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<p>1</p><p>FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA</p><p>TCOE - TEORIA DA CONSTITUIÇÃO E ORGANIZAÇÃO DO ESTADO - T05</p><p>Docente: Carlos Eduardo Behrmann Ratis Martins</p><p>Discente: Daniel Lucas Pereira dos Santos</p><p>FICHAMENTO</p><p>Texto: Capítulos 1 a 3 do livro “O colapso das Constituições do Brasil” - Manoel Carlos</p><p>de Almeida Neto</p><p>Os textos aqui estudados tangenciam, de forma crítica, o inconformismo</p><p>Constitucional, no capítulo 1; as percepções de Constituição, no 2; e a Constituição jurada, no</p><p>3. Destarte, no primeiro, o autor inicia apresentando a longevidade e a profusão de</p><p>Constituições, a instabilidade constitucional, analisando quatorze textos constitucionais, em</p><p>comparativo internacional, bem assim o desenvolvimento civilizatório, o inconformismo</p><p>constitucional permanente, a primavera dos povos, a Constituição material paralela e a</p><p>colisão de constituições.</p><p>Já no segundo, ele discorre sobre o conceito de Constituição, a percepção sociológica,</p><p>fatores reais de poder, percepção jurídica, resistência absolutista, passando pelo Estado</p><p>Democrático e soberania popular, aliados ao objeto cultural, ao decisionismo político, bem</p><p>como ao guardião da Constituição, aristocracia de toga, finalizando com os pressupostos da</p><p>jurisdição constitucional, inconstitucionalidades, jurisdição e democracia e estados de</p><p>exceção.</p><p>Outrossim, no terceiro, ele aborda as eleições no Império, os homens bons e o povo,</p><p>ordenações e pelouros, a primeira Constituição vigente no Brasil e o Constitucionalismo</p><p>Ibérico. Além disso, alcança a revolução portuguesa de 1820, a Constituição espanhola de</p><p>Cádiz, o constitucionalismo na praça e a partida do Rei e as Cortes de Lisboa.</p><p>Sendo assim, passo a citar as principais ideias do texto em questão.</p><p>“Na realidade, foram 14 textos [não apenas 7] com natureza constitucional e</p><p>supremacia no ordenamento jurídico, publicados por fatores reais de poder, investidos de</p><p>2</p><p>força constituinte de fato ou de direito no objetivo de instaurar uma nova ordem no Brasil, a</p><p>começar pela 1ª Constituição espanhola, a La Pepa… Em seguida, tivemos a (2ª) Carta</p><p>nativa.”</p><p>Em seguida, veio a 3ª: Carta emergencial; a 4ª: Constituição da república; a 5ª: Carta</p><p>provisória; a 6ª: Constituição revolucionária; a 7ª: Carta polaca; a 8ª: Constituição liberal; a 9ª</p><p>Carta troica; a 10ª: Carta autoritária; a 11ª: Carta Congressual; a 12ª: Carta ditatorial; a 13ª:</p><p>Carta emendada; e a 14ª: Constituição cidadã.</p><p>“Como se demonstra, a nossa tela de durabilidade constitucional se emoldura no</p><p>quadro de países com excessivos textos constitucionais, especialmente na América Latina,</p><p>onde o índice de golpes, revoluções e troca de Constituições é proporcionalmente maior, se</p><p>comparado com nações da América do Norte, África, Ásia, Europa e Oceania. É que nos</p><p>países latinos, observou Afonso Arinos, ‘de organização política tumultuosa, o Direito escrito</p><p>varia continuamente, quer por meios violentos, quer pela adoção de costumes constitucionais</p><p>que venham preencher lacunas ou modificar a própria lei escrita’, ao contrário da aplicação</p><p>da Constituição costumeira inglesa, assentada em sólida base histórica”.</p><p>“Não é difícil observar que, quanto maior o número de constituições, maior será a</p><p>instabilidade político-institucional do Estado e, consequentemente, maior será o nosso</p><p>retrocesso civilizatório. Daí a importância de aprofundarmos o olhar sobre as causas da</p><p>profusão de textos constitucionais em nosso país, para perquirir em qual posição queremos</p><p>chegar como nação soberana e civilizada”.</p><p>“Compreender esse sentimento de inconformismo constitucional permanente dos</p><p>fatores reais de poder é uma das chaves para decifrar a primeira questão apresentada no livro,</p><p>sobre o porquê da caótica profusão de textos constitucionais em nosso país. Mas existe ainda</p><p>uma segunda reflexão central, tão relevante quanto a primeira, sem a qual não será possível</p><p>compreender o colapso constitucional brasileiro, que é sobre o duelo permanente de duas</p><p>Constituições paralelas, a escrita versus a não escrita. Isto é, o conflito entre a Constituição</p><p>formal, jurídica e a verdadeira Constituição material, sociológica, consubstanciada nos</p><p>fatores reais de poder”.</p><p>“Sobre o ângulo estritamente formal, [Constituição] significa a Lei Fundamental de</p><p>uma nação, devidamente formalizada, por escrito, com o objetivo de organizar o poder do</p><p>Estado”. No entanto, “o Direito nasce dos fatos, daí a necessidade de se examinar a realidade</p><p>3</p><p>sociológica de nossas Constituições, em sentido material, enxergar o mundo real do ‘ser’, das</p><p>coisas como são, dos fatores de poder que influenciaram o início e o fim das Leis</p><p>Fundamentais brasileiras”.</p><p>“Para Kelsen, a democracia só poderia ser assegurada com a existência de uma</p><p>Constituição escrita, formal, sob a guarda do Poder Judiciário, que faria a fiscalização de</p><p>constitucionalidade por meio da atividade de jurisdição constitucional, para garantir o estrito</p><p>cumprimento da Lei Fundamental na defesa das liberdades individuais e, no papel</p><p>contramajoritário, em defesa dos direitos fundamentais das minorias contra o arbítrio do</p><p>Estado, ou da força esmagadora de certas maiorias”.</p><p>Por outro lado, “Meirelles Teixeira considera a Constituição uma expressão da cultura</p><p>total, em determinado momento histórico, como um ‘elemento configurante das demais</p><p>partes da Cultura influindo sobre a evolução cultural com determinados sentidos ou, como diz</p><p>Burdeau, a Constituição vincula o poder à ideia de Direito, impondo-lhe exigências e</p><p>diretrizes para a sua ação”.</p><p>Com isso, “a inconstitucionalidade também pode ser formal e orgânica ou material. A</p><p>inconstitucionalidade formal deriva de vício de incompetência do órgão que inaugura o</p><p>processo legislativo ou que produz a lei ou ato normativo”. Já a inconstitucionalidade</p><p>material “diz respeito ao próprio conteúdo da lei ou ato normativo. Quanto uma norma não</p><p>for compatível com a essência de uma norma constitucional, padecerá do vício de</p><p>inconstitucionalidade material.</p><p>Por derradeiro, porém não menos importante, o autor remonta períodos históricos em</p><p>volta da Constituição jurada. Baseando-se em Afonso Arinos, ele destaca que “Cádiz é o</p><p>documento fundamental do constitucionalismo ibérico. Com inspiração na Constituição</p><p>francesa de 1791, teve grande influência na revolução portuguesa de 1820 e, por essa razão,</p><p>refletiu no Brasil e em inúmeros países da América Latina, tendo em conta que entre os</p><p>signatários da La Pepa estavam os deputados que representavam as colônias espanholas para</p><p>além-mar, como a Argentina”. Assim, “esse modelo também foi seguido na revolução</p><p>portuguesa, com a representação das capitanias brasileiras nas eleições para as cortes de</p><p>Lisboa”. Portanto, o autor lamenta que tal Constituição, que foi a primeira do Brasil, tenha</p><p>sido esquecida e não contabilizada pelo Estado.</p>