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Patrimônio Histórico e Cultural

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MUSEUS, ARQUIVOS E 
PATRIMÔNIO HISTÓRICO
INTRODUÇÃO
Prezado aluno,
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de 
aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, 
interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja 
esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em 
voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. 
Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento 
que serão respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é 
preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações 
propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para 
isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos 
definidos para as atividades. 
Bons estudos!
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Conceituar diferentes tipos de patrimônio.
 > Identificar as relações entre memória e patrimônio.
 > Reconhecer o papel dos museus, da escola e dos espaços de cultura na 
preservação do patrimônio histórico.
Introdução 
O conceito de patrimônio se apresenta de diversas formas, inclusive relacionado 
aos processos históricos e à formação de memórias, individuais ou coletivas, nos 
quais o patrimônio surge. É importante destacar que o patrimônio é sempre um 
constructo intelectual que reflete aspirações e valores dos grupos sociais que o 
elaboram. 
O patrimônio de uma sociedade frequentemente tem a ver com as práticas de 
rememoração em relação ao seu passado. Nesse contexto, o patrimônio funciona 
como um “lugar de memória”, onde ritos podem ser realizados de modo a preservar 
no presente e para as gerações futuras o legado recebido do passado. 
Neste capítulo, você vai conhecer os diferentes tipos de patrimônio e aprender 
a identificar a sua relação com a memória. Você conhecerá também o papel de 
escolas, museus e outros espaços culturais na preservação do patrimônio.
História, memória 
e patrimônio
Eduardo Pacheco Freitas
Tipos de patrimônio
Determinar quais são os significados de patrimônio no campo da história e 
dos estudos culturais não é uma tarefa fácil. Isso ocorre porque são muitos os 
tipos de patrimônios e todos eles apresentam diferenças significativas entre 
si. Devido a essa peculiaridade, o historiador deve estar atento e dominar 
a tipologia do patrimônio, sabendo as suas singularidade e suas relações 
com o todo. Nesta seção, você verá os principais tipos de patrimônio da 
atualidade, que são: patrimônio cultural, patrimônio histórico, patrimônio 
material, patrimônio imaterial e patrimônio genético.
Patrimônio cultural
A palavra “patrimônio” deriva do latim e tem como significado literal “herança 
paterna”. Buscando o significado no passado, na Roma Antiga, o pai era o líder da 
família, sendo o detentor de bens, que, após a sua morte, eram herdados pelos 
filhos. Patrimônio tem a ver, portanto, com a preservação de algo preexistente 
e que foi recebido. Nesse contexto, ao falarmos em patrimônio cultural esta-
mos nos referindo a aspectos da cultura que foram legados pelas sociedades 
pretéritas e nos dias de hoje devem ser protegidos e valorizados como herança.
O historiador Vogt (2008, p. 14), quanto à definição de patrimônio cultural, 
afirma que:
Entende-se por patrimônio cultural o conjunto de todos os bens materiais ou 
imateriais, que, pelo seu valor intrínseco, são considerados de interesse e de re-
levância para a permanência e a identificação da cultura da humanidade, de uma 
nação, de um grupo étnico ou de um grupo social específico. 
A própria noção de patrimônio cultural pode ser subdividida em outras 
categorias, como as de patrimônio edificado e arquitetônico, arqueológico, 
artístico, religioso, natural, etc. No entanto, todos esses tipos patrimoniais 
podem ser classificados em dois grandes grupos, que, evidentemente, também 
remetem ao patrimônio cultural: são os patrimônios materiais e imateriais, 
dos quais veremos as definições mais adiante. 
É importante ressaltar que, ao longo do tempo, o patrimônio cultural, 
como conceito criado pelo ser humano, também sofreu transformações. Ou 
seja, as concepções acerca da sua proteção e preservação são históricas, 
relacionando-se intimamente com os valores e prioridades de uma sociedade 
bem determinada no espaço e no tempo. Sabemos ao certo que a construção 
da ideia de patrimônio cultural remete ao período de formação dos estados 
História, memória e patrimônio2
nacionais na Europa. A Revolução Francesa certamente corresponde ao ponto 
de origem das primeiras manifestações no sentido de preservação dos símbo-
los culturais da nação emergente. No entanto, aquilo que começou como uma 
expressão política e revolucionária logo passou às mãos dos especialistas, 
como arquitetos, juristas, historiadores, antropólogos, sociólogos, literatos 
e artistas plásticos (VOGT, 2008). 
Dessa maneira, como esclarece Bourdieu (1998), criam-se valores simbó-
licos em torno da seleção de objetos culturais que representarão os valores 
da cultura dominante (ou seja, da classe dominante), formando-se assim 
uma memória coletiva (atrelada ao patrimônio cultural que é estruturado por 
ela) que serve “[...] para a integração fictícia da sociedade no seu conjunto, 
portanto à desmobilização (falsa consciência) das classes dominadas [e] para 
a legitimação da ordem estabelecida [...]” (BOURDIEU, 1998, p. 10). Em síntese, 
pode-se dizer que a definição do que é e do que não é patrimônio cultural 
em uma sociedade também está relacionada à luta pelo poder. 
Patrimônio histórico
A noção de patrimônio histórico está muito próxima à de patrimônio cultural. 
Afinal, todo patrimônio histórico é cultural, e todo patrimônio cultural é his-
tórico. As primeiras ações visando à proteção e à restauração do patrimônio 
histórico remetem também à França revolucionária no fim do século XVIII e 
início do XIX. Naquele momento, diversas instituições de conservação foram 
estabelecidas e consolidadas, motivadas pelos ideais iluministas e tendo 
como missão salvaguardar do vandalismo monumentos e edificações que 
começavam a ser vistas como “históricas” (CHOAY, 2001). 
Entretanto, segundo Choay (2001), foi na Itália que ocorreram as primeiras 
iniciativas de proteção aos monumentos históricos. No começo do século 
XIX, houve um distanciamento crítico acerca das monumentais construções 
romanas. Ou seja, essas edificações passaram a ser objeto da ciência. Assim, 
surgiu uma preocupação de restauro e manutenção dos antigos prédios, 
aquedutos e outras manifestações da arquitetura romana. Houve um enorme 
desenvolvimento da arqueologia no período, que, ao realizar escavações 
sistemáticas, revelou ao mundo um passado esplendoroso que prontamente 
é assimilado pela inteligência italiana (CHOAY, 2001). 
Já na Inglaterra, surgiu, no século XIX, um movimento de restauração das 
antigas construções de monumentos religiosos que foram vandalizados no 
período da Reforma Protestante. A ideia de proteção desses patrimônios 
históricos está relacionada a uma concepção de que representavam a própria 
História, memória e patrimônio 3
alma nacional. Portanto, como se vê, há uma transposição da esfera religiosa 
para a esfera política e histórica de edificações que não foram planejadas 
com esse objetivo em seus contextos. Desse modo, o patrimônio histórico 
pode ser compreendido nas conexões que existem entre a rememoração e a 
contemporaneidade. A primeira relaciona-se com o passado e com a memória; 
a segunda liga-se ao presente. O patrimônio histórico, dessa forma, realiza 
a mediação entre passado e presente, tendo como perspectiva sempre a 
construção do futuro (CHOAY, 2001).
Patrimônio material
Como visto anteriormente, o conceito de patrimônio cultural podeser dividido 
em dois grandes grupos: patrimônio material e patrimônio imaterial. Essa 
distinção, além de útil, é verificada até mesmo em âmbito legal, nas legislações 
que versam sobre a salvaguarda dos patrimônios históricos e culturais. No 
Brasil, o órgão responsável por isso é o Instituto do Patrimônio Histórico e 
Artístico Nacional (IPHAN), que tem como algumas de suas atribuições estudar, 
registrar e proteger tanto o patrimônio material quanto o imaterial do país. 
Deixemos este último para mais adiante e nos concentremos inicialmente 
nas definições de patrimônio material. 
O patrimônio material pode ser definido brevemente como aquele “[...] 
voltado para os testemunhos físicos do passado [...]” (DE PAOLI, 2012, p. 
151). Isto é, o objeto patrimonial material sempre será algum bem cultural 
tangível, passando por edificações e monumentos, que remetam a aspectos 
históricos e culturais relevantes para uma determinada sociedade. É impor-
tante lembrar que a noção atual de patrimônio é uma construção moderna, 
é uma elaboração intelectual que define, dentro de um contexto, o valor e 
as atitudes que deverão ser assumidos diante dos bens histórico-culturais 
materiais (DE PAOLI, 2012).
Desde a queda do Império Romano, as ruínas romanas foram vistas, 
apropriadas e utilizadas de maneiras diferentes pelas sociedades 
que se seguiram. Enquanto na Idade Média essas construções serviram como 
abrigo para igrejas ou monastérios, a partir da modernidade elas passaram 
a ser encaradas como o legado de um passado que deveria ser reverenciado 
e servir como exemplo para as novas gerações. Como se vê, a forma como 
uma sociedade se relaciona com os patrimônios históricos materiais pode 
divergir enormemente. Enquanto no primeiro caso as edificações faziam parte 
História, memória e patrimônio4
do presente e do cotidiano prático, no segundo houve um distanciamento, 
que criou a ideia de que, além de meras construções, eram um patrimônio 
histórico material (DE PAOLI, 2012).
Patrimônio imaterial
O patrimônio imaterial, das diversas formas de patrimônio reconhecidas 
na atualidade, é a de definição mais difícil. Embora esse tipo de patrimônio 
apresente-se no cotidiano, ele se mostra como uma noção escorregadia, de 
apreensão mais complexa. Mesmo assim, é um fato que o patrimônio imate-
rial faz parte de nossas vidas, presente em nossas memórias individuais ou 
coletivas. Contudo, devemos lembrar que, assim como as outras formas de 
patrimônio que estamos elencando aqui, o patrimônio imaterial também é 
fruto de escolhas e elaborações intelectuais que atendem em maior ou menor 
grau a interesses de grupos sociais bem definidos (CABRAL, 2018). 
Segundo a antropóloga Cabral (2018, p. 10), os patrimônios imateriais 
“[...] apenas podem ser verdadeiramente conhecidos nos momentos em que 
são executados ou, indireta e parcialmente, mediante a apreciação dos seus 
registros e produtos [...]”. Como forma de esclarecer a natureza do patrimônio 
imaterial e diferenciá-lo do patrimônio material, a autora afirma que “[...] no 
patrimônio material, o mais importante são as coisas; no patrimônio imaterial, 
o principal são as pessoas [...]” (CABRAL, 2018, p. 10). Ou seja, se no primeiro 
tratamos de bens culturais e históricos tangíveis, no segundo verificamos 
aqueles bens histórico-culturais intangíveis, como as formas de expressão, 
as celebrações religiosas, os saberes, etc. 
Nas últimas décadas o patrimônio imaterial se tornou objeto de inúmeros 
estudos em todo o mundo. Com esse interesse, e com a comprovação de 
sua relevância para a cultura e para a história humanas, iniciativas visando 
ao seu conhecimento e à sua preservação começaram a surgir. Em 2003, 
a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura 
(UNESCO) realizou em Paris a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio 
Cultural Imaterial. O objetivo desse encontro foi a criação de instrumentos 
multilaterais que pudessem resguardar os patrimônios imateriais em todo o 
mundo, promovendo a conscientização de sua importância e determinando 
diretrizes para a sua proteção. 
A UNESCO (2003, documento on-line) reconheceu “[...] a inestimável fun-
ção que cumpre o patrimônio cultural imaterial como fator de aproximação, 
História, memória e patrimônio 5
intercâmbio e entendimento entre os seres humanos [...]”. Devido a essa 
compreensão do patrimônio imaterial como uma espécie de tesouro da hu-
manidade, a Convenção organizada pela UNESCO (2003, documento on-line) 
elaborou uma definição precisa de patrimônio imaterial: 
Entende-se por “patrimônio cultural imaterial” as práticas, representações, expres-
sões, conhecimentos e técnicas – junto com os instrumentos, objetos, artefatos 
e lugares culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos, e, 
em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patri-
mônio cultural. Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração 
em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função 
de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um 
sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim para promover o 
respeito à diversidade cultural e à criatividade humana. Para os fins da presente 
Convenção, será levado em conta apenas o patrimônio cultural imaterial que seja 
compatível com os instrumentos internacionais de direitos humanos existentes e 
com os imperativos de respeito mútuo entre comunidades, grupos e indivíduos, e 
ao desenvolvimento sustentável. 
Apesar de estar presente em atividades realizadas pelos seres humanos, 
devemos reconhecer que existem dificuldades inerentes ao exame desse 
objeto pelo historiador. Considerando que é um objeto sem materialidade, 
o patrimônio imaterial possui um nível particular de subjetividade, exigindo 
abordagens diferenciadas e que se valham de múltiplos instrumentos teóricos 
e metodológicos. 
Desse modo, é indispensável que o historiador aproveite os conhecimen-
tos de outras áreas, como a história da arte, a antropologia, a sociologia. 
Assim, atuará interdisciplinarmente, como preconizado de forma pioneira 
pela escola dos Annales. Em função do caráter singular do objeto cultural 
imaterial, esse é um procedimento inescapável, pois a sua natureza única 
exige que perspectivas diferenciadas sejam mobilizadas para a sua devida 
compreensão. 
Uma das abordagens possíveis do patrimônio imaterial é a utilização 
do conceito de representação. O historiador deve se perguntar: quais 
representações da sociedade que produziram determinados bens imateriais 
estão presentes nesse objeto? Qual é a importância deles? 
Para um aprofundamento sobre representações sociais e coletivas, leia 
autores como Émile Durkheim, Pierre Bourdieu e Roger Chartier, que produziram 
obras analisando esses fenômenos. 
História, memória e patrimônio6
Patrimônio genético
Dos tipos de patrimônio que vimos até aqui a noção de patrimônio genético 
é a mais recente. No Brasil, a legislação que protege o patrimônio genético é 
a Lei nº 13123/2015, que define o patrimônio genético como a “[...] informação 
de origem genética de espécies vegetais, animais, microbianas ou espécies de 
outra natureza, incluindo substâncias oriundas do metabolismo destes seres 
vivos [...]” (BRASIL, 2015, documento on-line). Além disso, o reconhecimento 
da existência de um patrimônio genético que deve ser valorizado e protegido 
também está vinculada ao chamado “conhecimento tradicional associado”, 
que é descrito como a “[...] informação ou prática de população indígena, 
comunidade tradicional ou agricultor tradicional sobre as propriedades ou 
usos diretos ou indiretos associada ao patrimônio genético [...]” (BRASIL, 
2015, documento on-line).
Como se vê, o patrimônio genético pode tratar tanto da riqueza natural 
da sociedade a qual pertence — e, desse modo, permitir a sua exploração 
de maneira sustentável e que reverta de maneira justa e igualitária seus 
benefícios paratoda a sociedade — quanto dos conhecimentos ancestrais 
produzidos por povos nativos (BERGER FILHO; SILVEIRA, 2020). No caso do Brasil, 
em função da grande biodiversidade e da existência de povos indígenas, o 
estudo e a preservação do patrimônio genético se tornam uma prioridade. 
Além de possuir a maior diversidade biológica do mundo, o Brasil também 
está entre os países que apresentam maior diversidade cultural, “[...] distin-
tas populações indígenas (ao menos 206 sociedades indígenas, que falam 
195 línguas, sendo cerca de 50 grupos arredios), além de comunidades não 
indígenas com fortes laços adaptativos com seus ecossistemas [...]” (BERGER 
FILHO; SILVEIRA, 2020, p. 268). Toda essa riqueza étnica e cultural compõe o 
patrimônio genético brasileiro. 
“Patrimônio genético” e “recurso genético” muitas vezes podem se 
confundir. Contudo, recurso genético se refere às plantas, a animais 
e a micro-organismos que compõe um determinado bioma; já o patrimônio 
genético se refere às “[...] relações ecológicas, sociais, culturais que o consti-
tuem [o patrimônio genético] [...]” (BERGER FILHO; SILVEIRA, 2020, p. 288). Desse 
modo, enquanto o recurso genético apresenta um caráter utilitário, vinculado 
ao desenvolvimento econômico, o patrimônio genético tem feições históricas 
e culturais que são constitutivas da sociedade na qual se insere. 
História, memória e patrimônio 7
Relações entre memória e patrimônio
A civilização ocidental e judaico-cristã organizou-se desde a Antiguidade em 
torno da memória. Quando Jesus, segundo os Evangelhos, ao repartir o pão 
na Santa Ceia diz “fazei isso em memória de mim”, inaugura uma tradição 
na qual rememorar o passado por meio de ritualizações se torna uma das 
formas mais importantes de preservação de legados históricos e, é claro, do 
patrimônio cultural. Não é à toa que Bloch (2002) afirma que o cristianismo é 
uma religião de historiadores. Ou então de memorialistas. 
Na Grécia Antiga, a memória era algo conectado ao sobrenatural, 
sendo considerada uma divindade: a deusa Mnemósine. Essa deusa 
teria nascido do amor da Eternidade (Cronos) e da Terra (Gea), tornando-se rainha 
de Eleutera, que era a terra da total liberdade. Mnemósine era considerada a 
deusa da justiça e da vingança que unia o passado e o presente e ligava o mundo 
real (Gea) ao mundo da representação (Cronos). Conta a mitologia, que, de sua 
ligação com Zeus, o deus do Olimpo, nasceu Clío, a deusa da história. Portanto, 
é desde a sabedoria dos antigos gregos que se percebe uma forte conexão entre 
memória e história (XAVIER et al., 2021). 
É preciso reconhecer as significativas relações entre história e memória 
que serão fundamentais para a nossa compreensão sobre as ligações entre 
memória e patrimônio. Um conceito central para esta análise é o de “lugar” 
ou “lugares de memória”, definido pelo historiador francês Nora (1993, p. 
21–22) como: 
[...] lugares com efeito nos três sentidos da palavra, material, simbólico e funcional, 
simultaneamente, somente em graus diferentes. Mesmo um lugar de aparência 
puramente material, como um depósito de arquivo, só é lugar de memória se a 
imaginação o investe de uma aura simbólica. Mesmo um lugar puramente funcional, 
como um manual de aula, um testamento, uma associação de antigos combatentes, 
só entra na categoria se for objeto de um ritual. Mesmo um minuto de silêncio que 
parece um exemplo extremo de uma significação simbólica, é ao mesmo tempo 
o recorte material de uma unidade temporal é serve, periodicamente, para uma 
chamada concentrada da lembrança. Os três aspectos coexistem sempre.
Como se vê, é possível estabelecermos que a relação entre a memória e 
o patrimônio pode ser entendida como uma articulação entre a imaginação, 
o simbólico e o ritual. Nem somente lugares físicos, tais como museus, me-
moriais ou monumentos, devem ser considerados como lugares de resguardo 
e/ou evocação de memórias. Os bens culturais não tangíveis também são 
lugares privilegiados para a memoração e rememoração sociais, tendo em 
História, memória e patrimônio8
vista a relevância que os ritos, as práticas e os saberes possuem na seara 
do patrimônio histórico. A questão é que enquanto a história registra por 
escrito e transfere a memória para o exterior dos seres humanos, a memória 
é espontânea, é um “[...] fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno 
presente [...]” (NORA, 1993, p. 11). 
Ainda de acordo com Nora (1993, p. 9), a memória é:
vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido, ela está em permanente 
evolução, aberta à dialética da lembrança e do esquecimento, inconsciente de suas 
deformações sucessivas, vulnerável a todos os usos e manipulações, suscetível 
de longas latências e de repentinas revitalizações.
Por outro lado, o motivo principal para que existam e sejam cultivados 
lugares de memória é revesti-la de alguma materialidade, fazendo-se com 
que o tempo pare, que o esquecimento seja evitado e, é claro, que ocorra a 
materialização do imaterial. Afinal, é na memória que ocorre o encontro entre 
a duração e o instante; é na memória também que a experiência vivida se 
torna real novamente no presente. O ato em si de memoração tem importante 
função social: 
Lembramos menos para conhecer do que para agir, sublinharam os autores mo-
dernos [Paul Ricoeur e Pierre Nora]. Nessa perspectiva a memória é menos um 
entender o passado do que um agir; impossibilidade, portanto, de se cogitar uma 
memória desinteressada, voltada para o conhecimento puro e descompromissado 
do passado (SEIXAS, 2004, p. 53).
Existem no Brasil muitas instituições que se dedicam a produzir 
conhecimento histórico tendo a memória como fonte. Nos acervos 
dessas instituições é possível encontrar uma vasta quantidade de entrevistas, 
realizadas sob a metodologia da história oral, que vão desde grandes personali-
dades até pessoas comuns. Esse tipo de material registra a memória de pessoas 
de todos os tipos, idades, gêneros, profissões e condições socioeconômicas. 
Quem tiver interesse em pesquisar esse material deve procurar instituições 
como o Centro de Pesquisa de História Contemporânea do Brasil (RJ); Museu da 
Maré (RJ); Museu da Pessoa (SP); Museu da Imagem e do Som (SP); dentre outros. 
Este tipo de trabalho é um exemplo de como a memória pode ser elaborada 
como patrimônio histórico-cultural. 
De acordo com o historiador brasileiro Guimarães (2008), assim como a 
tarefa dos historiadores é produzir narrativas sobre o passado, o patrimônio 
também é uma forma de escrita da história. Evidentemente, a sua gramática 
História, memória e patrimônio 9
e a sua sintaxe, ainda de acordo com Guimarães (2008), apresentam as suas 
próprias particularidades. 
O próprio significado do termo patrimônio já nos remete a relações do 
presente com o passado, a algo que nos é legado e que acabamos por usu-
fruir. No mesmo sentido, cabe salientar que essas relações entre o sujeito 
e o patrimônio sempre são mediadas, não só por objetos, mas também por 
subjetividades e pela memória. Assim é realizada uma operação que pode ser 
denominada como “patrimonialização”. Isto é, os sentidos que, individual ou 
coletivamente, atribuímos a determinados objetos do passado — e a outros 
não — que são reelaborados no presente e transformados em patrimônio. 
“É através deste trabalho de produzir sentido para a passagem do tempo 
que as sociedades humanas constroem suas noções de passado, presente 
e futuro, como formas históricas e sociais de dar sentido para o transcurso 
do tempo.” (GUIMARÃES, 2008, p. 19). 
Ainda segundo Guimarães (2008, p. 19):
[...] esses objetos que acreditamos pertencer a um patrimônio de uma coletivi-
dade, e hoje até mesmo da humanidade, estabelecem nexos de pertencimento, 
metaforizam relações imaginadas e que parecem adquirir materialidade a partir 
da presença desse conjunto de monumentos. O termo patrimônio supõe, portanto, 
uma relação com o tempo e com o seu transcurso. Em outras palavras, refletir sobre 
o patrimôniosignifica igualmente pensar nas formas sociais de culturalização do 
tempo, próprias a toda e qualquer sociedade humana.
Na verdade, não é a simples permanência de um determinado objeto, ou 
qualquer outro vestígio do passado, que configura que estes se tornarão um 
patrimônio. A questão que discutimos aqui é que o patrimônio também é uma 
construção intelectual, muitas vezes acadêmica, noutras social e política, 
exercendo o registro da memória um importante papel nesse procedimento 
(GUIMARÃES, 2008).
Desse modo, temos que o patrimônio resulta de um trabalho que tira 
o sentido original dos objetos e os transforma em algo novo, com funções 
diferentes daquelas que lhe foram destinadas originalmente. Logo, ao se 
definir determinado item como patrimônio histórico, além de ser um ato 
que lhe dá determinada qualidade, é também transformar a sua natureza. 
Do mesmo modo que um corpus documental só pode ser reelaborado como 
fonte histórica pelo ofício do historiador, os objetos, saberes, práticas, etc. só 
podem ser transformados em patrimônio histórico por meio de procedimentos 
que envolvem diversos níveis de produção de saberes e poderes, dentre eles 
a instrumentalização da memória (GUIMARÃES, 2008).
História, memória e patrimônio10
O patrimônio histórico e seus espaços
Para que possamos analisar as relações entre o patrimônio e os espaços onde 
este é preservado e objeto da educação, é preciso que trabalhemos com a 
noção de “educação patrimonial”, que possui a seguinte definição:
Trata-se de um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centra-
do no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento 
individual e coletivo. A partir da experiência e do contato direto com as evidências 
e manifestações da cultura , em todos os seus múltiplos aspectos, sentidos e sig-
nificados, o trabalho da Educação Patrimonial busca levar as crianças e adultos 
a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança 
cultural, capacitando-os para um melhor usufruto destes bens, e propiciando a 
geração e a produção de novos conhecimentos, num processo contínuo de criação 
cultural [grifo dos autores] (HORTA; GRUMBERG; MONTEIRO, 1999, p. 3).
Como visto, Horta, Grumberg e Monteiro (1999) mencionam “patrimônio 
cultural”, porém, devemos lembrar que as outras formas de patrimônio (ar-
tístico, histórico, etc.) situam-se dentro deste conceito mais abrangente. 
Logo, a definição nos informa também sobre quais são os principais aspectos 
do patrimônio histórico. De acordo com a definição utilizada, torna-se evi-
dente que o patrimônio histórico de uma sociedade sempre está conectado 
a processos educativos por meio dos já mencionados “lugares de memória” 
e/ou museus, memoriais, monumentos, etc. Há uma função eminentemente 
pedagógica nos diferentes tipos de patrimônio, que servem como uma fonte 
primária na qual os estudantes podem acessar o passado por meio de sua 
reelaboração consciente e crítica no presente. 
O patrimônio histórico acessado tanto em nível individual quanto social 
permite que se experimente o legado cultural e histórico de um povo. Assim, 
torna-se fundamental o papel de professores, guias, mediadores, museólogos 
e outros profissionais capacitados em promover que os estudantes, ou o 
público em geral, conheçam, se apropriem e valorizem a herança histórico-
-cultural que lhes é apresentada e problematizada. 
Entretanto, a professora Scifoni (2017) alerta para alguns problemas exis-
tentes na definição de Horta, Grumberg e Monteiro (1999). Para a pesqui-
sadora, o problema maior está no fato de que a definição se resume a “[...] 
uma determinada metodologia [...] limitando, assim, as possibilidades de 
compreendê-la como aquilo que designa um campo de atuação e que pode, 
portanto, contemplar variadas e inúmeras metodologias [...]” (SCIFONI, 2017, 
p. 6). Essa ressalva é importante na medida em que constatamos que a edu-
cação patrimonial não é promovida em apenas um único tipo de instituição, 
História, memória e patrimônio 11
e mesmo dentro de apenas uma modalidade de espaço de preservação do 
patrimônio, como os museus, por exemplo, iremos encontrar grande varie-
dade: museus culturais, artísticos, biográficos, comunitários, arqueológicos, 
de ciência e tecnologia, etc. 
O Museu Nacional, situado no Rio de Janeiro, é o mais antigo do 
Brasil, criado em 1818, ainda no período colonial. Possui um vasto 
acervo que engloba diversas áreas do conhecimento, tais como a antropologia, a 
arqueologia, a geologia, a paleontologia, etc. Suas coleções são compostas por 
itens de todos os continentes, que vão desde meteoritos até múmias egípcias. 
No Brasil, as práticas educativas relacionadas ao patrimônio existem 
desde o século XIX. É digno de nota que os museus históricos apareceram 
no país antes mesmo das universidades. Entretanto, ainda hoje, a cons-
trução de bases teóricas para a educação patrimonial precisa avançar no 
país, tendo em vista as suas inegáveis deficiências. O trabalho educativo 
nos museus evoluiu significativamente nas últimas décadas, mas devemos 
lembrar que não são todas as ações de educação patrimonial que ocorrem 
nesse tipo de instituição. A escola, os espaços de cultura, os órgãos de 
preservação, secretarias de estado e até mesmo empresas de consultoria 
arqueológica, dentre outros, são alguns dos locais privilegiados para essa 
prática (SCIFONI, 2017). 
A conexão entre patrimônio histórico e escola deve ser a mais estreita 
possível. Nos dias de hoje, a educação escolar dá valor cada vez maior à 
formação cidadã dos estudantes. Desse modo, já não é mais aceitável a ideia 
de que a escola deva fornecer conhecimentos que sejam destinados apenas 
à formação de mão de obra, o que seria apenas uma pedagogia utilitária. A 
formação de cidadãos, conscientes e críticos, deve ser o objetivo principal 
da escola. É dentro desse contexto que as escolas se tornam ambientes 
privilegiados para a educação patrimonial (CERQUEIRA, 2005).
De acordo com o professor e historiador Cerqueira (2005, p. 92), as rela-
ções entre escola e patrimônio implicam reconhecer “[...] o lugar da educa-
ção patrimonial na formação de cidadãos; o lugar pedagógico da educação 
patrimonial entre as atividades curriculares e extracurriculares [...]”. Desse 
modo, evidencia-se o papel da educação patrimonial no campo pedagógico 
e na formação da cidadania. 
Para que o professor tenha sucesso ao desenvolver atividades e projetos 
sobre patrimônio histórico em suas aulas, é preciso, antes de tudo, o domínio 
História, memória e patrimônio12
sobre conceitos inerentes ao tema. Uma definição chave, embora não livre 
de discussão, é a de que o Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (hoje 
comumente chamado de Patrimônio Cultural) consiste no:
[...] conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja 
de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do 
Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico 
ou artístico (LEMOS, 1981, p. 43).
À primeira vista, podemos destacar a limitação que se procede no texto ao 
condicionar a vinculação dos “bens móveis ou imóveis” a “fatos memoráveis” 
ocorridos durante a história do Brasil. Dessa forma, por exemplo, prédios que 
não estejam diretamente ligados a algum fato “marcante” da historiografia 
nacional serão preteridos no momento da necessidade de preservação. Em 
outras palavras, os excluídos, as minorias e os culturalmente esmagados pela 
cultura dominante perdem a chance de terem suas obras preservadas e sua 
história contada. Portanto, a definição pode ser adotada, porém interpretada 
criticamente. 
É nesse sentido que Possamai (2000, p. 17) faz o seguinte alerta:
[...] é na atribuição de determinados valores – nacional, histórico, artístico, arqui-
tetônico, paisagístico, afetivo, entre outros – que se opera a definição do que será 
considerado patrimônio, portanto digno de preservação, e o queserá relegado 
ao esquecimento. (...) Assim, o valor que é dado a determinado objeto arquite-
tônico, por exemplo, não se encontra apenas nas suas características físicas e 
morfológicas, mas em tudo o que ele passará a representar, como a identidade 
de determinado grupo, cidade ou nação ou o período histórico ao qual pertenceu, 
entre inúmeros outros.
Essa discussão em si pode ser levada à sala de aula. Os alunos podem ser 
apresentados às diferentes concepções de patrimônio histórico e como essas 
se associam às relações de poder e até aos apagamentos que determinados 
grupos sociais sofreram ao longo da história. Como visto anteriormente, a 
definição do que é e do que não é patrimônio é uma operação intelectual 
que pode ou não atender a interesses políticos e ideológicos. 
Um tipo de atividade muito utilizada por professores de história são os 
chamados roteiros histórico-culturais. Em síntese, se trata de uma atividade 
na qual os alunos são levados a percorrer determinado percurso na cidade, 
onde poderão conhecer, se apropriar e refletir sobre o patrimônio histórico 
da cidade na qual vivem, que pode tanto ser edificado ou intangível, como 
um determinado local de produção de saberes, por exemplo. A visita a esses 
História, memória e patrimônio 13
locais é um instrumento pedagógico bastante útil nas aulas de história, tendo 
em vista que “[...] os museus, os monumentos e demais bens patrimoniais 
possibilitam ao indivíduo uma experiência concreta de evocação do passado 
[...]” (HORTA, 2000, p. 17). 
Para finalizar, de acordo com as palavras do historiador francês Certeau 
(1994, p. 28):
A história começa no nível do chão, com passos. São miríades, mas não compõem 
uma série. Não se pode contá-los porque cada unidade tem um caráter qualitativo: 
um estilo de apreensão táctil e apropriação quinestética. Sua massa fervilhante 
é uma coleção inumerável de singularidades. Suas trilhas entrelaçadas dão sua 
forma aos espaços. Eles tecem lugares em conjunto. A esse respeito, os movimentos 
pedestres formam um desses “sistemas reais cuja existência de fato constrói a 
cidade”. Não os localizamos, ou melhor, são eles que se espacializam.
Assim, a história não é somente construída nas ruas das cidades, mas 
também pode e deve ser ensinada a partir dessas mesmas ruas, por meio da 
apreensão dos seus espaços culturais e do seu patrimônio histórico.
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10, o Artigo 15 e os §§ 3º e 4º do Artigo 16 da Convenção sobre Diversidade Biológica, 
promulgada pelo Decreto nº 2.519, de 16 de março de 1998; dispõe sobre o acesso 
ao patrimônio genético, sobre a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional 
associado e sobre a repartição de benefícios para conservação e uso sustentável da 
biodiversidade; revoga a Medida Provisória nº 2.186-16, de 23 de agosto de 2001; e dá 
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História, memória e patrimônio16
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Explicar a formação do conceito de patrimônio cultural.
 > Identificar as contribuições do patrimônio cultural para a formação da 
identidade.
 > Relacionar exemplos significativos de patrimônio cultural brasileiro e mun-
dial.
Introdução
O conceito de patrimônio cultural, como qualquer outro conceito, modifica-se ao 
longo do tempo. Desde os seus primórdios, na Revolução Francesa, passando pelo 
pós-Segunda Guerra Mundial e chegando aos dias de hoje, há uma longa linha evolu-
tiva no que concerne a definição do que é e do que não é patrimônio. Na atualidade, 
há um consenso entre os pesquisadores de que o patrimônio tem ligações muito 
próximas com o fenômeno da formação da identidade, seja ela individual, seja social. 
Como forma de compreender essas relações, é relevante que o estudioso do 
tema se debruce sobre os itens que são, na atualidade, reconhecidos como patri-
mônio cultural. Ao determinar as motivações e o contexto no qual uma paisagem, 
um edifício ou uma prática social são escolhidos como patrimônio de determinado 
grupo social, de uma nação ou até mesmo do mundo inteiro, aquele que estuda 
o tema poderá traçar as linhas que conectam patrimônio cultural à identidade.
Neste capítulo, você vai estudar a evolução do conceito de patrimônio cultural 
e ver quais são as contribuições desse conceito para a formação das identidades. 
Além disso, você vai ver exemplos de patrimônio cultural no Brasil e no mundo. 
Patrimônio cultural 
e identidade
Eduardo Pacheco Freitas
O que é patrimônio cultural?
O conceito de patrimônio cultural ainda hoje é objeto de muita confusão, ao 
mesmo tempo em que é um conceito que se transformou ao longo do tempo. 
Se perguntarmos para qualquer pessoa qual o significado das expressões 
patrimônio histórico ou patrimônio cultural, teremos grandes chances de obter 
como resposta que se tratam de edificações ou monumentos que têm um 
valor singular e que precisam ser preservados e difundidos para a população. 
Esse conceito de patrimônio é o mais corrente na sociedade e, embora não 
esteja completamente incorreto, não dá conta da grande complexidade e 
variedade de patrimônios culturais existentes (LEMOS, 1981).
A etimologia da palavra patrimônio demonstra sua origem na Roma 
Antiga. Naquela sociedade de cunho patriarcal, a propriedade era 
sempre do homem que, ao morrer, deixava-a como herança aos filhos e à esposa. 
O termo foi ressignificado, mas mantendo a ideia de que se trata de um bem 
herdado pelas novas gerações e que deve ser preservado. 
Essa definição mais comum de patrimônio é bastante restritiva sobre 
o que é ou o que não é um patrimônio cultural. Além de o conceito mudar 
durante a história, a ideia de patrimônio cultural — assim como qualquer 
outra ideia — não é isenta, surgindo em meio a disputas e conflitos que 
direcionaram o seu sentido. Por essas características, torna-se evidente que 
o patrimônio cultural pode privilegiar determinados bens culturais (tangíveis 
ou intangíveis) em detrimento de outros, promovendo assim significativas 
exclusões (LEMOS, 1981).
O sociólogo francês Pierre Bourdieu entende que o patrimônio cul-
tural, em determinadas condições, pode se relacionar à criação de 
valores simbólicos que são fruto da seleção consciente de objetos culturais que 
representarão os valores da cultura dominante (ou seja, da classe dominante). 
Desse modo é formada uma memória coletiva, atrelada ao patrimônio cultural 
que a estrutura e que é estruturado por ela, que serve “[...] para a integração 
fictícia da sociedade no seu conjunto, portanto à desmobilização (falsa cons-
ciência) das classes dominadas [e] para a legitimação da ordem estabelecida” 
(BOURDIEU, 1998, p. 10). Bourdieu pensa que a escolha do que é e do que não é 
patrimônio cultural passa pelos conflitos e contradições sociais, estando ele 
profundamente relacionado à luta pelo poder. 
Patrimônio cultural e identidade2
A história do conceito de patrimônio cultural remete à Revolução Francesa. 
Naquele período, que promoveu o fim do chamado Antigo Regime, a sociedade 
francesa entrou em um momento de grandes agitações. A queda da monar-
quia absolutista e a ascensão da burguesia ao poder político, apoiada pelos 
trabalhadores, ensejou o desejo de destruição de tudo que resguardasse a 
memória dos reis franceses e da nobreza. Consequentemente, ocorreu um 
processo de vandalização de esculturas, monumentos e edificações relacio-
nados com o passado absolutista (CHOAY, 2001).
De maneira simultânea, o novo regime político pretendeu assumir seus 
próprios símbolos, que podiam ser criados ou então ressignificados a partir 
de patrimônios já existentes. É nesse contexto que literatos, historiadores, 
juristas e pensadores em geral formularam a ideia de patrimônio cultural, 
visando a salvaguardar da fúria revolucionária o legado monumental e ar-
quitetônico francês. É devido a isso que a ideia de patrimônio se tornou 
profundamente vinculada aos patrimônios materiais (CHOAY, 2001).
Outro momento importante na história do patrimônio é o contexto posterior 
à Segunda Guerra Mundial. Como se sabe, as ideologias políticas que estiveram 
por trás do trágico conflito foram o fascismo e o nazismo. O horror provocado 
por esses ideais, que são de caráter excludente, racista e genocida, estimulou, 
ao fim da guerra, a formação de órgãos como a Organização das Nações Uni-
das (ONU) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a 
Cultura (Unesco), que têm como uma de suas atribuições promover a união e o 
entendimento entre os povos. Dentro dessa missão, ONU e Unesco passaram 
a monopolizar o debate em torno das questões patrimoniais (CHOAY, 2001).
Nesse movimento, a comunidade internacional começou a perceber que, 
nos países que formavam o então chamado “terceiro mundo” (países pobres 
e ex-colônias), havia uma série de manifestações culturais, especialmente 
entre populações indígenas ágrafas, que não se enquadravam na concepção 
de patrimônio cultural vigente. A cultura, os saberes e os fazeres desses povos 
tinham a mesma relevância que patrimônios materiais como o Coliseu, em 
Roma, e as pirâmides do Egito — embora não tivessem esse reconhecimento, 
justamente por se tratar de bens culturais intangíveis. Não havia ainda a noção 
de que um bem cultural imaterial fosse passível de preservação assim como 
os bens culturais materiais já eram preservados (CHOAY, 2001).
Portanto, até a metade do século XX, o conceito de patrimônio cultu-
ral corrente era o de que esse patrimônio deveria se tratar de edificações, 
monumentos, esculturas de caráter singular e engessado, um bem que não 
fazia parte da vida cotidiana. Havia uma separação muito concreta entre a 
população e o seu patrimônio (GRAMMONT, 2006). Ao mesmo tempo, consi-
Patrimônio cultural e identidade 3
derava-se que esses bens deveriam ser preservados. Essa ideia está correta, 
porém, naquele contexto, ela funcionava quase como um “congelamento” do 
patrimônio no tempo, que assim se tornava um bem ainda mais descolado da 
realidade, como se estivesse acima e fora da sociedade. Desse modo, com a 
atualização do conceito de patrimônio cultural, 
O monumento histórico passou a ser analisado levando-se em conta a integração 
com seu entorno: começa a polêmica sobre monumentos percebidos isoladamente 
ou considerados no contexto do conjunto ambiental. A ideia de isolar ou destacar 
um monumento passa a ser percebida como uma mutilação. O entorno é visto como 
numa relação essencial com a edificação (GRAMMONT, 2006, documento on-line).
Os ditos países do “terceiro mundo” conseguiram colocar no centro do 
debate a necessidade de uma revisão no conceito de patrimônio que fosse 
ampliado para além do chamado patrimôniode “pedra e cal”. Assim, em 
1982, ocorreu no México uma conferência na qual foi realizada uma nova 
conceituação de patrimônio, incorporando também o conceito de patrimônio 
imaterial, que é então inserido nas Cartas Patrimoniais da Unesco. Dentro 
dessa nova concepção, além dos patrimônios relacionados aos saberes e 
fazeres das comunidades tradicionais, também entra o patrimônio genético, 
que diz respeito ao patrimônio natural de determinado povo, como a fauna, 
a flora e os povos indígenas (BERGER FILHO; SILVEIRA, 2020).
As Carta Patrimoniais são documentos elaborados por especialistas, 
em especial de organismos internacionais, cujo objetivo principal é 
promover a uniformização das práticas de salvaguarda do patrimônio cultural, 
bem como orientá-las. Se quiser saber mais a esse respeito, busque na internet 
e leia o artigo “Cartas Patrimoniais e a preservação do patrimônio cultural de 
ciência e tecnologia”, de Granato, Ribeiro e Araújo (2018). 
No Brasil, desde o advento da Constituição Federal de 1988, o patrimônio 
imaterial é reconhecido como uma importante forma de patrimônio cultural, 
devendo ser protegido e valorizado na forma da lei. A definição de patrimônio 
imaterial dada pela Unesco (2003, documento on-line) é a seguinte: 
Entende-se por ‘patrimônio cultural imaterial’ as práticas, representações, expres-
sões, conhecimentos e técnicas — junto com os instrumentos, objetos, artefatos 
e lugares culturais que lhes são associados — que as comunidades, os grupos, e, 
em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patri-
mônio cultural. Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração 
em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função 
Patrimônio cultural e identidade4
de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um 
sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim para promover o 
respeito à diversidade cultural e à criatividade humana. Para os fins da presente 
Convenção, será levado em conta apenas o patrimônio cultural imaterial que seja 
compatível com os instrumentos internacionais de direitos humanos existentes e 
com os imperativos de respeito mútuo entre comunidades, grupos e indivíduos, e 
ao desenvolvimento sustentável. 
Das formas de patrimônio cultural, talvez o patrimônio imaterial seja 
aquela mais relevante para a formação da identidade de um povo. É o patri-
mônio imaterial que traduz as sociabilidades de determinada comunidade, 
nas quais estão representadas as suas aspirações e anseios, a sua mitologia 
e os seus temores, as suas histórias e memórias, as suas práticas e os seus 
conhecimentos, enfim, a forma como os seres humanos interagem com o 
mundo individualmente e enquanto sociedade.
Por fim, resta cunhar uma definição bastante precisa de patrimônio cul-
tural. Para isso, acompanhe as palavras do historiador Olgário Paulo Vogt 
(2008, documento on-line): 
Entende-se por patrimônio cultural o conjunto de todos os bens materiais ou 
imateriais que, pelo seu valor intrínseco, são considerados de interesse e de re-
levância para a permanência e a identificação da cultura da humanidade, de uma 
nação, de um grupo étnico ou de um grupo social específico. 
Como se vê, o patrimônio cultural é visto, na atualidade, como uma tota-
lidade que engloba tanto os bens culturas tangíveis quanto os intangíveis. 
Desse modo, podemos caracterizar como patrimônios culturais do Brasil 
tanto a estátua do Cristo Redentor (RJ) quanto as formas de se preparar o 
chimarrão no Rio Grande do Sul (SILVA, 2012). O primeiro, como se sabe, é um 
monumento, tendo materialidade; já o segundo pode ser caracterizado como 
uma “prática [...] que se transmite de geração em geração, é constantemente 
recriad[a] pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua 
interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de iden-
tidade e continuidade” (UNESCO, 2003, documento on-line).
Patrimônio cultural e a formação 
da identidade
O patrimônio cultural, como visto na seção anterior, pode se manifestar em 
formas materiais ou imateriais. Você vai ver agora a relação que esses bens 
tangíveis ou intangíveis estabelecem com a identidade e a memória de um 
Patrimônio cultural e identidade 5
grupo, de um povo ou de uma sociedade. A Constituição Federal de 1988, em 
seu art. 216, define o que é patrimônio cultural e enfatiza essas relações: 
“Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e 
imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referên-
cia à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da 
sociedade brasileira” (BRASIL, 1988, documento on-line).
A questão da identidade é uma das mais importantes para a noção de 
patrimônio cultural, tendo em vista que, junto à memória e às práticas sociais, 
é a identidade que forma e que dá coesão aos inúmeros grupos que formam 
o Brasil como povo e nação. Desse modo, é necessário que o patrimônio 
cultural seja protegido e divulgado, na condição de elemento constitutivo 
das sociedades que o produzem. No Brasil, para a proteção do patrimônio 
cultural, foram desenvolvidas algumas ferramentas específicas, como o 
tombamento e o registro.
O tombamento é um instrumento para dar proteção aos bens culturais 
materiais que constituem patrimônio cultural brasileiro. O registro 
desempenha o mesmo papel, porém, com bens imateriais. O órgão responsável 
pelo tombamento e pelo registro é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico 
Nacional (IPHAN). Se quiser ler uma discussão sobre tombamento e registro, 
pesquise na internet o artigo “Patrimônio cultural material e imaterial — dico-
tomia e reflexos na aplicação do tombamento e do registro”, de Telles (2010).
Para entendermos as contribuições do patrimônio cultural para a formação 
da identidade, primeiro precisamos conceituar identidade. Segundo a historia-
dora Maria Amélia Jundurian Corá (2014, p. 80), “[...] as identidades individuais 
e sociais são importantes para a construção de relações de vínculos que jus-
tifiquem a construção de grupos que permitam sentimentos de interação e 
reconhecimento social”. A identidade é fundamental para a legitimação de um 
grupo, “[...] mas para isso algo deve nortear essa identidade, como, por exemplo, 
nacionalidade, regionalidade, etnia, religião, time de futebol ou práticas sociais” 
(CORÁ, 2014, p. 80). Esses pontos em comum, que também estão passíveis de 
serem patrimônios culturais, são imprescindíveis para que a identidade exista.
O patrimônio cultural contribui com a formação da identidade, pois a 
cultura é fundamental para a similaridade interna de um povo. Mesmo com 
valores que se alteram nas manifestações culturais, que são referenciais para 
todas as etnias e povos que constituem o povo brasileiro, é fundamental que 
se invista na preservação e na valorização desse patrimônio. Trata-se de uma 
Patrimônio cultural e identidade6
[...] medida eficaz para garantir que a sociedade tenha a oportunidade de conhe-
cer sua própria história e de outros, por meio do patrimônio material, imaterial, 
arquitetônico ou edificado, arqueológico, artístico, religioso e da humanidade. 
Pois, através da materialidade, o indivíduo consegue se realizar e afirmar sua 
identidade cultural, podendo também reconstruir seu passado histórico (ROCHA, 
2012, documento on-line).
A identidade cultural pode ser classificada em quatro aspectos principais, 
acompanhe (CORÁ, 2014): 
 � Identidade cultural objetiva: forma identitária que se vincula a valores, 
crenças, hábitos, costumes, tradições, formas de viver, pensamentos 
e comportamentos de certa comunidade —estilos de viver e de estar 
presente em um grupo social.
 � Identidade cultural subjetiva: refere-se ao “[...] sentimento de pertencer 
a uma sociedade, na qual cada um tem o sentido de ser ator de sua 
própria história” (CORÁ, 2014, p. 90). 
 � Identidade cultural externa: está relacionada a um ponto central decerta cultura, que se volta ao passado para obter referenciais que 
deem sentido ao presente e às ações realizadas neste. Pelo fato de 
o passado ser “externo” ao indivíduo ou à sociedade, a identidade
cultural externa é formada pelos sinais vindos dele de forma que haja 
uma continuidade histórica e identitária. 
 � Identidade cultural interna: sentimentos que se manifestam no in-
divíduo que se reconhece como parte de uma cultura e deseja estar 
vinculado a ela, afirmando assim as suas raízes.
Em todos esses aspectos você pode encontrar o patrimônio cultural agindo. 
É em torno dele que a identidade e a memória de um povo se constituem e se 
fortalecem, sendo transmitidas de geração em geração. Daí a importância de 
o patrimônio ser salvaguardado, para que traços identitários de determinados 
grupos não desapareçam. 
A identidade é o sentimento coletivo de pertencimento. É o sentimento 
de pertencer a determinado grupo ou determinada comunidade. É o senti-
mento de vínculo coletivo que permite a identificação da parte com o todo, 
do indivíduo com a comunidade. A identidade é feita a partir da diferença, 
isto é, é feita a partir de relações de alteridade, que colocam o indivíduo 
ou a sociedade frente a frente com o outro, com aquele que é diferente. A 
identidade é assim delimitada não só pelo que se é, mas, de maneira muito 
significativa, por aquilo que não se é.
Patrimônio cultural e identidade 7
É assim que certo grupo, comunidade ou sociedade se identificam, con-
siderando que outro grupo, comunidade ou sociedade não se identificam 
com eles. O patrimônio cultural e a memória operam para a formação desse 
vínculo coletivo identitário, afinal, cada grupo, comunidade ou sociedade terá 
as suas próprias memórias, a sua própria história, o seu próprio patrimônio, 
que é singular e, logo, diferente daqueles que pertencem e dão identidade a 
outros grupos (SOUZA, 2017). 
A memória é a preservação, a evocação e a atualização de alguma informa-
ção do passado, bem como a afirmação de uma lembrança. Ela dá presença 
a algo ausente, fenômeno que pode ser percebido nos chamados lugares de 
memória, nos quais ritos são realizados visando a preservar no presente e 
para as gerações futuras o legado recebido do passado. Portanto memória, 
identidade e patrimônio cultural são elementos profundamente conectados.
São lugares de memória, por exemplo, os memoriais, espaços nos 
quais as pessoas são convidadas a refletir sobre o passado, sobre 
determinados acontecimentos que fazem parte da memória coletiva e que assim 
contribuem para a formação da identidade de determinado povo (NORA, 1993).
A definição canônica de lugar de memória foi cunhada pelo histo-
riador francês Pierre Nora (1993, documento on-line): 
São lugares com efeito nos três sentidos da palavra, material, simbólico e funcional, 
simultaneamente, somente em graus diferentes. Mesmo um lugar de aparência 
puramente material, como um depósito de arquivo, só é lugar de memória se a 
imaginação o investe de uma aura simbólica. Mesmo um lugar puramente funcional, 
como um manual de aula, um testamento, uma associação de antigos combatentes, 
só entra na categoria se for objeto de um ritual. Mesmo um minuto de silêncio que 
parece um exemplo extremo de uma significação simbólica, é ao mesmo tempo 
o recorte material de uma unidade temporal e serve, periodicamente, para uma 
chamada concentrada da lembrança. Os três aspectos coexistem sempre.
Patrimônio cultural e identidade8
Contudo a seleção das memórias a serem preservadas e dos patrimônios 
a serem cultuados não é neutra. Por trás dos recortes temáticos e temporais 
sempre haverá interesses de determinados grupos sociais. O processo pode 
ser de reelaboração do passado e até mesmo de inversão de sentidos. 
Um caso clássico no Brasil de reelaboração do passado é o culto à me-
mória dos bandeirantes, que é muito forte especialmente no estado 
de São Paulo. Os bandeirantes, hoje é sabido, cometeram muitas atrocidades 
contra as populações indígenas no interior do Brasil, matando e escravizando 
uma grande quantidade de índios ao longo dos séculos, contribuindo assim 
para a dizimação das populações nativas do país. 
No entanto, entre 1890 e 1930, portanto no período da Primeira República, 
houve a construção de uma mitologia em torno desses “caçadores de índios”, 
na qual eles são retratados como heróis nacionais. Essa elaboração atendeu 
à necessidade do novo regime político republicano em eleger e celebrar mitos 
pátrios. É um exemplo prático de como a reelaboração da memória histórica e a 
construção de patrimônios culturais, que impactam diretamente na identidade 
de um povo, podem ter um elevado grau de artificialidade e de revisionismo 
histórico (SOUZA, 2007).
Exemplos brasileiros e mundiais 
de patrimônio cultural
O Estado brasileiro registra e cria ações de preservação do nosso patrimônio 
cultural por meio do Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional 
(IPHAN). Em nível estadual também podem ser encontrados órgãos que iden-
tificam e preservam os mais variados tipos de patrimônio cultural. Segundo 
o IPHAN, existem três grandes grupos de patrimônio no país: patrimônio 
material, patrimônio imaterial e patrimônio arqueológico. Nesta seção, você 
vai conhecer as características de alguns dos patrimônios inseridos nesses 
três grupos. Além disso, vai ver exemplos de patrimônios culturais brasileiros 
que também são considerados patrimônios da humanidade.
Patrimônio cultural e identidade 9
Patrimônio cultural material
Em 19 de setembro de 2018, foi estabelecida pela Portaria nº 375 a Política de 
Patrimônio Cultural Material (PPCM), que serve, atualmente, como guia para: 
[…] ações e processos de identificação, reconhecimento, proteção, normatização, 
autorização, licenciamento, fiscalização, monitoramento, conservação, interpreta-
ção, promoção, difusão e educação patrimonial relacionados à dimensão material 
do Patrimônio Cultural Brasileiro (BRASIL, 2014a, documento on-line). 
Portanto o patrimônio cultural material brasileiro tem hoje uma sólida legis-
lação, que visa não somente a sua proteção, mas a uma enormidade de ações 
que esclarecem os procedimentos estatais que devem estar em sua base. O 
patrimônio material pode ser descrito sumariamente como aquele “voltado para 
os testemunhos físicos do passado” (DE PAOLI, 2012, p. 151). Quer dizer, o objeto 
patrimonial material sempre se apresentará como bens culturais tangíveis, que 
vão desde edificações até monumentos e museus, patrimônios que remetam a 
aspectos históricos e culturais relevantes para determinada sociedade.
Um dos aspectos mais importantes das modernas diretrizes sobre o pa-
trimônio cultural material no Brasil é o reconhecimento de que ele não pode 
ser dissociado da sua comunidade. Isto é, o patrimônio material não é mais 
visto como algo estanque e separado da realidade cotidiana. Pelo contrário, 
há esforços no sentido de integrá-lo à paisagem natural e humana, de forma 
que faça sentido para a sociedade que o comporta (BRASIL, 2014a).
Para isso, existem instrumentos e perspectivas que são adotados para 
uma abordagem racional e produtiva do patrimônio. Um deles é a Declaração 
de Lugares de Memória, que tem por objetivo promover o reconhecimento de 
bens culturais que, mesmo tendo perdido sua completa materialidade, ainda 
assim são valorizados simbolicamente. Mas, como lugar de memória, também 
podem ser reconhecidos patrimônios materiais que sejam de percepção e 
apreensão direta mais complexa quando pensados em seu todo. É o caso do 
plano urbanístico de Boa Vista, capital de Roraima (RAMALHO, 2012).
Outro importante instrumento de preservação utilizado pelo IPHAN é o cha-
mado tombamento. Este é o instrumento de proteção do patrimônio histórico-
-cultural usado há mais tempo pelo IPHAN. Instituído em 1937, o tombamento faz 
com que os bens patrimoniais tombados tenham de seguir uma série de regras 
colocadas pelo instituto. Em primeiro lugar, eles não podem ser derrubados.Além disso, qualquer modificação na estrutura deve ser supervisionada pelo 
IPHAN. Os patrimônios culturais materiais podem ser inscritos em quatro tipos de 
livros do tombo: Livro do Tombo Histórico; Livro do Tombo das Belas Artes; e Livro 
do Tombo das Artes Aplicadas. Veja mais sobre cada um deles (BRASIL, 2014b):
Patrimônio cultural e identidade10
 � Livro do Tombo Histórico: nele são inscritos os patrimônios culturais 
materiais que têm destacado valor histórico. Desse modo, ele é formado 
pela totalidade dos bens móveis e imóveis os quais sejam do interesse 
da coletividade a sua conservação. Nesse livro podem ser inscritos bens 
como edificações, chafarizes, centros históricos, quadros, xilogravuras 
etc. Atualmente, existem milhares de bens tombados e registrados no 
Livro do Tombo Histórico; talvez o mais conhecido deles seja o Cristo 
Redentor, estátua erigida no Penhasco do Corcovado, no Rio de Janeiro, 
em 1931. O seu tombamento ocorreu em setembro de 2008.
 � Livro do Tombo das Belas Artes: reúne os bens patrimoniais artísticos. 
A expressão belas-artes se refere ao tipo de arte que não é utilitária, 
como são as artes aplicadas e decorativas. Assim, nesse livro são 
registrados quadros, esculturas e estilos arquitetônicos, por exemplo.
 � Livro do Tombo das Artes Aplicadas: nele são inscritos os bens culturais 
de valor artístico associado à função utilitária. Exemplos são o Cais 
do Porto: pórtico central e armazéns, em Porto Alegre, tombado em 
1983, e a Estação da Luz, em São Paulo, importante estação rodoviária 
construída no século XIX e tombada em 1996.
O bem patrimonial, devido às suas características, pode ser inscrito 
em mais de um livro, como as ruínas do Engenho São Miguel e Almas: 
casa e capela, localizadas na cidade de São Francisco do Conde (BA), que estão 
registradas no livro histórico e no de belas artes desde 1944. Outro exemplo é 
o conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico de Cuiabá (MT), que está 
inscrito em três livros: os dois mencionados e também o Livro Arqueológico, 
Etnográfico e Paisagístico (BRASIL, 2014b).
O Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico congrega os bens rela-
cionados aos vestígios humanos pré-históricos ou então aqueles que têm 
valor etnográfico para determinados grupos sociais. Além disso, são reunidos 
nesse livro o patrimônio natural e paisagístico, como jardins e conjuntos 
arquitetônicos que estejam integrados à natureza. São exemplos o Centro 
Histórico de Antonina, cidade paranaense situada em uma das primeiras 
páreas exploradas pelos portugueses no sul do Brasil, que teve em seu 
ambiente natural um fator determinante para a sua fundação; e a Serra da 
Barriga (AL), patrimônio natural tombado em 1986. 
Patrimônio cultural e identidade 11
Diversos patrimônios culturais brasileiros também foram registrados 
como patrimônios culturais da humanidade. Atualmente, já são mais de 20, 
que se encontram divididos entre as categorias que você acabou de ver. 
Alguns exemplos estão listados a seguir (BRASIL, 2014c, documento on-line):
 � Cais do Valongo (RJ): o mais importante porto de entrada de escravos 
africanos no Brasil, situado na cidade do Rio de Janeiro. Estima-se 
que mais de 1 milhão de escravos desembarcaram no Cais do Valongo. 
A preservação de suas ruínas e o reconhecimento como patrimônio 
da humanidade são extremamente importantes para a história e a 
memória da escravidão.
 � Paisagem do Rio de Janeiro: tombada em 2012 pela Unesco, a paisagem 
carioca entre o mar e os morros foi reconhecida como uma beleza 
paisagística singular, contendo em seu complexo também o Parque 
Nacional da Tijuca, o Jardim Botânico, o Corcovado e a Estátua do 
Cristo Redentor.
 � Brasília (Distrito Federal): por ser considerada uma obra-prima da 
arquitetura moderna, passou a fazer parte da lista dos bens culturais 
patrimoniais da humanidade. Brasília foi a primeira cidade moderna 
a entrar na lista.
Patrimônio cultural imaterial
O patrimônio cultural imaterial é aquele que não pode ser tocado, mas que 
faz parte da vida de uma comunidade ou nação na forma de manifestações 
artísticas, saberes, práticas e festividades. No Brasil, o IPHAN também desen-
volve ações no sentido de salvaguardar esse tipo particular de patrimônio. 
Enquanto o patrimônio material é tombado, o patrimônio imaterial é registrado 
em quatro tipos de livros: Livro de Registro dos Saberes, Livro de Registro das 
Celebrações, Livro de Registro das Formas de Expressão e Livro de Registro 
dos Lugares. Acompanhe (BRASIL, 2014d, documento on-line):
 � Livro de Registro dos Saberes: nele são registrados os bens imateriais 
que reúnem conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano 
das comunidade. Desse modo, o IPHAN cataloga os conhecimentos 
tradicionais de comunidades em todo o Brasil. São modos de conhecer 
o mundo muito associados a uma cultura local, a uma identidade es-
pecífica e à memória de certos grupos sociais. Atualmente, há dezenas 
de patrimônios culturais imateriais registrados nesse livro. 
Patrimônio cultural e identidade12
Um exemplo bastante ilustrativo de um saber tradicional é o ofício 
dos mestres de capoeira, registrado pelo IPHAN em 2008. Os mestres 
são os responsáveis por resguardar e transmitir os conhecimentos sobre a 
arte da capoeira (que também é registrada como patrimônio imaterial, mas 
em outro livro). Por ser uma importante manifestação cultural afro-brasileira, 
todos os aspectos em torno da capoeira devem ser preservados e valorizados, 
sendo um dos mais importantes deles justamente o ofício desses mestres. 
Outros exemplos de saberes registrados são o ofício de sineiro (MG), o ofício 
das baianas de acarajé (BA) e o sistema agrícola tradicional do Rio Negro (AM).
 � Livro de Registro das Celebrações: agrega as festividades e os rituais 
relacionados às vivências coletivas em campos como a religião e o 
entretenimento. Logo, são preservadas celebrações que formam vín-
culos de memória, identidade e cultura em determinada comunidade. 
O círio de Nossa Senhora de Nazaré, com sua origem em Belém (PA), é 
uma das celebrações mais importantes do Brasil, sendo reconhecida 
também pela Unesco como patrimônio da humanidade. A festa religiosa em 
torno da santa católica que representa a mãe de Jesus acontece desde 1793 e 
reúne, a cada mês de outubro, milhares de peregrinos e turistas, do Brasil e 
do exterior, nos diversos municípios paraenses nos quais ocorre a celebração. 
Algumas das muitas outras celebrações registradas são o ritual yaokwa do 
povo indígena enawenê-nawê (MT), complexo cultural do bumba meu boi , do 
Maranhão, e o bembé do mercado (BA).
 � Livro de Registro das Formas de Expressão: como o nome já indica, 
nesse livro você encontra formas populares de expressão artística. 
As formas de expressão são entendidas também como formas de 
comunicação típicas de uma comunidade ou região, que se apresentam 
como literatura, música, artes plásticas ou cênicas etc. 
A capoeira em si, como forma de expressão e arte, está registrada no 
Livro de Registro das Formas de Expressão, mas não somente nele. A 
roda de capoeira é considerada pela Unesco um patrimônio cultural imaterial 
da humanidade. Outras formas de expressão registradas pelo IPHAN são o 
maracatu (nação e de baque solto) (PE), o samba de roda do recôncavo baiano, 
o frevo (PE) e a arte kusiwa — pintura corporal e arte gráfica oiampi. Esta última 
também é patrimônio cultural imaterial da humanidade pela Unesco desde 2003.
Patrimônio cultural e identidade 13
 � Livro de Registro dos Lugares: nele são inscritos santuários, feiras, 
mercados e paisagens que se relacionam a práticas culturais de certa 
coletividade. Como exemplos de lugares registrados nesses livros 
podemos apontar a feira de Caruaru (PE), a cachoeira de Iauaretê — 
lugar sagrado dos povos indígenas dos rios Uaupés e Papuri (AM), a 
feira de Campina Grande (PB) e a Tava, lugar de referência para o povo 
guarani (RS). Esta última fica no mesmo local onde situam-seas ruínas 
de São Miguel das Missões, patrimônio da humanidade e patrimônio 
arqueológico brasileiro. 
Patrimônio arqueológico
Atualmente, o Brasil conta com 18 patrimônios arqueológicos tombados pelo 
IPHAN. Desses, 11 são sítios arqueológicos e sete são coleções arqueológicas 
que se encontram em museus. Os bens arqueológicos são reconhecidos como 
um importante registro da história e da identidade de um povo. No Brasil, o 
patrimônio arqueológico é protegido por lei desde 1937. Em 1961 as leis foram 
aprimoradas, tornando a sua proteção ainda mais específica, ideia reforçada 
pela Constituição Federal de 1988. Portanto qualquer tipo de ataque ao 
patrimônio arqueológico brasileiro poderá ser punido por lei. 
O patrimônio arqueológico brasileiro está localizado em 12 estados: Ala-
goas, Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Piauí, Paraná, Rio de 
Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Dos 18 patrimônios 
arqueológicos brasileiros, três são também patrimônios culturais da huma-
nidade, acompanhe (BRASIL, 2014c, documento on-line):
 � Parque Nacional Serra da Capivara (PI): criado em 1979, tem como 
objetivo preservar os vestígios arqueológicos da mais antiga ocupação 
humana já descoberta na América do Sul. Está registrado na Lista do 
Patrimônio Mundial da Unesco desde 1991. Tem uma área de 130 mil 
hectares, na qual estão distribuídos 400 sítios arqueológicos que, em 
grande parte, têm painéis com pinturas e gravuras rupestres.
 � Missões Jesuíticas Guaranis (RS): localizado na cidade de São Miguel 
das Missões, esse patrimônio é constituído pelas ruínas de uma grande 
igreja e de outras edificações das missões jesuíticas estabelecidas 
no local entre os séculos XVII e XVIII. Além disso, no interior do sítio 
arqueológico há o Museu das Missões, no qual são preservadas di-
versas estátuas de Jesus e de santos que ficavam na igreja. Tornou-se 
patrimônio mundial em 1983.
Patrimônio cultural e identidade14
 � Cais do Valongo (RJ): já mencionado, o Cais do Valongo, lugar de memória 
extremamente importante para a história da escravidão africana, foi 
inscrito como patrimônio mundial em 2017.
Como visto, a Unesco se dedica a inscrever patrimônios culturais de todo o 
mundo. Na lista encontram-se desde paisagens naturais, como as Montanhas 
Rochosas (Canadá), os Lagos de Plitvice (Croácia) e o Monte Fuji (Japão), até 
localidades inteiras, como a Ilha de Páscoa (Chile), a cidade de São Peters-
burgo (Rússia) e a Cidade Proibida (China). Edificações monumentais também 
fazem parte da lista, como o Taj Mahal (Índia), as Pirâmides de Gizé (Egito), 
a Muralha da China, o Palácio de Versalhes (França) e a Acrópole de Atenas 
(Grécia) (UNESCO, 2021).
Os centros históricos de muitas cidades ao redor do mundo estão inscritos 
na lista: Roma (Itália), Tallinn (Estônia), Florença (Itália), Viena (Áustria), Bruges 
(Bélgica), Praga (República Tcheca), Varsóvia (Polônia), Quebec (Canadá), Macau 
(China) e diversos outros. Os monumentos também são contemplados com 
a honraria de fazerem parte do patrimônio cultural da humanidade: Grande 
Buda de Leshan (China), Estátua da Liberdade (EUA), Stonehenge (Inglaterra) 
e outros (UNESCO, 2021).
Referências
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Patrimônio cultural e identidade16
Leituras recomendadas
KÜHL, B. M. Notas sobre a Carta de Veneza. Museu Paulista: História e Cultura Material, 
v. 18, n. 2, p. 287–320, dez. 2010. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/anaismp/
article/view/5539/7069. Acesso em: 18 fev. 2021.
POSSAMAI, Z. R. O patrimônio em construção e o conhecimento histórico. Ciências & 
Letras, n. 27, p. 13–24, jan./jun. 2000.
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integralidade das informações referidas em tais links.
Patrimônio cultural e identidade 17
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Descrever o conceito de preservação aplicado ao patrimônio histórico e 
cultural.
 > Apresentar diferentes órgãos internacionais voltados à preservação do 
patrimônio.
 > Identificar diferentes políticas internacionais de memória e preservação 
do patrimônio.
Introdução
Todo patrimônio histórico e cultural é resultado de escolhas que podem ser 
feitas por governos, especialistas ou movimentos organizados da sociedade. 
Isso significa que não há uma existência concreta de um patrimônio até ele ser 
pensado e elaborado como objeto visando a atingir determinados fins. Esses fins 
sempre estarão conectados à ideia de preservação. Nenhum patrimônio histórico 
e cultural é construído intelectualmente se o objetivo final não for, além da sua 
preservação como bem cultural em si, a salvaguarda da memória e da identidade 
de um grupo social.
Na segunda metade do século XX, a questão da preservação do patrimônio 
histórico e cultural esteve no centro dos debates de órgãos multilaterais e de 
abrangência mundial, como a Organização das Nações Unidas para a Educação, 
Preservação 
do patrimônio 
histórico e cultural
Eduardo Pacheco Freitas
a Ciência e a Cultura (Unesco), que, por meio de diversas convenções, definiu as 
características desse tipo de patrimônio. Além disso, a Unesco também estabeleceu 
as diretrizes para a salvaguarda desses patrimônios, visando, assim, à solidariedade 
entre as nações em torno da preservação de bens culturais que carregam valores 
comuns a toda a humanidade.
Neste capítulo, você poderá refletir sobre o conceito de preservação quando 
aplicado ao patrimônio histórico-cultural, relacionando-o com outros conceitos 
importantes, como “lugar de memória”, “presentificação” e “patrimonialização”. 
Além disso, você conhecerá também os órgãos internacionais responsáveis por 
implementar políticas de preservação patrimonial, bem como as características 
dessas políticas.
Patrimônio e preservação
Quando tratamos do conceito de “preservação” dentro do campo do patrimô-
nio histórico e cultural, devemos pensar a questão a partir de outro conceito 
fundamental, o de “lugar de memória”, conforme utilizado pelo historiador 
francês Pierre Nora. Em busca de apreendermos os usos e a importância de 
determinados espaços que acabam sendo considerados lugares de memória, 
devemos compreender que o conceito abarca a ideia de que existem espaços 
e temporalidades que passam por um processo de sacralização, processo este 
realizado por um grupo social específico e, em geral, no espaço urbano. Logo, 
já podemos inferir que há uma estreita relação entre o lugar de memória e 
as iniciativas de preservação patrimonial (PESAVENTO, 2002).
Os lugares de memória ganham significativa importância nas sociedades 
nas quais estão inseridos a partir do momento em que se tornam parte da 
memória coletiva, da memória do passado e das origens em comum. É nesse 
processo que ocorre a formação da identidade social e cultural de um deter-
minado grupo, povo ou nação. Essa identidade faz com que as pessoas que 
vivem nessas sociedades desenvolvam um sentimento de pertencimento, 
sentindo-se parte daquele lugar ao mesmo tempo que sentem que aquele 
lugar faz parte delas. É nesse sentido também que se forma uma relação 
muito próxima entre patrimônio histórico-cultural, identidade e memória. 
Sobre esta última, a historiadora Sandra Jatahy Pesavento (2002, p. 26) des-
taca que se trata da “[...] presentificação de uma ausência no tempo, que só 
se dá pela força do pensamento — capaz de trazer de volta aquilo que teve 
lugar no passado”.
Preservação do patrimônio histórico e cultural2
Essa “presentificação” nada mais é do que tornar presente aquilo que está 
ausente por meio de sua representação, seja na forma de um objeto, um local, 
uma edificação, um monumento, seja na forma de um rito, um saber, uma 
prática, etc. É a evocação e a atualização do passado em forma de memória, 
que consequentemente se cristaliza como patrimônio. E aí está o ponto-chave 
para a necessidade da preservação deste. Preservar o patrimônio é preservar 
a identidade e a memória (Figura 1). É celebrar as origens e a história de uma 
determinada comunidade, salvaguardando no presente, sem deixar de mirar 
o futuro, o legado cultural herdado do passado.
Figura 1. Ouro Preto, em Minas Gerais, é praticamente um museu a céu aberto. Patrimônio 
cultural brasileiro e da humanidade, é um símbolo da preservação patrimonial, em que uma 
vasta área urbana é preservada como memória do passado colonial, tornando-se palco de 
intensas atividades culturais todos os anos.
Fonte: Silva (2014, documento on-line).
Quando contemplamos um local histórico, experimentamos as lembranças 
do passado que esse espaço evoca. Assim, somos levados a experimentar 
sensações e sentimentos que nos conduzem pelos labirintos do tempo até 
o momento no qual os acontecimentos que se desenrolaram em tal espaço 
ocorreram. Desse modo, vivenciamos no presente as memórias de um passado 
mais ou menos longínquo que dialogam com o momento atual e, mais do que 
isso, parecem refletir como aqueles eventos pretéritos fundamentam, em 
grau maior ou menor, a realidade vivida no presente.
Preservação do patrimônio histórico e cultural 3
Essa rememoração pode ser desencadeada por lugares materiais, tais 
como monumentos, praças e edificações, que, em sua materialidade, têm a 
capacidade de nos fornecer um vislumbre de como era a vida das pessoas do 
passado que os utilizaram. Logo, cada patrimônio preservado carrega consigo 
não somente os tijolos e outros materiais com os quais é edificado, mas so-
bretudo os sentidos e a própria vida que existiu ali no passado (TOMAZ, 2010).
Pela patrimonialização desses locais é que se forma uma memória coletiva, 
bem como uma representação coletiva do que significa o passado em comum. 
As memórias coletivas podem ser assim designadas quando correspondem 
a memórias circunscritas a um certo grupo, tendo como função, de acordo 
com Pollak (1989, p. 7), “[...] manter a coesão dos grupos e das instituições 
que compõem uma sociedade, para definir seu lugar respectivo, sua comple-
mentaridade”. Com isso em vista, torna-se mais fácil ver como o conceito de 
memória está atrelado ao conceito de preservação do patrimônio histórico 
e cultural. Ainda, segundo o mesmo autor, a memória também é uma:
[...] operação coletiva dos acontecimentos e das interpretações do passado que 
se quer salvaguardar, integra-se [...] em tentativas mais ou menos conscientes 
de definir e de reforçar sentimentos de pertencimento e fronteiras sociais entre 
coletividades de tamanhos diferentes: partidos, sindicatos, igrejas, aldeias, regiões, 
clãs, famílias, nações, etc. (POLLAK, 1989, p. 7, grifo nosso).
Os patrimônios culturais e históricos não são patrimônios em si. Pelo 
contrário, são fruto de sofisticadas elaborações intelectuais que lhes atribuem 
sentidos que eles não tinham originalmente. É a essa operação, comumente 
descrita como a ativação dopatrimônio cultural (ou histórico), que damos 
o nome de “patrimonialização”. Esse processo de ativação está vinculado
aos esforços de preservação de um determinado bem cultural, tangível ou 
intangível, por parte de antropólogos, historiadores, museólogos, etc. São 
esses especialistas que vão construir o patrimônio, atribuindo-lhe novos 
usos e significados e revestindo-lhe de legitimidade como lugar de memória, 
cultura e história. Por exemplo, um matadouro do século XIX, originalmente 
edificado para o abate de gado, no século XXI, se patrimonializado, poderá se 
tornar um museu ou outro tipo de espaço cultural, assumindo nesse processo 
novos valores, significados e usos. Logo, o momento inicial da preservação 
de qualquer patrimônio histórico-cultural é a sua patrimonialização.
Preservação do patrimônio histórico e cultural4
Para conhecer uma discussão sobre o conceito de patrimonialização, 
sugerimos a leitura do artigo “Patrimonialização e transformação das 
identidades culturais” (2003), de autoria do antropólogo Xerardo Pereiro Pérez.
Uma das finalidades da preservação de patrimônios históricos e culturais 
deve ser a conservação de elementos que traduzam a vida cotidiana da 
sociedade que produziu aquele bem que se torna objeto de salvaguarda. O 
tombamento e/ou o registro de bens culturais materiais e imateriais deve 
ter como um dos seus propósitos anotar para as novas e futuras gerações o 
estilo de vida de um grupo ou sociedade. Sendo assim, há a tendência de que 
sejam objeto de preservação os patrimônios que tenham significados para a 
coletividade que vive nos seus arredores. Desse modo, o procedimento de pre-
servação do patrimônio material ou imaterial se entrelaça com a preservação 
da memória em si da cultura que o criou — desde culturas muito específicas, 
como, por exemplo, aquela que criou algum tipo de dança ritual praticada no 
interior do Brasil, até culturas mais abrangentes, como a afro-brasileira, que 
tem inscritos como patrimônios da humanidade o Cais do Valongo, o samba 
de roda do Recôncavo Baiano e a roda de capoeira.
Órgãos internacionais de preservação
O principal órgão mundial que incentiva e promove a preservação de bens 
considerados significativos para a humanidade é a Unesco. Criada em 1945, 
pela Organização das Nações Unidas (ONU), e com sede em Paris, a instituição 
tem entre suas especialidades a salvaguarda dos patrimônios culturais da 
humanidade, visando a contribuir:
“[...] para a manutenção da paz e da segurança ao estreitar, pela educação, pela 
ciência e pela cultura, a colaboração entre as Nações, a fim de assegurar o res-
peito universal pela justiça, pela lei, pelos direitos do homem e pelas liberdades 
fundamentais” (UNESCO, 1980 apud PRIMO, 1999, p. 5).
Desse modo, podemos afirmar que a Unesco vê também na preservação 
dos mais diversos patrimônios históricos e culturais em todo o mundo uma 
iniciativa que ajuda a promover a união entre os povos.
Preservação do patrimônio histórico e cultural 5
Um dos momentos mais relevantes para a formatação da atual compreensão 
de patrimônio cultural e de como ele deve ser preservado ocorreu em 1972, 
quando a Unesco realizou a Convenção do Patrimônio Mundial. Nesse encontro, 
surge o entendimento sobre a necessidade de incentivos para a preservação de 
bens culturais tidos como fundamentais para a humanidade, ficando definido 
que os países signatários da convenção poderiam “[...] indicar bens a serem ins-
critos na Lista do Patrimônio Mundial” (MENEZES, 2010, p. 64). Esse foi o primeiro 
passo para que despertasse, em todo o mundo, uma consciência patrimonial.
No entanto, por bastante tempo a atenção se voltou exclusivamente para o 
patrimônio material. Foi apenas no ano de 1985, em uma conferência ocorrida 
no México, que o conceito de patrimônio foi repensado, quando se incorporou 
ao escopo da preservação também o patrimônio imaterial, que foi formalizado 
por meio das chamadas “cartas patrimoniais” da Unesco e da Declaração do 
México. No interior dessa nova concepção, além dos patrimônios relacionados 
aos saberes e fazeres das comunidades tradicionais, também foi reconhecido o 
patrimônio genético, que diz respeito ao patrimônio natural de um determinado 
povo, como a fauna, a flora e os povos indígenas (BERGER FILHO; SILVEIRA, 2020).
De acordo com Kühl (2010, p. 287), as cartas patrimoniais são:
[...] documentos — em especial aquelas derivadas de organismos internacionais — 
cujo caráter é indicativo ou, no máximo, prescritivo. Constituem base deontológica 
para as várias profissões envolvidas na preservação, mas não são receituário de 
simples aplicação.
Assim sendo, as cartas patrimoniais têm como um dos seus principais 
objetivos uniformizar as práticas de salvaguarda do patrimônio cultural, bem 
como orientá-las (GRAMMONT, 2006).
No ano de 2003, uma nova convenção foi realizada pela Unesco, em Paris: a 
Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Imaterial. Dessa vez, o objetivo 
foi criar mecanismos multilaterais que permitissem proteger os patrimônios 
imateriais da humanidade, ajudando a criar uma cultura de conscientização 
sobre a sua importância e, ao mesmo tempo, estabelecendo as diretrizes para 
a sua salvaguarda. Nesse encontro, que reuniu especialistas de todo o mundo, 
a Unesco reafirmou “[...] a inestimável função que cumpre o patrimônio cultural 
imaterial como fator de aproximação, intercâmbio e entendimento entre os 
seres humanos” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A 
CIÊNCIA E A CULTURA, 2003, p. 2). Em conformidade com essa compreensão da 
natureza do patrimônio imaterial como um tipo de tesouro da humanidade, a 
Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Imaterial definiu “patrimônio 
cultural imaterial” como:
Preservação do patrimônio histórico e cultural6
[...] as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas — junto com 
os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados — 
que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como 
parte integrante de seu patrimônio cultural. Este patrimônio cultural imaterial, que 
se transmite de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades 
e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua 
história, gerando um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim 
para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana. Para os 
fins da presente Convenção, será levado em conta apenas o patrimônio cultural 
imaterial que seja compatível com os instrumentos internacionais de direitos 
humanos existentes e com os imperativos de respeito mútuo entre comunidades, 
grupos e indivíduos, e ao desenvolvimento sustentável (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES 
UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA, 2003, p. 3).
Importa salientar que a Unesco não se ocupa exclusivamente da preserva-
ção dessa modalidade de patrimônio. Inúmeros patrimônios materiais foram 
inscritos pelo órgão ao longo de sua existência, como a Muralha da China, as 
Pirâmides de Gizé, o monumento pré-histórico de Stonehenge, entre outros. 
Porém, nas últimas décadas, com o reconhecimento do patrimônio imaterial, 
este tem sido objeto de preocupações especiais por parte da Unesco e de 
especialistas ao redor do globo.
Desde a sua fundação, a Unesco já realizou dezenas de convenções 
tratando sobre questões pertinentes à preservação dos patrimônios 
da humanidade. Para conhecer detalhes das deliberações e ratificações de cada 
uma dessas convenções, sugerimos a leitura do material “As Convenções da 
Unesco e o patrimônio: elementos para uma abordagem integrada”, elaborado 
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Em seu campo de atuação, a Unesco recebe a contribuição de outros órgãos 
não governamentais que auxiliam nas questões museológicas e de patrimônio, 
como o Conselho Internacional de Museus (Icom), o Conselho Internacional 
de Monumentos e Sítios (Icomos) e o Conselho da Europa.O Icom, “[...] com sede em Paris, foi criado em 1946 para promover os inte-
resses da museologia e de outras disciplinas relacionadas com a gestão e as 
atividades dos museus” (PRIMO, 1999, p. 6). Segundo seu estatuto, aprovado 
em 1995, o Icom tem como objetivos:
a) encorajar e apoiar a criação, o desenvolvimento e a gestão profissional dos 
museus de todas as categorias; b) dar melhor a conhecer e a compreender a 
natureza, as funções e o papel dos museus ao serviço da sociedade e do seu 
desenvolvimento; c) organizar a cooperação e a entreajuda entre os museus e os 
Preservação do patrimônio histórico e cultural 7
membros da profissão museológica nos diferentes países; d) representar, defender 
e promover os interesses de todos os profissionais de museu sem exceção; e) fazer 
progredir e difundir o conhecimento no âmbito da museologia e outras disciplinas 
relacionadas com a gestão e as atividades do museu (ESTATUTOS DO ICOM, 1995 
apud PRIMO, 1999, p. 6).
Desse modo, o Icom pode ser caracterizado como um órgão que trabalha a 
questão da preservação patrimonial a partir de uma perspectiva museológica. 
Apesar de não ser uma entidade pertencente à Unesco, o Icom atua em âmbito 
transnacional, contando com mais de 40 mil membros em mais de 140 países, 
e executa parte do programa da Unesco para a valorização e a proteção dos 
museus (CONSELHO INTERNACIONAL DE MUSEUS, c2021).
Outro órgão internacional que integra a lista de entidades internacionais 
que trabalham pela preservação do patrimônio histórico-cultural é o Icomos, 
fruto das recomendações oriundas da Carta de Veneza. O Icomos desempenha 
uma enorme importância junto à Unesco, executando o papel de consultor 
para a elaboração de listas de patrimônio cultural. Assim como o Icom, o 
Icomos também conta com milhares de membros, que estão distribuídos em 
mais de 150 países (CONSELHO INTERNACIONAL DE MUSEUS, c2021).
Já o Conselho da Europa, sediado em Estrasburgo, “[...] foi criado em 1949 e 
tem como objetivo propor a adoção de ações conjuntas no que se refere aos 
aspectos sociais, econômicos, administrativos, culturais, científicos e jurídicos, 
contribuindo assim para estreitar os laços da União Europeia” (PRIMO, 1999, 
p. 10). Esse órgão foi um dos responsáveis, a partir da década de 1970, pela 
renovação da noção de patrimônio, propondo que esta abrangesse também 
elementos naturais, humanos, técnicos, industriais, referentes à arquitetura 
contemporânea, etc. (PRIMO, 1999).
A Carta de Veneza foi o documento final elaborado pelo II Congresso 
de Arquitetos e Técnicos de Monumentos Históricos, ocorrido em 1964, 
na Itália. Também conhecido como Carta Internacional para a Conservação e o 
Restauro de Monumentos, o documento deu origem ao Icomos e estabeleceu 
diretrizes para a preservação de monumentos históricos em âmbito mundial.
Atualizando a Carta de Atenas (1931), que já abria discussões em torno do 
tema, a Carta de Veneza foi adotada tanto pela Unesco quanto pelo Icomos. 
Essas e outras Cartas Patrimoniais estão disponíveis para download no site do 
Iphan, na seção “Acervos e Publicações”.
Preservação do patrimônio histórico e cultural8
Políticas internacionais de preservação 
do patrimônio
Os patrimônios culturais e históricos existentes em todo o mundo são im-
portantes não apenas para as nações que os abrigam. Pelo contrário, esses 
patrimônios carregam de uma forma ou de outra aspectos culturais que 
dizem respeito a toda a trajetória humana ao longo do tempo. Desse modo, 
tornam-se evidentes a sua importância e a consequente necessidade de 
inserção do tema da preservação do patrimônio histórico-cultural em esferas 
como a do Direito Internacional Público, o que ocorre a partir das já citadas 
convenções realizadas pela Unesco e pelos outros órgãos internacionais que 
se debruçam sobre a causa. Nesse contexto, a Unesco ocupa papel central, 
já que é por meio das suas recomendações e convenções que os patrimônios 
ameaçados recebem projetos de preservação (MOURA, 2012).
Um aspecto que deve ser salientado é que a preservação dos bens culturais, 
sejam eles materiais ou imateriais, está vinculada à preservação da cultura 
de um povo em si, visto que a degradação e a eventual extinção do seu pa-
trimônio podem implicar a sua própria extinção, ao extinguir a sua memória, 
a sua história e a sua identidade. De fato, esse cenário indica, além da perda 
específica e local, uma perda mais abrangente, de caráter universal, tendo em 
vista que tratamos aqui de uma expressão da cultura humana (MOURA, 2012).
A perda de um patrimônio histórico corresponde à quebra dos vínculos do 
presente com o passado que o engendrou. Sendo assim, um patrimônio que 
deixa de ser protegido expõe a humanidade a riscos que envolvem a sua própria 
identidade, bem como suas tradições, seus saberes, seus fazeres, etc. Daí a 
relevância de políticas internacionais para a preservação do patrimônio que 
visam a uma padronização mundial de preservação patrimonial (MOURA, 2012).
Como se vê, o patrimônio histórico-cultural, mesmo quando circunscrito 
a grupos, comunidades ou nações bem determinados, carrega em seu bojo 
elementos que dizem respeito a toda a humanidade. Porém, cumpre lembrar 
que, embora existam esforços dos órgãos internacionais, como a Unesco, no 
sentido de salvaguarda do patrimônio em todos os países, são estes que, em 
última análise, conservarão ou não os seus próprios bens culturais, tendo 
em vista a questão da soberania nacional.
Preservação do patrimônio histórico e cultural 9
Para um bem ser inscrito na lista do patrimônio universal da Unesco, 
precisa ocorrer a solicitação dos países membros de um tratado 
internacional, denominado Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Mundial 
Cultural e Natural, aprovado pela Unesco no ano de 1972.
Os também denominados Estados-parte podem apontar bens ligados ao patrimônio 
cultural ou natural. Depois de indicado o bem, o Centro do Patrimônio Mundial 
verifica se os dados estão completos; o Icomos ou o IUCN, organizações não go-
vernamentais voltadas à preservação do patrimônio, avalia a solicitação; o Bureau 
do Patrimônio Mundial examina a indicação, recomenda ou não sua inscrição, e o 
remete ao Comitê do Patrimônio Mundial, que toma a decisão final (GHIRARDELLO; 
SPISSO, 2008, p. 20).
As primeiras noções de patrimônio histórico-cultural surgem no contexto 
da Revolução Francesa, quando se buscou, por um lado, preservar as edifica-
ções e os monumentos do Antigo Regime e, por outro, criar lugares de memória 
que contribuíssem para o triunfo da revolução. Desse modo, essa ideia ainda 
rudimentar de patrimônio restringia-se ao patrimônio edificado, ou, como é 
muitas vezes chamado, “patrimônio de pedra e cal”. Após a Segunda Guerra 
Mundial, a concepção de patrimônio é alargada, sendo incorporada, aliás, a 
noção de patrimônio ambiental como patrimônio cultural. É esse o período 
em que surgem a ONU e a Unesco (MOURA, 2012).
Esses dois órgãos promoveram, então, a primeira referência a um patri-
mônio histórico-cultural que fosse comum a toda a humanidade. O contexto 
era o de promoção da união entre os povos como modo de evitar a repetição 
dos horrores da Segunda Guerra Mundial. Assim, a proteção do patrimônio 
mundial, atribuindo-lhe um caráter universal, objetivava também dar impulso 
à solidariedade entre as nações. No próprio documento constitutivo da ONU, 
já há uma breve menção à ideia de patrimônio da humanidade. Como bem 
lembra o professor de Direito Internacional Fernando Fernandes Silva:
Especialmente a partir das décadas de 50 e 60, proliferam na ordem jurídica inter-
nacional convenções multilaterais e resoluções consagradoras de um patrimônio 
comum da humanidade nos mais diversos âmbitos: a Antártida, o espectro das 
frequências radioelétricas, o espaço extra-atmosférico e os corpos celestes, os 
elementos da biosfera, os fundos marinhos e seu subsolo e o patrimônio natural 
e cultural (SILVA, 2003, p. 35).
Preservação do patrimônio histórico e cultural10Como visto, a noção de patrimônio foi ampliada significativamente, abrindo 
todo um novo horizonte de políticas e legislações gerais e específicas para 
a salvaguarda patrimonial e da memória dos povos. A ONU e a Unesco, bem 
como outros órgãos, como o Icom e o Icomos, foram os grandes responsáveis 
pela divulgação dessa nova visão e pela sua implementação.
No contexto de promoção da paz entre os povos por meio da proteção 
do patrimônio cultural da humanidade, a Unesco patrocinou, no âmbito da 
Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural (1972), 
a aprovação de quatro tratados que estabeleceram políticas de preservação 
do patrimônio cultural humano. O grande diferencial dessa convenção e de 
seus documentos é o reconhecimento de que as condições contemporâneas 
de trabalho e produção podem danificar irreversivelmente os mais variados 
tipos de patrimônio cultural. Dessa forma, os bens culturais devem ser pro-
tegidos não somente da degradação natural, mas também em função do “[...] 
desenvolvimento social e econômico agravado por fenômenos de alteração 
ou de destruição” (SILVA, 2003, p. 24).
Em 1972, a Unesco realizou, em Paris, a Convenção para a Proteção 
do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, tendo em vista que àquela 
altura o órgão já havia constatado que “[...] a degradação ou o desaparecimento 
de um bem do patrimônio cultural e natural constitui um empobrecimento efetivo 
do patrimônio de todos os povos do mundo” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS 
PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA, 1999, p. 123 on-line). O documento 
elaborado como conclusão das discussões da Convenção está disponível na 
íntegra no site da Unesco.
As políticas de preservação procuram incutir na cultura política e ad-
ministrativa das nações participantes da ONU a responsabilidade de pre-
servação dos patrimônios nacionais. Assim, todos os bens considerados 
patrimônios da humanidade “[...] passam a ter uma preservação obrigatória 
pelo Estado-membro, que se compromete a preservá-los perante os demais 
Estados-membros da Unesco” (SOUZA FILHO, 1997, p. 107). Nesse sentido, a 
Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural ainda 
é o documento mais importante a nortear as políticas de preservação. De 
acordo com a professora de Relações Internacionais Ângela Acosta Giovanni 
de Moura,
Preservação do patrimônio histórico e cultural 11
[...] a proteção dos bens culturais pela Unesco manifesta-se em duas vertentes: a 
adoção, pela comunidade internacional, de convenções e recomendações inter-
nacionais e a organização de movimentos de solidariedade internacional, espe-
cialmente as campanhas internacionais para a salvaguarda dos monumentos, a 
exemplo dos templos da Núbia (1960–1980) e das cidades de Veneza e Florença 
(1966). Neste contexto, a ordem jurídica internacional busca cercar-se de instru-
mentos jurídicos instituídos exclusivamente para a proteção dos bens culturais. [...] 
a Unesco é responsável, atualmente, por uma considerável lista de bens inscritos 
como patrimônio da humanidade (MOURA, 2012, p. 96).
As convenções são os instrumentos mais relevantes e eficazes para a 
definição de diretrizes mundiais de preservação do patrimônio, pois têm 
a competência de criar medidas efetivas e de alcance transnacional. Isso 
ocorre porque as convenções são o local privilegiado para a elaboração de 
tratados multilaterais que são investidos do poder de inserir a pauta da 
preservação patrimonial no direito público internacional. Além da já vista 
Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, até 
hoje a Unesco já adotou outras quatro convenções que tratam de diferentes 
aspectos do patrimônio cultural e histórico da humanidade, apresentadas a 
seguir, de acordo com Moura (2012).
 � Convenção para a Proteção dos Bens Culturais em Caso de Conflito 
Armado: criada pelo Decreto-Legislativo nº 32, de 14 de agosto de 1956, 
tem como objetivo viabilizar mecanismos que atuem durante guerras 
ou outros tipos de conflitos no sentido de proteger da destruição bens 
culturais móveis e imóveis.
 � Convenção sobre Medidas a Serem Adotadas para Proibir e Impedir 
a Importação, Exportação e Transferência de Propriedade Ilícita de 
Bens Culturais: entrou em vigor pelo Decreto nº 72.312, de 31 de maio 
de 1973, e visa a coibir o tráfico internacional de bens culturais e sua 
expropriação indevida das nações que os possuem por órgãos privados 
ou de outra natureza. 
 � Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial: es-
tabelecida pelo Decreto nº 5.753, de 12 de abril de 2006, alarga a com-
preensão de patrimônio da humanidade, que passa a abranger, além 
do patrimônio material, o patrimônio imaterial.
 � Convenção sobre a Diversidade Cultural: adotada pela Unesco em 20 de 
outubro de 2005, tem o intuito de preservar as identidades culturais de 
grupos sociais que estejam ameaçadas pela crescente homogeneização 
cultural advinda da globalização.
Preservação do patrimônio histórico e cultural12
Neste capítulo, vimos que são muitos os temas relacionados à preservação 
do patrimônio histórico e cultural. O próprio conceito de patrimônio, que surge 
no contexto da Revolução Francesa, foi transformado ao longo do tempo. De 
uma concepção que valorizava exclusivamente os patrimônios monumentais 
e edificados, chegamos nos dias de hoje à noção de que o patrimônio se 
manifesta também em formas imateriais. Para a salvaguarda de todos os 
tipos de patrimônio (tangíveis ou intangíveis), existem organizações como 
a Unesco, o Icom e o Icomos, órgãos de caráter multilateral e internacional 
que propõem e executam as políticas preservacionistas.
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Preservação do patrimônio histórico e cultural14
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Preservação do patrimônio histórico e cultural 15
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Analisar as relações entre patrimônio histórico, memória e história local.
 > Relacionar a formação das políticas e órgãos de preservação do patrimônio 
no Brasil.
 > Explicar a evolução das políticas de preservação patrimonial no Brasil.
Introdução
Em escala global, desde meados da década de 1970, circula uma narrativa sobre 
a importância do patrimônio, a necessidade de sua proteção e as iniciativas 
para sua preservação. Esse movimento está diretamente relacionado com um 
processo de revalorização da memória após as experiências de autoritarismo ao 
longo do século XX.
No Brasil, embora a primeira legislação relativa ao “patrimônio histórico” 
seja do período estadonovista, vinculado aos debates sobre a identidade na-
cional brasileira e a um nacionalismo autoritário, foi a partir da promulgação da 
Constituição de 1988 que a noção de “patrimônio cultural” passa a ser associada 
aos direitos civis e sociais e que se desenvolveram iniciativas para fomentar a 
diversidade patrimonial brasileira e sua preservação.
Neste capítulo, você conhecerá mais sobre as ligações entre o patrimônio e 
a memória e de que forma a história local pode ser utilizada como uma forma 
O patrimônio 
histórico e cultural 
no Brasil
Caroline Silveira Bauer
de fomento para a preservação do patrimônio material e imaterial. Você verá as 
noções de conservação, preservação e promoção do patrimônio como iniciativas 
oriundas do Estado. Por fim, conhecerá um pouco mais sobre as políticas de 
preservação do patrimônio adotadas pelo Brasil.
Patrimônio histórico, memória e história local
Antes de estabelecermos uma relação entre o patrimônio e a memória e 
analisarmos de que forma a história local pode contribuir para a educação 
patrimonial, é importante que apresentemos uma definição de patrimônio 
e seus qualitativos “cultural” e “histórico”.
Para Chagas (2002, p. 36), patrimônio é: 
[...] um conjunto determinado de bens tangíveis, intangíveis e naturais, envolvendo 
saberes e práticas sociais, a que se atribui determinados valores e desejos de par-
tilha (perspectiva sincrônica) entre contemporâneos e de transmissão (perspectiva 
diacrônica) de uma geração para outra geração [...]. 
Nessa definição, “patrimônio” permanece vinculado a sua raiz etimológica 
de pater — herança ou propriedade (CHOAY, 2011).
Choay (2011) afirma que, desde meados dos anos 1960, “patrimônio” tem 
sido um termo utilizado para substituir a expressão “monumento histórico”, 
ressaltando a importância e a valoração que determinada sociedade confere 
a certo bem (material ou imaterial) na elaboração de uma narrativa sobre 
sua história, sua identidade e sua memória. Portanto, o adjetivo “histórico” 
vincularia o patrimônio a uma leitura da realidade pautada pelas grandes 
narrativas nacionais, à história da pátria, e possuiria uma série de limitações. 
“Patrimônio histórico [...]” seria “[...] elemento unificador [...]” (LOPIS, 2017, p. 11), 
um conjunto de bens conservados como evidência de um determinado passado 
considerado parte constitutiva da história, da identidade e da memória de 
uma sociedade, que contribuiria para narrar elementos desse passado às 
gerações atuais e às gerações futuras, como uma ideia de “legado” e “trans-
missão”. O patrimônio histórico, nas palavras de Hartog (2003 apud LOPIS, 
2017, p. 11), seria uma característica dos estados nacionais, que configura um 
“[...] inventários dos lugares por onde a história se encarnou [...]”.
Diferentes áreas têm preferido o uso do termo “patrimônio cultural”, que 
permite uma visão mais ampliada de patrimônio para além dessas narrativas 
nacionalistas e pátrias, abarcando outras expressões artísticas e culturais que 
não seriam incorporadas nessa “história oficial”. Assim, mais especificamente, 
O patrimônio histórico e cultural no Brasil2
Nestor Canclini (1994) nos apresenta uma definição de “patrimônio cultural” 
como uma “cultura própria” que uma sociedade possui e que sustenta sua 
identidade, diferenciando-a de outros grupos, abarcando não somente os 
monumentos históricos, o desenho urbanístico e outros bens físicos, mas 
também a linguagem, os conhecimentos, as tradições imateriais, os modos 
de usar os bens e os patrimônios físicos.
A noção de patrimônio cultural também seria mais interessante do que 
a de patrimônio histórico porque explicitaria o caráter de transformação ao 
longo do tempo a que esses bens estão sujeitos, de acordo com as diferentes 
conjunturas, enquanto a noção de histórico revela um desejo de “estagnar” 
certo passado: 
O elemento patrimonial cultural deve estar atrelado ao seu contexto de um passado 
histórico e social, não como um artefato isolado, como vem sendo praticado por 
algumas sociedades que isolam o bem histórico de seu contexto, para “preservá-lo” 
em um museu ou instituição. Atualmente entendemos que os artefatos mudam de 
função ao longo do tempo (LOPIS, 2017, p. 11).
Lopis (2017, p. 12) pontua o seguintesobre patrimônio.
O patrimônio é o símbolo de uma vivência que é temporária, mas que se torna 
eterna através de seus bens/monumentos, traz em si um elemento identitário muito 
forte, construindo um conjunto de imaginários que nos diz quem somos, de onde 
viemos e para onde queremos ir. Faz-se necessário perceber que o patrimônio não 
é só um bem em si, mas também o uso que aquele bem tem para a perpetuação 
da memória de uma coletividade, pois o patrimônio histórico não é algo concreto 
somente, é algo também subjetivo, cheio de significado.
Feitas essas digressões conceituais, é necessário que estabeleçamos a 
relação existente entre o patrimônio e a memória. É por meio da conservação 
e da promoção desses bens que o passado se materializa e se torna presente, 
atualizando-se. Essa proteção não é isenta de interesses particulares ou 
políticos, pois a difusão de determinada memória em uma narrativa sobre 
o passado é fundamental para a conformação de identidades no presente.
O patrimônio, assim, trabalha e mobiliza a memória, conforme Lopis 
(2017, p. 13): 
[...] pela mediação da afetividade, de forma que lembre o passado fazendo-o vibrar 
como se fosse presente. Mas esse passado qualquer: ele é localizado e selecionado 
para fins vitais, na medida em que pode, de forma direta, contribuir para manter 
e preservar a identidade de uma comunidade.
O patrimônio histórico e cultural no Brasil 3
A perspectiva de valorização patrimonial passou por diferentes 
períodos históricos e atuou de forma diversa em sociedades distintas. 
Após a Segunda Guerra, veio a preocupação em salvaguardar bens culturais e 
identitários, pois estes eram sinônimo de vínculo social, de uma herança deixada 
por seu povo, contribuindo para a construção de uma identidade nacional. 
A nação torna-se a encarnação por excelência da patrimonialidade, absorvendo, por 
assim dizer, no seu princípio, toda a recepção dos objetos culturais do passado. A 
apropriação se dá na forma de uma comunidade imaginária, e a proteção do patri-
mônio é geralmente acompanhada da crença em um progresso [...] (LOPIS, 2017, p. 13).
Vimos que uma característica dessa acepção do patrimônio é sua instru-
mentalização para a elaboração de narrativas da história pátria, de iden-
tidades nacionais e memórias sociais que reforcem certos nacionalismos. 
Essas narrativas costumam ser generalistas e homogeneizantes, não incorpo-
rando as diferentes experiências e as diversidades existentes nos territórios. 
Portanto, a história local se apresenta como uma grande possibilidade de 
valorização da multiplicidade de experiências envolvendo o patrimônio. 
Conheçamos um pouco mais sobre a história local.
A história local
A história local pode ser compreendida como uma modalidade de estudos e 
pesquisas históricas que problematizam as fronteiras políticas como espaços 
ou regiões “naturalizadas”. 
De acordo com Donner (2012, p. 223): 
As pesquisas em história local, municipal, genealógica são uma prática antiga 
no Ocidente. Iniciaram com a história das famílias, dos feudos, passando para as 
províncias, paróquias, condados. É possível encontrar monografias e livros sobre 
praticamente todos os lugares da Europa e também na América. [...] O alcance dos 
livros de história dos municípios, das regiões é significativo. Este material é utilizado 
nas escolas como um “manual”, é relembrado nas festas e datas comemorativas 
da região e é ali que muitos dos mitos de fundação da cidade e do povoado estão 
escritos. Os autores destes trabalhos podem ser historiadores amadores ou profis-
sionais, mas, em geral, são pessoas vinculadas com comunidade pesquisada. Pelo 
seu apelo junto à comunidade, este material torna-se um espaço para formação 
de identidades e memórias coletivas.
É a partir das mudanças historiográficas promovidas pelas reflexões 
dos historiadores que publicavam na revista Annales que a história local 
produzida pela historiografia científica passará a refletir problematizações 
O patrimônio histórico e cultural no Brasil4
sobre esse recorte espacial. Desta forma, a ideia de “localidade” é utilizada 
como contraponto à homogeneização de experiências ao se tomar divisões e 
fronteiras estabelecidas por questões políticas, valorizando-se a diversidade 
e as particularidades de recortes a partir de certas culturas, comunidades e 
localidades. “Sendo assim a produção da História Local, seja por amadores 
ou profissionais poderia estar cobrindo uma lacuna, participando desta 
necessidade de história/memória contemporânea [...]” (DONNER, 2012, p. 226).
Em outras palavras, a História Regional/Local que se pretende, antes de ser uma 
história do micro espaço regional, local, é uma história produzida em perspectiva 
diferente e em concepção dialética. Sua diretriz metodológica contempla etapas 
de desconstrução, análise de elementos particulares, elaboração do meta-texto ou 
síntese final, criativa, original, como é a verdadeira síntese. História Regional/Local 
na perspectiva da micro-história significa revitalização nas formas de produção 
histórica com reconstrução do que aconteceu perto de nós, buscando respostas 
a problemas que se impõem no presente, em diferentes esferas e âmbitos (CONS-
TANTINO, 2004, p. 177 apud DONNER, 2012, p. 232).
O recorte espacial, portanto, torna-se objeto de investigação e ponto de 
partida para a produção de conhecimento sobre o passado e sua presentifi-
cação por meio do patrimônio. Como em um jogo de escalas, em um recorte 
que privilegia a diversidade e a particularidade, pode-se compreender melhor 
determinadas práticas, certos comportamentos e de que forma as pessoas 
acessam e utilizam os bens culturais, materiais ou não.
A “descentralização” promovida pela história local vinculada ao patri-
mônio também é fundamental para as políticas de conservação, fomento e 
preservação. De acordo com Carvalho (2011, p. 120):
[...] pela história local e regional passa a autêntica definição da identidade e da 
diversidade cultural de cada comunidade que se fortalece e resiste às influências 
externas; o enfraquecimento do peso esmagador da padronização cultural; a revalo-
rização histórica da cultura. Constitui-se, sem dúvida, com a proposta dessas regiões, 
a base do plano político da descentralização. A dificuldade é ainda a tendência 
centralizadora que se manifesta no fato de haver pouca legislação voltada para elas.
Em outras palavras, a história local, inserida em uma concepção de edu-
cação patrimonial, permite expandir a noção de patrimônio para além de 
edificações consagradas, distantes, na maioria das vezes, da realidade da 
maioria das pessoas. A história local possibilita, desta forma, o fomento à 
diversidade e à representatividade, buscando aspectos culturais importantes 
em determinadas regiões, mais circunscritas, lidas a partir da história da 
comunidade ou local.
O patrimônio histórico e cultural no Brasil 5
Os pesquisadores Abreu e Chagas (2009) afirmam que, ao focalizar 
as narrativas regionais e urbanas como uma forma de história local, 
é possível destacar certas caraterísticas invisibilizadas. Em outras palavras, o 
patrimônio cultural entendido a partir da história local permite uma valorização 
de grupos sociais historicamente situados à margem das grandes narrativas 
nacionais, que, com esse enfoque, assumem o lugar de sujeitos e desenvolvem 
novas experiências quanto ao direito à memória e à constituição do patrimônio 
cultural. 
Além disso, essa abordagem permite o reconhecimento como “patrimônio” 
de aspectos da cultura, como tradições, valores, representações, diretamente 
vinculados com a memória social.
A preservação do patrimônio no Brasil
Quando falamos em “conservação”, “fomento”, “preservação”, “promoção” e 
“proteção” estamos falando sobre a mesmas iniciativas? Quais as diferenças? 
O que implica, ou melhor, o que fica subentendido quando afirmamos que um 
patrimônio precisa ser preservado? Significa que ele deve ser conservado 
para as futuras gerações ou significa que eleestá sob ameaça? Ou, ainda, 
as duas coisas?
O debate sobre a preservação do patrimônio é extenso, e, no Brasil, a 
chamada “política patrimonial” foi sendo constituída de forma lenta e gra-
dual desde os anos 1930, quando certos intelectuais passaram a reivindicar 
ao estado determinadas políticas referentes à preservação do patrimônio 
(LOPIS, 2017).
Desta forma, em 1937, durante a ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas, 
foi criado o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), 
objetivando a defesa do patrimônio artístico e histórico brasileiro.
Primeiro momento da preservação patrimonial brasileira seguiu uma concepção 
de política cultural de “Pedra e Cal”. Pois, para estes intelectuais, era urgente a 
preservação de elementos patrimoniais arquitetônicos. Principalmente os do 
período colonial brasileiro. Nesse período, chamado de 1º Momento da Preservação 
Patrimonial, predominou a perspectiva estética sobre qualquer outra. Os pioneiros 
do IPHAN, com apoio da elite culta, criaram a consciência nacional que deu suporte 
a uma prática de proteção ao patrimônio baseada no tombamento (tombar signi-
fica inventariar ou inscrever nos 4 livros de tombo). Eles eram os porta-vozes da 
sociedade brasileira e agiam em nome do interesse da nação (LOPIS, 2017, p. 15).
O patrimônio histórico e cultural no Brasil6
É importante salientar que, para esses intelectuais, a identidade nacional 
seria expressa por meio da sua memória materializada no patrimônio. Esses 
pensadores foram importantes para difundir a chamada “retórica da perda”:
[...] a ameaça da destruição, o que levaria à perda da identidade, da memória 
brasileira. Por isso, a necessidade em resgatar valores, o que seria autêntico 
por estar mais próximo daquilo que significava, através da preservação de seus 
monumentos, seus bens patrimoniais reconhecidos como tal (LOPIS, 2017, p. 15).
As mudanças nas políticas de preservação do patrimônio evidenciam novas 
concepções a respeito da conservação e da valorização de determinados 
bens. A partir do final dos anos 1950, houve uma valorização da chamada 
“cultura popular”, com a criação do Centro Nacional de Folclore e Cultura 
Popular, criado em 1958 (LOPIS, 2017). Hoje esse órgão integra a estrutura do 
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacionais (IPHAN) e é responsável 
pelos procedimentos de registro de bens culturais do patrimônio imaterial.
A promulgação da Constituição de 1988; as reformulações SPHAN, dando 
origem ao IPHAN; e o registro de itens do patrimônio imaterial como parte 
do patrimônio cultural são marcos importantes na legislação patrimonial 
brasileira e serão abordados na próxima seção.
Foi também a partir do século XXI que houve um processo de descentra-
lização da política de preservação patrimonial. 
Nos dias de hoje, os discursos sobre patrimônio enfatizam seu caráter de constru-
ção ou invenção, derivado das concepções antropológicas de cultura, que passa a 
ser tomada como sistema simbólico, como estruturas de significado pelas quais 
os homens orientam suas ações. Vale notar que, em vez da ideia de autenticida-
de – originalidade e permanência – que guiava o campo da preservação, agora 
são tomadas como parâmetro as noções de referência cultural e de continuidade 
histórica (LOPIS, 2017, p. 15–16). 
De acordo com Sant’anna (2009, p. 51): 
[...] as noções de autenticidade e permanência fundam a prática de preservação 
ocidental e orientam toda a sua lógica, conduzindo à criação de instrumentos 
voltados para a proteção, guarda e conservação dos bens patrimoniais, pelo tempo 
mais longo e da forma mais íntegra possíveis.
Mas o que implica a conservação e a preservação de um patrimônio? Essa 
é considerada uma temática polêmica, porque envolve interesses diversos 
e, muitas vezes, contraditórios e conflituosos, principalmente se pensarmos 
nos binômios preservação-transformação e permanência-destruição (LOPIS, 
O patrimônio histórico e cultural no Brasil 7
2017). Escolher o que será preservado também implica uma seleção sobre o 
passado, subentendendo-se certa instrumentalização (ou uso) desse passado, 
que pode corresponder aos interesses de um grupo específico, deslocado 
do reconhecimento social.
Esse fato pode gerar alguns infortúnios e colaborar para a desvalorização 
do patrimônio, como lembra Lopis (2017, p. 16):
A degradação dos monumentos e a apatia populacional, com relação a esses 
eventos, em muitas situações são fruto do não reconhecimento daquela realidade 
enfocada pelo monumento como sendo sua, pois preserva-se o monumento de 
elite e a produção cultural popular pode ser esquecida, por tanto, passível de 
destruição.
As políticas de conservação e preservação estão inseridas em conflitos 
e negociações atravessadas por questões políticas, em que diferentes seg-
mentos da sociedade disputam o que será patrimonializado ou não. Devido 
à ausência de representatividade e à desigualdade que marcam a história 
do Brasil, sabemos que boa parte dos bens patrimonializados corresponde 
a uma cultura específica, o que faz uma parcela significativa da população 
não legitimar, não se reconhecer e não se identificar com o que é considerado 
patrimônio histórico nacional.
É claro que toda operação em relação ao passado operará a partir de 
uma seleção, e certas história, memória e identidade, materializadas em 
patrimônios, serão consideradas mais importante ou significativas do que 
outras, ou seja, reconhecidas em seu valor artístico e histórico. No entanto, 
é importante lembrar que essas operações não significam “preservar o pas-
sado”, mas uma narrativa específica sobre determinados acontecimentos, 
lugares e personagens.
Além disso, levando em consideração as desigualdades locais e regionais 
no Brasil, a análise de Lopis (2017, p. 18) faz muito sentido, recuperando o 
interesse de diferentes atores nesse processo:
As diferenças regionais e setoriais contribuem para essa disparidade, já que há uma 
apropriação privilegiada de determinadas localidades por possuir informação e 
formação para compreender e controlar melhor a dinâmica das questões patrimo-
niais. Desta forma, o patrimônio serve como recurso para reproduzir as diferenças 
entre grupos sociais. E sendo o patrimônio, um elemento de disputa econômica, 
política e simbólica, este elemento está “cruzado” pela ação de três agentes: o 
setor privado, o estado e os movimentos sociais. Muitas vezes, as contradições 
relativas ao uso do patrimônio, tem a marca da interação entre esses setores, que 
tentam se sobrepujar um ao outro em diferentes períodos.
O patrimônio histórico e cultural no Brasil8
Vejamos, de forma bastante suscinta, de que forma se apresentam 
os interesses do setor privado, do estado e dos movimentos sociais 
na preservação do patrimônio, de acordo com Lopis (2017).
Setor privado: geralmente, seus interesses giram em torno da exploração 
imobiliária de certos bens culturais, como edificações e espaços. 
As ações mais destrutivas do setor privado ocorrem quando não existem políticas 
públicas que definem e regulem o desenvolvimento econômico e estabeleçam um 
marco gera para o desempenho de cada setor em suas ações relativas ao patrimônio. 
Entretanto, a ação privada não pode ser vista somente como destrutiva. Existem 
grupos em seu cerne que apreciam o valor simbólico do patrimônio, pois este 
incrementa o valor econômico (LOPIS, 2017, p. 18).
Estado: ator com posição ambivalente em relação ao patrimônio, mesmo que 
seja a instituição elaboradora de legislação e políticas públicas para preservação 
patrimonial. De acordo com Lopis (2017, p. 18), essa ambivalência se dá: 
[...] pois por um lado o valoriza e o promove como elemento integrador de sua 
nacionalidade, além da utilização da ação do estado na restauração de centros 
históricos e na criação de museus e espaços dedicados a preservação da memória 
para sua utilização como elemento ideológico unificador. Mas a utilização do uso 
indiscriminado do patrimônio para fins turísticoscompõe o lado preocupante da 
ação deste setor com relação à preservação do objeto monumento.
Movimentos sociais: diferentes movimentos sociais, vinculados a questões 
culturais e históricas, mas também ambientais e urbanísticas, têm apontado os 
problemas da ausência de políticas para a educação e a preservação patrimonial.
Vejamos algumas formas de preservação do patrimônio cultural e his-
tórico previstas na legislação brasileira e nas convenções em que o Brasil 
é signatário.
 � Inventário: levantamento por meio de estudos que identificam, com 
fins de preservação, os diversos tipos de patrimônio.
 � Registros: forma de preservação de bens culturais imateriais realizada 
a partir de registros em livros específicos. São exemplos de bens cul-
turais imateriais as celebrações, as formas de expressão e os saberes 
que fazem parte da memória social de diferentes grupos que formam 
a sociedade brasileira.
 � Vigilância: forma de preservação que se dá por meio da inspeção do 
poder público em bens tombados, particulares ou não.
 � Tombamento: forma de preservação que impõe sua conservação da 
propriedade pública ou privada que tenha sido declarada com valor 
cultural ou histórico.
O patrimônio histórico e cultural no Brasil 9
Vamos conhecer, no próximo item, algumas dessas leis e convenções que 
orientam as políticas de preservação do patrimônio do Brasil.
As políticas de preservação patrimonial 
no Brasil
Como dito anteriormente, a história das políticas de preservação patrimonial 
no Brasil se iniciou em 1937, com a criação do SPHAN, em 30 de novembro 
de 1937. O Decreto-lei nº 25 de 1937 continua sendo o principal instrumento 
jurídico utilizado até hoje pelo IPHAN, “[...] com o objetivo de articular o 
tema de patrimônio com cultura nacional e o projeto de descentralização do 
poder do Estado como uma tendência natural das democracias modernas” 
(CARVALHO, 2011, p. 117).
Segundo Carvalho (2011, p. 118), em 1936, um anteprojeto, elaborado 
por Mário de Andrade objetivava:
a criação de um serviço para defender e conservar o patrimônio artístico nacio-
nal, o que, em sua essência, já revelava a preocupação do artista modernista 
de 1922 com a defesa de bens culturais de identidade nacional. Embora esse 
anteprojeto não tenha sido aprovado, ele não perdeu o valor de documento para 
contextualizar a história de patrimônio nacional. O Estado Novo já se autopro-
clamava guardião dos ideais nacionais, do incremento e da defesa da produção 
nacional. A intelectualidade brasileira, na época, buscava os fundamentos que 
dessem especificidade à nação brasileira. Foi a etapa da redescoberta do Brasil, 
de sua história, geografia, língua, literatura, etnia, economia, saúde, política, 
cultura; enfim, de tudo que explicasse a realidade do nosso país. Patrimônio, 
determinismo, evolucionismo e darwinismo social tornaram-se mecanismos 
de explicação.
Foi por meio dessa legislação que se criou o “tombamento”. “Tombar” 
significa registrar determinado bem em um livro-tombo, restringindo o direito 
à propriedade e impondo a questão da conservação. 
O tombamento, como ação do Estado por decreto, não chega a absorver a vontade 
da população, nem cria mecanismos internos ao seu discurso de proteção da con-
vivência harmônica entre um bem cultural de expressão do colonizado europeu e 
os colonizados em processo de busca de identidade nacional, em tempo de busca 
de identidade nacional, mas já oferece meios importantes para não apagar ou 
rasurar um patrimônio que se vai tornando referência para o homem brasileiro 
(CARVALHO, 2011, p. 118).
O patrimônio histórico e cultural no Brasil10
De acordo com Carvalho (2011, p. 118):
O Decreto-Lei Federal nº 25 é a primeira norma jurídica de que se dispõe objeti-
vamente sobre patrimônio, faz referência acerca da limitação administrativa ao 
direito de propriedade e define patrimônio histórico e artístico da União como 
conjunto de bens móveis e imóveis existentes no País e cuja conservação seja de 
interesse público, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, 
bibliográfico ou artístico. Trata-se de Lei federal determinando o sujeito de controle 
do patrimônio histórico. O instituto do tombamento surge para dar ao Estado o 
direito de proceder ao tombamento de bens de particulares.
De acordo com Porta (2012), o conceito de patrimônio histórico e artístico 
que orientou a atuação do IPHAN em suas primeiras décadas estabelecia 
que a função do órgão era identificar e proteger bens que se destacavam 
por sua excepcionalidade artística, histórica ou monumental, de acordo com 
os critérios que os intelectuais participantes do órgão estabeleciam para a 
configuração da identidade nacional:
Por muito tempo, a atenção e as energias do principal órgão de preservação do 
país, que moldou a constituição dos órgãos estaduais, estiveram estritamente 
voltadas à proteção do legado material da colonização portuguesa e do período 
imperial. Esse foco concentrou a ação do Iphan no Rio de Janeiro, em Minas Gerais 
e nos estados em que estão presentes os maiores legados da cultura do açúcar, 
destacadamente, Bahia e Pernambuco (PORTA, 2012, p. 11).
Essa legislação foi complementada em 1941, pelo Decreto-lei nº 3.866, que 
dispõe sobre o cancelamento do tombamento pelo presidente da República, 
e, em 1975, pela Lei nº 6.292, que introduz homologação ministerial no pro-
cedimento de tombamento (CARVALHO, 2011).
Foi a partir dos anos 1970, acompanhando um movimento transnacional 
de debates sobre o patrimônio, que, no Brasil, houve discussões sobre a 
ampliação da definição de bens que deveriam ser preservados. Além disso, 
procurou-se evidenciar que não somente a cultura europeia deveria ser 
destacada como constituinte do patrimônio brasileiro, mas também a cultura 
afro-brasileira e dos povos originais, destacando que a cultura brasileira se 
forma por um contínuo processo de contato de uma diversidade de experi-
ências e saberes.
Tais legados, pouco presentes na forma de edificações ou monumentos, mas larga-
mente reconhecíveis em saberes, modos de fazer, celebrações e expressões artísticas, 
estavam contemplados no projeto de criação do Iphan elaborado por Mário de Andrade, 
O patrimônio histórico e cultural no Brasil 11
mas não foram incorporados ao modelo adotado em termos de instrumentos de ação 
e metodologias de pesquisa. Não eram, portanto, alvo de pesquisa e de preservação. 
Do mesmo modo, os constantes aportes culturais dos diversos fluxos imigratórios, 
que se traduziram em legados materiais e imateriais, ainda permaneciam fora do 
foco (PORTA, 2012, p. 12).
O SPHAN, posteriormente, transformou-se no IPHAN, responsável atual-
mente pela preservação do patrimônio brasileiro.
A política de preservação do patrimônio mudaria, posteriormente, com 
a promulgação da Constituição de 1988, representando um novo marco na 
elaboração dessas políticas: 
[...] em seus artigos 5, XXIII e 170, III, a função social da propriedade é destacada, 
por isso se pode entender que a propriedade tombada visa a garantir a proteção 
ao patrimônio histórico e cultural do país. O art. 216 preceitua taxativamente quais 
as formas de cultura que podem ser alcançadas pelo instituto do tombamento; e, 
dentre outros, o artigo 30, inciso IX que dispõe da competência para promover a 
proteção do patrimônio histórico-cultural local (CARVALHO, 2011, p. 118).
A política de preservação do patrimônio cultural e natural da humani-
dade, instituída pela Organização das Nações Unidas para a Educação, 
a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 1946 e reelaborada em 1972, foi fundamental 
para o tombamento de cidades históricas brasileiras. Ouro Preto, em Minas 
Gerais, foi declarada, em 1968, Patrimônio da Humanidade (CARVALHO, 2011).
De acordo com Porta (2012, p. 12):
A Constituição Federal de 1988, modernizadora também no tocante ao patrimônio, é 
considerada um marco para a atualização da política de preservação do patrimônio 
no país. O texto constitucional alargou não apenas oconceito de patrimônio, mas 
as responsabilidades pela sua preservação e os instrumentos para efetivá-la. 
Com a ampliação do conceito de patrimônio por meio do texto constitu-
cional de 1988, houve uma preocupação com os chamados bens imateriais, 
que culminou com a promulgação do Decreto nº 3.551, de 4 de agosto de 2000, 
instituindo o registro de bens culturais de natureza imaterial e criando o Pro-
grama Nacional do Patrimônio Imaterial, com o objetivo de implementar uma 
política específica de inventário, referenciamento e valorização desses bens.
Essas transformações nas políticas de preservação patrimonial correspon-
dem à ratificação, por parte do Brasil, de acordos e convenções internacionais, 
celebradas junto à UNESCO.
O patrimônio histórico e cultural no Brasil12
Referências
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Rio de Janeiro: Lamparina, 2009.
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de Natureza Imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro, cria o Programa 
Nacional do Patrimônio Imaterial e dá outras providências. Brasília: Presidência 
da República, 2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/
d3551.htm#:~:text=DECRETO%20N%C2%BA%203.551%2C%20DE%204,Imaterial%20e%20
d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias. Acesso em: 17 fev. 2021.
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Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio, Rio de Janeiro, 
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CHAGAS, M. As oficinas educativas do Museu Casa de Rui Barbosa: patrimônio cultural, 
memória social e museu: estímulos para processos educativos. Papéis Avulsos, Rio 
de Janeiro, n. 43, p. 31–49, 2002.
CHOAY, F. O patrimônio em questão: antologia para um combate. Belo Horizonte: Fino 
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PORTA, P. Política de preservação do patrimônio cultural no Brasil: diretrizes, linhas 
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ensaios contemporâneos. 2. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009.
Leituras recomendadas
CANANI, A. S. K. B. Herança, sacralidade e poder: sobre as diferentes categorias do 
patrimônio histórico e cultural no Brasil. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 
11, n. 23, p. 163–175, 2005.
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MARTINS, M. C.; ROCHA, H. H. P. Lugares de memória: sedução, armadilhas, esqueci-
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O patrimônio histórico e cultural no Brasil 13
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O patrimônio histórico e cultural no Brasil14
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Discutir o conceito de museu e sua relação com história e memória.
 > Apresentar as tipologias de museus e suas relações com o patrimônio 
cultural.
 > Identificar a função educacional dos museus e do patrimônio cultural.
Introdução
Durante muito tempo, os museus foram vistos como um espaço em que se expunha 
coleções com uma narrativa por muitas vezes irrefletida. Nas últimas décadas, 
houve uma revitalização dos museus e das narrativas museológicas, ainda mais 
porque nunca se arquivou e se colecionou tanto.
Pode ser paradoxal que, em um mundo em constante aceleração, de descarte 
e de obsolescência, e do culto pelo novo, as pessoas cada vez mais estejam inte-
ressadas em colecionar, guardar, invocar, lembrar e organizar bens que remetam 
a certa narrativa do passado. Esses atos tratam-se, contudo, de um sintoma dessa 
temporalidade presentista, que obriga a conservação do passado a partir de um 
presente que se expande para todas as direções. Nessa temporalidade, os museus 
assumem uma nova significação.
Neste capítulo, você verá o que é um museu e de que forma a concepção desse 
espaço se relaciona com a história e a memória. Conhecerá os diferentes tipos de 
museus e de que forma contribuem para a preservação do patrimônio cultural. 
Por fim, aprenderá quais são as funções pedagógicas dos museus, pensados como 
ferramenta para a educação patrimonial.
Os museus e o 
patrimônio cultural
Caroline Silveira Bauer
Museus, entre a história e a memória
Eles estão por todas as partes e são de diferentes tipos. Mas você sabe o que 
define uma instituição como um “museu” e quando essa instituição surgiu?
Segundo o Conselho Internacional de Museus (ICOM, 2007, p. 44), museus 
“[...] são instituições permanentes, sem fins lucrativos, à serviço da sociedade 
e do seu desenvolvimento, abertas ao público, que adquirem, conservam, 
investigam, comunicam e expõem o patrimônio material e imaterial da hu-
manidade e do seu meio com fins de educação, estudo e deleite.”.
A origem da palavra remete à antiguidade grega, Mouseion, nome do 
templo das nove musas que representavam as artes e as ciências. Esses 
templos eram espaços de contemplação e estudos artísticos e científicos.
Para Iniesta Gonzàlez (2018), os museus modernos em nada se assemelham 
aos “museum” renascentistas, e, a partir do século XVIII, com a separação 
entre o campo das artes e o das ciências, os preceitos colecionistas, de âmbito 
privado, adquirem um caráter público, com o surgimento de instituições que 
explicitam uma nova cultura política.
O museu, dessa forma, se converte em um órgão político que buscará 
representar consensos e um lugar de memória em que as nações passam 
a render homenagens a si mesmas. O Estado pode, assim, difundir entre 
seus cidadãos o sentimento de compartilhar determinadas narrativas sobre 
suas identidades, suas histórias e suas memórias (INIESTA GONZÀLEZ, 2018). 
Trata-se de um processo paralelo às transformações ocorridas no conceito 
de patrimônio, que migra da esfera privada para a pública, designando a 
propriedade coletiva simbólica sobre bens que representam a “grande família” 
que é a nação.
Ao longo do século XIX, debateu-se nos museus e sobre os museus a 
respeito da conferência de sentido e significado de determinados objetos; 
sobre a construção de distâncias entre o passado e o presente, de acordo 
com determinados interesses; e quanto à conformação das fronteiras entre 
as disciplinas, dominando, no âmbito dos museus históricos, uma narrativa 
metódica e positivista, demonstrando a “evolução” da “humanidade” – en-
quanto um coletivo singular – e o progresso da história humana. Nos museus 
etnológicos, para citar outro exemplo, destacavam-se discursos nostálgicos 
frente à aceleração temporal promovida pela Revolução Industrial. Por meio 
das narrativas museológicas dessas instituições, acreditava-se ser possível 
conferir estabilidade e permanência através da cultura material organizada 
(INIESTA GONZÀLEZ, 2018).Os museus e o patrimônio cultural2
A partir da segunda metade do século XX, houve um intenso debate a 
respeito da instituição museu, que parecia obsoleta, ainda que vigente, frente 
às mudanças experimentadas pela humanidade. Nos anos 1980, segundo 
Iniesta Gonzàlez (2018), conformam-se três correntes críticas à ideia de museu 
associada às práticas do século XIX:
 � modelo compensatório ou neoconservador, para quem a erosão da 
ideia de tradição da Modernidade explica a proliferação dos espaços 
de recordação;
 � modelo pós-estruturalista, que teorizou o fim dos museus no final do 
século passado;
 � modelo da teoria crítica, que relaciona o fenômeno da eclosão de 
espaços memoriais com uma nova forma de consumo capitalista.
Podemos afirmar que, a partir dessas críticas, a instituição museu sofreu 
grandes transformações, e seus acervos adquiriram novas formas de mani-
festação, novos formatos e novos objetivos. Ainda assim, segundo Santos 
(2009, p. 115), os museus parecem guardar alguns traços que remetem ao 
sentido que lhes foi atribuído ao longo do século XIX: 
Os museus caracterizam-se por coletar objetos que não pertencem mais à com-
preensão cotidiana da vida, estranhos ao tempo e à história que envolve. No 
entanto, essas instituições, além de contar a história do passado por meio de seus 
fragmentos, são essencialmente história. [...] As narrativas históricas reconstroem 
o passado de diversas maneiras e, além disso, os museus apresentam uma singu-
laridade importante nesse narrar, que é a presença de objetos.
Para analisarmos a relação dos museus com a história e a memória, vamos 
partir da reflexão de Chagas (2009, p. 159–160) sobre a memória social e sua 
conformação:
Uma memória só pode ser social se puder ser transmitida e, para ser transmitida, 
tem que ser primeiro articulada. A memória social é, portanto, memória articulada. 
Essa articulação, como os autores observam, não se dá apenas por meio de palavras 
verbalizadas ou grafadas, mas também por imagens. Assim, do mesmo modo como 
há um vocabulário, há um imaginário vinculado à memória social. Esse imaginário 
social, produzido a partir dos indivíduos, é complexo, dinâmico e processual. De 
outro modo, tem sutilezas, reentrâncias e saliências, dobras e ondulações, e não 
está dado de maneira definitiva; ao contrário, está em construção. Imagens que 
estavam iluminadas podem, de uma geração para outra, ser lançadas na sombra 
e vice-versa. A noção fundamental é que, sem transmissão, a memória social não 
se constitui. A transmissão, portanto, implica a atualização da memória.
Os museus e o patrimônio cultural 3
De acordo com essa passagem, os museus aproximam-se da história e 
da memória por dois vieses: pela elaboração de uma narrativa sobre deter-
minado passado, sobretudo os museus de cunho histórico, mas também, e 
principalmente, pela ideia de transmissão. E quando falamos em transmissão 
e associando às instituições museológicas, estamos fazendo referência direta 
à preservação. 
Preservar é ver antes o perigo de destruição, valorizar o que está em perigo e 
tentar evitar que ele se manifeste como acontecimento fatal. Assim, a preservação 
participa de um jogo permanecente com a destruição, um jogo que se assemelha, 
totalmente, ao da memória com o esquecimento (CHAGAS, 2009, p. 160).
Os tipos de museus
Podemos afirmar que existem muitos tipos de museus, e uma tipologia pode 
ser construída tanto a partir da especificidade de seu acervo (artefatos arque-
ológicos, obras de arte, paisagens, etc.) como em relação aos seus objetivos 
de construção de certa narrativa sobre o passado, seja ela historiográfica, 
identitária ou memorial.
Hoje em dia, possuíamos instituições cujo tipo é facilmente identificado 
e outras que são híbridas ou que abrangem uma definição mais ampliada 
de patrimônio, sendo mais difícil categorizá-las. Além disso, desde o início 
do século XXI, os museus virtuais vêm sendo popularizados, tornando ainda 
problemáticas certas tipologias anteriormente aceitas. Afinal de contas, o 
acervo de um museu disponibilizado on-line configura um novo museu ou 
se trata apenas de uma virtualização?
Na impossibilidade de abordarmos todos os tipos de museus existentes, 
vamos nos deter em alguns casos e enunciar outros modelos. Comecemos 
pelos museus históricos, que, segundo Santos (2009), estão diretamente 
relacionados à construção dos Estados nacionais e do discurso cientificista e 
historicista. Esses museus visavam forjar certa história, identidade e memória 
dos cidadãos das novas formações administrativas e políticas surgidas nos 
séculos XVIII e XIX.
Esse processo também pode ser identificado no Brasil após o pro-
cesso de Independência, em que instituições colaboraram para a 
construção da identidade e da memória. No entanto, não se trata apenas de 
uma questão simbólica, mas política, com a perpetuação do poder das elites 
econômicas e políticas: 
Os museus e o patrimônio cultural4
A construção da nação vincula-se a estruturas hierárquicas de poder e à inclusão 
tardia da população negra, mesmo assim a partir de traçados racistas e excludentes. 
Ironicamente, em que pensem as grandes diferenças entre nações, um dos temas 
centrais da intelectualidade e das elites é justamente a procura da singularidade 
nacional (SANTOS, 2009, p. 116).
Esta compreensão é compartilhada por Chagas (2009, p. 139), para quem, 
nos museus nacionais, sobretudo os históricos, “[...] está em pauta a preser-
vação, o uso e a transmissão de determinada herança cultural, composta de 
fragmentos a que se atribui o papel de representação do nacional, ou melhor, 
de representação de determinados eventos, narrados sob determinada ótica.”. 
Esse material simbólico, articulado a partir do presente, pode ser convertido na 
memória de um país, uma memória política. Além disso, é preciso lembrar que 
essas preservação e transmissão estão atreladas às políticas desenvolvidas 
pelas instituições museológicas, das quais dependem para se concretizar.
Quanto aos museus de ciência e de história natural e os museus de arte, 
serão abordados juntos, para estabelecer uma diferenciação em sua proposta 
e em seus públicos. De acordo com Almeida (2005), citando Sicard (2001), 
as definições quanto a esses museus se consolidaram na França durante o 
Iluminismo. “No final do século XVIII ocorreu a dessacralização dos objetos de 
arte, cujo valor passou a equiparar-se aos objetos científicos e pedagógicos. 
Entretanto, no decorrer dos séculos XIX e XX os objetos artísticos passaram 
a ser mais valorizados do que os demais.” (ALMEIDA 2005, p. 35). 
Segundo a autora, outra distinção entre os museus de arte e de ciência 
diz respeito ao campo profissional: enquanto para os artistas e para os 
historiadores a ida aos museus parece indissociável de sua profissão, um 
cientista, enquanto pesquisador, não é cobrado ou repreendido caso não 
realize essas visitas (ALMEIDA, 2005).
Almeida (2005, p. 36) explicita a construção desses estereótipos, identificando 
sua construção e posicionando-se contrariamente à manutenção dessa visão:
Nas trajetórias dos museus de arte e de ciência, ao longo do tempo, foi se con-
solidando a noção de que a arte pertence a um mundo acima da realidade coti-
diana, superior a esta, e só pode ser compreendida por uma minoria iniciada e 
conhecedora de sua história, ao passo que a ciência, entendida como uma área 
do conhecimento dedicada ao mundo prático e imediato, não exigiria o domínio 
de sua história para a compreensão dos fenômenos estudados. Não concordamos 
com a desconsideração dos aspectos históricos da ciência para a sua compreensão, 
assim como não aceitamos que a arte só pode ser entendida e apreciada por alguns 
poucos iniciados. Entretanto, muitos museus parecem colaborar na continuidade 
dessas crenças, conforme evidencia o estudo dos públicos desses museus e a 
avaliação de suas exposições.
Os museus e o patrimônio cultural 5
Além dos casos citados, podemos falar em espaços musealizados,como 
locais em que ocorreram determinados eventos considerados importantes 
para a história (p. ex., o lugar de uma batalha), ou então de paisagens, como 
parques naturais; ou ainda de cidades-monumentos.
Os parques naturais constituem-se como exemplos da musealização de 
um território. Nesses espaços, a ênfase é dada aos diversos elementos que 
compõem um ecossistema, incluindo a presença humana, valorizando-se os 
processos culturais e naturais, suas consequências e seus produtos. Além 
dos elementos que constituem os parques, podem existir exposições mais 
tradicionais, com espécimes e objetos que façam referência ao ecossistema 
explorado de forma museológica.
Quanto às cidades-monumento, também se caracterizam por ter 
seu território musealizado. A “exposição” é todo o conjunto da cidade, 
incluindo sua arquitetura, seus habitantes, etc. Nesses casos, existe 
uma valorização da ação dos seres humanos e de sua presença nesse 
espaço, transformando a natureza. Diferentemente dos parques em 
que o destaque é conferido ao tempo natural, nas cidades-monumento 
enfatiza-se o tempo social e, em sítios arqueológicos, o tempo geológico 
e o tempo humano. Nos casos das cidades-monumento, podem existir 
exposições tradicionais (vinculadas à temática da cidade), mas também 
todas as outras formas de museus. A cidade de Ouro Preto, em Minas 
Gerais, por exemplo, é uma cidade-monumento, declarada patrimônio 
da humanidade pela Unesco.
Por fim, podemos falar dos museus virtuais, museus digitais ou cibermu-
seus. De acordo com Brito e Magaldi (2018, p. 2): 
[...] as possibilidades tecnológicas, quando associadas aos museus, diversi-
ficam e facilitam o entendimento da sociedade que ainda não associou ao 
senso comum o entendimento de museu virtual para além da internet e das 
TICs. O conceito de virtual, quando associado aos museus e ao acervo, nos 
faz questionar sobre a própria ideia de permanência, geralmente associada 
ao conceito de museu.
Algumas experiências que relacionam o museu ao meio digital e ao meio 
virtual podem ser encontradas na internet como, por exemplo, os museus 
afro-digitais. O Museu Afro-Digital da Memória Africana e Afro-Brasileira, 
da Universidade Federal da Bahia (UFBA), surge com a finalidade de mu-
sealização e divulgação em rede de acervos relativos aos estudos afro-
-brasileiros, de registros da cultura popular afrodiaspórica, tanto no Brasil 
como na África. 
Os museus e o patrimônio cultural6
Visite o Museu Afro-Digital da Memória Africana e Afro-Brasileira, da 
Universidade Federal da Bahia, fazendo uma busca por ele na internet.
A relação dos museus com o patrimônio cultural
De que maneira esses diferentes tipos de museus se relacionam com o patri-
mônio cultural? Lembrando que o patrimônio cultural, seja ele referente a bens 
materiais ou imateriais, é diverso e múltiplo, e a preservação e a transmissão 
desses aspectos culturais podem ser realizadas por essas instituições.
De acordo com Pinheiro (2015), as declarações internacionais da Unesco, 
das quais o Brasil é signatário, demonstram de que forma os museus podem 
ser concebidos enquanto espaços para a promoção do patrimônio cultural 
dos países. A Declaração de Santiago, de 1972, por exemplo, determinava que 
os museus deveriam estar a serviço das populações, desempenhando suas 
funções políticas e sociais. Duas décadas depois, a Declaração de Caracas, 
de 1992, reforçaria o compromisso social dos museus, e, paralelamente a 
esse reforço, promoveu uma redefinição de “objeto museológico” a partir 
da ampliação da noção de patrimônio (PINHEIRO, 2015).
A partir dessas declarações, os museus passaram a ser vistos como
[...] um instrumento de intervenção capaz de mobilizar von tades e esforços para 
a resolução de problemas comuns, no seio das comunidades humanas onde se 
encontram. O museu de base comunitária é, portanto, aquele em que os membros 
do território, são protagonistas de sua formulação, execu ção, manutenção e gestão, 
no qual deve haver acompanhamento de uma equipe interdisciplinar, dentre os 
seus membros museólogos e especialistas na área de arte, educação, patrimônio 
etc., de preferência formados na própria comunidade (PINHEIRO, 2015, p. 61–62).
Nessa relação ampliada entre a comunidade, os museus e o patrimônio, 
os museus deixaram de ser considerados como “[...] instituições intocáveis, 
inquestionáveis, onde se priorizava o culto e repositório dos valores e modos 
de vida da elite detentora do poder, como espaço de abrigo das coleções, 
peças emblemáticas do viver elitista [...]”, passando a ser percebido como “[...] 
uma instituição vital na comunidade, um dos alicerces da consciência social e 
política [...]. O espaço museológico ganha o status de território habitado, com 
o patrimônio integrado, idealizado com e pela comunidade, um ins trumento 
de desenvolvimento para seus habitantes, um fator de sustentabilidade.” 
(PINHEIRO, 2015, p. 62).
Os museus e o patrimônio cultural 7
Função pedagógica dos museus como 
educação patrimonial
Até o momento, permaneceu subentendida uma dimensão educativa ou 
pedagógica dos museus. Nesta seção, vamos explicitar uma compreensão do 
museu como um espaço educativo e explorar sua potencialidade na promoção 
da educação patrimonial.
Portanto, é necessário que partamos de uma definição de “espaço edu-
cativo”. De acordo com Faria (2010, p. 25):
Todo espaço que possibilite e estimule, positivamente, o desenvolvimento e as 
experiências do viver, do conviver, do pensar e do agir consequente [...]. Portanto, 
qualquer espaço pode se tornar um espaço educativo, desde que um grupo de 
pessoas dele se aproprie, dando-lhe este caráter positivo, tirando-lhe o caráter 
negativo da passividade e transformando-o num instrumento ativo e dinâmico da 
ação de seus participantes, mesmo que seja para usá-lo como exemplo crítico de 
uma realidade que deveria ser outra [...] o espaço não é educativo por natureza, 
mas ele pode tornar-se educativo a partir da apropriação que as pessoas fazem 
dele, ou seja, o espaço é potencialmente educativo.
Mas como se dá o processo de ensino e aprendizagem nos museus? De 
que forma eles contribuem para a divulgação científica e desempenham 
suas funções pedagógicas relacionadas ao seu papel científico, cultural 
e social?
Primeiro, é importante lembrarmos que os museus elaboram narrati-
vas próprias, chamadas de “discurso museológico” a partir dos elementos 
presentes nas coleções e exposições, na sua composição, nas temáticas 
exploradas e nas formas de interação com o público. Nesse sentido, essa 
dimensão educativa se difere do ensino escolar quanto à intencionalidade, 
à organização e às formas de ensino e aprendizagem.
Mesmo que os museus possam ser submetidos a “[...] um processo de 
escolarização dos museus, com a incorporação de métodos e finalidades 
do ensino escolar nesses espaços de educação não formal, ocasionando 
uma distorção quanto à área de atuação dos museus, restringindo-os a um 
complemento escolar [...]” (PEREIRA; VALLE, 2017, p. 836), eles não podem ser 
confundidos com o espaço escolar, mas entendidos como espaços de educação 
não formal. De acordo com Studart (2005 apud PEREIRA, VALLE, 2017, p. 836), 
“[...] na educação não formal, ao contrário daquela que acontece na escola, os 
interesses particulares dos indivíduos prevalecem, com liberdade de escolha 
de suas preferências e liberdade de acesso ao conhecimento, sem terem seu 
conhecimento colocado à prova.”.
Os museus e o patrimônio cultural8
A partir dessa perspectiva, os museus, como um espaço para a edu-
cação patrimonial (a promoção da diversidade e a preservação de 
bens culturais de diferentes tipos), transformam-se em instrumentos de desen-
volvimento econômico, político e social. Assim, os museus são entendidos como 
um “[...] fórum de debates e de conquistas cidadãs [...]” (PINHEIRO, 2015, p. 56).
Vejamos, então, de que forma os museus, como promotores do patrimônio 
cultural, podem exercer suas funções pedagógicas. Segundo Morin(2000 
apud PINHEIRO, 2015, p. 57), esse ensino se dá por meio de “[...] processos 
de conhecimento, um conhecimento pertinente, que enseje a identificação, 
compreensão, incerteza, percepção de nossa condição planetária e res-
ponsabilidade uns para com os outros.”. Isso significa atribuir sentidos aos 
patrimônios e, de acordo com Pinheiro (2015, p. 57):
Atribuir sentidos é compreender a identidade humana, perceber que so mos indiví-
duos históricos e culturalmente elaborados, aceitar que somos um fragmento do 
mundo no qual vivemos, do planeta que habitamos, um complexo entre comunidade 
e sociedade, suas interações; somos múltiplos com uma com plexidade indecifrável, 
imersos em uma infinidade de múltiplos de culturas, de identidades; é preciso que 
percebamos a nossa individualidade na complexidade das relações humanas, em 
uma sociedade diversa e singular. Atribuir sentidos aos patrimônios é compreender 
a nossa condição humana, compreender a diversidade de explicações, sobretudo, 
compreendermos uns aos outros, realizar a comunicação humana, colocar-se no 
lugar do outro, uma difícil tarefa em uma sociedade individualista, que não percebe 
a existência do outro, que o rejeita e o reduz ao nada, logo é preciso uma autoa-
valiação e exame. Atribuir sentidos é aceitar a incerteza, o inesperado, temos que 
ser fortes e não desencorajarmos diante dos desafios. Ter consciência de nossa 
condição planetária, de um mundo globalizado, imerso em informações velozes, 
que não conseguimos processar e organizar.
Entendidos como um espaço de ensino e de aprendizagem, e com grande 
potencialidade para a educação patrimonial e para o ensino de história, é impor-
tante lembrar que os museus são espaços de sociabilidade; fórum de debates e 
de exploração de controvérsias; de troca de saberes, experiências e práticas; de 
afirmação da diversidade cultural e identitária; de construção e fortalecimento de 
memórias sociais e de valores socialmente compartilhados; de estabelecimento 
de vínculos e de interlocução comunitária. E todas essas características são 
compartilhadas com habilidades a serem desenvolvidas no ensino de história. 
“Portanto, são indiscutíveis as potencialidades dos patrimônios e dos museus, 
dos saberes e fazeres presentes nas comunidades, para estudos, inves tigações, 
sensibilizações e visibilidade da diversidade cultural.” (PINHEIRO, 2015, p. 58).
Os museus e o patrimônio cultural 9
Referências 
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Leituras recomendadas
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WAZENKESKI, V. F.; COSTA, H. H. F. G. A importância das ações educativas nos museus. 
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Os museus e o patrimônio cultural10
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Os museus e o patrimônio cultural 11
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Conceituar patrimônio imaterial.
 > Descrever o patrimônio imaterial brasileiro.
 > Identificar a contribuição do patrimônio imaterial para a formação da iden-
tidade cultural brasileira.
Introdução
Na atualidade, existe um consenso de que certas festas, práticas, ritos e saberes 
fazem parte de nosso patrimônio cultural e contribuem para a construção de 
identidades locais e regionais, e, até mesmo, de nosso reconhecimento como 
brasileiros. Porém, “patrimônio imaterial”, nomenclatura dada a todas essas 
manifestações, é um conceito relativamente novo, datado dos anos 1970. Foi a 
partir da pressão pelo reconhecimento das manifestações culturais populares e do 
folclore que países do Sul global reivindicaram na Organização das Nações Unidas 
para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) uma ampliação da concepção de 
patrimônio, o que implicaria uma mudança radical nas narrativas sobre o passado, 
em sua forma historiográfica, identitária e mnemônica.
Neste capítulo, definiremos o conceito de patrimônio imaterial, também cha-
mado “patrimônio intangível”, e apresentaremos o histórico de sua formulação. 
Em seguida, abordaremos o patrimônio imaterial brasileiro e a legislação criada no 
Brasil para a elaboração de políticas públicas nesse campo. Por fim, você poderá 
compreender de que forma o patrimônio imaterial contribui para a compreensão 
da diversidade na formação da cultura e da identidade brasileiras.
Patrimônio imaterial
Caroline Silveira Bauer
Definindo patrimônio imaterial
De acordo com Sandra Pelegrini, uma das maiores especialistas brasileiras 
no campo do patrimônio cultural, “patrimônio imaterial” é um conceito que:
[...] se refere a práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas 
— junto com instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são 
associados — que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos re-
conhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural (PELEGRINI, 2020, p. 71).
Segundo a autora, a formulação desse conceito foi possível a partir da 
ampliação da noção de patrimônio para além da materialidade, sendo essa 
uma vitória daqueles que reivindicavam que aspectos da cultura popular e 
do folclore fossem preservados como um legado às futuras gerações, prin-
cipalmente por suas funções de construção de identidades e sentimentos 
de continuidade e pertencimento. A partir dessa preservação e transmissão, 
buscavam assegurar o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana 
(PELEGRINI, 2020). Falaremos mais sobre a relação entre patrimônio imaterial 
e formação cultural e identitária na última seção deste capítulo.
No Dicionário Iphan do PatrimônioCultural, “patrimônio imaterial” é de-
finido como:
[...] um conceito adotado em muitos países e fóruns internacionais como com-
plementar ao conceito de patrimônio material na formulação e condução de 
políticas de proteção e salvaguarda dos patrimônios culturais, sob a perspectiva 
antropológica e relativista de cultura. Usa-se, também, patrimônio intangível 
como termo sinônimo para designar as referências simbólicas dos processos e 
dinâmicas socioculturais de invenção, transmissão e prática contínua de tradições 
fundamentais para as identidades de grupos, segmentos sociais, comunidades, 
povos e nações (VIANNA, 2016, documento on-line).
Nos processos de reconhecimento dos patrimônios imateriais, os 
grupos, as comunidades e os segmentos sociais envolvidos participam 
ativamente das ações de produção de conhecimento, reconhecimento 
oficial e salvaguarda. Isso porque esses bens somente serão preservados 
se incluírem esses sujeitos detentores desses conhecimentos, práticas e 
saberes (VIANNA, 2016).
Como assinalado por Vianna (2016), alguns autores preferem utilizar o termo 
“patrimônio intangível” em vez de “patrimônio imaterial”. Essa preferência 
se deve às confusões que podem se originar das noções de materialidade e 
imaterialidade. Quando falamos em imaterialidade, não estamos nos referindo 
Patrimônio imaterial2
exclusivamente a abstrações ou ideias, em contraposição aos bens materiais; 
referimo-nos àquilo que é efêmero, fugaz, transitório. Assim, o termo “intan-
gível” parece expressar melhor as características a que gostaríamos de fazer 
referência para distinguir o patrimônio material do imaterial.
Para uma melhor compreensão da ideia de imaterialidade/intangi-
bilidade de um bem patrimonial, vamos tomar como exemplo a arte 
dos repentistas, que, no improviso, a partir de uma palavra ou frase, elaboram 
um poema em forma de repente. Embora a presença física dos poetas e de seus 
instrumentos seja imprescindível para a execução do repente, esta forma de 
arte é produzida e tornada única pelos seus aspectos intangíveis, isto é, pela 
interação entre os repentistas, pelo improviso e pela agilidade na composição.
O conceito de patrimônio imaterial surgiu paralelamente à ampliação 
da definição de patrimônio. Isso ocorreu em um processo gradual, iniciado 
após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939–1945), quando as práticas e os 
processos culturais passaram a ser compreendidos como bens patrimoniais 
em si, sem a necessidade de ser materializados ou mediados (SANT’ANNA, 
2009). A redefinição da noção de patrimônio a partir de marcos legais e a 
sua consequente ampliação possibilitaram o desenvolvimento de reflexões 
sobre o biopatrimônio e o patrimônio genético, o que permitiu novas inter-
pretações sobre a relação entre a cultura e a natureza, aproximando a ideia 
do patrimônio natural do aspecto intangível (ABREU; CHAGAS, 2009).
Como aponta Sant’Anna (2009), o surgimento da noção de patrimônio 
imaterial, ou patrimônio intangível, está vinculado às manifestações e prá-
ticas culturais dos países do Sul global, que expressam outras formas de 
compreender o mundo e a relação dos seres humanos com a natureza. Sendo 
assim, podemos considerar a construção dessa noção como uma resistência 
às concepções anteriores de patrimônio, as quais estavam vinculadas a um 
tipo específico de definição de cultura, bastante etnocêntrica e que não 
valorizava as manifestações culturais populares e folclóricas.
No entanto, essa mudança não se deveu somente às reivindicações pelo 
reconhecimento, pela valorização e pela preservação das manifestações cultu-
rais dos países do Sul global. Como nos lembra Sant’Anna (2009), a ampliação 
do conceito de patrimônio também está relacionada às transformações nas 
noções de conservação e preservação, pois, da forma como eram definidas 
pelas culturas ocidentais, não abrangiam os novos bens patrimoniais.
Patrimônio imaterial 3
Segundo a autora:
A prática ocidental de preservação, fundada na conservação do objeto e na sua 
autenticidade, bem como na sua codificação legal, baseada, em última análise, 
na limitação do direito de propriedade, simplesmente não dá conta dessa nova 
noção de patrimônio cultural que ganhou consistência a partir dos anos 1970, por 
meio da incorporação de seus aspectos imateriais ou processuais. Percebe-se, por 
fim, que retirar um objeto de seu contexto social de uso e produção, declará-lo 
patrimônio, conservá-lo como uma peça única e colocá-lo num museu não abrange 
todas as situações em que é possível reconhecer um valor cultural e preservá-lo. 
Não faz sentido, por exemplo, nos casos em que o que tem valor não é o objeto, 
inúmeras vezes rapidamente perecível ou consumível; importa saber produzi-lo. 
Não faz sentido, igualmente, nos casos em que nem mesmo há objetos, mas apenas 
palavras, sons, gestos e ideias (SANT’ANNA, 2009, p. 52).
Se formos determinar um momento mais específico para o início des-
ses debates, poderemos assinalar a realização, em 1972, da Convenção 
do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, da Unesco. Nessa convenção, 
diversos países do Sul global passaram a reivindicar um instrumento de 
proteção às manifestações populares de valor cultural (SANT’ANNA, 2009). 
Posteriormente, a Conferência Geral da Unesco aprovou a Recomendação 
sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular, elaborada em 1989. 
Esse documento estabelece que os países membros devem identificar, 
salvaguardar, conservar, difundir e proteger a cultura tradicional e popular 
“[...] por meio de registros, inventários, suporte econômico, introdução de 
seu conhecimento no sistema educativo, documentação e proteção à pro-
priedade intelectual dos grupos detentores de conhecimentos tradicionais” 
(SANT’ANNA, 2009, p. 53). Evidencia-se, por meio dessa Recomendação, uma 
mudança na definição de patrimônio, bem como as suas implicações nas 
práticas de conservação e preservação.
Além dessa Recomendação, que reconhece a importância das culturas 
tradicionais e do folclore como patrimônios culturais, podemos assinalar 
outros três documentos do âmbito da Unesco como balizadores para a pre-
servação do patrimônio imaterial ou intangível:
 � o Programa Tesouros Humanos Vivos (1993), que reconhece os mestres 
dos saberes tradicionais e seu papel na transmissão de conhecimentos 
às novas gerações;
 � a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural (2002), que con-
clama a salvaguarda da diversidade cultural;
Patrimônio imaterial4
 � a Convenção sobre a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial 
(2003), que sistematiza e sintetiza as indicações e recomendações 
anteriores, aprimoradas a partir das experiências desenvolvidas em 
diferentes países.
O patrimônio cultural imaterial é um campo da área patrimonial em que a 
noção de diversidade cultural é instrumentalizada como forma de reconhecer 
as diferentes influências na conformação da cultura e das identidades. A seguir, 
vamos conhecer como esse campo se desenvolveu e se desenvolve no Brasil.
Reconhecendo o patrimônio imaterial 
brasileiro
Nos anos 1930, os então chamados “fatos culturais” já haviam sido reco-
nhecidos como patrimônio no texto do anteprojeto de criação do Serviço 
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan) — não sendo, todavia, 
enfatizado esse entendimento no projeto de criação da instituição. Foi ape-
nas décadas mais tarde que o Brasil teve o seu marco legal para a política 
de patrimônio cultural imaterial: a Constituição Federal de 1988. Essa nova 
compreensão se inseriu em um movimento mais amplo, iniciado ao final dos 
anos 1970, quando começaram a ocorrer algumas mudanças nos conceitos e 
nas práticas do campo do patrimônio nos espaços de discussão internacionais, 
passando as culturas populares tradicionais e o folclore a serem valorizados 
e passíveis de ações de patrimonialização (VIANNA, 2016).
O texto da Constituição de 1988 define o patrimônio imaterial como parte 
do patrimônio cultural brasileiro, trazendo consigo referênciasà identidade, à 
ação e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. 
Como exemplos de patrimônio imaterial, a Constituição cita as formas de 
expressão e os modos de criar, fazer e viver (VIANNA, 2016).
Segundo Abreu e Chagas (2009, p. 13):
Essa antiga preocupação havia ecoado nos grupos de discussão da área cultural 
durante a Constituinte de 1988, tanto assim que os artigos 215 e 216 da Constituição 
Federal referem-se, de modo explícito, às responsabilidades do “poder público, 
com a colaboração da comunidade”, na promoção e na proteção do patrimônio 
cultural brasileiro.
A partir da promulgação da Constituição de 1988, iniciou-se um debate 
no campo sobre a dimensão imaterial do patrimônio cultural, a fim de se 
desenvolver e se implementar uma política federal de preservação e promoção 
Patrimônio imaterial 5
desse patrimônio. Para criar instrumentos adequados ao reconhecimento, ao 
registro, à preservação e à promoção de bens culturais imateriais, o Estado 
brasileiro promulgou o Decreto nº 3.551, de 4 de agosto de 2000, instituindo 
o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial e o Programa Nacional
do Patrimônio Imaterial, executado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e 
Artístico Nacional (Iphan).
Com essa medida legal, foram implementados os primeiros instrumentos 
de proteção do patrimônio imaterial (VIANNA, 2016):
 � o registro de saberes, celebrações, formas de expressão e lugares em 
livros específicos;
 � o Programa Nacional de Patrimônio Imaterial;
 � o Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC).
Nos dias de hoje, somam-se a esses instrumentos o Inventário Nacional 
da Diversidade Linguística e o Plano de Salvaguarda (VIANNA, 2016).
São quatro os livros de registros do patrimônio imaterial ou intangível 
no Brasil (SANT’ANNA, 2009):
 � livro de registro dos saberes, para o registro de conhecimentos e modos 
de fazer;
 � livro das celebrações, para festas, rituais e folguedos;
 � livro das formas de expressão, para a inscrição de manifestações literárias, 
musicais, plásticas, cênica e lúdicas;
 � livro dos lugares, para a inscrição de espaços onde se concentram e se re-
produzem práticas culturais.
Como afirmamos na seção anterior, houve uma modificação no entendi-
mento sobre conservação e preservação quando a definição de patrimônio 
foi ampliada e passou a incorporar as manifestações culturais ditas “imate-
riais”, ou “intangíveis”. Preservar um complexo arquitetônico é diferente de 
preservar uma determinada prática ou certo saber. Por isso, Sant’Anna (2009) 
afirma que, com o Decreto nº 3.551/2000 e a criação do Instituto do Registro, 
a noção de preservação do patrimônio imaterial ou intangível estaria mais 
próxima do reconhecimento e da valorização.
Patrimônio imaterial6
Segundo a autora:
O registro corresponde à identificação e à produção de conhecimento sobre o bem 
cultural de natureza imaterial e equivale a documentar, pelos meios técnicos mais 
adequados, o passado e o presente dessas manifestações, em suas diferentes 
versões, tornando tais informações amplamente acessíveis ao público. O objetivo 
é manter o registro da memória desses bens culturais e de sua trajetória no tempo, 
porque só assim se pode “preservá-los” (SANT’ANNA, 2009, p. 55).
Nesse sentido, a partir da aprovação desse decreto, houve um rompimento 
com uma atuação preservacionista dos órgãos vinculados ao patrimônio no 
Brasil, que se voltavam prioritariamente para o tombamento de complexos 
arquitetônicos chamados “bens de pedra e cal”, tais como igrejas, fortes, 
pontes, chafarizes, prédios e conjuntos urbanos, que remetiam a um estilo 
arquitetônico e um período histórico específicos (ABREU; CHAGAS, 2009). Com 
a criação do Instituto do Registro e seus livros, resultado da valorização do 
patrimônio imaterial ou intangível, houve o reconhecimento e a valorização 
de outras manifestações da cultura, constituindo-se “[...] um acervo amplo 
e diversificado de expressões culturais, em diferentes áreas: línguas, festas, 
rituais, danças, lendas, mitos, músicas, saberes, técnicas e fazeres diversi-
ficados” (ABREU; CHAGAS, 2009, p. 13).
A partir das categorias instituídas pelo Decreto nº 3.551/2000, foi formu-
lado o INRC, um instrumento de pesquisa que, ao trabalhar com o conceito 
de “referência cultural”, busca superar a falsa dicotomia entre patrimônio 
material e imaterial, compreendendo ambos como expressões do patrimônio 
cultural. Dessa forma, o INRC se preocupa com as formas de produção desses 
bens, com os valores que as comunidades depositam neles, com as maneiras 
como eles são transmitidos pelas gerações e são reproduzidos, e com as 
transformações que vão acontecendo ao longo do tempo nessas práticas e 
nesses saberes (SANT’ANNA, 2009).
Para compreendermos como ocorrem o reconhecimento e a preserva-
ção dos bens culturais imateriais ou intangíveis no Brasil, é preciso que 
conheçamos um pouco mais a metodologia de abordagem do INRC. São três 
etapas — o levantamento preliminar, a identificação e a documentação, e 
o registro propriamente dito —, que são detalhadas no Quadro 1, conforme
análise realizada por Sant’Anna (2009).
Patrimônio imaterial 7
Quadro 1. Etapas do processo de reconhecimento e preservação dos bens 
culturais imateriais ou intangíveis no Brasil
Etapa Descrição
1 Levantamento 
preliminar
Realizam-se pesquisas em fontes secundárias e em 
documentos oficiais, entrevistas com a população e 
contatos com instituições, propiciando um mapeamento 
geral dos bens existentes em determinado sítio e a 
seleção dos que serão identificados.
2 Identificação 
e 
documentação
Aplicam-se os formulários do inventário que descrevem 
e tipificam os bens selecionados; mapeiam-se as 
relações entre os itens identificados e outros bens 
e práticas relevantes; identificam-se, portanto, os 
aspectos básicos dos processos de configuração 
da manifestação, seus executantes, seus mestres, 
seus aprendizes e seu público, assim como suas 
condições materiais de produção — matérias-primas, 
acesso a estas, recursos financeiros envolvidos, 
comercialização, distribuição, etc. A etapa inclui 
ainda uma documentação, por meio de registro 
audiovisual mínimo, ficando seu detalhamento e sua 
complementação como atividade especializada a ser 
realizada na fase final de registro.
3 Registro Essa etapa corresponde a um trabalho técnico, mais 
aprofundado, de natureza eminentemente etnográfica, 
que poderá ou não ser empreendido com vistas à 
inscrição do bem num dos Livros criados pelo Decreto 
nº 3.551/2000. Tais registros também devem ser 
periodicamente atualizados, para o acompanhamento 
da evolução e das transformações sofridas pelo bem.
Fonte: Adaptado de Sant’Anna (2009).
Podemos afirmar, portanto, que os instrumentos de reconhecimento, re-
gistro, preservação e promoção do patrimônio imaterial criados pelo governo 
brasileiro levam em consideração o dinamismo desses bens e promovem a 
interação entre os aspectos materiais e imateriais do patrimônio cultural. 
Como consequência, forja-se uma ideia de identidade mais complexa, diversa 
e dinâmica, que será abordada na próxima seção.
A listagem de bens culturais imateriais patrimonializados no Brasil 
até 2018 está disponível no site do Iphan, na seção “Patrimônio 
Cultural”, subseção “Patrimônio Imaterial”.
Patrimônio imaterial8
Patrimônio imaterial e identidade nacional
Como dito anteriormente, a transmissão geracional do patrimônio e a sua 
recriação com a passagem do tempo permitem que indivíduos, comunida-
des, grupos e nações forjem um sentimento de continuidade, identidade e 
pertencimento. Quando essas manifestações recebem a mesma valoração 
do Estado, que elabora políticas para seu reconhecimento, seu registro, 
sua proteção e sua promoção, podemos afirmar que existe um respeito à 
diversidade cultural e à criatividade humana.
De acordo com Pelegrini (2020, p. 71):
As práticas culturais propagam valores identitários que respeitam as tradições 
e contribuem paraa constituição de uma identidade regional ou grupal. Elas 
simbolizam características peculiares de grupos que se manifestam em compor-
tamentos, valores e visões de mundo de uma comunidade. Os saberes curativos, 
religiosos e culinários constituem-se como patrimônio imaterial quando articu-
lam as experiências e vivências correlacionadas no presente e no passado. Logo, 
alicerçam em si relações de sociabilidade, que envolvem práticas e domínios da 
vida social, expressos em saberes, ofícios e modos de fazer; celebrações; formas 
de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas; e lugares (como mercados, 
feiras e santuários que abrigam práticas culturais coletivas).
Encontramos em diversos trabalhos historiográficos desde o século XIX 
a referência às culturas africana, europeia e indígena como formadoras da 
sociedade brasileira. No entanto, o elemento europeu sempre foi o mais 
valorizado, porque era identificado por nossas elites letradas como portador 
das noções de civilidade e progresso. A cultura africana, embora arraigada nas 
práticas e nos saberes brasileiros, foi rechaçada, a partir de uma perspectiva 
racista e supremacista.
Independentemente da valoração que, no passado, realizaram sobre 
a formação cultural e histórica brasileira, o Brasil é um país multicultural 
e pluriétnico, e a identidade “brasileira” é resultado de uma mescla en-
tre diferentes costumes, práticas, rituais, saberes, etc. É importante não 
confundir essa “mistura”, compreendida como um sincretismo, com a ideia 
da miscigenação adotada na década de 1930 como uma política estatal de 
“branqueamento” da sociedade.
Falemos um pouco mais sobre a formação cultural e identitária. A formação 
da identidade de um grupo, de uma comunidade ou de uma nação depende 
do reconhecimento e da legitimação de seus elementos culturais, da sua 
memória e da sua representação pelos membros desses grupos, comunidades 
ou nações. Tanto a noção de cultura quanto a de identidade pressupõem a 
Patrimônio imaterial 9
construção de vínculos e sentimentos de pertencimento, que contribuem 
para formar e modelar as próprias definições e distinções entre os grupos. 
De acordo com Corá (2013), a identidade é um instrumento de legitimação 
de um grupo, que se reconhece como tal em função de um sentimento de 
pertencimento, orientado pela nacionalidade, pela regionalidade, pela etnia, 
pela religião, pelo time de futebol ou pelas práticas sociais. Da mesma forma, 
trata-se de um processo dinâmico e diverso, com diferentes pertencimentos 
sobrepostos, o que leva a autora a considerar que é difícil nos referirmos 
à cultura no singular: “[...] esse processo dinâmico aceita que cultura seja 
pensada no plural como culturas, até porque os atores são diferentes e 
constroem espaços de identificações diferentes, permitindo a consolidação 
da ideia de diversidade social” (CORÁ, 2013, p. 121).
O reconhecimento legal das definições ampliadas de patrimônio con-
tribuiu para a afirmação de demandas históricas de setores da sociedade 
brasileira, que já haviam conseguido expressão no texto da Constituição de 
1988, a qual reconhece a sociedade brasileira como multicultural e pluriétnica. 
Lembremos, de acordo com Toji (2009), que o texto constitucional define 
como patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial 
que sejam referência à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos 
formadores da sociedade brasileira. Segundo a autora, evidencia-se, dessa 
forma, que o reconhecimento do patrimônio imaterial ou intangível também 
reflete na afirmação de identidades “[...] ao visibilizar a presença social de 
atores, antes subestimados, e assim também modifica o campo político no 
qual tais grupos sociais estão envolvidos” (TOJI, 2009, p. 14).
Essa multiculturalidade, resultado das diferentes matrizes que compu-
seram nossa população, também expressa uma pluralidade de identidades 
culturais, expressas nas diferentes manifestações do patrimônio imaterial 
brasileiro. Como um direito assegurado constitucionalmente, a cultura deve 
ser valorizada em sua diversidade para que as diferenças étnicas, histó-
ricas e sociais sejam reconhecidas e que os sujeitos se sintam inseridos e 
reconhecidos.
Durante muito tempo, como houve uma valorização apenas do pa-
trimônio cultural proveniente da colonização europeia, buscando-se 
uma vinculação aos valores de civilização e progresso, certas manifestações 
culturais oriundas dos povos originários ou de africanos escravizados não eram 
alvo do mesmo interesse pelos órgãos de reconhecimento e preservação. Nesse 
sentido, quando certos grupos apresentam demandas de reconhecimento de 
patrimônio imaterial, também reivindicam direitos sociais assegurados pela 
Patrimônio imaterial10
Constituição de 1988, pois não se trata apenas da invisibilização de sua cultura, 
mas também da ausência de reconhecimento de sua própria existência.
Toji (2009) apresenta o interessante exemplo dos grupos de jongo. O jongo, 
também conhecido como “caxambu” ou “corimá”, é uma dança de origem africana 
praticada ao som de tambores. De acordo com a autora: “O Jongo foi registrado 
como Forma de Expressão no IPHAN em 2005. Atualmente, alguns grupos jon-
gueiros de São Paulo e do Rio de Janeiro se organizam para reivindicar parcelas 
de terras enquanto remanescentes de quilombos” (TOJI, 2009, p. 14). Em outras 
palavras, da reivindicação de patrimônio cultural partiu-se para as reivindicações 
territoriais dos quilombolas. Esse movimento também pode ser observado em 
relação aos povos indígenas e às comunidades camponesas.
E de que forma o patrimônio imaterial pode ser utilizado para difundir 
essa diversidade cultural e identitária formadora da sociedade brasileira? 
Segundo Pelegrini e Funari (2008), um dos principais caminhos é a educação 
patrimonial, direcionada não apenas para a explicitação da importância da 
preservação do patrimônio, mas também para a promoção da autoestima dos 
diferentes grupos e comunidades, a fim de que eles se percebam como cida-
dãos e como contribuidores para a formação cultural e identitária brasileira. 
Além disso, a educação patrimonial também pode contribuir para que mais 
pessoas reivindiquem do Estado iniciativas de reconhecimento e registro 
de bens, permitindo a formação de memórias e de referências identitárias.
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Patrimônio e Memória, Assis, SP, v. 5, n. 2, p. 3–18, dez. 2009. Disponível em: http://pem.
assis.unesp.br/index.php/pem/article/view/60/526. Acesso em: 14 mar. 2021.
VIANNA, L. C. R. Patrimônio Imaterial. In: GRIECO, B.; TEIXEIRA, L.; THOMPSON, A. (Orgs.). 
Dicionário IPHAN de Patrimônio Cultural. 2. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro; Brasília: IPHAN/
DAF/Copedoc, 2016. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/dicionarioPatrimonio-
Cultural/detalhes/85/patrimonio-imaterial. Acesso em: 14 mar. 2021.
Patrimônio imaterial 11
Leituras recomendadas
BELAS, C. A. Aspectos legais do INRC: relação com legislações nacionais e acordos 
internacionais. Belém: IPHAN, 2004.
FONSECA, M. C. L. Para além da pedra e cal: Por uma concepçãoampla de património 
cultural. In: ABREU, R.; CHAGAS, M. (Orgs.). Memória e património: ensaios contempo-
râneos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. p. 56–76.
FONSECA, M. C. L. Patrimônio em processo: trajetória da política federal de preservação 
no Brasil. 2 ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: UFRJ/IPHAN, 2005.
FONSECA, M. C. L.; CAVALCANTI, M. L. V. C. Patrimônio imaterial no Brasil: legislação e 
políticas estaduais. Rio de Janeiro: Unesco, Educarte, 2008.
HOBSBAWM, E. Introdução: a invenção das tradições. In: HOBSBAWM, E.; RANGER, T. 
(Orgs.). A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984. p. 9–23.
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Bens imateriais regis-
trados nos estados. Brasília, DF: IPHAN, [2018]. Disponível em: http://portal.iphan.gov.
br/pagina/detalhes/1617/. Acesso em: 14 mar. 2021.
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Patrimônio imaterial12
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Discutir as possibilidades de pesquisa por meio do patrimônio histórico e 
cultural.
 > Relacionar diferentes fontes e abordagens relacionadas ao patrimônio.
 > Apontar diferentes trabalhos a respeito do patrimônio na historiografia.
Introdução
A pesquisa histórica, apesar de ser ciência, é vasta, complexa e possui particu-
laridades como a própria história da historiografia. Analisar o que o historiador 
produziu faz parte de nosso papel de interpretar as sociedades do passado, e o 
objeto, o monumento e o edifício compartilham a mesma lógica, representam um 
período, uma ideia, um sentimento. O patrimônio cultural não foge dessa toada 
e precisa ser entendido por meio de sua historicidade, assim como a criação de 
seu conceito e da legislação de proteção aos bens. Contudo, diferentemente da 
historiografia em papel, o patrimônio, muitas vezes, está em nossa vida de uma 
forma que não percebemos. É a cantiga que aprendemos na escola, é o prédio 
mais antigo da cidade que foi desapropriado pela prefeitura, é um complexo 
ambiental — daí sua natureza diversa, de difícil análise e contraditória.
Patrimônio histórico 
e cultural: fontes 
para a pesquisa 
histórica
Ana Carolina Machado de Souza
Neste capítulo, vamos tratar dos diferentes campos de estudo sobre o patri-
mônio histórico e cultural, com ênfase em suas análises como fontes documentais, 
das primeiras iniciativas tomadas no Brasil para o estabelecimento do campo e da 
historiografia que deriva desses trabalhos, mas que, também, sustenta-os meto-
dologicamente. Além disso, apresentaremos os patrimônios industrial e imaterial, 
novas matrizes de estudo que ajudam a entender a diversidade da temática e, 
também, os questionamentos acerca disso. Para melhor situar o cenário brasileiro, 
vamos falar sobre o surgimento do SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artís-
tico Nacional) e do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e 
como isso afetou o estabelecimento da legislação de proteção ao patrimônio. Para 
finalizar, alguns dos principais nomes da historiografia patrimonial serão analisados.
A pesquisa em patrimônio
Na Europa, a discussão sobre patrimônio e preservação se intensificou no 
século XIX, o que impactou as ações tomadas no Brasil. Antes disso, o rei João 
V (1689–1750), por exemplo, havia determinado que fosse feito um inventário 
de monumentos portugueses, fossem estátuas públicas ou edificações, o que 
demonstra que o interesse no assunto remonta a muitos anos antes. Portanto, 
ao se discutir a pesquisa científica cujo objeto de análise é o patrimônio, a 
história possui um papel fundamental, sobretudo na elaboração de conceitos 
explicativos que envolvam a teoria e a metodologia por trás do processo. 
De fato, o uso do espaço é uma das ideias que embasam a pesquisa, pois, a 
partir dele, diversos questionamentos emergem: quem o utiliza? Qual é sua 
função, se tem uma? A quem interessa? 
Nos séculos XVIII e XIX, o Estado-nação e o fim do Antigo Regime contri-
buíram para que o debate acerca do patrimônio ganhasse a particularidade 
nacional, ou seja, tornasse-se pauta identitária. Isso é importante porque, 
segundo Funari e Pelegrini (2009, p. 20):
[...] o patrimônio é entendido como um bem material concreto, um monumento, 
um edifício, assim como objetos de alto valor material e simbólico para a nação. 
Parte-se do pressuposto de que há valores comuns, compartilhados por todos, 
que se consubstanciam em coisas concretas. [...] aquilo que é determinado como 
patrimônio é o excepcional, o belo, o exemplar, o que representa a nacionalidade.
Para a catalogação e a preservação, foram criadas instituições públicas e 
legislações específicas, e a pesquisa na área patrimonial virou parte desse 
processo, pois é com esse debate suscitado por ela que são delineados os 
limites públicos e privados, além dos históricos.
Patrimônio histórico e cultural: fontes para a pesquisa histórica2
Em 2017, a estátua do general confederado Robert E. Lee (1807–1870) 
foi derrubada por manifestantes na cidade de Charlottesville, no 
estado da Virgínia, o que deixou em evidência o debate sobre racismo e pa-
trimônio nos Estados Unidos. O general em questão liderou o exército sulista, 
que era a favor da escravidão, durante a Guerra Civil (1861–1865). Apesar de não 
ser um caso brasileiro, ele repercutiu no mundo todo por demonstrar como o 
sentido de representação e símbolo pode ser cíclico e contextual (FAUS, 2017). 
No Brasil, foi durante a República que mudanças expressivas ocorreram 
na área, mais especificamente a partir da década de 1930. Vale ressaltar que 
a atenção dada ao passado se tornou política pública desde o século XIX, mas 
os símbolos foram modificados quando os republicanos tomaram o poder. 
Uma nova representação do que deveria ser o “nacional” foi estabelecida a 
partir de elementos preexistentes e que configuraram o discurso de identidade 
construído pela institucionalidade. Porém, como toda construção imposta 
por um órgão ou uma comunidade, orgânica ou não, ela precisa ser aceita 
para vigorar (FONSECA, 1997). 
Com relação ao patrimônio, que toca exatamente nesse ponto, a primeira 
vez que se criou alguma regulamentação foi na Constituição de 1934, no art. 
10, que previa: “Compete concorrentemente à União e aos Estados: [...] III — 
proteger as belezas naturais e os monumentos de valor histórico ou artístico, 
podendo impedir a evasão de obras de arte” (BRASIL, 1934, documento on-
-line). Dessa forma, o governo reconhece a necessidade de preservação e sua 
responsabilidade na articulação desse fato.
Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Apesar da menção na Constituição, apenas com o Decreto-Lei nº 25, de 30 de 
novembro de 1937, no início do Estado Novo, o governo definiu as bases da 
salvaguarda patrimonial com a criação do SPHAN. A partir desse momento, 
ficou definido como patrimônio histórico e artístico o “[...] o conjunto dos 
bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse 
público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, 
que por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou 
artístico” (BRASIL, 1937, documento on-line).
A missão do SPHAN era preservar aquilo que constituía a materialidade do 
passado brasileiro, projeto esse encabeçado por intelectuais preocupados 
com o desenvolvimento do País e que sabiam que esse processo passava 
pela alçada da memória. Gustavo Capanema (1900–1985) era o Ministro da 
Patrimônio histórico e cultural: fontes para a pesquisa histórica 3
Educação e Saúde (MES) quando solicitou, a Getúlio Vargas (1882–1954), a 
criação de um órgão protetor ao acervo nacional, que, mesmoexaltado pela 
historiografia, estava abandonado. A instituição foi ratificada com a Lei nº 
378, de 13 de janeiro de 1937, e se tornou parte importante do governo. Ru-
bino (1992) observa que havia um debate tematizado acerca da preservação 
do patrimônio, o que significa que a pesquisa e a análise faziam parte do 
cenário intelectual, sobretudo dentro da história e da arquitetura. Com rela-
ção à primeira, não existiu a defesa de monumentos brasileiros no período 
colonial, ainda que Portugal tenha expedido uma carta de lei em 1721 para 
inventariar seus bens. As iniciativas ocorridas em solo brasileiro partiram 
da ótica regional, como o caso do governador de Pernambuco entre 1735 e 
1779, que desejava que cuidassem do Palácio das Duas Torres, construído no 
período de Maurício de Nassau (1604–1679).
Algumas instituições que chancelavam os estudos primários sobre o 
que era patrimônio, como o Museu Nacional (em 1818), o Museu Goeldi 
(em 1886) e o Museu Paulista (em 1894), surgiram durante o século XIX. 
Esses acervos foram formados com peças de naturezas diferentes, desde 
fósseis e artigos etno-históricos até móveis, porcelanas, cristais e ob-
jetos particulares de famílias importantes para a história brasileira. É o 
chamado lugar de memória, conceito caro para essa área de estudo e que 
concretiza a ideia de materialização de uma memória coletiva. Contudo, 
esta é formulada e criada a partir de pesquisas e de debates, refletindo 
a relevância histórica de um momento. É por isso que a pesquisa em 
patrimônio necessita se amparar na discussão histórica e na análise do 
espaço como reflexo de uma ideia (NORA, 1993).
Durante a Primeira República (1889–1930), antes da fundação do SPHAN, 
as resoluções sobre patrimônio partiam da esfera privada, com o esforço 
de colecionadores e antiquários oriundos, sobretudo, da aristocracia bra-
sileira. O IHGB (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro), criado em 1838, 
teve papel fundamental no surgimento da pesquisa histórica que começou 
a compreender o patrimônio como eixo temático. Contudo, apenas em 1937 
o governo concretizou o pedido de criação de um órgão, capitaneado por
Capanema, que encomendou, ao poeta e intelectual modernista Mário de 
Andrade (1893–1945), um anteprojeto: um documento que caracterizaria 
os detalhes mais importantes dos manifestos sobre a preservação do 
patrimônio. Foi por meio dele que o Decreto-Lei nº 25 foi formulado, o 
que nos permite afirmar que o SPHAN estava alicerçado no movimento 
modernista.
Patrimônio histórico e cultural: fontes para a pesquisa histórica4
O Modernismo foi um amplo movimento de cunho artístico e cultural 
que ganhou forças a partir da década de 1920, apesar de ter origem 
mais antiga. Além da Semana de Arte de 1922, quando um grupo de intelectuais 
tomou o Theatro Municipal de São Paulo, o movimento propunha uma ruptura com 
a arte tradicional e academicista para que um ideal brasileiro fosse encontrado. 
Nomes como Lúcio Costa (1902–1998), Oscar Niemeyer (1907–2012) e Roberto 
Burle Marx (1909–1994) internacionalizaram e concretizaram o Modernismo 
brasileiro (RUBINO, 2002). 
Mário de Andrade, na época, dirigia o Departamento de Cultura da Pre-
feitura de São Paulo e foi quem indicou o bacharel em Direito Rodrigo Melo 
Franco de Andrade (1898–1969) para que assumisse o SPHAN. Seu período à 
frente da instituição, que durou até 1961, é considerado o mais produtivo, 
ainda que o País vivesse um dos momentos mais repressivos da sua história 
política com o Estado Novo. Para Rubino (1992, p. 97):
Para identificarmos a nação brasileira, dizia, teríamos de considerar a obra de 
civilização realizada no país: a produção material e espiritual que herdamos. 
Poucos de sua geração teriam tanta autoridade para tal assertiva. Afinal, identi-
ficar obras de civilização espalhadas nesse mapa de extensão continental era a 
tarefa que esse advogado-jornalista-escritor vinha conduzindo, assessorado por 
companheiros notáveis de sua geração.
Ou seja, pensar a história do País por meio dos monumentos se tornou 
política pública, mas houve algumas características importantes. Segundo 
Fonseca (1997), os primeiros tombamentos realizados pelo SPHAN em edifícios 
tinham os valores artísticos como prioridade em detrimento da história, 
situação flagrante devido à falta de historiadores no quadro de funcionários 
(o diretor da Seção de História era o poeta Carlos Drummond de Andrade 
[1902–1987]), e os conjuntos arquitetônicos adquiriam ar solene de represen-
tação do passado, sem a problematização teórica sobre lugares de memória, 
espaço, pretérito, presente e futuro. Um grande feito prático desse momento 
foram as viagens de descobrimento, inventário e tombamento de bens em 
todo o Brasil. Apesar de não produzirem estudos históricos específicos com 
esses patrimônios como objeto de estudo, foi possível mapear os principais 
conjuntos de bens que, para essa geração, representavam o passado. 
Rubino (1992) aponta que a atividade do SPHAN, em seus primeiros anos, 
impactou com maior destaque estados importantes durante a colônia, com 
o Rio de Janeiro, a Bahia, Pernambuco e Minas Gerais. No ano seguinte, São
Paulo, Santa Catarina, Piauí, Paraíba e Rio Grande do Sul também tiveram bens 
Patrimônio histórico e cultural: fontes para a pesquisa histórica 5
tombados e, a partir dos anos 1940, praticamente toda a União recebeu as 
instalações do SPHAN. Observa-se, assim, a predileção pela estética europeia 
adaptada aos materiais regionais, deixando de lado manifestações indígenas 
e escravas, por exemplo.
Outra iniciativa que comprova a institucionalização da pesquisa patrimo-
nial no País foi a criação da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 
que possuía um rigor metodológico diferente do feito até então por priorizar 
diferentes estilos arquitetônicos e artísticos. O primeiro número, publicado 
em 1937, teve 22 artigos, sendo que a maioria abordava patrimônios religiosos, 
como as igrejas baianas e mineiras. Além disso, o diretor do órgão apontava, 
na descrição do periódico, que seu dever era cobrir as lacunas que a falta 
de recursos proporcionava, discutindo e divulgando os valores artísticos do 
Brasil que, por muito tempo, ficaram circunscritos a análises internacionais. 
Dessa forma, eles reconheceram a busca pela identidade brasileira também 
nessa seara e nesse espaço. Historiadores tiveram a oportunidade de analisar 
temas como a arte e a arquitetura, que foi o caso de Gilberto Freyre (1900–1987) 
com o artigo “Sugestões para o estudo da arte brasileira em relação com a 
de Portugal e a das Colônias” (ANDRADE, 1937). 
Em 1946, o SPHAN se tornou DPHAN (Departamento do Patrimônio 
Histórico e Artístico Nacional) e apenas em 1970 se transformou no 
IPHAN (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), como é até hoje 
(INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL, c2014).
O exemplo dado pelo Instituto foi seguido por meio de outras políticas 
públicas, como o Programa de Reconstrução das Cidades Históricas, criado 
em 1973, que visava ampliar e promover o turismo, e o Programa Nacional 
da Cultura, criado em 1975, que tinha a função de fomentar ações culturais. 
Ainda que estivéssemos na Ditadura Militar e os incentivos fossem pequenos e 
direcionados a uma narrativa de exaltação nacional, o patrimônio se manteve 
como referência identitária. Com a criação da Fundação Nacional Pró-Memória, 
em 1979, coordenada pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), as pesquisas 
sobre patrimônio cultural ganharam mais financiamento, ampliando o debate 
acerca da própria definição de patrimônio e do que deveria ser preservado. 
De acordo com Funari e Pelegrini (2009, p. 49–50), a partir dos anos 1980:
[...] a proteção de monumentos isolados, outrora priorizada, foi suplantada pela 
preservação dos espaços de convívio, assim como pela recuperação dos modos 
de viver de distintas comunidades, manifesta, por exemplo, na restauração de 
Patrimônio histórico e cultural: fontespara a pesquisa histórica6
mercados públicos e de outros espaços populares. Entre essas áreas, destacamos 
a do Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho ou Ilé Axé Iya Nassô Oká, um dos 
mais antigos templos de culto religioso negro no Brasil.
O caso relatado na citação se refere a uma ruptura importante nas po-
líticas de tombamento do IPHAN que passaram a reconhecer edifícios e 
monumentos não cristãos. Em 1982, o Ilé Axé Iya Nassô Oká foi reconhecido 
como patrimônio de Salvador e, em 1986, do País, abrindo caminho para 
práticas de preservação que acompanham as novas pesquisas. Um exemplo 
disso é a ratificação de uma nova definição de patrimônio na Constituição 
de 1988, em específico no art. 216 da Seção II, Da Cultura, que diz (BRASIL, 
1988, documento on-line):
Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, 
tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, 
à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, 
nos quais se incluem: as formas de expressão; os modos de criar, fazer e viver; 
as criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, 
edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; os 
conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, 
paleontológico, ecológico e científico.
Assim, tornam-se patrimônio bens imateriais além dos imóveis, o que 
abarca a cultura de minorias que não possuem edificações ou grandes monu-
mentos como símbolos dominantes, por diversos motivos. As manifestações 
afro-brasileiras e indígenas foram reconhecidas pelo poder público como 
partes contribuintes de nossa história. Esses investimentos estatais chegaram 
aos poucos e demonstraram a importância de estudar o patrimônio como 
objeto cultural, tendo-o como fonte de pesquisa. 
Patrimônio histórico e cultural como fonte 
de pesquisa
O termo patrimônio tem um poder dentro da cultura e a sociedade por, de 
acordo com Poulot (2009, p. 9), acompanhar:
O acúmulo de vestígios e restos revelados, conservados e aclimatados segundo 
práticas diversas, parece responder ao fluxo da produção contemporânea de arte-
fatos. Desde modo, o patrimônio sanciona, a todo instante, a passagem acelerada 
que atribui uma posição de “destaque” a objetos ou práticas [...].
Patrimônio histórico e cultural: fontes para a pesquisa histórica 7
Ou seja, é um conceito amplo, que abrange uma variada gama de temas, e é 
uma fonte de pesquisa que consegue aprofundar discussões culturais e sociais. 
Os primeiros trabalhos enfatizavam a arquitetura e a arte como manifes-
tações identitárias importantes. Utilizando, novamente, o primeiro número 
da Revista do SPHAN como exemplo, os principais objetos de estudo foram 
os monumentos arquitetônicos religiosos, além dos artigos sobre fotografia, 
sobre a proteção e a preservação do material arqueológico e etnográfico, e 
um exemplo foi o trabalho sobre o Forte de São Tiago de Bertioga feito pelo 
erudito Afonso d’Escragnolle Taunay (1876–1958). Nesse processo, é importante 
entender que os monumentos são memória e adquirem significado para a 
comunidade. Quando o conceito de patrimônio foi ampliado, novas concep-
ções e possibilidades surgiram, como os patrimônios industrial e o imaterial.
Patrimônio industrial
Rufinoni (2020) observa que a atividade industrial se tornou relevante dentro 
do estudo patrimonial há pouco tempo. De fato, ela também é recente na 
história da humanidade, visto que a Revolução Industrial ocorreu no final do 
século XVIII na Inglaterra e no início do século XX no Brasil. Segundo a autora, 
essa discussão aumentou depois da Segunda Guerra Mundial (1939–1945), 
quando, no âmbito internacional, documentos discutindo o desenvolvimento 
da preservação patrimonial foram cunhados, como a Carta de Veneza, de 
1964, e a Convenção do Patrimônio Mundial, em 1972. Isso ocorreu em um 
período de evolução tecnológica que se traduziu na construção de edifícios 
mais modernos. No caso do Brasil, ferrovias e fábricas foram paulatinamente 
destruídas para dar espaço a edificações que supriam as necessidades do 
presente. 
O patrimônio industrial, a partir desse momento, tornou-se tema e fonte 
de pesquisa por representar a memória coletiva associada ao trabalho. O 
foco se desloca dos grandes monumentos e das escolas arquitetônicas e se 
instala na compreensão social e cultural de um povo. A historiografia, a partir 
dos anos 1970, mudou seu foco ao buscar entender o ponto de vista dos que 
“vem de baixo”. O inglês E. P. Thompson (1924–1993), por exemplo, encabeçou 
a onda teórica que enfatizou a história dos operários com a publicação, em 
1963, de A formação da classe operária inglesa. A tendência se espalhou e 
foi aderida no Brasil, que passou a analisar a cultura popular e, com isso, a 
classe operária.
Segundo Azevedo (2010), o processo industrial, no Brasil, acelerou-se 
após a década de 1950, modificando sensivelmente a urbanização de grandes 
Patrimônio histórico e cultural: fontes para a pesquisa histórica8
cidades, sobretudo São Paulo. Mesmo assim, as primeiras iniciativas, que 
ocorreram no fim do século XIX e no início do XX, estabeleceram edifícios e 
conjuntos arquitetônicos que foram estudados desde o início das instituições 
científicas como parte do patrimônio industrial, o qual se amplia conforme o 
objeto de estudo analisado. Por exemplo, os engenhos de açúcar se tornaram 
parte da pesquisa patrimonial para além da estética colonial. O maquinário, 
os equipamentos e a produção foram, a partir desse momento, os elementos 
sob o holofote do patrimônio industrial. Para Azevedo (2010, p. 21):
Sua proteção legal deve ter em consideração sua natureza específica. Ela deve ser 
capaz de proteger as fábricas e suas máquinas, seus elementos subterrâneos e 
suas estruturas no solo, os complexos e os conjuntos de edifícios, assim como as 
paisagens industriais. As áreas de resíduos industriais, assim como as ruínas, devem 
ser protegidas, tanto pelo seu potencial arqueológico como pelo seu valor ecológico.
Isso é reflexo das discussões acerca das políticas de tombamento e sobre 
o que é patrimônio cultural. A memória dos trabalhadores passa a ser con-
siderada não só pelas construções, mas também pela sociabilidade criada 
no entorno, e esse processo foi ratificado a partir de 2003, com a Carta Pa-
trimonial de Nizhny Tagil. Não foi a primeira vez que o patrimônio industrial 
foi mencionado, pois a Carta de Veneza, de 1964, citou-o em seu postulado. 
A Grã-Bretanha foi uma das primeiras a desenvolver a área de arqueologia 
industrial, explanada pelo documento de 2003, ainda nos anos 1950, sedi-
mentando a necessidade de se pensar e ampliar o debate. Segundo Kühl 
(2010), o objeto de estudo, nesse caso, engloba não apenas construções, mas 
também sistemas de transporte, o entorno dos espaços fabris, considerados 
fundamentais para a compreensão de uma cultura.
Veja o caso do patrimônio ferroviário de São Paulo. As primeiras fontes 
documentais que embasaram os estudos e a prática preservacionista indus-
trial foram os complexos ferroviários, com destaque para a Real Fábrica de 
Ferro São João de Ipanema, localizada em Iperó, no estado de São Paulo, que 
foi tombada pelo SPHAN em 1964. Porém, só em 1986 ocorreu um encontro 
de pesquisadores para debater o assunto, que foi o Seminário Nacional de 
História e Energia em São Paulo. Para Oliveira (2010), contudo, a ascensão 
desse objeto de estudo ocorreu a partir da formação do Grupo de Estudos de 
História da Técnica (GEHT) na Universidade Estadual de Campinas nos anos 
1990, depois da Carta de Campinas, de 1988. Esta destacava as instalações e 
os espaços industriais da cidade que fica no interior paulista e teve impor-
tante papel no desenvolvimento do estado durante o ciclo do café, quando 
as ferrovias foram expandidas.
Patrimônio histórico e cultural: fontes para a pesquisa histórica 9
A primeira estação a ser tombadapelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa 
do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São 
Paulo) foi a Estação Ferroviária de Bananal, que fazia ligação com a Estrada 
de Ferro Central do Brasil. Cinco anos depois de ser desativada (1964), o órgão 
paulista tombou as técnicas construtivas utilizadas para erguer o local. A 
partir de então, uma série de práticas foram adotadas para outras estações 
do interior, sendo fundamentais para o crescimento do estado.
Patrimônio imaterial
Os estudos patrimoniais foram ainda mais ampliados com a definição de 
patrimônio imaterial, que, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e 
Artístico Nacional (2010, documento on-line), refere-se a “[...] a práticas, 
representações, expressões, conhecimentos e técnicas — junto com instru-
mentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados — que 
as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem 
como parte integrante de seu patrimônio cultural”.
O Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI), do IPHAN, foi ins-
tituído pelo Decreto nº 3.551, de 4 de agosto de 2000, com a intenção de 
viabilizar e financiar projetos que salvaguardem o patrimônio imaterial. Para 
isso, foi realizado um inventário dos bens com a intenção de identificá-los 
e classificá-los. O primeiro bem registrado e tombado foi a fabricação das 
panelas de barro de Vitória, no Espírito Santo, que se chamou “Ofício das 
Paneleiras de Goiabeiras”, em 2002. Todo o processo artesanal de produção 
se tornou patrimônio imaterial. 
Conforme a noção de cultura se modificou ao longo dos anos 1980 
e 1990, as tradições culturais populares ganharam destaque, de-
monstrando uma virada epistemológica nos estudos patrimoniais e históricos. 
No caso brasileiro, práticas tradicionais de todos os cantos se tornaram 
passíveis de tombamento e preservação por representarem a identidade 
coletiva regional ou nacional. Essa capilarização do patrimônio demonstra 
a importância dos objetos culturais como fontes de pesquisa para romper 
com uma leitura mais conservadora tanto da ideia de patrimônio quanto da 
de sociedade. Por exemplo, em 2004, o samba de roda do Recôncavo Baiano 
se candidatou para se tornar Obras-Primas do Patrimônio Oral e Imaterial da 
Humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, 
Patrimônio histórico e cultural: fontes para a pesquisa histórica10
a Ciência e a Cultura). Esse foi um longo processo de discussão embasado 
pelos estudos históricos, antropológicos e sociológicos e encabeçado pelo 
Ministério da Cultura. 
A primeira indicação, feita pelo Ministro Gilberto Gil (1942), foi o samba 
brasileiro, por ser uma manifestação marcante para o País. Contudo, é neces-
sário circunscrever geograficamente o bem a ser preservado, pois ele deve 
estar em perigo de desaparecimento diante da globalização (SANDRONI, 2010). 
Dessa maneira, enviar o samba como candidato se mostrou inviável, devido 
a sua variedade amplamente difundida pelo Brasil e sua presença constante 
na mídia nacional e estrangeira. 
O samba de roda baiano, por sua vez, foi a escolha certeira, por atingir os 
critérios do processo conduzido pela Unesco. Sandroni (2010) relata que essa 
manifestação cultural não era salvaguardada pelo governo brasileiro até pou-
cos meses antes do concurso. Havia, porém, associações de sambadores, mas 
sem a ambição do sentido corporativista; ou seja, não existia a possibilidade 
de se tornarem um grupo representante de uma arte em particular. Isso ocorre 
porque havia, no próprio Recôncavo, rivalidades entre as associações, pois 
“[...] como o Recôncavo é grande, ali se desenvolveram tradições de samba 
de roda muito diferentes, cuja legitimidade nem sempre era reconhecida por 
sambadores de pontos distantes um dos outros” (SANDRONI, 2010, p. 376). 
Esta é uma das dificuldades inerentes ao patrimônio imaterial: os 
bens se metamorfoseiam de acordo com o tempo e o espaço. Tradi-
ções caminham com a sociedade e adquirem características do presente, seja na 
confecção de roupas e acessórios, por exemplo, até na forma de apresentação. 
Isso, porém, não invalida a legitimidade de se preservar a cultura popular, 
sobretudo de minorias políticas, como a indígena.
Acessando o site do IPHAN, é possível conhecer todas as práticas tom-
badas até hoje de acordo com vários critérios. Um exemplo é o Inventário 
Nacional de Referências Culturais (INRC), instrumento para o reconhecimento, 
a catalogação e a preservação dos bens imateriais. No Acre, a região do mu-
nicípio de Xapuri, que fica próxima à fronteira com a Bolívia, identificou, em 
2008, quatro celebrações culturais e um tipo de saber local, que foi o corte 
da Seringa. Já as outras são as celebrações de São Sebastião e de São João 
do Guarani, a Festa de São João e “os terços” da Festa do Terço. A atividade 
extrativista foi considerada uma tradição cultural relevante para a região e, 
por consequência, para o País, mas ainda podemos perceber a difusão dos 
rituais e festas cristãos. Conforme Pelegrini (2009), porém, não é qualquer 
Patrimônio histórico e cultural: fontes para a pesquisa histórica 11
saber ou tradição que pode ser considerado patrimônio imaterial, pois precisa 
se articular com as experiências e vivências não só do presente, mas também 
do passado. Dessa maneira, os estudos históricos são imprescindíveis para 
analisar e selecionar qual tipo de manifestação cultural deve ser preservada.
No século XXI, a dimensão do patrimônio aumentou com a pluralização 
do número de pesquisaa para preservar a memória coletiva. Contudo, apesar 
da diversidade, novos questionamentos surgiram. Segundo Funari e Pelegrini 
(2009), os governos decidiram unir a necessidade de investimento na gestão 
patrimonial com o fomento ao turismo. O exemplo trazido por eles se refere 
aos patrimônios inca e colonial encontrados tanto em Lima, no Peru, quanto 
em Quito, no Equador, cidades que foram reavaliadas dentro dos critérios de 
proteção. Assim, as intervenções tinham por objetivo revitalizar aquilo que 
as tornavam únicas, valorizando as identidades e integrando preservação e 
dinâmica urbana. Porém, essa estratégia é complexa e pouco eficaz em outros 
sentidos, pois exige uma parceria entre público e privado que causa proble-
mas imediatos, como interesse direto em definir o que é ou não patrimônio.
O mesmo ocorre entre os saberes e as manifestações imateriais, o que 
evidencia a dificuldade de manter instrumentos reguladores e jurídicos que 
consigam abarcar a diversidade. Quando um patrimônio fica coberto pela 
proteção legal, outro ainda está à deriva. Uma solução imediata é pulverizar 
o assunto, criando cada vez mais áreas como patrimônio hospitalar, prisional, 
natural, LGBTQIA+, entre tantos outros que também suscitam o questiona-
mento da perda de sentido macro conforme os conceitos são particularizados.
Historiografia do patrimônio
Assim como em outras áreas da história, a bibliografia produzida por histo-
riadores sobre o patrimônio é vasta e, para ser estudada, portanto, precisa 
de recortes, que podem ser teóricos, cronológicos, temáticos, etc. Aqui, serão 
privilegiados aqueles que se dedicaram a teses, a livros e a artigos sobre o 
estudo patrimonial após o surgimento do SPHAN e, posteriormente, IPHAN. 
Isso significa que os trabalhos conversam com a história institucional balizada 
pelo órgão de proteção, que também possuía sua Revista científica.
Um dos autores mais importantes para a análise do colecionismo, do pa-
trimônio e da cultura material é Ulpiano T. Bezerra de Meneses, que produziu 
muitos estudos sobre os temas citados, inclusive para várias publicações do 
IPHAN. Em primeiro lugar, ele corrobora a ideia, já debatida internacional-
mente, de que os objetos possuem uma compreensão mais complexa do que 
o texto, pela pluralidade de significados e de símbolos intrínsecos (MENESES, 
Patrimônio histórico e cultural: fontes para a pesquisa histórica12
1994). Assim, por exemplo,um utensílio de porcelana pode ter função utilitária 
ou histórica, dependendo do olhar e da narrativa a ele atribuídos. Por isso 
o autor argumenta que os museus, antes de tudo, são exemplos da criação 
da história. Sejam os museus de história, de arte ou de ciências, todos são 
produtos do presente, assim como a memória, pois (MENESES, 1992, pp. 10-11):
[...] a memória enquanto processo subordinado à dinâmica social desautoriza, 
seja a ideia de construção no passado, seja a de uma função de almoxarifado 
desse passado. A elaboração da memória se dá no presente e para responder a 
solicitações do presente. É do presente, sim, que a rememoração recebe incentivo, 
tanto quanto as condições para se efetivar.
Em 2009, Meneses ministrou uma conferência no I Fórum Nacional do 
Patrimônio Cultural, organizado pelo IPHAN, em Ouro Preto, na qual ele abor-
dou questões caras ao patrimônio, sobretudo as práticas engessadas de se 
avaliar e conceituar manifestações culturais. Um dos pontos é o que chama 
de “polaridade entre material e imaterial” por fragmentar algo mais complexo, 
que é a própria cultural de uma sociedade. Para o autor (2009, p. 31):
[...] o patrimônio cultural tem como suporte, sempre, vetores materiais. Isso vale 
também para o chamado patrimônio imaterial, pois se todo patrimônio material 
tem uma dimensão imaterial de significado e valor, por sua vez todo patrimônio 
imaterial tem uma dimensão material que lhe permite realizar-se. As diferenças 
não são ontológicas, de natureza, mas basicamente operacionais.
Considere, por exemplo, uma igreja jesuítica do século XVII que abriga 
uma festa popular em determinado período do ano. Ainda que a festa 
seja considerada patrimônio imaterial, ela tem a dimensão material da 
igreja como norteadora e vice-versa, pois ela também pode ser longeva 
devido às atividades sociais ali realizadas. O que o autor discute breve-
mente se relaciona às amarras jurídicas inerentes a qualquer classificação 
estabelecida.
Um texto clássico sobre as narrativas do patrimônio cultural brasileiro 
foi escrito por José Reginaldo Santos Gonçalves. A Retórica da perda: os 
discursos do patrimônio cultural no Brasil, de 1996, apresenta os silêncios 
causados pelo processo de preservação de patrimônio, que cria uma narrativa 
de legitimidade para uns em detrimento de outros, tornando-o paradoxal. 
Esse é um debate fundamental na história, pois toda escolha pressupõe 
uma renúncia. A partir do momento que a historiografia é produzida após 
um recorte cronológico temático e teórico, outras linhas de pensamento são 
“perdidas”. Seu texto foi importante por aplicar uma lógica questionadora já 
Patrimônio histórico e cultural: fontes para a pesquisa histórica 13
existente em outras áreas da história para a discussão sobre patrimônio no 
Brasil. Enquanto alguns monumentos adquirem força simbólica identitária, 
outros são “destruídos”. Para Gonçalves (1996, p. 25):
No entanto, este discurso, que se opõe vigorosamente àquele processo de des-
truição, é o mesmo que, paradoxalmente, o produz. [...] No mesmo movimento 
produzem-se, transformados em colações e patrimônio culturais, os objetos que 
estão sendo destruídos e dispersados. Esses objetos são concebidos nos termos 
de uma imaginária e originária unidade, onde estariam presentes atributos tais 
como coerência, continuidade, totalidade e autenticidade. [...] Embora haja um 
lamento constante em relação a esse processo de fragmentação e perda, ele, na 
verdade não é apenas um fato exterior ao discurso, mas algo que coexiste com o 
esforço de preservação tal como aparece nos discursos sobre patrimônio cultural.
Apesar do sentido destrutivo que esse processo tem, o autor reitera o 
que foi criado, mas entende a importância de se questionar ideias preesta-
belecidas. É o que fazemos na história da historiografia: desvelar as nuances 
do presente na produção histórica. Gonçalves continua e cita que Rodrigo 
Melo Franco de Andrade e Aloísio Magalhães (1927–1982), que também dirigiu 
o SPHAN, objetificaram o Brasil cada um a sua maneira. Lowande (2014)
corrobora essa ideia ao afirmar que Melo Franco de Andrade decidiu reduzir 
a proposta de Mário de Andrade acerca da pluralização cultural. Ele tinha 
alguns desafios pontuais, como agradar os intelectuais paulistas (que queriam 
maior reconhecimento de seus projetos culturais), os modernistas mineiros 
(que buscavam a valorização da arquitetura colonial), os cariocas (sobretudo 
arquitetos, que desenvolviam os novos projetos modernos) e a diretoria do 
Museu Nacional (que buscava mais recursos para a proteção do patrimônio 
antropológico e natural). A posição do SPHAN contemplou os três primeiros 
grupos, silenciando a estratégia de uma abordagem nacional. Essa escolha 
diz muito mais sobre o ponto de vista e a narrativa da instituição e de quem 
a comandava do que sobre os objetos em si.
A historiadora e antropóloga Silvana Rubino publicou, em 1992, um dos 
primeiros grandes trabalhos sobre a formação do SPHAN: As fachadas da 
história: os antecedentes, a criação e os trabalhos do Serviço do Patrimônio 
Histórico e Artístico Nacional, 1937–1968. Para desvendar o mito da origem, 
ela utiliza documentos oficiais e produções próprias dos principais nomes 
envolvidos no processo. Seu recorte cronológico corresponde aos anos dou-
rados do Instituto, que só começou a se reinventar na década de 1980, com 
a nova história e a história social.
Os anos de Melo Franco de Andrade, até 1968, foram definidos por uma 
condução personalista, ou seja, ele participava ativamente das decisões. Po-
Patrimônio histórico e cultural: fontes para a pesquisa histórica14
rém, Rubino embasa sua argumentação a partir do prefácio da edição de Casa 
grande e senzala (1933), que menciona Lúcio Costa como um dos formadores 
de opinião sobre o patrimônio nacional. Dessa maneira, ela coloca uma das 
grandes obras daquela época, de Gilberto Freyre (1900–1987), como chave para 
a interpretação da sociedade. O fascínio pela casa grande e pela arquitetura 
colonial, adotado pelo SPHAN desde seu início como critério de preservação, 
demonstra a tendência de uma época de ainda pensar sociedade sob o prisma 
das elites e da aristocracia brasileira que se manteve ativa mesmo com o 
fim da Monarquia. Pode-se comparar esse argumento com o de Gonçalves 
(1996) sobre a “perda”. Da década de 1930 e até os anos 1980, as minorias 
eram vírgulas nas pesquisas; só se tornaram protagonistas posteriormente.
Em 2011, a zona portuária do Rio de Janeiro passou por uma reforma 
na qual foram descobertos vestígios do Cais do Valongo, antigo 
porto de desembarque de escravos que recebeu mais de um milhão de pessoas 
compulsoriamente do continente africano. Os arqueólogos e historiadores 
reivindicaram proteção patrimonial da região e foi criado, na cidade, o Circuito 
Histórico e Arqueológico de Celebração da Herança Africana, que alçou aos 
olhos do povo a cultura material de um dos períodos formadores do Brasil, 
mas que estava invisível até então. Os escravizados eram parte do sistema 
ou estereotipados, narrativa que só começou a mudar a partir dos anos 1980 
(PINHEIRO; CARNEIRO, 2016). 
Para que a historiografia sobre o patrimônio se desenvolva, a teoria e a 
metodologia são necessidades basilares. Uma das principais autoras da área 
é a francesa Françoise Choay, que publicou, em 1982, o clássico a Alegoria do 
patrimônio. De maneira geral, Choay (2014) define que o patrimônio histórico 
é uma expressão que designa a importância comunitária, seja de ordem local, 
regional, nacional ou mundial, a um bem material ou imaterial, fixo ou móvel. 
Isto é, apesar de sua natureza diversa, é importante estabelecer limites e 
definições para que o estudo e a compreensão do patrimônio sejam viáveis. 
Sua intenção, ao longo do texto, é apresentar, didaticamente, a evolução do 
conceito de patrimônio, desde a ideia de monumento, passando pela história 
e a memória. Porém, o que conecta cada uma dessas ideias é a identidade 
nacional,e o plano de fundo é o presente, levando a uma reflexão importante 
sobre o patrimônio na era da globalização (CHOAY, 2014, p. 15):
O acordo patrimonial e o ajuste das práticas conservadoras não se faz, no entanto, 
sem dissonâncias. Estes aspectos começam a inspirar alguma inquietação. Será 
que engendrarão a destruição da sua razão de ser? Os efeitos negativos do turismo 
Patrimônio histórico e cultural: fontes para a pesquisa histórica 15
não se fazem apenas sentir em Florença e em Veneza. A velha cidade de Quioto 
degrada-se dia após dia. No Egipto, foi necessário encerrar os túmulos do Vale dos 
Reis. Na Europa, como noutros locais, a inflação patrimonial é igualmente combatida 
e denunciada por outras razões: custos de manutenção, inadaptação às necessi-
dades actuais, acção paralisante sobre os grandes projectos de ordenamento do 
território. São igualmente invocadas a necessidade de inovar e as dialécticas de 
destruição que, ao longo dos séculos, substituem os antigos monumentos por novos.
Sua crítica reside na inflação aos bens patrimoniais conforme a cultura da 
preservação se tornou parte da especulação imobiliária. Não há uma saída 
ou resposta específica para tal problema, pois, como diz na citação anterior, 
cidades como Veneza, Florença, Paris, entre outras, apesar de iniciarem o 
debate crítico acerca do número de turistas e do esvaziamento de sentido 
que vivem, são dependentes diretamente do turismo. Assim, Funari e Pelegrini 
(2009) corroboram seu questionamento, que foi pioneiro na época. Os estudos 
patrimoniais ganharam destaque na história depois dos anos 1950, quando a 
maioria das pesquisas se direcionava para os monumentos arquitetônicos. 
Isso se modificou posteriormente, mas Choay já observava, desde a década de 
1970, o possível desgaste da legislação e a conexão com a iniciativa privada. 
Há, nesse processo, uma análise identitária, pois a Europa se via mantendo 
estruturas urbanas medievais e modernas a fim de preservar seu passado, 
enquanto o desenvolvimento tecnológico levava os Estados Unidos a cons-
truírem edifícios como o World Trade Center, inaugurado em 1973. 
Existem, porém, outras contribuições fundamentais para que a discussão se 
aprofunde, como as dos também franceses André Chastel e Jean Pierre Babelon, 
autores da obra La notion de patrimoine, de 1980, que definiram conceitos sob a 
ótica de seu local, que lidava diretamente com as novas leis preservacionistas. 
É importante, de fato, destacar a influência francófona, pois a base da teoria da 
história adotada nas universidades paulistas e cariocas advém de lá, aproximando 
as discussões.
Referências
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Acesso em: 19 fev. 2021.
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Patrimônio histórico e cultural: fontes para a pesquisa histórica18
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Conceituar educação patrimonial.
 > Discutir as possibilidades e estratégias de ensino de história e educação 
patrimonial.
 > Identificar diferentes referências em educação patrimonial.
Introdução
Desde o Decreto nº 3.551, de 4 de agosto de 2000, quando o governo federal 
estabeleceu o registro do patrimônio imaterial, ampliando o sentido de bens 
culturais, o modo de pensar a conservação e a divulgação do patrimônio mu-
dou. O historiador, além de contribuir para definição, inventário, tombamento 
e catalogação, passa a utilizar a educação patrimonial como ferramenta que 
proporciona a aprendizagem sobre memória, história, identidade e, inclusive, 
cidadania. O professor de história, por sua vez, consegue explorar novas facetas 
para o ensino, não só com relação ao conteúdo programático, mas, sobretudo, 
com relação ao pertencimento a uma herança cultural, seja ela um monumento, 
uma peça no museu ou um ofício praticado há séculos. 
O patrimônio é a materialização das relações sociais e culturais que ocorrem ao 
longo do tempo, ainda que seja considerado uma prática “imaterial”. Essa classifi-
cação existe no sentido normativo para a criação de uma legislação protetiva, mas 
Ensino de história 
e educação 
patrimonial
Ana Carolina Machado de Souza
cada saber ou celebração estão conectados a uma materialidade. Assim, os bens 
culturais preservados por órgãos como o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico 
e Artístico Nacional) e pelas instituições estaduais e municipais, representam o 
espírito de uma época. 
Neste capítulo, você vai estudar o conceito de educação patrimonial, os pro-
cessos por trás da categorização de um bem e a sua conexão com a sala de aula. 
Além disso, serão discutidas memória e história, temas fundamentais para a 
definição de patrimônio, tanto no campo científico quanto na prática. Para finalizar, 
será apresentado um estudo de caso sobre a historicidade do SPHAN (Serviço 
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e suas diretrizes, assim como a 
conceituação de identidade nacional. 
Educação patrimonial
Um dos grandes desafios do professor de história é fazer o aluno entender 
o seu papel no tempo e no espaço, o que inclui compreender a definição do 
que é importante dos eventos passados. Portanto, aprender sobre história é 
mais do que absorver datas e fatos, é entender a identidade cultural em que 
estamos inseridos, é reconhecer os discursos criados ao longo do tempo, é 
identificar o contexto de formação da nossa sociedade. O patrimônio cultural 
incorpora todos esses elementos educativos porque possui sua historicidade 
e tombamento, além de ser um exemplo de identidade e de memória de uma 
época, assim como do que é construída no presente.
O IPHAN, a partir dos anos 2000, mudou sua classificação sobre patrimô-
nio acrescentando o conceito de imaterial. Dessa forma, práticas, ofícios, 
saberes, celebrações foram considerados bens culturais referenciais para 
compreender a sociedade brasileira. Essa ação do órgão vem 12 anos depois 
da determinação legal com os artigos 215 e 216 da Constituição de 1988, que 
reconheceram esses novos bens culturais. 
Para isso, foram criados o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial, 
o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI) e o aumento da área de 
cobertura do Inventário Nacional de Referências Culturais (INCR). Contudo, a 
aprimoração jurídica continuou com a estruturação do sistema de salvaguarda 
em 2004 com o Departamento do Patrimônio Imaterial (DPI), e, em 2010, para 
especificar ainda mais o processo, foi aprovado o Decreto nº 7.387, em 9 de 
dezembro, no qual ficou estabelecido o Inventário Nacional da Diversidade 
Linguística (INDL). Isso significa que o mapeamento do tronco linguístico 
brasileiro se tornou uma prática por formar uma das raízes da nossa cultura 
(FLORÊNCIO, 2019).
Ensino de história e educação patrimonial2
Quanto ao conceito de educação patrimonial, Bezerra (2020, p. 63) afirma:
Educação patrimonial é uma dimensão da educação cujo principal objetivo é pro-
mover a sensibilização sobre a importância do patrimônio e da sua preservação, 
na formação de sujeitos de sua própria história, que atuem na reivindicação de 
seus direitos coletivos e no fortalecimento de sua cidadania.
Quando a autora diz que o patrimônio forma sujeitos da própria história, ela 
corrobora a ideia de emancipação por meio do conhecimento de Paulo Freire 
(1921-1997), um dos principais teóricos da educação brasileira, que afirmou 
a importância da educação patrimonial como parte do autoconhecimento e 
da transformação de um cidadão consciente.
Florêncio (2019, p. 60) argumenta que a expressão “educação patrimonial” 
sintetiza “[...] uma grande variedade de ações e projetos com concepções, 
métodos, práticas e objetivos pedagógicos distintos foi realizada em todo 
o país”. Ou seja, não existe uma definição específica ou uma metodologia 
própria, pois se refere a uma série de práticas que são criadas de acordo com 
a necessidade e especificidade da proposta. Dessa forma, ela pode ocorrer por 
meio da elaboração de materiais escritos de apoio para professores e alunos, 
publicações acadêmicas, dinâmicas comunitárias, atividades pontuais sobre 
um determinado tema ou até a promoção de uma ação constante. Apesar 
da variedade, alguns princípios norteadores foram determinados para que 
houvesse um projeto alinhado no IPHAN e nos órgãos estaduais de proteção 
do patrimônio cultural.
Apesar das leis já existentes, é comum datarem o 1º Seminário sobre 
o uso Educacional de Museus e Monumentos realizado no Museu 
Imperial de Petrópolis/RJ em 1983 como sendo o início da educação patrimonial 
no Brasil, baseado no modelo de evento inglês Heritage education (educação 
patrimonial), em que os educadores da Inglaterra procuraram criar políticas 
pedagógicas mais atraentes para os estudantes (BEZERRA, 2000).
Partindo do pressuposto de que a educação patrimonial é um conjunto 
de práticas que visam a um objetivo, é imprescindível se atentar ao objeto, 
isto é, ao bem que se pretende preservar. É por isso que Florêncio et al. 
(2012) apontam que a participação comunitária é fundamental na criação e 
execução das atividades, pois o primeiro ganho ocorre nessa escala menor, já 
que a comunidade poderá aprender sobre suas próprias raízes e referências 
culturais. Assim (FLORÊNCIO et al. 2012, p. 20):
Ensino de história e educação patrimonial 3
Para tanto, as políticas de preservação devem priorizar a construção coletiva e 
democrática do conhecimento, por meio do diálogo permanente entre os agentes 
institucionais e sociais e pela participação das comunidades detentoras e produ-
toras das referências culturais. Nesse processo, as iniciativas educativas devem 
ser encaradas como um recurso fundamental para a valorização da diversidade 
cultural e para o fortalecimento da identidade local, fazendo uso de múltiplas 
estratégias e situações de aprendizagem construídas coletivamente.
Os marcos educacionais foram definidos ao longo da história do IPHAN, 
desde a sua fundação em 1937 com o Decreto nº 25, sancionado pelo presidente 
Getúlio Vargas (1882-1954), e o SPHANpriorizou edificações e sua estética a 
fim de preservar estilos como o colonial, que foi reinventado por meio de 
novas técnicas construtivas. 
Mário de Andrade (1893-1945), delineou pontos iniciais sobre o conceito 
de patrimônio material e imaterial, levando em consideração tanto os bens 
físicos quanto as representações culturais, como danças, crenças, etc. Con-
tudo, a materialidade foi privilegiada pelo governo e pela própria diretoria da 
instituição. Os estudos publicados no primeiro volume da revista do órgão se 
referiam, na sua maioria, à arquitetura religiosa do Brasil colônia, sobretudo 
as igrejas de Salvador e as do círculo de Ouro Preto. Conforme a atuação 
institucional evoluía, novas formas de se trabalhar com a preservação e a 
conservação desses bens.
Em 2016, a Portaria nº 137 do IPHAN definiu os marcos normativos da 
educação patrimonial, considerando como base o Plano Nacional de Cultura 
instituído pela Lei nº 12.343 de 2 de dezembro de 2010 e a Carta de Nova 
Olinda, de 2009, onde consta:
Art. 2º Para os efeitos desta Portaria, entende-se por Educação Patrimonial os 
processos educativos formais e não formais, construídos de forma coletiva e 
dialógica, que têm como foco o patrimônio cultural socialmente apropriado como 
recurso para a compreensão sócio-histórica das referências culturais, a fim de 
colaborar para seu reconhecimento, valorização e preservação.
Parágrafo único. Os processos educativos deverão primar pelo diálogo permanente 
entre os agentes sociais e pela participação efetiva das comunidades.
Art. 3º São diretrizes da Educação Patrimonial:
I — Incentivar a participação social na formulação, implementação e execução 
das ações educativas, de modo a estimular o protagonismo dos diferentes grupos 
sociais;
II — Integrar as práticas educativas ao cotidiano, associando os bens culturais aos 
espaços devida das pessoas;
III — valorizar o território como espaço educativo, passível de leituras e interpre-
tações por meio de múltiplas estratégias educacionais;
IV — Favorecer as relações de afetividade e estima inerentes à valorização e pre-
servação do patrimônio cultural;
Ensino de história e educação patrimonial4
V — Considerar que as práticas educativas e as políticas de preservação estão 
inseridas num campo de conflito e negociação entre diferentes segmentos, setores 
e grupos sociais;
VI — Considerar a intersetorialidade das ações educativas, de modo a promover 
articulações das políticas de preservação e valorização do patrimônio cultural 
com as de cultura, turismo, meio ambiente, educação, saúde, desenvolvimento 
urbano e outras áreas correlatas;
VII — incentivar a associação das políticas de patrimônio cultural às ações de 
sustentabilidade local, regional e nacional;
VIII — considerar patrimônio cultural como tema transversal e interdisciplinar. 
(INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL, 2016, p. 6).
De acordo com a legislação, a educação patrimonial é um processo, antes de 
tudo, do coletivo para ele próprio, tendo como foco o diálogo e a compreensão 
do patrimônio cultural. Segundo Florêncio (2019), essa definição ocorreu a 
partir de um intenso debate entre intelectuais do patrimônio (historiadores, 
arquitetos, museólogos, entre outros), a sociedade civil, técnicos do IPHAN e o 
poder público. Dentro dessas grandes categorias está a escola, e, nesse caso, 
o professor de história fica encarregado de trazer e explicitar os elementos da 
consciência histórica. Nesse contexto, o patrimônio deve ser utilizado como 
ferramenta para se ensinar a história assim como são os documentos nos arqui-
vos e as peças do museu. Esse último, por sua vez, suscita um intenso debate 
entre os historiadores desde a sua natureza até o tipo de acervo que possui.
A museologia estuda a relação entre o homem e o seu objeto-me-
mória, e nisso está inclusa a historicidade da criação do museu. O 
museu é uma sede institucionalizada que abriga um acervo determinado por 
alguém, um conjunto de peças que tiveram um valor atribuído. Dessa forma, 
pode-se afirmar que uma coleção possui um objetivo que é escopo de pesquisa 
e explicação para o contexto social, político, econômico e cultural. 
De qualquer maneira, a coleção disposta em um museu passa pelo crivo 
da escolha, semelhante ao que ocorre com o monumento para se tornar bem 
cultural. Vale destacar que, no início do IPHAN, os museus foram preteridos 
devido à urgência de catalogarem o patrimônio espalhado pelo Brasil. Contudo, 
uma das primeiras manifestações de coleção e exposição de memórias ocorreu 
por meio dos museus. O Museu Nacional, no Rio de Janeiro, foi inaugurado 
em 1818 no reinado de D. João VI (1767-1826), iniciando uma tradição que já 
era estabelecida na Europa desde o século XVIII. Antes de se tornar uma 
prática pública, o colecionismo partiu da iniciativa privada, sendo os museus 
de história e de arte formados inicialmente, em sua maioria, por coleções 
particulares doadas ou desapropriadas (BORGES, 2011). 
Ensino de história e educação patrimonial 5
No caso do Brasil, Schwarcz (2001) aponta que nas primeiras décadas do 
século XIX, o interesse era mapear a natureza do país, além da sociedade. Já no 
final, após a década de 1870, novas ideias circulavam entre a intelectualidade, 
que tem novas teorias científicas e sociais como base. A evolução de Charles 
Darwin (1809-1882), o positivismo de Auguste Comte (1798-1857), o naturalismo, 
entre outros, embasam o que a autora descreve como fundação da cultura 
nacional, o que também impacta diretamente a maneira de se fazer história. 
Nesse contexto, Robalinho (2016, p. 56) questiona:
Como esse adolescente percebe, entende, visualiza, olha para a representação que 
o Museu da República oferece sobre o Império? E ainda, de que forma os objetos
que estão no museu e pertenceram a essa temporalidade podem servir para 
elucidar esse século XIX? E de que maneira esses mesmos objetos são percebidos 
como objetos que se relacionam com o hoje e se relacionaram com o seu tempo?
Essas questões permeiam a educação patrimonial porque estão inseridas 
na intersecção da atividade técnica dos órgãos definidores do patrimônio 
e da vivência humana. Isto é, o que é considerado representação cultural 
deve — e necessita — ser parte daquela sociedade. A circulação de saberes e 
celebrações, por exemplo, nem sempre são suficientes para que eles se tornem 
bens tombados por precisarem responder a uma série de critérios, como peso 
cultural naquela comunidade. Porém, nenhuma instituição consegue impor 
um sentimento de pertencimento se ele não existiu previamente. Assim, como 
diz Chagas (2004), ao patrimônio é atribuída uma essência pedagógica por 
materializar os valores identitários.
A identidade, contudo, é formada tanto no nível macro — como a nação — 
quanto micro — como bairro, cidade, estado. Marchette (2016) sugere, portanto, 
que estudemos a educação patrimonial a partir de divisões temáticas espe-
cíficas, mas sem deixar de lado a perspectiva global. O exemplo que traz é o 
da paisagem cultural urbana, que tem destaque nas políticas de preservação 
desde o início do SPHAN. Os espaços urbanos compreendem mudanças diárias 
e significativas ao longo do tempo, e esse processo é interessante para se 
entender o desenvolvimento social. Contudo, essa característica também 
significa que as representações construtivas e arquitetônicas de diferentes 
épocas podem ser perder. Buscando preservar a memória e a arte nacional, 
em 1933, Ouro Preto, cidade mineira no centro do ciclo da mineração no século 
XVIII, foi alçada à categoria de monumento nacional, antes da aprovação da 
Constituição de 1934 ou da própria fundação do SPHAN. Há, nesse sentido, 
um motivo político além do histórico, pois segundo Marchette (2016, p. 68):
Ensino de história e educação patrimonial6
A cidade, antiga capital de Minas Gerais, havia perdido seu potencial econômico com 
a queda da exploração do ouro; o fato de ter perdido o posto de centro político-
-administrativopara a capital moderna, Belo Horizonte, demonstra que, junto aos 
atos preservacionistas, sempre há uma espécie de esquecimento. No caso relatado, 
esse fato permitiu que a arquitetura colonial alcançasse destaque como potencial 
do desenvolvimento local, revitalizando-a na condição de "cidade histórica".
Apesar de o mesmo ocorrer, posteriormente, com os centros históricos 
de São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, como a cidade de Olinda, Minas Gerais 
foi o estado mais beneficiado pelas políticas iniciais do SPHAN. No decorrer 
dos anos, o IPHAN aumentou o compartilhamento de responsabilidades sobre 
a preservação urbana com os estados e municípios. Um exemplo disso foi a 
assinatura do Estatuto da Cidade, como ficou conhecida a Lei nº 10.257 de 
10 de julho de 2001, que sancionou os deveres do poder público para a ma-
nutenção, segurança, bem-estar da sociedade, além da propriedade urbana 
(BRASIL, 2001). A forma jurídica legítima para a salvaguarda do patrimônio é 
o tombamento, mas para ele ser possível uma série de medidas precisam ser 
articuladas, uma vez que a criação de um bem cultural impacta o coletivo. 
Marchette (2016) finaliza argumentando que conhecer esses mecanismos é 
se educar sobre o patrimônio cultural, dessa forma, deve ser incluído em 
pautas que abordem a jurisdição da preservação patrimonial. Além disso, 
comprova que cada objetivo tem um caminho educacional.
Ensino de história e educação patrimonial
Pelegrini (2009) afirma que existem dilemas no ensino de história em relação 
à educação patrimonial. Na prática escolar, algumas dificuldades se revelam 
mais latentes do que outras, sobretudo por causa da desigualdade social em 
nosso país. Para tentar padronizar e facilitar a didática do professor, métodos 
são propostos como: 
[...] o primeiro passo a ser empreendido diz respeito ao levantamento da literatura 
sobre o enfoque temático considerado por ele mais adequado à suas turmas ou 
à realidade da escola. O segundo passo centra-se na delimitação dos objetivos a 
serem alcançados por meio das atividades planeadas e da definição da metodologia 
mais adequada para o bom êxito do trabalho (PELEGRINI, 2009, p. 42).
A educação patrimonial deve ser adaptável às diferentes realidades do país, 
portanto, o ensino de história, assim como outras áreas do ensino, pode se 
apoiar na BNCC (Base Nacional Comum Curricular), definida pelo Ministério da 
Educação, e que apresenta temas considerados normativos, ou seja, a história 
Ensino de história e educação patrimonial 7
oficializada do Brasil. O professor que se dedica aos anos escolares, muitas vezes 
possuem uma bagagem mais voltada à licenciatura e isso dificulta a difusão de 
conteúdos que ampliem a visão sobre a própria historiografia, por exemplo. 
Em relação ao patrimônio, esse caso se repete, já que a própria inflexibilidade 
do currículo escolar dificulta novos tipos de abordagem.
Teixeira (2008) aponta que o desconhecimento em relação ao patrimô-
nio histórico e cultural é produto, dentre tantas causas, da modernização 
urbana, que exige a expansão de infraestrutura muitas vezes incompatível 
com o bem tombado. Muitos centros históricos, classificados assim devido 
ao seu traçado urbano, à sua importância cultural e aos monumentos ar-
quitetônicos, não resistem à especulação imobiliária e ao próprio avanço 
tecnológico, se tornando anacrônicos.
A educação patrimonial pode mudar essa percepção, tanto no ambiente de 
ensino, como em escolas e universidades, quanto informal, com o incentivo 
comunitário ou de instituições, como os museus. A Lei de Diretrizes e Bases 
da Educação (LDB nº 9.394/1996) incluiu temas transversais na sua proposta 
como parte da construção do currículo escolar, com destaque para o ensino 
fundamental. Isso significa que o patrimônio não pertence à narrativa con-
duzida pelos governos, dependendo da boa vontade do professor e da escola 
para que algumas atividades sejam incluídas no programa escolar, o que, 
muitas vezes, esbarra na falta de conhecimento sobre o bem ou na possibi-
lidade de aceitação de um novo conteúdo teórico pela diretoria. A solução 
que Pelegrini (2009) acredita ser mais viável é o bom senso, ou seja, os bens 
culturais não precisariam ser tópicos de aprendizagem todo o momento e 
serem guardados para situações específicas que exijam tal conhecimento. 
Apesar do teor didático desses argumentos, é possível questionar o próprio 
sistema no qual a BNCC é conduzida. A preservação do patrimônio não ocorre 
apenas pela via normativa, é necessário o apoio e reconhecimento popular. 
A identidade oficial de uma nação, ainda que seja construída artificialmente, 
deve ser aceita e absorvida pela população, ou não funciona. O patrimônio 
como representação cultural e social precisa ser abordado em sala de aula 
por ser um bem nacional e, assim, ser entendido como tal. 
Hack (2013) argumenta que a prática pedagógica deve se livrar das amarras 
positivistas de um ensino de história pouco didático aos alunos. Para isso, 
as memórias históricas locais precisam ser inseridas no contexto escolar, e 
a maneira que isso é feito hoje em dia é por meio da educação patrimonial. 
Por exemplo, observar o entorno nos revela aspectos da história conduzida 
por órgãos oficiais do governo. O nome de ruas, praças, monumentos apre-
sentam personalidades ou momentos importantes para o País, por isso são 
preservados por meio desses símbolos. 
Ensino de história e educação patrimonial8
Chegou-se ao consenso de que o ensino de história precisa se atualizar 
no intuito de promover um aprendizado mais ligado à cidadania. É o que diz o 
primeiro Parâmetro Curricular Nacional (PCN) de história e geografia, publicado 
em 1997, época em que as reformas educacionais sob perspectiva legislativa 
foram iniciadas. Desde a Ditadura Militar (1964-1985), o ensino não era revisto 
e adequado ao cenário democrático dos anos 1990. Hack destaca, contudo, 
que a mudança tem que ocorrer primeiro na formação do professor, ou seja, 
o currículo pedagógico apresentado na faculdade precisa conter o tópico da 
educação patrimonial e a metodologia proposta pelo IPHAN.
Hack (2013, p. 39) acrescenta que:
[...] além de colaborar na formação de sua identidade cultural é de suma importância 
mostrar ser possível ensinar e aprender história por intermédio da história local (e 
sua relação com outras locais). Com base nisso se pode incluir o uso de diversas 
fontes históricas, com o objetivo de provocar a investigação e a verificação de 
que existem várias interpretações sobre um determinado fato histórico. Assim, 
é possível analisar de que modo os bens culturais podem ajudar a compreender 
como as pessoas se organizavam social e economicamente no passado e como 
essa forma de organização ainda constitui o tempo presente.
A autora aborda a necessidade de transformações institucionais para 
auxiliar o professor em sala de aula. O estudante precisa ter contato com 
conteúdos diversos, mas o professor precisa estar amparado teoricamente 
para novas atividades. Uma forma de fazer isso é por meio de museus, que 
são instituições que salvaguardam patrimônio e memória. Pacheco (2010) 
discute as estratégias educacionais desenvolvidas pelo museu Memorial da 
UFRPE, mantido pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. 
As ações educativas voltadas para a comunidade, isto é, um público de 
variadas faixas etárias e sociais, tinha como objetivo expor o trabalho de 
ensino, pesquisa e extensão realizado na universidade. Esse processo é inte-
ressante pois demonstra a amplitude temática da política preservacionista, 
que vai além das grandes datas e eventos do nosso passado. 
A instituição de ensino é patrimônio intelectual da sua comunidade e sua 
história deve ser transmitida para aqueles que podem usufruir dela. Essa é 
uma abordagem necessária em um país em que quase 26% da população 
entre 18 e 24 anos não completou o ensino médio e apenas 3,5% concluiu a 
graduação (BRASIL, 2018). Ainda que os dados não estejam atualizados, épossível ter um panorama geral da exclusividade que cerca o ensino superior, 
com destaque para as instituições públicas. Dessa forma, a atitude tomada 
pela UFRPE ajuda a desmistificar o trabalho realizado na universidade e cria 
um lugar de memória para a comunidade.
Ensino de história e educação patrimonial 9
Pacheco (2010) relata que em 2009 uma equipe formada por um professor 
e quatro alunos bolsistas tiveram acesso a um espaço climatizado e adequado 
para a realização de atividade que estava em desuso, assim como o acesso da 
memória institucional. Nesse contexto, surgiu o projeto, que se transformou 
em exposição permanente, intitulado “UFRPE: ensino, pesquisa e extensão”. 
Segundo Pacheco (2010, p. 148), a metodologia desenvolvida e aplicada pelo 
grupo foi dividida em etapas, sendo elas:
[...] 1º) pesquisa inicial: os pesquisadores da equipe se utilizaram das referências 
teóricas e metodológicas de diferentes áreas do conhecimento (história, Sociolo-
gia, Antropologia e Educação) para construir subprojetos utilizando os objetos do 
acervo do Memorial da UFRPE para abordar as relações entre educação, memória 
e patrimônio. 
2º) comunicação museal: as conclusões das pesquisas iniciais foram transformadas 
em sínteses capazes de serem incorporadas à exposição museológica. Assim, não 
interessaram extensos relatórios, mas seleções de objetos, cartazes, etiquetas 
que comunicassem as conclusões para, desse modo, informarem a memória da 
comunidade acadêmica sobre a importância histórica do objeto exposto. 
3º) programa educativo: tanto no momento da pesquisa como no da montagem 
da exposição, teve-se em mente que o material exposto seria objeto de uma ação 
educativa. O planejamento e a execução dessa ação visavam potencializar os signi-
ficados da exposição e potencializar o valor histórico do patrimônio e da memória 
coletiva. Assim, o planejamento das ações educativas do Memorial da UFRPE foi 
iniciado juntamente com a montagem da exposição permanente.
As etapas transparecem ideias apresentadas pela educação patrimonial 
como o fato de se entender que as instituições de memória contribuem 
para a formação do sujeito em cidadão. Pelo fato de ser um museu, existe 
um debate sobre a absorção do conhecimento exposto naquele espaço, de 
que o visitante não é passivo diante do que vê. A intenção, de acordo com 
Pacheco (2010), era de estabelecer propostas educativas a partir das ideias 
de observação, registro, exploração e apropriação. 
A cultura material é o objeto que vai ser problematizado na exposição, pois 
o autor destaca a influência de Paulo Freire (1921-1997) na premissa de “leitura 
do mundo” adotada pelos promotores do museu. O resultado foi a criação 
de um roteiro de visitação, que dá à pessoa autonomia e jogos didáticos, 
utilizados, sobretudo, pelas excursões escolares como atividade pedagógica.
Esse exemplo corrobora a ideia de Silva (2018) de que o ensino de história é 
essencialmente conectado a uma missão. Isto é, um projeto com objetivo definido, 
e, no caso da educação patrimonial, é relacionar o bem cultural, sua história e o 
presente vivido pelo aluno. A autora aborda o desenvolvimento de uma história 
regional, com o foco no estado do Tocantins e o uso do patrimônio para esse fim. 
Ensino de história e educação patrimonial10
Lembre-se que durante o século XIX, desde a fundação do IHGB (Instituto 
Histórico e Geográfico Brasileiro), em 1838, e por boa parte do século XX, a 
historiografia enfatizou a perspectiva macro da história do Brasil. Esse ponto 
de vista causa uma dissonância no ensino, já que a regionalidade é deixada 
de lado em prol de uma educação de viés político. 
Os ciclos econômicos, por exemplo, privilegiam os acontecimentos em 
alguns pontos específicos do país. No período do açúcar era Pernambuco e 
Bahia, no surgimento do ouro, era Minas Gerais e Rio de Janeiro, enquanto 
no desenvolvimento do café São Paulo e Rio de Janeiro eram destaques. O 
Nordeste ficava restrito ao litoral e à zona da mata, e o Norte só ganhou as 
páginas escolares com o ciclo da borracha, no século XIX.
A continentalidade do Brasil não permite uma história tão sintética, e os 
marcos historiográficos a partir dos anos 1970 permitiram a ampliação de es-
tudos acadêmicos. Porém, o trabalho conduzido a partir da revolução da nova 
história cultural e social no Brasil só foi sentido nos livros didáticos décadas 
depois. Isso está relacionado ao caráter político intrínseco à produção de 
obras de apoio aos professores e alunos. O processo é complexo e demorado, 
e os de história carregam a narrativa vigente na época de sua produção.
Silva (2018) aborda essa questão ao discorrer sobre as mudanças no 
curso de história ao longo do século XX. Há uma clara exaltação da área e do 
patrimônio com o surgimento do SPHAN, que corroborou a produção de uma 
história nacional ainda centrada nas principais cidades do período colonial 
e nos estados do Sudeste.
Porém, a partir da década de 1960, as disciplinas de história e geografia 
foram substituídas por uma só: estudos sociais. Ao amalgamar dois currículos, 
o Ministério da Educação restringia o conteúdo programático, adquirindo 
maior controle sobre o que era ensinado. Em 1971, foi aprovada a Lei nº 5.692, 
na qual os militares ratificaram a exclusão da autonomia da história, além 
de retirarem a obrigatoriedade do seu ensino no primeiro grau (o que hoje 
equivale ao ensino fundamental I e II). Havia uma agenda clara nessa decisão, 
a de minar o surgimento da resistência contra um regime que é historicamente 
contra o desenvolvimento do pensamento crítico. Essa situação só começou 
a mudar nos anos 1990, após a aprovação da LDB de 1996 e dos PCNs, de 1997. 
A Associação Nacional de história (ANPUH), criada em 1961, pressionou os 
congressistas a discutirem de forma séria e urgente a disciplina de história. 
Segundo Silva (2018, p. 32):
Ensino de história e educação patrimonial 11
Os PCNs justificaram a necessidade de um ensino de história autônomo em seu 
texto e para isso se basearam nos fracassos escolares durante o período de vi-
gência dos Estudos Sociais. Como alternativa, tratou-se de conceber um ensino de 
história cuja atuação alcançaria além da escola, do saber científico, que pudesse 
ser realizado em diferentes espaços e que levassem ao pleno desenvolvimento 
da consciência histórica e na dimensão atitudinal do conteúdo. Ou seja, busca-se 
uma concepção de ensino em que o aluno adote atitudes e valores em relação 
ao conhecimento adquirido, visando à interpelação do mesmo com a realidade. 
Ao passo que a consciência história dá ao sujeito uma atribuição de sentido ao 
tempo, permitindo que este estabeleça uma relação com o passado e presente, 
possibilitando a apropriação de uma percepção da sua realidade e para a com-
preensão de si mesmo.
Nesse contexto, surge a discussão, e concordância geral, do alinhamento 
da educação patrimonial e o ensino de história, pois amplia a noção que a 
transmissão de conhecimento ocorre para além dos muros da escola. No 
entanto, após décadas de retrocesso nesse campo, surgiu uma atitude mais 
assertiva, com o uso dos bens culturais como documentos para se entender 
o passado e se relacionar com ele. Nesse sentido, a história regional se
privilegia das práticas pedagógicas patrimoniais. 
Ainda na questão da história local, Cavalcanti (2019) discorre sobre refle-
xões resultantes a partir de um desafio promovido pela Universidade Federal 
do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa). Um grupo de alunos decidiu pesquisar 
o cine Marrocos Marabá, no Pará e, para isso, fotografaram as instalações,
os materiais de projeção, catalogaram os pôsteres dos filmes exibidos e 
entrevistaram antigos funcionários. A partir desse método, o autor discute 
que a produção foi tanto de história quanto de memória, haja vista que o local 
não recebia tal cuidado. Neste caso, entende-se que há pouca preservação 
do patrimônio regional e a iniciativa de transformá-lo em protagonista de 
um estudo cria umanova maneira de se compreender o nosso meio vivido.
O cine Marrocos não é reconhecido oficialmente como patrimônio cultural, 
o que nos mostra como esse processo é político. A construção da narrativa se
relaciona diretamente ao controle sobre o que é ou não patrimônio e memó-
ria, ou seja, representação da sociedade que frequentou o local. Contudo, o 
cinema hoje é administrado pelo município e é reconhecido como um espaço 
multicultural que recebe festivais de música, teatro e cinema.
Dessa forma, ele teve seu significado reformulado quando o governo mu-
nicipal o fez bem público. Cavalcanti (2019) relata que o edifício, que passou 
por uma pequena reforma em 2002, ficou aberto de 1953, sua inauguração, 
até 1986. Em uma placa comemorativa instalada em seu interior, os pesqui-
sadores encontraram os dizeres “Trouxe educação e entretenimento ao povo 
Ensino de história e educação patrimonial12
de Marabá” (CAVALCANTI, 2019, p. 9). O autor consegue deduzir a importância 
do estabelecimento para a cidade e seu nascimento faz parte do contexto 
de imigração libanesa para o Brasil. O dono era o descendente Hiran Bichara 
Gantus, então com 25 anos e natural de Marabá.
Por ser um local relacionado ao entretenimento e lazer, Cavalcanti (2019) 
relata que o conteúdo e os funcionários eram fiscalizados pelos órgãos re-
pressores do Regime Militar. Essas informações constroem um quebra-cabeça 
formado por pedaços de memória e que constituem a história de uma região 
paraense e brasileira. Apesar das especificidades locais, um patrimônio como 
esse apresenta elementos comuns a outros locais do tipo no Brasil, criando 
um laço identitário regional, mas também, nacional.
Mello e Barra (2017) abordam o desenvolvimento de um projeto de pesquisa 
em parceria com a direção e os docentes do Instituto de Educação Carmela 
Dutra, do bairro de Madureira, na zona Norte do Rio de Janeiro. Intitulado 
“Memória, história e Patrimônio Cultural: desafios e perspectivas na educação 
básica” o intuito é ampliar e difundir o conhecimento sobre o bairro, que 
recebe a atenção do governo da cidade, apesar de estar distante do outro e 
das áreas que foram trabalhadas durante os Jogos Olímpicos. 
Essa região faz parte da formação dos subúrbios cariocas desde o início 
do século XX, principalmente depois da Reforma urbana promovida pelo 
prefeito Francisco Pereira Passos (1836-1913) entre 1904 e 1906. Com a saída 
das moradias populares, como os cortiços, do centro e o surgimento de novos 
meios de transportes, a população ocupou a zona Norte, que se tornou “[...] 
uma categoria simbólica de referência social” (MELLO; BARRA, 2017, p. 140).
O foco dos pesquisadores é entender o foco identitário construído a partir 
da temática do patrimônio cultural, sendo que Madureira é considerado o 
exemplo do “subúrbio carioca”. A metodologia aplicada foi reunir os profes-
sores e a diretoria para entender o conhecimento deles sobre os conceitos 
de patrimônio cultural. Após o questionário, conseguiram reunir dados em 
relação ao conhecimento da comunidade sobre o seu entorno. A história oral, 
as celebrações e costumes entraram nas discussões e a identidade do bairro 
foi capitaneada por aqueles que fazem parte dela. 
Debate historiográfico: identidade
Assim como qualquer conceito, a identidade nacional possui sua historicidade. 
Woodward (2000), ao abordar a crise dos Bálcãs, que afligiu diferentes nações 
que conviviam em um mesmo território, definiu que a identidade é relacional, 
isto é, você depende de algo para existir, o outro afirma quem você é. Para a 
autora (WOODWARD, 2000, p. 11):
Ensino de história e educação patrimonial 13
[...] a afirmação das identidades nacionais é historicamente específica. Embora 
possa remontar as raízes das identidades nacionais em jogo na antiga Iugoslávia 
à história das comunidades que existiam no interior daquele território, o conflito 
entre elas surge em um momento particular. Nesse sentido, a emergência dessas 
diferentes identidades é histórica; ela está localizada em um ponto específico no 
tempo. Uma das formas pelas quais as identidades estabelecem suas reivindicações 
é por meio do apelo a antecedentes históricos. 
A busca pela origem é o primeiro caminho para se construir e estabelecer 
a identidade coletiva de um país. No caso brasileiro, que possui um território 
de dimensões continentais e que teve suas fronteiras modificadas constan-
temente ao longo dos séculos, criar algum tipo de unidade é uma atividade 
complexa. Os elementos que conectam a sociedade, como a língua, por exem-
plo, também têm suas características particulares, regionais sobretudo. 
Porém, elementos identitários são constantemente revisitados no decorrer da 
história, sendo que os momentos de crise despertam essa necessidade. Nos 
Bálcãs, as guerras civis na década de 1990 marcaram a formação dos novos 
estados nacionais após a queda da Iugoslávia em 1991. O Brasil, por sua vez, 
possui séculos de conflitos que muitas vezes são analisados como crises locais. 
Hoje em dia, após o revisionismo responsável, pode-se afirmar que nossa 
estrutura social está alicerçada na guerra, na diferença e na desigualdade. 
Essa é uma discussão identitária motivada pelos questionamentos do 
presente, mas amparada nos estudos históricos. Quando uma transformação 
ocorre em um país, a ideia de nação é uma das primeiras a serem reanalisa-
das. Que direção tomar? O que nós somos? As respostas nunca são exatas e 
possuem prazo de validade. Durante os anos 1920, por exemplo, o país vivia 
uma República classificada como oligárquica, comandada pela elite e para a 
elite, com pouca participação popular. A Constituição que vigorava ainda era 
a de 1891, aprovada após a instituição da República em 1889. As contestações 
se tornaram frequentes assim como o desenvolvimento tecnológico (BORGES, 
2007). As Greves Gerais de 1917, por exemplo, expuseram a exploração da mão de 
obra trabalhadora não só operária. Os direitos trabalhistas se tornaram pauta 
e foram criados na década de 1940. Existem, portanto, novos Brasis cada vez 
que uma nova camada da nossa história é conhecida, modificando elementos 
da nossa identidade, que se forma a partir da comparação com o outro. 
Lopis (2017, p. 11), por sua vez, diz:
O elemento patrimonial cultural deve estar atrelado ao seu contexto de um passado 
histórico e social, não como um artefato isolado, como vem sendo praticado por 
algumas sociedades que isolam o bem histórico de seu contexto, para “preservá-lo” 
em um museu ou instituição. Atualmente entendemos que os artefatos mudam 
Ensino de história e educação patrimonial14
de função ao longo do tempo. Essa mudança advém de alterações nos costumes, 
como consequência dos ideais de modernidade, da implementação do “estilo de 
vida moderno” e pelo processo de ressignificação de espaços que possuem bens/
monumentos patrimoniais. 
A construção identitária precisa de elementos materiais, como o patrimônio 
arquitetônico, e imateriais, como a história oral, para se estabelecer em uma 
sociedade. A preservação da memória na contemporaneidade está atrelada à 
globalização e às facilidades de se deslocar pelos continentes. Dessa forma, 
aquilo que nos representa e nos identifica perante o outro se torna latente, 
mais uma condição primordial para a promulgação e disseminação da edu-
cação patrimonial. Ainda, segundo Lopis (2017, p. 12):
O patrimônio é o símbolo de uma vivência que é temporária, mas que se torna 
eterna através de seus bens/monumentos, traz em si um elemento identitário 
muito forte, construindo um conjunto de imaginários que nos diz quem somos, 
de onde viemos e para onde queremos ir.
Assim, o patrimônio é uma representação do passado, escolhida no pre-
sente, que dita e será analisado no futuro. 
Patrimônio e educação patrimonial 
Como a área de educação patrimonial é ampla e necessita de diversos campos 
de pesquisa, como história, antropologia, pedagogia, arquitetura, para ser 
constituída, as principais obras foram encomendadaspelo IPHAN. Em 1999, 
foi publicado o Guia Básico de Educação Patrimonial, pelas autoras Maria 
de Lourdes Parreiras Horta, Evelina Grunberg e Adriana Queiroz Monteiro, a 
principal referência sobre a metodologia pedagógica, que até hoje suscita 
debates. O texto foi produzido 16 anos após o primeiro evento sobre a edu-
cação patrimonial no País, ocorrido em Petrópolis, no Rio de Janeiro. 
O guia possui três partes, sendo a primeira dedicada à conceituação do 
termo e da área, com destaque para a diversidade dos bens encontrados 
no Brasil, o que dificulta a criação de uma metodologia única. Para Horta, 
Grunberg e Monteiro (1999, p. 6), a educação patrimonial:
[...] trata-se de um processo permanente e sistemático de trabalho educacional cen-
trado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento 
individual e coletivo. A partir da experiência e do contato direto com as evidências 
e manifestações da cultura, em todos os seus múltiplos aspectos, sentidos e signi-
ficados o trabalho de Educação Patrimonial busca levar as crianças e adultos a um 
processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural.
Ensino de história e educação patrimonial 15
Elas enfatizam que a pluralidade identitária de cada região faz com que 
a escolha do bem patrimonial estudado seja particular. Ou seja, o objeto de 
estudo e ensino pode ser um bem material, como um edifício, assim como 
uma manifestação cultural, uma paisagem natural, um objeto, um saber, 
entre tantos. Após a escolha da sua fonte documental, deve-se observá-la, 
identificá-la, registrá-la, explorá-la, analisá-la e interpretá-la. Esse passo a 
passo é similar ao da produção do conhecimento histórico, o que difere é o 
movimento final: a apropriação, ou seja, se reconhecer no seu entorno esta-
belece uma ligação próxima com o bem patrimonial, o protegendo por tabela.
Na segunda parte, as autoras apresentam estudos de caso (Museu Impe-
rial/ RJ, Sítio Arqueológico de São Miguel das Missões/ RS, Centro Histórico 
de Antônio Prado/ RS, a 4ª Colônia de Imigração italiana no Rio Grande do 
Sul, Patrimônio indígena dos Tikuna) para exemplificarem a aplicação me-
todológica e os resultados da aproximação entre o público e o patrimônio. 
A relação entre o Sul do país com a ancestralidade europeia vai dos laços 
familiares e afetivos até a uma construção histórica acerca da identidade 
regional. Por isso que pensar a interdisciplinaridade entre a história e a 
linguística, por exemplo, auxilia no aprofundamento do debate. Porém, essa 
conexão fica mais tênue quando o patrimônio é mais antigo, como ocorre 
com os vestígios das Missões Jesuítico-Guaranis. No Brasil, existem quatro 
sítios que fazem parte do complexo que estão em: São Miguel Arcanjo, São 
Nicolau, São João Batista e São Lourenço Mártir. Junto da parte argentina, 
se tornaram, em 1983, Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, e o 
lado brasileiro já estava sob a jurisdição do IPHAN. 
Para aproximar os alunos dos ensinos fundamental II e médio, Horta, 
Grunberg e Monteiro (1999, p. 39) destacam a criação da Oficina de Arqueologia 
por técnicos do Instituto para apresentar o trabalho arqueológico e estreitar 
a conexão entre a comunidade e a região, ou até de estudantes de outros 
locais que passam a compreender ainda mais a história do país. A intenção 
dessa experiência é de:
[...] desenvolver o aspecto investigativo latente na criança, de forma lúdica, levando-
-a a compreender o papel do arqueólogo na tradução das evidências do passado, 
e a relacionar este passado com o presente e o futuro. É comum, após a realização 
da oficina, que algumas crianças devolvam pequenos fragmentos de cerâmica 
recolhidos durante a visita inicial, demonstrando a efetividade do método da 
Educação Patrimonial na mudança de atitude em relação ao Patrimônio Cultural, 
no caso, um sítio arqueológico. 
Ensino de história e educação patrimonial16
Para finalizar, a terceira parte traz uma série de elementos que auxiliam na 
elaboração de materiais didáticos voltados à prática da educação patrimonial. 
Esse guia embasou toda a bibliografia que surgiu desde então, sobretudo 
pelo seu caráter direto e didático. 
Em 2012, foi publicado o livro Educação Patrimonial: histórico, conceitos 
e processos, o qual desenvolve a ideia de educação voltada para o cenário 
brasileiro, enfatizando as práticas pedagógicas defendidas pelo próprio IPHAN 
desde a sua formação. Os autores, Sônia R. Florêncio, Pedro Clerot, Juliana 
Bezerra, Rodrigo Ramassote, elaboraram uma linha do tempo desde a criação 
do anteprojeto de Mario de Andrade (1893-1945), que indicava a necessidade 
de políticas pedagógicas para o patrimônio, pois sem o reconhecimento geral 
pouco poderia ser feito pela preservação do bem.
Para solidificar a posição do órgão, na década de 1970, o diretor Aloísio 
Sérgio Barbosa de Magalhães (1927-1982) aprovou a criação do Centro Nacional 
de Referência Cultural (CNRC), que atualizava os processos de preservação que 
precisam ser revistos de tempos em tempos. Com isso, o apoio pedagógico 
teórico ganhou substância.
Sandra Pelegrini (2009), por sua vez, escreveu a obra Patrimônio Cultural: 
Consciência e Preservação, por meio da qual pontuou as necessidades de se 
conscientizar sobre o espaço que ocupamos. Em relação à sala de aula, um 
dos pontos semelhantes aos das autoras do Guia diz respeito à rigidez do 
currículo escolar no geral, que prioriza a competição entre as disciplinas em 
vez de estabelecer uma educação mais inclusiva. Por exemplo, em relação à 
posição do educador, a autora diz (PELEGRINI, 2009, p. 51):
Não pode escapar ao educador a abordagem dos nexos históricos das distintas 
tipologias patrimoniais, a discussão acerca das condições de bens que estejam 
em situação de perigo como: centos históricos, sítios arqueológicos e conjuntos 
arquitetônicos em ruínas ou utilizados de maneira inadequada; ambientes em 
processo contínuo de degradação e poluição; o risco de desaparecimento de es-
pécies da flora e da fauna, como vegetações ou animais em extinção; a dissipação 
de saberes, rituais, festas e celebrações, entre outras formas de manifestação da 
cultura popular tradicional [...].
No trecho, ela aponta a existência de intersecção de áreas na análise do 
patrimônio. Geografia, biologia, física, química são disciplinas necessárias para 
se entender o espaço, o bioma, a estrutura, as reações corrosivas, por exemplo. 
Dessa maneira, a discussão ultrapassa os limites do ensino de história, pois 
o bem cultural abrange mais sentidos do que apenas a análise do passado.
Ensino de história e educação patrimonial 17
A educação patrimonial é aplicada aos museus, que abrigam não só peças 
materiais, mas também imaginário e memória. Pense no caso do Museu da 
Língua Portuguesa, em São Paulo, que se dedica a mapear e apresentar as 
variações da nossa língua a partir de uma abordagem cultural. Mário Cha-
gas (2004), por sua vez, apresenta a ideia do Saci e a relação com o Museu 
Histórico da Cidade do Rio de Janeiro. Temos, aqui, um estudo específico 
de imaterialidade que o autor utiliza para debater a transposição do termo 
Heritage education para a realidade brasileira e entender a conexão entre a 
narrativa criada pelo museu e a própria cidade, que é o tema da instituição. A 
“Perna do Saci” foi catalogada em uma ficha e mantida no arquivo do museu, 
e motivou a análise de Chagas (2004) sobre materialidade e o patrimônio. O 
autor deixa claro que (CHAGAS, 2004, p. 137):
[...] a suposição de sua existência [do Saci] e o fato de um dia alguém ter imaginado 
que o seu registro estaria ali no núcleo documental do Museu são suficientes. 
Síntese: meu interesse está concentrado na memória social e no debate que se 
organiza em torno do denominado patrimônio cultural.
A musealização da cultura imaterial significa transformá-la em conheci-
mento oficial e institucionalizado. Como o autor destaca, não é a veracidade 
da existência da entidade que interessano caso e sim o fato dela ter sido 
escolhida para fazer parte desse universo. Além disso, a catalogação a coloca 
no patamar de patrimônio material, o que Chagas (2004) denomina como o 
paradoxo da aproximação entre o mito e o corpo. O próprio nome “Perna do 
Saci” já induz esse debate, devido ao destaque dado ao hipotético membro 
corporal da entidade. 
A discussão também resvala na identidade nacional, com a busca por 
elementos formadores da nossa cultura. Assim, o autor relata o papel de 
Monteiro Lobato (1882-1948) na investigação do imaginário popular sobre o 
Saci. Chagas (2004, p. 141) afirma que: 
A iniciativa do autor [ele se refere a Lobato] de promover a atualização e o registro 
da potente memória do Saci tem correspondência com o que na atualidade de 
denomina de Registro do Patrimônio Imaterial, oficialmente instituído por meio 
do Decreto 3.551, de 4 de agosto de 2000.
Ensino de história e educação patrimonial18
Em relação à educação patrimonial, entender a musealização dos bens 
culturais é ampliar o debate do próprio alcance da prática pedagógica, que 
é vasta, e, para Chagas (2004), deve-se manter assim. 
A educação patrimonial arqueológica teve seu início formal com a vin-
culação desse campo de estudo à Política Nacional do Meio Ambiente, na 
década de 1980. Contudo, a práxis se torna frequente a partir da Portaria do 
IPHAN nº 230, de 17 de dezembro de 2002, que reforça a adoção de atividades 
pedagógicas para a socialização da arqueologia. A autora resgata, porém, os 
esforços anteriores conduzidos sobretudo pelos museus, que salvaguardam 
o patrimônio arqueológico desde o século XIX, mas ganhou destaque a partir 
dos anos 1970 com a fundação do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE), 
da USP, o Museu Arqueológico de Sambaqui, de Joinville (SC0 e do Museu 
Paraense Emílio Goeldi (PA) (CARNEIRO, 2014). 
Carneiro (2014, p. 448) também critica a rigidez da educação patrimonial 
pois, 
[...] prevalece como principal forma de ação educacional a elaboração das fa-
mosas cartilhas e/ou a realização de palestras – meios pelos quais o conteúdo 
arqueológico pode ser divulgado. Aliás, é no caminho da divulgação científica 
que muitas ações “ditas” educacionais caminham. Esses métodos, apesar de em 
alguns casos se configurar em estratégias iniciais e o que é possível ser realizado 
em determinado contexto, não podem ser confundidos com processo educacional, 
nem mesmo o ganho metodológico de considerar as referências patrimoniais como 
fonte primária faz parte destas ações.
Apesar disso, a autora aponta ser importante manter o termo “educação 
patrimonial”, pois assim as ações planejadas possuem um direcionamento 
nem que seja epistemológico. A diversidade do campo de estudos é importante 
ao mesmo tempo em que impede uma política mais assertiva de difusão de 
conhecimento. 
Leia a obra de Carla Gilbertoni Carneiro, Educação patrimonial e 
arqueologia: alguns aspectos dessa interface, em que a autora reflete 
sobre a disseminação do patrimônio e da própria prática arqueológica. Para 
isso, ela enfatiza o contexto amazônico que necessita ser problematizado por 
várias esferas além da arqueologia, ou seja, exige a multidisciplinaridade. 
Ensino de história e educação patrimonial 19
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