Prévia do material em texto
<p>José Huaixan</p><p>Vanda Simões</p><p>SOIS DEUSES</p><p>2ª EDIÇÃO</p><p>ORIGEM E DESTINAÇÃO</p><p>DA ESPÉCIE HUMANA</p><p>Copyright © 2022 José Huaixan e Vanda Simões</p><p>Copyright © 2022 desta edição, Letra e Imagem Editora.</p><p>Todos os direitos reservados.</p><p>A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação de direitos</p><p>autorais. (Lei 9.610/98)</p><p>Gra�a atualizada respeitando o novo Acordo Ortográ�co da Língua Portuguesa</p><p>Revisão: Vitor Ribeiro</p><p>Design grá�co: Amanda Simões</p><p>Imagens de capa e quarta capa: Ilustrações de Giorgio Gallesio (1772-1839). CC-BY-SA-4.0</p><p>Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD</p><p>C874s Huaixan, José</p><p>Sois deuses: origem e destinação da espécie humana / José Huaixan; Vanda Simões. - 2. ed. - Rio de</p><p>Janeiro : Fólio Digital, 2022.</p><p>Inclui bibliografía e índice.</p><p>ISBN: 978-65-86911-23-7</p><p>1. Religião. 2. Cristianismo. 3. Filosofia. I. Simões, Vanda. II. Título.</p><p>CDD 240</p><p>2021-3056 CDU 24</p><p>Elaborado por Odilio Hilario Moreira Junior - CRB-8/9949</p><p>Índice para catálogo sistemático:</p><p>1. Religião : Cristianismo 240</p><p>2. Religião : Cristianismo 24</p><p>www.foliodigital.com.br</p><p>Fólio Digital é um selo da editora Letra e Imagem</p><p>tel (21) 2558-2326</p><p>letraeimagem@letraeimagem.com.br</p><p>www.letraeimagem.com.br</p><p>União de Irmãos</p><p>São José do Rio Preto - SP</p><p>tel (17) 3225-8229</p><p>contato@soisdeuses.org</p><p>www.soisdeuses.org</p><p>SUMÁRIO</p><p>APRESENTAÇÃO</p><p>CONSIDERAÇÕES INICIAIS</p><p>Capítulo 1</p><p>O DEUS ETERNO</p><p>Origem, meio e �m</p><p>Capítulo 2</p><p>PATERNIDADE DIVINA</p><p>Constituição do Ser</p><p>Capítulo 3</p><p>SOIS DEUSES, E NÃO HOMENS</p><p>Origem divina dos seres humanos</p><p>Capítulo 4</p><p>A VIDEIRA DE HOMENS</p><p>Conjunto de almas que habitam a Criação</p><p>Capítulo 5</p><p>TODOS SOMOS UM</p><p>Os homens habitam em Deus e Deus nos homens</p><p>Capítulo 6</p><p>ETERNIDADE DOS HOMENS</p><p>O despertar das almas para sua verdadeira identidade</p><p>Capítulo 7</p><p>O RENASCER CONTÍNUO DOS HOMENS</p><p>Lei universal da Criação</p><p>Capítulo 8</p><p>É DADO AO HOMEM MORRER UMA VEZ</p><p>O nascer e o morrer do corpo e da alma</p><p>Capítulo 9</p><p>O RETORNO DOS PROFETAS</p><p>Os mesmos servos cumprindo missões</p><p>Capítulo 10</p><p>A VOLTA DE DAVI E A CASA DE ISRAEL</p><p>A construção da nova civilização</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</p><p>APRESENTAÇÃO</p><p>A sentença “Vós sois deuses e todos �lhos do Altíssimo” é de antigo</p><p>conhecimento, datada dos tempos do rei Davi, líder dos hebreus. Jesus, o</p><p>Cristo, quando esteve no mundo, fez menção a ela, lembrando ao mesmo</p><p>povo que essa revelação era dirigida a eles. E reforçou: “A Escritura não pode</p><p>ser anulada”. Se o que foi revelado a respeito da origem divina do homem se</p><p>perdeu, necessita de um resgate, de novo entendimento, pois é uma verdade</p><p>que precisa ser compreendida como base para o sentido da existência e do</p><p>futuro da humanidade.</p><p>Nas páginas deste livro é feito um esforço nessa direção, trazendo de volta</p><p>a questão da origem das coisas. No desenvolvimento do pensamento, o leitor</p><p>perceberá que não se trata de argumentos em torno de doutrinas ou</p><p>questões religiosas. Apesar de versar sobre história bíblica, o ponto central</p><p>da mensagem é demonstrar a eternidade e divindade do Ser, a unidade</p><p>homem-Deus.</p><p>O livro apresenta, em dez capítulos, temas inquietantes, como os atributos</p><p>do Criador, a eternidade e o renascimento das almas, a possibilidade do</p><p>retorno de personagens bíblicos ao cenário terreno e outros temas, com</p><p>argumentações coerentes com o raciocínio lógico. Trata-se de um novo</p><p>sentido para a história bíblica e a própria existência do homem, como</p><p>protagonista da obra que se desenvolve desde a explosão primordial,</p><p>reconhecida pela ciência como início do Universo.</p><p>Perguntas como “de onde viemos?”, “por que vivemos?”, “por que</p><p>morremos?”, “qual a razão da existência das coisas e da vida?” sempre</p><p>�zeram parte dos ditos mistérios, na grande dúvida do homem sobre sua</p><p>natureza. Pensadores, dentro e fora dos círculos da religião, se debruçaram</p><p>sobre teses que trouxeram controvérsias, ora a�rmando a existência de um</p><p>Criador, ora negando-a, atribuindo a Criação ao acaso.</p><p>Nas próximas páginas, o leitor poderá examinar esses aspectos,</p><p>apresentados sob uma ótica diferente. Entretanto, para que sejam veri�cados</p><p>com liberdade, é necessário deixar um pouco de lado os conceitos</p><p>previamente construídos pelas religiões, �loso�a ou ciên cia. Não se trata de</p><p>fazer prosélitos. O objetivo é lançar luzes sobre o sentido da vida, tendo,</p><p>como fundamento, o Livro Sagrado. É tempo de surgir uma nova</p><p>compreensão relacionada com Deus, que possa falar à inteligência dos</p><p>homens, despertando neles o desejo de andar em harmonia com as leis da</p><p>Criação.</p><p>Defendemos a ideia de que existe um conhecimento oculto nas letras das</p><p>Escrituras, a que denominamos ciência de Deus, que em nada nega os</p><p>princípios da ciência que os homens vem desvendando ao longo da história.</p><p>Acreditamos que a sabedoria eterna está disponível a todas as criaturas,</p><p>sendo factível que todas as pessoas, um dia, sejam esclarecidas a respeito.</p><p>Não há mistérios na Criação, mas apenas pontos incompreendidos por</p><p>aqueles que ainda se encontram nos primeiros tempos do aprendizado.</p><p>A ideia central é a de que o homem é uma alma, um ser de natureza</p><p>etérea, imortal, gerado à imagem e semelhança do Criador, para viver</p><p>experiências na região concreta da Criação, o Universo. Como deuses</p><p>inseridos na obra do Eterno Deus, os homens são oriundos de uma variante</p><p>do Ser absoluto e eterno, o próprio Criador.</p><p>Não é novidade a assertiva de que o ser humano tem alma e que ela é a</p><p>imagem de Deus. Porém, que são deuses, como variação do Ser absoluto,</p><p>pode parecer utopia. Poderia o homem ser deus, tendo sido criado? Eis a</p><p>questão mais profunda. A tese apresentada é a de que a alma não é criada,</p><p>mas saída das entranhas do Criador, com todas as Suas prerrogativas,</p><p>portanto dotada de eternidade e virtudes, como o próprio Deus.</p><p>Os capítulos se desdobram em sequência objetiva, tendo em vista</p><p>proporcionar uma compreensão racional acerca da natureza de Deus e dos</p><p>homens. Os seis primeiros capítulos versam sobre o caráter progressivo da</p><p>Criação, a relação entre Deus e as almas, a constituição do Ser, a natureza</p><p>divina dos homens, a unidade homem-Deus, a vivência no Universo e</p><p>outras questões de igual profundidade.</p><p>Os quatro capítulos �nais tratam do renascer sucessivo dos homens no</p><p>cenário terreno, para construir a civilização, conhecida no meio religioso</p><p>como o reino de Deus, a de�nitiva morada para a humanidade.</p><p>Evidenciamos que alguns personagens da história que tiveram suas vidas</p><p>registradas nas Escrituras, como líderes desse grande movimento de</p><p>progresso desde Abraão até hoje, estarão novamente no mundo para</p><p>cumprir missões. Não se trata de tese teológica. Apresentamos um ensaio</p><p>sobre vida e morte, as duas fronteiras da experiência humana, extraído das</p><p>Sagradas Escrituras, com referências apontadas de Gênesis ao Apocalipse.</p><p>No que diz respeito ao pensamento sobre a Criação, não nos ocupamos</p><p>com os conceitos criacionistas ou evolucionistas, no sentido clássico desses</p><p>termos. As questões da Criação são abordadas em torno dos eventos que</p><p>antecedem o tempo da explosão geradora do Universo, trazendo explicação</p><p>para um obscuro ponto, não desvendado pela ciência, muito menos pelas</p><p>religiões. O que gerou o início de tudo é a grande pergunta que se faz.</p><p>O evolucionismo de que tratamos é o mesmo conceito que guia a ciência.</p><p>Guarda diferença apenas no que diz respeito à alma, uma vez que a ciência</p><p>não aborda o campo transcendente. Ao mesmo tempo, não negamos a</p><p>existência do princípio criativo que a tudo gerou, impondo à Criação um</p><p>movimento de começo, meio e �m, chamado progressividade.</p><p>É importante que haja uma teoria capaz de harmonizar criacionismo e</p><p>evolucionismo, tirando-os do campo do sectarismo religioso e da descrença</p><p>cientí�ca. Ambos, ciência e religião, estão com verdades incompletas. Essa é</p><p>a proposta deste livro.</p><p>Os autores</p><p>CONSIDERAÇÕES INICIAIS</p><p>Pode-se a�rmar que vida e morte são temas que, ao longo da história, têm</p><p>ocupado a mente dos</p><p>conceito de que as almas possuem um tempo para se de�nir.</p><p>Dependendo das escolhas que �zerem, darão bons ou maus frutos,</p><p>permanecendo ou não na videira.</p><p>A vida seria uma experiência de instrução das almas? A parábola da</p><p>videira indica que sim! O limpar das varas que já fruti�cam, para que deem</p><p>mais frutos, indica as lutas dos homens diante do cotidiano, seus desa�os e</p><p>tribulações, com o que se tornam mais produtivos, tornando-se</p><p>cooperadores de Deus, segundo os ensinos de Paulo.40</p><p>Acerca da vida terrena, produzir signi�ca participar da construção da</p><p>felicidade coletiva, tanto do mundo presente quanto do vindouro, desde as</p><p>pequenas coisas até os grandes projetos. Em tudo os homens devem</p><p>2. Toda a vara em mim, que não dá fruto, a</p><p>tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para</p><p>que dê mais fruto.</p><p>considerar o interesse do Criador, cujo propósito é o de tornar a população</p><p>do planeta uma frondosa árvore capaz de sustentar a existência das nações.41</p><p>É evidente que uma vida que anseie pela justiça coletiva não pode ser</p><p>construída sobre os alicerces vigentes dos dias atuais. A ONU42 é um esforço</p><p>no sentido do equilíbrio da coletividade, mas o que acontece à sua volta é</p><p>uma amostra de como as decisões da instituição são dominadas por</p><p>interesses minoritários de poderosos. A construção do futuro da</p><p>humanidade dependerá do trabalho de todos os homens em comunhão com</p><p>o Eterno, arquiteto do Universo. A felicidade da humanidade não se dará</p><p>por meio da política ordinária, poder militar ou legalidade comum, e sim</p><p>pela ação da vontade e da ordem do Criador, que é soberana.</p><p>Todas as nações estão convidadas a participar do grandioso projeto que</p><p>levará o mundo à condição de verdadeira civilização. Quem não produzir,</p><p>quem não �zer a opção pelo bem coletivo, quem pensar somente na própria</p><p>vida, será cortado, como a vara improdutiva, seja nação ou indivíduo. Terá</p><p>de recomeçar a caminhada em outro tempo, depois de sofrer as</p><p>consequências dos eventos apocalípticos.</p><p>O Espírito é o mover do Eterno em toda a Criação, através do Logos. Ele</p><p>faz cumprir a lei da progressividade, tanto em relação à mutação da matéria</p><p>quanto dos seres vivos. É quem revela novos conhecimentos aos homens,</p><p>promovendo a melhoria das varas que fazem parte da videira, para que</p><p>produzam em abundância.43 O preceito aplica-se tanto ao contexto da vida</p><p>planetária quanto ao próprio Universo.</p><p>A palavra do Eterno é a ferramenta que limpa a alma de suas equívocos,</p><p>ocasionados pela ignorância que ainda constrange sua consciência. As</p><p>3. Vós já estais limpos pela palavra que vos</p><p>tenho falado.</p><p>Escrituras são um rico manancial de sabedoria e de vida eterna. É uma</p><p>torrente de pensamentos elevados que, sob permissão e desejo do próprio</p><p>indivíduo, o inunda e lhe concede uma existência plena sob todos os</p><p>aspectos. Como consequência, a pessoa passa a viver uma de�nitiva</p><p>renovação, pois tomou consciência de sua eternidade e missão existencial.</p><p>Em seu diálogo com os discípulos, Jesus a�rmou que eles já se encontravam</p><p>limpos pela instrução recebida.</p><p>A todos é dada a oportunidade de conhecer as instruções contidas nas</p><p>Sagradas Escrituras, pois os que carregam essa semente serão os pilares da</p><p>futura civilização.44 Cabe ao povo, a quem Deus convocou, o inadiável</p><p>compromisso de anunciar as promessas e instruções existentes nos textos</p><p>sagrados. As lições reveladas ao mundo estão impregnadas da presença do</p><p>Eterno, de Suas expectativas em relação aos homens e de riquíssimos</p><p>ensinamentos. Ler, re�etir e pôr em prática o código divino é tarefa para</p><p>todas as pessoas, representadas na �gura das varas.</p><p>Onde há o Espírito do Eterno, há verdadeira liberdade.45 A alma que não</p><p>está em comunhão com Deus não vive livremente, seja na realização da</p><p>felicidade pessoal, seja colaborando com o bem coletivo. A unidade da vida</p><p>se faz por pares, todos existindo individualmente, porém num mesmo</p><p>pensamento referencial. Não se trata de ensinar doutrina política, �losó�ca</p><p>ou religiosa, mas de revelar o princípio das realidades eternas, das leis</p><p>naturais, que dão estabilidade à existência das criaturas em todo o Universo.</p><p>A liberdade, segundo as Escrituras, não é uma condição em que o</p><p>4. Estai em mim, e eu em vós; como a vara de</p><p>si mesma não pode dar fruto, se não estiver na</p><p>videira, assim também vós, se não estiverdes</p><p>em mim.</p><p>indivíduo faz tudo o que deseja. Isso é tolice. Imaginemos um barco a remo</p><p>com dezenas de remadores. O que aconteceria se cada um remasse em rumo</p><p>diverso? A embarcação não sairia do lugar. É o que vemos atualmente no</p><p>mundo. Cada remador pensa saber para onde remar. Isso é o que o homem</p><p>insensato chama de liberdade. Por isso, o barco dos homens navega sem</p><p>destino.</p><p>A verdadeira liberdade ocorre quando o homem entende que está</p><p>submetido às leis que regem a Criação. Mesmo que use a ciência como</p><p>referência, as ações e os pensamentos produtivos são sempre iluminados</p><p>pela sabedoria divina. A vara, de si mesma, não pode dar frutos bons, disse</p><p>o Eterno. O ser humano não conseguirá ser feliz enquanto, conscientemente,</p><p>não se tornar parte integrante da vida universal. O materialismo, com seus</p><p>gozos, sonhos e prazeres, ilude a alma, mantendo-a por longo período cativa</p><p>da mediocridade existencial.</p><p>A Criação funciona através de mecanismos perfeitos que impedem os</p><p>homens de permanecerem na ignorância continuamente. Mediante</p><p>sucessivos renascimentos, a alma é submetida a desgastes, passando por</p><p>provas, de acordo com seus atos de indiferença à lei do amor. Recorrendo à</p><p>morti�cação do amor-próprio, por meio das di�culdades, dores e lutas</p><p>inerentes à experiência terrena, Deus leva o homem a aproximar-se da sua</p><p>natureza eterna. Ainda que se consumam milênios, todos os �lhos do</p><p>Altíssimo estão predestinados a encontrar sua verdadeira identidade e</p><p>realização plena naquilo para o que foram criados. Nenhum �lho do Eterno</p><p>�cará para trás, ou será condenado para sempre, como se ensinou durante</p><p>séculos nas religiões seculares do mundo ocidental. Se não houver</p><p>comunhão da mente humana com o Eterno, seja pela fé em Adonai46 (o</p><p>Senhor dos judeus) ou em Cristo (o Senhor dos cristãos), o indivíduo nada</p><p>fará que se torne fonte de felicidade e permanecerá imerso na miséria moral.</p><p>O Verbo mantém o incessante progresso da videira, segundo os</p><p>propósitos do Eterno. Ela é o conjunto de almas existente na Criação, a sua</p><p>totalidade. O modelo aplica-se aos mundos povoados para demonstrar aos</p><p>seus habitantes a necessidade de viver em harmonia com a natureza e de</p><p>serem produtivos, tendo em vista o bem comum. As regras e os modelos são</p><p>sempre os mesmos, em todos os lugares. A videira é como um corpo e suas</p><p>inúmeras células. Cada unidade possui funções de�nidas. O organismo</p><p>funciona pela ação benfazeja e harmoniosa de cada uma das pequenas</p><p>unidades. Se, no entanto, uma delas resolver viver por si mesma, sem pensar</p><p>nas outras, se tornará um câncer, prejudicando a vida do corpo.</p><p>Da mesma maneira funciona a sociedade. As células precisam estar em</p><p>perfeita concórdia, segundo os propósitos do corpo. Boa parte das desgraças</p><p>humanas nasce do individualismo, das opiniões e da vaidade das pessoas,</p><p>que constituem o organismo social. Isso quer dizer que o desarranjo de um</p><p>indivíduo traz consequên cias aos demais. Infelizmente as tragédias</p><p>cotidianas são tratadas no ponto de vista da simples justiça. Ninguém deve</p><p>se surpreender diante das doenças da sociedade, provocadas pelo</p><p>desequilíbrio dos homens. As enfermidades re�etem na saúde corporal, bem</p><p>como as mazelas morais o fazem na vida social. Orgulho e vaidade são</p><p>altamente cancerígenos para o corpo coletivo. São os males que levarão a</p><p>vida do planeta à destruição.</p><p>O Eterno, através das almas que constituem a videira, determina a vida</p><p>universal, suas leis e regras. O aperfeiçoamento das varas é o progresso que</p><p>se faz no campo moral, intelectual e transcendental. Conduta,</p><p>5. Eu sou a videira, vós as varas; quem está em</p><p>mim,e eu nele, esse dá muito fruto; porque</p><p>sem mim nada podeis fazer.</p><p>conhecimento, instrução e eternidade. Todo esse movimento de ascensão é</p><p>sustentado pela mente ativa de Deus, o Logos. As almas são os galhos, disse</p><p>o Cristo. A relação existente entre elas e o Criador se estabelece pelo Logos, o</p><p>Verbo,47 que é o canal entre o relativo e o absoluto, o criado e o incriado.</p><p>Todos estão ligados pelo Espírito numa mesma unidade. Por isso, é</p><p>concebível que Deus esteja em todas as almas e que elas sejam unas, em</p><p>Deus.48 Estar na videira, ou seja, receber o Espírito do Eterno no coração, é</p><p>condição indispensável à felicidade pessoal e às realizações coletivas.</p><p>Somente Deus proporciona plena realização à alma do homem, tirando-a</p><p>das trevas da ignorância para a luz da sabedoria, de maneira que participe e</p><p>seja cooperadora do grande projeto de construção do futuro.</p><p>As palavras do Logos, nesse versículo, se referem ao Juízo, evento seletivo</p><p>que, em breve, se passará no mundo terreno, onde a videira será limpa</p><p>de�nitivamente das varas improdutivas. O pensamento de que somos galhos</p><p>da vinha divina existe em diversos trechos das Escrituras. Também é patente</p><p>o conceito de que os �lhos do Altíssimo têm um período para produzir, para</p><p>tomar decisões, viver suas experiências de erros e acertos, até que se tornem</p><p>plantas frutíferas. A vara que não produzir não permanecerá na vinha.</p><p>Jesus assegurou: “Ou fazei a árvore boa e os seus frutos bons, ou fazei a</p><p>árvore má e seus frutos maus”.49 A alma não é peça cativa da videira, como</p><p>um fantoche destituído de vontade. Como consciência distinta, faz escolhas</p><p>livremente. Assim, dependerá dela permanecer envolvida por maior ou</p><p>menor tempo em suas próprias concepções, sofrendo os reveses da lei que</p><p>lhe serve de aio50 até que encontre sua eternidade e comece a viver,</p><p>6. Se alguém não estiver em mim, será</p><p>lançado fora, como a vara, e secará; e os</p><p>colhem e lançam no fogo, e ardem.</p><p>efetivamente. O mecanismo que conduz a alma das trevas para a luz pode</p><p>ser percebido nos ensinamentos gerais das Escrituras.</p><p>Por não poder revelar todas as coisas, o Cristo fez apenas referência</p><p>super�cial ao Juízo. Disse que as varas improdutivas seriam retiradas da</p><p>videira e, lançadas fora da plantação, secariam e padeceriam grandes dores.</p><p>A mensagem é grave. O pensamento é o mesmo do julgamento apocalíptico,</p><p>em que um fogo abrasador é visto como destino de quem não se interessar</p><p>pela causa do bem.51 Embora não se possa admitir a ideia do inferno</p><p>concebido pelos cristãos, o versículo é claro acerca das consequências dos</p><p>que são indiferentes às instruções do Eterno. Porém, não se refere à sorte</p><p>dos condenados, resumindo-se a dizer que essas almas serão lançadas em</p><p>um simbólico lago de fogo.</p><p>Durante séculos se acreditou que os condenados, no Juízo, �cariam para</p><p>sempre perdidos na escuridão e no sofrimento, um conceito absurdo,</p><p>rejeitado pelo entendimento da misericórdia divina. Nos dias atuais, diante</p><p>de novas revelações, compreende-se que em algum tempo todos</p><p>encontrarão liberdade, tomando posse da eternidade. Não há condenação</p><p>eterna, uma vez que o amor de Deus é perpétuo. O ensinamento das</p><p>Escrituras diz que a misericórdia triunfa sobre as consequências do</p><p>pecado.52</p><p>A instrução se torna mais objetiva, fazendo o homem entender o quanto</p><p>pode ser feliz ao caminhar a favor da corrente que move o Universo.</p><p>Estabelece as condições de relacionamento entre a mente do �lho e do Pai,</p><p>entre a alma e Deus. O Verbo anuncia conceitos e ensinamentos que</p><p>7. Se vós estiverdes em mim, e as minhas</p><p>palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que</p><p>quiserdes, e vos será feito.</p><p>precisam ser assimilados pela humanidade, no seu lento processo de</p><p>despertar, de modo a alcançar felicidade e realização plenas, tanto no âmbito</p><p>da vida das pessoas quanto no das coletividades.</p><p>Ao dizer que a alma poderia pleitear tudo, não pretendeu a�rmar que</p><p>ouviria tresloucados pedidos de homens egoístas, ocupados em atender tão</p><p>somente aos seus desejos, mas que intercederia a favor dos que caminham</p><p>na luz do esclarecimento. Não se trata de doutrina moral, religião ou</p><p>conceitos �losó�cos, mas da expressão viva do Criador, que exterioriza e</p><p>executa a Sua perfeita lei, impulsionando ao progresso os que foram gerados</p><p>para a bem-aventurança, assim como a água de um rio que segue seu curso</p><p>naturalmente, cumprindo leis universais da vida.</p><p>__________</p><p>35 | Filósofo e historiador judeu helenista que nasceu em Alexandria, no Egito, no ano 23 a.C. e morreu por volta de 41 d.C.</p><p>Escreveu obras importantes a respeito do Verbo Divino, o Logos platônico. Seu pensamento foi profundamente in�uenciado</p><p>pelo platonismo e pelo estoicismo. Acreditava que a Torá tinha uma mensagem universal, que podia ser entendida por todos.</p><p>36 | Logos é uma palavra de origem grega com diversos sentidos, geralmente associado ao pensamento, fala, palavra, razão,</p><p>discurso, racionalidade. O Logos de Deus é o elemento inteligente da Criação, por cujo intermédio o Absoluto se torna relativo,</p><p>sem perder o status de ser Eterno. É pelo Logos que ocorre a ação do Eterno no mundo relativo, gerando a Criação e todas as</p><p>suas ativas particularidades. Foi confundido pelos teóLogos dos primeiros séculos como sendo Jesus, o �lho de José. Jesus é o</p><p>primogênito da Casa de Jacó. O Logos é o unigênito do Eterno, o ser mais antigo da Criação, preexistente ao tempo, ao espaço e</p><p>à matéria. As almas são fulgurações do Logos, ou Verbo, como o denominou João, o Evangelista (João 1.1). Nos textos,</p><p>assumiremos o Logos e o Verbo como o mesmo Ser.</p><p>37 | Corrente �losó�ca religiosa que, nos primeiros séculos, esteve à margem do cristianismo. Foi considerado heresia por conter</p><p>ensinamentos que, segundo a igreja nascente, prejudicaria a fé de seus seguidores.</p><p>38 | Mateus 26.39-41; Lucas 22.42.</p><p>39 | João 14.6-7 e 9; 15; 17.21.</p><p>40 | 1 Coríntios 3.9.</p><p>41 | Isaías 65.17-25; Apocalipse 22.2.</p><p>42 | ONU ou Organizações das Nações Unidas é uma instituição fundada em 24 de outubro de 1945, congregando membros de</p><p>todos os países do planeta, com a �nalidade de trabalhar pelo bem comum. A organização tem sido um importante elemento na</p><p>solução de con�itos entre os povos.</p><p>43 | Salmos 1.3; João 10.10.</p><p>44 | Ezequiel 37.26-28; Apocalipse 21.9-27.</p><p>45 | Isaías 61.1; Salmos 119.45; 2 Coríntios 3.17.</p><p>46 | Adonai, em hebraico, signi�ca “meu Senhor”. É utilizado para se referir ao Deus de Israel na Bíblia Hebraica. Pode-se a�rmar</p><p>que Adonai é a máxima expressão do Eterno entre os judeus, assim como o Cristo o é entre os cristãos. Trata-se, no entanto, do</p><p>mesmo Senhor.</p><p>47 | Salmos 19.1-6; João 14.6.</p><p>48 | Salmos 82.6; João 10.30; 17.21; Efésios 4.4-6.</p><p>49 | Mateus 12.33.</p><p>50 | Salmos 32.9; 89.30-37; Gálatas 3.24.</p><p>51 | Apocalipse 21.8.</p><p>52 | Salmos 33.20; 51.1; 85; Isaías 54.7; Tiago 2.13.</p><p>Capítulo 5</p><p>TODOS SOMOS UM</p><p>Os homens habitam em Deus e</p><p>Deus nos homens</p><p>As traduções bíblicas são fortemente in�uenciadas pelas crenças dos</p><p>tradutores e suas concepções a respeito do sentido da existência humana.</p><p>Essa fragilidade na interpretação esconde do homem sua origem divina e</p><p>natureza eterna. Se a rotina diária das pessoas for uma experiência em</p><p>acordo com os ensinos da teologia clássica, naturalmente cada indivíduo</p><p>nada mais fará do que pensar na própria vida, tentando desfrutá-la o melhor</p><p>que puder.</p><p>Acreditando que a existência se desenrola em apenas um momento da</p><p>história, contido entre o nascer e o morrer, é natural que cada um procure a</p><p>felicidade a qualquer custo, mesmo que, para isso, pratique desatinos. Na</p><p>civilização ocidental, é esse o conceito comum que se tem a respeito da vida.</p><p>Nos demais lugares do mundo, a situação não é diferente. As religiões não</p><p>conseguiram alcançar a importância da ciência para descortinar as</p><p>incertezas diante de fatos de aparente injustiça, além de quase nada explicar</p><p>sobre as razões do existir. Limitaram-se a dizer que tudo faz parte da</p><p>vontade de Deus ou de supostas tramoias do mal.</p><p>Os homens, pensando existir uma única vez, tornam-se egoístas. Os</p><p>atuais meios</p><p>de comunicação nada mais fazem do que estimular o amor-</p><p>próprio e a vaidade nas massas. Um espírito de inveja e discórdia está em</p><p>toda parte. Nos últimos anos, agravou-se devido ao estímulo à concorrência,</p><p>proporcionada pelo mercado de trabalho. Uma sociedade dominada pela</p><p>soberba está condenada à própria destruição. Quer dizer, o mundo condena</p><p>a si mesmo. Por isso, o homem precisa entender que é um componente da</p><p>Criação, que sua natureza é eterna53 e que, em nenhuma circunstância, pode</p><p>prejudicar o seu próximo nem o ambiente onde vive, pois faz mal a si</p><p>mesmo. Esta é a sua casa e o seu próximo, um irmão em eternidade.</p><p>O paraíso será edi�cado na Terra, e não nos céus. Um mundo</p><p>transformado pelos homens, sob a tutela do Eterno Deus, sem as dores,</p><p>sofrimentos e injustiças da atualidade. Depois dos eventos apocalípticos,</p><p>previstos e anunciados nas Escrituras, haverá uma nova ordem mundial. Os</p><p>sistemas políticos serão substituídos pela vida com base nas leis naturais.</p><p>Não há outra via de felicidade, a não ser a de que todos tomem consciência</p><p>da Verdade.</p><p>Durante um debate com judeus, o Cristo, sob in�uência direta do Verbo,</p><p>a�rmou que Ele e o Pai eram um. Falava, evidentemente, do princípio de</p><p>unidade entre a criatura e o Criador, que se dá através da comunhão, um</p><p>vínculo estabelecido entre as almas, o Verbo e Deus. A isso denominou-se</p><p>fé. Dessa união nasce um mesmo espírito de realizações e propósitos. Assim,</p><p>torna-se possível compreender a a�rmativa de que Deus viria, com o Filho</p><p>(o Logos), fazer morada no coração dos homens.54</p><p>Os inimigos do Cristo, no entanto, aproveitaram para o acusar de fazer-se</p><p>o próprio Deus. Ele se encontrava no templo, durante a Festa da</p><p>Dedicação,55 precisamente no alpendre de Salomão. Respondeu ao insulto</p><p>dos adversários com uma esmagadora resposta, contida na linda passagem</p><p>de Salmos 82: “Não está escrito na vossa lei: Sois deuses?”.</p><p>Ao mostrarem desejo de apedrejar o Cristo, o comportamento dos judeus</p><p>re�etia o antigo conceito de que não era dado ao homem comum ter vínculo</p><p>direto com o Eterno, a não ser por intermédio dos sacerdotes, o que era</p><p>verdade diante dos ensinamentos codi�cados por Moisés. O Cristo, porém,</p><p>con�rmou o princípio de que as almas têm origem no próprio Criador,</p><p>sendo, assim, deuses. Sua mensagem libertava os homens da dependência de</p><p>intermediários, colocando-os em contato com Deus. Somos um, disse o</p><p>Logos, pela boca do �lho de José. Ajuntava na unidade que ele dizia ter com</p><p>o Pai, todos os que cressem no Eterno Deus.56</p><p>Os religiosos, em geral, pensam que o homem é uma estrutura material</p><p>que, no momento da fecundação, por ação de Deus, recebe uma alma para</p><p>viver o que chamam vida. Por mais esquisito que pareça tal conceito, diante</p><p>João 10. 30-36</p><p>30. Eu e o Pai somos um. 31. Os judeus</p><p>pegaram então outra vez em pedras para o</p><p>apedrejar. 32. Respondeu-lhes Jesus: Tenho-vos</p><p>mostrado muitas obras boas procedentes de</p><p>meu Pai; por qual destas obras me apedrejais?</p><p>33. Os judeus responderam, dizendo-lhe: não te</p><p>apedrejamos por alguma obra boa, mas pela</p><p>blasfêmia; porque, sendo tu homem, te fazes</p><p>Deus a ti mesmo. 34. Respondeu-lhes Jesus:</p><p>Não está escrito na vossa lei, eu disse: sois</p><p>deuses? 35. Pois, se a lei chamou deuses</p><p>àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida,</p><p>e a Escritura não pode ser anulada, 36. Aquele</p><p>a quem o Pai santi�cou, e enviou ao mundo,</p><p>vós dizeis: blasfemas, porque disse: sou Filho de</p><p>Deus?</p><p>das inúmeras injustiças que o dia a dia terreno apresenta, ele segue contido</p><p>nas linhas gerais que norteiam as vertentes religiosas, especialmente ligadas</p><p>ao judaísmo e ao cristianismo. Caso o Cristo voltasse a nascer no mundo,</p><p>com o nome de Antônio, Pedro ou Manoel, e falasse das mesmas verdades</p><p>que asseverou em sua existência pública, com certeza seria malvisto pelos</p><p>que deveriam ouvi-lo, os homens das religiões. Dessa vez, boa parte dos</p><p>cristãos seria incluída no rol dos seus opositores.</p><p>Sendo verdade que os homens são deuses vivendo na dimensão material,</p><p>conforme as palavras das Escrituras, as especulações religiosas sempre</p><p>estiveram equivocadas no que toca à origem, missão e futuro das almas. Ao</p><p>admitir sua eternidade, todo indivíduo se torna sacerdote natural, e,</p><p>consequentemente, os que são ordenados pelas religiões �cam dispensados</p><p>de suas funções. Não haveria, portanto, necessidade de templos, uma vez</p><p>que cada ser humano seria morada do Deus vivo. Certamente uma teoria</p><p>dessa natureza não poderia ser admitida pelas religiões cuja estrutura de</p><p>dominação se apoia no sacerdócio. Entretanto, é o que anuncia João no livro</p><p>Apocalipse ao tratar da nova ordem. Na humanidade futura, não haverá</p><p>santuários, igrejas ou coisa parecida.57 O mundo se encherá do</p><p>conhecimento do Senhor e a adoração será a vivência do amor.58</p><p>As crenças tradicionais, peças indispensáveis ao atual sistema de vida,</p><p>desaparecerão. O mundo todo se tornará um templo de experiências</p><p>humanas, segundo a lei natural.59 Em resumo: se o homem for carnal,</p><p>apenas um organismo que se move até morrer, dotado de suposta alma que</p><p>aparece por acaso na história, a humanidade está no caminho certo. Se</p><p>houver alguma providência a tomar, tendo em vista a melhoria, tudo</p><p>dependerá dos homens. Se, no entanto, ele for de natureza eterna, conforme</p><p>instruem as Escrituras, os sistemas humanos, incluindo as religiões, estariam</p><p>carcomidos pela falta do conhecimento transcedental, a ciência que</p><p>sustentará o futuro. Seguindo em direção equivocada, as lideranças do</p><p>mundo produzirão a derrocada da civilização. O tempo será o juiz dos</p><p>povos e ensinará a muitos.</p><p>As injustiças e os desarranjos que explodem por toda parte nascem da</p><p>ideia de que o homem, embora criado por um suposto deus, deve, por si</p><p>mesmo, resolver seus problemas, tendo cada uma das gerações uma vida</p><p>desconectada do passado e despreocupada com o futuro. Como, no ponto</p><p>de vista tradicional da teologia cristã, o viver não é eterno, já que todos a seu</p><p>tempo morrerão, é óbvio que ninguém encontrará ocasião para pensar no</p><p>futuro nem terá interesse em conhecer o passado. Estarão todos ocupados</p><p>em viver e gozar o momento existencial. Por essa razão o Cristo asseverou:</p><p>“E não quereis vir a mim para terdes vida”.60</p><p>Em relação à divindade do Cristo, testi�cada pelas palavras de João, é</p><p>possível que alguém sustente a tese de que o Messias se referia apenas a ele</p><p>mesmo e que não falava dos demais homens. Jesus, no entanto, ao citar</p><p>Salmos 82, declara no versículo 35: “A lei chamou deuses a quem a palavra</p><p>do Eterno foi dirigida”. Não há dúvidas, pois, de que as sentenças do salmista</p><p>Assaf não foram direcionadas apenas a um grupo de juízes, mas a todos a</p><p>quem a Palavra das Escrituras foi destinada, ou seja, primeiramente ao Israel</p><p>bíblico61 e depois, por extensão, aos demais homens.</p><p>É importante salientar que a sabedoria está disponível a todos.</p><p>Inicialmente, a mensagem de libertação esteve voltada para as almas que</p><p>constituem a nação dos �lhos de Abraão. Não falamos apenas dos judeus,</p><p>descendentes biológicos do que foi chamado de “o pai da fé”, mas de todos os</p><p>que, por meio daquela mesma comunhão, receberam vida eterna, ou seja, a</p><p>consciência de sua eternidade. A descendência, segundo Paulo, é pelos laços</p><p>do coração.62</p><p>As Escrituras não podem ser anuladas, disse o Cristo.63 Por isso, é de</p><p>fundamental importância conceber que a instruções podem conferir a</p><p>condição de deuses aos que foram chamados, sejam eles judeus ou gentios.</p><p>Embora dotados da natureza corpórea, os seres humanos são, na verdade,</p><p>almas eternas, geradas na intimidade do Criador para habitar a Criação e</p><p>promover a vida universal. Deus tudo realiza por meio dos homens.</p><p>A edi�cação da humanidade foi iniciada há muito tempo, segundo o</p><p>conhecimento secular. Não há nenhuma razão para se duvidar da história</p><p>atestada pela ciência. Deve-se admitir, evidentemente, a progressão de suas</p><p>teorias, devido a novas descobertas. Pode-se resumir que, primeiro o</p><p>ambiente material primitivo</p><p>foi organizado. Depois, as primeiras formas</p><p>vivas foram introduzidas, como minúsculas sementes. Impulsionadas pela</p><p>lei do progresso, a vida vegetal e a animal se aperfeiçoaram até se tornarem</p><p>favoráveis à vivência de almas humanas. Mais tarde, o homem passou a se</p><p>desenvolver, vivendo em cavernas, movendo-se de um para outro lado,</p><p>apresentando os rudimentos da civilização. Gradualmente, foi despertando</p><p>inteligência, saber e moralidade para conhecer tudo o que a mente de Deus</p><p>lhe revelaria passo a passo.</p><p>Os homens são deuses, �lhos do Altíssimo, que deixaram os céus para</p><p>iniciar sua jornada existencial na face visível da Criação. Como a princípio</p><p>ela é naturalmente desorganizada, assim também é a existência da alma,</p><p>quando nos primeiros tempos transita pela dimensão visível. Na matéria,</p><p>sujeita à lei do progresso, as almas gradualmente tomam ciência de sua</p><p>imortalidade e da magní�ca obra de Deus em constante transformação, na</p><p>qual foram inseridas como as primícias.</p><p>O mundo atual encontra-se imerso no destrutivo espírito do</p><p>materialismo. No esforço de fazer sobreviver a humanidade, os homens</p><p>deixaram-se guiar por conceitos espúrios, oriundos da mente de supostos</p><p>sábios. Construíram casas em terreno movediço.64 Não há como mudar o</p><p>que está posto, visto que o poder dominante não aceitará nenhum conselho</p><p>que possa salvar a Terra do iminente desastre. Os países desenvolvidos</p><p>seguem inebriados pela falsa ideia de liberdade, por tecnologias e aparente</p><p>prosperidade.</p><p>O advento da internet fez com que a apostasia65 se espalhasse</p><p>rapidamente. Ocorre, porém, que tal conduta coletiva traz consigo um vetor</p><p>de autodestruição que está se formando no mundo, e nada poderá detê-lo.</p><p>Os países subdesenvolvidos vivem uma rotina de violência, desgraças,</p><p>guerras, pestilências, prostituição, opressões e miséria. Os mais ricos seguem</p><p>no gozo e opulência. As religiões, de modo geral, estão envoltas em</p><p>indiferença, intolerância ou fanatismos. Poucas são as instituições</p><p>representativas do Eterno, que tratam com seriedade a revelação contida nas</p><p>Escrituras.</p><p>Vivemos tempos trabalhosos, com um mundo cada dia mais instável e</p><p>perigoso, sem que nada possa ser feito para deter sua decadência. O Israel</p><p>bíblico deve se preparar para enfrentar o período chamado de a grande</p><p>tribulação.66 Para sobrevivermos aos dias difíceis que certamente</p><p>enfrentaremos, é preciso conhecer a verdade de Deus contida nas Escrituras.</p><p>É de fundamental importância saber que somos deuses, e não homens</p><p>mortais. O Cristo veio ao planeta para iniciar a última etapa das mudanças</p><p>aguardadas até a chegada do Reino, a nova humanidade. O povo enviado67</p><p>deve se preparar para assumir suas imensas tarefas, relacionadas com a</p><p>reconstrução do mundo. Nos dias do �m, sua infraestrutura será destruída.</p><p>Os antigos sistemas que sustentam a existência humana serão substituídos</p><p>por outros, mais justos e e�cazes, tendo em vista a saúde e o bem-estar das</p><p>pessoas e nações. A ciência se desenvolverá a níveis ainda não imaginados.</p><p>Nunca mais será usada para a produção de armas ou riquezas para poucos.</p><p>Favorecerá a vida dos povos, de modo que todos sejam felizes e possam se</p><p>ocupar do futuro de paz para a coletividade.68</p><p>Sois deuses e todos vós �lhos do Altíssimo, é a sentença. A Escritura</p><p>chamou deuses a quem ela foi dirigida. É atitude grave de resistência às</p><p>verdades do Eterno Deus ensinar que os homens são mortais, que não</p><p>possuem alma, que serão arrebatados �sicamente aos céus, que o mundo vai</p><p>ser destruído ou que a Nova Jerusalém é um lugar sobrenatural, que descerá</p><p>dos céus. Que cada pessoa de boa vontade assuma sua eternidade e se</p><p>coloque como descendência direta de Deus, tendo a certeza de que será</p><p>sustentada em suas lutas e desa�os.</p><p>Somos as sementes de uma geração que não se curvou à idolatria, às</p><p>mentiras do mundo e ao fanatismo religioso. O Eterno espera que nos</p><p>ajuntemos e sejamos as testemunhas do porvir. Jesus é o Cristo, o Messias</p><p>enviado para salvar os desgarrados da casa de Israel e estabelecer o Reino, o</p><p>único que não passará,69 quer dizer, permanecerá para sempre. Não</p><p>pertence a nenhuma igreja e não tem nenhuma delas como representante. O</p><p>Filho de Davi é o porta-voz do Verbo. Por meio dele, o Criador retirará o</p><p>mundo da ignorância. É a manifestação do Eterno ao povo enviado para ser</p><p>farol do porvir, a grande nação prometida a Abraão. A Nova Jerusalém será</p><p>estabelecida e nenhum poder visível ou invisível poderá detê-la, pois a</p><p>transformação de um mundo de impiedades em uma civilização digna desse</p><p>nome é o grande propósito do Eterno Deus. E se cumprirá.</p><p>__________</p><p>53 | Salmos 82.6; João 10.34.</p><p>54 | Levítico 26.11-12; Ezequiel 43.7; João 14.23; 2 Coríntios 6.16.</p><p>55 | A Festa de Hanuká ou Festa da Dedicação, também conhecida como Festa das Luzes, é a celebração pela vitória na batalha</p><p>contra os gregos, no ano de 165 a.C. O imperador selêucida, Antiochus Epiphanes (175-163 a.C.), conquistou a região do</p><p>Oriente Médio atacando a Judeia, impondo costumes e tradições helenísticas aos judeus. Matatias, um sacerdote judeu, reagiu</p><p>desobedecendo a ordem do rei para oferecer sacrifícios pagãos no templo. Matou um o�cial e fugiu com seus �lhos,</p><p>defraudando a revolta. O grande feito está no fato de que seu �lho Judas, o Macabeu, liderando a rebelião, entrou em Jerusalém</p><p>e reconsagrou o templo. Os judeus recuperaram a liberdade religiosa, sendo esta a origem dessa importante festa.</p><p>56 | Malaquias 2.10; João 17.21; Efésios 4.6.</p><p>57 | Apocalipse 21.22; Isaías 1.11-19; Daniel 7.27.</p><p>58 | Isaías 11.9; Habacuque 2.14; João 4.24.</p><p>59 | Levítico 24.22; Salmos 40.8; 1 Coríntios 3.16.</p><p>60 | João 5.40; Provérbios 2.</p><p>61 | Consideramos Israel bíblico as almas que têm comunhão com o Deus de Abraão, de Moisés, de Davi e de Jesus, que será</p><p>brevemente levantado para cumprir com o propósito que lhe foi destinado, preparando o mundo para ser morada de�nitiva dos</p><p>homens de bem. Sem dúvida, as Escrituras Sagradas foram escritas para esse povo Israel. Sob a lei do renascer sucessivo das</p><p>almas, �ca mais fácil entender que a diáspora judaica foi maior do que seu aspecto visível, tendo as almas de muitos israelitas do</p><p>passado nascido em famílias gentias, cumprindo missões, aguardando para o de�nitivo despertar.</p><p>62 | Isaías 55.7; 1.17,18; Romanos 2.29.</p><p>63 | João 10.35.</p><p>64 | Jeremias 17.5-6; Mateus 7.26-27</p><p>65 | O termo apostasia provém do grego antigo, cujo sentido é o de alguém que, por vontade própria, se põe longe de alguma coisa.</p><p>Nas religiões, a palavra apostasia foi utilizada para assinalar pessoas que abandonam sua fé e princípios. O apóstata, no ponto de</p><p>vista religioso, tanto pode ser quem troca de religião, como alguém que, por alguma razão, deixou a fé de modo de�nitivo.</p><p>Apostasia, no sentido profético, aponta para a conduta de indivíduos ou massas humanas, que vivem conduzidos pelos próprios</p><p>pensamentos, sem considerar a existência de um Criador.</p><p>66 | Daniel 12.1; Apocalipse 7.14.</p><p>67 | A expressão “povo enviado” será utilizada em referência ao povo Israel, a quem Deus falou por meio de Moisés, considerando</p><p>que foram almas enviadas para um propósito especí�co, segundo as palavras das Escrituras Sagradas.</p><p>68 | Deuteronômio 28.1-14; Isaías 65.17-25; 2.4; Apocalipse 21.</p><p>69 | Gênesis 49.10; Daniel 2.44; Mateus 15.24.</p><p>Capítulo 6</p><p>ETERNIDADE DOS HOMENS</p><p>O despertar das almas para sua verdadeira identidade</p><p>Eternidade é vocábulo frequente nas páginas das Escrituras Sagradas. É</p><p>indispensável que se conheça a abrangência do seu signi�cado, já que o</p><p>Eterno é o único que possui o atributo de sempre existir. O Cristo anunciou</p><p>a vida eterna a todos os que cressem,70 ligando a alma do homem a um dos</p><p>principais atributos do Criador, a eternidade. Uma coisa criada não pode,</p><p>em nenhuma circunstância, tornar-se perpétua, pois não detém o predicado</p><p>de ter sempre existido. Sendo assim, se Jesus disse conceder perpetuidade às</p><p>almas, é porque elas já pertenciam ao que sempre existiu, sendo divinas. Os</p><p>�lhos de Deus não tem consciência</p><p>de sua natureza eterna, nos primeiros</p><p>momentos da Criação, quando o Universo ainda está envolto pela</p><p>desorganização inicial. Despertar é questão de tempo.</p><p>Na língua portuguesa, a palavra eternidade tem o sentido de existir para</p><p>sempre. É habitual que se utilize essa expressão olhando para o futuro, o que</p><p>daria um caráter perpétuo a algo que, se acredita, permanecerá existindo</p><p>por todo o sempre. Um exame mais cuidadoso do signi�cado hebraico do</p><p>termo e da de�nição usual utilizada nas Escrituras demonstra que, nas</p><p>traduções bíblicas, nem tudo o que se a�rma ser eterno tem perpetuidade.</p><p>Por conta das enormes di�culdades na tradução dos textos bíblicos</p><p>originais, intérpretes da igreja católica e, por consequência, de outras</p><p>denominações cristãs, cometeram o equívoco de tratar como dotado de</p><p>eternidade absoluta o que teria um tempo incerto. Um dos mais graves erros</p><p>foi o de identi�car como sendo eterno um local de sofrimento destinado a</p><p>almas rebeldes, denominado inferno. A questão é gravíssima, pois afeta a</p><p>maneira como a cristandade entende a justiça de Deus, levando a inúmeras</p><p>interpretações desprovidas de sentido inteligente. A maioria das traduções</p><p>bíblicas disponível na língua portuguesa foi feita a partir de originais em</p><p>grego e hebraico. Especialmente nos textos do Novo Testamento, tais</p><p>ocorrências são frequentes, porém, os escritos do Antigo não �caram</p><p>imunes à in�uência da visão católica.</p><p>Eternidade, segundo o dicionário da língua portuguesa, é a qualidade</p><p>daquilo que é eterno. Também se diz que signi�ca existência sem princípio</p><p>ou �m. Finalmente, que tem sentido de longa e inde�nida duração. Nas duas</p><p>primeiras de�nições, o termo deveria ser aplicado somente quando fosse</p><p>feita uma referência ao Criador, dotado de perpetuidade absoluta, por ser</p><p>incriado. A outra de�nição trata de um longo e inde�nido tempo, seja da</p><p>alma ou de situações de alegria e sofrimento experimentados por elas.</p><p>A eternidade atribuída ao Ser Eterno é bem diferente daquela por vezes</p><p>conferida a diferentes situações consideradas duradouras para sempre e que,</p><p>em verdade, não o são. O que acontece, comumente, é designar por</p><p>perpétuo o que não possui tal característica, quer dizer, a�rmar ser dotado</p><p>de eternidade absoluta algo que foi gerado. Se foi criado, certamente é</p><p>porque teve início, razão su�ciente para se concluir que não pode ser para</p><p>sempre. Pode-se considerar, então, que somente o Criador tem a condição</p><p>de ser eterno por todo o tempo imaginável. O restante da Criação, e suas</p><p>criaturas, tem o que se poderia chamar de eternidade relativa, quer dizer, em</p><p>algum momento terá �m. Por que designá-la por relativa? Porque tudo o</p><p>que existe é, de algum modo, variação do absoluto, uma vez que não há</p><p>nenhuma outra realidade, a não ser a que sempre existiu.</p><p>O primeiro versículo do Gênesis indica a ordem da criação do Universo:</p><p>“No princípio criou Deus o céu e a terra”.71 É de conhecimento, dado pelas</p><p>Escrituras, que o Deus que falou a Israel é eterno, ou seja, sempre existiu,</p><p>existe e existirá.72 Pela natureza da eternidade, não poderia haver alguma</p><p>coisa, gerada por ela, que tivesse a mesma condição. Somente o Criador</p><p>possui a eternidade absoluta. Todas as coisas, não importa que nomes</p><p>tenham, função que ocupem, lugar ou tempo em que existam, devem</p><p>obrigatoriamente ser destituídas do caráter de perpetuidade, pois são obras</p><p>do Ser Absoluto, variações da Sua própria e eterna essência.</p><p>O Universo é a magní�ca obra do Criador. Ele abrange um plano exterior,</p><p>visível, e outros planos interiores, invisíveis aos olhos dos homens,</p><p>chamados céus,73 por falta de outra denominação. Não há registros na</p><p>ciência dos homens sobre o que havia antes da explosão que deu início ao</p><p>Universo. Pode-se a�rmar que a Criação emana do seio do Eterno, em um</p><p>ponto abstrato da Sua absoluta eternidade, onde aparece uma expressão de</p><p>relatividade. A vontade do Altíssimo �ui por ela como um rio,</p><p>materializando-se na dimensão externa, na qual é gerado o espaço/tempo,</p><p>energia e matéria.74</p><p>Examinando a Criação pelo enfoque da relatividade, muda-se</p><p>radicalmente o entendimento de determinados ensinos dos textos sagrados</p><p>que deram origem a crenças, religiões e doutrinas nas quais a visão se limita</p><p>ao mundo visível, quer dizer, aos efeitos, e não às causas. A fonte do</p><p>pensamento judaico-cristão está nas Escrituras Hebraicas,75 conhecidas</p><p>pelos cristãos por Antigo Testamento. Embora as palavras de Jesus e dos</p><p>apóstolos tenham sido oriundas de traduções de originais em grego, é de</p><p>grande importância para os estudiosos procurar o entendimento dos</p><p>vocábulos na língua hebraica. Quando se faz referência à eternidade, a</p><p>expressão transliterada mais comum é olam. A mesma palavra é empregada</p><p>tanto para se referir a algo com durabilidade muito longa ou desconhecida</p><p>como também ao Criador, quando se quer a�rmar ser Ele dotado de</p><p>perpetuidade, sem começo nem �m. Considere-se, portanto, que entre uma</p><p>e outra coisa há uma grande diferença. Existe ainda nas Escrituras o</p><p>embaraço de inserções feitas por copistas, ocorridas ao longo da história</p><p>religiosa judaico-cristã.</p><p>Intérpretes e tradutores destituídos da ciência oculta que o Cristo</p><p>ensinava aos discípulos também deram origem a conceitos equivocados que</p><p>estruturaram o pensamento da igreja cristã, mantidos até os dias atuais.</p><p>Alguns eruditos negam a existência de um conhecimento velado na Bíblia,</p><p>entretanto, as constantes referências do Cristo a ensinamentos encobertos</p><p>nas parábolas são provas da sua veracidade.76</p><p>Em relação aos mistérios da Criação, o mais sensato é admitir a existência</p><p>de uma ciência desconhecida das pessoas comuns e mesmo do atual</p><p>conhecimento cientí�co do que pensar que Deus não existe ou que o</p><p>Criador faz todas as coisas como um mágico, à moda do absurdo. Isso, para</p><p>demonstrar aos seus �lhos que é o Todo-Poderoso. A descrença e a</p><p>irracionalidade religiosa levaram a disputas com cientistas e sábios. Nunca</p><p>houve uma teoria mediadora que servisse de ponte entre os dois extremos.</p><p>O fato desse pensamento moderador não ter sido revelado não quer dizer</p><p>que não exista. É preciso mover a investigação nesse rumo.</p><p>No que toca ao verdadeiro signi�cado da expressão hebraica olam, as</p><p>Escrituras fornecem pistas seguras. O termo aparece em passagens bíblicas</p><p>com diversos sentidos, inclusive contraditórios, demonstrando que alguns</p><p>trechos foram mal interpretados. Isso quer dizer que, se entenderam algum</p><p>ponto de modo equivocado, os tradutores podem ter levado muitas pessoas</p><p>a enxergar as instruções de Deus de forma distorcida. A teologia cristã está</p><p>contaminada com essas distorções. O prejuízo para se entender as verdades</p><p>eternas é imensurável.</p><p>Vejamos um exemplo encontrado no livro Salmos, capítulo 100, versículo</p><p>5: “Porque o Senhor é bom, e eterna a sua misericórdia; e a sua verdade dura</p><p>de geração em geração”. A misericórdia é um dos atributos do Eterno e,</p><p>mesmo não estando manifesta, pertence à sua natureza divina. No</p><p>evangelho de Mateus,77 ao tratar do Juízo que virá sobre os homens, aparece</p><p>uma citação no mínimo contraditória: “E irão estes para o tormento eterno,</p><p>mas os justos para a vida eterna”. Não pode haver, nos atributos do</p><p>Altíssimo, uma contraditória misericórdia que irrestritamente proporciona</p><p>o perdão e, ao mesmo tempo, o castigo de perpétua duração. Uma das</p><p>citações, obrigatoriamente, deve se referir à eternidade relativa.</p><p>Com certeza, pode-se deduzir que a expressão “tormento eterno”</p><p>pertence à relatividade existencial, que aponta para o sofrimento provocado</p><p>pelas transgressões à lei que, em algum tempo, cessará sob a ação da eterna</p><p>misericórdia. Quanto aos justos, a vida eterna prometida pelo Cristo refere-</p><p>se ao estado de bem-aventurança da alma que, depois de ter sido</p><p>encontrada, não terminará jamais, mesmo diante do término do ciclo</p><p>criativo.78</p><p>É imprescindível considerar a progressividade das revelações patentes nas</p><p>Escrituras. À medida que o tempo histórico se desenrola, as revelações</p><p>vão</p><p>assumindo maior clareza. Seria estranho que, na época de Moisés, já</p><p>houvesse uma completa instrução acerca das regiões invisíveis da Criação,</p><p>embora os seus livros tenham evidências dessa realidade.79 No tocante às</p><p>zonas de sofrimento e lugares paradisíacos existentes na dimensão invisível,</p><p>o pensamento parece ser enriquecido a partir da história do profeta Samuel</p><p>junto ao rei Saul (960 a.C.). A teologia cristã, por ignorância da ciência de</p><p>Deus, nega o relato descrito nos textos, no qual é claríssimo o contato da</p><p>alma do profeta com o rei, através de uma pitonisa, no vilarejo de Endor.80</p><p>A�rmam os teóLogos que Saul teria sido enganado por Satanás, que se fez</p><p>passar por Samuel, condenando os que se ocupam com fenômenos e</p><p>manifestações metafísicas. A alma de Samuel, vivendo nos ambientes</p><p>celestiais, sem dúvida falou com Saul. Uma narrativa dessa categoria muda</p><p>por completo o signi�cado teológico, levando as pessoas a entenderem a</p><p>realidade dos planos existenciais que se entrelaçam, dando sentido à vida</p><p>dos homens e à própria Criação.</p><p>Na questão de admitir uma ciência oculta, os judeus são mais liberais do</p><p>que os cristãos. Seus sábios a intitularam por Cabala, sendo entre eles a base</p><p>para estudos mais profundos a respeito do Criador, das almas e das razões</p><p>existenciais do Ser. Nas Escrituras Hebraicas, o Sheol a princípio foi</p><p>entendido como o mundo dos mortos, sem especi�car o estado das almas ali</p><p>estacionadas. Com a evolução das revelações divinas, começou a se entender</p><p>que ele era também um local de sofrimento. A ideia do inferno aparece com</p><p>maior clareza nos ensinamentos do Novo Testamento.</p><p>Se o inferno é um componente da Criação, e tudo indica que sim, o seu</p><p>�m é compulsório. Os mortos que se encontram nesse abismo existencial já</p><p>estariam condenados, antes do Juízo? A instrução bíblica indica que não! O</p><p>Apocalipse, de autoria do apóstolo João, no capítulo 20, versículo 13, aponta</p><p>o julgamento das almas que nele se encontram: “E deu o mar os mortos que</p><p>nele havia; e a morte, e o inferno, deram os mortos que neles havia; e todos</p><p>foram julgados cada um segundo as suas obras”.</p><p>De acordo com as Escrituras, todos os homens, vivos ou mortos, serão</p><p>julgados no tempo do Juízo, mesmo os que estiverem nesse suposto lugar de</p><p>condenação. O veredito acontecerá, considerando as obras boas ou más que</p><p>cada indivíduo fez ao longo da sua história. No mesmo livro, existe uma</p><p>a�rmativa de que o inferno, a morte e os condenados serão lançados num</p><p>lago de fogo e enxofre.81 Não a�rma em nenhum momento que os infratores</p><p>da lei de Deus �carão lá para sempre, conforme sustenta a teologia cristã.</p><p>Admitir que o lago de fogo é local de sofrimento eterno, como aponta o</p><p>sentido literal absoluto, leva a aceitar que o inferno sempre existiu e existirá.</p><p>Tal assertiva entra em con�ito com o conceito da eternidade absoluta. Sendo</p><p>assim, a interpretação dada à eternidade do inferno e à pena dos</p><p>condenados não é verdadeira.</p><p>Haveria uma saída para os condenados? A coerência do conjunto das</p><p>instruções de Deus aos homens mostra que sim, pois nada foge à lei da</p><p>progressividade. Quando se considera que as pessoas são deuses, almas que</p><p>nascem continuamente para existir no Universo, a história muda de aspecto,</p><p>e os infratores não passam de aprendizes, ainda despreparados para a vida</p><p>civilizada. Em algum momento poderão recomeçar a ascensão para a</p><p>conscientização de sua natureza eterna, pois foram gerados para a plenitude.</p><p>Será um novo começo, um novo corpo, uma nova existência, mas a mesma</p><p>alma. Isso con�rma os princípios da inteligência e justiça que caracterizam a</p><p>obra de Deus, que deseja que todos despertem e vivam eternamente.82</p><p>O que signi�ca viver eternamente? A ciência chegou à conclusão de que o</p><p>Universo é um fenômeno que teve início em certo ponto, existirá por</p><p>período indeterminado e terá um �m. Existem teses cientí�cas que admitem</p><p>que o Universo, depois do término existencial, poderá surgir, novamente,</p><p>como outra Criação. As orientações das Escrituras, sob a ótica da</p><p>eternidade, não contrariam esse princípio. A palavra olam encontra uma</p><p>variante no hebraico, que se pronuncia min olam v’ad olam, que signi�ca</p><p>“de um longo espaço de tempo, sem de�nição, até outro”, o que se entende</p><p>como “de eternidade a eternidade”.83 São as eternidades relativas que se</p><p>repetem, onde as almas têm existências como pessoas. Isso é o viver para</p><p>sempre. Tomar posse da vida eterna, portanto, é despertar para essa</p><p>realidade, iniciando a vida verdadeira a partir desse ponto. Não se pode</p><p>especular se os ciclos criativos vão cessar em algum momento. O que é</p><p>possível a�rmar é que ciclos começaram em certo instante e, por isso, não</p><p>podem ser eternos. O que, no começo, era unidade gerou diversidade.</p><p>A eternidade relativa é certi�cada pelas Escrituras, com fundamento no</p><p>raciocínio lógico da ciência, que também prevê, em tempos distantes, um</p><p>�m para o Universo. O ideal é que houvesse um vocábulo que discriminasse</p><p>eternidade relativa e absoluta. Infelizmente, o termo olam, do hebraico</p><p>transliterado, aplicado a diferentes situações, gerou equívocos na tarefa dos</p><p>intérpretes e tradutores, além de prejuízos à cristandade e, por</p><p>consequência, à civilização ocidental.</p><p>A vivência das almas no Universo visível representa o trânsito histórico</p><p>dos personagens que surgiram no ponto criativo. Elas são gera das uma</p><p>única vez, vivem continuamente no cenário da eternidade re lativa até</p><p>voltarem ao estado de absoluta existência, quando todos retornam à</p><p>completude primordial, cumprindo o ciclo criativo e encerrando a obra do</p><p>Eterno. A alma foi gerada para viver eternamente, operando na magní�ca</p><p>obra do Eterno Deus. Paulo, em sua visita à cidade grega de Atenas, ao falar</p><p>sobre Deus, retratou a natureza divina do homem: “Porque nele vivemos e</p><p>nos movemos e existimos; como alguns dos vossos poetas disseram: pois</p><p>somos também sua geração”.84 A alma vive, se move e existe em Deus, por</p><p>isso é simples concluir que tem vida eterna. As palavras de Jesus ajudam a</p><p>entender o princípio da unidade, indispensável para se alcançar o elevado</p><p>sentido da vida: “Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e</p><p>eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu</p><p>me enviaste”.85 Somos eternos e todos um em Deus!</p><p>__________</p><p>70 | João 3.15.</p><p>71 | Gênesis 1.1; João 1.1-3.</p><p>72 | Êxodo 6.1-8.23; Isaías 40.28; 63.12; Salmos 90.2; Jeremias 10.10.</p><p>73 | Deuteronômio 10.14; Isaías 45.18; Neemias 9.6; 2 Coríntios 12.2.</p><p>74 | Apocalipse 4.6.</p><p>75 | As Escrituras Hebraicas são conhecidas como TANAH, acróstico das iniciais das palavras Torá (leis), Nevyim (profetas) e</p><p>Ketuvim (escritos). Tem a seguinte composição: a Torá (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), Profetas (Josué,</p><p>Juízes, Samuel, Reis, Isaías, Jeremias, Ezequiel, Os Doze (Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Nahum, Habacuc,</p><p>Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias) e Escritos (Salmos, Provérbios, Jó, Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes,</p><p>Ester, Daniel, Esdras, Neemias, Crônicas). O Tanah é conhecido como sendo a tradição escrita do povo de Israel. É nomeada</p><p>entre os cristãos como Antigo Testamento.</p><p>76 | Deuteronômio 29.29; Salmos 78.1-7; Mateus 13.35; Marcos 4.34; 4.2.</p><p>77 | Mateus 25.46.</p><p>78 | Não há informações a respeito da duração do ciclo criativo do Universo. Como parâmetro, temos apenas a palavra dos</p><p>cientistas, que o consideram jovem, com idade aproximada de 14 bilhões de anos.</p><p>79 | Gênesis 22.15; 32.1; Êxodo 3.2; 4.1-17.</p><p>80 | 1 Samuel 28.15-19.</p><p>81 | Apocalipse 21.8.</p><p>82 | Isaías 19.21-25; Salmos 67.2; 1 Timóteo 2.4.</p><p>83 | Salmos 90.2; 103.17; Isaías 45.17.</p><p>84 | Salmos 82.6; João 10.34; Atos 17.28.</p><p>85 | João 17.21.</p><p>Capítulo 7</p><p>O RENASCER CONTÍNUO DOS HOMENS</p><p>Lei universal da Criação</p><p>O princípio do renascer sucessivo das almas, encarnando novos</p><p>personagens, encontra forte resistência, sobretudo entre os cristãos. A razão</p><p>da repulsa é que a possibilidade do ser humano nascer repetidas vezes</p><p>contraria os principais dogmas das religiões cristãs. A tese mais aceita nesse</p><p>segmento religioso é a de que Deus criou a alma no instante da fecundação.</p><p>Em todos os tempos, teóLogos do cristianismo consideraram heresia o</p><p>conceito da preexistência da alma, quer dizer, de que ela já existe antes de</p><p>nascer. Nas Escrituras Sagradas, o pensamento de que alguém que já morreu</p><p>possa voltar a viver, animando outro personagem, não aparece em nenhum</p><p>versículo de modo explícito, pelo menos no que se refere às pessoas comuns.</p><p>No entanto, em relação às �guras que compõem a história bíblica, não se</p><p>pode dizer a mesma coisa. Há claras a�rmações de que alguns deles</p><p>voltariam a existir novamente.</p><p>Do mesmo modo, também não se encontra nenhum trecho que condene</p><p>a ideia de que a alma de um homem já falecido possa voltar a nascer em</p><p>outro corpo. É no mínimo estranho que as igrejas cristãs tenham veemente</p><p>repulsa por qualquer conceito que considere a preexistência da alma. Entre</p><p>os judeus, o tema goza de maior �exibilidade. Pelo menos, não há reações</p><p>virulentas da parte dos descrentes, como ocorre entre os cristãos. É</p><p>considerável o número de rabinos que admite a tese das almas voltarem a</p><p>nascer, seja para cumprir uma tarefa, seja para corrigir erros de existências</p><p>passadas. A cabala judaica, que é a ciência oculta do judaísmo, tem como</p><p>base o princípio do renascimento corporal. Sendo isso verdade, estamos</p><p>diante de uma lei natural que faz mudar o sentido da vida e de quase todos</p><p>os princípios das várias vertentes teológicas. Existe ampla literatura tratando</p><p>do assunto, mas nenhuma obra o aborda do ponto de vista das Escrituras.</p><p>O renascimento progressivo da alma humana é um conceito parecido</p><p>com a reencarnação, princípio de vidas sucessivas, cujo objetivo seria a</p><p>evolução das almas, por meio do aprendizado. Embora semelhantes quanto</p><p>ao fato de a pessoa nascer outra vez, o renascer sucessivo, do ponto de vista</p><p>das Escrituras Sagradas, guarda diferenças consideráveis quanto ao</p><p>signi�cado dado à reencarnação dos espiritualistas. Na teoria reencarnatória</p><p>ordinária, os pecados deverão ser pagos até o último centavo.86 No renascer</p><p>sucessivo, o pecador conta com a misericórdia divina.87</p><p>Algumas considerações são necessárias a respeito desses dois princípios.</p><p>Existem diferenças? Sim! A reencarnação é um antigo conceito oriundo das</p><p>doutrinas do Oriente que trata da existência das almas tendo como objetivo</p><p>sua puri�cação. A alma passaria por uma sequência de reencarnações, de</p><p>modo a puri�car o que denominaram carma, recebendo como prêmio uma</p><p>vida de plenitude no nirvana, que é uma espécie de plano superior, a mesma</p><p>cidade celestial dos cristãos ou paraíso das demais crenças.</p><p>Pelo entendimento dos reencarnacionistas, o homem carregaria consigo</p><p>um fardo de pecados, do qual se livraria gradualmente, adquirindo</p><p>liberdade por meio do aprendizado e do pagamento das penas adquiridas</p><p>nos tempos da infância espiritual. A alma conseguiria se livrar dos erros</p><p>pelo sofrimento expiatório e evoluiria passando por provas. Aprenderia com</p><p>suas experiências e, por seu próprio esforço, se tornaria o que dizem ser um</p><p>espírito evoluído. Há quem acredite que a alma pode voltar, inclusive, a viver</p><p>como um animal. Em todas as variantes do conceito da reencarnação, o</p><p>pensamento dominante é o de que o indivíduo, por si mesmo, conquista sua</p><p>evolução.</p><p>No mundo ocidental, a assertiva de que o homem avança pelo próprio</p><p>esforço não se constitui novidade, uma vez que é esse o pensamento que</p><p>domina mentes e corações. A di�culdade reside no fato de que tais</p><p>princípios contradizem as bases em que se assentam as Escrituras,</p><p>principalmente no que se refere à insu�ciência da lei, das obras e do esforço</p><p>pessoal para libertar o homem das consequências de seus erros.</p><p>Na obra do Eterno Deus não pode haver contradição. Se é possível</p><p>alguém iluminar-se pelo próprio empenho, os Escritos Sagrados estariam</p><p>equivocados, uma vez que estabelecem absoluta dependência da alma em</p><p>relação ao Criador. Por isso, os homens estão perdidos em sua vaidade,</p><p>soberba e autossu�ciência, por ignorância de sua origem e destinação.</p><p>O renascimento sucessivo da alma, do ponto de vista das Escrituras, é um</p><p>novo conceito. Ao contrário da reencarnação, ele não entra em confronto</p><p>com as regras divinas. Nele se entende que o homem renasce</p><p>continuamente, sofre as consequências de seus atos, mas não dispensa a</p><p>ação intercessora do Cristo nem sua dependência em relação a Deus, para</p><p>livrar-se das repercussões de suas transgressões.</p><p>Todas as almas foram geradas no seio do próprio Eterno.88 Tiveram</p><p>origem no impulso criativo primordial. Ao deixarem o simbólico Éden</p><p>bíblico, simbolicamente o útero divino, as almas mergulharam no ambiente</p><p>primitivo da Criação. Logo após o primeiro instante da explosão criativa,</p><p>iniciou-se o movimento progressivo e as almas o seguiram. Assim será até</p><p>que termine o ciclo da eternidade relativa. Inicialmente confusas, elas vão</p><p>gradualmente despertando e tomando consciência de suas origens e</p><p>potencialidades.89</p><p>A alma não evolui como se começasse de um ponto zero. Ela nasce</p><p>pronta, de acordo com o propósito que o Criador tem para cada uma delas.</p><p>No princípio, encontra-se perdida, como alguém que anda no escuro,</p><p>devido à desorganização do ambiente existencial. Gradativamente, à medida</p><p>que renasce, ela desperta para entender o que está à sua volta. O tempo �ui</p><p>vagarosamente, até que a alma comece a dar os primeiros passos na área da</p><p>inteligência, começando a discernir o certo do errado, o bem do mal, de</p><p>acordo com a realidade na qual se insere. Mais tarde, ao crer na existência</p><p>do Criador, toma consciência da própria eternidade e, então, ressurge das</p><p>trevas para a luz, da ignorância para a sabedoria. Sobre ela não há mais a</p><p>ação destrutiva da morte, que, desde o começo, a dominava.90 Não se trata</p><p>da morte física, mas daquela provocada pela ignorância. Estando na posse</p><p>de sua natureza divina, a alma pode, então, existir em qualquer lugar do</p><p>Universo visível ou invisível, pois se tornou como o Logos, o unigênito do</p><p>Eterno.</p><p>Como foi dito, os reencarnacionistas creem no esforço pessoal e no</p><p>autoconhecimento como vias para se chegar à perfeição. Sabe-se que</p><p>ninguém consegue sair do escuro sem a presença da luz. Por isso, as</p><p>Escrituras deixam claro que ninguém consegue livrar-se do doloroso círculo</p><p>do erro sem contar com ajuda do Eterno. Ao crer e arrepender-se de sua</p><p>vida sem comunhão com Deus, a alma recebe o perdão verdadeiro,91</p><p>integrando-se, assim, no rol dos que já restauraram sua eternidade. A isso se</p><p>chama ressurreição, que é a saída da morte para a vida, estabelecendo um</p><p>vínculo consciente com o Criador. Quer dizer, em algum momento de sua</p><p>trajetória a alma se conscientiza de sua origem e destinação. Enquanto não</p><p>chega esse instante, ela vive no escuro, sem saber quem é.</p><p>Ainda que o homem viva um milhão de vezes, se não encontrar o</p><p>caminho da vida com Deus, continuará morto por suas más obras,92 preso</p><p>às consequências da lei de causa e efeito. Tal lei, usada para sustentar a</p><p>doutrina do carma, é uma realidade, e não se pretende negá-la. Nas</p><p>Escrituras, alguns pontos da lei de Moisés aparecem semelhantes à lei de</p><p>talião.93 Fundamenta-se no princípio da justa reciprocidade. A tese</p><p>reencarnacionista tem como base a mesma lei. A doutrina da graça, no</p><p>entanto, revelada pelo Cristo e desenvolvida por Paulo, baseia-se no perdão</p><p>e na misericórdia, sendo, portanto, sua antítese. No instante em que, pela fé,</p><p>a alma toma consciência dos seus equívocos, restabelece o vínculo com</p><p>Deus.94 As reações produzidas pela lei de retorno são interrompidas.</p><p>Como se vê, reencarnação e renascimento sucessivo são princípios</p><p>semelhantes, porém com diferenças consideráveis. A primeira apresenta</p><p>antagonismos frente às Escrituras Sagradas. No renascimento sucessivo, o</p><p>entendimento é harmônico com os predicados e virtudes do Eterno, assim</p><p>como os ensinos gerais dos textos sagrados.</p><p>Renascimento</p><p>sucessivo e racionalidade</p><p>O conceito das vidas sucessivas sempre foi desconfortável para as religiões</p><p>cristãs, porque abala inúmeros dogmas da fé irracional, tais como: inferno</p><p>eterno, Jesus como deus, virgindade de Maria, ressurreição da carne, destino</p><p>dos suicidas, dentre outros. Existem diversas situações de vida e morte</p><p>desprovidas de explicações convincentes. Seres humanos são almas</p><p>revestidas de um corpo físico, que habitam o lado visível da Criação, seres</p><p>pensantes, inteligentes, gerados de Deus e, por isso mesmo, possuidores dos</p><p>quali�cativos divinos. Muitas passagens bíblicas levam ao entendimento de</p><p>que as almas têm como destinação o conhecimento das verdades eternas,</p><p>adquirindo sabedoria para a vida plena.</p><p>É preciso que se investigue, nas Escrituras, as bases de uma ciência em</p><p>que se assentará a civilização do futuro. Que sejam formuladas questões no</p><p>sentido de ajudar a humanidade a sair da ignorância e infantilidade acerca</p><p>dos mecanismos da vida. O saber não se resume nos atuais conceitos</p><p>cientí�cos ou da teologia. Há muito a ser compreendido. Pode-se a�rmar</p><p>que a instrução chegará ao �m somente quando terminar a viagem das</p><p>almas na conclusão do ciclo criativo. Enquanto elas existirem nesta relativa</p><p>eternidade, aproximar-se-ão continuamente da luz eterna. A razão do viver</p><p>contínuo pode ser resumida na necessidade de se obter vida, senso de</p><p>verdadeira justiça, desenvolvimento individual, felicidade coletiva e vivência</p><p>plena do amor. É o que se espera de uma civilização na qual os cidadãos são</p><p>conscientes das leis naturais.</p><p>Faremos algumas considerações que ajudarão a entender a ação da lei</p><p>divina e da misericórdia no âmbito da eternidade da alma e do seu renascer</p><p>sucessivo. Trata-se de uma visão diferente sobre a existência do homem e do</p><p>futuro, contrapondo a ideia limitada de que a vida se encerra no túmulo.</p><p>Considera-se que, na justiça humana, a transgressão da lei é tratada em</p><p>razoável linha de civilidade. Tomemos como exemplo o hipotético caso de</p><p>um indivíduo que comete um crime, tirando a vida de outro. A autoridade</p><p>competente prende o assassino e o submete a um julgamento. Defesa e</p><p>acusação apresentam razões, que são apreciadas pelo juiz e por um júri</p><p>constituído de pessoas idôneas para exercer juízos. O juiz produz a</p><p>condenação, de maneira que o transgressor seja punido e, ao mesmo tempo,</p><p>possa re�etir e corrigir sua conduta. Espera-se desse modo que, ao �m da</p><p>pena, retorne ao convívio social e não mais repita o erro. Isso parece lógico e</p><p>justo a uma sociedade civilizada.</p><p>Qual é o interesse geral da justiça? Que o transgressor, recuperado, deixe a</p><p>prisão, reassuma a vida em sociedade e cumpra seu papel de cidadão.</p><p>Ninguém em sã consciência desejaria que tal indivíduo �casse preso</p><p>eternamente. Ocorre que, no âmbito da teologia cristã, se concebe a</p><p>existência de um deus que é contrário a esse elementar princípio de justiça.</p><p>Os cristãos acreditam que, se o criminoso não se arrepender enquanto vivo,</p><p>receberá castigo eterno depois de sua morte. Uma condenação dessa</p><p>natureza não faz sentido diante de um Criador perfeito, misericordioso e</p><p>cheio de compaixão, como o descrito por Moisés, Davi e pelo Cristo.95 Se o</p><p>homem, com toda sua ignorância sobre os aspectos mais profundos da vida,</p><p>desenvolveu uma justiça cuja meta é levar à recuperação quem cometeu</p><p>grave delito, é estranho que o Ser Eterno, a suprema fonte de sabedoria e</p><p>virtudes, aja de forma contrária. Diante disso, quem acredita no inferno?</p><p>Obviamente, qualquer pessoa sensata não leva a sério esse conceito.</p><p>Por qual motivo os cristãos acreditam em coisa tão absurda? A resposta</p><p>está na estagnação das ideias teológicas que sustentam as religiões, um</p><p>poderoso sistema de doutrinas incoerentes que abomina a ciência e manteve</p><p>seus seguidores, ao longo da história, presos no espírito da irracionalidade.</p><p>Na Bíblia Sagrada o homem pode encontrar Deus e o diabo. Com</p><p>frequência, abraçam o mal, pensando fazer o bem. Como isso é possível,</p><p>sendo as Escrituras a principal fonte de sabedoria, salvação e consolação? A</p><p>resposta é questão elementar. Depende apenas de como a pessoa lida com os</p><p>ensinamentos. Uma mesma lição pode ser utilizada para salvar ou condenar,</p><p>dependendo do ponto de vista de quem lê e dos interesses do seu coração.</p><p>No evangelho de João temos um exemplo que bem ilustra a confusão que</p><p>as pessoas podem fazer com ensinos tão graves. O Cristo a�rma que teria</p><p>vindo para dar vida em abundância. Em torno dessa expectativa, também</p><p>vista em outras passagens,96 foram estabelecidas doutrinas, como se Deus</p><p>tivesse interesse em premiar os homens com prosperidade, riquezas e bens</p><p>de consumo. O sentido da instrução é distorcido para o lado dos interesses</p><p>terrenos. Nas Escrituras observa-se lógica e harmonia. As lições gerais do</p><p>Novo Testamento mostram que a abundante riqueza a que se refere a citada</p><p>passagem é o dom da eternidade, virtudes e sabedoria, tesouros que as</p><p>traças não corroem nem os ladrões roubam.97 Foi dito que o amor ao</p><p>dinheiro é a raiz de todos os males e que o homem deve procurar uma</p><p>vivência modesta,98 porém, mesmo os que se denominam cristãos não se</p><p>interessam pelos aspectos profundos dessa instrução.</p><p>Há algo errado com os ensinamentos do Eterno? Não! Não há. O</p><p>problema está na intenção de quem interpreta a orientação bíblica para</p><p>justi�car interesses nem sempre elevados. Se o desejo da pessoa for adquirir</p><p>riquezas materiais, ela distorcerá a instrução para esse sentido, levando</p><p>outras pessoas ao mesmo desvario.99 O renascimento contínuo da alma tira-</p><p>lhe a preocupação excessiva com os bens terrenos. Não que eles não sejam</p><p>importantes, porém, não podem ser a razão do viver. Se nascemos</p><p>continuamente, podemos aceitar com mais altruísmo a condição da vida</p><p>presente, sabendo que todas as situações são controladas pelo Eterno e que</p><p>estamos construindo o nosso próprio futuro.</p><p>Voltando ao caso do criminoso, citado anteriormente, a justiça humana</p><p>fez cumprir a sentença. O cumprimento da pena, porém, não o livrará do</p><p>fato de que, perante Deus, ainda é um assassino. A pena imposta pela justiça</p><p>humana o libertou, mas uma grave questão, que transcende a vida visível,</p><p>ainda está por ser resolvida. Uma lei da Criação foi violada e, por isso, a</p><p>condenação permanecerá produzindo infortúnios na vida do condenado, até</p><p>que a verdadeira liberdade seja dada pelo Eterno, alforriando a consciência</p><p>da culpa. Nesse caso, a ação da misericórdia resgata o transgressor, que</p><p>deixa de ser um assassino, pois buscará a restauração de sua integridade,</p><p>ajustando-se às regras universais da vida. A misericórdia triunfa sobre o</p><p>juízo.100</p><p>Religião, fanatismo e irracionalidade</p><p>Fanatismo e irracionalidade são comportamentos que aparecem com</p><p>frequência na conduta do homem, principalmente quando o assunto é</p><p>religião. Igrejas e sinagogas nem sempre estão isentas dessas pragas.</p><p>Vivemos numa época onde há fartura de instituições e comunidades</p><p>formadas ao gosto e intenção dos corações. Por isso, quando pretendem</p><p>frequentar um local para ouvir a palavra do Eterno, as pessoas devem</p><p>avaliar, com cuidado, o sentido e a linha geral dos discursos feitos por</p><p>lideranças religiosas. Qualquer coação não procede de Deus, pois Ele não é</p><p>um Deus de confusão e de ameaças.101</p><p>O meio religioso criou conceitos errôneos a respeito da origem da alma,</p><p>da sua missão no mundo e do que acontece com ela depois que �nda a</p><p>existência física. Questões importantes, como as consequências do pecado, o</p><p>destino do pecador, sua condenação, a razão dos castigos e o �m do mundo,</p><p>também caíram na irracionalidade. Erros de interpretação e tradução</p><p>guiaram grande parte das pessoas nos obscuros caminhos da fé cega e</p><p>incoerente. A história do cristianismo e de suas igrejas está marcada por</p><p>condutas absurdas, incompatíveis com o Eterno Deus e com os princípios da</p><p>justiça e do bem comum.</p><p>Não foram poucas as ocasiões em que a igreja resistiu aos homens que</p><p>foram enviados para lhes revelar</p><p>boas novas a respeito do Criador e de Sua</p><p>Criação. A resistência da igreja terminava sempre em perseguição e, na</p><p>maioria das vezes, em morte. O pior dessa história é que resistiram também</p><p>à ciência, ameaçando e condenan do sábios que �zeram descobertas</p><p>fundamentais para os avanços do mundo.O espírito que resiste à verdade de</p><p>Deus ainda está presente em todas as crenças, mas especialmente nas igrejas</p><p>cristãs. É preciso um esforço das pessoas lúcidas para que a realidade da</p><p>vida além da dimensão visível, com todas as suas consequências, venha a ser</p><p>conhecida e combata o fanatismo.</p><p>O princípio do renascimento sucessivo é uma realidade que esclarece a</p><p>maior parte das incertezas bíblicas, além de revestir de sentido inteligente a</p><p>história de Israel, cuja existência e missão tornam-se compreensíveis. A</p><p>leitura das Escrituras Sagradas, fundamentada na ideia de que a alma é</p><p>eterna, transita e habita o Universo visível, engrandece ainda mais a obra do</p><p>Criador. É certo que o conhecimento das coisas eternas coloca o homem no</p><p>mesmo patamar dos padres e pastores, con�rmando a missão crística de</p><p>transformar os �lhos do Altíssimo em reis e sacerdotes, com conhecimento</p><p>das coisas dos céus e da terra.</p><p>A atitude de fanatismo não permite o exame de questões óbvias. O</p><p>renascimento sucessivo dos seres vivos é uma lei natural que não envolve</p><p>crenças. Faz parte da infraestrutura da Criação, assim como as leis da física,</p><p>química, matemática e demais ciências. Aplica-se, absolutamente, a todos os</p><p>seres com vida. Proporciona, à alma gerada por Deus, o acompanhamento</p><p>do progresso da obra sempre em tempo presente. Ela carrega consigo,</p><p>depois da morte do corpo, o ponto onde anteriormente se encontrava,</p><p>retomando-o e dilatando-o na existência seguinte, na medida em que tudo à</p><p>sua volta se expande. Nas sucessivas experiências existenciais, o homem se</p><p>aproxima gradualmente da sabedoria eterna.</p><p>A Criação segue o curso manifestado do tempo, como uma onda que se</p><p>desloca pelo espaço, gerado no seio divino. Se não houvesse vidas sucessivas,</p><p>as almas perderiam a sincronia com o movimento contínuo e progressivo do</p><p>Universo. O pensamento religioso tradicional a�rma que a alma aparece em</p><p>determinada época, vive a experiência cotidiana e, quando chega a morte</p><p>física, sai do cenário terreno para um inexplicável estado de glória, perdição</p><p>ou vergonha eterna. Como não há lógica nessa concepção, tal pensamento</p><p>leva as pessoas fatalmente ao fanatismo, descrença ou indiferença.</p><p>Há quem creia que a alma do homem dorme depois da morte do corpo,</p><p>aguardando o Juízo. Evidentemente, o sono pós-morte é um conceito</p><p>obscuro, que foge ao mais elementar senso de justiça e misericórdia.</p><p>Passagens bíblicas demonstrando a continuação da vida além da sepultura</p><p>não faltam ao leitor ávido por aprendizado. O exemplo do Cristo, que</p><p>ressurge da morte, aparecendo aos seus seguidores, é o mais espetacular de</p><p>todos, mas parece insu�ciente para despertar almas cauterizadas em suas</p><p>consciências, no dizer de Paulo.102 Saber dos segredos da Criação enriquece</p><p>a experiência existencial e faz a pessoa viver melhor!</p><p>Por que razão o renascimento sucessivo é ignorado pelos religiosos e</p><p>homens em geral? O motivo é que ele muda os conceitos seculares. A visão</p><p>do poder, riquezas, nobreza, glórias humanas, sob a luz das vidas que se</p><p>sucedem, é profundamente modi�cada. Um homem rico poderia nascer</p><p>pobre, numa outra existência. Um branco como um negro, o bonito como</p><p>um feio, aquele que mora em um palácio poderia morar em um casebre e</p><p>inúmeras outras situações de correção ou justiça, promovidas por Deus. O</p><p>edifício das ilusões, que sustenta a vida comum, seria ferido de morte. Seus</p><p>valores transitórios tornar-se-iam insensatez.</p><p>As pessoas imaginam ter somente uma existência física, por isso,</p><p>procuram desfrutá-la por todos os meios possíveis, em detrimento do bem</p><p>comum. O sistema de produção, comércio e consumo vive da ânsia dos seres</p><p>humanos em gozar os grandes e pequenos prazeres. Embora tal conceito, à</p><p>primeira vista, não seja condenável, ele cria, a longo prazo, uma atmosfera</p><p>de disputas, egoísmo e soberba, que é a principal causa das atuais a�ições da</p><p>sociedade.103</p><p>A existência do homem, caracterizada pelo conceito de vida única, sem</p><p>considerar Deus e as leis naturais, esvazia-se de sentido e leva à loucura. Por</p><p>isso convivemos com um tão elevado número de suicídios e transtornos</p><p>mentais de toda ordem. Se as pessoas soubessem que não estão no mundo</p><p>pela primeira vez e que voltarão outras tantas, que seus atos determinam o</p><p>futuro, não somente no aspecto psíquico, mas também material,</p><p>seguramente suas experiências mudariam. Assim será na nova humanidade,</p><p>quando o conhecimento do Eterno inundar a Terra104 e todos tiverem a</p><p>certeza de que são �lhos do Altíssimo, dotados de imortalidade.105</p><p>Finalmente terão consciência de que, desde o princípio, o Criador tem um</p><p>auspicioso plano para o desenvolvimento do planeta, de maneira que todos</p><p>encontrem a felicidade duradoura, que só poderá se estabelecer sob o</p><p>entendimento da ciência de Deus e dos propósitos divinos.</p><p>Renascimento sucessivo e Israel</p><p>Qual a importância do princípio do renascer sucessivo para o povo</p><p>enviado pelo Eterno? O fato de que o nascimento contínuo das almas e sua</p><p>trajetória pela história dá uma nova feição à promessa que Deus fez a</p><p>Abraão. Mediante as vidas sucessivas, esse mesmo povo foi sendo</p><p>aperfeiçoado nas lutas, tribulações, di�culdades e novos personagens foram</p><p>acrescentados a essa família, todos submetidos a contínuas experiências,</p><p>visando formar um povo experimentado, para os graves desa�os de um</p><p>novo tempo. A razão do zelo de Deus com Israel não é outra senão a de que</p><p>essas pessoas desempenhem importante e indispensável tarefa de</p><p>reorganizar a vida no período após os eventos do apocalipse. O conceito de</p><p>que os judeus são a salvação do mundo se espalha pelas Escrituras como o</p><p>eixo central das histórias que nelas se desenvolvem.106 O renascer</p><p>progressivo e contínuo das almas dá sentido de encadeamento das gerações</p><p>que se sucedem e se expandem, com o acréscimo de novos indivíduos.</p><p>Diante da experiência, todos se aperfeiçoam gradualmente, seja nos aspectos</p><p>morais, intelectuais ou transcendentais. Com a morte física não desaparece</p><p>o aprendizado, que permanece na alma e a sustentará no seu novo</p><p>nascimento.</p><p>Sem a lei do renascer, a trajetória desse povo e de toda a humanidade não</p><p>teria nenhum signi�cado. Tudo não passaria de momentos desconexos da</p><p>história, onde poucos personagens têm poder e vida plena, enquanto a</p><p>maioria experimenta toda sorte de padecimentos. O destino dos homens,</p><p>depois da morte, seria envolto em profundas injustiças, como se vê nas</p><p>crenças tradicionais. Alguns acabariam nos céus e outros, em maioria,</p><p>terminariam condenados ao inferno eterno, admitido pelos cristãos. Como</p><p>se daria o aperfeiçoamento de Israel, sem a possibilidade de renascer</p><p>quantas vezes fossem necessárias, para o aprimoramento do caráter dessas</p><p>almas? Sem o reviver contínuo, Israel (ou qualquer outra nação) não seria</p><p>experimentado pelas tribulações, provas e perseguições, conforme ensinam</p><p>os textos sagrados.107</p><p>Por qual motivo Israel haveria de sofrer ao longo da história, se não</p><p>existisse um propósito futuro envolvendo as mesmas almas, que receberiam</p><p>o galardão pelas lutas vividas? Por que, nos tempos de Jesus, Deus teria</p><p>endurecido o coração desse povo, tendo em vista salvar os gentios?108 Em</p><p>que época os judeus seriam restaurados, segundo as promessas existentes</p><p>em toda a Bíblia? Isso já teria acontecido, diante da atual organização</p><p>geopolítica do estado de Israel? Para quem os profetas e o Cristo anunciaram</p><p>o Reino, senão para almas que futuramente viveriam nele? São perguntas</p><p>que não encontraram respostas no âmbito da teologia clássica. Sem ter a</p><p>chave do entendimento, os teóLogos embrenharam-se no denso cipoal da</p><p>fantasia, passando a acreditar que Deus seria um mago a fazer coisas do</p><p>nada e sem um propósito</p><p>maior.</p><p>Diante das grandes mudanças que estão ocorrendo no planeta, não é mais</p><p>possível admitir a ideia de que basta crer em Deus para encontrar as</p><p>respostas às questões relativas à alma humana. É preciso entender o grande</p><p>projeto do Criador para a humanidade. A rejeição ao princípio da</p><p>anterioridade da alma e do renascer sucessivo, chave mestra do</p><p>entendimento das Escrituras, fez com que as religiões estacionassem no</p><p>obscuro campo do materialismo, que naturalmente fomentou a</p><p>incredulidade.</p><p>A preexistência da alma não é uma tese estranha ao cristianismo. Nos</p><p>primeiros séculos da era comum, foi discutida por teóLogos cristãos,</p><p>homens de grande envergadura, como Clemente,109 Orígenes110 e Ário.111</p><p>De modo infeliz, como a igreja fez em outras ocasiões, esses sábios foram</p><p>acusados por heresia, alguns perseguidos e, na melhor dashipóteses,</p><p>lançavam suspeitas sobre seus escritos. No transcorrer da história do</p><p>cristianismo, outros que se levantaram com as mesmas ideias foram</p><p>rechaçados com violência. O pensamento da igreja permaneceu estagnado</p><p>na obscuridade até os dias atuais. Entretanto, é inegável que Israel, desde o</p><p>princípio, vem sendo guiado pelo Altíssimo. As Escrituras testi�cam que</p><p>está se cumprindo um importante desígnio, relacionado ao futuro das</p><p>nações e das pessoas,112 envolvendo o mesmo povo e a mesma promessa,</p><p>ditada pelo mesmo Deus. A história assume um sentido lógico e racional se</p><p>as almas e demais coisas vivas nascerem, morrerem e renascerem,</p><p>sucessivamente, acompanhando o movimento progressivo do planeta e do</p><p>próprio Universo. Fora desse conceito a vida é uma experiência incerta, sem</p><p>qualquer razão. É morte.</p><p>__________</p><p>86 | Levítico 24.20; Mateus 5.26.</p><p>87 | Isaías 55.7; 1.18,19; 30.18,19; Ezequiel 18.31,32; Salmos 40.1-3; 51.1,2; 86.13.</p><p>88 | Gênesis 2.7.</p><p>89 | Salmos 25.7; Atos 17.30; Romanos 10.17; Efésios 5.14.</p><p>90 | Salmos 116.3; Romanos 5.14.</p><p>91 | Salmos 51.1-2; 103.10; Lucas 5.20.</p><p>92 | Eclesiastes 5.6; João 9.41.</p><p>93 | Conjunto de leis encontrado originalmente no Código de Hamurabi em 1730 a.C., na Babilônia, e também nos livros de</p><p>Moisés (Êxodo 21.22-27). Baseado no “dente por dente, olho por olho”, representa uma dura retaliação do crime praticado.</p><p>94 | Deuteronômio 11.13-25; Romanos 6.22; 8.2.</p><p>95 | Deuteronômio 4.31; Neemias 9.31; Isaías 44.3; Salmos 116.5; Mateus 5.45; Marcos 10.18.</p><p>96 | Gênesis 27.28; Salmos 37.11; Mateus 13.12; João 10.10.</p><p>97 | Mateus 6.19.</p><p>98 | Romanos 14.17; Filipenses 4.12; 1 Timóteo 6.8-10.</p><p>99 | Mateus 5.19-20; 15.14.</p><p>100 | Ezequiel 18.21-28; Tiago 2.13.</p><p>101 | Salmos 25.1-10; 46.10; Provérbios 3.1-7; 1 Coríntios 14.33.</p><p>102 | 1 Timóteo 4.2.</p><p>103 | Salmos 73.6; Provérbios 13.10; Isaías 2.12; Jeremias 13.9; Romanos 1.18-32.</p><p>104 | Isaías 11.9; Habacuque 2.14.</p><p>105 | Salmos 82.6.</p><p>106 | Gênesis 17.6-8; 26.4; 28.13-15; Isaías 49; 51; Amós 9.11-15; Apocalipse 5.10.</p><p>107 | Deuteronômio 8.2-3; Salmos 81.13; Neemias 9; Atos 14.22; Romanos 5.3-5; Hebreus 10.33.</p><p>108 | Romanos 11.</p><p>109 | Clemente de Alexandria (150-215/216 d.C.) foi teólogo, apologista cristão, instruído na �loso�a neoplatônica, enxergava o</p><p>melhor do pensamento grego como preparação para o evangelho e como ferramenta útil nas mãos de pensadores cristãos</p><p>habilidosos. Seu lema era: “Toda a verdade é a de Deus, venha de onde vier”. Tornou-se diretor da escola cristã de Alexandria.</p><p>Ele acreditava que, se a revelação de Deus for inteligível, o emprego da lógica e da dialética para estudar suas interpretações</p><p>certamente produzirá um conjunto de crenças e morais mais saudável que a ignorância. Além disso, ele tinha um conceito da</p><p>vida além da morte e de uma dimensão espiritual para tudo. Por suas ideias apoiadas no platonismo, pairavam suspeitas sobre</p><p>ele, não tendo sido incluído entre os reconhecidos santos da igreja romana.</p><p>110 | Orígenes de Alexandria (cerca de 185-254 d.C.), discípulo de Clemente, é o primeiro pai da igreja primitiva. Foi teólogo,</p><p>�lósofo neoplatônico e erudito notável. Defendia a ideia de que o Logos ou Verbo é gerado pelo Pai e que não existe nenhuma</p><p>dessemelhança entre o Pai e o Verbo. Embora seja considerado um dos teóLogos mais importantes da história do cristianismo,</p><p>sua memória é maculada por suspeitas de heresia. Por crer em princípios relacionados à preexistência e divindade da alma, os</p><p>ensinamentos de Orígenes foram considerados como heresias pela igreja, no concílio de Alexandria (ano 400) e no Segundo</p><p>Concílio de Constantinopla (ano 533).</p><p>111 | Ário de Alexandria (256-336) foi sacerdote, fundador da doutrina arianista, tida pela igreja como herética. Sua maior</p><p>controvérsia era a de não acreditar que Jesus fosse o próprio Deus. Seus ensinamentos eram contrários à Trindade que, até os</p><p>dias atuais, caracteriza a doutrina da igreja. Para ele, a salvação signi�cava seguir espontaneamente o exemplo de Cristo de</p><p>submissão a Deus. Dizia que, se Cristo não optou, de modo humano, por seguir a vontade de Deus, seu exemplo não tinha</p><p>utilidade. No ano de 318, em Alexandria, os seus ensinos a respeito de Cristo foram condenados como heresia, ele foi deposto de</p><p>sua condição de presbítero e obrigado a deixar a cidade.</p><p>112 | Deuteronômio 6.1-25; Jeremias 31.33; Salmos 50.7.</p><p>Capítulo 8</p><p>É DADO AO HOMEM MORRER UMA VEZ</p><p>O nascer e o morrer do corpo e da alma</p><p>A mais forte argumentação dos teólogos cristãos contra a lei do</p><p>renascimento sucessivo tomou como base um único versículo da epístola</p><p>chamada Carta aos Hebreus, pertencente ao cânon do Novo Testamento, o</p><p>qual diz que é dado ao homem morrer apenas uma vez. Há controvérsias a</p><p>respeito da autoria desse documento, mas muitos eruditos a�rmam ter sido</p><p>escrito por Paulo, o apóstolo. A passagem merece re�exão. Interpretaremos</p><p>o capítulo 9 da carta, analisando alguns trechos, por compreender que os</p><p>ensinamentos contidos nas Escrituras obedecem a uma coerência explícita</p><p>em um encadeamento de ideias que se desenvolvem em vários versículos,</p><p>não sendo possível que uma verdade seja anunciada uma única vez sem que</p><p>haja con�rmação no conjunto da obra.</p><p>Hebreus, capítulo 9</p><p>1. Ora, também a primeira tinha ordenanças</p><p>de culto divino e um santuário terrestre. 2.</p><p>Porque um tabernáculo estava preparado, o</p><p>primeiro, em que havia o candeeiro, e a mesa,</p><p>e os pães da proposição; ao que se chama o</p><p>santuário. 3. Mas depois do segundo véu</p><p>estava o tabernáculo que se chama o santo</p><p>dos santos, 4. Que tinha o incensário de ouro, e</p><p>a arca da aliança, coberta de ouro toda em</p><p>redor; em que estava um vaso de ouro, que</p><p>continha o maná, e a vara de Arão, que tinha</p><p>�orescido, e as tábuas da aliança; 5. E sobre a</p><p>arca os querubins da glória, que faziam</p><p>sombra no propiciatório; das quais coisas não</p><p>falaremos agora particularmente. 6. Ora,</p><p>estando estas coisas assim preparadas, a todo</p><p>o tempo, entravam os sacerdotes no primeiro</p><p>tabernáculo, cumprindo os serviços; 7. Mas, no</p><p>segundo, só o sumo sacerdote, uma vez no</p><p>ano, não sem sangue, que oferecia por si</p><p>mesmo e pelas culpas do povo;</p><p>8. Dando nisto a entender o Espírito Santo que</p><p>ainda o caminho do santuário não estava</p><p>descoberto enquanto se conservava em pé o</p><p>primeiro tabernáculo, 9. Que é uma alegoria</p><p>para o tempo presente, em que se oferecem</p><p>dons e sacrifícios que, quanto à consciência,</p><p>não podem aperfeiçoar aquele que faz o</p><p>serviço; 10. Consistindo somente em comidas, e</p><p>bebidas, e várias abluções, e justi�cações da</p><p>carne, impostas até ao tempo da correção. 11.</p><p>Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens</p><p>futuros, por um maior e mais perfeito</p><p>tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não</p><p>desta criação, 12. Nem por sangue de bodes e</p><p>bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou</p><p>uma vez no santuário, havendo efetuado uma</p><p>eterna redenção. 13. Porque, se o sangue dos</p><p>touros e bodes, e a cinza de uma novilha</p><p>esparzida sobre os imundos, os santi�ca,</p><p>quanto à puri�cação da carne,</p><p>14. Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo</p><p>Espírito eterno se ofereceu a si mesmo</p><p>imaculado a Deus, puri�cará as vossas</p><p>consciências das obras mortas, para servirdes</p><p>ao</p><p>homens, na busca por respostas que possam dar</p><p>sentido à sua existência. A razão dessa procura não é outra senão a de</p><p>encontrar base sólida para sustentar o mover da humanidade rumo ao</p><p>futuro. Sem saber com clareza qual é a origem da criatura humana e o que se</p><p>passa depois da morte do corpo físico, não é possível viver devidamente o</p><p>que está entre o nascer e o morrer. Pensadores, �lósofos e religiosos de</p><p>diversas épocas �zeram considerações a respeito do tema, porém, as</p><p>explicações, quando encontradas, atenderam a anseios de um tempo, mas</p><p>não para todo o tempo. A natural lei do progresso fez com que essa</p><p>indagação se tornasse constante.</p><p>Embora a �loso�a apresente um vasto campo de considerações para a</p><p>questão, as religiões se consolidaram como a maior fonte de conceitos a</p><p>respeito da origem das coisas e dos �ns a que se destinam. A ciência estuda</p><p>o mundo palpável, porém, no que toca à razão de sua existência, assim como</p><p>a dos seres humanos, ela é tão ignorante quanto as demais áreas de</p><p>investigação. A religião tem grande poder de in�uenciar as multidões,</p><p>porém, desgraçadamente, a teologia apresentada tem sido um terreno de</p><p>misticismo e irracionalidade. Segundo os religiosos, a fé seria su�ciente para</p><p>resolver os mistérios da vida e da morte, independente da solução estar ou</p><p>não acompanhada de explicações racionais. As fontes religiosas fornecem</p><p>princípios que orientam e facilitam a relação entre os homens, entretanto, os</p><p>dois pontos mais importantes dessa especulação, o viver e o morrer,</p><p>continuam obscuros ou envoltos em fantasias.</p><p>Os �lósofos se posicionam mais perto da verdade do que os religiosos. A</p><p>razão é simples: enquanto o mundo religioso parte do espírito sectário que o</p><p>caracteriza, os pensadores investigam utilizando tanto o raciocínio lógico</p><p>quanto o intuitivo. Ainda assim, religião e �loso�a não encontraram a chave</p><p>que esclarece a origem, o meio e o motivo da vida humana. Sem dúvida, o</p><p>pensamento investigativo é a melhor ferramenta para lidar com o que não é</p><p>concreto. Por que vivemos? Por que morremos? Qual a motivação da</p><p>existência das coisas e do viver? Estas são questões situadas na região do</p><p>abstrato, onde a ciên cia não atua. Os cientistas, por exemplo, nada dizem</p><p>das razões da felicidade ou do sofrimento, embora possam especular em</p><p>torno daspossíveis causas geradoras. Os pensadores fazem diferente. Eles</p><p>transitam com maior liberdade nesse ambiente e podem nos ajudar a ter</p><p>uma visão mais justa acerca do que fazemos, porque vivemos, somos felizes</p><p>ou sofremos.</p><p>Pensar racional e intuitivamente nos faz avançar e progredir.</p><p>Racionalmente, porque a inteligência em nenhuma circunstância deve ser</p><p>deixada de lado, especialmente quando se pretende entender a vida e seus</p><p>mistérios. Intuitivamente, em razão de ser quase unânime o conceito de que</p><p>temos uma percepção, que completa e digni�ca a faculdade inteligente do</p><p>homem, levando-o a compreender adiante dos tradicionais parâmetros.</p><p>Albert Einstein1, autor da teoria da relatividade, dizia que pensava por longo</p><p>período na solução de determinada questão, mas não conseguia encontrar</p><p>resposta. Quando em silêncio meditativo, eis que o entendimento lhe vinha</p><p>à mente.2</p><p>Na relação do ser humano com o meio em que vive, também é preciso</p><p>reconhecer a existência da inteligência instintiva, que guia o homem no</p><p>estágio em que o raciocínio lógico ainda não foi su�cientemente</p><p>desenvolvido. Não se quer negar nenhum campo da experiência humana,</p><p>que vem contribuindo para a edi�cação da vida. Entendemos que mesmo as</p><p>piores situações cooperam para a elaboração de um mundo melhor. Ao</p><p>longo de sua história, a humanidade aprendeu a separar o que lhe parecia</p><p>certo do errado. Desse esforço participaram cientistas, pensadores e</p><p>religiosos que re�etiram e discutiram sobre os variados aspectos da</p><p>realidade, tomando como base os próprios pontos de vista e o saber</p><p>adquirido. Houve quem a�rmasse ter auxílio de supostos gênios</p><p>inspiradores. Parece, assim, serem três os níveis de atuação da inteligência</p><p>dos homens: o instintivo, o racional e o intuitivo. Vamos nos ocupar da</p><p>razão e da intuição, uma vez que aparentam ser o progresso do instinto.</p><p>A ação da inteligência racional, por si só, corre o risco de perder-se em si</p><p>mesma, envolta nas opiniões do próprio investigador. A inteligência</p><p>intuitiva, agindo sozinha, poderá provocar idêntico mal, levando o</p><p>observador ao fanatismo. Contudo, ao ajuntar forças, ambas poderão</p><p>avançar com boa margem de segurança, no que concerne à investigação dos</p><p>mistérios que cercam a vida e a morte. O �lósofo francês René Descartes,3</p><p>ao pronunciar o axioma “Penso, logo existo!”, apontou a via pela qual se</p><p>pode entender a existência do homem: o pensamento! Descartes buscava o</p><p>conhecimento absoluto na dimensão da relatividade. Pela própria natureza</p><p>do imponderável, não é admissível chegar até ele partindo do ponderável.</p><p>Isso quer dizer que, se nossa intenção é compreender um alto ponto da</p><p>sabedoria, é preciso iniciar a busca na fonte desse saber, começando de cima</p><p>para baixo, do absoluto para o relativo, e não fazendo o inverso.</p><p>Alguém poderia descrever um lugar e o fazer de muitas maneiras, porém,</p><p>nenhuma das descrições seria tão completa se o �zesse do topo de um alto</p><p>monte. À medida que subisse, a descrição gradualmente se tornaria mais</p><p>próxima da realidade do que vista da parte mais baixa. Por isso, quando se</p><p>trata de entender a vida e a morte, que são as fronteiras da existência</p><p>humana, faz-se necessário subir a montanha, ou seja, ir além das respostas</p><p>convencionais, a maioria delas produto de mentes especulativas, porém,</p><p>pouco intuitivas, por não terem subido o su�ciente.</p><p>Pensar é viver. Quando dormimos uma noite em que não sonhamos,</p><p>passamos um período sem existir. O mesmo ocorre quando alguém é</p><p>submetido a uma anestesia. Para a realidade perceptiva do anes tesiado, o</p><p>intervalo entre o dormir e o acordar simplesmente não existe. O</p><p>pensamento é a base da vida. Ele pode ser quali�cado como bom ou mau,</p><p>em face dos efeitos que venham a produzir no indivíduo ou na sociedade da</p><p>qual faz parte.</p><p>A vida do homem é delineada pela qualidade do que pensa. Todo</p><p>ambiente onde ele existe sofre a in�uência de sua atividade mental. Uma</p><p>pessoa virtuosa tem uma existência de paz e de boas realizações. O contrário</p><p>também é verdadeiro. Um indivíduo dissimulado, guiado por pensamentos</p><p>ruins, tem uma vida desgraçada, e qualquer pessoa que com ele se relacionar</p><p>poderá ser envolvido em seu infortúnio.</p><p>O pensamento existe, mas não é algo que se possa apalpar, pois se trata de</p><p>manifestação que não pertence ao mundo concreto. Ele se manifesta através</p><p>de outro mecanismo abstrato, denominado mente. A mente é o meio</p><p>propagador dos pensamentos. Entretanto, ao que tudo indica, não é o ponto</p><p>gerador. O que seria a psique? Os próprios pensamentos? Absolutamente</p><p>não! É apenas o instrumento de expressão, apreciação e decisão em torno</p><p>das ideias que transitam por ela. É como o olho, que não é utilizado para</p><p>outra função, a não ser a visão, o ouvido para ou vir, os pés para caminhar, as</p><p>mãos para o trabalho, os pulmões para respirar, o coração para fazer circular</p><p>o sangue, os rins para �ltrá-lo e, assim, aplica-se aos demais órgãos que</p><p>compõem o corpo humano.</p><p>A mente não é o cérebro, mas manifesta-se nele. Defeitos nesse órgão</p><p>podem atrapalhar a manifestação das ideias, do humor e dos sentimentos.</p><p>Os remédios ajudam a melhorar o �uxo, mas não há medicamentos que</p><p>gerem bons pensamentos. Por isso, estamos diante de algo imaterial,</p><p>inalcançável por instrumentos materiais. Se admitirmos que os pensamentos</p><p>são realidades que não pertencem à dimensão palpável, e sua existência não</p><p>pode ser negada, certamente eles fazem parte de uma realidade que não</p><p>pertence à que vemos. Dessa maneira, entramos no âmbito da alma, que o</p><p>�lósofo grego Platão4 denominava mundo das ideias.</p><p>A alma é o ponto gerador dos pensamentos. É o indivíduo propriamente</p><p>dito. Não é a personalidade,</p><p>Deus vivo? 15. E, por isso, é mediador de um</p><p>novo testamento, para que, intervindo a morte</p><p>para remissão das transgressões que havia</p><p>debaixo do primeiro testamento, os chamados</p><p>recebam a promessa da herança eterna. 16.</p><p>Porque, onde há testamento, é necessário que</p><p>intervenha a morte do testador. 17. Porque um</p><p>testamento tem força onde houve morte; ou</p><p>terá ele algum valor enquanto o testador vive?</p><p>18. Por isso também o primeiro não foi</p><p>consagrado sem sangue; 19. Porque, havendo</p><p>Moisés anunciado a todo o povo todos os</p><p>mandamentos segundo a lei, tomou o sangue</p><p>dos bezerros e dos bodes, com água, lã</p><p>purpúrea e hissopo, e aspergiu tanto o mesmo</p><p>livro como todo o povo, 20. Dizendo: Este é o</p><p>sangue do testamento que Deus vos tem</p><p>mandado.</p><p>O homem nasce e morre somente uma vez. Estaríamos diante de uma</p><p>contradição, tendo em vista o renascer sucessivo? Não. Porém, para melhor</p><p>compreensão das argumentações dessa assertiva, consideremos que uma é a</p><p>morte do corpo e outra a da alma. A questão levantada pelos intérpretes</p><p>cristãos surge nas palavras contidas no verso 27: “Está ordenado aos homens</p><p>21. E semelhantemente aspergiu com sangue</p><p>o tabernáculo e todos os vasos do ministério.</p><p>22. E quase todas as coisas, segundo a lei, se</p><p>puri�cam com sangue; e sem derramamento</p><p>de sangue não há remissão. 23. De sorte que</p><p>era bem necessário que as �guras das coisas</p><p>que estão no céu assim se puri�cassem; mas</p><p>as próprias coisas celestiais com sacrifícios</p><p>melhores do que estes. 24. Porque Cristo não</p><p>entrou num santuário feito por mãos, �gura do</p><p>verdadeiro, porém no mesmo céu, para agora</p><p>comparecer por nós perante a face de Deus;</p><p>25. Nem também para a si mesmo se oferecer</p><p>muitas vezes, como o sumo sacerdote cada</p><p>ano entra no santuário com sangue alheio; 26.</p><p>De outra maneira, necessário lhe fora padecer</p><p>muitas vezes desde a fundação do mundo.</p><p>Mas agora na consumação dos séculos uma</p><p>vez se manifestou, para aniquilar o pecado</p><p>pelo sacrifício de si mesmo. 27. E, como aos</p><p>homens está ordenado morrerem uma vez,</p><p>vindo depois disso o juízo,</p><p>28. Assim também Cristo, oferecendo-se uma</p><p>vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá</p><p>segunda vez, sem pecado, aos que o esperam</p><p>para salvação.</p><p>morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo”. Como negativa ao renascer</p><p>sucessivo, eles se apegam ao versículo porque �zeram o inocente raciocínio</p><p>de que, se é dado ao homem morrer apenas uma vez, vindo depois disso o</p><p>juízo, segue-se que tal indivíduo não poderia nascer e morrer muitas vezes.</p><p>Sendo assim, estaria comprovada a impossibilidade de alguém que morreu</p><p>voltar a viver como um novo personagem.</p><p>O argumento não passa de um arranjo do sentido literal do texto e</p><p>alegoria imprópria. Como sempre �zeram, o contexto da instrução não foi</p><p>considerado. Quando se examina o capítulo, tendo em vista o conjunto dos</p><p>ensinamentos, surge outra realidade. Os versículos anteriores e posteriores</p><p>ao 27 mostram que o autor da carta aos hebreus não abordava o falecimento</p><p>do corpo, mas a morte primordial, que acompanha a alma desde a saída do</p><p>Éden bíblico.113 É o que �cou conhecido vulgarmente por pecado original.</p><p>Esta é a morte da alma.</p><p>Como a existência da alma é contínua, com pequenos intervalos nas</p><p>dimensões invisíveis, o movimento progressivo do Universo inevitavelmente</p><p>a conduzirá ao encontro da vida eterna, ou seja, à tomada de consciência de</p><p>sua verdadeira natureza. A Criação funciona em modelo de princípios</p><p>opostos: vida e morte, eternidade e relatividade, doce e amargo, dia e noite,</p><p>certo e errado e diversos outros contrapostos. Até que encontrem a vida</p><p>eterna, as almas permanecem existindo sob o poder da morte primitiva,</p><p>mesmo sem o saber.114 Não se está falando da vida e morte do corpo, mas da</p><p>situação da alma em sua relação com o Criador.</p><p>A lei de Deus, revelada à Moisés, é um mecanismo da Criação utilizado</p><p>para cuidar das almas durante sua infância intelectual. Paulo dizia que a lei</p><p>era como um servo a zelar de crianças até que chegassem à maioridade.</p><p>Evidentemente, isso não se dá no espaço da curta existência de 70, 80 ou 100</p><p>anos. No princípio, a alma é como criança movendo-se pela história, até</p><p>que, em certo momento, lhe são reveladas as regras. Descobre-se, então,</p><p>transgredindo. Ela não sabia! Agora, foi informada. É nesse instante que</p><p>toma consciência de que jazia morta, vivendo sem considerar as leis</p><p>naturais. Até então, não tinha vínculo consciente com o Eterno,115 a fonte de</p><p>sua origem. A partir desse ponto, será resgatada pelos mecanismos</p><p>inteligentes da Criação. Os princípios de vida, morte e ressurreição da alma</p><p>foram ensinados pelo apóstolo em suas epístolas. Infelizmente, foram</p><p>entendidos pelos que elaboraram a doutrina da igreja nascente como se</p><p>fossem referentes a uma única experiência do homem carnal.</p><p>Diante do despertar da alma, produzido pela consciência de suas</p><p>transgressões, ela é retirada da ignorância116 por meio dos enviados que</p><p>nascem no mundo cumprindo missões. Os anunciadores são profetas,</p><p>sacerdotes, apóstolos, pregadores e qualquer pessoa que carregue a preciosa</p><p>semente.117 Isto posto, a alma do homem ressurge da morte para a vida</p><p>eterna e não morre novamente,118 pois adquire consciência de sua natureza</p><p>e destinação. Este é o renascer da alma, que se dá somente uma vez. É esse o</p><p>verdadeiro sentido da instrução de Hebreus 9.27, que alguns intérpretes</p><p>utilizam para se posicionar contra o princípio do renascimento sucessivo. A</p><p>passagem não tem nenhuma relação com a morte, juízo ou ressurreição do</p><p>corpo carnal, que não passa de vestimenta da alma.</p><p>Examinemos o contexto. O versículo 22 proclama que todas as coisas de</p><p>Deus, segundo a lei, se puri�cam com sangue e que, sem o seu</p><p>derramamento, não há remissão de pecados. São as razões pelas quais,</p><p>segundo as Escrituras, eram feitos sacrifícios de animais na vigência do</p><p>sacerdócio levítico. O verso 23 explica que a morte sacri�cial do Cristo</p><p>substituiu a matança dos bichos, cujo sangue não tinha poder de puri�car</p><p>consciências.119 A morte dos animais era prática transitória e bene�ciava</p><p>exclusivamente os atos da vida temporal. A morte do Cristo, porém, referia-</p><p>se a providências para o futuro das almas, com profundo signi�cado até hoje</p><p>pouco compreendido.</p><p>No versículo 24 segue a instrução mostrando que o Cristo entrou no</p><p>santuário celeste, do qual os santuários terrestres não passavam de toscas</p><p>representações. Por infelicidade, o estado atual das igrejas é o mesmo das</p><p>sinagogas dos tempos em que viveu Jesus. Quer dizer, continuam como</p><p>sombra das coisas verdadeiras. Do versículo 25 em diante, a instrução</p><p>demonstra que o �lho de Davi não se ofereceu a si mesmo como oferta</p><p>muitas vezes, como fazia todos os anos o sumo sacerdote. Ele o fez somente</p><p>uma vez, para aniquilar o pecado de forma de�nitiva, segundo</p><p>argumentações do autor da carta.</p><p>O verso 26 diz que, se o seu sacrifício fosse semelhante ao sacerdócio</p><p>vigente (o levítico), o Cristo teria de morrer diversas vezes para repetir a</p><p>oferta, pois assim fazia o sumo sacerdote, sacri�cando animais todos os anos</p><p>pelos pecados do povo. O versículo 27 completa o raciocínio, dizendo que</p><p>Jesus morrera apenas uma vez, como oferta de�nitiva, sem que fosse</p><p>necessário repeti-la. Ora, se o verso 27 complementa o 26, logicamente não</p><p>pode tratar da morte corporal, mas daquela morte que caracteriza a alma</p><p>desde o começo, a qual, quando vencida, não se está mais sujeita a ela. É o</p><p>que aconteceu com Jesus, que teve grandiosa e de�nitiva vitória sobre essa</p><p>morte. Ocorre o mesmo com todo aquele que nele crê como o Enviado de</p><p>Deus. Trata-se de sair das trevas da ignorância para a luz da sabedoria do</p><p>Eterno. Resgatado dessa condição pela fé, ocorre a ressurreição, não</p><p>havendo mais morte. É o que Paulo ensinava!</p><p>Não há nas Escrituras qualquer argumento contra a possibilidade de a</p><p>alma nascer outras vezes, para animar novos personagens. Nascer, viver,</p><p>morrer e renascer são leis naturais que se aplicam a todos os seres vivos.</p><p>De</p><p>outro modo, de que maneira os homens participariam do progresso do</p><p>Universo? Pessoas ingênuas pensam que não precisam saber de tal coisa,</p><p>porém, a lógica aponta noutro sentido: a Criação é uma obra inteligente e</p><p>desse modo deve ser examinada para que se saiba a razão do existir.</p><p>O ser humano morrerá �sicamente, como os demais seres vivos, uma vez</p><p>que está sujeito à lei natural. Contudo, a alma não mais passará pela situação</p><p>da morte primordial, já vencida na ressurreição. A destruição do corpo não</p><p>causará nenhum trauma para a alma. A ausência da vida eterna, porém, que</p><p>é a presença da morte, essa, sim, poderá causar grandes sofrimentos. O</p><p>homem que anda nos caminhos do Eterno, consciente de sua eternidade,</p><p>não será preso pela morte.120</p><p>Destituído do princípio do renascer sucessivo, pensando ter uma única</p><p>vida, o homem fará apenas uma escolha. Se errar, o que é muito comum, sua</p><p>alma estaria perdida para sempre. Nesse caso, não seriam poucos os</p><p>indivíduos lançados no sofrimento eterno, de acordo com a teologia cristã.</p><p>Deus bene�ciaria um pequeno número de escolhidos, impelindo multidões</p><p>ao inferno sem �m. Nesse pensamento não há coerência, justiça ou</p><p>misericórdia, o que indica que ele não pode ser verdadeiro. A lei do</p><p>renascimento sucessivo insere a alma na grandiosidade da Criação. Abre a</p><p>oportunidade para todos progredirem, encontrando a felicidade duradoura.</p><p>Outra situação a ser considerada são os países onde a mensagem do</p><p>Eterno inexiste. Sem novas oportunidades de renascimento, para onde</p><p>seriam levadas as almas dos habitantes dessas nações? Os céus não seriam o</p><p>destino, pois ainda não teriam sido esclarecidas. O inferno também não,</p><p>uma vez que erraram sem conhecimento da lei.121 Condená-las seria</p><p>injustiça. O Eterno seria injusto? Não se pode admitir tal coisa. Uma</p><p>condenação desse tipo estaria conforme a inteligência observada na</p><p>constituição do Universo? Certamente que não! Se algo parece estranho à</p><p>lógica, isso deve ser imputado ao pouco conhecimento do homem. A</p><p>prudência nos faz perceber a incoerência desses conceitos que, infelizmente,</p><p>ainda povoam a cabeça da maioria dos religiosos cristãos e judeus.</p><p>O renascimento da alma dos profetas é con�rmado pelas Escrituras</p><p>Sagradas.122 Deve ser visto como resultado da lei natural, que também se</p><p>aplica aos demais homens e seres vivos, tendo em vista o cumprimento dos</p><p>desígnios divinos, que é o povoamento da Terra. Para as almas da casa de</p><p>Israel, o princípio do renascer, como novos personagens da história, é uma</p><p>novidade que pode ajudá-las a melhor entender o Universo e perfeição da</p><p>obra do Criador. O plano divino não pode ser entendido racionalmente, sem</p><p>o conceito de que os seres vivos são eternos, nascem, existem, morrem e</p><p>renascem continuamente.</p><p>__________</p><p>113 | Gênesis 3.</p><p>114 | Romanos 5.14.</p><p>115 | Romanos 7.</p><p>116 | João 3.2-8.</p><p>117 | Lucas 9.49-50.</p><p>118 | Deuteronômio 30.15; Romanos 11.29.</p><p>119 | Hebreus 9.14; 10.4.</p><p>120 | Salmos 16.10; 30.3; 49.15; 2 Coríntios 1.10.</p><p>121 | Romanos 2.12.</p><p>122 | Ezequiel 37.24; Malaquias 4.5; Lucas 9.19; Mateus 17.11-13.</p><p>Capítulo 9</p><p>O RETORNO DOS PROFETAS</p><p>Os mesmos servos cumprindo missões</p><p>A volta do profeta Elias</p><p>Nos tempos em que viveu o Cristo, havia, entre os judeus, a expectativa</p><p>acerca da possível volta ao mundo de uma expoente �gura da história, o</p><p>profeta Elias. Naquela época, o pensamento de que era possível alguém que</p><p>morreu retornar à vida não era visto como coisa absurda, muito menos que</p><p>fosse demoníaca. É certo que, devido às limitações de entendimento, um</p><p>tipo de ressurreição corporal era o modo como esperavam o retorno. Não</p><p>havia nenhuma explicação clara de como isso se daria, já que os corpos</p><p>usados pelos mortos quando estiveram vivos teriam sido destruídos pelo</p><p>tempo, devido à natural decomposição.</p><p>Mesmo assim, naquele tempo, admitir que uma antiga alma pudesse</p><p>retornar ao cenário terreno sinalizava um avanço teológico considerável. Por</p><p>infelicidade, o judaísmo religioso, que serviu como base para a religião</p><p>cristã, parece não ter se modi�cado até os nossos dias – exceção feita aos</p><p>rabinos cabalistas que tiveram acesso à ciência de Deus. Nos dias atuais, a</p><p>ressurreição ainda é vista como nos tempos do Cristo, quer dizer, quem nela</p><p>acredita espera o corpo do morto voltar da sepultura. Em busca de melhor</p><p>entender a possibilidade de a alma nascer de novo, em outro corpo, vamos</p><p>analisar algumas passagens bíblicas que apontam seguramente nesse</p><p>sentido. No caso do profeta Elias, as informações estão no capítulo 4 do livro</p><p>de Malaquias e no capítulo 17 do evangelho de Mateus.</p><p>No capítulo 4 do livro de Malaquias há uma profecia que assinala o</p><p>renascimento do profeta Elias para cumprir mais uma tarefa no meio do</p><p>povo judeu. O Cristo, durante sua vida pública, con�rmou que João Batista</p><p>era o Elias que havia de vir. A revelação de Jesus é uma das mais relevantes</p><p>con�rmações do princípio do renascimento da alma em novo corpo. Elias</p><p>foi um servo do Eterno que viveu no reino de Israel, sob o governo do rei</p><p>Acabe (873-852 a.C.). A morte do profeta foi envolta em mistérios, devido</p><p>Malaquias, capítulo 4</p><p>1. Porque eis que aquele dia vem ardendo</p><p>como fornalha; todos os soberbos, e todos os</p><p>que cometem impiedade, serão como a palha;</p><p>e o dia que está para vir os abrasará, diz o</p><p>Senhor dos Exércitos, de sorte que lhes não</p><p>deixará nem raiz, nem ramo. 2. Mas para vós,</p><p>os que temeis o meu nome, nascerá o sol da</p><p>justiça, e cura trará nas suas asas; e saireis e</p><p>saltareis como bezerros da estrebaria. 3. E</p><p>pisareis os ímpios, porque se farão cinza</p><p>debaixo das plantas de vossos pés, naquele dia</p><p>que estou preparando, diz o Senhor dos</p><p>Exércitos. 4. Lembrai-vos da lei de Moisés, meu</p><p>servo, que lhe mandei em Horebe para todo o</p><p>Israel, a saber, estatutos e juízos. 5. Eis que eu</p><p>vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o</p><p>grande e terrível dia do Senhor; 6. E ele</p><p>converterá o coração dos pais aos �lhos, e o</p><p>coração dos �lhos a seus pais; para que eu não</p><p>venha, e �ra a terra com maldição.</p><p>ao seu desaparecimento. Na ocasião, o seu discípulo Eliseu relatou que viu</p><p>uma carruagem de fogo,123 fato que levou religiosos à criação de uma lenda</p><p>que dizia ter o profeta subido aos céus nesse carro, em um suposto</p><p>arrebatamento corpóreo. A fé cristã vive de milagres e fatos sobrenaturais</p><p>que, muitas vezes, não passam de interpretação equivocada dos eventos.</p><p>O livro de Malaquias, como de outros profetas, apresenta uma</p><p>característica comum nas previsões, que é a de se dirigir às pessoas como se</p><p>elas fossem viver no futuro. Isso somente seria possível se os indivíduos que</p><p>ouviram as revelações viessem a existir na história vindoura. Nunca houve</p><p>instrução da parte de Deus para que a mensagem profética �casse guardada</p><p>para futuras gerações. As profecias ajuntam fatos da época em que foram</p><p>anunciadas com situações que ainda se desenrolariam. A história se</p><p>desenvolve em modelos predeterminados porque obedece ao projeto divino</p><p>em execução.</p><p>O império babilônico do rei Nabucodonosor (626-539 a.C.), por exemplo,</p><p>é a �gura da grande Babilônia citada no Apocalipse de João.124 A</p><p>reconstrução de Jerusalém, no período pós-exílio, corresponde à</p><p>reconstrução de Israel, depois dos eventos bélicos que marcarão o �m deste</p><p>mundo, prevista para o nosso tempo. As palavras de Malaquias, sem dúvida,</p><p>foram dirigidas aos judeus, mas não o seriam também aos cristãos? Se eles</p><p>são considerados como ramos enxertados na oliveira original,125 decerto</p><p>que sim. Não há como enxergar a história de cristãos e judeus, do ponto de</p><p>vista das Escrituras, fazendo separação entre essas duas casas ou cultivando</p><p>a tola ideia de que os seguidores de Cristo teriam vindo tomar o lugar dos</p><p>que andam sob a orientação de Moisés. Mais inverossímil ainda é a tese de</p><p>que os cristãos teriam a missão de converter os judeus ao cristianismo. Os</p><p>judeus já têm sua via de salvação, con�rmada por Paulo, ao a�rmar que</p><p>Abraão foi o primeiro a se tornar justo pela fé.126</p><p>A declaração</p><p>de Malaquias anuncia que o dia do Senhor127 virá ardendo</p><p>como fornalha, ou seja, serão dias de grandes transtornos, como nunca se</p><p>viu. O alvo desse Juízo serão as pessoas soberbas, destituídas do saber de</p><p>Deus, que, nos tempos do �m, causarão enorme prejuízo à vida comum.</p><p>Queimarão como a palha, diz a profecia. Quer dizer, não �cará raiz, nem</p><p>ramo, indicando que serão removidos do planeta, com seus descendentes.</p><p>Diz o anúncio que, para todosos que têm vínculo com Deus, nascerá um</p><p>tempo novo, uma era de paz e alegrias in�ndas: “Para vós, que temeis o meu</p><p>nome, nascerá o sol da justiça”.</p><p>Não há dúvidas de que as bases do pensamento judaico-cristão foram</p><p>utilizadas como alicerce da civilização ocidental. Embora vivamos em época</p><p>de apostasia coletiva, com a vida sendo distorcida nos seus reais valores, os</p><p>conceitos ensinados nas Escrituras têm sido a redenção de muitos. Quando</p><p>se considera a harmonia existente entre o Antigo e o Novo Testamentos, não</p><p>há como negar que judeus e cristãos são ramos da mesma árvore. A profecia</p><p>de Malaquias deve ser recebida pelas duas casas como um alerta a respeito</p><p>dos destrutivos eventos que estão por vir sobre o mundo.</p><p>O versículo 2 con�rma que haverá con�ito entre a impiedade e a justiça.</p><p>Também a�rma que Israel será sua testemunha diante da humanidade</p><p>perdida em desvarios e soberba. Nunca se viu situação de tanta vaidade e</p><p>disputas, como a observada nos dias atuais. O advento da internet agravou</p><p>sobremaneira o orgulho e o egocentrismo dos homens, acelerando a</p><p>degeneração das relações humanas, embora pareça o contrário. O versículo</p><p>3 diz: “Pisareis os ímpios, porque serão cinzas debaixo das plantas dos</p><p>vossos pés, naquele dia que estou preparando, diz o Senhor dos Exércitos”.</p><p>No mundo ocidental, poucos se orientam pelas instruções de Deus. Todos</p><p>vivem segundo os conceitos e leis do espírito de época. Com isso, as mais</p><p>descabidas condutas e costumes são observados. O argumento vigente é o de</p><p>que as pessoas são livres para viverem suas vidas como bem entendem. Sim,</p><p>isso é verdade, mas precisamos considerar que, no fértil terreno da</p><p>existência, cada um colherá o que plantar.</p><p>Malaquias assegura que Deus enviaria o profeta Elias de volta ao mundo</p><p>para desempenhar nova e importante tarefa: converter o coração dos pais</p><p>aos �lhos e dos �lhos aos seus pais, para que a Terra não fosse destruída.</p><p>Vivemos em um período onde todos os desatinos estão sendo expostos, para</p><p>que os homens tomem consciência de seus históricos erros. É um tempo</p><p>marcado pela degeneração e inversão dos valores, em que os pais violam</p><p>suas obrigações perante os �lhos, e eles, por outro lado, desconsideram os</p><p>que lhes deram a vida. A destruição da família, na visão judaico-cristã,</p><p>corrói as bases da sociedade. Frente ao avanço da tecnologia, os malefícios</p><p>da vida irresponsável, do personalismo, das disputas individuais e de grupos</p><p>se espalham como grave epidemia.</p><p>Elias voltaria ao cenário humano com outro nome, dando início a uma</p><p>revolução de conceitos, que mudaria para sempre o destino da humanidade,</p><p>posto que seria o precursor do Cristo.128 O Batista veio abrir as portas das</p><p>consciências anunciando o arrependimento, ou seja, o despertar da alma</p><p>para a sua natureza eterna. Certamente Elias não viria para meramente</p><p>batizar homens nas águas. Iniciou, assim, o movimento de regeneração que</p><p>o �lho de José concluiria, retirando a humanidade da morte para fazê-la</p><p>adentrar em um tempo de paz e reconstrução. Após os tempos</p><p>apocalípticos, o mundo se tornará um lugar bem-aventurado, constituído de</p><p>uma justa sociedade, sem fome, pestes, violência, desonestidade nem</p><p>soberba.</p><p>Na introdução do evangelho de sua autoria, Marcos declara que João, o</p><p>Batista, era o enviado antes do Cristo: “Como está escrito nos profetas: eis</p><p>que envio o meu anjo ante a tua face, o qual preparará o teu caminho diante</p><p>de ti. Voz do que clama no deserto: preparai ocaminho do Senhor, endireitai</p><p>as suas veredas. Apareceu João batizando no deserto, e pregando o batismo</p><p>de arrependimento, para remissão dos pecados. Toda a província da Judeia e</p><p>os de Jerusalém iam ter com ele; e todos eram batizados no rio Jordão,</p><p>confessando os seus pecados. João andava vestido de pelos de camelo, e com</p><p>um cinto de couro em redor de seus lombos, e comia gafanhotos e mel</p><p>silvestre. Pregava, dizendo: após mim, vem aquele que é mais forte do que</p><p>eu, do qual não sou digno de, abaixando-me, desatar a correia das suas</p><p>alparcas. Eu, em verdade, tenho vos batizado com água; ele, porém, vos</p><p>batizará com o Espírito Santo”.129</p><p>O Batista seria um novo nascimento da alma de Elias? Jesus a�rmou que</p><p>sim! Teria João ressurgido do túmulo por uma suposta ressurreição da</p><p>carne? Os evangelhos dizem que não! Lucas a�rma que João era �lho de</p><p>Isabel e Zacarias. Se João é o Elias citado no livro de Malaquias,</p><p>seguramente se trata da mesma alma, na ocasião vivendo como novo</p><p>personagem, cumprindo outra missão. Nas bíblias cristãs, Malaquias encerra</p><p>o Antigo Testamento com a promessa de que Elias seria enviado novamente</p><p>ao mundo. Inicia-se, então, o Novo Testamento, que, por falta de</p><p>entendimento dos organizadores, é separado dos livros dantes escritos. Não</p><p>compreenderam que a mensagem é única, dirigida ao mesmo público,</p><p>ditada pelo mesmo Deus.</p><p>Os judeus, por não terem admitido o �lho de José como sendo o Messias,</p><p>ainda se encontram sem entender a mensagem redentora do Logos, que</p><p>falou pela boca do Cristo como a nenhum outro profeta. O Novo</p><p>Testamento é um adendo ao antigo pacto, que, além de versar a respeito do</p><p>reino do Eterno, aborda o resgate das almas ligadas ao reino do norte, aquele</p><p>mesmo Israel dos tempos de Elias.</p><p>Os evangelhos devem ser examinados com cautela, pois em alguns pontos</p><p>apresentam inconsistências, especialmente nas questões que deram origem</p><p>aos dogmas cristãos. A maioria desses preceitos de fé nasceu de traduções</p><p>malfeitas, ou comentários inseridos pelos autores ou tradutores. Para se</p><p>entender com maior clareza a missão do Cristo, deve-se atentar</p><p>especialmente para as palavras que saíram de sua boca. Como foram escritas</p><p>por autores diversos, convém dar maior crédito às instruções concordantes.</p><p>Quem examina os escritos do apóstolo Paulo percebe, sem muito esforço,</p><p>que diferem da doutrina encontrada nos evangelhos. Talvez o fato se dê por</p><p>estarmos diante de obras constituídas de modo bem diferente, tendo sido</p><p>escritas por ele mesmo. Já nos evangelhos, estamos diante de histórias</p><p>relatadas bem adiante do tempo em que os fatos ocorreram. O apóstolo dos</p><p>gentios desenvolveu uma doutrina própria, identi�cando o �lho de José</p><p>como sendo o profeta, portador do Verbo, esperado pelos judeus.</p><p>Nas referidas epístolas, o Cristo é visto sob a ótica das Escrituras</p><p>Hebraicas e à luz da sabedoria do Alto, cuja fonte possivelmente foi o</p><p>judaísmo rabínico de posse do conhecimento oculto. Paulo via a principal</p><p>missão de Jesus como uma ação de resgate das almas de israelitas dispersos,</p><p>vivendo como judeus e gentios. Também abria a porta a quem quisesse</p><p>conhecer o Deus de Israel.</p><p>Pelo pensamento apresentado por Paulo, o Messias não veio socorrer</p><p>estranhos, mas ovelhas que haviam deixado o rebanho principal. Um pai de</p><p>família não procuraria por ovelhas extraviadas se, em algum tempo, não</p><p>tivessem feito parte do seu aprisco. Perderam-se, por isso, estavam sendo</p><p>procuradas pelo pastor. Perderam-se como e onde? Quem seriam as ovelhas</p><p>desgarradas? Usando o mesmo princípio que esclarece a volta do profeta</p><p>Elias ao cenário terreno, elas são as almas das tribos de Israel, que se</p><p>espalharam em diversas ocasiões, inclusive durante o cativeiro assírio (740</p><p>a.C.).</p><p>Embora os judeus também tivessem sido dispersos em várias nações, pela</p><p>diáspora, eles não são ovelhas desgarradas, uma vez que se mantiveram �éis</p><p>ao seu Deus. A missão do Cristo não lhes dizia respeito. A busca pelas</p><p>ovelhas perdidas teve início com o trabalho missionário do Batista,</p><p>convidando o povo ao arrependimento, anunciando</p><p>a chegada do novo</p><p>mundo. Era o começo de uma mobilização que seria concluída milênios</p><p>mais tarde, com a chegada da Nova Jerusalém.130 Essa era a missão de Elias</p><p>anunciada por Malaquias.</p><p>Mateus, capítulo 17</p><p>1. Seis dias depois, tomou Jesus consigo a</p><p>Pedro, e a Tiago, e a João, seu irmão, e os</p><p>conduziu em particular a um alto monte, 2. E</p><p>trans�gurou-se diante deles; e o seu rosto</p><p>resplandeceu como o sol, e as suas vestes se</p><p>tornaram brancas como a luz. 3. E eis que lhes</p><p>apareceram Moisés e Elias, falando com ele. 4.</p><p>E Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus:</p><p>Senhor, bom é estarmos aqui; se queres,</p><p>façamos aqui três tabernáculos, um para ti,</p><p>um para Moisés, e um para Elias. 5. E, estando</p><p>ele ainda a falar, eis que uma nuvem luminosa</p><p>os cobriu. E da nuvem saiu uma voz que dizia:</p><p>Este é o meu amado Filho, em quem me</p><p>comprazo; escutai-o. 6. E os discípulos, ouvindo</p><p>isto, caíram sobre os seus rostos, e tiveram</p><p>grande medo. 7. E, aproximando-se Jesus,</p><p>tocou-lhes, e disse: levantai-vos, e não tenhais</p><p>medo. 8. E, erguendo eles os olhos, ninguém</p><p>viram senão unicamente Jesus.</p><p>9. E, descendo eles do monte, Jesus lhes</p><p>ordenou, dizendo: A ninguém conteis a visão,</p><p>até que o Filho do homem seja ressuscitado</p><p>dentre os mortos. 10. E os seus discípulos o</p><p>interrogaram, dizendo: por que dizem então os</p><p>escribas que é preciso que Elias venha</p><p>primeiro? 11. E Jesus, respondendo, disse-lhes:</p><p>Em verdade, Elias virá primeiro, e restaurará</p><p>todas as coisas; 12. Digo-vos, porém, que Elias</p><p>já veio, e não o conheceram, mas �zeram-lhe</p><p>tudo o que quiseram. Assim farão eles,</p><p>também padecer o Filho do homem. 13. Então</p><p>entenderam os discípulos que lhes falara de</p><p>João o Batista. 14. E, quando chegaram à</p><p>multidão, aproximou-se-lhe um homem,</p><p>pondo-se de joelhos diante dele, e dizendo: 15.</p><p>Senhor, tem misericórdia de meu �lho, que é</p><p>lunático e sofre muito; pois muitas vezes cai no</p><p>fogo, e muitas vezes na água; 16. E trouxe-o aos</p><p>teus discípulos; e não puderam curá-lo. 17. E</p><p>Jesus, respondendo, disse: Ó geração incrédula</p><p>e perversa! Até quando estarei eu convosco, e</p><p>até quando vos sofrerei? Trazei-o aqui.</p><p>Com o testemunho do próprio Cristo,131 em dois evangelhos sinóticos,</p><p>parece inquestionável que João Batista era o Elias que havia de vir. A partir</p><p>18. E repreendeu Jesus o demônio, que saiu</p><p>dele, e desde aquela hora o menino sarou. 19.</p><p>Então os discípulos, aproximando-se de Jesus</p><p>em particular, disseram: Por que não pudemos</p><p>nós expulsá-lo? 20. E Jesus lhes disse: Por</p><p>causa de vossa incredulidade; porque em</p><p>verdade vos digo que, se tiverdes fé como um</p><p>grão de mostarda, direis a este monte: Passa</p><p>daqui para acolá, e há de passar; e nada vos</p><p>será impossível. 21. Mas esta casta de</p><p>demônios não se expulsa senão pela oração e</p><p>pelo jejum. 22. Ora, achando-se eles na</p><p>Galileia, disse-lhes Jesus: O Filho do homem</p><p>será entregue nas mãos dos homens; 23. E</p><p>matá-lo-ão, e ao terceiro dia ressuscitará. E</p><p>eles se entristeceram muito. 24. E, chegando</p><p>eles a Cafarnaum, aproximaram-se de Pedro</p><p>os que cobravam as dracmas, e disseram: O</p><p>vosso mestre não paga as dracmas? 25. Disse</p><p>ele: Sim. E, entrando em casa, Jesus se lhe</p><p>antecipou, dizendo: que te parece, Simão? De</p><p>quem cobram os reis da terra os tributos, ou o</p><p>censo? Dos seus �lhos, ou dos alheios?</p><p>26. Disse-lhe Pedro: Dos alheios. Disse-lhe</p><p>Jesus: Logo, estão livres os �lhos. 27. Mas, para</p><p>que os não escandalizemos, vai ao mar, lança</p><p>o anzol, tira o primeiro peixe que subir e,</p><p>abrindo-lhe a boca, encontrarás um estáter;</p><p>toma-o e dá-o por mim e por ti.</p><p>do versículo 10, depois da trans�guração, logo após a visita incorpórea de</p><p>Moisés e Elias, os discípulos perguntaram a Jesus a respeito da crença que</p><p>circulava entre os escribas de que Elias viria antes do Messias. Os escribas</p><p>eram copistas e conheciam, como ninguém, a literalidade das Escrituras.</p><p>Obviamente referiam-se à questão posta em Malaquias, tratada</p><p>anteriormente. Jesus lhes respondeu: “Em verdade, Elias virá primeiro e</p><p>restaurará todas as coisas; mas digo-vos que Elias já veio e não o</p><p>conheceram, mas �zeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles,</p><p>também, padecer o Filho do homem”.132</p><p>Os discípulos entenderam que Jesus lhes falara de João Batista, informam</p><p>os autores com clareza. Cristo declara abertamente que João era o profeta</p><p>Elias que teria vindo, ou seja, a mesma alma, agora existindo como novo</p><p>personagem. Não há meias verdades nas palavras de Jesus. Ele não se refere</p><p>a alguém semelhante a Elias, que fosse de parecida personalidade, ou que</p><p>estivesse movido por mesmo espírito. Elias já veio, disse o Cristo.</p><p>Nas Escrituras não se faz referências a um personagem como se fosse</p><p>movido por espírito parecido com outro. A polêmica sobre o renascimento</p><p>de Elias é igual à polêmica da profecia que trata da volta do rei Davi.</p><p>Segundo as palavras do profeta Ezequiel, a alma de Davi será levantada</p><p>novamente por Deus, com a tarefa de apascentar a casa de Jacó, o Israel</p><p>bíblico. Como a teologia cristã não admite que a alma possa nascer de novo,</p><p>é preciso um verdadeiro malabarismo para explicar a literalidade do texto.</p><p>Para resolver a questão, assumem que as referências não falam de Davi, mas</p><p>do Cristo, o seu descendente.</p><p>Ao se admitir que a alma pode renascer, vivendo outro personagem, é</p><p>possível encontrar solução para a questão da volta do rei e muitas outras</p><p>existentes nas Escrituras. Davi nascerá com outro nome e �gura humana,</p><p>mas sua alma será a mesma daquele antigo servo, com quem Deus</p><p>estabeleceu aliança eterna, tendo em vista o reino futuro.133 O corpo é a</p><p>roupa da alma, nada mais!</p><p>Acerca do renascimento de Elias, os intérpretes cristãos asseguram que</p><p>não foi o que Jesus quis dizer acerca da identidade de João. Abrigam-se nas</p><p>palavras do anjo Gabriel, que, segundo Lucas, aparecera numa visão a</p><p>Zacarias, o pai do Batista. Nesse diálogo, o enviado divino dissera que João</p><p>salvaria muitos �lhos de Israel e que o faria no espírito e virtude de Elias.134</p><p>As traduções bíblicas apresentam variantes ao sabor da crença dos</p><p>tradutores. No momento de estabelecer o sentido de um vocábulo,</p><p>dependendo do rumo que o intérprete escolher, o signi�cado genuíno</p><p>poderá ser modi�cado. É possível encontrar erros grosseiros, que revisores</p><p>insistem em manter nas publicações. Exemplo disso: “Melhor é a mágoa do</p><p>que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração”.135 As</p><p>traduções Almeida Corrigida Fiel (ACF) e Almeida Revisada e Atualizada</p><p>(ARA) apresentam essa incoerência. É evidente que, em nenhuma</p><p>circunstância, a mágoa é um bom sentimento, pois não passa de orgulho</p><p>ferido, advindo de pessoas ainda destituídas da luz divina. A tradução</p><p>adequada, do original para o português, seria: “Melhor é o chorar do que o</p><p>sorrir, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração”. É passagem</p><p>que explica o sofrimento como ferramenta para aperfeiçoar a alma. Os</p><p>desacertos das traduções de originais para a língua portuguesa são</p><p>frequentes.</p><p>João Batista nasceu com virtudes semelhantes ao antigo profeta Elias</p><p>porque se tratava da mesma alma vivendo novo personagem. O espírito é a</p><p>expressão da alma. O anjo Gabriel, ao dizer para Zacarias que seu �lho</p><p>desempenharia tarefas no espírito e virtude do antigo profeta Elias, apenas</p><p>testi�cava que os dois personagens seriam a mesma individualidade. A</p><p>teologia cristã, cujas bases procedem dos primeiros séculos, insiste na tese</p><p>de que o homem é uma entidade casual. Diante da história, viveria apenas</p><p>uma vez, para posteriormente ser conduzido à suposta glória nos céus, ou</p><p>vergonha eterna nos infernos. Os religiosos não percebem que o conceito de</p><p>vida única impele multidões para as obscuras regiões de sofrimento, antes e</p><p>depois da morte corporal. Jesus disse certa vez aos judeus hipócritas que,</p><p>por se sentirem donos da cadeira de Moisés, não entravam no reino e não</p><p>deixavam outros entrarem por ensinar doutrinas de homens.136 É o que se</p><p>tem ainda hoje como realidade nas igrejas. Considerando</p><p>que a vida é uma</p><p>só possibilidade para encontrar a felicidade, as pessoas tentam, a qualquer</p><p>custo, obtê-la nos bens corruptíveis, o que certamente as levará a grandes</p><p>sofrimentos. Os que ensinam essa incoerência não entrarão no reino da luz e</p><p>arrastarão multidões para o abismo. Foi essa a advertência do Cristo.</p><p>A volta do profeta Daniel</p><p>Daniel foi profeta do Altíssimo. Sua vida está narrada no livro que leva o</p><p>seu nome. Viveu no período em que Judá �cou cativo na Babilônia, entre os</p><p>anos 609-538 a.C. É um dos mais destacados profetas, cujos escritos falam</p><p>de eventos relacionados com a crise do �m do mundo. O Cristo, no sermão</p><p>escatológico,137 fez referências ao ministério de Daniel, o que o põe adiante</p><p>dos demais profetas. Há indícios de que voltará a profetizar no futuro,</p><p>recebendo do Eterno uma nova vida terrena. É evidente que, nessa futura</p><p>vida, Daniel terá outro nome e servirá a Deus através de revelações</p><p>concernentes à implantação do Reino e sua organização, conforme atestam</p><p>os escritos sagrados.</p><p>Daniel, capítulo 12</p><p>1. E naquele tempo se levantará Miguel, o</p><p>grande príncipe, que se levanta a favor dos</p><p>�lhos do teu povo, e haverá um tempo de</p><p>angústia, qual nunca houve, desde que houve</p><p>nação até àquele tempo. Naquele tempo</p><p>livrar-se-á o teu povo, todo aquele que for</p><p>achado escrito no livro. 2. E muitos dos que</p><p>dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para</p><p>vida eterna e outros para vergonha e desprezo</p><p>eterno. 3. Os que forem sábios, pois,</p><p>resplandecerão como o fulgor do �rmamento;</p><p>e os que a muitos ensinam a justiça, como as</p><p>estrelas sempre e eternamente. 4. E tu, Daniel,</p><p>encerra estas palavras e sela este livro, até ao</p><p>�m do tempo; muitos correrão de uma parte</p><p>para outra, e o conhecimento se multiplicará.</p><p>5. Então eu, Daniel, olhei, e eis que estavam em</p><p>pé outros dois, um deste lado, à beira do rio, e o</p><p>outro do outro lado, à beira do rio. 6. E ele disse</p><p>ao homem vestido de linho, que estava sobre</p><p>as águas do rio: quando será o �m destas</p><p>maravilhas?</p><p>O livro do profeta Daniel se destaca entre as demais obras por conter</p><p>profecias relativas ao período dos eventos do �m. Jesus citou seu nome ao</p><p>referir-se à abominação desoladora.138 Homens como Daniel e João, o</p><p>evangelista, autor do Apocalipse, são almas de excepcional aptidão,</p><p>destinadas pelo Criador para cumprir tarefas especí�cas, geralmente ligadas</p><p>aos períodos de grandes sofrimentos, tanto para Israel quanto para as</p><p>demais nações. É preciso ter maturidade su�ciente para suportar visões</p><p>psíquicas referentes a grandes tragédias, advindas da história de Israel e da</p><p>transição do mundo, dessa situação em que se encontra para a nova era.</p><p>7. E ouvi o homem vestido de linho, que estava</p><p>sobre as águas do rio, o qual levantou ao céu a</p><p>sua mão direita e a esquerda, e jurou por</p><p>aquele que vive eternamente que isso seria</p><p>para um tempo, tempos e metade do tempo.</p><p>Quando tiverem acabado de espalhar o poder</p><p>do povo santo, estas coisas serão cumpridas. 8.</p><p>Eu, pois, ouvi, mas não entendi; por isso eu</p><p>disse: meu Senhor, qual será o �m destas</p><p>coisas? 9. E ele disse: Vai, Daniel, porque estas</p><p>palavras estão fechadas e seladas até ao</p><p>tempo do �m. 10. Muitos serão puri�cados, e</p><p>embranquecidos, e provados; mas os ímpios</p><p>procederão impiamente, e nenhum deles</p><p>entenderá, mas os sábios entenderão. 11. E</p><p>desde o tempo em que o sacrifício contínuo for</p><p>tirado, e posta a abominação desoladora,</p><p>haverá mil duzentos e noventa dias. 12. Bem-</p><p>aventurado o que espera e chega até mil</p><p>trezentos e trinta e cinco dias. 13. Tu, porém, vai</p><p>até ao �m; porque descansarás, e te levantarás</p><p>na tua herança, no �m dos dias.</p><p>A Terra é um planeta semicivilizado que segue a caminho da sua</p><p>autêntica civilização. A humanidade sofre com situações de profundas</p><p>desigualdades, com diversas nações vivendo na opulência, enquanto outras</p><p>seguem em profunda miséria. Ciência e tecnologia se desenvolveram,</p><p>oferecendo facilidades e conforto ao homem, mas também foram usadas</p><p>para a elaboração de armas destrutivas e formas diversi�cadas do comércio</p><p>desprezível. Como a vida nas nações não se baseia nas leis naturais do</p><p>Criador, ou em nobres expectativas em relação ao futuro, os homens são</p><p>guiados por ideologias políticas elaboradas por eles mesmos. Tudo o que se</p><p>idealiza, sem considerar as leis da Criação, é uma espécie de casa construída</p><p>sobre areia. A queda da moradia é questão de tempo!</p><p>Não se pode deixar de reconhecer os esforços dos líderes do mundo para</p><p>estabelecer um relacionamento civilizado entre os povos. Ocorre, porém,</p><p>que a soberba e a vaidade, decorrentes do egoísmo, geram discórdias e</p><p>disputas, levando o mundo a um deplorável estado de injustiça e de evidente</p><p>destruição. Os homens nada sabem da ciência do Criador, tampouco se</p><p>interessam por saber. Não entendem os delicados mecanismos que regem a</p><p>vida e a natureza. O que consideram ciência descortinou apenas uma parte</p><p>super�cial da realidade. É como discorrer sobre um lago enxergando apenas</p><p>a superfície. Na profundidade há um mundo desconhecido que sustenta a</p><p>paisagem visível. A humanidade não conseguirá evitar a autodestruição</p><p>porque não reconhece o que existe no invisível, nem quais são as</p><p>consequências dessa ciência para a vida das nações e de tudo o que se faz.</p><p>Os homens, sem o saber, destruíram as bases nas quais suas vidas se</p><p>sustentam. De acordo com o Cristo, o cenário �nal dos con�itos será tão</p><p>grave que, se não houvesse intervenção da parte do Criador, a humanidade</p><p>seria extinta.139</p><p>Os profetas são homens que recebem revelações e fazem advertências</p><p>tanto a Israel como aos demais povos. O livro de Daniel é um dos mais ricos</p><p>em referências ao período turbulento que viverá o planeta durante o Juízo.</p><p>No último capítulo140 destaca-se uma passagem que leva a entender que o</p><p>profeta voltará a viver no cenário terreno, nos eventos do �m. Pelo visto,</p><p>continuará exercendo a mesma tarefa dos tempos babilônicos, decifrando os</p><p>mistérios revelados por Deus. Na narrativa, Daniel conversa com dois seres</p><p>incorpóreos que vieram visitá-lo, trazendo informações das ocorrências dos</p><p>últimos dias.</p><p>Ao ouvir a revelação a respeito das situações que o mundo viveria e as</p><p>provas a que Israel seria submetido, pergunta: “Senhor meu, qual será o �m</p><p>destas coisas?”. Um dos seres divinos diz que as revelações eram para tempos</p><p>distantes, na época da Grande Tribulação, o período de dores que viria sobre</p><p>o mundo e que duraria 1.260 dias. Daniel, segundo a narrativa, estará</p><p>presente nos dias do �m, levantando-se em sua descendência. Novamente,</p><p>os tradutores cristãos cometem equívocos na interpretação. Por não</p><p>reconhecerem que a alma pode nascer novamente, como outro personagem,</p><p>publicaram diversos sentidos para o versículo 13, do capítulo 12, alguns</p><p>contraditórios:</p><p>Traduções em português</p><p>Almeida Corrigida e Revisada Fiel ao Texto</p><p>Original – Edição 2011</p><p>“Tu, porém, vai até ao �m; porque descansarás,</p><p>e te levantarás na tua herança, no �m dos</p><p>dias.”</p><p>Nova Versão Internacional</p><p>“Quanto a você, siga o seu caminho até o �m.</p><p>Você descansará, e então, no �nal dos dias,</p><p>você se levantará para receber a herança que</p><p>lhe cabe.”</p><p>Almeida Revisada de Acordo com os Melhores</p><p>Textos em Hebraico e Grego – Edição 1967</p><p>“Tu, porém, vai-te, até que chegue o �m; pois,</p><p>descansarás, e estarás na tua sorte, ao �m dos</p><p>dias.”</p><p>Nova Tradução na Linguagem de Hoje</p><p>“E você, Daniel, continue �rme até o �m. Você</p><p>morrerá, mas no �m ressuscitará para receber</p><p>a sua recompensa.”</p><p>Diante das discordâncias interpretativas, alguns pontos se destacam e</p><p>servem de instrução. As traduções concordam, por exemplo, que, depois da</p><p>morte física, a alma de Daniel repousaria. O ato de repousar, depois do</p><p>trabalho, não signi�ca necessariamente dormir. O repouso, nesse caso, pode</p><p>ser nas regiões invisíveis, em existência semelhante à vida dos anjos.141 A</p><p>vivência da alma, depois da morte corporal, é como um período de repouso</p><p>diante das intensas experiências vividas na região visível.</p><p>Nesses ambientes,</p><p>as almas esclarecidas ocupam-se de atividades concernentes ao planeta do</p><p>qual fazem parte. Posteriormente voltarão à existência para cumprir tarefas</p><p>determinadas por Deus ou simplesmente desfrutar da vida tangível, o que</p><p>para as almas esclarecidas é prazeroso.</p><p>Entre os tradutores, parece haver consenso de que Daniel voltará a viver</p><p>no período do �m do mundo, embora não �que claro como isso se dará. A</p><p>maioria deles utiliza o termo “te levantarás” como se a alma do profeta</p><p>estivesse dormindo, por conta do conceito que existe entre alguns grupos</p><p>cristãos, de que o morto �cará adormecido até o dia do Juízo. O texto não se</p><p>refere a um sono no sentido literal, uma vez que a expressão “levantar um</p><p>profeta” é usada nas Escrituras para falar de alguém que é designado para</p><p>realizar determinada missão, como servo do Altíssimo.</p><p>Traduções em espanhol</p><p>Spanish Sagradas Escrituras Version Antigua -</p><p>1569</p><p>“Y tú irás al �n, y reposarás, y te levantarás en</p><p>tu suerte o en tu herencia al �n de los días.”</p><p>Reina Valera</p><p>“Y tú irás al �n, y reposarás, y te levantarás en</p><p>tu suerte al �n de los días.”</p><p>A ideia de que os cadáveres se levantarão dos túmulos no dia do Juízo não</p><p>passa de utopia, pois fere a lei natural. É bem mais simples admitir que a</p><p>alma nascerá em novo corpo e que, não importa quantas vezes exista,</p><p>seguirá responsável por seus atos. Jesus declarou ter existido antes da vida</p><p>que teve em Israel.142 Como negar que isso também não possa acontecer</p><p>com aqueles que foram chamados por Ele de irmãos?</p><p>Na tradução Almeida Revisada e Corrigida (ARC), aparece a palavra</p><p>“sorte” com o correto signi�cado do destino de Daniel. Estaria no futuro do</p><p>profeta viver mais uma vez junto do mesmo povo, para profetizar. Seria um</p><p>enviado com outro nome, porém, a mesma individualidade. O vocábulo</p><p>“herança” foi empregado como se fosse uma suposta recompensa material a</p><p>que Daniel teria direito. Vislumbraram a questão no ponto de vista terreno,</p><p>em que os bens materiais são vistos como presentes de Deus. A doutrina</p><p>ensinada pelo Cristo e seus apóstolos põe �m a qualquer especulação dessa</p><p>natureza. A expressão “sua herança”, em verdade, aponta para a posteridade</p><p>carnal, os seus descendentes, o que é coerente com a lei natural.</p><p>Não há nenhuma herança ou bens terrenos que seriam concedidos ao</p><p>profeta por supostos serviços prestados ao Eterno. Servir ao Criador é a</p><p>maior recompensa para uma alma de tal estirpe. Nos tempos do �m, o</p><p>profeta seguirá ajudando Israel, conforme atesta seu livro.143 Em vez de</p><p>ressuscitado miraculosamente, estará renascidocom outro nome, outro</p><p>corpo, mas no mesmo espírito e virtude do antigo Daniel, assim como</p><p>ocorrera com Elias.</p><p>A volta de João, o evangelista</p><p>João, o �lho de Zebedeu, era o mais novo dos apóstolos do Cristo. Sua</p><p>morte teria sido natural, na cidade de Éfeso, no ano 103 d.C. É atribuído a</p><p>ele a autoria de um evangelho, três epístolas e um livro profético, que fazem</p><p>parte do Novo Testamento dos cristãos. Redigiu um evangelho diferente dos</p><p>escritos sinóticos, atribuídos a Mateus, Marcos e Lucas. Seu conteúdo está</p><p>relacionado à ciência de Deus, pois envolve a uni�cação do pensamento</p><p>grego e os ensinos das Escrituras. Alguns estudiosos alegam que teria sido</p><p>escrito para os judeus dispersos na Grécia. Os teóLogos do cristianismo</p><p>rejeitaram o pensamento grego, como se a ciência fosse incompatível com</p><p>Deus.</p><p>É preciso considerar que a revelação das verdades eternas não está</p><p>circunscrita ao meio judaico-cristão. Faz-se presente em outros lugares e</p><p>nações, de acordo com a cultura de cada povo, o que parece lógico. Seria</p><p>estranho que o Criador abandonasse os países à própria sorte, falando</p><p>apenas a Israel. Aquele que pensa desse modo está com um véu sobre os</p><p>olhos, como nos tempos de Moisés. Atuando fora dos círculos do povo</p><p>judeu, Deus revelou importantes princípios, especialmente na Grécia. Com</p><p>o �m da escravidão babilônica (538 a.C.), houve um período de silêncio no</p><p>qual não mais foram enviados profetas a Israel. Nessa lacuna, �oresceu na</p><p>Grécia o pensamento acerca da origem das coisas. Filósofos como</p><p>Sócrates,144 Platão, dentre outros, anunciaram ideias mais completas</p><p>relativas à Criação, à existência dos seres vivos e ao Criador. Sob in�uência</p><p>do racionalismo grego, João escreveu seu evangelho em torno da inquietante</p><p>revelação de que, na verdade, todos somos deuses, ramos e galhos de uma</p><p>videira divina, destinada a produzir abundância de frutos.145</p><p>Na ótica dos escritos do evangelho atribuído a João,146 o homem deixa de</p><p>pertencer à esfera carnal e mortal para assumir sua imortalidade. É</p><p>considerado possuidor da mesma natureza do Eterno, ou seja, é como o</p><p>próprio Deus. É Ser pensante, espírito em constante atividade. Assim, uma</p><p>visão bem mais inteligente da obra do Altíssimo �cou acessível não só aos</p><p>judeus, mas a todos os que quisessem conhecer a razão existencial do</p><p>Universo. Informações sobre a volta de João encontram-se no seu evangelho,</p><p>capítulo 21, e no livro Apocalipse, capítulo 10.</p><p>João, capítulo 21</p><p>1. Depois disto manifestou-se Jesus outra vez</p><p>aos discípulos junto do mar de Tiberíades; e</p><p>manifestou-se assim: 2. Estavam juntos, Simão</p><p>Pedro, e Tomé, chamado Dídimo, e Natanael,</p><p>que era de Caná da Galileia, os �lhos de</p><p>Zebedeu, e outros dois dos seus discípulos. 3.</p><p>Disse-lhes Simão Pedro: Vou pescar. Dizem-lhe</p><p>eles: Também vamos contigo. Foram e subiram</p><p>logo para o barco, e naquela noite nada</p><p>apanharam. 4. E, sendo já manhã, Jesus se</p><p>apresentou na praia, mas os discípulos não</p><p>conheceram que era Jesus. 5. Disse-lhes, pois,</p><p>Jesus: Filhos, tendes alguma coisa de comer?</p><p>Responderam-lhe: Não. 6. E ele lhes disse:</p><p>lançai a rede para o lado direito do barco, e</p><p>achareis. Lançaram-na, pois, e já não a</p><p>podiam tirar, pela multidão dos peixes. 7.</p><p>Então aquele discípulo, a quem Jesus amava,</p><p>disse a Pedro: É o Senhor. E, quando Simão</p><p>Pedro ouviu que era o Senhor, cingiu-se com a</p><p>túnica (porque estava nu) e lançou-se ao mar.</p><p>8. E os outros discípulos foram com o barco</p><p>(porque não estavam distantes da terra senão</p><p>quase duzentos côvados), levando a rede cheia</p><p>de peixes. 9. Logo que desceram para terra,</p><p>viram ali brasas, e um peixe posto em cima, e</p><p>pão. 10. Disse-lhes Jesus: Trazei dos peixes que</p><p>agora apanhastes. 11. Simão Pedro subiu e</p><p>puxou a rede para terra, cheia de cento e</p><p>cinquenta e três grandes peixes e, sendo</p><p>tantos, ela não se rompeu. 12. Disse-lhes Jesus:</p><p>Vinde, comei. E nenhum dos discípulos ousava</p><p>perguntar-lhe: Quem és tu? sabendo que era o</p><p>Senhor. 13. Chegou, pois, Jesus, e tomou o pão,</p><p>e deu-lhes e, semelhantemente o peixe. 14. E já</p><p>era a terceira vez que Jesus se manifestava aos</p><p>seus discípulos depois de ter ressuscitado</p><p>dentre os mortos. 15. E, depois de terem</p><p>jantado, disse Jesus a Simão Pedro: Simão,</p><p>�lho de Jonas, amas-me mais do que estes? E</p><p>ele respondeu: sim, Senhor, tu sabes que te</p><p>amo. Disse-lhe: apascenta os meus cordeiros.</p><p>16. Tornou a dizer-lhe segunda vez: Simão, �lho</p><p>de Jonas, amas-me? Disse-lhe: sim, Senhor, tu</p><p>sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta as</p><p>minhas ovelhas. 17. Disse-lhe terceira vez:</p><p>Simão, �lho de Jonas, amas-me? Simão</p><p>entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez:</p><p>Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo;</p><p>tu sabes que eu te amo. Jesus disse-lhe:</p><p>Apascenta as minhas ovelhas. 18. Na verdade,</p><p>na verdade, te digo que, quando eras mais</p><p>moço, te cingias a ti mesmo, e andavas por</p><p>onde querias; mas, quando já fores velho,</p><p>estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá, e</p><p>te levará para onde tu não queiras. 19. E disse</p><p>isto, signi�cando com que morte havia ele de</p><p>glori�car a Deus. E, dito isto, disse-lhe: Segue-</p><p>me. 20. E Pedro, voltando-se, viu que o seguia</p><p>aquele discípulo a quem Jesus amava, e que</p><p>na ceia se recostara também sobre o seu peito,</p><p>e que dissera: Senhor, quem é que te há de</p><p>trair? 21. Vendo Pedro a este, disse a Jesus:</p><p>Senhor, e deste que será?</p><p>22. Disse-lhe Jesus: Se quero que ele �que até</p><p>que eu venha,</p><p>que te importa a ti? Segue-me</p><p>tu. 23. Divulgou-se, pois, entre os irmãos este</p><p>dito, que aquele discípulo não havia de morrer.</p><p>Jesus, porém, não lhe disse que não morreria,</p><p>mas: se quero que ele �que até que eu venha,</p><p>que te importa a ti? 24. Este é o discípulo que</p><p>testi�ca destas coisas e as escreveu; e sabemos</p><p>que o seu testemunho é verdadeiro. 25. Há,</p><p>porém, ainda muitas outras coisas que Jesus</p><p>fez; e se cada uma das quais fosse escrita,</p><p>cuido que nem ainda o mundo todo poderia</p><p>conter os livros que se escrevessem. Amém.</p><p>Apocalipse, capítulo 10</p><p>1. E vi outro anjo forte, que descia do céu,</p><p>vestido de uma nuvem; e por cima da sua</p><p>cabeça estava o arco-celeste, e o seu rosto era</p><p>como o sol, e os seus pés como colunas de</p><p>fogo; 2. E tinha na sua mão um livrinho aberto.</p><p>E pôs o seu pé direito sobre o mar, e o esquerdo</p><p>sobre a terra; 3. E clamou com grande voz,</p><p>como quando ruge um leão; e, havendo</p><p>clamado, os sete trovões emitiram as suas</p><p>vozes. 4. E, quando os sete trovões acabaram</p><p>de emitir as suas vozes, eu ia escrever; mas</p><p>ouvi uma voz do céu, que me dizia: Sela o que</p><p>os sete trovões emitiram e não o escrevas. 5. E</p><p>o anjo que vi estar sobre o mar e sobre a terra</p><p>levantou a sua mão ao céu, 6. E jurou por</p><p>aquele que vive para todo o sempre, o qual</p><p>criou o céu e o que nele há, e a terra e o que</p><p>nela há, e o mar e o que nele há, que não</p><p>haveria mais demora; 7. Mas nos dias da voz</p><p>do sétimo anjo, quando tocar a sua trombeta,</p><p>se cumprirá o segredo de Deus, como</p><p>anunciou aos profetas, seus servos.</p><p>No evangelho de João encontramos um diálogo de Cristo com Pedro que</p><p>levou os demais discípulos a divulgar, entre os irmãos, que João não</p><p>morreria.147 A ignorância em relação ao renascimento sucessivo produziu,</p><p>entre eles, interpretações desacertadas. Os comentários foram tantos que</p><p>levaram o evangelista a dar explicações aos seus amigos, a�rmando que</p><p>Jesus não havia dito que ele não morreria, mas que estaria vivo no tempo da</p><p>sua volta, ou seja, no período posterior ao Apocalipse.</p><p>Sendo verdadeira essa alegação, é provável que a alma de João volte a</p><p>viver nos tempos da Grande Tribulação, animando um novo personagem.</p><p>Não há dúvida de que a passagem declara que o �lho de Zebedeu estará no</p><p>mundo na época da volta do Messias.148 Essa tese torna-se mais admissível</p><p>quando o livro Apocalipse proclama que ele voltará a profetizar.149</p><p>João escreveu o mais enigmático livro das Escrituras, o Apocalipse, a obra</p><p>que �naliza o conjunto dos Livros Sagrados e tem tanta importância para o</p><p>Israel bíblico quanto o primeiro deles, o Gênesis. Suas páginas relatam a</p><p>crise gravíssima que envolverá a humanidade. Nunca houve nem haverá</p><p>período com tantos distúrbios e transtornos, são palavras do próprio</p><p>Cristo.150</p><p>8. E a voz que eu do céu tinha ouvido tornou a</p><p>falar comigo, e disse: vai e toma o livrinho</p><p>aberto da mão do anjo que está em pé sobre o</p><p>mar e sobre a terra. 9. E fui ao anjo, dizendo-</p><p>lhe: Dá-me o livrinho. E ele disse-me: toma-o, e</p><p>come-o, e ele fará amargo o teu ventre, mas</p><p>na tua boca será doce como mel. 10. E tomei o</p><p>livrinho da mão do anjo, e comi-o; e na minha</p><p>boca era doce como mel; e, havendo-o comido,</p><p>o meu ventre �cou amargo. 11. E ele disse-me:</p><p>importa que profetizes outra vez a muitos</p><p>povos, e nações, e línguas, e reis.</p><p>Passagens bíblicas garantem que, nos 42 meses da Grande Tribulação,</p><p>haverá testemunhos da parte de Israel. Os servos do Eterno sofrerão</p><p>perseguição e até mesmo morte.151 João possuía o atributo de desprender-se</p><p>do corpo, sendo levado a outras dimensões existenciais, onde recebia as</p><p>revelações que haveria de anunciar.152 O desligar momentâneo da alma do</p><p>corpo físico é um fenômeno atestado nas Escrituras. Foi intitulado por</p><p>Paulo, Pedro e João como arrebatamento de espírito ou sentido.153</p><p>As passagens bíblicas dão a entender que não se tratava de uma</p><p>experiência física, e sim um mergulho da alma nas camadas sutis da</p><p>Criação. Numa das visões, João foi levado ao encontro de um anjo que trazia</p><p>em sua mão um livrinho aberto.154 Ouviu nesse lugar o que chamou de “a</p><p>voz dos sete trovões” e resolveu escrevê-las. Foi alertado, porém, para que</p><p>não o �zesse naquela ocasião, pois a mensagem seria para o tempo futuro.</p><p>O profeta recebeu o livro das mãos do anjo, sendo ordenado que o</p><p>comesse. O relato diz que foi doce em sua boca, porém amargo no ventre.</p><p>Ezequiel viveu situação parecida no momento em que Deus determinou que</p><p>comesse um rolo de livro.155 Em termos proféticos, isso quer dizer profetizar</p><p>em tempo futuro. A experiência de receber as revelações do Alto é</p><p>fortemente agradável para a alma, mas as consequências são amargas para</p><p>todos. Foi dito a João: “Importa que profetizes outra vez a muitos povos,</p><p>nações, e línguas, e reis”. Para que isso aconteça, a alma do evangelista</p><p>deverá retornar ao mundo como novo profeta. Terá outro nome, mas será a</p><p>mesma individualidade. Deverá escrever um livro dirigido ao povo enviado</p><p>e às demais nações, que será conhecido em todos os lugares, por tratar-se de</p><p>explicações de interesse geral dos povos. É possível que disserte a respeito do</p><p>�m da era presente e começo dos novos tempos. Não sendo assim,</p><p>permanecerá a alegoria e a fantasia tentando explicar a enigmática profecia.</p><p>A volta das 144 mil testemunhas</p><p>Já foi dito que o exame das profecias sobre o �m do mundo, contidas no</p><p>livro de Daniel, no discurso profético do Cristo e Apocalipse, indica que, no</p><p>período da Grande Tribulação, haverá enormes desa�os e a�ições para o</p><p>povo das Escrituras.156 O Espírito de Deus157 soprará em todos os lugares,</p><p>esclarecendo e zelando por todos os que desejarem seguir vivendo em paz.</p><p>A situação será de muita gravidade, pois o espírito do sistema e seus</p><p>representantes terrenos se engrandecerão em força, agitação e poder.158</p><p>Cientistas, sábios, sacerdotes, governos e demais autoridades, por não</p><p>entenderem as graves ocorrências, �carão perplexos.159 Haverá no mundo</p><p>grande desespero. Nesse tempo, o Eterno levantará profetas, pregadores e</p><p>sábios que darão explicações sobre as ocorrências.160 Dará palavra, sonhos e</p><p>visões a jovens e velhos, revelando por meio de suas testemunhas o que está</p><p>por vir.161 Quem serão esses sábios e profetas à frente dessa notável onda de</p><p>esclarecimento? As 144 mil testemunhas de Deus, citadas no livro</p><p>Apocalipse. Apresentaremos as argumentações e interpretações a respeito</p><p>dessa realidade expressa nas Escrituras.</p><p>Apocalipse, capítulo 7</p><p>1. E depois destas coisas vi quatro anjos que</p><p>estavam sobre os quatro cantos da terra,</p><p>retendo os quatro ventos, para que nenhum</p><p>vento soprasse sobre ela, nem sobre o mar,</p><p>nem contra árvore alguma. 2. E vi outro anjo</p><p>subir do lado do sol nascente, e que tinha o</p><p>selo do Deus vivo; e clamou com grande voz</p><p>aos quatro anjos, a quem fora dado o poder de</p><p>dani�car a terra e o mar, 3. Dizendo: Não</p><p>dani�queis a terra, nem o mar, nem as árvores,</p><p>até que hajamos selado nas suas testas os</p><p>servos do nosso Deus. 4. E ouvi o número dos</p><p>selados, e eram cento e quarenta e quatro mil,</p><p>de todas as tribos dos �lhos de Israel. 5. Da</p><p>tribo de Judá, havia doze mil selados; da tribo</p><p>de Rúbem, doze mil selados; da tribo de Gade,</p><p>doze mil selados; 6. Da tribo de Aser, doze mil</p><p>selados; da tribo de Naftali, doze mil selados;</p><p>da tribo de Manassés, doze mil selados; 7. Da</p><p>tribo de Simeão, doze mil selados; da tribo de</p><p>Levi, doze mil selados; da tribo de Issacar, doze</p><p>mil selados;</p><p>8. Da tribo de Zebulom, doze mil selados; da</p><p>tribo de José, doze mil selados; da tribo de</p><p>Benjamim, doze mil selados. 9. Depois destas</p><p>coisas olhei, e eis aqui uma multidão, a qual</p><p>ninguém podia contar, de todas as nações, e</p><p>tribos, e povos, e línguas, que estavam diante</p><p>do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestes</p><p>brancas e com palmas nas suas mãos; 10. E</p><p>clamavam com grande voz, dizendo: Salvação</p><p>ao nosso Deus, que está assentado no trono, e</p><p>ao Cordeiro. 11. E todos os anjos estavam ao</p><p>redor do trono, e dos anciãos, e dos quatro</p><p>animais;</p><p>e prostraram-se diante do trono sobre</p><p>seus rostos, e adoraram a Deus, 12. Dizendo:</p><p>Amém. Louvor, e glória, e sabedoria, e ação de</p><p>graças, e honra, e poder, e força ao nosso Deus,</p><p>para todo o sempre. Amém. 13. E um dos</p><p>anciãos me falou, dizendo: Estes que estão</p><p>vestidos de vestes brancas, quem são, e de</p><p>onde vieram? 14. E eu disse-lhe: Senhor, tu</p><p>sabes. E ele disse-me: Estes são os que vieram</p><p>da grande tribulação, e lavaram as suas vestes</p><p>e as branquearam no sangue do Cordeiro.</p><p>O texto revela a existência de 144 mil pessoas, que darão testemunho</p><p>diante dos eventos do �m.162 Algumas das testemunhas terão suas vidas</p><p>ceifadas por causa da grave missão a elas con�ada.163 A tarefa desses servos</p><p>aparecerá no período de 1.260 dias, quando a situação da vida na Terra se</p><p>agravar. São homens, dispersos pelas nações, que no tempo devido serão</p><p>levantados pelo Eterno para dar cumprimento às suas missões. O profeta</p><p>Daniel discorre sobre as testemunhas: “E muitos dos que dormem no pó da</p><p>terra ressuscitarão, uns para vida eterna e outros para vergonha e desprezo</p><p>eterno. Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do</p><p>�rmamento; e os que a muitos ensinam a justiça, como as estrelas sempre e</p><p>eternamente”.164 Confundida com a ressurreição carnal, a instrução do</p><p>profeta, em verdade, trata da conscientização das pessoas, tanto dos</p><p>descrentes, que serão envergonhados, quanto dos entendidos, que</p><p>resplandecerão como a luz das estrelas, maneira simbólica de expressar que</p><p>manifestarão a verdade de Deus.</p><p>A passagem também revela a existência de quatro anjos, contendo forças</p><p>capazes de dani�car o planeta. Na linguagem profética, esses seres podem</p><p>representar países com potencial para iniciar o grande con�ito. O detalhe é</p><p>que se apresenta outro anjo, ordenando da parte de Deus que nada fosse</p><p>15. Por isso estão diante do trono de Deus, e o</p><p>servem de dia e de noite no seu templo; e</p><p>aquele que está assentado sobre o trono os</p><p>cobrirá com a sua sombra. 16. Nunca mais</p><p>terão fome, nunca mais terão sede; nem sol,</p><p>nem calma alguma cairá sobre eles. 17. Porque</p><p>o Cordeiro que está no meio do trono os</p><p>apascentará, e lhes servirá de guia para as</p><p>fontes vivas das águas; e Deus limpará de seus</p><p>olhos toda a lágrima.</p><p>destruído até que os servos do Altíssimo fossem marcados. Os assinalados</p><p>seriam almas de israelitas que já �zeram parte das antigas tribos de Israel.</p><p>Doze mil almas de cada uma das doze tribos, perfazendo o total de 144 mil</p><p>testemunhas, é o que diz o texto bíblico.165 Se o decreto divino foi o de que o</p><p>mundo não poderia ser arrasado enquanto esses servos não fossem</p><p>assinalados, signi�ca que os mesmos estariam vivendo na Terra no tempo da</p><p>hecatombe. Com certeza, são indivíduos que vivem atualmente espalhados</p><p>nas nações, em todos os setores da vida.</p><p>Como seria possível que membros das antigas tribos de Israel estivessem</p><p>vivendo no planeta se não nascessem de novo, como outros personagens? A</p><p>teologia cristã não oferece resposta. Segue tirando antigos defuntos de</p><p>túmulos inexistentes, insistindo na tese de suposta ressurreição do corpo.</p><p>Alguns versículos das Escrituras até podem ser lidos nesse sentido, porém é</p><p>preciso considerar tanto as distorções existentes nas traduções de católicos e</p><p>evangélicos, que se inclinam para a sua teologia, como a interpretação</p><p>radical das letras.166</p><p>Alguns argumentos podem ser utilizados para justi�car a tese da</p><p>ressurreição da carne, porém os ensinos das Escrituras não falam desse</p><p>assunto em lugar nenhum. As passagens usadas para apoiá-la estão</p><p>marcadas por simbolismos, em geral, relacionados ao Juízo e à vitória das</p><p>almas sobre a morte primordial. Os trechos mais usados na argumentação</p><p>da ressurreição corporal estão em Ezequiel 37.1-14 e Mateus 27.52,53.</p><p>O oráculo do Vale de Ossos Secos,167 citado no livro de Ezequiel, capítulo</p><p>37, é a profecia utilizada como argumento a favor do regresso dos que já</p><p>morreram à convivência com as pessoas: “Portanto profetiza, e dize-lhes:</p><p>Assim diz o Senhor Deus: Eis que eu abrirei os vossos sepulcros, e vos farei</p><p>subir das vossas sepulturas, ó povo meu, e vos trarei à terra de Israel. E</p><p>sabereis que eu sou o Senhor quando eu abrir os vossos sepulcros e vos �zer</p><p>subir das vossas sepulturas, ó povo meu. E porei em vós o meu Espírito, e</p><p>vivereis, e vos porei na vossa terra; e sabereis que eu, o Senhor, disse isto, e o</p><p>�z, diz o Senhor”.168</p><p>Naturalmente os ditos do profeta estão revestidos de simbolismos.</p><p>Primeiro, a instrução pretende confortar Judá, que se achava oprimido pela</p><p>escravidão na Babilônia. Depois, anuncia a Israel o renascimento das</p><p>gerações passadas na descendência carnal futura, o que aconteceria por</p><p>ocasião do estabelecimento do reino. É óbvio que, nesse distante intervalo</p><p>da história, não havia possibilidades intelectuais para se tratar de tema tão</p><p>abstrato, como é o renascimento sucessivo da alma. Se nos dias atuais judeus</p><p>e cristãos religiosos veem com reservas esse conceito, o que se dirá da</p><p>situação das pessoas nos tempos de Ezequiel. A interpretação do oráculo</p><p>encontra-se no capítulo 10 deste livro.</p><p>Do mesmo modo, os escritos de Mateus, no capítulo 27, versículos 52 e</p><p>53,169 são alusivos a cadáveres que teriam se levantado de túmulos e saído</p><p>caminhando pela cidade de Jerusalém: “E Jesus, clamando outra vez com</p><p>grande voz, rendeu o espírito. E eis que o véu do templo se rasgou em dois,</p><p>de alto a baixo; e tremeu a terra, e fenderam-se as pedras; e abriram-se os</p><p>sepulcros, e muitos corpos desantos que dormiam foram ressuscitados; e,</p><p>saindo dos sepulcros, depois da ressurreição dele, entraram na cidade santa,</p><p>e apareceram a muitos”. A citação tem características de interpolação, ou</p><p>seja, acréscimo feito ao texto bíblico original. O relato não é con�rmado nos</p><p>demais evangelhos e sobre ele ainda pesa o fato de constar nos livros</p><p>apócrifos Atos de Pilatos e evangelho de Nicodemos.</p><p>Há ainda o trecho do evangelho de Lucas, no capítulo 24, verso 39,</p><p>utilizado para sustentar a tese da ressurreição carnal, onde Jesus disse, numa</p><p>aparição: “Um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que tenho”.</p><p>Nos demais evangelhos também não há referências a esta citação, o que a</p><p>desquali�ca. A ressurreição do corpo físico é um dogma do cristianismo</p><p>destituído de lógica, frente às leis naturais que regem a Criação. Por isso,</p><p>como outros dogmas, não deve ser objeto de investigação, posto que é uma</p><p>crença, sem comprometimento com a ciência, a lógica ou a verdade.</p><p>É inevitável concluir que o Eterno espalhou as testemunhas pelas nações</p><p>do planeta usando a lei do renascimento sucessivo. Pelo menos até agora,</p><p>não se tem notícias de que, em algum lugar, apareceram defuntos saídos das</p><p>sepulturas para servir a Deus. O Cristo, o renovo justo saído da raiz de</p><p>Davi,170 atendendo à lógica da progressividade que move o mundo, contará</p><p>com as almas renascidas como indivíduos do nosso tempo, aprimoradas ao</p><p>longo dos milênios, para testi�carem da verdade nos obscuros dias da</p><p>Grande Tribulação.171 Será o mais doloroso período da existência humana.</p><p>Se nos dias atuais houvesse uma rejeição generalizada ao povo das</p><p>Escrituras, seja por abominação às instruções de Deus ou coisa</p><p>semelhante,172 boa parte dos judeus e cristãos �caria desnorteada, sem</p><p>condições de entender os episódios apocalípticos e suportar as tribulações</p><p>previstas.</p><p>É verdade que vemos igrejas cristãs cheias de pessoas, mas isso é porque</p><p>nelas, de modo infeliz, se promovem interesses terrenos, vendem milagres,</p><p>solução de adversidades e esperança de prosperidade. Diante dessa situação,</p><p>todos estão incapacitados para dar os testemunhos que o momento exigirá.</p><p>O �m do mundo trará desespero e loucura à multidão de religiosos. Os</p><p>judeus, por razões históricas, se encontram em melhores condições para os</p><p>embates. Entretanto, não há, entre eles, profetas que tratem do grave</p><p>momento que deverão enfrentar, inclusive de uma guerra prevista sobre</p><p>Israel.173</p><p>Convém aos homens de Deus que se preparem para</p><p>dias bem trabalhosos.</p><p>O Espírito disse a Ezequiel: “E tu, ó �lho do homem, assim diz o Senhor</p><p>Deus acerca da terra de Israel: Vem o �m, o �m vem sobre os quatro cantos</p><p>da terra”.174 Com certeza virá!</p><p>Morte e ressurreição da alma</p><p>Uma questão que causa polêmica é a confusão feita entre o nascer do</p><p>corpo e o nascer da alma, ensino devidamente esclarecido pelo Cristo no</p><p>evangelho de João, capítulo 3, versículos 5, 6 e 7: “Jesus respondeu: Na</p><p>verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito</p><p>não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que</p><p>é nascido do Espírito é espírito. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário</p><p>vos é nascer de novo”.</p><p>Nicodemos foi um fariseu, príncipe dos judeus, que teve interesse pelos</p><p>discursos de Jesus. É conhecida a visita noturna que fez a ele e o diálogo</p><p>estabelecido entre os dois a respeito do ser humano nascer de novo como</p><p>condição requerida para ver o reino de Deus. A conversa entre ambos é</p><p>usada como referência a favor da reencarnação. O argumento é equivocado.</p><p>O nascer de novo ensinado pelo Cristo era o renascer da alma, e não a</p><p>encarnação no corpo. Se o Cristo se referia a pessoas já existentes, como</p><p>seria possível entender o nascer novamente?</p><p>São poucos os que conhecem a profundidade da doutrina ensinada por</p><p>Paulo, que trata da morte primordial, sendo o principal obstáculo a ser</p><p>vencido pela alma, por meio da ressurreição. Falseando a verdade, inúmeros</p><p>tratados e livros foram escritos como se o apóstolo tivesse instruído a</p><p>respeito da morte e ressurreição corporal. As teses cristãs, a respeito do</p><p>nascimento, vida e morte do ser humano, estão marcadas por este mal-</p><p>entendido, gerador de um número considerável de nefastas consequências.</p><p>Esse é um dos maiores erros cometidos na história do cristianismo.</p><p>Apresentaremos argumentações baseadas na interpretação do capítulo 3 do</p><p>evangelho de João.</p><p>João, capítulo 3</p><p>1. Havia entre os fariseus um homem,</p><p>chamado Nicodemos, príncipe dos judeus. 2.</p><p>Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe:</p><p>Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de</p><p>Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais</p><p>que tu fazes se Deus não for com ele. 3. Jesus</p><p>respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade</p><p>te digo que aquele que não nascer de novo</p><p>não pode ver o reino de Deus. 4. Disse-lhe</p><p>Nicodemos: Como pode um homem nascer,</p><p>sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar</p><p>no ventre de sua mãe, e nascer? 5. Jesus</p><p>respondeu: Na verdade, na verdade te digo</p><p>que aquele que não nascer da água e do</p><p>Espírito não pode entrar no reino de Deus. 6. O</p><p>que é nascido da carne é carne, e o que é</p><p>nascido do Espírito é espírito. 7. Não te</p><p>maravilhes de te ter dito: Necessário vos é</p><p>nascer de novo. 8. O vento assopra onde quer, e</p><p>ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem,</p><p>nem para onde vai; assim é todo aquele que é</p><p>nascido do Espírito.</p><p>9. Nicodemos respondeu e disse-lhe: Como</p><p>pode ser isso? 10. Jesus respondeu e disse-lhe:</p><p>Tu és mestre de Israel, e não sabes isto? 11. Na</p><p>verdade, na verdade te digo que dizemos o que</p><p>sabemos e testi�camos o que vimos; e não</p><p>aceitais o nosso testemunho. 12. Se vos falei de</p><p>coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se</p><p>vos falar das celestiais? 13. Ora, ninguém subiu</p><p>ao céu senão o que desceu do céu, o Filho do</p><p>homem, que está no céu. 14. E, como Moisés</p><p>levantou a serpente no deserto, assim importa</p><p>que o Filho do homem seja levantado; 15. Para</p><p>que todo aquele que nele crê não pereça, mas</p><p>tenha a vida eterna. 16. Porque Deus amou o</p><p>mundo de tal maneira que deu o seu Filho</p><p>unigênito para que todo aquele que nele crê</p><p>não pereça, mas tenha a vida eterna. 17.</p><p>Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não</p><p>para que condenasse o mundo, mas para que</p><p>o mundo fosse salvo por ele. 18. Quem crê nele</p><p>não é condenado; mas quem não crê já está</p><p>condenado, porquanto não crê no nome do</p><p>unigênito Filho de Deus.</p><p>19. E a condenação é esta: que a luz veio ao</p><p>mundo, e os homens amaram mais as trevas</p><p>do que a luz, porque as suas obras eram más.</p><p>20. Porque todo aquele que faz o mal odeia a</p><p>luz, e não vem para a luz, para que as suas</p><p>obras não sejam reprovadas. 21. Mas quem</p><p>pratica a verdade vem para a luz, de modo</p><p>que as suas obras sejam manifestas, porque</p><p>são feitas em Deus. 22. Depois disto foi Jesus</p><p>com os seus discípulos para a terra da Judeia;</p><p>e estava ali com eles, e batizava. 23. Ora, João</p><p>batizava também em Enom, junto a Salim,</p><p>porque havia ali muitas águas; e vinham ali, e</p><p>eram batizados. 24. Porque ainda João não</p><p>tinha sido lançado na prisão. 25. Houve então</p><p>uma questão entre os discípulos de João e os</p><p>judeus acerca da puri�cação. 26. E foram ter</p><p>com João, e disseram-lhe: Rabi, aquele que</p><p>estava contigo além do Jordão, do qual tu</p><p>deste testemunho, ei-lo batizando, e todos vão</p><p>ter com ele. 27. João respondeu, e disse: O</p><p>homem não pode receber coisa alguma, se</p><p>não lhe for dada do céu.</p><p>O novo nascimento, a que se referiu o Cristo nessa ocasião, em nenhum</p><p>momento trata da possibilidade da alma nascer em outro corpo físico.</p><p>Abordava sua necessária ressurreição, livrando-se da morte primordial, pelo</p><p>despertar da consciência, sendo salvo de sua própria ignorância. Quando,</p><p>pela fé, restabelece o vínculo com o seu Criador, a alma se conscientiza da</p><p>eternidade perdida ao deixar o metafórico jardim do Éden. A partir daí,</p><p>busca diuturnamente os caminhos da sabedoria e da paz.</p><p>As citações do Gênesis, a respeito da criação do Universo e da alma, são</p><p>revestidas de simbolismos, autênticas parábolas que ensinam aprofundadas</p><p>verdades. As palavras de Jesus a Nicodemos foram: “Na verdade, te digo que</p><p>28. Vós mesmos me sois testemunhas de que</p><p>disse: Eu não sou o Cristo, mas sou enviado</p><p>adiante dele. 29. Aquele que tem a esposa é o</p><p>esposo; mas o amigo do esposo, que lhe assiste</p><p>e o ouve, alegra-se muito com a voz do esposo.</p><p>Assim, pois, já este meu gozo está cumprido.</p><p>30. É preciso que ele cresça e que eu diminua.</p><p>31. Aquele que vem de cima é sobre todos;</p><p>aquele que vem da terra é da terra e fala da</p><p>terra. Aquele que vem do céu é sobre todos. 32.</p><p>E aquilo que ele viu e ouviu isso testi�ca; e</p><p>ninguém aceita o seu testemunho. 33. Aquele</p><p>que aceitou o seu testemunho, esse con�rmou</p><p>que Deus é verdadeiro. 34. Porque aquele que</p><p>Deus enviou fala as palavras de Deus; pois não</p><p>lhe dá Deus o Espírito por medida. 35. O Pai</p><p>ama o [Filho], e todas as coisas, entregou nas</p><p>suas mãos. 36. Aquele que crê no Filho tem a</p><p>vida eterna; mas aquele que não crê no Filho</p><p>não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele</p><p>permanece.</p><p>aquele que não nascer de novo não pode ver o reino de Deus”.175 Não há</p><p>dúvidas de que é necessário nascer de novo. Paulo ensinava o mesmo</p><p>conceito quando assegurava que a alma do homem estava morta desde sua</p><p>gênese e que precisava, em tempo vindouro, encontrar-se novamente com o</p><p>seu Criador.176 A salvação sempre esteve ao alcance de Israel. A epístola aos</p><p>romanos não deixa dúvida a esse respeito.177 Tornou-se evidente a partir do</p><p>patriarca Abraão, quando ele creu no Eterno e foi tornado justo, por esta</p><p>con�ança. O homem não pode ter felicidade legítima enquanto não tomar</p><p>consciência de sua natureza eterna.</p><p>Para os judeus, a concepção do Eterno é Adonai e, para os cristãos, o</p><p>Cristo. Na verdade, é o mesmo Senhor que opera tudo em todos. A luz de</p><p>Deus está disponível a todas as pessoas, não importa a nacionalidade, credo</p><p>ou raça. Não há como negar essa realidade. A história do Antigo e do Novo</p><p>Testamento é marcada por estrangeiros que, pela fé, tornaram-se �lhos de</p><p>Abraão. Exemplo notável é Raabe, a meretriz que, segundo o livro de</p><p>Mateus, casou-se com um israelita, tornando-se tataravó do rei Davi.178</p><p>Situação semelhante é o da moabita Rute, que se casou com Boaz, avô de</p><p>Jessé, pai de Davi.179 O novo nascimento revelado pelo Cristo não depende</p><p>de linhagem biológica, conhecimento ou doutrina, mas da plena con�ança</p><p>que a alma deposita no Eterno, estabelecendo sólido e indestrutível</p><p>vínculo</p><p>entre a alma e seu Criador. Paulo ensinou aos gentios que, pela fé no Deus</p><p>de Abraão, Isaque e Jacó, eles poderiam restabelecer o laço divino, que</p><p>chamou circuncisão do coração.180 Esta é a ressurreição da alma, que</p><p>restaura a �liação perdida no evento criativo.</p><p>A partir do encontro entre Pai e �lho, a alma e seu Criador interagem</p><p>incessantemente. Ela se torna livre das consequências da morte, adquirindo</p><p>a genuína liberdade. Consciente de sua eternidade, todas as coisas lhe</p><p>pertencem. Por isso, o Cristo disse a Nicodemos que, sem nascer de novo,</p><p>não seria possível ver o reino de Deus, um estado de espírito que conduzirá</p><p>o homem na percepção da grandiosidade da Criação e do profundo amor do</p><p>Criador. Uma vez encontrada a eternidade, nunca mais será perdida. É</p><p>como alguém que estivesse em total escuridão e, de repente, percebesse um</p><p>ponto luminoso. Instintivamente sua atenção se dirigirá a ele. Na medida em</p><p>que se aproximar, constatará o ambiente à sua volta que, em razão das</p><p>trevas, não percebia. Pouco a pouco, tudo se tornará luz e liberdade.</p><p>Movimentar-se para o reino da luz é seguir caminho de mão única. A partir</p><p>daí, a alma passa a viver em estado de bem-aventurança, que perdurará até o</p><p>término do ciclo criativo do Universo.</p><p>Já foi dito que a existência das almas começa quando o Verbo gera a</p><p>Criação. Estamos diante de uma obra concebida por Deus com o propósito</p><p>de proporcionar aos seus �lhos a realização nos mais diferentes níveis de</p><p>progresso que os mundos podem atingir. A história da humanidade é a</p><p>trajetória das almas, desde o período primitivo do planeta até se transformar</p><p>na gloriosa morada de uma população sábia, sem qualquer vestígio de dores,</p><p>injustiças ou desordem.</p><p>Diante da anunciação do Cristo, de que o homem teria de renascer para</p><p>estar apto ao Reino, Nicodemos �cou confuso e fez uma nova pergunta:</p><p>“Como é possível alguém nascer novamente, sendo já velho? Pode,</p><p>porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?”. Comentamos,</p><p>anteriormente, que havia uma crença rudimentar entre os judeus de que um</p><p>falecido poderia voltar a viver. Jesus parece não ter estranhado o</p><p>questionamento sobre a possibilidade da pessoa, sendo velha, voltar ao</p><p>ventre de sua mãe e renascer. Não dá importância à segunda pergunta do</p><p>príncipe e continua instruindo: “Na verdade, na verdade te digo que aquele</p><p>que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus”. A</p><p>seguir, diz algo inesperado: “O que é nascido da carne é carne, o que nasce</p><p>do Espírito é espírito”.</p><p>O nascer do corpo pertence às diretrizes da vida material, mas o renascer</p><p>da alma, que é a ressurreição, cabe às leis do Espírito. A alma não nasce de</p><p>novo, no ponto de vista corporal, porque o nascimento acontece somente</p><p>uma vez, quando o Eterno a gerou da própria essência, através do Logos.181</p><p>Nasce e renasce em corpo físico, com a missão de existir no mundo exterior,</p><p>o Universo que vemos. Cristo revelou, assim, os dois princípios capitais da</p><p>existência do homem: material e transcendental, corpo e alma.</p><p>A alma não é criada na concepção carnal. Ela já existia antes de nascer na</p><p>dimensão visível. Um novo corpo é gerado sempre que a alma retorna.</p><p>Quando a alma é concebida na mente divina, sua separação obedece a um</p><p>ato intencional, da parte de Deus. Um exame minucioso do livro Gênesis182</p><p>mostra que há, da parte do Criador, a expectativa de que o homem deixe o</p><p>Éden para lavrar a terra, quer dizer, nela trabalhar e construir o Reino, a</p><p>futura civilização. É evidente que muito tempo se passará até que o plano</p><p>divino se cumpra. Nada se move na progressividade da Criação sem que</p><p>esteja sob governo, vontade, poder e delineamento estabelecidos pelo</p><p>Criador.</p><p>Desde a geração primordial das almas, elas percorrem enorme espaço de</p><p>tempo movendo-se pelas vidas continuamente, até que, em dado momento,</p><p>são resgatadas por situações criadas na experiência da própria vida. Como</p><p>se dá o resgate? O Cristo explica: pela água epelo Espírito.183 Alguns</p><p>intérpretes entenderam o nascer da água como sendo um batismo de</p><p>imersão ou aspersão. Essa é uma posição das religiões. As Escrituras, porém,</p><p>trazem um outro signi�cado oculto para a palavra “água”. Signi�ca</p><p>instrução, esclarecimento, iluminação.184 Não se pode conceber que alguém</p><p>seja iluminado por ter sido imerso em águas, seja de um rio, pia batismal, ou</p><p>ainda que precise desse ritual para completar sua libertação da ignorância. O</p><p>batismo é um ato exterior de devoção, mas não pode mudar nenhuma</p><p>disposição íntima dos homens.</p><p>O Eterno conduz a alma nas inúmeras vidas em direção à sua liberdade,</p><p>que dependerá do que a experiência existencial acrescentar ao seu</p><p>entendimento.185 O conhecimento existente nas Escrituras, os</p><p>mandamentos e juízos anunciados pelos profetas levam a alma a</p><p>compreender os propósitos da vida, saindo da zona escura da ignorância, a</p><p>caminho da luz de�nitiva do saber. Portanto, nascer da água é o renascer</p><p>pela palavra anunciada, lida e re�etida, bem como nascer do Espírito é</p><p>entender que a transmutação não pode ser feita somente pelo esforço do</p><p>indivíduo, e sim pelo poder de Deus, que se manifesta no seu interior. A</p><p>ressurreição não é um ato exterior! Quando o indivíduo passar pela</p><p>experiência do despertar, terá intimamente a certeza de ter encontrado sua</p><p>eternidade.</p><p>__________</p><p>123 | 2 Reis 2.11.</p><p>124 | Apocalipse 17.5; 18.21.</p><p>125 | Romanos 11.17.</p><p>126 | Romanos 4.1-3.</p><p>127 | Finalização dos primeiros tempos da civilização terrena, marcados por um período de ignorância e imaturidade das almas.</p><p>Após a primeira etapa, que teve início desde a gênese do planeta, a Terra entrará em um novo tempo de conscientização dos</p><p>homens. O �m do mundo velho, dos sistemas criados na infância da humanidade, será envolto em uma crise sem precedentes.</p><p>O Criador separará o bem do mal, o justo do injusto, a verdade da mentira, no chamado Juízo. Não será o �m do mundo, mas o</p><p>começo de nova etapa. A justiça divina começará pelo povo Israel e se estenderá a todo o mundo (Sofonias 1.14-18; Joel 2.1-11;</p><p>1 Tessalonicenses 5.2; Apocalipse 1.10; 2 Pedro 3.10).</p><p>128 | Isaías 40.3; Mateus 3.1-12.</p><p>129 | Marcos 1.1-8.</p><p>130 | A expressão Nova Jerusalém aparece somente na profecia de Apocalipse (3.12; 21.2), �gura utilizada pelos profetas referindo-</p><p>se à humanidade do futuro, depois da conscientização de todas as nações acerca do viver considerando as leis naturais e o bem</p><p>coletivo. Tudo indica tratar-se da nova civilização, o mundo novo que se organizará depois do crítico período do �m. O profeta</p><p>Isaías, referindo-se à mesma época (caps. 65 e 66), fala da Jerusalém renovada, com novos céus e nova terra, revelando que a</p><p>vida futura será na Terra, e não nos céus. A atual Jerusalém será o centro de onde sairão orientações às demais nações.</p><p>131 | Mateus 17; Marcos 9.</p><p>132 | Mateus 17.11-12.</p><p>133 | Ezequiel 34.23-24; 37.24.25; Isaías 55.3-5; Oseias 3.5.</p><p>134 | Lucas 1.15-17.</p><p>135 | Eclesiastes 7.3.</p><p>136 | Jeremias 23.1-4; Mateus 23.13.</p><p>137 | Daniel 12; Mateus 24.</p><p>138 | Daniel 11.31.</p><p>139 | Daniel 7.7,19,20; Mateus 24.22.</p><p>140 | Daniel 12.</p><p>141 | Juízes 13.21; Salmos 34.7; 1 Crônicas 21.27; Lucas 20.36.</p><p>142 | João 8.58.</p><p>143 | Daniel 12.13.</p><p>144 | Sócrates (469-399 a.C.), �lósofo ateniense do período clássico da Grécia Antiga. É tido com um dos fundadores da �loso�a</p><p>ocidental. Seus ensinamentos foram divulgados por dois de seus alunos, Platão e Xenofonte. Muitos defendem que os diáLogos</p><p>de Platão seriam o relato mais abrangente de Sócrates a ter perdurado da Antiguidade aos dias de hoje. Tornou-se conhecido</p><p>por sua contribuição no campo da ética, bem como da epistemologia e da lógica.</p><p>145 | João 15.</p><p>146 | Apesar do autor desse evangelho ser anônimo, a tradição cristã a atribui a João, �lho de Zebedeu e um dos doze apóstolos de</p><p>Jesus. Os textos de João estavam entre os mais in�uentes da igreja primitiva. Apresenta o Logos divino, no início do livro,</p><p>dizendo que ele estava em Deus e era o próprio Deus, tendo se feito carne e habitando entre os homens,</p><p>mas a sua fonte e, por razões que veremos</p><p>adiante, pode ser de natureza boa ou má, lúcida ou confusa, sábia ou</p><p>ignorante. A alma gera o pensamento, e a mente o aprecia e o propaga. Um</p><p>homem bom e sábio gerará uma vida de moderação e bondade à sua volta.</p><p>Pelos frutos se conhece a árvore, não se colhe uvas dos espinheiros, a</p><p>sabedoria é justi�cada por seus �lhos, a�rmou o maior de todos os sábios.5</p><p>A vida coletiva é resultado da manifestação dos pensamentos dos que</p><p>compõem a coletividade. Se a vida em determinado lugar é um inferno, a</p><p>maioria dessas pessoas encontra-se, interiormente, na mesma situação. A</p><p>existência no mundo terreno é a exteriorização do que são os indivíduos</p><p>internamente, o que sinaliza sua bondade, maldade, saber ou ignorância.</p><p>Deduzimos, assim, a diretriz básica do existir: o concreto e o abstrato, o</p><p>físico e o transcendental. O homem é corpo que vive e alma que pensa.</p><p>Juntos, fazem o grande espetáculo da vida.</p><p>São muitas obras literárias, tratados e compêndios que abordam a questão</p><p>da alma e sua procedência, mas nenhum deles tem tanta relevância quanto</p><p>as Escrituras Sagradas. Nelas existe um sistema lógico que aponta caminhos</p><p>para se entender o princípio da vida, sua �nalidade, a causa do sofrimento</p><p>humano e as razões da morte. Em torno desses escritos podem ser</p><p>promovidas grandes discussões do ponto de vista da teologia, história,</p><p>arqueologia, hermenêutica e outras ciências. Interessa-nos, especialmente,</p><p>investigar a origem transcendental do homem, seu aparecimento no mundo,</p><p>sua experiência terrena e, �nalmente, a morte.</p><p>Se o homem possui nele algo imaterial, seguramente é a alma, a usina</p><p>geradora dos pensamentos. Ela sobreviveria à morte do corpo? Certamente,</p><p>pois, por não pertencer ao mundo concreto, ela teve origem em fonte da</p><p>mesma natureza. Se é abstrata, não poderia ser gerada pelo meio contrário.</p><p>Sendo assim, entende-se que a alma não se originou no ventre materno, por</p><p>via orgânica. A matéria gera o material, o corpo, mas não consegue originar</p><p>o imaterial, a alma. Ela se une ao corpo, gerado na mulher, para usá-lo como</p><p>instrumento na realização das inúmeras atividades da vida. Ambos</p><p>constituem o ser humano, essa verdadeira máquina de vivências e de</p><p>criatividade.</p><p>Entendemos, desse modo, de que forma o homem é constituído, como</p><p>nasce e morre, a maneira como se exprime no ambiente terreno e a</p><p>continuidade da existência da alma depois da sua experiência no mundo.</p><p>Apesar disso, a sua origem ainda é cercada de mistérios. A resposta para o</p><p>enigma do surgimento da alma não estaria no princípio das demais coisas?</p><p>Entendemos que sim! Se estamos diante de uma Criação que se fundamenta</p><p>em processos inteligentes, estranho seria se seu elemento gerador não fosse</p><p>dotado de inteligência. Até mesmo alguns setores da ciência já admitem que</p><p>o Universo foi gerado por algo inteligente, como se fosse obra de esmerado</p><p>artesão. Já lhe deram muitos nomes. Os judeus o chamam de Eterno, os</p><p>cristãos o denominam Deus.</p><p>__________</p><p>1 | Albert Einstein, físico teórico alemão, nascido em 14 de março de 1879, falecido em 18 de abril de 1955, em Nova Jersey, EUA.</p><p>2 | Einstein a�rmava que, se o homem tentar penetrar nos segredos da natureza, descobrirá que, por trás de todas as leis e conexões</p><p>discerníveis, permanece algo sutil, intangível e inexplicável.</p><p>3 | René Descartes, �lósofo, físico e matemático francês, nascido em 31 de março de 1596, falecido em 1650. Considerado o Pai da</p><p>Filoso�a Moderna, um de seus mais importantes trabalhos, Discurso sobre o Método, foi escrito em francês, e não em latim, para</p><p>que todos pudessem ler. Em 1667 a Igreja Católica Romana colocou suas obras no Índice de Livros Proibidos.</p><p>4 | Platão viveu em Atenas, nascido em 428 a.C. e falecido em 348 a.C. Foi �lósofo e matemático do período clássico da Grécia</p><p>Antiga. Sua vida abrange a fase de declínio de Atenas até a ascensão da Macedônia. Fundou a Academia precursora das</p><p>universidades que se desenvolveram a partir da Idade Média. Como escola, sobreviveu por mais de 900 anos, período mais</p><p>longo do que o de qualquer outra instituição. Em 529 d.C., foi fechada de�nitivamente pelo imperador romano Justiniano, que</p><p>julgava que as tradições gregas clássicas ofendiam os princípios cristãos.</p><p>5 | Jesus, o Cristo. Instrução encontrada nos evangelhos de Mateus 12.33 e 11.19, Lucas 4.44.</p><p>Capítulo 1</p><p>O DEUS ETERNO</p><p>Origem, meio e �m</p><p>Se a vida humana é produto do que pensam os homens, a Criação não</p><p>seria resultado da atividade da mente de Deus? Como podemos entender a</p><p>natureza de um ente supremo, gerador e mantenedor do Universo do qual</p><p>somos partícipes? A ciência não parece o caminho, pois tem di�culdades</p><p>para lidar com princípios imateriais. Não há nada errado com esse</p><p>posicionamento da ciência, uma vez que não pode se desviar das atuais</p><p>diretrizes que a norteiam. É inadmissível aceitar o que não se consegue</p><p>examinar. O método cientí�co fundamenta-se em processos lógicos</p><p>avaliáveis, ou seja, em sua totalidade, funciona com conceitos que</p><p>pertencem ao mundo concreto. O mesmo ocorre quando se deseja</p><p>investigar a alma, que faz parte da dimensão existencial do abstrato. Em</p><p>relação a Deus e às almas, os cientistas podem avaliar efeitos, mas não</p><p>possuem ferramentas para pesquisar as causas. Deduzimos, assim, que a</p><p>ciência, Deus e as almas são de territórios existenciais distintos, embora</p><p>ligados intrinsecamente.</p><p>A ciência atua no lado visível da Criação. Deus e as almas existem na</p><p>dimensão invisível, que é a esfera criativa. Os dois mundos são interligados,</p><p>mas o que não se vê é causa do que vemos. O abstrato antecede o concreto.</p><p>Pelo menos por enquanto, a ciência não poderá admitir a realidade de Deus</p><p>ou da alma. Ela mesma, porém, está sujeita ao progresso e não negará para</p><p>sempre a própria origem. Ciência é intensa atividade da inteligência que</p><p>examina, compara, elabora e conclui. É feita da observação de efeitos,</p><p>enquanto Deus e as almas são as causas dos mesmos. Sendo assim, é perda</p><p>de tempo tentar convencer a ciência sobre a existência de princípio superior,</p><p>criador e mantenedor de tudo o que está à nossa volta. Por isso, faz-se</p><p>necessário admitir um conceito lógico, cujos fundamentos consideraria a</p><p>matéria e suas manifestações como resultado da ação de um princípio</p><p>primordial, único. Entre os cientistas há grupos que consideram a existência</p><p>de uma inteligência por detrás das maravilhas com que se deparam, tanto na</p><p>natureza quanto na imensidão do cosmos. Einstein, uma das maiores</p><p>mentes que aportaram no mundo, quando questionado sobre sua crença em</p><p>Deus, a�rmou: “Tente penetrar, com nossos limitados meios, nos segredos</p><p>da natureza, e descobrirá que, por trás de todas as leis e conexões</p><p>discerníveis, permanece algo sutil, intangível e inexplicável”.6 A corrente de</p><p>céticos, no entanto, continua poderosa e prevalece na maioria das mentes</p><p>cientí�cas.</p><p>Não se pode negar o caráter progressivo que, desde o Big Bang,7 -</p><p>caracteriza a Criação. Ao negar um princípio racional como sendo causa de</p><p>um Universo inteligente, a ciência negaria os próprios alicerces em que se</p><p>assenta. O espírito de arrogância emperra o andamento da ciência, porém,</p><p>embora nas últimas décadas a humanidade pareça ter perdido o rumo,</p><p>continuamos avançando para um tempo de progresso, que caminha para a</p><p>melhoria das coisas. Se algo parece fora do contexto, sem dúvida ainda não</p><p>foi entendido o motivo. É assim com as guerras, injustiças e todas as</p><p>barbaridades observadas em todo o tempo da história.</p><p>Estudos cientí�cos concluíram que o Universo é uma criação, quer dizer,</p><p>foi gerado a partir de um ponto onde, sob enorme pressão, estavam</p><p>concentrados espaço, tempo, matéria e energia. A explosão dessa minúscula</p><p>semente, sua expansão e transformação é, em nossos dias, a teoria mais</p><p>aceita para explicar a gênese do Universo, o impressionante cenário de</p><p>galáxias, estrelas, planetas, nuvens estelares, gases e demais estruturas, visto</p><p>por poderosos telescópios. A pergunta é: o que haveria</p><p>o que levou os cristãos a</p><p>associarem o Verbo divino à pessoa de Jesus, o Cristo. O quarto evangelho também esclarece a divina natureza da alma humana,</p><p>chamando os homens de “deuses”, demonstrando que fazem parte da árvore divina.</p><p>147 | João 21.21-24</p><p>148 | A volta do Messias é a maior expectativa da fé de cristãos e judeus, cada um com suas certezas. Das palavras do próprio</p><p>Cristo, os evangelhos destacam que não virá em pessoa, nem se assentará em um trono para reinar. A chegada do reino</p><p>messiânico será precedida de grandes sinais, não deixando dúvidas a ninguém, crentes ou ateus. No conjunto dos ensinos das</p><p>Escrituras não se encontra anúncio da volta do Cristo em pessoa, tampouco que venha buscar a igreja para morar no céu. Ao</p><p>contrário, o homem seguirá sua história reconstruindo a vida e aprendendo a andar nos caminhos do Criador.</p><p>149 | Apocalipse 10.11</p><p>150 | Mateus 24.</p><p>151 | Daniel 11.33-35; Apocalipse 13.7; 18.24.</p><p>152 | Apocalipse 10.10.</p><p>153 | 2 Coríntios 12.4; Atos 11.5; Apocalipse 1.10.</p><p>154 | Apocalipse 10.</p><p>155 | Ezequiel 2.7-10.</p><p>156 | Daniel 11.32-35, Mateus 24, Apocalipse 12.</p><p>157 | A palavra espírito tem raiz etimológica do latim spiritus. No grego corresponde a pneuma, na língua hebraica é ruach. No</p><p>texto bíblico possui vários signi�cados, dentre os quais sopro, respiração, movimento e vento. Pode-se a�rmar que o espírito do</p><p>homem é o seu movimento existencial, ao longo da história de sua alma, na região visível da Criação. O espírito é a ação da</p><p>alma. Quando se trata do Espírito de Deus, estamos nos referindo ao seu movimento criativo. Deus é o Absoluto. Por meio do</p><p>Logos divino, o Absoluto torna-se relativo e manifesta-se na Criação como Espírito, fazendo progredir todas as coisas.</p><p>158 | Daniel 7.20-23; Apocalipse 12.17.</p><p>159 | Isaías 29.14; 1 Coríntios 1.19.</p><p>160 | Daniel 12.3; Mateus 24.14.</p><p>161 | Joel 2.28; Atos 2.17.</p><p>162 | Apocalipse 7.4.</p><p>163 | Daniel 11.33; Apocalipse 11.7-10.</p><p>164 | Daniel 12.2,3.</p><p>165 | Apocalipse 7.1-8.</p><p>166 | O sentido radical distorce o espírito da lição e leva o intérprete a entender o que não foi dito. Por exemplo: Jesus instruiu para</p><p>arrancarmos o olho, quando o mesmo for motivo de escândalo. Obviamente, o sentido radical levaria a uma multidão de cegos.</p><p>Na verdade, ensinava que o pecado é uma atitude gravíssima que pode levar a consequências danosas no corpo e na alma.</p><p>167 | Ezequiel 37.1-14.</p><p>168 | Ezequiel 37.12-14.</p><p>169 | Mateus 27.50-53.</p><p>170 | 2 Samuel 23.4,5.</p><p>171 | Apocalipse 7.14.</p><p>172 | Daniel 11.32; Apocalipse 11.10.</p><p>173 | Isaías 29.1-8; Mateus 24.15-21; Apocalipse 9.12-16.</p><p>174 | Ezequiel 7.2.</p><p>175 | Ezequiel 33.11; João 3.3.</p><p>176 | 2 Reis 17.13; 2 Crônicas 30.6; Isaías 31.6; 2 Coríntios 15.</p><p>177 | Paulo faz referência à salvação de Abraão para sustentar a tese de que o homem se salva porque crê, sem qualquer necessidade</p><p>de obras. Nos tempos do patriarca, o Jesus da igreja cristã ainda não havia nascido.</p><p>178 | Mateus 1.5-6.</p><p>179 | Rute 4.17.</p><p>180 | Ezequiel 11.19,20; Jeremias 31.33,34; Romanos 2.29.</p><p>181 | Ver capítulo 4.</p><p>182 | Traduções feitas por cristãos e judeus guardam diferenças consideráveis quanto à queda da alma.</p><p>183 | João 3.5.</p><p>184 | João 15.3.</p><p>185 | Salmos 32.1-5; Oseias 6.1-3; Efésios 4.13; Filipenses 1.9.</p><p>Capítulo 10</p><p>A VOLTA DE DAVI E A CASA DE ISRAEL</p><p>A construção da nova civilização</p><p>A história do povo Israel foi marcada por uma sucessão de perío dos, nos</p><p>quais um deles, o dos reis, se destaca por conter ricas narrativas de vida e</p><p>preciosas instruções relacionadas à transcendência da alma humana e suas</p><p>lutas no mundo. Saul, �lho de Quis, foi o primeiro a ser levantado como rei</p><p>para cuidar do povo. Sucedeu-lhe Davi, �lho de Jessé, como uma das �guras</p><p>mais controversas dessa história. Da posição de obscuro pastor de ovelhas,</p><p>foi levado à casa de Saul para, através de sua música, ajudá-lo a livrar-se de</p><p>crises nervosas que o abatiam. Segundo as Escrituras, os tormentos dele</p><p>eram provocados por um espírito mau, vindo da parte de Deus.</p><p>Davi era tocador de harpa. Suas melodias tinham algo de divino e</p><p>acalmavam as agitações da alma. Conta a história que, nessa época, o Eterno</p><p>havia deixado Saul, por conta de sua desobediência. Em visita à casa de</p><p>Jessé, o profeta Samuel ungiu Davi para ser o futuro rei, por orientação de</p><p>Deus. Ao perceber que Davi poderia ser o seu substituto, Saul passou a</p><p>persegui-lo, com intenção de matá-lo. A história é belíssima e encontra-se</p><p>relatada nos livros 1 Samuel e 1 Crônicas.</p><p>A vida de Davi é pródiga em fatos que nos ajudam a entender a alma e sua</p><p>busca incessante por unir-se ao Criador. O �lho de Jessé, depois de se tornar</p><p>rei de Israel, cometeu o grave pecado de tomar para si a mulher de Urias,</p><p>um de seus homens de con�ança, enviando o bravo guerreiro para a morte.</p><p>Ela se chamava Bate-Seba e foi a mãe do sábio Salomão. Confrontado pelo</p><p>profeta Natã, Davi conscientiza-se da gravidade do ato, arrependendo-se, o</p><p>que é surpreendente, considerando que práticas dessa natureza eram</p><p>comuns nesses tempos de ignorância. Suas penitências, re�exões e</p><p>meditações o levaram a constituir boa parte dos Salmos, um dos mais</p><p>importantes livros das Escrituras.</p><p>Davi pertencia à tribo de Judá. À semelhança de outros líderes na história</p><p>dos hebreus, Deus fez aliança com sua casa, em torno da qual se ajuntariam</p><p>almas a serviço da unidade de Israel, tendo em vista o Reino que viria no</p><p>futuro. Com Davi, o Eterno estabeleceu um pacto de caráter perpétuo, pois</p><p>de sua descendência nasceria o Messias, o profeta que seria enviado para ser</p><p>aliança das tribos, luz para os gentios e para instituir o reino de Deus na</p><p>Terra e nos céus.186 Judeus ainda o esperam. Os cristãos seguem na certeza</p><p>de que ele é Jesus de Nazaré, o �lho de José. Grave discordância, é verdade,</p><p>mas que, sem dúvida, será resolvida a seu tempo.</p><p>As Escrituras hebraicas fazem referências à volta de Davi. Ele seria um</p><p>dos pastores de Israel que ajudaria a paci�car o povo enviado,</p><p>conscientizando-o da sua grave missão junto às demais nações.187 Como</p><p>indicam os textos bíblicos citados por Daniel e pelo Cristo, seu</p><p>aparecimento se dará no �nal do período da Grande Tribulação. Segundo</p><p>consta, Davi foi o elemento paci�cador das tribos de Israel durante o seu</p><p>reinado (por volta de 1006 a.C.). Não é estranha a ideia de que, em se</p><p>tratando das mesmas almas presentes atualmente no mundo, o mesmo servo</p><p>seja chamado para cumprir tarefa semelhante à que fez no passado.</p><p>É notória a ignorância dos homens em relação à chegada do reino de</p><p>Deus, principalmente porque o que dele se tem notícia vem da interpretação</p><p>de teorias religiosas, que nunca deram sentido inteligente às profecias. Há</p><p>quem acredite que o reino do Messias seria de natureza política, e que o</p><p>ungido governaria as nações a partir do Estado de Israel. No meio cristão é</p><p>consenso que o Reino será um lugar no céu, no qual os �éis, após a morte</p><p>física, morarão com Deus para sempre. A visão de judeus e cristãos, em</p><p>relação ao futuro, foge à lógica progressiva da Criação, o que afasta de suas</p><p>crenças os homens de ciência. O reino de Deus virá, na verdade, com as</p><p>mudanças naturais que ocorrerão na Terra, sendo implantada uma nova</p><p>ordem, diante da exaustão da velha maneira de viver.</p><p>Em relação ao retorno de Davi ao mundo, é necessário fazer algumas</p><p>considerações. Nos dias atuais, turistas visitam em Israel o que dizem ser a</p><p>sepultura do rei. Considerando que fosse verdadeira a ressurreição dos</p><p>corpos, como se daria sua volta? O túmulo se partiria e, de dentro, se</p><p>levantaria um homem, com aparência de alguém que viveu há quase três mil</p><p>anos? O defunto ressuscitado forçaria as paredes do túmulo, saindo para seu</p><p>exterior, identi�cando-se como o rei? Um anjo romperia com as paredes do</p><p>túmulo? Quem acredita nessas possibilidades aceita qualquer utopia. É mais</p><p>lógico pensar que a alma de Davi nascerá com outro nome para trabalhar</p><p>como liderança no meio do antigo povo, agora renascido.</p><p>Em relação a isso, os cristãos pensam diferente. Os católicos, há muito</p><p>tempo, não se posicionam</p><p>acerca das Escrituras em assuntos controversos.</p><p>Os evangélicos, certos de que deram um passo à frente dos católicos,</p><p>a�rmam que as Escrituras não falam de Davi, mas do Cristo, porque este era</p><p>descendente do rei de Israel. Ocorre que Deus poderia utilizar a expressão</p><p>“�lho do homem” para se referir ao Cristo, como fez em outras passagens,</p><p>mas não é o que acontece. Ele diz que levantará a Davi, a quem se refere</p><p>como “meu servo”. Os teóLogos nem sempre chegam a conclusões coerentes</p><p>e, nesse caso, estão equivocados. A referência é ao servo Davi, e não ao</p><p>Cristo.</p><p>Como citamos anteriormente, a conversa do rei Saul com a alma de</p><p>Samuel, através de uma sensitiva que morava no vilarejo de Endor, é outro</p><p>exemplo da interpretação in�uenciada por crenças. Os teóLogos cristãos</p><p>dizem que não teria sido a alma de Samuel, mas tratava-se do diabo</p><p>disfarçado. A dedução é recheada de preconceito acerca da natureza</p><p>extrafísica do Ser, além de desconhecimento das realidades eternas. O relato</p><p>existente no capítulo 28 do livro 1 Samuel não deixa dúvidas quanto ao fato.</p><p>Preferem dizer que o texto bíblico é uma mentira do que admitir que</p><p>estiveram errados ao longo dos séculos.</p><p>Diante do iminente estabelecimento do reino de Deus e do necessário</p><p>retorno da alma que animou o rei Davi, abordaremos algumas passagens</p><p>bíblicas que fornecem evidências de que esse antigo servo voltará à Terra,</p><p>nos tempos do �m, para continuar trabalhando na complicada tarefa de</p><p>paci�car o povo das Escrituras. As citações estão ligadas à profecia de que a</p><p>casa de Jacó será ajuntada no grande dia do Senhor, tendo Davi como um</p><p>dos líderes, o que quer dizer que essas almas também viverão no mesmo</p><p>período.</p><p>As argumentações em torno do retorno desse servo começam com sua</p><p>própria história. Quando assumiu o reino de Judá, após a morte de Saul e</p><p>Jônatas,188 os relatos bíblicos contam que houve longa guerra entre a casa de</p><p>Davi e a de Saul.189 Assim que o sucessor de Saul morreu, todas as tribos</p><p>foram a Davi e o �zeram rei sobre Israel,190 por entender que havia uma</p><p>determinação de Deus para que isso acontecesse: “O Senhor te disse: Tu</p><p>apascentarás o meu povo de Israel e tu serás príncipe sobre ele”.</p><p>A história continua, Davi apascenta o povo e, mais tarde, ele recebe a</p><p>promessa por parte do Eterno de que lhe seria edi�cada uma casa, que</p><p>permaneceria para sempre no mundo. E mais, da linhagem dessa casa sairia</p><p>o Messias, o �lho de Davi. O assunto é tratado especialmente em 2 Samuel</p><p>7.1-16, 1 Crônicas 17.23-27 e em várias outras passagens das Escrituras.</p><p>Como exemplo, citaremos parte da promessa ditada a Davi: “Quando teus</p><p>dias forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então farei levantar</p><p>depois de ti um dentre tua descendência, o qual sairá de tuas entranhas, e</p><p>estabelecerei o seu reino. Este edi�cará uma casa ao meu nome, e</p><p>con�rmarei o trono do seu reino para sempre”.</p><p>A promessa não pode ter como referência a casa de habitação do rei, nem</p><p>o templo construído por seu substituto no trono. Tampouco o �lho, a quem</p><p>Deus se refere, poderia ser Salomão. Tanto sua casa terrena quanto o templo</p><p>e Salomão tiveram seu �m. A casa de Davi prometida para tempos distantes</p><p>daquela época são os �lhos de Isra el marcados para trabalhar na</p><p>reconstrução da vida na Terra. O �lho levantado de sua descendência é</p><p>Jesus. O reino é a nova civilização, que tem como patrono o �lho de José e</p><p>Maria, o Messias prometido, o renovo justo a quem ele se referiu: “Haverá</p><p>um justo que domine sobre os homens, que domine no temor de Deus. E</p><p>será como a luz da manhã sem nuvens, quando pelo seu resplendor e pela</p><p>chuva a erva brota da terra”.191</p><p>Diante dessa realidade bíblica, pergunta-se: com que propósito Deus</p><p>edi�caria uma casa a Davi para outros tempos, se não houvesse a</p><p>possibilidade dessa mesma alma fazer parte do que foi proposto? O reino</p><p>eterno não poderia ser prometido a Salomão, posto que terminou seus dias</p><p>com Israel em grande con�ito. A única possibilidade de não invalidar a</p><p>promessa de Deus é aceitar a lei de renascimento contínuo das almas e o</p><p>teor progressivo da Criação.</p><p>Em Salmos 89, vê-se a repetição dessa aliança de Deus com Davi e a</p><p>con�rmação do reino eterno: “As benignidades do Senhor cantarei</p><p>perpetuamente; com a minha boca manifestarei a tua �delidade de geração</p><p>em geração. Pois, disse eu: A tua benignidade será edi�cada para sempre; tu</p><p>con�rmarás a tua �delidade até nos céus, dizendo: Fiz uma aliança com o</p><p>meu escolhido, e jurei ao meu servo Davi, dizendo: A tua semente</p><p>estabelecerei para sempre, e edi�carei o teu trono de geração em geração”.192</p><p>Evidentemente trata-se de almas dessa casa, que ele prepararia em</p><p>sucessivas vidas para o estabelecimento de uma nova civilização, muito mais</p><p>tarde. E ainda diz mais as palavras do Salmo: “Porque o Senhor é a nossa</p><p>defesa, e o Santo de Israel o nosso Rei. Então falaste em visão ao teu santo, e</p><p>disseste: Pus o socorro sobre um que é poderoso; exaltei a um eleito do</p><p>povo. Achei a Davi, meu servo; com santo óleo o ungi, com o qual a minha</p><p>mão �cará �rme, e o meu braço o fortalecerá […]. Ele me chamará, dizendo:</p><p>Tu és meu pai, meu Deus, e a rocha da minha salvação. Também o farei meu</p><p>primogênito mais ele vado do que os reis da terra. A minha benignidade lhe</p><p>conservarei eu para sempre, e a minha aliança lhe será �rme, e conservarei</p><p>para sempre a sua semente, e o seu trono como os dias do céu”.193</p><p>A menos que se ponha em dúvida as Escrituras, é claro como a luz do sol</p><p>que existe uma aliança de Deus com Davi e seu povo, que seria con�rmada</p><p>em algum tempo. Todas as circunstâncias levam a crer que a época da</p><p>unidade de Israel chegou e que esse servo deve estar no mundo. Isso só seria</p><p>possível se o renascimento sucessivo for uma das leis naturais.</p><p>Uma versão interpretativa dos capítulos 34 e 37 do livro de Ezequiel será</p><p>apresentada, com evidências da volta ao mundo da alma que animou o rei</p><p>Davi e das almas do Israel bíblico.</p><p>Livro de Ezequiel</p><p>Ezequiel foi um servo de Deus, contemporâneo de Jeremias e Daniel, que</p><p>viveu nos tempos da escravidão babilônica.194 Houve três deportações de</p><p>israelitas que viviam no reino do sul (Judá), levados para a Babilônia do rei</p><p>Nabucodonosor. Ezequiel encontrava-se na segunda delas. Exerceu seu</p><p>ministério profético no exílio, durante o cativeiro. Suas visões são</p><p>semelhantes com as do apóstolo João, autor do Apocalipse, todas repletas de</p><p>símbolos e representações. Ressaltou os motivos do exílio de Israel como</p><p>sendo causado por desobediência e transgressões do povo. Tornou-se pastor</p><p>de Judá, durante o cativeiro, envidando esforços para manter viva a fé dos</p><p>cativos. O ministério de Ezequiel durou cerca de 20 anos. Sua missão pode</p><p>ser entendida em cinco períodos, a saber: o chamado, as profecias, as</p><p>repreensões pelos pecados do povo, os ensinamentos sobre a</p><p>responsabilidade humana e a promessa de restauração de Israel.</p><p>A profecia é dirigida aos pastores de Israel. Na época, eram os sacerdotes</p><p>que, conforme as Escrituras, haviam se corrompido. Contudo, o exame</p><p>cuidadoso do capítulo 34 nos faz entender que a instrução não se limitava</p><p>apenas aos líderes do passado. Considerando o renascer sucessivo, as</p><p>mesmas almas dos tempos de Ezequiel seguiram existindo na história,</p><p>renascendo continuamente. Assim, as referências e advertências devem ser</p><p>aplicadas também aos nossos dias. Não há dúvidas de que a instrução do</p><p>Espírito é no sentido de repreender pessoas que tinham responsabilidades</p><p>sobre outras, para conduzi-las a um estado de segurança e paz. Hoje, os</p><p>rabinos e pastores seriam as atuais lideranças entre judeus e cristãos.</p><p>Secularmente, as religiões permitiram fazer do pastoreio um meio de vida</p><p>de muitos homens, especialmente entre os cristãos dos dias de hoje. São</p><p>pastores que apascentam a si mesmos, cuidando de suas próprias</p><p>necessidades. Questiona o Senhor: não deveriam cuidar das ovelhas?</p><p>Ezequiel, capítulo 34</p><p>Vs. 1 e 2. E veio a mim a palavra do Senhor,</p><p>dizendo: �lho do homem, profetiza</p><p>contra os</p><p>pastores de Israel; profetiza, e dize aos</p><p>pastores: assim diz o Senhor Deus: Ai dos</p><p>pastores de Israel que se apascentam a si</p><p>mesmos! Não devem os pastores, apascentar</p><p>as ovelhas?</p><p>O Eterno responsabiliza as lideranças por viverem no conforto e</p><p>comodidade, deixando de cumprir a tarefa principal: instruir e cuidar das</p><p>pessoas sob sua responsabilidade. O papel dos pastores é conduzir suas</p><p>ovelhas, almas fragilizadas pelos embates da experiência terrena.</p><p>Igualmente, a instrução fala da urgência em trazer de volta as que se</p><p>desgarraram do rebanho. Por vezes, os líderes exigem cumprimento</p><p>rigoroso de leis que eles mesmos não observam. Jesus advertiu duramente os</p><p>desavisados sacerdotes, dizendo que colocavam pesados fardos para costas</p><p>alheias, enquanto nem mesmo com o dedo se esforçavam para levantá-</p><p>los.195</p><p>Não há dúvida de que o Eterno está se referindo a almas que renasceram</p><p>Vs. 3 e 4. Comeis a gordura, e vos vestis de lã;</p><p>matais o cevado; mas não apascentais as</p><p>ovelhas. As fracas, não fortalecestes, e a</p><p>doente, não curastes, e a quebrada não</p><p>ligastes, e a desgarrada não tornastes a trazer,</p><p>e a perdida não buscastes; mas dominais</p><p>sobre elas com rigor e dureza.</p><p>Vs. 5 e 6. Assim se espalharam, por não haver</p><p>pastor, e tornaram-se pasto para todas as</p><p>feras do campo, porquanto se espalharam. As</p><p>minhas ovelhas andaram desgarradas por</p><p>todos os montes, e por todo o alto outeiro; sim,</p><p>as minhas ovelhas, andaram espalhadas por</p><p>toda a face da terra, sem haver quem</p><p>perguntasse por elas, nem quem as buscasse.</p><p>no mundo e foram dispersas nas nações, por desobediência. A situação se</p><p>agravou por irresponsabilidade das lideranças. Por isso, espalharam-se e se</p><p>deixaram conduzir pelo agressivo espírito do mundo. O Espírito de Deus</p><p>continua responsabilizando os pastores pela dispersão das ovelhas. O</p><p>Senhor tomou providências para que as ovelhas desgarradas fossem</p><p>encontradas, vindo Ele mesmo despertá-las e conduzi-las de volta ao</p><p>rebanho. É notório que alguns segmentos cristãos vivem a imagem desse</p><p>abandono.</p><p>A repreensão se repete. Todos os homens com responsabilidade sobre o</p><p>povo, não importa a que denominação pertençam, devem considerar a</p><p>profecia de Ezequiel. Deus os acusa por não cumprirem o papel de cuidar do</p><p>rebanho. É uma das razões pelas quais as ovelhas continuam desgarradas até</p><p>os dias atuais. Grande parte dos sacerdotes da atualidade, em todos os</p><p>segmentos religiosos, cuidaram de atender a si mesmos, de tratar dos seus</p><p>interesses, com graves prejuízos ao rebanho.</p><p>Vs. 7 e 8. Portanto, ó pastores, ouvi a palavra</p><p>do Senhor: Vivo eu, diz o Senhor Deus, que,</p><p>porquanto as minhas ovelhas foram entregues</p><p>à rapina, e asminhas ovelhas vieram a servir</p><p>de pasto a todas as feras do campo, por falta</p><p>de pastor, e os meus pastores não procuraram</p><p>as minhas ovelhas; e os pas tores</p><p>apascentaram a si mesmos, e não</p><p>apascentaram as minhas ovelhas.</p><p>Deus declara abertamente que é contra os pastores e líderes que, em todos</p><p>os tempos, não desempenharam a missão que lhes foi con�ada. E anuncia</p><p>que as ovelhas serão tiradas das mãos desses falsos pastores e passarão a ser</p><p>cuidadas diretamente por Ele. Não apascentarão mais a si mesmos, diz o</p><p>Eterno. Quer dizer, haverá um tempo em que os homens não precisarão de</p><p>intermediários para falar com Deus. Essa realidade se repete em outras</p><p>instruções. Os que se aproveitaram da simples fé das pessoas, vivendo de</p><p>expedientes de exploração cobiçosa e astutos artifícios, como demonstra a</p><p>história religiosa, colherão os frutos amargos dessa semeadura. As ovelhas</p><p>nunca mais servirão de pasto a tais homens. O juízo começará pela casa de</p><p>Deus.196</p><p>Vs. 9 e 10. Portanto, ó pastores, ouvi a palavra</p><p>do Senhor: Assim diz o Senhor Deus: Eis que eu</p><p>estou contra os pastores; das suas mãos,</p><p>demandarei as minhas ovelhas, e eles deixarão</p><p>de apascentar as ovelhas; os pastores não se</p><p>apascentarão mais a si mesmos; e livrarei as</p><p>minhas ovelhas da sua boca, e não lhes</p><p>servirão mais de pasto.</p><p>O Senhor con�rma sua ação libertadora, quando Ele mesmo decide</p><p>buscar as ovelhas desgarradas e livrá-las das mãos dos falsos pastores, em</p><p>quaisquer tempos, em todos os lugares, religiões e crenças. Uni�cados como</p><p>a nação prometida a Abraão, Israel cumprirá a tarefa redentora de conduzir</p><p>a humanidade ao estado de autêntica liberdade e justiça, conforme a</p><p>promessa de Deus. A sentença “dia nublado e de escuridão” é uma expressão</p><p>profética utilizada para expressar os dias angustiosos do �m dos tempos,</p><p>con�rmando que o ajuntamento da casa de Jacó acontecerá nessa época.</p><p>Vs. 11 e 12. Porque assim diz o Senhor Deus: Eis</p><p>que eu, eu mesmo, procurarei pelas minhas</p><p>ovelhas, e as buscarei. Como o pastor busca o</p><p>seu rebanho, no dia em que está no meio das</p><p>suas ovelhas dispersas, assim buscarei as</p><p>minhas ovelhas; e livrá-las-ei de todos os</p><p>lugares por onde andam espalhadas, no dia</p><p>nublado e de escuridão.</p><p>Vs. 13, 14 e 15. E tirá-las-ei dos povos, e as</p><p>congregarei dos países, e as trarei à sua</p><p>própria terra, e as apascentarei nos montes de</p><p>Israel, junto aos rios, e em todas as habitações</p><p>da terra. Em bons pastos as apascentarei, e</p><p>nos altos montes de Israel será o seu aprisco;</p><p>ali se deitarão num bom redil, e pastarão em</p><p>abundantes pastos nos montes de Israel. Eu</p><p>mesmo apascentarei as minhas ovelhas, e eu</p><p>as farei repousar, diz o Senhor Deus.</p><p>O Israel bíblico será ajuntado de todas as nações, disso não há dúvida.</p><p>Não apenas os que são descendentes biológicos dos judeus, mas todas as</p><p>almas que ouvirem o chamado. Depois dos eventos destrutivos que virão</p><p>sobre as nações, os homens trabalharão pela reconstrução da vida, das</p><p>regiões destruídas, moradias, estradas, vias de comunicação, meio ambiente</p><p>e demais setores. A humanidade encontrará paz e alegria diante das boas</p><p>novas do reino de Deus. Israel entenderá sua missão de ajudar as nações a</p><p>encontrar o caminho da vida sustentável e da eternidade.</p><p>As palavras desses versículos apontam para um terrível julgamento que,</p><p>ao que tudo indica, paira sobre o povo enviado, constatando cada excesso e</p><p>injustiça cometidos pelas ovelhas e dando a cada uma o que for justo. O</p><p>socorro e juízo do Eterno chegarão até as ovelhas que se espalharam. Ele</p><p>buscará a perdida para ajuntá-las em de�nitivo à casa de Jacó. As doentes</p><p>serão curadas. Julgará entre ovelhas e ovelhas quer dizer que nem todas</p><p>participarão do reino que será estabelecido.</p><p>Vs. 16 a 22. A perdida buscarei, e a desgarrada</p><p>tornarei a trazer, e a quebrada ligarei, e a</p><p>enferma fortalecerei; mas a gorda e a forte</p><p>destruirei; apascentá-las-ei com juízo. E quanto</p><p>a vós, ó ovelhas minhas, assim diz o Senhor</p><p>Deus: Eis que eu julgarei entre ovelhas e</p><p>ovelhas, entre carneiros e bodes. Acaso não vos</p><p>basta pastar os bons pastos, senão que pisais o</p><p>resto de vossos pastos aos vossos pés? E não</p><p>vos basta beber as águas claras, senão que</p><p>sujais o resto com os vossos pés? E quanto às</p><p>minhas ovelhas elas pastarão o que haveis</p><p>pisado comos vossos pés, e beberão o que</p><p>haveis sujado com osvossos pés. Por isso o</p><p>Senhor Deus assim lhes diz: Eis que eu, eu</p><p>mesmo, julgarei entre a ovelha gorda e a</p><p>ovelha magra. Porquanto com o lado e com o</p><p>ombro, dais empurrões, e com os vossos</p><p>chifres, escorneais todas as fracas, até que as</p><p>espalhais para fora. Portanto, livrarei as</p><p>minhas ovelhas, para que não sirvam mais de</p><p>rapina, e julgarei entre ovelhas e ovelhas.</p><p>Neste versículo, a profecia revela que o rei Davi será um dos pastores que</p><p>orientará os caminhos de Israel rumo ao futuro. Não houve meias palavras.</p><p>A instrução é objetiva. O antigo servo voltará para mais uma tarefa. A casa</p><p>de Davi é referência a um grupo de almas que atua como pastores e</p><p>orientadores do povo enviado em todos os lugares nos quais se encontram,</p><p>não importando a religião que professem. É evidente que Davi e outros</p><p>personagens bíblicos nascerão com outros nomes, porém, terão sua</p><p>condição de líderes reconhecida pelos seus irmãos. É natural que assim</p><p>aconteça.</p><p>O reino de Deus será implantado na Terra, e o Cristo estabelecerá paz em</p><p>Israel e em todas as nações que permanecerem no mundo após os eventos</p><p>apocalípticos. A violência será removida do planeta e todos poderão viver</p><p>em segurança. As condições climáticas que, nos dias do �m, estarão em</p><p>Vs. 23 e 24. E suscitarei sobre elas um só</p><p>pastor, e ele as apascentará; o meu servo Davi</p><p>é que as apascentará; ele lhes servirá de</p><p>pastor. E eu, o Senhor, lhes serei por Deus, e o</p><p>meu servo Davi será príncipe no meio delas; eu,</p><p>o Senhor, o disse.</p><p>Vs. 25 e 26. E farei com elas uma aliança de</p><p>paz, e acabarei com as feras da terra, e</p><p>habitarão em segurança no deserto, e</p><p>dormirão nos bosques. E delas e dos lugares ao</p><p>redor do meu outeiro, farei uma bênção; e farei</p><p>descer a chuva a seu tempo; chuvas de</p><p>bênçãos serão.</p><p>profundo desajuste serão gradualmente estabilizadas até o estado de</p><p>equilíbrio, em que as chuvas virão na hora esperada. As plantações não mais</p><p>serão perdidas por falta ou excesso de água. O estabelecimento da</p><p>normalidade da vida em todo o mundo será “chuva de bênçãos”, diz o</p><p>Eterno.</p><p>A passagem discorre sobre o equilíbrio da natureza no seu ciclo</p><p>produtivo, dando segurança para a vida e sustentabilidade em todas as</p><p>coisas. Os homens se sentirão seguros e tomarão consciência de que não</p><p>poderão mais viver fora das regras universais apontadas pelo Criador. As</p><p>correntes da ilusão e das falsas doutrinas que escravizam as almas serão</p><p>quebradas e as ovelhas libertas, de�nitivamente, do jugo dos seus</p><p>exploradores.197</p><p>A primazia do povo Israel sobre as demais nações é con�rmada. As almas</p><p>dessa nação bíblica têm vivências e laços históricos com o Criador. Entenda-</p><p>se, todavia, que o povo Israel não terá poder semelhante ao da política dos</p><p>Vs. 27. E as árvores do campo darão o seu</p><p>fruto, e a terra dará a sua novidade, e estarão</p><p>seguras na sua terra; e saberão que eu sou o</p><p>Senhor, quando eu quebrar as ataduras do seu</p><p>jugo e as livrar da mão dos que se serviam</p><p>delas.</p><p>Vs. 28. E não servirão mais de rapina aos</p><p>gentios, as feras da terra nunca mais as</p><p>devorarão; e habitarão seguramente, e</p><p>ninguém haverá que as espante.</p><p>homens, mas natural autoridade, reconhecida em todos os lugares, devido a</p><p>fatos que ocorrerão no período do Apocalipse. Homens exploradores e</p><p>mentirosos, assim como sua semente, serão desarraigados.</p><p>O povo de Deus é igualado por Isaías a uma preciosa vinha.198 Israel e o</p><p>Deus Altíssimo serão reconhecidos em toda a Terra. O povo das Escrituras</p><p>nunca mais será envergonhado pelos descrentes. Ao referir-se à casa de</p><p>Israel, o profeta se pronuncia a toda a nação prometida à Abraão, incluindo</p><p>as almas das doze tribos dos dias de Davi e Salomão.</p><p>Ezequiel, capítulo 37</p><p>O capítulo 37 de Ezequiel apresenta duas parábolas proféticas</p><p>relacionadas ao Israel bíblico. Elas foram também denominadas por</p><p>“oráculos”. Uma é a parábola do Vale de Ossos Secos e a outra, a das Duas</p><p>Varas. As mensagens teriam sido escritas para confortar os cativos durante a</p><p>escravidão babilônica, pois traziam consigo duas notáveis promessas: a</p><p>primeira versava sobre o retorno dos israelitas à vida corpórea, depois da</p><p>morte física. A segunda promessa falava de uma posterior restauração de</p><p>Judá, como de fato ocorreu, com a queda do império babilônico em 539</p><p>Vs. 29, 30 e 31. E lhes levantarei uma plantação</p><p>de renome, e nunca mais serão consumidas</p><p>pela fome na terra, nem mais levarão sobre si</p><p>o opróbrio dos gentios. Saberão, porém, que eu,</p><p>o Senhor seu Deus, estou com elas, e que elas</p><p>são o meu povo, a casa de Israel, diz o Senhor</p><p>Deus. Vós, pois, ó ovelhas minhas, ovelhas do</p><p>meu pasto; homens sois; porém, eu sou o vosso</p><p>Deus, diz o Senhor Deus.</p><p>a.C., segundo o profeta Jeremias.199</p><p>Intérpretes religiosos usaram a parábola do Vale de Ossos Secos para</p><p>fundamentar a tese da ressurreição da carne, uma bizarra volta de defuntos à</p><p>vida, contrariando princípios cientí�cos elementares. A parábola das Duas</p><p>Varas forneceu indícios aos judeus para crerem no regresso de seus</p><p>descendentes ao atual estado de Israel. Judeus consideram descendência</p><p>apenas os que possuem laços de sangue, cujas famílias teriam sido</p><p>espalhadas entre as nações na diáspora.</p><p>Uma leitura atenta dos dois oráculos de Ezequiel nos faz entender que</p><p>essas passagens são, na verdade, duas profecias. Uma delas con�rma a volta</p><p>das almas dos israelitas à vida carnal, pessoas que teriam vivido no passado.</p><p>O povo escravizado na Babilônia deveria saber que, no futuro, seria</p><p>incumbido do papel orientador da humanidade, mesmo aqueles</p><p>personagens que já haviam morrido. É a linha de raciocínio que acompanha</p><p>a parábola do Vale de Ossos Secos. A outra profecia, a das Duas Varas,</p><p>anuncia a união das doze tribos de Israel, dispersas pelo mundo. Não há</p><p>discordância de cristãos e judeus quanto aos dois temas. A diferença está na</p><p>interpretação de como isso se dará.</p><p>Vale de Ossos Secos não é uma instrução a respeito de ressurreição</p><p>corporal. Ensina, de fato, que as almas dos israelitas voltarão a viver através</p><p>de um novo nascimento, quando Israel se colocar à frente do reino de Deus.</p><p>De acordo com as palavras das Escrituras, um novo sistema de vida será</p><p>instaurado na Terra. Sobre isso não há dúvida! A pergunta que se faz é a</p><p>seguinte: Se o homem pode nascer de novo, pelo menos uma vez, como</p><p>mostra a parábola, não poderia renascer outras vezes? Não há nenhuma</p><p>passagem bíblica dizendo que não. Resta, então, somente a questão do</p><p>corpo. Qual seria utilizado? O que se desfez no túmulo ou um novo corpo</p><p>gerado pelas vias naturais? Se as almas dos israelitas utilizassem os antigos</p><p>corpos desmantelados nas sepulturas, elas poderiam fazê-lo apenas uma vez,</p><p>necessitando que Deus, nesse tempo, �zesse uma obra sobrenatural paraque</p><p>vivessem para sempre. Os religiosos não têm di�culdades para aceitar teses</p><p>absurdas como essa, porque dizem que o Criador pode fazer qualquer coisa.</p><p>Com isso, entra-se no mundo do fantástico e do sobrenatural, o que em</p><p>nada edi�ca as pessoas. Se, no entanto, for viável a tese de que as almas</p><p>nasçam em novos corpos, gestados naturalmente, o processo poderá se</p><p>repetir quantas vezes o Eterno desejar. Assim, a civilização poderia ser</p><p>construída pelos mesmos indivíduos, sem que as leis universais sejam</p><p>contrariadas. Na busca pela solução de questões obscuras, não se deve</p><p>aceitar respostas incoerentes, em detrimento de outras mais inteligentes.</p><p>A ressurreição da carne é uma tese que levanta mais dúvidas do que</p><p>respostas. Consideremos, por exemplo, a alma de um homem, morto em</p><p>uma época passada, que receberia de volta seu corpo reconstituído</p><p>milagrosamente para viver de novo. Esse antigo corpo ressuscitado, agora</p><p>reabilitado pela alma, voltaria a envelhecer? Se a resposta for sim, o corpo</p><p>morreria de novo ou viveria para sempre, como advogam os que creem na</p><p>vida milenar com Cristo,200 após os eventos apocalípticos? Uma coisa criada</p><p>pode se tornar eterna? Se o corpo não envelhecer, todos os ressuscitados</p><p>�cariam com a mesma idade para sempre? No caso da criança, o corpo dela</p><p>se desenvolveria até atingir a idade adulta? Até que tamanho e período se</p><p>daria o desenvolvimento? Os que morreram como velhos se levantariam dos</p><p>túmulos com os corpos envelhecidos ou receberiam um corpo renovado?</p><p>En�m, são apenas algumas questões de muitas outras que podem ser</p><p>formuladas. Não há respostas para tantas perguntas, justamente porque a</p><p>tese da ressurreição carnal não se sustenta ao mais elementar</p><p>questionamento.</p><p>A parábola do Vale de Ossos Secos foi anunciada em época de grande</p><p>limitação intelectual, daí as �guras e simbolismos que a caracterizam. É</p><p>evidente que o saber é relativo ao tempo em que vive o observador. Desde os</p><p>dias de Ezequiel, houve considerável progresso, no entanto, as religiões</p><p>insistem ter, nesses versículos, a�ançada a tese da ressurreição do corpo,</p><p>ainda que essa possibilidade contrarie os avanços da ciência. E outras ideias</p><p>igualmente absurdas surgem todos os dias.</p><p>Ainda há quem acredite ser a</p><p>Terra plana, outros que o homem nunca foi à lua. Uma multidão pensa que</p><p>sairá voando pelo espaço, subindo aos céus nos dias do Juízo, en�m, a lista</p><p>das esquisitices não tem �m.</p><p>O oráculo das Duas Varas se refere ao ajuntamento das tribos de Israel,</p><p>dispersas pelo planeta. Entendemos que Israel não é constituído apenas da</p><p>descendência biológica dos judeus, mas também de descendentes indiretos e</p><p>de gentios, que são almas israelitas, nascidas em famílias oriundas de outros</p><p>ramos da árvore genealógica de Abraão.</p><p>A missão dessas pessoas espalhadas pelo planeta era fazer avançar o</p><p>progresso nas nações, atuando nos diversos setores da vida. Ao se admitir</p><p>que o indivíduo pode renascer em novo corpo, o fenômeno da dispersão de</p><p>Israel �ca esclarecido e passa a ter um sentido lógico. O plano inteligente de</p><p>Deus é compreendido pelos homens, com toda a sua justiça, misericórdia e</p><p>amor. Em vez de valorizar apenas os descendentes carnais dos judeus,</p><p>interessa ao Eterno a descendência da alma, uma vez que ela torna possível</p><p>que todos migrem da ignorância para a sabedoria. As pessoas necessitam ser</p><p>esclarecidas a respeito das verdades eternas, pois elas serão a base da futura</p><p>civilização. Se não houver renascimento sucessivo, os condenados no Juízo</p><p>nunca se tornariam �lhos do Altíssimo. A aparente injustiça da distinção de</p><p>Israel permaneceria para sempre.</p><p>A parábola do Vale de Ossos Secos</p><p>Vs. 1. Veio sobre mim a mão do Senhor, e ele</p><p>me arrebatou em espírito, e me pôs no meio de</p><p>um vale que estava cheio de ossos.</p><p>Ezequiel possuía uma faculdade psíquica chamada arrebatamento de</p><p>sentido, que é o desprendimento da alma em relação ao seu corpo físico,</p><p>levando-a às dimensões invisíveis para receber revelações. Na visão do Vale</p><p>de Ossos Secos, o profeta foi conduzido pelo Eterno, em espírito, a um local</p><p>descrito como sendo uma planície cheia de ossos sequíssimos, algo como</p><p>um depósito de restos mortais de pessoas que já teriam vivido em tempos</p><p>passados. A visão se passa nas dimensões invisíveis.</p><p>A alma desprendida do corpo move-se nas regiões etéreas, de um lugar</p><p>para outro, de modo quase instantâneo, como se �utuasse no espaço, à</p><p>semelhança dos anjos.201 O Senhor fez Ezequiel passar sobre o vale de ossos</p><p>e tomar consciência da real dimensão das coisas que revelaria. O profeta viu</p><p>o vale por inteiro.</p><p>Seria revelada a delicada questão de os mortos voltarem a viver. A morte</p><p>sempre foi um mistério para os homens, e continuamente a ideia da �nitude</p><p>da vida lhes impõe medo ou descaso. Daí a pergunta a Ezequiel: poderiam</p><p>esses ossos voltar a viver? Uma vez que ossos, por si mesmo, não são vivos,</p><p>conclui-se que a instrução apontava o renascer do ser humano, e não apenas</p><p>dos ossos. O que está em questão é o retorno à existência física das almas</p><p>que haviam usado os ossos corporalmente. Embora seja possível criar</p><p>Vs. 2. E me fez passar em volta deles; e eis que</p><p>erammui numerosos sobre a face do vale, e eis</p><p>que estavam sequíssimos.</p><p>Vs. 3. E me disse: Filho do homem, porventura</p><p>viverão estes ossos? E eu disse: Senhor Deus, tu</p><p>o sabes.</p><p>alegorias em relação às passagens, esse caso de ressurreição é uma referência</p><p>feita especialmente aos israelitas. Na profecia não há menção a outros povos.</p><p>A teologia cristã sempre se debateu em explicar o fenômeno da morte</p><p>física, pois não admite a alma existindo separada do corpo. Paulo escreve</p><p>uma instrução à comunidade de Corinto202 que embaraçou ainda mais esses</p><p>intérpretes. Ensinava que a alma do homem, na dimensão invisível,</p><p>exprime-se através de um corpo etéreo.203 Esse novo elemento foi</p><p>incorporado à tese da ressurreição da carne da seguinte maneira: o homem</p><p>morre e, tendo sido salvo, viverá com Cristo, através de seu corpo espiritual,</p><p>até que Ele retorne, na segunda vinda. Depois do Juízo, esse mesmo</p><p>elemento seria transformado em corpo glorioso, ressurgindo carnalmente</p><p>para habitar com Cristo no reino milenar e, posteriormente, viver para</p><p>sempre nos céus. É evidente que tal pensamento pertence ao mundo das</p><p>crenças, não da ciência. Em nada contribui para o esclarecimento da</p><p>humanidade.</p><p>A ciência de Deus esclarece a questão da existência do Ser de um modo</p><p>mais completo. O homem é uma individualidade composta de alma, corpo</p><p>etéreo e organismo físico. Para existir em plenitude, necessita dos três</p><p>princípios unidos na mesma realidade. Sendo assim, no tempo em que a</p><p>alma está nas regiões invisíveis, que são os céus, ela não está completa. O</p><p>único lugar em que ela existe, integralmente, é quando está vivendo na</p><p>realidade visível. Deus criou a alma para habitar o Universo!</p><p>A teologia judaico-cristã tem razão ao crer que a alma não pode existir</p><p>separada do corpo físico. A única diferença está no fato de que não vive</p><p>sempre no mesmo corpo, tendo inúmeras experiências nas vivências de seus</p><p>personagens. O corpo físico, como tudo o que é material, está sujeito à</p><p>constante transformação do ambiente. Sujeito às leis que governam os seres</p><p>vivos, depois de algumas dezenas de anos, envelhece e morre. Assim, volta à</p><p>sua fonte natural, que é o pó da terra.204 Quando a alma renasce, se reveste</p><p>de outro corpo, pois o antigo não existe mais. Receber um novo corpo é o</p><p>mesmo que mudar de roupa. O corpo é como se fosse a roupa da alma. A</p><p>vestimenta de alguém é apenas a expressão da sua personalidade. Modelos</p><p>diferentes de roupas podem mudar a aparência, porém não mudam a</p><p>essência da pessoa. O mesmo acontece com o renascimento da alma em</p><p>novo corpo. A alma é a mesma. Vive outro personagem, porque o anterior</p><p>se desfez na história.</p><p>Não há vida orgânica sem a presença da alma e do espírito. Alguns</p><p>intérpretes alegam que ambos são coisas dissociáveis. Isso não é verdade.</p><p>Não pode haver espírito sem a alma, nem alma sem o espírito. A alma é a</p><p>causa do espírito, espécie de atmosfera que a acompanha, constituída do seu</p><p>histórico. Deus, ao dizer que faria o espírito entrar naqueles ossos secos,</p><p>certamente estava se referindo à alma e seu espírito, uma vez que ele (o</p><p>espírito) não pode animar o corpo sem a presença da alma.</p><p>De acordo com o Eterno, �ca estabelecido que o Ser é constituído de uma</p><p>parte material e outra extrafísica. Que o corpo sem a alma (e seu espírito)</p><p>não passa de ossos secos. Que a alma continua existindo, em algum lugar,</p><p>Vs. 4 e 5. Então me disse: Profetiza sobre estes</p><p>ossos, e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra</p><p>do Senhor. Assim diz o Senhor Deus a estes</p><p>ossos: Eis que farei entrar em vós o espírito, e</p><p>vivereis.</p><p>Vs. 6. E porei nervos sobre vós e farei crescer</p><p>carne sobre vós e, sobre vós, estenderei pele, e</p><p>porei em vós o espírito, e vivereis, e sabereis</p><p>que eu sou o Senhor.</p><p>longe dos seus restos mortais. O oráculo do Vale de Ossos Secos não pode</p><p>ser interpretado no sentido literal absoluto, pois levaria ao pensamento de</p><p>que, em tempo futuro, os defuntos levantar-se-iam das sepulturas, o que é</p><p>contrário à lei natural. O ser humano é uma alma eterna, criada para existir</p><p>nos mundos do Universo. Reveste-se de um corpo físico para viver, presidir</p><p>a Criação e experimentar tudo o que seus sentidos podem perceber.205</p><p>O profeta faz conforme a instrução e assiste intensa movimentação dos</p><p>ossos, que se ajuntam uns aos outros, como se novamente formassem a</p><p>estrutura básica do corpo, o seu esqueleto. Logo aparece a carne, a pele e os</p><p>nervos, gerando um corpo biológico. É óbvio que estamos diante de</p><p>simbolismos, cuja lição é mostrar que a formação do corpo é um fenômeno</p><p>essencialmente material.206 A instrução trata de um grande número de</p><p>indivíduos que voltarão a viver no planeta. Seus corpos se acham prontos,</p><p>mas suas individualidades não estão presentes. Será necessário chamar a</p><p>alma (e seu espírito) para que se junte à matéria e, assim, nasçam novamente</p><p>aqueles que estavam mortos para o mundo, ou seja, a casa de Israel.</p><p>Vs. 7 e 8. Então profetizei como se me deu</p><p>ordem. E houve um ruído enquanto eu</p><p>profetizava; e eis que se fez um rebuliço, e os</p><p>ossos se</p><p>achegaram, cada osso ao seu osso. E</p><p>olhei, e eis que vieram nervos sobreeles, e</p><p>cresceu a carne, e estendeu-se a pele sobre</p><p>elespor cima; mas não havia neles espírito.</p><p>Algumas pessoas imaginam que Deus fará voltar à vida os mortos que</p><p>estavam dormindo nas sepulturas, uma tese presente nas crenças cristãs.</p><p>Não é esse o sentido dos ensinamentos, pois, ao chamar o espírito dos</p><p>mortos, diz para virem dos quatro ventos, o que quer dizer de lugares</p><p>diversos.</p><p>Judeus e cristãos religiosos, embora não creiam do mesmo modo, aceitam</p><p>o dogma da ressurreição da carne. Acreditar que a alma de um morto</p><p>poderia voltar a entrar de novo no antigo corpo signi�ca admitir ao menos</p><p>um renascimento. A questão discutida é que, na ressurreição da carne, a</p><p>alma usa o mesmo corpo, o que exigiria um ato mágico do Criador para</p><p>juntar pedaços dos antigos cadáveres. No renascimento sucessivo, tudo se</p><p>passa segundo as leis naturais. A alma entra em outro corpo gerado na</p><p>mulher e nasce naturalmente, seguindo o movimento progressivo e</p><p>inteligente do Universo. Qual das hipóteses parece mais em harmonia com a</p><p>sabedoria do Eterno e a lógica do Universo? Cada um chegue à própria</p><p>conclusão.</p><p>A aparição de Moisés e Elias,207 já mortos, quando vieram visitar o Cristo</p><p>antes de sua prisão, ensina que os que já morreram continuam bem vivos do</p><p>outro lado. A parábola do rico e Lázaro208 também aponta no mesmo</p><p>sentido, com o milionário se vendo em apuros no inferno, logo depois da</p><p>morte. Lázaro goza da alegria de estar vivo nos céus, ao lado de Abraão,</p><p>outro homem que já havia morrido,209 mas que continuava existindo nas</p><p>regiões invisíveis. Exemplos bíblicos de vivos depois da morte não faltam. As</p><p>Vs. 9. E ele me disse: Profetiza ao espírito,</p><p>profetiza, ó �lho do homem, e dize ao espírito:</p><p>Assim diz o Senhor Deus: Vem dos quatro</p><p>ventos, ó espírito, e assopra sobre estes mortos,</p><p>para que vivam.</p><p>passagens con�rmam que os mortos, na verdade, são levados a outra</p><p>condição existencial. Nesse lugar, em geral, possuem um corpo etéreo e</p><p>vivem como os anjos.210 As próprias Escrituras ensinam o princípio de que</p><p>todos continuaremos vivendo depois da morte física se já tivermos</p><p>consciência da condição de que somos eternos.</p><p>Não há passagem bíblica que aponte o Eterno como agente direto da vida,</p><p>como se as pessoas não tivessem individualidade e não passassem de</p><p>fantoches do Criador. Os homens são lampejos da própria divindade.</p><p>Portanto, ao dizer que o espírito entrou nos corpos prontos, as Escrituras</p><p>profetizam que as almas voltariam a viver na carne, pois o ensinamento do</p><p>oráculo é a respeito de retornar à vida na Terra os israelitas que já haviam</p><p>utilizado aqueles corpos.</p><p>Há os que dizem que ocupariam o mesmo corpo que tiveram em vida,</p><p>mas isso não está escrito no texto. O simbolismo da narrativa indica que</p><p>Deus geraria carnes, nervos e peles. Não estaríamos diante do renascimento</p><p>da alma, através de uma nova encarnação? A lógica diz que sim! É isso o que</p><p>ocorre quando a alma volta ao corpo carnal, uma ação que não contraria</p><p>nenhuma lei da natureza, uma vez que a mulher foi chamada mãe de todos</p><p>os viventes.211</p><p>Vs. 10. E profetizei como ele me deu ordem;</p><p>então o espírito entrou neles, e viveram, e se</p><p>puseram em pé, um exército grande em</p><p>extremo.</p><p>Os ossos secos representam a casa de Israel, diz o Eterno, com toda a</p><p>clareza. Não resta dúvida nessa a�rmativa. Ora, a casa de Israel não poderia</p><p>ser constituída de ossos, pois ossos, por si mesmos, não possuem vida. Falta-</p><p>lhes a carne, os nervos, peles e tudo o que constitui o corpo, mas sobretudo a</p><p>alma. Ela é justamente o elemento que impede o homem de produzir vida</p><p>arti�cialmente. Assim, a casa deIsrael não é constituída de ossos secos, mas</p><p>de um certo número de almas, que serão novamente trazidas à vida terrena,</p><p>seja por um ato miraculoso de Deus, criando corpos com restos de antigos</p><p>defuntos, como acreditam os cristãos, seja por meio da encarnação em</p><p>organismos gerados da conjunção do homem com a mulher, cumprindo a</p><p>primeira das determinações do Eterno.212</p><p>Na época de Ezequiel, Judá se encontrava cativo na Babilônia (598-538</p><p>a.C.). O povo estava sem esperança, em torno das promessas que Deus havia</p><p>feito às gerações passadas. Sentiam-se cortados da herança, tantas vezes</p><p>anunciada. Nada havia acontecido até esse tempo. Era como se a casa de</p><p>Jacó estivesse morta. O oráculo do Vale de Ossos Secos também pretendia</p><p>restaurar o ânimo de Judá, dizendo que seria reconduzido de volta à vida</p><p>cotidiana em Jerusalém, como de fato ocorreu. A promessa não se limitava</p><p>apenas aos vivos, oprimidos na Babilônia, mas também aos que já haviam</p><p>perecido sem ver o seu cumprimento.</p><p>Vs. 11. Então me disse: Filho do homem, estes</p><p>ossos são toda a casa de Israel. Eis que dizem:</p><p>Os nossos ossos se secaram, e pereceu a nossa</p><p>esperança; nós mesmos estamos cortados.</p><p>Não havia condições intelectivas para que Deus ensinasse a respeito da</p><p>existência da alma, da vida no além-túmulo, da volta da alma à dimensão</p><p>física e muitos outros ensinos que viriam no futuro. Por isso, o oráculo</p><p>termina dizendo, com toda a clareza, que as sepulturas seriam abertas, ou</p><p>seja, o mundo dos mortos, para trazer de lá as pessoas pertencentes à nação</p><p>de Israel, tendo em vista a chegada do reino de Deus. O oráculo das Duas</p><p>Varas, que �naliza o capítulo 37, como veremos adiante, con�rma que a</p><p>profecia tinha duplo sentido: o de confortar Judá e o de exortá-lo a ter fé nas</p><p>providências divinas, instruindo Israel sobre o futuro da casa de Jacó.</p><p>A parábola do Vale de Ossos Secos está em acordo com outros trechos,</p><p>onde o Eterno diz que traria de volta as ovelhas dispersas em outras</p><p>nações.213 Se o sentido literal absoluto for considerado, teríamos uma</p><p>espécie de ressurreição em todos os lugares onde houvesse corpos de judeus</p><p>enterrados. É evidente que uma proposta dessa natureza não encontra</p><p>Vs. 12. Portanto profetiza, e dize-lhes: Assim diz</p><p>o Senhor Deus: Eis que abrirei os vossos</p><p>sepulcros, e vos farei subir das vossas</p><p>sepulturas, ó povo meu, e vos trarei à terra de</p><p>Israel.</p><p>Vs. 13 e 14. E sabereis que eu sou o Senhor</p><p>quando eu abrir os vossos sepulcros e vos �zer</p><p>subir das vossas sepulturas, ó povo meu. E</p><p>porei em vós o meu Espírito, e vivereis, e vos</p><p>porei na vossa terra; e sabereis que eu, o</p><p>Senhor, disse isto, e o �z, diz o Senhor.</p><p>abrigo na ciência nem entre pessoas sensatas. Não seria mais razoável</p><p>admitir que as almas dos israelitas tenham renascido em famílias</p><p>provenientes de judeus e mesmo de gentios? Certamente a encarnação das</p><p>almas pelo processo natural é a escolha acertada.</p><p>O Espírito de Deus estará entre os povos quando for retirado o espírito do</p><p>mundo.214 A vida a que se refere o versículo não é a do corpo, mas é a vida</p><p>eterna, a consciência da própria eternidade que todos experimentarão pelo</p><p>restabelecimento da comunhão com Deus. A vida eterna anunciada pelo</p><p>Cristo não é um lugar, mas um estado de espírito. O Vale de Ossos Secos</p><p>não deixa nenhuma dúvida de que, ou saindo dos túmulos, ou renascendo</p><p>em corpos novamente gerados, as almas dos israelitas vão, sim, voltar a viver</p><p>de novo. Isso é encarnação, renascimento!</p><p>O renascimento contínuo da alma é uma lei natural. É a chave mestra do</p><p>entendimento das Escrituras Sagradas e da ciência de Deus, porque insere o</p><p>homem no contexto existencial do Universo. Somente através das mesmas</p><p>gerações de almas, que se sucedem na experiência cotidiana, é possível</p><p>aperfeiçoar a humanidade, tirando da vida os naturais equívocos. Não há</p><p>nenhum versículo bíblico que apresente restrição a se pensar dessa maneira.</p><p>A parábola das Duas Varas</p><p>Nesta ocasião, Judá dizia respeito ao reino do sul e José representava a</p><p>casa de Israel, o reino do norte. O Senhor ordena a Ezequiel que tome dois</p><p>pedaços de madeira e escreva neles os nomes das duas casas de Jacó, um</p><p>nome em cada pedaço. É a principal profecia que trata da uni�cação das</p><p>doze tribos para cumprir seu indispensável papel de orientar o futuro</p><p>da</p><p>humanidade. Durante os milênios de história, Deus preparou as almas dessa</p><p>nação para serem as lideranças entre os povos, no estabelecimento do Reino,</p><p>após as graves ocorrências do Apocalipse. A instrução também é cercada de</p><p>simbologia profética.</p><p>Vs. 15 e 16. E outra vez veio a mim a palavra do</p><p>Senhor, dizendo: Tu, pois, ó �lho do homem,</p><p>toma um pedaço de madeira e escreve nele:</p><p>Por Judá e pelos �lhos de Israel, seus</p><p>companheiros. E toma outro pedaço de</p><p>madeira, e escreve nele: Por José, vara de</p><p>Efraim, e por toda a casa de Israel, seus</p><p>companheiros.</p><p>Não há incerteza, no tocante ao conteúdo dos versículos. Eles con�rmam</p><p>o movimento de Deus em torno da uni�cação das casas de Jacó. A maior</p><p>parte dessas almas está vivendo entre judeus e cristãos. A união se dará nos</p><p>tempos do �m, no seu decorrer ou período posterior.215 A junção das casas</p><p>acontecerá por ação divina, diante de novas revelações que serão feitas por</p><p>meio dos mesmos profetas de outrora, que serão levantados para cumprir</p><p>missões. José, no Egito, ao se casar com a �lha do sacerdote Potífera,216 deu</p><p>início à geração da descendência que, mais tarde, seria a marca dos israelitas</p><p>dispersos no planeta.</p><p>A expressão “�lhos de Israel” assinala almas lançadas entre as nações.</p><p>Vs. 17 a 20. E ajunta um ao outro, para que se</p><p>unam, e se tornem uma só vara na tua mão. E</p><p>quando te falarem os �lhos do teu povo,</p><p>dizendo: Porventura não nos declararás o que</p><p>signi�cam estas coisas? Tu lhes dirás: Assim diz</p><p>o Senhor Deus: Eis que tomarei a vara de José</p><p>que esteve na mão de Efraim, e a das tribos de</p><p>Israel, suas companheiras, e as ajuntarei à</p><p>vara de Judá, e farei delas uma só vara, e elas</p><p>se farão uma só na minha mão. E as varas,</p><p>sobre que houveres escrito, estarão na tua</p><p>mão, perante os olhos deles.</p><p>Vs. 21. Dize-lhes, pois: Assim diz o Senhor Deus:</p><p>Eis que tomarei os �lhos de Israel dentre os</p><p>gentios, para onde eles foram, e os congregarei</p><p>de todas as partes, e os levarei à sua terra.</p><p>Refere-se estritamente à casa de Israel, representada no oráculo por José e</p><p>Efraim. Não se dirige a Judá. O estado de Israel possui um movimento</p><p>político chamado sionismo, que defende, entre outras coisas, a manutenção</p><p>da identidade judaica e a soberania da nação israelita. Estimulam o retorno</p><p>dos judeus ou descendentes, que nasceram ou moram fora do país. Em</p><p>tempo devido, entenderão que há judeus entre gentios e que há gentios entre</p><p>judeus.</p><p>O Israel bíblico seria formado apenas por judeus e seus descendentes</p><p>biológicos? Diante da eternidade das almas, do renascer contínuo e do</p><p>projeto do Eterno para tornar o planeta um mundo civilizado, a resposta só</p><p>poderia ser não. O Criador escolheu um grupo de almas na casa de Jacó</p><p>para o desempenho de funções na implantação da nova civilização. As</p><p>lideranças estão marcadas pela história bíblica e farão parte da vida futura,</p><p>sendo levantadas em face das tribulações a que o mundo ainda deverá</p><p>passar. Não importa serem judeus, descendentes ou gentios. As diferenças</p><p>entre as almas existem apenas em relação às funções estipuladas pelo Eterno,</p><p>além do papel que cada uma desempenha no contexto da vida coletiva.</p><p>A ciência de Deus nos faz entender melhor os atuais mecanismos da vida.</p><p>A alma de um gentio, por exemplo, pode ser a de um judeu com verdadeiro</p><p>vínculo com o Eterno. O contrário é igualmente verídico. Há judeus cujas</p><p>almas são de in�éis, daí haver, entre eles, descrentes, ímpios e ateus, como</p><p>nos demais povos. Essa realidade foi apresentada pelo apóstolo Paulo</p><p>tratando da diferença entre a circuncisão do corpo e a do coração.217</p><p>Gentios, com almas de israelitas, são pessoas que sentem grande amor por</p><p>Israel e que, na intimidade, possuem desejo de voltar à sua pátria. Rabinos</p><p>judeus, que admitem o renascimento incessante das almas, a�rmam que</p><p>pessoas com tais sentimentos são israelitas que renasceram em famílias</p><p>gentias.</p><p>Outro ponto a ser considerado é a expressão “dentre os gentios”,</p><p>encontrada no versículo 21. Deus teria dito que buscaria as ovelhas</p><p>desgarradas no meio dos gentios ou falava de gentios que eram ovelhas</p><p>perdidas? Por que não usou a expressão “em outras nações”, como fez em</p><p>diversas passagens? A resposta é simples: as ovelhas perdidas eram gentios</p><p>com almas israelitas. Seriam os cristãos? Tudo indica que sim! No entanto,</p><p>não se quer com isso atestar que todos os cristãos são �lhos de Israel.</p><p>Multidões se ajuntaram à fé cristã sem ter nenhum vínculo com a palavra do</p><p>Eterno.</p><p>Bom número de almas israelitas está vivendo como gentios, em diferentes</p><p>nações, cumprindo missões especí�cas sem o saber. Elas atuam nos mais</p><p>diversos campos da experiência humana, incentivando o progresso,</p><p>desvendando a ciência, amparando necessitados e praticando a justiça. Não</p><p>é de modo algum necessário que estejam sendo guiadas por religiões. No</p><p>tempo aprazado por Deus, premidas pelas circunstâncias apocalípticas,</p><p>todas essas almas serão despertas.</p><p>Uma nova nação será levantada pelo Eterno nos montes de Israel, depois</p><p>dos terríveis acontecimentos do Apocalipse. Isso quer dizer que, durante a</p><p>crise do �m do mundo, o atual Estado de Israel será profundamente</p><p>transformado. As profecias de Isaías, Daniel e do Cristo dão a entender que</p><p>Vs. 22 e 23. E deles farei uma nação na terra,</p><p>nos montes de Israel, e um rei será rei de todos</p><p>eles, e nunca mais serão duas nações; nunca</p><p>mais para o futuro se dividirão em dois reinos.</p><p>E nunca mais se contaminarão com os seus</p><p>ídolos, nem com as suas abominações, nem</p><p>com as suas transgressões, e os livrarei de</p><p>todas as suas habitações, em que pecaram, e</p><p>os puri�carei. Assim eles serão o meu povo, e</p><p>serei o seu Deus.</p><p>a Grande Tribulação terá início com agressões bélicas ao país, que é uma</p><p>ilha de democracia, cercada de regimes autoritários. Seus inimigos</p><p>históricos permanecem à sua volta com outras roupagens.</p><p>A parábola das Duas Varas revela que um rei será rei sobre o povo, quer</p><p>dizer, o governo de Israel voltará a ser como nos tempos antigos, em que os</p><p>governantes eram levantados por Deus, através dos profetas. Na época atual,</p><p>o país é administrado por sistemas políticos iguais aos de outras nações,</p><p>onde o estado é laico. A instrução fala ainda de almas degeneradas, que</p><p>seriam incorporadas a Israel. Elas seriam limpas da idolatria e de</p><p>abominações cometidas ao longo da história, quando estiveram entre povos</p><p>ímpios. Não há outras almas israelitas que se degeneraram, a não ser as que</p><p>pertenciam às tribos do norte. São essas almas as ovelhas perdidas da casa</p><p>de Israel.</p><p>O anúncio é claro. A alma que animou Davi no passado será levantada</p><p>por Deus como um novo líder do povo Israel. Ele terá outro nome, um novo</p><p>corpo, mas fará o que determinar o Eterno. O antigo pacto de Deus com a</p><p>casa desse servo, de onde nasceu o Messias, será cumprido. O restaurado</p><p>Israel passará a ser guiado pelo Eterno e todos guardarão e observarão os</p><p>preciosos juízos, estatutos e mandamentos, revelados nas Escrituras. Pela</p><p>palavra anunciada, a alma de Davi, o antigo rei, e sua casa serão</p><p>Vs. 24 e 25. E meu servo Davi será rei sobre</p><p>eles, e todos eles terão um só pastor; e andarão</p><p>nos meus juízos e guardarão os meus</p><p>estatutos, e os observarão. E habitarão na terra</p><p>que dei a meu servo Jacó, em que habitaram</p><p>vossos pais; e habitarão nela, eles e seus �lhos,</p><p>e os �lhos de seus �lhos, para sempre, e Davi,</p><p>meu servo, será seu príncipe eternamente.</p><p>encarregados da unidade do povo, enquanto a vida durar na Terra.</p><p>Junto ao antigo Davi, outros membros dessa casa218 estarão reunidos para</p><p>recompor a ordem coletiva, destruída no Apocalipse. Serão cuidadores de</p><p>Israel e mentores das ações que vão transformar o mundo do triste estado de</p><p>miséria em que se encontra para um esplendor de crescimento jamais</p><p>imaginado.</p><p>Devido ao limitado entendimento das almas, quase todo o tempo o</p><p>Eterno esteve em atrito com a casa de Israel. A promessa de paz entre Deus e</p><p>seu povo será de�nitiva. Ele desempenhará a missão, conforme previsto no</p><p>projeto da civilização. Israel vai se desenvolver ainda mais, cada “tribo” com</p><p>suas peculiaridades, sendo acrescentadas outras almas, uma vez que nem</p><p>todas se encontram no lado visível. Há uma ação conjunta nas duas</p><p>dimensões da vida. O santuário, posto no meio deles, para sempre, é a</p><p>presença do Eterno nas suas mentes. Não será um templo físico, mas o</p><p>próprio povo, o santuário do Deus vivo. Os homens são templos do Eterno.</p><p>Con�rma a profecia de um mundo novo, dizendo que o espírito de Deus</p><p>estará no meio do povo Israel, seu verdadeiro tabernáculo. O Cristo ensinou</p><p>que o Logos divino e o Eterno viriam fazer morada nos corações, agora livres</p><p>do cativeiro das trevas.219 A instrução demonstra o elevado estado de</p><p>Vs. 26. E farei com eles uma aliança de paz; e</p><p>será uma aliança perpétua. E os estabelecerei,</p><p>e os multiplicarei, e porei o meu santuário no</p><p>meio deles para sempre.</p><p>Vs. 27. E o meu tabernáculo estará com eles, e</p><p>serei o seu Deus e eles serão o meu povo.</p><p>espírito desses israelitas, em comunhão direta com o Criador, sem que</p><p>necessitem de intermediários.</p><p>Dizer que as demais nações saberão que o Eterno é o Senhor, que reina</p><p>soberano sobre o planeta e a Criação, indica que sucederá uma verdadeira</p><p>conscientização em torno das verdades eternas, reveladas por Israel. As leis</p><p>divinas serão os alicerces de�nitivos para edi�car o futuro dos homens. As</p><p>nações vão se mover gradualmente do atual estado de ingenuidade para o</p><p>reino da luz e sabedoria. Os homens serão orientados, não por normas</p><p>religiosas, mas pelas leis naturais, que precisam ser observadas, tendo em</p><p>vista a preservação do meio ambiente e das relações entre os povos e</p><p>indivíduos. O conhecimento da Verdade libertará, disse o Cristo. Não</p><p>poderá haver outra verdade, senão as leis que regem a Criação. Quem tiver</p><p>ouvidos de ouvir, que ouça!</p><p>__________</p><p>186 | 2 Samuel 23.1-4; Isaiás 11.1-16.</p><p>187 | Ezequiel 36.21-28</p><p>188 | 2 Samuel 1.17-27; 2.7.</p><p>189 | 2 Samuel 3.1.</p><p>190 | 2 Samuel 5.1-3.</p><p>191 | 2 Samuel 23.3,4</p><p>192 | Salmos 89.1-4</p><p>193 | Salmos 89.18-21,26-29</p><p>194 | Ezequiel 1.1-3.</p><p>195 | Mateus 23.4.</p><p>196 | 1 Pedro 4.17.</p><p>197 | Salmos 37.9,22,34; 2 Pedro 2.18-25.</p><p>198 | Isaías 27; João 15.1-7.</p><p>199 | Esdras 1.</p><p>200 | Igrejas cristãs defendem a tese de que haverá um período denominado “reino milenar de Cristo” que ocorrerá após os eventos</p><p>apocalípticos. Segundo esta tese, o messias descerá dos céus, em pessoa, e reinará na Terra com a igreja ressurreta por mil anos.</p><p>201 | Apocalipse 8.13; 14.6.</p><p>202 | Corinto é uma cidade da região do Peloponeso, na Grécia. Nos dias de Paulo, abrigou a igreja de Corinto, de acordo com o</p><p>livro Atos dos Apóstolos, fundada na segunda viagem missionária de Paulo (50 a 52 da era comum). O apóstolo chegou à</p><p>cidade depois de ter visitado Atenas. Como a cidade era cosmopolita, Paulo tinha a expectativa de estabelecer um importante</p><p>ponto de apoio à divulgação da sua doutrina. Ao contrário do que esperava, Corinto foi uma comunidade cheia de sábios</p><p>Vs. 28. E os gentios saberão que eu sou o</p><p>Senhor que santi�co a Israel, quando estiver o</p><p>meu santuário no meio deles para sempre.</p><p>desobedientes que trouxeram muitos problemas ao apóstolo, cuja correspondência faz parte do cânon do Novo Testamento, na</p><p>forma de duas epístolas: 1 Coríntios e 2 Coríntios.</p><p>203 | Paulo o denominava por corpo espiritual (1 Coríntios 15.44).</p><p>204 | Gênesis 2.7; Jó 34.15; Salmos 103.14; Eclesiastes 12.7.</p><p>205 | Salmos 8.</p><p>206 | Eclesiastes 12.7; João 3.6.</p><p>207 | Mateus 17.3; Marcos 9.4; Lucas 9.30.</p><p>208 | Lucas 16.19-31.</p><p>209 | Gênesis 25.7,8.</p><p>210 | Mateus 22.29,30.</p><p>211 | Gênesis 3.20.</p><p>212 | Gênesis 2.24.</p><p>213 | Deuteronômio 30.3; Ezequiel 6.9; Isaías 66.20; Jeremias 29.14.</p><p>214 | Levítico 26.12; João 14.23.</p><p>215 | Daniel 8.14; 12.11,12; Apocalipse 11.3; 12.6.</p><p>216 | Gênesis 41.50.</p><p>217 | Deuteronômio 10.16; Jeremias 4.4; Romanos 2.25-29.</p><p>218 | 2 Samuel 23; 1 Crônicas 22.</p><p>219 | Jeremias 31.33; João 14.23.</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Não há qualquer teoria capaz de explicar o sentido inteligente das</p><p>Escrituras Sagradas. Entre os judeus, a interpretação, apesar de rica em</p><p>sabedoria, resvala para o exclusivismo biológico, com o Eterno escolhendo</p><p>uma das raças a bel-prazer para fazer dela uma nação diferente, dando-lhe</p><p>supremacia sobre as demais. Certamente seria uma injustiça diante da</p><p>esperada perfeição do Criador. No cristianismo as teses nascidas dos</p><p>documentos que compõem o cânon do Novo Testamento, ainda que</p><p>apresentem princípios verdadeiros acerca do Deus de Israel, os intérpretes</p><p>deram origem às mais descabidas hipóteses a respeito das grandes questões</p><p>da vida.</p><p>O que é mais grave é que os indivíduos que formularam a teologia</p><p>católica, nos primeiros séculos, continuam vivendo no cenário terreno,</p><p>renascidos como teóLogos, padres e pastores, sustentando os mesmos pontos</p><p>de vista do passado. Para os homens de ciência, o mundo do Deus das</p><p>Escrituras mostra-se como um ambiente de disparates, fantasias e, por vezes,</p><p>fanatismo, uma visão gerada pelo atraso intelectual que permanece na</p><p>teologia cristã dos nossos dias, com conceitos baseados em dogmas criados</p><p>nos três primeiros séculos da era comum. É tempo de surgir um novo</p><p>pensamento relacionado ao Eterno Deus, que possa falar à inteligência dos</p><p>homens, despertando o desejo de andar em harmonia com as leis básicas da</p><p>natureza, pois somente o conhecimento primordial a respeito do Universo</p><p>poderá dar sustentabilidade à existência da civilização.</p><p>É preciso deixar de lado as utopias para adentrarmos no âmbito da ciência</p><p>de Deus, entendendo o ciclo existencial das coisas, a origem, vida e morte</p><p>dos seres vivos. O renascimento sucessivo das almas é uma lei fundamental,</p><p>sem a qual não se pode entender o movimento progressivo do Universo.</p><p>Todas as coisas se modi�cam, impulsionadas pela lei do progresso. Para se</p><p>entender a presença dos seres vivos no �uxo do aprimoramento universal,</p><p>faz -se necessário inseri-los continuamente no cenário, principalmente se</p><p>considerarmos que eles têm alma.</p><p>O princípio do renascimento contínuo da alma depõe contra o que está</p><p>estabelecido nas Escrituras? Absolutamente, não! Ao contrário, dá sentido</p><p>lógico às revelações de Deus e situa os homens no seu verdadeiro lugar,</p><p>como �lhos do Altíssimo, dotados de eternidade, imortalidade, sabedoria,</p><p>virtudes e demais quali�cativos, próprios dos deuses. Isso não é</p><p>maravilhoso? Sim! Como optar por uma vida que se consome em menos de</p><p>100 anos diante da perspectiva de se viver muitas vidas ou eternizar-se,</p><p>conforme as promessas do Criador? Não há nenhum argumento razoável</p><p>para se colocar contra o princípio do renascimento das almas, que digni�ca,</p><p>engrandece e diviniza o Ser.</p><p>O homem é uma alma, o sopro do Eterno, que deu origem à sua</p><p>existência exterior. É uma consciência individualizada. O corpo é a roupa</p><p>que veste a alma, enquanto existe �sicamente na área visível da Criação.</p><p>Durante sua vida física, o homem possui uma natureza terrena e outra</p><p>transcendental. Pela natureza humana, goza das coisas terrenas. Com o</p><p>transcendente, mantém-se ligada às regiões invisíveis, de onde recebe</p><p>sabedoria, vida e eternidade. A alma que já atingiu o reino da luz, que</p><p>retomou sua eternidade, está sempre em comunhão com o Criador, o que a</p><p>mantém liberta do poder ilusório do mundo. Quando a natureza carnal</p><p>predomina na personalidade, o indivíduo tem atitudes insanas, gerando</p><p>sofrimentos a ele e às demais pessoas.220</p><p>O corpo físico é o vestuário que a alma recebe do Eterno para existir na</p><p>Criação, se aperfeiçoar, construir o futuro e desfrutar de todas as coisas que</p><p>convém.221 Para usufruir uma vida plena, é preciso que o indivíduo esteja</p><p>em harmonia com as diretrizes da Criação, que são as leis de Deus. É assim</p><p>que o homem deixa de ser mortal e passa a ter consciência de sua</p><p>eternidade.222 A alma torna-se capacitada a existir no mundo visível ou em</p><p>qualquer outra dimensão do Universo.</p><p>Com a posse da eternidade, o homem não vive mais em con�itos</p><p>internos, pois observa as leis naturais da vida.</p><p>Os embates entre a alma e o</p><p>seu Criador nascem da baixa condição evolutiva do planeta e da pouca</p><p>experiência de boa parte da população mundial, o que gera sofrimentos. O</p><p>mundo terreno ainda é um ambiente de vivências difíceis, provas e</p><p>tribulações. Com a chegada do reino de Deus, porém, esse longo período de</p><p>dores e equívocos terá �m. É evidente que sempre houve esforços no sentido</p><p>de erradicar a miséria e injustiça, mas, destituídos dos fundamentos eternos,</p><p>essas mobilizações fracassam, sendo insu�cientes para modi�car, de modo</p><p>de�nitivo, o cenário mundial.</p><p>Até o presente tempo, os habitantes da Terra estão dominados por</p><p>interesses materiais. Vivem para o gozo de pequenos e grandes prazeres. Em</p><p>geral, as expectativas das pessoas situam-se no breve período entre o nascer</p><p>e morrer. Por isso, todos vivem um estado de agitação, de busca da</p><p>felicidade, gerando exacerbado egoísmo. Pensam mais na própria felicidade</p><p>do que em fazer algo para o bem comum. Desconhecem que o egoísmo leva</p><p>a inúmeros sofrimentos. Não se pode construir o bem-estar coletivo sem</p><p>que uns se preocupem sinceramente com os demais. Ignorar o próximo ou</p><p>menosprezar as leis do Criador é cair no redemoinho vicioso do engano.223</p><p>Nos dias atuais, o clima de transgressão se expande incessantemente, como</p><p>uma nuvem de desgraças que gradualmente chega a todas as nações.</p><p>O povo a quem Deus falou por meio de Moisés tem a tarefa de apontar os</p><p>caminhos a serem seguidos, de maneira que todas as di�culdades do</p><p>período pós-apocalíptico possam ser superadas. Embora com raízes nos</p><p>tempos de Adão, pode-se dizer que esse povo iniciou sua formação a partir</p><p>de Abraão. O Eterno disse ao patriarca que multiplicaria sua descendência</p><p>como as estrelas, e que, por ela, seriam benditas todas as nações.224 Não se</p><p>pode entender a formação e expansão desse povo, seu aperfeiçoamento e</p><p>instrução, sem considerar a lei do renascimento contínuo. O mesmo se</p><p>aplica às demais almas viventes que constituem as nações do planeta. A lei</p><p>do renascer incessante se aplica a todos os seres vivos, evidentemente.</p><p>A formação das doze tribos de Israel, sua dispersão e ajuntamento,</p><p>somente têm sentido lógico se o Eterno estiver tratando com um mesmo</p><p>grupo de almas. De outro modo, não haverá vínculos entres as gerações e</p><p>somente uma geração poderia desfrutar do mundo vindouro, o que seria</p><p>injusto com as que viveram no passado. Entre acreditar que os defuntos vão</p><p>sair dos túmulos ou que as almas voltarão a nascer de novo, animando</p><p>outros personagens do cotidiano, sem dúvida, a resposta é o renascimento.</p><p>Sem o viver sucessivo, nem mesmo as promessas do Criador seriam</p><p>verdadeiras, uma vez que algumas, aparentemente, não se cumpriram. Por</p><p>exemplo: Deus prometera aos cativos do Egito que entrariam em Canaã e</p><p>desfrutariam da terra que manava leite e mel. Eles não entraram e nem</p><p>Moisés pode fazê-lo.225 O que até agora parecia sem explicação pode ser</p><p>bem entendido, considerando que as almas dos que pereceram no deserto se</p><p>levantaram gerações à frente, na sua descendência biológica.</p><p>O renascimento progressivo e contínuo das almas é a chave que esclarece</p><p>a lógica das Escrituras, a existência e história do povo Israel, a missão do</p><p>Cristo e o árduo trabalho dos profetas e apóstolos em conduzir o rebanho.</p><p>Entende-se, assim, que o processo civilizatório da humanidade se</p><p>fundamenta na ação benfazeja e criativa dos mais experimentados. No caso</p><p>do mundo terreno, esses personagens pertencem às doze tribos de Israel e se</p><p>encontram espalhados pelas nações.226 Cumprem missões nos mais</p><p>diferentes setores da vida. Pode-se a�rmar que as inteligências que se</p><p>sobressaem na história, fazendo descobertas na ciência para melhoria da</p><p>vida coletiva, pertencem a essa classe de almas, independentemente de sua</p><p>origem biológica, pois a descendência abraâmica não depende do corpo.</p><p>Nos tempos de Salomão, depois da sua morte, o povo hebreu se</p><p>dividiu.227 Jeroboão passou a reinar entre dez tribos, ao norte, que tomou</p><p>para si o nome de Israel. Roboão, �lho de Salomão, permaneceu no sul,</p><p>governando Judá e Benjamim, que eram tribos consideradas leais ao Eterno</p><p>e que deram origem aos atuais judeus. A divisão das dozetribos foi prevista</p><p>pelo profeta Aias, como resultado da conduta de Salomão, que se deixou</p><p>envolver com os deuses de suas mulheres. As Escrituras relatam que,</p><p>estranhamente, era esse o propósito do próprio Deus,228 o que mostra que,</p><p>em todas as circunstâncias, parece se cumprir o plano do Criador.</p><p>No norte as dez tribos se degeneraram e passaram a ser tidas por in�éis.</p><p>Envolveram-se com povos considerados pagãos, idólatras e seus deuses. Por</p><p>desobediência foram lançadas em nações longínquas, conforme previsto no</p><p>livro Deuteronômio e demais referências.229 As tribos perdidas da casa de</p><p>Jacó mais tarde seriam resgatadas pelo Eterno.230 Jesus, o �lho de José,</p><p>ungido do Altíssimo, veio cumprir uma missão de duplo caráter: salvar os</p><p>irmãos dispersos e a própria humanidade, dando início à ressurreição dos</p><p>povos. As almas dispersas seriam encontradas, puri�cadas e trazidas de</p><p>volta à terra da promessa.231 Esta é a linha geral da história contada nas</p><p>Escrituras hebraicas e que, de modo algum, deve ser entendida</p><p>separadamente das esperanças contidas no Novo Testamento. Se nele houver</p><p>algum princípio que foge à diretriz fundamental, chamada reino de Deus, tal</p><p>ensinamento deve ser deixado de lado.</p><p>O Cristo iniciou a busca e o resgate das almas dispersas, consideradas</p><p>desgarradas do rebanho original. Outro homem foi incumbido de dar</p><p>seguimento a essa busca. Saulo de Tarso era um rabino judeu, da tribo de</p><p>Benjamim, perseguidor dos cristãos, a quem acusava de serem inimigos de</p><p>Moisés. Convocado por Jesus, passou a chamar-se Paulo, sinalizando que o</p><p>caminho com o Cristo demandaria mudanças pessoais profundas. Tornou-</p><p>se porta-voz da notícia redentora, destinada a todos os povos, mas</p><p>especialmente às ovelhas perdidas da casa de Israel.232</p><p>Em suas viagens, Paulo falava a todos os homens,233 mas procurava em</p><p>primeiro lugar as sinagogas, de modo a encontrar membros das tribos que</p><p>se dispersaram. O nascer da igreja cristã, no mundo ocidental, é obra do</p><p>Eterno. É destinada a congregar as ovelhas perdidas, além de ajuntar outras,</p><p>que não seriam do mesmo aprisco.234 Sendo assim, pela lei do renascimento</p><p>sucessivo, entende-se que signi�cativa parte dos cristãos é, na verdade,</p><p>constituída de almas judias, vivendo como os gentios. Por isso, os cristãos,</p><p>no tocante à religiosidade e modo de viver, são parecidos com os israelitas</p><p>degenerados da antiga Samaria. Judeus e cristãos são, em verdade, uma</p><p>mesma família. Está dividida por ordem do Eterno, sendo prevista,também,</p><p>sua uni�cação, nos tempos do �m. A história é previamente escrita por</p><p>Deus. Todas as coisas se cumprem como o anunciado no projeto do</p><p>Criador.235</p><p>Algumas passagens das Escrituras falam da uni�cação de Israel, o</p><p>ajuntamento das casas de Jacó e a chegada do Reino vindouro. A lei do</p><p>renascimento das almas nos faz ter a certeza de que os líderes do passado</p><p>estarão de volta ao cenário humano. Serão orientadores e instrutores dos</p><p>�lhos de Abraão e da nova humanidade. É possível a�rmar que já estão</p><p>vivendo no mundo, dado o atual cenário que aponta para a proximidade do</p><p>�m.</p><p>É óbvio que não se pretende desconsiderar as demais inteligências e</p><p>lideranças, sejam do mundo político ou cientí�co, nem os preceitos e</p><p>sistemas que até aqui conduziram a vida. Tudo o que se faz é por permissão</p><p>do Eterno. No entanto, é preciso levar em conta que o sistema criado pelos</p><p>homens está exaurido e, diante do futuro, não tem muito mais a oferecer. A</p><p>lei do progresso trará uma nova ordem em todo o planeta e não há nada que</p><p>possa impedi-lo.236</p><p>Quando o renascer progressivo for um princípio concebido como lei</p><p>natural, ele dará sentido lógico à existência do homem. Todas as questões</p><p>ligadas ao nascimento, vida e morte serão esclarecidas. Sem a chave do</p><p>renascimento, que explica o inexplicável,</p><p>a Criação torna-se fenômeno</p><p>inconcludente, dando origem a crenças cegas e superstições. A suposta</p><p>destruição apocalíptica do planeta, anunciada por mentes exaltadas, não</p><p>passa de ignorância em relação aos planos de Deus e à ciência eterna. O</p><p>mundo terreno é uma das moradas da Casa do Pai.237 É um lugar de</p><p>vivências para as pessoas desfrutarem do que lhes oferece a vida natural. O</p><p>sofrimento não passa de falta de ordem, advinda do desconhecimento das</p><p>leis naturais que regem a vida.</p><p>Qual seria o motivo da possível destruição do planeta, vinda de Deus,</p><p>com escolha de um ou outro grupo religioso, para morar nos céus?</p><p>Nenhum, certamente! O mundo sofrerá uma crise sem precedentes, é</p><p>verdade. Muitas, porém, são as referências bíblicas que dizem que os mansos</p><p>herdarão a Terra, e que Israel, espalhado nas nações, voltará à sua pátria. É</p><p>sabido, pelas mesmas Escrituras, que as regiões invisíveis da morte e do</p><p>inferno serão destruídas.238 A vida orgânica, no entanto, continuará</p><p>existindo como sempre foi: nascimento, existência e morte física. O que</p><p>muda é que todos saberão que nascerão novamente, animando novos</p><p>personagens.</p><p>A humanidade seguirá avançando pela lei do progresso, transitando para</p><p>estágios cada vez mais harmônicos, segundo as leis naturais e os objetivos do</p><p>Criador. As pessoas continuarão nascendo, vivendo uma vida de plenitude e</p><p>morrendo, naturalmente, conforme profetizou Isaías. Não haverá mais</p><p>mortes prematuras e todos cumprirão seus dias.239 Qual é a di�culdade de</p><p>se admitir que, diante da morte física, o homem adormece para a vida</p><p>terrena, acorda nas dimensões invisíveis, lembra-se do passado, entende o</p><p>presente, vislumbra o futuro e, depois, volta a viver na própria descendência,</p><p>animando outro personagem? Obviamente não há nenhuma razão para o</p><p>impedimento, a não ser a de tentar manter o pensamento religioso</p><p>dominante, cuja história o desquali�ca para servir de alicerce para sustentar</p><p>a vida. Serviu a humanidade por um tempo, mas não servirá por todo o</p><p>tempo.</p><p>O renascer sucessivo das almas é a única maneira de explicar como os</p><p>homens, cuja origem é o próprio Deus, que perderam a consciência da</p><p>eternidade por ocasião do evento criativo, poderão de novo encontrá-la.</p><p>Todas serão salvas, ou seja, libertas da ignorância! Se as almas não</p><p>estivessem sujeitas ao trânsito entre as trevas e a luz, a ignorância e a</p><p>sabedoria, o mal e o bem, não haveria instrução progressiva, nem mesmo a</p><p>percepção coletiva do bem, o que geraria uma vida de injustiças. Quem</p><p>tivesse a má sorte de viver num tempo ou lugar, sem acesso ao</p><p>conhecimento de Deus, seria condenado à escuridão eterna, sem ter</p><p>nenhuma culpa. Nesse caso, Deus seria o culpado, uma vez que não cuidou</p><p>bem do mundo terreno, deixando nações inteiras sem instrução. Alguém</p><p>com um mínimo de sensatez acredita nisso? É evidente que não!</p><p>Um mundo habitado por almas conscientes das verdades eternas</p><p>encontrará um estado de felicidade sustentável. Não há outro caminho. Sem</p><p>o conceito das vidas que se sucedem, teremos uma Criação sem qualquer</p><p>sentido consistente, obra de um deus injusto, imperfeito, que, dentre outras</p><p>incoerências, condenaria seus �lhos desobedientes ao inferno sem �m. A</p><p>inteligência, que é um dom divino, instintivamente não admite que o Pai das</p><p>almas240 seja um deus injusto e ameaçador, o que, infelizmente, é anunciado</p><p>nas crenças cristãs. Foi assim que se formou um grande abismo entre ciência</p><p>e religião, originando enorme contingente de céticos, tanto de crentes, que</p><p>desprezam a ciência, como de cientistas que abominam Deus.</p><p>É tempo de mudanças nos dois lados, tanto na ciência como na religião. É</p><p>necessário surgir uma teoria coerente, com explicações racionais, de</p><p>entendimento universal, a respeito do Criador e sua magní�ca obra, o</p><p>Universo. Uma nova ciência que possa unir o material com o espiritual, algo</p><p>que seja acessível a todos os homens. Que em todo o mundo se compreenda</p><p>o quanto o Eterno Deus é bom e digno de honra, louvor e glória. Nada</p><p>funciona sem o motor do Seu poder e ação laboriosa da sua mente.</p><p>O povo a quem Deus falou por meio de Moisés é uma realidade bíblica</p><p>que não pode ser negada por qualquer indivíduo que aceite as Escrituras</p><p>como fonte de sabedoria e história. O Ungido do Eterno disse que as</p><p>revelações existentes nos Livros Sagrados não podem ser anuladas.241 As</p><p>Escrituras devem ser fonte de respostas para as graves questões da vida, que</p><p>a ciência não responde aos homens. O que havia antes do Big Bang e o que</p><p>restará depois do �m? Em linguagem mais simples: o que existia antes do</p><p>começo da Criação e o que haverá, depois do seu �m? As Escrituras</p><p>possuem seguras respostas, acessíveis a todos.</p><p>Deus separou Israel para ser o seu povo com o propósito de instruí-lo e</p><p>experimentá-lo devidamente nas múltiplas experiências, tendo em vista o</p><p>reino que seria estabelecido muito à frente dos tempos de Abraão. Todavia,</p><p>escolher uma nação para instruir as demais, ajudando-as a encontrar a paz e</p><p>a verdadeira justiça, não signi�ca que o Eterno faça acepção de pessoas, raça</p><p>ou credo. A porta da nova civilização está aberta a todos, crentes ou</p><p>descrentes, que venham se interessar pelas boas novas.242 O Criador não</p><p>gerou almas para permanecer nas trevas. Somos �lhos da luz! Todas as</p><p>almas despertarão do sono e em suas consciências saberão que são deuses e</p><p>�lhos do Altíssimo.243 Sendo assim, todos viverão plena e eternamente.</p><p>Louvado seja o Eterno Deus, de eternidade em eternidade e para sempre.</p><p>__________</p><p>220 | Gálatas 5.19-21; Provérbios 1.8-19.</p><p>221 | Deuteronômio 8.2; 2 Timóteo 2.20,21; 1 Tessalonicenses 4.4.</p><p>222 | Salmos 21.4; 121; Mateus 19.29; João 3.15; 1 Coríntios 15.53.</p><p>223 | Isaías 59.2; João 8.34; Romanos 6.6.</p><p>224 | Gênesis 22.17,18; Gálatas 3.8.</p><p>225 | Números 14.28-38; 20.12.</p><p>226 | Ezequiel 36.16-38; Apocalipse 21.14.</p><p>227 | 1 Reis 12.</p><p>228 | 1 Reis 11.29-40; 12.23-25.</p><p>229 | Levítico 26.33; Deuteronômio 30.1-10.</p><p>230 | Deuteronômio 18.1; Isaías 66.20.</p><p>231 | Ezequiel 37.15-28; 34.12-14.</p><p>232 | Jeremias 50.6; Ezequiel 34.1; Atos 11.1; Romanos 3.29; Tiago 1.1.</p><p>233 | Atos 13.45; 14.1; 16.12; 17.1-5.</p><p>234 | João 10.16.</p><p>235 | Provérbios 8.</p><p>236 | Isaías 11.1-10; Habacuque 2.14; Mateus 24; Apocalipse 11.15; 21.</p><p>237 | João 14.2.</p><p>238 | Apocalipse 20.14.</p><p>239 | Isaías 65.</p><p>240 | Hebreus 12.9.</p><p>241 | João 10.35.</p><p>242 | Isaías 40.9; 41.27; Romanos 10.15; Hebreus 4.6.</p><p>243 | Salmos 82.6.</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</p><p>BÍBLIA DE ESTUDO ALMEIDA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil,</p><p>2006.</p><p>BÍBLIA DE ESTUDO APLICAÇÃO PESSOAL. Versão Almeida Revista e</p><p>Corrigida. Edição 1995. Barueri: Grá�ca da Bíblia, 2018 [1995].</p><p>BÍBLIA DE ESTUDO SCOFIELD. Texto bíblico Almeida Corrigida Fiel.</p><p>Holy Bible. São Paulo: [s. n.], 2009.</p><p>BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova Edição Revista e Ampliada. 1. ed. São</p><p>Paulo: Paulus, 2013.</p><p>BÍBLIA HEBRAICA. São Paulo: Sêfer, 2006.</p><p>BRIGTH, John. História de Israel. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Paulus, 2003.</p><p>BROWNE, Janet. A origem das espécies de Darwin: uma biogra�a. Rio de</p><p>Janeiro: Jorge Zahar, 2007.</p><p>CALABI, Francesca. Filon de Alexandria. 1. ed. São Paulo: Paulus, 2014.</p><p>CAMPENHAUSEN, Hans Von. Os pais da Igreja. A vida e doutrina dos</p><p>primeiros teóLogos cristãos. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.</p><p>CHAMPLIN, Russel Norman. O Antigo Testamento interpretado versículo a</p><p>versículo. Vols. 1 a 5. 2. ed. São Paulo: Hagnos, 2001.</p><p>CHAMPLIN, Russel Norman. O Novo Testamento interpretado versículo a</p><p>versículo. Vols. 1 a 6. 2. ed. São Paulo: Hagnos, 2014.</p><p>EUSÉBIO DE CESAREIA. História Eclesiástica: os primeiros quatro séculos</p><p>da Igreja de Cristo. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.</p><p>FÍLON DE ALEXANDRIA. Da Criação do Mundo e Outros escritos. São</p><p>Paulo: Filocalia, 2015.</p><p>FOHRER, George. História da religião de Israel. São Paulo: Academia Cristã:</p><p>Paulus, 2012.</p><p>FRIDLIN, Jairo; GORODOVITS, David. Tanah completo. Hebraico e</p><p>Português. Texto hebraico baseado no Código de Alepo e tradução baseada</p><p>no hebraico, à luz do Talmud e das fontes judaicas. São Paulo: Sêfer,</p><p>antes do momento</p><p>inicial? Os cientistas não têm a resposta, justamente porque, antes da</p><p>explosão, existe a dimensão imaterial, na qual os parâmetros materiais não</p><p>são usados para explicação. Entra-se, assim, nas regiões do Eterno e, para</p><p>compreendê-lo, é preciso utilizar uma ferramenta que seja da mesma</p><p>natureza, o pensamento, o único instrumento investigativo no mundo das</p><p>ideias.</p><p>Se o pensamento do homem gera a vida, não é difícil concluir que o</p><p>pensamento do Criador gerou e faz progredir a Criação. Se a vida é a</p><p>existência palpável da alma, o Universo é a existência palpável do princípio</p><p>criativo, ou seja, do próprio Deus. Criador e alma são inseparáveis, pois,</p><p>além de ambos gerarem vida, movimento ou espírito, são uma unidade. A</p><p>alma é manifestação relativa do Ser Eterno. Não há como evitar que essa</p><p>unidade prossiga orientando o raciocínio inteligente e intuitivo, na busca</p><p>por entender a vida e a morte, o abstrato e o concreto, a alma e o corpo.</p><p>A simetria é perfeita. Chamemos o Criador de Eterno, como fazem os</p><p>judeus, ou de Deus, segundo os cristãos. Quem seria o Criador? O que seria</p><p>a alma? Por que fomos criados? O que é a vida? O que é a morte? Estamos</p><p>diante de um Universo criado perfeito, em constante transformação, ou</p><p>diante de uma Criação imperfeita? Na obra divina, qual o papel a ser</p><p>vivenciado pelo homem, sendo uma alma unida a um corpo? Muitas são as</p><p>questões levantadas, tendo em vista investigarmos a sorte das almas. Sem</p><p>saber a origem, a �nalidade e o motivo da vida que temos, não pode haver</p><p>paz e felicidade duradouras. Como foi dito, para se enxergar mais longe</p><p>devemos escalar o monte. No que diz respeito ao mundo abstrato, subir</p><p>signi�ca apontar o pensamento investigativo para Deus, o ponto mais alto</p><p>da Criação. Se começarmos por entender o Criador, certamente</p><p>perceberemos melhor a instrução das Escrituras Sagradas. Seus livros falam</p><p>de vida e morte, de passado, presente e futuro. Estudá-los, destituído de</p><p>preconceitos, é uma segura maneira de obtermos resposta para uma das</p><p>mais intrigantes perguntas de todos os tempos: por que nascemos, vivemos e</p><p>morremos?</p><p>Deus é chamado pelos judeus de Eterno. Qual seria a razão? A resposta é</p><p>simples: porque sempre existiu. Não pode haver algo perpétuo que tenha</p><p>sido criado. Se Deus tivesse tido início em algum momento, teria sido</p><p>gerado por outro criador. Sendo assim, não seria Deus. A Criação não teria</p><p>estabilidade se não houvesse um princípio absoluto, que sustentasse todos os</p><p>processos relativos. Se Ele não fosse uno, não haveria ordem no Universo.</p><p>Pela simples observação percebe-se a perfeita harmonia, tanto no macro</p><p>como no microcosmo, indicando um poder soberano e inteligente, emanado</p><p>do princípio primordial.</p><p>É possível entender o Criador? Não parece que tenha feito qualquer</p><p>consideração proibindo aos homens que investigassem sua íntima natureza,</p><p>a não ser pelas limitações impostas nos períodos onde predominava o atraso</p><p>cientí�co. Todos os esforços, no sentido de compreender quem é Deus e os</p><p>seus propósitos, são bem-vindos, e ninguém deve ter receio de avançar pela</p><p>porta do mundo das ideias para fazê-lo.</p><p>O Eterno, para ser deus acima de outros deuses, deve ter, nele mesmo, o</p><p>total predicado. O que signi�ca isso? Precisa ser cem por cento perfeito,</p><p>justo, sábio, misericordioso e bom. Onipresente, ou seja, estar em todos os</p><p>lugares ao mesmo tempo. Onisciente, pois deve saber de todas as coisas.</p><p>Onipotente, pois tudo deverá estar sujeito ao seu poder. Compreendemos</p><p>que o deus apresentado nas Escrituras8 é o Eterno Deus, gerador e</p><p>mantenedor do Universo visível e das regiões invisíveis da Criação, a que</p><p>sábios e profetas denominaram céus. Entende-se, assim, que o Eterno</p><p>sempre existiu e que o status de eternidade, no sentido absoluto, pertence</p><p>somente a Ele.</p><p>Considerando a eternidade de Deus, como entender a existência da alma,</p><p>uma vez que parece ser constituída da mesma substância do próprio</p><p>Criador? Na falta de vocábulo para revestir o que é abstrato, usaremos com</p><p>todas as vênias a palavra “substância”, para equiparar a essência da alma</p><p>humana à do Criador. Deus é espírito, em sua expressão criativa. Da mesma</p><p>forma, alma é espírito, em sua expressão existencial. Seriam da mesma</p><p>substância? As Escrituras a�rmam que sim!</p><p>Sendo verdade, o homem é uma consciência individualizada, gerada do</p><p>próprio Eterno para existir na Criação. O homem existe em Deus e Deus</p><p>existe no homem. Isso nos faz entender que a morte física pertence a um</p><p>fenômeno da dimensão concreta, o mundo visível, não alcançando a alma.</p><p>Então, o que ocorre quando morre o corpo? A alma continua existindo na</p><p>região que lhe é própria, o abstrato. Estava revestida de uma estrutura</p><p>corpórea que se formou desde a concepção, com o intuito de proporcionar a</p><p>existência. O corpo físico ,porém, de constituição material, tem um tempo de</p><p>existência limitado. Nasce, cresce, vive, envelhece e morre. É lei natural que</p><p>não será modi�cada, mesmo diante do progresso da ciência.</p><p>Concluímos, assim, que o homem é, na verdade, uma alma, um Ser de</p><p>natureza etérea, imortal, gerada à imagem e semelhança do Criador, para</p><p>viver experiências na região concreta da Criação, o Universo que vemos com</p><p>os olhos e sondamos com os telescópios. Como deuses inseridos na obra do</p><p>grande Deus, os homens são pequenos fragmentos do Ser absoluto e eterno,</p><p>o próprio Criador.</p><p>Ao entendermos a origem divina da alma e, por consequência, dos</p><p>homens, passamos a compreender o objetivo das instruções existentes nas</p><p>Escrituras. A �nalidade é corrigir a conduta instintiva do homem para</p><p>atingir a felicidade individual, que levará à paz coletiva. Todas as coisas</p><p>cooperam para que os homens possam encontrar a Verdade. Eles percorrem</p><p>um trajeto entre o ponto criativo até a completa execução do projeto divino.</p><p>As normas e mandamentos passam a ter relevante signi�cado para</p><p>orientação e instrução da alma.</p><p>Entendemos, portanto, que há duas dimensões existenciais: a abstrata e a</p><p>concreta, alma e corpo. A dimensão que vemos já é bem conhecida pela</p><p>ciência, porém a invisível ainda segue envolta em mistérios. A primeira, a da</p><p>alma, é sobre a segunda, a do corpo. Alma é causa do corpo, e não efeito, da</p><p>mesma maneira que Deus é causa da Criação. Não se pode enaltecer nem</p><p>menosprezar o corpo pelo que faz seu proprietário, pois ele apenas re�ete os</p><p>desejos da alma, o que evidencia cada um como responsável por seus atos. A</p><p>consciência responde pelo que fez ou deixou de fazer.9</p><p>Partindo desse entendimento, a existência deixa de ter o obscuro sentido</p><p>de se resumir apenas na vida aparente, que se desenrola entre o nascer e o</p><p>morrer, para assumir contornos mais profundos, inteligentes e eternos. O</p><p>mundo que vemos é efeito da manifestação da mente do Criador, que,</p><p>atuando no elemento primordial,10 gera a multidão de coisas criadas. A</p><p>ciência se debate para tentar explicar o motor do Universo, quer dizer, o</p><p>propulsor que o faz mover-se do primeiro instante até o momento atual. Ao</p><p>que tudo indica, a Criação seguirá como uma onda de tempo onde a</p><p>realidade concreta viaja em direção ao futuro.</p><p>A história progressiva da Criação está razoavelmente delineada pela</p><p>ciência. Pouco se sabe, porém, acerca dessa força motriz que impulsiona a</p><p>incessante transformação das coisas. Estamos imersos em um constante</p><p>movimento de energia, matéria e tempo, em marcha contínua. Mesmo</p><p>considerando alguns eventos siderais, aparentemente destrutivos,</p><p>observados em lugares distantes da imensidão cósmica, eles não passam de</p><p>ajustes feitos no barro, que toma a forma escolhida pelo oleiro, que é o</p><p>Criador.</p><p>Quando olhamos as miríades de estrelas e galáxias que se apresentam</p><p>diante de nós, vemos a imensidão da Criação frente à pequenez do homem.</p><p>A humanidade passou quase toda a história envolvida no obscuro conceito</p><p>da vida mortal e incerta, mas pode-se dizer, com considerável margem de</p><p>acerto, que é chegado o tempo de sua iluminação, do seu esclarecimento, a</p><p>partir</p><p>2018.</p><p>GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. Vols. 1 e 2. Rio de Janeiro: CPAD,</p><p>2010.</p><p>HAWKING, Stephen W. Uma breve história do tempo. 1. ed. Rio de Janeiro:</p><p>Intrínseca, 2015.</p><p>HAWKING, Stephen W. O Universo numa casca de noz. 1. ed. Rio de</p><p>Janeiro: Intrínseca, 2016.</p><p>ISAACSON, Walter. Einstein: sua vida, seu universo. São Paulo: Companhia</p><p>das Letras, 2007.</p><p>JOFFE, Lawrence. A história épica do povo judeu: um relato épico dos 4 mil</p><p>anos de história dos judeus. São Paulo: M. Books do Brasil, 2017.</p><p>JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. Rio de Janeiro: CPAD, 2019.</p><p>MORAES, Dax. O Logos em Filon de Alexandria: a fronteira entre o</p><p>pensamento grego e o pensamento cristão nas origens da teologia bíblica.</p><p>Natal: EdUFRN, 2017.</p><p>OLSON, Roger E. História da Teologia Cristã: 2000 anos de tradição e</p><p>reformas. São Paulo: Vida, 2001.</p><p>OTZEN, Benedikt. O Judaísmo na antiguidade: a história política e as</p><p>correntes religiosas de Alexandre Magno até o imperador Adriano. São</p><p>Paulo: Paulinas, 2003. (Coleção Bíblia e História).</p><p>PLATÃO. A República. São Paulo. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2014.</p><p>PLATÃO. Protágoras de Platão. Org. Daniel R. N. Lopes. 1. ed. São Paulo:</p><p>Fapesp, 2017.</p><p>RUSSEL, Bertrand. História do pensamento ocidental: a aventura dos pré-</p><p>socráticos a Wittgenstein. 3. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.</p><p>RUSSEL, Bertrand. História da Filoso�a Ocidental. Vols. I, II e III. 1. ed. Rio</p><p>de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.</p><p>SPURGEON, C. H. Bíblia de Estudos e Sermões. Curitiba: Publicações Pão</p><p>Diário, 2018.</p><p>STEINSALTZ, Adin. Talmud Essencial. São Paulo: Sêfer, 2019.</p><p>TORÁ. Edição revisada e ampliada da obra A Lei de Moisés e as Ha�arót.</p><p>São Paulo: Perspectiva, 1978.</p><p>WALTKE, Bruce K. Teologia do Antigo Testamento. 1. ed. São Paulo: Vida</p><p>Nova, 2016.</p><p>Este livro foi produzido no Rio de Janeiro pela Letra e Imagem Editora, sob o selo Fólio Digital, em</p><p>janeiro de 2022. A tipologia utilizada foi Minion Pro.</p><p>Sumário</p><p>Apresentação</p><p>Considerações iniciais</p><p>Capítulo 1. O DEUS ETERNO</p><p>Capítulo 2. PATERNIDADE DIVINA</p><p>Capítulo 3. SOIS DEUSES, E NÃO HOMENS</p><p>Capítulo 4. A VIDEIRA DE HOMENS</p><p>Capítulo 5. TODOS SOMOS UM</p><p>Capítulo 6. ETERNIDADE DOS HOMENS</p><p>Capítulo 7. O RENASCER CONTÍNUO DOS HOMENS</p><p>Capítulo 8. É DADO AO HOMEM MORRER UMA VEZ</p><p>Capítulo 9. O RETORNO DOS PROFETAS</p><p>Capítulo 10. A VOLTA DE DAVI E A CASA DE ISRAEL</p><p>Considerações finais</p><p>Referências bibliográficas</p><p>do que denominamos ciência de Deus. Nada poderá deter o</p><p>progresso.</p><p>O homem possui experiência e saber su�cientes para começar a entender</p><p>que a felicidade dos indivíduos e das nações não pode ser resultado da mera</p><p>organização material, mas do justo entendimento a respeito da origem,</p><p>razão e destino das coisas que existem. As respostas não podem estar no</p><p>produto do simples pensamento humano, nem de doutrinas políticas ou</p><p>econômicas. Em resumo, Deus, o Eterno, causa primeira de tudo, será</p><p>conhecido e entendido, diante do Seu grande propósito de tornar a Terra um</p><p>lugar de sadia vivência. O futuro acontecerá como está predeterminado pelo</p><p>agente criador. Não será como pensam os homens, cuja sabedoria não passa</p><p>do acúmulo de pontos de vista, quase sempre sem considerar a existência do</p><p>Eterno, manifesta em toda parte.11</p><p>Mandatários discutem, em todo o planeta, propostas de justiça para as</p><p>nações, tomando como base as doutrinas políticas e os sistemas econômicos,</p><p>gerados na infância da humanidade. Por isso não conseguem estabilidade</p><p>social para os países, o que faz com que a vida coletiva siga em graves</p><p>con�itos, apesar dos avanços da ciência e da tecnologia. A expansão da</p><p>população mundial e o anseio por toda espécie de direitos expuseram a</p><p>fraqueza do sistema humano, incluindo as religiões. Este ciclo está por</p><p>�ndar. A crise se agrava, e, em breve, veremos um tempo como nunca</p><p>houve, nem mais haverá.</p><p>É tempo dos homens perceberem sua insu�ciência para guiar o futuro e</p><p>encontrar novas respostas para os muitos problemas. Os fatos têm</p><p>demonstrado, insistentemente, que os métodos estão equivocados. Contra</p><p>esses fatos não há argumentos. Sem solução baseada nos reais mecanismos</p><p>que sustentam a vida, o mundo segue como um grande navio envolto em</p><p>tormenta. Os tripulantes estão perdidos, e os passageiros de nada sabem. A</p><p>maioria não tem noção do perigo, tampouco tem consciência de que a nave</p><p>pode afundar.</p><p>Por não conhecerem a verdade eterna, ou seja, as leis naturais que</p><p>regulam a Criação, as pessoas vivem sem saber a razão das coisas. Idealizam</p><p>um futuro de prosperidade e justiça que jamais será alcançado pelo atual</p><p>esforço humano. Isso somente será possível com a chegada de um estado</p><p>superior de vida coletiva, o chamado reino de Deus, que não diz respeito a</p><p>religiões. Trata-se de um diferente modo de vida para o homem, que será</p><p>de�nitivo.</p><p>Por desconhecerem os mecanismos da vida invisível, onde se encontram</p><p>os pilares da vida visível, os homens comportam-se de modo desacertado,</p><p>levando a sociedade à exaustão. Os males que virão sobre o planeta não são</p><p>um castigo do Eterno, como a�rmam as religiões, mas consequência da</p><p>ignorância do homem. O mundo é como um campo fértil. Tudo o que nele</p><p>se planta produz em abundância. No caso desta humanidade, houve plantio</p><p>da má semente. A colheita será obrigatória.12</p><p>__________</p><p>6 | ISAACSON, Walter. Einstein: sua vida, seu universo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007</p><p>7 | Considerado o ponto inicial da Criação, no qual a ciência suspeita ter começado a história do Universo. Há cerca de 14 bilhões</p><p>de anos, matéria, tempo e espaço estariam concentrados em um único ponto, sob in�nita pressão, e uma grande explosão de luz</p><p>fez com que uma densa esfera da matéria se expandisse, tornando-se cada vez mais leve e diluída, gerando um Universo em</p><p>expansão contínua, segundo os cientistas.</p><p>8 | Êxodo 3.6.</p><p>9 | Provérbios 22.8; Jeremias 31.29; Ezequiel 18; Gálatas 6.7.</p><p>10 | O elemento primordial também é variação da natureza eterna do próprio Criador e se constitui a base da matéria. Pode-se</p><p>a�rmar que a energia é a forma visível desse elemento primordial, no qual a mente divina formatou a Criação e a promove</p><p>segundo um plano predeterminado.</p><p>11 | Jó 38, 39, 40 e 41; Salmos 19; Romanos 1.19-20.</p><p>12| Ezequiel 18; Mateus 7.16; Lucas 6.43-45; Gálatas 6.8.</p><p>Capítulo 2</p><p>PATERNIDADE DIVINA</p><p>Constituição do Ser</p><p>A�rmamos anteriormente que, durante sua longa história, o homem</p><p>sempre buscou saber a razão do seu existir, principalmente porque</p><p>constatou que o tempo de duração da existência física era limitado a</p><p>algumas dezenas de anos. Muitas são as especulações e teorias a respeito do</p><p>motivo pelo qual, neste local, um pequeno grão de areia no Universo, se</p><p>desenvolveu um ambiente repleto de seres vivos, incluindo o ser humano, o</p><p>mais capacitado dos viventes. Estranho é que, até onde a ciência investigou</p><p>por sondas e robôs enviados a planetas vizinhos, não se encontrou o menor</p><p>sinal de vida orgânica em outro lugar.</p><p>É evidente que, diante da idade do Universo13 e de sua imensidão, a</p><p>ciência dos homens, apesar do progresso, ainda se acha em fase incipiente,</p><p>dando os primeiros passos de uma longa caminhada. No futuro deverá</p><p>constatar a existência de outros mundos habitados e, �nalmente, descobrirá</p><p>que o homem não está sozinho. Isso, no entanto, não resolve a questão da</p><p>origem dos seres vivos. Especulações e teorias já foram formuladas por</p><p>cientistas, �lósofos e religiosos, porém nenhuma delas tem respostas que</p><p>convençam, ao mesmo tempo, a inteligência e o bom-senso.</p><p>As fontes de informações em torno da origem da humanidade e do</p><p>motivo da existência do homem são numerosas. Respeitando todas as</p><p>proposições conhecidas, analisaremos algumas passagens das Escrituras em</p><p>busca de novas respostas que possam dar sentido à vida no planeta. Como já</p><p>foi a�rmado, a Bíblia contém um manancial inesgotável de ensinamentos</p><p>destinados a atender ao anseio do ser humano na sua busca pela verdade</p><p>relacionada às origens, tanto de si mesmo quanto do Universo. Por meio de</p><p>instruções e advertências, Deus mostrou caminhos a Israel e o que seria o</p><p>futuro da humanidade.14</p><p>O dilema da existência do homem se debate entre dois extremos: a</p><p>convicção de que o ser humano não passa de matéria falante, ponto de vista</p><p>que caracteriza o materialismo, e outro, em que se admite que o indivíduo</p><p>seja dotado de um elemento incorpóreo, designado por alma, estranho ao</p><p>ambiente terreno. A existência desse ser imaterial é a base dos conceitos da</p><p>vida transcendental,15 fundamento de quase todas as religiões.</p><p>Corpo e alma, como se vê, são duas realidades em torno das quais se pode</p><p>fazer muitas considerações, na busca por compreender a vida e a morte.</p><p>Escolhemos o conjunto de raciocínios contidos nas Escrituras hebraicas e</p><p>cristãs, pois parece indiscutível que o Criador falou não somente a Israel,</p><p>mas também às demais nações.16</p><p>É difícil sustentar a tese de que o ser humano é constituído somente do</p><p>elemento material e tocado a processos eletroquímicos, uma vez que, além</p><p>da abstração do pensamento, existe nele algo não encontrado na substância</p><p>inanimada: a vida. Ela não pode ser explicada pela ciência, a não ser quanto</p><p>à necessária organização das estruturas físicas, para que se manifeste. Se</p><p>ocorrer a desorganização de algum ponto vital da estrutura física em</p><p>questão, a vida se esvai e o corpo se deteriora. Se o homem não pode deter a</p><p>vida ou restaurá-la, mesmo depois de reparar o ponto em que desagregou o</p><p>corpo, forçoso é admitir que não existe conhecimento na ciência humana</p><p>capaz de controlar seu ir e vir. Justamente porque a vida é algo subjetivo e,</p><p>não pertencendo ao mundo físico, não tem como ser contida ou gerada por</p><p>meios arti�ciais.</p><p>Alguns cientistas a�rmam que ela é resultado de processos elétricos e</p><p>químicos. Em parte é verdade, mas, quando cessa, mesmo que se restaure tal</p><p>encadeamento físico e elétrico por meios arti�ciais, a vida não retorna.</p><p>Logo, ela não pode ser consequência da atividade material. Sua fonte</p><p>geradora não está no mundo visível. Se ela pertencesse à dimensão da</p><p>matéria, com certeza não haveria elemento inerte, como se vê nos minerais.</p><p>Mesmo nas formas simples, como os vírus, por exemplo, sempre se observa</p><p>a determinação de organização molecular mínima para a sua existência.</p><p>Parece não haver dúvida de que a vida é um combinado de organização</p><p>física especí�ca, que chamamos corpo, associada a algo de natureza</p><p>extrafísica,</p><p>que pertence a outra dimensão existencial, a alma. Por isso, o</p><p>princípio gerador da vida não pode ser avaliado por instrumentos</p><p>cientí�cos. Conclui-se, assim, que a melhor resposta em torno da existência</p><p>do homem ainda é a de que ele se constitui do concreto e do abstrato, do</p><p>visível e do invisível, do corpo e da alma. A ciência ainda não concebe a</p><p>alma como força motriz da vida humana, tanto no aspecto físico quanto no</p><p>intelectual. Esse panorama, porém, será modi�cado com o progresso.</p><p>Haverá grandes mudanças na mentalidade cientí�ca logo depois do período</p><p>de conscientização pelo qual, nos próximos anos, passará a humanidade.</p><p>As Escrituras Sagradas a�rmam: “Vós sois deuses e todos, �lhos do</p><p>Altíssimo”.17 Por mais que pareça claro o sentido literal dessas palavras, de</p><p>que somos oriundos do seio do Eterno como sua �liação, não são poucos os</p><p>intérpretes que se esforçam para sustentar a tese de que a alma do homem é</p><p>criada no momento da fertilização, a partir do nada. Por mais estranho que</p><p>possa parecer, esse é o pensamento dominante nas religiões ocidentais. A</p><p>humanidade, devido ao pouco avanço na ciência de Deus, pensa que a vida</p><p>se resume na experiência que se desenrola entre o nascer e morrer, o que</p><p>leva as pessoas a se a�igirem na busca por realizações materiais</p><p>A existência humana, em todo o planeta, se estabeleceu sobre os frágeis</p><p>alicerces do materialismo, sustentados pela visão distorcida que ciência e</p><p>religião possuem da realidade existencial. As Escrituras Sagradas,</p><p>examinadas fora do âmbito religioso, demonstram que as almas foram</p><p>geradas no início da Criação, pela vontade do Criador, com a �nalidade</p><p>precípua de habitar a região visível, como seres humanos.18</p><p>Todas as coisas vivas são dotadas de almas, em diversos estágios de</p><p>desenvolvimento, sendo cada uma delas criada conforme sua espécie. O</p><p>evolver da Criação obedece a um desconhecido propósito da parte de Deus,</p><p>de transformar o caos dos primeiros tempos em maravilhosa obra destinada</p><p>à habitação de Suas criaturas, em particular a alma humana. O Universo</p><p>visível, portanto, é a casa dos �lhos do Altíssimo, os homens. As almas</p><p>acompanham a transformação cósmica desde o princípio, em sucessivas</p><p>existências, que ocorrem nos mundos dotados de condições propícias para a</p><p>manifestação da vida. Por meio das almas, a mente do Eterno promove o</p><p>progresso dos planetas, dando origem às civilizações. Esta humanidade é</p><p>uma das civilizações do Universo.</p><p>O aperfeiçoamento da natureza e dos demais seres criados, portanto,</p><p>atende aos propósitos do Altíssimo, sendo o homem a Sua mais perfeita</p><p>obra, gerado à Sua imagem e semelhança. Uma vida elevada e feliz</p><p>pressupõe íntima comunhão com Deus, a fonte de todo o bem imaginável.</p><p>O ser humano não pode encontrar a felicidade verdadeira e permanente sem</p><p>andar nos caminhos indicados nas Escrituras Sagradas, que nada mais são</p><p>do que a decodi�cação da lei natural. Por isso, a�rmamos: não se trata de</p><p>doutrinas ou de cumprimento de rito religioso, mas de estar inserido</p><p>conscientemente na ordem determinada pelas leis naturais que regem a</p><p>Criação. Mesmo em ambientes de crenças não identi�cadas com a Bíblia,</p><p>Deus está presente, conduzindo tudo e todos os homens no caminho do</p><p>progresso. Compreender os propósitos eternos leva o homem a navegar a</p><p>favor do vento. Desconhecê-los o faz seguir contra a corrente, tornando a</p><p>vida penosa, envolta em erros, dores e injustiças. A humanidade não pode</p><p>ser feliz separada do seu Criador ou desinteressada em conhecer o projeto</p><p>que Ele tem para o futuro.</p><p>__________</p><p>13 | Segundo a ciência, a idade do Universo é estimada em 14 bilhões de anos.</p><p>14 | Daniel 2.44 e 7.14; Apocalipse 11.15.</p><p>15 | Transcendental: por signi�cação, capaz de transcender, que transcende, ultrapassa ou excede. Será utilizado no texto como</p><p>existência que transcende a dimensão visível.</p><p>16 | Salmos 67.2; 72.17-19; 117.1; João 3.17; 12.47; 1 Coríntios 1.21.</p><p>17 | Salmos 82.6; João 10.34; 1 Coríntios 3.16; 2 Coríntios 6.16.</p><p>18 | Gênesis 1.26-30; Salmos 37.29; Mateus 5.5.</p><p>Capítulo 3</p><p>SOIS DEUSES, E NÃO HOMENS</p><p>Origem divina dos seres humanos</p><p>Como vem sendo dito, as Escrituras são unânimes em apontar a origem</p><p>do homem como sendo de natureza divina, quer dizer, sua essência pertence</p><p>à mesma do Criador. Um dos trechos bíblicos que faz tal alegação está no</p><p>capítulo 82 do livro Salmos, de autoria de Assaf, músico nomeado por Davi,</p><p>rei de Israel,19 para presidir o coral sagrado. Em um dos versículos, diz, de</p><p>maneira categórica: “Vós sois deuses e todos, �lhos do Altíssimo”. Não</p><p>a�rma que apenas alguns indivíduos seriam nascidos de Deus, mas quali�ca</p><p>todos como dotados dessa paternidade.</p><p>O sentido literal da expressão “sois deuses” está claro e chancela os demais</p><p>raciocínios a respeito da realidade alma e corpo. A teologia cristã histórica</p><p>parece não entender deste modo. O termo “deuses” estabeleceu entre os</p><p>teóLogos uma grande confusão, em face do limitado conhecimento que</p><p>possuem da ciência de Deus. Trechos das Escrituras fornecem seguras</p><p>explicações de que as palavras de Assaf indicavam, com propriedade, a</p><p>origem divina dos seres humanos. Sendo a a�rmativa verdadeira, os</p><p>homens, devido à fonte primordial de onde foram gerados, são, certamente,</p><p>deuses vivendo na Terra, e não pessoas que se tornariam perfeitas por meio</p><p>da salvação religiosa.</p><p>As previsões existe ntes nas Escrituras apontam para a existência de um</p><p>estado superior de en tendimento, caracterizando o futuro do cotidiano</p><p>terreno. Todos os homens serão ag raciados com a luz do Eterno,</p><p>transformando a Terra numa notável civiliz açã o, caracterizada por justiça e</p><p>qualidade de vida a todos, não imp orta a que nação pertençam. Isso</p><p>somente será possível quando as pessoas se conscientizar em de que não há</p><p>outro caminho para a felicidade que não seja o co nhecimento e a vivência</p><p>das leis naturais do Criador.</p><p>Apresentaremos um novo aspecto da interpretação do capítulo 82 do livro</p><p>de Salmos, das Escrituras Sagradas.</p><p>As interpretações do referido capítulo seguiram em diversas direções.</p><p>Alguns estudiosos a�rmaram que seria referente a uma teologia hebraica</p><p>primitiva que imaginava um Universo governado por deuses que mais tarde</p><p>seriam admitidos como seres angeli cais. Outros, que a instrução se referia a</p><p>um grupo de juízes com autoridade conferida por Deus para governar em</p><p>sua representação.</p><p>A interpretação literal do capítulo, assim como de outras passagens</p><p>Salmos 82</p><p>1. Deus está na congregação dos poderosos;</p><p>julga no meio dos deuses. 2. Até quando</p><p>julgareis injustamente, e aceitareis as pessoas</p><p>dos ímpios? (Selá.) 3. Fazei justiça ao pobre e</p><p>ao órfão; justi�cai o a�ito e o necessitado. 4.</p><p>Livrai o pobre e o necessitado; tirai-os das</p><p>mãos dos ímpios. 5. Eles não conhecem, nem</p><p>entendem; andam em trevas; todos os</p><p>fundamentos da terra vacilam. 6. Eu disse: Vós</p><p>sois deuses, e todos vós �lhos do Altíssimo. 7.</p><p>Todavia morrereis como homens, e caireis</p><p>como qualquer dos príncipes. 8. Levanta-te, ó</p><p>Deus, julga a terra, pois, tu possuis todas as</p><p>nações.</p><p>bíblicas, leva-nos a entender que as palavras de Assaf, na verdade,</p><p>con�rmam a origem e a natureza divinas da alma do homem. Além do mais,</p><p>trata do juízo vindouro promovido pelo Eterno, com a �nalidad e de pôr</p><p>ordem na casa dos homens, a Terra. Mesmo que se considere apenas o</p><p>aspecto histórico da instrução, o conteúdo intuitivo não pode ser</p><p>desprezado, pois fornece lição esclarecedora em relação às nossas origens.</p><p>Para se referir a Deus nesse versículo, a palavra utilizada em hebraico é</p><p>Elohim, um dos nomes usados para mencionar a divindade em sua forma</p><p>ativa, ou seja, como Espírito.20 Entre os judeus não existe o conceito de</p><p>trindade admitido pelos cristãos, quer dizer, o Eterno apresentado como Pai,</p><p>Filho e Espírito Santo. A expressão Elohim foi traduzida indevidamente para</p><p>a língua portuguesa como sendo o Eterno Deus, o que deu origem a diversos</p><p>equívocos conceituais. A teologia cristã move-se como na superfície de</p><p>um</p><p>grande lago, sem buscar saber do que existe no seu interior. No hebraico, o</p><p>Eterno não é mencionado como Elohim, mas com o tetragrama YHWH ou</p><p>transliterado como Yahweh. O versículo 1 de Salmos 82 não pretende se</p><p>referir diretamente ao Pai, mas ao Seu Espírito atuante. A mesma expressão</p><p>aparece no livro Gênesis, nos episódios relativos à geração dos céus e da</p><p>terra e, mais adiante, como a manifestação do Espírito, orientando a história</p><p>de Israel, utilizando os profetas como intermediários.</p><p>Nesse mesmo versículo, alguns �zeram referência a um agrupamento</p><p>celestial de deuses, com o Eterno reinando entre eles. Outros consideraram</p><p>um ajuntamento de juízes sendo instruído. O sentido literal e intuitivo,</p><p>contudo, aponta para a ideia de que o Espírito declara estar no centro dos</p><p>ajuntamentos de poder, sejam eles quais forem. Pode ser uma congregação,</p><p>1. Deus está na congregação dos poderosos;</p><p>julga no meio dos deuses.</p><p>um ajuntado de reis, príncipes, magistrados, políticos, anjos, potestades.</p><p>Todos são núcleos de autoridade e decisões, em que o Espírito deixa claro</p><p>ter máxima jurisdição, quer dizer, tudo se cumpre conforme a vontade do</p><p>Altíssimo. Ao declarar que julga no meio dos deuses, entende-se</p><p>objetivamente que fala de Seus �lhos, os homens. É o que �ca desvendado</p><p>na expressão “sois deuses”. O Espírito de Deus é Senhor entre todos os</p><p>deuses, autoridades, forças manifestas, poderes invisíveis e lugares quaisquer</p><p>imagináveis na Criação.</p><p>Não há como imaginar nos céus a existência de um conselho de</p><p>poderosos deuses, potestades ou anjos que exercesse injusto juízo e que</p><p>merecesse reprimenda do Criador. Isso nos leva a crer que o versículo 2 não</p><p>se refere às regiões invisíveis, mas ao cenário terreno. A admoestação foi</p><p>feita a homens que exerciam poder de instruir, interceder e julgar situações.</p><p>Envolvia personagens da época, mas deve ser aplicada também aos dias</p><p>atuais, quando a maioria dos juízes do mundo não considera Deus, nem</p><p>suas leis e princípios constituídos para orientar os rumos da vida em todos</p><p>os sentidos.</p><p>O Espírito de Deus refere-se, certamente, a julgamentos injustos feitos por</p><p>juízes que sancionavam as transgressões dos homens ímpios. A palavra é</p><p>profética e válida para a atualidade. Não se aplica somente ao caso dos juízes</p><p>injustos, mas também ao povo judeu e cristão, no meio dos quais o hábito</p><p>do julgamento injusto é tão frequente a ponto de merecer atenção do Cristo:</p><p>“Não julgueis, para que não sejais julgados. Tira primeiro a trave do seu</p><p>olho, para depois tirar o cisco da vista do seu irmão”.21 É essa a injustiça</p><p>condenada em Salmos 82, versículo 2. A vida do povo que diz crer no</p><p>2. Até quando julgareis injustamente, e</p><p>aceitareis as pessoas dos ímpios?</p><p>Eterno Deus revelado a Israel, está intrinsecamente envolvida com hábitos</p><p>de homens descrentes. Em vez de os homens de Deus in�uenciarem a vida</p><p>profana, aconteceu exatamente o oposto. O Espírito indaga: “Até quanto</p><p>aceitareis as pessoas dos ímpios?”.</p><p>O estilo de vida da atualidade se estrutura na crença de que o viver se</p><p>resume em um breve existir.22 Sem considerar a eternidade da alma e os</p><p>ensinamentos do Eterno, a experiência humana está fadada à infelicidade e à</p><p>destruição. O espírito dominante exclui ou distorce os propósitos do</p><p>Criador, cujo intuito é o de orientar a conduta e o futuro dos homens. O</p><p>mundo atual é contrário às elevadas instruções de Deus e exerce grande</p><p>poder sobre as pessoas, a ponto de convencê-las de que os gozos e riquezas</p><p>materiais perfazem o sentido da existência. Grande parte das religiões</p><p>acredita que o sofrimento seria apenas uma forma de puri�cação de pecados</p><p>e merecimento do paraíso, suposto lugar celestial para onde seriam</p><p>conduzidos os eleitos. Os tesouros eternos, recomendados pelo Cristo,23</p><p>foram esquecidos.</p><p>O Espírito acusa os juízes, ou seja, os homens mais lúcidos dentre o povo</p><p>da época, por viverem de mãos dadas com a impiedade, deixando de lado as</p><p>saneadoras ações humanitárias, no indispensável serviço de socorro aos</p><p>necessitados, enfermos e abandonados. A palavra diz respeito também aos</p><p>dias atuais. Diz o Eterno que é preciso atender aos a�itos e desvalidos,</p><p>promovendo a justiça, libertando-os pela instrução e realizações graciosas.</p><p>Igrejas, sinagogas e comunidades, cuja bandeira do Criador está hasteada à</p><p>porta, têm a importantíssima missão de confortar os famintos, tanto do pão</p><p>da carne como o da alma. São pessoas que seguem perdidas e atingidas pelas</p><p>3. Fazei justiça ao pobre e ao órfão; justi�cai o</p><p>a�ito e o necessitado.</p><p>injustiças das nações e seus governos. Tal compromisso é inadiável.</p><p>As revelações de Deus e os esclarecimentos que contêm as Escrituras</p><p>podem trazer lenitivo para as dores humanas e a de�nitiva libertação dos</p><p>corações envoltos em a�ição. As situações injustas, geradas pelos sistemas</p><p>políticos e econômicos, provocam transtornos diversos, afetando o</p><p>cotidiano de todos, mas principalmente das pessoas mais desfavorecidas. Os</p><p>homens precisam saber quem são, o que fazem no mundo e o que</p><p>acontecerá depois que terminar a vida corpórea. Desse modo, poderão lutar</p><p>por uma experiência existencial mais justa, tanto no sentido material quanto</p><p>transcendental.</p><p>A boa nova da chegada do reino de Deus na Terra, o conceito de que uma</p><p>nova ordem está prestes a ser instituída, é um bálsamo para os sofrimentos</p><p>dos injustiçados. Ocorre, porém, que, desde as gerações passadas, a</p><p>incredulidade, o descuido e a indiferença infelizmente estão presentes nas</p><p>nações e, também, no seio do povo que o Eterno escolheu para representá-</p><p>lo. Daí a reprimenda feita: é preciso fazer justiça aos mais pobres.</p><p>Um dos principais discípulos do Cristo, João, o evangelista, ensinava que</p><p>o mundo jazia no maligno; quer dizer, a vida na Terra estaria imersa numa</p><p>atmosfera que predispõe o homem à maldade e a loucuras de toda ordem.24</p><p>Mesmo com o avanço da civilização, a situação observada naquele tempo</p><p>permanece. O cotidiano das pessoas, em todo o planeta, é marcado pela</p><p>visão limitada e transitória dos homens em relação à realidade eterna da</p><p>Criação. Por ignorar a ciência de Deus ou distorcer seus fundamentos, a</p><p>humanidade segue envolvida nesse espírito de injustiça, disputas, domínios</p><p>e dissensões que, diariamente, corrói os alicerces da sociedade. A desordem</p><p>4. Livrai o pobre e o necessitado; tirai-os das</p><p>mãos dos ímpios.</p><p>no planeta, embora tenha efeitos materiais, possui causa fundamental na</p><p>corrupção dos princípios eternos que sustentam a vida.</p><p>Por isso, Deus determina: livrai o pobre e o necessitado. São vítimas da</p><p>escravidão mental e material, cujas amarras precisam ser quebradas para</p><p>que as almas, prisioneiras da injustiça, possam encontrar paz, felicidade e</p><p>realização. O cativeiro social é produzido por homens imaturos, ainda</p><p>envoltos na ignorância. “Fazei justiça”, diz a instrução. É imperioso que todo</p><p>aquele que for tocado pelo Eterno trabalhe para libertar os cativos, os que</p><p>estão sob o domínio de falsas doutrinas, religiosas ou políticas.</p><p>O reino de Deus não será estabelecido na Terra, com a vida sendo</p><p>orientada pelas doutrinas humanas criadas ao longo da história. Surgirá</p><p>uma nova ordem, com justiça, paz e entendimento. Ela será estabelecida</p><p>depois dos eventos apocalípticos que virão sobre o mundo, devido às</p><p>disputas e falta de conhecimento do próprio homem. Os efeitos daninhos da</p><p>ignorância, como as revoltas, injustiças, prostituição, assassinatos, suicídios</p><p>e numerosos vícios, estão presentes nas nações.</p><p>Não há dúvidas de que Deus se refere aos viventes deste mundo, que</p><p>andam em total escuridão. Eles não conhecem a verdade eterna, não podem</p><p>compreendê-la, pois suas mentes permanecem alimentadas pelo espírito da</p><p>materialidade. Paulo, o apóstolo, os quali�cava como homens naturais,</p><p>dizendo que não podiam compreender as coisas do Espírito, porque elas são</p><p>discernidas por mentes em comunhão com o Criador.25 Signi�ca que o</p><p>homem natural, devido à ignorância dominante, ainda não entende os</p><p>princípios mais elevados da vida. São dois estados distintos de</p><p>5. Eles não conhecem, nem entendem; andam</p><p>em trevas; todos os fundamentos da terra</p><p>estão fragilizados.</p><p>posicionamento mental: um transcedental e outro terreno. Após deixar a</p><p>infantilidade intelectual, o homem passará a entender a ciência de Deus e</p><p>suas consequências. A espiral sucessiva das vidas forçosamente levará os</p><p>retardatários ao encontro da luz. A partir de então, o ser humano deixará as</p><p>trevas e caminhará para o reino da sabedoria.</p><p>O homem natural anda em trevas, diz o Espírito.26 A ausência do</p><p>conhecimento de Deus é a pior escuridão intelectual. Não basta que alguém</p><p>seja religioso, esteja ligado a igrejas, sinagogas, doutrinas, �loso�as ou</p><p>ciência de qualquer natureza para ter acesso à fonte do saber. Quer dizer,</p><p>mesmo com os títulos terrenos, sem comunhão com Deus, não se conquista</p><p>a genuína sabedoria. Quem desejar encontrar o caminho da iluminação</p><p>interior deve procurá-lo nas Escrituras Sagradas, o meio utilizado pelo</p><p>Altíssimo para falar a todos os povos e nações.</p><p>As almas precisam ser resgatadas da própria ignorância. É improvável que</p><p>alguém seja contra a instrução. Não se trata de ensinar apenas as ciências</p><p>humanas, mas também o saber natural, que pertence à fonte criativa, ou</p><p>seja, ao Ser Eterno. Quando o homem crê na existência do Criador, começa</p><p>a ter acesso à mente divina, de onde provém inteligência, ciência, intuição,</p><p>competência e vida plena. O caminho para a iluminação da alma sempre</p><p>esteve disponível.27</p><p>A alma interessada nesse novo estilo de vida deve abrir mão do excessivo</p><p>amor a si mesmo e reconhecer que trilhava por obscuros caminhos. Precisa</p><p>estar disposta a viver uma nova experiência com o Eterno, onde o</p><p>transcendental passa a ser o alicerce do material. A comunhão com Deus</p><p>leva o homem a ter domínio sobre si mesmo, seu querer e fazer. Entretanto,</p><p>por falta desse conhecimento, a humanidade segue sem saber que é</p><p>governada por um poder invisível. Independente da ciência, de crenças ou</p><p>descrenças, a vida segue rumo ao Juízo, uma crise sem precedentes que</p><p>antecederá o estado de bem-aventurança dos povos. O bem e o mal, o certo</p><p>e o errado, tudo será provado para que a luz prevaleça no cenário dos</p><p>homens. Cedo ou tarde, o período de ignorância que caracteriza a</p><p>experiência diária chegará ao �m.</p><p>Na busca desenfreada por liberdade e direito, o homem abriu as portas do</p><p>seu coração para o espírito do erro, que se fortalece em todos os lugares.</p><p>Impulsionado por um poder invisível, a apostasia, ou seja, rejeição a Deus,</p><p>contamina mentes e corações. Civilizações guiadas pela soberba estão</p><p>fadadas ao desastre. É o que acontece no mundo globalizado. Diante do</p><p>desprezo ou má interpretação das instruções do Criador, o amor esfriou,</p><p>produzindo frutos de morte. Jesus, o Cristo, predisse que tal fenômeno</p><p>aconteceria nos dias antecedentes à tragédia apocalíptica.28 É nesse sentido</p><p>que os fundamentos da Terra estão balançando, como se tudo estivesse</p><p>perto de desmoronar. Porém, mesmo com as di�culdades do presente</p><p>tempo, a transformação do planeta em um mundo de justiça e equidade é</p><p>desígnio do Criador. Trata-se de uma realidade delineada antes do homem</p><p>surgir na Terra.</p><p>Diante da anunciação do julgamento do mundo, o Eterno revela a</p><p>sublime natureza da alma humana. Vós sois deuses, declara. A lógica leva à</p><p>conclusão de que o Espírito não se dirigia apenas a supostos juízes, mas</p><p>falava de todas as pessoas. Existiria na Criação algo que não fosse oriundo</p><p>de Deus? É evidente que não! Nem o próprio Deus poderia criar algo que</p><p>viesse do nada, pois o nada inexiste e não pode dar origem a coisa alguma.</p><p>Os criacionistas acreditam ser possível gerar algo do nada. Com raízes na</p><p>Grécia Antiga,29 o criacionismo encontrou nas religiões ocidentais um</p><p>terreno fértil de irracionalidade. Segue iludindo multidões, tomando como</p><p>base o conceito de que Deus, sendo o Todo-Poderoso, pode fazer qualquer</p><p>6. Eu disse: vós sois deuses, e todos vós �lhos do</p><p>Altíssimo.</p><p>coisa. É um argumento simplista, sempre presente quando há ausência de</p><p>explicações racionais. Deus não é fonte do absurdo, mas da Suprema</p><p>inteligência. A Criação, a matéria, as almas, as leis naturais e a lei do</p><p>progresso são realidades que pertencem à variação da natureza íntima e</p><p>eterna do Criador, em sua manifestação objetiva, na dimensão da</p><p>relatividade.</p><p>Deus é espírito, dizem as Escrituras,30 instruindo sobre a manifestação do</p><p>Eterno. Testi�cam que a alma do homem também é espírito.31 A alma seria</p><p>de natureza igual ao Espírito de Deus? Teria a mesma constituição?</p><p>Pensadores gregos e �lósofos, ao longo da história, concluíram que sim! O</p><p>próprio versículo traz essa evidência. A palavra em hebraico utilizada para</p><p>se referir aos �lhos do Altíssimo é elohim, a mesma usada nos livros</p><p>sagrados, para fazer referência ao Eterno Deus. Os homens são, na verdade,</p><p>pequenos deuses, cintilações da luz divina, dotados de consciência</p><p>individualizada, com os mesmos predicados da fonte, isto é, do Eterno. Por</p><p>isso são chamados deuses.</p><p>Homens deuses, habitantes do Universo, em tudo dependem do</p><p>Altíssimo. Não há nenhuma possibilidade de existirem dissociados dele.</p><p>Tudo vive e se move dentro da excelsa mente do Ser Eterno.32 Seria estranho</p><p>que, no versículo 6 do Salmo 82, o Espírito de Deus estivesse se referindo</p><p>tão somente a juízes humanos, cujas almas fossem diferentes das demais</p><p>pessoas. Ao ensinar sobre a origem dos deuses, con�rma: “Todos vós sois</p><p>�lhos do Altíssimo”.</p><p>O Eterno revela que os homens são deuses vivendo como seres humanos,</p><p>sobre quem paira a expectativa de que sejam perfeitos como o próprio</p><p>7. Todavia morrereis como homens, e caireis</p><p>como qualquer dos príncipes.</p><p>Deus.33 Sem dúvida, uma descoberta dessa magnitude poderia despertar</p><p>vaidade nos corações, uma conduta prejudicial à vida. Por isso, a instrução</p><p>alerta: “Todavia morrereis como todos, caireis como qualquer dos</p><p>príncipes”. Não quis o Espírito, evidentemente, envaidecer os que eram</p><p>objeto da orientação, mas alertá-los de que eram da mesma natureza dos</p><p>demais seres vivos e que morreriam igualmente. Em que eles eram diferentes</p><p>dos outros? Eles tinham consciência de sua origem e natureza eterna. Todos</p><p>os homens, tendo a mesma origem, terão a mesma honra, quer dizer, não</p><p>viverão mais como mortais, mas como eternos.</p><p>Paulo, em sua carta aos romanos, de modo semelhante, repreende</p><p>duramente os gentios34 diante dos males da vaidade, dizendo que, se Deus</p><p>havia feito cair os judeus para salvá-los, o que não poderia fazer com eles,</p><p>que tinham sido enxertados? O sentido do ensinamento no versículo 7 deste</p><p>Salmo é o mesmo. Ter consciência de que somos deuses não deve nos levar a</p><p>pensar que existimos de modo diferente dos demais, pois todas as almas</p><p>serão esclarecidas a este respeito. Só assim poderemos construir um mundo</p><p>de felicidade sustentável, onde todos viverão em paz.</p><p>Como deuses, pertencemos ao reino da luz e não das trevas, ao mundo da</p><p>sabedoria e não da ignorância. Se temos comunhão com Deus, já estamos de</p><p>posse da vida eterna. Não morremos! Passamos da existência terrena às</p><p>dimensões invisíveis, o que não quer dizer que �caremos para sempre</p><p>naquele lugar. A vida eterna é o estado de libertação da alma que, livre da</p><p>sua ingenuidade intelectual, vive o intervalo entre as existências físicas de</p><p>modo prazeroso, olhando para o passado, entendendo o presente e</p><p>esperando o porvir que se desenrolará no planeta a que pertence. Sua</p><p>existência nas duas dimensões durará tanto quanto o próprio Universo.</p><p>As palavras do último versículo nos levam a entender que Deus não se</p><p>referia a um fato localizado, uma suposta injustiça cometida por juízes de</p><p>Israel, ou ainda um grupo de potestades sendo repreendido. Profetizava</p><p>acerca de coisas gravíssimas, o juízo �nal que, no futuro, viria sobre a</p><p>humanidade para separar justos e injustos.</p><p>Há um clamor rogando a Deus que não se detenha. Que se levante para</p><p>tirar do mundo as injustiças</p><p>e a impiedade, produto da ignorância. Faz um</p><p>apelo ao Eterno: “Faça juízo à terra, Senhor Deus, pois os homens tornaram-</p><p>se injustos, criando leis e costumes contrários às leis naturais que regem a</p><p>vida. Não te detenhas, ó Deus, pois o planeta está cheio de iniquidades.</p><p>Homens vis tomaram o poder, ogoverno, os juízos e a tua casa. Fizeram dela</p><p>um lugar de negócios. Julga os homens!”. O anseio por justiça é o ideal das</p><p>pessoas esclarecidas. Saibam, todos elas, que, antes de haver Criação, já era</p><p>esse o plano do Criador para o Universo. Seus juízos são eternos e, desde os</p><p>primórdios, governam sua obra.</p><p>__________</p><p>19 | A história bíblica conta que Davi, �lho de Jessé, governou Israel entre 1010 a 972 a.C. Sua vida está descrita nos livros 1 e 2</p><p>Samuel, 1 Crônicas e na maioria dos Salmos.</p><p>20 | A palavra espírito tem raiz etimológica do latim spiritus. Corresponde a pneuma, no grego, e a ruach, na língua hebraica. No</p><p>texto bíblico possui vários signi�cados, dentre os quais sopro, respiração, movimento e vento. Pode-se a�rmar que o espírito do</p><p>homem é o seu movimento existencial ao longo da história de sua alma, na região visível da Criação. O espírito é a ação da alma.</p><p>Quando se trata do Espírito de Deus, estamos nos referindo ao seu movimento criativo. Deus é o Absoluto. Por meio do Logos</p><p>divino, o Absoluto torna-se relativo e manifesta-se na Criação como Espírito, fazendo progredir todas as coisas.</p><p>21 | Mateus 7.1-5; Lucas 6.41-42.</p><p>22 | Salmos 90.10; Isaías 40.6-8; 1 Pedro 1.24.</p><p>23 | Provérbios 8; Mateus 6.19-21.</p><p>24 | 1 João 5.19.</p><p>25 | Jó 32.8; 1 Coríntios 2.14-16.</p><p>26 | 1 Coríntios 2.14.</p><p>27 | Salmos 62.1; 67.2; Isaías 12.3.</p><p>28 | Mateus 24.12.</p><p>29 | Segundo os gregos antigos, o princípio de todas as coisas está associado a um caos primordial, num tempo em que a Ordem</p><p>não tinha sido ainda imposta aos elementos do mundo.</p><p>30 | Gênesis 1.2; Isaías 48.16; Salmos 143.10; João 4.24.</p><p>8. Levanta-te, ó Deus, julga a terra, pois tu</p><p>possuis todas as nações.</p><p>31 | Salmos 31.5; 143.4; Eclesiastes 12.7; Hebreus 12.9; 12.23.</p><p>32 | Salmos 19.1-6; Atos 17.28.</p><p>33 | Deuteronômio 18.13; Levítico 20.7; Mateus 5.48; 2 Timóteo 3.17; Tiago 1.4; 1 Pedro 1.16.</p><p>34 | Romanos 11.</p><p>Capítulo 4</p><p>A VIDEIRA DE HOMENS</p><p>Conjunto de almas que habitam a Criação</p><p>O evangelho de João é um dos escritos mais inquietantes das Sagradas</p><p>Escrituras, pois nele con�uem o pensamento judaico e o grego. Fílon de</p><p>Alexandria,35 judeu helênico, defendia o conceito de que os dois</p><p>pensamentos eram apenas um. No que toca à origem e destinação das almas,</p><p>o capítulo 15 apresenta conceitos parecidos com os dispostos em Salmos 82.</p><p>Examiná-los ajuda-nos a entender os mecanismos referentes à existência da</p><p>alma, sua participação efetiva no projeto da construção da humanidade,</p><p>assim como a cidadania que o homem possui em relação ao Universo que,</p><p>como ele, foi gerado no seio do Eterno.</p><p>A comunhão entre o Criador e Suas criaturas se faz por meio do que Fílon</p><p>denominava Logos,36 o conhecido Verbo da teologia clássica, a mente</p><p>manifesta do Eterno, tendo como mecanismo de ação a transmutação,</p><p>designada Espírito. Tudo, porém, é a manifestação do mesmo Deus. Judeus e</p><p>cristãos divergem quanto às particularidades dessa relação, analisando-a de</p><p>modo controverso. Os primeiros não acreditam na existência da Trindade. A</p><p>igreja cristã insiste em que, pela fé, o crente convive com três</p><p>individualidades: Pai, Filho e Espírito Santo. No que toca aos conceitos sobre</p><p>Deus, judaísmo e cristianismo possuem pontos de vista incompletos.</p><p>Jesus, o �lho de José, foi tido pelos primeiros teóLogos do cristianismo</p><p>como sendo o Verbo encarnado. A razão disso está no fato de que o Verbo</p><p>falava pela boca do Cristo, como nunca houvera feito por outro profeta.</p><p>Diante da urgência em se defender da in�uência perniciosa do</p><p>gnosticismo,37 alguns líderes da igreja utilizaram as teses de Fílon para</p><p>formular explicações a respeito do Criador. Grosso modo, o resultado foi a</p><p>conclusão de que Jesus, sendo o Verbo, seria o próprio Deus em pessoa.</p><p>As palavras do Cristo, encontradas nos evangelhos, possuem tanto caráter</p><p>humano quanto transcendental. Em alguns momentos, seus ensinos</p><p>provinham da sua iluminada alma,38 enquanto, em outros, �uíam direto do</p><p>Verbo,39 o Logos de Deus. O discurso a que se refere João, no capítulo 15, é</p><p>uma revelação que nos ajuda a entender a vida universal e a maneira como o</p><p>homem dela participa, vencendo a morte e vivendo para sempre.</p><p>A videira verdadeira representa o conjunto de inteligências concebido por</p><p>Deus na explosão criativa para habitar a Criação. Fornece uma visão</p><p>João 15.1-7</p><p>1. Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o</p><p>lavrador. 2. Toda a vara em mim, que não dá</p><p>fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto,</p><p>para que dê mais fruto. 3. Vós já estais limpos,</p><p>pela palavra que vos tenho falado. 4. Estai em</p><p>mim, e eu em vós; como a vara de si mesma</p><p>não pode dar fruto, se não estiver na videira,</p><p>assim também vós, se não estiverdes emmim.</p><p>5. Eu sou a videira, vós as varas; quem está em</p><p>mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque</p><p>sem mim nada podeis fazer. 6. Se alguém não</p><p>estiver em mim, será lançado fora, como a</p><p>vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e</p><p>ardem. 7. Se vós estiverdes em mim, e as</p><p>minhas palavras estiverem em vós, pedireis</p><p>tudo o que quiserdes, e vos será feito.</p><p>universal de todas as almas geradas, com a �nalidade de existirem na região</p><p>visível, que é o Universo, povoando os mundos. Todos os seres vivos</p><p>ocupam lugar apropriado na grandiosa obra de Deus e progridem guiados</p><p>por um mesmo espírito, que emana do Logos, manifestação da mente do</p><p>Eterno. Foge ao mais elementar princípio inteligente pensar que a alma do</p><p>ser humano foi criada a partir do nada.</p><p>A vontade de Deus é soberana em toda a Criação, assim como nos</p><p>eventos que nela ocorrem. Ela manifesta-se pelo Logos e permeia a mente</p><p>das demais almas sem, no entanto, impor qualquer constrangimento à</p><p>escolha que �zerem, quer dizer, todos são livres para escolher seus</p><p>caminhos. Entretanto, ainda que nas ações cotidianas pareça ao homem ter</p><p>liberdade plena, seus movimentos acontecem dentro de certos limites. É</p><p>como ocorre nas ocasiões em que viajamos a um país, tendo que nos ajustar</p><p>às suas leis. Ao entrarmos no território somos livres, mas é preciso observar</p><p>as regras locais. Do mesmo modo são as instruções de Deus, ou leis naturais,</p><p>que devem ser vistos como diretrizes da Criação. Observá-las, sem dúvida, é</p><p>o princípio da sabedoria.</p><p>O Logos ou Verbo é a presença do Eterno na Criação, a interface entre o</p><p>absoluto e o relativo. Todas as coisas são geradas a partir dessa espécie de</p><p>garganta divina. As almas são fulgurações do Logos, que se tornaram</p><p>consciências individualizadas, separadas do Criador, em personi�cações</p><p>como homens. Unidas a um corpo físico, as almas tornam-se seres</p><p>humanos. É incontestável que a evolução do homem, assim como de todas</p><p>as criaturas vivas, começou com um ponto inicial, como se fosse uma</p><p>semente primordial. Tudo funciona sob o in�uxo do Eterno, que mantém</p><p>1. Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o</p><p>lavrador.</p><p>seu Universo em constante movimento através do Verbo. Por isso, declara:</p><p>“Eu sou a videira, o conjunto, a unidade universal. Meu Pai é o lavrador, o</p><p>que está por detrás de todas as coisas criadas e em permanente</p><p>transformação”.</p><p>As varas da videira representam as almas geradas a partir do Logos. Junto</p><p>a esse Unigênito, as almas dos homens constituem o conjunto dos seres</p><p>inteligentes do Universo. Evidentemente, todas as almas serão livres da</p><p>ignorância. A escuridão em que elas se debatem por certo tempo não passa</p><p>do período caótico, comum aos primeiros momentos da Criação.</p><p>Está implícita a ideia de que o lavrador, que é o Espírito de Deus, tem</p><p>como propósito que as varas deem bons frutos, que tenham boa condição de</p><p>produzir, tanto para a vida individual quanto coletiva. Mas a�rma que os</p><p>ramos improdutivos serão removidos da videira. Também con�gura nesse</p><p>pensamento o</p>