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<p>Dicionário de S inônimos da Língua Portuguesa � 33</p><p>pode ser abestalhado (isto é – ter modos e</p><p>ares de besta). O mesmo deve entender-se</p><p>quanto aos outros do grupo que dão deriva-</p><p>dos. Notemos ainda que entre abobado e</p><p>abobalhado é preciso fazer uma ligeira dis-</p><p>tinção: o primeiro quer dizer que parece</p><p>bobo, que tem ares de bobo; e o segundo,</p><p>abobalhado = “que se faz de bobo”. Parece</p><p>dar-se o contrário com aparvoado (“feito</p><p>parvo, meio parvo”) e aparvalhado (“seme-</p><p>lhante a parvo, com jeito de parvo”). – Bes-</p><p>ta, além de abestalhado, dá bestiaga, que</p><p>significa “estúpido e sem préstimo ou valor</p><p>algum”. – Parvo quer dizer “pequeno de</p><p>espírito, curto de compreensão como crian-</p><p>ça, e revelando isso por inépcias, modos e</p><p>gestos de quase idiota. – Parvoinho é sim-</p><p>ples diminutivo de parvo. Temos ainda:</p><p>parvoeirão (aum.) = “grande parvo”; e</p><p>parvajola = “que, por fazer-se engraçado,</p><p>se ostenta parvo, ou melhor, parvoinho”</p><p>(pois parvajola é também forma diminuti-</p><p>va). – Bobo, como se sabe, era, na Idade</p><p>Média, o jogral de corte; e por analogia sig-</p><p>nifica o “indivíduo pobre de espírito que</p><p>procura divertir os outros, mais com esga-</p><p>res, mímica espalhafatosa, disparates gague-</p><p>jados a custo, graçolas charras, ou palavras</p><p>deturpadas e sem nexo, do que propriamen-</p><p>te com discursos ou ditos graciosos”. Além</p><p>de abobado e abobalhado, temos ainda bo-</p><p>bório, muito usado pelo menos em grande</p><p>parte do sul do Brasil, conquanto, como</p><p>outros muitos do grupo, não figure nos lé-</p><p>xicos. – Bobório quer dizer “bobo a afetar</p><p>compostura de gente sensata”. – Palerma é</p><p>o indivíduo “quase idiota e que parece ter</p><p>tanta incapacidade para pensar como para</p><p>mover-se”. Dá apalermado = “com ares de</p><p>palerma”. – Pateta designa indivíduo “de-</p><p>sorientado e abobado”. Dá apatetado =</p><p>“com ares de pateta”. Do mesmo radical</p><p>temos ainda: patau, patego, patocho, pata-</p><p>roco, formas que pouco alteram a significa-</p><p>ção que tem aqui, por figura, a própria pa-</p><p>lavra pato, dando ideia do “indivíduo lorpa,</p><p>que se deixa iludir, enganar, explorar facil-</p><p>mente”. – Patau (que também poderia ser</p><p>uma adaptação do francês pataud) sugere,</p><p>além da ideia de parvoíce, a de grande inép-</p><p>cia”. – Patego é como se dissesse “pequeno</p><p>pato”, “meio pato”. – Patocho, diz C. de</p><p>Fig., que é provincianismo algarvio, e que</p><p>significa o mesmo que patego. – Pataroco é</p><p>outro provincianismo algarvio, com idênti-</p><p>ca significação, parecendo, aliás, uma forma</p><p>diminutiva ainda mais acentuada de pato.</p><p>– Tolo e estólido são formações do mesmo</p><p>latino stolidus: a forma popular, que é a mais</p><p>usada, equivale a “bobo insolente, ignoran-</p><p>te que se mete a sabichão, maluco preten-</p><p>sioso”. Dá atoleimado – “que se faz de</p><p>tolo”. – Estólido, que é forma erudita, diz</p><p>melhor “o que não tem o discernimento,</p><p>nem a compostura, a medida do bom senso</p><p>comum”, o que é “leviano com petulância”.</p><p>– Papalvo quer dizer “simplório, palerma,</p><p>demasiado ingênuo, fácil de enganar”. Dá</p><p>apapalvado = “com jeito de papalvo”. –</p><p>Lorpa é o indivíduo “inepto, preguiçoso,</p><p>incapaz de esforço físico ou mental”. Temos</p><p>ainda alorpado = “feito, ou parecendo lor-</p><p>pa”. – Camelo (fig.) é o “indivíduo pesado,</p><p>rude, lerdo no pensar e no agir”. – Cameló-</p><p>rio diz “quase camelo”, “que se faz de ca-</p><p>melo”. Acamelado = “com ares de came-</p><p>lo”. – Palúrdio quer dizer “idiota, estouva-</p><p>do, estúpido, abrutalhado”. – Patarata é</p><p>“pessoa tola, afetada, pretensiosa, imposto-</p><p>ra, fútil”. (Aul.), “tipo mais boçal e desfru-</p><p>tável que o bobo”. Dá apataratado = “que</p><p>se faz patarata”, ou “que se assemelha a pa-</p><p>tarata”. – Lerdo equivale a “pesado, lasso,</p><p>mandrião, estúpido” – Lerdaço é aumenta-</p><p>tivo de lerdo. – Palhaço significa mais –</p><p>“bobo, histrião por ofício do que propria-</p><p>mente idiota ou besta”. – Apalhaçado =</p><p>“que se faz palhaço”. – Basbaque é convizi-</p><p>34 � Rocha Pombo</p><p>nho de palerma: é o “ingênuo que pasma</p><p>de tudo, como pateta”. – Abasbacado (ou</p><p>embasbacado) = “que é ou se mostra como</p><p>basbaque”. – Palonço equivale a “tipo sem</p><p>vida, rude, imbecil”. – Apalonçado = à se-</p><p>melhança de palonço”. – Jogral é o “bobo</p><p>de praça”, “maroto estúpido, desafrontado</p><p>e chalaceiro”. Ajogralado = dado a jogral.</p><p>– Pascácio assemelha-se bem a “bobo, pas-</p><p>mado e imbecil”. – Pacóvio é simplório da</p><p>mesma família: “idiota e lorpa”. – Papa-</p><p>-moscas está dizendo tudo por si mesmo:</p><p>“tão inerte, tão massa-bruta que as moscas</p><p>lhe entram na boca”. É o mesmo que boca-</p><p>-aberta. – Tabaréu tem significação muito</p><p>parecida com a do nosso caipira. O taba-</p><p>réu, no entanto, é o sujeito que “não sabe</p><p>ainda bem o seu ofício”, que “se atrapalha</p><p>com a tarefa por falta de aptidão”, que “faz</p><p>figura ridícula por inépcia”: caipira é o</p><p>“homem do mato, o mesmo matuto, sem</p><p>prática da cidade, rombo e tolhido, descon-</p><p>fiado e escuso.” Temos ainda: acaipirado =</p><p>“com ares ou modos de caipira”; amatuta-</p><p>do = “com ares de matuto”. – Basbana,</p><p>segundo C. de Fig., é provincianismo algar-</p><p>vio, significando “estólido, parvo, imbecil</p><p>como basbaque”. – Abasbanado = “pare-</p><p>cendo basbana”. – Bolônio é “indivíduo</p><p>rústico e simples que se deixa enganar por</p><p>todos” (Bruns.). – Mentecapto é o que</p><p>“não tem siso”, que é imbecil, idiota. –</p><p>Sandeu (do esp. sandio) equivale a “tapado,</p><p>burro abobado, tipo desavisado”. – Doidi-</p><p>vanas é o “indivíduo sem tino, atabalhoado,</p><p>que fala, obra, vaga como doido; tonto, es-</p><p>traga-albardas”. – Beócio, segundo a origem</p><p>do vocábulo (designa habitante da Beócia,</p><p>por um prejuízo dos atenienses tido como</p><p>estúpido ou pouco inteligente), é aplicável</p><p>ao indivíduo “inepto, curto de espírito,</p><p>abobado”. – Estupidarrão e toleirão são</p><p>aumentativos de estúpido e tolo. – Truão é</p><p>o “bobo vagabundo, que salta e canta por</p><p>dinheiro”. – Bufão é o “truão espalhafato-</p><p>so, farsista; bobo que faz o seu papel com</p><p>certo aparato”. – Chocarreiro é o “bufão</p><p>insolente, que diz mais chalaças do que sal-</p><p>ta”. – Maninelo é o “bobo que se mete ri-</p><p>diculamente a gostar muito de mulheres”</p><p>(corresponde ao nosso brasileirismo coió).</p><p>– Simples, na acepção em que é aqui toma-</p><p>do, significa o mesmo que “ingênuo, sem</p><p>disfarce, quase papalvo, de boa-fé excessiva,</p><p>crédulo demais”. – Simplório quer dizer –</p><p>“despreocupado, desapercebido, meio bobo,</p><p>sem malícia e sem espírito”. – Fátuo é o</p><p>“ignorante tolo e presumido”. – Enfatuado</p><p>(ou infatuado) é “o que se torna fátuo”. –</p><p>Estulto quer dizer “tolo, estouvado, extra-</p><p>vagante, fora do papel que lhe cabe, quase</p><p>impertinente”. – Tapado, obtuso, bronco,</p><p>rombo e rude têm uma sinonímia quase</p><p>perfeita; convindo notar-se, no entanto, que</p><p>tapado é aquele que parece ter o espírito</p><p>“como que fechado para o mundo exterior”.</p><p>Bronco e rombo equivalem-se na significa-</p><p>ção de “estúpido, falto de inteligência”:</p><p>bronco é o que “não entende por defeito de</p><p>faculdade aperceptiva”; rombo é o que “não</p><p>tem capacidade de raciocínio”. – Obtuso é</p><p>o bronco “que se esforça” e “quebra a cabe-</p><p>ça” inutilmente porque é “incapaz de com-</p><p>preender”. – Rude significa mais “áspero,</p><p>grosseiro, tosco do que propriamente bron-</p><p>co”; e, no entanto, é muito empregado com</p><p>esta significação. Ainda assim, rude equiva-</p><p>le a “de difícil compreensão por desmazelo,</p><p>por falta de estímulo”. – Boçal exprime</p><p>“estúpido e bobo que repugna, ou que ins-</p><p>pira asco ou aversão”. – Aboçalado = “que</p><p>tem aparências de boçal”. – Estúpido diz</p><p>propriamente “rude, bruto de senso, ou de</p><p>inteligência pesada, de espírito entorpecido,</p><p>que fica parado e em pasmo diante de coisas</p><p>que não entende”. – Néscio quer dizer “que</p><p>nada sabe, ignorante, inepto”. – Idiota e</p><p>imbecil equivalem-se. O idiota é desequili-</p><p>Dicionário de S inônimos da Língua Portuguesa � 35</p><p>brado, isto é, “não tem senso nem discerni-</p><p>mento para distinguir coisas diferentes”; e</p><p>imbecil é “quase idiota, é menos atabalhoa-</p><p>do, mas é tão fraco de espírito”. Tanto a</p><p>idiotia como a imbecilidade podem ter</p><p>como causa algum defeito orgânico do cére-</p><p>bro. – Pasmado, alvar, ingênuo aproximam-</p><p>-se. Alvar tem hoje, e neste grupo, sentido</p><p>desfigurado do próprio,</p><p>e diz “quase imbe-</p><p>cil, de sinceridade, candura e boa-fé que</p><p>tocam a parvoíce”. Ingênuo é menos que</p><p>alvar: significa “sem malícia como criança,</p><p>e por isso mesmo incorrendo frequente-</p><p>mente em enganos e caindo em ridículo”.</p><p>Pasmado equivale a “falto de vivacidade,</p><p>sem agudeza de senso”. É quase o mesmo</p><p>que basbaque e palerma: apenas o palerma</p><p>“parece não ver”; o basbaque “não vê nem</p><p>sente”; o pasmado tem o curto senso fixo</p><p>num objeto, e “não vê, não ouve, nem sente</p><p>mais nada”. – Ignaro exprime – “inculto,</p><p>bruto, inconsciente como o próprio instin-</p><p>to”. – Ignorante diz apenas “que não tem</p><p>instrução”, “falto de cultura, pelo menos da</p><p>cultura comum”. Sobre estes dois sinôni-</p><p>mos escreve Roq.: “Todo homem é mais ou</p><p>menos ignorante”. Qual é aquele que tudo</p><p>sabe? Pois só aquele que tudo soubesse de</p><p>alguma coisa ignorante. Toma-se, contudo, a</p><p>palavra ignorante num sentido mais restrito,</p><p>para designar a pessoa que não sabe o que</p><p>devia saber, ou que ignora as coisas mais ge-</p><p>ralmente sabidas, ou que não tem a ciência</p><p>necessária à profissão que exerce. Ignaro é</p><p>“uma expressão pejorativa de ignorante, que</p><p>sempre se toma em mau sentido, e designa</p><p>o estado da mais crassa e vergonhosa igno-</p><p>rância: aplicada às pessoas é injuriosa, e diz-</p><p>-se com propriedade da plebe e povo rude,</p><p>sem nenhuma cultura intelectual”... – Igno-</p><p>rantão é aumentativo de ignorante, e diz</p><p>Bruns. que é “termo familiar que se aplica a</p><p>um néscio que pretende impor-se como sá-</p><p>bio”. – E vem agora, completando esta fa-</p><p>mília, toda a zoologia transfigurada: qua-</p><p>drúpede, asno, asneirão, asinino, burro,</p><p>burrego, jumento, matungo, amatungado,</p><p>maturrão. São todos termos chulos empre-</p><p>gados para significar, por analogia, inópia</p><p>intelectual, defeito de aptidão comparáveis</p><p>à bruteza do asno ou do quadrúpede em</p><p>geral. Asneirão e asinino são meras grada-</p><p>ções de asno: significando asneirão “grande</p><p>asno”, e asinino, “semelhante a asno” ou</p><p>“que faz de asno”. Jumento (assim como</p><p>burro) é o mesmo que asno; se bem que</p><p>pareçam dizer, segundo a etimologia, prin-</p><p>cipalmente jumento – “o burro de carga, o</p><p>asno que é afeito ao jugo”. De burro, te-</p><p>mos: aburrado (ou emburrado) = que se</p><p>obstina como burro”; e burrego, que equi-</p><p>vale a “pequeno burro”. – Matungo (brasi-</p><p>leirismo do sul) no sentido que aqui tem,</p><p>aplica-se ao sujeito esbodegado, lerdo e</p><p>inepto, ou incapaz de esforço em coisas de</p><p>espírito. Maturrão será um aumentativo de</p><p>matungo; e amatungado = “feito matun-</p><p>go”. – Quadrúpede designa “sujeito, além</p><p>de inculto, abrutalhado”. – Charro é “gor-</p><p>do, burro, grosseiro, alapuzado”.</p><p>40</p><p>ABEIRAR-SE, aproximar-se, apropinquar-</p><p>-se, chegar-se, achegar-se, conchegar-se,</p><p>aconchegar-se, acostar-se, encostar-se, abor-</p><p>dar, rentear, acercar-se, avizinhar-se. –</p><p>Abeirar-se diz propriamente “aproximar-se</p><p>da beira”, e, no sentido figurado, “chegar</p><p>junto, ou ao lado de alguém”. Tanto se diz:</p><p>“abeirou-se do precipício”; como “abeirou-</p><p>-se do amigo”. – Aproximar-se equivale a</p><p>apropinquar-se, significando ambos “che-</p><p>gar perto”; parecendo que este último su-</p><p>gere “ideia de pressa, celeridade, decisão”.</p><p>Dir-se-ia: “Aproximei-me pouco a pouco, ou</p><p>o mais possível...”; e não: “Apropinquei-me...”</p><p>– Chegar-se e achegar-se, à primeira vista,</p><p>parecem a mesma coisa. Mas já uma dife-</p><p>36 � Rocha Pombo</p><p>rença de sintaxe os distingue: chegar-se em-</p><p>prega-se só com a preposição a; enquanto</p><p>que achegar-se pode ser empregado tanto</p><p>com essa como com a preposição de, e mais</p><p>lidimamente com esta. Não se confundem</p><p>estas frases: “Ele chegou-se a nós” e “Ele</p><p>achegou-se de nós”. No primeiro exemplo, ele</p><p>se aproxima de nós como para amparar-se,</p><p>para pedir-nos socorro ou proteção. No se-</p><p>gundo caso, ele apenas se pôs mais perto</p><p>de nós. – Conchegar-se e aconchegar-se</p><p>significam “aproximar-se reciprocamente</p><p>(uma coisa ou pessoa da outra) de modo</p><p>a ficarem unidas, em contacto, tanto para</p><p>agasalhar-se ou confortar-se como para re-</p><p>sistir a algum mal”. Notemos que o prefixo</p><p>a de aconchegar-se lhe aumenta uma ideia de</p><p>ação imediata, flagrante, atual. Dizemos:</p><p>“Eles se aconchegaram” querendo exprimir que</p><p>duas ou mais pessoas, de propósito, com a</p><p>mesma solicitude se juntaram, ou uniram:</p><p>tanto não diz: “conchegaram-se”..., pois até</p><p>à força podiam conchegar-se. “Queremos ou</p><p>desejamos aconchegar-nos o mais possível”;</p><p>e não: “conchegar-nos”, pois este verbo não</p><p>marca tão bem atividade e gradação como</p><p>o outro. “Concheguem-se mais” não é, pelo</p><p>menos, tão próprio como: “Aconcheguem-se</p><p>mais”. – Acostar-se e encostar-se enunciam</p><p>ações diferentes, conquanto digam alguns</p><p>lexicógrafos que se equivalem. Acostar-se</p><p>é “juntar-se a alguma coisa pelas costas,</p><p>ou pelas costelas, pelo lado”; encostar-se é</p><p>“apoiar as costas a alguma coisa”. Dizemos:</p><p>“Acostei-me à parede” (isto é – “pus-me rente</p><p>à parede”) – o que é muito diferente de:</p><p>“Encostei-me à parede” (isto é – “descansei</p><p>o corpo apoiando-me na parede”). É pre-</p><p>ciso dizer: “Acostamo-nos à floresta ou à ser-</p><p>ra” (isto é – fomos até ficar muito junto à</p><p>floresta ou à serra); e não: “Encostamo-nos”.</p><p>– Abordar é propriamente “chegar à borda,</p><p>ao fim de alguma coisa, aproximar-se de sú-</p><p>bito”. “Abordamos o abismo”; “abordei-o”, ou</p><p>“abordamo-nos na rua”. – Rentear = “passar</p><p>muito junto, rente”. “Renteamos o despenha-</p><p>deiro”; e também: “Renteamos com o acampa-</p><p>mento, ou com ele”. – Acercar-se é forma-</p><p>do de a + cerca (ou cerco) + ar, e significa</p><p>“pôr-se em volta, ou em círculo, em torno de</p><p>alguém ou alguma coisa”. “Acercamo-nos dele”;</p><p>“acercaram-se do forte, ou da árvore”. – Avizi-</p><p>nhar-se diz propriamente “fazer-se vizinho,</p><p>aproximar-se bem”. “Quando a caravana se</p><p>avizinhava de Jerusalém, vimos no céu...”</p><p>41</p><p>ABESPINHAR-SE, irritar-se, zangar-se,</p><p>enfrenisar-se, enfurecer-se, irar-se, enrai-</p><p>vecer-se (raivecer-se, enraivar-se, raivar),</p><p>encolerizar-se, esquentar-se, exaltar-se,</p><p>assanhar-se, exasperar-se, embravecer</p><p>(embravecer-se, embravear), indignar-se,</p><p>apaixonar-se, impacientar-se, enfadar-se,</p><p>melindrar-se, aborrecer-se, excitar-se, in-</p><p>citar-se, estimular-se, exacerbar-se, enqui-</p><p>zilar-se (ou quizilar-se), agravar-se, agas-</p><p>tar-se, molestar-se; anojar-se, arrenegar-se,</p><p>desgostar-se, magoar-se. – Abespinhar-se</p><p>diz, segundo a própria etimologia, “irri-</p><p>tar-se como as vespas”, “zangar-se a todo</p><p>instante e por qualquer coisa”. – Irritar-se</p><p>é “perder a calma, exasperar-se provocado</p><p>por alguém ou por alguma coisa”. – Zan-</p><p>gar-se é quase o mesmo que “dar o cavaco”,</p><p>enfadar-se, amuar-se por qualquer coisa, e</p><p>mais por vício de educação que por tempe-</p><p>ramento”. – Enfrenesiar-se, ou frenesiar-</p><p>-se (também no Brasil – enfrenisar-se) é</p><p>“zangar-se, aborrecer-se como por impul-</p><p>são súbita”. – Enfurecer-se é “irritar-se até</p><p>o furor, perder a razão momentaneamen-</p><p>te, e tornar-se violento e impetuoso como</p><p>os loucos”. – Irar-se é: “perder a calma,</p><p>enfurecer-se instantaneamente” (pois a ira</p><p>dura menos ainda que o furor). – Enraive-</p><p>cer-se, ou raivecer (ou ainda enraivar-se)</p><p>equivale a “encher-se de raiva”, tomar-se</p><p>Dicionário de S inônimos da Língua Portuguesa � 37</p><p>de rancor violento e brutal. – Encolerizar-</p><p>-se é “ir ao extremo da ira, e sugere a ideia</p><p>de que foi ofendido ou provocado aquele</p><p>que se encoleriza”. O próprio Deus pode</p><p>encolerizar-se (e também irar-se, ou irritar-se) à</p><p>vista de sacrilégios, ou de grandes pecados.</p><p>– Esquentar-se é “exaltar-se um pouco, sair</p><p>da serenidade habitual”. – Exaltar-se é mais</p><p>do que esquentar-se: é “fazer-se mais enér-</p><p>gico e veemente do que convém, ou do que</p><p>é normal”. – Assanhar-se é “ficar agitado,</p><p>em fúria ou alvoroço hostil”. – Exasperar-</p><p>-se é “irritar-se em extremo, fazer-se rude e</p><p>quase furioso”. – Embravecer, ou embrave-</p><p>cer-se (ou embravear) é “tornar-se bravio,</p><p>feroz como bruto irritado”. – Indignar-se</p><p>significa “encher-se de ira por algum moti-</p><p>vo muito nobre, ou em presença de alguma</p><p>coisa que se tem por indigna”. – Apaixonar-</p><p>-se é “sair do estado normal por exaltação de</p><p>algum sentimento, seja bom, ou</p><p>seja mau”.</p><p>– Impacientar-se é propriamente “perder a</p><p>paciência, ficar insofrido, inquieto, ansio-</p><p>so”. – Enfadar-se é menos que aborrecer-se:</p><p>é “quase amuar-se”; distinguindo-se deste</p><p>em sugerir a ideia de “desgostar-se como</p><p>por fadiga”; enquanto que amuar-se signifi-</p><p>ca mais “desgostar-se por suscetibilidade”.</p><p>– Melindrar-se quer dizer “desgostar-se</p><p>por motivos muito delicados, por excesso</p><p>de pundonor, ou por afetação de melindre”.</p><p>– Aborrecer-se diz propriamente “sentir</p><p>horror”, mas perdeu alguma coisa na acep-</p><p>ção comum, principalmente como prono-</p><p>minal: é “mostrar aversão ou repugnância,</p><p>ou mesmo simples desprazer”. – Excitar-se,</p><p>incitar-se e estimular-se equivalem-se com</p><p>pequena diferença. Quem se estimula contra</p><p>nós é porque foi provocado ou importuna-</p><p>do, e pode bem ser que não revele a sua irri-</p><p>tação por mais do que animar-se de dispo-</p><p>sições infensas; quem se excita é como quem</p><p>“se irrita despertando da sua calma habitu-</p><p>al”, mostrando-se agitado e hostil. Incitar-</p><p>-se é mais vizinho de estimular-se: quem se</p><p>incita mostra “vigor anormal, quase assanho,</p><p>e por ter sido instigado”. – Exacerbar-se,</p><p>segundo a própria etimologia, diz “fazer-</p><p>-se áspero, rude, violento”. – Enquizilar-</p><p>se (ou quizilar-se) é mostrar-se menos que</p><p>zangado: mais “indisposto por impaciên-</p><p>cia e antipatia ou quase aversão”, do que</p><p>aborrecido. – Agravar-se é “fazer-se grave</p><p>por desconfiança ou aborrecimento, mos-</p><p>trar-se sentido por ofensa”. – Agastar-se</p><p>é “enfadar-se ligeiramente, parecer exausto</p><p>de paciência”. – Molestar-se é “mostrar-se</p><p>ofendido por incômodo ou por importuna-</p><p>ção”. – Anojar-se é “sentir-se incomodado,</p><p>aborrecido, triste e desgostoso”. – Arrene-</p><p>gar-se equivale a “zangar-se maldizendo e</p><p>blasfemando”. – Desgostar-se é propria-</p><p>mente “não ter mais o gosto que se tinha,”</p><p>ou “deixar de sentir o prazer que se sentia”.</p><p>– Magoar-se é “sentir-se melindrado por</p><p>alguma ofensa”, ou “ressentir-se de alguma</p><p>coisa desagradável”.</p><p>42</p><p>ABICAR, varar, fundear, ancorar, apor-</p><p>tar, arribar, surgir, abordar, chegar, atra-</p><p>car. – Abicar significa propriamente (assim</p><p>como embicar4) “dar com o bico (a proa)</p><p>em terra”; devendo empregar-se, portanto,</p><p>só tratando-se de pequenas embarcações.</p><p>– Varar também só é aplicável a pequenas</p><p>embarcações, e quer dizer “pôr em seco, ti-</p><p>rar para a praia”. – Fundear significa “dar</p><p>ou tomar fundo”. – Ancorar equivale a</p><p>fundear lançando âncora” (Aul.). Pode-se</p><p>dizer, portanto, “ancorar” depois de “haver</p><p>fundeado”; ou, como neste exemplo: “Fundeou</p><p>toda a frota na vasta baía, e à tarde ancoramos</p><p>a nossa nau mais junto à terra”. – Aportar</p><p>diz precisamente “tomar porto, conduzir</p><p>4 � Convindo não confundir com embicar = “en-</p><p>caminhar pela bica”.</p><p>38 � Rocha Pombo</p><p>ao porto, entrar no porto”. – Arribar sig-</p><p>nifica “ser forçado a tomar porto”, “procu-</p><p>rar abrigo ou refúgio”, “entrar num porto</p><p>que não é o que se demandava”. – Surgir é</p><p>“aparecer, chegar por via marítima” (Aul.)</p><p>parecendo aduzir à “noção de chegar a ideia</p><p>de surpresa”, como se dissesse: “apresentar-</p><p>-se, entrar de repente, ou sem ser esperado”.</p><p>– Abordar significa propriamente “encos-</p><p>tar ao bordo”; e por extensão “chegar à ter-</p><p>ra ou ao porto, dar com o bordo junto à</p><p>terra”. – Chegar é o mais genérico de todos</p><p>os do grupo, e quer dizer “alcançar o ponto</p><p>demandado”; e, particularmente, tratando-</p><p>-se de navios: “entrar no porto ao cabo de</p><p>uma viagem”. A embarcação que sai, mas</p><p>volta ao porto sem ter seguido a seu des-</p><p>tino, não chega – arriba. – Atracar equivale</p><p>quase a abordar: é “chegar e prender-se à</p><p>terra ou a outra embarcação”.</p><p>43</p><p>ABISMO5, precipício, sorvedouro, traga-</p><p>doiro, voragem, báratro, pego, rodomoi-</p><p>nho, despenhadeiro. – “Precipício (do</p><p>latim prœ “para diante”, e caput “cabeça”)</p><p>é um espaço vazio – diz Bourguig. – pro-</p><p>fundo, escarpado, no qual se está exposto</p><p>a cair, a ser precipitado. A ideia principal que</p><p>sugere esta palavra é a do perigo da que-</p><p>da, por causa do escarpamento das beiras,</p><p>e da dificuldade da marcha quando se as</p><p>circula, ou da passagem quando se as quer</p><p>evitar”. É “por isso que, no sentido figura-</p><p>do, se emprega esta palavra para designar os</p><p>grandes perigos de que muito dificilmente</p><p>se pode sair e que só se descobrem quando</p><p>já é dificílimo evitá-los”. – Voragem (do</p><p>latim vorago) “é o nome” – diz Bruns. –</p><p>“desses terríveis remoinhos formados pela</p><p>ação de correntes opostas, e que arrastam</p><p>fatalmente para a profundeza, tragando-as,</p><p>subvertendo-as, as embarcações que a im-</p><p>perícia ou a fatalidade leva até onde alcança</p><p>a influência do torvelinho. É, pois, a ideia</p><p>de tragar que predomina nesta palavra; por</p><p>isso, emprega-se no figurado para designar</p><p>o que atrai irresistivelmente para a ruína ou</p><p>a morte inevitável”. – Abismo (do baixo-</p><p>-latim abysmus, correspondente de abyssus)</p><p>significa propriamente aquilo “que não tem</p><p>fundo” e onde desaparece para sempre o</p><p>que chegou a cair. – Sorvedouro e traga-</p><p>doiro confundem-se: este último, no entan-</p><p>to, é mais forte e sugere a ideia da violência</p><p>inevitável com que a voragem engole, traga o</p><p>que nela cai. Há, portanto, entre sorvedou-</p><p>ro e tragadoiro a mesma diferença que se</p><p>nota entre sorver e tragar. – Báratro era o</p><p>precipício onde se fazia cair o criminoso de</p><p>certos crimes em Atenas: daí a significação</p><p>de “profundeza como a do inferno”, onde</p><p>alguém é lançado como castigo. – Pego é</p><p>a parte mais profunda do mar, de um rio,</p><p>de um lago; onde, portanto, são mais para</p><p>temer os perigos. – Rodomoinho (ou re-</p><p>moinho) é quase o mesmo que sorvedoiro:</p><p>não dá, no entanto, como este, só a ideia de</p><p>“absorção para o fundo”, pois o remoinho</p><p>pode também levar para os ares. – Despe-</p><p>nhadeiro diz propriamente “rochedo eleva-</p><p>do e abruto” de onde há grande perigo em</p><p>lançar-se alguém.</p><p>44</p><p>ABJETO, detestável, desprezível, ignóbil,</p><p>indigno, baixo, vil, repelente, abominável,</p><p>abominando, abominoso, repugnante, exe-</p><p>crando, execrável, aborrecível (aborrível),</p><p>odioso. – Abjeto é o mais compreensivo</p><p>de todos os do grupo, significando quase o</p><p>mesmo que detestável; sendo de notar que a</p><p>coisa abjeta é a que repelimos como indigna</p><p>de nós; e a coisa detestável é a que não pode</p><p>5 � Abismo é do baixo-latim abysmus. A forma culta</p><p>é abysso (latim clássico abyssus, do grego abussos = a +</p><p>bussos “sem fundo”).</p><p>Dicionário de S inônimos da Língua Portuguesa � 39</p><p>ter a nossa sanção moral, e não é recebida</p><p>por nós; ou a coisa da qual não queremos</p><p>saber. Convém ainda advertir que abjeto</p><p>ajunta à noção de detestável a ideia de bai-</p><p>xeza. Um indivíduo, ou uma coisa, pode ser</p><p>detestável, portanto, sem ser abjeta. “F. é um</p><p>poeta detestável” (não abjeto). “A vida fora de</p><p>Paris é detestável” (não abjeta). Em caso algum,</p><p>porém, a coisa abjeta deixaria de ser detestá-</p><p>vel. – Desprezível significa precisamente,</p><p>segundo a própria formação – “digno de</p><p>desprezo”; e é dos mais vagos do grupo. –</p><p>Ignóbil diz propriamente – “sem nobreza,</p><p>baixo de condição, grosseiro e vil”. – In-</p><p>digno aproxima-se de ignóbil, e aplica-se ao</p><p>que é baixo e desprezível. – Vil e baixo tam-</p><p>bém se aproximam muito. Segundo Roq.,</p><p>são “palavras que apresentam a ideia de des-</p><p>prezo, posto que sob diferentes aspetos...</p><p>Baixo é o homem que abate a sua dignidade;</p><p>vil o que perde a estima dos outros e ainda</p><p>a sua própria. Baixo é o que por cobardia</p><p>sofre injúrias de outrem; e muito vil o que</p><p>as sofre contente, por seu interesse e com o</p><p>fim de fazer fortuna por meios indecoro-</p><p>sos. O descarado adulador, que nem ânimo</p><p>tem para saber calar, é baixo; o mais vil dos</p><p>homens é o que vende sua honra e sua cons-</p><p>ciência para adquirir dignidades e riquezas.</p><p>Todo vício é baixo e desprezível; porém cha-</p><p>mamos particularmente baixos aqueles que</p><p>supõem falta de vigor e de energia, como,</p><p>v. g., a avareza. São particularmente vis os</p><p>vícios que desonram e infamam, converten-</p><p>do o homem numa besta malévola, feroz e</p><p>estúpida, como costuma suceder na embria-</p><p>guez. Chamamos ofícios baixos aqueles que</p><p>só exerce a gente miserável e abandonada;</p><p>como algumas ocupações mecânicas, que</p><p>não exigem mais que um trabalho material</p><p>e nenhum talento, nem instrução, e que por</p><p>isso são tidos em nenhuma conta. Chama-</p><p>se vil o “exercício que se tem por desprezível</p><p>em razão de ser sujo, feroz e brutal na sua</p><p>execução, e entregue de ordinário a gentes</p><p>tidas por infames em seu proceder”. – Re-</p><p>pelente oferece alguma coisa de comum</p><p>com detestável e abjeto; podendo-se enten-</p><p>der que reúne o valor destes dois: é repelente o</p><p>que “se detesta ou repele com asco”. – Abo-</p><p>minável é “o que é digno de condenação</p><p>como coisa ímpia e nefanda”; o que “se</p><p>condena, se detesta, se afasta com horror”.</p><p>Abominando quer dizer – “que se há de</p><p>abominar; que se fez para ser negado, repe-</p><p>lido por todas as consciências como sacri-</p><p>légio”. Abominoso é o que “contém, o que</p><p>está cheio de abominação”. – Repugnante</p><p>é vizinho de repelente: é “o que se repulsa</p><p>como coisa nojenta”. – Execrável é o que</p><p>“atenta contra lei sagrada”. – Execrando é</p><p>“o que merece maldição de todo mundo”;</p><p>que “afronta o nosso sentimento religioso”.</p><p>É mais forte que execrável. – Aborrecível,</p><p>ou aborrível, significa propriamente – “que</p><p>inspira horror, que causa aversão”. – Odio-</p><p>so quer dizer – “que merece ódio”.</p><p>45</p><p>ABJURAR, renegar, trair, renunciar, apos-</p><p>tatar, desprofessar, abrenunciar, conver-</p><p>ter-se. – Sobre abjurar, apostatar e renegar</p><p>escreve Bruns.: Abjurar (do latim abjurare</p><p>“negar com juramento”) é renunciar sole-</p><p>nemente à religião que se tem seguido e que</p><p>se reputa falsa. Note-se, porém, que o verbo</p><p>abjurar, que não encerra ideia depreciativa,</p><p>não é por todos aplicado ao mesmo ato: o</p><p>que é abjurar para uns é apostatar para outros.</p><p>Os católicos dizem que Henrique IV de</p><p>França abjurou o protestantismo; ao passo</p><p>que os protestantes qualificam esse ato com</p><p>o verbo apostatar. Entre nós temos o exemplo</p><p>do padre Guilherme Dias, que, segundo os</p><p>protestantes, abjurou os erros do catolicismo;</p><p>enquanto os católicos dizem que ele aposta-</p><p>tou do catolicismo. “Note-se também que</p><p>os católicos, que empregam o verbo apos-</p><p>40 � Rocha Pombo</p><p>tatar, lhe dão, por conveniência própria, o</p><p>sentido de ser o interesse, e não a convicção,</p><p>o principal móbil que leva à mudança de</p><p>religião; não assim os membros das outras</p><p>religiões”. Abjurar diz propriamente “jurar</p><p>contra alguma coisa, lançando-a fora do es-</p><p>pírito.” Quem abjura afasta da consciência a</p><p>coisa abjurada, podendo ainda continuar a</p><p>tê-la em respeito. Quem apostata deixa, aban-</p><p>dona, põe longe de si a coisa (o princípio, a</p><p>crença, a opinião, etc.), de que apostatou por</p><p>uma outra coisa. – Renegar é ao mesmo</p><p>tempo abjurar e apostatar “passando a ter</p><p>ódio à coisa renegada”. – Trair neste grupo</p><p>aproxima-se muito de renegar: é “negar ou</p><p>protestar com perfídia, faltando à fé jurada</p><p>com os da grei”. Pode-se renegar sem trair: e</p><p>a inversa também é admissível, pois mesmo</p><p>aquele que trai o seu Deus, o seu culto, a sua</p><p>seita, a sua causa, nem sempre a renegará ne-</p><p>cessariamente. Quantos traidores ficam pre-</p><p>ferindo de coração, e até de consciência, a</p><p>coisa traída. – Renunciar é aqui convizinho</p><p>de apostatar; devendo subentender-se que</p><p>aquele que renuncia abandona apenas a ve-</p><p>lha crença, causa, princípio, escola, etc., sem</p><p>mágoa, sem ódio, ou sem intenções hostis</p><p>a respeito da coisa renunciada; mas aquele</p><p>que apostata é como o trânsfuga, que sai do</p><p>seu grêmio, ou do seu partido e vai para ou-</p><p>tro. De um sujeito que tivesse deixado a sua</p><p>religião, e ficasse sem nenhuma crença, isto</p><p>é, um indiferente em matéria religiosa, ou</p><p>um ateu – não se poderia dizer que apostatou:</p><p>sim que renunciou. Um sujeito que se pas-</p><p>sasse para uma religião nova (ou para outro</p><p>partido, ou escola filosófica) e fosse comba-</p><p>ter a antiga – esse, sim, é um apóstata, e dele</p><p>se diz com toda propriedade que apostatou.</p><p>– Abrenunciar é mais forte que renunciar.</p><p>Este diz apenas, como vimos, “deixar de</p><p>crer, de aceitar, de ter na conta em que se ti-</p><p>nha”; abrenunciar significa “negar, detestar</p><p>afastando com horror”. Abrenuncia-se a vida</p><p>ímpia em que se andava, um erro sacrílego</p><p>em que se vivia; abrenuncia-se o espírito do</p><p>mal, o demônio. – Desprofessar é neologis-</p><p>mo aproveitável e perfeitamente legítimo:</p><p>diz, segundo a própria formação, “deixar</p><p>de professar”, isto é, de “dar testemunho,</p><p>de reconhecer formalmente, de exercer em</p><p>público. O sujeito que desprofessa o seu cul-</p><p>to pode passar a crer só consigo mesmo o</p><p>que já cria, deixando apenas de continuar</p><p>a fazer confissão pública da sua crença. –</p><p>Sobre converter-se (que se aproxima de</p><p>abjurar), diz Bourguig.: “Converter-se marca</p><p>simplesmente uma mudança que se operou</p><p>nas crenças, na fé, e que leva a passar de uma</p><p>religião reconhecida falsa para uma religião</p><p>considerada verdadeira”. Além disso, quan-</p><p>do se emprega este termo, tem-se em vista a</p><p>religião que se abraça, e não a que se deixa.</p><p>Henrique IV converteu-se ao catolicismo.</p><p>46</p><p>ABLAÇÃO, amputação. – “Em linguagem</p><p>cirúrgica” – diz Bruns. – “consiste a am-</p><p>putação em cortar um membro superior ou</p><p>inferior: amputam-se os braços ou as pernas.</p><p>A ablação consiste em extrair de qualquer</p><p>parte do corpo uma parte mórbida: faz-se a</p><p>ablação de um quisto”.</p><p>47</p><p>ABNEGAÇÃO, desinteresse, desapego, de-</p><p>sambição, desamor, desprendimento, al-</p><p>truísmo. – Quanto a abnegação e desinte-</p><p>resse escreve Bruns.: “Abnegação diz mais</p><p>que desinteresse. O desinteresse cessa onde</p><p>principia o interesse próprio; a abnegação</p><p>não tem limites. Desinteresse diz-se do que</p><p>é material: é desinteresse vender por baixo pre-</p><p>ço (com pequeno lucro); ceder um ganho</p><p>lícito; renunciar a uma herança em favor de</p><p>um parente pobre: é abnegação ceder o que</p><p>nos é indispensável; interceder em favor de</p><p>um inimigo; arriscar a saúde velando duran-</p>

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