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Universidade Federal de São Carlos Campus Sorocaba Componente Curricular: Química Ambiental. Professora Doutora Elisabete Alves Pereira. Aula Prática VI - Análise qualitativa de dióxido de nitrogênio (NO₂) em amostra de ar interno da sua residência. Realizado no dia 22 de Janeiro de 2024. Integrantes: Emanuele Vitoria da Silva RA: 805808 Helen Aparecida Jamas dos Santos RA: 812955 Vanessa Alcantara Camacho RA: 769313 Sorocaba, Janeiro de 2024 Introdução Ao longo dos anos, a emissão de poluentes atmosféricos no planeta foi se intensificando, principalmente, devido ao tráfego de veículos e ao crescente processo de industrialização. Nas grandes cidades, os automóveis se destacam como a principal fonte de emissão desses poluentes, enquanto que as indústrias afetam regiões mais específicas (CETESB, 2017). A presença de dióxido de nitrogênio (NO₂) em altas concentrações na atmosfera é devido particularmente às atividades antropogênicas como ao tráfego de veículos automotores, processos de queima de combustíveis em fornos e caldeiras industriais e indústrias de fertilizantes (SILVA, 2013). Outras fontes não antropogênicas do gás são a ação de microrganismos sobre os fertilizantes de nitrogênio, a queima de biomassa, descargas elétricas atmosféricas e em menor parcela a oxidação de NH₃ atmosférico (MANAHAN, STANLEY E. 2013). Tendo em vista que a exposição por um longo período de tempo a este gás é prejudicial à saúde humana pois pode causar efeitos no sistema respiratório humano como enfisema (CETESB), evidencia-se a importância de analisar a concentração deste gás no ar que circula dentro das residências. Resultados e discussões Para determinar a concentração de NO₂ presente em uma amostra de ar interno da residência de um dos membros da equipe, foram utilizadas 2 gotas de uma solução de trietanolamina (C6H15NO3) 11% v/v que serviu para adsorver NO₂ sobre um filtro de papel. Foi feito também um recipiente controle. Os resultados do experimento estão apresentados na tabela 1. Tabela 1: Concentração de NO₂ nas amostras Amostras Valor p.p.m. Nível Amostra Controle 0,0 p.p.m. Ideal Amostragem 0,5 p.p.m. Crítico Fonte: As autoras Após uma semana em contato com o ar interno da residência, a amostra testada com o kit labcon Test apresentou coloração levemente rosada indicando um nível de 0,5 ppm de NO₂, apontado como “crítico” pelo kit, como é possível observar na Figura 1. Figura 1: A) escala de cores kit labcon Test. B) Coloração final da Amostra e Controle após a utilização dos reagentes do kit. Fonte: As autoras. O amostrador passivo utilizado no experimento foi colocado no interior do quarto de um dos membros da equipe que tem o hábito de fumar tabaco regularmente dentro do cômodo. A emissão de NO₂ em ambientes internos está associada a processos de combustão em fogões residenciais, aquecedores e a fumaça de cigarros em geral (UGUCIONE; MACHADO; CARDOSO, 2009). Sendo assim, devido às substâncias emitidas na queima do tabaco, sendo uma delas o NO₂, aumenta-se a concentração deste composto no ar. Um estudo estimou que a emissão média de NO por fumo de tabaco é 0,6 mg, e consequentemente há mais NO₂ na atmosfera (VIEIRA, 2018). O NO₂ é um gás oxidante normalmente produzido por processos de combustão e atualmente existem vários estudos publicados acerca da problemática de agentes oxidantes encontrados no ar que formam/transformam contaminantes em locais fechados (BRICKUS; AQUINO NETO, 1999), piorando assim a qualidade do ar nesses recintos. Portanto, é necessário monitorar e controlar a quantidade que é liberada deste gás para a atmosfera, pois o NO₂ afeta a saúde da população, provocando irritação no sistema respiratório. Sob a ação da radiação solar, participa na formação de oxidantes fotoquímicos como o ozônio, como pode ser observado na equação 1. Equação 1: COV + NOₓ + Luz Solar → O₃ + radicais orgânicos (SOUZA,2023) O NO₂ também é o precursor da chuva ácida e forma material particulado na atmosfera, na forma de nitratos (CETESB, 2022). Entretanto, esta não é uma tarefa tão fácil, uma vez que, os óxidos de nitrogênio são lançados na atmosfera por qualquer processo de combustão, destacando-se os veículos pesados como principal fonte nas áreas urbanas. O resultado da quantidade de NO obtido no experimento apontaram 0,5 p.p.m., ao₂ converter este valor de p.p.m para mol/L, sabendo que o p.p.m. é parte por milhão e isso equivale a 1 mol/L, o valor obtido é 0,5 mol/L. Então, de acordo com a equação 2, tem-se: Equação 2: 𝐶 = 𝐶 (𝑚𝑜𝑙/𝐿) * 𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑙𝑒𝑐𝑢𝑙𝑎𝑟 (𝑔. 𝑚𝑜𝑙 − ¹)/ 24, 45 𝐿 (O 24,45 L se refere ao volume molar a 25º C e pressão de 1 ATM) 𝐶 = 0, 5 𝑚𝑜𝑙/𝐿 * 46 (𝑔. 𝑚𝑜𝑙)/ 24, 45 𝐿 0,94 g𝐶 = Quando convertemos o resultado do teste para ug/m³, obtem-se 9,4 ug/m³. Os padrões de qualidade do ar estabelecidas pelos Padrões Estaduais de Qualidade do Ar, Decreto Estadual nº 59113 de 23/04/2013, e que foram restabelecidos pelas Metas I e II e aprovadas pela Deliberação CONSEMA nº 4, de 19/05/2021 (publicada no DOE de 26/05/2021), afirmam que o valor de emissão do poluente atmosférico NO₂, dentro do período de um ano é de 200 ug/m³, e 50 ug/m³ por hora (CETESB, 2015). Ao comparar os resultados do experimento e os padrões estaduais estabelecidos, pode-se afirmar que o resultado do experimento está dentro do padrão estabelecido pelo estado. Parte deste resultado, pode ser explicado por dois fatores. O primeiro fator, que pode ser levado em conta é o fato da cidade onde foi realizado o experimento, Sorocaba - SP, estar dentro do grupo das cidades que tem a qualidade do ar considerada como boa, e atende aos requisitos impostos pela Meta II, proposta pelo Decreto Estadual nº 59113 de 23/04/2013 (CETESB, 2022), no local onde foi deixado o amostrador havia uma janela que não era próxima a uma avenida, onde há fluxo de automóveis, então o ar que circulava de fora para dentro não possuía poluentes provenientes de combustíveis fósseis que são comumente relacionados a fonte de NO. O outro fator que pode ter influenciado nos resultados obtidos pelo experimento é o clima, pois na semana em que foi feita a amostragem houveram dias de chuva, e a chuva é um fator que influencia nas concentrações atmosféricas, em razão das condições meteorológicas (CETESB, 2022). Logo, por conta das chuvas ocorridas naquela semana, a quantidade de NO₂ presente no ar e que pode ser captada pelo filtro, foi menor, se comparada a uma semana não chuvosa, em decorrência da interação do dióxido de nitrogênio com os outros compostos disponíveis na atmosfera. Para realização de uma análise qualitativa, utilizou-se um controle, que foi mantido em saco para evitar contaminação. Após uma semana, conduziu-se análises para determinar a concentração do amostrador. Adotou-se que a difusão de um gás A, dentro de um cilindro contendo um gás estagnado B, é governada pela primeira Lei de Fick, que permite encontrar a concentração média de NO₂ amostrado no tempo t, (MELCHERT & CARDOSO, 2006). A Equação 3 possibilita o cálculo da concentração do gás na atmosfera. Equação 3: 𝐽 = − 𝐷 . 𝑑𝐶 𝑑𝑥 Para essa equação, o é a quantidade de NO₂ (mol) recolhida durante o tempo t de𝐽 amostragem (segundos), é o coeficiente de difusão em , é a concentração em e𝐷 𝑚2/𝑠 𝑑𝐶 𝑚𝑜𝑙/𝑚3 é a distância em m.𝑑𝑥 Diâmetro do círculo de papel filtro utilizado no experimento: 40mm ou 4 cm J = D = 3,6*10⁹ m²/s dC = 500 mol/m³ dx = 0,04 m https://smastr16.blob.core.windows.net/consema/sites/15/2021/05/del-04_2021-meta-intermediaria-etapa-2-mi2.pdf https://smastr16.blob.core.windows.net/consema/sites/15/2021/05/del-04_2021-meta-intermediaria-etapa-2-mi2.pdf 𝐽 = − 10⁹ 𝑚²/𝑠 * (500𝑚𝑜𝑙/𝑚³ / 0, 04 𝑚) 𝐽 = − 10⁹ 𝑚²/𝑠 * (12500 𝑚𝑜𝑙/𝑚) 𝐽 = − 1, 2 * 10¹³ 𝑚𝑜𝑙/𝑠 A lei de Fick é a relação entre o diâmetro do filtro utilizado no experimento com a quantidade de mols de NO₂ que são adsorvidos pelo filtro, durante um determinado período de tempo. Durante o tempo em que o papel filtro do experimentoficou exposto, em um ambiente interno, ele adsorveu cerca de 1,2 * 10¹³ mol/s, esse resultado, assim como as análises feitas em laboratório e os cálculos anteriores, mostram que a quantidade de NO₂ liberada neste ambiente, durante este período de tempo foi baixa. Conclusão O experimento realizado apresentou resultados positivos para a qualidade do ar, revelando que a quantidade de NO₂ presente no ar não é nociva ou apresenta riscos à saúde, demonstrando também que, a cidade onde foi realizado o experimento, apresenta a qualidade de ar dentro do parâmetro bom segundo a CETESB. A baixa emissão de NO₂, não é vista como algo positivo apenas pela influência na qualidade do ar, mas também, porque o NO₂ é um gás que auxilia na intensificação do efeito estufa, por conta da sua participação no ciclo do ozônio, dessa forma, quanto menor a quantidade de dióxido de nitrogênio for liberado para a atmosfera, melhor, pois menor será a influência deste gás na intensificação do efeito estufa. Dentre os gases emitidos ao fumar tabaco, é possível observar que o NO₂ é um dos elementos que não se encontram em tão alta quantidade, visto que a concentração deste não foi alta nos resultados, e esse mecanismo de queima do tabaco seria o maior contribuinte para o acúmulo deste poluente no ar interno, diferentemente de ambientes externos, onde a maior fonte de emissões de dióxido de nitrogênio, são provenientes dos veículos automotores, movidos a queima de combustíveis fósseis. Referências BAIRD, Colin. e CANN, Michael. Química ambiental. Bookman, 2º edição, 2002. 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