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Instituto de Física – Universidade Federal do Rio de Janeiro Prova de Seleção à Pós-Graduação – 1 o Semestre 2006 A prova é constituída de oito (8) questões de mesmo peso. Todas as respostas devem vir acompanhadas de justificativa. 1. Em um espetáculo circense, um artista apresentou-se sentado sobre um carrinho em uma pista tipo “montanha russa” e que termina em um “loop” no plano vertical. Supondo que o “loop” é uma circunferência de raio R, que o atrito entre o carrinho e a pista pode ser desprezado e que o artista está amarrado ao carrinho, qual é a menor velocidade escalar v que o carrinho deverá ter no topo do “loop” para permanecer em contato com a pista? Para determinar v, responda às perguntas abaixo, sabendo que até o item (f) o referencial está fixo à Terra: a) Coloque as forças (representadas por setas) que atuam no sistema carrinho-artista nos seguintes pontos do “loop”: ponto mais baixo, ponto mais à direita e ponto mais alto ou topo. Qual a origem (quem produz) e tipo (eletromagnética, forte, fraca ou gravitacional) de cada força? b) Represente por setas a força resultante nos mesmos pontos. c) Represente por setas a aceleração nos mesmos pontos. d) Representa por setas a velocidade nos mesmos pontos e) Escreva a lei de Newton (vetorial) no topo do “loop”. f) Escolha um sistema de coordenadas fixo no topo do “loop” e obtenha o valor da velocidade escalar v mínima para permanecer na pista. g) Considere agora um referencial fixo no carrinho. O sistema de coordenadas a considerar segue o carrinho e tem o eixo X sempre apontado para o centro do “loop”. Como fica a Lei de Newton e o cálculo de v? h) Diga o que você entende pelas expressões “força centrípeta” e “força centrífuga”? 2. Um mol de gás ideal, inicialmente a uma temperatura T e ocupando um volume V, pode realizar um dos seguintes processos termodinâmicos: a) Expansão isotérmica reversível até o volume 2V, em contato com um reservatório térmico a temperatura T. b) Expansão livre até o volume 2V, em um recipiente de paredes adiabáticas. Para cada um dos processos, calcule: i) variação de temperatura; ii) variação de energia interna; iii) trabalho realizado; iv) calor fornecido; v) variação de entropia do gás; vi) variação de entropia do universo. Comente o resultado obtido no item (vi) com base na 2ª Lei da Termodinâmica. Exprima todos os seus resultados em termos de V, T e R (constante universal dos gases). 3. Em 1907, Einstein formulou um modelo para calcular o calor específico de um sólido que explicou uma conhecida discrepância entre as medidas experimentais e o resultado previsto pela termodinâmica clássica, dando grande impulso à nova teoria quântica. FORÇA RESULTANTE ACELERAÇÃO VELOCIDADE Suponha que um sólido seja formado por N átomos (N >>1). Levando-se em conta apenas as vibrações atômicas, dentro da aproximação harmônica, a hamiltoniana do sólido pode ser escrita como ∑ = ++= N i iii qqEH 3 1 222 0 )( ω& , onde qi são coordenadas normais generalizadas e iω são as freqüências associadas aos 3N modos normais de vibração. O sólido pode então ser entendido como um conjunto de 3N osciladores harmônicos desacoplados, onde E0 é a energia potencial mínima. (a) Usando o Teorema da Equipartição da Energia, obtenha o resultado clássico para a capacidade térmica a volume constante (CV) do sólido. Este resultado foi primeiramente descoberto de forma empírica e é conhecido como a Lei de Dulong e Petit. (b) Considere agora que os osciladores agora são quânticos, de modo que cada um deles pode ter energia iii n ωε h)( 2 1+= . Calcule a função de partição de um oscilador (Z1). (c) Suponha agora, como Einstein, que todos os modos normais têm a mesma freqüência ω . Calcule a função de partição do sistema de 3N osciladores e a energia média do sólido a temperatura T. (d) Compare a energia do estado fundamental (limite 0→T ) com o valor clássico E0. Discuta fisicamente. (e) Obtenha CV como função de T. (f) Mostre que no limite kT ωh>> , CV se aproxima do valor clássico obtido no item (a). (g) Discuta o limite kT ωh e En respectivamente. Despreze o spin do elétron. Coloque o átomo num campo elétrico fraco e uniforme, ε , que aponta na direção +z. A presença deste campo externo altera levemente os níveis de energia do átomo que podem ser recalculados por teoria de perturbação. O hamiltoniano perturbativo é ze'H ε= . a) Mostre que o desvio de energia do estado fundamental, ∆E, se anula em primeira ordem de perturbação em ε . b) Mostre que o desvio de energia em segunda ordem tem a forma: 2 2 1 E αε−=∆ sendo α a polarizabilidade do átomo. Mostre de sua fórmula que α é positivo. c) Estime a ordem de grandeza de α. d) Derive a regra de seleção = 0, se 'mm ≠ . e) Considere agora os quatro estados do nível n=2 do átomo e calcule, em primeira ordem, as energias e os estados deste sub-espaço. Fatos importantes sobre o átomo de hidrogênio: 2 B 2 2 4 22 na e n me En −=−= h sendo m a massa do elétron e 2 2 B me a h= o raio de Bohr. a r a r a r e a r a e a r a e a 2 3 210 2 3200 3 100 cos 32 1 2 32 1 16 2 − − − = −= = θ π ψ π ψ π ψ 5. Positrônium é um átomo exótico que liga elétrons e pósitrons. Estas são partículas de mesma massa e spin 1/2 mas de cargas opostas. Um hamiltoniano fenomenológico descrevendo o desdobramento, devido ao spin, do nível de energia 1S é 1 2 H AS.S → → = sendo A um parâmetro a ser determinado pelo experimento e, → kS , k =1,2, os operadores de spin do elétron e pósitron, respectivamente. a) Encontre as energias dos quatro estados de H tendo spin total j bem definidos e projeção de spin total m. Rotule estes estados pelo ket |jm>. Mostre claramente a relação entre a base dos spins individuais e a nova base de spin total. b) O valor encontrado para a freqüência do fóton emitido na transição de j=1 (tripleto) e j=0 (singleto) é de Hzx 11102=ν . Determine, desta medida, o valor do parâmetro fenomenológico A. 6. Uma esfera condutora de raio a , isolada e descarregada, está situada em um campo elétrico uniforme E0 ẑ . Este campo elétrico tem sua origem em uma distribuição de cargas situada em um ponto muito distante da esfera e permanece inalterado pela presença da mesma. a) Calcule o campo no interior da esfera. b) Faça um esboço das linhas linha de campo dento e fora da esfera. c) Quais as condições de contorno para o potencial em er a r= → ∞ . d) Usando as condições de contorno do item (c) e a solução geral da equação de Laplace para campos com simetria axial (dada abaixo) calcule o campo fora da esfera. Dados: φ φθ θ θ ˆ sen 1ˆ1ˆ ∂ ∂+ ∂ ∂+ ∂ ∂=∇ rr r r Solução geral da equação de Laplace para campos com simetria axial: ( )( ) ( )1 0 cos n n n n n n V A r B r P θ ∞ − + = = +∑ N ( )cosn n r P θ ( ) ( )1 cos n n r P θ− + 0 1 r -1 1 cosr θ r2 cosθ 2 ( )2 2 3cos 1 2 r θ − ( )2 3 3cos 1 2 r θ − − ( ) ( ) ( ) 1 1 0 se cos cos cos 2 se 2 1 m n m n P P d m n n θ θ θ + − ≠ = = + ∫ 7. Na figura abaixo, uma barra condutora de comprimento L desliza (sem atrito) com velocidade constante v ao longo de trilhos condutores. Nesta região existe um campo magnético, B, gerado pela corrente, i, que flui em um longo fio condutor paralelo aos trilhos, como mostra a figura. a) Faça um esboço das linhas de campo em torno do fio. b) Calcule a FEM induzida na barra. c) Se a resistência da barra é R, qual a corrente induzida no circuito. d) Qual a força exercida por um agente externo para manter a barra em movimento uniforme. 8. Uma das técnicas utilizadaspara se implantar átomos em materiais é produzir íons destes átomos, acelerá-los até a energia desejada e enviá-los sobre o material de interesse. Isto é possível porque um íon no interior da matéria tem uma trajetória bastante retilínea e um alcance (distância percorrida dentro do material) de valor médio bem definido, a menos de pequenas flutuações estatísticas. Para se chegar ao valor teórico do alcance é preciso obter a perda de energia cinética do íon por unidade de comprimento, dE/dx, para depois integrá-la. Vamos desenvolver um modelo simplificado, clássico e não-relativístico, para o cálculo do dE/dx de um próton (massa M e carga +e) e de energia cinética E, da ordem de 1 MeV, e velocidade v, incidindo em um material condutor. Para isto consideraremos que a perda de energia do próton vem de colisões binárias do mesmo com elétrons livres (massa m e carga -e), bastante lentos, que podem ser considerados em repouso. O cálculo é semelhante ao que você viu em Mecânica Clássica quando estudou o espalhamento de Rutherford, com a diferença que naquele caso o alvo era um núcleo de mesma carga e agora é um elétron de carga oposta. Como o próton perde pouca energia em cada colisão, vamos considerar sua energia constante e obter a perda da mesma a partir da energia (momento) transferida ao elétron. a) Justifique qualitativamente a possibilidade de se fazer um cálculo clássico (não-quântico) e não-relativístico no caso apresentado. b) Por que os elétrons podem ser considerados “lentos” neste caso? c) Do ponto de vista do resultado da colisão, qual a diferença entre ter um próton como projétil colidindo com um núcleo ou ter um elétron como projétil, levando em conta a massa e a carga dos mesmos. d) Justifique qualitativamente por que somente a componente do impulso, perpendicular à trajetória, produzido pela passagem do próton e sentido pelo elétron é relevante. e) Calcule a componente perpendicular média do impulso. Sugestão: considere uma superfície gaussiana cilíndrica, centrada na trajetória do próton e passando pela posição do elétron (ou seja, raio igual ao parâmetro de impacto b). f) Nas condições do item anterior, obtenha a expressão do momento final transferido ao elétron e a energia cinética correspondente. Observação: a integração no parâmetro de impacto b leva a expressão: dE/dx=(Ae 4 n/mV 2 )ln(bmax/bmin), onde n é o número médio de elétrons por unidade de volume do material e A uma constante que depende do sistema de unidades utilizado (você não precisa fazer esta integração). A escolha criteriosa dos limites de integração permite obter uma expressão muito semelhante à calculada mais precisamente por Bethe. i a L v