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Contabilidade Geral: Conceitos e Práticas

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<p>Como citar este material:</p><p>CARDOSO, Ricardo Lopes. Contabilidade geral. Rio de Janeiro: FGV, 2023.</p><p>Todos os direitos reservados. Textos, vídeos, sons, imagens, gráficos e demais componentes</p><p>deste material são protegidos por direitos autorais e outros direitos de propriedade intelectual, de</p><p>forma que é proibida a reprodução no todo ou em parte, sem a devida autorização.</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>A disciplina Contabilidade Geral visa capacitar os alunos a</p><p>compreenderem as informações geradas pela Contabilidade Financeira e</p><p>pela Contabilidade Gerencial.</p><p>O Módulo I é dedicado à Contabilidade Financeira. Estudaremos</p><p>a estrutura, o propósito e as características das demonstrações contábeis</p><p>de uso geral, além de elaborarmos essas demonstrações como</p><p>consequência da contabilização de várias operações.</p><p>Nos módulos II e III, estudaremos a contabilização de algumas</p><p>transações típicas para a maior parte das empresas brasileiras: receita de</p><p>venda e prestação de serviço, contas a receber de clientes, estoque e</p><p>imobilizado.</p><p>Nos módulos IV e V, estudaremos a análise das demonstrações</p><p>contábeis.</p><p>Nos módulos VI e VII, estudaremos a Contabilidade Gerencial,</p><p>cujo foco será tanto na elaboração da informação de custos pelo custeio</p><p>variável e pelo custeio por absorção quanto no uso da informação gerada</p><p>pelo custeio variável para tomada de decisão gerencial, considerando a</p><p>análise da margem de contribuição e do ponto de equilíbrio.</p><p>SUMÁRIO</p><p>MÓDULO I – INTRODUÇÃO ÀS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS DE PROPÓSITO GERAL ................ 9</p><p>POR QUE ESTUDAR CONTABILIDADE? .......................................................................................... 10</p><p>CONTABILIDADE: DEFINIÇÃO ......................................................................................................... 11</p><p>OBJETIVO DA CONTABILIDADE ....................................................................................................... 14</p><p>USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO CONTÁBIL ....................................................................................... 14</p><p>LIMITAÇÕES DA CONTABILIDADE .................................................................................................. 15</p><p>PRINCIPAIS DEMONSTRAÇÕES ELABORADAS PELA CONTABILIDADE FINANCEIRA ............... 16</p><p>Balanço Patrimonial................................................................................................................. 17</p><p>Demonstração do Resultado do Exercício............................................................................ 24</p><p>Demonstração dos Fluxos de Caixa ...................................................................................... 28</p><p>CONCEITOS FUNDAMENTAIS ......................................................................................................... 33</p><p>Patrimônio ................................................................................................................................ 33</p><p>Ativo ........................................................................................................................................... 34</p><p>Passivo ....................................................................................................................................... 34</p><p>Patrimônio Líquido .................................................................................................................. 34</p><p>Resultado .................................................................................................................................. 34</p><p>Receita ....................................................................................................................................... 35</p><p>Despesa ..................................................................................................................................... 35</p><p>Como Receita e Despesa afetam o Patrimônio Líquido (Ativo Líquido) ........................... 35</p><p>EQUAÇÃO CONTÁBIL E NATUREZA DAS CONTAS ........................................................................ 35</p><p>ANÁLISE E REGISTRO DAS TRANSAÇÕES FINANCEIRAS .............................................................. 37</p><p>MECÂNICA CONTÁBIL E ELABORAÇÃO DO BALANÇO PATRIMONIAL....................................... 39</p><p>REGIME DE COMPETÊNCIA VS. REGIME DE CAIXA ....................................................................... 50</p><p>MÓDULO II – CONTABILIZAÇÃO DE TRANSAÇÕES TÍPICAS (1ª PARTE) ........................................ 55</p><p>RECEITA DE CONTRATO COM CLIENTES ....................................................................................... 55</p><p>Conceituação ............................................................................................................................ 55</p><p>Cinco etapas para o reconhecimento da receita ................................................................. 55</p><p>Caso da Droga Raia: receita .................................................................................................... 61</p><p>Mecânica contábil e elaboração das demonstrações contábeis: receita ......................... 62</p><p>MENSURAÇÃO E RECONHECIMENTO DAS PERDAS EM CONTAS A RECEBER .......................... 70</p><p>Mecânica contábil e elaboração das demonstrações contábeis: PECLD ......................... 74</p><p>Caso da Droga Raia: clientes .................................................................................................. 75</p><p>MÓDULO III – CONTABILIZAÇÃO DE TRANSAÇÕES TÍPICAS (2ª PARTE) ....................................... 77</p><p>OPERAÇÃO COM MERCADORIAS ................................................................................................... 77</p><p>Conceituação ............................................................................................................................ 77</p><p>Principais itens que compõem o Estoque ............................................................................ 78</p><p>Critérios de avaliação do estoque ......................................................................................... 79</p><p>Critérios de controle do estoque ........................................................................................... 83</p><p>Conceito e mensuração do CMV ............................................................................................ 83</p><p>Mecânica contábil e elaboração das demonstrações contábeis: estoques ..................... 87</p><p>Caso da Droga Raia: estoques................................................................................................ 93</p><p>IMOBILIZADO E INTANGÍVEL .......................................................................................................... 95</p><p>Conceito .................................................................................................................................... 95</p><p>Caso da Droga Raia: imobilizado ........................................................................................... 95</p><p>Critérios de avaliação do imobilizado .................................................................................100</p><p>Significado de depreciação ...................................................................................................103</p><p>Critérios de mensuração da depreciação ...........................................................................104</p><p>Mecânica contábil e elaboração das demonstrações contábeis: depreciação .............110</p><p>MÓDULO IV – ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS (INTRODUÇÃO).............................119</p><p>PROPÓSITO DA ANÁLISE ...............................................................................................................120</p><p>OBTENÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS .......................................................................121</p><p>INVESTIGAR A CONFIABILIDADE DA INFORMAÇÃO OBTIDA ....................................................123</p><p>DEFINIÇÃO DE PARÂMETROS .......................................................................................................126</p><p>CÁLCULOS .......................................................................................................................................127</p><p>sendo apuradas para</p><p>determinar se a empresa apurou um lucro (receitas superiores a despesas) ou um prejuízo (despesas</p><p>superiores a receitas).</p><p>Desse modo, o reconhecimento de receitas aumenta o lucro do período e, consequentemente,</p><p>o PL. O contrário ocorre com o reconhecimento de despesas.</p><p>Equação contábil e natureza das contas</p><p>A equação contábil é baseada na dupla entrada, ou seja, cada transação possui efeito duplo. Uma</p><p>transação pode afetar ambos os lados da equação, no mesmo valor, ou apenas um lado da equação,</p><p>aumentando e diminuindo na mesma quantia, anulando a mudança nesse lado da equação.</p><p>A equação fundamental contábil é:</p><p>ativo = passivo + patrimônio líquido</p><p>36</p><p>Exemplo 1:</p><p>Se um negócio possui ativos de $ 500.000,00, obrigações (Passivo) de $ 300.000,00 e</p><p>Patrimônio Líquido de $ 200.000, a equação contábil é a seguinte:</p><p>ativo = passivo + patrimônio líquido</p><p>$ 500.000 = $ 300.000 + $ 200.000</p><p>ativo = passivo + patrimônio líquido</p><p>ativo = passivo + capital social + reserva de lucros (receitas – despesas)</p><p>Se há somente uma receita, esta vai aumentar o resultado do período. Em contrapartida, se</p><p>há somente uma despesa, está vai diminuir o resultado do período.</p><p>Logo, se há receitas ou despesas no período, essas alterarão o resultado – lucro ou prejuízo –</p><p>do período. No fim do período, é efetuado o confronto entre o total das receitas e das despesas,</p><p>sendo apurado o resultado e, consequentemente, verificado o efeito no Patrimônio Líquido. O</p><p>Patrimônio Líquido será aumentado se houver lucro ou será reduzido se ocorrer prejuízo.</p><p>No fim desse período, se a empresa gerou uma receita de vendas de $ 300.000 e uma despesa</p><p>de $ 250.000, se apresentou lucro líquido de $ 50.000 – exclusivamente compreendido por receitas</p><p>e despesas que transitaram pelo caixa –, a equação contábil será:</p><p>ativo = passivo + patrimônio líquido</p><p>$ 550.000 = $ 300.000 + $ 250.000</p><p>($ 500.000 + $ 50.000)</p><p>ativo anterior +</p><p>ativo da venda à vista</p><p>($ 200.000 + $ 50.000)</p><p>PL anterior + lucro do período</p><p>Exemplo 2:</p><p>Se $ 10.000 forem utilizados para pagar dívidas com fornecedores (Passivo), a equação</p><p>contábil passará a ser:</p><p>37</p><p>ativo = passivo + patrimônio líquido</p><p>$ 540.000 = $ 290.000 + $ 250.000</p><p>($ 550.000 – $ 10.000) = ($ 300.000 – $ 10.000)</p><p>ativo anterior – pagamento passivo anterior – pagamento</p><p>Nesse caso, a conta Caixa (Ativo) diminuiu em $ 10.000 assim como a conta Fornecedores</p><p>(Passivo), pois a dívida diminuiu no mesmo valor.</p><p>Análise e registro das transações financeiras</p><p>Se, a cada transação, tivéssemos de fazer um novo Balanço Patrimonial, o tempo consumido</p><p>seria muito grande. Além disso, muitas informações de determinado item poderiam perder-se. Por</p><p>esse motivo, deve haver uma conta para cada item do Balanço Patrimonial (Ativos, Passivos e PL)</p><p>bem como da Demonstração de Resultado (Receitas e Despesas).</p><p>No fim do período, as demonstrações contábeis devem ser elaboradas com base no saldo de</p><p>cada conta. Um modo mais simples de fazê-lo é por meio de razonetes. Os razonetes também são</p><p>chamados de contas T, por causa da sua aparência. Os lançamentos são efetuados na estrutura de um</p><p>T, em que é apresentado o nome da conta sobre a barra horizontal; do lado esquerdo, são apresentados</p><p>os valores lançados a débito, representando as aplicações dos recursos da empresa; do lado direito, os</p><p>valores lançados a crédito, que representam as origens dos recursos. Para facilitar a identificação das</p><p>contrapartidas, os razonetes apresentam códigos aos lançamentos. Nenhum dos dois lados significa</p><p>algo “bom” ou “ruim”. Os nomes débito e crédito representam apenas aplicações e origens,</p><p>respectivamente, como fruto de uma convenção. A seguir, vejamos como isso ocorre:</p><p>nome da conta</p><p>valor dos lançamentos a débito valor dos lançamentos a crédito</p><p>somatório dos débitos somatório dos créditos</p><p>Cabe ressaltar que um lançamento a débito no Ativo aumentará o valor desse Ativo, e um</p><p>lançamento a crédito diminuirá o seu valor. Seguindo o mesmo raciocínio, um lançamento a débito no</p><p>Passivo diminuirá o valor desse Passivo, e um lançamento a crédito aumentará o seu valor.</p><p>Pela mesma convenção, as despesas também aumentam por débitos e reduzem por créditos.</p><p>Enquanto as Receitas e o Patrimônio Líquido, tal qual o Passivo, aumentam por créditos e reduzem</p><p>por débitos.</p><p>38</p><p>ativos e despesas passivos, PL e receitas</p><p>débito crédito débito crédito</p><p>aumento diminuição diminuição aumento</p><p>Para cada transação, duas ou mais contas estão sempre envolvidas, e os débitos serão sempre</p><p>iguais aos créditos (dupla entrada ou partidas dobradas).</p><p>Exemplo 1:</p><p>No dia 1º de junho de X0, a Empresa Delta comprou um carro à vista por $ 45.000.</p><p>Duas contas estão envolvidas. O ativo Carro aumenta, dessa forma, é um débito (Aplicação).</p><p>Já o ativo Caixa diminui, desse modo, é um crédito:</p><p>ativo = passivo + patrimônio líquido</p><p>caixa (45.000)</p><p>carro 45.000</p><p>$ 0 = sem lançamento sem lançamentos</p><p>caixa carro</p><p>débito crédito débito crédito</p><p>– 45.000 + 45.000</p><p>Exemplo 2:</p><p>O dono da empresa integraliza $ 250 em dinheiro como capital social inicial.</p><p>ativo</p><p>(caixa)</p><p>= passivo +</p><p>patrimônio líquido</p><p>(capital social)</p><p>$ 250 = nenhum lançamento + $ 250</p><p>ativo</p><p>(caixa)</p><p>passivo patrimônio líquido</p><p>(capital social)</p><p>débito crédito débito crédito débito crédito</p><p>+ 250 + 250</p><p>39</p><p>Exemplo 3:</p><p>A Cia. Maratinga prestou serviços no valor de $ 300 (Receita), recebendo o seu valor à vista.</p><p>ativo</p><p>(caixa)</p><p>= passivo +</p><p>patrimônio líquido</p><p>(reserva de lucros)</p><p>$ 300 = nenhum lançamento + $ 300</p><p>ativo</p><p>(caixa)</p><p>passivo patrimônio líquido</p><p>(reserva de lucros)</p><p>débito crédito débito crédito débito crédito</p><p>+ 300 + 300</p><p>A grande vantagem dos razonetes é que os saldos das contas já são apurados automaticamente.</p><p>Por outro lado, a informação dos históricos fica sumarizada nos códigos dos lançamentos, o que</p><p>pode dificultar a identificação de eventuais erros. Partindo desses saldos, fica fácil apurar o Balanço</p><p>Patrimonial: basta transcrever os saldos finais de cada conta.</p><p>Mecânica contábil e elaboração do balanço patrimonial</p><p>A mecânica contábil se baseia no método das partidas dobradas, ou seja, todo evento é</p><p>reconhecido mediante dois registros, um que corresponde à aplicação dos recursos e outro que</p><p>representa as origens, isto é, um lançamento a débito e outro a crédito. Pode haver mais de um</p><p>lançamento a débito ou a crédito.</p><p>Existem duas formas “clássicas” de se apresentar o método das partidas dobradas: por meio</p><p>dos lançamentos em Diário e do registro em razonetes (ou conta T).</p><p>O método das partidas dobradas demanda o conhecimento dos conceitos de débito e crédito.</p><p>Por esse método, o Ativo tem natureza devedora, enquanto o Passivo e o Patrimônio Líquido têm</p><p>natureza credora.</p><p>Como o Ativo tem natureza devedora, precisamos fazer um lançamento a débito para</p><p>aumentar o seu saldo. Por outro lado, para reduzir o seu saldo, fazemos um lançamento a crédito.</p><p>O Passivo e o Patrimônio Líquido, por outro lado, têm natureza credora. Desse modo, para</p><p>aumentar os seus saldos, fazemos lançamentos a crédito. Para diminuir, fazemos lançamentos a débito.</p><p>Para muitos não contadores, é difícil entender a Contabilidade pela dificuldade de aceitar os</p><p>conceitos de débito e crédito. Desse modo, além dessas duas formas clássicas de aplicação do método</p><p>das partidas dobradas (diário e razonete), apresentamos outra, opcional no preparo das</p><p>demonstrações contábeis: o preenchimento da Matriz de Lançamentos.</p><p>40</p><p>Entre as vantagens da Matriz de Lançamentos, podemos destacar:</p><p> Auxilia a visualização dos lançamentos efetuados (partidas dobradas).</p><p> Auxilia a verificação de um possível erro.</p><p> Evita o uso dos termos “débito” e “crédito”, substituindo-os por “aplicação” e “origem”.</p><p>A aplicação identifica o destino dos recursos,</p><p>ou seja, responde à pergunta: “Onde o dinheiro</p><p>foi aplicado?”.</p><p>A origem identifica a fonte do recurso, isto é, responde à questão: “De onde o dinheiro veio?”.</p><p>Vejamos as duas formas de processamento contábil mediante um exemplo que será</p><p>desenvolvido duas vezes. Na matriz, podemos ter ainda melhor visão dos nossos lançamentos. Ao</p><p>mesmo tempo que vamos fazer dois lançamentos, débito e crédito, poderemos ver as duas contas</p><p>afetadas para manter o equilíbrio do BP (A = P + PL). Cabe ressaltar que todas as formas nos</p><p>permitem apurar as mesmas demonstrações contábeis. Exemplo:</p><p> Em 2 de janeiro de X7, dois amigos resolvem formar uma sociedade, a Cia. Comercial</p><p>NECC. Eles contribuíram com $ 800 em dinheiro, cada um, para a formação do capital</p><p>social da entidade.</p><p> No dia 18 de janeiro, a Cia. Comercial NECC comprou mercadorias, a prazo, por $ 500,</p><p>para pagamento em março de X7.</p><p> No dia 31 de janeiro, a Cia. Comercial NECC comprou móveis e utensílios para o</p><p>escritório administrativo por $ 350, à vista.</p><p>Com base nessas transações, realize todos os lançamentos contábeis e apure o Balanço</p><p>Patrimonial da Cia. Comercial NECC em 31 de janeiro de X7.</p><p>Primeiramente, resolveremos pelos lançamentos na forma de diário.</p><p>Estrutura de Lançamento em Diário:</p><p>Data de ocorrência do evento:</p><p>D conta devedora valor</p><p>C conta credora valor</p><p>Histórico, descrevendo as principais características da transação.</p><p>41</p><p>Vejamos os lançamentos da Cia. Comercial NECC, seguindo a estrutura do Diário:</p><p>Em 2 de janeiro de X7:</p><p>D caixa – AC 1.600,00</p><p>C capital social – PL 1.600,00</p><p>No dia 2 de janeiro, constituição da empresa e contribuição de $ 800,00 de cada sócio, para a</p><p>formação do capital social da entidade.</p><p>Em 18 de janeiro de X7:</p><p>D estoque de mercadorias – AC 500,00</p><p>C fornecedores a pagar – PC 500,00</p><p>No dia 18 de janeiro, aquisição de mercadorias a prazo, com vencimento em março de X7.</p><p>Em 31 de janeiro de X7:</p><p>D imobilizado (móveis e utensílios) – AÑC 350,00</p><p>C caixa – AC 350,00</p><p>No dia 31 de janeiro, aquisição de móveis e utensílios à vista.</p><p>Com base nesses lançamentos, é necessário apurar o saldo de cada conta, só então poderemos</p><p>apurar as demonstrações contábeis. Para apurar os saldos, faz-se necessário refletir todos os</p><p>lançamentos nas contas respectivas. Desse modo, vejamos:</p><p>Tabela 5 – Saldos das contas</p><p>conta: caixa – AC</p><p>data valor</p><p>2/1/x7 1.600,00</p><p>31/1/x7 – 350,00</p><p>saldo 1.250,00</p><p>42</p><p>conta: capital social – PL</p><p>data valor</p><p>2/1/x7 1.600,00</p><p>saldo 1.600,00</p><p>conta: estoque de mercadorias – AC</p><p>data valor</p><p>18/1/x7 500,00</p><p>saldo 500,00</p><p>conta: fornecedores a pagar – PC</p><p>data valor</p><p>18/1/x7 500,00</p><p>saldo 500,00</p><p>conta: imobilizado (móveis e utensílios) – AÑC</p><p>data valor</p><p>31/1/x7 350,00</p><p>saldo 350,00</p><p>Esses saldos são evidenciados no Balanço Patrimonial da Cia. Comercial NECC, apurado em</p><p>31/1/X7, seguindo a estrutura estudada neste capítulo:</p><p>43</p><p>Tabela 6 – Balanço Patrimonial da Cia. Comercial NECC (31/1/X7)</p><p>Balanço Patrimonial da Cia. Comercial NECC, apurado em 31/1/X7</p><p>ativo circulante passivo circulante</p><p>caixa 1.250,00 fornecedores a pagar 500,00</p><p>estoque de mercadorias 500,00 total do passivo circulante 500,00</p><p>total ativo circulante 1.750,00</p><p>patrimônio líquido</p><p>ativo não circulante capital social 1.600,00</p><p>imobilizado (móveis e utensílios) 350,00 total do patrimônio líquido 1.600,00</p><p>total do ativo não circulante 350,00</p><p>total do ativo 2.100,00 total do passivo + PL 2.100,00</p><p>O lançamento em razonetes (contas T) é muito semelhante à apuração dos saldos que</p><p>acabamos de fazer (última etapa do lançamento na forma de diários). Para cada conta, criamos uma</p><p>conta T. No entanto, temos duas colunas nos razonetes, uma à esquerda e outra à direita do</p><p>travessão vertical.</p><p>Do lado esquerdo do travessão vertical, registramos os lançamentos a débito dessa conta –</p><p>para aumentar o saldo de Ativos e Despesas, ou para reduzir o saldo de Passivos, Patrimônio Líquido</p><p>ou receitas. Do lado direito, lançamos os créditos – para reduzir o saldo de Ativos e despesas, ou</p><p>para aumentar o saldo de Passivos, Patrimônio Líquido ou receitas.</p><p>Para facilitar a identificação dos eventos econômicos que deram origem aos registros, vamos</p><p>inserir as datas dos eventos. Uma alternativa seria inserir códigos que designassem os históricos dos</p><p>respectivos eventos. Por fim, após o reconhecimento de todas as transações e os eventos, apuramos</p><p>os saldos finais das contas, que correspondem ao somatório de todos os débitos menos o somatório</p><p>de todos os créditos lançados em cada conta.</p><p>Vejamos o desenvolvimento desse mesmo exemplo pelo lançamento em razonetes:</p><p>44</p><p>conta: caixa (AC)</p><p>débito (aumenta) crédito (reduz)</p><p>2/1/x7 1.600 –</p><p>350 31/1/x7</p><p>saldo 1.250 –</p><p>conta: estoque (AC)</p><p>débito (aumenta) crédito (reduz)</p><p>18/1/X7 500 –</p><p>–</p><p>saldo 500 –</p><p>conta: imobilizado (AÑC)</p><p>débito (aumenta) crédito (reduz)</p><p>31/1/X7 350 –</p><p>–</p><p>saldo 350 –</p><p>conta: fornecedores (PC)</p><p>débito (reduz) crédito (aumenta)</p><p>500 18/1/X7</p><p>–</p><p>500 saldo</p><p>conta: capital social (PL)</p><p>débito (reduz) crédito (aumenta)</p><p>1.600 2/1/X7</p><p>–</p><p>1.600 saldo</p><p>45</p><p>Esses saldos finais são evidenciados no Balanço Patrimonial da Cia. Comercial NECC,</p><p>apurado em 31/1/X7, seguindo a estrutura estudada neste módulo:</p><p>Tabela 7 – Balanço Patrimonial da Cia. Comercial NECC (31/1/X7)</p><p>Balanço Patrimonial da Cia. Comercial NECC, apurado em 31/1/X7</p><p>ativo circulante passivo circulante</p><p>caixa 1.250,00 fornecedores a pagar 500,00</p><p>estoque de mercadorias 500,00 total do passivo circulante 500,00</p><p>total ativo circulante 1.750,00</p><p>patrimônio líquido</p><p>ativo não circulante capital social 1.600,00</p><p>imobilizado (móveis e utensílios) 350,00 total do patrimônio líquido 1.600,00</p><p>total do ativo não circulante 350,00</p><p>total do ativo 2.100,00 total do passivo + PL 2.100,00</p><p>Finalmente, vejamos a matriz de lançamentos. Ela funciona como uma grande tabela, na qual</p><p>cada coluna corresponde a uma conta, e cada linha corresponde a uma transação que afetou o</p><p>patrimônio ou o desempenho da entidade.</p><p>Para preencher essa planilha, é necessário fazer duas perguntas (para cada transação): “Onde</p><p>o dinheiro foi aplicado?” e “De onde o dinheiro veio?”.</p><p>O ponto de partida é o saldo inicial da empresa. A cada novo evento, é preciso fazer dois</p><p>lançamentos referentes a este.</p><p>46</p><p>Tabela 8 – Matriz de lançamentos</p><p>ativo = passivo + PL verificação:</p><p>ativo –</p><p>(passivo +</p><p>PL)</p><p>eventos/contas caixa estoques</p><p>móveis e</p><p>utensílios</p><p>= fornecedores</p><p>capital</p><p>social</p><p>saldos iniciais =</p><p>constituição =</p><p>compra a prazo =</p><p>compra à vista =</p><p>saldos finais =</p><p>A última coluna, da direita, apresenta o somatório dos valores que compõem o Ativo</p><p>subtraído do somatório dos valores que compõem o Passivo e o Patrimônio Líquido. Considerando</p><p>a equação fundamental da Contabilidade, essa diferença precisa ser igual a zero. Caso contrário, é</p><p>sinal de que houve algum erro de lançamento.</p><p>Começando o preenchimento da tabela, considerando que a Cia. Comercial NECC foi</p><p>constituída neste exercício, os saldos iniciais evidenciados na planilha foram todos zero.</p><p>ativo = passivo + PL verificação:</p><p>ativo –</p><p>(passivo +</p><p>PL) eventos/contas caixa estoques</p><p>móveis e</p><p>utensílios = fornecedores</p><p>capital</p><p>social</p><p>saldos iniciais – – – = – – 0</p><p>47</p><p>Para melhor compreensão, vamos proceder a cada lançamento em separado:</p><p>Pela constituição da entidade, foram aplicados $ 1.600 no caixa. Essa aplicação teve como</p><p>origem o capital social ($ 1.600).</p><p>Tabela 9 – Matriz de lançamentos: constituição da entidade</p><p>ativo = passivo + PL verificação:</p><p>ativo –</p><p>(passivo +</p><p>PL)</p><p>eventos/contas caixa estoques</p><p>móveis e</p><p>utensílios</p><p>= fornecedores</p><p>capital</p><p>social</p><p>saldos iniciais - - - = - - -</p><p>constituição 1.600</p><p>= 1.600 -</p><p>Pela compra de mercadorias a prazo, aplicaram-se $ 500 nos estoques, tendo esses recursos</p><p>origem com os fornecedores.</p><p>Tabela 10 – Matriz de lançamentos: compra de mercadorias a prazo</p><p>ativo = passivo + PL verificação:</p><p>ativo –</p><p>(passivo +</p><p>PL)</p><p>eventos/contas caixa estoques</p><p>móveis e</p><p>utensílios</p><p>= fornecedores</p><p>capital</p><p>social</p><p>saldos iniciais - - - = - - -</p><p>constituição 1.600 = 1.600 -</p><p>compra a prazo 500 = 500 -</p><p>48</p><p>Pela compra de móveis e utensílios à vista, aplicaram-se $ 350 nos Móveis e Utensílios, tendo</p><p>esses recursos o caixa como origem.</p><p>Tabela 11 – Matriz de lançamentos: compra de móveis e utensílios à vista</p><p>ativo = passivo + PL verificação:</p><p>ativo –</p><p>(passivo +</p><p>PL)</p><p>eventos/contas caixa estoques</p><p>móveis e</p><p>utensílios</p><p>= fornecedores</p><p>capital</p><p>social</p><p>saldos iniciais - - - = - - -</p><p>constituição 1.600 = 1.600 -</p><p>compra a prazo 500 = 500 -</p><p>compra à vista (350) 350 = -</p><p>Comparando essa forma de lançamento (matriz) com as apresentadas anteriormente, a matriz</p><p>contempla as vantagens dos razonetes, isto é, já apura os saldos das contas automaticamente – os</p><p>somatórios de cada coluna, na última linha –, enquanto, na primeira coluna, a matriz apresenta os</p><p>históricos de cada lançamento de forma resumida, o que foi citado como uma vantagem do diário</p><p>sobre o razonete. Além disso, ainda oferece uma ferramenta de verificação dos valores lançados – a</p><p>coluna de verificação.</p><p>Tabela 12 – Matriz de lançamentos: saldos finais</p><p>ativo = passivo + PL verificação:</p><p>ativo –</p><p>(passivo + PL) eventos/contas caixa estoques</p><p>móveis e</p><p>utensílios</p><p>= fornecedores</p><p>capital</p><p>social</p><p>saldos iniciais - - - = - - -</p><p>constituição 1.600 = 1.600 -</p><p>compra a prazo 500 = 500 -</p><p>compra à vista (350) 350 = -</p><p>saldos finais 1.250 500 350 = 500 1.600 -</p><p>49</p><p>Uma vez que a matriz tenha sido preenchida e verificada, basta transcrever os saldos finais de</p><p>cada conta (a última linha) para o Balanço Patrimonial, ou seja, partindo da matriz preenchida, é</p><p>suficiente olhar para as duas linhas do extremo – a primeira, com os nomes das contas; e a última,</p><p>com os saldos finais das respectivas contas.</p><p>ativo = passivo + PL verificação:</p><p>ativo –</p><p>(passivo +</p><p>PL) eventos/contas caixa estoques</p><p>móveis e</p><p>utensílios = fornecedores</p><p>capital</p><p>social</p><p>saldos finais 1.250 500 350 = 500 1.600 0</p><p>2.100 = 2.100</p><p>Com isso, só resta organizar os saldos finais na estrutura do Balanço Patrimonial.</p><p>Tabela 13 – Balanço Patrimonial da Cia. Comercial NECC (31/1/X7)</p><p>Balanço Patrimonial da Cia. Comercial NECC, apurado em 31/1/X7</p><p>ativo circulante passivo circulante</p><p>caixa 1.250,00 fornecedores a pagar 500,00</p><p>estoque de mercadorias 500,00 total do passivo circulante 500,00</p><p>total ativo circulante 1.750,00</p><p>patrimônio líquido</p><p>ativo não circulante capital social 1.600,00</p><p>imobilizado (móveis e utensílios) 350,00 total do patrimônio líquido 1.600,00</p><p>total do ativo não circulante 350,00</p><p>total do ativo 2.100,00 total do passivo + PL 2.100,00</p><p>Finalmente, reiteramos que as três formas de processamento dos atos e dos fatos que afetaram</p><p>o patrimônio da entidade propiciam a apuração de demonstrações contábeis idênticas – as três</p><p>formas são corretas. Cabe ao leitor escolher a forma da sua preferência, reconhecendo que cada</p><p>alternativa pode ser a mais aplicável em determinada situação.</p><p>50</p><p>Regime de Competência vs. Regime de Caixa</p><p>O Regime de Competência é adotado pela contabilidade das empresas, visando a dotá-las de</p><p>uma fiel expressão monetária de todos os bens, os direitos e as obrigações representativos da sua</p><p>estrutura patrimonial. A adoção desse regime é consubstanciada na LSA (Lei nº 6.404/76), no seu</p><p>art. 177 e no § 1º do art. 187.</p><p>Lei nº 6.404/76:</p><p>Art. 177. A escrituração da companhia será mantida em registros</p><p>permanentes, com obediência aos preceitos da legislação comercial e desta</p><p>lei e aos princípios de contabilidade geralmente aceitos, devendo observar</p><p>métodos ou critérios uniformes no tempo e registrar as mutações</p><p>patrimoniais segundo o regime de competência.</p><p>Art. 187. A demonstração do resultado do exercício discriminará: [...]</p><p>§ 1º Na determinação do resultado do exercício serão computados:</p><p>a) as receitas e os rendimentos ganhos no período, independentemente</p><p>da sua realização em moeda; e</p><p>b) os custos, despesas, encargos e perdas, pagos ou incorridos,</p><p>correspondentes a essas receitas e rendimentos. (grifo nosso)</p><p>Essas conceituações da lei representam o regime contábil de competência. Segundo a</p><p>Realização da Receita, as transações são reconhecidas no exercício em que ocorrer o evento</p><p>econômico – como a venda de bens ou a prestação de serviços –, ou seja, quando do fornecimento</p><p>de bens ou serviços em troca de outros bens ou direitos, tal como os títulos a receber. Assim sendo,</p><p>esse fundamento norteia a contabilização das vendas de bens e a prestação de serviços, e o</p><p>consequente registro das contas a receber, independentemente da sua realização financeira.</p><p>Pela confrontação de despesas com receitas e períodos contábeis, os gastos só devem ser</p><p>reconhecidos, contabilmente, como despesas quando for possível confrontá-los com a receita</p><p>relacionada no mesmo período em que a receita foi reconhecida. Caso contrário, serão reconhecidos</p><p>como ativo ou perda, da seguinte forma:</p><p> Se o gasto não for confrontado com nenhuma receita no momento presente, mas tiver a</p><p>capacidade de gerar receita em um período futuro, será contabilizado como um ativo.</p><p> Se o gasto não for confrontado com nenhuma receita, nem no momento presente nem no</p><p>futuro, será contabilizado como uma perda.</p><p>51</p><p>Esses dois conceitos formam o que se chama de regime de competência, em que receitas e gastos</p><p>são contabilizados como tais no período da ocorrência do seu fato gerador, não quando são</p><p>recebidos ou pagos em dinheiro.</p><p>O resultado contábil é determinado por meio da aplicação do regime de competência,</p><p>independentemente da movimentação de numerário ocorrida no mesmo período.</p><p>Em decorrência disso:</p><p> A receita de venda é contabilizada por ocasião da venda, e não na ocasião do seu</p><p>recebimento.</p><p> Ex.: No mês de agosto, uma loja vendeu o total de $ 5.000, sendo $ 1.200 à</p><p>vista, $ 1.800 no cartão de crédito, a ser recebido no início de setembro, e</p><p>$ 2.000 a prazo, parcelados em quatro meses sem juros. Segundo o Regime de</p><p>Competência, utilizado pela Contabilidade, se a loja vendeu, efetivamente,</p><p>$ 5.000 no mês de agosto, essa é a receita reconhecida, ou seja, $ 5.000. Pelo</p><p>Regime de Caixa, no mês de agosto, só é reconhecido o valor que, efetivamente,</p><p>ingressou em caixa, ou seja, $ 1.200.</p><p> A despesa de pessoal – salários e respectivos encargos – é reconhecida no mês em que se</p><p>recebeu tal prestação de serviços, mesmo sendo paga no mês seguinte.</p><p> Ex.: A Contabilidade vai reconhecer o valor total dos salários no mês em que os</p><p>funcionários trabalharam, mesmo que efetue o desembolso de caixa, isto é, o</p><p>efetivo pagamento, no início do mês posterior.</p><p> A despesa do imposto de renda é registrada no mesmo período em que os lucros foram</p><p>auferidos, e não no exercício seguinte, quando o tributo é declarado e pago.</p><p>Desse modo, o Regime de Caixa consiste em classificar e reconhecer as operações de uma</p><p>entidade pelo efetivo Ingresso e Desembolso de Bens Numerários. Mais precisamente, a sua adoção</p><p>está, a rigor, voltada ao Fluxo Financeiro – ou Fluxo de Caixa – de um empreendimento.</p><p>Determinadas operações das empresas são efetuadas em dinheiro, à vista, sendo a sua</p><p>realização na data do efeito financeiro.</p><p>No entanto, muitas operações são efetuadas em datas diferentes, e a Contabilidade deve</p><p>efetuar um tratamento contábil conhecido como “lançamentos de ajuste” para regularizar as contas</p><p>de Balanço (BP) e de Resultado (DRE).</p><p>52</p><p>Essas operações podem ter o seu fato econômico gerador posterior ou anterior ao Caixa.</p><p>a) Efeito Caixa</p><p>antes do efeito econômico</p><p>Receitas recebidas antecipadamente.</p><p>Um exemplo dessa situação ocorre quando uma empresa do setor editorial recebe o</p><p>pagamento de assinaturas dos seus clientes com o compromisso de entregar revistas durante o</p><p>período da assinatura.</p><p>Vamos admitir o seguinte evento: uma editora recebe $ 120,00 por uma assinatura anual,</p><p>para a entrega mensal de uma revista.</p><p>Lançamento do recebimento antecipado:</p><p>D caixa (ativo) 120,00</p><p>C receitas recebidas antecipadamente (passivo) 120,00</p><p>Nessa data, não existe reconhecimento do Resultado. Este é auferido no momento da entrega</p><p>da revista.</p><p>No momento da entrega do exemplar do mês, o seguinte lançamento será realizado:</p><p>Lançamento do reconhecimento da receita:</p><p>D receitas recebidas antecipadamente (passivo) 10,00</p><p>C receitas de assinatura (DRE – receita) 10,00</p><p>Durante os 12 meses em que o assinante tem direito à revista, a empresa reconhecerá uma</p><p>receita de assinatura de $ 10,00, na Demonstração de Resultado, abatendo esse valor da Receita</p><p>Recebida Antecipadamente, do Passivo – Balanço Patrimonial, até zerar o saldo dessa conta, o que</p><p>vai representar o término do prazo da vigência da assinatura da revista.</p><p>Despesas pagas antecipadamente:</p><p>Essa é uma situação análoga, no sentido do caixa movimentado antes do fato gerador da</p><p>despesa. Por exemplo, uma empresa efetua o pagamento de uma apólice de seguro que vai proteger</p><p>o seu ativo pelo período de 12 meses. No momento do pagamento, a empresa reconhece um ativo</p><p>denominado como Seguros Pagos Antecipadamente. O montante será apropriado para o resultado</p><p>como Despesa de Seguro de acordo com o período de cobertura da apólice. Do mesmo modo que</p><p>foi feito no exemplo anterior, o valor da despesa mensal de seguros será o mesmo durante os 12</p><p>meses em que o seguro está em vigor (DRE). A cada mês, a conta Despesas pagas antecipadamente</p><p>(Balanço) será reduzida em 1/12 desse valor (mesmo valor da despesa mensal) até que essa conta</p><p>não mais exista (final de 12 meses).</p><p>53</p><p>b) Efeito Caixa após o efeito econômico</p><p>Um exemplo dessa situação são os Serviços Prestados, mas não Recebidos. Uma empresa</p><p>prestadora de serviços executa as suas atividades para o seu cliente e somente emite a fatura no final</p><p>do mês, para recebimento no mês seguinte. Segundo o Regime de Competência, a receita é</p><p>reconhecida (DRE) contra Duplicatas a Receber de Clientes (BP). No entanto, pelo Regime de</p><p>Caixa, só há efetivo reconhecimento quando o pagamento é efetivado pelo cliente (mês seguinte).</p><p>Essa mesma empresa poderá ter reconhecido uma Despesa que ainda não foi paga,</p><p>correspondendo a Despesas Incorridas, mas não pagas.</p><p>Um exemplo seria o caso de Despesas de salários do mês de outubro, pagas no dia 5 de</p><p>novembro. A despesa é reconhecida no período em que os empregados estão trabalhando, ou seja,</p><p>no mês de outubro (DRE). Nessa data, é reconhecido o Passivo da empresa com os Salários a Pagar</p><p>(BP). No momento do pagamento no mês de novembro, o caixa é reduzido, e a conta do Passivo é</p><p>encerrada. Pelo Regime de Caixa, só há o reconhecimento no mês de novembro quando ocorre</p><p>desembolso de caixa relativo ao pagamento dos salários.</p><p>c) Casos das construtoras</p><p>Na atividade diária das empresas, ocorrem operações cujo tratamento é complexo e requer</p><p>julgamento de acordo com as situações específicas. Por exemplo, esse fato ocorre com o setor imobiliário</p><p>no reconhecimento da receita de uma empresa incorporadora, que vende apartamentos antes da sua</p><p>conclusão. Nesse caso, existe a abordagem do reconhecimento da receita de acordo com as etapas de</p><p>construção. Por outro lado, existe também a validade do reconhecimento somente no momento da</p><p>conclusão, quando há a denominada “entrega das chaves”.</p><p>d) Introdução à depreciação</p><p>Na sua atuação, uma empresa adquire ativos imobilizados que terão uma vida útil econômica</p><p>superior a um ano – por exemplo, edificações, máquinas e veículos – para compor a sua</p><p>infraestrutura, que propiciará a geração de produtos e serviços.</p><p>Esses ativos vão perdendo capacidade operacional durante a sua atividade. A fim de atender ao</p><p>objetivo informacional, a contabilidade desenvolve a sistemática de apropriação do “consumo” desse</p><p>ativo durante o tempo que está em atividade. Esse reconhecimento é denominado “depreciação”.</p><p>Por exemplo, uma empresa de transportes adquiriu um caminhão por $ 100.000. Ela estima</p><p>que o veículo será utilizado durante cinco anos e não terá valor econômico após esse período. É</p><p>necessário reconhecer, anualmente, a utilização do veículo. Nesse sentido, o tratamento mais usual</p><p>é dividir o custo de $ 100.000 pelos cinco anos, reconhecendo uma despesa de depreciação no valor</p><p>de $ 20.000 por ano.</p><p>Neste módulo, vamos estudar a contabilização de transações típicas que afetam, praticamente,</p><p>todas as entidades comerciais – das mais simples às mais complexas. A rigor, estudaremos operações</p><p>de compra e venda de mercadorias com os seus reflexos no Estoque.</p><p>Quanto às receitas de vendas e prestação de serviços, estudaremos as cinco etapas para o</p><p>reconhecimento de receitas decorrentes de contratos com clientes e os reflexos no contas a receber</p><p>decorrentes de vendas a prazo.</p><p>Receita de contrato com clientes</p><p>Conceituação</p><p>Receita é aumento nos benefícios econômicos durante o período contábil, originado no curso</p><p>das atividades usuais da entidade, na forma de fluxos de entrada ou aumentos nos ativos ou redução</p><p>nos passivos que resultam em aumento no patrimônio líquido, e que não sejam provenientes de</p><p>aportes dos participantes do patrimônio.</p><p>Ainda de acordo com o CPC 47, Cliente é a parte que contratou com a entidade a</p><p>obtenção de bens ou serviços, que constituem um produto das atividades normais da entidade,</p><p>em troca de contraprestação; e Contrato é um acordo entre duas ou mais partes que cria direitos</p><p>e obrigações executáveis.</p><p>Cinco etapas para o reconhecimento da receita</p><p>O CPC 47 estabelece cinco etapas para o reconhecimento da receita. Vejamos cada uma:</p><p>MÓDULO II – CONTABILIZAÇÃO DE</p><p>TRANSAÇÕES TÍPICAS (1ª PARTE)</p><p>56</p><p>Etapa 1: identificação do contrato com cliente</p><p>Um modo mais fácil para se compreender o significado de contrato é: contrato é um acordo entre</p><p>duas partes, a empresa e o seu cliente, segundo o qual as partes combinam o que a empresa fará (ex.:</p><p>entregará bem ou prestará serviço) e o quanto o cliente pagará por isso. Portanto, o contrato cria direitos</p><p>e obrigações para as partes.</p><p>Os contratos podem ser escritos, orais ou podem estar implícitos nas práticas tradicionais de</p><p>negócio de uma entidade.</p><p>Em algumas situações, pode ser necessário juntar dois ou mais contratos firmados por uma</p><p>entidade com determinado cliente em datas próximas, se o conjunto de contratos melhor representar a</p><p>substância econômica no negócio transacionado entre as partes.</p><p>Etapa 2: identificação das obrigações de desempenho</p><p>Obrigação de desempenho é a obrigação de fazer que a empresa assume perante o cliente em troca</p><p>de pagamento.</p><p>A obrigação de desempenho pode ser a obrigação de entregar bem ou de prestar serviços distintos,</p><p>ou série de bens e serviços distintos.</p><p>Bens ou serviços que a entidade se compromete a entregar a determinado cliente são distintos se</p><p>ambos os critérios forem atendidos:</p><p>a) O cliente pode beneficiar-se do bem ou do serviço, seja isoladamente ou em conjunto</p><p>com outros recursos que estejam prontamente disponíveis ao cliente (ou seja, o bem ou</p><p>o serviço é capaz de ser distinto); e</p><p>b) A promessa da entidade de transferir o bem ou o serviço ao cliente é separadamente</p><p>identificável de outras promessas contidas no contrato (ou seja, compromisso para</p><p>transferir o bem ou o serviço é distinto dentro do contexto do contrato).</p><p>Por exemplo, uma empresa de telefonia celular entra em um contrato com um cliente para</p><p>vender um aparelho celular e se comprometer a prestar serviços de telefonia móvel (voz e dados)</p><p>por 36 meses a determinado</p><p>cliente. Muito provavelmente essa entidade determinará que a entrega</p><p>do aparelho celular é uma obrigação de desempenho distinta da promessa de prestar serviço de</p><p>telefonia celular (voz e dados).</p><p>Se o bem ou o serviço prometido não for distinto, a entidade deve combinar esse bem ou serviço</p><p>com outros bens ou serviços prometidos até que identifique o grupo de bens ou serviços que seja</p><p>distinto. Em alguns casos, isso pode resultar em que a entidade deva contabilizar todos os bens ou</p><p>serviços prometidos no contrato como uma única obrigação de desempenho.</p><p>57</p><p>Por exemplo, um cliente vai a um supermercado com uma lista de compras, seleciona os produtos</p><p>que lhe interessam, dirige-se ao caixa onde cada produto é registrado, paga o preço cobrado, embala os</p><p>produtos em sacolas e sai da loja carregando as mercadorias adquiridas. Por mais variada que seja a lista</p><p>de compras (p.ex., bananas, queijos, feijão, leite, material de limpeza, etc.), muito provavelmente essa</p><p>entidade determinará que a entrega das diversas mercadorias, em um único momento, é uma única</p><p>obrigação de desempenho.</p><p>Etapa 3: determinar o preço da transação</p><p>Preço da transação é o valor que a empresa espera ter direito a receber em troca da entrega de</p><p>bens ou prestação de serviços ao cliente.</p><p>O preço da transação pode ser fixo, variável ou ambos. O valor variável pode ser positivo</p><p>(prêmio) ou negativo (multa). Descontos, abatimentos e devoluções também são contraprestações</p><p>variáveis (valor negativo).</p><p>A entidade deve estimar o valor da contraprestação variável, utilizando qualquer dos métodos</p><p>a seguir, dependendo de como a entidade espera melhor prever o valor da contraprestação à qual</p><p>tem direito:</p><p>a) valor esperado – o valor esperado é a soma de valores ponderados em função da</p><p>probabilidade de uma gama de possíveis valores de contraprestação. O valor esperado</p><p>pode ser uma estimativa apropriada do valor da contraprestação variável, se a entidade</p><p>tiver grande número de contratos com características similares.</p><p>b) valor mais provável – o valor mais provável é o valor único mais provável de uma gama</p><p>de possíveis valores de contraprestação (ou seja, o resultado único mais provável do</p><p>contrato). O valor mais provável pode ser uma estimativa apropriada do valor da</p><p>contraprestação variável, se o contrato tiver apenas dois possíveis resultados (por exemplo,</p><p>a entidade atingir um bônus de desempenho ou não).</p><p>Por exemplo, uma empresa de engenharia entra em um contrato com um cliente para</p><p>construir uma piscina na residência desse cliente. As partes combinam que prazo para construção</p><p>da piscina é de 45 dias e acordam que o cliente deverá pagar à entidade um preço fixo de</p><p>$ 40.000,00, mais um bônus de $ 5.000,00 se a piscina ficar pronta em até 40 dias, ou menos uma</p><p>multa de $ 8.000,00 se a piscina não ficar pronta em até 50 dias.</p><p>A entidade precisará determinar qual é o montante que ela espera ter direito a receber em</p><p>troca da construção da piscina. Nesse caso, deverá adotar o método do valor mais provável. Então,</p><p>precisará julgar qual dos três cenários é o mais provável: concluir a construção da piscina em até 40</p><p>dias, em até 45 dias, ou após 50 dias. Dependendo desse julgamento, a entidade determinará o</p><p>preço da transação em $ 45.000,00 (preço fixo mais bônus), $ 40.000,00 (somente preço fixo), ou</p><p>$ 32.000,00 (preço fixo menos multa). Importante que esse julgamento seja neutro, não viesado,</p><p>para viabilizar que a entidade melhor represente a essência econômica desse contrato.</p><p>58</p><p>Ao determinar o preço da transação, a entidade deve ajustar o valor prometido da</p><p>contraprestação para refletir os efeitos do valor do dinheiro no tempo, se a época dos pagamentos</p><p>pactuada pelas partes do contrato (seja expressa ou implicitamente) fornecer ao cliente ou à entidade</p><p>um benefício significativo de financiamento da transferência de bens ou serviços ao cliente. Nessas</p><p>circunstâncias, o contrato contém componente de financiamento significativo.</p><p>Componente de financiamento significativo pode existir, independentemente, se a promessa</p><p>de financiamento é expressamente declarada no contrato ou implícita pelos termos de pagamento</p><p>pactuados pelas partes do contrato. O objetivo, ao ajustar o valor prometido da contraprestação para</p><p>um componente de financiamento significativo, é que a entidade reconheça receitas pelo valor que</p><p>reflita o preço que o cliente teria pagado pelos bens ou serviços prometidos, se o cliente tivesse pagado</p><p>à vista por esses bens ou serviços quando (ou à medida que) foram transferidos ao cliente (ou seja, o</p><p>preço de venda à vista). Para tanto, a entidade deve utilizar a taxa de desconto que seria refletida em</p><p>transação de financiamento separada entre a entidade e o seu cliente no início do contrato.</p><p>Por exemplo, uma concessionária de automóveis entra em um contrato com um cliente para</p><p>vender um veículo a esse cliente. As partes combinam o controle do veículo é transferido</p><p>imediatamente ao cliente e acordam que o cliente deverá pagar à entidade um preço fixo de</p><p>$ 100.000,00, entretanto, o cliente pagará essa quantia somente um ano após a compra do veículo.</p><p>Muito provavelmente, a entidade identificará que há um componente de financiamento</p><p>significativo nesse contrato, afinal, o cliente pagará o preço, sem juros, somente um ano após ter</p><p>obtido o controle do bem adquirido. Então, a entidade precisará determinar qual seria o preço</p><p>equivalente à vista. Admitindo que a taxa de desconto seja 10% ao ano, o preço da transação seria</p><p>determinado em $ 90.909,09 (isto é, $ 100.000,00 ÷ (1 + 0,1)1, afinal, $ 100.000,00 é o valor</p><p>futuro, 0,1 ou 10% é a taxa de desconto, e 1 é o número de períodos em anos).</p><p>Importante observar que o “valor que a empresa espera ter direito a receber” é diferente do</p><p>“valor que a empresa espera receber”. O risco de inadimplência consiste na diferença entre esses</p><p>dois valores. A receita deve ser reconhecida com base no “valor que a empresa espera ter direito a</p><p>receber”, isto é, com base no preço da transação. A inadimplência é controlada à parte, na gestão</p><p>do Contas a Receber de clientes, conforme será estudado mais adiante neste módulo.</p><p>Etapa 4: alocar o preço da transação às obrigações de desempenho</p><p>Esta etapa só é relevante para contratos segundo os quais a entidade promete cumprir mais de</p><p>uma obrigação de desempenho. Portanto, havendo o compromisso de fazer mais de uma obrigação de</p><p>desempenho: é necessário alocar o preço da transação a cada obrigação de desempenho.</p><p>Essa alocação deve ser determinada com base no preço de venda individual de cada bem</p><p>ou serviço.</p><p>59</p><p>Havendo desconto por combo, deve-se alocar o preço de modo a melhor representar a</p><p>substância econômica da transação. Quando isso não for viável, a entidade deverá alternativamente</p><p>alocar o desconto proporcionalmente a todas as obrigações de desempenho estabelecidas em contrato.</p><p>Por exemplo, uma lanchonete costuma vender determinado lanche (sanduíche e refresco) por</p><p>$ 15,00 e costuma vender camisetas com a marca da lanchonete por $ 10,00. Excepcionalmente,</p><p>durante o mês de outubro, como parte de comemoração do Dia das Crianças, essa lanchonete</p><p>oferece uma promoção: na compra de determinado lanche (sanduíche e refresco), o cliente pode</p><p>optar por levar uma camiseta, mediante o pagamento total de $ 20,00. Então, ao entrar em um</p><p>contrato com um cliente para vender um combo (sanduíche, refresco e camiseta), o preço da</p><p>transação é $ 20,00. Logo, a lanchonete precisará alocar o preço da transação às obrigações de</p><p>desempenho.</p><p>Ocorre que, em função do desconto, não poderá alocar $ 15,00 ao lanche e $ 10,00 à</p><p>camiseta, pois o somatório ultrapassaria o montante do preço da transação. Portanto, é necessário</p><p>também alocar o desconto de $ 5,00 (isto é, $ 25,00 menos $ 20,00). Caso a diretoria comercial da</p><p>lanchonete (que definiu as condições da promoção) determine que $ 4,00 do desconto são alocados</p><p>ao lanche e que $ 1,00 é alocado à camiseta,</p><p>a entidade deverá reconhecer receita de $ 11,00 (isto</p><p>é, $ 15,00 menos $ 4,00) pela venda do lanche e $ 9,00 (isto é, $ 10,00 menos $ 1,00), pois essa</p><p>seria a melhor representação da substância econômica da transação. Contudo, se a diretoria</p><p>comercial, ou quem definiu as condições da promoção, não souber informar qual a melhor forma</p><p>de representar a substância econômica da transação, o desconto deverá ser proporcionalmente a</p><p>ambas as obrigações de desempenho, sendo a receita de venda do lanche reconhecida por $ 12,00</p><p>(isto é, $ 15,00 ÷ $ 25,00 × $ 20,00) e a receita de venda da camiseta reconhecida por $ 8,00 (isto</p><p>é, $ 10,00 ÷ $ 25,00 × $ 20,00).</p><p>Etapa 5: reconhecer a receita</p><p>A empresa deve reconhecer a receita se for provável que receberá a contraprestação à qual terá</p><p>direito em troca dos bens ou serviços prometidos; ou seja, a empresa deve reconhecer a receita no</p><p>momento (ou à medida que) satisfizer as obrigações de desempenho.</p><p>O critério fundamental para decidir se e quando a entidade satisfez as obrigações de</p><p>desempenho é a transferência do controle do bem ou serviço ao cliente.</p><p>O controle do ativo refere-se à capacidade de determinar o uso do ativo e de obter</p><p>substancialmente a totalidade dos benefícios restantes provenientes do ativo. O controle inclui a</p><p>capacidade de evitar que outras entidades direcionem o uso do ativo e obtenham benefícios desse ativo.</p><p>60</p><p>Em algumas situações, a entidade satisfaz a obrigação de desempenho em determinado</p><p>momento, em outras, a entidade satisfaz a obrigação de desempenho ao longo do tempo. A entidade</p><p>transfere o controle do bem ou serviço ao longo do tempo, portanto, satisfaz à obrigação de</p><p>desempenho e reconhece receitas ao longo do tempo, se um dos critérios a seguir for atendido:</p><p>a) O cliente recebe e consome simultaneamente os benefícios gerados pelo desempenho por</p><p>parte da entidade à medida que a entidade efetiva o desempenho.</p><p>b) O desempenho por parte da entidade cria ou melhora o ativo (por exemplo, produtos em</p><p>elaboração) que o cliente controla à medida que o ativo é criado ou melhorado.</p><p>c) O desempenho por parte da entidade não cria um ativo com uso alternativo para a</p><p>entidade e a entidade possui direito executável (enforcement) ao pagamento pelo</p><p>desempenho concluído até a data presente.</p><p>Por exemplo, um curso de inglês oferece aulas em dois dias por semana (terças-feiras e quintas-</p><p>feiras), sendo 90 minutos por aula, e cobra seis mensalidades de $ 400,00 (a primeira em fevereiro e a</p><p>última em julho). Sabendo-se que o aluno recebe e consome simultaneamente os benefícios gerados</p><p>pelo desempenho por parte da entidade à medida que a entidade oferece as aulas, esse curso deve</p><p>reconhecer a receita ao longo do tempo. Contudo, não deve reconhecer receita no montante de $ 400</p><p>por mês, afinal, os benefícios não são gerados uniformemente pela entidade ao longo desses seis anos.</p><p>Admitindo-se que o período letivo começa em 4 de fevereiro e termina em 9 de julho; e sabendo-</p><p>se que não há aulas nos seguintes feriados: Carnaval (de 4 a 8 de março), Páscoa (18 e 19 de abril), São</p><p>Jorge (23 de abril), Dia do Trabalho (1º de maio), Corpus Christi (20 de junho). São previstas oito</p><p>aulas em fevereiro (dias 5, 7, 12, 14, 19, 21, 26 e 28); seis aulas em março (dias 12, 14, 19, 21, 26 e</p><p>28); sete aulas em abril (dias 2, 4, 9, 11, 16, 25 e 30); nove aulas em maio (dias 2, 7, 9, 14, 16, 21, 23,</p><p>28 e 30); sete aulas em junho (dias 4, 6, 11, 13, 18, 25 e 27); e três aulas em julho (dias 2, 4 e 9).</p><p>Portanto, são previstas 40 aulas ao todo; consequentemente, a entidade deve reconhecer receita em</p><p>fevereiro pelo montante de $ 480,00 (isto é, 6 meses × $ 400/mês ÷ 40 aulas ao todo × 8 aulas em</p><p>fevereiro); em março pelo montante de $ 360,00 (isto é, 6 meses × $ 400/mês ÷ 40 aulas ao todo × 6</p><p>aulas em março); e assim por diante, sendo: $ 420,00 em abril, $ 540,00 em maio, $ 420,00 em junho,</p><p>e $ 180,00 em julho.</p><p>Quando a entidade não atende a nenhuma das três condições para reconhecimento da receita ao</p><p>longo do tempo é porque ela satisfaz a obrigação de desempenho em determinado momento; então,</p><p>deve reconhecer a receita em determinado momento.</p><p>Por exemplo, uma panificadora vende bolos sob encomenda. No dia 2 de abril, aceita encomenda</p><p>de determinado cliente para produzir um bolo de aniversário com determinadas características. As partes</p><p>concordam que o cliente pagará o valor de $ 200,00 por esse bolo até o dia 10 de abril, mas o bolo</p><p>somente deverá ser entregue ao cliente no dia da festa, em 12 de abril. Sabendo que a panificadora não</p><p>atende a nenhuma das três condições para reconhecimento da receita ao longo do tempo, ela deverá</p><p>reconhecer a receita em determinado momento, somente quando transferir o controle do bolo ao</p><p>cliente, isto é, no dia 12 de abril.</p><p>61</p><p>Caso da Droga Raia: receita</p><p>A seguir, ilustramos os critérios de reconhecimento da receita mediante a apresentação do item</p><p>19, Receita líquida de vendas, das Notas Explicativas da Droga Raia (2022).</p><p>19. Receita líquida de vendas</p><p>19.1. Política contábil</p><p>A NBC TG 47 / IFRS 15 – Receita de contrato com cliente estabelece uma estrutura abrangente</p><p>para determinar se, quando e por quanto uma receita é reconhecida a partir das</p><p>identificações das obrigações de desempenho, da transferência do controle do produto ou</p><p>serviço ao cliente e da determinação do preço de venda. Essa norma estabelece um modelo</p><p>que visa identificar se os critérios para a contabilização da receita foram satisfeitos e</p><p>compreende os seguintes aspectos:</p><p>(i) identificação de um contrato com o cliente;</p><p>(ii) determinação das obrigações de desempenho;</p><p>(iii) determinação do preço da transação;</p><p>(iv) alocação do preço da transação e</p><p>(v) reconhecimento da receita em determinado momento ou em um período de</p><p>tempo, conforme atendimento das obrigações de desempenho.</p><p>Considerando esses aspectos, as receitas são registradas pelo valor que reflete a expectativa</p><p>do Grupo de receber pela contrapartida dos produtos e serviços oferecidos aos clientes. A</p><p>receita bruta é apresentada deduzindo os abatimentos e os descontos, além das eliminações</p><p>de receitas entre partes relacionadas e do ajuste a valor presente, conforme nota explicativa</p><p>n° 6.1.</p><p>Vendas de mercadorias (medicamentos, perfumaria e produtos de autoatendimento)</p><p>As receitas do Grupo advêm, principalmente, da venda de medicamentos, produtos de</p><p>perfumaria e uma série de produtos de autoatendimento (medicamentos sem necessidade</p><p>de receituário médico, produtos alimentícios, etc.) para o consumidor final, realizada tanto</p><p>por meio de farmácias físicas quanto pelo e-commerce. Trata-se de um Grupo que atua na</p><p>indústria de varejo de medicamentos, cujo consumidor geralmente se serve da mercadoria</p><p>nas farmácias nas quais os preços e descontos são informados mediante consulta aos</p><p>funcionários da Companhia ou obtidos nos locais onde as mercadorias estejam expostas, e a</p><p>transferência de controle acontece quando ocorre a entrega diretamente ao consumidor final</p><p>nos pontos de vendas. Dessa forma, conclui-se que se trata de uma única obrigação de</p><p>desempenho não havendo, portanto, complexidade na definição das obrigações de</p><p>desempenho e transferência de controle das mercadorias e serviços aos consumidores.</p><p>62</p><p>Ainda assim, outras transações da Companhia sujeitas à avaliação segundo a</p><p>NBC TG 47/IFRS 15 estão representadas por contraprestações variáveis associadas aos</p><p>acordos comerciais por meio dos quais mercadorias podem ser comercializadas em conjunto</p><p>com outras mercadorias ou com descontos os quais são, substancialmente, negociações</p><p>promovidas pelos fornecedores nos pontos de venda do Grupo. A receita de vendas</p><p>reconhecida nas demonstrações financeiras contempla os valores justos das transações</p><p>ocorridas, que, segundo as naturezas das negociações, consideram valores de venda e de</p><p>recebimento de consumidores complementados por recebimentos de fornecedores.</p><p>As receitas são apresentadas</p><p>nas demonstrações financeiras líquidas dos descontos</p><p>comerciais e das devoluções.</p><p>Impostos incidentes sobre vendas</p><p>Consistem, principalmente, de ICMS com alíquotas entre 17% e 18%, preponderantemente,</p><p>para as mercadorias não sujeitas ao regime de substituição tributária, ISS com alíquota de 5%</p><p>e contribuições relacionadas ao PIS (1,65%), Cofins (7,60%) para mercadorias não sujeitas ao</p><p>regime monofásico de tributação (Lei nº 10.147/00).</p><p>Devoluções e cancelamento</p><p>Para contratos que permitem ao cliente devolver um item, de acordo com a NBC TG 47/IFRS</p><p>15, a receita é reconhecida na extensão em que seja provável que uma reversão significativa</p><p>não ocorrerá. O valor da receita reconhecida é contabilizado a partir do valor total da</p><p>transação e apresentado na demonstração financeira líquida dos impostos indiretos, de</p><p>devoluções e cancelamentos.</p><p>20.2. Composição do saldo</p><p>consolidado</p><p>composição da receita líquida dez./2022 dez./2021</p><p>receita de vendas de mercadorias 30.832.700 25.514.071</p><p>receita de serviços prestados 117.864 91.613</p><p>total de receita bruta de vendas 30.950.564 25.605.684</p><p>impostos incidentes sobre vendas (1.373.403) (1.218.499)</p><p>devoluções, abatimentos e outros (509.781) (260.183)</p><p>receita líquida de vendas 29.067.380 24.127.002</p><p>Mecânica contábil e elaboração das demonstrações contábeis: receita</p><p>A mecânica contábil é rigorosamente a mesma, independentemente de a entidade reconhecer</p><p>a receita em determinado momento ou ao longo do tempo.</p><p>63</p><p>Para simplificar e consolidar o entendimento dos pontos apresentados nos tópicos anteriores</p><p>deste módulo, tomemos o exemplo do curso de inglês, já discutido.</p><p>Para facilitar o entendimento, vamos apresentar somente os lançamentos contábeis com os</p><p>valores do recebimento de clientes, do reconhecimento da receita (considerando somente um aluno)</p><p>e vamos admitir que o curso de inglês incorre em despesas operacionais de $ 100,00 por mês, e que</p><p>tenha apurado o seguinte Balanço Patrimonial do início do exercício (1º/01/X0):</p><p>Tabela 14 – Balanço Patrimonial do curso de inglês (1º/01/X0)</p><p>Balanço Patrimonial – Curso de Inglês – 1º/01/X0</p><p>ativo circulante patrimônio líquido</p><p>disponibilidades 2.000,00 capital social 2.000,00</p><p>total do AC 2.000,00 total do PL 2.000,00</p><p>total do Ativo 2.000,00 total do passivo + PL 2.000,00</p><p>Para registrar esses eventos, o contador do curso de inglês precisaria fazer os seguintes</p><p>lançamentos contábeis no Diário:</p><p>Pelo recebimento da mensalidade em fevereiro:</p><p>D disponibilidades (AC) 400,00</p><p>C adiantamento de clientes (PC) 400,00</p><p>Recebimento da mensalidade de fevereiro.</p><p>Pelo reconhecimento da receita em fevereiro:</p><p>D adiantamento de clientes (PC) 400,00</p><p>D contas a receber de clientes (AC) 80,00</p><p>C receita de prestação de serviços (DRE) 480,00</p><p>Receita relativa às oito aulas ministradas em fevereiro.</p><p>64</p><p>Pelo reconhecimento das despesas em fevereiro:</p><p>D despesas operacionais (DRE) 100,00</p><p>C disponibilidades (AC) 100,00</p><p>Despesas operacionais do mês.</p><p>Pelo recebimento da mensalidade em março:</p><p>D disponibilidades (AC) 400,00</p><p>C contas a receber de clientes (AC) 80,00</p><p>C adiantamento de clientes (PC) 320,00</p><p>Recebimento da mensalidade de março.</p><p>Pelo reconhecimento da receita em março:</p><p>D adiantamento de clientes (PC) 320,00</p><p>D contas a receber de clientes (AC) 40,00</p><p>C receita de prestação de serviços (DRE) 360,00</p><p>Receita relativa às seis aulas ministradas em março.</p><p>Pelo reconhecimento das despesas em março:</p><p>D despesas operacionais (DRE) 100,00</p><p>C disponibilidades (AC) 100,00</p><p>Despesas operacionais do mês.</p><p>65</p><p>Pelo recebimento da mensalidade em abril:</p><p>D disponibilidades (AC) 400,00</p><p>C contas a receber de clientes (AC) 40,00</p><p>C adiantamento de clientes (PC) 360,00</p><p>Recebimento da mensalidade de abril.</p><p>Pelo reconhecimento da receita em abril:</p><p>D adiantamento de clientes (PC) 360,00</p><p>D contas a receber de clientes (AC) 60,00</p><p>C receita de prestação de serviços (DRE) 420,00</p><p>Receita relativa às sete aulas ministradas em abril.</p><p>Pelo reconhecimento das despesas em abril:</p><p>D despesas operacionais (DRE) 100,00</p><p>C disponibilidades (AC) 100,00</p><p>Despesas operacionais do mês.</p><p>Pelo recebimento da mensalidade em maio:</p><p>D disponibilidades (AC) 400,00</p><p>C contas a receber de clientes (AC) 60,00</p><p>C adiantamento de clientes (PC) 340,00</p><p>Recebimento da mensalidade de maio.</p><p>66</p><p>Pelo reconhecimento da receita em maio:</p><p>D adiantamento de clientes (PC) 340,00</p><p>D contas a receber de clientes (AC) 200,00</p><p>C receita de prestação de serviços (DRE) 540,00</p><p>Receita relativa às nove aulas ministradas em maio.</p><p>Pelo reconhecimento das despesas em maio:</p><p>D despesas operacionais (DRE) 100,00</p><p>C disponibilidades (AC) 100,00</p><p>Despesas operacionais do mês.</p><p>Pelo recebimento da mensalidade em junho:</p><p>D disponibilidades (AC) 400,00</p><p>C contas a receber de clientes (AC) 200,00</p><p>C adiantamento de clientes (PC) 200,00</p><p>Recebimento da mensalidade de junho.</p><p>Pelo reconhecimento da receita em junho:</p><p>D adiantamento de clientes (PC) 200,00</p><p>D contas a receber de clientes (AC) 220,00</p><p>C receita de prestação de serviços (DRE) 420,00</p><p>Receita relativa às sete aulas ministradas em junho.</p><p>67</p><p>Pelo reconhecimento das despesas em junho:</p><p>D despesas operacionais (DRE) 100,00</p><p>C disponibilidades (AC) 100,00</p><p>Despesas operacionais do mês.</p><p>Pelo recebimento da mensalidade em julho:</p><p>D disponibilidades (AC) 400,00</p><p>C contas a receber de clientes (AC) 220,00</p><p>C adiantamento de clientes (PC) 180,00</p><p>Recebimento da mensalidade de julho.</p><p>Pelo reconhecimento da receita em julho:</p><p>D adiantamento de clientes (PC) 180,00</p><p>C receita de prestação de serviços (DRE) 180,00</p><p>Receita relativa às três aulas ministradas em julho.</p><p>Pelo reconhecimento das despesas em julho:</p><p>D despesas operacionais (DRE) 100,00</p><p>C disponibilidades (AC) 100,00</p><p>Despesas operacionais do mês.</p><p>68</p><p>Ressalte-se que esses lançamentos poderiam ter sido efetuados na matriz de lançamentos,</p><p>conforme a seguir:</p><p>Tabela 15 – Matriz de lançamentos do curso de inglês</p><p>eventos disponibilidades</p><p>contas a</p><p>receber de</p><p>clientes</p><p>=</p><p>adiantamento</p><p>de clientes</p><p>capital</p><p>social</p><p>resultado</p><p>saldos iniciais</p><p>fev. – recebimento</p><p>fev. – receita (8 aulas)</p><p>fev. – despesa</p><p>mar. – recebimento</p><p>mar. – receita (6 aulas)</p><p>mar. – despesa</p><p>abr. – recebimento</p><p>abr. – receita (7 aulas)</p><p>abr. – despesa</p><p>maio – recebimento</p><p>maio – receita (9 aulas)</p><p>maio – despesa</p><p>jun. – recebimento</p><p>jun. – receita (7 aulas)</p><p>jun. – despesa</p><p>jul. – recebimento</p><p>jul. – receita (3 aulas)</p><p>jul. – despesa</p><p>2.000</p><p>400</p><p>(100)</p><p>400</p><p>(100)</p><p>400</p><p>(100)</p><p>400</p><p>(100)</p><p>400</p><p>(100)</p><p>400</p><p>(100)</p><p>80</p><p>(80)</p><p>40</p><p>(40)</p><p>60</p><p>(60)</p><p>200</p><p>(200)</p><p>220</p><p>(220)</p><p>=</p><p>=</p><p>=</p><p>=</p><p>=</p><p>=</p><p>=</p><p>=</p><p>=</p><p>=</p><p>=</p><p>=</p><p>=</p><p>=</p><p>=</p><p>=</p><p>=</p><p>=</p><p>=</p><p>400</p><p>(400)</p><p>320</p><p>(320)</p><p>360</p><p>(360)</p><p>340</p><p>(340)</p><p>200</p><p>(200)</p><p>180</p><p>(180)</p><p>2.000</p><p>480</p><p>(100)</p><p>360</p><p>(100)</p><p>420</p><p>(100)</p><p>540</p><p>(100)</p><p>420</p><p>(100)</p><p>180</p><p>(100)</p><p>saldos finais 3.800 0 = 0 2.000 1.800</p><p>69</p><p>Dessa forma, o curso de inglês evidenciaria a seguinte DRE:</p><p>Tabela 16 – DRE do curso de inglês (31/07/X0)</p><p>Curso de Inglês</p><p>DRE apurada em 31/07/X0</p><p>receitas prestação de serviços 2.400,00</p><p>(–) despesas operacionais (600,00)</p><p>(=) lucro operacional 1.800,00</p><p>A seguinte Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL):</p><p>Tabela 17 – DMPL do curso de inglês (31/07/X0)</p><p>Curso de Inglês</p><p>DMPL apurada em 31/07/X0</p><p>eventos/contas capital social lucros acumulados total PL</p><p>saldos iniciais 2.000,00 2.000,00</p><p>lucro do período 1.800,00 1.800,00</p><p>saldos finais 2.000,00 1.800,00 3.800,00</p><p>70</p><p>E o seguinte Balanço Patrimonial:</p><p>Tabela 18 – Balanço Patrimonial do curso de inglês</p><p>(31/07/X0)</p><p>Balanço Patrimonial – Curso de Inglês – 31/07/X0</p><p>ativo circulante passivo circulante</p><p>disponibilidades 3.800,00 adiantamentos de clientes 0,00</p><p>contas a receber de clientes 0,00 total do PC 0,00</p><p>total do AC 3.800,00</p><p>Patrimônio Líquido</p><p>capital social 2.000,00</p><p>lucros acumulados 1.800,00</p><p>total do PL 3.800,00</p><p>total do ativo 3.800,00 total do passivo + PL 3.800,00</p><p>Mensuração e reconhecimento das perdas em contas a</p><p>receber</p><p>Ao vender a prazo, a entidade corre o risco de não receber o dinheiro do cliente. A</p><p>probabilidade de não recebimento é denominada “risco de inadimplência”.</p><p>Considerando que o risco de inadimplência decorre da venda a prazo, é necessário reconhecer</p><p>a despesa associada a esse risco (Despesa com a Perda Esperada com Créditos de Liquidação</p><p>Duvidosa – PECLD), confrontando-a com a receita de vendas. Isso ocorre de forma semelhante ao</p><p>confronto do CMV com a Receita Bruta.</p><p>O cálculo da PECLD deve ser apurado com base no modelo de Perdas Estimadas ou</p><p>Esperadas.</p><p>A Lei nº 6.404/76, com redação dada pela Lei nº 11.638/07, prevê o reconhecimento da</p><p>PECLD no art. 183.</p><p>Art. 183. No balanço, os elementos do ativo serão avaliados segundo os</p><p>seguintes critérios:</p><p>I – as aplicações em instrumentos financeiros, inclusive derivativos, e em</p><p>direitos e títulos de créditos, classificados no ativo circulante ou no</p><p>realizável a longo prazo:</p><p>71</p><p>a. pelo seu valor justo, quando se tratar de aplicações destinadas à</p><p>negociação ou disponíveis para venda; e</p><p>b. pelo valor de custo de aquisição ou valor de emissão, atualizado</p><p>conforme disposições legais ou contratuais, ajustado ao valor provável de</p><p>realização, quando este for inferior, no caso das demais aplicações e os</p><p>direitos e títulos de crédito. (grifo nosso)</p><p>Vejamos um exemplo: em 12 de abril, a Cia. Comercial RFJC vende a prazo 1.000 unidades</p><p>da mercadoria X ao cliente Fiel, por $ 10,00 a unidade, com prazo para recebimento em 14 de</p><p>maio. Sabe-se que cada unidade da mercadoria X custou $ 7,00 à Cia. Comercial RFJC. A Cia.</p><p>Comercial RFJC reconheceria os seguintes lançamentos contábeis:</p><p>Pela venda a prazo, no dia 12 – Reconhecimento da receita:</p><p>D duplicatas a receber (AC) ou clientes (AC) 10.000,00</p><p>C receita bruta de vendas (DRE) 10.000,00</p><p>Venda a prazo de 1.000 unidades da mercadoria X, ao cliente Fiel, no dia 12 de abril, com</p><p>vencimento em 14 de maio.</p><p>Pela venda a prazo, no dia 12 – Confronto do CMV com a receita:</p><p>D custo das mercadorias vendidas (DRE) 7.000,00</p><p>C estoque da mercadoria X (AC) 7.000,00</p><p>Venda de 1.000 unidades da mercadoria X, ao cliente Fiel, no dia 12.</p><p>O contador da Cia. Comercial RFJC, após efetuar uma análise com o setor de crédito da</p><p>empresa, estima que a probabilidade de o cliente Fiel não pagar a sua dívida é de 2% (risco de</p><p>inadimplência). Desse modo, há dúvida entre dois valores válidos para o Ativo Circulante –</p><p>Duplicatas a Receber: $ 10.000,00, valor que a Cia. Comercial RFJC tem o direito de cobrar do</p><p>cliente Fiel, ou $ 9.800,00, o valor mais provável que se espera que o cliente Fiel pague [$ 10.000,00</p><p>x (1 – 0,02)].</p><p>Conforme as normas contábeis, é necessário apresentar o Ativo, no máximo, pelo seu valor</p><p>recuperável. No caso das duplicatas a receber, o valor recuperável é o valor esperado de realização – nesse</p><p>exemplo, $ 9.800,00. Desse modo, a Cia. Comercial RFJC precisa reconhecer a Despesa com a</p><p>PECLD, no valor de $ 200,00 ($ 10.000,00 × 2%). Observe que esse procedimento é alinhado à</p><p>tradição do conservadorismo em contabilidade, segundo a qual sempre que houver dúvida entre dois</p><p>valores válidos para o Ativo, deve-se mensurar pelo menor.</p><p>72</p><p>Pela venda a prazo, no dia 12 de abril – Confronto da PECLD com a receita:</p><p>D despesa com perda esperada com créditos de liquidação duvidosa (DRE) 200,00</p><p>C perda esperada com créditos de liquidação duvidosa (redutora do AC) 200,00</p><p>Reconhecimento do risco de inadimplência (2%) sobre a venda a prazo ao cliente Fiel, no valor</p><p>de $ 10.000,00, com vencimento em 14 de maio.</p><p>As dúvidas recorrentes entre os nossos alunos são as seguintes:</p><p> Se o cliente pagar a dívida no dia 14 de maio, como fica a PECLD?</p><p> Se o cliente não pagar a dívida no dia 14 de maio, como fica a PECLD?</p><p>Primeiramente, vejamos o cenário otimista. Caso o cliente Fiel pague a sua dívida</p><p>($ 10.000,00) no dia combinado, a entidade reconhecerá o dinheiro recebido e a baixa das</p><p>Duplicatas a Receber. Subsequentemente, reconhecerá a reversão da PECLD; afinal, a expectativa</p><p>de inadimplência não se realizou.</p><p>Pelo recebimento do crédito, no dia 14 de maio – Reconhecimento do caixa:</p><p>D disponibilidades (AC) 10.000,00</p><p>C duplicatas a receber (AC) 10.000,00</p><p>Recebimento da duplicata contra o cliente Fiel, relativa à venda do dia 12 de abril, em 14 de maio.</p><p>Pelo recebimento do crédito, no dia 14 de maio – Reversão da PECLD:</p><p>D perda esperada com créditos de liquidação duvidosa (redutora do AC) 200,00</p><p>C despesa com perda esperada com créditos de liquidação duvidosa (DRE) 200,00</p><p>Reversão da PECLD constituída em 12 de abril, porque o risco de inadimplência não se realizou,</p><p>uma vez que cliente Fiel pagou a sua dívida em 14 de maio.</p><p>Por outro lado, se o cliente não pagar a dívida no dia 14 de maio, a Cia. Comercial RFJC</p><p>precisará rever a sua expectativa de risco de inadimplência.</p><p>73</p><p>Caso a entidade resolva manter a sua expectativa de não recebimento do cliente Fiel em 2%,</p><p>não precisará fazer qualquer novo lançamento. No entanto, digamos que a Cia. Comercial RFJC</p><p>estime, agora, que a probabilidade de o cliente Fiel não pagar a sua dívida ($ 10.000,00) seja de</p><p>5,5%. Nesse caso, precisará reconhecer o reforço da Perda Esperada com Créditos de Liquidação</p><p>Duvidosa em 3,5% (5,5% – 2%), ou seja, precisará aumentar o saldo da provisão em $ 350,00 ($</p><p>10.000,00 × 3,5%), perfazendo o saldo total da PECLD em $ 550,00 ($ 200,00 + $ 350,00). Isso</p><p>seria feito mediante o seguinte registro contábil.</p><p>Pelo não recebimento do crédito, no dia 14 de maio – Reforço da PECLD:</p><p>D despesa com perda esperada com créditos de liquidação duvidosa (DRE) 350,00</p><p>C perda esperada com créditos de liquidação duvidosa (redutora do AC) 350,00</p><p>Reforço da PECLD pelo aumento do risco de inadimplência (de 2% para 5,5%), visto que o</p><p>cliente Fiel não pagou a sua dívida no vencimento (14 de maio).</p><p>A questão mais relevante sobre a PECLD diz respeito à sua mensuração, ou seja: como medir</p><p>o risco de inadimplência? As empresas costumam medir tal risco pela análise histórica da</p><p>inadimplência sofrida sobre as vendas a prazo.</p><p>Por exemplo, imagine que a Cia. Comercial RFJC tenha vendido a prazo, nos últimos três</p><p>anos, $ 100.000.000,00, e que não recebeu $ 2.000.000,00 desse montante. Com isso, a taxa</p><p>histórica de inadimplência foi de 2% ($ 2.000.000,00/$ 100.000.000,00). A administração da Cia.</p><p>Comercial RFJC, estimando que a inadimplência histórica dos últimos três anos é um bom</p><p>indicador da inadimplência futura, utiliza a taxa de 2% para mensurar a Perda Esperada com</p><p>Créditos de Liquidação Duvidosa.</p><p>Adicionalmente, as empresas costumam fazer uma análise individualizada dos clientes,</p><p>buscando identificar eventuais ajustes a essa taxa histórica. Dessa forma, quando a entidade vende</p><p>a prazo – ou concede qualquer tipo de empréstimo e financiamento – a um cliente que sempre</p><p>pagou as suas dívidas em dia e, além disso, dispõe de excelente situação econômico-financeira,</p><p>reconhece a PECLD em uma taxa menor do que a média histórica geral. Por outro lado, ao conceder</p><p>crédito a um cliente com precária situação econômico-financeira ou que já atrasou o pagamento</p><p>das suas dívidas, a entidade reconhece a PECLD em uma taxa maior do que a média histórica geral.</p><p>Esse procedimento equivale ao reconhecimento da PECLD por um processo de rating.</p><p>Por exemplo, a administração da Cia. Comercial RFJC procedeu à revisão do risco de</p><p>inadimplência do cliente Fiel, ao constatar que</p><p>ele não havia pagado a sua dívida na data de</p><p>vencimento. Como consequência, aumentou a taxa de provisionamento de 2% para 5,5% sobre o</p><p>valor do crédito.</p><p>74</p><p>Mecânica contábil e elaboração das demonstrações contábeis: PECLD</p><p>Pela Matriz de Lançamentos, os registros contábeis dessas transações seriam os seguintes. Para</p><p>facilitar a compreensão, imagine que a Cia. Comercial RFJC evidenciasse, no Balanço Patrimonial,</p><p>Estoques no valor de $ 7.000,00 e Capital Social de $ 7.000,00.</p><p>Inicialmente, vamos considerar somente os lançamentos reconhecidos em abril:</p><p>Tabela 19 – Matriz de lançamentos da Cia. Comercial RFJC</p><p>eventos/contas disponibilidades</p><p>duplicatas</p><p>a receber</p><p>(–)</p><p>PECLD</p><p>estoques =</p><p>capital</p><p>social</p><p>resultado</p><p>saldos iniciais 7.000 = 7.000</p><p>receita vendas 10.000 = 10.000</p><p>baixa merc.</p><p>Vendidas</p><p>(7.000) = (7.000)</p><p>constituição PECLD (200) = (200)</p><p>saldos finais – 10.000 (200) – = 7.000 2.800</p><p>Considerando que o cliente Fiel pagou a sua dívida em maio, teríamos o ingresso do dinheiro</p><p>no Caixa e a reversão da PECLD:</p><p>Tabela 20 – Matriz de lançamentos: ingresso de dinheiro no Caixa e reversão da PECLD</p><p>eventos/contas disponibilidades</p><p>duplicatas</p><p>a receber</p><p>(–)</p><p>PECLD</p><p>estoques =</p><p>capital</p><p>social</p><p>resultado</p><p>saldos iniciais – 10.000 (200) – = 7.000 2.800</p><p>recebimento 10.000 (10.000) =</p><p>reversão PECLD 200 = 200</p><p>saldos finais 10.000 – – – = 7.000 3.000</p><p>Por outro lado, se o cliente Fiel não pagasse a sua dívida, haveria a necessidade de rever a</p><p>estimativa da PECLD e, se fosse o caso, reforçar o seu saldo. No exemplo desenvolvido neste tópico,</p><p>a Cia. Comercial RFJC reforçou a PECLD em 3,5%. Dessa forma:</p><p>75</p><p>Tabela 21 – Matriz de lançamentos: reforço da PECLD</p><p>eventos/contas disponibilidades</p><p>duplicatas</p><p>a receber</p><p>(–)</p><p>PECLD</p><p>estoques =</p><p>capital</p><p>social</p><p>resultado</p><p>saldos iniciais – 10.000 (200) – = 7.000 2.800</p><p>reforço PECLD (350) = (350)</p><p>saldos finais – 10.000 (550) – = 7.000 2.450</p><p>Caso da Droga Raia: clientes</p><p>Ilustramos os critérios de avaliação das Contas a Receber mediante a apresentação do item 6,</p><p>Contas a receber de clientes, das Notas Explicativas da Droga Raia (2022).</p><p>6. Contas a receber de clientes</p><p>6.1. Política contábil</p><p>As contas a receber de clientes são avaliadas pelo montante original da venda deduzido das</p><p>taxas de administradoras de cartões, quando aplicável, e das perdas esperadas. As perdas</p><p>esperadas são estabelecidas quando existe uma evidência provável de que o Grupo não será́</p><p>capaz de receber todos os valores devidos. O valor da perda esperada é a diferença entre</p><p>valor contábil e valor recuperável.</p><p>As vendas a prazo foram trazidas ao valor presente na data das transações, com base na taxa</p><p>do custo médio ponderado de capital a 100% CDI. O ajuste a valor presente tem como</p><p>contrapartida a conta de clientes, e a sua realização é registrada como receita de vendas pela</p><p>fruição do prazo.</p><p>6.2. Composição dos saldos</p><p>consolidado</p><p>itens de clientes dez./2022 dez./2021</p><p>contas a receber de clientes 2.325.300 1.727.115</p><p>(-) perdas esperadas para créditos de</p><p>liquidação duvidosa (6.068) (5.045)</p><p>(-) ajuste a valor presente (23.592) (12.013)</p><p>total 2.295.640 1.710.057</p><p>76</p><p>Abaixo, são demonstrados os saldos de contas a receber por idade de vencimento:</p><p>2022 2021</p><p>a vencer: 2.303.201 1.702.961</p><p>vencidas entre:</p><p>1 e 30 dias 13.324 9.628</p><p>31 e 60 dias 3.292 3.576</p><p>61 e 90 dias 1.707 2.515</p><p>91 e 180 dias 1.536 5.435</p><p>181 e 360 dias 2.240 3.000</p><p>perdas de crédito esperadas (6.068) (5.045)</p><p>(-) ajuste a valor presente (23.592) (12.013)</p><p>total 2.295.640 1.710.057</p><p>O prazo médio de recebimento das contas a receber de clientes, representado por cartões de</p><p>crédito, débito e por parcerias com empresas e governo é de, aproximadamente, 42 dias (35</p><p>dias – em dez./2021), prazo esse considerado como parte das condições normais e inerentes</p><p>das operações do Grupo. Parte substancial dos valores vencidos acima de 31 dias está</p><p>representada por contas a receber vencidas de convênios e do Programa de Benefício em</p><p>Medicamentos (PBMs).</p><p>A movimentação das perdas de crédito esperadas é demonstrada a seguir:</p><p>consolidado</p><p>saldo em 1/1/2021 (2.069)</p><p>adições (13.933)</p><p>reversões 6.201</p><p>perdas 4.756</p><p>saldo em 31/12/2021 (5.045)</p><p>Adições (21.688)</p><p>reversões 14.443</p><p>Perdas 6.222</p><p>saldo em 31/12/2022 (6.068)</p><p>Neste módulo, vamos estudar a contabilização de transações típicas que afetam, praticamente,</p><p>todas as entidades comerciais, das mais simples às mais complexas. A rigor, estudaremos operações</p><p>de compra e venda de mercadorias com os seus reflexos no Estoque, bem como os aspectos relativos</p><p>à contabilização do Ativo Imobilizado.</p><p>Quanto às operações com mercadorias, estudaremos os Estoques, os seus conceitos, a sua</p><p>composição, os critérios de avaliação e de controle; o conceito de Custo das Mercadorias Vendidas</p><p>(CMV), a sua mensuração e a respectiva mecânica contábil, bem como aspectos relacionados com o</p><p>risco de inadimplência assumido pela entidade em decorrência de vendas a prazo.</p><p>Quanto ao Imobilizado, vamos estudar: os principais itens que o compõem, o seu critério</p><p>de avaliação, o conceito da Depreciação e os seus critérios de mensuração, e a mecânica contábil</p><p>correspondente.</p><p>Além disso, este módulo contém um Apêndice dedicado ao estudo Perda por</p><p>Irrecuperabilidade (impairment).</p><p>Operação com mercadorias</p><p>Conceituação</p><p>Estoque é toda aplicação de recursos que, diretamente relacionada à atividade-fim da</p><p>entidade, gera benefícios econômicos futuros por si só.</p><p>Conforme o glossário do CPC PME, estoques são ativos mantidos: (a) para a venda no curso</p><p>normal dos negócios, (b) no processo de produção para venda, ou (c) na forma de materiais ou</p><p>suprimentos a serem consumidos no processo de produção ou na prestação de serviços (Resolução</p><p>CFC nº 1.285/2010).</p><p>MÓDULO III – CONTABILIZAÇÃO DE</p><p>TRANSAÇÕES TÍPICAS (2ª PARTE)</p><p>78</p><p>De forma geral, a compra do Estoque está vinculada à expectativa de auferir receita mediante</p><p>a principal atividade operacional da entidade.</p><p>Principais itens que compõem o Estoque</p><p>Os itens que compõem o Estoque variam de acordo com o ramo de atividades das entidades.</p><p>No entanto, pode-se dizer que, de forma geral, os itens abaixo são os mais comuns para as</p><p>seguintes atividades:</p><p>Quadro 1 – Composição do Estoque</p><p>ramo de atividade exemplo típico de estoque</p><p>comércio  mercadorias para revenda</p><p>indústria</p><p> produtos acabados</p><p> produtos em elaboração</p><p> matérias-primas</p><p>É comum que as empresas administrem os seus estoques de forma a reduzir o prazo médio</p><p>de estocagem. Desse modo, normalmente, o saldo da conta Estoques é evidenciado integralmente</p><p>no Ativo Circulante.</p><p>No entanto, nada impede que a entidade classifique no Ativo Não Circulante a parcela dos</p><p>seus estoques cuja probabilidade de realização financeira seja remota dentro de um ano.</p><p>A Souza Cruz S.A., por exemplo, evidencia uma parcela do seu “Estoque de Fumo” no Ativo</p><p>Não Circulante. No Balanço Patrimonial consolidado de 2010, essa parcela somou R$ 11 mil,</p><p>equivalente a 1,2% do seu estoque total (de AC + do AÑC). Isso decorre do fato de a Souza Cruz</p><p>comprar o fumo – matéria-prima do cigarro – na safra, que ocorre entre janeiro e março de cada</p><p>ano. Se a safra for muito boa, a Souza Cruz adquire toda a produção dos seus parceiros e armazena</p><p>a parcela que não pretende utilizar tão cedo em câmaras refrigeradas.</p><p>O Balanço Patrimonial da Droga Raia, de 2022, apresenta o Estoque pelo valor líquido de</p><p>R$ 6.126.056 mil, não evidenciando como ele é composto. Imagine quantas páginas seriam</p><p>necessárias para discriminar o seu Estoque, unidades de medicamentos, cosméticos e demais itens</p><p>de higiene pessoal.</p><p>79</p><p>Critérios de avaliação do estoque</p><p>De início, precisamos saber no que consiste o valor do estoque, ou seja, será que podemos</p><p>considerar, simplesmente, o valor negociado</p><p>com o fornecedor?</p><p>Além do preço devido ou pago ao fornecedor, todos os demais gastos incorridos pela entidade</p><p>e necessários para colocar o ativo em condições de gerar benefícios para a entidade devem ser</p><p>considerados na determinação do custo dos estoques. Desse modo, os estoques são compostos de</p><p>itens registrados contabilmente a valores monetários representativos dos custos de aquisição e dos</p><p>gastos necessários à aquisição, desde que tais gastos sejam inevitáveis para colocá-los em condições</p><p>de serem vendidos e sejam irrecuperáveis.</p><p>Dessa forma, o custo de aquisição é composto do valor da nota fiscal de aquisição mais os</p><p>gastos com frete, seguro e armazenamento, quando pagos pelo comprador, e os tributos incidentes</p><p>sobre a compra quando o comprador não puder recuperar-se destes mediante compensação com o</p><p>ente tributante (Fisco), ao vender os estoques.</p><p>Em uma indústria, o Estoque de Produtos em Processo e o Estoque de Produtos Acabados</p><p>consideram, ainda, todos os gastos incorridos na produção (custos).5</p><p>Custo de empréstimos</p><p>Dependendo do conjunto de pronunciamentos contábeis adotado (IFRSs completos ou IFRS</p><p>para PMEs), os custos de empréstimos podem ser contabilizados como parte dos custos de</p><p>ativos qualificáveis (IFRSs completos) ou devem ser contabilizados como despesa do período</p><p>(IFRS para PMEs).</p><p>Imagine um estaleiro que capte um empréstimo no Banco Nacional de Desenvolvimento</p><p>Econômico e Social (BNDES), para financiar a construção de uma plataforma de petróleo – um</p><p>produto que demora mais de 18 meses para ficar pronto.</p><p>Se o estaleiro adotar os IFRSs completos, a plataforma de petróleo poderá ser considerada</p><p>como um ativo qualificável. Consequentemente, os juros incorridos por esse empréstimo são</p><p>reconhecidos como custo da plataforma de petróleo (Estoque de Produtos em Processo), até</p><p>o momento em que a plataforma de petróleo estiver pronta para ser entregue ao cliente. Caso</p><p>o prazo de financiamento se estenda além da data de conclusão da produção, os juros desse</p><p>período adicional não são contabilizados no Estoque, mas reconhecidos como Despesa</p><p>Financeira, no exercício de competência – tal quais os juros dos demais empréstimos.</p><p>Se o estaleiro adotar o IFRS para PMEs, deverá reconhecer todos os juros como despesa no</p><p>resultado do período.</p><p>5 Para mais detalhes sobre esse assunto, sugere-se consultar livros de Contabilidade de Custos ou Contabilidade Gerencial.</p><p>Uma sugestão é CARDOSO, Ricardo L.; MÁRIO, Poueri C.; AQUINO, André C. B. Contabilidade gerencial: mensuração,</p><p>monitoramento e incentivos. São Paulo: Atlas, 2007.</p><p>80</p><p>Agora, passemos, à segunda questão: “Como devemos mensurar os Estoques?”. Para</p><p>tanto, é necessário discutirmos antes uma questão mais abrangente: “Como devemos mensurar</p><p>os Ativos?”.</p><p>Os Ativos podem ser mensurados pelos valores de entrada (de compra) ou saída (de venda); e</p><p>estes, com base em valores passados, correntes ou futuros. Isso pode ser verificado no quadro abaixo:</p><p>Quadro 2 – Mensuração dos Ativos: valores de entrada e de saída</p><p>base para mensuração valores de entrada valores de saída</p><p>valores passados custo histórico preço de venda passado</p><p>valores correntes custo de reposição preço corrente de venda</p><p>valores futuros custo esperado valor realizável esperado</p><p>Fonte: Hendriksen e Breda (1999, p. 304).6</p><p>Vejamos um exemplo: a empresa Abu-aga Ltda. vende roupas e utensílios para recém-</p><p>nascidos. A proprietária do empreendimento, Da. Rosa, mantém registros de todas as transações</p><p>passadas e tem grande capacidade de analisar a conjuntura macroeconômica para fazer projeções.</p><p>Segundo os seus registros, no início do ano, a loja comprou o cortador de unhas (modelo</p><p>015) por $ 2,00 a unidade e, no mesmo período, revendeu-o por $ 4,50.</p><p>Hoje de manhã, a Abu-aga Ltda. comprou o mesmo modelo de cortador de unha por</p><p>$ 3,10 cada, e o produto está sendo vendido por $ 5,80.</p><p>Segundo as projeções, no fim do ano, a unidade do produto custará, aproximadamente,</p><p>$ 3,60 para a loja Abu-aga Ltda., que esperará revendê-lo por $ 6,00.</p><p>Nesse caso, os valores de entrada e saída, passados, correntes e futuros, são:</p><p>Quadro 3 – Mensuração dos Ativos: valores passados, correntes e futuros</p><p>base para mensuração valores de entrada valores de saída</p><p>valores passados $ 2,00 $ 4,50</p><p>valores correntes $ 3,10 $ 5,80</p><p>valores futuros $ 3,60 $ 6,00</p><p>6 HENDRIKSEN, Elton; BREDA; Michael Van. Teoria da contabilidade. São Paulo: Atlas, 1999.</p><p>81</p><p>Ainda em relação aos Ativos (de forma geral), sem focar os Estoques, é relevante ressaltar que</p><p>cada um dos critérios apresenta vantagens e desvantagens, conforme relacionadas a seguir.</p><p>A mensuração a valores passados é pouco subjetiva, pois é consubstanciada em notas fiscais e</p><p>demais documentos, como recibos e extratos bancários, demandando baixo custo para a sua</p><p>implementação. No entanto, os valores passados ficam defasados em consequência da perda do</p><p>poder aquisitivo da moeda, devendo ser considerado o custo histórico corrigido ou o preço de venda</p><p>passado corrigido, tratando-se de valores de entrada ou saída, respectivamente.</p><p>O problema reside em trazer o valor passado a valor presente, anulando o efeito inflacionário,</p><p>por dois motivos principais: os índices de inflação medidos e divulgados por órgãos governamentais,</p><p>normalmente, sofrem influência de pressões políticas, distorcendo o verdadeiro impacto da inflação</p><p>sobre os preços; mesmo não havendo pressões políticas, o segundo problema é inevitável, qual seja,</p><p>a discrepância entre a variação geral e a variação específica de preços da entidade, devendo a</p><p>administração escolher um índice.</p><p>Outro grande problema, relacionado à mensuração a valores passados, é a proibição de se</p><p>reconhecer, na contabilidade – para fins de apuração de tributos e distribuição de dividendos –, os</p><p>impactos da inflação, por determinação da Lei nº 9.249, de 23 de dezembro de 1995. Os itens que</p><p>compõem o patrimônio da entidade devem ser contabilizados a valores históricos, vedada a correção</p><p>monetária. Embora a inflação acumulada medida pelo IGP-M, desde 1º de janeiro de 1996 até 31</p><p>de dezembro de 2022, tenha sido de 838%.7</p><p>A mensuração a valores correntes é mais objetiva, pois considera o valor que está sendo</p><p>praticado no mercado, permitindo calcular a perda ou o ganho de oportunidade com a estocagem.</p><p>Por exemplo, se um item foi adquirido por $ 10 no mês passado e, hoje, seria adquirido por $ 15,</p><p>trabalhando em um ambiente sem inflação, podemos dizer que o ganho de oportunidade é de $ 4,50.</p><p>Isto é, valor atual menos valor passado menos os juros que a empresa deixou de ganhar por ter aplicado</p><p>recursos na compra dos estoques, supondo juros de 5% ao mês, temos: $ 15 – $ 10 – $ 0,50 = $ 4,50.</p><p>No entanto, a mensuração a valores correntes apresenta uma desvantagem difícil de ser sanada:</p><p>não existem, necessariamente, todos os produtos e serviços sendo negociados ao mesmo tempo; afinal,</p><p>novas tecnologias surgem enquanto outras ficam ultrapassadas, novos mercados despontam enquanto</p><p>outros desaparecem, etc. Além disso, a sua implementação é mais cara do que a da mensuração a</p><p>valores passados, pois há a necessidade de pessoal mais bem qualificado.</p><p>Finalmente, a mensuração a valores futuros é, a nosso ver, a que melhor atende à teoria</p><p>contábil, pois ativos são aplicações de recursos das quais se esperam benefícios futuros. Desse modo,</p><p>o cotejamento das entradas futuras com as saídas futuras de caixa é o benefício futuro esperado do</p><p>ativo. Em contrapartida, esse método apresenta, como principal desvantagem, a subjetividade, que</p><p>7 Exemplo: um apartamento adquirido em 31 de dezembro de 1995, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, por R$ 100.000,00,</p><p>era negociado, em 31 de dezembro de 2022, a R$ 1.200.000,00 – valor diferente do custo corrigido pelo IGP-M</p><p>(R$ 100.000 + 838% = R$ 838.000). No entanto, no Balanço Patrimonial, esse apartamento, se classificado como Ativo</p><p>Imobilizado, permanece avaliado por R$</p><p>Análise vertical........................................................................................................................127</p><p>Análise horizontal ..................................................................................................................129</p><p>Análise por indicadores.........................................................................................................135</p><p>MÓDULO V – CONTABILIDADE DE CUSTOS..................................................................................147</p><p>CONCEITOS FUNDAMENTAIS E CLASSIFICAÇÃO DE CUSTOS ...................................................147</p><p>Estrutura fundamental para o estudo de Contabilidade Gerencial .......................................147</p><p>Quanto ao produto: custos diretos e indiretos .................................................................149</p><p>Quanto ao volume: custos fixos e variáveis .......................................................................152</p><p>Comentário sobre intervalo relevante ................................................................................154</p><p>Comentário sobre custos híbridos ......................................................................................156</p><p>Comentário sobre a mão de obra .......................................................................................156</p><p>SISTEMAS E MÉTODOS DE CUSTEIO ............................................................................................158</p><p>Fluxos de produção nos sistemas de custeio ....................................................................160</p><p>Método de custeio por absorção .........................................................................................161</p><p>Método de custeio variável ..................................................................................................162</p><p>Comentário sobre a conciliação entre os métodos de custeio .......................................164</p><p>Comentário sobre a capacidade instalada e a legislação societária ..............................165</p><p>MÓDULO VI – RELAÇÃO CUSTO-VOLUME-LUCRO (1ª PARTE) ......................................................171</p><p>INTRODUÇÃO .................................................................................................................................171</p><p>PONTO DE EQUILÍBRIO .................................................................................................................174</p><p>Ponto de equilíbrio contábil .................................................................................................174</p><p>Ponto de equilíbrio econômico ............................................................................................175</p><p>MARGEM DE SEGURANÇA .............................................................................................................176</p><p>MÓDULO VII – RELAÇÃO CUSTO-VOLUME-LUCRO (2ª PARTE).....................................................179</p><p>MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO DE MÚLTIPLOS PRODUTOS: MIX DE PRODUTOS ...................179</p><p>CONTRIBUIÇÃO MARGINAL E LIMITAÇÃO DA CAPACIDADE DA PRODUÇÃO: FATOR</p><p>RESTRITIVO ......................................................................................................................................182</p><p>Solução gráfica .......................................................................................................................185</p><p>Solução com auxílio do Solver .............................................................................................186</p><p>CONTRIBUIÇÃO MARGINAL E PEDIDOS ESPECIAIS....................................................................189</p><p>APÊNDICE ......................................................................................................................................191</p><p>MÓDULO I .......................................................................................................................................191</p><p>I) Funções desempenhadas ..................................................................................................191</p><p>II) Demais demonstrações ....................................................................................................192</p><p>III) ESTRUTURA CONCEITUAL PARA ELABORAÇÃO E DIVULGAÇÃO DO RELATÓRIO CONTÁBIL-</p><p>FINANCEIRO ....................................................................................................................................194</p><p>CPC 00, Capítulo 1: Objetivo do relatório contábil-financeiro de propósito geral ........195</p><p>CPC 00, Capítulo 3: estrutura conceitual para elaboração e divulgação do relatório</p><p>contábil-financeiro .................................................................................................................196</p><p>CPC 00, Capítulo 4: Premissa subjacente – Continuidade ................................................202</p><p>MÓDULO III .....................................................................................................................................203</p><p>I) Custo médio ponderado fixo: controle periódico ..........................................................203</p><p>II) Método do varejo (dos estoques) ......................................................................................204</p><p>III) Perda por redução ao valor recuperável (impairment do imobilizado) .........................204</p><p>MÓDULO IV .....................................................................................................................................213</p><p>I) Elaboração do parecer .........................................................................................................213</p><p>MÓDULO VI .....................................................................................................................................219</p><p>I) Quanto à ocorrência...........................................................................................................219</p><p>II) Outras classificações de custos .......................................................................................223</p><p>III) Comentário complementar sobre objeto de custeio ..................................................227</p><p>IV) Método de custeio baseado em atividades ..................................................................231</p><p>MÓDULO VII ....................................................................................................................................234</p><p>I) Ponto de equilíbrio financeiro ..........................................................................................234</p><p>II) Alavancagem operacional ................................................................................................235</p><p>BIBLIOGRAFIA ...............................................................................................................................237</p><p>PROFESSOR-AUTOR ......................................................................................................................238</p><p>No fim deste módulo, o aluno deverá saber o que é a Contabilidade, o seu objeto de estudo</p><p>e o seu objetivo1 e limitações.</p><p>Além disso, neste módulo, você vai estudar as principais demonstrações contábeis: Balanço</p><p>Patrimonial, Demonstração do Resultado do Exercício e Demonstração dos Fluxos de Caixa.</p><p>Outras demonstrações contábeis serão apresentadas no Apêndice.</p><p>Buscando tornar o processo de aprendizagem mais dinâmico, ilustramos os conceitos</p><p>mediante a apresentação das demonstrações contábeis da empresa Raia Drogasil S.A., referentes ao</p><p>período encerrado em 31 de dezembro de 2022.</p><p>Raia Drogasil S.A. é a razão social da firma conhecida pelas marcas Droga Raia, Drogasil e</p><p>Drogaria Onofre, uma companhia aberta com ações negociadas na BM&FBovespa que comercializa</p><p>medicamentos, cosméticos e outros itens de higiene pessoal.2 Para facilitar a sua identificação,</p><p>vamos referir-nos à empresa pelo nome fantasia – Droga Raia.</p><p>A estrutura conceitual para a elaboração de relatórios financeiros, estabelecida pelo Comitê</p><p>de Pronunciamentos Contábeis</p><p>100.000,00 menos a depreciação acumulada.</p><p>82</p><p>envolve não só a determinação dos fluxos futuros de caixa, mas também a determinação de taxas de</p><p>desconto para trazer os valores futuros a valor presente. Tal dificuldade faz desse método o de mais</p><p>elevado gasto de implantação, pois é necessário maior controle e pessoal qualificado.</p><p>Focando novamente os Estoques, é necessário ressaltar que não se pode escolher livremente</p><p>qualquer dos seis critérios de mensuração, mas somente dois deles. A LSA estabelece que o Estoque</p><p>pode ser avaliado pelo valor de custo ou mercado, dos dois o menor. Veja o texto da lei.</p><p>Lei nº 6.404/76</p><p>Art. 183. No balanço, os elementos do ativo serão avaliados segundo os</p><p>seguintes critérios: [...]</p><p>II - os direitos que tiverem por objeto mercadorias e produtos do comércio da</p><p>companhia, assim como matérias-primas, produtos em fabricação e bens do</p><p>almoxarifado, pelo custo de aquisição ou produção, deduzido de provisão</p><p>para ajustá-lo ao valor de mercado, quando este for menor. (grifo nosso)</p><p>No que tange aos Estoques, a Prudência deu origem à regra de avaliação pelo valor de Custo</p><p>ou Mercado dos dois o menor. A questão é saber se esse valor de Mercado é associado ao mercado</p><p>fornecedor (valor de reposição) ou ao mercado consumidor (valor de realização). Para responder a</p><p>essa questão, recorremos ao item 13.4 do CPC PME, que estabelece:</p><p>CPC PME</p><p>13.4 A entidade avalia estoques pelo menor valor entre o custo e o preço</p><p>de venda estimado diminuído dos custos para completar a produção e</p><p>despesas de venda.</p><p>Desse modo, independentemente de se tratar de estoque de matérias-primas, produtos em</p><p>processo, produtos acabados ou mercadorias para revenda, os Estoques devem ser avaliados pelo</p><p>valor líquido de realização ao custo dos dois o menor.</p><p>Especificamente em relação ao estoque de matérias-primas por praticidade, pode-se utilizar o</p><p>valor de reposição (mercado fornecedor) como estimativa do valor realizável líquido (CPC 16, § 32).</p><p>Essa análise deve ser feita separadamente para cada subconta de estoque – matérias-primas ou</p><p>mercadorias, produtos em processo e produtos acabados.</p><p>83</p><p>Critérios de controle do estoque</p><p>Os estoques podem ser controlados diariamente (controle permanente), a cada mês,</p><p>trimestre, semestre ou ano (controle periódico).</p><p>Pelo sistema de controle permanente, a cada transação que afeta o estoque – compra ou</p><p>venda, por exemplo – é feito o respectivo registro contábil. Por outro lado, adotando-se o sistema</p><p>de controle periódico, os registros contábeis das diversas transações que afetaram o estoque só são</p><p>efetuados no fim do período.</p><p>Em função dos avanços e da redução de custos na área de tecnologia da informação, é razoável</p><p>esperar que cada vez mais empresas passem a controlar os seus estoques permanentemente, uma vez</p><p>que isso lhes permitiria evitar perdas de mercadorias, excesso de aplicação de recursos em estoques</p><p>bem como a escassez da mercadoria.</p><p>É importante para o conteúdo deste módulo o fato de o sistema de controle dos estoques –</p><p>periódico ou permanente – afetar a mensuração do Custo das Mercadorias Vendidas (CMV) e,</p><p>consequentemente, a sua própria mensuração.</p><p>Conceito e mensuração do CMV</p><p>O CMV corresponde, simplesmente, à baixa da mercadoria vendida. Em outras palavras,</p><p>quando a empresa vende a mercadoria aos seus clientes, é necessário retirar a mercadoria da</p><p>prateleira e entregá-la ao consumidor. Consequentemente, o contador reconhece a Receita de</p><p>Vendas e o CMV, correspondente à baixa da mercadoria dos Estoques. Dessa forma, tem-se uma</p><p>“perfeita” confrontação da Despesa (baixa do produto vendido) com a Receita (gerada pela venda</p><p>do mesmo) – Regime da Competência.</p><p>A principal questão que surge com relação ao CMV não é a sua conceituação, mas a sua</p><p>mensuração, ou seja, a questão mais relevante é: como atribuir valor às mercadorias que foram vendidas?</p><p>Há vários métodos para determinar o valor do estoque quando bens idênticos são adquiridos</p><p>por preços diferentes em momentos diferentes. Nesse sentido, passamos a estudar os métodos de</p><p>mensuração do CMV. O interessante é que o valor apurado mediante cada um desses critérios pode</p><p>depender do sistema de controle de estoques adotado pela entidade.</p><p>Quando não se tratar de itens de estoque intercambiáveis, a entidade deve adotar o método</p><p>da identificação específica do custo. No entanto, na impossibilidade de se aplicar esse método, a</p><p>entidade deve escolher entre o Peps ou o Custo Médio. A escolha entre esses dois deve ser feita de</p><p>modo a melhor representar a realidade econômica e a essência das transações que envolvem os</p><p>estoques da entidade.</p><p>84</p><p>Os seguintes dados serão utilizados para ilustrar a diferença entre eles:</p><p>A Comercial Mineira Ltda. começou determinado período com 10 unidades do produto</p><p>MILK em estoque, as quais foram adquiridas por $ 20,00 cada uma. Durante esse período,</p><p>ocorreram as transações seguintes. Vamos determinar o estoque final de produtos MILK, adotando</p><p>cada um dos critérios.</p><p>Tabela 22 – Estoque de produtos MILK</p><p>Data transação</p><p>comprador e</p><p>fornecedor</p><p>Quantidade</p><p>(unidades)</p><p>custo de</p><p>aquisição ($)</p><p>preço de</p><p>venda ($)</p><p>dia 5 compra à vista Ubá 30 25,00</p><p>dia 10 venda à vista Carangola 32 60,00</p><p>dia 22 compra a prazo Caxambu 5 30,00</p><p>dia 30 venda a prazo Areal 1 60,00</p><p>Vejamos cada um desses métodos.</p><p>Peps ou Fifo</p><p>Pelo método Peps (primeiro que entra, primeiro que sai), denominado em inglês Fifo (first in first</p><p>out), os custos dos itens baixados (CMV ou CPV) são avaliados pelo custo de aquisição do primeiro</p><p>item que entrou em estoque, e que ainda está mantido lá. Consequentemente, o estoque é avaliado pelo</p><p>custo de aquisição do item mais recente. Ou seja, dá-se baixa dos estoques sempre pelo item adquirido</p><p>há mais tempo ou mais antigo, ficando o estoque avaliado pelo valor mais atual.</p><p>Pelo Peps, não há diferença se a entidade adota o sistema de controle permanente ou</p><p>periódico – o valor apurado será o mesmo.</p><p>85</p><p>Tabela 23 – Peps (tanto faz controle permanente ou periódico)</p><p>data</p><p>entrada saída saldo final</p><p>(unid.) ($) (unid.) ($) (unid.) ($)</p><p>si 10 x 20,00 200,00</p><p>5 30 x 25,00 750,00</p><p>10 x 20,00</p><p>+ 30 x 25,00</p><p>950,00</p><p>10</p><p>10 x 20,00</p><p>+ 22 x 25,00</p><p>200+</p><p>550</p><p>8 x 25,00 200,00</p><p>22 5 × 30,00 150,00</p><p>8 x 25,00</p><p>+ 5 x 30,00</p><p>350,00</p><p>30 1 x 25,00 25,00</p><p>7 x 25,00</p><p>+ 5 x 30,00</p><p>325,00</p><p>soma 35 900,00 33 775,00</p><p>Nesse exemplo, podemos observar que, inicialmente, a Comercial Mineira Ltda. possuía 10</p><p>unidades do produto MILK em estoque, as quais foram adquiridas por $ 20,00 cada uma. Desse</p><p>modo, o valor dos estoques da companhia correspondia a $ 200,00.</p><p>No dia 5, a companhia adquiriu mais 30 unidades do mesmo produto, sendo que, dessa vez,</p><p>ao preço de $ 25,00 cada uma. Dessa forma, o estoque passa a ser avaliado a $ 950,00.</p><p>No dia 10, a companhia vendeu 32 unidades do produto MILK. Como adota o método Peps</p><p>na avaliação do CMV e do Estoque, o valor a ser lançado nos seus registros contábeis referente ao</p><p>CMV será de $ 750, ou seja, as 10 unidades do produto MILK, a $ 20,00 cada uma, que estavam</p><p>em estoque no início do período, mais 22 unidades a $ 25,00 cada uma, que fazem parte das</p><p>unidades adquiridas posteriormente. O estoque fica avaliado em $ 200,00, correspondente às oito</p><p>unidades remanescentes, adquiridas por $ 25,00 cada uma.</p><p>No dia 22, a Companhia Mineira Ltda. efetua uma nova compra do produto MILK, mais</p><p>cinco unidades ao valor de $ 30,00 cada uma. O estoque passa a ser avaliado a $ 350,00.</p><p>No dia 30, vende mais uma unidade. O Custo das Mercadorias Vendidas será de $ 25,00,</p><p>correspondente ao custo das unidades mais antigas no estoque da companhia. Já o valor do estoque</p><p>corresponderá a $ 325,00, referente às cinco unidades mais recentes, adquiridas a $ 30,00 cada</p><p>uma, mais sete unidades adquiridas por $ 25,00 cada (no dia 5).</p><p>86</p><p>Custo médio ponderado</p><p>O custo</p><p>médio ponderado difere dependendo do sistema de controle. Quando se controlam</p><p>os estoques permanentemente e se avaliam os estoques pelo custo médio, tem-se o chamado Custo</p><p>Médio Ponderado Móvel (CMPM), método apresentado a seguir. Por outro lado, controlando-se</p><p>os estoques periodicamente, o custo médio passa a ser denominado Custo Médio Ponderado Fixo</p><p>(CMPF), apresentado no Apêndice 1 deste módulo.</p><p>CMPM: controle permanente</p><p>Mediante o CMPM, os estoques são avaliados pelo custo médio das mercadorias compradas,</p><p>ponderadas a cada aquisição. O CMPM demanda o registro permanente das entradas e das saídas</p><p>de mercadorias no estoque; afinal, pressupõe o controle permanente.</p><p>Agora, vamos exemplificar a adoção desse método utilizando o mesmo exercício apresentado</p><p>anteriormente para o método Peps.</p><p>Tabela 24 – CMPM</p><p>data</p><p>entrada saída saldo final</p><p>(unid.) ($) (unid.) ($) (unid.) ($)</p><p>Si 10 x 20,00 200,00</p><p>5 30 x 25,00 750,00 40 x 23,75 950,00</p><p>10 32 × 23,75 760,00 8 x 23,75 190,00</p><p>22 5 x 30,00 150,00 13 x 26,154 340,00</p><p>30 1 × 26,154 26,154 12 x 26,154 313,848</p><p>soma 35 900,00 33 786,154</p><p>No início do período, a Comercial Mineira Ltda. possuía 10 unidades do produto MILK em</p><p>estoque, as quais foram adquiridas por $ 20,00 cada uma. Dessa forma, o valor dos estoques da</p><p>companhia correspondia a $ 200,00.</p><p>No dia 5, a companhia adquiriu mais 30 unidades do mesmo produto. No entanto, dessa vez, as</p><p>unidades do produto foram adquiridas ao preço de $ 25,00 cada uma. Dessa forma, o estoque passa a</p><p>ser avaliado a $ 950,00, sendo que o seu custo unitário – tirando-se a média entre o valor total dos</p><p>estoques e a quantidade total das mercadorias em estoque – passa a ser de $ 23,75.</p><p>87</p><p>No dia 10, a companhia vendeu 32 unidades do produto MILK. Pelo método do CMPM, o</p><p>CMV será de $ 760,00. Já o estoque fica avaliado a $ 190,00.</p><p>No dia 22, a Companhia Mineira Ltda. efetua uma nova compra do produto MILK, mais cinco</p><p>unidades ao valor de $ 30,00 cada uma. O estoque passa a ser avaliado a $ 340,00, sendo que o valor</p><p>unitário do produto MILK passa a ser agora de $ 26,154, arredondado para três casas decimais.</p><p>No dia 30, vende mais uma unidade. O CMV será de $ 26,154, e o valor do estoque</p><p>corresponderá a $ 313,848.</p><p>Conforme podemos observar, por levar para o CMV os estoques mais antigos, o método no</p><p>Peps apresenta os menores valores nessa rubrica. Já o CMPM, por considerar a média das aquisições,</p><p>apresenta valores intermediários entre os dois métodos. Já para as mercadorias que permanecem em</p><p>estoque, o inverso ocorre.</p><p>Identificação específica</p><p>Os estoques avaliados pelo critério da identificação específica são baixados pelo custo</p><p>específico do item identificado. Por exemplo, uma agência de veículos que tem, em estoque, três</p><p>automóveis – um da Ford, outro da VW e outro da GM –, ao vender o da Ford, deverá baixar o</p><p>custo específico daquele carro Ford, levando-o a resultado do período. Permanece o estoque</p><p>composto dos outros dois veículos, consequentemente, avaliado pelo somatório dos custos</p><p>específicos daqueles dois itens.</p><p>De forma genérica, pode-se afirmar que os quatro primeiros critérios são adotados para avaliar</p><p>estoques compostos de bens cujas unidades podem ser trocadas umas pelas outras, como um livro.</p><p>Quando você compra um livro, a livraria pode reconhecer a baixa do estoque pelo Peps, CMPM,</p><p>CMPF ou Varejo, não importando se entregou o livro recebido da Editora Atlas na primeira ou na</p><p>última compra – desde que sejam todos da mesma edição, para ser mais específico, de mesmo ISBN.</p><p>Por outro lado, o método da identificação específica é recomendável para avaliar estoques</p><p>compostos de bens cujas unidades não podem ser trocadas umas pelas outras, como: (a) uma obra</p><p>de arte em uma galeria de artes; (b) uma peça rara em um antiquário; (c) um automóvel em uma</p><p>agência de veículos, pois tem um número de chassi que o torna único.</p><p>Mecânica contábil e elaboração das demonstrações contábeis: estoques</p><p>A mecânica contábil é rigorosamente a mesma, independentemente do método de avaliação</p><p>do CMV. Dessa forma, neste tópico, são apresentados os lançamentos contábeis, tomando-se por</p><p>base o Peps.</p><p>Para simplificar e consolidar o entendimento dos pontos apresentados nos tópicos anteriores</p><p>deste módulo, tomemos o exemplo da Comercial Mineira Ltda., já discutido.</p><p>88</p><p>Para facilitar o entendimento, vamos apresentar somente os lançamentos contábeis com os</p><p>valores da baixa das mercadorias vendidas pelo Peps (primeiro a entrar é o primeiro a sair) e vamos</p><p>admitir que a Comercial Mineira Ltda. apurou o seguinte Balanço Patrimonial do início do</p><p>exercício (1º/01/X0):</p><p>Tabela 25 – Balanço Patrimonial da Comercial Mineira Ltda. (1º/01/X0)</p><p>Balanço Patrimonial – Comercial Mineira Ltda. – 1º/1/X0</p><p>ativo circulante patrimônio líquido</p><p>disponibilidades 1.800,00 capital social 2.000,00</p><p>estoques (MILK) 200,00 total do PL 2.000,00</p><p>total do AC 2.000,00</p><p>total do Ativo 2.000,00 total do passivo + PL 2.000,00</p><p>A Comercial Mineira Ltda. começou determinado período com 10 unidades do produto</p><p>MILK em estoque, as quais foram adquiridas por $ 20,00 cada (Estoque avaliado por $ 200,00 =</p><p>10 unidades × $ 20,00 por unidade). Durante esse período, ocorreram as transações abaixo. Pede-</p><p>se determinar o estoque final de produtos MILK adotando o critério Peps.</p><p>Tabela 26 – Estoque final de produtos MILK</p><p>data transação</p><p>comprador e</p><p>fornecedor</p><p>Quantidade</p><p>(unidades)</p><p>custo de</p><p>aquisição (R$)</p><p>preço de</p><p>venda (R$)</p><p>dia 5 compra à vista Ubá 30 25,00</p><p>dia 10 venda à vista Carangola 32 60,00</p><p>dia 22 compra a</p><p>prazo</p><p>Caxambu 5 30,00</p><p>dia 30 venda a prazo Areal 1 60,00</p><p>89</p><p>Tabela 27 – Peps: primeiro a entrar é o primeiro a sair</p><p>data</p><p>entrada saída saldo final</p><p>(unid.) ($) (unid.) ($) (unid.) ($)</p><p>SI 10 x 20,00 200,00</p><p>5 30 x 25,00 750,00 10 x 20,00</p><p>+ 30 × 25,00</p><p>950,00</p><p>10</p><p>10 x 20,00</p><p>+ 22 x 25,00</p><p>200,00 +</p><p>550,00</p><p>08 x 25,00 200,00</p><p>22 5 x 30,00 150,00</p><p>8 x 25,00</p><p>+ 5 x 30,00</p><p>350,00</p><p>30 1 x 25,00 25,00</p><p>7 x 25,00</p><p>+ 5 x 30,00</p><p>325,00</p><p>soma 35 900,00 33 775,00</p><p>Para registrar esses eventos, o contador da Comercial Mineira Ltda. precisaria fazer os</p><p>seguintes lançamentos contábeis no Diário:</p><p>Pela compra à vista, no dia 5:</p><p>D estoque da mercadoria MILK (AC) 750,00</p><p>C disponibilidades (AC) 750,00</p><p>Aquisição de 30 unidades da mercadoria MILK, do fornecedor Ubá, no dia 5.</p><p>90</p><p>Pela venda à vista, no dia 10 – Reconhecimento da Receita:</p><p>D disponibilidades (AC) 1.920,00</p><p>C receita bruta de vendas (DRE) 1.920,00</p><p>Venda de 32 unidades da mercadoria MILK, ao cliente Carangola, no dia 10.</p><p>Pela venda à vista, no dia 10 – Confronto da Despesa com a Receita (baixa pelo Peps):</p><p>D custo das mercadorias vendidas (DRE) 750,00</p><p>C estoque da mercadoria MILK (AC) 750,00</p><p>Venda de 32 unidades da mercadoria MILK, ao cliente Carangola, no dia 10.</p><p>Pela compra a prazo, no dia 22:</p><p>D estoque da mercadoria MILK (AC) 150,00</p><p>C fornecedores (PC) 150,00</p><p>Aquisição de cinco unidades da mercadoria MILK, do Caxambu, no dia 22.</p><p>Pela venda a prazo, no dia 30 – Reconhecimento da Receita:</p><p>D duplicatas a receber (AC) 60,00</p><p>C receita bruta de vendas (DRE) 60,00</p><p>Venda de uma unidade da mercadoria MILK, ao cliente Areal, no dia 30.</p><p>Pela venda a prazo, no dia 30 – Confronto da Despesa com a Receita (baixa pelo Peps):</p><p>D custo das mercadorias vendidas (DRE) 25,00</p><p>C estoque da mercadoria MILK (AC) 25,00</p><p>Venda de uma unidade da mercadoria MILK, ao cliente Areal, no dia 30.</p><p>91</p><p>Ressalte-se que esses lançamentos poderiam ter sido efetuados na matriz de lançamentos,</p><p>conforme a seguir:</p><p>Tabela 28 – Matriz de lançamentos: produtos MILK</p><p>eventos disponibilidades clientes estoque = fornecedores</p><p>capital</p><p>social</p><p>resultado</p><p>saldos iniciais</p><p>5 – compra</p><p>10 – venda</p><p>10 – baixa</p><p>(Peps)</p><p>22 – compra</p><p>30 – venda</p><p>30 – baixa</p><p>(Peps)</p><p>1.800</p><p>(750)</p><p>1.920</p><p>60</p><p>200</p><p>750</p><p>(750)</p><p>150</p><p>(25)</p><p>=</p><p>=</p><p>=</p><p>=</p><p>=</p><p>=</p><p>=</p><p>150</p><p>2.000</p><p>1.920</p><p>(750)</p><p>60</p><p>(25)</p><p>saldos finais 2.970 60 325 = 150 2.000 1.205</p><p>É importante lembrar que, pelos outros critérios de mensuração do CMV, os lançamentos</p><p>contábeis seriam os mesmos – a mesma mecânica contábil. A única diferença seria no valor do</p><p>CMV reconhecido e, consequentemente, do lucro apurado.</p><p>Dessa forma, a Comercial Mineira Ltda. evidenciaria a seguinte Demonstração do Resultado</p><p>do Exercício:</p><p>Tabela 29 – DRE da Comercial Mineira Ltda. (31/01/X0)</p><p>Comercial Mineira Ltda.</p><p>DRE apurada em 31/01/X0.</p><p>receitas de vendas 1.980,00</p><p>(–) custo mercadorias vendidas (775,00)</p><p>(=) lucro bruto 1.205,00</p><p>92</p><p>A seguinte Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido:</p><p>Tabela 30 – DMPL da Comercial Mineira Ltda. (31/01/X0)</p><p>Comercial Mineira Ltda.</p><p>DMPL apurada em 31/01/X0.</p><p>eventos/contas capital social lucros acumulados total PL</p><p>saldos iniciais 2.000,00 2.000,00</p><p>lucro do período 1.205,00 1.205,00</p><p>saldos finais 2.000,00 1.205,00 3.205,00</p><p>E o seguinte Balanço Patrimonial:</p><p>Tabela 31 – Balanço Patrimonial da Comercial Mineira Ltda. (31/01/X0)</p><p>Balanço Patrimonial – Comercial Mineira Ltda. – 31/1/X0</p><p>ativo circulante passivo circulante</p><p>disponibilidades 2.970,00 fornecedores 150,00</p><p>clientes 60,00 total do PC 150,00</p><p>estoque (MILK) 325,00</p><p>total do AC 3.355,00 Patrimônio Líquido</p><p>capital social 2.000,00</p><p>lucros acumulados 1.205,00</p><p>total do PL 3.205,00</p><p>total do ativo 3.355,00 total do passivo + PL 3.355,00</p><p>93</p><p>Caso da Droga Raia: estoques</p><p>Ilustramos os critérios de avaliação dos estoques mediante a apresentação dos itens 4(d) –</p><p>Principais práticas contábeis (d) Descontos comerciais e negociações comerciais na compra de</p><p>mercadorias, e 7 – Estoques – das Notas Explicativas da Droga Raia, 2022.</p><p>4d. Principais práticas contábeis – Descontos comerciais e negociações comerciais na compra</p><p>de mercadorias</p><p>A contraprestação variável do Grupo está substancialmente representada por acordos</p><p>comerciais por meio dos quais produtos podem ser comercializados em conjunto com outras</p><p>mercadorias ou com descontos, os quais são, substancialmente, negociações promovidas</p><p>pelos fornecedores nos pontos de venda do Grupo em diversas formas. Essas negociações</p><p>são individuais e distintas entre os fornecedores e podem apresentar característica e</p><p>natureza complexas. As principais categorias de acordos comerciais são:</p><p>(i) descontos comerciais concedidos por laboratórios no momento da venda ao</p><p>consumidor e associados a programas de benefícios – trata-se de benefícios</p><p>concedidos pelo fornecedor do Grupo ao consumidor final do Grupo com o objetivo</p><p>de estabelecer um processo de fidelização do consumidor ao seu produto ou</p><p>medicamento. Na grande maioria dos casos, a partir do momento em que é</p><p>cadastrado no sistema do fornecedor, o consumidor final se beneficia de um</p><p>desconto concedido pelo fornecedor do Grupo, pagando pela mercadoria um preço</p><p>diferenciado do preço usual dessa mesma mercadoria, caso não estivesse associado</p><p>a um programa de benefícios. Esse desconto, ofertado pelo fornecedor ao cliente do</p><p>Grupo, é apurado em tempo real e reconhecido no mesmo momento da venda da</p><p>mercadoria ao consumidor por um valor a receber do fornecedor equivalente ao</p><p>montante do desconto concedido.</p><p>O Grupo reconhece esses descontos como redução do custo das mercadorias</p><p>vendidas em contrapartida um valor a receber ou a redução de passivo de contratos</p><p>com fornecedores.</p><p>(ii) verbas de marketing e publicidade, como exposição em lojas e divulgação de ofertas</p><p>em catálogo próprio – trata-se de programas de venda do Grupo planejados em</p><p>conjunto com os seus fornecedores. O fornecedor tem o interesse de promover os</p><p>seus produtos na rede de lojas e estabelecimentos de venda do Grupo. Para tanto,</p><p>negocia formas diferentes de pagamento ao Grupo a fim de que o preço final da</p><p>mercadoria ao consumidor seja vantajoso sem qualquer prejuízo às margens brutas</p><p>de venda para essas mesmas mercadorias em condições outras que não sejam em</p><p>caráter promocional. Essas negociações, normalmente, ocorrem com a área de</p><p>Compras do Grupo, em conjunto com a área de vendas, para o alinhamento com as</p><p>estratégias de venda do Grupo.</p><p>94</p><p>A partir do momento em que a obrigação de desempenho foi satisfeita (comercialização do</p><p>produto associado à promoção), o Grupo reconhece o resultado desses acordos</p><p>comerciais a crédito do custo das mercadorias vendidas, tendo como contrapartida um</p><p>valor a receber de convênios ou a redução de passivo de contratos com fornecedores.</p><p>(iii) abatimentos por metas de volume, auferidos tanto nas compras quanto nas vendas –</p><p>trata-se de programas de bonificação concedidos ao Grupo associados a metas de</p><p>compra e de venda das mercadorias de um determinado fornecedor. O Grupo</p><p>considera o benefício obtido como uma redução dos valores a pagar de fornecedores</p><p>em contrapartida à conta de estoques, a partir do momento em que conclui ser</p><p>altamente provável que o benefício obtido não será sujeito à reversão.</p><p>Nos casos (ii) e (iii) acima, tratam-se de diferentes formas de negociação que tem por</p><p>principal objetivo a aquisição de mercadorias no menor custo ofertado pelo fornecedor</p><p>independente da forma com que foi proposta a transação de compra do produto.</p><p>7. Estoques</p><p>7.1. Política contábil</p><p>Os estoques são apresentados pelo menor valor entre o custo e o valor líquido realizável. Os</p><p>estoques são valorizados pelo método da média ponderada móvel. O valor realizável líquido é</p><p>o preço de venda estimado para o curso normal dos negócios, deduzidas as despesas</p><p>necessárias para a realização de venda. Os saldos dos estoques são apresentados deduzidos</p><p>das perdas estimadas.</p><p>7.2. Composição dos saldos</p><p>dez./2022 dez./2021</p><p>mercadorias de revenda 6.171.452 5.159.810</p><p>materiais de consumo 14.302 15.308</p><p>(-) perdas esperadas nos estoques (59.698) (32.614)</p><p>(-) ajuste a valor presente - (24.705)</p><p>total dos estoques 6.126.056 5.117.799</p><p>A movimentação da provisão para perdas esperadas com mercadorias é demonstrada a</p><p>seguir:</p><p>movimentação da provisão para perdas esperadas com mercadorias consolidado</p><p>saldo em 01/01/2021 (28.196)</p><p>adições (9.379)</p><p>95</p><p>baixas 4.961</p><p>saldo em 31/12/2021 (32.614)</p><p>adições (28.719)</p><p>baixas 1.635</p><p>saldo em 31/12/2022 (59.698)</p><p>Para o exercício findo em 31 de dezembro de 2022, o custo das mercadorias vendidas</p><p>reconhecidas no resultado foi de R$ 20.223.406 (R$ 16.901.753 em 2021) para o consolidado,</p><p>incluindo o valor das baixas de estoques de mercadorias reconhecidas como perdas no</p><p>período, que totalizaram R$ 241.553 (R$ 173.067 em 2021) para o consolidado.</p><p>O efeito da constituição, da reversão ou da baixa das perdas esperadas com estoques de</p><p>mercadorias é registrado na demonstração do resultado, sob a rubrica de “custo das</p><p>mercadorias vendidas”.</p><p>Imobilizado e intangível</p><p>Conceito</p><p>Segundo o item do CPC 27 (IAS 16), Ativo Imobilizado é “o item tangível que: (a) é mantido</p><p>para uso na produção ou no fornecimento de mercadorias ou serviços, para aluguel a outros ou para</p><p>fins administrativos; (b) espera-se utilizar por mais de um período”.</p><p>Observe que se deve atender às duas condições, em outras palavras: (b) durar mais de um ano</p><p>e (a) ser utilizado nas atividades operacionais da entidade.</p><p>Caso da Droga Raia: imobilizado</p><p>O Balanço Patrimonial consolidado da Droga Raia, de 2022, apresenta o Imobilizado pelo</p><p>valor líquido de R$ 5.574.857 mil, não evidenciando como ele é composto. No entanto, essa</p><p>informação pode ser obtida nas Notas Explicativas (nota nº 10 – Imobilizado e Intangível).</p><p>Nas rubricas “Terrenos” e “Edificações”, são reconhecidos os imóveis onde serão localizadas</p><p>as lojas; as rubricas “Benfeitorias em imóveis de terceiros” dizem respeito às obras executadas em</p><p>imóveis</p><p>alugados (arrendamento).</p><p>É interessante notar que, quando nós vamos à loja, não costumamos fazer a distinção entre o</p><p>que é o terreno e o que são as edificações sobre ele. No entanto, jurídica e contabilmente, esses dois</p><p>Ativos são distinguidos e reconhecidos separadamente. Juridicamente, isto é, nos termos do Direito</p><p>Imobiliário, tanto o terreno quanto as edificações são registrados no cartório de Registro Geral de</p><p>Imóveis. A rigor, normalmente, é feito o “registro” do terreno, e as edificações são “averbadas” ao</p><p>“registro” do respectivo terreno. Afinal, a edificação pode ser demolida e, em seguida, outra</p><p>edificação construída sobre o mesmo terreno.</p><p>96</p><p>Em uma visita à loja, tampouco distinguimos se os imóveis são próprios da entidade ou</p><p>alugados (arrendados), mas essa classificação também é relevante aos usuários das demonstrações</p><p>contábeis. Afinal, os imóveis próprios podem ser oferecidos em hipoteca como garantia de dívidas</p><p>da entidade. Por outro lado, imóveis arrendados não são aceitos como garantia de dívidas porque</p><p>já existem dívidas associadas a eles, isto é, o arrendamento a pagar.</p><p>Contabilmente, conforme pode ser observado na Nota Explicativa (nº 10) da Droga Raia,</p><p>2022, “Terrenos”, “Edificações”, “Móveis, utensílios e instalações”, “Máquinas e equipamentos”,</p><p>“Veículos”, “Benfeitorias em imóveis de terceiros” também são classificados separadamente. Afinal,</p><p>o desgaste desses itens é diferente entre si.</p><p>4-f.-iii Principais práticas contábeis – Julgamentos, estimativas e premissas contábeis</p><p>significativas – Redução ao valor recuperável (impairment)</p><p>Existem regras específicas para avaliar a recuperabilidade dos ativos, especialmente</p><p>imobilizado, ágio e outros ativos intangíveis. Na data de encerramento do exercício, o Grupo</p><p>realiza uma análise para determinar se existe evidência de que o montante dos ativos de vida</p><p>longa não será recuperável de acordo com as unidades geradoras de caixa. Para determinar</p><p>se o ágio apresenta redução em seu valor recuperável, é necessário fazer estimativa do valor</p><p>em uso das unidades geradoras de caixa para as quais o ágio foi alocado. O cálculo do valor</p><p>em uso exige que a Administração estime os fluxos de caixa futuros esperados, oriundos das</p><p>unidades geradoras de caixa e uma taxa de desconto adequada para que o valor presente seja</p><p>calculado. As principais premissas utilizadas para determinar o valor recuperável das diversas</p><p>unidades geradoras de caixa são detalhadas na Nota 10(b).</p><p>10.1 Política contábil</p><p>Apresentamos o imobilizado e o intangível ao custo histórico de aquisição, formação ou</p><p>instalação de farmácias, líquido de depreciação acumulada, amortização acumulada ou perdas</p><p>acumuladas de valor recuperável, se for o caso. A depreciação e a amortização são calculadas</p><p>pelo método linear, ao longo da vida útil do ativo, de acordo com as taxas divulgadas na Nota</p><p>10.2 e 10.3. A RD tem como procedimento revisar o valor residual, a vida útil de ativos, o período</p><p>de amortização e os métodos de depreciação e amortização, no mínimo, ao encerramento de</p><p>cada exercício e ajustados de forma prospectiva, quando for o caso.</p><p>Um item de imobilizado é baixado quando vendido ou quando nenhum benefício</p><p>econômico futuro for esperado do seu uso ou da sua venda. Ganhos e perdas em alienações</p><p>são determinados pela comparação dos valores de alienação com o valor contábil e são</p><p>incluídos no resultado do exercício em que o ativo for baixado. Quando os ativos reavaliados</p><p>forem destinados à venda, os valores incluídos na reserva de reavaliação, quando da alienação,</p><p>serão contabilizados em lucros acumulados. Reparos e manutenções são apropriados ao</p><p>resultado durante o período em que são incorridos.</p><p>97</p><p>Terrenos e edifícios: compreendem o escritório central e algumas lojas próprias, são</p><p>demonstrados pelo custo histórico de aquisição, acrescido da reavaliação ocorrida em outubro</p><p>de 1987, com base em laudos de avaliação emitidos por peritos avaliadores independentes, a</p><p>qual foi incorporada ao custo atribuído quando da adoção do IFRS. Nessa adoção, o saldo da</p><p>reavaliação dos terrenos e edifícios existentes no patrimônio líquido foi transferido para o grupo</p><p>de ajuste de avaliação patrimonial, também no patrimônio líquido, líquido do imposto de renda</p><p>e da contribuição social diferidos.</p><p>Ágio na aquisição de empresas: o ágio resulta da aquisição de controladas e representa o</p><p>excesso da (i) contraprestação transferida; (ii) do valor da participação de não controladores na</p><p>adquirida; e (iii) do valor justo na data da aquisição de qualquer participação patrimonial</p><p>anterior na adquirida em relação ao valor justo dos ativos líquidos identificáveis adquiridos.</p><p>Caso o total da contraprestação transferida, a participação dos não controladores reconhecida</p><p>e a participação mantida anteriormente medida pelo valor justo seja menor do que o valor justo</p><p>dos ativos líquidos da controlada adquirida, no caso de uma compra vantajosa, a diferença é</p><p>reconhecida diretamente na demonstração do resultado. O ágio apurado na aquisição do</p><p>investimento anterior a 2009 (Drogaria Vison) foi calculado como sendo a diferença entre o valor</p><p>da compra e o valor contábil do patrimônio líquido da empresa adquirida. Até dezembro de</p><p>2008, o ágio era amortizado pelo prazo, extensão e proporção dos resultados projetados, não</p><p>superior a dez anos. A partir de janeiro de 2009, o ágio não foi mais amortizado e passou a ser</p><p>testado anualmente em relação ao seu valor de recuperação, no nível da unidade geradora de</p><p>caixa.</p><p>Pontos comerciais: Compreende cessão de pontos comerciais adquiridos na contratação</p><p>da locação de farmácias, que são demonstrados a valor de custo de aquisição e amortizados</p><p>pelo método linear, as quais levam em consideração os prazos dos contratos de locação que</p><p>são inferiores a vinte anos.</p><p>Licenças de uso ou desenvolvimento de sistemas de informática: são demonstradas pelo</p><p>valor de custo de aquisição e amortizadas pelo método linear ao longo de suas vidas úteis</p><p>estimadas. Os gastos associados à manutenção de softwares são reconhecidos como despesas</p><p>na medida em que são incorridos. Os gastos diretamente associados ao desenvolvimento de</p><p>softwares identificáveis e únicos, controlados pelo Grupo e que provavelmente gerarão</p><p>benefícios econômicos maiores que os custos por mais de um ano, são reconhecidos como</p><p>ativos intangíveis e são amortizados usando-se o método linear, ao longo de suas vidas úteis.</p><p>Os investimentos diretos incluem a remuneração dos funcionários da equipe de</p><p>desenvolvimento de softwares e a parte adequada das despesas gerais relacionadas.</p><p>O imobilizado e os ativos intangíveis são revisados anualmente, para identificar evidências</p><p>de perdas não recuperáveis, ou, ainda, sempre que eventos ou alterações nas circunstâncias</p><p>indicarem que o valor contábil pode não ser recuperável. Já os ativos intangíveis de vida útil</p><p>indeterminada, como o ágio e a mais valia atribuída a marcas, têm o seu valor recuperável</p><p>testado, no mínimo, anualmente ou sempre que há indicadores de perda de valor.</p><p>98</p><p>Quando esse for o caso, o valor recuperável é calculado para verificar se há perda. Quando</p><p>houver perda, ela será reconhecida pelo montante em que o valor contábil do ativo ultrapassar</p><p>o valor recuperável, que é o maior valor entre o valor justo líquido dos custos de venda e o valor</p><p>em uso de um ativo. Em caso de ocorrência, as perdas de valor recuperável de operações</p><p>presentes e futuras são reconhecidas na demonstração do resultado nas categorias de despesa</p><p>consistentes com a função do ativo afetado. Para fins de avaliação do impairment, os ativos são</p><p>agrupados no nível mais baixo para o qual existem fluxos de caixa identificáveis separadamente</p><p>(Unidades Geradoras de Caixa – UGC). As UGCs da Companhia são as lojas.</p><p>10.2 Imobilizado – composição dos saldos e movimentação, consolidado 2022</p><p>A seguir é apresentada a composição do imobilizado:</p><p>taxas anuais</p><p>de</p><p>depreciação</p><p>(%)</p><p>custo</p><p>depreciação</p><p>acumulada</p><p>valor contábil</p><p>líquido</p><p>terrenos 32.124 - 32.124</p><p>edificações 2,5 - 2,7 69.837 - 30.531 39.306</p><p>móveis, utensílios e</p><p>instalações</p><p>7,4 - 10 1.437.156 - 648.362 788.794</p><p>máquinas e</p><p>equipamentos</p><p>7,1 - 15,8 946.424 - 531.347 415.077</p><p>veículos 20 - 23,7 114.213 - 58.514 55.699</p><p>benfeitoria em</p><p>imóveis de terceiros</p><p>13 - 20 1.986.701 - 1.121.296 865.405</p><p>total 4.586.455 - 2.390.050 2.196.405</p><p>99</p><p>A seguir, são apresentadas as movimentações realizadas no ativo imobilizado, considerando o</p><p>consolidado em 2022:</p><p>custo dez./21 adições</p><p>alienações</p><p>e baixas</p><p>(provisão) /</p><p>reversão para</p><p>encerramento</p><p>de farmácias</p><p>dez./22</p><p>terrenos 32.124 - - - 32.124</p><p>edificações 69.837 - - - 69.837</p><p>móveis, utensílios</p><p>e instalações</p><p>1.260.585 208.113 - 26.440 - 5.102 1.437.156</p><p>máquinas e</p><p>equipamentos</p><p>828.057 138.328 - 19.961 - 946.424</p><p>veículos 87.989 26.622 - 398 - 114.213</p><p>benfeitoria em</p><p>imóveis de</p><p>terceiros</p><p>1.592.140 414.706 - 20.537 392 1.986.701</p><p>total 3.870.732 787.769 - 67.336 - 4.710 4.586.455</p><p>100</p><p>depreciação</p><p>acumulada</p><p>dez./21 adições</p><p>alienações</p><p>e baixas</p><p>(provisão) /</p><p>reversão para</p><p>encerramento</p><p>de farmácias</p><p>dez./22</p><p>Terrenos - - - - -</p><p>edificações - 28.710 - 1.821 - - - 30.531</p><p>móveis,</p><p>utensílios e</p><p>instalações</p><p>- 541.060 - 124.307 13.607 3.398 - 648.362</p><p>máquinas e</p><p>equipamentos</p><p>- 444.701 - 103.728 17.082 - - 531.347</p><p>veículos - 46.612 - 12.232 330 - - 58.514</p><p>benfeitoria em</p><p>imóveis de</p><p>terceiros</p><p>- 810.629 - 321.729 11.337 - 275</p><p>-</p><p>1.121.296</p><p>total</p><p>-</p><p>1.871.712</p><p>- 563.817 42.356 3.123</p><p>-</p><p>2.390.050</p><p>Critérios de avaliação do imobilizado</p><p>No reconhecimento, o imobilizado é mensurado (inicialmente) pelo custo de aquisição. Na</p><p>mensuração subsequente, o imobilizado é avaliado pelo custo menos depreciação acumulada e perda</p><p>por irrecuperabilidade acumulada.</p><p>Uma questão que surge é: qual é o custo de aquisição? Restringe-se ao preço pago (devido)</p><p>ao fornecedor?</p><p>Consideram-se Custo de Aquisição, além do preço devido ou pago ao fornecedor, todos os</p><p>demais gastos incorridos pela entidade e necessários para colocar o ativo em condições de gerar benefícios</p><p>para a entidade. No caso do imobilizado, tais gastos são associados à colocação de tal ativo em</p><p>condições de ser utilizado nas atividades operacionais. Também compõe o custo do imobilizado a</p><p>estimativa dos custos de desmontagem e remoção do item, e de restauração da área na qual o item</p><p>está localizado.</p><p>Para exemplificar, imagine que a sua residência não tem aparelho de ar-condicionado. Desse</p><p>modo, no último verão, que bateu os recordes de calor dos últimos anos, você resolveu comprar um</p><p>condicionador de ar, de 7.500 BTUs, à vista, por $ 779,00.</p><p>101</p><p>Considerando que o aparelho pesa 29 kg e tem as seguintes dimensões, em centímetros, 54,1</p><p>x 36,8 x 54,0, você solicitou que a loja o entregasse na sua residência. Por esse frete, você pagou</p><p>$ 26,00, em adição ao preço já pago.</p><p>Quando recebeu o aparelho de ar-condicionado na sua casa, percebeu que não poderia utilizá-lo</p><p>enquanto não fosse devidamente instalado, o que implicaria, entre outras coisas, fazer um buraco na</p><p>parede. Para tanto, você contratou um pedreiro que lhe cobrou $ 95,00 para fazer o serviço: quebrar a</p><p>parede, retirar o entulho, preparar a tomada, instalar o aparelho e o acabamento no seu entorno.</p><p>Nesse caso, qual é o valor do Imobilizado?</p><p>Certamente, o aparelho de ar-condicionado seria reconhecido no Imobilizado por $ 900,00,</p><p>ou seja, $ 779,00 + $ 26,00 + $ 95,00. Afinal, esse valor corresponde ao preço pago ou devido ao</p><p>fornecedor ($ 779,00) mais os gastos incorridos e necessários para colocá-lo em condições de ser</p><p>utilizado, bem como gerar benefícios ($ 26,00 + $ 95,00).</p><p>Se você morasse em um imóvel alugado, você teria a obrigação de retirar o aparelho de ar-</p><p>condicionado e recuperar a parede quando da devolução das chaves ao proprietário. Vamos supor que</p><p>o valor presente da estimativa dos custos de remoção do aparelho e restauração da parede fosse $ 100.</p><p>Nesse caso, o aparelho de ar-condicionado será reconhecido no Imobilizado por $ 1.000,00.</p><p>Outras dúvidas muito recorrentes com relação ao Custo do Imobilizado são:</p><p> Os juros e os demais encargos financeiros relacionados ao financiamento do Imobilizado</p><p>compõem o seu custo?</p><p> Os gastos com a manutenção e os reparos do Imobilizado também integram o seu Custo?</p><p> A depreciação afeta o valor do Imobilizado?</p><p> Considerando que o Imobilizado permanece na empresa durante muito tempo, a inflação</p><p>não distorce o seu valor histórico?</p><p>Vejamos essas questões separadamente.</p><p>Primeiro, os juros. Se a entidade adotar os IFRSs completos, consideram-se, sim, Custo do</p><p>Imobilizado os juros decorrentes de financiamentos, por terceiros, aplicados na sua construção. A</p><p>lógica desse tratamento é que “o custo final de um ativo representa, em última análise, o valor dos</p><p>bens adquiridos ou serviços prestados para a sua aquisição ou produção, e que, na sua essência, os</p><p>juros representam o custo do dinheiro utilizado na construção ou produção dos ativos, devendo ser,</p><p>portanto, a estes integrados” (Deliberação CVM nº 193/96).</p><p>Sobre esse assunto, veja a Deliberação CVM nº 193/96, da qual destacamos o seguinte trecho:</p><p>I - Os juros incorridos e demais encargos financeiros, relativamente a</p><p>financiamentos obtidos de terceiros, para construção de bens integrantes</p><p>do ativo imobilizado ou para produção de estoques de longa maturação,</p><p>devem ser registrados em conta destacada, que evidenciem a sua natureza,</p><p>e classificados no mesmo grupo do ativo que lhes deu origem. [...]</p><p>102</p><p>III - Os juros e encargos referidos no item I somente poderão ser ativados</p><p>até o momento em que o ativo em construção ou produção estiver</p><p>substancialmente completado e colocado em condições de uso ou venda.</p><p>Imagine uma companhia geradora de energia elétrica que capte um empréstimo no Banco</p><p>Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar a construção da</p><p>barragem em um rio, necessária à instalação de uma nova usina hidrelétrica. Os juros incorridos por</p><p>esse empréstimo são reconhecidos como custo da barragem (Imobilizado) até o momento em que a</p><p>barragem estiver pronta para uso. Caso o prazo de financiamento se estenda além da data de conclusão</p><p>das obras, os juros desse período adicional não são contabilizados no Imobilizado, mas reconhecidos</p><p>como Despesa Financeira no exercício de competência – tais quais os juros dos demais empréstimos.</p><p>Caso a entidade adote o IFRS para PMES, tais juros (custos de empréstimos) não integram</p><p>o custo do Imobilizado, mas devem ser reconhecidos imediatamente como despesa financeira no</p><p>resultado do período em que foi incorrido.</p><p>Com relação à segunda questão, os gastos com manutenção e reparos só devem ser integrados</p><p>ao Imobilizado – somados ao item que sofreu a manutenção e reparado – se, e somente se, tal</p><p>manutenção aumentar a vida útil do bem ou a sua capacidade produtiva. Caso contrário, os gastos</p><p>com a manutenção devem ser reconhecidos como despesa do período em que foram incorridos.</p><p>Vejamos dois exemplos de gastos com manutenção: o primeiro reflete a situação na qual o</p><p>gasto com a manutenção é somado ao custo do imobilizado; no segundo exemplo, o gasto com a</p><p>manutenção é reconhecido, imediatamente, como despesa.</p><p>Imagine uma gráfica (tal qual a que imprimiu este material) que tenha uma imprensa</p><p>adquirida em 1973, que ainda funciona, mas precariamente, e fica ociosa a maior parte do tempo.</p><p>Por conta disso, a Da. Rosana, proprietária, resolveu gastar $ 7.000,00 com o restauro desse</p><p>equipamento, que envolveu a troca de algumas engrenagens e de todas as correias, e a eliminação</p><p>dos pontos de ferrugem. Com essa manutenção, o equipamento voltou a funcionar como na década</p><p>de 1980, quando era seminovo. Agora, voltou a ser um dos principais equipamentos da linha de</p><p>produção. Nesse caso, certamente, os gastos com a manutenção são integrados ao Imobilizado, pois</p><p>a máquina que estava praticamente sucateada voltou a ser utilizada normalmente, e é provável que</p><p>continue sendo por mais alguns anos.</p><p>Por outro lado, imagine que o motorista da gráfica, o Sr. Pedro, resolva trocar o óleo do caminhão</p><p>utilizado para fazer a entrega dos produtos (impressos) aos clientes, afinal, mais de 8.000 km já foram</p><p>rodados desde a última vez em que o óleo foi trocado. Nesse caso, os gastos incorridos com a</p><p>manutenção (óleo e filtro) são reconhecidos como Despesa do período, pois a troca do óleo não tem a</p><p>capacidade de aumentar a potencialidade de geração de benefícios pelo veículo.</p><p>A terceira questão – depreciação – será discutida de forma resumida neste ponto e voltará a</p><p>ser apresentada, detalhadamente, nos dois próximos tópicos deste capítulo. No que tange à</p><p>depreciação, conforme o Imobilizado vai sendo utilizado, isto é, vai gerando os benefícios que dele</p><p>103</p><p>se esperavam, vai-se reconhecendo a sua depreciação, que é contabilizada como conta redutora</p><p>(retificadora) do Imobilizado, na rubrica “Depreciações Acumuladas”. Desse modo, o valor contábil</p><p>do Imobilizado corresponde à diferença entre o seu Custo de Aquisição e a Depreciação Acumulada,</p><p>ou seja, o Valor Líquido (ou Valor Líquido de Livros).8</p><p>Finalmente, registremos que a economia brasileira era caracterizada por elevados índices de</p><p>inflação até a década de 1990. Por essa razão, nessa época, as empresas precisavam reconhecer, nas</p><p>demonstrações contábeis, os efeitos da perda de poder aquisitivo da moeda. Afinal, o custo histórico</p><p>ficava rapidamente defasado, e a informação contábil perdia significância.</p><p>Com o Plano Real (1994), a inflação ficou razoavelmente controlada e, a partir de 1996, por</p><p>força da Lei nº 9.249/95, as empresas ficaram proibidas de reconhecer a variação monetária de</p><p>balanços. Com isso, podemos dizer que a inflação distorce a informação contábil ancorada no custo</p><p>histórico. Embora a ciência contábil tenha desenvolvido mecanismos para mitigar essa distorção, o</p><p>seu uso é proibido pela legislação societária e fiscal.</p><p>Significado de depreciação</p><p>Podemos apresentar a depreciação de duas formas: segundo uma visão estática e segundo uma</p><p>visão dinâmica.</p><p>Pela visão estática, a depreciação corresponde à redução do valor do ativo imobilizado, em</p><p>função de: desgaste pelo uso, ação da natureza e obsolescência tecnológica.</p><p>A seguir, os exemplos ajudam a ilustrar essas três causas da depreciação.</p><p>Normalmente, o veículo utilizado como táxi aparenta ser mais velho do que um carro</p><p>idêntico, de mesma idade, utilizado por particular. Afinal, o táxi costuma rodar mais quilômetros</p><p>do que o carro particular. Essa falsa aparência de “velho” decorre do maior desgaste sofrido pelo</p><p>uso do táxi.</p><p>No Rio de Janeiro, os bancos do calçadão de Copacabana aparentam ser mais antigos do que</p><p>os bancos da Praça Raul Soares, em Belo Horizonte. Afinal, a combinação da umidade com a</p><p>maresia, o vento e a areia, típicos da orla, causam a corrosão das estruturas metálicas e o</p><p>apodrecimento das madeiras em velocidade maior do que no interior, onde esses quatro fatores não</p><p>se combinam. Tal aparência de “antigo” é consequência de a ação da natureza ser mais intensa sobre</p><p>os bancos da beira da praia do que sobre os do interior.</p><p>A obsolescência tecnológica é característica marcante nos computadores. Embora funcionem,</p><p>os computadores perdem rapidamente o seu valor em função do lançamento de máquinas mais</p><p>modernas e velozes, bem como do lançamento de novos softwares, que demandam maior capacidade</p><p>de armazenamento e processamento.</p><p>8 Veja, novamente, a Nota Explicativa nº 10 da Droga Raia, 2022. O valor líquido do imobilizado no montante de R$</p><p>2.196.405 mil, já está deduzido da Depreciação Acumulada, que totaliza R$ 2.390.050 mil em 31/12/2022. Afinal, o valor</p><p>bruto do Imobilizado em 2022 era de R$ 4.586.455 mil.</p><p>104</p><p>Ressalte-se que essa distinção é meramente didática, uma vez que todas as três causas</p><p>costumam atuar em conjunto. Por exemplo, a tecla “enter” do computador que estou usando para</p><p>digitar este texto está com mau contato de tanto que já foi pressionada (desgaste pelo uso); já a</p><p>porta USB do mesmo computador não funciona mais, pois está com zinabre (ação da natureza).</p><p>Desse modo, se eu for tentar vender este computador, provavelmente não encontrarei nenhum</p><p>comprador. Isso não se deve ao estado do teclado ou da porta USB, mas, principalmente, pelo fato</p><p>de ter baixa capacidade de armazenamento e processamento, de forma que não é compatível,</p><p>praticamente, com nenhum novo software e periféricos (obsolescência tecnológica).</p><p>Enquanto a visão estática considera o imobilizado como um simples objeto que sofre redução</p><p>(perda) do seu valor, a visão dinâmica da depreciação considera o imobilizado como um agente</p><p>gerador de benefícios econômicos.</p><p>Ou seja, considerando-se que o ativo corresponde a aplicações de recursos das quais se</p><p>espera a geração de benefícios econômicos futuros, a depreciação é o reconhecimento contábil do</p><p>consumo efetivo dos benefícios econômicos que se esperava, no passado, que o imobilizado</p><p>gerasse (no futuro – que já é passado ou presente). Com isso, podemos dizer que a depreciação é</p><p>a alocação sistemática do valor depreciável do imobilizado ao longo da sua vida útil, conforme o</p><p>ativo imobilizado gera os benefícios econômicos que dele se esperava.</p><p>Imagine um taxista que, ao comprar um carro novo por $ 40.000,00, pense em mantê-lo até</p><p>que tenha rodado 200.000 km. Consequentemente, a cada 1 km efetivamente dirigido, o veículo</p><p>gerará 1/200.000 (um, duzentos mil avos) dos benefícios que se esperava ao adquiri-lo. Desse modo,</p><p>para cada quilômetro rodado, $ 0,20 será a parcela do Ativo Imobilizado reconhecida como despesa</p><p>de depreciação.</p><p>Curiosidade...</p><p>O termo Depreciação é utilizado quando se trata de bens tangíveis. Para os itens intangíveis</p><p>(marca e patentes, por exemplo), utiliza-se o termo Amortização.</p><p>Critérios de mensuração da depreciação</p><p>Com exceção do terreno, os bens da empresa têm vida útil limitada por deterioração ou por</p><p>se tornarem obsoletos. Os custos incorridos na sua aquisição devem ser apropriados à despesa, nos</p><p>exercícios sociais relacionados com a sua utilização.</p><p>Cinco variáveis são determinantes do valor da depreciação: o custo, a vida econômica do</p><p>imobilizado, a sua vida útil, o valor residual ao final da vida útil e o método de depreciação. Já</p><p>tratamos da determinação do custo neste módulo; por isso, vejamos as demais variáveis a seguir.</p><p>A vida econômica é o tempo total que se espera que o imobilizado leve para gerar benefícios</p><p>econômicos ao seu titular (pouco importa quem seja). Nesse sentido, a vida econômica é a vida</p><p>total do imobilizado, até que vire sucata.</p><p>105</p><p>A vida útil é a parcela da vida econômica durante a qual a entidade pretende utilizar o item</p><p>do imobilizado nas suas atividades operacionais.</p><p>O valor residual é o preço pelo qual a entidade espera vender o item do imobilizado no fim</p><p>da sua vida útil. Só é pertinente estimar o valor residual quando a entidade estimar vender o item</p><p>do imobilizado antes que este vire sucata, isto é, vida útil menor do que a vida econômica. Caso</p><p>contrário, o valor residual será zero.</p><p>Finalmente, o método de depreciação – vejamos dois desses métodos.</p><p>Métodos das quotas constantes</p><p>Segundo o método das quotas constantes, o valor da depreciação reconhecida é o mesmo a</p><p>cada período. Graficamente, apresenta-se como uma distribuição uniforme, afinal, é calculada</p><p>da seguinte forma:</p><p>depreciação = (custo – valor residual) ÷ tempo de vida útil</p><p>ou</p><p>depreciação = (custo – valor residual) x taxa de depreciação</p><p>Para ilustrar o cálculo da depreciação, vamos imaginar uma máquina adquirida em 1º de</p><p>janeiro de X1 e que comece a ser utilizada na mesma data, pelo custo de aquisição total de</p><p>$ 9.000,00. Considerando que o tempo</p><p>de vida útil dessa máquina seja de 10 anos e admitindo que</p><p>o seu valor residual seja de $ 1.500,00 no fim desse período, a depreciação anual será de $ 750,00,</p><p>ou seja:</p><p>a valor de custo $ 9.000,00</p><p>b valor residual $ 1.500,00</p><p>c = a – b valor depreciável $ 7.500,00</p><p>d tempo de vida útil 10 anos</p><p>e = c ÷ d depreciação anual $ 750,00 ao ano</p><p>Desse modo, esse método é denominado das quotas constantes, porque o valor da</p><p>depreciação reconhecida anualmente é constante. No exemplo, $ 750,00 por ano, conforme</p><p>evidenciado no gráfico:</p><p>106</p><p>Gráfico 1 – Depreciação pelo método das quotas constantes</p><p>Nesse caso, admite-se que a máquina foi adquirida e começou a ser utilizada no início do ano</p><p>(em 1º/01/X1). No entanto, qual seria o valor da depreciação, nos anos X1 e X2, se a máquina</p><p>começasse a ser utilizada no meio do ano (em 1º/07/X1)?</p><p>Em X1, seria reconhecida a depreciação em montante equivalente à metade do valor da</p><p>depreciação anual, visto que a máquina foi utilizada somente durante seis meses nesse ano, portanto,</p><p>$ 375,00 ($ 750,00 ÷ 2). Já em X2, a depreciação anual seria reconhecida por $ 750,00, que</p><p>corresponde a um ano inteiro.</p><p>Muitas empresas não utilizam o cálculo baseado no dia do mês em que o bem foi adquirido.</p><p>Se este for adquirido do dia 1º ao 14, será considerado no mês em que foi adquirido. Se o for após</p><p>o dia 15, a sua compra será considerada no mês posterior. Afinal, esse tratamento é muito prático,</p><p>e o valor da depreciação de um mês acaba não sendo relevante.</p><p>Agora, imagine que a máquina começou a ser utilizada em 25/08/X1. Nesse caso, como</p><p>ficaria a sua depreciação nos anos X1 e X2?</p><p>Tabela 32 – Depreciação nos anos X1 e X2</p><p>a valor de custo $ 9.000,00</p><p>b valor residual $ 1.500,00</p><p>c = a – b valor depreciável $ 7.500,00</p><p>d tempo de vida útil 10 anos</p><p>e = c ÷ d depreciação anual $ 750,00 ao ano</p><p>em X1 $ 250,00 no ano</p><p>agosto 5 dias (*) – no mês</p><p>setembro o mês inteiro $ 62,50 no mês</p><p>107</p><p>Outubro o mês inteiro $ 62,50 no mês</p><p>novembro o mês inteiro $ 62,50 no mês</p><p>dezembro o mês inteiro $ 62,50 no mês</p><p>em X2 o ano inteiro $ 750,00 no ano</p><p>(*) Pela praticidade, resolve-se não depreciar o bem em agosto de x1, porque só começou a</p><p>ser utilizado após o dia 15 do mês.</p><p>No entanto, nada impede que a empresa calcule a depreciação na exata proporção de dias</p><p>contados da data na qual foi posto em condições de uso. Calcula-se a depreciação pro rata temporis,</p><p>a cada dia desde o início da sua utilização.</p><p>Vejamos o exemplo novamente, mas adotando o critério da exata proporção pro rata temporis,</p><p>dia a dia:</p><p>Tabela 33 – Depreciação pro rata temporis</p><p>a valor de custo $ 9.000,00</p><p>b valor residual $ 1.500,00</p><p>c = a – b valor depreciável $ 7.500,00</p><p>d tempo de vida útil 10 anos</p><p>e = c ÷ d depreciação anual $ 750,00 ao ano</p><p>em X1 $ 260,42 no ano</p><p>agosto 5 dias (*) $ 10,42 no mês</p><p>setembro o mês inteiro $ 62,50 no mês</p><p>outubro o mês inteiro $ 62,50 no mês</p><p>novembro o mês inteiro $ 62,50 no mês</p><p>dezembro o mês inteiro $ 62,50 no mês</p><p>em X2 o ano inteiro $ 750,00 no ano</p><p>(*) Considerou-se que cada mês tem 30 dias, ou seja, que o ano tem 360 dias</p><p>(12 meses × 30 dias).</p><p>108</p><p>Método do benefício consumido</p><p>O método do benefício gerado é o que melhor representa o consumo do imobilizado no</p><p>processo de geração de receita.</p><p>Antes de estudar esse método de depreciação, é oportuno relembrar o processo de geração de</p><p>receitas dos estoques. Quando determinada unidade de mercadoria é vendida, ela é retirada da</p><p>prateleira e entregue ao cliente. Como consequência, o contador reconhece a Receita de Vendas e</p><p>o CMV (correspondente à baixa da mercadoria dos Estoques). Desse modo, tem-se uma “perfeita”</p><p>confrontação da Despesa (baixa do produto vendido) com a Receita (gerada pela sua venda).</p><p>Em se tratando do imobilizado – por exemplo, uma máquina utilizada no processo de</p><p>transformação das matérias-primas em produtos acabados –, a identificação do confronto das</p><p>despesas com as receitas fica um pouco prejudicada. Afinal, a empresa não vende a máquina, vende</p><p>o produto fabricado pela máquina. No entanto, é inegável que a máquina contribuiu ao processo</p><p>de geração de receita, produzindo o bem vendido. Desse modo, é necessário reconhecer a</p><p>depreciação da máquina. Nesse contexto, a depreciação corresponde à baixa parcial da máquina:</p><p>uma fração da máquina que é consumida no processo produtivo.</p><p>Relembrando os conceitos apresentados neste capítulo,9 é fácil perceber que o método de</p><p>depreciação pelos benefícios consumidos é o que mais se aproxima da visão dinâmica da depreciação.</p><p>Retornemos ao exemplo da máquina adquirida em 1º de janeiro de X1, por $ 9.000,00, cujo</p><p>valor residual esperado no fim da sua vida útil é de $ 1.500,00. Suponhamos que a máquina tenha</p><p>capacidade produtiva equivalente a 100.000 unidades de determinado produto.</p><p>Caso a produção efetiva dos anos X1 a X10 seja:</p><p>Tabela 34 – Capacidade produtiva da máquina</p><p>produção anual efetiva:</p><p>X1 5.000 unidades</p><p>X2 8.700 unidades</p><p>X3 6.500 unidades</p><p>X4 7.000 unidades</p><p>X5 8.100 unidades</p><p>X6 14.500 unidades</p><p>9 Os conceitos são: o Imobilizado é um agente gerador de benefícios econômicos, como todo e qualquer ativo; o Ativo</p><p>corresponde a aplicações de recursos das quais se espera a geração de benefícios futuros; a Depreciação é o</p><p>reconhecimento contábil do consumo efetivo dos benefícios que se esperava, no passado, que o Imobilizado gerasse (no</p><p>futuro – que já é passado ou presente).</p><p>109</p><p>produção anual efetiva:</p><p>X7 10.200 unidades</p><p>X8 13.000 unidades</p><p>X9 15.000 unidades</p><p>X10 12.000 unidades</p><p>Pelo método do benefício consumido, a depreciação será proporcional a essa produção. Dessa</p><p>forma, os valores da depreciação anual não serão constantes ao longo do tempo, mas acompanharão</p><p>as oscilações do volume produzido.</p><p>Gráfico 2 – Depreciação pelo método dos benefícios gerados</p><p>Os valores apresentados nesse gráfico foram calculados conforme demonstrado a seguir:</p><p>Tabela 35 – Depreciação: benefícios gerados</p><p>a valor de custo $ 9.000,00</p><p>b valor residual $ 1.500,00</p><p>c = a – b valor depreciável $ 7.500,00</p><p>d capacidade produtiva total 100.000 unidades</p><p>e produção anual efetiva:</p><p>X1 5.000 unidades</p><p>X2 8.700 unidades</p><p>X3 6.500 unidades</p><p>110</p><p>X4 7.000 unidades</p><p>X5 8.100 unidades</p><p>X6 14.500 unidades</p><p>X7 10.200 unidades</p><p>X8 13.000 unidades</p><p>X9 15.000 unidades</p><p>X10 12.000 unidades</p><p>Total 100.000 unidades</p><p>f = c ÷ d x e depreciação anual:</p><p>X1 $ 375,00 no ano</p><p>X2 $ 652,50 no ano</p><p>X3 $ 487,50 no ano</p><p>X4 $ 525,00 no ano</p><p>X5 $ 607,50 no ano</p><p>X6 $ 1.087,50 no ano</p><p>X7 $ 765,00 no ano</p><p>X8 $ 975,00 no ano</p><p>X9 $ 1.125,00 no ano</p><p>X10 $ 900,00 no ano</p><p>total $ 7.500,00</p><p>Embora esse método seja o que melhor permite confrontar as despesas associadas ao consumo</p><p>do imobilizado com os benefícios por ele gerados, não é o mais difundido, talvez, por ser pouco</p><p>prático estimar a produção total esperada (benefícios consumidos).</p><p>Mecânica contábil e elaboração das demonstrações contábeis:</p><p>depreciação</p><p>A conta “Depreciação Acumulada”, de natureza credora, é classificada no Balanço</p><p>Patrimonial, no lado do ativo, como uma redução do custo do bem depreciado. Dessa forma, a</p><p>“Depreciação Acumulada” é uma conta redutora (ou retificadora) do Imobilizado.</p><p>A conta “Despesa de Depreciação”, de natureza devedora, é computada na demonstração de</p><p>resultado do exercício.</p><p>111</p><p>Exemplo: um veículo de passageiros (0 km) foi comprado por $ 25.000,00, em 1º/01/X1.</p><p>Como a sua depreciação é realizada em cinco anos pelo método das quotas constantes (taxa de</p><p>depreciação = 20% ao ano), considerando-se o valor residual nulo, será reconhecida depreciação</p><p>anual de $ 5.000,00.</p><p>Tabela 36 – Depreciação do veículo (31/12/X1)</p><p>valores evidenciados em 31/12/X1</p><p>na demonstração</p><p>do resultado do exercício</p><p>no balanço patrimonial</p><p>(–) despesa de depreciação</p><p>(5.000,00) veículo de passageiros 25.000,00</p><p>(–) depreciação acumulada (5.000,00)</p><p>valor líquido 20.000,00</p><p>Desse modo, o lançamento contábil efetuado em 31/12/X1 foi:</p><p>D despesa de depreciação (DRE) 5.000,00</p><p>C depreciação acumulada (redutora do ativo) 5.000,00</p><p>Histórico: reconhecimento da depreciação anual do veículo, à taxa de 20% ao ano e valor</p><p>residual nulo.</p><p>ATENÇÃO: A depreciação é uma transação que não envolve</p><p>caixa nesse período, isto é, apesar de ser uma despesa, o seu</p><p>valor não é desembolsado no ato do reconhecimento da</p><p>depreciação. O efeito caixa ocorreu na data da aquisição do</p><p>Ativo se a compra foi à vista, ou no pagamento das parcelas,</p><p>se a compra foi a prazo.</p><p>Esse mesmo registro é efetuado ao longo dos cinco anos do prazo de vida útil do veículo. Na</p><p>demonstração do resultado do exercício, uma despesa de depreciação nesse valor ($ 5.000) é</p><p>reconhecida a cada ano. No Balanço Patrimonial, a cada ano, o valor da depreciação vai sendo</p><p>acumulado, até completar o valor total do ativo, considerando valor residual nulo.</p><p>112</p><p>Tabela 37 – Depreciação do veículo (de 31/12/X2 a 31/12/X5)</p><p>valores evidenciados em 31/12/X2</p><p>na demonstração</p><p>do resultado do exercício</p><p>no balanço patrimonial</p><p>(–) despesa de depreciação (5.000,00) veículo de passageiros 25.000,00</p><p>(–) depreciação acumulada (10.000,00)</p><p>valor líquido 15.000,00</p><p>valores evidenciados em 31/12/X3</p><p>na demonstração do resultado do</p><p>exercício</p><p>no balanço patrimonial</p><p>(–) despesa de depreciação (5.000,00) veículo de passageiros 25.000,00</p><p>(–) depreciação acumulada (15.000,00)</p><p>valor líquido 10.000,00</p><p>valores evidenciados em 31/12/X4</p><p>na demonstração do resultado do</p><p>exercício</p><p>no balanço patrimonial</p><p>(–) despesa de depreciação (5.000,00) veículo de passageiros 25.000,00</p><p>(–) depreciação acumulada (20.000,00)</p><p>valor líquido 5.000,00</p><p>valores evidenciados em 31/12/X5</p><p>na demonstração do resultado do</p><p>exercício</p><p>no balanço patrimonial</p><p>(–) despesa de depreciação (5.000,00) veículo de passageiros 25.000,00</p><p>(–) depreciação acumulada (25.000,00)</p><p>valor líquido –</p><p>Uma dúvida que surge é: como reconhecer a venda do imobilizado?</p><p>113</p><p>Essa questão pode ser analisada em dois cenários:</p><p> quando o bem ainda não está totalmente depreciado e</p><p> quando o bem já está totalmente depreciado.</p><p>Digamos que a empresa do exemplo anterior tivesse vendido o veículo no dia 1º/01/X4,</p><p>quando o veículo já estava avaliado, na Contabilidade, pelo valor líquido de $ 10.000,00 (o mesmo</p><p>evidenciado no BP de 31/12/X3). Suponhamos que o bem tenha sido vendido por $ 12.000,00. A</p><p>empresa apuraria um ganho de $ 2.000,00, que seria assim contabilizado:</p><p>Primeiro, é necessário reconhecer venda:</p><p>D disponibilidades (ativo circulante) 12.000,00</p><p>C outras receitas operacionais (DRE) 12.000,00</p><p>Histórico: reconhecimento da venda do veículo usado, à vista.</p><p>Em segundo lugar, é necessário “preparar” o ativo vendido para ser baixado, eliminando-se</p><p>o saldo da conta depreciação acumulada contra o saldo da conta do respectivo bem:</p><p>D depreciação acumulada (redutora do ativo imobilizado) 15.000,00</p><p>C veículos (ativo imobilizado) 15.000,00</p><p>Histórico: baixa da depreciação acumulada, contra o saldo da conta Veículos, como preparação</p><p>ao reconhecimento da venda desse ativo.</p><p>Por fim, reconhece-se a baixa do veículo vendido.</p><p>D outra despesa operacional (DRE) 10.000,00</p><p>C veículos (ativo imobilizado) 10.000,00</p><p>Histórico: baixa do veículo vendido.</p><p>Observe que o ganho seria apresentado na DRE pelo valor líquido ($ 2.000,00).</p><p>114</p><p>Pela Matriz de Lançamentos, vamos considerar que a empresa tivesse apurado o seguinte</p><p>Balanço Patrimonial em 31/12/X3:</p><p>Quadro 4 – Balanço patrimonial em 31/12/X3</p><p>balanço patrimonial – 31/12/X3</p><p>ativo passivo –</p><p>ativo circulante</p><p>disponibilidades 8.000,00</p><p>ativo não circulante imobilizado patrimônio líquido</p><p>veículos de passageiros 25.000,00 capital social 12.000,00</p><p>(–) depreciação acumulada (15.000,00) reserva de lucros 6.000,00</p><p>total do imobilizado 10.000,00 total do PL 18.000,00</p><p>total do ativo 18.000,00 total do passivo + PL 18.000,00</p><p>Desse modo, ao vender o veículo, cujo custo histórico é $ 25.000,00 e já depreciado em</p><p>$ 15.000,00, por $ 12.000,00, reconheceria os seguintes registros contábeis:</p><p>Tabela 38 – Depreciação: registros contábeis</p><p>disponib. veículos</p><p>(–)</p><p>depreciação</p><p>acumulada</p><p>=</p><p>capital</p><p>social</p><p>reserva</p><p>de</p><p>lucros</p><p>resultado</p><p>saldos iniciais 8.000,00 25.000,00 (15.000,00) = 12.000,00 6.000,00</p><p>reconhecimento</p><p>da venda</p><p>12.000,00 = 12.000,00</p><p>baixa da depreciação</p><p>acumulada</p><p>(15.000,00) 15.000,00 =</p><p>baixa do veículo</p><p>vendido</p><p>(10.000,00) = (10.000,00)</p><p>somatórios parciais 20.000,00 – – = 12.000,00 6.000,00 2.000,00</p><p>transferência do</p><p>resultado</p><p>= 2.000,00 (2.000,00)</p><p>saldos finais 20.000,00 – – = 12.000,00 8.000,00 –</p><p>115</p><p>Dessa forma, o Balanço Patrimonial apurado em 1º/01/X4, logo após a venda do veículo,</p><p>seria evidenciado da seguinte forma:</p><p>Tabela 39 – Balanço patrimonial em 1º/01/X4</p><p>balanço patrimonial – 1º/01/X4 logo após a venda</p><p>ativo passivo circulante –</p><p>ativo circulante</p><p>disponibilidades 20.000,00</p><p>ativo não circulante imobilizado patrimônio líquido</p><p>veículos de passageiros – capital social 12.000,00</p><p>(–) depreciação acumulada – reserva de lucros 8.000,00</p><p>total do imobilizado – total do PL 20.000,00</p><p>total do ativo 20.000,00 total do passivo + PL 20.000,00</p><p>A mesma lógica seria adotada se a empresa vendesse o veículo depois de transcorrido todo o</p><p>seu tempo de vida útil.</p><p>Digamos que a empresa tivesse vendido o veículo em 21/01/X8, por $ 1.500,00, quando o</p><p>saldo da Depreciação Acumulada já era idêntico ao do custo de aquisição ($ 25.000,00). Seriam</p><p>reconhecidos os seguintes lançamentos contábeis:</p><p>Pelo reconhecimento da receita de vendas:</p><p>D disponibilidades (ativo circulante) 1.500,00</p><p>C outras receitas operacionais (DRE) 1.500,00</p><p>Histórico: reconhecimento da venda do veículo usado, à vista.</p><p>Pela baixa da Depreciação Acumulada:</p><p>D depreciação acumulada (redutora do ativo imobilizado) 25.000,00</p><p>C veículos (ativo imobilizado) 25.000,00</p><p>Histórico: baixa da depreciação acumulada, contra o saldo da conta Veículos, como preparação</p><p>ao reconhecimento da venda desse ativo.</p><p>116</p><p>Nesse caso, não é necessário realizar o terceiro lançamento contábil, pois o saldo da conta</p><p>Veículos já está zerado, não havendo valor de Outra Despesa Operacional a ser reconhecido. Pela</p><p>Matriz de Lançamentos, vamos considerar que a empresa tivesse apurado, em 21/1/X8, antes da</p><p>venda, o seguinte Balanço Patrimonial:</p><p>Tabela 40 – Balanço patrimonial (21/01/X8), antes da venda</p><p>balanço patrimonial – 21/01/X8, antes da venda</p><p>ativo passivo –</p><p>ativo circulante</p><p>disponibilidades 35.000,00</p><p>ativo não circulante imobilizado patrimônio líquido</p><p>veículos de passageiros 25.000,00 capital social 12.000,00</p><p>(–) depreciação acumulada (25.000,00) lucros acumulados 23.000,00</p><p>total do imobilizado – total do PL 35.000,00</p><p>total do ativo 35.000,00 total do passivo + PL 35.000,00</p><p>Nesse contexto, ao vender o veículo já totalmente depreciado, por $ 1.500,00, reconheceria</p><p>os seguintes registros contábeis:</p><p>Tabela 41 – Depreciação: registros contábeis</p><p>disponib. veículos</p><p>(–)</p><p>depreciação</p><p>acumulada</p><p>=</p><p>capital</p><p>social</p><p>lucros</p><p>acumulados</p><p>resultado</p><p>saldos iniciais 35.000,00 25.000,00 (25.000,00) = 12.000,00 23.000,00</p><p>reconhecimento da</p><p>venda</p><p>1.500,00 = 1.500,00</p><p>baixa da</p><p>depreciação</p><p>acumulada</p><p>(25.000,00) 25.000,00 =</p><p>somatórios parciais 36.500,00 – – = 12.000,00 23.000,00 1.500,00</p><p>transferência do</p><p>resultado</p><p>= 1.500,00 (1.500,00)</p><p>saldos finais 36.500,00 – – = 12.000,00 24.500,00 –</p><p>117</p><p>Desse modo, o Balanço Patrimonial apurado em 21/01/X8, logo após a venda do</p><p>veículo,</p><p>seria evidenciado da seguinte forma:</p><p>Tabela 42 – Balanço patrimonial (21/01/X8), logo após a venda</p><p>balanço patrimonial – 21/01/X8, logo após a venda</p><p>ativo passivo –</p><p>ativo circulante</p><p>disponibilidades 36.500,00</p><p>ativo não circulante imobilizado patrimônio líquido</p><p>veículos de passageiros – capital social 12.000,00</p><p>(–) depreciação acumulada – lucros acumulados 24.500,00</p><p>total do imobilizado – total do PL 36.500,00</p><p>total do ativo 36.500,00 total do passivo + PL 36.500,00</p><p>A análise das demonstrações contábeis corresponde à interpretação das informações</p><p>evidenciadas nos relatórios contábeis.</p><p>Neste módulo, são apresentadas as principais técnicas de análise da DRE e do Balanço</p><p>Patrimonial de uma entidade com fins lucrativos.</p><p>Antes de estudar a análise propriamente dita, é necessário comentar algumas questões</p><p>fundamentais para toda e qualquer análise, como a definição do seu propósito.</p><p>O módulo está organizado em seis unidades:</p><p> A primeira unidade – Propósito da análise – discute o primeiro passo de uma análise, isto</p><p>é, a definição do seu objetivo.</p><p> A segunda unidade – Obtenção das demonstrações contábeis – apresenta a necessidade de</p><p>dispor do material a ser analisado e sugere fontes em que as informações contábeis podem</p><p>ser obtidas.</p><p> A unidade seguinte – Investigar a confiabilidade da informação obtida – sugere que o analista,</p><p>antes de fazer qualquer cálculo, deve-se perguntar se a informação de que dispõe é confiável</p><p>ou se há necessidade de proceder a ajustes e reclassificações, comentadas na seção.</p><p> A quarta unidade – Definição de parâmetros – mostra que não é suficiente fazer os cálculos,</p><p>devem-se ter alguns parâmetros de comparação (benchmarks) para analisar as</p><p>demonstrações contábeis.</p><p> A quinta e maior unidade deste módulo – Cálculos – apresenta as três principais técnicas</p><p>de análise – a análise vertical, a análise horizontal e a análise por indicadores –</p><p>exemplificadas e interpretadas com base nas demonstrações contábeis da Droga Raia,</p><p>referentes ao ano de 2022.</p><p>MÓDULO IV – ANÁLISE DAS</p><p>DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS</p><p>(INTRODUÇÃO)</p><p>120</p><p> Por fim, a sexta unidade – Elaboração do parecer – sugere uma sequência de itens que</p><p>devem ser abordados no parecer que exprime a percepção do analista com relação à</p><p>situação econômico-financeira da entidade analisada.</p><p>Propósito da análise</p><p>Diversos podem ser os propósitos da análise (financeira ou gerencial), dependendo de cada caso.</p><p>Vejamos alguns exemplos típicos:</p><p> Mensurar o desempenho de subunidades. O diretor financeiro de uma empresa tem a</p><p>necessidade de avaliar o desempenho dos gerentes de cada divisão (subunidade ou centro</p><p>de responsabilidade) da empresa. Com base nessa avaliação, ele pode decidir questões</p><p>relacionadas a bonificações e promoções (caso o desempenho seja satisfatório), ou a</p><p>treinamentos e demissões (caso o desempenho seja insatisfatório).</p><p> Analisar a situação creditícia de potencial cliente, parceiro, fornecedor ou concorrente.</p><p>Quando uma empresa realiza uma venda a prazo, é necessário avaliar o risco de crédito (a</p><p>probabilidade de o cliente não pagar). Desse modo, o gerente financeiro da empresa</p><p>analisa as demonstrações contábeis do cliente para identificar como anda a sua “saúde”</p><p>financeira. Se estiver muito boa, o gerente financeiro pode conceder um prazo maior para</p><p>pagamento e até não exigir garantias (aval, por exemplo). Se a “saúde” financeira estiver</p><p>muito ruim, ele pode não autorizar a venda a prazo, exigindo o pagamento à vista – afinal,</p><p>há razoável expectativa de o cliente não conseguir honrar o seu compromisso, de forma</p><p>que a venda se transformaria, na pior das hipóteses, em uma “doação”. Por sua vez, se a</p><p>“saúde” financeira for intermediária, o gerente financeiro poderá autorizar a venda com</p><p>restrições, por exemplo, conceder poucos dias de prazo, cobrar juros e garantias. Esse</p><p>mesmo tipo de análise é aplicado quando a empresa contrata um fornecedor para lhe</p><p>prestar serviços por um longo período ou realiza algum contrato que implique uma</p><p>parceria de longo prazo. Se a “saúde” financeira do parceiro (supostamente de longo prazo)</p><p>for muito ruim, é provável que ele descontinue a sua atividade e não consiga honrar os</p><p>compromissos firmados no contrato, que deverá ser encerrado antecipadamente. Esse tipo</p><p>de análise também é aplicado para avaliar o desempenho de um concorrente, ao comparar</p><p>a sua situação com a da própria empresa, identificar a probabilidade de uma guerra de</p><p>preços, entre outras finalidades.</p><p> Verificar a situação de empresas investidas. Um potencial investidor, antes de comprar</p><p>títulos de uma empresa (por exemplo, ações), analisa a sua situação econômico-financeira,</p><p>bem como avalia se o preço de mercado das ações é atrativo ou se está elevado. Da mesma</p><p>forma, um investidor (efetivo) analisa a situação econômico-financeira da empresa na qual</p><p>investe para decidir se deve vender os seus títulos ou mantê-los.</p><p>121</p><p> Verificar a situação econômico-financeira de empresas reguladas. Quando o impacto</p><p>da falência de uma empresa regulada for, potencialmente, muito prejudicial à sociedade</p><p>(em especial, ao mercado regulado), é normal que o órgão regulador acompanhe a “saúde”</p><p>econômico-financeira das empresas reguladas. Por exemplo, isso ocorre com: (a) O Banco</p><p>Central do Brasil (Bacen), que regula as instituições financeiras. Imagine o impacto social</p><p>que a falência de um banco causaria na nossa sociedade! Diversos correntistas e</p><p>investidores perderiam os seus recursos. (b) A Superintendência de Seguros Privados</p><p>(Susep), que regula as seguradoras. Imagine o impacto social que a falência de uma</p><p>seguradora causaria na nossa sociedade! Diversos segurados perderiam o direito de serem</p><p>indenizados caso o sinistro ocorresse. (c) A Agência Nacional de Saúde Suplementar</p><p>(ANS), que regula as operadoras de planos de saúde. Imagine o impacto social que a</p><p>falência de um plano de saúde causaria na nossa sociedade! Diversos beneficiários dos</p><p>planos perderiam o direito de ser atendidos em hospitais, clínicas e laboratórios caso</p><p>ficassem doentes. (d) A Superintendência Nacional da Previdência Complementar, do</p><p>Ministério da Previdência (Previc), que regula os fundos de pensão. Imagine o impacto</p><p>social que a falência de uma entidade fechada de previdência complementar causaria na</p><p>nossa sociedade! Diversos aposentados e pensionistas não conseguiriam mais receber os</p><p>seus proventos, da mesma forma que diversos trabalhadores perderiam o direito de receber</p><p>os proventos no futuro, quando atingissem a idade para a aposentadoria. A rigor, todos</p><p>esses órgãos reguladores acompanham a “saúde” econômico-financeira das empresas que</p><p>regulam e fiscalizam por meio das suas demonstrações contábeis.</p><p>Obtenção das demonstrações contábeis</p><p>Uma vez definido o propósito da análise, é necessário obter as demonstrações contábeis da</p><p>empresa a ser analisada. Afinal, sem ter acesso às demonstrações contábeis, é impossível analisá-las!</p><p>Ainda assim, entendemos ser relevante uma rápida discussão sobre esse ponto.</p><p>Voltemos aos propósitos de análise, já apresentados:</p><p> Mensurar o desempenho das subunidades – o diretor financeiro de uma empresa tem,</p><p>em tese, livre acesso à informação econômico-financeira da empresa na qual trabalha,</p><p>principalmente no que tange ao desempenho dos seus subordinados.</p><p> Analisar a situação creditícia de potencial cliente, parceiro, fornecedor ou</p><p>concorrente – quando um cliente pede prazo para pagamento da sua dívida, ele tem</p><p>interesse em disponibilizar as suas demonstrações contábeis ao vendedor; caso contrário,</p><p>o vendedor não concederá o crédito e exigirá o pagamento à vista. Da mesma forma,</p><p>quando se estabelece uma parceria de longo prazo, o fornecedor ou qualquer outro</p><p>parceiro interessado no negócio disponibiliza as suas informações contábeis; caso</p><p>122</p><p>contrário, a empresa buscará outra pessoa para firmar a parceria. Com relação ao</p><p>concorrente,</p><p>– CPC (conhecida como Pronunciamento CPC 00) e aprovada</p><p>pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM (Deliberação CVM nº 539/08) e pelo Conselho</p><p>Federal de Contabilidade – CFC (Resolução CFC nº 1.121/08), é comentada no Apêndice.</p><p>A adequada compreensão deste módulo é fundamental ao estudo dos Módulos II a V, que</p><p>tratam do reconhecimento contábil de transações típicas que afetam a maior parte das empresas e</p><p>da análise das demonstrações contábeis, respectivamente.</p><p>1 De acordo com os objetivos desta disciplina, a Contabilidade é ensinada como a “linguagem dos negócios”.</p><p>2 Detalhes sobre a empresa podem ser encontrados no seu website: <http://www.raiadrogasil.com.br>.</p><p>MÓDULO I – INTRODUÇÃO ÀS</p><p>DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS DE</p><p>PROPÓSITO GERAL</p><p>10</p><p>Por que estudar Contabilidade?</p><p>“A Contabilidade é a linguagem dos negócios”. Se você não sabe ler o placar, não sabe como</p><p>anda o jogo nem distingue os vencedores dos perdedores.</p><p>Segundo o grande investidor norte-americano Warren Buffett (BUFFETT; CLARK, 2007),3</p><p>existem muitas maneiras de descrever o que está acontecendo com uma empresa. No entanto, seja</p><p>lá o que se diga, sempre se retorna à língua da Contabilidade. Quando a filha do seu amigo</p><p>perguntou que disciplinas cursar na faculdade, ele respondeu: “Contabilidade, a língua dos</p><p>negócios”. Para interpretar as demonstrações financeiras de uma empresa, você tem de saber</p><p>interpretar os números. Para isso, precisa aprender Contabilidade.</p><p>Desse modo, podemos concluir que, por meio da Contabilidade, traçam-se objetivos,</p><p>mensuram-se resultados e avaliam-se desempenhos. É por meio dos relatórios elaborados com base</p><p>no sistema de informações contábeis que administradores decidem o preço a ser praticado, o mix</p><p>de produtos a ser vendido e a tecnologia a ser utilizada.</p><p>Como toda e qualquer linguagem, a Contabilidade utiliza sinais e símbolos cognitivos</p><p>próprios, possui um vocabulário específico e uma “gramática” própria. Não falar a linguagem</p><p>própria, bem como não compreender os seus conceitos fundamentais e os seus princípios</p><p>norteadores torna difícil a interpretação de relatórios e a participação no mundo dos negócios.</p><p>Sem um conhecimento formal de Contabilidade, como seria a análise de uma empresa?</p><p>Como se calcularia a sua capacidade de pagar as dívidas, a sua lucratividade ou mesmo o retorno</p><p>do capital?</p><p>A Demonstração da Controladora – muitas vezes, denominada pelo termo em inglês holding –</p><p>representa a entidade constituída de forma legal que possui participações societárias em</p><p>outras empresas. É essa empresa que possui ações negociadas na Bolsa de Valores, e que paga</p><p>impostos e dividendos.</p><p>Visando a gerar melhor informação, a Contabilidade desenvolveu uma técnica para</p><p>evidenciar informações de uma entidade econômica abstrata, admitindo que a empresa</p><p>controladora e as suas controladas sejam uma única entidade objeto de contabilização. Essa</p><p>aglutinação gera as “Demonstrações Consolidadas”, que propiciam a visão integrada do</p><p>conjunto formado legalmente pelas diversas empresas existentes. Em termos de análise, a</p><p>Demonstração Consolidada tem uma qualidade superior e propicia a comparação com os</p><p>outros conglomerados.</p><p>Nesta edição, reproduzimos apenas as Demonstrações Consolidadas.</p><p>3 BUFFETT, Mary; CLARK, David. O Tao de Warren Buffett: como aplicar a sabedoria e os princípios de investimento do gênio</p><p>das finanças em sua vida. Rio de Janeiro: Sextante, 2007.</p><p>11</p><p>Contabilidade: definição</p><p>A Contabilidade é a ciência social que tem por objetivo medir, para poder INFORMAR, os</p><p>aspectos quantitativos e qualitativos do patrimônio de quaisquer entidades. Constitui um</p><p>instrumento para a gestão e o controle das entidades, além de representar um sustentáculo da</p><p>democracia econômica, já que, pelo seu intermédio, a sociedade é informada sobre o resultado da</p><p>aplicação dos recursos conferidos às entidades.</p><p>A contabilidade é o processo cujas metas são registrar, resumir, classificar e comunicar as</p><p>informações financeiras. O input desse processo são as transações que a empresa efetua. O output</p><p>são as demonstrações contábeis. Constitui-se no grande banco de dados de todas as empresas.</p><p>Genericamente, pode-se dizer que a contabilidade é uma indústria, tendo como matéria-prima os</p><p>dados econômico-financeiros captados pelos registros contábeis e processados de forma ordenada,</p><p>gerando as Demonstrações Contábeis ou Demonstrações Financeiras – como são denominadas pela</p><p>legislação brasileira – como produto final.</p><p>É possível visualizar essa afirmação por meio da seguinte ilustração:</p><p>Figura 1 – Contabilidade: matéria-prima e produto final</p><p>A Contabilidade possui a estrutura lógica conceitual fundamentada nos seus princípios</p><p>norteadores. A capacidade informativa da Contabilidade e a estruturação do sistema contábil são</p><p>viabilizadas por meio da elaboração de um “bom” Plano de Contas, que ordena todas as contas</p><p>utilizadas pela empresa por natureza e viabiliza a definição das áreas da empresa em que são</p><p>incorridos os gastos. Além disso, um “bom” Plano de Contas deve, ainda, permitir o seu</p><p>aprimoramento, bem como a criação de novas contas e detalhamentos (subcontas), sem prejuízo de</p><p>toda a sua estrutura.</p><p>A seguir, apresentamos um exemplo de Plano de Contas hipotético, em que os códigos das</p><p>contas estão organizados até o terceiro nível.</p><p>Nesse exemplo, o primeiro dígito (composto de um algarismo) representa o grupo de contas,</p><p>em que 1 representa as contas de Ativo, 2 representa as contas de Passivo e Patrimônio Líquido e 3</p><p>representa as contas de Receita e Despesa. O segundo dígito (composto de dois algarismos)</p><p>representa os subgrupos, em que 1.01 representa o Ativo Circulante, 1.02 representa o Ativo não</p><p>12</p><p>Circulante, 2.01 representa o Passivo Circulante, e assim por diante. Finalmente, o terceiro dígito</p><p>(composto de dois algarismos) representa as contas.</p><p>Tabela 1 – Plano de Contas hipotético</p><p>código da conta descrição da conta</p><p>1. ativo total</p><p>1.01 ativo circulante</p><p>1.01.01 caixa e equivalentes de caixa</p><p>1.01.02 contas a receber</p><p>1.01.03 estoques</p><p>1.01.04 tributos a recuperar</p><p>1.01.05 despesas antecipadas</p><p>1.02 ativo não circulante</p><p>1.02.01 ativo realizável a longo prazo</p><p>1.02.02 investimentos</p><p>1.02.03 imobilizado</p><p>1.02.04 intangível</p><p>2. passivo + patrimônio líquido</p><p>2.01 passivo circulante</p><p>2.01.01 obrigações sociais e trabalhistas</p><p>2.01.02 fornecedores</p><p>2.01.03 obrigações fiscais</p><p>2.01.04 empréstimos e financiamentos</p><p>2.01.05 outras obrigações</p><p>2.01.06 provisões</p><p>2.02 passivo não circulante</p><p>2.02.01 empréstimos e financiamentos</p><p>2.02.02 outras obrigações</p><p>2.02.03 tributos diferidos</p><p>2.02.04 provisões</p><p>13</p><p>2.03 patrimônio líquido consolidado</p><p>2.03.01 capital social realizado</p><p>2.03.02 reservas de capital</p><p>2.03.03 reservas de lucros</p><p>2.03.04 ajustes de avaliação patrimonial</p><p>2.03.05 participação dos acionistas não controladores</p><p>3. resultado</p><p>3.01 receita de venda de bens ou serviços</p><p>3.02 custo dos bens ou serviços vendidos</p><p>3.03 resultado bruto</p><p>3.04 despesas/receitas operacionais</p><p>3.04.01 despesas com vendas</p><p>3.04.02 despesas gerais e administrativas</p><p>3.04.03 outras receitas operacionais</p><p>3.04.04 outras despesas operacionais</p><p>3.05 resultado antes do resultado financeiro e dos tributos</p><p>3.06 resultado financeiro</p><p>3.06.01 receitas financeiras</p><p>3.06.02 despesas financeiras</p><p>3.07 resultado antes dos tributos sobre o lucro</p><p>3.08 imposto de renda e contribuição social sobre o lucro</p><p>3.09 lucro/prejuízo consolidado do período</p><p>Cada empresa tem liberdade para estabelecer um Plano de Contas customizado para atender</p><p>deverá reclassificar tal direito, reduzindo o</p><p>AC e aumentando o RLP no mesmo montante. Certamente, essa reclassificação não alterará o valor</p><p>do patrimônio e, por conseguinte, não demandará qualquer ajuste no patrimônio líquido. Ainda</p><p>assim, é importante fazer tal reclassificação para se evitarem distorções nos indicadores de liquidez.</p><p>As situações mais comuns que demandam reclassificações são:</p><p> contabilização de direitos realizáveis no longo prazo classificados equivocadamente no</p><p>ativo circulante;</p><p> reconhecimento de obrigações exigíveis no curto prazo classificadas equivocadamente no</p><p>exigível em longo prazo (passivo não circulante);</p><p>125</p><p> reconhecimento de despesas operacionais como se fossem despesas não operacionais</p><p>(outras despesas), aumentando indevidamente o resultado operacional;</p><p> reconhecimento de receitas não operacionais como se fossem operacionais, aumentando o</p><p>resultado operacional indevidamente.</p><p>A literatura de contabilidade oferece diversos exemplos de suspeitas, e até de evidências, do que</p><p>se costuma chamar “Manipulação da Informação Contábil” ou “Gerenciamento de Resultados”.</p><p>Não se pode esquecer que, para desenvolver adequadamente a análise, muitas vezes, é</p><p>necessário atualizar os valores apresentados nas demonstrações contábeis de acordo com a inflação.</p><p>Isso ocorre, principalmente, quando se comparam valores de datas diferentes.</p><p>Vejamos um exemplo: ao comparar a receita bruta de 20X5 (digamos, R$ 1,2 milhão) com</p><p>a Receita Bruta de 20X4 (por exemplo, R$ 1 milhão), de uma mesma empresa, não se deve afirmar</p><p>que houve um acréscimo de 20% na Receita Bruta, antes de corrigir os valores de 20X4 para a</p><p>moeda de 20X5. Digamos que a inflação de 20X5 tenha sido 10%. Nesse contexto, a Receita Bruta</p><p>de 20X4 atualizada para 20X5 seria de R$ 1,1 milhão (R$ 1 milhão x 1,1). Consequentemente, o</p><p>acréscimo da receita seria somente de 9,09% [(R$ 1,2 milhão – R$ 1,1 milhão) ÷ R$ 1,1 milhão],</p><p>bem inferior aos 20% calculados a priori.</p><p>A maior dificuldade de fazer essa atualização monetária não consiste nos cálculos em si, que</p><p>podem ser muito simples (quando estudarmos a análise horizontal),10 mas, sim, na escolha do índice</p><p>de inflação que “melhor” represente a perda de poder aquisitivo da empresa analisada. A escolha de</p><p>índices de inflação equivocados pode distorcer toda a análise. Imagine, no exemplo da comparação</p><p>da receita de 20X5 com a de 20X4, se considerássemos que a inflação de 20X4 tivesse sido de 30%.</p><p>Diríamos que a receita teria sofrido uma queda, em termos reais, de -7,69% [(R$ 1,2 milhão –</p><p>R$ 1,3 milhão) / R$ 1,3 milhão], bem inferior aos acréscimos de 20% (nominais) e 9,09% (reais)</p><p>calculados anteriormente.</p><p>Informações detalhadas sobre a inflação no Brasil podem ser obtidas na Revista Conjuntura</p><p>Econômica, editada pela Fundação Getulio Vargas mensalmente, bem como em sites</p><p>especializados:</p><p> <https://portalibre.fgv.br/fgv-dados></p><p> <www.ibge.gov.br></p><p> <www.fipe.org.br></p><p>10 É importante ressaltar que a correção monetária pode ser reconhecida nas demonstrações contábeis de forma muito</p><p>mais adequada (e complexa) do que a abordada nesta apostila: a chamada Correção Monetária Integral. Sobre tal assunto,</p><p>os seguintes livros são sugeridos: MARTINS, Eliseu. Análise da correção monetária das demonstrações financeiras. São</p><p>Paulo: Atlas, 1993; ALMEIDA, Marcelo Cavalcanti. Auditoria da correção monetária integral das demonstrações financeiras.</p><p>São Paulo: Atlas, 1988.</p><p>126</p><p>Definição de parâmetros</p><p>Uma vez que se conhece a empresa e se confia nas suas demonstrações contábeis – ajustadas</p><p>e reclassificadas, ou não –, é necessário conhecer um pouco sobre o seu ramo de atuação, o seu</p><p>histórico ou sobre as estimativas que se tinha a respeito do futuro da empresa, dependendo do</p><p>propósito da análise. Todo esse conhecimento adicional é necessário para se definirem os</p><p>parâmetros com os quais a situação e o desempenho efetivo da empresa serão comparados.</p><p>Nesse sentido, dependendo do propósito da análise, pode-se:</p><p> comparar a empresa com a média do setor econômico em que ela atua. Por exemplo, imagine</p><p>que vamos analisar uma empresa siderúrgica, por hipótese a Companhia Siderúrgica Nacional</p><p>(CSN). Deveríamos calcular de outras empresas siderúrgicas – como a Vicunha, a Gerdau e a</p><p>Usiminas – todos os índices que calcularíamos da CSN. Dessa forma, seríamos capazes de</p><p>identificar quais seriam a situação econômico-financeira e o desempenho médio das principais</p><p>empresas desse setor econômico para, então, compararmos a situação e o desempenho efetivos</p><p>da CSN (empresa hipoteticamente analisada).</p><p> comparar a empresa (hoje) com a empresa no passado. Vejamos, ainda, o exemplo</p><p>hipotético da análise da CSN. Poderíamos desenvolver todos os cálculos que fazemos de</p><p>2005, para diversos anos mais remotos. Digamos 20X4, 20X3, 20X2, 20X1 e 20X0. Dessa</p><p>forma, poderíamos comparar a situação e o desempenho atuais da CSN com o seu próprio</p><p>desempenho e a situação econômico-financeira em períodos anteriores.</p><p> comparar a empresa (hoje) com o que havia sido estimado (orçamento). Tendo-se acesso</p><p>a informações gerenciais, é possível comparar o desempenho efetivo com o que havia sido</p><p>estimado no passado. Por exemplo, tendo-se acesso aos planos de investimentos e aos</p><p>orçamentos detalhados, o analista é capaz de avaliar se o desempenho efetivo foi adequado</p><p>ao que se esperava.</p><p>Certamente, a definição de parâmetros é uma etapa fundamental da análise e, talvez, uma das</p><p>mais subjetivas e “perigosas”. Se o parâmetro for mal definido, pode-se chegar a conclusões equivocadas,</p><p>mesmo se todas as demais etapas da análise forem desenvolvidas com o maior rigor técnico.</p><p>Vejamos um exemplo alheio à contabilidade. Todos nós sabemos que 37oC (Celsius) é um</p><p>parâmetro para definir se uma pessoa adulta está febril. Imagine uma enfermeira que, dispondo de</p><p>um termômetro de última geração, meça a temperatura de um paciente e verifique que ele está com</p><p>39,5oC. No entanto, ao analisar o resultado, a enfermeira se engana em relação ao parâmetro,</p><p>acreditando que só há febre se a temperatura for superior a 40oC. Ela dirá ao trêmulo paciente que</p><p>ele está ótimo e que pode voltar às suas atividades normais, quando, na verdade, o paciente necessita</p><p>de cuidados médicos.</p><p>127</p><p>É possível obter parâmetros para algumas medidas econômico-financeiras em sites de</p><p>corretoras de valores mobiliários e em revistas especializadas. Exemplos são:</p><p> <www.agorasenior.com.br></p><p> <www.infoinvest.com.br></p><p> Revista Conjuntura Econômica – suplemento 500 Maiores Empresas</p><p> Revista Exame – suplemento Maiores e Melhores e Jornal Valor Econômico – suplementos</p><p>Valor 1000.</p><p>Cálculos</p><p>A análise das demonstrações contábeis é feita por três métodos basicamente: a análise vertical</p><p>(ou de estrutura), a análise horizontal (ou de comportamento) e a análise por indicadores (ou</p><p>quocientes). Nesta unidade, são apresentados os três métodos, desenvolvendo-se o exemplo da</p><p>Droga Raia.</p><p>Análise vertical</p><p>A análise vertical tem por finalidade verificar a estrutura patrimonial e de resultado da</p><p>entidade. É utilizada para avaliar a relação entre as contas de uma única demonstração contábil. A</p><p>conta que representa a totalidade da demonstração contábil é tida como 100%, enquanto os outros</p><p>itens são expressos em percentagem dessa conta. Desse modo, trata-se de uma metodologia de</p><p>análise que mostra a participação percentual de cada um dos itens das demonstrações contábeis em</p><p>relação ao somatório do seu grupo.</p><p>Com esse instrumento, podemos visualizar, de modo objetivo e direto, a representatividade</p><p>de cada componente das demonstrações, identificando aqueles que mais contribuem para a</p><p>formação do conjunto objeto da análise.</p><p>A análise vertical é de grande importância, principalmente, quando aplicada à</p><p>demonstração de resultado do exercício, porque possibilita detectar a composição percentual</p><p>das receitas e despesas, evidenciando aquelas que mais influenciaram</p><p>na formação do lucro ou</p><p>do prejuízo.</p><p>A análise vertical da DRE considera a receita como 100%, uma vez que é da receita que todas</p><p>as despesas são subtraídas até se chegar ao resultado do período (lucro ou prejuízo). Vejamos a</p><p>análise vertical da DRE da Droga Raia, de 2022.</p><p>128</p><p>Tabela 43 – Análise vertical da DRE da Droga Raia (2022)</p><p>A B C D E</p><p>1 Droga Raia 2022 2022 fórmula fórmula</p><p>2 demonstração do resultado do</p><p>exercício R$ milhares AV%</p><p>Excel calculadora</p><p>3 receita de venda de bens e/ou</p><p>serviços 29.067.380 100,0% =B3/$B$3 = 29067380 ÷ 29067380 x 100</p><p>4 custo dos bens e/ou serviços</p><p>vendidos -20.257.912 -69,7% =B4/$B$3 = -20257912 ÷ 29067380 x 100</p><p>5 resultado bruto 8.809.468 30,3% =B5/$B$3 = 8809468 ÷ 29067380 x 100</p><p>6 despesas operacionais -6.970.144 -24,0% =B6/$B$3 = -6970144 ÷ 29067380 x 100</p><p>7 resultado antes do resultado</p><p>financeiro e dos tributos 1.839.324 6,3% =B7/$B$3 = 1839324 ÷ 29067380 x 100</p><p>8 resultado financeiro -646.115 -2,2% =B8/$B$3 = -646115 ÷ 29067380 x 100</p><p>9 resultado antes dos tributos sobre o</p><p>lucro 1.193.209 4,1% =B9/$B$3 = 1193209 ÷ 29067380 x 100</p><p>10 imposto de renda e contribuição</p><p>social sobre o lucro -178.241 -0,6% =B10/$B$3 = -178241 ÷ 29067380 x 100</p><p>11 lucro/prejuízo consolidado do</p><p>período 1.014.968 3,5% =B11/$B$3 = 1014968 ÷ 29067380 x 100</p><p>Nesse exemplo, identificamos que o custo das mercadorias vendidas (CMV) corresponde a</p><p>69,7% da Receita, as Despesas Operacionais correspondem a 24% da Receita, enquanto o Lucro</p><p>Líquido corresponde a 3,5%, isto é, a empresa tem uma lucratividade líquida de 3,5%, em 2022.</p><p>Quando a análise vertical é aplicada ao Balanço Patrimonial, possibilita detectar a composição</p><p>percentual dos tipos de aplicações e as origens de recursos que compõem o patrimônio da entidade.</p><p>A análise vertical do BP considera o Ativo total como 100%, já que este corresponde ao</p><p>patrimônio total da entidade. Vejamos a análise vertical do BP da Droga Raia, em 2022.</p><p>129</p><p>Tabela 44 – Análise vertical do BP da Droga Raia (2022)</p><p>A B C D E</p><p>1 Droga Raia 2022 2022 fórmula fórmula</p><p>2 balanço patrimonial R$ milhares AV% Excel calculadora</p><p>3 ativo total 17.185.306 100,0% =B3/$B$3 = 17185306 ÷ 17185306 x 100</p><p>4 ativo circulante 9.577.068 55,7% =B4/$B$3 = 9577068 ÷ 17185306 x 100</p><p>5 ativo não circulante 7.608.238 44,3% =B5/$B$3 = 7608238 ÷ 17185306 x 100</p><p>6 ativo realizável no longo prazo 290.791 1,7% =B6/$B$3 = 290791 ÷ 17185306 x 100</p><p>7 investimentos 4.479 0,0% =B7/$B$3 = 4479 ÷ 17185306 x 100</p><p>8 imobilizado 5.574.857 32,4% =B8/$B$3 = 5574857 ÷ 17185306 x 100</p><p>9 intangível 1.738.111 10,1% =B9/$B$3 = 1738111 ÷ 17185306 x 100</p><p>10 passivo + patrimônio líquido 17.185.306 100,0% =B10/$B$3 = 17185306 ÷ 17185306 x 100</p><p>11 passivo circulante 6.367.168 37,1% =B11/$B$3 = 6367168 ÷ 17185306 x 100</p><p>12 passivo não circulante 5.415.197 31,5% =B12/$B$3 = 5415197 ÷ 17185306 x 100</p><p>13 patrimônio líquido consolidado 5.402.941 31,4% =B13/$B$3 = 5402941 ÷ 17185306 x 100</p><p>Nesse exemplo, identificamos que 55,7% do patrimônio é aplicado em Ativos Realizáveis no</p><p>Curto Prazo (Ativo Circulante – AC), 1,7% em Ativos Realizáveis em Longo Prazo (RLP), 32,4%</p><p>em Imobilizado e 10,1% em Intangível. Enquanto isso, identificamos que o patrimônio é</p><p>financiado, 37,1% com dívidas que vencem no curto prazo (Passivo Circulante – PC), 31,5% com</p><p>dívidas que vencem no longo prazo (Passivo Não Circulante – PÑC) e 31,4% com capitais próprios</p><p>da entidade (Patrimônio Líquido – PL).</p><p>Análise horizontal</p><p>A análise horizontal tem por finalidade verificar o comportamento do patrimônio e do</p><p>resultado da entidade. É utilizada para avaliar a relação, ao longo do tempo, de cada conta das</p><p>demonstrações contábeis entre, no mínimo, dois períodos. Os valores da demonstração contábil de</p><p>data mais remota são tidos como base, enquanto os valores dos anos mais recentes são expressos em</p><p>percentagem, em relação ao valor do ano anterior.</p><p>Trata-se de metodologia de análise que mostra o comportamento – evolução ou involução –</p><p>de cada um dos itens das demonstrações contábeis, período após período, tal qual a análise de uma</p><p>série histórica.</p><p>Vejamos a análise horizontal da DRE da Droga Raia, em que se comparam os valores de 2022</p><p>com os de 2021:</p><p>130</p><p>Tabela 45 – Análise horizontal da DRE da Droga Raia (2022-2021)</p><p>A B C D E F</p><p>1 Droga Raia 2022 2021 2022-2021 fórmula fórmula</p><p>2 demonstração do resultado do</p><p>exercício R$ milhares R$ milhares AH%</p><p>Excel calculadora</p><p>3 receita de venda de bens ou</p><p>serviços 29.067.380 24.127.002 20,5% =B3/C3-1</p><p>= (29067380 ÷ 24127002 - 1) x</p><p>100</p><p>4 custo dos bens ou serviços</p><p>vendidos -20.257.912 -16.920.834 19,7% =B4/C4-1</p><p>= (-20257912 ÷ -16920834 - 1) x</p><p>100</p><p>5 resultado bruto 8.809.468 7.206.168 22,2% =B5/C5-1 = (8809468 ÷ 7206168 - 1) x 100</p><p>6 despesas operacionais</p><p>-6.970.144 -5.839.696 19,4% =B6/C6-1</p><p>= (-6970144 ÷ -5839696 - 1) x</p><p>100</p><p>7 resultado antes do resultado</p><p>financeiro e dos tributos 1.839.324 1.366.472 34,6% =B7/C7-1 = (1839324 ÷ 1366472 - 1) x 100</p><p>8 resultado financeiro -646.115 -379.210 70,4% =B8/C8-1 = (-646115 ÷ -379210 - 1) x 100</p><p>9 resultado antes dos tributos</p><p>sobre o lucro 1.193.209 987.262 20,9% =B9/C9-1 = (1193209 ÷ 987262 - 1) x 100</p><p>10 imposto de renda e contribuição</p><p>social sobre o lucro -178.241 -223.129 -20,1% =B10/C10-1 = (-178241 ÷ -223129 - 1) x 100</p><p>11 lucro/prejuízo consolidado do</p><p>período 1.014.968 764.133 32,8% =B11/C11-1 = (1014968 ÷ 764133 - 1) x 100</p><p>Nesse exemplo, verifica-se que a Receita aumentou 20,5%, o que, associado ao aumento do</p><p>CMV em 19,7%, provocou o aumento do Lucro Bruto em 22,2%. O Lucro antes de resultados</p><p>financeiros e tributos teve aumento nominal de 34,6%. Na última linha, percebe-se que o Lucro</p><p>Líquido aumentou 32,8% entre 2021 e 2022.</p><p>Ocorre que essa análise é enganosa, uma vez que ignora o impacto da inflação – perda do</p><p>poder aquisitivo da moeda.</p><p>Em função de a análise horizontal comparar valores de datas diferentes, é necessário, antes de</p><p>desenvolver os seus cálculos, anular o efeito da inflação sobre os números apresentados nas</p><p>Demonstrações Contábeis analisadas. Isso pode ocorrer de duas formas:</p><p> Pela atualização dos valores obtidos nas Demonstrações Contábeis tradicionais (apuradas</p><p>em valores nominais). Essa alternativa não chega a ser complicada; basta utilizar uma</p><p>simples planilha eletrônica para fazer os cálculos. O verdadeiro problema encontrado pelo</p><p>analista é a escolha do índice de preços. Por exemplo: IGP-M, IGP-DI, IPC, IPA, IPC-</p><p>A, INCC, variação cambial, variação do preço do barril de petróleo tipo Brent, variação</p><p>do preço da saca de café, etc. Qual deles melhor reflete a perda de poder aquisitivo sofrida</p><p>pela empresa sob análise?</p><p>131</p><p> Pela obtenção das Demonstrações Contábeis apuradas em Moeda de Poder Aquisitivo</p><p>Constante, ou seja, de acordo com a Correção Monetária Integral. Essa seria a melhor</p><p>alternativa para o analista, não fosse pelo fato de a CVM ter desobrigado as empresas a</p><p>divulgar as suas demonstrações contábeis por esse critério (Instrução CVM nº 248/96).</p><p>Em vista disso, a análise horizontal é efetuada tomando-se por base dois ou mais períodos,</p><p>cujos valores são expressos em moeda constante e em valores monetários da mesma data, tendo por</p><p>objetivo observar a evolução ou involução dos seus componentes.</p><p>Sobre a Correção Monetária Integral (CMI), sugerem-se:</p><p>ALMEIDA, Marcelo Cavalcanti. Auditoria da correção monetária integral das</p><p>demonstrações financeiras. São Paulo: Atlas, 1988.</p><p>MARTINS, Eliseu. Análise da correção monetária das demonstrações financeiras. São</p><p>Paulo: Atlas, 1993.</p><p>Novamente, vejamos o exemplo de aplicação da análise horizontal na Demonstração do</p><p>Resultado do Exercício da Droga Raia, em que se comparam os valores de 2022 com os de 2021,</p><p>considerando-se que a inflação medida pelo IGP-M da FGV, entre 31 de dezembro de 2021 e 31 de</p><p>dezembro de 2022, seja um bom parâmetro para medir a perda de poder aquisitivo</p><p>da empresa. Desse</p><p>modo, vamos atualizar os valores de 2021 em 5,451%.</p><p>Em primeiro lugar, é necessário atualizar os valores de 2021, que estavam expressos em moeda</p><p>de 2021 e, por isso, representavam o poder aquisitivo de 31 de dezembro de 2021, $2021, para</p><p>moeda de poder aquisitivo em 31 de dezembro de 2022, $2022:</p><p>132</p><p>Tabela 46 – DRE da Droga Raia 2021 ajustada para 2022 pelo IGP-M (FGV)</p><p>A B C D E F</p><p>1 Droga Raia 2022 2021 2021 fórmula fórmula</p><p>2 demonstração do resultado do</p><p>exercício $2022 $2021 $2022</p><p>Excel calculadora</p><p>3 receita de venda de bens e/ou serviços</p><p>29.067.380 24.127.002 25.442.234 =C3*(1+$C$12)</p><p>= 24127002 x (1 +</p><p>0,05451)</p><p>4 custo dos bens e/ou serviços vendidos</p><p>-20.257.912 -16.920.834 -17.843.237 =C4*(1+$C$12)</p><p>= -16920834 x (1 +</p><p>0,05451)</p><p>5 resultado bruto</p><p>8.809.468 7.206.168 7.598.997 =C5*(1+$C$12)</p><p>= 7206168 x (1 +</p><p>0,05451)</p><p>6 despesas operacionais</p><p>-6.970.144 -5.839.696 -6.158.035 =C6*(1+$C$12)</p><p>= -5839696 x (1 +</p><p>0,05451)</p><p>7 resultado antes do resultado financeiro</p><p>e dos tributos 1.839.324 1.366.472 1.440.962 =C7*(1+$C$12)</p><p>= 1366472 x (1 +</p><p>0,05451)</p><p>8 resultado financeiro</p><p>-646.115 -379.210 -399.882 =C8*(1+$C$12)</p><p>= -379210 x (1 +</p><p>0,05451)</p><p>9 resultado antes dos tributos sobre o</p><p>lucro 1.193.209 987.262 1.041.080 =C9*(1+$C$12)</p><p>= 987262 x (1 +</p><p>0,05451)</p><p>10 imposto de renda e contribuição social</p><p>sobre o lucro -178.241 -223.129 -235.292 =C10*(1+$C$12)</p><p>= -223129 x (1 +</p><p>0,05451)</p><p>11 lucro consolidado do período</p><p>1.014.968 764.133 805.788 =C11*(1+$C$12)</p><p>= 764133 x (1 +</p><p>0,05451)</p><p>12 inflação média medida pelo IGP-M/FGV 5,451%</p><p>Uma vez que se tenham atualizado os valores do ano mais remoto (2021) ao poder aquisitivo</p><p>do ano mais recente (2022), é que se deve desenvolver a análise horizontal. Dessa forma, comparam-</p><p>se os valores do ano mais recente (2022) com os valores do ano mais remoto, corrigidos para a</p><p>moeda de 2022 (2021 em $2022), como veremos a seguir:</p><p>133</p><p>Tabela 47 – Análise horizontal da DRE da Droga Raia (2022-2021): ajustado pelo IGP-M (FGV)</p><p>A B C D E F G</p><p>1 Droga Raia</p><p>2022 2021 2021</p><p>2022-</p><p>2021</p><p>fórmula fórmula</p><p>2 demonstração do</p><p>resultado do exercício $2022 $2021 $2022 AH%</p><p>Excel calculadora</p><p>3 receita de venda de bens</p><p>ou serviços 29.067.380 24.127.002 25.442.234 14,2% =B3/D3-1</p><p>= (29067380 ÷ 25442234 - 1) x</p><p>100</p><p>4 custo dos bens ou</p><p>serviços vendidos -20.257.912 -16.920.834 -17.843.237 13,5% =B4/D4-1</p><p>= (-20257912 ÷ -17843237 - 1)</p><p>x 100</p><p>5 resultado bruto</p><p>8.809.468 7.206.168 7.598.997 15,9% =B5/D5-1</p><p>= (8809468 ÷ 7598997 - 1) x</p><p>100</p><p>6 despesas operacionais</p><p>-6.970.144 -5.839.696 -6.158.035 13,2% =B6/D6-1</p><p>= (-6970144 ÷ -6158035 - 1) x</p><p>100</p><p>7 resultado antes do</p><p>resultado financeiro e dos</p><p>tributos 1.839.324 1.366.472 1.440.962 27,6% =B7/D7-1</p><p>= (1839324 ÷ 1440962 - 1) x</p><p>100</p><p>8 resultado financeiro -646.115 -379.210 -399.882 61,6% =B8/D8-1 = (-646115 ÷ -399882 - 1) x 100</p><p>9 resultado antes dos</p><p>tributos sobre o lucro 1.193.209 987.262 1.041.080 14,6% =B9/D9-1</p><p>= (1193209 ÷ 1041080 - 1) x</p><p>100</p><p>10 imposto de renda e</p><p>contribuição social sobre</p><p>o lucro -178.241 -223.129 -235.292 -24,2% =B10/D10-1 = (-178241 ÷ -235292 - 1) x 100</p><p>11 lucro consolidado do</p><p>período 1.014.968 764.133 805.788 26,0% =B11/D11-1 = (1014968 ÷ 805788 - 1) x 100</p><p>12 inflação média medida</p><p>pelo IGP-M (FGV) 5,451%</p><p>Com a atualização monetária, percebe-se que a Receita aumentou 14,2%, o que, associado</p><p>ao aumento real do CMV em 13,5%, provocou o aumento real do Lucro Bruto em 15,9%. O</p><p>Lucro antes do resultado financeiro e dos tributos aumentou 27,6%. Na última linha, percebe-se</p><p>que o Lucro Líquido teve aumento real de 26% em 2022, comparado com 2021, ajustado pelo</p><p>IGP-M (FGV). Com a atualização monetária, tem-se o que é conhecido como “variação real”, ou</p><p>seja, já expurgado o efeito inflacionário.</p><p>Esses resultados são, significativamente, diferentes daqueles obtidos sem se atualizarem os</p><p>valores de 2021, que sugerem ter ocorrido um aumento de 20,5% na Receita e um aumento de</p><p>32,8% no Lucro Líquido. Essa é a diferença entre variação nominal e variação real.11 Tal diferença</p><p>é proporcional à variação de preços no período, que foi de 5,451%).</p><p>11 A variação nominal desconsidera os efeitos da inflação.</p><p>134</p><p>Grande parte do aumento da receita e do lucro pode ser atribuída à inauguração de 260</p><p>farmácias (e ao fechamento de somente 53 farmácias) e às combinações de negócios realizadas em</p><p>2022, quando a Droga Raia adquiriu o controle das seguintes entidades: Eloopz Serviços de</p><p>Promoção de Vendas, SafePill e Manipulaê.</p><p>Quando a análise horizontal é aplicada ao Balanço Patrimonial, é possível detectar o</p><p>comportamento (a evolução ou a involução) de cada aplicação e a origem de recursos que compõem</p><p>o patrimônio da entidade.</p><p>Vejamos a análise horizontal do Balanço Patrimonial da Droga Raia, tendo sido os valores de</p><p>2021 atualizados pelo IGP-M (FGV).</p><p>Tabela 48 – Análise horizontal do Balanço Patrimonial da Droga Raia: valores de 2021 atualizados</p><p>pelo IGP-M (FGV)</p><p>A B C D E F G</p><p>1 2022 2021 2021 2022-2021</p><p>2 Droga Raia $2022 $2021 $2022 AH% fórmula fórmula</p><p>3 balanço patrimonial R$ milhares R$ milhares R$ milhares AH% Excel calculadora</p><p>4 ativo total</p><p>17.185.306 14.775.506 15.580.961 10,3% =B4/D4-1</p><p>= (17185306 ÷ 15580961 - 1) x</p><p>100</p><p>5 ativo circulante 9.577.068 7.718.924 8.139.705 17,7% =B5/D5-1 = 9577068 ÷ 17185306 x 100</p><p>6 ativo não circulante 7.608.238 7.056.582 7.441.256 2,2% =B6/D6-1 = 7608238 ÷ 17185306 x 100</p><p>7 ativo realizável no longo</p><p>prazo 290.791 239.914 252.992 14,9% =B7/D7-1 = 290791 ÷ 17185306 x 100</p><p>8 investimentos 4479 830 875 411,9% =B8/D8-1 = 4479 ÷ 17185306 x 100</p><p>9 imobilizado 5.574.857 5.329.587 5.620.118 -0,8% =B9/D9-1 = 5574857 ÷ 17185306 x 100</p><p>10 intangível 1.738.111 1.486.251 1.567.271 10,9% =B10/D10-1 = 1738111 ÷ 17185306 x 100</p><p>11 passivo + patrimônio</p><p>líquido 17.185.306 14.775.506 15.580.961 10,3% =B11/D11-1 = 17185306 ÷ 17185306 x 100</p><p>12 passivo circulante 6.367.168 5.896.193 6.217.611 2,4% =B12/D12-1 = 6367168 ÷ 17185306 x 100</p><p>13 passivo não circulante 5.415.197 4.160.511 4.387.312 23,4% =B13/D13-1 = 5415197 ÷ 17185306 x 100</p><p>14 patrimônio líquido</p><p>consolidado 5.402.941 4.718.802 4.976.037 8,6% =B14/D14-1 = 5402941 ÷ 17185306 x 100</p><p>15 inflação média medida</p><p>pelo IGP-M/FGV 5,451%</p><p>Pela análise horizontal do Balanço Patrimonial, percebe-se que o patrimônio (Ativo total, ou</p><p>Passivo + Patrimônio Líquido) teve acréscimo real de 10,3% entre 2021 e 2022. O Ativo Circulante</p><p>aumentou 17,7%, o Ativo Realizável a Longo Prazo aumentou 14,9%, o Imobilizado manteve-se</p><p>135</p><p>praticamente estável (-0,8%), e o Intangível aumentou 10,9%, enquanto o Passivo Circulante</p><p>aumentou 2,4%, o Passivo não Circulante aumentou 23,4%, e o Patrimônio Líquido teve</p><p>acréscimo real de 8,6%.</p><p>Grande parte do aumento dos saldos das contas de ativo e passivo pode ser atribuída à</p><p>inauguração de 260 farmácias (e ao fechamento de somente 53 farmácias) e às combinações de</p><p>negócios realizadas em 2022, quando a Droga Raia adquiriu o controle das seguintes entidades:</p><p>Eloopz Serviços de Promoção de Vendas, SafePill e Manipulaê.</p><p>Análise por indicadores</p><p>Para o exame da situação econômico-financeira de uma empresa, com vista à avaliação da sua</p><p>capacidade e qualidade, em termos de LIQUIDEZ, ENDIVIDAMENTO e RENTABILIDADE, o</p><p>analista deve-se valer das Demonstrações Contábeis de, pelo menos, três exercícios sucessivos, e deles</p><p>extrair os diversos indicadores que lhe forneçam as informações desejadas.</p><p>O objetivo da análise definirá não só o tipo de INDICADORES a serem utilizados, mas</p><p>também a postura do analista.</p><p>Ao gestor da empresa importa, fundamentalmente, detectar problemas e pontos fortes existentes</p><p>para, a partir daí, traçar uma estratégia no sentido de corrigir as falhas ou aproveitar as oportunidades.</p><p>Já ao investidor ou credor externo interessa saber da viabilidade ou não da aplicação</p><p>de recursos na</p><p>empresa. A ótica do analista é que determinará os caminhos a serem trilhados.</p><p>Em um empréstimo de capital de giro de curto prazo, por exemplo, o gerente de um</p><p>banco – basicamente, interessado no retorno seguro do capital emprestado – privilegiará os</p><p>aspectos de LIQUIDEZ e ENDIVIDAMENTO. Já em se tratando de empréstimo de longo</p><p>prazo, o gerente também dará ênfase à eficiência operacional da empresa, ou seja, ao enfoque</p><p>da RENTABILIDADE.</p><p>O principal instrumento utilizado para a análise da situação econômico-financeira de uma</p><p>empresa é o índice, ou seja, o resultado da comparação entre grandezas.</p><p>Os índices estabelecem a relação entre contas ou grupo de contas das Demonstrações Contábeis,</p><p>visando a evidenciar determinado aspecto da situação econômico-financeira de uma empresa. Desse</p><p>modo, os índices servem como termômetro na avaliação da “saúde financeira” da empresa.</p><p>No entanto, o índice não deve ser considerado isoladamente, mas, sim, sob o aspecto</p><p>dinâmico e dentro de contexto mais amplo, em que outros indicadores e variáveis devem ser</p><p>ponderados de forma conjugada.</p><p>Por exemplo, um elevado grau de endividamento não significa, necessariamente, que a</p><p>empresa esteja à beira da insolvência. Há empresas que convivem com níveis altos de</p><p>endividamento sem comprometer a sua solvência, já que há outros fatores que podem atenuar</p><p>essa condição.</p><p> Para melhor compreensão da influência de cada indicador na análise, faremos o seu estudo</p><p>em três grupos:</p><p>136</p><p> Indicadores de Liquidez – medem a posição financeira da empresa, em termos de</p><p>capacidade de pagamento.</p><p> Indicadores de Endividamento – avaliam a segurança oferecida pela empresa aos capitais</p><p>alheios e revelam a sua política de obtenção de recursos.</p><p> Indicadores de Rentabilidade – avaliam o desempenho global da empresa, em termos de</p><p>capacidade de remunerar o capital nela aplicado.</p><p>Considere as demonstrações contábeis da Droga Raia, cujos dados servirão de base para o</p><p>estudo dos índices econômico-financeiros.</p><p>Indicadores de liquidez</p><p>Os índices de liquidez são medidas de avaliação da capacidade financeira da empresa em</p><p>satisfazer os compromissos para com terceiros. Evidenciam quanto a empresa dispõe de bens e</p><p>direitos, realizáveis em determinado período, em relação às obrigações exigíveis, no mesmo período.</p><p>Entre os índices de liquidez mais conhecidos, estão a Liquidez Corrente e a Liquidez Geral. Cada</p><p>um fornece informações diferentes sobre a situação da empresa.</p><p>De maneira geral, define-se que, QUANTO MAIOR a liquidez, MELHOR será a situação</p><p>financeira da empresa. No entanto, devemos ter em mente que um alto índice de liquidez não</p><p>representa, necessariamente, boa saúde financeira. O cumprimento das obrigações nas datas</p><p>previstas depende de uma adequada administração dos prazos de recebimento e de pagamento.</p><p>Desse modo, uma empresa que possui altos índices de liquidez, mas mantém mercadorias</p><p>estocadas por períodos elevados, recebe com atraso as suas vendas a prazo ou mantém duplicatas</p><p>incobráveis na conta Clientes, poderá ter problemas de liquidez, ou seja, poderá ter dificuldades</p><p>para honrar os seus compromissos nos vencimentos.</p><p>Liquidez corrente</p><p>A Liquidez Corrente (LC) corresponde ao quociente entre o Ativo Circulante (AC) e o</p><p>Passivo Circulante (PC).</p><p>LC =</p><p>AC</p><p>PC</p><p>A LC é um dos índices mais conhecidos e utilizados na análise de balanços. Indica quanto a</p><p>empresa poderá dispor em recursos de curto prazo (disponibilidades, clientes, estoques, etc.) para</p><p>pagar as suas dívidas circulantes (fornecedores, empréstimos e financiamentos de curto prazo,</p><p>contas a pagar, etc.).</p><p>137</p><p>Liquidez geral</p><p>A Liquidez Geral (LG) corresponde ao quociente entre o somatório do Ativo Circulante (AC)</p><p>com o Realizável em Longo Prazo (RLP), e o somatório do Passivo Circulante (PC) com o Passivo</p><p>não Circulante (PÑC).</p><p>LG =</p><p>AC + RLP</p><p>PC + PÑC</p><p>A liquidez geral é uma medida da capacidade de pagamento de todo o passivo exigível da</p><p>empresa (PC + PÑC), utilizando-se todos os ativos realizáveis da entidade (AC + RLP). Esse índice</p><p>indica quanto a empresa poderá dispor de recursos circulantes e de longo prazo para honrar todos</p><p>os seus compromissos assumidos com terceiros (circulantes e de longo prazo).</p><p>Vejamos os cálculos dos Indicadores de Liquidez da Droga Raia, em 2022:</p><p>Tabela 49 – Indicadores de liquidez da Droga Raia (2022)</p><p>A B C D</p><p>1 Droga Raia 2022</p><p>2 balanço patrimonial R$ milhares</p><p>3 ativo total 17.185.306</p><p>4 ativo circulante 9.577.068</p><p>5 ativo não circulante 7.608.238</p><p>6 ativo realizável no longo</p><p>prazo 290.791</p><p>7 Investimentos –</p><p>participações societárias 4.479</p><p>8 imobilizado 5.574.857</p><p>9 intangível 1.738.111</p><p>10 passivo + patrimônio</p><p>líquido 17.185.306</p><p>11 passivo circulante 6.367.168</p><p>12 passivo não circulante 5.415.197</p><p>13 patrimônio líquido</p><p>consolidado 5.402.941</p><p>14</p><p>138</p><p>15 LIQUIDEZ 2022 fórmula Excel fórmula</p><p>calculadora</p><p>16 liquidez corrente (LC) 1,50 =B4/B11 = 9577068 ÷ 6367168</p><p>17 liquidez geral (LG)</p><p>0,84 =(B4+B6)/(B11+B12)</p><p>= (9577068 + 290791)</p><p>÷ (6367168 +</p><p>5415197)</p><p>Em vista disso, a Droga Raia apresenta:</p><p> liquidez corrente de 1,50, isto é, a empresa poderá dispor de R$ 1,50 de AC (bens e</p><p>direitos de curto prazo) para cada R$ 1,00 de PC (obrigações de curto prazo) e</p><p> liquidez geral de 0,84, ou seja, para cada R$ 1,00 de dívidas totais (de curto e longo prazos)</p><p>a empresa poderá dispor de R$ 0,84 de recursos realizáveis no curto e no longo prazo.</p><p>Desse modo, a priori, conseguirá pagar todas as dívidas de curto prazo, mas não conseguirá</p><p>pagar todas as dívidas de longo prazo, utilizando somente os ativos realizáveis nos mesmos</p><p>prazos.</p><p>A análise da liquidez geral pode ser enganosa, pois o prazo de vencimento (exigibilidade) dos</p><p>passivos não circulantes pode ser significativamente diferente do prazo de vencimento (realização)</p><p>dos ativos realizáveis a longo prazo. Portanto, o fato de a liquidez geral ser diferente de 1,00 pode</p><p>não ter significado. A sugestão seria considerar um prazo predeterminado (por exemplo, 3 anos),</p><p>tanto para o Ativo Realizável a longo prazo (numerador) quanto para o Passivo não Circulante</p><p>(denominador); assim, o quociente poderia ser adequadamente interpretado.</p><p>Indicadores de endividamento</p><p>Os índices de endividamento avaliam a “segurança” que a empresa oferece aos capitais de</p><p>terceiros, e revelam a sua política de obtenção de recursos e de alocação destes nos diversos itens</p><p>do Ativo.</p><p>O Ativo de uma empresa é financiado pelos capitais próprios (PL) e por capitais de terceiros</p><p>(Passivo). Quanto maior for a participação de capitais de terceiros nos negócios de uma empresa,</p><p>maior será o risco a que os terceiros estão expostos.</p><p>A interpretação básica dos índices de endividamento é: QUANTO MAIOR, PIOR.</p><p>Endividamento geral</p><p>O Endividamento Geral (EG) corresponde ao quociente entre o somatório do Passivo</p><p>Circulante (PC) com o Passivo Não Circulante (PÑC) pelo Ativo total.</p><p>139</p><p>EG =</p><p>PC + PÑC</p><p>Ativo</p><p>Esse índice revela o grau de endividamento total da empresa. Expressa a proporção de recursos</p><p>de terceiros financiando o Ativo e, por diferença (1 – EG), a fração do Ativo que está sendo</p><p>financiada pelos recursos próprios.</p><p>A análise desse indicador, por diversos períodos sucessivos, mostra a política de obtenção de</p><p>recursos da empresa, isto é, se a empresa vem financiando o seu Ativo predominantemente com</p><p>recursos próprios ou de terceiros, e em que proporção.</p><p>Quanto menor for o endividamento, menor o risco que a empresa estará oferecendo aos</p><p>capitais de terceiros. No entanto, deve-se considerar que determinadas empresas convivem muito</p><p>bem com endividamento relativamente elevado, principalmente quando o endividamento tiver um</p><p>perfil de longo prazo ou quando o Passivo de Curto Prazo não for oneroso, fruto de uma adequada</p><p>administração</p><p>de prazos de fornecedores (Origens de Capital de Giro).</p><p>O endividamento de uma empresa pode apresentar as seguintes situações:</p><p>Passivo > PL Logo, Endividamento Geral > 0,5</p><p>ativo</p><p>passivo</p><p>PL</p><p>Passivo = PL Logo, Endividamento Geral = 0,5</p><p>ativo</p><p>passivo</p><p>PL</p><p>Passivo < PL Logo, Endividamento Geral < 0,5</p><p>ativo</p><p>passivo</p><p>PL</p><p>140</p><p>A adequação desse índice para cada empresa dependerá, entre outros aspectos, de</p><p>comparações com os índices apresentados por outras empresas de mesmo setor econômico, da</p><p>tendência demonstrada na análise de diversos exercícios, da composição do endividamento – curto</p><p>ou longo prazo – e, ainda, do custo financeiro dessas dívidas.</p><p>Endividamento oneroso</p><p>O Endividamento Oneroso (EO) ou Passivo Oneroso sobre Ativo (POSA) corresponde ao</p><p>quociente entre o somatório do Passivo Circulante Oneroso (PCO) com o Passivo não Circulante</p><p>Oneroso (PÑCO) pelo Ativo total.</p><p>EO = POSA =</p><p>PCO + PÑCO</p><p>Ativo</p><p>Por Passivo Oneroso (seja de curto ou de longo prazo), entendem-se as dívidas com terceiros</p><p>sobre as quais a entidade paga (deve, incorre) juros (despesas financeiras). Exemplos de passivos</p><p>onerosos são: empréstimos, financiamentos, debêntures e impostos parcelados.12</p><p>Esse índice mostra a participação das fontes onerosas de capital no financiamento dos</p><p>investimentos totais da empresa, revelando a sua dependência de instituições financeiras.</p><p>Deve-se observar que, quanto maior for esse índice, maiores serão as despesas financeiras</p><p>incorridas, o que afeta negativamente o resultado do exercício e o fluxo de caixa da entidade.</p><p>Também é oportuno lembrar que o analista sempre deve tomar um padrão como referência</p><p>para análise.</p><p>Vejamos os cálculos dos Indicadores de Endividamento da Droga Raia, em 2022.</p><p>12 Das dívidas tributárias (obrigações fiscais), só devem ser considerados como passivo oneroso os impostos parcelados,</p><p>isto é, aqueles tributos que a entidade não pagou na data de vencimento e renegociou a sua dívida com o poder público,</p><p>comprometendo-se a pagá-la em tantos meses futuros, acrescido de correção monetária e juros. Um exemplo,</p><p>razoavelmente comum, de imposto parcelado é decorrente do Programa de Recuperação Fiscal (Refis), da SRF.</p><p>141</p><p>Tabela 50 – Indicadores de endividamento da Droga Raia (2022)</p><p>A B C D</p><p>1 Droga Raia 2022</p><p>2 balanço patrimonial R$ milhares</p><p>3 ativo total 17.185.306</p><p>4 ativo circulante 9.577.068</p><p>5 ativo não circulante 7.608.238</p><p>6 passivo + patrimônio</p><p>líquido</p><p>17.185.306</p><p>7 passivo circulante 6.367.168</p><p>8 obrigações sociais e</p><p>trabalhistas</p><p>561.624</p><p>9 fornecedores 4.258.917</p><p>10 obrigações fiscais 213.298</p><p>11 empréstimos e</p><p>financiamentos</p><p>186.356</p><p>12 dividendos e JCP a pagar 62.417</p><p>13 aluguéis 93.940</p><p>14 demais contas a pagar 81.917</p><p>15 passivo de arrendamento 759.301</p><p>16 provisões 149.398</p><p>17 passivo não circulante 5.415.197</p><p>18 empréstimos e</p><p>financiamentos</p><p>2.131.548</p><p>19 programa de recuperação</p><p>fiscal</p><p>163.804</p><p>20 obrigações com acionista</p><p>de controlada</p><p>64.710</p><p>21 passivo de arrendamento 2.980.707</p><p>22 débitos de empresas</p><p>controladas</p><p>0</p><p>23 tributos diferidos 17.660</p><p>24 provisões 56.768</p><p>25 patrimônio líquido</p><p>consolidado</p><p>5.402.941</p><p>26</p><p>27 ENDIVIDAMENTO 2022 fórmula Excel fórmula</p><p>calculadora</p><p>28 endividamento geral (EG)</p><p>0,69 =(B7+B17)/B3</p><p>= (6367168 + 5415197)</p><p>÷ 17185306</p><p>28 endividamento oneroso</p><p>(EO)</p><p>0,37 =(B11+B15+B18+B19+B20+B21)/B3</p><p>= (186356 + 759301 +</p><p>2131548 + 163804 +</p><p>64710 + 2980707) ÷</p><p>17185306</p><p>142</p><p>A Droga Raia apresenta, portanto:</p><p> endividamento geral de 0,69. De onde se pode concluir que: (a) a empresa deve a terceiros,</p><p>no curto e longo prazos (fornecedores, bancos, governos, etc.), o correspondente a 69% do</p><p>seu Ativo; e (b) dos recursos investidos no Ativo, 31% são financiados pelos proprietários</p><p>(afinal, 1 – 0,69 = 0,31) e</p><p> endividamento oneroso, ou passivo oneroso sobre ativo, de 0,37. Isso representa que 37%</p><p>dos Ativos estão sendo financiados por recursos onerosos de terceiros (dívidas onerosas).</p><p>A princípio, esse representa um índice não alto. No entanto, deve-se ponderar o custo</p><p>financeiro incidente sobre esses recursos bem como a sua finalidade. Observe que cabe ao</p><p>analista julgar quais itens de passivo são onerosos. Nesse caso, compreendemos que, do</p><p>Passivo Circulante, somente os Empréstimos e Financiamentos e os Passivos de</p><p>Arrendamento são onerosos. No entanto, do Passivo Não Circulante, entendemos que,</p><p>além dos Empréstimos e Financiamentos, também são onerosos o parcelamento da dívida</p><p>tributária (isto é, o Programa de Recuperação Fiscal, em que o governo cobra juros com</p><p>base na Selic), os Débitos de Empresas Controladas (isso se refere a obrigações com ex-</p><p>controladores da empresas adquiridas pela Droga Raia) e os Passivos de Arrendamento..</p><p>Indicadores de rentabilidade</p><p>A rentabilidade é o reflexo das políticas e das decisões adotadas pelos administradores da</p><p>entidade, expressando o nível de eficiência e o grau do êxito econômico-financeiro atingido.</p><p>Todos os índices de rentabilidade devem ser considerados: QUANTO MAIOR, MELHOR.</p><p>Retorno sobre o patrimônio líquido</p><p>O Retorno sobre o Patrimônio Líquido (RPL) corresponde ao quociente entre o Lucro</p><p>Líquido (LL) e o Patrimônio Líquido médio (PLm).</p><p>RPL =</p><p>LL</p><p>x 100</p><p>PLm</p><p>Sabe-se que o Patrimônio Líquido médio (PLm) corresponde à média aritmética do</p><p>Patrimônio Líquido (PL) da entidade, medido em duas datas consecutivas, no início e no final do</p><p>período contábil, ao qual se refere o Lucro Líquido utilizado como numerador. Sempre que houver</p><p>dados de duas demonstrações consecutivas, deve-se utilizar a média do Patrimônio Líquido para</p><p>comparar com o Lucro, de forma a melhor traduzir a rentabilidade do período, tendo em vista que</p><p>o PL pode sofrer alterações durante o exercício, tais como: aumento de capital, distribuição de</p><p>dividendos, saída de sócios, etc.</p><p>143</p><p>PLmédio =</p><p>(PL0 + PL1)</p><p>2</p><p>Desse modo, se o numerador for o Lucro Líquido do ano de 20X7, o PLm será a média do PL</p><p>de 1º/01/20X7 com o PL de 31/12/20X7. Caso o numerador seja o lucro do primeiro trimestre de</p><p>20X7, o PLm será a média do PL de 1º/01/20X7 com o PL de 31/03/20X7. Atenção especial no</p><p>cálculo do Patrimônio Líquido médio deve ser atribuída ao problema da inflação, estudado na Análise</p><p>Horizontal. Afinal, o Patrimônio Líquido da data mais remota (PL0) deve ser atualizado</p><p>monetariamente até a data do Patrimônio Líquido da data mais recente (PL1).</p><p>O RPL mede a remuneração dos capitais próprios investidos na empresa, ou seja, quanto foi</p><p>acrescentado em determinado período ao patrimônio dos sócios. Do ponto de vista de quem investe</p><p>em uma empresa, esse deve ser o índice mais importante.</p><p>O RPL permite, além de avaliar a remuneração do capital próprio, analisar se esse rendimento</p><p>é compatível com alternativas de aplicação (custo de oportunidade). Um investidor, por exemplo,</p><p>avaliando a RPL, poderá optar por uma aplicação no mercado financeiro em vez de aplicar em uma</p><p>empresa que está oferecendo baixa rentabilidade.</p><p>A polêmica do PL médio</p><p>Na literatura, não há unanimidade quanto ao denominador desta fórmula. Entre as diversas</p><p>formas de se apurar o denominador, além do PL médio, vejamos o PL inicial (PLi).</p><p>RPL =</p><p>LL</p><p>x 100</p><p>PLi</p><p>Os que defendem o uso do PL inicial sustentam o seu argumento no conceito de</p><p>rentabilidade. O investidor que aplicou efetivamente o PLi, no fim de determinado período, quer</p><p>saber a que taxa foi remunerado, então, divide o ganho pelo valor efetivamente investido (PLi). Essa</p><p>abordagem é bastante lógica e intuitiva, mesmo porque é assim que raciocinamos quando</p><p>conversamos com o gerente do banco sobre as alternativas de investimento. Vejamos:</p><p>O gerente do banco nos oferece três fundos de investimento com diferentes riscos e</p><p>rentabilidades esperadas. Digamos que</p><p>tenhamos R$ 10.000,00 disponíveis para investir. A</p><p>rentabilidade de cada fundo de investimento é apurada mediante a divisão do rendimento esperado</p><p>pelo capital investido (R$ 10.000,00, que seria o nosso PLi).</p><p>Não há problema algum em se trabalhar com o PL inicial. Nesse ponto, não há critério certo</p><p>nem critério errado. Você é o analista, consequentemente, você deverá escolher o critério de análise</p><p>(PLm ou PLi), conforme você se sentir mais “confortável”.</p><p>144</p><p>No entanto, ressaltamos que, para calcular o retorno real do investimento, é necessário</p><p>atualizar o PL inicial pela taxa de inflação.</p><p>Retorno sobre o ativo</p><p>O Retorno sobre o Ativo (RA) corresponde ao quociente entre o Lucro Líquido (LL)</p><p>deduzido das Despesas Financeiras líquidas do efeito tributário e o Ativo Total médio.</p><p>RA =</p><p>LL + Despesa Financeira x (1 – @ IR)</p><p>x 100</p><p>Ativo médio</p><p>Também conhecida como Taxa de Retorno dos Investimentos, esse índice reflete a que taxa</p><p>a empresa remunera os investimentos totais nela aplicados.</p><p>Na fórmula, @IR representa a alíquota de IR (Imposto de Renda) e CS (Contribuição Social</p><p>sobre o Lucro), que para a maioria das empresas brasileiras é de 34%.</p><p>A necessidade de se adicionarem ao lucro líquido as despesas financeiras líquidas do efeito</p><p>tributário decorre da lógica desse indicador. O Retorno sobre o Ativo, como o próprio nome sugere,</p><p>mede a rentabilidade que a entidade oferece a todos os recursos nela investidos (ativo total),</p><p>independentemente de como são financiados (recursos próprios ou de terceiros),</p><p>consequentemente, é necessário contemplar no numerador todas as remunerações que a entidade</p><p>oferece aos seus financiadores. Sabendo que o Ativo é financiado pelo Passivo e pelo Patrimônio</p><p>Líquido, o numerador precisa contemplar a remuneração oferecida aos sócios (patrimônio líquido),</p><p>isto é, o Lucro Líquido, e a remuneração oferecida pela entidade aos terceiros (passivo), o que é</p><p>reconhecido contabilmente pelas Despesas Financeiras.</p><p>A exclusão dos impactos tributários sobre as despesas financeiras é justificada pelo fato de tais</p><p>despesas serem dedutíveis do IR e da CS. A literatura de finanças apresenta a despesa financeira como</p><p>um tax-shield, ou seja, uma proteção ao pagamento de impostos. Afinal, em função da dedutibilidade</p><p>fiscal da despesa financeira, o ônus efetivo do custo de capital de terceiros é a Despesa Financeira x (1 –</p><p>@IR), ou seja, deduzida da parcela da sua respectiva dedutibilidade.</p><p>Sempre que houver dados de duas demonstrações consecutivas, deve-se utilizar o Ativo Total</p><p>Médio para comparar com o Lucro.</p><p>Sabe-se que o Ativo Total médio (ATm) corresponde à simples média aritmética do Ativo</p><p>Total da entidade, medido em duas datas consecutivas, no início e no final do período contábil ao</p><p>qual se refere o numerador, ou seja, ATm = (AT1 + AT0) / 2.</p><p>Preferencialmente, o Ativo total do início do período deve ser corrigido pela inflação</p><p>observada no período.</p><p>145</p><p>Ativo médio =</p><p>(Ativo0 + Ativo1)</p><p>2</p><p>Vejamos os cálculos dos Indicadores de Rentabilidade da Droga Raia, em 2022, tomando-se</p><p>os valores de 2021 corrigidos pelo IGP-M (FGV):</p><p>Tabela 51 – Indicadores de Rentabilidade da Droga Raia (2022): correção de 2021 pelo IGP-M</p><p>(FGV)</p><p>A B C D E</p><p>1 31/12/2022 31/12/2021 31/12/2022</p><p>2 Droga Raia $ 2022 $ 2022 Droga Raia $ 2022</p><p>3 balanço patrimonial R$ milhares R$ milhares demonstração do resultado</p><p>do exercício</p><p>R$ milhares</p><p>4 ativo total 17.185.306 15.580.961 receita de venda de bens ou</p><p>serviços</p><p>29.067.380</p><p>5 ativo circulante 9.577.068 8.139.705 custo dos bens ou serviços</p><p>vendidos</p><p>-20.257.912</p><p>6 ativo não circulante 7.608.238 7.441.256 resultado bruto 8.809.468</p><p>7 passivo + patrimônio</p><p>líquido</p><p>17.185.306 15.580.961 despesas operacionais -6.970.144</p><p>8 passivo circulante 6.367.168 6.217.611 resultado antes do resultado</p><p>financeiro e dos tributos</p><p>1.839.324</p><p>9 passivo não circulante 5.415.197 4.387.312 receitas financeiras 293.586</p><p>10 patrimônio líquido</p><p>consolidado</p><p>5.402.941 4.976.037 despesas financeiras -939.701</p><p>11 inflação média medida pelo</p><p>IGP-M/FGV</p><p>5,45% resultado antes dos tributos</p><p>sobre o lucro</p><p>1.193.209</p><p>12 imposto de renda e</p><p>contribuição social sobre o</p><p>lucro</p><p>-178.241</p><p>13 lucro consolidado do</p><p>período</p><p>1.014.968</p><p>14</p><p>15 CÁLCULO DOS</p><p>DENOMINADORES</p><p>2022 fórmula Excel fórmula calculadora</p><p>16 patrimônio líquido médio</p><p>(PLm)</p><p>5.189.489 =(B10+C10)/2 = (5402941 + 4976037) ÷ 2</p><p>17 ativo total médio (ATm) 16.383.134 =(B4+C4)/2 = (17185306 + 15580961) ÷ 2</p><p>18</p><p>19 RENTABILIDADE 2022 fórmula Excel fórmula calculadora</p><p>20 retorno sobre o patrimônio</p><p>líquido (RPL)</p><p>19,56% =E13/B16 = 1014968 ÷ 5189489 x 100</p><p>21 retorno sobre o ativo (RA) 9,98% =(E13-E10*(1-0,34))/B17</p><p>= [1014968 + 939701 x (1 -</p><p>0,34)] ÷ 16383134 x 100</p><p>146</p><p>Por essa análise, é possível identificar que a Droga Raia apresentou:</p><p> retorno do patrimônio líquido de 19,56%; o que significa que, no período, os sócios</p><p>obtiveram uma remuneração de 19,56% sobre o capital investido na empresa e</p><p> retorno do ativo de 9,98%, ou seja, o capital total investido nessa empresa – quer por</p><p>terceiros, quer pelos sócios – é remunerado a 9,98% ao ano.</p><p>Este módulo é dedicado à introdução ao estudo da Contabilidade Gerencial. A rigor, começamos</p><p>com a apresentação dos conceitos fundamentais de custos, as três classificações mais comuns dos custos –</p><p>quanto à ocorrência, quanto ao produto e quanto ao volume – e apresentamos comentários relativos a</p><p>outros conceitos importantes à adequada compreensão de custos. Na sequência, apresentamos os dois</p><p>sistemas de custeio – por ordem e por processo – e os dois métodos de custeio mais comuns entre entidades</p><p>fabris – custeio variável e custeio por absorção. No apêndice, apresentamos custeio baseado em atividades.</p><p>No fim deste módulo, esperamos que o leitor esteja apto a compreender os fundamentos da</p><p>Contabilidade de Custos e a mensurar os custos de produtos manufaturados mediante estruturas não</p><p>complexas.</p><p>O próximo módulo é dedicado ao uso gerencial da informação gerada com base no custeio variável.</p><p>Conceitos fundamentais e classificação de custos</p><p>Estrutura fundamental para o estudo de Contabilidade Gerencial</p><p>Dois são os termos que entendemos serem os mais relevantes ao estudo da Contabilidade Gerencial:</p><p>custo e resultado.</p><p>Custo pode ser definido como os gastos incorridos na produção de bens e serviços. Desse modo,</p><p>gasto é gênero do qual custo é uma espécie. Outra espécie de gasto é a despesa, que estudamos nos três</p><p>módulos anteriores como “aumento de ativo ou redução de passivo, que reduz o patrimônio líquido e não</p><p>é distribuição aos proprietários da entidade”. No entanto, aqui cabe diferenciar custo e despesa – o custo</p><p>sendo o gasto incorrido na produção, e a despesa, o gasto incorrido na obtenção de receita e manutenção</p><p>da entidade.</p><p>MÓDULO V – CONTABILIDADE DE CUSTOS</p><p>148</p><p>Já o resultado, normalmente referenciado como lucro – sendo otimista –, é um dos principais</p><p>conceitos em Contabilidade. Ocorre que há diversas maneiras de medir o resultado (lucro ou</p><p>prejuízo), dependendo das premissas e do propósito de mensurar o desempenho. O importante é</p><p>que não há um método certo ou errado nem um método ideal. Os diversos métodos coexistem,</p><p>pois os usuários da contábil têm demandas diferentes por informação.</p><p>No entanto, qual lucro utilizar? Vamos nos ater a apenas três, por meio das definições que</p><p>apresentamos a seguir, para subsidiar o leitor no entendimento dos termos que utilizamos ao longo</p><p>deste material, ao falarmos em resultado (lucro) contábil, econômico e financeiro.</p><p>Desse modo, para o nosso contexto, consideramos que:</p><p> O resultado contábil deriva do confronto, em um dado período, de receitas e despesas</p><p>objetivamente identificáveis, as quais são reconhecidas tempestivamente, tendo por norte</p><p>a sua competência e a sua realização sob o ponto de vista contábil. Nesse</p><p>sentido, as receitas</p><p>e as despesas são reconhecidas e mensuradas de acordo com os princípios contábeis. O</p><p>lucro contábil é aquele apurado pela Contabilidade Financeira. Desse modo, já o</p><p>estudamos nos Módulos II e III deste material.</p><p> O resultado econômico é o resultado contábil ajustado pelas receitas e despesas de natureza</p><p>subjetiva, as quais são reconhecidas tempestivamente, quando da ocorrência do evento</p><p>econômico que lhes deu origem. Leva em consideração, principalmente, o conceito de</p><p>custo de oportunidade, o qual tenta mensurar e medir por algum método. Além do custo</p><p>de oportunidade, podemos dizer que o capital intelectual e o valor da marca são outros</p><p>aspectos de natureza subjetiva.</p><p> O resultado financeiro está associado aos fluxos monetários de uma entidade e aos seus</p><p>respectivos prazos. Deriva da diferença, em um dado período, entre os ingressos potenciais</p><p>ou efetivos de caixa e as saídas potenciais ou efetivas de caixa, associados ao custo do</p><p>dinheiro no tempo.</p><p>Essa é uma forma de sintetizar conceitos já tão tratados pela literatura, de maneira a</p><p>possibilitar a correta interpretação das nossas exposições ao longo deste e do próximo módulo.</p><p>Basicamente, existem três critérios de classificação dos custos: quanto à sua ocorrência,</p><p>quanto à sua alocação ao produto e quanto ao volume de produção.</p><p>A seguir, veremos cada um dos critérios, lembrando sempre que os custos são os gastos</p><p>relacionados com a “produção” da empresa, em determinado período, e que toda a discussão sobre</p><p>custos depende do objeto de custeio analisado – aquele item ou aquela atividade cujo custo se</p><p>pretende medir.</p><p>149</p><p>Quanto ao produto: custos diretos e indiretos</p><p>Uma questão com relação a custos é saber quando eles têm um relacionamento direto ou</p><p>indireto com determinado objeto de custeio, normalmente, o próprio produto fabricado ou</p><p>serviço prestado.</p><p>Custos diretos</p><p>Custos diretos a um objeto de custeio são os custos diretamente relacionados a esse objeto,</p><p>isto é, que podem ser fácil e economicamente identificados ao objeto de custeio, sem qualquer</p><p>rateio. Entende-se por rateio a distribuição arbitrária dos custos que não são diretamente</p><p>identificados e apropriados aos objetos de custeio. São exemplos de custos diretos aqueles com</p><p>matéria-prima consumida e mão de obra dos operários. Em algumas situações, a mão de obra</p><p>pode ser um custo indireto.13</p><p>Em outras palavras, pode-se dizer que, em alguns casos, as parcelas de recursos são</p><p>consumidas apenas por um tipo de produto, e esse fato é fácil e objetivamente identificado, seja</p><p>devido à observação simples ou a sistemas automatizados, como controle eletrônico de vazão,</p><p>quadros de distribuição de energia, etc. Nesses casos, pode-se assumir que aquele produto é o</p><p>responsável por aquela parcela de recurso consumido, de modo que a mensuração desse consumo</p><p>se dá de forma direta. Por essa razão, dá-se o nome de “custo direto” à informação desse consumo</p><p>de recurso.</p><p>Dessa forma, para gerar tal informação, não é necessário nenhum tipo de aproximação ou</p><p>julgamento sobre qual produto consome qual parcela de recursos, ou seja, não são necessárias</p><p>distribuições arbitrárias ou, como chamam, “rateios”. Por isso, esse tipo de custo é mais crível por</p><p>representar a realidade sobre o consumo de recursos de forma mais objetiva e fidedigna.</p><p>Custos indiretos</p><p>Custos indiretos a um objeto de custeio são aqueles que não podem ser identificados com o</p><p>objeto de custeio de maneira economicamente viável, pois são comuns a dois ou mais objetos de</p><p>custeio (áreas ou produtos). Os custos indiretos são alocados ao objeto de custo por meio de um</p><p>método de alocação de custo denominado rateio. Logo, são aqueles que não oferecem condição de</p><p>medida objetiva; qualquer tentativa de alocação tem de ser feita de maneira estimada e, algumas</p><p>vezes, arbitrária. São exemplos de custos indiretos a depreciação, a manutenção, o seguro e o aluguel</p><p>do parque fabril.</p><p>13 O salário do supervisor da produção corresponde a um custo indireto, por exemplo.</p><p>150</p><p>Essa tipificação de custos é a utilizada para fins contábeis, tanto os societários quanto os fiscais.</p><p>Alguns insistem em utilizar essa tipificação também para despesas, o que, a nosso ver, seria uma</p><p>maneira de tentar expressar o Custo Total (full cost) de um produto. Isso pode gerar – e gera –</p><p>confusões, principalmente nas empresas prestadoras de serviços, que acabam por não segregar os seus</p><p>gastos em custo ou despesa.</p><p>No entanto, nada impede que empresas – principalmente as comerciais, como lojas de</p><p>departamentos e supermercados – classifiquem as suas despesas em “diretas e indiretas” em relação</p><p>“à linha de produtos”. Por quê? Comparemos as lojas dessas empresas às linhas de produção ou até</p><p>mesmo às fábricas: se considerarmos que as lojas são o local da “produção” do serviço de</p><p>comercialização, poderemos entender os gastos da loja – normalmente, denominados despesas –</p><p>como direta ou indiretamente relacionados aos diversos produtos ou famílias de produtos que ali se</p><p>encontram. Dessa maneira, teríamos uma adição aos custos das mercadorias vendidas de outros</p><p>gastos que representam esforço sem o qual não se teria a respectiva venda, aqui denominada</p><p>produção do serviço de comercialização.</p><p>Assim, dependendo do nível de identificação e acumulação adotado, pode-se, até mesmo, ver</p><p>uma possível alteração na classificação entre despesas e custos, especialmente, em nível gerencial.</p><p>Por exemplo, no supermercado, o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) da loja é uma</p><p>despesa indireta aos diversos produtos ali vendidos – laticínios, hortifrutigranjeiros,</p><p>eletrodomésticos, carnes, etc. –, ao passo que a depreciação da balança do açougue é uma despesa</p><p>direta às carnes ali expostas, mas indireta a cada tipo de carne. Daí, mais uma vez, a necessidade de</p><p>definir o objeto de custeio analisado: divisão de produtos – laticínios, hortifrutigranjeiros,</p><p>eletrodomésticos, carnes, etc. – ou os produtos em si – picanha, alcatra, filé-mignon, chã, patinho,</p><p>lagarto redondo, etc.</p><p>Dessa forma, além dos custos, as despesas também podem ser classificadas como diretas ou</p><p>indiretas. Enquanto o custo é classificado em direto ou indireto em relação ao produto, a despesa é</p><p>classificada em relação à origem da receita – o objeto de custeio, objeto em análise!</p><p>Vejamos outro exemplo: em uma loja de departamentos, a despesa de salário do vendedor de</p><p>eletrodomésticos é diretamente apropriada ao departamento de eletrodomésticos. Da mesma forma</p><p>que a despesa de propaganda específica de móveis – do tipo compre móveis nas Casas Bahia – é</p><p>diretamente alocada ao departamento de móveis.</p><p>Por outro lado, a despesa de aluguel da loja é indiretamente alocada aos diversos</p><p>departamentos, por conseguinte, é rateada entre eles – normalmente, em função da área (m2)</p><p>ocupada pelos departamentos. Da mesma forma, a despesa de propaganda institucional – do tipo</p><p>“Casas Bahia: dedicação total a você” – e a despesa com salário do gerente geral da loja são exemplos</p><p>de despesas indiretas que acabam sendo rateadas entre os diversos departamentos, seguindo algum</p><p>critério de rateio – normalmente, arbitrário e subjetivo.</p><p>151</p><p>Devemos ter atenção para que a tipificação seja coerente com o objeto de custeio, e não com</p><p>um “custo desejado”. Imagine uma fábrica de bolas de futebol e de vôlei. O custo do pedaço de</p><p>couro utilizado para fabricar a bola de futebol é um custo direto a esse objeto de custeio, ao passo</p><p>que o couro utilizado para fabricar a bola de vôlei é um custo direto à bola de vôlei. É possível dizer</p><p>isso porque a quantidade de couro utilizada na fabricação de cada bola é facilmente identificada</p><p>com a bola.</p><p>Já o custo da iluminação da fábrica em que as bolas são produzidas é um custo indireto a cada</p><p>tipo de bola. Embora a iluminação ajude na fabricação das bolas de futebol e de vôlei, não é viável</p><p>tentarmos determinar, exatamente, o quanto desse custo foi utilizado na fabricação</p><p>de cada bola</p><p>especificamente. Sabemos que está lá, em cada bola, mas não exatamente quanto.</p><p>Os gestores podem preferir tomar decisões com base nos custos diretos em vez de nos custos</p><p>indiretos, visto que os custos diretos são mais “precisos”, em termos de alocação. Em resumo, a</p><p>apropriação direta de custo é o processo de transferência dos custos diretos a um objeto de custeio</p><p>determinado, ao passo que o rateio de custo é o processo de transferência dos custos indiretos ao</p><p>objeto de custeio.</p><p>Quando for necessário utilizar qualquer fator de rateio para a apropriação ou ocorrer o uso</p><p>de estimativas, e não de medição direta, o custo fica classificado como indireto em relação ao objeto</p><p>de custeio.</p><p>Diversos fatores afetam a classificação de custo como direto ou indireto:</p><p> A materialidade do custo em questão – análise da relação custo-benefício</p><p>Quanto maior o custo em questão, maior a relevância de se classificá-lo adequadamente.</p><p>Pensemos em uma companhia que trabalha com pedidos de vendas. Provavelmente, seria</p><p>economicamente viável identificar as despesas com a entrega do pedido diretamente a cada cliente.</p><p>Ao contrário, é provável que o custo do papel da fatura que segue juntamente com o pacote a ser</p><p>enviado ao cliente seja classificado como um custo indireto, porque não é economicamente viável</p><p>identificar o custo desse papel para cada cliente. Os benefícios de saber o valor exato do papel</p><p>utilizado na fatura de cada pedido não justificam o custo monetário e o tempo gasto em identificar</p><p>esse custo para cada pedido. Desse modo, a materialidade envolve a questão de custo-benefício.</p><p> Tecnologia disponível para coleta de informação</p><p>Desenvolvimentos nessa área estão proporcionando um aumento percentual dos custos a</p><p>serem classificados como diretos. Por exemplo, o código de barras permite que muitas fábricas</p><p>passem a tratar certos materiais considerados, anteriormente, custos indiretos – isto é, material</p><p>secundário de fábrica – como custos diretos dos produtos. O código de barras pode interpretar uma</p><p>série de custos de produção da mesma maneira rápida e eficiente com que os supermercados</p><p>registram, nos dias de hoje, os custos e os preços de muitos itens vendidos aos seus clientes.</p><p>152</p><p> Design das operações</p><p>O design das instalações pode impactar a classificação dos custos. Por exemplo, classificar um</p><p>custo como direto se torna mais fácil quando uma instalação da organização – ou parte dela – é</p><p>utilizada, exclusivamente, para um produto ou um objeto de custeio. Imagine uma fábrica</p><p>localizada em um grande galpão, no qual diferentes produtos são fabricados ao mesmo tempo.</p><p>Nesse caso, têm-se muitos custos indiretos aos diferentes produtos. Por outro lado, imagine uma</p><p>fábrica seccionada em diversas estações de trabalho pequenas e isoladas umas das outras, sendo que</p><p>cada uma delas fabrica um produto diferente. Nesse caso, são raros os exemplos de custos indiretos</p><p>aos diferentes produtos.14</p><p> Acordos contratuais</p><p>Um contrato que estabelece que determinado insumo – material, tecnologia, máquina, etc. – só</p><p>pode ser utilizado em um produto específico faz com que o consumo de tal insumo seja um custo direto</p><p>ao produto específico.</p><p>Quanto ao volume: custos fixos e variáveis</p><p>Os sistemas contábeis gerenciais registram os custos dos recursos adquiridos e acompanham</p><p>os seus usos posteriores. O acompanhamento desses custos permite que os gestores vejam como eles</p><p>se comportam.</p><p>Consideremos dois tipos de comportamento de custos encontrados na maioria desses</p><p>sistemas: custos variáveis e custos fixos. Um custo variável é um custo que se altera, em montante</p><p>total, em proporção ao volume produzido. Um custo fixo é um custo que não se altera, em</p><p>montante total, apesar das alterações do volume produzido.</p><p>Custos variáveis</p><p>Custos variáveis são aqueles cujo consumo é influenciado pelo nível de produção. Quanto</p><p>mais barras de Chocolate ao Leite se produzirem, mais cacau, manteiga de cacau, leite e açúcar serão</p><p>consumidos. Nesse sentido, a matéria-prima é um exemplo de custo variável, um custo que se altera,</p><p>em montante total, à medida que ocorrem mudanças no volume produzido.</p><p>14 Até este ponto, só estamos preocupados com a classificação dos custos em direto e indireto, portanto, não estamos</p><p>analisando alternativas de descontinuidade da linha para evitar o custo de aluguel do galpão ou a manutenção do espaço</p><p>vazio – que não evitaria nem reduziria tal custo. Sobre tais alternativas, veja o tópico 3.1.5 deste módulo.</p><p>153</p><p>Cabe observar que o custo variável por barra de Chocolate ao Leite não se altera com o número</p><p>de barras produzidas, porque o custo variável unitário é fixo – ou constante, ignorando-se algumas</p><p>características do desempenho da mão de obra, como ganho de produtividade pela aprendizagem e</p><p>redução da produtividade pelo cansaço, e ignorando-se, ainda, descontos obtidos pela aquisição de</p><p>um grande lote de matérias-primas.15</p><p>Para facilitar, vejamos um segundo exemplo: a despesa de Comissão de Vendas – 5%, por</p><p>exemplo – é uma despesa variável por volume de receita, isto é, por $ vendido. Se o vendedor vender</p><p>$ 1.000,00, ganhará a comissão de $ 50,00; se vender $ 200.000,00, ganhará $ 10.000,00, ou seja,</p><p>ganhará $ 0,05 a cada $ 1,00 vendido. Por isso, diz-se que a despesa variável e o custo variável por</p><p>unidade são fixos – no caso da despesa de comissão, $ 0,05 para cada $ 1,00 de vendas. No entanto,</p><p>no total, são variáveis – $ 50,00, se vender $ 1.000, ou $ 10.000,00, se vender $ 200 mil.</p><p>Custos fixos</p><p>Custos fixos são aqueles que não variam em função de alterações do nível de produção, dentro</p><p>do intervalo relevante de capacidade instalada.</p><p>Suponha que o aluguel e o seguro do prédio onde a fábrica de chocolates funciona custem</p><p>$ 6 milhões por ano. Independentemente do volume de barras de Chocolate ao Leite produzido em</p><p>determinado ano, a empresa incorrerá nos custos de aluguel e seguro da fábrica no valor de $ 6</p><p>milhões. Ambos são exemplos de custos fixos – custos que não se alteram, em montante total, em</p><p>relação ao volume. Por outro lado, os custos fixos tornam-se progressivamente menores, em termos</p><p>unitários, à medida que o volume produzido aumenta dentro de determinado limite de capacidade</p><p>instalada. Por exemplo, se a empresa produzir 10 milhões de barras de Chocolate ao Leite, nessa</p><p>fábrica, em determinado ano, o custo fixo de aluguel e seguro por barra é de $ 0,60 – isto é, $ 6</p><p>milhões/10.000.000 de barras. Por outro lado, se 15.000.000 barras de Chocolate ao Leite forem</p><p>fabricadas no ano, o custo fixo por barra será de $ 0,40.</p><p>Na realidade, os custos fixos dificultam o processo de tomada de decisões, tendo em vista o</p><p>fato de serem os responsáveis por apurações distorcidas do custo unitário total por produto. Alguns</p><p>chamam isso de efeito de “ilusão de ótica” nos gestores, por isso, há tanta controvérsia! São</p><p>importantes antes da realização dos investimentos, ou seja, antes da determinação da estrutura</p><p>técnico-administrativa da empresa. No dia a dia da empresa, tendem a ser o principal objeto de</p><p>ações dos programas de redução de custos, que visam a corrigir distorções ou inadequações neles</p><p>em relação às necessidades de longo prazo da empresa.</p><p>15 Consideremos que não existem falhas ou perdas, que são “normais” em processos de produção, quando ocorrem essas</p><p>alterações de volume. Vamos considerar uma figura de produção padronizada.</p><p>154</p><p>Em resumo, todos os custos podem ser classificados em fixos ou variáveis, ou em diretos ou</p><p>indiretos, ao mesmo tempo. Dessa forma, a matéria-prima é um custo direto e variável, enquanto os</p><p>seguros das fábricas são custos indiretos e fixos, tendo por objeto de custeio o produto fabricado.</p><p>É importante observar que, na classificação de custos em fixos e variáveis, leva-se em</p><p>consideração o custo total – quantidade vezes custo unitário –, e não o custo unitário, como pode</p><p>ser observado na tabela a seguir.</p><p>Tabela 52 – Custos</p><p>fixos e variáveis</p><p>unitário total</p><p>custo fixo varia</p><p>ex.: Produzindo 10.000.000 unidades</p><p>em um ano, o custo do aluguel</p><p>dividido pela produção é $ 0,60/un. =</p><p>$ 6.000.000,00 ÷ 10.000.000 un.</p><p>não varia</p><p>ex.: aluguel = $ 6.000.000,00/ano</p><p>custo</p><p>variável</p><p>não varia</p><p>ex.: matéria-prima = 2 kg/un., sendo</p><p>$ 0,50/kg = $ 1,00/un.</p><p>varia</p><p>ex.: Produzindo 10.000.000 unidades</p><p>em um ano, o custo da matéria-prima</p><p>consumida no ano é $ 10.000.000,00 =</p><p>10.000.000 un. × $ 1,00/un.</p><p>Além dos custos, as despesas também são classificadas em fixas e variáveis quanto ao volume.</p><p>No entanto, enquanto os custos são classificados em relação ao volume produzido (quantidade</p><p>produzida), as despesas são classificadas em relação ao volume vendido (quantidade vendida ou</p><p>receita auferida).</p><p>Comentário sobre intervalo relevante</p><p>Nunca é demais ressaltar que os custos fixos permanecem constantes somente dentro do</p><p>intervalo relevante. Desse modo, dizer que os custos fixos não se alteram em decorrência do volume</p><p>produzido é uma simplificação da realidade. Essa simplificação só é válida para determinada</p><p>capacidade instalada (ou intervalo relevante). Afinal, os custos fixos totais sofrem alterações em função</p><p>do volume produzido. No entanto, essas alterações não guardam uma correlação perfeita de causa e</p><p>efeito. Os custos fixos totais crescem em degraus, ou seja, quando há alteração na capacidade instalada.</p><p>Retomando o exemplo da fábrica de chocolates que paga $ 6 milhões por ano de aluguel e</p><p>seguro, digamos que a sua capacidade instalada seja de 15 milhões de unidades de barras de</p><p>chocolate ao leite. Nesse caso, pouco importa o volume efetivamente produzido (de zero a 15</p><p>155</p><p>milhões de unidades) – o custo fixo anual será o mesmo ($ 6 milhões). No entanto, se o gestor da</p><p>fábrica resolver aumentar a capacidade instalada para 20 milhões de barras de chocolate por ano,</p><p>será necessário comprar novas máquinas, ampliar o parque fabril, contratar novos supervisores, etc.</p><p>Tudo isso demandará mais recursos e, consequentemente, aumentará os custos fixos – digamos para</p><p>$ 8 milhões por ano. A partir desse momento, o custo fixo total será de $ 8 milhões,</p><p>independentemente de a produção efetiva assumir qualquer valor entre 0 e 20 milhões de unidades.</p><p>Nesse caso, o intervalo relevante foi alterado.</p><p>Gráfico 3 – Intervalo relevante</p><p>Considerando que os custos fixos crescem em degraus conforme se altera a capacidade</p><p>instalada e que os custos variáveis crescem na mesma proporção que o volume aumenta, basta</p><p>conhecer o comportamento da receita para determinar o intervalo relevante. Isso ocorre uma vez</p><p>que o intervalo relevante contém o ponto no qual a receita se iguala ao custo total (fixo mais</p><p>variável) – ou seja, o ponto de equilíbrio. Em outras palavras, pode-se afirmar que o intervalo</p><p>relevante compreende uma faixa na qual a empresa apura prejuízo e outra na qual apura lucro,</p><p>sabendo-se que, nessas duas faixas, o custo fixo permanece constante.</p><p>No gráfico, observe o intervalo relevante representado pelo retângulo destacado, isto é, o</p><p>intervalo no qual o volume varia entre 3.500 unidades e 8.000 unidades. Observe que a faixa na</p><p>qual a empresa apura prejuízo fica à esquerda do volume 6.000 unidades – a linha dos custos</p><p>totais está acima da linha da receita. Por outro lado, a faixa de lucro fica à direita do volume 6.000</p><p>unidades – a linha da receita está acima da linha de custos totais.</p><p>Novamente, lembramos os possíveis ganhos de escala que podem vir a ocorrer quando se fala</p><p>em incrementos de produção. A empresa pode conseguir melhor custo de aquisição de matérias-</p><p>primas ao aumentar o volume de produção. Também pode ocorrer a figura de ganho por meio de</p><p>aprendizagem do processo, em que o aumento para determinados níveis de produção pode não</p><p>afetar significativamente o custo fixo, devido a alguma melhoria tecnológica inserida – tanto em</p><p>termos de maquinário quanto de mão de obra, que podem aumentar a produtividade.</p><p>156</p><p>Comentário sobre custos híbridos</p><p>Os custos híbridos são aqueles que têm características tanto de custo fixo quanto de custo</p><p>variável. Há autores que os denominam semifixos ou semivariáveis ou custos mistos.</p><p>Em uma indústria, um exemplo típico de custo híbrido é a energia elétrica. É comum as</p><p>empresas contratarem a aquisição de energia elétrica sob duas modalidades: demanda e consumo.</p><p>A aquisição por demanda implica a compra de determinada quantidade de quilowatts-hora</p><p>(kWh) por mês, de forma que a fábrica paga à concessionária distribuidora de energia elétrica</p><p>determinado valor (fixo) por mês, mesmo que o consumo efetivo seja inferior ao contratado. Quando</p><p>o consumo efetivo ultrapassa a quantidade de kWh comprada por demanda, a fábrica paga o excedente</p><p>em função do consumo efetivo (variável), de forma semelhante ao consumidor residencial.</p><p>Não obstante essas duas modalidades de aquisição de energia elétrica, o consumo desse recurso</p><p>no processo produtivo pode ser classificado integralmente como custo fixo ou custo variável – a</p><p>classificação dependerá do objeto de custeio e da forma como a energia elétrica for consumida.</p><p>Digamos que os objetos de custeio sejam os produtos. Além disso, digamos que a produção</p><p>dos diversos produtos ocorra em um grande galpão cuja iluminação beneficie a fabricação de todos</p><p>os produtos. Nesse caso, a energia elétrica (de iluminação) é um custo indireto a todos os produtos</p><p>fabricados no galpão.</p><p>Por outro lado, digamos que os produtos sejam processados em máquinas distintas e que cada</p><p>máquina tenha um medidor de energia elétrica efetivamente consumida (relógio). Nesse caso, a</p><p>energia elétrica – força-motriz de cada máquina, com os respectivos medidores – é um custo direto</p><p>aos produtos fabricados em cada máquina.</p><p>Comentário sobre a mão de obra</p><p>Livros estadunidenses apresentam a mão de obra como um custo variável, o que é compatível</p><p>com o sistema legal dos Estados Unidos. Afinal, lá é permitida a contratação e a remuneração de</p><p>empregados por hora trabalhada ou por tarefa executada – lote produzido, por exemplo.</p><p>No Brasil, por outro lado, a legislação trabalhista impõe ao empregador a obrigação de pagar</p><p>uma remuneração mensal mínima ao empregado, independentemente da produção obtida. A rigor,</p><p>o empregado costuma observar, todos os meses, o mesmo valor no seu contracheque,</p><p>independentemente de quanto produziu em cada mês. Da mesma forma, a empresa observa na</p><p>folha de pagamentos, todos os meses, o mesmo valor para cada empregado – o que faz sugerir que</p><p>a mão de obra seja um custo fixo.</p><p>E agora, o custo com a mão de obra é fixo ou variável?</p><p>157</p><p>Bornia (2002)16 sugere que a classificação da mão de obra seja determinada em função do</p><p>horizonte temporal analisado. Em se tratando de uma análise de curto prazo, a mão de obra seria</p><p>um custo fixo. Por outro lado, se o gestor estiver desenvolvendo uma análise de longo prazo, a mão</p><p>de obra seria um custo variável.</p><p>No entanto, a nossa proposta é tratar o custo com a mão de obra como um custo híbrido:</p><p>uma parcela variável, aquela convertida em produto, que agrega valor ao produto; e outra fixa,</p><p>aquela que não é revertida em produto, mas arcada pela empresa com o propósito de manter a</p><p>sua capacidade instalada.</p><p>Vejamos o exemplo de uma padaria. Uma fornada de 100 pães franceses consome de matéria-</p><p>prima: farinha de trigo, óleo, água, fermento, sal e açúcar. Além disso, demanda do padeiro em média:</p><p> 5 minutos para selecionar e pesar os ingredientes;</p><p> 15 minutos para misturar os ingredientes;</p><p> 10 minutos para esticar a massa;</p><p> 10 minutos para formar os pães e organizá-los no tabuleiro;</p><p> 5 minutos para lavar os utensílios e</p><p> 5 minutos para retirar os pães do forno e servi-los em um cesto que ficará exposto na frente</p><p>da loja.</p><p>O tempo em forno (para assar) não é computado como custo de mão de obra, pois o padeiro</p><p>desenvolve outras atividades enquanto o pão assa. Nesse exemplo hipotético, uma fornada (100</p><p>pães franceses) consome 50 minutos de mão de obra (padeiro).</p><p>Considerando que o salário do padeiro é de $ 400,00 por mês, e que a padaria incorre em</p><p>encargos trabalhistas e sociais equivalentes a 80% do salário mensal dos seus funcionários, o ônus</p><p>mensal da padaria, com um padeiro, é de $ 720,00 ($ 400 + 80% × $ 400). Sabendo-se que o</p><p>padeiro fica à disposição da padaria durante 160 horas por mês (220 horas descontados: descanso</p><p>semanal remunerado, férias, feriados, faltas abonadas, etc.), o ônus-hora com um padeiro é de</p><p>$ 4,50/hora ($ 720/160 horas).</p><p>Considerando que uma fornada-padrão consome 50 minutos, o custo de mão de obra por</p><p>fornada é de $ 3,75 (ou $ 0,0375 por pão francês).</p><p>Admitindo-se que, no mês passado, a padaria produziu 162 fornadas, temos que:</p><p> $ 607,50 (162 fornadas × $ 3,75/fornada) é o custo variável (e direto) da mão de obra</p><p>apropriado aos pães franceses produzidos no mês.</p><p> $ 112,50 ($ 720,00 – $ 607,50) correspondem a outros gastos de produção (fixos e</p><p>indiretos), não apropriados diretamente aos pães franceses produzidos, mas incorridos pela</p><p>padaria na manutenção da sua capacidade instalada normal.</p><p>16 BORNIA. Análise gerencial de custos em empresas modernas. 2002. p. 173-174.</p><p>158</p><p>É claro que esse exemplo é uma abstração da realidade. Afinal, os padeiros mais valorizados são</p><p>aqueles que produzem pães diferenciados. Os profissionais mais valorizados são aqueles que produzem</p><p>serviços diferenciados para a empresa! Além disso, o padeiro não faz uma única atividade (produção de</p><p>pães franceses). Isso significa que, na prática, o esforço de se mensurar o custo da mão de obra por</p><p>pãozinho acaba sendo maior do que o benefício dessa informação.</p><p>No entanto, de qualquer forma, fica o exemplo (simples) para que o conceito seja aplicado a</p><p>situações mais complexas nas quais a apuração do custo unitário da mão de obra seja relevante. Por</p><p>exemplo, casos de empresas prestadoras de serviços que têm o seu principal recurso na mão de obra e</p><p>que precisam identificar a parcela variável em função de quantidade de horas de atendimentos aos</p><p>clientes somadas às horas para manter a sua estrutura de atendimento qualificada, como o tempo de</p><p>treinamento da equipe, que não seria alocada a nenhum cliente especificamente.</p><p>Ainda com respeito à mão de obra, pode-se dizer que a parcela direta da mão de obra corresponde</p><p>ao gasto com pessoal que trabalha e atua, diretamente, sobre o produto que está sendo elaborado. Por</p><p>sua vez, a parcela indireta é relativa ao pessoal de chefia, supervisão ou ainda a atividades que, apesar de</p><p>vinculadas à produção, nada têm de aplicação direta sobre o produto, tais como manutenção, prevenção</p><p>de acidentes, contabilidade de custos, programação e controle da produção.</p><p>Destacamos que o design fabril – ou mesmo a pouca diversidade de produtos fabricados (o caso</p><p>de produtos feitos por encomenda) – pode levar-nos à figura de se ter apenas a classificação direta para</p><p>a mão de obra, se for possível a alocação dela por meio de medição direta.</p><p>Sistemas e métodos de custeio</p><p>No processo de apuração do custo dos produtos, os gestores dispõem de dois sistemas de</p><p>custeio – por ordem e por processo – e de três metodologias – o custeio por absorção, o custeio</p><p>variável e o custeio baseado em atividades.17 Embora cada qual apure um valor diferente para o</p><p>resultado e para o estoque final, não há como afirmar que um sistema ou um método seja melhor</p><p>do que o outro, pois essa avaliação depende do objetivo que se tem ao apurar os custos e do fluxo</p><p>de produção analisado.</p><p>Nesse contexto, quando alguém perguntar: “Qual é o custo do produto X?”, deve ser feita,</p><p>imediatamente, outra pergunta: “Em que será utilizada essa informação?”. Afinal, dependendo do</p><p>propósito dessa apuração, um ou outro sistema e um ou outro método de custeio será mais adequado.</p><p>Seguindo esse raciocínio, três pensamentos são fundamentais ao entendimento deste módulo –</p><p>e até deste material como um todo:</p><p>17 Existem, ainda, outros métodos, como o custeio direto e o RKW, os quais não são abordados em detalhes neste material.</p><p>São apresentados apenas breves comentários em CARDOSO; MÁRIO; AQUINO. Contabilidade gerencial: mensuração,</p><p>monitoramento e incentivos. São Paulo: Atlas, 2007. Seção 3.7 do Capítulo 3.</p><p>159</p><p> Não existe método de custeio certo nem errado! Muito menos o método “ideal”. Existem,</p><p>sim, métodos de custeio implantados e sendo utilizados nas empresas. Cada empresa</p><p>procura escolher e adequar os métodos conhecidos e disponíveis às suas necessidades de</p><p>informação de custo. Ou seja, depende do objetivo, da utilidade dessa informação, do</p><p>fluxo de produção – por ordem ou por processo –,18 e depende ainda do custo para</p><p>implantar e operar o método escolhido.</p><p> A mensuração do custo depende do objeto de custeio! Dependendo do objeto de custeio, os</p><p>custos serão classificados como fixos ou variáveis, e diretos ou indiretos. Essas classificações</p><p>afetam as mensurações dos custos de forma diferenciada, de acordo com o método de custeio</p><p>adotado.</p><p> Você obtém o que você mensura!19 Se você não mensurar, não vai analisar nem controlar.</p><p>Se a medida obtida contiver subjetividade ou desvios em relação à sua medida real, tais</p><p>distorções afetarão as decisões.</p><p>Dessa forma, antes de se medirem os custos, é fundamental conhecer a natureza daquilo que</p><p>se está medindo. Um dos aspectos dessa natureza que precisam ser contemplados é o fluxo de</p><p>produção. Para efeitos didáticos, o fluxo de produção é classificado em produção por ordem (ou</p><p>encomendas) e produção por processo (ou contínua). Esse fluxo determina a viabilidade do sistema</p><p>de custeio a ser utilizado, uma vez que é inerente à forma e aos aspectos da empresa.</p><p>Além da discussão sobre os processos e os métodos de custeio, ainda há duas bases de avaliação</p><p>dos custos: o custo-real (ou efetivo) e o custo-orçado (às vezes, chamado de custo-padrão). Essas são</p><p>bases definidas no escopo do sistema de custeio.</p><p>O custo-real trabalha com os custos dos recursos efetivamente consumidos no processo de</p><p>produção. Desse modo, é utilizado para refletir o passado, sendo de adoção obrigatória para fins</p><p>societários e tributários.</p><p>Por outro lado, o custo-orçado trabalha com estimativas de custos de recursos que se espera</p><p>sejam consumidos no processo de produção. Nesse sentido, é utilizado internamente, para fins</p><p>orçamentários e de precificação. Entendemos que o custo-padrão é um dos tipos de custo-orçado,</p><p>o qual também pode ser discricionário.</p><p>Esses dois critérios de avaliação são compatíveis com quaisquer processos de acumulação</p><p>identificados nos sistemas de custeio (por ordem e por processo) e com quaisquer métodos de</p><p>custeio (absorção, variável e ABC) – estudados a seguir.</p><p>18 Detalhes sobre a produção por ordem e sobre a produção contínua são apresentados em MARTINS. Contabilidade de</p><p>custos. São Paulo: Atlas, 2003. Capítulos 12 e 13.</p><p>19 Esse pensamento é apresentado em Jiambalvo (Managerial accounting, 2004) – “You get what you measure!”.</p><p>160</p><p>Um ponto relativo à apuração do resultado e do patrimônio da entidade que está totalmente</p><p>vinculado à Contabilidade de Custos é a mensuração do CMV – o que pode ser feito pelo Peps</p><p>(primeiro que entra, primeiro que sai), Ueps (último que entra, primeiro que sai), CMPM (custo</p><p>médio ponderado móvel), CMPF (custo médio ponderado fixo), método do varejo e identificação</p><p>específica. No entanto, não abordaremos nenhum desses critérios, por entender que são</p><p>apresentados detalhadamente nos mais diversos livros de Contabilidade Geral, Contabilidade</p><p>Introdutória e Contabilidade Societária.</p><p>Fluxos de produção nos sistemas de custeio20</p><p>Dependendo do fluxo de produção, têm-se dois sistemas de custeio distintos: o custeio por</p><p>ordem (ou encomenda) e o custeio por processo (ou contínuo).</p><p>Um exemplo de produção por ordem é o da marcenaria, na qual o consumidor vai até o</p><p>estabelecimento, identifica um produto que gostaria</p><p>as suas necessidades informacionais, salvo se for obrigada a elaborar demonstrações contábeis</p><p>regulatórias, cujo Plano de Contas costuma ser determinado pela agência regulatória. Ainda assim,</p><p>o regulador costuma permitir flexibilidade para as empresas criarem subcontas. Para exemplificar</p><p>as subcontas, imagine que a conta 1.01.01 representa Ativo – Ativo Circulante – Caixa e</p><p>Equivalentes de Caixa, sendo composta das seguintes subcontas (não apresentadas na Tabela 1):</p><p>1.01.01.01 – Dinheiro em Caixa;</p><p>1.01.01.02 – Depósito Bancário (conta corrente) e</p><p>1.01.01.03 – Aplicações Financeiras de baixo risco e curto prazo.</p><p>14</p><p>Desse modo, quem quiser saber o saldo da conta 1.01.01 – Caixa e Equivalentes de Caixa só</p><p>precisa apurar o somatório dos saldos das suas subcontas: 1.01.01.01 + 1.01.01.02 + 1.01.01.03.</p><p>Objetivo da Contabilidade</p><p>A Contabilidade é uma ciência fundamentalmente utilitária. O seu grande produto é o</p><p>provimento de informações para planejamento e controle, evidenciando informações referentes à</p><p>situação patrimonial, econômica e financeira de uma empresa.</p><p>O propósito básico da Contabilidade é prover aos “tomadores de decisões” – diretores, gerentes,</p><p>administradores da empresa e todos os interessados – informações úteis para a sua melhor atuação.</p><p>De modo objetivo, a Contabilidade é um sistema de informação e avaliação destinado a</p><p>prover os seus usuários com demonstrações e análises de natureza econômica, financeira, física e de</p><p>produtividade no que tange à entidade objeto da contabilização.</p><p>A Contabilidade Financeira – ou Societária –, a linguagem dos negócios, objetiva mostrar a</p><p>saúde financeira da empresa.</p><p>Usuários da informação contábil</p><p>A coleta – obtenção –, o registro e a sumarização da informação econômica visam a</p><p>fundamentar o processo decisório de todas as pessoas relacionadas com as entidades, tais como os</p><p>administradores, os investidores, o governo, os empregados, os financiadores e toda a sociedade, ou</p><p>seja, aqueles que constituem os agentes econômicos internos e externos.</p><p>De acordo com o objetivo de cada usuário – decisão quanto a investimentos ou financiamentos,</p><p>distribuição de resultados, entre outros –, existe uma demanda diferenciada de informações contábeis.</p><p>Por esse motivo, podemos dividir os usuários da informação do seguinte modo:</p><p> acionista controlador – retorno do capital comparado com o risco, a valorização da</p><p>empresa, o lucro e os dividendos;</p><p> administradores – retorno do capital e do ativo, otimização dos gastos realizados, otimização</p><p>das decisões futuras, lucratividade do mix de produtos e participação nos lucros;</p><p> financiadores – capacidade de pagamento, grau de endividamento;</p><p> governo – tributação e arrecadação de impostos, taxas e contribuições, além da</p><p>formulação de diretrizes da política econômica, bem como das atividades do Judiciário</p><p>e das agências reguladoras;</p><p> acionista minoritário – fluxo regular de dividendos e valorização da empresa e</p><p> empregados – capacidade de pagamento dos salários, perspectivas de crescimento da</p><p>empresa e participação nos lucros.</p><p>15</p><p>De forma geral, pode-se dizer que o conjunto completo de demonstrações contábeis</p><p>normatizadas pelo International Accounting Standards Board (Iasb) e pelo CPC visa a gerar</p><p>informação relevante a um amplo grupo de usuários que não têm condições de exigir informação</p><p>detalhada para atender às suas necessidades específicas.</p><p>Limitações da contabilidade</p><p>Infelizmente, deve-se reconhecer que as informações contábeis não podem reproduzir o</p><p>patrimônio da empresa com total fidelidade e certeza de forma a atender com plenitude às</p><p>necessidades informacionais de todos os usuários.</p><p>Nesse sentido, as demonstrações contábeis se assemelham ao mapa de uma cidade. Do mesmo</p><p>modo que o mapa é uma simplificação da realidade geográfica, em uma escala menor que a</p><p>realidade, as demonstrações contábeis também fazem uma simplificação da realidade econômica e</p><p>financeira da entidade. Imagine se o mapa representasse todos os mínimos detalhes de cada rua.</p><p>Provavelmente, ninguém conseguiria se localizar, pois perderia a noção “do todo” e se distrairia</p><p>com os detalhes. Do mesmo modo, as demonstrações contábeis não têm por objetivo representar</p><p>todos os diversos e mínimos detalhes de cada transação ou evento que afetou o patrimônio das</p><p>empresas. Isso pode ser entendido como uma limitação, pois, se algum usuário estiver interessado,</p><p>especificamente, em um detalhe não representado nas demonstrações contábeis, irá percebê-las</p><p>como de baixa utilidade.</p><p>A contabilidade utiliza avaliações e, como todo sistema de mensuração, tem limitações –</p><p>inclusive de custo-benefício –, pois deve conciliar a utilidade da informação com os requisitos da</p><p>praticabilidade e da objetividade.</p><p>O fato de a contabilidade se concentrar na avaliação monetária apresenta um grande aspecto</p><p>positivo, mas também enseja limitações, visto que é impossível a quantificação monetária de todos</p><p>os eventos econômicos. O processo de avaliação é agravado pelo problema da flutuação de preços,</p><p>que impacta de forma definitiva a avaliação do patrimônio líquido e do resultado ao longo do</p><p>tempo. Desse modo, a informação do lucro líquido não deveria ser a única medida de avaliação do</p><p>sucesso de uma empresa durante um período.</p><p>O resultado exato de uma empresa – ou seja, a variação do patrimônio investido pelos</p><p>proprietários – somente poderá ser apurado no fim da sua vida, quando os ativos da empresa forem</p><p>liquidados. No entanto, para proporcionar informações úteis, a Contabilidade tem a missão de</p><p>calcular o resultado a intervalos regulares de tempo. Esse é o motivo pelo qual a Contabilidade é</p><p>estruturada sobre o conceito de lucro – regime de competência –, e não sobre o conceito de caixa –</p><p>regime de caixa.</p><p>16</p><p>Para aprimorar essa informação, é preciso introduzir, na quantificação do lucro, variáveis</p><p>não monetárias de mensuração subjetiva, como custo de oportunidade, inovação tecnológica,</p><p>qualidade de produtos, satisfação da clientela, investimentos sociais, ambientais e treinamento</p><p>de empregados.</p><p>No entanto, um aspecto fundamental deve ser esclarecido. No longo prazo (muito longo</p><p>prazo), se considerarmos toda a vida da empresa (da data da sua constituição até o encerramento</p><p>das suas atividades, a venda dos ativos e a liquidação de todos os passivos), o fluxo de lucros (regime</p><p>de competência) iguala-se ao fluxo de caixa (regime de caixa). Contudo, o gestor (e demais</p><p>interessados) não podem aguardar que a empresa encerre as suas atividades para descobrir se ela</p><p>ganhou ou perdeu dinheiro. Então, o controle por meio das informações contábeis é imprescindível</p><p>para todas as empresas. Nesse sentido, a informação sobre o fluxo de lucros (regime de competência)</p><p>é fundamental para a avaliação da gestão da empresa. Ademais, o fluxo de lucros (regime de</p><p>competência) tem conteúdo informacional de qualidade superior ao fluxo de caixa (regime de</p><p>caixa). Afinal, o fluxo de lucros (regime de competência) contém informação sobre o fluxo de caixa</p><p>corrente e sobre as expectativas de fluxos de caixa futuros. Por essa razão, é obrigatória a adoção do</p><p>regime de competência para a elaboração das demonstrações contábeis de propósito geral, em</p><p>conformidade com os IFRS e CPCs.</p><p>Portanto, o conceito de lucro é obtido por meio do regime de competência, que representa a</p><p>alocação lógica e racional do fluxo de caixa ao longo da vida da empresa.</p><p>Dessa forma, a diferença entre o conceito de lucro e de caixa é apenas temporal, visto que</p><p>esses conceitos são idênticos no fim da vida da empresa.</p><p>Principais demonstrações elaboradas pela Contabilidade</p><p>Financeira</p><p>As principais demonstrações elaboradas pela Contabilidade Financeira são as demonstrações</p><p>contábeis de propósito geral. Isto é: relatórios contábil-financeiros elaborados com o objetivo de gerar</p><p>informação útil a uma ampla gama de usuários – investidores e credores, potenciais e efetivos – que não</p><p>têm</p><p>de comprar – muitas vezes, essa escolha é feita</p><p>folheando-se um catálogo ou percorrendo-se o mostruário (showroom), negocia o preço e paga um</p><p>sinal (caução ou garantia). Só então o gestor da marcenaria abrirá uma ordem (encomenda) para</p><p>que se inicie o processo de produção do móvel.</p><p>Outro exemplo de produção por ordem, sendo de serviço, é o da oficina mecânica, na qual o</p><p>consumidor leva o carro avariado, explica ao chefe da oficina os sintomas (problemas) que o carro</p><p>vem apresentando, negocia o preço e deixa o carro. Só então, o gestor da oficina abrirá uma ordem</p><p>(ordem de serviço) para que um mecânico inicie o conserto.</p><p>A partir desses dois exemplos, pode-se perceber que a identificação dos custos de cada ordem,</p><p>pelo menos dos custos diretos, é bastante facilitada. Basta analisar os custos dos recursos cujos</p><p>consumos foram apontados nas ordens, uma vez que as ordens têm início e fim delimitados pelas</p><p>datas de abertura e de encerramento da respectiva ordem. Por exemplo, a tinta verde consumida para</p><p>pintar o carro (verde) que chegou avariado na oficina mecânica é um custo direto do serviço de reparo</p><p>desse carro. Além disso, a apuração do estoque final também é substancialmente facilitada, pois só</p><p>permanecem em estoque aquelas ordens ainda não encerradas no fim do período contábil, cujos custos</p><p>são associados – repita-se – aos apontamentos nas respectivas fichas de ordens de produção.</p><p>Já a produção por processo (ou contínua), como o nome sugere, não tem início e fim</p><p>identificados com a mesma acurácia da produção por ordem. Afinal, a sua produção é contínua.</p><p>Desse modo, no fim do período de apuração (normalmente um mês), o contador apura o custo da</p><p>produção já iniciada, mas ainda não acabada (normalmente, por medições físicas).</p><p>20 Em vários livros estrangeiros de Custos, o fluxo ou processo de produção é tratado como tipos de Sistemas de Custeio.</p><p>Por isso, tentamos convergir para um escopo em que os Sistemas de Custeio contemplem tanto a figura de processos de</p><p>acumulação (por ordem ou processo) como a figura de processos de mensuração (Custo Real ou Custo Orçado).</p><p>161</p><p>Exemplos de produção contínua são: a fabricação de cimento, a moagem de farinha, a</p><p>extração e o refino de petróleo, a produção de biodiesel e a siderurgia. Desse modo, a produção</p><p>contínua é a realidade do processo de produção de itens em massa, padronizados, com pouca ou</p><p>nenhuma diferenciação.</p><p>O principal problema da produção contínua diz respeito à avaliação do estoque final, já que, no</p><p>fim do período de apuração, existem insumos em diferentes estágios de aplicação distribuídos ao longo</p><p>da linha (processo fabril). Dessa forma, é necessário adotar estimativas como a produção equivalente. A</p><p>produção equivalente mede os recursos consumidos para semielaborar unidades, relativamente aos</p><p>recursos necessários para completar as unidades. Digamos que determinada siderúrgica tenha iniciado</p><p>a produção de uma tonelada de aço e que, no fim do período, os produtos estejam 40% completos, em</p><p>média. Nesse caso, a produção semiacabada equivale a 400.000 kg (1.000.000 kg × 40%).</p><p>Método de custeio por absorção</p><p>Também denominado custeio funcional, custeio tradicional ou full cost, é o critério utilizado</p><p>para fins de evidenciação legal do resultado, isto é, utilizado para fins societários (pagar dividendos)</p><p>e fiscais (pagar Imposto de Renda e contribuição social). É adotado para tais fins já que elimina</p><p>grande parte da discricionariedade do gestor na composição da informação de custo, aumentando</p><p>o controle dos agentes externos à firma sobre o impacto da informação de custo nos resultados</p><p>contábeis. Possui as seguintes características:</p><p>1. Atende às exigências societárias e fiscais, além de estar de acordo com os princípios e as</p><p>normas de contabilidade – foco dos livros de Contabilidade Geral – e com as normas da</p><p>legislação tributária.</p><p>2. Consiste em alocar aos produtos todos os custos incorridos no processo de fabricação, sejam</p><p>eles diretos ou indiretos, fixos ou variáveis.</p><p>3. As despesas de vendas – administrativas e outras – não incorporam o custo do produto, sendo</p><p>registradas diretamente no resultado do período.</p><p>162</p><p>Figura 2 – Esquema do custeio por absorção</p><p>No esquema, apresentou-se que o rateio é baseado em uma única base de rateio. Embora essa seja</p><p>a prática contábil mais adotada, tal afirmação não é necessariamente verdadeira, já que empresas podem</p><p>adotar mais de um critério de rateio – um para cada recurso consumido, por exemplo.</p><p>Informações adicionais:</p><p> Todos os custos são alocados aos produtos, sendo apropriados ao resultado no momento</p><p>da venda dos respectivos produtos.</p><p> Para o usuário externo, sugere-se a divisão da empresa em duas partes: a fábrica e as</p><p>atividades comercial, administrativa e financeira.</p><p> Apuração do custo de produção deve-se dar somente após rateio dos custos indiretos.</p><p> Os custos fixos totais independem de oscilações do volume fabricado – dentro do intervalo</p><p>relevante.</p><p> Apurações distorcidas do custo unitário total por produto, em cada período.</p><p>Método de custeio variável</p><p>Pela própria natureza dos custos fixos – invariabilidade no todo e variação por unidade, e por</p><p>propiciar valores de lucro não muito úteis para fins decisórios –, criou-se um critério alternativo ao</p><p>custeio por absorção. Trata-se do custeio variável, também denominado custeio gerencial e custeio por</p><p>contribuição, no qual só são agregados aos produtos os seus custos variáveis, considerando-se os</p><p>custos fixos como se fossem despesas – imediatamente no resultado.</p><p>163</p><p>Nas demonstrações contábeis à base do custeio variável, obtém-se um lucro (margem de</p><p>contribuição) que acompanha sempre a direção das vendas – o que não ocorre com o custeio por</p><p>absorção. Por contrariar os princípios do reconhecimento da receita e da confrontação de despesas</p><p>(regime de competência), o custeio variável não é válido para demonstrações contábeis de uso</p><p>externo, deixando de ser aceito tanto pela Auditoria Externa quanto pelo Fisco. No entanto, é fácil</p><p>trabalhar com ele durante o ano e fazer uma adaptação de fim de exercício para se voltar ao custeio</p><p>por absorção.</p><p>Desvantagens do custeio por absorção que justificam a adoção do custeio variável:</p><p> Custos indiretos e fixos dificultam a tomada de decisões.</p><p> Custos indiretos e fixos são apropriados aos produtos por meio de uma taxa de rateio –</p><p>arbitrariamente.</p><p> Difícil utilização em projeções orçamentárias e análises de viabilidade de projetos.</p><p>Vantagens do custeio variável:</p><p> Os custos dos produtos são mensuráveis objetivamente, pois não sofrerão processos</p><p>arbitrários ou subjetivos de distribuição dos custos fixos.</p><p> O lucro líquido não é afetado por mudanças de incremento ou diminuição de inventários.</p><p> Os dados necessários para a análise das relações custo-volume-lucro são rapidamente</p><p>obtidos do sistema de informação contábil – baseado no custeio variável.</p><p> O custeio variável é totalmente integrado com custo-padrão e orçamento flexível,</p><p>possibilitando o correto controle de custo.</p><p> Custeio variável constitui um conceito de custeamento de inventário que corresponde,</p><p>proporcionalmente, aos dispêndios necessários para manufaturar os produtos.</p><p> O custeio variável possibilita mais clareza no planejamento do lucro e na tomada de decisões.</p><p>Desvantagens do custeio variável:</p><p> A exclusão dos custos fixos para valoração dos estoques causa a sua subavaliação, fere os</p><p>princípios contábeis e altera o resultado do período.</p><p> Na prática, a separação entre custos fixos e variáveis não é tão clara como parece, pois</p><p>existem custos híbridos (semivariáveis e semifixos), podendo o custeio variável incorrer em</p><p>problemas semelhantes de identificação dos elementos de custeio.</p><p> Custeio variável é um conceito de custeamento e análise de custos para decisões de curto</p><p>prazo, mas subestima os custos fixos, que são ligados à capacidade de produção e de</p><p>planejamento de longo prazo,</p><p>podendo trazer problemas de continuidade para a empresa.</p><p>164</p><p>Figura 3 – Esquema do custeio variável</p><p>Comentário sobre a conciliação entre os métodos de custeio</p><p>Como já dito, a utilização do custeio variável para fins de elaboração das demonstrações</p><p>contábeis e para a apuração de resultado tributável não é permitida legalmente no Brasil.</p><p>Sabe-se que o motivo é o fato de ele lançar para resultados todos os custos e as despesas fixos, o</p><p>que provoca uma redução do lucro do período, indo de encontro ao regime de competência.</p><p>Isso é o entendimento para o que vai ocorrer no fim do balanço do período, ou seja, quando do</p><p>encerramento para fins de divulgação e tributação. Por isso, muitas empresas deixam de utilizar o custeio</p><p>variável por acharem que seria um custo a mais em termos de sistemas e de estrutura.</p><p>Durante o período do exercício social e fiscal, a empresa pode trabalhar com o método do</p><p>custeio variável apenas. Isso é uma permissão para aquelas que necessitam de uma ferramenta de</p><p>gestão mais do que de uma ferramenta de apuração de resultados contábeis e fiscais.</p><p>Para operacionalizar essa situação, a empresa deverá manter controles específicos dos seus</p><p>custos fixos (indiretos, na maioria), lançados diretamente no resultado, e não por motivo de venda</p><p>e consequente baixa de estoques. No fim de cada período em que houver a necessidade de se apurar</p><p>custos dos recursos</p><p>(contas contábeis: materiais, salários,</p><p>encargos, energia, depreciação)</p><p>custos fixos</p><p>(supervisão, aluguel, materiais</p><p>auxiliares, energia, depreciação)</p><p>custos variáveis</p><p>(materiais diretos, mão de obra direta)</p><p>Receita</p><p>(-) Custos Variáveis dos Produtos Vendidos</p><p>(-) Despesas Variáveis</p><p>(=) Margem de Contribuição</p><p>(-) Custos Fixos do Período</p><p>(-) Despesas Fixas</p><p>(=) Lucro Operacional</p><p>165</p><p>o resultado contábil e o fiscal, a empresa deverá estornar os custos fixos lançados em resultado,</p><p>adicionando-os aos estoques não vendidos, recuperando e conciliando, dessa maneira, os custos de</p><p>produtos vendidos e os estoques de produtos acabados, em termos de valores patrimoniais</p><p>consistentes com a legislação e a norma contábil.</p><p>Em termos de lançamentos contábeis e do momento, considerando-se que se utilizou o</p><p>custeio variável e que se deseja obter os valores de estoque e de CPV, as contabilizações seriam:</p><p>Quadro 5 – Custeio variável: valores de estoque e de CPV</p><p>momento débito crédito</p><p>fim do período 1</p><p>(ajuste para o</p><p>absorção)</p><p>estoques – diferença de custo fixo</p><p>do período 1 lançado em</p><p>resultado pelo variável</p><p>CPV – diferença de custo fixo do</p><p>período 1 lançado em resultado pelo</p><p>variável</p><p>início do período 2</p><p>(ajuste para o</p><p>variável)</p><p>lucros acumulados (reservas de</p><p>lucro) – diferença de custo fixo do</p><p>período 1 lançado em resultado</p><p>pelo variável</p><p>estoques – diferença de custo fixo do</p><p>período 1 lançado em resultado pelo</p><p>variável</p><p>fim do período 2</p><p>(ajuste de lucros</p><p>acumulados e de</p><p>estoques para o</p><p>método de custeio</p><p>por absorção)</p><p>estoques – diferença de custo fixo</p><p>do período 1 lançado em</p><p>resultado pelo variável</p><p>lucros acumulados (reservas de lucro)</p><p>– diferença de custo fixo do período 1</p><p>lançado em resultado pelo variável</p><p>CPV – diferença de custo fixo do</p><p>período 1 lançado em resultado</p><p>pelo variável</p><p>estoques – diferença de custo fixo do</p><p>período 1 lançado em resultado pelo</p><p>variável</p><p>estoques – diferença de custo fixo</p><p>do período 2 lançado em</p><p>resultado pelo variável</p><p>CPV (lucro) – diferença de custo fixo do</p><p>período 1 lançado em resultado pelo</p><p>variável</p><p>Dessa maneira, o procedimento é repetido para os demais períodos. Com isso, pode-se</p><p>manter o foco na gestão da empresa com o subsídio às decisões dado pelo custeio variável e ajustar-</p><p>se ao custeio por absorção quando necessário.</p><p>Comentário sobre a capacidade instalada e a legislação societária</p><p>Em 2007, a CVM emitiu o Ofício-Circular CVM/SNC/SEP nº 1/2007, cujo propósito é</p><p>indicar diretrizes que devem ser seguidas pelas companhias abertas ao elaborarem as suas</p><p>demonstrações contábeis anuais, para fins societários, portanto, sem qualquer impacto tributário e</p><p>sem a pretensão de ser utilizada para fins decisórios internos às firmas.</p><p>Um dos pontos desse Ofício-Circular diz respeito à alocação dos custos fixos aos</p><p>produtos, o que deve ser feito com base na capacidade instalada normal de produção (item 3</p><p>do Ofício-Circular).</p><p>166</p><p>Veja o texto do item 3 do Ofício-Circular:</p><p>Ofício-Circular CVM/SNC/SEP nº 1/2007</p><p>3. Estoques</p><p>3.1 Critérios de avaliação de estoques</p><p>Devem ser adotados os critérios de avaliação de estoques estabelecidos no</p><p>art. 183 da Lei nº 6.404/76. Não serão aceitos procedimentos</p><p>alternativos que contrariem as regras estabelecidas no referido artigo,</p><p>especialmente os criados pela legislação tributária ou mesmo por</p><p>legislação especial que não contemple a Lei das Sociedades por Ações.</p><p>3.2 Divulgação em nota explicativa de Estoques</p><p>3.2.1 Divulgação em nota explicativa de estoques</p><p>Sempre que houver alteração significativa nos níveis de estocagem, esse</p><p>fato deverá ser objeto de esclarecimento em nota explicativa.</p><p>As companhias abertas que, por autorização da CVM, estiverem em fase</p><p>de implantação de sistema de contabilidade de custos, deverão esclarecer o</p><p>fato em nota explicativa, sujeitando-se, quanto aos efeitos, às restrições</p><p>cabíveis que venham a ser apontadas pela auditoria independente.</p><p>(OFÍCIO-CIRCULAR/CVM/PTE nº 309/86 e PARECER DE</p><p>ORIENTAÇÃO CVM nº 27/94)</p><p>3.2.2 Capacidade Ociosa</p><p>Devem ser fornecidas informações para dar ciência da dimensão do fato,</p><p>tais como: a existência, expectativa de mudança e tratamento contábil</p><p>relacionados à capacidade ociosa (PARECER DE ORIENTAÇÃO CVM</p><p>nº 24/92).</p><p>A esse respeito, o parágrafo 13 do pronunciamento internacional IAS – 2</p><p>dispõe: “A alocação de despesas indiretas fixas de produção [custos</p><p>indiretos e fixos] aos custos de transformação é baseada na capacidade</p><p>normal de produção. Capacidade normal é a produção que se espera</p><p>167</p><p>atingir, em média, ao longo de vários períodos ou de períodos sazonais,</p><p>em condições normais, levando em consideração a redução da</p><p>capacidade resultante de manutenção planejada. O nível real de</p><p>produção pode ser usado se estiver próximo da capacidade normal. O</p><p>montante das despesas indiretas fixas [custos indiretos e fixos] alocadas</p><p>a cada unidade de produção não aumenta como consequência da baixa</p><p>produção ou da inatividade da fábrica. Despesas indiretas [custos</p><p>indiretos] não alocadas aos custos são tratadas como despesas no</p><p>período em que foram incorridas”. (grifo nosso)</p><p>Buscando completar a leitura desse trecho do Ofício-Circular, veja também o conteúdo</p><p>do art. 183 da Lei nº 6.404/76 e do Parecer de Orientação CVM nº 24/92:</p><p>Lei nº 6.404/76 – Lei das Sociedades por Ações</p><p>Art. 183. No balanço, os elementos do ativo serão avaliados segundo os</p><p>seguintes critérios: [...]</p><p>II - os direitos que tiverem por objeto mercadorias e produtos do comércio</p><p>da companhia, assim como matérias-primas, produtos em fabricação e</p><p>bens em almoxarifado, pelo custo de aquisição ou produção, deduzido de</p><p>provisão para ajustá-lo ao valor de mercado, quando este for inferior; [...]</p><p>§ 1º Para efeitos do disposto neste artigo, considera-se valor de mercado:</p><p>a) das matérias-primas e dos bens em almoxarifado, o preço pelo qual</p><p>possam ser repostos, mediante compra no mercado;</p><p>b) dos bens ou direitos destinados à venda, o preço líquido de realização</p><p>mediante venda no mercado, deduzidos os impostos e demais despesas</p><p>necessárias para a venda, e a margem de lucro; [...]</p><p>§ 4º Os estoques de mercadorias fungíveis destinadas à venda poderão ser</p><p>avaliados pelo valor de mercado, quando esse for o costume mercantil</p><p>aceito pela técnica contábil.</p><p>Parecer de Orientação CVM nº 24/1992</p><p>2. CAPACIDADE OCIOSA</p><p>O custo referente à capacidade instalada deve ser transferido às unidades</p><p>produzidas, integralmente, sempre que as instalações</p><p>produtivas estiverem</p><p>sendo utilizadas em condições normais. A partir do ponto em que a</p><p>168</p><p>ociosidade deixar de estar dentro dos limites da normalidade, o custo</p><p>referente a essa ociosidade em excesso deve ser levado diretamente à</p><p>despesa não operacional, a título de item extraordinário, não se admitindo</p><p>a sua transferência para estoques, evitando-se, desta maneira, o risco de uma</p><p>superavaliação destes e da não possibilidade da sua recuperação.</p><p>A ociosidade anormal é um fator não rotineiro ou não recorrente e</p><p>pode acontecer em função de greve, recessão econômica acentuada</p><p>no setor de atuação da companhia ou outra razão econômica, interna</p><p>ou externa, extemporânea.</p><p>São custos de capacidade instalada, todos os de natureza fixa, como</p><p>depreciação, aluguéis, etc., inclusive os de supervisão incluídos nos gastos</p><p>indiretos de fabricação.</p><p>Na existência de capacidade ociosa, a companhia aberta elaborará nota</p><p>explicativa para dar ciência da dimensão do fato aos interessados em</p><p>suas informações. (grifo nosso)</p><p>Qual foi o racional da CVM ao emitir o Ofício-Circular com essa redação? Harmonizar as</p><p>práticas contábeis brasileiras às internacionais (IAS 2, § 13, e ARB 43 alterado pelo SFAS 151) e</p><p>fazer com que as empresas brasileiras apurem os custos dos produtos de forma mais coerente à</p><p>Teoria da Contabilidade, pelo menos, para fins societários (divulgação aos usuários externos).</p><p>A relação com a Teoria da Contabilidade pode ser observada pelo silogismo que segue:</p><p>Ativo é a aplicação de recursos da qual se espera a geração de benefícios futuros.</p><p>A ociosidade presente não gerará benefícios futuros.</p><p>Logo, os gastos de produção associados à manutenção de capacidade ociosa</p><p>(capacidade instalada maior do que a normal de produção) não devem ser</p><p>contabilizados como um Ativo (custo de produção, estoque), mas sim como</p><p>uma Despesa do período (ou até como uma perda – despesa extraordinária).</p><p>Quais são os impactos dessas normas na conciliação entre as informações geradas para fins</p><p>gerenciais – internos à firma – e aquelas necessárias para divulgação aos usuários externos.</p><p>169</p><p>O gestor preocupado em melhor administrar a produção não deveria considerar, para fins internos,</p><p>a ociosidade como um Ativo, mas imediatamente como uma perda. Ao exigir esse tratamento contábil</p><p>para fins societários – pelo menos no que diz respeito à ociosidade anormal –, a CVM: (a) viabilizou o</p><p>compartilhamento de informações entre os sistemas contábeis gerencial e societário; (b) facilitou a</p><p>conciliação entre as informações geradas por eles; (c) incentivou a observância do conceito de Ativo nas</p><p>demonstrações contábeis; (d) acelerou a harmonização das práticas contábeis brasileiras com as</p><p>internacionais.</p><p>Observe o texto do item 3.1 do Ofício-Circular CVM/SNC/SEP nº 1/2007: “Não serão aceitos</p><p>procedimentos alternativos que contrariem as regras estabelecidas no referido artigo, especialmente os</p><p>criados pela legislação tributária”. Desse modo, mesmo que a legislação do Imposto de Renda não aceite</p><p>o reconhecimento dos gastos relativos à capacidade ociosa como despesa do período, as empresas deverão</p><p>reconhecê-los como tal, observados os ditames das normas societárias. Nesse caso, a base de cálculo do</p><p>Imposto de Renda (lucro real) deverá ser ajustada – adicionando-se tal despesa.</p><p>Independentemente da questão tributária, que definitivamente não é o nosso foco, uma questão</p><p>factual há de ser considerada quando se discute a ociosidade – é o tratamento dos gastos com a manutenção</p><p>do parque fabril durante o período de entressafra ou de férias coletivas.</p><p>Imagine uma instalação industrial dedicada ao processamento de um único tipo de matéria-prima</p><p>sujeita à oferta somente no período da safra, por exemplo, tabaco, morango, cana-de-açúcar e açaí.</p><p>Digamos que essa instalação seja utilizada no processo produtivo durante os meses de março a novembro.</p><p>No entanto, entre dezembro e fevereiro, suponha que a instalação fique parada em função da normal</p><p>escassez de matéria-prima e, claro, que a entidade arque com os gastos de manutenção do parque fabril</p><p>durante o período de escassez.</p><p>Qual é o adequado tratamento contábil desses gastos? Certamente, não é o reconhecimento como</p><p>despesa do período, uma vez que essa ociosidade é normal, esperada e inerente ao ciclo da natureza. Nesse</p><p>contexto, o mais adequado é considerá-los como custos dos itens produzidos com as matérias-primas da</p><p>safra subsequente. Dessa forma, tais gastos devem ser acumulados como Despesas Antecipadas – ou em</p><p>uma subconta de Estoque de Produtos em Processo, por exemplo, Gastos de Manutenção durante a</p><p>Entressafra – e alocados aos produtos produzidos com as matérias-primas colhidas na safra que se esperava.</p><p>Aproveitando os dados da situação hipotética utilizada para ilustrar o caso, os gastos incorridos de</p><p>dezembro a fevereiro com a manutenção do parque fabril deveriam ser alocados aos produtos processados</p><p>entre março e novembro.</p><p>O mesmo ocorre com os gastos de manutenção incorridos durante o período de férias coletivas:</p><p>devem ser acumulados e apropriados aos produtos produzidos nos 11 meses subsequentes às férias.</p><p>Essa questão se torna mais complexa se a empresa produzir um volume muito pequeno durante a</p><p>entressafra ou as férias coletivas. Nesse caso, só se consideraria custo do baixo volume produzido</p><p>proporcionalmente à produção normal na época pós-safra. Retomando o caso hipotético, imagine que a</p><p>produção mensal de dezembro, janeiro e fevereiro corresponda a 10% da produção normal dos meses de</p><p>março a novembro, e que os gastos mensais de manutenção sejam $ 2.000 (fixos). A alocação desses gastos</p><p>aos custos dos produtos seria:</p><p>170</p><p>Tabela 53 – Alocação dos gastos aos custos dos produtos</p><p>mês</p><p>gasto com</p><p>manutenção incorrido</p><p>produção</p><p>gasto com manutenção</p><p>alocado</p><p>janeiro 2.000,00 100 258,06</p><p>fevereiro 2.000,00 100 258,06</p><p>março 2.000,00 1.000 2.580,65</p><p>abril 2.000,00 1.000 2.580,65</p><p>maio 2.000,00 1.000 2.580,65</p><p>junho 2.000,00 1.000 2.580,65</p><p>julho 2.000,00 1.000 2.580,65</p><p>agosto 2.000,00 1.000 2.580,65</p><p>setembro 2.000,00 1.000 2.580,65</p><p>outubro 2.000,00 1.000 2.580,65</p><p>novembro 2.000,00 1.000 2.580,65</p><p>dezembro 2.000,00 100 258,06</p><p>total 24.000,00 9.300 24.000,00</p><p>Nesse caso hipotético, o custo-padrão com manutenção seria de $ 2,580645/unidade</p><p>($ 24.000/9.300 unidades).</p><p>Neste módulo, vamos estudar a utilização das informações geradas pela Contabilidade de</p><p>Custos elaborada com base no custeio variável. Desse modo, estudaremos a relação custo-volume-</p><p>lucro, que é muito útil para identificar a quantidade mínima que a entidade precisa produzir e</p><p>vender para não apurar prejuízo (ponto de equilíbrio), a queda máxima que as vendas podem sofrer</p><p>para que a entidade não apure prejuízo (margem de segurança).</p><p>Introdução</p><p>Uma vez que estudamos a Contabilidade de Custos, estamos aptos a analisar os Custos – o</p><p>que começa a ser o foco de estudo da Contabilidade Gerencial.</p><p>A análise da relação custo-volume-lucro (CVL) decorre da análise incremental, isto é, do</p><p>lucro que se obtém se mais uma unidade for vendida.</p><p>A grande vantagem da análise incremental é a praticidade e a facilidade. Afinal, projetar o</p><p>que ocorrerá com o lucro, se uma unidade adicional for vendida, é substancialmente mais fácil do</p><p>que estimar o lucro caso a venda adicional fosse de 25.595.781 unidades.</p><p>Observe que a análise incremental é desenvolvida nas mais comuns situações. Imagine que</p><p>você está caminhando na trilha de uma montanha com muita neblina. A neblina é tanta que você</p><p>não enxerga um palmo à sua volta. Como saberá se já chegou ao topo? Simples, analisando o esforço</p><p>adicional do próximo passo à frente, você saberá se ainda está subindo (ainda não chegou ao topo)</p><p>ou se já está descendo (já passou pelo topo).</p><p>Partindo de uma analogia simples como essa, neste módulo, analisaremos questões do tipo:</p><p>quantas unidades precisam ser produzidas e vendidas para não</p><p>ter prejuízo? Em quanto as vendas</p><p>podem reduzir-se sem que a empresa tenha prejuízo? Se o volume alterar em x%, qual será o lucro?</p><p>Como essas três questões anteriores funcionam em uma empresa que produz e vende uma</p><p>MÓDULO VI – RELAÇÃO CUSTO-VOLUME-</p><p>LUCRO (1ª PARTE)</p><p>172</p><p>diversidade de produtos? Que produto deve ter produção e venda incentivadas caso um recurso</p><p>comum a diversos produtos esteja em falta? Vale a pena aceitar uma oferta especial se o cliente</p><p>estiver disposto a pagar um preço menor do que o tradicionalmente cobrado pela empresa?</p><p>Para responder a todas essas questões, utilizaremos o custeio variável. Desse modo, é bom</p><p>ressaltar que não existe custo ou despesa eternamente fixos. Ambos são fixos dentro de certos limites</p><p>de oscilação da atividade a que se referem – intervalo relevante –, após o qual os custos aumentam</p><p>em degraus. Dessa forma, o custo com a supervisão de uma fábrica pode manter-se constante até</p><p>que ela atinja, por exemplo, 50% da sua capacidade – a partir daí, provavelmente, precisará de um</p><p>acréscimo para que a supervisão consiga desempenhar bem a sua função.</p><p>Podemos verificar, como no exemplo dado pelo professor Eliseu Martins (Contabilidade de</p><p>custos, 2003), que uma planta parada, sem atividade alguma, já é responsável pela existência de</p><p>alguns tipos de custos e despesas fixos, tais como vigia, lubrificação das máquinas, depreciação,</p><p>entre outros. Para colocá-la em condições de funcionamento – mesmo que a 10% da capacidade –</p><p>, já há um acréscimo abrupto desses custos, seja com chefias, mestres, mecânicos, almoxarifes, entre</p><p>outros. Com essa estrutura, talvez seja possível suportar até 20% da capacidade. Para aumentar um</p><p>pouco, serão necessários outros homens – para a recepção de materiais, controle de qualidade,</p><p>ferramentaria, etc. –, o que pode provocar uma variação menor ou maior do que a porcentagem de</p><p>acréscimo do volume de produção.</p><p>Em inúmeras empresas, os únicos custos realmente variáveis, no verdadeiro sentido da</p><p>palavra, são as matérias-primas. Mesmo assim, pode acontecer de o grau de consumo delas, em</p><p>algum tipo de empresa, não ser exatamente proporcional ao nível de produção.</p><p>Por exemplo, certas indústrias têm altas perdas no processamento da matéria-prima quando</p><p>o volume produzido é baixo e tendem a diminuir, percentualmente, quando a produção cresce. Em</p><p>contrapartida, a mão de obra direta pode crescer à medida que se produz mais, mas não de forma</p><p>exatamente proporcional, já que a produtividade tenderia a aumentar até certo ponto, para depois</p><p>começar a cair.</p><p>Se o pessoal da produção (chão de fábrica) tem oito horas para produzir 60 unidades –</p><p>considerando que, normalmente, levaria seis para tal volume –, provavelmente, gastará as oito horas</p><p>trabalhando de forma mais calma, caso o volume por hora não esteja condicionado por máquinas.</p><p>Se o volume passar para 80 unidades, eles vão trabalhar as mesmas oito horas. Ao chegar a 90</p><p>unidades, é possível que levem pouco mais de nove horas, em função do cansaço, que faz decrescer</p><p>a produtividade.</p><p>O estudo das relações entre receita (vendas), despesas (custos) e renda líquida (lucro líquido)</p><p>é denominado análise de custo-volume-lucro.</p><p>A análise de custo-volume-lucro propicia uma ampla visão financeira do processo de</p><p>planejamento. Ela examina o comportamento das receitas totais, dos custos totais e do lucro à</p><p>medida que ocorre uma mudança no nível de atividade, no preço de venda ou nos custos fixos.</p><p>173</p><p>Normalmente, os gerentes utilizam a análise custo-volume-lucro como ferramenta para</p><p>auxiliá-los em questões do tipo: em quanto seriam afetados os custos e as receitas se vendêssemos</p><p>1.000 unidades a mais? E se aumentássemos ou diminuíssemos o preço de venda, ou, ainda, se</p><p>expandíssemos o negócio para mercados no exterior?</p><p>O custo-volume-lucro foi desenvolvido com o intuito de simplificar as hipóteses sobre os</p><p>padrões de comportamento do custo e da receita.</p><p>A análise de custo-volume-lucro está baseada nas seguintes suposições:</p><p>1. Os custos totais podem ser divididos em uma parte fixa e outra parte variável com relação</p><p>ao nível de atividade (volume de unidades produzidas e vendidas).</p><p>2. O comportamento das receitas e dos custos totais é linear dentro de determinada faixa de</p><p>atividade. Isso significa dizer que os preços de venda são constantes dentro de determinada</p><p>faixa de atividade,21 que a produtividade é constante e que os custos dos insumos de</p><p>produção também são constantes dentro da faixa de atividade considerada. Quando</p><p>poderia caracterizar-se a não linearidade? No caso das receitas, reduções no preço de venda</p><p>podem ser necessárias para elevar o volume das vendas (elasticidade preço-demanda menor</p><p>do que –1). Da mesma forma, os custos variáveis unitários podem diminuir quando o nível</p><p>de atividade aumentar, isto é, à medida que os empregados aprenderem a manipular os</p><p>processos mais eficientemente.</p><p>3. O preço de venda unitário, os custos variáveis unitários e os custos fixos são conhecidos.</p><p>4. A análise tanto abrange um único produto quanto supõe que um dado mix de receita de</p><p>produtos permanecerá constante, mesmo quando a quantidade total de unidades vendidas</p><p>se alterar.</p><p>5. Todas as receitas e os custos podem ser adicionados e comparados sem levar em consideração</p><p>o valor do dinheiro no tempo.</p><p>A análise de custo-volume-lucro pode ser usada para examinar de que modo várias alternativas</p><p>de simulação levadas em consideração por um tomador de decisão afetam o lucro operacional.</p><p>Frequentemente, o ponto de equilíbrio é um item de interesse nessa análise. Os gestores desejam</p><p>evitar o estigma de auferir prejuízo.</p><p>21 Conforme estudado em Microeconomia, a elasticidade-preço da demanda faz com que o preço unitário se reduza</p><p>conforme a demanda aumenta (receita marginal decrescente).</p><p>174</p><p>Ponto de equilíbrio</p><p>O ponto de equilíbrio é o nível de atividade em que as receitas totais e os custos totais se</p><p>igualam, ou seja, é o nível de atividade no qual o lucro é igual a zero.</p><p>O ponto de equilíbrio pode ser analisado sob três aspectos: contábil, econômico e financeiro.</p><p>O ponto de equilíbrio financeiro é apresentado no apêndice deste capítulo.</p><p>Ponto de equilíbrio contábil</p><p>No Ponto de Equilíbrio Contábil (PEC), o lucro contábil é igual a zero. Pode-se calcular o</p><p>PEC em quantidade de unidades a serem produzidas e vendidas – PEC(un.) – e em termos</p><p>monetários, isto é, a receita que se precisa auferir para ter lucro contábil igual a zero – PEC($).</p><p>𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 (𝑢𝑢𝑢𝑢. ) =</p><p>𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔 𝑓𝑓𝑓𝑓𝑓𝑓𝑔𝑔𝑔𝑔</p><p>𝑚𝑚𝑔𝑔𝑚𝑚𝑔𝑔𝑚𝑚𝑚𝑚 𝑐𝑐𝑔𝑔𝑢𝑢𝑔𝑔𝑚𝑚𝑓𝑓𝑐𝑐𝑢𝑢𝑓𝑓çã𝑔𝑔 𝑢𝑢𝑢𝑢𝑓𝑓𝑔𝑔á𝑚𝑚𝑓𝑓𝑔𝑔 =</p><p>𝑃𝑃𝐶𝐶 + 𝐷𝐷𝐶𝐶</p><p>𝑝𝑝𝑚𝑚𝑚𝑚ç𝑔𝑔 – (𝑃𝑃𝐶𝐶𝑢𝑢𝑢𝑢𝑓𝑓𝑔𝑔. + 𝐷𝐷𝐶𝐶𝑢𝑢𝑢𝑢𝑓𝑓𝑔𝑔. )</p><p>PEC($) = PEC(un.) × Preço</p><p>Desse modo, o ponto de equilíbrio em unidades – PEC(un.) – representa a quantidade</p><p>mínima que a empresa deve vender para não apurar prejuízo, enquanto o ponto de equilíbrio em</p><p>moeda – PEC($) – representa a receita de vendas mínima que a empresa deve auferir para não</p><p>apurar prejuízo.</p><p>Esse tipo de análise é de grande importância tanto para empresas com fins lucrativos quanto</p><p>para entidades sem fins lucrativos, pois viabiliza a verificação dos custos em função do volume</p><p>produzido e, consequentemente, do resultado auferido.</p><p>Um ponto que merece destaque é a análise da margem de contribuição, que representa a</p><p>contribuição mínima de cada produto para cobrir todos os gastos fixos.</p><p>Para simplificar o nosso entendimento, demonstraremos um exemplo de apuração do ponto</p><p>de equilíbrio contábil, a seguir.</p><p> Preço de Venda: $ 500/un.</p><p> Custos e Despesas Variáveis: $ 350/un.</p><p> Custos e Despesas Fixos: $ 600.000/mês</p><p>No ponto de equilíbrio contábil, o lucro é zero. Se o lucro é zero, a receita é igual ao somatório</p><p>dos custos com as despesas. Dessa forma, Receita total = Custos totais + Despesas totais. Como a</p><p>Receita total = Quantidade × preço</p><p>de venda, então:</p><p>Receita total = 500 × Quantidade</p><p>175</p><p>Como os Custos e as Despesas Totais são iguais ao somatório dos Custos e das Despesas</p><p>variáveis com os Custos e Despesas fixos, e como os Custos e as Despesas variáveis = Quantidade</p><p>× Custos e Despesas variáveis unitários, então:</p><p>Custos e Despesas variáveis = 350 × Quantidade</p><p>Logo, Custos e Despesas Totais = 350 × Quantidade + 600.000</p><p>Então, 500 × Quantidade = 350 × Quantidade + 600.000</p><p>Resolvendo, temos:</p><p>500 × Quantidade – 350 × Quantidade = 600.000</p><p>150 × Quantidade = 600.000</p><p>Quantidade = 600.000 ÷ 150 = 4.000 unidades por mês</p><p>Utilizando a fórmula, temos:</p><p>𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 (𝑢𝑢𝑢𝑢. ) =</p><p>600.000</p><p>500 – 350 =</p><p>600.000</p><p>150 = 4.000</p><p>Por fim, em moeda (Receitas Totais), temos:</p><p>PEC($) = 4.000 un./mês × $ 500/un. = $ 2.000.000/mês</p><p>Com esse volume de vendas, teremos como Custos e Despesas Totais:</p><p>Variáveis: 4.000 un. × $ 350/un. = $ 1.400.000</p><p>Fixos: $ 600.000</p><p>Total: $ 2.000.000</p><p>A partir da unidade de número 4.001, cada margem de contribuição unitária que se “ocupava”</p><p>com a cobertura dos custos e das despesas fixos passa a contribuir para a formação do lucro.</p><p>Ponto de equilíbrio econômico</p><p>No Ponto de Equilíbrio Econômico (break-even-point), o lucro econômico é igual a zero –</p><p>sendo que o lucro econômico considera a remuneração do capital próprio como uma despesa.</p><p>176</p><p>A análise do Ponto de Equilíbrio Econômico (PEE) também serve para determinarmos a</p><p>quantidade que uma empresa deve vender para apurar certo nível de lucro. Para tanto, basta</p><p>adicionarmos, em unidades, ao numerador da equação do ponto de equilíbrio, o lucro antes do</p><p>Imposto de Renda (Lair), que remuneraria o capital próprio da empresa.</p><p>𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 = 𝑄𝑄𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙 =</p><p>𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔 𝑓𝑓𝑓𝑓𝑓𝑓𝑔𝑔𝑔𝑔 + 𝐿𝐿𝑔𝑔𝑓𝑓𝑚𝑚</p><p>𝑚𝑚𝑔𝑔𝑚𝑚𝑔𝑔𝑚𝑚𝑚𝑚 𝑐𝑐𝑔𝑔𝑢𝑢𝑔𝑔𝑚𝑚𝑓𝑓𝑐𝑐𝑢𝑢𝑓𝑓çã𝑔𝑔 𝑢𝑢𝑢𝑢𝑓𝑓𝑔𝑔á𝑚𝑚𝑓𝑓𝑔𝑔 =</p><p>𝑃𝑃𝐶𝐶 + 𝐷𝐷𝐶𝐶 + 𝐿𝐿𝑔𝑔𝑓𝑓𝑚𝑚</p><p>𝑝𝑝𝑚𝑚𝑚𝑚ç𝑔𝑔 – (𝑃𝑃𝐶𝐶𝑢𝑢𝑢𝑢𝑓𝑓𝑔𝑔. + 𝐷𝐷𝐶𝐶𝑢𝑢𝑢𝑢𝑓𝑓𝑔𝑔. )</p><p>sendo:</p><p>𝐿𝐿𝑔𝑔𝑓𝑓𝑚𝑚 =</p><p>𝑙𝑙𝑢𝑢𝑐𝑐𝑚𝑚𝑔𝑔 𝑙𝑙í𝑞𝑞𝑢𝑢𝑓𝑓𝑞𝑞𝑔𝑔</p><p>1 – 𝑔𝑔𝑙𝑙í𝑞𝑞𝑢𝑢𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔𝑔 𝑞𝑞𝑚𝑚 𝐼𝐼𝐼𝐼 =</p><p>𝐿𝐿𝐿𝐿</p><p>1 − @𝐼𝐼𝐼𝐼</p><p>Dando sequência ao exemplo acima, demonstraremos a quantidade que a empresa deverá</p><p>vender para apurar um lucro líquido de $ 15.000/mês.</p><p> Preço de venda: $ 500/un.</p><p> Custos e despesas variáveis: $ 350/un.</p><p> Custos e despesas fixos: $ 600.000/mês</p><p> Lucro líquido: $ 15.000/mês</p><p> Alíquota de Imposto de Renda: 25%</p><p>𝐿𝐿𝑔𝑔𝑓𝑓𝑚𝑚 =</p><p>15.000</p><p>1 – 0,25 =</p><p>15.000</p><p>0,75 = 20.000</p><p>𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 = 𝑄𝑄15.000 =</p><p>600.000 + 20.000</p><p>500 – 350 =</p><p>620.000</p><p>150 = 4.1333, 3�</p><p>Considerando que o lucro líquido de $ 15.000/mês é o montante de que os acionistas</p><p>precisam para remunerar, adequadamente, o capital investido, o Ponto de Equilíbrio Econômico se</p><p>dá em 4.134 unidades.</p><p>Margem de segurança</p><p>A Margem de Segurança, como o próprio nome sugere, corresponde à redução das vendas</p><p>que determinada entidade pode sofrer, sem apurar prejuízo. Em outras palavras, pode-se dizer que</p><p>a Margem de Segurança é a diferença entre o nível efetivo de atividade e o nível de atividade do</p><p>ponto de equilíbrio.</p><p>177</p><p>margem de segurança =</p><p>receita atual – receitas P. Eq.</p><p>receita atual × 100</p><p>ou</p><p>margem de segurança =</p><p>quantidade atual – quantidade P. Eq.</p><p>quantidade atual × 100</p><p>Para simplificar o nosso entendimento, aproveitaremos o exemplo apresentado na unidade</p><p>anterior sobre a apuração do Ponto de Equilíbrio Contábil.</p><p> Preço de Venda: $ 500/un.</p><p> Custos e Despesas Variáveis: $ 350/un.</p><p> Custos e Despesas Fixos: $ 600.000/mês</p><p> Ponto de Equilíbrio Contábil = 4.000 un./mês</p><p>Suponha que aquela empresa esteja vendendo, efetivamente, 5.500 un./mês.</p><p>Desse modo:</p><p> Receita Atual = 5.500 un. × $ 500/un.= $ 2.750.000</p><p> Receita no Ponto de Equilíbrio = 4.000 un. × $ 500/un. = $ 2.000.000</p><p>𝑀𝑀𝑔𝑔𝑚𝑚𝑔𝑔𝑚𝑚𝑚𝑚 𝑞𝑞𝑚𝑚 𝑆𝑆𝑚𝑚𝑔𝑔𝑢𝑢𝑚𝑚𝑔𝑔𝑢𝑢ç𝑔𝑔 =</p><p>$ 2.750.000 − $ 2.000.000</p><p>$ 2.750.000 = 27,27%</p><p>ou</p><p>𝑀𝑀𝑔𝑔𝑚𝑚𝑔𝑔𝑚𝑚𝑚𝑚 𝑞𝑞𝑚𝑚 𝑆𝑆𝑚𝑚𝑔𝑔𝑢𝑢𝑚𝑚𝑔𝑔𝑢𝑢ç𝑔𝑔 =</p><p>5.500 – 4.000</p><p>5.500 = 27,27%</p><p>Ou seja, as vendas dessa empresa podem diminuir em 27,27% já que, ainda assim, não se</p><p>apura prejuízo.</p><p>Neste módulo, vamos continuar estudando a utilização das informações geradas pela</p><p>Contabilidade de Custos elaborada com base no custeio variável, especificamente a relação custo-</p><p>volume-lucro. Contudo, estudaremos um assunto um pouco mais avançado, a decisão de</p><p>determinação do volume de produção para um mix de produtos e a decisão de determinação do</p><p>volume de produção em condição de restrição de fatores de produção, bem como o processo de</p><p>decisão de aceitar ou rejeitar pedidos especiais.</p><p>Margem de contribuição de múltiplos produtos: mix de</p><p>produtos</p><p>Já estudamos que devemos “sempre” priorizar a produção e a venda do item que oferecer a</p><p>maior Margem de Contribuição Unitária.</p><p>No entanto, algumas empresas produzem e comercializam uma quantidade tão grande de</p><p>diferentes itens que a análise proposta pode tornar-se praticamente inviável. Dessa maneira, o</p><p>foco de decisão passa a ser um lote formado por diferentes itens que guardem razoável correlação</p><p>entre o volume comercializado de determinado produto com o volume de outros produtos.</p><p>Nesse caso, o gestor pode usar como ferramentas o Ponto de Equilíbrio e a Margem de</p><p>Segurança para analisar o conjunto de produtos como se formassem um lote de produtos – um</p><p>mix de produtos –, e não só cada produto isoladamente.</p><p>É o exemplo de uma loja de materiais elétricos. Imagine a dificuldade que o gestor dessa loja</p><p>enfrentaria caso pretendesse analisar o ponto de equilíbrio de cada produto – calha da luminária,</p><p>reator, start, polos, lâmpadas, tomada, fio, fita isolante, etc. – isoladamente. Provavelmente, quando</p><p>ele acabasse de obter todos os dados para analisar e tomar a decisão, a decisão já seria intempestiva.</p><p>MÓDULO VII – RELAÇÃO CUSTO-VOLUME-</p><p>LUCRO (2ª PARTE)</p><p>180</p><p>Vejamos o exemplo, agora com números:</p><p>O gestor da Varejista Comercial Ltda. está preocupado em identificar o volume de cada um</p><p>dos produtos do estoque que deve vender para que a sua empresa não apure prejuízo.</p><p>Sabe-se que os gastos fixos somam $ 48.800,00 por mês.</p><p>Sabe-se que os preços unitários e os custos variáveis unitários de cada um dos produtos são</p><p>os seguintes:</p><p>Tabela 54 – Preços unitários e custos variáveis unitários</p><p>produto unidade de medida</p><p>preço de venda</p><p>unitário</p><p>custo variável</p><p>unitário</p><p>x1 unidade 100,00 80,00</p><p>y2 quilograma 30,00 10,00</p><p>z3 litro 2,00 1,20</p><p>Admitindo-se que a seguinte correlação é válida, visto que o gestor da Varejista Comercial</p><p>Ltda. já vem analisando o comportamento dos seus clientes há alguns anos:</p><p>Tabela 55 – Correlação de produtos</p><p>produto correlação (peso no lote)</p><p>X1 1 unidade</p><p>Y2 10 quilogramas</p><p>Z3 30 litros</p><p>Ou seja, para cada unidade de X1 vendida, a loja vende 10 kg de Y2 e 30 litros de Z3. Com</p><p>isso, para verificar quantas unidades de cada um desses produtos, em média, a loja deve vender para</p><p>não apurar prejuízo, o gestor da Varejista Comercial Ltda. deverá transformar os diversos produtos</p><p>em um lote – composto de 1 X1, 10 Y2 e 30 Z3 – e calcular a Margem de Contribuição de um lote</p><p>desses produtos.</p><p>181</p><p>Tabela 56 – Margem de contribuição de um lote</p><p>produto unidade de</p><p>medida</p><p>preço de</p><p>venda</p><p>unitário</p><p>custo</p><p>variável</p><p>unitário</p><p>margem</p><p>contribuição</p><p>unitária</p><p>correlação</p><p>(peso no</p><p>lote)</p><p>margem de</p><p>contribuição</p><p>lote</p><p>a b c = a – b d e = c x d</p><p>X1 unidade 100,00 80,00 20,00 1 20,00</p><p>Y2 quilograma 30,00 10,00 20,00 10 200,00</p><p>Z3 litro 2,00 1,20 0,80 30 24,00</p><p>total 244,00</p><p>Sabendo que os gastos fixos mensais totalizam $ 48.800,00 por mês, basta dividi-lo pela</p><p>Margem de Contribuição de um lote, ou seja, $ 244,00 por lote, para se obter que o ponto</p><p>de</p><p>equilíbrio contábil em lotes é 200 lotes = $ 48.800,00 ÷ $ 244,00 por lote.</p><p>Por fim, para conhecer o volume de cada produto que, em média, deveria ser vendido, basta</p><p>multiplicar o peso de cada um desses produtos no lote – coluna d da tabela – pelo ponto de</p><p>equilíbrio contábil, 200 lotes.</p><p>Tabela 57 – Volume de cada produto</p><p>Produto unidade de medida ponto de equilíbrio (unidades)</p><p>X1 unidade 200</p><p>Y2 quilograma 2.000</p><p>Z3 litro 6.000</p><p>Outra forma de determinar o Ponto de Equilíbrio para uma empresa multiprodutos é por</p><p>meio da fórmula:</p><p>PEC($) = Gastos fixos / Índice de margem de contribuição total</p><p>Em que o Índice de margem de contribuição total corresponde ao quociente entre a Margem</p><p>de contribuição total da empresa e a Receita bruta total da empresa.</p><p>O uso dessa fórmula é limitado pela necessidade de que a ponderação das vendas entre os</p><p>diversos produtos seja constante.</p><p>182</p><p>Contribuição marginal e limitação da capacidade da</p><p>produção: fator restritivo</p><p>Uma das principais decisões que o controller deve tomar, no tocante à produção, é a respeito</p><p>do mix de produtos, ou seja, que produtos fabricar e em que quantidade, de forma a maximizar o</p><p>resultado da empresa.</p><p>Quando estudamos a relação custo-volume-lucro, aprendemos que, se não houver qualquer</p><p>restrição, deveremos dar preferência ao produto que oferece a maior margem de contribuição</p><p>unitária, e que, se houver uma restrição, a decisão recairá sobre aquele que oferecer a maior margem</p><p>de contribuição unitária por fator restritivo.</p><p>No entanto, na maioria das vezes, as empresas se deparam com diversas restrições</p><p>simultaneamente, o que exige do controller um exercício maior de análise e reflexão, pois a resposta</p><p>não aparecerá de forma tão simples. Para tanto, devemos analisar a margem de contribuição</p><p>unitária que cada produto oferece e cada uma das restrições existentes, por meio do modelo de</p><p>programação linear.</p><p>Para simplificar o entendimento, podemos dizer que o gestor deve priorizar a produção e a</p><p>venda do item que oferecer a maior Margem de Contribuição Unitária por Fator Restritivo.</p><p>Vejamos um exemplo simples: a Vinícola Chateau du SzusterCardoso produz, engarrafa e vende</p><p>o melhor vinho tinto da região. A rigor, só produz um tipo de vinho seco, com as uvas do tipo Cabernet</p><p>Sauvignon. No entanto, trabalha com duas versões do produto – garrafa inteira (750 ml) e meia garrafa</p><p>(375 ml). Os preços de venda unitários e os respectivos custos variáveis são:</p><p>Tabela 58 – Preços de venda unitários e custos variáveis</p><p>produto preço de venda unitário custo variável unitário</p><p>garrafa inteira (750 ml) $ 200,00 $ 120,00</p><p>meia garrafa (375 ml) $ 130,00 $ 80,00</p><p>Os custos fixos anuais da Vinícola Chateau du SzusterCardoso somam $ 90.000,00. A</p><p>demanda pela garrafa inteira (750 ml) é de 1.000 unidades por ano, e a da meia garrafa é de 800</p><p>unidades por ano.</p><p>Devido à reprovação de um dos barris, pelo enólogo responsável, o envasamento deste ano</p><p>está limitado pela quantidade de vinho disponível nos barris aprovados no teste de qualidade</p><p>(estoque de matéria-prima), que é de 900 litros.</p><p>A Vinícola Chateau du SzusterCardoso tem por política não estocar vinho engarrafado, ou</p><p>seja, procura produzir o volume que se espera vender, a cada ano.</p><p>183</p><p>Considerando somente as informações acima, para que a Vinícola Chateau du</p><p>SzusterCardoso maximize o seu lucro neste ano, quantas garrafas inteiras (750 ml) e meias garrafas</p><p>(375 ml), respectivamente, deverão ser produzidas?</p><p>O primeiro passo é identificar a margem de contribuição unitária desses dois produtos:</p><p>Tabela 59 – Margem de contribuição unitária dos produtos</p><p>produto</p><p>preço de venda</p><p>unitário (a)</p><p>custo variável</p><p>unitário (b)</p><p>margem de</p><p>contribuição unitária</p><p>(c = a – b)</p><p>garrafa inteira (750 ml) 200 120 80</p><p>meia garrafa (375 ml) 130 80 50</p><p>Se não fosse pela restrição no volume de vinho a ser engarrafado, em função da reprovação</p><p>de um dos barris, o gestor da Vinícola Chateau du SzusterCardoso deveria priorizar a produção da</p><p>garrafa inteira (750 ml), pois é esse o produto que gera a maior margem de contribuição unitária.</p><p>Produzindo 1.000 unidades da garrafa inteira, e se, por acaso, sobrasse vinho ainda a ser</p><p>engarrafado, o restante seria utilizado para produzir 800 unidades da meia garrafa. Afinal, a</p><p>demanda pela garrafa inteira (750 ml) é de 1.000 unidades por ano, e a da meia garrafa (375 ml) é</p><p>de 800 unidades por ano.</p><p>No entanto, há a restrição, já que a Vinícola Chateau du SzusterCardoso só dispõe de 900</p><p>litros de vinho e, para atender a toda a demanda de mercado, seriam necessários 1.050 litros (1.000</p><p>× 0,75 + 800 × 0,375). Desse modo, a solução baseada na margem de contribuição unitária (1.000</p><p>unidades de garrafas inteiras e 800 meias garrafas) não é viável.</p><p>184</p><p>É necessário analisar qual dos produtos oferece a maior margem de contribuição unitária por</p><p>fator restritivo:</p><p>Tabela 60 – Margem de contribuição unitária por fator restritivo</p><p>Produto</p><p>preço de</p><p>venda</p><p>unitário</p><p>(a)</p><p>custo</p><p>variável</p><p>unitário</p><p>(b)</p><p>margem de</p><p>contribuição</p><p>unitária</p><p>(c = a – b)</p><p>fator</p><p>restritivo</p><p>(por unidade)</p><p>(d)</p><p>margem de</p><p>contribuição</p><p>unitária por</p><p>fator restritivo</p><p>(e = c ÷ d)</p><p>garrafa inteira (750 ml) 200 120 80 0,75 106,667</p><p>meia garrafa (375 ml) 130 80 50 0,375 133,333</p><p>Agora, percebe-se que as meias garrafas (375 ml) devem ter a sua produção priorizada em</p><p>detrimento da produção das garrafas inteiras, uma vez que é esse o produto que mais remunera cada</p><p>litro de vinho (matéria-prima) consumido ($ 133,33/litro de vinho).</p><p>Considerando a demanda de mercado de 800 unidades de meia garrafa por ano, a Vinícola</p><p>Chateau du SzusterCardoso deverá produzir neste ano 800 meias garrafas (consumindo 300 litros</p><p>de vinho = 800 unidades × 0,375 litro/un.). Com o restante, 600 litros de vinho (900 – 300),</p><p>deverá produzir 800 garrafas inteiras (600 litros ÷ 0,75 litro/un.). Essa solução permitirá à Vinícola</p><p>Chateau du SzusterCardoso auferir o lucro de $ 14.000,00.</p><p>Tabela 61 – Lucro operacional</p><p>garrafa inteira (750 ml) meia garrafa (375 ml)</p><p>quantidade 800 800</p><p>preço unitário 200,00 130,00</p><p>custo unitário 120,00 80,00</p><p>garrafa inteira (750 ml) meia garrafa (375 ml) vinícola</p><p>Receita 160.000,00 104.000,00 264.000</p><p>custos variáveis (96.000,00) (64.000,00) (160.000)</p><p>lucro bruto 64.000,00 40.000,00 104.000</p><p>custos fixos 0 0 (90.000)</p><p>lucro operacional  0  0 14.000</p><p>185</p><p>Solução gráfica</p><p>A resposta desse problema pode ser obtida por meio da análise gráfica, pois são contempladas</p><p>poucas restrições. Dessa forma, temos:</p><p>Gráfico 4 – Soluções</p><p>O gráfico apresenta diversas soluções possíveis e uma impossível. No eixo horizontal (X), está</p><p>apresentado o volume de garrafas inteiras (750 ml); no eixo vertical (Y), o volume de meias garrafas</p><p>(375 ml). A área cinza apresenta as soluções possíveis e interessantes, que respeitam todas as restrições:</p><p>disponibilidade de matéria-prima e demanda de mercado, e que não geram estoque de produtos</p><p>acabados. A melhor solução (maior lucro) está apresentada em negrito (800 unidades de cada</p><p>produto). Tais soluções foram apuradas mediante os mais simples cálculos, conforme demonstrado:</p><p>186</p><p>Tabela 62 – Soluções</p><p>solução</p><p>garrafa</p><p>inteira</p><p>(750 ml)</p><p>X</p><p>meia</p><p>garrafa</p><p>(375 ml)</p><p>Y</p><p>litros de</p><p>matéria-</p><p>prima</p><p>consumida</p><p>Solução</p><p>possível ou</p><p>impossível?</p><p>lucro</p><p>operacional</p><p>(teórico)</p><p>lucro</p><p>operacional</p><p>(efetivo)</p><p>produção</p><p>máxima de GI</p><p>1.200 0 900 possível 6.000,00 (10.000,00)</p><p>produção</p><p>máxima de MG</p><p>0 2.400 900 possível 30.000,00 (50.000,00)</p><p>demanda de</p><p>mercado</p><p>1.000 800 1.050 impossível 30.000,00 impossível</p><p>priorizar</p><p>produção de GI</p><p>1.000 400 900 possível 10.000,00 10.000,00</p><p>priorizar</p><p>produção de MG</p><p>800 800 900 possível 14.000,00 14.000,00</p><p>Na tabela, a coluna “litros de matéria-prima consumida” corresponde ao somatório do</p><p>produto (X x 0,75 + Y x 0,375). Considerando</p><p>a restrição de vinho no estoque (900 litros), a solução</p><p>“demanda de mercado” é impossível, enquanto todas as demais são possíveis.</p><p>Considerando que a vinícola tem por política vender toda a produção – não trabalhar com</p><p>estoque de produtos acabados, vinho engarrafado –, não adianta produzir 1.200 unidades de garrafa</p><p>inteira, já que o mercado demanda, no máximo, 1.000 unidades desse produto. Da mesma forma,</p><p>não adianta produzir 2.400 unidades de meia garrafa, pois o mercado demanda, no máximo, 800</p><p>unidades desse produto. Por esse motivo, não se deve decidir com base no resultado apresentado na</p><p>coluna “Lucro Operacional (teórico)”. Afinal, se produzir 1.200 unidades de garrafa inteira e nada</p><p>da meia garrafa, venderá, no máximo, 1.000 unidades de garrafa inteira e nada da meia garrafa,</p><p>gerando um prejuízo (efetivo) de ($ 10.000,00).</p><p>Desse modo, o melhor para a Vinícola Chateau du SzusterCardoso é priorizar a produção de</p><p>meias garrafas até atender à demanda de mercado (800 unidades) e, com o vinho que sobrar,</p><p>engarrafar 800 unidades de garrafas inteiras, auferindo o lucro de $ 14.000,00.</p><p>Solução com auxílio do Solver</p><p>O primeiro passo para utilizar o Solver do Excel é abrir o Excel, verificar em “Ferramentas” se a</p><p>opção “Solver” está disponível e clicar nela. Caso o Solver não esteja disponível, será necessário instalá-</p><p>lo, clicando em “Ferramentas” e “Suplementos”. Em seguida, selecione “Solver” e clique em “OK”.</p><p>187</p><p>O segundo passo é elaborar uma planilha contendo todas as variáveis do problema:</p><p>Tabela 63 – Variáveis</p><p>A B C D</p><p>1</p><p>garrafa inteira</p><p>(750 ml)</p><p>meia garrafa</p><p>(375 ml)</p><p>2 quantidade (em un. de garrafas) 0 0</p><p>3 preço unitário 200 130</p><p>4 custo unitário 120 80</p><p>5 margem de contribuição unitária =b3-b4 =c3-c4</p><p>6 margem de contribuição total =b2*b5 =c2*c5 =b6+c6</p><p>7 restrições</p><p>8 litros de vinho por garrafa (em litros) 0,75 0,375</p><p>9 consumo de vinho (em litros) =b2*b8 =c2*c8 =b9+c9</p><p>10 demanda de mercado (em un.) 1000 800</p><p>11 lucro operacional =d6-90000</p><p>Para a variável quantidade, como não sabemos a priori (essa é nossa incógnita), digitamos</p><p>zero. O preço unitário e o custo variável foram informados no enunciado do problema. A margem</p><p>de contribuição unitária é a diferença entre o preço unitário e o custo variável. A margem de</p><p>contribuição total é o produto entre a quantidade de cada produto e a respectiva margem de</p><p>contribuição unitária. Somando a margem de contribuição total gerada pelos dois produtos,</p><p>encontra-se o consumo de vinho de cada tipo de produto.</p><p>O consumo de vinho por unidade de cada tipo de produto (0,75 para a garrafa inteira e 0,375</p><p>para a meia garrafa) bem como as restrições (disponibilidade de vinho e demanda mercadológica),</p><p>foram dados no enunciado. O consumo de vinho de cada tipo de produto corresponde ao resultado</p><p>da multiplicação da quantidade produzida pelo volume de vinho por garrafa. O somatório do</p><p>consumo de vinho de cada tipo de produto é o consumo total de vinho, que está restrito a 900</p><p>litros nesse caso.</p><p>Por fim, o lucro operacional é a diferença entre o consumo de vinho de cada tipo de produto</p><p>e o seu custo fixo anual ($ 90.000,00).</p><p>188</p><p>Figura 4 – Parâmetros do Solver</p><p>Considere que: a “célula de destino” é o lucro que queremos maximizar – “Máx”; as “células</p><p>variáveis” correspondem às quantidades de produtos garrafa inteira e meia garrafa que pretendemos</p><p>produzir; as “restrições” são, na ordem: (1) produção de garrafa inteira menor ou igual a 1.000</p><p>unidades; (2) produção de meia garrafa menor ou igual a 800 unidades; e (3) consumo total de</p><p>vinho menor ou igual a 900 litros. Informados todos os parâmetros, basta clicar em “Resolver” e</p><p>aguardar pela resposta do Solver.</p><p>Tabela 64 – Lucro operacional: resposta do Solver</p><p>A B C D</p><p>1</p><p>garrafa inteira</p><p>(750 ml)</p><p>meia garrafa</p><p>(375 ml)</p><p>2 quantidade (em un. de garrafas) 800 800</p><p>3 preço unitário 200,00 130,00</p><p>4 custo unitário 120,00 80,00</p><p>5 margem de contribuição unitária 80,00 50,00</p><p>6 margem de contribuição total 64.000,00 40.000,00 104.000,00</p><p>7 restrições</p><p>8 litros de vinho por garrafa (em litros) 0,750 0,375</p><p>9 consumo de vinho (em litros) 600,00 300,00 900,00</p><p>10 demanda de mercado (em un.) 1.000 800</p><p>11 lucro operacional 14.000,00</p><p>189</p><p>A resposta coincide com aquela apresentada desde o início desta unidade, com isso,</p><p>ratificando os nossos cálculos.</p><p>Contribuição marginal e pedidos especiais</p><p>A análise incremental também é relevante para investigar se é financeiramente interessante</p><p>atender a um pedido especial de venda pelo qual o cliente ofereça pagar preço unitário inferior ao</p><p>que, normalmente, é cobrado pela empresa fornecedora.</p><p>A necessidade de utilizar a análise marginal é que o custo fixo normal não será alterado se o</p><p>pedido especial puder ser atendido mediante aproveitamento da capacidade ociosa, portanto,</p><p>dentro do intervalo relevante.</p><p>Essa análise pode ser simplificada mediante a investigação de três questões:</p><p>1. Com a redução do preço, a margem de contribuição unitária permanecerá positiva?</p><p>2. A empresa está operando com capacidade ociosa?</p><p>3. O pedido especial acarretará aumento de algum gasto fixo?</p><p>Nesse sentido, se o fornecedor estiver operando com capacidade ociosa, se o pedido não</p><p>aumentar nenhum gasto fixo e se, mesmo com a redução do preço de venda, a margem de</p><p>contribuição unitária ainda ficar positiva, o lucro será majorado ao se atender ao pedido especial.</p><p>Desse modo, é interessante atender ao pedido.</p><p>Continuará sendo interessante – financeiramente vantajoso – atender ao pedido especial que</p><p>demande gastos fixos incrementais se a margem de contribuição total incremental for maior do que</p><p>os gastos fixos incrementais, pois o lucro continuará sendo majorado.</p><p>Por outro lado, se a margem de contribuição unitária das unidades adicionais for negativa, o</p><p>pedido especial não deverá ser atendido. Da mesma forma, não será interessante se a empresa não</p><p>estiver operando com capacidade ociosa e a ampliação da capacidade instalada demandar</p><p>investimentos de capital.</p><p>Na prática, ainda é necessário analisar questões relacionadas à expectativa de comportamento</p><p>do cliente contratante da oferta especial bem como dos concorrentes. Com relação ao primeiro, a</p><p>preocupação é que a venda por valor abaixo do normalmente praticado não provoque a</p><p>“canibalização” do produto, isto é, que o cliente exija sempre o preço diferenciado. No que tange</p><p>aos concorrentes, o efeito colateral de aceitar vender abaixo do preço normal é a possibilidade de</p><p>ser interpretado como uma “guerra de preços”, isto é, a partir da qual todos os concorrentes no</p><p>mercado relevante também reduziriam os seus preços.</p><p>190</p><p>MÓDULO I</p><p>I) Funções desempenhadas</p><p>Os contadores desempenham diferentes papéis na sociedade. Por meio da compreensão da</p><p>atuação dos contadores, será possível determinar a sua importância onde estão inseridos.</p><p> Na empresa: planejador tributário, analista financeiro, contador geral (hospitalar, rural,</p><p>fiscal, industrial, turismo, mineradora, cooperativa, securitária, de condomínio) e cargos</p><p>administrativos (área financeira, chief information officer, controller, executivo, logística).</p><p>Auditor interno, contador de custos, contador gerencial, atuário.</p><p> No órgão público: contador público (diversos entes públicos), auditor público (Tribunal</p><p>de Contas), agente fiscal de renda (municípios, estados, União), oficial contador (polícia</p><p>militar, exército, contador e auditor com patente de general de divisão) e diversos</p><p>concursos públicos (contador do Ministério Público, fiscal do Ministério do Trabalho,</p><p>Bacen, analista de finanças e controle).</p><p> No ensino: professor, pesquisador, escritor e conferencista.</p><p> Independente (autônomo): auditor independente, consultor, empresário contábil, perito</p><p>contábil, investigador de fraudes e parecerista.</p><p>APÊNDICE</p><p>192</p><p>II) Demais demonstrações</p><p>Em função dos objetivos da disciplina em questão, nesta apostila, priorizamos o estudo do</p><p>BP, da DRE e da DFC. Desse modo, quanto às demais demonstrações contábeis de propósito geral,</p><p>apresentamos somente os comentários que seguem.</p><p>A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) explica as mudanças</p><p>ocorridas no Patrimônio Líquido da empresa, isto é, se os lucros são reinvestidos ou distribuídos</p><p>aos acionistas, além das reservas existentes e a integralização de capital.</p><p>As Notas Explicativas (NE) apresentam as práticas contábeis adotadas pela entidade e as</p><p>informações adicionais para melhor compreensão das Demonstrações Contábeis.</p><p>A geração de riqueza pela entidade e a sua distribuição entre os componentes da sociedade</p><p>são evidenciadas na Demonstração do Valor Adicionado (DVA).</p><p>Vejamos o esquema a seguir, que apresenta a inter-relação entre as principais demonstrações</p><p>contábeis de forma sistêmica:</p><p>193</p><p>Figura 5 – Inter-relação entre as principais demonstrações contábeis</p><p>194</p><p>III) Estrutura conceitual para elaboração e divulgação do</p><p>relatório contábil-financeiro</p><p>João Paulo, de cinco anos, levou a sua prima Juliana, de quatro anos, para jogar futebol. Com</p><p>todo o carinho, ensinou a Juliana que, para jogar futebol, bastava chutar a bola até entrar pelo</p><p>espaço demarcado pelas traves e, dessa forma, marcar um gol. Quando a menina, toda feliz, estava</p><p>prestes a marcar um gol, Joãozinho se jogou sobre a bola, vitorioso. Juliana começou a chorar</p><p>dizendo que ele pegou a sua bola com as mãos. João Paulo, com muita paciência, consolou Juliana,</p><p>explicando que o goleiro pode pegar a bola com as mãos, pois a sua função é fazer com que ninguém</p><p>marque o gol contra o seu time. Para evitar maiores problemas, resolveu explicar para a sua prima</p><p>todas as regras do jogo. Juliana, depois das explicações, jogou com maior certeza e, toda feliz,</p><p>marcou o gol de vitória do seu time.</p><p>O mesmo se aplica à Contabilidade. Para que possamos utilizá-la de forma correta, é</p><p>indispensável que saibamos as regras do jogo, isto é, que tenhamos pleno conhecimento da sua</p><p>estrutura conceitual básica.</p><p>No Brasil, a partir de 2008, adotou-se uma nova Estrutura Conceitual Básica da</p><p>Contabilidade, emitida pelo CPC (em linha com o Framework for the Preparation and Presentation</p><p>of Financial Statements, emitido pelo IASB – International Accounting Standards Board) e aprovada</p><p>pela CVM por meio da Deliberação nº 539/08. A Estrutura Conceitual do CPC é complementada,</p><p>no Brasil, pela Resolução 750/93 do CFC, que foi alterada pela Resolução 1.282, em 2010.</p><p>Em 2 de dezembro de 2011, o CPC efetuou uma mudança no texto do Pronunciamento</p><p>conhecido como CPC 00, que apresenta os conceitos básicos para a atuação da contabilidade. O</p><p>novo texto representa parte do material desenvolvido pelo IASB e pelo FASB, que estão efetuando</p><p>a atualização em etapas, tendo sido aprovado pela Deliberação 675 da CVM, de 13 de dezembro</p><p>de 2011, e pelo CFC, por meio da Resolução CFC nº 1.374, de 8 de dezembro de 2011.</p><p>O novo texto abrange dois capítulos. O Capítulo 1 – Objetivo da elaboração e divulgação de</p><p>relatório contábil-financeiro de propósito geral – e o Capítulo 3 – Características qualitativas da</p><p>informação contábil financeira útil. O Capítulo 2 – Entidade Contábil – será incluso futuramente,</p><p>assim que o IASB e o FASB finalizarem o projeto de revisão da Estrutura Conceitual.</p><p>Por enquanto, os itens referentes aos Elementos das Demonstrações Contábeis, o seu</p><p>Reconhecimento e Mensuração, e os conceitos de manutenção do capital foram mantidos,</p><p>constituindo o Capítulo 4, que também incluiu o conceito da Continuidade pela denominação</p><p>Premissa Subjacente.</p><p>O objetivo do “Pronunciamento Conceitual Básico – Estrutura Conceitual para Elaboração</p><p>e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro” é o de servir como fonte dos conceitos básicos e</p><p>fundamentais a serem utilizados na elaboração e na interpretação dos Pronunciamentos Técnicos,</p><p>na preparação e na utilização das demonstrações contábeis das entidades, e também para a</p><p>elaboração de outros relatórios.</p><p>195</p><p>A Estrutura Conceitual é muito útil para todos, pois estabelece os fundamentos que devem</p><p>amparar as estimativas, julgamentos e modelos que são utilizados na elaboração dos relatórios</p><p>contábil-financeiros. Dessa forma, o seu conhecimento se torna indispensável para o profissional</p><p>que está no mundo dos negócios.</p><p>As informações contidas em tais relatórios se destinam, primariamente, aos seguintes usuários</p><p>externos: investidores, financiadores e outros credores, sem hierarquia de prioridade, quando estes</p><p>forem tomar decisões relacionadas ao fornecimento de recursos para a entidade.</p><p>CPC 00, Capítulo 1: Objetivo do relatório contábil-financeiro de propósito</p><p>geral</p><p>OB2. O objetivo do relatório contábil-financeiro de propósito geral é fornecer informações</p><p>contábil-financeiras acerca da entidade que reporta essa informação que sejam úteis a</p><p>investidores existentes e em potencial, a credores por empréstimos e a outros credores, quando</p><p>da tomada de decisão ligada ao fornecimento de recursos para a entidade. Essas decisões</p><p>envolvem comprar, vender ou manter participações em instrumentos patrimoniais e em</p><p>instrumentos de dívida, e oferecer ou disponibilizar empréstimos ou outras formas de crédito.</p><p>No capítulo 1, ainda é assinalado que o desempenho financeiro deve ser refletido segundo o</p><p>Regime de Competência, uma vez que este proporciona informações de melhor qualidade do que</p><p>aquelas obtidas por meio do movimento de caixa da empresa, conhecido como “regime de Caixa”.</p><p>OB17. O regime de competência retrata com prioridade os efeitos de transações, e outros</p><p>eventos e circunstâncias sobre os recursos econômicos e reivindicações da entidade que</p><p>reporta a informação nos períodos em que ditos efeitos são produzidos, ainda que os</p><p>recebimentos e os pagamentos em caixa derivados ocorram em períodos distintos.</p><p>Segundo o Regime de Competência, as transações econômicas devem ser reconhecidas</p><p>quando ocorrem, isto é, independentemente da sua realização financeira (pagamento ou</p><p>recebimento). Desse modo, informam aos usuários não somente sobre transações passadas</p><p>envolvendo o pagamento e o recebimento de caixa ou outros recursos financeiros, mas também</p><p>sobre obrigações de pagamento no futuro e sobre recursos que serão recebidos no futuro,</p><p>apresentando informações sobre transações passadas e outros eventos mais úteis aos usuários na</p><p>tomada de decisões econômicas.</p><p>Por exemplo, uma loja vendeu estoques no mês de janeiro no montante de $ 220.000. Metade</p><p>desse valor foi vendida à vista, e a outra metade, mediante cartão de crédito. A loja só recebe o valor do</p><p>cartão de crédito no mês seguinte às vendas. O Regime de Competência determina que a loja apure a</p><p>Receita total de $ 220.000 em janeiro, porque esse foi o valor vendido transferido para os clientes,</p><p>mesmo que ela ainda não tenha recebido o dinheiro efetivamente.</p><p>196</p><p>Desse modo, o reconhecimento contábil dos elementos patrimoniais deve ser fundamental</p><p>na data em que ocorrem as transações e os eventos econômicos. Todas as Demonstrações Contábeis,</p><p>exceto a Demonstração dos Fluxos de Caixa, seguem o Regime de Competência.</p><p>Os detalhes e os desdobramentos da adoção do Regime de Competência, bem como a sua</p><p>diferença em relação ao Regime de Caixa, são apresentados no Módulo V deste material.</p><p>CPC 00, Capítulo 3: estrutura conceitual para elaboração e divulgação do</p><p>relatório contábil-financeiro</p><p>Características qualitativas fundamentais da informação contábil útil</p><p>As características qualitativas são atributos que tornam as demonstrações contábeis úteis aos seus</p><p>leitores. Esse conceito é mais bem compreendido se entendermos as demonstrações contábeis como</p><p>produtos – bens, como todo e qualquer bem ou serviço que você adquira, tal qual este livro – que devem</p><p>ser “consumidos” pelos seus usuários. A sua qualidade poderá ser mensurada</p><p>pelo grau de satisfação das</p><p>necessidades dos consumidores, ou seja, dos usuários das informações contábeis. Como consequência</p><p>da maior qualidade das informações, estas possuem maior utilidade ao processo decisório e à</p><p>compreensão da empresa analisada, gerando a redução da assimetria informacional. Essa propriedade</p><p>permite que a contabilidade gere valor ao sistema econômico.</p><p>Desse modo, objetivando o melhor atendimento das necessidades dos seus usuários, as</p><p>demonstrações contábeis devem possuir as seguintes características fundamentais: relevância e</p><p>representação fidedigna.</p><p>d) Relevância</p><p>Para serem úteis, as informações devem ser relevantes às necessidades dos usuários na tomada</p><p>de decisões. As informações são relevantes quando podem influenciar as decisões econômicas dos</p><p>usuários, ajudando-os a avaliar o impacto de eventos passados e presentes, ou predizer o desempenho</p><p>de eventos futuros, ou confirmando ou corrigindo as suas avaliações anteriores. Em outras palavras,</p><p>dizemos que a informação é relevante quando é útil para predizer o resultado, o fluxo de caixa ou a</p><p>situação patrimonial da entidade, isto é, o valor preditivo da informação; e quando ela é útil para</p><p>avaliar as razões das dispersões entre o que se havia previsto, o resultado, o fluxo de caixa e a situação</p><p>patrimonial efetivos da entidade, isto é, valor confirmatório da informação.</p><p>Um artifício prático para avaliar a relevância da informação é pela análise da sua</p><p>materialidade, que é analisada sob dois aspectos: natureza da informação e magnitude.</p><p> Natureza da informação</p><p>A ideia de relevância pode ser associada à de utilidade. Quanto maior a utilidade da informação</p><p>para o usuário, maior a sua importância e a sua relevância. A relevância da informação contábil se verifica</p><p>quando altera a compreensão do usuário, ajuda a avaliar as operações efetuadas e traz mudança no</p><p>197</p><p>processo decisório, ou quando confirma o entendimento anterior. Para melhor compreensão do que</p><p>seja relevância, vamos pensar em um exemplo prático. Se um comercial de TV mostra a grande redução</p><p>de preços em uma loja em Chicago (EUA), e você não pretende viajar para tal local nem conhece</p><p>ninguém naquela cidade, essa informação não possui relevância para você.</p><p> Magnitude</p><p>Uma informação é material se a sua não apresentação ou distorção nas demonstrações</p><p>contábeis puder influenciar as decisões econômicas dos usuários. A magnitude depende do tamanho</p><p>do item ou do erro, julgado nas circunstâncias específicas da sua não apresentação ou distorção</p><p>(valor envolvido).</p><p>O jornal O Globo, de 25 de outubro de 2009, informou que uma juíza mandou soltar dois</p><p>acusados do roubo de duas galinhas pela insignificância do caso, isto é, pela falta de materialidade.</p><p>De forma geral, esse conceito pode ser relativo. Por exemplo, enquanto uma perda de</p><p>$ 100.000 pode constituir um fato relevante para uma empresa de pequeno porte, esse valor pode</p><p>não ser tão significativo para uma empresa de grande porte.</p><p>Com isso, a natureza da informação diz respeito ao conteúdo informacional, enquanto a</p><p>materialidade, ao valor envolvido.</p><p>e) Representação fidedigna</p><p>Os relatórios contábil-financeiros representam um fenômeno econômico em palavras e</p><p>números. Para ser útil, a informação contábil-financeira não deve só representar um fenômeno</p><p>relevante mas também deve representar, com fidedignidade, o fenômeno que se propõe representar.</p><p>Para ser uma representação fidedigna, a informação deve possuir três atributos:</p><p> Ser completa, ou seja, deve conter o necessário para que o usuário compreenda o</p><p>fenômeno. Para ser confiável, a informação constante das demonstrações contábeis deve</p><p>ser completa, dentro dos limites de materialidade e custo. Uma omissão pode tornar a</p><p>informação falsa ou distorcida e, com isso, não confiável e deficiente em termos da sua</p><p>relevância. Desse modo, pode ajudar na prevenção de fraudes, uma vez que propicia um</p><p>controle amplo das operações da empresa. Nesse sentido, um procedimento errado em</p><p>uma área da empresa pode ser descoberto por outra. Por exemplo, o reflexo de uma</p><p>compra de estoques de mercadorias a prazo pode ser verificado tanto pela tesouraria como</p><p>pela área de controle de suprimentos.</p><p> Ser neutra, isto é, estar desprovida de viés na seleção ou na apresentação, não podendo ser</p><p>distorcida para mais ou para menos. Dessa forma, o profissional de contabilidade deve</p><p>procurar reconhecer uma transação econômica de acordo com a realidade, e não conforme</p><p>o interesse da sua empresa. Por exemplo, uma empresa pode estar em uma fase muito difícil,</p><p>e seria conveniente para ela não reconhecer todos os seus gastos, para parecer que a sua</p><p>situação financeira é melhor. Esse fato ocorreu em muitas situações de fraude nos Estados</p><p>198</p><p>Unidos, no início do século, e está totalmente errado. Além disso, uma empresa que possua</p><p>vários processos na Justiça contra ela deve considerar o fato nas suas demonstrações</p><p>contábeis, mesmo que seja representado um aspecto negativo para a empresa.</p><p> Ser livre de erro, não significando total exatidão, mas que o processo para a obtenção da</p><p>informação tenha sido selecionado e aplicado livre de erros.</p><p>Representação fidedigna não significa exatidão em todos os aspectos e, em decorrência,</p><p>aumenta-se a importância de uma evidenciação com qualidade, descrevendo como foi desenvolvido</p><p>o processo para a mensuração do valor estimado.</p><p>Por si só, representação fidedigna não resulta em informação útil necessariamente. Por</p><p>exemplo, a entidade que reporta a informação pode receber um item do imobilizado por meio de</p><p>subvenção governamental. Ao reportar que adquiriu um ativo sem custo, a entidade retrataria com</p><p>fidedignidade o custo desse ativo. No entanto, provavelmente, essa informação não seria muito útil,</p><p>pois este ativo irá gerar benefícios futuros para a empresa.</p><p>Comparando-se com o texto anterior do Pronunciamento 00, duas mudanças</p><p>importantes ocorreram, sendo que o posicionamento foi explicado, pois envolve controvérsias.</p><p>As alterações dizem respeito às eliminações, no texto, dos conceitos da essência sobre a forma e</p><p>da Prudência (Conservadorismo).</p><p>A essência sobre a forma foi retirada da condição de componente separado da representação</p><p>fidedigna, por ser considerado que a sua manutenção seria uma redundância. A representação</p><p>pela forma legal que difira da substância econômica não pode resultar em representação</p><p>fidedigna. Desse modo, na realidade, essência sobre a forma continua bandeira insubstituível nas</p><p>normas do IASB.</p><p>A característica prudência (conservadorismo) também foi retirada da condição de aspecto da</p><p>representação fidedigna por ser considerada inconsistente com a neutralidade. O posicionamento é</p><p>que não devem ser aplicadas, de forma não criteriosa, subavaliações de ativos e superavaliações de</p><p>passivos, com consequentes registros de desempenhos posteriores inflados. No entanto, deve ser</p><p>mantida a posição de que os ativos não devem ser mensurados por um valor superior ao da sua</p><p>recuperação econômica, e os passivos não devem ser omitidos. Contudo, o IASB decidiu</p><p>reintroduzir a prudência na Estrutura Conceitual, mas significando cautela no exercício de</p><p>julgamentos profissionais.</p><p>As características qualitativas fundamentais devem ser aplicadas de forma conjunta. A</p><p>informação precisa, concomitantemente, ser relevante e representar com fidedignidade a realidade</p><p>reportada para ser útil. Nem a representação fidedigna de fenômeno irrelevante tampouco a</p><p>representação não fidedigna de fenômeno relevante auxilia os usuários a tomarem boas decisões. O</p><p>processo mais efetivo para a aplicação das características qualitativas fundamentais usualmente deve</p><p>ter a seguinte apresentação:</p><p>199</p><p> Identificar o fenômeno econômico que tenha o potencial de ser útil para os usuários da</p><p>informação contábil-financeira reportada pela entidade.</p><p> Identificar o tipo de informação sobre o fenômeno que seria mais relevante se estivesse</p><p>disponível</p><p>e que poderia ser representado com fidedignidade.</p><p> Determinar se a informação está disponível e pode ser representada com fidedignidade.</p><p>Características qualitativas de melhoria da informação</p><p>As características qualitativas de melhoria podem auxiliar a determinar qual alternativa, que</p><p>seja considerada equivalente em termos de relevância e fidedignidade de representação, deve ser</p><p>escolhida para retratar um fenômeno.</p><p>a) Comparabilidade</p><p>Comparabilidade é a característica que permite a identificação e a compreensão de</p><p>similaridades e diferenças entre os itens. É diferente da consistência, que significa aplicação dos</p><p>mesmos métodos para os mesmos itens. Comparabilidade é o objetivo, já a consistência é um auxílio</p><p>na obtenção desse objetivo. Comparabilidade implica também fazer com que coisas diferentes não</p><p>pareçam iguais ou coisas iguais não pareçam diferentes.</p><p>Comparabilidade não significa uniformidade, indicando que um procedimento novo pode</p><p>ser aplicado, desde que devidamente ponderado e evidenciado. No entanto, deve ser reconhecido</p><p>que, apesar de um fenômeno econômico singular poder ser representado com fidedignidade de</p><p>múltiplas formas, a discricionariedade na escolha de métodos contábeis alternativos para o mesmo</p><p>fenômeno econômico diminui a comparabilidade.</p><p>No entanto, deve-se tomar o cuidado de efetuar as comparações de forma correta. Por exemplo,</p><p>na análise de uma demonstração trimestral, é importante que os dados sejam comparados com o</p><p>mesmo trimestre dos anos anteriores, e não com os trimestres anteriores, em função da sazonalidade.</p><p>Por exemplo, espera-se que uma empresa que fabrica brinquedos tenha melhores resultados no último</p><p>trimestre do ano, de outubro a dezembro. Por outro lado, é provável que uma empresa que vende</p><p>material escolar, em geral, tenha melhores resultados no primeiro trimestre do ano.</p><p>A intenção de comparabilidade é uma das causas da normalização contínua das práticas</p><p>contábeis. Se não houvesse normatização, cada empresa poderia usar um tratamento diferenciado,</p><p>e não haveria comparação.</p><p>b) Verificabilidade</p><p>A verificabilidade ajuda a assegurar aos usuários que a informação representa, de modo</p><p>fidedigno, o fenômeno econômico que se propõe a representar. A verificabilidade significa que</p><p>diferentes observadores, cônscios e independentes, podem chegar a um consenso, embora não</p><p>cheguem, necessariamente, a um completo acordo quanto ao retrato de uma realidade econômica</p><p>200</p><p>em particular ser uma representação fidedigna. Informação quantificável não necessita ser um único</p><p>ponto estimado para ser verificável. Uma faixa de possíveis montantes com as suas probabilidades</p><p>respectivas também pode ser verificável.</p><p>A verificação pode ser direta ou indireta. Verificação direta significa checar um montante ou</p><p>outra representação por meio de observação direta, por exemplo, por meio da contagem de caixa.</p><p>Verificação indireta significa checar os dados de entrada do modelo, fórmula ou outra técnica, e</p><p>recalcular os resultados obtidos por meio da aplicação da mesma metodologia. Um exemplo é a</p><p>verificação do valor contábil dos estoques por meio da checagem dos dados de entrada (quantidade</p><p>e custos) e por meio do recálculo do saldo final dos estoques, utilizando a mesma premissa adotada</p><p>no fluxo do custo (por exemplo, utilizando o método PEPS).</p><p>Um fato importante diz respeito às estimativas sobre eventos futuros. Para ajudar os usuários a</p><p>decidir se desejam usar dita informação, é necessário divulgar as premissas subjacentes, os métodos de</p><p>obtenção da informação e outros fatores e circunstâncias que suportam tais estimativas.</p><p>No objetivo de ampliar a verificabilidade, a empresa deve utilizar o conhecimento de especialistas,</p><p>como advogados, na análise de uma contingência decorrente de processo judicial; engenheiros, para a</p><p>definição da vida útil de um equipamento; e veterinários, para avaliação de um ativo biológico animal.</p><p>Tais profissionais emitem laudos e pareceres que constituem uma referência documental para o</p><p>reconhecimento contábil e a comprovação pela auditoria independente.</p><p>c) Tempestividade</p><p>Para ser útil ao usuário, qualquer instrumento – uma ferramenta, um medicamento e até uma</p><p>informação – precisa ser disponibilizado a tempo, de modo que o usuário possa, efetivamente, utilizá-</p><p>lo nos seus propósitos, por exemplo, realizar um conserto, curar-se de uma enfermidade ou tomar</p><p>uma decisão. Caso contrário, o instrumento não terá qualquer serventia e perderá a sua relevância.</p><p>Tempestividade significa ter informação disponível e oportuna para tomadores de decisão a</p><p>tempo de poder influenciá-los nas suas decisões. Em geral, a informação mais antiga é a que tem</p><p>menos utilidade. No entanto, certa informação pode ter o atributo tempestividade prolongado após</p><p>o encerramento do período contábil, em decorrência de alguns usuários, por exemplo, necessitarem</p><p>identificar e avaliar tendências.</p><p>Por outro lado, a pressa na geração da informação não deve provocar a disponibilização de</p><p>informações precárias ou duvidosas. Nesse caso, a informação perderia confiabilidade. Desse modo,</p><p>a busca da tempestividade implica um trade-off entre relevância e confiabilidade, o que deve ser</p><p>avaliado pelo contador com bom senso e neutralidade, caso a caso.</p><p>d) Compreensibilidade</p><p>Compreensibilidade significa que a classificação, a caracterização e a apresentação da</p><p>informação são feitas com clareza e concisão, tornando-a compreensível. No entanto, não é</p><p>admissível a exclusão da informação complexa e não facilmente compreensível se esse fato tornar o</p><p>201</p><p>relatório incompleto e distorcido, pois certos fenômenos são realmente difíceis. Os relatórios</p><p>contábil-financeiros são elaborados na presunção de que o usuário tem conhecimento razoável de</p><p>negócios e que age diligentemente, mas isso não exclui a necessidade de ajuda de consultor para</p><p>fenômenos complexos.</p><p>As informações apresentadas nas demonstrações contábeis devem ser diretas e claras. As</p><p>demonstrações contábeis devem ser elaboradas de modo que possam ser entendidas por usuários</p><p>não contadores, desde que estes estejam interessados e dispostos a compreender a situação</p><p>patrimonial e o desempenho da entidade analisada, mesmo que, para isso, seja necessário estudar</p><p>os conceitos básicos da Contabilidade e das demonstrações contábeis, assim como dados sobre a</p><p>empresa analisada e sobre o mercado em que atua.</p><p>Em virtude de o mundo dos negócios ser competitivo e envolver operações estruturadas e</p><p>sofisticadas, como acontece no mercado financeiro, a demonstração contábil também deve conter as</p><p>informações sobre operações complexas que sejam relevantes para a tomada de decisão, ajudando o</p><p>usuário a conhecer melhor a situação patrimonial e o desempenho da entidade. Essa postura está</p><p>vinculada ao fato de o foco da contabilidade ser uma linguagem – a linguagem dos negócios.</p><p>Exemplo: a direção de uma empresa brasileira resolveu apresentar de forma bastante didática</p><p>uma operação complexa realizada. Como consequência, as ações dessa empresa tiveram uma subida</p><p>no mercado. Motivo: os investidores conseguiram entender o efetivo benefício da transação</p><p>econômica para a empresa e valorizaram o fato.</p><p>Aplicação conjunta das características qualitativas de melhoria</p><p>A aplicação das características qualitativas de melhoria é um processo que requer bom senso.</p><p>Algumas vezes, uma característica qualitativa de melhoria pode ter de ser diminuída para a</p><p>maximização de outra característica qualitativa. Por exemplo, a redução temporária na</p><p>comparabilidade como resultado da aplicação prospectiva de uma nova norma contábil-financeira</p><p>pode ser vantajosa para o aprimoramento da relevância ou da representação fidedigna no longo</p><p>prazo. É fundamental que sejam efetuadas divulgações apropriadas.</p><p>202</p><p>Restrição de custo na elaboração e na divulgação de relatório contábil-</p><p>financeiro</p><p>O custo de gerar a informação é uma restrição que deve estar sempre</p><p>condições de exigir relatórios específicos para as suas necessidades informacionais.</p><p>De acordo com os International Financial Reporting Standards (IFRSs), o conjunto completo</p><p>de demonstrações contábeis de propósito geral é composto de: balanço patrimonial, demonstração</p><p>do resultado do exercício, demonstração dos fluxos de caixa, demonstração das mutações do patrimônio</p><p>líquido e notas explicativas. A legislação brasileira (Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976 – LSA)</p><p>adicionou a demonstração do valor adicionado a esse rol.</p><p>A seguir, apresentamos tais relatórios.</p><p>17</p><p>Balanço Patrimonial</p><p>O Balanço Patrimonial tem como objetivo mostrar a posição patrimonial e financeira de</p><p>determinada empresa em um momento específico e informar a capacidade de geração dos fluxos</p><p>futuros de caixa. Toda empresa prepara o seu Balanço Patrimonial no fim de cada ano. As</p><p>companhias abertas têm a obrigação de divulgá-lo ao público assim como as demais peças contábeis,</p><p>a cada trimestre. Para efeito interno (gerencial), o ideal é a elaboração na periodicidade mensal.</p><p>O Balanço Patrimonial relaciona e quantifica cada conta do Ativo, do Passivo e do</p><p>Patrimônio Líquido no último dia do período. Por meio dessa relação, o proprietário sabe o que</p><p>possui (ex.: caixa, estoque, equipamentos), o que deve (contas a pagar, empréstimos) e quanto</p><p>possui de patrimônio, líquido de dívidas, no fim do período. Este consiste no capital empreendido</p><p>no negócio mais os lucros, menos os prejuízos.</p><p>O Balanço Patrimonial consiste na relação, de modo ordenado, dos ativos (bens e direitos),</p><p>dos passivos (obrigações) e do patrimônio líquido (diferença entre os ativos e os passivos) de uma</p><p>empresa. A estrutura do Balanço Patrimonial é a seguinte:</p><p>ativo</p><p>passivo</p><p>patrimônio líquido</p><p>O Ativo evidencia onde está o dinheiro aplicado na empresa. O Passivo e o Patrimônio</p><p>Líquido mostram qual é a fonte do dinheiro aplicado na entidade.</p><p>ativo passivo e patrimônio líquido</p><p>Aplicação de recursos, responde</p><p>à pergunta: Onde está o</p><p>dinheiro?</p><p>Origem de recursos, responde à</p><p>pergunta: De onde o dinheiro</p><p>veio?</p><p>18</p><p>A seguir, o Balanço Patrimonial representa a posição financeira da Droga Raia, em 31 de</p><p>dezembro de 2022.</p><p>Tabela 2 – Balanço Patrimonial da Droga Raia (31/12/2022)</p><p>descrição 31/12/2022 31/12/2021</p><p>ativo total 17.185.306 14.775.506</p><p>ativo circulante 9.577.068 7.718.924</p><p>caixa e equivalentes de</p><p>caixa 433.541 356.118</p><p>clientes 2.295.640 1.710.057</p><p>adiantamentos a</p><p>funcionários 14.563 12.067</p><p>devoluções a fornecedores 3.631 8.024</p><p>acordo comerciais 203.868 207.109</p><p>outros 44.819 63.614</p><p>estoques 6.126.056 5.117.799</p><p>tributos a recuperar 393.336 195.777</p><p>despesas antecipadas 61.614 48.359</p><p>ativo não circulante 7.608.238 7.056.582</p><p>ativo realizável em longo</p><p>prazo 290.791 239.914</p><p>outras contas a receber 4426 571</p><p>tributos diferidos 10.357 49.047</p><p>despesas antecipadas 3.149 5.189</p><p>depósitos judiciais 137.624 29.951</p><p>tributos a recuperar 121.434 132.929</p><p>créditos de empresas</p><p>controladas 13.801 22.227</p><p>investimentos –</p><p>participação societária 4.479 830</p><p>19</p><p>imobilizado 5.574.857 5.329.587</p><p>intangível 1.738.111 1.486.251</p><p>descrição 31/12/2022 31/12/2021</p><p>passivo total +</p><p>patrimônio líquido 17.185.306 14.775.506</p><p>passivo circulante 6.367.168 5.896.193</p><p>obrigações sociais e</p><p>trabalhistas 561.624 420.356</p><p>fornecedores 4.258.917 3.656.607</p><p>obrigações fiscais 213.298 154.773</p><p>empréstimos e</p><p>financiamentos 186.356 613.831</p><p>dividendos e JCP a pagar 62.417 76.787</p><p>aluguéis 93.940 84.060</p><p>demais contas a pagar 81.917 82.056</p><p>passivo de arrendamento 759.301 699.170</p><p>provisões 149.398 108.553</p><p>passivo não circulante 5.415.197 4.160.511</p><p>empréstimos e</p><p>financiamentos 2.131.548 891.391</p><p>programa de recuperação</p><p>fiscal 163.804 114.898</p><p>obrigações com acionista</p><p>de controlada 64.710 37.943</p><p>passivo de arrendamento 2.980.707 2.973.728</p><p>débitos de empresas</p><p>controladas 0 0</p><p>tributos diferidos 17.660 89.011</p><p>provisões 56.768 53.540</p><p>patrimônio líquido</p><p>consolidado 5.402.941 4.718.802</p><p>20</p><p>capital social realizado 2.500.000 2.500.000</p><p>reservas de capital 112.762 89.914</p><p>reservas de lucros 2.716.769 2.072.984</p><p>ajustes de avaliação</p><p>patrimonial 11.331 14.775</p><p>participação dos acionistas</p><p>não controladores 62.079 41.129</p><p>Fonte: CVM. Disponível em: http://www.cvm.gov.br. Acesso em: 7 jun. 2023.</p><p>As contas do Ativo representam onde os recursos da empresa foram aplicados, e são apresentadas</p><p>em ordem decrescente de liquidez, ou seja, inicia-se com os itens de maior liquidez4 – caixa, bancos e</p><p>clientes –, que logo serão convertidos em caixa. No fim, são apresentados os itens que deverão</p><p>permanecer mais tempo na empresa, como edifícios, equipamentos, veículos e móveis.</p><p>As contas do Passivo representam a origem dos recursos de terceiros e devem ser, inicialmente,</p><p>separadas considerando a data de vencimento, ou seja, se ela é inferior ou superior a um ano. Os</p><p>Passivos são agregados pela sua natureza, como fornecedores, empréstimos, impostos a pagar e</p><p>salários a pagar.</p><p>A seguir, é apresentado o Patrimônio Líquido, indicando o capital integralizado, as reservas</p><p>de capital e as reservas de lucros ou prejuízos acumulados.</p><p>O Passivo Total é formado pela soma do Passivo, que representa dívidas ou obrigações, e do</p><p>Patrimônio Líquido, que representa o valor pertencente aos acionistas. De forma ideal, deve-se</p><p>procurar utilizar o termo Passivo apenas para as dívidas da empresa, não utilizando esse termo em</p><p>referência ao Patrimônio Líquido.</p><p>O total do Ativo e o total do Passivo + Patrimônio Líquido são sempre iguais, por isso, sendo</p><p>chamados Balanço. Daí, a equação fundamental da contabilidade:</p><p>Ativo = Passivo + Patrimônio Líquido</p><p>Estrutura do Balanço Patrimonial Consolidado</p><p>ativo</p><p>passivo</p><p>patrimônio líquido:</p><p>participação acionistas não controladores</p><p>participação acionistas controladores</p><p>4 Entende-se por liquidez a capacidade e a velocidade de transformar bens e direitos em dinheiro.</p><p>http://www.cvm.gov.br/</p><p>21</p><p>Observe o Balanço Patrimonial da Droga Raia de 2022:</p><p> Ativo total = R$ 17.185.306 mil;</p><p> Passivo = R$ 11.782.365 mil = (Passivo Circulante R$ 6.367.168 mil + Passivo não</p><p>Circulante R$ 5.415.197 mil);</p><p> Patrimônio Líquido = R$ 5.402.941 mil e</p><p> Passivo + Patrimônio Líquido = R$ 17.185.306 mil = Ativo total.</p><p>Os elementos componentes da estrutura do balanço patrimonial são definidos assim:</p><p>a) Ativo – recursos econômicos (bens e direitos) que a empresa controla e espera que lhe gerem</p><p>benefícios futuros. Os Ativos podem ter corpo, matéria definida – tais como prédios, máquinas ou</p><p>mercadorias –, sendo denominados de Ativos Tangíveis. Além disso, podem ter valor legal ou</p><p>representar direitos – como a marca e o ponto comercial –, sendo denominados Ativos Intangíveis.</p><p>Um dos problemas mais controversos em Contabilidade é mensurar o real valor dos Ativos.</p><p>Os itens do Ativo são agrupados do seguinte modo:</p><p> Ativo Circulante – recursos que serão realizados no exercício seguinte, ou seja, no período</p><p>de 12 meses após o encerramento do Balanço. Isso significa que todos serão utilizados na</p><p>atividade da empresa no curto prazo (máximo de 12 meses). Exemplo: caixa, bancos,</p><p>investimentos temporários, contas a receber, mercadorias e despesas antecipadas.</p><p> Ativo Não Circulante – Ativos não classificados no Ativo Circulante. Compreende os</p><p>Ativos Realizáveis em Longo Prazo, os Investimentos, os Imobilizados e os Intangíveis.</p><p> Ativo Realizável em Longo Prazo – realização após o término do exercício social seguinte,</p><p>ou seja, em um período superior a 12 meses após o encerramento do Balanço Patrimonial.</p><p>Exemplo: contas a receber em longo prazo, despesas antecipadas em longo prazo,</p><p>empréstimos concedidos a receber em longo prazo.</p><p>No Ativo Realizável em Longo Prazo, é importante verificar que a lei societária apresenta um</p><p>posicionamento que</p><p>representa uma exceção à classificação de acordo com o período de</p><p>recebimento do Ativo. No art. 179, a lei afirma que é obrigatório que sejam reconhecidos, no</p><p>Realizável em Longo Prazo, os direitos derivados de vendas, os adiantamentos ou os empréstimos a</p><p>sociedades coligadas ou controladas, diretores, acionistas ou participantes no lucro da companhia,</p><p>que não constituírem negócios usuais na exploração do objeto da companhia, mesmo que a data de</p><p>vencimento prevista seja no curto prazo:</p><p> Investimentos – investimentos permanentes, inclusive as propriedades para investimento.</p><p>Exemplo: investimentos em ações ou quotas, obras de arte, imóveis para aluguel ou</p><p>destinados à valorização de capital, ou ambos.</p><p> Imobilizado – direitos que tenham por objeto bens corpóreos destinados à manutenção</p><p>das atividades da companhia ou exercidos com essa finalidade, e os decorrentes de</p><p>operações que transfiram à companhia os benefícios, os riscos e o controle desses bens.</p><p>22</p><p>Exemplo: terrenos, edifícios, máquinas e equipamentos, móveis e utensílios, instalações,</p><p>obras em andamento, desde que destinados ao uso nas operações.</p><p> Intangível – direitos que tenham por objeto bens incorpóreos destinados à manutenção</p><p>da companhia ou exercidos com essa finalidade, inclusive o fundo de comércio adquirido.</p><p>No Balanço Patrimonial, os Ativos Intangíveis não podem ser avaliados a valor de</p><p>mercado. Exemplos: fundo de comércio, direitos autorais, marcas e patentes.</p><p>Verifique o Balanço Patrimonial da Droga Raia de 2022:</p><p> R$ 433.541 mil estão aplicados em dinheiro e depósitos bancários à disposição da entidade</p><p>(Caixa e Equivalentes de Caixa);</p><p> R$ 6.126.056 mil estão aplicados em mercadorias disponíveis para serem vendidas (Estoques)</p><p>e</p><p> R$ 5.574.857 mil estão aplicados em bens destinados ao uso pela entidade nas suas</p><p>operações normais (Imobilizado).</p><p>Todos esses itens representam aplicações de recursos realizadas no passado pela entidade, das</p><p>quais se tem expectativa de geração de benefícios, presentes e futuros, a serem percebidos e</p><p>controlados pela entidade.</p><p>Tais benefícios podem ser representados pela geração de caixa – como as mercadorias que</p><p>serão vendidas aos clientes – ou podem evitar a saída de caixa – como os prédios e os equipamentos</p><p>que não precisarão ser alugados, uma vez que a entidade já é proprietária ou os arrenda de terceiros</p><p>(Ativo Imobilizado).</p><p>b) Passivo – são obrigações da empresa, contraídas junto a outras pessoas físicas ou jurídicas.</p><p>Os itens do Passivo são agrupados desta forma:</p><p> Passivo Circulante – espera-se a sua liquidação dentro dos 12 meses seguintes à data final</p><p>do Balanço – fornecedores, empréstimos, impostos a pagar e encargos sociais a recolher.</p><p> Passivo Não Circulante – compreende as obrigações não classificadas no Passivo</p><p>Circulante, isto é, cujo vencimento ocorrerá após o término do exercício social seguinte,</p><p>ou seja, no prazo superior a 12 meses seguintes à data do Balanço. São exemplos:</p><p>fornecedores em longo prazo, empréstimos em longo prazo e algumas provisões.</p><p>Desse modo, as obrigações da companhia – inclusive financiamentos para aquisição de</p><p>direitos do Ativo não Circulante – serão classificadas no Passivo Circulante, quando vencerem no</p><p>exercício seguinte, e no Passivo não Circulante, se tiverem vencimento em prazo maior.</p><p>Observe o Balanço Patrimonial da Droga Raia de 2022 (passivo + PL):</p><p> R$ 4.258.917 mil são financiados pelos fornecedores das mercadorias – Fornecedores;</p><p> R$ 394.762 mil são financiados pelo governo – Obrigações Fiscais (R$ 213.298 mil) mais</p><p>Programa de Recuperação Fiscal (R$ 163.804 mil) mais Tributos Diferidos (R$ 17.660 mil);</p><p> R$ 2.317.904 mil são financiados por bancos – Empréstimos e Financiamentos, sendo</p><p>R$ 186.356 mil de curto prazo + R$ 2.131.548 mil de longo prazo;</p><p>23</p><p> R$ 3.740.008 mil são financiados pelos proprietários dos imóveis onde a companhia</p><p>mantém as suas lojas, os centros de distribuição e a sede administrativa – Passivo de</p><p>Arrendamento, sendo R$ 759.301 mil de curto prazo + R$ 2.980.707 mil de longo prazo.</p><p>Todos esses itens têm uma característica em comum: representam obrigações da entidade</p><p>assumidas, no passado, que ainda não foram pagas, e exigirão desembolsos de recursos no futuro.</p><p>c) Patrimônio Líquido – origens de recursos dos acionistas. Em outras palavras, corresponde</p><p>à parcela do Ativo que excede o total dos Passivos. São exemplos: capital social, reserva de capital e</p><p>reserva de lucros.</p><p>Conjunto de bens e direitos de uma entidade, deduzida das suas obrigações para com</p><p>terceiros. Diferença entre o Ativo e o Passivo, ou seja, o valor contábil líquido da empresa.</p><p> Capital Social</p><p> Subscrito – compromisso de integralizar;</p><p> A realizar – subscrito, mas não integralizado;</p><p> Integralizado – valor já capitalizado;</p><p> Reserva de Capital</p><p> Ágio na colocação de ações;</p><p> Alienação de partes beneficiárias e bônus de subscrição;</p><p> Reservas de Lucros – apropriação de Lucros que, no caso das três primeiras (legal, para</p><p>contingências e de lucros a realizar), podem ser dedutíveis do Dividendo Mínimo Obrigatório:</p><p> Reserva Legal – 5% do Lucro Líquido, limitado a 20% do Capital Social;</p><p> Reservas para Contingências, como perdas futuras previstas em função da seca</p><p>esperada;</p><p> Reserva de Lucros a Realizar:</p><p> Lucro na Venda de Imobilizado em longo prazo;</p><p> Receita de Equivalência Patrimonial;</p><p> Reservas Estatutárias – retenção de lucros prevista nos estatutos da empresa;</p><p> Reserva de Reavaliação – é uma conta em desuso, pois a legislação brasileira proíbe novas</p><p>reavaliações a partir de 2008. Com isso, o seu saldo representa o efeito da reavaliação</p><p>(substituição do valor de custo histórico pelo valor de reposição) de itens do ativo</p><p>imobilizado.</p><p> Ajustes de Avaliação Patrimonial – utilizados para registrar a contrapartida do aumento</p><p>ou redução de itens do ativo ou do passivo mensurados a valor justo sem transitar pelo</p><p>resultado do período. A sua aplicabilidade é bastante restrita. Exemplo de ativos e passivos</p><p>mensurados a valor justo sem transitar pelo resultado do período são os instrumentos</p><p>financeiros mentidos para fins de proteção (hedge).</p><p>24</p><p> Lucros ou Prejuízos Acumulados – por força de lei, essa conta não deverá apresentar saldo</p><p>no fim do exercício. Essa conta terá caráter transitório, reconhecendo o lucro líquido do</p><p>período, as apropriações e reversões de reservas e a distribuição dos lucros.</p><p> Ações em Tesouraria (conta devedora, redutora do PL) – representam as ações de própria</p><p>emissão da entidade que ela recompra no mercado. Normalmente, o saldo das Ações em</p><p>Tesouraria é descontado do saldo das Reservas de Lucros. É por essa razão que a Droga</p><p>Raia não apresenta essa conta no seu balanço patrimonial no final do ano.</p><p> Participação dos Acionistas Não Controladores – é um ajuste de consolidação das</p><p>demonstrações contábeis da controladora com as de suas controladas, e representa a</p><p>participação de investidores nas controladas que não compõem o grupo econômico</p><p>controlado pela entidade que reporta.</p><p>Veja o Balanço Patrimonial da Droga Raia de 2022:</p><p> R$ 2.500.000 mil são contribuições efetivas dos sócios – Capital Social e</p><p> R$ 2.716.769 mil são lucros obtidos pela entidade e ainda não distribuídos aos sócios na</p><p>forma de dividendos – Reserva de Lucros.</p><p>Em uma situação normal de descontinuidade da entidade – encerramento das suas atividades – e</p><p>liquidação dos seus Ativos – venda e transformação dos bens e direitos em dinheiro –, todo o Passivo</p><p>deve ser pago, e o PL sobra para os sócios. Em caso de falência, pode não haver capacidade de pagamento</p><p>dos passivos.</p><p>Demonstração do Resultado do Exercício</p><p>Uma das várias medidas de desempenho é representada pelo lucro líquido referente a</p><p>determinado período. Tal lucro é apurado pela Demonstração do Resultado do Exercício (DRE). O</p><p>lucro ou prejuízo é obtido pela subtração de todas as despesas das receitas auferidas. Desse modo,</p><p>poderá</p><p>ser avaliado se determinada despesa está sendo incorrida de modo desproporcional, podendo-se avaliar</p><p>os motivos de tal fato, para que as possíveis soluções sejam mais prontamente identificadas.</p><p>A DRE é uma forma estruturada de evidenciar a composição do resultado da entidade, ou</p><p>seja, é um critério de organização das receitas auferidas e das despesas incorridas no período. Ao</p><p>apresentar o resultado (lucro ou prejuízo), a DRE evidencia a riqueza gerada pela entidade em</p><p>determinado período (exercício), sabendo-se que essa riqueza pertence, no fim das contas, aos</p><p>acionistas da entidade.</p><p>A forma de evidenciação básica das Despesas na estrutura da DRE, até o resultado</p><p>operacional, é constituída para gerar informações por meio de quatro funções organizacionais</p><p>da empresa:</p><p>25</p><p>1. produção;</p><p>2. comercial;</p><p>3. administrativa e</p><p>4. financeira.</p><p>A composição do primeiro item decorre da forma de atuação da empresa. Em uma indústria,</p><p>é apresentado o Custo dos Produtos Vendidos (CPV), que abrange gastos com a transformação da</p><p>matéria-prima em produto acabado. Em uma empresa comercial, o CPV é substituído pelo Custo</p><p>das Mercadorias Vendidas (CMV), que representa o custo dos estoques entregues aos clientes. Em</p><p>uma empresa de serviços, objetivando gerar informações úteis, procura-se destacar os gastos</p><p>relacionados à produção dos serviços. No item denominado Custo dos Serviços Prestados (CSP),</p><p>por exemplo, em uma empresa do setor de transporte rodoviário, os gastos com combustível,</p><p>salários dos motoristas, manutenção e depreciação dos veículos devem ser apresentados nessa conta.</p><p>OBSERVAÇÃO: Na prática, certos itens específicos são difíceis</p><p>de ser enquadrados. Nesses casos, a legislação prevê o item</p><p>Outras Receitas e Despesas Operacionais. No estudo da</p><p>contabilidade, você verificará contas iniciadas com o título</p><p>“Outras”, embora essa classificação receba críticas</p><p>recorrentes. Em diversas situações, representam a solução</p><p>mais prática para a classificação. O importante é que não</p><p>ocorra o abuso.</p><p>A Demonstração de Resultado do Exercício (DRE ou Derex) é um resumo ordenado de</p><p>receitas e despesas da empresa em determinado período, chegando-se ao lucro ou ao prejuízo. As</p><p>receitas são representadas pelas vendas de produtos – bens e serviços – realizadas no período de</p><p>referência (exercício), ainda que não tenham sido recebidas. Por sua vez, as despesas representam o</p><p>esforço da entidade para conseguir a sua receita do período sob exame, mesmo que não haja</p><p>desembolso de recursos nesse mesmo período.</p><p>Para compreender a DRE, é necessário conhecer a definição de alguns conceitos fundamentais:</p><p> Receitas – são aumentos nos benefícios econômicos durante o período contábil sob a</p><p>forma de entrada de recursos, isto é, do aumento de ativos ou da diminuição de passivos,</p><p>que resultam em aumento do patrimônio líquido e que não sejam provenientes de aportes</p><p>de capital pelos proprietários.</p><p> Despesas – são reduções de benefícios econômicos durante o período contábil sob a forma</p><p>de consumo de recursos, isto é, da redução de ativos ou do aumento de passivos, que</p><p>resultam em redução do patrimônio líquido e que não sejam decorrentes de distribuição</p><p>de lucros aos proprietários.</p><p>26</p><p> Resultado – diferença algébrica entre receitas e despesas. O resultado é também chamado</p><p>de lucro (se positivo) ou prejuízo (se negativo).</p><p>Na prática, a DRE é a apresentação, em forma resumida, das operações realizadas pela</p><p>empresa durante o exercício social, destacando-se o resultado líquido do período. Na verdade, a</p><p>análise do resultado do exercício significa a avaliação do desempenho da empresa.</p><p>Observe, a DRE da Droga Raia de 2022:</p><p>Tabela 3 – Demonstração do Resultado do Exercício da Droga Raia de 2022</p><p>descrição 2022 2021</p><p>receita (bruta) de venda de bens ou serviços 30.950.564 25.605.684</p><p>impostos incidentes sobre vendas -1.373.403 -1.218.499</p><p>abatimentos -509.781 -260.183</p><p>receita (líquida) de venda de bens ou serviços 29.067.380 24.127.002</p><p>custo dos bens ou serviços vendidos -20.257.912 -16.920.834</p><p>resultado bruto 8.809.468 7.206.168</p><p>despesas/receitas operacionais -6.970.144 -5.839.696</p><p>despesas com vendas -5.805.992 -4.966.819</p><p>despesas gerais e administrativas -1.249.847 -912.404</p><p>outras receitas operacionais 50.097 78.083</p><p>outras despesas operacionais 36.419 -37.429</p><p>resultado de equivalência patrimonial -821 -1.127</p><p>resultado antes do resultado financeiro e dos</p><p>tributos 1.839.324 1.366.472</p><p>receitas financeiras 293.586 80.016</p><p>despesas financeiras -939.701 -459.226</p><p>resultado antes dos tributos sobre o lucro 1.193.209 987.262</p><p>imposto de renda e contribuição social sobre o lucro -178.241 -223.129</p><p>lucro/prejuízo consolidado do período 1.014.968 764.133</p><p>atribuído a sócios da empresa controladora 996.112 751.934</p><p>atribuído a sócios não controladores 18.856 12.199</p><p>Fonte: CVM. Disponível em: http://www.cvm.gov.br . Acesso em: 7 jun. 2023.</p><p>http://www.cvm.gov.br/</p><p>27</p><p>Em 2022, a apuração da Droga Raia indicou que:</p><p> a Receita de Vendas líquida foi de R$ 29.067.380 mil;</p><p> os custos das mercadorias vendidas totalizaram R$ 20.257.912 mil;</p><p> o Lucro Bruto (isto é, receita menos custos das mercadorias vendidas) foi de</p><p>R$ 8.809.468 mil e</p><p> o Lucro Líquido foi de R$ 1.014.968 mil.</p><p>Além da DRE, as entidades são obrigadas a apresentar a Demonstração de Outros Resultados</p><p>Abrangentes, quando houver “outros resultados abrangentes” – o que não foi o caso da Droga Raia em</p><p>2022.</p><p>Os “outros resultados abrangentes” são todos os eventos que atendem perfeitamente à definição</p><p>de receita ou despesa, mas não são reconhecidos na DRE como receita nem como despesa por força dos</p><p>pronunciamentos contábeis em vigor. São exemplos de “outros resultados abrangentes” (nenhum deles</p><p>discutido neste material):</p><p> ajuste ao valor justo de instrumentos financeiros de cobertura (hedge);</p><p> ajustes na provisão para benefícios a empregados de planos de benefício definido decorrentes</p><p>da alteração de premissas atuariais e</p><p> ajustes de variação cambial decorrentes de conversão de demonstrações contábeis para uma</p><p>moeda de apresentação diferente da moeda funcional.</p><p>O art. 187 da Lei das Sociedades por Ações (LSA) disciplina a apresentação da DRE por função.</p><p>A Demonstração é iniciada com o valor total da receita apurada nas suas operações de vendas e prestação</p><p>de serviços, da qual são subtraídas as deduções da receita e os custos das mercadorias vendidas (CMV,</p><p>CSP, CPV), apurando-se o lucro bruto. Desse modo, o lucro bruto corresponde ao valor que a empresa</p><p>consegue obter após recuperar o CMV.</p><p>A partir disso, são subtraídas as despesas operacionais segregadas por subtotais, conforme a sua</p><p>natureza, ou seja:</p><p> Despesas com vendas – despesas comerciais, realizadas para vender o produto, como despesa</p><p>de marketing e distribuição.</p><p> Despesas gerais e administrativas – gastos para direção geral da empresa, que representam</p><p>atividades que geram benefícios para todas as fases do negócio da empresa.</p><p> Despesas financeiras e receitas financeiras – as receitas e as despesas financeiras correspondem</p><p>aos rendimentos financeiros auferidos sobre as suas aplicações financeiras (Ativo); e os juros</p><p>incidentes, sobre empréstimos ou financiamentos (Passivo), respectivamente.</p><p>Assim sendo, deduzindo-se as despesas operacionais totais do lucro bruto, apresenta-se o lucro</p><p>operacional, denominado na DRE como Resultado Antes dos Tributos sobre o Lucro – outro dado</p><p>importante na análise das operações da empresa. Nesse sentido, o Lucro Operacional corresponde ao</p><p>valor que a empresa consegue obter após recuperar o CMV e todas as despesas necessárias para obter as</p><p>receitas, ou seja, é o quanto a atividade operacional gera de riquezas para a entidade.</p><p>28</p><p>Uma empresa também pode efetuar a venda dos seus ativos não circulantes após um período</p><p>de uso. O valor desse resultado – que</p><p>pode ser positivo ou negativo – é classificado dentro do</p><p>Resultado Operacional, na linha de Outras Receitas ou Despesas Operacionais.</p><p>A seguir, deduz-se a despesa com o imposto de renda e a Contribuição Social. Finalmente,</p><p>deduzem-se as participações (previstas no estatuto) de terceiros calculáveis sobre o lucro – tais como</p><p>empregados administradores, partes beneficiárias, debêntures e contribuições para fundos de</p><p>benefícios a empregados –, dessa forma, chegando-se, ao lucro ou ao prejuízo líquido do exercício.</p><p>Ao ser dividido pelo número de ações, chega-se ao lucro ou ao prejuízo por ação, valor final da DRE.</p><p>Como se nota no texto da alínea b do § 1º do art. 187 da LSA, nos mesmos períodos em que</p><p>forem lançados os rendimentos e as receitas, deverão estar registrados todos os custos, as despesas,</p><p>os encargos e os riscos correspondentes àquelas receitas. Por esse conceito – também denominado</p><p>contraposição de receitas e despesas (Princípio da Confrontação de Despesas com Receitas e com o</p><p>Período Contábil) –, ao se contabilizar, por exemplo, a receita da venda de determinado produto,</p><p>devem-se registrar, no mesmo período, todas as despesas em que se incorre no que tange àquela</p><p>receita, tais como:</p><p> o custo do produto vendido, que englobaria material, mão de obra e demais custos da sua</p><p>fabricação;</p><p> as despesas operacionais incorridas, seja de comercialização, seja de administração, e</p><p> o imposto sobre a renda (lucro) auferida.</p><p>Nesse sentido, se a empresa conceder, por exemplo, um período de garantia e de revisões</p><p>gratuitas ao cliente pelo produto vendido, o custo de tal garantia deverá estar apropriado, por</p><p>estimativa, nesse mesmo período, e não no período futuro, quando será realizada a substituição de</p><p>peças ou a revisão gratuita. Por esse motivo é que, havendo a cláusula de garantia sobre as vendas,</p><p>deve-se constituir uma provisão para custos de garantia.</p><p>A partir dessa filosofia, a comissão dos vendedores deve estar provisionada como despesa, no</p><p>mesmo período do reconhecimento da venda – mesmo sendo paga, total ou parcialmente, somente</p><p>quando do recebimento das duplicatas correspondentes.</p><p>Um aspecto muito relevante ocorre quando a empresa efetua vendas e compras a prazo. Nesse</p><p>caso, há um efeito decorrente do “custo do dinheiro” entre a data original da transação e o efeito</p><p>financeiro. Nesse caso, quando os valores são materiais, o ideal é a aplicação do conceito de Ajuste</p><p>a Valor Presente.</p><p>Demonstração dos Fluxos de Caixa</p><p>A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) evidencia a variação do caixa, indispensável para o</p><p>pagamento das obrigações no prazo previsto assim como para o bom funcionamento da empresa.</p><p>29</p><p>A Lei nº 11.638, de 28 de dezembro de 2007, tornou obrigatória a evidenciação da DFC. O</p><p>CPC emitiu o Pronunciamento Técnico nº 3, apresentando as normas para a sua elaboração.</p><p>A DFC mostra as origens e aplicações de caixa, que são a base para a avaliação da situação</p><p>financeira da empresa e a sua capacidade de pagamento das obrigações. Essa demonstração auxilia</p><p>a responder a perguntas vitais, como “Onde foi obtido o dinheiro?” e “Onde o dinheiro foi aplicado</p><p>e com que objetivo?”, e a perguntas específicas, como:</p><p> Onde a empresa consegue recursos?</p><p> Quanto dos recursos financeiros foi gerado internamente pela empresa?</p><p> Como foi financiada a expansão com a compra de ativos imobilizados?</p><p> A empresa está-se expandindo em ritmo mais acelerado do que a sua geração de recursos?</p><p> A política de distribuição de dividendos está em equilíbrio com a geração operacional?</p><p> Quais são os movimentos financeiros com os acionistas e os financiadores?</p><p>O caixa é vital para o bom funcionamento de qualquer empresa. O modo como os fluxos de</p><p>caixa é administrado pode determinar o sucesso ou fracasso de uma empresa. As contas devem ser</p><p>pagas no seu vencimento, e o dinheiro excedente pode ser aplicado na compra de estoque, de</p><p>equipamentos ou na geração de rendimentos financeiros.</p><p>Entende-se por “Equivalente à Caixa” os recursos aplicados em Bancos conta-movimento e</p><p>Aplicações Financeiras de imediata realização, ou seja, aqueles com valores resgatáveis no curto</p><p>prazo e insignificante risco de mudança de valor.</p><p>Dessa forma, ΔCx = (Cx1 + Bancos1 + Aplic. Fin. resgatável em CP1) – (Cx0 + Bancos0 +</p><p>Aplic. Fin. resgatável em CP0).</p><p>Vejamos a Demonstração dos Fluxos de Caixa da Droga Raia de 2022:</p><p>30</p><p>Tabela 4 – Demonstração dos Fluxos de Caixa da Droga Raia de 2022</p><p>descrição 2022 2021</p><p>caixa líquido: atividades operacionais 1.682.255 1.550.545</p><p>caixa gerado nas operações 3.421.596 2.731.121</p><p>lucro líquido antes de IR e CSLL 1.193.209 987.262</p><p>depreciações e amortizações 1.515.538 1.327.110</p><p>plano de remuneração com ações restritas, líquido 22.604 15.086</p><p>juros sobre opção de compra de ações adicionais 26.769 2.819</p><p>resultado na venda ou baixa do ativo imobilizado e intangível 29.233 23.865</p><p>(provisão) reversão para demandas judiciais 64.670 42.029</p><p>(reversão) provisão para perdas no estoque 27.084 4.418</p><p>(reversão) provisão de perdas estimadas para créditos de liquidação</p><p>duvidosa 7.245 7.732</p><p>(provisão) reversão para encerramento de lojas -1072 -105</p><p>despesa de juros 274.962 86.180</p><p>amortizações de custos de transação de debêntures 4.639 4.321</p><p>despesa de juros – arrendamento 258.640 235.667</p><p>ganho adquirido em combinação de negócio 0 0</p><p>resultado de equivalência patrimonial -820 1.127</p><p>desconto sobre locação de imóveis -1.105 -6.390</p><p>variações nos ativos e passivos -934.667 -455.000</p><p>clientes e outras contas a receber -583.602 -158.092</p><p>estoques -1.035.341 -896.809</p><p>outros ativos circulantes 12.121 -38.768</p><p>ativos no realizável em longo prazo -69.009 40.587</p><p>fornecedores 728.351 390.754</p><p>salários e encargos sociais 141.268 109.274</p><p>impostos, taxas e contribuições -160.200 -36.003</p><p>outras obrigações 137.575 119.319</p><p>aluguéis a pagar 10.985 14.738</p><p>fornecedores – risco sacado -116.815 14.738</p><p>outros -804.674 -725.576</p><p>juros pagos -258.674 -64.861</p><p>31</p><p>IR e contribuição social pagos -233.175 -373.976</p><p>juros pagos – arrendamentos -258.640 -235.667</p><p>demandas judiciais – pagos -54.185 -51.072</p><p>caixa líquido: atividades de investimento -1.229.582 -885.950</p><p>aquisição de controlada -40.000 -12.636</p><p>caixa adquirido em combinação de negócio 0 14.655</p><p>aquisições de imobilizado e intangível -1.188.782 -855.596</p><p>recebimentos por vendas de imobilizados 0 809</p><p>investimentos em coligadas 0 0</p><p>empréstimos concedidos a controladas -800 -18.450</p><p>ativos líquidos da empresa incorporada 0 -14.732</p><p>caixa líquido: atividades de financiamento -375.250 -1.188.834</p><p>empréstimos e financiamentos tomados 1.460.248 338.234</p><p>pagamentos de empréstimos e financiamentos -668.493 -517.646</p><p>recompra de ações 0 -73.227</p><p>juros sobre capital próprio e dividendos pagos -324.082 -265.025</p><p>pagamentos de arrendamento -842.923 -671.170</p><p>aumento (redução) de caixa e equivalentes 77.423 -524.239</p><p>saldo inicial de caixa e equivalentes 356.118 880.357</p><p>saldo final de caixa e equivalentes 433.541 356.118</p><p>Fonte: CVM. Disponível em: http://www.cvm.gov.br. Acesso em: 7 jun. 2023.</p><p>Analisando a DFC da Droga Raia de 2022, é possível perceber que:</p><p> o saldo final de caixa e equivalentes aumentou em R$ 77.423 mil, isto é, passou de R$</p><p>356.118 mil no final do ano passado para R$ 433.541 mil no final desse ano;</p><p> a atividade operacional gerou caixa líquido no montante de R$ 1.682.255 mil,</p><p>demonstrando que a compra e a venda de medicamentos e demais mercadorias é uma</p><p>atividade geradora de caixa;</p><p> a atividade de investimento consumiu caixa líquido no montante de R$ 1.229.582 mil,</p><p>demonstrando que a Droga Raia está investindo na sua expansão com a abertura de</p><p>novas lojas e aquisição de concorrentes e</p><p>http://www.cvm.gov.br/</p><p>32</p><p> a atividade de financiamento consumiu caixa líquido no montante de R$ 375.250 mil,</p><p>demonstrando que a entidade distribuiu mais dinheiro aos sócios (dividendos) e aos credores</p><p>(juros e amortização do principal, e arrendamento) do que captou com eles – os sócios não</p><p>aumentaram o capital social em dinheiro, e a entidade obteve empréstimo e financiamentos com</p><p>credores em montante maior que o da amortização do principal e o do pagamento de juros.</p><p>A Demonstração dos Fluxos de Caixa classifica os recebimentos e os pagamentos de caixa em</p><p>três atividades: operacional, de investimento e de financiamento.</p><p>a) Atividades operacionais</p><p>Consistem no reconhecimento dos ingressos e dos desembolsos atrelados, exclusivamente, às</p><p>atividades principais do empreendimento, ou seja, da sua operação – como recebimentos de vendas</p><p>à vista ou a prazo, decorrentes do recebimento de duplicatas, contrapondo-se aos desembolsos com</p><p>a compra de mercadorias para revenda, de matérias-primas, mão de obra, despesas com vendas,</p><p>administrativas e outras.</p><p>O Fluxo de Caixa Operacional é apresentado de forma diferenciada pelo Método Direto e</p><p>pelo Método Indireto. A Raia Drogasil S.A. apresentou o fluxo de caixa da atividade operacional</p><p>pelo método indireto.</p><p>b) Atividades de investimento</p><p>As atividades de investimento incluem entradas de caixa pela venda de imóveis, veículos,</p><p>equipamentos, recebimento do principal em um empréstimo feito a outras empresas, operações</p><p>financeiras em função de aplicações ou resgates. Nessa categoria, saídas de caixa podem resultar da</p><p>compra de um imóvel ou equipamento, ou outro ativo para a produção, participações acionárias,</p><p>concedendo empréstimo para terceiros ou efetuando aplicações financeiras de longo prazo, não</p><p>incluídas no equivalente ao caixa.</p><p>c) Atividades de financiamento</p><p>Reúnem todos os ingressos e desembolsos oriundos da captação de recursos de terceiros de curto</p><p>e longo prazo (financiamentos, empréstimos bancários), bem como dos recursos dos proprietários</p><p>(acionistas ou quotistas), abrangendo os aportes ou as reduções de capital e dividendos, objeto desses</p><p>recursos. Dessa forma, são considerados gerações de caixa pela atividade de financiamento os ingressos</p><p>de dinheiro decorrentes de aumento do Capital Social, obtenção de Empréstimos e Financiamentos.</p><p>Por outro lado, são consideradas consumo de Caixa, pela atividade de financiamento, as saídas de</p><p>dinheiro para pagar Dividendos, amortizar os Empréstimos e os Financiamentos.</p><p>33</p><p>Note que o nome da demonstração é Demonstração dos Fluxos de Caixa, uma vez que</p><p>apresenta a variação do saldo de caixa, que pode ser causada por três razões diferentes: pelas</p><p>atividades operacionais, pelas atividades de investimento e pelas atividades de financiamento,</p><p>abrangendo recursos de terceiros e recursos dos acionistas.</p><p>As transações que não envolvem caixa – como a aquisição de um terreno em troca de ações</p><p>ou o pagamento de um financiamento com um ativo imobilizado – apesar de não serem</p><p>apresentadas no corpo da demonstração, devem ter a sua evidenciação efetuada em nota explicativa</p><p>ou como informações complementares.</p><p>Conceitos fundamentais</p><p>Patrimônio</p><p>Uma informação fundamental apresentada pela Contabilidade é a avaliação do patrimônio</p><p>da empresa e a quantificação da sua variação ao longo dos anos. De forma sintética, podemos dizer</p><p>que o Balanço Patrimonial é formado por três componentes: Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido.</p><p>A sua posição financeira é refletida pela relação entre tais componentes. O termo Balanço indica o</p><p>equilíbrio entre eles, como pode ser demonstrado pela equação:</p><p>ativo = passivo + patrimônio líquido</p><p>A sua evidenciação:</p><p>aplicações origens</p><p>ativo</p><p>passivo</p><p>patrimônio líquido</p><p>Essa equação pode ser entendida por meio do conceito de Origens e Aplicações. O Passivo e o</p><p>Patrimônio Líquido representam as fontes de recursos – origens – obtidas pela empresa, e o Ativo</p><p>indica a destinação – aplicações – desses recursos. Afinal, pelo método das partidas dobradas:</p><p>aplicações = origens</p><p>34</p><p>Ativo</p><p>Entende-se por Ativo os recursos controlados por uma entidade em consequência de eventos</p><p>passados dos quais se espera que resultem fluxos de benefícios econômicos futuros ou potencial de</p><p>serviços para a entidade.</p><p>O Ativo aumenta de valor pelo reconhecimento contábil de uma receita, pela obtenção de</p><p>recursos com terceiros ou com sócios da entidade, ou pela venda de outro ativo com lucro.</p><p>Passivo</p><p>Entende-se por Passivo as obrigações presentes da entidade, derivadas de eventos já ocorridos,</p><p>cujo pagamento se espera que resulte em saída de recursos da entidade, recursos capazes de gerar</p><p>benefícios econômicos ou potencial de serviços. Também se pode dizer que o Passivo representa a</p><p>origem de recursos financiados por terceiros, além das obrigações assumidas pela entidade que</p><p>exigirão desembolso de recursos no futuro, ou seja, contas a pagar, salários a pagar, impostos a</p><p>pagar, entre outros.</p><p>O Passivo aumenta de valor pela captação de um empréstimo ou financiamento, pela compra de</p><p>um ativo a prazo ou pelo reconhecimento contábil de uma despesa ainda não paga. Por outro lado, o</p><p>Passivo diminui de valor pelo efetivo pagamento ou pelo reconhecimento contábil de uma receita que</p><p>havia sido recebida antecipadamente, como o adiantamento de clientes.</p><p>Patrimônio Líquido</p><p>Assim como o Passivo, o Patrimônio Líquido (PL) também representa origem de recursos,</p><p>sendo que o PL corresponde aos recursos financiados pelos sócios da entidade, na forma de capital</p><p>social, e também pelos lucros retidos.</p><p>O PL também é chamado de Ativo Líquido, afinal, corresponde ao resíduo dos (diferença</p><p>entre) ativos reconhecidos e passivos reconhecidos. Desse modo, o termo Ativo Líquido designa a</p><p>parcela dos ativos que sobra depois de descontar todos os passivos da entidade.</p><p>Resultado</p><p>O resultado deriva do confronto das receitas com as despesas e, consequentemente, pode ser</p><p>positivo – lucro –, se as receitas forem maiores do que as despesas; ou negativo – prejuízo –, se as</p><p>receitas forem menores do que as despesas.</p><p>No caso de lucro, representa a riqueza gerada pela empresa durante determinado período de</p><p>tempo, que pertence aos acionistas da entidade. Quando a empresa incorre em prejuízo, ocorre uma</p><p>destruição da riqueza dos acionistas.</p><p>35</p><p>Receita</p><p>Corresponde à geração de recursos provenientes da venda de mercadorias (como no setor</p><p>varejista), da prestação de serviços (como em consultas médicas), entre outros. Resulta em um</p><p>aumento em caixa ou em contas a receber.</p><p>Entende-se por Receita os “aumentos de benefícios econômicos durante o período contábil</p><p>sob a forma de entradas ou aumentos de ativos ou diminuições de passivos que resultam em</p><p>aumento do patrimônio líquido e que não sejam provenientes de aportes dos proprietários da</p><p>entidade” (IFRS for SMEs e CPC-PME § 2.23(a)).</p><p>Despesa</p><p>Corresponde ao consumo de recursos decorrentes das mesmas atividades que deram origem às</p><p>receitas, tais como a venda de Estoque – Custo das Mercadorias Vendidas (CMV) ou Custo dos</p><p>Produtos Vendidos (CPV) –, a prestação de serviços – Custo dos Serviços Prestados (CSP) –, Salário de</p><p>vendedores (Despesa com Vendas), Salário dos diretores (Despesa Administrativa), Juros sobre Dívidas</p><p>(Despesa Financeira), Venda do Imobilizado com Prejuízo (Outra Despesa Operacional).</p><p>Entende-se por Despesa os “decréscimos nos benefícios econômicos durante o período</p><p>contábil sob a forma de saída de recursos ou redução de ativos ou incrementos em passivos que</p><p>resultam em decréscimos no patrimônio líquido e que não sejam provenientes de distribuição aos</p><p>proprietários da entidade” (IFRS for SMEs e CPC-PME § 2.23(b)).</p><p>Como Receita e Despesa afetam o Patrimônio Líquido (Ativo Líquido)</p><p>Os ativos da empresa contribuem para a sua continuidade e o seu futuro crescimento. As</p><p>receitas e as despesas vão afetar o Patrimônio Líquido (Ativo Líquido),</p>e que poderia ser representado com fidedignidade. 
 Determinar se a informação está disponível e pode ser representada com fidedignidade. 
 
Características qualitativas de melhoria da informação 
As características qualitativas de melhoria podem auxiliar a determinar qual alternativa, que 
seja considerada equivalente em termos de relevância e fidedignidade de representação, deve ser 
escolhida para retratar um fenômeno. 
 
a) Comparabilidade 
Comparabilidade é a característica que permite a identificação e a compreensão de 
similaridades e diferenças entre os itens. É diferente da consistência, que significa aplicação dos 
mesmos métodos para os mesmos itens. Comparabilidade é o objetivo, já a consistência é um auxílio 
na obtenção desse objetivo. Comparabilidade implica também fazer com que coisas diferentes não 
pareçam iguais ou coisas iguais não pareçam diferentes. 
Comparabilidade não significa uniformidade, indicando que um procedimento novo pode 
ser aplicado, desde que devidamente ponderado e evidenciado. No entanto, deve ser reconhecido 
que, apesar de um fenômeno econômico singular poder ser representado com fidedignidade de 
múltiplas formas, a discricionariedade na escolha de métodos contábeis alternativos para o mesmo 
fenômeno econômico diminui a comparabilidade. 
No entanto, deve-se tomar o cuidado de efetuar as comparações de forma correta. Por exemplo, 
na análise de uma demonstração trimestral, é importante que os dados sejam comparados com o 
mesmo trimestre dos anos anteriores, e não com os trimestres anteriores, em função da sazonalidade. 
Por exemplo, espera-se que uma empresa que fabrica brinquedos tenha melhores resultados no último 
trimestre do ano, de outubro a dezembro. Por outro lado, é provável que uma empresa que vende 
material escolar, em geral, tenha melhores resultados no primeiro trimestre do ano. 
A intenção de comparabilidade é uma das causas da normalização contínua das práticas 
contábeis. Se não houvesse normatização, cada empresa poderia usar um tratamento diferenciado, 
e não haveria comparação. 
 
b) Verificabilidade 
A verificabilidade ajuda a assegurar aos usuários que a informação representa, de modo 
fidedigno, o fenômeno econômico que se propõe a representar. A verificabilidade significa que 
diferentes observadores, cônscios e independentes, podem chegar a um consenso, embora não 
cheguem, necessariamente, a um completo acordo quanto ao retrato de uma realidade econômica 
 
200 
 
em particular ser uma representação fidedigna. Informação quantificável não necessita ser um único 
ponto estimado para ser verificável. Uma faixa de possíveis montantes com as suas probabilidades 
respectivas também pode ser verificável. 
A verificação pode ser direta ou indireta. Verificação direta significa checar um montante ou 
outra representação por meio de observação direta, por exemplo, por meio da contagem de caixa. 
Verificação indireta significa checar os dados de entrada do modelo, fórmula ou outra técnica, e 
recalcular os resultados obtidos por meio da aplicação da mesma metodologia. Um exemplo é a 
verificação do valor contábil dos estoques por meio da checagem dos dados de entrada (quantidade 
e custos) e por meio do recálculo do saldo final dos estoques, utilizando a mesma premissa adotada 
no fluxo do custo (por exemplo, utilizando o método PEPS). 
Um fato importante diz respeito às estimativas sobre eventos futuros. Para ajudar os usuários a 
decidir se desejam usar dita informação, é necessário divulgar as premissas subjacentes, os métodos de 
obtenção da informação e outros fatores e circunstâncias que suportam tais estimativas. 
No objetivo de ampliar a verificabilidade, a empresa deve utilizar o conhecimento de especialistas, 
como advogados, na análise de uma contingência decorrente de processo judicial; engenheiros, para a 
definição da vida útil de um equipamento; e veterinários, para avaliação de um ativo biológico animal. 
Tais profissionais emitem laudos e pareceres que constituem uma referência documental para o 
reconhecimento contábil e a comprovação pela auditoria independente. 
 
c) Tempestividade 
Para ser útil ao usuário, qualquer instrumento – uma ferramenta, um medicamento e até uma 
informação – precisa ser disponibilizado a tempo, de modo que o usuário possa, efetivamente, utilizá-
lo nos seus propósitos, por exemplo, realizar um conserto, curar-se de uma enfermidade ou tomar 
uma decisão. Caso contrário, o instrumento não terá qualquer serventia e perderá a sua relevância. 
Tempestividade significa ter informação disponível e oportuna para tomadores de decisão a 
tempo de poder influenciá-los nas suas decisões. Em geral, a informação mais antiga é a que tem 
menos utilidade. No entanto, certa informação pode ter o atributo tempestividade prolongado após 
o encerramento do período contábil, em decorrência de alguns usuários, por exemplo, necessitarem 
identificar e avaliar tendências. 
Por outro lado, a pressa na geração da informação não deve provocar a disponibilização de 
informações precárias ou duvidosas. Nesse caso, a informação perderia confiabilidade. Desse modo, 
a busca da tempestividade implica um trade-off entre relevância e confiabilidade, o que deve ser 
avaliado pelo contador com bom senso e neutralidade, caso a caso. 
 
d) Compreensibilidade 
Compreensibilidade significa que a classificação, a caracterização e a apresentação da 
informação são feitas com clareza e concisão, tornando-a compreensível. No entanto, não é 
admissível a exclusão da informação complexa e não facilmente compreensível se esse fato tornar o 
 
 201 
 
relatório incompleto e distorcido, pois certos fenômenos são realmente difíceis. Os relatórios 
contábil-financeiros são elaborados na presunção de que o usuário tem conhecimento razoável de 
negócios e que age diligentemente, mas isso não exclui a necessidade de ajuda de consultor para 
fenômenos complexos. 
As informações apresentadas nas demonstrações contábeis devem ser diretas e claras. As 
demonstrações contábeis devem ser elaboradas de modo que possam ser entendidas por usuários 
não contadores, desde que estes estejam interessados e dispostos a compreender a situação 
patrimonial e o desempenho da entidade analisada, mesmo que, para isso, seja necessário estudar 
os conceitos básicos da Contabilidade e das demonstrações contábeis, assim como dados sobre a 
empresa analisada e sobre o mercado em que atua. 
Em virtude de o mundo dos negócios ser competitivo e envolver operações estruturadas e 
sofisticadas, como acontece no mercado financeiro, a demonstração contábil também deve conter as 
informações sobre operações complexas que sejam relevantes para a tomada de decisão, ajudando o 
usuário a conhecer melhor a situação patrimonial e o desempenho da entidade. Essa postura está 
vinculada ao fato de o foco da contabilidade ser uma linguagem – a linguagem dos negócios. 
Exemplo: a direção de uma empresa brasileira resolveu apresentar de forma bastante didática 
uma operação complexa realizada. Como consequência, as ações dessa empresa tiveram uma subida 
no mercado. Motivo: os investidores conseguiram entender o efetivo benefício da transação 
econômica para a empresa e valorizaram o fato. 
 
Aplicação conjunta das características qualitativas de melhoria 
A aplicação das características qualitativas de melhoria é um processo que requer bom senso. 
Algumas vezes, uma característica qualitativa de melhoria pode ter de ser diminuída para a 
maximização de outra característica qualitativa. Por exemplo, a redução temporária na 
comparabilidade como resultado da aplicação prospectiva de uma nova norma contábil-financeira 
pode ser vantajosa para o aprimoramento da relevância ou da representação fidedigna no longo 
prazo. É fundamental que sejam efetuadas divulgações apropriadas. 
 
 
 
202 
 
Restrição de custo na elaboração e na divulgação de relatório contábil-
financeiro 
O custo de gerar a informação é uma restrição que deve estar semprepresente no processo de 
elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro. Esse processo impõe custos, sendo 
importante que os ditos custos sejam justificados pelos benefícios gerados pela divulgação da 
informação. Existem variados tipos de custos e benefícios a considerar. 
Fornecedores de informação contábil-financeira envidam grande parte dos seus esforços na coleta, 
no processamento, na verificação e na disseminação de informação contábil-financeira. Usuários de 
informação contábil-financeira também incorrem em custos de análise e interpretação de informação 
fornecida. Se a informação demandada não é fornecida, os usuários incorrem em custos adicionais de 
obtenção da informação por meio de outras fontes ou por meio da sua estimativa. 
Nesse sentido, a avaliação dos preparadores das Demonstrações Contábeis é sempre 
necessária, pois não deve haver falta nem excesso. 
O equilíbrio resulta em funcionamento mais eficiente dos mercados de capitais e em custo menor 
de capital para a economia como um todo. O investidor individual, o credor por empréstimo ou outro 
credor também se beneficiam desse processo por meio de decisões realizadas com melhor informação. 
Essa restrição deve ser considerada, inclusive, pelas entidades reguladoras. 
Um tratamento diferenciado pode ser apropriado em decorrência dos tamanhos variados das 
entidades, das diferentes formas de captação de capital (pública ou privadamente), das diferentes 
necessidades de usuários ou de outros fatores. 
 
CPC 00, Capítulo 4: Premissa subjacente – Continuidade 
Este item, que era considerado um Pressuposto Básico da Contabilidade, está sendo 
apresentado como Premissa Subjacente. O fato é que o conceito é fundamental para a plena atuação 
da Contabilidade. 
Tal qual o fundador da empresa que acredita que a sua empresa (recém-constituída ou não) terá 
longa vida útil – como é o caso da Granado, que tem 50 anos –, o contador também acredita (tem por 
premissa) que a empresa (entidade objeto da contabilização) terá vida útil indeterminada. 
 
Pronunciamento CPC, item 4.1: 
Continuidade 
23. As demonstrações contábeis são normalmente preparadas no pressuposto de que a 
entidade está em marcha e continuará em operação no futuro previsível. Dessa forma, 
presume-se que a entidade não tem a intenção nem a necessidade de entrar em liquidação, 
nem reduzir materialmente a escala das suas operações; se tal intenção ou necessidade existir, 
as demonstrações contábeis terão de ser preparadas em uma base diferente e, nesse caso, tal 
base deverá ser divulgada. 
 
 203 
 
A Contabilidade da empresa deve elaborar as demonstrações contábeis partindo da ideia de 
que a entidade deverá continuar em operação no futuro, ou seja, não será encerrada em um futuro 
previsível. Desse modo, presume-se que a empresa não tem a intenção nem a necessidade de colocar 
todos os seus Ativos à venda. 
Se a intenção de descontinuar a empresa ou a necessidade existir em decorrência de uma 
situação adversa, as demonstrações contábeis terão de ser preparadas em uma base diferente, que 
deve ser divulgada. Quando a empresa estiver em processo de encerramento das suas atividades e 
liquidação dos seus Ativos para pagamento dos seus Passivos, todos esses itens deverão ser avaliados 
pelo valor líquido de realização. 
 
MÓDULO III 
I) Custo médio ponderado fixo: controle periódico 
Segundo o Custo Médio Ponderado Fixo (CMPF), os estoques são avaliados pelo custo 
médio das mercadorias compradas, ponderadas no fim de determinado período; afinal, o estoque é 
controlado periodicamente. 
Esse critério só é aceito pelo Fisco se apurado em curtos períodos e, ainda assim, se os estoques 
não forem compostos de produtos com rotações e variações muito diferentes. 
O CMPM demanda controle permanente dos estoques, e o seu valor é alterado sempre que 
há novas entradas. Já o CMPF é utilizado quando os estoques são controlados periodicamente e, 
não importando quantas entradas houve no período analisado, o seu valor é fixado no fim desse 
período, dividindo-se o valor total das aquisições pelo número de itens adquiridos. 
Vejamos o mesmo exemplo: 
 
Tabela 65 – CMPF 
data 
entrada saída saldo final 
(unid.) ($) (unid.) (unid.) ($) 
si 10 x 20,00 200,00 
05 30 x 25,00 750,00 40 
10 32 8 
22 5 x 30,00 150,00 13 
30 1 12 x 24,444 293,333 
soma 35 900,00 33 × 24,444 806,666 
 
 
204 
 
No final do período, o custo de cada unidade em estoque é (200 + 750 + 150) ÷ (10 + 30 + 05) 
= 1100,00 ÷ 45 = 24,444. Com isso, o estoque final é 12 x 24,444 = 293,333, e o CMV no período é 
33 x 24,444 = 806,666. 
 
II) Método do varejo (dos estoques) 
As grandes empresas de varejo, que trabalham com uma infinidade de itens, podem adotar o 
método do varejo, por ser mais simples e menos dispendioso. Dado o preço de venda do produto, 
retiram-se as despesas e a margem de lucro, chegando-se ao custo do estoque. Esse critério é aceito pelo 
International Accounting Standards Board (IASB), no seu posicionamento nº 2. 
Imagine uma loja de departamentos que venda uma infinidade de diferentes itens cujo prazo 
médio de estocagem seja muito pequeno. Sem um sistema informatizado de controle dos estoques fica 
praticamente inviável a adoção de qualquer dos quatro métodos de avaliação dos Estoques, e, 
consequentemente, do CMV. Por isso, no dia a dia, ela adota o Método do Varejo. 
Dessa forma, ao vender determinada mercadoria cuja margem de lucro média seja de 30% sobre 
o preço de venda de $ 10,00, o seu contador reconhece a receita de vendas (observando o Princípio da 
Realização da Receita) e, para confrontar a despesa (custo das mercadorias vendidas) associada àquela 
venda, faz o seguinte cálculo: $ 10,00 x (1 – 0,3) = $ 7,00, e reconhece o CMV por $ 7,00. 
 
III) Perda por redução ao valor recuperável (impairment do imobilizado) 
A informação contábil precisa ser neutra (não otimista). Uma das formas de alcançar essa 
qualidade (característica qualitativa) é identificar se o valor contábil dos ativos será recuperado, quer pela 
venda (valor realizável líquido), quer pelo uso ao longo da sua vida útil (valor presente dos benefícios 
futuros esperados). Em outras palavras, podemos dizer que o valor contábil não será recuperado se for 
maior do que o maior valor entre o valor líquido de realização (aquele que se pretende auferir na venda) 
e o valor presente dos fluxos futuros esperados (aquele que se pretende auferir mediante o uso). 
O conceito de perda por irrecuperabilidade já vem sendo adotado pelas empresas brasileiras há 
décadas para alguns itens do Ativo Circulante. As duplicatas a receber de clientes são reduzidas pela 
expectativa de não recebimento (inadimplência), por meio da Perda Esperada com Créditos de 
Liquidação Duvidosa (PECLD). Os estoques são reduzidos ao valor de mercado caso este seja menor. 
Vejamos um exemplo: 
No início de 2008, a Cia. Vende TV tinha 1.000 unidades de TV analógica em estoque, 
adquiridas por $ 300,00 cada (custo de aquisição), que ela pretendia revender por $ 500,00 cada. Em 
função da aprovação da legislação sobre TV digital, os consumidores só querem comprar TV digital. 
Com isso, as TVs analógicas estão “encalhando”. Por conseguinte, as empresas revendedoras 
(concorrentes da Cia. Vende TV) baixaram o preço de venda da TV analógica, de $ 500,00 para 
$ 290,00, e espera gastar $ 10,00 para vender (comissão de vendedores e impostos sobre vendas). 
 
 205 
 
Considerando que a Cia. Vende TV precisou acompanhar a política de descontos dos seus 
concorrentes, reconheceu a Perda por Irrecuperabilidade das mercadorias analógicas no montante 
de $ 20.000,00 [1.000 unidades x ($ 280,00 – $ 300,00)]. A contabilização é bastante simples: a 
aplicação é a perda na DRE, e a origem é a redução do valor dos Estoques, em conta retificadora 
do Ativo Circulante. 
A novidade introduzida na contabilidade brasileira, pela Lei nº 11.638/07 e pelo 
Pronunciamento CPC nº 1, diz respeito à obrigatoriedade

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