disponível sobre ensino-aprendizagem indica a importância de que a avaliação seja parte desse processo, e o mais possível contínua e subsidiária dele, e não um procedimento isolado. Com frequência, também, avaliar é confundido com medir o conhecimento daqueles que foram submetidos a algum tipo de aprendizagem. Avaliação, contudo, envolve muito mais que a simples atribuição de um valor, numérico ou não, ao produto do aprendiz. Avaliar é, a partir de determinadas medidas, atribuir significado a esse conceito a partir de sua relação com aquilo que está previsto alcançar e com as condições que foram garantidas para que a aprendizagem ocorresse. A ausência dessa perspectiva tem significado, com frequência, o uso de conceitos para definir apenas se o indivíduo pode ou não prosseguir nas etapas formais previstas, e para gerar estigmas no âmbito do grupo. Avaliar compreende a confirmação da validade de um procedimento - o método de ensino - constatando se as estratégias utilizadas atingiram os objetivos esperados e se foram ou não adequadas àquela situação. Ao proceder à avaliação, o professor tem a oportunidade de corrigir falhas na forma de ensinar, identificar as dificuldades de seus alunos (individual ou coletivamente) para direcionar seu trabalho com maior segurança, analisar se o tempo previsto para a conclusão da atividade foi suficiente e se o nível de 54 EdUFSCar “ Série Apontamentos conhecimento exigido foi adequado ao programa de ensino estipulado. Numa avaliação, os alunos devem ter a oportunidade de avaliarem a si mesmos, o trabalho do professor e as atividades desenvolvidas. Essas características de um sistema de avaliação, quando observadas no processo, conduzem à melhora do currículo e ao aumento na qualidade do ensino oferecido. Objetivo terminal proposto É esperado, como resultado do programa, que... Diante de... • oportunidade ou necessidade de desenvolver programas de ensino; e • objetivos de ensino a serem atingidos; • recursos disponíveis para realizar avaliação; • normas institucionais sobre avaliação; • conhecimento disponível sobre avaliação no e do ensino; • problema a ser resolvido com o programa de ensino; • características dos aprendizes; • condições de ensino propostas; e • condições de ensino utilizadas. Odocente seja capaz de... Promover avaliação como parte integrante do programa de ensino de forma a garantir... • Informações disponíveis, de forma contínua durante o desenvolvimento do programa e quando de seu término, sobre: - grau de aprendizagem dos alunos em relação aos objetivos pretendidos; - dificuldades dos aprendizes no processo de aprendizagem; “ grau de adequação das condições de ensino oferecidas para promover as aprendizagens pretendidas; - grau de adequação dos objetivos propostos para o programa de ensino. • Subsídios para revisão do programa de ensino em seus vários aspectos, enquanto ele ainda está ocorrendo. • Acesso aos resultados de avaliações realizadas, aos aprendizes, de forma imediata, clara e completa. • Comportamentos de estudo adequados dos aprendizes promovidos e mantidos positivamente. 3.2 Administração e convivência em residências estudantis coletivas (“república”) Descrição da situação-problema13 Repúblicas de estudantes são, geralmente, formadas por jovens universitários que saem da sua cidade natal para viver em um novo ambiente e assumir novas responsabilidades. Muitos desses jovens nunca 13 Adaptada da descrição elaborada por Carolina Rosa Crespo, Janaína Ribeiro de Resende e Venício Loenert Neto, quando cursaram a disciplina Programação de Ensino e Treinamento como alunos do Curso de Psicologia da UFSCar. Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 55 tiveram a necessidade de administrar a própria casa, uma conta bancária, a divisão de despesas. Vários problemas podem surgir nesse contexto, dos quais destacamos: • Problemas de ordem financeira e administrativa: - Na divisão das contas (aluguel, telefone, energia, etc.), porque nem todos os integrantes apresentam gastos semelhantes e essa divisão de despesas pode constituir fonte de desconfiança e conflito; - Divisão de tarefas como pagamento de contas, limpeza e arrumação da casa e as compras de supermercado; - Conserto e manutenção da casa (conserto de eletrodomésticos, etc.). • Problemas interpessoais (os integrantes da república têm de conviver com pessoas com personalidades e hábitos diferentes) tais como: 56 EdUFSCar - Série Apontamentos - Diferenças nas formas de comunicação, expressão e na maneira de lidar com os problemas; - Dificuldade de lidar com problema de poder compartilhado e tomar decisões conjuntas; - Nem sempre ocorre empatia e afinidade entre os integrantes da república; - Não comunicação sobre ocorrência de eventos ou atividades na casa que possam incomodar os outros moradores (festas, visitas, namorados, pais, etc.); - Desrespeito ao espaço alheio e falha no reconhecimento dos limites dos outros (por exemplo, ouvir música alta, acender a luz enquanto os outros estão dormindo no cômodo, pegar comida alheia, utilizar objetos dos outros sem permissão); - Falta de assertividade e de aceitação do comportamento assertivo dos outros moradores (confusão de assertividade com agressividade). • Problemas de ordem jurídica: - Desrespeito a contratos e acordos (contrato de aluguel, assinatura de telefone); - Contratação inadequada de funcionários (doméstica, eletricista, jardineiro, etc.), entre outros. Considerando que a constituição e manutenção de repúblicas estudantis é não apenas uma maneira de tornar viável a manutenção de estudantes por suas famílias, longe de suas cidades, em função do barateamento do custo dessa manutenção pelo compartilhamento de gastos, mas também uma ótima oportunidade para que esses estudantes desenvolvam repertórios relevantes para a sua vida adulta futura, parece relevante criar condições que preparem esses jovens para a vida nesse tipo de residência. Nesse sentido, um programa de ensino especificamente voltado para essa finalidade parece relevante e justificado. Objetivos propostos14 Geral: É esperado, como resultado do programa, que estudantes universitários que residam em repúblicas... Diante de oportunidade ou necessidade de viver em uma república (residência coletiva)... Considerando... • Características e necessidades das diferentes pessoas que compartilham a residência • Histórias de vida, cultura, hábito e costumes dos que compartilham a residência • Características físicas da residência • Aspectos a serem gerenciados no funcionamento de uma residência coletiva e da residência em particular onde vive • Informações sobre possibilidades (em termos de instrumentos, procedimentos e estratégias) para gerenciamento de uma residência coletiva • Recursos disponíveis para gerenciamento da residência Lidem adequadamente com gestão de residência coletiva da qual façam parte Tendo como resultados, produtos e efeitos: • República organizada e funcionando em conformidade com acordos estabelecidos (normas) coletivamente e deliberados democraticamente • Conflitos evitados, minimizados e, se ocorrerem, resolvidos com o menor desgaste possível dos envolvidos e grau máximo possível de atendimento às necessidades de todos • Melhor qualidade de vida possível garantida para todos os que residem juntos 14 Formulações construídas a partir das apresentadas por grupos de alunos do curso de Psicologia que cursaram a disciplina Programação de Ensino e Treinamento. Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 57 • Melhor qualidade possível da interação alcançada entre os moradores • Menor gasto possível de recursos para a manutenção e o funcionamento da casa • Responsabilidades em relação ao funcionamento e manutenção da residência distribuídas pelos moradores em conformidade com critérios estabelecidos pelo grupo • Necessidades e preferências dos moradores atendidas no grau máximo possível • Peculiaridades dos moradores respeitadas no grau máximo possível Em alguns casos, ao invés de um objetivo tão geral, foram propostos, diretamente, por alunos que realizavam o exercício, objetivos mais específicos, como: Objetivos mais específicos (embora ainda gerais) Condições antecedentes Ação Condições subsequentes Diante de... * Necessidade de convivência em uma residência coletiva Considerando... * Direitos e deveres de cada um • Ausência de regras • Conhecimento sobre criação de regras em ambientes coletivos Estabelecer regras de convivência Regras elaboradas em conformidade com as necessidades e consentimento de todos os moradores (ou da maioria) (Maior probabilidade de) convivência com o mínimo possível de atritos/ menor probabilidade de conflitos Condições antecedentes Ação Condições subsequentes 58 EdUFSCar - Série Apontamentos Sd: • Necessidade de manutenção das condições de ordem e limpeza da casa Considerando... • Interesses diferentes das pessoas envolvidas • Recursos disponíveis ■ Necessidade de morar em república • Tarefas domésticas a serem realizadas/ diferentes tipos de tarefas a serem realizadas em uma república • Contas a pagar • Utensílios domésticos • Dinheiro disponível • Disponibilidade de tempo dos moradores ■ Prazos a cumprir • Conhecimento existente sobre realização de tarefas domésticas • Ambiente físico da república • Material de limpeza • Disponibilidade de tempo • Regras preestabelecidas em conjunto sobre como limpar e organizar o ambiente • Necessidade de reparos • Obrigações contratuais/cláusulas contratuais • Dinheiro • Prestadores de serviços ■ Acordo entre os membros da casa • Afinidade e disponibilidade de cada morador Administrar tarefas domésticas Manutenção da ordem e limpeza da casa com gastos mínimos de recur- sos/tarefas domésticas realizadas Condições de boa convivência mantidas/minimização de focos de conflito Contas pagas nos prazos Ambiente limpo e organizado Gasto mínimo de recursos Manutenção dos bens materiais Reparos feitos Manutenção dos bens Tarefas divididas por afinidade e disponibilidade de cada morador Bem-estar no convívio da república Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes • Conflitosde interesses * Relações desarmônícas instaladas/ problema de convivência entre moradores Mediar conflitos Grau máximo de harmonia na convivência recuperado ou preservado Problemas existentes solucionados Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 59 * Diferentes interesses * Diferentes disponibilidades de recursos * Contas a serem pagas com prazos determinados * Necessidade de pagamento de contas referentes aos gastos coletivos dos membros da república até a data de vencimento Administrar questões financeiras Contas pagas dentro dos prazos/assi- duidade no pagamento das contas Divisão das despesas segundo interesse, disponibilidade e utilização dos recursos Interesses dos envolvidos atendidos no grau máximo possível Condições que minimizem probabilidade do aparecimento de novos conflitos Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes * Normas estabelecidas Respeitar normas Normas cumpridas por parte de todos Ausência de conflitos Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes • Oportunidade ou necessidade de convivência de pessoas com hábitos, personalidades, preferências e/ou origens diferentes (temperamento, criação, cultura) • Individualidade/direitos de cada um • (Oportunidade, necessidade de) interação entre moradores da república em diferentes situações • Regras de convivência social • Características pessoais dos envolvidos Relacionar-se de forma adequada com moradores que compartilham ambiente Minimização de conflitos/conflitos minimizados ou evitados Individualidades respeitadas/diferen- ças individuais respeitadas Ambiente físico preservado Bem-estar coletivo Boa comunicação entre os membros/ comunicação e diálogo facilitados Relacionamentos saudáveis (com compreensão, sem abusos) entre os moradores/relações harmoniosas e positivas entre moradores 4. DESCRIÇÃO DE OBJETIVOS TERMINAIS: DEMONSTRAÇÃO PARTICIPATIVA A seguir são apresentados objetivos terminais de ensino propostos, em um determinado contexto, para um programa destinado a ensinar universitários a lidar com resíduos sólidos. Releia a descrição de problema que deu origem a este programa, apresentada como exemplo na Unidade 3 deste material (Geração, uso e destinação de resíduos sólidos). Leia o exemplo e procure identificar aspectos dos objetivos mencionados no texto. Objetivo terminal de programa de ensino destinado a capacitar estudantes universitários para “promover conservação do ambiente em situações que envolvam resíduos sólidos” A classe de comportamentos geral indicada (lidar adequadamente com resíduos sólidos ao suprir suas necessidades por meio de consumo de produtos) representa o objetivo mais geral, terminal no programa de ensino proposto. Uma possível descrição desse comportamento, adaptada da que foi produzida por um conjunto de estudantes universitários no contexto de uma disciplina destinada a ensiná-los a elaborar programas de ensino, com base no conhecimento disponível para aquele conjunto de pessoas sobre a situação a que se refere o problema e maneiras de enfrentá-lo, pode ser vista a seguir: 60 EdUFSCar - Série Apontamentos Condições antecedentes (classes de estímulos antecedentes) Ação (classe de respostas) Condições subsequentes (classes de estímulos subsequentes) Diante de oportunidades de consumo de produtos que contêm recursos esgotáveis, que podem gerar resíduos, ou de resíduos gerados no consumo de produtos e do conhecimento existente sobre uso e destinação de resíduos Lidar com resíduos sólidos Mínimo possível de resíduos para serem descartados, estando estes em boas condições para aproveitamento, com impacto ambiental mínimo (pela economia de consumo de matéria-prima e não contaminação), máximo possível de resíduos produzidos encaminhados para aproveitamento ou aproveitados por quem os produz, e fortalecidas iniciativas de aproveitamento de resíduos Antes de prosseguir na leitura, faça uma revisão da descrição apresentada acima com base no conceito de comportamento, na descrição da situação-problema e no que você conhece dessa situação, indicando correções, acréscimos e aperfeiçoamentos que poderiam ser feitos nessa descrição, Se desejar, elabore outra descrição para esse comportamento no quadro a seguir: Condições antecedentes (classes de estímulos antecedentes) Ação (classe de respostas) Condições subsequentes (classes de estímulos subsequentes) 12 No âmbito da Análise do Comportamento, o uso de expressões que remetem a explicações mentalistas do comportamento devem ser evitadas; nesse contexto, o uso da expressão “propósito” não se destina a explicar o comportamento, e está sendo utilizada apenas para ajudar na construção didática do conceito de comportamento operante, para enfatizar que, utilizando uma linguagem de senso comum, mesmo que uma resposta seja apresentada por alguém com a “intenção” de produzir um certo resultado, se esse resultado não é produzido, o comportamento ocorrido não será aquele eventualmente pretendido. 61 EdUFSCar — Sérte Apontamentos Em alguns casos, a indicação de objetivos terminais para esse mesmo programa, no contexto em que ele foi desenvolvido, ocorreu por meio da indicação de classes de comportamentos que, embora gerais, são mais específicas do que o comportamento “lidar com resíduos sólidos”, e que podem ser consideradas como componentes dessa classe mais geral, conforme esquema abaixo. Antes de prosseguir com a leitura, elabore uma descrição do primeiro comportamento indicado na coluna da direita do esquema (prover necessidades de consumo). 1) Prover necessidades de consumo Condições antecedentes (classes de estímulos antecedentes) Ação (classe de respostas) Condições subsequentes (classes de estímulos subsequentes) A seguir, veja uma descrição desse mesmo comportamento, e compare com a sua: 1) Prover necessidades de consumo Condições antecedentes (classes de estímulos antecedentes) Ação (classe de respostas) Condições subsequentes (classes de estímulos subsequentes) 76 EdUFSCar — Série Apontamentos Diante de necessidades efetivas de consumo, de diferentes tipos de produtos disponíveis para consumo em relação ao potencial de geração de resíduos, de produtos gerados com diferentes graus de aproveitamento de resíduos ou de impacto ambiental no processo de produção, de recursos disponíveis para obtenção dos produtos necessários ao atendimento das necessidades e do conhecimento existente sobre possibilidades de aproveitamento de resíduos e de redução na produção de resíduos Consumir Necessidades de consumo satisfeitas, com menor gasto possível de recursos, ausência de resíduos ou mínimo de resíduos gerados pelo consumo, resíduos inevitáveis produzidos com maior potencial de aproveitamento e uso máximo de produtos gerados a partir do aproveitamento de outros Descreva cada um dos outros comportamentos que aparecem no diagrama, sempre conferindo a descrição que fez com a que é apresentada, antes de prosseguir. 2) Preparar resíduos para aproveitamento Condições antecedentes (classes de estímulos antecedentes) Ação (classe de respostas) Condições subsequentes (classes de estímulos subsequentes) Compare sua proposta com a descrição a seguir: Condições antecedentes (classes de estímulos antecedentes) Ação (classe de respostas) Condições subsequentes (classes de estímulos subsequentes) Diante de resíduos sólidos produzidos, do conhecimento disponível sobre características desejáveis ou necessárias de resíduos para aproveitamento ou encaminhamento para serem aproveitados, e de recursos disponíveis para adequar características de resíduos às desejáveis ou necessárias para aproveitamento ou encaminhamento para serem aproveitados Cuidar de resíduos do consumo para aproveitamento Resíduos em condições o mais fa-vorecedoras possível para o tipo de aproveitamento ou encaminhamento que será feito (limpo, rasgado, separado em categorias) 3) Aproveitar resíduos produzidos (a partir de consumo) Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 63 Condições antecedentes (classes de estímulos antecedentes) Ação (classe de respostas) Condições subsequentes (classes de estímulos subsequentes) Compare com a seguinte descrição: Condições antecedentes (classes de estímulos antecedentes) Ação (classe de respostas) Condições subsequentes (classes de estímulos subsequentes) Diante de resíduos sólidos produzidos (por si ou por outros) com potencial para atender necessidades, necessidades próprias ou de outras pessoas, e do conhecimento disponível sobre possibilidades de aproveitamento de resíduos sólidos Usar resíduos Resíduos sólidos aproveitados, necessidades satisfeitas, total ou parcialmente, e consumo de novos produtos evitado 4) Encaminhar resíduos para aproveitamento Condições antecedentes (classes de estímulos antecedentes) Ação (classe de respostas) Condições subsequentes (classes de estímulos subsequentes) Compare com a seguinte descrição: Condições antecedentes (classes de estímulos antecedentes) Ação (classe de respostas) Condições subsequentes (classes de estímulos subsequentes) Diante de resíduos sólidos que não possam ser aproveitados para atendimento de necessidades próprias, preparados para serem encaminhados e dos recursos existentes para encaminhamento de resíduos para aproveitamento Destinar resíduos Cada tipo de resíduo encaminhado de acordo com suas características e possibilidades de aproveitamento disponíveis 5) Capacitar outras pessoas e a si mesmo para lidar com resíduos Condições antecedentes (classes de estímulos antecedentes) Ação (classe de respostas) Condições subsequentes (classes de estímulos subsequentes) 76 EdUFSCar — Série Apontamentos 12 No âmbito da Análise do Comportamento, o uso de expressões que remetem a explicações mentalistas do comportamento devem ser evitadas; nesse contexto, o uso da expressão “propósito” não se destina a explicar o comportamento, e está sendo utilizada apenas para ajudar na construção didática do conceito de comportamento operante, para enfatizar que, utilizando uma linguagem de senso comum, mesmo que uma resposta seja apresentada por alguém com a “intenção” de produzir um certo resultado, se esse resultado não é produzido, o comportamento ocorrido não será aquele eventualmente pretendido. 65 EdUFSCar - Série Apontamentos Compare com a seguinte descrição: Condições antecedentes (classes de estímulos antecedentes) Ação (classe de respostas) Condições subsequentes (classes de estímulos subsequentes) Diante de oportunidades de contato com pessoas que produzem resíduos ou têm que lidar com eles, de conhecimento sobre como e por que reduzir produção e maximizar o aproveitamento de resíduos, ou de conhecimento novo sobre como lidar com resíduos sólidos de forma adequada do ponto de vista do impacto ambiental Preparar pessoas para lidar com resíduos sólidos Maior número possível de pessoas que produzem ou lidam com resíduos, mais aptas a lidar com a produção de resíduos de modo adequado Veja, a seguir, os objetivos propostos e descritos para este programa, apresentado conforme costumam aparecer em planos de ensino de disciplinas. Programa para capacitar estudantes universitários para lidar adequadamente com resíduos residenciais sólidos Objetivo geral Diante de oportunidades de consumo de produtos que contêm recursos esgotáveis, que podem gerar resíduos, ou de resíduos gerados no consumo de produtos, do conhecimento existente sobre uso e destinação de resíduos, é esperado que os aprendizes sejam capazes de lidar com resíduos sólidos, com produção mínima de resíduos para serem descartados, estando estes em boas condições para aproveitamento, com impacto ambiental mínimo (pela economia de consumo de matéria-prima e não contaminação), com o máximo de resíduos produzidos encaminhados para aproveitamento, ou aproveitados por quem os produz, e fortalecimento de iniciativas de aproveitamento de resíduos. Objetivos específicos • Diante de necessidades efetivas de consumo, de diferentes tipos de produtos disponíveis para consumo em relação ao potencial de geração de resíduos, de produtos gerados com diferentes graus de aproveitamento de resíduos ou de impacto ambiental no processo de produção, de recursos disponíveis para obtenção dos produtos necessários ao atendimento das necessidades e do conhecimento existente sobre possibilidades de aproveitamento de resíduos e de redução na produção de resíduos, prover necessidades de consumo de forma que tais necessidades sejam satisfeitas com menor gasto possível de recursos, ausência de resíduos ou o mínimo de resíduos gerados pelo consumo, resíduos inevitáveis produzidos com maior potencial de aproveitamento e uso máximo de produtos gerados a partir do aproveitamento de outros. • Diante de resíduos sólidos produzidos, do conhecimento disponível sobre características desejáveis ou necessárias de resíduos para aproveitamento ou encaminhamento para ser aproveitado, e de recursos disponíveis para adequar características de resíduos às desejáveis ou necessárias para aproveitamento ou encaminhamento para ser aproveitado, preparar resíduos para aproveitamento de modo que os resíduos fiquem em condições as mais favorecedoras possíveis para o tipo de aproveitamento ou encaminhamento que será feito (limpo, rasgado, separado em categorias). • Diante de resíduos sólidos produzidos (por si ou por outros) com potencial para atender necessidades, necessidades próprias ou de outras pessoas, e do conhecimento disponível sobre possibilidades de 76 EdUFSCar — Série Apontamentos aproveitamento de resíduos sólidos, aproveitar resíduos produzidos de modo que resíduos sólidos sejam aproveitados, necessidades satisfeitas, total ou parcialmente, e o consumo de novos produtos seja evitado. • Diante de resíduos sólidos que não possam ser aproveitados para atendimento de necessidades próprias, preparados para serem encaminhados, e dos recursos existentes para encaminhamento de resíduos para aproveitamento, encaminhar resíduos para aproveitamento de modo que cada tipo de resíduo esteja encaminhado de acordo com suas características e possibilidades de aproveitamento disponíveis. • Diante de oportunidades de contato com pessoas que produzem resíduos ou têm que lidar com eles, de conhecimento sobre como e por que reduzir produção e maximizar aproveitamento de resíduos, ou de conhecimento novo sobre como lidar com resíduos sólidos de forma adequada do ponto de vista do impacto ambiental, capacitar outras pessoas e a si mesmo para agir em relação a resíduos sólidos de forma que o maior número possível de pessoas que produzem ou lidem com resíduos se tornem mais aptas a fazer isso de modo adequado. 5. ATIVIDADE PRÁTICA - EXERCÍCIO DE PROPOSIÇÃO DE OBJETIVOS TERMINAIS Na unidade anterior (Descrição de situação-problema como ponto de partida para elaborar programa de ensino) foi proposto que você elaborasse uma descrição de situação-problema que, supostamente, poderia ser resolvida ou atenuada por meio de um programa de ensino. Releia a descrição que fez e proponha objetivos terminais para um programa de ensino capaz de responder a esta situação- problema. Lembre de tornar explícito, para você, quem seriam os aprendizes desse programa. O procedimento para descrição de objetivos terminais para um programa de ensino, indicado anteriormente, está sintetizado a seguir. Leia todo o procedimento antes de começar a formular seus objetivos e consulte-o à medida que for realizando a tarefa. Utilize a folha para descrição compor- tamental de objetivos que aparece ao final da descrição do procedimento; faça quantas reproduçõesdessa folha forem necessárias para os objetivos do programa. Procedimento para descrição de objetivos comportamentais Considerando que... comportamento é a relação entre o que um organismo faz e o ambiente em que esse organismo atua, em termos de condições antecedentes e condições subsequentes a essa ação para descrever um comportamento é necessário... * indicar a ação (resposta) que represente aquilo que o organismo faz, no comportamento em questão; * identificar e descrever, da melhor e mais completa forma possível, as condições antecedentes relevantes para a relação de interesse. Para isso, devem ser formuladas, e respondidas, as seguintes questões: Diante de que é esperado, desejável, oportuno, apresentar a resposta indicada? As respostas a essa peigunta costumam indicar estímulos que devem ser ou se tornar sinali- zadores da conveniência dessa resposta (estímulos discriminativos). e O que é necessário para (poder) apresentar a resposta desejável? Com que o organismo entra ou deve entrar em contato para apresentar a resposta desejável? O que o organismo deve levar em consideração? Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 67 • identificar e descrever, da melhor e mais completa forma possível, as condições subsequentes relevantes para a relação de interesse. Para isso, deve ser formulada, e respondida, a seguinte questão: Que resultados, produtos e efeitos são esperados, desejáveis da ação, e definem a função dessa resposta? Folha de atividade Descrição comportamental dos objetivos terminais do programa de ensino Condições antecedentes Ação Condições subsequentes Condições antecedentes Ação Condições subsequentes Condições antecedentes Ação Condições subsequentes Condições antecedentes Ação Condições subsequentes EdUFSCar — Série Apontamentos REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BOTOMÉ, S. P. Objetivos comportamentais no ensino: a contribuição da análise experimental do comportamento. Tese (Doutorado em Psicologia Experimental) - Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1981. UNIDADE 5: ANÁLISE DE OBJETIVOS TERMINAIS: IDENTIFICAÇÃO DOS OBJETIVOS INTERMEDIÁRIOS NO PROGRAMA DE ENSINO Depois de definidos os objetivos terminais, o passo seguinte proposto no processo de elaboração de um programa de ensino é a identificação dos intermediários, ou seja, a análise dos terminais, mais gerais, em objetivos cada vez mais específicos que indicam o “caminho” a ser percorrido para que o aprendiz consiga, ao final do programa, comportar-se de acordo com o que foi definido como objetivo terminal. O comportamento descrito a seguir constitui o objetivo desta unidade: Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes Diante de... • Objetivos terminais propostos para um programa de ensino Considerando... • Características da situaçâo-proble- ma a ser resolvida • Características dos aprendizes • Conhecimento sobre o processo de aprendizagem, níveis de especificidade de objetivos, análise de objetivos para um programa de ensino • Conhecimento sobre a situação- problema e como pode ou deve ser enfrentada ‘ Contexto e condições em que os aprendizes terão de apresentar o comportamento terminal Analisar os objetivos terminais propostos em todas as ações necessárias para alcançá-los Resultados, produtos, efeitos desejáveis Propostos comportamentos de diferentes níveis de especificidade a serem ensinados para que seja possível que o aprendiz se comporte de acordo com os objetivos terminais Nesta unidade você encontrará: 1 Texto básico Análise de objetivos terminais: uma proposta de procedimento, escrito por Silvio Paulo Botomé, no qual são apresentados conceitos relativos ao processo de identificação de objetivos de ensino e um procedimento facilitador desse comportamento ao elaborar programas de ensino, 2 Exemplos de análise de objetivos terminais. Amostra de objetivos intermediários indicados a partir de análise de objetivos terminais de diferentes programas de ensino. 12 No âmbito da Análise do Comportamento, o uso de expressões que remetem a explicações mentalistas do comportamento devem ser evitadas; nesse contexto, o uso da expressão “propósito” não se destina a explicar o comportamento, e está sendo utilizada apenas para ajudar na construção didática do conceito de comportamento operante, para enfatizar que, utilizando uma linguagem de senso comum, mesmo que uma resposta seja apresentada por alguém com a “intenção” de produzir um certo resultado, se esse resultado não é produzido, o comportamento ocorrido não será aquele eventualmente pretendido. 70 EdUFSCar - Série Apontamentos 3 Análise de objetivos terminais: demonstração participativa. São analisados objetivos terminais de um programa de ensino para preparar estudantes universitários a lidar adequadamente com resíduos domiciliares sólidos, elaborados por alunos de um programa para ensinar universitários a lidar adequadamente com resíduos. 4 Atividade prática: análise de objetivos terminais. Exercício de proposição de objetivos intermediários para objetivos terminais de um programa de ensino. Texto básico Leia o texto a seguir dando especial atenção às figuras presentes nele. Anote e destaque as partes que considerar mais relevantes. 1. ANÁLISE DE OBJETIVOS TERMINAIS: UMA PROPOSTA DE PROCEDIMENTO15 Silvio Paulo Botomé Uma decomposição de objetivos terminais não é feita de maneira simples e, aparentemente, homogênea - como muitas vezes se pensa - arrolando uma simples lista de "comportamentos intermediários”. Conforme o problema para o qual é desejável capacitar o aprendiz a resolver, um tipo ou outro de decomposição é adequado. Conforme as características do aprendiz, a decomposição também varia. As possibilidades da situação na qual o aprendiz vai lidar com o problema também interferem com a decomposição a fazer. Também interfere, é claro, a proposta - e a maneira como ela foi descrita - de objetivos terminais que o programador de ensino fez para que o aprendiz fosse capaz de resolver o problema descrito e na situação em que ele ocorre. É frequente encontrar na literatura e nos hábitos de trabalho de nossa comunidade expressões como “objetivos intermediários”, "objetivos instrucionais’V‘pré-requisitos”, "objetivos operacionais”, "objetivos específicos”, etc. O que realmente eles são e significam e como obtê-los é uma das coisas que este texto se propõe habilitar você a identificar e fazer. Decompor um (ou mais) objetivo terminal é descrever o que o aprendiz deve ser capaz de fazer para atingir esse objetivo. Decompor um objetivo corresponde a "descrever o caminho que deve ser percorrido” para se chegar a ele. É claro que, ao descrever o caminho, inúmeras escolhas são feitas, e devem ser feitas sempre em função do conjunto: problema existente, características da população- alvo (os aprendizes), situação na qual o problema existe e a proposta de objetivos terminais pelos quais os aprendizes resolverão o problema. Ê como se o problema e os objetivos indicassem a direção a seguir, e as características dos aprendizes e da situação indicassem as condições de quem viaja (é diferente o caminho escolhido se o percorremos a pé, a cavalo, de bicicleta, jipe ou em um carro de passeio). De qualquer forma, o que importa é que um bom caminho aumenta muito a probabilidade de se chegar até o fim e talvez da maneira mais rápida e melhor. Decompor um objetivo terminal é iniciar o delineamento (esboço) do “caminho” que precisará ser percorrido pelo aprendiz para realizar os objetivos propostos e resolver o problema que lhes deu origem. Quando tudo isso é adequadamente considerado ao decompor os objetivos terminais, é possível afirmar que estes objetivos foram analisados. Um programador de contingências de reforçamento para ensino deve ir mais longe do que simplesmente decompor um objetivo terminal. Ele decompõe sob controle dos dados (informações)indicados acima. Não é qualquer “caminho” que importa, mas, sim,o que é mais adequado e 15 Este texto foi elaborado para uso interno em uma das atividades da disciplina Programação de Curso Individualizado, ministrado pela professora doutora Carolina M. Bori no Curso de Pós-Graduação em Psicologia Experimental da Universidade de São Paulo, em outubro de 1977. Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 71 mais relevante para o aprendiz ser capaz de atingir os objetivos terminais com o menor custo e dificuldade possíveis. Além disso, sem dúvida, ele não perderá de vista, ao fazer suas escolhas, em que situação vive o aprendiz e onde e como ele se defronta com o problema a resolver. Ao escolher os objetivos intermediários (o “caminho”) com base nesses elementos, é possível ir mais longe do que simplesmente decompor um objetivo terminal. Esse procedimento se aproxima do que pode ser chamado de uma “análise dos objetivos terminais”. Há, ainda, outros fatores que devem ser levados em conta para dizer que uma “decomposição” é uma “análise”. Esta, tanto quanto a proposta de objetivos, revela e traduz qual a “ideologia”, qual o conhecimento e qual percepção dos contornos e limites dos objetivos terminais e da situação do aprendiz o programador tem. Um mesmo objetivo pode ser - e geralmente o será - diferentemente analisado se o analista for uma pessoa ou outra, se o conhecimento do assunto variar, se a população-alvo for percebida por diferentes pontos de vista ou se essa análise for feita em dois momentos diferentes. Pode, é claro, variar ainda em função de outros fatores que ignoramos. E por tudo isso que uma análise de objetivos terminais é tão importante quanto os próprios objetivos terminais. E, indo mais longe, é o que exige cuidados e procedimentos bem definidos ao se realizar uma análise de objetivos terminais. Este texto pretende sugerir alguns procedimentos para a realização de uma análise de objetivos terminais de forma a obter os “intermediários” para se chegar a eles. O texto não pretende dar uma “técnica” de análise, porque analisar um objetivo é um problema empírico na medida que depende dos dados disponíveis sobre o que é necessário para chegar aos terminais. A quantidade de dados ou conhecimento do assunto também fornece pistas sobre como avaliar melhor um objetivo. É por essa razão que o procedimento sugerido a seguir apenas ajuda a ser capaz de organizar os intermediários conhecidos. Obtê-los depende muito mais dos dados disponíveis do que do procedimento aqui apresentado. Um primeiro problema a enfrentar ao descrever um procedimento de decomposição é explicitar melhor o que é “decompor”. É comum encontrar pessoas que diante de um objetivo geral (ou “educacional”como se diz por aí!) logo falam em “é preciso definir melhor”, “é necessário especificar mais o que se quer dizer com isso”, “vamos ter de detalhar o que queremos dizer”, “vamos operacio- nalizar o que quer dizer isso”. Há bastante diferença entre “decompor” (e veja que não estou falando “analisar”) um objetivo e defini-lo, especificá-lo, detalhá-lo, ou operacionalizá-lo. Estes últimos significam apenas dizer (ou escrever) de maneira mais clara, completa e precisa o que se quer. Decompor um objetivo quer dizer como se faz para chegar ao objetivo. É necessário não confundir esses dois conjuntos sob pena de permanecer tentando fazer coisas obscuramente imaginadas. Qual é, então, a diferença? Um exemplo pode ajudar a esclarecê-la. Suponha que alguém tivesse proposto como objetivo do seu programa que um aprendiz fosse capaz de “lavar roupas’’.16 Essa expressão é muito geral e também muito vaga. Seria muito difícil alguém entender precisamente o que ela significa. A pessoa poderá entender as palavras “lavar roupas”, mas não o que elas significam ou referem. E nesse sentido a afirmação de que quanto mais geral uma expressão, menos informação ela contém. Para esse caso seria possível pedir que a pessoa “ope racionalizasse” ou “definisse” melhor o que quer dizer. “Lavar”, dependendo de quem lava e da situação na qual ocorre, pode significar 16 Sempre que nos referimos a “objetivo”, seja terminal, seja intermediário, estamos nos referindo ao contexto de ações de uma pessoa. Por isso e para isso, um objetivo deverá ser sempre traduzido por uma expressão verbal que contenha um verbo que identifique a ação a que nos referimos. E claro que um verbo sem um complemento não vai dizer nada. Suponhamos que escrever uma expressão clara e completa que inicie pelo verbo que identifica a ação da pessoa seja uma habilidade já existente no repertório do leitor deste texto. 72 EdUFSCar - Série Apontamentos “lavar à máquina”, “lavar à mão”, ou ambos, ou em um tanque ou na beira de um rio. “Lavar roupa” pode singnificar “roupa de todo tipo”, “roupa de casa”, “roupa de pessoas”, “roupas de determinado tecido” ou “de todos os tecidos”, etc. Se o aprendiz e o problema a resolver forem os erros da lavagem de roupa cometidos por uma empregada doméstica, a expressão verbal que dirá qual o objetivo temos será diferente do que se for para resolver os erros cometidos em uma lavanderia de roupas de certa sofisticação. Ainda podemos exigir maior precisão se o caso for de uma lavanderia especializada em certo tipo de tecido (por exemplo, couro ou peles) ou se estivermos preocupados em treinar empregadas domésticas em geral numa agência de empregos. Só depois que tivermos uma expressão verbal realmente clara e completa dando uma noção precisa (e não restrita!) do objetivo é que podemos pensar em decompor o objetivo no que é necessário ser capaz de fazer para atingi-lo. Esta é uma primeira coisa importante: é necessário ter claro o que se quer para poder fazer uma decomposição nos intermediários para atingir um objetivo terminal. Muitas vezes, clareza e precisão são confundidas com “especificidade” ou “restrição”. Pode ser que algumas vezes sejam feitas restrições naquilo que é almejado, ao dizer mais claro o que se quer. Mas a razão é por que se quer algo mais restrito e não porque, ao dizer mais clara e precisamente, a restrição ocorra. No exemplo, isso pode ficar bem ilustrado. Um objetivo geral pochria ser bem claro e preciso sem ser restrito ou específico. Uma situação assim, por exemplo, poderia ser treinar pessoas para trabalhar em lavanderias de uma comunidade onde há muitas situações heterogêneas - desde lavanderias sofisticadas com equipamento moderno até lavanderias comuns com lavagem manual. A proposta de objetivos em um curso profissionalizante dessa comunidade deveria preparar os alunos para lidar com essa situação. As propostas de objetivos poderiam ser, no caso, escritas assim: lavar roupas de qualquer tipo e com qualquer dos procedimentos de lavagem conhecidos, 12 No âmbito da Análise do Comportamento, o uso de expressões que remetem a explicações mentalistas do comportamento devem ser evitadas; nesse contexto, o uso da expressão “propósito” não se destina a explicar o comportamento, e está sendo utilizada apenas para ajudar na construção didática do conceito de comportamento operante, para enfatizar que, utilizando uma linguagem de senso comum, mesmo que uma resposta seja apresentada por alguém com a “intenção” de produzir um certo resultado, se esse resultado não é produzido, o comportamento ocorrido não será aquele eventualmente pretendido. Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 73 desde manual sem equipamento nenhum até equipamentos sofisticados do tipo... A ampliação do que no início era imaginado como lavar roupas (você lembra o que imaginou quando leu “lavar roupas” pela primeira vez neste texto?) poderia ainda continuar. Nesse exemplo, embora precisando e esclarecendo o que é pretendido, está ocorrendo também uma ampliação do objetivo almejado. E comum ouvir pessoas dizerem que “não dá para precisar ou esclarecer o que querem porque vai empobrecer o objetivo ou ficar muito específico/restrito”.Ao dizer isso, porém, tais pessoas estão mais provavelmente falando do que ignoram (por exemplo, não sabem das diferenças apontadas acima) ou dos preconceitos que têm e até das insuficiências (não sabem escrever ou falar com clareza e precisão) de repertório. Isto não significa, é claro, que, às vezes, dizer com mais precisão e clareza deixe de restringir ou especificar, mas deve ser porque o que se quer é mais restrito, e não porque seja intrínseco ao preciso e claro a especificidade e restrição. Analisando tudo isso, é possível avaliar melhor o que é decompor um objetivo terminal. Suponha17 que alguém quer treinar uma empregada doméstica alfabetizada de uma casa de família de classe média em São Paulo devido a vários problemas de estrago nas roupas da família por não ser capaz de lavar com os cuidados adequados (quebrar botões, estragar zíperes, manchar roupas, desbotar, alargar, “amarelar” tecidos, etc.). O objetivo, nesse caso, podería ser uma proposta do tipo: “lavar todo tipo de roupa das pessoas da família por qualquer processo de lavagem (manual ou à máquina), com os materiais corretos (sabão e alvejante), sem estragar nenhum tipo de roupa e sem alterar a cor ou o tecido desta”. Esta proposta, sem dúvida, pode ser melhorada; mas já é suficiente para os objetivos até aqui. Uma das primeiras coisas é que, embora geral, esta é uma proposta mais clara e precisa que a inicial (“lavar roupas”). Ao perguntar “o que o aprendiz precisa ser capaz de fazer j) ara lavar roupas neste contexto e desta forma?” é provável que seja possível começar a registrar que ele deve ser capaz de: apanhar roupas sujas todos os dias nos locais onde elas são colocadas; separar roupas para lavar por diferentes tipos de uso, tecido e cor; lavar cada tipo de roupa com o material adequado; colocar roupas de molho conforme a necessidade pelo tipo de roupa ou de sujeira; ensaboar a roupa de maneira própria ao tecido, cor ou tipo de sabão empregado; enxaguar roupa ensaboada; identificar diferentes tipos de tecido; identificar roupas de cor que não podem ser misturadas; indicar quais os efeitos possíveis do sabão sobre os diferentes tipos de roupa ou tecido; identificar tipos de sabão; ligar uma máquina de lavar roupa; colocar roupa na máquina de lavar; identificar a quantidade de roupa a colocar na máquina de cada vez, etc. A lista poderia ser aumentada ao infinito, mas não importa agora listar todos os itinerários. O que importa, neste momento, é identificar com mais clareza o que é decompor um objetivo terminal em oposição a “precisar”, “especificar”, “operaciona- lizar”, “definir”, etc. O que é necessário ser capaz de fazer para.... no caso do exemplo acima não se inclui, por exemplo, lavar couros e peles... isso não interessa ensinar porque é provável que, quando ocorrer uma situação 17 Quando usamos o termo resposta neste contexto estamos nos referindo à ação da pessoa, uma parte daquilo que poderiamos chamar de comportamento operante. Dizemos apenas o que a pessoa faz (resposta), sem especificar diante do que ela faz (estímulos ou condições antecedentes) e sem descrever os efeitos que se seguem (ou são produzidos). O conjunto daria a noção de comportamento (enquanto falamos de comportamento operante). A resposta (ou ação) é apenas uma unidade de análise do comportamento. Entendemos - neste contexto - que o comportamento é mais bem definido pela “relação entre a resposta e o ambiente” do que propriamente pela resposta. 74 EdUFSCar - Sérte Apontamentos dessas, outro recurso (lavanderia) seja utilizado, tornando supérfluo que uma empregada doméstica saiba fazê-lo. Uma próxima pergunta a fazer é “como proceder para obter essa lista de intermediários?”. Se você observar na lista acima, há vários níveis de complexidade nos “intermediários” descritos e pode até haver “intermediários de intermediários”, ou alguns que estejam faltando e que não conseguimos perceber na lista. O próximo passo neste texto é como proceder para obter a decomposição de um objetivo terminal. De uma maneira geral, há uma pergunta que deve ser feita diante de um objetivo terminal e que leva a dar (ou procurar dados que permitam) uma resposta identificando um objetivo intermediário ao terminal descrito. Essa pergunta é: “O que o aprendiz precisa ser capaz de fazer para atingir esse objetivo?”. Veja bem que é o que o aprendiz “precisa ser capaz” e não o que “achamos que seria bom ele ser capaz”. Também veja que é o que o aprendiz “precisa ser capaz de fazer”. Interessam as ações do aprendiz, e não o que ele possa, por exemplo, “saber”. No caso de ser necessário um conhecimento para executar uma ação, é necessário indicar qual a ação ou desempenho (mesmo que seja geral) que evidencia a existência da “sabedoria” ou do “conhecimento” no repertório da pessoa. Mais uma vez, um exemplo pode ajudar. Suponha o objetivo (simples!), descrito na Figura 1, e que em relação a ele seja formulada a pergunta: O que o aprendiz precisa ser capaz de fazer para ‘resolver equações de 2a grau com duas incógnitas’? Objetivo terminal Resolver equações do 2a grau com duas incógnitas. Figura 1 Exemplo de um objetivo terminal simples para ensinar uma habilidade a um aprendiz. A resposta dada poderia ser colocada, como aparece na Figura 2, de forma a indicar a relação de intermediário que a resposta deveria ter (veja a Figura 2). Objetivo terminal Objetivo intermediário Resolver equações de 2a grau Resolver equações de 2fi grau com duas incógnitas. com uma incógnita. Figura 2 Exemplo de um objetivo terminal simples para ensinar uma habilidade a um aprendiz, com um objetivo intermediário que é necessário aprender a fazer para atingir o objetivo terminal. Para ser capaz de “resolver equações do 2a grau com duas incógnitas”, é necessário ser capaz de “resolver equações de 2- grau com uma incógnita”, pelo menos para quem está decompondo esse objetivo terminal. Colocada a resposta ao lado do objetivo terminal, fica evidenciado que essa é uma aprendizagem (habilidade em execução) que é necessária para se chegar ao objetivo terminal. Ela precisaria ser ensinada para que o aprendiz consiga alcançar o objetivo terminal. Se repetirmos a mesma pergunta para o segundo quadrado da Figura 2, obteremos uma outra informação que nos deixará mais claro o caminho a percorrer para chegar ao objetivo terminal que estamos “decompondo”. Suponha que fazemos a pergunta diante da “aprendizagem necessária”, descrita no segundo quadrado da Figura 2: “O que o aprendiz precisa ser capaz de fazer para resolver equações do 2Q grau com uma incógnita?”. A resposta a essa pergunta poderá ser colocada como se vê na Figura 3 e teremos, assim, mais um pouco do “caminho” até o terminal definido. O diagrama obtido até agora mostra um “plano inicial” (ainda grosseiro) de qual será o caminho de aprendizagens a percorrer até se chegar no terminal (examine a Figura 3 antes de prosseguir). Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutívo 75 Objetivo terminal Objetivo intermediário Objetivo intermediário Resolver equações de 2a grau Resolver equações de 2- grau Resolver equações de 1° grau com duas incógnitas. com uma incógnita. com duas incógnitas. Figura 3 Exemplo de um objetivo terminal simples para ensinar uma habilidade a um aprendiz, com dois objetivos intermediários necessários para se atingir o objetivo terminal. A Figura mostra um objetivo intermediário que é necessário aprender, também, para se atingir um outro objetivo intermediário de maior complexidade. Se, novamente, procedermos do mesmo modo repetindo a pergunta para o último “objetivo intermediário” obtido, obteremos um diagrama mais complexo e um “caminho a percorrer” mais bem delineado ainda. Suponha o mesmo procedimento de fazer a pergunta, agora diante do último quadrado obtido na Figura 3: “O que o aprendiz precisa ser capaz de fazer para...?” (acrescente o conteúdo registrado no último quadrado daFigura 3). Veja como poderia ficar o diagrama com a nova resposta examinando o diagrama na Figura 4. Objetivo terminal Objetivo intermediário Objetivo intermediário Objetivo intermediário Resolver equações do 29 Resolver equações do 2a Resolver equações do Ia Resolver problemas com grau com duas incógnitas. grau com uma incógnita. grau com duas incógnitas. uma incógnita. Figura 4 Exemplo de um objetivo terminal simples para ensinar uma habilidade a um aprendiz, com três objetivos intermediários necessários para se atingir o objetivo terminal. A figura mostra três níveis de intermediários, sendo os dois últimos também necessários para atingir o intermediário de um Ia nível e mais complexo que os demais. Dessa forma, poderiamos prosseguir indefinidamente, até habilidades (ou execuções) tão simples que consideraríamos que os aprendizes já apresentavam antes de fazer o programa de ensino 12 No âmbito da Análise do Comportamento, o uso de expressões que remetem a explicações mentalistas do comportamento devem ser evitadas; nesse contexto, o uso da expressão “propósito” não se destina a explicar o comportamento, e está sendo utilizada apenas para ajudar na construção didática do conceito de comportamento operante, para enfatizar que, utilizando uma linguagem de senso comum, mesmo que uma resposta seja apresentada por alguém com a “intenção” de produzir um certo resultado, se esse resultado não é produzido, o comportamento ocorrido não será aquele eventualmente pretendido. 76 EdUFSCar - Série Apontamentos que estamos planejando, diagramado nas figuras 1 a 4. No caso do diagrama que estamos fazendo para descrever as aprendizagens necessárias para se atingir o objetivo terminal, poderiamos repetir a pergunta em questão para cada nova resposta que tivéssemos até obter aprendizagens que a população-alvo do programa de ensino já tem, A Figura 5 ilustra um possível diagrama que se obteria com a continuação do procedimento. Objetivo Objetivo Objetivo Objetivo terminal intermediário intermediário intermediário Resolver equações Resolver equações Resolver equações Dizer o que é uma do 2S grau com duas do 2a grau com uma do Ia grau com duas incógnita. incógnitas. incógnita. incógnitas. Objetivo intermediário Segurar o lápis corretamente. Figura 5 Exemplo de decomposição de um objetivo terminal simples, descrevendo os múltiplos “níveis” de objetivos intermediários que se poderíam ter ao decompor o objetivo. É óbvio que pararíamos de repetir a pergunta quando encontrássemos aprendizagens que o aprendiz deveria ter adquirido antes de iniciar o programa. As últimas respostas deveríam constituir a descrição do repertório inicial necessário para iniciar o programa e que o nosso aprendiz já tem. O curso, no caso, iniciará a partir das aprendizagens mais simples que o aluno necessita aprender e que ainda não é capaz de realizar. Se pensarmos em nosso sistema de ensino, notaremos que está organizado aproximadamente dessa maneira. Por exemplo, o professor começa a ensinar a partir do que o aluno aprender na série anterior do colégio. Supondo que um professor de matemática da quarta série ginasial estivesse decompondo os objetivos terminais de seu curso nas aprendizagens necessárias para atingi-los, ele pararia (isto é, pararia de fazer a pergunta) quando as respostas que obtivesse fossem aprendizagens já desenvolvidas na série anterior do curso. As vezes, no entanto, não é tão fácil e simples construir um diagrama de aprendizagens necessárias para atingir um objetivo de ensino. Ao fazer a pergunta para localizar as aprendizagens intermediárias para atingir o objetivo terminal, poderemos encontrar mais de uma resposta. Como procederiamos nesse caso? Novamente vamos tentar responder com um exemplo ilustrando cada etapa do procedimento. Suponhamos que estivéssemos querendo ensinar alguém a dirigir um automóvel na cidade. Se fizéssemos a pergunta: “O que o aprendiz precisa ser capaz de fazer para conduzir um automóvel na cidade?”, poderiamos obter várias respostas como as que estão ilustradas na Figura 6. Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 77 Figura 6 Exemplo de decomposição de um objetivo terminal em que há várias aprendizagens necessárias para se atingir o objetivo terminal. A figura ilustra três dessas habilidades não necessariamente dependentes uma da outra. A Figura 6 ilustra um caso em que as aprendizagens intermediárias não são, necessariamente, pré- requisitos uma para a outra, podendo ser ensinadas independentemente, embora, na situação em que essas habilidades vão ser exigidas do aprendiz, as aprendizagens sejam todas necessárias e exigidas. Se continuássemos a fazer a pergunta para cada uma das habilidades poderiamos ir obtendo um complexo diagrama de aprendizagens intermediárias e necessárias para atingir o objetivo terminal. Vejamos, exemplificando, como isso poderia ocorrer. Suponhamos que “arrancar” com o carro foi a aprendizagem escolhida para se debater nas aprendizagens intermediárias. Deveriamos repetir a já conhecida pergunta diante dessa aprendizagem e registrar as respostas obtidas conforme ilustra a Figura 7. Figura 7 Exemplo de decomposição de um objetivo terminal em várias aprendizagens necessárias para aringi-lo. Os quadros sombreados na figura representam aprendizagens não decompostas em outras. Nota-se que os exemplos que estamos dando nas figuras são simplificações. Não estamos garantindo uma adequada descrição de cada objetivo dentro dos quadrados nas figuras. Continuando o procedimento, se repetirmos a pergunta para cada aprendizagem intermediária poderiamos novamente prosseguir até níveis de aprendizagem tão simples que o aprendiz já as tenha ao iniciar o curso que nos propomos a lhe dar. Se resumirmos o que aprendemos até agora, há pelo menos duas formas de organizar as respostas à pergunta “O que o aprendiz precisa ser capaz de fazer para...?”. Caso a resposta seja única, deve-se ir organizando as respostas em linha como ilustra a Figura 8. Isso significa que as aprendizagens intermediárias são também necessárias como aprendizagem anterior para outra intermediária de nível superior. 76 EdUFSCar — Série Apontamentos Figura 8 Como organizar em diagrama as aprendizagens intermediárias a um objetivo terminal quando elas são pré-requisitos de aprendizagem umas para as outras. Nos casos em que se obtém mais de uma resposta à pergunta já indicada, e estas respostas não necessariamente são aprendizagens que precisam existir para permitir a ocorrência das outras, pode- se registrar da forma como a Figura 9 ilustra. Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 79 Figura 9 Como organizar em diagrama as aprendizagens intermediárias a um objetivo terminal quando algumas delas não são pré-requisitos de aprendizagem umas para as outras. O próximo passo a analisar neste texto envolve a pergunta: “Como saber que níveis de decomposição devem ser descritos?”. É claro que há alguns critérios pelos quais se faz uma decomposição desses níveis. Vamos tentar agora discutir um pouco quais são os^diferentes níveis que podem ter uma decomposição de objetivos terminais. Conforme o problema que se deve resolver com o programa de ensino, deve-se ter determinada abrangência nos objetivos terminais. Eles podem variar desde uma simples habilidade a instalar (por exemplo, “dizer o conceito de uma equação”) até habilidades complexas (por exemplo, “fazer uma análise econômica”, “realizar uma intervenção cirúrgica”, “modificar comportamento”ou “planejar uma construção”). Um programador pode estar com seu objetivo terminai em qualquer um desses níveis. 12 No âmbito da Análise do Comportamento, o uso de expressões que remetem a explicações mentalistas do comportamento devem ser evitadas; nesse contexto, o uso da expressão “propósito” não se destina a explicar o comportamento, e está sendo utilizada apenas para ajudar na construçãodidática do conceito de comportamento operante, para enfatizar que, utilizando uma linguagem de senso comum, mesmo que uma resposta seja apresentada por alguém com a “intenção” de produzir um certo resultado, se esse resultado não é produzido, o comportamento ocorrido não será aquele eventualmente pretendido. 80 EdUFSCar - Série Apontamentos Para ilustrar, vamos comentar rapidamente quais poderíam ser esses níveis. Se estivéssemos com um objetivo que caracterizasse uma ocupação geral (por exemplo, “cuidar de crianças”)» poderiamos decompor esse objetivo terminal em várias ocupações especializadas (por exemplo, “cuidar de crianças quando estão doentes”, que é apenas uma das várias ocupações especializadas que compõem a ocupação geral “cuidar de crianças”). Se tivéssemos uma ocupação especializada como objetivo terminal, poderiamos decompô-la em várias atividades características da ocupação especializada (por exemplo, poderiamos ter “socorrer crianças quando apresentam sinais de doença”). Se continuarmos, uma atividade, por sua vez, pode ser decomposta em várias tarefas (por exemplo, “reduzir febre quando a temperatura de uma criança chega a um certo limite”), estas, por sua vez, em várias operações que podem compor cada tarefa (por exemplo, “banhar a criança com água ligeiramente inferior a 35 °C”), cada operação, ainda pode exigir a aprendizagem de cada ação (ou resposta) que a compõe (por exemplo, “segurar a criança com a cabeça apoiada de forma a não emergir totalmente na água em que é banhada”). Para a execução dessas ações, ainda se exigem habilidades técnicas imediatas (por exemplo, “identificar qual a posição correta que a criança deve ser segurada”) ou conhecimentos técnicos imediatos (por exemplo, “dizer qual a posição ideal para segurar uma criança no banho”). Além destes ainda poderiamos ter o que chamamos de habilidades e conhecimentos mediatos (por exemplo, “identificar possíveis efeitos de não se segurar a criança de maneira correta”, ou “dizer quando se deve dar banho em uma criança para lhe reduzir a febre”). Cada nível retrata um nível de complexidade ou, pelo menos, de proximidade ao objetivo terminal. Na Figura 10 pode-se ver como se poderíam organizar esss diferentes “níveis” de complexidade. Quando temos um “objetivo” que chamamos “terminal” deveriamos localizá-lo um pouco para conseguir decompô-lo adequadamente. As vezes não conseguimos “enxergar”direito onde está o objetivo terminal; quando, porém, começarmos a decompô-lo, vamos identificar qual o nível de complexidade a que se refere. A Figura 10I apresenta diferentes níveis de objetivos terminais ou aprendizagens intermediárias em que se pode decompor um objetivo terminal. Os “rótulos” na figura apenas ilustram diferentes níveis que podem ter os objetivos intermediários. Conforme cada situação de programação, será possível estar em um ou outro desses níveis. Cada nível, ou conjunto de níveis, retrata um tipo de preocupação. Nos níveis mais complexos (ocupação geral, ocupação especializada, atividade, tarefa, operação e ação), estamos preocupados em tentar descrever bem o que se faz. Num segundo conjunto de níveis (operação, ação, habilidade e conhecimento técnico imediato), tenta-se descrever como se faz. No terceiro conjunto de níveis (habilidades e conhecimento técnico imediato), a descrição levará a obter com que se faz (isto é, com que instrumentos se lida para conseguir passar ao nível superior de complexidade). Finalmente, nos últimos níveis da Figura 10III (habilidade e conhecimento mediato), tenta-se descrever o que deverá mostrar que o aprendiz está sob controle da função das aprendizagens que vai realizar (por que e quando se foz). Na Figura 10III pode-se ver a relação entre os diferentes níveis e as perguntas que se tem para obter uma boa descrição das aprendizagens intermediárias (ver Figura 10II). Na Figura 10IV pode- se ver como se tem respostas, cadeias de respostas e grupos de cadeias de respostas nos diferentes níveis de decomposição de um objetivo terminal (ver Figura 10III). I. Níveis de objetivos terminais ou aprendizagens intermediárias que se pode decompor um objetivo terminal. II. Aspectos enfatizados nos diferentes níveis. III. Questões ou aspectos que ajudam na localização de cada nível. IV. Exemplo de decomposição (amostra). V. Relação das respostas com atividades ou objetivos. I. Ocupação geral Ocupação especializada Atividades Tarefas Operações Ações Habilidades técnicas mediatas Conhecimentos técnicas imediatos Habilidades mediatas Conhecimentos mediatos II. se faz ------------------------------------------ --------------- Com que se fez -------------- ---------- Por que e quando se faz -------- III. Quando as classes de respostas ocorrem em muitos locais ou situações. Em que locais ou situações o aprendiz deve exercer a ocupação geral? O que deverá fazer cm cada um desses locais? Quais as diferenças do que ele deve fazer dc um local para outro? Há subdivisões nítidas no local ou situação de trabalho? Quais são elas? O que o aprendiz deve fazer em cada uma? Que coisas a pessoa faz ou deve fazer em cada uma dessas atividades? O que a pessoa usa ou precisa usar para realizar a atividade? Que equipamentos utiliza? Que material emprega? Que objetos utiliza? Com o que a pessoa toma contato ao realizar a tarefa? O que ela fez com cada coisa com que entra em contato? O que a pessoa faz ao realizar esta tarefa? Como a pessoa usa cada coisa ao fazer a operação? Quanto usa? O que deve ser capaz de fezer para conseguir realizar a ação? Que conhecimentos são necessários para que possam ocorrer as habilidades imediatas necessárias? Por que fazer...? Quando fazer...? Porque fazer...? Quando fazer..-? IV. Lavar roupas em uma lavanderia. Lavar roupas cm lavanderia simples (sofisticada, para peles e couros, bem equipada, para cortinas e tapetes) ou as roupas dc uma residência. Lavar roupas na máquina dc lavar; secar roupas. Preparar a máquina para lavar a roupa; preparar a roupa para lavar. Encher a máquina de água; misturar o sabão em pò à água da máquina. Ligar a torneira de acesso da água à máquina; medir o sabão em pó a ser colocado na água. Identificar a torneira de acesso da água; identificar a quantidade de água a ser colocada. “Descrever*’ torneiras de acesso de água a máquinas de lavar; indicar quantidades apropriadas de sabão cm pó cm função de diferentes quantidades de água e de roupas a serem lavadas. Identificar consequências de colocar quantidades de sabão em pó acima ou abaixo das adequadas na máquina de lavar roupas. Enumerar critérios para definir quantidade adequada dc sabão em pó ao lavar roupas em máquinas. V. fAL I .A:..... ----- Atividades ----- — Figura 10 Representação esquemática de níveis de objetivos, aspectos enfatizados nos diferentes níveis, questões ou aspectos que ajudam na localização de cada nível, exemplo parcial de decomposição e relação das respostas com objetivos ou atividades de ensino. 82 EdUFSCar - SérteApontamentos Nos níveis mais complexos aparecem grupos de cadeias de respostas, nos níveis intermediários são cadeias de respostas (que podem variar em extensão e complexidade) e em níveis mais simples, unidades de respostas. Essa decisão, porém, não é tão simples. As vezes, temos mais do que unidades de respostas nos níveis simples. A figura ilustra apenas a “tendência” em termos da quantidade (e complexidade decorrente) de respostas envolvidas em cada nível. Na Figura 10V pode-se ver a relação entre “objetivos” e “atividades de ensino”. Os níveis mais complexos, desde “ação”, geralmente são comportamentos que ocorrem em ambiente natural. Os níveis menos complexos, que revelam habilidades e conhecimentos, geralmente são “comportamentos que ocorrem em situações de ensino” (sala de aula). Muitasvezes chamamos de “objetivos” ao que não passa de “aprendizagem intermediária”. Os últimos níveis (de habilidades e conhecimentos) são os mais frequentemente usados para os objetivos de ensino e, no entanto, eles são apenas os intermediários mais simples. Geralmente não mostram para que realmente o aprendiz vai fazer ou aprender as habilidades e conhecimentos que a escola lhe proporcionará. “Objetivo” é uma expressão vazia enquanto não dissermos “objetivo do que” ou que “tipo de objetivo”. Às vezes, podemos ter situações em que não sabemos bem para que elas devem fazer parte das coisas que o aprendiz deve aprender. Um conhecimento (conceito, informação, teoria, modelo, regra, lei) é um instrumento apenas. Se não ensinamos ao aprendiz a usá-lo (como, quanto, quando, etc.), não estamos ensinando, No caso, estamos simplesmente “transmitindo” conteúdo sem capacitar o aprendiz a ser capaz de usar o conteúdo para se comportar nas situações (diante de...) em que, normalmente, ele vai viver e que deve enfrentar e resolver. A controvérsia “objetivos” ou “atividades de ensino” é mais extensa e complexa e - cremos! - será mais bem analisada em um outro texto e momento. A próxima pergunta que devemos examinar é “como obter ações em cada um desses níveis de decomposição?”. E isso que tentaremos fazer a seguir. A primeira coisa a considerar é que sempre será preciso coletar dados para poder dizer o que se fará em cada um desses níveis. Que dados coletar e como coletá-los novamente vai variar conforme o problema, o programador, os aprendizes, o conhecimento disponível sobre o assunto, a qualidade do conhecimento disponível, as técnicas disponíveis (e conhecidas) para se obter os dados, etc. Qualquer desses casos pode ocorrer sozinho ou em combinação com outros. Cada nível, sem dúvida, exigirá um tipo de dado e o conjunto deverá dar uma ideia clara e completa do que deverá ser capaz de fazer o aprendiz ao terminar o curso e o que precisará aprender (em termos de “ações” ou “respostas”) para ser capaz disso. Ocupação geral do aprendiz Às vezes, o objetivo terminal pode estar sendo uma classe tão geral de respostas que o novo trabalho de “decompor” o objetivo em intermediários começa do que chamamos de “ocupação geral”. Quando as classes de respostas se exercem em muitos locais ou situações, temos uma situação 12 No âmbito da Análise do Comportamento, o uso de expressões que remetem a explicações mentalistas do comportamento devem ser evitadas; nesse contexto, o uso da expressão “propósito” não se destina a explicar o comportamento, e está sendo utilizada apenas para ajudar na construção didática do conceito de comportamento operante, para enfatizar que, utilizando uma linguagem de senso comum, mesmo que uma resposta seja apresentada por alguém com a “intenção” de produzir um certo resultado, se esse resultado não é produzido, o comportamento ocorrido não será aquele eventualmente pretendido. Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 83 dessas. Vejamos um exemplo. Se estivéssemos querendo, ainda, preparar um aprendiz a lavar roupas de qualquer tipo, poderiamos considerar isso uma ocupação geral, enquanto ela se exerce em várias situações e locais e não sabemos ainda o que vamos ter de lhe ensinar. É claro que estamos falando de aprendizes no caso de querermos formar “profissionais” para trabalhar em lavanderias de uma comunidade. Seria diferente se o aprendiz, alvo do programa, fosse uma empregada doméstica. Aí, talvez, não teríamos uma ocupação geral como ponto de partida. Seria a mesma coisa se quiséssemos preparar datilógrafas-secretárias. A “função” delas de datilografar e secretariar é geral, e não nos diz nada ainda do que lhes ensinar. Ocupação “especializada” do aprendiz Em geral, uma ocupação “especializada” se detém em apenas um ou alguns dos aspectos do trabalho que o aprendiz deve realizar, Para se obter as classes de resposta (ainda amplas) do que o aprendiz deve fazer neste nível, pode-se perguntar: “Em que locais (ou situações) o aprendiz deve exercer a ocupação geral?”. Se houver apenas um local ou situação, talvez você já esteja diante de uma ocupação mais específica. Se houver mais de uma, ainda precisamos perguntar: “O que deverá fazer nestes locais?”. Pode ser que você tenha melhores dados se repartir essa pergunta em duas: “O que deve fazer em cada um desses locais?” e “Quais as diferenças do que ele deve fazer de um local (ou situação) para outro?”. Com os dados obtidos a partir dessas perguntas, você poderá descrever o que o aprendiz deve ser capaz de fazer para realizar sua(s) “ocupação(ões) especializada(s)”. Antes de prosseguir, relembramos que os dados a obter para se conseguir responder a cada uma das perguntas não implicam em coletas de dados que exigem vários procedimentos de observação, entrevistas ou exame de produtos de trabalho, documentos ou literatura especializada. Muitas vezes ainda precisamos transformar os dados coletados em “verbos” que descrevam as ações do aprendiz que evidenciarão a aprendizagem que queremos obter. Nos exemplos que estávamos usando, o aprendiz poderia trabalhar em locais diversos: lavanderias simples pouco equipadas; lavanderias sofisticadas para peles e couros lavanderias para tapetes, cortinas, etc. E óbvio para nós que cada local ou situação dessas exigiría aprendizagens (comportamentos) diferentes e talvez específicas. Talvez tenhamos de trabalhar em todas elas ou escolhamos algumas, tudo deverá depender de quem é o nosso aprendiz, de quanto e para que devemos prepará-lo. Atividades do aprendiz em uma ocupação especializada Em cada local ou situação, uma pessoa pode, ainda, exercer diferentes atividades. Uma atividade se caracterizaria por ser “aquilo” que o aprendiz deveria fazer como parte da ocupação especializada. As vezes há - vamos chamar assim - “sublocais” ou “subsituaçoes”em um “local” ou “situação” e isto implica em diferenças muito grandes nas classes de respostas do aprendiz. Vejamos, novamente, o exemplo do nosso aprendiz de “profissional de lavanderias”. Ele, em uma lavanderia, poderia trabalhar com as máquinas de lavar, ou na parte que cuida da secagem das roupas ou no balcão, atendendo a clientela. Só neste último ele, provavelmente, vai ter muitas coisas a fazer de forma a “atender clientes no balcão”, diferente de “passar roupas” ou “separar roupas para lavar” (supondo cada uma das coisas ser uma secção da lavanderia). Para se conseguir essas informações sobre “quais as atividades” de alguém em um local específico, bastaria fazer as perguntas: “Há subdivisões nítidas (visíveis e notáveis) no local ou situação de trabalho?”; “Quais são essas subdivisões?” “O que o aprendiz deverá fazer em cada uma?”. Enfim, é listar as diferentes “atividades” que um “profissional de lavanderia” deveria apresentar em um dos locais ou situações de trabalho que tem. Tarefas do aprendiz em uma atividade Uma “atividade”, por exemplo, atender clientes no balcão de uma lavanderia, ainda pode ser descrita em relação às tarefas que a compreendem. No exemplo acima poderiamos ter “receber roupas para lavar”, “entrega das roupas lavadas”, “preencher pedidos de lavagem”, “preencher notas”, “receber pagamentos”, “atender 76 EdUFSCar — Série Apontamentos reclamações”, etc. Como saber quais as tarefas envolvidas em uma atividade? As perguntas que dirigem a coleta de dados podem ser as seguintes: “Que coisas a pessoa faz ou deve fazer em cada uma dessas atividades?”; “O que a pessoa usa ou precisa usar para realizar a atividade?”; “O que ela faz com essas coisas?”; “Que instrumento ela usa?”; “Que equipamentos utiliza na atividade?”; “Que material emprega?”; “Que objetos utiliza?”, Para cada resposta a essas perguntas deve-se tentar descrever a ação correspondente — por exemplo, se perguntarmos que material emprega e obtivermos a informação “papel para embrulho”, podemos perguntar “o que a pessoa faz com o papel para embrulho?” e, agora, a respostanos deveria fazer descrever uma ação do aprendiz “fazer embrulhos da roupa limpa para entregar aos clientes”. Cada item examinado deveria garantir a obtenção de descrições cada vez mais completas sobre todas as ações que são necessárias ensinar ao aprendiz. No caso da tarefa, já estamos ensinando ao aprendiz a lidar com um ambiente mais localizado e restrito do que nos anteriores (atividade, ocupação especializada e ocupação geral) em que estávamos localizando “ambientes maiores” e onde haver ia provavelmente grande quantidade de estímulos e respostas envolvidas. Operações envolvidas na execução de uma tarefa Um nível de exame mais acurado do que o aprendiz deverá ser capaz de fazer para atingir os objetivos terminais de programa. E como se estivéssemos olhando uma célula em um microscópio à medida que quiséssemos detalhar uma outra parte da célula. No nosso caso, agora vamos “focalizar o microscópio” na tarefa e ver que operações ela exige. Vejamos - outra vez? — o exemplo da lavanderia e examinemos uma das tarefas realizadas - “fazer embrulhos da roupa limpa para entregar aos clientes”. Essa tarefa exige que a pessoa seja capaz de “dobrar a roupa sem amassar”, “cortar o papel no tamanho e na forma adequada para a roupa que vai embrulhar”, “prender o papel com fita adesiva ou barbante”, etc. Como saber o que o aprendiz precisa ser capaz de fazer para realizar uma tarefa? Bastaria perguntar “com o que a pessoa toma contato ao realizar a tarefa?” e “o que ela faz com cada coisa dessas com que entra em contato?”, ou então “o que a pessoa faz ao realizar essa tarefa?”. Os dados que obtivermos a partir dessas perguntas nos devem permitir descrever as ações necessárias para evidenciar aprendizagens mais sutis necessárias para atingir o objetivo terminal. Açoes envolvidas em cada operação “Focalizando o microscópio” em um dos “corpúsculos da célula” que estamos examinando é provável que consigamos descobrir mais coisas ainda sobre cada operação envolvida em cada tarefa das que encontramos. Como fazer isso? É simples, basta prestar atenção, agora, em uma operação de cada vez. Prestar atenção e examinar “como a pessoa usa cada coisa ao fazer a operação?”, “quanto usa”, e tentar identificar que elementos ainda estão presentes na execução de cada operação. Vamos ao exemplo já bem conhecido. Quais seriam as “ações” envolvidas na operação “dobrar roupas sem amassar?”. Se perguntarmos “como a pessoa faz para dobrar roupas sem amassar?” vamos ter de descrever unidades de respostas que - no seu conjunto ~~ permitirão obter a classe de respostas más geral (talvez cadeia de respostas), que é “dobrar roupas sem amassar”. No nosso exemplo, poderiamos ter as seguintes ações: “colocar a roupa sobre a mesa de forma a deixá-la o mais possível sem dobras ou amontoada”, “dobrar onde normalmente já devem haver dobras”, “dobrar onde já há dobraduras determinadas” (vinco por exemplo), etc. Poderiamos também optar por “regras” menos gerais e ir ensinando cada ação a que a regra se refere. Por exemplo, “dobrar camisas”; “dobrar calças”; “dobrar vestidos de tipo x”; “dobrar vestidos do tipo y”, etc. A opção de qual “o caminho” é do programador: às vezes, é melhor ensinar uma regra do que cada aprendizagem isoladamente. Isso ocorre quando a variedade e as características das respostas a aprender permitem uma regra. Quando isso não é possível ou adequado, escolhe-se outro caminho. O problema será sempre empírico. A experiência e a qualidade dos dados que ela nos fornecer é que dirão qual o caminho a escolher para se chegar Elaboração de programas de ensino: material auto instrutivo 85 até a aprendizagem do objetivo terminal. Habilidades técnicas Imediatas necessárias para o desempenho de cada ação Vamos nos instrumentar com um microscópio mais potente ainda e examinar - agora - cada ação da pessoa e o que está envolvido com a aprendizagem dessa ação. Primeiro, vamos assestar o “microscópio” sobre o exemplo que estamos desenvolvendo. Se perguntarmos, ainda, “o que deve ser capaz de fazer para dobrar roupas onde normaímente elas devem ser dobradas ao usar?”, poderiamos tentar obter dados - observando ou entrevistando um especialista ou estudando o que a literatura 12 No âmbito da Análise do Comportamento, o uso de expressões que remetem a explicações mentalistas do comportamento devem ser evitadas; nesse contexto, o uso da expressão “propósito” não se destina a explicar o comportamento, e está sendo utilizada apenas para ajudar na construção didática do conceito de comportamento operante, para enfatizar que, utilizando uma linguagem de senso comum, mesmo que uma resposta seja apresentada por alguém com a “intenção” de produzir um certo resultado, se esse resultado não é produzido, o comportamento ocorrido não será aquele eventualmente pretendido. 86 EdUFSCar - Série Apontamentos registra sobre isto - que nos permitem listar as habilidades necessárias para executar adequadamente a ação em foco/Identificar onde dobrar camisas” e “identificar onde a roupa poderá ser dobrada sem amassar” são exemplos de habilidades necessárias para a execução da ação “dobrar roupas sem amassar”. Poderiamos achar que não há diferença entre “ação” e “habilidade técnica imediata”. Talvez, em alguns casos, isso seja verdade, mas olhe bem no “microscópio” porque as diferenças entre as coisas nesse nível de detalhe são mais difíceis de perceber. Suponha um outro exemplo, só para ilustrar que nem sempre essa confusão ocorre. Imagine que você quer ensinar o seu aprendiz a realizar a ação “engatar a primeira marcha em um carro esporte” (é óbvio que o seu aprendiz não sabe nada sobre dirigir um carro!). Que habilidades técnicas imediatas ele necessitaria? Sem dúvida “identificar onde fica a alavanca de mudanças”, “identificar qual a posição em que deve ficar a alavanca do câmbio”, “identificar quais outras ações (provavelmente já aprendidas no seu curso, por exemplo, “embrear”) estão relacionadas com “engatar a marcha”. Talvez até pudéssemos achar que ele devesse ser capaz de “descrever como deve fazer para engatar a primeira” como habilidade necessária antes de “engatar a primeira” (você não esqueceu que quem escolhe o caminho é sempre o programador conforme os dados que ele tem no momento em que deve decidir). O problema básico a enfrentar nesta etapa da análise dos objetivos terminais é descobrir quais as aprendizagens relacionadas com cada ação são necessárias para que a ação seja realmente aprendida. A forma para encontrar essas “habilidades técnicas imediatas” é examinar novamente “com o que o aprendiz toma contato - por qualquer forma ou órgão dos sentidos - quando realiza cada ação?”; “o que ele precisa ser capaz de fazer em relação a cada uma dessas coisas para realizar a ação adequadamente?”; “girar uma chave em uma fechadura” pode exigir que seja capaz de “identificar uma chave”; “identificar uma fechadura”; “introduzir uma chave em uma fechadura”; “distinguir entre diferentes tipos de chaves e fechaduras”; “identificar a chave do tipo de fechadura”, etc.; e claro - repetimos - que essas habilidades vão variar conforme - você já sabe - o programador, o aprendiz e o objetivo terminal. Conhecimentos técnicos Imediatos relacionados às habilidades e ações do aprendiz O nosso microscópio já está com uma potência elevadíssima e as distinções entre os elementos examinados está muito mais difícil. Mas se prestarmos atenção e examinarmos bem o que estamos vendo, deveremos descobrir mais coisas do que aparece à primeira vista e, talvez, identifiquemos coisas importantes na célula (programa) que examinamos e que é apenas uma entre tantas. As habilidades de uma pessoa ao lidar com algum aspecto do ambiente geralmente retratam (refletem) conhecimento. Comportar-se e obter consequências fazem com que um organismo forme um “conceito” do que é melhor fazer. Se pudermos identificar quais os conhecimentos necessários para cada habilidade ou ação do aprendiz, seremoscapazes de dizer também o que ele precisa ser capaz de fazer para adquirir habilidades e realizar a ação que depende da aprendizagem delas. Um exemplo que ilustra isso é “para a habilidade de identificar uma chave yale entre outras chaves” é necessário “dizer o que caracteriza uma chave yalê\ Ou “para identificar onde dobrar camisas será necessário ser capaz de dizer onde se deve dobrar camisas”. Um outro exemplo: “identificar o quanto de papel é necessário para empacotar um conjunto de roupas” podcria exigir ser “capaz de dizer como fazer para saber quanto papel deve ser cortado para empacotar um conjunto de roupas”. O conhecimento da regra ou o conceito e a evidência disso (verbalização, por exemplo,) é diferente do uso do conceito. Por isso, às vezes importa que se aprenda um conceito (e se demonstre essa aprendizagem) antes de usá-lo. Há casos em que não seria necessário isso tudo. Talvez o problema específico com que você lida exija a Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 87 modelagem direta e a formação de conceito por procedimentos diferentes que os de aprender por meio de estudo. Se o seu aprendiz for uma criança, você provavelmente analisará de modo diferente esse problema do que se for um adulto. Se o adulto for analfabeto, pouco acostumado a lidar com estímulos verbais, você analisará diferentemente do que se o aprendiz for um bem treinado universitário. Você tem o microscópio, e - cremos - bastante potente. Há alguns critérios para observar a situação que está examinando; o resto que você precisa é atenção, raciocínio e treino. Os dois primeiros você já é capaz de fazer (ou pode conseguir), e o terceiro virá à medida que fizer a tarefa em questão. Habilidades e conhecimentos medlatos para ser capaz de realizar as ações, operações e tarefas Há, como nos dois níveis anteriores, habilidades e conhecimentos, mas que não são “técnicos e imediatos” em relação à ação a realizar. Muitas vezes sabemos fazer alguma coisa e não sabemos por que a fazemos ou quando devemos fazê-la ou deixar de fazer. Uma ação nem sempre é adequada, os efeitos de uma ação nem sempre aparecerão. Quando queremos que uma criança aprenda a “manter-se longe de algo quente”, ou a “evitar o fogo”, ou a um cliente "fumar a p e n a s . o u a uma pessoa a “ligar o botão do gás somente quando estiver com o fósforo acesso”, os efeitos (a razão) dessas ações nunca, ou dificilmente, existirão para o aprendiz. Se ele for capaz de “identificar efeitos”, “dizer as vantagens”,“dizer a ocasião na qual...”, “apontar razões para...”, isso pode permitir um comportamento sob controle de símbolos verbais relacionados (condicionados) aos efeitos da ação ou de sua inexistência. Habilidades e conhecimentos que o aprendiz tem a respeito de “por que e quando” fazer as ações o ajudam a se comportar sob controle dos efeitos prováveis do fazer ou deixar de fazer. Vamos dar um exemplo na nossa já familiar lavanderia. O que vocês acham de um aprendiz que fosse capaz de “identificar (ou dizer) quais as consequências de amassar a roupa ao dobrar”? Ele ainda podería indicar consequências positivas (vantagens) ou negativas (desvantagens) que poderiam se referir ao cliente, ao próprio aprendiz, à lavanderia; podería se referir a efeitos mais próximos ou mais distantes no tempo. E provável que ele se comporte com maior ou menor probabilidade da maneira como foi especificado no programa com a inclusão dessas habilidades e conhecimentos. Tente imaginar outras ações (psicólogos, educadores, médicos, arquitetos, comerciantes) e identificar se os comportamentos deles permitem imaginar que aprenderam habilidades e conhecimentos mediatos em relação às ações que apresentam. É a análise do programador que vai, em função das variáveis envolvidas no seu programa, determinar quais e quantas respostas do aprendiz devem existir evidenciando a aprendizagem de habilidades e conhecimentos mediatos. A descrição inicial que o programador fez do problema que o aprendiz tem deve ajudá-lo a identificar quais habilidades e conhecimentos mediatos são necessários aprender. Muitas pessoas fazem “coisas malfeitas” ou “erradas” porque não conseguem “notar os efeitos do que fazem”. Isso pode ser também por falta de repertório do tipo que indicamos aqui. Cada nível de “decomposição” tem uma importância sempre determinada pelas circunstâncias específicas que já salientamos. Os procedimentos como um todo devem ajudar o programador a mais provavelmente comportar-se sob controle do problema a resolver dos objetivos terminais e dos comportamentos necessários que o aprendiz deve apresentar. O conteúdo entrará na medida em que estiver relacionado com os níveis de desempenho das aprendizagens necessárias para atingir o objetivo terminal. Nos últimos níveis, aquilo que o aprendiz faz o prepara para agir nos níveis imediatamente mais complexos, e, nestes, o que fizer o preparará para níveis ainda mais complexos. Todos esses níveis, porém, dependem de uma boa descrição do problema que o aprendiz deve resolver e de uma boa proposta de objetivos terminais para prepará-lo a resolver o problema. A descrição das características do 76 EdUFSCar — Série Apontamentos aprendiz, aliada ao conjunto, já deve ter deixado claro quem deve fazer o que e para quê. Isso feito, todo o procedimento de análise que descrevemos neste texto pode ser executado sem maiores problemas. Para aplicar o procedimento, poderão ser utilizados vários tipos de dados e de técnicas para a obtenção desses dados. Se o problema e o assunto forem desconhecidos, será necessário pesquisar diretamente cada um desses níveis. Caso haja pessoas entendidas no assunto, sempre poderá obter muitos dados ao entrevistá-las. Às vezes, o próprio currículo tradicional - no caso de cursos já existentes - fornece uma grande parte dos dados. A análise, porém, deverá garantir toda uma descrição de comportamentos do aprendiz e não uma listagem de conteúdos transformados em “respostas observáveis do aprendiz”. Às vezes algumas pessoas confundem “decomposição” com “encadcamento”. A sequência de respostas observáveis de uma pessoa ao fazer algo é apenas parte dos dados. O que a pessoa faz (e se nota) está sob controle de estímulos, já há discriminações e generalizações. Para aprender a fazer é necessário passar pelas aprendizagens intermediárias. Essa noção está muitas vezes associada a outra noção perigosa: que o objetivo terminal é apenas o último elo de uma cadeia. Seria melhor lembrar que, muitas vezes - quase todas? -, o objetivo terminal é uma classe de respostas complexas sob um também complexo controle de estímulos. Ao fazer a análise de um objetivo terminal, deve-se ter tudo isso em conta. Não se faz uma análise usando um único critério. De tudo, pode-se perceber que a tarefa de analisar objetivos terminais não é nada simples e não é também uma tarefa pequena. Um ponto importante nas dimensões dessa tarefa é localizar onde está o objetivo terminal para o programa a desenvolver ao se iniciar a decomposição. Quando localizado seu nível, pode-se iniciar a análise; se descobrir que o nível deve ser outro, é só mudar. Esses níveis são apenas uma ajuda para analisar os objetivos, e não uma “fórmula” a aplicar para resolver deficiências do programador. Uma pergunta que deve, ainda, não estar suficientemente clara é “quando parar a decomposição?”, No início deste texto dissemos que se deveria parar onde encontramos o repertório que a população-alvo já tem. O problema de repertório de entrada, porém, será assunto de outro texto. Por enquanto, ficamos apenas com a regra “a decomposição dos objetivos terminais em objetivos intermediários deve ir até no nível em que encontramos o repertório já existente na população-alvo do programa de ensino que se está desenvolvendo”. Como proceder para fazer, de uma forma econômica, a análise dos objetivos terminais? Para tornar mais fácil e econômica a tarefa de organizar as “ações dos aprendizes”resultantes da análise feita, vamos sugerir um procedimento. Recorte folhas de papel em pedaços de aproximadamente 5 x 10 cm. Escreva em uma delas o seu objetivo terminal, iniciando por um verbo e com um complemento que deixe claro o que você quer com aquele objetivo. Se tiver mais de um objetivo terminal, escreva cada um em um pedaço de papel. Nunca escreva dois objetivos em um mesmo pedaço de papel. Dessa forma, você deverá ter algo parecido com a Figura 1 ou com a Figura 6 (ver as figuras antes de prosseguir). Em seguida, localize, mais ou menos, em que nível (ver Figura 10) está (ou estão) o seu objetivo terminal (ou os seus objetivos terminais). Olhe para o objetivo (ou para um dos objetivos) e aplique o procedimento indicado no texto, primeiro analisando o que está envolvido no nível e, em seguida, respondendo à pergunta: “o que o aprendiz precisa ser capaz de fazer para . . E s c r e v a cada resposta em um pedaço de papel. Não escreva mais de uma em cada papel, sob risco de confundir a análise em seguida. Analise cada objetivo terminal e cada intermediário, um por um, decompondo-os até encontrar o repertório de entrada do aprendiz. Vá colocando os pedaços de papel na posição adequada formando um diagrama que lhe permita observar - e mais provavelmente analisar - a decomposição que está fazendo. Esse trabalho deve lhe aparecer como a Figura 9 (veja antes de prosseguir). O procedimento deverá Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 89 ajudá-lo a diminuir o trabalho inicial (apagar, mudar de posição, corrigir). É provável que você necessite de uma mesa ou superfície grande para ir organizando os papéis. É como montar um quebra-cabeças. Vá fazendo a análise por partes e certificando-se de que está, realmente, descrevendo “o caminho de aprendizagens” a realizar para chegar ao objetivo terminal. Quando considerar conferida e terminada a análise, transcreva os objetivos terminais em uma folha, ordenando-os por números arábicos conforme o nível em que estão e se apresentam. Os objetivos terminais receberiam números 1,2,3, etc., os intermediários do nível imediato receberíam números 1.1,1.2... ou 2.1,2.2, etc. conforme fossem decomposição de um ou outro terminal. Prosseguindo o procedimento, você obterá uma folha semelhante à descrita na Figura 11 (ver Figura 11 antes de prosseguir). 1 — Arrancar com o carro 1.1 — Dar partida 1.1.1 — Localizar onde se dá partida 1.2 - Destravar o carro 1.2.1 — Destravar o freio de mão 1.3 - Acelerar corretamente 1.3.1 — Distinguir pressões do pé no acelerador 1.4 - Fazer mudança de marcha 1.4.1 — Apertar o pedal da embreagem 1.4.2 - Trocar marchas 2 — Seguir sinais de trânsito 2.1 - Descrever o que se deve fazer diante de cada sinal 3 — Fazer manobras corretamente 3.1 - Deslocar o veículo para a direita 3.2 - Deslocar o veículo para a esquerda 3.3 - Deslocar o veículo para trás 3.4 - Avisar manobra que irá realizar rigura 11 Uma iorma de apresentar uma decomposição inicial de um objetivo terminal obtido em um diagrama. A ordenação em níveis de complexidade é percebida na organização dos números e na disposição na folha. Um lembrete especial ao realizar o trabalho de análise de um objetivo é escrever de maneira mais clara e completa o possível cada objetivo intermediário antes de passar para um nível sofisticado de análise. Claro e completo, sem dúvida, não quer dizer escrever muitas palavras sobre cada objetivo. Conclusão Para terminar, alguns comentários a respeito de erros e impressões comuns das pessoas quando se faz uma análise de um objetivo terminal. A primeira coisa é não esquecer em nenhum momento da análise que é o problema que dá origem aos objetivos terminais e qual é a população-alvo do programa. A decomposição lógica de objetivos terminais complexos pode levar a erros muito sérios e a encher o diagrama de decomposição de “inutilidades”. Ensinar “como cozinhar”, por exemplo, pode levar a coisas muito diferentes se o aprendiz for uma pessoa pobre, em uma escola de periferia, ou for um aprendiz de cozinheiro profissional, para restaurantes de uma grande cidade. Outro problema é não fazer o exame com suficiente cuidado em cada objetivo intermediário. Às vezes se toma um único critério (por exemplo, de sequência de ações observáveis) e se vai até o fim com apenas esse critério. O procedimento não pode ser simplista. Há muitos critérios de análise em cada nível da decomposição. E frequente também examinar um objetivo intermediário isolado do contexto e ele parecer 76 EdUFSCar — Série Apontamentos absurdo ou desnecessário. Novamente lembramos: é dentro do contexto da análise que ele tem sen- * tido. E como um cromossomo isolado, ele só tem sentido ou função em um organismo. Outro problema é achar que há “uma montanha de comportamentos” ou que é “um detalhismo excessivo”. Certifique-se de que não é a sua análise que está defeituosa ou que não é uma “esquiva permanente à aversividade da tarefe nova e exigente”. As vezes, dá uma “preguiça” fazer uma decomposição cuidadosa e usamos alguns mecanismos de verbalização semelhantes ao das “uvas verdes”. Talvez o trabalho seja realmente grande e detalhado, mas o que queremos é fazer uma análise bem feita para garantir um ensino efetivo. Nas ciências físicas e biológicas, já avançamos a níveis microscópicos de conhecimento e investigação. Cada parcela - mesmo atômica - interfere com a probabilidade de ocorrência do evento macroscópico. Nas ciências humanas, precisamos tomar o microscópio e, com paciência e cuidado, examinar cada resposta ou estímulo envolvido por menor que seja. Pode ser que seja exatamente ele uma variável que interfere com a probabilidade de ocorrência do comportamento “detalhista” que examinamos. 1. EXEMPLOS DE ANÁLISE DE OBJETIVOS TERMINAIS A identificação (ou proposição) de objetivos intermediários de diferentes níveis, assim como no caso dos objetivos terminais, sofre a influência direta do grau de conhecimento que o programador tem sobre o processo comportamental que é alvo do programa, assim como do grau de treino que tem para apresentar cada um dos comportamentos que fazem parte da elaboração de um programa de ensino. Nesse sentido, produtos diferentes podem ser esperados como resultado do esforço de diferentes programadores para elaborar um programa de ensino, razão pela qual este é sempre uma proposta de intervenção que necessita ser avaliada quanto à sua eficácia para alterar a situação-problema que lhe dá origem. Dessa forma, os objetivos terminais e os objetivos intermediários são propostas do programador no processo de “resolver”, da melhor forma possível, um problema. A seguir são apresentados alguns exemplos de objetivos intermediários propostos para programas de ensino elaborados em diferentes contextos. Atenção: exemplos, não modelos a seguir ritualisticamente. A análise de objetivos terminais em seus intermediários (significativos) representa o resultado da combinação de todas as variáveis indicadas no parágrafo anterior (grau de conhecimento sobre a situação-problema e sobre comportamentos relevantes para enfrentá-la a que o programador tem acesso, treino em programar, recursos disponíveis incluindo tempo, etc.). a) Programa de ensino destinado a preparar condutores de automóveis, em relação a um dos objetivos terminais: trocar pneus de automóveis (amostra). Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 91 Elaboração de programas de ensino: material auto instrutivo 103 12 No âmbito da Análise do Comportamento, o uso de expressões que remetem a explicações mentalistas do comportamento devem ser evitadas; nesse contexto, o uso da expressão “propósito” não se destina a explicar o comportamento, e está sendo utilizada apenas para ajudar na construção didática do conceito de comportamento operante, para enfatizar que, utilizando uma linguagem de senso comum, mesmo que uma resposta sejaapresentada por alguém com a “intenção” de produzir um certo resultado, se esse resultado não é produzido, o comportamento ocorrido não será aquele eventualmente pretendido. 104 EdUFSCar - Série Apontamentos b) Programa de ensino destinado a capacitar estudantes universitários a lidar adequadamente com gestão de residência coletiva da qual facam parte. Objetivos terminais propostos18 Diante da oportunidade ou necessidade de viver em uma república (residência coletiva), características e necessidades das diferentes pessoas que compartilham a residência, histórias de vida, cultura, hábito e costumes dos que compartilham a residência, características físicas da residência, aspectos a serem gerenciados no funcionamento de uma residência coletiva e da residência em particular onde vive, informações sobre possibilidades (em termos de instrumentos, procedimentos e estratégias) para gerenciamento de uma residência coletiva e recursos disponíveis para gerenciamento da residência, é esperado que os aprendizes possam lidar adequadamente com gestão de residência coletiva da qual façam parte, tendo como resultados, produtos e efeitos: república organizada e funcionando em conformidade com acordos estabelecidos (normas) coletivamente e deliberados democraticamente; conflitos evitados, minimizados e, se ocorrerem, resolvidos com o menor desgaste possível dos envolvidos e grau máximo possível de atendimento às necessidades de todos; melhor qualidade de vida possível garantida para todos os que residem juntos; melhor qualidade possível da interação alcançada entre os moradores; menor gasto possível de recursos para a manutenção e o funcionamento da casa; distribuição de responsabilidades em relação ao funcionamento e manutenção da residência pelos moradores em conformidade com critérios estabelecidos pelo grupo; necessidades e preferências dos moradores atendidas no grau máximo possível; peculiaridades dos moradores respeitadas no grau máximo possível. Objetivos mais específicos (Io nível) 1 Diante de oportunidade e necessidade de convivência com pessoas diferentes (em relação a histórias de vida, formas de lidar com problemas, perspectivas, expectativas, etc.) em uma residência coletiva, considerando itens a serem compartilhados, responsabilidades comuns dos moradores, informações sobre normas e conhecimento sobre como lidar com normas, e características dos moradores, lidar com normas para convivência em residência coletiva de modo que, se necessário, sejam propostas e implementadas normas claras, viáveis, justas para todos, que possam atender, no grau máximo possível, às necessidades coletivas e individuais; que as normas sejam respeitadas com grau mínimo de conflito, melhor convivência possível, boa qualidade de vida dos moradores e manutenção e funcionamento adequados da residência; 2 Diante de atividades existentes e possíveis relativas ao funcionamento da residência coletiva, normas e regras definidas pelos moradores, recursos e materiais disponíveis para lidar com as demandas de funcionamento da casa, informações sobre execução de tarefas domésticas e sobre demandas existentes em residências coletivas, lidar adequadamente com as demandas de funcionamento da residência coletiva de modo que as demandas sejam atendidas com o mínimo de recursos utilizados e menor desgaste físico e psicológico dos moradores; participação de todos os moradores para atendimento das demandas; ambiente mantido de acordo com interesses dos moradores; normas preestabelecidas cumpridas; interesses e necessidades das pessoas de dentro e de fora da república atendidas no maior 18 Caso compare com o exemplo de objetivos terminais apresentados na Unidade 3, notará que há diferenças entre os objetivos de primeiro nível que aparecem lá e os que aparecem aqui. Essas diferenças ilustram bem o fato de que os objetivos terminais e objetivos intermediários propostos dependem de variáveis como as enumeradas neste texto, e que levam a especificidades decorrentes de cada contexto específico em que o programa é elaborado. Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 105 grau possível, dentro dos prazos e condições previstos; 3 Diante da necessidade e oportunidade de interação entre pessoas que convivem na república, diferentes situações nas quais as interações ocorrem, características de cada pessoa envolvida nas interações, informações sobre como lidar com pessoas adequadamente, lidar de forma adequada com as pessoas com quem compartilha uma residência coletiva de modo a promover comunicação e diálogo facilitados, convivência harmoniosa, necessidades individuais e coletivas atendidas no grau máximo possível, conflitos minimizados, evitados ou resolvidos com menor prejuízo individual e coletivo possível, costumes, valores e crenças individuais respeitados. Objetivos intermediários de diferentes níveis de especificidade identificados para este programa,22 em relação ao objetivo sombreado no diagrama anterior Enumerar tipos de 1 i necessidades que podem t- sr demandar providências coletivas para o bom funcionamento da li E casa (1.1.1.1) a£. c: • 106 EdUFSCar - Sérií Apontamentos Identificar demandas para o bom funcionamento da república (1.1) Caracterizar necessidades de moradores que implicam em demandas coletivas para o bom funcionamento (1.1.1) Dizer por que identificar c caracterizar demandas de funcionamento de uma república (1.1.1.1.1/1.1.1.2.1) Lidar com demandas... da república (1) Enumerar tipos de demandas que podem existir para o bom funcionamento dc uma república (1.1.1.2) * .......................................... Caracterizar demandas de funcionamento da república (1.2) Definir em relação a que aspectos cada demanda de funcionamento deve ser caracterizada (1.2.1) Identificar recursos necessários para atender demandas de funcionamento da casa (1.3) Uífti.Uü ífülüí Üiifí íi jfs íiuL Identificar recursos disponíveis para atender demandas de funcionamento da casa (1.4) ’ ■"* .. f ■■■ .... Enumerar recursos possíveis para atender demandas de funcionamento de uma república (1.3.1/1.4.1) Enumerar diferentes aspectos em relação aos quais diferentes demandas de funcionamento de uma república podem ser caracterizadas (1.2.1.1) Dizer a importância de identificar recursos para atender demandas do funcionamento da casa (1.3.1.1/1.4.1.1) Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 107 108 EdUFSCar - Série Apontamentos Elaboração de programas de ensino: material autoínstrutivo 109 110 EdUFSCar - SérieApontamentos Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 111 112 EdUFSCar - Série Apontamentos 76 EdUFSCar — Série Apontamentos Elaboração de programas de ensino: material auto instrutivo 113 3. Análise de objetivos terminais: demonstração participativa Você encontrará, a seguir, exemplos de objetivos intermediários indicados no âmbito de um programa destinado a ensinar universitários a lidar com resíduos sólidos, e solicitações para rever, completar e aprimorar a análise. Se necessário, reveja, na unidade correspondente a formulação de objetivos terminais para programas de ensino (Unidade 4), a descrição da situação-problema que deu origem a esse programa e objetivos terminais propostos para ele. Retomando, o quadro a seguir indica o objetivo terminal e os cinco objetivos intermediários de maior especificidade (primeiro nível) indicados para o programa. Você encontra, a seguir, um diagrama com os objetivos intermediários indicados como relevantes a partir da análise do objetivo prover necessidades de consumo. Examine cuidadosamente o diagrama, buscando identificar outros comportamentos que considere relevantes para o contexto a que se refere cada um desses objetivos analisados e eventualmente não indicados, formulações que considere maisadequadas para os objetivos propostos e outros aspectos que levem o diagrama a representar, de seu ponto de vista, um “mapa” mais completo e relevante das aptidões a serem promovidas nos aprendizes, para que o problema descrito seja eliminado ou significativamente atenuado. 76 EdUFSCar — Série Apontamentos 116 EdUFSCar - Série Apontamentos Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 118 Agora é a sua vez de fazer uma análise de objetivos intermediários, e o objetivo do qual deve partir é encaminhar resíduos para aproveitamento. Antes de iniciar a análise: 1) (Re)leia a descrição deste objetivo. Diante de resíduos sólidos que não possam ser aproveitados para atendimento de necessidades próprias, preparados para serem encaminhados e dos recursos existentes para encaminhamento de resíduos para aproveitamento, encaminhar resíduos para aproveitamento de modo que cada tipo de resíduo esteja encaminhado de acordo com suas características e possibilidades de aproveitamento disponíveis. 2) (Re)leia o procedimento indicado para a análise de objetivos de ensino sintetizado a seguir, lembrando que esse procedimento ajuda a diminuir o trabalho inicial (apagar, mudar de posição, corrigir), E como montar um quebra cabeças. a) Providencie uma superfície ampla e plana que possibilite desenvolver a tarefa com o maior grau de conforto possível; b) Obtenha os documentos de descrição do problema e do($) objetivo(s) terminal(is) a ser(em) analisado(s); c) Providencie papéis para escrever cada um dos objetivos de ensino que surgirão no processo de análise (sugestão: 5 x 10 cm); d) Localize, de forma aproximada, em que nível está o objetivo terminal a ser analisado no esquema de níveis de especificidade de objetivos (ocupação geral, ocupação especializada, atividades, tarefas, etc.); e) Leia o objetivo; f) Analise o que está envolvido no nível em que o objetivo se apresenta; g) Responda à pergunta: “o que o aprendiz precisa ser capaz de fazer para...?”; h) Escreva cada resposta obtida a essa pergunta de um mesmo nível de especificidade (imediatamente abaixo daquele em que está o objetivo terminal) em um pedaço de papel. Não escreva mais de uma em cada papel, sob o risco de confundir a análise em seguida. Lembre-se de escrever de maneira mais clara, completa e concisa possível cada objetivo intermediário identificado; i) Repita a pergunta para o primeiro objetivo intermediário identificado no item anterior, analisando apenas esse objetivo em seus objetivos mais específicos, até considerar que já atingiu o “repertório de entrada”dos aprendizes em relação àquele objetivo intermediário. Ou seja, em um ponto em que o aprendiz já é, supostamente, capaz de fazer aquilo que é necessário; j) Coloque os pedaços de papel com os objetivos localizados, conforme sejam escritos, na posição adequada. Atenção: respostas indicativas de um mesmo nível de especificidade, geradas a partir de pergunta formulada para um único comportamento, devem ser posicionadas verticalmente, umas sob as outras; respostas que indicam comportamentos mais específicos em relação ao anterior devem ser colocadas em uma sequência horizontal. O resultado deste trabalho será um diagrama que permita observar - e mais provavelmente examinar - a análise que está sendo feita; 12 No âmbito da Análise do Comportamento, o uso de expressões que remetem a explicações mentalistas do comportamento devem ser evitadas; nesse contexto, o uso da expressão “propósito” não se destina a explicar o comportamento, e está sendo utilizada apenas para ajudar na construção didática do conceito de comportamento operante, para enfatizar que, utilizando uma linguagem de senso comum, mesmo que uma resposta seja apresentada por alguém com a “intenção” de produzir um certo resultado, se esse resultado não é produzido, o comportamento ocorrido não será aquele eventualmente pretendido. 76 EdUFSCar — Série Apontamentos k) Repita o procedimento para o segundo objetivo intermediário localizado a partir do objetivo terminal do programa com o qual está trabalhando. Faça a análise por partes certificando-se de que esteja, realmente, descrevendo “o caminho de aprendizagens” a realizar para chegar ao objetivo terminal; a montagem do diagrama é parte fundamental neste procedimento, mesmo sendo trabalhosa. O diagrama proporciona uma visão de conjunto que aumenta muito a chance de que todos os objetivos importantes sejam identificados, favorecendo a continuidade do processo e contribuindo para a qualidade do programa. l) Quando considerar conferida e terminada a análise com o diagrama pronto, transcreva os objetivos terminais em uma folha ordenando-os por números arábicos conforme o nível em que estão e se apresentam. Os objetivos terminais receberíam números 1,2,3, etc., os intermediários do nível imediato receberíam números 1.1,1.2... ou 2.1,2.2, etc. conforme fossem decomposição de um ou outro terminal. Lembretes e recomendações • Não se esqueça, durante a análise, que é o problema que dá origem aos objetivos terminais e qual é a população-alvo do programa. A decomposição meramente “lógica”de objetivos terminais complexos pode levar a erros muito sérios e a encher o diagrama de decomposição de “inutilidades”. Ensinar “como cozinhar”, por exemplo, pode levar a coisas muito diferentes se o aprendiz for uma pessoa pobre, em uma escola de periferia, ou for um aprendiz de cozinheiro profissional, para restaurantes de uma grande cidade. • Evite “fugir” de fazer o exame com suficiente cuidado em cada objetivo intermediário, algo muito provável dada a complexidade da tarefa e o cansaço que pode vir dela; se necessário, interrompa, descanse, retome-o em melhores condições. Às vezes, em decorrência dessas dificuldades, o programador toma um único critério (por exemplo, de sequência de ações observáveis) e vai até o fim indicando objetivos intermediários apenas com este critério, deixando de considerar outros relevantes (como conceitos envolvidos, por exemplo). O procedimento não é simplista, não deve ser a mera repetição de um ritual. Hã muitos critérios de análise em cada nível da decomposição. • Não examine um objetivo intermediário isolado do contexto, uma vez que, assim, ele pode parecer absurdo ou desnecessário: é dentro do contexto da análise que ele tem sentido. É como um cromossomo isolado: ele só tem sentido ou função em um organismo. • Se achar que há “uma montanha de comportamentos” ou que é “um detalhismo excessivo”, certifique-se de que não é a sua análise que está defeituosa ou que não é uma “esquiva perante a aversividade da tarefa nova e exigente”. Às vezes, dá uma “preguiça” fazer uma decomposição cuidadosa e usamos alguns mecanismos de verbalização semelhantes ao das “uvas verdes”. Talvez o trabalho seja realmente grande e detalhado, mas o desejável é fazer uma análise bem feita para garantir um ensino efetivo. Nas ciências físicas e biológicas, já avançamos a níveis microscópicos de conhecimento e investigação. Cada parcela - mesmo atômica - interfere com a probabilidade de ocorrência do evento macroscópico. Nas ciências humanas, precisamos tomar o microscópio e, com paciência e cuidado, examinar cada resposta ou estímulo envolvido por menor que seja. Pode ser que seja exatamente ele uma variável que interfere com a probabilidade de ocorrência do comportamento “detalhistanque examinamos. Compare o diagrama que produziu com um elaborado por alunos do curso de Psicologia da UFS- Car que participaram da disciplina Programação de Ensino e Treinamento, apresentado a seguir. “Verifique se os objetivos que aparecem na mesma coluna, como mais específicos de um mesmo mais geral, temos o mesmo nível aproximado de especificidade; verifique também se os que estão “em linha” vão se tomando mais específicos da esquerda para a direita do diagrama. Note, ainda, se falta algum nível, considerando os propostos na Figura apresentada no texto,a partir do nível em que está o mais geral, até alcançar conhecimentos mediatos; havendo lacunas, verifique se é conveniente completar, e faça isso adicionando os novos identificados, no próprio diagrama. Observe ainda, no conjunto, se percebe a falta de algum tipo de aptidão relevante para a situação.” Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 121 120 EdUFSCar — Série Apontamentos 3. ATIVIDADE PRÁTICA: ANÁLISE DE OBJETIVOS TERMINAIS Nas unidades anteriores deste programa, foi solicitado que você descrevesse uma situação-pro- blema que, do seu ponto de vista, podería requerer a elaboração de um programa de ensino como forma de eliminar ou atenuar os problemas descritos (Unidade 3). Supondo que a sua descrição tenha indicado efetivamente a necessidade ou pertinência de elaborar um programa de ensino, íbi solicitado a você que formulasse objetivo(s) terminal(is) para este programa (Unidade 4). Nesta unidade, você deve indicar os objetivos intermediários que, a partir do processo de análise dos objetivos terminais, devem ser garantidos pelo programa. Para tanto, releia a descrição que elaborou na Unidade 3 e os objetivos que formulou na Unidade 4. Releia a síntese do procedimento sugerido para análise de objetivos terminais em seus intermediários, transcrita a seguir, e, utilizando o procedimento sugerido, proceda à análise dos objetivos terminais que você propôs. Lembre-se de que é um trabalho detalhado, pode ser cansativo, requerendo cuidados para não entrar em um processo de “esquiva”, simplesmente repetindo fórmulas utilizadas nos exemplos, ou que aparecerem na análise dos primeiros objetivos. Embora trabalhosa, essa tarefa possibilita construir o “mapa” das aprendizagens que devem ser promovidas pelo programa, para que efetivamente seus aprendizes possam atuar, em relação à situação-problema, de modo a mudar a situação existente em uma direção melhor, O procedimento sugerido ajuda a diminuir o trabalho, facilitando a autocorre- ção desejável em uma atividade em que o programador vai oferecendo a si mesmo novas e melhores “pistas” para o avanço da tarefa, tal como no processo de resolução de problemas. Mesmo sendo repetitivas, transcrevemos novamente, a seguir, o procedimento sugerido para facilitar seu trabalho. 12 No âmbito da Análise do Comportamento, o uso de expressões que remetem a explicações mentalistas do comportamento devem ser evitadas; nesse contexto, o uso da expressão “propósito” não se destina a explicar o comportamento, e está sendo utilizada apenas para ajudar na construção didática do conceito de comportamento operante, para enfatizar que, utilizando uma linguagem de senso comum, mesmo que uma resposta seja apresentada por alguém com a “intenção” de produzir um certo resultado, se esse resultado não é produzido, o comportamento ocorrido não será aquele eventualmente pretendido. 123 EdUFSCar - Série Apontamentos Síntese do procedimento de análise de objetivos terminais: Identificação dos objetivos Intermediários para o programa de ensino a) Providencie uma superfície ampla e plana que possibilite desenvolver a tarefa com o maior grau de conforto possível; b) Obtenha os documentos de descrição do problema e do(s) objetivo(s) terminal(is) a ser(em) analisado(s); c) Providencie papéis para escrever cada um dos objetivos de ensino que surgirão no processo de análise (sugestão: 5 x 10 cm); d) Localize, de forma aproximada, em que nível está o objetivo terminal a ser analisado no esquema de níveis de especificidade de objetivos (ocupação geral, ocupação especializada, atividades, tarefas, etc.); e) Leia o objetivo; f) Analise o que está envolvido no nível em que o objetivo se apresenta; g) Responda à pergunta: “o que o aprendiz precisa ser capaz de fazer para. h) Escreva cada resposta obtida a essa pergunta de um mesmo nível de especificidade (imediatamente abaixo daquele em que está o objetivo terminal) em um pedaço de papel. Não escreva mais de uma em cada papel, sob o risco de confundir a análise em seguida. Lembre-se de escrever de maneira mais clara, completa e concisa possível cada objetivo intermediário identificado; i) Repita a pergunta para o primeiro objetivo intermediário identificado no item anterior, analisando apenas esse objetivo em seus objetivos mais específicos, até considerar que já atingiu o “repertório de entrada” dos aprendizes em relação àquele objetivo intermediário. Ou seja, em um ponto em que o aprendiz já é, supostamente, capaz de fazer aquilo que é necessário; j) Coloque os pedaços de papel com os objetivos localizados, conforme sejam escritos, na posição adequada. Atenção: respostas indicativas de um mesmo nível de especificidade, geradas a partir de pergunta formulada para um único comportamento, devem ser posicionadas verticalmente, umas sob as outras; respostas que indicam comportamentos mais específicos em relação ao anterior devem ser colocadas em uma sequência horizontal. O resultado deste trabalho será um diagrama que permita observar - e mais provavelmente examinar - a análise que está sendo feita; k) Repita o procedimento para o segundo objetivo intermediário localizado a partir do objetivo terminal do programa com o qual está trabalhando. Faça a análise por partes certificando-se de que esteja, realmente, descrevendo “o caminho de aprendizagens” a realizar para chegar ao objetivo terminal; a montagem do diagrama é parte fundamental neste procedimento, mesmo sendo trabalhosa. O diagrama proporciona uma visão de conjunto que aumenta muito a chance de que todos os objetivos importantes sejam identificados, favorecendo a continuidade do processo e contribuindo para a qualidade do programa. l) Quando considerar conferida e terminada a análise com o diagrama pronto, transcreva os objetivos terminais em uma folha ordenando-os por números arábicos conforme o nível em que estão e se apresentam. Os objetivos terminais receberíam números 1,2,3, etc., os intermediários do nível imediato receberíam números 1.1,1.2... ou 2.1,2.2, etc. conforme fossem decomposição de um ou outro terminal. Lembretes e recomendações • Não se esqueça, durante a análise, que é o problema que dá origem aos objetivos terminais e qual é a população-alvo do programa. A decomposição meramente “lógica” de objetivos terminais complexos pode levar a erros muito sérios e a encher o diagrama de decomposição de “inutilidades*. Ensinar “como cozinhar”, por exemplo, pode levar a coisas muito diferentes se o aprendiz for uma pessoa 124 EdUFSCar- Série Apontamentos pobre, em uma escola de periferia, ou for um aprendiz de cozinheiro profissional, para restaurantes de uma grande cidade. • Evite “fugir” de fazer o exame com suficiente cuidado em cada objetivo intermediário, algo muito provável dada a complexidade da tarefa e o cansaço que pode vir dela; se necessário, interrompa, descanse, retome-o em melhores condições. As vezes, em decorrência dessas dificuldades, o programador toma um único critério (por exemplo, de sequência de ações observáveis) e vai até o fim indicando objetivos intermediários apenas com este critério, deixando de considerar outros relevantes (como conceitos envolvidos, por exemplo). O procedimento não é simplista, não deve ser a mera repetição de um ritual. Há muitos critérios de análise em cada nível da decomposição. • Não examine um objetivo intermediário isolado do contexto, uma vez que, assim, ele pode parecer absurdo ou desnecessário: é dentro do contexto da análise que ele tem sentido. E como um cromossomo isolado: ele só tem sentido ou função em um organismo. • Se achar que há “uma montanha de comportamentos” ou que é “um detalhismo excessivo”, certifique-se de que não é a sua análise que está defeituosa ou que não é uma “esquiva perante a aversividade da tarefa nova e exigente”. Às vezes, dá uma “preguiça” fazer uma decomposição cuidadosa e usamos alguns mecanismos de verbalização semelhantes ao das “uvasverdes”. Talvez o trabalho seja realmente grande e detalhado, mas o desejável é fazer uma análise bem feita para garantir um ensino efetivo. Nas ciências físicas e biológicas, já avançamos a níveis microscópicos de conhecimento e investigação. Cada parcela - mesmo atômica - interfere com a probabilidade de ocorrência do evento macroscópico. Nas ciências humanas, precisamos tomar o microscópio e, com paciência e cuidado, examinar cada resposta ou estímulo envolvido por menor que seja. Pode ser que seja exatamente ele uma variável que interfere com a probabilidade de ocorrência do comportamento “detalhista” que examinamos. Para ajudar na conferência de seu trabalho, seguem alguns critérios para revisão da análise realizada. Para tanto, verifique se: • as classes de comportamentos propostas nos níveis mais gerais são relevantes para o problema e correspondem a comportamentos a serem apresentados em situação natural, sempre que a situação requerer; • a análise atingiu os objetivos mais específicos que sejam, ainda, relevantes para a aprendizagem prevista, considerando os aprendizes; • os comportamentos que correspondem ao que deve ser feito em situação natural estão à esquerda dos que serão emitidos apenas no processo de aprendizagem (situação de ensino); • a formulação indica os comportamentos que incluem alternativas específicas (preferível à enumeração das próprias alternativas específicas que já fazem parte das informações - condições de ensino - com que os aprendizes precisarão entrar em contato); • aparecem classes de comportamentos mais gerais e não apenas as mais específicas; • comportamentos de aproximadamente mesmo nível de especificidade estão “alinhados” nas colunas, e de diferentes níveis estão em colunas diferentes; • comportamentos estão indicados por meio de verbos de ação; • há um único comportamento em cada quadro; • as expressões utilizadas para descrever cada comportamento estão claras e completas (para um leitor externo compreender do que se trata); Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 125 • o posicionamento dos comportamentos foi feito pelo nível de especificidade (e não pela sequência em que costuma ser realizado na situação natural); • os comportamentos importantes aparecem uma única vez (mesmo que estejam ligados a mais do que um dos mais gerais); • todos os comportamentos que, nesta etapa do trabalho, são possíveis de identificar como importantes estão indicados; uma maneira de fazer isso é pensar no aprendiz atuando na situação natural, e tentar ver se há algo que ele tenha de ser capaz de fazer - na situação natural ou como pré-requisito para atuar na situação natural — e que não está representado no diagrama - ou na listagem de objetivos já transcrita do diagrama. Bom trabalho! UNIDADE 6: DESCRIÇÃO DAS PARTES FUNCIONAIS DOS OBJETIVOS INTERMEDIÁRIOS DE UM PROGRAMA DE ENSINO Na Unidade 4 foi apresentado um procedimento para definir o que ensinar em um programa de ensino, ou seja, para indicar os objetivos terminais de ensino e descrevê-los como comportamentos, considerando que os aprendizes devem aprender um repertório comportamental suficiente para enfrentar a situação-problema (Unidade 3) de modo que ela se modifique em uma direção desejável a partir do programa de ensino. Na Unidade 5 foi indicado um procedimento para localização dos objetivos intermediários de diferentes níveis de especificidade que os participantes do programa necessitam aprender para alcançar os objetivos terminais propostos. Ou seja, especificar os comportamentos intermediários que devem ser ensinados ao aprendiz para que ele possa se comportar de acordo com o(s) objetivo(s) terminal(is). Considerando que os objetivos intermediários são comportamentos, a próxima providência na programação de ensino é a descrição desses comportamentos, que costuma ser denominada de descrição das partes funcionais (condições antecedentes, resposta e condições subsequentes ou, de forma tecnicamente mais correta, classes de estímulos antecedentes, classes de respostas e classes de estímulos subsequentes). Após esta unidade você deverá ser capaz de: Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes Diante de... * Objetivos intermediários propostos para o programa Considerando... * Conhecimento sobre processo de descrição comportamental e identificação de partes funcionais * Conhecimento sobre os fenômenos envolvidos na situação-problema * Problema a ser resolvido com o programa * Recursos com que os aprendizes deverão contar nas situações em que devem apresentar os comportamentos esperados deles Descrever as partes funcionais dos objetivos intermediários Resultados, produtos, efeitos desejáveis Objetivos intermediários descritos, de forma completa ou em seus principais elementos, em termos de relações ambiente-organismo (condições antecedentes-resposta e padrão de resposta desejado-resultados, efeitos ou produtos das respostas) que deverão ser ensinados aos aprendizes para que estes fiquem aptos a apresentar o(s) comportamento(s) que correspondem a objetivo(s) terminal (is) do programa de ensino 12 No âmbito da Análise do Comportamento, o uso de expressões que remetem a explicações mentalistas do comportamento devem ser evitadas; nesse contexto, o uso da expressão “propósito” não se destina a explicar o comportamento, e está sendo utilizada apenas para ajudar na construção didática do conceito de comportamento operante, para enfatizar que, utilizando uma linguagem de senso comum, mesmo que uma resposta seja apresentada por alguém com a “intenção” de produzir um certo resultado, se esse resultado não é produzido, o comportamento ocorrido não será aquele eventualmente pretendido. 126 EdU FS Ca r — Série Apontamentos Nesta unidade você encontrará: 1 Texto básico Descrevendo partes funcionais de objetivos intermediários de um programa de ensino, escrito por Ana Lucia Cortegoso, que indica como descrever os objetivos intermediários e alguns cuidados necessários nesse processo. 2 Exemplos de descrição das partes funcionais de objetivos intermediários. Amostra de descrições de objetivos intermediários indicados para diferentes programas de ensino. 3 Descnção de objetivos intermediários em suas partes funcionais: demonstração participativa. São apresentadas descrições de objetivos terminais de um programa de ensino para preparar estudantes universitários a lidar adequadamente com resíduos domiciliares sólidos, elaboradas por alunos de um programa para ensinar universitários a lidar adequadamente com resíduos para serem examinados, avaliados e complementados, 4 Atividade prática: descrição das partesfuncionais. Exercício de descrição de objetivos intermediários de um programa de ensino em suas partes funcionais. 5 Procedimento simplificado para descrição de partes funcionais de objetivos intermediários. Considerando o alto grau de exigência envolvido na descrição de partes funcionais de objetivos intermediários de programas de ensino, particularmente quando o programa refere-se a habilidades de alta complexidade, envolvendo um grande número de objetivos intermediários, é feita a indicação de um procedimento simplificado de descrição desses objetivos, que pode ser utilizado quando o procedimento ideal não é viável. Texto básico Leia o texto a seguir, com atenção para as dicas sobre como elaborar uma descrição adequada das partes funcionais. Anote ou faça destaques no que julgar relevante. 1. DESCREVENDO PARTES FUNCIONAIS DE OBJETIVOS INTERMEDIÁRIOS DE UM PROGRAMA DE ENSINO Ana Lucia Cortegoso Cada um dos objetivos intermediários propostos a partir da análise dos objetivos terminais do programa de ensino é um comportamento, e deve ser descrito como tal. Como um comportamento é uma relação entre uma ação e as condições (antecedentes e subsequentes)19 do ambiente em que a ação ocorre; um exame da. formulação dada aos objetivos intermediáriosconsiderados ou propostos com base no procedimento sugerido (Unidade 5) permite notar que foram feitas indicações dos comportamentos intermediários, em geral enfatizando a ação envolvida apenas. É necessário agora descrever esses comportamentos em termos de suas partes funcionais. Descrever as partes funcionais de um objetivo intermediário significa indicar as condições antecedentes, aquelas diante das quais a ação deve ocorrer (lembrando que estas incluem condições que sinalizam a conveniência da apresentação da resposta e as necessárias para que a ação possa ocorrer do modo desejável), as condições subsequentes dessa ação (ou resultados, efeitos ou produtos desejáveis dessas ações; se necessário e possível, também aquelas que têm potencial para manter ou fortalecer a relação, ou seja, atuar sobre a probabilidade futura de ocorrência da relação com- portamental) e o padrão de resposta desejável, ou seja, propriedades necessárias da ação para que os resultados especificados 19 É importante lembrar que os conceitos corretos são classes de estímulos antecedentes, classes de respostas e classes de estímulos subsequentes (em alguns casos, incluindo classes de estímulos consequentes, considerando o eleito desses estímulos sobre a probabilidade de ocorrência futura dos comportamentos considerados). Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 127 possam ser efetivamente alcançados. Veja um exemplo de descrição das partes funcionais de um objetivo, relativo à tarefa usual de uma auxiliar de limpeza de ambientes: Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes • Sinais de sujeira comuns em telefones (manchas, pó, sinais de gordura) • Álcool (ou produto para limpeza) • Pano limpo (ou material para limpeza) • Telefone e suas características Passar o pano umedecido em álcool no telefone Padrão desejável: por toda a superfície do telefone à vista, sem deixar escorrer álcool e num tempo máximo de dois minutos Telefone liinpo, sem pó, manchas ou sinais de gordura em toda a superfície à vista, sem danos Ambiente em torno devidamente conservado em suas propriedades Pessoa que realiza a limpeza em boas condições de saúde Material e tempo gastos em quantidade inínima possível A descrição das partes funcionais de cada um dos objetivos intermediários é necessária tanto para possibilitar um adequado sequenciamento dos objetivos no programa - uma vez que permite notar que condições subsequentes de um comportamento são condições antecedentes de quais outros - quanto para definir mais adequadamente as condições para aprendizagem que deverão ser criadas em relação a cada um dos objetivos de ensino, duas das próximas etapas do trabalho de elaboração de programas de ensino. Alguns cuidados importantes ao descrever partes funcionais de objetivos de ensino Em relação às condições antecedentes 1) Se houver tentação de indicar, como condição antecedente de uma ação, “necessidade da ação que está sendo descrita”, atenção: não caia na armadilha. Dizer que alguém deve fazer algo diante da necessidade de fazê-lo é circular, não indica os aspectos do ambiente a que o aprendiz deve estar atento para notar quando é necessário apresentar a ação e poder apresentá-la com autonomia em relação a ordens ou instruções. Em outras palavras, o aprendiz não ficará sob controle de aspectos do ambiente que devem controlar seu próprio comportamento. É necessário responder à pergunta sobre “que aspectos indicam a necessidade.Estes é que constituem as condições antecedentes, em termos de estímulos discriminativos (Sds), aquelas que sinalizam que a ação é desejável, pertinente, adequada... Você se lembra do comportamento “limpar a mesa”, utilizado para apresentar o conceito de comportamento? Qual a condição que indica “necessidade de limpar a mesa?” a sujeira.,. Pois então: nas situações em que forem indicadas “necessidades de...” e o que vier a seguir for a própria ação que está sendo descrita, é necessário substituir essa indicação genérica pelos estímulos (sinais) indicativos dessa necessidade que devem ser “buscados” pelo aprendiz no ambiente, de modo a decidir se e quando a ação deve ser apresentada; 2) Não se esqueça de responder às duas questões que ajudam a localizar condições antecedentes: a) Diante de que é adequado, oportuno, necessário, desejável... apresentar a ação? b) O que é necessário para a ação ocorrer? Mesmo quando se trata de comportamentos a serem apresentados pelo aprendiz em situação de ensino, isso não deve ser esquecido. Por essa razão, é muito frequentemente relevante incluir “solicitações para apresentar a ação” como uma condição necessária para ações que devem ocorrer apenas na situação de ensino, já que elas só fazem sentido em uma situação especial desse tipo. Afinal, apresentar uma definição, ou uma justificativa sobre por que fazer algo, só ocorrerá se houver uma solicitação explícita para isso. Pela mesma razão, é importante incluir, sempre que existam, “critérios para.,. ou sobre como fazer algo” como 128 EdUFSCar - Série Apontamentos uma das “ferramentas” necessárias para apresentar a ação. A inclusão de aspectos desse tipo é fundamental porque, ao indicar tais ferramentas, fica claro para o programador que o aluno terá que ser colocado em contato com os tais critérios, como parte do programa. Por vezes, isso ajuda também a notar que se existem critérios que deverão ser levados em conta, deverão existir também ações relativas a propor, identificar, selecionar, avaliar critérios, a serem garantidas pelo programa e não foram previstas, ou seja, ajuda a notar “lacunas” no diagrama de objetivos intermediários; 3) O uso de expressões repetitivas ou estereotipadas para indicar condições antecedentes indica que a descrição está sendo feita muito mais lógica (ou automática) do que comportamentalmente; ou, o que é ainda pior, por esquiva da tarefa e não como forma de construir um caminho mais seguro para decidir que condições de ensino deverão ser criadas para que sejam efetivamente instalados comportamentos significativos nos aprendizes; o mesmo vale para condições subsequentes, aliás; 4) Quando as ações examinadas incluem discriminar entre estímulos (e isso está frequentemente presente quando os verbos são escolher, relacionar, enumerar), as condições antecedentes devem 12 No âmbito da Análise do Comportamento, o uso de expressões que remetem a explicações mentalistas do comportamento devem ser evitadas; nesse contexto, o uso da expressão “propósito” não se destina a explicar o comportamento, e está sendo utilizada apenas para ajudar na construção didática do conceito de comportamento operante, para enfatizar que, utilizando uma linguagem de senso comum, mesmo que uma resposta seja apresentada por alguém com a “intenção” de produzir um certo resultado, se esse resultado não é produzido, o comportamento ocorrido não será aquele eventualmente pretendido. Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 129 incluir não apenas os estímulos que deverão fazer parte do produto, mas também aqueles que não apresentam as características necessárias para serem selecionados. Afinal, o modo de ensinar a discriminar é submeter o organismo a estímulos discriminativos e a estímulos não discriminativos. Lembre-se de que é assim que se formam conceitos; ou seja, se alguém tem que indicar características adequadas de um ambiente de estudo, deve ser exposto a situações (ou ambientes) em que existam características adequadas e características inadequadas para o estudo e isto deve fazer parte das condições antecedentes a que estará exposto o aprendiz na situação de ensino; 5) Não se esqueça de que não constituem condições antecedentes de um comportamento os erros que, eventualmente, justificaram a proposição do programa. Não é diante de maus desempenhos anteriores que a ação pretendida deve se dar. Em relação a condições subsequentes 1) E fundamental que sejam indicadas,da melhor maneira possível, as propriedades importantes dos resultados ou produtos das ações. Se não for possível especificar as propriedades, é desejável ao menos indicar que os resultados devem ser compatíveis com os critérios ou objetivos propostos e com o conhecimento disponível sobre a situação envolvida (indicados nas condições antecedentes); 2) Embora seja muito relevante notar que há uma relação entre cada ação específica e resultados desejáveis do conjunto das ações previstas pelo programa em relação à situação-problema, não é necessário que, entre as condições subsequentes, sejam indicados, para cada comportamento específico, “efeitos futuros prováveis” do comportamento, tais como “maior probabilidade de estudar bem” para uma ação como “escolher um lugar adequado para estudar”. Embora seja relevante que o aprendiz fique sob controle dos resultados finais esperados de seus comportamentos específicos (conseguir estudar bem, neste exemplo), ficar repetindo esses resultados finais para cada um dos intermediários pode mais atrapalhar do que ajudar na localização de aspectos específicos relevantes de cada relação comportamental que constitui objetivo intermediário; 3) Atenção, também, para evitar a indicação de resultados e produtos que não virão daquela ação específica, mas de alguma outra relacionada. É o caso de uma descrição do comportamento “preparar café” indicando, como resultado desejável, “café apreciado”, que será produto da ação de beber o café, e não de prepará-lo. Isso é evidente no caso de uma auxiliar doméstica que deve preparar o café de modo a atender à preferência das pessoas que vivem na casa - quando esta é a demanda -, e nem chega a tomar o café que prepara (por não gostar dessa bebida, preferi-la com outras características diversas às dos padrões ou mesmo, embora lamentavelmente, porque o café não está disponível para ser consumido por auxiliares da casa). Em relação ao padrão de respostas Para que os resultados, produtos e efeitos pretendidos das ações possam ser alcançados, é relevante que as respostas apresentem determinadas propriedades, que podem ser especificadas na coluna reservada para a ação, no esquema. Por “propriedades” devem ser entendidos os valores de variáveis que devem estar presentes para que a ação produza os efeitos. Por exemplo, um aperto de mão deve apresentar determinados graus de força, duração e latência, bem como determinado tipo de topografia, para que seja gerado, como resultado, conforto, segurança e tranquilidade na pessoa que está sendo cumprimentada dessa forma. Assim, embora a cada situação de cumprimento haja a necessidade de “dosar” cada uma dessas variáveis (já que variam as exigências das pessoas cumprimentadas e das situações em que o cumprimento ocorre, em termos de tamanho da mão, resistência oferecida, grau de familiaridade com a pessoa, formalidade da situação, etc.), será importante indicar padrões de resposta relativos a “dosagens” apropriadas de todas essas 130 EdUFSCar- Série Apontamentos propriedades. Um exemplo de formulação de padrão de resposta, nesse sentido, seria: de modo compatível com as características da pessoa cumprimentada, em termos de idade e tamanho, com o grau de familiaridade existente em relação à pessoa cumprimentada, com a natureza da situação em que o cumprimento ocorre, etc. Com tal descrição, fica assinalada a necessidade de preparar aprendizes para que sejam capazes de lidar com diferentes situações em que um aperto de mão pode ser apropriado, variando a força, duração, latência e forma nas diferentes situações, mas sempre alcançando o mesmo tipo de resultado. Em relação à descrição de cada objetivo - em sl mesmo e como parte de um conjunto Muita atenção para não “perder de vista” o conjunto dos objetivos ao definir um objetivo específico, Por isso a recomendação de sempre localizar o objetivo no diagrama e sua “vizinhança” e, ao trabalhar com um conjunto de objetivos intermediários, fazer isso, de preferência, dos mais específicos para os mais gerais, e dentro de um mesmo objetivo intermediário de nível mais geral, que efetivamente corresponda a comportamentos significativos a serem apresentados pelo aprendiz em situação natural. Lembre-se... Cada um dos objetivos é um comportamento, seja ele geral ou específico; logo, deve ser descrito como uma relação organismo-ambiente, como o objetivo terminal. A descrição do comportamento favorece realizar o sequenciamento das habilidades para o ensino pela identificação de resultados, produtos e efeitos que são condições antecedentes em outros comportamentos. Padrão de respostas refere-se a variáveis e valores de variáveis indicados, para que os resultados pretendidos sejam alcançados. Exemplo: ao encontrar uma pessoa conhecida, ou ser apresentado a alguém, é esperado apertar a mão da pessoa com topografia, duração, força e latência compatíveis com estrutura da mão a ser apertada, grau de familiaridade com a pessoa, contexto em que se dá o 12 No âmbito da Análise do Comportamento, o uso de expressões que remetem a explicações mentalistas do comportamento devem ser evitadas; nesse contexto, o uso da expressão “propósito” não se destina a explicar o comportamento, e está sendo utilizada apenas para ajudar na construção didática do conceito de comportamento operante, para enfatizar que, utilizando uma linguagem de senso comum, mesmo que uma resposta seja apresentada por alguém com a “intenção” de produzir um certo resultado, se esse resultado não é produzido, o comportamento ocorrido não será aquele eventualmente pretendido. Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 131 cumprimento, hábitos culturais da pessoa cumprimentada ou do contexto em que o cumprimento ocorre, de forma a causar, na outra pessoa, sensações de bem-estar e acolhimento. 2. EXEMPLOS DE DESCRIÇÃO DAS PARTES FUNCIONAIS DE OBJETIVOS INTERMEDIÁRIOS A seguir, é apresentada uma amostra da descrição das partes funcionais de objetivos intermediários de ensino propostos para diferentes tipos de programas de ensino. Ao ler os exemplos, procure identificar aspectos que devem ser considerados ao descrever partes funcionais e que foram mencionados no texto, como forma de ampliar seu domínio no uso dos conceitos e do procedimento sugerido. Sempre que necessário, faça anotações no sentido de melhorar as descrições apresentadas. Note que os comportamentos apresentados a seguir, que correspondem ao que é esperado que os aprendizes façam em situação de ensino (apenas), estão sombreados. a) Descrições de objetivos intermediários do programa para preparar estudantes universitários para gerir residências coletivas20 Os objetivos apresentados a seguir foram identificados a partir da análise dos objetivos “ lidar com normas para convivência em residência coletiva” e “lidar de forma adequada com as pessoas com quem compartilha uma residência coletiva”, indicados na Unidade 5 para este programa (embora a análise completa não tenha sido incluída no material da Unidade). Condiçoes antecedentes Resposta Condições subsequentes Sd: • Necessidade de apresentar normas ao grupo • Conhecimento sobre momentos em que pode ser ou não adequado apresentar normas a um grupo (critérios para definir momento adequado) • Informações sobre as condições existentes na residência que podem indicar conveniência ou não de apresentar normas ao grupo em diferentes momentos possíveis Identificar momento adequado de apresentar normas ao grupo com maior precisão possível Momento de apresentação de normas ao grupo definido em função das melhores condições possíveis, dentro das existentes na residência, para que as normas sejam apresentadas de modo que todos possam conhecê-las, entendê-las, e se manifestar sobre elas Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes Sd: * Solicitação para que indique diferentes formas possíveis de apresentar normas a um grupo * Conhecimento disponível sobre diferentesformas de apresentar normas a um grupo Enumerar diferentes formas de apresentar normas ao grupo (pelo menos três) Formas diferentes possíveis de serem utilizadas para um morador da residência apresentar normas a um grupo Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes 20 Informações sobre este programa podem ser encontradas em unidades anteriores; sugerimos revê-las antes de examinar os exemplos de descrições de objetivos intermediários. 132 EdUFSCar - Série Apontamentos Sd: • Solicitação para indicar aspectos relevantes paia. um morador da residência definir o momento de explicar as normas para outros moradores * Conhecimento disponível sobre aspectos relevantes de serem considerados por um morador para decidir o momento de explicar as normas da residência para outros moradores Enumerar aspectos relevantes para definir momento de explicar normas (todos) Aspectos relevantes de serem considerados por um morador de residência coletiva para decidir o momento adequado para explicar normas a outros moradores listados Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes Sd: • Normas a serem cumpridas, particularmente aquelas que a pessoa pode ter dificuldades para cumprir • Condições favorecedoras que podem ser criadas para aumentar a probabilidade de cumprir as normas em questão selecionadas • Recursos disponíveis para implementar condições favorecedoras para o cumprimento das normas em questão por si mesmo Promover condições favorecedoras para o cumprimento de normas por si mesmo (de forma completa, cuidadosa) Condições favorecedoras de cumprimento de normas por si mesmo devidamente implementadas, de modo crescente, caso haja necessidade Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes Sd: • Normas implantadas ou em vias de implantação • Conhecimento sobre possíveis indicadores relevantes para avaliação de normas em uma república • Recursos disponíveis para realizar avaliação de normas em uma residência coletiva Propor indicadores para avaliar normas em repúblicas (pelo menos dois) Indicadores para avaliação de normas em uma residência coletiva propostos de forma compatível com a natureza das normas que deverão ser avaliadas e com os recursos disponíveis para implementar a avaliação Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes Sd: * Normas em vigor * Resultados da aplicação das normas na residência * Objetivos pretendidos com as normas Identificar necessidades de reformulação de normas (o mais precocemente possível) Necessidades de reformulação de normas em vigor identificadas em função de inconsistência entre objetivos pretendidos com a norma (função) e resultados alcançados com a implantação das normas Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 133 Sd: ^ Solicitação para justificar o uso de recursos faeilitadores de cumprimento de tarefas em uma residência coletiva • Informações sobre razões para utilizar recursos faeilitadores da realização de tarefas sob a responsabilidade de moradores de uma residência coletiva Justificar a importância de utilização de recursos faeilitadores de cumprimento de tarefas (pelo menos uma razão) Razões para fazer uso de recursos fa- cfiitadores do cumprimento de tarefas sob a responsabilidade de moradores de uma residência coletiva apresentadas, em conformidade cora o conhecimento disponível Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes Sd: * Tarefas e responsabilidades atribuídas a moradores de uma residência coletiva * Possíveis instrumentos e procedimentos que podem ser utilizados para monitorar o cumprimento de tarefas em uma residência coletiva * Características das pessoas responsáveis pelo cumprimento das tarefas (critério) * Recursos disponíveis para utilizar cada um dos instrumentos e procedimentos * Recursos disponíveis para avaliar esses instrumentos e procedimentos Avaliar possíveis instrumentos e procedimentos de monitoração de cumprimento de tarefas que podem ser utilizados para esta finalidade (principais) Instrumentos e procedimentos existentes que podem ser utilizados para realizar monitoramento de tarefas a serem executadas por moradores de uma residência coletiva avaliados em função de suas características e compatibilidade delas com as tarefas e pessoas a serem monitoradas, bem como com os recursos disponíveis para implementar o monitoramento das tarefas Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes Sd; • Solicitação para indicar possíveis critérios de avaliação de instrumentos e procedimentos de monitoramento de tarefas em uma residência coletiva * Informações sobre critérios que podem ser utilizados para avaliar instrumentos e procedimentos de monitoramento de tarefas sob a responsabilidade de moradores de uma residência coletiva Enumerar possíveis critérios para avaliar instrumentos e procedimentos de monitoramento de tarefas (pelo menos três) Possíveis critérios que podem ser utilizados para avaliar instrumentos e procedimentos de monitoração de cumprimento de tarefas por moradores de uma residência coletiva, indicados Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes 134 EdUFSCar - Série Apontamentos Sd: • Necessidade de oferecer apoio a outros moradores da residência coletiva para realização de tarefa sob responsabilidades desses moradores • Características desses moradores a quem é relevante oferecer apoio e dos outros que vivem na residência • Informações sobre momentos e formas apropriadas para oferecer apoio na realização de tarefas a colegas que compartilham a residência • Condições próprias para oferecer apoio Identificar o momento e a forma de oferecer apoio a outros moradores para realização de tarefas (melhor possível) Momento e forma de oferecer apoio a colega que compartilha residência para realização de tarefa sob a responsabilidade desse colega identificadas em função das características desse colega, das próprias disponibilidades e do conhecimento disponível sobre momento e forma de oferecer apoio Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes Sd: • Situações em que as pessoas têm de se manifestar e serem escutadas em ambiente com fatores que podem dificultar a escuta uns dos outros ou a possibilidade de ocorrência desses fatores • Recursos disponíveis para alterar o ambiente • Conhecimento sobre fatores que podem afetar, melhorando ou piorando a possibilidade de que pessoas possam se escutar mutuamente durante uma reunião ■ Características dos participantes da reunião Criar condições no ambiente que facilitem escutar a manifestação de outras pessoas com quem reside em reuniões (grau máximo possível) Ambiente modificado de modo que fatores que podem facilitar a escuta de uns pelos outros estejam implementados, e os que podem dificultar essa escuta estejam eliminados ou atenuados Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes Sd: • Oportunidades ou necessidades de interação com pessoas que compartilham a residência * Objetivos da interação * Características dessas pessoas * Características das situações em que a interação ocorre • Características do tipo de interação necessária, desejável ou que se apresente • Conhecimento sobre condições que facilitam ou dificultam a interação entre as pessoas Interagir adequadamente com cada uma das pessoas com quem convive, em diferentes situações Interação com pessoas com quem convive, em todas as situações em que essas interações ocorram, compatíveis com as características dos envolvidos, dos assuntos tratados, da situação em que a interação ocorre, de modo a maximizar a boa convivência entre todos os envolvidos e o alcance dos objetivos pretendidos com a interação Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes Elaboração de programas de ensino:material autoinstrutivo 135 Sd: * Situação de interação com outras moradores da residência * Características da situação de interação, das outras pessoas com quem a interação ocorre, dos objetivos pretendidos com a interação * Diferentes possibilidades de forma de interagir com pessoas e suas funções Definir forma adequada de lidar com cada pessoa em cada situação Melhor forma de lidar com a pessoa, na situação de interação, indicada, considerando características dos envolvidos, objetivos a serem alcançados, conhecimento disponível sobre formas adequadas de lidar com pessoas em diferentes contextos Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes Sd: " * Solicitação para indicar aspectos importantes da forma de lidar com pessoas em diferentes situações * Conhecimento sobre aspectos que podem ser importantes na forma de lidar com pessoas em diferentes situações Enumerar aspectos importantes de formas de lidar com pessoas em diferentes situações (todos) Aspectos que podem ser relevantes em relação à forma de lidar com pessoas em cada um dos diferentes tipos de situações em uma residência coletiva, indicados b) Descrição de partes funcionais de objetivos intermediários de um programa de ensino para capacitar usuários de um restaurante universitário a fazer uso apropriado do serviço prestado pela unidade Objetivo terminal do programa Que a comunidade universitária, usuária do Restaurante Universitário, utilize o serviço prestado por essa unidade, em todas as oportunidades em que façam lá suas refeições, de modo a garantir o maior grau de conforto possível para todos os usuários, ausência de desperdício dos itens disponíveis para utilização nessa situação, a preservação das características ambientais do local, boa qualidade da convivência entre usuários e destes com os funcionários que lá atuam, menor quantidade possível de trabalho para os funcionários que trabalham na unidade. Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes • Oportunidades de fazer refeições no RU * Normas de acesso ao RU Acessar o RU adequadamente, sem atrapalhar as outras pessoas Acesso rápido e confortável para todos os usuários do RU Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes • Necessidade de acesso ao RU • Fila(s) de ingresso ao RU Ingressar na fila do RU após a última pessoa colocada na fila Respeitada a ordem de chegada das pessoas Melhor distribuição interna dos usuários do RU Maior rapidez de acesso para o conjunto dos usuários do RU Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes * Existência de mais do que uma fila de entrada • Critérios para seleção de fila a ingressar Selecionar fila do RU para entrar Fila com maior probabilidade de acesso rápido e distribuição interna equilibrada selecionada para ingresso 136 EdUFSCar - Série Apontamentos Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes • Sinais de fila para ingresso ao RU Identificar filas existentes para acesso ao RU Fila(s) destinada(s) ao acesso ao RU identificadas com o menor grau de movimentação ambiental possível Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes • Solicitação para indicar possíveis sinais de existência de fila para acesso ao RU • Informações sobre sinais indicativos de existência de fila para ingresso ao RU Indicar possíveis sinais de existência de fila para acesso ao RU Apenas sinais efetivamente indicativos de existência de fila para ingresso ao RU identificadas (versus filas para outras finalidades) Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes * Solicitação para justificar a importância de selecionar a fila de ingresso ao RU • Informações sobre importância de selecionar previamente fila de ingresso ao RU (versus entrar em qualquer uma) e decorrências possíveis de cada uma dessas opções justificar a importância de selecionar a fila de ingresso ao RU Indicada pelo menos uma razão pela qual é importante selecionar previamente, e tão logo se encontre na área de acesso ao RU, a fila dç ingressò ao RU na qual é conveniente ingressar, que esteja relacionada ao bom funcionamento do RU 2. DESCRIÇÃO DE OBJETIVOS INTERMEDIÁRIOS EM SUAS PARTES FUNCIONAIS: DEMONSTRAÇÃO PARTICIPATIVA Você encontra, a seguir, descrições parciais de objetivos intermediários identificados como relevantes para o objetivo “comprar produtos de forma adequada quanto à produção de resíduos”, referente ao objetivo terminal “prover necessidade de consumo” em um programa de ensino para ensinar universitários a “lidar com resíduos sólidos”. Reveja, nas unidades anteriores, informações apresentadas sobre este programa, como forma de recordar a situação-problema que deu origem a ele, o objetivo terminal e os intermediários de primeiro nível formulados, e alguns de seus objetivos intermediários mais específicos. Leia, também, a síntese do procedimento proposto para realizar a descrição de objetivos intermediários em suas partes funcionais, a seguir; se necessário, retorne ao texto básico da unidade, do qual foi extraída esta síntese. Síntese do procedimento de descrição de partes funcionais 1) Transcreva os objetivos intermediários identificados a partir da análise dos objetivos terminais, utilizando como modelo a folha de três colunas; inicie pelos mais específicos dentro de um mais geral e siga até alcançá-lo; transcreva todos os objetivos intermediários correspondentes a um de maior generalidade (o mais próximo possível de um objetivo terminal) antes de iniciar a transcrição de outro bloco semelhante. De um modo geral, a expressão utilizada no diagrama (ou na lista que derivou dele) para indicar os objetivos intermediários refere-se à resposta, mas ela pode, eventualmente, incluir aspectos das condições antecedentes ou subsequentes. Quando for este o caso, transcreva cada informação para a coluna correspondente. No caso dos exemplos, esta transcrição já foi feita por nós; 2) Identifique os objetivos intermediários que correspondem a comportamentos próprios da situação natural (ou seja, os aprendizes deverão estar aptos a apresentá-los sempre que se depararem com as condições antecedentes que sinalizam que a resposta é desejável) e àqueles que são próprios da situação de ensino, ou seja, serão instalados como pré-requisitos para que os comportamentos da situação natural possam ocorrer, e sinalize essa diferença de algum modo compreensível para você, de modo a favorecer seu Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 137 trabalho; 3) Começando pelos objetivos mais específicos de cada bloco (que deverão ser exatamente aqueles mais próprios da situação de ensino), e sempre sem perder a noção de conjunto e posição em que este objetivo apareceu no diagrama, indique: a) condições antecedentes (estímulos discriminativos e os aspectos do ambiente com que o aprendiz deve entrar em contato, considerar, notar, utilizar); b) resultados, produtos e efeitos esperados da resposta (condições subsequentes); c) propriedades EdUFSCar - Si>rieApontamentos da resposta que são relevantes para alcançar os resultados previstos. Lembre-se que principalmen- te a natureza dos estímulos discriminativos a serem indicados é bem diferente quando se trata de um comportamento a ser emitido em situação natural ou em situação de ensino; nesta última, as demandas do educador serão fundamentais para que o comportamento seja emitido, assim como a oferta de condições para que esses comportamentos possam ser apresentados pelos aprendizes, tais como informações. Atenção: evite repetições ritualísticas de expressões na descrição; o desafio é descrever da forma mais significativa possível cada relação. Embora trabalhosa, esta tarefa indica ao programador, com alto grau de clareza, as condições de ensino que deverão ser providenciadas para que as aprendizagens ocorram de modo a serem mantidas na situação natural - e não apenas no âmbito do discursodos aprendizes. Leia cada um dos objetivos apresentados, nas partes que aparecem descritas, e procure completá- las da melhor forma possível. Preencha também as células vazias, da melhor forma que puder. Note que as áreas sombreadas correspondem a objetivos próprios de situação de ensino. Você encontrará, adiante, uma descrição completa desses objetivos, tal como produzida por alunos da disciplina Programação de Ensino e Treinamento que se dedicaram a este programa de ensino. Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes 1 Dizer por que definir necessidades de consumo Padrão desejado Apresentadas todas as razões pelas quais é importante que o consumidor defina suas necessidades de consumo como condição para um consumir mais adequado 2 * Informações sobre diferentes aspectos em relação aos quais pode ser relevante caracterizar as próprias necessidades de consumo * Solicitação para indicar em relação a que é importante caracterizar as próprias necessidades de consumo Enumerar todos os aspectos relevantes para caracterizar as próprias necessidades de consumo como condição para um consumo menor possível e menos gerador de impacto no ambiente Padrão desejado 3 Identificar necessidades cujo atendimento requer, necessariamente, consumo Padrão desejado: identificar todas as necessidades que requeiram consumo Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 139 Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes 4 * Razões pelas quais é relevante definir o potencial de geração de resíduos para cada produto que pode atender necessidades identificadas • Solicitação para justificar que seja definido o potencial de geração de resíduas de produtos necessários Indicar as razões para definir o potencial de geração de resíduos de cada produto como condição para efetuar aquisições mais adequadas de produtos do ponto de vista do impacto ambiental Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes 5 * Necessidades de consumo identificadas Identificar os produtos disponíveis Produtos que podem atender às necessidades identificadas, na área de abrangência alcançada, identificados Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes 6 Caracterizar os produtos disponíveis quanto ao seu potencial de geração de resíduos, potencial de aproveitamento e de reciclagem de resíduos e de preservação ambiental em seu processo de produção Produtos que podem atender às necessidades identificadas caracterizados em relação a todos os indicadores de potencial de geração de resíduos, de aproveitamento e reciclagem de resíduos e de preservação ambiental em seu processo de produção Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes 7 • Necessidades de consumo identificadas • produtos disponíveis para atendimento às necessidades • Características dos produtos que podem atender às necessidades identificadas em relação a todos os indicadores de potencial de geração de resíduos, de aproveitamento e reciclagem de resíduos e de preservação ambiental em seu processo de produção • Recursos disponíveis para efetuar aquisição Definir, entre os produtos disponíveis, ordem de preferência para aquisição Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes 8 Enumerar as razões de avaliar o custo-benefício de produtos a serem adquiridos Justificativa para avaliar o cu sto- benefício de produtos a serem adquiridos em cada oportunidade de compra de produtos indicada Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes 140 EdUFSCar - Série Apontamentos 9 • Possíveis critérios para avaliação de custo/beneficio ■ Objetivos a serem atingidos com a compra Definir critérios de avaliação de custo e benefícios Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes 10 • Produtos disponíveis capazes de atender às necessidades identificadas * Critérios para avaliação dos produtos Avaliar o custo-benefído de cada produto Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes 11 Identificar os recursos disponíveis para aquisição dos produtos identificados como necessários Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes 12 Identificar locais para compra de produtos Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes 13 Comprar todos os produtos necessários para atender necessidades identificadas Veja, a seguir, as descrições que você pode tomar como parâmetro de comparação em relação às suas, lembrando sempre que neste processo não há um produto único que é correto (este, inclusive, foi gerado por pessoas que, como você, estavam aprendendo a elaborar programas de ensino, deve ser visto como exemplo, e não como modelo). E que quanto maior o conhecimento do programador com o tipo de situação em relação à qual ele elabora um programa de ensino, maior deverá ser o potencial desse programa para capacitar seus aprendizes a enfrentarem a situação-problema que lhe deu origem. Note que as células sombreadas correspondem a comportamentos próprios da situação de ensino. Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes 1 • Informações sobre razões pelas quais é importante definir as necessidades de consumo (ao invés de simplesmente consumir tudo o que dá vontade) * Solicitação para justificar a definição de necessidades de consumo como condição para um consumo mais adequado Dizer por que definir necessidades de consumo Padrão desejado: dizer todas as razões Apresentadas todas as razões pelas quais é importante que o consumidor defina suas necessidades de consumo como condição para um consumir mais adequado Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 141 2 * Informações sobre diferentes aspectos em relação aos quais pode ser relevante caracterizar as próprias necessidades de consumo • Solicitação para indicar em relação a que é importante caracterizar as próprias necessidades de consumo Enumerar todos os aspectos relevantes para caracterizar as próprias necessidades de consumo como condição para um consumo menor possível e menos gerador de impacto no ambiente Padrão desejado: enumerar todas as razões Todos os aspectos em relação aos quais é importante caracterizar as necessidades de consumo enumerados, incluindo: qual a necessidade, sua natureza, dimensão, urgência, possibilidade de ser dispensada, etc. Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes 3 • Necessidades biológicas, de formação, de convivência social, lazer, etc., atividades que realiza, que requerem ou não consumo para seu atendimento • Formas e condições de atendimento às diferentes necessidades Identificar necessidades cujo aren- dimento requer, necessariamente, consumo Padrão desejado: identificar todas as necessidades que requeiram consumo Apenas necessidades identificadas cujo atendimento envolve, indispen- savelmente, consumo Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes 4 * Razões pelas quais é relevante definir o potencial de geração de resíduos para cada produto que pode atender necessidades identificadas * Solicitação para justificar que seja definido o potencial de geração de resíduos de produtos necessários Indicar as razões para definir o potendal de geração de resíduos de cada produto como condição para efetuar aquisições mais adequadas de produtos do ponto de vista do impacto ambiental Indicadas as principais razões pelas quais é importante definir o potencial de geração de resíduos de cada produto, incluindo o fato de que eles têm diferentes potenciais e que o consumo indiscriminado desses produtos pode levar a um dano ambiental maior do que o mínimo indispensável Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes 5 • Necessidades de consumo identificadas • Tipos de itens que podem atender àsnecessidades identificadas, também identificados • Diferentes tipos de produtos/ marcas identificados como necessários, existentes no mercado e ao alcance para aquisição Identificar os produtos disponíveis Produtos que podem atender às necessidades identificadas, na área de abrangência alcançada, identificados 12 No âmbito da Análise do Comportamento, o uso de expressões que remetem a explicações mentalistas do comportamento devem ser evitadas; nesse contexto, o uso da expressão “propósito” não se destina a explicar o comportamento, e está sendo utilizada apenas para ajudar na construção didática do conceito de comportamento operante, para enfatizar que, utilizando uma linguagem de senso comum, mesmo que uma resposta seja apresentada por alguém com a “intenção” de produzir um certo resultado, se esse resultado não é produzido, o comportamento ocorrido não será aquele eventualmente pretendido. EdU FS Ca r - Série Apontamentos 6 * Produtos que podem atender às necessidades identificadas, na área de abrangência alcançada, identificados * Características diversas dos produtos identificados (informadas ou observadas) * Indicadores do potencial de geração de resíduos de produtos Caracterizar os produtos disponíveis quanto ao seu potendal de geração de resíduos, potencial de aproveitamento e de reciclagem de resíduos e de preservação ambiental em seu processo de produção Produtos que podem atender às necessidades identificadas caracterizados em relação a todos os indicadores de potencial de geração de resíduos, de aproveitamento e reciclagem de resíduos e de preservação ambiental em seu processo de produção Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes 7 • Necessidades de consumo identificadas • Produtos disponíveis para atendimento às necessidades • Características dos produtos que podem atender às necessidades identificadas em relação a todos os indicadores de potencial de geração de resíduos, de aproveitamento e reciclagem de resíduos e de preservação ambiental em seu processo de produção • Recursos disponíveis para efetuar aquisição Definir, entre os produtos disponíveis, ordem de preferência para aquisição Definidos como preferíveis, itens de consumo que apresentem melhor equilíbrio no atendimento às necessidades identificadas, aproveitamento dos recursos disponíveis e mínimo impacto ambiental Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes 8 * Razões pelas quais é importante avaliar a relação custo-benefido de cada produto a ser adquirido Enumerar as razões de avaliar o eusto-benefido de produtos a serem adquiridos Justificativa para avaliar o custo- benefício de produtos a serem adquiridos em cada oportunidade de compra de produtos indicada Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes 9 • Possíveis critérios para avaliação de custo-benefício * Objetivos a serem atingidos com a compra Definir critérios de avaliação de custo e benefícios Critérios de avaliação de custo- benefício de produtos a serem adquiridos propostos, incluindo as necessidades existentes, os recursos disponíveis e o impacto ambiental derivado da produção e do uso do item Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes 10 * Produtos disponíveis capazes de atender às necessidades identificadas * Critérios para avaliação dos produtos Avaliar o custo-benefício de cada produto Custo-benefício de cada produto que pode atender às necessidades identificadas disponíveis para compra avaliado 11 * Recursos financeiros disponíveis * Conjunto de necessidades a ser atendido, com diferentes graus de importância e custo Identificar os recursos disponíveis para aquisição dos produtos identificados como necessários Quantidade de recurso disponível para compra de produto identificado como necessário e sua disponibilidade no tempo caracterizadas Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 12 • Diferentes locais que podem vender produtos identificados como necessários Identificar locais para compra de produtos Locais nos quais podem ser adquiridos produtos identificados como desejáveis, identificados Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes 13 • Necessidades efetivas de consumo que requerem produtos • Recursos disponíveis para aquisição • Produtos capazes de atender às necessidades efetivas de consumo • Critérios para escolha de produtos para aquisição Comprar todos os produtos necessários para atender às necessidades identificadas Adquiridos produtos capazes de melhor atender às necessidades efetivas identificadas, com o menor custo financeiro e em termos de impacto ambiental, tanto no processo de produção quanto no consumo e na geração de resíduos 3. ATIVIDADE PRÁTICA: DESCRIÇÃO DAS PARTES FUNCIONAIS Considerando o programa de ensino proposto por você, a partir da descrição do problema realizada na Unidade 3, retome diagramas dos objetivos intermediários realizados na unidade anterior e descreva cada um dos objetivos propostos em termos de condições antecedentes, subsequentes e padrão de respostas. Fique atento aos cuidados a que essa descrição deve obedecer, conforme apresenta o texto desta unidade. Releia o texto no caso de dúvidas. Utilize o esquema a seguir, fazendo cópias (quantas forem necessárias) para a realização completa da descrição das partes funcionais do seu programa de ensino. Ao final, confira seu trabalho retomando os cuidados indicados no texto básico para esta etapa do trabalho. 144 EdUFSCar - Série Apontamentos Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes Elaboração de programas de ensino: material autoínstrutivo 4. PROCEDIMENTO SIMPLIFICADO PARA DESCRIÇÃO DE PARTES FUNCIONAIS DE OBJETIVOS INTERMEDIÁRIOS De acordo com Maurutto (1999), uma das razões pelas quais a prática de elaboração de programas de ensino por meio de programação foi debtando de ser utilizada, mesmo por quem reconhece sua superioridade em relação a outros processos, principalmente nos resultados alcançados junto aos aprendizes em termos de aprendizagens promovidas, é o alto grau de esforço demandando dos programadores para desenvolver as atividades propostas. A prática de elaboração de programas de ensino e de capacitação de pessoas para fazê-lo confirma o alto custo de resposta envolvido no processo, particularmente ao analisar objetivos terminais em busca dos intermediários que os compõem, e de descrever esses objetivos como comportamentos, tanto quanto confirma sua relevância em termos de estabelecimento de estímulos discriminativos para as decisões subsequentes do programador, principalmente as relacionadas à especificação e elaboração das condições de ensino. Evidentemente, uma simplificação no procedimento previsto para descrever as partes funcionais de objetivos intermediários tem, como impacto, uma redução do conjunto de aspectos a serem levados em consideração pelo programador para as decisões subsequentes. Ela pode ser, contudo, preferível ao mero abandono de todo o processo em favor de estratégias que levem à proposição de programas de ensino irrelevantes ou ineficazes como forma de contribuir para a solução das situações-problema com as quais os aprendizes deverão lidar. Por essa razão, em situações de ensino, e de modo a evitar um alto grau de esquiva em relação a essa tarefa, tem sido sugerido que a descrição das partes funcionais dos objetivos intermediários seja feita de modo a garantir, como parte da expressão que identifica o comportamento. elementos essenciais das condições antecedentes, das condições subsequentes e do padrão de resposta esperado, de modo que fiquem evidenciadas, pelo menos, as relações mais importantes entre os componentes do objetivo para efeito do desenvolvimento do repertório comportamental que é objeto do programa. De acordo com Botomé (1980), várias são as relações envolvidas na complexarelação das classes de respostas de um organismo com as classes de estímulos do seu ambiente, desde a tradicional e simplista relação estímulo-resposta até aquilo que foi denominado de contingências de reforça- mento, com interações múltiplas e recíprocas ocorrendo entre as classes de estímulos antecedentes, classes de respostas e classes de estímulos subsequentes - ou consequentes. No caso da descrição de um comportamento, qualquer que seja seu nível de especificidade, é possível avançar de sua formulação com base exclusivamente na resposta envolvida para indicações das principais relações a serem garantidas dessa resposta com o ambiente. Nesse sentido, alguns verbos jã evidenciam a relação pretendida, mesmo na ausência de uma descrição completa do comportamento. Botomé exemplifica essa situação com o termo “abotoar uma blusa”. O verbo abotoar “carrega” em si uma indicação da condição antecedente (blusa “desabotoada”, ou seja, com botões fora das “casas” existentes na peça para essa finalidade) e da condição subsequente (botões colocados “dentro” das “casas” existentes na peça para essa finalidade). Evidentemente, há várias outras propriedades dessa relação que podem 146 EdUFSCar - Série Apontamentos ser relevantes, particular mente em um contexto de ensino: blusa vestida no corpo (ou para ser guardada no armário), em termos de condições antecedentes; botões colocados nas “casas”com posição correspondente, com sua face externa para fora da blusa, etc. (como condições subsequentes), feito no menor tempo possível (como padrão de resposta), etc. No entanto, o próprio verbo de ação já dá uma indicação mínima de qual é a aptidão desejável do aprendiz. O procedimento simplificado sugerido em substituição ao procedimento mais adequado de descrição de partes funcionais de objetivos intermediários prevê, então, que cada objetivo intermediário seja designado por uma expressão que seja, tanto quanto possível, completa, no sentido de indicar aspectos essenciais da relação, a serem garantidos no processo de instalação do repertório do aprendiz. Seguem alguns exemplos de designação de objetivos intermediários formulados com esse procedimento como parte de um programa de ensino destinado a capacitar pais como agentes educativos capazes de promover repertórios de estudo adequados em seus filhos, elaborado por Coser (2011). Antes Indicação geral do objetivo intermediário na etapa de análise de objetivos terminais. Depois Descrição das partes fimcionais dos objetivos intermediários e acordo com o procedimento simplificado. Caracterizar crianças Caracterizar crianças com quem deve ou vai interagir em aspectos relevantes para uma boa interação Verificar características da criança Verificar características da criança em relação a repertório, preferências, humor, etc. que possam ser relevantes para estabelecer uma boa interação Estabelecer normas e acordos com sua participação Em situações em que é necessário estabelecer uma forma padrão de conduta da criança, estabelecer normas e acordos com sua participação Dizer à criança razões para realizar acordo ou estabelecer norma Sempre que for realizar um acordo com a criança, expor a elas as razões pelas quais fazer isto é importante REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOTOMÉ, S. P. Objetivos comportamentais no ensino: a contribuição da Análise Experimental do Comportamento. Tese (Doutorado em Ciência) - Departamento de Psicologia Experimental, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1980. COSER, D. S. Programa de ensino para preparo de pais como agentes educativos para promoção de repertórios de estudo adequado em seusfilhos. Tese (Doutorado em Educação Especial) - Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2011. (em andamento). MAURUTTO, A. A. Revisitando a Programação do Ensino no Brasil. Dissertação (Mestrado em Psicologia da Educação) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1999. UNIDADE 7: ESPECIFICAÇÃO DO REPERTÓRIO DE ENTRADA DOS APRENDIZES DE UM PROGRAMA DE ENSINO Na Unidade 5 você aprendeu a identificar os objetivos intermediários do programa de ensino, ou seja, o caminho de aprendizagem que seu aprendiz deve seguir para alcançar o objetivo terminal. A análise dos objetivos intermediários segue, como você deve lembrar, até o ponto em que é possível supor que o aprendiz já tem repertório comportamental suficiente para ingressar no programa. A indicação de quais são os comportamentos necessários para efetivamente ingressar no programa, com possibilidade segura de aprender o que será ensinado, corresponde à indicação do chamado “repertório de entrada” do aprendiz. Nesta unidade é esperado que você se torne capaz de: Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes Diante de... • Objetivos intermediários descritos Considerando... * Características dos tipos de aprendizes previstos relevantes para o processo de aprendizagem e para o programa * Conhecimento sobre pré-requisitos comportamentais • Possibilidade de existência de comportamentos não contemplados no programa, relevantes para que aprendizes iniciem a aprendizagem prevista no programa Definir repertório de entrada dos aprendizes Resultados, produtos, efeitos desejáveis Repertório comportamental de entrada desejável para iniciar o programa definido, de forma compatível com as características relevantes dos aprendizes e do programa de ensino Condições ampliadas para decidir sobre manter ou adequar objetivos intermediários de ensino e sobre o processo de inserção dos aprendizes Esta unidade é composta de: 1 Texto básico Especificando o repertório de entrada dos aprendizes, escrito por Ana Lucia Cortegoso, que indica aspectos a serem considerados ao se especificar o repertório de entrada dos aprendizes. 2 Exemplos de repertórios de entrada definidos para programas de ensino. Amostra de comportamentos indicados como pré-requisitos para iniciar programas de ensino de diferentes tipos, com demonstração participativa. 12 No âmbito da Análise do Comportamento, o uso de expressões que remetem a explicações mentalistas do comportamento devem ser evitadas; nesse contexto, o uso da expressão “propósito” não se destina a explicar o comportamento, e está sendo utilizada apenas para ajudar na construção didática do conceito de comportamento operante, para enfatizar que, utilizando uma linguagem de senso comum, mesmo que uma resposta seja apresentada por alguém com a “intenção” de produzir um certo resultado, se esse resultado não é produzido, o comportamento ocorrido não será aquele eventualmente pretendido. 148 EdUFSCar - Série Apontamentos 3 Atividade prática: especificação de repertório de entrada. Exercício para definição de repertório de entrada de aprendizes de um programa de ensino. Texto básico Leia o texto a seguir, no qual são apresentadas as funções e o procedimento para a definição do repertório de entrada dos aprendizes, bem como algumas considerações que devem ser feitas ao realizar essa tarefa. 1. ESPECIFICANDO O REPERTÓRIO DE ENTRADA DOS APRENDIZES Ana Lucia Cortegoso A análise dos objetivos terminais tem um ponto final definido: o repertório - habilidades e conhecimentos necessários para iniciar o programa - que o aprendiz do programa, supostamente, já tem. Descrever esse repertório - necessário para iniciar o programa - tem pelo menos duas funções: j" a primeira delas é permitir identificar o que é necessário para iniciar o programa; e, a segunda, veri- 1 ficar se a população tem o repertório necessário para ser submetida ao programa. Das duas funções que pode ter a descrição do repertório de entrada podem resultar diferentes decisões ou providências do programador. Caso seja possível descobrir que o repertório da população-alvo é melhor (mais avançado, sofisticado ou de um nível superior) do que o previsto, a decisão poderá ser deixar de ensinar algumascoisas e iniciar o programa a partir de exigências maiores do que as inicialmente previstas. Caso seja possível concluir que a população-alvo não tem o repertório necessário para iniciar o programa, a decisão pode ser a de começar de níveis mais simples (prolongando a análise dos objetivos intermediários até o nível em que está o repertório da população-alvo) e ensinar, no decorrer do próprio programa, o que inicialmente era uma exigência de “pré-requisito”. Ou, ainda, a decisão poderá ser a de fazer um teste e selecionar como aprendizes as pessoas da população-alvo que obtiverem, no teste, índices que indiquem que eles têm o repertório inicial exigido para começar o programa. I O mais importante, porém, é decidir como vai ser garantido que os aprendizes não fracassem de início por não terem repertório ou por não conseguirem iniciar o programa ou vencer os primeiros (passos. Os professores costumam, em geral, supor repertório dos alunos ou, então, selecionar os alunos para os seus cursos. Há uma terceira saída, que é a de iniciar o programa no ponto em que está o repertório da população-alvo. Indicando mais precisamente a tarefa que deve ser realizada nesta etapa pelo programador, ela é decidir de onde começará o ensino no seu programa. A decisão será retratada (possível de observar e “checar”) na descrição dos “comportamentos” considerados como repertório de entrada (isto é, habilidades e conhecimentos que a população já deve ter para poder se tornar aprendiz do programa). Qualquer que seja a decisão, ela implicará numa comparação com a análise já feita em etapa anterior da elaboração do programa de ensino e uma avaliação da defasagem entre o ponto em que a análise havia parado e o que for descrito como repertório de entrada. É comum encontrar comentários dos professores a respeito do desempenho de seus alunos nos seus cursos de uma forma que dá a impressão de que os alunos são “incapazes” de fazer um curso tão “bom e difícir quanto o do professor em questão. A frequência com que ouvimos de professores que os alunos “não têm prontidão”, “não tem repertório suficiente”, “falta nível” ou “capacidade” e até “ainda não têm experiência suficiente para apreciar” evidencia que tais professores agem como se esses problemas fossem de responsabilidade dos seus alunos e que eles (os professores) não têm nada a ver com isso. Os comentários acima, porém, revelam o quanto o professor não percebe o problema de repertório de aprendiz e o que significa para um professor cada uma dessas coisas. Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 149 Nas práticas usuais de ensino é frequente encontrar fracassos iniciais e, muitas vezes, abandonos precoces de cursos, cuja “culpa” poderia ser apenas do professor que não soube planejar seu curso levando em conta as características da população-alvo. Os cursos, muito cedo (desde seu início), já apresentam dificuldades muito grandes aos aprendizes. As contingências aversivas se apresentam de imediato só pelo fato de fracassar e nem sequer conseguir realizar as tarefas iniciais do programa. Você imagina o que acontece com a probabilidade de resposta de alguém nessas condições? Olhando para tudo isso, pode ser importante perguntar: “qual é, realmente, a função do professor?”. Ao especificar o repertório de entrada dos aprendizes, o programador enfrenta parte desse problema e deverá aprender a solucionar uma boa porção das dificuldades envolvidas nos problemas relacionados aos comentários de professores exemplificados acima. Lembre-se de que a função do professor e do “ensino” é criar condições para que haja “aprendizagem”, e não apenas “culpar” o aprendiz quando esta não ocorre. Descrever o repertório de entrada de um aprendiz de maneira adequada ajudará o programador (e quem executa o programa) a estar atento ao que deve ser ensinado e não aos “erros do aprendiz”. A tarefa relativa à especificação de repertório de entrada inclui: • Descrever o repertório de entrada na forma de expressões que indiquem comportamentos que já devem fazer parte do repertório do aprendiz; • Indicar como pode ser feita a verificação de se o aprendiz tem ou não o repertório de entrada e o que vai ser feito num caso e no outro; • Avaliar se existe defasagem entre aquilo que está especificado como repertório de entrada desejável e os objetivos propostos para o programa, indicando, se for o caso, que aptidões estão faltando, ou como repertório de entrada ou como objetivos do programa. Atenção! E fundamental não deixar de levar em consideração, ao fazer isso, a descrição do problema, os objetivos propostos para o programa, as características dos aprendizes. A especificação do repertório de entrada implica em uma análise de relevância desse repertório para o programa, e não precisa incluir aptidões que, embora necessárias, podem ser tomadas como inequivocamente garantidas. Um exemplo: embora as capacidades de ler e escrever sejam obviamente pré-requisito para grande parte dos programas apresentados neste material como exemplo, o fato de que esses programas se destinam a estudantes de graduação dispensa a indicação dessas habilidades como parte do repertório de entrada. Da mesma forma, outros comportamentos que podem ser pré-requisitos para se submeter a um programa (como permanecer em silêncio diante de uma explicação, prestar atenção às exposições, etc.) não foram indicados como tal. Isto se deve ao fato de que o repertório de entrada de aprendizes a um programa refere-se especificamente ao que é relevante como pré-requisito para o programa em particular. Da mesma forma, não fazem parte do repertório de entrada dos aprendizes eventuais requisitos para participação no programa (como, por exemplo, ter concluído alguma etapa de escolaridade, pagar inscrição, etc.), porque não se referem a comportamentos pré- requisitos; são condicionantes de outra ordem. Em resumo, o repertório de entrada em um programa de ensino é aquilo que o aprendiz deve ser capaz de fazer já antes de iniciar o programa para poder iniciar com chance de sucesso na aprendizagem. A função de especificá-lo é identificar o que é necessário para iniciar o programa e verificar se a população tem o repertório necessário para fazer o programa. Alguns cenários e alternativas possíveis • Se os aprendizes apresentam o repertório de entrada desejável, iniciar o programa; 150 EdUFSCar - Série Apontamentos • Se o repertório da população-alvo é melhor (mais avançado, sofisticado ou de um nível superior) do que o previsto, é possível deixar de ensinar algumas coisas e iniciar o programa a partir de exigências maiores do que as inicialmente previstas; • Se a população-alvo não tem o repertório necessário para iniciar o programa, algumas possibilidades são: — Encaminhar o aprendiz para programas de ensino anteriores ao previsto; — Começar de níveis mais simples, prolongando a análise dos objetivos intermediários até o nível em que está o repertório da população-alvo e ensinar, no decorrer do próprio programa, o que inicialmente era uma exigência de “pré-requisito”; — Inserir apenas pessoas da população-alvo que obtiverem índices que indiquem que estas têm o repertório inicial exigido para começar o programa (selecionar). O fundamental é decidir como vai ser garantido que os aprendizes não fracassem de início por não terem repertório ou por não conseguirem iniciar o primeiro passo. Usualmente, os professores costumam supor repertório dos alunos ou, então, selecionar os alunos para os seus cursos; a alternativa recomendada é garantir que o programa seja iniciado, pelo aprendiz, no ponto em que está o seu repertório de entrada. 12 No âmbito da Análise do Comportamento, o uso de expressões que remetem a explicações mentalistas do comportamento devem ser evitadas; nesse contexto, o uso da expressão “propósito” não se destina a explicar o comportamento, e está sendo utilizada apenas para ajudar na construção didática do conceitode comportamento operante, para enfatizar que, utilizando uma linguagem de senso comum, mesmo que uma resposta seja apresentada por alguém com a “intenção” de produzir um certo resultado, se esse resultado não é produzido, o comportamento ocorrido não será aquele eventualmente pretendido. Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 151 1. EXEMPLOS DE REPERTÓRIOS DE ENTRADA DEFINIDOS PARA PROGRAMAS DE ENSINO a) Programa de ensino para capacitar motoristas a trocar pneu do carro Repertório de entrada • Identificar pneu furado ou com avarias, necessitando de troca; • Identificar estepe, macaco, chave de roda; • Identificar normas de trânsito relacionadas à parada de veículos em vias públicas. Forma de avaliação da existência do repertório nos aprendizes Os aprendizes poderíam ser colocados em situações concretas, com a presença de pneus em diferentes estados de conservação, ferramentas usuais para troca de pneus, e solicitados a indicar pneus que apresentam necessidade de troca, ferramentas e equipamentos nomeados, e a responder questões sobre normas de trânsito relacionadas a aspectos pertinentes para a situação de troca de pneus. Para avaliar se os aprendizes não apresentam um repertório mais avançado do que o previsto no programa, poderão ser criadas situações semelhantes para verificar a presença e características de aptidões previstas para iniciar o programa, no repertório dos aprendizes. Como proceder diante do resultado da avaliação • Ampliar o programa para garantir a aprendizagem de pré-requisitos que os aprendizes não apresentem, caso isso ocorra. Essa seria uma providência relevante, dada a importância de que todos os motoristas desenvolvam as habilidades previstas no programa para melhorar condições no trânsito; • Iniciar o programa, caso os aprendizes apresentem os pré-requisitos necessários; • Acelerar o início do programa fazendo uma “retomada” rápida de conceitos e habilidades que os aprendizes tenham demonstrado já dominar entre os previstos para iniciar o programa. b) Programa de ensino para capacitar usuários a utilizar o restaurante universitário adequadamente Repertório de entrada • Identificar regras de uso de ambientes; • Identificar filas de usuários de serviços em diferentes ambientes; • Identificar sinalizações de condutas em ambientes; • Identificar trabalhadores do ambiente. Indique para o programa relacionado ao uso do restaurante universitário: 1) Forma de avaliação da existência do repertório nos aprendizes. 2) Como proceder diante do resultado da avaliação. c) Programa de ensino para ensinar universitários a “lidar com resíduos sólidos” Reveja, nas unidades anteriores, as informações disponíveis sobre este programa, em particular 152 EdUFSCar - Série Apontamentos objetivos terminais e intermediários propostos. Indique comportamentos pré-requisitos para que os aprendizes iniciem o programa tal como foi proposto, lembrando que devem ser indicados comportamentos, ou seja, relações entre condições antecedentes, respostas e condições subsequentes, ainda que o sejam por meio de expressões simplificadas. Indique, também, uma possível (e adequada) forma de avaliação do repertório de entrada em um programa dessa natureza e, se possível, encaminhamentos desejáveis para as várias possibilidades de resultado desta avaliação. Repertório de entrada: Forma de avaliação de repertório de entrada: Encaminhamentos diante dos resultados da avaliação: Compare suas respostas com as apresentadas por alunos do curso de Psicologia da UFSCar que cursaram a disciplina Programação de Ensino e Treinamento e se dedicaram à elaboração deste programa, O aprendiz, para participar do programa destinado a capacitá-lo para lidar adequadamente com resíduos sólidos, deve ser capaz de: • Reconhecer o que são resíduos sólidos; • Diferenciar resíduos e lixo; • Identificar diferentes características de materiais dos resíduos sólidos (metal, papel, vidro, etc.); • Reconhecer produtos de consumo; • Identificar itens de consumo (tipos de produtos que podem ser consumidos) e locais de aquisição desses itens; • Identificar a vida útil dos produtos; • Apresentar cuidados mínimos de higiene e organização; • Expressar-se por meio de habilidade oral ou escrita; • Observar e regular seu próprio comportamento; • Compreender textos, esquemas, gráficos e figuras; • Solucionar dúvidas; • Discriminar as demandas do ambiente em que se insere; • Responder adequadamente as demandas do ambiente em que se insere. Para verificação dos comportamentos: • Perguntar diretamente aos usuários/aprendizes por meio de entrevistas e/ou questionários; • Apresentar simulações hipotéticas dos comportamentos desejados e solicitar o que deveria ser feito em cada situação; • Observar usuários/aprendizes em situação natural. Encaminhamentos possíveis: • Estender o programa de forma a incluir habilidades previstas como pré-requisitos, mas que os aprendizes não apresentem na avaliação; aproveitar, eventualmente, repertórios mais avançados de certos aprendizes como apoio para os que apresentaram defasagem de habilidades; • Acelerar o início do programa, caso os aprendizes evidenciem competências previstas para serem desenvolvidas no programa. Você deve ter notado que foram utilizadas, nos exemplos, expressões simplificadas para fazer referência aos comportamentos previstos como repertório de entrada dos aprendizes. Se desejar maior treino na descrição de comportamentos, reveja cada um dos comportamentos indicados procurando descrevê-los de Elaboração de programas de ensino: material auto instrutivo 153 acordo com o conceito que tem sido utilizado no programa (relação entre classes de estímulos antecedentes - classe de respostas - e classes de estímulos subsequentes). Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 2. ATIVIDADE PRÁTICA: ESPECIFICAÇÃO DE REPERTÓRIO DE ENTRADA Considerando o programa de ensino proposto por você, as etapas já realizadas no processo de programação e as características dos aprendizes para o qual o programa está sendo definido, especifique, no espaço abaixo, o repertório de entrada esperado dos aprendizes ao iniciarem o programa. Indique, ainda, como podería ser verificada a existência ou não desse repertório nos aprendizes e formas de encaminhamento, caso haja discrepância entre o que é esperado e o que realmente é apresentado pelos participantes. Não se esqueça das orientações propostas no texto para ajudar nesta tarefa. UNIDADE 8: DEFININDO SEQUÊNCIA PARA ENSINAR OBJETIVOS Definido o repertório de entrada dos aprendizes, há a necessidade de decidir qual comportamento deverá ser inicialmente ensinado, e por quais objetivos seguir o programa, até o alcance do objetivo terminal. Essa etapa corresponde, então, ao que costuma ser chamado de sequenciamento dos objetivos de ensino do programa. Ao final desta unidade, é esperado que você seja capaz de apresentar o seguinte comportamento: Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes Diante de... * Objetivos terminais e intermediários indicados e descritos * Repertório de entrada definido Considerando... * Critérios para definir sequenciamen- to de objetivos para o ensino Sequenciar os objetivos de ensino Resultados, produtos, efeitos desejáveis Objetivos sequenciados em função de critérios estabelecidos (do mais simples para o mais complexo Considerando relação entre resultados de um como antecedente de outro, agrupando comportamentos semelhantes, etc.) Nesta unidade você encontrará: 1 Texto básico Definindo sequência para ensinar objetivos em um programa, que tem como autora Ana Lucia Cortegoso. O texto apresenta a importância desta etapa e sugere critérios a serem considerados ao realizar o sequenciamento dos objetivos de ensino. 2 Exemplo de sequenciamento de objetivos para ensino. Amostra de sequenciamento proposto para um programa para ensinar universitáriosa lidar adequadamente com resíduos. 3 Atividade prática. Exercício para sequenciamento de objetivos de ensino. Texto básico Leia com atenção o texto a seguir: ele vai ajudá-lo a realizar essa importante tarefa no processo de elaboração de programa de ensino. 158 EdUFSCar “ Série Apontamentos 1. DEFININDO SEQUÊNCIA PARA ENSINAR OBJETIVOS EM UM PROGRAMA Ana Lucia Cortegoso Quando já existe uma descrição comportamental dos objetivos terminais e dos objetivos intermediários, é possível então organizar os objetivos em uma sequência para o ensino. A importância do sequenciamento dos objetivos intermediários está na facilitação da aprendizagem, que pode scr favorecida ou desfavorecida dependendo da sequência em que são instalados os comportamentos previstos no programa. Do ponto de vista da Análise do Comportamento, o melhor processo de aprendizagem é aquele que ocorre sem erros, e isso tende a ocorrer quando o processo de elaboração de um programa de ensino respeita os procedimentos sugeridos neste material para formular e descrever objetivos de ensino, especificar repertório de entrada dos aprendizes e, principalmente, definir uma sequência de ensino-aprendizagem que possibilite o avanço do aprendiz sem, ou com o menor número possível de, erros. Para realizar um adequado sequenciamento de objetivos para ensino-aprendizagem, é importante lembrar que o resultado esperado do sequenciamento é uma indicação da ordem em que cada objetivo deve ser ensinado, e não uma lista de ações na sequência em que estas podem ser (ou usualmente são) executadas. Inclusive porque há objetivos a serem desenvolvidos que correspondem a aptidões expressas apenas no processo de ensino como pré-requisitos para instalar comportamentos que devem ocorrer nas situações naturais, E, em muitos casos, pode ser preferível ensinar um determinado comportamento antes do outro (conforme critérios indicados a seguir), mesmo que este outro, na situação natural, costume ocorrer após o primeiro. Tendo então em foco o maior grau possível de facilitação no processo de aprendizagem, um dos principais critérios a considerar é o grau de dificuldade para a aprendizagem de cada objetivo; nesse sentido, é preferível ordenar os objetivos dos mais simples para os mais complexos. Dessa forma, é possível reduzir a probabilidade de erros, que em muitos casos está relacionada ao fracasso do processo de ensino-aprendizagem. A identificação de quais são os objetivos mais simples pode ser feita por meio do exame da complexidade das: a) condições diante das quais a ação deve ocorrer; b) próprias ações, em termos de exigência dos padrões de desempenho e, ainda; c) características do produto a ser gerado. Quanto menos complexo for o conjunto, mais fácil, provavelmente, será aprendê-lo. Considerando um programa para crianças iniciarem sua aprendizagem em relação ao jogo de basquete: deslocar a bola de um lugar ao outro da quadra, dentro das regras do jogo, pode ser mais simples do que “encestar” bolas (embora talvez a segunda habilidade seja mais motivadora para o aprendiz, o que também pode ser levado em consideração pelo programador - ou, em último caso, pelo responsável por implementar o programa, que pode alterar uma sequência pré-definida de ensino-aprendizagem em favor de maior motivação do aprendiz. Deslocar a bola, dentro das regras do jogo, sem a presença de um adversário, pode ser mais simples de ser realizado (em função da natureza das condições antecedentes) do que deslocá-la diante de um adversário ou de barreiras. Deslocar a bola com perfeição pode ser algo mais complexo do que fazê-lo dentro de um certo índice de acertos ou erros. 12 No âmbito da Análise do Comportamento, o uso de expressões que remetem a explicações mentalistas do comportamento devem ser evitadas; nesse contexto, o uso da expressão “propósito” não se destina a explicar o comportamento, e está sendo utilizada apenas para ajudar na construção didática do conceito de comportamento operante, para enfatizar que, utilizando uma linguagem de senso comum, mesmo que uma resposta seja apresentada por alguém com a “intenção” de produzir um certo resultado, se esse resultado não é produzido, o comportamento ocorrido não será aquele eventualmente pretendido. Elaboração de programas de ensino: material autolnstrutivo 159 Outro critério para ordenar os objetivos intermediários é em que medida o produto de uma resposta é condição antecedente para outra resposta. Respostas cujas partes funcionais são produzidas por outras devem suceder a estas no processo de ensino-aprendizagem. Examinando as respostas, partes funcionais do ambiente e produtos de respostas, será possível identificar qual a melhor sequência para ensino, dado o encadeamento que existe entre os diferentes comportamentos. Esse exame é mais um aspecto do que costuma significar a expressão “um comportamento é necessário para aprender outro”. Um exemplo desse tipo de situação, em um programa destinado a preparar motoristas a substituir pneus danificados de automóveis, é ensinar um aprendiz a retirar os parafusos que prendem a roda do carro onde está um pneu que precisa ser substituído e, na sequência, ensinar a retirar o pneu, uma vez que a roda precisa estar solta (produto de retirar os parafusos) para que o pneu possa ser retirado (condição antecedente para retirar o pneu), Um outro exemplo, em um programa para ensinar crianças a jogar basquete, é ensinar primeiro os aprendizes a “receber passes” de bola, considerando que o produto desse comportamento é bola na mão, condição necessária para o comportamento de arremessar a bola à cesta. Muitas vezes é possível encontrar respostas que produzem condições para aumentar a probabilidade de ocorrer outra ou outras, e existem então vantagens de ensinar primeiro aquelas respostas. Combinar esse critério com os demais ajudará a escolher qual a melhor sequência para o ensino dos comportamentos descritos como intermediários para atingir o objetivo terminal. Criar uma condição que torna mais provável (ou mais fácil) uma próxima resposta é um critério para colocar tais respostas antecedendo aquelas que dependem das condições criadas no processo de ensinar. Um exemplo desse tipo de situação, em um programa de ensino de basquete para crianças, é ensinar o aluno a “receber passes”, algo que, bem feito, aumenta a probabilidade de ele emitir comportamentos como deslocar- se com a bola, arremessar a bola na direção da cesta, ou passar a bola para um companheiro de equipe. Indicar como aprendizagens iniciais comportamentos com semelhanças aos que o aprendiz já apresenta constitui outro critério. Pode haver respostas que sejam muito semelhantes às que o aprendiz já apresenta e isso pode ajudar a decidir uma sequência de ensino mais adequada. Um problema com esse critério, porém, é que, muitas vezes, a semelhança está na topografia (aparência, forma) da ação, e colocar essa ação “sob controle de estímulos específicos, apropriados” pode não ser tarefa fácil. O aprendiz pode considerar que já sabe, e permanecer apresentando a resposta “antiga” sem atentar às novas condições diante das quais deve fazê-lo e aos produtos, efeitos ou resultados que devem derivar dessas ações nas novas condições. Em outras palavras, dificultando a aprendizagem de um novo comportamento. Este critério precisa ser usado com muito cuidado. Na execução do programa, é fundamental que o professor esteja atento a essa possibilidade, evitando que o aprendiz mantenha formas de lidar com situações concretas derivadas de um processo de ritualização de conduta (permanece se comportando como antes por considerar que já tinha o comportamento no repertório, quando na verdade o comportamento era outro, mesmo sendo a resposta idêntica ou semelhante). Um exemplo de aplicação desse critério seria, no caso do ensino do jogo de basquete, aproveitar eventuais habilidades dos aprendizes em jogos como o de handebol, iniciando o programa com ensinode habilidades de passe de bolas para companheiros de equipe, similar ao exigido no outro jogo. Eventualmente, havendo diferenças entre esse tipo de passe nos dois contextos, o programador pode prever, como condição de ensino, estabelecer um processo de discriminação, destacando semelhanças e diferenças nos dois tipos de fundamentos. Outro critério importante, desde que não comprometa outros relevantes para o contexto, é o de 160 EdUFSCar - Série Apontamentos motivação dos aprendizes em relação ao que deve ser ensinado e aprendido. Evidentemente, crianças que iniciam sua aprendizagem em relação a como jogar basquete estão mais interessadas em jogar, efetivamente, do que em compreender as regras do jogo. Ao programador - e a quem tem a responsabilidade de implementar o programa de ensino - caberá a responsabilidade de dosar adequadamente as condições relacionadas à motivação para aprender e as que podem favorecer o processo de aprendizagem, o que, em última análise, também tem um impacto favorável em termos de aspectos motivacionais, uma vez que as aprendizagens mais fáceis (sem erros, sem uso de controle aversivo, com graduação compatível com o repertório dos alunos) estão relacionadas à maior motivação para aprender. Em linhas gerais, o procedimento de análise dos objetivos terminais já organizou, em grande parte, a sequência dos objetivos intermediários, ainda que, em geral, na direção contrária (dos mais complexos - à esquerda no diagrama - para os mais simples - à direita no diagrama). A oportunidade de definir a sequência para ensino dos objetivos previstos permite rever a análise feita e organizar os comportamentos descritos tomando por base critérios específicos de farilitação da aprendizagem, para planejar e preparar as condições de ensino desses objetivos. Evidentemente, o programador deverá garantir outras condições para facilitar a aprendizagem em termos de condições de ensino antecedentes e consequentes, inclusive interferindo no grau de complexidade dos componentes dos comportamentos a serem aprendidos (por exemplo, iniciando o treino de uma habilidade de “encestar bolas” com um aro ampliado, reduzindo-o gradualmente; afastando gradualmente o aprendiz do aro da cesta até alcançar distâncias usuais para lançar bolas à cesta; aceitando batidas no aro sem entrada da bola como acertos, inicialmente, e aumentando a exigência gradualmente, etc.). No entanto, boas decisões em termos de sequência de comportamentos a serem instalados, em um programa, contribuem para a eficácia do programa, em particular no que se refere à motivação do aprendiz e à redução do tempo para aprendizagem. Uma tendência comum é a de selecionar, para iniciar o programa de ensino, aqueles comportamentos que correspondem às habilidades próprias da situação de ensino, voltadas à formação de conceitos, compreensão das razões pelas quais determinados comportamentos são necessários. A esse conjunto de habilidades é comum denominar de “parte teórica” do programa. Embora a aprendizagem de determinados “fundamentos” dos comportamentos que serão instalados possa ser, em algumas situações, possível e necessária, é importante lembrar que essa forma de “divisão” das habilidades, muito frequentemente, funciona de modo a desmotivar os aprendizes (pela grande quantidade de informações, muitas vezes “descoladas” das práticas que fundamentam), podendo prejudicar o processo de aprendizagem. Há momentos em que privilegiar a motivação dos alunos para aprender pode ser fundamental, não sendo esperado, contudo, que o programador - e o responsável pela execução do programa - renunciem aos objetivos que devem ser atingidos em favor da preferência ou satisfação dos aprendizes. E importante lembrar que a motivação dos aprendizes está diretamente relacionada, também, embora não apenas, à qualidade das condições de ensino que serão oferecidas no decorrer do programa, Lembre -se... 1) A função do sequendamento dos objetivos intermediários é colocar esses objetivos em uma condição que possa facilitar a aprendizagem; programadores diferentes podem chegar a propostas diferentes de sequênda de ensino em função do tipo de critério que adotem, de sua familiaridade com o programa e com os fenômenos envolvidos nele, etc. 2) São critérios que podem ajudar a definir sequênda de ensino/aprendizagem de objetivos intermediários: Elaboração de programas de ensino: material auto instrutivo 161 a) Complexidade crescente dos objetivos, sendo que esta pode estar relacionada ao grau e simplicidade/complexidade de condições diante das quais a ação deve ocorrer, das próprias ações, em termos de exigência dos padrões de desempenho e, ainda, das características do produto a ser gerado. Quanto menos complexo for o conjunto, mais fácil, provavelmente, será aprendê-lo. b) Grau em que produtos de uma resposta são condições antecedentes para outra resposta (ordenar da que gera o produto para aquela que tem o produto como condição antecedente). c) Respostas que produzem condições para aumentar a probabilidade de ocorrer outras devem ser ensinadas primeiro. d) Grau de semelhança entre comportamentos (ou dimensões dos comportamentos - condições antecedentes, resposta, condições subsequentes), mas atenção: muitas vezes, a semelhança está na topografia apenas, e isso pode levar o aprendiz a entender que já tem o comportamento em seu repertório! e) Impacto motivacional no processo de aprendizagem, lembrando, contudo, que a motivação para aprender depende de várias condições, parte significativa delas sob controle de quem executa o programa, além da sequência de objetivos a serem ensinados, derivadas do conhecimento sobre comportamento humano em geral e sobre aprendizagem em particular no âmbito da Análise do Comportamento. 2. EXEMPLO DE SEQUENCIAMENTO DE OBJETIVOS PARA ENSINO A seguir você encontra um conjunto de objetivos específicos de ensino de um programa destinado a ensinar universitários a lidar com resíduos sólidos (objetivo terminal), que teve indicados como objetivos ainda gerais, mas mais específicos em relação ao terminal: • Prover necessidade de consumo; • Preparar resíduos para aproveitamento; • Aproveitar resíduos sólidos produzidos; • Encaminhar resíduos para aproveitamento; • Capacitar pessoais e a si mesmo para lidar com resíduos sólidos. Os objetivos correspondentes a um dos objetivos componentes do mais geral “prover necessidades de consumo”, “comprar produtos de forma adequada em termos de geração de resíduos” aparecem com uma indicação de sequência de ensino sugerida (numerados do 1 ao 13). Confira se o sequenciamento proposto parece adequado, considerando o$ critérios propostos; faça alterações, caso as considere necessárias. Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutívo 163 164 EdUFSCar - Serie Apontamentos Você encontra, a seguir, a continuidade deste diagrama, com os objetivos específicos indicados para outros componentes do objetivo “prover necessidades de consumo”. Indique, para objetivos intermediários incluídos no diagrama, o que parece ser uma boa sequência para o ensino. Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 165 Considerando que não existe uma resposta correta única para a proposta de sequência de objetivos para ensino, compare suas respostas com os critérios sugeridos, neste texto, para tais decisões. 166 EdUFSCar — Séríe Apontamentos 3. ATIVIDADE PRÁTICA Considerando os objetivos terminal e intermediários especificados por você para o programa que selecionou como circunstância para treino de suas habilidades como programador, ao atender às solicitações apresentadas nas diferentes unidades, e partindo do diagrama com tais objetivos, indique, por meio de uma numeração crescente, a melhor sequência de ensino desses objetivos para o programa de ensino desenvolvido por você até aqui. Justifique as opções feitas, em termos dos critérios sugeridos -ou outros que você tenha identificado como relevantes para alcançar o objetivo desta etapa, que é de propor a sequência mais apropriada possível para ensino dos objetivos, de modo a favorecer a aprendizagem, do ponto de vista da redução de erros, da duração do programa e da aversividade ao aprender (e ampliação do gosto por aprender). UNIDADE 9: PLANEJAMENTO DAS CONDIÇÕES DE ENSINO Nesta etapa da elaboração de um programa de ensino, tudo, ou grande parte do que é relevante ser ensinado para instalar o repertório comportamental desejável para que os aprendizes possam atuar de modo a modificar a situação-problema, foi definido; agora é o momento de decidir como será o ensino, ou seja, os aspectos que costumam ser mais comumente denominados como condições de ensino (embora o sequenciamento dos objetivos, por exemplo, também já tenha esta função). Planejar as condições de ensino consiste em definir atividades que possivelmente irão permitir a melhor aprendizagem dos objetivos propostos. Tais atividades deverão oferecer ao aprendiz oportunidades para desenvolver ou treinar habilidades para realizar um determinado objetivo. Nesta unidade é esperado que você desenvolva a seguinte aptidão: Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes Diante de... • Objetivos de ensino intermediários identificados e descritos • Repertório indicado de entrada dos aprendizes • Sequência desejável para ensino dos objetivos intermediários do programa de ensino indicada Considerando... • Características (relevantes) dos aprendizes • Recursos acessíveis ou disponíveis que podem se tornar acessíveis (materiais, equipamentos, refòrçadores, etc.) • Condições em que o programa de ensino deve ser implementado (época, duração, distribuição no tempo, etc.) • Conhecimento sobre processo de en si no-ap re ndizage m Planejar condições de ensino Resultados, produtos, efeitos desejáveis Condições de ensino (unidades de ensino, materiais, procedimentos, recursos, etc.) especificadas, em consonância com os objetivos a serem alcançados, características dos aprendizes, condições em que o programa deve ser implementado, conhecimento sobre processo de enslno-aprendi- zagem e recursos disponíveis Probabilidade aumentada de que as aprendizagens pretendidas ocorram de forma econômica, agradável e duradoura 168 EdUFSCar - Série Apontamentos Nesta unidade você encontrará: 1 Texto básico Propondo condições de ensinoy escrito por Ana Lucia Cortegoso, que apresenta o que deve ser considerado ao propor condições de ensino. 2 Exemplo de condições de ensino propostas para programas de ensino. São apresentados diferentes tipos de planilhas com indicações de condições de ensino propostas para alguns objetivos de programas de ensino. 3 Atividade prática. Exercícios de definição de condições de ensino para um programa de ensino. 4 Texto complementar I Planejamento de condições de ensino, de Nivaldo Nale. O texto apresenta algumas considerações que devem ser levadas em conta, ao se planejar condições, para que a aprendizagem ocorra. 5 Texto complementar II Atividades de ensino e objetivos comportamentais: no que diferem?, de Sílvio Paulo Botomé. 6 Texto complementar III Adeus, Mestre!y de Fred. S. Keller (<http://www.terapiaporcon- tingencias.com.br/pdf/outros/AdeusMestre.pdf>). Texto básico Leia o texto a seguir com atenção; faça as anotações que julgar necessárias para compreender bem as informações apresentadas e para poder recuperá-las quando for realizar as tarefas correspondentes a ele. 1. PROPONDO CONDIÇÕES DE ENSINO Ana Lucia Cortegoso Por condições de ensino estão sendo entendidas todas aquelas condições, expressas como materiais, organização dos materiais, procedimentos e estratégias, que correspondem às contingências que devem ser dispostas por quem tem a responsabilidade de implementar programas de ensino, para instalar e manter os comportamentos especificados como objetivos do programa. Referem-se a condições antecedentes e subsequentes com as quais os aprendizes devem entrar em contato, no processo de aprendizagem, para desenvolver esses comportamentos, e não apenas as respostas que os compõe. Incluem, assim, as informações às quais os aprendizes deverão ser expostos (ou procedimentos por meio dos quais esses aprendizes entrarão em contato com elas, quando for o caso), bem como as condições subsequentes, que deverão ser produzidas por suas respostas - na situação de ensino e em situação natural, e consequências capazes de funcionar na situação de ensino - para sustentar o processo de aprendizagem, capazes de manter os comportamentos relevantes na situação natural (ou, em outras palavras, que sejam generalizadas pelo aprendiz para a situação natural) e de promover o autogoverno do aprendiz, conceito central na proposta de Skinner para a educação a partir do conhecimento sobre comportamento humano no âmbito da Análise do Comportamento. No processo de elaboração de programas de ensino a que se refere este material, a definição das condições de ensino ocorre apenas depois que o programador consegue produzir, de forma mais completa e criteriosa possível, um “mapa” das aprendizagens a serem promovidas no aprendiz para atender às características da situação-problema a que o programa procura atender. Não por não serem as condições de ensino pouco importantes, muito pelo contrário: exatamente por sua relevância é que não podem ser definidas por critérios espúrios e circunstanciais (como aqueles indicados na Unidade 1 como frequentemente utilizados por professores para decidir o que ensinar, como “o que gosta”,“o que aprendeu”, “o que dá status”, etc. Lembra da estória dos médicos?). Estando o programador sob controle do que é importante que o aprendiz se torne capaz de fazer, suas decisões sobre condições de ensino podem, e devem, ser tomadas agora a partir de conhecimento sobre como os organismos aprendem - e como podem fazê-lo com maior facilidade, naturalidade e satisfação de tecnologia a serviço da pedagogia (tecnologia a serviço do que tem de ser aprendido, e não o contrário), daXriatividade e da flexibilidade. http://www.terapiaporcon-tingencias.com.br/pdf/_outros/AdeusMestre.pdf http://www.terapiaporcon-tingencias.com.br/pdf/_outros/AdeusMestre.pdf Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 169 Em um estudo que buscou identificar e caracterizar propriedades de comportamentos de um agente educativo que desenvolvia atividades recreativas com crianças e sua relação com os resultados que alcançava com seus aprendizes, Cortegoso (2001) identificou, com a participação do agente educativo, uma condição essencial para a flexibilidade na definição e desenvolvimento de atividades específicas com as crianças pelas quais era responsável: a clareza sobre os resultados a serem alcançados. Dessa forma, com grupos de crianças muito pequenas, com as quais o agente educativo tinha pouca experiência de trabalho, este apresentava um comportamento mais estereotipado, e menor grau de atenção aos sinais apresentados pelos aprendizes sobre o que gostariam de fazer em sua atividade do que o observado com grupos de maior idade. No primeiro caso, havia uma tendência a predefinir, e manter - a despeito de sinais relevantes que as crianças davam sobre o grau de interesse e rendimento em determinadas atividades - um conjunto de atividades específicas; no segundo caso, a despeito de prever possibilidades, havia um alto grau de sensibilidade aos mesmos sinais, com modificações frequentes - desde que satisfatoriamente justificadas pelos aprendizes - nas atividades previstas, sempre que compatíveis com os objetivos propostos para serem alcançados com as crianças. Definindo formato geral de um programa de ensino Um programa de ensino pode ser desenvolvido em diferentes formatos: um curso em moldes mais tradicionais, um curso programado individualizado, treinamento em serviço, um conjunto de orientações escritas,uma oficina, material audiovisual, etc. Em boa parte das situações em que são desenvolvidos programas de ensino, o “formato geral” do programa já está definido: uma disciplina em curso de graduação, um curso para professores, uma oficina em um congresso. Mas em pelo menos parte delas, é possível definir que “formato” o programa deve assumir. Sendo possível, o programador pode tomar decisões que já contribuem para que o programa tenha maior grau de sucesso no alcance dos objetivos pretendidos. Para definir qual o formato geral de um programa (quando esta decisão cabe ao programador), constituem possíveis critérios: Jrecursos disponíveis; população-alvo do programa; facilidade de acesso aos aprendizes; características das habilidades que devem ser desenvolvidas; tempo disponível para realização do programa de ensino. Assim, se o programa refere-se a uma situação em que os aprendizes em potencial se alteram com frequência (por exemplo, estudantes que se alimentam no restaurante universitário), pode ser mais adequado propor um programa de ensino na forma de um “manual”, ou de um audiovisual que possa ser apresentado durante as refeições, uma vez por semana, em dias alternados. Se, por outro lado, os aprendizes têm baixa tolerância e aproveitamento de textos escritos, uma oficina, com carga predominante de atividades práticas, pode ser preferível. Em programas desenvolvidos por alunos do curso de Psicologia da TJFSCar que cursaram a disciplina Programação de Ensino e Treinamento foram feitas propostas de programas de ensino no formato de jogos (de tabuleiro ou virtuais), palestras, oficinas, vídeos, material programado individualizado, cursos, etc. Propondo “unidades” de ensino A organização dos objetivos de ensino em unidades (agrupamentos de objetivos) constitui a primeira etapa da definição das condições de ensino propriamente ditas em um programa. Essa é uma condição importante para o programador, já que dá a ele referenciais para organizar os objetivos de ensino de modo a facilitar a definição de como, especificamente, promoverá a aprendizagem; é relevante também para os alunos, que poderão compreender e acompanhar seu processo de capacitação, no conjunto e em cada “etapa” dele. Nesse programa, destinado a capacitar pessoas para elaborar programas de ensino, constituem “unidades” de ensino os diferentes comportamentos gerais do programador ao elaborar programas de ensino: descrever situação-problema a ser resolvida com o programa de ensino, propor objetivos comportamentais, analisar objetivos comportamentais, etc. De um modo geral,fãs unidades de ensino são assim definidas por constituírem um conjunto de aprendizagens 170 EdUFSCar - Série Apontamentos com significado em si mesmo] que possibilitem a instalação de um comportamento intermediário dos mais gerais em torno de um “tema”. No programa destinado a capacitar estudantes universitários a lidar com resíduos, poderíam constituir “grandes unidades” (módulos, por exemplo) cada conjunto de objetivos dentro dos definidos como parte do mais geral “lidar com resíduos”, ou seja: prover as próprias necessidades de consumo, preparar resíduos para encaminhamento, reaproveitar produtos, encaminhar produtos para reaproveitamento, capacitar pessoas para lidar com resíduos. Em cada um desses módulos, poderíam ser ainda definidos “passos” como unidades de referência para o ensino. Por exemplo, em relação ao prover necessidades de consumo, poderíam constituir “passos” de ensino (aprendizagem): a) refletindo sobre o consumo; b) efetuando compras apropriadamente; c) usando adequadamente produtos ao consumir; d) conservando produtos adequadamente; e e) evitando consumo desnecessário. A quantidade de subdivisões adequada em cada programa depende de sua extensão, das condições concretas em que o processo de ensino-aprendizagem vai ocorrer, podendo ser, então, variada. Do mesmo modo, a denominação dessas unidades é variada, à escolha do programador e, muitas vezes, em função da “cultura” existente na instituição em que o programa é desenvolvido. Programas mais extensos podem ter subdivisões em módulos, unidades e passos. As subdivisões podem receber estes nomes, ou outros. Programas menos extensos podem ter menos subdivisões, com passos correspondendo ao que em outros programas é denominado de unidades. O importante é fazer uma análise do conjunto dos objetivos e das condições concretas em que o ensino vai ocorrer e dar ao conjunto uma organização que possa corresponder ao “programa” a ser desenvolvido (uma expressão comumente utilizada para denominar o resultado desta etapa), suficientemente orientador para quem executa o programa e para os aprendizes e capaz de atender a demandas institucionais. Atenção: a definição de unidades de ensino de forma mais adequada depende da existência de descrições completas dos comportamentos que constituem objetivos do programa, em termos de condições antecedentes, padrões de desempenho e condições subsequentes (partes funcionais), já que as condições de ensino devem apresentar, o mais possível, equivalência com esses elementos que definem - e provavelmente mantenham - tais comportamentos nas situações naturais. Sendo realizada a descrição das partes funcionais de cada comportamento proposto como objetivo, é possível espe.- cificar, para cada um desses objetivos, condições de ensino capazes de instalar (com probabilidade aumentada de que sejam também mantidos, em situação natural) esses comportamentos. Especificando condições de ensino para cada objetivo de ensino Um objetivo comportamental é um “efeito” que se quer obter sobre o comportamento de um aprendiz. Para obter esse1 efeito” é necessário planejar “por meio do que” isso vai ser alcançado. Uma atividade de ensino é o “meio” que, muitas vezes, substitui o “para que” (o “efeito desejado”). Com uma descrição comportamental dos seus objetivos, o programador fica mais bem preparado para descrever as “condições que vai criar” para facilitar a ocorrência dos comportamentos desejáveis do aprendiz (ou instalar tais comportamentos). Parte das condições de que o aprendiz necessita para realizar cada ação específica já foi indicada ao descrever as “partes funcionais do ambiente” (condições antecedentes à ação) com a qual ele toma contato em cada resposta. As “partes funcionais do ambiente”, porém, são condições necessárias, mas não suficientes para a aprendizagem (aquisição) do comportamento. Há outras condições que são importantes para garantir que o comportamento descrito ocorra. A pergunta importante em relação a isso é “como fazer com que o aprendiz entre em contato com os aspectos do ambiente descritos de forma a obter o produto especificado?”. 12 No âmbito da Análise do Comportamento, o uso de expressões que remetem a explicações mentalistas do comportamento devem ser evitadas; nesse contexto, o uso da expressão “propósito” não se destina a explicar o comportamento, e está sendo utilizada apenas para ajudar na construção didática do conceito de comportamento operante, para enfatizar que, utilizando uma linguagem de senso comum, mesmo que uma resposta seja apresentada por alguém com a “intenção” de produzir um certo resultado, se esse resultado não é produzido, o comportamento ocorrido não será aquele eventualmente pretendido. 171 EdUFSCar — Série Apontamentos Ao descrever os recursos a serem utilizados para ajudar ou facilitar o aprendiz conseguir apresentar o comportamento descrito no objetivo serão descritas as condições facilitadoras da aprendizagem. Essas condições aparecem, normalmente, em diversas atividades de ensino. Filmes, textos, instruções, exercícios, demonstrações, discussões, exercícios práticos, role-playing, etc. são condições de ajuda ou facilitadoras. Como levar o aprendiz a emitir a resposta esperada, com o resultado desejado, diante daquelas partes funcionais, constituindo o planejamento das atividades de ensino. E nesta fase que são decididas as “ajudas”a serem dadas ao aprendiz (condições facilitadoras), para que ele possa emitir as respostas que se deseja ensinar. Para a escolha de atividades adequadas, alguns aspectos devem ser levados em conta: • Repertório da população a qual se destina o programa (a atividade deve ser adequada à população); • Possibilidade real de oferecer as condições previstas (em termos dos recursos disponíveis); " Proximidade da atividade proposta com o meio natural em que o comportamento deve ocorrer (a atividade deve ser mais próxima possível de uma situação natural); • Eventual necessidade de decomposição de alguns elos excessivamente complexos (com relação às partes funcionais ou respostas) para programação de atividades de ensino. Há um procedimento recomendado para especificar as condições de ensino, partindo de cada um dos objetivos intermediários propostos para o programa e da descrição desses objetivos em termos de condições antecedentes e subsequentes. Veja, no quadro adiante, alguns exemplos (três conjuntos) com base nesse procedimento, aplicado a objetivos de diferentes níveis de especificidade de um programa de ensino voltado para capacitar gestantes e mães de crianças pequenas a lidar adequadamente com a alimentação familiar. Na parte superior de cada conjunto, você encontrará um objetivo descrito em suas partes funcionais; na parte inferior, condições de ensino propostas para desenvolver o objetivo descrito acima. Na primeira célula à esquerda (condições de ensino antecedentes), o procedimento prevê que seja indicado o que o programador propdeque seja oferecido como “ajuda” ao seu aprendiz (por exemplo: instruções, textos, filmes, etc.) que o ajudarão a aprender o comportamento descrito nos três quadrados superiores. Tais “ajudas” devem ser, o mais possível, semelhantes, ou equivalentes, às “condições de estímulo antecedentes” descritas no “objetivo comportamental”, de modo a aumentar a probabilidade de instalar comportamentos, e não apenas respostas; ou seja, que o aprendiz tenha chance de apresentar, em situação de ensino, o comportamento esperado para a situação natural de forma mais similar possível (principalmente aqueles comportamentos que devem ser emitidos, efetivamente, em situação natural). Na célula central da parte inferior (“ações”) devem ser descritas as ações (respostas) do aprendiz em relação às “condições de ensino” descritas na primeira célula à esquerda (por exemplo: ler, discutir, escrever respostas e perguntas, resumir, buscar informações, etc.). Sempre apenas uma resposta para cada comportamento. Da mesma forma, as respostas propostas devem ser, tanto quanto possível, semelhantes ou equivalentes às que estão descritas no quadrado central da parte superior da folha. Ao examinar cada comportamento para planejar as condições de ensino, o programador poderá encontrar “ações”ou “estímulos” demasiado complexos e, nesses casos, deverá avaliar se não é o caso de decompô-los em outros mais simples. Isto também é uma forma de criar condições facilitadoras para a aprendizagem. No caso de julgar necessária a decomposição (seja de estímulos, seja de resposta, seja de ambos), é esperado que o programador descreva cada novo comportamento identificado em um esquema semelhante ao utilizado para descrever os objetivos já previstos. Para manter a organização dos objetivos do programa, esses “novos” objetivos identificados podem ser inseridos na sequência adequada, e numerados indicando uma letra do alfabeto junto ao número da sequência já organizada (por exemplo, 9a, 9b, 10a, 10b, 10c, etc.). Depois de ter decomposto todos os 172 EdUFSCar — Série Apontamentos comportamentos que parecem complexos, também para os novos comportamentos identificados deve ser feita a indicação das “condições de ensino antecedentes” e as “ações” relacionadas a cada uma das “condições de ensino”. O procedimento prevê, ainda, uma indicação das consequências previstas para as possibilidades de respostas dos aprendizes, que podem ser específicas para cada caso ou obedecerem a um padrão único de oferta de consequências, tal como o indicado no esquema a seguir, proposto para uso no programa de capacitação de gestantes e nutrizes sobre alimentação saudável, e indicado na célula destinada às consequências previstas para comportamentos dos aprendizes no programa. Representação esquemátíca do procedimento de consequenciação de respostas de aprendizagem em um programa de ensino destinado a ensinar gestantes e nutrizes a escolher, preparar e ingerir alimentos. Descrição de condições de ensino para instalar comportamentos definidos como objetivos de um programa de ensino destinado a gestantes e mães nutrizes sobre alimentação saudável podem ser vistas nos quadros a seguir. Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes * Solicitação de justificativa de conservação de alimentos em condições adequadas de temperatura até o momento de servir * Razões pelas quais conservar alimentos até a hora de servir Justificar a conservação de alimentos em condições adequadas de temperatura até a hora de servi-los, com pelo menos uma razão para tal Apresentada pelo menos uma razão correta para conservar alimentos em temperatura apropriada até a hora de servi-lo Condições de ensino antecedentes Ação Consequências Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 173 • Informações sobre razões para conservar o alimento em condições adequadas de temperatura até o momento de servir (mais agradável ao paladar e mais saudável; maior economia, já que não terá de ser re- aqueckio) apresentadas, oralmente, para aprendizes • Solicitação para dizer por que é importante manter o alimento aquecido até o momento de comer Dizer pelo menos uma razão pela qual é importante conservar alimentos em condições adequadas de temperatura até o momento de servir Em caso de resposta correta, confirmar a resposta e acrescentar outras possíveis Em caso de resposta incorreta, solicitar que outro aprendiz responda à pergunta ou convidar quem queira comentar a resposta apresentada (apenas se isso não trouxer risco de constrangimento para quem respondeu incorretamente) Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes * Diferentes tipos de alimentos disponíveis para serem servidos • Informações sobre condições adequadas de temperatura para servir alimentos Enumerar alimentos que devem ser conservados em condições adequadas de temperatura para servir Enumerados os alimentos que requerem conservação de temperatura até a hora de servir Condições de ensino Ação Consequências * Exposição sobre alimentos que devem ser conservados aquecidos (arroz, feijão, carne), com ilustrações apresentadas * Figuras de alimentos, incluindo alguns que requerem e outros que não requerem conservação específica até o momento de serem servidos * Solicitação para que diga quais os alimentos que devem ser conservados de forma específica até serem servidos Apontar alimentos que requerem conservação específica até o momento de serem servidos, sem excluir qualquer um dessa categoria e sem incluir os que não pertencem a essa categoria Em caso de resposta correta, confirmara resposta e acrescentar outras possíveis Em caso de resposta incorreta, solicitar que outro aprendiz responda à pergunta ou convidar quem queira comentar a resposta apresentada (apenas se isso não trouxer risco de constrangimento para quem respondeu incorretamente) Em caso de resposta pardalmente correta, indicar aspectos corretos e incorretos da resposta, com explicação para o erro Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo Condições antecedentes Resposta Condições subsequentes • Alimentos em diferentes situações • Critérios para eleger forma adequada de lavar alimentos (em pedaços grandes ou pequenos, por exemplo) Decidir situações de alimentos que sejam mais adequadas para lavá-los Situação mais apropriada, em termosde aproveitamento nutricional e condições de higiene e saúde, decidida para lavar cada tipo de alimento (por exemplo, carne em pedaços grandes) Condições de ensino Ação Consequências ■ Informações sobre aspectos positivos e negativos de lavar alimentos em diferentes condições (carne em pedaços grandes com menos perda nutricional do que em pedaços pequenos, por exemplo) apresentadas oralmente • Apresentação de alimentos ou ilustrações de alimentos em unidades diferentes (carne: bife, picadinho e pedaço inteiro) • Solicitação para indicar melhor condição para lavar alimento Apontar, para cada uma das variações de situações de alimentos, quais são mais adequadas para que sejam lavados Em caso de resposta correta (todas as indicações corretas), confirmar a resposta e acrescentar outras possíveis Em caso de resposta incorreta, solicitar que outro aprendiz responda à pergunta ou convidar quem queira comentar a resposta apresentada (apenas se isso não trouxer risco de constrangimento para quem respondeu incorretamente) Em caso de resposta parcialmente correta, indicar aspectos corretos e incorretos da resposta, com explicação para o erro Note que, no caso de objetivos típicos da situação de ensino, condições antecedentes, a variação entre o que está descrito na linha superior e na linha inferior é pequena; nas atividades que correspondem a condições de ensino, aparecem descrições mais específicas dessas condições e “como” estas serão oferecidas na situação de ensino em que o programa vai ser executado. Especificando condições de ensino para unidades do programa (conjuntos de objetivos) Da mesma forma que no caso da descrição das partes funcionais de objetivos intermediários, o alto custo da definição de condições de ensino para cada um dos objetivos intermediários pode justificar um procedimento simplificado de indicação de condições de ensino. Evidentemente, à simplificação do procedimento corresponde alguma perda, em termos de visibilidade para o programador sobre o processo de ensino-aprendizagem, quando comparado com o procedimento recomendado, e derivado de conhecimento sobre comportamento humano. No entanto, também neste caso pode ser preferível utilizar o procedimento simplificado do que simplesmente desistir de definir condições de ensino sob controle daquilo que tem que ser aprendido pelo aprendiz, em função de sua complexidade e volume de trabalho. 12 No âmbito da Análise do Comportamento, o uso de expressões que remetem a explicações mentalistas do comportamento devem ser evitadas; nesse contexto, o uso da expressão “propósito” não se destina a explicar o comportamento, e está sendo utilizada apenas para ajudar na construção didática do conceito de comportamento operante, para enfatizar que, utilizando uma linguagem de senso comum, mesmo que uma resposta seja apresentada por alguém com a “intenção” de produzir um certo resultado, se esse resultado não é produzido, o comportamento ocorrido não será aquele eventualmente pretendido. 176 EdUFSCar - Série Apontamentos O procedimento simplificado prevê a definição de condições de ensino em relação a agrupamentos de objetivos, em torno de passos ou unidades. Não é recomendável realizar esta atividade para agrupamentos muito grandes de objetivos, sob risco de passar a um nível de generalidade excessivo nessa definição, perdendo de vista as relações comportamentais que necessitam ser estabelecidas para que o repertório comportamental dos aprendizes se altere na direção desejada. Você encontra, a seguir, uma indicação dos aspectos que, via de regra, compõem as condições de ensino a serem especificadas para cada unidade de ensino, e as denominações usuais desses “tipos de condições de ensino”. São eles: • “Tema”, “assunto”, “foco” de cada passo, representado por um título que indique aspecto central da unidade de ensino sob análise; • Tipo(s) de atividade(s) prevista(s) para o ensino de cada conjunto de objetivos que constituem as unidades: exercício prático; debate; aula expositiva; seminário; dramatização; dinâmica de grupo, etc.; • Procedimentos de ensino relativos a ações de quem vai aplicar o programa, referentes tanto a condições antecedentes para a apresentação das respostas pelos aprendizes quanto às consequências previstas para essas respostas. Por exemplo, como condições antecedentes: exposição oral de informações; apresentação de instruções; exibição de vídeo; apresentação de demonstração; solicitação de leitura; apresentação de questões de estudo, etc. Como condições subsequentes: correção oral; conferência em duplas; correção individual pelo professor; apresentação de sínteses sobre acertos e erros observados nos trabalhos, etc.; • Atividades dos aprendizes indicando claramente comportamentos esperados do aprendiz nas atividades (tais como ler; responder perguntas; participar de dinâmicas; formular perguntas; realizar exercícios; apresentar dúvidas, etc,), incluindo padrão de desempenho esperado; • Tipos de materiais a serem utilizados (textos, exercícios práticos, questionário, etc.) no programa e, finalmente; • Providências a serem tomadas pelo programador para que as condições de ensino estejam disponíveis, tais como: selecionar texto a ser lido; elaborar questões de estudo; redigir instruções; fotografar situações; elaborar gabarito para questões de estudo, etc. Frequentemente é muito útil dispor de planilhas nas quais estejam previstos campos para indicar as condições de ensino consideradas como desejadas. Cada programador pode desenvolver seu próprio modelo de planilha, e inclusive ter planilhas diferentes para diferentes tipos de programas. São apresentados, adiante, alguns exemplos desse tipo de ferramenta, que podem ser utilizados, tal como apresentados ou com adaptações, pelo programador. Essas planilhas correspondem, assim, a um plano de trabalho para orientar o preparo de tudo que será necessário para o desenvolvimento do programa, e para o próprio desenvolvimento do programa. É importante lembrar que a especificação das condições de ensino não pode ser realizada de forma automática, simplesmente relacionando tudo o que é possível indicar ou repetindo as mesmas indicações para todos os objetivos. E fundamental examinar condições de ensino que possam efetivamente aumentar a probabilidade de aprendizagem dos objetivos previstos pelos aprendizes e, mais importante ainda, aumentar a probabilidade de que essas aprendizagens se mantenham, posteriormente, nas situações naturais. Lembre-se de que o tipo de indicação cabível varia em função de vários aspectos: formato geral do programa, características dos aprendizes, recursos disponíveis, aptidões a desenvolver, interesses e expectativas dos aprendizes, etc. Condições favorecedoras de aprendizagem: as contribuições da Análise Experimental do Comportamento Nos textos complementares indicados neste material, merecem destaque alguns aspectos relevantes para a Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 177 definição e implementação de condições de ensino eficazes para promover a aprendizagem por meio de programas de ensino. Recomendamos fortemente a leitura destes textos para melhor compreensão dos aspectos indicados a seguir: ' 1 Buscar, ao grau máximo possível, garantir a equivalência entre a situação de ensino e a situação natural na qual é esperado que os aprendizes apresentem os comportamentos- objetivos (Nale e Botomé, textos complementares I e II); 2 Graduação nas condições de ensino e exigência de resposta, destacando a importância da modelagem para desenvolvimento de comportamentos novos no repertório dos aprendizes (Botomé, texto complementar II); 3 Garantir relação entre os elementos constituintes dos comportamentos (Ca, R, Cs) de modo compatível com o conhecimento sobre comportamento humano: imediaticidade das consequências, esquemas de reforçamento, etc. Essas condições são fundamentais para que, no processo de ensino-aprendizagem,sejam instaladas habilidades relevantes para lidar com atrasos e baixa frequência de consequências (tolerância à frustração), e que as contingências implementadas na situação de estudo não favoreçam comportamentos de fuga e esquiva do aprendiz em relação ao que é esperado que se torne capaz de fazer por meio do programa (Botomé, texto complementar II); 4 Atenção aos princípios fundamentais do Ensino Programado Individualizado: a) promoção de resposta ativa do aprendiz no processo de aprendizagem; b) respeito ao ritmo próprio de cada aprendiz; c) aprendizagem promovida por meio de pequenos passos (ambos no sentido de evitar erros e produzir um avanço seguro para as aprendizagens mais complexas); d) garantia de consequência imediata para o desempenho do aprendiz; e) aumento gradual de exigência de desempenho do aprendiz no decorrer do programa. 2. EXEMPLO DE CONDIÇÕES DE ENSINO PROPOSTAS PARA PROGRAMAS DE ENSINO O primeiro exemplo apresentado mostra uma descrição geral de condições de ensino propostas para um programa de ensino. Trata-se de uma síntese, para esta finalidade, elaborada a partir das condições de ensino propostas de acordo com o procedimento recomendado. a) Descrição geral das condições de ensino propostas para um programa destinado a capacitar gestantes e nutrizes em relação a escolha, aquisição e preparo de alimentos Formato geral do programa: orientações feitas por auxiliares de enfermagem com base em um roteiro que previa as diferentes ações desses auxiliares, incluindo suas verbalizações mais relevantes. Condições de ensino gerais propostas para cada unidade de ensino: o instrutor apresentava, oralmente, um conjunto pequeno de informações, em seguida perguntas sobre as informações apresentadas (para conferir a compreensão), aplicava um procedimento de consequenciação predefinido para as respostas dos aprendizes, fazia demonstrações de ações esperadas dos aprendizes, apresentava solicitações para que os aprendizes apresentassem ações equivalentes e utilizava o mesmo tipo de procedimento de consequenciação para respostas orais. Material utilizado: manual do instrutor, nos quais as informações necessárias (tanto as que ele apresentava aos aprendizes quanto as relativas ao procedimento que deveria ser utilizado por ele durante as orientações) estavam presentes e sinalizadas de forma convencionada e previamente conhecidas por esse instrutor. Assim, informações que deveriam ser apresentadas aos aprendizes apareciam em um texto, posicionado sempre em um mesmo local da folha, com o mesmo tipo de letra e diagramação. O mesmo se dava em relação a perguntas que ele deveria apresentar aos aprendizes, etc. Desse modo, as diferentes oportunidades de orientação (podiam acontecer várias em um mesmo dia, para grupos diferentes de aprendizes) tinham maior proha- bilidade de ocorrer de forma semelhante e compatível com o que havia sido previsto no programa da unidade de saúde. As condições de ensino definidas para um programa de treinamento podem ser indicadas por meio de planilhas 178 EdUFSCar - SérteApontamentos que apresentem as informações necessárias dessa fase de programação para cada uma das unidades de ensino. A seguir, são apresentados exemplos de planilhas com unidades de ensino que foram propostas para um programa destinado a ensinar universitários a lidar com resíduos sólidos. Note que as planilhas são diferentes: foram propostas por grupos diferentes que estavam realizando esta tarefa para grupos diversificados de objetivos do programa. b) Indicação de condições de ensino para alguns objetivos de um programa destinado a capacitar estudantes universitários a lidar mais adequadamente com resíduos sólidos Formato geral do programa: oficina Unidade a Justificando comportamentos relacionados ao consumo. Objetivos Atividades previstas Condições antecedentes de ensino a serem criadas pelo responsável Comportamentos esperados dos aprendizes Consequências a serem garantidas pelo responsável Dizer por que é importante definir as próprias necessidades de consumo como condição para realizar um consumo mais adequado; Dizer por que é importante identificar o potencial de geração de resíduos de cada produto a ser consumido; Dizer por que é importante avaliar a relação custo- beneficio de itens a serem adquiridos; Dizer razões pelas quais é relevante utilizar adequa- damente itens de consumo, do ponto de vista de geração e aproveitamento de resíduos. Levantamento, pelo grupo, de justificativas para realizar essas ações junto aos aprendizes; Elaboração de uma listagem de razões para realizar cada uma das ações. Apresentação de questões sobre razões para realizar as diferentes ações contempladas nos objetivos; Apresentação de informações sobre razões conhecidas para realizar as ações consideradas, verbalmente, conforme ocorra a discussão do grupo. Indicar diferentes razões pelas quais as ações previstas são desejáveis; Demonstrar a pertinência de suas indicações; Apresentar perguntas sobre dúvidas; Solicitar esclarecimentos; Apreciar indicações feitas por colegas ou pelo responsável peto programa. Oportunidade para conferir as indicações feitas, a partir de acesso a informações disponíveis sobre as questões apresentadas. Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 179 Unidade b Fazendo uso adequado de produtos. Objetivos Atividades previstas Condições antecedentes de ensino a serem criadas pelo responsável Comportamentos esperados dos aprendizes Consequências a serem garantidas pelo responsável identificar como se utiliza um produto adequadamente do ponto de vista de redução e aproveitamento de resíduos. Avaliação de produtos de uso costumeiro quanto a maneiras adequadas ou inadequadas de uso (em relação a resíduos). Apresentação de diferentes produtos que possam, em função da maneira como sao utilizados, favorecer ou desfavorecer a menor geração de resíduos ou um melhor aproveitamento desses resíduos para identificação de formas mais adequadas de uso; Instruções para que os aprendizes examinem os produtos e indiquem formas de uso adequados ou inadequados; Apresentação de informações sobre aspectos que caracterizam, uso adequado ou inadequado de produtos do ponto de vista de resíduos. Examinar produtos oferecidos; Identificar possibilidades de uso (adequadas/inadequadas) dos produtos; Justificar adequação e inadequação dos usos indicados. Conferência das indicações e justificativas dos aprendizes em função de informações disponíveis. Indicação de erros e acertos nessas indicações e alternativas não indicadas pelos aprendizes. 180 EdUFSCar - Série Apontamentos Unidade c Encaminhar resíduos para aproveitamento. Módulo 1 Seleção de formas de agrupamento de resíduos Data: 10/03 Padrão de desempenho esperado dos aprendizes: ao final da unidade, espera-se que os aprendizes reconheçam a natureza dos diferentes tipos de resíduos e selecionem e agrupem adequadamente os diferentes resíduos. Objetivo de aprendizagem: identificar a natureza dos resíduos; enumerar os diferentes tipos de resíduos; enumerar as alternativas de agrupamento para os materiais existentes. Atividades previstas Condições para aprendizagem Tempo previsto Atividades dos alunos Verificação de aprendizagem Condições de ensino Recursos necessários Exposição oral do professor. Exposição oral do professor utilizando transparê netas /slides sobre os diferentes tipos de resíduos e sua separação e agrupamento através de apresentação de fotos. Fotos de diferentes tipos de resídtios; Retroprojetor com transparências ou datashow e computador. 30 minutos. Atentar para as explicações do professor e apresentar dúvidas. Qualidade e quantidade das intervenções realizadas pelos alunos durante a explicação. Prática de agrupamento de resíduos conduzida pelos alunos. Prática conduzida pelos aprendizesde separação e agrupamento dos resíduos. Diferentes resíduos. 40 minutos. Participar ativamente do exercício e apresentar justificativas para a separação e agrupamento quando solicitado. Verificar erros e acertos observados durante a prática e qualidade da explicação dos motivos da categorização realizada. Elaboração de programas de ensino: material autoínstrutivo 181 Plano de ensino: oficina para capacitação de estudantes universitários para lidar adequadamente com resíduos sólidos. 182 EdUFSCar - Série Apontamentos Unidade d Como preparar os resíduos para encaminhar? - Preparação dos resíduos sólidos para as diversas formas de encaminhamento. Atividade programada Dinâmica em grupo: separar e guardar os resíduos. Procedimentos e instruções Divisão em grupo. Diante de vários materiais (resíduos sólidos) e de formas de embalagem, os alunos devem escolher que material será embalado e de que forma. Depois, fazer uma discussão. Condições a programar Antecedentes: resíduos sólidos de diversas naturezas prontos para serem encaminhados. Recursos mínimos necessários para se separar e embalar os resíduos (luvas, tipo de embalagens). Subsequentes: resíduos separados de acordo com os critérios de características dos resíduos e aproveitamento das embalagens. Materiais necessários Diversos tipos de resíduos sólidos prontos para o encaminhamento, materiais para embalar os resíduos (sacos plásticos, caixas papel, etc.), luvas. Respostas esperadas Separar os materiais de acordo com suas características e com o tipo de encaminhamento proposto para cada um dos materiais. Embalar os materiais de acordo com os critérios propostos no programa de ensino. Critério de desempenho da resposta Materiais separados de acordo com suas características e necessidades (100% de correção na tarefa); Formas de embalagem adequadas aos objetivos do programa de ensino; Máximo aproveitamento das embalagens (sem desperdício). Providências Providenciar vários tipos de resíduos e de embalagens. Unidade e Para onde encaminhar os resíduos? - Seleção dos locais de encaminhamento. Atividade programada Vídeo de 10 minutos mostrando as possibilidades de encaminhamento, com suas vantagens e desvantagens, Procedimentos e instruções Formação de grupos (o número de grupos deve corresponder ao número de possibilidades de encaminhamento mostrado no vídeo), e cada grupo deve anotar as vantagens e desvantagens de sua escolha de encaminhamento. Cada grupo apresenta as vantagens e desvantagens para os demais, e os participantes de cada gaipo deverão dizer se as alternativas apresentadas são adequadas à sua realidade e justificar. Condições a programar Antecedentes: vídeo e instruções do professor. Subsequentes: vantagens e desvantagens de cada alternativa de encaminhamento apontada e indicação de locais adequados para encaminhamento a partir de critérios de adequação às necessidades de cada participante. Materiais necessários Vídeo, televisão, videocassete, papel c lápis. Respostas esperadas Assistir ao vídeo fazendo as anotações necessárias para a discussão posterior. Ser capaz de dizer as vantagens e desvantagens encontradas em cada alternativa de encaminhamento, avaliar a adequação do local à sua necessidade c apontar os melhores locais de encaminhamento utilizando critérios indicados. Critério de desempenho da resposta Ser capaz de adequar as possibilidades de encaminhamento às necessidades específicas de sua realidade. Providências Montar o vídeo com as diversas alternativas de encaminhamento de resíduos sólidos. Providenciar os materiais necessários. Elaboração de programas de ensino: material autoinstrutivo 183 184 EdUFSCar — Série Apontamentos Unidade f Qual a melhor forma de encaminhar os resíduos? - Determinação dos melhores modos de encaminhamento dos resíduos sólidos. Atividade programada Grupo de leitura e discussão baseado em material impresso. Procedimentos e instruções Organizar um círculo único. Distribuir os folhetos explicativos. Dirigir a discussão para todas as possibilidades de encaminhamento, levantando novamente os prós e contras. Condições a programar Antecedentes: questionamento do professor e material impresso. Critérios abordados nas unidades anteriores. Subsequentes: possibilidades levantadas e critérios enumerados de acordo com as necessidades de cada participante e com os objetivos do programa de ensino. Materiais necessários Folhetos impressos e Ilustrados sobre as diversas formas e possibilidades de transporte (encaminhamento) dos resíduos sólidos (coleta da prefeitura, postos de coleta, catadores de lixo, depósitos de lixo, etc.). Respostas esperadas Ser capaz de enumerar critérios que levem em conta as necessidades individuais de cada participante e os objetivos do programa de ensino. Descrever as possibilidades de modos de encaminhamento de forma clara e justificando as escolhas de acordo com os critérios propostos. Escolher o melhor modo de encaminhar os resíduos de acordo com os critérios. Critério de desempenho da resposta Descrever as possibilidades de encaminhamento de forma clara e de acordo com os critérios propostos e, com as necessidades individuais. Providências Preparar material impresso. Unidade g Onde depositar os resíduos sólidos? - Seleção e determinação das formas de depósito de resíduos sólidos. Atividade programada Brain storm sobre possíveis tipos de depósito e avaliação das possibilidades levantadas. Procedimentos e instruções Perguntar aos aprendizes e anotar as respostas no quadro. Produzir discussões sobre cada item da lista de possibilidades produzida. Condições a programar Antecedentes: questionamentos do professor e lista de locais com suas características determinadas (produzida na própria atividade). Subsequentes; lista de locais com suas características levantadas. Critérios de escolha de um depósito propostos de maneira pertinente e adequados às necessidades individuais de cada participante e aos objetivos do programa de ensino. Materiais necessários Lousa ou quadro branco, giz, papel e caneta. Respostas esperadas Ser capaz de verbalizar os locais de possíveis depósitos de resíduos sólidos e produzir critérios de adequação dos locais para escolha dos melhores locais de depósito (mais adequados aos critérios). Critério de desempenho da resposta Produção de uma lista de depósitos que levante a maioria das possibilidades de depósito e inclua os mais importantes. Produzir critérios de adequação que levem em conta a disponibilidade do local, o custo- benefício do depósito, os critérios sanitários, o tipo de resíduo a ser depositado, etc, segundo a proposta do programa de ensino. Adequação da escolha do local de depósito de acordo com os critérios e com as necessidades individuais dos participantes. Providências Providenciar materiais. Elaboração de programas de ensino: material autoínstrutivo 185 186 EdUFSCar — Série Apontamentos 3. ATIVIDADE PRÁTICA Exercícios de definição de condições de ensino para um programa de ensino Na definição das condições de ensino o formato do programa é determinado, assim como as unidades e o plano de ensino. Considerando o programa de ensino desenvolvido até aqui por você, responda: 1) Que formatos o programa desenvolvido até aqui poderia assumir? ----------------------- --------------------------------------------------------------------- ----- ---------------------------------------- --- ------------------------- 1 ---------------------------------------------- -------- —=H ------- ■ ---------------------------------------------------------------------------------------------------- ---------------------- 2) Em que situações cada um dos formatos seria mais apropriado? 3) Qual o formato geral que este programa deve assumir do seu ponto de vista e por quê? 4) Quais serão as unidades de ensino (passos) do seu programa de ensino? Elaboração de programas de ensino: material