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"SETEMBRO VERDE: A RELEVÂNCIA DA INCLUSÃO SOCIAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL SOB A PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA" Yoná Rolc Atitudes e ações inclusivas e empáticas tem se tornado imperativo nas práticas pedagógicas. Compreendendo que, pela Educação podemos construir uma sociedade mais justa e equânime, que aceita a diversidade e a trata como de fato ela é, inerente ao ser humano. A importância de pensar e propor sobre tempos, espaços e materialidades que sejam para todos, respeitando suas particularidades e especificidades, é de suma importância. Ter como premissa que a garantia de condições (oportunidade e possibilidade) nesse contexto é crucial para garantir que todos os alunos, independentemente de suas condições, tenham acesso à educação de qualidade. Este artigo, fomentado pelo Setembro Verde, discute elementos com ênfase na interação de crianças e bebês com a diversidade, a deficiência enquanto característica do individuo, aplicação do Desenho Universal para Aprendizagem (DUA), as legislações municipais em São Paulo e as ações da Secretaria Municipal de Educação (SME) por meio do CEFAI . A Relação dos Bebês e Crianças com a Diversidade Uma das coisas mais importantes e belas na educação infantil é a convivência e interação de bebês e crianças pequenas. São tão rica que refletem a naturalidade da diversidade de suas características, personalidades e capacidades, onde flui afeto e aceitação. Sabemos que existem exceções, estas que muitas vezes replicam a influência do olhar e atitude dos adultos próximos. Nesse contexto, a forma como as crianças lidam com a diversidade, incluindo dificuldades e deficiências, é uma demonstração da naturalidade com que os mais jovens aceitam as diferenças entre si. Ao contrário dos adultos, as crianças tendem a perceber a diversidade como uma parte inerente das relações humanas, muitas vezes expressando curiosidade e empatia em vez de preconceito. Maria Teresa Eglér Mantoan (2003), uma das principais defensoras da educação inclusiva no Brasil, afirma que "as crianças, quando convivem desde cedo com a diversidade, desenvolvem uma visão de mundo mais ampla e inclusiva, pois aprendem que as diferenças fazem parte da vida e que todos têm o direito de participar e ser respeitados". Crianças pequenas geralmente enxergam os colegas como parceiros independentemente de suas capacidades físicas ou cognitivas. Essa naturalidade é fundamental para a construção de uma sociedade mais inclusiva, como aponta Romeu Kazumi Sassaki (2006), ao afirmar que "a inclusão não deve ser vista como um favor ou uma concessão, mas como um direito de todos à participação plena em todas as esferas da vida social". O objetivo da educação inclusiva esta na promoção de um ambiente que incentive a aceitação mútua e que responda às necessidades de todas as crianças de maneira equitativa. Como observa Vera Maria Ferrão Candau (2012), "o ambiente escolar deve ser um espaço que respeite as diferenças e que, por meio da educação, construa o respeito à diversidade". A aceitação de si como diverso e único, deveria ser algo dialogado desde o nascimento, quiçá durante a gestação e a alegria e contentamento da chegada deveria ocorrer a cada primeiro contato com este bebê, porém, a rejeição ( seja ela consciente ou inconsciente ), do sexo, cor, características físicas, já imprimem no inconsciente deste individuo o sentimento de inadequação, assim sendo, esta criança terá dificuldades de aceitar a si e ao outro e ao crescer, se tornará em um adulto extremamente preconceituoso. Embora a aceitação da diversidade seja mais natural nas crianças, o preconceito pode surgir em função da falta de entendimento ou da repetição de comportamentos e discursos preconceituosos por parte de adultos. Por isso, é essencial que a educação infantil seja orientada por princípios inclusivos, promovendo atividades que incentivem a participação de todas as crianças, respeitando suas individualidades e capacidades. Deficiência: Especificidade, Diversidade e Educação Inclusiva na Primeira Infância. A reflexão sobre crianças e bebês com deficiência deve partir do reconhecimento de que a deficiência é uma das muitas características que compõem a diversidade humana. Desde cedo, essas crianças enfrentam desafios impostos por uma sociedade que ainda não está preparada para lidar com a diferença de maneira inclusiva. O capacitismo, entendido como a discriminação e o preconceito contra pessoas com deficiência, reforça exclusão dessas crianças, tratando a deficiência como algo que deve ser corrigido, em vez de ser entendido como uma especificidade que enriquece a pluralidade humana. Como destaca Romeu Kazumi Sassaki (2006), a inclusão só será verdadeira quando todas as pessoas, independentemente de suas características, forem vistas como plenamente capazes de participar da vida em sociedade. Isso inclui o reconhecimento de que crianças e bebês com deficiência não são "anormais" ou "defeituosos", mas possuem formas próprias de desenvolvimento que devem ser respeitadas e valorizadas. A escola, muitas vezes, é um reflexo dessa sociedade que ainda se estrutura em torno de um paradigma de normalidade. Como observa Leandro de Lajonquière (2013), as práticas educativas tendem a ser construído com base em um modelo único de criança, o que exclui aquelas que não se encaixam nesse padrão. Entender que esta diversidade é rica em potencialidade, requer conhecimento, compreensão e respeito às individualidades. A Educação Infantil na Perspectiva Inclusiva A legislação brasileira tem avançado no sentido de promover uma educação inclusiva desde a primeira infância. A Constituição Federal de 1988 assegura a educação como um direito de todos, e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN, Lei nº 9.394/1996) reforça esse direito, afirmando que a educação deve ser oferecida sem discriminação, com a garantia de igualdade de acesso e permanência na escola. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008) é outro marco importante, estabelecendo que a educação inclusiva deve ser garantida desde a educação infantil. Essa política enfatiza que as escolas devem adaptar seus espaços, tempos e materialidades para acolher todas as crianças, incluindo aquelas com deficiência. Isso significa criar ambientes acolhedores, adaptados e ricos em possibilidades para que todas as crianças possam se desenvolver plenamente. Falamos muito em adaptações (arquitetônicas, de materiais etc.) o que comprova que existem modelos específicos, referenciais que por si só não comtemplam a diversidade, a todos. A ignorância refletida no capacitismo e o paradigma da normalidade O despreparo da sociedade em aceitar a diversidade se manifesta, principalmente, na manutenção de um paradigma que vê o ser humano "normal" como aquele que se encaixa em padrões rígidos de desenvolvimento físico e cognitivo. Esse paradigma, como nos alerta Boaventura de Sousa Santos (2004), é uma construção histórica que marginaliza aqueles que não correspondem a esses padrões. Quando aplicado a crianças e bebês, esse pensamento patologiza a deficiência, tratando-a como algo a ser superado (capacitismo), e não como uma característica que deve ser integrada à diversidade humana. Para superar esse despreparo, é necessário investir em políticas públicas que promovam a inclusão desde a primeira infância, garantindo que as crianças com deficiência tenham acesso a ambientes que respeitem suas necessidades e potencialidades já nos seus projetos. Isso inclui desde a formação de professores para lidar com a diversidade até a construção de espaços físicos e materiais pedagógicos nas escolas que contemplem a diversidade. A inclusão de crianças e bebês com deficiência na educação infantil é um passo essencial para a construçãode uma sociedade mais justa e plural. Superar o capacitismo e o paradigma do ser humano "normal" requer uma mudança de mentalidade que valorize a diversidade como um elemento enriquecedor da convivência humana. A legislação brasileira oferece o suporte necessário para essa transformação, mas a verdadeira mudança só ocorrerá quando a sociedade estiver preparada para aceitar e acolher as diferenças desde os primeiros anos de vida. O Desenho Universal para Aprendizagem (DUA) e sua importância no Desenvolvimento de Crianças e Bebês com Deficiência Entender que a deficiência é uma característica do individuo e não uma patologia a ser curada ou uma fraqueza a ser superada é o caminho para uma consciência inclusiva. A consciência inclusiva sempre indicará o pensar inclusivo, este que vai de encontro a eliminação de barreiras. O Desenho Universal para Aprendizagem (DUA) é uma abordagem pedagógica que visa criar ambientes de ensino acessíveis para todos os estudantes, independentemente de suas habilidades ou características. Sua importância no desenvolvimento e aprendizado de crianças e bebês com deficiência é central, pois o DUA reconhece a deficiência como uma especificidade dentro da diversidade humana, afastando-se das práticas capacitistas que tratam a deficiência como algo a ser "corrigido". Ao contrário, o DUA promove uma educação inclusiva e equitativa desde os primeiros anos de vida, garantindo que todas as crianças possam desenvolver suas capacidades em um ambiente que respeite suas singularidades. Ele, em sua concepção propõe múltiplas formas de engajamento, representação e ação na aprendizagem, levando em consideração as diferentes maneiras pelas quais as crianças interagem com o mundo e adquirem conhecimento. Para crianças e bebês com deficiência, isso significa que as atividades pedagógicas contemplam em seu cerne o respeitar o ritmo de desenvolvimento e as formas únicas de aprender. Em vez de tentar normalizar as crianças para que se encaixem em um padrão de "normalidade", como aponta Romeu Kazumi Sassaki (2006), o DUA valoriza a diversidade como uma riqueza. Essa abordagem é essencial para romper com o paradigma capacitista, que vê as crianças com deficiência como "defeituosas" ou "anormais". O capacitismo, como lembra Leandro de Lajonquière (2013), é uma forma de opressão que limita as possibilidades dessas crianças, negando-lhes o direito de expressar suas capacidades da maneira que lhes é própria. A aceitação e implementação do DUA pela sociedade é um passo fundamental para a criação e manutenção de uma sociedade mais justa e acessível. O DUA não se limita às escolas; ele propõe um conceito mais amplo de acessibilidade que envolve todos os espaços sociais. A Lei Brasileira de Inclusão (LBI), Lei nº 13.146/2015, no seu Artigo 3º, define barreiras que precisam ser removidas para que a inclusão seja efetiva. Essas barreiras são classificadas em seis tipos: urbanísticas/arquitetônicas, nos transportes, nas comunicações e na informação, atitudinais e tecnológicas. Para crianças e bebês com deficiência, a superação dessas barreiras é crucial. As barreiras urbanísticas/arquitetônicas, podem impedir que essas crianças acessem os espaços educativos e recreativos. Já as atitudinais envolvem preconceitos e estigmas, são igualmente prejudiciais, pois reforçam a ideia de que essas crianças são "incapazes" de participar plenamente da sociedade. A implementação do DUA é essencial para garantir que todas as crianças, tenham acesso a uma educação inclusiva que respeite suas especificidades e celebre a diversidade. O rompimento com o capacitismo e a superação das barreiras descritas na LBI são passos necessários para construir uma sociedade mais justa e acessível. O DUA oferece um caminho promissor para essa transformação, proporcionando às crianças e bebês com deficiência a oportunidade de se desenvolverem em um ambiente que valoriza suas capacidades únicas. No contexto da educação inclusiva, a aplicação do DUA permite que os alunos tenham acesso a uma educação mais personalizada e adaptada às suas necessidades. Em São Paulo, a adoção de práticas baseadas no DUA vem sendo incentivada por programas da SME, como o trabalho desenvolvido pelos Centros de Formação e Acompanhamento à Inclusão (CEFAI), que buscam auxiliar as escolas a implementarem essas práticas inclusivas. Setembro Verde: Mês da Pessoa com Deficiência Uma campanha que tem como objetivo promover a conscientização sobre a importância da inclusão das pessoas com deficiência. Essa temática ganhou relevância em setembro devido à proximidade com o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, comemorado no dia 21 de setembro, e também ao fato de o mês simbolizar renovação, crescimento e conscientização. O movimento Setembro Verde começou a ganhar força a partir de iniciativas de organizações da sociedade civil e foi rapidamente incorporado por várias instituições públicas e privadas. No município de São Paulo, essa campanha é adotada como uma forma de fortalecer o diálogo sobre os direitos das pessoas com deficiência e a necessidade de inclusão plena na sociedade. A Secretaria Municipal de Educação (SME) de São Paulo, por meio do CEFAI, desempenha um papel fundamental na promoção da educação inclusiva. Os CEFAIs são responsáveis por acompanhar e assessorar as escolas no desenvolvimento de estratégias pedagógicas inclusivas, além de fornecer apoio especializado aos professores. Durante o Setembro Verde, a SME intensifica suas ações de sensibilização e formação. Entre as atividades promovidas pelo CEFAI estão seminários, oficinas e campanhas educativas que envolvem a comunidade escolar e as famílias, fomentando a reflexão sobre a importância de ambientes inclusivos e do respeito à diversidade. Essas ações têm como objetivo não apenas celebrar a inclusão durante o mês de setembro, mas também consolidar práticas inclusivas permanentes nas escolas, contribuindo para a transformação do ambiente educacional em um espaço verdadeiramente acolhedor para todos. Conclusão Em conclusão, o Setembro Verde destaca a importância de repensar a educação infantil sob a perspectiva inclusiva, promovendo uma consciência coletiva que valorize a diversidade e combata o capacitismo. Ao reconhecer a deficiência como uma característica que enriquece a pluralidade humana, a sociedade avança em direção a uma educação que respeite e atenda às especificidades de cada criança. O Desenho Universal para Aprendizagem (DUA) se apresenta como uma abordagem fundamental para garantir que crianças com deficiência possam desenvolver suas capacidades em um ambiente adaptado e inclusivo. As ações da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, através do CEFAI, desempenham um papel essencial na implementação de práticas pedagógicas inclusivas, intensificando a conscientização e promovendo uma educação acessível a todos. Assim, o Setembro Verde não apenas celebra a inclusão, mas reforça a necessidade de transformações permanentes nas práticas educacionais, visando uma sociedade mais justa e equânime. Referências - BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. - BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). - BRASIL. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Ministério da Educação, 2008. - CANDAU, Vera Maria Ferrão. Educação e Diversidade Cultural: Experiências, Currículo e Formação de Professores. Petrópolis: Vozes, 2012. - LAJONQUIÈRE, Leandro de. O que é um corpo? Corporeidade e Educação.São Paulo: Cortez, 2013. - MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão Escolar: O que é? Por quê? Como Fazer? São Paulo: Moderna, 2003. - SANTOS, Boaventura de Sousa. A Gramáticado Tempo: Para uma Nova Cultura Política.* São Paulo: Cortez, 2004. - SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: Construindo uma Sociedade para Todos. Rio de Janeiro: WVA, 2006.