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<p>1</p><p>2</p><p>CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE</p><p>4a EDIÇÃO/2024</p><p>1. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE: DIREITO COMPARADO E SISTEMA BRASILEIRO 7</p><p>1.1. NOÇÕES PRELIMINARES 7</p><p>1.2.SISTEMA AUSTRÍACO (KELSEN) X SISTEMA NORTE-AMERICANO (MARSHALL) 8</p><p>1.3. FLEXIBILIZAÇÃO DA TEORIA DA NULIDADE NO DIREITO BRASILEIRO 10</p><p>1.3.1. A MITIGAÇÃO DO PRINCÍPIO DA NULIDADE NO CONTROLE CONCENTRADO 10</p><p>1.3.2. A MITIGAÇÃO DO PRINCÍPIO DA NULIDADE NO CONTROLE DIFUSO 11</p><p>1.4. CONSTITUCIONALIDADE E INCONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE 11</p><p>1.4.1. CONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE 11</p><p>1.4.2. INCONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE 12</p><p>1.5. CONTROLE DE LEGALIDADE E CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 13</p><p>1.6. CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE 13</p><p>1.7. CONTROLE CONCENTRADO X CONTROLE DIFUSO 15</p><p>2. BREVE ANÁLISE EVOLUTIVA DO SISTEMA BRASILEIRO DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE</p><p>15</p><p>2.1. CONSTITUIÇÃO DE 1824 15</p><p>2.2. CONSTITUIÇÃO DE 1891 16</p><p>2.3. CONSTITUIÇÃO DE 1934 16</p><p>2.4. CONSTITUIÇÃO DE 1937 16</p><p>2.5. CONSTITUIÇÃO DE 1946 17</p><p>2.6. CONSTITUIÇÃO DE 1967 e EC nº 1/69 17</p><p>2.7. CONSTITUIÇÃO DE 1988 17</p><p>3. ESPÉCIES DE INCONSTITUCIONALIDADE E O “ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL” 18</p><p>3.1. INCONSTITUCIONALIDADE POR AÇÃO E POR OMISSÃO 18</p><p>3.2. VÍCIO FORMAL (INCONSTITUCIONALIDADE ORGÂNICA, INCONSTITUCIONALIDADE FOR MAL</p><p>PROPRIAMENTE DITA E INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL POR VIOLAÇÃO A PRESSUPOSTOS</p><p>OBJETIVOS DO ATO) - NOMODINÂMICA 19</p><p>3.2.1. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL ORGÂNICA 20</p><p>3.2.2. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL PROPRIAMENTE DITA 20</p><p>3.2.3. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL POR VIOLAÇÃO A PRESSUPOSTOS OBJETIVOS DO</p><p>ATO NORMATIVO 21</p><p>3.3. VÍCIO MATERIAL (DE CONTEÚDO, SUBSTANCIAL OU DOUTRINÁRIO) - NOMOESTÁTICA 21</p><p>3.4. VÍCIO DE DECORO PARLAMENTAR (?) 23</p><p>3.5. “ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL” (ECI) 23</p><p>3.6. INCONSTITUCIONALIDADE ÚTIL 24</p><p>4. MOMENTOS DE CONTROLE 25</p><p>4.1. CONTROLE PRÉVIO OU PREVENTIVO 26</p><p>4.1.1. O CONTROLE PRÉVIO OU PREVENTIVO REALIZADO PELO LEGISLATIVO 26</p><p>4.1.2. CONTROLE PRÉVIO OU PREVENTIVO REALIZADO PELO EXECUTIVO 27</p><p>4.1.3. CONTROLE PRÉVIO OU PREVENTIVO REALIZADO PELO JUDICIÁRIO 28</p><p>4.1.4. CONTROLE PRÉVIO OU PREVENTIVO REALIZADO PELO PODER JUDICIÁRIO E A</p><p>PERSPECTIVA DAS “NORMAS CONSTITUCIONAIS INTERPOSTAS” (GUSTAVO ZAGREBELSKY) 29</p><p>4.2. CONTROLE POSTERIOR OU REPRESSIVO 29</p><p>4.2.1. CONTROLE POLÍTICO 30</p><p>4.2.2. CONTROLE JURISDICIONAL 30</p><p>4.2.3. CONTROLE HÍBRIDO 30</p><p>4.2.4. EXCEÇÕES À REGRA GERAL DO CONTROLE JURISDICIONAL POSTERIOR OU REPRESSIVO</p><p>31</p><p>3</p><p>4.2.4.1. CONTROLE POSTERIOR OU REPRESSIVO EXERCIDO PELO LEGISLATIVO 31</p><p>4.2.4.2. CONTROLE POSTERIOR OU REPRESSIVO EXERCIDO PELO EXECUTIVO 32</p><p>4.2.4.3 OS “ÓRGÃOS ADMINISTRATIVOS AUTÔNOMOS DE CONTROLE” (TCU, CNJ E CNMP) E</p><p>O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 33</p><p>4.3. CLASSIFICAÇÃO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 34</p><p>5. SISTEMAS E VIAS DE CONTROLE JUDICIAL 35</p><p>6. CONTROLE DIFUSO 36</p><p>6.1 ORIGEM HISTÓRICA 36</p><p>6.2. NOÇÕES GERAIS 37</p><p>6.3. CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO (“FULL BENCH”) 37</p><p>6.3.1. REGRAS GERAIS 37</p><p>6.3.2. QUESTÕES RELEVANTES SOBRE O TEMA 39</p><p>6.4. EFEITOS DA DECISÃO 41</p><p>6.4.1. PARA AS PARTES 41</p><p>6.4.2. PARA TERCEIROS (ART. 52, X) 41</p><p>6.4.2.1. PROCEDIMENTO (ART. 52, X) 42</p><p>6.4.2.2. AMPLITUDE DO ART. 52, X 43</p><p>6.5. PARA TERCEIROS (ART. 52, X) 45</p><p>6.5.1. ABSTRATIVIZAÇÃO DO CONTROLE DIFUSO: ASPECTOS DOUTRINÁRIOS 45</p><p>6.6. CONTROLE DIFUSO EM SEDE DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA 46</p><p>7. CONTROLE CONCENTRADO 47</p><p>7.1. ADI GENÉRICA 48</p><p>7.1.1. CONCEITO (ADI GENÉRICA) 48</p><p>7.1.2. OBJETO (ADI GENÉRICA) 48</p><p>7.1.2.1. LEIS 49</p><p>7.1.2.2. ATOS NORMATIVOS 49</p><p>7.1.2.3. SÚMULAS 50</p><p>7.1.2.4. EMENDAS CONSTITUCIONAIS 51</p><p>7.1.2.5. MEDIDAS PROVISÓRIAS 52</p><p>7.1.2.6. REGULAMENTOS SUBORDINADOS OU DE EXECUÇÃO E DECRETOS?</p><p>INCONSTITUCIONALIDADE INDIRETA, REFLEXA OU OBLÍQUA 52</p><p>7.1.2.7. TRATADOS INTERNACIONAIS 53</p><p>7.1.2.8. NORMAS CONSTITUCIONAIS ORIGINÁRIAS 54</p><p>7.1.2.9. O FENÔMENO DA RECEPÇÃO 55</p><p>7.1.2.10. ATOS ESTATAIS DE EFEITOS CONCRETOS E ATOS ESTATAIS DE EFEITOS CONCRETOS</p><p>EDITADOS SOB A FORMA DE LEI (EXCLUSIVAMENTE FORMAL) 56</p><p>7.1.2.11. ATO NORMATIVO JÁ REVOGADO OU DE EFICÁCIA EXAURIDA 57</p><p>7.1.2.12. LEI REVOGADA OU QUE TENHA PERDIDO A SUA VIGÊNCIA APÓS A PROPOSITURA</p><p>DA ADI 57</p><p>7.1.2.13. ALTERAÇÃO DO PARÂMETRO CONSTITUCIONAL INVOCADO 58</p><p>7.1.2.14. DIVERGÊNCIA ENTRE A EMENTA DA LEI E O SEU CONTEÚDO 59</p><p>7.1.2.15. RESPOSTAS EMITIDAS PELO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL 60</p><p>7.1.2.16. LEIS ORÇAMENTÁRIAS 60</p><p>7.1.2.17. RESOLUÇÕES DO CNJ E DO CNMP 61</p><p>7.1.2.18. ATO ADMINISTRATIVO NORMATIVO GENÉRICO (ADI 3.202 — AGRAVO REGIMENTAL</p><p>EM PROCESSO ADMINISTRATIVO) 61</p><p>7.1.3. ELEMENTOS ESSENCIAIS DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 61</p><p>7.1.4. TEORIA DA TRANSCENDÊNCIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES 63</p><p>7.1.5. TEORIA DA INCONSTITUCIONALIDADE POR “ARRASTAMENTO” OU “ATRAÇÃO” 64</p><p>7.1.6. LEI “AINDA CONSTITUCIONAL”, OU “INCONSTITUCIONALIDADE PROGRESSIVA”, OU</p><p>“DECLARAÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE DE NORMA EM TRÂNSITO PARA A</p><p>4</p><p>INCONSTITUCIONALIDADE” 65</p><p>7.1.6.1. A INSTITUIÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA PELA CF/88 E A SUA POTENCIALIZAÇÃO</p><p>PELA EC N. 80/2014 65</p><p>7.1.6.2. PROCEDIMENTO DE APROVAÇÃO DAS MEDIDAS PROVISÓRIAS: APRECIAÇÃO PELA</p><p>COMISSÃO MISTA NOS TERMOS DO ART. 62, § 9.º, DA CF/88. ARTS. 5.º, “CAPUT”, E 6.º, “CAPUT”,</p><p>E §§ 1.º E 2.º, DA RES. N. 1/2002-CN 66</p><p>7.1.7. “INCONSTITUCIONALIDADE CIRCUNSTANCIAL” 67</p><p>7.1.8. O EFEITO VINCULANTE PARA O LEGISLATIVO E O INCONCEBÍVEL FENÔMENO DA</p><p>“FOSSILIZAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO”. POSSIBILIDADE DE REVERSÃO LEGISLATIVA DA</p><p>JURISPRUDÊNCIA DA CORTE. A DENOMINADA “MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL PELA VIA</p><p>LEGISLATIVA” 68</p><p>7.1.9. CRIAÇÃO DO MUNICÍPIO DE LUÍS EDUARDO MAGALHÃES — ADI 2.240/BA 69</p><p>7.1.10. PROIBIÇÃO DO “ATALHAMENTO CONSTITUCIONAL” E DO “DESVIO DE PODER</p><p>CONSTITUINTE” (UTILIZAÇÃO DE MEIO APARENTEMENTE LEGAL BUSCANDO ATINGIR</p><p>FINALIDADE ILÍCITA) 70</p><p>7.1.11. INCONSTITUCIONALIDADE “CHAPADA”, “ENLOUQUECIDA”, “DESVAIRADA” 70</p><p>7.1.12. INÍCIO DA EFICÁCIA DA DECISÃO QUE RECONHECE A INCONSTITUCIONALIDADE OU A</p><p>CONSTITUCIONALIDADE DE LEI EM PROCESSO OBJETIVO DE CONTROLE ABSTRATO 71</p><p>7.1.13. COMPETÊNCIA (ADI GENÉRICA) 72</p><p>7.1.14. LEGITIMIDADE (ADI GENÉRICA) 72</p><p>7.1.15. PROCEDIMENTO E CARACTERÍSTICAS MARCANTES DO PROCESSO OBJETIVO (ADI</p><p>GENÉRICA) 74</p><p>7.1.15.1. LIMITES OBJETIVOS DA COISA JULGADA E EFEITOS OBJETIVOS DA DECISÃO 78</p><p>7.1.15.2. LIMITES SUBJETIVOS DA COISA JULGADA E EFEITOS SUBJETIVOS DA DECISÃO 79</p><p>7.1.15.3. EFEITOS TEMPORAIS 83</p><p>7.1.16. “AMICUS CURIAE” (ADI E DEMAIS AÇÕES) E AUDIÊNCIAS PÚBLICAS (“SOCIEDADE ABERTA</p><p>DOS INTÉRPRETES DA CONSTITUIÇÃO” — PETER HÄBERLE) 84</p><p>7.1.16.1. “AMICUS CURIAE” — REGRAS GERAIS 84</p><p>7.1.16.2. É POSSÍVEL A ADMISSÃO DO “AMICUS CURIAE” NA ADC? 85</p><p>7.1.16.3. CABE “AMICUS CURIAE” NA ADPF? 85</p><p>7.1.16.4. CABE “AMICUS CURIAE” NA ADO? 86</p><p>7.1.16.5. CABE “AMICUS CURIAE” NA IF (REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA)? 86</p><p>7.1.16.6. OUTRAS HIPÓTESES DE CABIMENTO DO “AMICUS CURIAE” 86</p><p>7.1.16.7. PARLAMENTAR PODE SER ADMITIDO NO PROCESSO COMO “AMICUS CURIAE”?</p><p>(NOVIDADE MAIS AMPLA INTRODUZIDA PELO CPC/2015 — LEI N. 13.105/2015) 87</p><p>7.1.16.8. NATUREZA JURÍDICA DO “AMICUS CURIAE” 88</p><p>7.1.16.9. “AMICUS CURIAE” PODE INTERPOR RECURSO? 89</p><p>7.1.16.10. AUDIÊNCIAS PÚBLICAS 89</p><p>7.1.17. EFEITOS DA DECISÃO (ADI GENÉRICA) 90</p><p>7.1.17.1. PRINCÍPIO DA PARCELARIDADE 91</p><p>7.1.17.2. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE SEM REDUÇÃO DE TEXTO 91</p><p>7.1.17.3. EFEITO REPRISTINATÓRIO DA DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE.</p><p>NECESSIDADE DE IMPUGNAÇÃO DE TODO O “COMPLEXO NORMATIVO” 94</p><p>7.1.17.4. EFEITOS TEMPORAIS DA DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE 95</p><p>7.1.17.4.1. COISA JULGADA “INCONSTITUCIONAL”. S. 343/STF. RESCISÓRIA (ART. 966, V,</p><p>CPC/2015) 95</p><p>7.1.17.4.2. EXPLICITAÇÃO DA AMPLITUDE DA S. 343/STF. “LEADING CASE”: RE 590.809 (J.</p><p>22.10.2014). REVOGADO CPC/73 E NOVO CPC/2015 97</p><p>7.1.17.4.3. ARTS. 475-L, § 1.º, E 741, PARÁGRAFO ÚNICO, DO REVOGADO CPC/73:</p><p>“EMBARGOS RESCISÓRIOS 98</p><p>7.1.17.4.4. EFEITO DA DECISÃO NO PLANO NORMATIVO (“NORMEBENE”) E NO PLANO DO</p><p>ATO SINGULAR (“EINZELAKTEBENE”) 100</p><p>7.1.17.5. PEDIDO DE CAUTELAR (ADI GENÉRICA) 103</p><p>7.1.18. RECLAMAÇÃO PARA A GARANTIA DA AUTORIDADE DA DECISÃO DO STF: PARADIGMA DE</p><p>5</p><p>ORDEM OBJETIVA (ADI GENÉRICA E SÚMULA VINCULANTE) 104</p><p>7.1.18.1. REGRAS GERAIS 104</p><p>7.1.18.2. NATUREZA JURÍDICA DO INSTITUTO DA RECLAMAÇÃO</p><p>O controle prévio ou preventivo de constitucionalidade ocorre de</p><p>forma incidental, ou seja, durante o trâmite do projeto legislativo. Destaca-se que apenas parlamentares</p><p>possuem a legitimação para impetrar Mandado de Segurança (MS) nesse contexto, uma vez que o direito</p><p>público subjetivo de participar de um processo legislativo íntegro pertence exclusivamente aos</p><p>membros do Poder Legislativo.</p><p>⚠ ATENÇÃO: A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) é clara ao negar legitimidade ativa a</p><p>terceiros, evitando assim a transformação indevida desse controle em abstrato.</p><p>◾Perda Superveniente do Mandato Parlamentar: A perda superveniente do mandato parlamentar</p><p>desqualifica a legitimação ativa do congressista para impetrar o Mandado de Segurança. O entendimento do</p><p>Ministro Celso de Mello destaca a importância da atualidade do exercício do mandato como condição</p><p>necessária para instauração e prosseguimento do processo perante o STF. Essa perda de legitimidade ativa</p><p>visa evitar a conversão do Mandado de Segurança em uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), o que</p><p>não é admitido no ordenamento jurídico brasileiro.</p><p>◾Limites do Controle Judicial: A jurisprudência do STF destaca que não cabe ao Judiciário realizar</p><p>controle sobre aspectos discricionários relacionados a questões políticas e aos atos interna corporis. A</p><p>tese fixada pela Corte respeita o princípio da separação dos poderes, impedindo o controle sobre a</p><p>interpretação de normas regimentais das Casas Legislativas.</p><p>◾Controle Judicial Preventivo e suas Hipóteses:</p><p>O controle judicial preventivo, por meio de Mandado de Segurança impetrado exclusivamente por</p><p>parlamentar, está condicionado a duas hipóteses:</p><p>1. PEC manifestamente ofensiva a cláusula pétrea.</p><p>2. Projeto de lei ou PEC com manifesta ofensa a cláusula constitucional que disciplina o processo</p><p>legislativo.</p><p>⚠ ATENÇÃO</p><p>Na ADI ou na ADC, o objeto é a lei ou o ato normativo, ou seja, a norma já vigente, sendo assim em</p><p>regra, trata-se de um controle REPRESSIVO.</p><p>Exceção: o controle judicial é PREVENTIVO no mandado de segurança impetrado por membro do</p><p>Congresso Nacional.</p><p>Dessa forma, para projetos de lei, o controle judicial restringe-se à análise do devido processo</p><p>legislativo, não adentrando na discussão da matéria. No caso de PEC, o controle é mais amplo, abrangendo</p><p>não apenas a regularidade de procedimento, mas também a matéria em si, permitindo o trancamento da</p><p>41 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 130</p><p>29</p><p>tramitação se houver tendência a abolir cláusula pétrea.</p><p>4.1.4. CONTROLE PRÉVIO OU PREVENTIVO REALIZADO PELO PODER</p><p>JUDICIÁRIO E A PERSPECTIVA DAS “NORMAS CONSTITUCIONAIS</p><p>INTERPOSTAS” (GUSTAVO ZAGREBELSKY)42</p><p>◾Controle Prévio e a Perspectiva de Zagrebelsky: O controle prévio de constitucionalidade busca</p><p>assegurar que as normas estejam em conformidade com a Constituição antes de sua efetiva promulgação. No</p><p>entanto, a perspectiva das "Normas Constitucionais Interpostas", introduzida por Gustavo Zagrebelsky,</p><p>expande essa análise. Essas normas interpostas referem-se a princípios e valores constitucionais que não são</p><p>explicitamente mencionados no texto constitucional, mas que desempenham um papel crucial na interpretação</p><p>e aplicação das normas.</p><p>◾O Caso do MS 26.915: O Mandado de Segurança (MS) 26.915 trouxe à tona a discussão sobre a</p><p>amplitude do artigo 43 do Regimento Interno (RI) da Câmara dos Deputados. Este artigo proíbe que um</p><p>Deputado Federal relator de determinada proposta presida a Comissão que analisará a matéria. No caso em</p><p>questão, o Deputado Pedro Novais foi nomeado para presidir a Comissão especial que analisava a PEC n.</p><p>558/2006, relacionada à prorrogação da CPMF, sendo ele um dos autores da proposição.</p><p>No voto monocrático e na medida cautelar, o Ministro Gilmar Mendes analisou o RI à luz do devido</p><p>processo legislativo. Ele entendeu que a regra do artigo 43 não se aplicava às Propostas de Emenda</p><p>Constitucional (PEC), indeferindo, assim, o pedido de medida liminar. Importante notar que Mendes trouxe à</p><p>tona o estudo de Zagrebelsky, destacando que a violação constitucional poderia derivar da violação de</p><p>normas não formalmente constitucionais, mas que estão vinculadas aos atos legislativos, sendo</p><p>consideradas normas constitucionais interpostas.</p><p>◾Normas Constitucionais Interpostas: Força Normativa Diferenciada: A perspectiva de</p><p>Zagrebelsky, conforme interpretada por Gilmar Mendes, sugere que as normas constitucionais interpostas</p><p>têm uma força normativa diferenciada, derivando diretamente da Constituição. Essa ideia introduz uma</p><p>nova abordagem ao conceito de matéria interna corporis, que pode ser temperado à luz dessa perspectiva.</p><p>4.2. CONTROLE POSTERIOR OU REPRESSIVO43</p><p>O controle posterior, também conhecido como controle repressivo, é realizado sobre a lei,</p><p>diferentemente do controle preventivo, que incide sobre o projeto de lei durante o processo legislativo. No</p><p>controle posterior, os órgãos de controle, que podem ser políticos, jurisdicionais ou híbridos, verificam se a lei,</p><p>ato normativo ou qualquer ato com caráter normativo apresenta algum vício formal, originado durante o</p><p>processo de sua formação, ou se há algum vício em seu conteúdo, ou seja, um defeito material.</p><p>43 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 132</p><p>42 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 131</p><p>30</p><p>4.2.1. CONTROLE POLÍTICO 44</p><p>O controle político em alguns Estados ocorre por meio de um órgão independente dos três Poderes,</p><p>cuja função é assegurar a supremacia da Constituição. Esse sistema é comum em países europeus como</p><p>Portugal e Espanha, onde as Cortes ou Tribunais Constitucionais desempenham esse papel. Luís Roberto</p><p>Barroso e José Afonso da Silva destacam o modelo francês, estabelecido em 1958, que instituiu um Conselho</p><p>Constitucional composto por 9 Conselheiros escolhidos pelo Presidente da República e pelo Parlamento,</p><p>incluindo ex-Presidentes da República como membros natos.</p><p>No contexto brasileiro, Barroso argumenta que o veto do Executivo a projetos de lei por considerá-los</p><p>inconstitucionais (veto jurídico) e a rejeição de projetos de lei na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) são</p><p>exemplos de controle político.</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Nesse sentido, para prova para o cargo de Procurador - TC-DF (Ano: 2021, CESPE/CEBRASPE) foi considerada</p><p>correta a assertiva que dizia: “O controle exercido pelas Comissões de Constituição, Justiça e Cidadania das</p><p>casas legislativas é meramente político e preventivo, visto que a legislação aprovada poderá, posteriormente,</p><p>ser objeto de demanda judicial de caráter constitucional.”</p><p>4.2.2. CONTROLE JURISDICIONAL45</p><p>O controle jurisdicional dos atos normativos é conduzido pelo Poder Judiciário, podendo ocorrer de</p><p>forma concentrada, por um único órgão, como o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal de Justiça (TJ) no</p><p>contexto brasileiro, ou de maneira difusa, sendo admitido o exercício por qualquer juiz ou tribunal, inclusive</p><p>por juízes em estágio probatório e dos juizados especiais.</p><p>O Brasil adotou um sistema jurisdicional misto, pois o controle é realizado pelo Poder Judiciário, tanto</p><p>de forma concentrada quanto difusa.</p><p>É importante observar que os controles difuso e concentrado são conduzidos de maneira autônoma,</p><p>sem que um possa condicionar a admissibilidade do outro. Contudo, é ressaltado que uma decisão no controle</p><p>concentrado, mesmo em caráter cautelar, pode ter repercussões sobre o controle difuso.</p><p>4.2.3. CONTROLE HÍBRIDO46</p><p>Nessa modalidade, há uma mistura dos dois sistemas já estudados.</p><p>Nesse contexto, algumas normas são levadas a controle perante um órgão distinto dos três Poderes</p><p>(controle político), enquanto outras são apreciadas pelo poder judiciário (controle jurisdicional).</p><p>46 Lenza, Pedro. Direito</p><p>constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 132.</p><p>45 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 132.</p><p>44 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 132</p><p>31</p><p>4.2.4. EXCEÇÕES À REGRA GERAL DO CONTROLE JURISDICIONAL POSTERIOR</p><p>OU REPRESSIVO47</p><p>No Brasil, o controle posterior ou repressivo, em sua maioria, é realizado pelo Poder Judiciário, de</p><p>maneira centralizada ou difusa. No entanto, existem exceções notáveis, como o envolvimento do Poder</p><p>Legislativo e do Poder Executivo, além das funções específicas desempenhadas por órgãos de controle</p><p>administrativo autônomos, como o TCU, CNJ e CNMP, que não se dedicam diretamente ao controle de</p><p>constitucionalidade.</p><p>Vejamos em detalhes nos próximos subtópicos:</p><p>4.2.4.1. CONTROLE POSTERIOR OU REPRESSIVO EXERCIDO PELO LEGISLATIVO</p><p>48</p><p>📌Competência do Congresso Nacional: Art. 49, V da CF/88:</p><p>A primeira exceção está delineada no art. 49, V da Constituição Federal de 1988, que confere ao</p><p>Congresso Nacional a competência exclusiva para sustar atos normativos do Poder Executivo. Essa competência</p><p>é exercida por meio de decreto legislativo. Vamos analisar as hipóteses:</p><p>◾ Sustação de Atos Normativos que Exorbitem do Poder Regulamentar:</p><p>- Compete ao Presidente da República regulamentar leis expedidas pelo Legislativo (art. 84, IV).</p><p>- Caso o Chefe do Executivo, ao regulamentar, exceda os limites definidos na lei, o Legislativo pode</p><p>sustar esse ato por meio de decreto legislativo.</p><p>- Esse controle é de legalidade, verificando se o decreto regulamentar extrapolou os limites da lei.</p><p>◾ Sustação de Atos Normativos que Exorbitem dos Limites de Delegação Legislativa:</p><p>- O Presidente pode elaborar leis delegadas com base em resolução do Congresso Nacional (art. 68).</p><p>- Se a lei delegada ultrapassar os limites da resolução de delegação, o Congresso pode sustar o ato</p><p>através de decreto legislativo.</p><p>📌 Relevância e Urgência: Art. 62 da CF/88:</p><p>A segunda exceção está prevista no art. 62 da CF/88, que permite ao Presidente da República adotar</p><p>medidas provisórias em casos de relevância e urgência.</p><p>- Essas medidas têm força de lei, mas o Congresso Nacional realiza controle de constitucionalidade se</p><p>entender a medida como inconstitucional.</p><p>- Essa é uma exceção à regra geral, pois nesse caso, o controle não é exercido pelo Judiciário, mas sim</p><p>pelo Legislativo.</p><p>48 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 132.</p><p>47 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 132.</p><p>32</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Na prova para o cargo de Delegado de Polícia Federal (Ano: 2021; Banca: CESPE/CEBRASPE) foi considerada</p><p>incorreta a assertiva que dizia que “É vedado ao Poder Legislativo efetuar o controle de constitucionalidade</p><p>repressivo de normas em abstrato”.</p><p>4.2.4.2. CONTROLE POSTERIOR OU REPRESSIVO EXERCIDO PELO EXECUTIVO49</p><p>📌Entendimento Antes do Advento da CF/88: Antes de analisarmos a realidade pós-Constituição de</p><p>1988, é crucial entendermos o cenário anterior. O controle concentrado, como conhecemos hoje, só surgiu com</p><p>a EC n. 16/65, que estabelecia o Procurador-Geral da República como único legitimado para ajuizar ação direta</p><p>de inconstitucionalidade (ADI). Antes disso, os Chefes do Executivo não podiam propor tal ação. Nesse contexto,</p><p>doutrina e jurisprudência consolidaram a visão de que o Chefe do Executivo poderia deixar de aplicar uma lei</p><p>que considerasse inconstitucional, podendo ainda determinar que seus subordinados também não a</p><p>cumprissem.</p><p>📌Entendimento a Partir do Advento da CF/88: Com a Constituição de 1988, a legitimação para</p><p>ajuizamento da ADI foi expandida. Surgiu então a questão: os Chefes do Executivo (Presidente, Governadores e</p><p>Prefeitos) poderiam descumprir uma lei inconstitucional? Inicialmente, alguns sustentaram que apenas os</p><p>Prefeitos teriam essa prerrogativa, já que não estavam previstos como legitimados no art. 103 da CF/88. No</p><p>entanto, essa tese enfrentou desafios, pois poderia conferir mais poder aos Chefes Executivos municipais em</p><p>relação aos estaduais e ao Presidente da República.</p><p>📌Justificativa para o Descumprimento: Diante desse impasse, a doutrina buscou uma justificativa</p><p>que não fosse meramente formal. O princípio da supremacia da Constituição foi invocado, argumentando que a</p><p>aplicação de uma lei inconstitucional equivale à negativa de aplicação da própria Constituição. Argumenta-se,</p><p>portanto, que o Chefe do Executivo pode descumprir uma lei flagrantemente inconstitucional.</p><p>📌Argumentos a Favor da Possibilidade de Descumprimento:</p><p>◾Efeitos do Controle Concentrado: O controle concentrado gera efeitos que vinculam os órgãos do</p><p>Poder Judiciário e do Executivo, conforme previsto na Lei n. 9.868/99 e na EC n. 45/2004.</p><p>◾Súmula Vinculante: A súmula vinculante, resultante da Reforma do Judiciário, impõe vínculos à</p><p>Administração Pública, sujeitando-a a responsabilidades civil, administrativa e penal.</p><p>📌Posição do STF e STJ sobre o Tema: A análise da posição do Supremo Tribunal Federal (STF) e do</p><p>Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre a possibilidade de descumprimento de lei inconstitucional pelo Chefe do</p><p>Executivo adiciona mais camadas a essa discussão complexa.</p><p>◾STF: Até o momento, encontramos apenas um precedente no STF que aborda o assunto, e ainda</p><p>assim, sem aprofundar muito na questão. No caso da ADI 221-MC/DF, o relator Ministro Moreira Alves afirmou</p><p>49 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 133.</p><p>33</p><p>que o controle de constitucionalidade é da competência exclusiva do Poder Judiciário. No entanto, reconheceu</p><p>que os Poderes Executivo e Legislativo, em suas chefias, podem determinar aos seus órgãos subordinados que</p><p>deixem de aplicar administrativamente as leis ou atos com força de lei que considerem inconstitucionais. Essa</p><p>posição, no entanto, tem sido questionada, especialmente com o alargamento da legitimação ativa na ação</p><p>direta de inconstitucionalidade.</p><p>◾ STJ: A 1.ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por sua vez, abordou o tema com maior</p><p>veemência. No caso do REsp 23121/GO, o Ministro Humberto Gomes de Barros afirmou que o Poder Executivo</p><p>pode negar a execução a ato normativo que lhe pareça inconstitucional. Essa decisão consagrou a tese do</p><p>controle posterior ou repressivo pelo Executivo, reforçando a ideia de que o Chefe do Executivo não</p><p>apenas pode deixar de aplicar uma lei inconstitucional, mas deve fazê-lo.</p><p>4.2.4.3 OS “ÓRGÃOS ADMINISTRATIVOS AUTÔNOMOS DE CONTROLE” (TCU,</p><p>CNJ E CNMP) E O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE50</p><p>📌O Papel dos Órgãos Administrativos Autônomos de Controle: Primeiramente, é importante</p><p>compreender a função desses órgãos no sistema de controle no Brasil. O TCU é responsável por fiscalizar as</p><p>contas do governo, o CNJ atua no controle da atividade judiciária, e o CNMP tem a função de fiscalizar o</p><p>Ministério Público.</p><p>📌A Súmula 347 do STF: A Súmula 347 do STF, editada em 1963, causou divergências ao estabelecer</p><p>que "o Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos</p><p>atos do Poder Público."</p><p>Esse entendimento foi estabelecido sob a Constituição de 1946, quando o controle concentrado não</p><p>existia, e prevalecia o controle difuso. Com a promulgação da Constituição de 1988 e a criação da ação direta de</p><p>inconstitucionalidade (ADI), a interpretação da Súmula 347 passou a ser questionada.</p><p>📌Evolução do Controle de Constitucionalidade: Com o advento da Constituição de 1988, houve uma</p><p>mudança significativa no sistema de controle de constitucionalidade no Brasil, com a criação da ADI genérica no</p><p>artigo</p><p>103 da Constituição.</p><p>O Ministro Gilmar Mendes argumentou que a Súmula 347 não se justifica mais no contexto atual, uma</p><p>vez que a Constituição de 1988 trouxe mudanças significativas, tornando o entendimento da Súmula</p><p>questionável.</p><p>📌Decisões Relevantes e Mudanças de Posicionamento: Algumas decisões do STF trouxeram</p><p>diferentes perspectivas sobre o papel dos órgãos administrativos autônomos. A decisão do CNJ que considerou</p><p>irregular a contratação de servidores no Tribunal de Justiça da Paraíba gerou debates.</p><p>O STF tem feito uma releitura da Súmula 347, com o Ministro Gilmar Mendes admitindo a possibilidade</p><p>de os órgãos administrativos afastarem a aplicação de normas inconstitucionais com base em interpretações</p><p>50 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 134.</p><p>34</p><p>consolidadas pelo STF.</p><p>📌O Atual Posicionamento do STF: O STF, em julgamento da Petição 4.656, reafirmou que os órgãos</p><p>administrativos autônomos não exercem o controle de constitucionalidade.</p><p>A Ministra Cármen Lúcia destacou que esses órgãos podem afastar a aplicação de leis inconstitucionais,</p><p>mas não podem declarar a inconstitucionalidade em sentido formal, sendo essa uma atribuição exclusiva do</p><p>Poder Judiciário.</p><p>📌A Possibilidade de Afastamento de Leis Inconstitucionais: Segundo o entendimento do STF, os</p><p>órgãos administrativos de controle podem afastar a aplicação de leis ou atos normativos inconstitucionais em</p><p>casos concretos.</p><p>No entanto, essa não é uma forma de controle de constitucionalidade no sentido formal, e a decisão</p><p>desses órgãos não tem efeito erga omnes.</p><p>4.3. CLASSIFICAÇÃO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE</p><p>CLASSIFICAÇÃO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE</p><p>QUANTO AO ÓRGÃO</p><p>Controle político</p><p>Controle jurisdicional</p><p>QUANTO AO MOMENTO</p><p>Preventivo</p><p>Repressivo</p><p>QUANTO AO MODO</p><p>Controle difuso-concreto</p><p>Controle concentrado-abstrato</p><p>Os controles político e jurisdicional e o constroles preventivo e repressivo foram estudados nos tópicos</p><p>anteriores.</p><p>Estudaremos agora o tópico “quanto ao modo”:</p><p>📌Controle difuso-concreto:</p><p>Segundo esse sistema, que teve sua origem no Caso Marbury vs Madison, qualquer juiz ou tribunal</p><p>pode declarar a inconstitucionalidade de uma lei, pois conforme esse sistema o controle de constitucionalidade</p><p>é algo intrínseco à própria jurisdição.</p><p>A decisão será inter pars, ou seja, só produzirá efeito para o caso concreto e para as pessoas nele</p><p>envolvidas.</p><p>35</p><p>📌Controle concentrado-abstrato:</p><p>Esse modelo de controle surgiu na Constituição Austríaca no ano de 1920. Segundo esse modelo de</p><p>controle, apenas um tribunal específico pode fazer o controle de constitucionalidade.</p><p>O controle concentrado-abstrato não analisa o caso concreto, analisa a lei em si, numa decisão que será</p><p>erga omnes, ou seja, uma decisão que valerá para todos e que por sua vez terá efeito vinculante.</p><p>5. SISTEMAS E VIAS DE CONTROLE JUDICIAL51</p><p>SISTEMAS E VIAS DE CONTROLE</p><p>JUDICIAL DA</p><p>CONSTITUCIONALIDADE</p><p>CRITÉRIO SUBJETIVO OU ORGÂNICO</p><p>- Sistema difuso</p><p>- Sistema concentrado</p><p>CRITÉRIO FORMAL</p><p>- Sistema pela via incidental (ou de exceção - caso</p><p>concreto)</p><p>- Sistema pela via principal (em abstrato ou direto)</p><p>📌 Critérios Subjetivos ou Orgânicos: Ao adotarmos um critério subjetivo ou orgânico, identificamos</p><p>duas principais categorias de controle judicial de constitucionalidade: o difuso e o concentrado.</p><p>◾Difuso: Nesse sistema, qualquer juiz ou tribunal, dentro das regras de competência, pode realizar o</p><p>controle de constitucionalidade. A característica marcante é a dispersão desse poder pelo sistema judiciário.</p><p>◾Concentrado: Como o nome sugere, o controle se "concentra" em um ou mais órgãos específicos,</p><p>geralmente em número limitado. Essa competência é originária desses órgãos, destacando-se como exemplo o</p><p>Supremo Tribunal Federal (STF) no Brasil.</p><p>📌Perspectiva Formal: Sob a perspectiva formal, o controle pode ocorrer pela via incidental (ou de</p><p>exceção) ou pela via principal.</p><p>◾Via Incidental: O controle incidental ocorre como questão prejudicial e premissa lógica do pedido</p><p>principal. É importante notar que, apesar da terminologia "via de exceção ou defesa," pode fundamentar</p><p>também a pretensão do autor, como nas ações constitucionais, por exemplo, o mandado de segurança.</p><p>◾Via Principal: Já na via principal, a análise da constitucionalidade da lei é o objeto principal,</p><p>51 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 136.</p><p>36</p><p>autônomo e exclusivo da causa.</p><p>📌 Fusão de Critérios: Ao analisarmos as duas categorias, observamos que, regra geral, o sistema</p><p>difuso é exercido pela via incidental. Esse modelo encontra respaldo na experiência norte-americana, que</p><p>influenciou o surgimento do controle difuso no Brasil. Por outro lado, o sistema concentrado, geralmente, é</p><p>exercido pela via principal, seguindo a experiência austríaca e o sistema brasileiro.</p><p>📌 Exceções e Características Ecléticas: No entanto, existem exceções a essa regra tanto no direito</p><p>estrangeiro quanto no brasileiro. Na Itália, na República Federal da Alemanha, e na Constituição espanhola de</p><p>1978, reconhece-se a competência de um único órgão judicial para apreciar a constitucionalidade, exercendo-a</p><p>tanto pela via principal quanto pela incidental.</p><p>📌 Exceção no Direito Brasileiro: No direito brasileiro, uma exceção à regra do controle concentrado e</p><p>abstrato de constitucionalidade ocorre quando o controle é concentrado (em órgão de cúpula, com</p><p>competência originária), mas incidental. Um exemplo é o art. 102, I, “d” da Constituição Federal, que estabelece</p><p>a competência originária do STF para processar e julgar habeas corpus, mandado de segurança e habeas data</p><p>contra atos específicos.</p><p>6. CONTROLE DIFUSO52</p><p>6.1 ORIGEM HISTÓRICA53</p><p>O controle difuso de constitucionalidade tem sua origem histórica no caso Marbury v. Madison,</p><p>julgado em 1803 pela Suprema Corte dos Estados Unidos. Naquela época, John Adams, presidente derrotado</p><p>por Thomas Jefferson, nomeou diversos juízes federais antes de deixar o cargo, incluindo William Marbury.</p><p>Contudo, a "comissão" de Marbury não foi entregue antes da posse de Jefferson, que, ao assumir, instruiu seu</p><p>Secretário de Estado, James Madison, a não efetivar a nomeação, alegando a incompletude da mesma sem a</p><p>entrega da comissão.</p><p>Marbury, em busca de esclarecimentos, impetrou um writ of mandamus para efetivar sua nomeação. A</p><p>Suprema Corte, liderada por John Marshall, Chief Justice, após dois anos de deliberação, enfrentou a questão.</p><p>Marshall teve que decidir se a Suprema Corte tinha competência para apreciar o writ of mandamus, uma vez que</p><p>a Constituição não explicitava tal jurisdição originária, entrando em conflito com o Judiciary Act de 1789.</p><p>A decisão de Marshall estabeleceu o princípio de que, em casos de conflito entre uma lei e a</p><p>Constituição, esta última deve prevalecer, mesmo que a lei posterior revogue a anterior. Essa</p><p>interpretação expandiu a ideia de controle difuso de constitucionalidade, enfatizando que a Constituição é</p><p>hierarquicamente superior. Assim, historicamente, o controle difuso nos EUA resulta da leitura ampliada da</p><p>Constituição e da ação reiterada dos magistrados, não sendo uma autorização expressa do constituinte.</p><p>53 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 136</p><p>52 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 136</p><p>37</p><p>6.2. NOÇÕES GERAIS54</p><p>O controle difuso, também conhecido como controle repressivo, posterior, via de exceção ou</p><p>controle aberto, é uma forma de fiscalização da constitucionalidade das leis. Ele difere do controle</p><p>concentrado, que é realizado por órgãos específicos, como o Supremo Tribunal Federal (STF). No controle</p><p>difuso, qualquer juízo ou tribunal do Poder Judiciário pode exercer</p><p>essa função, desde que observadas as</p><p>regras de competência processual.</p><p>📌Realização do Controle Difuso:</p><p>◾Verificação em Caso Concreto: O controle difuso ocorre no contexto de um caso concreto</p><p>apresentado ao tribunal.Diferentemente do controle concentrado, que analisa a constitucionalidade de forma</p><p>abstrata, o difuso acontece de maneira incidental. (incidenter tantum), prejudicialmente ao exame do mérito.</p><p>◾Declaração Incidental de Inconstitucionalidade:A declaração de inconstitucionalidade ocorre de</p><p>forma incidental, prejudicialmente ao exame do mérito da questão principal. Isso significa que a</p><p>inconstitucionalidade é analisada como parte do julgamento do caso específico, sem a necessidade de uma</p><p>ação autônoma.</p><p>📌Alegação de Inconstitucionalidade como Causa de Pedir:</p><p>◾No controle difuso, a alegação de inconstitucionalidade torna-se a causa de pedir processual.</p><p>◾Os interessados fundamentam seus pedidos no argumento de que a lei ou ato normativo em</p><p>questão é inconstitucional.</p><p>📌Exemplo Prático: Durante o governo do Presidente Collor, um exemplo claro desse tipo de controle</p><p>foi observado. Os interessados buscavam o desbloqueio de seus recursos, alegando que o ato que levou ao</p><p>bloqueio era inconstitucional. O pedido principal não era a declaração de inconstitucionalidade, mas sim o</p><p>desbloqueio dos recursos.</p><p>6.3. CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO (“FULL BENCH”)55</p><p>6.3.1. REGRAS GERAIS56</p><p>📌Regras Gerais do Controle Difuso nos Tribunais: Quando uma parte sucumbe em um processo,</p><p>iniciado em primeira instância, e recorre ao tribunal competente, o controle difuso pode ser acionado. No</p><p>tribunal, ao distribuir o processo para uma turma, câmara ou seção (conforme o regimento interno do tribunal),</p><p>se alegada a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo do Poder Público, o relator submete a questão</p><p>ao órgão fracionário responsável pelo caso. Este órgão pode decidir rejeitar a arguição, permitindo que o</p><p>julgamento prossiga, ou acolher a arguição, levando a questão ao plenário do tribunal ou ao seu órgão</p><p>especial.</p><p>📌Cláusula de Reserva de Plenário (Full Bench): Na situação em que a questão é encaminhada ao</p><p>56 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. /139</p><p>55 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 137/139</p><p>54 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 137</p><p>38</p><p>plenário ou órgão especial, o Artigo 97 da CF/88 estabelece que somente pela maioria absoluta de seus</p><p>membros ou dos membros do respectivo órgão especial, os tribunais podem declarar a</p><p>inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público. Esta é a cláusula de reserva de plenário, ou</p><p>"full bench."</p><p>📌 Procedimento e Decisões: O procedimento é regulado pelo Artigo 950 do Código de Processo Civil</p><p>de 2015. Após a decisão do plenário ou órgão especial sobre a constitucionalidade, o órgão fracionário,</p><p>vinculado a essa decisão, julgará a questão principal de mérito. Isso resulta na lavratura de três acórdãos:</p><p>◾a) arguida a questão incidental de inconstitucionalidade, a primeira decisão será tomada pelo órgão</p><p>fracionário no sentido de acolher ou não o incidente. Acolhido, cinde-se o julgamento e se remetem os autos</p><p>para o órgão especial ou plenário analisar o incidente de inconstitucionalidade;</p><p>◾b) submetida a questão ao órgão especial ou plenário, haverá, com o julgamento, um segundo</p><p>acórdão, declarando a constitucionalidade ou não da lei ou do ato normativo;</p><p>◾c) finalmente, julgada a questão incidental, o órgão fracionário, vinculado à decisão, julgará a</p><p>questão principal e será lavrado o terceiro acórdão ’.57</p><p>📌 Recurso Extraordinário e Decisão Final: A Súmula 513 do STF orienta que o recurso extraordinário</p><p>deve ser interposto após a terceira e última decisão do órgão fracionário, que completa o julgamento do feito e</p><p>decide a questão principal. Isso fornece clareza sobre o momento apropriado para a interposição do recurso.</p><p>⚠ATENÇÃO: Mitigações da Cláusula de Reserva de Plenário: A jurisprudência do STF tem mitigado a</p><p>cláusula de reserva de plenário em certas situações:</p><p>◾No Artigo 949, Parágrafo Único, do CPC/2015: Quando já houver pronunciamentos do plenário ou</p><p>órgão especial sobre a questão, dispensando a necessidade de submeter novamente a matéria a esses órgãos.</p><p>◾Manutenção da Constitucionalidade: Se o tribunal mantiver a constitucionalidade do ato</p><p>normativo, ou seja, não afastar a sua presunção de validade (o art. 97 determina a observância do full bench</p><p>para declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público);</p><p>◾Normas Pré-constitucionais: Nos casos de normas pré-constitucionais, em que a análise não se</p><p>baseia na teoria da inconstitucionalidade, mas na recepção ou revogação da norma em relação à nova</p><p>Constituição.</p><p>◾Interpretação Conforme a Constituição: Quando o tribunal utiliza a técnica da interpretação</p><p>conforme a Constituição, não havendo declaração de inconstitucionalidade.</p><p>◾Decisão em Medida Cautelar: Nas decisões em sede de medida cautelar, pois não se trata de uma</p><p>decisão definitiva.</p><p>57 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 138.</p><p>39</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Nesse sentido, para prova para o cargo de Promotor de Justiça do MPE-MS (Ano: 2022; Banca: Instituto</p><p>AOCP) considerou correta a seguinte assertiva: “Se o órgão fracionário, ao analisar recurso, no qual uma das</p><p>partes discute inconstitucionalidade de lei, mas entender que a lei é constitucional, pode julgar imediatamente</p><p>o caso concreto, não constituindo isso em violação à reserva de plenário. Contudo, se o fundamento desse</p><p>julgamento revelar que o órgão fracionário não aplicará a lei debatida e não promoverá a remessa ao pleno,</p><p>constituirá ofensa à súmula vinculante nº 10 (full bench)”.</p><p>6.3.2. QUESTÕES RELEVANTES SOBRE O TEMA</p><p>📌 A cláusula de reserva de plenário aplica-se às turmas do STF no julgamento de RE? A questão58</p><p>sobre a aplicação da cláusula de reserva de plenário às Turmas do STF no julgamento de Recurso Extraordinário</p><p>(RE) é complexa e depende da interpretação das normas regimentais do STF e da Constituição Federal. Vamos</p><p>analisar os argumentos existentes:</p><p>- Argumentos a favor de que a cláusula de reserva de plenário não se aplica às Turmas do STF:</p><p>◾Competência Regimental: Segundo o Regimento Interno do STF, as Turmas têm competência para</p><p>o julgamento de RE.</p><p>◾Função Primordial da Corte: A declaração de inconstitucionalidade é função primordial e essencial</p><p>do STF, e a possibilidade de afetar essa atribuição às Turmas justificaria a não aplicação da cláusula de reserva</p><p>de plenário.</p><p>- Argumentos contrários:</p><p>◾Regra do Art. 97 da CF/88: O professor Pedro Lenza menciona o art. 97 da Constituição Federal, que</p><p>estabelece que somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão</p><p>especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.</p><p>Argumenta que a atribuição foi expressamente fixada para o Plenário ou para o órgão especial, não para a</p><p>Turma.</p><p>◾Precedente da 2.ª T. do STF: Há um precedente da 2.ª Turma do STF que sustenta que os colegiados</p><p>fracionários têm competência regimental para exercer o controle difuso de constitucionalidade no julgamento</p><p>do recurso extraordinário, sem ofensa ao art. 97 da CF.</p><p>- Interpretação Intermediária:</p><p>O Ministro Roberto Barroso propõe uma interpretação intermediária, afirmando que a cláusula de</p><p>reserva de plenário não é exigida quando o STF mantém acórdão recorrido que declarou a</p><p>inconstitucionalidade em processo de controle por ação direta estadual.</p><p>Então, qual a resposta? Diante desses argumentos, a resposta à pergunta sobre se a cláusula de</p><p>reserva de plenário se aplica às Turmas do STF</p><p>no julgamento de RE não tem uma solução inequívoca. . A</p><p>interpretação da normativa regimental em relação ao princípio da reserva de plenário pode variar, e a questão</p><p>58 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. /139</p><p>40</p><p>provavelmente precisará ser rediscutida pelo Plenário do STF.</p><p>Cabe destacar que o professor Pedro Lenza aponta uma possível inadequação do entendimento da 2.ª</p><p>Turma do STF em relação ao art. 97 da CF/88, indicando que essa posição pode não se adaptar à regra</p><p>constitucional. A posição do Ministro Roberto Barroso sugere uma interpretação mais flexível, mas a</p><p>expectativa é de que o tema seja objeto de debate no Plenário do STF, especialmente diante da nova</p><p>composição da Corte.</p><p>📌 A cláusula de reserva de plenário aplica-se às Turmas Recursais dos Juizados Especiais?</p><p>A resposta é NÃO.</p><p>As Turmas Recursais dos Juizados Especiais, apesar de serem órgãos recursais, não são consideradas</p><p>"tribunais" nos termos do art. 97 da CF/88. Este artigo refere-se aos tribunais indicados no art. 92 e aos seus</p><p>respectivos órgãos especiais mencionados no art. 93, XI.</p><p>◾Entendimento do STF: As Turmas dos Juizados, no âmbito recursal, não funcionam sob o regime de</p><p>plenário ou órgão especial (ARE 792.562-AgR, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 18.03.2014, 2.ª T., DJE de 02.04.2014).</p><p>Assim, as Turmas Recursais têm a competência de declarar incidentalmente a inconstitucionalidade de</p><p>uma lei ou afastar a sua incidência, no todo ou em parte, sem configurar violação ao art. 97 da CF/88 e à Súmula</p><p>Vinculante 10/STF.</p><p>◾Recurso Extraordinário e Requisitos de Admissibilidade:</p><p>Apesar de não ser aplicável a cláusula de reserva de plenário às Turmas Recursais, a parte sucumbente</p><p>pode interpor recurso extraordinário para que o STF aprecie a questão constitucional (S. 640/STF). No entanto, é</p><p>importante ressaltar que os requisitos de admissibilidade inerentes ao cabimento do recurso extraordinário</p><p>(art. 102, III, da CF/88) não podem ser desrespeitados.</p><p>⚠Alerta sobre Requisitos de Admissibilidade:</p><p>O STF já decidiu que, mesmo diante da não aplicação da cláusula de reserva de plenário às Turmas</p><p>Recursais, os requisitos de admissibilidade, como a juntada do inteiro teor da decisão que declarou a</p><p>inconstitucionalidade, devem ser observados (RE 453.744-AgR, voto do Rel. Min. Cezar Peluso, j. 13.06.2006, 1.ª</p><p>Turma, DJ de 25.08.2006).</p><p>📌 A cláusula de reserva de plenário aplica-se à decisão de juízo monocrático de primeira instância?</p><p>A resposta é NÃO.</p><p>A cláusula de reserva de plenário não se aplica à decisão de juízo monocrático de primeira instância. O</p><p>argumento central é que a regra do art. 97 da Constituição Federal, que estabelece a reserva de plenário para a</p><p>declaração de inconstitucionalidade, é direcionada especificamente aos tribunais, excluindo, portanto, os juízes</p><p>singulares.</p><p>O Ministro Celso de Mello reforçou essa interpretação, destacando que a competência para proferir59</p><p>decisões declaratórias de inconstitucionalidade pertence exclusivamente ao Plenário ou órgão especial dos</p><p>tribunais, não se estendendo aos magistrados individuais no exercício da jurisdição constitucional.</p><p>59 HC 69.921, voto do Rel. Min. Celso de Mello, j. 09.02.1993, 1.ª Turma, DJ de 26.03.1993</p><p>41</p><p>6.4. EFEITOS DA DECISÃO60</p><p>6.4.1. PARA AS PARTES61</p><p>◾Inter Partes: Em regra, os efeitos de uma sentença no controle difuso são limitados às partes</p><p>envolvidas no processo. Isso significa que a decisão não se estende para além dos limites estabelecidos na lide</p><p>◾Ex Tunc: A decisão que declara a inconstitucionalidade de uma lei, realizada incidentalmente no</p><p>controle difuso, possui efeitos retroativos (ex tunc). Isso significa que a declaração afeta a lei desde a sua</p><p>edição, tornando-a nula de pleno direito.</p><p>📌Exceções às Regras Gerais:</p><p>◾ Modulação dos Efeitos: O Supremo Tribunal Federal (STF) tem admitido a técnica da modulação</p><p>dos efeitos da decisão, também no controle difuso. Isso significa que, em razão de razões de segurança jurídica</p><p>ou excepcional interesse social, a Corte pode restringir os efeitos da declaração de inconstitucionalidade. Essa</p><p>técnica é aplicada por analogia ao art. 27 da Lei n. 9.868/99.</p><p>Exemplo: No julgamento do RE 197.917, o STF reduziu o número de vereadores de um município e</p><p>decidiu que essa mudança só afetaria a próxima legislatura. Isso ocorreu para evitar graves ameaças ao sistema</p><p>legislativo vigente.</p><p>📌Expansão da Tese de Julgamento:</p><p>◾Em relação ao efeito inter partes, há uma tendência de expansão da tese de julgamento. Isso é</p><p>particularmente útil em ações que envolvem um grande número de pessoas, como no caso de cruzados</p><p>bloqueados ou na cobrança de tributos considerados inconstitucionais, por exemplo, a extinta CPMF.</p><p>6.4.2. PARA TERCEIROS (ART. 52, X)62</p><p>📌 Papel do Senado Federal no Controle Difuso (Art. 52, X):</p><p>◾ Visão Clássica: Historicamente, a visão clássica do papel do Senado Federal no controle difuso era a</p><p>de que sua atuação seria essencial para dar publicidade à decisão que reconhece a inconstitucionalidade de</p><p>uma lei incidentalmente. O Senado Federal seria responsável por conferir efeito vinculante e erga omnes a essa</p><p>decisão.</p><p>◾ Regra do Art. 52, X: De acordo com a regra clássica, o art. 52, X, estabelece que compete</p><p>privativamente ao Senado Federal suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional</p><p>pelo Supremo Tribunal Federal em controle difuso.</p><p>📌Mutação Constitucional do Art. 52, X:</p><p>◾Debate nas ADIs 3.406 e 3.470:</p><p>A perspectiva de mutação constitucional do art. 52, X, foi objeto de debate nas ADIs 3.406 e 3.470,</p><p>julgadas em 29.11.2017. Nesse julgamento, por 7 votos a 2, o STF consolidou a tese de que o papel do Senado</p><p>62 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 141</p><p>61 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 140</p><p>60 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 140</p><p>42</p><p>Federal no controle difuso seria apenas para dar publicidade à decisão, sem a necessidade de atuação</p><p>formal para conferir efeito vinculante e erga omnes.</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Nesse sentido, para prova para o cargo de Juiz de Direito do TJ-RS (Ano: 2022; Banca: FAURGS) foi</p><p>apresentando o seguinte enunciado: “O Supremo Tribunal Federal vem proferindo decisões relevantes acerca</p><p>de temas como mutação constitucional e controle de constitucionalidade, redefinindo, não raras vezes, os seus</p><p>limites e possibilidades. Considere as afirmações abaixo, tendo por base o posicionamento do STF acerca</p><p>dessas matérias”. A banca considerou incorreta a seguinte assertiva: “O reconhecimento, com eficácia erga</p><p>omnes e efeito vinculante, de declaração incidental de inconstitucionalidade em sede de ação direta (ADI) é</p><p>vedado pelo ordenamento jurídico brasileiro, notadamente pelo artigo 52, inciso X, da Constituição do Brasil,</p><p>que prevê competir ao Senado Federal a suspensão da execução de lei declarada inconstitucional por decisão</p><p>definitiva do Supremo Tribunal Federal”.</p><p>◾ Efeito Vinculante Decorrente da Decisão Judicial:</p><p>Segundo o entendimento consolidado, o efeito vinculante e erga omnes decorreria diretamente da</p><p>decisão judicial, sem a exigência formal da atuação do Senado Federal.</p><p>📌Desdobramentos e Cuidados:</p><p>◾ Mutação Constitucional como Realidade: Apesar de não ter sido formalmente destacada como</p><p>questão preliminar, a mutação constitucional do art. 52, X, passou a ser considerada uma realidade para o STF.</p><p>⚠ Atenção: Destaca-se a importância de considerar o novo entendimento, especialmente diante da</p><p>aproximação entre o controle difuso e concentrado proclamada pelo STF. Em provas de concursos, é crucial</p><p>compreender as mudanças, especialmente diante das perspectivas trazidas pelo CPC/2015 em relação</p><p>aos</p><p>precedentes.</p><p>6.4.2.1. PROCEDIMENTO (ART. 52, X)63</p><p>◾Controle Difuso pelo STF: Recapitulando, quando uma lei é declarada inconstitucional pelo STF no</p><p>âmbito do controle difuso, essa decisão precisa ser definitiva e aprovada pela maioria absoluta do pleno do</p><p>tribunal (art. 97 da CF/88).</p><p>◾Comunicação ao Senado Federal: Conforme o art. 178 do Regimento Interno do STF, logo após a</p><p>decisão do tribunal, e após o trânsito em julgado, o STF comunica a inconstitucionalidade ao Senado Federal.</p><p>◾Competência do Senado Federal (art. 52, X): O art. 52, X, da Constituição Federal atribui ao Senado</p><p>Federal a competência privativa para, por meio de resolução, suspender a execução, total ou parcial, de uma lei</p><p>declarada inconstitucional por decisão definitiva do STF.</p><p>63 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 142</p><p>43</p><p>◾Procedimento no Senado Federal: O art. 386 do Regimento Interno do Senado detalha as formas</p><p>pelas quais o Senado toma conhecimento da decisão do STF: comunicação do Presidente do Tribunal,</p><p>representação do Procurador-Geral da República ou projeto de resolução da Comissão de Constituição, Justiça e</p><p>Cidadania.</p><p>◾Documentação Necessária: Toda comunicação, representação ou projeto deve conter o texto da lei</p><p>a ser suspensa, o acórdão do STF, o parecer do Procurador-Geral da República e a versão do registro</p><p>taquigráfico do julgamento (art. 387 do Regimento Interno do Senado).</p><p>◾Análise e Projeto de Resolução: A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, após a leitura em</p><p>plenário, formula um projeto de resolução suspendendo a execução da lei, no todo ou em parte (art. 388 do</p><p>Regimento Interno do Senado).</p><p>6.4.2.2. AMPLITUDE DO ART. 52, X64</p><p>Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:</p><p>X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva</p><p>do STF;</p><p>O artigo 52, X, confere ao Senado Federal a competência para suspender a execução de leis</p><p>declaradas inconstitucionais pelo STF. Essa competência abrange leis federais, estaduais, distritais e</p><p>municipais, desde que a declaração de inconstitucionalidade seja feita de forma incidental no controle difuso</p><p>de constitucionalidade.</p><p>Em situações específicas envolvendo leis municipais ou estaduais que são confrontadas com a</p><p>Constituição Estadual, há uma consideração importante. Michel Temer, seguindo o princípio federativo, defende</p><p>que, após a declaração de inconstitucionalidade pelo Tribunal de Justiça ou Tribunal de Alçada, essas instâncias</p><p>poderiam remeter a declaração à Assembleia Legislativa. Nesse contexto, a Assembleia Legislativa teria a</p><p>competência para suspender a execução da lei, sendo importante ressaltar que essa atribuição deve ser</p><p>conferida pela Constituição Estadual.</p><p>A abordagem de Michel Temer destaca a importância do princípio federativo nesses casos. O</p><p>entendimento é de que, nos estados em que as Constituições locais conferem competência à Assembleia</p><p>Legislativa para suspender a execução de leis municipais ou estaduais declaradas inconstitucionais, essa</p><p>medida é adequada e respeita a autonomia federativa.</p><p>📌 A expressão “no todo ou em parte”:</p><p>A expressão "no todo ou em parte" estabelece os limites da atuação do Senado Federal. Isso significa</p><p>que o Senado não tem a prerrogativa de ampliar, interpretar ou restringir a extensão da decisão do STF.</p><p>64 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 142</p><p>44</p><p>Se toda a lei foi declarada inconstitucional pelo STF, o Senado Federal, ao decidir pela suspensão,</p><p>deve fazê-lo "no todo", em conformidade com a decisão da Suprema Corte.</p><p>Da mesma forma, se apenas parte da lei foi declarada inconstitucional pelo STF, o Senado Federal, ao</p><p>suspender a execução, deve fazê-lo exatamente em relação à "parte" que foi declarada inválida, sem</p><p>ultrapassar os limites estabelecidos pela decisão do STF.</p><p>A interpretação estrita da expressão "no todo ou em parte" é fundamental para evitar interpretações</p><p>ampliativas ou restritivas por parte do Senado Federal. Isso garante a coerência e a fidelidade à decisão do</p><p>STF. Ao respeitar os limites estabelecidos pela decisão do STF, o Senado Federal assegura o respeito à</p><p>competência da Suprema Corte no controle difuso, preservando a harmonia e a efetividade do sistema jurídico.</p><p>📌Efeitos propriamente ditos :</p><p>O artigo 52, X da Constituição Federal estabelece que o Senado Federal pode suspender, no todo ou em</p><p>parte, a execução de uma lei que tenha sido levada ao controle de constitucionalidade de maneira incidental,</p><p>não principal. Isso significa que a suspensão atingirá a todos, mas os efeitos só serão válidos a partir do</p><p>momento em que a resolução do Senado for publicada na Imprensa Oficial.</p><p>◾Ex Nunc - Sem Retroatividade: A expressão "ex nunc" é crucial para compreendermos esse</p><p>processo. Significa que a suspensão da execução não retroage, ou seja, não afeta os efeitos passados. Por</p><p>exemplo, se uma lei estava em vigor antes da resolução do Senado, ela continuará produzindo efeitos até</p><p>aquele momento, sem impactar retroativamente eventos anteriores.</p><p>◾Erga Omnes - A Abrangência da Suspensão: Apesar de não retroagir, a suspensão da execução é</p><p>"erga omnes", ou seja, atinge a todos. Isso implica que, a partir da publicação da resolução do Senado, a lei</p><p>considera-se suspensa para todos os cidadãos, organizações e entidades afetadas por ela.</p><p>Destacamos o artigo 1.º, § 2.º do Decreto n. 2.346/97, que estabelece a produção de efeitos "ex tunc"</p><p>exclusivamente em relação à Administração Pública Federal direta e indireta. Esse dispositivo se aplica quando</p><p>há a edição de uma resolução do Senado Federal suspendendo a execução de uma lei declarada</p><p>inconstitucional pelo STF em controle difuso.</p><p>O Decreto n. 2.346/97, em seu artigo 1.º, § 3.º, autoriza o Presidente da República a, mediante proposta</p><p>de Ministro de Estado, dirigente de órgão integrante da Presidência da República ou do Advogado-Geral da</p><p>União, autorizar a extensão dos efeitos jurídicos de decisão proferida em caso concreto. Isso confere</p><p>flexibilidade ao processo, permitindo ajustes conforme as circunstâncias.</p><p>📌O Senado é obrigado a suspender os efeitos de uma lei declarada inconstitucional pelo Supremo</p><p>Tribunal Federal?</p><p>A doutrina, o STF e o próprio Senado Federal convergem em um ponto: o Senado não está obrigado a</p><p>suspender a execução de uma lei nessa situação. Trata-se de uma decisão pautada na discricionariedade</p><p>política, conferindo ao Senado total liberdade para escolher seguir ou não a determinação do artigo 52, X, da</p><p>CF/88.</p><p>Entender essa discricionariedade é crucial para não incorrermos em afrontas ao princípio da separação</p><p>de Poderes. O Senado, como poder legislativo, detém a autonomia para tomar decisões políticas, e a</p><p>obrigatoriedade na suspensão poderia ferir essa autonomia.</p><p>45</p><p>📌Uma vez editada a resolução pelo Senado, um ponto crucial surge: essa decisão é revogável?</p><p>Segundo o posicionamento adotado, a resolução que suspende os efeitos de uma norma declarada</p><p>inconstitucional é irrevogável. Isso implica que, caso haja intenção de restabelecer a eficácia da norma</p><p>declarada inconstitucional, seria necessário um novo ato legislativo. A resolução do Senado não pode ser</p><p>revogada com esse propósito. Esta posição busca garantir a estabilidade das decisões políticas do Senado e</p><p>evitar a volatilidade na suspensão de leis inconstitucionais.</p><p>6.5. PARA TERCEIROS (ART. 52, X)65</p><p>6.5.1. ABSTRATIVIZAÇÃO DO CONTROLE DIFUSO: ASPECTOS DOUTRINÁRIOS66</p><p>📌 Posicionamentos Doutrinários:</p><p>◾ Perspectiva Clássica: Historicamente, a doutrina clássica, representada por juristas como Buzaid e</p><p>Grinover, sustentava que a declaração de inconstitucionalidade no controle difuso, por ocorrer incidentalmente,</p><p>não possuía autoridade de coisa julgada. Ou seja, não se projetava para além do processo no qual foi proferida.</p><p>◾ Nova Interpretação:</p><p>Contudo, uma parte significativa da doutrina, respaldada por alguns julgados</p><p>do STF e do STJ, propunha uma nova interpretação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade no</p><p>controle difuso. Autores como Gilmar Mendes defendem uma autêntica mutação constitucional, reformulando</p><p>o entendimento do art. 52, X, da Constituição de 1988.</p><p>📌Fundamentos para a Abstrativização:</p><p>Os principais argumentos para essa nova abordagem podem ser resumidos:</p><p>◾Força Normativa da Constituição: Argumenta-se que a decisão do STF, mesmo no controle difuso,</p><p>possui uma força normativa que transcende o caso concreto.</p><p>◾Princípio da Supremacia da Constituição: Destaca-se a necessidade de aplicação uniforme da</p><p>Constituição a todos os destinatários, respaldada pelo papel do STF como guardião da Carta Magna.</p><p>◾Dimensão Política das Decisões do STF: Reconhece-se a importância política das decisões do STF, o</p><p>que justificaria uma eficácia mais ampla.</p><p>📌 Críticas e Limitações: O professor Pedro Lenza destaca que essa perspectiva tem enfrentado</p><p>críticas, especialmente no que diz respeito à falta de respaldo constitucional para sua implementação no</p><p>controle difuso. A ausência de dispositivos específicos, como os que regem o controle concentrado, levanta</p><p>questionamentos sobre a legitimidade dessa nova tendência.</p><p>📌Diante do exposto, pode-se dizer que o STF passou a adotar a teoria da abstrativização do controle</p><p>difuso?</p><p>SIM. Apesar de essa nomenclatura não ter sido utilizada expressamente pelo STF no julgamento, o certo</p><p>é que a Corte mudou seu antigo entendimento e passou a adotar a abstrativização do controle difuso.</p><p>A teoria da abstrativização do controle difuso preconiza que, se o Plenário do STF decidir a</p><p>66 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 143</p><p>65 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 143</p><p>46</p><p>constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, ainda que em controle</p><p>difuso, essa decisão terá os mesmos efeitos do controle concentrado, ou seja, eficácia erga omnes e</p><p>vinculante.</p><p>Para essa corrente, o art. 52, X, da CF/88 sofreu uma mutação constitucional e, portanto, deve ser</p><p>reinterpretado.  Dessa forma, o papel do Senado, atualmente, é apenas o de dar publicidade à decisão do STF.</p><p>Em outras palavras, a decisão do STF, mesmo em controle difuso, já é dotada de efeitos erga omnes e o Senado</p><p>apenas confere publicidade a isso.</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Nesse sentido, para prova para o cargo de Auditor Federal de Controle Externo - TCU (Ano: 2022, FGV) foi</p><p>considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “D”:</p><p>O Supremo Tribunal Federal, ao julgar dois recursos extraordinários, considerou inconstitucionais alguns</p><p>artigos das Leis X e Y do Estado Beta. Ao tomar conhecimento do teor dessas decisões, o Senado Federal editou</p><p>resolução suspendendo a execução da íntegra das referidas leis, entendendo que os preceitos em relação aos</p><p>quais o Tribunal não se manifestará expressamente padeciam dos mesmos vícios de inconstitucionalidade.</p><p>Em relação a essa narrativa, a atuação do Senado Federal:</p><p>a. foi regular, refletindo o escorreito exercício de sua competência constitucional;</p><p>b. somente pode ser objeto de revisão, pelo próprio Senado Federal, com observância das normas</p><p>regimentais aplicáveis ao caso;</p><p>c. foi irregular, de modo que o seu ato pode ser objeto de mandado de segurança, a ser processado e</p><p>julgado perante o Supremo Tribunal Federal;</p><p>d. foi irregular, de modo que o seu ato pode ser submetido ao controle concentrado de</p><p>constitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal;</p><p>e. importou em usurpação da competência da Assembleia Legislativa do Estado Beta, que deveria atuar,</p><p>no caso concreto, por simetria com o modelo federal.</p><p>6.6. CONTROLE DIFUSO EM SEDE DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA67</p><p>No âmbito da ação civil pública, o controle difuso se torna cabível como instrumento de fiscalização</p><p>incidental de constitucionalidade, desde que a controvérsia constitucional não seja o objeto único da</p><p>demanda, mas sim uma questão prejudicial necessária à resolução do litígio principal. Importante ressaltar que</p><p>o exercício da ação civil pública é excluído quando o autor busca efetivamente o controle abstrato de</p><p>constitucionalidade de uma lei ou ato normativo.</p><p>A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) destaca que se a ação civil pública objetiva o</p><p>julgamento de uma relação jurídica específica e concreta, é lícito promover, de forma incidental, o</p><p>controle difuso de constitucionalidade. No entanto, a ação civil pública não pode ser utilizada como</p><p>sucedâneo de ação direta de inconstitucionalidade, evitando usurpar a competência do STF em casos de</p><p>produção de efeitos erga omnes.</p><p>67 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 154</p><p>47</p><p>Para ilustrar, podemos considerar o caso de uma ação civil pública do Ministério Público para anular</p><p>uma licitação baseada em lei municipal incompatível com a Constituição. Nesse cenário, o juiz ou tribunal pode</p><p>declarar incidentalmente a inconstitucionalidade da lei, mas os efeitos seriam restritos às partes envolvidas.</p><p>É relevante mencionar que a perspectiva de mutação constitucional do art. 52, X, proposta nas ADIs</p><p>3.406 e 3.470 pode influenciar o cenário futuro. Se a Corte se pronunciar nesse sentido, além dos efeitos</p><p>normais da ação civil pública, poderá ser reconhecido o efeito erga omnes e vinculante da declaração incidental</p><p>de inconstitucionalidade proferida pelo STF como questão prejudicial.</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Na prova para o cargo de Juiz de Direito do TJ-RJ (Ano: 2023,VUNESP) foi considerada correta a seguinte</p><p>assertiva no que concerne à possibilidade de controle difuso de constitucionalidade em sede de ação civil</p><p>pública “o ajuizamento da ação civil pública visando, não à apreciação da validade constitucional de lei em tese,</p><p>mas o julgamento de uma específica e concreta relação jurídica, tornar-se-á lícito promover, incidenter tantum,</p><p>o controle difuso de constitucionalidade de qualquer ato emanado do Poder Público”.</p><p>7. CONTROLE CONCENTRADO68</p><p>Conforme leciona o professor Pedro Lenza : “O controle concentrado de constitucionalidade de lei ou69</p><p>ato normativo recebe tal denominação pelo fato de “concentrar-se” em um único tribunal. Pode ser</p><p>verificado em cinco situações:”</p><p>AÇÃO FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL REGULAMENTAÇÃO</p><p>ADI — Ação Direta de</p><p>Inconstitucionalidade Genérica</p><p>art. 102, I, “a” Lei n. 9.868/99</p><p>ADC — Ação Declaratória de</p><p>Constitucionalidade</p><p>art. 102, I, “a” Lei n. 9.868/99</p><p>ADPF — Arguição de</p><p>Descumprimento de Preceito</p><p>Fundamental</p><p>art. 102, § 1.º Lei n. 9.882/99</p><p>ADO — Ação Direta de</p><p>Inconstitucionalidade por Omissão</p><p>art. 103, § 2.º Lei n. 12.063/2009</p><p>IF107 — Representação</p><p>Interventiva (ADI Interventiva)</p><p>art. 36, III, c/c art. 34, VII Lei n. 12.562/2011</p><p>69 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 155.</p><p>68 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 155</p><p>48</p><p>7.1. ADI GENÉRICA</p><p>7.1.1. CONCEITO (ADI GENÉRICA)70</p><p>A Ação Direta de Inconstitucionalidade Genérica (ADI genérica) é um mecanismo jurídico que visa o</p><p>controle de constitucionalidade de leis ou atos normativos. Diferentemente do controle difuso, que ocorre em</p><p>casos concretos e incidentalmente, o controle concentrado é realizado em tese, em abstrato, marcado pela</p><p>generalidade, impessoalidade e abstração.</p><p>Na via de exceção, o controle é realizado de forma incidental, ou seja, durante a resolução de casos</p><p>concretos e como uma questão secundária em relação ao objeto principal do processo. Já no controle</p><p>concentrado, a representação de inconstitucionalidade é direcionada a um ato normativo</p><p>em tese, sendo o</p><p>objetivo principal a declaração de inconstitucionalidade da lei ou ato normativo em questão. O foco é</p><p>determinar se a lei em si é inconstitucional ou não, com o Judiciário tomando uma posição específica sobre essa</p><p>questão. A ação direta, portanto, nos dizeres de Ada Pellegrini Grinover, “tem por objeto a própria questão da</p><p>inconstitucionalidade, decidida principaliter”.</p><p>Em regra, através do controle concentrado, almeja-se expurgar do sistema lei ou ato normativo</p><p>viciado (material ou formalmente), buscando, por conseguinte, a sua invalidação.</p><p>7.1.2. OBJETO (ADI GENÉRICA)71</p><p>A Constituição Federal, em seu artigo 102, I, "a", estabelece claramente que o objeto da ADI é a lei ou o</p><p>ato normativo, não admitindo a análise de projetos de lei ou proposições normativas em fase de formação.</p><p>Como ressaltou o Min. Celso de Mello, atos normativos em processo de elaboração não dão margem ao</p><p>controle de constitucionalidade.</p><p>📌Aqui surge uma questão intrigante: e quanto à lei ou ato normativo em vacatio legis, ou seja,</p><p>publicado, existente, mas ainda não em vigor? O professor Pedro Lenza defende que sim, é possível o controle</p><p>concentrado via ADI, pois a norma já está formalmente incorporada ao sistema jurídico, não sendo necessário</p><p>sustentar o cabimento preventivo da ação direta.</p><p>◾ Visão de Gilmar Mendes e Celso de Mello: Gilmar Mendes sustenta a possibilidade de controle da</p><p>lei ou do ato normativo após a conclusão definitiva do processo legislativo, mesmo que não esteja em vigor.</p><p>Celso de Mello, no leading case da ADI 466, definiu o objeto da ADI como leis ou atos normativos já</p><p>promulgados, editados e publicados, sem exigir sua vigência.</p><p>◾ Precedentes Relevantes: Em um caso que visava nulificar a PEC da Reforma da Previdência (ADI</p><p>5.669), a Min. Rosa Weber, embora tenha negado seguimento à ação, reconheceu a existência formal da</p><p>emenda à Constituição como pressuposto de constituição válida para a ADI.</p><p>◾ADI em Vacatio Legis e a Higidez Constitucional: Apesar de alguns entendimentos contrários,</p><p>Pedro Lenza defende a possibilidade de ADI mesmo em vacatio legis, pois estamos diante de uma lei ou ato</p><p>71 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 155.</p><p>70 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 155.</p><p>49</p><p>normativo — requisitos constitucionais — apesar de ainda não estar vigente. A ADI não discute direitos</p><p>subjetivos, mas a constitucionalidade em tese.</p><p>Lembramos que existe a possibilidade de controle judicial preventivo de constitucionalidade durante a</p><p>tramitação, através do mandado de segurança impetrado exclusivamente por Parlamentar, conforme discutido</p><p>anteriormente.</p><p>7.1.2.1. LEIS72</p><p>As leis, de acordo com o artigo 59 da Constituição Federal de 1988, abrangem várias categorias</p><p>normativas, incluindo emendas à Constituição, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas</p><p>provisórias, decretos legislativos e resoluções.</p><p>7.1.2.2. ATOS NORMATIVOS73</p><p>Atos normativos são decisões e regulamentações emitidas pelo Estado que possuem a capacidade de</p><p>influenciar o ordenamento jurídico de um país. Eles desempenham um papel fundamental na operação do</p><p>sistema jurídico, uma vez que são essenciais para traduzir as normas constitucionais em regras e</p><p>regulamentações específicas que podem ser aplicadas na prática.</p><p>Características dos Atos Normativos:74</p><p>Segundo o Ministro Celso de Mello, os atos normativos devem possuir algumas características</p><p>essenciais para serem considerados como tal:</p><p>◾Autonomia jurídica: Os atos normativos devem ser autônomos em sua deliberação estatal, ou seja,</p><p>devem ser independentes de outras fontes normativas.</p><p>◾Abstração: Eles devem possuir um grau de abstração, ou seja, não podem ser vinculados a casos</p><p>específicos, mas sim a situações gerais.</p><p>◾Generalidade: Devem ser aplicáveis a um número indeterminado de casos e não apenas a uma</p><p>situação particular.</p><p>◾Impessoalidade: Os atos normativos devem ser desprovidos de qualquer elemento pessoal, ou seja,</p><p>não podem depender da vontade de indivíduos específicos.</p><p>📌Exemplos de Atos Normativos:</p><p>Alexandre de Moraes exemplifica alguns tipos de atos que podem ser considerados atos normativos,</p><p>tais como:</p><p>74 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 157.</p><p>73 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 157.</p><p>72 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 155.</p><p>50</p><p>◾a) Resoluções administrativas dos tribunais</p><p>◾b) Atos estatais de conteúdo meramente derrogatório, como as resoluções administrativas, desde</p><p>que incidam sobre atos de caráter normativo.</p><p>Além disso, os regimentos internos dos tribunais também podem ser considerados atos normativos,</p><p>uma vez que estabelecem regras gerais para a organização e funcionamento dessas instituições.</p><p>📌Controle de Constitucionalidade de Atos Normativos: No contexto de atos normativos, o controle</p><p>é fundamental para garantir que eles não violem os princípios constitucionais e os direitos fundamentais dos</p><p>cidadãos.</p><p>📌Possibilidade de Controle: De acordo com Alexandre de Moraes, os atos normativos que encerram</p><p>um "dever-ser" e estabelecem uma prescrição destinada a ser cumprida pelos órgãos destinatários podem ser</p><p>considerados atos normativos sujeitos ao controle de constitucionalidade.</p><p>📌Exemplos de Atos Normativos Sob Controle: Diversos exemplos de atos normativos que estão</p><p>sujeitos ao controle de constitucionalidade incluem:</p><p>◾Deliberações administrativas dos órgãos judiciários.</p><p>◾Resoluções dos Tribunais Regionais do Trabalho que determinam o pagamento de diferenças de</p><p>plano econômico.</p><p>◾Resoluções de órgãos como o Conselho Interministerial de Preços (CIP).</p><p>◾Portarias e resoluções de órgãos do governo que afetem os direitos dos cidadãos.</p><p>7.1.2.3. SÚMULAS75</p><p>📌O Que São Súmulas? são enunciados que resumem a jurisprudência de um tribunal sobre</p><p>determinada matéria. Elas têm o objetivo de uniformizar a interpretação do direito e facilitar a aplicação da lei</p><p>pelos órgãos do Poder Judiciário.</p><p>📌Controle de Constitucionalidade e ADI 594-DF: A Constituição Federal de 1988 estabelece um</p><p>mecanismo de controle de constitucionalidade das leis e atos normativos federais e estaduais perante o STF. A</p><p>Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) é o principal instrumento para questionar a constitucionalidade de</p><p>leis e atos normativos. No entanto, a ADI 594-DF deixou claro que as súmulas de jurisprudência não podem</p><p>ser objeto desse tipo de controle. Elas não possuem o grau de normatividade qualificada, o que as</p><p>diferencia das leis e atos normativos.</p><p>📌Súmulas Vinculantes: A Emenda Constitucional nº 45/2004 introduziu as súmulas vinculantes no</p><p>sistema jurídico brasileiro. O STF, mediante decisão de 2/3 dos seus membros e após reiteradas decisões sobre</p><p>matéria constitucional, pode aprovar uma súmula vinculante. Essa súmula terá efeito vinculante em relação aos</p><p>75 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 157.</p><p>51</p><p>demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública em todas as esferas.</p><p>No entanto, é importante destacar que o controle de constitucionalidade das súmulas vinculantes,</p><p>mesmo sendo objeto de revisão, não segue o mesmo procedimento da ADI. As súmulas vinculantes podem</p><p>ser revisadas ou canceladas, mas não podem ser questionadas perante o STF por meio de uma ADI. A</p><p>revisão das súmulas vinculantes pode ser provocada pelas partes que podem propor uma ação direta de</p><p>inconstitucionalidade, semelhante ao processo de aprovação inicial.</p><p>📌Procedimento de Aprovação, Revisão e Cancelamento:</p><p>A Lei nº 11.417/2006 disciplina o</p><p>procedimento de aprovação, revisão e cancelamento de súmulas vinculantes. Além disso, a Emenda Regimental</p><p>nº 46/2011 acrescentou dispositivos ao Regimento Interno do STF para regulamentar esse procedimento de</p><p>revisão.</p><p>📌Súmula Vinculante e ADI: Controvérsias. É importante notar que houve interpretações divergentes</p><p>em relação à possibilidade de revisar as súmulas vinculantes por meio de uma ADI. Algumas decisões, como a</p><p>da Ministra Ellen Gracie, sugeriram que a ADI poderia ser usada para revisar súmulas vinculantes. No entanto,</p><p>essa interpretação não é unânime e levanta questões importantes sobre o sistema de controle de</p><p>constitucionalidade.</p><p>7.1.2.4. EMENDAS CONSTITUCIONAIS76</p><p>📌O Poder Constituinte Derivado Reformador: As emendas constitucionais representam a</p><p>manifestação do poder constituinte derivado reformador. Enquanto o poder constituinte originário é ilimitado</p><p>juridicamente e autônomo, o poder derivado reformador deve respeitar os limites estabelecidos pelo originário,</p><p>conforme as regras do art. 60 da Constituição Federal de 1988. Desrespeitando esses limites, uma emenda que</p><p>introduziu alterações no texto constitucional pode ser declarada inconstitucional.</p><p>📌Vínculo com o Poder Constituinte Originário: É essencial compreender que o poder constituinte</p><p>derivado revisor, o reformador e o decorrente são frutos do trabalho de criação do poder constituinte</p><p>originário. Portanto, estão intrinsecamente vinculados a ele. São poderes condicionados e limitados às regras</p><p>instituídas pelo poder constituinte originário, configurando-se como poderes jurídicos.</p><p>📌Controle das Emendas de Revisão: O poder constituinte derivado revisor, regulamentado pelo art.</p><p>3.º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), também está sujeito a controle, tanto em seu</p><p>aspecto formal (procedimento previsto no art. 3.º do ADCT) quanto no material. O controle material envolve a</p><p>análise das cláusulas pétreas, conforme estabelecido no art. 60, § 4.º, I a IV da Constituição Federal de 1988.</p><p>📌Cláusulas Pétreas como Limites Materiais: As cláusulas pétreas representam limites materiais</p><p>intransponíveis para as emendas constitucionais. São disposições que não podem ser alteradas, garantindo a</p><p>preservação de princípios fundamentais. A análise dessas cláusulas é crucial para determinar a</p><p>constitucionalidade das emendas, evitando que modificações prejudiquem a essência da Constituição.</p><p>76 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 157.</p><p>52</p><p>7.1.2.5. MEDIDAS PROVISÓRIAS77</p><p>Somente atos estatais de conteúdo normativo, em plena vigência, podem ser objeto do controle</p><p>concentrado de constitucionalidade. Dado que as medidas provisórias têm força de lei, elas podem ser objeto</p><p>desse controle. No entanto, se uma medida provisória for convertida em lei ou perder sua eficácia por</p><p>decurso de prazo, a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) que questionava a constitucionalidade da</p><p>MP será considerada prejudicada pela perda do objeto da ação. Nesse caso, o autor da ADI deve aditar seu</p><p>pedido à nova lei de conversão.</p><p>A regra da prejudicialidade não se aplica se a medida provisória não sofrer uma alteração substancial</p><p>da norma.</p><p>Além disso, o controle não se verifica na hipótese de alegação de inconstitucionalidade formal por</p><p>violação dos requisitos de relevância e urgência na medida provisória, uma vez que esse vício não se</p><p>convalidará com a conversão da MP em lei.</p><p>📌Requisitos Constitucionais de Relevância e Urgência:</p><p>Os requisitos constitucionais de relevância e urgência, conforme o artigo 62 da Constituição, podem ser</p><p>objeto de controle jurisdicional, mas excepcionalmente.</p><p>O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que eles são passíveis de controle apenas quando for</p><p>demonstrada "a inexistência cabal desses requisitos."</p><p>O exame deve ser feito com muita parcimônia, de acordo com o princípio da separação de poderes.</p><p>A forma de realizar esse controle deve depender da motivação apresentada pelo chefe do Poder</p><p>Executivo. A motivação, embora não seja um requisito constitucional expresso, facilita o controle da</p><p>legitimidade.</p><p>📌Requisitos de Imprevisibilidade e Urgência na Abertura de Crédito Extraordinário:</p><p>A Constituição exige que a abertura de crédito extraordinário seja feita apenas para atender a despesas</p><p>imprevisíveis e urgentes, além dos requisitos de relevância e urgência.</p><p>O STF decidiu que os requisitos de imprevisibilidade e urgência recebem densificação normativa da</p><p>Constituição.</p><p>Os conteúdos semânticos das expressões "guerra", "comoção interna" e "calamidade pública" são</p><p>vetores para a interpretação/aplicação desses requisitos.</p><p>Essa nova posição do STF visa frear o desvirtuamento dado pelo Executivo às medidas provisórias,</p><p>chamando o Legislativo para que exerça de maneira mais democrática a análise da questão orçamentária.</p><p>7.1.2.6. REGULAMENTOS SUBORDINADOS OU DE EXECUÇÃO E DECRETOS?</p><p>INCONSTITUCIONALIDADE INDIRETA, REFLEXA OU OBLÍQUA78</p><p>📌Regulamentos Subordinados e Decretos: Para começar, é importante entender a diferença entre</p><p>regulamentos subordinados e decretos. Os regulamentos subordinados são atos normativos secundários</p><p>78 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 159.</p><p>77 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 157.</p><p>53</p><p>emitidos pelo Poder Executivo com a finalidade de regulamentar leis já existentes. Por outro lado, decretos</p><p>podem ter diferentes finalidades, como regulamentar leis, instituir benefícios fiscais ou introduzir outras</p><p>inovações normativas.</p><p>📌 Regra Geral: Como regra geral, os regulamentos subordinados e decretos não são passíveis de</p><p>controle concentrado de constitucionalidade. Isso ocorre porque esses atos não possuem autonomia jurídica</p><p>para serem considerados atos normativos diretamente suscetíveis de controle. Em vez disso, eles são atos de</p><p>legalidade, sujeitos à observância das balizas estabelecidas na Constituição Federal.</p><p>📌 Crise de Legalidade: Quando o controle de constitucionalidade é invocado em relação a</p><p>regulamentos subordinados ou decretos, estamos lidando com o que o Supremo Tribunal Federal (STF) chama</p><p>de "crise de legalidade". Essa crise ocorre quando esses atos normativos não estão em conformidade com as</p><p>leis existentes, desrespeitando o dever jurídico de subordinação normativa à legislação vigente.</p><p>📌 Controle de Inconstitucionalidade Indireta, Reflexa ou Oblíqua: Em relação a regulamentos</p><p>subordinados e decretos, normalmente não é possível realizar um controle de inconstitucionalidade direto, já</p><p>que eles não têm fundamento de validade diretamente na Constituição. Isso significa que, em circunstâncias</p><p>normais, não se pode questionar sua constitucionalidade diretamente.</p><p>📌Exceções: No entanto, existem exceções a essa regra. O STF admite o controle de</p><p>constitucionalidade em casos de decretos autônomos que não têm a finalidade de regulamentar uma lei, mas</p><p>sim de inovar do ponto de vista normativo. Nesses casos, esses atos podem ser questionados quanto à sua</p><p>constitucionalidade, pois não estão meramente regulamentando leis existentes, mas introduzindo novidades</p><p>normativas.</p><p>7.1.2.7. TRATADOS INTERNACIONAIS79</p><p>O processo de incorporação de tratados internacionais no Brasil passa por quatro fases distintas:</p><p>◾Celebração do Tratado Internacional: Nesta fase, o tratado é negociado, concluído e assinado pelo</p><p>órgão do Poder Executivo. Isso pode incluir a adesão posterior do Presidente da República, conforme previsto</p><p>no artigo 84, VIII da Constituição.</p><p>◾Aprovação pelo Parlamento: O tratado é submetido ao Congresso Nacional e deve ser aprovado</p><p>por meio de decreto legislativo. Isso ocorre conforme o artigo 49, I da Constituição, e resolve definitivamente a</p><p>questão, dando-lhe força de lei no território nacional.</p><p>◾Troca ou Depósito dos Instrumentos de Ratificação: Após a aprovação, o órgão do Poder</p><p>Executivo é responsável por realizar a troca ou o depósito dos instrumentos de ratificação em âmbito</p><p>internacional, formalizando assim a adesão do Brasil ao tratado.</p><p>◾Promulgação e Publicação: Finalmente, o tratado é promulgado por meio de decreto presidencial e</p><p>seu texto é publicado em português no diário oficial. É neste momento que o tratado, acordo ou ato</p><p>79 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 159.</p><p>54</p><p>internacional adquire executoriedade no plano do direito positivo interno, mantendo estrita relação de</p><p>paridade normativa com as leis ordinárias.</p><p>📌Paridade Normativa:Antes da Emenda Constitucional n. 45/2004, a doutrina e os tribunais,</p><p>incluindo o Supremo Tribunal Federal (STF), consideravam que os tratados internacionais, independentemente</p><p>de sua natureza, eram equiparados a normas infraconstitucionais. Isso significava que eles tinham a mesma</p><p>hierarquia das leis ordinárias e podiam ser revogados por normas subsequentes. No entanto, essa</p><p>interpretação mudou com a EC n. 45/2004.</p><p>📌EC n. 45/2004: A grande novidade introduzida pela Emenda Constitucional n. 45/2004 foi a</p><p>diferenciação entre tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos e outros tratados</p><p>internacionais. Esses tratados, se aprovados por três quintos dos votos em cada Casa do Congresso Nacional e</p><p>em dois turnos de votação, adquirem a mesma natureza jurídica das emendas constitucionais. Isso significa que</p><p>eles estão no mesmo patamar hierárquico das normas constitucionais, desde que respeitem os "limites do</p><p>poder de reforma".</p><p>📌Supralegalidade dos Tratados de Direitos Humanos: Uma tese interessante discutida após a EC n.</p><p>45/2004 é a da supralegalidade dos tratados internacionais sobre direitos humanos. Segundo o Ministro Gilmar</p><p>Mendes, esses tratados estão acima das leis ordinárias, mas abaixo da Constituição, o que lhes permite</p><p>"paralisar a eficácia jurídica de toda e qualquer disciplina normativa infraconstitucional com ela conflitante". No</p><p>entanto, eles também estão sujeitos ao controle de constitucionalidade.</p><p>📌Outros Tratados Internacionais: Os tratados e convenções internacionais de outra natureza, ou</p><p>seja, que não se relacionam com direitos humanos, mantêm sua hierarquia como leis ordinárias e podem ser</p><p>objeto de controle de constitucionalidade.</p><p>📌Decisão do STF sobre Tratados de Direitos Humanos: Em 2008, o Supremo Tribunal Federal (STF)</p><p>decidiu que os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos, se não incorporados na forma da</p><p>EC n. 45/2004, possuem natureza de normas supralegais. Isso significa que eles têm o poder de paralisar a</p><p>eficácia de todo o ordenamento infraconstitucional em sentido contrário, mesmo que estejam abaixo da</p><p>Constituição.</p><p>Uma aplicação prática desse entendimento diz respeito à prisão civil do depositário infiel. De acordo</p><p>com a jurisprudência do STF e a Súmula Vinculante 25/2009, a prisão civil do depositário infiel não é mais aceita</p><p>em casos em que tratados internacionais, dos quais o Brasil é signatário, proíbem essa prática. Isso reflete o</p><p>compromisso do Brasil em cumprir suas obrigações internacionais, mesmo que isso implique em desconsiderar</p><p>disposições anteriores do ordenamento jurídico nacional.</p><p>7.1.2.8. NORMAS CONSTITUCIONAIS ORIGINÁRIAS80</p><p>As normas constitucionais são pedras angulares do ordenamento jurídico de um país, estabelecendo os</p><p>80 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 160.</p><p>55</p><p>princípios e regras fundamentais que regem a sociedade. Quando discutimos as normas constitucionais, é</p><p>essencial entender a distinção entre aquelas que são consideradas originárias e derivadas.</p><p>No âmbito do poder constituinte, podemos identificar duas categorias principais: o poder</p><p>constituinte originário e o poder constituinte derivado.</p><p>O poder constituinte originário é a autoridade que cria uma nova Constituição, sem depender de</p><p>nenhuma norma anterior. Ele é autônomo e soberano, sendo o ápice do sistema jurídico de um país. As normas</p><p>produzidas pelo poder constituinte originário são consideradas constitucionais por natureza e não estão</p><p>sujeitas a controle de constitucionalidade. Exemplos notáveis incluem o preâmbulo, as cláusulas pétreas e os</p><p>princípios fundamentais de uma Constituição.</p><p>Por outro lado, o poder constituinte derivado é uma autoridade subordinada ao originário e está</p><p>restrita aos limites e parâmetros estabelecidos na Constituição originária. Esse poder é responsável por</p><p>emendar a Constituição existente, introduzindo modificações dentro dos limites estabelecidos pela Constituição</p><p>originária.</p><p>📌Controle de Constitucionalidade das Normas Constitucionais Originárias: Uma característica</p><p>fundamental das normas constitucionais originárias é que elas estão acima de qualquer controle de</p><p>constitucionalidade. Isso é conhecido como o "princípio da unidade hierárquico-normativa." Em outras</p><p>palavras, não é possível questionar a constitucionalidade das normas originárias perante um tribunal, pois elas</p><p>detêm o mais alto grau de autoridade no sistema jurídico.</p><p>Uma jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) reforça essa ideia. Em uma decisão da ADI</p><p>4.097-AgR, o STF afirmou que não se admite o controle concentrado ou difuso de constitucionalidade de</p><p>normas produzidas pelo poder constituinte originário.</p><p>No entanto, em discussões acadêmicas e em alguns contextos jurídicos, há espaço para uma releitura</p><p>desse entendimento. Isso se baseia em princípios como a proibição do retrocesso em relação aos direitos</p><p>fundamentais, bem como os princípios do bem comum, direito natural, moral e razão.</p><p>A proibição do retrocesso implica que avanços nos direitos fundamentais não podem ser revertidos.</p><p>Portanto, em situações em que uma norma originária viole direitos fundamentais, pode haver argumentos para</p><p>questionar sua validade.</p><p>Além disso, considerando os princípios do bem comum, direito natural, moral e razão, algumas</p><p>abordagens jurídicas podem argumentar que a onipotência do poder constituinte originário deve ser revista à</p><p>luz dos valores fundamentais da sociedade e da evolução dos direitos humanos.</p><p>7.1.2.9. O FENÔMENO DA RECEPÇÃO81</p><p>📌Conceito de Recepção: A recepção é o instituto jurídico que verifica se um ato normativo anterior à</p><p>Constituição vigente é compatível, do ponto de vista material, com o novo ordenamento jurídico. Se for</p><p>compatível, ele é recepcionado; caso contrário, é revogado pela nova ordem.</p><p>📌Controle de Constitucionalidade: É importante destacar que apenas os atos normativos editados</p><p>após a constituição podem ser questionados perante o Supremo Tribunal Federal (STF) através do controle de</p><p>81 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 161.</p><p>56</p><p>constitucionalidade, especificamente por meio da ação direta de inconstitucionalidade (ADI).</p><p>📌Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF): Vamos agora confrontar o</p><p>fenômeno da recepção com a ADPF, que permite o controle de atos normativos anteriores à Constituição. O art.</p><p>102, § 1.º, da CF/88, regulamentado pela Lei n. 9.882/99, estabelece as bases para esse tipo de controle.</p><p>📌Modulação dos Efeitos: Uma questão importante é se o STF pode modular os efeitos da decisão em</p><p>casos de não recepção de lei pré-constitucional pela norma constitucional superveniente. Inicialmente, o STF</p><p>não admitiu essa possibilidade, mas o Min. Gilmar Mendes divergiu, defendendo a modulação.</p><p>Posteriormente, a Corte reconheceu expressamente a possibilidade de modulação (RE 600.885, j.</p><p>09.02.2011).</p><p>📌Técnica do Arrastamento: Outro ponto interessante é a aplicação da técnica do arrastamento no</p><p>julgamento de recepção de ato normativo. Ou seja, se um dispositivo é declarado não recepcionado,</p><p>105</p><p>7.2. AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE (ADC) 106</p><p>7.2.1 PROCEDIMENTO (ADC) 107</p><p>7.2.2. EFEITOS DA DECISÃO (ADC) 108</p><p>7.2.3. MEDIDA CAUTELAR (ADC) 109</p><p>7.3. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF) 110</p><p>7.3.1. LOCALIZAÇÃO (ADPF) 110</p><p>7.3.2. OBJETO — HIPÓTESES DE CABIMENTO (ADPF) 110</p><p>7.3.3. PRECEITO FUNDAMENTAL — CONCEITO (ADPF) 112</p><p>7.3.4. COMPETÊNCIA (ADPF) 112</p><p>7.3.5. LEGITIMIDADE (ADPF) 113</p><p>7.3.6. PROCEDIMENTO (ADPF). PARTICULARIDADES DO PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE 113</p><p>7.3.7. EFEITOS DA DECISÃO (ADPF) 114</p><p>7.3.7.1. QUESTÕES RELEVANTES 115</p><p>7.3.8. O PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 1.º DA LEI N. 9.882/99 É INCONSTITUCIONAL (ARGUIÇÃO</p><p>INCIDENTAL)? 118</p><p>7.3.9. PEDIDO DE MEDIDA LIMINAR (ADPF) 119</p><p>7.3.10. ADPF PODE SER CONHECIDA COMO ADI? SE SIM, O PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE</p><p>TERIA NATUREZA AMBIVALENTE? OU SEJA, ADI PODERIA SER CONHECIDA COMO ADPF? 121</p><p>7.4. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO (ADO) 122</p><p>7.4.1. CONCEITO (ADO) 122</p><p>7.4.2. ESPÉCIES DE OMISSÃO 122</p><p>7.4.3. OBJETO (ADO) 123</p><p>7.4.4. COMPETÊNCIA (ADO) 126</p><p>7.4.5. LEGITIMIDADE (ADO) 126</p><p>7.4.6. NATUREZA JURÍDICA DOS LEGITIMADOS (ADO) 126</p><p>7.4.7. PROCEDIMENTO (ADO) 127</p><p>7.4.8. MEDIDA CAUTELAR (ADO) 128</p><p>7.4.9. EFEITOS DA DECISÃO (ADO) 129</p><p>7.4.9.1. REGRAS GERAIS 129</p><p>7.4.9.2. NOVAS PERSPECTIVAS: ADOS 24, 25 E 26 — UM PASSO ADIANTE NAS DECISÕES</p><p>MERAMENTE RECOMENDATÓRIAS 130</p><p>7.4.10. FUNGIBILIDADE ENTRE ADI E ADO 131</p><p>7.4.11. QUADRO COMPARATIVO (ADI X ADC X ADO X ADPF) 132</p><p>7.5. REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA (IF) 133</p><p>7.5.1. CONCEITO (IF) 133</p><p>7.5.2. REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA FEDERAL (ADI INTERVENTIVA FEDERAL) 135</p><p>7.5.2.1. OBJETO (IF) 135</p><p>7.5.2.2. PRINCÍPIOS SENSÍVEIS 136</p><p>7.5.2.3. COMPETÊNCIA (IF) 136</p><p>7.5.2.4. LEGITIMIDADE (IF) 136</p><p>7.5.2.5. PROCEDIMENTO (IF) 137</p><p>7.5.2.6. MEDIDA LIMINAR (IF) 138</p><p>7.5.2.7. REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA NO CASO DE RECUSA À EXECUÇÃO DE LEI</p><p>FEDERAL 139</p><p>7.5.3. REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA ESTADUAL (ADI INTERVENTIVA ESTADUAL) 139</p><p>8. CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE NOS ESTADOS-MEMBROS 143</p><p>8.1. REGRAS GERAIS 143</p><p>8.2. OBJETO 144</p><p>6</p><p>8.3. COMPETÊNCIA 145</p><p>8.4. LEGITIMADOS 145</p><p>8.5. PARÂMETRO DE CONTROLE 146</p><p>8.6. “SIMULTANEUS PROCESSUS” 154</p><p>9. QUADRO COMPARATIVO DO SISTEMA JURISDICIONAL MISTO DE CONTROLE POSTERIOR OU</p><p>REPRESSIVO DE CONSTITUCIONALIDADE NO BRASIL 155</p><p>10. FORMAS DE DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE 161</p><p>10.1. QUANTO AO ASPECTO SUBJETIVO 161</p><p>10.2. QUANTO AO ASPECTO OBJETIVO 162</p><p>10.3. QUANTO AO ASPECTO TEMPORAL 163</p><p>10.3.1 MODULAÇÃO DOS EFEITOS 164</p><p>10.4. QUANTO À EXTENSÃO DOS EFEITOS 165</p><p>10.4.1 DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE SEM REDUÇÃO DE TEXTO X PRINCÍPIO DA</p><p>INTERPRETAÇÃO CONFORME 165</p><p>10.4.2. LIMITES À APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME 166</p><p>10.5 PONTOS IMPORTANTES 166</p><p>11. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO ÂMBITO MUNICIPAL 167</p><p>7</p><p>1. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE: DIREITO COMPARADO E</p><p>SISTEMA BRASILEIRO</p><p>1.1. NOÇÕES PRELIMINARES1</p><p>O legislador constituinte originário estabeleceu mecanismos para controlar os atos normativos,</p><p>garantindo sua conformidade com a Constituição.</p><p>Para realizar esse controle, é fundamental ter uma Constituição rígida e um órgão competente para</p><p>resolver questões de constitucionalidade, variando de acordo com o sistema de controle adotado.</p><p>📌O que significa uma “constituição rígida?”</p><p>É aquela com um processo de alteração mais difícil do que as normas não constitucionais. No caso da</p><p>Constituição brasileira, existem regras solenes para sua alteração (art. 60, CF).</p><p>A ideia de controle se baseia na supremacia da Constituição, que é a norma de maior importância em</p><p>um sistema jurídico, conferindo validade aos demais atos normativos.</p><p>⚠”Trata-se do princípio da supremacia da Constituição, que, nos dizeres do Professor José Afonso</p><p>da Silva, reputado por Pinto Ferreira como “pedra angular, em que assenta o edifício do moderno direito</p><p>político”, “significa que a Constituição se coloca no vértice do sistema jurídico do país, a que confere validade, e</p><p>que todos os poderes estatais são legítimos na medida em que ela os reconheça e na proporção por ela</p><p>distribuídos. É, enfim, a lei suprema do Estado, pois é nela que se encontram a própria estruturação deste e a</p><p>organização de seus órgãos; é nela que se acham as normas fundamentais de Estado, e só nisso se notará sua</p><p>superioridade em relação às demais normas jurídicas”. Desse princípio, continua o mestre, “resulta o da</p><p>compatibilidade vertical das normas da ordenação jurídica de um país, no sentido de que as normas de grau</p><p>inferior somente valerão se forem compatíveis com as normas de grau superior, que é a Constituição. As que</p><p>não forem compatíveis com ela são inválidas, pois a incompatibilidade vertical resolve-se em favor das</p><p>normas de grau mais elevado, que funcionam como fundamento de validade das inferiores”2</p><p>Há vários termos em destaque na definição acima, que devem acompanhar o seu raciocínio sobre esse</p><p>assunto. Em resumo:</p><p>◾O princípio da supremacia da Constituição, é considerado a "pedra angular" do direito político;</p><p>◾ A Constituição é a lei suprema do Estado.</p><p>◾A constituição contém normas fundamentais que estruturam o país e organizam seus órgãos. Os</p><p>poderes estatais são legítimos na medida em que a Constituição os reconhece e na proporção por ela</p><p>distribuídos.</p><p>2 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 119.</p><p>1 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 120.</p><p>8</p><p>◾O referido princípio implica o conceito de compatibilidade vertical das normas na ordem jurídica</p><p>de um país, o que significa que as normas de grau inferior só são válidas se estiverem de acordo com as normas</p><p>de grau superior, ou seja, a Constituição.</p><p>◾Qualquer incompatibilidade vertical resulta em favor das normas de grau mais elevado, que</p><p>funcionam como o fundamento de validade das normas inferiores, o que fortalece a supremacia da</p><p>Constituição sobre as demais normas jurídicas.</p><p>Para o exercício do Controle de Constitucionalidade são necessárias normas-parâmetro (ou bloco de</p><p>constitucionalidade), ou seja, normas materialmente constitucionais que servem de parâmetro para confronto</p><p>de aferição de constitucionalidade das demais normas que integram o Ordenamento Jurídico.</p><p>São consideradas normas-parâmetro:</p><p>◾As normas previstas na CF;</p><p>◾As Emendas Constitucionais;</p><p>◾Princípios implícitos;</p><p>◾Os tratados internacionais de direitos humanos aprovados com força de Emenda Constitucional de</p><p>acordo com o art. 5º § 3º, CF.</p><p>1.2.SISTEMA AUSTRÍACO (KELSEN) X SISTEMA NORTE-AMERICANO</p><p>(MARSHALL)3</p><p>📌Em primeiro lugar, vamos entender um pouco mais sobre o Sistema Austríaco, defendido por</p><p>Kelsen:</p><p>◾Kelsen é um renomado jurista austríaco que defendeu a teoria da anulabilidade das leis</p><p>inconstitucionais. Nesse sistema, quando uma lei é declarada inconstitucional pela Corte Constitucional, ela não</p><p>é considerada automaticamente nula e ineficaz. Em vez disso, a lei permanece válida até o momento em que a</p><p>decisão da Corte seja publicada.</p><p>◾A Corte Constitucional austríaca tem o poder discricionário de decidir quando a anulação da lei</p><p>deve entrar em vigor, desde que o diferimento de eficácia constitutiva não seja superior a um ano. Isso</p><p>significa que a decisão da Corte pode ser aplicada retroativamente ou a partir de uma data futura.</p><p>◾Portanto, no sistema austríaco, a lei inconstitucional não é considerada nula desde o início, mas</p><p>sim anulada a partir de um determinado ponto no tempo, com flexibilidade em relação a essa data.</p><p>📌Agora, vamos nos debruçar sobre o Sistema Norte-Americano, defendido por Marshall:</p><p>◾O sistema norte-americano adota a teoria da nulidade. Nesse sistema, uma lei que é declarada</p><p>inconstitucional é considerada absolutamente nula e ineficaz desde o momento em que é declarada</p><p>inconstitucional pela Corte.</p><p>◾Os juízes norte-americanos exercem o poder de controle de constitucionalidade e declaram a</p><p>nulidade da lei</p><p>a Corte</p><p>poderia declarar revogado outro que guarda relação de interdependência e interconexão com o objeto</p><p>específico de análise?</p><p>Um exemplo elucidativo é o caso em que a Corte declarou não recepcionado o § 4.º do art. 23 da Lei n.</p><p>1.079/50 (impeachment), devido à não recepção dos §§ 1.º e 5.º do mesmo artigo, que foram expressamente</p><p>impugnados. A relação "consequencial" entre eles justificou a revogação por arrastamento (ADPF 378 MC, Rel.</p><p>p/ o ac. Min. Roberto Barroso, j. 16.12.2015).</p><p>7.1.2.10. ATOS ESTATAIS DE EFEITOS CONCRETOS E ATOS ESTATAIS DE EFEITOS</p><p>CONCRETOS EDITADOS SOB A FORMA DE LEI (EXCLUSIVAMENTE FORMAL)82</p><p>Inicialmente, o STF afirmava que os atos estatais de efeitos concretos não estavam sujeitos ao controle</p><p>abstrato de constitucionalidade. Essa posição decorre da ideia de que tais atos não possuem densidade</p><p>jurídico-material, não sendo passíveis de controle abstrato, que é reservado a atos normativos dotados de</p><p>abstração ou generalidade.</p><p>📌 Mudança de Posicionamento do STF: Em um caso específico envolvendo a Lei n. 11.744/2002, do</p><p>Estado do Rio Grande do Sul, que tratava do patrimônio cultural e histórico estadual, o STF decidiu não</p><p>conhecer da ação direta de inconstitucionalidade contra atos normativos de efeitos concretos. A Corte</p><p>mantinha a ideia de que apenas atos normativos com abstração mínima deveriam ser sujeitos ao</p><p>controle abstrato.</p><p>⚠Cuidado! O STF posteriormente modificou esse entendimento, fazendo uma distinção importante.</p><p>Mesmo que um ato tenha efeitos concretos, se for materializado por lei (ou medida provisória,</p><p>especialmente a que abre créditos extraordinários), poderá ser objeto de controle abstrato.</p><p>A mudança no entendimento decorreu da percepção de que as leis formais resultam da vontade do</p><p>82 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 161.</p><p>57</p><p>legislador ou do próprio constituinte, que exigem que certos atos, mesmo que de efeito concreto, sejam</p><p>editados sob a forma de lei. O STF argumentou que, ao submeter a lei ao controle abstrato, instrumento de</p><p>concretização da ordem constitucional, não poderia isentar um grande número de atos aprovados sob a forma</p><p>de lei do controle abstrato.</p><p>📌 Decisões Relevantes: Destacamos a decisão no caso da ADI 4.048-MC/DF, em que o STF modificou</p><p>seu entendimento. A Corte reconheceu a possibilidade de controle abstrato mesmo para leis de efeito concreto,</p><p>apontando que a teoria do direito permitiria formular leis dessa natureza de forma genérica e abstrata.</p><p>É importante ressaltar que a decisão foi tomada em medida cautelar, indicando uma votação apertada.</p><p>Devemos aguardar a evolução da jurisprudência do STF para ver como essa questão será consolidada.</p><p>Para o professor Pedro Lenza, podemos afirmar essa tendência de mudança da orientação da Corte de</p><p>acordo com os julgamentos proferidos nas cautelares.</p><p>7.1.2.11. ATO NORMATIVO JÁ REVOGADO OU DE EFICÁCIA EXAURIDA83</p><p>O Supremo Tribunal Federal (STF) não permite a proposição de Ação Direta de</p><p>Inconstitucionalidade (ADI) para impugnar uma lei ou ato normativo que já foi revogado ou cuja eficácia</p><p>se esgotou. Isso se deve ao entendimento de que a Corte não deve considerar como referência normativa</p><p>aquilo que tem apenas valor histórico.</p><p>Diante da inadequação da ADI e da Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) para casos dessa</p><p>natureza, em conformidade com o princípio da subsidiariedade (previsto no artigo 4.º, § 1.º, da Lei n. 9.882/99),</p><p>o STF tem admitido o uso da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) para questionar</p><p>atos normativos que foram revogados ou perderam sua eficácia. Essa posição foi reforçada em decisões, como</p><p>a ADPF 77-MC, Relatoria do Ministro Teori Zavascki, julgada em 19 de novembro de 2014, pelo Plenário, com</p><p>publicação no DJE de 11 de fevereiro de 2015.</p><p>7.1.2.12. LEI REVOGADA OU QUE TENHA PERDIDO A SUA VIGÊNCIA APÓS A</p><p>PROPOSITURA DA ADI84</p><p>📌Regra Geral da Prejudicialidade: "Perda do Objeto": Quando uma ADI está em andamento e a lei</p><p>ou ato normativo impugnado é revogado, total ou parcialmente, ou perde sua vigência, ocorre, por regra geral,</p><p>a prejudicialidade da ação. Isso se dá pela "perda do objeto", segundo o entendimento do STF. A Corte sustenta</p><p>que a declaração em tese de uma norma inexistente transformaria a ADI em um instrumento de proteção de</p><p>situações jurídicas pessoais e concretas.</p><p>◾Posicionamento Pacificado do STF: Prejudicialidade - O STF, em diversos precedentes, reitera o</p><p>entendimento de que a superveniente revogação ou perda de vigência da norma impugnada acarreta a</p><p>prejudicialidade da ADI, independentemente da existência de efeitos residuais concretos. Essa postura</p><p>visa assegurar a higidez da ordem jurídica vigente.</p><p>📌Proposta de Revisão não Aceita: Caso ADI 1.244 - O Ministro Gilmar Mendes propôs revisitar a</p><p>84 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 162.</p><p>83 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 162.</p><p>58</p><p>jurisprudência do STF, admitindo o prosseguimento do controle abstrato em casos de norma revogada após o</p><p>ajuizamento da ação. Contudo, essa proposta foi rejeitada pela Corte em dezembro de 2019, por unanimidade</p><p>(com a mudança do voto do Prórpio Min. Gilmar Mendes), mantendo-se o entendimento pacificado da</p><p>prejudicialidade.</p><p>📌Exceções à Prejudicialidade: Fraude Processual e Singularidades do Caso</p><p>⚠ATENÇÃO! Destacaremos algumas importantes exceções em que o STF superou a prejudicialidade,</p><p>mantendo o julgamento da ADI:</p><p>◾Fraude Processual: Em casos como ADI 3.232 e 3.306, o STF afastou a prejudicialidade ao</p><p>reconhecer a fraude processual na revogação da lei objeto da ação, quando esta ocorreu para frustrar o</p><p>julgamento.</p><p>◾Comunicação Tardia de Revogação: Na ADI 951, a comunicação tardia da revogação, após o STF ter</p><p>julgado o mérito da ação, não impediu a continuidade do processo, evitando a manutenção de norma</p><p>inconstitucional.</p><p>◾Singularidades do Caso: Em situações excepcionais, como na ADI 4.426, o STF afastou a</p><p>prejudicialidade devido à impugnação em tempo adequado e à possibilidade de efeitos em curso.</p><p>◾Inexistência de Alteração Substancial: Nos casos das ADIs 2.501 e 2.418, apesar da revogação, a</p><p>modificação introduzida pela nova lei não foi substancial, mantendo-se o tratamento normativo semelhante.</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Nesse sentido, para prova para o cargo de Juiz de Direito do TJ-RS (Ano: 2022; Banca: FAURGS) foi</p><p>apresentando o seguinte enunciado: “O Supremo Tribunal Federal vem proferindo decisões relevantes acerca</p><p>de temas como mutação constitucional e controle de constitucionalidade, redefinindo, não raras vezes, os seus</p><p>limites e possibilidades. Considere as afirmações abaixo, tendo por base o posicionamento do STF acerca</p><p>dessas matérias”. A banca considerou correta a seguinte assertiva: “A superveniente alteração redacional de</p><p>ato normativo questionado em ação direta de inconstitucionalidade não impede o julgamento dessa ação,</p><p>desde que não tenha havido alteração substancial no conteúdo desse ato”.</p><p>7.1.2.13. ALTERAÇÃO DO PARÂMETRO CONSTITUCIONAL INVOCADO85</p><p>📌 Alteração do Parâmetro Constitucional e Prejudicialidade: Entendimento Geral: O STF mantém</p><p>o entendimento de que, quando há uma alteração no parâmetro constitucional invocado, especialmente</p><p>por meio de emenda constitucional, a ADI deve ser julgada prejudicada. Segundo a Corte, essa alteração</p><p>revoga a lei infraconstitucional em sentido contrário que era objeto da ADI.</p><p>85 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 164.</p><p>59</p><p>◾ Jurisprudência Consolidada: Perda Superveniente do Objeto: O Ministro Celso de Mello destaca</p><p>que a jurisprudência do STF, desde regimes constitucionais anteriores, proclama que tanto a revogação</p><p>global</p><p>da Constituição quanto a derrogação ou alteração substancial da norma constitucional configuram</p><p>hipóteses de prejudicialidade da ADI, devido à evidente perda de seu objeto.</p><p>📌Exemplos Práticos de Prejudicialidade por Alteração do Parâmetro Constitucional: Vamos</p><p>explorar dois casos emblemáticos em que a mudança do paradigma constitucional resultou na prejudicialidade</p><p>da ADI:</p><p>◾a) Revogação primitiva do art. 39, § 1.º, pela EC n. 19/98: A ADI 1.434/SP, relatada pelo Ministro</p><p>Sepúlveda Pertence, julgou prejudicada a ação no ponto em que a EC 19/98 revogou o art. 39, § 1.º, da CF/88. A</p><p>revogação alterou o paradigma necessário à verificação da procedência ou improcedência da ADI.</p><p>.. II. Controle direto de inconstitucionalidade: prejuízo. Julga-se prejudicada total ou parcialmente a ação direta</p><p>de inconstitucionalidade no ponto em que, depois de seu ajuizamento, emenda à Constituição haja ab-rogado</p><p>ou derrogado norma de Lei Fundamental que constituísse paradigma necessário à verificação da procedência</p><p>ou improcedência dela ou de algum de seus fundamentos, respectivamente: orientação de aplicar-se no caso,</p><p>no tocante à alegação de inconstitucionalidade material, dada a revogação primitiva do art. 39, § 1.º, CF/88,</p><p>pela EC 19/98” (ADI 1.434/SP, Rel. Min. Sepúlveda, DJ de 25.02.2000).</p><p>◾b) Alteração do art. 40, caput, pela EC n. 41/2003: Na ADI 2.197/RJ, o Ministro Maurício Corrêa</p><p>declarou a prejudicialidade da ação devido à alteração substancial no sistema previdenciário pela EC 41/2003,</p><p>que permitiu a taxação dos inativos.</p><p>📌Mudança de Entendimento - ADI 2.158:</p><p>Em 2010, no julgamento da questão de ordem na ADI 2.158, o STF rejeitou a preliminar de</p><p>prejudicialidade, mesmo com a alteração no parâmetro constitucional. O caso envolvia uma lei do Estado do</p><p>Paraná que, antes da EC n. 41/2003, estabelecia a taxação dos inativos.</p><p>O Tribunal, ao rejeitar a prejudicialidade, considerou que a EC n. 41/2003, ao permitir a taxação dos</p><p>inativos, "recebeu" a lei estadual anteriormente inconstitucional. Essa mudança de entendimento evitou a</p><p>inadmitida constitucionalidade superveniente, permitindo a análise da constitucionalidade da lei à luz da regra</p><p>constitucional que vigorava à época de sua edição.</p><p>7.1.2.14. DIVERGÊNCIA ENTRE A EMENTA DA LEI E O SEU CONTEÚDO86</p><p>O Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu que a discrepância entre a ementa de uma lei e o seu</p><p>conteúdo não constitui uma situação de controle de constitucionalidade. Segundo a decisão do STF no</p><p>caso específico (ADI 1.096-4, medida liminar, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 1, de 22.09.1995, p. 30589), a mera</p><p>divergência entre a descrição resumida da lei (ementa) e seu conteúdo substantivo não é suficiente para</p><p>86 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 165.</p><p>60</p><p>caracterizar uma violação à Constituição. Portanto, a decisão destaca que a simples disparidade entre a ementa</p><p>e o texto normativo não implica automaticamente em inconstitucionalidade, não configurando uma afronta à</p><p>Constituição</p><p>7.1.2.15. RESPOSTAS EMITIDAS PELO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL87</p><p>O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que as respostas fornecidas pelo Tribunal Superior</p><p>Eleitoral (TSE) a consultas dirigidas a ele não se enquadram como objeto de Ação Direta de</p><p>Inconstitucionalidade (ADI). A decisão baseia-se na consideração de que tais respostas não possuem uma</p><p>"eficácia vinculativa aos demais órgãos do Poder Judiciário" e são consideradas atos de natureza administrativa,</p><p>conforme estabelecido no caso específico (STF, ADI 1.805-MC/DF, Rel. Min. Néri da Silveira, Inf. 104/STF).</p><p>7.1.2.16. LEIS ORÇAMENTÁRIAS88</p><p>📌Contextualização da Jurisprudência Inicial: Inicialmente, o STF sustentava a ideia de que as leis</p><p>orçamentárias, incluindo a lei de diretrizes orçamentárias, não eram passíveis de controle constitucional. Esta</p><p>perspectiva baseava-se na visão de que tais leis eram atos administrativos em sentido material, ou seja, eram</p><p>leis com objeto determinado e destinatário certo.</p><p>📌 Mudanças na Jurisprudência: Contudo, houve uma evolução na jurisprudência do STF.</p><p>Inicialmente, a Corte admitia o controle em abstrato se fosse demonstrado um "certo grau de abstração e</p><p>generalidade" da lei orçamentária. Esse entendimento foi evidenciado em casos como a ADI 2.925, onde se</p><p>discutia a abstração da norma relacionada à suplementação de crédito para reforço de dotações vinculadas aos</p><p>recursos da CIDE-Combustíveis.</p><p>📌Reconhecimento do Controle de Constitucionalidade: Com o tempo, a jurisprudência evoluiu</p><p>ainda mais, passando a admitir o controle de constitucionalidade das leis orçamentárias. O STF reconheceu a</p><p>sua responsabilidade de fiscalizar a constitucionalidade das leis, independentemente do caráter geral ou</p><p>específico, concreto ou abstrato de seu objeto. Destaca-se o caso da ADI 4.048-MC, em que o STF suspendeu a</p><p>vigência da Lei n. 11.658/2008, demonstrando uma mudança significativa na abordagem do tribunal.</p><p>📌Natureza Aparentemente Concreta da Lei Orçamentária: A aparente natureza concreta da lei</p><p>orçamentária é destacada como um ponto-chave nesta discussão. Embora seja um ato de efeito concreto na</p><p>aparência, o STF entende que, para ser executada, depende da edição de muitos outros atos que são, de fato,</p><p>de efeito concreto.</p><p>📌Comparação com a Abertura de Crédito Extraordinário: O STF equipara a abertura de crédito</p><p>extraordinário à lei orçamentária. Mesmo sendo uma medida provisória, pode ser questionada por ADI, como</p><p>evidenciado nos casos da ADI 4.048 e 4.049.</p><p>88 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 165.</p><p>87 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 165.</p><p>61</p><p>📌Pendência de Julgamento e Tendências Futuras: Em dois julgamentos anteriores, identificados</p><p>como ADI 4.048 e ADI 4.049, a conclusão foi de que as ações eram prejudicadas devido à perda superveniente</p><p>do objeto. Isso ocorreu porque, conforme estipulado no artigo 167, parágrafo 2º, os créditos extraordinários</p><p>abertos já haviam sido utilizados ou perderam sua validade. Portanto, nota-se uma tendência de mudança na</p><p>orientação da Corte, conforme evidenciado nos julgamentos das cautelares.</p><p>7.1.2.17. RESOLUÇÕES DO CNJ E DO CNMP89</p><p>As resoluções do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Conselho Nacional do Ministério Público</p><p>(CNMP), instituídos pela Reforma do Poder Judiciário (EC n. 45/2004), são instrumentos normativos que podem</p><p>ser elaborados no exercício de suas atribuições constitucionais e regimentais. O Supremo Tribunal Federal (STF)</p><p>reconhece que algumas dessas resoluções, como a que proíbe o nepotismo e a que veda a recusa de</p><p>habilitação para casamento entre pessoas do mesmo sexo, possuem características de generalidade,</p><p>impessoalidade e abstração.</p><p>O STF entende que tais resoluções têm natureza jurídica de ato normativo primário, inovando a</p><p>ordem jurídica com base em parâmetros constitucionais. Dessa forma, essas resoluções podem ser</p><p>submetidas a controle concentrado por meio de Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) genérica. A</p><p>jurisprudência da Corte veda a impetração de mandado de segurança para questionar esses atos</p><p>normativos primários, considerando-os como "leis" em tese, conforme estabelecido na Súmula 266/STF.</p><p>7.1.2.18. ATO ADMINISTRATIVO NORMATIVO GENÉRICO (ADI 3.202 — AGRAVO</p><p>REGIMENTAL EM PROCESSO ADMINISTRATIVO)90</p><p>No ano de 2014, a ADI 3.202 foi julgada pelo Plenário. O cerne da questão estava relacionado à</p><p>concessão de gratificação por trabalho científico, técnico ou administrativo a servidores do TJRN que, baseados</p><p>em precedentes, buscaram igual reconhecimento.</p><p>Dois servidores, respaldados por precedentes paradigmáticos, solicitaram administrativamente a</p><p>mesma gratificação. Inicialmente, o pedido foi negado. Contudo, ao interpor agravo regimental no Processo</p><p>Administrativo n. 102.138/2003, o Plenário do TJRN reverteu a decisão, estendendo o benefício aos agravantes e</p><p>a outros servidores em situação análoga.</p><p>A reviravolta no processo administrativo levantou uma questão crucial: a decisão que estendeu os</p><p>efeitos a todos os servidores em situação idêntica poderia ser submetida ao controle abstrato de</p><p>constitucionalidade através de uma ADI genérica? Estaríamos diante de um Ato Administrativo Normativo</p><p>Genérico? A Corte, por expressiva maioria (9 x 1), entendeu que sim, e, portanto, a extensão poderia ser</p><p>objeto de controle concentrado de constitucionalidade por meio da ADI genérica, já que, como bem colocou o</p><p>Min. Celso de Mello, trata-se de “ato impregnado de suficiente densidade normativa, considerados os</p><p>aspectos de generalidade abstrata e de impessoalidade que o tipificam”.</p><p>90 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 166.</p><p>89 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 165.</p><p>62</p><p>7.1.3. ELEMENTOS ESSENCIAIS DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE91</p><p>Neste tópico, abordaremos os elementos essenciais do controle de constitucionalidade.</p><p>Especificamente, analisaremos dois elementos destacados pelo Ministro Celso de Mello no julgamento da ADI</p><p>595-ES.</p><p>◾O primeiro elemento, denominado elemento conceitual, aborda a determinação da própria ideia</p><p>de Constituição e a definição das premissas jurídicas, políticas e ideológicas que lhe conferem consistência. Para</p><p>o Ministro Celso de Mello, trata-se do processo de aferição da compatibilidade vertical das normas inferiores</p><p>em relação ao "modelo constitucional" ou vínculo de ordem jurídica, fundamentado no princípio da supremacia</p><p>da Constituição.</p><p>Há duas perspectivas neste contexto: a ampliativa e a restritiva. A visão ampliativa abrange não</p><p>apenas normas formalmente constitucionais, mas também princípios não escritos da "ordem constitucional</p><p>global" e valores suprapositivos. O Ministro Celso de Mello destaca a relevância dos valores suprapositivos,</p><p>afirmando que a Constituição deve ser entendida em função do espírito que a anima, afastando-se de uma</p><p>concepção minimalista.</p><p>⚠ ATENÇÃO</p><p>Na ADI 595-ES, que teve como relator o Min. Celso De Mello, foi mencionado o professor J.J. Gomes</p><p>Canotilho, que expõem sobre o parâmetro do controle de constitucionalidade incluindo também os princípios</p><p>não escritos na Constituição.</p><p>"Todos os atos normativos devem estar em conformidade com a Constituição (art. 3.º/3). Significa isto que os</p><p>actos legislativos e restantes actos normativos devem estar subordinados, formal, procedimental e</p><p>substancialmente, ao parâmetro constitucional. (...) (1) o parâmetro constitucional equivale à constituição</p><p>escrita ou leis com valor constitucional formal, e daí que a conformidade dos actos normativos só possa ser</p><p>aferida, sob o ponto de vista da sua constitucionalidade ou inconstitucionalidade, segundo as normas e</p><p>princípios escritos da constituição (ou de outras leis formalmente constitucionais); (2) o parâmetro</p><p>constitucional é a ordem constitucional global, e, por isso, o juízo de legitimidade constitucional dos actos</p><p>normativos deve fazer-se não apenas segundo as normas e princípios escritos das leis constitucionais,</p><p>mas também tendo em conta princípios não escritos integrantes da ordem constitucional global."</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Nesse sentido, para prova para o cargo de Delegado de Polícia Federal (Ano: 2021, CESPE/CEBRASPE) foi</p><p>considerada correta a assertiva que dizia:</p><p>“Conforme o conceito de bloco de constitucionalidade, há normas constitucionais não expressamente incluídas</p><p>no texto da CF que podem servir como paradigma para o exercício de controle de constitucionalidade.”</p><p>◾O segundo elemento, o elemento temporal, é crucial para determinar a contemporaneidade do</p><p>padrão de confronto supostamente desrespeitado. É necessário verificar se o padrão ainda vigora, pois sua</p><p>ausência descaracteriza o fator de contemporaneidade, essencial para a verificação da constitucionalidade.</p><p>91 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 166.</p><p>63</p><p>◾O elemento temporal é analisado tanto na revogação da lei cuja constitucionalidade é questionada</p><p>quanto na alteração do parâmetro constitucional invocado. Ou seja, é preciso considerar se a norma</p><p>questionada ainda está em vigor e se o parâmetro constitucional permanece o mesmo.</p><p>Para maior aprofundamento do tema, recomendamos a leitura integral do acórdão (ADI 595-ES (Inf.</p><p>258/STF).</p><p>📌 Bloco de Constitucionalidade:</p><p>O conceito de "bloco de constitucionalidade" surge como o parâmetro para a confrontação e aferição</p><p>da constitucionalidade. Duas perspectivas se destacam: a restritiva, que se limita às normas expressas na</p><p>Constituição, e a ampliativa, que inclui normas formais e materialmente constitucionais, como tratados e</p><p>convenções internacionais sobre direitos humanos.</p><p>Com o advento da Emenda Constitucional n. 45/2004, houve uma ampliação do "bloco de</p><p>constitucionalidade", incorporando tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos aprovados</p><p>pelo Congresso Nacional. Outros exemplos, como as Emendas Constitucionais 91/2016 e 106 e 107/2020,</p><p>demonstram a dinâmica desse conceito, destacando a mutabilidade do bloco de constitucionalidade.</p><p>7.1.4. TEORIA DA TRANSCENDÊNCIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES92</p><p>TEORIA DA TRANSCENDÊNCIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES93</p><p>Obiter dictum são comentários laterais, de</p><p>passagem, que não influem na decisão. Portanto, não</p><p>vinculam para fora do processo.</p><p>Ratio decidendi é a fundamentação essencial que</p><p>ensejou aquele determinado resultado da ação.</p><p>● Transcendência é da ratio decidendi</p><p>📌Distinção entre "Ratio Decidendi" e "Obiter Dictum": Antes de nos aprofundarmos na teoria da</p><p>transcendência, é importante compreender a distinção entre "Ratio Decidendi" e "Obiter Dictum". O "Obiter</p><p>Dictum" refere-se a comentários laterais, observações que não influenciam diretamente na decisão e são</p><p>dispensáveis. Por outro lado, a "Ratio Decidendi," ou holding, é a fundamentação essencial que levou ao</p><p>resultado da ação. Nesse contexto, a teoria da transcendência foca nos efeitos irradiantes ou transbordantes</p><p>dos motivos determinantes, conferindo vinculação a outros julgamentos.</p><p>Um exemplo elucidativo é o julgamento da ADI 3.345/DF, que declarou constitucional a Resolução do</p><p>TSE que reduziu o número de vereadores em todo o país. O STF conferiu "efeito transcendente aos próprios</p><p>motivos determinantes", estendendo a influência da decisão para além do caso em questão.</p><p>📌 Decisões Relevantes e Posição do STF: É importante notar que a técnica da transcendência dos</p><p>motivos determinantes não é aplicada de maneira uniforme. No julgamento da Rcl 10.604 (08.09.2010), o STF</p><p>afastou a técnica do transbordamento dos motivos determinantes. O Ministro Ayres Britto, em seu voto,</p><p>93 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 167.</p><p>92 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 167.</p><p>64</p><p>destacou que essa abordagem poderia implicar prestígio máximo ao STF e desprestígio aos órgãos da</p><p>judicatura de base, contrapondo-se à essência do regime democrático.</p><p>📌Crítica e Revisão à Luz do CPC/2015: Recentemente, a teoria da transcendência dos motivos</p><p>determinantes foi objeto de crítica à luz do Código de Processo Civil de 2015. Alguns juristas, como Barroso e</p><p>Mello, argumentam que a eficácia transcendente da fundamentação precisa ser revisitada com base nos artigos</p><p>927 e 988 do CPC/2015. A discussão se intensifica sobre a extensão da vinculação das decisões, especialmente</p><p>quando a lei processual amplia os efeitos vinculantes.</p><p>📌Diante do exposto, pode-se</p><p>dizer que o STF passou a adotar a teoria da transcendência dos motivos</p><p>determinantes?</p><p>NÃO. Segundo a teoria da transcendência dos motivos determinantes, além do dispositivo, os motivos</p><p>determinantes (ratio decidendi) da decisão também seriam vinculantes. O STF chega mais próximo à teoria da</p><p>transcendência dos motivos determinantes, mas não se pode afirmar categoricamente que esta passou a ser</p><p>adotada pelo Tribunal. Penso que não seja uma posição segura para se adotar em provas, considerando que</p><p>não houve afirmação expressa nesse sentido.</p><p>7.1.5. TEORIA DA INCONSTITUCIONALIDADE POR “ARRASTAMENTO” OU</p><p>“ATRAÇÃO”94</p><p>É também chamada de “inconstitucionalidade consequente de preceitos não impugnados”, ou</p><p>inconstitucionalidade consequencial, ou inconstitucionalidade consequente ou derivada, ou</p><p>“inconstitucionalidade por reverberação normativa”</p><p>A Teoria da Inconstitucionalidade por "Arrastamento" ou "Atração" é um conceito fundamental para</p><p>compreender como decisões proferidas em processos de controle concentrado de constitucionalidade podem</p><p>ter repercussões além do caso específico, interligando normas dependentes e estabelecendo uma relação de</p><p>instrumentalidade entre elas.</p><p>📌 Definição e Contexto: A teoria em questão aborda a ideia de que, se uma norma principal for</p><p>declarada inconstitucional em um processo anterior, normas futuras dependentes dessa principal também</p><p>serão consideradas inconstitucionais. Isso ocorre em virtude da relação de instrumentalidade que existe entre</p><p>essas normas. Esta teoria está intimamente ligada aos limites objetivos da coisa julgada e à produção dos</p><p>efeitos erga omnes.</p><p>📌Implicações Práticas: Imagine que em um processo de controle concentrado uma norma principal é</p><p>julgada inconstitucional. A teoria do "arrastamento" determina que, em processos futuros, outras normas</p><p>dependentes dessa norma principal também serão consideradas inconstitucionais. Isso não apenas impede que</p><p>a mesma pretensão seja julgada novamente, mas também vincula a norma consequente e dependente tanto ao</p><p>dispositivo da sentença quanto à ratio decidendi, invocando a "teoria dos motivos determinantes"</p><p>94 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 168.</p><p>65</p><p>📌Aplicação em Processos Distintos e no Mesmo Processo: A técnica do "arrastamento" pode ser</p><p>aplicada tanto em processos distintos quanto no mesmo processo. No próprio momento da decisão, a Corte</p><p>pode definir quais normas estão sendo atingidas. Por meio do "arrastamento," reconhece a invalidade das</p><p>normas que estão "contaminadas," mesmo na ausência de pedido expresso na petição inicial.</p><p>📌Caso de Decreto Fundamentado em Lei Inconstitucional: Uma aplicação interessante dessa teoria</p><p>ocorre quando um decreto se fundamenta em uma lei declarada inconstitucional. O STF tem utilizado a</p><p>inconstitucionalidade por "arrastamento" para declarar a invalidade desse decreto, mesmo que o decreto em si</p><p>não possa ser isoladamente objeto de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI).</p><p>📌 Exemplos Práticos na Jurisprudência: A jurisprudência do STF oferece exemplos práticos dessa</p><p>teoria. Em alguns casos, a declaração de inconstitucionalidade de um dispositivo implicou na declaração de</p><p>inconstitucionalidade de outros dispositivos conectados hierarquicamente. O Ministro Ayres Britto, em seu voto</p><p>na ADI 1.923 e na ADI 4.357, referiu-se a essa situação como "inconstitucionalidade por reverberação</p><p>normativa."</p><p>📌 Desafios e Revisitação da Regra da Congruência: O instituto do "arrastamento" representa uma</p><p>exceção à regra de que o juiz deve ater-se aos limites da lide fixados na exordial. Há uma revisitação da regra da</p><p>congruência entre o pedido e a sentença, decorrente do princípio dispositivo. O art. 10 do CPC/2015 destaca a</p><p>importância de abrir prazo para que as partes se pronunciem sobre a perspectiva de nulificação de norma em</p><p>razão da técnica do "arrastamento."</p><p>7.1.6. LEI “AINDA CONSTITUCIONAL”, OU “INCONSTITUCIONALIDADE</p><p>PROGRESSIVA”, OU “DECLARAÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE DE NORMA EM</p><p>TRÂNSITO PARA A INCONSTITUCIONALIDADE”95</p><p>7.1.6.1. A INSTITUIÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA PELA CF/88 E A SUA</p><p>POTENCIALIZAÇÃO PELA EC N. 80/201496</p><p>📌 Base Constitucional:</p><p>◾Assistência Jurídica Integral e Gratuita: O art. 5.º, LXXIV, da CF/88 assegura assistência jurídica</p><p>integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos. Essa garantia é instrumentalizada pela</p><p>Defensoria Pública, instituída pela CF/88.</p><p>◾Ampliação pela EC n. 80/2014: A EC n. 80/2014 fortaleceu a Defensoria Pública, acrescentando o art.</p><p>134, que a reconhece como instituição permanente e essencial à função jurisdicional do Estado. Sua atuação</p><p>abrange a orientação jurídica, promoção dos direitos humanos e defesa judicial e extrajudicial dos direitos</p><p>96 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 169.</p><p>95 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 169.</p><p>66</p><p>individuais e coletivos.</p><p>📌 Efetiva Instalação e Desafios:</p><p>◾Tempo para Efetiva Instalação: A Defensoria Pública, por ser instituída pela CF/88, demanda tempo</p><p>para efetiva instalação em âmbito federal, estadual ou distrital.</p><p>◾EC n. 80/2014 e Prazo para Defensores Públicos: A EC n. 80/2014, ao adicionar o art. 98 ao ADCT,</p><p>estabeleceu um prazo de 8 anos para que União, Estados e Distrito Federal contassem com defensores</p><p>públicos em todas as unidades jurisdicionais. Durante esse período, a lotação prioriza regiões com maiores</p><p>índices de exclusão social e adensamento populacional.</p><p>📌 Questões Práticas Enfrentadas pelo STF:</p><p>◾Prazo em Dobro para Defensoria Pública no Processo Penal: O STF enfrentou a questão do "prazo</p><p>em dobro" para a Defensoria Pública no processo penal. A prerrogativa, válida enquanto a Defensoria não</p><p>estiver eficazmente organizada, visa equilibrar sua atuação em relação ao Ministério Público.</p><p>📌Ação Civil "Ex Delicto" Ajuizada pelo MP e o Art. 68 do CPP: O art. 68 do CPP estabelce: “quando o</p><p>titular do direito à reparação do dano for pobre (art. 32, §§ 1.º e 2.º), a execução da sentença condenatória (art.</p><p>63) ou a ação civil (art. 64) será promovida, a seu requerimento, pelo Ministério Público”. Considerando a</p><p>transferência constitucional de atribuições para a Defensoria Pública, o STF entende que o art. 68 do CPP está</p><p>em transição para a "inconstitucionalidade".</p><p>A terminologia "lei ainda constitucional" é utilizada pelo STF, indicando a progressiva revogação por não</p><p>recepção.</p><p>O professor Pedro lenza explica que “ terminologia utilizada pela Suprema Corte não é a mais</p><p>adequada, uma vez que, por se tratar de ato editado antes de 1988 (art. 68 do CPP), referido dispositivo seria</p><p>revogado por não recepção. Trata-se, assim, em razão das circunstâncias, de reconhecida modulação do</p><p>momento de revogação do ato normativo pré-constitucional, e por isso preferimos a denominação lei ainda</p><p>constitucional e em trânsito para revogação por não recepção”.</p><p>7.1.6.2. PROCEDIMENTO DE APROVAÇÃO DAS MEDIDAS PROVISÓRIAS:</p><p>APRECIAÇÃO PELA COMISSÃO MISTA NOS TERMOS DO ART. 62, § 9.º, DA CF/88.</p><p>ARTS. 5.º, “CAPUT”, E 6.º, “CAPUT”, E §§ 1.º E 2.º, DA RES. N. 1/2002-CN97</p><p>📌Resolução n. 1/2002-CN:</p><p>◾Disposições sobre Apreciação de Medidas Provisórias: A Resolução n. 1/2002-CN integra o</p><p>Regimento Comum e regulamenta a apreciação, pelo Congresso Nacional, de medidas provisórias adotadas</p><p>pelo Presidente da República, com força de lei, conforme o art. 62 da CF/88.</p><p>◾Competência da Comissão Mista: Arts. 5.º, caput, e 6.º, caput, e §§ 1.º e 2.º, da Resolução permitiam</p><p>que o parecer da comissão mista fosse emitido por relator ou relator revisor designado.</p><p>97 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 170.</p><p>67</p><p>📌Decisão do STF sobre a Inconstitucionalidade:</p><p>◾Interpretação Restritiva do Art. 62, § 9.º, da CF/88: O Min. Ayres Britto destacou que as medidas</p><p>provisórias conferem ao Presidente da República um poder excepcional de produção de norma primária,</p><p>inovadora e abaixo da Constituição.</p><p>◾Inconstitucionalidade do Procedimento da Resolução n. 1/2002-CN: O STF, diante do art. 62, § 9.º,</p><p>da CF/88, declarou inconstitucional o procedimento da Resolução n. 1/2002-CN que permitia a emissão de</p><p>parecer por relator nomeado, e não pela comissão mista.</p><p>📌Desdobramentos e Impasse:</p><p>◾Uso Inconstitucional ao Longo dos Anos: O professer Lenza explica que o Congresso Nacional</p><p>adotou esse "costume" (inconstitucional) por mais de 10 anos, não seguindo a regra de atuação da comissão</p><p>mista, contentando-se com a permissão de parecer por relator designado.</p><p>◾Decisão de Gilmar Mendes: O Min. Gilmar Mendes havia flexibilizado a exigência do art. 62, § 9.º, da</p><p>CF/88, considerando o estágio de consolidação do novo modelo trazido pela Emenda 32.</p><p>📌Modulação dos Efeitos da Decisão:</p><p>◾Aplicação do Art. 27 da Lei n. 9.868/99: O STF, para evitar insegurança jurídica e diante do</p><p>excepcional interesse social, aplicou o art. 27 da Lei n. 9.868/99 (modulação dos efeitos da decisão). A</p><p>inconstitucionalidade do procedimento fixado na Resolução n. 1/2002-CN foi declarada a partir do julgamento</p><p>da ADI 4.029 (08.03.2012) — efeito ex nunc.</p><p>7.1.7. “INCONSTITUCIONALIDADE CIRCUNSTANCIAL”98</p><p>📌 Definição: A inconstitucionalidade circunstancial, também conhecida como inconstitucionalidade</p><p>axiológica, refere-se à declaração de inconstitucionalidade de uma norma devido à sua aplicação em uma</p><p>situação particular. Em outras palavras, mesmo que a lei seja válida em sua formulação geral, ela pode se tornar</p><p>inconstitucional quando confrontada com circunstâncias específicas.</p><p>Conforme destaca Barcellos, essa inconstitucionalidade surge quando um enunciado normativo, válido</p><p>em teoria e na maioria de suas aplicações, produz uma norma inconstitucional ao ser aplicado a uma situação</p><p>concreta. É importante ressaltar que a complexidade dos efeitos desejados pela norma e a multiplicidade de</p><p>circunstâncias podem justificar diferentes condutas, dando origem a normas diversas.</p><p>📌 Exemplo Prático: ADI 223: Para ilustrar esse conceito, consideremos o caso da Ação Direta de</p><p>Inconstitucionalidade (ADI) 223. Nessa ação, discutia-se a constitucionalidade de normas que proibiam a</p><p>concessão de tutela antecipada e liminares em face da Fazenda Pública. Barcellos nos fornece um exemplo</p><p>interessante para compreender a inconstitucionalidade circunstancial.</p><p>98 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 171.</p><p>68</p><p>📌 Imaginemos duas situações distintas:</p><p>a) Reenquadramento de servidor público;</p><p>b) Concessão de tutela antecipada para que o Estado custeasse cirurgia de vida ou morte.</p><p>📌 Análise Comparativa: Barcellos destaca que a análise do Judiciário seria diferente para cada uma</p><p>dessas situações. Enquanto o reenquadramento de servidor público poderia se adequar à norma, a concessão</p><p>de tutela antecipada para casos de urgência médica se depararia com uma circunstância na qual a lei seria</p><p>considerada inconstitucional. Esse entendimento se fundamenta especialmente no princípio do acesso à justiça,</p><p>previsto no art. 5.º, XXXV da Constituição.</p><p>7.1.8. O EFEITO VINCULANTE PARA O LEGISLATIVO E O INCONCEBÍVEL</p><p>FENÔMENO DA “FOSSILIZAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO”. POSSIBILIDADE DE</p><p>REVERSÃO LEGISLATIVA DA JURISPRUDÊNCIA DA CORTE. A DENOMINADA</p><p>“MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL PELA VIA LEGISLATIVA”99</p><p>📌Efeito Vinculante em ADI e ADC: Conforme já estudamos anteriormente, o efeito vinculante em</p><p>Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADI) e Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADC) produz eficácia</p><p>contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública</p><p>direta e indireta, em todas as esferas governamentais. Contudo, é crucial compreender que, na visão do</p><p>Supremo Tribunal Federal (STF), esse efeito não atinge o Poder Legislativo em sua função típica de legislar.</p><p>📌Fossilização da Constituição: O Ministro Cezar Peluso, ao analisar a possibilidade de estender o</p><p>efeito vinculante ao Legislativo em sua função típica, alerta para o que ele denomina de "inconcebível fenômeno</p><p>da fossilização da Constituição". Isso significa que se o Legislativo fosse vinculado de forma estrita às decisões</p><p>do STF, estaríamos diante de um risco real de petrificação da evolução social, pois a segurança jurídica,</p><p>materializada pela ampliação dos efeitos vinculantes, sacrificaria o valor justiça da decisão.</p><p>📌Possibilidade de Reversão Legislativa: Dentro desse contexto, é importante destacar que o</p><p>Legislativo tem a prerrogativa de legislar de maneira divergente ou mesmo contrária às decisões do STF. Essa</p><p>autonomia legislativa é fundamental para preservar o dinamismo do ordenamento jurídico e evitar a sua</p><p>estagnação. O valor da segurança jurídica, ao ser ampliado, não pode comprometer a capacidade do Legislativo</p><p>de promover atualizações necessárias à luz das mudanças sociais.</p><p>📌Mutação Constitucional pela Via Legislativa: O Ministro Fux reconhece a possibilidade de reversão</p><p>legislativa da jurisprudência da Corte, estabelecendo diferentes abordagens de acordo com o instrumento</p><p>utilizado. A emenda constitucional corretiva, por exemplo, modifica formalmente o texto constitucional,</p><p>enquanto a legislação infraconstitucional que colide com a jurisprudência pode ser submetida a um escrutínio</p><p>99 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 172.</p><p>69</p><p>mais rigoroso de constitucionalidade. Esse fenômeno é conhecido como "mutação constitucional pela via</p><p>legislativa", onde novas leis podem modificar entendimentos jurisprudenciais.</p><p>7.1.9. CRIAÇÃO DO MUNICÍPIO DE LUÍS EDUARDO MAGALHÃES — ADI 2.240/BA</p><p>100</p><p>📌Contextualização do Caso: A ADI 2.240 foi ajuizada pelo PT contra a Lei n. 7.619/2000, do Estado da</p><p>Bahia, que tratava do processo de criação do Município de Luís Eduardo Magalhães, resultante do</p><p>desmembramento de uma área do Município de Barreiras. Dentre os principais argumentos de</p><p>inconstitucionalidade, destacava-se a violação ao art. 18, § 4.º, da Constituição Federal (CF).</p><p>Pontos de Inconstitucionalidade Apontados:</p><p>● Criação do Município em ano de eleições municipais.</p><p>● Ausência de lei complementar federal fixando período para a criação de Municípios.</p><p>● Falta de realização de consulta prévia plebiscitária com a totalidade da população envolvida no</p><p>processo.</p><p>● Publicação dos estudos de viabilidade municipal em momento posterior ao plebiscito.</p><p>📌Voto do Ministro Eros Grau: O relator, Ministro Eros Grau, reconheceu a inconstitucionalidade da</p><p>lei, mas, de forma excepcional, julgou improcedente o pedido. Ele fundamentou sua decisão em vários</p><p>"princípios":</p><p>● Município putativo, assemelhando-se ao casamento putativo e à sociedade de fato.</p><p>● Princípio da "reserva do impossível", alegando que anular a decisão política de criação do</p><p>Município avançaria sobre a "reserva do impossível" sem agredir o princípio federativo.</p><p>● Princípio da continuidade do Estado, que não se confunde com a continuidade do serviço</p><p>público.</p><p>● Princípio federativo, justificando a não anulação da decisão política institucional.</p><p>● Princípio da segurança jurídica, assegurando a preservação da existência do Município criado</p><p>há mais de 6 anos.</p><p>● Princípio da confiança (Karl Larenz) e da força normativa dos fatos (Georg Jellinek).</p><p>📌Contraponto: Voto do Ministro Gilmar Mendes: Em contraponto, o Ministro Gilmar Mendes</p><p>defendeu a inconstitucionalidade da Lei baiana n. 7.619/2000. No entanto, em vez de pronunciar a nulidade do</p><p>ato, o STF optou por declarar a inconstitucionalidade sem a pronúncia de nulidade, mantendo sua vigência por</p><p>mais 24 meses. Essa técnica buscou conciliar o princípio da nulidade da lei com a garantia</p><p>da segurança</p><p>jurídica.</p><p>📌Constitucionalidade Superveniente e Efeito Prospectivo: O professor Pedro Lenza explica que a</p><p>100 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 172.</p><p>70</p><p>decisão do STF parece introduzir uma possibilidade inédita do fenômeno da constitucionalidade</p><p>superveniente. Isso permite que uma lei inicialmente viciada seja corrigida mediante um procedimento futuro</p><p>de adequação aos requisitos constitucionais. O prazo de 24 meses foi estabelecido para corrigir os vícios,</p><p>aguardando a elaboração de uma lei complementar federal.</p><p>7.1.10. PROIBIÇÃO DO “ATALHAMENTO CONSTITUCIONAL” E DO “DESVIO DE</p><p>PODER CONSTITUINTE” (UTILIZAÇÃO DE MEIO APARENTEMENTE LEGAL</p><p>BUSCANDO ATINGIR FINALIDADE ILÍCITA)101</p><p>📌Contextualização da EC n. 52/2006: A EC n. 52/2006 trouxe uma significativa mudança ao modificar</p><p>o art. 17, § 1.º, da Constituição Federal (CF/88), garantindo autonomia aos partidos políticos para definir sua</p><p>estrutura interna, organização e funcionamento, assim como os critérios de escolha e o regime de suas</p><p>coligações eleitorais. Essa emenda eliminou a obrigatoriedade de vinculação entre candidaturas em âmbito</p><p>nacional, estadual, distrital ou municipal, proporcionando maior flexibilidade aos partidos.</p><p>📌Desafio Constitucional: Art. 16 da CF/88 e a Anualidade Eleitoral: No entanto, a EC n. 52/2006</p><p>enfrentou um desafio constitucional relacionado ao art. 16 da CF/88, que estabelece a anualidade eleitoral. Esse</p><p>artigo visa assegurar a estabilidade e a segurança jurídica do processo eleitoral, determinando que alterações</p><p>no processo eleitoral só entrem em vigor um ano após sua publicação.</p><p>📌Manobra Constitucional: "Desvio de Poder Constituinte": A estratégia utilizada pela EC n.</p><p>52/2006, expressa no art. 2.º, foi aplicar retroativamente as mudanças às eleições de 2002, visando contornar a</p><p>regra de anualidade estabelecida pelo art. 16. O Ministro Ricardo Lewandowski, em seu voto, caracteriza essa</p><p>manobra como um "desvio de poder constituinte", um expediente que busca atingir um fim ilícito por meio de</p><p>um meio aparentemente legal.</p><p>📌Conceito de "Desvio de Poder" e "Atalhamento Constitucional": O termo "desvio de poder" é</p><p>equiparado ao conceito francês de "détournement de pouvoir", indicando o uso inadequado do poder,</p><p>desvirtuando sua finalidade. No contexto alemão, é denominado "Verfassunsbeseitigung" ou "atalhamento da</p><p>Constituição". Isso refere-se a qualquer artifício que busca enfraquecer, suavizar, abreviar, dificultar ou impedir</p><p>a plena aplicação dos preceitos constitucionais.</p><p>7.1.11. INCONSTITUCIONALIDADE “CHAPADA”, “ENLOUQUECIDA”,</p><p>“DESVAIRADA”102</p><p>O termo "chapada" foi introduzido pelo Ministro Sepúlveda Pertence para descrever uma</p><p>inconstitucionalidade extremamente evidente, clara e flagrante, sem qualquer margem para dúvida quanto ao</p><p>vício, seja ele formal ou material. Essa expressão tem sido adotada por outros Ministros, notavelmente no</p><p>102 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 173.</p><p>101 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 174.</p><p>71</p><p>contexto de decisões como ADI 2.527, ADI 3.715, ADI 1.923-MC e ADI 1.802-MC, seguindo a abordagem</p><p>inaugurada pelo Min. Pertence.</p><p>O Ministro Carlos Britto inovou ao utilizar termos como "enlouquecida" e "desvairada" para caracterizar</p><p>uma inconstitucionalidade manifesta, como observado no caso específico da ADI 3.232. Essas expressões</p><p>sugerem um grau ainda mais acentuado de evidência e clareza na contrariedade à Constituição.</p><p>7.1.12. INÍCIO DA EFICÁCIA DA DECISÃO QUE RECONHECE A</p><p>INCONSTITUCIONALIDADE OU A CONSTITUCIONALIDADE DE LEI EM</p><p>PROCESSO OBJETIVO DE CONTROLE ABSTRATO103</p><p>📌 Princípio Geral de Início da Eficácia: De maneira geral, o STF estabelece que a decisão passa a</p><p>valer a partir da publicação da ata de julgamento no Diário de Justiça Eletrônico (DJE). Essa regra é adotada,</p><p>sendo desnecessário aguardar o trânsito em julgado, exceto em casos excepcionais que serão examinados pelo</p><p>Presidente do Tribunal.</p><p>📌 Fundamentação Jurisprudencial: Destacamos o entendimento consolidado do STF por meio de</p><p>decisões emblemáticas. Na ADI 711-QO, a Corte estabeleceu que a decisão proferida em ADI é válida a partir da</p><p>publicação da ata de julgamento no DJE. Esse critério também foi aplicado em outras decisões, como na Rcl</p><p>2.576 e ADI 3.756-ED.</p><p>📌 Distinção entre Ata de Julgamento e Acórdão: É fundamental não confundir a publicação da ata</p><p>de julgamento com a publicação do acórdão. No contexto das ações objetivas de controle de</p><p>constitucionalidade, a eficácia da decisão começa com a publicação da ata de julgamento. A partir desse</p><p>momento, a decisão já produz efeitos, inclusive para a interposição de eventuais reclamações.</p><p>📌Momento de Interposição de Recursos: Após a publicação da ata de julgamento, o próximo passo</p><p>é a publicação do acórdão. Esse é o momento em que se inicia o prazo para a interposição de recursos, como</p><p>os embargos declaratórios nos processos objetivos em análise. Vale ressaltar que mesmo antes do trânsito em</p><p>julgado, a decisão já produz efeitos, não impedindo sua implementação.</p><p>📌Importância da Publicação Rápida: Diante da necessidade de abreviar o período entre a publicação</p><p>da ata de julgamento e a do acórdão, foi implementada a Portaria n. 536/STF, de 16.10.2014. Essa medida visa</p><p>garantir a celeridade na publicação de acórdãos e já apresenta resultados significativos.</p><p>📌 Jurisprudência: Decisões Relevantes: Destacamos jurisprudência relevante, como na Rcl</p><p>3.632-AgR, em que se reafirma que o cabimento da reclamação não está condicionado à publicação do acórdão,</p><p>mas à publicação da ata de julgamento. Isso assegura a eficácia vinculante e a erga omnes da decisão desde a</p><p>sua divulgação.</p><p>103 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 175.</p><p>72</p><p>7.1.13. COMPETÊNCIA (ADI GENÉRICA)104</p><p>O art. 102, I, “a”, da CF/88 atribui ao Supremo Tribunal Federal (STF) a competência para processar e</p><p>julgar as ADIs que envolvem leis ou atos normativos federais ou estaduais que contrariem a Constituição</p><p>Federal.</p><p>Quando se trata de leis ou atos normativos estaduais ou municipais que contrariam a Constituição</p><p>Estadual, a competência é dos Tribunais de Justiça dos Estados (TJ). O art. 125, § 2.º, da CF/88 estabelece essa</p><p>competência, permitindo que cada estado crie seu sistema de controle concentrado.</p><p>No caso do Distrito Federal, a ausência de previsão expressa para o controle de constitucionalidade</p><p>das leis distritais demanda uma análise caso a caso. O controle concentrado pelo STF é possível de acordo com</p><p>a natureza da norma constitucional elaborada pelo Distrito Federal.</p><p>A Lei Orgânica do Distrito Federal é considerada um verdadeiro paradigma de confronto, permitindo o</p><p>controle concentrado de leis ou atos normativos distritais pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos</p><p>Territórios.</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Na prova para o cargo de Juiz de Direito do TJ-ES (Ano: 2023,FGV) foi apresentado o seguinte enunciado: “Em</p><p>razão de uma grande mobilização popular, o Estado Beta editou a Lei nº X, que delineou o alcance de</p><p>determinado direito social de grande importância para o trabalhador. Pouco tempo depois, o Partido Político</p><p>Alfa, cujo entendimento fora vencido no âmbito da Assembleia Legislativa de Beta, constatou que a Lei nº X</p><p>colidia materialmente com a Lei nº Y, editada pela União e que veiculara normas gerais sobre a matéria.</p><p>Ao ser instada a se pronunciar sobre a possibilidade de ser deflagrado o controle concentrado de</p><p>constitucionalidade, perante o tribunal nacional competente da União, para que a referida colidência fosse</p><p>reconhecida, com a correlata declaração de inconstitucionalidade da Lei nº X, a assessoria jurídica</p><p>do Partido</p><p>Político Alfa afirmou, corretamente, que:”</p><p>E foi considerada correta a assertiva que dizia: “caso a Lei nº Y seja anterior à Lei nº X, será possível a</p><p>deflagração do controle, apesar de a análise pressupor o cotejo com a norma interposta, vale dizer, a Lei nº Y;”.</p><p>7.1.14. LEGITIMIDADE (ADI GENÉRICA)105</p><p>Até 1988, o Procurador-Geral da República era o único legitimado. Contudo, a Constituição de 1988</p><p>ampliou esse rol, destacando diversos órgãos e entidades como legítimos para propor a ADI.</p><p>Vamos analisar os legitimados listados no artigo 103 da Constituição Federal de 1988, que são:</p><p>I. Presidente da República;</p><p>II. Mesa do Senado Federal;</p><p>III. Mesa da Câmara dos Deputados;</p><p>IV. Mesa de Assembleia Legislativa de Estado ou Mesa da Câmara Legislativa do Distrito Federal;</p><p>V. Governador de Estado ou do Distrito Federal;</p><p>105 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 180</p><p>104 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 175.</p><p>73</p><p>VI. Procurador-Geral da República;</p><p>VII. Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB);</p><p>VIII. Partido político com representação no Congresso Nacional;</p><p>IX. Confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.</p><p>Essa diversidade de legitimados reflete a complexidade e a amplitude das questões constitucionais que</p><p>podem ser levadas ao Supremo Tribunal Federal (STF) por meio da ADI genérica.</p><p>O STF estabelece que alguns legitimados, embora universais, devem demonstrar interesse na</p><p>representação em relação à sua finalidade institucional. Nesse contexto, destacam-se os membros</p><p>mencionados nos incisos IV, V e IX. As Mesas Legislativas e o Governador de Estado (ou do DF) são autores</p><p>interessados, enquanto confederações sindicais ou entidades de classe devem demonstrar interesse</p><p>relacionado à sua finalidade institucional.</p><p>A Emenda Constitucional n. 45/2004 promoveu alterações significativas ao incluir a Mesa da Câmara</p><p>Legislativa do Distrito Federal como legitimada e ao permitir que o Governador do Distrito Federal também</p><p>proponha a ADI genérica.</p><p>📌Situações específicas:</p><p>◾Associação de Associações: A legitimidade de uma "associação de associações" para a propositura</p><p>da ADI gerou debates e mudanças significativas na jurisprudência do STF. Inicialmente, a Suprema Corte negou</p><p>legitimidade à Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (ADEPOL) por ser considerada uma "associação de</p><p>associação." No entanto, essa posição evoluiu com o caso da Federação Nacional das Associações dos</p><p>Produtores de Cachaça de Alambique (FENACA), que questionou essa visão. O STF, sob a relatoria do Ministro</p><p>Sepúlveda Pertence, reconsiderou, argumentando que uma "associação de associações" pode ser reconhecida</p><p>como entidade de classe, desde que represente categorias sociais coesas no âmbito estadual.</p><p>◾Associações Representando Fração de Categoria Profissional: O entendimento do STF é claro em</p><p>relação às associações que representam uma fração de categoria profissional. Conforme estabelecido no Inf.</p><p>826/STF, essas associações não são legitimadas para instaurar o controle concentrado de constitucionalidade</p><p>de normas que extrapolam o universo de seus representados. O caso da Associação Nacional dos Magistrados</p><p>Estaduais (ANAMAGES) foi citado como exemplo, onde a Corte afirmou a ilegitimidade ativa dessa associação ao</p><p>questionar dispositivo da Lei Orgânica da Magistratura Nacional.</p><p>◾"Entidade de Classe" e Evolução da Jurisprudência do STF: A jurisprudência do STF, em um</p><p>primeiro momento, estabeleceu requisitos para caracterizar uma entidade como "entidade de classe" para</p><p>ajuizar ADI. Inicialmente, a homogeneidade era um requisito, mas essa perspectiva evoluiu. O STF, em</p><p>julgamentos como ADPF 527-MC, reconheceu a legitimação ativa da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays,</p><p>Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), mesmo não sendo uma categoria econômica ou</p><p>profissional. Essa mudança reflete uma visão mais aberta e inclusiva da representatividade adequada.</p><p>◾Perda de Representação do Partido Político no Congresso: O STF decidiu que a perda de</p><p>74</p><p>representação do partido político no Congresso Nacional, após o ajuizamento da ADI, não descaracteriza a</p><p>legitimidade ativa para o prosseguimento da ação. A Corte enfatizou que a aferição da legitimidade deve</p><p>ocorrer no momento da propositura da ação, mantendo a capacidade postulatória mesmo diante de mudanças</p><p>na representação política.</p><p>◾ Necessidade de Advogado na ADI: A questão da necessidade de advogado na ADI gerou debates e</p><p>posicionamentos divergentes no âmbito do STF. De acordo com a jurisprudência estabelecida, apenas partidos</p><p>políticos e confederações sindicais ou entidades de classe de âmbito nacional são obrigados a contratar</p><p>advogado para a propositura da ADI, conforme previsto nos artigos 103, VIII e IX da Constituição Federal.</p><p>◾Capacidade Postulatória dos Legitimados (Art. 103, I-VII): Os demais legitimados, previstos nos</p><p>incisos I a VII do artigo 103, possuem capacidade postulatória que decorre diretamente da Constituição. Em</p><p>outras palavras, esses agentes, como o Governador do Estado e outras autoridades referidas no artigo 103, têm</p><p>plena capacidade processual para instaurar o controle concentrado de constitucionalidade sem a necessidade</p><p>de contratar advogado.</p><p>◾ Decisão da 2.ª Turma do STF e Atos Técnicos: Contudo, uma decisão da 2.ª Turma do STF trouxe</p><p>uma perspectiva divergente. Alegando que a propositura de ADI é uma decisão política, essa turma sustentou</p><p>que somente os legitimados no artigo 103 da Constituição Federal, ou equivalentes nas constituições estaduais,</p><p>podem iniciar ações diretas de inconstitucionalidade. Entretanto, em relação aos atos técnicos subsequentes ao</p><p>ajuizamento da ação, argumentou-se que esses devem ser realizados pelos procuradores da parte legitimada.</p><p>Num momento subsequente, o Pleno do STF revisou essa questão, especialmente em relação à</p><p>interposição de recurso extraordinário contra acórdãos de Tribunais de Justiça que julgaram representações de</p><p>inconstitucionalidade. O entendimento estabelecido foi que os procuradores públicos têm capacidade</p><p>postulatória para interpor recursos extraordinários nessas situações, desde que o legitimado para a causa</p><p>outorgue poderes aos subscritores das peças recursais.</p><p>◾ Importância da Outorga de Poderes e Documentação Adequada: Portanto, destaca-se a</p><p>importância da outorga de poderes específicos e da documentação adequada para respaldar os atos</p><p>processuais. Mesmo em situações em que a petição de recurso extraordinário não tenha sido subscrita</p><p>diretamente pelos detentores dos cargos, como prefeito municipal, a manifestação inequívoca do chefe do</p><p>Poder Executivo conferindo poderes específicos aos procuradores foi considerada suficiente pelo Pleno do STF.</p><p>7.1.15. PROCEDIMENTO E CARACTERÍSTICAS MARCANTES DO PROCESSO</p><p>OBJETIVO (ADI GENÉRICA)106</p><p>📌Legitimidade e Requisitos Iniciais: A ADI genérica, conforme delineada nos §§ 1.º e 3.º do art. 103</p><p>da Constituição Federal de 1988, bem como nos arts. 169 a 178 do Regimento Interno do STF e na Lei n.</p><p>9.868/99, pode ser proposta por legitimados elencados no art. 103 da CF/88. A petição inicial deve conter a</p><p>106 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 180</p><p>75</p><p>indicação do dispositivo da lei ou ato normativo impugnado, fundamentos jurídicos, pedido detalhado e, se</p><p>subscrita por advogado, acompanhada de procuração.</p><p>📌 Análise do Pedido Inicial: O relator, ao receber a petição, pode liminarmente indeferi-la se for</p><p>inepta, não fundamentada ou manifestamente improcedente (art. 4.º da Lei n. 9.868/99). Contra essa decisão,</p><p>cabe agravo, a ser interposto no prazo de 15 dias, conforme o CPC/2015.</p><p>📌Informações e Manifestações: Não havendo indeferimento liminar, o relator</p><p>solicitará informações</p><p>aos órgãos responsáveis pela norma impugnada. Posteriormente, ouvirá o Advogado-Geral da União e o</p><p>Procurador-Geral da República. Outros órgãos podem se manifestar como amicus curiae.</p><p>📌Esclarecimentos Adicionais: O relator pode requisitar informações complementares, designar</p><p>peritos, realizar audiência pública e solicitar esclarecimentos aos Tribunais para melhor compreensão da</p><p>matéria.</p><p>📌Relatório e Julgamento: Após todas as fases preliminares, o relator elabora o relatório e agenda o</p><p>julgamento. A declaração de inconstitucionalidade ou constitucionalidade exige maioria absoluta de pelo menos</p><p>6 Ministros, observando o quórum mínimo de 8 dos 11 Ministros presentes.</p><p>📌Efeitos da Decisão: A decisão passa a valer a partir da publicação da ata da sessão no Diário da</p><p>Justiça Eletrônico (DJE). Não é necessário aguardar o trânsito em julgado, salvo em casos excepcionais.</p><p>📌Considerações Específicas da ADI Genérica:</p><p>◾Ausência de prazo em dobro ou diferenciado.</p><p>◾Inexistência de prazo prescricional ou decadencial.</p><p>◾Não admissão de assistência jurídica ou intervenção de terceiros, exceto amicus curiae.</p><p>◾Vedação expressa à desistência da ação.</p><p>◾Irrecorribilidade da decisão que declara a constitucionalidade ou inconstitucionalidade, salvo</p><p>embargos declaratórios.</p><p>◾Agravo cabível contra indeferimento da petição inicial.</p><p>◾Não rescindibilidade da decisão.</p><p>◾Não vinculação à tese jurídica (causa de pedir "aberta").</p><p>◾Inexistência de impedimento ou suspeição, exceto se o próprio Ministro manifestar foro íntimo.</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Nesse sentido, para prova para o cargo de Defensor Público - DPE-PI (Ano: 2022, CESPE/CEBRASPE) foi</p><p>considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “e”:</p><p>À luz do sistema brasileiro de controle de constitucionalidade e da jurisprudência do STF, assinale a opção</p><p>correta.</p><p>76</p><p>a. As hipóteses legais de impedimento e suspeição se aplicam, indistintamente, aos processos objetivo e</p><p>subjetivo de fiscalização de constitucionalidade.</p><p>b. O amicus curiae admitido em arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) tem</p><p>legitimidade para, no andamento do processo, pleitear a concessão de medida cautelar.</p><p>c. No julgamento de recurso extraordinário repetitivo com repercussão geral reconhecida, o quórum</p><p>exigido para modulação dos efeitos da decisão é de dois terços dos membros, independentemente de ter</p><p>havido ou não a declaração de inconstitucionalidade da lei ou do ato impugnado.</p><p>d. O aditamento à petição inicial de ação direta de inconstitucionalidade (ADI), com pedido de ampliação</p><p>do objeto da ação, é possível, desde que se proceda a nova requisição de manifestações da Advocacia-Geral da</p><p>União e da Procuradoria-Geral da República.</p><p>e. O regular processamento de ação direta de inconstitucionalidade (ADI) depende da apresentação de</p><p>procuração com poderes específicos pelo advogado signatário da petição inicial, não bastando procuração</p><p>genérica sem a indicação da lei.</p><p>⚠ ATENÇÃO</p><p>O Estado-membro não possui legitimidade para recorrer contra decisões proferidas em sede de</p><p>controle concentrado de constitucionalidade, ainda que a ADI tenha sido ajuizada pelo respectivo Governador.</p><p>A legitimidade para recorrer, nestes casos, é do próprio Governador (previsto como legitimado pelo art. 103 da</p><p>CF/88) e não do Estado-membro. STF. Plenário. ADI 4420 ED-AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em</p><p>05/04/2018.107</p><p>CF - Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de</p><p>constitucionalidade:</p><p>I - o Presidente da República;</p><p>II - a Mesa do Senado Federal;</p><p>III - a Mesa da Câmara dos Deputados;</p><p>IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;</p><p>V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal;</p><p>VI - o Procurador-Geral da República;</p><p>VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;</p><p>VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;</p><p>IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.</p><p>A decisão na ação direta tem EFEITO EX TUNC, salvo expressa deliberação em sentido contrário. Tem,</p><p>também, eficácia contra todos (ERGA OMNES) e EFEITO VINCULANTE em relação aos demais órgãos do Poder</p><p>Judiciário e à Administração Pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, conforme art.</p><p>102, § 3º, CF, introduzido pela EC 45/04.</p><p>107CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O Estado-membro não possui legitimidade para recorrer contra decisões proferidas em sede de controle</p><p>concentrado de constitucionalidade. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:</p><p>77</p><p>CF - ART. 102 § 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das</p><p>questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do</p><p>recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de 2/3 de seus membros.</p><p>De modo geral, o STF entende que a decisão passa a valer a partir da publicação da ata da sessão de</p><p>julgamento no DJE, sendo desnecessário aguardar o trânsito em julgado, exceto nos casos excepcionais a serem</p><p>examinados pelo Presidente do Tribunal, de maneira a garantir a eficácia da decisão.</p><p>🚩 NÃO CONFUNDA</p><p>DECISÃO CAUTELAR DECISÃO DEFINITIVA</p><p>Erga omnes (art. 21, Lei nº 9.868/99).</p><p>Erga omnes (art. 28, parágrafo único, Lei nº 9.868/99 e</p><p>art. 102, § 2º, CF).</p><p>Vinculante (art. 21, Lei nº 9.868/99).</p><p>Vinculante (art. 28, parágrafo único, Lei nº 9.868/99 e</p><p>art. 102, § 2º, CF)</p><p>Ex nunc (suspende, a partir da decisão, todos os</p><p>processos que estejam tramitando sobre o assunto)</p><p>Ex tunc</p><p>Lei nº 9.868/99 - Art. 21. O Supremo Tribunal Federal,</p><p>por decisão da maioria absoluta de seus membros,</p><p>poderá deferir pedido de medida cautelar na ação</p><p>declaratória de constitucionalidade, consistente na</p><p>determinação de que os juízes e os Tribunais</p><p>suspendam o julgamento dos processos que</p><p>envolvam a aplicação da lei ou do ato normativo</p><p>objeto da ação até seu julgamento definitivo.</p><p>Lei nº 9.868/99 - Art. 28. Parágrafo único. A declaração</p><p>de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade,</p><p>inclusive a interpretação conforme a Constituição e a</p><p>declaração parcial de inconstitucionalidade sem</p><p>redução de texto, têm eficácia contra todos e efeito</p><p>vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário</p><p>e à Administração Pública federal, estadual e</p><p>municipal.</p><p>CF - Art. 102 § 2º As decisões definitivas de mérito,</p><p>proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações</p><p>diretas de inconstitucionalidade e nas ações</p><p>declaratórias de constitucionalidade produzirão</p><p>eficácia contra todos e efeito vinculante,</p><p>relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário</p><p>e à administração pública direta e indireta, nas</p><p>esferas federal, estadual e municipal.</p><p>⚠ ATENÇÃO</p><p>A decisão do STF que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de preceito normativo</p><p>não produz a automática reforma ou rescisão das decisões proferidas em outros processos anteriores que</p><p>tenham adotado entendimento diferente do que posteriormente decidiu o Supremo. Para que haja essa</p><p>78</p><p>reforma ou rescisão, será indispensável a interposição do recurso próprio ou, se for o caso, a propositura da</p><p>ação rescisória própria, nos termos do art. art. 966, V do CPC 2015, observado o prazo decadencial de 2 anos</p><p>art. 975 do CPC 2015). Segundo afirmou o STF, não se pode confundir a eficácia normativa de uma sentença</p><p>que declara a inconstitucionalidade (que retira do plano jurídico a norma com efeito “ex tunc”) com a</p><p>eficácia executiva, ou seja, o efeito vinculante dessa decisão. STF. Plenário. RE 730462/SP, Rel. Min. Teori</p><p>Zavascki, julgado em 28/5/2015 (repercussão geral) (Info 787).</p><p>7.1.15.1. LIMITES OBJETIVOS DA COISA JULGADA E EFEITOS OBJETIVOS DA</p><p>DECISÃO</p><p>◾ Eficácia preclusiva da coisa julgada: não será possível o ajuizamento de outra ação direta para</p><p>obter nova manifestação do Tribunal acerca da (in)constitucionalidade do mesmo dispositivo.</p><p>⚠ ATENÇÃO</p><p>Se em uma primeira ADI o STF não discutiu a inconstitucionalidade material da Lei “X” (nem disse que</p><p>ela era constitucional nem inconstitucional do ponto de vista material), nada impede que uma segunda ação</p><p>seja proposta questionando, agora, a inconstitucionalidade material da lei e nada impede que o STF decida</p><p>declará-la inconstitucional sob o aspecto material. O fato de o STF ter declarado a validade formal de uma</p><p>norma não interfere nem impede que ele reconheça posteriormente que ela é materialmente</p><p>inconstitucional. STF. Plenário. ADI 5081/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/5/2015 (Info 787).</p><p>◾ Eficácia vinculativa da coisa julgada: juízes e tribunais, ao decidir a questão a eles submetida, não</p><p>poderão desconsiderar, como premissa necessária, que a lei objeto da decisão do STF é inconstitucional, sob</p><p>pena de ofensa à coisa julgada.</p><p>◾ Efeito da improcedência do pedido: não há, pois nada se passará com o ato impugnado, que</p><p>continuará existente, válido e eficaz.</p><p>⚠ ATENÇÃO</p><p>As decisões definitivas de mérito proferidas pelo STF em ADI e ADC produzem eficácia contra todos e</p><p>efeito vinculante. Tais efeitos não vinculam, contudo, o próprio STF. Assim, se o STF decidiu, em uma ADI ou</p><p>ADC que determinada lei é CONSTITUCIONAL a Corte poderá, mais tarde, mudar seu entendimento e</p><p>decidir que esta mesma lei é INCONSTITUCIONAL por conta de mudanças no cenário jurídico, político,</p><p>econômico ou social do país. Esta mudança de entendimento do STF sobre a constitucionalidade de uma</p><p>norma pode ser decidida durante o julgamento de uma reclamação constitucional. Segundo o Min. Gilmar</p><p>Mendes é no juízo hermenêutico típico da reclamação(no “balançar de olhos” entre objeto e parâmetro da</p><p>reclamação que surgirá com maior nitidez a oportunidade para evolução interpretativa no controle de</p><p>constitucionalidade. STF. Plenário. Rcl 4374/PE, Rel. Min. Gilmar Mendes, 18/4/2013 (Info 702).</p><p>◾ Efeito da procedência do pedido: o Tribunal estará declarando que a norma é nula de pleno</p><p>79</p><p>direito, via de regra.</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Nesse sentido, para prova para o cargo de Delegado de Polícia Civil - PC-PB (Ano: 2022, CESP/CABRASPE) foi</p><p>considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “e”:</p><p>Se, em ação direta de inconstitucionalidade proposta perante o Supremo Tribunal Federal, for alegada a</p><p>inconstitucionalidade de certa lei federal,</p><p>a. A decisão definitiva de mérito vinculará o Poder Legislativo.</p><p>b. O Poder Legislativo ficará impossibilitado de revogar a lei questionada.</p><p>c. O Poder Legislativo ficará impossibilitado de reeditar o diploma julgado inconstitucional.</p><p>d. A decisão definitiva de mérito vinculará parcialmente o Poder Judiciário.</p><p>e. A decisão definitiva de mérito vinculará todos os níveis da administração pública.</p><p>⚠ ATENÇÃO</p><p>Exceção: declaração de inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade. Estando situada no plano de</p><p>validade da norma, a lei ou ato normativo nulo não deverá mais produzir efeitos, passando ao plano da eficácia,</p><p>que deverá ser paralisada. Por fim, sendo a vigência a soma da existência e da eficácia de uma norma, é</p><p>possível afirmar que a lei declarada inconstitucional já não está mais vigente.</p><p>◾ Repercussão sobre a legislação que havia sido afetada pela lei reconhecida como inválida: o</p><p>princípio da supremacia da Constituição impõe que a situação jurídica volte ao status quo ante. Assim, a</p><p>declaração de inconstitucionalidade de uma lei restaura a vigência da legislação previamente existente por ela</p><p>afetada. Ressalte-se que tal entendimento pode ser excepcionado, caso o Tribunal manifeste-se expressamente</p><p>em sentido contrário.</p><p>7.1.15.2. LIMITES SUBJETIVOS DA COISA JULGADA E EFEITOS SUBJETIVOS DA</p><p>DECISÃO108</p><p>Pelo fato de os órgãos e pessoas constantes do art. 103, CF atuarem com legitimação extraordinária,</p><p>por força do fenômeno da substituição processual, os efeitos da decisão serão de caráter geral, e não apenas</p><p>entre as partes do processo, como é a regra.</p><p>⚠ ATENÇÃO</p><p>Nada impede que o Legislativo volte a editar norma de conteúdo igual ou análogo ao que foi rejeitado,</p><p>incorrendo em inconstitucionalidade da mesma natureza. Nesta hipótese, não caberá reclamação perante o</p><p>STF, pois o legislador não está vinculado à motivação do julgamento sobre a validade do diploma legal</p><p>precedente, mas sim o ajuizamento de nova ação direta. Será necessária a propositura de uma nova ADI para</p><p>que o STF examine essa nova lei e a declare inconstitucional. Vale ressaltar que o STF pode até mesmo mudar</p><p>108CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Superação legislativa da jurisprudência (reação legislativa). Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:</p><p>80</p><p>de opinião no julgamento desta segunda ação.</p><p>No que tange ao efeito vinculante (art. 102, § 2º, CF), cumpre ressaltar que este obriga à adoção da tese</p><p>jurídica firmada pelo Tribunal Superior, sempre que a ela esteja logicamente subordinada a decisão da causa,</p><p>bem como não impede que o órgão prolator da decisão possa reapreciar a matéria.</p><p>⚠ ATENÇÃO</p><p>◾ O STF não subtrai ex ante a faculdade de correção legislativa pelo constituinte reformador ou</p><p>legislador ordinário. Em outras palavras, o STF não proíbe que o Poder Legislativo edite leis ou emendas</p><p>constitucionais em sentido contrário ao que a Corte já decidiu. O legislador pode, por emenda constitucional ou</p><p>lei ordinária, superar a jurisprudência. Trata-se de uma reação legislativa à decisão da Corte Constitucional com</p><p>o objetivo de reversão jurisprudencial.</p><p>◾ No caso de REVERSÃO JURISPRUDENCIAL (REAÇÃO LEGISLATIVA) PROPOSTA POR MEIO DE</p><p>EMENDA CONSTITUCIONAL, a invalidação somente ocorrerá nas restritas hipóteses de violação aos</p><p>limites previstos no art. 60, e seus §§, da CF/88.</p><p>Art. 60. (LIMITAÇÕES FORMAIS) A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:</p><p>I - de 1/3, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;</p><p>II - do Presidente da República;</p><p>III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma</p><p>delas, pela MAIORIA RELATIVA de seus membros.</p><p>§ 1º (LIMITAÇÕES CIRCUNSTANCIAIS) A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção</p><p>federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.</p><p>§ 2º (LIMITAÇÕES FORMAIS) A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em 2</p><p>turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, 3/5 dos votos dos respectivos membros.</p><p>§ 3º (LIMITAÇÕES FORMAIS) A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos</p><p>Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.</p><p>§ 4º (LIMITAÇÕES MATERIAIS) Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir</p><p>(cláusula pétreas):</p><p>I - a forma federativa de Estado;</p><p>II - o voto direto, secreto, universal e periódico;</p><p>III - a separação dos Poderes;</p><p>IV - os direitos e garantias individuais.</p><p>§ 5º (LIMITAÇÕES FORMAIS) A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por</p><p>prejudicada NÃO PODE ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.</p><p>◾ No caso de REVERSÃO JURISPRUDENCIAL PROPOSTA POR LEI ORDINÁRIA, a lei que</p><p>frontalmente colidir com a jurisprudência do STF nasce com presunção relativa de</p><p>inconstitucionalidade, de forma que caberá ao legislador o ônus de demonstrar, argumentativamente, que a</p><p>correção do precedente se afigura legítima. A novel legislação que frontalmente colida com a jurisprudência</p><p>(leis in your face) se submete a um controle de constitucionalidade mais rigoroso. Para ser considerada válida, o</p><p>Congresso Nacional deverá comprovar que as premissas fáticas e jurídicas sobre as quais se fundou a decisão</p><p>81</p><p>do STF no passado não mais subsistem. O Poder Legislativo promoverá verdadeira hipótese de mutação</p><p>constitucional pela via legislativa. Vale ressaltar, no entanto, que excetuadas as situações de ofensa evidente ao</p><p>texto constitucional, o STF deve adotar comportamento de autorrestrição</p><p>e de maior deferência às opções</p><p>políticas do legislador.</p><p>1. O hodierno marco teórico dos diálogos constitucionais repudia a adoção de concepções juriscêntricas no</p><p>campo da hermenêutica constitucional, na medida em que preconiza, descritiva e normativamente, a</p><p>inexistência de instituição detentora do monopólio do sentido e do alcance das disposições magnas, além de</p><p>atrair a gramática constitucional para outros fóruns de discussão, que não as Cortes. 2. O princípio</p><p>fundamental da separação de poderes, enquanto cânone constitucional interpretativo, reclama a pluralização</p><p>dos intérpretes da Constituição, mediante a atuação coordenada entre os poderes estatais – Legislativo,</p><p>Executivo e Judiciário – e os diversos segmentos da sociedade civil organizada, em um processo contínuo,</p><p>ininterrupto e republicano, em que cada um destes players contribua, com suas capacidades específicas, no</p><p>embate dialógico, no afã de avançar os rumos da empreitada constitucional e no aperfeiçoamento das</p><p>instituições democráticas, sem se arvorarem como intérpretes únicos e exclusivos da Carta da República. 3. O</p><p>desenho institucional erigido pelo constituinte de 1988, mercê de outorgar à Suprema Corte a tarefa da</p><p>guarda precípua da Lei Fundamental, não erigiu um sistema de supremacia judicial em sentido material</p><p>(ou definitiva), de maneira que seus pronunciamentos judiciais devem ser compreendidos como última</p><p>palavra provisória, vinculando formalmente as partes do processo e finalizando uma rodada</p><p>deliberativa acerca da temática, sem, em consequência, fossilizar o conteúdo constitucional. 4. Os</p><p>efeitos vinculantes, ínsitos às decisões proferidas em sede de fiscalização abstrata de constitucionalidade, não</p><p>atingem o Poder Legislativo, ex vi do art. 102, § 2º, e art. 103-A, ambos da Carta da República. 5.</p><p>Consectariamente, a reversão legislativa da jurisprudência da Corte se revela legítima em linha de</p><p>princípio, seja pela atuação do constituinte reformador (i.e., promulgação de emendas constitucionais),</p><p>seja por inovação do legislador infraconstitucional (i.e., edição de leis ordinárias e complementares),</p><p>circunstância que demanda providências distintas por parte deste Supremo Tribunal Federal. 5.1. A emenda</p><p>constitucional corretiva da jurisprudência modifica formalmente o texto magno, bem como o fundamento</p><p>de validade último da legislação ordinária, razão pela qual a sua invalidação deve ocorrer nas hipóteses de</p><p>descumprimento do art. 60 da CRFB/88 (i.e., limites formais, circunstanciais, temporais e materiais),</p><p>encampando, neste particular, exegese estrita das cláusulas superconstitucionais. 5.2. A legislação</p><p>infraconstitucional que colida frontalmente com a jurisprudência (leis in your face) nasce com</p><p>presunção iuris tantum de inconstitucionalidade, de forma que caberá ao legislador ordinário o ônus</p><p>de demonstrar, argumentativamente, que a correção do precedente faz-se necessária, ou, ainda,</p><p>comprovar, lançando mão de novos argumentos, que as premissas fáticas e axiológicas sobre as quais</p><p>se fundou o posicionamento jurisprudencial não mais subsistem, em exemplo acadêmico de mutação</p><p>constitucional pela via legislativa. Nesse caso, a novel legislação se submete a um escrutínio de</p><p>constitucionalidade mais rigoroso, nomeadamente quando o precedente superado amparar-se em cláusulas</p><p>pétreas. 6. O dever de fundamentação das decisões judicial, inserto no art. 93 IX, da Constituição, impõe que o</p><p>Supremo Tribunal Federal enfrente novamente a questão de fundo anteriormente equacionada sempre que o</p><p>legislador lançar mão de novos fundamentos. (STF, ADI 5105, Relator(a): LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em</p><p>01/10/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-049 DIVULG 15-03-2016 PUBLIC 16-03-2016)</p><p>Exemplo de "reação legislativa"</p><p>É inconstitucional lei estadual que regulamenta a atividade da “vaquejada”. STF. Plenário. ADI 4983/CE,</p><p>Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 06/10/2016 (Info 842).</p><p>82</p><p>◾ EC 96/2017</p><p>Após a ADI 4983/CE, o Congresso Nacional decidiu alterar a própria Constituição, nela</p><p>inserindo, o art. 225, § 7º, com a redação de que são permitidas práticas desportivas que utilizem animais,</p><p>desde que sejam manifestações culturais.</p><p>CF - Art. 225, § 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se consideram</p><p>cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme</p><p>o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem de natureza imaterial integrante do</p><p>patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar</p><p>dos animais envolvidos.</p><p>A EC 96/2017 é um exemplo do que a doutrina constitucionalista denomina de “efeito backlash”.</p><p>O que é Efeito Backlash?109</p><p>Consiste em uma reação conservadora de parcela da sociedade ou das forças políticas (em geral,</p><p>do parlamento) diante de uma decisão liberal do Poder Judiciário em um tema polêmico.</p><p>George Marmelstein resume a lógica do efeito backlash ao ativismo judicial:</p><p>“(1) Em uma matéria que divide a opinião pública, o Judiciário profere uma decisão liberal, assumindo uma</p><p>posição de vanguarda na defesa dos direitos fundamentais.</p><p>(2) Como a consciência social ainda não está bem consolidada, a decisão judicial é bombardeada com</p><p>discursos conservadores inflamados, recheados de falácias com forte apelo emocional.</p><p>(3) A crítica massiva e politicamente orquestrada à decisão judicial acarreta uma mudança na opinião pública,</p><p>capaz de influenciar as escolhas eleitorais de grande parcela da população.</p><p>(4) Com isso, os candidatos que aderem ao discurso conservador costumam conquistar maior espaço político,</p><p>sendo, muitas vezes, campeões de votos.</p><p>(5) Ao vencer as eleições e assumir o controle do poder político, o grupo conservador consegue aprovar leis e</p><p>outras medidas que correspondam à sua visão de mundo.</p><p>(6) Como o poder político também influencia a composição do Judiciário, já que os membros dos órgãos de</p><p>cúpula são indicados politicamente, abre-se um espaço para mudança de entendimento dentro do próprio</p><p>poder judicial. (7) Ao fim e ao cabo, pode haver um retrocesso jurídico capaz de criar uma situação normativa</p><p>ainda pior do que a que havia antes da decisão judicial, prejudicando os grupos que, supostamente, seriam</p><p>beneficiados com aquela decisão. ”110</p><p>NOVIDADE LEGISLATIVA111</p><p>A Lei nº 13.873/2019 alterou a Lei nº 13.364/2016, para incluir o laço, bem como as respectivas</p><p>111 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É inconstitucional a prática da vaquejada. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:</p><p>. Acesso em: 05/05/2022</p><p>110Disponível em:</p><p>https://direitosfundamentais.net/2015/09/05/efeito-backlash-da-jurisdicao-constitucional-reacoes-politicas-a-atuacao-judicial/</p><p>109CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É inconstitucional a prática da vaquejada. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:</p><p>.</p><p>https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/dba1cdfcf6359389d170caadb3223ad2</p><p>83</p><p>expressões artísticas e esportivas, como manifestação cultural nacional, elevar essas atividades à condição de</p><p>bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro e dispor sobre as modalidades</p><p>esportivas equestres tradicionais e sobre a proteção ao bem-estar animal.</p><p>A LEI Nº 13.873/2019 TEVE 2</p><p>OBJETIVOS</p><p>● Incluir as atividades de laço na Lei nº 13.364/2016;</p><p>● Reforçar que o Rodeio, a Vaquejada e o Laço são manifestações</p><p>culturais nacionais e suas atividades são bens de natureza imaterial</p><p>integrantes do patrimônio cultural brasileiro.</p><p>7.1.15.3. EFEITOS TEMPORAIS</p><p>Os efeitos da decisão que declara o vício de inconstitucionalidade da norma retroagem ao momento de</p><p>seu ingresso no mundo jurídico, ou seja, são EX TUNC.</p><p>◾ MODULAÇÃO DOS EFEITOS (declaração de inconstitucionalidade sem a pronúncia de</p><p>nulidade)</p><p>inconstitucional, sem permitir que ela tenha qualquer força vinculante.</p><p>◾Essa abordagem se baseia na ideia de que a lei inconstitucional é como se nunca tivesse existido,</p><p>3 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 119.</p><p>9</p><p>ou seja, "nascida morta.".</p><p>📌E no Brasil, qual é a teoria aplicada?</p><p>No Brasil, a discussão sobre a teoria da anulabilidade versus a teoria da nulidade tem influências de</p><p>ambos os sistemas, mas, em geral, a maioria da doutrina brasileira adotou a caracterização da teoria da</p><p>nulidade.</p><p>De acordo com essa maioria, quando uma lei é declarada inconstitucional, ela é considerada nula, írrita</p><p>e desprovida de força vinculativa. Isso se alinha com a abordagem norte-americana da nulidade.</p><p>No entanto, existe uma minoria de doutrinadores, como Pontes de Miranda e Regina Nery Ferrari, que</p><p>defendem a teoria da anulabilidade, argumentando que a lei inconstitucional não é nula desde o início, mas</p><p>apenas anulada a partir da decisão da Corte.</p><p>📌Para melhor visualização das diferenças dos dois sistemas, vejamos o quadro o seguir:</p><p>SISTEMA AUSTRÍACO</p><p>(KELSEN)</p><p>SISTEMA NORTE-AMERICANO</p><p>(MARSHALL)4</p><p>Teoria da anulabilidade Teoria da nulidade</p><p>◾decisão tem eficácia constitutiva (caráter</p><p>constitutivo-negativo)</p><p>◾decisão tem eficácia declaratória de situação</p><p>preexistente</p><p>◾por regra, o vício de inconstitucionalidade é</p><p>aferido no plano da eficácia</p><p>◾por regra, o vício de inconstitucionalidade é</p><p>aferido no plano da validade</p><p>◾por regra, decisão que reconhece a</p><p>inconstitucionalidade produz efeitos ex nunc</p><p>(prospectivos)</p><p>◾por regra, decisão que declara a</p><p>inconstitucionalidade produz efeitos ex tunc</p><p>(retroativos)</p><p>◾a lei inconstitucional é ato anulável (a</p><p>anulabilidade pode aparecer em vários graus)</p><p>◾a lei inconstitucional é ato nulo (null and void),</p><p>ineficaz (nulidade ab origine), írrito e, portanto,</p><p>desprovido de força vinculativa</p><p>◾lei provisoriamente válida, produzindo efeitos</p><p>até a sua anulação</p><p>◾invalidação ab initio dos atos praticados com</p><p>base na lei inconstitucional, atingindo-a no berço</p><p>◾o reconhecimento da ineficácia da lei produz</p><p>efeitos a partir da decisão ou para o futuro (ex nunc</p><p>ou pro futuro), sendo erga omnes, preservando-se,</p><p>assim, os efeitos produzidos até então pela lei</p><p>◾a lei, por ter nascido morta (natimorta), nunca</p><p>chegou a produzir efeitos (não chegou a “viver”), ou</p><p>seja, apesar de existir, não entrou no plano da</p><p>eficácia</p><p>4 Tabela retirada do livroLenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva,</p><p>2023. p. 119.</p><p>10</p><p>1.3. FLEXIBILIZAÇÃO DA TEORIA DA NULIDADE NO DIREITO BRASILEIRO5</p><p>A flexibilização da teoria da nulidade no direito brasileiro é um tema de crescente relevância no cenário</p><p>jurídico do país. Tradicionalmente, a regra geral estabelecida consistia na aplicação da nulidade absoluta a leis</p><p>consideradas inconstitucionais, com base no princípio da supremacia da Constituição. No entanto, ao longo do</p><p>tempo, essa abordagem tem sido objeto de revisão e debate tanto na jurisprudência quanto na doutrina</p><p>jurídica, conforme veremos a seguir.</p><p>1.3.1. A MITIGAÇÃO DO PRINCÍPIO DA NULIDADE NO CONTROLE</p><p>CONCENTRADO6</p><p>A mitigação do princípio da nulidade no controle concentrado, conforme estabelecido nos artigos 27</p><p>da Lei n. 9.868/99 e 11 da Lei n. 9.882/99 no contexto do direito brasileiro, refere-se à possibilidade de o</p><p>Supremo Tribunal Federal (STF) flexibilizar os efeitos de sua declaração de inconstitucionalidade de uma</p><p>lei ou ato normativo. Essa flexibilização ocorre em situações específicas, com base em razões de segurança</p><p>jurídica ou de excepcional interesse social. Em outras palavras, o STF pode decidir que a inconstitucionalidade</p><p>de uma lei não terá efeitos imediatos ou retroativos, mas somente a partir de um determinado momento no</p><p>futuro.</p><p>Essa técnica de modulação dos efeitos da decisão tem o propósito de equilibrar a aplicação estrita do</p><p>princípio geral da nulidade da lei declarada inconstitucional, levando em consideração outros valores</p><p>constitucionais, como a segurança jurídica, o interesse social, a boa-fé e a proteção da confiança legítima. Esses</p><p>valores são considerados importantes expressões do Estado Democrático de Direito, impregnados de conteúdo</p><p>ético, social e jurídico.</p><p>Vejamos a redação do art. 27 da Lei n. 9.868/99:</p><p>“Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou</p><p>de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de 2/3 de seus membros,</p><p>restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado</p><p>ou de outro momento que venha a ser fixado” (no mesmo sentido, cf. art. 11 da Lei n. 9.882/99 — ADPF).</p><p>O artigo 11 da Lei n. 9.882/99, que se refere às Arguições de Descumprimento de Preceito Fundamental</p><p>(ADPF), segue o mesmo princípio.</p><p>Essa possibilidade de modulação dos efeitos da decisão foi introduzida no ordenamento jurídico</p><p>brasileiro para lidar com situações excepcionais em que a declaração de nulidade imediata da lei</p><p>inconstitucional poderia ter consequências prejudiciais, como causar insegurança jurídica generalizada ou</p><p>afetar negativamente o interesse social. Portanto, essa técnica permite que o STF adapte sua decisão de</p><p>inconstitucionalidade para as circunstâncias específicas do caso, assegurando que a justiça seja feita sem</p><p>prejudicar outros princípios e valores constitucionais importantes.</p><p>6 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 121.</p><p>5 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 121.</p><p>11</p><p>1.3.2. A MITIGAÇÃO DO PRINCÍPIO DA NULIDADE NO CONTROLE DIFUSO7</p><p>A mitigação do princípio da nulidade no contexto do controle difuso se refere à possibilidade de, em</p><p>situações específicas, flexibilizar os efeitos da declaração de inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo.</p><p>Essa abordagem é uma extensão da regra geral estabelecida no artigo 27 da Lei n. 9.868/99, que</p><p>originalmente se aplicava ao controle concentrado, mas que, por analogia, também tem sido utilizada no</p><p>âmbito do controle difuso.</p><p>📌Um exemplo que vale a sua atenção: Um exemplo emblemático sobre o assunto destacado pelo</p><p>professor Pedro Lenza é uma ação civil pública movida pelo Ministério Público de São Paulo, que buscou reduzir</p><p>o número de vereadores em um município para se adequar ao mínimo constitucional. A lei que estabelecia o</p><p>número de vereadores era considerada inconstitucional por ultrapassar o mínimo (no caso em específico, a</p><p>cidade de Mira Estrela deveria reduzir seus vereadores de 11 para 9), e o MP solicitou a declaração de</p><p>inconstitucionalidade com efeitos retroativos, ou seja, que a lei fosse considerada inválida desde o início.</p><p>No entanto, o STF, ao decidir o caso, reconheceu que a declaração de nulidade com efeitos retroativos</p><p>poderia causar um caos, afetando a validade das eleições passadas e dos atos legislativos praticados sob a</p><p>presunção de legalidade. Por isso, o tribunal optou por mitigar os efeitos da decisão, decidindo que a</p><p>inconstitucionalidade da lei só se aplicaria a legislaturas futuras, mantendo a situação anterior em nome da</p><p>segurança jurídica.</p><p>Esse precedente demonstra que, em situações especiais, o STF pode aplicar a técnica de modulação</p><p>dos efeitos da decisão também no controle difuso. Isso significa que, em nome de princípios constitucionais</p><p>como a segurança jurídica, a confiança, a ética jurídica e a boa-fé, o tribunal pondera os interesses em jogo e</p><p>decide de forma a preservar situações consolidadas no passado que se baseavam na lei declarada</p><p>inconstitucional. Isso mostra uma tendência coerente de mitigação do princípio da nulidade tanto no</p><p>controle concentrado quanto no controle</p><p>- art. 27, Lei 9.868/99</p><p>Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança</p><p>jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de 2/3 de seus</p><p>membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito</p><p>em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado (modulação dos efeitos da decisão)</p><p>Segundo Lenza, ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de</p><p>segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o STF, por maioria qualificada de 2/3 de seus</p><p>membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito</p><p>em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado. Ou seja, diante de tais requisitos, o STF poderá dar</p><p>efeito ex nunc ou outro momento a ser fixado pelos Ministros do STF, podendo a modulação ser em algum</p><p>momento do passado, no momento do julgamento, ou para o futuro (efeito prospectivo).112</p><p>REQUISITOS PARA MODULAÇÃO DE EFEITOS</p><p>REQUISITO FORMAL Quórum qualificado de 2/3</p><p>REQUISITO MATERIAL Razões de segurança pública ou de excepcional interesse social</p><p>◾ MOMENTO-LIMITE DA MODULAÇÃO DOS EFEITOS : proclamação do resultado final.113</p><p>Depois da proclamação do resultado final o julgamento deve ser considerado concluído e encerrado e,</p><p>por isso, mostra-se inviável a sua reabertura para discutir novamente a modulação dos efeitos da decisão</p><p>113CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Momento-limite da modulação dos efeitos. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:</p><p>112LENZA (2020). Pag. 270</p><p>84</p><p>proferida.</p><p>A análise da ação direta de inconstitucionalidade é realizada de maneira bifásica:</p><p>a) primeiro o Plenário decide se a lei é constitucional ou não; e</p><p>b) em seguida, se a lei for declarada inconstitucional, discute-se a possibilidade de modulação dos</p><p>efeitos. Uma vez encerrado o julgamento e proclamado o resultado, inclusive com a votação sobre a</p><p>modulação(que não foi alcançada), não há como reabrir o caso, ficando preclusa a possibilidade de reabertura</p><p>para deliberação sobre a modulação dos efeitos. STF Plenário. ADI 2949 QO/MG, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa,</p><p>red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em 8/4/2015 (Info 780).</p><p>7.1.16. “AMICUS CURIAE” (ADI E DEMAIS AÇÕES) E AUDIÊNCIAS PÚBLICAS</p><p>(“SOCIEDADE ABERTA DOS INTÉRPRETES DA CONSTITUIÇÃO” — PETER</p><p>HÄBERLE)114</p><p>O estudo de Peter Häberle propõe que a interpretação da norma (Constituição) não deve ser restrita</p><p>aos órgãos estatais, mas aberta a todos que a "vivem", tornando esses destinatários legítimos intérpretes. Essa</p><p>abordagem busca revisar a metodologia jurídica tradicional de interpretação. Nesse contexto de pluralização do</p><p>debate, os institutos do amicus curiae e das audiências públicas desempenham um papel crucial.</p><p>7.1.16.1. “AMICUS CURIAE” — REGRAS GERAIS115</p><p>A expressão amicus curiae é em latim e significa "amigo da Corte". Trata-se de uma intervenção de</p><p>terceiros no processo, permitindo que entidades ou órgãos contribuam com informações relevantes para o</p><p>julgamento da ação direta de inconstitucionalidade.</p><p>📌Restrições à Intervenção Assistencial: O Ministro Celso de Mello esclarece que, ordinariamente,</p><p>terceiros não têm legitimidade para intervir no processo de controle normativo abstrato. Isso é corroborado</p><p>pelo art. 7.º da Lei n. 9.868/99, que veda a intervenção de terceiros na ação direta de inconstitucionalidade.</p><p>📌 Admissão do Amicus Curiae: Contudo, o § 2.º do art. 7.º dessa lei estabelece que o relator,</p><p>considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, pode admitir a manifestação de</p><p>outros órgãos ou entidades. Surge assim a figura do amicus curiae, cuja participação é decidida pelo relator.</p><p>📌Elementos da Decisão do Relator</p><p>Relator: A admissão do amicus curiae é decidida pelo relator, que verifica requisitos, conveniência e</p><p>oportunidade da manifestação.</p><p>Decisão Irrecorrível: A decisão do relator é irrecorrível, conforme previsto na lei.</p><p>Requisitos: A participação do amicus curiae exige relevância da matéria e representatividade dos</p><p>postulantes, além da oportunidade e utilidade das informações.</p><p>115 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 183</p><p>114 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 183</p><p>85</p><p>📌Prazo para Admissão do Amicus Curiae</p><p>O prazo para admissão, inicialmente previsto no § 1.º do art. 7.º, foi vetado. O relator pode flexibilizar o</p><p>prazo, considerando a natureza e finalidade do amicus curiae.</p><p>📌Direitos do Amicus Curiae Após Admissão</p><p>Uma vez admitido, o amicus curiae possui o direito de:</p><p>◾Apresentar Sustentação Oral: O amicus curiae pode apresentar sustentação oral, conforme</p><p>decisão plenária da ADI 2.777/SP.</p><p>◾Limites de Atuação: Contudo, o amicus curiae não tem legitimidade ativa para pleitear provimento</p><p>jurisdicional específico, devendo limitar-se aos argumentos apresentados.</p><p>📌Importância do Amicus Curiae na Jurisprudência do STF: O instituto do amicus curiae foi</p><p>consolidado no julgamento da ADI 2.130-MC/SC, destacando a legitimidade social das decisões do STF e a</p><p>pluralização do debate constitucional.</p><p>7.1.16.2. É POSSÍVEL A ADMISSÃO DO “AMICUS CURIAE” NA ADC?116</p><p>Sim.</p><p>Embora o § 2.º do art. 18 da Lei n. 9.868/99 tenha sido vetado, o qual vedava a intervenção de terceiros</p><p>no processo de ADC, o veto não se aplicou ao § 2.º do art. 7.º, que permite ao relator, considerando a relevância</p><p>da matéria e a representatividade dos postulantes, admitir a manifestação de outros órgãos ou entidades na</p><p>ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade).</p><p>Dessa forma, argumenta-se que, por analogia, a regra que admite o "amicus curiae" na ADI pode ser</p><p>aplicada à ADC. A jurisprudência do STF e a Reforma do Judiciário, EC n. 45/2004, indicam uma tendência de</p><p>tratamento equivalente para ambas as ações, com legitimados e efeitos da decisão sendo os mesmos. Apesar</p><p>de algumas diferenças no objeto da ADC em relação à ADI, propostas de emendas constitucionais, como a PEC</p><p>Paralela do Judiciário, buscam eliminar essas diferenças, tornando a situação mais definitivamente ambivalente.</p><p>O posicionamento do Presidente da República, expresso nas razões do veto do art. 18, § 2.º, ressalta</p><p>que o veto ao dispositivo não impede que o Supremo Tribunal Federal, por meio de interpretação sistemática,</p><p>admita a abertura processual prevista para a ADI. Portanto, a admissão do "amicus curiae" na ADC é possível,</p><p>sujeita a algumas ressalvas apresentadas.</p><p>7.1.16.3. CABE “AMICUS CURIAE” NA ADPF?117</p><p>Sim.</p><p>O art. 6.º, § 2.º, da Lei n. 9.882/99, que trata da ADPF, não menciona explicitamente a figura do "amicus</p><p>curiae". No entanto, o STF tem admitido sua presença por meio da aplicação analógica do art. 7.º, § 2.º, da Lei n.</p><p>9.868/99, que trata da intervenção de terceiros na ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade).</p><p>O Ministro Marco Aurélio, na ADPF 46/DF, posicionou-se pela admissibilidade do "amicus curiae",</p><p>117 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 186</p><p>116 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 185</p><p>86</p><p>considerando-o uma exceção à regra geral. Em outra ocasião, na ADPF 73/DF, o Ministro Relator Eros Grau</p><p>aceitou a participação do "amicus curiae", observando a relevância da questão e o objetivo de pluralizar o</p><p>debate constitucional.</p><p>Portanto, é admitida a presença do "amicus curiae" na ADPF, com as ressalvas de que sua participação</p><p>ocorre de forma excepcional e desde que se configurem as hipóteses de cabimento. Decisões monocráticas em</p><p>outras ADPFs, como a ADPF 205 e a ADPF 132, também respaldam essa possibilidade.</p><p>7.1.16.4. CABE “AMICUS CURIAE” NA ADO?118</p><p>Sim.</p><p>O art. 12-E da Lei n. 9.868/99, incluído pela Lei n. 12.063/2009, estabelece que ao procedimento da ADO</p><p>devem ser aplicadas, no que couber, as disposições constantes da Seção I do Capítulo II da mesma lei.</p><p>Considerando que a previsão do "amicus curiae" para a ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade)</p><p>consta da referida Seção (art. 7.º, § 2.º) e que tal previsão é compatível com a ADO, entende-se ser</p><p>perfeitamente possível a admissão do "amicus curiae" na ADO. Essa prática visa promover a pluralização do</p><p>debate sobre a matéria em análise.</p><p>Além disso, o art. 12-E, § 1.º, da mesma lei estabelece que os demais titulares da ADO podem</p><p>manifestar-se por escrito sobre o objeto da ação, pedir a juntada de documentos úteis e apresentar memoriais.</p><p>Nesse contexto, na medida em que esses titulares não propuseram a ação, eles seriam considerados "amicus</p><p>curiae".</p><p>Portanto, a participação do "amicus curiae" na ADO é respaldada pelo dispositivo legal que remete às</p><p>disposições da Seção I do Capítulo II da Lei n. 9.868/99, o que possibilita a contribuição de terceiros no</p><p>processo, enriquecendo a análise da matéria em questão.</p><p>7.1.16.5. CABE “AMICUS CURIAE” NA IF (REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA)?119</p><p>Sim.</p><p>O art. 7.º, parágrafo único, da Lei n. 12.562/2011 autoriza, a critério do relator, a manifestação e a</p><p>juntada de documentos por parte dos interessados no processo. Esse dispositivo utiliza a mesma nomenclatura</p><p>("interessados no processo") presente no art. 6.º, § 2.º, da Lei n. 9.882/99, que fundamenta a possibilidade do</p><p>"amicus curiae" na ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental).</p><p>Portanto, seguindo o raciocínio utilizado para a ADPF, parece razoável aceitar, de forma excepcional,</p><p>nos termos do art. 7.º, § 2.º (ADI), aplicado por analogia, a participação do "amicus curiae" na representação</p><p>interventiva (art. 36, III). Essa abertura para a intervenção de terceiros busca enriquecer o debate e a análise da</p><p>matéria, contribuindo para uma decisão mais fundamentada no contexto da representação interventiva.</p><p>7.1.16.6. OUTRAS HIPÓTESES DE CABIMENTO DO “AMICUS CURIAE”120</p><p>📌Art. 31 da Lei n. 6.385/76 - Processos de interesse da CVM: Nesta hipótese, o amicus curiae pode</p><p>ser admitido em processos relacionados aos interesses da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Isso implica</p><p>120 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 186</p><p>119 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 186</p><p>118 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 186</p><p>87</p><p>que, em casos que envolvem a regulação do mercado de valores mobiliários, a CVM pode intervir como amicus</p><p>curiae para oferecer sua perspectiva e conhecimento técnico.</p><p>📌Art. 118 da Lei n. 12.529/2011 - Processos judiciais sobre a Lei n. 12.529/2011: O Conselho</p><p>Administrativo de Defesa Econômica (Cade) pode intervir como amicus curiae nos processos judiciais que</p><p>discutem a aplicação da Lei n. 12.529/2011, que trata do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC) e</p><p>infrações contra a ordem econômica.</p><p>📌Art. 950, § 3.º, do CPC/2015 - Controle difuso de constitucionalidade: Aqui, o amicus curiae é</p><p>admitido em casos de controle difuso de constitucionalidade, conforme previsto no Código de Processo Civil de</p><p>2015. Esse dispositivo permite que terceiros interessados intervenham no processo para apresentar</p><p>argumentos sobre a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma norma.</p><p>📌Art. 14, § 7.º, da Lei n. 10.259/2001 - Juizados Especiais Federais: Nos Juizados Especiais Federais, o</p><p>amicus curiae pode ser admitido de acordo com o art. 14, § 7.º, da Lei n. 10.259/2001. Isso sugere que em casos</p><p>específicos desses juizados, a participação de terceiros interessados pode ser permitida para enriquecer a</p><p>análise do tribunal.</p><p>📌Art. 3.º, § 2.º, da Lei n. 11.417/2006 - Súmula vinculante: O amicus curiae pode ser admitido no</p><p>procedimento de edição, revisão e cancelamento de enunciado de súmula vinculante pelo Supremo Tribunal</p><p>Federal (STF), conforme estabelecido no art. 3.º, § 2.º, da Lei n. 11.417/2006.</p><p>📌Art. 543-A, § 6.º, do CPC/73 - Análise da repercussão geral pelo STF: Nessa hipótese, o amicus</p><p>curiae é mencionado no contexto da análise da repercussão geral pelo STF, indicando que terceiros podem</p><p>intervir no julgamento do recurso extraordinário para oferecer suas perspectivas sobre a matéria.</p><p>📌Art. 138 do CPC/2015 - Previsão ampliada do amicus curiae: O art. 138 do Código de Processo Civil</p><p>de 2015 prevê uma ampliação do instituto do amicus curiae para causas em geral, desde que seja demonstrada</p><p>a relevância da matéria, a especificidade do tema ou a repercussão social da controvérsia. Além disso, destaca</p><p>que o amicus curiae pode ser uma pessoa natural.</p><p>7.1.16.7. PARLAMENTAR PODE SER ADMITIDO NO PROCESSO COMO “AMICUS</p><p>CURIAE”? (NOVIDADE MAIS AMPLA INTRODUZIDA PELO CPC/2015 — LEI N.</p><p>13.105/2015)121</p><p>📌Existe a possibilidade de admissão do parlamentar como "amicus curiae" nos processos judiciais,</p><p>conforme introduzido pelo Código de Processo Civil de 2015 (Lei n. 13.105/2015)? Iniciamos nossa discussão</p><p>com a decisão marcante do Desembargador Edson Alfredo Smaniotto, que, ao relatar um caso específico,</p><p>ressaltou a importância do parlamentar como representante eleito pelo povo. Ele destacou que o parlamentar,</p><p>121 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 187</p><p>88</p><p>designado por via eleitoral, desempenha uma função política na democracia representativa, sendo o verdadeiro</p><p>titular do poder, representando os interesses da coletividade.</p><p>📌Admissão do Parlamentar como "Amicus Curiae": A análise mais detalhada nos leva à conclusão</p><p>de que, desde que fique demonstrado que o parlamentar atua como "representante ideológico" de uma</p><p>coletividade, sua admissão como "amicus curiae" é perfeitamente possível. Isso requer uma representatividade</p><p>adequada, afastando interesses individuais egoísticos em prol do bem comum. O Supremo Tribunal Federal</p><p>(STF), embora tenha alguns precedentes admitindo parlamentares nessa condição, ainda carece de uma</p><p>posição mais definitiva sobre o assunto.</p><p>📌 Precedentes do STF e a Decisão Monocrática do Min. Barroso: Um exemplo concreto é a decisão</p><p>monocrática proferida pelo Ministro Barroso, que, ao deferir o ingresso de um Deputado Federal como "amicus</p><p>curiae", ressaltou a relevância da matéria e a necessidade de assegurar a pluralidade de opiniões. Esse caso, no</p><p>entanto, é excepcional, e a prática geral do STF tem sido restringir a admissão de pessoas físicas como "amici</p><p>curiae".</p><p>📌Conflito entre STF e o Novo Código de Processo Civil: Surge aqui um conflito evidente entre a</p><p>visão do STF e o Novo Código de Processo Civil, que, de maneira genérica, admite a pessoa física como "amicus</p><p>curiae". O artigo 138 do CPC destaca a possibilidade de intervenção de pessoa natural ou jurídica, órgão ou</p><p>entidade especializada, desde que haja representatividade adequada.</p><p>📌 Posição Restritiva do STF e a Violação ao CPC: No entanto, o STF, em regra, tem adotado uma</p><p>posição mais restritiva, negando a admissão de pessoas físicas como "amicus curiae", salvo em situações</p><p>excepcionais. Destaca-se o voto do Ministro Cezar Peluso, que ressaltou a falta de representatividade inerente à</p><p>intervenção prevista pelo artigo 7.º, § 2.º, da Lei n. 9.868/1999, permitindo apenas a manifestação de outros</p><p>"órgãos ou entidades".</p><p>7.1.16.8. NATUREZA JURÍDICA DO “AMICUS CURIAE”122</p><p>Ao abordarmos a natureza jurídica do "amicus curiae," é crucial compreender como o STF o reconhece</p><p>burocraticamente. No processo, o amicus curiae é apontado como</p><p>"parte interessada," indicando seu</p><p>envolvimento na matéria discutida, mas é importante destacar que essa categorização não o equipara às partes</p><p>principais envolvidas.</p><p>📌Colaborador Informal da Corte e Intervenção Processual: O Ministro Maurício Corrêa, em um</p><p>julgamento específico, caracterizou o "amicus curiae" como um "colaborador informal da Corte". Esse</p><p>entendimento enfatiza que, tecnicamente, não se trata de uma intervenção ad coadjuvandum, e, como tal, o</p><p>"amicus curiae" não possui legitimidade para recorrer das decisões proferidas em ações diretas.</p><p>122 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 188</p><p>89</p><p>📌Decisões Relevantes e Reafirmação da Natureza do "Amicus Curiae": No julgamento do RE</p><p>602.584, o Colegiado reiterou que o "amicus curiae" não é parte, mas sim um agente colaborador. Sua</p><p>intervenção é concedida como um privilégio, não um direito. Essa perspectiva destaca a natureza peculiar dessa</p><p>participação, que se encerra quando a contribuição é oferecida.</p><p>O Ministro Celso de Mello, em outra ocasião, mencionou a "intervenção processual" do "amicus curiae,"</p><p>sublinhando a peculiaridade dessa figura no contexto do controle concentrado de constitucionalidade.</p><p>📌Regimento Interno do STF e Intervenção de Terceiros: O art. 131, § 3.º, do Regimento Interno do</p><p>STF, após uma emenda regimental, passou a admitir uma hipótese explícita de intervenção de terceiros.</p><p>Contudo, é crucial notar que a natureza jurídica do "amicus curiae" é distinta das modalidades de intervenção</p><p>de terceiros previstas no Código de Processo Civil (CPC).</p><p>📌Modalidade Sui Generis de Intervenção de Terceiros: Diante do exposto, podemos afirmar que o</p><p>"amicus curiae" representa uma modalidade sui generis de intervenção de terceiros. Sua atuação é inerente ao</p><p>processo objetivo de controle concentrado de constitucionalidade, possuindo características próprias e bem</p><p>definidas que o distinguem das demais formas de intervenção previstas no CPC.</p><p>📌Interpretação do CPC/2015 e Posicionamento Topológico do "Amicus Curiae": Por fim, a previsão</p><p>no CPC/2015 deve ser interpretada considerando as características únicas do "amicus curiae." O</p><p>enquadramento no Capítulo V ("Do amicus curiae"), Título III ("Da intervenção de terceiros") e Livro III ("Dos</p><p>sujeitos do processo") do CPC ressalta a posição singular desse instituto no contexto do processo judicial.</p><p>7.1.16.9. “AMICUS CURIAE” PODE INTERPOR RECURSO?123</p><p>O "amicus curiae" (amigo da corte) não pode interpor recurso, conforme a jurisprudência do STF.</p><p>Tanto a decisão que aceita quanto a que nega o ingresso desse terceiro são consideradas irrecorríveis, exceto</p><p>em casos de incidente de resolução de demandas repetitivas. Inicialmente, havia precedentes admitindo</p><p>recurso, mas a tendência mudou em 2018. Em 2020, ocorreu uma reviravolta, permitindo novamente a</p><p>interposição de recurso, porém, a atual composição do STF voltou a considerar ambas as decisões irrecorríveis.</p><p>Profissionais do direito devem estar atentos a essas mudanças para orientar clientes em casos que envolvem o</p><p>"amicus curiae" no STF.</p><p>7.1.16.10. AUDIÊNCIAS PÚBLICAS124</p><p>📌Definição e Fundamentação Legal: As audiências públicas, conforme previstas nos arts. 9.º, § 1.º, e</p><p>20, § 1.º, da Lei n. 9.868/99 e art. 6.º, § 1.º, da Lei n. 9.882/99, são instrumentos utilizados quando há a</p><p>necessidade de esclarecimento de matéria ou circunstância de fato, ou quando as informações nos autos são</p><p>notoriamente insuficientes. O relator pode requisitar informações adicionais, designar perito ou comissão de</p><p>peritos, ou fixar data para uma audiência pública.</p><p>124 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 189</p><p>123 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 188</p><p>90</p><p>📌Competências do Relator e do Presidente do STF: O relator, de acordo com o art. 21, XVII, do</p><p>RISTF, tem a atribuição de convocar audiência pública. Além disso, o Presidente do STF, segundo o art. 13, XVII,</p><p>do RISTF, pode convocar audiência pública para ouvir depoimentos de pessoas com experiência e autoridade</p><p>em determinada matéria, sempre que entender necessário esclarecer questões ou circunstâncias de fato com</p><p>repercussão geral e de interesse público relevante.</p><p>📌Amplitude das Audiências Públicas: Contrariamente à crença comum, as audiências públicas não</p><p>se limitam aos processos de Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), Ação Declaratória de</p><p>Constitucionalidade (ADC) e Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF). Elas podem ser</p><p>convocadas em qualquer processo jurisdicional de controle concentrado de constitucionalidade.</p><p>📌Exemplo Prático: Um marco significativo foi a primeira audiência pública realizada no Brasil em um</p><p>processo de controle concentrado de constitucionalidade, datada de 20.04.2007, na ADI 3.510. Nesse caso, o</p><p>Tribunal julgou, por 6 x 5, que as pesquisas com células-tronco embrionárias não violam o direito à vida nem a</p><p>dignidade da pessoa humana. Esse exemplo demonstra a importância das audiências públicas na formação da</p><p>decisão judicial e como elas contribuem para o entendimento de questões complexas.</p><p>7.1.17. EFEITOS DA DECISÃO (ADI GENÉRICA)125</p><p>📌 Caráter Dúplice ou Ambivalente: As ADIs genéricas têm um caráter dúplice ou ambivalente,</p><p>conforme estabelece o art. 24 da Lei n. 9.868/99. Em suma, proclamada a constitucionalidade, a ação direta será</p><p>julgada improcedente, e eventual ação declaratória será procedente. Da mesma forma, proclamada a</p><p>inconstitucionalidade, a ação direta será julgada procedente, e eventual ação declaratória será julgada</p><p>improcedente.</p><p>📌 Efeitos Gerais da Decisão: A decisão proferida no controle concentrado produzirá efeitos contra</p><p>todos, ou seja, erga omnes, e terá efeito retroativo, ex tunc, anulando o ato normativo ou lei incompatível com a</p><p>Constituição. Isso significa que o ato é considerado nulo, como se nunca tivesse existido.</p><p>📌Declaração de Inconstitucionalidade sem Pronúncia de Nulidade: A Lei n. 9.868/99 introduziu a</p><p>possibilidade de declaração de inconstitucionalidade sem a pronúncia de nulidade, seguindo o modelo do</p><p>direito alemão e português. O art. 27 da referida lei permite que o STF, por maioria qualificada de 2/3 de seus</p><p>membros, restrinja os efeitos da declaração ou decida que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em</p><p>julgado ou de outro momento fixado.</p><p>📌 Efeito Vinculante: Além da eficácia contra todos (erga omnes), o parágrafo único do art. 28 da Lei n.</p><p>9.868/99 estabelece que a decisão também terá efeito vinculante. Antes da EC n. 45/2004, havia debates sobre a</p><p>interpretação desse dispositivo, mas a jurisprudência consolidou que a vinculação se dá nos casos em que seria</p><p>cabível uma Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC).</p><p>125 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 189</p><p>91</p><p>📌 Mudanças com a EC n. 45/2004: A Reforma do Judiciário, pela EC n. 45/2004, trouxe clareza ao</p><p>estabelecer, no § 2.º do art. 102 da Constituição, que as decisões definitivas de mérito em ADIs e ADCs têm</p><p>eficácia contra todos e efeito vinculante para os demais órgãos do Poder Judiciário e a administração pública</p><p>direta e indireta em todas as esferas.</p><p>📌Exceções à Regra Geral: Excepcionalmente, por razões de segurança jurídica ou excepcional</p><p>interesse social, o STF pode, por maioria qualificada, restringir os efeitos da declaração, adotando efeitos ex</p><p>nunc ou outro momento a ser fixado.</p><p>7.1.17.1. PRINCÍPIO DA PARCELARIDADE126</p><p>📌 Definição do Princípio da Parcelaridade: O princípio da parcelaridade refere-se à capacidade do</p><p>STF de julgar parcialmente procedente o pedido de declaração de inconstitucionalidade, permitindo a exclusão</p><p>de apenas uma palavra, uma expressão ou até mesmo</p><p>uma frase do texto legal. Esse poder contrasta com a</p><p>abordagem do veto presidencial no processo legislativo, como veremos ao estudar o art. 66, § 2.º, da</p><p>Constituição Federal (CF).</p><p>📌 Comparação com o Veto Presidencial: Ao abordar o veto presidencial, percebemos que o</p><p>Presidente da República pode vetar integralmente um projeto de lei ou fazê-lo parcialmente. No entanto, a</p><p>parcelaridade do veto está limitada, sendo possível apenas o veto de texto integral de artigo, parágrafo, inciso</p><p>ou alínea (art. 66, § 2.º, da CF). Essa limitação difere do controle concentrado realizado pelo Judiciário.</p><p>📌Controle Concentrado: Expurgando Palavras e Expressões: No contexto do controle concentrado</p><p>de constitucionalidade, o STF tem a prerrogativa de realizar o chamado "controle posterior" ou "repressivo".</p><p>Nesse processo, o Tribunal pode expurgar do texto normativo apenas uma palavra, uma expressão ou uma</p><p>frase, sem a necessidade de declarar inconstitucional um texto integral de artigo, parágrafo, inciso ou alínea.</p><p>Isso caracteriza a interpretação conforme com redução de texto.</p><p>📌Exemplo Prático: ADI 1.227-8: Para ilustrar esse princípio, podemos analisar a ADI 1.227-8, na qual o</p><p>STF suspendeu a eficácia da expressão "desacato" do art. 7.º, § 2.º, do Estatuto dos Advogados. Nesse caso, o</p><p>Tribunal, ao invés de declarar inconstitucional o artigo como um todo, optou por expurgar apenas a expressão</p><p>considerada problemática, demonstrando a aplicação prática do princípio da parcelaridade.</p><p>7.1.17.2. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE SEM REDUÇÃO DE TEXTO</p><p>127</p><p>📌 Conceito de Declaração de Inconstitucionalidade sem Redução de Texto: Em muitas ocasiões, o</p><p>STF não limita sua decisão de inconstitucionalidade a uma simples declaração de nulidade da norma. Pelo</p><p>127 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 190.</p><p>126 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 189</p><p>92</p><p>contrário, o tribunal pode identificar que a inconstitucionalidade está relacionada a uma interpretação</p><p>específica da lei ou a uma aplicação particular da norma.</p><p>📌interpretação Conforme: No âmbito da Declaração de Inconstitucionalidade sem Redução de Texto,</p><p>o STF utiliza a figura da "interpretação conforme". Isso significa que, em vez de invalidar completamente a</p><p>norma, o tribunal indica qual interpretação ou aplicação é compatível com a Constituição, eliminando assim a</p><p>inconstitucionalidade.</p><p>É crucial observar que essa abordagem tem seus limites. O STF não pode atuar como legislador</p><p>positivo, criando novas normas ou substituindo o conteúdo da lei inconstitucional. A interpretação conforme é</p><p>permitida apenas quando o legislador deixa margem para diferentes interpretações, e cabe ao Judiciário indicar</p><p>qual delas respeita a Constituição.</p><p>📌Espaço para Decisão Judicial: A Declaração de Inconstitucionalidade sem Redução de Texto</p><p>pressupõe a existência de uma zona de incerteza ou ambiguidade na lei. O Judiciário atua preenchendo essa</p><p>lacuna deixada pelo Legislativo, oferecendo uma interpretação que seja congruente com os princípios</p><p>constitucionais.</p><p>📌Legislar Negativamente :É fundamental compreender que, ao declarar uma norma</p><p>inconstitucional, o STF atua como legislador negativo. Ou seja, o tribunal não cria uma nova norma, mas apenas</p><p>invalida a norma existente que não está em conformidade com a Constituição.</p><p>No tópico 10.4.1 elaboramos uma tabela comparativa bem objetiva da declaração de</p><p>inconstitucionalidade sem redução de texto x princípio da interpretação conforme.</p><p>✍ APROFUNDANDO: INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO ≠ DECLARAÇÃO DE</p><p>INCONSTITUCIONALIDADE SEM REDUÇÃO DE TEXTO</p><p>Bernardo Gonçalves ensina:</p><p>A interpretação conforme a Constituição é uma técnica a ser empregada no campo das decisões quanto ao</p><p>controle de constitucionalidade das leis. No controle de constitucionalidade das leis brasileiras, já se falava na</p><p>inter pretação conforme há tempos, vindo tal técnica a ser empregada de forma explícita na aqui citada ADI nº</p><p>1417.</p><p>Certo é que na interpretação conforme não há necessidade, nos órgãos de julgamento colegiado (tribunais</p><p>de 2º instância), que em face de um caso concreto (modelo difuso) seja levantada a chamada cláusula de</p><p>reserva de plenário - ou seja, a proposição de um incidente de inconstitucionalidade, conforme o art. 97 da</p><p>CR/88, que submeterá a questão ao Pleno do Tribunal ou órgão especial, já que a decisão da turma</p><p>julgadora salvará a norma declarando sua constitucionalidade.</p><p>Situação, então, diferente é a que acompanha a declaração de inconstituciona lidade sem redução de</p><p>texto, na qual, havendo declaração da inconstitucionalidade - mesmo que em situações particulares - o</p><p>mesmo só poderá, segundo o STF, se dar por decisão do Pleno ou do órgão especial do Tribunal (salvo,</p><p>93</p><p>como já estudado, se estivermos diante da exceção do parágrafo único do art. 481 do CPC) .128</p><p>O autor aduz ainda que “fato é que o STF vem de forma nominal afirmando o emprego de tal</p><p>instru mental, quando na verdade, às vezes, confunde-o com o instituto da interpretação conforme acertando</p><p>apenas em alguns casos. Nesses termos, infelizmente o STF, vez por outra, trata de forma equivalente as duas</p><p>modalidades, deixando assente uma nítida confusão entre as duas técnicas de decisão de controle de</p><p>constitucionalidade.</p><p>Marcelo Novelino por sua vez, faz a seguinte distinção:129</p><p>INTERPRETAÇÃO CONFORME</p><p>É conferido um sentido à norma e afastados outros analisados na</p><p>fundamentação, enquanto na declaração parcial de</p><p>inconstitucionalidade sem redução de texto é excluída uma</p><p>determinada interpretação, permitindo-se as demais comportadas pelo</p><p>texto constitucional. Ao fixar dada interpretação como constitucional,</p><p>não se declara a inconstitucionalidade de todas as outras possíveis</p><p>interpretações, podendo surgir novas hipóteses compatíveis com o</p><p>texto da Lei Maior. Por esse motivo, há quem defenda que a declaração</p><p>de nulidade sem redução de texto é dotada de maior clareza e</p><p>segurança jurídica.</p><p>DECLARAÇÃO DE</p><p>INCONSTITUCIONALIDADE</p><p>É técnica de decisão utilizável exclusivamente, sobretudo, no controle</p><p>normativo abstrato, ao passo que a interpretação conforme pode ser</p><p>empregada, pelo Tribunal Constitucional, como técnica decisória, mas</p><p>também, por qualquer intérprete da constituição, como princípio de</p><p>interpretação das leis.</p><p>DECLARAÇÃO DE</p><p>INCONSTITUCIONALIDADE SEM</p><p>REDUÇÃO DE TEXTO</p><p>A utilização desta técnica de decisão judicial faz com que uma</p><p>determinada hipótese de aplicação da lei seja declarada</p><p>inconstitucional, sem que ocorra qualquer alteração em seu texto.</p><p>Não há supressão de palavras que integram o texto da norma, mas</p><p>apenas a exclusão de determinada interpretação considerada</p><p>inconstitucional.</p><p>Por veicular um juízo de inconstitucionalidade, impõe a observância da</p><p>cláusula da reserva de plenário (CF, art. 97), diversamente do que</p><p>ocorre na interpretação conforme.</p><p>No âmbito do controle normativo abstrato, o Supremo Tribunal Federal tem empregado a declaração</p><p>parcial de inconstitucionalidade sem redução de texto e a interpretação conforme a constituição</p><p>como técnicas de decisão judicial equivalentes. Em ambas, há uma redução do âmbito de aplicação de</p><p>129 NOVELINO, Marcelo. Curso de direito constitucional - 16. ed. rev., ampl. e atual. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2021.</p><p>128 GONÇALVES, Bernardo. Curso de Direito Constitucional. 12. ed. rev., atual, e ampl. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2020.</p><p>94</p><p>dispositivos com mais de uma interpretação possível, sem qualquer alteração de seu texto.</p><p>Ainda sobre o tema, é importante mencionar o seguinte julgado:</p><p>Na interpretação conforme a Constituição, quando utilizada como princípio interpretativo, não há</p><p>necessidade de se observar a cláusula de reserva de plenário. Porém, quando utilizada como técnica de</p><p>decisão em controle de constitucionalidade, o STF vem entendendo pela necessária</p><p>aplicação da reserva</p><p>de plenário (RE 765.254 AgR-EDv, j. 20/04/2020, Pleno).</p><p>É possível observar que há uma distinção sobre interpretação conforme a constituição quando</p><p>utilizado para interpretação do texto constitucional, sendo desnecessária a observação da cláusula reserva</p><p>do plenário. O que difere quando a interpretação conforme a constituição é utilizada como decisão em</p><p>controle de constitucionalidade, situação a qual é necessária a aplicação da reserva do plenário.</p><p>7.1.17.3. EFEITO REPRISTINATÓRIO DA DECLARAÇÃO DE</p><p>INCONSTITUCIONALIDADE. NECESSIDADE DE IMPUGNAÇÃO DE TODO O</p><p>“COMPLEXO NORMATIVO”130</p><p>📌 Declaração de Inconstitucionalidade e Efeitos: A declaração de inconstitucionalidade resulta na</p><p>nulidade dos atos inconstitucionais, anulando qualquer eficácia jurídica. Um dos efeitos notáveis é o</p><p>repristinatório, que ocorre quando a decisão tem efeito retroativo, restabelecendo o ato normativo anterior ao</p><p>que foi declarado inconstitucional.</p><p>📌 Efeito Repristinatório e sua Expressão: O STF utiliza a expressão "efeito repristinatório" para</p><p>descrever esse fenômeno (cf. ADI 2.215-PE, medida cautelar, Rel. Min. Celso de Mello, Inf. 224/STF). Esse efeito</p><p>surge porque, se a lei é nula, ela nunca teve eficácia, nunca revogou outra norma e, assim, aquela que</p><p>supostamente foi "revogada" mantém sua eficácia. O reconhecimento desse efeito é crucial para entender a</p><p>relação entre normas no contexto da inconstitucionalidade.</p><p>📌Distinção entre "Efeito Repristinatório" e "Repristinação da Norma": É fundamental não</p><p>confundir "efeito repristinatório da declaração de inconstitucionalidade" com "repristinação da norma". No</p><p>primeiro caso, a lei anterior é restabelecida porque a lei objeto do controle é nula e nunca teve eficácia. No</p><p>segundo, a repristinação ocorre quando a lei revogada não é restaurada automaticamente; é necessária uma lei</p><p>expressa para revogar a lei revogadora, conforme o art. 2.º, § 3.º, da LINDB.</p><p>📌 Limites e Modulação dos Efeitos: Apesar do efeito repristinatório, podemos enfrentar situações</p><p>em que a norma anterior é revogada mesmo com o reconhecimento da inconstitucionalidade de uma norma</p><p>posterior. A modulação dos efeitos pode influenciar essa questão, permitindo que a lei objeto do controle tenha</p><p>eficácia durante o período determinado pelo STF.</p><p>130 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 191</p><p>95</p><p>📌Impugnação do Complexo Normativo: Ao ingressar com uma ADI, é crucial impugnar todo o</p><p>"complexo normativo", incluindo normas revogadoras e revogadas. Destacamos que o legitimado ativo da ADI</p><p>deve expressamente solicitar a análise da inconstitucionalidade da lei que voltará a produzir efeitos devido ao</p><p>efeito repristinatório. A omissão desse pedido pode resultar na impossibilidade do STF apreciar a questão.</p><p>📌Limite Temporal de Impugnação:O Min. Gilmar Mendes, em seu voto na ADI 3.660, estabeleceu</p><p>que a impugnação do "complexo normativo" se limita até o advento da nova Constituição. A necessidade de</p><p>indicar os atos que compõem essa "cadeia normativa" é essencial para uma análise precisa do controle abstrato</p><p>de normas.</p><p>“... é preciso levar em conta que o processo do controle abstrato de normas destina-se, fundamentalmente, à</p><p>aferição da constitucionalidade de normas pós-constitucionais (ADI n. 2, Rel. Paulo Brossard, DJ 2.2.92). Dessa</p><p>forma, eventual colisão entre o direito pré-constitucional e a nova Constituição deve ser simplesmente</p><p>resolvida segundo princípios de direito intertemporal (Lex posterior derogat priori). Assim, conjugando ambos</p><p>os entendimentos professados pela jurisprudência do Tribunal, a conclusão não pode ser outra senão a de</p><p>que a impugnação deve abranger apenas a cadeia de normas revogadoras e revogadas até o advento da</p><p>Constituição de 1988” (voto do Min. Gilmar Mendes na ADI 3.660, j. 13.03.2008, Plenário, DJE de 09.05.2008).</p><p>7.1.17.4. EFEITOS TEMPORAIS DA DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE131</p><p>7.1.17.4.1. COISA JULGADA “INCONSTITUCIONAL”. S. 343/STF. RESCISÓRIA (ART. 966,</p><p>V, CPC/2015)132</p><p>COLISÃO</p><p>■ Segurança jurídica</p><p>■ Autoridade do Poder Judiciário</p><p>■ Estabilidade das relações sociais</p><p>X</p><p>■ Força normativa da Constituição</p><p>■ Princípio da máxima efetividade das normas</p><p>constitucionais</p><p>■ Isonomia: a aplicação assimétrica viola um</p><p>referencial normativo que dá sustentação a todo</p><p>o sistema</p><p>📌Efeitos Retroativos da Declaração de Inconstitucionalidade: Como sabemos, a declaração de</p><p>inconstitucionalidade no controle concentrado possui efeitos retroativos, conhecidos como ex tunc. Isso implica</p><p>na nulidade da lei, indicando que ela nunca produziu efeitos, uma vez que a sentença declaratória busca</p><p>132 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 192</p><p>131 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 192</p><p>96</p><p>restabelecer os fatos ao status quo ante.</p><p>📌 Efeito Repristinatório: Dentre as diversas consequências desse reconhecimento, destaca-se o</p><p>"efeito repristinatório". Este fenômeno ocorre quando a declaração de inconstitucionalidade de uma norma faz</p><p>revigorar a norma anterior que supostamente teria sido revogada. Um aspecto interessante para</p><p>compreendermos como o ordenamento jurídico lida com as leis tidas como nulas.</p><p>📌Modulação dos Efeitos da Decisão: A prática da modulação dos efeitos da decisão, especialmente</p><p>em casos reconhecidos por decisões transitadas em julgado, é uma técnica essencial. Aqui, a conveniência e</p><p>aprimoramento pelo STF são perceptíveis, destacando-se a necessidade de respeitar a coisa julgada, salvo em</p><p>casos de matéria penal, que permite revisão criminal a qualquer tempo.</p><p>📌Desconstituição da Coisa Julgada: No âmbito processual, a desconstituição da coisa julgada segue</p><p>a regra da ação rescisória, que deve ser ajuizada dentro do prazo decadencial de 2 anos. Após esse período, a</p><p>decisão torna-se soberanamente julgada, imune à revisão. No entanto, técnicas de "relativização" ou</p><p>"desconstituição" são lembradas em situações específicas.</p><p>📌 Situações de Desconstituição da Coisa Julgada: Duas situações merecem destaque para a</p><p>desconstituição da coisa julgada: quando a decisão transitada em julgado se baseia em lei posteriormente</p><p>declarada inconstitucional e quando a decisão transitada em julgado afronta outros valores constitucionais.</p><p>Essa abordagem é conhecida como "sentença inconstitucional".</p><p>📌Cabimento da Ação Rescisória: O cabimento da ação rescisória, nos termos do art. 966, V, do</p><p>CPC/2015, é defendido tanto nos casos de declaração de constitucionalidade quanto de inconstitucionalidade</p><p>em controle concentrado, com efeito erga omnes e ex tunc. A inconstitucionalidade da sentença está na</p><p>desconformidade de interpretação dada à lei.</p><p>📌Prazo Decadencial e Controvérsia Constitucional: É crucial observar o prazo decadencial de 2</p><p>anos para o ajuizamento da ação rescisória. Além disso, a controvérsia sobre a matéria deve ser</p><p>necessariamente constitucional, afastando a incidência da S. 343/STF. O respeito a essas condições é vital para a</p><p>admissibilidade da rescisória.</p><p>📌 Desconstituição Após o Prazo Decadencial: Transcorrido o prazo sem o ajuizamento da ação</p><p>rescisória, não é possível a desconstituição da coisa julgada individual por essa via, mesmo que em controle</p><p>concentrado seja declarada a inconstitucionalidade da lei com efeitos ex tunc. Aqui, citamos a posição do Min.</p><p>Gilmar Mendes, destacando a proteção ao ato singular em nome da segurança jurídica.</p><p>📌Desconsideração à Luz do Princípio da Proporcionalidade: A desconsideração da coisa julgada</p><p>após o prazo decadencial só é possível por outra técnica, a da desconsideração à luz do princípio da</p><p>proporcionalidade. Isso é limitado às sentenças que ferem outros valores constitucionais de igual hierarquia à</p><p>97</p><p>segurança jurídica.</p><p>⚠Prospective overruling</p><p>É uma</p><p>técnica segundo a qual “os tribunais, ao mudarem suas regras jurisprudenciais, podem, por</p><p>razões de segurança jurídica (boa-fé e confiança legítima), aplicar a nova orientação apenas para os casos</p><p>futuros” (OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende de. Curso de Direito Administrativo. 2ª ed., São Paulo: Método,</p><p>2014, p. 103).</p><p>O CPC/2015 trouxe previsão expressa da possibilidade da modulação dos efeitos da superação</p><p>(prospective overruling):</p><p>CPC - Art. 927 (...) § 3o Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal e</p><p>dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode haver modulação dos</p><p>efeitos da alteração no interesse social e no da segurança jurídica.</p><p>7.1.17.4.2. EXPLICITAÇÃO DA AMPLITUDE DA S. 343/STF. “LEADING CASE”: RE 590.809</p><p>(J. 22.10.2014). REVOGADO CPC/73 E NOVO CPC/2015133</p><p>No RE 590.809, analisou-se a viabilidade da ação rescisória devido à mudança de entendimento sobre</p><p>créditos presumidos de IPI, consolidado em 02.03.2004. O STF, que inicialmente favorecia os contribuintes,</p><p>alterou seu posicionamento em 25.06.2007, prejudicando os interesses dos mesmos. Isso levou a Fazenda</p><p>Pública a buscar a cobrança de valores não recolhidos por meio de ações rescisórias, desafiando a S. 343/STF.</p><p>📌Mudança de Posicionamento do STF: O tribunal, ao revisitar a aplicação da S. 343/STF, decidiu</p><p>resgatar sua aplicação, restringindo o uso da ação rescisória. Essa mudança visou não banalizar o direito da</p><p>coisa julgada, destacando os princípios da segurança jurídica e estabilidade das relações sociais.</p><p>📌Entendimento do STF: Relator, Min. Marco Aurélio, ressaltou que a rescisória deve ser reservada</p><p>para situações excepcionalíssimas, em respeito à cláusula pétrea da coisa julgada. O tribunal buscou preservar</p><p>a decisão rescindenda mesmo diante da alteração do entendimento da Corte, em consonância com a S.</p><p>343/STF.</p><p>A ementa destaca a distinção entre ação rescisória e uniformização da jurisprudência, enfatizando que</p><p>a S. 343/STF deve ser observada quando houver entendimentos diversos sobre o alcance da norma</p><p>constitucional.</p><p>📌Relação com o Novo CPC: A preocupação demonstrada no caso reflete uma valorização no Novo</p><p>Código de Processo Civil. Este busca não apenas a estabilidade da jurisprudência, mas também sua integridade</p><p>e coerência, alinhado aos princípios da segurança jurídica, proteção da confiança e isonomia.</p><p>📌Revisão no CPC/2015: Embora o CPC/2015 não tenha explicitado a técnica em análise, entende-se</p><p>133 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 193</p><p>98</p><p>que o mecanismo de desconstituição da coisa julgada é cabível se houver mudança na jurisprudência do STF,</p><p>definindo o novo sentido da norma constitucional.</p><p>7.1.17.4.3. ARTS. 475-L, § 1.º, E 741, PARÁGRAFO ÚNICO, DO REVOGADO CPC/73:</p><p>“EMBARGOS RESCISÓRIOS134</p><p>CUMPRIMENTO DE SENTENÇA</p><p>CPC/73135</p><p>DO CUMPRIMENTO DEFINITIVO DA SENTENÇA</p><p>QUE RECONHECE A EXIGIBILIDADE DE</p><p>OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA</p><p>CPC/2015136</p><p>Art. 475-L: “A impugnação somente poderá versar</p><p>sobre: II — inexigibilidade do título.</p><p>§ 1.º Para efeito do disposto no inciso II do caput</p><p>deste artigo, considera-se também inexigível o título</p><p>judicial fundado em lei ou ato normativo</p><p>declarados inconstitucionais pelo Supremo</p><p>Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou</p><p>interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo</p><p>Supremo Tribunal Federal como incompatíveis</p><p>com a Constituição Federal”.</p><p>Art. 525, § 1.º: “Na impugnação, o executado poderá</p><p>alegar: III — inexequibilidade do título ou</p><p>inexigibilidade da obrigação;</p><p>§ 12. Para efeito do disposto no inciso III do § 1.º</p><p>deste artigo, considera-se também inexigível a</p><p>obrigação reconhecida em título executivo judicial</p><p>fundado em lei ou ato normativo considerado</p><p>inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou</p><p>fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do</p><p>ato normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal</p><p>como incompatível com a Constituição Federal, em</p><p>controle de constitucionalidade concentrado ou</p><p>difuso.</p><p>§ 13. No caso do § 12, os efeitos da decisão do</p><p>Supremo Tribunal Federal poderão ser modulados no</p><p>tempo, em atenção à segurança jurídica.</p><p>§ 14. A decisão do Supremo Tribunal Federal referida</p><p>no § 12 deve ser anterior ao trânsito em julgado da</p><p>decisão exequenda.</p><p>§ 15. Se a decisão referida no § 12 for proferida</p><p>após o trânsito em julgado da decisão exequenda,</p><p>caberá ação rescisória, cujo prazo será contado</p><p>do trânsito em julgado da decisão proferida pelo</p><p>136 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 195</p><p>135 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 195</p><p>134 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 194</p><p>99</p><p>Supremo Tribunal Federal”.</p><p>DOS EMBARGOS À EXECUÇÃO CONTRA A</p><p>FAZENDA PÚBLICA</p><p>CPC/73137</p><p>DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA QUE</p><p>RECONHEÇA A EXIGIBILIDADE DE OBRIGAÇÃO</p><p>DE PAGAR QUANTIA CERTA PELA FAZENDA</p><p>PÚBLICA</p><p>CPC/2015138</p><p>Art. 741. “Na execução contra a Fazenda Pública, os</p><p>embargos só poderão versar sobre: II —</p><p>inexigibilidade do título.</p><p>Parágrafo único. Para efeito do disposto no inciso II</p><p>do caput deste artigo, considera-se também</p><p>inexigível o título judicial fundado em lei ou ato</p><p>normativo declarados inconstitucionais pelo</p><p>Supremo Tribunal Federal, ou fundado em</p><p>aplicação ou interpretação da lei ou ato</p><p>normativo tidas pelo Supremo Tribunal Federal</p><p>como incompatíveis com a Constituição Federal”.</p><p>Art. 535. “A Fazenda Pública será intimada na pessoa</p><p>de seu representante judicial, por carga, remessa ou</p><p>meio eletrônico, para, querendo, no prazo de 30</p><p>(trinta) dias e nos próprios autos, impugnar a</p><p>execução, podendo arguir: III — inexequibilidade do</p><p>título ou inexigibilidade da obrigação.</p><p>§ 5.º Para efeito do disposto no inciso III do caput</p><p>deste artigo, considera-se também inexigível a</p><p>obrigação reconhecida em título executivo judicial</p><p>fundado em lei ou ato normativo considerado</p><p>inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou</p><p>fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do</p><p>ato normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal</p><p>como incompatível com a Constituição Federal, em</p><p>controle de constitucionalidade concentrado ou</p><p>difuso.</p><p>§ 6.º No caso do § 5.º, os efeitos da decisão do</p><p>Supremo Tribunal Federal poderão ser modulados no</p><p>tempo, de modo a favorecer a segurança jurídica.</p><p>§ 7.º A decisão do Supremo Tribunal Federal referida</p><p>no § 5.º deve ter sido proferida antes do trânsito em</p><p>julgado da decisão exequenda.</p><p>§ 8.º Se a decisão referida no § 5.º for proferida</p><p>após o trânsito em julgado da decisão exequenda,</p><p>caberá ação rescisória, cujo prazo será contado</p><p>do trânsito em julgado da decisão proferida pelo</p><p>Supremo Tribunal Federal”.</p><p>138 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 195</p><p>137 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 195</p><p>100</p><p>O professor Pedro Lenza , ao tratar do tema, inicia uma reflexão ponderando sobre a possibilidade de</p><p>inconstitucionalidade da novidade introduzida. Ele destaca a aparente violação aos princípios da segurança</p><p>jurídica e da autoridade do Poder Judiciário. Contudo, ele reconhece que essa argumentação perde força diante</p><p>da posição do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação à colisão apontada.</p><p>📌Ação Rescisória como Técnica Legítima: O autor ressalta que a ação rescisória é a única técnica</p><p>processual estabelecida no sistema brasileiro para desconstituir de maneira legítima a coisa julgada. Ele</p><p>fundamenta essa posição nos dispositivos constitucionais que preveem a ação rescisória em diversos casos</p><p>(arts. 102, I, “j”; 105, I, “e”; 108, I, “b”, e art. 27, § 10, do ADCT).</p><p>📌Embargos Rescisórios como Técnica Inconstitucional: Lenza argumenta que os arts. 475-L, § 1.º, e</p><p>741, parágrafo único, do CPC/73 não tratam de uma "relativização" moderada ou da hipótese de</p><p>"desconstituição pelo princípio da proporcionalidade". Em sua visão, eles introduzem uma nova técnica (os</p><p>"embargos rescisórios") que confronta a regra constitucional da ação rescisória, sendo, portanto,</p><p>inconstitucional.</p><p>📌Decisão do STF e Constitucionalidade: No julgamento da ADI 2.418, por 10 votos a 1, o STF</p><p>declarou a constitucionalidade do parágrafo único do art. 741 e do § 1.º do art. 475-L do CPC/73, bem como</p><p>seus correspondentes dispositivos no CPC/2015. Lenza menciona que essa decisão foi confirmada em plenário</p><p>virtual no julgamento da ADI 3.740.</p><p>📌Mecanismo Rescisório de Sentenças com Vício de Inconstitucionalidade: O autor explora o</p><p>mecanismo previsto nos arts. 525, § 12, e 535, § 5.º, do CPC/2015, que estabelece a inexigibilidade da obrigação</p><p>se o título estiver fundamentado em lei declarada inconstitucional pelo STF. Ele destaca que esse mecanismo</p><p>visa harmonizar a garantia da coisa julgada com o primado da Constituição.</p><p>📌 Distinção entre Controle Difuso e Concentrado: Lenza aborda a distinção feita pelo STF quanto ao</p><p>reconhecimento da inconstitucionalidade no controle difuso ou concentrado. Ele sustenta que a</p><p>"contaminação" do título só ocorrerá se o reconhecimento da inconstitucionalidade for em controle</p><p>concentrado ou, no controle difuso, se a execução da lei for suspensa por resolução do Senado Federal (art. 52,</p><p>X).</p><p>7.1.17.4.4. EFEITO DA DECISÃO NO PLANO NORMATIVO (“NORMEBENE”) E NO</p><p>PLANO DO ATO SINGULAR (“EINZELAKTEBENE”)139</p><p>📌Efeito Vinculante: O efeito vinculante, seja decorrente do controle concentrado (ADI ou ADC),</p><p>súmula vinculante ou resolução do Senado Federal, impacta situações individuais. O STF tem adotado a</p><p>supervalorização dos precedentes nos moldes do CPC/2015, conforme a ADI 2.418.</p><p>139 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 196</p><p>101</p><p>O magistrado, em ação individual, ao surgir decisão em controle concentrado, súmula vinculante ou</p><p>resolução do Senado, fica vinculado a decidir questões de inconstitucionalidade conforme estabelecido no</p><p>processo coletivo.</p><p>📌Desconstituição da Coisa Julgada por Ação Rescisória: Decisões individuais em desrespeito a</p><p>entendimentos prévios vinculantes podem ensejar a desconstituição da coisa julgada. A ação rescisória,</p><p>fundamentada no art. 966, IV, do CPC/2015, pode ser utilizada quando há ofensa à coisa julgada anterior do</p><p>processo coletivo.</p><p>Se o STF modificar o entendimento, a sentença individual anterior pode ser considerada</p><p>inconstitucional. Nesse caso, a ação rescisória, com base no art. 966, V, do CPC/2015, seria cabível, mantendo-se</p><p>o prazo decadencial de 2 anos a partir do trânsito em julgado.</p><p>📌Desafios na Rescisão da Coisa Julgada: O Ministro Gilmar Mendes destaca a complexidade da</p><p>rescisão da coisa julgada em caso de mudança de entendimento pelo STF. A decisão do STF não reforma</p><p>automaticamente sentenças anteriores, sendo necessário ponderar valores constitucionais, como razoabilidade</p><p>e proporcionalidade.</p><p>O prazo decadencial de 2 anos para a ação rescisória deve ser respeitado, contado do trânsito em</p><p>julgado da sentença individual. A decisão do STF, por si só, não altera esse prazo, evitando uma potencial</p><p>violação aos princípios de segurança jurídica e autoridade das decisões judiciais.</p><p>📌Proteção ao Ato Singular: Fórmulas de Preclusão: O Ministro Gilmar Mendes enfatiza a</p><p>necessidade de proteção ao ato singular em homenagem à segurança jurídica. Ele propõe a utilização das</p><p>fórmulas de preclusão para diferenciar o efeito da decisão no plano normativo ("Normebene") e no plano</p><p>do ato singular ("Einzelaktebene").</p><p>Essa diferenciação é essencial para lidar com a complexidade da rescisão da coisa julgada em face de</p><p>mudanças jurisprudenciais, especialmente em casos excepcionais.</p><p>PLANO NORMATIVO ("NORMEBENE")</p><p>PLANO DO ATO SINGULAR</p><p>("EINZELAKTEBENE")</p><p>■Definição: Refere-se ao impacto de uma decisão no</p><p>âmbito normativo geral, ou seja, a sua influência</p><p>sobre a interpretação e validade das normas</p><p>jurídicas.</p><p>■Exemplo: Se o Supremo Tribunal Federal (STF)</p><p>declara a inconstitucionalidade de uma lei em um</p><p>processo de controle concentrado, isso tem efeito no</p><p>plano normativo, invalidando a norma em questão</p><p>para todos os casos futuros.</p><p>■Características: O efeito no plano normativo</p><p>■Definição: Refere-se ao impacto específico de uma</p><p>decisão sobre um ato singular ou um caso individual.</p><p>■Exemplo: Se, em um caso específico, o tribunal</p><p>decide que determinada conduta é inconstitucional,</p><p>o efeito no plano do ato singular aplica-se apenas à</p><p>situação das partes envolvidas nesse caso.</p><p>■Características: O efeito no plano do ato singular é</p><p>mais restrito, vinculando apenas as partes envolvidas</p><p>no caso julgado, sem afetar diretamente outras</p><p>102</p><p>transcende a situação específica das partes</p><p>envolvidas no caso julgado, aplicando-se de forma</p><p>mais ampla a todos os casos similares que possam</p><p>surgir no futuro.</p><p>situações similares.</p><p>📌 Decisão Relevante: Exceções à Coisa Julgada: O STF, em uma decisão relevante, aplicou a técnica</p><p>da ponderação mesmo após o prazo da ação rescisória. A busca da identidade genética foi considerada um</p><p>direito fundamental, afastando a alegação de segurança jurídica quando a recusa do exame de DNA foi do</p><p>investigado.</p><p>A decisão mostra que, em situações excepcionais, o STF pode relativizar a coisa julgada em prol de</p><p>direitos fundamentais.</p><p>“EMENTA: (...). 1. É dotada de repercussão geral a matéria atinente à possibilidade da propositura de ação de</p><p>investigação de paternidade, quando anterior demanda idêntica, entre as mesmas partes, foi julgada</p><p>improcedente, por falta de provas, em razão da parte interessada não dispor de condições econômicas para</p><p>realizar o exame de DNA e o Estado não ter custeado a produção dessa prova. 2. Deve ser relativizada a</p><p>coisa julgada estabelecida em ações de investigação de paternidade em que não foi possível</p><p>determinar-se a efetiva existência de vínculo genético a unir as partes, em decorrência da não</p><p>realização do exame de DNA, meio de prova que pode fornecer segurança quase absoluta quanto à</p><p>existência de tal vínculo. 3. Não devem ser impostos óbices de natureza processual ao exercício do direito</p><p>fundamental à busca da identidade genética, como natural emanação do direito de personalidade de um ser,</p><p>de forma a tornar-se igualmente efetivo o direito à igualdade entre os filhos, inclusive de qualificações, bem</p><p>assim o princípio da paternidade responsável” (RE 363.889, Rel. Min. Dias Toffoli, Plenário, j. 02.06.2011, DJE</p><p>de 16.12.2011).</p><p>⚠ATENÇÃO: ‘A 3.ª Turma do STJ, por sua vez, em momento seguinte e por unanimidade, concluiu que esse</p><p>entendimento fixado pelo STF não deveria ser seguido se a não realização do exame de DNA decorresse de</p><p>recusa do investigado ou seus herdeiros para o comparecimento ao laboratório para a coleta do material</p><p>biológico. Isso porque, no precedente firmado pelo STF, a impossibilidade de realização do exame se verificou</p><p>em razão de um peculiar contexto, qual seja, a ausência de condições da parte e a negativa do Estado em</p><p>implementá-la, caracterizando, então, circunstâncias alheias à vontade das partes .”140</p><p>“1. O Supremo Tribunal Federal, ao apreciar o RE 363.889/DF, com repercussão geral reconhecida, permitiu,</p><p>em caráter excepcional, a relativização da coisa julgada formada em ação de investigação julgada</p><p>improcedente por ausência de provas, quando não tenha sido oportunizada a realização de exame pericial</p><p>acerca da origem biológica do investigando por circunstâncias alheias à vontade das partes. 2. Hipótese</p><p>distinta do caso concreto em que a ação de investigação de paternidade foi julgada procedente com base na</p><p>prova testemunhal</p><p>(cf. S. 301-STJ, acrescente-se), e, especialmente, diante da reiterada recusa dos herdeiros</p><p>do investigado em proceder ao exame genético, que, chamados à coleta do material por sete vezes, deixaram</p><p>de atender a qualquer deles. 3. Configura conduta manifestamente contrária à boa-fé objetiva, a ser</p><p>140 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 199</p><p>103</p><p>observada também em sede processual, a reiterada negativa, por parte da recorrente, de produzir a prova que</p><p>traria certeza à controvérsia estabelecida nos autos da anterior ação de investigação de paternidade para,</p><p>transitada em julgado a decisão que lhe é desfavorável, ajuizar ação negatória de paternidade agora visando à</p><p>realização do exame de DNA que se negara a realizar anteriormente. 4. Intolerável o comportamento</p><p>contraditório da parte, beirando os limites da litigância de má-fé” (STJ, 3.ª T., REsp 1.562.239/MS, Rel. Min.</p><p>Paulo de Tarso Sanseverino, j. 09.05.2017, DJE de 16.05.2017).</p><p>📌O CPC/2015 trouxe uma novidade relevante relacionada à ação rescisória. Conforme o art. 966, VII, a</p><p>decisão de mérito, que já transitou em julgado, pode ser rescindida se o autor, após esse trânsito em julgado,</p><p>obtiver prova nova que desconhecia ou não pôde utilizar anteriormente. Essa prova, por si só, deve ser</p><p>capaz de garantir um pronunciamento favorável ao autor.</p><p>Entretanto, o art. 975, § 2.º, estabelece que o prazo para a propositura da ação rescisória, com base</p><p>nessa nova previsão, terá como termo inicial a data de descoberta da prova nova. Esse prazo, no entanto, não</p><p>poderá ultrapassar 5 anos, sendo contado a partir do trânsito em julgado da última decisão proferida no</p><p>processo.</p><p>7.1.17.5. PEDIDO DE CAUTELAR (ADI GENÉRICA)141</p><p>📌Concessão da Cautelar: Segundo o artigo 10 da Lei n. 9.868/99, a medida cautelar na ADI será</p><p>concedida pela maioria absoluta dos membros do Tribunal, observando o quorum de instalação da sessão.</p><p>Antes da decisão, os órgãos ou autoridades responsáveis pelo ato normativo impugnado serão ouvidos em até</p><p>5 dias, podendo o Tribunal dispensar essa audiência em situações de excepcional urgência.</p><p>O relator, se julgar necessário, ouvirá o Advogado-Geral da União e o Procurador-Geral da República,</p><p>dando-lhes 3 dias para manifestação. Ademais, a liminar poderá ser concedida caso estejam presentes os</p><p>requisitos do periculum in mora e do fumus boni iuris, suspendendo a eficácia do ato normativo impugnado.</p><p>📌Efeitos da Concessão: A concessão da medida cautelar possui eficácia erga omnes, aplicando-se a</p><p>todos os casos, e efeito ex nunc, salvo se o Tribunal entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa (ex</p><p>tunc). É relevante notar que a decisão torna aplicável a legislação anterior, a menos que haja uma manifestação</p><p>expressa em sentido contrário.</p><p>Além disso, o relator pode, no prazo de 10 dias após a prestação de informações, submeter o processo</p><p>diretamente ao Tribunal, que terá a faculdade de julgar definitivamente a ação, considerando a relevância da</p><p>matéria para a ordem social e a segurança jurídica.</p><p>📌Indeferimento da Cautelar: Contrariamente a uma concepção anterior, o STF esclareceu que o</p><p>indeferimento da cautelar não confirma a constitucionalidade da lei com efeito vinculante. Nesse sentido, não é</p><p>cabível reclamação contra decisão que indefere, sob qualquer fundamento, pedido de liminar em ADI.</p><p>141 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 197</p><p>104</p><p>7.1.18. RECLAMAÇÃO PARA A GARANTIA DA AUTORIDADE DA DECISÃO DO STF:</p><p>PARADIGMA DE ORDEM OBJETIVA (ADI GENÉRICA E SÚMULA VINCULANTE)142</p><p>7.1.18.1. REGRAS GERAIS143</p><p>A Reclamação é um instrumento jurídico utilizado para garantir a autoridade das decisões proferidas</p><p>pelo STF. A competência para sua análise é originária do STF, conforme o art. 102, I, “l” da Constituição Federal.</p><p>Importante ressaltar que a Reclamação só é cabível se o ato judicial, que alegadamente desrespeitou a decisão</p><p>do STF, não tiver transitado em julgado, conforme estabelecido pela Súmula 734/STF de 26.11.2003.</p><p>A Emenda Constitucional n. 45/2004 trouxe uma ampliação do escopo da Reclamação, permitindo seu</p><p>uso para resguardar a correta aplicação das Súmulas Vinculantes, conforme o art. 103-A, § 3.º da CF/88.</p><p>📌 Limites do Cabimento da Reclamação:</p><p>Na vigência do Código de Processo Civil de 1973, o Ministro Dias Toffoli, refletindo o entendimento do</p><p>STF, destacou que a Reclamação só seria admitida se a decisão da Suprema Corte, cuja autoridade estava</p><p>supostamente comprometida, fosse revestida de efeito vinculante e eficácia erga omnes. Paradigma de ordem</p><p>subjetiva não era admitido, como afirmado no julgamento Rcl 14.810-AgR em 23.05.2013.</p><p>A interpretação estrita para o cabimento da Reclamação, defendida nessa perspectiva, sustenta que a</p><p>previsão de efeito vinculante deve ser explícita na Constituição Federal, seja na redação originária, seja por</p><p>emenda constitucional. O receio era que a interpretação ampla pudesse transformar o STF em uma Corte de</p><p>revisão, um órgão recursal.</p><p>📌 Impacto do CPC/2015 e Posicionamento Atual:</p><p>O Código de Processo Civil de 2015 trouxe mudanças que, segundo alguns, podem ser consideradas</p><p>inconstitucionais. Apesar do reconhecimento da eficácia expansiva das decisões, mesmo em controvérsias</p><p>individuais, a recomendação é uma interpretação estrita para o cabimento da Reclamação, evitando um acesso</p><p>per saltum à Suprema Corte.</p><p>Importante notar que essa perspectiva pode não se sustentar perante a jurisprudência do STF</p><p>consolidada após a entrada em vigor do CPC/2015. Sugerimos a leitura do item 6.6.5.6 para entender melhor o</p><p>posicionamento atual do STF. Até que haja uma mudança nesse entendimento, a aplicação da lei (art. 988,</p><p>CPC/2015) é indicada, principalmente em provas de concursos públicos.</p><p>📌Legitimados para a Propositura:</p><p>Até o julgamento da questão de ordem na Reclamação n. 1.880 em 07.11.2002, a jurisprudência do STF</p><p>não considerava parte interessada para propor a Reclamação se fossem terceiros com interesse subjetivo na</p><p>observância da decisão. A ação direta de inconstitucionalidade era vista como um processo objetivo, sem</p><p>partes, sem litígio concreto. A reclamação seria conhecida apenas se proposta por um dos legitimados do art.</p><p>103 da CF/88 e com o mesmo objeto.</p><p>143 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 201.</p><p>142 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 201.</p><p>105</p><p>Após o novo posicionamento, o STF declarou constitucional o parágrafo único do art. 28 da Lei n.</p><p>9.868/99, ampliando o conceito de parte interessada. Agora, todos aqueles atingidos por decisões contrárias ao</p><p>entendimento do STF em ADI têm legitimidade para propor a Reclamação.</p><p>📌 Efeito Vinculante e Eficácia da Decisão:</p><p>A Emenda Constitucional n. 45/2004 reforçou a perspectiva do efeito vinculante das decisões do STF. As</p><p>decisões definitivas de mérito nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de</p><p>constitucionalidade produzem eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do</p><p>Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, em todas as esferas.</p><p>A amplitude desse instituto é evidente quando se considera a possibilidade de ajuizamento de</p><p>Reclamação até mesmo contra atos de Prefeitos que contrariem decisões vinculantes do STF.</p><p>7.1.18.2. NATUREZA JURÍDICA DO INSTITUTO DA RECLAMAÇÃO144</p><p>A natureza jurídica da reclamação é um ponto de destaque na compreensão desse instituto. Diversos</p><p>juristas e ministros do Supremo Tribunal Federal apresentam diferentes perspectivas sobre como classificar a</p><p>reclamação. Vamos explorar algumas dessas visões:</p><p>■ Ação: Pontes de Miranda, em seus Comentários ao Código de Processo Civil, considera</p><p>a reclamação</p><p>como uma ação.</p><p>■ Recurso ou Sucedâneo Recursal: Moacyr Amaral Santos e Alcides de Mendonça Lima apresentam a</p><p>perspectiva de que a reclamação pode ser entendida como um recurso ou sucedâneo recursal.</p><p>■ Remédio Incomum: Orozimbo Nonato, citado por Cordeiro de Mello, sugere que a reclamação é um</p><p>remédio incomum.</p><p>■ Incidente Processual: Moniz de Aragão considera a reclamação como um incidente processual.</p><p>■ Medida de Direito Processual Constitucional: José Frederico Marques, em seu Manual de Direito</p><p>Processual Civil, a classifica como uma medida de direito processual constitucional.</p><p>■ Medida Processual de Caráter Excepcional: O Ministro Djaci Falcão destaca o caráter excepcional</p><p>da reclamação.</p><p>■ Instrumento de Extração Constitucional: O próprio Ministro Marco Aurélio, na Ementa da Rcl 336,</p><p>destaca que a reclamação é um instrumento de extração constitucional, destinado a preservar a competência e</p><p>garantir a autoridade das decisões do STF e STJ.</p><p>■ Simples Postulação Perante o Órgão Decisor: Grinover destaca que a reclamação não é uma ação,</p><p>recurso ou incidente, mas uma simples postulação perante o próprio órgão que proferiu a decisão para garantir</p><p>seu exato cumprimento.</p><p>■ Provedor Mandamental de Natureza Constitucional: Pedro Lenza destaca o caráter mandamental</p><p>e a natureza constitucional da reclamação.</p><p>📌Análise Crítica da Natureza Jurídica:</p><p>O professor Pedro Lenza destaca que Grinover contribui com uma interpretação que merece destaque:</p><p>144 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 200.</p><p>106</p><p>a reclamação é um verdadeiro exercício constitucional de direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de</p><p>direitos ou contra ilegalidades ou abusos de poder, conforme previsto no art. 5.º, XXXIV, "a" da Constituição</p><p>Federal.</p><p>Esse entendimento ganha respaldo em decisões do STF, como na ADI 2.480, de 02.04.2007, onde a</p><p>previsão da reclamação para o controle de constitucionalidade estadual foi aceita, consolidando a ideia de que</p><p>a reclamação é um instrumento mandamental e de natureza constitucional.</p><p>7.2. AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE (ADC)145</p><p>📌 Histórico e Origem: A ADC foi introduzida no ordenamento jurídico pela Emenda Constitucional n.</p><p>3/1993, alterando o art. 102, I, “a”, e acrescentando os §§ 2.º e 4.º ao art. 103 da Constituição Federal. A</p><p>regulamentação do seu processo e julgamento ocorreu pela Lei n. 9.868/99.</p><p>📌Presunção Relativa e Presunção Absoluta: A presunção relativa de constitucionalidade de uma lei</p><p>é comum, mas a ADC visa transformá-la em presunção absoluta. Enquanto a primeira permite prova em</p><p>contrário, a presunção absoluta, uma vez estabelecida pela ADC, vincula todos os órgãos do Poder Judiciário e a</p><p>Administração Pública, impedindo qualquer declaração de inconstitucionalidade ou ação em desconformidade</p><p>com a decisão do STF.</p><p>📌Efeito Vinculante e Possibilidade de Revisão: O efeito vinculante da ADC não significa uma</p><p>imutabilidade eterna. O STF pode mudar sua posição, alterando a interpretação dada ao ato normativo federal.</p><p>No entanto, enquanto essa mudança não ocorrer, os juízes e tribunais devem obedecer ao efeito vinculante da</p><p>decisão.</p><p>📌Objeto da ADC: A ADC tem como objeto específico leis ou atos normativos federais. Diferentemente</p><p>da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) genérica, que abrange também leis ou atos normativos estaduais.</p><p>Está previsto no art. 102, I, “a”, CF.</p><p>Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:</p><p>I - processar e julgar, originariamente:</p><p>a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de</p><p>constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;</p><p>OBJETO DA ADI OBJETO DA ADC</p><p>Lei ou ato normativo federal ou estadual. Lei ou ato normativo federal.</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Nesse sentido, para prova para o cargo de Defensor Público/DPE-RS (Ano: 2022, CESPE/CEBRASPE) foi</p><p>145 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 200.</p><p>107</p><p>considerada errada a assertiva que dizia:</p><p>“Em razão das consequências econômicas da pandemia de COVID-19, determinado estado-membro promulgou</p><p>lei ordinária com o seguinte teor: “Ficam as instituições de ensino da educação infantil, ensino fundamental,</p><p>ensino médio e superior da rede privada do Estado obrigadas a conceder diferimento em suas mensalidades</p><p>em percentual mínimo de 30% (trinta por cento), enquanto durarem as medidas temporárias para</p><p>enfrentamento da emergência de saúde pública decorrente da pandemia de COVID-19”. A partir dessa</p><p>premissa, julgue o item que se segue, considerando a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e as</p><p>disposições da Constituição da República sobre a matéria.</p><p>Em se tratando de discussão envolvendo a compatibilidade da legislação estadual com a Constituição Federal,</p><p>compete ao STF apreciar a questão, por meio de ação direta de inconstitucionalidade ou ação declaratória de</p><p>constitucionalidade.”</p><p>📌Competência: O órgão competente para apreciar a ADC é o Supremo Tribunal Federal (STF),</p><p>conforme o art. 102, I, “a”, da Constituição Federal, de forma originária.</p><p>📌Legitimidade: Antes da Emenda Constitucional n. 45/2004, apenas quatro entidades tinham</p><p>legitimidade para propor ADC: Presidente da República, Mesa do Senado Federal, Mesa da Câmara dos</p><p>Deputados e Procurador-Geral da República. No entanto, com a revogação do § 4.º e a nova redação do art. 103,</p><p>os legitimados tornaram-se os mesmos da ADI genérica.</p><p>7.2.1 PROCEDIMENTO (ADC)</p><p>📌Natureza e Ambivalência:</p><p>◾A ADC é apresentada quando se busca declarar a constitucionalidade de uma norma.</p><p>◾Existe uma ambivalência entre a ADC e a ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade). Se uma é</p><p>procedente, a outra é considerada improcedente.</p><p>📌Participantes:</p><p>◾O Procurador-Geral da República (PGR) deve ser ouvido previamente, emitindo um parecer sobre a</p><p>constitucionalidade da norma em questão.</p><p>◾ Não é consenso se o Advogado-Geral da União (AGU) deve ser citado na ADC, pois, diferentemente</p><p>da ADI, não há um ato ou texto impugnado na inicial.</p><p>📌Requisitos da Inicial:</p><p>◾A inicial deve demonstrar a controvérsia judicial que coloca em risco a presunção de</p><p>constitucionalidade da norma.</p><p>◾Se alegado vício formal de inconstitucionalidade, documentos relativos ao processo legislativo devem</p><p>ser anexados.</p><p>📌Tramitação</p><p>108</p><p>◾Petições iniciais ineptas ou manifestamente improcedentes são liminarmente indeferidas pelo</p><p>relator.</p><p>◾Contra essa decisão, cabe agravo, conforme o art. 15 da Lei n. 9.868/99.</p><p>📌Recurso e Prazos:</p><p>◾Contra a decisão monocrática do relator, cabe recurso de agravo interno para o Pleno do STF.</p><p>◾O prazo para interposição desse recurso é de 15 dias, contados em dias úteis.</p><p>📌Julgamento:</p><p>◾Após a manifestação do PGR, o relator elabora o relatório, enviado a todos os Ministros, e agenda o</p><p>julgamento.</p><p>◾Pode haver solicitação de esclarecimentos adicionais, designação de peritos, audiência pública ou</p><p>obtenção de informações de tribunais.</p><p>📌Votação e Quórum:</p><p>◾O quórum para instalação da sessão é o mesmo que na ADI: 8 Ministros.</p><p>◾ A declaração de constitucionalidade exige o voto da maioria absoluta dos 11 Ministros, ou seja, pelo</p><p>menos 6 votos favoráveis.</p><p>📌Intervenção de Terceiros e Desistência:</p><p>◾É vedada a intervenção de terceiros, embora a participação do amicus curiae seja admitida.</p><p>◾A desistência da ação após sua propositura não é permitida.</p><p>📌 Decisão Final:</p><p>◾A decisão é irrecorrível, ressalvada a interposição de embargos declaratórios.</p><p>◾Não pode ser objeto de ação rescisória.</p><p>ADI E ADC SÃO AÇÕES DÚPLICES OU AMBIVALENTES, OU SEJA, SÃO “AÇÕES COM SINAIS</p><p>TROCADOS”. A PROCEDÊNCIA DE UMA IMPLICA A IMPROCEDÊNCIA DA OUTRA146</p><p>Ação</p><p>■ ADI (ação direta de</p><p>inconstitucionalidade)</p><p>■ ADC (ação declaratória de</p><p>constitucionalidade)</p><p>Resultado do julgamento ■ (+) procedência ■ (–) improcedência</p><p>Consequência em relação à lei ■ inconstitucionalidade ■ inconstitucionalidade</p><p>146 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 202.</p><p>109</p><p>7.2.2. EFEITOS DA DECISÃO (ADC)147</p><p>Os efeitos da decisão na Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) são estabelecidos pelo art.</p><p>102, § 2.º, criado pela EC n. 3/93. As decisões definitivas de mérito proferidas pelo STF nas ADCs têm os</p><p>seguintes efeitos:</p><p>◾Erga omnes: A decisão tem eficácia contra todos, aplicando-se de maneira geral.</p><p>◾Ex tunc: Os efeitos retroagem à origem, alcançando situações pretéritas.</p><p>◾Vinculante: A decisão é vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e à Administração</p><p>Pública federal, estadual, municipal e distrital, obrigando-os a seguirem o entendimento firmado pelo STF.</p><p>7.2.3. MEDIDA CAUTELAR (ADC)148</p><p>📌 Origens e Fundamentos: A Lei n. 9.868/99 introduziu a possibilidade de se requerer medida</p><p>cautelar nas Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADC). Essa medida foi concebida como um</p><p>instrumento para garantir a eficácia da decisão final do Supremo Tribunal Federal (STF) nessas ações.</p><p>📌Fundamentação Legal: O artigo 21 da referida lei é central nesse contexto. Ele estabelece que o STF,</p><p>por decisão da maioria absoluta de seus membros, pode deferir pedido de medida cautelar na ADC. Essa</p><p>medida consiste na determinação de que juízes e tribunais suspendam o julgamento dos processos que</p><p>envolvam a aplicação da lei ou do ato normativo objeto da ação até seu julgamento definitivo.</p><p>📌 Prazos e Efeitos da Medida Cautelar: É importante ressaltar que a suspensão determinada pela</p><p>medida cautelar perdurará por 180 dias, contados a partir da publicação da parte dispositiva da decisão no</p><p>Diário Oficial da União. Esse prazo é estabelecido pela lei para que o tribunal julgue a ação declaratória. Após</p><p>esse período, sem julgamento, a eficácia da medida cautelar cessa.</p><p>📌Efeito Vinculante e Erga Omnes: Uma questão relevante foi levantada quanto à possibilidade de</p><p>atribuição de efeito vinculante e erga omnes em sede de liminar na ADC. A jurisprudência do STF, consolidada</p><p>no julgamento da ADC (MC) 4, afirma que é perfeitamente possível a atribuição desses efeitos, mesmo em</p><p>decisões não definitivas de mérito. Isso se justifica pelo poder geral de cautela da Corte, sendo que tais decisões</p><p>podem ser preservadas pelo instrumento da reclamação (CF, art. 102, I, “l”).</p><p>📌 Indeferimento da Cautelar e Efeitos Ambivalentes: Caso a medida cautelar seja indeferida, em</p><p>razão da natureza ambivalente da ação, esse indeferimento terá efeitos semelhantes à procedência da Ação</p><p>Direta de Inconstitucionalidade (ADI). Assim, se a Corte se manifestar no dispositivo da decisão, respeitando os</p><p>requisitos legais, é possível estabelecer o efeito vinculante e erga omnes em relação a essa decisão,</p><p>148 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 203.</p><p>147 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 203.</p><p>110</p><p>equiparando-a à concessão da cautelar em ADI.</p><p>7.3. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF)149</p><p>7.3.1. LOCALIZAÇÃO (ADPF)150</p><p>A localização da arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) está prevista no § 1.º do</p><p>art. 102 da Constituição Federal de 1988, que confere ao Supremo Tribunal Federal (STF) a competência para</p><p>apreciá-la conforme a legislação. A Lei n. 9.882/99, ao regulamentar esse dispositivo constitucional, estabeleceu</p><p>as regras procedimentais para a ADPF. Antes da promulgação dessa lei, o STF considerou que o art. 102, § 1.º,</p><p>da CF/88 possuía eficácia limitada, exigindo uma legislação específica para que a Suprema Corte pudesse</p><p>analisar a ação constitucional. Essa interpretação foi manifestada em decisão como a Pet 1.140 AgR, julgada em</p><p>02.05.1996 e publicada no DJ de 31.05.1996.</p><p>7.3.2. OBJETO — HIPÓTESES DE CABIMENTO (ADPF)151</p><p>A Lei n. 9.882/99, em seu artigo 1.º, caput, estabelece a arguição autônoma da ADPF. Nessa modalidade,</p><p>busca-se evitar ou reparar lesão a preceito fundamental resultante de ato do Poder Público. É crucial</p><p>compreender que há um caráter preventivo na primeira situação, visando evitar a lesão, e um caráter</p><p>repressivo na segunda, buscando reparar a lesão já ocorrida.</p><p>É importante destacar que o nexo de causalidade entre a lesão ao preceito fundamental e o ato do</p><p>Poder Público deve ser evidente. Essa lesão não está restrita apenas a atos normativos, podendo derivar de</p><p>qualquer ato administrativo, incluindo decretos regulamentares.</p><p>📌Arguição Incidental: Controvérsia Constitucional Relevante: A segunda hipótese de cabimento</p><p>da ADPF, prevista no parágrafo único do art. 1.º da Lei n. 9.882/99, é a arguição incidental. Nesse caso, a ADPF é</p><p>cabível quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal,</p><p>estadual, municipal (e, por consequência, distrital).</p><p>Para que essa modalidade seja admitida, é necessário demonstrar a existência de uma controvérsia</p><p>judicial relevante na aplicação do ato normativo que viola o preceito fundamental. Destaca-se que essa</p><p>modalidade se restringe a atos normativos e exige a demonstração de uma controvérsia judicial concreta,</p><p>indicando a necessidade de uma demanda real. O art. 6.º, § 2.º, da Lei n. 9.882/99 permite ao relator ouvir as</p><p>partes nos processos que ensejaram a arguição, reforçando a ideia de antecipação do entendimento da</p><p>Suprema Corte sobre a matéria.</p><p>📌 Cisão Funcional e Divergência Jurisdicional: A ADPF incidental, conforme observada por Gilmar</p><p>Mendes, apresenta uma cisão funcional no plano vertical, diferenciando-se da cisão funcional horizontal</p><p>presente no art. 97. Além disso, destaca-se a necessidade de comprovação da divergência jurisdicional</p><p>relevante na aplicação do ato normativo, indicando a existência de uma demanda concreta.</p><p>151 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 203.</p><p>150 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 203.</p><p>149 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 203.</p><p>111</p><p>📌Análise em Abstrato de Recepção de Lei ou Ato Normativo: A ADPF também pode ter por objeto</p><p>ato editado antes da Constituição, possibilitando sua utilização como instrumento de análise em abstrato de</p><p>recepção de lei ou ato normativo. Conforme observado por Gilmar Mendes, a revogação da norma editada</p><p>antes do novo ordenamento jurídico não impede o exame da matéria em sede de ADPF, pois o que se busca é a</p><p>declaração de ilegitimidade ou não recepção da norma pela ordem constitucional superveniente.</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Nesse sentido, para prova para o cargo de Defensor Público - DPE-SE (Ano: 2022, CESPE/CEBRASPE) foi</p><p>considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “b”:</p><p>À luz da Lei n.º 9.882/1999 e da jurisprudência do STF, assinale opção correta acerca da Arguição de</p><p>Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF).</p><p>a. A ADPF é o meio adequado para fazer o controle de constitucionalidade de lei estadual posterior à CF</p><p>de 1988.</p><p>b. A ADPF é cabível quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei municipal</p><p>anterior à CF de 1988.</p><p>c. A ADPF tem natureza jurídica de norma constitucional de caráter autoaplicável.</p><p>d. Admite-se a utilização da ADPF em face de atos estatais ainda não aperfeiçoados.</p><p>e. Poderá o relator conceder a liminar na ADPF, sendo desnecessário submetê-la a referendo do Tribunal</p><p>Pleno.</p><p>Nesse sentido, para prova para o cargo de Juiz de Direito Substituto - TJ-MG (Ano: 2022, FGV) foi considerado o</p><p>gabarito da questão a assertiva prevista na letra “A”:</p><p>Em relação</p><p>difuso, quando as circunstâncias o justificam.</p><p>1.4. CONSTITUCIONALIDADE E INCONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE8</p><p>1.4.1. CONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE9</p><p>📌Definição: Refere-se ao fenômeno em que uma lei ou ato normativo inicialmente inconstitucional se</p><p>torna constitucional ao longo do tempo. Esse fenômeno é geralmente inadmitido, pois os vícios de</p><p>inconstitucionalidade intrínsecos não podem ser corrigidos.</p><p>📌Exceções à regra:Há casos em que a Constitucionalidade Superveniente é permitida por decisão</p><p>judicial. Exemplo: Julgamento da ADI 2.240 e da ADO 3.682, pela qual foi viabilizada a “correção” do processo de</p><p>criação do município Luís Eduardo Magalhães.</p><p>Outra situação citada pelo professor Pedro Lenza é o fato de que a “convalidação dos extraordinários</p><p>vícios de inconstitucionalidade se deu pela EC n. 57/2008, que, então, poderia ser um “triste”, porque</p><p>flagrantemente “inconstitucional”, exemplo de constitucionalidade superveniente por emenda constitucional e,</p><p>assim, decisão política do parlamento, sempre passível, nesse caso específico, de controle judicial”.10</p><p>10 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 122.</p><p>9 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 122.</p><p>8 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 122.</p><p>7 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 122.</p><p>12</p><p>1.4.2. INCONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE11</p><p>📌Definição: A inconstitucionalidade superveniente é um fenômeno jurídico que ocorre quando uma</p><p>lei ou ato normativo, que inicialmente era considerado constitucional e não possuía qualquer vício de</p><p>inconstitucionalidade, torna-se posteriormente inconstitucional devido a mudanças nas circunstâncias ou na</p><p>interpretação da Constituição</p><p>O professor Pedro Lenza explica que, em regra, esse fenômeno não ocorre e cita dois exemplos da</p><p>jurisprudência do do STF que afastam essa possibilidade em razão da caracterização de outros institutos</p><p>específicos e próprios, são eles:</p><p>◾Lei editada antes da nova Constituição, em que ou a lei é compatível e será recepcionada, ou a lei é</p><p>incompatível e, então, nesse caso, será revogada por não recepção;</p><p>◾Lei editada na vigência da nova Constituição, mas com a superveniência de emenda constitucional</p><p>futura que altera o fundamento de constitucionalidade, em que o STF entende que, se a lei foi editada já na</p><p>vigência da nova Constituição sem nenhum tipo de vício, eventual emenda constitucional que mude o</p><p>parâmetro de controle pode deixar de assegurar validade à referida norma, e, assim, a nova emenda</p><p>constitucional revogaria a lei em sentido contrário. Não se trata, portanto, do fenômeno de</p><p>inconstitucionalidade superveniente.</p><p>📌Exceções à regra: A Inconstitucionalidade Superveniente é possível em casos de:</p><p>◾Mutação Constitucional: Refere-se a uma mudança no sentido interpretativo do parâmetro de</p><p>constitucionalidade. Exemplo: Alteração da interpretação da Constituição para permitir a união estável</p><p>homoafetiva.</p><p>◾Mudança no Substrato Fático da Norma: Não envolve uma alteração no parâmetro da</p><p>Constituição, mas sim na situação de fato que não era clara na primeira interpretação. Exemplo: Mudança na</p><p>percepção dos riscos à saúde do amianto ao longo do tempo.</p><p>Exemplo: Inicialmente, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a constitucionalidade de uma lei</p><p>federal que permitia o uso controlado de uma forma específica do amianto (asbesto branco). No entanto, em</p><p>um momento posterior, essa disposição da lei se tornou inconstitucional devido a mudanças nas circunstâncias</p><p>de fato relacionadas ao amianto. O substrato fático da norma mudou, pois novas informações e avanços</p><p>tecnológicos e de pesquisa revelaram que o amianto apresentava riscos significativamente maiores à saúde e</p><p>ao meio ambiente do que se pensava inicialmente. Essa mudança nas circunstâncias fez com que a lei, que</p><p>antes era considerada constitucional, passasse a ser vista como inconstitucional, pois não estava mais de</p><p>acordo com os princípios constitucionais de proteção à saúde, segurança do trabalho e ao meio ambiente.</p><p>Portanto, a norma passou por um processo de inconstitucionalização devido às mudanças nas circunstâncias</p><p>do uso do amianto. Isso demonstra como o contexto em que uma lei é aplicada pode evoluir ao longo do tempo</p><p>e afetar sua constitucionalidade.</p><p>11 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 122.</p><p>13</p><p>REGRA12 EXCEÇÃO13</p><p>◾proibição do fenômeno da constitucionalidade</p><p>superveniente (vício congênito — ato nulo)</p><p>◾ ADI 2.240 e ADO 3.682: caso Luís Eduardo</p><p>Magalhães — possibilidade de constitucionalidade</p><p>superveniente decorrente de decisão judicial</p><p>◾ EC n. 57/2008: correção de vício congênito por</p><p>decisão política do parlamento</p><p>◾ proibição do fenômeno da inconstitucionalidade</p><p>superveniente (lei nasceu “perfeita”, sem vício formal</p><p>e sem vício material)</p><p>◾mutação constitucional</p><p>◾mudança do substrato fático da norma</p><p>1.5. CONTROLE DE LEGALIDADE E CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE</p><p>1. Controle de legalidade: é inerente ao direito administrativo, pois se destina à aferição da validade de</p><p>normas infralegais em relação à legislação.</p><p>2. Controle de constitucionalidade: é inerente ao direito constitucional, sendo direcionado para aferir a</p><p>validade de normas infraconstitucionais em relação à Constituição. Trata-se de uma atividade na</p><p>qual o sujeito controlador verifica a existência ou não de compatibilidade formal e material entre o</p><p>objeto, o ato normativo (previsto no Art. 59 da CF), e o objeto paradigma, a Constituição.</p><p>Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:</p><p>I - (EC) emendas à Constituição;</p><p>II – (LC) leis complementares;</p><p>III – (LO) leis ordinárias;</p><p>IV – (LD) leis delegadas;</p><p>V – (MP) medidas provisórias;</p><p>VI – (DL) decretos legislativos;</p><p>VII – (R) resoluções.</p><p>Parágrafo único. LC disporá sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis.</p><p>1.6. CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE14</p><p>Segundo o professor Flávio Martins, “Decorre da posição atual do Supremo Tribunal Federal, segundo a</p><p>14MAZZUOLI. Valerio de Oliveira Teoria geral do controle de convencionalidade no direito brasileiro. Disponível em:</p><p>https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/46/181/ril_v46_n181_p113.pdf. Acesso em 01 de novembro de 2023.</p><p>13 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 122.</p><p>12 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 122.</p><p>14</p><p>qual os Tratados Internacionais de Direitos Humanos têm forma de norma supralegal e infraconstitucional ”15</p><p>É a verificação da compatibilidade das leis e atos normativos com os tratados internacionais com</p><p>força supralegal.</p><p>A Emenda Constitucional no 45/04, que acrescentou o § 3o ao art. 5o da Constituição, trouxe a</p><p>possibilidade de os tratados internacionais de direitos humanos serem aprovados com um quorum qualificado,</p><p>a fim de passarem (desde que ratificados e em vigor no plano internacional) de um status materialmente</p><p>constitucional para a condição (formal) de tratados “equivalentes às emendas constitucionais”. Tal acréscimo</p><p>constitucional trouxe ao direito brasileiro um novo tipo de controle à produção normativa doméstica, até então</p><p>desconhecido: o controle de convencionalidade das leis.</p><p>Com isso, as leis internas estariam sujeitas a um duplo processo de compatibilização vertical,</p><p>devendo obedecer aos comandos previstos na Carta Constitucional, bem como aos previstos em tratados</p><p>internacionais de direitos humanos regularmente incorporados ao ordenamento jurídico</p><p>ao controle de constitucionalidade, analise as afirmativas a seguir.</p><p>I. A arguição de descumprimento de preceito fundamental será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, em se</p><p>tratando de controle de constitucionalidade de lei municipal em face da Constituição Federal.</p><p>II. A arguição de descumprimento de preceito fundamental é cabível em caso de lei vigente anterior à</p><p>Constituição Federal em relação à qual se pretende o controle.</p><p>III. Dentre os legitimados a propor a arguição de descumprimento de preceito fundamental está o Conselho</p><p>Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.</p><p>IV. A decisão que julgar procedente ou improcedente a ação de descumprimento de preceito fundamental é</p><p>irrecorrível, mas cabível ação rescisória.</p><p>Está correto o que se afirma em</p><p>a. I, II e III, somente.</p><p>b. I e II, somente.</p><p>c. I, II, III e IV.</p><p>d. II e IV, somente.</p><p>⚠ATENÇÃO</p><p>112</p><p>A arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) é instrumento eficaz de controle da</p><p>inconstitucionalidade por omissão. A ADPF pode ter por objeto as omissões do poder público, quer totais ou</p><p>parciais, normativas ou não normativas, nas mesmas circunstâncias em que ela é cabível contra os atos em</p><p>geral do poder público, desde que essas omissões se afigurem lesivas a preceito fundamental, a ponto de</p><p>obstar a efetividade de norma constitucional que o consagra. STF. Plenário. ADPF 272/DF, Rel. Min. Cármen</p><p>Lúcia, julgado em 25/3/2021 (Info 1011)."</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Nesse sentido, para prova para o cargo de Promotor de Justiça do MPE-AM (Ano: 2023; Banca:</p><p>CESPE/CEBRASPE) foi considerada correta a seguinte assertiva considerando a jurisprudência do Supremo</p><p>Tribunal Federal (STF): “A arguição de descumprimento de preceito fundamental é instrumento eficaz de</p><p>controle de inconstitucionalidade por omissão”.</p><p>7.3.3. PRECEITO FUNDAMENTAL — CONCEITO (ADPF)152</p><p>📌Veto como Ato Político e a Questão da ADPF: O STF ainda não apresentou uma definição precisa</p><p>de preceito fundamental. Em algumas situações, os ministros esclareceram o que não é considerado preceito</p><p>fundamental. Um exemplo disso é a análise da ADPF 1-RJ, na qual o Tribunal não conheceu da ação proposta</p><p>pelo Partido Comunista do Brasil (PC do B) contra o veto parcial do prefeito do Rio de Janeiro a um projeto de</p><p>lei. A decisão baseou-se na consideração de que o veto constitui um ato político do Poder Executivo, não</p><p>enquadrável no conceito de ato do Poder Público previsto na Lei n. 9.882/99.</p><p>Cumpre salientar que, estabelecida a regra de que o veto enquanto ato político não pode ser objeto de</p><p>ADPF, há uma exceção quanto à admissibilidade de ADPF contra veto por inconstitucionalidade.</p><p>EXEMPLOS DE PRECEITO</p><p>FUNDAMENTAL</p><p>Na ADPF 405 MC/RJ, a Min. Rosa</p><p>Weber afirmou que poderiam ser</p><p>considerados preceitos</p><p>fundamentais</p><p>⤷ A separação e independência entre os Poderes;</p><p>⤷ O princípio da igualdade;</p><p>⤷ O princípio federativo;</p><p>⤷ A garantia de continuidade dos serviços públicos;</p><p>⤷ Os princípios e regras do sistema orçamentário (art. 167, VI e X,</p><p>da CF/88)</p><p>⤷ O regime de repartição de receitas tributárias (arts. 34, V e 158,</p><p>III e IV; 159, §§ 3º e 4º; e 160 da CF/88);</p><p>⤷ A garantia de pagamentos devidos pela Fazenda Pública em</p><p>ordem cronológica de apresentação de precatórios (art. 100 da</p><p>CF/88).</p><p>152 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 204.</p><p>113</p><p>7.3.4. COMPETÊNCIA (ADPF)153</p><p>A arguição de descumprimento de preceito fundamental será apreciada pelo STF (competência</p><p>originária).</p><p>7.3.5. LEGITIMIDADE (ADPF)154</p><p>Os legitimados para propor a ADPF são os mesmos da ADI genérica. Estão previstos no art. 103, I a IX,</p><p>da Constituição Federal de 1988 (CF/88) e no art. 2.º, I a IX, da Lei n. 9.868/99.</p><p>Além disso, aplica-se a mesma lógica de pertinência temática discutida na ADI genérica.</p><p>O art. 2.º, II, da Lei n. 9.882/99 permitia a legitimação para qualquer pessoa lesada ou ameaçada por ato</p><p>do Poder Público. Esse dispositivo foi vetado., no entato, apesar do veto, o art. 2.º, § 1.º, da mesma lei</p><p>estabelece uma faculdade.</p><p>Na hipótese do inciso II, faculta-se ao interessado, mediante representação, solicitar a propositura de</p><p>ADPF ao Procurador-Geral da República.</p><p>O Procurador-Geral examinará os fundamentos jurídicos do pedido e decidirá sobre o cabimento do</p><p>ingresso em juízo.</p><p>7.3.6. PROCEDIMENTO (ADPF). PARTICULARIDADES DO PRINCÍPIO DA</p><p>SUBSIDIARIEDADE155</p><p>A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental é um instrumento constitucional de controle</p><p>de constitucionalidade, regulamentado pela Lei n. 9.882/99. Inicia-se com a propositura da ação diretamente no</p><p>Supremo Tribunal Federal (STF) por um dos legitimados.</p><p>📌 Requisitos da Petição Inicial: Ao propor a ADPF, o requerente deve atentar para a correta</p><p>elaboração da petição inicial. Esta deve conter:</p><p>a) Indicação do preceito fundamental violado;</p><p>b) Indicação do ato questionado;</p><p>c) Prova da violação do preceito fundamental;</p><p>d) Pedido com suas especificações;</p><p>e) Comprovação da existência de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação do preceito</p><p>fundamental.</p><p>A petição, acompanhada de instrumento de mandato, se for o caso, deve ser apresentada em duas vias,</p><p>contendo cópias do ato questionado e documentos necessários para comprovar a impugnação.</p><p>📌Análise Liminar e Recurso de Agravo: O relator sorteado analisará a regularidade formal da</p><p>petição inicial. Caso falte algum requisito ou a inicial seja considerada inepta, o relator indeferirá a petição,</p><p>155 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 205.</p><p>154 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 204.</p><p>153 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 204.</p><p>114</p><p>sendo cabível o recurso de agravo, no prazo de 5 dias, para atacar essa decisão.</p><p>📌Princípio da Subsidiariedade: Conforme o art. 4.º, § 1.º, da Lei n. 9.882/99, a ADPF não será</p><p>admitida quando houver qualquer outro meio eficaz capaz de sanar a lesividade. Esse é o princípio da</p><p>subsidiariedade, que condiciona o ajuizamento da ação à ausência de outro meio processual apto a solucionar</p><p>eficazmente a lesão indicada.</p><p>📌Evolução do Princípio da Subsidiariedade no STF: O STF entende que a subsidiariedade deve ser</p><p>interpretada no contexto da ordem constitucional global, considerando a inexistência de outro meio eficaz de</p><p>sanar a lesão. Isso compreende processos ordinários e recursos extraordinários, não excluindo, a priori, a</p><p>utilização da ADPF.</p><p>📌Tramitação da ADPF no STF:</p><p>◾Pedido de Liminar: Se houver pedido de liminar, o relator solicitará informações necessárias às</p><p>autoridades responsáveis pelo ato questionado. Podendo, ainda, ouvir as partes, requisitar informações</p><p>adicionais, designar perito ou comissão de peritos, ou fixar data para declarações em audiência pública.</p><p>◾Participação do Amicus Curiae: O STF tem admitido a participação de amicus curiae na ADPF,</p><p>aplicando o art. 7.º, § 2.º, da Lei n. 9.868/99, desde que demonstrada a relevância da matéria e a</p><p>representatividade dos postulantes.</p><p>📌 Decisão e Recursos: Após ouvir o Ministério Público, o relator lança o relatório e pede dia para o</p><p>julgamento. A decisão sobre a ADPF será proferida pelo quorum da maioria absoluta, sendo irrecorrível e não</p><p>suscetível de ação rescisória.</p><p>📌Embargos de Declaração e Reclamação: Embora a lei não aborde, o professor Pedro Lenza destaca</p><p>que considera cabível os embargos de declaração, tendo em vista sua natureza jurídica de integração e</p><p>esclarecimento da decisão. Além disso, a lei assegura o cabimento de reclamação contra o descumprimento da</p><p>decisão proferida pelo STF.</p><p>7.3.7. EFEITOS DA DECISÃO (ADPF)156</p><p>📌Comunicação e Interpretação da Decisão: Após o julgamento da ADPF, o STF comunicará às</p><p>autoridades ou órgãos responsáveis</p><p>pelos atos questionados, fixando as condições e o modo de interpretação e</p><p>aplicação do preceito fundamental em questão. Esse processo busca assegurar a correta implementação da</p><p>decisão em âmbito prático.</p><p>📌Autoaplicabilidade e Cumprimento Imediato: A decisão proferida na ADPF é imediatamente</p><p>autoaplicável. O presidente do STF determinará o imediato cumprimento da decisão, sendo que o acórdão será</p><p>156 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 205.</p><p>115</p><p>lavrado posteriormente. Isso evidencia a eficácia célere da medida.</p><p>📌 Publicação e Efeitos Temporais: Conforme o art. 10, § 2.º, da Lei n. 9.882/99, no prazo de 10 dias, a</p><p>contar do trânsito em julgado da decisão, sua parte dispositiva será publicada em seção especial do Diário da</p><p>Justiça e do Diário Oficial da União. A decisão terá eficácia contra todos (erga omnes), efeito vinculante em</p><p>relação aos demais órgãos do Poder Público, além de efeitos retroativos (ex tunc), atingindo situações</p><p>anteriores ao julgamento.</p><p>📌 Exceções e Restrições aos Efeitos: Assim como na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), a</p><p>declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo na ADPF não é imune a exceções. Em razão de</p><p>razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, o STF, por maioria qualificada de 2/3 de seus</p><p>membros, pode restringir os efeitos da declaração. A Corte pode decidir que a eficácia da decisão só ocorra a</p><p>partir do trânsito em julgado (ex nunc) ou de outro momento fixado.</p><p>7.3.7.1. QUESTÕES RELEVANTES</p><p>📌É possível, em tese, que seja proposta ADPF contra decisão judicial?157</p><p>SIM. Segundo o STF (ADPF 127, decisão monocrática), conforme o art. 1º, Lei 9.882/99, a ADPF será</p><p>proposta perante o STF, e terá por objeto evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do</p><p>Poder Público.</p><p>Quando a lei fala em "ato do poder público", abrange não apenas leis ou atos normativos, mas também</p><p>outros atos do poder público, como uma decisão judicial.</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Nesse sentido, para prova para o cargo de Promotor de Justiça Substituto - MPE-SC (Ano: 2021,</p><p>CESPE/CEBRASPE) foi considerada correta a assertiva que dizia:</p><p>“A arguição de descumprimento de preceito fundamental pode ter por objeto decisões judiciais.”</p><p>📌É possível que seja proposta ADPF contra decisão judicial mesmo que já tenha havido trânsito em</p><p>julgado?56</p><p>NÃO. Segundo o STF (ADPF 81 MC, decisão monocrática, Info 810), não cabe ADPF contra decisão</p><p>judicial transitada em julgado. Este instituto de controle concentrado de constitucionalidade não tem como</p><p>função desconstituir a coisa julgada.</p><p>📌É cabível o ajuizamento de ADPF contra interpretação judicial de que possa resultar lesão a</p><p>preceito fundamental?</p><p>SIM. Entendimento do STF na ADPF 484/AP.</p><p>157CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não cabimento de ADPF contra decisão judicial transitada em julgado. Buscador Dizer o Direito, Manaus.</p><p>Disponível em: . Acesso em: 19/08/2021</p><p>116</p><p>📌É possível que seja proposta ADPF contra súmula (comum ou vinculante)?56</p><p>SIM. É possível o ajuizamento de ADPF contra súmula de jurisprudência, quando o enunciado tiver</p><p>preceito geral e abstrato. STF. Plenário. ADPF 501-AgR, Rel. para acórdão Min. Ricardo Lewandowski, julgado</p><p>em 14/09/2020.</p><p>📌A ADPF pode ter como objeto as omissões do Poder Público?158</p><p>SIM. ADPF pode ter por objeto as omissões do poder público, quer totais ou parciais, normativas ou não</p><p>normativas, nas mesmas circunstâncias em que ela é cabível contra os atos em geral do poder público, desde</p><p>que essas omissões se afigurem lesivas a preceito fundamental, a ponto de obstar a efetividade de norma</p><p>constitucional que o consagra. STF. Plenário. ADPF 272/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 25/3/2021 (Info</p><p>1011).</p><p>📌É possível de conhecimento da ADPF mesmo que a lei atacada tenha sido revogada antes do julgamento?159</p><p>SIM. A revogação da Lei atacada na ADPF por outra lei local não retira o interesse de agir no feito. Isso</p><p>porque persiste a utilidade da prestação jurisdicional com o intuito de estabelecer, com caráter erga</p><p>omnes e vinculante, o regime aplicável às relações jurídicas estabelecidas durante a vigência da norma</p><p>impugnada, bem como no que diz respeito a leis de idêntico teor aprovadas em outros Municípios. A</p><p>ADPF não carece de interesse de agir em razão da revogação da norma objeto de controle, máxime ante</p><p>a necessidade de fixar o regime aplicável às relações jurídicas estabelecidas durante a vigência da lei,</p><p>bem como no que diz respeito a leis de idêntico teor aprovadas em outros Municípios. Trata-se da solução mais</p><p>consentânea com o princípio da eficiência processual e o imperativo aproveitamento dos atos já praticados de</p><p>maneira socialmente proveitosa. STF. Plenário. ADPF 449/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 8 e 9/5/2019 (Info</p><p>939).</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Nesse sentido, para prova para o cargo de Delegado de Polícia - Edital nº 01 - PC-AM (Ano: 2022, FGV) foi</p><p>considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “D”:</p><p>O Procurador-Geral do Município Alfa reuniu-se com o Prefeito Municipal e o Presidente da Câmara Municipal,</p><p>para informar que determinada entidade de classe de âmbito nacional ingressara com arguição de</p><p>descumprimento de preceito fundamental (ADPF), na qual sustenta a inconstitucionalidade da Lei municipal nº</p><p>XX/1987, em razão da afronta a princípios fundamentais da Constituição da República, almejando que isto seja</p><p>declarado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).</p><p>Ao responder às perguntas formuladas, o Procurador-Geral do Município informou corretamente que</p><p>a. A ADPF não seria conhecida, pois a entidade que a ajuizou não tem legitimidade para fazê-lo.</p><p>b. A Lei municipal nº XX não poderia ser submetida, nas circunstâncias indicadas, ao controle concentrado</p><p>de constitucionalidade perante o STF.</p><p>c. A procedência do pedido somente produzirá efeitos em relação às situações concretas descritas na</p><p>159CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Possibilidade de conhecimento da ADPF mesmo que a lei atacada tenha sido revogada antes do julgamento, se</p><p>persistir a utilidade em se proferir decisão com caráter erga omnes e vinculante. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:</p><p>.</p><p>158CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Cabe ADPF quando se alega que está havendo uma omissão por parte do poder público. Buscador Dizer o Direito,</p><p>Manaus. Disponível em: .</p><p>117</p><p>ADPF, não afetando a vigência da Lei municipal nº XX.</p><p>d. Ainda que o pedido seja julgado procedente, com a declaração de inconstitucionalidade da Lei</p><p>municipal nº XX, o Poder Legislativo pode aprovar outra lei de idêntico teor.</p><p>e. A procedência do pedido obstará que o Poder Executivo pratique atos administrativos com base na lei</p><p>impugnada e que o Poder Legislativo edite outra lei com o mesmo teor.</p><p>📌É possível que seja celebrado um acordo no bojo de uma arguição de descumprimento de preceito</p><p>fundamental (ADPF)?160</p><p>SIM. É possível a celebração de acordo num processo de índole objetiva, como a ADPF, desde que</p><p>fique demonstrado que há no feito um conflito intersubjetivo subjacente (implícito), que comporta</p><p>solução por meio de autocomposição. Vale ressaltar que, na homologação deste acordo, o STF não irá</p><p>chancelar ou legitimar nenhuma das teses jurídicas defendidas pelas partes no processo. O STF irá apenas</p><p>homologar as disposições patrimoniais que forem combinadas e que estiverem dentro do âmbito da</p><p>disponibilidade das partes. A homologação estará apenas resolvendo um incidente processual, com vistas a</p><p>conferir maior efetividade à prestação jurisdicional. STF. Plenário. ADPF 165/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,</p><p>julgado em 1º/3/2018 (Info 892).</p><p>📌ADPF e ADI são sempre</p><p>fungíveis entre si?</p><p>Não. A fungibilidade não será possível quando a parte autora incorrer em erro grosseiro. É o caso, por</p><p>exemplo, de uma ADPF proposta contra uma Lei editada em 2013, ou seja, quando manifestamente seria</p><p>cabível a ADI por se tratar de norma posterior à CF/88. STF. Plenário. ADPF 314 AgR, Rel. Min. Marco Aurélio,</p><p>julgado em 11/12/2014 (Info 771).161</p><p>Contudo, vale ressaltar que, em regra, a ADPF e a ADI são fungíveis entre si. Assim, o STF reconhece ser</p><p>possível a conversão da ADPF em ADI quando imprópria a primeira.</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Nesse sentido, para prova para o cargo de Promotor de Justiça Substituto - MPE-SC (Ano: 2021,</p><p>CESPE/CEBRASPE) foi considerada correta a assertiva que dizia:</p><p>“Ação direta de inconstitucionalidade cujo objeto seja a discussão acerca da recepção, pela CF, de determinada</p><p>lei ou ato normativo pode ser admitida como arguição de descumprimento de preceito fundamental, uma vez</p><p>preenchidos seus respectivos requisitos, com base na fungibilidade.”</p><p>📌É possível ADPF para impugnar normas secundárias?</p><p>A ADPF é, via de regra, meio inidôneo para processar questões controvertidas derivadas de normas</p><p>secundárias e de caráter tipicamente regulamentar. STF. Plenário. ADPF 210 AgR, Rel. Min. Teori Zavascki,</p><p>julgado em 06/06/2013.162</p><p>162CAVALCANTE, Márcio André Lopes. ADPF não pode ser usada para impugnar normas secundárias. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:</p><p>161CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Fungibilidade entre ADPF e ADI. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:</p><p>160CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É possível celebrar acordo em ADPF. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:</p><p>118</p><p>📌É possível que seja proposta ADPF visando discutir decisões tomadas em recurso extraordinário</p><p>com repercussão geral?</p><p>NÃO.</p><p>3. Ainda, já estabelecido por esta Suprema Corte ser incabível arguição de descumprimento de preceito</p><p>fundamental que busca rediscutir decisões tomadas em recurso extraordinário com repercussão geral,</p><p>ou que tenha pretenso efeito rescisório.</p><p>A ADPF não se presta a rever ou rescindir, mesmo que em parte e colateral ou indiretamente, a decisão</p><p>tomada em recurso extraordinário – no caso, a decisão homologatória do acordo. (STF, ADPF 939, Relator(a):</p><p>ROSA WEBER, Tribunal Pleno, julgado em 02/05/2022, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-088 DIVULG 06-05-2022</p><p>PUBLIC 09-05-2022)</p><p>ADPF e subsidiariedade</p><p>1. Na ADPF 33, definiu-se interpretação jurídica do requisito da subsidiariedade, o óbice processual</p><p>consistente em pressuposto negativo de admissibilidade, previsto no art. 4º, § 1º, da Lei nº 9.882/1999, no</p><p>sentido de que a cláusula de subsidiariedade impõe a inexistência de outro meio tão eficaz e definitivo</p><p>quanto a ADPF para sanar a lesividade, em regra, no universo do sistema concentrado de jurisdição</p><p>constitucional. 2. A subsidiariedade foi objeto de desenvolvimento interpretativo por este Supremo Tribunal</p><p>Federal, em visão holística dos meios disponíveis para sanar, de modo adequado, a lesividade arguida. Assim,</p><p>por exemplo, no sentido do não atendimento do requisito se</p><p>(i) houver solução da controvérsia em sede de repercussão geral;</p><p>(ii) pretender-se utilizar a ação direta como sucedâneo recursal; ou</p><p>(iii) a lesão puder ser sanada em sede de recurso extraordinário em tramitação, mesmo que inexistente outra</p><p>ação direta cabível na hipótese. (STF, ADPF 939, Relator(a): ROSA WEBER, Tribunal Pleno, julgado em</p><p>02/05/2022, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-088 DIVULG 06-05-2022 PUBLIC 09-05-2022)</p><p>7.3.8. O PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 1.º DA LEI N. 9.882/99 É</p><p>INCONSTITUCIONAL (ARGUIÇÃO INCIDENTAL)?163</p><p>📌Competência do STF e a ADI: A Constituição confere ao Supremo Tribunal Federal (STF) a</p><p>competência para apreciação da arguição de preceito fundamental, conforme previsto na Lei n. 9.882/99. Antes</p><p>dessa lei, a competência do STF em sede de Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) limitava-se a leis ou atos</p><p>normativos federais ou estaduais, excluindo os municipais e anteriores à Constituição.</p><p>📌ADI 2.231 e a Questão da Constitucionalidade: A constitucionalidade do parágrafo único do art. 1.º</p><p>da Lei n. 9.882/99 foi questionada na ADI 2.231. Em 21.06.2018, a Corte resolveu uma questão de ordem</p><p>convertendo o julgamento cautelar em diligência. O objetivo era possibilitar a devida instrução do processo</p><p>para que a decisão final não fosse precária.</p><p>163 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 206</p><p>119</p><p>📌Argumentos em Favor da Constitucionalidade: O Ministro Gilmar Ferreira Mendes destaca pontos</p><p>favoráveis à constitucionalidade do parágrafo único. Ele ressalta que a ADPF surge como um instrumento eficaz</p><p>para combater a "guerra de liminares". Além disso, destaca que permite a antecipação de decisões sobre</p><p>controvérsias constitucionais relevantes, evitando desfechos definitivos após longos anos.</p><p>📌Contribuições da ADPF Incidental: Pedro Lenza destaca ainda que a ADPF incidental pode</p><p>solucionar de forma definitiva e com eficácia geral controvérsias relevantes sobre a legitimidade do direito</p><p>ordinário pré-constitucional frente à nova Constituição. Isso representa uma mudança significativa no sistema</p><p>brasileiro de controle de constitucionalidade.</p><p>📌Eficiência da Nova Lei: O ministro Gilma Mendes argumenta que as decisões proferidas pelo STF</p><p>em processos de ADPF incidental fornecerão diretrizes seguras para o julgamento sobre a legitimidade ou</p><p>ilegitimidade de atos semelhantes editados por diversas entidades municipais. Ele defende que essa</p><p>abordagem é superior a outras alternativas que poderiam agravar a crise do Supremo Tribunal Federal.</p><p>Em primeiro lugar, porque permite a antecipação de decisões sobre controvérsias constitucionais relevantes,</p><p>evitando que elas venham a ter um desfecho definitivo após longos anos, quando muitas situações já se</p><p>consolidaram ao arrepio da ‘interpretação autêntica’ do Supremo Tribunal Federal”.</p><p>“Em segundo lugar, porque poderá ser utilizado para — de forma definitiva e com eficácia geral — solver</p><p>controvérsia relevante sobre a legitimidade do direito ordinário pré-constitucional em face da nova</p><p>Constituição que, até o momento, somente poderia ser veiculada mediante a utilização do recurso</p><p>extraordinário.”</p><p>“Em terceiro, porque as decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal nesses processos, haja vista a</p><p>eficácia erga omnes e o efeito vinculante, fornecerão a diretriz segura para o juízo sobre a legitimidade ou a</p><p>ilegitimidade de atos de teor idêntico, editados pelas diversas entidades municipais. A solução oferecida pela</p><p>nova lei é superior a uma outra alternativa oferecida, que consistiria no reconhecimento da competência dos</p><p>Tribunais de Justiça para apreciar, em ação direta de inconstitucionalidade, a legitimidade de leis ou atos</p><p>normativos municipais em face da Constituição Federal. Além de ensejar múltiplas e variadas interpretações,</p><p>essa solução acabaria por agravar a crise do Supremo Tribunal Federal, com a multiplicação de recursos</p><p>extraordinários interpostos contra as decisões proferidas pelas diferentes Cortes estaduais” (Gilmar Ferreira</p><p>Mendes, Revista Jurídica Virtual, n. 7, dez./1999).</p><p>7.3.9. PEDIDO DE MEDIDA LIMINAR (ADPF)164</p><p>📌Condições para Concessão: O art. 5.º da Lei n. 9.882/99 define que o Supremo Tribunal Federal</p><p>(STF), por decisão da maioria absoluta de seus membros (pelo menos 6 Ministros), pode deferir o pedido de</p><p>medida liminar na ADPF.</p><p>📌 Situações de Extrema Urgência: Em casos de extrema urgência, perigo de lesão grave ou durante o</p><p>período de recesso, o relator pode conceder a liminar ad referendum do Tribunal Pleno, garantindo assim uma</p><p>164 Lenza, Pedro. Direito</p><p>constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 206.</p><p>120</p><p>resposta rápida e eficaz diante de circunstâncias excepcionais.</p><p>📌Procedimento para Concessão da Liminar: O relator, ao analisar o pedido de medida liminar, tem</p><p>a prerrogativa de ouvir os órgãos ou autoridades responsáveis pelo ato questionado, assim como o</p><p>Advogado-Geral da União ou o Procurador-Geral da República, no prazo comum de 5 dias.</p><p>📌Abrangência da Liminar: A liminar pode assumir diversas formas, podendo consistir na</p><p>determinação de que juízes e tribunais suspendam o andamento de processo, os efeitos de decisões judiciais</p><p>ou qualquer outra medida relacionada à matéria objeto da ADPF. Importante observar que essa suspensão não</p><p>se aplica se decorrente da coisa julgada.</p><p>📌Exemplos Práticos e Posicionamentos do STF:</p><p>◾ No caso da ADI 2.231-MC/DF, o Ministro Néri da Silveira votou pelo deferimento de liminar</p><p>suspendendo a eficácia do § 3.º do art. 5.º da Lei n. 9.882/99, argumentando que este se relacionava à arguição</p><p>incidental em processos em concreto, vedada sua instituição por lei, conforme seu entendimento (pendente).</p><p>◾Contudo, o Ministro Sepúlveda Pertence, relator da ADPF 77, deferiu liminar para suspender todos os</p><p>processos que questionavam a constitucionalidade do art. 38 da Lei n. 8.880/94, instituidora do Plano Real, até</p><p>o julgamento de mérito da referida ação.</p><p>📌Atual Posicionamento do STF: Atualmente, o STF tem aplicado em sua integralidade o art. 5.º, § 3.º,</p><p>da Lei n. 9.882/99, superando o posicionamento anterior do Min. Néri da Silveira no tocante à medida liminar.</p><p>📌 OBSERVAÇÃO</p><p>MEDIDA CAUTELAR</p><p>REPRESENTAÇÃO</p><p>INTERVENTIVA</p><p>A liminar poderá consistir na determinação de que se suspenda o andamento de</p><p>processo ou os efeitos de decisões judiciais ou administrativas ou de qualquer outra</p><p>medida que apresente relação com a matéria objeto da representação interventiva.</p><p>ADI</p><p>A medida cautelar, dotada de EFICÁCIA CONTRA TODOS, será concedida com EFEITO</p><p>EX NUNC, salvo se o Tribunal entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa.</p><p>A concessão da medida cautelar torna aplicável a legislação anterior acaso existente</p><p>(EFEITO REPRISTINATÓRIO), salvo expressa manifestação em sentido contrário.</p><p>ADO</p><p>A medida cautelar poderá consistir na suspensão da aplicação da lei ou do ato</p><p>normativo questionado, no caso de omissão parcial, bem como na suspensão de</p><p>processos judiciais ou de procedimentos administrativos, ou ainda em outra</p><p>providência a ser fixada pelo Tribunal.</p><p>ADC</p><p>O Supremo Tribunal Federal, por decisão da maioria absoluta de seus membros,</p><p>poderá deferir pedido de medida cautelar na ação declaratória de</p><p>121</p><p>constitucionalidade, consistente na determinação de que os juízes e os Tribunais</p><p>suspendam o julgamento dos processos que envolvam a aplicação da lei ou do</p><p>ato normativo objeto da ação até seu julgamento definitivo.</p><p>ADPF</p><p>A liminar poderá consistir na determinação de que juízes e tribunais suspendam o</p><p>andamento de processo ou os efeitos de decisões judiciais, ou de qualquer outra</p><p>medida que apresente relação com a matéria objeto da arguição de</p><p>descumprimento de preceito fundamental, salvo se decorrentes da coisa julgada.</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Nesse sentido, para prova para o cargo de Promotor de Justiça Substituto/MPE-SC (Ano: 2021, CESPE/CEBRASPE)</p><p>foi considerada errada a assertiva que dizia:</p><p>“No caso de ação direta de inconstitucionalidade, é possível medida cautelar para suspender o julgamento de</p><p>processos que envolvam a aplicação do ato normativo objeto de impugnação até decisão definitiva, hipótese</p><p>inexistente no âmbito de ação declaratória de constitucionalidade.”</p><p>7.3.10. ADPF PODE SER CONHECIDA COMO ADI? SE SIM, O PRINCÍPIO DA</p><p>FUNGIBILIDADE TERIA NATUREZA AMBIVALENTE? OU SEJA, ADI PODERIA SER</p><p>CONHECIDA COMO ADPF?165</p><p>A resposta é sim. Vejamos:</p><p>📌Conhecimento da ADPF como ADI: O § 1.º do art. 4.º da Lei 9.882/1999 estabelece o caráter</p><p>subsidiário da ADPF. Em alguns casos, o STF resolveu questões de ordem no sentido de conhecer, como ADI,</p><p>uma ADPF específica. Exemplo disso foi a ADPF 72 QO/PA, em que o Tribunal entendeu que existia outro meio</p><p>eficaz para impugnação da norma, neste caso a ADI, sendo o objeto principal a declaração de</p><p>inconstitucionalidade de preceito autônomo por ofensa a dispositivos constitucionais.</p><p>📌 Princípio da Fungibilidade - ADPF como ADI e Vice-Versa:</p><p>◾ ADPF conhecida como ADI: Em casos como a ADPF 143, reautuada como ADI 4.180-REF-MC, e a</p><p>ADPF 178, reautuada como ADI 4.277, o STF aplicou o princípio da fungibilidade. O Tribunal considerou a</p><p>perfeita satisfação dos requisitos exigidos à propositura da ADI, o que justificou o conhecimento da ADPF como</p><p>ADI.</p><p>◾ ADI conhecida como ADPF: No julgamento da ADI 4.163, os Ministros entenderam que é lícito</p><p>conhecer de ADI como ADPF quando coexistem todos os requisitos de admissibilidade desta última, em caso de</p><p>inadmissibilidade daquela. O ponto central foi a discussão sobre a alteração de parâmetro de</p><p>constitucionalidade pela EC n. 45/2004.</p><p>📌 Discussões sobre a Fungibilidade:</p><p>165 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 207.</p><p>122</p><p>◾ Ano de 2014: Em 2014, o STF revisitou o tema da fungibilidade. No julgamento da ADPF 158, o Min.</p><p>Gilmar Mendes não admitiu a fungibilidade por entender tratar-se de uma situação clara para o cabimento de</p><p>ADI.</p><p>◾Fungibilidade com Limites: O STF reafirmou que a dúvida razoável sobre o caráter autônomo de</p><p>atos infralegais e alterações supervenientes de normas constitucionais poderiam justificar a fungibilidade.</p><p>Contudo, destacou que, em casos claros, como impugnação de lei federal pós-constitucional por ADPF, a</p><p>fungibilidade não seria admitida, configurando erro grosseiro.</p><p>7.4. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO (ADO)166</p><p>7.4.1. CONCEITO (ADO)167</p><p>O principal objetivo da ADO é superar a inefetividade das normas constitucionais de eficácia limitada.</p><p>Ao declarar a inconstitucionalidade por omissão, a ação busca estimular a atuação do poder competente para</p><p>garantir a aplicação efetiva dessas normas, promovendo a efetividade do ordenamento jurídico.</p><p>Destacamos a relação da ADO com o mandado de injunção, ambos considerados "remédios" contra a</p><p>"síndrome de inefetividade das normas constitucionais". Enquanto a ADO realiza um controle concentrado, o</p><p>mandado de injunção adota uma abordagem difusa, com algumas particularidades regulamentadas pela Lei n.</p><p>13.300/2016.</p><p>A Lei n. 12.063/2009 estabelece a disciplina processual da ADO. Em nossos próximos itens,</p><p>exploraremos detalhadamente os aspectos procedimentais dessa legislação, compreendendo como a ADO se</p><p>insere no contexto jurídico brasileiro.</p><p>7.4.2. ESPÉCIES DE OMISSÃO168</p><p>📌 Omissão Total ou Absoluta: A omissão total ocorre quando não há o devido cumprimento do dever</p><p>de normatizar, resultando na ausência de medida infraconstitucional para tornar efetiva uma norma</p><p>constitucional. Um exemplo marcante é encontrado no artigo 37, VII, que assegura o direito de greve para os</p><p>servidores públicos. Contudo, até o momento da elaboração desta aula, essa prerrogativa ainda não foi</p><p>regulamentada por lei. Outro caso ilustrativo é o revogado artigo 192, § 3.º, que dependia de lei para limitar a</p><p>taxa de juros a 12% ao ano.</p><p>📌 Omissão Parcial: A omissão parcial, por sua vez, apresenta duas modalidades: parcial propriamente</p><p>dita e parcial relativa.</p><p>◾Omissão Parcial Propriamente Dita: Neste cenário, apesar da existência de um ato normativo, este</p><p>regula de forma deficiente o texto constitucional. Um exemplo elucidativo é o artigo 7.º, IV, que versa sobre o</p><p>direito ao salário mínimo. Embora a lei estabeleça um valor, a regulamentação é deficiente, resultando em um</p><p>montante inferior ao razoável para cumprir a garantia prevista na norma constitucional.</p><p>◾Omissão Parcial Relativa: Na omissão parcial relativa, o ato normativo existe e concede um</p><p>168 Lenza,</p><p>Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 208.</p><p>167 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 208.</p><p>166 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 208.</p><p>123</p><p>benefício a uma categoria, mas deixa de contemplar outra que deveria ter sido abrangida. Nesse contexto, é</p><p>essencial mencionar a Súmula 339/STF, consolidada com a sua conversão na SV 37/2014, que afirma que o</p><p>Poder Judiciário não pode, sob o fundamento de isonomia, aumentar vencimentos de servidores públicos, visto</p><p>que não possui função legislativa.</p><p>7.4.3. OBJETO (ADO)169</p><p>📌Omissão Normativa: O termo "omissão de medida" refere-se a uma omissão de cunho normativo,</p><p>que vai além da omissão legislativa. Segundo Barroso, essa omissão abrange atos gerais, abstratos e</p><p>obrigatórios de outros Poderes, não se limitando ao Poder Legislativo, responsável pela criação do direito</p><p>positivo. Assim, a ADO pode ser utilizada para impugnar a inércia legislativa, seja na edição de atos normativos</p><p>primários ou secundários, como regulamentos e instruções, de competência do Executivo, e até mesmo atos</p><p>próprios dos órgãos judiciários.</p><p>📌Sujeitos da Omissão: Barroso destaca que a omissão pode ser atribuída ao Poder Legislativo, ao</p><p>Poder Executivo (em atos secundários de caráter geral) e até mesmo ao Poder Judiciário, quando este deixa de</p><p>regulamentar aspectos processuais em seu Regimento Interno. Dessa forma, a ADO permite a fiscalização da</p><p>omissão inconstitucional em diversos contextos normativos.</p><p>📌Objeto da ADO: No controle abstrato da omissão, Barroso ressalta que a impugnação pode ocorrer</p><p>não apenas em relação à inércia legislativa em atos normativos primários, mas também em atos normativos</p><p>secundários, ampliando o escopo da ADO para incluir regulamentos, instruções e outras normas</p><p>infraconstitucionais.</p><p>📌Perda de Objeto: O Supremo Tribunal Federal (STF) já decidiu que, se a norma constitucional objeto</p><p>da ADO for revogada durante o julgamento, a ação será extinta por perda de objeto. O mesmo princípio</p><p>aplica-se caso um projeto de lei sobre a matéria seja encaminhado ao Congresso Nacional ou se o processo</p><p>legislativo estiver em andamento no momento da propositura da ação.</p><p>📌Mudança de Posicionamento do STF: Importante ressaltar que o STF revisou seu entendimento em</p><p>relação à demora na apreciação de projetos legislativos, considerando-a uma conduta negligente ou desidiosa</p><p>das Casas Legislativas, o que pode colocar em risco a ordem constitucional.</p><p>📌Fungibilidade da ADO:Em um posicionamento mais formalista, o STF entendeu que não há</p><p>fungibilidade da ADO com o Mandado de Injunção, argumentando a diversidade de pedidos. Esse</p><p>entendimento pode ser questionado sob a perspectiva crítica, considerando a possibilidade de ampliar o acesso</p><p>aos instrumentos jurídicos para a efetivação dos direitos fundamentais.</p><p>⚠ ATENÇÃO as diferenças entre mandado de injunção e ADI por omissão:170</p><p>170https://www.dizerodireito.com.br/2016/06/primeiros-comentarios-lei-1330020 16-lei.html</p><p>169 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 208.</p><p>124</p><p>MANDADO DE INJUNÇÃO ADI POR OMISSÃO</p><p>NATUREZA E FINALIDADE</p><p>Trata-se de processo no qual é discutido um direito</p><p>subjetivo. A finalidade é viabilizar o exercício de um</p><p>direito. Há, portanto, controle concreto de</p><p>constitucionalidade.</p><p>NATUREZA E FINALIDADE.</p><p>A finalidade é declarar que há uma omissão, já que</p><p>não existe determinada medida necessária para</p><p>tornar efetiva uma norma constitucional.Estamos</p><p>diante, portanto, de processo objetivo, em que há</p><p>controle abstrato de constitucionalidade.</p><p>CABIMENTO</p><p>Cabível quando faltar norma regulamentadora de</p><p>direitos e liberdades constitucionais e das</p><p>prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania</p><p>e à cidadania.</p><p>CABIMENTO</p><p>Cabível quando faltar norma regulamentadora</p><p>relacionada com qualquer norma constitucional de</p><p>eficácia limitada.</p><p>LEGITIMADOS ATIVOS</p><p>MI individual: pessoas naturais ou jurídicas que se</p><p>afirmam titulares dos direitos, das liberdades ou das</p><p>prerrogativas.</p><p>MI coletivo: estão previstos no art. 12 da Lei nº</p><p>13.300/2016.</p><p>LEGITIMADOS ATIVOS</p><p>Os legitimados da ADI por omissão estão descritos no</p><p>art. 103 da CF/88.</p><p>Art. 103. Podem propor a ação direta de</p><p>inconstitucionalidade e a ação declaratória de</p><p>constitucionalidade:</p><p>I - o Presidente da República; II - a Mesa do</p><p>Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos</p><p>Deputados; IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou</p><p>da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V - o</p><p>Governador de Estado ou do Distrito Federal; VI - o</p><p>Procurador-Geral da República; VII - o Conselho</p><p>Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII -</p><p>partido político com representação no Congresso</p><p>Nacional; IX - confederação sindical ou entidade de</p><p>classe de âmbito nacional.</p><p>COMPETÊNCIA</p><p>A competência para julgar a ação dependerá da</p><p>autoridade que figura no polo passivo e que possui</p><p>atribuição para editar a norma.</p><p>COMPETÊNCIA</p><p>Quando relacionada com a norma da CF/88: STF.</p><p>Quando relacionada com a norma da CE: TJ.</p><p>EFEITOS DA DECISÃO</p><p>Reconhecido o estado de mora legislativa, será</p><p>deferida a injunção para:</p><p>I - determinar prazo razoável para que o impetrado</p><p>promova a edição da norma regulamentadora;</p><p>EFEITOS DA DECISÃO</p><p>Declarada a inconstitucionalidade por omissão, o</p><p>Judiciário dará ciência ao Poder competente para que</p><p>este adote as providências necessárias.</p><p>Se for órgão administrativo, este terá um prazo de 30</p><p>125</p><p>II - estabelecer as condições em que se dará o</p><p>exercício dos direitos, das liberdades ou das</p><p>prerrogativas reclamados ou, se for o caso, as</p><p>condições em que poderá o interessado promover</p><p>ação própria visando a exercê-los, caso não seja</p><p>suprida a mora legislativa no prazo determinado.</p><p>Obs: será dispensada a determinação a que se refere</p><p>o inciso I quando comprovado que o impetrado</p><p>deixou de atender, em mandado de injunção</p><p>anterior, ao prazo estabelecido para a edição da</p><p>norma.</p><p>dias para adotar a medida necessária.</p><p>Se for o Poder Legislativo, não há prazo.</p><p>📌É possível o controle judicial de omissão em matéria de políticas públicas?</p><p>SIM.</p><p>O controle judicial de omissão em matéria de políticas públicas é possível – e, mais que isso, imperativo –</p><p>diante de quadros de eternização ilícita das etapas de implementação dos planos constitucionais ou, ainda, em</p><p>face de violação sistêmica dos direitos fundamentais, uma vez que o princípio da separação dos Poderes não</p><p>pode ser interpretado como mecanismo impeditivo da eficácia das normas constitucionais, sob pena de</p><p>transformar os programas da Carta Maior em meras promessas. Precedente: ADPF 347 MC, Relator Min.</p><p>MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 9/9/2015, DJe 19/2/2016</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Nesse sentido, para prova para o cargo de Delegado de Polícia - Edital nº 01 - PC-AM (Ano: 2022, FGV) foi</p><p>considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “e”:</p><p>O Partido Político XX solicitou que sua assessoria analisasse a possibilidade de ser ajuizada ação direta de</p><p>inconstitucionalidade por omissão (ADO), em razão da não edição de lei, pelo Estado Beta, para a</p><p>regulamentação de norma da Constituição da República de 1988.</p><p>A assessoria respondeu corretamente que a ADO</p><p>a. pode ser utilizada, mas apenas se a norma da Constituição da República, a ser regulamentada, tiver</p><p>eficácia contida.</p><p>b. pode ser ajuizada, mas apenas se a União já tiver se desincumbido da edição de normas gerais sobre a</p><p>temática.</p><p>c. somente pode ser ajuizada em razão da omissão de autoridades da União, não sendo cabível na</p><p>hipótese em tela.</p><p>d. somente pode ser utilizada, na hipótese em tela, caso a União tenha delegado, por meio de lei</p><p>complementar, o exercício da competência legislativa.</p><p>e. pode ser utilizada,</p><p>desde que se esteja perante descumprimento de um comando para legislar, não</p><p>perante pura opção normativa de disciplinar, ou não, certa temática.</p><p>126</p><p>7.4.4. COMPETÊNCIA (ADO)171</p><p>O STF é o órgão competente para apreciar a ação direta de inconstitucionalidade por omissão, de</p><p>forma originária .</p><p>7.4.5. LEGITIMIDADE (ADO)172</p><p>Os legitimados para propor a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) são os mesmos</p><p>da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) genérica, conforme o art. 103, com considerações específicas em</p><p>relação à pertinência temática. A Lei n. 12.063/2009 reforçou essa posição, eliminando quaisquer dúvidas sobre</p><p>o assunto.</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Nesse sentido, para prova para o cargo de Juiz Substituto - TJ-RS (Ano: 2022, FAURGS) foi considerado o</p><p>gabarito da questão a assertiva prevista na letra “D”:</p><p>Sobre jurisdição constitucional, assinale a afirmativa correta.</p><p>a. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade, dentre outros, o Presidente da República, a Mesa</p><p>do Senado Federal, a Mesa da Câmara dos Deputados, a Mesa da Assembleia Legislativa, o Governador de</p><p>Estado ou o Prefeito de Município.</p><p>b. Não cabe recurso da decisão do relator que indefere liminarmente petição inicial de ação direta de</p><p>inconstitucionalidade.</p><p>c. A Lei Federal nº 9.868/1999 prevê, expressamente, a possibilidade de o Supremo Tribunal Federal, por</p><p>maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos das declarações de constitucionalidade e de</p><p>inconstitucionalidade, bem como decidir que elas só tenham eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de</p><p>outro momento que venha a ser fixado.</p><p>d. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade por omissão os legitimados à propositura da ação</p><p>direta de inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucionalidade.</p><p>e. O pedido de medida cautelar na ação direta de inconstitucionalidade por omissão inconstitucional é</p><p>vedado pela Lei Federal nº 9.868/1999.</p><p>7.4.6. NATUREZA JURÍDICA DOS LEGITIMADOS (ADO)173</p><p>Na Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO), conforme observado pelo Ministro Gilmar</p><p>Mendes, o processo de controle compartilha a mesma finalidade da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)</p><p>genérica. Ambas buscam a defesa da ordem fundamental contra condutas incompatíveis com ela. A ADO não</p><p>visa proteger situações individuais ou relações subjetivas, mas concentra-se principalmente na defesa da ordem</p><p>jurídica. Os legitimados atuam como "advogados do interesse público" ou, nas palavras de Kelsen, como</p><p>173 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 209.</p><p>172 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 208.</p><p>171 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 208.</p><p>127</p><p>"advogados da Constituição". O Ministro utiliza a expressão de Triepel para descrever a ADO como um "típico</p><p>processo objetivo". Esse caráter destaca a natureza da ação, focada na correção de omissões normativas em</p><p>conformidade com a Constituição, reforçando sua finalidade objetiva em relação à ordem jurídica. Essa</p><p>perspectiva foi expressa no voto do Ministro na ADI 3.682.</p><p>7.4.7. PROCEDIMENTO (ADO)174</p><p>📌Apresentação da Petição Inicial:</p><p>◾Art. 12-B da Lei n. 9.868/99 estabelece a apresentação da petição inicial em duas vias, com</p><p>procuração quando necessário.</p><p>◾Documentos anexados devem comprovar a alegação de omissão.</p><p>◾Indicação clara da omissão inconstitucional e pedido específico.</p><p>📌 Peticionamento Eletrônico:</p><p>◾Considerando o peticionamento eletrônico, a necessidade de apresentar em duas vias é condicional.</p><p>◾Art. 4.º, § 1.º, da Lei n. 13.300/2016 regula o número de vias quando a transmissão não é eletrônica.</p><p>📌 Análise da Petição Inicial:</p><p>◾Petições ineptas ou manifestamente improcedentes são liminarmente indeferidas pelo relator.</p><p>◾Cabível agravo da decisão de indeferimento, conforme legislação vigente.</p><p>📌 Recurso de Agravo Interno:</p><p>◾Conforme o CPC/2015, cabe recurso de agravo interno contra decisão monocrática do relator.</p><p>◾Prazo de 15 dias para interposição e resposta, contados em dias úteis.</p><p>📌Desistência da Ação:</p><p>◾Desistência da ação não é admitida após sua proposição.</p><p>◾Aplicação da Seção I do Capítulo II da Lei n. 9.868/99.</p><p>📌Manifestações dos Legitimados:</p><p>◾Legitimados do art. 103 da CF/88 podem se manifestar por escrito sobre o objeto da ação.</p><p>◾Possibilidade de juntada de documentos considerados úteis.</p><p>📌 Solicitação da Manifestação do AGU:</p><p>◾Mudança legislativa permite ao relator solicitar a manifestação da Advocacia-Geral da União (AGU)</p><p>em até 15 dias</p><p>📌 Atuação do Procurador-Geral da República:</p><p>174 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 209.</p><p>128</p><p>◾O Procurador-Geral da República, nas ações em que não for autor, tem vista do processo por 15 dias</p><p>após o prazo para informações.</p><p>📌 Ausência de Prazo para Propositura:</p><p>◾Segundo Clèmerson Merlin Clève, não há prazo específico para a propositura da ADO.</p><p>◾Destaca-se a importância de um prazo razoável para evidenciar uma omissão inconstitucional</p><p>censurável.</p><p>7.4.8. MEDIDA CAUTELAR (ADO)175</p><p>A Ação Direta de Omissão visa sanar a inércia do Poder Público diante da não aplicação de normas</p><p>constitucionais. O art. 12-F da Lei n. 9.868/99 estabelece condições específicas para a concessão de medida</p><p>cautelar, destacando a excepcional urgência e relevância da matéria como requisitos fundamentais.</p><p>📌Procedimento para Concessão da Medida Cautelar:</p><p>◾Audiência dos Órgãos Responsáveis:</p><p>● O STF, por decisão da maioria absoluta de seus membros, pode conceder medida cautelar.</p><p>● Observação do quorum de instalação da sessão de julgamento com no mínimo 8 Ministros.</p><p>● Audiência dos órgãos ou autoridades responsáveis pela omissão inconstitucional, que devem</p><p>se pronunciar em até 5 dias.</p><p>◾ Natureza da Medida Cautelar:</p><p>● A medida cautelar pode suspender a aplicação da lei ou do ato normativo questionado, no caso</p><p>de omissão parcial.</p><p>● Pode suspender processos judiciais, procedimentos administrativos ou adotar outra</p><p>providência fixada pelo Tribunal.</p><p>◾Participação do Procurador-Geral da República:</p><p>● O relator, quando julgar indispensável, ouvirá o Procurador-Geral da República no prazo de 3</p><p>dias.</p><p>◾ Sustentação Oral e Julgamento:</p><p>● No julgamento do pedido de medida cautelar, é facultada sustentação oral aos representantes</p><p>judiciais do requerente e das autoridades responsáveis pela omissão inconstitucional.</p><p>● O procedimento segue as normas previstas no Regimento do Tribunal.</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Nesse sentido, para prova para o cargo de Juiz de Direito do TJ-RJ (Ano: 2023; Banca própria, foi apresentado o</p><p>seguinte enunciado: “No que concerne à arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF), à ação</p><p>direta de inconstitucionalidade por omissão (ADO) e à ação declaratória de constitucionalidade (ADC), assinale a</p><p>alternativa correta.”. E foi considerada correta a seguinte assertiva: “No julgamento do pedido de medida</p><p>175 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 210.</p><p>129</p><p>cautelar em ADO, será facultada sustentação oral aos representantes judiciais do requerente e das autoridades</p><p>ou órgãos responsáveis pela omissão inconstitucional, na forma do previsto no Regimento do Tribunal”.</p><p>📌 Publicação e Informações:</p><p>◾ Publicação da Decisão:</p><p>● Concedida a medida cautelar, o STF publicará a parte dispositiva da decisão em seção especial</p><p>do Diário Oficial da União e do Diário da Justiça da União.</p><p>● O prazo para publicação é de 10 dias.</p><p>◾ Solicitação de Informações:</p><p>● O STF solicitará informações à autoridade ou órgão responsável pela omissão inconstitucional,</p><p>seguindo o procedimento estabelecido na Seção</p><p>I do Capítulo II da Lei n. 9.868/99.</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Nesse sentido, para prova para o cargo de Promotor de Justiça Substituto - MPE-SP (Ano: 2022, MPE-SP) foi</p><p>considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “e”:</p><p>Considere as afirmações a seguir.</p><p>I. O princípio da interpretação conforme a Constituição serve como mecanismo de controle de</p><p>constitucionalidade, permitindo que o intérprete, sobretudo, o Tribunal Constitucional, preserve a validade de</p><p>uma lei que, em uma primeira leitura, pareceria inconstitucional.</p><p>II. Embora seja admitido o amicus curiae nas ações de controle concentrado de constitucionalidade, inexiste</p><p>direito subjetivo à intervenção, cabendo ao relator do processo decidir pela admissibilidade, ou não, podendo,</p><p>inclusive, considerar a racionalidade e a economia processual.</p><p>III. A concessão de medida cautelar na ação direta de inconstitucionalidade determina automática repristinação</p><p>da legislação anterior, caso existente, operando efeitos ex tunc.</p><p>IV. Cabe medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade por omissão, em caso de excepcional</p><p>urgência e relevância da matéria, mediante manifestação dos órgãos e autoridades responsáveis pela omissão</p><p>inconstitucional, sendo-lhes facultada sustentação oral no julgamento do pedido de medida cautelar.</p><p>V. As leis e atos normativos gozam de presunção iuris tantum de constitucionalidade, cabendo àquele que alega</p><p>a inconstitucionalidade o ônus da prova.</p><p>Estão corretas:</p><p>a. todas as assertivas.</p><p>b. apenas II, III, e V.</p><p>c. apenas I e V.</p><p>d. apenas II, III, IV e V.</p><p>e. apenas I, II, IV e V.</p><p>130</p><p>7.4.9. EFEITOS DA DECISÃO (ADO)176</p><p>7.4.9.1. REGRAS GERAIS177</p><p>📌Princípio da Tripartição dos Poderes: Em respeito ao princípio da tripartição dos Poderes,</p><p>estabelecido no art. 2.º da Constituição Federal de 1988, o Judiciário não pode legislar, exceto em situações</p><p>constitucionalmente previstas, como a elaboração de seu Regimento Interno.</p><p>📌Efeitos Diferenciados:</p><p>◾ O art. 103, § 2.º, estabelece efeitos distintos para o poder competente e para o órgão administrativo.</p><p>Poder Competente: Ciência sem prazo determinado para adoção de providências.</p><p>Órgão Administrativo: Deverá suprir a omissão em 30 dias, sob pena de responsabilidade.</p><p>📌Interpretação do Prazo:</p><p>◾O prazo para o órgão administrativo pode ser interpretado de duas maneiras:</p><p>a) Prazo estabelecido apenas para o órgão administrativo.</p><p>b) Prazo pode ser fixado pelo Judiciário tanto para o órgão administrativo como para o Legislativo</p><p>ou outro órgão omisso.</p><p>📌Decisão no Precedente da ADO 3.682: O STF revisou essa questão no precedente da ADO 3.682,</p><p>discutindo a inércia do legislador em elaborar lei complementar federal. Estabeleceu-se um prazo razoável para</p><p>o Congresso Nacional agir, respeitando o princípio do Estado de Direito e a imediata aplicação dos direitos</p><p>fundamentais.</p><p>📌Efeitos Práticos e Modulação: A decisão não tinha caráter coercitivo, mas estabeleceu um</p><p>parâmetro temporal razoável. O Congresso Nacional promulgou a EC n. 57/2008 para convalidar atos de criação</p><p>de municípios, mas o STF estabeleceu critérios específicos.</p><p>📌Posterioridade da EC e Posição do STF: Municípios criados após 31.12.2006 não foram preservados</p><p>pelo STF, evidenciando que a EC n. 57/2008 convalidou apenas até essa data. Em relação aos anteriores, o STF</p><p>exige a observância não apenas da data, mas também a realização de plebiscito, considerando os requisitos</p><p>estabelecidos na legislação estadual à época.</p><p>7.4.9.2. NOVAS PERSPECTIVAS: ADOS 24, 25 E 26 — UM PASSO ADIANTE NAS</p><p>DECISÕES MERAMENTE RECOMENDATÓRIAS178</p><p>📌ADO 24: Inércia Legislativa na Defesa do Usuário de Serviços Públicos:</p><p>Iniciamos com a ADO 24, em que o Ministro Dias Toffoli, em uma decisão monocrática, destacou a</p><p>inaceitável inatividade legislativa. A Emenda Constitucional nº 19/98 estabeleceu um prazo de 120 dias para o</p><p>178 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023.</p><p>177 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 210.</p><p>176 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 210.</p><p>131</p><p>Congresso Nacional criar uma lei de defesa do usuário de serviços públicos, abordando áreas cruciais como</p><p>saúde, educação, transporte e assistência social.</p><p>No entanto, após quase 20 anos, a lei ainda não tinha sido elaborada, apesar da existência de projetos</p><p>de lei em tramitação. O Ministro Toffoli, acertadamente, reconheceu a inércia como uma afronta à Constituição</p><p>e, atendendo ao pedido da OAB, estabeleceu um prazo de 120 dias para a elaboração da lei. A Lei n. 13.460 foi</p><p>promulgada somente em 2017, com uma vacatio legis que levanta questionamentos constitucionais sobre a</p><p>razoabilidade do prazo.</p><p>◾Esta situação levanta debates sobre a constitucionalidade do prazo de vacatio legis e destaca a</p><p>necessidade de reflexão sobre a efetividade das decisões judiciais diante de demoras legislativas.</p><p>📌ADO 25: Federalismo Cooperativo e Compensação de Perdas na Arrecadação:</p><p>No caso da ADO 25, a abordagem do STF trouxe novas perspectivas ao lidar com a mora legislativa na</p><p>implementação de medidas compensatórias. Aqui, a questão central envolveu a desoneração do ICMS prevista</p><p>na Lei Kandir, impactando as finanças estaduais. O Congresso Nacional, desde 2003, não havia legislado de</p><p>forma efetiva para compensar as perdas.</p><p>Em 2016, o STF, por maioria, fixou um prazo de 12 meses para o Congresso resolver a omissão. Após</p><p>tentativas de prorrogação, em 2020, o Congresso Nacional editou a LC n. 176, abordando a compensação de</p><p>perdas na arrecadação.</p><p>◾Esse caso exemplifica um federalismo cooperativo, envolvendo atores federativos na busca por</p><p>soluções para impasses financeiros decorrentes de incentivos tributários.</p><p>📌ADO 26: Criminalização da Homofobia e Transfobia:</p><p>Por fim, na ADO 26, o STF adotou uma posição concretista direta e vinculante ao reconhecer a mora</p><p>inconstitucional do Congresso Nacional na criminalização da homofobia e transfobia. O tribunal, sem fixar</p><p>prazos, interpretou conforme a Constituição para enquadrar essas condutas na Lei n. 7.716/89 até que uma</p><p>legislação autônoma fosse promulgada.</p><p>◾Essa decisão levanta debates sobre os limites da atuação do Poder Judiciário na criminalização de</p><p>condutas, mas também evidencia a necessidade de enfrentar omissões inconstitucionais, especialmente em</p><p>questões sensíveis relacionadas a direitos fundamentais.</p><p>7.4.10. FUNGIBILIDADE ENTRE ADI E ADO179</p><p>A jurisprudência atual do STF reconhece a fungibilidade entre ADI e ADO. Esse entendimento foi</p><p>consolidado em um precedente marcante, no qual o Ministro Gilmar Mendes desempenhou um papel central. A</p><p>ementa desse julgamento oferece uma visão abrangente sobre o assunto (para maior aprofundamento,</p><p>recomendamos a leitura da íntegra do voto):</p><p>EMENTA: Senhores Ministros, Senhoras Ministras. Estamos diante de um caso deveras interessante. Temos</p><p>quatro ações diretas de inconstitucionalidade (ADI n. 1.987/DF, ADI n. 875/DF, ADI n. 2.727/DF e ADI n.</p><p>3.243/DF) imbricadas por uma evidente relação de conexão, fenômeno que determina o seu julgamento</p><p>179 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 215.</p><p>132</p><p>conjunto, conforme a jurisprudência desta Corte (ADI-MC n. 150, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 9.3.1990). Por</p><p>outro lado, é possível observar a intenção dos requerentes de estabelecer uma nítida distinção de pedidos:</p><p>uns pela declaração da inconstitucionalidade por omissão e outros pela declaração da inconstitucionalidade</p><p>(por ação). (...) O quadro aqui revelado, portanto, está a demonstrar uma clara imbricação de pedidos e causas</p><p>de pedir e, dessa forma, a evidenciar a patente fungibilidade que pode existir entre a ação direta de</p><p>inconstitucionalidade e a ação direta</p><p>de inconstitucionalidade por omissão. (...) A Lei n. 9.868/99 possui</p><p>capítulos específicos para a ação direta de inconstitucionalidade (Capítulo II) e para a ação declaratória de</p><p>constitucionalidade (Capítulo III). Com a nova Lei n. 12.063, de 22 de outubro de 2009, a Lei n. 9.868/99 passa a</p><p>contar com o capítulo II-A, que estabelece rito procedimental e medidas cautelares específicas para a ação</p><p>direta de inconstitucionalidade por omissão. A Lei n. 9.882/99, por seu turno, trata da arguição de</p><p>descumprimento de preceito fundamental. No Supremo Tribunal Federal, atualmente, todas as ações</p><p>possuem uma classe específica de autuação: Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI); Ação Declaratória de</p><p>Constitucionalidade (ADC); Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) e Arguição de</p><p>Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF). Portanto, ante a aparente confusão inicialmente</p><p>verificada nos diversos pedidos, como demonstrado, e tendo em vista a patente defasagem da</p><p>jurisprudência até então adotada pelo Tribunal, temos aqui uma valiosa oportunidade para</p><p>superarmos o antigo entendimento e reconhecermos o caráter fungível entre as ações” (ADI 875; ADI</p><p>1.987; ADI 2.727, voto do Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 24.02.2010, Plenário, DJE de 30.04.2010).</p><p>7.4.11. QUADRO COMPARATIVO (ADI X ADC X ADO X ADPF)</p><p>ADI ADO ADC ADPF</p><p>Lei/ato federal ou estadual Lei/ato federal ou</p><p>estadual</p><p>Lei/ato federal Lesão a preceito</p><p>fundamental. Pode ter por</p><p>objeto lei municipal e lei</p><p>anterior à Constituição.</p><p>Legitimados:</p><p>I - o Presidente da República;</p><p>II - a Mesa do Senado Federal;</p><p>III - a Mesa da Câmara dos Deputados;</p><p>IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou a Mesa da Câmara Legislativa do Distrito Federal;</p><p>V - o Governador de Estado ou o Governador do Distrito Federal;</p><p>VI - o Procurador-Geral da República;</p><p>VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;</p><p>VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;</p><p>IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.</p><p>A petição inicial inepta, não fundamentada e a manifestamente improcedente serão</p><p>liminarmente indeferidas pelo relator. Cabe agravo da decisão que indeferir.</p><p>Na PI da ADC, deve indicar a existência de controvérsia judicial relevante sobre a</p><p>aplicação da disposição objeto da ação.</p><p>PI indeferida quando não</p><p>for caso de ADPF, inepta.</p><p>Cabe agravo em 5 dias.</p><p>O Relator pode solicitar O Relator pode solicitar O Relator pode solicitar</p><p>133</p><p>informações que devem ser</p><p>prestadas no prazo de 30</p><p>dias.</p><p>informações que devem</p><p>ser prestadas no prazo de</p><p>30 dias.</p><p>informações que devem</p><p>ser prestadas no prazo de</p><p>10 dias.</p><p>O MP, quando não tiver</p><p>proposto, terá vista do</p><p>processo por 5 dias.</p><p>Serão ouvidos AGU e PGR</p><p>tendo 15 dias para se</p><p>manifestarem.</p><p>AGU defenderá o ato/texto</p><p>impugnado</p><p>Relator pode solicitar</p><p>manifestação da AGU (15</p><p>dias).</p><p>PGR terá vista por 15 dias.</p><p>PGR deve pronunciar-se</p><p>em 15 dias.</p><p>Medida cautelar: maioria</p><p>absoluta, após manifestação</p><p>do órgão que emanou a</p><p>lei/ato (5 dias). Em caso de</p><p>excepcional urgência, pode</p><p>dispensar manifestação do</p><p>órgão.</p><p>Se julgar indispensável,</p><p>ouvirá AGU e PGR em 3</p><p>dias.</p><p>A medida terá efeito ex</p><p>nunc e eficácia contra</p><p>todos, tornado aplicável</p><p>legislação anterior.</p><p>Medida cautelar: maioria</p><p>absoluta, após</p><p>manifestação do órgão</p><p>que emanou a lei/ato (5</p><p>dias).</p><p>A medida pode consistir</p><p>na suspensão da</p><p>aplicação da lei/ato bem</p><p>com suspensão dos</p><p>processos judiciais e</p><p>procedimentos adm.</p><p>Se julgar indispensável,</p><p>ouvirá PGR em 3 dias.</p><p>Medida cautelar: maioria</p><p>absoluta.</p><p>Consiste na determinação</p><p>de que juízes/tribunais</p><p>suspendam o julgamento</p><p>do processo que envolvam</p><p>aplicação da lei/ato objeto</p><p>da ação.</p><p>Concedida a medida, o</p><p>Tribunal deve proceder ao</p><p>julgamento da ação no</p><p>prazo de 180 dias, sob</p><p>pena de perder sua</p><p>eficácia.</p><p>Limiar pode ser concedida</p><p>por decisão de maioria</p><p>absoluta.</p><p>Em caso de extrema</p><p>urgência ou recesso, pode</p><p>ser concedida pelo relator</p><p>ad referendum do Pleno</p><p>(maioria absoluta).</p><p>Relator pode ouvir AGU ou</p><p>PGR em 5 dias.</p><p>Não se suspendem as</p><p>ações transitadas em</p><p>julgado.</p><p>Se a omissão for</p><p>imputável a órgão da</p><p>Administração Pública as</p><p>providências deverão ser</p><p>tomadas em 30 dias.</p><p>Não admite intervenção de</p><p>terceiros.</p><p>A decisão somente poderá ser tomada se presentes na sessão pelo menos 8</p><p>Ministros, tendo que se manifestar pelo 6 favoravelmente.</p><p>Decisão somente poderá</p><p>ser tomada se presentes</p><p>na sessão pelo menos 2/3</p><p>dos Ministros.</p><p>Decisão irrecorrível, salvo ED em 5 dias.</p><p>Não cabe rescisória.</p><p>Decisão irrecorrível e não</p><p>cabe rescisória.</p><p>Modulação temporal dos efeitos da decisão: por voto de 2/3 dos membros, tendo em vista razões de</p><p>segurança jurídica e excepcional interesse social.</p><p>Admitem amicus curiae</p><p>134</p><p>7.5. REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA (IF)</p><p>7.5.1. CONCEITO (IF)180</p><p>O artigo 18, caput, da Constituição Federal de 1988, estabelece a organização político-administrativa da</p><p>República Federativa do Brasil, compreendendo a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos</p><p>autônomos. De forma geral, nenhum ente federativo deve intervir em outro. Contudo, excepcionalmente, a</p><p>Constituição prevê situações de anormalidade que justificam a intervenção:</p><p>◾União: nos Estados, Distrito Federal (hipóteses do art. 34) e nos Municípios localizados em Território</p><p>Federal (hipótese do art. 35).</p><p>◾Estados: em seus Municípios (art. 35).</p><p>A Representação Interventiva é um procedimento que surge como um dos requisitos para a decretação</p><p>da intervenção federal ou estadual. Vale ressaltar que, nesse contexto, quem decreta a intervenção não é o</p><p>Poder Judiciário, mas o Chefe do Poder Executivo.</p><p>📌Análise do Procedimento: Clèmerson Clève, ao examinar esse instituto, o descreve como um</p><p>procedimento "fincado a meio caminho entre a fiscalização da lei in thesi e aquela realizada in casu". Em outras</p><p>palavras, trata-se de uma variante da fiscalização concreta realizada por meio de ação direta. O Judiciário exerce</p><p>um controle da ordem constitucional considerando o caso concreto apresentado para sua análise.</p><p>📌Natureza do Litígio Constitucional: Luís Roberto Barroso destaca que, embora seja formulado um</p><p>juízo abstrato sobre a constitucionalidade do ato normativo nas hipóteses em que o ato impugnado tenha essa</p><p>natureza, não se trata de um processo objetivo sem partes ou sem um caso concreto subjacente. Ao contrário,</p><p>é um litígio constitucional, uma relação processual contraditória entre União e Estado-membro, cujo desfecho</p><p>pode resultar em intervenção federal.</p><p>FASE 1</p><p>◾ fase jurisdicional: o STF ou TJ analisam apenas os pressupostos para a intervenção,</p><p>não nulificando o ato que a ensejou. Julgando procedente o pedido, requisitam a</p><p>intervenção para o Chefe do Executivo</p><p>FASE 2</p><p>◾intervenção branda: o Chefe do Executivo, por meio de decreto, limita-se a suspender</p><p>a execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao restabelecimento da</p><p>normalidade.</p><p>◾controle político? NÃO. Nesta fase 2, está dispensada a apreciação pelo Congresso</p><p>Nacional ou pela Assembleia Legislativa</p><p>180 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 215.</p><p>135</p><p>FASE 3</p><p>◾ intervenção efetiva: se a medida tomada durante a fase 2 não foi suficiente, o Chefe</p><p>do Executivo decretará a efetiva intervenção, devendo especificar a amplitude, o prazo e</p><p>as condições de execução e que, se couber, nomeará o interventor.</p><p>◾ controle político? SIM. Nesta fase 3, deverá o decreto do Chefe do Executivo ser</p><p>submetido à apreciação do Congresso Nacional ou da Assembleia Legislativa do Estado,</p><p>no prazo de 24 horas, sendo que, estando em recesso, será feita a convocação</p><p>extraordinária, no mesmo prazo de 24 horas.</p><p>7.5.2. REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA FEDERAL (ADI INTERVENTIVA</p><p>FEDERAL)181</p><p>O artigo 36, III, da CF/88, estabelece que a decretação da intervenção federal dependerá de provimento,</p><p>pelo STF, de uma representação do Procurador-Geral da República,</p><p>especialmente nas hipóteses do art. 34, VII,</p><p>que envolvem os princípios sensíveis da Constituição.</p><p>Até o momento, desde a promulgação da Constituição de 1988, nenhum caso chegou à fase 2</p><p>(decretação pelo Chefe do Poder Executivo). Contudo, alguns pedidos foram submetidos ao STF, destacando-se:</p><p>◾IF 114 (07.02.1991): Envolveu um pedido de intervenção devido à omissão do Poder Público no</p><p>controle de linchamentos de presos em Mato Grosso. O STF, no mérito, indeferiu o pedido, entendendo que</p><p>não era caso de intervenção.</p><p>◾IF 4.822 (08.04.2005): Pedido de intervenção no Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje),</p><p>com base em deliberação do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH). O pedido foi julgado</p><p>prejudicado em 02.05.2018 devido à desativação do centro.</p><p>◾IF 5.129 (05.10.2008): Envolvendo a violação de direitos humanos no presídio Urso Branco, em Porto</p><p>Velho, Rondônia. A matéria está pendente de julgamento pelo STF.</p><p>◾IF 5.179 (11.02.2010): Pedido de intervenção devido a um suposto esquema de corrupção no Distrito</p><p>Federal. O pedido foi julgado improcedente no mérito.</p><p>7.5.2.1. OBJETO (IF)</p><p>📌Amplitude do Objeto da ADI Interventiva Federal: Inicialmente, o STF, contrariando a doutrina de</p><p>Alfredo Buzaid, restringiu o objeto da ação somente a atos normativos (Rp 94/DF, Rel. Min. Castro Nunes, j.</p><p>17.07.1946). No entanto, o entendimento atual é ampliado, possibilitando a ADI Interventiva Federal para:</p><p>1. Lei ou ato normativo que viole princípios sensíveis;</p><p>2. Omissão ou incapacidade das autoridades locais para assegurar o cumprimento e preservação</p><p>dos princípios sensíveis, como os direitos da pessoa humana;</p><p>3. Ato governamental estadual que desrespeite os princípios sensíveis;</p><p>4. Ato administrativo que afronte os princípios sensíveis;</p><p>181 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 215.</p><p>136</p><p>5. Ato concreto que viole os princípios sensíveis.</p><p>Essa ampla gama de possibilidades destaca a flexibilidade da ADI Interventiva Federal para lidar com</p><p>diversas situações que ameacem a ordem constitucional.</p><p>📌Diferenças na Fase Judicial da Intervenção: É essencial compreender que a fase judicial da</p><p>intervenção não se assemelha às demais ações de inconstitucionalidade. Na ADI Interventiva Federal, o Tribunal</p><p>não anula, no caso de lei, o ato normativo. Em relação à omissão, há um avanço significativo, sendo sugerido</p><p>pela doutrina e posteriormente sedimentado na jurisprudência do STF e na Lei n. 12.562/2011.</p><p>Um caso ilustrativo é a intervenção solicitada no Estado do Mato Grosso devido à omissão estatal e</p><p>negligência, resultando em linchamentos de presos pela população local. O STF considerou que a omissão e a</p><p>incapacidade do governo local em garantir os direitos da pessoa humana eram suficientes para justificar a ação.</p><p>No mérito, mesmo diante da gravidade, o STF negou o pedido, argumentando que o Estado estava investigando</p><p>o crime (IF 114, Rel. Min. Presidente Néri da Silveira, j. 13.03.1991).</p><p>📌DF como Objeto da Representação: A ADI Interventiva Federal também pode envolver o Distrito</p><p>Federal, abrangendo lei ou ato normativo, omissão ou ato governamental distrital. O caso IF 5.179 exemplifica</p><p>um pedido de intervenção devido a um suposto "esquema de corrupção", preservado por omissão das</p><p>autoridades locais. O STF, no mérito, indeferiu o pedido, considerando inadmissível a intervenção perante a</p><p>dissolução do quadro que se preordenaria a remediar (IF 5.179, Rel. Min. Cezar Peluso, j. 30.06.2010, Plenário,</p><p>DJE de 08.10.2010 e Inf. 593/STF).</p><p>7.5.2.2. PRINCÍPIOS SENSÍVEIS182</p><p>O pedido de intervenção é cabível quando ocorre violação aos princípios sensíveis, conforme</p><p>especificados no art. 34, VII, “a”-“e”. São eles:</p><p>◾ forma republicana, sistema representativo e regime democrático;</p><p>◾ direitos da pessoa humana;</p><p>◾ autonomia municipal;</p><p>◾prestação de contas da Administração Pública, direta e indireta;</p><p>◾aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a</p><p>proveniente de transferências, na manutenção e no desenvolvimento do ensino e nas ações e nos serviços</p><p>públicos de saúde.</p><p>7.5.2.3. COMPETÊNCIA (IF)183</p><p>A competência é originária do STF (art. 36, III).</p><p>183 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 217.</p><p>182 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 217.</p><p>137</p><p>7.5.2.4. LEGITIMIDADE (IF)184</p><p>📌Legitimado Ativo: O Procurador-Geral da República (PGR)</p><p>A representação interventiva federal é uma ferramenta legal fundamental para a preservação da ordem</p><p>jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. No entanto, somente o</p><p>Procurador-Geral da República é o legitimado ativo para apresentar essa representação.</p><p>◾Autonomia e Discricionariedade:</p><p>O PGR detém total autonomia e discricionariedade para formar seu convencimento em relação à</p><p>propositura da representação interventiva federal.</p><p>Essa autonomia ressalta a importância do Ministério Público na defesa do equilíbrio federativo e na</p><p>preservação dos princípios fundamentais da Constituição.</p><p>◾Atribuição sugerida ao AGU:</p><p>Algumas propostas já foram feitas para transferir essa atribuição ao Advogado-Geral da União (AGU).</p><p>No entanto, a ideia enfrenta críticas, considerando a vedação expressa no art. 129, IX, que proíbe o</p><p>Ministério Público de representar judicialmente entidades públicas.</p><p>◾Legitimado Passivo: Ente Federativo e a Violção ao Princípio Sensível</p><p>Ao falarmos sobre legitimado passivo na representação interventiva federal, referimo-nos ao ente</p><p>federativo no qual se verifica a violação ao princípio sensível da Constituição Federal de 1988.</p><p>1. Relação Processual Controvertida:</p><p>○ Surge uma relação processual controvertida entre a União e os Estados-Membros ou o</p><p>Distrito Federal.</p><p>○ O PGR atua em defesa do equilíbrio federativo, buscando solucionar conflitos que</p><p>impactem a ordem jurídica e o regime democrático.</p><p>2. Solicitação de Informações:</p><p>○ Para estabelecer a legitimidade passiva, são solicitadas informações às autoridades ou</p><p>órgãos estaduais ou distritais responsáveis.</p><p>○ A Assembleia Legislativa local ou o Governador, representado pelo Procurador-Geral do</p><p>Estado ou do DF, desempenham papéis importantes nesse processo.</p><p>7.5.2.5. PROCEDIMENTO (IF)185</p><p>📌Procedimento Inicial: Proposição da Ação pelo PGR</p><p>◾Elementos da Petição Inicial: Quando o Procurador-Geral da República propõe a ação no STF, a</p><p>petição inicial deve conter elementos essenciais, como a indicação do princípio constitucional sensível violado,</p><p>do ato normativo questionado, e a prova da violação.</p><p>185 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 218.</p><p>184 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 217.</p><p>138</p><p>◾Legitimidade Ativa e Passiva: O PGR tem a incumbência de propor a ação, e o ente federativo no</p><p>qual ocorre a violação é o legitimado passivo.</p><p>📌Análise do Relator e Pedido de Informações:</p><p>◾Indeferimento Liminar: O relator pode indeferir liminarmente a petição inicial em casos específicos,</p><p>como quando não se trata de representação interventiva ou quando faltam requisitos legais.</p><p>◾Pedido de Informações: Após o recebimento da inicial, o relator busca resolver administrativamente</p><p>o conflito, solicitando informações às autoridades responsáveis pelo ato questionado.</p><p>📌Procedimentos Intermediários e Audiência Pública:</p><p>◾Manifestações do AGU e PGR: Após o prazo para informações, o Advogado-Geral da União (AGU) e</p><p>o PGR emitem suas manifestações.</p><p>◾Diligências Adicionais: O relator pode, se necessário, requisitar informações adicionais, nomear</p><p>peritos ou realizar audiência pública com especialistas</p><p>na matéria.</p><p>📌 Julgamento e Execução:</p><p>◾Quórum e Decisão: O julgamento exige a presença de pelo menos 8 Ministros, com a decisão</p><p>proclamada com a manifestação de pelo menos 6 Ministros.</p><p>◾Execução e Comunicação: Se a decisão for procedente, a comunicação é feita às autoridades</p><p>responsáveis, cabendo ao Presidente do STF levar o acórdão ao Presidente da República para cumprimento.</p><p>📌 Intervenção Federal: Fases 2 e 3:</p><p>◾Intervenção Branda e Efetiva: Se necessário, o Presidente da República, por meio de decreto, pode</p><p>suspender a execução do ato impugnado (fase 2) ou, se preciso, decretar a intervenção federal (fase 3).</p><p>◾Controle Político pelo Congresso: O decreto de intervenção é submetido ao Congresso Nacional</p><p>para controle político. O retorno das autoridades afastadas ocorre após o término da intervenção, salvo</p><p>impedimento legal.</p><p>7.5.2.6. MEDIDA LIMINAR (IF)186</p><p>📌 Natureza da Ação Direta Interventiva e Medida Liminar:</p><p>◾Posição de Barroso: Barroso defendeu que a natureza e a finalidade da ação direta interventiva não</p><p>são compatíveis com a concessão de medida liminar. Argumentou que antecipar efeitos, como a suspensão do</p><p>ato impugnado, seria incongruente, pois a decisão de mérito apenas determina a execução da intervenção pelo</p><p>Chefe do Executivo.</p><p>📌Lei n. 12.562/2011 e Admissibilidade de Medida Liminar:</p><p>◾Contrariando essa visão, o art. 5.º da Lei n. 12.562/2011 expressamente admitiu o cabimento de</p><p>medida liminar na representação interventiva. No entanto, estabeleceu que a decisão para concessão da</p><p>liminar deve ser tomada pela maioria absoluta dos Ministros.</p><p>186 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 218.</p><p>139</p><p>📌 Evolução Legislativa e Procedimentos:</p><p>◾Lei n. 5.778/72: O art. 2.º desta lei, que regula o processo da representação interventiva estadual,</p><p>autoriza o relator, a requerimento do chefe do Ministério Público estadual e mediante despacho</p><p>fundamentado, a suspender liminarmente o ato impugnado.</p><p>◾Lei n. 4.337/64: Anteriormente, o art. 5.º desta lei previa um procedimento abreviado para a análise</p><p>do pedido de intervenção.</p><p>📌 Limitações e Procedimentos para Concessão da Medida Liminar:</p><p>◾Previsão no Contexto Atual: A Lei n. 12.562/2011 não contempla a possibilidade de concessão de</p><p>medida liminar pelo Relator ou pelo Ministro Presidente do STF, diferentemente de outras ações de controle.</p><p>◾Oitiva de Órgãos e Autoridades Responsáveis: Para a concessão da liminar, o relator pode ouvir os</p><p>órgãos ou autoridades responsáveis pelo ato questionado, além do Advogado-Geral da União (AGU) ou do</p><p>Procurador-Geral da República (PGR), em um prazo comum de 5 dias.</p><p>◾Natureza da Liminar: A liminar pode consistir na determinação de suspensão do andamento de</p><p>processos, efeitos de decisões judiciais ou administrativas, ou de qualquer outra medida relacionada à matéria</p><p>objeto da representação interventiva.</p><p>7.5.2.7. REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA NO CASO DE RECUSA À EXECUÇÃO</p><p>DE LEI FEDERAL187</p><p>📌Fundamento Legal e Competência do STF:</p><p>◾Art. 36, III, da Constituição Federal: O referido artigo estabelece o cabimento da representação</p><p>interventiva perante o STF, a ser ajuizada pelo Procurador-Geral da República (PGR), nos casos de recusa à</p><p>execução de lei federal por Estado-Membro ou Distrito Federal.</p><p>◾Interpretação de Gilmar Mendes: Gilmar Mendes propõe a expressão "recusa à execução do</p><p>direito federal", uma abordagem que consideramos mais precisa. Esse entendimento realça o cerne do conflito,</p><p>que se manifesta quando o Estado ou o Distrito Federal se recusam a aplicar ou descumprem o direito federal.</p><p>◾Competência do STF: Originalmente, a Constituição de 1988 indicava competência do STJ, retificada</p><p>pela Reforma do Judiciário (EC n. 45/2004), que corrigiu o equívoco e estabeleceu claramente a competência do</p><p>STF. Essa alteração fundamenta-se na natureza do conflito entre a União e o Estado ou o Distrito Federal,</p><p>configurando-se como um caso de competência do STF conforme o art. 102, I, “f”, da CF/88.</p><p>📌Procedimento e Legislação Aplicável:</p><p>◾Lei n. 12.562/2011: O procedimento para a representação interventiva está detalhadamente previsto</p><p>na Lei n. 12.562/2011. Tudo que discutimos anteriormente em relação à representação interventiva se aplica a</p><p>esta hipótese específica.</p><p>187 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 219.</p><p>140</p><p>📌Comparação com ADI Interventiva:</p><p>◾Abordagem da Doutrina: “A doutrina tem-se limitado a tratar como ADI Interventiva (admitindo-se</p><p>essa nomenclatura ainda como adequada) a hipótese do art. 34, VII (violação aos princípios sensíveis)”.</p><p>7.5.3. REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA ESTADUAL (ADI INTERVENTIVA</p><p>ESTADUAL)188</p><p>📌Regulamentação e Alterações Legislativas:</p><p>◾Lei n. 5.778/72: O processo da representação interventiva estadual encontra regulamentação na Lei</p><p>n. 5.778/72. Em seu art. 1.º, caput, a lei estabelece que o processo e julgamento dessas representações em</p><p>municípios regem-se, no que for aplicável, pela Lei n. 4.337/64, com exceção do seu art. 6.º.</p><p>◾Alterações com a Lei n. 12.562/2011: Com o advento da Lei n. 12.562/2011, que tratou de toda a</p><p>matéria relativa à intervenção federal, consideramos que a Lei n. 4.337/64 foi totalmente revogada. O</p><p>procedimento, portanto, deve observar, no que couber, as novas regras introduzidas pela Lei n. 12.562/2011.</p><p>📌Competência e Procedimentos Constitucionais:</p><p>◾Art. 35, IV, da CF/88: O art. 35, IV, da Constituição Federal estabelece que a intervenção estadual,</p><p>decretada pelo Governador de Estado, dependerá de provimento pelo Tribunal de Justiça (TJ) local de</p><p>representação. Essa representação tem como objetivo assegurar a observância de princípios constitucionais</p><p>estaduais ou prover a execução de lei, ordem ou decisão judicial.</p><p>◾Regras Estaduais e Regimentos Internos: As regras para essa representação são previstas nas</p><p>Constituições estaduais e nos regimentos internos dos tribunais locais. Essas normativas devem, em essência,</p><p>seguir o modelo federal, garantindo simetria com as disposições constitucionais.</p><p>ADI INTERVENTIVA FEDERAL189 ADI INTERVENTIVA ESTADUAL190</p><p>FASE 1 - “JUDICIAL” 191</p><p>OBJETO192</p><p>Lei ou ato normativo, ou omissão,</p><p>ou ato governamental estaduais</p><p>ou distritais que desrespeitem os</p><p>princípios sensíveis previstos no</p><p>art. 34, VII, “a”-“e”, da CF/88</p><p>Lei ou ato normativo, ou omissão,</p><p>ou ato governamental municipais</p><p>que desrespeitem os princípios</p><p>sensíveis indicados na CE</p><p>COMPETÊNCIA 193 STF — originária TJ — originária</p><p>193 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 219.</p><p>192 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 219.</p><p>191 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 219.</p><p>190 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 219.</p><p>189 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 219.</p><p>188 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 219.</p><p>141</p><p>LEGITIMADO ATIVO194</p><p>PGR — Chefe do Ministério</p><p>Público da União (art. 129, IV, da</p><p>CF/88)</p><p>PGJ — Chefe do Ministério Público</p><p>Estadual (art. 129, IV, da CF/88)</p><p>LEGITIMADO PASSIVO195</p><p>Ente federativo (Estado ou DF) no</p><p>qual se verifica a violação ao</p><p>princípio sensível da CF/88,</p><p>devendo ser solicitadas</p><p>informações às autoridades ou</p><p>aos órgãos estaduais ou</p><p>distritais responsáveis pela</p><p>violação aos princípios sensíveis</p><p>Ente federativo (Município) no</p><p>qual se verifica a violação ao</p><p>princípio sensível da CE, devendo</p><p>brasileiro.</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Na prova para o cargo de Promotor de Justiça do MPE-SCl (Ano: 2023; Banca: CESPE/CEBRASPE) foi</p><p>apresentado o seguinte enunciado: “Relativamente ao controle difuso de constitucionalidade, aos efeitos da</p><p>decisão de inconstitucionalidade, à arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) e ao controle</p><p>de convencionalidade, julgue o item subsequente”. E foi considerada incorreta a assertiva que dizia que</p><p>“Tratados internacionais sobre direitos humanos que não hajam atingido, no Congresso Nacional, o quórum</p><p>de aprovação aplicável às emendas constitucionais podem ser objeto de controle difuso de convencionalidade,</p><p>dado seu status supralegal.</p><p>15 Martins, Flávio. Curso de direito constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (7th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 224.</p><p>15</p><p>1.7. CONTROLE CONCENTRADO X CONTROLE DIFUSO</p><p>CONTROLE CONCENTRADO CONTROLE DIFUSO (CONTROLE INCIDENTAL)</p><p>Realizado pelo STF, em regra*, de forma abstrata, nas</p><p>hipóteses em que lei ou ato normativo violar a CF/88.</p><p>Realizado por qualquer juiz ou Tribunal (inclusive o</p><p>STF), em um caso concreto.</p><p>Produz, como regra, os seguintes efeitos:</p><p>• Ex tunc</p><p>• Erga omnes</p><p>• Vinculante</p><p>Produz, como regra, os seguintes efeitos:</p><p>• Ex tunc</p><p>• Inter partes</p><p>• Não vinculante</p><p>2. BREVE ANÁLISE EVOLUTIVA DO SISTEMA BRASILEIRO DE</p><p>CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE16</p><p>2.1. CONSTITUIÇÃO DE 182417</p><p>A Constituição Imperial de 1824, também chamada de "Constituição Política do Império do Brasil," foi a</p><p>primeira constituição do Brasil após a independência de Portugal em 1822. Ela foi promulgada durante o</p><p>reinado de Dom Pedro I e incorporou as ideias políticas da época, incluindo conceitos do direito francês e</p><p>inglês. Vamos destacar os principais aspectos da Constituição de 1824 relacionados ao sistema de controle de</p><p>constitucionalidade e ao papel do Poder Moderador:</p><p>📌Soberania do Parlamento: A Constituição de 1824 estabeleceu a supremacia do Parlamento como o</p><p>órg</p><p>📌Ausência de sistema de controle de constitucionalidade: A Constituição de 1824 não criou</p><p>nenhum mecanismo para verificar a conformidade das leis com a Constituição. Em vez disso, a</p><p>responsabilidade de interpretar e aplicar a Constituição era inteiramente confiada ao Parlamento.</p><p>📌Poder Moderador: Essa Constituição introduziu o Poder Moderador, exercido pelo Imperador, com</p><p>o papel de coordenar os outros poderes e manter a harmonia entre eles. Isso incluía a resolução de conflitos</p><p>entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.</p><p>📌Impacto na fiscalização da constitucionalidade: A presença do Poder Moderador na Constituição</p><p>de 1824 limitou significativamente a capacidade do Judiciário de fiscalizar a constitucionalidade das leis. O</p><p>Imperador tinha autoridade para resolver conflitos entre os poderes, tornando o Judiciário incapaz de</p><p>17 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 124.</p><p>16 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 124.</p><p>16</p><p>determinar a inconstitucionalidade das leis. O Poder Moderador centralizava a autoridade na figura do</p><p>Imperador.</p><p>📌Influência do direito público europeu: Além dos pontos mencionados, a Constituição de 1824</p><p>refletiu a influência do direito público europeu, especialmente o direito inglês e francês, sobre as elites políticas</p><p>e jurídicas brasileiras da época. Essa influência moldou a estrutura e as práticas políticas do Império do Brasil.</p><p>2.2. CONSTITUIÇÃO DE 189118</p><p>A Constituição de 1891 introduziu uma transformação significativa no controle de constitucionalidade</p><p>no Brasil. Sob a influência do direito norte-americano, essa Constituição estabeleceu a técnica de controle de</p><p>constitucionalidade de leis ou atos, desde que fossem infraconstitucionais, permitindo que qualquer juiz</p><p>ou tribunal pudesse realizar esse controle. Esse modelo é conhecido como controle difuso de</p><p>constitucionalidade, caracterizado por ser repressivo, posterior e aberto. Nesse sistema, a declaração de</p><p>inconstitucionalidade ocorre de maneira incidental, ou seja, no decorrer de um caso específico, prejudicando o</p><p>mérito da questão. Essa abordagem se manteve até a Constituição de 1988.</p><p>2.3. CONSTITUIÇÃO DE 193419</p><p>A Constituição de 1934, mantendo o sistema de controle difuso, trouxe inovações significativas</p><p>relacionadas ao controle de constitucionalidade. Estabeleceu a ação direta de inconstitucionalidade</p><p>interventiva, a chamada cláusula de reserva de plenário (exigindo maioria absoluta dos membros do</p><p>tribunal para declarar inconstitucionalidade) e conferiu ao Senado Federal a competência para</p><p>suspender a execução, total ou parcial, de uma lei ou ato considerado inconstitucional por decisão definitiva.</p><p>Uma mudança notável, destacada por Gilmar Ferreira Mendes, foi a introdução da "declaração de</p><p>inconstitucionalidade para evitar a intervenção federal", também conhecida como representação</p><p>interventiva. Essa representação era responsabilidade do Procurador-Geral da República e estava relacionada a</p><p>situações em que princípios consagrados no artigo 7º, I, a a h, da Constituição eram violados. Isso representava</p><p>uma abordagem peculiar na resolução de conflitos federativos, vinculando a eficácia de leis de intervenção,</p><p>iniciadas pelo Senado (conforme o artigo 41, § 3º), à declaração de inconstitucionalidade pelo Supremo Tribunal</p><p>(conforme o artigo 12, § 2º).</p><p>2.4. CONSTITUIÇÃO DE 193720</p><p>A Constituição de 1937, conhecida como a "Constituição Polaca" devido à sua inspiração na Carta</p><p>ditatorial polonesa de 1935, manteve o sistema de controle de constitucionalidade difuso. No entanto,</p><p>introduziu uma mudança significativa ao permitir que o Presidente da República influenciasse as</p><p>decisões do Poder Judiciário que declarassem a inconstitucionalidade de uma lei. O Presidente tinha o</p><p>poder discricionário de submeter a decisão ao Parlamento para reexame, permitindo ao Legislativo, por meio</p><p>de uma decisão de 2/3 de ambas as Casas, tornar sem efeito a declaração de inconstitucionalidade, desde que</p><p>20 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 124.</p><p>19 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 124.</p><p>18 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 124.</p><p>17</p><p>confirmasse a validade da lei. Essas regras resultaram em um desequilíbrio significativo de poder,</p><p>fortalecendo desproporcionalmente o Executivo.</p><p>2.5. CONSTITUIÇÃO DE 194621</p><p>A Constituição de 1946, resultado do movimento de redemocratização no Brasil, trouxe importantes</p><p>mudanças no sistema de controle de constitucionalidade. Ela buscou reduzir o poder excessivo do Executivo e</p><p>restabelecer a tradição desse sistema. Através da Emenda Constitucional nº 16, de 26 de novembro de 1965, foi</p><p>criada uma nova modalidade de ação direta de inconstitucionalidade, com competência originária do Supremo</p><p>Tribunal Federal (STF), para processar e julgar representações de inconstitucionalidade de leis ou atos</p><p>normativos, sejam federais ou estaduais. Essas representações eram exclusivamente propostas pelo</p><p>Procurador-Geral da República. Além disso, a Constituição de 1946 estabeleceu a possibilidade de controle</p><p>concentrado em âmbito estadual. Essas mudanças marcaram uma restauração da tradição do controle de</p><p>constitucionalidade e buscaram equilibrar os poderes no sistema político do país.</p><p>2.6. CONSTITUIÇÃO DE 1967 e EC nº 1/6922</p><p>“Esta última regra foi retirada pela Constituição de 1967, embora a EC n. 1/69 tenha previsto o controle</p><p>de constitucionalidade de lei municipal, em face da Constituição Estadual, para fins de intervenção no</p><p>Município. ”23</p><p>2.7. CONSTITUIÇÃO DE 198824</p><p>A Constituição de 1988, elaborada pela Assembleia</p><p>ser solicitadas informações às</p><p>autoridades ou aos órgãos</p><p>municipais responsáveis pela</p><p>violação aos princípios sensíveis</p><p>PROCEDIMENTO 196</p><p>◾Proposta a ação pelo</p><p>Procurador-Geral da República,</p><p>no STF, quando a lei ou o ato</p><p>normativo de natureza estadual</p><p>(ou distrital), ou omissão, ou ato</p><p>governamental contrariarem os</p><p>princípios sensíveis da CF,</p><p>buscar-se-á a solução</p><p>administrativa</p><p>◾Não sendo o caso, nem o de</p><p>arquivamento, serão solicitadas</p><p>informações às autoridades</p><p>estaduais ou distritais</p><p>responsáveis e ouvido o PGR,</p><p>sendo, então, o pedido relatado e</p><p>levado a julgamento</p><p>◾ Julgado procedente o pedido</p><p>(quorum do art. 97, maioria</p><p>absoluta), o Presidente do STF</p><p>imediatamente comunicará a</p><p>decisão aos órgãos do Poder</p><p>Público interessados e requisitará</p><p>◾Proposta a ação pelo</p><p>Procurador-Geral de Justiça, no</p><p>TJ, quando a lei ou o ato</p><p>normativo, ou omissão, ou ato</p><p>governamental de natureza</p><p>municipal contrariarem os</p><p>princípios sensíveis previstos na</p><p>CE, buscar-se-á a solução</p><p>administrativa</p><p>◾Não sendo o caso, nem o de</p><p>arquivamento, serão solicitadas</p><p>informações às autoridades</p><p>municipais responsáveis e ouvido</p><p>o PGJ, sendo, então, o pedido</p><p>relatado e levado a julgamento</p><p>◾Julgado procedente o pedido</p><p>(quorum do art. 97, maioria</p><p>absoluta), o Presidente do TJ</p><p>imediatamente comunicará a</p><p>decisão aos órgãos do Poder</p><p>Público interessados e requisitará</p><p>a intervenção ao Governador do</p><p>196 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 219.</p><p>195 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 219.</p><p>194 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 219.</p><p>142</p><p>a intervenção ao Presidente da</p><p>República, que, por se tratar de</p><p>“requisição”, e não mera</p><p>solicitação, não poderá</p><p>descumprir a ordem</p><p>mandamental, sob pena de</p><p>cometimento tanto de crime</p><p>comum como de</p><p>responsabilidade, inaugurando-se,</p><p>assim, a fase 2 do procedimento</p><p>Estado, que, por se tratar de</p><p>“requisição”, e não mera</p><p>solicitação, não poderá</p><p>descumprir a ordem</p><p>mandamental, sob pena de</p><p>cometimento tanto de crime</p><p>comum como de</p><p>responsabilidade, inaugurando-se,</p><p>assim, a fase 2 do procedimento</p><p>FASE 2 - “INTERVENÇÃO BRANDA”197</p><p>DECRETO DO EXECUTIVO198</p><p>◾O Presidente da República,</p><p>nos termos do art. 36, § 3.º, por</p><p>meio de decreto, limitar-se-á a</p><p>suspender a execução do ato</p><p>impugnado, se essa medida bastar</p><p>para o restabelecimento da</p><p>normalidade.</p><p>◾Nessa fase, está dispensada a</p><p>apreciação pelo Congresso</p><p>Nacional (controle político)</p><p>◾O Governador do Estado, nos</p><p>termos do art. 36, § 3.º, por meio</p><p>de decreto, limitar-se-á a</p><p>suspender a execução do ato</p><p>impugnado, se essa medida bastar</p><p>para o restabelecimento da</p><p>normalidade</p><p>◾ Nessa fase, está dispensada a</p><p>apreciação pela Assembleia</p><p>Legislativa (controle político)</p><p>FASE 3 - “INTERVENÇÃO EFETIVA”199</p><p>DECRETO DO EXECUTIVO E</p><p>CONTROLE POLÍTICO200</p><p>◾Caso a medida de mera</p><p>suspensão não seja suficiente</p><p>para o restabelecimento da</p><p>normalidade, aí, sim, o Presidente</p><p>da República decretará a efetiva</p><p>intervenção no Estado ou no DF,</p><p>executando-a com a nomeação de</p><p>interventor, se for o caso, e</p><p>afastando as autoridades</p><p>responsáveis de seus cargos (art.</p><p>84, X, da CF/88).</p><p>◾Caso a medida de mera</p><p>suspensão não seja suficiente</p><p>para o restabelecimento da</p><p>normalidade, aí, sim, o</p><p>Governador do Estado decretará a</p><p>efetiva intervenção no Município,</p><p>executando-a com a nomeação de</p><p>interventor, se for o caso, e</p><p>afastando as autoridades</p><p>responsáveis de seus cargos (art.</p><p>84, X, da CF/88).</p><p>200 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 219.</p><p>199 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 219.</p><p>198 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 219.</p><p>197 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 219.</p><p>143</p><p>◾Nesse caso de intervenção</p><p>efetiva, haverá controle político</p><p>pelo Congresso Nacional no</p><p>prazo de 24 horas a contar do</p><p>decreto interventivo. Se o</p><p>Congresso Nacional não estiver</p><p>funcionando, far-se-á convocação</p><p>extraordinária.</p><p>◾Cessados os motivos da</p><p>intervenção, as autoridades</p><p>afastadas de seus cargos a estes</p><p>voltarão, salvo impedimento legal.</p><p>◾Nesse caso de intervenção</p><p>efetiva, haverá controle político</p><p>pela Assembleia Legislativa no</p><p>prazo de 24 horas a contar do</p><p>decreto interventivo. Se a</p><p>Assembleia Legislativa não estiver</p><p>funcionando, far-se-á convocação</p><p>extraordinária</p><p>◾Cessados os motivos da</p><p>intervenção, as autoridades</p><p>afastadas de seus cargos a estes</p><p>voltarão, salvo impedimento legal</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Na prova para o cargo de Defensor Público da DPE-RO(Ano: 2023; Banca: CESPE/CEBRASPE) foi apresentado</p><p>o seguinte enunciado: “Conforme a Constituição Federal de 1988 (CF) e a jurisprudência do Supremo Tribunal</p><p>Federal (STF), na Constituição Estadual, no que se refere à previsão de legitimidade ativa para propor ação de</p><p>controle concentrado de constitucionalidade junto ao tribunal de justiça, deve ser “. E foi considerada correta a</p><p>seguinte assertiva: “incluído, entre os legitimados, o chefe do Ministério Público estadual!.</p><p>8. CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE NOS</p><p>ESTADOS-MEMBROS201</p><p>8.1. REGRAS GERAIS202</p><p>📌 Competência dos Estados:</p><p>Nos termos do art. 125, § 2.º, da CF/88, é atribuída aos Estados a competência para instituir a</p><p>representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais. Importante</p><p>destacar que a legitimação para agir não pode ser atribuída a um único órgão.</p><p>Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição. (...)</p><p>§ 2º Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos</p><p>estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um</p><p>único órgão.</p><p>202 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 220.</p><p>201 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 219/227</p><p>144</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Nesse sentido, para prova para o cargo de Defensor Público Substituto - DPE-TO (Ano: 2022, CESPE/CEBRASPE)</p><p>foi considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “C”:</p><p>Considere que tenha sido ajuizada, em tribunal de justiça local, uma ação direta de inconstitucionalidade contra</p><p>lei ou ato normativo editado por município, tendo como parâmetro de controle dispositivo da Constituição</p><p>Federal de 1988 (CF). Nesse caso, de acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), o controle</p><p>abstrato de constitucionalidade</p><p>a. deve ser exercido originariamente pelo STF, considerando-se que o parâmetro de controle são normas</p><p>insertas na CF.</p><p>b. não é cabível, pois o ato normativo municipal deve ser questionado no âmbito do controle difuso.</p><p>c. pode ser exercido pelo tribunal de justiça, caso o parâmetro de controle invocado na ação seja norma</p><p>de reprodução obrigatória na Constituição estadual.</p><p>d. não deve ser admitido pelo tribunal de justiça, ainda que se trate de norma de reprodução obrigatória</p><p>na Constituição estadual.</p><p>e. pode ser exercido originariamente pelo STF, desde que se trate de norma de reprodução obrigatória.</p><p>📌 Regras Claras do Controle Abstrato Estadual:</p><p>◾Objeto de Controle: Somente leis ou atos normativos estaduais ou municipais podem ser objetos</p><p>desse controle.</p><p>◾ Parâmetro de Confronto: O parâmetro para confronto</p><p>Nacional Constituinte convocada em 1985,</p><p>introduziu quatro principais mudanças no sistema de controle de constitucionalidade:</p><p>◾A primeira alteração diz respeito ao controle concentrado em âmbito federal, que ampliou a</p><p>legitimidade para propor a representação de inconstitucionalidade, permitindo que não apenas o</p><p>Procurador-Geral da República, mas também outras autoridades e entidades, como o Presidente da República,</p><p>as Mesas do Senado e da Câmara dos Deputados, governadores de estados, a Ordem dos Advogados do Brasil,</p><p>partidos políticos com representação no Congresso Nacional, confederações sindicais e entidades de classe de</p><p>âmbito nacional, possam propor ação direta de inconstitucionalidade de leis.</p><p>◾ A segunda foi a possibilidade de controle de constitucionalidade das omissões legislativas, seja</p><p>de forma concentrada (ações diretas de inconstitucionalidade por omissão) e de modo incidental, pelo</p><p>controle difuso (mandado de injunção).</p><p>◾A terceira, de acordo com o artigo 125, parágrafo 2º é a permissão dos Estados para estabelecer a</p><p>representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em relação à</p><p>Constituição Estadual. No entanto, não é permitido conceder exclusivamente a um único órgão o direito de</p><p>tomar essa ação.</p><p>◾Além Disso, introduziu a arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) no</p><p>ordenamento jurídico brasileiro. Posteriormente, a Emenda Constitucional nº 3/93 estabeleceu a ação</p><p>24 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 124.</p><p>23 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 124.</p><p>22 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 124.</p><p>21 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 124.</p><p>18</p><p>declaratória de constitucionalidade (ADC) e renumerou o parágrafo único do artigo 102, transformando-o</p><p>em § 1º, mantendo a redação original da previsão da ADPF. A Emenda Constitucional nº 45/2004, conhecida</p><p>como Reforma do Judiciário, ampliou a legitimidade ativa para a ADC, igualando-a aos legitimados da ADI e</p><p>estendendo o efeito vinculante também para a ADI, consolidando a ideia de efeito dúplice ou ambivalente entre</p><p>as duas ações, restando apenas a igualação de seus objetos.</p><p>Nas palavras do professor José Afonso da Silva:</p><p>“o Brasil seguiu o sistema norte-americano, evoluindo para um sistema misto e peculiar que combina o</p><p>critério difuso por via de defesa com o critério concentrado por via de ação direta de</p><p>inconstitucionalidade, incorporando também, agora timidamente, a ação de inconstitucionalidade por</p><p>omissão (arts. 102, I, a e III, e 103). A outra novidade está em ter reduzido a competência do Supremo Tribunal</p><p>Federal à matéria constitucional. Isso não o converte em Corte Constitucional. Primeiro porque não é o único</p><p>órgão jurisdicional competente para o exercício da jurisdição constitucional, já que o sistema perdura fundado</p><p>no critério difuso, que autoriza qualquer tribunal e juiz a conhecer da prejudicial de inconstitucionalidade, por</p><p>via de exceção. Segundo, porque a forma de recrutamento de seus membros denuncia que continuará a ser</p><p>um Tribunal que examinará a questão constitucional com critério puramente técnico-jurídico, mormente</p><p>porque, como Tribunal, que ainda será, do recurso extraordinário, o modo de levar a seu conhecimento e</p><p>julgamento as questões constitucionais nos casos concretos, sua preocupação, como é regra no sistema</p><p>difuso, será dar primazia à solução do caso e, se possível, sem declarar inconstitucionalidades ”.25</p><p>3. ESPÉCIES DE INCONSTITUCIONALIDADE E O “ESTADO DE COISAS</p><p>INCONSTITUCIONAL”26</p><p>3.1. INCONSTITUCIONALIDADE POR AÇÃO E POR OMISSÃO27</p><p>A inconstitucionalidade é um conceito jurídico fundamental que se refere à incompatibilidade de uma</p><p>norma infraconstitucional, como leis ou atos do Poder Público, com a Constituição de um país. Essa</p><p>incompatibilidade pode surgir devido a ações (inconstitucionalidade por ação) ou omissões</p><p>(inconstitucionalidade por omissão) por parte do Poder Público. Vamos explorar esses dois tipos de</p><p>inconstitucionalidade em detalhes.</p><p>📌Inconstitucionalidade por Ação (Positiva): A inconstitucionalidade por ação, também conhecida</p><p>como inconstitucionalidade positiva ou por atuação, ocorre quando atos inferiores, como leis ou regulamentos,</p><p>entram em conflito com a Constituição de forma vertical. Isso pressupõe a existência de normas que são</p><p>inconstitucionais.</p><p>◾a) Do ponto de vista formal: Nesse caso, a inconstitucionalidade surge devido à afronta ao devido</p><p>processo legislativo, ou seja, as regras e procedimentos estabelecidos para a elaboração das leis não foram</p><p>seguidos adequadamente. Isso pode incluir a violação das etapas necessárias para a aprovação de uma lei,</p><p>27 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 125.</p><p>26 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 125/129.</p><p>25 J. A. Silva, Curso de direito constitucional positivo, p. 554-555.</p><p>19</p><p>como a ausência de votações ou debates adequados no processo legislativo.</p><p>◾b) Do ponto de vista material: A inconstitucionalidade material ocorre quando há um problema no</p><p>conteúdo ou substância da norma. Isso significa que o próprio conteúdo da norma entra em conflito com os</p><p>princípios e valores da Constituição. Em outras palavras, a matéria tratada pela norma é incompatível com a</p><p>Constituição.</p><p>◾c) Vício de decoro parlamentar: Um exemplo de inconstitucionalidade por ação é o "vício de decoro</p><p>parlamentar," relacionado a escândalos políticos, como o "mensalão" e o "mensalinho." Nesses casos,</p><p>parlamentares podem ser coagidos a votar de maneira inconstitucional, o que também é considerado uma</p><p>forma de inconstitucionalidade por ação.</p><p>📌 Inconstitucionalidade por Omissão: A inconstitucionalidade por omissão ocorre quando o Poder</p><p>Público não cumpre sua obrigação de regulamentar normas constitucionais de eficácia limitada. Em outras</p><p>palavras, é a "violação da lei constitucional pelo silêncio legislativo."</p><p>ESPÉCIES DE INCONSTITUCIONALIDADE</p><p>POR AÇÃO - POSITIVA (POR ATUAÇÃO)</p><p>◾ vício formal</p><p>- orgânica</p><p>- formal propriamente dita</p><p>- por violação a pressupostos objetivos do ato</p><p>◾ vício material</p><p>◾ vício de decoro parlamentar</p><p>POR OMISSÃO - NEGATIVA (“SILÊNCIO LEGISLATIVO”)</p><p>3.2. VÍCIO FORMAL (INCONSTITUCIONALIDADE ORGÂNICA,</p><p>INCONSTITUCIONALIDADE FOR MAL PROPRIAMENTE DITA E</p><p>INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL POR VIOLAÇÃO A PRESSUPOSTOS</p><p>OBJETIVOS DO ATO) - NOMODINÂMICA28</p><p>A inconstitucionalidade formal, também chamada de nomodinâmica, ocorre quand oa lei ou ato</p><p>normativo infraconstitucional contiver algum vício em sua “forma”, ou seja, em seu processo de formação, vale</p><p>dizer, no processo legislativo de sua elaboração, ou, ainda, em razão de sua elaboração por autoridade</p><p>incompetente.</p><p>Segundo Canotilho, os vícios formais afetam o ato normativo em si, independentemente de seu</p><p>conteúdo, levando em consideração apenas a maneira como foi elaborado, seus pressupostos, procedimentos</p><p>de formação e forma final.</p><p>28 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 126.</p><p>20</p><p>Vejamos a seguir seus desdobramentos, inconstitucionalidade formal orgânica, em</p><p>inconstitucionalidade formal propriamente dita e em inconstitucionalidade formal por violação a</p><p>pressupostos objetivos do ato.</p><p>3.2.1. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL ORGÂNICA29</p><p>A inconstitucionalidade formal orgânica ocorre quando um ato normativo, como uma lei, é criado por</p><p>uma entidade que não possui a competência legal para elaborá-lo,</p><p>ou seja, quando há uma violação da</p><p>distribuição de competências legislativas estabelecida na Constituição.</p><p>3.2.2. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL PROPRIAMENTE DITA30</p><p>A inconstitucionalidade formal propriamente dita decorre da não observância do devido processo</p><p>legislativo. Isso significa que uma norma pode ser considerada inconstitucional devido a problemas</p><p>relacionados ao processo de criação da lei. Podemos identificar essa forma de inconstitucionalidade em duas</p><p>categorias principais: vício formal subjetivo e vício formal objetivo.</p><p>📌Vício Formal Subjetivo: Este tipo de inconstitucionalidade ocorre na fase de iniciativa. O exemplo</p><p>clássico é quando algumas leis são de iniciativa exclusiva (reservada) do Presidente da República, como aquelas</p><p>que fixam ou modificam os efetivos das Forças Armadas, conforme o artigo 61, § 1º, I, da Constituição Federal</p><p>de 1988. Iniciativa privativa significa que somente o Presidente da República pode iniciar o processo legislativo</p><p>sobre esse assunto. Se, por acaso, um Deputado Federal tentar iniciar o processo, isso representaria um vício</p><p>formal subjetivo insanável, tornando a lei inconstitucional.</p><p>📌Vício Formal Objetivo: Esse tipo de inconstitucionalidade é identificado nas fases posteriores do</p><p>processo legislativo, após a fase de iniciativa. Por exemplo, quando uma lei complementar é votada com um</p><p>quórum de maioria relativa, ocorre um vício formal objetivo. Isso porque, de acordo com o artigo 69 da</p><p>Constituição Federal de 1988, leis complementares devem ser aprovadas por maioria absoluta. Outro exemplo</p><p>seria uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) votada com um quórum diferente do previsto no artigo 60,</p><p>§ 2º (3/5 em cada Casa e em 2 turnos de votação). Nesse caso, a emenda promulgada apresentaria um vício</p><p>formal objetivo de inconstitucionalidade.</p><p>Além disso, a violação ao princípio do bicameralismo federativo também pode dar origem a um vício</p><p>formal objetivo. Segundo esse princípio, os projetos de lei federal devem ser aprovados nas duas Casas do</p><p>Congresso Nacional, ou seja, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Se um projeto de lei for</p><p>substancialmente modificado pela Casa revisora, ele deve ser devolvido à Casa iniciadora para análise. Caso</p><p>contrário, isso configuraria um vício formal objetivo.</p><p>Por fim, é importante destacar que, embora a "emenda de redação" seja permitida na Casa revisora,</p><p>ela não deve significar uma modificação substancial no texto aprovado na Casa iniciadora. Caso contrário, a</p><p>emenda também deverá ser devolvida para análise da outra Casa, sob pena de caracterizar um vício formal</p><p>objetivo de inconstitucionalidade.</p><p>30 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 126.</p><p>29 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 126.</p><p>21</p><p>3.2.3. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL POR VIOLAÇÃO A PRESSUPOSTOS</p><p>OBJETIVOS DO ATO NORMATIVO31</p><p>A inconstitucionalidade formal por violação a pressupostos objetivos do ato normativo é um conceito</p><p>que questiona se certos elementos tradicionalmente não reentrantes no processo legislativo podem,</p><p>atualmente, causar vícios de inconstitucionalidade. Isso se refere aos chamados pressupostos objetivos, que</p><p>são considerados elementos determinantes da competência dos órgãos legislativos em relação a certas</p><p>matérias.</p><p>📌Exemplo no Direito Brasileiro: Aplicando essa teoria ao direito brasileiro, podemos observar</p><p>exemplos apresentados por Clèmerson Merlin Clève. Um exemplo é a edição de medida provisória sem a</p><p>observância dos requisitos de relevância e urgência, conforme estabelecido no artigo 62, caput da Constituição</p><p>Federal. Outro exemplo é a criação de municípios por lei estadual sem a observância dos requisitos do artigo</p><p>18, § 4º da Constituição Federal.</p><p>No segundo exemplo, se uma lei estadual criar um novo município, mesmo que seja aprovada e</p><p>sancionada regularmente, mas sem a observância do pressuposto mencionado, essa lei estará contaminada</p><p>por um inafastável vício de inconstitucionalidade formal. Isso também se aplica ao artigo 18, § 3º da</p><p>Constituição Federal.</p><p>📌Exemplo na Jurisprudência Brasileira: Essa perspectiva foi apreciada no julgamento da Ação Direta</p><p>de Inconstitucionalidade (ADI) 2.240, na qual se discutia a constitucionalidade da lei baiana n. 7.619/2000, que</p><p>criou o Município de Luís Eduardo Magalhães sem a total observância dos pressupostos estabelecidos no artigo</p><p>18, § 4º da Constituição Federal. O Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a inconstitucionalidade desse</p><p>dispositivo, mas não anulou o ato, mantendo sua vigência por mais 24 meses (efeito prospectivo ou para o</p><p>futuro).</p><p>É importante notar que a Emenda Constitucional n. 57/2008 convalidou a criação de vários municípios,</p><p>o que, para o professor Pedro Lenza é inconstitucional, ilegítimo e até imoral.</p><p>3.3. VÍCIO MATERIAL (DE CONTEÚDO, SUBSTANCIAL OU DOUTRINÁRIO) -</p><p>NOMOESTÁTICA32</p><p>É também conhecida como nomoestática.</p><p>Pedro Lenza explica que o vício material (de conteúdo, substancial ou doutrinário) diz respeito à</p><p>“matéria”, ao conteúdo do ato normativo.</p><p>📌Inconstitucionalidade Material: O Que é? A inconstitucionalidade material expressa uma</p><p>incompatibilidade de conteúdo substancial entre a lei ou ato normativo e a Constituição. Isso significa que</p><p>o problema não está no processo de elaboração da norma, mas sim no seu conteúdo em si. Quando uma lei ou</p><p>32 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 127.</p><p>31 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 126.</p><p>22</p><p>ato normativo contraria uma regra constitucional ou um princípio constitucional, ela é considerada</p><p>inconstitucional materialmente.</p><p>📌Exemplos de Inconstitucionalidade Material:</p><p>◾Violação do Princípio da Igualdade: Uma lei que discrimina injustamente um grupo de pessoas</p><p>com base em características como raça, gênero ou idade confronta o princípio da igualdade. Por exemplo, uma</p><p>lei que estabelece remuneração acima do limite constitucional para uma categoria de servidores públicos (em</p><p>desacordo com o artigo 37, XI da Constituição) é materialmente inconstitucional.</p><p>◾Restrição à Isonomia: Se uma lei restringe ilegitimamente a participação de candidatos em um</p><p>concurso público com base em fatores como sexo ou idade, isso entra em desarmonia com o princípio da</p><p>isonomia (previsto nos artigos 5º, caput, e 3º, IV da Constituição). Portanto, essa lei também é materialmente</p><p>inconstitucional.</p><p>📌O controle material de constitucionalidade pode ter como parâmetro todas as categorias de normas</p><p>constitucionais: de organização, definidoras de direitos e programáticas</p><p>⚠ATENÇÃO: uma lei pode padecer somente de vício formal, somente de vício material, ou ser duplamente</p><p>inconstitucional por apresentar tanto o vício formal como o material.</p><p>🚨JÁ CAIU</p><p>Nesse sentido, para prova para o cargo de Defensor Público/DPE-RS (Ano: 2022, CESPE/CEBRASPE) foi</p><p>considerada correta a assertiva que dizia:</p><p>“Em razão das consequências econômicas da pandemia de COVID-19, determinado estado-membro promulgou</p><p>lei ordinária com o seguinte teor: “Ficam as instituições de ensino da educação infantil, ensino fundamental,</p><p>ensino médio e superior da rede privada do Estado obrigadas a conceder diferimento em suas mensalidades</p><p>em percentual mínimo de 30% (trinta por cento), enquanto durarem as medidas temporárias para</p><p>enfrentamento da emergência de saúde pública decorrente da pandemia de COVID-19”. A partir dessa</p><p>premissa, julgue o item que se segue, considerando a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e as</p><p>disposições da Constituição da República sobre a matéria.</p><p>A lei impugnada padece de inconstitucionalidade material ao estabelecer descontos lineares a todos os</p><p>consumidores dos serviços educacionais,</p><p>impedindo que as partes disponham livremente sobre outras formas</p><p>de repactuação dos contratos e contrariando o princípio constitucional da livre iniciativa.”</p><p>O gabarito da questão está fundamentado no Informativo 1038 do STF:</p><p>São inconstitucionais as interpretações judiciais que, unicamente fundamentadas na eclosão da pandemia de</p><p>Covid-19 e no respectivo efeito de transposição de aulas presenciais para ambientes virtuais, determinam às</p><p>instituições privadas de ensino superior a concessão de descontos lineares nas contraprestações dos</p><p>contratos educacionais, sem considerar as peculiaridades dos efeitos da crise pandêmica em ambas as partes</p><p>contratuais envolvidas na lide. Tese fixada pelo STF: É inconstitucional decisão judicial que, sem considerar as</p><p>23</p><p>circunstâncias fáticas efetivamente demonstradas, deixa de sopesar os reais efeitos da pandemia em ambas</p><p>as partes contratuais, e determina a concessão de descontos lineares em mensalidades de cursos prestados</p><p>por instituições de ensino superior. STF. Plenário. ADPF 706/DF e ADPF 713/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados</p><p>em 17 e 18/11/2021</p><p>(Info 1038).</p><p>3.4. VÍCIO DE DECORO PARLAMENTAR (?)33</p><p>O decoro parlamentar refere-se ao comportamento ético e moral esperado dos membros do Congresso</p><p>Nacional e de outras casas legislativas. O Artigo 55, § 1º da Constituição Federal do Brasil estabelece casos de</p><p>incompatibilidade com o decoro parlamentar, incluindo o abuso das prerrogativas asseguradas aos membros</p><p>do Congresso e a percepção de vantagens indevidas. Situações que violem essas normas podem ser</p><p>consideradas um "vício de decoro parlamentar".</p><p>📌O Caso "Mensalão": O "Mensalão" é um caso notório de compra de votos no cenário político</p><p>brasileiro. Durante as investigações e o julgamento da Ação Penal 470, ficou evidente um esquema de</p><p>corrupção destinado a comprar apoio político no Congresso. A Ministra Rosa Weber destacou a existência desse</p><p>conluio, com dinheiro vindo de recursos públicos e pagamento ilícito a parlamentares. Esse caso é um exemplo</p><p>claro de vício de decoro parlamentar.</p><p>◾Implicações no Processo Legislativo: O vício de decoro parlamentar pode ter implicações</p><p>significativas no processo legislativo. Isso levanta questões sobre a validade das emendas constitucionais e leis</p><p>aprovadas com o envolvimento de parlamentares que tenham violado o decoro parlamentar. Várias ações</p><p>diretas de inconstitucionalidade (ADIs) foram movidas no Supremo Tribunal Federal (STF) alegando que as</p><p>reformas da Previdência (ECs ns. 41/2003 e 47/2005) foram aprovadas mediante a compra de votos por parte</p><p>de parlamentares envolvidos no "Mensalão".</p><p>◾O Julgamento das ADIs no STF: As ADIs movidas no STF levantaram a questão de como o vício de</p><p>decoro parlamentar afeta o processo legislativo. O julgamento dessas ações resultou na decisão unânime de</p><p>improcedência. O STF considerou que o número limitado de parlamentares condenados no "Mensalão" não foi</p><p>suficiente para alterar o resultado da votação das emendas constitucionais, destacando a presunção de</p><p>inocência e a legitimidade dos atos legislativos.</p><p>◾ Reflexões sobre o Caso "Mensalão": Pedro Lenza destaca que o caso "Mensalão" levanta</p><p>importantes questões sobre a integridade no processo político e legislativo. É essencial que o decoro</p><p>parlamentar seja mantido para garantir a representatividade e a legitimidade das decisões legislativas. Além</p><p>disso, o caso nos lembra da importância de manter a ética e a integridade no âmbito político.</p><p>3.5. “ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL” (ECI)34</p><p>34 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 129.</p><p>33 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 127.</p><p>24</p><p>O ECI refere-se a uma situação em que um sistema ou políticas públicas violam sistematicamente</p><p>direitos fundamentais, levando a uma crise estrutural e crônica. Esse conceito tem origem em decisões da Corte</p><p>Constitucional da Colômbia e foi utilizado pelo Ministro Marco Aurélio no julgamento da ADPF 347.</p><p>📌A Decisão do STF na ADPF 347: A ADPF 347 foi movida no STF para abordar a situação precária do</p><p>sistema penitenciário brasileiro. O Ministro Marco Aurélio caracterizou o sistema penitenciário nacional como</p><p>um ECI devido à violação massiva e persistente de direitos fundamentais. Isso ocorreu devido a falhas</p><p>estruturais e à falência de políticas públicas.</p><p>📌Medidas Determinadas pelo STF: Em resposta à caracterização do ECI no sistema penitenciário, o</p><p>STF determinou a liberação das verbas do Fundo Penitenciário Nacional para abordar a situação precária das</p><p>penitenciárias. Além disso, foi estabelecida a obrigatoriedade de realização de audiências de custódia em até 90</p><p>dias, permitindo que os presos compareçam perante a autoridade judiciária no prazo máximo de 24 horas</p><p>após a prisão.</p><p>📌Persistência da Situação: Apesar da decisão de 2015, a situação do sistema penitenciário brasileiro</p><p>ainda persiste. Níveis elevados de superlotação carcerária continuam a ser observados, resultando na violação</p><p>massiva dos direitos fundamentais de um grande número de pessoas.</p><p>3.6. INCONSTITUCIONALIDADE ÚTIL</p><p>A expressão "inconstitucionalidade útil" tem sido discutida no contexto jurídico brasileiro e se refere a</p><p>uma prática na qual o legislador cria leis sabidamente inconstitucionais com o objetivo de obter</p><p>vantagens temporárias enquanto essas leis permanecem em vigor. Essa prática é frequentemente usada</p><p>para beneficiar determinados grupos ou interesses, explorando a demora do sistema legal em declarar a</p><p>inconstitucionalidade ou a possível modulação dos efeitos dessa declaração.</p><p>“O Ministro Otávio Gallotti, por ocasião de sua posse na Presidência do Supremo Tribunal Federal,</p><p>definiu a “inconstitucionalidade útil”: “são atos deliberadamente inconstitucionais, praticados com finalidades</p><p>corporativas ou pelo desejo de governadores que querem consertar as finanças de seus Estados. Eles praticam</p><p>esses atos torcendo pelos efeitos que eles produzem até serem corrigidos” .35</p><p>A "inconstitucionalidade útil" envolve portanto uma manobra legislativa na qual os legisladores</p><p>deliberadamente editam leis que contrariam a Constituição, muitas vezes ignorando alertas de</p><p>inconstitucionalidade. Eles contam com a possibilidade de que o Judiciário demore para reconhecer essa</p><p>inconstitucionalidade ou que, quando o fizer, a decisão seja modulada, tornando os efeitos da declaração de</p><p>inconstitucionalidade aplicáveis apenas a partir do momento da decisão (ex nunc). Isso significa que, enquanto</p><p>a lei inconstitucional estiver em vigor, ela produzirá efeitos e benefícios para aqueles a quem se destina.</p><p>No entanto, essa prática levanta várias questões e críticas no âmbito do sistema jurídico.</p><p>35 Apud TORRES, artigo “O Consequencialismo e a Modulação dos Efeitos</p><p>das Decisões do Supremo Tribunal Federal”, disponível em https://revista.ibdt.org.br/index.php/RDTA/article/download/1653/1144, Apud MELLO,</p><p>Gustavo Miguez; e TROIANELLI, Gabriel Lacerda. “O Princípio da Moralidade no</p><p>Direito Tributário”. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva (coord.). O Princípio da Moralidade no Direito Tributário. São Paulo: RT, p. 212. Acesso em 30 de</p><p>outubro de 2023.</p><p>25</p><p>Primeiramente, ela é vista como prejudicial à moralidade pública, pois permite que atos flagrantemente</p><p>inconstitucionais sejam promulgados e utilizados, minando o princípio da supremacia da Constituição. Além</p><p>disso, a "inconstitucionalidade útil" pode criar uma sensação de impunidade, pois as pessoas ou grupos que se</p><p>beneficiam da lei inconstitucional podem alegar que agiram de boa-fé até que a inconstitucionalidade seja</p><p>declarada.</p><p>Essa prática também gera divergências de opinião no sistema jurídico, uma vez que alguns</p><p>acreditam que o Supremo Tribunal Federal deve reconhecer a "inconstitucionalidade útil", enquanto outros</p><p>discordam, como exemplificado pela posição vencida do Ministro Marco Aurélio</p><p>no seguinte julgado:</p><p>DIREITO CONSTITUCIONAL - CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE</p><p>ED: juiz de paz e remuneração</p><p>O Plenário, por maioria, acolheu embargos de declaração para prestar esclarecimentos referentes a acórdão</p><p>que, em assentada anterior, declarou a inconstitucionalidade da expressão “recolhidas à disposição do Juiz de</p><p>Paz”, contida no parágrafo único do art. 2º da Lei 10.180/1990 do Estado de Minas Gerais (Informativo 617).</p><p>O dispositivo, que alterou a Lei estadual 7.399/1978 (Regimento de Custas do Estado de Minas Gerais),</p><p>determinava que as custas cobradas para o processo de habilitação de casamento fossem recolhidas à</p><p>disposição do Juiz de Paz.</p><p>O embargante pleiteava: a) a concessão de eficácia “ex nunc” à declaração de inconstitucionalidade; e b) a</p><p>fixação de prazo razoável para as providências necessárias à regularização normativa da matéria.</p><p>O Colegiado acolheu os embargos para esclarecer que a declaração de inconstitucionalidade não afeta as</p><p>hipóteses em que os juízes de paz tenham exercido suas atribuições até 26 de maio de 2011, data da</p><p>publicação do acórdão no Diário de Justiça.</p><p>Vencido o ministro Marco Aurélio, que desproveu os embargos. A seu ver, o Tribunal não poderia encampar</p><p>a chamada “inconstitucionalidade útil”, ou seja, a edição de leis, sabidamente inconstitucionais, a</p><p>contar com possível morosidade judicial e eventual modulação dos efeitos de futura declaração de</p><p>inconstitucionalidade.</p><p>ADI 954 ED/MG, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 20.6.2018. (ADI-954)36</p><p>4. MOMENTOS DE CONTROLE37</p><p>A classificação que estudaremos a seguir se refere ao momento em que o controle é realizado:</p><p>◾antes de o projeto de lei se tornar lei (controle prévio/preventivo) ou;</p><p>◾ após a lei entrar em vigor, quando já gera efeitos (controle posterior/repressivo).</p><p>MOMENTOS DE</p><p>CONTROLE</p><p>DESCRIÇÃO</p><p>PRÉVIO OU</p><p>PREVENTIVO</p><p>◾Legislativo: Próprio parlamentar e CCJ</p><p>◾Executivo: Veto</p><p>37 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 129/136</p><p>36Disponível em: https://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo907.htm. Acesso em 02 de novembro de 2023.</p><p>26</p><p>◾Judiciário: MS impetrado por parlamentar</p><p>POSTERIOR OU</p><p>REPRESSIVO</p><p>◾Político: Cortes ou Tribunais Constitucionais ou Órgão de Natureza Política</p><p>◾Jurisdicional misto (difuso e concentrado)</p><p>Exceções:</p><p>- Legislativo</p><p>- Executivo</p><p>- Órgãos Administrativos de Controle (TCU, CNJ e CNMP)? Cuidado!</p><p>◾Híbrido: Há tanto o político como o jurisdicional</p><p>4.1. CONTROLE PRÉVIO OU PREVENTIVO38</p><p>O controle prévio ou preventivo é uma etapa de verificação que ocorre durante o processo legislativo</p><p>de criação de um ato normativo, como um projeto de lei. Ele envolve a análise da regularidade material desse</p><p>projeto de lei, ou seja, a avaliação de sua conformidade com a Constituição, outras leis e princípios jurídicos</p><p>antes que o ato normativo seja promulgado ou entre em vigor.</p><p>Nesse contexto, as seguintes características são relevantes:</p><p>◾Realização durante o processo legislativo: O controle prévio ocorre no início do processo de</p><p>elaboração de um ato normativo, no momento em que um projeto de lei é apresentado e começa a tramitar no</p><p>âmbito do Poder Legislativo. É nessa fase que o iniciador do projeto, que pode ser um membro do Legislativo, o</p><p>Executivo ou outro órgão, deve analisar se o projeto está em conformidade com as normas legais existentes.</p><p>◾Verificação da regularidade material: A regularidade material refere-se à adequação do projeto de</p><p>lei às normas e princípios legais, como a Constituição e outras leis em vigor. Durante o controle prévio, as</p><p>autoridades responsáveis avaliam se o projeto respeita os requisitos legais estabelecidos e se está de acordo</p><p>com os princípios fundamentais do sistema jurídico.</p><p>◾Realizado por diferentes órgãos: O controle prévio não é uma prerrogativa exclusiva de um órgão</p><p>específico. Ele pode ser realizado por diversos poderes do Estado, como o Poder Legislativo, o Executivo e o</p><p>Judiciário. Cada um deles pode exercer essa função dentro de sua esfera de competência.</p><p>4.1.1. O CONTROLE PRÉVIO OU PREVENTIVO REALIZADO PELO LEGISLATIVO39</p><p>O controle prévio ou preventivo realizado pelo Legislativo envolve a verificação da constitucionalidade</p><p>e legalidade de um projeto de lei durante o processo legislativo. Nesse contexto, o controle é realizado</p><p>principalmente pelas comissões de constituição e justiça de ambas as casas legislativas (Câmara dos Deputados</p><p>e Senado Federal) e, em certos casos, pelo plenário.</p><p>Conforme estabelecido pelo Regimento Interno da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, a</p><p>39 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 129</p><p>38 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 129/136</p><p>27</p><p>Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (Câmara) e a Comissão de Constituição, Justiça e</p><p>Cidadania (Senado) são responsáveis por realizar esse controle prévio. O plenário das Casas Legislativas</p><p>também pode se envolver na análise da constitucionalidade durante as votações.</p><p>Michel Temer destaca que esse controle nem sempre é aplicado a todos os projetos de atos</p><p>normativos, mencionando sua ausência em relação a medidas provisórias, resoluções dos Tribunais e</p><p>decretos.</p><p>Se as Comissões emitirem parecer negativo, declarando a inconstitucionalidade do projeto de lei,</p><p>isso inviabilizaria seu prosseguimento? O Regimento Interno do Senado Federal prevê que, em caso de</p><p>inconstitucionalidade parcial, a Comissão pode oferecer emenda corrigindo o vício. Entretanto, em caso de</p><p>parecer pela inconstitucionalidade total e injuridicidade, a proposição será considerada rejeitada e arquivada</p><p>definitivamente, a menos que haja recurso interposto por pelo menos 1/10 dos membros do Senado.</p><p>4.1.2. CONTROLE PRÉVIO OU PREVENTIVO REALIZADO PELO EXECUTIVO40</p><p>O Chefe do Executivo, ao receber um projeto de lei aprovado pelo Legislativo, tem a prerrogativa de</p><p>sancioná-lo, concordando com seu teor, ou vetá-lo. O veto pode se dar por duas razões principais:</p><p>inconstitucionalidade ou contrariedade ao interesse público. O primeiro é conhecido como veto jurídico,</p><p>enquanto o segundo é denominado veto político.</p><p>◾Controle de Constitucionalidade Prévio: Caso o Chefe do Executivo considere o projeto de lei</p><p>inconstitucional, ele pode vetá-lo. Esse ato configura um controle de constitucionalidade prévio ou preventivo,</p><p>realizado antes que o projeto se transforme em lei.</p><p>◾Procedimento de Apreciação do Veto: Conforme estabelecido no art. 66, § 4.º, da Constituição</p><p>Federal de 1988, o veto é apreciado em sessão conjunta da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, no</p><p>prazo de 30 dias a contar de seu recebimento. A votação é ostensiva, ou seja, por voto "aberto", conforme a</p><p>Emenda Constitucional n. 76/2013, que aboliu a votação secreta nessa situação.</p><p>◾ Consequências da Apreciação do Veto: Se o veto for rejeitado pela maioria absoluta dos</p><p>Deputados e Senadores, em votação ostensiva, produzirá os mesmos efeitos que a sanção. Derrubado o veto, o</p><p>projeto segue para promulgação, a cargo do Presidente da República, do Presidente do Senado Federal ou do</p><p>Vice-Presidente do Senado Federal, conforme o art. 66, § 7.º, da CF/88.</p><p>◾Arquivamento e Irrepetibilidade: No caso de manutenção do veto, o projeto é arquivado, seguindo</p><p>a regra contida no art. 67, que estabelece a irrepetibilidade, ou seja, a impossibilidade de reapresentação do</p><p>mesmo projeto na mesma legislatura.</p><p>⚠ATENÇÃO: Se o veto for derrubado e a lei promulgada, ela poderá ser objeto de controle de</p><p>constitucionalidade posterior ou repressivo.</p><p>40 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 129</p><p>28</p><p>4.1.3. CONTROLE PRÉVIO OU PREVENTIVO REALIZADO PELO JUDICIÁRIO41</p><p>◾Controle Prévio e Legitimação:</p>

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