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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO MERCADORIA, CONCORRÊNCIA E FORMAÇÃO DE PREÇOS (Uma introdução ao estudo da economia) BENEDITO RODRIGUES DE MORAES NETO SÃO CARLOS 2021 Í N D I C E CAPÍTULO 1: ATIVIDADE ECONÔMICA, ECONOMIA POLÍTICA, MERCADORIA E CAPITAL 1.1 - Economia Política e Atividade Econômi- 1 c a • • • • • • . • • . . . . . • . . . • . • • • • . . . . . • . . . • • . 1 1.2 - Da Mercadoria ao Capital 6 CAPÍTULO 2: A "RADIOGRAFIA" DO PREÇO DA PRODUÇÃO CAPITA- LISTA: O CUSTO E O LUCRO 23 2.1 -A Composição do Preço da Produção Capi talista: Preço e RelaçÕes Sociais ..... 23 2.2 - Capital Circulante e Capital Fixo esua Transformação em Custos........... 25 2.3 - Depreciação como Custo, Margem de Lu- cro e Taxa de Lucro 30 2.4 - Custos Diretos e Indiretos - Visão Am- pliada 2.5- Calculo do Retorno do Investimento .... 37 CAPÍTULO 3: PREÇO E PADRÃO DE CONCORRÊNCIA 44 3.1 - Capacidade Produtiva e Custos ......... 44 3.2- O Custo Unitário ao Longo do Tempo .... 55 3.3 - Concorrênc~a Intercapitalista: Uma Pri meira Aproximação 57 3.4- Preço, Custo e Demanda ............... 61 3.5 - Concorrência e Elasticidade-Preço da Demanda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 4 3.6 -ConsideraçÕes sobre a Concorrência Pe~ feita ................................ 69 3.7 - Monop6lio e Concorrência Potencial: A Rigidez de Preços ..................... 74 3.8 - A Teoria da Concorrência Imperfeita e a Maximização do Lucro 77 3.9 - Críticas ã Regra de Maximização do Lu- cro .................................. 85 :::.- -~ '" __ ,~-..~.v._ __ ......._,.:....,.~;:._,_~,, -""-'-~-~-----..c._ 3.10 - Preço e Grau de Monopólio 3.11 ~A Capacidade Ociosa 3.12 - Capacidade Ociosa e Formaçao de Pr~ 86 92 ços . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101 3.13 -Diferenciais de Custo e Formaçao de Preços 103 CAPÍTULO 1 - ATIVIDADE ECONÔMICA, ECONOMIA POLÍTICA, MERCA DORIA E CAPITAL 1.1 - ECONOMIA POLÍTICA E ATIVIDADE ECONÔMICA Verifiquemos inicialmente qual o sentido da palavra "economia" nas duas frases abaixo: 1. A economia brasileira não va~ bem; 2. Estou fazendo um curso de Economia. Na primeira frase, a palavra economia tem o sentido de atividade econorn~ca: está englobando questÕes c~ mo ritmo de produção industrial, nível de emprego, endivi damento externo, dívida p~blica, taxa de inflação, etc. Na segunda frase, a palavra Economia tem o sentido de um ramo do conhecimento humano - Economia Polí tica - que, obviamente, tem as questoes acima - a ativida de econômica - como seu tema de estudo. Esquematicamente temos: Economia Economia (atividade econômica) (Economia Política - ciência) OBJETO Vejamos agora o que vem a ser atividade eco nom~ca: trata-se do processo de reprodução material da so ciedade. O ser humano apresenta, para sua reprodução corno ser vivente, (reprodução significa a capacidade de v~ver hoje, amanhã, depois de amanhã, etc), urna s~rie de neces sidades materiais que precisam ser satisfeitas inexoravel mente (alimentação, vestuário, habitação, etc). Evidente - mente, as necessidades são dinâmicas e as formas de satis- fação igualmente. Pois bem; se todas essas necessidades pudessem ser satisfeitas sem trabalho, como e o caso, por - 2 - exemplo, da necessidade de respiraçao, nao haveria produção e, por conseqUência, nao haveria atividade econom~ca. Mas isto e um raciocínio por absurdo, pols, para a satisfação das necessidades, e preciso trabalho, ou seja, produção, g~ ração de produtos. o que e portanto trabalho? É o processo de intervenção do homem na natureza, com o objetivo de trans formar os elementos naturais em coisas Úteis: "Antes de tudo, o trabalho e um processo en- tre o homem e a Natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a Natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural como uma força natural. Ele pÕe em movimento as forças nat~ rals pertencentes a sua corporalidade, braços e pernas, ca- beça e mao, a fim d~ apropriar-se da matéria natural forma útil para sua prÓpria vida. Ao atuar, por meio numa desse movimento, sobre a Natureza externa a ele e ao modifica-la, ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza" (1) PortantÓ, HOMEM + NATUREZA ~ PRODUTOS O processo de geraçao de produtos, ou seja, o processo de produção e, sempre, um processo social. O ln divíduo isolado e uma ficção; o homem sempre produz em so ciedade, a partir de uma certa divisão social do trabalho. Depois de produzir os bens de que necessita, a sociedade precisa repartÍ-los; a isto chama-se de distri buição. Portanto, por atividade econômica entendemos os pro cessos de produção e distribuição dos meios materiais neces sãrios ã vida. Observa-se claramente que atividade economi ca e algo inerente ã natureza humana, algo que sempre exis tiu e sempre existira; ou seja, sempre haverá necessidade humana de se reproduzir materialmente (l) Karl Marx. O Capital. vol.I, Os Pensadores, Abril Cul ral,São Paulo, 1983, p. 149. - 3 - Vejamos agora a Economia Política. Segundo John Stuart Mill (autor do final do S~c. XVIII, início do Sec. XIX), "a Economia Política nos informa acerca das leis que regulam a produção, distribuição e consumo da riqueza" ( 2) . Verifiquemos a discussão que f a z S tu a r t Mi 11 em torno dos conceitos de rlqueza e produção: a) Riqueza Em contraposição ao pensamento mercantilis ta, que coloca a riqueza como quantidade de ouro (saldo co mercial), Mill, como toda Economia Política, coloca a ri queza como sendo igual a ''todos os objetos Úteis ou conve nientes à humanidade, com exceção daqueles que podem ser obtidos em quantidade indefinida sem trabalho" (3). Portan to, riqueza = produtos = capacidade produtiva; b) Produção Pode-se enfocar a produção segundo suas de terminaçÕes materiais e segundo suas determinações soc1a1s. Se produção é transformação de elementos naturais em col sas Úteis (exemplo: petróleo em gasolina), nela estão en volvidos processos de transformação da matéri~ que sao ob jeto de estudo das clenclas fÍsicas e naturais (Física,Qui mlca, Biologia). A produção se tornou, com o advento do ca ~italismo, objeto de conhecimento em suas determinaçÕes ma teriais; a produção tornou-se uma aplicação tecnológica da ciência. A produção, sob esta Ótica, e objeto da Engenha - r1a. Mas a Economia Política não é tecnologia. Qual é, en tao, o enfoque dado pela Economia PolÍtica à produção? O enfoque não ~material, mas sim social (jã vlmos que a pr~ dução e, desde logo, algo realizado em sociedade). Daí a a firmação de Stuart Mill: "Economia PolÍtica e a ciência que trata da produção e distribuição da rlqueza na medida (2) John Stuart Mill . Da Definição de Economia PolÍtica e do M~todo de Investigação Próprio a Ela. Os Pensado res, Abril Cultural, São Paulo, 1979, p.299 (3) John Stuart Mill . op. cit. p. 300 - 4 - em que elas dependem das leis da natureza humana" (4). O que quer dizer isso? Quer dizer que a preocupaçao da E~ono mia Política ê com a forma pela qual a sociedade se organi za para a produção e, por conseqüência, para a distribui - çao. Chegamos entao ao conceito de Economia Polí tica: . ECONOMIA POLÍTICA ciência das leis que regulam a prod~ çao e a distribuição da riqueza em sua dimensão social. Portanto, a produção (em sua dimensão social) e a distribuição (em seu caráter imediatamente social),po~ suem leis, cuja descoberta ê objeto da Economia Política Que devemos entender por leis? são leis científicas, que nao dependem da vontade das pessoas, ou de instituiç;es mas sim brotam cia natureza do sistema econômico. Vejamos agoraa seguinte questao: Vl.mOS que atividade economica sempre existiu, e sempre existirá. Ocorre o mesiDo com a Economia Política? Ou seja, sempre e xistiram pessoas refletindo de forma sistemática (científi ca) sobre a atividade econômica? Resposta: não. Ao contrá r1.0 da ativiciade economlca, que e a-histÓrica, posto que nao surg1.u em um determinado momento da História, e' em sua acepção geral, não caracteriza nenhuma fase particular da História, a Economia PolÍtica não existiu sempre; ela e fruto do capitalismo. Ilustremos, a partir das fases da História: Comunismo I Escravismo I Feudalismo I Capitalismo I Socialismo A T I v I D A D E E c o N ô M I c A primitivo ! I /I J ~ ECONOMIA POLÍTICA FIGURA 1 (4) John Stuart Mill. op. ci~. p. 304 - 5 o que estamos querendo dizer e que o pensa mento humano somente toma a forma de Economia PolÍtica com o advento do capitalismo (século XVIII e XIX). Não existem portanto, uma Economia PolÍtica para o comunismo primitivo, uma Economia Política para o escravismo, uma Economia PolÍ tica para o feudalismo, uma Economia PolÍtica para o capi talismo, uma Economia Política para o socialismo. O que e xiste e: a Economia PolÍtica estuda o capitalismo. Vejamos sobre ~sso algumas citaçÕes interes santes de Luiz Gonzaga Belluzzo: "O nascimento da Economia Política,como dis ciplina autônoma, estã amplamente comprometido comas trans formaçÕes ocorridas na Europa Ocidental, que culminaram com a Revolução Industrial, na Inglaterra, e a Revolução Fran cesa, no continente O nascimento da Economia Política, no final do século XVIII, responde, quer ãs modificaçÕes ococ ridas no impessoal sub-solo da história, -quer as transfor- maçÕes operadas na consc~enc~a dos povos. Surge como uma tentativa de explicação de um mundo abarrotado de mercado r~as, onde os homens trocavam seus produtos nao para consu m~r, senao para trocar de novo amanhã". (5) Observamos, das colocaçÕes de Belluzzo, que a Economia Política tem seu nascimento ligado ao seguinte fato essencial: as determinaçÕes da economia capitalista nao são perceptíveis a olho nú; - - . e necessar~o c~enc~a para desvendá-las. Isto porque, "se aparência e essenc~a se con fundissem, não haveria necessidade da ciência". (5) Luiz Gonzaga de M. Belluzzo . Prefácio ã edição brasi leira de: Isaak Rubin. A Teoria Marxista do Valor. Brasiliense, São Paulo, 1980, p.q. - 6 - 1.2.- DA MERCADORIA AO CAPITAL Vejamos, de início, o que devemos entender por bens e produtos. Um bem ~ tudo aquilo que satisfai uma necessidade humana, ou seja, tudo que tem utilidade. Já um produto e tudo aquilo que satisfaz uma necessidade humana e ~ fruto do trabalho. Ilustrando: nao sao fruto do trabalho FIGURA 2 Quanto as mercadorias, elas possuem, a de- mais de uma utilidade (valor de uso), um valor de troca. Mercadoria, portanto, e tudo aquilo que possui valor de u so e valor de troca. Podemos claramente observar que o produto do trabalho humano, enquanto valor de uso, possul uma de terminação a-histórica: sempre existiram e sempre existi rão produtos do trabalho. Já o produto enquanto mercadoria (tem valor de uso e valor de troca) r~ssui uma determina çao social, histórica: caracteriza uma forma assumida pe los produtos do trabalho em uma determinada época da Histó rla. Vejamos melhor o que e mercadoria; inicial mente, salientemos que, se alg~em produz para auto-consumo, não produz mercadoria, produz apenas valores de uso. Da mesma forma, se uma comunidade produz para si prÓpria (uma tribo indÍgena, por exemplo), não produz mercadoria. Canse qlientemente, para ser mercadoria, o produto do trabalho tem que passar da mão de quem o produz para a mão de quem o \ - 7 consome. Todavia, o trigo que o servo produzia para o se nhor na sociedade feudal passava de mãos mas não era mer cadoria. Essa passagem tem que se dar por meio de um ato de troca: TROCA 2R01uTOR CONSUMIDOR FIGURA 3 Verifiquemos as pré-condiçÕes para que o produto do trabalho humano se transforme em mercadoria. I nicialmente, e necessário que exista divisão social do ------------------------- trabalho. Como ja vimos, se cada um produzisse tudo que necessitasse, não haveria produção de mercadorias; e pre c~so, portanto, que o trabalho esteja socialmente dividi do. Todavia, divisão social do trabalho sempre existiu mesmo em uma comunidade primitiva existe uma divisão so cial do trabalho por sexo, idade, mas não ha produção de mercadoria. Trata-se, portanto, de condição necessaria,p~ rem nao suficiente. Vejamos com ma1s detalhes o caso de u ma comunidade primitiva, uma tribo indÍgena, por exemplo. -Por que o Índio, apos realizar a pesca, nao monta uma pe- quena banca em sua tribo e vende o peixe que pescou com seu trabalho? A resposta e a seguinte: porque nao existe, nesse tipo de sociedade, a instituição da propriedade pri vada. Se o pescador não vê os instrumentos de trabalho co mo propriedade privada sua, e por conseqtlencia também nao ve dessa forma o produto do seu trabalho, como poderá pe~ sar em vendê-lo? Também os demais membros da comunidade nao enxergam o peixe como propriedade do pescador, não ha vendo sentido algum em compra-lo; tal idéia nem se coloca para eles. Nesse caso, todo o produto do trabalho e enca rado como propriedade coletiva. Descobrimos, portanto, a segunda condição para o surgimento da mercadoria: a priedade privada. Essa instituição da propriedade privada sur - 8 ge inicialmente nao dentro das comunidades, mas entre co munidades. É possível, por exemplo, que a comunidade A pr~ duza um excedente do alimento X, e a comunidade B produza um excedente do produto Y. A B X y X y FIGURA 4 A partir desse fato, pode-se estabelecer u ma troca entre as duas comunidades (desde que A quelra Y e B queira X, como e Óbvio). Essa troca, todavia, possul um caráter fortuito, ocasional, assistemático, ou seJa, ocor- reu hoje (por causa dos excedentes), mas poderá não oco r- rer amanhã. Não se trata, portanto, de uma sociedade mer cantil. o que e sociedade mercantil? É uma socieda de na qual a troca nao e fortuita, nao e ocasional,mas Slm sistemática; caracteriza a forma mesmo de organização da sociedade. Nessa sociedade, o produto e produzido pensando de antemão na troca, ou seja, produz-se para vender. Um p~ queno produtor de calçados, por exemplo, nao produz para seu consumo e de sua família e, se ocorrer um excedente,l~ vará ao mercado. Desde o instante em que pensa em produzir o sapato, já o faz pensando em produzir para vender. Vejamos as caracterÍsticas fundamentais de uma sociedade mercantii, para marcar o seguinte fato funda mental: a necessidade da troca. bin e esclarecedor: A esse respeito, Isaak Ru "A c a r a c t e r Í s t i c a d i s t in t i v a d a e c o no m l a me r - 9 cantil e a de os administradores e organizadores da prod~ çao serem produtores independentes de mercadorias (peque nos proprietários ou grandes empresários). Toda empresa i:_ solada privada e autonoma, isto - e' seu proprietário -e ln- dependente, está preocupado apenas com seus proprlos inte resses e decide o tipo e a quantidade de bens que produzi:_ ra. Sobre a base da propriedade privada, ele tem à sua dis poslçao os equipamentos produtivos e as matérias-primas n~ cessarias e, como proprietário legalmente competente, dis p~e dos produtos de seu neg~cio. A produç~o e administra da diretamente pelos produtores de mercadorias isolados e não pela sociedade. A sociedade não regula diretamente a atividade do trabalho ,, de seus membros, na o detersína que val ser produzido nem c;uanto". (6) Comentemos esse trecho. ~ossa sociedade ~Lr cantil e composta, portanto, por diversos produtores inde pendentes. Qual o sentido de independente? Não - e ' obvia - mente, que cada produtor está isolado do mundo (inúmerosRobinson Crusoés) ... O sentido e o seguinte: considerando a existência da propriedade privada como instituiçao so- cial, e com ~bvio amparo legal, o produtor e proprietá - rlo dos melos de produção, e, por conseq~encía, propriet~ rlo do produto. Sendo assim, ele possuí autonomia para d~ cidir sobre a utilização de coisas que lhe pertencem. In dependência tem aqui o sentido de unidade autonoma de de cisao. Decisão sobre o que? Ora, sobre as questoes econo mlcas fundamentais, ou seja: O que produzir? Quanto produzir? Como produzir? Lembremo-nos do nosso pequeno produtor de sapatos. Podemos ate imagina-lo sozinho, em sua oficina pensando sobre: produzir botas de cano longo ou sapatos co muns? Que quantidade? Com qual técnica, a tradicional ou (6) Isaak Rubin, op. cit. p. 21 - 10 - uma nova que Vlu em algum lugar? Perguntamos: se ele deci dir produzir botas de cano longo (em pleno verão), em uma quantidade bastante grande, e com uma técnica que se usava ha 300 anos,alguem tem alguma coisa com isto? Se nao der certo, problema meu, dira o sapateiro. Afirmamos ja para aprofundamento posterior: existira alguma instituição (um orgao central de planificação, por exemplo), que informe ao nosso produtor (por meio de um computador) o que ele tem que produzir (a partir de necessidades sociais objetivas ja pesquisadas), quanto e como produzir? Não, evidentemen te. Isto seria a completa negação do princÍpio basilar da liberdade do proprietário privado. Tratar-se-ia de uma com pleta negação dos fundamentos sobre os quais se assenta a sociedade capitalista. Vejamos agora um aspecto essencial: lembre mos do nosso produtor de sapatos decidindo: tal decisão o corre no que chamamos esfera privada. Mas todos os produt~ res independentes, nao sao, como ja afirmamos, isolados; e les estão compondo (e têm que de alguma forma compor) uma economia social. Em outras palavras: produtores que de c i- dem privadamente têm que conformar uma economla social (que se reproduza socialmente). produtor independente t-----.. economla social FIGURA 5 Qual a forma - . necessarla para que isto se dê? Em outras palavras: qual a ponte que levara da esfera prl- vada para a esfera social? Resposta: a troca! ll I ~ IA TROCA FIGURA 6 Vejamos outro trecho de Rubin: "Por outro lado, todo produtor mercantil e labora mercadorias, ou seJa, produtos que nao se destinam a seu uso pessoal, e sim ao mercado, ã sociedade. A di vi- sao social do trabalho vincula todos os produtores de mer cadorias em um sistema unificado que e denominado economla nacional, em um organismo produtivo CUJaS partes se rela - ~ cionam e se condicionam mutuamente. Como se cr1a esse v1n- cu lo? Através da troca, através do mercado, onde as merca dorias de cada produtor isolado aparecem de forma despers~ nalizada, como exemplares isolados de um determinado tipo de mercadoria, a despeito de quem as produziu, ou onde, ou sob que condiçÕes específicas" (7) Dessa forma, as relaçÕes entre os produto res (relaçÕes sociais) se dão através das co1sas (produtos do trabalho): "a interaçao e a influência mútua da at i vida de de trabalho dos produtores individuais de mercadorias o corre exclusivamente através das co1sas, atrav6s dos produ tos de seu trabalho que aparecem no mercado" (8) Voltemos ao nosso produtor de sapatos (produtor A); apos sua deci- sao de produzir, leva, digamos, 10.000 pares ao mercado. O produtor B, que nao alterou em nada suas decisÕes de prod~ çao, será inevitavelmente afetado pelas decisÕes de A; por exemplo, uma super-produção setorial pode levar a uma que- da de 30% no preço do sapato. A Tl • -.. 1nteraçao e influência mú tua" entre A e B ocorreu através do sapato (produto do tra balho). Imaginemos uma indústria fazendo "dumping" contra sua concorrente, o que significa reduzir o preço e traba lhar eventualmente com prejuízo para destruir (7) Isaak Rubin. op. cit. p. 21 (8) Isaak Rubin. op. cit. p. 22 -a concorren- - 12 c~a. O proprietário da indÚstria concorrente pode ser le vado a loucura, sem nenhuma ação direta (emocional ou fÍ- sica) do primeiro. A ação se deu indiretamente, pela do produto. v~a Marquemos agora uma conseq~ência crucial do que vimos atê aqui: sendo a economia capitalista a eco úomia mercantil por excelência, seu caráter mercantil e responsável pelo seguinte fato: a economia capitalista e inerentemente anárquica. Por mais que a grande empresa e o Estado possam planejar o futuro, nao podem negar as ba ses sob as quals se assenta a economia capitalista, naop~ dem transforma-la em uma economia planificada; nao podem negar o caráter mercantil/anárquico da produção; nao po dem, por conseguinte, evitar a imprevisibilidade, a insta bilidade da economia capitalista. Essa instabilidade está alicerçada no caráter mercantil da sociedade, no fato de que as esferas privadas sao as esferas de decisão. É justamente para marcar esse fato, o fato de que a economia capitalista está lastreada na produção mercantil, ê que se constrói o artifício teórico da econo mia mercantil simples - trata-se de um alicerce sobre o qual se assenta a economia capitalista. Vejamos o que vem a ser essa economia mer - cantil simples. Trata-se de uma sociedade na qual os pro dutores independentes de mercadorias são proprietários dos meios de produção (matérias-primas e instrumentos de tra balho) e por conseq~ência, sao proprietários do produto do seu trabalho. Nessa sociedade, os trabalhadores/produto - res vendem mercadorias enquanto Drodutos do seu trabalho. Sociedade Mercantil Simples FIGURA 7 pequeno produtor - proprietário dos meios de produção - proprie târio do produto - vende produ= tos do trabalho (há uma união entre trabalho e propriedade) - 13 Vejamos a açao de um produtor independente de mercadorias (por exemplo, produtor A, produtor de sap~ tos) nessa econom1a mercantil simples. ApÓs produzir os sapatos, o produtor leva-os ao mercado para vendê-los, ou seja, trocá-los por dinheiro. Com o dinheiro nas maos,co~ pra uma outra mercadoria, da qual necessita, por exemplo, arroz. A circulação fica assim: SAPATO DINHEIRO ARROZ M D M (mercadoria) (dinheiro) (mercadoria) O processo . - . tem seu 1n1c1o em uma mercadoria (sapato) e termina em outra mercadoria (arroz); evidente mente, há, entre esses dois pÓlos, uma diferença qualita tiva, posto que nao faz nenhum sentido vender sapato para comprar sapato. Perguntamos: qual o objetivo dessa forma de circulação? Vejamos uma resposta possível: o lucro. Ora suponhamos que o par de sapato tenha um valor de CzSSIJO,iJO, que o produtor consiga realizar esse valor no mercado: e ' finalmente, que ele compre 25 kg de arroz que valem exata mente Cz$ 500,00. Ao final temos: 1 par de sapatos D 25 kg de arroz Cz$ 500,00 Cz$ 500,00 ... Cz$ 500,00 Ainda que tenhamos aqu1 apenas uma noçao 1n tuitiva de valor, observamos que nosso produtor de sapato nao enriqueceu em 1 centavo sequer depois de fechado ocir cuito; em outras palavras, nao teve lucro. No entanto,nem por isso está furioso, deblaterando a -sua ma sorte, mas s1m satisfeito, com seu objetivo realizado. Por que? Por que seu objetivo nao era o enriquecimento, a obtenção de lucro, mas s1m a satisfação de necessidades (o valor de u so) . M - D - M objetivo: satisfação de necess1 dades. - 14 - Nesse caso, qual o papel do dinheiro? Inicialmente, o di nheiro reflete o valor de todas as mercadorias, ~ equiva lente geral; todas as mercadorias espelham seu valor no dinheiro. Com esta capacidade, o dinheiro permite que as mercadorias circulem: ~meio de circulação. Em nosso cir cuito M - D - M, o dinheiro funciona apenas como um inter mediaria. O dinheiro não ~. nesse caso, desejado por si, mas apenas como instrumento para a circulação de mercado rias, para a satisfação das necessidades.Para nós, que vivemos em uma economia capi talista, e fácil perceber que essa função ~ apenas uma das funçÕes do dinheiro. Por exemplo: a) recebo meu ordenado e faço uma compra no supermercado. Esse dinheiro está servindo como equivalente geral e me~o de circulação; b) ganho Cz$ 1.000,00 no bicho e levo minha família -a churrascaria. Mas, e se eu pensar no seguinte: ganhei na loto Cz$ 60 milhÕes~ -O que sao esses 60 milhÕes? Que f a- zer com ele? Qual a primeira coisa que nos vem a mente quando se tem essa fabulosa quantia nas mãos? Resposta: a plicar, ou seja, transformar dinheiro em ma~s dinheiro; manter a riqueza presente e ampliá-la. A mudança quantit~ tiva (dos Cz$ 1.000,00 para Cz$ 60 milhÕes) implicou em urna mudança qualitativa; estou percebendo um novo cara - ter do dinheiro: o dinheiro corno capital. Qual ~ essa nova forma de circulação? É: DINHEIRO MERCADORIA - DINHEIRO + 6DINHEIRO D M D + 6 D Como dinheiro só se diferencia de dinheiro sob o aspecto quantitativo, não faz nenhum sentido que o início e o fim do processo representem uma mesma magnitu de de dinheiro; nesse caso o objetivo do movimento ~ a aro - 15 pliaçio do montante de dinheiro (o lucro). Agora, a merca doria e que e intermediaria para a consecução do objetivo: o enriquecimento. Nesse caso, o dinheiro se transforma em capital, passa a circular como capital, como valor que bus ca sua auto-valorização. Vejamos algumas formas antigas de transfor mar dinheiro em mais dinheiro: a) Capital usurário: forma antiga do capl tal a juros: D D + liD Nesse caso, a ampliação do dinheiro ocorre da forma direta, sem intermediários; trata-se, por isso, de forma absurda e inintelegível do capital, como se, por circunstâncias favoráveis de calor, umidade, etc., houves se a geraçao espontânea do dinheiro (filho) do dinheiro (mãe). Vejamos isso melhor. Pensemos - . em um usurarlo típico do fim do f eu dalismo, relacionando-se com a nobreza decadente; o nobre decadente precisa de dinheiro para manter seu fausto (mó vels e utensílios, vestuário, carruagem, criadagem, etc). Evidentemente, em se tratando de nobre decadente, e, por definição, carente do dinheiro necessarlo. Empresta-o do usurário, que pretende receber depois de algum tempo principal mais um acréscimo a tÍtulo de juros. Pergunta mos: de onde ele vai tirar esse liD? Resposta: da riqueza o que possui (por exemplo: terras) Fica, portanto, claro o caráter parasitário do usurário; ele enriquece às custas do empobrecimento de outros, nao auxilia em nada na cria çao de riqueza; antes pelo contrario, aprofunda a decadê~ cia do sistema do qual suga sua riqueza crescente. Não e por outra razao que, no período feudal, foram tao as condenaçÕes à usura (Igreja, Lutero) b) A forma mercantil fortes Quando se coloca o enriquecimento sob a for ma Dinheiro-Mercadoria-Dinheiro, a primeira colsa que nos - i6 vem ã mente é a atividade de comércio, ou seja, uma merc~doria usual (qualquer) por um preço e comprar vendê-la por um preço maior. Esta é i ~ei do comércio: comprar ba rato e vender caro Vamos agora lmaglnar que todos os tra balhadores/produtores vendem produtos do seu trabalho. Pa ra que alguém ganhe dinheiro através do - . comer c lo e neces- sário se interpor entre a produção e a venda, pagando po~ co ao produtor e cobrando caro do comprador. Será que es ta ação pode sustentar uma economia capitalista? Ora, a classe capitalista não pode ser constituída a partir do engano recíproco. Isto porque a forma mercantil do capi - tal é, caracteristicamente, um roubo, uma mudança de mãos de uma riqueza já criada; nao contribui em nada para a crlaçao da nova riqueza. E foi esta a forma hegemônica no período imediatamente anterior ã constituiçao do capita - lismo: século XVI e XVII. Vejamos rapidamente como se dá essa forma mercantil: imaginemos inicialmente uma regiao - Europa na qual a circulação de mercadorias esteja bastante dese~ volvida, e os agentes economicos possuam uma noçao bastan te boa de mercados e preços; pensemos agora em uma reglao - Índia, por exemplo que vive em um estágio de economla pré-capitalista, com a produção organizada em aldeias au to- suficientes, que produzem para auto-consumo, nao pro duzindo, portanto, mercadorias; obviamente, os produtores nessa sociedade nao têm noçao de mercados, custos e pre- ços. Imaginemos agora o relacirinamento entre as duas re gioes: evidentemente, os comerciantes europeus têm noçao exata do preço que podem alcançar pela seda (produzida na segunda região) nos mercados da Europa. Como os produto res de seda desconhecem completamente o comercio, podem trocar a seda por qualquer mercadoria de baixo valor. Na verdade, os comerciantes acercavam-se da região produtora, transformavam-na em um mercado cativo, e carregavam a mer cadoria para mercados consumidores. Isto e exatamente l gual ao saque, ao roubo; ou seJa, uma simples mudança de maos da riqueza (aliás, no caminho para a Índia, poder-se -la, de passagem, saquear um navlo inimigo). - 17 Jra, esta nao é a forma capitalista de ex trair mals dinheiro do dinheiro; tanto é verdade que na çoes (ou cidades/Estado) que se especializaram com gran de sucesso nessa forma mercantil não descobriram a forma capitalista e foram passadas para tr~s (Holanda e Veneza, sao os melhores exemplos). A forma capitalista por exce lência est~ ligada a uma nova forma de organizar a prod~ çao. O capitalismo inaugura uma nova forma de organiza - ção da produção. O capitalista ê capitalista industrial; ê capitalista produtivo. O c a p i t a l i s t a · o r g a n l z a a p r o d u ç ã o , e o r g a hif~dor da produção: Não ê parasita da sociedade decaden te, e nem transfere riqueza para suas mãos pela via do comerclo. Ele auxilia, ele crla (no sentido de gerar as condiçÕes para) rlqueza nova (novos produtos). A produ çao e uma decisão do empresarlo; ao trabalhador cabe ap~ nas decidir, quando possível, a não-produção. E por que? Simplesmente porque o processo de produção e um processo no qual todos os elementos sao de propriedade do capita lista. Vejamos melhor esse ponto: Todo processo de produçao e, ínexoravelmen te, um processo composto dos elementos simples TRABALHO (atividade adequada a um fim) OBJETO DE TRABALHO (matéria-prima) - MEIOS DE TRABALHO (instrumentos de trabalho) Ora, as matérias-primas são mercadorias,têm que ser compradas; da mesma forma as m~quinas são mercado rias, têm que ser compradas. A produção capitalista nao e setorial, e generalizada; todos os melos de produção são produtos de empresas capitalistas, produzidos para vender, e com lucro. Nesse sentido, observa-se que a propriedade capitalista é propriedade de um fundo livre de mercadori as, no sentido de que essas mercadorias estao disponíveis para quem tiver dinheiro para comprar. Nao est~ escrito em uma m~quina que ela se destina a ser propriedade de f~ lano ou sicrano. As m~quinas - . de uma mesma especle sao mer - 18 - cadorias expostas ao gosto dos que puderem levá-las. Di fere, portanto, da propriedade pré-capitalista, que e um pressuposto da produção (que antecede a produção), um leg~ do da tradição por laços de sangue. Então, os elementos OBJETIVOS têm que ser comprados: Elementos OBJETIVOS compradas - matérias-primas ~ sao mercadorias compradas - . maqu1.nas ~ I ? sao mercadorias - trabalho ~ ? E o que acontece com o elemento subjetivo, o trabalho humano? Não se pode dizer que se compra e ven de trabalho, posto que o trabalho é homem em açao, confun de-se com a corporéidade humana; se se vende trabalho,ve~ de-se a si mesmo, transformando-se em escravo; nesse caso, o homem é mercadoria. O que acontece é que se vende e se compra força de trabalho, entendida como capacidade de tra balhar, potencial de trabalho Em outras palavras, afor- ça de trabalho transforma-se em mercadoria. Ao dizer que a força-de-trabalho é mercado rl.a, dizemos que ela tem utilidade (valor de uso) e valor de troca. A utilidade de uma mercadoria é algo a respeito da qual devemos consultar seu consumidor. Qual a utilida de da força-de-trabalho para seu consumidor, o capitalis ta? Como ele a consome? Fazendo-a trabalhar portanto, o valor-de-uso da mercadoria Força de Trabalho é o trabalho mesmo. Vamos pensar, por exemplo, que eu na qualidade de empresarlo, contratei um determinado operário. Percebo dias depois que o trabalhador sistematicamente não trabalha (falta, enrola, conversa, etc.). Que faço? Mando-o embo - ra! E é coisa justa, pois afinal firmamos contrato; nha parte era pagar, a parte dele trabalhar. Comprei uma mercadoria que se mostrou posteriormente de má qualidade! Quanto ao valor-de-troca, possuí sua expre~ 19 - sao monetária no salário que se paga (por dia ou mês) aos trabalhadores para que possam reproduzir-se como trabalha dores. Vejamos rapidamente a seguinte questão:exi~ tiram sempre pessoas interessadas em vender força-~-tra balho? Lembremo-nos de nosso produtor independente de sa- patos em uma economia mercantil simples. o que e que e- le vendia? Vendia sapatos, produtos de seu trabalho,e não sua força de trabalho. Por que? Porque ele era proprietá rlo dos produtos do seu trabalho. Ocorre nesse caso uma uniãoentre trabalho epropriedade . É necessária, portan to, uma cisão entre trabalho e propriedade para que al guns vendam e outros comprem força de trabalho: UNIÃO TRABALHO Ex. artesao, campones e vendem produtos PROPRIEDADE do trabalho CISÃO Vendem força de trabalho PROPRIEDADE Proprietários dos meios de produção, compradores de força-de-trabalho. FIGURA 8 - . Em outras palavras, e necessar1o que os pr~ dutores sejam expropriados de meios de produção, achem-se despojados dos elementos materiais necessários ã produção. Ademais disto, e necessário que o indivÍduo seja trabalhador livre, no sentido de que vende sua força -de-trabalho para quem quiser, e sempre por tempo não ili mitado (qualquer uma das partes contratantes pode resc1n dir o contrato a qualquer tempo) caso contrário, seria escravo ou servo, e nao trabalhador assalariado. Todavia, nao basta que existam pessoas des- possuídas, interessadas em vender sua força de trabalho em troca de um salário, como ~nica forma de prover sua sub - 20 sistência; e necessário que existam pessoas interessadas em comprá-las; em outras palavras, em empregá-las, juntá las no sentido de produzir, ou seja, organizar a produção como negócio lucrativo. O próprio termo proletariado tem origem na Roma antiga; o proletariado romano era tão des possuÍdo de meios de produção quanto o proletariado mode~ no, posto que nao tinha a propriedade por excelência que era a propriedade da terra; todavia, em pleno escravismo, como iria surgir um empreendedor que tivesse a idéia de empregá-los de alguma forma para a produção, para o tra- balho? O trabalho era um oprobio! As preocupaçoes eram bem outras: como manter as conquistas, dominar revoltas controlar escravos, etc. - . Portanto, e necessar1.o: OFERTA DE FORÇA DE ~DEMANDA DE FORÇA DE TRABALHO (criação~TRABALHO (empresá- do proletariado) rio industrial) FIGURA 9 Concluindo, ao mesmo tempo em que Objetos de trabalho e Meios de Trabalho tomam a forma de mercado rias de propriedade do capitalista, o trabalho toma a for ma de trabalho assalariado. PROCESSO DE PRODUÇÃO EM GERAL PROCESSO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA - Trabalho _______ Trabalho Assalariado - Capital Circulante Objetos de Trabalho ____ Mercadorias - Capital Circulante - Meios de Trabalho _____ Mercadorias - Capital fixo Como fica agora o circuito do capital? D D + 6D 21- Objetos de Trabalho D Meios de Trabalho - n~oduto - D + An Força de Trabalho Diferentemente das duas formas anteriormen- te mencionadas, a forma capitalista de transformar o di- nheiro em ma~s dinheiro passa pela organização da produção; evidentemente, a possibilidade do lucro (~emuneração do ca pital) esta lastreada na forma capitalista de organização da produção, ou seJa, ~ base do trabalho assalariado. Os elementos materiais (matérias-primas e instrumentos de tra balho) não podem, por s~ so, serem fonte de lucro, po~s, se ass~m fosse, tal coisa ocorreria em qualquer sociedade, pois sao eternos e imprescindíveis. Os valores das matéri as-pr~mas e das maquinas sao transferidos aos produtos e recuperados. Os primeiros se transferem integralmente a ca da período de produção, perÍodo que vai da entrada da maté ria prima ate a saÍda do produto, pois perdem integralmen te sua forma original metamorfoseando-se em produto. Por 1sso sao parte do capital circulante, que tem que ser re posto a cada período de produção. Ja as maquinas e instala çÕes atravessam vários períodos de produção, de forma que seu valor e recuperado na mesma medida em que se perde,aos poucos, gradativamente. A expansão do valor inicialmente adjudicado a produção, a transformação de D em D + 6D, ou seja, a transformação do processo de trabalho em um processo de va lorização do capital esta determinada pela forma social de organizaçao da produção. Em outras palavras, organizando se a produção capitalisticamente, com proprietários do ca pital e proprietários de força de trabalho (trabalhadores assalariados), estao postas as condiçÕes para o surgimento do lucro. Em uma sociedade CuJa produção se organiza desta maneira, o lucro do capitalista aparece como desdobramento natural da produção, como co1sa normal (anormal é produzir sem lucro). Evidentemente, esse conceito de natural deve - 22 - ser entendido como histórico-natural, pols, sempre realçar, o lucro (ou seja, o capital) como procuramos é uma catego - ria especÍfica e característica da economia capitalista,fo~ ma historicamente determinada de organizaçao social da pro dução. Não se trata, como querem alguns, de algo prÓprio da naturalidade humana abstrata, mas sim da naturalidade con- ereta da sociedade capitalista. Esse entendimento do lucro como coisa natural e, obviamente, amplamente disseminado p~ la sociedade capitalista, de tal forma que todos o tomam co mo um dado, sem refletir sobre sua natureza. Também do pon to de vista da Economia como clencla, as questoes estarao colocadas a partir da constituição da sociedade capitalista, ou seJa, a partir da existência das condiçÕes para o apare cimento do lucro. Por lsso, o estudo que se faz é, fundamen talmente, sobre a magnitude da taxa de lucro, os efeitos das flutuações desta sobre o investimento, do investimento so bre o lucro, etc. Ou seja, parte-se da existência do lucro para o entendimento do funcionamento da economia capitalis ta. Nos capítulos que se seguem, tomaremos o preço das mer cadorias como o "fio condutor" de nosso estudo sobre o fun cionamento da economia capitalista. Esperamos que a leitura esclareça, por si so, as razÕes da escolha deste caminho. - 23 CAPÍTULO 2 - A "RADIOGRAFIA" DO PREÇO DA PRODUÇÃO CAPITA LISTA: O CUSTO E O LUCRO 2.1 -A COMPOSIÇÃO DOS PREÇOS DA PRODUÇÃO CAPITALISTA:PRE ÇO E RELAÇÕES SOCIAIS Antes de iniciarmos o estudo da determin2 çao dos preços, e necessário verificar sua composição; em ou t r a s p a 1 a v r a s , r e a 1 i z a r um a r a d i o g r a f i a do p r e ç o , d e t e c - tando suas partes componentes. Nesse caso, o que pretende mos enfatizar e que "os preços traduzem relaçÕes sociais". Em outras palavras, através dos componentes do preço pode mos observar como está organizada a sociedade para a prod~ çao. Imaginemos o caso do artesao; no preço da sua mercadoria encontramos uma parte formada pelos custos de produção (matérias-prima, matérias auxiliares, energla, etc.), e um remanescente a título de remuneração dotraba lho. Quando a mercadoria passa a ser produto do capital, e la evidentemente incorpora em seu preço novos elementos,de terminados pelas relaçÕes capitalistas de produção. Já vl mos que o empresário, organizador da produção, preclsa com prar os elementos necessários à produção, gerando asslm a estrutura de custos da produção capitalista: ELEMENTOS GERAIS DO PROCESSO DE PRODUÇÃO Trabalho _____ _ Objetos de trabalho __ _ CUSTOS DA PRODUÇÃO CAPITA r 1 STA Salários _Custos de lnsumos industriais Instrumentos de trabalho ____ Custo de maquinas, equipamen tos e instalaçÕes + custo de manutençao Sobre a parcela do custo representada pelos salários, a seguinte citação e esclarecedora: - 2 4 - "Atrás do custo de produção de uma mercado rla está toda uma complexa malha de relaçÕes sociais, en tre capitalistas e trabalhadores e entre diferentes grupos de capitalistas. A relação entre capitalistas e trabalhad~ res se apresenta no custo de produção como salário. Para que haja salário e preciso que a produção esteja organiza da de acordo com um sistema sócio-econômico específico, em que uma parcela da sociedade detenha a propriedade dos mei os de produção e a restante disponha apenas de sua própria força de trabalho. Para operar seus meios de produção, os capitalistas precisam pagar os trabalhadores; para obterem recursos para sua sobrevivência, estes Últimos necessitam, trabalhar. O pagamento dos trabalhadores, o salário, cor - responde portanto a uma relação de troca entre os capita - listas e os trabalhadores, em que estes vendem aos prlmel ros sua força de trabalho e deles compram os bens e servl ços de que necessitam. Se os meios de produção estivessem distribuÍdos entre todos os membros da sociedade,como por exemplo num sistema de produtores autônomos, uns nao prec~ sariam comprar força de trabalho e os demais nao necessita riam vendê-la, e, portanto, não haveria salário. Assim, o - -salário, que entra no custo de produção, nao e um compone~ te 1 natural-t do preço, mas um componente histórico, pro- prio de um regime de produção especÍfico, historicamente determinado" (9) Outra observação no sentido de ilustrar o fato de que "os preços traduzem relaçÕes sociais" será feita quanto ãs chamadas relaçÕes inter-industriais. Trata-se do conjunto das relaçÕes de compra e venda de mercadorias realizadas entre as empresas, ou seJa, de compra e venda de insumos industriais (matérias-primas, materiais de emba lagem, combustíveis, lubrificantes, etc.) e de máquinas e equipamentos. Essas relaçÕes inter-industriais ocorrem, na maioria das vezes, sem grandes fricç~es, passando desperc~ (9) J. Miglioli, L.G. Belluzzo & S. Silva. O funcionamento da economia capitalista (uma introdução ao estudo da Economia) Cap.l,"Produção e Preços" UNICAMP,p.40-l - 25 - bidas do grande pÚblico. Recentemente no Brasil, apos a e merg~ncia do Plano Cruzado, as fricç;es foram muito gran - des a esse nível, e essas relaç;es passaram a ganhar gran de destaque. A questão é simples: como as mercadorias ven didas antes de 28 de fevereiro de 1986 para pagamento pos terior (faturada) embutiam uma expectativa de inflação fu tura, e como a inflação prevista deixou de ocorrer, no mo mento do pagamento (90 dias, por exemplo) deveria ser efe tuada uma deflação. A discussão entre vendedores e compra dores era em torno da taxa segundo a qual seria efetuada a deflação, calculo fundamental para a rentabilidade de am bos. 2.2 - CAPITAL CIRCULANTE E CAPITAL FIXO E SUA TRANSFORMA ÇÃO EM CUSTOS Tomemos conjuntamente os custos de força de trabalho (salários) e os custos dos elementos materiais ne cessarias ã produção, ou seja, matérias-primas, combustí ve~s, lubrificantes, maquinas, equipamentos, instalações etc. Façamos agora o "gráfico do custo de produção de uma empresa industrial no tempo". Imaginemos que, em 1987, a empresa se instala; nesse momento, - - . e necessar~o um grande disp~ndio de dinheiro na construção das instalaçÕes (no ca so de prédio prÓprio), na compra de maquinas e equ~pamen tos, alem de ter que dispender recursos na compra de mate- rias-primas (e/ou componentes), e outros elementos mate- r~a~s (combustíveis, lubrificantes, etc.) e força de traba lho. Todavia, a empresa somente ~ra adquirir novas nas e equipamentos daqui a dez anos, em 1997. Vejamos en- tão um possível gráfico do custo total em relação ao tem - po: CUSTO TOTAL 1987 - 26 - GRÁFICO 1 1997 TEMPO Mas~ se PREÇO = CUSTO UNITÁRIO +LUCRO UNI TÁRIO, entao o preço deve ser elevadíssimo em 1986, dado o elevadíssimo custo unitário (custo total/quantidade pro duzida). Observa-se claramente que se trata de um completo absurdo. Evidentemente, todo custo faz parte do preço, no sentido de que ele tem que ser recuperado através do pre ~· Mas somente se pode recuperar o que se perde. As maté rias-primas, por exemplo, são inteiramente perdidas enqua~ to forma material cada vez que se produz, e, portanto, tu do o que se gastou na aquisiçao entra imediatamente no pr~ ço do produto. Esse e o caso de todos os elementos do capi tal que têm que ser repostos a cada período de reprodução, ou seja, a cada período de tempo que vai do início da pro dução ate a geração dos produtos (força de trabalho e lnsu mos industriais, ou seJa, bustíveis, lubrificantes, matérias-primas, componentes,co~ energia elétrica, material de em balagem, etc.). o capital investido nesses elementos e cha mado capital circulante; trata-se do capital necessário p~ ra fazer uma empresa já instalada continuar normalmente sua produção. Observe-se que o capital e apenas investido no início do funcionamento da empresa (para um dado nÍvel - 27 de produção), pols a recuperaçao imediata desse custo atra ves dos preços faz com o capital circulante volte para o capitalista cada vez que a produção e vendida. Façamos uma ilustração para auxiliar o en tendimento do conceito de capital circulante: perÍodo de produção força de tra balho e ln sumos indus- triais produto FIGURA lO lucro custos outros custos custos de for ça de traba - lho e insumos industriais máquinas, equipamentos e instalaçÕes ----------~------~--~~---------------- Já as nao se perdem num Único perÍodo de produção, e sim atraves sam vários períodos de produção, sendo por isso o capital investido nesses elementos denominado capital fixo. O cap~ tal fixo (daqui para frente chamado apenas de máquina, para efeito de simplificação) nao se gasta de uma vez, mas slm gradativamente; dessa forma, sua transformação em custo também se dá aos poucos, gradativamente, - . e e asslm que o capitalista recupera no preço do produto o dispêndio cial. Como o dispêndio efetivo f o i feito de uma -so vez no início, e será refeito após os lO anos, entao o capital fi xo nao se transforma em custo de produção através de dis pêndio efetivo, mas Slm através da criação de uma reserva (ou fundo) de depreciação. Este fundo e gerado no sentido de sustentar a reposiçao da máquina após esgotado o seu pe rÍodo de vida Útil, quando se faz necessário um novo dis- - 28 - péndio efetivo. Como já vimos, a máquina se desgasta paula tinamente, e o perÍodo em que permanece em atividade e de nominado vida Útil. Esta vida Útil, na economia capitalis ta, apresenta duas determinaçÕes: a) de natureza física: trata-se do desgaste material inexorável que a máquina sofre em operação; esse desgaste pode ser previsto com boa margem de segurança,pois os engenheiros, baseados em dados estritamente técnicos,p~ dem prever a vida Útil de uma máquina, obviamente respeit~ das as boas normas de utilização e manutenção. b) de natureza econômica: ainda que em boas condições de operação do ponto de vista material, pode o correr que uma máquina deixe de ser viável.do ponto de v~s ta econômico; em outras palavras,máquinas ma~s avançadas podem torná-la tecnologicamente obsoleta. Esta e uma de- terminação econômica porque está vinculada - . a concorrenc~a intercapitalista, e o tempo de vida útil de uma máquina já não pode ser determinado tecnicamente, trazendo um compo - nente de incerteza. Façamos uma ilustração da forma correta se gundo a qual o capital fixo se transforma em custo de pro dução, supondo que a depreciação é linear, ou seja, supon do um desgaste uniforme do capital fixo ao longo de seus a nos de vida Útil (pela sua facilidade, essa é a forma mais usual do cálculo da depreciação): VALOR DO CAPI TAL FIXO A AMORTIZAR 1987 VIDA ÚTIL - 2 9 - 1997 2007 TEMPO GRÁFICO 2 Façamos agora uma observação importante so bre a questao da depreciação; como nao se trata de um dis p~ndio efetivo, a reserva de depreciação acaba parecendoum artifício contábil, como dá a entender o seguinte trecho: " para efeito de contabilidade de custo anual das empr~ sas, adota-se a suposição de que o capital fixo se desgas- ta paulatinamente ao longo de seu período de vida. A desgaste paulatino dá-se o nome de depreciação" (10) esse E vi- cientemente não se trata de uma "suposição"; o desgaste pa~ latino do capital fixo e um fato técnico e econômico lnexo- rável; ocorre que a manifestação desse fato ao nível contá bil, em virtude de não estar ocorrendo disp~ndio efetivo e de existir grande incerteza quanto ao perÍodo de vida do bem de capital (obsolesc~ncia tecnológica), permite uma grande dose de arbitrariedade. Não - -e por outra razao perÍodo, e consequentemente a taxa de depreciação, que o acaba sendo determinado legalmente. E há sempre interesse dos em presários em que o perÍodo de depreciaçao determinado le galmente seja o menor possível, pois os recursos colocados sob a rubrica depreciação estão isentos do imposto de ren- (10) J. Miglioli, L.G.Belluzzo e S. Silva, op.cit. Cap.lp.lO - 30 - da. Recentemente o governo brasileiro diminuiu de 10 para 5 anos o perÍodo para cálculo da depreciação; dessa forma pretendeu-se estimular a inovação tecnológica na indÚs - tria. Outro fato importante é que, apos sua integral amo~ tização, um bem de capital pode estar em perfeitas condi çÕes de operação, podendo ser vendido, e daí começa um no VD periodo para cálculo de depreciação. Ao invés de uma venda, pode ocorrer a transferência da máquina da matriz para uma subsidiária; isto dá margem a artifícios contá - beis que permitem esconder lucro sob a rubrica de depre - ciaçao, para escapar do imposto de renda. 2.3 - DEPRECIAÇÃO COMO CUSTO, MARGEM DE LUCRO E TAXA DE LUCRO Como custo direto entende-se aquele custo necessário a produção corrente, e representando dispêndios efetivos: custos de materiais (matérias-primas, componen - tes, energla, etc.) e mão-de-obra (trabalhadores diretamen te envolvidos na produção). Já vimos que o capital fixo transforma-se em custo de produção de uma forma particular, na forma de depreciação; este custo nao representa um dis pêndio efetivo, e não é necessário ã manutenção da produ - ção corrente, tratando-se de um custo indireto. A partir do que já vimos, e dado que o Va lor Total da Produção de uma empresa é constituído da soma do Custo Total e do Lucro Total, temos: a) Custo Total a 1 ) Custo Direto Salários Insumos Industriais a 2 ) Custo Indireto Depreciação b) Lucro Total c) Valor Total da Produção (= a + b). - 31 - Vejamos agora alguns conceitos importantes: a) O Lucro Total colocado acima e chamado Lucro LÍquido de Depreciação. Se não for retirada do Valor Total de Pro dução a reserva de depreciação, então o lucro será cha- ma do de Lucro Bruto. b) A participação relativa do Lucro Total no Valor Total da Produção e chamada Margem de Lucro: Lucro Total Margem de Lucro Valor Total da Produção Como o Lucro Unitário e igual a divisão do Lucro Total pela quantidade produzida (Lucro Total/Q), e o preço e igual ao Valor Total da Produção dividido também pela quantidade produzida (Valor Total da Produção/Q, te- mos: Margem de Lucro Lucro Total/Q Valor Total da Produção/Q Lucro Unitário Preço A margem de lucro nos dá, portanto, a parti cipação relativa do lucro no preço do produto, ou, tras palavras, quanto (proporcionalmente) do preço em ou- e cons- tituído de lucro. É claro que a margem de lucro ou lÍquida de depreciação caso seja incluÍdo ou sera bruta -------na o no lu- cro a montante equivalente a reserva de depreciação. c) A relação entre o Lucro Total e o Capital Total investi do, composto de Capital Fixo e Capital Circulante, cons titui a Taxa de Lucro: Taxa de Lucro Lucro Total Capital Total A taxa de lucro desempenha um papel funda - mental na economia capitalista; ela fornece uma informação - 32 - extremamente importante para os empresários~ qual seja, a proporção segundo a qual seu capital se valoriza, ou, o que é a mesma coisa, o período de tempo que o capital 1n1 cialmente investido na produção levará para retornar aos seus proprietários. É importante fixar essa idéia de re torno do capital: imaginemos um capital inicial, na forma de capital-dinheiro, de Cz x milhÕes; este capital e apli cado numa atividade cuja taxa de lucro (constante) e de 10% ao ano; nesse caso, após 10 anos, o empresário terá de volta às suas mãos o montante inicialmente aplicado,ou seja Cz x milhÕes (na forma lÍquida, ou seja, capital-di nheiro). Alem de ter de volta o capital inicial, o empre sário terá ainda a empresa em funcionamento, cujo valor só o mercado dirá. Isto porque valor de uma empresa nao depende apenas do valor do capital empregado, retirando - se o desgaste do capital fixo, dado que a rentabilidade prevista joga um papel crucial na determinação desse va lor; dois empresários podem ter investido rigorosamente o mesmo montante em duas empresas diferentes; se uma delas apresenta uma rentabilidade futura prevista muito maior que a outra, entao terá um valor bem mais elevado; por isto é que, quando ocorre uma cr1se economica, o capital global (de todos os capitalistas em conjunto) se desvalo- riza, dada a queda da rentabilidade prospectiva de os capitais. todos Sobre a importância da taxa de lucro, vale citar o seguinte trecho: " ... (a taxa de lucro) -e ' tanto do ponto de vista do empresário como na análise do desen volvimento capitalista, a questão central, dado que e, p~ ra o empresário, elemento fundamental para as suas deci - soes de investimento, e, para o conjunto da economia, de terminante do crescimento da capacidade produtiva e, con seqllentemente, da acumulação de capital" (11) Entendido o conceito de taxa de lucro e sua importância, façamos a seguinte indagação:a taxa de lu (11) J. Miglioli, L.G.Belluzzo e S. Silva, op.cit. Cap.l, p. 21. . 3 3 - era relevantepara oernpresarlo e a taxa de lucrolíquida ou a taxa de lucro bruta? Ã primeira vista, a resposta parece bastante simples: sendo a parcela do custo representada pela depr~ ciação destinada ã montagem de um fundo, para fazer face às necessidades f~turas de reposição, entao esses recur - sos estão comprometidos, não devendo ser considerados co rno recursos que retornam às mãos dos capitalistas. O capi tal que retorna deve estar livre, disponível para qual- quer tipo de aplicação de interesse de seu proprietário Todavia, na mencionada apostila de Miglioli, Belluzzo e S. Silva, vemos: l'axa de Lucro Lucro bruto total --------------------------------(12) capital fixo + capital circulante Numa apostila preparada pelo Prof. J.C.Hopp, da EAESP/FGV, a partir do livro Managerial Finance, de Wes ton G. Brigharn, lemos também: "os retornos futuros sao de finidos, em todos os caso~ como os recebimentos líquidos antes da depreciação, porem após o imposto de renda que r~ sultam de um projeto. Em outras palavras, retornos saoSl nônimos de fluxo de caixa dos investimentos" (13). A lÓgi ca que preside este procedimento e a seguinte: a nível da administração financeira de urna empresa, a reserva de de preclaçao representa um fluxo de fundos, que não está " a marrado" ã reposiçao futura; quando da necessidade de ln- vestimenta de reposição, os recursos necessarlos poderão sair dos lucros retidos ou dos empréstimos bancários. 2.4 - CUSTOS DIRETOS E INDIRETOS - VISÃO AMPLIADA Já conceituamos os custos diretos e vlmos a depreciação corno custo mdireto. Vamos agora ampliar nossa visualização dos custos indiretos, comentando com mais de talhe alguns deles, de grande significação econômica. Como conceito geral, os custos indiretos não sao necessarlas (12) J. Miglioli, L.G.Belluzzo e S.Silva, op. cit. Cap.l, p. 20. -a (13) J.C.Hoop, "Técnicas de investimento de capital"EAESP/FGV,s/d,p.ll - 3 4 - produçao "strictu sensu", como os custos diretos, mas sim estão ligados à geração de reserva de depreciação, à alta administração da empresa mercadorias (transporte), ("over-heads"), à circulação das e a outras necessidades deriva - das da forma capitalista ássumida pelo processo produtivo (por exemplo, publicidade, seguros, aluguéis e juros). Em termos economlcos, ê importante salien tar o seguinte: dada uma determinada quantidade produzida e o nível de custo direto correspondente a esta quantidade,a empresa obtêm um determinado lucro bruto. O raciocínio que será desenvolvido mais ã frente em termos de concorrência, redução de custo e ampliação das margens de lucro estará, em grande medida, centrado no movimento do custo unitário direto; e sobre este custo que se pode fazer generaliza çÕes importantes. A partir da geração desse lucro bruto, retira-se o montante devido aos custos indiretos, e chega se ao lucro líquido (não s6 lÍquido .de depreciação, mas de todos os custos indiretos). Comentemos separadamente alguns custos indi retos relevantes. Inicialmente, vejamos os dispêndios com pu blicidade. Como será visto mais a frente, a forma da con - correncla capitalista mudou da concorrência em preços (ca pitalismo concorrencial) para a concorrencia em produtos (oligop6lio diferenciado). Este fato fez com que aumentas se intensamente a importância econômica dos gastos em pu blicidade, basicamente nos veículos de eomunicação de mas sa de nossa época (referimo-nos principalmente a televisão). Observa-se portanto que a concorrência inter-capitalista impoe esse custo indireto como necessário para a realiza çao do pr6prio lucro; ou seja, sem esses gastos, que aba tem o lucro lÍquido, esse lucro lÍquido simplesmente seria inviabilizado. No caso dos aluguéis, sua grande importân - Cla na hist6ria do capitalismo sempre esteve ligada ao alu guel pago pelo uso da terra pelo capital agrícola, ou se ja, a conhecida Renda da Terra, estudada pelos economistas clássicos, como por exemplo Adam Smith e David Ricardo. Sua origem esta no fato de que o proprietário de um peda ço de terra e um monopolista (dado que esse pedaço de ter ra e unico, e algo não reprodutível), e cobra por sua utili zaçao um preço de monopÕlio. Para dizer de forma rápida,~ ma terra mais prÕxima do centro consumidor e mals fértil permitira a geração de um lucro maior, e por lsso o seu proprietário cobrara do arrendatário um aluguel (uma ren da) mais alto. Esta claro portanto que o aluguel signifi ca uma subtração do lucro gerado pela atividade produtiva (atividade agrícola, por exemplo) em benefício do proprl~ tario de um recurso necessário e não reprodutível (proprie tário da terra, por exemplo). Verifiquemos agora a natureza de uma varla vel economlca de grande significação: os juros. Na econo mla capitalista, o dinheiro ganha uma utilidade especial; alem de permitir a compra de qualsquer mercadorias (utili dade enquanto meio de circulação), o dinheiro permite a geraçao de mais dinheiro (utilidade enquanto capital) .Ne~ sa economia, todo dinheiro e potencialmente mais dinheiro, no sentido de que todo dinheiro poderá ser introduzido no circuito da circulação do capital. Se alguém tem uma "boa idéia" para obtenção de lucros, através da crlaçao de um dado empreendimento industrial, mas nao tem o dinheiro (ou seJa, o capital) necessarlo, e se outra pessoa qualquer tem o dinheiro e nao se interessa por qualquer empreendi- menta produtivo, entao o ro, viabilizando assim o segundo pode emprestar ao prlme~ surgimento do lucro industrial nada mais natural e justo que o segundo seJa remunerado, que receba um juro pela cessão do valor do uso do dinhei ro. Se lembrarmos do capital usurário, o mesmo era moral mente condenado por ser um parasita; agora, o capital a juros tem outra natureza, uma natureza tipicamente capit~ lista, e nao e mais passível de condenação moral. o moder no sistema de credito tem como função prover os capitali~ tas produtivos de recursos, seja para utilização como ln vestimento (aquisição de bens de capital), seJa para co brir as necessidades correntes (capital de giro). E a re- - 36 - muneraçao dos capitalistas proprietários de dinheiro (ca- pital bancário) se dá através do juro, -que e uma parte do lucro gerado nas atividades produtivas. Fica esclarecido que o aparente mistério da forma capital a juros, onde o dinheiro é valorizado de forma direta, sem intermediários, é novamente desvendado. Na forma de capital - . usurar:to, o juro representa uma tran~ ferência de riqueza pré-existente para as mãos do usurá - r:to; na forma moderna de capital a juros, o juro signifi ca a distribuição, ao capital bancário, de uma parte do lucro bruto gerado nas atividades produtivas: D---- M D <t:------ D + bD 2 ,...; Cll p.. ·~ () ç:: D ·G I p..~ + bD -------- FIGURA 11 bD 1 (lucro industrial) (juros) __ VI Através dos juros, podemos ilustrar ma:ts u ma vez a idéia de que "o s preço s traduz em r e 1 açÕes sociais ;• nesse caso, trata-se das relaçÕes entre capitalistas prod~ tivos, pagadores de juros e banqueiros, recebedores de Ju ros" (14). Nas economias capitalistas onde os capitais ban (14) Trata-se evidentemente, de uma simplificação. Na ver dade, salvo o caso da parcela dos depósitos ã vista (nãore munerados) que os bancos utilizam para oferta de emprésti mos, os banqueiros recebem a diferença entre os Juros que pagam na captação e o que recebem na aplicação; a essa di ferença dá-se o nome de "over-head". Também é necessário frisar que todos os capitais, independentemente de sua fo~ ma básica (agrícola, industrial ou comercial) também podem receber juros; basta que apliquem seus recursos no setor financeiro. - 3 7 - cários e industriais têm proprietários nitidamente separa dos, existe um conflito latente entre os interesses dessas duas formas de capital, que, em determinados momentos, po de transformar-se em conflito aberto. Numa época de crise, quando as taxas de lucro caem, se, por razoes que podem e~ tar ligadas ã política economlca, as taxas de juros sobem, como ocorreu no Brasil na la. metade da década atual, e no 19 semestre deste ano de 1987, abre-se um conflito os interesses de banqueiros e industriais. . - entre ApÕs termos ampliado nossa Vlsao acerca dos custos indiretos, vejamos a composiçio do Valor Total da Produçio de uma empresa qualquer, ou do preço de uma merca doria qualquer, se pensarmos em termos unitários. a) Custo Total a 1 ) Custo Direto Salários Insumos industriais a 2 ) Custo Indireto Depreciaçio Publicidade Aluguéis Juros Ordenados ( "over-heads ") Etc. b) Lucro Total c) Valor Total da Produção (= a + b). 2.5 - CÁLCULO DO RETORNO DO INVESTIMENTO Já Vlmos o método para o cálculo do retorno de um investimento baseado no "número de anos necessários para o retorno do investimento original" (15) Todavia, este método denominado'pay-back' contem importantes limitaçÕes. Vejamos quais. as limitaç;es do meto- (15) J.C.Hoop, op. cit., p. 11. - 3 8 - do, utilizando as argumentaçoes contidas no já mencionado trabalho do Prof. J. C. Koop, da FGV: "Suponha que estao sendo considerados dois projetos por uma firma. Cada um exige um investimento de Cz$ 1.000. Os fluxos lÍquidos de caixa dos investimentos sao mostrados abaixo: Fluxos lÍquidos de calxa (lucros lÍquidos depois do imposto de renda mais depreciação) ANO 1 2 3 4 5 6 A Cz$ 500 400 300 100 B Cz$ 100 200 300 400 500 600 O período de 1 payback' e o numero de anos que leva para uma firma receber o seu investimento origi - nal. O período de 'payback' e 4 anos para o projeto B. e 2 1/3 anos para o projeto A Embora o período de 'payback 1 seja bastante fácil de ser calculado, ele pode nos levar a decisÕes erra das. Conforme e mostrado no exemplo, ele ignora o lucro a pÓs o período de 1 payback'. Se o projeto dará os melhores resultados nos Últimos anos, o uso do período de 'payback' pode nos levar a decidir pelo investimento menos vantajo~o. Os projetos com perÍodos de 'payback 1 mals longos sao ca racteristicamente aqueles que envolvem planejamento a lon go prazo - desenvolvimento de um novo produto ou a entrada em um novo mercado. Estas são exatamente as decisÕes estra tegicas que determinam a posição fundamental da empresa, mas também envolvem investimentos que não darão os seus maiores retornos por um certo número de anos. Isto signifi ca que o método de 'payback' pode ser parcial com relação ao investimento que e o mais importante para o sucesso da firma a longo prazo. Uma outra limitação do uso de meto do de - 3 9 - 'payback' para classificar as propostas de investimento e a de nào considerar o fator juros. Para exemplificar, va- mos considerar dois ativos, X e Y, cada um custando Cz$ 300,00 com os seguintes fluxos de caixa: ANO 1 2 3 X 200 100 100 y 100 200 100 Cada projeto tem um' payback' de dois anos; portanto, ambos parecem ser vantajosos. Entretanto, nos sa bemos que um cruzado hoje vale ma~s que um cruzado no ximo ano, e ass~m o projeto X, com um fluxo de caixa rápido e certamente mais vantajoso" (16) -pro- ma~s Observe-se que o autor refere-se ao fato de que "um cruzado hoje vale ma~s que um cruzado no próximo a no" tendo em conta apenas o fator juros, sem considerar a questão da evolução do nível geral de preços, ou seJa, da inflação. Trata-se, simplesmente, do seguinte: . -como Ja v~- mos, todo dinheiro, na economia capitalista, e potencial - mente mais dinheiro, e essa transformação de D em D + ~D e feita no tempo, obviamente. A cessão do valor de uso do di nheiro enquanto capital tem como contrapartida o recebimen to de juros. Por isso, todo dinheiro e potencialmente rec~ bedor de juros ao longo do tempo. Se, para usar o exemplo hipotético do autor, eu tiver que escolher entre o projeto X ou o Y, devo considerar que os Cz$ 200,00 recebidos atr~ ves do projeto X no ano 1 poderão ser aplicados ã taxa de juros de mercado (i) ' transformando-se em 200 (1 + i) no a no 2 . No caso do projeto X, o montante a ser aplicado ser a Cz$ 100,00, que se transforma em 100 (1 + i) no ano 2.0ra, 200 (1 + i) + 100 -e ma~or do que 100 (1 + i) + 200, e' POE_ tanto, o projeto X e mais vantajoso. Esta mesma conclusão pode ser obtida calculando-se o Valor Atual dos Fluxos de Rendimentos dos projetos X e Y ã taxa de juros de mercado (16) J. C. Hopp, op.cit., p. 12-13 40 - (i); sabemos que no projeto X o fluxo futuro de rendimen tos (R) e: Rl 200 (rendimento ao final do 19 ano) R2 100 (rendimento ao final do 29 ano) R3 100 (rendimento ao final do 39 ano) Se a taxa de Juros anual e (i) ' -en ta o os 200 que serao obtidos ao final do 19 ano valem hoje ( conceito de ValoY Atual ou Valor Presente) 200/(l+i). Isto porque 200/(l+i)apli cados à taxa 1. transformar-se-ão em 200 em um ano. Os 100 que obtidos ao final do 29 ano valem hoje 100/(l + i) 2 , essa quantia, que podemos chamar de Z, se aplic<'!da ã -ser ao pois taxa de juros anual transformar-se-á em Z (1 +i) (1 +i), ou seja, Z(l + i) 2 , que e igual a 100. Segundo o mesmo raciocínio os 100 que serao obtidos ao final do 39 ano valem hoje 100 /(1 + i) 3 . Portanto, o Valor Atual do Fluxo de Rendimentos esperados para o caso do projeto X (VAX) e: 200 100 100 (1 + i) + + Ja o mesmo Valor Atual para o caso do proj~ 100 200 100 + + (1 + i) (1 + i) 2 (1 + i) 3 Como VAX > VAY, o projeto X revela-se ma1.s vantajoso. Em virtude dos defeitos apontados para o me todo 'payback', foram desenvolvidas as técnicas de fluxo de caixa descontado. O primeiro método que veremos e o cha mado Método do Valor Presente LÍquido, ou simplesmente Me todo do Valor Presente. Por este método, determina-se o Va lor presente dos fluxos lÍquidos de caixa previstos de um investimento, descontado ao custo do capital (taxa de Ju ros de mercado i) e subtrai-se o custo de investimento do - 41 projeto: Rl R2 R n VPL ----- + i)2 + + (l + i) (1 + (l + i)n n R I t c - t=l (l + i)t R fluxo lÍquido de calxa no ano t t i custo de capital (taxa de JUros de me r cado) c custo de investimento do projeto n vida prevista do projeto Se o VPL for negativo, isto significa que o Valor Presente do Fluxo de Rendimentos Previstos e inferi- or ao Custo de Investimento do Projeto. Evidentemente, tra tando-se de um projeto com rentabilidade prevista menor que a taxa de juros de mercado, o mesmo deverá ser rejeitado sumariamente. Tratando-se de projetos alternativos com VPL positivos, deverá ser escolhido, e claro, aquele com VPL mais elevado. Se considerarmos, na fórmula do VPL, que es te e igual a zero (VPL = O), e que a taxa de desconto e (r), te mos: o R n t 2: t=l t (l +r) R n t C = I t + r) t=l (l - c Esta fÓrmula dá orlgem ao chamado Método da Taxa de Retorno Interno. Esta taxa (r) e definida como a taxa d e d e s c o n-t o q u e i g u a 1 a o v a 1 o r a t u a 1 d o s r e t o r no s p r~ vistos ao custo do investimento. Evidentemente, quant0 c - 42 - maior (r) ma1s interessante ~ o projeto, po1s sLgnLrLca u ma maior relação entre os retornos previstos e o custo do investimento, ou seja, maior taxa de lucro prevista. Uma coisa importante a considerar ~ que se a taxa interna de retorno (r) for menor que a taxa de juros de mercado (j) tem-se o mesmo caso visto anteriormente quando VPL < O, ou seja: n t=l (1 + i) t R n t 2: t=l t (1 + r) valor atual do fluxo de rendi mentos futuros descontado a taxa de juros de mercado(VA.) 1 valor atual do fluxo de rendi mentos futuros descontado -a taxa interna de retorno (VA ) , r sendo VA = C. r Se r < i, formula VPL, teremos: entao VA. < VA , ou VA. < C. 1 r 1 Na VPL = VA. - C~ VPL < O. 1 Da mesma forma que quando VPL < O, se r < i o projeto deve ser rejeitado. Observamos através das técnicas de fluxo de caixa descontado um papel econômico essencial da taxa de juros. Esta taxa, dada a natureza do mercado financeiro (o ferta e demanda de crédito), é conhecida por todos. Além de ser conhecida, trata-se de uma rentabilidade que qual- quer capital-dinheiro pode conseguir. Assim sendo, a taxa de juros corrente passa a se constituir num patamar m1n1mO ra a remuneração de todos os capitais. Em outras palavras, nenhum capitalista investe em qualquer atividade produtiva se nao tiver expectativa de conseguir uma rentabilidade su perior a taxa de juros corrente. Outra consideração - . necessar1a -e a seguinte: salientamos anteriormente a importância da taxa de lucro para a açao empresarial, e para a teoria econômica, e ilus - 43 tramas apenas com o método do 'payback'. Tendo visto outros métodos, a importância da taxa de lucrose mantem, pols o e -lemento fundamental e sempre a relação entre os retornos pr.::_ vistos e o total do capital investido. Finalizando, lembramos o seguinte: -e muito simples . - . o racloclnlo sobre a decisão de investimento (a paE_ tir de projetos alternativos) dado o fluxo lÍquido de caixa previsto. A questão economlca essencial no caso e a seguln- te: como prever os retornos futuros? Esta previsão -e feita necessariamente sob incerteza, e isto fornece uma grande in~ tabilidade ao investimento privado e conseqUentemente ã ec~ nomia capitalista. O aprofundamento dessa questão caracteri zou a grande contribuição de Keynes ao pensamento economlco. - 44 - CAPÍTULO 3 - PREÇO E PADRÃO DE CONCORRÊNCIA 3.1 - CAPACIDADE PRODUTIVA E CUSTOS Para a determinação do preço, existe um ele mento básico que deve ser conhecido pelo empresário,o qual estabelece um limite mínimo para esse preço: o custo unitá rio de produção, ou custo médio. A consideração de que o ~ . custo unitário de produção estabelece um limite m~n~mo pa- ra o preço baseia-se no fato bastante evidente de que, se preço < custo unitário de produção, entao a empresa ope- ra com prejuízo. Todavia, é bom lembrar que, como já vimos, a taxa de juro corrente estabelece um p~so para a remunera çao de todas as formas de capital; não basta ao empresar~o ter algum lucro; é necessário obter uma taxa de lucro que supere a taxa de Juro, pois, caso contrário, seria ma~s vantajoso aplic&r o capital a juros ao invés de aplica--lo produtivamente. Alem disso, existe um outro elementode com paraçao para todos os capitalistas produtivos (não exclusi vamente financeiros), qual seja, a taxa media de lucro da econom~a. Essa taxa, enquanto magnitude, nao está disponí vel para o conhecimento dos empresários como a taxa de ju ro; trata-se, porem, de algo que está sempre presente como preocupaçao. Podemos ilustrar a questão da seguinte manei ra: imaginemos que uma empresa industrial qualquer ofereça uma taxa de lucro (superior à taxa de juro) de 10% a.a.(em termos reais), enquanto a taxa media de lucro da economia é de 20% a.a.; deverá o proprietário da empresa sentir-se satisfeito? A conclusão desses comentários é que o limite mÍnimo do preço não é algo tão simples como colocamos aci ma; todavia, é evidente a necessidade de que o custo unit~ r~o de produção seja conhecido, para que o preço possa ser determinado de forma a se obter algum lucro (são até co- muns os casos de empresas industriais de pequeno e médio porte no Brasil que, em virtude de grande ineficiência or ganizacional, desconhecem os reais custos de seus produtos, - 45 e estabelecem preços que podem nao alcançar os prÓprios cus tos) . Esclarecida a importância do conhecimento do custo unitário de produção, vamos agora conhecer seu compo~ tamento; para isto - - . e necessarlo fixar o conceito de capaci- dade produtiva: "A capacidade produtiva de uma empresa e de terminada pelo montante de instrumentos de produção de que ela dispÕe. Mas a capacidade produtiva se mede pela quanti- dade de bens ou servlços que pode ser gerada num dado ~ perl~ do de tempo - digamos, num dia normal de trabalho. Acontece, porem, que o dia normal de trabalho pode ter diferentes di mensÕes de tempo, de acordo com as caracteristicas t~cnicas das empresas. Para muitos ramos de atividade, o dia normal ' de trabalho corresponde a - . um unlCO turno de oito horas du- rante cinco ou sels dias da semana; para outros, equivale a dois turnos de oito horas, e ainda, para outros ramos, cor- responde a três turnos de oito horas durante todos os dias da semana, como acontece, por exemplo, nas siderúrgicas, on de os altos fornos têm que funcionar ininterruptamente. As sim sendo, para medir a capacidade produtiva de uma empresa devemos tamb~m levar em conta suas características t~cnicas; não podemos dizer, por exemplo, que duas empresas têm ames ma capacidade produtiva simplesmente porque dispÕem de um mesmo volume de capital fixo" (17) "A capacidade" de uma indústria ~ nele defi nida (num estudo do Brookings Institution de 1934) como a produção que esta poderia apresentar durante um dia de tra balho, com o número de turnos usualmente requerido na indús tria, e com um padrão adequado de manutenção (isto - e ' consl derando as paralisaçÕes necessarlas para reparos, etc.)'~lS) (17) J. Kiglioli, S.Silva, L.G.M.Belluzzo: O funcionamento da economia capitalista. Cap. 5: Preço e Lucro,UNICAMP, mimeo, p. 20-1. (18) Jós~ph Steindl: Maturidade e Estagnação no Capitalismo Americano - Os Economistas - Abril Cultural, 1983, p. 16. - 46 - Dada a capacidade produtiva de uma empresa, quando se utiliza menos que essa capacidade, ocorre a cap~ cidade ociosa, cuja significação econômica será esclareci da mais à frente. Verifiquemos agora o comportamento do custo unitário de produção quando a produção varia; em outras p~ lavras, o que acontece com o custo unitário quando varia o grau de utilização da capacidade de uma dada empresa (esta capacidade ~ considerada um dado). Chegaremos então a esta belecer a curva do custo em função dos diferentes niveisde produção de uma planta dada; para tanto, ~ necessário divi dir o Custo Total em dois componentes: o Custo Fixo Custo Variável: e o Custo Fixo: É aquele que nao se altera com o volume de produção (exemplo: aluguel, empregados admi nistrativos). Custo Variável: É aquele que varla de modo diretamente proporcional ao volume de produção (exemplo: mat~rias-primas, energia el~trica, força de trabalho empregada diretamente na produção). Essa divisão comporta algumas "regiÕes de sombra", ou seJa, existem alguns custos que não ficam de forma inequívoca do lado dos custos fixos ou dos . - . varlavels; um bom exemplo é o dos supervisores, pois haverá um numero mínimo de supervisores, independentemente da quantidade pr~ duzida (esse número mínimo pode ser 1), e uma variaçao a partir daÍ, dependendo da produção. Para essas casos, foi criado o conceito de custos semi-variáveis. Vejamos, a título de ilustração, como foram divididos os custos para o caso de uma fábrica de celulose, num trabalho prático efetuado pelos Professores L.E.G.Bar richelo, C.E.B.Foelkel e R.Berger, da ESALQ-USP: 1. Cus tos Fixos 1.1. Mão-de-Obra indireta 1. 2. Seguro 1. 3. Manutenção 1. 4. Honorários de diretoria - 4 7 - 1.5. Juros sobre financiamento a longo prazo 1.6. Despesas administrativas 1.7. Depreciação do investimento fixo. 2. Custos Variáveis 2.1. Matéria-prima 2.2. Materiais secundários 2.3. Energia elétrica 2.4. Lubrificantes 2.5. Material de embalagens 2.6. Mão-de-obra direta 2. 7. 2. 8. 2 . 9 . Combustíveis Serviços bancários Juros sobre o capital circulante. Podemos verificar que, a exceçao dos servl ços bancários edos juros sobre o capital circulante, o Cus to Variável coincide com o Custo Direto, e que o Custo Fi- XO e sempre Custo Indireto. Coloquemos agora de forma gráfica a varla çao dos Custos Fixos e Variáveis de acordo com a quantida de produzida. Iniciemos com os Custos Fixos. O gráfico do Custo Fixo Total e, obviamente, o seguinte: CFT Quantidade (Q) GRÁFICO 3 - 48 - O Custo Fixo Unitário, ou seja, Custo Fixo Total Quantidade Produzida terá o seguinte gráfico, pois trata-se de uma função do ti po: a y = X CFU Q GRÁFICO 4 Em termos economicos, temos que o Custo Fi xo Total vaL sendo rateado por uma quantidade crescente de produtos, daí o sentido decrescente da curva do Custo Fixo Unitário; sua forma hiperb6lica significa q~e, quando apr~ dução aproxima-se de zero, o Custo Fixo Unitário assume um valor extremamente elevado; aumentos na quantidade produzi da irão gerar reduçÕes proporcionalmente elevadas no CFU; todavia, quando a produção ja estiver num nível elevado,a~ mentos subseqUentes irão gerarreduçÕes cada vez menores (em termos proporcionais) no CFU. Para o caso do Custo Variável, sua varLaçao em relação ao volume de produção foi motivo de estudos em pÍricos que conformaram a hip6tese de Michal Kalecky de - 49 que a sua varlaçao ê linear: "Foram realizados lnumeros es tudos sobre custos, com base em dados sobre custos de em presas ind~viduais durante vários anos, indicando a rela ção entre custo e produção. O resultado desses estudos, de maneira geral, mostra que em todos os níveis de produção v~ rificados nas firmas estudadas o custo total e uma função linear da produção. (19) Em uma apostila elaborada pelo Prof. J. C. Hopp, da EAESP/FGV, lemos: " não há, praticamente, qual quer dÚvida a respeito da hipÓtese de que os custos variá veis mudam de uma quantidade constante por unidade produzi da" (20) Graficamente temos: para o Custo Variável Total (CVT) CVT Q GRÁFICO 5 (19) J. Steindl, op. cit., p. 18-9. (20) "Conceitos da análise do ponto de equilíbrio - conta dores versus economistas"- EAESP/FGV,mimeo,s/d,p.2. 50- É Óbvio que a Curva do Custo Variável Unitá r1o (CVU) -sera: Q GRÁFICO 6 sendo~ igual ã inclinação da reta do CVT (a.= tga). Podemos agora chegar às curvas do Custo To- tal e do Custo Unitário Total. Para desenhar a curva do Custo Total, e necessário somar as curvas do Custo Fixo Fi nal e do Custo Variável Total (Custo Total = Custo Fixo To tal + Custo Variável Total): - 51 - CFT Q CVT Q CT - - - - -- --- -- ----- ----- Q GRÁFICO 7 Da mesma forma. a curva do Custo Unitário Tota~ (CUT) e obtida a partir da soma das curvas do Custo Fixo Unitário e do Custo Variável Unitário (CUT = CFU + + CVU) . - 52 - CFU Q cvu Q CUT Q GRÁFICO 8 - 5 3 Observamos que a curva do CUT e assintótica a um eixo horizontal representado pelo Custo Variável Uni tário. Podemos esclarecer, a partir da curva desenhada, o papel dos custos fixos e variáveis na determinação do cus to unitário. Quando a quantidade produzida é muito pequena, o Custo Fixo Unitário é muito elevado, e possui papel pre ponderante na determinação do Custo Unitário Total. À medi da que aumenta a quantidade produzida, o Custo Fixo Unitá rio vai se reduzindo, e o peso relativo do Custo Variável Unitário vai aumentando na determinação do CUT.A partir de uma dada produção, o CFU tende a se estabilizar numa magni tude pequena, e o CUT passa a se constituir fundamentalmen te de Custo Variável. Verifiquemos melhor, todavia, a forma dacur va do Custo Unitário Total. Em primeiro lugar, a extremida de esquerda da curva é desenhada de_forma assintótica ao eixo, posto que, to Fixo Unitário com uma quantidade próxima de zero, o Cus e imenso (trata-se, na verdade, de algo i nimaginável - imaginemos o Custo Fixo Unitário de uma side rúrgica produzindo 1 tonelada de aço ao ano). Quanto à ex tremidade direta da curva, e preciso adicionar o seguinte: o Custo Unitário Total vai caindo (rapidamente no começo e depois de forma cada vez mais lenta) ate que se chega ao ponto em que a empresa utiliza plenamente sua capacidade instalada. Em princípio, a produção não poderia continuar aumentando. "Acontece, entretanto, que a capacidade produ tiva de uma empresa nao e uma magnitude assim tão rígida Embora o existente equipamento de capital imponha determi nados limites ao volume máximo de produção, e sempre possi vel esticar um pouco esses limites (diz-se, nestes casos que as empresas estão operando com superutilização de sua capacidade produtiva). Mas ê provável também que, ultrapa~ sado o que poderíamos chamar de limite 'normal' da capaci dade produtiva, os custos unitários da produção comecem a crescer (portanto, a curva torna-se ascendente). Isto se ria assim porque, por exemplo, com a superutilização do e quipamento, aumentam os gastos de manutenção, e, tendo de - 54 - trabalhar horas extras, os empregados recebem adicionais de salário superiores a seus· salários normais" (21) Chegamos entao, finalmente, à conhecida cur va em U do Custo Unitário Total. CUT Q GRÁFICO 9 Finalizamos esse texto com a seguinte obser vaçao de Kalecki: "Consideremos urna firma com um dado capi tal fixo. SupÕe-se que a oferta seja elástica, isto e, que a firma opere com capacidade ociosa e que os custos diretos (custos de materiais e salários - os ordenados se incluem nos custos indiretos) por unidade produzida sejam estáveis para a amplitude relevante da produç~o''. (Em nota de rodap~ o -autor afirma: "na verdade, os custos diretos unitários ca em um pouco, em muitos casos, à medida em que a produç~o au menta. Fizemos abstraç~o dessa complicaç~o, que nao e de grande impor t â n c i a no caso ") ( 2 2") ( 21) J. M iglioli p. 28. S. Silva e L. G. Belluzzo, op. cit. Cap.S, (22) M. Kalecki - Teoria da Dinâmica Econômica. Os Pensado- res, Abril Cultural, 1976, p. 62. - 55 - Essa observação sera importante no estudo da determinação do preço em Kalecki, para quem a divisão fundamental dos custos e entre custos diretos e indiretos. A importância reside no fato de que, como Ja vlmos, com o crescimento da produção para uma dada planta industrial, o custo unitário passa a ser quase somente composto de custo variável unitário; como já Vlmos, . - . esse racloclnlo pode ta~ bem ser aplicado para o caso dos custos diretos e indire - tos • Adicionando o conceito de "ramo relevante da produção',' ou seja, aquele que, por razÕes históricas, entra como po2 sibilidade no cálculo capitalista, teremos o seguinte grá fico: CUSTO UNITÁRIO DIRETO ramo relevante da produção GRÁFICO lO Q 3.2 - O CUSTO UNITÁRIO AO LONGO DO TEMPO Já Vlmos que o custo unitário pode ser visto como-o limite inferior do preço. -L -- . Quanto à tendencla do cus- to unitário direto ao longo do tempo, vale reproduzir o tre cho abaixo: "Para ampliar suas vendas (e conseqUentemen- - 56 - te seus lucros) uma empresa prec~sa conquistar uma parcela do mercado suprido por outras empresas. Esta competiçãopor mercado ê, na realidade, a competiçao pelos lucros, em que o aumento dos lucros de umas empresas pode significar a di minuição dos lucros das outras empresas. E nesta competi - çao por mercados a redução de custo constitui uma arma de extrema importância , visto possibilitar um rebaixamento de preços e, assim, uma elevação do volume de vendas e de lu- cro. Evidentemente, todas as empresas (falandoem geral) procuram reduzir seus custos, de um modo ou de ou tro, porque isto permite-lhes aumentar seus lucros. Se,por hipótese, o preço de seus produtos não se altera, entao u ma diminuição de custos implica automaticamente um acrêsci mo de lucros. Se, por outro lado, uma redução de custos pe~ mite uma baixa de preços e daí uma ampliação do volume de vendas, os lucros também devem crescer. Assim, e uma carac terística das empresas que elas procurem diminuir seus cus tos, como uma forma de ampliar seus lucros. A redução do s cus to s faz parte da pró p r ia l ó gica de funcionamento do sistema capitalista, visto ser um dos mecanismos utilizados pelas empresas para ampliar seus lucros. Sendo a redução de custos um elemento funda mental na lÓgica de funcionamento das economias capitalis tas, e de esperar-se que tal redução venha efetivamente o correndo ao longo da história destas economias. E isto o corre de fato. A competição dos capitalistas entre si pela apropriação de ma~ores parcelas do lucro total e a competi ção entre capitalistas e trabalhadores na divisão da renda total em lucros e salários constituem os principais gerad~ res do progresso técnico no processo de produção, progres so este que, por sua vez, se traduz na constante diminui - ção dos custos ao longo da em horas de trabalho do tempo. Assim, - . necessar~as para a produção efetuá-la) em todos os setoresda economia, realizada a custos (medi- e hoje, mais baixos do que em qualquer outro momento da história"(23) (23) J.Miglioli, S.Silva e L.G.M.Belluzzo- op.cit. Cap.S p. 7 - 8 - 57 - Como podemos observar ao final da citação a c~ma, o custo que inequivocamente se reduz por efeito da concorrencia é o custo unitário direto. nhar o seguinte gráfico: CUSTO UNITÁRIO DIRETO GRÁFICO 11 -Podemos entao dese Tempo Vejamos a segu~r o mecan~smo crucial da con correnc~a intercapitalista, determinante do fenômeno da re dução dos custos diretos; nessa primeira aprox~maçao -a con correncia entre os capitais, iremos nos referir à forma de concorrenc~a típica da fase conhecida como capitalismo con correncial. 3.3. CONCORRfNCIA INTERCAPITALISTA: UMA PRIMEIRA APROXIMA ÇÃO Procuramos neste Ítem esclarecer o caráter, a natureza da concorrenc~a intercapitalista. Para nosso ra ciocínio, e importante supor o seguinte: estamos no século XIX, época conhecida como fase do capitalismo concorren - cial; nesse caso, o numero de empresas concorrentesno mer cado é grande, o tamanho das empresas é reduzido (pequena escala de produção), o produto apresenta reduzido grau de - 58 - diferenciação, e os agentes economicos (empresas e consumi dores) possuem informaçÕes sobre a situação do mercado,fu~ damentalmente sobre os preços cobrados pelos diferentes pr~ dutores. Pois bem, dados os pressupostos ac~ma, pod~ mos ~mag~nar a seguinte situação da indÚstria (conjunto de firmas que concorrem entre si) no perÍodo t todas as em- o presas trabalham com a mesma técnica de produção, possuin- do a mesma estrutura de custos (obviamente estamos nos refe rindo aos custos diretos); também todas cobram o mesmo pr~ ço, e têm, em conseqUência, o mesmo lucro unitário. Ilus tremes essa situaçao: o ·r-< )-I \{1j .w ·H >:: l H ~--------i o (.)'\ o Q) ..... )-I )-I p., \ {1j .w ·r-< >:: ;:J o .w ' (fJ :::l u 2 i - - - - - --'-------l FIGURA 12 Passemos agora para o momento t 1 ; ocorre a seguinte mudança: o capitalista l introduziu progresso tec nologico- ao nível nhecido - . empresar~o do processo produtivo: trata-se do inovador de Schumpeter. Essa nova co téc- n~ca, digamos, uma nova máquina, ma~s eficiente, permite,a um só tempo, aumento de produtividade do trabalho e redu- ção do custo unitário (é importante ter em conta que a ~n trodução de progresso técnico, ao nível de processo, reduz inequivocamente o custo unitário direto - materiais e mao- - 59 - de-obra; nada se pode afirmar sobre os custos indiretos) Para dar conta de vender sua produção incrementada, o em - - . presarlo 1 reduz seu preço, forma tÍpica de concorrencla na fase capitalista concorrencial. Dessa maneira, puxa p~ ra si compradores de seus concorrentes, supondo, como -e plausível, dados os pressupostos com os quais trabalhamos, que sua produção cresça mais rápido que o dústria. mercado da ln- Quanto aos concorrentes, têm eles duas al- ternativas imediatas, ambas rulns: vender ao preço ante rior e perder compradores, ou reduzir o preço e perder o lucro; se entrarem em uma competição em preços,na situação em que se encontram, poderão chegar rapidamente na faixa de prejuízo. Ilustremos o momento t 1 : 2 i 1 o o{ f;K :....·,..{ C,) :.... o ;:l\Cil ,..... ,...:i.W cr oj (}) "ü (}) :.... o cr l~~ o.. (}) :.... u "l o.. rJJ 1-< ;:l\Cil U·r-{ u.w ' § ~ ·,..{ ~ ;:l ----- FIGURA 13 Notamos pela ilustração que o capitalista 1 pode reduzir o seu preço e ainda aumentar sua margem de lucro; basta para tanto que o custo unitário diminuía mals rapidamente que o preço. Observemos que a açao do empresarlo 1 está tendo efeitos importantes no mer~ado e, enquanto ele ti- ver o monopÕlio da nova técnica, abocanhará um lucro ex- traordinário, que deixará de existir quando a nova técni- ca for amplamente difundida, o que explica seu interesse em manter esse monopôlio. Qual a saÍda para os concorreu tes? -60 Introduzir a nova técnica, de forma a per manecer no mercado; fatalmente, aquele que nao fizer lsso será expulso do mercado; chegará um dia em que tera que fechar por absoluta falta de competitividade. Ent~o, chegaremos a um momento t 2 , onde tu do se equilibra, com nova técnica difundida, menos empre sas no mercado, menores custos e preços mals baixos. Essa nova situaçao permanece por algum tempo (noç~o de equilí brio) ate que seJa superada novamente por alguma outra i- novaç~o? A resposta e nao, . . -pols a concorrencla e um pro cesso dinâmico; ao invés de se chegar a um novo equilíbri o, o que se tem é um permanente desequilíbrio. Vejamos: o empresário 2 pode, ao invés de procurar alcançar o l, pr~ curar supera-lo, reduzindo ainda mals seu custo unitário; já o empresário 1, por ter saído na frente, possui vanta gens em relaç~o aos demais; acumulou recursos a título de lucros extraordinários durante algum tempo, e tem conheci mento mais desenvolvido da técnica mals avançada. Pcrtan to, pode ir ã frente, antes que se difunda a técnica ante rior. É bom salientar - . -que essa vantagem e lnequlvoca ape- nas no caso em exame, em que as escalas de produção sao pequenas, e s~o reduzidas as massas de capital investidas em capital fixo, tanto em termos absolutos quanto em rela çao ao capital total. Isso permite maior facilidade na mu dança técnica quando alguma inovaç~o importante nos pro cessos aparece em cena. Caso contrario, se o montante in- vestido em capital fixo for muito vultoso, o - . empresarlo que introduz a inovação fica "preso" ã técnica lncorpora da, pois a lncorporaçao de nova tecnologia, logo após, lm plicaria em desvalorizaç~o de um montante bastante grande de capital. Vale a pena menclonar que, no caso do cap~ talismo concorrencial que estamos examinando, os proces sos de incorporação e difus~o do progresso técnico, com incremento da produtividade social do trabalho,levam a um movimento contínuo de redução do preço. Existe, portanto, um paralelismo entre os movimentos de elevação da produti vidade e redução no preço, o que permite que os benefí - - 6 1 - cios do aumento da produtividade sejam difundidos pela e conom~a (não seJam "represados" pelas empresas). Depois de um certo tempo, relativamente lon go, de acordo com o que estamos mostrando, podem ter saído var~as empresas do mercado, e as que ficaram têm uma esca la de produção bastante grande. A concorrência intercapit~ lista levou, -portanto, a conc~ntraçao de capitais. 'Fixemo-nos agora em um aspecto essencial da concorrenc~a intercapitalista: sua beligerância. O famoso economista polonês Michel Kalecki afirmou com brilhantismo: !tos capitalistas fazem muitas co~sas como classe, mas, se guramente, nao investem como classeft. O que ~sso quer di zer? Quer dizer que, em vários casos, como por exemplo na luta contra a pressão dos sindicatos, contra algumas polí ticas do Estado, os empresários agem enquanto classe, po rem, na hora de investir, o fazem enquanto concorrentes. No nosso exemplo hipotético, imaginemos que o capitalista 3, que nao aguentou a luta da concorrenc~a e fechou sua fábrica, fosse entrevistado; que e que ele di- ria? Provavelmente lançaria, ao longo do discurso, alguns impropérios contra o capitalista 1, que encetou a guerra de preços que fulminou. Diria que a intenção do concorren te era essa mesmo: tomar seus mercados, obrigá-lo a fechar. Ao longo do processo de concorrência, poderiam ate se en contrar em uma reun~ao do sindicato patronal e trata-se cor dialmente; todavia, na verdade, viam-se mutuamente como ad - . versar~os. 3.4. PREÇO, CUSTO E DEMANDA Se colocarmos os preços como seguidores dos custos, caracterÍstica do capitalismo concorrencial, como j á menciona mo s , e n ta o , "se o s preço s v a o se a 1 te r ando a o longo do tempo,o mesmo acontece com os preços onde custos se incluem" (24) estes (24) J. Miglioli, S.Silva e L.G.M.Belluzzo- op.cit. Cap.S. p. 8. Preço e custo u nitário direto Todavia, I - 6 2 - t o GRÁFICO 12 Preço Custo unitário direto Tempo -quando se trata da questao da fixa çao do preço por parte do empresário, trabalha-se num de- terminado momento do tempo (t ) · assim sendo, o custo unl o ' tário constitui-se numa grandeza dada: "no momento em que o preço é fixado, os custos têm uma grandeza específica e podem, assim, neste momento, ser considerados como constan tes; os capitalistas devem estar cientes dos custos de pr~ dução neste mesmo momento" (25) Ora, se preço custo unitário + lucro unl- târio, e o custo de produção e um dado, entao "o problema da determinação do preço é fundamentalmente um problema de determinação do lucro" (26) (25) J. Miglioli, S. Silva e L.G.M. Belluzzo- op.cit. Cap. 5. p. 9. (26) J.Miglioli,S.Silva e L.G.M.Belluzzo-op.cit.Cap.5,p.9. - 6 3 - Preço ----->• Limite superior do preço Preço) custo uni târio lucro custo unitãri~~-- ~ Limite mlnlmo do preço Preço< custo unitário . ~ preJUlZO FIGURA 14 Sabendo que, quanto malor a distância entre preço e custo, malor o lucro, o que explica o fato do pre- ço ser x e nao um outro qualquer superior a x? Em outras palavras, o que determina o limite superlor ao preço? Este limite e dado pelo mercado, ou seja, a concorrência inter capitalista (que, como veremos, pode ser encarada tanto em termos efetivos quanto em termos potenciais) impoe que o preço não deva ser superlor a x. O que estudaremos a se guir e justamente a questão do mercado como determinante da formação dos preços. Tentaremos esclarecer a seguinte que~ tao: como a concorrencia intercapitalista manifesta-se na demanda pelos produtos de uma dada empresa? Inicialmente, vejamos o que vem a ser a cur va de demanda de um produto: trata-se de uma representaçao gráfica da relação entre preço (p) e quantidade demandada (ou procurada) (q) de um produto. Esta relação e lnversa,o que pode ser explicado rapidamente pelo fato de que o au mento do preço de uma mercadoria qualquer, "ceteris parl - bus" (tudo o mais constante), diminui a renda real dos consumidores, ou seja, seu poder de compra, e induz -a subs - 64 - tituiçao dessa mercadoria por uma outra, refletindo-se es ses movimentos numa queda na demanda. Temos então a segui~ te curva de demanda: D D q GRÃFICO 13 3.5. CONCORRENCIA E ~LASTICIDADE - PREÇ~ DA DEMANDA Imaginemos as curvas de d~manda abaixo, pa ra os produtos A e B: p Produto A I -t--- I I I I Produto B p q q GRÃFICO 14 - 65 - Imaginemos que, num momento t , o os preços de A e B sejam iguais a p ; imaginemos em seguida que os o preços tanto de A quanto de B subam numa mesma proporção, passando de p 0 para p 1 . Observamos que, no caso do produ to A, cuja curva de demanda possui baixa inclinação, o au menta do preço teve um efeito bastante grande na procura; a redução na demanda foi bastante pronunciada. Já no caso do,produto B, cuja curva de demanda possui forte inclína çao, o efeito do aumento do preço sobre a procura foi ba~ tante pequeno. Verifica-se, portanto, uma maior sensibili dade da demanda de A em relação ã variação no preço; esta sensibilidade da demanda ãs variaçoes no preço e denomin~ da elasticidade-preço da demanda, e e medida pelo coefi - ciente de elasticidade-preço da demanda (e): e = e = variaçao relativa da demanda variaçao relativa do preço ~ Q/Q 6 p/p Como as variaçoes no preço e na quantidade sao inversas, convencionou-se que o coeficiente de elasti cidade-renda da procura deve ser considerado em termos de modulo: e =I 6 Q/Q 6 p/p Vejamos agora as características de mercado que levam as diferentes magnitudes de e· No caso do produto A, a elevada elasticida de-preço da demanda reflete o fato de que a empresa produ tora de A encontra-se num mercado bastante competitivo,com um grande número de empresas de tamanho bastante homogêneo, com pequena diferenciação de produtos, ou seja, alto de substituibilidade. grau Vale a pena aprofundar a questao da diferen ciaçao de produtos. Vejamos algumas citaçÕes interessantes: - 6 6 - " nao existem mercadorias exatamente 1.- guais produzidas por firmas diferentes. Embora qualitativa mente estas mercadorias possam ser bastante parecidas ou mesmo iguais (este e o caso principalmente de muitos gêne ros alimentícios) existem características externas que as diferenciam. Estas características podem ser as mais dive~ sas: simples aparencia (em termos de formato, cor, etc.) embalagem, a marca da empresa produtora, qualidades fictí cias atribuÍdas pelos compradores sob a influência da pro paganda, e muitas outras" (27) "(quando o produto e vendido por diversas empresas) embora existam muitas firmas vendedoras, ca- da empresa mantém um relativo controle sobre sua parcela da venda total do produto, porque este - conforme explicamos anteriormente- apresenta alguma diferenciação de acordo com a firma vendedora: aparencia _, ~mbalagem, marca de fabri cação, hábito de compra dos consumidores, etc. Assim sendo, cada empresa pode cobrar um preço diferente por seu produ- -to. Mas a diferença de preço nao pode ser muito acentuada, porque embora os produtos das diversas firmas sejam um tan to diferenciados, eles constituem essencialmente um mesmo tipo de produto. Se uma firma eleva o preço de seu produto muito acima da média, ela perderá seus compradores, ou se ja, muitos de seus fregueses, mesmo que continuem preferi~ do qualitativamente (pelas razÕes de aparência, embalagem, etc., mencionadas acima) o produto da firma, passarao a ad quirir os produtos de outras empresas cujos preços sao mais baixos. Quantp menos diferenciados forem os produtos das diversas empresas, mais facilmente uns podem ser subs tituídos pelos outros nas preferências dos compradores. É o que acontece principalmente com os produtos agrícolas. E neste caso, embora possa haver diferença entre os preços cobrados pelas diversas empresas, esta di ferença tende a ser bastante pequena. Em outras' palavras podemos dizer que quanto menos diferenciados forem os pro dutos das diversas empresas (e, portanto, quando mais fa- (27) J.Miglioli, S.Silva e L.G.M.Belluzzo -op.cit.,p.ll-12 - 67 - cilmente uns possam ser substituÍdos pelos outros), malor ser~ a variaç~o na demanda (compra) do produto de uma de terminada empresa em resposta a uma alteraç~o de seu pre ço. (Muitos economistas diriam isto numa linguagem mals sofisticada: a uma menor diferenciaç~o do produto corres - ponde uma mais alta elasticidade-preço de sua demanda). Ou seja, no caso de um produto pouco diferenciado, um pequeno aumento de preço cobrado por uma firma vendedora pode pro vocar uma grande queda no volume de suas vendas, assim como uma pequena baixa no preço pode causar uma consider~vel eleva- ç~o no volume de vendas. Agora, através de reduç~o de seu preço, se cada empresa quisesse conquistar o mercado das demais firmas, isto levaria a uma guerra de preços que po deria ser ruinosa para muitas das empresas concorrentes.P~ ra evitar isto, cada firma procura fixar seu preço próximo do preço médio do produto" (28) O caso do produto A, de um mercado altamen te competitivo, a despeito de refletir a realidade de di versos mercados na atualidade, ajusta-se bastante bem as características do capitalismo concorrencial do século XIX, como explicitamos anteriormente. O caso limite de um merca do altamente competitivo ocorre no caso da chamada concor r~ncia perfeita, quando a curva de demanda de uma empresa e horizontal, ou seja, quando a demanda e infinitamente e l~stica, como veremos mais ã frente. Verifiquemos agora o caso do produto B, que apresenta balxa elasticidade-preçoda demanda. Caracteriza -se agora o fato de que a empresa fabrica um produto alta mente diferenciado, dificilmente substituível. Tanto pelas qualidades inerentes ao produto como pela açao da propaga~ da e pela força de uma determinada marca, crla-se uma de manda quase cativa, ou seja, crla-se um contingente de com pradores fieis cuja disposiç~o ã compra do produto n~o e sensível ã mudança no preço. Este e o caso de empresas grande~, com grande controle sobre os mercados; conseqHen temente, a consideraç~o de uma baixa elasticidade-preço da (28) J .Migliolli S. Silva e L.G.M.Belluzzo -op.cit. p. 14-16 - 6 8 - demanda ~ da ma1or importincia para a compreensào do pro cesso de formação dos preços no capitalismo moderno, ca racteristicamente capitalismo com hegemonia da grande em presa. Para entender a mencionada importincia da baixa elasticidade, façamos uma interrogação inicial:se a demanda ~ bastante inelástica, qual a vantagem para a em presa de uma redução no preço? Segundo Steindl os indus triais das grandes empresas" estao convencidos de que a elasticidade-preço da demanda em relação a seus produ - tos, ~ muito pequena, e que qualquer redução nos preços a carretaria apenas um pequeno acr~scimo ã quantidade vendi da. Os empresários, sempre que têm oportunidade de 'admi nistrar' os preços, parecem supor que a elasticidade-pre ço da demanda ~ baixa. A redução de preços, na tentativa de aumentar o volume, parece-lhes muitas vezes, quandomui to, uma aventura arriscada, numa epoca em que os devem ser evitados" (29) r1SCOS Vemos então que, se a elasticidade-preço da demanda ~ baixa para o produto de uma grande empresa controladora do mercado (administradora de seu preço), en tão uma redução no preço levaria a um acréscimo menos que proporcional na procura (coeficiente de elasticidade-pre ço da demanda menor que 1), o que ocasionaria uma redução na Receita Total e consequentemente no Lucro Total. uma empresa com estas características, a redução de Para pre- ço deixa de ser ucia arma interessante para aumento dos 1~ cros, e somente sera utilizada em circunstâncias especi- ais, quando, através de redução sensível no preço, procu rar-se deliberadamente a destruição de concorrentes e a tomada de mercados (polÍtica de "dumping"). Através do raciocínio acima, entendemos poE que, no capitalismo de grandes empresas, os preços apre - sentam uma rigidez para baixo. Da mesma forma como v1mos a concorrencia perfeita como caso limite de mercados altamente competiti (29) Joseph Steindl - op.cit. p. 31 . - 6 9 - vos, temos o monopólio puro como caso limite de mercados bastante concentrados (dominados por uma empresa lÍder) No caso limite do monopÓlio puro (não encontrado na prãti ca com essa pureza), temos a seguinte curva de demanda, a qual possui elasticidade-preço igual a zero: p D Q GRÁFICO 15 3.6. CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONCORRÊNCIA PERFEITA Procurando sempre compará-lo com o esquema que traçamos para a concorrencia intercapitalista, veja mos agora o chamado modelo de concorrência perfeita. As principais características do mercado de concorrenc~a perfeita sao as seguintes: a) produto homogêneo. Observe que, quando montamos o esqu~ ma para entendimento do chamado capitalismo concorren - cial, fizemos a suposição de que o grau de diferencia - ção dos produtos era reduzido; no caso da concorrência perfeita, radicaliza-se essa supos~çao; trata-se de per feita homogeneidade entre os produtos, o que torna abso lutamente indiferente para os compradores adquirir de qualquer produtor. 70- b) Grande numero de empresas e consumidores, de tal modo que nenhuma empresa ou nenhum consumidor pode,sozinho, determinar ou influenciar o preço da mercadoria.Esta característica fundamental será comentada com mais de talhes ã frente. c) Perfeita informação. Também em nosso esquema anterior, fizemos a suposição de que "os agentes econômicos (em presas e consumidores) possuem informaçÕes sobre a si- tuaçao do mercado, fundamentalmente sobre os preços cobrados pelos diferentes produtores". Todavia, o que se supÕe no modelo de concorrência perfeita é que a ~n formação é plena, ou seja, cada alteração, por menor que·sejay no preço cobrado por qualquer produtor, sera instantaneamente percebida por todos os agentes envol vidos no mercado do produto em questao. Vejamos o funcionamento do mercado de con correncia perfeita, enfatizando seu aspecto crucial, qual seja, que "nenhuma empresa tem poder para influenciar o preço da mercadoria". Observe-se que nao se esta dizendo que nenhuma empresa tem poder para administrar ou determi nar o preço, mas sim influenciar. O que isto quer dizer ? Quer dizer que, para todas as empresas, o preço de seu produto· e um dado, determinado pela oferta e procura gl~ bais. Ilustremos esse fato: Preço Curvas de oferta e demanda da mercadoria X GRÁFICO 16 Oferta global da mercadoria X Procura global da mercadoria X Quantidade procurada - 71 - Sendo: P = preço de mercado da mercadoria x (va- mx le a pena observar que podemos trabalhar com o conceito de preço de mercado em virtude da suposiçao de homogeneidade do produto). Para que P seja tomado como um dado por mx -todas as empresas produtoras, é necessário supor que o nu- mero de empresas concorrentes seja extremamente grande ~en da ao infinito) e, ao mesmo tempo, que cada empresa infinitamente pequena, de tal forma que, qualquer que seJa sua açao, (por exemplo, multiplicar a produção por 10, por 100, por n) nao consegue nunca influenciar o mercado. Por tanto, para cada empresa individual, a curva de demanda e a seguinte: p D Preço de mercado L----------------------------------------Q GRÁFICO 17 Não há, portanto, nenhum estímulo ao produ tor para baixar o preço de seu produto, pois ele vende a quantidade que produzir ao preço de mercado. Se, porventu ra, um produtor vender por um preço ligeiramente superlor ao preço de mercado, ficara sem nenhum comprador, em virtu de do pressuposto de perfeita informação; o produtor tem que vender sempre ao preço de mercado. :lustremos o funcionamento da concorrencla perfeita imaginando a existência de duas empresas produzi~ do em concorrência perfeita, sendo as empresas bastante pr~ - 7 2 - ximas uma da outra. Vejamos a situação das empresas A e B no momento t o t o Momento A - - - - - - ,.--.---__:_ ___ _ "~<'IGURA 15 o ·..-! O H -1-JICI) rJl -1-J ;:l ·..-! c.J >:: ;:l B Observamos que a empresa A está em melhor situaçao que a empresa B. Através da introdução de progre~ so tecnológico e/ou mudanças organizacionais, conseguiu re duzir sensivelmente seu custo unitário, de tal forma que consegue uma margem de lucro bem maior ao preço p ; o que tenha margem de lucro mais baixa, a indústria B ainda ainda consegue manter-se em funcionamento. Suponhamos agora que, por uma razão qualquer, caia o preço de mercado Vejamos a nova situaçao (momento t 1 ). < p ) . o Notamos que, ao novo preço de mercado (p 1 ), a empresa A, por ter realizado melhorias técnicas e/ou or ganizacionais redutoras de custo, ainda consegue alguma mar gem de lucro, ainda que tenha se reduzido; todavia, a em presa B, que continuou com a estrutura de custos anterior, nao consegue sequer cobrir os custos ao novo preço de mer cado p 1 ; se este se mantiver por algum tempo, a empresa B tera que sair do mercado. - 73 UIC\i - B -~- { .3 .'j / 1----------j c ;:l o o J.J·.-i (fJ i-< ;:lle\i u J.J ·.-i c ;:l FIGURA 16 o J.J (fJ ;:l u B --~Prejuízo por unidade ApÓs essa ilustração, façamos uma pergunta: o que a concorrência perfeita elimina? Em comparação com nosso esquema anterior, será que poderíamos concluir que a concorrência perfeita elimina o estímu'lo ao progresso téc nico? Não, pols, comoVlmos em nosso exemplo hipotético, o empresário que introduziu progresso técnico não so canse guiu margem de lucro malor no momento t , o se defender da queda do preço de mercado, como consegulu mantendo-se em atividade. A resposta correta e a seguinte: o modelo de con correncla perfeita elimina a beligerância imanente ã con- correncla intercapitalista. Vimos, no primeiro tratamento dado a concor rencla, que existe um empresário que sal -a frente e, atra- vés de redução de pre-seus custos, dá . - . lnlClO a guerra de ços, procurando, com a diminuição de seu preço, atrair pa- ra si a parcela de mercado dos demais. Ora, a açao desse empresário sera respondida pelo concorrente, que claramen te o identifica como aquele que iniciou a pugna. Já na concorrencla perfeita, nao existe qua~ quer conflito intercapitalista. O preço de mercado é deter minado em uma esfera distante, longínqua, sobre a qual ne- - 7 4 - nhum produtor individual tem qualquer interferência, e, de pois de fixado, os produtores tomam o preço, comparam seus custos e verificam seu estado. A açao de qualquer produtor nunca influencia outro produtor. Não há conflito. Ao invés de um rio turbulento, a concorrencLa se transforma em um manso lago. Esta e a grande insuficiência do modelo de con corrência perfeita. 3.7. MONOPÓLIO E CONCORRÊNCIA POTENCIAL: A RIGIDEZ DE PREÇOS Já vLmos que, em mercados altamente concen trados, existe uma rigidez dos preços para baixo. Necessi tamos agora estudar, para o caso de uma empresa que contr~ la fortemente o mercado, qual o limite superior do preço Para radicalizar o argumento, consideremos o caso de uma empresa monopolista e perguntemos o seguinte: se a empresa possui um grau de controle tão elevado sobre o mercado, e sendo a elasticidade-preço da demanda tão baixa, entao por que o preço cobrado e px e não um preço qualquer pi' tal que p. > p ? L X Uma resposta possível a esta questao funda menta-se na substituibilidade, ainda que precária e distan te, de qualquer produto, como vemos através da seguinte CL taçao: "O fato de um bem ou serviço ser produzido por uma Única firma não implica, de modo algum, que este bem ou serviço seja insubstituível. Não existe produto ab solutamente insubstituível, por mais diferente que ele se ja. Quando um produto não tiver um similar que satisfaça a mesma necessidade ou dê a mesma satisfação, ele poderá ser substituído por um outro tipo de bem que atende a uma ou tra necessidade ou dá uma satisfação semelhante. Por exem plo, uma lâmina de barbear, uma navalha e um barbeador ele trico são produtos diferentes que, entretanto, podem ser facilmente substituÍdos entre si, visto que todos os tres servem ao mesmo objetivo. Um aparelho de televisão não co~ ta com um produto similar, mas pode ser substituÍdo por um - 75 rádio, um toca-fitas ou um toca-discos, apesar de estes três Últimos aparelhos nao servirem ao mesmo objetivo da televisão" (30) 11 imaginemos agora que a gasolina seja vendida por uma firma so, a qual detem assim o monopÓlio deste combustível. Esta firma poderá cobrar um preço bas tante alto, porque a gasolina, enquanto combustível para automóveis e outros veículos, e um produto de difícil subs tituição. Não se pode simplesmente substituí-la por um ou tro qualquer combustível, porque os motores dos carros e outros motores foram feitos para consumi-la (lembremos que este texto foi escrito em meados dos anos 70). Somente se seu preço for fixado a um nível muito alto, sua venda deve ra ca1.r, porque os possuidores de automóveis, por exemplo, tenderão a diminuir suas viagens e/ou a procurar outras al ternativas de transporte, e, num período de tempo mais lon go, se o preço da gasolina continuar muito alto, haverá também a tendência de utilizar motores que façam uso de ou tro tipo de combustível que seja mais barato" (31) Ao explicar a questao da substituibilidad~, Steindl enfatiza a questao temporal, como vemos no cho seguinte: tre- "Como explicar, entao, o fato dos empresa rios dessas indÚstrias (administradoras de preços) nao au mentarem realmente os preços? Uma explicação natural se o ferece quando, ma1.s uma vez, introduzimos o fator tempo.P~ de-se argumentar que, a curto prazo, a demanda para os pr~ dutos de uma indústria ã bastante inelãstica, porque as possibilidades de substituição por outros produtos sao li mitadas. (Observação: lembrar que, sendo o conceito de l.n dústria o conjunto das empresas que concorrem num mesmomer cado, entao quando a situação ê de monopÓlio, a empresa mo nopolista confunde-se com a prÓpria indústria; exem~lifi cando, se no Brasil existisse uma Única empresa produzindo (30) J.Miglioli,S.Silva e L.G.M.Belluzzo-op.cit.Cap. S.p.l7 (31) J.Miglioli,S.Silva e L.B.M.Belluzzo-op.cit.Cap. 5. p. 18-19 - 7 6 - automóveis, entao a indÚstria automobilística do Brasil se ria representada por essa única empresa). Os consumidores estão vinculados ao produto de determinada indústria em um grau muito mais elevado do que ao de uma empresa. Toda uma série de tradiçÕes e preconceitos tem de ser modificada, a te que possa ocorrer um deslocamento considerável na deman da; muitas vezes e requerida uma propaganda contínua duran te longo tempo. No caso dos bens de produção, função seme lhante será desempenhada pelas tradiçÕes técnicas e pela L nercLa, alem de dificuldades técnicas bastante objetivas que tornam a substituição outra vez dependente do fator tempo. A substituição pode exigir modificações nas despe - sas gerais e nos equipamentos que não podem ser efetuadas de repente, e que devem ser decididas em caráter permane~ te. Como no caso das firmas individuais, o crescimento do mercado de uma indústria, portanto, depende do tempo" (32) Todavia, Steindl não considera a questão da variaçao da elasticidade-preço da demanda ao longo do tem po como o elemento mais importante para explicar o limite superior do preço em mercados fortemente concentrados; sua atenção volta-se, isto sim, para a concorrencLa potenciab ou seja, para a possibilidade de entrada de novos concor - rentes a partir do estabelecimento de preços excessivamen te elevados: "Concluímos qu·e, a curto prazo, a demanda de produtos de uma indústria e, na maioria dos casos, bas tante inelãstica, ao passo que, a longo prazo, isso prova velmente não deve ocorrer. O fato de que, a longo prazo, a concorrencia de outras indústrias deve ser levada em consL deração é, entretanto, apenas um fator que impede o de preços, o cartel ou os monopolistas de fixar seus líder pre- ços em um nível mais alto do que o corrente. No caso do a ço, mesmo a elasticidade da demanda a longo prazo e prova velmente baixa, de modo que, em termos apenas de elastici dade, poderíamos prever que a indústria fixasse seus pre ços em um nível mais alto que o verificado. Outro fator im portante e o risco de ingresso de novos concorrentes.A res (32) J.Steindl- op. cit., p. 30 7 7 - triçao ao ingresso em uma indÚstria - salvo o caso de res triçÕes como patentes - e um fator relativo, que depende, em grande parte, da taxa de lucro obtida pela indÚstria.Se os preços, e por conseguinte os lucros, forem suficiente - mente altos, o lngresso de novos concorrentes em uma indús tria se torna viável, mesmo quando as exigencias de capl- tal sao grandes. O preço pois, fixado em um nível nas tal indústrias oligopolistas e' que mantem afastados os con- correntes em potencial, ou, em outros casos, pode ser fixa do em um nível suficiente para excluir alguns concorrentes já existentes, cujos mercados os líderes de preços preten dem conquistar. E bem provável que, mesmo a longo prazo, em muitos casos, a elasticidade da demanda seja pequena de- mals para ser relevante, na prática, para a determinaç~o de preços. O que impede as indústrias oligopolistasde cobrar preços mais elevados do que realmente cobram e, talvez, o temor de novos lngressos na indústria, e nao qualquer con sideraç~o referente ã elasticidade da demanda" (33) A partir das consideraçÕes feitas ate aqul, foi possível identificar os determinantes da rigidez de preços, característica do capitalismo moderno, ao nível de uma empresa monopolista ou lÍder de preços, bem como o pr~ ço mêdio no caso de um oligopÓlio formado por poucas egra~ des empresas. Como um necessário reforço ã explicaç~o da rigidez de preços, veremos mals ã frente as razoes pelas quals o preço se rigidifica para cada uma das empresas pa~ ticipantes de um oligopÓlio. 3.8. A TEORIA DA CONCORRÊNCIA IMPERFEITA E A MAXIMIZAÇÃO DO LUCRO Faremos a segulr uma exposlçao sucinta da chamada Teoria da Concorrência Imperfeita. Esta teoria foi desenvolvida como uma tentativa de superar as "amarras" da teoria econômica convencional, presa ao pressuposto de con (33) J.Steindl op.cit. p. 30-31 - 78 correnc~a perfeita (34). Ao invés de uma curva de demanda da firma horizontal, como e o caso sob concorr~ncia per - feita, a referida curva de demanda é desenhada de forma . - . como Ja v~mos. inclinada, Coloquemos agora em um Único gráfico as curvas de demanda (D) e de custo unitário (CUT). p. CUT p. ~ c. ~ CUT Q. Q ~ GRÃFICO 17 Observamos inicialmente que a distância ve~ tical entre a curva de demanda e a curva de custo unitário total (para uma quantidade produzida= demanda Q., ~ essa distância e igual ao preço p. menos o custo unitário c.)for ~ ~ nece o lucro unitário. Todavia, a idéia consistente de que o empresário procura o máximo lucro nio se refere ao Lucro Unitário e s~m ao Lucro Total. Sendo o Lucro Total igual ao lucro unitário multiplicado ~ela quantidade produzida (34) Confira: Joan Robinson - "ContribuiçÕes ã Economia Mo derna - Rio, Zahar Editores, 1979 e Chamberlein, E. Teoria de la Compet~ncia Monopólica". México, Fondo de Cultura Económica. - 79 entao o empres~rio dever~ procurar max1m1zar a area hachu- riada (= 1 Q). p. Cl'T CUT Q GRÁFICO 18 Essa max1m1zaçao, segundo a Teoria da Conco~ rência Imperfeita, e obtida através da regra marginalista, como explicaremos a segu1r: Jã vimos que, sob concorrenc1a imperfeita, a curva de demanda da firma e a seguinte: p (,____..- \ GRÁFICO 19 I J D Q 80 - Esta curva, negativamente inclinada, repre senta a seguinte função Q = f(p) Q = a - b p Esta funçid demanda gera a seguinte função para a Receita Total: RT = p . Q RT a Q (- - -) Q b b a 1 2 RT = b • Q - b . Q A Receita Total tem, portanto, a seguinte forma: RT Q GRÃFICO 20 Sabendo o formato da curva de Custo Total, colqquemos as duas curvas num mesmo gráfico: - 81 RT,CT CT Q. 1. Q GRÁFICO 21 A quantidade produzida que torna - . max1.ma a distância entre as curvas RT e CT e aquela que, obviamente, max1.m1.za o Lucro Total. Como se chega a esta quantidade maximizado ra do Lucro Total? A teoria neo-clássica nos ens1.na que es te e o ponto no qual a Receita Marginal iguala o Custo Margi nal. Vejamos esses conceitos e suas respectivas curvas a) Receita Marginal - trata-se do acréscimo ã Receita To- tal quando S'eproduz um incremento de uma unidade na pro- dução (l'.Q) Ora, se a curv~ de demanda e negativamente inclinada, entao qualquer unidade adicional na produção somente será vendida a um preço ma1.s baixo que o atual. Consequentemente, a Receita Marginal e decrescente em relação ã quantidade produzida: - 82 RMg Wg Q GRÁFICO 22 b) Custo Marginal - da mesma forma, o custo marginal repr~ senta o acréscimo ao Custo Total quando se produz uma u nidade adicional. Considerando o rateio do Custo Fixo e a proporcionalidade entre Custo Variável e quantidade,o Custo Unitário Total, como já sabemos, e decrescente a tê um determinado ponto (ponto de capacidade Ótima, se gundo Steindl). Ora, o mesmo raciocínio aplica-se ao Custo Marginal, que decresce até um determinado ponto. Ademais disso, é necessário ter em conta que o Custo Marginal deve estar abaixo do Custo M.édio sempre que este for decrescen te. Vejamos com Steindl o que ocorre com o Custo Marginal ao se atingir o ponto de capacidade prática: "a fim de for necer um motivo pelo qual o custo marginal deveria elevar- se, precisamos alegar circunstâncias excepcionais, tais como o prolongamento da jornada de trabalho para a mão-de obra empregada. de modo a tornar necessário o pagamento de horas extras; a redução na vida Útil dos equipamentos, de vido à não realização de reparos e manutenção, como conse qliência de funcionamento contínuo sem paralizaçÕes tempor~ - 83 - r1as: desperdicio de mat~ria-prima, trabalho defeituoso e danos causados às maquinas devido à aceleração do seu fun cionamento, ultrapassando os limites que garantem a coor denação regular do processo de produção. Aparentemente ) tais fatores começam a funcionar somente ao nivel da cap~ cidade prática, que e definida como a produção obtida pe la duração normal das horas de trabalho, com interrupçÕes suficientes para reparos e manutenção e sem interferênci as no funcionamento regular do processo de produção. Dev~ mos esperar, portanto, que o custo marginal não aumente ~ t~ que a capacidade prática seja atingida, mas que, a pa~ tir dai, seu crescimento seja vertiginoso. O ponto de cus to m~dio ~ . m1n1mo, ou, ou capacidade Ótima, acha-se entao próximo da capacidade prática" (35) Coloquemos graficamente o Custo Marginal e o Custo M~dio (ou Custo Unitário). CM , CM g e I / capacidade prática GRÁFICO (35) Joseph Steindl - op.cit. p. 19-20 I I ~ 23 CM g CM e capacidade ótima Q Vemos decrescente e quando - 84 - que, quando CM g CM > CM , o CM g e e < CM entao e' -e crescente. o CM e e ~ evidente que, enquanto RM for superior ao g CM , vale a pena g aumentar a produção,nois isto implicará nu ma elevação do Lucro Total. A partir do momento em que a RM se torna inferior ao CM cada aumento de produção lm- g g plicara numa diminuição do Lucro Total. O ponto de máximo Lucro Total e, portanto, mos isto graficamente: CT ,RT LUCRO TOTAL RM , CM g g \ aquele que iguala RM e CM . Vej~ g g GRÁFICO 24 Lt RM g CH g CT Q Q - 85 3.9) CRÍTICAS À REGRA DE MAXIMIZAÇÃO DO LUCRO Se a questao da determinação do preço fosse resolvida da forma proposta pela Teoria da Concorrência I~ perfeita, teríamos que admitir duas situaçÕes posslvels: ço de a) O empresário seu produto, na forma de atua, na determinação do pr~ "tentativa e erro"; em ou- tras palavras, val aumentando a produção e baixando os pr~ ços e acompanhando o comportamento do Lucro Total; enquan to este Lucro for crescendo, continua a aumentar a produ - çao e baixar os preços. Todavia, quando observa pela pri melra vez uma redução no Lucro'Total, volta atrás, diminu indo a produçã6 e elevando preços, at~ chegar ao lucro má xlmo. Ê fácil observar que esse "modelo de comportamento" e amplamente irrealista. b) O empresarlo possui, ademais de informa çoes preclsas sobre sua curva de custo unitário ·total (coi sa complicada pelo fato de não ser possível experimentarna prática todas as quantidades de produção possíveis, princi palmente aquelas que caem fora no ''ramo relevante da prod~ ção"), um cálculo econom~trico bastante acurado de sua cur va de demanda. Neste caso,o preço que maximiza o Lucro To tal poderia ser conhecido "a priori", sem necessidade de experimentação. Vejamos agora as críticas de Kalecki e Steindl a Teoria da Concorrência Imperfeita, admitindo a situação (b). Ao estabelecer sua teoria do "grau de mono pÓlio", que veremos mals à frente, afirma Kalecki: "diante das incertezas com que se defronta o processo de fixaçãode preços,nao lremos supor que a firma recorra a alguma medi da em particular na procura de maxlmlzar seus lucros" (36) Em Steindl, lemos: "o conceito de incerteza dificilmente desempenha função essencial na teoria existente (o autor refere-se à Teoria da Concorrência Imperfeita). Isto e sur preendente, pols deveríamos esperar que os empresarlos, ca (36) M.Kalecki- op.cit., p. 62. - 86 - so fizessem cálculos sobre elasticidade, se mostrassem bas tante inseguros acerca dela. Além disso, as condiçÕes rel~ vantes de mercado (curvas de demanda) devem, em muitos ca sos, referir-se ao futuro e, desse modo, constituir-se em estimativas incertas feitas pelos empresários" (37) Resumindo, a teoria da formação dos preços segundo a regra marginalista de maximização do lucro (cus to marginal = receita marginal) não consegue explicar o co~ plexo fenômeno da determinação dos preços pelos empresários. Esta teoria trabalha com o pressuposto de um mundo sem lu certeza, o que significa desconsiderar uma das característi cas mais marcantes da economia capitalista. Lembremos o que vimos inicialmente, com relação às características de uma e conomia mercantil: se as decisÕes econômicas (o que, quanto e como produzir) são tomadas a nível da esfera privada, em unidades produtivas autônomas em termos de tomada de deci - sao, então a incerteza é um componente inerente a toda eco- nomia mercantil. Ora, se a economia capitalista e a forma mais desenvolvida da economia mercantil, na qual as unida - des de produção não sao apenas autônomas, mas sim concorreu tes, entao a importante decisão empresarial da fixação do preço de sua mercadoria (decisão da qual depende sua taxa de lucro) e tomada, necessariamente, num ambiente de 1ncer teza. Assim sendo, torna-se necessário um novo enfoque para a formação dos preços, que forneça ênfase à açao das gran - des empresas (administradoras de preços); e isso que vere- mos a segu1r. 3.10) PREÇO E GRAU DE MONOPÓLIO Vejamos inicialmente o vem a ser "grau de m~ nopÓlio", base da teoria da formação de preços de M.Kalecki; imaginemos uma situação de mercado no qual, "para a produ - ção de cada tipo de bem e serviço há um variado número de empresas de diferentes tamanhos (isto é, com diferentes ca pacidades produtivas) que competem entre si com maior ou me (37) J.Steindl- op. cit., p. 14 - 87 nor intensidade. Embora cada empresa detenha uma certa pa~ cela do mercado total deste tipo de bem ou serviço, esta parcela e ma~s ou menos fluida, e por isto mesmo as empre sas lutam entre si para ampliar ou simplesmente manter sua participação no mercado. Evidentemente, certas empresas tem ma~or controle de seu prÓprio mercado do que outras, por serem ma~s poderosas (em termos de capacidade produtiva e financeira), pelo fato de seu produto gozar de maior pres tÍgio, por operarem com custos mais baixos, etc. A este controle de mercado usa-se dar o nome de grau de monopÓlio: quanto mais uma empresa domina o mercado de seu produto, ma~or sera seu grau de monopÓlio. E este se expressa no preço do produto. (38) Vejamos entao preço do produto. como o grau de monopólio se expressa no Sabemos que os elementos que a empresa toma como referência no processo de fixação do preço sao o Custo Unitário e a Demanda. "Mas e prec~so con siderar o seguinte: num ramo de atividade onde operam di versas firmas concorrentes, o volume de demanda pelo prod~ to de uma empresa qualquer e, por sua vez, dependente do preço cobrado pelas outras firmas que competem no mercado do mencionado produto" (39) Consideremos uma mercadoria qualquer (M), e respondamos a seguinte questao: de que fatores depende a demanda total por esta mercadoria (demanda da mercadoria M, produzida por todas as empresas concorrentes, ou seja, de- manda da indÚstria, como Ja v~mos anteriormente)? Como existem diversas empresas concorrentes, e cada uma cobra um preço diferente, a curva de demanda de M vai colocar a de manda total em função do preço médio de M (p). Observe-se que, nesse caso, nao faz sentido falar-se em preço de mer cado de M; este conceito apenas faz sentido no caso de pr~ dutos homogêneos, geralmente cotados em Bolsa. A curva de (38) J.Migliolí, S.Silva e L.G.M.Belluzzo p. 50-51. (39) J.Miglioli, S.Silva e L.G.M.Belluzzo p. 51. op.cit. op.cit. Cap.5, Cap.5. - 88 - demanda total de M (DM) seria entao (observação: Ja comen tamos anteriormente a questão da baixa elasticidade--preço da demanda de uma indústria) a seguinte: Preço médio de M: p GRÁFICO 25 Quanto aos fatores que intervêm para o esta belecimento do formato da curva de demanda total de M, te mos que considerar: a) magnitude da população e seu nível de renda; b) padrão de consumo (se M for um bem de consumo) ou padrão tecnológico e de crescimento (se M for um bem de produ - ção); c) grau de substituibilidade. Se, por exemplo, ocorrer uma elevação na renda (evidentemente na renda real, ou seja, na capacidade aquisitiva) ou uma variação no padrão de consumo (sendo M, por exemplo, um bem de consumo) da população que induza a um aumento da procura, ocorrera um deslocamento da curvade demanda para a direita (de DM paYa D~): ,_,. •Ir - 89 - p GRÁFICO 26 D' M Já uma varlaçao no grau de substituibilida de, por exemplo, a partir do surgimento de um novo produto que substitua mais facilmente o produto M, então ocorrerá uma variação na inclinação da curva DM' da seguinte forma: p p GRÂFI CO 2 7 D' M - 90 - Vejamos agora o comportamento de demanda p~ lo produto M fabricado por uma firma específica, que chama remos de firma A. I '!/ PMAfl GRÃFICO 28 Essa curva de demanda coloca a quantidade procurada em função do preço cobrado pela empresa A sua mercadoria M: para Se formos olhar ma~s fundo, todavia, verifi caremos que existe uma outra relação de dependência, ou seja, que a relação entre QMA e PMA possui, por tras, uma outra relação: entre DMA e o preço cobrado pelas empresas concor rentes de A: g (PMB Na verdade, D depende de PM enquanto com MA A - parado com os preços dos concorrentes, co~sa que Ja v1mos antes, quando discutimos a inclinação da curva de demanda - 91 - e a elasticidade-preço da demanda. Em outras palavras, a demanda da mercadoria M da empresa A depende da compara - ção entre o preço de M cobrado por A e o preço mêdio do produto. Assim, podemos dizer que o preço fixado pela em presa para o produto (p.) depende de dois elementos:o cus l. to unitário direto (U) e o preço mêdio do produto no mer- cado (p): p. f ( u' p) l. Façamos agora o seguinte questionamento:em todo o raciocínio desenvolvido atê aqui, sempre colocamos que o preço fixado pela empresa para o produto dependia do custo de produção e da demanda; agora dizemos que ele de pende do custo de produção e do preço mêdio do produto no mercado. Isto representa alguma mudança? Não. Simplesmen- te~ trata-se de uma forma diferente de representar a l.n fluência da demanda, colocando-a como função da relação en tre A forma final da função que vincula U e p a p. e a seguinte: l. p.---= l. m U + n p "Os coeficientes m e n em conjunto, ser- vem para medir o grau de monopÓlio de uma empresa: quanto maiores forem estes coeficientes, mais alto o grau de mo nopÓlio. Quanto maior~, maior a diferença (ou a relação) entre o preço cobrado e o custo de produção; quanto maior ~' maior a diferença (ou a relação) entre o preço cobrado pela empresa e o preço mêdio do produto no mercado. Em ambos os casos, isto significa que a em- presa tem um grande controle do mercado (um elevado grau de monopÓlio), o qual lhe permite fixar para seu produto bem de de produção do -um preço ac1.ma seu custo e preço me - di o vigente no mercado. Se a firma em questao tivesse ap.::_ nas um pequeno controle do mercado, ela - . obriga-ver-se-l.ada a vender seu produto por um preço igual, ou mesmo infe -92- rior, ao pre&~ m~dio, e para poder ampliar suas vendas te ria de reduz~~ ainda mais seu preço, o qual, assim, se a proximaria do~pr6prio custo de produç~o; ou seja,neste ca so os coeficientes ~e~ seriam pequenos". (40) Finalizando, e importante salientar que o conceito de grau de monop6lio e Útil para a compreens~odo mecanismo de formaç~o de preços em mercados nos quais e xista forte liderança (existência de "empresa lÍder") e significativa diferenciaç~o de produtos. Uma grande empr~ sa lÍder, com produto altamente diferenciado (qualidade ~ fetivamente superior somada ao esforço de propaganda), p~ de cobrar um preço mais alto pelo seu produto, e uma ou tra empresa so poderá participar de alguma forma no merca do cobrando preços mais baixos. No caso de produtos com e levado grau de homogeneidade, nenhuma empresa pode cobrar mais caro pelo seu produto; nesse caso, as empresas lÍde res, por contarem com custos mais baixos, fornecem o pre- ço mínimo, que deverá ser seguido pelas firmas menores Também no caso de um oligopÓlio com empresas igualmente p~ derosas (ou quase), a teoria do grau de monopolio n~o e muito Útil para o entendimento da formação dos preços; e este o caso que veremos mais i frente. 3.11 -A CAPACIDADE OCIOSA Urna das críticas rna~s importantes feitas por Steindl à Teoria da Concorrência Imperfeita diz res- peito ã quest~o da capacidade ociosa ou capacidaae exce dente (sabemos que capacidade oc1osa e aquela porção não utilizada da capacidade instalada de produção). Afirma Steindl que, embora o conceito de incerteza jã estivesse incorporado de forma importante à teoria econBmica, espe cialmente no caso da teoria da moeda, " ... parece que nin guém cogitou em aplicar id~ias semelhantes à manutenç~o da capacidade excedente". (41) (40) J.Miglioli, S. Silva e L.G.M.Beluzzo- op. cit.,cap.S,p.53 (41) J. Steindl- op. cit., p. 14 -'-- 93 - Respondamos entao a seguinte questao essen cial: é de interesse da empresa trabalhar sempre no ponto de plena utilizaçào da capacidade instalada? Inicialmente, daremos a resposta segundo a Teoria da Concorrência Perfeita: nao, porque o ponto de max~mo Lucro Total n~o ~ necessariamente o ponto de ple- na utilizaç~o da capacidade. O objetivo da empresa n~o e . . . s~m max~m~zar seu utilizar plenamente sua capacidade, mas Lucro Total~ portanto, pode ser de interesse da empresa tra balhar com algum grau de capacidade oc~osa. Este caso es tá ilustrado no gráfico abaixo: p. CUT p. ~ CUT D Q GRÁFICO 29 Sendo Q a quantidade produzida que utiliza m plenamente a capacidade instalada da empresa, e sendo (p., Q.) o ponto de máximo Lucro Total (onde Custo Margi- ~ ~ nal = Receita Marginal), ent~o é racional, sob a 6tica do empresário, trabalhar com uma capacidade ociosa equivalen -te a (Q - Q.). A questao que se coloca é a seguinte: de m ~ quem e, em Última instância, a responsabilidade pela exi~ tência da capacidade ociosa (Q - Q.)? m ~ A resposta é: da demanda. Isto porque, se a curva da demanda estivesse mais à direita, então a capacidade ociosa seria menor. Observe mos isto graficamente, supondo um deslocamento da curva de - 94 - demanda para a direita (de D para D'), devido aos fatores já apontados (elevação na renda, mudanças de hábitos de consumo, etc.): p. CUT p~ l p. l Q. l o! o l 'm GRÁFICO 30 CUT Q Não nos interessa aqul discutir o que ocor rerla com o preço a partir do deslocamento da curva de de manda, pois isto depende do formato das curvas; o que e inequivoco ~que, com o deslocamento D- D', o ponto de produção maximizadora de lucro desloca-se para a direita (de Q. para Q~), aproximando-se de Q, diminuindo a capa- l l m cidade ociosa de (Qm - Qi) para (Qm - Qi). Concluimos en- tao que a capacidade oclosa, para a Teoria da Concorrên - cla Imperfeita, deve-se exclusivamente a uma demanda re traida, tendendo a ser eliminada com uma continua expan - são do mercado. Caracteriza-se então uma capacidade ocio sa involuntária, ou seja, não desejada, não planejada pe- los empresários, mas sim devida às vicissitudes do de atividade econômica; explicando melhor: quando nivel houver crescimento econômico, a curva de demanda deslocar-se - á para a direita, e a capacidade ociosa se reduzirá gradati vamente, at~ deixar de existir; quando houver uma reces - sao, a curva de demanda deslocar-se-á para a esquerda, g~ rando então capacidade ociosa não desejada. Esta ~ a Úni- - 95 - ca razao para o surgimento de capacidade oclosa segundo a Teoria da Concorrência Imperfeita; como afirma Steindl,"a capacidade excedente apareceria (no caso da Teoria da Con corrência Imperfeita) somente se a curva de demanda esti- vesse, por acaso, em uma poslçao onde a maximizaçao dos lucros implicasse capacidade excedente. Em um mercado em expansao, contudo, a curva de demanda se deslocaria para a direita, e a capacidade excedente tenderia a desapare - cer" (42). Todavia, as pesquisas realizadas pela Broo kings Institution sobre capacidade ociosa nos anos 20 nos Estados Unidos causaram a necessidade de uma revisao a respeito da questão da capacidade oclosa, revlsao esta realizada por Steindl. Coloquemos alguns trechos interes santes .deste autor: "Todas as evidências existentes sugerem um predomínio geral da capacidade excedente mesmo nos perí~ dos de prosperidade, inclusive para as indÚstrias oligop~ listas em expansao .. É interessante acompanhar a mudan- ça verificada no grau de utilização nos anos anteriores a 1929. Vemos que havia várias indÚstrias em expansao naqu~ la época e nas quais o grau de utilização da capacidadee~ tava diminuindo durante essa expansão ate 1929: a capac~ dade aumentou antes da demanda. Em algumas delas, a capa- cidade continuou aumentando em 1930, apos o . ~ . lnlclo da crl- se, e com o aço, a expansao da capacidade prossegulu ate 1932. Aparentemente a expansao da capacidade nao foi oca sionada pelo ingresso de novas concorrentes, mas pelas fir mas Ja existentes" (43). Vejamos graficamente o relato de Steindl p~ ra o caso de - . varlas indÚstrias americanas. (42) J. Steindl- op. cit. p. 15 (43) J. Steindl - op. cit. p. 16 Produto capacidade I / / I / / - 9.6 - / Capacidade . /1 rrodutiva ,"" I / I // i / 1produto /'' I / I 1929 GRÁFICO 31 Para o caso do aço, temos: Produto capacidade / / / / "'· / Tempo / / / Droduto I I I / / / 1929 1932 Tempo GRÁFICO 32 - 97 - Em seguida, Steindl procura explicar essa capacidade ociosa mantida mesmo em época de intenso cres cimento pelas grandes empresas,nao mals portando uma cap~ cidade ociosa involuntária, mas Slm uma capacidade ociosa planejada. Antes de esclarecer as razÕes apontadas por Steindl, e Útil explicitar o aspecto negativo da capacid~ de ociosa; sabemos que a variável fundamental no cálculo economico capitalista e a taxa de lucro:: ou seja: Taxa de Lucro Taxa de Lucro Lucro Total Capital Total Lucro Total Capital Fixo + Capital Circulante A exist~ncia de capacidade oclosa signifi ca que a produção efetuada e menor do que a permitida pe lo capital fixo existente; portanto, o Lucro Total apre - sentara uma tend~ncia à redução, a qual só poderá ser con trarrestada por uma elevação compensatória no preço e po~ tanto na margem de lucro (lenbremos que margem de lucro = =lucro unitário/preço), coisa que passou a ocorrer no ca pitalismo de grandes empresas. A tend~ncia a redução no Lucro Total levaria a uma previsível redução da Taxa de Lucro, pols, embora uma parte menor do Capital Fixo este ja operando (contribuindo para a geração de lucros), todo o Capital Fixo entra na composição do denominador; a re dução do Capital Circulante, com efeito positivo sobre o Lucro Total, dificilmentepoderia compensar o efeito neg~ tivo da ociosidade do Capital Fixo, principalmente se le varmos em consideração o movim~nto de elevação da propor ção do Capital Fixo sobre o Capital Total em virtude do progresso técnico. Concluímos que a exist~ncia de capaci dade ociosa tende a abater o Lucro Total, podendo ser com pensada (ate certo ponto, evidentemente) por uma elevação nos preços. Dado esse lado negativo da capacidade ociosa, como se pode entender a exist~ncia dessa capacidade manti - 98 - da deliberadamente pelos empresários? A primeira razao para esta capacidade oclo sa planejada fica clara a partir da referência ao seguin te relato do vice-presidente executivo de uma companhiade cerâmica decorativa (transcrito do livro "Managerial Fi - nance" de Weston & Brigham, 3rd edition, Wolt, Rinehart & Winston, New York, 1969): "Sua firma tentava trabalhar a um nível de quase capacidade máxima durante quase todo o tempo. Durante os Últimos 4 anos ocorreram aumentos inter mitentes na demanda de seu produto; quando ocorreram, a firma adicionou uma maior capacidade, alugando um edifí - cio para comprar e instalar o equipamento necessário. Le vou aproximadamente 7 meses para ter a capacidade adicio - nal pronta para operar. Nesta data, a companhia verifica que não há demanda para o seu aumento de produção; outras já haviam expandido as suas operaçÕes e absorveram uma ma1or faixa de mercado, resultando que a demanda para a firma havia se estabilizado. Se a firma tivesse previsto adequadamente a demanda e tivesse planejado o aumento de sua capacidade 6 ou 12 meses antes, teria sido possível manter a sua faixa de mercad~ - na verdade, obter urna maior faixa de mercado" (44). Do relato do caso real acima, poder-se - 1a pensar num conselho ao empresário de cerâmica decorativa: manter sempre uma certa capacidade ociosa para dar conta de aumentos imprevistos na demanda, não dando "brechas" para concorrentes (efetivos ou potenciais). Ao trabalhar sempre no ponto de plena capacidade, a empresa, quando o correram aumentos na demanda, teve que "rejeitar pedidos"; esse e o aspecto crucial, po1s, ao rejeitar pedidos, a briu "brechas" aos concorrentes, que se aproveitaram am- pliando sua capacidade de produção. Caracteriza-se a necessidade de uma reserva de capac'idade mantida entao como arma na concorrência inter-capitalista, dada a incerteza advinda dessa concorrência. Como afirma Steindl, trata -se de "uma reserva mantida (deliberadamente) em decorrên - ela de alguma incerteza existente esse motivo se ( 4 4) Apud H .Giacometti & Hopp. J. C., EAESP /FGV, mimeo, s/d. - 99 - apresenta facilmente, pela existência de flutuaçÕes na de manda: o produtor deseja ser o primeiro a participar da fase de prosperidade, não deixando as vendas para novos concorrentes, que pressionarão o mercado quando o período favorável se encerrar" (45) Para Steindl, todavia, esse nao e o motivo rnals relevante; sua ênfase recai sobre aquela reserva de capacidade "mantida (deliberadamente) em decorrência da previsão de eventos futuros" (46). É a seguinte sua expli_ cação para este motivo "mais profundo e geral": "qualquer produtor que constrói urna nova planta sabe que, um perÍodo inicial (que não devemos imaginar seja durante curto demais), ele poderá conquistar apenas um mercado restri to, devido a fidelidade dos consumidores e a toda urna sé rle de fatores bem conhecidos. Não obstante, ele dirnensio nara a sua ca~acidade de modo a deixar bastante campo pa ra urna produção maior, pols espera ser capaz de expandir suas vendas mais tarde. Essa esperança é fundamentada na experlencia comprovada de que o crescimento do rnercado(ou de sua' clientela') e urna função do tempo. Durante um pe- ríodo restrito poderá lançar mão de publicidade, redução de preços ou de qualquer outro método, - . -mas nao consegulra elevar suas vendas além de determinado nível,enquanto,corn o passar do tempo, a simples existência da firma provoca ra urna ampliação gradativa da clientela e a publicidade e outros métodos de estÍTiulo as vendas trarão resultados,a penas gradativos. Essa 'lei de acumulação da clientela e fundamental para nossa explicação. Ninguém negara que se Ja plausível". (47). Poder-se-ia, todavia, perguntar o seguinte: se o empresário tem antecipada consciência de que a deman da por seu produto (no caso do investimento em um novo pr~ duto ou em um novo mercado) demorará algum tempo para Sl tuar-se num patamar relativamente elevado, entao por que ele não val ajustando gradativamente a capacidade produti_ (45) J. Steindl, op. cit. (46) J. Steindl, op. cit. (47) J. Steindl, op. cit. p. 23 p. 23 p. 23 -100- va à elevação da demanda? Esse procedimento poderia ser i lustrado através de uma empresa de confecçÕes que traba lhasse exclusivamente com a unidade máquina de costura/cos tureira; à medida em que a demanda fosse crescendo ser~am adicionadas, de forma gradativa, mais máquinas e operá rias. Nesse caso, não surgiria capacidade ociosa. Ocorre que essa divisibilidade técnica s6 existe em alguns ra- mos; na verdade, a característica mais comum e a indivisibilidade técnica, gerada pelo ajuste da chamada técnica às escalas mínimas de produção crescentes. Explicando me lhor: dada a relação direta entre escala de produção e custo unitário direto (ou seja: quanto maior a escala me nor o custo), existem escalas mínimas de produção em ter mos de competitividade. Ao se investir numa siderúrgica por exemplo, não se pode construir inicialmente uma pequ~ na planta e depois ir crescendo aos poucos; a escala míni ma já se tornou tão grande que a planta tem que ser, des de logo,bastante grande, antes de existir demanda para t~ da essa capacidade instalada. Explica-se assim a famosa frase de Steindl, qual seja: "a capacidade cresce à fren te da demanda". E essa característica de indivisibilidade técnica que ilustramos para a siderurgia vale para a mai~ ria dos ramos industriais, por exemplo: ... . qu~m~ca, farmacêu tica, petroquímica, automobilística, alguns sub-ramos da mecanica, têxtil·=principalmente ap6s o fio sintético etc. Graficamente, podemos ilustrar a capacidade ociosa pelo motivo da "acumulação de clientela" de Steindl da se guinte mane~ra: (Página seguinte) Ate o momento t 1 , a capacidade instalada em t 0 encontra-se amplamente sub-utilizada; apos t 1 , a capa cidade ociosa planejada (no caso da planta já instalada ) refere-se à incerteza. Depois das explicaçÕes de Steindl,podemose~ tender a aparentemente enigmática situaçao constatada nos anos 20 e 30 nos EUA; no caso dos anos 20, epoca de gran de crescimento, a política de investimento das grandes em presas levou a que a capacidade produtiva crescesse an tes da demanda, ampliando as margens da capacidade ociosa; -101- Demanda, capacidade capacidade r-----------------------------------------------------produtiva t o GRÁFICO 33 demanda tempo apos a crise lmensa e abrupta que sobreveio em 1929, al guns ramos portadores de grandes escalas minimas (e por - tanto grande indivisibilidade técnica), nos quals o lnves timento possui longo prazo de maturaçao (tempo entre o i nício da construção da planta e sua primeira produção) ,c~ . -mo é tipico para o aço, foram pegos de surpresa em melo a maturação de seus investimentos. Entre a perda certa re presentada pela interrupção radical das obras e a perda incerta representada pela sua continuação, ainda que mals lenta (pois nao se podia prever a intensidade e a dura - çao da crise), a opção pela segunda causou um aumento de capacidade em um momento de forte redução na demanda. 3.12 -CAPACIDADE OCIOSA E FORMAÇÃO DE PREÇOS A constataçao de que o moderno capitalismo industrial trabalha tipicamente com um grau relativamente elevado de capacidade ociosa e crucial na modernateoria dos preços. Lembremo-nos da citação de Kalecki a respeito dos preços industriais: "a produção de bens acabados é e lástica devido à existência de reservas de capacidade pr~ -102- dutiva. Quando a demanda aumenta, o acréscimo e atendido principalmente por uma elevação do volume de produção, en quanto os preços tendem a permanecer estáveis. As altera çÕes dos preços que porventura se verificarem resultarão, principalmente,de modificaçÕes do custo de produção"(48). Tambem em Steindl, lemos: "Como outros tipos de reservas, (por exemplo, os estoques), ela responde pela elasticida de apresentada pelo sistema, em tempos normais, em face das rápidas mudanças na demanda geral. Essa elasticidade decorrente da existência de uma ampla margem de reservas de mão-de-obra, de matérias-primas, de equipamentos, e de estoques, e uma das características mais notáveis do cap~ talismo (pelo menos na epoca moderna), exceto em períodos de guerra e pós-guerra." (49). SÓ agora estamos em condiçÕes de entender a elasticidade da oferta industrial em relação às flutua- çÕes da demanda, o que diferencia a formação dos preços industriais d3 formação dos preços dos produtos primários, cuja oferta e inelástica A reserva de c a- pacidade ociosa funciona como um "colchão amortecedor" da ação da demanda sobre a oferta; em outras palavras, um au mento repentino na demanda e satisfeito por uma elevação na produção, não ocorrendo aumento de preços. No caso dos produtos primários, dada a inexistência desse "colchão a mortecedor", a açao da demanda dirige-se diretamente para o preço (daí a necessidade de estoque reguladores ofi ciais para atuarem como "colchão amortecedor"). Esse ra ciocínio retira, para o caso dos preços industriais,a for ça explicativa que a relação oferta x procura tem para o caso da formação dos preços dos produtos primários. É im- portante frisar, que, se por acaso a capacidade . . OCl.OSa l.n dustrial chegar a nÍveis muito baixos, entao se elimina o "colchão amortecedor", e a pr~ssao da demanda sobre a o ferta ocasiona elevação de preços, de forma análoga ao que ocorre tipicamente para os produtos primários. A 1.n- (48) M. Kalecki- op. cit., p. 61. (49) J. Steindl- op. cit., p. 24. Çl -103- ternalização, por parte do setor industrial, de urna lÓgi ca de forrnaçã? de preços tipica da agricultura e da rnlne raçao completa -se com o advento da especulação com prod~ .tos industriais, sejam eles intermediários ou finais, de consumo ou de produção. Concluirnos que a politica de lU vestimenta das empresas, adernais de sua evidente irnportân c1a para o crescimento econorn1co, também possui efeitos so bre a formação dos preços. 3.13 -DIFERENCIAIS DE CUSTO E FORMAÇÃO DE PREÇOS Para Steindl, "a existência de consideráveis diferenciais de custo e crucial em importância para a an~ lise teórica da formação dos preços" (50). Os diferenciais de custo, ou seja, de custos unitários diretos,ocorrern en tre empresas de diferentes - . e lllVelS tecnológicos; tamanhos os custos crescem à medida que caminhamos das grandes pa ra as pequenas empresas de urna mesma indústria. Imaginemos, inicialrnen~e, o caso de urna ln dÚstria na qual concorrem empresas de tamanhos diferentes, sendo significativa a participação dos pequenos produto- res. Trata-se de um mercado bastante competitivo e, se considerarmos um produto bastante homogêneo, teremos um mesmo preço cobrado por todas as firmas; graficamente, te mos: o o .W•r< Cll H :::l\ttl (.) .w ·ri c :::l A B FIGURA 17 (50) J. Steindl- op. cit., p. 33 C -------------I I I I '--------~~-- --LJ -104- A empresa I, representativa das pequenas em presas da indústria, caracteriza o chamado produtor marg~ nal, no duplo sentido de que representa o produtor de malor custo (menos eficiente) e de lucro lÍquido igual a zero (produtor de lucro normal.) Expliquemos a idéia de lucro zero: significa que o empresário recebe uma remune raçao equivalente ã que receberia caso trabalhasse em ou tra empresa; nesse caso, a remuneraçao do seu capital se- rla nula. A situação de produtor marginal depende, -e ela- ro, do preço do produto; uma queda no preço fará com que o produtor I seja eliminado do ~ercado, enquanto um prod~ toyque antes obtinha lucro passa a ser produtor marginal. Sobre a questão da eliminação, observa-se que a fragilid~ de da empresa marginal coloca-a numa situação de fácil e liminação do mercado. Vejamos a importância dos diferenciais de custo para a formação do preço. Sendo a empresa A a de me nor custo unitário direto (mais eficiente)., entao nenhu ma empresa poderá cobrar um preço menor (lembrar a homog~ neidade do produto). Essa empresa possul portanto, no pr~ ço, uma arma eficiente para a eliminaÇão de concorrentes, quando julgar necessário (numa época de recessão, por e xemplo). Da mesma forma, em epocas de crescimento do mer cado, quando não houver interesse ou mesmo condiçÕes para eliminação dos COncorrentes de maior CUStO, e bastante lU teressante para as empresas mals eficientes "seguir" o preço ditado pelo custo mais alto das menos eficientes pols dessa forma sua margem de lucro torna-se bastante e levada. Vejamos, dinamicamente,o padrão de concor rencla para o caso de uma indústria com as característi cas apontadas de grande heterogeneidade a nível das em presas. Chamemos as empresas maiores e mais eficientes de empresas progressistas (empresas do tipo A) e as menores e menos eficientes de empresas marginais (empresas do ti po R) e, seguindo Steindl, coloquemos os seguintes press~ postos: "SupÕe-se, em primeiro lugar, que as firmas -105- invistam apenas em sua prÓpria indÚstria. A rigidez total dessa hipótese não será mantida ate o fim, mas sera sus - tentado, do princÍpio ao fim, que os empresarlos conside ram em prlmelro lugar o investimento em sua prÓpria indú~ tria, e so se afastam dessa prática por motivos muito for tes. Em segundo lugar, supoe-se que o aumento do capital empresarial de uma firma - ou seJa, a parcela relativa ao capital mals as reservas no caso de uma sociedade de cap~ tal por açoes, ou de capital privado dos empresários no caso de uma firma particular - seja um importante incenti vo ao investimento do empresário. O aumento desse capital empresarial ocorre, em geral, retendo-se uma parte dos l~ cros sob a forma de poupança. processo que denominaremos acumulação interna. Em terceiro lugar, supomos que a taxa de crescimento do mercado seja dada para a indústria como um todo" (51) Dadas as características das empresas margi nais, com obtenção de lucros apenas normals, considera-se que elas "provavelmente nada acumularão como grupo" (52). Consideremos agora as diferentes possibili dades dinâmicas: a) A taxa de crescimento das empresas progressistas (LA/A) e igual ã taxa de crescimento do mercado (LM /M ) e e ponhamos que o mercado inicial (M ) divida-se da e Su se- guinte forma: 50% para as empresas A e 50% para as em presas B (pequenas) 1:!. A A A 50% = M e Ilustremos a situação em que: L M e M e B 50% I:!.M e A 50% B 50% FIGURA 18 (51) J. Steindl- op. cit., p. 61-62 (52) J. Steindl- op. cit., p. 62 -106- Nesse caso, a participação relativa das em presas A e B no mercado não se alterará, pois ambas parti c~parao com a mesma proporçao anterior no mercado acresci do (M ) . É interessante observar que, se as empresas marginais,como e grupo,nao realizam acumulação interna, entao seu aumen - to, no sentido de participar da expansão do mercado,só p~ de se dar em termos quantitativos, ou seja, atraves do au mento do número de pequenas empresas. O caso em questao e representativo dos perÍodos de grande expansao no mercado, quando são abertas novas possibilidades para o ingressode pequenas empresas. Se o mercado crescer muito,pode até ocorrer que a participação das firmas pequenas aumente - . para isto e necessar~o que: Por exemplo: M e A 50% > M e A B 50% FIGURA 19 6M e A 30% B 70% b) A taxa de crescimento das empresas progressistas per~or a taxa de crescimento do mercado: 6 A A > 6 M e M e -e su- Nesse caso haverá um aumento da participação relativa das empresas de tipo A no mercado. Por exemplo. A 50% M e -107- B 50% D.M e A 70% B 30% FIGURA 20 Coloca Steindl que, nesse caso, sera neces- - . sar1o um esforço especial de vendas pelas empresas pro gressistas: "Se, contudo, a taxa de acumulação interna das firmas bem situadas, determinada por sua vantagem diferen cial, for de tal ordem que empurre a sua expansao além da taxa de expansão da indÚstria como um todo, elas terãode garantir uma participação relativa maior no mercado. Para 1SSO, - - . sera necessar1o que se lancem em uma campanha de vendas especial, pois, se venderem ao mesmo preço das de mais firmas, fornecendo produtos da mesma qualidade, com uma campanha publicitária semelhante, é provável que nao conquistem mais que uma parcela proporcional do mercadoem expansao. Portanto, ou venderão a preços mais baixos do que as firmas marginais, ou se empenharão em uma competi çao de qualidade, ou seja, produzirão melhores produtos de custos provavelmente maiores, e os venderão ao mesmo preço das firmas marginais. Ou, entao, lançarão campanhas publicitárias ou farão outras despesas de vendas em esca la mais elevada do que as firmas marginais, o que implica rá, provavelmente, que suas despesas de venda por unidade serao ma1ores do que as firmas marginais" (53). O aumento da participação relativa das em- presas maiores no mercado caracteriza um aumento no grau de concentração do mercado em termos relativos. Essa con- (53) J. Steindl- op. cit. p. 72. -108- centraçao relativa apresenta um-limite caracterizado pela seguinte situação: 6A l'lH e Se lSSo ocorrer, entao as empresas de tipo - A captarao para si todo o incremento do mercado; nesse ca so o nÚmero de empresas do tipo B não se altera: A 50% M e B H e A 50% 100% FIGURA 21 A partir desse ponto limite, teremos a se guinte situação: LA > l'lM e Nesse caso, as empresas maiores nao so cap tarao para Sl todo o incremento do mercado, mas também to marao uma parte do mercado anteriormente servido pelas em presas pequenas. Quando o crescimento absoluto das empre sas mals eficientes supera o crescimento absoluto do mer cado, ocorre eliminação de empresas marginais, caracteri zando um aumento no grau de concentração do mercado em termos absolutos. Por exemplo: M 6M e e A B A 50% 40% 11 ~% 100% FIGURA 22 -109- Vejamos um trecho de Steindl sobre a elimi naçao de empresas menos eficientes: "Devemos considerar, agora, o caso especial que ocorrerá se a acumulação interna das grandes firmas ul trapassar certo nível crítico. A causa desse aumento na acumulação interna seria a adoção de novos métodos técni cos, que reduziriam os custos e aumentariam as margens de lucro dessas grandes firmas, porque eles não podem ser a dotados por todas as firmas, principalmente pelas peque - nas. O nível crítico de que falamos e a taxa máxima de ex pansao das grandes firmas que, dada a taxa de expansão da indústria, é consistente com uma participaçao absoluta constante das outras firmas. Se as grandes firmas se ex pandirem a uma taxa mais rápida do que o indicado por es se nível, a participação absoluta das outras firmas deve ra, necessariamente, diminuir. Ocorrerá, entao, uma con - centraçao absoluta, ou seja, a eliminação de determinado numero de firmas existentes. Como se dará essa eliminação ? Ela so poderá ocorrer se a intensidade da campanha de ven das das grandes firmas ocasionar perda de vendas para ou tras firmas, vendo-se estas, portanto, forçadas a reduzir os preços ou a aumentar o custo por meio da competição de qualidade e de uma publicidade mais intensa. As firmas de custo mais elevado ou com menor flexibilidade financeira, aspectos que em geral sao mais encontrados entre as pequ~ nas firmas, nao serao capazes de suportar a tensao, sendo forçadas a abandonar o mercado" (54). O tratamento dinimico ac1ma explicitado e de grande utilidade para marcar o fato de que a política de preço de uma grande empresa (alem da política de prod~ to e publicidade) depende da relação entre sua taxa de crescimento (bem como da taxa de crescimento das outras firmas progressistas) e a taxa de crescimento do mercado. rependendo da comparação entre essas taxas, a políticada ~rande empresa será mais apática (6A/A ~ 6Me/Me) ou ma1s agress1va (6A/A > 6M /M ) . E essa agressividade sera tan- e e (54) J. Steindl - op. cit. p. 63 -110- to ma1.or quanto ·maio-ra distância entre tc.A/A e tc.M /M e e As pequ~ nas empresas possuem um comportamento tipicamente passivo, aguardando o resultado da comparação das taxas acima ex plicitadas. Verifiquemos agora um caso de grande rele- vancia no capitalismo moderno; 1.mag1.nemos que, num deter minado mercado, concorrem apenas 4 (quatro) empresas, sen do a seguinte a estrutura preço-custo: A ---- - ,.------r o o )...< ·.-4 C) )...< ::l\CIJ .--< .w ·.-4 c ::l o o ·.-4 .w )...< CJ)\CIJ ::l .1-J C) ·.-4 c ::l B c D FIGURA 23 Nesse caso, a Empresa D e a empresa margi- nal apenas no sentido de que possuí o maior custo uníta - r1.o direto, ou seja, e a menos eficiente, po1.s, mesmo as Slm, apresenta lucro lÍquido positivo (o qual pode ser a te bastante elevado). Conclui-se que o diferencial de cus to entre as 4 empresas nao e significativo para a explic~ ção do lucro das empresas, pOlS - - . e necessar1.o explicar o lucro da empresa D. Afinal, se a empresa menos eficien- te apresenta um lucro (que, como já dissemos, pode ser bas tante elevado), por que outras empresas ainda menos efici entes nao entram no mercado abocanhando lucros? A respos- -ta a essa questao esta nas chamadas barreiras a entrada, ou seja, nas dificuldades encontradas pelos capitais para ingressar na indÚstria; estas barreiras sao devidas -a te c nologia, ã escala de produção e ã diferenciação do produ to. Fica claro portanto, que, no caso em estudo, a empre- sa marginal -e uma grande empresa. Tendo isso em conta, fi ca fácil perceber a dificuldade para a eliminação de em - presas do mercado. Imaginemos que a empresa A procure, a traves da redução de seu preço de p 0 para p 1 para elimi -111- nar do mercado a empresa D: c [ c ·r< .w )...< tll\ctl ::::; .w u . ..., c ::J FIGURA 24 prejUlZO A empresa marginal, nesse caso, poderá rea glr baixando também o seu preço para p 1 , o que anulara o esforço de vendas da empresa A. Haveria necessidade de baixar ainda mais o preço, no sentido de anular o lucro "anormal" da empresa D (preço teria que baixar para p 2 ). Como a empresa reage baixando também seu preço para p 2 ,fi caria apenas com lucros "normais", o que nao garantiria a sua eliminação; seria - . necessarlo, por parte de A, baixar ainda mais seu preço, de modo a induzir a empresa D ao prejuízo (preço cal para p 3). Pergunta-se: estaria garantida, depois desse lmenso esforço de redução de asslm pre- ço e de lucro da empresa A, a eliminação da empresa D?Ain da nao, pols sendo D uma grande empresa, pode ter condi çoes financeiras para permanecer por algum tempo com pre juízo. Como afirma Steindl, "como as firmas marglnals nes se caso nao sao pequenas, elas muitas vezes têm certa fle xibilidade financeira e, com isso, um poder maior de per- manencla do que teriam as firmas pequenas. O esforço de vendas. necessário seria, pols, considerável e, a menos que as reduçÕes de custo efetuadas pelas firmas progres sistas sejam muito grandes, o processo de eliminaçãoen volveria uma considerável redução nas margens de lucro e -112- taxas de lucro na indÚstria" (55). É importante frisar que um grande diferen - cial de custos, que torne atraente a concorrencia em pre ços para eliminação do produtor de maior custo, difícil mente ocorre em mercados deste tipo, ou seja, urna indÚs tria oligopolista, dominada por poucas e grandes ernpr~as. Alem disso, existe um componente adicional, que auxilia na falta de motivação para a "guerra de preços", qual se ja, o desconhecimento que cada urna das empresas partici pantes do oligopÓlio tem da realidade dos custos das suas concorrentes; isto torna a "guerra de preços" urna emprei tada extremamente arriscada. Sendo assim, concluímos que o preço deixa de ser urna arma de concorrência inter-capi talista, sendo melhor para as empresas do oligopólio urna "administração conjunta" dos preços, passando a concorreu cla para o lado dos produtos, incluindo aí a luta da pro- paganda, para o caso dos oligopólios diferenciados é possível urna grande diferenciação de produtos). (onde Para o caso de urna empresa participante do oligopÓlio, a teoria econornica criou urna interessante"cur va de demanda quebrada", com o seguinte formato (56). (55) (56) p D GRÁFICO 34 Q J. Steindl- op. cit. p. 72. Esta curva foi desenvolvida sirnultânearnente por Paul Sweesy nos EUA e por Hall e Hitch na Inglaterra. -113- Seu significado -e o seguinte: imaginemos que, para uma empresa oligopolista, o preço do produto -e p 0 ; abaixo desse preço a demanda e bastante inelástica, ou seja, a empresa acredita que, baixando seu preço, as concorrentes a segu1rao, baixando tamb~m os seus, o que geraria um acr~scimo muito pequeno na demanda do seu pro- duto; Ja para uma subida do preço, a situação e inversa, ~ols a empresa imagina que suas concorrentes nao a segul rao, o que ocasionará forte queda de demanda de seu prod~ to (nesse caso a curva de demanda ~ elástica). A conclu - sao e Óbvia: melhor permanecer cobrando o preço p 0 • Se já vlmos anteriormente as razoes da r1g~ dez de preços para o caso do monopólio e de uma indGstria oligopolista (em termos de preço médio), v1mos agora as razoes da rigidez de preço para o caso de uma empresa paE ticipante do oligopólio (o que, obviamente, reforça o ar gumento da rigidez do preço medio). Ê importante ter em conta que, no caso do o ligopÓlio, dependendo do tamanho das "barreiras à entra da", o que diminuirá a importância da concorrência poten cial, surge um importante grau de liberdade (ou, dizendo melhor, de arbitrariedade) por parte das empresas para d~ terminação dos seus preços, po1s deixa de existir uma con corrência fortemente indutora da redução de preços. Veri- ficamos entao que, no caso do capitalismo de grandes em- presas, diferentemente do que se verificava no capitalis mo concorrencial do século XIX, os benefícios do aumento de produtividade, que se reflete na redução dos custos u nitários diretos, nao são difundidos através dos preçosp~ ra toda a economia, mas sim "represados" pelas gerando ass1m vultosas massas de lucro. empresas, Da consideração da capacidade da grande em- presa de administrar seu preço surge o conceito de "mark up", que significa a porcentagem colocada em cima do cus to unitário direto para se chegar ao preço. A magnitude desse "mark-up" encontra-se determinada, por um lado, pe lo prÓprio grau de monopÓlio e pela' segurança que as em presas oligopolistas possuem com respeito a concorrenc1a potencial, (barreiras à entrada de natureza econom1ca, -114- mals interferência na polÍtica do Estado) e, por outro~or fatores estruturais como por exemplo a taxa de salário vigente na economia. Lembrando do Gráfico 11 (custo unitário di- reto), teremos entao o seguinte esquema gráfico para o preço administrado (em função da quantidade produzida) preço a ---------..---------- b c Q GRÁFICO 35 sendo: cd ramo relevante da produção bc custo unitário direto ab "mark-up" ac preço A partir desse . - . raClOClnlO, podemos entender os esquemas encontrados em qualquer texto da área de Fi nanças das Empresas, referente ã relação entre Custo, Vo lume e Lucro. Iniciemos com o gráfico da Receita Total em função da quantidade produzida: -115- RT GRÁFICO 36 Sabemos que RT = p.Q Vimos anteriormente que, sendo a curva de demanda negativamente inclinada, significando que, para se vender mais ~ necess~rio baixar o preço, a curva da Receita Total e uma par~bola. (Gráfi co 20'. Para que essa curva passe a ser retilínea, e ne cess~rio um pressuposto fundamental, qual seja,de que nao é necess~rio baixar o preço para vender mais; por tudo que j~ vimos, esse e o caso típico da grande empresa. Se con siderarmos então o preço rígido ("fix-price", na termino logia de John Hicks) e o multiplicarmos pela quantidade chegaremos à reta da Receita Total. Colocando em seguida as funçÕes Receita To tal Custo Total num mesmo gr~fico, temos: RT, CT RT CT Q GRÁFICO 37 -116- A produçà.o Q. e aquela que equilibra custo l receita; abaixo dela existe . ~ (CT RT) ; e preJUlZO > aclma dela existe lucro (RT > CT) . Observe-se que, nesse grafi- co, nao existe um Lucro Total Máximo claramente determina do, como era o caso no esquema da concorrência imperfeita (ver Gráfico 21); quanto maior a produção, malor o lucro. A decisão da quantidade a ser produzida (atenção: a deci sao sobre o preço a ser cobrado ja foi feita; ela antece de o gráfico da Receita Total) dependera da política da empresa a respeito do grau de capacidade ociosa que consl dera desejável. Finalizamos com uma observação: nao e neces sario estudar uma coisa nas disciplinas de Teoria Econômi ca e outra coisa nas disciplinas praticas, ligadas a a- çao empresarial (por exemplo: Finanças das Empresas, Mar keting, etc.). Em outras palavras, nao vale dizer que "na pratica a teoria e outra"; o problema e saber distinguir entre uma ma e uma boa teoria.