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Materiais de Construção Mecânica II Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Esp. Leila da Silva Moura Ribeiro Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro Tratamento Térmico dos Aços – Têmpera e Revenimento • Tratamento Térmico dos Aços. • Apresentar ao aluno uma breve introdução aos principais tipos de tratamentos térmicos dos aços e como realizar os tratamentos térmicos de têmpera e revenimento. OBJETIVO DE APRENDIZADO Tratamento Térmico dos Aços – Têmpera e Revenimento Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Tratamento Térmico dos Aços – Têmpera e Revenimento Tratamento Térmico dos Aços É bastante antiga a necessidade de os seres humanos alterarem as propriedades de materiais metálicos para aumento de sua resistência mecânica através de ope- rações de aquecimento e resfriamento desses materiais. Isso acontece desde que os seres humanos passaram a utilizar os metais para a fabricação de utensílios, ferramentas e armas. O tratamento térmico de um metal consiste na operação de aquecimento e resfriamento desse material, controlando-se o tempo de realização de cada etapa, de forma que se alterem as suas propriedades mecânicas. Nesta unidade, vamos tratar dos principais tratamentos térmicos realizados nos aços. Ao se executar o tratamento térmico em um aço, algumas modificações na sua microestrutura serão percebidas. Entre essas alterações, é possível destacar: • Alteração na estrutura cristalina do material; • Alteração na forma e tamanho dos grãos que formam a microestrutura desse material. Dependendo da sua temperatura e da sua composição química, o aço pode apresentar, em sua microestrutura 2 tipos de estruturas cristalinas: • Cúbica de Corpo Centrado (CCC); • Cúbica de Face Centrada (CFC). Na figura 1, é possível visualizar uma representação da célula unitária (à esquer- da) e a estrutura cristalina do tipo Cúbica de Corpo Centrado (CCC), muito comum em aços. Figura 1 – Célula Unitária e a Estrutura Cristalina do tipo Cúbica de Corpo Centrado (CCC) Fonte: Acervo do conteudista Na figura 2, é possível visualizar uma representação da célula unitária (à esquer- da) e a estrutura cristalina do tipo Cúbica de Face Centrada (CFC), que também é muito comum em aços. 8 9 Figura 2 – Célula Unitária e a Estrutura Cristalina do tipo Cúbica de Face Centrada (CFC) Fonte: Acervo do conteudista Outra característica importante que sofre modificação durante a realização de um tratamento térmico é o tamanho e a forma dos grãos que compõem a micro- estrutura do aço. Na figura 3, é possível visualizar a microestrutura de um aço carbono hipoeutetoi- de com 0,35% de Carbono, que foi resfriado lentamente. As áreas claras e as áreas escuras, todas com contornos bem definidos são os grãos. Os grãos de cor clara, neste exemplo, formam a ferrita proeuteutoide e os grãos escuros formam a perlita. Essa imagem possui uma ampliação de 500 vezes e foi obtida em um ensaio metalo- gráfico, cuja superfície do aço foi atacada por uma solução de Nital a 2%. Figura 3 – Aspecto Micrográfi co de Aço Hipoeuteutóide com 0,35% de Carbono (Ampliação de 500 vezes) Fonte: Fundamentos de Engenharia e Ciência dos Materiais., 2012 Como representar graficamente o Tratamento Térmico de um Aço? Ex pl or Para ilustrar as fases formadas em um tratamento térmico, são utilizados os chamados Diagramas TTT (Temperatura-Tempo-Transformação). Nesses diagra- mas, é possível visualizar as transformações que ocorrem na microestrutura de um material durante um tratamento térmico em função do tempo e da temperatura. Na figura 4, é possível visualizar um Diagrama TTT para um aço eutetoide. A li- nha horizontal superior representa a temperatura de Austenitização. 9 UNIDADE Tratamento Térmico dos Aços – Têmpera e Revenimento Ainda na figura 4, as 2 linhas horizontais inferiores representam o início (Mi) e o término (Mf) da transformação da Austenita em uma fase chamada Martensita, que é formada quando o processo de resfriamento é brusco. Por fim, um pouco mais acima, as linhas Mi e MF tornam-se curvas. Nesse caso, quando o resfriamento é mais lento, é possível observar a formação das fases Per- lita Grossa, Perlita Fina e Bainita, dependendo também da temperatura. Figura 4 – Diagrama TTT para um aço eutetoide Fonte: Acervo da conteudista Na figura 5, é possível visualizar uma relação entre o diagrama de Fases Ferro- -carbono (à esquerda) e o Diagrama TTT (à direita) para um aço eutetoide. Tempo Bainita Perlita �na Martensita Perlita grossa Te m pe ra tu ra 0,8% % em peso de C 0 Figura 5 – Relação entre o diagrama de Fases Ferro-Carbono e o Diagrama TTT para um aço eutetoide Fonte: Adaptado de Fundamentos de Engenharia e Ciência dos Materiais, 2012 10 11 Os principais tratamentos térmicos que podem ser realizados em um aço são: • Têmpera; • Revenimento; • Normalização; • Recozimento. Nesta unidade, serão tratados apenas os Tratamentos Térmicos de Têmpera e Revenimento. Têmpera Qual é o objetivo da têmpera? Ex pl or A têmpera é um tratamento térmico que tem como objetivo aumentar a dureza do aço. Para se realizar o tratamento térmico de têmpera deve se obedecer às seguin- tes etapas: • Aquecer o aço em um forno até uma temperatura que esteja acima da tempe- ratura de austenitização; • Manter o aço aquecido nessa temperatura por um tempo que seja suficiente para que toda a Perlita se transforme em Austenita; • Submeter o aço a um resfriamento brusco até a temperatura ambiente. Temperatura de Austenitização: Temperatura na qual ocorre em um aço, durante o aqueci- mento, a transformação das fases Ferrita, Perlita ou Cementita (com estrutura cristalina CCC) para a fase Austenita (com estrutura cristalina CFC). Ex pl or Devido a esse resfriamento brusco, não há tempo hábil para que toda a Aus- tenita se transforme novamente em Perlita, Ferrita ou Cementita. Sendo assim, obtém-se uma nova microestrutura, que é chamada de Martensita. Essa microes- trutura possui uma estrutura cristalina do tipo TCC (Tetragonal de Corpo Cen- trado), ilustrada na figura 6. 11 UNIDADE Tratamento Térmico dos Aços – Têmpera e Revenimento Figura 6 – EstruturaCristalina Tetragonal de Corpo Centrado (TCC) A Martensita é caracterizada por uma microestrutura do tipo Acicular, ou seja, na forma de agulhas. Um exemplo de microestrutura da Martensita pode ser visu- alizado na figura 7. A ampliação da figura é de 1000 vezes. Figura 7 – Microestrutura Acicular da Martensita (Ampliação de 1000 vezes) Fonte: Ciência dos Materiais, 2008 Preferencialmente, a Têmpera deve ser realizada em aços com teor de carbono igual ou superior a 0,4%. Aços que atendam a essas condições terão facilitada a formação da Martensita durante o resfriamento brusco. A Martensita é uma microestrutura que acrescenta ao aço elevada dureza. Po- rém, como consequência, ocorre também a fragilização do material, ou seja, o aço pode se quebrar ao ser submetido a impactos. Sendo assim, o resfriamento brusco do aço durante a têmpera pode ser realiza- do de 4 maneiras: • Resfriamento em água; • Resfriamento em salmoura; • Resfriamento em óleo; • Resfriamento em jato de ar. A forma mais severa de resfriamento é o resfriamento à água. Sendo assim, é forma de resfriamento que causa o maior aumento de dureza do aço. Porém, é também a forma que causa o maior aumento da fragilidade do aço. 12 13 Na linha vermelha do Diagrama TTT da figura 8, é possível visualizar uma queda brusca da temperatura, que teve como resultado a transformação da Aus- tenita em Martensita. Figura 8 – Diagrama TTT – Resfriamento brusco em um aço eutetoide Fonte: Acervo do conteudista Sendo assim, dependendo do teor de carbono e dos elementos de liga do aço, pode ser recomendado o resfriamento em salmoura, óleo ou jato de ar, que são menos severos. Quando o aço possui alta temperabilidade, ou seja, possui um alto teor de car- bono, pode se utilizar também o resfriamento brusco em etapas. Existem 2 tipos de têmpera realizada em etapas: • Austêmpera: Recomendada para aços de alto teor de carbono e, consequen- temente, alta temperabilidade. • Martêmpera: Recomendada para aços-liga, para reduzir o empenamento das peças. Para se realizar o tratamento térmico de austêmpera, deve-se obedecer às seguintes etapas: 1. Aquecer o aço em um forno até uma temperatura que esteja acima da temperatura de austenitização (posição 1 da fi gura 9); 2. Manter o aço aquecido nessa temperatura por um tempo que seja sufi cien- te para que toda a Perlita se transforme em Austenita; 3. Submeter o aço a um resfriamento brusco em um banho de sal fundido (salmoura) até uma temperatura intermediária entre 260°C e 440°C (posi- ção 2 da fi gura 9). Esses valores de temperatura podem variar, dependen- do da composição química do aço; 13 UNIDADE Tratamento Térmico dos Aços – Têmpera e Revenimento 4. Manter o aço no banho de sal fundido por tempo suficiente para que ocor- ra a total transformação da Austenita em Bainita (posição 3 da figura 9); 5. Resfriamento ao ar livre até a temperatura ambiente (posição 4 da figura 9). É interessante notar que, dependendo da composição química do aço, podem ocorrer variações na faixa de temperatura da austêmpera. As etapas da austêm- pera estão ilustradas através da Linha Vermelha no Diagrama TTT da figura 9. Figura 9 – Diagrama TTT – Etapas da Austêmpera Fonte: Acervo do conteudista Na austêmpera, ocorre a formação de uma fase chamada de Bainita. Essa fase possui dureza um pouco inferior à Martensita, porém, maior do que a du- reza da Perlita. A Bainita é caracterizada por uma microestrutura que inclui agulhas muito finas de Ferro-α e Cementita. Um exemplo de microestrutura da Bainita pode ser visua- lizado na figura 10. A ampliação da figura é de 535 vezes. Figura 10 – Microestrutura da Bainita (Ampliação de 535 vezes) Fonte: Ciência dos Materiais, 2008 14 15 Para se realizar o tratamento térmico de martêmpera, deve-se obedecer às seguintes etapas: 1. Aquecer o aço em um forno até uma temperatura que esteja acima da Temperatura de Austenitização (posição 1 da fi gura 11); 2. Manter o aço aquecido nessa temperatura por um tempo que seja sufi cien- te para que toda a Perlita se transforme em Austenita; 3. Submeter o aço a um resfriamento brusco em um banho de sal fundido (salmoura) até uma temperatura um pouco acima da Linha Horizontal Mi. (posição 2 da fi gura 11; 4. Manter o aço no banho de sal fundido por algum tempo, evitando-se tocar na primeira curva (início da transformação) conforme posição 3 da fi gura 11; 5. Resfriamento ao ar livre até a temperatura ambiente (posição 4 da fi gura 11). O resultado da martêmpera é a formação de uma Martensita mais uniforme e homogênea, reduzindo-se assim o risco de trincas devido ao choque térmico. As etapas da martêmpera estão ilustradas através da Linha Vermelha no Diagrama TTT da figura 11. Figura 11 – Diagrama TTT – Etapas da Martêmpera Fonte: Acervo do conteudista Dependendo da composição química e do teor de carbono de um aço, esse aço pode apresentar uma maior ou menor temperabilidade. Um aço com baixa temperabilidade tende a apresentar uma dureza apenas nas camadas mais externas da peça que foi submetida ao tratamento térmico de têmpera. Por outro lado, um aço com alta temperabilidade vai apresentar uma elevada dureza, mesmo em camadas mais internas de uma peça que foi submetida ao Tra- tamento Térmico de Têmpera. 15 UNIDADE Tratamento Térmico dos Aços – Têmpera e Revenimento Como avaliar-se a Temperabilidade de um Aço? Ex pl or Para se avaliar a Temperabilidade de um Aço, é utilizado um ensaio conhecido como Ensaio Jominy. Nesse ensaio, utiliza-se um Corpo de Prova de formato cilíndrico que é submetido ao aquecimento acima da Temperatura de Austenitização. Em seguida, esse corpo de prova é colocado em um dispositivo conforme ilustrado na figura 12. Um jato de água em temperatura ambiente é aplicado na extremidade do corpo de prova. Após o resfriamento do corpo de prova, mede-se a dureza em um ponto na ex- tremidade do corpo de prova e, em seguida, mede-se a dureza em pontos cada vez mais afastados dessa extremidade, de forma a avaliar-se até qual distância a partir da extremidade houve o aumento da dureza do material. Quanto maior for a distância em que o material permanecer duro, maior será a temperabilidade desse material. Figura 12 – Ensaio Jominy - Temperabilidade Fonte: Ciência dos Materiais, 2008 Revenimento Após o Tratamento Térmico de Têmpera, pode ser realizado também o Tratamento Térmico de Revenimento, de forma a reduzir-se as tensões causadas no material devido ao choque térmico causado pela têmpera. O Tratamento Térmico de Revenimento tem o objetivo de reduzir a dureza excessiva de um material que foi submetido ao Tratamento Térmico de Têmpera. Sendo assim, o Tratamento Térmico de Revenimento sempre será realizado após o Tratamento Térmico de Tempera. Para se realizar o Tratamento Térmico de Revenimento, deve-se obedecer às seguintes etapas: 1. Aquecer o aço em um forno até uma temperatura que esteja abaixo da temperatura de austenitização; 2. Manter o aço aquecido nessa temperatura por um tempo; 3. Resfriamento ao ar livre até a temperatura ambiente. 16 17 O resultado do revenimento é a formação de uma Martensita com menos ten- sões residuais causadas pela Têmpera. As etapas de uma martêmpera, com poste- rior revenimento, estão ilustradas no Diagrama TTT da figura 13. Figura 13 – Diagrama TTT: Etapas da Martêmpera com posterior revenimento Fonte: Ciência dos Materiais, 2008 A Martensita obtida após o Tratamento Térmico de Revenimento é chamada de Martensita Revenida. Na figura 14, é possível visualizar-se a Microestrutura da Martensita Revenida. Figura 14 – Microestrutura da Martensita Revenida (Ampliação de 825 vezes) Fonte: Ciência dos Materiais, 2008 Caso o aço tenha sido submetido ao tratamento térmico de austêmpera, não existe a necessidade de realização do tratamento térmico de revenimento, pois o produto da austêmpera é a baínita e não a martensita. 17 UNIDADE Tratamento Térmico dos Aços – Têmpera e Revenimento MaterialComplementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Para acessar as obras, percorra o seguinte caminho: Após entrar em sua “área do aluno”, no menu à esquerda da tela, clique em “Serviços”, depois em “Biblioteca” e, no centro da tela, clique em “E-books – Minha Biblioteca”. No topo da tela que abrirá, haverá um campo de busca para autor, título, assunto etc. Nesse espaço, digite o nome das osbras e clique na capa que aparecerá como resultado. Ciência dos Materiais SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008. Fundamentos de Engenharia e Ciência dos Materiais SMITH, W. F.; HASHEMI, Javad. Fundamentos de Engenharia e Ciência dos Materiais. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. Vídeos Telecurso 2000 Tratamento Termico 04 – Endurecimento do Aço https://youtu.be/SxXSXa8NeIs Telecurso 2000 Tratamento Termico 06 – Endurecimento de Superficies Metálicas https://youtu.be/SxXSXa8NeIs 18 19 Referências ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos materiais. 3. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014. CALLISTER JUNIOR, W. D.; RETHVISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Ma- teriais – Uma Introdução. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018. LESKO, J. Design Industrial: Materiais e Processos de Fabricação. São Paulo: Blucher, 2004. PAVANATI, H. C. Ciência e Tecnologia dos Materiais. São Paulo: Pearson Edu- cation do Brasil, 2015. SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008. SMITH, W. F.; HASHEMI, J. Fundamentos de Engenharia e Ciência dos Mate- riais. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. 19