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EeConcursos 2009/2010
CONCURSO POLÍCIA MILITAR E BOMBEIROS DO PR
APOSTILA DE CIÊNCIAS HUMANAS
Problemas éticos e políticos: Estado, sociedade e poder, democracia, constituição da cidadania, poder,
liberdade, emancipação e dever, a questão da justiça, da liberdade e autonomia......................................02
A relação da arte com a sociedade: a Indústria Cultural e cultura de massa, a reprodutibilidade técnica da
arte, a questão da arte e da indústria cultural..............................................................................................14
Os processos sociais e suas expressões territoriais: atividades econômicas e dinâmicas populacionais,
urbanização, industrialização, produção de conhecimentos, transformações tecnológicas e o mundo do
trabalho, apropriação privada da terra, a cidade, o campo.........................................................................21
A constituição dos blocos de poder e as transformações territoriais: redes de circulação, desigualdades
regionais......................................................................................................................................................51
Antiguidade Ocidental: cultura Greco-Romana, a constituição e o desenvolvimento da Pólis grega, Roma
Republicana e Imperial................................................................................................................................62
Mundo Ocidental Durante o Medievo: a sociedade feudal Européia...........................................................99
Mundo na Modernidade: a cultura e a ciência, a conquista e a colonização da América e do
Brasil...........................................................................................................................................................105
A revolução industrial: cultura e trabalho na Europa, nas colônias anglo-hispânicas e no Brasil..............141
as várias formas de trabalho: escravo, servil e assalariado.......................................................................156
a consolidação do capitalismo: dominação, conflitos e resistências..........................................................157
Culturas de massa e vanguardas artísticas: as relações entre o erudito e o popular, globalização, neo-
liberalismos, a questão ambiental e a sociedade do conhecimento..........................................................160
A exclusão na contemporaneidade: etnias, nacionalismos, religiões e sexualidades...............................177
Indivíduo, Identidade e Socialização: a questão da identidade nas várias sociedades; a emergência do
indivíduo/individualidade e do individualismo; a diversidade do processo de socialização; a questão da
família e da escola na formação do indivíduo............................................................................................195
Estrutura e Estratificação Social / As desigualdades Sociais: a relação entre a estrutura social e a
estratificação: as castas, os estamentos e as classes; as várias formas de desigualdades sociais e a
diversidade das explicações teóricas.........................................................................................................211
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Problemas éticos e políticos: Estado, sociedade e poder, democracia,
constituição da cidadania, poder, liberdade, emancipação e dever, a
questão da justiça, da liberdade e autonomia.
Estado é uma instituição organizada política, social e juridicamente, ocupando
um território definido, normalmente onde a lei máxima é uma Constituição
escrita, e dirigida por um governo que possui soberania reconhecida tanto
interna como externamente. Um Estado soberano é sintetizado pela máxima
"Um governo, um povo, um território". O Estado é responsável pela
organização e pelo controle social, pois detém, segundo Max Weber, o
monopólio legítimo do uso da força (coerção, especialmente a legal).
Normalmente, grafa-se o vocábulo com letra maiúscula, a fim de diferenciá-lo
de seus homônimos. Há, entretanto, uma corrente de filólogos que defende sua
escrita com minúscula, como em cidadania ou civil. Não com o objetivo de ferir
a definição tradicional de Estado, mas a fim de equiparar a grafia a outros
termos não menos importantes.
O reconhecimento da independência de um estado em relação aos outros,
permitindo ao primeiro firmar acordos internacionais, é uma condição
fundamental para estabelecimento da soberania. O Estado pode também ser
definido em termos de condições internas, especificamente (conforme
descreveu Max Weber, entre outros) no que diz respeito à instituição do
monopólio do uso da violência.
O conceito parece ter origem nas antigas cidades-estados que se
desenvolveram na antiguidade, em várias regiões do mundo, como a Suméria,
a América Central e no Extremo Oriente. Em muitos casos, estas cidades-
estados foram a certa altura da história colocadas sob a tutela do governo de
um reino ou império, seja por interesses económicos mútuos, seja por
dominação pela força. O estado como unidade política básica no mundo tem,
em parte, vindo a evoluir no sentido de um supranacionalismo, na forma de
organizações regionais, como é o caso da União Europeia.
Os agrupamentos sucessivos e cada vez maiores de seres humanos procedem
de tal forma a chegarem à ideia de Estado, cujas bases foram determinadas na
história mundial com a Ordem de Wetsfalia (Paz de Vestfália), em 1648. A
instituição estatal, que possui uma base de prescrições jurídicas e sociais a
serem seguidas, evidencia-se como "casa forte" das leis que devem regimentar
e regulamentar a vida em sociedade.
Desse modo, o Estado representa a forma máxima de organização humana,
somente transcendendo a ele a concepção de Comunidade Internacional.
Em Sociologia, uma sociedade é o conjunto de pessoas que compartilham
propósitos, gostos, preocupações e costumes, e que interagem entre si
constituindo uma comunidade. A sociedade é objeto de estudo comum entre as
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ciências sociais, especialmente a Sociologia, a História, a Antropologia e a
Geografia.
Em Biologia, sociedade é um grupo de animais que vivem em conjunto, tendo
algum tipo de organização e divisão de tarefas, sendo objeto de estudo da
Sociobiologia.
Uma sociedade é um grupo de indivíduos que formam um sistema semi-
aberto, no qual a maior parte das interações é feita com outros indivíduos
pertencentes ao mesmo grupo. Uma sociedade é uma rede de relacionamentos
entre pessoas. Uma sociedade é uma comunidade interdependente. O
significado geral de sociedade refere-se simplesmente a um grupo de pessoas
vivendo juntas numa comunidade organizada.
A origem da palavra sociedade vem do latim societas, uma "associação
amistosa com outros". Societas é derivado de socius, que significa
"companheiro", e assim o significado de sociedade é intimamente relacionado
àquilo que é social. Está implícito no significado de sociedade que seus
membros compartilham interesse ou preocupação mútuas sobre um objetivo
comum. Como tal, sociedade é muitas vezes usado como sinônimo para o
coletivo de cidadãos de um país governados por instituições nacionais que
lidam com o bem-estar cívico.
Pessoas de várias nações unidas por tradições, crenças ou valores políticos e
culturais comuns, em certas ocasiões também são chamadas de sociedades
(por exemplo, Judaico-Cristã, Oriental, Ocidental etc.). Quando usado nesse
contexto, o termo age como meio de comparar duas ou mais "sociedades"
cujos membros representativos representam visões de mundo alternativas,
competidoras e conflitantes.
Também, alguns grupos aplicam o título "sociedade" a eles mesmos, como a
"Sociedade Americana dee serviços em geral. No plano
psicossocial, manifesta-se pelo aparecimento de uma nova personalidade.
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A deterioração do meio urbano é uma das conseqüências mais evidentes da
rapidez com que se processa a urbanização. Em decorrência, esse meio
apresentasse incompleto e imperfeito: favelas, habitações deterioradas, zonas
a renovar e recuperar, superposição de funções e outras anomalias. O
remanejamento exige mais do que o planejamento material simples: aumento
da rede de serviços, ampliação da oferta em habitações e racionalização da
ocupação do solo. Torna-se fundamental a criação de novas estruturas,
correspondentes à nova realidade.
Conceito de Urbanização
A urbanização resulta fundamentalmente da transferência de pessoas do meio
rural (campo) para o meio urbano (cidade). Assim, a idéia de urbanização está
intimamente associada à concentração de muitas pessoas em um espaço
restrito (a cidade) e na substituição das atividades primárias (agropecuária) por
atividades secundárias (indústrias) e terciárias (serviços). Entretanto, por se
tratar de um processo, costuma-se conceituar urbanização como sendo "o
aumento da população urbana em relação à população rural", e nesse sentido
só ocorre urbanização quando o percentual de aumento da população urbana é
superior a da população rural.
A urbanização no mundo
A Inglaterra foi o primeiro país do mundo a se urbanizar (em 1850 já possuía
mais de 50% da população urbana), no entanto a urbanização a celerada da
maior parte dos países desenvolvidos industrializados só ocorreu a partir da
segunda metade do século XIX. Além disso, esses países demoram mais
tempo para se tornar urbanizados que a maioria dos atuais países
subdesenvolvidos industrializados.
Vemos, então, que, em geral, quanto mais tarde um país se torna
industrializado tanto mais rápida é sua urbanização. Observe esses dados:
• Em 1900 existiam no mundo dezesseis cidades com população superior
a 1 milhão de habitantes. Dessa, somente duas (Pequim e Calcutá)
pertenciam ao Terceiro Mundo.
• Em 1950 havia vinte cidades no mundo com população superior a 2,5
milhões de habitantes. Dessas, apenas seis (Xangai, Buenos Aires,
Calcutá, Bombaim, Cidade do México e Rio de Janeiro) estavam
situadas no Terceiro Mundo. Observação: a cidade de São Paulo nem
constava dessa lista.
• Para o ano 2000, as estimativas mostram que, das 26 aglomerações
urbanas com mais de 10 milhões de habitantes, nada menos que vinte
delas estarão no Terceiro Mundo. A maior aglomeração urbana mais
populosa do mundo será a Cidade do México, com 32 milhões de
habitantes, o equivalente à população da Argentina em 1990. São Paulo
aparece como a segunda aglomeração urbana, com 26 milhões de
habitantes.
Urbanização nos diferentes grupos de países
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Considerando-se os vários agrupamentos de países, a situação urbana pode
ser simplificada como mostramos a seguir:
Países capitalistas desenvolvidos. A maior parte desses países já atingiu
índices bastante elevados e, praticamente, máximos de urbanização. A
tendência, portanto, é de estabilização em torno de índices entre 80 e 90%,
embora alguns já tenham ultrapassado os 90%.
População urbana em alguns países desenvolvidos industrializados (1989):
País Percentual
Bélgica 97
Reino Unido 92,5
Holanda 88,5
RFA 86
Japão 77
França 74
EUA 74
Países capitalistas subdesenvolvidos: Nesse grupo, bastante heterogêneo,
destacamos:
Subdesenvolvidos industrializados: A recente e rápida industrialização
gerou acentuado desequilíbrio das condições e da expectativa de vida entre a
cidade e o campo, resultando num rapidíssimo processo de urbanização,
porém com conseqüências muito drásticas (subemprego, mendicância, favelas,
criminalidade etc.). Isso porque o desenvolvimento dos setores secundário e
terciário não acompanhou o ritmo da urbanização, além da total carência de
uma firme política de planejamento urbano. Alguns desses países apresentam
taxas de urbanização iguais e até superiores às de países desenvolvidos,
embora, com raras exceções, a urbanização dos países subdesenvolvidos se
apresente em condições extremamente precárias (favelas, cortiços etc.).
População urbana em alguns países subdesenvolvidos industrializados
(1989):
País Percentual
Cingapura 100
Argentina 86
Brasil 76
México 72
Coréia do
Sul 70
Formosa 67
Subdesenvolvidos não-industrializados: Em virtude do predomínio das
atividades primárias, a maior parte desses países apresenta baixos índices de
urbanização,
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Países socialistas: Os países socialistas são relativamente pouco urbanizados.
A razão fundamental está na planificação estatal da economia, que tem
permitido ao estado controlar e direcionar os recursos (investimentos), podendo
assim exercer maior influência na distribuição geográfica da população. Os
índices de população urbana dos países socialistas desenvolvidos são
semelhantes aos dos subdesenvolvidos industrializados.
Êxodo Rural
Êxodo Rural: a população tende a sair do campo para a cidade.
Urbanização: é o aumento da população urbana sobre a população rural.
O êxodo rural dá-se pela repulsão do campo e atração da cidade.
Repulsão do Campo:
Superpopulação relativa
Força de trabalho excedente devido à mecanização do trabalho no campo.
Carência de terras devido ao monopólio das terras se concentrar nas mãos da
elite.
Atração pela Cidade:
• Destituída dos meios de sobrevivência na zona rural, essa população
dirige-se às cidades em busca de empregos e serviços
públicos.
• A função das cidades é integrar a agricultura às necessidades do
mercado urbano.
O espaço urbano no Brasil
Crescimento urbano – crescimento da população que vive nas cidades.
Urbanização – corresponde à transferência de populações originárias das
zonas rurais em direção às cidades.
Urbanização no Brasil
O processo de urbanização brasileira começou a partir de 1940, como
resultado da modernização econômica e do grande desenvolvimento industrial
graças à entrada de capital estrangeiro no país.
As empresas transnacionais preferiram se instalar nas cidades em que a
concentração populacional fosse maior e de melhor infra-estrutura, dando
origem às grandes metrópoles. A industrialização gerou empregos para os
profissionais qualificados, expandiu a classe média e o nível de consumo
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urbano. A cidade transformou-se num padrão de modernidade, gerando o
êxodo rural.
A tecnologia e o nível de modernização econômica não estavam adaptados à
realidade brasileira.
A migração campo-cidade gerou desemprego e aumento das atividades do
setor terciário informal.
O modelo de desenvolvimento econômico e social adotado no Brasil a partir
dos anos 50 levou a um processo de metropolização. Ocorrência do fenômeno
da conturbação, que constituem as regiões metropolitanas (criadas em 1974 e
1975).
A partir da década de 80 houve o que se chama de desmetropolização, com os
índices de crescimento econômico maiores nas cidades médias, havendo
assim um processo de desconcentração econômica.
Outras regiões passaram a atrair mais que as regiões metropolitanas, havendo
também desconcentração populacional.
Está ocorrendo um declínio da importância das metrópoles na dinâmica social
e econômica do país. Um número crescente de cidades passou a pertencer ao
conjunto das cidades médias e grandes.
Podemos dizer que o Brasil se modernizou e que a grande maioria da
populaçãobrasileira, já está de alguma forma integrada aos sistemas de
consumo, produção e informação.
Existe hoje uma integração entre o Brasil urbano e o agrário, um absolvendo
aspectos do outro. A produção rural incorporou inovações tecnológicas
produzidas nas cidades. O Brasil rural tradicional está desaparecendo e
sobrevive apenas nas regiões mais pobres.
A produção comercial está cada vez mais voltada para a cidade. A
produtividade aumentou e o meio rural integrou-se aos principais mercados
nacionais e internacionais.
A implantação de modernos sistemas de transportes e de comunicações
reduziu as distâncias e possibilitou a desconcentração das atividades
econômicas, que se difundiram por todo o país e hoje são coordenadas a partir
de diretrizes produzidas nos grandes centros nacionais e internacionais.
Segundo o modelo informacional, São Paulo é a metrópole mundial brasileira
que exerce controle sobre os principais sistemas de comunicação que
difundem as inovações por todo o país, através dos meios de comunicação.
Observa-se uma ruptura com a hierarquia urbana tradicional e a formulação de
um novo modelo de relações, muito mais complexo e adequado ao quadro
social e econômico do Brasil contemporâneo.
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Até poucas décadas atrás, o Brasil era um país de economia agrária e
população majoritariamente rural.
Hoje, 8 em cada 10 brasileiros vivem em cidades A concentração de pessoas
em centros urbanos traz uma série de implicações, sejam elas de ordem social,
econômica ou ambiental.
O sentido mais usual, da urbanização, é o de crescimento urbano, ou seja,
refere-se à expansão física da cidade, mediante o aumento do número de ruas,
praças, moradias, etc. Nesse caso, ela não tem limite, a ponto de unirem-se
umas às outras, num fenômeno conhecido por conturbação.
Um outro sentido atribuído à urbanização envolve o crescimento da população
das cidades, acontecendo em um ritmo superior ao da população rural.
É na expansão do modo de vida urbano que podemos localizar importantes
elementos para a análise do processo de urbanização no momento presente.
A urbanização do século XX foi marcada por importantes características, a
começar pelo ritmo bastante acelerado de crescimento das cidades e pela sua
abrangência, agora mundial. De fato, as transformações que o capitalismo
promoveu em diversas sociedades nacionais contribuíram para que este
processo se desencadeasse em diversas nações, mesmo naquelas onde a
industrialização não foi representativa, isto é, em diversas áreas do mundo
subdesenvolvido. Uma outra característica se refere ao processo de
metropolização. De fato, as metrópoles encontram-se generalizadas, embora
sua presença seja mais marcante nos EUA, Japão, China, Europa Ocidental e
América Latina.
As metrópoles exercem influência em praticamente todo o território nacional,
promovendo a difusão de novas formas de vida, além de imprimirem mudanças
na organização do espaço geográfico.
Na atualidade, de cada 100 brasileiros, aproximadamente 78 vivem em
cidades. Apesar de o ritmo de urbanização estar declinando em nosso país,
ainda ocorre transferência de população do meio rural para o meio urbano. Os
grandes centros urbanos do Brasil convivem com uma série de problemas,
tanto socioculturais como ambientais e econômicos. Os engarrafamentos
quilométricos, geradores de fumaça e ruídos que interferem na qualidade de
vida; a volumosa produção de lixo, o que exige espaço para o seu depósito e
cuidados ecológicos com o seu manejo; a carência de áreas verdes para o
lazer e o entretenimento das pessoas; a especulação imobiliária que conduz a
ocupações irregulares, muitas delas ocorrendo em áreas de preservação, como
os fundos de vales.
Por outro lado, as metrópoles não representam apenas problemas,
aparentemente insolúveis. Ao contrário, seu extraordinário dinamismo é
gerador de ofertas de trabalho e de negócios, além de concentrador de
recursos financeiros e de consumo. Nesse sentido, sua dinâmica também
promove soluções para as dificuldades que fazem parte de seu cotidiano.
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A INDUSTRIALIZAÇÃO DO ESPAÇO MUNDIAL
As origens do processo de industrialização remontam ao século XVlll, quando
na sua segunda metade, emergem na Inglaterra, grande potência daquele
período, uma série de transformações de ordem econômica, política, social e
técnica, que convencionou-se chamar de Revolução Industrial.
Hoje esse processo já é conhecido como 1ª Revolução Industrial, pois nos
séculos XlX, e no XX, novas transformações geraram a emergência das 2ª e 3ª
Revoluções Industriais.
As transformações de ordem espacial a partir da indústria foram enormes,
podemos citar como exemplo as próprias mudanças ocorridas na Inglaterra do
século XlX, onde a indústria associada a modernização do campo, gerou a
expulsam de milhares de camponeses em direção das cidades, o que gerou a
constituição de cidades industriais que nesse mesmo século ficaram
conhecidas como cidades negras, em decorrência da poluição atmosférica
gerada pelas indústrias. Além disso, ocorreu uma grande mudança nas
relações sociais, as classes sociais do capitalismo ficaram mais claras, de um
lado os donos dos meios de produção ( burguesia), que objetivavam em
primeiro lugar lucros cada vez maiores, através da exploração da mão de obra
dos trabalhadores que ganhavam salários miseráveis, e trabalhavam em
condições precárias, esses por sua vez constituindo o chamado proletariado,
(classe que vende sua força de trabalho em troca de um salário), que só vieram
conseguir melhorias a partir do século XX, e isso fruto de muitas lutas, através
de greves que forçaram os patrões e Estados a concederem benefícios a essa
camada da sociedade.
O avanço da indústria, especialmente a partir do século XlX, deu-se em direção
de outros países europeus como a França, a Bélgica, a Holanda, a Alemanha,
a Itália, e de países fora da Europa, como os EUA na América e o Japão na
Ásia, a grosso modo esses países viriam a ser no século vindouro, as
potências que iriam dominar o mundo, em especial os EUA, que hoje sem
sombra de dúvidas são a maior potência não apenas econômica, industrial,
mas também militar do planeta.
A partir do século XX, especialmente após a 2ª Guerra Mundial, países do
chamado terceiro mundo, também passaram por processos de industrialização,
como é o caso do Brasil. Nesses países foi muito marcante a presença do
Estado nacional no processo de industrialização, e das empresas
multinacionais (empresas estrangeiras), que impulsionaram esse processo, e
fizeram que alguns países da periferia do mundo hoje sejam potências
industriais. Só que diferentemente do que ocorreu nos países do mundo
desenvolvido, a industrialização não resultou necessariamente na melhoria de
vida das populações, ou no desenvolvimento do país, pois esse processo nos
países subdesenvolvidos se deu de forma dependente de capitais
internacionais, o que gerou um aprofundamento da dependência externa, como
o que é expresso através das dívidas externas, além do que, as indústrias que
para cá vieram por já serem relativamente modernas não geraram o número de
empregos necessários para absorver a mão de obra cada vez mais numerosa
que vinha do campo para as cidades, isso fez com que ocorresse um processo
de metropolização acelerado, que não foi acompanhado de implantação de
infra- estrutura e da geração de empregos, o que gerou um dos maiores
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problemas dos países subdesenvolvidos hoje o inchaço das grandes cidades,
com os problemas decorrentes do mesmo.
A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA
Pensar na origem da indústria no Brasil, tem quese incluir necessariamente, a
economia cafeeira desenvolvida no pais durante o século XlX e boa parte do
XX, pois ela foi quem deu as bases para o surgimento da indústria no país, que
começou a ocorrer ainda na Segunda metade do século XlX. Dentre as
contribuições da economia cafeeira para a industrialização, podemos
mencionar:
a) Acumulação de capital necessário para o processo;
b) Criação de infra-estrutura;
c) Formação de mercado de consumo;
d) Mão de obra utilizada, especialmente os migrantes europeus não
portugueses, como os italianos.
No início do século XX, a industrialização brasileira ainda era incipiente, era
mais vantajoso investir no café, por exemplo, do que na indústria. Com a crise
de 1929, o rumo da economia brasileira muda. Com a subida ao poder de
Vargas, emerge o pensamento urbano industrial, na chamada era Vargas, o
processo de industrialização é impulsionado, com base nas políticas de caráter
keynesiano. O intervencionismo estatal na economia é cada vez maior, criam-
se empresas estatais como CVRD, Petrobrás, Eletrobrás, etc., com o objetivo
de industrializar o país.
No governo de JK, se dá a abertura ao capital internacional, representado
pelas empresas multinacionais e pelos enormes empréstimos para o
estabelecimento de infra estrutura e de grandes obras como a construção da
capital federal no centro do país, no planalto central, Brasília.
Durante a ditadura militar, o Plano de metas de JK é continuado, grandes
projetos são estabelecidos, a economia do país chega a tornar-se a oitava do
mundo. Durante o chamado milagre brasileiro(1968-1973), a economia
brasileira passa a ser uma das que mais cresce, essa festa toda só é parada
em decorrência da Crise do petróleo, que se dá a partir de 1973.
A grande contradição desse crescimento se deve ao fato que, por um lado ele
foi gerado pelo grande endividamento externo, e por outro através de grande
repressão ( vide o AI 5), e arrocho salarial , sobre a classe trabalhadora
brasileira, confirmando a tendência de Modernização conservadora da
economia nacional.
A partir da década de 90, e da emergência das idéias neoliberais, o processo
de industrialização do país toma novo rumo, com a privatização de grande
parte das estatais e da abertura cada vez maior da economia do país ao capital
internacional, além da retirada de direitos trabalhistas históricos.
Mudanças espaciais também são verificadas na distribuição atual das
indústrias no país, pois desde o início da industrialização, a tendência foi de
concentração espacial no Centro-sul, especialmente em São Paulo, isso fez
com que esse estado se torna-se o grande centro da economia nacional e em
decorrência disso recebesse os maiores fluxos migratórios, mas o que se
verifica atualmente é que a tendência mundial atual de desconcentração
industrial também tem se abalado sobre o Brasil, pois localidades do interior
de São Paulo, do Sul do país e até mesmo estados nordestinos começam a
receber plantas industriais que em outros tempos se dirigiriam sem sombra de
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dúvidas para a capital paulista. Esse processo se deve em especial a
globalização da economia que tem acirrado a competição entre as empresas,
que com isso buscam a redução dos custos de produção buscando produzir
onde é mais barato. Esse processo todo tende a redesenhar não apenas o
espaço industrial brasileiro, mas de várias áreas do mundo. O mais
interessante no caso brasileiro, é que ele não tem enfraquecido o papel de São
Paulo como cidade comandante da economia nacional, mas pelo contrário
fortalece, pois o que se desconcentra é a produção e não a decisão.
CLASSIFICAÇÃO DAS INDÚSTRIAS
As indústrias podem ser classificadas com bases em vários critérios, em geral
o mais utilizado é o que leva em consideração o tipo e destino do bem
produzido:
a) Indústrias de base: são aquelas que produzem bens que dão a base
para o funcionamento de outras indústrias, ou seja, as chamadas matérias
primas industrias ou insumos industriais, como o aço.
b) Indústrias de bens de capital ou intermediárias: são aquelas que
produzem equipamentos necessários para o funcionamento de outras
indústrias, como as de máquinas.
c) Indústrias de bens de consumo: são aquelas que produzem bens para
o consumidor final, a população comum, elas subdividem-se em:
c.1) Bens duráveis: as que produzem bens para consumo a longo prazo,
como automóveis.
c.2) Bens não duráveis: as que produzem bens para consumo em geral
imediato, como as de alimentos.
Se levarmos em consideração outros critérios como por exemplo:
1-Maneira de produzir:
a) Indústrias extrativas;
b) Indústrias de processamento ou beneficiamento;
c) Indústria de construção;
d) Indústria de transformação ou manufatureira.
2-Quantidade de matéria prima e energia utilizadas:
a) Indústrias leves;
b) Indústrias pesadas.
3-Tecnologia empregada:
a) Indústrias tradicionais;
b) Indústrias dinâmicas.
OS FATORES LOCACIONAIS
Fatores locacionais devem ser entendidos como as vantagens que um
determinado local pode oferecer para a instalação de uma indústria.
Podem ser eles:
- Matéria prima abundante e barata;
- Mão de obra abundante e barata;
- Energia abundante e barata;
- Mercados consumidores;
- Infra estrutura;
- Vias de transporte e comunicações;
- Incentivos fiscais;
- Legislações fiscais, tributárias e ambientais amenas.
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Durante a 1ª Revolução industrial as indústrias inglesas se concentraram nas
proximidades das bacias carboníferas, o que fez com que ali surgissem
importantes cidades industriais, que ganharam o apelido de cidades negras,
isso se deu em decorrência do pequeno desenvolvimento em especial dos
meios de transporte. Na 2ª Revolução Industrial do final do século XlX, com o
desenvolvimento de novos meios de transporte ( ferrovia) e a utilização de
novas fontes de energia ( eletricidade, petróleo, etc.) houve uma maior
liberdade na implantação de indústrias que fez com que surgissem novas áreas
industriais.
No século XX as metrópoles urbano industriais passaram a concentrar as
maiores e mais importantes indústrias, o que as tornou o centro da economia
de vários países do planeta, como é o caso da região metropolitana de São
Paulo no Brasil, ou do Manufacturing Belt nos EUA. Atualmente a tendência é a
da desconcentração industrial, onde as indústrias buscam novos locais onde os
custos de produção sejam menores, como ocorre com o chamado Sun Belt nos
EUA, ou na relocalização produtiva que estamos verificando no Brasil, isso
gera uma mudança significativa dos fluxos migratórios, cidades como São
Paulo ou Rio de Janeiro, deixam de ser as maiores captadoras de pessoas,
cedendo esse posto para cidades do interior de São Paulo dentre outras
localidades.
A TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Na década de 1970, a crise do petróleo fez com que emergisse para o mundo
algo que já vinha sendo gerado no decorrer do século XX, a 3ª Revolução
Industrial, também chamada de Revolução tecnocientífica informacional.
Esta por sua vez correspondia aos avanços tecnológicos em especial da
informação e dos transportes, representado por invenções como por exemplo
Internet, e os aviões supersônicos. Os avanços nesses setores tornaram o
mundo menor, encurtaram as distâncias e em alguns casos aniquilaram o
espaço em relação ao tempo, como o que vemos com a telefonia, dentre tantos
outros exemplos.
Tudo isso gerou e tem gerado transformações colossais no espaço geográfico
mundial, as indústrias buscam a inovação, investem em novas tecnologias, em
especial naquelas que poupem mão de obra como a robótica,o desemprego
estrutural se expande. Antigas regiões industriais entram em decadência com o
processo de desconcentração industrial, surgem novas regiões industriais.
Surge a fábrica global, que se constitui na estratégia utilizada pelas grandes
empresas internacionais de produzir se utilizando das vantagens comparativas
que oferecem os variados países do mundo. A terceirização, também torna-se
algo comum, como o que ocorre com empresas de calçados como a NIKE, que
não tem um único operário em linhas de produção, pois não produz apenas
compra de empresas menores.
Fruto também da revolução tecnocientífica informacional, surgem os chamados
Técnopolos, locais, que podem ser cidades ou até mesmo bairros onde se
instalam empresas de alta tecnologia como uma Microsoft, em geral
associadas a instituições de pesquisa como universidades. É o caso do Vale do
Silício nos EUA, Tsukuba no Japão, e cidades como Campinas e São Carlos
no Brasil.
AS MULTINACIONAIS OU TRANSNACIONAIS
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A partir do final do século XlX, começam a surgir os primeiros trustes
(modalidade de concentração e centralização do capital), os quais dão origem
a empresas multinacionais, que correspondem aquelas que se expandem para
além das fronteiras onde surgiram, algumas tornando-se verdadeiras empresas
globais, como é o caso da Coca-cola.
A grande arrancada das multinacionais em direção dos países
subdesenvolvidos se deu a partir do pós 2ª Guerra mundial, quando várias
empresas dos EUA, Europa e Japão, passaram a se aproveitar das vantagens
locacionais oferecidas por esses países.
Hoje a presença de multinacionais já faz parte do cotidiano de milhões de
pessoas no mundo todo, elas comandam os fluxos internacionais, e em alguns
casos chegam a administrar receitas muito superiores a de vários países do
mundo.
As maiores multinacionais do mundo são dos EUA, seguidas de japonesas e
européias. Empresas desse tipo surgidas em países do mundo
subdesenvolvido ainda são poucas, e não tão poderosas como dos primeiros.
No Brasil, a chegada delas se deu, principalmente a partir do governo de JK,
que abriu a economia nacional ao capital internacional proporcionando grande
internacionalização da economia, por outro lado também beneficiou
multinacionais como por exemplo na opção pela via rodoviarista de transportes
para o Brasil, que naquele momento atraiu várias multinacionais produtoras de
automóveis, mas que condenou os brasileiros a pagarem os custos mais
elevados desse tipo de transporte.
Hoje a presença delas no Brasil é muito intensa e numerosa, elas sendo
responsáveis por grande parte da drenagem de capitais que saem do país
através das remessas de lucros.
MODELOS PRODUTIVOS
( Da Segunda revolução industrial à revolução Técnico-científica).
TAYLORISMO
- Separação do trabalho por tarefas e níveis hierárquicos.
- Racionalização da produção.
- Controle do tempo.
- Estabelecimento de níveis mínimos de produtividade.
FORDISMO
- Produção e consumo em massa.
- Extrema especialização do trabalho.
- Rígida padronização da produção.
- Linha de montagem.
PÓS-FORDISMO
- Estratégias de produção e consumo em escala planetária.
- Valorização da pesquisa científica.
- Desenvolvimento de novas tecnologias.
- Flexibilização dos contratos de trabalho.
Produção de conhecimentos, transformações tecnológicas e o mundo do
trabalho
O setor privado é, fundamentalmente, dedicado ao ensino e acho que isso é o
que deve ser, é o que cabe com os recursos disponíveis. A idéia de que todos
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devam fazer pesquisa, pela indissociabilidade, às vezes provoca mais danos
que benefícios.
Quero falar um pouco sobre como é a pesquisa no Brasil, como ela vem se
desenvolvendo ao longo do tempo e como ela vem se transformando no mundo
de hoje.
Isto ajudará no entendimento sobre o que é a pesquisa universitária e se
existem espaços e nichos para o setor privado entrar e participar. São os temas
principais que pensei em trazer para essa discussão.
A primeira questão, preliminar, é: O que é a pesquisa? Um primeiro
entendimento é o da pesquisa como atividade intelectual, como scholarship. O
bom professor universitário pesquisa quando lê novos livros e artigos
especializados, busca na Internet o que está surgindo, está o tempo todo se
mantendo atualizado, se mantendo informado.
Do ponto de vista do aluno, a pesquisa pedagógica é uma abordagem
importante, que ensina como identificar um problema, como defini-lo com
clareza, como buscar de forma sistemática as respostas, e aprender os limites
do conhecimento empírico. Do ponto de vista pedagógico-didático, o ensino
através da pesquisa é muito melhor que o ensino tradicional do cuspe e giz,
quando o professor coloca os conceitos no quadro e o aluno tem que repetir.
Neste sentido, em toda instituição de ensino todo aluno e todo professor
deveriam fazer pesquisa. A metodologia de ensino que se usa no Brasil é
quase sempre a metodologia do ritual, da repetição, da memorização, do
excesso de informações. Esse é um problema seriíssimo, pedagógico, de
conteúdo, que acho que afeta todo mundo. Nesse sentido, a pesquisa e o
ensino são indissolúveis, quem ensina tem que ensinar a pensar.
Existe um outro conceito de pesquisa, no entanto, que é a pesquisa como
atividade profissional. Não é completamente diferente da anterior, mas estamos
falando de uma outra coisa: da pesquisa enquanto atividade que produz
conhecimentos novos que circulam em certos meios, que são aplicados ou
difundidos, que tem algum tipo de reconhecimento, onde o pesquisador não é
simplesmente um professor, mas sim um profissional da pesquisa. Existe
pesquisa deste tipo em muitas universidades e muitos centros, onde os
professores se consideram pesquisadores. Nelas, a atividade da pesquisa
passa a ser prioritária e a atividade de ensino passa a ser vista como um
aspecto secundário ou derivado. A pesquisa enquanto atividade profissional é
muito prestigiosa, muito importante, mas peculiar a certos segmentos de
algumas instituições de ensino superior e de algumas pessoas que nem estão
no ensino superior, mas em institutos públicos ou privados. Esse é o tema que
nos interessa hoje, aqui. A pergunta sobre o ensino privado não é se o ensino
privado deve fazer pesquisa no primeiro sentido, claro que tem, e deve fazer o
tempo todo. Mas a pergunta é em relação ao segundo sentido, a pesquisa
como atividade profissional.
Mas o entendimento do que é esta pesquisa profissional também tem variado
ao longo do tempo. No Brasil, há 100 anos, predominava a visão positivista,
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sobretudo entre os engenheiros e os militares. Para eles, havia um
conhecimento científico, técnico, que era superior a outras formas de
conhecimento, e que deveria ser utilizado para tornar o pais mais moderno,
racional e eficiente. ciência. Esta apreciação pela ciência não estava
associada, no entanto, à apreciação pela pesquisa enquanto tal. Não havia um
mundo desconhecido a descobrir, mas uma tecnologia já definida para aplicar.
Podemos dizer que o positivismo é uma ideologia da ciência que diz que a
ciência é muito importante, mas ao mesmo tempo, ignora que ela é incerta,
especulativa, que vai e volta, que experimenta, que discute. Isso não havia na
época.
Essa concepção antiga, que levava à idéia de que a sociedade deve ser
organizada como um grande projeto de engenharia, sob o comando dos
especialistas, é uma noção que prevalece até hoje. Na verdade, nenhum dos
diferentes conceitos de ciência a que estou me referindodesapareceu, mas
adquirem diferentes prioridades e predominância em diferentes épocas e
locais.
O conceito que, no Brasil, sucede ao da ciência positivista é o da ciência pura.
Quando falamos de ciência pura, pensamos na criação da USP nos anos 30 e
também no surgimento de um novo tipo de intelectuais, de matemáticos, de
astrônomos, fundadores da Academia Brasileira de Ciências. para os quais a
ciência não era simplesmente um instrumento de ação da sociedade, mas um
conhecimento que tem haver com a cultura, com a formação humanística, com
a formação ampla. O projeto da USP tinha muito esse componente, o que
conflitava com as tradições positivistas tradicionais. Os "filósofos" que vieram
do exterior para a Faculdade de Filosofia tinham como missão influenciar o
conteúdo das faculdades tradicionais como a engenharia, medicina e outras,
que, evidentemente, resistiram. A Faculdade de Filosofia da USP, como
sabemos, ficou separada do resto por muito tempo. Mas ela consolida uma
nova visão da ciência como cultura. Com ela, estaríamos criando uma nova
cultura, um país civilizado, e não mais país meramente industrializado e
moderno. Nesta nova visão, o poder dos técnicos e engenheiros é substituído
pela idéia de uma comunidade de pesquisadores livres e independentes, aonde
a exploração das fronteiras do desconhecido tem precedência sobre a
prioridade da aplicação e da pesquisa voltada para fins determinados.
Este modelo predomina no Brasil, ainda que o outro continue, como, por
exemplo, na pesquisa biomédica, que nunca perde o aspecto de ciência
aplicada, embora saibamos que os centros que mais se desenvolveram nestas
áreas, como o Instituo Osvaldo Cruz, no Rio de Janeiro, a Faculdade de
Medicina da USP, e Instituto Butantã, também sempre tiveram um componente
acadêmico, mais "puro", muito importante. A função da pesquisa biomédica
não é só tratar, curar as doenças, mas também pesquisar, classificar os
animais, desenvolver modelos, e toda uma idéia de pesquisa básica sempre
esteve associada aos melhores centros de pesquisa no Brasil.
A partir dos anos 50, há uma mudança muito importante no Brasil, quando
começa a idéia da ciência como poder do Estado. Com a criação do CNPq e a
criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, sob a liderança do almirante
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Álvaro Alberto, se fortalece a idéia de que o Brasil agora deve incorporar a
energia atômica r se tornar uma grande potência, e os problemas econômicos
serão resolvidos graças à abundancia de emergia barata. A dificuldade para
atingir isto não era predominantemente científica e técnica, mas política e
militar. As grandes potencias fariam o possível para nos negar acesso a estes
conhecimentos, e isto só poderia ser superado pela ação decisiva e
financiamento concentrado do Estado.
Essa visão, que retoma o otimismo tecnológico dos positivistas associado à
idéia de poder, está no embrião da criação do CNPq e ressurge com toda força
no período militar, principalmente no período do governo Geisel. Tenho me
referido a essa época como a da criação do "modelo Geisel", que tinha como
um dos objetivos centrais a superação do "cerco tecnológico" ao qual o país
estaria submetido. É a época do "milagre econômico" dos anos 70, em que o
governo federal também aumenta sua capacidade de arrecadação de
impostos, e os recursos públicos abundam. Aumentam os recursos para a
pesquisa, mas agora concentrados em grandes projetos, vários deles de cunho
militar: armamentos, energia nuclear, programa espacial completo, submarino
nuclear... Além disto, há uma política de investimentos nas indústrias de base,
e o acordo nuclear com a Alemanha. É desta época a transformação do antigo
Conselho Nacional de Pesquisas que se mantinha como um órgão associado à
Presidência da República mas de pouco prestígio, no novo Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, muito maior e colocado sob o
Ministério do Planejamento Econômico, junto com a recém-criada FINEP.
Se, por um lado, a ciência se fortalece com todos estes investimentos, a visão
agora não é mais, como para os positivistas e também para Álvaro Alberto, que
os cientistas liberariam a modernização do pais. Agora a liderança havia sido
tomada pelos estrategistas militares, que compartiam com alguns economistas
a idéia de que a pesquisa científica e tecnológica deveria ser planejada e
integrada em projetos de desenvolvimento de longo prazo, através dos Planos
Nacionais de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
Faz parte deste período também a criação da pós-graduação brasileira nos
moldes americanos, com a reforma de 1968, onde se criam as pós-graduações
nas universidades. São duas políticas diferentes, uma orientada para a
formação de recursos humanos para a educação superior, desenvolvida dentro
do Ministério da Educação, e outra orientada para os grandes projetos
tecnológicos, de interesse dos militares. A distinção entre os dois projetos, no
entanto, não é nítida, porque haviam menos cientistas do que recursos, quase
todos estavam nas universidades, e conseguiam capturar uma parte importante
dos recursos e do próprio gerenciamento das instituições de ciência e
tecnologia.
Este modelo ambicioso rapidamente se deteriora, porque, no início dos anos
80, o Brasil entra em crise, o processo inflacionário começa a sair de controle,
já não há mais dinheiro, e o regime militar começa sua retirada. O governo
Figueiredo administra como pode a falência do militarismo. O governo Sarney,
curiosamente, é ao mesmo tempo o auge e a derrocada do modelo Geisel. A
democracia não trouxe uma nova visão sobre o papel da pesquisa científica e
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tecnológica no pais. Livres da tutela dos militares, os cientistas conseguem a
criação do Ministério de Ciência e Tecnologia (ainda dirigido, não obstante, por
um militar nacionalista, Renato Acher, tendo Luciano Coutinho, economista da
Unicamp, como Secretário Executivo), e fazem aprovar a lei da reserva de
mercado para a indústria brasileira de micro-informática. Foi uma vitória de
Pirro, porque a principal política pública do governo Sarney foi a repartição dos
recursos do governo federal conforme os diferentes interesses que se
apresentavam com capacidade pressão, levando a uma falência generalizada
da administração pública e ao descontrole inflacionário.
A principal inovação do período talvez tenha sido a conversão da maior parte
dos recursos existentes para a pesquisa em recursos de bolsa e salários. Isto
atendia às reivindicações mais imediatas dos pesquisadores e professores, e
permitia que a pósgraduação continuasse a crescer, embora a possibilidade de
iniciar novas pesquisas importantes ficasse muito reduzida. O resultado deste
processo foi que, por um lado, a retórica nacionalista do modelo Geisel se
manteve intacta, mas, na prática, a área de ciência e tecnologia passou a se
comportar cada vez como um grupo de pressão entre outros, disputando os
escassos subsídios do governo federal.
Aos poucos, os recursos ainda disponíveis para a ciência e tecnologia foram se
concentrando no pagamento de salários de pesquisadores e professores, e na
distribuição de bolsas de estudo, sobrando pouco ou quase nada para os
grandes projetos do passado, que não foram desativados, mas tampouco
conseguiram os recursos e o apoio político que esperavam.
A revolução tecnológica
Em 1983, em “Les chemins du Paradis”, Gorz chama a atenção para o fato
de que a crise de crescimento que os países do Primeiro Mundo atravessavam
não era uma crise passageira. Ela era o esgotamento do modelo de
desenvolvimento baseado no crescimento infinito e na extensão das relações
mercantis. Nem o industrialismo capitalista, nem o socialista “podem ser
estendidos emescala planetária, por serem destruidores dos recursos naturais
limitados e dos equilíbrios necessários para a continuação da vida”. E isso nem
os teóricos da direita nem os intelectuais da esquerda estavam
compreendendo. Obcecados pelo crescimento econômico não se dão conta da
profundidade e da natureza da crise em andamento. Na realidade, segundo
Gorz, são dois séculos de história que estão sendo rompidos. Portanto, há algo
de magnitude apenas “comparável à primeira revolução industrial” em vias de
tomar forma. Gorz estava se referindo à revolução micro-eletrônica.
A mundialização do capital é “favorecida pela revolução tecnológica”. Ou seja,
a globalização tal como se processa neste momento da história é tributária da
revolução tecnológica surgida, sobretudo, na década de 1970. Sem os notáveis
avanços nas áreas da micro-eletrônica, da automação, da computação, das
comunicações, as grandes empresas transnacionais não poderiam ter feito o
que fizeram. Ao mesmo tempo é preciso compreender o seu alcance para a
organização e a natureza do trabalho.
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Na origem desta revolução está a chamada “informação”. A informação não
deve ser reduzida ao desenvolvimento tecnológico de comunicações, como a
Internet ou a televisão, portanto, aos meios. A informação é também conteúdo,
pois ela pode ser registrada, arquivada, calculada (‘computada’) em máquinas
e artefatos que se tornam ‘informatizados’ e não automatizados, como se diz
freqüentemente.
O último quartel do século XX foi testemunha de um amplo processo de
automação ocorrido nas fábricas. A automação vem a ser algo qualitativamente
diferente da simples mecanização. Por mecanização entende-se o trabalho
físico realizado pelo homem por meio de uma máquina. Já a automação ocorre
“quando a máquina realiza o trabalho humano, controlando as suas próprias
operações e corrigindo os seus próprios erros”. Ou seja, a automação consiste
“na substituição dos órgãos humanos de esforço, de memória e de decisão por
órgãos tecnológicos”.
A revolução tecnológica, na perspectiva de Gorz, é fundamental para que hoje
possamos falar em mundialização.
A mundialização não teria podido se desenvolver, nem sequer considerar-se,
na ausência do potencial, em grande parte não explorado até esse momento,
das ‘tecnologias da informação’. Se cada grande grupo não tivesse esperado
obter uma participação suplementar no mercado mundial, tirando melhor e
mais rápido proveito que os outros das possibilidades latentes que a revolução
informática oferecia, é verossímil pensar que teria prevalecido a tendência Ã
cartelização e a uma repartição do mundo por acordos de cartel [...].
Gorz mostra como a revolução tecnológica foi vital para os interesses do
capital. Este se apropria daquela para alavancar a continuidade e a
exacerbação da concentração das riquezas e do poder. Ou seja, a revolução
tecnológica atende aos dinamismos do capitalismo.
O Mundo Do Trabalho
ASPECTO GERAL
“O caminho para o desenvolvimento pessoal, profissional, ainda é a escola”.
Com a mudança da relação capital versus trabalho e empregador versus
empregado; e, por conta dos novos fatores econômicos, a realidade do
emprego nas duas últimas décadas, no Brasil, vem mudando de foco e de face.
Nos séculos recentes os trabalhadores eram leais à seus empregos, as suas
empresas e a seus empregadores.
Hoje a lealdade está “girando” em torno da empregabilidade que os
trabalhadores possuem. Uma expressão que vêm conseguindo ratificar este
conceito; e, que está sendo muito difundida entre os candidatos a
trabalhadores no mercado de trabalho é o marketing pessoal.
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Sem querer explicar o termo acima, quero crer que o fenômeno que nos leva a
ele é a questão da empregabilidade, ou a falta dela, diante de um mercado
muito turbulento, veloz e que demanda das organizações competência,
agilidade e flexibilidade.
E o que é empregabilidade?
Segundo Hipócrates, “o melhor método para se prolongar a vida é trabalhar”.
No início do século passado e até a década de 90, o mercado de trabalho era
outro. A vasta maioria dos trabalhadores era constituída por pessoas que
trabalhavam com as mãos.
Posteriormente, o mercado de trabalho ganhou algumas nuances. Porém, até
aí, bastava ter o conhecimento técnico específico relacionado à vaga, que o
candidato estava contratado, sem pestanejar; e, tinha a seu favor, um emprego
quase que vitalício.
Antes da Primeira Guerra Mundial, não havia sequer uma palavra para
designar as pessoas que ganhavam a vida realizando atividades não-manuais.
A expressão, trabalhador do setor de serviços foi cunhada por volta de 1920,
nos Estados Unidos. (Peter Drucker, 2001)
O modo de produzir, no século passado, por sua vez, era outro também. As
empresas que possuíam uma estrutura de treinamento, focavam no
adestramento de seus funcionários. Todas as ações de treinamento limitavam-
se à simulações ou à treinamentos formais em sala de aula, dentro das
próprias fábricas.
Treinamento individual, sistemas tutorias inteligentes, aprendizagem baseada
no conhecimento, transformação do conhecimento individual em conhecimento
grupal, para mencionar alguns, são métodos e técnicas que só hoje a área de
recursos humanos pontua na busca da melhor qualificação de seus
colaboradores.
No que diz respeito às empresas e as carreiras; elas eram projetadas para que
o funcionário subisse “degrau por degrau”, escalando verticalmente o
organograma de funções. O tempo de casa era o fiel da balança para uma
possível promoção e/ou aumento de salário. O mérito era preterido pelas
empresas. As regras de ascensão profissional eram estas. Não se discutia este
modelo.
Hoje em dia isto mudou. Os trabalhadores do século XXI precisam ter a
legítima formação naquilo que se predispõem a trabalhar e a função que
pretende desempenhar, bem como ser possuidores de uma educação geral. E,
o mais importante de tudo, aprender continuamente.
Empregabilidade, portanto, deriva do termo em inglês employability, que
significa ter a capacidade ou a habilidade de se manter empregado e/ou tornar-
se empregado. Por outro lado, emprego é uma relação contratual de trabalho,
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onde, via de regra, o trabalhador oferece por prazo determinado suas
qualificações / especialidades / experiência, em troca de dinheiro. Simbolizado
pelo salário.
O BRASIL E O TRABALHADOR QUALIFICADO.
Frase de Confúcio, “Escolha um trabalho que você ame e não terás que
trabalhar um único dia em sua vida”. (Minha observação pessoal; “Quem
trabalha não tem tempo para ganhar dinheiro, se não exerce o que gosta”.)
Essas exigências, pela Educação Continuada, passaram a ser vitais para
manter os trabalhadores empregados e/ou aptos à conquistar as vagas
disponíveis no mercado de trabalho. Neste século a tecnologia entrou como a
grande vilã das transformações do mercado de trabalho. Ela, a tecnologia,
exige um trabalhador mais educado / qualificado, que há 35 / 45 anos atrás não
era exigido.
O Brasil está em 37o lugar no ranking mundial de trabalho qualificado, o que
convenhamos, compromete a elevação da competitividade de uma maneira
geral de nossas organizações.
Nosso trabalhador tem, em média, 5 anos de escola, em oposição aos países
do Primeiro Mundo, que tem 10/12 anos de boa escola.
Voltando a questão inicial do artigo, é preciso lembrar que capital e trabalho
estão mudando de face e de configuração, por conta dos fatores econômicos,
sociais e outros.
Trabalho, que antes era visto como homogêneo e estático e o capital, como a
fonte do progresso tecnológico, estão sofrendo alterações drásticas.Por outro
lado, como pudemos ver acima, neste início de século, cada vez mais o
conhecimento, à habilidade e a experiência dos trabalhadores está fazendo
com que está relação sofra maiores mudanças.
A qualidade dos trabalhadores e a eficiência de sua relação com as empresas
determinarão, em última análise, a rapidez do progresso econômico desta
Nação.
Em função disto, está havendo uma significativa mudança na relação entre
capital e trabalho.
O Brasil está vivendo uma importante transformação da força de trabalho da
indústria para a área de serviços, e do trabalho assalariado para o autônomo
(terceirizado), bem como a mudança no perfil do trabalhador face à rápida
introdução da tecnologia da informação e ao esforço de reestruturação das
empresas, que levam a um aumento da demanda por trabalhadores mais
qualificados.
No outro lado da equação, estamos vivendo um aumento significativo do
número de pessoas que ingressam no mercado de trabalho. A resposta a estas
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questões não é simples e nem se pode respondê-las de forma atabalhoada ou
irrefletida.
Frase de Pitágoras; “Eduquem-se os meninos e não será preciso castigar os
homens”.
Podemos observar que cada vez mais, em virtude da qualificação profissional
tão exigida pelo mercado de trabalho, torna-se cada vez mais importante a
atuação do tão conhecido Departamento de Recursos Humanos, que apenas
em grandes organizações podemos encontrar hoje em dia. Talvez a falta deste
entendimento em muitas das organizações e que determinem o tempo de vida
que elas terão.
apropriação privada da terra
No Brasil ironicamente e por necessidade os trabalhadores criaram seus
próprios mecanismos de conquista da terra.
Nas últimas décadas vem sendo desenvolvido em nosso país um sistema de
reforma agrária. Embora lento, já tem demonstrado bons resultados no que se
refere a experiência dos movimentos sociais com ações casadas á ações
governistas,embora peculiar e compensatórias.
No entanto o debate da reforma agrária esta longe de uma condição ideal de
assentamento das famílias que realmente precisa e esta luta é travada pela
violência explicita nos vários recantos do pais.
Ao invés de garantir, aos pequenos agricultores, condições de desenvolvimento
agrário e produtividade, gerando renda e melhores condições de vidas para as
famílias assentadas a legislação emprega a maior parte dos recursos em
agricultura extensiva e atualmente no agronegócio.
A falta de originalidade repete-se na submissão às políticas do Banco Mundial
para área agrícola, mantendo a fracassada política do Banco da Terra,
rebatizado de Crédito Fundiário, uma premiação aos latifundiários improdutivos
que têm suas terras compradas à vista, enquanto milhares de agricultores
iludidos acumulam dívidas para pagá-las.
Um dos maiores desafios é garantir a permanência dos trabalhadores rurais na
terra em que foram assentados. Tornar os assentamentos economicamente
viáveis, melhorando as condições de vida no campo e permitindo o
desenvolvimento dessas populações são questões cruciais na reforma agrária.
A cidade, o campo
Uma cidade é uma área urbanizada, que se diferencia de vilas e outras
entidades urbanas através de vários critérios, os quais incluem população,
densidade populacional ou estatuto legal, embora sua clara definição não seja
precisa, sendo alvo de discussões diversas. A população de uma cidade varia
entre as poucas centenas de habitantes até a dezena de milhão de habitantes.
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As cidades são as áreas mais densamente povoadas do mundo. São Paulo,
uma das cidades mais populosas do mundo, com cerca de 10,9 milhões de
habitantes, possui uma densidade populacional de aproximadamente 7,15 mil
habitantes por quilômetro quadrado. Enquanto isso, o Brasil, país onde a
cidade está localizada, possui apenas 20 hab/km².
O termo "cidade" é geralmente utilizado para designar uma dada entidade
político-administrativa urbanizada. Em muitos casos, porém, a palavra "cidade"
é também usada para descrever uma área de urbanização contígua (que pode
abranger diversas entidades administrativas). Por exemplo, a cidade de
Londres propriamente dita possui apenas cerca de 8,6 mil habitantes. Porém,
quando alguém se refere à cidade de Londres, está geralmente referindo-se à
sua região metropolitana, isto é, à sua área urbanizada, que possui
aproximadamente 7,4 milhões de habitantes. Tóquio, muitas vezes descrita
incorretamente como uma cidade, é na verdade uma metrópole (都 - to) do
Japão, formada por 23 bairros diferentes.
Estudos mais recentes procuram abordar a Cidade a partir de uma perspectiva
mais complexa. Uma formação urbana ou um aglomerado humano, para ser
mais adequadamente chamada de "cidade", deveria apresentar um certo
conjunto de aspectos, entre os quais (1) um determinado qualitativo
populacional formado por indivíduos socialmente heterogêneos, (2) uma
localização permanente, (3) uma considerável extensão espacial, (4) um certo
padrão de espacialidade e de organização da propriedade, (5) a ocorrência de
um certo padrão de convivência, (5) a identificação de um modo de vida
característico dos citadinos, (6) a presença de ocupações não agrícolas, (7) a
presença de um quantitativo populacional considerável, cujo limiar é redefinido
a cada época da história, (8) a ocorrência de uma considerável densidade
populacional, (9) uma abertura externa, (10) uma localidade de mercado, entre
outras características
História
Escavações na área sul de Çatalhüyük, uma das primeiras cidades do mundo.
A história das cidades do mundo em geral é longa, sendo que as primeiras
cidades teriam surgido entre quinze a cinco mil anos atrás, dependendo das
diversas definições existentes sobre o que define um antigo assentamento
permanente como uma cidade. Sociedades que vivem em cidades são
frequentemente chamadas de civilizações. O ramo da história e da urbanismo
encarregado do estudo das cidades e do processo de urbanização é a história
urbana. As primeiras verdadeiras cidades são por vezes consideradas grandes
assentamentos permanentes onde os seus habitantes não são mais
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simplesmente fazendeiros da área que cerca o assentamento, mas passaram a
trabalhar em ocupações mais especializadas na cidade, onde o comércio, o
estoque de alimentos e o poder foram centralizados.
Usando esta definição, as primeiras cidades conhecidas apareceram na
Mesopotâmia, tais como Ur, ao longo do Rio Nilo, na Civilização do Vale do
Indo e na China, entre aproximadamente sete a cinco mil anos atrás,
geralmente resultante do crescimento de pequenos vilarejos e/ou da fusão de
pequenos assentamentos entre si. Antes desta época, assentamentos
raramente alcançavam tamanho significativo, embora exceções como Jericó,
Çatalhöyük e Mehrgarh existam. Harappa e Mohenjo-daro, ambas cidades da
Civilização do Vale do Indo, eram as mais populosas destas antigas cidades,
com uma população conjunta estimada entre 100 e 150 mil habitantes.
O Coliseu em Roma, a cidade foi uma das primeiras metrópoles do planeta.
O crescimento de impérios antigos e medievais levou ao aparecimento de
grandes cidades capitais e sedes de administração provincial, como Babilônia,
Roma, Antioquia, Alexandria, Cartago, Selêucida do Tigre, Pataliputra
(localizada na atual Índia), Changan (localizada na atual República Popular da
China), Constantinopla (atual Istambul), e, posteriormente e sucessivamente,
diversas cidades chinesas e indianas aproximando-se ou mesmo superando a
marca do meio milhão de habitantes. Roma possuía mais de um milhão de
habitantes no século I a.C., sendo consideradapor muitos como a única cidade
a superar esta marca até o início da Revolução Industrial. Alexandria possuia
uma população próxima à de Roma na época (em um censo de 32, Alexandria
possuía 180 mil cidadãos (adultos do sexo masculino). Outros grandes centros
administrativos, comerciais, industriais e cerimoniais emergiram em outras
áreas, mais notavelmente Bagdá, que segundo algumas estimativas teria sido
a primeira cidade a superar a marca de um milhão de habitantes, ao invés de
Roma. Nos territórios anteriormente ocupados pelo Império Romano, a
população das grandes cidades cairia drasticamente entre os séculos V e VI,
com as migrações dos povos bárbaros, o colapso do Império Romano do
Ocidente e o início do feudalismo.
Durante a Idade Média na Europa, uma cidade era tanto uma entidade político-
administrativa como um agrupamento de casas. Morar nas cidades passou a
ser considerada um ato de liberdade, em relação às obrigações rurais para o
Senhor e para a comunidade feudal à época. Stadtluft macht frei (O ar das
cidades torna você livre) era um ditado popular em regiões da atual Alemanha.
Na Europa, algumas cidades possuíam um legislativo próprio, com as leis de
cidades sendo criadas fora do campo, e válidas somente nas cidades, com o
Senhor de uma cidade sendo frequentemente outro que não o mesmo da
região rural que cerca a cidade. No Sacro Império Romano-Germânico
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(Alemanha e Itália medieval), porém, algumas cidades não possuíam outro
Senhor além do Imperador.
Veneza, na Itália, uma das mais importantes Cidade-Estados da história.
Algumas cidades, excepcionalmente, tais como Veneza, Gênova ou Lübeck,
tornaram-se Cidade-Estados poderosas, por vezes tomando controle de terras
próximas ou estabelecendo extensivos impérios marítimos. Tal fenômeno não
limitou-se somente à Europa, como é o caso de Sakai, que possuía um
considerável grau de autonomia no Japão medieval. Na Europa, nesta época
as maiores cidades eram assim Veneza, que creceu devido ao seu porto onde
se faziam as trocas comerciais para o centro da Europa, uma espécie de
Roterdão, Florença, que se desenvolveu no Renascimento devido à indústria e
à arte e Lisboa, que foi dada por Dom Quixote como a maior cidade da época,
gráças ao seu grande porto que era o maior do mundo na época, destronando
assim a supremacia económica de Veneza.
A maioria das cidades do mundo, após a ascensão do feudalismo, eram
pequenas em termos de população, sendo que em 1500, existiam somente
aproximadamente duas dúzias de cidades com mais do que cem mil
habitantes. Em 1700, este número era pouco menor do que quarenta, um
número que pularia para 300 em 1900, graças à Revolução Industrial.
Coalbrookdale, cidade britânica, considerada um dos berços da Revolução
Industrial.
Enquanto as Cidades-Estados situadas no litoral dos mares Mediterrâneo e
Báltico passaram a desaparecer a partir do século XVI, as grandes capitais
européias se beneficiaram do crescimento do comércio que surgira após a
ascensão de uma economia trans-atlântica, abastecida pela prata vinda do
Peru. No final do século XVIII, Londres havia tornado-se a maior cidade do
mundo, com uma população aproximando-se dos um milhão de habitantes,
com Paris, Bagdá, Pequim, Istambul e Kyoto sendo outras grandes cidades.
O início da Revolução Industrial e a ascensão e o crescimento da indústria
moderna, no final do século XVIII, levou à massiva urbanização e à ascensão
de novas grandes cidades, primeiramente na Europa, e posteriormente em
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outras regiões, à medida em que as novas oportunidades geradas nas cidades
fizeram com que grandes números de migrantes provenientes de comunidades
rurais instalassem-se em áreas urbanas.
Definição
Não há um padrão mundial que defina uma cidade. Esta definição varia de país
para país. Tradicionalmente os organismos públicos consideram a existência
de uma cidade baseados em critérios quantitativos. Na Dinamarca, por
exemplo, bastam 250 habitantes para uma comunidade urbana ser
considerada uma cidade, e na Islândia, apenas 300 habitantes. Na França, um
mínimo de dois mil habitantes é necessário, e na Espanha, dez mil habitantes.
Organizações e empresas também podem possuir seus próprios critérios de
"cidade". A Organização das Nações Unidas, por exemplo, considera uma
cidade somente áreas urbanizadas que possuam mais de 20 mil habitantes.
Diversos países de língua inglesa possuem duas definições de cidade, city e
town, cujas diferenças variam de país para país. A Nova Carta de Atenas
define[3] a cidade como um "estabelecimento humano com um certo grau de
coerência e coesão". Esta definição abarca o conceito mais lato de "cidade", e
engloba tanto os conceitos de línguas que não distinguem as vilas de cidades
(por ex., francês ville), como os conceitos da línguas que distinguem cidades
de aglomerados ainda maiores (por ex., alemão großstad).
A distinta consideração de cidade pode resultar em casos extremos: Trancoso,
em Portugal (esquerda), é considerada oficialmente cidade desde 2004, com
apenas 10.889 habitantes, enquanto Madrid, Espanha (direita), é oficialmente
uma vila (Villa de Madrid) com 3.213.271 habitantes.
O pavilhão israelense na Bienal de Arquitetura de Veneza de 2000, por
exemplo, deu a seguinte definição de cidade: A cidade é um habitat humano
que permite com que pessoas formem relações umas com as outras em
diferentes níveis de intimidade, enquanto permanecem inteiramente anônimos.
Algumas concepções arquitetónicas descrevem a cidade como uma estrutura
material e conceptual, com um dimensionamento e dinâmica próprios, que
estrutura aglomerações populacionais, conferindo-lhes um sentido, uma função
e uma finalidade. É possível investigar a gênese da cidade quando se
questiona o limite entre o que se consideraria uma "grande casa" de uma
"pequena cidade", passando a procurar critérios qualitativos mais do que
quantitativos. Tal limite se daria, supostamente, na medida em que na
"pequena cidade" existe uma instância que transcende à propriedade da
"grande casa", ou seja, uma esfera que vai além das relações próprias da
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esfera privada: a esfera pública, expressa material e administrativamente no
espaço público. Na cidade, entendida assim, cada uma das manifestações do
espaço privado (as residências, por exemplo) têm livre acesso aos demais
espaços comuns da cidade. Desta forma, é na cidade que se efetivam as
diferentes relações de intimidade entre os vários indivíduos e grupos (tal qual
coloca a afirmação exposta na Bienal de Veneza). Por este motivo, diversos
estudiosos ao longo da história, como Lewis Mumford e Giulio Carlo Argan,
viram na cidade não só uma das mais perfeitas invenções humanas como o
ambiente propício à criação e ao desenvolvimento humano.
Uma cidade geralmente consiste no agrupamento de áreas de funções
diversas, entre as quais pode-se destacar aquelas residenciais, comerciais e
industriais, assim como as zonas mistas (principais caracterizadoras das
cidades contemporâneas). No geral, uma grande parte de uma cidade é
ocupada primariamente por estabelecimentos residenciais. Todas as diferentes
zonas da cidade são suportadas através de infra-estrutura tais como vias
públicas e ferrovias. Rios e lagos podem ser as únicas áreas não
desenvolvidas dentro de uma cidade, embora uma série de empreendimentos
recentes tenham se apropriado urbanisticamente de tais regiões, a partir de
uma visão própria do desenvolvimento sustentável e da ecologia urbana.
Concepções urbanísticas de cidade
Concepção urbanística tradicional
Espaço urbano no Chile.
Uma aproximaçãolinear universal em relação às cidades tem sido aceito por
um longo tempo, sobre a definição de cidade. Porém, esta aproximação não
explica um número de aspectos da vida da cidade, tais como a diversidade
entre cidades, novas aproximações e concepções têm sido estudadas. Um
novo pensamento nasceu a partir da necessidade de novas aproximações,
baseada nas idéias do pós-estruturalismo.
A concepção urbanística tradicional define uma cidade através de três
características: o número de habitantes em uma dada área (densidade
populacional), conexões urbanas e um estilo particular de vida. Nenhuma
destas características por si só são suficientes para tornar um lugar uma
cidade.
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Até tempos recentes as cidades eram vistas exclusivamente como parte de
uma linha única e linear de desenvolvimento. Começando com a Cidade-
Estado de Atenas, esta aproximação linear colocava cada cidade em algum
lugar, e acreditava que era apenas uma questão de tempo para que o próximo
estágio de desenvolvimento - que, em tese, estaria já prescrito - fosse
alcançado. Para cada estágio um exemplo foi identificado. Passo a passo,
Atenas, e então Veneza, Londres, e, atualmente, Los Angeles, cada uma, em
seu período máximo de desenvolvimento, era visto como o último e mais
avançado estágio de uma cidade pós-modernista. Esta aproximação é ainda
muito comum em publicações respeitadas e populares.
Mesmo possuindo grande aceitação, esta aproximação tradicional para cidades
possui vários problemas. Primeiramente, esta aproximação via a cidade como
uma entidade única e estática, que podia ser estudada desconectada de tempo
e espaço. Isto leva a estudos teóricos, com poucas conexões com cidades
reais. Segundo, deixando de lado o "estágio máximo de desenvolvimento", esta
aproximação é completamente eurocêntrica. Anteriormente, acreditava-se que
toda cidade do mundo podia ser comparada com um estágio do passado da
história de uma dada cidade européia. Terceiro, não há explicações reais de
quando e como as mudanças ocorriam, de como outro estágio na linha de
desenvolvimento era alcançado. Quarto, a visão desconectada de cidades é
problemática, implicando que a história, a cultura e as conexões de um lugar
não o influenciam, o que torna esta aproximação questionável. Alguns
estudiosos acreditam que tal aproximação é necessariamente incompleta.
Quinto, diversos especialistas afirmam que a aproximação tradicional falhava
em definir o que é uma cidade e o que não é. Finalmente, a visão de cidade
como um corpo único falha em concepções modernas, que acredita que todo
lugar possui mais do que uma história e visão. A visão de cidade de um
aristocrata naturalmente irá ser diferente da visão de cidade de um escravo.
Aproximações modernas foram desenvolvidas também por causa disto, para
distanciar-se da história e visão de cidade aos olhos das poderosas elites
urbanas, para uma percepção multidimencional de história.
Concepções contemporâneas
Urbanização mundial em 1995.
Usando aproximações modernas para cidades, os urbanistas analisam vários
assuntos e problemas que acontecem nas áreas urbanas. Esta aproximação
focaliza-se principalmente nas conexões urbanas e divisões internas que
ajudam a criar um melhor entendimento das dinâmicas das cidades. Usando
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esta linha de pensamento, é possível entender vários aspectos dos quais a
aproximação tradicional não explicava adequadamente.
Um importante aspecto desta linha de pensamento é observar as conexões de
uma cidade. Tais conexões permitem a alguém entender o caractero único de
um lugar. Ao invés de tratar todas as cidades do mesmo jeito, diferentes
lugares são vistos como interconectados através de rotas culturais, comércio,
economia ou história. Assim sendo, enquanto que Londres e Tóquio estejam
economicamente conectadas através de bolsas de valores, Graz e Estocolmo
estão conectadas através da Capital Cultural da Europa.
Essas conexões não apenas conectam diferentes cidades entre si, como
também uma dada cidade com suas redondezas. Uma cidade não é auto-
sustentável. Ela precisa de matéria-prima para abastecer as suas fábricas, de
alimentos para alimentar sua população e de conexões comerciais para
viabilidade econômica. Tais conexões incluem estradas e outras vias públicas
em geral, ferrovias, hidrovias e linhas aéreas.
A concentração de conexões e redes nas cidades pode ser usada como uma
explicação da urbanização. É o acesso a certas redes que atrai pessoas. À
medida que várias redes atuam juntas em uma dada área, pessoas juntam-se
em cidades. Ao mesmo tempo, esta concentração de pessoas implica na
introdução de novas redes, tais como conexões sociais, aumentando a criação
de novas possibilidades dentro de cidades. Movimentos de urbanização social
são um resultado direto desta possibilidade de fazer novas conexões. É esta
abertura à novas conexões que fazem as cidades ao mesmo tempo atrativas, e
em certo grau também imprevisíveis.
Outro importante aspecto da aproximação moderna de cidade é olhar para as
divisões internas existentes dentro de uma cidade. Estas divisões internas
estão ligadas às conexões externas desta dada cidade. Como lugares de
encontros históricos, as cidades são híbridas e heterogêneas. Híbridas porque
suas conexões que ligam lugares são bilaterais, envolvendo dar e receber em
ambas direções. Heterogêneas por causa do dinamismo das cidades. Novos
encontros são processos em movimento onde relações sociais e diferenças
são constantemente negociadas e moldadas, refletindo assim o poder não-
igualitário envolvido.
Nem as diferenças internas nem as conexões e as redes urbanas de um lugar
definem, por si só, uma cidade. As divisões internas são causadas por ligações
externas, enquanto que ao mesmo tempo a abertura de conexões externas
abrem a possibilidade de novas divisões sociais. As divisões e as conexões
estão relacionadas entre si, e apenas considerando ambos é que esta
aproximação moderna de cidade funciona. A imigração ilustra muito bem a
relação entre redes externas e divisões internas. As redes concentradas no
centro da cidade atraem imigrantes. À medida que eles imigram, os imigrantes
trazem consigo suas próprias histórias, trazendo novas redes ou reforçando
redes já existentes. Ao mesmo tempo, as histórias dos imigrantes oferecem
oportunidades para identificação ou exclusão.
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Zona rural
Por oposição a zona urbana, definem-se as zonas rurais (ou o meio rural, ou
campo) como as regiões no município não classificadas como zona urbana ou
zona de Expansão Urbana, não urbanizáveis ou destinadas à limitação do
crescimento urbano, utilizadas em atividades agropecuárias, agro-industriais,
extrativismo, silvicultura, e conservação ambiental.
Embora tradicionalmente estas áreas tenham sido primariamente utilizadas
para a agricultura ou pecuária, atualmente grandes superfícies podem estar
protegidas como uma área de conservação (de flora, fauna ou outros recursos
naturais), terras indígenas, reservas extrativistas e ter outra importância
econômica, por exemplo, através do turismo rural ou ecoturismo.
A constituição dos blocos de poder e as transformações territoriais:
redes de circulação, desigualdades regionais
Os Blocos de Poder
Nova Ordem Mundial
Você sabe o que é a Nova Ordem Mundial? Vivemos num mundo cada vez
mais interconectado em termos culturais e econômicos, unificado
financeiramente dirigido por inúmeras organizações transnacionais. O chamado
"mundo globalizado" é o assunto de hoje.
A década de 80, com o fim da corrida tecnológica e armamentista entre as
superpotências,a chamada Guerra Fria, os Estados Unidos "grandes
vencedores", se tornam as grandes nações hegemônicas inaugurando a Nova
Ordem Mundial. Nesse novo mundo, o poder estar com quem tem o domínio da
tecnologia. A disputa continua, mas o mercado é o novo campo de batalha.
O mundo anteriormente bipolarizado, marcado pela disputa entre o Bloco
Socialista e o Bloco Capitalista, passa a ser um mundo multipolarizado. Os
países se organizam em blocos para garantir mercado, complementar sua
economia e se fortalecer. São três os Megablocos: o NAFTA, Acordo de Livre
Comércio da América do Norte, é formado pelos Estados Unidos, Canadá e
México. É a área de influência direta dos americanos, de onde tiram vantagens
como a mão-de-obra barata mexicana, as riquezas minerais e o mercado de
alto poder aquisitivo do Canadá. "A chamada União Européia, é formada por 15
países e é mais que um Bloco Econômico é uma Organização Supra Nacional,
em que os países não têm fronteiras e são altamente integrados, inclusive
militarmente. O passo definitivo para a estabilidade dessa união foi a adoção
de uma moeda única: o EURO!"
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Europa: através da história, foram as guerras que moveram este continente. A
fragmentação européia sempre foi o motor de seu desenvolvimento, ninguém
queria ficar para trás na competição bélico-tecnológica. Depois da última e
mais terrível guerra, líderes visionários tiveram a idéia genial: forjar a
estabilidade política através da interdependência econômica. Pela primeira vez
a Europa rimou paz com prosperidade! No primeiro dia de 93, a Europa
tornava-se um mercado único, com 320 milhões de consumidores e um PIB de
6 trilhões e meio de dólares. Tão unidos e tão diferentes!
O Bloco formado pelos países da Bacia do Pacífico liderados pelo Japão, não
se baseia em acordos diplomáticos como o NAFTA, ou a União Européia,
sendo na verdade uma zona de integração comercial bastante dinâmica que
mantém um ritmo acelerado de crescimento econômico, onde se destacam os
chamados Tigres Asiáticos, a China e a Austrália.
A Política dos Megablocos quer a abertura de mercado, mas na medida que
cada bloco se une e se fortalece cria mecanismos protecionistas, fechando-se
em sua própria região. A Globalização permite que o mundo inteiro seja
alcançado pelos mais modernos meios de comunicação, assim como pelo o
capital, mas está formando ao mesmo tempo uma geração de pessoas e
nações excluídas.
Os países Centrais também chamados de países do Norte são os que
organizam seus interesses buscando nos países Periféricos, ou países do Sul,
as vantagens comparativas para diminuir custos e aumentar os lucros na
economia-Mundo. Podemos conferir isso a cada reunião do chamado Grupo
dos 7.
Alguns países Periféricos também estão se unindo para garantir o seu espaço
na economia mundial e não apenas sofrerem o lado negativo da Globalização.
"Globalização não é um conceito sério. Nós, americanos, o inventamos para
dissimular nossa política de entrada econômica nos outros países" John
Kenneth Galbraith, um dos maiores economistas do século XX.
-----------BLOCOS ECONÔMICOS E OS MEGABLOCOS-------------
De um uns anos pra cá, a chamada Nova Ordem Mundial, vem dividindo e
integrando nosso planeta em Blocos econômicos.
"Um dia desses, fui comprar um rádio relógio. Escolhi um modelo de uma
marca tradicional; marca americana; quando dei uma olhada no manual de
instruções, percebi que o rádio relógio só é americano na marca. O projeto é de
uma fábrica francesa, os componentes eletrônicos são coreanos e o aparelho
foi montado no México".
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Num simples eletrodoméstico, uma amostra do tempo em que vivemos hoje!
Tempo de Globalização!
"A globalização é o resultado de fatos históricos e políticos que vem
acontecendo há séculos. Podemos dizer que ela começou, com as Grandes
Descobertas dos Navegantes Espanhóis e Portugueses... continuou pela
sofisticação dos Meios de Transportes e Comunicação, mas se firmou mesmo
com o domínio do capital financeiro e a verdadeira revolução nas
comunicações e da informática no final do século XX. O mundo foi ficando
pequeno e hoje uma crise na bolsa de valores de um único país da Ásia abala
a economia do mundo inteiro"!
Junto com a Globalização, acontece uma importante tendência: países de
mesma região se organizam em blocos, derrubam fronteiras econômicas para
negociar seus produtos e Serviços entre si com liberdade quase total. Com
isso, esses países fortalecem seus mercados regionais. Como você sabe, o
maior desses blocos, é liderada pelos Estados Unidos, a maior potência do
século XX.
"O NAFTA (North American-Frre-Trade Agreement), Acordo Norte Americano
de Livre Comércio, formado pelos Estados Unidos, Canadá e México. É a área
de influência direta dos americanos, onde tiram vantagens como a mão-de-
obra barata mexicana, as riquezas minerais e o mercado de alto poder
aquisitivo do Canadá."
O NAFTA é o mais importante dos blocos, mas não é o único formado por
países ricos. Em busca do poder perdido, a Europa Também se uniu. "A
chamada União Européia, é formada por 15 países e é mais que um Bloco
Econômico é uma Organização Supra Nacional, em que os países não têm
fronteiras e são altamente integrados, inclusive militarmente. O passo definitivo
para a estabilidade dessa união foi a adoção de uma moeda única: o EURO!"
"Com potencial para rivalizar com o dólar americano no mercado mundial, a
moeda única nasceu a partir da formação da União Européia, uma coalizão
entre 15 nações da Europa. O objetivo da União é promover o progresso
econômico e social, e a identidade européia no cenário internacional. No
primeiro momento, só 11 dos 15 países da União adotaram o EURO. O
resultado já foi espantoso: uma economia ligeiramente menor do que a dos
Estados Unidos, 18% do mercado mundial."
Eduardo Callado Pres. Cons. Reg. Economia/RJ: "Nem sempre foi o dólar a
moeda de troca no mercado mundial; aceita internacionalmente; antes do dólar
nós tínhamos a Libra que por 100 anos reinou, até porque a Inglaterra era a
economia mais importante do mundo... ela se enfraquece após Primeira Guerra
Mundial."
Toda essa movimentação para essa formação de Blocos Econômicos é
recente, mas a União Européia não é tão novinha assim.
Há cerca de quantos anos se formou a União Européia?
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Cem anos?
Quarenta anos?
Ou vinte anos?
Acertou quem ficou com o meio termo. Quarenta anos, é a resposta certa.
"Quando a 2a Guerra Mundial acabou e Hitler foi derrotado, outros líderes
europeus acharam que seria preciso criar uma espécie de elo entre as
economias dos países da Europa. Com a queda do Muro de Berlim em 89,
ressurgiu o medo de que a Alemanha pudesse retomar sua tendência
expansionista. Se de alguma forma o país estivesse ligado a outro a outros
países esse risco diminuiria, foi por isso que nas últimas décadas, os líderes da
União Européia estabeleceram uma espécie de vinculo entre as diferentes
moedas e sugeriram a criação de uma moeda única para a Europa."
Esses grandes blocos formados ou liderados por países Centrais, já estão
sendo denominados de Megablocos. O terceiro deles está agitando o outro
lado da Terra no Leste da Ásia. Ainda não é um bloco formal como o NAFTA, e
a União Européia, mas integra economicamente os países do Leste Asiático
como os Tigres da Ásia sob a liderança do Japão. "Esse bloco da Bacia do
Pacífico, não se baseia em acordos diplomáticos como o NAFTA ou a União
Européia, sendo na verdade uma zona de integração comercial bastante
dinâmica que mantêm um ritmo acelerado de crescimento econômico,Matemática". Nos Estados Unidos, isto é mais
comum no comércio, em que uma parceria entre investidores para iniciar um
negócio é usualmente chamada de uma "sociedade". No Reino Unido,
parcerias não são chamadas de sociedade, mas cooperativas.
Margaret Thatcher não foi a única a dizer que não existe sociedade. Ainda há
um debate em andamento nos círculos antropológicos e sociológicos sobre se
realmente existe uma entidade que poderíamos chamar de sociedade[carece de
fontes?] . Teóricos marxistas como Louis Althusser, Ernesto Laclau e Slavoj Zizek
argumentam que a sociedade nada mais é do que um efeito da ideologia
dominante e não deveria ser usada como um conceito sociológico.
O Conceito de Poder
O conceito de Poder varia no tempo e em função da corrente de pensamento
abordada pelos diferentes autores. Vários autores trataram dessa questão.
Cada um deles entendeu o Poder de uma maneira mais peculiar. A definição
dada por adeptos do pensamento marxista chama de poder “a capacidade de
uma classe social de realizar os seus interesses objetivos específicos”. O
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filósofo Michel Foucault falou em “relações de poderes” entre os indivíduos.
Para Foucault, o poder é algo que se exerce em rede. Não existe uma entidade
que centraliza o poder. O Poder se exerce tanto no nível macro quanto no
micro. Hanna Arendt falou que o poder é oposto da violência. A violência
acontece quando se dá a perda de autoridade e de poder. Hobbes falou de
várias espécies de poder como: beleza, amizade, riqueza, popularidade, poder
político, etc. Na concepção hobesiana o maior dos poderes é o poder do
Estado, resultado da soma de poderes de todos os homens na formação do
Contrato Social. Outro autor a falar do Poder foi Nicolau Maquiavel. Para
Maquiavel, a obrigação do governante (Príncipe) deve ser a de conquistar e
manter o Poder. Para isso, ele deve adotar algumas estratégias. Para Lasswell,
poder é “o fato de participar da tomada das decisões”. Essa visão do poder tem
sido corrente para todas as teorias de decision-making process, e é criticada
pelo fato de apresentar-se como uma concepção muito voluntarista do
processo de tomada de decisões. Max Weber conceituou poder como sendo “a
probabilidade de um certo comando com um conteúdo específico a ser
obedecido por um grupo determinado”. A concepção weberiana de poder parte
da visão de uma sociedade-sujeito, resultado dos comportamentos normativos
dos agentes sociais. Do conceito de Weber sobre o poder emergem as
concepções de “probabilidade” e de “comando específico”. Talcot Parsons,
partindo da concepção funcionalista e integracionista do sistema social, definiu
o poder como “a capacidade de exercer certas funções em proveito do sistema
social considerado no seu conjunto”.
Democracia é um regime de governo onde o poder de tomar importantes
decisões políticas está com os cidadãos (povo), direta ou indiretamente, por
meio de representantes eleitos — forma mais usual. Uma democracia pode
existir num sistema presidencialista ou parlamentarista, republicano ou
monárquico.
As Democracias podem ser divididas em diferentes tipos, baseado em um
número de distinções. A distinção mais importante acontece entre democracia
direta (algumas vezes chamada "democracia pura"), onde o povo expressa a
sua vontade por voto direto em cada assunto particular, e a democracia
representativa (algumas vezes chamada "democracia indireta"), onde o povo
expressa sua vontade através da eleição de representantes que tomam
decisões em nome daqueles que os elegeram.
Outros itens importantes na democracia incluem exatamente quem é "o Povo",
isto é, quem terá direito ao voto; como proteger os direitos de minorias contra a
"tirania da maioria" e qual sistema deve ser usado para a eleição de
representantes ou outros executivos.
Constituição e Cidadania
Ao longo da história, mesmo nas épocas mais remotas, o ser humano sempre
é encontrado em sociedade. A vida solitária e divorciada do mundo, por opção
ou infortúnio, representa exceção.
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Essa associação entre os seres humanos decorre, fundamentalmente, de uma
necessidade natural. Só na convivência e com a cooperação dos semelhantes,
homens e mulheres obtêm os meios essenciais aos fins de sua existência e
desenvolvem todo o seu potencial de aperfeiçoamento, seja intelectual, moral
ou técnico. Tal necessidade, contudo, transcende o mero plano material. Além
disso, a premissa de que o homem é um ser social por natureza não exclui a
participação da consciência e da vontade humanas.
Consequentemente, a sociedade é produto da conjugação de um impulso
associativo natural e da cooperação da vontade humana, tendo por finalidade o
bem de todos os seus integrantes. Essa finalidade social é bem comum, cujo
conceito o Papa João XXIII assim formula com muita propriedade: "O bem
comum consiste no conjunto de todas as condições de vida social que
consintam e favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana"
(Encíclica "Pacem inm Terris", II, 58).todavia, é indispensável que a
manifestação conjunta e a ação harmônica dos membros da sociedade
humana, sem prejuízo da liberdade, ocorram de forma ordenada. Ou seja, o
bom funcionamento da sociedade pressupõe a organização, estando nela
implícita a idéia de um poder social superior.
Ora, a expressão mais ampla nessa tendência associativa do ser humano
reside nas chamadas sociedades políticas, posto que ocupam-se da totalidade
das ações humanas. E, a sociedade política de maior importância, por sua
capacidade de influir e condicionar, é inegavelmente o Estado.
Assim, o Estado significa a união organizada de um certo número considerável
de indivíduos, estabelecidos em território (contínuo ou descontínuo), sob a
direção de um poder dominante centralizado. Mas a noção de Estado não se
fixa puramente no âmbito jurídico, como pretendeu Hanz KELSEN, em sua
famosa obra "Teoria Pura do Direito". Procurando não ignorar os fatores extra-
jurídicos inerentes, Dalmo de Abreu DALLARI conceitua a ordem como a
"ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado
em determinado território" (Elementos da Teoria Geraldo Estado), 3ª ed.,
Saraiva, SP, 1976).
Erigido para atender às necessidades dou às conveniências dos grupos
sociais, o Estado não pode prescindir de estabelecer regras de conduta, diante
da diversidade de preferências, de aptidões e de possibilidades entre os seres
humanos. Essas regras é que constituem o direito. Dessa forma, o Estado
carece do direito para organizar a sociedade. Isto é, precisa dispor de um
conjunto de normas obrigatórias que disciplinem o convívio social humano, não
para sufocar as pessoas ou os grupos, mas para regular as manifestações e
dar a elas um sentido positivo.
Tendo em vista que é comum a ocorrência de uma variedade de normas
jurídicas num mesmo Estado, faz-se mister que elas estejam dispostas
hierarquicamente como sistema, denominado de ordenamento jurídico. Nesse
ordenamento, é imperioso se eleger um instrumento político-jurídico de
primeira grandeza, que declare os direitos e deveres fundamentais de todos os
indivíduos e que, ao mesmo tempo, defina as regras de organização social e as
limitações ao uso dos poderes políticos e econômicos, impedindo que a
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sociedade se componha de dominantes e dominados. E esse instrumento é a
Constituição, à qual nada se sobrepõe.
A Constituição é a lei principal, situada acima das outras regras. Ela é o poder
supremo; a instância com força capaz de dar estrutura e lançar os fundamentos
políticos, sociais e jurídicos do Estado. É a própria revelação da soberaniaonde se
destacam os chamados Tigres Asiáticos, a China e a Austrália.
A organização de Blocos Econômicos não é exclusividade de países Ricos,
países Periféricos também se juntam com os mesmos propósitos, não formam
Megablocos, mas sim pequenos blocos que fortalecem mercados secundários
e fazem surgir lideranças regionais: o Brasil é o integrante mais forte do bloco
que integra países do Cone Sul. "O Tratado de Assunção que criou o Mercosul
selou uma tentativa de aproximação entre os países membros que vinha desde
o início dos anos 80. Naquela década foi criada uma Associação Latino
Americana de Integração, a ALADI que substituiu a ALALC, Associação Latino
Americana de Livre Comércio. A ALAC tinha uma clausula que obrigava todos
os países da América Latina a estender a redução de tarifas de importação
acertadas entre dois ou mais países. Essa clausula acabava impedindo o
fechamento de acordos em bloco. Com a criação da ALADI, isso foi eliminado.
O Mercosul começou com a integração Brasil-Argentina firmada pela
declaração de Iguaçu e assinada pelos presidentes, na época, José Sarney e
Raul Alfonsim em julho de 85, em julho de 90 os dois países assinaram a Ata
de Buenos Aires, fixando a data de 31 de dezembro de 94 para a formação do
mercado definitivo. Na ocasião convidaram também o Paraguai e o Uruguai
para aderirem, Chile e Bolívia tem apenas um acordo de complementação
Econômica com o Mercosul, o que significa que eles não participam dos
benefícios tarifários que vigoram entre os países integrantes do bloco."
"O Mercosul é um Bloco Econômico que reúne a Argentina, o Brasil, o Paraguai
e o Uruguai. Veja um exemplo para entender como esse bloco funciona: - antes
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do Mercosul, uma garrafa de vinho argentino; uma peça de couro paraguaio e
um quilo de carne uruguaio chegavam ao Brasil com preços mais altos. Isso
acontecia porque quando esses produtos cruzavam nossas fronteiras e o
governo brasileiro cobrava Taxas de Importação, o mesmo acontecia quando
produtos brasileiros iam para esses países. Mas desde que o Mercosul entrou
em vigor em janeiro de 91os quatro países membros deixaram de cobrar
impostos de importação sobre a maioria dos produtos. O consumidor sentiu
isso no bolso, os preços dos importados desses países caíram. Outro Bloco
Econômico que existe no continente americano é o NAFTA. NAFTA é uma
sigla inglesa que em português significa Acordo de Livre Comércio da América
do Norte. Os países membros são Canadá, Estados Unidos e o México. O
NAFTA entrou em vigorem 1 de janeiro de 94. Ele também acabou com os
impostos cobrados sobre os produtos importados dos países membros. (...)
Mas agora existe a possibilidade de os 34 países do continente americano
formarem um bloco único, a ALCA. ALCA significa Área de Livre Comércio das
Américas e se ela for criada vai integrar todos os países da América com
exceção de Cuba. Isso só deve acontecer a partir do ano de 2005."
Os principais blocos da América, NAFTA e Mercosul, podem estar com seus
dias contados. Os Estados Unidos estão propondo a realização de um outro
bloco integrando todo o continente. Mas o que pode estar por trás dessa
proposta?
OBS: A ALCA é uma forma de os Estados Unidos manterem a liderança
econômica na região.
------------------------------A União Européia-----------------------
A Europa agora quer ser um só país. Fronteiras milenares foram abolidas.
Irlanda, Grã-Bretanha, Luxemburgo, Dinamarca, Suécia, Finlândia, Grécia,
Itália, Áustria, Alemanha, Holanda, Bélgica, França, Espanha, Portugal... São
mais de 15 países juntos, 370 milhões de habitantes, 17 moedas, 21 idiomas,
um PIB (Produto Interno Bruto) de mais de 8 trilhões de dólares.
O objetivo é criar uma potência econômica capaz de enfrentar a competição
internacional. É a corrida do "Velho Continente" para o futuro. De todos os
blocos que estão se constituindo atualmente, a União Européia adotou a forma
considerada a mais avançada. Os países não têm mais fronteiras propriamente
dita, apenas formam um bloco supranacional. Teoricamente, seus habitantes
não são mais franceses, ingleses, suecos ou portugueses, são cidadãos
europeus.
A primeira etapa dessa união se deu com a criação do Benelux, que
estabelecia o livre comércio entre os países baixos (Bélgica, Holanda e
Luxemburgo) tornando-os uma unidade econômica. Em 1957, pelo Tratado de
Roma, foi criado o Mercado Comum Europeu. De lá pra cá foram muitas as
mudanças. A Comunidade Européia cresceu, passou de 6 para 15 países, de
um grande mercado virou União Européia.
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Vivendo a necessidade de novos investimentos, de encontrar novas forças
para enfrentar a acirrada competição com o Japão, o Sudeste Asiático e os
Estados Unidos, a agora chamada Comunidade Econômica Européia aceita a
entrada da Grécia, em 1981, e mais tarde a de Portugal e Espanha, em 1986.
A pesar da economia desses países ser muito menos avançadas que a dos
outros membros, eles representavam alternativas de mercados.
Em 1991, é assinado o Tratado de Maastricht que estabelece políticas externas
de defesa comuns, além de uma moeda única, o Euro. "Em 62 páginas o
Tratado de Maastricht lança as bases dos ‘Estados Unidos da
Europa’. Com isso você tem uma moeda única para toda a Europa, e
um só embaixador e um só comando militar para os países da comunidade".
Além da unidade econômica o tratado quer estabelecer uma unidade política e
diplomática. Mas nem todos os países estão preparados para a moeda única,
por exemplo. Algumas metas difíceis têm que ser cumpridas para que isso
ocorra.
Veja o que é preciso para cada países adotar o Euro:
· Manter baixa a inflação;
· Reduzir as taxas de juros;
· Controlar o déficit público, não pode ultrapassar 3% do PIB;
· Segurar a dívida pública tem de ficar abaixo 60% do PIB.
As reformas e ajustes na economia avançam em todo vapor para que os
países da União Européia garantam a competitividade, ganhem novos
mercados e se fortaleçam diante dos americanos e japoneses. A adoção da
nova moeda é facultativa, mas em todos os idiomas parece que o Euro é o
único caminho!
Cumprir as metas da unificação pode gerar medidas de recessão e
desemprego. Hoje a Europa tem 18 milhões de desempregados, em cada
grupo de 10 pessoas em idade para trabalhar, uma está sem emprego. A cada
mês a fila em busca de emprego cresce em toda a Europa. Países como a
Alemanha e a França batem recordes de desemprego. Na França, 25% dos
jovens com menos de 27 anos não conseguem entrar no mercado de trabalho.
A Espanha é recordista, o índice de desemprego chega a quase 20%, e em
todas as pesquisas o desemprego aparece como a principal preocupação do
cidadão europeu. O governo paga caro a conta do desemprego. Quem está
fora do mercado de trabalho deixa de pagar impostos, mas, recebe um salário
desemprego e tem assistência social garantida. A cada novo recorde de
desemprego, a conta do estado aumenta mais. Na pressa para ajustar as
economias, e lançar o Euro, os países adotaram políticas fiscais ainda mais
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firmes, o que acabou aumentando o número de desempregados.
Em 1995 a Comunidade Econômica Européia passa a se chamar União
Européia. Áustria, Finlândia e Suécia se unem ao grupo, formando a então
chamada a Europa dos 15. Mas a euforia com a livre circulação de
mercadorias, capitais e cidadãos provoca também sérios problemas. Por sua
força econômica essa Nova Europa tem sido um foco de atração para muitos
migrantes que buscam empregos no continente. Esses imigrantes vêm
principalmente dos países do Leste Europeu que estão sofrendograndes
transformações, passando de uma economia socialista para uma economia de
mercado. Jovens desempregados imigram dos países Periféricos,
principalmente do norte da África e do Oriente Médio em busca de melhores
oportunidades, fazendo do rico mundo europeu uma verdadeira Meca dos
Pobres. A competição pelo mercado de trabalho entre os estrangeiros e os
cidadãos europeus provocou um fortalecimento dos movimentos Neonazistas,
aumentando a xenofobia da população.
Numa época de intensa Globalização, em que o mercado é mundial e
ultrapassa as fronteiras nacionais, explodem conflitos nacionalistas envolvendo
minorias. Na Irlanda do Norte existe o conflito entre a minoria católica que quer
seu país independente do Reino Unido e a maioria protestante que não quer
viver numa grande Irlanda unificada, onde seria minoria. Na Espanha o país
Basco, região autônoma ao norte, quer formar um estado independente que
tomaria até parte do território francês. Assim como na Irlanda há organizações
terroristas envolvidas, o que trás instabilidade e insegurança a Europa
Unificada.
Vimos que a unificação política e econômica da Europa não livrará o velho
continente de seus problemas. Vimos como é difícil construir um paraíso
econômico num mundo com tão graves contradições.
DICAS:
UNIÃO EUROPÉIA:
O aprofundamento das relações entre os países europeus reduz a necessidade
de importação no continente, mas a EU e o Brasil já assinaram vários acordos
de cooperação, e o Brasil exporta inúmeros produtos para os países do grupo
com tarifas reduzidas. Os maiores compradores são a Alemanha, os Países
Baixos, a Itália, França, Reino Unido e a Bélgica.
Xenofobia: horror a tudo que é estrangeiro.
"Globalização não é um conceito sério. Nós, americanos, o inventamos para
dissimular nossa política de entrada econômica nos outros países." John
Kenneth Galbraith, um dos maiores economistas do século XX.
Aspectos territoriais do processo de desenvolvimento
O contexto territorial do processo de desenvolvimento
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O desenvolvimento não ocorre de modo igual e simultâneo em todas as partes,
e nem ao mesmo tempo, mas diferenciadamente no tempo e no espaço, com
amplitudes temporais e intensidades territoriais variadas.
A sua ocorrência pressupõe uma base física sobre a qual, e com a qual, os
grupos humanos, interagem para assegurar a sua sobrevivência e a de seus
membros.
Da interação de grupos humanos, detendo habilidades coletivas e individuais
diferenciadas, entre si e com uma base física heterogênea, resultam formas de
organização social no espaço que se consolidam em padrões de ocupação e
uso do território ao longo do tempo.
O desenvolvimento manifesta-se de forma desigual no território, sendo mais
intenso em algumas partes, originando um processo de concentração
territorial, entendida como a aglomeração mais intensa das atividades
produtivas e da população em certas porções do território, condicionando o
desenvolvimento nessas mais do que em outras áreas e provocando um
desequilíbrio entre elas.
A dinâmica territorial do processo de desenvolvimento
Estabelecendo-se uma analogia entre os conceitos de centro urbano e de
"foco" e entre os conceitos de área de influência e de "campo de forças", as
implicações da concentração territorial no processo de desenvolvimento ficam
claras.
O processo de concentração territorial obedece às imposições de um "campo
de forças", formado por "focos", de onde emanam forças centrífugas e para
onde são atraídas forças centrípetas. Cada "foco" pode ser entendido como
um centro de atração e repulsão, que tem o seu próprio "campo", muitas vezes,
localizado no "campo" de outros "focos".
Os pontos de concentração de população e de atividades produtivas (centros
urbanos) se organizam e se estruturam em função do seu dinamismo e de sua
capacidade de difusão em relação ao entorno formado pela porção territorial
que os envolve (área de influência), formando um sistema territorial.
Esta porção territorial (área de influência) depende da capacidade, do alcance
e da forma como os seus centros urbanos desempenham o seu papel, isto é,
as das funções que eles desempenham, até onde estas chegam e como são
desempenhadas no território, devendo ser vistas em estreita ligação com suas
respectivas localizações.
As funções que os centros desempenham não devem ser vistas em termos
absolutos, mas em termos relativos. A mesma função pode ser desenvolvida
em vários níveis, sendo, portanto, hierarquizáveis, isto é, um tipo de serviço
pode ser ministrado por centros urbanos de distintos tamanhos. O que os
diferencia é o alcance dos respectivos serviços, pois o alcance do serviço
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prestado por um centro pode ser maior ou menor do que o alcance de outro,
dependendo das suas respectivas áreas de influência ("campo de forças").
Esse sistema territorial – conjunto de centros urbanos dependentes das
porções territoriais que os envolve, denominadas áreas de influência – não se
caracteriza apenas pelas funções exercidas pelos seus elementos (centros). As
atividades e serviços de cada um são múltiplos, e a eficiência do sistema como
um todo não depende do melhor ou pior dotação física de cada centro, face às
funções que lhe cabe desempenhar, mas sim da sua localização, pois o
sistema territorial deve ser visto de forma integrada, e não isoladamente.
Assim, as questões de desenvolvimento se prendem às questões de
localização, que, por sua vez, dependem da distribuição dos centros urbanos
pelo território nacional, conforme as suas dimensões, medidas pelos serviços
que presta ao seu entorno imediato e pelo alcance de sua área de influência.
A organização territorial como causa do processo desequilibrado do
desenvolvimento
As formas de ocupação e distribuição da população e das atividades produtivas
no território ocorrem como uma sucessão de "focos" dinâmicos através do
tempo, com um "foco" dominando os demais em determinado período, mas
ensejando o surgimento de outros "focos" como complementares àquele que é
dominante, um dos quais assumirá a hegemonia sobre os demais, impondo
seu "campo de forças" sobre outra parcela do território. Ou seja, o processo de
desenvolvimento, a partir de uma perspectiva territorial é desequilibrado e
desequilibrante.
A importância do "foco" decorre da existência de atividades com capacidade de
dominar e exercer, de modo irreversível, influência sobre o seu espaço
circundante. Essas atividades se caracterizam por gerarem impulsos
importantes no seu entorno. Esses impulsos se devem às inovações ensejadas
pelas atividades existentes no "foco", pelas complementariedades
engendrando outras atividades e pelo predomínio do "campo de forças"
exercido por ele.
Deste modo, o predomínio de uma área de influência ("campo de forças")
liderada por um centro, ou conjunto importante de centros ("focos"), dentro de
uma parcela do conjunto do território nacional, pode ser entendido como o
processo de diferenciação da organização do território, que conduz a um
processo desequilibrado de desenvolvimento.
A configuração territorial como condicionante do processo de
desenvolvimento
A distribuição de uma atividade é consideravelmente afetada pela localização
das outras. Não é provável que atividades produtivas tão diferentes entre si –
indústrias, mineração, agricultura comercial, agricultura familiar, pecuária
extensiva, etc. – se distribuam no espaço geográfico da mesma maneira, nem
de acordo com os mesmos princípios. Atividades caracterizadas pela
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independência locacional, buscam uma localização mais próxima dos
mercadosconsumidores (indústrias, comércio, serviços, etc.). Outras, por sua
natureza imóvel, se concentram em áreas restritas e, muitas vezes, remotas do
território (mineração, agricultura, pecuária, etc.). Em conseqüência, impõem
padrões de interação espacial e de ocupação e uso específicos, que
determinam uma forma de organização territorial.
O problema da organização territorial adequada para o processo de
desenvolvimento se converte na identificação da distribuição espacial
resultante das atividades produtivas e da população, que concorram para a
universalidade e para a eqüidade.
Existem atividades que devem ser localizadas o mais racionalmente possível,
para que o aproveitamento dos recursos e os seus benefícios sejam os mais
elevados possíveis, assegurando o equilíbrio na distribuição dos mesmos. Se
os benefícios do desenvolvimento devem ser para todos os indivíduos, a
localização deles é um fator que deve ser considerado na análise e na adoção
de políticas, assim como não pode ser dispensado o conhecimento da
localização das atividades destinadas a atender suas necessidades.
Enfrentamento da problemática de uma configuração territorial promotora
de um processo de desenvolvimento desigual
a. Explicitar a influência do desenvolvimento dos "focos" (centros) para o
conjunto das atividades e sua distribuição.
b. Explicitar a localização dos "focos" (centros) geradores de determinados
"campo de forças" (área de influência) e o que determinou e condicionou
suas origens.
c. Identificar elementos que permitam antever a localização dos futuros
"focos" (centros) e o alcance dos seus respectivos "campo de forças"
(área de influência).
d. Explicitar as formas de ocupação territorial atual como resultados do
processo de divisão espacial do trabalho.
e. Identificar os elementos que influenciam o desenvolvimento de uma área
sobre o curso do desenvolvimento de outras.
f. Explicitar as causas da existência de determinadas estruturas espaciais
(sistema de cidades) e não de outras, visando identificar os elementos
que influíram nisso, para que sejam previstos com antecedência.
g. Identificar os instrumentos de planejamento relevantes, para a
adequação dos serviços e transformação das funções que os centros
exercem, para capacitá-los a acomodar a população vinculada aos
setores produtivos emergentes, ou dinamizados.
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h. Identificar as relações intertemporais da evolução da organização
espacial atual, para formular ações com o objetivo de manter ou
potencializar aspectos positivos e eliminar ou reduzir aspectos negativos
das atuais configurações territoriais, no futuro.
Dois problemas que se colocam para o processo de desenvolvimento a
partir da configuração territorial
Como iniciar um processo de organização territorial para reverter o
processo de desenvolvimento existente.
a)Projetar os efeitos do processo de desenvolvimento dos centros ("focos") em
suas respectivas áreas de influência ("campo de forças") e sobre o território
nacional.
b)Determinar a estrutura características de enlaces que ocorrerão nos espaços
funcionais e geográficos, compatíveis com o padrão de desenvolvimento dos
centros ("focos").
c)Estabelecer centrose estruturas de enlaces que assegurem novos enlaces
funcionais (para frente e para trás, em termos de complementaridade
produtiva) e mudanças nos padrões de desenvolvimento dentro na própria área
de influência dos centros (ou pólos) considerados.
d)Incentivar iniciativas que facilitem a introdução de inovações externas e sua
difusão interna.
Como conduzir um processo de organização territorial para lograr um
processo promotor ou "potencializador" de maior desenvolvimento.
e)Selecionar localizações adequadas para o estabelecimento de atividades
produtivas que possam integrar as áreas de influência dos "focos".
f)Propor medidas para assegurar que os efeitos decorrentes dos enlaces
produtivos e complementariedades funcionais se distribuam no interior do
"campo de forças" dos seus respectivos centros, de modo que contribuam à
reorganização territorial.
g)Estabelecer "observatórios territoriais" de monitoramento dos efeitos de
reação sobre o espaço funcional decorrentes de alterações no espaço
geográfico. A sua missão será o acompanhamento da direção dos processos
dinâmicos de difusão das ações de desenvolvimento e as mudanças das
relações existentes entre os diversos centros urbanos ("focos"), entre si e entre
as suas respectivas áreas de influência ("campos de forças").
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Antiguidade Ocidental: cultura Greco-Romana, a constituição e o
desenvolvimento da Pólis grega, Roma Republicana e Imperial
A CULTURA GREGA
Um dos principais expoentes da cultura grega é a filosofia, a palavra
filosofia vem do grego filos, que significa amor, e Sofia, que quer dizer
sabedoria. Por amor à sabedoria os gregos buscaram explicações racionais
para a realidade do mundo, diferente daquelas apresentadas nas lendas, nos
mitos ou nas crenças religiosas.
Foi assim que nasceu entre os gregos a filosofia, isto é, o uso
sistemático da razão humana para compreender o desconhecido.Entre os
grandes nomes da filosofia grega podemos citar Sócrates (469-399 a.C.),
Platão (427-347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C).
A partir do conhecimento filosófico foram surgindo todas as demais
ciências, como a Física, a Química, a Biologia, a Matemática, a Astronomia, a
Medicina etc.
Um dos maiores representantes da medicina foi o grego Hipócrates (séc.
V a.C), conhecido como o pai da Medicina. Ele formulou as primeiras regras a
serem seguidas pelos médicos; primeiro, descobrir os sintomas, depois, fazer a
diagnose, e por ultimo dar a terapia. São da Grécia os grandes matemáticos
que prestaram notáveis contribuições a essa ciência. Podemos citar, por
exemplo, Tales de Mileto e Pitágoras.
Entre os grandes históriadores gregos destaca-se Heródoto (484-425
a.C), conhecido como o pai da história. Ele afirmava que os exemplos deviam
ser mostrados as novas gerações, para que os erros do passado não
voltassem a ser cometidos no futuro. Alem de Heródoto, podemos citar entre os
históriadores gregos Tucídides, Xenofonte, Plutarco e Políbio.
A arte grega clássica caracteriza-se pela busca de equilíbrio,
racionalidade e perfeição.
Um dos elementos fundamentais da arquitetura grega era a coluna, que
conheceu três estilos básicos: dórico (simples e despojado), jônico (leve e
flexível) e coríntio (complexo e rebuscado). Das construções gregas, destacam-
se os templos que tinham a forma retangular.
Entre os principais arquitetos gregos, podemos citar Ictino e Calícrates,
construtores do Pártenon.
A escultura geralmente tinha como finalidade decorar ou complementar
as obras arquitetônicas. As estatuas gregas, representando figuras masculinas
ou femininas, destinguiam-se pelo seu aspecto leve e, ao mesmo tempo,
vigoroso. As figuras gregas são modelos idealizados de perfeição física.
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Entre os principais escultores gregos destacam-se Mírom, Fídias e
Praxíteles.
Os gregos foram os criadores de dois gêneros básicos do teatro: a
tragédia e a comédia. O teatro grego originou-se das festas em homenagem a
Dionísio, era ao ar livre, geralmente construído na ladeira de uma colina para o
aproveitamento máximo da acústica natural. Os atores usavam uma máscara,
chamada persona (palavra da qual se originam os termos personagem e
personalidade).
Os principais dramaturgos gregos foram: Ésquilo, Sófocles, Eurípedes e
Aristófanes.
A constituição e o desenvolvimento da Pólis grega
O surgimento das cidades-Estado helênicas; na região egéia é anteriorà
verdadeira época clássica e apenas seus esboços podem ser vislumbrados em
fontes não-escritas disponíveis. Depois do colapso da civilização micênica por
volta de 1200 a.C., a Grécia experimentou uma prolongada Idade das Trevas
na qual desapareceu a escrita e a vida econômica e política regrediu a um
estágio doméstico rudimentar: o mundo rural e primitivo retratado nos épicos
homéricos. Foi na época seguinte da Grécia arcaica, de 800 a 500 a.C., que o
modelo urbano da civilização clássica lentamente se cristalizou.
Algum tempo antes do advento dos registros históricos, monarquias locais
foram derrubadas por aristocracias tribais e cidades foram fundadas ou
desenvolvidas sob o domínio destas nobrezas. A lei aristocrática na Grécia
arcaica coincidiu com o reaparecimento do comércio a longa distância
(principalmente com a Síria e o Oriente), os prenúncios da cunhagem
(inventada na Lídia no século VII) e a criação da escrita alfabética (derivada da
escrita fenícia). A urbanização prosseguia com estabilidade, derramando-se
além-mar pelo Mediterrâneo e Euxino, até que ao final do período de
colonização em meados do século VI já havia umas 1500 cidades gregas nas
terras helênicas, e fora delas - nenhuma virtualmente a mais de 40 quilômetros
para dentro da linha da costa.
Estas cidades eram essencialmente pontos de concentração de agricultores e
proprietários de terras: na cidade pequena típica desta época, os cultivadores
viviam dentro das muralhas da cidade e saíam para trabalhar no campo todas
as manhãs, retornando à noite - embora o território das cidades sempre
incluísse um perímetro agrário com toda a população rural ali instalada. A
organização social destas cidades ainda refletia muito do passado tribal de
onde haviam emergido: sua estrutura interna era articulada por unidades
hereditárias cuja nomenclatura de parentesco representava uma tradução
urbana das divisões rurais tradicionais. Portanto, os habitantes da cidade eram
normalmente organizados - pela ordem descendente de tamanho e inclusão -
em tribos, fratrias e clãs, sendo os "clãs" exclusivamente grupos aristocráticos
e as "fratrias" talvez originalmente sua freguesia popular.
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Pouco se sabe sobre as constituições políticas formais das cidades gregas na
era arcaica, já que elas não sobreviveram à própria época clássica - ao
contrário de Roma em semelhante estágio de desenvolvimento -, mas é
evidente que eram baseadas na lei privilegiada de urna nobreza hereditária
sobre o resto da população urbana, e tipicamente exercida através do governo
de um conselho aristocrático exclusivo sobre a cidade.
A ruptura desta ordem geral ocorreu no último século da era arcaica, com o
advento dos tiranos (c. 650-510 a.C.). Estes autocratas romperam a dominação
das aristocracias ancestrais sobre as cidades: eles representavam proprietários
de terra mais novos e riqueza mais recente, acumulada durante o crescimento
econômico da época precedente, e estendiam seu poder a uma região muito
maior graças a concessões à massa sem privilégios dos habitantes das
cidades. As tiranias do século VI realmente constituíam a transição crucial para
a polis clássica.
Foi durante seu período geral de predominância que as fundações militares e
econômicas da Grécia clássica foram lançadas. Os tiranos foram o produto de
um processo dualista dentro das cidades helênicas do último período arcaico. A
chegada de um sistema monetário e a disseminação de uma economia
financeira foram acompanhados por um rápido aumento na população e no
comércio da Grécia. A onda de colonização além-mar dos séculos VIII ao VI
era a mais óbvia expressão deste desenvolvimento; entretanto, a maior
produtividade helênica das culturas do vinho e das oliveiras, mais intensiva que
a cultura contemporânea dos cereais, tenha talvez proporcionado à Grécia uma
relativa vantagem nos intercâmbios comerciais na zona do Mediterrâneo.
As oportunidades econômicas proporcionadas por este crescimento criaram um
estrato de proprietários agrários recentemente enriquecidos, saldos de fora das
classes da nobreza tradicional e em certos casos provavelmente tirando
benefícios de empresas comerciais auxiliares. A nova riqueza deste grupo não
era acompanhada por nenhum poder equivalente na cidade. Ao mesmo tempo,
o aumento da população e a expansão e quebra da economia arcaica
provocaram tensões sociais agudas entre a classe mais pobre na terra, sempre
mais propensa a ser degradada ou sujeita aos nobres proprietários e agora
exposta a novas pressões e incertezas.
A pressão combinada do descontentamento rural da base e das fortunas
recentes da cúpula forçaram a ruptura do estreito anel de domínio aristocrático
nas cidades. A conseqüência característica das sublevações políticas
resultantes nas cidades foi o surgimento de tiranos transitórios no final do
século VII e no século VI. Os próprios tiranos eram em geral novos-ricos
competitivos de considerável fortuna, cujo poder pessoal simbolizava o acesso
do grupo social onde eram recrutados às honras e posição na cidade. Sua
vitória, no entanto, só era possível geralmente por causa da utilização que
faziam dos ressentimentos radicais dos pobres, e seu mais duradouro
empreendimento foram as reformas econômicas, no interesse das classes
populares; que tinham de admitir ou tolerar para garantirem o poder.
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Os tiranos, em conflito com a nobreza tradicional, na realidade bloquearam o
monopólio da propriedade agrária, que era a principal tendência de seu poder
irrestrito e que estava ameaçando causar um crescente perigo social na Grécia
arcaica. Com a única exceção da planície fechada da Tessália, as pequenas
propriedades camponesas estavam preservadas e consolidadas por toda a
Grécia nesta época. As formas diferentes em que ocorreu este processo
tiveram que ser reconstituídas com base em seus efeitos posteriores, dada a
falta de provas documentais do período pré-clássico. A primeira grande revolta
contra a dominância da aristocracia que levou a uma bem-sucedida tirania,
apoiada pelas classes mais baixas, aconteceu em Corinto em meados do
século VII, onde a família Baquíada foi despojada de seu tradicional poder
sobre a cidade, um dos primeiros centros de comércio a florescer na Grécia.
Mas foram as reformas de Sólon que proporcionaram o mais claro e melhor
exemplo conhecido daquilo que era possivelmente algo como um padrão geral
em seu tempo. Sólon, ele próprio não sendo um tirano, estava investido com o
poder supremo para mediar as amargas lutas sociais entre os ricos e os pobres
que irromperam na Ática na virada do século VI.
Sua medida decisiva foi abolir os pagamentos de dívidas sobre a terra,
mecanismo típico pelo qual os pequenos proprietários se tornavam presa de
grandes latifundiários e se tornavam seus rendeiros dependentes, ou os
rendeiros se tornavam cativos dos proprietários aristocráticos.
O resultado foi conter o crescimento das propriedades nobres e estabilizar o
modelo das pequenas e médias propriedades que daí em diante passaram a
caracterizar o campo na Ática.
Esta ordem econômica foi acompanhada por uma nova administração política.
Só1on privou a nobreza de seu monopólio de cargos pela divisão da população
de Atenas em quatro classes de renda, destinando as duas classes mais altas
às magistraturas mais elevadas, a terceira tendo acesso às posições
administrativas mais baixas, e a quarta tendo direito a um voto na Assembléia
dos cidadãos, que desde então se tornou uma instituição normal da cidade.
Este arranjo não estava destinado a durar.
Nos trinta anos seguintes, Atenas experimentou um rápido crescimento
comercial, com a criação de uma unidade monetária municipal e a
multiplicação dos negócioslocais. Os conflitos sociais com os cidadãos logo se
renovaram e agravaram, culminando com a tomada do poder pelo tirano
Pisístrato. Foi sob seu governo que emergiu a configuração final da formação
social de Atenas. Pisístrato patrocinou um programa de construções que
proporcionou emprego para artífices e trabalhadores urbanos e promoveu um
florescente desenvolvimento do tráfego marítimo do Pireu. Mas, acima de tudo,
proporcionou assistência financeira direta ao campesinato ateniense, na forma
de créditos públicos que finalmente confirmaram sua autonomia e segurança
na véspera da polis clássica.
A firme sobrevivência de pequenos e médios fazendeiros estava assegurada.
Este processo econômico - cuja não-ocorrência iria mais tarde definir a
contrastante história social de Roma - parece ter sido comum por toda a
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Grécia, embora os acontecimentos por trás dele não estejam tão
documentados fora de Atenas. Em outros lugares o tamanho médio das
propriedades rurais algumas vezes podia ser maior, mas apenas na Tessália
predominavam as grandes herdades aristocráticas. A base econômica da
comunidade helênica seria a propriedade agrária modesta. Quase
simultaneamente a este arranjo social na era tirânica, houve uma mudança
significativa na organização militar das cidades. Os exércitos daí em diante se
compunham essencialmente de hoplitas, uma infantaria pesadamente
guarnecida que constituía uma inovação grega no mundo mediterrâneo.
Cada hoplita se equipava com armamento e armadura às suas próprias custas
- assim, tal soldadesca faz pressupor uma vida econômica razoável, e, de fato,
as tropas hoplitas vinham sempre ela classe média agricultora das cidades.
Sua eficácia militar seria provada com as surpreendentes vitórias gregas sobre
os persas no século seguinte. Mas era sua posição central dentro da estrutura
política das cidades-Estado que definitivamente era o mais importante. O
pressuposto da posterior "democracia" grega, ou da "oligarquia" ampliada, era
uma infantaria auto-armada.
Esparta foi a primeira cidade-Estado a incorporar os resultados sociais das
operações de guerra dos hoplitas. Sua evolução forma um curioso paralelo em
relação a Atenas na era pré-clássica. Esparta não teve uma tirania, e esta
omissão num episódio normal de situação transitória emprestou um caráter
peculiar às suas instituições econômicas e políticas, misturando feições
arcaicas e avançadas, numa configuração sui generis. A cidade de Esparta
conquistou uma porção relativamente grande do interior do Peloponeso numa
época primitiva, primeiro na Lacônia, para o leste, e depois em Messênia, para
oeste, e escravizou o total dos habitantes das duas regiões, que se tornaram
hilotas do Estado. Este engrandecimento geográfico e a sujeição social da
população envolvida foram realizados sob um governo monárquico: No
decorrer do século VII, no entanto, a conquista inicial de Messênia e a posterior
repressão de uma rebelião tiveram como conseqüência algumas mudanças
radicais na sociedade espartana - tradicionalmente atribuídas à figura mítica do
reformador Licurgo.
De acordo com a lenda grega, a terra estava dividida em porções iguais, que
eram distribuídas aos espartanos como kleroi, ou lotes, cultivados por hilotas, e
que eram possuídos coletivamente pelo Estado; estas "antigas" propriedades
mais tarde foram consideradas inalienáveis, enquanto tratos de terra mais
recentes eram julgados propriedade pessoal que poderia ser vendida ou
comprada.
Cada cidadão devia pagar contribuições fixas em espécie pelos syssitia,
refeições fornecidas por cozinheiros e serventes hilotas: os que se tornavam
incapazes de fazê-lo automaticamente perdiam a cidadania e se tornavam
"inferiores", um infortúnio contra o qual a posse de lotes inalienáveis por ter
sido planejada de propósito. O resultado deste sistema era criar uma unidade
coletiva intensa entre os espartanos, que orgulhosamente se designavam como
hoi homoioi - os "iguais", embora a igualdade econômica completa em tempo
algum tenha chegado a ser uma feição da verdadeira cidadania espartana.
EeConcursos PM e BM - PR
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O sistema político surgido das bases das propriedades kleroi era um sistema
adequadamente novo para seu tempo. A monarquia jamais desapareceu
inteiramente, como aconteceu nas outras cidades gregas, mas foi reduzida a
um generalato hereditário e restringida por uma dupla gestão, outorgada a
duas famílias reais.
Em todos os outros aspectos, os "reis" espartanos eram apenas membros da
aristocracia, participantes sem privilégios especiais no conselho de trinta
anciãos ou gerousia, que originariamente governavam a cidade; o típico conflito
entre monarquia e nobreza no princípio da idade arcaica foi aqui resolvido por
um compromisso institucional entre ambas. Durante o século VII, no entanto, a
classe cidadã dos soldados-rasos chegou a constituir uma completa
Assembléia municipal, com poderes de decisão sobre políticas a ela
submetidas pelo conselho de anciãos, que se tornou, por sua vez, um corpo
eletivo; cinco magistrados ou éforos exerciam a suprema autoridade executiva
pela eleição direta de todos os cidadãos. A Assembléia podia ser controlada
por um veto da gerousia, e os éforos eram dotados de urna excepcional
concentração de poder arbitrário.
Mas a constituição espartana que assim se cristalizou na época pré-clássica foi
contudo a mais socialmente avançada de seu tempo. Ela representou na
verdade o primeiro direito de voto hoplita a ser efetivado na Grécia.
Sua introdução é muitas vezes datada a partir do papel desempenhado pela
nova infantaria pesada na conquista ou no esmagamento da população
messeniana sujeitada, e Esparta passou a ser, daí em diante, naturalmente,
sempre conhecida pela disciplina sem igual e pelas proezas de seus soldados
hoplitas. As excepcionais qualidades militares dos espartanos por sua vez
eram uma função do onipresente trabalho hilota, que desimpedia os cidadãos
de qualquer trabalho direto na produção, deixando-os livres para o treino
profissional para a guerra em tempo integral. O resultado foi um conjunto de
uns 8 a 9 mil cidadãos espartanos economicamente auto-suficientes e com
direito de voto político, que era bem mais amplo e mais igualitário do que em
qualquer aristocracia contemporânea ou qualquer oligarquia posterior na
Grécia.
O extremo conservadorismo da formação social espartana e do sistema político
na época clássica, que o fazia parecer decadente e atrasado no século V, foi
de fato resultado de suas transformações pioneiras no século VII. Primeiro
estado grego a chegar a uma constituição hoplita, ele se tornou o último a
modificá-la: o modelo primário da era arcaica sobreviveu até às vésperas da
extinção final de Esparta, meio milênio depois.
Em outras regiões, como já vimos, as cidades-Estado da Grécia foram mais
lentas para evoluir até sua forma clássica. As tiranias eram fases intermediárias
necessárias de desenvolvimento: foram sua legislação agrária e suas
inovações militares que prepararam a polis helênica do século V. Mas foi
preciso uma inovação mais avançada e realmente decisiva para o advento da
civilização clássica grega, Esta foi, é claro, a introdução em escala maciça da
EeConcursos PM e BM - PR
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escravidão como bem móvel. A conservação da pequena e média propriedade
da terra havia resolvido uma crescente crise social na Ática e arredores.
Mas, em si, ela tenderia a deter o desenvolvimento cultural e político da
civilização grega em um nível "beócio", impedindo o aumento de uma divisão
social mais complexa de trabalho e da superestrutura urbana. Comunidades
camponesas relativamente igualitáriaspodiam-se congregar fisicamente em
cidades; elas jamais poderiam criar uma luminosa civilização citadina do tipo
que a Antiguidade agora testemunhava pela primeira vez em seu estado
simples. Para isto era preciso um superávit de trabalho escravo para a
emancipação de seu estrato governante e a construção de um novo mundo
cívico e intelectual. "Em seus termos mais amplos, a escravidão era
fundamental para a civilização grega, no sentido em que sua abolição e a
substituição do trabalho livre, se a alguém tal houvesse ocorrido, teria
deslocado toda a sociedade e suprimido o ócio das classes mais altas de
Atenas e Esparta."
Assim, não foi por acaso que a salvação do campesinato independente e o
cancelamento dos pagamentos dos débitos tivessem sido seguidos
prontamente por um novo e abusivo aumento do uso do trabalho escravo, no
campo e na cidade da Grécia clássica. Uma vez bloqueados os extremos da
polarização social dentro das comunidades helênicas, era lógico o recurso às
importações de escravos para solucionar a carência de mão-de-obra para a
classe dominante.
O preço dos escravos - na maioria trácios, frígios e sírios - era muito baixo, não
muito acima do custo de um ano de manutenção; e assim sua utilização se
tornou generalizada na sociedade grega a um ponto em que mesmo os mais
humildes artesãos ou pequenos agricultores podiam muitas vezes possuí-los.
Este desenvolvimento econômico havia também sido antecipado pela primeira
vez em Esparta; fora a criação anterior da massa rural hilota na Lacônia e em
Messênia que permitiram o surgimento da fraternidade servilizada dos
espartanos, a maior população escrava da Grécia pré-clássica e o primeiro
direito de voto hoplita.
Mas aqui, como em outros lugares, cada prioridade espartana detinha uma
evolução mais avançada: a classe hilota permanecia como uma "forma não
desenvolvida", pois os hilotas não podiam ser comprados, vendidos ou
manipulados e eram propriedade coletiva, mais do que propriedade individual.
A escravidão como mercadoria, regida por unia bolsa de valores, foi introduzida
na Grécia nas cidades-Estado que seriam suas rivais. Durante o século V, o
apogeu da polis clássica, Atenas, Corinto, Égina e virtualmente cada cidade de
importância continham uma volumosa população escrava, freqüentemente
ultrapassando o número de cidadãos livres.
Foi o estabelecimento desta economia de escravos na mineração, na
agricultura e na manufatura que permitiu o súbito florescimento da civilização
urbana grega. Seu impacto, naturalmente - como visto acima -, não foi apenas
econômico. "A escravidão, é claro, não era simplesmente uma necessidade
econômica, era vital a toda vida política e social dos cidadãos." A polis clássica
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estava baseada na nova descoberta conceitual da liberdade, acarretada pela
sistemática instituição da escravidão: o cidadão livre agora sobressaía
plenamente contra o fundo de trabalhadores escravos. As primeiras instituições
"democráticas" na Grécia clássica estão registradas em Quios, em meados do
século VI: a tradição também sustenta que Quios foi a primeira cidade grega a
importar em grande escala escravos do Oriente bárbaro.
As reformas de Sólon em Atenas haviam sido seguidas por um brusco aumento
na população escrava à época da tirania; e isto por sua vez fora seguido por
uma nova constituição legada por Clístenes, que aboliu as divisões tribais
tradicionais da população com suas comodidades para a clientela aristocrática,
reorganizou os cidadãos em demos territoriais locais e instituiu a votação por
lote para um Conselho dos Quinhentos ampliado para presidir os negócios da
cidade em combinação com a Assembléia popular. O século V viu a
generalização desta fórmula política "probolêutica" nas cidades-Estado gregas:
um Conselho menor propunha as decisões públicas a uma Assembléia maior
que as votava, sem direitos de iniciativa (embora nos estados mais populares
essa Assembléia viesse a receber tais direitos). As variações na composição
do Conselho e da Assembléia e na eleição dos magistrados do Estado que
conduziam sua administração definiam o grau relativo de "democracia" ou
"oligarquia" em cada polis.
O sistema espartano, dominado por um eforado autoritário, era notoriamente
antípoda ao ateniense, que veio a ser centralizado na plena Assembléia dos
cidadãos. Mas a linha básica de demarcação não passava por dentro da
cidadania constituinte da polis, não obstante ela estivesse organizada ou
estratificada: ela dividia a cidadania - fossem os 8 mil espartanos ou os 45 mil
atenienses - dos não-cidadãos e cativos abaixo deles. A comunidade da polis
clássica, não importava quão dividida em classes internamente, estava acima
de uma força de trabalho escravizada que suportava toda sua forma e
substância.
Essas cidades-Estado da Grécia clássica estavam empenhadas em constante
rivalidade uma contra a outra: a marcha típica de sua expansão, depois do
término do processo de colonização no final do século VI, era a conquista
militar e o tributo. Com a expulsão das forças persas da Grécia no início do
século V, Atenas gradualmente atingiu um poder proeminente entre as cidades
competitivas da bacia egéia. O Império Ateniense que fora construído na
geração entre Temístocles e Péricles parecia conter a promessa - ou ameaça -
de unificação política da Grécia sob o governo de uma única polis. Sua base
material era proporcionada pelo perfil e situação peculiares da própria Atenas,
territorial e demograficamente a maior cidade-Estado helênica - apesar de ter
apenas uns 1500 quilômetros quadrados e talvez uma população de 250 mil
habitantes.
O sistema agrário da Ática exemplificava talvez de maneira especialmente
pronunciada o modelo generalizado da época. Pelos padrões helênicos, a
grande propriedade era uma herdade de 40 a 80 hectares."
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Na Ática havia poucas grandes propriedades, e mesmo os ricos proprietários
possuíam muitas pequenas explorações em vez de um latifúndio concentrado.
Propriedades de 30 ou mesmo 20 hectares estavam acima da média, enquanto
as menores provavelmente não eram de muito mais do que 2 hectares; três
quartos dos cidadãos livres possuíam alguma propriedade rural pelo fim do
século V.
Os escravos prestavam o serviço doméstico, o trabalho no campo - onde eles
caracteristicamente cultivavam as propriedades dos ricos no interior - e o
trabalho artesanal; provavelmente eram excedidos em número pelo trabalho
livre disponível na agricultura e talvez na manufatura, mas constituíam um
grupo maior do que o total dos cidadãos. No século V haveria talvez uns 80 a
100 mil escravos em Atenas, para uns 30 a 40 mil cidadãos.
Um terço da população livre vivia na própria cidade. A maior parte do restante
vivia no interior imediato, em vilarejos. O volume conjunto dos cidadãos era
formado pela classe dos tetas e a dos hoplitas, nas respectivas proporções de
2:1 talvez, sendo os primeiros a classe mais pobre da população, que era
incapaz de se auto-equipar para o dever da infantaria pesada. A divisão entre
hoplitas e tetas era tecnicamente uma divisão por rendimentos e não por
ocupações ou residência: os hoplitas podiam ser artesãos urbanos, enquanto
talvez a metade dos tetas era constituída de camponeses pobres.
Acima destas duas classes plebéias estavam duas ordens muito menores de
cidadãos mais ricos, cuja elite formava um cume de umas 300 famílias de
grande fortuna, no pico da sociedade ateniense. Esta estrutura social, com sua
conhecida estratificação e a quase ausência de fendas dramáticas no corpo de
cidadãos, é que proporcionou a fundação da democracia política ateniense.
Por meados do século V, o Conselho dos Quinhentos, que supervisionava a
administração de Atenas,era selecionado entre o total dos cidadãos por
sorteio, para evitar os perigos da predominância autocrática e da clientelagem
associada às eleições. Os únicos maiores postos eletivos no Estado eram dez
generalatos militares, que por acaso eram destinados, como regra, ao estrato
mais alto da cidade. O Conselho já não apresentava mais resoluções
controversas à Assembléia dos Cidadãos, que então concentrava a plena
soberania e a iniciativa política no seu seio, simplesmente preparando sua
agenda e submetendo conclusões já definidas à sua decisão. A própria
Assembléia mantinha um mínimo de 40 sessões por ano, com uma assistência
média provavelmente bem acima dos 5 mil cidadãos: era necessário um
quórum de 6 mil para deliberações mesmo sobre muitos assuntos rotineiros,
Todas as questões políticas importantes eram debatidas diretamente e
determinadas por ela.
O sistema judiciário que ladeava o centro legislativo da polis era composto por
jurados selecionados por sorteio entre os cidadãos e remunerados por seus
deveres - para capacitar os pobres a servirem também -, como o eram os
conselheiros, princípio este estendido no século IV ao comparecimento à
própria Assembléia. Virtualmente não havia nenhuma espécie de burocracia
permanente, sendo as posições administrativas distribuídas entre os
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conselheiros por sorteio, enquanto a diminuta força policial era composta por
escravos citas. Na prática, naturalmente, a democracia popular direta da
constituição ateniense estava diluída pela dominação informal de políticos
profissionais sobre a Assembléia, que eram recrutados de famílias
tradicionalmente ricas e bem-nascidas na cidade (ou, mais tarde, entre os
novos-ricos).
Mas esta dominância social nunca se tornou legalmente entrincheirada ou
solidificada, e estava sempre sujeita a transtornos e mudanças devido à
natureza demótica da forma de governo na qual devia ser exercida. Esta
contradição era fundamental à estrutura da polis ateniense, e encontrou notável
reflexão na condenação unânime da democracia sem precedentes da cidade
pelos pensadores que encarnavam sua cultura inigualável - Tucídides,
Sócrates, Platão, Aristóteles, Isócrates ou Xenofonte. Atenas jamais produziu
alguma teoria política democrática: praticamente todos os filósofos ou
historiadores de nota na Ática eram oligarcas por convicção
Aristóteles condenou o essencial desse ponto de vista em seu breve e
significativo banimento de todos os trabalhadores manuais da cidadania do
Estado ideal.
O modo escravo de produção que sustentou a civilização ateniense encontrou
sua mais pura expressão ideológica no estrato social privilegiado da cidade,
cujas alturas intelectuais o excedente de trabalho nas profundidades
silenciosas abaixo da polis tornou possível.
A estrutura da formação social ateniense, assim constituída, não era suficiente
em si para gerar a supremacia imperial na Grécia. Por isso, foram necessárias
duas outras feições mais avançadas e específicas da economia e da sociedade
ateniense, que a colocaram à parte em relação a qualquer outra cidade-Estado
helênica do século V. Primeiro, a Ática continha as mais ricas minas de prata
na Grécia, em Laurion. Lavradas principalmente por turmas maciças de
escravos - uns 30 mil ou coisa parecida -, foi este minério que financiou a
construção da frota ateniense que triunfou sobre os navios persas em
Salamina.
A prata ateniense foi desde o início a condição do poder naval ateniense. Além
disto, ela tornou possível a existência de uma moeda da Ática - única entre os
sistemas monetários gregos da época - que se tornou amplamente aceita no
exterior como um meio de negociações interlocais , contribuindo grandemente
para a prosperidade comercial da cidade. Isto foi ainda mais intensificado pela
excepcional concentração de estrangeiros metecos em Atenas, que eram
privados da propriedade da terra mas que chegaram a dominar os
empreendimentos comerciais e industriais na cidade, fazendo dela o ponto
focal do Egeu. A hegemonia marítima que então se acumulava em Atenas
emprestou uma relação funcional à configuração política da cidade.
A classe hoplita de médios agricultores que supriam a infantaria da polis
somava uns 13 mil - um terço dos cidadãos. A frota ateniense, no entanto, era
tripulada por marinheiros recrutados entre a mais pobre classe dos tetas,
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abaixo daqueles; os remadores recebiam salários em dinheiro e prestavam
serviço oito meses por ano. Seu número era praticamente igual ao de soldados
da infantaria (12 mil ) e foi sua presença que ajudou a garantir o alcance da
política ateniense, contrastando com as cidades-Estado gregas, em que a
categoria dos hoplitas sozinha proporcionava a base social da polis.
A superioridade monetária e a naval deram margem ao seu imperialismo; e
igualmente foram elas que promoveram sua democracia. A classe dos
cidadãos ali era em grande parte isenta de qualquer forma de taxação direta: a
propriedade da terra, especialmente, que era limitada aos cidadãos, não tinha
nenhuma carga fiscal, uma condição critica da autonomia camponesa dentro
da polis. Os rendimentos internos atenienses derivavam da propriedade do
Estado, de taxas indiretas (como os impostos portuários) e de "liturgias"
financeiras obrigatórias oferecidas à cidade pelos ricos. Esta fiscalização
clemente era complementada por um pagamento público para o serviço jurídico
e amplo emprego naval, combinação que ajudava a garantir o notável grau de
paz cívica que marcava a vida política ateniense. (22) Os custos dessa
harmonia popular eram deslocados para a expansão ateniense do exterior.
0 Império Ateniense surgido na esteira das Guerras Pérsicas era
essencialmente um sistema marítimo, planejado para a subjugação coercitiva
das cidades-Estado gregas do Egeu. A colonização propriamente dita teve um
papel secundário, senão negligenciável, em sua estrutura. É significativo que
Atenas fosse o único estado grego a criar uma classe especial de cidadãos
além-mar - ou "cleruques" -, a quem eram dadas terras coloniais confiscadas
dos rebeldes aliados no estrangeiro e, ainda assim, diferentemente do que
ocorre em relação a todos os outros colonizadores helênicos, detinham plenos
direitos jurídicos em sua própria cidade natal, A fundação estável de
"clerúquias" e colônias além-mar no decorrer do século V habilitou a cidade a
promover mais de dez mil atenienses da condição teta à condição hoplita, com
a dotação de terras no estrangeiro, fortalecendo assim bastante seu poderio
militar de um só golpe. 0 impacto do imperialismo ateniense, contudo, não se
deteve nestas colonizações. A ascensão do poder ateniense no Egeu criou
uma ordem política cuja função real era a de coordenar e explorar costas e
ilhas já urbanizadas através de um sistema de tributo monetário cobrado para a
manutenção de uma marinha permanente, que era nominalmente o defensor
habitual comum da liberdade grega contra as ameaças orientais e, na verdade,
o instrumento central da opressão imperial de Atenas sobre seus "aliados".
Em 454 o tesouro central da Liga de Delos, criado originalmente para combater
a Pérsia, fora transferido para Atenas; em 450, a recusa ateniense à dissolução
da Liga, depois da paz com a Pérsia, converteu-a num Império de fato. A esta
altura da década de 440, o sistema imperial ateniense abraçava umas 150
cidades - principalmente jônicas -, que pagavam uma soma anual em dinheiro
ao tesouro central em Atenas e eram proibidas de manter suas próprias frotas.
O tributo total do Império era avaliado como sendo 50 por cento maior do que
os rendimentos internos da Ática, e sem dúvida financiou a superabundância
cívica e cultural da polis de Péricles.
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Internamente, a marinha paga por ele garantia emprego estável para a mais
numerosa e menos próspera classe de cidadãos; as obras públicas que
financiou foram os mais notáveis embelezamentos da cidade, e entre elas se
destaca o Partenon. No estrangeiro, esquadrões atenienses policiavam as
águas do Egeu, enquanto os residentes políticos, comandantes militares e
comissários itinerantes asseguravam magistraturas dóceis nos Estados
sujeitados. As cortes atenienses exerciam poderes de repressão judiciária
sobre cidadãos de cidades aliadas suspeitos de deslealdade?
Mas os limites do poder externo ateniense logo foram alcançados. Ele
provavelmente estimulou o comércio e as manufaturas no Egeu, onde o uso do
sistema da Ática estava estendido por decreto e onde a pirataria estava
suprimida, embora os maiores lucros do crescimento comercial fossem
acumulados pela comunidade meteca na própria Atenas. 0 sistema imperial
também gozava da simpatia das classes mais pobres das cidades aliadas,
porque a tutela ateniense geralmente significava a instalação de regimes
democráticos localmente, congruentes com os da própria cidade imperial,
enquanto a carga financeira do tributo caía sobre as classes mais altas.
Mas isto era incapaz de realizar uma inclusão institucional destes aliados em
um sistema político unificado. A cidadania ateniense era tão ampla em casa
que era impraticável estendê-la no estrangeiro a não-atenienses, pois isto
contradiria funcionalmente com a democracia dos residentes diretos da
Assembléia, somente factível dentro de um âmbito geográfico muito pequeno.
Assim, apesar das tonalidades populares agudas do governo ateniense, a
fundação doméstica do imperialismo de Péricles necessariamente gerava a
exploração ditatorial de seus aliados jônicos, que inevitavelmente, por sua vez,
tendiam a ser avidamente lançados a uma servidão colonial: não havia base
para igualdade ou federação, como o teria permitido uma constituição mais
oligárquica.
Ao mesmo tempo, contudo, a natureza democrática da polis ateniense - exijo
princípio era a participação direta e não a representação - impedia a criação de
uma máquina burocrática que poderia ter dominado um extenso império
territorial através de uma coerção administrativa. Mal havia qualquer aparato do
Estado separado ou profissional na cidade, cuja estrutura política fosse
basicamente definida por sua rejeição a corporações de funcionários
especializados - civis ou militares - fora da cidadania normal: a democracia
ateniense significava, exatamente, a recusa a qualquer divisão semelhante
entre Estado e sociedade.
Assim, tampouco havia base para urna burocracia imperial. O expansionismo
ateniense, em conseqüência, sucumbiu relativamente cedo, por causa tanto
das contradições de sua própria estrutura, quanto da resistência, que isso
propiciava, por parte das cidades mais oligarcas do interior da Grécia, lideradas
por Esparta. A Liga Espartana possuía as vantagens opostas aos riscos
atenienses: uma confederação de oligarquias cuja força era baseada de
maneira harmonizadora nos proprietários hoplitas mais do que numa mistura
com os marinheiros demóticos, e cuja unidade daí por diante não envolvia nem
tributo monetário nem monopólio militar pela própria hegemônica cidade de
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Esparta, cujo poder representava, portanto, sempre intrinsecamente menor
ameaça às outras cidades gregas do que o de Atenas.
A falta de alguma porção de terras interiores deixou o poder ateniense - tanto
em recrutamento quanto em recursos - muito reduzido para resistir a uma
coligação de rivais terrestres.
A Guerra do Peloponeso, combinou o ataque de seus pares com a revolta de
seus súditos, cujas classes abastadas reagiam às oligarquias do continente
desde o começo da guerra. Mesmo assim, o ouro persa foi necessário para
financiar uma frota espartana capaz de terminar com o domínio ateniense do
mar, antes que o Império Ateniense fosse finalmente derrubado por terra por
Lisandro.
Depois disso já não houve mais oportunidade de as cidades helênicas gerarem
um estado imperial unificado a partir de seu meio interior, apesar de sua
relativamente rápida recuperação dos efeitos da longa guerra do Peloponeso: a
própria paridade e multiplicidade de centros urbanos na Grécia neutralizava-as
coletivamente para a expansão externa. As cidades gregas do século IV
mergulharam na exaustão, enquanto a polis clássica experimentava
dificuldades crescentes nas finanças e no serviço militar obrigatório, sintomas
de um anacronismo iminente.
Roma Republicana e Imperial
A Roma Antiga foi uma civilização que se desenvolveu a partir da cidade-
Estado de Roma, fundada na península Itálica durante o século VIII a.C. [1].
Durante os seus doze séculos de existência, a civilização romana transitou da
monarquia para uma república oligárquica até se tornar um vasto império que
dominou a Europa Ocidental e ao redor de todo o mar Mediterrâneo através da
conquista e assimilação cultural. No entanto, um rol de factores sócio-políticos
iria agravando o seu declínio, e o império seria dividido em dois. A metade
ocidental, onde estavam incluídas a Hispânia, a Gália e a Itália, entrou em
colapso definitivo no século V e deu origem a vários reinos independentes; a
metade oriental, governada a partir de Constantinopla passou a ser referida
como Império Bizantino a partir de 476 d.C., data tradicional da queda de Roma
e aproveitada pela historiografia para demarcar o início da Idade Média.
Origens
A etimologia do nome da cidade é incerta, e são várias as teorias que nos
chegam deste a Antiguidade. A menos provável indica-nos que derivaria da
palavra grega Ρώµη (Róme), que significa "bravura", "coragem". Mais provável
é a ligação com a raiz *rum-, "seios", com possível referência a uma loba (em
latim, lupa) que teria adoptado os gémeos Rómulo e Remo que, segundo se
pensa, seriam descendentes dos povos de Lavínio. Rômulo mataria o seu
irmão e fundaria Roma.
Nas últimas décadas, os progressos na língua etrusca e na arqueologia na
Itália reduziram as probabilidades destas teorias, introduzindo novas hipóteses
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possíveis. Sabe-se, atualmente, que o etrusco era falado desde a região que
se tornaria mais tarde na província romana de Récia, nos Alpes, até à Etrúria,
incluindo o Lácio e toda a região para Sul, até Cápua. As tribos itálicas
entraram no Lácio a partir de uma região montanhosa no centro da península
Itálica, vindos da costa oriental. Apesar das circunstâncias da fundação de
Roma, a sua população original era, por certo, uma combinação da civilização
etrusca e povos itálicos, com uma provável predominância de etruscos.
Gradualmente, a infiltração itálica aumentaria, ao ponto de predominar sobre os
etruscos; i.e., as populações etruscas seriam assimiladas pelas itálicas, dentro
e fora de Roma.
Os etruscos dispunham da palavra Rumach, "de Roma", de onde pode ser
extraído "Ruma". Adiante na etimologia, tal como na maioria das palavras
etruscas, permanece desconhecido. Que talvez possa significar "teta" é pura
especulação. As associações mitológicas posteriores colocam em dúvida esse
significado; afinal, nenhum dos colonizadores originais foi criado por lobos, e é
pouco provável que os fundadores tivessem tido algum conhecimento sobre
este mito acerca deles mesmos. O nome, Tibério, pode perfeitamente conter o
nome do Tibre (em italiano: Tevere). Acredita-se atualmente que o nome
provenha de uma nome etrusco, Thefarie, e nesse caso o Tibre derivaria de
*Thefar.
Primeiros povos itálicos
Povos da península itálica no princípio da Idade do Ferro
██ Ligures
██ Vênetos
██ Etruscos
██ Picenos
██ Úmbrios
██ Latinos
██ Oscos
██ Messápios
██ GregosRoma cresceu com a sedentarização dos povos no monte Palatino até outras
colinas a oito milhas do mar Tirreno, na margem Sul do rio Tibre. Outra destas
colinas, o Quirinal, terá sido, provavelmente, um entreposto para outro povo
itálico, os Sabinos. Nesta zona, o Tibre esboça uma curva em forma de "Z"
contendo uma ilha que permite a sua travessia. Assim, Roma estava no
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cruzamento entre o vale do rio e os comerciantes que viajavam de Norte a Sul
pelo lado ocidental da península.
A data tradicional da fundação (21 de abril de 753 a.C.[2]) foi convencionada
bem mais tarde, no final da a República por Público Terêncio Varrão, atribuindo
uma duração de 35 anos a cada uma das sete gerações correspondentes aos
sete mitológicos reis. Foram, no entanto, descobertas peças arqueológicas que
indicam que a área de Roma poderá já ter estado habitada tão cedo quanto
1400 a.C.. Estas descobertas arqueológicas também confirmaram que no
século VIII a.C., na área da futura Roma, houve duas povoações fortificadas,
os Rumi, no monte Palatino, e os Titientes, no Quirinal, e, mais a Norte, os
Luceres, que viviam nos bosques. Eram estas apenas três das numerosas
comunidades itálicas que existiram no primeiro milênio a.C. na região do Lácio,
uma planície na península itálica. No entanto, desconhecem-se as origens
destes povos, embora se admita que possam descender dos indo-europeus
que migraram do Norte dos Alpes na segunda metade do segundo milênio a.C.,
ou de uma eventual mistura destes povos com outros povos mediterrânicos,
talvez do Norte de África.
No século VIII a.C., os itálicos — latinos (a Oeste), sabinos (no vale superior do
Tibre), úmbrios (no nordeste), samnitas (no Sul), oscos e outros — partilhavam
a península com outros grandes grupos étnicos: os etruscos do Norte e os
gregos do Sul.
Os etruscos estavam estabelecidos a Norte de Roma, na Etrúria (uma zona
correspondente ao atual Norte do Lácio e Toscana). Teriam sido eles uma
grande influência na cultura romana, como claramente demonstrado pela
origem etrusca dos sete reis mitológicos.
Entre 750 e 550 a.C., os gregos teriam já fundado várias colônias a Sul da
península (que os romanos mais tarde designariam por Magna Grécia), como
Cumae, Neapolis (atual Nápoles) e Tarento (atual Taranto), bem como nos dois
terços orientais da Sicília.
Domínio Etrusco
A Muralha Serviana herdou o nome do rei Sérvio Túlio e são as verdadeiras
primeiras muralhas de Roma.
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Após 650 a.C., os etruscos tornaram-se dominantes na península Itálica,
expandindo-se para o centro-norte da região. Alguns historiadores modernos
consideram que a este movimento estava associado o desejo de dominar
Roma e talvez toda a região do Lácio, embora o assunto seja controverso. A
tradição romana apenas nos informa que a cidade foi governada por sete reis
de 753 a.C. a 509 a.C., iniciando-se com o mítico Rômulo que, juntamente com
o seu irmão, Remo, teriam fundado Roma. Sobre os últimos três reis,
especialmente Tarquínio Prisco e Tarquínio, o Soberbo, informa-nos ainda que
estes seriam de origem etrusca — segundo fontes literárias antigas, Prisco
seria filho de um refugiado grego e de uma mãe etrusca — e cujos nomes se
referem a Tarquinia.
O valor historiográfico da lista de reis é, contudo, dúbio, embora os últimos reis
pareçam ter sido figuras históricas. Crê-se, também — embora contestado em
controvérsia — que Roma teria estado sob influência etrusca durante quase um
século, durante este período. Sabe-se, porém, que nestes anos foi construída
uma ponte designada Pons Sublicius, que viria a substituir um baixio do rio
Tibre utilizado para a sua travessia, e a Cloaca Maxima, o sistema de esgotos
romano, obras de engenharia com um traçado típico da civilização etrusca. Do
ponto de vista técnico e cultural, os Etruscos são considerados como o
segundo maior impacto no desenvolvimento romano, apenas suplantados pelos
Gregos.
Continuando a expansão, para Sul, os Etruscos estabeleceram contacto direto
com os gregos. Após o sucesso inicial nos conflitos com os Gregos
colonizadores, a Etrúria entraria em declínio. Aproveitando-se da situação, a
cerca de 500 a.C., dá-se uma rebelião em Roma que lhe iria dar a
independência dos etruscos. A monarquia foi também abolida em detrimento
de um sistema republicano baseado num Senado, composto pelos nobres da
cidade, alguns populares representantes, que iriam garantir a participação
política aos cidadãos de Roma, e magistrados eleitos anualmente.
Contudo, o legado etrusco mostrou-se duradouro: os romanos aprenderam a
construir templos, e pensa-se que os primeiros tenham sido os responsáveis
pela introdução da adoração a uma tríade divina — Juno, Minerva, e Júpiter —
possivelmente correspondentes aos deuses etruscos Uni, Menrva e Tinia. Em
suma, os etruscos transformaram Roma, uma comunidade pastoral, numa
verdadeira cidade, imprimindo-lhe alguns aspectos culturais da cultura grega,
que teriam adotado, como a versão ocidental do alfabeto grego.
República Romana
Roma durante a república.
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No virar para o século V a.C., Roma uniu-se às cidades latinas como medida
defensiva das incursões dos sabinos. Vencedora da batalha do Lago Regillus,
em 493 a.C., Roma estabeleceu novamente a supremacia sobre as regiões
latinas que perdera com a queda da monarquia. Após séries de lutas, a
supremacia veio a consolidar-se em 393 a.C., com a subjugação dos volscos
volsci e dos équos aequi. No ano anterior já teriam resolvido a ameaça dos
vizinhos veios, conquistando-os. A potência etrusca estava agora confinada
exclusivamente à sua própria região, e Roma tornara-se na cidade dominante
do Lácio. No entanto, em 387 a.C., Roma seria saqueada pelos gauleses
liderados por Breno, que já tinha sido bem-sucedido na invasão da Etrúria. Esta
ameaça seria rapidamente resolvida pelo cônsul Marco Fúrio Camilo, que
derrotou Breno em Tusculum pouco depois.
Planta da Roma nos tempos da República.
Para assegurar a segurança do seu território, Roma empenhou-se na
reconstrução dos edifícios e tornou-se ela própria a invasora, ao conquistar a
Etrúria e alguns territórios aos gauleses, mais a norte. Em 345 a.C., Roma
voltou-se para Sul, a combater outros latinos, na tentativa de assegurar o seu
território contra posteriores invasões. Neste quadrante, o seu principal inimigo
eram os temidos samnitas que já haviam derrotado as legiões em 321 a.C..
Apesar desses e outros contratempos temporais, os Romanos prosseguiram a
sua expansão casual de forma equilibrada. Em 290 a.C., Roma já controlava
mais de metade da península Itálica e, durante esse século ainda, os romanos
apoderaram-se também das poleis da Magna Grécia mais a sul.
Segundo a lenda, Roma tornou-se numa República em 509 a.C., quando um
grupo de aristocratas expulsou Tarquínio, o Soberbo[1]. No entanto, foram
necessários vários séculos até Roma assumir a forma monumental com que é
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popularmente concebida. Durante as Guerras Púnicas, entre Roma e o grande
império mediterrânico de Cartago, o estatuto de Roma aumentou mais ainda, já
que assumia cada vez mais o papel de uma capital de um império ultramarino
pela primeira vez. Iniciada no século II a.C., Roma viveu uma significativa
explosão populacional, com os agricultores ancestrais a trocarem as suas
terras pela grande cidade, com o advento das quintas operadas por escravos
obtidos durante as conquistas, as latifundia.
Em 146 a.C., os Romanos arrasaram as cidades de Cartago e Corinto,anexando o Norte de África e a Grécia ao seu império e transformando Roma
na cidade mais importante da parte ocidental do Mediterrâneo. A partir daqui,
até ao final da República, os cidadãos iriam empenhar-se numa corrida de
prestígio, suportando a construção de monumentos e grandes estruturas
públicas. Talvez a mais notável tenha sido o Teatro de Pompeu, erigido pelo
general Gneu Pompeu Magno (Pompeu), que era o primeiro teatro de caráter
permanente alguma vez construído na cidade. Depois de César regressar
vitorioso das conquistas gálicas e subseqüente guerra civil com Pompeu,
embarcou num programa de reconstrução sem precedentes na história
romana. Seria, no entanto, assassinado em 44 a.C. com a maioria dos seus
projectos ainda em construção, como a Basilica Iulia e a nova casa do Senado
(Curia Hostilia).
Império Romano
Roma no tempo de Augusto.
No final da República, a cidade de Roma ostentava já a imponência de uma
verdadeira capital de um império que dominava a totalidade do Mediterrâneo.
Era, na altura, a maior cidade do mundo e provavelmente a mais populosa
cidade já construída até o século XIX. Estimativas dos picos populacionais
variam entre menos de 500.000 e mais de 3,5 milhões, embora valores mais
populares pelos historiadores variem entre 1 milhão e 2 milhões. A grandeza da
cidade aumentou com as intervenções de Augusto, que completou os projetos
de César e iniciou os seus próprios, como o Fórum de Augusto, e o Ara Pacis
("Altar da Paz"), em celebração do período de paz vivido na altura (Pax
Romana), redefinindo também a organização administrativa da cidade em 14
regiões. Os sucessores de Augusto tentaram prosseguir essa linha edificadora
deixando as suas próprias contribuições na cidade. O grande incêndio de
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Roma, durante o reinado de Nero, iria destruir grande parte da cidade mas, por
sua vez, iria permitir e impulsionar uma nova vaga do desenvolvimento
edificador.
Planta da cidade durante a época imperial.
Por esta altura, Roma era uma cidade subsidiada, com cerca de 15 a 25 por
cento do abastecimento de cereais sendo pagos pelo governo. O comércio e a
indústria desempenhavam um papel menos significante quando comparado
com os de outras grandes cidades como Alexandria, mas assim mesmo era
uma grande metrópole e o maior centro comercial e industrial do mundo, por
isso ela tinha uma dependência de outras regiões do Império para obter
gêneros primários e matérias primas. Para pagar os subsídios de cereais,
foram introduzidos impostos na vida dos cidadãos das províncias. Se assim
não fosse, Roma seria significativamente menor.
A população de Roma entrou em declínio logo após o seu pico, no início do
século II. No final desse século, durante o reinado de Marco Aurélio, uma praga
devastaria os cidadãos a uma taxa de cerca de 2.000 por dia. Quando, em 273,
a muralha Aureliana foi concluída, apenas restava uma fração desse máximo
da população de Roma: cerca de 500.000.
O Arco de Galiano, um dos poucos monumentos que restam da Roma Antiga do século III, servia de porta na muralha
Serviana. Os dois portões laterais foram destruídos em 1447.
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Um evento historiograficamente designado de "crise do terceiro século" de
línea os desastres e problemas políticos do Império, que praticamente entrava
em colapso. O medo e a ameaça das invasões bárbaras esteve patente na
decisão do imperador Aureliano que, em 273, terminou a circunscrição da
cidade com a maciça muralha Aureliana, cujo perímetro rondava os 20
quilômetros. Roma permanecia a capital do Império, embora os imperadores aí
permanecessem cada vez menos tempo. No final das reformas políticas de
Diocleciano, no século III, Roma seria privada do seu tradicional papel de
capital administrativa do Império. Mais tarde, os imperadores do Ocidente iriam
governar o Império a partir de Mediolanum (atual Milão) ou Ravena, ou cidades
na Gália e, em 330, Constantino I estabeleceu a segunda capital em
Constantinopla. Por esta altura, parte da classe aristocrática romana transferia-
se para o novo centro, seguida por muitos dos artistas e homens-de-ofício que
viviam na cidade.
No entanto, o Senado, agora desprovido da sua influência política de outrora,
preservava o seu prestígio social. Em 380, os dois augustos (Teodósio I no
Oriente e Graciano no Ocidente) declararam reconhecer como única religião no
Império "a fé que a Igreja Romana havia recebido de São Pedro" [3] A
conversão do Império ao cristianismo transformou o Bispo de Roma (mais tarde
designado Papa) como a figura religiosa de maior relevo do Império Ocidental,
como declarado oficialmente em 380, no Édito de Tessalónica. Apesar do seu
papel cada vez mais passivo no Império, Roma conseguiu preservar o seu
prestígio histórico, e este período assistiria à última vaga de atividades
edificadoras: o predecessor de Constantino, Magêncio, construiu notáveis
edifícios, como a espetacular Basílica no Fórum, o próprio Constantino erigiu o
seu famoso Arco para celebrar a vitória contra o primeiro, e Diocleciano
construiria as maiores Termas de todas as existentes. Constantino tornou-se
também no primeiro padroeiro de edifícios oficiais cristãos na cidade; doou ao
Papa o Palácio de Latrão e construiu a primeira grande basílica, a antiga
Basílica de São Pedro.
A antiga basílica de São Lourenço Fora de Muros foi construída diretamente
sobre a tumba do mártir romano favorito.
Roma permanecia, contudo, um estandarte do paganismo, dirigida por
aristocratas e senadores. Quando os Visigodos surgiram perto das muralhas
em 408, o Senado e o prefeito propuseram sacrifícios pagãos, e tudo indica
que inclusive o Papa estaria de acordo, se isso pudesse salvar a cidade. Ainda
assim, nem as novas muralhas impediram que a cidade fosse saqueada,
primeiro pelo visigodo Alarico a 24 de Agosto de 410, e depois pelo vândalo
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Genserico em 455 e, mais tarde ainda, pelas tropas do general Ricimero (na
maioria compostas por bárbaros) a 11 de Julho de 472. Os saques da cidade,
inéditos desde os tempos de Breno, alarmaram toda a civilização romana: a
queda de Roma significava o derrube definitivo da ordem antiga. Muitos
habitantes fugiram e, no final do século, a população de Roma caía para cerca
de e 30.000. Ainda assim, o prejuízo dos saques terá sido provavelmente
exagerado na historiografia da época. A cidade encontrava-se já em declínio, e
muitos dos monumentos teriam já sido destruídos pelos próprios habitantes,
que roubavam rochas dos templos, edifícios públicos e estátuas próximas para
o seu propósito pessoal — é mesmo freqüente encontrar nos dias de hoje
estátuas e pedaços arqueológicos utilizados em casas habitacionais por toda a
cidade. Além disso, muitas das igrejas teriam sido também construídas desta
forma. Por exemplo, a primeira basílica de São Pedro foi erigida usando partes
do Circo de Nero, abandonado. Esta atitude foi uma característica constante de
Roma até ao Renascimento. A partir do século IV, eram comuns os éditos
imperiais contra o roubo de pedras e, especialmente, do mármore - a sua
própria repetição mostra o quão inefetivos seriam. Em algumas ocasiões,
novas igrejas foram criadas diretamente a partir de templos pagãos,
provavelmente transformando um deus ou herói pagão para o correspondente
santo ou mártir do cristianismo. Foi assim que o Templo de Rômulo e Remo se
tornou a basílica dos santos gêmeos Cosme e Damiano. Mais tarde, o
Panteão, "Templo de Todos os Deuses", se tornaria a Igreja de Todos os
Mártires.
Roma medieval
As invasões bárbaras e o domínio bizantino
Durante as Guerras Góticas (século VI) Romanacional.
A IMPORTÂNCIA DA CONSTITUIÇÃO:
ONTEM, HOJE E AMANHÃ
Naturalmente, há diversas maneiras de se conceber a Constituição, cada qual
correspondendo, via de regra, às várias acepções do próprio direito. Um
conceito extremamente feliz a respeito é explicitado por Dalmo DALLARI, esse
notável jurista e cultor dos direitos humanos, posto que na sua abrangencia
contém todos os elementos essenciais a uma verdadeira e atualizada Carta
Constitucional.
Para DALLARI, "a Constituição é a declaração da vontade política de um povo,
feita de modo solene por meio de uma lei que é superior a todas as outras e
que, visando a proteção e a promoção da dignidade humana, estabelece os
direitos e as responsabilidades fundamentais dos indivíduos, dos grupos
sociais, do povo e do governo".
Do enunciado se permite deduzir a vigorosa importância de que se reveste a
Lei Maior de um país, reconhecer a enorme responsabilidade dos que são
investidos na qualidade de representantes do povo e, entender o papel
indeclinável dos indivíduos e agrupamento sociais na elaboração de uma
Constituição que os retrate e lhe faça justiça.
Tal constatação, por si só, testifica a opinião majoritária de que a Constituição
continua sendo extremamente necessária, apesar de ser uma criação do
século XVIII.
Ora, é evidente que o mundo de hoje não é o mesmo de dois séculos atrás.
Daí porque se figura conveniente salientar, ainda que sinteticamente, as
origens e destinações primeiras desse instituto, pois o conhecimento dos
fatores determinantes do surgimento da Constituição torna mais facilmente
perceptível as conseqüências de seu desrespeito.
De pronto, cabe registrar que os propósitos deste estudo dispensam incursão
histórica, através dos períodos anteriores ao século XVIII, por mais útil que seja
a identificação dos antecedentes, uma vez que nem mesmo os grandes
códigos ou expedientes legislativos da Antigüidade podem ser chamados de
Constituição, considerando-se a significação técnica e as peculiaridades que
lhe são atribuídas pelos especialistas.
O certo é que a Constituição, no sentido de preceitos imperativos a abarcar a
somatória da vida jurídica de um povo em caráter duradouro, é obra moderna.
Ela surgiu com a finalidade de afirmar e garantir os direitos fundamentais dos
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indivíduos, disciplinar o uso e evitar a concentração do poder, assentando a
organização racional da sociedade e do governo. Assim, reagindo à prática
danosa do absolutismo e percebendo serem insuficientes as Declarações de
Direitos, os políticos e juristas do século XVIII trataram de coibir, através de um
texto de valor jurídico obrigatório, o abuso de autoridade e o excesso de poder,
possibilitando a punição em tais circunstâncias e adotando a idéia de
separação de poderes, com base na observação de Montesquieu segundo a
qual "só o poder contém o poder".
A primeira Constituição que se tem notícia, com a denominação e
características atuais, foi gestada na América do Norte, no bojo do processo
revolucionário que levou as treze colônias inglesas à independência. Isso
aconteceu na Colônia de Virgínia (depois, Estado da Virgínia), quando, em
situação até então inédita, uma assembléia eleita pelo povo aprovou um texto
constitucional. Curioso, esse fato se verificou em 29 de julho de 1776, cinco
dias antes de ser publicada a Declaração de Independência Americana, o que
ocorreria em 4 de julho daquele ano. Tamanho feito, por parte de uma Colônia,
não deve causar espanto. Ao darem contornos definitivos à sua luta libertária,
as colônias inglesas as América reuniram-se num Congresso Continental, em
1774, que recomendou a formação de governos independentes. E nisso quem
precedeu as demais foi justamente a Virgínia, que elaborou um Estatuto
Fundamental com a deliberada intenção política de selar, por meio dele, a sua
completa e irreversível independência. Conquanto inefável o pioneirismo, é a
Constituição francesa, de 1791, a que teve maior repercussão, irradiando a
iniciativa para outras partes do mundo. Levando-se em conta tais elementos,
fica relativamente fácil entender que esse documento singular, solene e escrito,
mesmo consagrado os valores da burguesia em ascensão, representou o
coroamento de uma longa luta pela afirmação das liberdades públicas e
garantia dos direitos individuais, servindo de marco inicial a um novo tipo de
sociedade.
Por isso mesmo, a partir da Revolução Americana (1776) e da Revolução
Francesa (1789), e consolidado no século XIX, esse instituto especial adquiriu
tão grande prestígio teórico que passou a ser considerado indispensável, a
ponto de nenhum estado contemporâneo deixar de Ter a sua Constituição.
A um passo do século XXI, a ninguém passa despercebido que o poderoso de
hoje é tão necessitado de limitações jurídicas quanto o poderoso do século
XVIII ou de todos os tempos. E até agora não se inventou um instrumento
melhor que a Constituição para, de forma eficaz e pacífica, promover a
organização do poder político e limitar o seu exercício.
Por outro lado, a simples existência de uma Carta Magna não é o bastante
para configurar a eliminação de injustiças sociais ou assegurar a
democratização de um Estado. Em contrapartida, sem uma Constituição
legítima e bem elaborada é praticamente impossível a democracia e a justiça
numa sociedade. Na realidade, embora não se dê a ele o significado que tinha
no fim do século XVIII e primeira metade do século XIX, o fato é que esse
instrumento ainda é aceito como prova de normalidade e sinal inequívoco da
vigência de certa ordem política e social, podendo operar elevados benefícios
em prol da coletividade.
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Aceitando-se esse ponto, também não se pode deixar de reconhecer que de
muito pouco adianta a presença de Constituições, se ilegítimas ou
desrespeitadas costumeiramente.
Na primeira hipótese, através do mau uso do direito, do apego ao formalismo
jurídico e/ou imposição arbitrária de um conjunto de regras, os detentores do
poder costumam fingir de democracia e escamotear seus métodos e suas
práticas condenáveis. Esses exemplos, alguns, dentre tantos possíveis,
confirma a importância teórica da Constituição, mas também demonstram que
"é grande o risco de se Ter um sistema ditatorial, violento, corrupto ou
demagógico, sob a aparência de normalidade constitucional".
Note-se, porém, que nestes casos o que existe é uma Constituição aparente,
mero arremedo de texto constitucional objetivando legitimar regimes
antidemocráticos. Logo, não há que se confundir a aparência com a realidade.
Importa, aqui, que as pessoas não se deixem iludir e não se acomodem diante
de engenhosa falsificação, mas reajam e lutem pela obtenção das vantagens
que uma Constituição verdadeira proporciona.
Já quando a Constituição deixa de ser respeitada e perde sua autoridade,
rompe-se o ponto de referência que é obrigatório para todos, acarretando o
abandono do padrão objetivo de justiça da sociedade.
Como já se mencionou, a Constituição é um conjunto de regras fundamentais,
que nenhuma lei e nenhum ato jurídico pode contrariar. Não se cumprindo a Lei
Maior concorrem, em prejuízo do povo, a falta de unidade e coerência do
ordenamento jurídico, a incerteza quanto aos direitos e os deveres e a
supressão da segurança no plano da aplicação das normas jurídicas.
Preponderam, em conseqüência, a desorganização, a instabilidade, a
prepotência, a corrupção e o privilegiamento a interesses minoritários.
O desrespeito à Carta Constitucional implica em desdobramentos tais que,
tornando-se sistemática a violação da dignidade humana e pulverizando os
estados do regime democrático, conduzem fatalmente a uma sociedade injusta,
configurando o que Eduardo GALEANO, escritor uruguaio, rotulafoi cercada várias vezes pelos
exércitos bizantino e ostrogodo.
Em 476, o último imperador do Ocidente, Rômulo Augusto, que vinha sendo
manipulado (como a maioria dos imperadores neste período) pelo pai, o
general Flávio Orestes, foi deposto pelas tropas bárbaras lideradas por
Odoacro e exilado no Castelo do Ovo, em Nápoles. A queda do Império
Romano do Ocidente teria, no entanto, pouco impacto em Roma. Odoacro, e
mais tarde os Ostrogodos, continuariam a governar a Itália a partir de Ravenna.
Entretanto, o Senado, apesar de desprovido da sua grande influência há muito
tempo, continuaria a dirigir Roma, com o Papa provindo geralmente de uma
família senatorial. Esta situação manter-se-ia até as forças do Império Romano
do Oriente, encabeçadas por Belisário a mando de Justiniano I, capturarem a
cidade em 536.
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A 17 de Dezembro de 546, os ostrogodos de Totila recapturaram a cidade e
novamente a saquearam. Belisário recapturou a cidade, para a perder
novamente em 549. Belisário foi substituído por Narses, que capturou Roma
definitivamente em 552, terminando as Guerras Góticas que arrasaram a
Península Itálica. A contínua guerra em redor de Roma entre as décadas de
530 e 540 deixaram-na praticamente abandonada e desolada. Os aquedutos
não foram mais reparados, conduzindo a uma redução da população para
cerca de 30.000,[2] concentrados nas margens do rio Tibre, na zona do Campo
Marzio, abandonando as zonas sem abastecimento de água. Existe mesmo
uma lenda que, embora falsa, fala de um momento em que Roma estaria
completamente inabitada.
Planta da Roma medieval.
O Imperador Romano do Oriente Justiniano I (r. 527–565) tentou, ainda assim,
garantir subsídios a Roma para a manutenção dos edifícios públicos,
aquedutos e pontes, embora sem grande sucesso, já que toda a Itália estava
dramaticamente empobrecida pelas recentes guerras. Transformou-se também
no padroeiro dos estudiosos, oradores, físicos e magistrados que restavam, na
esperança de que os mais novos procurassem uma melhor educação. Após as
guerras, as estruturas do Senado foram restabelecidas sob a supervisão de um
prefeito e outros oficiais designados e responsabilizados pelas autoridades
bizantinas em Ravenna.
No entanto, o Papa tornara-se um dos ícones religiosos em todo o Império
Bizantino e, efetivamente, mais poderoso localmente que os senadores ou
quaisquer outros oficiais bizantinos. Na prática, o poder local de Roma recaía
sobre o Papa e, ao longo das próximas décadas, o poder aristocrático
senatorial, bem como a administração bizantina de Roma, iriam ser absorvidos
pela Igreja Católica.
O reinado do sobrinho e sucessor de Justiniano, Justino II (r. 565–578) ficou
marcado pela invasão dos Lombardos liderados por Alboíno (568). Com a
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captura das regiões de Benevento, Lombardia, Piemonte, Spoleto e Toscana,
os invasores restringiram efetivamente a autoridade imperial a pequenas
porções de terra ao redor de cidades costeiras, incluindo Ravenna, Nápoles,
Roma e a área da futura Veneza. A única porção ainda sob domínio bizantino
era Perúgia, que permitia a ligação, repetidamente assediada, entre Roma e
Raven. Em 578, e novamente em 580, o Senado, nas suas últimas
intervenções de que há registro, foi obrigado a recorrer ao auxílio de Tibério II
Constantino (r. 578–582) contra os duques que se aproximavam, Faroaldo de
Spoleto e Zoto de Benevento.
Maurício I (r. 582–602) iria inserir um novo fato no contínuo conflito
estabelecendo uma aliança com Childeberto II da Austrásia (r. 575–595). Os
exércitos do rei dos francos invadiram os territórios da Lombardia em 584, 585,
588 e 590 e, no ano anterior, Roma tinha já sofrido uma desastrosa inundação
do rio Tibre, seguida de uma praga de peste negra em 590 — esta última
tornou-se famosa pela lenda associada à procissão do novo Papa Gregório I
(590–604) pelas Tumbas de Adriano, que fala de um anjo que surgiu sobre o
edifício investindo a sua espada flamejante, como sinal de que a pestilência iria
terminar. A partir deste ano a cidade manteve finalmente a salvo.
Entretanto, Agilulf, o novo rei lombardo (r. 591–c. 616) conseguiu assegurar a
paz com Childeberto II, reorganizou os seus territórios e prosseguiu os ataques
a Nápoles e Roma em 592. Com o imperador ocupado com as guerras nas
fronteiras orientais e os sucessivos Exarcas, incapazes de defender Roma das
invasões, Gregório tomou a iniciativa de iniciar as negociações para um tratado
de paz, que seria conseguido no Outono de 598 — embora só mais tarde
reconhecido por Maurício — durando até ao final do seu reinado.
A Coluna de Focas, o último monumento imperial do Fórum Romano.
A posição do Papa ver-se-ia fortalecida pelo usurpador Focas (r. 602–610).
Focas reconheceu a sua primazia sobre o Patriarca de Constantinopla e
chegou mesmo a decretar o Papa Bonifácio III (607) como "representante de
todas as Igrejas". Foi no reinado de Focas que se assistiu à ereção do último
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monumento imperial do Fórum romano, a coluna que ostentava o seu nome.
Também doou ao Papa o Panteão, já encerrado faziam séculos, o que
provavelmente o salvou da destruição.
Durante o século VII, um influxo de oficiais bizantinos e religiosos de outras
partes do Império culminou numa presença dominante da língua e aristocracia
grega. No entanto, esta forte influência cultural bizantina nem sempre se
traduziu em harmonia política entre Roma e Constantinopla. Na controvérsia
sobre o Monotelismo, os Papas sentiram a grande pressão (chegando mesmo
a traduzir-se fisicamente) por não conseguirem acompanhar as alterações nas
orientações teológicas de Constantinopla. Em 653, o Papa Martinho I seria
deportado para Constantinopla e, logo após um breve julgamento, exilado para
a Crimeia, onde faleceu.
Pouco depois, em 663, Roma recebia a sua primeira visita imperial dos últimos
dois séculos, por Constâncio II - o seu pior infortúnio desde as Guerras Gálicas,
já que o imperador tratou de retirar o metal que existia na cidade, incluindo o
dos edifícios e estátuas, para disponibilizá-lo para a construção de armamento
para as lutas contras os Sarracenos. Contudo, durante a próxima metade do
século, e apesar das tensões várias vividas, Roma e o Papado continuaram a
preferir a regência bizantina - em parte porque a alternativa seria a dominação
Lombarda e, por outro lado, porque a maioria dos alimentos trazidos para
Roma provinham de estados papais de outras partes do Império,
particularmente da Sicília.
Em 727, o Papa Gregório II recusou aceitar os decretos do imperador Leão III,
estabelecendo a iconoclastia. A reação inicial de Leão foi de tentar raptar o
Pontífice, em vão, mas mais tarde mandaria uma força de tropas Bizantinas,
sob o comando do Exarca Paulo, que seriam contidas pelos Lombardos de
Tuscia e Benevento. A 1 de Novembro de 731, foi convocado por Gregório III
um Conselho na basílica de São Pedro para excomungar os iconoclastas, cuja
resposta do imperador foi a confiscação de grandes porções de territórios
papais na Sicília e Calábria e a transferência de várias zonas de domínio
eclesiástico do Papa sob controlo bizantino para o Patriarca de Constantinopla.
Roma, sob domínio do Papa, foi assim expulsa do Império Bizantino.
Durante este período, o Reino Lombardo atravessava uma fase de
renascimento, sob a liderança de Liutprand. Em 730 mandou uma razia contra
Roma para punir o Papa, que teria apoiado o Duque de Spoleto. Ainda que
protegido pela muralha maciça da cidade, o Papa pouco podia fazer contra o
rei lombardo, que entretanto conseguia aliar-se aos bizantinos. Gregório III,
compreendendoa impotência de resistir a tal aliança, foi o primeiro Papa a
pedir ajuda, pela primeira vez de forma oficial, ao reino dos Francos, então sob
o comando de Carlos Martel (739).
O sucessor de Liutprand, Astolfo, foi ainda mais agressivo: conquistou Ferrara
e Ravenna, terminando assim o Exarcado de Ravenna. Roma seria,
provavelmente, a próxima vítima. Em 754, o Papa Estêvão III dirigiu-se a
França para nomear Pepino o Breve, então rei dos Francos, como patricius
romanorum, i.e., protetor de Roma. Em Agosto do mesmo ano, o rei e o Papa
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atravessaram os Alpes para derrotar Astolfo, em Susa, conseguindo fazê-lo
prometer que iria desistir dos conflitos com o Papa, devolvendo-lhe os
territórios ocupados. No entanto, quando Pepino regressou a Saint-Denis,
Astolfo faltou à promessa e cercou Roma durante 56 dias, em 756, desistindo
assim que souberam da notícia do regresso de Pepino à Itália. Desta vez
concordaria em entregar ao Papa os territórios prometidos, e assim nasciam os
Estados Pontifícios.
Em 771, o novo rei dos Lombardos, Desidério, concebeu um estratagema para
conquistar definitivamente Roma e depor o Papa Estêvão III. O seu principal
aliado seria Paulus Afiarta, líder da facção lombarda residente na cidade.
Contudo, o plano não seria bem-sucedido, e o sucessor de Estevão, o Papa
Adriano I invocou Carlos Magno a declarar guerra a Desidério, que seria
finalmente derrotado em 773. O reino lombardo foi dissolvido, e Roma foi
colocada na órbita de uma nova e grande instituição política.
O Sacro Império
A 25 de Abril de 799, enquanto o novo Papa, Leão III conduzia a tradicional
procissão de Latrão em direção à Igreja de São Lourenço em Lucina, ao longo
da Via Flaminia (atual Via del Corso), dois nobres (seguidores do predecessor,
Adriano), a quem não agradavam as fraquezas do Papa em relação a Carlos
Magno, atacaram o comboio processional deixando o Papa gravemente ferido.
Leão fugiu ao encontro do rei dos francos e, em Novembro de 800, o rei entrou
em Roma liderando um forte exército e um grande número de bispos
franceses. Carlos Magno organizou então um tribunal judicial para decidirem se
Leão deveria continuar o Papado, ou se as reivindicações dos conjuradores
seriam válidas ou não. No entanto, este tribunal fazia parte de uma cadeia de
eventos minuciosamente planeados que iriam surpreender o mundo: O Papa,
naturalmente absolvido, e os conspiradores exilados, iria coroar Carlos Magno
como Imperador Romano do Ocidente na basílica de São Pedro, a 25 de
Dezembro de 800. Esta atitude cessou definitivamente a lealdade de Roma
para com a sua "metade", Constantinopla, criando um império rival que, após
uma série de conquistas por Carlos Magno, englobava agora a maioria dos
territórios ocidentais cristãos.
Após a morte de Carlos Magno, a inexistência de uma figura de igual prestígio
provocou alguns desentendimentos na nova instituição. Ao mesmo tempo, a
Igreja Romana enfrentava as demandas laicas da própria cidade, apressadas
pela convicção de que o romano, embora empobrecido e desvalorizado, retinha
o direito de eleger o novo Imperador Ocidental. O Papa reivindicava um
território que ia de Ravenna a Gaeta, o que significaria a soberania sobre
Roma. No entanto, esta soberania seria continuamente disputada ao longo dos
séculos seguintes, e apenas os Papas mais fortes politicamente conseguiram
mantê-la. A principal fraqueza do Papado era a precisamente a necessidade da
eleição de novos Papas, de tempos a tempos, na qual as famílias nobres
emergentes rapidamente procuravam obter um papel de liderança. As
potências vizinhas, nomeadamente o ducado de Spoleto e a Toscana, e mais
tarde os imperadores, aprenderam como tirar partido desta fraqueza interna e,
consequentemente, tornavam-se árbitros entre os candidatos.
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Assim, o ambiente vivido em Roma era próximo da anarquia. O momento mais
escandaloso verificou-se em 897 com a exumação do cadáver do Papa
Formoso para ser julgado num tribunal. Estas crises foram agravadas pelo
surgimento de uma nova ameaça, os Árabes ou, como os italianos medievais
os referiam, os Sarracenos: estes recém-chegados provindos do Norte de
África já tinham conquistado a Sicília e a sua penetração no Sul da Itália estava
a ser conduzida de forma eficaz. A infiltração de bandos de piratas levou o
terror aos territórios em redor de Roma, ao qual o Papa Pascoal I (817–824)
respondeu realojando os restos de todos os santos mártires entre os muros da
cidade. Ainda assim, esta medida não impediu os muçulmanos de saquearem
a Basílica de São Pedro em 846. Em 852, o Papa Leão IV encarregou a
construção de nova muralha ao redor de uma área na margem do Tibre oposta
às sete colinas, que passaria a ser referida como "Cidade Leonina".
Comuna de Roma
Por esta altura, a entretanto renovada Igreja Romana estava novamente a
atrair peregrinos e prelados de toda as partes do mundo cristão, trazendo os
seus dinheiros consigo: apesar da população reduzida (ca. 30.000), Roma
transformava-se de novo numa cidade dependente dos consumidores, desta
vez dirigida pela burocracia governamental. Entretanto, as outras cidades da
península Itálica, dirigidas fundamentalmente por novas famílias que se iam
sobrepondo à velha aristocracia, iam aumentando a sua autonomia formando
uma nova classe de empreendedores, comerciantes e mercantes. Logo após o
saque de Roma pelos Normandos, em 1084, a reconstrução da cidade foi
suportada por famílias poderosas, como os Frangipane e os Pierleoni, cujo
financiamento provinha do comércio e bancos, mais do que das terras.
Inspirado pelas cidades vizinhas, como Tivoli e Viterbo, também o povo romano
começou a considerar para a cidade o estatuto de comuna e,
consequentemente, numa maior autonomia face à autoridade Papal.
Impulsionados pelas palavras do contestado pregador Arnaldo de Bréscia, um
idealista e feroz opositor da propriedade eclesiástica e da interferência da
Igreja nos assuntos internos, os romanos rebeliaram-se em 1143. O Senado e
a República Romana renasciam, portanto. No entanto, a Roma do século XII
partilhava pouco daquela que havia governado o Mediterrâneo 700 anos antes,
e rapidamente o Senado se via em esforço constante para sobreviver,
alternando o suporte ao Papa e ao Império Romano do Ocidente, num
posicionamento político ambíguo. Em Monteporzio, a 1167, durante uma
destas alternâncias, as tropas romanas seriam derrotadas pelas forças
imperiais de Frederico Barbarossa. Curiosamente, o inimigo vitorioso seria
brevemente afugentado pela peste e Roma manter-se-ia a salvo.
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Interior da basílica de Santa Maria em Trastevere, uma das mais belas igrejas
de Roma construídas ou reconstruídas durante a Idade Média.
Em 1188, seria finalmente reconhecido o governo comunal pelo Papa
Clemente III, obrigado a pagar grandes somas aos oficiais da comuna, e os 56
senadores tornar-se-iam vassalos do Papa. O Senado sempre apresentou
falhas no cumprimento das suas funções, o que levou a serem tentadas várias
mudanças. Frequentemente apenas um senador encabeçava a instituição, o
que levava, por vezes, a tiranias que não ajudavam à estabilidade do recém-
nascido organismo.
A Torre dei Conti (Torre dos Condes) foi uma das muitas torres construídas
pelas famílias nobres de Roma como estandarte do seu poder e para defesa
dos vários feudos que circundavam a cidade na Idade Média. Apenas subsiste
um terço da Torre dei Conti.
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Em 1204, instalava-se novamente o mau ambiente, destavez confrontando a
família do Papa Inocêncio III e os seus rivais, os poderosos Orsini, conduzindo
a novos distúrbios na cidade. Muitos dos edifícios antigos sofreram a
destruição pelas máquinas utilizadas entre os lados rivais para cercarem os
seus inimigos nas incontáveis torres e fortalezas, usadas na Itália medieval
como símbolo de nobreza.
As lutas entre os papas e o imperador Frederico II, também rei de Nápoles e da
Sicília, levariam Roma a apoiar os Gibelino. Para afirmar a sua lealdade,
Frederico enviou à comuna o Carroccio que teria ganho aos Lombardos na
batalha de Cortenuova em 1234, e que seria exposto no Monte Capitolino.
Ainda nesse ano, durante outra revolta contra o Papa, os Romanos, liderados
por Luca Savelli saquearam o Latrão. Curiosamente, Savelli era filho do Papa
Honório III e pai de Honório IV, embora nesta época os laços familiares não
determinassem a sua lealdade. Roma não estava, decididamente, destinada a
evoluir para uma comuna autônoma e estável, à semelhança de outras
comunas como Florença, Siena ou Milão. As lutas intermináveis entre estas
famílias nobres (Savelli, Orsini, Colonna e Annibaldi), o ambíguo alinhamento
do Papa, o orgulho da população que nunca abandonou o sonho e o esplendor
do passado, e a fraqueza da instituição republicana continuamente privariam a
cidade desta possibilidade.
Na tentativa de imitar outras comunas mais bem sucedidas, em 1252, o povo
elegeu um senador estrangeiro, o bolonhês Brancaleone degli Andalò.
Esperando conseguir a paz na cidade, Andalò suprimiu os nobres mais
poderosos (destruindo cerca de 140 torres), reorganizou as classes operárias e
emitiu um conjunto de leis inspiradas naquelas aplicadas no norte da Itália. No
entanto, e apesar da postura rígida com que enfrentou as adversidades,
faleceria em 1258 com a maioria das suas reformas por concretizar. Cinco
anos depois, Carlos I de Anjou, mais tarde rei de Nápoles, seria eleito senador.
A sua entrada na cidade verificar-se-ia apenas em 1265 para pouco depois a
deixar em virtude da necessidade de fazer frente a Conradino, o herdeiro dos
Hohenstaufen que se aproximava para reclamar os direitos da sua família
sobre o sul da Itália. A partir de Junho desse ano, o governo de Roma era
novamente caracterizado por uma república democrática, elegendo Henrique
de Castela como senador. Conradino e a facção dos Guibelinos seriam
derrotados na batalha de Tagliacozzo (1268) e, assim, o governo de Roma
passava novamente para as mãos de Carlos.
O Papa Nicolau III, membro dos Orsini, seria eleito em 1277 e transferiria a
sede do Papado do Palácio de Latrão para o Vaticano, por se localizar mais
protegido, e proibiria o acesso ao estatuto de senador de Roma por parte dos
estrangeiros. Sendo ele um romano legítimo, o povo elegeu-o para senado, e a
cidade tornava-se novamente dirigida pela facção Papal. Não obstante, Carlos
foi eleito senador novamente em 1285 e, com as Vésperas Sicilianas, o seu
carisma seria afetado de forma irreversível. Assim perdeu a autoridade na
cidade, lugar que seria ocupado por um outro romano e também Papa, Honório
IV dos Savelli.
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Cativeiro babilónico
O sucessor do Papa Celestino V foi um enérgico romano da família Caetani, o
Bonifácio VIII, que teria sido envolvido por hereditariedade nas disputas
familiares com os tradicionais rivais da sua família, os Colonna. Não obstante,
essa quezilha não o desviou na sua luta para reassegurar a supremacia
universal da Santa Sé. Em 1300, Bonifácio VIII celebrou o primeiro Jubileu e
fundou a primeira Universidade de Roma. O Jubileu seria, como se provou, um
passo importante para Roma, já que aumentaria o seu prestígio internacional;
consequentemente, a economia da cidade assistiria a um impulso, devido ao
fluxo de peregrinos. Bonifácio morreu em 1303, pouco depois da humilhação
do Schiaffo di Anagni (Bofetada de Anagni) que assinalou o governo do
Papado pelo rei de França, marcando um novo período de declínio para Roma.
Por essa razão, o sucessor de Bonifácio, o Clemente V, nunca chegou a entrar
na cidade, dando início ao famoso período do Papado de Avinhão, também
conhecido como "Captividade Babilónica", em que o Papa mudava a sede da
Igreja Católica para Avinhão, situação que duraria por mais de 70 anos. Como
conseqüência, verificou-se a independência do poder local, embora se
revelasse muito instável; também a falta dos ingressos financeiros
anteriormente suportados pela Igreja provocaram um profundo declínio de
Roma. Por mais de um século, Roma parava o desenvolvimento edificador.
Pior, muitos dos monumentos da cidade, incluindo as igrejas principais, davam
os primeiros sinais de degradação.
Cola di Rienzo alvoraçou o Capitólio em 1347 para criar uma nova República
Romana. Embora de curta duração, esta tentativa ficou registrada na estátua
perto da escadaria que conduz à praça de Michelangelo.
O regresso do Papa a Roma
Apesar do declínio e da ausência do Papa, Roma não perderia o prestígio
espiritual: em 1341 o famoso poeta Petrarca deslocou-se a Roma para ser
distinguido como poeta no Monte Capitolino. Entretanto, a nobreza e a classe
pobre alinhavam-se para exigir o retorno do Papa. De entre os vários
embaixadores que neste período se deslocaram a Avinhão, destaca-se a figura
simultaneamente bizarra e eloqüente de Cola di Rienzo. À medida que
aumentava o seu poder sobre a população, a 30 de Maio de 1347 conquistou o
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Capitólio encabeçando a população, entusiasta. Embora de curta duração, o
período da sua liderança sobre a população de Roma revelou-se um dos mais
importantes momentos da história medieval da cidade; Cola esforçou-se por
espalhar a aura rejuvenescedora do conceito comum de uma eventual
independência italiana, no centro de um sonho confuso politicamente à
semelhança do prestígio da Roma Antiga. Mais tarde, assumindo o poder de
forma ditatorial, assumiu o título de "tribuno", numa clara referência à
magistratura da plebe da era republicana. Di Rienzo considerava também o seu
estatuto equivalente ao do Imperador do Sacro Império. A 1 de Agosto de
1347, conferiu a cidadania romana a todas as cidades italianas e preparou a
eleição de um imperador romano para a Itália; como medida de contenção, o
Papa declarava Di Rienzo como herético, criminoso e pagão, manipulando a
opinião pública ao ponto de esta se começar a distanciar. A 15 de Dezembro,
Di Renzo foi obrigado a fugir.
Em Agosto de 1354, Di Rienzo tornava-se novamente protagonista, quando o
Cardeal Gil Alvarez De Albornoz lhe confiou o cargo de "senador de Roma" no
desenrolar do seu programa de certificação do governo Papal nos Estados
Pontifícios. Em Outubro, o tirânico Cola, que se tornava uma vez mais
impopular pelo seu contestado comportamento e pesadas dívidas, foi
assassinado numa quizília provocada pela poderosa família dos Colonna. Em
Abril de 1355, Carlos IV, da Boêmia, entrou na cidade para o tradicional ritual
de coroação como Imperador. A sua visita foi assistida com grande desagrado
pelos cidadãos, já que não era bem dotado financeiramente, por ter recebido a
coroa de um Cardeal e não do Papa, e por se afastar escassos dias depois da
coroação.
Planta medieval de Roma.
Com o imperador de regresso às suas terras, Albornoz podia agora
reconquistar algum controlo sobre a cidade, mesmo permanecendo na
segurança da sua cidadela em Montefiascone, na região Norte do Lácio. Os
senadores, agora designados diretamente pelo Papa, eram escolhidos de
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várias cidades de toda a Itália, embora a cidade fosse independente. O Senado
incluía agora seis juízes, cinco notários,seis marechais, vários familiares, vinte
cavaleiros e vinte homens armados. Albornoz conseguia suprimir as famílias
tradicionalmente aristocráticas, e a facção "democrática" sentiu-se
suficientemente confiante para iniciar uma política agressiva. Em 1362, Roma
declarava guerra a Velletri, cuja repercussão se traduziu numa guerra civil: a
facção rural contratou um grupo de condottieri, os Del Cappelo (os "do
Chapéu"), enquanto os romanos compravam os serviços das tropas alemãs e
húngaras, acrescidos aos seus próprios 600 cavaleiros e 22.000 unidades de
infantaria. Neste período, toda a Itália foi varrida pelos implacáveis grupos
condottieri. Muitos dos Savelli, Orsini e Annibaldi, expulsos de Roma, tornaram-
se líderes destas unidades militares. Quando a guerra com os Velletri terminou,
Roma entregou-se novamente ao Papa, Urbano V, com a condição de proibir
Albornoz de entrar em Roma.
A 6 de Outubro de 1367, em resposta às preces de Santa Brígida e de
Petrarca, Urbano V finalmente se deslocou à cidade. Durante a sua presença,
Carlos IV foi novamente coroado (Outubro de 1368). Por esta altura, também
se deslocou a Roma o imperador bizantino João V Paleólogo para solicitar uma
cruzada contra o Império Otomano, embora sem sucesso. Poucos anos depois,
descontente com o ambiente da cidade, Urbano V voltava para Avinhão, a 5 de
Setembro de 1370. O seu sucessor, Gregório XI, marcou o seu regresso a
Roma para Maio de 1372 mas, novamente, os cardeais franceses, com o apoio
do seu rei, conseguiram persuadi-lo. Assim se manteve o Papa até 17 de
Janeiro de 1377, altura em que Gregório XI reinstalava novamente a Santa Sé
em Roma.
Não obstante, o comportamento incoerente do seu sucessor, o italiano Urbano
VI, provocaria em 1378 o Grande Cisma do Ocidente, que deitaria por terra
qualquer legítima tentativa de melhorar as condições da Roma, em declínio.
Roma moderna
O Renascimento em Roma
Ilustração da cidade de Roma em 1493.
Durante o pontificado do Papa Nicolau V (p. 19 de Março de 1447), o
Renascimento entrava em Roma na mesma altura em que a cidade se tornava
no centro do Humanismo. Nicolau V foi o primeiro Papa a incluir na corte
romana acadêmicos e artistas, como Lorenzo Valla e Vespasiano da Bisticci.
A 4 de Setembro de 1449, Nicolau anunciou um Jubileu para o ano seguinte
cuja conseqüência seria um novo influxo de peregrinos de toda a Europa. A
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multidão seria tanta que, em Dezembro, na ponte Santo Ângelo, morreriam
cerca de 200 pessoas "atropeladas" ou afogadas no rio Tibre. Nesse mesmo
ano, reapareceu a peste na cidade, e Nicolau V fugiu de Roma.
Apesar da atitude condenável, Nicolau V conseguiu estabilizar o poder
temporal do Papado, isolando-o da interferência do Imperador. Desta forma, a
coroação e casamento de imperador Frederico II, a 16 de Março de 1452, não
passou, portanto, de uma cerimônia civil. O Papado controlava agora Roma
firmemente. A tentativa de Stefano Porcari, que almejava a restauração da
República, foi implacavelmente suprimida em Janeiro de 1453. Porcari seria
enforcado juntamente com os seus ajudantes, Francesco Gabadeo, Pierto de
Monterotondo, Battista Sciarra e Angiolo Ronconi; não obstante, a reputação
do Papa seria questionada quando, ao início da execução, Nicolau V se
apresentou demasiado bêbado para confirmar as graças que havia garantido a
Sciarra e Ronconi.
Nicolau V foi também o projetista da remodelação urbanística, juntamente com
Leon Battista Alberti, onde se inclui a construção da nova Basílica de São
Pedro.
O sucessor de Nicolau V, o Papa Calisto III, não continuou a política cultural de
Nicolau, devotando-se à sua maior paixão, o amor pelos seus sobrinhos. O
toscano Pio II, que tomou as rédeas após a sua morte em 1458, revelou-se um
grande Humanista, embora pouco fazendo por Roma. Foi durante o seu
pontificado que Lorenzo Valla demonstrou que a Doação de Constantino tinha
sido uma falsificação. Pio II foi também o primeiro Papa a recorrer à luta
armada, em campanha contra os barões rebeldes Savelli dos subúrbios de
Roma, em 1461. Um ano depois, com a transladação da cabeça do apóstolo
Santo André para Roma, deu-se um novo afluxo de peregrinos. O pontificado
do Papa Paulo II (1464-1471) notabilizou-se unicamente pela reintrodução do
Carnaval, que se tornaria um festejo muito popular em Roma durante os
séculos seguintes. Ainda no mesmo ano (1468) foi desmontada uma
conspiração contra o Papa, organizada por intelectuais da Academia Romana,
fundada por Pomponio Leto, resultando no aprisionamento dos envolvidos no
Castelo de Santo Ângelo.
No entanto, o pontificado mais importante foi, sem dúvida, o do Papa Sisto IV.
Para favorecer um familiar, Girolamo Riario, instigou a conspiração por parte
dos Pazzi (Congiura dei Pazzi) contra a família Médici, de Florença (26 de Abril
de 1478) e, em Roma, combateu os Colonna e os Orsini. Apesar dos grandes
custos desta política de intrigas e guerras, Sisto IV era um verdadeiro padroeiro
da arte na mesma linha de Nicolau V: reabriu a Academia e reorganizou o
Collegio degli Abbreviatori e, em 1471, iniciou a construção da Biblioteca do
Vaticano, cujo primeiro curador foi Platina. A Biblioteca foi oficialmente fundada
a 15 de Junho de 1475. Sisto mandou restaurar várias igrejas, incluindo Santa
Maria del Popolo, Aqua Virgo e o Hospital do Espírito Santo, mandou
pavimentar algumas ruas e foi também o responsável pela construção de uma
ponte famosa sobre o Tibre que atualmente se conhece pelo seu nome. No
entanto, o seu projeto de maior envergadura foi a Capela Sistina no Palácio do
Vaticano. A sua decoração convocou alguns dos mais renomeados artistas de
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época, onde se incluem Mino da Fiesole, Sandro Botticelli, Domenico
Ghirlandaio, Pietro Perugino, Luca Signorelli e Pinturicchio — já no século XVI,
Michelangelo pintou-a com aquela que se tornaria na sua obra-prima,
transformando a Capela num dos mais espetaculares monumentos em todo o
mundo. Sisto morreu a 12 de Agosto de 1484, e foi considerado o primeiro Rei-
Papa de Roma.
Durante o pontificado dos seus sucessores, Inocêncio VIII e Alexandre VI
(1492-1503), Roma sofria do caos, de corrupção e do nepotismo emergente.
No intervalo de tempo entre a morte do primeiro e a eleição do segundo,
ocorreram 220 assassinatos na cidade. Alexandre VI teve que enfrentar Carlos
VIII de França, que invadiu a Itália em 1494 e entrou em Roma a 31 de
Dezembro desse ano. O Papa foi obrigado a barricar-se no Castelo de Santo
Ângelo, que havia se tornado numa verdadeira fortaleza por obra de Antonio da
Sangallo, mas o hábil Alexandre saberia conquistar a ajuda do rei, designando
o seu filho César Bórgia como conselheiro militar na subseqüente invasão do
Reino de Nápoles. Roma ficava, assim, segura. Entretanto, com a
movimentação do rei para sul, o Papa recambiava a sua posição, alinhando
com a Liga antifrancesa dos Estados Italianos que, finalmente, forçaram Carlos
a bater em retirada para França.
Alexandre, considerado o papa mais nepotista de todos, favoreceu o seu
implacável filho César Bórgia, criando para ele um ducado pessoal constituído
por alguns dos territórios pertencentes aos Estados Pontifícios, e banindo de
Roma a família Orsini, o inimigo mais insistente de César. Em 1500, a cidade
comemorou um novo Jubileu, mas as ruas tornavam-se cada vez mais
inseguras, especialmente à noite, quando eram controladas por bandos de
criminosos, os "bravi". Não obstante, foi o próprio César a assassinar Alfonso
de Bisceglie, a sua irmã Lucrécia e, presumivelmente, o filho do Papa, Giovanni
de Gandia.
O Renascimento teve um grande impacto no aspecto de Roma com trabalhos
como a Pietà ("Piedade") de Michelangelo e os frescos do Aposento dosBórgia, todos realizados durante o pontificado de Inocêncio. Roma atingiu o
seu expoente de esplendor sob o Papa Júlio II (1503-1513) e seus sucessores
Leão X e Clemente VII, ambos membros da família Médici. Durante estes vinte
anos, Roma tornara-se no maior centro de arte em todo o mundo. A velha
Basílica de São Pedro foi demolida e recomeçada uma nova. A cidade alojou
artistas como Bramante, que construiu o templo de San Pietro in Montorio e foi
autor de um grande projecto para renovar a Cidade do Vaticano, Rafael, que
em Roma se tornou no mais famoso pintor de Itália pelos seus frescos da
Capela Nicolina, Vila Farnesina, Quartos de Rafael, entre outras obras de arte
famosas, e Michelangelo, que iniciou a decoração do teto da Capela Sistina e
executou a famosa estátua de Moisés para a tumba de Júlio. Roma perdia
parcialmente o seu caráter religioso para se tornar progressivamente numa
verdadeira cidade do Renascimento, com um grande número de festejos
populares, corridas de cavalos, festas, intrigas e episódios de negligência. A
economia estabilizou-se com a presença de vários banqueiros da Toscana,
incluindo Agostino Chigi, que foi um amigo de Rafael e também ele
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patrocinador das artes. Antes da sua morte prematura, Rafael foi também, e
pela primeira vez, um promotor para a conservação das ruínas da Antiguidade.
O saque de Roma e a Contra-Reforma
Em 1527, a política ambígua seguida pelo segundo Papa da família Médici, o
Papa Clemente VII, resultou num dramático saque da cidade pelas tropas
imperiais de Carlos V do Sacro Império, que devastou a cidade durante dias.
Muitos dos cidadãos foram assassinados ou procuraram abrigar-se fora das
muralhas. O próprio Papa aprisionou-se no Castelo de Santo Ângelo. O saque
marcava, assim, o fim da era de maior esplendor da Roma Moderna.
O Jubileu de 1525 resultou numa farsa, com as reivindicações de Martinho
Lutero a instaurar o criticismo e o despeito pela ganância do Papa em relação a
toda a Europa. O prestígio de Roma seria confrontado com o desmembramento
das igrejas da Alemanha e Inglaterra. Ainda assim, o Papa Paulo III (1534-
1549) esforçou-se por apaziguar a situação convocando o Concílio de Trento,
embora fosse, ironicamente, o mais nepotista dos Papas. Paulo III chegou
mesmo a separar Parma e Piacenza dos Estados Pontifícios para criar um
ducado independente para o seu próprio filho, Pier Luigi. Continuou, no
entanto, o patrocínio pela arte, assistindo ao "Juízo Final" de Michelangelo,
pedindo-lhe para renovar o Capitólio e assistir na construção da nova Basílica
de São Pedro. Após o choque inicial do saque de Roma, convocou também o
brilhante arquiteto Giuliano da Sangallo, o Jovem para fortificar as muralhas da
Cidade Leonina.
A necessidade da renovação dos costumes religiosos tornou-se evidente com o
período de vacância que sucedeu à morte de Paulo III, com as ruas de Roma a
tornarem-se palcos de sátiras sobre os cardeais que atendiam ao conclave. Os
seus sucessores imediatos foram duas figuras de pouca autoridade que nada
souberam fazer para escapar à atual soberania da Espanha sobre Roma.
Paulo IV, eleito a 1555, era membro da facção anti-Espanha. A sua política
resultaria num novo cerco à cidade pelas tropas do vice-rei napolitano, em
1556. Paulo apelou à Paz, mas foi obrigado a aceitar a supremacia de Filipe II
de Espanha. Foi um dos Papas mais detestados de todos e, após a sua morte,
a população revoltou-se atiçando fogo ao palácio da Santa Inquisição e
destruindo a sua estátua de mármore no Capitólio. A perspectiva de Paulo
sobre a Contra-Reforma mostrou-se patente na ordenação de confinar os
Judeus a uma área central de Roma, ao redor do Porticus Octaviae, criando
assim o famoso Gueto Romano.
A Contra-Reforma seria considerada apenas pelos seus sucessores, o
moderado Papa Pio IV e o severo Santo Pio V. Embora o primeiro fosse um
nepotista, amante dos esplendores da corte, permitiu a introdução de costumes
mais severos por parte do seu conselheiro, Carlos Borromeu, que estava
prestes a tornar-se numa das figuras mais populares de Roma. Pio V e
Borromeo entregaram à cidade o verdadeiro caráter da Contra-Reforma. Toda
a pompa foi retirada da corte, os bobos expulsos, e os cardeais e bispos foram
obrigados a viver na cidade; foram punidas severamente a blasfémia e a
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utilização de concubinas; as prostitutas foram expulsas ou confinadas a
distritos reservados para o efeito. O poder da Inquisição dentro da cidade foi
reajustado, e o palácio reconstruído com um novo espaço para prisões.
Durante este período, Michelangelo abriu a Porta Pia e transformou as Termas
de Diocleciano na espetacular basílica de Santa Maria degli Angeli, onde Pio IV
foi enterrado.
O pontificado do seu sucessor, o Gregório XIII, foi um fracasso. As suas
medidas iriam despertar novos tumultos nas ruas de Roma. O escritor e filósofo
francês Montaigne defendia que "a vida e os bens nunca estiveram tão pouco
seguros como durante o tempo de Gregório XIII, talvez", e que uma
confraternidade chegou mesmo a realizar casamentos homossexuais na igreja
de San Giovanni a Porta Latina. As cortesãs tão reprimidas por Pio tornavam-
se agora prostitutas que trabalhavam abertamente nas ruas.
Sisto V tinha, no entanto, um temperamento distinto. Embora o seu pontificado
tenha sido curto (1585-1590), tornou-se num dos mais eficazes na história de
Roma. Sisto era ainda mais rígido que Pio V, e ganhou alcunhas como
castigamatti ("castigador dos loucos"), papa di ferro ("Papa de ferro"), ditador e
mesmo, ironicamente, demônio, já que nenhum outro Papa o antecedeu na
perseguição tão determinada da reforma da Igreja e costumes. Sisto
reorganizou profundamente a administração dos Estados Pontifícios, e limpou
as cidades de Roma de todos os bravos, prostitutas, procuradores, duelos, e
afins. Nem os nobres ou cardeais se consideravam isentos do policiamento
levado a cabo por Sisto. O dinheiro das taxas, que deixou de ser destinado à
corrupção, permitiu a existência de um ambicioso programa de edificação.
Alguns aquedutos mais antigos foram restaurados, e um novo foi construído, o
Acqua Felice (do nome de Sisto, Felice Peretti). Foram também edificadas
novas casas no desolado distrito de Esquilino, Viminale e Quirinale, enquanto
que outras casas no centro foram demolidas para abrir novas e mais largas
estradas. O objetivo de Sisto era tornar Roma num melhor destino para os
peregrinos, e novas estradas permitiriam melhores acessos às basílicas. Os
velhos obeliscos foram transladados ou erigidos para embelezar São João de
Latrão, Santa Maria Maior e de São Pedro, bem como a Piazza del Popolo, em
frente à igreja Santa Maria del Popolo.
Unificação italiana
Proclamação da República Romana.
O governo pelo Papado foi interrompido pela breve República Romana (1798),
instituída segundo influência da Revolução Francesa.
Outra República Romana surgia em 1849, no seguimento das revoluções de
1848. Duas das figuras mais influentes da unificação italiana, Giuseppe Mazzini
e Giuseppe Garibaldi, lutaram ao lado da república.
O regresso do Papa Pio IX a Roma, com a ajuda das tropas francesas, marcou
a exclusão de Roma do processo de unificação da segunda guerra da
independência italiana e da Expedição dos Mil, após as quais toda a península
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Itálica, à exceção de Roma e do Véneto, seriam unificadas sob a Casa de
Sabóia.
Em 1870, com o início da guerra franco-prussiana, o imperador francês
Napoleão III deixou de assegurar a proteção dos Estados Pontifícios. Pouco
depois, o governo italiano declarava guerra aos Estados. O exércitoitaliano
entrou em Roma a 20 de Setembro, abrindo uma brecha na muralha, a Porta
Pia, após um bombardeamento de três horas. Roma e todo o Lácio seriam
anexados ao Reino de Itália.
O governo italiano ofereceu então a possibilidade a Pio IX de preservar a
Cidade Leonina, embora fosse rejeitada a oferta já que a sua aceitação
traduzia-se no reconhecimento da legitimidade do governo do Reino de Itália
sobre os seus antigos domínios. Pio IX declara-se assim "prisioneiro do
Vaticano" embora, na verdade, nunca lhe tenha sido vedado o direito a
deslocar-se. Oficialmente, a capital não seria transladada de Florença para
Roma até 1871.
Na atualidade
Viale Europa, uma artéria na EUR.
A Roma atual não só reflete a estratificação das várias épocas ao longo da sua
história, mas constitui também um metrópole contemporânea. O vasto centro
histórico contém áreas que data desde a Roma Antiga, época medieval, vários
palácios e tesouros artísticos do Renascimento, muitas fontes, igrejas e
palácios do Barroco, bem como tantos outros exemplos de Art Nouveau,
Neoclassicismo, Modernismo, Racionalismo e quaisquer outros estilos
artísticos dos séculos XIX e XX (com efeito, a cidade é considerada uma
enciclopédia e um museu vivo dos últimos 3000 anos de história da arte
ocidental). O centro histórico coincide praticamente com os limites das
muralhas da Roma imperial. Algumas áreas foram reorganizadas após a
unificação (1880–1910 - Roma Umbertina), e foram realizados alguns
acrescentos e adaptações durante o período fascista, como a tão discutida Via
dei Fori Imperiali, da Via della Conciliazione, em frente ao Vaticano (para cuja
construção foi destruída uma grande parte do velho Borgo), a instituição de
novos Quartieri (dos quais a EUR, San Basilio, Garbatella, Cinecittà, Trullo,
Quarticciolo e, na costa, a restruturação da Óstia) e a inclusão da vilas
fronteiriças (Labaro, Osteria del Curato, Quarto Miglio, Capannelle, Pisana,
Torrevecchia, Ottavia, Casalotti). Estas expansões foram necessárias para
albergar o aumento exponencial da população, consequência da centralização
do estado italiano.
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Durante a Segunda Guerra Mundial, Roma sofreu poucos bombardeamentos
(com maior incidência em San Lorenzo), e foi declarada como cidade aberta.
Roma caiu nas mãos dos Aliados a 4 de Junho de 1944, e foi a primeira capital
das nações do Eixo a cair.
Depois da guerra, Roma continuou a expandir-se devido ao crescimento da
administração centralizada que resultou da unificação e à indústria, com a
criação de novos quartieri e subúrbios. A população oficial actualmente ronda
os 2,5 milhões; durante o horário laboral, os trabalhadores aumentam o valor
para 3,5 milhões, o que representa um aumento dramático de valores
anteriores: 130.000 em 1825, 244.000 em 1871, 692.000 em 1921 e 1.600.000
em 1931.
Roma foi anfitriã dos Jogos Olímpicos de 1960, para os quais utilizou muitos
dos sítios da Antiguidade, como a Villa Borghese e as Termas de Caracala
como fontes de rendimento. Para os jogos olímpicos foram criadas novas
estruturas, como o novo Estádio Olímpico (posteriormente aumentado e
remodelado para a edição da Copa do Mundo da FIFA de 1990), o Villaggio
Olímpico (Vila Olímpica, criada para acolher os atletas e posteriormente
reestruturado como um distrito residencial), etc.
Muitos dos monumentos de Roma foram restaurados pelo estado italiano e
pelo Vaticano para o Jubileu de 2000.
Como capital da Itália, Roma alberga as principais instituições da nação, como
a Presidência da República, o governo (e o seu Ministeri), o Parlamento, os
principais tribunais judiciais, e os representantes diplomáticos na Itália de todos
os outros países, e a cidade do Vaticano (curiosamente, Roma também
alberga, na parte do território italiano, a Embaixada do Vaticano, o único caso
de uma Embaixada dentro dos limites do seu próprio território). Muitas
instituições encontram-se alojadas em Roma, nomeadamente as de caráter
cultural e científico - como o Instituto Americano, a British School, a Academia
Francesa, os Institutos Escandinavos, o Instituto Arqueológico Alemão - pela
nobreza da escolaridade na Cidade Eterna - e outras humanitárias, como a
FAO.
Roma atualmente é um dos destinos turísticos mais importantes em todo o
mundo, não só devido à incalculável imensidade de tesouros arqueológicos e
artísticos, mas também pelo carisma das suas tradições únicas e a
majestosidade das magnificentes "villas" (parques). De entre os mais
significantes recursos, destacam-se os numerosos museus (como os Museus
Capitolinos, os Museus do Vaticano e a Galleria Borghese), os aquedutos,
fontes, igrejas, palácios, edifícios históricos, monumentos e ruínas do Fórum
romano, e as catacumbas.
De entre as centenas de igrejas, Roma contém as cinco maiores basílicas da
Igreja Católica: a Basilica di San Giovanni in Laterano (São João de Latrão,
catedral de Roma), Basilica di San Pietro in Vaticano (São Pedro), Basilica di
San Paolo fuori le Mura (São Paulo fora dos Muros), Basilica di Santa Maria
Maggiore (Santa Maria Maior), e a Basilica di San Lorenzo fuori le Mura (São
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Lourenço fora dos Muros). O bispo de Roma é o Papa; durante a atividade
pastoral na cidade, é assistido por um vigário (tipicamente um cardeal).
Mundo Ocidental Durante o Medievo: a sociedade feudal Européia
Sociedade feudal Européia
As Origens do Feudalismo
Por volta do ano 400, os escritores latinos ainda dedicavam elogios à grandeza
de Roma. Esse entusiasmo fundamentava-se na extensão do império que, para
os romanos atingia a todo o universo civilizado. Era difícil aos romanos
perceber o quanto estava próximo o fim de seu império.
Para o historiador atual, no entanto, os sinais de decadência e desagregação
do Império Romano já eram visíveis antes mesmo do início do século V. A crise
econômica e os seguidos ataques dos povos germânicos vinham minando a
civilização romana desde o século IV.
Feudalismo: sistema econômico, político e social que caracterizou a
Europa durante a Idade Média (476/1453)
Formalmente costuma-se considerar o ano de 476, data em que os hérulos
invadem Roma, como o fim do IMpério Romano do Ocidente e o início da
chamada Idade Média. Da mesma forma, é aceito o ano de 1453, quando os
turcos otamanos conquistam Constantinopla pondo fim o Império Bizantino,
como o término da Idade Média. Estas datas servem, apenas, para uma divisão
didática da História. Da mesma maneira como as estruturas do Império
Romano já estavam abaladas muito antes de 476, as características que
marcaram a Idade Média européia encontravam-se bastante modificadas
alguns séculos antes de 1453.
A Idade Média, na Europa, caracterizou-se pelo aparecimentos, apogeu e
decadência de um sistema econômico, político e social denominado
feudalismo. Este sistema foi fruto de uma lenta integração entre alguns traços
da estrutura social romana e outros da estrutura social germânica. Esse
processo de integração que resultou na formação do feudalismo, ocorreu no
período histórico compreendido entre os séculos VI e IX.
As bases romanas do feudalismo europeu: as vilas romanas, o colonato e
o Cristianismo
Por volta do fim do Império Romano do Ocidente, os grande senhores romanos
abandonavam as cidades, fugindo da crise econômica e das invasões
germânicas. Iam para seus latifúndios no campo, onde passavam a
desenvolver uma economia agrária voltada para a subsistência. Esses centros
rurais eram conhecidos por vilas romanas, originando os feudos medievais.
Homens romanos de menos posse iam buscar proteção e trabalho nas terras
desses grandes senhores. Para poderem utilizar as terras, eram obrigados a
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ceder ao proprietário parte do que produziam. Essa relação entre o senhor das
terras e aquele que produzia ficou conhecida por colonato. Também o grande
número de escravos da época foi utilizado nas vilas romanas. Com o tempo
tornou-se mais rendoso libertar os escravos e aproveitá-los sob regime de
colonato. Com algumas alterações futuras, esse sistema de trabalho resultou
nas relações servis de produção, traço fundamental do feudalismo.
Com a ininterrupta ruralização do Império Romano, o poder central foi
perdendo seu controle sobre os grandes senhores agrários. Aos poucos, as
vilas romanas aumentavam sua autonomia. Cada vez mais o poder político
descentralizava-se, permitindo ao proprietário de terras administrar de forma
independente a sua vida.
O Cristianismo foi outra contribuição fundamental da civilização romana para a
formação do feudalismo. Originário do Oriente, o Cristianismo se enraizou na
cultura romana, passando a ser a religião oficial do império no século IV. No
início da Idade Média, a religião cristã já havia triunfado sobre as seitas rivais
da Europa. Em pouco, a Igreja tornou-se a instituição mais poderosa do
continente europeu, determinando a cultura do período medieval.
As bases germânicas: a sociedade agropastoril, o particularismo, o
comitatus e o direito não-escrito.
A contribuição dos povos germânicos para a formação do feudalismo se deu
principalmente ao nível dos costumes. A sociedade feudal, assim como a
germânica, organizou-se economicamente sobre atividades agropastoris.
A descentralização do poder é herança da cultura germânica. As várias tribos
viviam de maneira autônoma, relacionando-se apenas quando se defrontavam
com um inimigo comum. Então, uniam-se sob o comando de um só chefe.
As relações entre o suserano e o vassalo, baseadas na honra, lealdade e
liberdade tiveram suas origens no comitatus germânico. O comitatus era um
grupo formado pelos guerreiros e seu chefe. Possuía obrigações mútuas de
serviço e lealdade. Os guerreiros juravam defender seu chefe e este se
comprometia a equipá-los com cavalos e armas. Mais tarde, no feudalismo,
essas relações de honra e lealdade geraram as relações de suserania e
vassalagem. A prática da homenagem, típica do Império Carolígio, pela qual os
vassalos juravam fidelidade ao suserano, provavelmente tinha derivado do
comitatus.
Também o direito no feudalismo teve influência germânica. Baseava-se nos
costumes e não na lei escrita. Era considerado uma propriedade do indivíduo,
inerente a ele em qualquer local que estivesse. Tal forma do Direito,
considerado produto dos costumes e não da autoridade, é conhecido por direito
consuetudinário.
As novas invasões ao continente europeu nos séculos VIII e IX e o
apogeu do sistema feudal
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O processo de declínio do comércio, agrarização da economia, ruralização da
sociedade e descentralização do poder político teve início no final do Império
Romano do Ocidente. A lenta integração entre os aspectos da sociedade
romana e da sociedade germânica foi acelerada com as invasões dos séculos
VIII e IX.
Em 711, os muçulmanos, vindos da África, conquistaram a Península Ibérica, a
Sicília, a Córsega e a Ardenha, "fechando" o mar Mediterrâneo à navegação e
ao comércio europeus. Ao norte, no século IX, os normandos também se
lançaram à conquista da Europa. Conquistaram a Bretanha e o noroeste da
França. Penetraram no continente europeu através de seus reios, saqueando
suas cidades. A leste, os magiares, cavaleiros nômades provenientes das
estepes euro-asiáticas, invadiram a Europa Oriental.
Isolada dos outros continentes, a Europa fragmentou-se internamente. Os
constantes ataques e saques criaram uma insegurança geral. As vias de
comunicação ficaram bloqueadas. As últimas invasões amadureceram as
condições para o pleno estabelecimento do sistema feudal.
O comércio regrediu ao nível de troca direta. A economia agrarizou-se
plenamente. As cidades despovoaram-se, completando o processo de
ruralização da sociedade. O poder político se descentralizou em uma
multiplicidade de poderes localizados e particularistas. O feudalismo se
estabeleceu em sua plenitude.
Características gerais do feudalismo
Denomina-se feudalismo o sistema econômico, político e social dominante na
Europa durantes a Idade Média. Alguns historiadores preferem utilizar, em
lugar do termo sistema, o conceito de modo de produção.
A forma como uma sociedade, em um determinado período histórico, organiza
sua produção de bens materiais, a relação entre seus homens e a sua
produção intelectual é chamada de modo de produção. Independente de sua
localização geográfica, ou do período de sua existência, toda sociedade possui
um modo de produção que a caracteriza.
Como todo modo de produção também o feudalismo é composto de estruturas
econômicas, políticas, sociais e ideológicas (culturais) que se articulam
mutuamente, relacionando-se e modificando-se umas às outras.
Feudo: unidade de produção do feudalismo. O manso servil e o manso
senhorial
Toda forma que o homem encontra de estruturar a produção de bens materiais
pode ser considerada uma unidade de produção. Assim, em nossos dias, a
fábrica, e a fazenda são unidade de produção. Alguns senhores feudais eram
proprietários de centenas, às vezes até mais de mil desses domínios. Não há
certeza absoluta sobre o tamanho médio dessas unidades econômicas. Mas
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sabe-se que as menos compreendiam no mínimo 120 hectares (1 200 000 m3),
extensão correspondente a uma fazenda de tamanho médio.
Cada um dos feudos era composto por um castelo onde moravam o senhor
feudal, sua família e empregados; a vila ou aldeia, onde moravam os servos; a
igreja; uma casa paroquial; celeiros; fornos; açudes; pastagens comuns e
mercado, onde nos fins de semana trocavam o que era produzido. As terras
eram divididas em manso senhorial, cuja produção destinava-se ao senhor
feudal e o manso servil, onde o produto do trabalho ficavam para os servos.
Dividia-se a terra arável em três partes: o terreno de plantio da primavera, o de
plantio do outono e outro que ficava em pousio (descanso). A cada ano se
invertia a utilização dos terrenos, de forma a que sempre um tivesse período de
recuperação. Esses sistema surgiu na Europa, no século VIII, ficando
conhecido como sistema dos três campos.
Sociedade estamental
Divisão social: senhores feudais (nobreza e clero) e dependentes (servos
e vilões)
Nessa sociedade rural, de economia essencialmente agrária, a propriedade ou
posse da terra determinava a posição do indivíduo na hierarquia social. A terra
era a expressão da riqueza, da influência, da autoridade e do poder.
A sociedade feudal era estamental, isto é, não havia mobilidade social. Os
grupos sociais mantinham-se rigidamente estanques. O acesso ou não à posse
ou propriedade da terra dividia a sociedade feudal em dois estamentos: os
senhores e o dependentes.
Os senhores feudais eram os possuidores ou proprietários de feudos.
Formavam uma aristocracia dominante, sendo originários da nobreza e do
clero. A nobreza se subdividia em duques, condes, barões e marqueses. Os
senhores feudais eclesiásticos, vinculados à Igreja Romana, pertenciam à alta
hierarquia do clero. Eram, geralmente, bispos, arcebispos e abades.
O estamento dos dependentes, incorporando a maioria da população medieval,
cumpunha-se de servos e vilões. Os servos não tinham a propriedade ou posse
da terra e estavam presos a ela. Eram trabalhadores semi livre. Não podiam
ser vendidos fora de suas terras, como se fazia com os escravos, mas não
tinham liberdade para abandonar as terras onde nasceram. Em número
reduzido, havia um outro tipo de trabalhadormedieval, o vilão.
Este não estava preso à terra. Descendia de antigos pequenos proprietários
romanos. Não podendo defender suas propriedades, entregava suas
propriedades, entregava suas terras em troca da proteção de um grande
senhor feudal. Recebia tratamento mais brando que os servos.
A atribuição de um feudo compreendia uma série de atos solenes. Primeiro o
vassalo prestava a homenagem, colocando-se de joelhos, com a cabeça
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descoberta e sem espada, pondo suas mãos entre as mãos do suserano e
pronunciando as palavras sacramentais de juramento. Em seguida, o senhoria
permitia que se levantasse, beijava-o e realizava a investidura com a entrega
de um objeto simbólico, punhado de terra, ramo, lança ou chave,
representando a terra ofertada.
Os laços de suserania e vassalagem vinculavam toda a nobreza feudal. Por
exemplo, um barão doava um feudo a um marquês. Este, ao receber o feudo,
prestava-lhe homenagem. O barão tornava-se suserano do marquês e este,
vassalo do barão. O barão, entretanto, havia recebido feudos de um conde,
prestando-lhe o juramento de vassalagem. Assim, o barão suserano do
marquês, era, o mesmo tempo, vassalo do conde.
Cultura feudal: teocêntrica, divulgada pela Igreja. Nas artes, letras e
ciência, apenas temas religiosos
A cultura feudal foi caracterizada por uma visão do homem voltada para Deus e
para a vida, após a morte na Terra. Esse tipo de visão de mundo, em que Deus
é considerado o centro do Universo, chama-se teocentrismo.
A Igreja consegui sobreviver às invasões germânicas e logo depois iniciou o
processo da conversão dos bárbaros. Com isso, transformou-se na mais
poderosa e influente instituição do sistema feudal, sendo a principal
divulgadora da cultura teocêntrica. Todas as relações típicas do feudalismo
foram justificadas e legitimadas pelo teocentrismo.
A moral religiosa condenava o comércio, o lucro e a usura (empréstimo com
cobrança de juros). As artes, as letras, as ciências e a filosofia eram
determinadas pela visão religiosa divulgada pela Igreja.
Nas artes, predominavam temas de inspiração religiosa. Nas letras, os sábios e
eruditos só escreviam e falavam no idioma oficial da Igreja, o latim. A ciência
reproduzia em suas explicações sobre a natureza interpretações feitas sobre
os escritos bíblicos. Na filosofia, a últimas palavra cabia aos doutores da Igreja.
O mundo feudal estabeleceu-se de forma rigorosamente hierárquica e o lugar
mais importante coube à Igreja, Possuía, ao mesmo tempo, ascendência
econômica e moral. Seus domínios territoriais suplantavam os da nobreza e
sua cultura demonstrava ser incomparavelmente superior.
Em uma sociedade onde a ignorância era generalizada, a Igreja detinha dois
instrumentos indispensáveis: a leitura e a escrita. Os reis nobres, recrutavam,
forçosamente, no clero, os seus chanceleres, secretários, funcionários
burocráticos, enfim, todo o pessoal letrado imprescindível.
O monopólio da Igreja só começaria a desaparecer no século XIV, com o
fortalecimento do Humanismo e com o Renascimento Cultural.
O Cotidiano na sociedade feudal
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Na sociedade feudal, o clero e os nobres constituíam-se no setor dominante.
Os nobres orgulhavam-se da vida que levavam, dedicada às batalhas, torneios
e caçadas. Dentro de seus feudos garantiam sua autonomia inclusive em
relação aos reis. Já os servos passavam a vida de maneira radicalmente
diversa, trabalhando o dia inteiro na época da colheita, pouco conservando
para si e para sua família do produto do seu trabalho.
A vida dos nobres: batalhas, torneios e caçadas. Costumes rudes e
violentos
Os romances ou filmes sobre a nobreza feudal costumam transmitir uma
imagem distorcida da vida da época. Antes do século XI, os castelos feudais,
em sua maioria, eram pouco confortáveis fortificações de madeira. Mesmo os
enormes castelos de pedra de época posterior, eram escuros e frios. Forravam
os pisos com esteiras de junco ou palha. Só após o restabelecimento do
comércio com o Oriente, no século XII, é que se tornou comum o uso de
tapetes e estofados.
A alimentação dos nobres e seus familiares era farta, mas pouco variada. Seus
pratos se resumiam em carne, peixe, queijo, couve, nabos, cenouras, cebola,
feijão e ervilha. Para sobremesa, tinham em abundância maçãs e pêras. O
açúcar só chegou à mesa da nobreza após o século XIV, mesmo assim a
preços elevadíssimos.
Os nobres não trabalhavam, sendo esta uma condição de sua situação social.
Os costumes da época impunham-lhes uma vida ativa em outros aspectos:
guerras, torneios e caçadas. Qualquer pretexto era suficiente para a tentativa
de conquista de feudos vizinhos. O gosto pela violência convulsionava de tal
forma a sociedade que a Igreja resolveu intervir no século XI, proclamando a
Trégua de Deus. Proibiu lutas durante as sextas-feiras, sábados e domingos,
durante quaisquer dias do Natal ao Dia de Reis e na maior parte da primavera,
fim do verão e começo do outro. O nobre que violasse essa regra era
excomungado.
Até o século XII, as maneiras da nobreza em nada assemelhavam ao que hoje
se considera boa educação. Nas refeições, partiam alguns alimentos com um
punhal e comiam com as mãos. As mulheres eram tratadas com desprezo e
brutalidade. Esses costumes só começaram a ser alterados com a difusão dos
ideais de cavalaria (código social e moral do feudalismo), nos séculos XII e XIII.
A vida cotidiana dos servos de gleba: a produção no campo, a ignorância
e a superstição
Os servos habitavam choupanas de varas traçadas, com cobertura de barro.
Como o piso não possuía qualquer revestimento, constantemente absorvia a
umidade das chuvas. Suas camas eram algumas tábuas recobertas de palhas.
Toscos bancos completavam a mobília. Alimentavam-se de pão preto, verduras
de sua horta, queijo, sopa e, às vezes, carne e peixe, normalmente meio
apodrecidos. Não eram raras as mortes por fome. Invariavelmente analfabetos,
apegavam-se às mais diversas superstições. Por vezes, suas colheitas eram
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arrasas pelas patas dos cavalos da nobreza empenhada em caçadas ou
combates.
Minorando tanta miséria, possuíam alguns direitos. Não poderia ser privado de
sua terra. Se o feudo fosse vendido, os servos conservavam o direito de ali
permanecer, cultivando seu lote. Quando envelheciam, o senhor tinha
obrigação de mantê-lo até o fim de seus dias. Seus períodos de folga eram
maiores que o dos trabalhadores de hoje, atingindo quase um sexto do ano,
sem contar os domingos. Finalmente, não tinham obrigações de prestar serviço
militar ou empenhar-se em guerras decididas por seus senhores.
O sistema feudal não possuía, na realidade, as mesmas características
em todas as regiões da Europa.
Todas as características do feudalismo, que foram descritas neste texto, são
fruto de um processo muito lento, iniciado com a decadência do Império
Romano do Ocidente. Somente nos séculos IX, X e XI é que se pôde perceber
na Europa uma situação como a que foi expressa neste texto. O feudalismo
não foi igual em todo o continente europeu, sendo algumas de suas
características mais acentuadas em algumas regiões e menos em outras.
Apenas na região onde hoje se localiza a França é que o sistema feudal se
estabeleceu de forma mais pura.
Nos últimos anos do século XI, com o início das Cruzadas, o feudalismo
começava sua vagarosa decadência. Suas estruturas passam a ser
progressivamente modificadas com o Renascimento Comercial, ressurgimento
das cidades, progressiva centralização do poder na figura do rei e gradual
substituição da cultura teocência pela antropocêntrica (o homem comocentro
do universo).
Mundo na Modernidade: a cultura e a ciência, a conquista e a colonização
da América e do Brasil
Na sua época, o mundo ainda era regido por duas forças; a fé e a espada,
entretanto, Francis Bacon postulava que o conhecimento, a ciência, era, de
fato, uma fonte de poder. E de um poder sobre a própria natureza, e, portanto,
mais amplo, eficiente e produtivo que os demais. Atuando na elevação do
status da ciência de um nível coadjuvante ao nível primordial no cenário
cultural de suas épocas, filósofos como Bacon, Descartes, Hobbes e Galileu,
promoveram a ascensão e o estabelecimento da Ciência moderna.
Bacon não foi só um dos principais defensores ideológicos da ciência, mas
também um dos principais elaboradores de sua metodologia, dizendo ao
mundo, não só que ele deveria fazer ciência, mas mostrando como. Para ele,
nem todo estudo erudito e bem elaborado poderia ser considerado ciência.
Para que algo se tornasse um conhecimento, de fato científico, deveria
obedecer a uma metodologia rigorosa de pesquisa. Segundo Lou Marinoff,
doutor em filosofia e professor do New York City College, o mundo tem uma
dívida de gratidão com Bacon, por ele ter nos dado o método científico.
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Embora outros pensadores anteriores a Bacon já utilizassem de experiências
a fim de demonstrar a veracidade de suas teorias, esse procedimento não era
consensual, representando mas uma exceção do que uma regra entre os
estudiosos. Mas Bacon apregoou (e Galileu executou) que toda teoria só
poderia ser considerada verdadeira se fosse comprovada por meio de
experimentos. Nascia o método científico moderno, alicerçado na regra
metodológica de união entre teoria e experiência; a segunda testando a
primeira, a primeira explicando e prevendo o resultado da segunda.
Bacon levou a paixão pela experiência como busca pela verdade até as
ultimas conseqüências; contraiu pneumonia e faleceu em 1926 em Hampstead
Heath, após congelar galinhas como parte de um experimento.
O propósito baconiano era tornar a ciência mais do que um empreendimento
especulativo, torná-la um instrumento capaz de produzir bens concretos para a
humanidade. Em “A grande instauração”, Bacon propõe sua teoria: “Como um
espelho desigual modifica o raio das coisas” a mente humana, sozinha, não e
suficiente para a compreensão da realidade; “a mente quando recebe a
impressão das coisas através dos sentidos, ao formar as próprias noções
introduz e mistura sem fidelidade a sua natureza a natureza das coisas”. Ou
seja; não somos capazes de conhecer o mundo somente por meio da reflexão,
é preciso que examinemos a natureza por meio de instrumentos específicos e
precisos, devidamente desenvolvidos para levar empreender a pesquisa de
que necessitamos, e através dela, esclarecer-nos os detalhes do que
investigamos. Se agirmos assim, além de conhecermos verdadeiramente o
nosso objeto de pesquisa, poderemos, sistematicamente, produzir invenções a
partir destes conhecimentos, que nos permitam manipular a natureza,
controlando determinados processos, e extraindo dela o necessário para o
progresso de nossa sociedade.
Para Bacon o método é necessário para a interpretação da natureza, a fim de
obtermos verdades científicas, gerando resultados práticos e inquestionáveis. E
tal método consiste justamente numa lógica de pesquisa que promove a
articulação entre a reflexão racional teórica e a experimentação, em um auxilio
recíproco.
O conceito de natureza em Bacon é o de mera matéria a ser investigada e
explorada, de modo que seja utilizada para o desenvolvimento da civilização. A
ciência, alicerçada no método, era para ele, o instrumento capaz de promover
esta dominação sobre o mundo. Ao ver tudo como apenas matéria prima para
a produção de utilidades, Bacon reforçou a tese materialista, politizou-a,
tornou-a interessante do ponto de vista econômico, fundou uma visão de
ciência como geração de conhecimentos importantes para a manutenção do
poder. Bacon tornou o materialismo algo muito além de uma ideologia, tornou-o
uma concepção de poder, um método de exploração, algo que ensinou aos
governos e aos mercados que o conhecimento científico era capaz de dominar
a natureza, e que dominada, ela poderia ser comercializada, e suas forças
canalizadas em propósitos estratégicos. A crença no materialismo como sendo
um retrato fiel da realidade, uma descoberta, uma lei da natureza, não passa
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de uma ingenuidade. O materialismo moderno é uma estratégia de poder
disfarçada sobre a mascará da ciência. Seu propósito é este: encarar toda a
natureza como sendo apenas uma matéria prima passiva de ser explorada,
explorar os recursos naturais para gerar riquezas, gerar riquezas para construir
um aparelho de guerra poderoso, usar esta máquina bélica para gerar poder
político, e se utilizar do poder político para alavancar o poder econômico. Mas
do que uma verdade científica, o materialismo é um jogo de interesses, um
negócio lucrativo, um instrumento eficaz para satisfazer o desejo de dominação
de terras, de recursos, de espaços e de povos, nutrido pelos homens ao longo
dos séculos. Foi extremamente eficaz no desenvolvimento do estilo de vida
ocidental, na constituição de uma civilização tecnológica de alto nível.
Entretanto, essa mesma civilização parece estar próxima do seu ponto de
saturação, e se antes preocupávamos-nos com o desenvolvimento tecnológico
e com o crescimento econômico, ou nos preocupamos agora com o
desenvolvimento moral e o crescimento espiritual da humanidade, ou
desmoronaremos enquanto humanidade, e quiçá, enquanto espécie.
Outro grande nome do materialismo moderno foi o francês Pierre Gassendi.
De Digne, Provence, aos vinte e cinco anos foi nomeado professor de filosofia
da Universidade de Aix. Ele viria a se tornar cônego da catedral de Digne, mas
mesmo religioso voltou-se contra o aristotelismo, considerado a ciência oficial,
naquela época, pela Igreja de Roma. Gassendi defendia a astronomia de
Copérnico, o atomismo de Lucrecio e a ética de Epicuro, em detrimento da
física e ética aristotélica. Somente sua posição sacerdotal pode protegê-lo da
inquisição.
Gassendi,em 1645,tornou-se catedrático do College Royal de Paris,
assumindo a cadeira de matemática. Sua filosofia tornar-se-ia extremamente
influente, e contribuiu para o desenvolvimento de um materialismo arrojado no
meio científico. Segundo Will Durant, no seu clássico “Historia da Civilização”,
vemos que “Newton preferiu os átomos de Gassendi aos corpúsculos de
Descartes, encontrando no sacerdote da Provence a idéia da gravitação”.
Esses são alguns pontos da obra de Gassendi que concorreram na
elaboração do materialismo científico moderno; para ele a alma era
absolutamente material, sua existência dependia do corpo, a memória era
apenas uma função do cérebro. O universo era constituído por átomos e estes
são matéria pura, reafirmando assim os pensamentos de Leucipus, Lucrecio e
Epicuro. Sendo assim, Gassendi afirmou um epifenomenalismo, teorizando que
a consciência é causada pela matéria cerebral, sendo um mero fenômeno
decorrente dos seus estados fisiológicos.
Mas passemos logo ao nome mais cabal na consolidação do paradigma
científico do realismo materialista no período anterior a Newton.
Filho de um rico advogado e de uma senhora doente que sucumbiu diante da
tuberculose, o jovem Descartes contraiu a mesma doença da mãe, e por
pouco, ainda menino, não teve o mesmo destino. Jovem, graduar-se-ia em leis
civis e canônicas pela Universidade de Poitiers, e ingressaria no exercito do
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108príncipe Mauricio de Nassau, onde, segundo alguns historiadores, teria
participado da batalha da montanha branca, pela guerra dos trinta anos. Conta-
nos o filósofo que durante um recesso de guerra,no dia 10 de Novembro de
1619,em Neuburg, na Bavária, ele teria se escondido em uma estufa, a fim de
proteger-se do intenso frio daquele inverno. Lá, aquecido,teve três sonhos nos
quais relâmpagos e trovões irrompiam e algo lhe era revelado. Quando
acordou, havia formulado em sua mente a geometria analítica e elaborado a
aplicação do método matemático no campo da filosofia.
Mas nem tudo foi intuição. Descartes foi um estudioso determinado, um
pesquisador rigoroso que encarnou o verdadeiro espírito científico. Filosofia,
para ele, não era retórica, era pesquisa, criação nascida de um forte trabalho.
Se as preposições particulares de seu pensamento,assim como as de
Aristóteles,viriam a ser superadas, o seu método, o sentido mais amplo, geral e
sutil do seu pensamento seria incorporado pala ciência moderna,
transformando-se em paradigma para ela. Em “Discurso do Método” Descartes
elaborou princípios gerais sobre os quais uma ciência segura deveria se
erguer. O primeiro principio postulava que até que pudéssemos confiar na
veracidade de algo com inapelável certeza, eliminando qualquer dúvida a seu
respeito,por mínima que fosse,não poderíamos pensá-lo como certo. Ou seja;
devemos considerar tudo falso, a menos que não encontremos um ponto
sequer do qual possamos duvidar. Segundo ele “A principal causa de nossos
erros encontrar-se-á nos preconceitos de nossa infância(...)de cujos princípios
me deixei persuadir, na mocidade, sem ter averiguado se neles havia verdade”.
Outro principio consistia em fragmentar ao maximo nosso objeto de pesquisa,e
analisar sistemática e rigorosamente, em separado, cada pequena parte que o
compõe, a fim de compreender a fundo,com exatidão,todos os detalhes
daquilo que estudamos.Esses princípios viriam a fundamentar o caráter da
pratica científica, afinal, o cientista é aquele que diante de qualquer fenômeno,
dissecando-lhe analiticamente, examinando cuidadosamente todas as partes
de sua composição, chega então a invalidar ou corroborar sua veracidade,
adquirindo conhecimentos a cerca de suas causas, conseqüências e
estruturas. Mais do que isso, esse princípio tornou-se o próprio método da
ciência, em todos seus campos de atuação, ou seja, a própria prática científica
moderna pauta-se pela especialização analítica, isto e’, o método de pesquisa
da ciência, consiste em dividir os objetos de estudo em diversas partes, e
analisa-las minuciosamente, até as estruturas mais ínfimas, vendo as coisas
não como um todo, mas como coleções de partes. Da medicina a geografia, o
método cientifico moderno é cartesiano, consistindo na colocação em prática,
enquanto regra de pesquisa e visão de mundo, do princípio filosófico de
Descartes, anunciado no Discurso do método.
Paradoxalmente, Descartes não era um materialista. Postulava a existência
de duas substancias, uma corpórea, material e outra imaterial, para alem dos
meandros da física ordinária. Porem, ao fazer esta distinção e apregoar que a
ciência deveria ocupar-se da matéria e seus fenômenos e não da substancia
que a transcende, ele acabou por criar uma dicotomia entre o corpo e o
pensamento, a matéria e o espírito. Assim, fez com que entendêssemos tais
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coisas como partes separadas e independentes, sacramentando que a ciência
deveria ser exclusivamente materialista.
Qualquer estudo sobre Descartes, ainda que breve, deve mostrar o seu
caráter de investigador apaixonado pela pesquisa. O leigo tem a imagem pueril
do filósofo como um homem completamente absorvido em seus pensamentos.
Descartes encarna bem uma visão mais profunda, na qual o pensamento do
filósofo surge como resultado de uma vida concreta de pesquisas e
investigações. Citemos novamente Will Durant discorrendo sobre o pensador;
“A ultima década de sua vida, contudo, foi dedicada a ciência. Transformou
seus aposentos em laboratório e realizou experiências de física e fisiologia.
Quando um visitante pediu para ver sua biblioteca, Descartes apontou para um
traseiro de vitela que estava dissecando(...)Já nos referimos a sua geometria
analítica, que desenvolveu, e a sua delineação do calculo infinitésimal”. Foi ele
que estabeleceu a convenção de usar as primeiras letras do alfabeto, para, nas
equações, representarem quantidades conhecidas, e o das ultimas letras para
as desconhecidas. Pesquisou a força exercida por sistemas pequenos, como
alavancas, cunhas e roldanas, e pelas rodas e tornos. Formulou leis de inércia,
impacto e ímpeto. Dissecou animais e descreveu seus detalhes anatômicos.
Também dissecou um feto, com especial atenção ao cérebro, com o intuito de
verificar a relação entre os processos cognitivos e as estruturas fisiológicas.
“Talvez tivesse sugerido a Pascal que a pressão atmosférica decresce com a
altitude, embora se tivesse enganado ao declarar que o vácuo não existe em
parte alguma, exceto na cabeça de Pascal”.
A teoria dos vórtices, elaborada por ele, “lembra” a teoria contemporânea dos
campos magnéticos. Segundo ele, todo corpo está envolvido por vórtices, que
são partículas, em turbilhões, a sua volta, formando camadas concêntricas.
Descartes atuou ainda em diversas áreas, como na ótica, criando lentes com
curvatura hiperbólica ou elíptica, livres das aberrações e distorções ópticas
produzidas pelas lentes esféricas.
Como vimos, Descartes foi um grande experimentador, realizando segundo
seu próprio método, investigações empíricas em diversas áreas. Sua teoria
cosmológica também e’ interessante. Nela, o universo é constituído de vários
turbilhões, ou vórtices, nos quais as partículas de matéria, e todas as coisas,
tais como planetas e estrelas, giram incessantemente. Todavia, ao contrário do
que esta teoria previa, as observações de Kepler demonstraram que as órbitas
dos planetas são elípticas e não circulares. Entretanto, não foram os detalhes
de suas teorias que se tornaram paradigmáticos para a ciência, mas sim suas
idéias mais gerais, tanto metafisicamente(sua visão de mundo e ciência)
quanto pragmaticamente (sua elaboração de uma metodologia de pesquisa).
O universo é um mecanismo material e deve ser pesquisado enquanto tal,
segundo um método rigoroso com princípios claros de investigação cientifica.
Eis a idéia e motivação centrais da ciência moderna. Eis a filosofia cartesiana.
Fazendo surgir uma compreensão da realidade calcada nestas idéias, o
cartesianismo concorreu para o assentamento de uma cultura materialista-
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mecanicista, na qual nossas sensações, emoções, nossos corpos, a
respiração, a natureza e todas as coisas, são mecanismos materiais
funcionando de acordo com as leis da mecânica. Segundo Durant, essa visão
foi decisiva para os conhecimentos obtidos por Harvey, sobre a circulação
sanguínea. Na verdade, tanto sua filosofia mecanicista quanto seu método de
fragmentar o objeto de pesquisa para estudar cada parte em separado,
erigiram um novo conceito de objeto, sistema, organismo e corpo. O corpo
humano passou a ser visto como a composição de sistemas distintos, formados
por partes específicas. Este conceito foi decisivo para o estabelecimento da
medicina moderna. Mais do que isto. No cerne da ciência médica ocidental dos
últimos trezentos anos, a filosofia de Descartes encontra-se como paradigma.
Influenciada pelo pensamento cartesiano, a medicina percebe o corpo como
uma máquina meramente material, divide-o em inúmeras partes, estudando-as
minuciosamente, dissecando-lhes os detalhes. O nascimento das diversas
especialidades médicas é o próprio método cartesianode uma
"democradura".
Além disso, não se pode perder de vista que, numa conjuntura mundial de
constantes transformações e progressiva interação, as mudanças sociais são
inevitáveis, e intensamente buscadas nos países subdesenvolvidos para a
correção dos profundos desequilíbrios sócio-econômicos ali existentes. E um
processo pacífico de modificação da ordem pressupõe a normalidade
constitucional, onde o respeito à Constituição traduz a possibilidade de se
utilizar dos princípios e garantias nela estampados para o alcance das
aspirações comuns, impedindo atitudes discriminatórias e riscos de retrocesso.
O que permite concluir que o desrespeito à Constituição torna inseguros os
avanços sociais, com o sério risco de anulação das mudanças. Enquanto que,
ao reverso, as conquistas populares serão mais facilmente consolidadas se
incluídas na Carta Política e se esta merecer o respeito de todos, governantes
e governados.
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Logicamente, como os tempos são outros, impõe-se uma indispensável
atualização quanto ao sentido e às finalidades da Constituição.
Com relação a este ponto, desde logo tenha-se em mente que, no estertorar do
século XX, a garantia de liberdade de todas as pessoas não se expressa
unicamente no controle do poder político para impedir que os economicamente
mais fortes reduzam a liberdade dos economicamente mais fracos e alicercem
uma desmedida desigualdade entre os cidadãos. A par disso, a experiência
tem demonstrado que a clássica idéia de liberdade individual deve ser
percebida num outro contexto organizacional, onde a participação, a repartição
dos bens e o acesso aos benefícios da vida social favoreçam a todos e não
permitam grandes desníveis.
Daí a lição de que a maior novidade acerca dos objetivos da Constituição está
no reconhecimento da necessidade de se utilizá-la por impor limites jurídicos
ao poder econômico, disciplinando a obtenção, a acumulação e o uso da
riqueza, em função dos interesses individuais e coletivos (Dalmo DALLARI, ob.
Cit., p. 14).
Finalmente, cada aduzir que para operar com ampla eficácia, nos tempos do
perfil que se lhe avocam os pósteros, é essencial que a Constituição seja
legítima e justa. Vale dizer, que nasça da vontade do povo e promova a
igualdade de participação no convívio social.
Assim, a Constituição legítima e justa é um poderoso instrumento de promoção
humana, contribuindo de modo indelével para que as pessoas consigam viver
com dignidade e paz de consciência.
CONSTITUIÇÃO: ESTABILIDADE E LEGITIMIDADE
Na Constituição encontram-se as normas básicas que compõem a estrutura
jurídica, política, social e econômica de um país. Importa, pois, que ela seja
mais estável do que as demais leis. Por isso mesmo, é recomendável um
acentuado rigor no processo destinado à eventual reforma, Que se plasma por
meio de emendas constitucionais. Serve de exemplo, nesse particular, a atual
Carta Magna brasileira, apontada como "rígida" no que tange a mutabilidade.
A estabilidade confere prestígio e credibilidade à Constituição. Se esta é
transitória, todo o ordenamento jurídico padece do mesmo mal da volubilidade
política; o casuísmo legal torna-se expediente rotineiro e a própria Carta
altamente maleável aos caprichos das classes dominantes.
Esse cuidado, porém, não significa que o legislador constituinte deva ignorar a
validade de se conciliar o princípio da supremacia do texto constitucional com o
princípio da necessidade de alteração das regras jurídicas. Afinal, o ideal de
perenidade da lei é próprio do reacionarismo mais abominável, que torna
imutáveis as relações sociais. Essa ideologia obsoleta, mantenedora do "status
quo", urge ser amplamente rejeitada, porquanto, no dizer de João Baptista
HERKENHOFF, "se a lei, que conserva, é conservada, estreita-se, por meio da
lei, a possibilidade de mudança" (Como Participar da Constituinte, Col. Fazer,
SP, Vozes, 1986). Ora, para que a Constituição contemple a evolução
societária ou se lhe antecipe, sem prejuízo de elementar e razoável
durabilidade, a Constituição há de transpirar legitimidade. Ou seja, os valores e
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as aspirações de um povo devem encontrar ressonância no âmago do texto
constitucional. E mais, é imprescindível que a população não só participe da
sua feitura (processo constituinte), mas também mantenha permanente
vigilância que assegure sua aplicabilidade.
Destarte, existe uma íntima relação entre a estabilidade ideal da Constituição e
a origem de sua elaboração. Se a Carta Política não reverenciou o povo, ela se
torna vulnerável e instável. Se o povo, por qualquer razão, permaneceu à
margem do processo constituinte, ele não sintoniza com o documento que rege
a Nação, deixando de lutar pelo seu cumprimento, inclusive pelos dispositivos
que lhe beneficiem.
E justamente onde o povo deixa de influir na fase antecedente à aprovação do
Estatuto Fundamental - votando mal, sendo traído pelo mau uso do mandato
parlamentar ou não acompanhando organizadamente os desdobramentos -, o
desrespeito. Essa propensão é ainda maior quando da ocorrência nefanda,
constatada com certa freqüência, da Constituição imposta pelo poder arbitrário,
à revelia da população.
Embora no século XX a existência de uma Constituição esteja associada com a
imagem de governo democrático, a deturpação da teoria constitucionalista
permitiu rotular-se de Carta Magna um documento assim travestido,
independentemente, as falsas Constituições, procurando-se designá-las
diferentemente das verdadeiras.
Diante do que, as Constituições são classificadas, quanto à origem, em
promulgadas e outorgadas.
É promulgada aquela que resulta de assembléia popular, eleita para exercer a
atividade constituinte. É produto da vontade do povo, que se faz conhecer na
boca das urnas, através de procedimento efetivamente livre, claro e
inequívoco.
Já a Carta outorgada é aquela que emana de um indivíduo ou de um grupo que
não recebeu, diretamente do povo, o poder de exercer a função constituinte.
Ela não obedece à regras, desconsiderando o processo regular de consulta
prévia à população, pois é expressão do arbítrio. Às vezes, ela até chega a se
identificar parcialmente com os interesses do povo, desde que esses coincidam
coma vontade do ditador. Fique claro, porém, que o documento outorgado é
ilegítimo por sua origem e injusto por seus objetivos, não podendo ser
confundido com uma Constituição autêntica.
Resta, ainda, considerando os primeiros destinatários deste estudo, esclarecer
que nos países organizados sob a forma de Federação por exemplo, o Brasil -
ocorre uma distribuição do poder político entre as várias unidades territoriais,
que possuem cada qual competências próprias ou concorrentes. Essas
unidades são denominadas de Províncias ou de Estados-Membros, conforme a
tradição de cada país. No caso brasileiro, a divisão político-administrativa da
República se dá através de Estados membros, que possuem a característica
de se auto-organizarem por meios de Constituições locais.
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Assim, nos Estados Federais existe a Constituição Federal e Constituições
Estaduais (ou Províncias). Naturalmente, a Constituição Federal figura a cima
das Estaduais, inclusive delimitando o alcance do poder que cabe à União
(órbita federal) e o que se reserva aos Estados-Membros (órbita estadual).
Nesse contexto, só o Estado Federal detém a soberania; às unidades federais
se confere, tão somente, autonomia regional ("poder residual ou
remanescente") - cuja dimensão é variável de país para país.
Registre-se, por derradeiro, que os Municípios não têm uma Constituição
propriamente dita, regendo-se através dassendo seguido
detalhadamente.
Para Descartes, portanto, só é real o que através de uma análise minuciosa
puder ser tido como tal. Na frase de Max Planck; “O real da ciência é o que se
pode medir!”.
Contudo, muitos viram em Descartes um idealista, e influenciados por ele,
conceberam a precedência e supremacia do espírito sobre a matéria. Em
varias obras o próprio filósofo deixa clara essa idéia. “Penso logo existo”.
Constatamos que existimos, não pelo que temos de material, nosso corpo, mas
pelo que temos de imaterial,nosso pensamento. O pensamento é que se
encontra como essência do homem. Sem ele, o ser é apenas um corpo como
outro qualquer. Entretanto, como afirma Durant: “Descartes, contudo, ofereceu
um antídoto para o idealismo – a concepção de um mundo objetivo
,completamente mecânico . Sua tentativa para compreender as operações
orgânicas bem como as inorgânicas, em termos de mecânica, deu um impulso
ousado, porem frutífero ‘a biologia e fisiologia, e sua análise mecânica das
sensações, da imaginação da memória e da volição tornou-se uma grande
fonte da psicologia moderna.
Descartes foi realmente controverso. Embora sua filosofia tenha sido, e seja
extremamente influente, nem de longe o pensador foi bem acolhido em sua
época. Recebeu críticas da Igreja e das universidades, de Gassendi e Hobbes.
Contudo, em1649, o pensador recebeu calorosos e insistentes convites da
Rainha Cristina da Suécia, para que fosse lhe ensinar filosofia. Saiu de
Amsterdã para Estolcomo em setembro daquele ano, tendo sido recebido com
honrarias de gênio na Escandinávia. Ao longo dos anos, o filósofo adquirira o
hábito de acordar tarde, todavia, a Rainha queria ter aulas com ele três vezes
por semana, às cinco horas da manha. Durante dois meses de um inverno
intenso, o pensador acordou durante a madrugada gelada, honrando seu
professorado. No primeiro dia do mês de fevereiro de 1650, Descartes ficou
resfriado. Morreu dez dias depois, longe da França, com pneumonia.
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“O dicionário da Academia Francesa,em 1694, definia filosofo, como aquele
que se dedica a trabalhos de pesquisa relacionados ‘as varias ciências e
procura determinar as causas e princípios delas, a partir de seus efeitos”.
(Durant)
Descartes não só se enquadrava perfeitamente nesta definição, como ajudou
a construir tal conceito. Se suas concepções particulares tornaram-se
obsoletas, suas idéias gerais permanecem vivas no cerne paradigmático que
norteia nossa ciência e, portanto, nossa cultura. “(...) no século XXVIII quase
nada ficou desse sistema outrora vitorioso, salvo sua tentativa de reduzir o
mundo exterior a um mecanismo que obedecia ‘as leis da física e da química.
Toda nova descoberta cientifica parecia apoiar esse mecanicismo cartesiano”.
(Durant)
A conquista e a colonização da América e do Brasil
O HOMEM NA AMÉRICA
A ORIGEM DO HOMEM AMERICANO
O continente que hoje chamamos de América começou a ser povoado há
milhares de anos. Estudiosos falam em 30.000, 50.000 ou até 60.000
anos atrás. Quanto mais retrocedemos no tempo, mais raros os vestígios.
Dos povos mais antigos, os arqueólogos encontraram restos de carvão,
objetos de pedra, desenhos e pinturas em cavernas e partes de
esqueletos. Povos que viveram mais recentemente deixaram grandes
obras: pirâmides, templos, cidades. Alguns, como os maias e os astecas,
conheceram a escrita e deixaram documentos que continuam sendo
estudados.
Hoje, os pesquisadores admitem que os primeiros habitantes destas
terras vieramda Ásia, hipótese que pode ser comprovada pela grande
semelhança física entre índios e os mongóis.
A teoria mais aceita é a de que os primitivos habitantes vieram a pé, pelo
Estreito de Behring, no noroeste da América do Norte, na glaciação de
62.000 anos atrás. Outros afirmam que eles vieram pelas ilhas da
Polinésia,em pequenos barcos e desembarcaram em diferentes pontos;
depois teriam se espalhado.
Conclui-se, então, que há várias hipóteses quanto a origem do homem na
América:
- a asiática - o indígena teria vindo da Ásia, atravessando o Estreito de
Behring;
- a australiana - ele seria procedente do continente australiano;
- a malaio-polinésica - ele seria originário da Ilhas da Oceania.
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A idade do americano
Até o fim da década de 1960, acreditava-se que o homem americano
deveria ter entre 12.000 e 13.000 anos de idade. Mas pesquisas
realizadas nas cavernas de Bluefish, Canadá, dataram lascas de ossos
de mamute, provavelmente deixadas por seres humanos, em pelo menos
24.000 anos atrás. Mais tarde, em Monte-Verde, Chile, arqueólogos
descobriram lareiras de argila, instrumentos de pedra, utensílios de osso
e restos de abrigo de madeira com idade aproximada de 33.000 anos.
Os vestígios mais antigos da presença humana na América, no entanto,
foram encontrados no Brasil, perto de São Raimundo Nonato, Piauí.
Nessa região, uma equipe de arqueólogos brasileiros e franceses
liderados por Niède Guidon descobriu fragmentos de machados, facas,
raspadores, restos de cerâmica, cuja datação remonta a 48.000 anos,
permitindo a reconstrução da vida humana de grupos de caçadores que
usavam o fogo para cozinhar, defender-se e atacar inimigos. Os fósseis
de plantas revelam que a região era coberta por densa floresta tropical e
que aí viviam cavalos, uma espécie de camelo, o tigre-dentes-de-sabre, a
preguiça, o tatu gigante, lagartos e capivaras, alimentos abundante do
homem pré-histórico brasileiro.
Vestígios arqueológicos brasileiros
A escrita surgiu por volta de 4.000 a.C., mas não foi conhecida por todos
os povos ao mesmo tempo, por isso o período pré-histórico varia de país
para país. A pré-história no Brasil engloba todo o período anterior a 1500,
ano da chegada dos portugueses e início da história do Brasil.
Certos vestígios arqueológicos chamaram a atenção dos primeiros
viajantes. Eram montes de conchas com até 30 metros de altura, com
esqueletos e objetos no interior; potes de barro enterrados, lisos ou
decorados, os maiores geralmente contendo esqueletos; utensílios de
pedra lascada e polida: machados, pilões, bolas, pontas de flecha e
outros; pinturas de animais e sinais diversos em paredões rochosos ao ar
livre ou no interior de grutas e cavernas.
O mundo americano
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No continente americano várias culturas indígenas se desenvolveram
isoladamente, sem manter contato com as civilizações da Europa, da
África e da Ásia. A América foi povoada muito tempo depois dos destes
continentes. Apesar disso, a riqueza lingüística da América não teve igual
em outros lugares do mundo. Estima-se que, antes da chegada dos
europeus, havia entre 150 e 200 famílias lingüísticas no continente
americano.
Os povos pré-colombianos
Em todo o continente americano, de norte a sul, vivia grande número de
povos, que receberam a designação genérica de povos pré-colombianos.
Entre esses povos destacam-se:
- apaches, comanches, iroqueses, na região dos Estados Unidos;
- astecas, na região do México;
os maias ocuparam a península de Iucatã, na América Central, e
expandiram sua civilização pelos territórios do México, Guatemala, El
Salvador e Honduras atual;
- chibchas, aruaques, jês, caribes, tupis, guaranis, araucanos na América
do Sul.
As culturas das civilizações pré-colombianas
Segundo cálculos difíceis de confirmar, viviam na América cerca de 40
milhões de pessoas quando Colombo desembarcou na ilha de Guanaani
em 1492. Calcula-se que falavam 2.000 línguas, pois a maioria vivia em
pequenas aldeias isoladas, apesar da existência de grandes impérios,
com cidades maioresque Lisboa e Madri.
Quase todos esses povos viviam em comunidade, em que os meios de
produção eram propriedade coletiva. Todos dividiam as tarefas de acordo
com a idade e o sexo. Cada grupo tinha seu chefe, geralmente o mais
valente ou mais sábio ou descendente do fundador. Pais ou pessoas mais
velhas educavam as crianças.
A civilização dos olmecas
Por volta de 1500 a.C., desenvolvia-se a civilização agrícola dos olmecas,
com influência em toda a América Central.
Colhiam milho três vezes ao ano. Tinham reservatórios de água
construídos com pedras, trazidas de até 150 quilômetros de distância.
Faziam canoas, roupas, esteiras, cordas, bolas de borracha e vasilhas de
barro. Exerciam trocas com povos distantes, adquirindo penas, peles e
pedrarias, que transformavam em ornamento e objetos de arte.
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Sacerdotes dirigiam as comunidades e viviam de impostos pagos por
camponeses e artesãos. O principal deus era o Jaguar, protetor da terra,
da chuva e da agricultura. Os olmecas deixaram para outras civilizações
uma avançada técnica agrícola, um sistema de escrita e numeração, um
calendário com ano religiosos de 260 dias e ano civil de 365 dias; uma
religião organizada; um jogo de bola; a arte de lapidar a pedra; e uma
arquitetura religiosa.
Os teotihuacanos
Sucessores dos olmecas, os teotihuacanos estabeleceram-se no fértil
Vale do México, de clima temperado, com caça e pesca abundantes.
Ergueram-se grandes construções, especialmente templos, faziam
cerâmica colorida e jogavam bola. O auge da civilização se deu a partir de
700 a.C., época da fundação de Roma, e durou até aproximado a 600
d.C.
Suas primeiras casas eram de barro, palha e tronco. No início faziam
queimadas nas lavouras. Desenvolveram dois sistemas para enfrentar as
secas: a irrigação e o sistema de chinampas, de plantação sobre esteiras
de varas flutuantes, colocadas no lago de Texcoco. Seus centros
cerimoniais também se transformaram em centros religiosos, políticos e
comerciais, que se impuseram sobre os vizinhos.
Doenças, rebeliões ou mudanças climáticas são hipóteses levantadas
para explicar o desaparecimento da civilização teotihuacana. Suas
cidades também podem ter sido atacadas e saqueadas. Ainda se observa
o vestígio de suas realizações nas ruínas de Teotihuacán: a Pirâmide do
Sol, com cinco terraços superpostos, com 65 metros de altura e 225 de
lado; a Pirâmide da Lua; o Palácio de Quetzalcoatl, com suas belas
esculturas; a Avenida dos Mortos; as pinturas do Palácio dos Caracóis
Emplumados.
A civilização maia
Enquanto desaparecia a civilização dos teotihuacanos, florescia a dos
maias, no século IV d.C., na Península do Iucatã, onde hoje ficam o
México, Belize e Guatemala. Não formaram um império unificado, mas
sim diversos centros, cada um com seu desenvolvimento, apogeu e
declínio. Com os maias, atingem o auge os Estados teocráticos, em que a
autoridade máxima e o poder vêm dos deuses. Isoladas da influência
européia, suas cidades cresceram e a cultura atingiu alto estágio. A
decadência veio no século XIII, bem antes da invasão espanhola, no final
do século XV.
Os maias desenvolveram uma das civilizações mais avançadas do
continente americano. Conheciam a agricultura e a cerâmica desde
aproximadamente 1000 a.C. Utilizavam a escrita hieroglífica e, notáveis
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observadores dos astros, desenvolveram um calendário mais perfeito do
que o romano. Além disso, foram grandes construtores e deixaram uma
arquitetura monumental em pedra, que até hoje existe.
A sociedade estava dividida em três classes sociais, às quais o indivíduo
pertencia desde o nascimento.
Primeiro, a família real, incluindo ocupantes dos principais postos do
governo e comerciantes; em seguida, servidores do Estado, como os
dirigentes das cerimônias e responsáveis pela defesa e cobrança de
impostos, e trabalhadores especializados, inclusive pintores e músicos; na
camada mais baixa, os braçais e agricultores. A grandiosidade da
civilização foi construída com o trabalho de um povo controlado e
disciplinado até o sacrifício.
Os maias eram governados por um rei hereditário juntamente com um
Conselho de Estado composto pelos principais chefes e sacerdotes da
cidade. O rei desempenhava funções militares e políticas, recolhia os im-
postos e designava os administradores das aldeias. A economia dos
maias se baseava na produção de milho, algodão e cacau.
Os maias tinham sistema numérico vigesimal, isto é, agrupavam os
números em vintena em vez de dezena. Inventaram o zero, o que lhes
per-mitia fazer contas complicadas. Calcularam a duração do ano, com
diferença de segundos em relação aos cálculos modernos. Calcularam a
duração da rotação de Vênus, as fases da Lua; previram eclipses solares.
Realizaram congressos para estudar seus avanços em Matemática e
Astronomia. Não possuíam alfabeto. A escrita, até hoje quase
indecifrável, baseava-se na representação de objetos e idéias.
Na arquitetura, chegaram a usar o arco falso, que consiste unir duas
paredes por meio de pedras que avançam uma sobre as outras.
Ergueram colunas com esculturas e estátuas cheias de inscrições e
enfeites. Algumas de suas importantes cidades foram Tulum, à beira-mar
e Chichén Itzá, com a majestosa pirâmide Uxmal.
A religião se assemelhava à de outros povos da região.Os maias
acreditavam que o destino do homem era regido pelos deuses. Itzamna,
senhor do céu, era o principal deus. Mas também havia o deus do Sol, da
Lua, da chuva, do vento, da vida e da morte. Cultuavam ainda divindades
ligadas à caça, e à agricultura, como o deus do milho. Ofereciam às
divindades diversos alimentos, sacrifícios animais e humanos, em
cerimônias que incluíam danças e representações teatrais.
Os Astecas
Em 1345, os astecas chegaram ao lago Texcoco, no Vale do México que
está rodeado de montanhas e a 2000 metros acima do nível do mar.
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Descendentes dos mexicas, ficaram conhecidos como astecas por causa
provavelmente de seu local de origem, a ilha de Aztlán ou Aztaclán. De lá
saíram com uma promessa do deus Colibri Azul: o lugar onde
encontrassem uma águia com uma serpente no bico, pousada num cacto
sobre uma rocha, seria a terra prometida. Viajaram quase dois séculos
até encontrarem a águia no lago Texcoco. Deram ao lugar o nome de
Tenochtitlán, Rocha de Cactos. Outras tribos vindas do norte haviam
destruído o império tolteca, facilitando a ocupação asteca. Em menos de
duzentos anos, a tribo de caçadores e agricultores tornou-se dona de um
império com 500 cidades e 15 milhões de habitantes. A capital
Tenochtitlán, era maior que qualquer cidade européia da época.
Nos primeiros tempos, os astecas se alimentavam de rãs e pássaros; e
pagavam impostos aos tepanecas, povo para o qual lutavam como
mercenários. No início do século XV, uniram-se às cidades de Texcoco e
Tlacopán para se libertar dos tepanecas. Em 1440, sob o reinado de
Montezuma I, começaram a construção de grandes aquedutos, para
trazer água do continente para Tenochtitlán, que ficava numa ilha. Parte
do fundo do lago transformou-se em terras cultiváveis. Novos territórios
foram conquistados e eles passaram a recolher muito ouro em pó, cacau
e algodão como tributos. O império chegou às costas do Pacífico.
Com Montezuma II, os astecas tornaram-se senhores absolutos da
região. Mas, infelizmente, em 1521, foram derrotados pelos espanhóis
que possuíam armas de fogo.
A principal atividade econômica foi a agricultura. As terras pertenciam aos
nobres e eram cultivadas por escravos ou pessoas que as tomavam
emprestadas. Do milho, alimento básico, extraíam a farinha,com que
faziam panquecas recheadas de girinos, lagartas ou peixes. Do cacau
extraíam uma bebida forte, xocoalt. Cultivavam feijão, tomate, pimenta,
abóbora, algodão e tabaco. Criavam coelho, cachorro e peru, servidos em
refeições importantes. Os nobres comiam tartarugas e caranguejos.
Todos se serviam com as mãos.
Os astecas também tiveram o comércio desenvolvido. O mercado de
Tlatelolco recebia milhares de pessoas diariamente. Havia de tudo:
legumes, verduras, ervas medicinais, machados de cobre, panela,
plumas, jóias e até escravos. A semente de cacau era usada como
moeda e simbolizava riqueza e poder. De outras regiões, importavam
tecidos, papel, borracha, tabaco, peles, cerâmica, ouro. Vendiam
ornamentos de cristal, botoque labial, pele de coelho, ervas, agulhas,
roupas.
Povo guerreiro, que conquistou e dominou os vizinhos, os astecas
organizaram uma sociedade dirigida por militares. O rei comandava os
exércitos e dividia o poder com a mulher-serpente, que era um homem e
exercia as funções de chefe do governo: respondia pelas leis, impostos,
construções e alimentos. Os militares dividiam-se em três categorias: a
primeira formava um Conselho de Estado; a segunda, com oficiais
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graduados, atuava como juízes e generais; na terceira estavam os menos
graduados, responsáveis pela segurança da cidade. Artesãos e
comerciantes transmitiam suas profissões aos filhos. Camponeses e
escravos formavam as camadas sociais mais baixas. Os escravos eram
prisioneiros de guerra, criminosos ou pessoas vendidas pela família.
Pessoas sem terras tornavam-se escravos voluntários, para se manterem.
Uma forma de ascender era a bravura na guerra. O rei escolhia os
melhores guerreiros como oficiais e lhes dava terras, roupas e jóias.
Os astecas valorizavam a educação. Havia dois tipos de escolas: a dos
nobres, calmecac; e a dos filhos do povo, telpochcalli. Alguns, geralmente
nobres, aprendiam religião e tornavam-se sacerdotes. Dormiam no chão,
jejuavam e levantavam-se várias vezes à noite para rezar. Aprendiam a
ler e a escrever os seus sinais, prever eclipses e secas e a fazer remédios
com ervas. Aos 20 anos, saíam do calmecac para casar, trabalhar com
escribas do rei e dirigir cerimônias religiosas.
Os pobres treinavam para guerreiros. Aprendiam a obedecer, cavando
canais e varrendo os templos. Exercitavam-se com espadas e escudos de
madeira. Levavam comida aos guerreiros nos campos de batalha.
Aprendiam as leis das cidades, canções e danças religiosas. O jovem
guerreiro que capturasse três inimigos se tornava um mestre de golpes.
A mulher podia casar aos 16 anos e o homem aos 20. As guerras
causavam baixas na população masculina e praticava-se a poligamia,
mas a maioria dos homens tinha uma só mulher.
Dentre os muitos deuses adorados, destacavam-se: Colibri Azul, deus do
sol do meio-dia, e a mãe dele, Coaticlue; Tezcatlipoca, deus da noite.
Abandonada a condição de caçadores nômades e adotada a agricultura,
os astecas passaram a adorar divindades de outros povos: Quetzacoatl,
deus da sabedoria; Tlaloc, da chuva; e a deusa Terra. Havia ainda os
deuses de cada vila ou profissão. Ao lado do templo do Colibri Azul em
Tenochtitlán, com 30 metros de altura, foi construído outro para as
divindades que iam surgindo. A cada 52 anos construíam um templo novo
sobre o anterior, mas os espanhóis destruíram quase tudo.
Os astecas ofereciam sacrifícios humanos aos deuses. No festi-val do
deus da primavera, sacrificavam um jovem. Os sacerdotes ensinavam que
a terra precisava ser alimentada com sangue humano. Para Tlaloc,
ofereciam sacrifício de crianças no alto de uma montanha. Acreditavam
que, quanto mais eles chorassem, mais chuvas Tlaloc enviaria.
Nas ciências, os astecas se destacaram por fabricar um papel, batendo a
casca da figueira brava até transformar em lâminas, que colocavam em
forma de sanfona. Usavam a escrita pictórica, isto é, desenhavam objetos
ou figuras (glifos): uma pessoa falando era representada com tiras de
papel caindo da boca; um semicírculo de onde saíam estrelas significava
noite; etc. Havia também a escrita hieroglífica, baseada em símbolos e
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sons. Por exemplo, uma árvore com dentes no tronco significava a cidade
de Quahtitlán: árvore era quaitl e dente, tlantli; as duas palavras juntas
formavam o nome da cidade. Com esta escrita, os astecas produziam até
poemas.
Os curandeiros recebiam dos sacerdotes os conhecimentos sobre
remédios vegetais. Praticavam sangrias, tratavam feridas, cáries, doenças
da pele, olhos e ouvidos; faziam massagens, inalações.
Na construção, desenvolveram técnicas avançadas, como palanques e
rampas de transporte, maquetes, represas, obras de irrigação. Seus
templos eram verdadeiros monumentos.
Os sacerdotes observavam os astros e eram consultados sobre os mais
variados assuntos, desde o nome a dar aos filhos até viagens e negócios.
O rei se aconselhava sobre guerras ou mudanças de clima.
Os ourives usavam moldes de argila, enchidos com cera, cobertos com
mais argila; derretiam a cera, que escoria por um orifício; derramavam o
ouro derretido; quando esfriava, quebravam o molde e estava pronta a
peça. Os espanhóis derreteram todas as que encontraram. Poucas se
salvaram. Outras têm sido encontradas em recentes pesquisas
arquelógicas.
Os incas, os filhos do sol
A civilização inca desenvolveu-se na América do Sul, ao longo da
Cordilheira dos Andes, em terras dos atuais Equador, Peru, parte do Chile
e Bolívia, que se estendiam por 4.000 quilômetros, com 650 de largura.
Duas estradas, uma no litoral e outra nas montanhas, cortavam o território
de norte a sul, interligadas por transversais de leste a oeste.
A palavra inca pode ser traduzida por chefe, soberano ou nobre. Em 1200
a.C., populações andinas já plantavam milho, faziam roupas e cerâmica.
Várias civiizações foram se desenvolvendo, como a chavin, tiahuanaco, a
mochica. Até 1000 d.C. , o Peru era habitado por tribos guerreiras. A
lenda mais conhecida sobre as origens dos incas conta que eles se
estabeleceram em Cuzco, no século XII, chefiados por Manco Capac, o
primeiro inca (imperador). No século XV, Roca passou a ser o Sapa Inca
(Inca Supremo). Pachacuti Inca Yupanqui (1438-1471) conquistou toda a
zona montanhosa e Topa Inca Yupanqui (1471-1493) conquistou o litoral
e ilhas do Pacífico. Atahualpa estava no poder quando os espanhóis
derrotaram os incas: foi executado em 1533.
Cada um tinha um lugar na sociedade. O Sapa Inca, o rei, era adorado
como um deus, descendente do sol. A seu lado ficava a rainha, Coya.
Abaixo vinham os nobres, parentes do rei e os escolhidos por ele para
postos de comando, como governadores de províncias, chefes militares,
sábios, juízes e sacerdotes. A camada seguinte incluía funcionários
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públicos e trabalhadores especializados, marceneiros, ourives, pedreiros.
E, por último, os agricultores.
As escolas recebiam apenas os filhos da nobreza que aprendiam leis,
religião, arte da guerra e outros conhecimentos. As crianças pobres eram
educadas pelos pais.
O Sapa Inca tinha o poder absoluto sobre a vida dos habitantes, mas não
deixava faltar comida, atendia as necessidades urgentes e controlava o
trabalho. Dava atenção especial a velhos, doentes e viúvas.
O palácio principal, com grandes salões e pátios internos, ficava em
Cuzco. Ao lado ficava a casa das Virgens do Sol, escolhidas para
trabalhar nos rituais. Cada grupo de dez pessoas tinha um chefe; dez
chefes um capataz; dez capatazes, um supervisor; e dez supervisores se
subordinavam ao curaca (o mais velho), geralmente nobre, que obedecia
aogovernador. Havia leis que controlavam o tempo de semear, colher e até
os dias de ir ao mercado ou divertir-se.
Um grupo de famílias com os mesmos antepassados se chamava ayllu.
Elas mantinham vínculos: totêmico (antepassado comum), sanguíneo
(eram parentes), territorial (mesma terra) e econômico (trabalhavam
coletivamente. Dividiam as terras em três partes: a do Sol, a da Lua e a
do povo. O governo recolhia dois terços da produção e estocava para os
períodos de escassez.
O ayllu sustentou o desenvolvimento do império. Responsabilizava-se
pelo trabalho nas três terras, obras públicas, serviço militar e previdência
social, através de grandes armazéns onde guardavam roupas e gêneros
para qualquer eventualidade.
Os incas baseavam suas atividades no trabalho coletivo. Toda pessoa
válida trabalhava. O governo assegurava terra para todos.
A economia inca baseava-se na agricultura, desenvolvida especialmente
na zona montanhosa dos Andes. Nas florestas, colhiam frutos e caçavam
animais, cujas peles curtiam. No litoral viviam mais da pesca.
Calcula-se que a população inca fosse mais numerosa que a do atual
Peru, isto é, mais de 20 milhões de habitantes. Todo pedaço de terra era
cultivado, para não faltar alimento. Lavouras estendiam-se até pelas
encostas, com o sistema de terraços andinos: degraus com parede de
pedra com patamares de terra vegetal. A montanha parecia uma grande
escada de patamares verdes quando as plantas cresciam. Na parte alta
cultivavam batata, coca e outros produtos resistentes ao frio; nas zonas
intermediárias, feijão e milho; na parte baixa, pimenta e frutas, como o
abacate. Também selecionavam os melhores produtos. Cultivavam cerca
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de vinte espécies de milho e quarenta variedades de batata. Adaptavam a
agricultura às estações, que determinavam observando os astros.
Os incas usavam ainda dois recursos para melhorar a produtividade da
terra: a irrigação, com tanques e canais; e a adubação, com esterco de
lhama e de pássaros. Os incas foram o único povo pré-colombiano a criar
gado. Domesticaram a lhama, que servia para transporte, fornecia couro,
carne e esterco. Criavam a alpaca e a vicunha, das quais obtinham lã de
ótima qualidade.
Para atravessar rios, construíam balsas; jangadas e barcos de junco
cruzavam lagos e a costa marítima. Na beira das estradas, que contavam
com pontes, erguiam albergues para guardar alimentos, roupas, armas,
para os viajantes. Um correio levava mensagens a toda parte: o chasqui
(mensageiro) percorria um trecho, entregava a mensagem ao colega
seguinte e descansava numa cabana, esperando a próxima encomenda.
A história dos incas chegou até nós através de testemunhos orais de
poetas e sacerdotes, pois eles não desenvolveram nenhuma escrita. Mas
as técnicas que desenvolveram para suprir suas necessidades ainda hoje
são consideradas avançadas. Para contar, elaboraram um sistema de
numeração decimal chamado quipu. As informações eram registradas em
cordões de formas diferentes e com diversos nós, presos a um cordão
principal. Identificavam a informação pela cor do cordão, número e
posição dos nós.
Trabalharam barro, pedra, madeira, tecido, cobre, prata e ouro, que
moldavam pelo método da cera perdida, como os astecas. No campo da
medicina, usavam ervas e a sangria. Há informações de que faziam
trepanação, cirurgia com perfuração do crânio.
As obras arquitetônicas deixadas pelos incas causam admiração - os
terraços para plantio; os palácios, templos e fortalezas, construídos em
cidades como Machu Picchu. Eram construções adequadas a uma região
sujeita a terremotos. Os incas trabalhavam os blocos de pedra, às vezes
enormes, de duas maneiras: ajustando um a um os irregulares ou usando
blocos retangulares ajustados e encaixados. Milhares de pessoas deviam
trabalhar nas grandes obras. Calcula-se que 20.000 operários ergueram a
fortaleza de Sacsahuamán, com blocos de pedra da altura de dois ou
mais homens. Em Ollantaytambo, pode-se admirar os paredões de
pedras maciças de 3 metros de altura.
Para alguns, os incas foram socialistas, pois a propriedade por era
comum, todos produziam e todos consumiam. Para outros era controlado
um governo despótico, com uma sociedade dividida em classes
rigidamente separadas, em que uns poucos mandavam e a maioria
obedecia.
Os Esquimós
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A arte dos esquimós, que vivem em pequenos grupos nas vastas regiões
árticas, do Alasca à Groenlândia, compreende máscaras rituais em
madeira, esculturas e gravuras em osso de baleia, de caribu e em marfim
de dente de morso; as gravuras sobre plaquetas de marfim são
destinadas a registrar algum fato importante ou servem como veículo de
comunicação com pessoas que não falam a mesma língua. Nos últimos
anos, a influência sobretudo dos canadenses determinou a decadência da
arte esquimó.
Tribos das Planícies (centro dos E.U.A. e sul do Canadá)
Os numerosos grupos nômades foram absorvidos pela civilização branca.
Praticavam a cestaria e a cerâmica, trabalhavam a madeira (arcos e
flechas). A pele de animal, que substituía o tecido, era usada na
confecção de mocassins e escudos de guerra, ornados com cenas
pintadas.
Um costume geralmente praticado pelos índios americanos é o da
antropofagia, pois acreditavam que devorando os que aprisionavam
durante os combates, adquiriam suas qualidades.
Os índios peles-vermelhas, da América do Norte, escalpavam o vencido;
para obter o escalpo, isto é, a pele do crânio, o índio fazia um corte em
volta da cabeça do prisioneiro e puxava o cabelo com força. O escalpado
sem o couro cabeludo, ficava horrível, mas nem sempre morria na hora.
Pueblos
Os Navajo, os Uta, os Zuñi, os Hopi (entre o norte do México e as
montanhas rochosas) moravam em cavernas cavadas em penedos altos,
cujo único acesso era uma estreita escadaria talhada na rocha; outros
erguiam suas casas dentro de um muro alto, feito de adobo, e ligadas a
ele; para penetrar num povoado ou pueblo, como diziam os espanhóis,
era preciso vencer o muro com escadas; no centro do pueblo, havia uma
área circular cavada no subsolo e coberta (kiva), onde se realizavam
cerimônias. Essas tribos preservavam as artes do passado: cestaria e
cerâmica, hoje amplamente comercializadas.
A CHEGADA DOS ESPANHÓIS:
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CORTEZ E PIZARRO
Viajar pelo Oceano Atlântico no século XV, quando o mundo conhecido ia
pouco além da Europa, encerrava mais riscos que um vôo espacial nos
dias de hoje. Pouco se sabia do Atlântico, também chamado Mar
Tenebroso. Corriam informações de que monstros e plantas diabólicas o
povoavam; que suas águas ferviam em certos pontos; que, em outros,
elas desabavam em cachoeiras gigantescas.
Portugueses e espanhóis foram os primeiros a enfrentar essa traves-sia,
mas não os primeiros a pisar em solo americano. Quinhentos anos antes
os vikings desembarcaram em terras do atual Canadá. Mas ainda não
havia o capitalismo, nem interesse na expansão comercial. A conquista
da América só viria depois da descoberta de Colombo. Se não fosse ele,
seria outro, pois a Europa havia mudado e o capitalismo nascente
buscava novas fontes de lucro. A América seria uma delas.
O objetivo dos expansionistas era chegar ao Oriente, para comprar as
mercadorias na fonte, sem intermediação dos árabes. Mas faziam
caminhos diferentes: os portugueses contornando o sul da África; os
espanhóis, indo rumo ao Ocidente, para dar volta ao mundo. Assim a
serviço do rei da Espanha, Colombo chegou antes dos portugueses a
terras da América, desembarcando na Ilha de Guanaani, hoje San
Salvador, em 12 de outubro de 1492. Tinha viajado dois mesesem três
pequenas embarcações: Santa Maria, Pinta e Nina.
Chega o invasor Cortez
No início do século XVI, várias expedições haviam partido de Cuba, já
dominada pelos espanhóis, para explorar o continente. A mais importan te
comandada por Hernán Cortez, destrui o império asteca.
Em 1519, alguns incidentes intrigaram os mexicas. Um raio atingiu um
templo; um cometa atravessou o céu. Era o ano em que o rei Quetzalcoatl
deveria voltar à Terra. Quando Cortez desembarcou em Vera Cruz, no
México, os astecas pensaram que eram os deuses, montados em
grandes veados. Em vez de lutar, o imperador Montezuma enviou
emissários com presentes e pedidos para que Cortez se retirasse.
Cortez vinha para conquistar o império e exibiu forças desconhecidas:
cavalos e canhões. Avançou até Tenochtitlán. Surpreso, Montezuma
ainda ofereceu presentes e hospedou a todos em seus palácios. A
população se aglomerou para ver os homens brancos, barbudos, a
cavalo, com armaduras e elmos. Os espanhóis, oriundos de pequenas
vilas, atemorizaram-se diante de tanta gente, numa cidade seis ou sete
vezes maior que Toledo, a maior da Espanha. Prenderam Montezuma e o
obrigaram a mostrar os mapas da terra e os livros dos impostos. Tinham
pressa de encontrar as lendárias riquezas dos astecas.
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Um incidente precipitou o confronto. Cortez foi a Vera Cruz combater uma
força vinda de Cuba para tirar-lhe o comando da expedição. Então seu
substituto em Tenochtitlán, Pedro Alvarado, promoveu uma matança
durante uma festa religiosa. Interessado nos tesouros e diante da reação
dos astecas, Pedro mandou os soldados fechar as portas do templo
principal e iniciar o massacre. O chão do templo se encharcou de sangue
de mais de mil mexicas. Gritos de guerra ecoaram pela cidade.
Voltando a Tenochtitlán, Cortez repreendeu Pedro e tentou convencer
Montezuma a acalmar os súditos. Mas eles já não ouviam o imperador.
Seguindo ordens do seu irmão, Cuitlahuac, lançaram-se ao ataque.
Alcançados fora da cidade, os espanhóis foram derrotados na Noite
Triste, de 30 de junho de 1520. Noite da Vitória para os mexicas.
Tenochtitlán cai
Cortez se refugiou em Tlaxcala, de população inimiga dos astecas. Em
Tenochtitlán , grassou a varíola, trazida pelos espanhóis, doença que os
aste-cas não sabiam combater. Cuitlahuac morreu. O novo imperador
passou a ser Cuauhtémoc (Águia que cai).
Com 650 soldados de infantaria, 194 mosqueteiros, 84 cavaleiros e
milhares de indígenas, Cortez chegou ao centro da cidade e foi repelido.
Então cercou Tenochtitlán e envenenou a água. Milhares de astecas
morreram em 75 dias de fome, sede, doenças e combates. A capital caiu
em 13 de agosto de 1521. Cuauhtémoc sofreu terríveis torturas para
mostrar o lugar dos tesouros. Apesar de lhe queimarem os pés, nada
revelou. Cortez cortou-lhe a cabeça. No ano seguinte, o rei espanhol
reconheceu Cortez como governador e capitão-geral do território
conquistado, a Nova Espanha.
O Fim dos Incas
Dominando América Central e México, os espanhóis se voltaram para a
América do Sul. Na empreitada, destacou-se Francisco Pizarro, militar de
ascendência nobre. Ele submeteu o poderoso império inca depois de
duas tentativas fracassadas (1534 e 1526). A disputa entre os irmãos
Huáscar e Atahualpa pelo trono facilitou a sua ação.
Quando Pizarro chegou à região, em 1532, Atahualpa já havia derrotado
o irmão. Instalado em Cajamarca, tentava controlar o império. Informado
da chegada dos invasores, saiu com a corte e cerca de 30.000 soldados,
aceitando encontrar-se com Pizarro. Mas este seguindo o exemplo de
Cortez, planejava capturar o imperador para dominar seu povo mais
facilmente. Distribui soldados pela cidade a fim de pegar de surpresa o
imperador, que vinha em missão de paz.
Atahualpa chegou à praça principal com a coroa e jóias de ouro e prata,
para aguardar o encontro com os filhos dos deuses. Apareceu junto com
um intérprete, o padre Valverde, erguendo a Bíblia numa das mãos e na
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outra o crucifixo. Apresentando a Bíblia, ordenou ao Sapa Inca que
reconhecesse o deus dos espanhóis como único e verdadeiro Deus; e
que obedecesse ao papa e ao rei de Espanha. Atahualpa pegou a Bíblia e
a deixou cair.
A um grito de Pizarro, os espanhóis atiraram-se sobre a multidão.
Prenderam o imperador e mataram quase todos os acompanhantes. Em
troca da libertação de Atahualpa, Pizarro exigiu um quarto cheio de ouro e
dois cheios de prata.
O império se mobilizou. Estatuetas de deuses e adornos foram derretidos.
De Cuzco veio o maior tesouro: um jardim com árvores, flores e pássaros
em tamanho natural, tudo em ouro e prata. Em alguns meses os
aposentos estavam cheios. Pizarro separou as partes do rei, da Igreja,
dos soldados e a maior, para si. Só a liteira do Inca, seu troféu de general,
pesava 83 quilos de ouro puro.
Depois da partilha, Atahualpa foi condenado à morte. Antes, foi batizado
com o nome de Francisco, o mesmo do conquistador. Teve a cabeça
estraçalhada por um torniquete de ferro.
Pizarro nome ou vários incas ligados a Huáscar, sem nenhum poder, a
fim de dominar mais facilmente o império dividido. A conquista final veio
logo. Em 1533, os espanhóis tomaram Cuzco e Quito; em 1535, fundaram
Lima, nova capital das terras conquistadas. Os domínios se estenderam
até o interior e o sul do continente nos anos seguintes.
As Reações Frente aos Europeus
Entre os astecas havia uma lenda, segundo a qual tinha havido uma
disputa entre o deus benfeitor, Quetzalcoatl, e Tezecatlipoca, “o
deus da noite e da obscuridade gerador da fome e da doença, cujo
alimento era o coração dos homens”.Venceu este último e
Quetzalcoatl, acompanhado de uns poucos guerreiros, se dirigiu então à
costa oriental do México e, depois de despedir-se deles, desapareceu no
mar, dizendo que regressaria, depois de algum tempo, à frente de um
grupo de homens de pele branca e de barbas, para vencer
definitivamente a seus inimigos. Por isso quando os espanhóis chegaram
ao império asteca, muitos de seus habitantes acreditavam que se tratava
do regresso de Quetzalcoatl.
Desta forma, os astecas não opuseram muita resistência aos invasores.
Contudo, houve outros motivos que explicaram o sucesso relativamente
rápido dos espanhóis na sua ação de conquista e domínio dos povos
americanos. Além da superioridade guerreira, pelo uso das armas de fogo
e pelo uso do cavalo, os conquistadores beneficiaram-se da própria
organização político-administrativa dos povos nativos. Os impérios asteca
e inca haviam surgido de dominações: reis dos astecas e incas
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impuseram seu domínio sobre os povos, que habitavam as áreas onde os
espanhóis se localizaram.
Os exércitos dos conquistadores foram fortalecido por estes povos que
viam nos espanhóis eventuais libertadores, dispostos a ajudá-los a sair
destas dominações astecas ou incas. Mais tarde esses povos perceberam
a verdadeira intenção dos espanhóis, mas estes já estavam subjugados.
Outras vezes as autoridades espanholas tomavam o lugar das
autoridades locais e passavam a exercer o mesmo poder que essas
tinham sobre as populações dominadas.
Assim, verificou-se uma situação até certo ponto inusitada: os poderosos
impérios foram mais vulneráveis do que as tribos mais primitivas, ainda
nômades e caçadores, que por ignorarem estruturas mais sofisticadas e
complexas de dominação, ao nível da sua organização política,
ofereceram aos europeus muito mais resistência, embora desordenada e
descontínua.
Nas demais áreas da América, onde não havia ainda povos civilizados, a
conquista do território exigiu, por parte do colonizador,esforços militares
constantes e prolongados.
A civilização européia imposta à América teve por preço o fim de cada
império e povo americano.
AS COLÔNIAS IBÉRICAS
Espanha e Portugal formam a Península Ibérica, portanto colônias
ibéricas são aquelas que pertenciam aos dois países. Nas Américas
ambos trataram de ocupar as terras conquistadas. Países como França,
Holanda e Inglaterra não reconheceram o Tratado de Tordesilhas. Para
garantir seu domínio sobre as colônias ibéricas, Portugal e Espanha
estabeleceram, em cada uma, um governo autoritário, que controlava a
vida da população, uma economia voltada para os interesses das
metrópoles e uma sociedade rigidamente estruturada com ajuda da
religião.
Os espanhóis dividiram suas terras americanas em quatro vice-
reinos:Nova-Espanha, Nova Granada, Peru e Rio da Prata; e quatro
capitanias gerais:Cuba, Guatemala, Venezuela e Chile. Para administrá-
los, o rei nomeava os vice-reis e capitães-gerais. Tinham ajuda das
audiências, tribunais responsáveis pela justiça, religião, forças armadas,
finanças, mineração e comércio. Os cabildos, espécies de câmaras
municipais, controlavam a polícia, fixavam impostos e faziam as leis das
vilas e cidades.
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Igreja e realeza trabalhavam juntos para controlar as colônias. O Papa
concedeu ao rei o direito de administrar os direitos da Igreja na Américas.
Em troca, o rei se comprometeu a ajudar na expansão do catolicismo. A
Igreja atuava em duas frentes principais: as missões, que consistiam em
catequizar os índios, integrando-os aos costumes europeus; e a censura,
que através do Tribunal da Inquisição, instalado no México e no Peru,
julgava os hereges, isto é, acusados de divulgar idéias que a Igreja
considerava erradas.
As colônias de exploração
O sistema colonial definia-se, também, pelo modo como as mercadorias
deveriam ser produzidas ou exploradas. Assim, não se tratava apenas de
produzir para o comércio colonial (...), e isto obrigava as economias
colônias a se organizarem de modo a permitir o funcionamento do
sistema de exploração colonial, o que impunha a adoção de formas de
trabalho compulsório ou na forma limite, o escravismo.
Por outro lado, a produção colonial, dirigida para o mercado externo,
precisava se organizar como produção em larga escala, o que
pressupunha amplos investimentos iniciais. Excluía-se, assim, a
possibilidade de uma produção à base de pequenos proprietários
autônomos, que produzissem sua subsistência, exportando o pequeno
excedente. Isto explica o papel secundário que a economia de
subsistência ocupou na América Colonial.
A agricultura tropical era também altamente especializada, produzindo
todos os gêneros de que a Europa necessitava: tabaco, açúcar, anil,
algodão etc. Daí o tripé em que se assentou a propriedade agrícola
durante todo o período colonial e mesmo após a independência:
latifúndio, monocultura e escravidão.
A essas colônias, surgidas na América, atribui-se o nome de colônias de
exploração.
O sistema colonial
O sistema segundo o qual se processou a colonização do território
americano sob o domínio da Espanha apresentava, como não podia
deixar de ser, características gerais que se enquadravam no conjunto de
transformações que se operavam na época, ou seja, aquelas que
assinalavam a transição da sociedade medieval para a moderna.
Por outro lado, este mesmo sistema, analisando através do espaço de
tempo que o separa da época atual, apresenta uma estrutura homogênea,
porém resultante de um longo processo evolutivo no qual os diferentes
aspectos foram surgindo mais ou menos ao sabor das necessidades
concretas imediatas.
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Toda a organização da sociedade colonial era concebida a partir
autoridade que a Coroa, através dos seus representantes, da leis e das
instituições, impunha tanto aos espanhóis como aos índios.
Por outro lado, a colonização da América tinha objetivos muito preciosos:
devia, além de promover o engrandecimento da
Monarquia, possibilitar extraordinários lucros. Assim, toda ela se dirigiu
para a exploração das riquezas das novas terras, o que foi feito de acordo
com as diretrizes de um sistema monopolista que procurava garantir
inteira exclusividade para a Monarquia espanhola e seus súditos. Desta
forma, foram instituídos privilégios e proibições econômicas que visavam
preservar todas as formas de riquezas coloniais para uso exclusivo da
Metrópole.
A combinação de autoritarismo e monopólio resultou num sistema
altamente coercivo e opressor que sufocou a Colônia. Esta situação
manifestase em dois níveis: o das restrições que a Metrópole impunha
aos colonos e o domínio que estes exerciam sobre as populações nativas.
As organizações político-administrativas e sócio-econômicas da Colônia
refletiram estas linhas-mestras. A América Espanhola foi dividida e
organizada em Vice-Reinos e Capitanias Gerais cujos administradores
eram sempre de nomeação régia.
Os administradores coloniais eram os vice-reis e os capitães gerais que
representavam diretamente o Rei. Possuíam atribuições muito
semelhantes: eram chefes do Poder Executivo; exerciam os poderes civil
e militar; tinham o direito de prover cargos de importância e
desempenhavam o vice-patronato eclesiástico.
Havia instituições coloniais encarregadas de setores específicos da
administração. Eram as Audiências - tribunais superiores que, além de
exercerem as funções de justiça, deveriam ser consultados a respeito de
diversos assuntos de governo. Possuíam regentes e ouvidores e estes
eram chamados para exercer o Governo em caso de ausência ou morte
do Vice-Rei. Havia outros tribunais menores sujeitos à jurisdição das
audiências: eram tribunais eclesiásticos militares, tribunais da fazenda, da
mineração e do comércio.
Além dos tribunais havia os cabildos (ou ayuntamientos), que haviam sido
criados pelos conquistadores a exemplo das instituições municipais de
Castela. Correspondiam às Câmaras Municipais e no início da
colonização tiveram funções muito importantes: cuidavam da organização
policial; podiam arregimentar tropas, impor contribuições e estabelecer
ordenações com caráter de leis. Dois dos seus membros, chamados
alcaides, tinham função de juízes de primeira instância. Com o passar do
tempo, os vice-reis e capitães gerais absorveram muitas das funções dos
cabildos.
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A organização do sistema colonial exigiu também a existência de insti-
tuições metropolitanas especialmente criadas para cuidar da
administração das colônias. Foram elas:
- o Conselho das Índias, criado pelos reis católicos imediatamente depois
do descobrimento das novas terras. Era por funcionários que haviam
exercido funções importantes na América e que tinham tido uma conduta
honrada.
- a Casa da Contratação, estabelecida em Sevilha em 1501. Sua função
era inspecionar tudo o que diz respeito ao comércio colonial e julgar os
grandes litígios entre a Espanha e suas colônias.
A organização administrativa completava-se com o governo eclesiástico.
Nos primeiros tempos da conquista, o Papa Alexandre VI concedeu ao
Rei Fernando, o Católico, o direito aos dízimos eclesiásticos desde que se
comprometesse a propagar a fé cristã no Novo Mundo. O Papa Júlio II,
em 1508, concedeu ao Rei o direito de prover todos os destinos
eclesiásticos da América. Assim, os reis da Espanha se tornaram os
chefes da igreja americana, administrando, inclusive, suas rendas.
Foi estabelecida na América a mesma hierarquia eclesiástica da
Espanha. Existiam os arcebispos aos quais se submetiam aos bispos.
Cada catedral tinha um cabildo de sacerdotes muito bem pagos. Calcula-se que as províncias que depois formaram a república da Venezuela, da
Colômbia e do Equador contavam mais de três mil e quinhentos
sacerdotes. Na Nova Espanha havia cerca de 15.000.
Houve dois importantes aspectos da organização da Igreja na América:
um deles foi a criação das missões ou reduções, que se destinavam a
promover a evangelização dos índios e a integrá-los no processo de
colonização (dito de civilização). As mais importantes missões foram as
organizadas pelos jesuítas. Eles foram, por exemplo, os responsáveis
pela ocupação da região do Paraguai. O outro foi a instalação, na
América, do Tribunal da Inquisição, em 1571, no México, e mais tarde em
Lima. Além da perseguição daqueles que incorriam em heresia, o Tribunal
exercia violenta censura sobre as atividades intelectuais; em um catálogo
impresso em 1790 estavam relacionados 5.420 autores e uma
imensidade de livros anônimos, cuja a leitura era proibida.
O sistema colonial era resultado de uma concepção segundo a qual a
Monarquia deveria usar de todas as maneiras possíveis para assegurar a
dominação das colônias e estabelecer uma ordem imutável.
A economia, voltada para produzir riquezas e lucros para a Metrópole,
estava assentada na mineração (por exemplo, as minas de Potosi) que foi
o principal estímulo da conquista. A agricultura e as atividades
manufatureiras tinham importância secundária e eram prejudicadas por
leis que protegiam as atividades metropolitanas: era proibido o plantio de
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produtos que concorressem com a metrópole, por exemplo, o cultivo da
vinha e da oliveira.
A atividade mais controlada era o comércio, não só entre Colônia e
Metrópole, mas, também, entre diferentes partes da Colônia entre si. Na
América apenas Cartagena, Porto Belo e Vera Cruz podiam comercializar.
A estrutura social criada na Colônia refletia o sistema de dominações e
privilégios. Havia profundas diferenças entre as classes sociais: entre os
espanhóis e os nascidos na América. A partir dessas diferenças podiam
ser identificados quatro grupos:
- os espanhóis de nascimento eram chamados chapetones ou
guachupinos;
- os criollos eram os filhos ou descendentes dos espanhóis (chapetones);
- os mestiços de brancos e negros (mulatos) e os filhos dos europeus e
índios (chamados mestizos pelos espanhóis);
- os negros africanos, importados como escravos. Os índios ocupavam
uma categoria à parte e com relação a eles havia uma legislação
específica. Eram considerados vassalos diretos da Coroa ou dependentes
de um outro vassalo do Rei que os recebia a título de encomienda.
A encomienda era um privilégio que os vassalos tinham de utilizar o
trabalho dos índios e de cobrar-lhes tributos ao mesmo tempo que
recebiam terras para colonizar. Em troca eles deveriam promover a
cristianização dos índios.
Todo o conjunto da sociedade colonial foi submetido ao controle da
Metrópole, inclusive no que diz respeito às manifestações mais culturais.
AS COLONIZAÇÕES NA AMÉRICA
A colonização portuguesa
Depois do descobrimento, D. Manuel enviou ao Brasil expediçõe
exploradoras para conhecer o litoral e seus acidentes geográficos.
No reinado de D. João III, o sucessor de D. Manuel, houve a expedição
de Martim Afonso de Souza, que fundou a primeira vila, São Vicente
(1532),onde ficaram colonos, com instrumentos agrícolas e sementes.
Mas a presença de franceses no litoral para fazer o contrabando do pau-
brasil era uma ameaça ao domínio português na colônia. Por isso, D.
João III resolveu, em 1534, criar o primeiro sistema de colonização: o das
capitanias hereditárias.
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As capitanias não deram os resultados esperados: apenas progrediram as
de São Vicente e a de Pernambuco. Então D. João III, sem acabar com
elas, resolveu estabelecer o regime de governo-geral, que se prolongou
até a independência, com a sede primeiro em Salvador e depois no Rio
de Janeiro.
Por influência da Espanha, que, durante sessenta anos (1580-1640),
dominou o Brasil e Portugal, houve governadores-gerais com o título de
vice-reis. O último governador-geral foi o conde dos Arcos, em 1808.
A colonização francesa
Com o navegador Jacques Cartier começou a exploração francesa do
Canadá. Cartier, que procurava ao norte da América uma passagem para
as Índias (Passagem do Noroeste), esteve em Terra Nova e no rio São
Lourenço, que os índios chamavam Hochelaga, mas foi Samuel
Champlain quem fundou o primeiro núcleo, Quebec, que veio a ser a
capital da Nova França (1607).
Champlain, acompanhado de muitos índios algonquinos, continuou a
avançar para o interior, pois esperava descobrir o mar que devia
estabelecer comunicação com as Índias, mas o que o explorador francês
encontrou foi uma extensa região de grandes lagos e muitos rios. À
margem de um desses lagos, que se chamou Champlain, foram
derrotados os índios iroqueses, que desde então se tornaram inimigos da
Nova França e fiéis aliados dos colonos ingleses.
No reinado de Luís XIV, o jesuíta padre Marquette e o negociante de
peles Jolliet desceram o rio Mississípi até o afluente Arcansas. Outro
francês, Cavalier, Senhor de La Salle, alcançou pelo Mississípi o golfo do
México. No vale desse rio, de grande fertilidade, fundaram os franceses a
colônia da Luisiânia.
Com a exploração do Mississípi, os domínios franceses atingiram
dimensões consideráveis. Entretanto, muitos fatores contribuíram para
prejudicar o seu progresso: a costa do Canadá, de clima rigoroso e com
poucos portos, era menos favorável à navegação que a das colônias
inglesas; a administração, muito centralizada, prejudicava a iniciativa dos
colonos, pois eles tinham que aguardar da Europa leis da França pouco
se interessava pelos negócios da colônia.
No século XVIII houve na Europa, entre a Inglaterra e a França, a Guerra
dos Sete Anos, conflito que também se estendeu pelas colônias
americanas e terminou com a vitória dos ingleses: o Tratado de Paris
(1783) entregou o Canadá à Inglaterra e a Luisiânia voltava a ser domínio
francês, até 1803, quando foi vendida pelo imperador Napoleão aos
Estados Unidos.
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América colonial inglesa
As treze colônias inglesas fundadas na América, origem dos Estados
Unidos, ficavam na costa do continente e distribuíam-se em três grupos:
- as do Norte ou Nova Inglaterra;
- as do Centro, perto de outras dos holandeses e suecos;
- as do Sul, onde prosperou a colônia da Virgínia.
A colonização inglesa na América começou nos fins do século XVI, no
reinado da rainha Isabel. Essa soberana era apelidada a Rainha Virgem
e, por isso Walter Raleigh fundou a colônia da costa americana que, em
homenagem a rainha chamou-se Virgínia.
As perseguições religiosas movidas a católicos e protestantes pela
dinastia dos Stuarts foram causa importante do povoamento na América.
Muitos ingleses preferiam emigrar para o Novo Mundo, onde poderiam
praticar livremente o culto. Esse foi um dos maiores motivos de se haver
fortalecido, nas colônias, o sentimento de liberdade, que muito contribuiu
para tornar os Estados Unidos uma nação democrática.
Os primeiros colonos ingleses que, por perseguição religiosa, vieram para
a América eram puritanos ou calvinistas e viajaram, em 1620, num
pequeno navio. Antes de desembarcarem, para fundar a colônia de New
Plymouth, na Nova Inglaterra, tomaram importante decisão: assinaram
todos um documento em que se comprometiam a acatar as leis e a
obdecer às autoridades da colônia que iam fundar. Outros puritanos
criaram depois o núcleo de Boston, também na Nova Inglaterra.
Entre as colônias do Centro, fundadas pelos ingleses, a mais importante
foia Pensilvânia, nome derivado de William Penn, seu fundador. Também
no Centro ficava a colônia de Nova Amsterdam, fundada pelos
holandeses, que depois, quando passou para a Inglaterra, recebeu o
nome de Nova York.
No Sul, além da Virgínia, surgiu a colônia de Maryland, fundada por um
católico, o lorde Baltimore. No reinado de Carlos II começou a
colonização do território ao sul da Virgínia, que se chamou Carolina, em
homenagem àquele soberano. Depois a colônia desmembrou-se em
Carolina do Norte e Carolina do Sul.
Desde o princípio da colonização houve acentuadas diferenças entre as
colônias do Norte e as do Sul. No Norte (ou Nova Inglaterra), o grande
número de portos e baías e a abundância de animais de peles raras
desenvolveram entre os colonos o espírito comercial e concorreram para
a formação de numerosos povoados e cidades. No sul, porém, a atividade
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principal era a lavoura e o produto mais cultivado era o fumo. Como esta
planta esgota rapidamente o solo, precisava-se os plantadores de
grandes extensões de terra; surgiram assim as fazendas, onde
trabalhavam os escravos africanos.
A atividade comercial com as colônias foi muito lucrativa para os países
colonizadores:
- desenvolveu o capitalismo comercial;
- multiplicou na Europa as manufaturas para atender ao consumo dos
colonos.
Além dos produtos agrícolas (fumo, algodão e açúcar), saíram da América
para a Europa grandes carregamentos de ouro e prata, extraídos das
minas do México, Peru e Brasil.
Nas colônias era proibido o funcionamento de qualquer indústria que
competisse com as da metrópole. No Brasil, por exemplo, só se podiam
fabricar panos grossos para a roupa dos escravos. Mas na América do
Norte, nas colônias da Nova Inglaterra, o governo inglês tolerava as
atividades industriais.
No século XVIII, as treze colônias, descontentes com a política do
Parlamento da Inglaterra, que votava impostos, sem a aprovação de suas
assembléias locais, revoltaram-se contra a metrópole e tornaram-se
independentes, surgindo assim os Estados Unidos da América.
RESUMO
AS COLÔNIAS DO SUL: tiveram em comum três características
fundamentais: caráter quase que exclusivamente rural; predomínio
de uma agricultura de exportação, baseada nas grandes
propriedades, as plantatinos, trabalhadas exclusivamente por servos
e escravos (brancos e negros); e uma rígida estratificação social.
AS COLÔNIAS DO NORTE: Na Nova Inglaterra desenvolveram-se a
pequena propriedade agrícola, a extração de madeira, peles, peixes,
um florescente comércio e diversas atividades relacionadas à
prestação de serviços. As cidades eram mais importantes que o
campo. As Igrejas e as escolas sempre se destacaram. A classe
dirigente era composta pelos grandes comerciantes que, nos portos,
dominavam as rotas comerciais para as outras colônias inglesas,
para a Inglaterra e, principalmente, para as Índias Ocidentais
(América Central) onde os comerciantes vendiam cereais e peixe
seco e compravam escravos.
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AS COLÔNIAS DO CENTRO: Desenvolveu-se uma agricultura mais
diversificada, geralmente em pequenas propriedades (com excessão
do Vale do Hudson, com grandes propriedades). O comércio era
bastante desenvolvido. Exportavam-se madeiras, peles e outros
produtos naturais e importavam-se açúcar e bebidas. Em Rhode
Island fabricava-se o rum, que seria utilizado no comércio triangular
com as colônias espanholas.
DECLARAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA DOS E.U.A.
Logo após a independência, travou-se um amplo debate a respeito de
qual deveria
ser a organização política do primeiro Estado livre da América. Já havia
dois partidos políticos: - os federalistas, a favor de uma República
centralizada, com maiores poderes para a União; - os republicanos,
favoráveis a uma ampla autonomia para os Estados.
A Constituição dos Estados Unidos, promulgada em 1787, representou
uma solução de compromisso entre as duas tendências ao instaurar no
país uma república presidencialista. Assim o federalismo e o
presidencialismo tornavam-se duas principais características da primeira
democracia moderna, também, os três poderes: o Executivo, o Legislativo
e o Judiciário.
Em 1789 George Washington, o herói da guerra da independência, foi o
primeiro presidente eleito dos Estados Unidos da América. Washington foi
reeleito para o período seguinte. Recusou, porém, ser candidato na
terceira eleição para não dar mau exemplo aos ambiciosos. Por isso,
permaneceu a tradição norte-americana de o presidente nunca exercer o
cargo mais de duas vezes consecutivas. Somente durante a presidência
de Franklin Roosevelt, quando os Estados Unidos participaram da II
Guerra Mundial, é que essa tradição foi abandonada.
A independência dos E.U.A. produziu grandes consequências na história
contemporânea: - no Novo Mundo contribui para acelerar a crise do
sistema colonial e exerceu in-fluência na Inconfidência Mineira; - no
progresso da independência da América espanhola; no Velho Mundo
enfraqueceu momentaneamente o poderio colonial inglês; - contribui para
a queda do absolutismo.
AS CONSEQUÊNCIAS DO TRATADO DE MADRID NAS MISSÕES
Ao mesmo tempo que as reduções prestavam serviços à coroa espanhola
e a Roma, também adquiriram autonomia econômica e política. A
concorrência das reduções com interesses comerciais e políticos
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metropolitanos e da própria Igreja Católica acarretou antipatias e
animosidades contra as missões jesuíticas. Só assim é possível entender
por que a Espanha pretendeu entregar a região dos Sete Povos aos
portugueses em troca da região da Colônia do Sacra-mento, em 1750,
com a assinatura do Tratado de Madrid.
Consequências: - As tensões políticas entre os jesuítas e a corte
espanhola provocaram a expulsão da Companhia de Jesus dos domínios
coloniais em 1768, e a administração dos Sete Povos foi entregue as
ordens religiosas e a governadores militares.
Os portugueses estabeleceram uma guarnição militar na confluência dos
rios Pardo e Jacuí, que logo foi atacada pelos indígenas. O cacique Sepé
Tiarajú (de São Miguel) deteve os demarcadores em Santa Tecla, em
fevereiro de 1753. O cacique Nicolau Neenguiru (de Concepción) tento
sensibilizar os administradores espanhóis, procurando impedir a
continuação dos trabalhos. Ocorreram pequenos ataques de lado a lado e
entre 1754 e 1756 tropas espanholas e portuguesas marcharam contra os
Sete Povos das Missões. Poucos prisioneiros foram feitos pelos luso-
espamhóis. O mais comum foram os massacres.
Ao final do encontro em Caibotá (atual São Gabriel) estavam mortos
1.500 índios do exército guarani e do lado dos aliados houve 4 mortes:
três espanhóis e um português.
Os indígenas sobreviventes foram maltratados, suas terras vendidas, o
gado e os ervais saqueados. Aos poucos, a desilusão motivou o êxodo.
Entre 1762-63 os guaranis missioneiros são assentados às margens do
Rio Gravataí no modelo de aldeamento indígena no Rio Grande de São
Pedro, na Aldeia de Nossa Senhora dos Anjos.
A terra foi distribuída em sesmarias aos chefes militares, tro-peiros e
contrabandistas luso-brasileiros que agiam no local.
Algumas reduções foram transformadas em povoados, outras ficaram à
mercê das depredações e do desgaste do tempo. Todas em processo
gradativo de decadência.
Os padres jesuítas foram substituídos pelos franciscanos, do-minicanos e
mercedários. Aos novos padres cabia apenas a adminitração do poder
espiritual. O poder temporal coube a nova adminitração de civis espa-
nhóis. Dominicanos, franciscanos e mercedários foram três grupos
fechados e a administração civil se apresentou grosseira, corruptae
interessada em encher o próprio bolso. Os índios, desorientados, famintos
e raivosos, fugiam para o mato ou para as estâncias que se criavam no
Rio Grande, empregando-se como peões. De resto, entregaram-se para a
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bebida, roubo e prostituição criando-se uma trilha irreversível para a
degenerescência total.
Tão grande foi o abandono em que ficaram os missioneiros guaranis que,
em 60 anos de ausência dos jesuítas, a população dos Sete Povos
passou de quase 39.000 almas para apenas 344, mesmo assim velhos e
inválidos. Era o fim de tudo.
Imigração portuguesa no Brasil
Histórico
A primeira missa realizada no Brasil
Seguido ao descobrimento do Brasil, em 1500, começaram a aportar na região
os primeiros colonos portugueses. Porém, foi só no século XVII que a
emigração para o Brasil se tornou significativa. Acompanhando a decadência
do comércio na Ásia, as atenções da Coroa Portuguesa se voltaram para o
Brasil. No século XVIII, com o desenvolvimento da mineração na economia
colonial, chegaram à colônia centenas de milhares de colonos. Após a
independência, na primeira metade do século XIX, a emigração portuguesa
ficou estagnada. Cresceu na segunda metade do século, alcançando seu ápice
na primeira metade do século XX, quando chegavam ao Brasil, anualmente, 25
mil portugueses.
Imigração restrita (1500-1700)
O Brasil foi descoberto pelos portugueses a 22 de abril de 1500. Logo após o
fato, os colonos passaram a se estabelecer na colônia, porém, de forma pouco
significativa. De início, aqui foram deixados degredados (pessoas indesejáveis
em Portugal, como ladrões e traidores, que tinham como pena o degredo no
Brasil). Esses primeiros colonos foram abandonados à própria sorte e
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acabaram sendo acolhidos pelos grupos indígenas que viviam no litoral. Os
degredados chegaram a compor de 10 a 20% da população da Bahia e
Pernambuco (áreas mais ricas). Em contrapartida, nas regiões periféricas,
como o Maranhão, os degredados eram entre 80 e 90%.
Típico engenho de cana-de-açúcar.
Durante os séculos XVI e XVII, a imigração de portugueses para o Brasil foi
pouco significativa. A Coroa Portuguesa preferia investir na sua expansão
comercial no continente asiático e pouco valorizava as suas possessões nas
Américas. Porém, durante o século XVI, piratas franceses e de outras
nacionalidades começaram a rondar o território brasileiro e a fazer tráfico de
pau-brasil dentro das terras lusitanas. Essa situação obrigou a Coroa
Portuguesa a começar efetivamente a colonização do Brasil. Os primeiros
colonos portugueses começaram a chegar ao Brasil em maior número após
1530. A colônia foi dividida em capitanias hereditárias e as terras foram
divididas entre nobres lusitanos. Para promover a colonização desses grandes
lotes de terra, a Coroa Portuguesa passou a incentivar a ida de colonos para o
Brasil, que recebiam sesmarias e tinham um prazo de tempo para desenvolver
a produção.
Nesse período, vieram para o Brasil portugueses de todos os tipos: ricos
fazendeiros, aventureiros, mulheres órfãs, degredados, empresários falidos e
membros do clero. O foco da imigração foi a Região Nordeste do Brasil, já que
as plantações de cana-de-açúcar estavam em pleno desenvolvimento. Essa
imigração colonizadora ficou marcada pela masculinidade da população: as
mulheres portuguesas raramente imigravam, pois na Europa o Brasil possuía a
imagem de uma terra selvagem e perigosa, onde apenas os homens poderiam
sobreviver. No Nordeste brasileiro nasceu uma sociedade açucareira rígida,
formada pelo colono português e seus escravos africanos. Para suprir a falta
de mulheres portuguesas, a Coroa Portuguesa passou a enviar para o Brasil
mulheres órfãs que, ao invés de seguirem o caminho religioso, iam se casar no
Brasil. Todavia, os esforços não foram suficientes e a miscigenação ocorreu
em larga escala: as mulheres indígenas e africanas acabaram por substituir a
falta das mulheres portuguesas.
Surge, então, o "branco da terra": filho do colono português com as índias
locais. Mais tarde, surge a figura do mulato: filho do europeu com as
africanas.[4] Desembarcaram também na colônia judeus, muitos cristãos-novos
e ciganos. Sob o domínio holandês centenas de judeus de Portugal e Espanha
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se instalaram, sobretudo, em Pernambuco, acrescentando à diversidade étnica
do Brasil colonial.[1]
Imigração de transição (1700-1850)
Ouro Preto, principal destino do fluxo de imigração durante esse período.
A partir do século XVIII, a imigração portuguesa no Brasil alcança cifras jamais
vistas. Os fatores para esse crescimento imigratório foram: a descoberta de
ouro nas Minas Gerais, e o aprimoramento dos meios de transporte aquáticos.
No início do século XVIII, as minas de ouro tornaram-se a principal economia
da colônia. O desenvolvimento e riqueza trazidos pelo ouro atraiu para o Brasil
um grande contingente de colonos portugueses em busca de riqueza. Nessa
época, surge o mineiro, que era o colono português que enriqueceu no Brasil
graças ao ouro e as pedras preciosas.[1]
O surto urbano que se deu na colônia graças à mineração fez crescer as
ofertas de emprego para os portugueses. Antes, os colonos eram quase que
exclusivamente rurais, dedicando-se ao cultivo da cana-de-açúcar, mas agora
surgiriam profissões como de pequenos comerciantes.
O português pobre, ao
desembarcar nos portos
brasileiros, veste polaina de
saragoça, (…) e calção, colete
de baetão encarnado com seus
corações e meia (…) geralmente
desembarca dos navios com um
pau às costas, duas réstias de
cebolas, e outras tantas de
alhos… e … uma trouxinha de
pano de linho debaixo do braço.
Eram minhotos que, para
sobreviver, dormiam na rua e
procuravam ajuda de instituições
de caridade.
— Raimundo da Cunha
Mattos, escritor. 1820
A maior parte da imigração foi de pessoas originárias do Minho. De início, a
Coroa Portuguesa incentivou a ida de minhotos pobres para o Brasil, onde se
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fixaram principalmente na região de Minas Gerais e na Região Centro-Oeste do
Brasil, onde foram encontradas minas de ouro. Porém, a imigração tomou
proporções altíssimas, e a Coroa passou a controlar a ida de portugueses para
o Brasil. Pela vinda em larga escala de colonos, a língua portuguesa tornou-se
dominante no Brasil em meados do século XVIII, em substituição ao tupi-
guarani, ou língua geral.
Outro fator importante na imigração portuguesa durante o século XVIII foi a
imigração açoriana para a Região Sul do Brasil. Essa colonização açoriana
tornou-se o único foco de colonização de povoamento durante o Brasil colônia,
já que para o resto do país chegavam colonos em busca de enriquecimento, e
não de uma vida melhor, como foi o caso dos açorianos. Santa Catarina
recebeu 4.612 pessoas em 1748, 1.666 em 1749, 860 em 1750 e 679 em 1753.
Outros tantos rumaram para o Rio Grande do Sul. Esses colonos portugueses
se fixaram ao longo do litoral, onde fundaram pequenas vilas e lugarejos,
vivendo da produção de trigo e da pesca.[7]
No início do século XIX, fugiram para o Brasil a Família Real Portuguesa e toda
a corte, fixando-se no Rio de Janeiro, em 1808, após a invasão de Napoleão.
Chegaram ao Brasil 15 mil nobres e pessoas da alta-sociedade portuguesa
naquele ano.
Imigração de massa (1850-1960)
Imigrantes portugueses à espera do navio para o Brasil, século XX
Com a decadência da mineração, no final do século XVIII, a imigração
portuguesa teve uma queda, mas voltou a crescerno início do século XIX com
a vinda da monarquia portuguesa. Após a Independência do Brasil, em 1822,
criou-se no país uma certa xenofobia contra os portugueses, ficando a
imigração decaída. Mas, com o passar do tempo, o fluxo de imigrantes
portugueses para o Brasil, ao invés de diminuir, cresceu drasticamente. Em
grande parte, isto se deve ao fim do tráfico de escravos africanos em 1850.
Com o fim do tráfico, adveio uma carência de mão-de-obra no Brasil, e ao
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mesmo tempo ocorreu a expansão das plantações de café no país,
necessitadas de trabalhadores. O governo brasileiro começou um processo de
substituição da mão-de-obra escrava pelo trabalho assalariado de imigrantes
europeus.
A partir da metade do século XIX, a imigração portuguesa no Brasil tomou
caráter quase que exclusivamente urbano. O perfil do imigrante português
também se alterou: antes, a maioria era composta por homens solteiros. A
partir do final do século XIX, as mulheres portuguesas também chegaram ao
Brasil em grande número. As crianças menores de 14 anos eram 20% dos
imigrantes. A situação econômica também se alterou. Na época colonial,
muitos portugueses ricos e até nobres migraram ao Brasil. No final do século
XIX, os que chegaram eram extremamente pobres e sem escolaridade, vindos
de aldeias do interior de Portugal.
As cidades do Rio de Janeiro e São Paulo receberam a maioria desses
imigrantes de Portugal. Uma expressiva parcela dessa população era oriunda
de regiões interioranas do norte de Portugal, notadamente entre Beira Alta e
Alto Trás-os-Montes e eram, em sua maioria, extremamente pobres, vindos em
família, com grande número de mulheres e crianças. Ao chegarem ao Brasil,
procuravam parentes ou se instalavam em pequenos cortiços. A maior parte
desses imigrantes se dedicou ao comércio: pequenas vendas e padarias,
chegando ao ponto de dominarem essas duas atividades em várias regiões do
Brasil. Outros, tornaram-se operários nas nascentes indústrias brasileiras.
Passaporte de um imigrante português de 1927
Imigração de declínio (1960-2000)
A partir década de 1930, não apenas a imigração portuguesa no Brasil, mas
todas de uma maneira geral caíram, e isso se deve ao Brasil já não mais
precisar de imigrantes para abraçarem a agricultura e as fábricas, pois os
nacionais já supriam a demanda. Nesta década, o presidente brasileiro Getúlio
Vargas criou uma lei que controlava a entrada de imigrantes no Brasil ("Lei de
Cotas de Imigração"), à qual apenas os portugueses não estavam sujeitos. As
várias décadas que durou o salazarismo contribuíram para uma grande vinda
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de portugueses para o Brasil. Essa imigração durou até meados da década de
1960.
Após a II Guerra Mundial, os portugueses foram os únicos que continuaram a
chegar em grande número ao Brasil. Entre 1945 e 1959 ainda chegaram ao
Brasil cerca de 250 mil portugueses. A partir de então, os portugueses
passaram a pouco se interessar em atravessar o Oceano Atlântico. De tal
modo, a secular imigração portuguesa para o Brasil tornou-se mínima.
A imigração portuguesa em números
Imigração portuguesa para o Brasil (1500-1991)
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Décadas Número de imigrantes
1500-1700 100.000
1701-1760 600.000
1808-1817 24.000
1827-1829 2.004
1837-1841 629
1856-1857 16.108
1881-1900 316.204
1901-1930 754.147
1931-1950 148.699
1951-1960 235.635
1961-1967 54.767
1981-1991 4.605
TOTAL 2.256.798
Identidade luso-brasileira
Os portugueses constituíram a população mais significativa na criação do
Brasil. No entanto, a proximidade entre ambas as culturas torna relativamente
fácil a integração de portugueses no Brasil. Somando-se a isto o corte, a nível
cultural, efectuado com a ex-metrópole após a Independência do Brasil (a
cultura portuguesa seria diminuída em prol do nascimento e desenvolvimento
da cultura brasileira), muitos descendentes de portugueses no Brasil, ou luso-
brasileiros não têm ou não querem ter grande contacto com a cultura de
Portugal, ao contrário do que se sucede com outros grupos, como os nipo-
brasileiros ou ítalo-brasileiros, que sentem ainda grande ligação com a terra de
origem.
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Hospital fundado por portugueses, localizado em Porto Alegre.
Devido à falta de organização das organizações luso-brasileiros, não há
estimativas sobre o número de descendentes de imigrantes portugueses no
Brasil disponíveis. Porém, se se embazar no número de descendentes de
imigrantes italianos, que chegaram ao Brasil em número quase igual aos
portugueses, chega-se a 25 milhões.
É notório, porém, que há 25 milhões de luso-brasileiros descendentes dos
cerca de 1,5 milhão de portugueses que chegaram ao Brasil após 1850. Muitos
outros milhões de brasileiros possuem origens portuguesas que remontam aos
centenas de milhares de colonos vindos de Portugal que se fixaram no País
desde o século XVI. Estes últimos, em sua grande maioria, sabem muito pouco
sobre suas origens.
Moram no Brasil aproximadamente 700.000 pessoas com nacionalidade
portuguesa. Esta população imigrou para o Brasil, na sua maioria, entre 1930 e
1960. Hoje em dia, e cada vez mais, se nota um aumento significativo de
portugueses que compram propriedades no Brasil, sobretudo no Nordeste.
Estes portugueses dedicam-se sobretudo ao turismo. Este é um fenómeno
extremamente recente.
Revolução industrial: cultura e trabalho na Europa, nas colônias anglo-
hispânicas e no Brasil
No decorrer do século XVIII, a Europa Ocidental passou por uma grande
transformação no setor da produção, em decorrência dos avanços das técnicas
de cultivo e da mecanização das fábricas, a qual se deu o nome de Revolução
Industrial. A invenção e o uso da maquina permitiram o aumento da
produtividade, a diminuição dos preços e o crescimento do consumo e dos
lucros.
As origens da Revolução Industrial podem ser encontradas nos séculos XVI e
XVII, com a política de incentivo ao comércio adotada pelo s países
absolutistas A acumulação de capitais nas mãos dos comerciantes burgueses
e a abertura dos mercados proporcionada pela expansão marítima estimularam
o crescimento da produção, exigindo mais mercadorias e preços menores.
Gradualmente, passou-se do artesanato disperso para a produção em oficinas
e destas para a produção mecanizada nas fábricas.
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A Inglaterra foi o país pioneiro da industrialização. A agricultura inglesa
desenvolveu-se com o cercamento dos campos e a difusão de novas técnicas
e instrumentos de cultivo,.o fim do uso comum das terras gerou o "trabalhador
livre", expulso do campo onde não tinham mais condições de sobrevivência e
transformado em mão-de-obra urbana. A mecanização da produção criou o
proletariado rural e urbano, composto de homens, mulheres e crianças,
submetido a um trabalho diário exaustivo, no campo ou nas fábricas.
Com a Revolução Industrial, consolidou-se o sistema capitalista, baseado no
capital e no trabalho assalariado.
0 capital apresenta-se sob a forma de terras, dinheiro, lojas, máquinas ou
crédito. 0 agricultor, o comerciante, o industrial e o banqueiro, donos do capital,
controlam o processo de produção, contratam ou demitem os trabalhadores,
conforme sua conveniência. Estes, que não possuem capital, vendem sua força
de trabalho por um salário.
As Novas Técnicas e Métodos Agrícolas
A agricultura era praticada na Inglaterra,chamadas Leis Orgânicas
Municipais. A Lei Orgânica não pode contrariar a Carta estadual; e esta, por
sua vez, subordina-se ao texto constitucional da Federação.
Política e democracia
Podemos falar de política como a arte de governar, de gerir os destinos da
cidade; aliás , etimologicamente política vem de polis (cidade).
A palavra democracia vem do grego demos (povo) e kratia, de krátos (
governo, poder, autoridade). Historicamente, consideramos os atenienses o
primeiro povo a elaborar o ideal democrático, dando ao cidadão a capacidade
de decidir os destinos da polis ( cidade - estado grega). Povo habituado ao
discurso , encontra na ágora (praça pública) o espaço social para o debate e
o exercício da persuasão. (*Vários eram excluídos do direito à cidadania e
poucos detinham efetivamente o poder.) Grifo nosso.
O ideal democrático reaparece na história, com roupas diferentes, ora no
liberalismo, ora exaltado na utopia rousseauniana, ora nos ideais socialistas e
anarquistas.
Nunca foi possível evitar que , em nome da democracia, conceito abstrato,
valores que na verdade pertenciam a uma classe apenas fossem considerados
universais. A Revolução Francesa se fez sob o lema “Igualdade, Liberdade,
Fraternidade”, e sabemos que foi uma revolução que visava interesses
burgueses e não populares.
No mundo contemporâneo, tanto os EUA como a URSS se consideram
governos democráticos.
Se a política significa o que se refere ao poder, na democracia, onde é o
lugar do poder?
A personalização do poder
O que caracteriza os governos não democráticos é que o poder é investido
numa pessoa que pretende exercê-lo durante toda a sua vida, como se dele
fosse proprietário. O faraó do Egito, o césar romano, o rei cristão medieval, em
virtude de privilégios, se apropriam do poder, identificando-o com o seu próprio
corpo. É a pessoa do príncipe que se torna o intermediário entre os homens e
Deus, ou o intérprete humano da suprema Razão.
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Identificado com determinada pessoa ou grupo, o poder personalizado é um
poder de fato, e não de direito, pois não é legitimado pelo consentimento da
maioria, mas depende do prestígio e da força dos que o possuem. Trata-se de
uma usurpação do poder, que perde o seu lugar público quando é incorporado
na figura do príncipe.
Que tipo de unidade decorre desse poder? Como não se funda na expressão
da maioria, ele precisa estar sempre vigiando e controlando o surgimento de
divergências que poderão abalá-lo. Busca então a uniformização das crenças ,
das opiniões, dos costumes, evitando o pensamento divergente e destruindo a
oposição.
Eis aí o risco do totalitarismo, quando o poder é incorporado ao partido
único, representado por um homem todo- poderoso. O filósofo político
contemporâneo Claude Lefort diz que o escritor soviético dissidente Soljenitsin
costumava se referir a Stálin como sendo o Egocrata ( que significa o poder
personalizado; etimologicamente, “poder do eu”). O Egocrata é o ser todo –
poderoso que faz apagar a distinção entre a esfera do Estado e a da sociedade
civil: o partido, onipresente, se incumbe de difundir a ideologia dominante por
todos os setores de atividades ,a todos unificando, o que permite a reprodução
das relações sociais conforme o modelo geral.
A institucionalização do poder
A Idade Moderna promove uma profunda mudança na maneira de pensar
medieval, que era predominantemente religiosa. Ocorre a secularização da
consciência, ou seja, o abandono das explicações religiosas, para se usar o
recurso da razão. Essa transformação se verifica nas artes, nas ciências, na
política.
À tese de que todo poder emana de Deus , se contrapõe a origem social do
pacto feito pelo consentimento dos homens. A legitimação do poder se
encontra no próprio homem que o institui.
Para ilustrar o caráter divino do poder no pensamento medieval, veja-se
Jean Bodin ( 1530 – 1596): jurista e filósofo francês, que defendeu , em
sua obra A República, o conceito do soberano perpétuo e absoluto, cuja
autoridade representava a vontade de Deus. Assim, todo aquele que não
se submetesse à autoridade do rei deveria ser considerado um inimigo da
ordem pública e do progresso social. Segundo Bodin, o rei deveria possuir
um poder supremo sobre o Estado, respeitando , apenas, o direito de
propriedade dos súditos. ( COTRIM, 1987, p 134)
Com a emergência da burguesia no panorama político, dá-se a criação do
Estado como organismo distinto da sociedade civil. Em outras palavras, na
Idade Média, o poder político pertencia ao senhor feudal, dono de terras, e era
transmitido como herança juntamente com seus bens; com as revoluções
burguesas, essas duas esferas dissociam-se: o poder não é herdado, mas
conquistado pelo voto. Assim, separa-se o público do privado. O espírito da
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democracia está em descobrir o valor da coisa pública, separada dos
interesses particulares.
Desse modo, ocorre a institucionalização do poder, que não mais se
identifica com aquele que o detém, pois este é mero depositário da soberania
popular. O poder se torna um poder de direito, e sua legitimidade repousa, não
no privilégio, não no uso da violência, mas do mandato popular.
O súdito, na verdade, torna-se cidadão, já que participa da comunidade
cívica. Não havendo privilégios, todos são iguais e têm os mesmos direitos e
deveres.
Isto se torna possível pela criação de instituições baseadas na pluralidade de
opiniões e na elaboração de leis para orientar a ação dos cidadãos, garantindo
seu direitos e evitando o arbítrio. A institucionalização implica a elaboração de
uma Constituição, que é a lei magna.
Portanto, o poder torna-se legítimos porque emana do povo e se faz em
conformidade com a lei.
Retomando a pergunta “Onde é o lugar do poder na democracia?”
respondemos que é o lugar do vazio, ou seja, é o poder com o qual ninguém
pode se identificar e que será exercido transitoriamente por quem for escolhido
para tal.
No entanto, como já dissemos, a democracia burguesa se mostrou deficiente
no exercício desse ideal, pois redundou em uma forma elitista, privilegiando os
segmentos da sociedade que possuem propriedades e excluindo do acesso ao
poder a grande maioria
Com a ajuda da ideologia, as classes privilegiadas dissimulam a divisão e
mostram a sociedade como uma harmônica e igualitária. Asseguram, assim, a
tranqüilidade e o progresso”. Entretanto, a outra parte da sociedade se acha
reduzida ao silêncio e à incapacidade de pensar a sua própria condição.
Como seria a verdadeira democracia?
Segundo Marilena Chauí, as três características da democracia são
as idéias de conflito, abertura e rotatividade.
• O conflito: se a democracia supõe o pensamento divergente, isto é, os
múltiplos discursos, ela tem de admitir um heterogeneidade essencial.
Então, o conflito é inevitável. A palavra conflito sempre teve sentido
pejorativo, de algo que devesse ser evitado a qualquer custo. Ao
contrário, divergir é inerente a uma sociedade pluralista. O que a
sociedade democrática deve fazer com o conflito é trabalhá-lo, de modo
que, a partir da discussão, do confronto, os próprios homens encontrem
a possibilidade de superá-lo.
• A abertura: significa que na democracia a informação circula livremente,
e a cultura não é privilégio de poucos.
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• A rotatividade: significa tornar o poder na democracia realmente o lugar
vazio por excelência, sem o privilégio de um grupo ou classe. É permitir
que todosbem como no restante da Europa,
através de métodos e de instrumentos ainda bastante primitivo, 0 cultivo do
solo, realizado pelo sistema medieval do arroteamento trienal, deixava o campo
improdutivo durante um ano em três, para recuperação da fertilidade. Os
arados eram rudimentares e as forragens insuficientes para a alimentação dos
rebanhos durante o inverno, tornando-se necessário abatê-los em grande
número no outono.
A partir do século XVIII, a aristocracia inglesa realizou um esforço sistemático
de modernização da agricultura, com o objetivo de aumentar as rendas de suas
propriedades, seguindo o exemplo da burguesia que enriquecia-se com as
atividades comerciais e financeiras, 0 impulso inicial foi dado, em 1731, com a
publicação do livro de JETHRO TULL "The new horse husbandry, or an essay
on the principles of tillage an vegetation".
Estudioso e observador dos métodos agrícolas praticados na Alemanha,
França e Holanda, J. Tull (1674/746) era proprietário de terra no Berkshire,
onde se dedicou a experiências e pesquisas e foi um dos primeiros a conceber
a noção de cultura intensiva. Ele sugeriu o esterroamento e a lavra profunda
dos campos; o estabelecimento contínuo da rotação de culturas que produzia
colheitas variadas sem cansar a terra e sem necessidade do pousio
prolongado; mostrou a importância das forragens de inverno que
proporcionavam alimento para o gado nessa estação, dispensando o abate e,
conseqüentemente, aumentando a oferta de adubo animal.
Os grandes proprietários passaram a aplicar as teorias de Jetho Tull em seus
domínios, chegando alguns deles a aperfeiçoá-las, Lord Townshend
(1674/1750) desenvolveu técnicas de drenagem e adubamento do solo e
iniciou cultivos que se sucediam em rotações regulares (como nabo, cevada,
trigo, beterraba, aveia, ervilha, feijão), sem esgotar a terra e sem deixá-la
improdutiva. Sir Robert Bakewell (1725-1795) empreendeu a melhoria de
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rebanhos ovinos e bovinos através de cruzamentos hábeis e da seleção
artificial das espécies. Com isso, conseguiu dobrar o peso médio de bois,
bezerros e carneiros.
0 impulso dado pelos grandes proprietários se comunicou a toda a nação e o
governo contribuiu com a construção de obras públicas como estradas, canais
e drenagem de pântanos. A partir de meados do século XVIII, a agricultura
moderna estava implantada na Inglaterra.
O Cercamento dos Campos
Entretanto, a produtividade agrícola encontrava um obstáculo ao seu
desenvolvimento devido ao sistema de "campos abertos" e de "terras comuns"
utilizado pelos camponeses para o plantio e a criação de gado desde a época
medieval. Por isso, as inovações técnicas foram acompanhadas de um grande
reordenamento das propriedades rurais, através da intensificação dos
cercamentos dos campos ou "enclousures".
Os "enclousures" consistiam na unificação dos lotes dos camponeses, até
então dispersos em faixas pela propriedade senhorial (campos abertos), num
só campo cercado por sebes e usado na criação intensiva de gado e de
carneiros ou nas plantações que interessassem ao p proprietário. Em sua
perspectiva, o cercamento e as novas técnicas agrícolas promoviam o aumento
da oferta de mercadorias que podiam ser vendidas a um melhor preço,
beneficiando a nação.
Essa prática era legalmente utilizada e permitida pelo Parlamento Inglês desde
o século XVI e foi intensificada no século XVIII causando a eliminação dos
yeomen e dos arrendatários. Os cercamentos provocaram também um brutal
desemprego na área rural, com os camponeses e suas famílias perdendo os
lotes de onde tradicionalmente tiravam o seu sustento.
Em algumas paróquias, o simples anúncio de editais para o cerca mento
gerava revoltas e tentativas para que não fossem afixados nas por tas das
igrejas. As próprias autoridades encarregadas pelo Parlamento de realizar os
"enclousures" revelavam a tragédia:
"Lamento profundamente" - afirmava um comissário de cercamento - "o mal
que ajudei a fazer a dois mil pobres, a razão de 20 famílias por aldeia. Muitos
deles, aos quais o costume permitia levar rebanhos ao pasto comum, não
podem de fender seus direitos, e muitos deles, pode-se dizer quase to dos os
que têm um pouco de terra, não têm mais de um acre; como não é o bastante
para alimentar uma vaca, tanto a vaca como a terra são, em geral, vendidos
aos ricos proprietários. (Annals of Agriculture, citado por MANTOUX, P., op. cit',
p. 169.)
A acumulação das terras em mãos de poucos proprietários está atestada nós
documentos da época:
"Não é raro ver quatro ou cinco ricos criadores se apossarem de toda uma
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paróquia, antes dividida entre trinta ou quarenta camponeses, tanto pequenos
arrendatários,quanto pequenos proprietários.: todos foram repentinamente
expulsos e, ao mesmo tempo, inúmeras outras famílias, que dependiam quase
que unicamente deles, para o seu trabalho' e sua subsistência, as dos ferreiros,
carpinteiros, carro e outros artesãos e pessoas de ofício, sem contar os
jornaleiros e criados." (Citado por MANTOUX PauI. A Revolução, Industrial no
século XVIII. São Paulo, Editora Hucitec, p. 164.)
Para o historiador inglês Karl Polany, "os cercamentos foram chamados, de
forma adequada, de revolução dos ricos contra os pobres. os senhores e
nobres estavam perturbando a ordem social, destruindo as leis e costumes
tradicionais, às vezes pela violência , as vezes por intimidação e pressão. Eles
literalmente roubavam o pobre na sua parcela de terras comuns, demolindo
casas que até então, por força de antigos costumes, os pobres consideravam
como suas e de seus herdeiros. Aldeias abandonadas e ruínas de moradias
testemunhavam a ferocidade da revolução." (POLANY, Karl. A Grande
Transformação. Rio de Janeiro, Editora Campus, 1988, P. 52.)
Por outro lado, a admiração pelos "enclousures" pode ser vista nos relatos de
agrônomos- economistas, como Arthur Yong (1741/1820) que afirmava:
"A meu ver, a população é um objetivo secundário. Deve-se cultivar o solo de
modo a fazê- lo produzir o máximo possível, sem se inquietar com a população.
Em caso algum o fazendeiro deve ficar preso a métodos agrícolas superados,
suceda o que suceder com a população. Uma população que, ao invés de
aumentar a riqueza do país, é para ele um fardo, é uma população nociva.''
(Citado por MANTOUX, Paul, op. cit. p. 166.)
O"Homem Livre''
Em conseqüência do desemprego e do pauperismo provocados pelos
cercamentos, uma massa de camponeses sem terra passou a perambular por
estradas e paróquias, atemorizando os proprietários e aumentando a carga de
impostos necessários para mantê-los, já que pelas leis inglesas as paróquias
eram responsáveis pelo auxilio aos pobres.
O aumento da miséria levou à revisão da Legislação dos Pobres, existente
desde 1601 e que organizava o auxílio público aos desvalidos. A legislação
tornou-se cada vez mais repressiva: todo indivíduo sem trabalho ou ocupação
podia ser preso ou chicoteado e, em caso de furto, mesmo que fosse para
matar a fome, ser marcado a ferro, ter as mãos decepadas ou ser enforcado.
Durante o século XVIII, para evitar a entrada de desocupados em seu território,
as paróquias passaram a recorrer a Lei do Domicílio (1662) que determinava
que todo indivíduo que mudasse de paróquia pode ria ser expulso, privando
assim o cidadão da liberdade de locomoção. Essa lei facilitou aos grandes
proprietários a exploração ao máximo do trabalho dos camponeses de sua
paróquia ou da paróquia vizinha.
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A consolidação das grandes propriedades, com a expulsão de grande de
número de camponeses, criou uma massa de "homens livres",os setores da sociedade possam ser legitimamente
representados.
A fragilidade da democracia
A construção da democracia é uma tarefa difícil, devido à incompletude
essencial da democracia. Não havendo modelos a seguir, a democracia se
auto produz no seu percurso, e a árdua tarefa em que todos se empenham
está sujeita aos riscos dos enganos e dos desvios. Por isso, a democracia é
frágil e não há como evitar o que faz parte da sua própria natureza.
O principal risco é a emergência do totalitarismo, representado nos grupos
que sucumbem à sedução do absoluto e desejam restabelecer a “ordem” e a
hierarquia.
A condição do fortalecimento da democracia encontra-se na politização das
pessoas, que devem deixar o hábito ( ou vício? ) da cidadania passiva, do
individualismo, para se tornarem mais participantes e conscientes da coisa
pública.
Democracia e cidadania
Se até hoje temos nos contentado com a democracia
representativa, não há como deixar de sonhar com mecanismos típicos da
democracia direta que possibilitem a presença mais constante do povo
nas decisões de interesse coletivo.
Na Constituição brasileira de 1988 foi introduzida a “iniciativa
popular de projetos de leis”, através de manifestação do eleitorado,
mediante porcentagem mínima estipulada conforme o caso. Essa forma
de atuação ainda será regulamentada e devem ser enfrentadas
dificuldades as mais diversas para o exercício efetivo.
Mas alguns poderiam argumentar: para participar enquanto cidadão
pleno é preciso que haja politização, caso contrário haverá apatia ou
manipulação. Daí o desafio: quem educa o cidadão?
Cidadania se aprende no exercício mesmo da cidadania. Embora a
escola seja aliada importante, não é nela fundamentalmente que se dá a
aprendizagem, pois há o risco da ideologia e do discurso vazio, quando o
ensino não é acompanhado de fato pela ampliação dos espaços de
atuação política do cidadão na sociedade.
A participação popular se intensifica com as já referidas
organizações saídas da sociedade civil. Essas organizações, ao colocarem
seus representantes em confronto com o poder constituído, tornam-se
verdadeiras escolas de cidadania. O importante do processo é que, ao lado
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dos outros poderes, como o poder oficial do município, do estado e
federal, e o poder das elites econômicas, desenvolve-se o poder
alternativo. Ou seja, o esforço coletivo na defesa de interesses comuns
transforma a população amorfa, inexpressiva e despolitizada em
comunidade verdadeira.
Na luta contra a tirania e o poder arbitrário, nem as regras da
moral, nem apenas as leis impedirão o abuso do poder. Na verdade, como já
dizia Montesquieu, só o poder controla o poder.
Ética
Área da Filosofia que estuda os valores morais. Reflete sobre o bem e o
mal, o que é certo ou errado, e procura responder , por exemplo, se os fins
justificam os meios ou os meios justificam os fins.
A partir de Sócrates ( 469 – 399 a . C. ), a Filosofia, que antes estudava a
natureza, passa a se ocupar de problemas relativos ao valor da vida, ou seja,
das virtudes. O primeiro a organizar essas questões é o filósofo grego
Aristóteles ( 384 – 322 a . C.). Em sua obra , entre outros pontos, destacam-
se os estudos da relação entre a ética individual e a social, e entre a vida
teórica e a prática. Ele também classifica as virtudes. A justiça , a amizade e os
valores morais derivam dos costumes e servem para promover a ordem
política. A sabedoria e a prudência estão vinculadas à inteligência ou à razão.
Na Idade Média, predomina a ética cristã baseada no amor ao próximo,
que incorpora as noções gregas de que a felicidade é um objetivo do homem e
a prática do bem constitui um meio de atingi-la. Os filósofos cristãos partem do
pressuposto de que a natureza humana tem um destino predeterminado e de
que Deus é o princípio da felicidade e da virtude.
Entre a idade Média e a modernidade , o italiano Nicolau Maquiavel (
1469 – 1527) apresenta-se como “o Colombo do novo mundo moral” e provoca
uma revolução na ética. Nega as concepções grega e cristã de virtude e busca
seu modelo moral na virilidade dos antigos romanos. Para ele, a ética cristã é
“efeminada”. Maquiavel influencia o inglês Thomas Hobbes (1588 – 1679) e o
holandês Benedito Spinoza ( 1632 –1677), pensadores modernos
extremamente realistas no que se refere à ética.
Nos séculos XVIII e XIX, o francês Jean – Jacques Rousseau ( 1712 –
1778) e os alemães Emmanuel Kant ( 1724 – 1804) e Friedrich Hegel (1770 –
1831) são os principais filósofos que discutem ética. Segundo Rousseau, o
homem é bom por natureza e seu espírito pode sofrer um aprimoramento
quase ilimitado. Para Kant, ética é a obrigação de agir segundo regras
universais com as quais todos concordam. O reconhecimento dos outros
homens é o principal motivador da conduta individual.
Hegel transforma a ética em uma Filosofia do Direito. Ele a divide em ética
subjetiva ou pessoal, e ética objetiva, ou social. A primeira é uma consciência
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de dever e a segunda é formada pelos costumes, leis e normas de uma
sociedade. O Estado, para Hegel , reúne esses dois aspectos numa “totalidade
ética”.
Na Filosofia contemporânea, os princípios do liberalismo influenciam o
conceito de ética, que ganha traços de moral utilitária. Os indivíduos devem
buscar a felicidade e, para isso, fazer as melhores escolhas entre as
alternativas existentes. Para o filósofo inglês Bertrand Russel ( 1872 – 1970) , a
ética é subjetiva. Não contém afirmações verdadeiras ou falsas. É a expressão
dos desejos de um grupo. Mas Russel diz que o homem deve reprimir certos
desejos e reforçar outros se pretende atingir a felicidade ou o equilíbrio
A questão da justiça
Se o direito constitui a ordem da comunidade, compete à justiça
“salvaguardar” e “restabelecer” essa ordem, na medida em que as
circunstâncias existentes não formem uma ordenação verdadeira e
acertada daquela, ou seja uma ordenação que garanta a realização do
bem comum. Dentro de uma ordem existente, devem tomar-se em
consideração, primeiramente , as normas que visam a comunidade ( o bem
comum) ou leis, sobre as quais repousa a dita ordem: justiça geral ou
legal ( inexatamente chamada também “social”). – Relativamente aos
membros da comunidade, tem de ser protegida a repartição de ônus e
obrigações, bem como a de honras e vantagens, de acordo m com sua
situação, aptidões e capacidades: justiça distributiva. Por sua vez, os
membros da comunidade têm de defender reciprocamente o que de
direito compete a cada um. Uma aplicação capital deste princípio consiste
em proteger a equivalência de prestação e contraprestação, por
conseguinte, a proteção da igualdade de valor no trato econômico; daí, a
designação desta justiça como justiça geral, mencionada em primeiro lugar,
incluímos as duas últimas sob o rótulo de justiças particulares.
De fato, a ordem existente nunca é inteiramente aquela que deveria
ser; para ser pura e perfeita expressão do direito e, desse modo, “
ordem”, no sentido prenhe da palavra, precisaria de ser continuamente
retocada e adaptada às situações reais que se vão modificando: normas,
que um tempo foram a expressão de um pensamento jurídico, podem,
variadas as circunstâncias, deixarde Ter sentido, tornar-se nocivas à
comunidade e altamente ilegais. O beneficiário empenhar-se á em mantê-
las como seu direito escrito; o prejudicado será inclinado a quebrantá-las,
por meio da violência, como injustas. À comunidade só interessa um
desenvolvimento orgânico: o esforço nesse sentido e a boa vontade para
levá-lo a cabo constituem a justiça em ordem ao bem comum (justiça
social), assim denominada, porque cria de novo, em cada momento, a
verdadeira ordem da comunidade e protege de modo permanente o bem
comum – (Nell – Breuning , in BRUGGER, Dicionário de Filosofia, São
Paulo: EPU, 1973)
LIBERDADE
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A democracia deve assegurar liberdade a seus cidadãos. Liberdade
política, de organização e de trabalho são aspectos freqüentemente lembrados
da vida democrática.
Platão adverte que o Estado (ele usa a palavra cidade ) democrático, corre
o risco de, embriagado pela ânsia de liberdade, erigir governantes sempre mais
frouxos, que não tenham coragem ou princípios para conter o relaxamento
crescente. Afirma que na democracia o mesmo espírito anárquico penetra os
domicílios privados: "o pai se acostuma a igualar-se com os filhos e a temê-los,
e os filhos a igualar-se com os pais e não lhes ter respeito nem temor algum...
Jovens e velhos, todos se equiparam; os rapazes rivalizam com seus maiores
em palavras e ações; e estes condescendem com eles, mostrando-se cheios
de bom humor e jocosidade, para imitá-los e não parecerem casmurros e
autoritários". Fala ainda da igualdade dos sexos, da confusão entre cidadãos e
estrangeiros, e termina com uma frase antológica: "as cadelas valem tanto
quanto as suas donas, e os cavalos e os asnos andam às soltas, como
importantes personagens, empurrando pelos caminhos a quem não lhes cede o
passo; e por toda a parte se vê a mesma pletora de liberdade". Embora Platão
tenha escrito em sentido simbólico, não se pode deixar de pensar nos inúmeros
institutos de beleza canina espalhados pelas cidades contemporâneas, ao lado
de milhões de pessoas que não têm o que comer.
É nas profundezas de cada coração e no recôndito das consciências que
nasce a verdadeira restauração da ordem política.
"Quando numa cidade são honrados a riqueza e os ricos, a virtude e os
virtuosos tornam-se alvo de desdém".
Diz Aristóteles que é livre aquele que tem em si mesmo o princípio para
agir ou não agir, isto é, aquele que é causa interna de sua ação ou da
decisão de agir ou não agir. A liberdade é concebida como o poder pleno
e incondicional da vontade para determinar a si mesma ou para ser
autodeterminada . É pensada, também como a ausência de
constrangimentos externos e internos, isto é, como uma capacidade que
não encontra obstáculos para se realizar, nem é forçada por coisa alguma
para agir. Trata-se da espontaneidade plena do agente, que dá a si
mesmo os motivos e os fins de sua ação, sem ser constrangido ou
forçado por nada e por ninguém.
Assim, na concepção aristotélica, a liberdade é o princípio para
escolher entre alternativas possíveis, realizando-se como decisão e ato
voluntário. Contrariamente ao necessário ou à necessidade , sob a qual o
agente sofre a ação de uma causa externa que o obriga a agir sempre
de uma determinada maneira, no ato voluntário livre o agente é causa de
si , isto é, causa integral de sua ação. Sem dúvida, poder-se-ia dizer que
a vontade livre é determinada pela razão ou pela inteligência e, nesse
caso, seria preciso admitir que não é causa de si ou incondicionada, mas
que é causada pelo raciocínio ou pelo pensamento.
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A relação da arte com a sociedade: a Indústria Cultural e cultura de
massa, a reprodutibilidade técnica da arte, a questão da arte e da
indústria cultural
Cultura popular, cultura de massa ou cultura pop é a cultura vernacular -
isto é, do povo - que existe numa sociedade moderna. O conteúdo da cultura
popular é determinado em grande parte pelas indústrias que disseminam o
material cultural, como por exemplo as indústrias do cinema, televisão, música
e editorais, bem como os veículos de divulgação de notícias. No entanto, a
cultura popular não pode ser descrita como o produto conjunto dessas
indústrias; pelo contrário, é o resultado de uma interação contínua entre
aquelas e as pessoas pertencentes à sociedade que consome os seus
produtos.
Características
A cultura popular está constantemente mudando e é específica quanto ao local
e ao tempo. Dentro da cultura popular, formam-se correntes, na medida em
que um pequeno grupo de indivíduos terá maior interesse numa área da qual a
cultura popular mais generalizada se percebe apenas parcialmente a
existência.
Os ícones da cultura popular tipicamente atraem uma maior quantidade e
variedade de público; ocasionalmente, têm um cunho esotérico, como no caso
da maçonaria. Existem duas razões porque os itens que atraem as massas
dominam a cultura popular. Por um lado, as companhias que produzem e
vendem os seus itens de cultura popular tentam maximizar os seus lucros,
enfatizando itens que agradem a todos. Por outro lado, aparentemente, a
cultura popular é governada pelo efeito meme de Richard Dawkins, o qual é
uma forma de seleção natural - os itens da cultura popular com maior
probabilidade de sobreviver são aqueles que atraem maior quantidade e
variedade de público, propagando-se mais eficazmente.
Uma opinião amplamente sustentada é a de que a cultura popular tende a ser
superficial. Os itens culturais que requerem grande experiência, treino ou
reflexão para serem apreciados, dificilmente se tornam itens da cultura popular.
Cultura Popular ou Cultura Pop é a cultura vernácula - isto é, do povo - que
existe numa sociedade moderna. O conteúdo da cultura popular é determinado
em grande parte pelas indústrias que disseminam o material cultural, como por
exemplo as indústrias do cinema, televisão e editorais, bem como os meios de
comunicação. No entanto, a cultura popular não pode ser descrita como o
produto conjunto dessas indústrias; pelo contrário, é o resultado de uma
interação contínua entre aquelas e as pessoas pertencentes à sociedade que
consome os seus produtos.
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Cantora Pop de Bergen, Noruega
A cultura de massa tem múltiplas origens. É alimentada principalmente à custa
das indústrias que têm lucros a inventar e promover material cultural. Entre
elas, encontram-se a indústria da música popular, cinema, televisão, rádio, bem
como editoras de livros e jogos de computador.
Uma segunda fonte da Cultura Popular, muito diferente da primeira, é o
elemento folclórico. Inclusivamente, no mundo pré-industrial, a cultura de
massa como hoje é entendida não existia, existindo, no entanto, uma cultura
folclórica. Esta camada anterior de cultura ainda persiste na nossa sociedade,
seja, por exemplo, em forma de anedotas ou de calão, as quais se espalham
pela população de boca em boca, tal como sempre aconteceu.
Apesar de ser repetidamente mortificado pelos abastecedores de cultura
comercial, o público tem os seus próprios gostos e nem sempre são previsíveis
quais os itens culturais a ele vendidos que obterão sucesso. Este ponto forma
outro ingrediente da cultura de massa. Por outro lado, as crenças e opiniões
acerca dos produtos da cultura comercial são espalhados de boca em boca,
sendo modificadas no processo, tal e qual como o folclore.
Uma fonte diferentede cultura popular são as comunidades profissionais que
providenciam fatos ao público, frequentemente acompanhados por
interpretação. Estas incluem os media de notícias, bem como as comunidades
científicas e acadêmicas. O trabalho de cientistas e acadêmicos é usualmente
minado pelos media de notícias e é transmitido ao público com ênfase em
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pseudo-fatos com poder para impressionar ou outros itens com atração
inerente.
Tanto os fatos acadêmicos como as histórias das notícias são modificadas por
transmissão folclórica, sendo por vezes transformadas em perfeitas falsidades,
conhecidas por mitos urbanos. Por outro lado, muitos dos mitos urbanos não
têm nenhuma origem factual e foram simplesmente inventados por diversão.
Feedback
Os trabalhadores criativos na música, cinema e televisão comercial - por
exemplo, escritores de guiões - são, obviamente, eles próprios membros de
uma sociedade cultural; na realidade, são, usualmente, membros totalmente
inseridos naquela. Esse fato gera frequentemente um feedback, na medida em
que a porção folclórica da cultura popular serve como uma alimentação da
porção comercial. Por exemplo, os estereótipos sobre os homossexuais
presentes na cultura popular podem ter uma influência importante nos filmes
com personagens homossexuais. Por sua vez, isto pode originar um feedback,
propagando os estereótipos, eventualmente de forma exagerada. Um exemplo
mais inocente será o dos escritores dos guiões da série de desenhos animados
Os Simpsons terem tido conhecimento da banda de música Kraftwerk pela
boca de amigos e conhecidos - leia-se, folcloricamente - e ao mencionar a
banda num dos episódios da série propagaram a fama deste grupo para
milhões de outros indivíduos.
Estudos
Embora a cultura popular não seja particularmente prestigiosa, levanta uma
série de questões importantes e interessantes, tais como o modo como se
dissemina ou que características são necessárias para que um item em
particular se torne parte da cultura popular.
Os estudos de cultura popular são uma disciplina acadêmica que estuda a
cultura popular. É geralmente considerada como uma combinação de estudos
de comunicação com estudos culturais. As discussões acadêmicas sobre a
cultura popular iniciaram-se mal se formou a sociedade de massas
contemporânea e os trabalhos inicialmente desenvolvidos sobre cultura popular
ainda influenciam os contemporâneos.
Teorias Tradicionais
A sociedade de massas
A sociedade de massas formou-se durante o processo da industrialização do
século XIX, através da especialização em tarefas, a organização industrial em
larga escala, a concentração de populações urbanas, a centralização crescente
do poder de decisão, o desenvolvimento de um complexo sistema de
comunicação internacional e o crescimento dos movimentos políticos das
massas.
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Alan Swingewood escreveu em O Mito da Cultura de Massa (1977) que a teoria
aristocrática da sociedade de massas está ligada à crise moral causada pelo
enfraquecimento dos centros tradicionais de autoridade, como a família e a
religião. A sociedade prevista por Ortega y Gasset, T. S. Eliot e outros autores
é uma dominada por massas filistinas, sem centros ou hierarquias de
autoridade moral ou cultural. Nesse tipo de sociedade, a arte só consegue
sobreviver se conseguir cortar as suas ligações com as massas, refugiando-se
nos valores ameaçados. Ao longo do século XX, este tipo de teoria foi utilizada
para distinguir a arte autônoma, pura e desinteressada da cultura de massa
comercializada.
A indústria da cultura
À primeira vista, diametralmente oposta à teoria aristocrática, a teoria da
indústria da cultura foi desenvolvida pelos teóricos da Escola de Frankfurt, tais
como Theodor W. Adorno, Max Horkheimer e Herbert Marcuse. Segundo estes
autores, as massas são dominadas por uma indústria de cultura que obedece
somente à lógica do capitalismo.
A evolução progressiva
Uma terceira teoria acerca da cultura popular, influenciada pela ideologia liberal
pluralista, é denominada frequentemente por evolucionismo progressivo e é
mais otimista. Encara a economia capitalista como a criação de oportunidades
para que qualquer indivíduo possa participar numa cultura completamente
democratizada pela educação em massa, expansão do tempo de lazer e
álbuns de música e livros baratos. Nesta visão, a cultura popular não ameaça a
alta cultura, sendo uma expressão autêntica das necessidades do povo. Como
escreve Swingewood (1977), neste caso não existe a questão da dominação
da cultura.
Estudos contemporâneos
Vestígios da teoria da indústria da cultura
Surge com a chegada da burguesia ao poder em alguns países capitalistas,
como foi o caso dos EUA e Inglaterra. O modelo capitalista de cultura procurou
meios para lucrar com uma cultura que ultrapassasse as fronteiras e atingisse
o mundo, isso com a ajuda da tecnologia em franco desenvolvimento
(imprensa, rádio, televisão, cinema), impondo assim uma cultura massificada
para diversos povos com culturas distintas.
Os processos sociais e suas expressões territoriais: atividades
econômicas e dinâmicas populacionais, urbanização, industrialização,
produção de conhecimentos, transformações tecnológicas e o mundo do
trabalho, apropriação privada da terra, a cidade, o campo
As Atividades Econômicas
Podemos classificar as atividades econômicas em:
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_ Secundárias: Industriais e de construção civil;
_ Terciárias: Comércio, serviços e administração pública;
_ Urbanas;
_ Primárias ou rurais: Agrícolas, garimpo, pesca artesanal.
Atualmente, com os modernos sistemas de transportes e de comunicações,
ampliaram-se a industrialização e a oferta de serviços no campo. Nas
modernas agroindústrias, as atividades industriais e de serviços empregam
mais pessoas do que as atividades agrícolas ou primarias.
O setor indústria, ou secundário também vem sofrendo modificações. Até o fim
dos anos 1970 e começo dos anos 1980, a maioria dos trabalhadores da
indústria trabalhavam em linhas de montagem, realizando tarefas mecânicas e
repetitivas. Atualmente, as linhas de montagem dessas indústrias tem elevados
índices de robotização e informatização da produção, utilizando numero
reduzido de trabalhadores.
As atividades terciárias empregam um numero crescente de trabalhadores.
Assim, a maioria dos empregados das indústrias de ponta estão prestando
serviços.
As atividades econômicas são então agrupadas em três ramos: agropecuárias,
industria e serviços.
As condições econômicas refletidas na distribuição da mão-de-obra por
atividade econômica, salvo em condições excepcionais, como em áreas
desértica e montanhosas, devem ser analisadas sempre tendo como base a
agropecuária. A modernização da agropecuária é induzida por vários fatores:
processo de industrialização-urbanizaçao, competitividade no setor exportação,
concorrência de produtos importados, necessidade de preservação das
condições ecológicas e de utilização racional dos recursos naturais _
desenvolvimento sustentável.
Dinâmica populacional
Em biologia (principalmente na ecologia) e também em demografia, chama-se
dinâmica populacional à disciplina que estuda as variações na abundância
das populações de seres vivos.
O estudo da dinâmica das populações naturais é importante para compreender
o que ocorre nos ecossistemas em equilíbrio. Para avaliar o desenvolvimento
de uma população, é preciso conhecer certos atributos que lhe são
característicos: (N), (M), (I), (E).
Numa população animal, são os seguintes os fatores que alteram os seus
números:
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• taxa de natalidade (N) Número de indivíduos que nascem em um
determinado intervalo de tempo.
• taxa de mortalidade (M) Número de indivíduos que morrem em um
determinado período de tempo.
• taxa de imigração (I) Número de indivíduos que chegam a uma
população.
• taxa de emigração (E) Número de indivíduos que saem de uma
população.
• densidade populacional (D) é a relação entre o número de indivíduos
que compõem determinada população e o espaço ocupado por eles. D =
n° de indivíduos/espaço.
Para uma população em equilíbrio, temos: N+I = M+E
O Processo de Urbanização
Introdução
Uma cidade nasce a partir do momento em que um determinado número de
pessoas se instala numa certa região através de um processo denominado de
urbanização.
Diversos fatores são determinantes na formação das cidades, tais como a
industrialização, o crescimento demográfico, etc...
Cidade
As primeiras cidades surgiram na Mesopotâmia (atual Iraque), depois vieram
as cidades do Vale Nilo, do Indo, da região mediterrânea e Europa e,
finalmente, as cidades da China e do Novo
Mundo.
Embora as primeiras cidades tenham aparecido há mais de 3.500 anos a.C., o
processo de urbanização moderno teve início no século XVIII, em
conseqüência da Revolução Industrial, desencadeada primeiro na Europa e, a
seguir, nas demais áreas de desenvolvimento do mundo atual. No caso do
Terceiro Mundo, a urbanização é um fato bem recente. Hoje, quase metade da
população mundial vive em cidades, e a tendência é aumentar cada vez mais.
A cidade subordinou o campo e estabeleceu uma divisão de trabalho segundo
a qual cabe a ele fornecer alimentos e matérias-primas a ela, recebendo em
troca produtos industrializados, tecnologia etc. Mas o fato de o campo ser
subordinado à cidade não quer dizer que ele perdeu sua importância, pois não
podemos deixar de levar em conta que:
Por não ser auto-suficiente, a sobrevivência da cidade depende do campo;
Quanto maior a urbanização maior a dependência da cidade em relação ao
campo no tocante à necessidade de alimentos e matérias-primas agrícolas.
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Como uma cidade se forma:
A urbanização
Fenômeno ao mesmo tempo demográfico e social, a urbanização é uma das
mais poderosas manifestações das relações econômicas e do modo de vida
vigentes numa comunidade em dado momento histórico.
Urbanização é o processo mediante o qual uma população se instala e
multiplica numa área dada, que aos poucos se estrutura como cidade.
Fenômenos como a industrialização e o crescimento demográfico são
determinantes na formação das cidades, que resultam, no entanto da
integração de diversas dimensões sociais, econômicas, culturais e
psicossociais em que se desempenham papéis relevantes às condições
políticas da nação.
O conceito de cidade muda segundo o contexto histórico e geográfico, mas o
critério demográfico é o mais usualmente empregado. A Organização das
Nações Unidas (ONU) recomenda que os países considerem urbanos os
lugares em que se concentrem mais de vinte mil habitantes. As nações, porém,
organizam suas estatísticas com base em muitos e diferentes padrões. Os
Estados Unidos, por exemplo, identificam como "centro urbano" qualquer
localidade onde vivam mais de 2.500 pessoas. O processo de urbanização, no
entanto, não se limita à concentração demográfica ou à construção de
elementos visíveis sobre o solo, mas inclui o surgimento de novas relações
econômicas e de uma identidade urbana peculiar que se traduz em estilos de
vida próprios.
Para avaliar a taxa de urbanização de um país utilizam-se três variáveis: o
percentual da população que vive nas cidades de mais de vinte mil habitantes;
o percentual da população que vive em cidades de mais de cem mil habitantes;
e o percentual da população urbana classificada como tal segundo o critério
oficial do país. A taxa de urbanização também pode ser expressa mediante a
aplicação da noção de densidade, isto é, o número de cidades de mais de cem
mil habitantes comparado à densidade demográfica total. Com esse método é
possível comparar entre si regiões e países.
Existe estreita correlação entre os processos de urbanização, industrialização e
crescimento demográfico. A cidade pré-industrial caracteriza-se pela
simplicidade das estruturas urbanas, economia artesanal organizada em base
familiar e dimensões restritas. Sob o impacto da industrialização, modificam-se
em quantidade e qualidade as atividades econômicas, acelera-se a expansão
urbana e aumenta a concentração demográfica. As antigas estruturas sociais e
econômicas desaparecem e surge uma nova ordem, que passa a ser
característica das cidades industriais. Nesse primeiro período, a indústria
pesada e concentrada, grande consumidora de mão-de-obra, atrai para os
novos centros contingentes populacionais que exercem sobre as estruturas de
serviço existentes demandas que não podem ser atendidas.
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Com a continuidade do processo de urbanização, a cidade se transforma de
diversas formas: setores urbanos se especializam; as vias de comunicação se
tornam mais racionais; criam-se novos órgãos administrativos; implantam-se
indústrias gradativamente na periferia do núcleo urbano original e modificam-
lhe a feição; classes médias e operárias que, pela limitação da oferta existente
em habitação, passam a alojar-se em subúrbios e mesmo em favelas; e,
sobretudo, a cidade deixa de ser uma entidade espacial bem delimitada.
A expansão industrial se acompanha de acelerado desenvolvimento do
comércio e do setor de serviços, e de importante redução da população
agrícola ativa. O crescimento das cidades passa a ser, ao mesmo tempo,
conseqüência e causa dessa evolução. A indústria, mecanizada, passa a
consumir mão-de-obra
mais reduzida e especializada. As atividades terciárias tomam seu lugar como
motores de crescimento urbano e, em conseqüência, do processo de
urbanização.
Urbanização contemporânea:
As características essenciais da urbanização contemporânea são sua
velocidade e generalização, o que acarreta grande sobrecarga para a rede de
serviços públicos, acentua os contrastes entre zonas urbana e rural e
aprofunda as insuficiências econômicas de produção, distribuição e consumo.
Os sistemas de produção chegam a um ponto de estrangulamento, enquanto
as necessidades de consumo passam por intensa vitalização. O somatório de
todos esses fatores acaba por produzir um estado de desequilíbrio.
Em função do congestionamento, a cidade tende a expandir seus limites e
nascem assim bairros, subúrbios e a periferia, que podem dar origem a novas
cidades. A urbanização estendida a uma grande área circundante origina uma
nova morfologia urbana, na qual se distinguem regiões diversas: zona
urbanizada, isto é, conjunto ininterrupto de habitações; zona metropolitana, que
engloba o núcleo central e seus arredores; megalópole, resultado da fusão de
várias zonas metropolitanas; cidades novas e cidades-satélites.
Independentemente da forma que assume, o processo de urbanização
apresenta sempre uma hierarquia, isto é, cidades de tamanhos diferentes e
com funções diversas: capitais, descanso, turismo, industriais e outras.
Qualquer que seja sua função, a cidade não é apenas uma unidade de
produção e consumo, caracterizada por suas dimensões, densidade e
congestionamento.
Representa também uma força social, uma variável independente no interior de
um processo mais amplo capaz de exercer as mais variadas influências sobre
a população e cuja principal conseqüência é o surgimento de uma cultura
urbana. No plano material, essa cultura cria um meio técnico e inúmeras
exigências concretas: água, esgotos