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A Magia da Metáfora
Penny Tompkins e James Lawley 
“Aprender a ler a linguagem dos símbolos tem um efeito positivo
na nossa auto-imagem e na nossa energia.
Você não tem que esperar uma crise para passar a enxergar as coisas
de um modo simbólico e corretamente.
Você pode começar onde quer que esteja.”
Caroline Myss, Sacred Contracts
Esse artigo é sobre aprender a usar as suas metáforas e símbolos pessoais para ler e entender a sua própria simbologia. As suas metáforas permitem que você se conheça e entenda a sua vida de uma maneira nova. Perceba a riqueza das palavras na seguinte declaração:
“A minha raiva é como dançar com um tigre. Eu posso enxergá-la toda agora, a sala, o lustre, ouvir a música, sentir meu coração batendo enquanto nós rodopiamos entre os outros casais no salão de baile… Eu estou no limiar entre a vida e a morte.”
A metáfora é indispensável. Não podemos falar sem metáfora. Não conseguimos pensar sem metáfora. E nunca teríamos evoluído como seres humanos conscientes sem metáfora.
A nossa linguagem é recheada com metáforas. Pesquisa recente sobre a nossa conversa do dia a dia mostra que nós usamos quatro metáforas por minuto. Por que a surpresa dessa estatística? Porque não estamos conscientes da grande maioria das metáforas que usamos. A metáfora é tão fundamental para a nossa maneira de pensar e de falar que somente as mais óbvias é que são registradas pela nossa consciência:
Eu estou sempre dando murro em ponta de faca.
Eu carrego o mundo nos meus ombros.
Eu vejo uma luz no fim do túnel.
Essas expressões são obviamente metafóricas. Nós sabemos que na realidade não existe nenhuma faca, que o locutor não se transformou num Atlas, e que ele de fato não está num túnel. Pelo contrário. Nós temos um mecanismo inato que registra a natureza figurativa dessas expressões e as aceita simbolizando uma experiência mais do que a experiência em si. Nós sabemos intuitivamente que no dia a dia, as coisas e os comportamentos (a faca, o murro, os ombros, o mundo, uma luz e o túnel) estão sendo usados para representar outras experiências: a falta de progresso, a excessiva responsabilidade, e achar que ainda tem esperança.
As metáforas evocam abundantes imagens e a percepção do sentido do que está sendo descrito. Elas podem expressar, com muita nitidez, uma única idéia ou uma experiência de vida. Apesar de que muitos lingüistas costumam rejeitá-las como “meramente figurativas”, elas hoje são aceitas como uma descrição altamente correta da percepção do orador. Quando falamos sobre nossos problemas, nossas emoções, nossos desejos, nossos relacionamentos – aquelas coisas mais importantes para nós – é ainda mais provável que façamos uso da metáfora para nos ajudar a descrever a profundidade e a complexidade da nossa experiência.
O que é exatamente uma metáfora?
No livro de George Lakoff e Mark Johnson, Metáforas da Vida Cotidiana, eles declaram:
“A essência da metáfora é a compreensão e a experiência de uma coisa em termos de outra”.
Nós gostamos dessa simples definição por inúmeras razões. Primeiro, ela reconhece que a metáfora captura a natureza essencial de uma experiência. Por exemplo, quando um cliente descreve a sua situação: “É como se eu fosse um peixe-dourado num tanque sem oxigênio tendo que subir para respirar”, os seus sensos de futilidade e da iminente destruição ficam aparentes no mesmo instante. Segundo, a definição reconhece que a metáfora é um processo ativo que está exatamente no centro da nossa própria compreensão, na nossa compreensão dos outros e de todo o mundo a nossa volta. Terceiro, ela admite que a metáfora é mais do que uma expressão verbal. As metáforas também são expressas não verbalmente por gestos, sons, objetos e imagens. Em outras palavras, tudo o que a pessoa diz, vê, ouve, sente ou imagina tem potencial para ser uma metáfora que representa outra experiência.
A palavra metáfora tem a mesma raiz de “ânfora”, um recipiente usado para guardar óleos e condimentos valiosos, e para carregá-los de um lugar para outro. De modo semelhante, as metáforas guardam informações valiosas e têm a capacidade inata de carregá-las do comum para o extraordinário, ou na verdade, para algo sagrado.
A metáfora em si consiste de diversos componentes relacionados que chamamos de “símbolos”. Por isto, a metáfora é um todo e o símbolo é uma parte deste todo. Por exemplo, “Eu me sinto como se as minhas costas estivessem pregadas na parede” se refere a três símbolos (eu, minhas costas e a parede), com o quarto estando implícito (o que quer ou quem quer que esteja me “pregando”).
No livro O Homem e seus Símbolos (Ed. Nova Fronteira), Carl Jung observou que o símbolo sempre tem algo a mais do que está diante dos olhos e não importa quanto um símbolo é descrito, seu significado completo permanece evasivo: “O que nós chamamos de símbolo é um termo, um nome ou mesmo uma imagem que pode ser familiar na vida diária, ainda que possua conotações específicas além do seu sentido convencional e óbvio. Isso implica em algo vago, desconhecido ou escondido de nós”.
A maneira que nos relacionamos com um símbolo é muito importante. Símbolos como a bandeira nacional ou ícones religiosos podem ter um significado cultural compartilhado, mas é a nossa conexão pessoal com eles que os impregna com um significado. Embora possamos usar metáforas comuns, quando elas são examinadas mais de perto, sempre aparece um significado pessoal exclusivo. Nosso simbolismo pessoal nos conecta com a nossa história, nossa natureza espiritual, nosso senso de destino e aos aspectos “vagos, desconhecidos e escondidos” da nossa vida. Quanto mais explorarmos esse simbolismo mais o seu significado vai aparecer, e podemos usá-lo mais e mais como guia para a consciência e a ação.
Fazendo uso das metáforas
Logo que começar a reconhecer as metáforas que você e os outros usam, irá percebê-las em toda parte. De fato é “duro” “formar” uma frase do “dia a dia” que não “contenha” uma metáfora “escondida”. Contudo a penetração da metáfora na linguagem é só a metade da história. Nós também pensamos, raciocinamos, tomamos decisões e baseamos nossas ações nestas metáforas. Desse modo, as nossas metáforas determinam como vivemos a nossa vida, e que tipo de vida nós vivemos.
Se você toma as metáforas como descrições literais do processamento do inconsciente, elas se tornam uma passagem para uma maior consciência, compreensão e mudança.
Tome a “raiva” como exemplo. Qual é o tipo de raiva que você experimenta? Você:
- Atinge o ponto de ebulição e aí a cabeça explode.
- Tem um temperamento feroz e tenta resistir.
- Descarrega a raiva expirando com força.
ou algo mais simples?
No primeiro exemplo, a raiva é simbolizada como um líquido fervendo. Por isso a sua reação natural pode ser “acalmar as coisas” ou “reduzir a pressão”. No segundo exemplo, a raiva é representada como um oponente ou animal selvagem, e aí você pode querer to “derrotá-la” ou “mantê-la sob controle”. No terceiro exemplo, a raiva é considerada como um peso a ser removido; por isso você pode querer parar de “aumentá-la” ou de “segurá-la por tanto tempo”. As ações que nós tomamos serão inevitavelmente consistentes com as metáforas que nós usamos.
Nós usamos as metáforas não somente para compreender as nossas próprias emoções, como também tentamos encaixar as emoções e o comportamento das outras pessoas na nossa própria maneira metafórica de enxergar o mundo. O que nós achamos que elas devem fazer e os conselhos que damos, irão se originar, em grande parte, das nossas próprias metáforas. Como você bem pode adivinhar, quando duas pessoas têm muitas metáforas contrastantes, isso é, muitas vezes, a receita para uma má comunicação. Por exemplo, quando uma pessoa “anda em marcha lenta” e outra tem “pavio curto” e quer “acabar logo com isto”, elas certamente irão discordar em como expressar suas emoções e provavelmente vão entrar em conflito.
A metáfora cria insight, mas também cria maneiras que nos impedem de ver as coisas. As metáforas podem liberar, e também limitar. Elas podemfortalecer ou enfraquecer. Elas podem ser uma ferramenta para a criatividade, ou uma prisão auto imposta. 
Para concluir
As nossas metáforas e símbolos pessoais nos ajudam a compreender o mundo. Elas dão forma àqueles aspectos da nossa vida que são os mais místicos – nossos problemas e suas soluções, nossos medos e desejos, nossas doenças e saúde, nossa pobreza e riqueza, e a nossa capacidade de amar e ser amado. Quando são dadas formas a essas experiências, e elas são vistas pelo lado simbólico, aí então se tornam acessíveis para a exploração e a transformação.
Referências:
Jung, Carl, O Homem e seus Símbolos (Man and his Symbols), Ed. Nova Fronteira.
Lakoff, George & Johnson, Mark, Metáforas da Vida Cotidiana.
James Lawley e Penny Tompkins são psicoterapeutas registrados na Grã Bretanha pela United Kingdom Council for Psychotherapy (UKCP). Eles moram em Londres e ensinam no mundo inteiro. São os autores de Metaphors in Mind: Transformation through Symbolic Modelling. Podem ser contatados na The Developing Company pelo e-mail info@cleanlanguage.co.uk.
O artigo original “The Magic of Metaphor” está no site www.cleanlanguage.co.uk

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