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<p>INTRODUÇÃO</p><p>A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E</p><p>SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA</p><p>Prof. João Vitor Rodrigues de Souza</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E</p><p>SANITÁRIA</p><p>Marília/SP</p><p>2023</p><p>“A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma</p><p>ação integrada de suas atividades educacionais, visando à</p><p>geração, sistematização e disseminação do conhecimento,</p><p>para formar profissionais empreendedores que promovam</p><p>a transformação e o desenvolvimento social, econômico e</p><p>cultural da comunidade em que está inserida.</p><p>Missão da Faculdade Católica Paulista</p><p>Av. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo.</p><p>www.uca.edu.br</p><p>Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma</p><p>sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria,</p><p>salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a</p><p>emissão de conceitos.</p><p>Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 5</p><p>SUMÁRIO</p><p>CAPÍTULO 01</p><p>CAPÍTULO 02</p><p>CAPÍTULO 03</p><p>CAPÍTULO 04</p><p>CAPÍTULO 05</p><p>CAPÍTULO 06</p><p>CAPÍTULO 07</p><p>CAPÍTULO 08</p><p>CAPÍTULO 09</p><p>CAPÍTULO 10</p><p>CAPÍTULO 11</p><p>CAPÍTULO 12</p><p>CAPÍTULO 13</p><p>CAPÍTULO 14</p><p>CAPÍTULO 15</p><p>08</p><p>21</p><p>37</p><p>57</p><p>72</p><p>83</p><p>96</p><p>109</p><p>120</p><p>136</p><p>154</p><p>169</p><p>186</p><p>198</p><p>215</p><p>ENGENHARIA, NATUREZA E A PROFISSÃO DE</p><p>ENGENHARIA AMBIENTAL</p><p>FUNDAMENTOS ECOLÓGICOS</p><p>POLUIÇÃO DO SOLO E RECUPERAÇÃO DE</p><p>ÁREAS DEGRADADAS</p><p>POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA</p><p>SISTEMA DE ABASTECIMENTO E</p><p>TRATAMENTO DE ÁGUA</p><p>TRATAMENTO DE ESGOTO</p><p>GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS</p><p>MUDANÇAS CLIMÁTICAS</p><p>GEOPROCESSAMENTO E SISTEMA DE</p><p>INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA</p><p>DIREITO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO</p><p>BRASIL</p><p>LICENCIAMENTO E CONTROLE AMBIENTAL</p><p>ÁREAS PROTEGIDAS</p><p>RECURSOS ENERGÉTICOS</p><p>GESTÃO AMBIENTAL EM ORGANIZAÇÕES</p><p>EMPRESARIAIS</p><p>SUSTENTABILIDADE E INOVAÇÕES</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 6</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>O ar é seguro para respirar? A água é apropriada para se beber? Os peixes que</p><p>pescamos e as colheitas que cultivamos são seguros para comer? Para onde vai o</p><p>lixo depois que o caminhão o pega da minha casa? Isso é ambientalmente seguro?</p><p>E essa tal sustentabilidade?</p><p>Perguntas como essas, exploradas no 1º parágrafo, são comumente ditas por</p><p>diferentes pessoas, quase que diariamente. A engenharia ambiental engloba todas</p><p>essas preocupações em seu papel de proteger as pessoas dos efeitos ambientais</p><p>nocivos.</p><p>A engenharia ambiental é a aplicação de princípios de engenharia para melhorar e</p><p>manter o meio ambiente para (1) proteger a saúde humana, (2) proteger os ecossistemas</p><p>da natureza e (3) melhorar nossa qualidade de vida. Originalmente, era um campo</p><p>especializado dentro da engenharia civil (chamado de engenharia sanitária) até</p><p>meados da década de 1960, quando o nome mais preciso de engenharia ambiental foi</p><p>adotado. Hoje a engenharia ambiental envolve o controle da poluição do ar, da água e</p><p>sonora; tratamento e distribuição de água potável; coleta, tratamento e disposição de</p><p>águas residuais; gestão municipal de resíduos sólidos; avaliação e impacto ambientais;</p><p>gestão ambiental; políticas públicas; geoprocessamento, dentre outras várias áreas</p><p>do conhecimento.</p><p>Nesta Unidade, iremos compreender a origem e atuação profissional de Engenheiros</p><p>Ambientais e Sanitaristas. Forneceremos material sobre ferramentas de modelagem</p><p>ambiental, qualidade e controle do ar e da água e sistemas de gerenciamento de</p><p>resíduos sólidos e efluentes. Abordaremos conceitos relacionados a geoprocessamento,</p><p>gestão ambiental e sustentabilidade.</p><p>A disciplina de engenharia ambiental não tem uma definição única e amplamente</p><p>aceita. Por isso, esta disciplina não se concentra em definir o campo como ele é, mas</p><p>procura delinear uma visão das maneiras pelas quais o conhecimento, as habilidades e</p><p>as áreas de foco da engenharia ambiental podem ajudar a enfrentar os desafios futuros.</p><p>Cumprir esta visão exigirá um novo modelo para a prática, educação e pesquisa de</p><p>engenharia ambiental - desenvolvendo e complementando as competências básicas</p><p>tradicionais do campo.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 7</p><p>Nosso objetivo é que você possa compreender os conceitos básicos que fundamentam</p><p>a exploração dos recursos naturais pelo Homem e sua consequência; que saiba analisar</p><p>a origem dos problemas e impactos ambientais e sanitários através da visão geral dos</p><p>principais problemas ambientais no Brasil e no mundo; consiga identificar o papel do</p><p>engenheiro ambiental e sanitarista na resolução de problemas relacionados a questões</p><p>de saneamento ambiental; recursos naturais e poluição ambiental. Queremos te tornar</p><p>apto a atuar nas mais diferentes áreas que envolvem a Engenharia Ambiental e Sanitária.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 8</p><p>CAPÍTULO 1</p><p>ENGENHARIA, NATUREZA E A</p><p>PROFISSÃO DE ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL</p><p>Na civilização ocidental, a agricultura estabelecida e o desenvolvimento de</p><p>habilidades agrícolas criaram um tecido social cooperativo e geraram crescimento</p><p>de comunidades, bem como mudaram a face da Terra com seu impacto primordial</p><p>no ambiente natural. À medida que a eficiência agrícola aumentou, tornou-se possível</p><p>uma divisão do trabalho e as comunidades começaram a construir estruturas públicas</p><p>e privadas que projetavam soluções para problemas públicos específicos. A defesa</p><p>dessas estruturas e do terreno tornou-se primordial, e outras estruturas posteriormente</p><p>foram construídas apenas para fins defensivos. Em algumas sociedades a conquista</p><p>de vizinhos exigia a construção de máquinas de guerra. Os construtores de máquinas</p><p>de guerra tornaram-se conhecidos como engenheiros, e o termo “engenheiro” continuou</p><p>a implicar no envolvimento militar até o século XVIII.</p><p>Em 1782, John Smeaton, construtor de estradas, estruturas e canais na Inglaterra,</p><p>reconheceu que sua profissão tendia a se concentrar na construção de instalações</p><p>públicas, e não puramente militares, e que ele poderia ser corretamente designado</p><p>como engenheiro civil. Este título foi amplamente adotado por engenheiros envolvidos</p><p>em obras públicas (MACEDO e SAPUNARU, 2016).</p><p>O abastecimento de água e a drenagem de águas residuais estavam entre as</p><p>instalações públicas projetadas por engenheiros civis para controlar a poluição ambiental</p><p>e proteger a saúde pública. A disponibilidade de água sempre foi um componente</p><p>crítico das civilizações. A Roma Antiga, por exemplo, tinha água fornecida por nove</p><p>aquedutos diferentes de até 80 km de comprimento, com seções transversais de 2 a</p><p>15 m. O objetivo dos aquedutos era transportar água de nascente, que até os romanos</p><p>sabiam que era melhor beber do que a água do rio Tibre.</p><p>Com o crescimento das cidades, a demanda por água aumentou</p><p>dramaticamente. Durante os séculos XVIII e XIX, os moradores mais pobres das cidades</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 9</p><p>europeias viviam em condições abomináveis, com abastecimento de água extremamente</p><p>poluído, caro ou inexistente. Em Londres, o abastecimento de água era controlado por</p><p>nove empresas privadas diferentes e a água era vendida ao público. As pessoas que</p><p>não podiam pagar pela água frequentemente a mendigavam ou a roubavam. Durante</p><p>epidemias de doenças, a privação era tão grande que muitos bebiam água de sulcos</p><p>e depressões em campos arados. As secas fizeram com que o abastecimento de</p><p>água fosse reduzido e grandes multidões se formassem para esperar sua “vez” nas</p><p>bombas públicas (BROCKMAN, 2010).</p><p>O descarte de lixo humano nas primeiras cidades apresentava tanto um incômodo</p><p>quanto um sério problema de saúde. Frequentemente, o método de descarte consistia</p><p>é parte</p><p>integrante do desenvolvimento do solo. Dependendo dos fatores de formação do solo</p><p>em uma área, o intemperismo pode ocorrer rapidamente ao longo de uma década ou</p><p>lentamente ao longo de milhões de anos. Por se desenvolver em prazos muito longos, o</p><p>solo pode ser considerado um recurso natural não renovável. Fatores físicos, químicos</p><p>e biológicos podem governar o intemperismo, de maneira isolada ou conjunta, atuando</p><p>diretamente no desenvolvimento do solo.</p><p>A formação do solo é um processo dinâmico e não estático, enquanto cinco fatores</p><p>principais influenciam os tipos de solo que se desenvolvem. Quando esses cinco fatores</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 39</p><p>forem os mesmos na paisagem, o solo será o mesmo. No entanto, quando um ou mais</p><p>fatores forem diferentes, os solos serão diferentes. Os fatores são (TORRES, 2011):</p><p>• Clima (principalmente temperatura e precipitação): O clima determina a natureza</p><p>do intemperismo que ocorre. A temperatura e a precipitação, por exemplo,</p><p>afetam as taxas de processos físicos, químicos e biológicos que definem o</p><p>desenvolvimento do perfil.</p><p>• Organismos vivos: Vegetação nativa, microrganismos, animais do solo e seres</p><p>humanos são fatores que influenciam no acúmulo de matéria orgânica, mistura</p><p>de perfis, ciclagem de nutrientes e estabilidade estrutural do solo.</p><p>• Natureza do material original: os processos geológicos trouxeram à superfície da</p><p>Terra numerosos materiais de origem nos quais os solos se formam. A natureza</p><p>dos materiais de origem influencia principalmente a textura do solo e, portanto,</p><p>muitas propriedades físicas do solo, como o movimento descendente da água,</p><p>composição, vegetação natural e a quantidade e tipo de minerais argilosos</p><p>presentes no perfil do solo.</p><p>• Relevo/Topografia: se relaciona com a configuração da superfície do terreno e</p><p>é descrita em termos de diferença de altitude, inclinação, etc. A topografia do</p><p>terreno pode acelerar ou retardar os processos das forças climáticas e, portanto,</p><p>também pode modificar seus efeitos, como na formação do solo.</p><p>• Tempo: O período de tempo em que o material original foi submetido ao</p><p>intemperismo. O tempo necessário para o desenvolvimento de um horizonte,</p><p>no entanto, é influenciado pelo material de origem, pelo clima e pela vegetação,</p><p>enfatizando a interação do tempo com os demais fatores formadores do solo.</p><p>A Figura 1 sintetiza os principais fatores que interferem na formação do solo.</p><p>https://www.sciencedirect.com/topics/earth-and-planetary-sciences/soil-texture</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 40</p><p>Figura 1 – Representação de um perfil de solo com variações na cobertura pedológica relacionadas à atuação dos fatores de formação do solo</p><p>Fonte: EMPRAPA (2019, p. 5)</p><p>Um solo se distingue do material de origem intemperizado pela diferenciação</p><p>vertical que apresenta devido à atividade biológica, de modo que as propriedades</p><p>que são destacadas na maioria dos sistemas de classificação de solos devem ser</p><p>exibidas no perfil do solo. O solo só se desenvolve onde há uma interação dinâmica</p><p>entre o ar, a água, os organismos vivos e a geologia. São essas interações dinâmicas</p><p>que contribuem para as múltiplas funções que os solos desempenham (MIHELCIC e</p><p>ZIMMERMAN, 2012).</p><p>3.1.1 Propriedades Gerais do Solo</p><p>As características do solo variam muito de lugar para lugar, por exemplo, o solo</p><p>em encostas íngremes geralmente não é tão profundo e produtivo quanto o solo em</p><p>encostas suaves; o solo que se desenvolveu a partir de arenito é mais arenoso e menos</p><p>produtivo inerentemente do que o solo formado a partir de rochas como o calcário; o</p><p>solo que se desenvolveu em climas tropicais é bem diferente de um solo encontrado</p><p>em áreas temperadas ou árticas. Para descrever as variações do solo, os cientistas</p><p>do solo estabeleceram sistemas de classificação que reconhecem um grande número</p><p>de solos individuais, cada um com características distintas (LEPSCH, 2011).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 41</p><p>O exame de uma seção vertical de um solo revela a presença de camadas horizontais</p><p>mais ou menos distintas. Essa seção é chamada de perfil e as camadas individuais</p><p>são conhecidas como horizontes. Todo solo bem desenvolvido e não perturbado tem</p><p>suas próprias características de perfil distintas. Esses perfis são úteis na classificação</p><p>e levantamento de solos, mas são de grande importância para determinar como os</p><p>solos podem ser melhor utilizados. As camadas superiores ou horizontes de um perfil</p><p>de solo são de cor mais escura do que os horizontes inferiores (horizontes A). Essa</p><p>diferença se deve ao acúmulo de matéria orgânica resultante da decomposição das</p><p>raízes das plantas e de outros resíduos orgânicos incorporados nas camadas superiores</p><p>do solo. Também o intemperismo tende a ser mais intenso no horizonte superior do</p><p>que nas camadas inferiores.</p><p>O solo superficial é a principal zona de desenvolvimento radicular para as plantas</p><p>cultivadas. Ele contém muitos dos nutrientes disponíveis para as plantas e fornece</p><p>grande parte da água necessária para o seu crescimento. Através do cultivo adequado</p><p>e da incorporação de resíduos orgânicos, o solo superficial pode ser mantido solto e</p><p>aberto para garantir o suprimento equilibrado de ar e água para as raízes das plantas.</p><p>Pode ser tratado facilmente com fertilizantes comerciais e calcário, permitindo que</p><p>a fertilidade do solo e, em menor grau, sua produtividade, sejam aumentadas ou</p><p>estabilizadas em níveis compatíveis com a produção econômica das culturas (LEPSCH,</p><p>2011).</p><p>As camadas subjacentes contêm comparativamente menos matéria orgânica do</p><p>que aquelas mais próximas da superfície. Elas são caracterizados por um acúmulo</p><p>de quantidades variadas de substâncias como argilas silicatadas, óxidos de ferro e</p><p>alumínio, gesso e carbonato de cálcio. Essas camadas subjacentes são chamadas de</p><p>horizontes B. Portanto, o subsolo é composto por aquelas camadas de solo abaixo do</p><p>solo superficial. Não é visto da superfície e não é comumente perturbado pelo preparo</p><p>do solo; no entanto, sua característica pode afetar os usos da terra, por exemplo, a</p><p>produção agrícola é afetada pela penetração das raízes no subsolo e pelo reservatório</p><p>de água e nutrientes que ela têm, ou o movimento descendente da água de drenagem às</p><p>vezes é impedido ou aprimorado pelo subsolo devido às suas propriedades específicas</p><p>(LEPSCH, 2011).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 42</p><p>ANOTE ISSO</p><p>No Brasil, a Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (EMBRAPA) criou</p><p>o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS), sendo este um sistema</p><p>taxonômico de solos, hierárquico, multicategórico, cuja finalidade é agrupar e</p><p>categorizar os solos existentes no País. O SiBCS compreende seis categorias de</p><p>classificação e pode ser comparada com aquelas utilizadas para a classificação</p><p>das plantas: (1) ordem (categoria mais ampla), (2) subordem, (3) grande grupo, (4)</p><p>subgrupo, (5) família, e (6) séries (categoria mais específica) (EMBRAPA, 2019).</p><p>No que diz respeito às ordens de solos, existem 13 ordens de solos, sendo eles:</p><p>Latossolos, Argissolos, Neossolos, Nitossolos, Cambissolos, Plintossolos, Gleissolos,</p><p>Espodossolos, Vertissolos, Planossolos, Luvissolos, Organossolos e Chernossolos,</p><p>cada um com características e potencialidades diferentes (EMBRAPA, 2019).</p><p>A Figura 2 apresenta essas diferentes ordens de solo enquanto a distribuição nacional</p><p>das 13 ordens de solo pode ser vista no Figura 3.</p><p>Figura 2 – Diferentes perfis de solos. (A) Chernossolo Rêndzico; (B) Gleissolo Háplico; (C) Organossolo Fólico e (D) Argissolo Vermelho</p><p>Fonte: EMPRAPA (2019, p. 5)</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 43</p><p>Figura 3 – Mapa de Solos no Brasil – 1ª Ordem</p><p>Fonte: EMBRAPA (2019, p. 7)</p><p>3.1.2 Poluição sobre o solo</p><p>A poluição do solo é definida como a presença de produtos químicos tóxicos</p><p>(poluentes ou contaminantes) no solo, em concentrações suficientemente altas para</p><p>representar um risco para a saúde humana e/ou para o ecossistema. No caso de</p><p>contaminantes que ocorrem naturalmente no solo, mesmo quando seus níveis não</p><p>são altos o suficiente para representar um risco, a poluição do solo ainda ocorre se</p><p>os níveis dos contaminantes excederem os níveis que deveriam estar naturalmente</p><p>presentes (TORRES, 2011).</p><p>Todos os solos, poluídos ou não, contêm uma variedade de compostos (contaminantes)</p><p>que estão naturalmente presentes. Esses contaminantes incluem metais, íons e sais</p><p>inorgânicos (por exemplo, fosfatos, carbonatos, sulfatos, nitratos) e muitos compostos</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 44</p><p>orgânicos (como lipídios, proteínas, DNA, ácidos graxos, hidrocarbonetos, PAHs, álcoois,</p><p>etc.). Esses compostos são formados principalmente através da atividade microbiana</p><p>do solo e decomposição de organismos (por exemplo, plantas e animais). Além disso,</p><p>vários compostos chegam ao solo a partir da atmosfera, por exemplo, com água</p><p>de precipitação, bem como pela atividade do vento ou outros tipos de distúrbios do</p><p>solo, e de corpos d’água superficiais e águas subterrâneas rasas que fluem pelo solo.</p><p>Quando as quantidades de contaminantes do solo excedem os níveis naturais (o</p><p>que está naturalmente presente em vários solos), a poluição é gerada. As principais</p><p>causas pelas quais a poluição do solo é gerada: causas antropogênicas (feitas pelo</p><p>homem) e causas naturais.</p><p>Os processos naturais podem levar a um acúmulo de produtos químicos tóxicos</p><p>no solo. Esse tipo de contaminação foi registrado apenas em alguns casos, como o</p><p>acúmulo de níveis mais elevados de perclorato no solo do deserto do Atacama, no Chile,</p><p>um tipo de acúmulo puramente devido a processos naturais em ambientes áridos.</p><p>A poluição antrópica (produzida pelo homem) do solo tem origem em vários tipos</p><p>de processos, alguns deliberados (industriais) e outros acidentais. A poluição do solo</p><p>causada pelo homem pode funcionar em conjunto com processos naturais para</p><p>aumentar os níveis de contaminação tóxica no solo e podem incluir, dentre outras</p><p>atividades:</p><p>• Derramamentos e vazamentos acidentais durante o armazenamento, transporte</p><p>ou uso de produtos químicos (ex: vazamentos e derramamentos de gasolina e</p><p>diesel em postos de gasolina);</p><p>• Atividades de fundição e processos de fabricação que envolvem fornos ou</p><p>outros processos que resultem na possível dispersão de contaminantes no</p><p>meio ambiente;</p><p>• Atividades de mineração envolvendo a trituração e processamento de matérias-</p><p>primas, por exemplo, metais pesados, emitindo substâncias tóxicas;</p><p>• Atividades de construção;</p><p>• Atividades agrícolas envolvendo a difusão de herbicidas, pesticidas e/ou</p><p>inseticidas e fertilizantes;</p><p>• Atividades de transporte;</p><p>• Despejo de resíduos químicos (seja acidental ou deliberado – como despejo</p><p>ilegal);</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 45</p><p>• Armazenamento de resíduos em aterro: os resíduos podem vazar para as águas</p><p>subterrâneas ou gerar vapores poluídos.</p><p>ISTO ACONTECE NA PRÁTICA</p><p>Em 13 de setembro de 1987, vasculhando uma clínica abandonada em Goiânia,</p><p>capital do estado de Goiás, foi encontrada uma fonte de radioterapia que havia sido</p><p>deixada para trás. A lata de chumbo e aço parecia bastante inocente, mas continha</p><p>uma pequena cápsula com uma janela de irídio, cheia de cloreto de césio altamente</p><p>radioativo. Dois homens encontraram a lata e a levaram para casa em um carrinho</p><p>de mão. Foi o início de um processo que foi descrito como um dos piores acidentes</p><p>nucleares do mundo.</p><p>Os processos de ressuspensão do solo e o enterro de resíduos domésticos</p><p>contaminados em jardins não utilizados foram os principais contribuintes para</p><p>a disseminação de Césio 137 nos solos dos locais contaminados secundários.</p><p>Apenas locais dentro de um raio de 50 m dos locais contaminados primários</p><p>apresentaram a necessidade de ação remediadora. As medições da taxa de</p><p>dose de radiação e os perfis do solo foram bons indicadores da extensão da</p><p>contaminação secundária e foram fundamentais para as decisões tomadas sobre</p><p>os procedimentos de descontaminação. Nos casos de contaminação superficial,</p><p>60% em média da atividade total permaneceu na camada superior de 1,5 cm nos</p><p>primeiros 5 meses após o acidente. Mais de 30 anos depois do incidente, áreas ao</p><p>entorno do epicentro da contaminação permanecem com alto índice de radiação do</p><p>elemento químico, ainda que ocupadas pela população.</p><p>Fonte: SCHUMANN, B; BERWIG, J, A. O desastre radiológico do césio 137: lições</p><p>após 30 anos da sua ocorrência. Direito, Estado e Sociedade, n. 54, p. 262-286,</p><p>2019.</p><p>É importante ressaltar que o solo atua como um sumidouro natural de contaminantes,</p><p>acumulando e às vezes concentrando contaminantes que acabam no solo de várias</p><p>fontes. Pequenas quantidades de contaminantes se acumulam no solo e - dependendo</p><p>das condições ambientais (incluindo tipos de solo) e da degradabilidade do contaminante</p><p>liberado - pode atingir níveis elevados e poluir o solo. Se o solo estiver contaminado,</p><p>alimentos cultivados neste também podem ficar poluídos. Isso acontece porque a</p><p>maioria dos poluentes presentes no solo são extraídos pelas plantas junto com a</p><p>água toda vez que se alimentam (BOTKIN e KELLER, 2011). Diante disso, torna-se</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 46</p><p>fundamental estabelecer mecanismos de recuperação e/ou remediação dos solos</p><p>contaminados.</p><p>3.2 Recuperação de Áreas</p><p>A recuperação de uma área ocorre quando o local alterado é trabalhado para que</p><p>as condições ambientais acabem ao lado das condições anteriores à intervenção</p><p>(BRASIL, 1989). Araújo et al. (2006) argumentam que recuperação é um termo que</p><p>engloba tanto a recuperação quanto a reabilitação, além de citar técnicas que têm</p><p>potencial para degradação relevante. São mineração, disposição de resíduos, ocupação</p><p>de encostas, boçorocas urbanas e rurais, agricultura irrigada e depósitos de cursos</p><p>d’água e corpos. De acordo com a Embrapa Meio Ambiente, área degradada é aquela</p><p>que sofreu, em algum grau, perturbações em sua integridade, podendo ser física,</p><p>biológica ou química. A recuperação é a reversão de uma condição degradada para</p><p>uma condição não degradada independentemente de seu status original e destino</p><p>futuro (MARTIN, 2009).</p><p>Desde 1988, a Constituição brasileira declarou o direito de todos os cidadãos de</p><p>se beneficiarem de um meio ambiente ecologicamente equilibrado e destacou a</p><p>obrigação dos órgãos governamentais de defender, preservar e restaurar os processos</p><p>ecológicos e a diversidade de genes, espécies e ecossistemas para o presente e</p><p>gerações futuras. Ordena a reabilitação de áreas degradadas pelo originador e constitui</p><p>penalidades em caso de infração.</p><p>Para preservar, melhorar e reabilitar a qualidade ambiental, a Lei Nacional do Meio</p><p>Ambiente (BRASIL, 1981) autoriza o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)</p><p>como órgão consultivo e deliberativo das políticas ambientais nacionais entre as</p><p>instituições brasileiras.</p><p>O licenciamento ambiental exige avaliações de riscos ambientais e socioeconômicos</p><p>que descrevam detalhadamente os impactos significativos causados pelo</p><p>empreendimento planejado, incluindo efeitos sobre a biodiversidade, perda de recursos</p><p>naturais e efeitos sociais ou socioeconômicos (CONAMA, 1997). Com base nessas</p><p>avaliações, é delineada a magnitude da compensação ambiental (CONAMA, 2002). O</p><p>Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) é um documento que descreve</p><p>em detalhes todas as atividades</p><p>de reabilitação planejadas e realizadas. As atividades</p><p>de reabilitação planejadas e outros passivos ambientais, ou seja, compromissos</p><p>ambientais para evitar, indenizar ou compensar riscos ou impactos adicionais, são</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 47</p><p>apresentados aos órgãos licenciadores; sua não conformidade resulta na retirada da</p><p>licença de operador (NERO e SANCHEZ, 2012).</p><p>De acordo com a Instrução Normativa ICMBio nº 11/2014, a execução do PRAD</p><p>visa a reabilitação de ecossistemas e suas funções no contexto da bacia hidrográfica;</p><p>alcançar a maior compatibilidade com as fisionomias locais; aumentar a diversidade</p><p>de regeneração espontânea; aumentar a cobertura de espécies nativas; e reduzir</p><p>ou eliminar a cobertura de espécies exóticas invasoras (ICMBio, 2011). A gestão do</p><p>projeto deve envolver controle e combate à erosão, espécies invasoras, pecuária, fogo</p><p>e outros processos que causam degradação, proteção dos recursos hídricos, além de</p><p>monitoramento obrigatório por um período de 4 a 8 anos.</p><p>3.2.2 Técnicas de Remediação</p><p>A remediação do solo é o processo para remover, degradar contaminantes/poluentes</p><p>para obter solo para vegetação e um ecossistema saudável. É um processo crucial para</p><p>entender, com base na natureza do solo, sua matéria orgânica, diversidade biológica.</p><p>Portanto, a remediação de poluentes do solo usando uma combinação de diferentes</p><p>tecnologias como engenharia, química, microbiologia, biologia do solo, geologia e</p><p>ciências ambientais é sustentável e eficaz. Inclui a eliminação ou isolamento da fonte</p><p>poluente, bloqueando-a. Existem muitas abordagens, estratégias de remediação de</p><p>poluentes, dependendo da fonte do poluente e seu tipo, natureza do solo, composição,</p><p>parâmetro biológico, físico e químico do solo, tipo de contaminante, sua natureza,</p><p>massa ou nível de contaminação (ARAÚJO et al., 2006).</p><p>Portanto, há seleção de abordagens de remediação do solo usando uma abordagem</p><p>como restringir o local contaminado, cobrir o solo contaminado, escavar o solo de</p><p>um local contaminado, tratar o poluente do solo do local contaminado. Existem dois</p><p>tipos de técnicas de remediação com base no local onde o processo de remediação</p><p>ocorre, ou seja, in situ e ex situ.</p><p>As técnicas in situ se utilizam onde o solo permanece no local original durante o</p><p>tratamento. Pode envolver a introdução de um agente para estimular a remediação.</p><p>A principal vantagem do tratamento in situ é que ele permite que o solo seja tratado</p><p>com ou menos alterações em seus parâmetros ambientais originais, como estrutura,</p><p>matéria orgânica e biodiversidade.</p><p>As tecnologias baseadas na natureza para remediação do solo in situ incluem</p><p>organismos vivos envolvidos na degradação, estabilização ou separação dos</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 48</p><p>contaminantes usando microrganismos (arqueas, bactérias, fungos e protozoários),</p><p>minhocas e plantas em condições naturais (MARTINS, 2009). O processo de</p><p>biorremediação in situ inclui uma combinação de mais de uma técnica, por exemplo,</p><p>raízes de plantas podem potencializar a biodegradação com relação de simbiose</p><p>entre microrganismos. Este processo é geralmente usado para tratar solos poluídos</p><p>com compostos clorados, pesticidas, hidrocarbonetos de petróleo, hidrocarbonetos</p><p>aromáticos, bem como oligoelementos. Os tempos necessários para atingir o objetivo</p><p>de reparação variam consideravelmente dependendo da técnica e concentração e</p><p>tipo de poluição.</p><p>A remediação ex situ envolve a extração de águas subterrâneas contaminadas,</p><p>remoção de solo contaminado para processamento e importação de solo limpo. A</p><p>principal vantagem é a duração do processo, e as principais desvantagens são os</p><p>custos mais altos e as dificuldades de operação, especialmente quando o terreno</p><p>existe próximo a uma infraestrutura. Nesta categoria, as tecnologias exigem que o</p><p>solo seja escavado e tratado no local antes de transportá-lo para tratamento em outro</p><p>lugar. Técnicas ex situ requerem menos tempo para remediação; no entanto, o custo é</p><p>maior. Essas técnicas degradam a matéria orgânica e a estrutura do solo (ARAÚJO et</p><p>al., 2009). O processo de remediação do solo pode variar de acordo com o local onde a</p><p>remediação está sendo feita, o agente usado para remediação, o mecanismo, o tempo</p><p>necessário para o processo e o resultado da remediação. Seguindo as categorias do</p><p>gráfico, há diferentes técnicas de remediação com base no processo ou mecanismo</p><p>utilizado para remediação natural, biológica, física, química, térmica ou combinação</p><p>de várias técnicas, etc.</p><p>A seguir, veremos algumas das principais técnicas de remediação de áreas utilizando</p><p>técnicas in situ e ex situ, agrupadas por processos biológicos, físicos e químicos.</p><p>3.2.2.1 Processos Biológicos In Situ</p><p>Uma das tecnologias utilizadas para salvar um ambiente degradado é a</p><p>biorremediação, que envolve a remoção de impurezas por meio de microrganismos</p><p>vivos (por exemplo, bactérias, leveduras, fungos). É realizada principalmente quando</p><p>é necessário limpar o solo e as águas subterrâneas de derivados tóxicos do petróleo</p><p>(ARAÚJO et al., 2006). Poluentes desse tipo, sob a influência de microrganismos,</p><p>tornam-se menos prejudiciais. A biorremediação também é recomendada em áreas</p><p>contaminadas após exposição a metais pesados, como aterros sanitários, estações</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 49</p><p>de tratamento de esgoto, fábricas, siderúrgicas, bem como em áreas onde foram</p><p>testadas armas nucleares (MARTINS, 2009). A biorremediação pode ser iniciada e</p><p>executada por humanos, e é chamada de biorremediação de engenharia. No entanto,</p><p>também ocorre de forma espontânea, o que chamamos de biorremediação natural.</p><p>As principais vantagens da biorremediação incluem baixo custo, a não necessidade</p><p>de equipamentos complicados e possíveis aplicações em uma grande superfície, e as</p><p>principais desvantagens são a duração e a necessidade de monitoramento constante</p><p>das condições ambientais.</p><p>Figura 4 – Técnica de biorremediação</p><p>Fonte: ANDRADE et al. (2004, p. 34)</p><p>A bioventilação é uma técnica de biorremediação in situ que utiliza microrganismos</p><p>para degradar compostos orgânicos para absorver em solos (Figura 5). Esta técnica</p><p>envolve a estimulação do fluxo de ar para aumentar os níveis de oxigênio para melhorar</p><p>a biorremediação, aumentando as bioatividades da microflora nativa. Neste processo,</p><p>o controle de parâmetros biofísicos por adição de umidade (água) e nutrientes é</p><p>para aumentar a taxa de biorremediação para alcançar a transformação de poluentes</p><p>de forma tóxica para uma forma não tóxica. É geralmente usado onde o nível de</p><p>contaminantes como hidrocarbonetos (benzeno, etilbenzeno, tolueno e xileno) estavam</p><p>acima da água subterrânea.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 50</p><p>Figura 5 – Técnica de bioventilação</p><p>Fonte: ANDRADE et al. (2004, p. 34)</p><p>A remediação microbiana é um processo de biorremediação de baixo custo com</p><p>a integração de microrganismos como archaea, bactérias, fungos, protozoários</p><p>para a transformação de uma forma tóxica de poluente em forma não tóxica via</p><p>degradação, oxidação-redução e imobilização. O solo poluído é tratado in situ pela</p><p>aplicação de bactérias aeróbicas e anaeróbicas, um fungo que se alimenta do tipo</p><p>específico de poluente como alimento. Os microrganismos do solo estão envolvidos</p><p>em vários processos de química orgânica no solo que aumentam a vegetação,</p><p>aumentando assim a estabilidade de ambientes contaminados (ARAÚJO et al.,</p><p>2009). A técnica de biorremediação microbiana pode ser categorizada com base no</p><p>tipo de microrganismo ou combinação de número de espécies de microrganismos</p><p>ou plantas.</p><p>Por fim, outro exemplo de processo biológico é a fitorremediação.</p><p>A fitorremediação</p><p>pode ser definida como o uso das habilidades acima mencionadas das plantas verdes</p><p>para remover ou neutralizar a poluição ambiental (DIAS e MELLO, 2008). As tecnologias</p><p>de fitorremediação contam com o uso de espécies vegetais que são capazes de</p><p>crescer em um ambiente contaminado e afetam os processos biológicos, químicos</p><p>e físicos, que visam remover poluentes do sistema biológico (ARAÚJO et al., 2006). O</p><p>método de descontaminação por plantas depende principalmente do tipo de poluição,</p><p>espécies de plantas e condições ambientais.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 51</p><p>3.2.2.2 Processos Físicos In Situ</p><p>Uma das técnicas comumente empregadas é a separação eletrocinética. É uma técnica</p><p>de utilização de corrente elétrica direta para remover poluentes orgânicos-inorgânicos</p><p>e metais pesados de solo contaminado por meio da aplicação de potencial elétrico.</p><p>Nesta técnica, há a mínima perturbação da superfície do solo durante o tratamento. Os</p><p>processos de remediação eletrocinética aumentam a migração de moléculas poluentes</p><p>orgânicas e inorgânicas polares de fora do solo (ARAÚJO et al., 2009).</p><p>Figura 6 – Técnica eletrocinética</p><p>Fonte: IRYODA (2008, p. 14)</p><p>Outro processo físico comum também é o de aspersão a ar. A aspersão a ar é</p><p>uma técnica de remoção de ar ou volatilização in situ. É usada para a remediação de</p><p>águas subterrâneas ou solo saturado contaminado com poluentes orgânicos voláteis,</p><p>como vários hidrocarbonetos químicos de petróleo (ARAÚJO et al., 2009).</p><p>3.2.2.3 Processos Químicos In Situ</p><p>Nesta categoria, há inúmeras técnicas comuns que são empregadas para remediar</p><p>o solo. Por exemplo, no processo de estabilização química, os contaminantes são</p><p>forçados para um processo de estabilização. Este processo ocorre a partir de uma</p><p>reação química induzida entre o agente estabilizador e os contaminantes para reduzir</p><p>o grau de poluição existente. Os agentes de estabilização comumente usados são</p><p>argilas orgânicas solúveis, silicatos, cal, aglutinantes à base de enxofre, fosfatos e</p><p>zeólito (MARTINS, 2009).</p><p>Na técnica de oxidação, soluções de agentes oxidantes químicos são injetadas</p><p>diretamente no solo poluído ou colocadas como uma barreira permeável no caminho</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 52</p><p>de uma pluma contaminante. Os agentes oxidantes químicos mais comumente</p><p>empregados incluem peróxido, ozônio, permanganato e persulfato.</p><p>Por fim, em processos que envolvem a redução química, a remediação de poluentes</p><p>do solo inclui dicloração ou desalogenação de compostos orgânicos derivados de</p><p>halogênio e conversão para um estado menos tóxico e estável. Agentes redutores in</p><p>situ são derramados ou injetados no solo poluído e são uma barreira reativa permeável</p><p>ou semipermeável. Os agentes redutores injetáveis incluem materiais bimetálicos,</p><p>ditionita, minerais de ferro e polissulfetos. O processo de dicloração de poluentes é com</p><p>compostos orgânicos (por exemplo, pesticidas organoclorados), solventes clorados (por</p><p>exemplo, tricloroetileno), aromáticos policíclicos, e é para converter à forma estável,</p><p>menos tóxica (ARAÚJO et al., 2009).</p><p>3.2.2.4 Processos Térmicos In Situ</p><p>Nesta técnica, há a remediação do solo usando ou aumentando a temperatura do</p><p>solo para a degradação do poluente. A remediação térmica ocorre por aquecimento</p><p>por resistência elétrica ou condutiva, radiofrequência, injeção de vapor e vitrificação.</p><p>Figura 7 – Técnica térmica</p><p>Fonte: LEITE et al. (2020, p. 37)</p><p>Esse processo altera as propriedades do solo, como textura, nível de umidade,</p><p>diversidade microbiana, etc.</p><p>a) Aquecimento por resistência elétrica: Envolve a configuração de uma rede de</p><p>eletrodos para passar uma corrente através do solo poluído. Ao fluir a corrente</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 53</p><p>no solo poroso de umidade, o calor é gerado pela resistência das partículas do</p><p>solo. A remediação de solo poluído com PAHs usa esse processo (ARAÚJO et</p><p>al., 2009).</p><p>b) Extração aprimorada de vapor: Neste processo de remediação por injeção de</p><p>vapor no solo poluído, o vapor mobiliza ou vaporiza o poluente em direção às</p><p>águas subterrâneas e é extraído do solo contaminado. Os poluentes líquidos</p><p>e gasosos podem ser removidos do solo contaminado (ARAÚJO et al., 2009).</p><p>c) Aquecimento condutivo: Esse processo de remediação utiliza uma rede de</p><p>aquecedores verticais e poços de extração quando os poluentes estão presentes</p><p>próximos à superfície do solo, com mantas aquecedoras espalhadas sobre a</p><p>superfície. Após o aquecimento, o calor pode penetrar nos solos circundantes</p><p>por condutância térmica e extração do poluente por evaporação do poluente</p><p>volátil ou queima completa do poluente lábil pelo aumento do calor (LEITE et</p><p>al., 2020).</p><p>d) Aquecimento por radiofrequência: Nesse processo, há irradiação de ondas</p><p>eletromagnéticas de rádio de alta frequência para remediação de solos poluídos</p><p>com compostos orgânicos, como óleos ou compostos de petróleo (ARAÚJO et</p><p>al., 2009).</p><p>e) Vitrificação: Nesta técnica de remediação de solo contaminado com metais de</p><p>alta concentração, o solo poluído é tratado usando energia elétrica para converter</p><p>o solo poluído por fusão em vidro estável e materiais cristalinos (ARAÚJO et</p><p>al., 2009).</p><p>ISTO ESTÁ NA REDE</p><p>A contaminação do meio ambiente é um problema que a maioria dos países precisa</p><p>enfrentar em áreas como planejamento urbano, saúde pública e disponibilidade</p><p>de recursos naturais. O solo contaminado, dentro deste tópico, é um assunto</p><p>crítico a ser discutido em grandes metrópoles, como São Paulo. Porém, esforços</p><p>têm sido conduzidos em busca de monitorar e mitigar problemas relacionados à</p><p>contaminação do solo na região.</p><p>Nesse exemplo, o processo aplicado bombeia a água do subsolo, separando o</p><p>constituinte poluente do não poluente – independentemente da fase física (sólido,</p><p>líquido ou gasoso). Apesar do elevado tempo para recuperação, o processo</p><p>tem obtido êxito no que diz respeito à descontaminação de áreas de postos de</p><p>combustíveis. Saiba mais acessando a reportagem produzida pelo Hora 1, da</p><p>Rede Globo de Televisão, neste link disponibilizado pelo Instituto de Pesquisas</p><p>Tecnológicas – IPT: https://youtu.be/ci-wpyl2fsY</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 54</p><p>3.2.2.5 Processos Biológico Ex Situ</p><p>A técnica de remediação de poluentes biológicos ex situ inclui a escavação do</p><p>solo do local da poluição e a remediação usando organismos vivos em condições</p><p>controladas. O processo ex situ é mais fácil de monitorar, mais eficaz para a remediação</p><p>de contaminantes usando microrganismos. Além disso, requer a adição de nutrientes,</p><p>suplementos para microrganismos, portanto, o custo da tecnologia é maior do que</p><p>in situ. A taxa de biorremediação dos processos é mais rápida e confiável, mas os</p><p>processos ex situ levam a uma alteração da natureza original do solo, que pode ser</p><p>disruptiva para a estrutura do solo e alterar sua diversidade biológica. São processos</p><p>biológicos comumente aplicados:</p><p>a) Biopilhas: Esta tecnologia de biorremediação ex situ geralmente usa remediação</p><p>de solo poluído por uma ampla gama de poluentes petroquímicos e outros</p><p>hidrocarbonetos. Esse processo inclui a escavação do solo para homogeneização</p><p>e aprimoramento para biodegradação por microrganismos (ARAÚJO et al., 2009).</p><p>b) Biolixiviação: é o processo de mediação que funciona principalmente no princípio</p><p>da extração de metais poluentes de locais contaminados por meio de organismos</p><p>vivos, principalmente microrganismos. A biolixiviação é uma tecnologia extrativa</p><p>de grau associado que utiliza uma resposta inoculada com microrganismos para</p><p>lixiviar componentes residuais de solos contaminados. Os metais e metalóides</p><p>foram remediados usando biolixiviação,</p><p>como antimônio, arsênio, cobalto, cobre,</p><p>ouro, chumbo, molibdênio, níquel, prata, zinco. (MARTINS, 2009).</p><p>c) Compostagem: A compostagem é um processo de biorremediação que envolve</p><p>a remediação de poluentes misturando o solo contaminado em biomassa,</p><p>como resíduos agrícolas, resíduos de alimentos e materiais orgânicos de</p><p>reciclagem. Este é um processo de correção rápido; a degradação dos resíduos</p><p>orgânicos pode ser completada em um ou poucos dias da semana (MARTINS,</p><p>2009).</p><p>d) Biorreatores: trata-se de um processo de biorremediação, remediação de</p><p>poluentes usando microrganismos em um vaso ou reatores. É um sistema aberto</p><p>ou fechado como um fermentador que agita o solo adicionando nutrientes para</p><p>estimular a degradação de poluentes por meio de microrganismos. A seleção do</p><p>reator depende do tipo de poluente e microrganismo utilizado para a remediação,</p><p>podendo ser aeróbio ou anaeróbio (ARAÚJO et al., 2009).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 55</p><p>3.2.2.6 Processos Fisicos Ex Situ</p><p>Os processos físicos ex situ envolvem uma gama de processos e técnicas diferentes,</p><p>incluindo:</p><p>a) Separação: técnica de remediação física do solo ex situ conhecida como lavagem</p><p>do solo ou britagem do solo que utiliza processos mecânicos para separar</p><p>os poluentes do solo. Os processos de separação física por peneiramento,</p><p>por exemplo, usam peneiras e telas de diferentes tamanhos para concentrar</p><p>efetivamente os contaminantes em volumes menores. (MARTINS, 2009);</p><p>b) Separação por gravidade: o método de separação por gravidade é uma diferença</p><p>baseada no processo de separação de sólidos ou líquidos entre a densidade</p><p>ou gravidade das partículas, fases. Esta técnica de separação depende da</p><p>velocidade de sedimentação das partículas, tamanho, densidade, viscosidade</p><p>do fluido e volume ou concentração. É utilizado para remoção de óleo imiscível</p><p>e classificação de partículas de solo (ARAÚJO et al., 2009);</p><p>c) Separação magnética: é uma técnica física ex situ usada para remediar a</p><p>contaminação do solo separando poluentes na água, solo, ar, com base em</p><p>partículas de propriedades magnéticas. Há a separação de metais, como</p><p>poluentes radioativos magnéticos, por exemplo, plutônio e urânio, do solo e da</p><p>água (MARTINS, 2009);</p><p>d) Lavagem do solo: este processo de remediação do solo poluído por lavagem e</p><p>depuração do solo é com solvente polar ou não polar ou iônico para remover</p><p>metais pesados orgânicos, inorgânicos, pesticidas e outros poluentes com base</p><p>na solubilidade em solução aquosa (ARAÚJO et al., 2009);</p><p>e) Solidificação: Neste processo, a remediação do poluente do solo envolve o</p><p>poluente ou a ligação física com a massa de estabilização ou a solidificação</p><p>com um agente estabilizador. Nesse processo, ocorre uma redução da mobilidade</p><p>no solo ou na solubilidade em solução aquosa. Dependendo do tipo de poluente,</p><p>a solidificação ou estabilização varia, por exemplo, para o poluente de ligação</p><p>usa-se betume ou cimento, para poluente radioativo um bloco vítreo sólido com</p><p>armazenamento de longo período, para metal pesado, argila. (ARAÚJO et al.,</p><p>2009).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 56</p><p>3.2.2.7 Processos Químicos Ex Situ</p><p>Nos processos químicos, merecem ser destacadas duas técnicas: redução e</p><p>desalogenação. Os processos de redução química e oxidação ex situ são os mesmos</p><p>que in situ, exceto pelo fato de que nos processos ex situ, por meio de mistura</p><p>mecânica e fácil monitoramento, as reações podem ser concluídas de forma mais</p><p>rápida, eficaz e controlada (ARAÚJO et al., 2009). Já a desalogenação é um tipo de</p><p>técnica de remediação química na qual há a remoção ou substituição das moléculas de</p><p>halogênio do poluente para convertê-las em uma forma menos tóxica. Neste processo,</p><p>organoclorados, poluentes como etilenos clorados, compostos nitroaromáticos,</p><p>halometanos, pentaclorofenol, pesticidas como Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT),</p><p>atrazina e bifenilos policlorados, fazem desalogenação utilizando ferro de valência</p><p>zero (Fe0) ou ferro metálico ou suas nanopartículas.</p><p>3.2.2.8 Processos Térmicos Ex Situ</p><p>O tratamento térmico ex situ geralmente envolve a destruição ou remoção de</p><p>contaminantes por meio da exposição a altas temperaturas em células de tratamento,</p><p>câmaras de combustão ou outros meios usados para conter o meio contaminado</p><p>durante o processo de remediação. A principal vantagem dos tratamentos ex situ é</p><p>que eles geralmente requerem períodos de tempo mais curtos e há mais certeza sobre</p><p>a uniformidade do tratamento devido à capacidade de filtrar, homogeneizar e misturar</p><p>continuamente os meios contaminados; no entanto, os processos ex situ requerem</p><p>escavação de solos, o que aumenta os custos e a engenharia de equipamentos,</p><p>licenciamento e questões de segurança do trabalhador no manuseio de materiais.</p><p>São exemplos de processos térmicos:</p><p>a) Incineração: Uso de alta temperatura para combustão completa e destruição</p><p>de poluentes. Essa tecnologia é amplamente utilizada para remediação de uma</p><p>série de poluentes, agricultura, resíduos perigosos urbanos; e</p><p>b) Fornos de cimento: As altas temperaturas e o tempo de residência dos modernos</p><p>fornos de cimento pré-calcinagem potencialmente utilizam a remediação de</p><p>contaminantes orgânicos, elementos não voláteis e minerais do solo por oxidação</p><p>e são incorporados ao cimento.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 57</p><p>CAPÍTULO 4</p><p>POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA</p><p>Este capítulo foi elaborado para fornecer uma compreensão abrangente das causas e</p><p>efeitos da poluição do ar e das medidas de gerenciamento e tecnologias de engenharia</p><p>disponíveis para seu controle. A melhor maneira de proteger a qualidade do ar é reduzir</p><p>a emissão de poluentes, mudando para combustíveis e processos mais limpos. Assim,</p><p>uma ênfase especial foi dada aos poluentes que não são eliminados dessa forma e</p><p>devem ser coletados ou retidos por dispositivos apropriados de purificação do ar à</p><p>medida que são gerados, antes que possam escapar para a atmosfera. Uma das partes</p><p>mais interessantes deste capítulo é a explicação das medidas biológicas voltadas</p><p>ao controle de poluição do ar. O tratamento biológico da poluição do ar depende de</p><p>microrganismos aeróbicos, principalmente bactérias mesófilas, que se alimentam de</p><p>compostos orgânicos e inorgânicos em gás residual. Os microrganismos convertem</p><p>poluentes em dióxido de carbono, água e sais. Além disso, os sistemas de biofiltros,</p><p>tradicionalmente usados para controle de odor, agora estão sendo usados para controle</p><p>de amônia em instalações de compostagem e para controle de emissões de carbono</p><p>orgânico volátil em instalações de tratamento de águas residuais, cervejarias, fundições</p><p>e indústrias de plástico, papel e petroquímicas.</p><p>4.1. O sistema da Atmosfera</p><p>A atmosfera da Terra é uma camada de gases que envolve o planeta Terra e é retida</p><p>pela gravidade da Terra. Ele contém aproximadamente 78% de nitrogênio, 21% de</p><p>oxigênio, 0,97% de argônio, 0,04% de dióxido de carbono e vestígios de outros gases,</p><p>além de vapor de água (TEIXEIRA et al., 2003). Essa mistura de gases é comumente</p><p>conhecida como ar. A atmosfera protege a vida na Terra absorvendo a radiação solar</p><p>ultravioleta e reduzindo os extremos de temperatura entre o dia e a noite.</p><p>A superfície da Terra é coberta pela atmosfera. A atmosfera tem uma série de</p><p>camadas que incluem, a partir do nível do solo, (1) a troposfera, (2) a estratosfera, (3)</p><p>a mesosfera, (4) a termosfera e (5) a exosfera (Figura 1).</p><p>A troposfera é a primeira camada logo acima da superfície da Terra e contém metade</p><p>de toda a atmosfera da Terra. Os gases mais predominantes acima da superfície</p><p>incluem nitrogênio (78%) e oxigênio (21%) com o restante (1%) consistindo de argônio e</p><p>vestígios de hidrogênio, ozônio e outros constituintes. A temperatura e</p><p>o teor de vapor</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 58</p><p>de água na troposfera diminuem rapidamente com a atitude. A troposfera começa na</p><p>superfície da Terra e se estende de 8 a 14,5 km de altura (TEIXEIRA et al., 2003). O</p><p>dióxido de enxofre e o óxido de nitrogênio são emitidos para a atmosfera e transportados</p><p>pelo vento e pelas correntes de ar. Esses gases reagem com vapor de água, oxigênio</p><p>e outros produtos químicos para formar sulfúrico e ácidos nítricos – resultando, por</p><p>vezes, no fenômeno conhecido como na chuva ácida.</p><p>Figura 1 - Camadas da Atmosfera</p><p>Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Atmosfera.png</p><p>A estratosfera é a camada imediatamente após a troposfera. O fundo da estratosfera</p><p>fica a cerca de 10 km acima do solo em latitudes médias. O topo da estratosfera</p><p>ocorre a uma altitude de 50 km. A camada de ozônio é encontrada principalmente</p><p>na porção inferior da estratosfera com aproximadamente 20 a 30 km acima da</p><p>superfície da Terra, embora a espessura varie sazonalmente e geograficamente. O</p><p>ozônio é produzido naturalmente na estratosfera quando a radiação solar altamente</p><p>energética atinge moléculas de oxigênio e faz com que os átomos de oxigênio se</p><p>separem em um processo de fotólise. A espessura média da camada de ozônio é de</p><p>cerca 3 mm de espessura. A camada de ozônio (ozônio estratosférico) é uma camada</p><p>de moléculas de ozônio altamente concentradas a uma altitude de cerca de 30 a 50</p><p>km (estratosfera). A principal função da camada de ozônio é absorver a radiação</p><p>ultravioleta do Sol, protegendo assim a Terra de seus efeitos nocivos. Aeronaves a</p><p>jato voam na estratosfera porque ela é altamente estável (TEIXEIRA et al., 2003).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 59</p><p>A mesosfera está diretamente acima da estratosfera e abaixo da termosfera. Estende-</p><p>se por cerca de 50 a 85 km acima da superfície do planeta. A temperatura diminui</p><p>com a altura em toda a mesosfera.</p><p>Por fim, a termosfera é a camada diretamente acima da mesosfera e abaixo</p><p>da exosfera. Dentro desta camada da atmosfera, a radiação ultravioleta causa a</p><p>fotoionização/fotodissociação de moléculas, criando íons na ionosfera (TEIXEIRA et</p><p>al., 2003).</p><p>4.2. Poluentes Atmosféricos</p><p>Os poluentes do ar nas cidades são principalmente uma mistura de muitos poluentes</p><p>diferentes, alguns visíveis, como poeira e fuligem, e muitos invisíveis, como partículas</p><p>muito pequenas e gases. Quanto mais componentes visíveis forem evidentes, mais</p><p>pequenas partículas e gases podem ser esperados. A poluição é classificada como</p><p>primária ou secundária. Os poluentes primários são substâncias produzidas diretamente</p><p>por um processo, como as cinzas de uma erupção vulcânica ou o gás monóxido de</p><p>carbono do escapamento de um veículo motorizado.</p><p>Com base na natureza físico-química dos poluentes atmosféricos (Figura 2), eles</p><p>podem ser amplamente agrupados em (1) material particulado em suspensão (MP),</p><p>(2) poluentes gasosos e (3) odores.</p><p>Figura 2 – Tipos de Poluentes Atmosféricos</p><p>Fonte: Autor (2023)</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 60</p><p>4.2.1 Material Particulado</p><p>Esses poluentes são antropogênicos (feitos pelo homem) ou resultam de acidentes</p><p>naturais. Matéria particulada (MP) é matéria microscópica sólida ou líquida suspensa</p><p>na atmosfera da Terra (BOTKIN e KELLER, 2011). Inclui fumaça de escapamento de</p><p>diesel, cinzas volantes de carvão, poeiras minerais (por exemplo, carvão, amianto,</p><p>calcário e cimento), poeira e fumaça de metal (por exemplo, zinco, cobre, ferro, chumbo),</p><p>névoas ácidas (por exemplo, ácido sulfúrico), fluoretos, pigmentos de tinta, névoas de</p><p>pesticidas, negro de fumo e fumaça de óleo. Esses MPs são responsáveis por uma</p><p>variedade de problemas de saúde, como infecção respiratória, câncer de pulmão e</p><p>distúrbios da gravidez (CALIJURI e CUNHA, 2013).</p><p>Os poluentes particulados resultam da atividade humana a partir de uma</p><p>variedade de fontes estacionárias e móveis ou são formados na atmosfera pela</p><p>transformação de emissões gasosas. Alguns MPs são emitidos diretamente</p><p>de fontes estacionárias, como canteiros de obras, estradas não pavimentadas</p><p>ou incêndios em campos ou chaminés. A maioria das partículas se forma na</p><p>atmosfera como resultado de reações complexas de produtos químicos, como</p><p>dióxido de enxofre e óxido de nitrogênio, poluentes emitidos por usinas de energia,</p><p>indústrias e automóveis. Fontes móveis de MP são derivadas de uma variedade</p><p>de atividades humanas. Esses tipos de atividades incluem operações agrícolas,</p><p>processos industriais, combustão de madeira e combustíveis fósseis, atividades de</p><p>construção e demolição e arrastamento de poeira rodoviária para o ar (MIHELCIC</p><p>e ZIMMERMAN, 2012).</p><p>4.2.2 Poluentes Gasosos</p><p>Poluentes gasosos incluem compostos de enxofre, (por exemplo, dióxido de enxofre</p><p>(SO2) e trióxido de enxofre (SO3), monóxido de carbono (CO)), compostos de nitrogênio</p><p>(por exemplo, óxido nítrico (NO), dióxido de nitrogênio (NO2)), compostos orgânicos (por</p><p>exemplo, hidrocarbonetos, aldeído), compostos de halogênio e derivados de halogênio</p><p>(por exemplo, HF e HCI), sulfeto de hidrogênio e mercaptanos (odores). O dióxido de</p><p>carbono é o principal poluente do ar. É um componente natural da atmosfera, essencial</p><p>para a vida vegetal e liberado pelo sistema respiratório humano e animal. A maior</p><p>fonte de emissões de gases de efeito estufa é de atividades humanas (CALIJURI e</p><p>CUNHA, 2013).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 61</p><p>4.2.2.1 Óxido de Enxofre</p><p>Os óxidos de enxofre (SOx) são produzidos principalmente por vulcões e em vários</p><p>processos industriais. O carvão e o petróleo geralmente contêm compostos de enxofre</p><p>e sua combustão gera dióxido de enxofre. A oxidação posterior do dióxido de enxofre,</p><p>geralmente na presença de um catalisador como NO2, forma H2 SO4 e, portanto, chuva</p><p>ácida. Esse é um dos motivos de preocupação quanto ao impacto ambiental do uso</p><p>desses combustíveis como fontes de energia.</p><p>4.2.2.2 Óxido de Nitrogênio</p><p>Particularmente, os óxidos de nitrogênio (NOx) são emitidos pela combustão em</p><p>alta temperatura e também são produzidos durante tempestades por descargas</p><p>elétricas, e alguns são produzidos por plantas, solo e água. Este gás tóxico marrom-</p><p>avermelhado tem um odor pungente característico. O dióxido de nitrogênio é um</p><p>importante poluente do ar, porque contribui para a formação de poluição fotoquímica,</p><p>que afeta negativamente a saúde humana. A principal fonte de dióxido de nitrogênio</p><p>é a queima de combustíveis fósseis, carvão, petróleo e gás. Em localidades urbanas,</p><p>esse gás é produzido a partir de escapamentos de veículos automotores. Outras</p><p>fontes de dióxido de nitrogênio são petróleo e refino de metais, geração de eletricidade</p><p>a partir de usinas movidas a carvão, indústrias manufatureiras e processamento de</p><p>alimentos (MIHELCIC e ZIMMERMAN, 2012).</p><p>.</p><p>4.2.2.3 Monóxido de Carbono</p><p>As fontes de monóxido de carbono (CO) incluem a combustão de combustível, como</p><p>gás natural ou carvão, ou a queima de madeira. Ele cria uma formação do tipo smog</p><p>no ar que tem sido associada a muitas doenças pulmonares e tem efeitos nocivos</p><p>em plantas e animais (CALIJURI e CUNHA, 2013).</p><p>4.2.2.4 Compostos Orgânicos Voláteis</p><p>Compostos orgânicos voláteis (VOCs) são gases e vapores que contêm carbono,</p><p>como fumaça de gasolina e solventes (excluindo dióxido de carbono, monóxido de</p><p>carbono, metano e clorofluorcarbonetos). Em geral, eles são classificados como metano</p><p>(CH4) ou não metano VOCs (NMVOCs). O metano é o segundo GEE antropogênico</p><p>mais abundante, depois do dióxido de carbono (CO2), respondendo por cerca de 20%</p><p>das emissões globais (VESILIND e MORGAN, 2011).Os NMVOCs aromáticos benzeno,</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 62</p><p>tolueno e xileno são suspeitos de serem cancerígenos e podem levar à leucemia com</p><p>exposição prolongada (VESILIND e MORGAN, 2011).</p><p>4.2.2.5 Fluoreto</p><p>Comumente, os fluoretos estão presentes no ar na forma de fluoreto de hidrogênio</p><p>(HF), SiF6 e F2. Os fluoretos na forma de partículas incluem Ca3, AlF6 (criolita), CaF2,</p><p>AlF6, CaSiF, NaF e Na2SiF6. Os aerossóis são frequentemente formados a partir de</p><p>NaF, NaAIF6. O fluoreto de hidrogênio (HF) é o poluente atmosférico mais nocivo.</p><p>Olarias, fábricas de alumínio, vidrarias, siderúrgicas, fábricas de cerâmica, fábricas de</p><p>fertilizantes fosfatados e fundições de urânio são as principais fontes de poluentes</p><p>de flúor. Existem principalmente duas formas de fluoretos, a saber, a forma gasosa,</p><p>como o fluoreto de hidrogênio e o tetrafluoreto de silício, e a forma de partículas</p><p>sólidas presentes no ar. Os fluoretos gasosos são absorvidos pelas plantas que estão</p><p>próximas às indústrias, e as partículas sólidas de flúor caem no solo. Principalmente</p><p>bovinos, ovinos, equinos e suínos são afetados por partículas sólidas de flúor. O flúor</p><p>afeta principalmente a estrutura e a função dos ossos dos animais. Também induz</p><p>a destruição dos dentes em animais de pastejo, claudicação e enrijecimento das</p><p>articulações ósseas (BOTKIN e KELLER, 2011).</p><p>4.2.2.6 Cloro</p><p>A concentração de cloro na atmosfera muda com base nas condições climáticas.</p><p>Mesmo a chuva leve pode minimizar a concentração de cloro na atmosfera. Grandes</p><p>quantidades de cloro são liberadas da pulverização oceânica evaporada como partículas</p><p>de sal marinho (cloreto de sódio). Mas esse cloro não chega à estratosfera porque é</p><p>rapidamente absorvido por nuvens, neve ou gotas de chuva e, assim, atinge a superfície</p><p>da Terra. Os vulcões emitem grandes quantidades de cloreto de hidrogênio, mas esse</p><p>gás é rapidamente convertido em ácido clorídrico, que se dissolve na água da chuva, no</p><p>gelo e na neve e não atinge a estratosfera. Em contraste, halohidrocarbonetos, como</p><p>clorofluorcarbonetos e tetracloretos de carbono não se dissolvem na água, não reagem</p><p>com a neve ou outras superfícies naturais e não são decompostos quimicamente na</p><p>baixa atmosfera (BRAGA et al., 2006).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 63</p><p>4.2.2.7 Cloreto de Hidrogênio</p><p>A combustão de cloreto de polivinila (PVC) e outros materiais de hidrocarbonetos emite</p><p>gás cloreto de hidrogênio (HCl) na atmosfera. Esse gás é extremamente hidrofóbico e</p><p>se transforma rapidamente em ácido clorídrico ao reagir com a umidade atmosférica e</p><p>formar gotículas de aerossol. A queima de carvão (particularmente de centrais elétricas</p><p>a carvão) e a incineração de resíduos emitem gás cloreto de hidrogênio. Carvão e restos</p><p>de alimentos contêm sal comum (cloreto de sódio). Quando estes são queimados, o</p><p>cloreto de sódio reage com o hidrogênio para dar cloreto de hidrogênio. Os vulcões</p><p>também emitem gás HCl durante a erupção. O gás HCl é altamente corrosivo e causa</p><p>danos às estruturas metálicas, principalmente edifícios (principalmente à beira-mar)</p><p>e monumentos (VESILIND e MORGAN, 2011).</p><p>4.2.2.8 Amônia</p><p>A amônia (NH3) é um gás alcalino altamente reativo e solúvel. A maior fonte de</p><p>emissão de NH3 é a atividade agrícola, incluindo a pecuária e a aplicação de fertilizantes</p><p>à base de NH3. A matéria orgânica em decomposição também emite gás amônia. A</p><p>amônia também é gerada a partir da decomposição e vitalização da ureia. Outras</p><p>emissões de amônia relacionadas à agricultura incluem a queima de biomassa. A</p><p>amônia também é gerada a partir de uma variedade de fontes não agrícolas, como</p><p>conversores catalíticos em carros a gasolina, aterros sanitários, obras de esgoto,</p><p>compostagem de materiais orgânicos, combustão, indústria e mamíferos e aves</p><p>selvagens. O excesso de nitrogênio traz mudanças de eutrofização e acidificação e</p><p>outros efeitos prejudiciais (VESILIND e MORGAN, 2011).</p><p>4.2.3 Poluentes Secundários</p><p>Os poluentes secundários podem ser formados por reações térmicas, químicas ou</p><p>fotoquímicas. O melhor exemplo de um poluente atmosférico secundário é o ozônio.</p><p>É formado quando hidrocarbonetos (HC) e óxido de nitrogênio (NOx) se combinam</p><p>na presença da luz solar, formando NO2 e chuva ácida, que se forma quando dióxido</p><p>de enxofre ou óxidos de nitrogênio reagem com a água (BRAGA et al., 2006).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 64</p><p>ISTO ESTÁ NA REDE</p><p>No ano de 2015, uma chuva ácida atingiu a cidade de Cubatão, localizada no</p><p>litoral sul do Estado de São Paulo. Em Janeiro daquele ano, segundo a Companhia</p><p>Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), o município foi atingido pelo evento,</p><p>após um episódio que envolveu o vazamento tóxico oriundo de uma empresa do</p><p>Polo Industrial.</p><p>A ruptura em uma tubulação da empresa Anglo American Fosfatos Brasil causou</p><p>o vazamento de dióxido de enxofre (SO3). Além dos impactos diretos na saúde dos</p><p>funcionários, a elevada concentração do gás na atmosfera, acrescido da umidade</p><p>presente no município, promoveu a ocorrência do fenômeno. Em algumas áreas da</p><p>cidade, a vegetação foi alterada e apresenta manchas e perfurações nas folhas.</p><p>Fonte: https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2015/01/cetesb-confirma-que-chuva-acida-atingiu-cubatao-apos-vazamento.html</p><p>Principalmente ambientes aquáticos, como córregos, lagos e pântanos são afetados</p><p>pela chuva ácida. O principal alvo em ambientes aquáticos são os peixes. À medida que</p><p>flui através do solo, a água da chuva ácida pode lixiviar o alumínio das partículas de</p><p>argila do solo e depois fluir para córregos e lagos. A liberação de alumínio em corpos</p><p>aquáticos depende da intensidade da chuva ácida de uma determinada localidade</p><p>(BOTKIN e KELLER, 2011).</p><p>A natureza tem sua própria maneira de proteger a terra da chuva ácida. Muitas</p><p>florestas, riachos e lagos não sofrem com a chuva ácida porque o solo dessas áreas</p><p>pode amortecer a chuva ácida, neutralizando a acidez que flui através dele. Reações</p><p>fotoquímicas entre óxido de nitrogênio e hidrocarbonetos reativos podem produzir</p><p>ozônio (O3). Formaldeído e nitrato de peroxiacetil reagem juntos na presença de HCl</p><p>e formaldeído, e para éter bis-clorometílico (BOTKIN e KELLER, 2011).</p><p>4.2.3.1 Odores</p><p>Odores desagradáveis são poluentes atmosféricos potencialmente nocivos e podem</p><p>afetar indiretamente a atitude mental e ser uma barreira para obter prazer da natureza.</p><p>Sabe-se que alguns odores são causados por agentes químicos específicos, como</p><p>sulfeto de hidrogênio (H2S), dissulfeto de carbono (CS2) e mercaptanos, enquanto</p><p>outros são difíceis de definir quimicamente. Os odores se originam de uma variedade</p><p>de fontes, mas os tipos típicos de odores são principalmente de fontes industriais,</p><p>instalações de tratamento de esgoto, matadouros, processamento de animais, aterros</p><p>sanitários e instalações de compostagem.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 65</p><p>4.3. Regulação e Aspectos legais</p><p>Em 1999, a lei que rege a política ambiental foi alterada para estabelecer uma</p><p>nova política ambiental e um sistema nacional de meio ambiente. Assim, o Conselho</p><p>Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), criado em 1981 (BRASIL, 1981), atualizou sua</p><p>política ambiental para ter um melhor controle sobre a poluição, a fim de diminuir</p><p>os riscos à saúde, especialmente da contaminação do ar ambiente. Antes disso,</p><p>havia diretrizes de emissão de poluição que permitiam às indústrias poluir até certo</p><p>ponto sem serem responsabilizadas por qualquer dano ambiental. No entanto, após a</p><p>aprovação dessa política, foi aplicada a responsabilidade objetiva, que determinava que</p><p>as indústrias fossem responsáveis por toda a poluição que estivessem causando. Além</p><p>disso, promotores públicos autorizados podem atuar na defesa de quaisquer</p><p>questões</p><p>ambientais (CALIJURI e CUNHA, 2013). Mais tarde, as ONGs receberam o direito de</p><p>fazer o mesmo que promotores públicos de proteção ao meio ambiente. O Ministério</p><p>do Meio Ambiente do Brasil emprega agentes para coordenar, supervisionar e controlar</p><p>a Política Ambiental do Brasil.</p><p>ISTO ACONTECE NA PRÁTICA</p><p>O Brasil regulamenta a emissão de poluentes veiculares desde 1987 por meio do</p><p>Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (PROCONVE),</p><p>programa criado pelo CONAMA. Como parte do programa PROCONVE, o CONAMA</p><p>estabelece diretrizes, padrões de emissão e datas de implementação para diferentes</p><p>veículos. Os marcos legislativos importantes incluem:</p><p>• A Lei Federal nº 8.723/1993 exige que os fabricantes criem veículos, motores e</p><p>combustíveis com emissão reduzida de poluentes (CO, NOx, HCs, MPs, CHO),</p><p>incentivando o desenvolvimento tecnológico;</p><p>• A resolução CONAMA nº 18/1986 criou o programa PROCONVE;</p><p>• As Resoluções nº 08/1993, 315/2002, 403/2008 e 490/2018 atualizaram o</p><p>PROCONVE, estabelecendo novas fases do sistema;</p><p>• A resolução CONAMA nº 5/1989 criou o Programa Nacional de Controle da</p><p>Poluição de Ar, ou “PRONAR”, estabelecendo a necessidade de controlar as</p><p>emissões de poluentes;</p><p>• A resolução CONAMA nº 3/1990 estabeleceu padrões de qualidade do ar.</p><p>Para veículos pesados, os programas do PROCONVE vêm seguindo o precedente</p><p>europeu para padrões de emissões e ciclos de testes de certificação.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 66</p><p>O Ministério do Meio Ambiente possui departamentos específicos para tratar de</p><p>mudanças climáticas e qualidade ambiental, regulação de emissões industriais na</p><p>atmosfera, biodiversidade e florestas, recursos hídricos, desenvolvimento urbano e rural</p><p>sustentável e cidadania ambiental. Outras autoridades incluem o Conselho Nacional do</p><p>Meio Ambiente, o Conselho Nacional da Amazônia, o Conselho Nacional de Recursos</p><p>Hídricos e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO). O</p><p>Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e o</p><p>Conselho de Gestão de Florestas Públicas também estão envolvidos na regulamentação</p><p>da poluição ambiental, direta ou indiretamente (BRASIL, 1981; BRASIL, 1989).</p><p>O monitoramento da qualidade do ar torna-se fundamental para a proteção da</p><p>saúde humana e do meio ambiente. À medida que a população humana continua a</p><p>aumentar, à medida que o desenvolvimento industrial e o uso de energia continuam</p><p>a se expandir, e apesar dos avanços no controle da poluição, a produção contínua</p><p>de poluição permanece inevitável. No Brasil, os monitoramentos de qualidade do ar</p><p>seguem os padrões estabelecidos pelo IBAMA e aprovados pelo CONAMA (CONAMA,</p><p>1990). Tal padronização classifica a qualidade do ar em 5 categorias, como mostra</p><p>a Tabela 1.</p><p>Qualidade Índice Significado</p><p>N1 – Boa 0 – 40 Sem efeitos nocivos à saúde humana</p><p>N2 - Moderado 41 – 80</p><p>Pessoas de grupos sensíveis (crianças, idosos, e pessoas com doenças</p><p>respiratórias e cardíacas) podem apresentar sintomas como tosse seca e</p><p>cansaço. A população, em geral, não é afetada.</p><p>N3 – Ruim 81 – 120</p><p>Toda a população pode apresentar sintomas como tosse seca, ardência</p><p>nos olhos, nariz e garganta. Pessoas de grupos sensíveis (crianças,</p><p>idosos, e pessoas com doenças respiratórias e cardíacas) podem</p><p>apresentar efeitos mais agudos.</p><p>N4 – Muito Ruim 121 – 200</p><p>Toda a população pode apresentar agravamento de sintomas como</p><p>tosse seca, ardência nos olhos, nariz e garganta. Efeitos mais graves são</p><p>observados em pessoas de grupos sensíveis (crianças, idosos, e pessoas</p><p>com doenças respiratórias e cardíacas).</p><p>N5 - Péssimo >200</p><p>Toda a população pode apresentar sérios riscos de manifestação de</p><p>doenças respiratórias e cardíacas. Aumento de mortes prematuras de</p><p>pessoas de grupos sensíveis (crianças, idosos, e pessoas com doenças</p><p>respiratórias e cardíacas).</p><p>Tabela 1 – Padrão de Qualidade do Ar</p><p>Fonte: MENDONÇA et al. (2019, p. 410)</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 67</p><p>Avanços contínuos no desenvolvimento, aplicação e automação de dispositivos de</p><p>monitoramento são necessários para aumentar a precisão e a relação custo-benefício</p><p>dos programas de monitoramento. Igualmente importante é a necessidade de haver</p><p>mais cientistas e engenheiros que tenham o conhecimento e o treinamento necessários</p><p>para desenvolver e operar com sucesso dispositivos de monitoramento e gerenciar</p><p>programas de monitoramento.</p><p>4.4. Controle da Poluição</p><p>O controle da poluição do ar envolve a redução da carga poluente atmosférica</p><p>pela qual a harmonia normal no estilo de vida pode ser mantida sem perturbar os</p><p>ecossistemas vizinhos. Quando o ar ambiente contém mais do que o limite permitido</p><p>de poluentes atmosféricos, conforme prescrito em ato legislativo de um estado ou</p><p>país ou nas normas dos padrões da Organização Mundial da Saúde fica conhecido</p><p>como ar poluído (BRAGA et al., 2006).</p><p>A atmosfera é propensa à poluição de fontes naturais, bem como de atividades</p><p>humanas. Conforme descrito anteriormente, alguns fenômenos naturais, como erupções</p><p>vulcânicas e incêndios florestais, podem ter efeitos não apenas locais e regionais, mas</p><p>também globais de longa duração. A melhor maneira de proteger a qualidade do ar</p><p>é evitar a emissão de poluentes, em vez de usar enormes orçamentos para projetar</p><p>dispositivos mecânicos para remover os poluentes atmosféricos dos gases de exaustão</p><p>no local de geração.</p><p>Esses dispositivos estão descritos aqui:</p><p>4.4.1 Controle de Particulado</p><p>Uma variedade de dispositivos mecânicos como ciclones, lavadores, precipitadores</p><p>eletrostáticos e filtros de mangas estão sendo usados atualmente para limpar o ar</p><p>contaminado. Partículas, poeiras e partículas sólidas em suspensão são acumuladas</p><p>no equipamento formando aglomerados que podem ser removidos do equipamento e</p><p>descartados (BRAGA et al., 2006). A utilização de equipamentos específicos depende</p><p>principalmente da natureza do poluente no ar ambiente. As características físicas das</p><p>partículas ou particulados que influenciam o aglomerado são corrosividade, reatividade,</p><p>forma, densidade e principalmente tamanho e distribuição granulométrica. Outros</p><p>fatores incluem características do fluxo de ar (por exemplo, pressão, temperatura e</p><p>viscosidade), taxa de fluxo, eficiência de remoção e resistência permitida ao fluxo de ar.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 68</p><p>4.4.2 Ciclones</p><p>As partículas do ar contaminado podem ser removidas por um processo de separação</p><p>ciclônica. Este é um processo pelo qual, sem o uso de qualquer sistema de filtragem,</p><p>as partículas de ar, gás ou correntes líquidas podem ser separadas. O sistema utilizado</p><p>para a remoção de particulados de correntes líquidas é conhecido como hidrociclone.</p><p>Efeitos rotacionais e gravidade são usados para separar misturas de sólidos e fluidos.</p><p>Esses métodos podem ser usados para separar gotículas finas de líquido de fluxos</p><p>gasosos. Vários separadores de ciclone podem operar em paralelo, e esse sistema</p><p>é conhecido como multiciclone. O tamanho do ciclone pode variar drasticamente</p><p>dependendo do volume do gás de combustão a ser usado para limpeza. O tamanho</p><p>pode variar de um relativamente pequeno de 1,5 m a um com cerca de 9 m de altura.</p><p>Os separadores de ciclone funcionam como uma centrífuga, mas com uma</p><p>alimentação contínua de ar/gás de combustão sujos. Em um separador de ciclone, o</p><p>gás de combustão sujo é alimentado em uma câmara. O interior da câmara cria um</p><p>vórtice espiral, semelhante a um tornado. Esta formação em espiral e a separação</p><p>são mostradas na Figura 3. O componente mais leve do gás tem menos inércia,</p><p>então é mais fácil para ele ser influenciado por um vórtice. Ao contrário, componentes</p><p>maiores de MP têm mais inércia e não são tão facilmente</p><p>influenciados pelo vórtice</p><p>(VESILIND e MORGAN, 2011). Como essas partículas maiores têm dificuldade em seguir</p><p>o movimento espiral de alta velocidade do gás e do vórtice, as partículas atingem as</p><p>paredes internas do recipiente e caem em um funil de coleta. Essas câmaras têm o</p><p>formato de um cone invertido para promover a coleta dessas partículas no fundo do</p><p>recipiente (BRAGA et al., 2006). O gás de combustão limpo escapa pelo topo da câmara.</p><p>Figura 3 – Separador Ciclônico</p><p>Fonte: TAVARES et al. (2015, p.76)</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 69</p><p>4.4.3 Lavadores de gás úmido/seco</p><p>Lavadores úmidos são amplamente utilizados na indústria. Em sua forma mais básica,</p><p>a água é encapsulada em um recipiente de metal ou composto. O gás contaminado</p><p>passa pela água e a água absorve os contaminantes. Outros líquidos podem ser</p><p>usados para efetivamente remover vários contaminantes. Esses líquidos podem ser</p><p>desde altamente carregados positivamente ou negativamente - até não carregados</p><p>(BRAGA et al., 2006). Como os poluentes podem diferir em sua carga, os lavadores</p><p>podem ser embalados com um líquido que se ligará de forma mais eficaz para remover</p><p>contaminantes específicos do gás. Neste processo, a associação líquido-gás aumenta</p><p>o nível de umidade do gás que está sendo expelido do lavador. O aumento do nível</p><p>de umidade do gás criará uma nuvem visível existente dentro do lavador (MIHELCIC</p><p>e ZIMMERMAN, 2012).</p><p>Nos lavadores industriais a seco, não é utilizada água nem qualquer outro líquido.</p><p>Um purificador industrial seco usa sorvente ou material de reação seco que absorve</p><p>contaminantes que são misturados com o gás poluído. Lavadores a seco são usados</p><p>principalmente para remover os ácidos encontrados nos gases (BOTKIN e KELLER,</p><p>2011).</p><p>4.4.4 Precipitadores Eletrostáticos</p><p>Nos precipitadores eletrostáticos, a energia carregada é usada para remover a poeira</p><p>e outros contaminantes dos gases de combustão (BRAGA et al., 2006). É importante</p><p>combinar a polaridade e o tipo de carga para ligar e remover os poluentes do gás. Um</p><p>exemplo de projeto de um precipitador eletrostático é um precipitador de placas. A</p><p>placa é uma folha de metal carregada com um tipo específico de carga. Essas placas</p><p>são projetadas para correr paralelamente à tubulação, de modo que o gás passe pelas</p><p>placas e as placas removam poeira ou contaminantes.</p><p>Além dos precipitadores eletrostáticos de placas de metal, também existem</p><p>precipitadores eletrostáticos úmidos que ajudam a remover gases com alto teor</p><p>de umidade (BRAGA et al., 2006). Alguns dos produtos químicos que podem ser</p><p>removidos do gás incluem o ácido sulfúrico. A pasta resultante que contém os</p><p>poluentes ligados é girada para longe do precipitador eletrostático para remover</p><p>os contaminantes e manter uma superfície efetivamente carregada para posterior</p><p>remoção de poluentes.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 70</p><p>4.4.5 Tratamento Biológico</p><p>Microrganismos aeróbios (principalmente bactérias mesófilas) são usados para</p><p>remediação biológica do ar contaminado. Bactérias mesófilas podem ser alimentadas</p><p>com compostos orgânicos e inorgânicos em gases residuais. Os microrganismos</p><p>degradam metabolicamente os contaminantes e formam dióxido de carbono, água</p><p>e sais.</p><p>ANOTE ISSO</p><p>Mesofílicos consistem em um conjunto de organismos capazes de se desenvolver</p><p>em temperaturas moderadas, ou seja, 20 a 45°C, que não são muito quentes</p><p>nem muito frias. Vários patógenos, assim como a microbiologia humana, são</p><p>considerados mesófilos. Isto porque a temperatura normal do corpo humano é</p><p>de 37°C. Alguns mesófilos estão envolvidos na produção de vinho e cerveja. Eles</p><p>também são encontrados em queijo e iogurte.</p><p>Existem dois tipos principais de tecnologias de tratamento biológico: biofiltro e</p><p>biolavador.</p><p>4.4.5.1 Biofiltros</p><p>A tecnologia de biofiltro é a técnica mais simples e barata usada para tratar o</p><p>gás contaminado. Consiste principalmente em um leito de composto misturado com</p><p>casca de árvore, turfa ou solo, com cerca de 1 m de profundidade, através do qual o</p><p>gás contaminado é soprado (MIHELCIC e ZIMMERMAN, 2012). O leito do biofiltro é</p><p>misturado com uma ampla gama de bactérias mesófilas com potencial para converter</p><p>poluentes do ar em dióxido de carbono, água e sais (MIHELCIC e ZIMMERMAN, 2012).</p><p>Esta tecnologia é amplamente utilizada no tratamento de compostos malcheirosos</p><p>e VOCs solúveis em água. Principalmente a indústria de processamento de alimentos,</p><p>unidades de processamento de produtos de origem animal, gás residual de instalações</p><p>de tratamento de águas residuais, produtos farmacêuticos, fabricação de produtos de</p><p>madeira, aplicação e fabricação de tintas e revestimentos e unidades de fabricação</p><p>e aplicação de resina usam essa técnica com sucesso. A principal desvantagem da</p><p>técnica de biofiltro é a necessidade de grandes quantidades de terra para fazer o leito</p><p>do biofiltro (BOTKIN e KELLER, 2011).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 71</p><p>4.4.2.1 Biolavadores</p><p>Um biolavador consiste principalmente em um lavador de gás e um reator biológico.</p><p>A função básica de um lavador de gás é remover os componentes solúveis em água do</p><p>ar/gás de combustão contaminados usando água de lavagem. Em um reator de lodo</p><p>ativado, os poluentes que foram absorvidos pela água de lavagem são degradados</p><p>biologicamente (BOTKIN e KELLER, 2011). O líquido de lavagem purificado circula para</p><p>o purificador, onde é capaz de reabsorver poluentes.</p><p>Bactérias mesófilas presentes no reator de lodo ativado convertem hidrocarbonetos</p><p>em água e dióxido de carbono. Os hidrocarbonetos não degradáveis permanecem</p><p>na água de lavagem. Componentes como H2S e NH3 são convertidos em sulfato e</p><p>nitrato, respectivamente. A drenagem regular da água residual de precipitação salina do</p><p>biorreator é necessária para manter baixo o teor de sal e os níveis de hidrocarbonetos</p><p>não degradáveis (BRAGA et al., 2006). O monitoramento da água precipitada salina</p><p>é realizado com base na condutividade ou via descarga fixa. O nível de descarga é</p><p>determinado pela composição do gás de combustão.</p><p>Um lavador de gás deve fornecer um tempo de detenção de gases de combustão/ar</p><p>poluído por cerca de 1s. Os bicos de pulverização devem estar livres do problema de</p><p>bloqueio de lodo. A fim de manter o crescimento de microrganismos mesófilos, nutrientes</p><p>especiais contendo nitrogênio, fósforo e oligoelementos devem ser fornecidos conforme</p><p>a necessidade. Além disso, o fornecimento de ar/oxigênio limpo borbulhante suficiente</p><p>deve ser incluído em um biolavador para apoiar o crescimento de microrganismos</p><p>(MIHELCIC e ZIMMERMAN, 2012).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 72</p><p>CAPÍTULO 5</p><p>SISTEMA DE ABASTECIMENTO</p><p>E TRATAMENTO DE ÁGUA</p><p>A água é um recurso natural. Três quartos da superfície da Terra são cobertos por</p><p>oceanos, e os 75% restantes da água estão congelados nas regiões polares, 22% está</p><p>presente como água subterrânea e o restante como água doce. O ciclo hidrológico</p><p>rege a gestão dos recursos hídricos na natureza (BROCKMAN, 2010). O aumento</p><p>dinâmico das necessidades de água desenvolve estresse nos sistemas naturais. O</p><p>sistema de balanço de massa dos fluxos de água é completamente agitado em direção</p><p>à borda negativa. Isso requer atenção imediata para proteger os recursos hídricos para</p><p>necessidades futuras. O aumento da população, a rápida urbanização, a mudança</p><p>dos estilos de vida e o aumento da demanda agrícola e industrial estão pressionando</p><p>severamente os recursos de água doce disponíveis.</p><p>A gestão multidisciplinar holística e integrada da água, protegendo e melhorando</p><p>a integridade ecológica e protegendo a condição ambiental natural, é um grande</p><p>desafio enfrentado pelo mundo</p><p>hoje. As mudanças climáticas estão resultando em</p><p>fornecimento incerto e flutuante de água, aumentando o estresse na infraestrutura.</p><p>Nestas circunstâncias, há necessidade de esforços concertados para uma gestão</p><p>eficiente dos preciosos recursos de água doce e mitigação dos impactos adversos</p><p>das alterações climáticas (CALIJURI e CUNHA, 2013).</p><p>A gestão da água urbana desempenha um papel fundamental no desenvolvimento</p><p>de sistemas eficientes de água potável para uma cidade. Globalmente, em 43 países,</p><p>a escassez de água é um grande problema que afeta 700 milhões de pessoas.</p><p>Urbanização, industrialização, crescimento econômico e globalização são fatores-</p><p>chave para inovações no setor de abastecimento e tratamento de água. No setor</p><p>de água, as operações da unidade modular de tratamento de água são abordagens</p><p>intensivas em energia e recursos altamente incorporadas, o que contribui para o fluxo</p><p>de resíduos pós-consumo (CALIJURI e CUNHA, 2013).</p><p>As políticas de tratamento e abastecimento de água precisam ser elaboradas com</p><p>base nas condições geográficas e regionais específicas, integrando as necessidades</p><p>da comunidade, taxa de geração de resíduos, comportamento e atitudes das partes</p><p>interessadas. As diretivas de políticas exigem uma abordagem multifacetada para os</p><p>aspectos lógicos, de infraestrutura e sociais associados à prevenção de resíduos. A</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 73</p><p>integração de valores, habilidades e aspectos logísticos equipam o desenvolvimento</p><p>de uma política abrangente para prevenir o impacto no meio ambiente.</p><p>De forma ilustrativa, os sistemas de águas urbanas envolvem basicamente 11</p><p>etapas: manancial, captação, água bruta, a Estação de Tratamento de Água (ETA), a</p><p>estação elevatória, os reservatórios, as adutoras, a rede de distribuição e o usuário</p><p>final, como mostra a Figura 1.</p><p>Figura 1 – Unidades que compõem um sistema de água urbano</p><p>Fonte: https://i0.wp.com/alfacompbrasil.com/wp-content/uploads/2019/04/Abastecimento-de-%C3%A1gua.jpg?resize=735%2C448&ssl=1</p><p>Nesta unidade, iremos abordar a importância dos mananciais nesta concepção de</p><p>uso de água; falaremos também sobre as etapas unitárias existentes em uma ETA;</p><p>por fim, abordaremos a respeito do sistema de distribuição de água.</p><p>5.1 Mananciais</p><p>Todas as formas de vida, especialmente a humana, dependem de seus arredores</p><p>para seu bem-estar e sobrevivência, mas devido ao uso excessivo desses recursos, o</p><p>meio ambiente tem se degradado rapidamente. Dentre esses recursos fundamentais,</p><p>a água é um dos recursos naturais mais importantes para os seres humanos, animais</p><p>selvagens e todo o ambiente. A avaliação da qualidade da água ambiente determina</p><p>seu uso para fins humanos e ecológicos (BRAGA, 2006).</p><p>Devido ao fato de que as águas superficiais estão sendo amplamente utilizadas em</p><p>atividades industriais, setor agrícola, instalações domésticas e municipais, as atividades</p><p>antrópicas são as maiores responsáveis por comprometer a qualidade hídrica. Como</p><p>https://i0.wp.com/alfacompbrasil.com/wp-content/uploads/2019/04/Abastecimento-de-%C3%A1gua.jpg?resize=735%2C448&ssl=1</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 74</p><p>a água limpa é muito procurada, pode ser derivada de várias fontes, mas, infelizmente,</p><p>as águas superficiais geralmente correm o risco de começarem a ser poluídas e seu</p><p>status de baixa qualidade leva a problemas de saúde pública (LINDEBURG, 2013).</p><p>Os mananciais são descritos como fontes de águas naturais que servem de captação</p><p>de água, podendo ser riachos, rios, lagos e nascentes, como mostra a Figura 2.</p><p>Figura 2 – Reservatório do Sistema Cantareira</p><p>Fonte: https://www.flickr.com/photos/stankuns/15062292308</p><p>ISTO ESTÁ NA REDE</p><p>O Sistema Cantareira é um sistema de abastecimento de água do estado de</p><p>São Paulo. É composto por cinco reservatórios interligados que fornecem água</p><p>para 9 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo. O sistema é</p><p>administrado pela Sabesp, empresa de gestão de recursos hídricos do estado de</p><p>São Paulo.</p><p>Em 1960, o governo do estado de São Paulo, preocupado com o elevado</p><p>crescimento populacional da cidade de São Paulo e cidades vizinhas, cuja</p><p>população totalizava 4,8 milhões de habitantes, decidiu ampliar o abastecimento de</p><p>água da Região Metropolitana de São Paulo, planejando a construção de diversos</p><p>reservatórios nas cabeceiras da bacia do rio Piracicaba, dando início ao Sistema</p><p>Cantareira. Em 1966, foram iniciadas as obras de construção dos reservatórios do</p><p>rio Juqueri, Cachoeira e Atibainha. Em 1976, os reservatórios de Jacareí e Jaguari</p><p>foram iniciados adicionando uma capacidade de 22.000 litros, o segundo do</p><p>sistema.</p><p>Fonte: SABESP (https://site.sabesp.com.br/site/muitoalemdaagua/index.html)</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 75</p><p>5.1.1 Proteção de Nascentes</p><p>O papel da água na segurança alimentar, nutrição e bem-estar geral tem sido</p><p>subestimado na literatura que aborda a saúde social. Tradicionalmente, o campo tem</p><p>estado atento ao papel da água no saneamento e higiene no contexto das doenças</p><p>de veiculação hídrica e na ausência de recursos para abastecimento urbano. Fato é</p><p>que a segurança hídrica não se limita somente a esses problemas. O acesso e o uso</p><p>desse nutriente essencial afetam muitos outros fenômenos relacionados à nutrição,</p><p>como produtividade agrícola, práticas de preparação de alimentos, comportamentos</p><p>alimentares, diversidade alimentar, práticas de alimentação de bebês e crianças</p><p>pequenas e gasto de energia.</p><p>A segurança hídrica, um termo amplo que é comumente usado para descrever</p><p>inúmeros desafios hídricos, deve ser de interesse para a comunidade global de nutrição</p><p>devido à prevalência e gravidade dos problemas hídricos em todo o mundo e às muitas</p><p>interconexões entre água e nutrição. Uma crise hídrica global se desenvolveu e está</p><p>piorando, com um número crescente de seres humanos enfrentando problemas com</p><p>água insuficiente, excessiva e/ou poluída (CALIJURI e CUNHA, 2013).</p><p>Neste cenário, esforços são necessários para buscar de alguma forma atenuar os</p><p>problemas relacionados a quantidade e qualidade da água. E isso deve começar desde</p><p>a fonte da água. A proteção e gestão das fontes de água podem ser divididas em quatro</p><p>categorias: critérios de qualidade da água, avaliações das fontes de água, medidas</p><p>preventivas para lidar com fontes de contaminação e planejamento de contingência. No</p><p>Brasil, há regulamentações que abrangem as quatro vertentes; neste tópico, porém, uma</p><p>ênfase maior será dada aos programas de avaliação e proteção de água de nascente.</p><p>De acordo com a Resolução CONAMA nº 303, entende-se como “nascente ou olho</p><p>d’água: local onde aflora naturalmente, mesmo que de forma intermitente, a água</p><p>subterrânea” (BRASIL, 2002).</p><p>Em 2012, foi definido que deveria ser necessário destinar áreas para proteção a</p><p>nascentes. Essas áreas foram batizadas de Áreas de Preservação Permanente (APP).</p><p>De acordo com a Lei 12.651, Art. 2º, item II, entende-se por APP uma “área protegida,</p><p>coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos</p><p>hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade; facilitar o fluxo gênico</p><p>de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”</p><p>(BRASIL, 2012).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 76</p><p>Dentro deste contexto, a proteção das nascentes foi contemplada no Art.3, item IV,</p><p>como sendo “as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que</p><p>seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros” (BRASIL, 2012).</p><p>5.1.2 Proteção da Mata Ciliar</p><p>A mata ciliar é uma parte do ecossistema florestal adjacente a rios ou córregos, que</p><p>influencia diretamente o sistema</p><p>em nada mais do que jogar o conteúdo pela janela. Por volta de 1550, o rei Henrique II</p><p>tentou repetidamente fazer com que o Parlamento de Paris construísse esgotos, mas</p><p>nem o rei nem o parlamento se propuseram a pagar por eles. O famoso sistema de</p><p>esgoto de Paris foi construído sob Napoleão III, no século XIX (DAVIS, 2016).</p><p>Figura 1 – Forma de descarte de resíduos no século XIX</p><p>Fonte: Havlíček Pokorna e Zalesak (2017)</p><p>Os engenheiros civis foram responsáveis por desenvolver soluções de engenharia</p><p>para esses problemas de água e esgoto dessas instalações. Houve, no entanto, pouca</p><p>valorização dos aspectos mais amplos do controle e gestão da poluição ambiental</p><p>até meados do século XX. O campo da engenharia ambiental surgiu para apoiar as</p><p>necessidades humanas e ambientais, mitigando os impactos adversos associados</p><p>às atividades humanas. Impulsionado pelo sentimento público de apoio à proteção</p><p>dos recursos naturais e da saúde humana e por leis destinadas a reduzir algumas</p><p>das formas mais flagrantes de dano ambiental, o campo alcançou sucessos notáveis</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 10</p><p>nas últimas décadas. No entanto, as soluções do passado não seriam suficientes</p><p>para resolver os problemas do futuro. À medida que a humanidade enfrenta desafios</p><p>crescentes e diversos, o campo da engenharia ambiental deve se basear em seus</p><p>pontos fortes, inspirar e implementar soluções visionárias e continuar a evoluir para</p><p>atender aos interesses das pessoas e do planeta.</p><p>1.1 Origem e Desenvolvimento no Brasil</p><p>A Engenharia Ambiental, de uma forma geral, deu seus primeiros passos a partir</p><p>da Primeira Conferência Mundial sobre Meio Ambiente em 1972, em Estocolmo, na</p><p>Suécia. Voltada às pautas ambientais e ao recém-criado conceito de sustentabilidade,</p><p>a Conferência também observou a necessidade de desenvolver profissionais com</p><p>expertise técnica para gerir a área, de forma que contemplassem a ciência e a tecnologia</p><p>em prol do desenvolvimento econômico e proteção ambiental (DAVIS, 2016)</p><p>Essa necessidade chegou ao Brasil ainda na década de 1970, motivada pela</p><p>necessidade de se estabelecer sistemas de esgotamento sanitário e proteção das águas.</p><p>Por esse motivo, inclusive, foi criado o curso de Engenharia Sanitária, distribuindo-o</p><p>em cada uma das cinco regiões do Brasil.</p><p>Por outro lado, a rápida industrialização que o País passou, corroborada pelos</p><p>acidentes ambientais a nível mundial e a nível nacional, como o famoso Acidente Césio</p><p>157 em Goiânia, motivaram as lideranças ambientais a buscaram novas alternativas que</p><p>viabilizassem a formação de profissionais com essas expertises. Ainda que houvesse</p><p>a recém-criada Engenharia Sanitária, o conhecimento técnico desses profissionais era</p><p>aplicado à pauta de saneamento, deixando um amplo espectro de temas sensíveis ao</p><p>meio ambiente descoberto.</p><p>Tais considerações foram discutidas durante a 2ª Conferência Mundial do Meio</p><p>Ambiente, que ocorreu no Rio de Janeiro, 1992. A partir das discussões da Conferência,</p><p>além de importantes avanços ligados à criação da Agenda 21, Convenção de Clima e</p><p>Biodiversidade e a Declaração dos Princípios para Florestas, foi autorizado a criação do</p><p>Curso de Engenharia Ambiental. As primeiras Universidades a solicitarem a abertura</p><p>do curso foram a Fundação Universidade do Tocantins (Unitins) e a Universidade</p><p>Luterana do Brasil no Rio Grande do Sul - ULBRA. Porém, a primeira universidade a</p><p>ter efetivamente aberto uma turma de Engenharia Ambiental no Brasil foi a Unitins,</p><p>em Palmas, em 1992.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 11</p><p>O registro do curso junto ao Ministério da Educação só veio, contudo, dois anos</p><p>mais tarde. Em 1994 o MEC reconheceu o curso de Engenharia Ambiental, por meio da</p><p>Portaria 1.693 de 5 de dezembro daquele ano, alocando-o na área de ciências exatas</p><p>(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, 2010).</p><p>O desenvolvimento desta nova engenharia possibilitou a fusão de nomenclaturas</p><p>relacionadas a outras formações sobrepostas, incluindo engenharia ambiental e agrícola</p><p>e engenharia civil e ambiental, entre outras. A existência de ramificações dificulta a</p><p>padronização dentro de entidades de classe, responsáveis por estabelecer as devidas</p><p>atribuições profissionais. Buscou-se, portanto, a convergência das denominações</p><p>citadas para a nomeação de “Engenharia Ambiental e Sanitária”.</p><p>1.2. Características das atividades profissionais</p><p>A engenharia ambiental é melhor caracterizada pela vasta gama de questões que seus</p><p>profissionais abordam. Em termos gerais, os engenheiros ambientais projetam sistemas</p><p>e soluções na interação entre os seres humanos e o meio ambiente. Historicamente, este</p><p>trabalho se concentrou no fornecimento de água e no tratamento de águas residuais, com</p><p>base nas raízes do campo no projeto de sistemas de saneamento e na proteção da saúde</p><p>pública. Na década de 1970, o termo engenharia ambiental substituiu o termo anterior,</p><p>engenharia sanitária, à medida que o foco do campo foi ampliado para incluir a mitigação</p><p>da poluição do ar, da água e do solo. Ao mesmo tempo, a abordagem do campo para o</p><p>design mudou de um foco em sistemas de tratamento de engenharia para uma maior</p><p>ênfase em princípios e processos ecológicos. Mais recentemente, o campo se expandiu</p><p>ainda mais para lidar com contaminantes emergentes.</p><p>Para apoiar essas atividades, muitos engenheiros ambientais adquiriram experiência</p><p>em uma ampla variedade de domínios, incluindo hidrologia, microbiologia, química,</p><p>projeto de sistemas e infraestrutura cívica. Cerca de metade dos engenheiros ambientais</p><p>atuantes têm pós-graduação; praticantes aplicam seu ofício a uma ampla gama de</p><p>áreas na indústria, governo, organizações sem fins lucrativos e academias. Treinados</p><p>para abordar os problemas em nível de sistema, os engenheiros ambientais geralmente</p><p>atuam como uma ponte entre cientistas, outros engenheiros, tomadores de decisão</p><p>e comunidades para avaliar opções, ponderar compensações e projetar soluções</p><p>pragmáticas e econômicas.</p><p>Neste século, a pressão humana sobre o meio ambiente se acelera. A expectativa</p><p>de vida aumentou substancialmente em todo o mundo nas últimas décadas, à medida</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 12</p><p>que as condições de vida melhoraram. As Nações Unidas preveem que até 2050 a</p><p>população mundial chegará a aproximadamente 9,8 bilhões de pessoas, um aumento</p><p>de aproximadamente 30% em relação a hoje (UFPA, 2009).</p><p>As populações crescem, assim como a demanda da humanidade por recursos</p><p>naturais e os impactos nos sistemas naturais. Esses impactos ocorrerão de maneiras</p><p>diferentes em áreas diferentes. Pelo menos dois terços da população em 2050 viverão em</p><p>cidades, aumentando a pressão sobre os sistemas urbanos que fornecem água potável,</p><p>alimentos, energia e saneamento. O rápido crescimento econômico e populacional em</p><p>países de baixa renda ameaça sobrecarregar a infraestrutura básica e gerar aumentos</p><p>acentuados na poluição, assim como o mundo desenvolvido experimentou no início</p><p>do século XX (LINDEBURG, 2013). Ao mesmo tempo, os países de todos os níveis de</p><p>renda enfrentam novos tipos de desafios – muitos impulsionados pelas mudanças</p><p>climáticas – que as políticas, tecnologias e infraestruturas existentes não estão</p><p>preparadas para lidar.</p><p>A maior parte da expertise em engenharia ambiental está concentrada nos países</p><p>desenvolvidos, mas alguns dos desafios mais difíceis estão concentrados nas regiões</p><p>mais pobres do mundo. Mais de 10% da humanidade continua vivendo com menos</p><p>de US$ 1,90 por dia e sem acesso a serviços básicos e oportunidades econômicas</p><p>(SILVA, 2009). Mais de 2 bilhões de pessoas ainda não têm acesso a serviços de</p><p>saneamento básico, mais de 1 bilhão estão sem eletricidade, e mais de 3 bilhões</p><p>dependem de fontes domésticas de energia</p><p>aquático e a fauna. O termo ribeirinho foi originado do</p><p>termo “Ripa”, que se refere às margens de rios, lagoa ou lago da paisagem circundante</p><p>(CALIJURI e CUNHA, 2013). A área ribeirinha é encontrada entre o ecossistema fluvial</p><p>e terrestre. Também é conhecida como mata de galeria e mata ciliar que desempenha</p><p>várias funções, como sombreamento para reduzir a produtividade primária, ciclagem de</p><p>carbono (C), produção de biomassa, fornecimento de habitat para animais e estabilização</p><p>da área da margem do rio (CALIJURI e CUNHA, 2013). A Mata Ciliar fornece diversos</p><p>recursos ao organismo vivo, como disponibilidade de água, nutrientes e minerais. A</p><p>distribuição das espécies é influenciada pela disponibilidade de água, bem como pela</p><p>interação das espécies em vários níveis tróficos sob as teias alimentares terrestres.</p><p>No Brasil, a Lei nº. 12651 define como mata ciliar (expresso na lei na forma de</p><p>APP) como sendo:</p><p>I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e</p><p>intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do</p><p>leito regular, em largura mínima de: a) 30 (trinta) metros, para</p><p>os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura; b) 50</p><p>(cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez)</p><p>a 50 (cinquenta) metros de largura; c) 100 (cem) metros, para os</p><p>cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos)</p><p>metros de largura; d) 200 (duzentos) metros, para os cursos</p><p>d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros</p><p>de largura; e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que</p><p>tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros;</p><p>II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com</p><p>largura mínima de: a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto</p><p>para o corpo d’água com até 20 (vinte) hectares de superfície,</p><p>cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros; b) 30 (trinta)</p><p>metros, em zonas urbanas (BRASIL, 2012).</p><p>A vegetação ciliar protege os cursos d’água e a fauna associada e mantém</p><p>a pureza dos ecossistemas regionais (CALIJURI e CUNHA, 2019). Apesar de ter</p><p>grande importância, as atividades antrópicas resultam na fragmentação da floresta</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 77</p><p>e isolamento dos corredores em pequenas manchas, resultando na perturbação dos</p><p>serviços ecossistêmicos prestados pelo tampão ciliar e também leva à destruição de</p><p>habitats e perda de biodiversidade. Assim, torna-se fundamental a implementação</p><p>de políticas públicas que fomentem e corroborem para a manutenção da mata ciliar.</p><p>ISTO ACONTECE NA PRÁTICA</p><p>Em 2003, a Prefeitura de Extrema criou o Programa Conservador das Águas. Projeto</p><p>visa remunerar donos de áreas rurais pela área total da propriedade destinadas à</p><p>preservação de matas ciliares. O principal argumento que justifica essa iniciativa é</p><p>que, no Conservador das Águas, o mais importante é a adequação ambiental da</p><p>propriedade como um todo, o que inclui aumento da cobertura vegetal, proteção</p><p>dos mananciais, ações em saneamento ambiental e ações em conservação do solo.</p><p>Outro ponto que merece destaque é a escolha do método do custo para chegar ao</p><p>valor pago por hectare.</p><p>Os principais objetivos do programa foram aumentar a cobertura vegetal nas sub-</p><p>bacias hidrográficas e implantar microcorredores ecológicos; reduzir os níveis de</p><p>poluição difusa rural decorrentes dos processos de sedimentação e eutrofização</p><p>e de falta de saneamento ambiental; difundir o conceito de manejo integrado</p><p>de vegetação, solo e água na bacia hidrográfica do Rio Jaguari e garantir a</p><p>sustentabilidade socioeconômica e ambiental dos manejos e práticas implantadas,</p><p>por meio de incentivos financeiros aos proprietários rurais.</p><p>Fonte: Rev. Eng. Sanit. Ambient., 2015.</p><p>5.2 Estação de Tratamento de Água (ETA)</p><p>Para atender às demandas de uma população crescente, é essencial coletar o</p><p>máximo de água possível para conservar esse recurso precioso. Porém, antes que a</p><p>água seja considerada própria para consumo humano, ela deve passar por um rigoroso</p><p>processo de tratamento.</p><p>Os sistemas públicos de água potável usam diferentes métodos de tratamento de</p><p>água para fornecerem água potável para suas comunidades. Os sistemas públicos</p><p>de água geralmente usam uma série de etapas de tratamento de água que incluem</p><p>coagulação, floculação, sedimentação, filtração e desinfecção, como mostra a Figura 3.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 78</p><p>Figura 3 – Reservatório do Sistema Cantareira</p><p>Fonte: http://www.fec.unicamp.br/~bdta/modulos/saneamento/lodo/lodo.htm</p><p>A coagulação é muitas vezes o primeiro passo no tratamento da água. Durante a</p><p>coagulação, produtos químicos com carga positiva são adicionados à água. A carga</p><p>positiva neutraliza a carga negativa da sujeira e outras partículas dissolvidas na água.</p><p>Quando isso ocorre, as partículas se ligam aos produtos químicos para formar partículas</p><p>ligeiramente maiores. Produtos químicos comuns usados nesta etapa incluem tipos</p><p>específicos de sais, alumínio ou ferro (CALIJURI e CUNHA, 2013).</p><p>A floculação segue a etapa de coagulação. A floculação é a mistura suave da água</p><p>para formar partículas maiores e mais pesadas chamadas flocos. Frequentemente,</p><p>as estações de tratamento de água adicionam produtos químicos durante esta etapa</p><p>para ajudar na formação dos flocos (CALIJURI e CUNHA, 2013).</p><p>A sedimentação é uma das etapas que as estações de tratamento de água usam</p><p>para separar os sólidos da água. Durante a sedimentação, os flocos se depositam</p><p>no fundo da água porque são mais pesados que a água (CALIJURI e CUNHA, 2013).</p><p>Uma vez que os flocos tenham se assentado no fundo da água, a água limpa</p><p>no topo é filtrada para separar os sólidos adicionais da água. Durante a filtração, a</p><p>água limpa passa por filtros com tamanhos de poros diferentes e feitos de materiais</p><p>diferentes (como areia, cascalho e carvão). Esses filtros removem partículas e germes</p><p>dissolvidos, como poeira, produtos químicos, parasitas, bactérias e vírus. Os filtros</p><p>de carvão ativado também removem os maus odores. As estações de tratamento de</p><p>água podem usar um processo chamado ultrafiltração, além ou em vez da filtragem</p><p>tradicional. Durante a ultrafiltração, a água passa por uma membrana filtrante com poros</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 79</p><p>muito pequenos. Esse filtro deixa passar apenas água e outras moléculas pequenas</p><p>(como sais e pequenas moléculas carregadas) (CALIJURI e CUNHA, 2013).</p><p>Após a água ter sido filtrada, as estações de tratamento de água podem adicionar</p><p>um ou mais desinfetantes químicos (como cloro, cloramina ou dióxido de cloro) para</p><p>matar quaisquer parasitas, bactérias ou vírus remanescentes. Para ajudar a manter a</p><p>água segura enquanto ela viaja para residências e empresas, as estações de tratamento</p><p>de água garantirão que a água tenha níveis baixos de desinfetante químico ao sair</p><p>da estação de tratamento. Este desinfetante restante mata os germes que vivem nos</p><p>canos entre a estação de tratamento de água e sua torneira.</p><p>ANOTE ISSO</p><p>Além ou em vez de adicionar cloro, cloramina ou dióxido de cloro, as estações</p><p>de tratamento de água também podem desinfetar a água usando luz ultravioleta</p><p>(UV) ou ozônio. A luz ultravioleta e o ozônio funcionam bem para desinfetar a água</p><p>na estação de tratamento, mas esses métodos de desinfecção não continuam</p><p>matando os germes à medida que a água passa pelos canos entre a estação de</p><p>tratamento e sua torneira.</p><p>A água pode ser tratada de forma diferente em diferentes comunidades, dependendo</p><p>da qualidade da fonte de água que entra na estação de tratamento. A água que entra</p><p>na estação de tratamento é, na maioria das vezes, superficial ou subterrânea. A água</p><p>superficial geralmente requer mais tratamento e filtragem do que a água subterrânea,</p><p>porque lagos, rios e córregos contêm mais</p><p>sedimentos (areia, argila, lodo e outras</p><p>partículas do solo), germes, produtos químicos e toxinas do que a água subterrânea.</p><p>Alguns suprimentos de água podem conter radionuclídeos (pequenas partículas</p><p>radioativas), produtos químicos específicos (como nitratos) ou toxinas (como as</p><p>produzidas por cianobactérias). Métodos especializados para controlar ou remover</p><p>esses contaminantes também podem fazer parte do tratamento da água.</p><p>5.2 Rede de Distribuição</p><p>O sistema de distribuição de água é a parte do sistema de abastecimento de água</p><p>que leva a água tratada do reservatório ou da cabeceira através de um sistema de</p><p>conexões de tubulação até o consumidor. Antes da distribuição de água, há aspectos de</p><p>tratamento e transmissão de água. As concessionárias de água constroem, operam e</p><p>mantêm sistemas de abastecimento de água. A função básica dessas concessionárias</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 80</p><p>de água é obter água de uma fonte, tratar a água a um nível aceitável de qualidade,</p><p>e entregar a quantidade desejada de água para o local apropriado. A análise de uma</p><p>concessionária de água é muitas vezes dedicada à avaliação de um ou mais dos seis</p><p>principais componentes funcionais do utilitário: desenvolvimento de fonte, transmissão</p><p>de água bruta, armazenamento de água bruta, tratamento, armazenamento e distribuição</p><p>de água tratada.</p><p>Um sistema de distribuição de água consiste em tubulações, instalações de</p><p>armazenamento, bombas e outros acessórios (LIBÂNIO, 2010).</p><p>Os dutos, chamados de adutoras, são usados para transportar água dentro de</p><p>um sistema de distribuição. Adutoras de grande diâmetro, chamadas alimentadores</p><p>primários, são usadas para conectar as estações de tratamento de água e as áreas</p><p>de serviço. Adutoras secundárias são conectadas entre alimentadores primários e</p><p>distribuidores. Distribuidores são adutoras localizadas próximas aos usuários de água,</p><p>que também fornecem água para hidrantes individuais (LIBÂNIO, 2010).</p><p>Uma linha de serviço é um tubo de pequeno diâmetro usado para conectar um cano</p><p>principal através de uma pequena torneira a um medidor de água no local do usuário.</p><p>Existe um válvula de serviço (também conhecida como parada do meio-fio) na linha de</p><p>serviço localizada perto do meio-fio da rua para cortar a água para o local do usuário.</p><p>Instalações de armazenamento, ou reservatórios de distribuição, fornecem</p><p>armazenamento de água potável (após o processo de tratamento de água necessário)</p><p>para garantir que o sistema tenha água suficiente para atender às demandas flutuantes</p><p>(reservatórios de serviço) ou para equalizar a pressão operacional (reservatórios de</p><p>equilíbrio). Elas também podem ser usadas temporariamente para atender às demandas</p><p>de combate a incêndio durante uma queda de energia.</p><p>Os seguintes são tipos de reservatórios de distribuição (LIBÂNIO, 2010):</p><p>• Reservatório de armazenamento subterrâneo ou reservatório de água acabado</p><p>coberto: Uma instalação de armazenamento subterrâneo ou grande reservatório</p><p>escavado no solo que é totalmente coberto. As paredes e o fundo destes</p><p>reservatórios podem ser revestidos com materiais impermeáveis para evitar a</p><p>intrusão de águas subterrâneas;</p><p>• Reservatório descoberto de água tratada: um grande reservatório escavado no</p><p>solo que possui medidas ou revestimento adequados para evitar o escoamento</p><p>superficial e a intrusão de águas subterrâneas, mas não possui uma tampa</p><p>superior. Este tipo de reservatório é menos desejável, pois a água não será mais</p><p>tratada antes da distribuição e é suscetível a contaminantes, como dejetos de</p><p>pássaros, atividades humanas e animais, proliferação de algas e deposição no ar;</p><p>• Reservatório de superfície (também conhecido como tanque de armazenamento</p><p>no solo e reservatório de armazenamento no solo: consiste em uma instalação</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 81</p><p>de armazenamento construída no solo com a parede revestida com concreto</p><p>projetado, asfalto ou membrana. Um reservatório de superfície é geralmente</p><p>coberto para evitar a contaminação. Eles geralmente estão localizados em áreas</p><p>de elevação que possuem carga hidráulica suficiente para distribuição. Quando</p><p>um reservatório de superfície ao nível do solo não pode fornecer uma carga</p><p>hidráulica suficiente para o sistema de distribuição, serão necessárias bombas</p><p>de reforço;</p><p>• Torre de água (também conhecida como reservatório elevado): Um tanque de</p><p>água elevado. Alguns tipos comuns são tanque de armazenamento elevado</p><p>esferóide, um tanque esferóide de aço no topo de uma coluna de aço de pequeno</p><p>diâmetro; tanque de armazenamento elevado composto, um tanque de aço em</p><p>uma coluna de concreto de grande diâmetro. O reservatório elevado é aplicável</p><p>para evitar flutuações de vazões e garantir uma pressão hidrostática adequada</p><p>no sistema de distribuição (Figura 4).</p><p>Figura 4 – Reservatório de água</p><p>Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Reservatorio_de_Agua_mineral_Romaria_-_panoramio.jpg</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 82</p><p>As instalações de armazenamento geralmente estão localizadas no centro dos</p><p>locais de serviço. Estar no local central reduz o comprimento das adutoras até os</p><p>locais de serviços. Isso reduz a perda de atrito quando a água é transportada por</p><p>uma tubulação.</p><p>Quanto ao layout de distribuição, em geral, um sistema de distribuição de água</p><p>pode ser classificado como tendo um layout de grade, anel, radial ou beco sem saída</p><p>(LIBÂNIO, 2010).</p><p>Um sistema de grade segue o layout geral da grade rodoviária com adutoras e</p><p>ramificações conectadas em retângulos. Com esta topologia, a água pode ser fornecida</p><p>a partir de várias direções, permitindo uma boa circulação de água e redundância em</p><p>caso de avaria da rede. As desvantagens dessa topologia incluem a dificuldade de</p><p>dimensionar o sistema.</p><p>Um sistema anelar tem uma adutora para cada estrada, e há uma subprincipal</p><p>ramificada da principal para fornecer circulação aos clientes. Esta topologia tem</p><p>algumas das vantagens de um sistema de grade, mas é mais fácil de determinar o</p><p>dimensionamento.</p><p>Um sistema radial fornece água em várias zonas. No centro de cada zona, a água</p><p>é distribuída radialmente aos clientes.</p><p>Um sistema sem saída tem adutoras de água ao longo das estradas sem um padrão</p><p>retangular. É usado para comunidades cujas redes rodoviárias não são regulares. Como</p><p>não há ligações cruzadas entre a rede elétrica, a água pode ter menos circulação e,</p><p>portanto, a estagnação pode ser um problema.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 83</p><p>CAPÍTULO 6</p><p>TRATAMENTO DE ESGOTO</p><p>A água, por suas propriedades como solvente e sua capacidade de transportar</p><p>partículas, incorpora em si várias impurezas que interferem na qualidade. A qualidade</p><p>da água é resultado de fenômenos naturais e da ação do ser humano.</p><p>Geralmente pode-se dizer que a qualidade da água é uma função do uso da terra na</p><p>área da bacia hidrográfica. Isso se deve aos seguintes fatores (CALIJURI e CUNHA, 2016):</p><p>• Condições naturais: mesmo com a bacia hidrográfica preservada em sua</p><p>natureza, a qualidade da água de superfície é afetada por escoamento e infiltração</p><p>resultantes das chuvas. O impacto destes depende do contato da água com</p><p>partículas, substâncias e impurezas no solo. Portanto, a incorporação de sólidos</p><p>suspensos (por exemplo, partículas de solo) ou sólidos dissolvidos (por exemplo,</p><p>íons provenientes da dissolução de rochas) ocorre mesmo quando a área de</p><p>captação é totalmente preservada em sua condição natural (por exemplo,</p><p>ocupação do terreno com bosques e florestas). Neste caso, a composição e</p><p>proteção do solo têm uma grande influência.</p><p>• Interferência de seres humanos: a interferência do homem se manifesta seja</p><p>de forma concentrada,</p><p>como na descarga de líquidos domésticos ou efluentes</p><p>industriais, quanto na forma difusa, como na aplicação de fertilizantes ou</p><p>pesticidas no solo. Ambos contribuem para a introdução de compostos na água,</p><p>afetando assim a sua qualidade.</p><p>Separado do conceito acima de qualidade da água existente, existe o conceito de</p><p>qualidade da água desejada. A qualidade desejada para uma água é uma função do</p><p>seu uso. Resumindo:</p><p>• Qualidade da água existente: função do uso da terra na área de captação;</p><p>• Qualidade da água desejada: função dos usos pretendidos para a água.</p><p>Dentro do foco desta unidade, o estudo da qualidade da água é essencial, não só</p><p>para caracterizar as consequências de uma determinada atividade poluidora, mas</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 84</p><p>também para permitir a seleção de processos e métodos que permitirão o cumprimento</p><p>dos requisitos dos usos da água. No Brasil, o enquadramento hídrico quanto às</p><p>características e tipologias de corpos hídricos é dado pela Resolução do Conselho</p><p>Nacional do Meio Ambiente - CONAMA nº 357 (CONAMA, 2015).</p><p>6.1 Poluição Hídrica</p><p>A poluição da água consiste na adição de substâncias ou formas de energia que</p><p>direta ou indiretamente alteram a natureza do corpo de água de tal maneira que</p><p>negativamente afeta seus usos legítimos (VON SPERLING, 2016). Esta definição é</p><p>essencialmente prática e, consequentemente, potencialmente controversa, pelo fato de</p><p>associar a poluição a alterações negativas e com os usos dos corpos d’água, conceitos</p><p>que são atribuídos pelos seres humanos. No entanto, essa visão prática é importante,</p><p>principalmente na hora de analisar as medidas de controle para redução da poluição.</p><p>A Tabela 1 lista os principais poluentes e sua origem, junto com os efeitos</p><p>representativos. No Brasil, a Resolução Conama nº 430/2011 aborda em detalhes os</p><p>principais parâmetros que caracterizam a qualidade de uma água residual (CONAMA,</p><p>2011). Para uso doméstico, que é o foco principal desta unidade, os principais poluentes</p><p>são: sólidos, matéria orgânica biodegradável, nutrientes e organismos patogênicos.</p><p>Poluente Possíveis efeitos</p><p>Sólidos suspenso</p><p>Adsorção de poluentes</p><p>Deposição de lodo</p><p>Estética</p><p>Matéria orgânica biodegradável</p><p>Consumo de oxigênio</p><p>Mortandade de peixes</p><p>Nutrientes</p><p>Produção excessiva de algas</p><p>Aumento de toxicidade</p><p>Contaminação de águas subterrâneas</p><p>Patógenos Doenças de transmissão hídricas</p><p>Matéria orgânica não biodegradável</p><p>Redução da transferência de oxigênio</p><p>Toxicidade</p><p>Mau odor</p><p>Metais</p><p>Toxicidade</p><p>Inibição de atividade biológica</p><p>Contaminação de águas subterrâneas</p><p>Sólidos inorgânicos</p><p>Aumento da salinidade</p><p>Problemas com permeabilidade do solo</p><p>Tabela 1 – Principais poluentes e seus efeitos no ambiente.</p><p>Fonte: Autor (2023)</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 85</p><p>A solução para a maioria desses problemas foi alcançada em muitas regiões</p><p>desenvolvidas, que agora são concentradas na remoção de nutrientes e micropoluentes,</p><p>juntamente com uma atenção substancial à poluição causada pela drenagem de</p><p>águas pluviais. Nas regiões em desenvolvimento, os problemas básicos de poluição</p><p>ainda precisam ser resolvidos, e toda a variedade de poluentes precisa ser combatida</p><p>(VON SPERLING, 2016).</p><p>No entanto, devido à escassez de recursos financeiros nestas regiões, é necessário</p><p>definir prioridades, e a poluição bruta por matéria e contaminação por patógenos</p><p>provavelmente merecem maior atenção. Naturalmente, cada região tem suas</p><p>especificidades, que devem ser levadas em consideração ao estabelecer prioridades.</p><p>ANOTE ISSO</p><p>A poluição hídrica pode se dar por meio de poluição pontual ou difusa. Na poluição</p><p>pontual, os poluentes chegam ao corpo d’água em pontos concentrados no espaço.</p><p>Normalmente, a descarga de águas residuais domésticas e industriais gera poluição</p><p>de fonte pontual, uma vez que as descargas são por emissários. Na poluição difusa,</p><p>os poluentes entram no corpo d’água distribuídos em vários locais ao longo do seu</p><p>comprimento. Este é o caso típico de drenagem de águas pluviais, seja em áreas</p><p>rurais (sem adutoras) ou em áreas urbanas (sistema de captação de águas pluviais,</p><p>com múltiplas descargas no corpo d’água).</p><p>6.2.1 Poluição de Matéria Orgânica e Autodepuração</p><p>A introdução de matéria orgânica em um corpo d’água resulta, indiretamente, no</p><p>consumo de oxigênio dissolvido (OD). Isso ocorre em decorrência dos processos da</p><p>estabilização da matéria orgânica realizada pelas bactérias, que utilizam o oxigênio</p><p>disponível no meio líquido para sua respiração. Como esperado, a queda da concentração</p><p>de OD no corpo d’água tem várias implicações do ponto de vista ambiental.</p><p>Em termos mais amplos, o processo de autodepuração está associado ao</p><p>restabelecimento do equilíbrio do ecossistema aquático, após as alterações induzidas</p><p>pelo lançamento de efluentes (CALIJURI e CUNHA, 2013). Dentro de um ponto de</p><p>vista mais específico, a conversão de compostos orgânicos em compostos inertes,</p><p>não deletérios do ponto de vista ecológico, é parte integrante do processo. Deve-se</p><p>entender que o conceito de autodepuração apresenta a mesma relatividade como o</p><p>conceito de poluição.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 86</p><p>A água pode ser considerada purificada sob um ponto de vista, mesmo que não</p><p>totalmente purificada em termos higiênicos, apresentando, por exemplo, organismos</p><p>patogênicos. A partir de uma abordagem pragmática, a água poderia ser considerada</p><p>purificada quando suas características não estão mais em conflito com seus</p><p>usos pretendidos em cada trecho do curso d’água. Isso porque não há absoluta</p><p>purificação: o ecossistema atinge um novo equilíbrio, mas em condições que são</p><p>diferentes de antes, devido ao aumento das concentrações de certos compostos</p><p>e subprodutos resultantes do processo de decomposição. Como consequência, a</p><p>comunidade aquática fica diferente, mesmo que em um novo estado de equilíbrio</p><p>(CALIJURI e CUNHA, 2013).</p><p>Nesse sentido, a autopurificação pode ser entendida como um fenômeno de</p><p>sucessão. Ao longo do rio, ocorre uma sequência sistemática de substituição de</p><p>uma comunidade por outra, até que se estabeleça uma comunidade estável, em</p><p>equilíbrio com as condições locais.</p><p>Portanto, autopurificação é um processo que se desenvolve com o tempo, e</p><p>considerando a dimensão do rio como predominantemente longitudinal, em quatro</p><p>etapas: zona de degradação, zona de decomposição ativa, zona de recuperação</p><p>e zona de água limpa.</p><p>A zona começa logo após a descarga de águas residuais para a água corpo. A</p><p>principal característica química é a alta concentração de matéria orgânica, ainda</p><p>numa fase complexa, mas potencialmente decomponível. No ponto de descarga, a</p><p>água é turva devido aos sólidos presentes no esgoto. A sedimentação dos sólidos</p><p>resulta na formação de bancos de lodo. Nesta zona há desordem completa, em</p><p>comparação com a zona estável da comunidade que existia antes. A decomposição</p><p>da orgânica matéria, realizada por microrganismos, pode ter um início lento,</p><p>dependendo da adaptação dos microrganismos aos resíduos. Normalmente,</p><p>no caso de águas residuais predominantemente orgânicas, os microrganismos</p><p>presentes no próprio esgoto são responsáveis pelo início da decomposição. Porque a</p><p>decomposição ainda pode ser incipiente, o consumo de oxigênio para as atividades</p><p>respiratórias dos microrganismos também podem ser baixas, permitindo oxigênio</p><p>dissolvido suficiente para os peixes. Após a adaptação dos microrganismos, a</p><p>taxa de consumo da matéria orgânica torna-se alta, implicando também numa</p><p>alta taxa de oxigênio dissolvido.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 87</p><p>Após a perturbação inicial, o ecossistema começa a se organizar na zona de</p><p>decomposição ativa. Os microrganismos,</p><p>presentes em grande número, decompõem</p><p>ativamente. O impacto atinge os níveis mais altos e a qualidade da água está</p><p>em seu pior estado. A coloração mais forte da água ainda pode ser observada,</p><p>juntamente com os depósitos escuros de lodo no fundo. Nesta zona o OD atinge</p><p>sua concentração mais baixa. Dependendo da magnitude da descarga, o oxigênio</p><p>dissolvido pode ser completamente consumido pelos microrganismos. Nesta</p><p>situação, condições anaeróbicas ocorrem em todo o volume líquido. A vida aeróbica</p><p>desaparece, dando lugar a microrganismos predominantemente anaeróbicos.</p><p>Figura 1 – Esquema de relação em O2, peixes, microrganismos em cada zona de autodepuração de um curso d’água.</p><p>Fonte: Santos et al. (2016)</p><p>Após a fase intensa de consumo e degradação da matéria orgânica do ambiente</p><p>aquático, inicia-se a etapa de recuperação. A água é mais clara e sua aparência geral</p><p>é melhorada. Os depósitos de lodo no fundo apresentam uma textura menos fina</p><p>e mais granulada. Não há liberação de gases ou maus odores. A matéria orgânica,</p><p>intensamente consumida nas zonas anteriores, é largamente estabilizada e transformada</p><p>em compostos inertes. Isso implica em uma menor taxa de consumo de oxigênio</p><p>através da respiração bacteriana. Em paralelo com isso, o oxigênio atmosférico é</p><p>introduzido na massa líquida, aumentando o nível de oxigênio dissolvido. As condições</p><p>anaeróbicas eventualmente ocorridas na zona anterior não estão mais presentes,</p><p>resultando em outra mudança na fauna e flora aquáticas.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 88</p><p>Após a etapa anterior, a água fica limpa novamente. As condições são semelhantes</p><p>àquelas da descarga, pelo menos em relação ao oxigênio dissolvido, matéria orgânica</p><p>e níveis de bactérias e, provavelmente, organismos patogênicos. A aparência da água é</p><p>semelhante à de antes da poluição ocorrer. No líquido predominam os completamente</p><p>oxidados e formas estáveis de matéria inorgânica, embora o lodo no fundo possa não</p><p>ser necessariamente estabilizado. A concentração de oxigênio dissolvido é perto do nível</p><p>de saturação, devido ao baixo consumo pela população microbiana e possivelmente</p><p>alta produção pelas algas.</p><p>6.2.2 Modelagem de Poluição</p><p>A carga pode ser definida como a massa de uma substância que passa por um</p><p>determinado ponto de um rio (como uma estação de monitoramento em uma saída de</p><p>bacia hidrográfica) em um período de tempo especificado (por exemplo, diariamente,</p><p>anualmente). Matematicamente, a carga é essencialmente o produto da descarga</p><p>de água e a concentração de uma substância na água. A vazão é um termo que</p><p>descreve a taxa de carregamento, ou seja, a taxa instantânea na qual a carga passa</p><p>por um ponto no rio.</p><p>A descarga de água é definida como o volume de água que passa por uma seção</p><p>transversal de um rio em um período de tempo especificado, enquanto o fluxo refere-</p><p>se à taxa de descarga, a taxa instantânea na qual a água passa por um ponto:</p><p>ISTO ACONTECE NA PRÁTICA</p><p>A carga poluidora é um elemento importante na caracterização da poluição que aporta</p><p>um curso d’água. Imagine, por exemplo, que se deseja saber a carga de nitrogênio que</p><p>uma fazenda aporta sobre o rio.</p><p>Sabe-se que a concentração de nitrogênio amoniacal (NNH3) é igual a 300mg/L. E a</p><p>vazão de descarga deste poluente é 206,7L/s.</p><p>Logo:</p><p>Assim, sabe-se que a carga lançada por essa fazenda é de 5.357,7 kg de N-NH3 por dia.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 89</p><p>O principal desafio de monitoramento é qual a melhor forma de levar as amostras</p><p>discretas para dar a estimativa mais precisa de carga. Observe que a carga total é</p><p>a carga sobre o período de interesse (por exemplo, um ano) determinada pela soma</p><p>de uma série de cargas unitárias (cálculos individuais de carga como o produto de</p><p>concentração, fluxo e tempo). O problema central é obter boas medidas de concentração</p><p>e vazão durante cada intervalo de tempo. Como regra geral, nos casos em que frequência</p><p>de amostragem é alta em relação ao período de interesse (por exemplo, amostragem</p><p>diária para cargas anuais), valores médios de vazão podem ser adotados durante um</p><p>determinado intervalo de tempo. Se for realizada uma amostragem menos frequente</p><p>(por exemplo, semanalmente para cargas anuais), no entanto, é recomendado que</p><p>as concentrações de amostras compostas de fluxo ponderado sejam usadas com</p><p>estimativas de vazão total para o período de tempo durante o qual cada amostra é</p><p>composta. Uma vez que essas escolhas - que são descritas com mais detalhes nas</p><p>páginas seguintes - forem feitas, o cálculo da carga total somando as cargas unitárias</p><p>é uma aritmética simples.</p><p>6.3 Operação, processos e sistemas de operação em ETE’s</p><p>Nos estudos de planejamento para implantação do tratamento de esgoto, os</p><p>seguintes pontos devem ser claramente abordados:</p><p>• Estudos de impacto ambiental no corpo receptor;</p><p>• Objetivos do tratamento;</p><p>• Nível de tratamento e eficiência de remoção.</p><p>Os estudos de impacto ambiental necessários à avaliação da conformidade com</p><p>os padrões do corpo receptor foram detalhados no Tópico 6.1. Os requisitos a serem</p><p>alcançados para o efluente também são uma função da legislação que define os</p><p>padrões de qualidade para o efluente e para o recebimento do corpo, como definido</p><p>pela Resolução CONAMA nº 357 (CONAMA, 2005).</p><p>A remoção de poluentes durante o tratamento, a fim de alcançar uma qualidade</p><p>desejada ou padrão de descarga exigido está associada aos conceitos de nível de</p><p>tratamento e eficiência do tratamento.</p><p>O tratamento de águas residuais é geralmente classificado de acordo com os</p><p>seguintes níveis: preliminar, primário, secundário e terciário (VON SPERLING, 2016),</p><p>conforme mostra a Tabela 2.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 90</p><p>Etapa Remoção</p><p>Preliminar • Sólidos grossos em suspensão (material maior e areia)</p><p>Primário</p><p>• Sólidos sedimentáveis em suspensão</p><p>• Matéria Orgânica (DBO) particulada (associada à matéria orgânica do componente</p><p>dos sólidos suspensos sedimentáveis)</p><p>Secundário</p><p>• DBO particulado (associado à DBO presente no esgoto bruto, ou ainda, a parcela</p><p>de DBO particulada sedimentável não removida nos locais de tratamento primário)</p><p>• DBO solúvel (associado à matéria orgânica na forma de sólidos dissolvidos)</p><p>Terciário</p><p>• Nutrientes</p><p>• Organismos patogênicos</p><p>• Compostos não biodegradáveis</p><p>• Metais</p><p>• Sólidos inorgânicos dissolvidos</p><p>• Restantes sólidos suspensos</p><p>Tabela 2 – Etapas do Tratamento de Esgoto</p><p>Fonte: Autor (2023)</p><p>O objetivo do tratamento preliminar é apenas a remoção de sólidos grosseiros,</p><p>enquanto o tratamento primário visa a remoção de sólidos sedimentáveis e parte da</p><p>matéria orgânica. Mecanismos físicos de remoção de poluentes são predominantes</p><p>em ambos os níveis. No tratamento secundário o objetivo é a remoção de matéria</p><p>orgânica e possivelmente nutrientes (nitrogênio e fósforo) por mecanismos</p><p>predominantemente biológicos. O objetivo do tratamento terciário é a remoção de</p><p>poluentes específicos (geralmente tóxicos ou compostos não biodegradáveis) ou a</p><p>remoção complementar de poluentes que não foram suficientemente removidos no</p><p>tratamento secundário. Tratamento terciário é raro em países em desenvolvimento</p><p>(BRAGA, 2006).</p><p>Os métodos de tratamento são compostos por operações e processos unitários,</p><p>e sua integração compõe os sistemas de tratamento. Os conceitos de operações</p><p>unitárias e processos unitários são frequentemente usados de forma intercambiável,</p><p>pois podem ocorrer simultaneamente na mesma unidade de tratamento. No geral, as</p><p>seguintes definições podem ser adotadas (RITTMANN e MCCARTY, 2001):</p><p>• Processos físicos: métodos de tratamento nos quais as forças físicas são</p><p>predominantes (por exemplo, peneiramento, mistura, floculação, sedimentação,</p><p>flotação, filtração);</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 91</p><p>• Processos químicos: métodos de tratamento em que a remoção ou a conversão</p><p>dos contaminantes ocorre pela adição de produtos químicos ou devido a reações</p><p>químicas (por exemplo, precipitação, adsorção, desinfecção);</p><p>• Processos de unidades biológicas: métodos de tratamento em que a remoção</p><p>de contaminantes ocorre por meio de atividade biológica (por exemplo, remoção</p><p>de matéria orgânica, nitrificação, desnitrificação).</p><p>Nesta unidade, iremos aprofundar as discussões nos processos biológicos de</p><p>tratamento, que são predominantemente utilizados no Brasil.</p><p>6.3.1 Tratamento Preliminar</p><p>O tratamento preliminar destina-se principalmente à remoção de:</p><p>• Sólidos grosseiros;</p><p>• Partículas de areia.</p><p>Os mecanismos básicos de remoção são de ordem física. Além da unidade de</p><p>remoção de sólidos, há também uma unidade de medição de fluxo. Isso geralmente</p><p>consiste em uma calha padronizada (por exemplo, calha Parshall), onde o nível de</p><p>líquido medido pode estar correlacionado com o fluxo. Também podem ser adotados</p><p>vertedouros (retangulares ou triangulares) e mecanismos de medição em tubo fechado.</p><p>A remoção de sólidos grosseiros é frequentemente feita por telas ou racks, estáticas</p><p>ou rotativas. Na triagem, material com dimensões maiores que os espaços entre as</p><p>barras é removido. Existem telas grossas, médias e finas, dependendo do espaçamento</p><p>entre as barras. A remoção do material retido pode ser manual ou mecanizada.</p><p>Os principais objetivos da remoção de sólidos grosseiros são: (i) proteção dos</p><p>dispositivos de transporte de águas residuais (bombas e tubulações); (ii) proteção</p><p>das unidades de tratamento subsequentes; e (iii) proteção dos corpos receptores.</p><p>A Figura 2 apresenta um fluxograma típico do tratamento preliminar.</p><p>Figura 2 – Tratamento Preliminar</p><p>Fonte: Santos (2012)</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 92</p><p>A retirada da areia contida no esgoto é feita por meio de unidades especiais chamadas</p><p>caixas de areia. O mecanismo de remoção de areia é simplesmente sedimentação: os</p><p>grãos de areia vão para o fundo do tanque devido a sua maior dimensão e densidade,</p><p>enquanto a matéria orgânica, que se deposita bem mais devagar, fica em suspensão</p><p>e segue para as unidades a jusante. Existem muitos processos, desde unidades</p><p>manuais até unidades totalmente mecanizadas, para a remoção e transporte da areia</p><p>sedimentada. Por fim, é utilizada uma calha Parshall para que se possa medir a vazão</p><p>que está chegando na estação de tratamento de esgoto.</p><p>6.3.2 Tratamento Primário</p><p>Depois de passar pelas unidades de tratamento preliminar, o esgoto ainda contém</p><p>resíduos não grosseiros sólidos suspensos, que podem ser parcialmente removidos</p><p>em unidades de sedimentação. Uma parte significativa desses sólidos suspensos é</p><p>composta por matéria orgânica em suspensão.</p><p>Desta forma, sua remoção por processos simples como a sedimentação implica na</p><p>redução da carga de demanda bioquímica de oxigênio (DBO) direcionada ao tratamento</p><p>secundário, onde sua remoção é mais cara (RITTMANN e MCCARTY, 2001). Os tanques</p><p>de sedimentação podem ser circulares ou retangulares.</p><p>O esgoto flui lentamente pelos tanques de sedimentação, permitindo que os sólidos</p><p>em suspensão com uma densidade maior do que o líquido circundante se assentem</p><p>lentamente no fundo. A massa de sólidos acumulados no fundo é chamada de lodo</p><p>primário bruto. Este lodo é removido através de um único tubo em tanques de pequeno</p><p>porte ou através de raspadores mecânicos e bombas em tanques maiores. Materiais</p><p>flutuantes, como graxa e óleo, tendem a ter uma densidade menor do que o líquido</p><p>circundante e sobem para a superfície dos tanques de sedimentação, onde são</p><p>coletados e retirados do tanque para tratamento subsequente.</p><p>A eficiência do tratamento primário na remoção de sólidos em suspensão e, como</p><p>resultado, DBO, pode ser aumentada pela adição de coagulantes. Isso é chamado de</p><p>tratamento primário avançado ou tratamento primário quimicamente aprimorado. Os</p><p>coagulantes podem ser sulfato de alumínio, cloreto férrico ou outros, auxiliados ou</p><p>não por um polímero. O fósforo também pode ser removido por precipitação. Mais</p><p>o lodo é formado, resultante da maior quantidade de sólidos retirados do líquido e</p><p>dos produtos químicos adicionados. O lodo primário pode ser digerido por métodos</p><p>convencionais digestores, mas em alguns casos também pode ser estabilizado por cal.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 93</p><p>6.3.3 Tratamento Secundário</p><p>O principal objetivo do tratamento secundário é a remoção da matéria orgânica.</p><p>A matéria orgânica está presente nas seguintes formas: matéria orgânica dissolvida</p><p>(DBO solúvel ou filtrada) que não é removida por operações meramente físicas, como</p><p>a sedimentação que ocorre em tratamento primário; e matéria orgânica em suspensão</p><p>(DBO suspensa ou particulada), que é amplamente removida no tratamento primário</p><p>ocasionalmente existente, mas cujos sólidos com sedimentabilidade mais lenta (sólidos</p><p>mais finos) permanecem na massa líquida (VON SPERLING, 2016).</p><p>Os processos de tratamento secundário são concebidos de forma a acelerar os</p><p>mecanismos de decomposição que ocorrem naturalmente nos corpos receptores.</p><p>Assim, a decomposição dos poluentes orgânicos degradáveis é alcançada sob condições</p><p>controladas e em intervalos de tempo menores do que no ambiente natural. A essência</p><p>do tratamento secundário de esgoto doméstico é a inclusão de um estágio biológico.</p><p>Embora os tratamentos preliminares e primários tenham predominantemente</p><p>mecanismos físicos, a remoção da matéria orgânica na etapa secundária é realizada</p><p>através de reações bioquímicas, realizadas por microrganismos. Uma grande variedade</p><p>de microrganismos participa do processo: bactérias, protozoários, fungos e outros.</p><p>A base de todo o processo biológico é o contato efetivo entre esses organismos e a</p><p>matéria orgânica contida no esgoto, de forma que possa servir de alimento para os</p><p>microrganismos.</p><p>Os microrganismos convertem a matéria orgânica em dióxido de carbono, água e</p><p>material celular (crescimento e reprodução dos microrganismos). Essa decomposição</p><p>biológica da matéria orgânica requer a presença do oxigênio como elemento fundamental</p><p>dos processos aeróbicos, além da manutenção de outras condições favoráveis às</p><p>condições ambientais, como temperatura, pH, tempo de contato, etc. (VON SPERLING,</p><p>2016).</p><p>O tratamento secundário geralmente inclui unidades de tratamento preliminar, mas</p><p>pode ou não incluir unidades de tratamento primário. Existe uma grande variedade de</p><p>secundários processos de tratamento, e os mais comuns são:</p><p>• Lagoas de estabilização;</p><p>• Sistemas de disposição de terras;</p><p>• Reatores anaeróbicos;</p><p>• Sistemas de lodo ativado;</p><p>• Reatores de biofilme aeróbicos.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 94</p><p>Figura 3 – Estação de Tratamento de Esgoto baseado no sistema de Lodos Ativados</p><p>Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Esta%C3%A7%C3%A3o_de_tratamento_de_esgoto_da_CAESB_%28ETE_Norte%29_01.JPG</p><p>ISTO ESTÁ NA REDE</p><p>Em operação desde 1988, a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), de Barueri – a</p><p>maior da América Latina – foi projetada para atender a maior parte da cidade de</p><p>São Paulo e a totalidade de outros oito municípios da região metropolitana: Cotia,</p><p>Jandira, Itapevi, Barueri, Santana do Parnaíba, Carapicuíba, Osasco e Taboão da</p><p>Serra. Parte da população das cidades de Embu das Artes e Itapecerica da Serra</p><p>também é coberta pela grande unidade de tratamento.</p><p>Localizada na margem esquerda do Rio Tietê, a ETE foi ampliada e modernizada</p><p>com uma série de melhorias entregues desde 2017, como parte do Projeto</p><p>Tietê. Assim, a estação alcançou a capacidade instalada para tratar 16 mil litros</p><p>por segundo, operando com vazão</p><p>média atual de 13 mil litros por segundo: a</p><p>população atendida é de aproximadamente 7,7 milhões de habitantes.</p><p>O processo utilizado na ETE Barueri é do tipo Lodo Ativado Convencional,</p><p>constituído por duas fases: líquida e sólida.</p><p>A fase líquida engloba os tratamentos preliminar, primário e secundário (processos</p><p>biológicos de oxidação); ao final, o efluente clarificado é encaminhado para o Rio</p><p>Tietê. A clarificação é a remoção da maioria das partículas sólidas que compõem o</p><p>líquido. No processo de produção de água residuária, a ETE Barueri consome 6 mil</p><p>litros por mês de hipoclorito de sódio.</p><p>A fase sólida é formada pelo adensamento, digestão anaeróbia e desidratação</p><p>mecânica do lodo, que é posteriormente encaminhada ao aterro sanitário para</p><p>https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Esta%C3%A7%C3%A3o_de_tratamento_de_esgoto_da_CAESB_%28ETE_Norte%29_01.JPG</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 95</p><p>disposição final. A destinação ambientalmente adequada do lodo é um desafio da</p><p>ETE e também para as Estações de Tratamento de Água.</p><p>Saiba mais assistindo este vídeo: https://vimeo.com/200703744</p><p>Fonte: http://www.saneamentoja.com.br/meio-ambiente/a-maior-estacao-de-tratamento-de-esgoto-da-america-latina-e-brasileira/</p><p>6.3.4 Tratamento Terciário</p><p>O tratamento terciário de água é o estágio final do processo de limpeza de águas</p><p>residuais em vários estágios. Esta terceira etapa do tratamento remove compostos</p><p>inorgânicos, bactérias, vírus e parasitas. A remoção dessas substâncias nocivas torna</p><p>a água tratada segura para reutilização, reciclagem ou liberação no meio ambiente.</p><p>O tratamento terciário adiciona um terceiro nível de tratamento mais avançado e</p><p>rigoroso. O tratamento primário e secundário normalmente obtêm águas residuais</p><p>limpas apenas o suficiente para serem descarregadas com segurança no meio</p><p>ambiente. O tratamento terciário, por outro lado, pode atingir níveis de purificação</p><p>da água que a tornam segura para reutilização em processos intensivos ou mesmo</p><p>como água potável.</p><p>Nem todas as estações de tratamento de águas residuais usam tratamento terciário.</p><p>O tratamento primário e secundário costumam ser suficientes para muitos propósitos.</p><p>Aqueles que usam tratamento terciário atingem níveis mais rigorosos de limpeza</p><p>para atender aos padrões rigorosos que regem o reuso de água, especialmente no</p><p>abastecimento público de água. O tratamento terciário também é benéfico quando</p><p>as instalações devem descarregar água em ecossistemas aquáticos sensíveis, como</p><p>estuários, rios lentos ou águas próximas a recifes de corais. É mais eficaz do que</p><p>o tratamento primário ou secundário na remoção de cores indesejadas de águas</p><p>residuais, por isso é essencial em aplicações industriais de celulose e papel e na</p><p>fabricação de têxteis.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 96</p><p>CAPÍTULO 7</p><p>GERENCIAMENTO DE</p><p>RESÍDUOS SÓLIDOS</p><p>Com uma população global de mais de 7,4 bilhões de pessoas, estima-se que entre</p><p>dois e três bilhões de toneladas de resíduos sólidos sejam gerados por ano em todo o</p><p>mundo (Waste Atlas, 2019). De acordo com o Waste Atlas (2019), a geração anual de</p><p>resíduos sólidos urbanos (RSU) é estimada em 1,9 bilhões de toneladas. No entanto,</p><p>os serviços de coleta cobrem apenas cerca de 30% da produção total de lixo.</p><p>Vale ressaltar que o número de pessoas que não têm acesso a sistemas básicos</p><p>de gerenciamento de RSU é da ordem de 3,5 bilhões, e a expectativa é que esse</p><p>número suba para 5,6 bilhões até 2050, se nada mudar nesse cenário. Quando toda</p><p>a quantidade de RSU é coletada no mundo, 70% é destinada a aterros e lixões, 19% é</p><p>direcionada para reciclagem e 11% é direcionada para estações de tratamento com</p><p>recuperação de energia (Waste Atlas, 2019).</p><p>Diversos fatores econômicos, sociais, geográficos e até legais influenciam na geração</p><p>de resíduos (CALIJURI e CUNHA, 2023). Esses fatores influenciam uns aos outros, por</p><p>isso são usualmente colhidos por meio de índices socioeconômicos (renda per capita,</p><p>produto interno bruto – PIB, índice de desenvolvimento humano – IDH, etc.), que têm uma</p><p>associação bem estabelecida com a geração de resíduos (CALIJURI e CUNHA, 2023).</p><p>Devido à crescente preocupação com o uso de tecnologias de baixo carbono, as</p><p>tecnologias de tratamento de resíduos sólidos com o objetivo de geração de energia,</p><p>também conhecidas como “tecnologias de desperdício em energia”, foram identificadas</p><p>como um dos oito tipos de tecnologia com maior potencial de desenvolvimento mundial.</p><p>No Brasil, o setor de resíduos foi responsável por 4% do total de emissões de gases</p><p>de efeito estufa em 2019, equivalente a 96 milhões de toneladas de CO2eq emitido.</p><p>Considerando o ano de 2010 como referência, registrou-se um aumento de 23% nas</p><p>emissões. Dois terços deles vieram de atividades de disposição final, incluindo aterros</p><p>sanitários, aterros controlados e lixões (ABRELPE, 2020).</p><p>Dado a relevância e importância do tema, nesta unidade, iremos compreender</p><p>os aspectos legais que envolvem o gerenciamento de resíduos sólidos; como são</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 97</p><p>classificados; e as etapas necessárias para que seu gerenciamento seja feito de forma</p><p>adequada.</p><p>7.1 Conceitos e Definições Legais</p><p>Resíduo sólido consiste em um produto ou substância que não é mais adequado</p><p>para o uso pretendido. Enquanto nos ecossistemas naturais os resíduos (ou seja,</p><p>oxigênio, dióxido de carbono e matéria orgânica morta) são utilizados como alimento ou</p><p>reagente, os resíduos resultantes das atividades humanas são, muitas vezes, altamente</p><p>resistentes e demoram muito tempo para decompor-se.</p><p>Para legisladores e governos, definir e classificar os resíduos com base nos riscos</p><p>relacionados ao meio ambiente e à saúde humana é, portanto, importante para fornecer</p><p>uma gestão de resíduos adequada e eficaz. Para o produtor ou o detentor, o ato de avaliar</p><p>se um material é ou não um resíduo é importante para identificar se as regras de resíduos</p><p>devem ser seguidas. As definições também são relevantes na coleta e análise de dados</p><p>de resíduos, bem como nas obrigações de relatórios nacionais e internacionais.</p><p>A primeira vez que um termo ou expressão relacionados a resíduo apareceu em</p><p>um texto na base legislativa brasileira (a nível Federal) foi na Política Nacional do</p><p>Meio Ambiente (BRASIL, 1981). Especificamente, o Art. 3º conceitua poluente como</p><p>qualquer forma de degradação da qualidade ambiental, resultado de atividades que,</p><p>direta ou indiretamente, causam poluição ao meio ambiente, sendo elas substâncias</p><p>sólidas, líquidas ou gasosas (BRASIL, 1981).</p><p>Obviamente, esse conceito amplo que a PNMA define, abrange uma variedade de</p><p>impactos e atividades potenciais, na qual o resíduo sólido se encontra. Porém não</p><p>define por si só o que vem a ser resíduo.</p><p>Este conceito foi definido, anos mais tarde, pela NBR 10004/1997, a qual foi</p><p>substituída posteriormente pela NBR 10004 (ABNT, 2004), sem alteração do conceito.</p><p>Segundo a norma, entende-se como resíduos sólidos:</p><p>“Todo resíduo nos estados sólido e semissólido, que resulta de</p><p>atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial,</p><p>agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição</p><p>os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles</p><p>gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem</p><p>como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável</p><p>o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou</p><p>exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em</p><p>face à melhor tecnologia disponível” (BRASIL, 2004).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 98</p><p>Esse entendimento é endossado, por fim, pela Política Nacional de Resíduos Sólidos</p><p>(PNRS),</p><p>no Cap. XVI, onde resíduo sólido é definido como:</p><p>“Material, substância, objeto ou bem descartados resultantes de</p><p>atividades humanas em sociedade, cuja destinação final se procede,</p><p>se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados</p><p>sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e</p><p>líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na</p><p>rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso</p><p>soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor</p><p>tecnologia disponível” (BRASIL, 2010)</p><p>ANOTE ISSO</p><p>A Lei 12.305/2010 aborda e conceitua praticamente todos os grupos de resíduos</p><p>sólidos existentes, com exceção de um: os resíduos radioativos. Este grupo de</p><p>resíduo segue um conjunto de legislações específicas, como a Lei 10.308/2011, que</p><p>deve ser consultada para que se garanta seu correto gerenciamento.</p><p>Na teoria, a PNRS foi conduzida com intuito de esclarecer e definir as obrigações</p><p>legais frente à geração, ao transporte e à destinação adequada de resíduos. Os objetivos</p><p>desta lei incluem redução, reutilização, reciclagem, tratamento e descarte adequados</p><p>de resíduos, inclusive sistemas de recuperação de energia, a fim de evitar danos ao</p><p>meio ambiente e à saúde. Contudo, apresenta vários problemas em termos de sua</p><p>aplicação efetiva, incluindo a falta de recursos orçamentários e a falta de capacidade</p><p>institucional e de gestão por parte de muitos municípios brasileiros, especialmente</p><p>os pequenos. Para enfrentar esses desafios, essa lei estabelece diretrizes de gestão</p><p>compartilhada, como a formação de consórcios intermunicipais para o gerenciamento</p><p>de resíduos sólidos (MUCELIN e BELLINI, 2008).</p><p>7.1.1 Responsabilidade Legal sobre o resíduo</p><p>A PNRS define o termo “poluidor” como uma pessoa/empresa que causa direta</p><p>ou indiretamente a degradação ambiental. Com base nessa disposição legal, as</p><p>autoridades públicas do Brasil, em geral, adotam a visão de que quem gera resíduos</p><p>de qualquer natureza é responsável por danos ambientais causados como resultado do</p><p>gerenciamento de tais resíduos (armazenamento temporário, transporte e disposição</p><p>final), mesmo que esse gerenciamento seja realizado por terceiros.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 99</p><p>Ainda sobre a PNRS, cabe salientar que ela traz diversos outros conceitos importantes</p><p>e que serão objetos de discussão. Um destes conceitos importantes está relacionado</p><p>à responsabilidade compartilhada na gestão do resíduo. O termo “responsabilidade</p><p>compartilhada” está, inclusive, literalmente expresso no Art. 3º da PNRS, que a entende</p><p>como um conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas entre os fabricantes,</p><p>importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos</p><p>serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, visando a</p><p>minimização dos volumes de resíduos e rejeitos gerados, reduzindo os impactos à</p><p>saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos</p><p>(BRASIL, 2010).</p><p>Enfatiza-se, portanto, a necessidade de nós, como cidadãos, nos atentarmos às</p><p>obrigações legais frente a este assunto, independentemente de atuarmos como pessoa</p><p>física ou jurídica. O cidadão brasileiro pode ser, inclusive, penalizado criminalmente</p><p>em assuntos relacionados à resíduos sólidos. É o que prevê a Lei nº. 9.605, de 12 de</p><p>Fevereiro de 1998 (BRASIL, 1998). Trata-se da Lei de Crimes Ambientais no Brasil, a</p><p>qual, em seu Art. 54, diz que é crime:</p><p>“Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem</p><p>ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a</p><p>mortandade de animais ou a destruição significativa da flora” (BRASIL,</p><p>1998).</p><p>Mediante o exposto, a lei prevê pena de um a cinco anos de prisão, caso a poluição</p><p>ocorra por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos</p><p>ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em outros</p><p>documentos legais.</p><p>A PNRS dá ênfase nas responsabilidades legais aos geradores de resíduos sólidos.</p><p>Ela mostra, inclusive, o gerador como qualquer pessoa física ou jurídica, de direito</p><p>público ou privado, que gera resíduos sólidos por meio de suas atividades, nelas</p><p>incluindo-se o consumo, apontando ainda o caminho que o gerador pode sofrer em</p><p>relação ao mal gerenciamento desse resíduo.</p><p>Um gerador de lixo deve descartá-lo com entidades que possuam licenças ambientais</p><p>para transporte, descarte ou tratamento do tipo específico de lixo que está sendo</p><p>descartado. O não cumprimento das normas administrativas que regem a destinação</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 100</p><p>final de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, pode sujeitar a empresa a multas e</p><p>embargos, entre outros tipos de sanções.</p><p>O Decreto Federal nº. 6.514, de 22 de julho de 2008, em seu Art. 62, prevê multa de</p><p>R$ 5.000,00 a R$ 50.000.000,00 ao cidadão que, dentre outras ações (BRASIL, 2008):</p><p>• lançar resíduos sólidos, líquidos ou gasosos ou detritos, óleos ou substâncias</p><p>oleosas em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou atos</p><p>normativos;</p><p>• deixar de segregar resíduos sólidos na forma estabelecida para a coleta seletiva,</p><p>quando a referida coleta for instituída pelo titular do serviço público de limpeza</p><p>urbana e manejo de resíduos sólidos;</p><p>• lançar resíduos sólidos ou rejeitos em praias, no mar ou quaisquer recursos</p><p>hídricos;</p><p>• lançar resíduos sólidos ou rejeitos in natura a céu aberto, excetuados os resíduos</p><p>de mineração;</p><p>7.1.2 Impactos Ambientais relacionados ao resíduo sólido</p><p>A disposição de resíduos tem enormes impactos ambientais. Em uma sociedade</p><p>impulsionada pelo consumismo, e que produz milhões de toneladas de resíduos todos</p><p>os anos, o descarte se torna uma questão importante. A Figura 1 ilustra um exemplo</p><p>de descarte feito de forma incorreta. Reciclagem, aterros e incineração desempenham</p><p>um papel na solução.</p><p>Contudo, as consequências são inevitáveis quando se trata de descarte de resíduos,</p><p>mesmo que seja feito de forma legalmente correta. Qualquer atividade produz um efeito</p><p>mínimo sobre o ambiente. Assim, o melhor caminho é sempre aquele que concilia</p><p>os aspectos ambientais, econômicos e sociais, e que atendam à necessidade local.</p><p>O uso do espaço destinado a receber o resíduo, por exemplo, pode ser considerado</p><p>um impacto por si só. Na América Latina, o maior lixão se encontrava, até o início de</p><p>2018, em Brasília. O Lixão da Estrutural, desativado em 19 de janeiro, ocupava uma</p><p>área de cerca de 200 ha, localizado apenas a 20 km da Esplanada dos Ministérios</p><p>(MARQUES, 2019).</p><p>A Figura 1 mostra como era o aterro antes do fechamento, e como ficou após essa</p><p>decisão.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 101</p><p>Figura 1 - Lixão da Estrutural</p><p>Fonte: MARQUES (2019)</p><p>Outro impacto ambiental inerente ao descarte inadequado de resíduos se dá em</p><p>função das propriedades químicas que apresentam. Veremos no item 7.2 que os</p><p>resíduos podem ser classificados como perigosos ou não perigosos. Muitos objetos</p><p>jogados fora contêm substâncias químicas que podem penetrar no solo e na água,</p><p>afetando a saúde de plantas, animais e seres humanos. Os eletrônicos, por exemplo,</p><p>contêm mercúrio, chumbo, cádmio, cromo e outros metais que comprometem a</p><p>saúde ambiental. Os resíduos de construção podem conter amianto, derivados de</p><p>combustíveis fósseis e outras substâncias tóxicas. As medidas para controlar essas</p><p>substâncias são prejudicadas pelo fato de serem dispersas em milhões de toneladas</p><p>de lixo, tornando sua remoção muito problemática.</p><p>Um exemplo desse tipo de contaminação é o que ocorre na Represa Guarapiranga, no</p><p>estado de São Paulo. Responsável pelo abastecimento de cerca de 20% da população</p><p>residente na região metropolitana, o reservatório sofre com o despejo inadequado de</p><p>resíduos</p><p>ao longo de sua periferia (HESPANHOL, 2020), impactando diretamente os</p><p>padrões de potabilidade exigidos por normativas legais, como o da Portaria 2.914 de</p><p>2011 (Brasil, 2011).</p><p>Até mesmo o descarte adequado dos resíduos pode impactar o ambiente. A</p><p>exposição dos resíduos ao tempo (sol, chuva, mudanças de temperatura etc.) favorece a</p><p>degradação da matéria orgânica presente e, como sabemos, resulta em um subproduto:</p><p>o metano, um gás de efeito estufa que é muitas vezes mais potente que o dióxido de</p><p>carbono. Em aterros mal planejados, por exemplo, o gás metano sai da superfície e flutua</p><p>na atmosfera, contribuindo para o aquecimento global. Contudo, novas tecnologias</p><p>têm favorecido o reaproveitamento deste gás. Uma das melhores soluções é a sua</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 102</p><p>captação, podendo ser queimado e transformado em energia elétrica. Essa solução</p><p>já está sendo usada em muitos locais de aterro, inclusive no Brasil.</p><p>ISTO ACONTECE NA PRÁTICA</p><p>Em São Paulo, por exemplo, o Aterro Sanitário de Caieiras, responsável por</p><p>receber os resíduos domiciliares e de saúde da região norte da capital, utiliza o</p><p>metano produzido como fonte de energia elétrica. Trata-se, na verdade, da maior</p><p>termoelétrica movida a biogás de aterros do país, com uma potência instalada de</p><p>29,5 MW.</p><p>A usina utiliza como combustível para a geração de energia o gás metano do</p><p>biogás decorrente da decomposição dos resíduos orgânicos depositados no aterro.</p><p>Sua produção é da ordem de 230 mil MWh ao ano, energia equivalente para atender</p><p>uma cidade de cerca de 300 mil.</p><p>Fonte: TERMOVERDE (2016)</p><p>7.2 Classificação dos Resíduos Sólidos</p><p>Os resíduos podem ser classificados com base na fonte (quem/o que gerou o</p><p>resíduo, ou também em relação às propriedades relacionadas ao quão perigoso é).</p><p>A Figura 2 ilustra a classificação dada em relação à fonte de origem do resíduo</p><p>sólido.</p><p>Figura 2 – Classificação do resíduo sólido quanto a sua origem.</p><p>Fonte: Autor (2023)</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 103</p><p>Duas categorias principais de resíduos podem ser estabelecidas, com base na</p><p>classificação adotada pela Norma Brasileira Técnica (NBR) 10.004/2010: resíduos</p><p>perigosos e resíduos não perigosos.</p><p>Resíduos perigosos, catalogados na Classe I, são resíduos que foram identificados</p><p>como potencialmente prejudiciais ao meio ambiente e à saúde humana e, portanto,</p><p>precisam de formas de manuseio, transporte, tratamento e disposição final adequados.</p><p>Inflamabilidade, corrosividade, toxicidade, ecotoxicidade e explosividade são as principais</p><p>características dos resíduos perigosos. Geralmente, a coleta e o manuseio separados são</p><p>estabelecidos, para evitar o contato com resíduos não perigosos. Tratamento químico,</p><p>incineração ou tratamento a alta temperatura, armazenamento seguro, recuperação</p><p>e reciclagem são modos possíveis de tratamento de resíduos perigosos. A maioria</p><p>dos resíduos perigosos tem origem na produção industrial. Os tipos especiais de</p><p>resíduos perigosos incluem: resíduos eletrônicos, como computadores em fim de vida,</p><p>telefones e eletrodomésticos e afins; resíduos radioativos; e resíduos de serviços de</p><p>saúde, que consistem em medicamentos, produtos químicos, produtos farmacêuticos,</p><p>equipamentos médicos usados, fluidos corporais, que podem ser infecciosos, tóxicos</p><p>ou radioativos ou conter bactérias e microorganismos nocivos; e resíduos radioativos</p><p>(BRASIL, 2004).</p><p>Resíduos não perigosos, catalogados na Classe II, são todos os resíduos que não</p><p>foram classificados como perigosos, isto é, não oferecem riscos à saúde humana e/</p><p>ou apresentam características que podem colocar em risco a saúde humana e a biota.</p><p>De acordo com a NBR 10.004 (BRASIL, 2004), tais resíduos podem ser agrupados</p><p>em duas subcategorias:</p><p>• Classe II-A não Inertes: são aqueles que apresentam propriedades como</p><p>biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água. Exemplos de</p><p>resíduos Classe II-A incluem materiais têxteis, restos de alimento, gessos, garrafas</p><p>PET, lixo doméstico etc.</p><p>• Classe II-B Inertes: são aqueles que, por suas características intrínsecas, não</p><p>oferecem riscos à saúde e não apresentam constituintes solúveis em água,</p><p>biodegradabilidade e combustibilidade. Exemplos de resíduos Classe II-B incluem</p><p>sucata de ferro, sucata de aço, areia, tijolo, isopor etc.</p><p>A Figura 3 sintetiza o fluxograma necessário para identificar a classificação adotada</p><p>no Brasil, mencionada nos parágrafos anteriores (BRASIL, 2004):</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 104</p><p>Figura 3 – Fluxograma para Classificação de Resíduos Sólidos no Brasil</p><p>Fonte: Autor (2023)</p><p>7.3 Etapas na gestão de resíduos sólidos</p><p>As características dos resíduos sólidos variam consideravelmente entre comunidades</p><p>e nações. No Brasil, as maiores parcelas de resíduos são caracterizadas como matéria</p><p>orgânica, seguido de materiais perigosos e eletrônicos. Esses números variam de</p><p>acordo com a localização geográfica, condições econômicas, estação do ano e muitos</p><p>outros fatores (ABRELPE, 2020).</p><p>As taxas de geração também constituem outro importante indicador e variam muito</p><p>conforme a localidade. Nos Estados Unidos, por exemplo, o lixo municipal é gerado a</p><p>uma taxa média de aproximadamente 2 kg por pessoa por dia (FRANCHETTI, 2011).</p><p>O Japão gera cerca de metade desse valor, mas no Canadá a taxa é de 2,7 kg por</p><p>pessoa por dia (VAN DER WERF; SEABROOK; GILLILAND, 2018). Em alguns países</p><p>em desenvolvimento, a taxa média pode ser inferior a 0,5 kg por pessoa por dia.</p><p>No Brasil, dados do Sistema Nacional de Informação sobre o Saneamento (SNIS)</p><p>mostram que, em média, cada brasileiro gera 1,07 kg de resíduo todos os dias, taxa</p><p>essa que varia conforme a localidade e ao longo dos anos, como mostra a Figura</p><p>11 (SNIS, 2021). Esses dados incluem resíduos de fontes comerciais, institucionais</p><p>e industriais, bem como fontes residenciais. As taxas reais de geração de lixo devem</p><p>ser cuidadosamente determinadas quando uma comunidade planeja um projeto de</p><p>gestão de resíduos sólidos.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 105</p><p>Figura 4: Evolução da Geração per capita de resíduo no Brasil</p><p>Fonte: Adaptado de SNIS (2021)</p><p>A PNRS diz que há necessidade de estabelecer um conjunto de processos para</p><p>que o gerenciamento de resíduos sólidos seja feito de forma assertiva, possibilitando</p><p>que todas as etapas, da geração à destinação final, sejam ambientalmente seguras.</p><p>Esse processo, denominado Gerenciamento de Resíduos Sólidos, é definido como um:</p><p>Conjunto de ações exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas</p><p>de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final</p><p>ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final</p><p>ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com o plano</p><p>municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou com plano</p><p>de gerenciamento de resíduos sólidos, exigidos na forma desta Lei</p><p>(BRASIL, 2010).</p><p>As etapas contidas no PNRS são aplicáveis a todos os geradores de resíduos</p><p>sólidos, compreendendo os setores público e privado. A seguir, conheceremos uma</p><p>breve descrição de cada etapa (CURI, 2012):</p><p>• Coleta: a coleta adequada de resíduos sólidos é importante para a proteção da</p><p>saúde pública, a segurança e a qualidade ambiental. É uma atividade de mão de</p><p>obra intensiva, responsável por cerca de três quartos do custo total da gestão de</p><p>resíduos sólidos. Tratando-se especificamente de RSU, os funcionários públicos</p><p>são frequentemente designados para a tarefa, mas, às vezes, é mais econômico</p><p>para empresas privadas fazer o trabalho sob contrato com o município ou com</p><p>coletores particulares, pagos por proprietários individuais.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE</p><p>SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 106</p><p>• Transporte: a tarefa de selecionar uma rota de coleta ideal é um problema</p><p>complexo, especialmente para cidades grandes e densamente povoadas. Uma rota</p><p>ótima é aquela que resulta no uso mais eficiente de mão de obra e equipamentos.</p><p>A seleção de tal rota requer a aplicação de análises de computador que levam</p><p>em conta as muitas variáveis de projeto em uma rede grande e complexa. As</p><p>variáveis incluem frequência de coleta, distância de transporte, tipo de serviço</p><p>e clima. A coleta de lixo em áreas rurais pode apresentar um problema especial,</p><p>uma vez que as densidades populacionais são baixas, levando a altos custos</p><p>unitários. Somado a isso, o transporte deve ser feito por veículos devidamente</p><p>preparados para as características de resíduos que serão transportados.</p><p>• Transbordo: caso o destino final do lixo não seja próximo à comunidade em</p><p>que é gerado, uma ou mais estações de transferência (transbordo) podem ser</p><p>necessárias. Uma estação de transbordo é uma instalação central onde o lixo de</p><p>muitos veículos de coleta é combinado em um veículo maior, como uma unidade</p><p>de trator-reboque. As estações de transbordo têm como objetivo acomodar</p><p>um volume maior de resíduos em veículos com capacidade maior, reduzindo o</p><p>número de viagens e de veículos necessários para transportar os resíduos até</p><p>a destinação final.</p><p>• Tratamento: uma vez coletados, os resíduos sólidos urbanos podem ser tratados</p><p>de forma a reduzir o volume total e o peso do material que requer disposição</p><p>final. O tratamento altera a forma dos resíduos e facilita o manuseio. Também</p><p>pode servir para recuperar determinados materiais, bem como energia térmica,</p><p>para reciclagem ou reutilização. Formas de tratamento incluem: incineração,</p><p>compostagem, cogeração e pirólise.</p><p>• Destinação final: a destinação do solo é a estratégia de gestão mais comum</p><p>para os RSU. O lixo pode ser depositado com segurança em um aterro sanitário,</p><p>local de descarte cuidadosamente selecionado, projetado, construído e operado</p><p>para proteger o meio ambiente e a saúde pública. Os aterros são projetados e</p><p>construídos com intuito de atender às características dos resíduos que estarão</p><p>aptos a receber. Em outras palavras, isso significa que há: Aterros Sanitários</p><p>Classe I, Aterros Sanitários Classe II-A e Aterros Sanitários Classe II-B.</p><p>Somado ao processo de Gerenciamento de Resíduos, a PNRS também orienta, por</p><p>meio de diretrizes e instrumentos, estratégias com intuito de amenizar a geração de</p><p>resíduos, impactando diretamente toda a cadeia.</p><p>https://www.britannica.com/dictionary/densities</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 107</p><p>ISTO ESTÁ NA REDE</p><p>A hierarquização dos resíduos, por exemplo, refere-se aos “5 Rs”</p><p>repensar, recusar, reduzir, reutilizar e reciclar, que classificam as estratégias de</p><p>gestão de resíduos de acordo com sua conveniência em termos de minimização</p><p>de resíduos. O objetivo da hierarquia de resíduos é extrair o máximo de benefícios</p><p>práticos dos produtos e gerar a quantidade mínima de resíduos finais.</p><p>Saiba mais neste vídeo: https://youtu.be/VbDO-9unduY</p><p>Outro instrumento que merece destaque é a logística reversa, um processo pelo qual</p><p>as empresas podem se tornar mais ambientalmente eficientes por meio da reciclagem,</p><p>reutilização e redução da quantidade de materiais utilizados. Uma visão mais holística</p><p>da logística reversa inclui a redução de materiais no sistema de encaminhamento</p><p>de forma que menos materiais retornem, a reutilização de materiais e a reciclagem</p><p>facilitada, como mostra a Figura 5.</p><p>Figura 5: Logística reversa de resíduos sólidos</p><p>Fonte: Autor (2023)</p><p>As medidas voltadas à redução de resíduos começam na fase de projeto do</p><p>produto e incorporam todo seu ciclo de vida, incluindo transporte e disposição final.</p><p>Isso permite minimizar os resíduos a jusante e retroceder o produto na cadeia para</p><p>possível remanufatura, reutilização, reciclagem ou revenda para o mercado secundário,</p><p>preconizado pela Logística Reversa (CALIJURI e CUNHA, 2013). Assim, a PNRS preconiza</p><p>https://www.cleantechloops.com/recycling-facility/</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 108</p><p>pela não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos,</p><p>bem como disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.</p><p>É importante entender que sempre haverá algum nível de carga ambiental associado</p><p>às operações e atividades industriais. Essa carga deve ser reconhecida e sua quantidade</p><p>e qualidade controladas da melhor maneira possível.</p><p>Tradicionalmente, a principal função da indústria de processo tem sido produzir o</p><p>máximo possível de produtos de alta qualidade. Como resultado, existem, hoje, muitos</p><p>controles regulatórios que orientam direta ou indiretamente a produção industrial. A</p><p>aplicação desses princípios limita os efeitos ambientais indesejáveis da indústria de</p><p>processo a níveis aceitáveis. Essa tendência positiva apoia o esforço de introdução de</p><p>práticas sustentáveis e o caminhar rumo ao objetivo do desenvolvimento sustentável,</p><p>tendo em conta toda a cadeia de valor desde a matéria-prima até o produto.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 109</p><p>CAPÍTULO 8</p><p>MUDANÇAS CLIMÁTICAS</p><p>Um equívoco comum sobre a mudança climática global é que um evento climático</p><p>específico ocorrendo em uma determinada região fornece evidências da mudança</p><p>climática global. Esses equívocos geralmente surgem devido à confusão sobre os</p><p>termos de clima e tempo.</p><p>O clima refere-se às condições atmosféricas previsíveis a longo prazo de uma</p><p>área específica. O clima de um bioma é caracterizado por ter variações sazonais</p><p>consistentes de temperatura e precipitação. O clima não aborda a quantidade de chuva</p><p>que caiu em um determinado dia em um bioma ou as temperaturas mais baixas que</p><p>a média que ocorreram em um dia. Em contraste, o tempo refere-se às condições</p><p>da atmosfera durante um curto período de tempo. As previsões meteorológicas são</p><p>geralmente feitas para ciclos de 48 horas. Previsões meteorológicas de longo alcance</p><p>estão disponíveis, mas podem não ser confiáveis (FERREIRA, 2006).</p><p>Para entender melhor a diferença entre clima e tempo, imagine que uma família</p><p>esteja planejando ir à praia no final de semana. Essa família pensaria no clima ao</p><p>planejar o evento no verão, e não no inverno, porque sabe há muito tempo que qualquer</p><p>sábado nos meses de setembro a fevereiro, no Brasil, seria uma escolha melhor para</p><p>um evento ao ar livre do que qualquer outro sábado em junho ou julho. Porém não se</p><p>faz possível afirmar o dia específico em que o evento deve ser realizado porque é difícil</p><p>prever com precisão o tempo em um dia específico. O clima pode ser considerado um</p><p>tempo “médio” que ocorre ao longo de muitos anos (MIHELCIC e ZIMMERMAN, 2012).</p><p>As mudanças climáticas podem ser compreendidas abordando três áreas de estudo:</p><p>• Evidências de mudanças climáticas globais atuais e passadas;</p><p>• Impulsionadores da mudança climática global;</p><p>• Resultados documentados da mudança climática.</p><p>É útil manter esses três aspectos diferentes da mudança climática claramente</p><p>separados ao consumir reportagens da mídia sobre a mudança climática global. Devemos</p><p>observar que é comum relatórios e discussões sobre mudanças climáticas globais</p><p>confundirem os dados que mostram que o clima da Terra está mudando com os</p><p>fatores que impulsionam essa mudança climática.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 110</p><p>8.1 Alterações do Clima</p><p>As mudanças climáticas e, especificamente, as alterações antropogênicas (ou seja,</p><p>causadas por humanos) junto com a tendência de aquecimento atualmente crescente,</p><p>são reconhecidas como uma grande ameaça de extinção, particularmente quando</p><p>combinada com outras</p><p>ameaças, como perda de habitat e expansão de organismos</p><p>causadores de doenças.</p><p>Os cientistas discordam sobre a provável magnitude dos efeitos, com estimativas da</p><p>taxa de extinção variando de 15% a 40% das espécies até 2050 (GOULART e FOGAÇA,</p><p>2018). Os cientistas concordam, no entanto, que a mudança climática alterará os climas</p><p>regionais, incluindo os padrões de chuva e queda de neve, tornando os habitats menos</p><p>hospitaleiros para as espécies que neles vivem, em particular, as espécies endêmicas.</p><p>A tendência de aquecimento mudará os climas mais frios para os polos norte e</p><p>sul, forçando as espécies a se moverem com suas normas climáticas adaptadas</p><p>enquanto enfrentam lacunas de habitat ao longo do caminho. As variações de</p><p>distribuição imporão novos regimes competitivos às espécies à medida que elas se</p><p>encontrarem em contato com outras não presentes em sua distribuição histórica. Um</p><p>desses contatos inesperados é entre ursos polares e ursos pardos. Anteriormente,</p><p>essas duas espécies distintas tinham intervalos separados. Agora seus intervalos</p><p>estão se sobrepondo e há casos documentados dessas duas espécies acasalando</p><p>e produzindo descendentes viáveis, que podem ou não ser viáveis cruzando de volta</p><p>com qualquer uma das espécies parentais (GOULART e FOGAÇA, 2018).</p><p>As mudanças climáticas também prejudicam as delicadas adaptações cronometradas</p><p>das espécies aos recursos alimentares sazonais e aos tempos de reprodução. Muitas</p><p>incompatibilidades contemporâneas com mudanças na disponibilidade e no tempo</p><p>de recursos já foram documentadas. Um desses contatos inesperados de espécies</p><p>é entre ursos polares e ursos pardos. Anteriormente, essas duas espécies distintas</p><p>tinham intervalos separados. Agora, seus intervalos estão se sobrepondo e há casos</p><p>documentados dessas duas espécies acasalando e produzindo descendentes viáveis,</p><p>que podem ou não ser viáveis cruzando de volta para qualquer uma das espécies</p><p>parentais (GOULART e FOGAÇA, 2018). Muitas incompatibilidades contemporâneas</p><p>com mudanças na disponibilidade de recursos já foram documentadas.</p><p>Os gradientes climáticos também subirão as montanhas, eventualmente aglomerando</p><p>espécies em altitudes mais altas e eliminando o habitat para aquelas espécies</p><p>adaptadas às elevações mais altas. Alguns climas desaparecerão completamente. A</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 111</p><p>taxa acelerada de aquecimento no Ártico reduz significativamente a queda de neve</p><p>e a formação de gelo marinho. Sem o gelo, espécies como os ursos polares não</p><p>conseguem caçar focas, que são sua única fonte confiável de alimento. A cobertura</p><p>de gelo do mar tem diminuído desde que as observações começaram em meados</p><p>do século XX, e a taxa de declínio observada nos últimos anos é muito maior do que</p><p>o previsto anteriormente.</p><p>ANOTE ISSO</p><p>A taxa de aquecimento mais rápida no Ártico em comparação com o globo</p><p>como um todo é hoje considerada um fato robusto. O fenômeno, chamado de</p><p>amplificação ártica ou polar (AA), pode ser observado tanto em observações</p><p>instrumentais, quanto em modelos climáticos ou registros paleoclimáticos.</p><p>Figura 1 – Variações da frente da geleira Polar Club, Península Potter (ilha Rei George, Antártica Marítima) entre 1986 e 2011</p><p>Fonte: Poelking et al. (2014)</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 112</p><p>Finalmente, o aquecimento global elevará os níveis dos oceanos devido ao degelo das</p><p>geleiras e ao maior volume de água mais quente. As linhas costeiras serão inundadas,</p><p>reduzindo o tamanho das ilhas, o que afetará algumas espécies, e algumas ilhas</p><p>desaparecerão completamente. Além disso, o derretimento gradual e o subsequente</p><p>recongelamento dos polos, geleiras e montanhas de altitude mais alta – um ciclo que</p><p>fornece água doce aos ambientes há séculos – também será comprometido. Isso pode</p><p>resultar em superabundância de água salgada e escassez de água doce (GOULART</p><p>e FOGAÇA, 2018).</p><p>8.2 Evidências de Mudanças Climáticas</p><p>Como os cientistas não podem voltar no tempo para medir diretamente as variáveis</p><p>climáticas, como temperatura média e precipitação, eles devem medir indiretamente</p><p>a temperatura. Para fazer isso, os cientistas contam com evidências históricas do</p><p>clima passado da Terra. Os núcleos de gelo da Antártida são um exemplo chave de</p><p>tal evidência para a mudança climática (GOULART e FOGAÇA, 2018).</p><p>Esses núcleos de gelo são amostras de gelo polar obtidas por meio de perfurações</p><p>que atingem milhares de metros em mantos de gelo ou geleiras de alta montanha.</p><p>Ver os núcleos de gelo é como viajar no tempo: quanto mais profunda a amostra,</p><p>mais cedo o período de tempo. Presas dentro do gelo estão bolhas de ar e outras</p><p>evidências biológicas que podem revelar dados de temperatura e dióxido de carbono</p><p>(GOULART e FOGAÇA, 2018).</p><p>Antes do final dos anos 1800, a Terra era cerca de 3ºC mais fria, como mostra a</p><p>Figura 2. Observe que o gráfico da Figura 3 mostra que a concentração atmosférica</p><p>de dióxido de carbono também aumentou em ciclos periódicos. Observe também a</p><p>relação entre a concentração de dióxido de carbono e a temperatura. A Figura 3 mostra</p><p>que os níveis de dióxido de carbono na atmosfera giram historicamente entre 180 e</p><p>400 partes por milhão (ppm) por volume.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 113</p><p>Figura 2 – Evolução da Temperatura Global</p><p>Fonte: https://ourworldindata.org/grapher/temperature-anomaly</p><p>Figura 3 – Evolução das emissões de dióxido de carbono (CO2)</p><p>Fonte: https://ourworldindata.org/co2-emissions</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 114</p><p>Esta mudança de 1°C na temperatura global é um desvio aparentemente pequeno na</p><p>temperatura (como foi observado durante a Anomalia Climática Medieval); no entanto,</p><p>também resultou em mudanças climáticas perceptíveis. Relatos históricos revelam uma</p><p>época de invernos excepcionalmente rigorosos, com muita neve e geada. A Revolução</p><p>Industrial, iniciada por volta de 1750, foi caracterizada por mudanças em grande parte</p><p>da sociedade humana. Os avanços na agricultura aumentaram a oferta de alimentos,</p><p>o que melhorou o padrão de vida das pessoas na Europa e nos Estados Unidos. Novas</p><p>tecnologias foram inventadas para fornecer empregos e produtos mais baratos. Essas</p><p>novas tecnologias foram alimentadas com combustíveis fósseis, especialmente carvão.</p><p>A Revolução Industrial iniciada no início do século XIX marcou o início da Era Industrial.</p><p>Quando um combustível fóssil é queimado, o dióxido de carbono é liberado. Com o</p><p>início da Era Industrial, o dióxido de carbono atmosférico começou a subir (Figura 3).</p><p>8.3 Efeito estufa e suas consequências</p><p>A temperatura da Terra depende do equilíbrio entre a energia que entra e sai do</p><p>sistema do planeta. Quando a luz solar atinge a superfície da Terra, ela pode ser refletida</p><p>de volta ao espaço ou absorvida pela Terra. A energia recebida que é absorvida pela</p><p>Terra aquece o planeta. Uma vez absorvida, o planeta libera parte da energia de volta</p><p>para a atmosfera na forma de calor (também chamada de radiação infravermelha). A</p><p>energia solar que é refletida de volta ao espaço não aquece a Terra.</p><p>Certos gases na atmosfera absorvem energia, retardando ou impedindo a perda de</p><p>calor para o espaço. Esses gases são conhecidos como “gases de efeito estufa”. Eles</p><p>agem como um cobertor, tornando a terra mais quente do que seria de outra forma. Esse</p><p>processo, comumente conhecido como “efeito estufa”, é natural e necessário para</p><p>sustentar a vida. No entanto, o recente acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera</p><p>devido às atividades humanas mudou o clima da Terra e resultou em efeitos perigosos</p><p>para a saúde e o bem-estar humanos e para os ecossistemas (CALIJURI e CUNHA,</p><p>2013).</p><p>A maior parte do aquecimento desde</p><p>que produzem perigosos poluentes do</p><p>ar interior (SILVA, 2009).</p><p>Apesar do progresso econômico, atender às necessidades humanas básicas de</p><p>grande parte da população mundial que vive em extrema pobreza continuará sendo</p><p>uma tarefa monumental nas próximas décadas.</p><p>Ao mesmo tempo, muito mais pessoas estão experimentando um padrão de vida melhor.</p><p>A proporção de pessoas que vivem em extrema pobreza foi reduzida pela metade desde</p><p>1990. O crescimento econômico recente na China, Brasil e Índia tem tirado cerca de 150</p><p>milhões de pessoas da pobreza e colocado na classe média a cada ano (TOREZANI, 2022).</p><p>Embora indubitavelmente positivo para o bem-estar e qualidade de vida das pessoas,</p><p>esse crescimento também tem o potencial de criar ou exacerbar alguns dos mesmos</p><p>tipos de problemas ambientais que os países mais ricos enfrentaram no passado. Alguns</p><p>erros do passado podem ser evitados com o benefício da retrospectiva, conscientização</p><p>pública e novas tecnologias. No entanto, espera-se que o aumento do poder de compra</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 13</p><p>e das preferências de consumo da crescente classe média mundial geralmente levem a</p><p>aumentos no uso de recursos e energia, com implicações negativas para os ecossistemas,</p><p>a biodiversidade e a saúde humana. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das</p><p>Nações Unidas oferecem uma estrutura para orientar o desenvolvimento econômico e,</p><p>ao mesmo tempo, minimizar suas possíveis desvantagens. Os grandes desafios para</p><p>os engenheiros ambientais descritos neste relatório estão alinhados com muitos desses</p><p>objetivos (HEINRICHS e MARTENS, 2016).</p><p>Figura 2 – Renda per capita média no Brasil durante o período de 2004 a 2015</p><p>Fonte: Torezani (2022, p. 442)</p><p>Além dos fatores relacionados ao crescimento populacional, urbanização, pobreza</p><p>e desenvolvimento econômico, a mudança climática adiciona uma nova complexidade</p><p>a quase todos os desafios ambientais.</p><p>Os aumentos esperados em climas extremos, incluindo ondas de calor, secas,</p><p>furacões, incêndios florestais e inundações, colocam uma enorme pressão sobre o</p><p>abastecimento de água, a agricultura e o ambiente construído. O aquecimento global</p><p>já está contribuindo para o ressurgimento de patógenos e disseminação de doenças</p><p>transmitidas por insetos para novas regiões. Para o número crescente de pessoas que</p><p>vivem perto de uma costa, o aumento do nível do mar combinado com as tempestades</p><p>tornou-se uma ameaça à vida e à propriedade. Essas tendências representam ameaças</p><p>urgentes tanto nos países em desenvolvimento quanto nos desenvolvidos.</p><p>1.3. Áreas de atuação e objetivos da profissão</p><p>A engenharia ambiental é a aplicação de princípios científicos e de engenharia para</p><p>melhorar e manter o meio ambiente para:</p><p>• Proteger a saúde humana;</p><p>• Proteger os ecossistemas benéficos da natureza; e</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 14</p><p>• Melhorar o aprimoramento relacionado ao meio ambiente da qualidade da vida</p><p>humana.</p><p>Os egressos do curso de Engenharia Ambiental criam soluções para gestão de águas</p><p>residuais, controle da poluição da água e do ar, reciclagem, eliminação de resíduos</p><p>e saúde pública. São capazes de projetar sistemas municipais de abastecimento de</p><p>água e tratamento de águas residuais industriais, planos relacionados à epidemiologia</p><p>ambiental e condições para melhorar o saneamento em áreas urbanas, rurais e</p><p>recreativas. Também são capazes de articular políticas ambientais, estabelecer e</p><p>implementar processos e sistemas de gestão ambiental, além de atuar na avaliação</p><p>do impacto ambiental dos projetos de construção propostos.</p><p>Abaixo veremos, resumidamente, os principais campos de atuação de profissionais</p><p>formados nesta área.</p><p>1.2.1 Saneamento</p><p>A área de saneamento é um campo empolgante que ajuda a manter e promover a</p><p>saúde e a segurança pública. Os profissionais de Engenharia Ambiental atuam nesta</p><p>área com foco na manutenção da saúde pública, garantindo o manuseio seguro de</p><p>esgoto, lixo e águas residuais. Seu trabalho se concentra principalmente no tratamento</p><p>de água e na prevenção de doenças e eles têm conhecimento sobre microbiologia e</p><p>química.</p><p>Esses profissionais também têm a oportunidade de manter o conhecimento</p><p>atualizado das leis de segurança e saúde pública, para garantir que as águas residuais</p><p>e os materiais perigosos sejam manuseados e descartados adequadamente.</p><p>Podem trabalhar para organizações de gerenciamento de resíduos e escritórios</p><p>governamentais; podem atuar como consultores para empresas para ajudar a criar</p><p>sistemas de tratamento de resíduos. Seu ambiente de trabalho é interno e externo,</p><p>pois eles viajam para diferentes locais para realizar trabalhos de campo, mas também</p><p>trabalham em escritórios para pesquisar e analisar dados.</p><p>1.2.2 Gestão Ambiental</p><p>Com o fenômeno da industrialização, o mundo tem sido potencialmente impactado</p><p>pelo consequente entrave no equilíbrio ambiental. A industrialização é essencial para o</p><p>crescimento econômico, mas a industrialização não planejada e a liberação de resíduos</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 15</p><p>no meio ambiente certamente levam à degradação de nosso entorno mais verde. O</p><p>crescimento econômico sem considerar seus efeitos perigosos sobre o meio ambiente</p><p>pode causar um cataclismo. Tendo em mente a comercialização, o desenvolvimento</p><p>sustentável tornou-se a necessidade do momento. O conceito de Gestão Ambiental</p><p>surgiu para implementar sistemas eficientes que possam reduzir o impacto de uma</p><p>organização no meio envolvente, garantindo também eficiência nas suas operações</p><p>(MIHELCIC e ZIMMERMAN).</p><p>A Gestão Ambiental é um dos campos emergentes de atuação para Engenheiros</p><p>Ambientais e Sanitaristas, e incluem atuação em ONGs, Governo e Autoridades Locais,</p><p>Empresas Privadas e Fabricantes, Organizações de Pesquisa e Empresas do Setor Público.</p><p>Como Gestor Ambiental, a atividade desta função irá envolver o exame das atividades</p><p>corporativas para determinar onde melhorias podem ser feitas e garantir a conformidade</p><p>com a legislação ambiental em toda a organização. Também criará, implementará e</p><p>monitorará estratégias ambientais para promover o desenvolvimento sustentável. Seu</p><p>amplo mandato significa que a função de Gestor Ambiental ficará responsável por revisar</p><p>toda a operação, realizando auditorias e avaliações ambientais, identificando e resolvendo</p><p>problemas ambientais e garantindo que as mudanças necessárias sejam implementadas.</p><p>1.2.3 Licenciamento e Avaliação de Impacto Ambiental</p><p>O desenvolvimento de atividades e empreendimentos está, inevitavelmente,</p><p>associado a impactos positivos e negativos nos componentes ambientais. Embora os</p><p>prováveis impactos negativos não possam ser anulados completamente, as atividades</p><p>de desenvolvimento tão necessárias não podem ser impedidas (LINDEBURG, 2013).</p><p>A Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) ajuda a identificar potenciais impactos</p><p>ambientais de uma atividade de projeto proposta.</p><p>No Brasil, por lei, a instalação e operação de determinadas atividades e/ou</p><p>empreendimentos são passíveis de licenciamento ambiental. Este processo de</p><p>licenciamento consiste em etapas onde o órgão ambiental avalia, por meio de</p><p>documentos técnicos produzidos pelo preponente, a possiblidade ou não daquela</p><p>atividade ocorrer em uma determinada área.</p><p>Este campo de atuação é um dos emergentes também para profissionais de</p><p>Engenharia Ambiental e Sanitária. Isto porque, além da atribuição técnica exigida</p><p>para tal, a expertise desenvolvida ao longo da graduação possibilita uma abordagem</p><p>e visão holística da situação, corroborando para que todo o trâmite aconteça de forma</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 16</p><p>assertiva. Profissionais que atuam nesta área podem</p><p>1950 foi causado pelas emissões humanas de</p><p>gases de efeito estufa. Os gases de efeito estufa vêm de uma variedade de atividades</p><p>humanas, incluindo a queima de combustíveis fósseis para aquecimento e energia,</p><p>desmatamento de florestas, fertilização de plantações, armazenamento de resíduos em</p><p>aterros sanitários, criação de gado e produção de alguns tipos de produtos industriais</p><p>(CALIJURI e CUNHA, 2013).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 115</p><p>8.2.1 Dióxido de Carbono</p><p>O dióxido de carbono é o principal gás de efeito estufa que contribui para as mudanças</p><p>climáticas recentes. O dióxido de carbono entra na atmosfera através da queima de</p><p>combustíveis fósseis, resíduos sólidos, árvores e outros materiais biológicos e como</p><p>resultado de certas reações químicas, como a fabricação de cimento. O dióxido de</p><p>carbono é absorvido e emitido naturalmente como parte do ciclo do carbono, através</p><p>da respiração de plantas e animais, erupções vulcânicas e trocas oceano-atmosfera.</p><p>ISTO ACONTECE NA PRÁTICA</p><p>O ciclo do carbono é o processo pelo qual o carbono se move continuamente da</p><p>atmosfera para a terra e depois de volta para a atmosfera. Na Terra, o carbono é</p><p>armazenado em rochas, sedimentos, no oceano e em organismos vivos. O carbono</p><p>é liberado de volta para a atmosfera quando plantas e animais morrem, bem</p><p>como quando ocorrem incêndios, vulcões em erupção e queima de combustíveis</p><p>fósseis (como carvão, gás natural e petróleo). O ciclo do carbono garante uma</p><p>concentração equilibrada de carbono nos diferentes reservatórios do planeta.</p><p>Mas uma mudança na quantidade de carbono em um reservatório afeta todos</p><p>os outros. Hoje, as pessoas estão perturbando o ciclo do carbono pela queima de</p><p>combustíveis fósseis, e por meio de mudanças no uso da terra que removem as</p><p>plantas, que absorvem o carbono da atmosfera.</p><p>Se a demanda global de energia continuar a crescer rapidamente e a atendermos</p><p>principalmente com combustíveis fósseis, as emissões humanas de dióxido de carbono</p><p>poderão atingir 75 bilhões de toneladas por ano ou mais até ao final do século. O</p><p>dióxido de carbono atmosférico pode ser de 800 ppm ou mais – condições não vistas</p><p>na Terra há quase 50 milhões de anos (FERREIRA, 2006).</p><p>8.2.1 Gás Metano</p><p>O metano é responsável por cerca de 30% do aumento das temperaturas globais</p><p>desde a revolução industrial, e reduções rápidas e sustentadas nas emissões de metano</p><p>são essenciais para limitar o aquecimento a curto prazo e melhorar a qualidade do</p><p>ar (FERREIRA, 2006).</p><p>Duas características principais determinam o impacto de diferentes gases de efeito</p><p>estufa no clima: o tempo que permanecem na atmosfera e sua capacidade de absorver</p><p>energia. O metano tem um tempo de vida na atmosfera muito mais curto do que o</p><p>CO2, mas absorve muito mais energia enquanto existe na atmosfera.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 116</p><p>O metano também afeta a qualidade do ar porque pode levar ao nível do solo</p><p>(troposférico) ozônio, um perigoso poluente do ar. Vazamentos de metano também</p><p>podem representar riscos de explosão (FERREIRA, 2006).</p><p>A concentração de metano na atmosfera é atualmente cerca de duas vezes e meia</p><p>maior do que seus níveis pré-industriais. Estimativas de emissões de metano estão</p><p>sujeitas a um alto grau de incerteza, mas a avaliação abrangente mais recente –</p><p>fornecida no Orçamento Global de Metano – sugere que as emissões globais anuais</p><p>de metano estão em torno de 580 milhões de toneladas. Isso inclui as emissões</p><p>de fontes naturais (cerca de 40%), e os restantes 60% que têm origem na atividade</p><p>humana, conhecidas como emissões antrópicas. A maior fonte antrópica é a agricultura,</p><p>responsável por cerca de um quarto das emissões, seguida pelo setor de energia, que</p><p>inclui emissões de carvão, petróleo, gás natural e biocombustíveis (FERREIRA, 2006).</p><p>Figura 4 – Emissões de CH4 no Brasil em 2019, por setor</p><p>Fonte: https://ourworldindata.org/grapher/methane-emissions-by-sector?country=~BRA</p><p>Por muitos anos, o metano foi negligenciado nas conversas sobre mudanças</p><p>climáticas. Mas cientistas e formuladores de políticas estão reconhecendo cada vez</p><p>mais que as reduções de metano são cruciais. Diminuir a taxa de aquecimento sem</p><p>precedentes hoje pode ajudar a evitar riscos climáticos mais agudos, incluindo perda</p><p>de colheitas, incêndios florestais, clima extremo e aumento do nível do mar. Portanto,</p><p>ações que visam o combate das emissões de CH4 trarão benefícios imediatos para o</p><p>clima que as reduções de dióxido de carbono não podem fornecer por conta própria.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 117</p><p>8.2.3 Óxido Nitroso</p><p>Quando se trata de gases de efeito estufa, o foco global é o dióxido de carbono e</p><p>o metano. O óxido nitroso (N2O), o terceiro gás de efeito estufa mais emitido, parece</p><p>passar despercebido, apesar de seu impacto no clima. Conhecido como gás hilariante,</p><p>o óxido nitroso é um gás de efeito estufa quase 300 vezes mais potente do que o CO2;</p><p>também destrói a camada de ozônio estratosférica. As emissões de óxido nitroso das</p><p>atividades humanas aumentaram 30% desde 1980, mais rápido do que os cientistas</p><p>haviam esperado anteriormente.</p><p>As atividades humanas, como agricultura, combustão de combustível, gerenciamento</p><p>de águas residuais e processos industriais, estão aumentando a quantidade de N2O na</p><p>atmosfera. O óxido nitroso também está naturalmente presente na atmosfera como</p><p>parte do ciclo do nitrogênio da Terra e tem uma variedade de fontes naturais. As</p><p>moléculas de óxido nitroso permanecem na atmosfera por uma média de 114 anos</p><p>antes de serem removidas ou destruídas por meio de reações químicas.</p><p>As emissões de óxido nitroso ocorrem naturalmente através de muitas fontes</p><p>associadas ao ciclo do nitrogênio, que é a circulação natural do nitrogênio entre a</p><p>atmosfera, plantas, animais e microrganismos que vivem no solo e na água. O nitrogênio</p><p>assume uma variedade de formas químicas ao longo do ciclo do nitrogênio, incluindo</p><p>N2O. As emissões naturais de N2O são principalmente de bactérias que decompõem</p><p>o nitrogênio nos solos e oceanos. O óxido nitroso é removido da atmosfera quando</p><p>é absorvido por certos tipos de bactérias ou destruído por radiação ultravioleta ou</p><p>reações químicas.</p><p>8.4 Políticas e Acordos Globais</p><p>Nas últimas décadas, os governos se comprometeram coletivamente a diminuir o</p><p>aquecimento global. Mas, apesar da intensificação da diplomacia, o mundo já enfrenta</p><p>as consequências das mudanças climáticas e espera-se que piore.</p><p>Por meio do Protocolo de Kyoto e do Acordo de Paris, os países concordaram em</p><p>reduzir as emissões de gases de efeito estufa, mas a quantidade de dióxido de carbono</p><p>na atmosfera continua aumentando, aquecendo a Terra em um ritmo alarmante. Os</p><p>cientistas alertam que, se esse aquecimento continuar, poderá trazer uma catástrofe</p><p>ambiental para grande parte do mundo, incluindo o aumento impressionante do nível</p><p>do mar, secas e inundações recordes e perda generalizada de espécies (GOULART e</p><p>FOGAÇA, 2018).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 118</p><p>Dentre os diversos acordos internacionais relacionados ao clima, destaca-se</p><p>(GOULART e FOGAÇA, 2018; WEISS, 2022; DIZ e ACCIOLY, 2022):</p><p>• Protocolo de Montreal (1987): Embora não tenha a intenção de enfrentar as mudanças</p><p>climáticas, o Protocolo de Montreal foi um acordo ambiental histórico que se tornou</p><p>um modelo para a futura diplomacia sobre o assunto. Todos os países do mundo</p><p>acabaram ratificando o tratado, que exigia que parassem de produzir substâncias que</p><p>danificam a camada de ozônio, como os clorofluorcarbonetos (CFCs). O protocolo</p><p>conseguiu eliminar quase 99% dessas substâncias que destroem a camada de</p><p>ozônio. Em 2016, as partes concordaram, por meio da Emenda de</p><p>Kigali, em também</p><p>reduzir sua produção de hidrofluorcarbonos (HFCs), poderoso gás de efeito estufa</p><p>que contribui para a mudança climática;</p><p>• Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC)</p><p>(1992): Ratificado por 197 países, incluindo os Estados Unidos, o acordo histórico</p><p>foi o primeiro tratado global a abordar explicitamente a mudança do clima.</p><p>Estabeleceu um fórum anual, conhecido como Conferência das Partes, ou COP,</p><p>para discussões internacionais com o objetivo de estabilizar a concentração de</p><p>gases de efeito estufa na atmosfera. Essas reuniões produziriam, mais tarde, o</p><p>Protocolo de Quioto e o Acordo de Paris.</p><p>• Protocolo de Quioto (2005): O Protocolo de Quioto, adotado em 1997 e colocado</p><p>em vigor em 2005, foi o primeiro tratado climático juridicamente vinculativo. Exigiu</p><p>que os países desenvolvidos reduzissem as emissões em média 5% abaixo dos</p><p>níveis de 1990 e estabeleceu um sistema para monitorar o progresso dos países.</p><p>Mas o tratado não obrigou os países em desenvolvimento, incluindo os principais</p><p>emissores de carbono China e Índia, a agir. Os Estados Unidos assinaram o acordo</p><p>em 1998, mas nunca o ratificaram e posteriormente retiraram sua assinatura.</p><p>• Acordo de Paris (2015): O acordo climático global mais significativo até hoje, o</p><p>Acordo de Paris, exige que todos os países estabeleçam promessas de redução</p><p>de emissões. Os governos estabeleceram metas, conhecidas como contribuições,</p><p>determinadas nacionalmente, com o objetivo de evitar que a temperatura média</p><p>global suba 2°C acima dos níveis pré-industriais e buscaram esforços para mantê-</p><p>la abaixo de 1,5°C. Também visou alcançar emissões globais de líquido zero, onde</p><p>a quantidade de gases de efeito estufa emitida é igual à quantidade removida</p><p>da atmosfera, na segunda metade do século (isso também é conhecido como</p><p>clima neutro ou neutro em carbono).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 119</p><p>ISTO ESTÁ NA REDE</p><p>O planeta Terra pode cruzar limiares críticos de aquecimento global mais cedo</p><p>do que os modelos anteriores previram, mesmo com uma ação climática global</p><p>coordenada, de acordo com um novo estudo usando aprendizado de máquina.</p><p>O estudo estima que o planeta pode atingir 1,5ºC de aquecimento acima dos níveis</p><p>pré-industriais em uma década e encontrou uma “possibilidade substancial” de</p><p>aumentos da temperatura global cruzando o limite de 2ºC em meados do século,</p><p>mesmo com esforços globais significativos para reduzir a poluição que aquece o</p><p>planeta.</p><p>Os dados mostram que a temperatura média global já subiu cerca de 1,1 a 1,2ºC</p><p>desde a industrialização. “Nossos resultados fornecem mais evidências para as</p><p>mudanças climáticas de alto impacto nas próximas três décadas”, observou o</p><p>relatório, publicado na segunda-feira (30) na revista Proceedings of the National</p><p>Academy of Sciences.</p><p>Sob o Acordo Climático de Paris de 2015, os países se comprometeram a limitar</p><p>o aquecimento global bem abaixo de 2ºC – e de preferência a 1,5 ºC – em</p><p>comparação com os níveis pré-industriais. Os cientistas identificaram 1,5ºC</p><p>de aquecimento como um ponto de inflexão chave, além do qual as chances</p><p>de inundações extremas, secas, incêndios florestais e escassez de alimentos</p><p>aumentarão dramaticamente.</p><p>Aumentos de temperatura acima de 2ºC podem trazer impactos catastróficos e</p><p>potencialmente irreversíveis, incluindo levar três bilhões de pessoas à “escassez</p><p>crônica de água”.</p><p>FONTE: CNN (https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/planeta-pode-cruzar-limiares-criticos-de-aquecimento-global-mais-cedo-do-que-o-esperado/)</p><p>Ao longo das sucessivas Conferências das Partes — conhecidas como COP — novos</p><p>elementos foram sendo introduzidos na estrutura internacional das negociações sobre</p><p>mudança do clima. Esses elementos permitem enfrentar desafios específicos, como</p><p>o financiamento da mitigação, a adaptação às mudanças climáticas e a transferência</p><p>tecnológica.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 120</p><p>CAPÍTULO 9</p><p>GEOPROCESSAMENTO E</p><p>SISTEMA DE INFORMAÇÃO</p><p>GEOGRÁFICA</p><p>Para entender a complexidade dos processos ambientais, ou de qualquer área</p><p>do conhecimento, é necessário se aproximar ao máximo da percepção holística do</p><p>seu problema. Deve-se buscar aprimorar a capacidade de analisar muitas variáveis e</p><p>entender como elas influenciam em determinados processos/fenômenos.</p><p>O termo Geoprocessamento denota a disciplina do conhecimento que utiliza técnicas</p><p>matemáticas e computacionais para o tratamento da informação geográfica (Câmara</p><p>et al., 2004). O geoprocessamento usa técnicas matemáticas e computacionais para</p><p>entender e representar com precisão de localização (por meio de mapas) os processos</p><p>que ocorrem no nosso mundo.</p><p>De forma resumida, o geoprocessamento pode ser observado como uma área do</p><p>conhecimento que contempla três grandes áreas: cartografia, sensoriamento remoto</p><p>e sistema de informação geográfica, como mostra a Figura 1.</p><p>Figura 1 – Componentes do Geoprocessamento</p><p>Fonte Autor (2023)</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 121</p><p>Nesta unidade, abordaremos de forma resumida cada um dos conceitos aplicados</p><p>a essas áreas do conhecimento.</p><p>9.1 Introdução à Cartografia</p><p>Uma das principais funções do levantamento topográfico é adquirir dados sobre</p><p>a forma e a posição das feições no solo e, de alguma forma, representar essas</p><p>informações em mapas, plantas e desenhos, de modo a tornar esses dados úteis</p><p>para outros observadores/usuários. Esses mapas e planos podem variar de simples</p><p>desenhos em termos de esboços até planos e mapas, todos baseados em alguns</p><p>fundamentos da comunicação gráfica.</p><p>A Cartografia é a ciência responsável por expressar graficamente as características</p><p>físicas conhecidas da Terra por meio de mapas e gráficos (DUARTE, 1994). É</p><p>caracterizada como um processo de refinamento entre o material de origem e a</p><p>produção, levando em consideração o objetivo do estudo.</p><p>Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a representação por traço</p><p>envolve as seguintes formas (IBGE, 1998):</p><p>• Globo: representação cartográfica sobre uma superfície esférica, em escala</p><p>pequena, dos aspectos naturais e artificiais de uma figura planetária, com</p><p>finalidade cultural e ilustrativa.</p><p>• Mapa: representação plana, geralmente em escala pequena, da área delimitada</p><p>por acidentes naturais (bacias, planaltos, chapadas etc.), com fins temáticos,</p><p>culturais ou ilustrativos.</p><p>• Carta: representação plana, em escala média ou grande, com desdobramento em</p><p>folhas articuladas de maneira sistemática; os limites das folhas são constituídos</p><p>por linhas convencionais, destinadas à avaliação de direções, distâncias e</p><p>localização de pontos, áreas e detalhes.</p><p>• Planta: a representação se restringe a uma área muito limitada, com escala</p><p>grande, e detalhes maiores.</p><p>Para ser capaz de transferir pontos da superfície tridimensional da Terra para uma</p><p>superfície plana, uma projeção de mapa é usada. A superfície da Terra pode ser projetada</p><p>em uma superfície geométrica simples: um cilindro, um cone ou um plano.</p><p>Considerando que a superfície da Terra é esférica, projetá-la em uma superfície</p><p>plana impõe distorções. Assim, características da superfície da Terra, como países</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 122</p><p>e continentes, ficarão distorcidas em forma, área e tamanho. Consequentemente, a</p><p>escolha de uma projeção cartográfica específica depende do propósito da apresentação</p><p>cartográfica e de quais características geométricas queremos preservar (LOCH, 2006). A</p><p>maioria das projeções de mapas preserva um dos recursos listados à custa de distorcer</p><p>todos os outros: equivalência, conformidade ou equidistância.</p><p>Vejamos algumas projeções comumente usadas (LONGLEY, 2016):</p><p>• Projeção Mercator:</p><p>Em 1569, Gerardus Mercator desenvolveu a projeção de</p><p>Mercator (vista na Figura 2). Um pedaço de papel plano se curva ao redor da Terra</p><p>esférica para fazer um cilindro. O papel toca a esfera no Equador, mas a distância</p><p>entre a esfera e o papel aumenta em direção aos polos. As características da</p><p>superfície da Terra são projetadas no cilindro e então desenroladas, criando</p><p>um mapa de projeção de Mercator. Em uma projeção de Mercator, todas as</p><p>direções da bússola são linhas retas, mas uma linha curva é a distância mais</p><p>curta entre os dois pontos. Muitos mapas mundiais ainda usam a projeção de</p><p>Mercator hoje. Os primeiros exploradores acharam os mapas de Mercator úteis</p><p>porque visitavam as regiões equatoriais com mais frequência.</p><p>*Meridiano central (selecionado no mapa)</p><p>Grandes distorções em elevadas latitudes</p><p>Exemplos de linhas loxodrômicas (direção verdadeira entre dois pontos quaisquer)</p><p>A linha do Equador toca tangencialmente o cilindro</p><p>Formas e distâncias verdadeiras cerca de 15º da linha do Equador</p><p>Figura 2 - Projeção de Mercator</p><p>Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Proje%C3%A7%C3%A3o_de_Mercator#/media/Ficheiro:Usgs_map_mercator.svg</p><p>• Projeção Cônica: Uma projeção de mapa cônico usa um formato de cone para</p><p>representar melhor as regiões e melhor retratar a área onde o cone toca o</p><p>globo. A projeção de um mapa cônico envolve a Terra com uma forma de cone</p><p>em vez de um cilindro.</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/Proje%C3%A7%C3%A3o_de_Mercator#/media/Ficheiro:Usgs_map_mercator.svg</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 123</p><p>Figura 3 - Projeção Cônica</p><p>Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c6/Equidistant_conical_projection_of_world_with_grid.png</p><p>A representação do espaço geográfico, após a definição do modelo de projeção</p><p>do Planeta, é feita por meio do Datum. O Datum consiste em uma referência para</p><p>o posicionamento horizontal (coordenadas planimétricas). É pertinente constituir</p><p>um Datum que melhor represente um país ou continente em detrimento do resto da</p><p>superfície da Terra.</p><p>Há dois tipos de datum planimétricos (DUARTE, 1994):</p><p>• Geocêntricos – passíveis de uso global, referência no centro de massa da Terra.</p><p>• Topocêntricos – uso local, referência na superfície da Terra.</p><p>Os países têm autonomia para adotarem datum oficiais que melhor representam seu</p><p>território. Comumente essa definição faz parte do Sistema de Referência Geodésico de</p><p>uma nação. Como as inferências se aperfeiçoam, é comum que mudanças e ajustes</p><p>nos datum sejam escolhidos ao longo da história. No Brasil, o Instituto Brasileiro de</p><p>Geografia e Estatística (IBGE) é o órgão responsável por definir o datum no país. Já</p><p>houve dois datum planimétricos oficiais: Córrego Alegre e o South American Datum</p><p>1969 (SAD69). Em 2005, por meio da Resolução 01 (IBGE, 2005), o novo Sistema de</p><p>Referência Geocêntrico passou a ser o SIRGAS 2000.</p><p>Um objeto geográfico qualquer, como uma cidade, a foz de um rio, ou o pico de</p><p>uma montanha, somente poderá ser localizado se for possível descrevê-lo em relação</p><p>a outros objetos com posições conhecidas. Quando se dispõe de um sistema de</p><p>coordenadas como referência, pode-se definir a localização de qualquer ponto na</p><p>superfície terrestre (LONGLEY, 2013).</p><p>A principal característica que os dados inseridos em um Sistema de Informações</p><p>Geográficas devem apresentar é a possibilidade da localização geográfica da informação</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 124</p><p>disponível. Para tanto, os dados existentes devem possuir um atributo específico que</p><p>é a referência a um sistema de coordenadas.</p><p>9.1.1 Paralelos e Meridianos</p><p>Para se localizar um ponto em uma superfície, é necessário definir um sistema de</p><p>coordenadas. No caso do planeta Terra, adotou-se a chamada rede geográfica, que</p><p>é o conjunto formado por paralelos e meridianos que possibilita localizar qualquer</p><p>ponto na superfície terrestre:</p><p>• Paralelos: são circunferências de círculos mínimos, paralelos ao plano do Equador.</p><p>• Meridianos: são circunferências de círculos máximos que passam pelos polos</p><p>Norte e Sul da Terra.</p><p>Figura 4 – Representação das linhas imaginárias de paralelos e meridianos</p><p>Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c6/Equidistant_conical_projection_of_world_with_grid.png</p><p>Observando a Figura 4, seria possível observar que, de acordo com o sistema de</p><p>coordenadas, o ponto A estaria localizado à Latitude 50° Norte (N); Longitude 100°</p><p>Oeste (O).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 125</p><p>9.1.2 Escala</p><p>A escala é uma relação matemática que permite a representação reduzida dos</p><p>detalhes existentes no terreno no espaço limitado de uma carta (DUARTE, 1994).</p><p>Nos documentos cartográficos, determinados detalhes importantes não podem ser</p><p>reduzidos de forma acentuada, pois se tornariam imperceptíveis. Nestes casos, eles</p><p>são representados por meio da utilização de símbolos e convenções cartográficas. O</p><p>conceito de escala torna-se essencial em Cartografia, pois qualquer tipo de representação</p><p>espacial ou visualização gráfica é elaborada segundo uma redução do mundo real.</p><p>De forma simples, a escala pode ser definida como a relação entre a dimensão</p><p>representada do objeto e a sua dimensão real.</p><p>Assim, podemos admitir que quanto menor o valor do denominador (D), maior o valor</p><p>atribuído à escala. Por exemplo: A escala 1:25.000 é MAIOR que a escala 1:100.000.</p><p>Os tipos de escalas mais usuais são:</p><p>• Numérica: é representada por uma fração, onde o numerador é igual à unidade</p><p>e o denominador é o número (valor) da escala. Ex.: Representação: 1:50.000</p><p>ou 1/50.000. Esta escala significa que uma unidade na carta corresponde a</p><p>50.000 unidades no terreno, ou seja, 1 cm na carta corresponde a 50.000 cm</p><p>(ou 500 m) no terreno.</p><p>• Equivalente: É expressa por uma equivalência de números. Ex.: Representação:</p><p>1 cm = 500 m. Esta escala significa que 1 cm na carta equivale a 500 m no</p><p>terreno, o que corresponde à escala numérica de 1:50.000.</p><p>• Gráfica: É representada graficamente a partir de distâncias colocadas sobre uma</p><p>linha reta graduada. Permite realizar as transformações de dimensões gráficas</p><p>em dimensões reais, sem a necessidade de cálculos, apenas transportando a</p><p>distância a ser medida (DUARTE, 1994).</p><p>9.2 Sensoriamento Remoto</p><p>O sensoriamento remoto é a área do conhecimento relacionada à aquisição,</p><p>processamento, análise e interpretação de imagens obtidas por meio de satélites e/</p><p>ou aeronaves de qualquer objeto ou fenômeno da superfície terrestre. Assim, compõe</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 126</p><p>uma das ciências tecnológicas responsáveis por fornecer informações geográficas à</p><p>área de geoprocessamento.</p><p>As observações promovidas pelos sensores se dão pelo espectro eletromagnético.</p><p>A energia eletromagnética, produzida pela vibração de partículas carregadas, viaja na</p><p>forma de ondas pela atmosfera e pelo vácuo do espaço. Essas ondas têm diferentes</p><p>comprimentos de onda (a distância de uma crista a outra) e frequências; um comprimento</p><p>de onda mais curto significa uma frequência mais alta (MOREIRA, 2005).</p><p>Figura 5 –Obtenção de imagens por sensoriamento remoto</p><p>Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c6/Equidistant_conical_projection_of_world_with_grid.png</p><p>ANOTE ISSO</p><p>Os sensores ou instrumentos a bordo de satélites e aeronaves usam o Sol como</p><p>fonte de iluminação ou fornecem sua própria fonte de iluminação, medindo a</p><p>energia que é refletida de volta. Sensores que usam energia natural do Sol são</p><p>chamados de sensores passivos; aqueles que fornecem sua própria fonte de</p><p>energia são chamados de sensores ativos (BLASCHKE, 2007).</p><p>A resolução desempenha um papel na forma como os dados de um sensor podem</p><p>ser usados. Dependendo da órbita do satélite</p><p>e do projeto do sensor, a resolução pode</p><p>variar. Existem quatro tipos de resolução a serem considerados para qualquer conjunto</p><p>de dados - radiométrico, espacial, espectral e temporal (JENSEN, 2009).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 127</p><p>A resolução radiométrica é a quantidade de informação em cada pixel, ou seja, o</p><p>número de bits que representa a energia registrada. Cada bit registra um expoente de</p><p>potência 2 (MOREIRA, 2005). Por exemplo, uma resolução de 8 bits é 28, o que indica</p><p>que o sensor tem 256 valores digitais potenciais para armazenar informações. Assim,</p><p>quanto maior a resolução radiométrica, mais valores estarão disponíveis para armazenar</p><p>informações, proporcionando melhor discriminação, mesmo entre as menores diferenças</p><p>de energia. Por exemplo, ao avaliar a qualidade da água, a resolução radiométrica é</p><p>necessária para distinguir diferenças sutis na cor do oceano.</p><p>A resolução espacial é definida pelo tamanho de cada pixel em uma imagem digital</p><p>e pela área da superfície da Terra representada por esse pixel (JENSEN, 2009). Por</p><p>exemplo, a maioria das bandas observadas pelo Espectrorradiômetro de Imagem</p><p>de Resolução Moderada (MODIS), tem uma resolução espacial de 1 km; cada pixel</p><p>representa uma área de 1 km x 1 km no solo (MOREIRA, 2005). O MODIS também inclui</p><p>bandas com resolução espacial de 250 m ou 500 m. Quanto mais precisa a resolução</p><p>(quanto menor o número), maior o detalhamento que a imagem irá apresentar.</p><p>A resolução espectral é a capacidade de um sensor de discernir comprimentos de</p><p>onda mais finos, ou seja, ter bandas mais estreitas (JENSEN, 2009). Muitos sensores são</p><p>considerados multiespectrais, o que significa que têm entre 3 e 10 bandas. Sensores que</p><p>possuem centenas a até milhares de bandas são considerados hiperespectrais. Quanto</p><p>mais estreita for a faixa de comprimentos de onda para uma determinada banda, melhor</p><p>será a resolução espectral. Por exemplo, o espectrômetro aerotransportado de imagem</p><p>visível/infravermelho (AVIRIS) captura informações em 224 canais espectrais. Nesse</p><p>nível de detalhe, podem ser feitas distinções, por exemplo, entre tipos de rochas e</p><p>minerais, tipos de vegetação, entre outras características (MOREIRA, 2005).</p><p>Por fim, mas não menos importante, a resolução temporal é o tempo que leva para</p><p>um satélite completar uma órbita e revisitar a mesma área de observação (JENSEN,</p><p>2009). Esta resolução depende da órbita, das características do sensor e da largura</p><p>da faixa. Como os satélites geoestacionários correspondem à taxa na qual a Terra</p><p>está girando, a resolução temporal é muito mais precisa, em cerca de 30 s - 1 min. Os</p><p>satélites em órbita polar têm uma resolução temporal que pode variar de 1 a 16 dias. O</p><p>MODIS, por exemplo, tem uma resolução temporal de 1-2 dias, permitindo-nos visualizar</p><p>a Terra conforme ela muda dia a dia (MOREIRA, 2005). O Landsat, por outro lado, tem</p><p>uma largura de faixa mais estreita e uma resolução temporal de 16 dias, mostrando</p><p>mudanças não diárias, mas bimestrais (MOREIRA, 2005).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 128</p><p>9.2.1 Aquisição e Processamento de Informações</p><p>Os dados de sensoriamento remoto adquiridos de instrumentos a bordo de satélites</p><p>requerem processamento antes de ficarem utilizáveis pela maioria dos pesquisadores</p><p>e usuários de ciência aplicada.</p><p>De modo geral, os dados são processados para pelo menos um Nível 1, mas a</p><p>maioria tem produtos de Nível 2 (variáveis geofísicas derivadas) e Nível 3 (variáveis</p><p>mapeadas em escalas de grade de espaço-tempo uniformes) (MOREIRA, 2011).</p><p>Depois que os dados são processados, eles podem ser usados em uma variedade</p><p>de aplicações, desde agricultura até recursos hídricos, saúde e qualidade do ar. Um</p><p>único sensor não resolverá todas as questões de pesquisa em uma determinada</p><p>aplicação. Os usuários geralmente precisam aproveitar vários sensores e produtos de</p><p>dados para responder às suas perguntas, tendo em mente as limitações dos dados</p><p>fornecidos por diferentes resoluções espectrais, espaciais e temporais (BLASCHKE,</p><p>2007).</p><p>Muitos sensores adquirem dados em diferentes comprimentos de onda espectrais. Por</p><p>exemplo, a banda 1 do Landsat 8 adquire dados a 0,433-0,453 micrômetros e a banda</p><p>1 do MODIS adquire dados a 0,620-0,670 micrômetros. O Landsat 8 tem um total de</p><p>11 bandas, enquanto o MODIS tem 36 bandas, todas medindo diferentes regiões do</p><p>espectro eletromagnético. As bandas podem ser combinadas para produzir imagens dos</p><p>dados para revelar diferentes características da paisagem. Frequentemente, imagens</p><p>de dados são usadas para distinguir características de uma região que está sendo</p><p>estudada ou para determinar uma área de estudo (BLASCHKE, 2007).</p><p>Para uma imagem de cor verdadeira (vermelho, azul, verde (RGB)) do Landsat, as</p><p>bandas 4, 3, 2 são combinadas respectivamente. Com a NASA/NOAA Suomi National</p><p>Polar-Orbiting Partnership (Suomi NPP) Visible Infrared Imaging Radiometer Suite</p><p>(VIIRS), uma imagem em cores reais é Vermelho = Banda I1, Verde = Banda M4, Azul =</p><p>Banda M3. Imagens em cores reais mostram a Terra como você a veria de cima. Outras</p><p>combinações, no entanto, podem ser usadas para aplicações científicas específicas -</p><p>do monitoramento de enchentes ao delineamento da urbanização e mapeamento da</p><p>vegetação. Por exemplo, com dados VIIRS, a criação de uma imagem em cores falsas</p><p>(R = M11, G = I2, B = I1) é útil para distinguir cicatrizes de queimaduras de vegetação</p><p>rasteira ou solo nu, bem como para expor áreas inundadas (MOREIRA 2011).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 129</p><p>ISTO ACONTECE NA PRÁTICA</p><p>Uma vez que os dados são processados em imagens com combinações de bandas</p><p>variadas, eles podem ajudar nas decisões de gerenciamento de recursos e avaliação</p><p>de desastres; as imagens só precisam ser interpretadas. Algumas estratégias são</p><p>indicadas para este processo (BLASCHKE, 2007):</p><p>1. Conheça a escala - existem diferentes escalas com base na resolução espacial</p><p>da imagem e cada escala fornece diferentes características de importância. Por</p><p>exemplo, ao rastrear uma enchente, uma visão detalhada de alta resolução</p><p>mostrará quais casas e empresas estão cercadas por água. A visão mais ampla</p><p>da paisagem mostra quais partes de um condado ou área metropolitana estão</p><p>inundadas e talvez de onde vem a água.</p><p>2. Procure padrões, formas e texturas: muitos recursos são fáceis de identificar</p><p>com base em seu padrão ou forma. Por exemplo, as áreas agrícolas têm</p><p>formas muito geométricas, geralmente círculos ou retângulos. Linhas retas são</p><p>estruturas tipicamente feitas pelo homem, como estradas ou canais.</p><p>3. Definir cores: ao usar cores para distinguir características, é importante</p><p>saber a combinação de bandas usada na criação da imagem. Imagens de</p><p>cores verdadeiras ou naturais são basicamente o que veríamos com nossos</p><p>próprios olhos se olhássemos do espaço para baixo. A água absorve luz, então</p><p>normalmente ela parece preta ou azul; no entanto, a luz do Sol refletida na</p><p>superfície pode fazer com que ela pareça cinza ou prateada. Os sedimentos</p><p>podem afetar a cor da água, tornando-a mais marrom, e as algas a tornam</p><p>mais verde. A vegetação varia de cor dependendo da estação: na primavera</p><p>e no verão é tipicamente um verde vivo; o outono pode ser laranja, amarelo e</p><p>castanho; e o inverno pode ter mais marrom. O solo nu geralmente tem um</p><p>tom de marrom; no entanto, depende da composição mineral do sedimento. As</p><p>áreas urbanas são tipicamente cinzentas por causa do concreto extenso. O</p><p>gelo e a neve são brancos, mas as nuvens também. É importante usar cores e</p><p>recursos circundantes para identificar coisas e colocá-las em contexto.</p><p>Considere o que você sabe: ter conhecimento da área que está observando ajuda na</p><p>identificação dessas características. Por exemplo, saber</p><p>que a área foi recentemente</p><p>queimada por um incêndio pode ajudar a determinar por que a vegetação pode</p><p>parecer um pouco diferente.</p><p>Diferentes tipos de cobertura da Terra podem ser discriminados mais prontamente,</p><p>usando algoritmos de classificação de imagens. A classificação da imagem usa a</p><p>informação espectral de cada pixel individual. Um programa que usa algoritmos de</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 130</p><p>classificação de imagem pode agrupar automaticamente os pixels no que é chamado</p><p>de classificação não supervisionada. O usuário também pode indicar quais são os</p><p>tipos de cobertura de solo conhecido para “treinar” o programa, agrupando, assim,</p><p>pixels semelhantes - processo este chamado de classificação supervisionada. Mapas</p><p>ou imagens também podem ser integrados em um sistema de informação geográfica</p><p>(SIG) e, em seguida, cada pixel pode ser comparado com outros dados SIG, como</p><p>dados de censo (MOREIRA, 2011).</p><p>9.3 Sistema de Informação Geográfica</p><p>Para entender a complexidade dos processos ambientais, ou de qualquer área do</p><p>conhecimento, é necessário se aproximar ao máximo da percepção holística do seu</p><p>problema. Deve-se, portanto, buscar e utilizar mecanismos capazes de promover a</p><p>análise de um amplo grupo de variáveis, entendendo assim como estas influenciam</p><p>determinados processos/fenômenos.</p><p>Neste contexto, emerge-se a ciência chamada de Geoprocessamento. O</p><p>Geoprocessamento pode ser entendido como um conjunto de ferramentas, em que</p><p>se utiliza técnicas matemáticas e computacionais, para processar informações</p><p>geográficas e realizar análises espaciais (Câmara et al., 2004). Pode-se esperar do</p><p>Geoprocessamento, respostas para diferentes questionamentos, como por exemplo:</p><p>• Localização: Quais áreas existem fragmentos de Mata Atlântica nesta propriedade?</p><p>• Condição: Qual a melhor área para promover o plantio desta cultura?</p><p>• Rota: Qual o melhor caminho para criação do sistema de transporte urbano?</p><p>• Padrão: Qual a distribuição da COVID-19 em países emergentes?</p><p>• Modelamento: Qual o comportamento dos processos erosivos?</p><p>• Simulação: Qual será o tamanho da cidade de São Paulo em 2050?</p><p>É importante ressaltar, contudo, que a ciência do Geoprocessamento caminha junto</p><p>com outras ciências espaciais/geográficas, relacionadas aos processos de coleta,</p><p>armazenamento, tratamento e análise, além da integração das análises e informações</p><p>geórgicas (MIRANDA, 2005).</p><p>Desta forma, são ciências, ferramentas ou processos que compõem cada etapa</p><p>acima mencionada:</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 131</p><p>• Coleta: Cartografia, sensoriamento remoto, fotogrametria, topografia, Global</p><p>Positioning System (GPS), dados alfanuméricos etc.</p><p>• Armazenamento: Banco de dados.</p><p>• Tratamento e análise: Modelagem de dados, geoestatística, aritmética lógica,</p><p>análise de redes, reclassificação etc.</p><p>• Uso integrado: Sistema de Informação Geográfica.</p><p>Um Sistema de Informação Geográfica (SIG) é um sistema baseado em computador</p><p>que suporta o estudo de fenômenos naturais e artificiais com uma localização explícita</p><p>no espaço (BURROUGH, 1998). Para este fim, o SIG permite a entrada e manipulação</p><p>de dados, bem como a saída de informações interpretáveis, capazes de fornecer novos</p><p>insights sobre os fenômenos.</p><p>O universo de aplicação do SIG é extremamente amplo, e inclui exemplos como:</p><p>• Um gestor urbano pode querer avaliar a extensão do crescimento da periferia</p><p>urbana em sua cidade, e quantificar os vetores de crescimento urbano, norteando</p><p>o Plano Diretor.</p><p>• Um analista de risco natural pode querer identificar as áreas de alto risco de</p><p>enchentes relacionadas às monções, investigando os padrões de precipitação</p><p>e as características do terreno.</p><p>• Um especialista em mineração pode estar interessado em determinar quais</p><p>corpos de minérios têm maior potencial econômico para exploração futura,</p><p>levando em consideração parâmetros como extensão, profundidade e qualidade</p><p>do corpo de minério, entre outros.</p><p>• Um engenheiro de computação pode querer determinar os melhores locais para</p><p>as estações retransmissoras da sua empresa, levando em consideração vários</p><p>fatores de custo, como preços, declividade e relevo do terreno.</p><p>• Um especialista florestal pode querer otimizar a produção de madeira, usando</p><p>dados sobre distribuições de solo e povoamento de árvores atuais, na presença</p><p>de uma série de restrições operacionais, como a necessidade de preservar a</p><p>diversidade de espécies na área.</p><p>• Um especialista em recursos hídricos pode querer estudar uma série de</p><p>parâmetros de qualidade da água de diferentes locais em um lago de água</p><p>doce para melhorar a compreensão da distribuição hidrológica atual.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 132</p><p>É importante considerarmos, porém, que a simples utilização do Geoprocessamento</p><p>não garante a certeza e a segurança de que o produto final corresponderá a soluções</p><p>corretas. Em outras palavras, devemos nos lembrar que é de responsabilidade do</p><p>profissional realizar todo fluxo de trabalho adequado, desde a coleta de dados até a</p><p>manipulação e resultados finais, possibilitando que as ferramentas computacionais</p><p>possam mostrar resultados fidedignos ao mundo real (LONGLEY, 2013).</p><p>ISTO ESTÁ NA REDE</p><p>Em 11 de março de 2020, a OMS declarou que o surto da doença causada pelo</p><p>novo coronavírus (COVID-19) foi caracterizado como uma pandemia. A partir de</p><p>então, o geoprocessamento se mostrou uma ferramenta fundamental para a</p><p>compreensão da dinâmica espacial da doença e para auxiliar nas tomadas de</p><p>decisões quanto à preparação e resposta à pandemia. A análise da distribuição</p><p>espacial dos casos de infecção evidencia as particularidades da disseminação da</p><p>doença e contribui para a delimitação de áreas de maior risco de contração da</p><p>doença, assim como áreas de maior mortalidade.</p><p>O geoprocessamento pode auxiliar, ainda, na avaliação da capacidade da rede</p><p>de saúde, tanto pública quanto privada, com o mapeamento de leitos e recursos</p><p>disponíveis. Além disso, a divulgação dos dados em formato de mapas fornece uma</p><p>nova perspectiva sobre a pandemia para a população, ajudando na conscientização</p><p>sobre os cuidados necessários no combate à COVID-19.</p><p>No Brasil, por exemplo, foi criado um Painel de casos de COVID-19 pelo Ministério</p><p>da Saúde, onde o mapeamento é realizado com base nos dados obtidos pelas</p><p>Secretarias Estaduais de Saúde de todo o país.</p><p>No âmbito da Universidade Federal do ABC (UFABC), dois sites foram criados por</p><p>diferentes grupos de pesquisadores e colaboradores voluntários. O projeto “Onde</p><p>tem Coronavírus?”, lançado em 1º de março de 2020, oferece acesso a dados</p><p>atualizados sobre a pandemia em nível municipal, mas com abrangência nacional.</p><p>O site apresenta, ainda, informações sobre recursos hospitalares disponíveis,</p><p>possibilitando a comparação entre municípios vizinhos.</p><p>Fonte: UFABC Divulga Ciência</p><p>Assim, além das legislações e normas pertinentes, pode-se considerar 05 etapas</p><p>para a realização de um Planejamento e Projeto de Georreferenciamento.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 133</p><p>Figura 6 – Fluxograma de trabalho em Planejamento e Projeto de Georreferenciamento</p><p>Fonte: Autor (2023)</p><p>Quando passamos a representar quaisquer dados espaciais em SIG, existem dois</p><p>sistemas diferentes para exibir dados: matriciais (ou raster) e vetoriais. Ambos os</p><p>métodos apresentam dados em seu próprio formato, com suas próprias vantagens</p><p>e desvantagens.</p><p>Os dados vetoriais são o que a maioria das pessoas pensam quando considera os</p><p>dados espaciais. Os dados neste formato consistem em pontos, linhas ou polígonos.</p><p>Em</p><p>seu nível mais simples, os dados vetoriais consistem em pontos individuais armazenados</p><p>como pares de coordenadas que indicam uma localização física no mundo. Esses</p><p>pontos podem ser unidos, em uma ordem específica, para formar linhas ou unidos</p><p>em áreas fechadas para formar polígonos. São extremamente úteis para armazenar</p><p>e representar dados que possuem limites distintos, como fronteiras ou limites de</p><p>edifícios, ruas, entre outros. Aplicativos de mapeamento on-line, como Google Maps,</p><p>Waze e Open Street Maps, apresentam dados neste formato.</p><p>Os dados matriciais fornecem uma representação do mundo como uma superfície</p><p>dividida em uma matriz de grade regular, ou células, em que cada uma dessas células</p><p>tem um valor associado. Em um sentido alternativo, podemos considerar a fotografia</p><p>digital como um exemplo de conjunto de dados raster. Cada célula, que neste caso é</p><p>chamada de pixel, corresponde a um valor de cor específico. Quando transferidas para</p><p>o ambiente SIG, as células em uma grade raster podem potencialmente representar</p><p>outros valores de dados, como temperatura, precipitação ou altitude. O principal ponto</p><p>de diferença entre a fotografia digital e a representação SIG, é que no SIG há dados</p><p>complementares detalhando onde as células podem ser encontradas no Globo e o</p><p>quão grande essas células podem ser.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 134</p><p>9.3 Geoprocessamento Aplicado</p><p>A construção eficiente de sistemas de informações depende da criação de modelos</p><p>conceituais (temas) que sejam representativos da “porção” modelada da realidade.</p><p>Deve-se considerar o ambiente como um sistema de expressão espacial, o qual será</p><p>modelado segundo sua variabilidade taxonômica (atributos) e a distribuição espacial</p><p>(relacionamento) das classes de fenômenos nela identificadas como relevantes. A</p><p>dinâmica do sistema deve ser retratada segundo a evolução (alteração) do ambiente</p><p>em um determinado intervalo de tempo.</p><p>Figura 7 – Projeto em SIG</p><p>Fonte: Autor (2023)</p><p>Os projetos de Sistema de Informação Geográfica (SIG) requerem forte capacidade</p><p>analítica e sólidos conhecimentos do problema (sistema a ser analisado). Deve-</p><p>se lembrar que é praticamente impossível lançar luz, ao mesmo tempo e com a</p><p>mesma intensidade, a todos os aspectos da realidade retratada (física, biótica ou</p><p>socioeconômica).</p><p>Os componentes do SIG envolvem sistemas que possibilitam a interface com</p><p>o usuário, entrada e integração de dados, funções de consulta e análise espacial,</p><p>visualização e plotagem, além de armazenamento e recuperação de dados.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 135</p><p>Diferentes softwares podem ser utilizados no ambiente ao longo de Projetos de</p><p>Geoprocessamento, dentre eles:</p><p>• Computer Aided Design (CAD) – AutoCad, Microstation, MaxCad etc.;</p><p>• Sistema Gerenciador de Banco de Dados Oracle (SGBD) – Informe, SQL,</p><p>PostgreSQL etc.;</p><p>• Processamento Digital de Imagem (PDI) – ENVI, ErMapper, PCI, Erdas, Google</p><p>Earth, Global Mapper etc.;</p><p>• SIG – ArcGis, GeoMedia, MAPINFO, AutoCadMap, IDRISI, TerraView, GRASS,</p><p>Quantum GIS MapServer, PostGis etc.</p><p>Os SIGs permitem representar relações espaciais complexas de eventos/fenômenos</p><p>que ocorrem na superfície terrestre. Na maioria dos projetos desenvolvidos em SIG, a</p><p>principal proposta é a combinação de dados espaciais, com o objetivo de se descrever</p><p>e analisar interações e com a finalidade de tentar prever acontecimentos através de</p><p>modelos e fornecer apoio à tomada de decisão (Sharifi, 2002; Moreira et al., 2008).</p><p>A combinação desses dados multifontes permite uma redução na ambiguidade das</p><p>interações que normalmente são obtidas através da análise individual de dados.</p><p>Um dos exemplos de combinação existente é o uso da álgebra dos mapas. Álgebra</p><p>de Mapas é uma linguagem computacional de alto nível usada para realizar análise</p><p>espacial cartográfica usando dados raster (matriciais). Esta é possível porque arquivos</p><p>matriciais são geograficamente caracterizados por cadeias de números referenciados</p><p>(TOMLIN, 1990).</p><p>De modo geral, os processos de geoprocessamento podem ser aplicados para</p><p>diferentes contextos de gestão ambiental, incluindo:</p><p>• Previsão de enchentes e inundações;</p><p>• Direcionamento urbanístico e plano diretor;</p><p>• Monitoramento de riscos de incêndio e desmatamento;</p><p>• Levantamento de fauna e flora;</p><p>• Manutenção de recursos hídricos.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 136</p><p>CAPÍTULO 10</p><p>DIREITO E LEGISLAÇÃO</p><p>AMBIENTAL NO BRASIL</p><p>A legislação ambiental brasileira reconhece que os recursos naturais são escassos</p><p>e, nesse sentido, pretende gerar diferentes medidas de defesa para controlar atividades</p><p>que possam ameaçar os recursos naturais. Esta medida tende a referir-se aos diferentes</p><p>setores da vida e, assim, os diferentes aspectos são regulados por leis de forma divisível.</p><p>Isso significa que a legislação ambiental toca outros ramos do direito que também são</p><p>necessários para incorporar na missão de proteger o meio ambiente. Neste capítulo,</p><p>aprofundaremos nossas discussões em relação ao histórico do direito ambiental</p><p>no mundo e no Brasil; as principais legislações ambientais brasileiras pertinentes,</p><p>enfocando, principalmente, nas leis de crimes ambientais.</p><p>10.1 Histórico do Direito Ambiental</p><p>O direito ambiental é um termo coletivo que abrange aspectos do direito que</p><p>fornecem proteção ao meio ambiente. Um conjunto relacionado, mas distinto, de</p><p>regimes regulatórios, agora fortemente influenciado por princípios jurídicos ambientais,</p><p>concentra-se na gestão de recursos naturais específicos, como florestas, minerais ou</p><p>pesca. Outras áreas, como avaliação de impacto ambiental, podem não se encaixar</p><p>perfeitamente em nenhuma das categorias, mas são componentes importantes do</p><p>direito ambiental.</p><p>Os primeiros exemplos de decretos legais destinados a preservar conscientemente</p><p>o meio ambiente, para seu próprio bem ou prazer humano, são encontrados ao longo</p><p>da história. No direito consuetudinário, a proteção primária encontrava-se na lei do</p><p>incômodo, mas esta só permitia ações privadas por danos ou liminares se houvesse</p><p>dano à terra. Isso inclui, por exemplo, os impactos relacionados ao odor emanados</p><p>de criações de porco, despejo de lixo ou danos causados pela explosão de barragens</p><p>(ANTUNES, 2012).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 137</p><p>ANOTE ISSO</p><p>Direito consuetudinário consiste em um conjunto estabelecido de comportamentos</p><p>que pode ser objetivamente verificado dentro de um determinado ambiente social.</p><p>A maioria das leis consuetudinárias lida com padrões da comunidade que foram</p><p>estabelecidos há muito tempo em um determinado local. No entanto, o termo</p><p>também pode se aplicar a áreas do direito internacional onde certos padrões</p><p>têm sido quase universais em sua aceitação como bases corretas de ação – por</p><p>exemplo, leis contra pirataria ou escravidão.</p><p>A aplicação privada, no entanto, foi limitada e considerada lamentavelmente</p><p>inadequada para lidar com as principais ameaças ambientais, particularmente as</p><p>ameaças aos recursos comuns. Durante o “Grande Fedor”, de 1858, o despejo de</p><p>esgoto no rio Tâmisa começou a cheirar tão mal no calor do verão que o Parlamento</p><p>teve que ser evacuado em uma tentativa de “limpeza”, mas isso simplesmente levou as</p><p>pessoas a poluir o rio. Em 19 dias, o Parlamento aprovou uma nova lei para construir o</p><p>sistema de esgoto de Londres. Londres também sofria de terrível poluição do ar, e isso</p><p>culminou no “Great Smog” de 1952, que por sua vez desencadeou sua própria resposta</p><p>legislativa: o Clean Air Act, em 1956 (BUCCI, 2006). A estrutura regulatória básica era</p><p>estabelecer limites de emissões para residências e empresas (particularmente na</p><p>queima de carvão), enquanto uma inspeção</p><p>fiscalizava o cumprimento.</p><p>Figura 1 - Registro do evento “Grande Smog”, em 1952, em Londres</p><p>Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Nevoeiro_de_1952#/media/Ficheiro:Nelson%27s_Column_during_the_Great_Smog_of_1952.jpg</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Nevoeiro_de_1952#/media/Ficheiro:Nelson%27s_Column_during_the_Great_Smog_of_1952.jpg</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 138</p><p>Produto da primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente</p><p>Humano, a Declaração de Estocolmo em 1972 foi o primeiro documento internacional</p><p>a reconhecer o direito a um meio ambiente saudável por meio de 26 princípios, muitos</p><p>dos quais desempenharam um papel importante no desenvolvimento subsequente da</p><p>sustentabilidade (CURI, 2012). Até a conferência de Estocolmo, os países europeus</p><p>geralmente demoravam a promulgar padrões legais para proteção ambiental - embora</p><p>houvesse algumas exceções, como a aprovação do conservacionista Clean Air Act</p><p>citado anteriormente.</p><p>Em outubro de 1972, apenas alguns meses após a conferência da ONU, os líderes</p><p>da União Europeia declararam que o objetivo de expansão econômica deveria ser</p><p>equilibrado com a necessidade de proteger o meio ambiente. No ano seguinte, o bloco</p><p>econômico elaborou seu primeiro Programa de Ação Ambiental, e, desde então, os</p><p>países europeus têm estado na vanguarda da formulação de políticas ambientais.</p><p>Na Alemanha, por exemplo, as atitudes do público em relação à proteção ambiental</p><p>mudaram drasticamente no início da década de 1980, quando se soube que muitas</p><p>florestas alemãs estavam sendo destruídas pela chuva ácida. O Partido Verde alemão,</p><p>fundado em 1980, ganhou representação no Bundestag (parlamento nacional) pela</p><p>primeira vez em 1983 e, desde então, tem feito campanha por regulamentações</p><p>ambientais mais rígidas. No final do século 20, o partido se juntou a um governo</p><p>de coalizão e foi responsável pelo desenvolvimento e implementação das extensas</p><p>políticas ambientais da Alemanha. Alemanha, Holanda e Dinamarca – em um grupo</p><p>chamado de “trinca verde” – estabeleceram-se como líderes inovadores em direito</p><p>ambiental (CURI, 2012).</p><p>Durante a década de 1980, acidentes envolvendo poluição ambiental estimularam</p><p>negociações sobre várias convenções ambientais internacionais. Os efeitos do acidente</p><p>de 1986 na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia - ainda parte da União Soviética -</p><p>foram especialmente significativos (CALIJURI e CUNHA, 2013). Um ano depois, o Brasil</p><p>também testemunhou um caso envolvendo acidente ambiental: o caso Césio-137.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 139</p><p>ISTO ESTÁ NA REDE</p><p>O maior acidente radiológico do mundo começou quando, no dia 13 de setembro</p><p>de 1987, dois catadores de recicláveis acharam um aparelho de radioterapia</p><p>abandonado, o desmontaram e venderam a um ferro-velho de Goiânia.</p><p>O equipamento foi vendido a Devair Alves Ferreira, dono de um ferro-velho</p><p>localizado no Setor Aeroporto. Seis dias depois, seu irmão, Ivo Alves Ferreira, viu a</p><p>pedra que brilhava à noite e, encantado, levou fragmentos para casa.</p><p>Além dele, um amigo de Devair, Ernesto Fabiano, também havia levado parte do</p><p>material para casa e deu um pouco do pó para o irmão, Edson Fabiano, que levou o</p><p>“presente” para a residência dele, também no Setor Aeroporto.</p><p>Aos poucos, o material radioativo foi entrando em contato com outras pessoas,</p><p>até que no dia 28 de setembro de 1987, a mulher de Devair, Maria Gabriela Ferreira,</p><p>de 37 anos, percebeu que todos que estiveram próximos ao “pó azul” estavam se</p><p>sentindo mal. Ela, então, levou o equipamento até a Vigilância Sanitária Estadual,</p><p>onde foi descoberto que se tratava de um material radioativo indevidamente</p><p>descartado.</p><p>Segundo os registros, o evento causou quatro mortes e contaminou pelo menos</p><p>249 pessoas.</p><p>Fonte: Portal G1</p><p>Durante esta década, o Brasil também se viu diante de importantes avanços na esfera</p><p>de direito ambiental. Considerando a hierarquia legal, e não a ordem de promulgação,</p><p>a Constituição Federal de 1988 concedeu proteção especial inédita ao meio ambiente,</p><p>que foi declarada como um direito fundamental (BRASIL, 1988). O Art. 225 prevê que:</p><p>“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,</p><p>bem de uso comum e essencial à sadia qualidade de vida, cabendo</p><p>ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo</p><p>para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988).</p><p>Isso implica que todos os indivíduos têm não apenas o direito de se beneficiar de</p><p>um meio ambiente equilibrado, mas também o dever de protegê-lo para a posteridade.</p><p>Daí resulta um direito e um dever do Estado de proteger e preservar o meio ambiente</p><p>no desenvolvimento de suas funções executivas, legislativas e judiciárias.</p><p>Segundo Benjamin (2012), muitas foram as consequências para o ordenamento</p><p>jurídico pátrio de atribuir ao meio ambiente a característica de direito humano</p><p>fundamental, dentre as quais se destaca a aplicabilidade direta desse direito e o</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 140</p><p>estabelecimento de um princípio de priorização do meio ambiente sobre os demais</p><p>bens.</p><p>“Meio ambiente” é entendido aqui em sua definição ampla como “o conjunto de</p><p>condições, leis, influências e interações da física, química e biologia que permite,</p><p>abriga e estimula a vida em todas as suas formas” (BRASIL, 1981) e é reconhecido</p><p>como um bem jurídico protegido autônomo.</p><p>A caminhada ambiental brasileira no âmbito legal, porém, iniciou antes mesmo da</p><p>Constituição Federal. Em 1973, o Brasil criou a Secretaria Especial de Meio Ambiente,</p><p>por meio do Decreto Federal 73.030. Em seguida, a Lei nº. 6.938 criou a Política Nacional</p><p>do Meio Ambiente - PNMA (BRASIL, 1981), cujo principal objetivo foi estabelecer normas</p><p>que viabilizem o desenvolvimento sustentável, utilizando mecanismos e instrumentos</p><p>capazes de garantir maior proteção ao meio ambiente.</p><p>O PNMA abrange diversas questões ambientais, incluindo definição de normas,</p><p>licenciamento, avaliação de impacto ambiental, áreas especiais de preservação,</p><p>incentivo à produção mais limpa e zoneamento ambiental (BARSANO e BARBOSA,</p><p>2014). As diretrizes dessa política são desenvolvidas por meio de normas e planos para</p><p>orientar os órgãos públicos da federação brasileira, de acordo com os dez princípios</p><p>enunciados no artigo 2º da Lei 6.938, além de doze instrumentos utilizados para</p><p>promover a proteção do meio ambiente - os quais são apresentados no artigo 9º da Lei.</p><p>Para promover uma gestão participativa sobre a temática ambiental, a PNMA</p><p>também criou o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, que reúne órgãos e</p><p>instituições ambientais da União, dos estados, dos municípios e do Distrito Federal,</p><p>e tem como objetivo primordial colocar em prática os princípios e normas que são</p><p>impostos pela Constituição.</p><p>A cabeça da estrutura desse sistema é o Conselho de Governo, o órgão máximo</p><p>de assessoramento da Presidência da República para a formulação das diretrizes</p><p>e políticas ambientais nacionais. Abaixo dele vem o Conselho Nacional do Meio</p><p>Ambiente (CONAMA), órgão que assessora o governo nacional e delibera sobre normas</p><p>e padrões adequados à proteção do meio ambiente, que devem ser seguidos pelos</p><p>governos estaduais e municipais. Em seguida, vem o Ministério do Meio Ambiente</p><p>(MMA), que planeja, coordena, fiscaliza e controla a política ambiental nacional e as</p><p>diretrizes estabelecidas para o meio ambiente, exercendo a função de articulação dos</p><p>diversos órgãos e entidades que compõem o SISNAMA. Vinculado ao MMA está o</p><p>Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 141</p><p>o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que formulam,</p><p>coordenam, supervisionam, administram, promovem e fazem cumprir a PNMA e a</p><p>preservação e conservação dos recursos naturais. Finalmente, na base da estrutura</p><p>do SISNAMA estão os órgãos municipais e estaduais responsáveis pela fiscalização</p><p>das atividades degradantes ao meio ambiente e pela implementação de programas,</p><p>projetos e atividades de monitoramento nocivos ao meio ambiente (MACHADO, 2013).</p><p>A Figura 2 sintetiza a estrutura existente no SISNAMA.</p><p>Figura 2 – Estrutura SISNAMA</p><p>Fonte: Autor (2023)</p><p>Desde então, as questões ambientais vêm recebendo cada vez mais atenção no Poder</p><p>Legislativo brasileiro com a promulgação de diversas regulamentações ambientais,</p><p>que obrigam os setores público e privado a considerarem constantemente a agenda</p><p>ambiental em suas atividades.</p><p>Dentre as legislações ambientais brasileiras, destacam-se:</p><p>• Lei 9.433/1997: Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos.</p><p>• Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998: Infrações penais e administrativas</p><p>ambientais; e seu Decreto 6.514, de 22 de julho de 2007.</p><p>• Lei 10.650 de 16 de abril de 2003: Acesso à informação ambiental.</p><p>• Lei 9.795/1999: Lei da Política Nacional de Educação Ambiental.</p><p>• Lei 9.985/2000: Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação.</p><p>• Lei 11.445/2007: Lei da Política Nacional de Saneamento Básico (reformulada</p><p>pela Lei 14.026/2020, que atualiza o marco legal nacional de saneamento básico).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 142</p><p>• Decreto 6.040/2007: Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável e Povos</p><p>e Comunidades Tradicionais.</p><p>• Lei 12.187/2009: Lei da Política Nacional de Mudanças Climáticas.</p><p>• Lei 12.305/2010: Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos.</p><p>• Lei complementar 140/2011: Clarifica e delimita as competências ambientais</p><p>de cada esfera de governo no Brasil, com o objetivo de evitar conflitos e</p><p>sobreposições, inclusive no que diz respeito ao licenciamento ambiental.</p><p>• Lei 12.587/2012: Lei Nacional de Política Urbana.</p><p>• Lei 12.651/2012: Novo Código Florestal.</p><p>• Decreto 7.747/2012: Política de Proteção Territorial e Ambiental de Terras</p><p>Indígenas.</p><p>• Lei 13.123/2015: Lei da Política Nacional de Biodiversidade.</p><p>Essas leis, entre outras, estabelecem em nível federal um conjunto de dispositivos que</p><p>conferem proteção legal específica a diversos aspectos do meio ambiente, elaborando</p><p>e implementando os direitos e princípios constitucionais.</p><p>10.2 Responsabilidades por danos ambientais</p><p>Atualmente, a economia mundial tem se mostrado cada vez mais ambiciosa e essa</p><p>condição se deve à necessidade de atender à demanda social de recursos naturais</p><p>sendo convertidos em bens materiais. Dessa forma, essa conduta desenfreada praticada</p><p>por pessoas físicas e jurídicas permite ações que vão além do planejamento e até</p><p>mesmo da não observância da legislação, a fim de colocar o meio ambiente em risco,</p><p>ameaçando a qualidade de vida presente e, principalmente, futura. Com base nessa</p><p>situação, aumenta significativamente a preocupação da sociedade com as agressões</p><p>cometidas contra o meio ambiente (CALIJURI e CUNHA, 2013).</p><p>A necessidade de proteção legal do meio ambiente surgiu a partir do momento em</p><p>que sua degradação passou a ameaçar não só o bem-estar, mas também a qualidade</p><p>de vida humana e sua própria sobrevivência (CALIJURI e CUNHA, 2013).</p><p>A evolução da proteção jurídica do meio ambiente no Brasil esteve estritamente</p><p>ligada aos movimentos econômicos internacionais. Em primeira instância, o principal</p><p>objeto de proteção era o pau-brasil, mercadoria dos mercantilistas que marcou a</p><p>fase colonial e parte da fase imperial da história brasileira, onde havia uma grande</p><p>preocupação por parte do governo português em adotar medidas que dificultaram o</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 143</p><p>contrabando de madeira, bem como ações que minimizassem possíveis oscilações</p><p>no preço internacional da madeira. Na fase republicana, houve a criação dos principais</p><p>códigos ambientais setoriais nos períodos de implantação de políticas públicas voltadas</p><p>à estruturação e modernização do parque industrial brasileiro, o que implicou em um</p><p>aumento significativo no consumo de recursos naturais renováveis e não renováveis</p><p>(CALIJURI e CUNHA, 2013).</p><p>Nesse contexto, com o objetivo de defender a preservação do meio ambiente, o</p><p>direito ambiental passou a ser abordado em legislação esparsa. Assim, a defesa do</p><p>meio ambiente foi mencionada no art. 170 IV da Constituição Federal, como um dos</p><p>princípios que regem a ordem econômica brasileira (BRASIL, 1988):</p><p>Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho</p><p>humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência</p><p>digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes</p><p>princípios:</p><p>(...)</p><p>IV - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento</p><p>diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços</p><p>e de seus processos de elaboração e prestação (BRASIL, 1988).</p><p>Além disso, a responsabilidade por danos ambientais também foi prevista no § 3º do</p><p>art. 225 da Constituição Federal, que estabelece que condutas e atividades lesivas ao</p><p>meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas e jurídicas, a sanções penais e</p><p>administrativas, independentemente da obrigação de reparar o dano causado, havendo</p><p>inclusive punição, tendo em vista que sanção administrativa ou civil não exclui penal e</p><p>vice-versa (BRASIL, 1998). Ou seja, a sanção será aplicada sem prejuízo da reparação</p><p>do dano que deva ser restituído pelo causador, independentemente de culpa, conforme</p><p>estabelecido no art. 927 do Código Civil Brasileiro (BRASIL, 2002).</p><p>Segundo Machado (2013), ao criminalizar uma conduta que leve à produção de</p><p>resultado de dano/violação ou perigo, está-se diante de um Direito Penal de prevenção,</p><p>na exata medida da proibição. Essa tendência encontra sua justificação no momento em</p><p>que o caráter preventivo da ofensa ao bem jurídico se mostra cada vez mais necessário</p><p>quando se trata de redução do risco, em contraposição à antiga concepção do direito</p><p>penal clássico de punição pelo dano efetivo ao bem jurídico, objeto protegido por lei.</p><p>Assim, os tipos penais criados pela Lei 9.605/98 estão contemplados no Capítulo V,</p><p>artigos 29 a 69-A. O referido Capítulo foi subdividido em seções, cada uma com a</p><p>preocupação de proteger um objeto jurídico específico (BRASIL, 1998).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 144</p><p>A Lei de Crimes Ambientais é considerada a mais significativa em relação ao avanço</p><p>político e jurídico na defesa dos recursos ambientais brasileiros, somando-se a outras</p><p>legislações pertinentes sobre responsabilidade ambiental. Apesar do nome, a Lei não</p><p>se restringe ao estabelecimento de sanções contra crimes ambientais, mas também</p><p>aborda contravenções administrativas contra o meio ambiente. A norma inaugura a</p><p>punição do sistema com penalidades específicas para os infratores e orienta as ações</p><p>de monitoramento por meio de diferentes categorias de crimes ambientais.</p><p>Em seu artigo 70º, a Lei define o conceito de infração administrativa do meio ambiente</p><p>como “qualquer ato ou omissão que viole as regras legais de uso, gozo, promoção,</p><p>proteção e recuperação do meio ambiente”, sendo este um conceito bastante amplo</p><p>(BRASIL, 1998). Somado a isso, a Lei estabelece, em termos gerais, o procedimento</p><p>administrativo de apuração de infrações e a sanções aplicáveis. Os Decretos Federais nº</p><p>6.514/08 e nº 6.686/08 regulamentam os tipos de infrações ambientais e penalidades</p><p>administrativas aplicáveis a cada caso concreto.</p><p>10.2.1 Processos administrativos de fiscalização</p><p>O IBAMA foi criado em 1989 pela Lei Federal nº 7.735</p><p>(BRASIL,1989). Está ligado ao</p><p>Ministério do Meio Ambiente (MMA), integrando o Sistema Nacional do Meio Ambiente</p><p>(SISNAMA). O Instituto é responsável por exercer o poder de polícia ambiental, realizando</p><p>ações relacionadas à vigilância, monitoramento e controle ambiental, exercendo o</p><p>papel de autoridade julgadora e a aplicação de sanções administrativas. Além disso,</p><p>o órgão pode propor e editar normas e padrões de qualidade ambiental e estabelecer</p><p>critérios para a gestão do uso dos recursos naturais em todo o país. Para atingir</p><p>seus objetivos, o Instituto trabalha em conjunto com outros órgãos e entidades da</p><p>administração pública que são membros do SISNAMA, nas esferas federal, estadual</p><p>e municipal.</p><p>O procedimento para apuração de infrações e aplicação de penalidades é definido</p><p>pela Instrução Normativa nº 10/2012 (IBAMA, 2012). Verificada a infração, é lavrado</p><p>um auto de infração e as sanções são aplicadas de acordo com a legislação. Nesta</p><p>fase de investigação, ao avaliado é dada a possibilidade de defesa no prazo de 20 dias,</p><p>contados a partir da data em que tomou conhecimento da notificação. O IBAMA tem a</p><p>obrigação de informar ao Ministério Público se a conduta do infrator também configura</p><p>crime ambiental. Nesse caso, paralelamente ao inquérito administrativo, ocorre a</p><p>persecução penal do crime ambiental, realizada pelo Poder Público Ministério. Após</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 145</p><p>a defesa, o IBAMA prosseguirá com o julgamento e o infrator poderá recorrer dentro</p><p>de 20 dias. Aprovado o auto de infração, inicia-se a fase de execução. Nesse ponto, o</p><p>infrator é intimado a pagar a multa que lhe foi atribuída no momento da autuação, o</p><p>valor é aumentado ou reduzido por circunstâncias atenuantes ou agravantes, se houver.</p><p>Recentes avanços tecnológicos estão possibilitando ao IBAMA rastrear todas as</p><p>informações atuais e notificações passadas, de modo que a eficiência do Instituto</p><p>na aplicação da lei está aumentando, como pode ser visto pelas maiores taxas de</p><p>multas arrecadadas (DAVIS, 2016). Além de exercer o poder de autoridade policial e</p><p>judiciária, o IBAMA tem a obrigação de divulgar a legislação ambiental e promover</p><p>ações educativas com o objetivo de reduzir a violação.</p><p>10.2.2 Jurisprudência Ambiental</p><p>O Supremo Tribunal de Justiça (STJ) é o mais alto tribunal de apelação no Brasil</p><p>para a Lei Federal. Portanto, tem a importante atribuição de uniformizar a interpretação</p><p>das leis federais dentro do sistema judiciário do país. A jurisprudência do STJ serve de</p><p>orientação para os Tribunais Estaduais e Juízes Locais, que devem proferir decisões</p><p>em consonância com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Controvérsias</p><p>sobre responsabilidade civil e indenização por danos ambientais; áreas protegidas e</p><p>seus aspectos legais; crimes ambientais; e limitações à autoridade dos órgãos estatais</p><p>são apenas alguns dos assuntos sobre os quais a Corte vem proferindo decisões.</p><p>Embora a jurisprudência do STJ sobre questões ambientais seja vasta e diversificada,</p><p>muitos dos entendimentos e opiniões mais relevantes da jurisprudência do Tribunal</p><p>podem ser verificados em suas Teses de Direito Ambiental. A Série de Teses do STJ</p><p>é uma publicação periódica elaborada pela Secretaria de Jurisprudência do Tribunal</p><p>e que reúne os seus principais desdobramentos, com cada número focando em um</p><p>tema jurídico específico. A 30ª edição aborda as preocupações ambientais e apresenta</p><p>onze Teses, que podem ser assim enunciadas (MACHADO, 2013):</p><p>• 1ª Tese: Admite-se a condenação simultânea e cumulativa das obrigações de</p><p>fazer, não fazer e compensar dentro da aplicação do princípio da reparação</p><p>integral dos danos ambientais;</p><p>• 2ª Tese: O IBAMA não pode impor sanções administrativas diferentes das</p><p>expressamente previstas em lei;</p><p>• 3ª Tese: Não há direito adquirido de poluir ou degradar o meio ambiente e a</p><p>legislação brasileira não permite que um proprietário continue com práticas em</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 146</p><p>curso proibidas por lei. Por exemplo, o titular de uma licença ambiental pode</p><p>ter seu direito revogado ou modificado se as condições em que a licença foi</p><p>concedida mudarem significativamente e a atividade ou propriedade licenciada</p><p>começar a prejudicar o meio ambiente;</p><p>• 4ª Tese: O princípio da precaução exige a inversão do ônus probatório da prova;</p><p>portanto, a pessoa que supostamente causou o dano ambiental deverá provar</p><p>que não foi responsável por ele ou que a substância liberada no meio ambiente</p><p>não é suscetível de prejudicá-lo;</p><p>• 5ª Tese: O IBAMA não pode impor sanções por infrações penais, que são de</p><p>competência da Justiça;</p><p>• 6ª Tese: O uso do fogo em práticas agropastoris e florestais carece de autorização</p><p>prévia emitida pelo Estado;</p><p>• 7ª Tese: Os responsáveis pela degradação ambiental são solidariamente</p><p>responsáveis, e a lei determina como regra o litisconsórcio permissivo das partes</p><p>em ações coletivas;</p><p>• 8ª Tese: Em matéria de proteção do ambiente, o Estado é civilmente responsável</p><p>quando a(s) sua(s) omissão(ões) no exercício da sua função fiscalizadora</p><p>representam circunstância relevante para a ocorrência ou agravamento do dano</p><p>ambiental;</p><p>• 9ª Tese: O proprietário de um bem imóvel tem a obrigação de remediar qualquer</p><p>degradação ou dano ambiental que lhe seja infligido, ainda que não o tenha</p><p>causado, dada a natureza própria dos danos ambientais;</p><p>• 10ª Tese: A responsabilidade por danos ambientais é objetiva, segundo a teoria</p><p>do risco integral, portanto, uma empresa responsável por danos ambientais não</p><p>pode argumentar motivos de exclusão da responsabilidade civil em sua defesa;</p><p>• 11ª Tese: A Administração Pública tem cinco anos para aplicar a multa relativa</p><p>às infrações ambientais, a contar do término do processo administrativo que</p><p>a estabeleceu.</p><p>É importante ter em mente que as Teses Ambientais do STJ são fruto de reiteradas</p><p>decisões sobre a mesma matéria, onde foi aplicado raciocínio semelhante. Além disso,</p><p>representam a adoção de posições de vanguarda por parte do tribunal, que muitas vezes</p><p>vem proferindo decisões alinhadas com a ideia de alcançar uma proteção ambiental</p><p>integral, resguardando o interesse público em detrimento do privado (por exemplo,</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 147</p><p>a décima tese). Essas decisões atendem, de certa forma, ao desafio de alcançar</p><p>um sistema mais verde em nível judicial, pois operacionalizam nosso arcabouço</p><p>constitucional e padronizam a interpretação de princípios ambientais fundamentais</p><p>e comandos legais, que são recorrentemente negligenciados e/ou mal interpretados</p><p>por outras instâncias judiciais.</p><p>Um exemplo de princípio que vinha sendo mitigado há bastante tempo é o princípio</p><p>da indenização integral por danos ambientais. Anteriormente entendia-se que em face</p><p>de determinado dano ambiental, o réu não poderia ser simultaneamente condenado</p><p>a repará-lo, a se abster de praticar a atividade que gerou o dano e a pagar multa.</p><p>Essa também foi a opinião predominante do STJ sobre a matéria, até que aplicou as</p><p>abordagens da hermenêutica ambiental em casos relacionados, passando a entender</p><p>o meio ambiente como um direito fundamental e, consequentemente, a existência de</p><p>uma obrigação de reparar integralmente todos os danos a ele infligidos, que compreende</p><p>obrigações de fazer, não fazer e compensar (MACHADO, 2013).</p><p>Por fim, cabe ressaltar que as Teses não vinculam os tribunais estaduais e os juízes</p><p>locais. No entanto, são diretrizes importantes para subsidiar seus processos decisórios</p><p>em relação às disputas ambientais. Além disso, representam o desenvolvimento e a</p><p>consolidação de técnicas de interpretação mais refinadas da legislação ambiental no</p><p>Supremo Tribunal Federal (STF). O estudo completo do processo de raciocínio por</p><p>trás dos casos que resultaram nas Teses, no entanto, não é objeto de discussão neste</p><p>momento. No entanto, nos tópicos subsequentes, serão analisados brevemente com</p><p>mais profundidade dois princípios representativos e alguns de seus casos relacionados,</p><p>que fornecem bons exemplos do alinhamento da Corte com o emergente estado de</p><p>direito por natureza.</p><p>10.2.2.1 Princípio da Precaução</p><p>O princípio da precaução é amplamente reconhecido na jurisprudência brasileira,</p><p>embora nem sempre os tribunais e os juízes cheguem a um consenso sobre sua extensão.</p><p>O estado de direito por natureza implica uma interpretação estrita e implementação</p><p>do princípio da precaução. Requer que a lei seja “orgânica” e flexível para atender às</p><p>circunstâncias em mudança e novos insights (BUGGE, 2013). Nesse sentido, entender</p><p>o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como um dos valores centrais</p><p>de nosso ordenamento jurídico, de certa forma, implica em ser cada vez mais rigoroso</p><p>com autorizações e licenças concedidas a atividades potencialmente danosas que</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 148</p><p>não possam comprovar cientificamente sua segurança. Essa questão diz respeito</p><p>aos debates sobre organismos geneticamente modificados, agrotóxicos e até rádios.</p><p>Por exemplo, no caso Maxtel S.A. vs. Ministério Público Federal, o STJ invocou o</p><p>princípio da precaução para impedir a instalação de uma emissora de rádio. Segundo</p><p>a Corte, devido às incertezas quanto à instalação do empreendimento, a proteção do</p><p>meio ambiente deveria prevalecer, conforme o princípio da precaução. Ainda, a quarta</p><p>tese, referente à inversão do ônus probatório da prova, retrata uma aplicação mais</p><p>estrita do princípio da precaução (LEITE e VENÂNCIO, 2017).</p><p>10.2.2.2 Princípio do Desenvolvimento Sustentável</p><p>O princípio do desenvolvimento sustentável, por outro lado, só recentemente começou</p><p>a ser invocado pelo STJ. Em geral, ele preocupa-se com a manutenção de um meio</p><p>ambiente saudável, desenvolvendo os diversos aspectos naturais, sociais, culturais</p><p>e econômicos vinculados, para as presentes e futuras gerações. Além disso, implica</p><p>também em respeitar os limites biofísicos da Terra, em consonância com a ideia de</p><p>uma forte sustentabilidade.</p><p>Os casos emblemáticos relacionados à sua aplicação têm a ver com a interpretação</p><p>do artigo 54 da Lei de Crimes de Direito Ambiental, sobre o crime de poluir o meio</p><p>ambiente em qualquer forma ou nível que resulte, ou possa resultar, em danos à saúde</p><p>humana, animal ou à natureza (BRASIL, 1998).</p><p>O tribunal tem, assim, invocado o princípio para concluir que a mera possibilidade de</p><p>causar dano constitui uma infração à lei, embora o artigo não o indique explicitamente</p><p>(MACHADO, 2013).</p><p>O tribunal também manifestou entendimento semelhante em outros casos (LEITE</p><p>e VENÂNCIO, 2017). Assim, observa-se que o reconhecimento judicial de um princípio</p><p>de desenvolvimento sustentável ilustra que o Poder Judiciário está cada vez mais</p><p>“sensível” a algumas implicações do Estado de Direito da Natureza, nomeadamente</p><p>sublinhando o sentido da sustentabilidade e integrando-o à sua tomada de decisão,</p><p>assumindo um compromisso com a equidade intra e intergeracional.</p><p>10.2.2.3 Princípio do Poluidor Pagador</p><p>O Princípio do Poluidor-Pagador (PPP) foi introduzido pela primeira vez em 1972,</p><p>pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), onde o</p><p>poluidor era responsável pela poluição (CURI, 2012). Em palavras simples, a PPP</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 149</p><p>impõe responsabilidade à pessoa que polui o meio ambiente e compensa os danos</p><p>causados à saúde humana ou ao meio ambiente ao seu estado original. O princípio</p><p>do poluidor-pagador é um dos princípios fundamentais da política ambiental para</p><p>orientar o desenvolvimento sustentável no mundo todo. A ideia principal do princípio</p><p>é que cada poluidor deve atingir um nível economicamente eficiente de produção e</p><p>poluição e o poluidor não deve ver apenas os benefícios da atividade causadora da</p><p>poluição, mas também os danos impostos a terceiros ou ao meio ambiente. Ao adotar</p><p>o princípio do poluidor-pagador, a estratégia foi responsabilizar quem produz o lixo</p><p>pela sua reciclagem e descarte.</p><p>Embora a PPP tenha ajudado a mitigar os danos causados ao meio ambiente em</p><p>certa medida, a maioria dos países em desenvolvimento ainda não a assinou como</p><p>principal diretriz de política ambiental. Por mais elegante que possa ser a ideia por trás</p><p>do princípio, há várias lacunas teóricas e práticas a serem superadas (BUCCI, 2006).</p><p>Em primeiro lugar, persiste a ambiguidade quanto à identificação clara do poluidor</p><p>real ou quem deve arcar com os custos. Em segundo lugar, o poluidor pode ser uma</p><p>família pobre, empresas do setor informal, pequenas e médias empresas do setor</p><p>formal e é difícil impor a responsabilidade a esse poluidor. Todas essas questões</p><p>dificultam a implementação do PPP como diretriz para a política ambiental nos países</p><p>em desenvolvimento (MACHADO, 2013).</p><p>10.3 Crimes contra o meio ambiente</p><p>Encontrar uma definição suficiente e abrangente de crime ambiental tem se</p><p>mostrado difícil. Há uma série de razões para isso. Em primeiro lugar, o estudo do</p><p>crime ambiental é um campo de investigação relativamente novo (MACHADO, 2013).</p><p>Em segundo lugar, o dano e a causalidade individualizados podem ser difíceis de</p><p>identificar. Muitos dos incidentes que causam danos ambientais são extremamente</p><p>diversos e ocorrem tanto em nível local quanto global (ANTUNES, 2012). Além disso,</p><p>os danos ao meio ambiente geralmente envolvem múltiplos atos que nem sempre</p><p>podem produzir consequências imediatas e podem permanecer indetectáveis por anos</p><p>após o ato (CURI, 2012). Mais importante ainda, muitas dessas ações ou incidentes</p><p>podem não ser legalmente definidos como criminosos e, mesmo quando são, pode</p><p>haver ambiguidade moral em torno da atividade.</p><p>O crime ambiental é frequentemente visto como “sem vítimas” (BRICKNELL, 2010).</p><p>A vitimização é complexa em termos de tempo, espaço, impacto e quem ou o que é</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 150</p><p>vitimado. As vítimas podem ser poucas ou muitas e podem ser tanto não humanas</p><p>quanto humanas, o que é problemático para o direito penal tradicional e é uma das</p><p>razões pelas quais os governos e as comunidades de aplicação da lei lutam com</p><p>respostas apropriadas. Mesmo que as vítimas estejam cientes dos danos ambientais,</p><p>elas podem não se considerar como “vítimas do crime” e os danos podem não ser</p><p>relatados (BRICKNELL, 2010).</p><p>No entanto, também existem diferentes perspectivas sobre o que constitui “dano”.</p><p>Diferentes autores se concentram em vários tipos de danos, como abuso de animais</p><p>ou poluição de uma hidrovia específica. A diferença importante entre essas estruturas</p><p>variadas é o foco na vítima, que inclui não apenas humanos, mas o ambiente em geral</p><p>e animais não humanos (WHITE, 2007). White delineou três grandes categorias de</p><p>perspectivas (WHITE, 2007):</p><p>• Antropocêntrica – Os direitos ambientais são vistos como uma extensão dos</p><p>direitos humanos ou sociais para melhorar a qualidade de vida humana. O dano</p><p>ambiental concentra-se em noções de valor e uso centrados no ser humano;</p><p>• Biocêntrico – Os humanos são considerados moralmente equivalentes a outras</p><p>espécies. O dano ambiental concentra-se nos direitos intrínsecos das espécies não</p><p>humanas de não sofrer abuso, seja dano institucionalizado ou dano decorrente</p><p>de ações humanas;</p><p>• Ecocêntrico – Os seres humanos são parte integrante de ecossistemas complexos</p><p>que devem ser preservados por si mesmos por meio da noção de direitos do meio</p><p>ambiente. Dano ambiental centra-se em noções de dano ecológico e atividades</p><p>humanas deletérias.</p><p>No Brasil, o conceito de crime ambiental, definido pela Lei nº. 9.605</p><p>prestar serviços como consultores</p><p>ambientais ou, ainda, atuarem junto a órgãos ambientais reguladores, como o caso</p><p>do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).</p><p>1.2.4 Geoprocessamento</p><p>O geoprocessamento é uma parte fundamental das operações relacionadas ao</p><p>Sistema de Informação Geográfica (SIG). O geoprocessamento fornece análise de</p><p>dados, gerenciamento de dados e ferramentas de conversão de dados. Um serviço de</p><p>geoprocessamento é uma coleção de ferramentas de geoprocessamento publicadas</p><p>em um site de servidor para executar tarefas necessárias para manipular e analisar</p><p>informações geográficas em uma ampla gama de disciplinas.</p><p>Como um serviço de geoprocessamento pode referenciar qualquer ferramenta de</p><p>geoprocessamento, ele pode ser usado para muitas coisas, incluindo os seguintes</p><p>exemplos:</p><p>• Calcular a área de evacuação provável para um derramamento químico perigoso;</p><p>• Calcular a trajetória prevista e a força de um furacão;</p><p>• Gerar um relatório de cobertura da terra e solos dentro de uma bacia hidrográfica</p><p>especificada;</p><p>• Produzir um mapa de parcela com detalhes históricos de propriedade;</p><p>• Geocodificar um endereço e usá-lo em um pedido de permissão para um sistema</p><p>de reforma residencial.</p><p>ISTO ACONTECE NA PRÁTICA</p><p>O uso do Geoprocessamento apresenta infinitas aplicações quando diz respeito</p><p>à atuação de profissionais graduados em Engenharia Ambiental e Sanitária. No</p><p>campo do planejamento urbano, por exemplo, o geoprocessamento pode ser útil na</p><p>determinação de possíveis áreas susceptíveis a deslizamentos de terra ou mesmo a</p><p>inundações. A interface entre o conhecimento técnico da área, aliada às ferramentas</p><p>existentes do Geoprocessamento, permite que este profissional estabeleça, com</p><p>clareza e assertividade, as áreas mais suscetíveis a tais riscos, bem como o plano</p><p>de enfrentamento a esta problemática.</p><p>Ainda que outras áreas de formação estejam envolvidas nessas atividades, o campo</p><p>também é promissão a profissionais de Engenharia Ambiental e Sanitária, haja vista</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 17</p><p>a esperteza desses profissionais com o reconhecimento e caracterização de meios</p><p>físicos e bióticos e abióticos, além da interface que o geoprocessamento tem de</p><p>investigar fenômenos a partir do agrupamento de diferentes variáveis.</p><p>1.2.6 Mudanças Climáticas</p><p>O mundo em que vivemos hoje deixará de existir como o conhecemos, a menos que</p><p>mudemos a forma como interagimos com a Terra. A mudança climática afeta mais</p><p>os países de baixa renda do que os países mais ricos, e ainda assim os países mais</p><p>ricos produzem mais emissões de carbono. É nossa responsabilidade intensificar e</p><p>enfrentar os efeitos nocivos das mudanças climáticas.</p><p>ISTO ESTÁ NA REDE</p><p>As áreas do nosso planeta que absorvem mais carbono da atmosfera - por</p><p>exemplo, na forma do gás de efeito estufa CO2 - do que armazenam são</p><p>conhecidas como sumidouros. O papel desempenhado pelas terras e florestas da</p><p>Terra na absorção de carbono tem sido um fator crítico na prevenção de taxas mais</p><p>rápidas de mudança climática. A Amazônia, que abriga a maior floresta tropical do</p><p>mundo, tem desempenhado um papel fundamental na absorção e armazenamento</p><p>de grande parte desse carbono. Mas os crescentes impactos das mudanças</p><p>climáticas e do desmatamento estão cobrando seu preço dessa esponja de CO2</p><p>crucial. Neste recente estudo, os autores observaram que as variações climáticas</p><p>da floresta podem interferir, diretamente, nas condições do clima existente na região</p><p>do Himalaia e do Tibete. Veja mais acessando este link:</p><p>Sem sinais de desaceleração, a emissão de gases de efeito estufa continuam a</p><p>aumentar, retendo cada vez mais calor e resultando em um planeta cada vez mais</p><p>quente. Os anos de 2015 a 2019 foram definidos como o período de cinco anos mais</p><p>quente já registrado, de acordo com relatórios da Organização Meteorológica Mundial</p><p>(OMM). Já estamos vendo os efeitos das mudanças climáticas com eventos climáticos</p><p>mais extremos, como furacões e tufões. O Acordo de Paris foi um passo importante</p><p>no combate às mudanças climáticas, mas será necessário que todos nós trabalhemos</p><p>juntos para fazer uma diferença real. É por isso que há uma demanda crescente por</p><p>profissionais que possam ajudar a enfrentar as mudanças climáticas.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 18</p><p>Os empregos relacionados com as alterações climáticas são trabalhos centrados na</p><p>luta contra as alterações climáticas. Isso pode incluir trabalhar em energia renovável,</p><p>sustentabilidade, direito ambiental e muitos outros campos. A demanda por esses</p><p>empregos está aumentando à medida que o mundo se torna mais consciente dos</p><p>perigos das mudanças climáticas.</p><p>1.4 - Associações de classe e atribuições de Engenheiro Ambiental</p><p>No Brasil, o exercício das atividades relacionadas à profissão de Engenharia é</p><p>regulado pela Lei Federal nº 5.194 (BRASIL, 1966). No Art. 6º, a Lei estabelece que:</p><p>Exerce ilegalmente a profissão de engenheiro, arquiteto ou engenheiro-</p><p>agrônomo:</p><p>a) a pessoa física ou jurídica que realizar atos ou prestar serviços</p><p>público ou privado reservados aos profissionais de que trata esta lei</p><p>e que não possua registro nos Conselhos Regionais (BRASIL, 1966).</p><p>Em outras palavras, cabe dizer que o exercício da profissão de Engenheiro Ambiental</p><p>e Sanitário se dará somente após seu registro no respectivo conselho de classe de</p><p>sua Unidade Federativa. Após a conclusão do curso e a obtenção do diploma, os</p><p>profissionais que desejarem atuar como Engenheiro Ambiental e Sanitário devem</p><p>solicitar registro junto ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de sua</p><p>respectiva Unidade Federativa.</p><p>ANOTE ISSO</p><p>No Brasil, cada Estado possui seu respectivo CREA – devendo, o profissional, se</p><p>registrar somente em um único. Porém, caso haja a necessidade e oportunidade</p><p>de atuar em um Estado diferente ao do registro, este profissional deve</p><p>solicitar um registro chamado de Visto Profissional. Este documento atesta a</p><p>regularidade da atividade profissional em um Estado que seja diferente ao de</p><p>origem do solicitante.</p><p>No artigo seguinte, a Lei estabelece que são atribuições do Engenheiro:</p><p>a) desempenho de cargos, funções e comissões em entidades</p><p>estatais, paraestatais, autárquicas, de economia mista e privada;</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 19</p><p>b) planejamento ou projeto, em geral, de regiões, zonas, cidades,</p><p>obras, estruturas, transportes, explorações de recursos naturais</p><p>e desenvolvimento da produção industrial e agropecuária;</p><p>c) estudos, projetos, análises, avaliações, vistorias, perícias,</p><p>pareceres e divulgação técnica;</p><p>d) ensino, pesquisas, experimentação e ensaios;</p><p>e) fiscalização de obras e serviços técnicos;</p><p>f) direção de obras e serviços técnicos;</p><p>g) execução de obras e serviços técnicos;</p><p>h) produção técnica especializada, industrial ou agropecuária.</p><p>(BRASIL, 1966)</p><p>Esta mesma legislação criou o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e</p><p>Agronomia (CONFEA), instância máxima superior de fiscalização quanto ao exercício</p><p>profissional de Engenharia. Como a criação do curso de Engenharia Ambiental foi</p><p>estabelecida, por Lei, por meio da Resolução do Conselho Federal de Engenharia e</p><p>Agronomia Nº 447, de 22 de setembro de 2000, as atribuições foram modificadas</p><p>e adaptadas a partir das legislações até antes existentes (CONFEA, 2000). Assim, a</p><p>legislação determinou que são atribuições do Engenheiro Ambiental (CONFEA, 1973;</p><p>CONFEA, 2000):</p><p>• Supervisão, coordenação e orientação técnica;</p><p>• Estudo, planejamento, projeto e especificação;</p><p>• Estudo de viabilidade técnico-econômica;</p><p>• Assistência, assessoria e consultoria;</p><p>• Direção</p><p>(BRASIL, 1998),</p><p>abrange uma ampla gama de violações que resultam em danos ao meio ambiente</p><p>e à vida humana, desde erros administrativos ou de manutenção de registros até o</p><p>despejo ilegal de poluentes no meio ambiente - todas estas contempladas na Seção</p><p>V da referida Lei.</p><p>10.3.1 Crimes contra a Fauna</p><p>O comércio ilegal de vida selvagem é estimado em até US$ 20 bilhões por ano</p><p>(UNODC, 2020). A flora e a fauna selvagens podem ser exploradas por criminosos</p><p>ao longo de toda a cadeia de abastecimento, desde a caça furtiva e transporte até o</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 151</p><p>processamento e venda. Outras atividades ilegais são frequentemente associadas a</p><p>crimes contra a vida selvagem, incluindo lavagem de dinheiro, corrupção e fraude de</p><p>documentos.</p><p>No Brasil, o Art. 29 da Lei nº. 9.605 define como crime contra a fauna (BRASIL, 1998):</p><p>“Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre,</p><p>nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou</p><p>autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a</p><p>obtida” (BRASIL, 1998).</p><p>Os Art. 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36 e 37 da mesma Lei ainda reforçam outras ações</p><p>relacionadas a crimes ambientais contra Fauna, destacando-se:</p><p>Art. 30. Exportar para o exterior peles e couros de anfíbios e répteis</p><p>em bruto, sem a autorização da autoridade ambiental competente.</p><p>Art. 31. Introduzir espécime animal no País, sem parecer técnico</p><p>oficial favorável e licença expedida por autoridade competente.</p><p>Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais</p><p>silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos.</p><p>(...)</p><p>Art. 35 - Pescar mediante a utilização de: I - explosivos ou substâncias</p><p>que, em contato com a água, produzam efeito semelhante; II</p><p>- substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela autoridade</p><p>competente (BRASIL, 1998).</p><p>O crime contra a vida selvagem abrange qualquer violação da legislação nacional,</p><p>regional ou internacional que protege as espécies selvagens. Portanto, inclui o comércio</p><p>ilegal de vida selvagem, e também a matança, envenenamento ou caça ilegal de vida</p><p>selvagem, bem como a alteração ou destruição não autorizada de habitats. Exemplos</p><p>de crimes contra a vida selvagem incluem: espécies exóticas de animais de estimação</p><p>retiradas ilegalmente de seus habitats, caça, comércio ilegal etc. Além do impacto</p><p>ambiental sobre o meio ambiente, este tipo de ação afeta negativamente a segurança,</p><p>a governança, a economia e, finalmente, as vidas humanas.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 152</p><p>ISTO ACONTECE NA PRÁTICA</p><p>Estima-se que entre 20 e 30 mil elefantes são abatidos por ano ilegalmente. Desde</p><p>2007, o comércio ilegal de marfim mais do que duplicou. O tráfico de vida selvagem</p><p>ameaça a biodiversidade do planeta e coloca em perigo de extinção espécies como</p><p>os elefantes, os rinocerontes e os tigres.</p><p>O tráfico de espécies selvagens é, de acordo com a Comissão Europeia, o quarto</p><p>negócio ilegal mais lucrativo do mundo, atrás apenas do tráfico de drogas, de seres</p><p>humanos e do comércio de armas. Estima-se que o lucro anual da atividade gire em</p><p>torno de 8 a 20 bilhões de euros.</p><p>Fonte: Agência Brasil</p><p>10.3.2 Crimes contra a Flora</p><p>Os crimes relacionados a espécies da flora envolvem o comércio ilícito, a posse</p><p>de espécies abrangidas pela Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies</p><p>Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens - CITIES, bem como quaisquer outras espécies</p><p>protegidas pela legislação nacional. De acordo com o Índice, para contabilizar a infinidade</p><p>de espécies em todo o continente africano, são consideradas as “três principais”</p><p>espécies de flora mais comercializadas ilicitamente em cada país, incluindo madeira</p><p>de alto e baixo valor, como pau-rosa, madeira roliça e mogno, bem como cicadáceas.</p><p>O comércio internacional de espécies de plantas ameaçadas de extinção,</p><p>principalmente madeira, é um componente significativo do comércio ilícito de vida</p><p>selvagem mais amplo, de vários bilhões de euros. O comércio envolve uma gama</p><p>diversificada de mercadorias, desde plantas até produtos derivados delas, incluindo</p><p>produtos alimentícios, madeira e medicamentos. Muitas vezes, com o uso de documentos</p><p>falsos, grupos do crime organizado contrabandeiam itens como corais e tipos proibidos</p><p>de madeira, para diversos locais do mundo, por meio de rotas também usadas para</p><p>imigração ilegal e tráfico de drogas.</p><p>No Brasil, são considerados, dentre outros, crimes contra a fauna:</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 153</p><p>Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação</p><p>permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência</p><p>das normas de proteção;</p><p>Art. 39. Cortar árvores em floresta considerada de preservação</p><p>permanente, sem permissão da autoridade competente;</p><p>(...)</p><p>Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta.</p><p>(...)</p><p>Art. 46. Receber ou adquirir, para fins comerciais ou industriais,</p><p>madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, sem</p><p>exigir a exibição de licença do vendedor, outorgada pela autoridade</p><p>competente, e sem munir-se da via que deverá acompanhar o produto</p><p>até final beneficiamento (BRASIL, 1998).</p><p>Nos últimos anos, o debate sobre o manejo florestal no Brasil ganhou considerável</p><p>atenção pública e política. As notícias cada vez mais frequentes sobre a crescente taxa</p><p>de desmatamento estão divulgando dados coletados de sistemas de monitoramento,</p><p>por exemplo, os divulgados em novembro de 2020 pelo Instituto Nacional de Pesquisas</p><p>Espaciais (INPE), mostrando desmatamentos na Amazônia que aumentaram pelo</p><p>menos 47% em comparação a 2018 (LEMOS e CUNHA, 2021). Internacionalmente,</p><p>esses números são observados e discutidos criticamente por cientistas, ONGs, políticos</p><p>e mídia. Em particular, os países industrializados ocidentais do Norte Global prestam</p><p>muita atenção a esses números alarmantes e descrevem a situação na Amazônia</p><p>como um assunto de preocupação global que o Brasil deve cuidar.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 154</p><p>CAPÍTULO 11</p><p>LICENCIAMENTO E</p><p>CONTROLE AMBIENTAL</p><p>Como país com parte de seu território coberta por florestas e fruto da preocupação</p><p>ambiental com o desenvolvimento sustentável, o Brasil tem políticas rígidas de</p><p>exploração de seus recursos naturais. Assim, para que as atividades mercantis</p><p>implementem algum negócio, é necessário que elas se submetam a um complexo</p><p>processo administrativo, o licenciamento ambiental. Nesse contexto, esta unidade irá</p><p>explicar de forma objetiva e clara os principais conceitos envoltos ao licenciamento</p><p>ambiental; no cenário nacional, será explorado de que forma o país compreende e aplica</p><p>os conceitos de licenciamento ambiental; as ideias envolvidas em relação aos estudos</p><p>e programas ambientais; e por fim, serão discutidas e apresentadas as legislações</p><p>ambientais mais atenuantes que versam sobre o tema.</p><p>11.1 Premissas de Licenciamento Ambiental</p><p>Antes de se aprofundar num conceito mais técnico do licenciamento ambiental, é</p><p>válido fazer uma reflexão a partir de uma simples analogia a respeito de licenciamento.</p><p>Segundo a legislação de trânsito brasileira, os veículos automotores precisam ser</p><p>licenciados junto aos órgãos de trânsito estaduais para que possam circular. Este é</p><p>um procedimento administrativo realizado na aquisição do veículo e envolve vistorias,</p><p>emplacamento etc.</p><p>O simples emplacamento e obtenção do documento não encerra as obrigações do</p><p>proprietário, pois ele precisará pagar taxas e impostos, realizar vistorias periódicas,</p><p>além de manter o veículo em bom estado de conservação. Da mesma</p><p>forma, não</p><p>poderá fazer alterações consideráveis na cor predominante, no motor ou em outras</p><p>especificações sem prévia autorização do DETRAN. Também será necessário informar</p><p>aos órgãos competentes a transferência de proprietário, ocorrência de sinistros etc.</p><p>A partir deste exemplo de licenciamento de veículos, é possível extrair pontos em</p><p>comum com o licenciamento ambiental. Tanto em um como no outro surge a clara</p><p>noção de controle. Partindo do pressuposto de que não houvesse o licenciamento de</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 155</p><p>veículos, por exemplo, os veículos podiam circular, entrar e sair do país livremente; seriam</p><p>modificados para melhorar seu desempenho sem preocupação com a maximização</p><p>da emissão de poluentes etc. O licenciamento, dentro deste contexto, atua como um</p><p>instrumento de controle, promovendo a segurança, o bem-estar e a proteção ambiental</p><p>no entorno.</p><p>Para evitar os problemas citados anteriormente, o Estado brasileiro exerce, através</p><p>de legislação específica, as atividades de controle, fiscalização e supervisão do trânsito</p><p>e de um dos seus principais elementos: os veículos automotores. Da mesma forma,</p><p>o Estado também precisa exercer controle sobre as atividades que possam causar</p><p>degradação do meio ambiente. E o instrumento maior da Política Nacional de Meio</p><p>Ambiente é justamente o licenciamento ambiental (BRASIL, 1981).</p><p>Dentro deste escopo, o licenciamento ambiental pode ser compreendido como sendo</p><p>um procedimento através do qual o poder público, representado por órgãos ambientais,</p><p>autoriza e acompanha a implantação e a operação de atividades ou empreendimentos,</p><p>que utilizam recursos naturais que sejam efetiva ou potencialmente poluidores. Em</p><p>termos legais, o entendimento é expresso pela Resolução do Conselho Nacional do</p><p>Meio Ambiente – CONAMA nº 237 (CONAMA, 1997):</p><p>“Procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente</p><p>licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de</p><p>empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais,</p><p>consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas</p><p>que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental,</p><p>considerando as disposições legais e regulamentares e as normas</p><p>técnicas aplicáveis ao caso” (CONAMA, 1997).</p><p>ANOTE ISSO</p><p>Aqui cabe fazer mais uma comparação: da mesma forma que a bicicleta é</p><p>dispensada do licenciamento de veículos por ser de propulsão humana e, portanto,</p><p>não poluente, e representar menos impactos ao trânsito como um todo, algumas</p><p>atividades serão dispensadas do licenciamento ambiental por causarem impactos</p><p>menos relevantes.</p><p>Em outras palavras, a política brasileira estabeleceu o licenciamento ambiental como</p><p>instrumento administrativo pelo qual o órgão de administração ambiental competente</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 156</p><p>autoriza e estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que</p><p>devem ser obedecidas pela pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, expandir e</p><p>operar empreendimentos ou atividades que possam causar degradação ambiental. Ou</p><p>seja, qualquer construção, instalação, ampliação, funcionamento de estabelecimentos</p><p>e atividades que utilizem recursos ambientais potencialmente poluidores, ou capazes</p><p>de causar degradação ambiental, deve ter licenciamento prévio pelo órgão público</p><p>competente.</p><p>A finalidade do licenciamento é garantir a preservação, melhoria e recuperação</p><p>da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar o desenvolvimento</p><p>socioeconômico, a segurança nacional e a proteção da dignidade da vida humana.</p><p>Dentro desse contexto, a Resolução também trouxe, em seu Anexo I, a lista de</p><p>atividades passíveis de licenciamento ambiental no âmbito federal, incluindo: extração</p><p>e tratamento de minerais; indústria de produtos minerais não metálicos; indústria</p><p>metalúrgica; indústria de material elétrico, eletrônico e comunicações; indústria de</p><p>couros e peles; indústria química; indústria de produtos de matéria plástica; indústria</p><p>têxtil, de vestuário, calçados e artefatos de tecidos; indústria de produtos alimentares</p><p>e bebidas; obras civis, dentre outras (CONAMA, 1997).</p><p>Embora o licenciamento ambiental esteja previsto desde a Política Nacional de Meio</p><p>Ambiente (BRASIL, 1981), a sua aplicação como instrumento de política ambiental</p><p>foi sendo aprimorada ao longo do tempo, ao passo que foi introduzido na legislação</p><p>ambiental de estados e municípios.</p><p>Como nem todas as atividades estão sujeitas ao licenciamento ambiental, a forma</p><p>textual através da qual essa obrigatoriedade é tratada na legislação gerou certa</p><p>controvérsia. Algumas redações trazem a expressão “atividades”, enquanto outras</p><p>falam em “estabelecimentos”, e assim por diante (BRASIL, 1981; CONAMA, 1997).</p><p>Cabe à legislação ambiental do local onde está implantado o empreendimento ou</p><p>onde se desenvolve a atividade, estabelecer quais delas estão sujeitas ao licenciamento</p><p>ambiental. A Resolução CONAMA nº 237/97 trouxe em seu Anexo I essas atividades</p><p>a título de exemplificação e, como as deliberações do referido Conselho têm alcance</p><p>em todo o território nacional, tornou-se referência para as legislações ambientais</p><p>estaduais e municipais que vieram em seguida.</p><p>A Listagem contempla:</p><p>• Extração e tratamento de minerais;</p><p>• Indústria de produtos minerais não metálicos;</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 157</p><p>• Indústria metalúrgica;</p><p>• Indústria mecânica;</p><p>• Indústria de material elétrico, eletrônico e comunicações;</p><p>• Indústria de material de transporte;</p><p>• Indústria de madeira;</p><p>• Indústria de papel e celulose;</p><p>• Indústria de borracha;</p><p>• Indústria de couros e peles;</p><p>• Indústria química;</p><p>• Indústria de produtos de matéria plástica;</p><p>• Indústria têxtil, de vestuário, calçados e artefatos de tecidos;</p><p>• Indústria de produtos alimentares e bebidas;</p><p>• Indústria de fumo;</p><p>• Indústrias diversas;</p><p>• Obras civis e serviços de utilidade;</p><p>• Transporte, terminais e depósitos;</p><p>• Turismo;</p><p>• Atividades diversas;</p><p>• Atividades agropecuárias; e</p><p>• Uso de recursos naturais.</p><p>Por vezes, há também o entendimento de que os órgãos ambientais não podem</p><p>dispensar do licenciamento ambiental os itens incluídos no Anexo I da Resolução nº 237,</p><p>não havendo, portanto, margem para discricionariedade administrativa (SANCHEZ, 2008).</p><p>Convém destacar que é perfeitamente possível que um órgão ambiental exija</p><p>licenciamento ambiental para atividades não listadas, desde que sejam enquadradas</p><p>na condição de utilizadores de recursos ambientais ou sejam efetiva ou potencialmente</p><p>poluidoras, como prevê o caput do Art. 10 da Política Nacional de Meio Ambiente</p><p>(DAVIS, 2016).</p><p>A Resolução CONAMA nº 237, em seu Art. 2º inciso § 2º, traz a seguinte redação:</p><p>“Caberá ao órgão ambiental competente definir os critérios de</p><p>exigibilidade, o detalhamento e a complementação do Anexo 1, levando</p><p>em consideração as especificidades, os riscos ambientais, o porte e</p><p>outras características do empreendimento ou atividade” (CONAMA,</p><p>1997).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 158</p><p>Esse item abre a possibilidade para que os órgãos ambientais, além de criarem</p><p>suas próprias listas de atividades sujeitas ao licenciamento ambiental, possam ainda</p><p>implementar modulações de acordo com as especificidades dos empreendimentos ou</p><p>atividades. São exemplos destas modulações: a diferenciação no valor das taxas de</p><p>licenciamento ambiental para indústrias do mesmo ramo, mas de portes diferentes;</p><p>a possibilidade de se obter licenças simplificadas para empreendimentos de pequeno</p><p>porte e/ou baixo potencial poluidor.</p><p>11.2 Competências do Licenciamento Ambiental</p><p>No âmbito da organização do Estado, a competência é uma modalidade de poder</p><p>relevante (CARVALHO FILHO, 2014).</p><p>Ela reveste os órgãos ou entidades paraestatais para</p><p>o desempenho das suas funções. Assim, a competência pode ser compreendida como</p><p>a capacidade jurídica de agir numa dada esfera administrativa relevante (CARVALHO</p><p>FILHO, 2014). Em outras palavras, é a atribuição facultada a um órgão, entidade ou</p><p>agente do Poder Público para tomar decisões, sendo repartição de competências</p><p>entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios o cerne do Estado Federal brasileiro</p><p>(RINCÃO e TRIGUEIRO, 2018).</p><p>O princípio que rege a repartição de competências entre os entes federativos é a</p><p>predominância do interesse, com a seguinte correlação:</p><p>• UNIÃO – matérias de interesse predominantemente nacional;</p><p>• ESTADOS – matérias de interesse predominantemente regional;</p><p>• MUNICÍPIOS – matérias de interesse predominantemente local;</p><p>• DISTRITO FEDERAL – matérias de interesse predominantemente regional/local.</p><p>A competência administrativa pode ser exclusiva ou comum. A competência comum</p><p>é uma das marcas da política ambiental: ela é atribuída a todos os entes federativos,</p><p>conforme estabelece a Constituição Federal (BRASIL, 1988). É nesta competência que</p><p>se encaixa o licenciamento ambiental.</p><p>Após anos de insegurança jurídica, veio a Lei Complementar nº 140, de 8 de dezembro</p><p>de 2011. Segundo esse diploma, são objetivos dos entes federativos no exercício da</p><p>competência administrativa comum (BRASIL, 2011):</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 159</p><p>I - proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologicamente</p><p>equilibrado, promovendo gestão descentralizada, democrática e</p><p>eficiente;</p><p>II - garantir o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico com</p><p>a proteção do meio ambiente, observando a dignidade da pessoa</p><p>humana, a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades</p><p>sociais e regionais; III - harmonizar as políticas e ações administrativas</p><p>para evitar a sobreposição de atuação entre os entes federativos,</p><p>de forma a evitar conflitos de atribuições e garantir uma atuação</p><p>administrativa eficiente;</p><p>IV - garantir a uniformidade da política ambiental para todo o País,</p><p>respeitadas as peculiaridades regionais e locais (BRASIL, 2011).</p><p>De acordo com a referida Resolução, cabe à União o licenciamento ambiental de</p><p>atividades e/ou empreendimentos (BRASIL, 2011):</p><p>a) Localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em país limítrofe;</p><p>b) Localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma continental ou</p><p>na zona econômica exclusiva;</p><p>c) Localizados ou desenvolvidos em terras indígenas;</p><p>d) Localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação instituídas pela</p><p>União, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs);</p><p>e) Localizados ou desenvolvidos em 2 (dois) ou mais Estados;</p><p>f) De caráter militar, excetuando-se do licenciamento ambiental;</p><p>g) Destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar e dispor</p><p>material radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem energia nuclear; e</p><p>h) Que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de</p><p>proposição da Comissão Tripartite Nacional.</p><p>De acordo com o Art. 9 da Lei Complementar nº 140:</p><p>XIV - observadas as atribuições dos demais entes federativos previstas</p><p>nesta Lei Complementar, promover o licenciamento ambiental das</p><p>atividades ou empreendimentos: a) que causem ou possam causar</p><p>impacto ambiental de âmbito local, conforme tipologia definida pelos</p><p>respectivos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, considerados os</p><p>critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade; ou b)</p><p>localizados em unidades de conservação instituídas pelo Município,</p><p>exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs) (BRASIL, 2011).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 160</p><p>Mesmo após a publicação da Lei Complementar nº 140 (BRASIL, 2011), os Estados</p><p>continuaram com esse protagonismo, de modo que tudo aquilo que não for de</p><p>competência da União nem dos Municípios será automaticamente de competência</p><p>do Estado.</p><p>11.3 Etapas do Licenciamento Ambiental</p><p>As licenças ambientais são estabelecidas pelo Decreto nº 99.274 (BRASIL, 1990),</p><p>em seu artigo 19, e detalhadas na Resolução CONAMA nº 237 (CONAMA, 1997) e</p><p>são denominadas como: Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (LI) e Licença de</p><p>Operação (LO).</p><p>Para obter a LP de um empreendimento, o empreendedor deve procurar o órgão</p><p>ambiental competente ainda na fase preliminar de planejamento do projeto. Inicialmente,</p><p>o órgão ambiental definirá, com a participação do empreendedor, os documentos,</p><p>projetos e estudos ambientais necessários para dar início ao processo de licenciamento</p><p>(BARSANO e BARBOSA, 2014). Em seguida, o empreendedor contratará a elaboração</p><p>dos estudos ambientais, que deverão contemplar todos os requisitos determinados pelo</p><p>órgão licenciador na primeira reunião. Concluída a análise, o órgão licenciador emitirá</p><p>parecer técnico conclusivo e estabelecerá as medidas mitigadoras que deverão ser</p><p>consideradas na implantação do projeto. O cumprimento destas medidas é condição</p><p>para obtenção da segunda licença (Licença de Instalação). Sobre a LP, é importante</p><p>ressaltar que (CURI, 2012):</p><p>• Somente será concedida nos casos em que o empreendimento tenha viabilidade</p><p>ambiental, verificada pelo Estudo de Impacto Ambiental (EIA).</p><p>• Uma vez emitida, a LP aprova a localização e o desenho do empreendimento,</p><p>estabelecendo os requisitos básicos e condições a serem atendidos nas próximas</p><p>fases de sua implantação;</p><p>• O prazo de validade poderá ser prorrogado até no máximo 5 (cinco) anos, caso</p><p>tenha sofrido atrasos, a pedido do titular da licença; e</p><p>• Ela não autoriza o início de quaisquer obras destinadas à implantação do</p><p>empreendimento.</p><p>A solicitação da LI deve ser dirigida ao mesmo órgão ambiental que emitiu a LP.</p><p>Ao solicitar a licença de instalação, o empreendedor deverá: verificar o cumprimento</p><p>das condições estabelecidas na licença anterior; apresentar os planos, programas e</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 161</p><p>projetos ambientais, cronogramas detalhados e sua implementação; e fornecer um</p><p>detalhamento das partes da engenharia de projetos que se relacionam com questões</p><p>ambientais. Os planos, programas e projetos ambientais serão analisados pelo órgão</p><p>ambiental responsável e, se necessário, por órgãos ambientais de outras esferas de</p><p>governo (SANCHEZ, 2008). Após essa análise, é elaborado um parecer pericial com</p><p>posicionamento favorável ou contrário à concessão da licença de instalação.</p><p>A LI (CONAMA, 1997):</p><p>• Autoriza a instalação/construção do empreendimento de acordo com as</p><p>especificações contidas nos programas e projetos aprovados pela licença anterior.</p><p>• Aprova a pré-operação, visando a obtenção de dados e elementos de desempenho</p><p>necessários para subsidiar a concessão da LO.</p><p>• O prazo de validade poderá ser prorrogado até o máximo de 6 (seis) anos, desde</p><p>que comprovada a manutenção do projeto original e das condições ambientais</p><p>existentes à época de sua concessão.</p><p>• Não autoriza o início das atividades.</p><p>Finalmente, para a obtenção da LO, o empreendedor deverá comprovar ao mesmo</p><p>órgão ambiental que concedeu a licença anterior que: implementou todos os programas</p><p>ambientais que deveriam ter sido executados durante a vigência da LI; implementou</p><p>o cronograma físico e financeiro do projeto de compensação ambiental; e cumpriu</p><p>todas as condições estabelecidas na concessão da LI. A LO autoriza a operação do</p><p>empreendimento, após verificação do efetivo cumprimento das licenças anteriores,</p><p>com base em laudos de vistoria, relatórios de pré-operação, relatórios de auditoria</p><p>ambiental, dados de monitoramento ou qualquer meio técnico de verificação do porte</p><p>e eficiência das medidas de controle e mitigação ambiental implementado. O prazo</p><p>de validade desta licença é de no mínimo 4 (quatro)</p><p>anos e no máximo 10 (dez) anos</p><p>(CONAMA, 1997).</p><p>11.1.1 Modalidades de Licenciamento</p><p>Muito embora tenhamos visto que o procedimento padrão do licenciamento</p><p>ambiental é a obtenção das licenças separadamente conforme a fase da implantação</p><p>do projeto, a Resolução CONAMA nº 237 (CONAMA, 1997) abre a possibilidade de</p><p>licenças diferentes em função da característica do empreendimento, obra, serviço etc.</p><p>No Art. 12, o texto faz a seguinte menção (CONAMA, 1997):</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 162</p><p>“Art. 12 - O órgão ambiental competente definirá, se necessário,</p><p>procedimentos específicos para as licenças ambientais, observadas</p><p>a natureza, características e peculiaridades da atividade ou</p><p>empreendimento e, ainda, a compatibilização do processo de</p><p>licenciamento com as etapas de planejamento, implantação e</p><p>operação” (CONAMA, 1997).</p><p>Assim, a legislação ambiental do ente federativo definirá os padrões e as modalidades</p><p>de licenciamento que poderão ser executados pelos empreendimentos.</p><p>Ainda que cada Unidade Federativa possua tal autonomia estabelecida por Lei e,</p><p>por consequência, gere modalidades distintas, é comum se deparar com as seguintes</p><p>nomenclaturas comuns entre eles:</p><p>• Licenciamento Trifásico e/ou Concomitante: modalidade de licenciamento onde,</p><p>conforme a legislação regional, se faz possível a obtenção de mais de uma</p><p>licença de forma simultânea, isto é, Licença Prévia + Licença de Instalação, ou</p><p>Licença de Instalação + Licença de Operação;</p><p>• Licenciamento Ambiental Corretivo: esta modalidade é prevista, em suma, para</p><p>ocasiões onde a atividade e/ou empreendimento já se encontra em fase de</p><p>operação, mas não possui licença ambiental para tal; e</p><p>• Licenciamento Ambiental Simplificado: modalidade de licenciamento comumente</p><p>empregado nos Estados para atividade ou obra caracterizada como de pequeno</p><p>porte e/ou que possua baixo potencial poluidor/degradador.</p><p>Os empreendimentos que serão obrigados a obter licença ambiental serão elencados</p><p>na legislação ambiental local, seguindo a lista de referência presente no Anexo I da</p><p>Resolução nº 237 (CONAMA, 1997) – o que significa que atividades que não façam</p><p>parte desta listagem não precisam de licença ambiental. Entretanto, em certas</p><p>ocasiões, o empreendedor necessita de um documento que ateste que sua atividade</p><p>está dispensada do licenciamento ambiental, para poder apresentá-lo em processos</p><p>licitatórios, obtenção de crédito etc. O órgão ambiental poderá, então, emitir um outro</p><p>documento, comumente denominado Declaração de Dispensa de Licenciamento</p><p>Ambiental.</p><p>Cabe ressaltar ainda que a instalação, construção, reforma ou operação em qualquer</p><p>parte do território nacional de atividades, obras ou serviços potencialmente poluidores</p><p>sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, incorre na pena de</p><p>prisão e/ou multa na Lei Brasileira de Crimes Ambientais (BRASIL, 1998).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 163</p><p>Existe a possibilidade de que, no licenciamento, haja ação suplementar ou subsidiária</p><p>dos entes federativos. Ou seja, na ação supletiva, quando um ente federativo, como um</p><p>Município, tiver competência para licenciar, mas não possuir órgão ambiental, o Estado</p><p>do qual fizer parte o substituirá. Já na atividade subsidiária, o ente federativo solicita</p><p>outro auxílio para licenciar, seja no aspecto econômico, administrativo ou técnico.</p><p>11.4 Estudos em processos de licenciamento ambiental</p><p>Estudos, planos e programas ambientais são comumente citados como sendo o</p><p>mesmo tipo de documento, e com a mesma finalidade. Porém, torna-se fundamental</p><p>distingui-los quanto ao momento em que podem ser solicitados, bem como à função</p><p>básica diante da proteção dos recursos naturais.</p><p>Um estudo ambiental é um documento de orientação para medir e atingir a</p><p>conformidade com os requisitos de proteção ambiental de um projeto, para autorização/</p><p>aprovação de projetos. Os documentos contidos no estudo ambiental podem ser</p><p>apresentados no estágio de planejamento e aprovação do projeto para informar</p><p>às agências reguladoras que o proponente concordou em seguir estratégias de</p><p>gerenciamento para evitar e mitigar os impactos ambientais durante as obras do</p><p>projeto (SANCHEZ, 2008). De forma geral, o estudo ambiental é requisitado pelo órgão</p><p>ambiental como uma etapa necessária à obtenção da Licença Prévia (LP).</p><p>Dentro desta categoria, estão:</p><p>• Estudo de Impacto Ambiental (EIA);</p><p>• Relatório de Impacto Ambiental (RIMA);</p><p>• Relatório Ambiental Simplificado;</p><p>• Estudo Ambiental Preliminar;</p><p>• Relatório Ambiental Preliminar;</p><p>• Etc.</p><p>Para a elaboração do estudo, é comum que o órgão ambiental emita um Termo</p><p>de Referência (TR), que servirá como roteiro básico para nortear o trabalho a ser</p><p>executado (SANCHEZ, 2008).</p><p>Por outro lado, os programas ou planos ambientais consistem em documentos</p><p>que trazem um conjunto de medidas que serão adotadas, visando a minimização e/</p><p>ou mitigação dos impactos ambientais relacionados à atividade/empreendimento</p><p>(SANCHEZ, 2008).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 164</p><p>Em suma, os programas ou planos ambientais consistem em um conjunto de diretrizes</p><p>destinadas a: garantir que os proponentes assumam a responsabilidade primária pela</p><p>implementação dos compromissos ambientais; formar uma base para decisões estatutárias</p><p>sobre prosseguir ou não com uma proposta; determinar a base para o gerenciamento</p><p>e monitoramento ambientais contínuos, caso o desenvolvimento prossiga (CALIJURI</p><p>e CUNHA, 2013). A execução do programa é a aplicação prática do que foi planejado</p><p>previamente. Geralmente, tal execução é realizada de forma concomitante à atividade</p><p>licenciada, podendo também ser posterior, de acordo com a situação.</p><p>Dentro deste contexto, são considerados programas/planos ambientais:</p><p>• Plano Básico Ambiental (PBA);</p><p>• Plano de Controle Ambiental (PCA);</p><p>• Plano de Gerenciamento de Resíduos (PGRS);</p><p>• Plano de Monitoramento Ambiental;</p><p>• Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD);</p><p>• Programa de Compensação Ambiental;</p><p>• Programa de Educação Ambiental (PEA);</p><p>• Etc.</p><p>Com base na constatação da avaliação de impacto, os planos e programas são</p><p>elaborados para minimizar os impactos adversos e enumerar várias etapas a serem</p><p>tomadas para a melhoria do ambiente (CALIJURI e CUNHA, 2013). Os planos e</p><p>programas auxiliam na formulação, implementação e monitoramento de parâmetros</p><p>ambientais durante o comissionamento do projeto. Consiste de ferramentas que visam</p><p>garantir um ambiente seguro e limpo. Um projeto pode ter identificado medidas de</p><p>mitigação adequadas, mas, sem um plano de manejo para executá-lo, os resultados</p><p>desejados podem não ser obtidos. O plano de gestão prevê a implementação adequada</p><p>de medidas de mitigação para reduzir os impactos adversos decorrentes das atividades</p><p>do projeto (CALIJURI e CUNHA, 2013).</p><p>11.4.1 Estudos Ambientais</p><p>O instrumento previsto no Brasil para licenciamento de empreendimentos que</p><p>possam ter impacto ambiental, desde 1986, por decisão do CONAMA, é o Estudo</p><p>de Impacto Ambiental (EIA), que precede o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA)</p><p>(CONAMA, 1986).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 165</p><p>Tendo como ponto de partida um diagnóstico socioeconômico e ambiental, o EIA/</p><p>RIMA faz um prognóstico das consequências do trabalho e sugere medidas para</p><p>minimizar os impactos negativos e maximizar os positivos.</p><p>O EIA e o RIMA são documentos complementares, razão pela qual são sempre</p><p>mencionados em conjunto. Enquanto o EIA é um conjunto de laudos técnicos</p><p>destinados a instruir o processo de licenciamento, o RIMA é o documento que reproduz</p><p>as conclusões do EIA, porém em linguagem acessível e fácil. O objetivo do RIMA é</p><p>informar o público comum, com</p><p>um linguajar simples e acessível à sociedade.</p><p>Em síntese, o documento mais importante em todo o processo que envolve a</p><p>Avaliação de Impacto Ambiental é o EIA. É sobre essa base que serão tomadas as</p><p>principais decisões sobre a viabilidade ambiental de um projeto, a necessidade de</p><p>medidas mitigadoras ou compensatórias, o tipo e o alcance dessas medidas. Como</p><p>o processo de EIA é aberto ao público, pode ser usado como ponto de partida para</p><p>negociações entre o empreendedor, o governo e outras partes interessadas (SÁNCHEZ,</p><p>2008).</p><p>Nessa perspectiva, o EIA deve ser contemplado considerando uma sequência</p><p>de etapas lógicas e interconectadas, em que os resultados obtidos em uma fase</p><p>interferem diretamente na fase subsequente. Dentro desse plano de trabalho, propõe-</p><p>se o desenvolvimento das atividades em uma cadeia ou sequência lógica ou orgânica,</p><p>considerando as cumulatividades e a sinergia existente entre os processos. (SANCHEZ,</p><p>2008).</p><p>Resumidamente, é necessário que o EIA apresente no seu escopo (CONAMA, 1986):</p><p>• todas as alternativas tecnológicas e de localização de projeto, considerando,</p><p>dentro desse item, a possibilidade de não execução do projeto;</p><p>• a identificação e a avaliação dos impactos ambientais gerados nas fases de</p><p>implantação e operação da atividade;</p><p>• os limites espaciais quanto às áreas direta ou indiretamente afetadas pelos</p><p>impactos, denominadas áreas de influência do projeto;</p><p>• os planos e programas governamentais, propostos e em implantação, na área</p><p>de influência do projeto e sua compatibilidade.</p><p>A Figura 1 sintetiza o escopo contemplado pelo EIA.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 166</p><p>Figura 1 – Fluxograma do EIA</p><p>Fonte: Autor (2023)</p><p>O objetivo do EIA é garantir que os tomadores de decisão considerem os impactos</p><p>ambientais ao decidir se devem ou não prosseguir com qualquer projeto que possa</p><p>alterar o ambiente natural de um local – como a construção de uma fábrica, estrada</p><p>ou barragem, por exemplo. Em alguns casos, o documento pode levar à rejeição</p><p>total de um projeto ou proposta, mas seu objetivo principal é mitigar os impactos</p><p>ambientais enquanto permite o desenvolvimento econômico. Apesar de o EIA, em</p><p>alguns casos, estar em condições de identificar os principais impactos ambientais</p><p>potenciais, na prática não é incomum que sua influência na tomada de decisão seja</p><p>limitada (SÁNCHEZ, 2008).</p><p>11.4.2 Planos e Programas Ambientais</p><p>Os impactos ambientais diagnosticados durante a etapa de planejamento, instalação</p><p>e operação de uma atividade e/ou empreendimento devem ser, durante este período,</p><p>mitigados ao longo deste período (SANCHEZ, 2008). As medidas de mitigação</p><p>fornecem um sistema para reduzir, evitar ou compensar as potenciais consequências</p><p>ambientais adversas das atividades de desenvolvimento. Seu objetivo é maximizar os</p><p>benefícios do projeto e minimizar os impactos indesejáveis (SANCHEZ, 2008). Tais</p><p>medidas de mitigação podem assumir a forma de medidas preventivas, corretivas ou</p><p>compensatórias.</p><p>No Brasil, as diretrizes estabelecidas para as medidas de mitigação são comumente</p><p>apresentadas em formas de Planos e Programas Ambientais. Estes documentos, ora</p><p>específicos para cada tipo de impacto, fornecem uma estrutura que apresenta, dentre</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 167</p><p>outros pontos, os impactos avaliados, as medidas de controle e mitigação, o plano</p><p>de execução e, ainda, o cronograma de implementação (CALIJURI e CUNHA, 2013)</p><p>Dentro das legislações vigentes sobre esta pauta, há inúmeros documentos que</p><p>apresentam a finalidade descrita no parágrafo anterior. Dentre os mais conhecidos,</p><p>destacam-se (SANCHEZ, 2008; CALIJURI e CUNHA, 2013):</p><p>• Plano de Controle Ambiental – PCA: exigido pela Resolução CONAMA nº 009/90</p><p>(CONAMA, 1990), é um documento que estabelece e propõe medidas mitigadoras</p><p>para os impactos ambientais identificados nas etapas de planejamento e</p><p>instalação do empreendimento. Desta forma, costuma ser solicitado após a</p><p>emissão da Licença Prévia (LP) do empreendimento. O PCA deve ser claro e</p><p>conciso, expondo de maneira objetiva quais as medidas mitigadoras deverão</p><p>ser adotadas para os impactos ambientais anteriormente identificados.</p><p>• Programa de Educação Ambiental – PEA: amparado pela Política Nacional de</p><p>Educação Ambiental (BRASIL, 1999), o PEA constitui uma prática educativa</p><p>entre o empreendimento e a comunidade direta ou indiretamente afetada com</p><p>intuito de sensibilizá-los em relação a práticas sustentáveis, o uso de recursos</p><p>naturais e, ainda, sobre suas atividades operacionais e os impactos ambientais</p><p>decorrentes destas.</p><p>• Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos – PGRS: segundo as diretrizes</p><p>estabelecidas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010), o PGRS</p><p>é empregado pelos empreendimentos com o objetivo de avaliar as práticas</p><p>existentes de gerenciamento de resíduos sólidos, avaliar as opções e alternativas</p><p>disponíveis para o futuro gerenciamento de resíduos sólidos e, ainda, estabelecer</p><p>as etapas de implementação necessárias. Mais do que uma necessidade legal,</p><p>o PGRS é uma importante ferramenta de gestão de recursos econômicos e</p><p>ambientais.</p><p>• Plano de Recuperação de Áreas Degradadas – PRAD: estabelecido desde a década</p><p>de 1980 por meio do Decreto nº 97.632 (BRASIL, 1989), o PRAD consiste em</p><p>um documento onde se estabelece as diretrizes, metodologias, materiais e todo</p><p>detalhamento necessários para restaurar e/ou recuperar uma determinada área</p><p>degradada por uma atividade/empreendimento. Toda formulação do PRAD deve</p><p>ser elaborada conforme as diretrizes estabelecidas pela Instrução Normativa nº</p><p>11/2014, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio,</p><p>2014).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 168</p><p>O conteúdo dos Programas e Planos Ambientais e o leque de possibilidades a serem</p><p>implementados para mitigar os impactos ambientais estão diretamente ligados ao porte</p><p>do projeto e à sensibilidade da área direta e indiretamente afetada. Os planos e programas</p><p>ambientais, portanto, devem fornecer aos tomadores de decisão e à população todos</p><p>os dados analíticos necessários, garantindo que as partes envolvidas tenham pleno</p><p>conhecimento e acesso ao conteúdo e à forma de abordagem e implementação do</p><p>que está sendo proposto.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 169</p><p>CAPÍTULO 12</p><p>ÁREAS PROTEGIDAS</p><p>O Brasil é um país de superlativos. Com uma área de 3,2 milhões de milhas quadradas,</p><p>é o quinto maior país da Terra. É também o maior país tropical, com cerca de 90% do</p><p>seu território situado nos trópicos. Como uma nação do tamanho de um continente</p><p>que abrange as regiões tropicais e subtropicais, o Brasil é repetidamente considerado</p><p>o país de maior biodiversidade do planeta. Ele contém 20,9% de todas as espécies de</p><p>plantas vasculares do mundo, bem como 17,6% de aves, 13,6% de anfíbios, 11,8% de</p><p>mamíferos, 7,9% de répteis e 13,7% de espécies de peixes (CALIJURI e CUNHA, 2013).</p><p>Além de ser grande e megadiverso, o Brasil também é a maior potência econômica</p><p>da América Latina, com grandes setores industriais e agrícolas, respondendo por 36% do</p><p>produto interno bruto da região (CALIJURI e CUNHA, 2013). O país é o maior produtor de</p><p>alguns dos itens mais comuns na dieta ocidental moderna: carne bovina, frango, laranja,</p><p>café e cana-de-açúcar. Algumas dessas commodities têm uma história relativamente</p><p>curta no Brasil – a soja, por exemplo, só se tornou uma cultura significativa depois</p><p>de ser adaptada com sucesso ao bioma cerrado do interior do país na década de</p><p>1980 (CALIJURI e CUNHA, 2013). Outros produtos, porém, dominam as exportações</p><p>brasileiras há séculos. O Brasil tornou-se um importante fornecedor de açúcar para a</p><p>Europa já no século</p><p>XVI e, desde meados do século XIX, figura continuamente como</p><p>o maior exportador mundial de café (VERÍSSIMO e XAVIER, 2014).</p><p>Séculos de produção de commodities, no entanto, exerceram enorme pressão sobre</p><p>os habitats naturais do Brasil. A expansão da fronteira agrícola e pecuária do país,</p><p>aliada à busca de minérios e lenha – esta última fonte primária de energia até a</p><p>década de 1950 – afetou uma parcela significativa das terras agrestes do Brasil. Além</p><p>disso, assim como outros países do mundo, o Brasil experimentou um crescimento</p><p>populacional robusto entre as décadas de 1880 e 1980. Após a década de 1930, tais</p><p>mudanças na demografia coincidiram com um processo acelerado de industrialização</p><p>e urbanização. O Brasil exigia mais terras para a produção de alimentos e matérias-</p><p>primas, aumentando a pressão sobre os ambientes naturais, a vida selvagem e as</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 170</p><p>comunidades rurais tradicionais (VERÍSSIMO e XAVIER, 2014). A mudança foi radical</p><p>e profunda, principalmente nos núcleos industriais e agroindustriais do país.</p><p>Na década de 1930, a industrialização, a urbanização e a expansão agrícola</p><p>ganharam força no Brasil, invadindo ainda mais os biomas do país. A década</p><p>também testemunhou a criação das primeiras áreas protegidas do país. Os</p><p>primeiros parques nacionais brasileiros visavam inicialmente preservar paisagens</p><p>monumentais notáveis – como montanhas e cachoeiras – para as gerações futuras.</p><p>Alguns defensores dos parques nacionais também estavam preocupados com</p><p>o destino das florestas nativas do país, e os novos parques nacionais incluíam</p><p>bolsões de florestas antigas. Nas quatro décadas seguintes, diferentes governos</p><p>brasileiros, incluindo governos eleitos democraticamente e ditaduras autoritárias,</p><p>continuaram a estabelecer novos parques nacionais e outros tipos de reservas</p><p>naturais. O Brasil investiu no estabelecimento de parques nacionais, mas esse</p><p>primeiro movimento incipiente para proteger monumentos naturais e florestas</p><p>demorou muito para evoluir para uma política de conservação coerente.</p><p>ANOTE ISSO</p><p>Os geógrafos brasileiros dividem o país em seis biomas continentais — grandes</p><p>províncias biogeográficas formadas por mosaicos de plantas menores e formações</p><p>geográficas com flora, fauna e clima conectados. O maior e mais famoso bioma</p><p>do Brasil é a Amazônia, a floresta amazônica. Além deste, também há os seguintes</p><p>biomas: Mata Atlântica, Pantanal, Cerrado, Caatinga e Pampa.</p><p>Os parques criados pelo Brasil entre as décadas de 1930 e 1970 revelam alguns</p><p>padrões, apesar da falta inicial de uma política coerente. Alguns foram estabelecidos</p><p>perto do núcleo populacional do leste do país, em bolsões de paisagem poupados pelo</p><p>desenvolvimento. Eles ofereciam à pequena, mas crescente classe média brasileira a</p><p>possibilidade de desfrutar de contato próximo com formações geológicas requintadas</p><p>e fauna e flora preservadas. Outras foram criadas na expansão da fronteira ocidental</p><p>do Brasil, comumente em associação com programas de desenvolvimento territorial</p><p>(MEDEIROS, 2006). Os defensores dos parques nacionais imaginaram essas últimas</p><p>áreas protegidas, ainda inacessíveis aos habitantes urbanos brasileiros, como</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 171</p><p>ferramentas para preservar bolsões de paisagem natural do avanço iminente da</p><p>agricultura, mineração e pecuária.</p><p>A evolução de uma política nacional de áreas protegidas continuou na década de 1980,</p><p>com um crescente intercâmbio entre cientistas brasileiros e estrangeiros e a adoção</p><p>de novos padrões internacionais de conservação. Por volta dessa década, o governo</p><p>brasileiro começou a justificar a criação de áreas protegidas com base na proteção da</p><p>biodiversidade do país. Nas duas décadas seguintes, três desenvolvimentos cruciais</p><p>contribuíram para a institucionalização da política de conservação no Brasil. Primeiro,</p><p>o Brasil passou com sucesso de um período de ditadura militar para uma democracia,</p><p>tornando-se uma sociedade mais aberta. Em segundo lugar, o declínio da ditadura</p><p>militar introduziu novos atores domésticos, incluindo organizações não governamentais</p><p>e movimentos sociais, que trouxeram à tona novas demandas de conservação. Em</p><p>terceiro lugar, o Brasil experimentou uma expansão constante na produção científica</p><p>no nível acadêmico, o que impactou significativamente o planejamento e a gestão de</p><p>suas áreas protegidas.</p><p>A partir da década de 1990, o Brasil experimentou o crescimento exponencial de</p><p>áreas protegidas (ver Figura 1). A maior parte do crescimento ocorreu na Amazônia,</p><p>que se tornou uma nova fronteira da política de conservação na década de 1980.</p><p>Figura 1 – Evolução das áreas protegidas no Brasil</p><p>Fonte: Adaptado de Medeiros et al. (2010)</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 172</p><p>O período entre 1990 e 2020 também testemunhou o surgimento de áreas de uso</p><p>sustentável como o principal tipo de reserva natural do país. Ao todo, dois marcos</p><p>institucionais críticos foram: a aprovação da legislação que instituiu o Sistema Nacional</p><p>de Unidades de Conservação (SNUC) em 2000 e a criação do Instituto Chico Mendes</p><p>de Conservação da Biodiversidade (ICMbio) em 2007, a primeira agência brasileira</p><p>dedicada exclusivamente à gestão de áreas protegidas.</p><p>12.1 SNUC</p><p>No Brasil, a institucionalização das áreas protegidas reflete as disposições</p><p>constitucionais do país, bem como o contexto ambiental internacional. A Constituição</p><p>Federal de 1988, em seu artigo 225, garante o “meio ambiente ambientalmente</p><p>equilibrado” e atribui ao poder público a responsabilidade de defendê-lo e preservá-lo</p><p>(BRASIL, 1988). Um dos instrumentos que a Constituição estabelece para cumprir</p><p>essa responsabilidade é a “definição dos espaços territoriais e seus componentes</p><p>que devem ser especialmente protegidos”, ou seja, determina que o poder público</p><p>crie áreas protegidas e garanta que elas contribuam para a manutenção de um “meio</p><p>ambiente ambientalmente equilibrado”.</p><p>Dessa forma, acordos internacionais aliados à Constituição Federal deram origem a</p><p>um Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), ou seja, um sistema que</p><p>regula e dá diretrizes para a implementação e gestão de um tipo de área protegida no</p><p>país. Entende-se por Unidade de Conservação (UC) a parte do território nacional ou de</p><p>suas águas costeiras, estabelecida por autoridade municipal, estadual ou federal, como</p><p>área sob regime especial de administração. Isso é alcançado pelo reconhecimento da</p><p>área como tendo recursos naturais significativos e pela aplicação de garantias para</p><p>proteger seus atributos ambientais. Existem várias categorias de UCs, com diferentes</p><p>denominações e orientações para as atividades a serem realizadas; alguns são mais</p><p>restritivos, voltados para pesquisa e conservação, outros são destinados à visitação</p><p>e atividades educativas e alguns visam harmonizar o assentamento humano com o</p><p>uso econômico e urbano da terra.</p><p>O processo de elaboração e negociação de um Sistema Nacional de Unidades de</p><p>Conservação (SNUC) levou mais de dez anos e gerou polêmica entre os ambientalistas.</p><p>A Lei resultante, nº 9.985 (BRASIL, 2000), representou um avanço significativo no</p><p>estabelecimento de um efetivo sistema de áreas protegidas no país. Uma das</p><p>dificuldades, já evidente na época, estava em como definir as categorias de gestão,</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 173</p><p>eliminando categorias sobrepostas e criando novas categorias onde eram identificadas</p><p>lacunas.</p><p>O Sistema Nacional de Unidades de Conservação assim contempla: as categorias de</p><p>áreas protegidas; os objetivos e diretrizes do sistema; o processo de criação, implantação</p><p>e gestão de áreas; reservas da biosfera; e, em suas disposições</p><p>transitórias, uma série</p><p>de outras questões. Os objetivos do sistema são: contribuir para a manutenção da</p><p>biodiversidade, promovendo o desenvolvimento sustentável, a pesquisa científica e</p><p>a educação ambiental; e proteger as paisagens de grande beleza cênica. Um outro</p><p>objetivo reflete uma preocupação com as populações historicamente excluídas das</p><p>áreas protegidas: a proteção dos “recursos naturais necessários à subsistência das</p><p>populações tradicionais, respeitando e valorizando seus conhecimentos e cultura, e</p><p>promovendo-os social e economicamente” (BRASIL, 2000).</p><p>As unidades de conservação, conforme definidas pelo SNUC, são:</p><p>“Espaços territoriais e seus recursos ambientais, inclusive águas</p><p>jurisdicionais, com características naturais importantes, legalmente</p><p>estabelecidos pelo poder público, com objetivos de conservação e</p><p>limites definidos, sob regime administrativo especial, aos quais são</p><p>salvaguardadas as devidas salvaguardas” (BRASIL, 2000).</p><p>Uma das características estruturais do SNUC é a complementaridade do sistema,</p><p>uma vez que algumas áreas focam na conservação da biodiversidade e outras protegem</p><p>os processos socioecológicos. Dessa forma, vemos o contraste entre áreas vistas</p><p>isoladamente e um sistema de áreas protegidas eficaz. Se a necessidade de conciliar</p><p>esses diferentes objetivos fosse considerada em uma única área, de proteção integral e</p><p>uma população usuária de recursos dessa área, a conciliação poderia ser muito difícil. Se,</p><p>porém, a questão fosse examinada em um sistema de unidades de conservação, onde</p><p>existem várias categorias de áreas e a possibilidade de zoneamento democrático e</p><p>participativo das áreas e de espaços negociais de negociação, a conciliação se tornaria</p><p>mais viável.</p><p>A ideia é que a conciliação entre conservação e uso da biodiversidade possa</p><p>proporcionar um novo paradigma de desenvolvimento para todos os ambientes, não</p><p>apenas para aqueles designados como áreas protegidas. Enquanto os usos da terra</p><p>e dos recursos naturais continuarem tão intensos e insustentáveis como são hoje, as</p><p>áreas protegidas estarão sob ameaça. Ao conciliar a manutenção da biodiversidade</p><p>com o seu uso pelas populações humanas, junto a um zoneamento consistente, reside</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 174</p><p>a esperança de uma maior transformação das formas de interação do ser humano</p><p>com o meio ambiente.</p><p>Em suma, não se deve perder de vista as relações que as áreas protegidas têm</p><p>com as paisagens e ecossistemas em que se inserem e com o uso que delas se</p><p>faz. Acreditar que áreas protegidas separadas de seu ambiente externo manterão</p><p>a diversidade biológica é ignorar a escala dos processos biológicos. Acreditar que</p><p>essas áreas poderão conservar processos biológicos divorciados das comunidades</p><p>locais é ignorar a dimensão humana das políticas de conservação da biodiversidade,</p><p>equiparando-as a políticas de desenvolvimento tecnocratas voltadas apenas para elites</p><p>que são na maioria das vezes os maiores predadores do meio ambiente.</p><p>O SNUC estabelece 12 (doze) categorias de unidades de conservação, nas categorias</p><p>de Proteção Integral ou Uso Sustentável. Já as Áreas de Proteção Integral visam a</p><p>preservação da natureza, sendo permitido apenas o uso indireto de seus recursos</p><p>naturais, ressalvadas as exceções previstas em lei. As Áreas de Uso Sustentável, por</p><p>sua vez, visam harmonizar a conservação da natureza e o uso sustentável dos recursos,</p><p>conciliando a presença humana nas áreas protegidas. Sob o título de proteção total,</p><p>existem cinco categorias diferentes. São elas: Estação Ecológica, Reserva Biológica,</p><p>Parque Nacional, Monumento Natural e Refúgio de Vida Silvestre. No grupo de uso</p><p>sustentável, as categorias são: Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse</p><p>Ecológico, Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de</p><p>Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio Natural. Entretanto,</p><p>como o SNUC pressupõe a complementaridade com os sistemas de unidades de</p><p>conservação estaduais e municipais, em algumas situações podem haver categorias</p><p>de unidades de conservação diferentes das listadas acima, como Parques Estaduais</p><p>e Florestas Estaduais.</p><p>Abaixo, são descritos as funções e objetivos de cada UC (BRASIL, 2000):</p><p>1) Unidades de Proteção Integral</p><p>a. Estação Ecológica (ESEC): tem como objetivo a preservação da natureza e a</p><p>realização de pesquisas científicas. É propriedade pública e a área específica</p><p>dentro de seus limites precisa ser desapropriada. Nessas áreas, é proibida a</p><p>visitação pública, exceto para fins educacionais, de acordo com o disposto</p><p>no Plano de Manejo da área ou outro regulamento. A pesquisa científica</p><p>precisa de autorização prévia da autoridade administrativa da área e está</p><p>sujeita às condições e restrições por ela estabelecidas.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 175</p><p>b. Reserva Biológica (REBIO): tem por objetivo a preservação total da biota e</p><p>demais atributos naturais presentes em seus limites, sem interferência humana</p><p>direta ou modificação ambiental, ressalvadas as medidas de recuperação</p><p>de ecossistemas alterados e ações de manejo necessárias para recuperar</p><p>e preservar recursos naturais, diversidade biológica e processos ecológicos.</p><p>É propriedade pública e a área específica dentro de seus limites deve ser</p><p>desapropriada. Nas Reservas Biológicas é proibida a visitação pública, exceto</p><p>para fins educacionais; a pesquisa científica precisa de autorização prévia do</p><p>órgão responsável pela administração da área e está sujeita às condições</p><p>e restrições por este estabelecidas;</p><p>c. Monumento Natural: tem como principal objetivo a preservação de sítios</p><p>naturais raros, invulgares ou de grande beleza paisagística. Pode compreender</p><p>áreas de propriedade privada, desde que o uso da terra e de seus recursos</p><p>naturais pelos proprietários seja compatível com os objetivos da área. Caso</p><p>estes não sejam compatíveis, ou caso o proprietário não concorde com as</p><p>condições de coexistência do Monumento Natural com o uso do imóvel</p><p>proposto pelo órgão responsável pela gestão da área, a área deverá ser</p><p>expropriada, nos termos das disposições da lei. A visitação pública está</p><p>sujeita às condições e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da área</p><p>e nas normas estabelecidas pela autoridade administrativa responsável;</p><p>Refúgio de vida selvagem (RVS): tem por objetivo proteger os ambientes naturais</p><p>de forma a assegurar condições para a existência ou reprodução de espécies ou</p><p>comunidades de flora e fauna nativas ou de fauna migratória. Pode compreender áreas</p><p>de propriedade privada, desde que o uso da terra e de seus recursos naturais pelos</p><p>proprietários seja compatível com os objetivos da área. Caso não sejam compatíveis,</p><p>ou caso o proprietário não concorde com as condições de convivência do Refúgio</p><p>de Vida Silvestre com o uso da propriedade proposta pelo órgão responsável pela</p><p>gestão da área, a área deverá ser desapropriada, nos termos das disposições da lei.</p><p>A visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no plano de</p><p>manejo da área e às normas estabelecidas pelo órgão gestor responsável. A pesquisa</p><p>científica requer autorização prévia do órgão responsável.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 176</p><p>2) Unidades de Uso Sustentável</p><p>a. Área de Proteção Ambiental (APA): área, geralmente extensa, com certo grau</p><p>de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou</p><p>culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e bem-estar</p><p>das populações humanas. Seu objetivo é proteger a diversidade biológica,</p><p>disciplinar o processo de ocupação e garantir o uso sustentável dos</p><p>recursos naturais. Pode consistir em terras públicas e privadas. As regras</p><p>para a realização de pesquisas científicas e visitação</p><p>pública em áreas de</p><p>domínio público e em áreas de propriedade privada pelo proprietário serão</p><p>estabelecidas pelo órgão gestor;</p><p>b. Área de relevante interesse ecológico (ARIE): área, geralmente pequena,</p><p>com pouca ou nenhuma ocupação humana, com características naturais</p><p>incomuns ou abrigando exemplares raros da biota regional, que visa manter</p><p>os ecossistemas naturais de importância regional ou local e regulamentar</p><p>os limites permitidos de utilização destas áreas de forma a compatibilizá-</p><p>la com os seus objetivos de conservação da natureza. Uma ARIE pode ser</p><p>constituída por terras públicas ou privadas e, desde que respeitados os direitos</p><p>constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições para o uso;</p><p>c. Floresta Nacional: Área florestal com predominância de espécies nativas e</p><p>com o objetivo principal de assegurar o uso múltiplo sustentável de seus</p><p>recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos de</p><p>aproveitamento sustentável das florestas nativas. É de propriedade pública</p><p>e as áreas específicas dentro de seus limites precisam ser desapropriadas,</p><p>de acordo com as disposições da lei. Populações tradicionais residentes</p><p>na área à época de sua criação poderão permanecer, de acordo com as</p><p>disposições regulamentares do Plano de Manejo da área. A visitação pública é</p><p>permitida, observadas as regras de manejo da área estabelecidas pelo órgão</p><p>administrativo responsável. A pesquisa é permitida e incentivada, mediante</p><p>prévia autorização do órgão gestor, e as condições e restrições por este</p><p>estabelecidas e as estabelecidas em regulamento;</p><p>d. Reserva Extrativista: área utilizada por populações tradicionais cuja</p><p>subsistência é baseada no extrativismo e, adicionalmente, na agricultura</p><p>de subsistência e na pecuária de pequeno porte. Seu objetivo principal é</p><p>proteger os meios de subsistência e a cultura dessas populações e garantir o</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 177</p><p>uso sustentável dos recursos naturais da área. Uma Reserva Extrativista é de</p><p>propriedade pública, com direitos de uso concedidos à população extrativista</p><p>tradicional. De acordo com a lei, áreas privadas dentro de seus limites devem</p><p>ser desapropriadas;</p><p>e. Reserva de Fauna: área natural com populações de espécies animais nativas</p><p>terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, destinada a estudos</p><p>técnico-científicos sobre o manejo econômico sustentável dos recursos</p><p>faunísticos. É uma área de propriedade pública e as áreas específicas dentro</p><p>de seus limites devem ser expropriadas de acordo com as disposições da</p><p>lei. A visitação pública pode ser permitida e a caça amadora ou profissional</p><p>é proibida;</p><p>f. Reserva de Desenvolvimento Sustentável: área natural contendo populações</p><p>tradicionais cuja existência é baseada em sistemas sustentáveis de exploração</p><p>dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às</p><p>condições ecológicas locais, e que desempenham um papel fundamental na</p><p>proteção da natureza e manutenção da diversidade biológica. Esta categoria</p><p>de área tem como objetivo primordial preservar a natureza e, ao mesmo</p><p>tempo, assegurar as condições e meios necessários para a reprodução e</p><p>melhoria dos modos de vida, bem-estar e aproveitamento dos recursos naturais</p><p>das populações tradicionais, bem como valorizar, conservar e aprimorar os</p><p>conhecimentos e as técnicas de gestão ambiental desenvolvidos por essas</p><p>populações;</p><p>g. Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN): área particular, criada por</p><p>iniciativa do proprietário, tombada em caráter perpétuo, com a finalidade de</p><p>conservar a diversidade biológica. Nesta categoria de área de conservação são</p><p>permitidas a pesquisa científica e a visitação com fins turísticos, recreativos</p><p>e educativos.</p><p>ISTO ESTÁ NA REDE</p><p>No dia 31 de Janeiro, é comemorado o Dia Nacional das Reservas Particulares do</p><p>Patrimônio Natural (RPPN). Entre seus benefícios ao meio ambiente, as RPPNs</p><p>ajudam na proteção da biodiversidade local e auxiliam na expansão das áreas</p><p>protegidas no país.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 178</p><p>As reservas particulares fazem parte do Sistema Nacional de Unidades de</p><p>Conservação (SNUC) e podem ser direcionadas a atividades de pesquisas científicas</p><p>e visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais, conforme previsto</p><p>no seu plano de manejo.</p><p>De acordo com dados da Confederação Nacional de RPPNs, existem atualmente</p><p>1.802 reservas dessa categoria no território nacional, totalizando cerca de 821</p><p>mil hectares. Diferentemente das concessões de unidades de conservação</p><p>públicas - como as que foram anunciadas recentemente pelo Banco Nacional de</p><p>Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em parceria com seis Estados -</p><p>as RPPNs são terras particulares transformadas em UCs, mas cuja titularidade</p><p>continua sendo de proprietários privados.</p><p>Por meio da criação e gestão de RPPNs, muitas empresas oferecem sua parcela de</p><p>contribuição efetiva para a preservação da natureza. A Fundação Grupo Boticário é</p><p>um exemplo desse engajamento do setor privado com a conservação dos recursos</p><p>naturais e proteção à biodiversidade. A instituição mantém desde 1994 a Reserva</p><p>Natural Salto Morato (RNSM), localizada em Guaraqueçaba, no litoral do Paraná. A</p><p>reserva contribui para a conservação de 2.253 hectares de Mata Atlântica, sendo</p><p>reconhecida pela Unesco como Patrimônio Natural da Humanidade.</p><p>Fonte: SEGS</p><p>12.2 Código Florestal</p><p>Com seus vastos recursos naturais ricos em biodiversidade, água doce e estoque</p><p>de carbono, e seu crescente setor agrícola, o Brasil tem tomado decisões importantes</p><p>sobre o uso da terra ao longo dos últimos anos.</p><p>Para equilibrar a produtividade agrícola com a proteção ambiental com sucesso,</p><p>o Brasil deve usar suas terras disponíveis de forma eficiente. O Código Florestal</p><p>Brasileiro representa um dos principais instrumentos para atingir esse objetivo. Ele</p><p>impõe requisitos de uso da terra para preservar a vegetação nativa em terras privadas.</p><p>Em 1934 o Brasil aprovou seu primeiro Código Florestal, motivado mais pela exigência</p><p>de regular as atividades madeireiras do que de proteger os benefícios ambientais das</p><p>florestas. Uma outra versão do código foi promulgada em 1965, o que aumentou a</p><p>proteção florestal substancialmente; no entanto, a aplicação dessas regras mais duras</p><p>definhou. Somente na década de 1990 os poderes executivo e judiciário do Brasil</p><p>começaram a aplicar o Código Florestal.</p><p>A fiscalização mais rígida frustrou muitos dos produtores rurais que queriam</p><p>desmatar e administrar suas terras sem interferência do governo. Isso estimulou um</p><p>debate nacional sobre a revisão do Código Florestal novamente. Após mais de uma</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 179</p><p>década de intensa disputa e após concessões de ambientalistas e produtores rurais,</p><p>o novo Código Florestal foi promulgado em 2012, com a mesma estrutura e conceitos</p><p>básicos do código antigo, mas oferecendo maior clemência para áreas desmatadas</p><p>antes de julho de 2008. Somado a isso, também trouxe luz a dois importantes conceitos</p><p>aplicados à área ambiental: Área de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal</p><p>(RL).</p><p>12.2.1 Proteção das Nascentes</p><p>As paisagens icônicas da região de florestas tropicais, florestas de nuvens</p><p>montanhosas, pastagens de alta altitude e pântanos não perturbados desempenham</p><p>um papel crucial na prestação de serviços hidrológicos que sustentam a segurança</p><p>hídrica, assim como contribuem para a variação espacial no abastecimento e qualidade</p><p>da água. As florestas da região ajudam a manter a qualidade da água estabilizando</p><p>os solos, reduzindo a erosão</p><p>e filtrando os poluentes.</p><p>As florestas também influenciam a quantidade de água local e regional. Localmente,</p><p>as florestas podem afetar a infiltração, as taxas de escoamento, as vazões de pico</p><p>e as vazões da estação seca (ARAÚJO et al., 2009). Embora os efeitos da cobertura</p><p>florestal na produção de água sejam complexos, as florestas nubladas desempenham</p><p>um papel único ao coletar a umidade das nuvens e neblina, e têm um efeito positivo</p><p>no aumento do suprimento de água, pois a interceptação da água nas nuvens pode</p><p>representar de 10% a 35% da precipitação total (CALIJURI e CUNHA, 2013).</p><p>Essa riqueza em recursos hídricos está, no entanto, altamente ameaçada.</p><p>Urbanização, desmatamento, expansão agrícola e poluição estão ameaçando esses</p><p>ecossistemas que fornecem valiosos serviços hidrológicos. As taxas de desmatamento</p><p>na maioria dos tipos de floresta na região continuam a acelerar (CALIJURI e CUNHA,</p><p>2013). O Global Wetland Outlook (CALIJURI e CUNHA, 2013) estima que, na América</p><p>Latina, cerca de 60% das áreas úmidas históricas foram perdidas e 70% das áreas</p><p>úmidas remanescentes da região estão ameaçadas. A poluição da água em quase</p><p>todos os rios da região piorou desde 1990, e níveis severos de poluição por patógenos</p><p>afetam um terço dos rios da região.</p><p>Neste cenário, esforços são necessários para buscar de alguma forma atenuar os</p><p>problemas relacionados à quantidade e qualidade da água. E isso deve começar desde</p><p>a fonte da água. A proteção e gestão das fontes de água podem ser divididas em quatro</p><p>categorias: critérios de qualidade da água, avaliações das fontes de água, medidas</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 180</p><p>preventivas para lidar com fontes de contaminação e planejamento de contingência. No</p><p>Brasil, há regulamentações que abrangem as quatro vertentes; neste tópico, porém, uma</p><p>ênfase maior será dada aos programas de avaliação e proteção de água de nascente.</p><p>De acordo com a Resolução CONAMA nº 303, entende-se por nascente ou olho</p><p>d’água: “local onde aflora naturalmente, mesmo que de forma intermitente, a água</p><p>subterrânea” (BRASIL, 2002).</p><p>Há quase duas décadas, o Brasil decidiu reformar o setor de recursos hídricos para</p><p>aumentar sua eficiência, reduzindo custos e promovendo o desenvolvimento. Com</p><p>forte cooperação dos profissionais de recursos hídricos, o governo brasileiro abriu</p><p>a discussão sobre o que deveria ser a política hídrica do país em 1984. A grande</p><p>mudança veio em 1997, com a promulgação da Lei Nacional de Gestão de Recursos</p><p>Hídricos, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos Política e o Sistema</p><p>Nacional de Gestão de Recursos Hídricos (BRASIL, 1997).</p><p>Tal legislação, aliada a outras legislações nacionais, reforçam a proteção da água da</p><p>fonte, exigindo que cada estado desenvolva e implemente um programa de avaliação</p><p>da água da fonte (BRASIL, 1997). Uma avaliação da fonte de água delineia a área de</p><p>terra que mais diretamente contribui com água bruta para o abastecimento de água</p><p>potável e avalia potenciais fontes de contaminação. As informações coletadas são</p><p>usadas para determinar o quão suscetível a nascente é a ameaças de contaminação.</p><p>Os custos de tratamento de água são reduzidos priorizando formas de proteger e</p><p>minimizar a contaminação das águas subterrâneas e superficiais. Estados e municípios</p><p>são obrigados a disponibilizar ao público um resumo dos resultados da avaliação.</p><p>Figura 2 – Nascente</p><p>Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nascente_de_%C3%A1gua_doce.jpg</p><p>https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nascente_de_%C3%A1gua_doce.jpg</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 181</p><p>Em 2012 foi definido que deveria ser necessário destinar áreas para proteção a</p><p>nascentes. Essas áreas foram batizadas de Áreas de Preservação Permanente (APP).</p><p>De acordo com a Lei 12.651, Art. 2º, item II, entende-se por APP uma “área protegida,</p><p>coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos</p><p>hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico</p><p>de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”</p><p>(BRASIL, 2012).</p><p>Dentro deste contexto, a proteção das nascentes foi contemplada no Art. 3, item IV,</p><p>como sendo “as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer</p><p>que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros” (BRASIL,</p><p>2012).</p><p>Figura 3 – Área de Proteção Permanente (APP) em Nascente</p><p>Fonte: Vessoni (2019, p. 15)</p><p>ISTO ACONTECE NA PRÁTICA</p><p>Para muitas cidades, o desenvolvimento existente e a propriedade da terra impedem</p><p>a reserva de grandes áreas de bacias hidrográficas de origem, de modo que são</p><p>necessárias colaborações mais complexas entre usuários de água a jusante e</p><p>gestores de terras a montante, como no caso pioneiro Conservador das Águas –</p><p>Extrema - MG. Ameaças emergentes das mudanças climáticas, como a incerteza</p><p>sobre o abastecimento futuro de água e o aumento da frequência e gravidade dos</p><p>incêndios florestais, significam que a proteção passiva das bacias hidrográficas por</p><p>si só, mesmo quando possível, não é mais suficiente.</p><p>Fonte: Jardim e Bursztyn (2015).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 182</p><p>À medida que os gestores hídricos avaliam o estado da infraestrutura natural e</p><p>dos serviços hidrológicos críticos, os riscos de perda dessa infraestrutura e as ações</p><p>necessárias para protegê-la ou restaurá-la, se expande o conjunto tradicional de</p><p>ameaças e riscos avaliados na proteção de mananciais. Isso, por sua vez, leva em</p><p>consideração como os riscos climáticos e a perda de funções do ecossistema, como</p><p>o aumento dos riscos de incêndios florestais ou a perda de áreas úmidas de várzea,</p><p>representam ameaças às fontes de água.</p><p>Como resultado, nas últimas décadas, a proteção da água nas fontes evoluiu em</p><p>novas direções, à medida que a importância da segurança hídrica na gestão sustentável</p><p>dos ecossistemas por meio da proteção das nascentes é cada vez mais reconhecida</p><p>(JARDIM e BURSZTYN, 2015). Isso está começando a mudar as abordagens tradicionais</p><p>– a saúde da infraestrutura natural que está fornecendo serviços hidrológicos torna-se</p><p>a primeira questão, não apenas para proteger a qualidade da água bruta, mas também</p><p>para a segurança presente e futura de todo o sistema de água de uma concessionária</p><p>ou município – da fonte para distribuição.</p><p>12.2.2 Reserva Legal</p><p>A legislação ambiental brasileira (BRASIL, 2012) obriga os proprietários de terras</p><p>a manter uma quantidade fixa de vegetação nativa em partes de sua propriedade, as</p><p>chamadas “Reservas Legais”. O principal objetivo dessas áreas é garantir a conservação</p><p>da biodiversidade, a prestação de múltiplos serviços ecossistêmicos e o uso sustentável</p><p>dos recursos naturais nas propriedades rurais. As Reservas Legais podem ser usadas</p><p>economicamente desde que a vegetação natural seja mantida ou restaurada (BRASIL,</p><p>2012). A exigência de Reserva Legal na proporção da propriedade varia de 80% para</p><p>vegetação florestal na Amazônia a 35% na transição entre Amazônia e Cerrado e</p><p>20% nas demais regiões (Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pantanal e Pampa). Essa</p><p>obrigação de proteger a vegetação natural em propriedades particulares existe na</p><p>legislação ambiental brasileira desde o Código Florestal de 1934.</p><p>O aumento das taxas de desmatamento na Amazônia no início do século XXI (INPE,</p><p>2011) desencadeou esforços para fortalecer a eficácia do Código Florestal. Uma das</p><p>medidas implementadas foi o Decreto Federal n. 6.514/2008, que revogou o decreto</p><p>anterior e aumentou a severidade das multas aplicadas àqueles que descumprissem</p><p>as exigências do APP e da LR (BRASIL, 2008). Essas medidas desagradaram o setor</p><p>rural e, aliadas às reduções futuras da taxa de desmatamento na Amazônia e à alta</p><p>valorização</p><p>do agronegócio, resultaram na revisão da CF, que foi promulgada pela Lei</p><p>Federal nº 12.651 de 2012 (BRASIL, 2012).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 183</p><p>O Código Florestal 2012 foi elaborado com base no consenso de que as versões</p><p>anteriores tiveram pouco impacto no uso da terra, como evidenciado pelos grandes</p><p>déficits de vegetação nativa em áreas que deveriam ter sido protegidas. É necessária</p><p>uma solução para as áreas que não cumpriram a lei e para evitar novos passivos</p><p>ambientais. Assim, o CF de 2012 preservou as exigências de conservação das RLs -</p><p>com permissão para reduzir as RLs a 50% no estado da Amazônia com aprovação de</p><p>Zona Econômica Exclusiva (ZEE), e aqueles com mais de 65% do território ocupado</p><p>por UCs - e adotou novas medidas visando aumentar o cumprimento da lei, incluindo:</p><p>• Cadastro Ambiental Rural (CAR);</p><p>• Requisitos de redução de restauração para áreas protegidas; e</p><p>• Cota de Reserva Ambiental (CRA).</p><p>O CAR é um sistema de registro eletrônico obrigatório que integra as informações</p><p>georreferenciadas de todas as propriedades rurais do Brasil. Os dados do CAR incluem</p><p>a localização e demarcação das áreas protegidas, e o registro no CAR dispensa o</p><p>registro notarial, permitindo que todos os produtores se qualifiquem para a inclusão</p><p>da APP no cálculo da RL. O novo Código Florestal previu que, a partir de 2017, todos</p><p>os proprietários rurais teriam acesso ao crédito rural apenas nos casos em que seus</p><p>dados constarem no CAR.</p><p>Após o cadastramento, os proprietários podem aderir ao Programa de Regularização</p><p>Ambiental (PRA), mediante apresentação de proposta simplificada com prazos e</p><p>condições para a correção do déficit ambiental. Esta proposta não exige a contratação</p><p>de pessoal técnico. A adesão ao PRA também envolve a assinatura de um termo</p><p>de suspensão das infrações relativas à supressão de APP e LR até 22 de julho de</p><p>2008. O cumprimento desse termo, por sua vez, converte tais infrações em serviços</p><p>de melhoria ambiental. O CAR tem potencial para se tornar a principal estratégia do</p><p>Brasil para monitoramento e planejamento ambiental.</p><p>Os imóveis rurais com atividade antrópica consolidada e área até quatro módulos</p><p>fiscais (MF) em 22 de julho de 2008 foram dispensados da obrigatoriedade de</p><p>recomposição das áreas desmatadas na RL; isso incluiu 90% das propriedades</p><p>rurais do país com área entre 20 e 440 hectares. Proprietários de imóveis rurais que</p><p>efetuaram desmatamentos respeitando os percentuais de RL exigidos pela lei à época</p><p>da supressão também ficaram isentos dessa exigência. A área a ser restaurada no</p><p>Brasil diminuiu de 50±6 para 21±1 milhões de hectares, dos quais 78% continham</p><p>RLs (PACHECO, 2017).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 184</p><p>Assim, a CF optou por reduzir a exigência de RL para facilitar o cumprimento da</p><p>lei, mesmo que isso significasse renunciar os benefícios ambientais oferecidos por</p><p>sua completa restauração e contribuir para a “cultura da astúcia” ao desvalorizar os</p><p>proprietários que respeitaram os requisitos legais pertinentes.</p><p>12.2.3 Proteção da Mata Ciliar</p><p>O uso da terra está diretamente relacionado à disponibilidade de água. Assim, é</p><p>de extrema importância considerar as diferentes formas de uso do solo na gestão</p><p>das bacias hidrográficas, uma vez que afetam de forma favorável ou desfavorável a</p><p>qualidade e a disponibilidade da água (CALIJURI e CUNHA, 2013).</p><p>A mata ciliar é uma parte do ecossistema florestal adjacente a rios ou córregos, que</p><p>influencia diretamente o sistema aquático e a fauna. O termo ribeirinho foi originado do</p><p>termo “ripa”, que se refere às margens de rios, lagoas ou lagos da paisagem circundante</p><p>(CALIJURI e CUNHA, 2019). A área ribeirinha é encontrada entre o ecossistema fluvial</p><p>e terrestre. Também é conhecida como mata de galeria e mata ciliar que desempenha</p><p>várias funções, como sombreamento para reduzir a produtividade primária, ciclagem</p><p>de carbono (C), produção de biomassa, habitat para animais e estabilização da área</p><p>da margem do rio (CALIJURI e CUNHA, 2019). A Mata Ciliar fornece diversos recursos</p><p>ao organismo vivo, como disponibilidade de água, nutrientes e minerais. A distribuição</p><p>das espécies é influenciada pela disponibilidade de água, bem como pela interação</p><p>entre as espécies em vários níveis tróficos sob as teias alimentares terrestres.</p><p>No Brasil, a Lei nº 12651 define mata ciliar (expresso na lei na forma de APP) como</p><p>sendo:</p><p>I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e</p><p>intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do</p><p>leito regular, em largura mínima de: a) 30 (trinta) metros, para</p><p>os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura; b) 50</p><p>(cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez)</p><p>a 50 (cinquenta) metros de largura; c) 100 (cem) metros, para os</p><p>cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos)</p><p>metros de largura; d) 200 (duzentos) metros, para os cursos</p><p>d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros</p><p>de largura; e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que</p><p>tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros;</p><p>II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com</p><p>largura mínima de: a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto</p><p>para o corpo d’água com até 20 (vinte) hectares de superfície,</p><p>cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros; b) 30 (trinta)</p><p>metros, em zonas urbanas (BRASIL, 2012).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 185</p><p>A vegetação ciliar protege os cursos d’água e a fauna associada e mantém a pureza</p><p>dos ecossistemas regionais (CALIJURI e CUNHA, 2013). As atividades antrópicas</p><p>resultam na fragmentação da floresta e isolamento dos corredores em pequenas</p><p>manchas, resultando na perturbação dos serviços ecossistêmicos prestados pelo</p><p>tampão ciliar e também leva à destruição de habitats e perda de biodiversidade.</p><p>O declínio dos serviços ecossistêmicos por atividades antrópicas criou o ecossistema</p><p>mais danificado e degradado do mundo (CALIJURI e CUNHA, 2013). O teor de matéria</p><p>orgânica no solo, o transporte do solo, o manejo de nutrientes, etc. que gerenciam a</p><p>qualidade da água são afetados por corredores ciliares. A integridade dos corredores</p><p>ribeirinhos é muito importante para fornecer diferentes serviços ecossistêmicos, como</p><p>qualidade da água e habitat para a vida selvagem (CALIJURI e CUNHA, 2013).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 186</p><p>CAPÍTULO 13</p><p>RECURSOS ENERGÉTICOS</p><p>O desenvolvimento econômico dos países e o crescimento populacional levaram</p><p>a um aumento da demanda energética mundial. Para lidar com uma questão tão</p><p>importante e complexa, o lado da oferta de energia precisa aumentar a geração de</p><p>energia com bases sustentáveis. A transição e o planejamento energético de cada</p><p>país são bastante importantes para ações estratégicas e formulação de políticas</p><p>públicas que possam contribuir para o desenvolvimento de uma matriz energética</p><p>mais renovável e sustentável.</p><p>Nesta unidade, iremos compreender as questões que envolvem a matriz energética</p><p>brasileira, a distinção entre energias não renováveis e renováveis, as políticas públicas</p><p>voltadas a questões energéticas e os aspectos legais que envolvem a geração e</p><p>distribuição de energia elétrica no país.</p><p>13.1 Matriz Nacional Energética</p><p>A matriz energética pode ser considerada uma determinada quantidade de fontes</p><p>de energia disponíveis em uma região (CALIJURI e CUNHA, 2013), sendo assim, é</p><p>composta pelos recursos energéticos locais. Por meio da análise da matriz energética, é</p><p>possível planejar o setor energético, que é responsável por garantir a produção e o uso</p><p>adequados de toda a energia produzida. Nesse processo, dentre todas as informações</p><p>obtidas,</p><p>de obra e serviço técnico;</p><p>• Vistoria, perícia, avaliação, arbitramento, laudo e parecer técnico;</p><p>• Desempenho de cargo e função técnica;</p><p>• Ensino, pesquisa, análise, experimentação, ensaio e divulgação técnica;</p><p>• Extensão;</p><p>• Elaboração de orçamento;</p><p>• Padronização, mensuração e controle de qualidade;</p><p>• Execução de obra e serviço técnico;</p><p>• Fiscalização de obra e serviço técnico;</p><p>• Produção técnica e especializada;</p><p>• Condução de trabalho técnico; e</p><p>• Execução de desenho técnico.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 20</p><p>É importante salientar que a execução desses serviços, regulados pelos órgãos</p><p>de classe, são acompanhados de um documento chamado de Anotação de</p><p>Responsabilidade Técnica – ART. Em termos legais, a ART é um documento que define</p><p>as responsabilidades técnicas envolvidas em uma determinada atividade, projeto ou</p><p>serviço. A emissão da ART só se faz possível mediante a regularização da atividade</p><p>profissional junto ao CREA, seja pessoa jurídica ou física.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 21</p><p>CAPÍTULO 2</p><p>FUNDAMENTOS ECOLÓGICOS</p><p>A Ecologia é o estudo das interações dos organismos vivos com o meio ambiente.</p><p>Dentro da disciplina de ecologia, os pesquisadores trabalham em quatro níveis</p><p>específicos, às vezes discretamente e às vezes com sobreposição. Esses níveis são</p><p>organismo, população, comunidade e ecossistema. Em ecologia, os ecossistemas</p><p>são compostos de partes que interagem dinamicamente, que incluem organismos, as</p><p>comunidades que compõem e os componentes não vivos (abióticos) de seu ambiente</p><p>(BOTKIN e KELLER, 2011). Os processos do ecossistema, como produção primária,</p><p>pedogênese (a formação do solo), ciclagem de nutrientes e várias atividades de</p><p>construção de nicho, regulam o fluxo de energia e matéria através de um ambiente.</p><p>Esses processos são sustentados por organismos com características específicas</p><p>de história de vida. A variedade de organismos, chamada biodiversidade, se refere às</p><p>diferentes espécies, genes e serviços ecossistêmicos.</p><p>Figura 1 - Níveis de estudo ecológico</p><p>Fonte: Autor (2023)</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 22</p><p>Em essência, a ecologia investiga condições e influências que buscam explicar:</p><p>• Processos e ciclos da vida;</p><p>• Interações, inter-relações, comportamentos e adaptações de organismos;</p><p>• O movimento de materiais e energia através de comunidades vivas;</p><p>• O desenvolvimento sucessional de ecossistemas;</p><p>• A abundância e distribuição de organismos e biodiversidade no contexto do</p><p>ambiente.</p><p>Existem muitas aplicações práticas da ecologia na Engenharia Ambiental e Sanitária,</p><p>incluindo o manejo de zonas úmidas, manejo de recursos naturais (agroecologia,</p><p>agricultura, silvicultura, agrofloresta, pesca), planejamento urbano (ecologia urbana),</p><p>saúde comunitária, economia, ciência básica e aplicada e interação social humana.</p><p>Organismos e recursos compreendem ecossistemas que, por sua vez, mantêm</p><p>mecanismos biofísicos de retroalimentação que moderam os processos que atuam</p><p>sobre os componentes vivos (bióticos) e não vivos (abióticos) do planeta (CALIJURI</p><p>e CUNHA, 2013). Os ecossistemas sustentam funções de suporte à vida e produzem</p><p>capital natural, como biomassa (alimentos, combustíveis, fibras e remédios), regulação</p><p>do clima, ciclos biogeoquímicos globais, filtragem de água, formação de solo, controle</p><p>de erosão, proteção contra inundações e muitos outros recursos naturais (BOTKIN e</p><p>KELLER, 2011).</p><p>Existem também muitas subcategorias de ecologia, como ecologia de ecossistema,</p><p>ecologia animal e ecologia vegetal, que analisam as diferenças e semelhanças de</p><p>várias plantas em vários climas e habitats. Além disso, a ecologia fisiológica, ou</p><p>ecofisiologia, estuda as respostas do organismo individual ao ambiente, enquanto a</p><p>ecologia populacional examina as semelhanças e diferenças das populações e como</p><p>elas se substituem ao longo do tempo.</p><p>Por fim, é importante observar que ecologia não é sinônimo de meio ambiente,</p><p>ambientalismo, história natural ou ciência ambiental. Também é diferente, embora</p><p>intimamente relacionado, com os estudos de biologia evolutiva, genética e etologia</p><p>(BOTKIN e KELLER, 2011).</p><p>2.1 Ecologia dos Ecossistemas</p><p>A vida em um ecossistema geralmente envolve competição por recursos limitados,</p><p>uma característica da teoria da seleção natural. A competição em comunidades</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 23</p><p>(todos os seres vivos dentro de habitats específicos) é observada tanto dentro das</p><p>espécies quanto entre diferentes espécies. Os recursos pelos quais os organismos</p><p>competem incluem material orgânico de organismos vivos ou previamente vivos, luz</p><p>solar e nutrientes minerais, que fornecem a energia para os processos vivos e a</p><p>matéria para compor as estruturas físicas dos organismos. Outros fatores críticos que</p><p>influenciam a dinâmica da comunidade são os componentes de seu ambiente físico e</p><p>geográfico: latitude de um habitat, quantidade de chuva, topografia (elevação) e espécies</p><p>disponíveis. Todas essas são variáveis ambientais importantes que determinam quais</p><p>organismos podem existir em uma área específica (CALIJURI e CUNHA, 2013).</p><p>Um ecossistema é uma comunidade de organismos vivos e suas interações com</p><p>seu ambiente abiótico (não vivo). Os ecossistemas podem ser pequenos, como as</p><p>poças de maré encontradas perto das costas rochosas de muitos oceanos, ou grandes,</p><p>como a Floresta Amazônica (Figura 2).</p><p>Figura 2 – Floresta Amazônica</p><p>Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/amazon-amaz%c3%b4nia-floresta-natureza-4769367/</p><p>Os ecossistemas são complexos com muitas partes que interagem. Eles estão</p><p>rotineiramente expostos a vários distúrbios ou mudanças no ambiente que afetam</p><p>suas composições: variações anuais de chuva e temperatura e processos mais lentos</p><p>de crescimento das plantas, que podem levar vários anos. Muitos desses distúrbios</p><p>são resultado de processos naturais. Por exemplo, quando um raio causa um incêndio</p><p>florestal e destrói parte de um ecossistema florestal, o solo é eventualmente povoado por</p><p>https://pixabay.com/pt/photos/amazon-amaz%c3%b4nia-floresta-natureza-4769367/</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 24</p><p>gramíneas, depois por arbustos e, posteriormente, por árvores maduras, restaurando a</p><p>floresta ao seu estado anterior. O impacto das perturbações ambientais causadas pelas</p><p>atividades humanas é tão importante quanto as mudanças provocadas pelos processos</p><p>naturais. Práticas agrícolas humanas, poluição do ar, chuva ácida, desmatamento</p><p>global, pesca predatória, eutrofização, derramamento de óleo etc.</p><p>Equilíbrio é o estado estacionário de um ecossistema onde todos os organismos</p><p>estão em equilíbrio com seu ambiente e uns com os outros. Na ecologia, dois</p><p>parâmetros são usados para medir as mudanças nos ecossistemas: resistência e</p><p>resiliência. A capacidade de um ecossistema de permanecer em equilíbrio, apesar</p><p>das perturbações, é chamada de resistência. A velocidade com que um ecossistema</p><p>recupera o equilíbrio após ser perturbado é chamada de resiliência. A resistência e</p><p>a resiliência do ecossistema são especialmente importantes quando se considera o</p><p>impacto humano (TOWSEND, BEGON e HARPER, 2006). A natureza de um ecossistema</p><p>pode mudar a tal ponto que pode perder totalmente sua resiliência. Este processo</p><p>pode levar à destruição completa ou alteração irreversível do ecossistema.</p><p>ISTO ACONTECE NA PRÁTICA</p><p>O Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro se estende por cerca de 78.302 hectares</p><p>nos municípios de Aquidauana e Corumbá, no estado brasileiro do Mato Grosso do</p><p>Sul. Essa reserva protegida, parte do Pantanal, é formada por um labirinto de mangues,</p><p>lagoas e</p><p>a mais importante é a quantidade de recursos naturais que estão sendo</p><p>utilizados, verificando assim se estes estão sendo utilizados de forma racional, algo</p><p>de extrema importância para o estabelecimento de políticas que promovam qualidade</p><p>de vida à população.</p><p>Considerando a grande capacidade de geração de combustíveis fósseis, o Brasil,</p><p>assim como outros países, aproveita a produção de energia por meio da eletricidade.</p><p>A matriz elétrica brasileira vem passando por diversas modificações nos últimos anos,</p><p>sendo ainda amplamente dominada pela energia hidrelétrica, que é a maior fonte</p><p>geradora do Brasil, correspondendo a cerca de 70% da potência instalada (EPE, 2021).</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 187</p><p>Porém, a matriz elétrica também é composta por outras energias renováveis, como a</p><p>solar, eólica, de biomassa e hídrica, que são as mais exploradas no Brasil.</p><p>O cenário energético atual, analisado sob uma perspectiva global, ainda é baseado</p><p>no consumo de fontes não renováveis, como combustíveis fósseis como petróleo,</p><p>carvão e gás natural. Porém, por serem energias não renováveis, a maioria delas</p><p>tem uma reserva limitada, e, com uma demanda maior por essas energias, a oferta</p><p>diminui drasticamente. Além disso, durante seu consumo, esses recursos emitem</p><p>gases nocivos à atmosfera (CALIJURI e CUNHA, 2013).</p><p>A estratégia para os próximos anos foca na busca de uma matriz energética dita</p><p>limpa, que gere toda ou a maior parte de sua energia por meio de fontes renováveis.</p><p>Isso promoverá o uso mais eficiente da energia em diversos setores da sociedade e</p><p>também a diversificação de sua matriz energética (GOLDEMBERG e COELHO, 2004).</p><p>Figura 1 – Matriz Energética Brasileira</p><p>Fonte: Adaptado de EPE (2021)</p><p>A partir dos dados da Figura 1, é possível observar que a matriz energética brasileira</p><p>é composta por fontes de energia renováveis e não renováveis. As fontes de energia</p><p>não renováveis representam cerca de 53,9%, sendo as fontes de energia derivadas do</p><p>petróleo e do gás natural as que mais se destacam neste setor. Por sua vez, as fontes</p><p>renováveis de energia compõem o restante dessa matriz, com 46,1%, com destaque</p><p>para as fontes de energia derivadas da cana-de-açúcar e da água.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 188</p><p>ISTO ESTÁ NA REDE</p><p>O Brasil tem caminhado de forma positiva para alcançar marcas históricas em</p><p>relação à geração de energia a partir de fontes renováveis. A participação do setor</p><p>eólico, solar e de biomassa na operação energética brasileira atingiu, em 2022, o</p><p>maior patamar já registrado ao longo da série histórica: 92%.</p><p>Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2023-02/brasil-bate-recorde-em-geracao-de-energia-renovavel</p><p>13.2 Recursos Renováveis e não renováveis</p><p>Os recursos energéticos não renováveis são o tipo especial de recursos energéticos</p><p>que podem eventualmente esgotar-se com o passar do tempo. As duas classes mais</p><p>comuns e principais de recursos energéticos não renováveis são (1) os combustíveis</p><p>nucleares e (2) os combustíveis fósseis. O mecanismo por trás da formação de todos</p><p>os tipos de combustíveis fósseis é quase o mesmo. Segundo estimativas, há 100</p><p>milhões de anos, antes mesmo da existência dos dinossauros, a paisagem da Terra era</p><p>bem diferente. A Terra era encontrada coberta por florestas pantanosas, mares mais</p><p>largos e oceanos rasos. O plâncton, as algas e as plantas absorveram a luz do Sol,</p><p>criaram energia por meio da fotossíntese e cresceram nessas antigas zonas úmidas.</p><p>Quando esses organismos morreram, eles foram para o fundo do lago ou do mar. Após</p><p>o despejo prolongado, sob temperatura extremamente alta e alta pressão, os corpos</p><p>mortos e em decomposição de plantas e animais eventualmente se transformaram</p><p>em combustíveis fósseis, usados convencionalmente, como óleo de petróleo, carvão</p><p>e gás natural. Ainda hoje, existem enormes “reservatórios subterrâneos”, também</p><p>chamados de “bolsões subterrâneos”, para o armazenamento de recursos energéticos</p><p>não renováveis do mundo.</p><p>Os combustíveis fósseis são uma valiosa fonte de energia. Os combustíveis fósseis</p><p>são extraídos a custos relativamente baratos e são fáceis de ser armazenados,</p><p>transportados ou canalizados. No entanto, a queima de combustíveis fósseis tem</p><p>diversos efeitos nocivos ao meio ambiente. A queima de petróleo e carvão é conhecida</p><p>por liberar partículas que podem poluir a terra, o ar e a água.</p><p>De acordo com os conceitos recentes, o “orçamento de carbono da Terra” é usado</p><p>para equilibrar o conteúdo natural de carbono dos oceanos, mares, atmosfera e</p><p>terra, incluindo a queima de combustíveis fósseis convencionais. Os combustíveis</p><p>fósseis usados convencionalmente liberam grande quantidade de dióxido de carbono</p><p>na atmosfera (Figura 2), devido à sua queima excessiva, contribuindo assim para</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 189</p><p>o “efeito estufa” e o “aquecimento global”. O efeito estufa depende principalmente</p><p>do balanço de carbono do ecossistema, essencial para sustentar todas as formas</p><p>de vida no planeta. Os combustíveis fósseis são os principais reservatórios para</p><p>armazenamento e sequestro de conteúdos de carbono, sob a superfície da Terra,</p><p>há milhões de anos. Devido à extração do carbono armazenado na terra, ele entra</p><p>na atmosfera, desequilibrando assim o balanço de carbono. Como resultado desse</p><p>processo, a temperatura média da Terra começa a aumentar, muito mais rápido do</p><p>que a taxa de adaptação dos organismos vivos.</p><p>Figura 2 – Matriz Energética Brasileira</p><p>Fonte: IPCC (2019)</p><p>Na progressão da lenha para o carvão e depois para o gás, novas alternativas de</p><p>energia evoluíram continuamente como substitutos de tipos de energia mais antigos</p><p>com base em suas vantagens inerentes. A nova revolução energética, pautada em fontes</p><p>de baixa emissão de CO2, representa uma escolha feita de acordo com a tendência</p><p>de desenvolvimento energético para a sustentabilidade da sociedade humana, em</p><p>meio a esforços contínuos para lidar com os problemas de fornecimento de energia,</p><p>mudanças climáticas e poluição ambiental (HEINRICHS e MARTENS, 2016).</p><p>As crescentes preocupações relacionadas aos impactos ambientais da produção e</p><p>uso de energia, bem como a natureza limitada dos combustíveis tradicionais, tornaram</p><p>cada vez mais óbvio que “mais do mesmo” não é uma solução satisfatória para enfrentar</p><p>os desafios críticos relacionados ao nosso crescente consumo de energia. Muitas das</p><p>reservas de combustível tradicionais globais estão sendo totalmente usadas, e a exaustão</p><p>da fonte está aumentando o custo dos suprimentos restantes. Estudos argumentam</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 190</p><p>que a indústria global de petróleo atingirá o máximo no futuro próximo, enquanto</p><p>outros se opõem a essa noção e afirmam que os avanços tecnológicos continuarão</p><p>disponibilizando novas reservas (NOROUZI, FANI e ZIARANI, 2020). Podemos aumentar</p><p>nosso suprimento de energia com recursos e tecnologias alternativas com impactos</p><p>ambientais negativos reduzidos.</p><p>ANOTE ISSO</p><p>Os sistemas de energia limpa podem resolver esses desafios de maneira confiável</p><p>e acessível. A energia limpa oferece soluções potenciais de sustentabilidade para</p><p>enfrentar os desafios críticos mencionados até agora. Os sistemas de energia</p><p>limpa melhoram (1) a eficiência do sistema, (2) a utilização de recursos, (3) a</p><p>acessibilidade, (4) a proteção ambiental, (5) a segurança energética, (6) a análise de</p><p>desempenho e (7) o projeto do sistema.</p><p>Os sistemas de energia limpa fornecem soluções potenciais por meio de uma</p><p>abordagem Fonte-Sistema-Serviço, que exige que tarefas específicas sejam realizadas</p><p>para construir uma infraestrutura totalmente e verdadeiramente limpa,</p><p>mata submersa. Contudo, em 2021, o bioma foi fortemente castigado por</p><p>incêndios florestais, o que comprometeu drasticamente as atividades do ecossistema.</p><p>Um estudo conduzido pela World Wide Fund – WWF Brasil mostrou, porém, que</p><p>algumas espécies conseguiram sobreviver ao período conturbado, demonstrando</p><p>elevada capacidade de resiliência. Saiba mais acessando a publicação disponível aqui:</p><p>https://www.institutoararaazul.org.br/wp-content/uploads/2022/05/31.-Guedes-et-al-</p><p>2021-Araras-sobrevivem-ao-fogo-e-sa%CC%83o-esperanc%CC%A7a-Revista-Ciencia-</p><p>Pantanal-p.36-abr21.pdf</p><p>2.1.1 Cadeias e Teias Alimentares</p><p>Em ecologia, uma cadeia alimentar é uma sequência linear de organismos através</p><p>dos quais passam nutrientes e energia: produtores primários, consumidores primários</p><p>e consumidores de nível superior são usados para descrever a estrutura e a dinâmica</p><p>do ecossistema. Existe um único caminho através da cadeia. Cada organismo em</p><p>https://www.institutoararaazul.org.br/wp-content/uploads/2022/05/31.-Guedes-et-al-2021-Araras-sobrevivem-ao-fogo-e-sa%CC%83o-esperanc%CC%A7a-Revista-Ciencia-Pantanal-p.36-abr21.pdf</p><p>https://www.institutoararaazul.org.br/wp-content/uploads/2022/05/31.-Guedes-et-al-2021-Araras-sobrevivem-ao-fogo-e-sa%CC%83o-esperanc%CC%A7a-Revista-Ciencia-Pantanal-p.36-abr21.pdf</p><p>https://www.institutoararaazul.org.br/wp-content/uploads/2022/05/31.-Guedes-et-al-2021-Araras-sobrevivem-ao-fogo-e-sa%CC%83o-esperanc%CC%A7a-Revista-Ciencia-Pantanal-p.36-abr21.pdf</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 25</p><p>uma cadeia alimentar ocupa o que é chamado de nível trófico. Dependendo de seu</p><p>papel como produtores ou consumidores, espécies ou grupos de espécies podem ser</p><p>atribuídos a vários níveis tróficos.</p><p>Em muitos ecossistemas, a base da cadeia alimentar consiste em organismos</p><p>fotossintéticos (plantas e/ou fitoplânctons), que são chamados de produtores</p><p>primários. Os organismos que consomem os produtores primários são herbívoros:</p><p>os consumidores primários. Os consumidores secundários são geralmente carnívoros</p><p>que comem os consumidores primários. Os consumidores terciários são carnívoros</p><p>que comem outros carnívoros. Os consumidores de nível superior se alimentam dos</p><p>próximos níveis tróficos inferiores, e assim por diante, até os organismos no topo da</p><p>cadeia alimentar: os consumidores de ápice.</p><p>Figura 3 – Fluxo Trófico</p><p>Fonte: Autor (2023)</p><p>Dois tipos gerais de teias alimentares são frequentemente mostrados interagindo</p><p>dentro de um único ecossistema. Uma teia alimentar de pastoreio tem plantas ou outros</p><p>organismos fotossintéticos em sua base, seguida por herbívoros e vários carnívoros.</p><p>Uma teia alimentar detrítica consiste em uma base de organismos que se alimentam de</p><p>matéria orgânica em decomposição (organismos mortos), chamados decompositores</p><p>ou detritívoros. Esses organismos são geralmente bactérias ou fungos que reciclam o</p><p>material orgânico de volta à parte biótica do ecossistema à medida que são consumidos</p><p>por outros organismos. Como todos os ecossistemas requerem um método para</p><p>reciclar material de organismos mortos, a maioria das teias alimentares de pastoreio</p><p>tem uma teia alimentar detrítica associada. Por exemplo, em um ecossistema de prado,</p><p>as plantas podem sustentar uma rede alimentar de diferentes organismos, primários e</p><p>outros níveis de consumidores, ao mesmo tempo em que suportam uma rede alimentar</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 26</p><p>detrítica de bactérias, fungos e invertebrados detritívoros que se alimentam de plantas</p><p>e animais mortos (TOWSEND, BEGON e HARPER, 2006).</p><p>Um fator importante que limita o comprimento das cadeias alimentares é a</p><p>energia. A energia é perdida como calor entre cada nível trófico devido à segunda</p><p>lei da termodinâmica. Assim, após um número limitado de transferências de energia</p><p>trófica, a quantidade de energia restante na cadeia alimentar pode não ser grande</p><p>o suficiente para sustentar populações viáveis em um nível trófico ainda mais alto</p><p>(ODUM e BARRET, 2017).</p><p>2.1.2 Fluxo energético nos ecossistemas</p><p>Todos os seres vivos requerem energia de uma forma ou de outra. A energia é exigida</p><p>pelas vias metabólicas mais complexas (geralmente na forma de trifosfato de adenosina</p><p>- ATP), especialmente aquelas responsáveis pela construção de grandes moléculas a</p><p>partir de compostos menores, e a própria vida é um processo movido a energia. Os</p><p>organismos vivos não seriam capazes de montar macromoléculas (proteínas, lipídios,</p><p>ácidos nucléicos e carboidratos complexos) de suas subunidades monoméricas sem</p><p>uma entrada constante de energia (ODUM e BARRET, 2017).</p><p>É importante entender como os organismos adquirem energia e como essa</p><p>energia é passada de um organismo para outro através das teias alimentares e suas</p><p>cadeias alimentares constituintes. As teias alimentares ilustram como a energia flui</p><p>direcionalmente através dos ecossistemas, incluindo a eficiência com que os organismos</p><p>a adquirem e usam e quanto resta para uso por outros organismos da teia alimentar.</p><p>A energia é adquirida pelos seres vivos de três maneiras: fotossíntese, quimiossíntese</p><p>e o consumo e digestão de outros organismos vivos ou previamente vivos. Organismos</p><p>fotossintéticos e quimiossintéticos são agrupados em uma categoria conhecida</p><p>como autotróficos: organismos capazes de sintetizar seu próprio alimento (mais</p><p>especificamente, capazes de usar carbono inorgânico como fonte de carbono). Os</p><p>autotróficos fotossintéticos (fotoautotróficos) usam a luz solar como fonte de energia,</p><p>enquanto os autótrofos quimiossintéticos (quimioautotróficos) usam moléculas</p><p>inorgânicas como fonte de energia.</p><p>Os fotoautotróficos, como plantas, algas e bactérias fotossintéticas, servem como</p><p>fonte de energia para a maioria dos ecossistemas do mundo. Esses ecossistemas</p><p>são frequentemente descritos por teias alimentares de pastoreio. Os fotoautotróficos</p><p>aproveitam a energia solar convertendo-a em energia química na forma de ATP (e</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 27</p><p>NADP). A energia armazenada no ATP é usada para sintetizar moléculas orgânicas</p><p>complexas, como a glicose (ODUM e BARRET, 2017).</p><p>Os quimioautotróficos são principalmente bactérias encontradas em ecossistemas</p><p>raros onde a luz solar não está disponível, como naqueles associados a cavernas escuras</p><p>ou fontes hidrotermais no fundo do oceano (Figura 1). Muitos quimioautotróficos em</p><p>fontes hidrotermais usam sulfeto de hidrogênio (H2S), que é liberado das fontes como</p><p>fonte de energia química. Isso permite que os quimioautotróficos sintetizem moléculas</p><p>orgânicas complexas, como a glicose, para obter sua própria energia e, por sua vez,</p><p>fornecem energia para o restante do ecossistema.</p><p>A produtividade dentro de um ecossistema pode ser definida como a porcentagem</p><p>de energia que entra no ecossistema incorporada à biomassa em um determinado</p><p>nível trófico. Biomassa é a massa total, em uma unidade de área no momento da</p><p>medição, de organismos vivos ou previamente vivos dentro de um nível trófico (ODUM</p><p>e BARRET, 2017).</p><p>A produtividade dos produtores primários é especialmente importante em qualquer</p><p>ecossistema porque esses organismos trazem energia para outros organismos vivos</p><p>por fotoautotrofia ou quimioautotrofia. A taxa na qual os produtores fotossintéticos</p><p>primários incorporam energia do sol é chamada de produtividade primária bruta.</p><p>Como todos os organismos precisam usar parte dessa energia para suas próprias</p><p>funções (como respiração e perda metabólica de calor resultante), os cientistas</p><p>geralmente se referem à produtividade primária líquida de um ecossistema. A</p><p>produtividade primária líquida é a energia que permanece nos produtores primários</p><p>após contabilizarem a respiração e a perda de calor dos organismos.</p><p>À medida que a energia flui dos produtores primários</p><p>através dos vários níveis</p><p>tróficos, o ecossistema perde grandes quantidades de energia. A principal razão para</p><p>essa perda é a segunda lei da termodinâmica, que afirma que sempre que a energia</p><p>é convertida de uma forma para outra, há uma tendência à desordem (entropia) no</p><p>sistema. Nos sistemas biológicos, essa energia assume a forma de calor metabólico,</p><p>que é perdido quando os organismos consomem outros organismos (TOWSEND, BEGON</p><p>e HARPER, 2006).</p><p>A medida da eficiência da transferência de energia entre dois níveis tróficos sucessivos</p><p>é chamada de eficiência de transferência de nível trófico (ETNT), dada pela relação</p><p>entre a produção do nível trófico atual e a produção do nível trófico anterior.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 28</p><p>Outro parâmetro importante na caracterização do fluxo de energia dentro de um</p><p>ecossistema é a eficiência líquida de produção. A eficiência líquida de produção permite</p><p>que os ecologistas quantifiquem com que eficiência os organismos de um determinado</p><p>nível trófico incorporam a energia que recebem em biomassa; é calculado através da</p><p>seguinte fórmula:</p><p>Eq. 1</p><p>A produtividade líquida do consumidor é o conteúdo de energia disponível para</p><p>os organismos do próximo nível trófico. A assimilação é a biomassa (conteúdo de</p><p>energia gerado por unidade de área) do nível trófico atual após contabilizar a energia</p><p>perdida devido à ingestão incompleta de alimentos, energia usada para respiração</p><p>e energia perdida como desperdício. A ingestão incompleta refere-se ao fato de que</p><p>alguns consumidores comerem apenas uma parte de seus alimentos. Por exemplo,</p><p>quando um leão mata um antílope, ele comerá tudo, exceto o couro e os ossos. O</p><p>leão está perdendo a medula óssea rica em energia dentro do osso, então o leão não</p><p>usa todas as calorias que sua presa poderia fornecer.</p><p>Figura 3 – Produção de Energia</p><p>Fonte: Autor (2023)</p><p>ANOTE ISSO</p><p>A Eficiência Líquida mede a eficiência com que cada nível trófico usa e incorpora a</p><p>energia de seus alimentos na biomassa para abastecer o próximo nível trófico. Em</p><p>geral, animais de sangue frio (ectotérmicos), como invertebrados, peixes, anfíbios</p><p>e répteis, usam menos energia que obtêm para respiração e calor do que animais</p><p>de sangue quente (endotérmicos), como pássaros e mamíferos. O calor extra</p><p>gerado nos endotérmicos, embora seja uma vantagem em termos de atividade em</p><p>ambientes mais frios, é uma grande desvantagem em termos de Eficiência Líquida.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 29</p><p>2.2 Ciclagem de Nutrientes</p><p>A energia flui direcionalmente através dos ecossistemas, entrando como luz solar</p><p>(ou moléculas inorgânicas para quimioautotróficos) e saindo como calor durante as</p><p>muitas transferências entre os níveis tróficos. No entanto, a matéria que compõe</p><p>os organismos vivos é conservada e reciclada. Os seis elementos mais comuns</p><p>associados às moléculas orgânicas – carbono, nitrogênio, hidrogênio, oxigênio, fósforo</p><p>e enxofre – assumem uma variedade de formas químicas e podem existir por longos</p><p>períodos na atmosfera, na terra, na água ou abaixo da superfície da Terra (CALIJURI</p><p>e CUNHA, 2013). Processos geológicos, como intemperismo, erosão, drenagem de</p><p>água e subducção das placas continentais, desempenham um papel nessa reciclagem</p><p>de materiais. Como a geologia e a química têm papéis importantes no estudo desse</p><p>processo, a reciclagem da matéria inorgânica entre os organismos vivos e seu ambiente</p><p>é chamada de ciclo biogeoquímico.</p><p>A ciclagem desses elementos está interligada. Por exemplo, o movimento da água é</p><p>crítico para a lixiviação de nitrogênio e fosfato em rios, lagos e oceanos. Além disso, o</p><p>próprio oceano é um importante reservatório de carbono. Assim, os nutrientes minerais</p><p>circulam, rápida ou lentamente, por toda a biosfera, de um organismo vivo para outro,</p><p>e entre o mundo biótico e abiótico. Neste tópico, iremos aprofundar as discussões a</p><p>respeito dos ciclos biogeoquímicos, dando ênfase ao ciclo da água, do carbono e do</p><p>nitrogênio.</p><p>2.2.1 Ciclo da Água</p><p>A água contém hidrogênio e oxigênio, que são essenciais para todos os processos</p><p>vivos. A hidrosfera é a área da Terra onde ocorre o movimento e armazenamento da</p><p>água: como água líquida na superfície e abaixo da superfície ou congelada (rios, lagos,</p><p>oceanos, águas subterrâneas, calotas polares e geleiras) e como vapor de água na</p><p>atmosfera.</p><p>A água é a base de todos os processos vivos. O corpo humano é composto, por</p><p>exemplo, por mais de 70% de água (ODUM e BARRET, 2007). Assim, a maioria dos</p><p>animais terrestres precisa de um suprimento de água doce para sobreviver. No entanto,</p><p>ao examinar os estoques de água na Terra, 97,5% dela é água salgada não potável. Da</p><p>água restante, 99% está retida no subsolo como água ou gelo. Assim, menos de 1%</p><p>da água doce é facilmente acessível a partir de lagos e rios. Muitos seres vivos, como</p><p>plantas, animais e fungos, dependem da pequena quantidade de suprimento de água</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 30</p><p>doce da superfície, cuja falta pode ter efeitos maciços na dinâmica do ecossistema</p><p>(ODUM e BARRET, 2007). Os seres humanos, é claro, desenvolveram tecnologias para</p><p>aumentar a disponibilidade de água, como cavar poços para coletar água subterrânea,</p><p>armazenar água da chuva, e usando a dessalinização para obter água potável do</p><p>oceano. Embora essa busca por água potável tenha ocorrido ao longo da história da</p><p>humanidade, o abastecimento de água doce ainda é um grande problema nos tempos</p><p>modernos.</p><p>A ciclagem da água é extremamente importante para a dinâmica do ecossistema.</p><p>A água tem grande influência no clima e, portanto, nos ambientes dos ecossistemas,</p><p>alguns localizados em partes distantes da Terra. A maior parte da água da Terra é</p><p>armazenada por longos períodos nos oceanos, no subsolo e na forma de gelo. Uma</p><p>grande quantidade de água da Terra está presa nesses reservatórios como gelo, sob o</p><p>solo e no oceano e, portanto, não está disponível para ciclos de curto prazo (somente</p><p>a água da superfície pode evaporar) TOWSEND, BEGON e HARPER, 2006)</p><p>Existem vários processos que ocorrem durante o ciclo da água, mostrados na Figura</p><p>4. Esses processos incluem a evaporação, sublimação, condensação, precipitação,</p><p>fluxo de água subterrânea e escoamento superficial/neve derretida.</p><p>Figura 4 - Ciclo da Água</p><p>Fonte: Wikipedia</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 31</p><p>O ciclo da água é impulsionado pela energia do Sol à medida que aquece os oceanos</p><p>e outras águas superficiais. Isso leva à evaporação (água em vapor de água) da água</p><p>líquida da superfície e à sublimação (gelo em vapor de água) da água congelada, que</p><p>deposita grandes quantidades de vapor de água na atmosfera. Com o tempo, esse vapor</p><p>de água se condensa em nuvens como gotas líquidas ou congeladas e é eventualmente</p><p>seguido por precipitação (chuva ou neve), que devolve a água à superfície da Terra. A</p><p>chuva eventualmente penetra no solo, onde pode evaporar novamente se estiver perto</p><p>da superfície, fluir abaixo da superfície ou ser armazenada por longos períodos. Mais</p><p>facilmente observado é o escoamento superficial: o fluxo de água doce da chuva ou</p><p>do derretimento do gelo. O escoamento pode então passar por riachos e lagos até os</p><p>oceanos ou fluir diretamente para os próprios oceanos.</p><p>2.2.2 Ciclo do Carbono</p><p>O carbono é o segundo elemento mais abundante nos organismos vivos. O</p><p>carbono está presente em todas as moléculas orgânicas e seu papel na estrutura das</p><p>macromoléculas é de importância primordial para os organismos vivos. Compostos</p><p>de carbono contêm especialmente alta energia, particularmente aqueles derivados</p><p>de organismos fossilizados, principalmente plantas, que os humanos usam como</p><p>combustível.</p><p>Desde 1800, o número de países que usam grandes quantidades de</p><p>combustíveis fósseis aumentou (BRAGA, 2000). Desde o início da Revolução Industrial,</p><p>a demanda global pelos limitados suprimentos de combustível fóssil da Terra aumentou;</p><p>portanto, a quantidade de dióxido de carbono em nossa atmosfera aumentou. Este</p><p>aumento do dióxido de carbono tem sido associado às mudanças climáticas e outras</p><p>perturbações dos ecossistemas da Terra e é uma grande preocupação ambiental em</p><p>todo o mundo (DAVIS, 2013).</p><p>O ciclo do carbono é mais facilmente estudado como dois subciclos interconectados:</p><p>um lidando com a troca rápida de carbono entre os organismos vivos e o outro lidando</p><p>com o ciclo de longo prazo do carbono através de processos geológicos. Todo o ciclo</p><p>do carbono é mostrado na Figura 5.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 32</p><p>Figura 5 - Ciclo do Carbono</p><p>Fonte: Autor (2023)</p><p>2.2.2.1 Ciclo Biológico do Carbono</p><p>Os organismos vivos estão conectados de várias maneiras, mesmo entre</p><p>ecossistemas. Um bom exemplo dessa conexão é a troca de carbono entre autótrofos e</p><p>heterótrofos dentro e entre ecossistemas por meio do dióxido de carbono atmosférico.</p><p>O dióxido de carbono é o bloco de construção básico que a maioria dos autotróficos usa</p><p>para construir compostos multicarbonados e de alta energia, como a glicose. A energia</p><p>captada do sol é usada por esses organismos para formar as ligações covalentes</p><p>que unem os átomos de carbono. Essas ligações químicas, portanto, armazenam</p><p>essa energia para uso posterior no processo de respiração. A maioria dos autótrofos</p><p>terrestres obtém seu dióxido de carbono diretamente da atmosfera, enquanto os</p><p>autótrofos marinhos o adquirem na forma dissolvida (ácido carbônico, H2CO3</p><p>−). Os</p><p>organismos fotossintéticos são responsáveis por depositar aproximadamente 21% do</p><p>conteúdo de oxigênio da atmosfera que observamos hoje (VESILIND e MORGAN, 2011)</p><p>Heterotróficos e autotróficos são parceiros na troca biológica de carbono</p><p>(especialmente os consumidores primários, em grande parte herbívoros). Os</p><p>heterotróficos adquirem os compostos de carbono de alta energia dos autotróficos</p><p>consumindo-os e quebrando-os pela respiração para obterem energia celular, como o</p><p>ATP. O tipo mais eficiente de respiração, a respiração aeróbica, requer oxigênio obtido</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 33</p><p>da atmosfera ou dissolvido em água. Assim, há uma troca constante de oxigênio e</p><p>dióxido de carbono entre os autótrofos (que precisam do carbono) e os heterótrofos</p><p>(que precisam do oxigênio). A troca gasosa através da atmosfera e da água é uma</p><p>maneira pela qual o ciclo do carbono conecta todos os organismos vivos na Terra.</p><p>2.2.2.2 Ciclo Biogeoquímico do Carbono</p><p>O movimento do carbono através da terra, água e ar é complexo e, em muitos</p><p>casos, ocorre muito mais lentamente geologicamente do que entre os organismos</p><p>vivos. O carbono é armazenado por longos períodos nos chamados reservatórios de</p><p>carbono, que incluem a atmosfera, corpos de água líquida (principalmente oceanos),</p><p>sedimentos oceânicos, solo, sedimentos terrestres (incluindo combustíveis fósseis)</p><p>e o interior da Terra.</p><p>Como afirmado, a atmosfera é um importante reservatório de carbono na forma de</p><p>dióxido de carbono e é essencial para o processo de fotossíntese. O nível de dióxido de</p><p>carbono na atmosfera é muito influenciado pelo reservatório de carbono nos oceanos. A</p><p>troca de carbono entre a atmosfera e os reservatórios de água influencia na quantidade</p><p>de carbono encontrada em cada local, e cada um afeta o outro reciprocamente. O</p><p>dióxido de carbono (CO2) da atmosfera dissolve-se na água e combina-se com as</p><p>moléculas de água para formar o ácido carbônico e depois ioniza-se em íons de</p><p>carbonato e bicarbonato (ODUM e BARRET, 2017).</p><p>Os coeficientes de equilíbrio são tais que mais de 90% do carbono no oceano é</p><p>encontrado como íons de bicarbonato (TOWSEND, BEGON & HARPER, 2006). Alguns</p><p>desses íons se combinam com o cálcio da água do mar para formar carbonato de</p><p>cálcio (CaCO3), um dos principais componentes das conchas dos organismos marinhos</p><p>(ODUM e BARRET, 2007). Esses organismos eventualmente formam sedimentos no</p><p>fundo do oceano. Ao longo do tempo geológico, o carbonato de cálcio forma o calcário,</p><p>que compreende o maior reservatório de carbono da Terra.</p><p>Na terra, o carbono é armazenado no solo como resultado da decomposição de</p><p>organismos vivos (por decompositores) ou do intemperismo de rochas e minerais</p><p>terrestres. Este carbono pode ser lixiviado para os reservatórios de água por escoamento</p><p>superficial. Mais profundamente no subsolo, na terra e no mar, estão os combustíveis</p><p>fósseis: os restos de plantas decompostos anaeróbicamente que levam milhões de anos</p><p>para se formar. Os combustíveis fósseis são considerados um recurso não renovável</p><p>porque seu uso excede sua taxa de formação. Um recurso não renovável, como o</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 34</p><p>combustível fóssil, é regenerado muito lentamente ou não é regenerado. Outra maneira</p><p>de o carbono entrar na atmosfera é pela terra (incluindo a terra abaixo da superfície do</p><p>oceano), pela erupção de vulcões e outros sistemas geotérmicos. Os sedimentos de</p><p>carbono do fundo do oceano são levados para as profundezas da Terra pelo processo</p><p>de subducção: o movimento de uma placa tectônica sob a outra. O carbono é liberado</p><p>como dióxido de carbono de fontes hidrotermais vulcânicas ou quando um vulcão</p><p>entra em erupção (TOWSEND, BEGON e HARPER, 2006).</p><p>Os seres humanos contribuem para o carbono atmosférico pela queima de</p><p>combustíveis fósseis e outros materiais. Desde a Revolução Industrial, os humanos</p><p>aumentaram significativamente a liberação de carbono e compostos de carbono,</p><p>o que, por sua vez, afetou o clima e o meio ambiente em geral (TOWSEND, BEGON</p><p>e HARPER, 2006).</p><p>A criação de animais por humanos também aumenta o carbono atmosférico. O</p><p>grande número de animais terrestres criados para alimentar a crescente população</p><p>da Terra resulta no aumento dos níveis de dióxido de carbono na atmosfera devido</p><p>às práticas agrícolas e à respiração e produção de metano. Este é outro exemplo de</p><p>como a atividade humana afeta indiretamente os ciclos biogeoquímicos de maneira</p><p>significativa. Embora grande parte do debate sobre os efeitos futuros do aumento</p><p>do carbono atmosférico nas mudanças climáticas se concentre nos combustíveis</p><p>fósseis, os cientistas levam em consideração os processos naturais, como vulcões e</p><p>respiração, ao modelar e prever o impacto futuro desse aumento.</p><p>2.2.3 Ciclo do Nitrogênio</p><p>O nitrogênio é um componente importante de nossos ácidos nucléicos e proteínas</p><p>e é fundamental para a agricultura humana. Entretanto, sua forma gasosa (N2),</p><p>abundantemente disponível no Planeta Terra, não é facilmente assimilada pela maioria</p><p>dos organismos vivos</p><p>As plantas e o fitoplâncton não estão equipados para incorporar nitrogênio da</p><p>atmosfera (que existe como N2 covalente triplo fortemente ligado), embora essa</p><p>molécula compreenda aproximadamente 78% da atmosfera. O nitrogênio entra</p><p>no mundo vivo por meio de bactérias simbióticas e de vida livre, que incorporam</p><p>nitrogênio em suas macromoléculas por meio da fixação de nitrogênio (conversão de</p><p>N2) (TOWSEND, BEGON e HARPER, 2006). As cianobactérias vivem na maioria dos</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 35</p><p>ecossistemas aquáticos onde a luz solar está presente; elas desempenham um papel</p><p>fundamental na fixação de nitrogênio (TOWSEND, BEGON e HARPER, 2006).</p><p>O nitrogênio orgânico é especialmente importante para o estudo da dinâmica do</p><p>ecossistema, pois muitos processos do ecossistema, como produção primária e</p><p>decomposição, são limitados pelo suprimento disponível de</p><p>nitrogênio. Conforme</p><p>mostrado na Figura 6, o nitrogênio que entra nos sistemas vivos por fixação é</p><p>sucessivamente convertido de volta para nitrogênio gasoso por bactérias. Este</p><p>processo ocorre em três etapas em sistemas terrestres: amonificação, nitrificação e</p><p>desnitrificação. Primeiro, o processo de amonificação converte resíduos nitrogenados</p><p>de animais vivos ou de restos de animais mortos em amônio (NH4</p><p>+) por certas bactérias</p><p>e fungos. Em segundo lugar, o amônio é convertido em nitritos (NO2</p><p>−) por bactérias</p><p>nitrificantes, como as Nitrosomonas, por meio da nitrificação. Posteriormente, os</p><p>nitritos são convertidos em nitratos (NO3</p><p>-) por organismos semelhantes. Em terceiro</p><p>lugar, ocorre o processo de desnitrificação, pelo qual bactérias, como Pseudomonas</p><p>e Clostridium, convertem os nitratos em gás nitrogênio, permitindo sua reentrada na</p><p>atmosfera (TOWSEND, BEGON e HARPER, 2006).</p><p>Figura 6 - Ciclo do Nitrogênio</p><p>Fonte: Autor (2023)</p><p>A atividade humana pode liberar nitrogênio no meio ambiente por dois meios</p><p>principais: a combustão de combustíveis fósseis, que libera diferentes óxidos de</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 36</p><p>nitrogênio, e pelo uso de fertilizantes artificiais na agricultura, que são então levados</p><p>para lagos, córregos e rios por escoamento superficial. O nitrogênio atmosférico</p><p>está associado a vários efeitos nos ecossistemas da Terra, incluindo a produção de</p><p>chuva ácida (como ácido nítrico, HNO3) e gás de efeito estufa (como óxido nitroso,</p><p>N2O), potencialmente causando mudanças climáticas. Um dos principais efeitos do</p><p>escoamento de fertilizantes é a eutrofização da água salgada e da água doce, um</p><p>processo pelo qual o escoamento de nutrientes causa o crescimento excessivo de</p><p>microrganismos, esgotando os níveis de oxigênio dissolvido e matando a fauna do</p><p>ecossistema.</p><p>ISTO ESTÁ NA REDE</p><p>Óxido nitroso e NO são gases traços formados durante as transformações de</p><p>nitrificação e desnitrificação do N no solo. Molécula por molécula, o N2O é 298</p><p>vezes mais eficaz na adsorção de radiação térmica do que o CO2, o principal gás</p><p>do efeito estufa. Isso faz com que o gás seja altamente prejudicial às questões</p><p>climáticas, devendo-se estabelecer medidas de mitigação em todos os processos</p><p>antrópicos que possam corroborar para este cenário. Neste artigo, os autores</p><p>apontam as condições de geração e emissão de N2O em etapas de remoção de</p><p>nitrogênio no tratamento, tanto em escala laboratorial quanto em estações de</p><p>tratamento de efluentes. Saiba mais acessando: https://www.scielo.br/j/esa/a/</p><p>HtrgdCdpdT9b6hxSmhYZfkx/?lang=pt#:~:text=O%20%C3%B3xido%20nitroso%20</p><p>(N2O)%20%C3%A9,crescido%20nas%20duas%20%C3%BAltimas%20d%C3%A9cadas</p><p>Um processo semelhante ocorre no ciclo do nitrogênio marinho, onde os processos de</p><p>amonificação, nitrificação e desnitrificação são realizados por bactérias marinhas. Parte</p><p>desse nitrogênio cai no fundo do oceano como sedimento, que pode então ser movido</p><p>para a terra no tempo geológico pela elevação da superfície da Terra e, assim, incorporado</p><p>à rocha terrestre. Embora o movimento do nitrogênio da rocha diretamente para os</p><p>sistemas vivos tenha sido tradicionalmente visto como insignificante em comparação</p><p>com o nitrogênio fixado na atmosfera, um estudo recente mostrou que esse processo</p><p>pode realmente ser significativo e deve ser incluído em qualquer estudo do ciclo global</p><p>do nitrogênio.</p><p>https://www.scielo.br/j/esa/a/HtrgdCdpdT9b6hxSmhYZfkx/?lang=pt#:~:text=O%20%C3%B3xido%20nitroso%20(N2O)%20%C3%A9,crescido%20nas%20duas%20%C3%BAltimas%20d%C3%A9cadas</p><p>https://www.scielo.br/j/esa/a/HtrgdCdpdT9b6hxSmhYZfkx/?lang=pt#:~:text=O%20%C3%B3xido%20nitroso%20(N2O)%20%C3%A9,crescido%20nas%20duas%20%C3%BAltimas%20d%C3%A9cadas</p><p>https://www.scielo.br/j/esa/a/HtrgdCdpdT9b6hxSmhYZfkx/?lang=pt#:~:text=O%20%C3%B3xido%20nitroso%20(N2O)%20%C3%A9,crescido%20nas%20duas%20%C3%BAltimas%20d%C3%A9cadas</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 37</p><p>CAPÍTULO 3</p><p>POLUIÇÃO DO SOLO</p><p>E RECUPERAÇÃO DE</p><p>ÁREAS DEGRADADAS</p><p>A degradação do solo é um problema global, muitas vezes causado por uma</p><p>combinação de fatores como má gestão da terra, práticas agrícolas insustentáveis,</p><p>poluição e desmatamento. A degradação do solo pode exacerbar os impactos dos</p><p>desastres naturais e contribuir para questões sociais como a migração. Ações para</p><p>combater a degradação dos solos e a desertificação podem oferecer benefícios para</p><p>outras questões ambientais importantes, como poluição e escassez da água, perda</p><p>de biodiversidade, mudanças climáticas, além de garantir a segurança alimentar.</p><p>Um elemento importante na degradação da terra é a proteção do solo, pois sua</p><p>degradação constitui uma séria ameaça para a saúde humana, segurança alimentar, e</p><p>adaptação às mudanças climáticas e preservação de ecossistemas saudáveis. O solo</p><p>é de fato um meio extremamente complexo, variável e vivo, mas absolutamente crítico</p><p>para a vida na Terra. Abriga 25% da biodiversidade mundial, contém cerca de duas</p><p>vezes a quantidade de carbono encontrada na atmosfera e três vezes a quantidade</p><p>encontrada na vegetação, e cerca de 95% de nossos alimentos são produzidos direta</p><p>ou indiretamente em nossos solos.</p><p>Como a formação do solo é um processo extremamente lento, o solo deve ser</p><p>considerado como um recurso não renovável. O solo serve como plataforma para</p><p>atividades humanas e paisagens, como arquivo do nosso patrimônio cultural e</p><p>desempenha um papel central como habitat e fundo genético. Ele armazena, filtra e</p><p>transforma muitas substâncias, incluindo água, nutrientes e carbono. Os solos são,</p><p>portanto, cruciais para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas, produção</p><p>agrícola e segurança alimentar, preservação da natureza e da biodiversidade, e são</p><p>a base de nossa saúde e nossa riqueza. As funções do solo são dignas de proteção</p><p>devido à sua importância socioeconômica e ambiental.</p><p>INTRODUÇÃO A ENGENHARIA</p><p>AMBIENTAL E SANITÁRIA</p><p>PROF. JOÃO VITOR</p><p>RODRIGUES DE SOUZA</p><p>FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 38</p><p>3.1 Conceitos e Definições</p><p>O solo é geralmente definido como a camada superior da crosta terrestre, formada</p><p>por partículas minerais, matéria orgânica, água, ar e organismos vivos. É a interface</p><p>entre a terra, o ar e a água e abriga a maior parte da biosfera. O solo, no entanto, não</p><p>é apenas a soma desses constituintes, mas um produto de suas interações. O solo</p><p>é um meio extremamente complexo e variável; uma amostra típica de solo mineral</p><p>compreende 45% de minerais, 25% de água, 25% de ar e 5% de matéria orgânica;</p><p>entretanto, essas proporções podem variar (TORRES, 2011).</p><p>O sistema do solo é complexo e dinâmico. A definição de solo varia muito, pois é</p><p>ditada pelo seu uso. Uma definição bem estabelecida de solo é um meio que inclui</p><p>minerais, matéria orgânica, inúmeros organismos, líquidos e gases que juntos sustentam</p><p>a vida na Terra por meio de muitos serviços. O solo é a base para a agricultura primitiva</p><p>e moderna e para a civilização humana. A maioria das pessoas pensa em agricultura</p><p>ou jardinagem quando pensa em solos.</p><p>No entanto, a definição de solo depende dos múltiplos usos desse meio para</p><p>diferentes fins, como agricultura, engenharia e meio ambiente. Para um agricultor, o</p><p>solo é um meio de produção de alimentos, diferente de um geólogo, que considera</p><p>o solo um meio natural e os materiais não consolidados acima do leito rochoso. Um</p><p>engenheiro define o solo como uma camada superficial de ocorrência natural formada</p><p>por processos bioquímicos e físicos complexos de intemperismo que contém matéria</p><p>viva. O solo é considerado capaz de sustentar a vida vegetal, animal e humana por</p><p>agrônomos e pedólogos.</p><p>O intemperismo é o processo de condução do desenvolvimento do solo e descreve</p><p>os meios pelos quais o solo, as rochas e os minerais são transformados por processos</p><p>físicos e químicos em outros componentes do solo. Portanto, o intemperismo</p>