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CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE ENSINO - FAE 
 
 
 
JULIANA DIAS PINTO RIBEIRO 
 
 
 
 
 
 
PERCEPÇÃO DO TRABALHADOR DE FRIGORÍFICO 
SOBRE AS SUAS CONDIÇÕES DE TRABALHO, 
SAÚDE E VIDA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO JOÃO DA BOA VISTA - SP 
 2017 
 
 
2 
 
 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE ENSINO – FAE 
 
 
 
 
 
JULIANA DIAS PINTO RIBEIRO 
 
 
 
 
PERCEPÇÃO DO TRABALHADOR DE FRIGORÍFICO 
SOBRE AS SUAS CONDIÇÕES DE TRABALHO, 
SAÚDE E VIDA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO JOÃO DA BOA VISTA - SP 
2017 
Dissertação de mestrado apresentada ao Centro 
Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – 
FAE, como requisito parcial para obtenção do título de 
mestre em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade 
de Vida. 
Área de concentração: Desenvolvimento Sustentável. 
Orientadora: Profª. Drª. Carmen Beatriz Rodrigues 
Fabriani. 
 
 
 
 
3 
 
 
 
 
JULIANA DIAS PINTO RIBEIRO 
 
 
 
 
PERCEPÇÃO DO TRABALHADOR DE FRIGORÍFICO 
SOBRE AS SUAS CONDIÇÕES DE TRABALHO, 
SAÚDE E VIDA 
 
 
Dissertação de mestrado apresentada ao Centro Universitário das Faculdades 
Associadas de Ensino – FAE, como requisito parcial para obtenção do título de mestre 
em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida. 
 
 
 
Dissertação defendida e aprovada em: 23/06/2017, pela Banca Examinadora 
constituída pelos professores: 
 
 
____________________________________________________________________ 
Profª. Drª. Carmen Beatriz Rodrigues Fabriani (Orientadora) 
UNIFAE/SP 
 
 
______________________________________________________________________ 
Profª. Drª. Raquel Rangel Cesario 
UNI-FACEF/SP 
 
______________________________________________________________________ 
Prof. Dr. Luciel Henrique de Oliveira 
UNIFAE/SP 
 
 
 
 
4 
 
 
Dedico 
 
Aos trabalhadores entrevistados, agradeço cada frase, cada palavra e cada emoção 
compartilhada. 
A Professora Carmen Beatriz pelo carinho, incentivo e encorajamento durante a 
elaboração desta pesquisa. 
Aos Professores Luciel e Ana Cristina pelas observações feitas no projeto de 
qualificação. 
Às minhas filhas, Maria Alice e Maria Beatriz por preencherem minha vida. 
Ao Meu esposo por acreditar incondicionalmente em mim. 
Ao Frigorífico por me conceder permissão para este estudo. 
As amigas de mestrado: Lara, Ana Cláudia, Daniele, Flávia, Paula, Marília e Sandra. 
Pelos momentos de alegria, debate e reflexão. 
Ao Brasil que nós temos e ao Brasil que nós queremos. 
Ao Ferando Hech que por meio de sua dissertação de mestrado me inspirou durante 
toda a confecção deste trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
 
 
 
Mesmo quando tudo pede 
Um pouco mais de calma 
Até quando o corpo pede 
Um pouco mais de alma 
A vida não para... 
 
Enquanto o tempo 
Acelera e pede pressa 
Eu me recuso faço hora 
Vou na valsa 
A vida é tão rara... 
 
Enquanto todo mundo 
Espera a cura do mal 
E a loucura finge 
Que isso tudo é normal 
Eu finjo ter paciência... 
 
O mundo vai girando 
Cada vez mais veloz 
A gente espera do mundo 
E o mundo espera de nós 
Um pouco mais de paciência... 
 
Será que é tempo 
Que lhe falta para perceber? 
Será que temos esse tempo 
Para perder? 
E quem quer saber? 
A vida é tão rara 
Tão rara... 
 
 
Lenine 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
AUTOBIOGRAFIA 
 
Juliana Dias Pinto Ribeiro possui graduação em Engenharia de Produção e Qualidade 
pelo Centro Universitário da Fundação Educacional Guaxupé (Unifeg), especialização 
em Engenharia de Segurança do Trabalho pela Faculdade de Engenharia e Agrimensura 
de Pirassununga (FEAP), e apresenta aqui sua dissertação de Mestrado em 
Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida pelo Centro Universitário das 
Faculdades Associadas de Ensino – FAE (2016). Tem experiência na área de Segurança 
do Trabalho. Atuou como técnica de segurança do trabalho e coordenadora do sistema 
SASSMAQ (Sistema de Avaliação de Segurança, Saúde e Qualidade), no ramo de 
transporte de cargas perigosas. Posteriormente trabalhou no ramo da construção civil, 
em uma empresa de engenharia de fabricação e montagem de estruturas metálicas. 
Como Engenheira de Segurança do Trabalho atuou em um frigrífico de abate de aves, 
bem como em indústria de fabricação de plásticos. Foi professora no curso de pós 
graduação em engenharia de segurança do trabalho na Faculdade de Engenharia e 
Agrimensura de Pirassununga (FEAP). Atualmente trabalha como Engenheira de 
Segurança do Trabalho na RIOPLASTIC – Indústria e Comércio de Plásticos Rio Pardo 
EIRELI. Contato pelo e-mail julianaeng.dias@gmail.com 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
RESUMO 
Esta pesquisa visa contribuir com o debate sobre as transformações da organização do 
trabalho, seguindo os paradigmas do desenvolvimento sustentável, principalmente nas 
dimensões da justiça social e cultural, dos grupos de trabalhadores empregados na 
produção avícola no segmento de frigorífico. Trata-se de uma pesquisa de caráter 
exploratório com três enfoques básicos: primeiramente, buscou-se caracterizar as 
condições atuais da atividade de abate e processamento de aves por meio de pesquisa 
bibliográfica acerca das transformações ocorridas nos processos produtivos ao longo das 
décadas e seus impactos na vida e na saúde dos trabalhadores do segmento avícola. 
Em seguida procedemos com a observação participante na empresa objeto de estudo. A 
visita ao frigorífico ocorreu em dezembro de 2016, e nos possibilitou compreender como 
o trabalho é organizado neste segmento, bem como, descrevê-lo nesta pesquisa. O 
estudo de campo nos permitiu ainda, a preparação de um roteiro de entrevistas para o 
levantamento da percepção dos trabalhadores de frigorífico sobre as suas condições de 
trabalho, saúde e vida. Como forma de coleta de dados optamos pela entrevista semi-
estruturada com questões norteadoras para o desenvolvimento do tema. Para tanto, 
buscou-se respaldo no método qualitativo por permitir uma leitura crítica e reflexiva sobre 
os fatos levantados, além de proporcionar a relação direta entre o pesquisador e o sujeito 
de pesquisa. A pesquisa teve como recorte, a Indústria Avícola localizada no Município 
de São José do Rio Pardo, sudeste de São Paulo. Justifica-se a inserção em tal empresa, 
em razão da mesma apresentar altos índices de doenças profissionais e de absenteísmo, 
traço predominante das empresas frigoríficas. Ao todo foram entrevistadados cinco ex-
trabalhadores do frigorífico objeto de análise, sendo uma mulher e quatro homens, com 
idade entre 30 e 45 anos, totalizando cerca de 2h e 30 minutos de gravação. O 
processamento e análise dos dados foi realizado em três fases, a primeira consistiu na 
transcrição dos depoimentos. A segunda compreendeu a categorização segundo os 
seguintes descritores: estranhamento, medo, enfrentamento e compartilhamento do 
sofrimento. Os dados foram analisados sob o aspecto qualitativo que consiste na análise 
de conteúdo. Assim foi possível identificar a percepção do trabalhador sobre as formas 
de enfrentamento da adversidade inerente ao tipo de trabalho realizado e as implicações 
sobre seu cotidiano e de sua família. Constata-se o prejuízo à saúde psíquica e física e 
ainda que este ônus é vivido individualmente pelo empregado como se fosse uma 
externalidade do processo produtivo. Ao empresário cabe a lucratividade e ao empregado 
cabe a perda de sua saúde e a alienação da vida política e social quando lhe é negada o 
pleno exercício da cidadania. 
 
Palavras-chave: Percepção; Frigorífico; Condições de Trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
ABSTRACT 
This research aims to contribute to the discussion on the transformations of work 
organization, following the paradigms of sustainable development, mainly in the 
dimensions of social and cultural justice, of the groups of workers employedpode nos trazer informações importantes sobre os impactos ocasionados à 
saúde e vida dos trabalhadores de frigorífico. 
 
O processamento de aves nas indústrias avícolas inicia na granja, pois existe uma 
preocupação em relação a qualidade das matrizes. O grande desafio nesta fase é manter 
a uniformidade do ganho de peso das aves, que depende da qualidade genética da matriz 
e do controle de doenças. Superada a fase de criação, os cuidados se voltam para a 
captura da ave, transporte em gaiolas e descanso da mesma. Os procedimentos 
adotados nas respectivas fases consistem em manter a integridade da ave, ou seja, 
efetuar a captura sem feri-la, conter o estresse do animal, bem com minimizar a 
exposição da ave ao calor. Na indústria avícola o processo produtivo inicia-se na 
recepção das aves e termina na expedição do frango embalado. A figura 2 mostra o 
fluxograma do processo produtivo de abate e processamento de aves. 
 
 
 
 
 
42 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2: fluxograma produtivo da empresa. 
Banco de dados: elaborado pela autora, 2016. 
 
 
4.1.2. Processo de Recepção de Aves 
 
As aves são transportadas em gaiolas e chegam à empresa em caminhões. O 
transporte das aves é feito de madrugada por razões como controle de temperatura e 
estresse do animal. As gaiolas são descarregadas por um guincho elétrico e logo após 
são colocadas em uma esteira transportadora. Em seguida as aves são retiradas e 
penduradas na nória (linha aérea mecanizada) para serem abatidas. As atividades 
executadas neste setor são: operação do guincho elétrico, pendura do frango vivo na 
nória, lavagem de gaiolas e controle de qualidade. As figuras 3 e 4 demostram o 
respectivo setor. 
Recepção 
Sangria 
Escaldagem 
Depenagem 
Esviceração 
Higienização 
Resfriamento 
Expedição 
Classificação 
Armazenamento 
Inspeção Incineração 
Inspeção 
Comercialização 
Incineração 
Gotejamento 
Embalagem 
Cortes 
Sacos Plásticos e bandejas 
Retalhos 
 
 
43 
 
 
 
 Figura 3: plataforma de carga e descarga Figura 4: esteira de pendura nória 
Fonte: banco de dados da empresa 
 
4.1.3. Processo de Insensibilização e Sangria 
 
As aves vivas transportadas pela nória passam automaticamente pelo atordoador elétrico. 
O processo consiste no mergulho das aves em água com corrente elétrica provocando o 
choque elétrico para que haja a insensibilização. Continuando pendurada na nória, a ave passa 
pela área de sangria, onde um sangrador automático efetua o corte parcial do pescoço, tendo por 
finalidade extrair o sangue. É efetuado por um empregado o repasse do corte com uma faca 
manual. As figuras 5 e 6 ilustram os respectivos processos. 
 
 
 
44 
 
 
 Figura 5: processo de insensibilização Figura 6: processo de sangria 
Fonte: banco de dados da empresa 
 
4.1.4. Processo de Escaldagem e Depenagem 
 
O processo de escaldagem consiste no afrouxamento das penas das aves em um 
tanque de água quente, onde ficam de 2 a 3 minutos sob uma temperatura de 60°C. 
Nesta fase também ocorre a retirada das penas das aves, através de um rolo da máquina 
de depenagem. A figura 7 mostra esse processo. 
 
Figura 7: processo de escaldagem e depenagem 
Fonte: banco de dados da empresa 
 
 
45 
 
 
No setor de escaldagem são executadas ainda as atividades manuais de rependura 
das aves na nória, acondicionamento dos charutos de pés e inspeção na carcaça, 
conforme demostra a figura 8. 
 
 
Figura 8: processo de rependura, acondicionamento de charuto de pés e inspeção da carcaça 
Fonte: banco de dados da empresa 
 
 
4.1.5. Processo de Evisceração 
 
O processo de evisceração consiste no corte da cloaca e abertura do abdome. São 
retiradas manualmente as vísceras comestíveis e as vísceras não comestíveis. As 
comestíveis como, coração, fígado e moela são embaladas e colocadas no frango 
(miúdos), as vísceras não comestíveis são enviadas para o tanque de resíduos. A figura 
9 mostra o setor de evisceração. 
 
 
 
46 
 
 
Figura 9: setor de evisceração 
Fonte: banco de dados da empresa 
 
 
 
4.1.6. Processo de Pré-resfriamento 
 
O processo de pré-resfriamento consiste no mergulho das aves em um tanque 
de inox a uma temperatura de entrada de 10ºC por período de 12 minutos. O 
resfriamento é feito durante 18 minutos, sob uma temperatura de 4º C. As atividades 
realizadas neste setor são: operação de chiller e pré-chiller e rependura do frango vindo 
do pré-resfriamento de carcaças. A figura 10 mostra o setor de resfriamento. 
 
 
 
47 
 
 
Figura 10: setor de resfriamento 
Fonte: banco de dados da empresa 
 
 
4.1.7. Processo de Embalagem de Miúdos 
 
Coletar os miúdos da máquina de pré-resfriamento de miúdos para se efetuar a separação 
manual. As atividades executas neste setor são: coleta dos miúdos do chiller de miúdos, 
abastecimento das mesas de embalagem, envase manual de embalagens e abastecimento da 
embaladeira automática de miúdos. As figuras 11 e 12 demostram os respectivos processos. 
 
 
 
48 
 
 
 Figura11: envase manual de embalagens Figura 12: coleta de miúdos do chiller 
Fonte: banco de dados da empresa 
 
 
4.1.8. Processo de Embalagem do Frango Inteiro 
 
Este processo consiste em colocar a carcaça dentro de um funil. No funil a carcaça é 
acondicionada dentro de uma embalagem sendo fechada por um grampo metálico, utilizando-se 
para isso da máquina de grampear. A figura 13 mostra o setor de embalagem. 
 
 
 
49 
 
 
 Figura 13: setor de embalagem 
 Fonte: banco de dados da empresa 
 
4.1.9. Processo de Cortes 
 
Os cortes são realizados manualmente, sendo corte de asa, coxa e sobre coxa, 
peito e filé. A figura 14 ilustra o setor de cortes. 
 
Figura 14: setor de cortes 
Fonte: banco de dados da empresa 
 
 
50 
 
4.1.10. Processo de Resfriamento e Congelamento 
 
Este processo consiste em realizar a tarefa de pesagem dos produtos embalados e 
empilhados em caixas plásticas e efetuar o trasporte manual, por meio de ganchos de arraste, 
e armazená-los em câmaras frias e túnel de congelamento. As figuras 15 e 16 mostram o setor 
de pesagem e câmara de refrigeração. 
 
 
 Figura 15: setor de pesagem Figura 16: câmara de refrigeração 
Fonte: banco de dados da empresa 
 
 
Após os processos de refrigeração e de congelamento, o produto é destinado a 
expedição. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
51 
 
4.2. Análise dos Resultados 
 
Nesta seção, pretende-se analisar as entrevistas realizadas, a fim de problematizar 
e interpretar as categorias de análise: estranhamento, medo, enfrentamento e 
compartilhamento do sofrimento. Busca-se então, identificar nas falas dos sujeitos de 
pesquisa as formas de manifestação de tais categorias. 
 
4.2.1. Trabalho Estranhado 
 
O que se percebe na atualidade, é que, o sistema capitalista, apesar de administrar 
suas crises e de se recompor, não é capaz de sustentar a civilização e seus anseios. Os 
adoecimentos laborais contemporâneos expressam a precarização do trabalho nas 
condições do capitalismo global. 
 
Assim, a crítica que se faz ao capital deve passar pelo fenômeno do estranhamento, 
que consiste num processo de desumanização do homem na sua subjetividade e 
corporalidade, bem como de destruição da natureza. 
 
Marx foi genial ao descrever a relação metabólica do homem com a natureza: “o 
homem vive da natureza, isto é, a natureza é o seu corpo, e ele precisa manter com ela 
um diálogo continuado para não morrer” (MARX, 2004). 
 
Nesse sentido, homem e natureza estão ligados entre si, e para si, por meio de 
relações de mediação, regulação e metabolismo. Neste processo, o homem movimenta 
as forças naturais do seu corpo se apropriando danatureza para criação de coisas úteis 
a humanidade, transformando a sí pelo trabalho e o trabalho a partir de sí num processo 
de exteriorização da personalidade e interiorização do resultado. Por esta razão, o 
trabalho é considerado ontológico, consciente, social e vital. O ser humano, por meio do 
trabalho desenvolve a sua socialização e a sua humanização, que são de extrema 
utilidade social. 
 
 
 
52 
 
Contudo, sob o controle do capital, o trabalho assume um caráter contraditório, pois 
ao mesmo tempo em que o trabalho é fonte de humanização e fundador do ser social, 
sob a lógica do capital ele se torna degradado, alienado e estranho ao sujeito. O que 
significa dizer que o trabalho sob o controle do capital decaí na condição de mercadoria 
sendo mediado pelo valor, interposição do dinheiro e alimentação de um metabolismo 
que destrói a produção de coisas úteis e reproduz a produção do valor. 
 
Dessa forma, a apropriação dos recursos naturais pelo homem não visa a 
constituição de uma forma útil para a sua própria existência, mas sim, a acumulação de 
valor estranhado (ALVES, 2013). O trabalho estranhado e suas manifestações reflexivas 
tem como ponto de partida a propriedade privada do capital e a divisão hierárquica do 
trabalho, que, promovem, por sua vez, a precarização das relações contratuais, das 
relações inter-pessoais e inter-hierárquicas, das condições do ambiente interno de 
trabalho, das formas de gerenciamento e da organização do trabalho. 
 
Segundo Antunes (2013) pode-se verificar que os fenômenos de estranhamento 
típicos do taylorismo/fordismo que vigorou ao longo de quase todo o século XX, tiveram 
e ainda tem uma configuração acentuadamente mais controlada, embora mais 
regulamentada e contratualista, com uma formatação mais maquinal. O trabalho rígido, 
parcelado e fragmentado nos moldes taylorista-fordista é traço predominante nos 
processos produtivos dos frigoríficos avícolas. 
 
Portanto, iniciou-se as nossas análises da percepção que o trabalhador de frigorífico 
tem do seu trabalho, saúde e vida buscando identificar os fenômenos do estranhamento, 
enfrentamento, medo e compartilhamento do sofrimento nos relatos dos sujeitos de 
pesquisa. Iniciaremos as análises pela categoria de estranhamento a partir da definição 
de Antunes: 
 
o que significa dizer que, sob o capitalismo, o trabalhador repudia o trabalho; não 
se satisfaz, mas se degrada; não se reconhece, mas se nega, daí que o 
trabalhador só se sinta junto a si fora do trabalho e fora de si no trabalho o seu 
trabalho não é, portanto, voluntário, mas compulsório, trabalho forçado. Por 
 
 
53 
 
conseguinte, não é a satisfação de uma necessidade, mas somente um meio 
para satisfazer necessidades fora dele. (ANTUNES, 2011, p.145). 
 
O fenômeno do estranhamento aparece na fala dos sujeitos entrevistados, que, de 
maneira geral vão revelando seus sentimentos de repulsa e insatisfação em relação ao 
trabalho, como pode ser apreendido na fala de Paulo, ao se lembrar do período em que 
trabalhou no frigorífico. 
 
Ali era muito sofrido né, (...) só pensava em sair dali, só, (...) o pior é saber que 
se você não der um jeito de sair dali você vai morrer ali e nunca vai ser nada, pois 
não vai passar de nada, (...) pensava, as vezes eu pensava “o que eu tô fazendo 
aqui que eu não arrumei outra coisa”, mas é como eu te falei, é difícil arrumar 
outra coisa (Paulo, 34 anos, 7 anos de trabalho). 
 
Tal relato nos mostra que o trabalho em frigorífico, para o entrevistado, assim como 
a origem da palavra trabalho se resumem em fonte de tortura e sofrimento e a única 
possibilidade de sobrevivência do sujeito é fugir. 
 
Do depoimento de Paulo pode-se perceber ainda, que além do sentimento de 
repulsa em relação àquele tipo de trabalho, há um sentimento de indignação quando ele 
se pergunta o que está fazendo ali. Paulo conta que trabalhou em vários setores da 
empresa, entretanto, dois setores produtivos lhe vem a cabeça e o deixam indignado em 
relação ao trabalho vivido naquele ambiente. 
 
O pior serviço lá é a plataforma. Além do cheiro, que é forte, o frango faz cocô na 
gente, dá assadura nas juntas. Lá e a câmara fria, que precisa fazer muita força. 
(Paulo, 34 anos, 7 anos de trabalho). 
 
 
Paulo se refere à plataforma de descarga de frangos vivos (ver figura 3). Em meio 
a execução das tarefas neste setor, o trabalhador convive com a presença de fezes e 
urina do frango, bem como poeira da ave viva, que lhe causavam assaduras no corpo. 
Ao se referir ao trabalho na câmara fria (ver figura 16), Paulo relata que não compreendia 
a razão de realizar o transporte manual das caixas através de uma rampa. Para ele, o 
local deveria ter um elevador de cargas. A fala de Paulo demonstra indignição em relação 
ao trabalho realizado nos respectivos setores e nos faz refletir sobre a busca do homem 
em reduzir seu esforço físico mediante a regulação de suas atividades. Diante dos relatos 
 
 
54 
 
de Paulo, retomamos a passagem bíblica em Gênesis “Ganharás o teu pão com o suor 
de teu rosto”, neste caso, além do suor há também as fezes e urina. 
 
Para Dejours (1988), a indignidade é um tema que se repete na fala operária quase 
como um refrão obsessivo. Para este autor, a indignidade operária pode ser apreendida 
no sentimento de vergonha que o trabalhador experimenta por ser robotizado, por não 
passar de um complemento da máquina, de por vezes ser sujo, de estar 
despersonalizado, sem imaginação e inteligência. 
 
Assim como Paulo nos relatou, Milton também experimentou o trabalho na 
plataforma de descarga de frango vivo e o retratou como sendo o pior trabalho da 
empresa, conforme suas palavras: 
 
Porque é muito sujo, frango fazendo cocô na cara da gente, você trabalhava 
assado, pois, o pó assa as juntas, e o dia que chove é horrível, a parte da pendura 
é horrível. Pra mim,o pior lugar que tinha lá no frigorifico é a pendura (Milton, 30 
anos, 6 anos de trabalho). 
 
 
A fala de Milton demonstra o quanto o trabalho em frigorífico pode ser estranhado 
e destituído de significado. A falta de sentido no trabalho também pode ser percebida na 
fala de Ruth. 
 
Minha vontade era ir embora, sair correndo dali porque juntava dor, cansaço e 
estresse e eu só queria ir para casa e tomar um banho, (...) eu era a única mulher 
lá, no meio de um monte de homem, trabalhando numa bancada de alumínio que 
cabia só os meus pés, não podia me mexer que eu desequilibrava e voava agua 
suja na sua cara, pena e eu trabalhava chorando ali e eu só ia porque eu 
precisava (Ruth, 32 anos, 8 anos de trabalho). 
 
 
O sentimento de angústia, dor física, cansaço, desespero e indignação em relação 
ao trabalho aparecem na fala de todos os entrevistados. Dessa forma, o trabalho em 
frigorífico vai se revelando sem significado para o trabalhador. A esse respeito, podemos 
indagar: Em que tipo de trabalho Max Weber (1905) pensava ao afirmar que o 
trabalho enobrece o homem? Certamente não era o trabalho em frigorífico. 
 
 
 
55 
 
Dejours chama atenção para o fato de que, o trabalho destituído de significado e de 
reconhecimento (tanto dos supervisores, como pelo próprio trabalhador) pode estar 
associado ao sofrimento e à depressão. Assim, quando o trabalhador é impossibilitado 
de gozar do reconhecimento de suas tarefas, de alcançar o sentido de sua relação para 
com o trabalho, o mesmo se vê reconduzido ao seu sofrimento e somente a ele 
(DEJOURS, 2000). 
 
Dessa forma, a questão do sentido é central para a ergonomia. Esta disciplina busca 
compreender a relação entre a vivência do homem no trabalho e suas transformações 
pelo trabalho. Hubault (1994), coloca que a questão do sentido (ou não) é fundamental, 
tanto para o operador, como para a empresa, sendo um e outro interligado numa questão 
que precisa ser compreendida e explicada. A partir daí, o trabalho terá outro significado, 
que passa pelovalor deste. 
 
Francisco, outro entrevistado, também demonstrou o mesmo sofrimento em relação 
ao trabalho sem significado. 
 
Só pensava em sair dali, arrumar outro serviço. Até que eu não aguentei. Serviço 
eu arrumo qualquer um, (...) terrível, e o pior é que se você falava pro 
encarregado ele achava graça, (...) um dia ele falou pra eu escolher qualquer 
setor e eu falei que não tinha o que escolher, em qualquer um eu sofreria do 
mesmo jeito (Francisco, 43 anos, 4 meses de trabalho). 
 
Na fala de Francisco pode-se compreender melhor a afirmação Marxiana de que 
“tão logo inexista coerção física ou outra qualquer, foge-se do trabalho como de uma 
peste” (MARX, 2004, p. 83). A coerção pode ser aprendida na fala do sujeito em dois 
momentos, quando o mesmo sinaliza para o encarregado que não há trabalho sem 
sofrimento na empresa, bem como quando o encarregado acha graça da queixa do 
empregado. 
 
A rigidez da organização do trabalho na linha de frigorífico somada às condições 
ambientais, são percebidas como fatores de repulsa e sofrimento, conforme pode ser 
apreendido na fala do entrevistado. 
 
 
 
56 
 
É ruim né, você trabalha molhado, das seis até as duas da tarde, e lá é frio, um 
serviço pesado e repetitivo, não tinha revezamento, é fixo, (...) é terrível, eu não 
desejo mal a ninguém, mas naquele lugar lá, é pra desejar mal pro cara. É ruim 
mesmo (Francisco, 43 anos, 4 meses de trabalho). 
 
 
Pode-se notar que o entrevistado descreve algumas características do ambiente 
de trabalho que são por ele percebidas, como a umidade proveniente do uso de água 
nos processos produtivos; o frio, decorrente da climatização dos ambientes de trabalho 
e das câmaras frigoríficas; a velocidade da linha de produção; e o sentimento de repulsa 
em relação a este ambiente. O relato de Paulo também demonstra sua percepção sobre 
a rigidez dos processos e da organização do trabalho. 
 
Era tudo corrido né (pausa). O que tinha de mais complicado era ficar parado no 
lugar, sem movimento. Trocava até de serviço, de um serviço para o outro, mas 
ficava de pé sem mobilidade, (pausa) sem poder movimentar (Paulo, 32 anos, 7 
anos de trabalho). 
 
É interessante salientar que há uma similaridade na fala dos sujeitos de pesquisa 
em relação ao depoimento dos participantes do documentário Carne e Osso 
(CAVECHINI; BARROS, 2011), quando demostra, de maneira excepcional, o trabalho no 
interior dos frigoríficos do sul do país e as consequências que esse tipo de ocupação 
causa à saúde dos trabalhadores. 
 
Ao assistir a esse documentário, pode-se perceber que apesar de todo 
desenvolvimento tecnológico alcançado nos últimos anos, do taylorismo-fordismo ao 
toyotismo, da passagem do operário “de empregado para colaborador”, o trabalho 
humano continua precarizado, da mesma forma que foi descrito no clássico Tempos 
Modernos de Charles Chaplin. 
 
O filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin (1936) expressa de forma genial a 
organização fragmentada e apartada do trabalho com uma brutal intensificação do 
processo produtivo e desumanização do trabalhador. No filme podemos perceber as 
formas como aquele trabalho limitava as possibilidades de raciocínio dos trabalhadores 
e os levava a exaustão. Isto pode ser apreendido na fala de Milton. 
 
 
 
57 
 
Porque eu tinha que me matar de trabalhar, e em alguns lugares é me matar 
mesmo, eu cheguei a trabalhar das seis da manhã até as onze da noite. É se 
matar mesmo, é trabalhar doze ou quatorze horas pra ganhar um salário baixo 
(Milton, 30 anos, 6 anos de trabalho). 
 
 
Pode-se observar na fala do trabalhador que além da divisão dos processos de 
trabalho e sua rígidez, o controle do tempo aparece como um fator de estranhamento. 
Tompson (1979) descreve que no capitalismo, o trabalhador é movido pelo ciclo do tempo 
e este tem sido um elemento fundamental para disciplinar e domesticar os trabalhadores. 
Podemos perceber isto na fala de Ruth. 
 
Trabalhei na linha de produção e lá é assim, o que passa tem que pegar, (...) eu 
acordava 4 horas da manhã para pegar ônibus e ir para lá trabalhar, quase não 
dava para ir ao banheiro (Ruth, 32 anos, 8 de trabalho). 
 
 
A fala de Ruth pode nos ilustrar o pensamento de Marx sobre o tempo valor, aonde 
o trabalhador rompe com o tempo natural e passa a ser regido pelo tempo do capital 
(MARX, 1985), não obtendo espaço nem para realizar suas necessidades fisiológicas. 
Com base na fala de Ruth podemos notar que o trabalho em frigorífico consiste numa 
batalha diária travada entre trabalhador e linha de produção. Nesta arena, o trabalhador 
tem que vencer a linha de produção e ainda manter-se inteiro. O tempo aparece então, 
como um ingrediente mágico na produção de sobretrabalho. Embalados pelo ritmo e por 
altas cadências de produção, o trabalhador de frigorífico vai sendo conduzido a jornadas 
de trabalho exaustivas. 
 
Na fala de Paulo pode-se observar o quanto o tempo no trabalho pode comprometer 
a vida fora dele. 
 
Lá a gente trabalhava praticamente 12 horas por dia (pausa), tinha uma hora pra 
ir e uma hora pra voltar, a convivência em família fica prejudicada. Eu saía de 
casa 5 horas da manhã e voltava 7 horas da noite, não tem vida, é só aquilo lá, 
o trabalho (Paulo, 32 anos, 7 anos de trabalho). 
 
 
 
 
58 
 
Do exposto acima podemos compreender que o trabalhador percebe que a sua 
jornada de trabalho o impossibilita de organizar a sua vida além do trabalho. Isto fica 
muito evidente no depoimento de Júlio. 
 
Ah, a gente pensava em mudar de emprego, mudar de vida, mas não dava tempo 
de buscar outra coisa, pois a jornada era muito longa (Júlio, 32 anos, 5 anos e 3 
meses de trabalho). 
 
Na fala de Júlio, o tempo aparece como um empecilho para que ele pudesse mudar 
a sua própria condição de vida e buscar um trabalho melhor. Júlio demonstra ainda 
tristeza pela falta de tempo para convívio social e familiar. 
 
Ah... (voz abafada) muita tristeza, mais pelo horário, não tinha tempo para viver, 
eu não fazia mais nada, só trabalhava (Júlio, 32 anos, 5 anos e 3 meses de 
trabalho). 
 
Além do tempo reduzido fora do trabalho, a percepção do adoecimento é 
apreendida na fala do entrevistado. 
 
Eu não conseguia dormir, dormia com dor, levantava com dor, vivia a base de 
remédio, (...) tinha dia que eu falava que não ia aguentar... (Pausa), (...) minhas 
mãos e braços inchavam de pegar o frango gelado... (silêncio) (Francisco, 43 
anos, 4 meses de trabalho). 
 
 
Silva (2013) aponta em suas pesquisas que o setor de frigoríficos de aves e suínos, 
em principal o de aves, estão dentre as empresas do grupo alimentício que mais causam 
doenças ocupacionais. Os efeitos do trabalho repetitivo, intensificado e degradante 
podem ser apreendido na fala de Ruth. 
 
E quando meu filho nasceu eu não pude fazer nada, pois não conseguia 
movimentar minhas mãos. Meus braços e mãos inchavam e eu não conseguia 
nem fechar a mão, fiquei 4 meses em casa, (...) eu tinha dores todo dia, a 
tendinite adormece os braços, eu tentava de tudo. Só parava quando eu ia no 
médico e tomava injeção (Ruth, 32 anos, 8 anos de trabalho). 
 
 
Tal relato nos mostra a degradação do trabalho parcelado e fragmentado do 
frigorífico, manifestado na incapacidade física da entrevistada em pegar o filho recém 
nascido ao colo. Isto nos leva a pensar que, no ambiente de frigorífico, o trabalhador luta 
 
 
59 
 
para vencer a linha e, ao mesmo tempo, luta pela manutenção da sua própria saúde e 
existência. Em consequência da batalha em vencer as altas cadências produtivas, Ruth 
conta que engessou o braço cinco vezes durante o período em que trabalhou no 
frigorífico. 
 
 
Heck (2013), ao estudar as condições de trabalho do território fabril da Sadia de 
Toledo, no Paraná, evidenciou que os impactos do trabalho degradante atingem a esfera 
da vida dentro e fora do trabalho. O mesmo autor descreve em sua tese o sofrimento de 
trabalhadoresque fazem uso de remédios para amenizar as dores provocadas pelo 
trabalho. 
 
 
4..2.2. O Medo 
 
Para Dejours (1988), o medo constitui uma vivência dos trabalhadores e está 
presente em todos os tipos de ocupações. Para este autor, o medo é uma categoria 
específica da relação do trabalhador com a realidade vivenciada no ambiente de trabalho. 
O trabalho ritmizado por altas cadências produtivas, os ambientes climatizados, as baixas 
temperaturas, a umidade e o calor ameaçam a saúde dos trabalhadores de frigoríficos e 
o medo pode ser percebido na fala do entrevistado. 
 
Eu tinha medo de perder a força do ombro e do braço (Júlio, 32 anos, 5 anos e 3 
meses de trabalho). 
 
 
Além do medo de adoecer descrito por Júlio, outra entrevistada demonstrou medo 
de perder o emprego em razão de suas faltas no trabalho motivadas pela fadiga física. 
 
Eu tinha medo pelas minhas faltas, eu não queria perder meu trabalho então eu 
procurava ser o mais eficiente possível para que eles vissem que eu compenso 
as minhas faltas (Ruth, 32 anos, 8 anos de trabalho). 
 
 
A fala de Ruth nos mostra que a negação do sofrimento na atividade industrial tanto 
é realizada pelas empresas que atribuem as faltas dos empregados a atos de vadiagem, 
 
 
60 
 
quanto pelos próprios empregados que se degradam como forma de compensação. 
Nesse sentido, o trabalhador, visando manter sua existência, nega o próprio sofrimento. 
Para Dejours (1988), a vivência do medo existe efetivamente, mas só raramente aparace 
à superfície, pois encontra-se contida nas estratégias defensivas. A fala de Milton nos 
mostra que ele tem consciência de que o trabalho em frigorífico gera impactos na saúde 
e na vida do trabalhador e, por esta razão, o medo aparece em sua fala. 
 
Quando você trabalha um ano e meio no mesmo setor o corpo dói muito, dava 
desgaste, mas o psicológico também ficava bem abalado, (...) eu tinha medo até 
de pegar uma gripe, (...) eu vi gente afastar de muita depressão. Será que vai 
fazer esse mal pra mim também? (...) ver gente prender a mão em chiller, prender 
o pé em rosca de gelo, perder dedo. Eu vi isso (Milton, 30 anos, 6 anos de 
trabalho). 
 
 
Milton revela que além do aviltamento ocasionado pela doença e pela lesão 
provocada pelo acidente de trabalho, a vergonha pelo absenteísmo é constante na 
cabeça do empregado de frigorífico. 
 
Se você falta um dia tem aquele negócio né, o funcionário não é bom por que 
falta, não tinha valor (Milton, 30 anos, 6 anos de trabalho). 
 
 
Segundo Dejours (1988), ao lado do medo da cadência de produção, os 
trabalhadores falam sem disfarces dos riscos à sua integridade física. Para este autor, os 
trabalhadores sabem que apresentam um nível de morbidade superior ao resto da 
população. Ruth demonstra em seu relato consciência dos riscos a que estava exposta 
e o medo de não se recuperar das lesões. 
 
Tinha medo, medo de sair de lá e não servir mais para trabalhar. Os médicos me 
aconselhavam a mudar de emprego (...) Passei dois anos fazendo fisioterapia e 
com medo de derrubar meus filhos, eu não conseguia nem dar banho neles 
(Ruth, 32 anos, 8 anos de trabalho). 
 
 
 As pesquisas de Heck ainda revelam que além das doenças físicas e psicológicas, 
o trabalhador de frigorifico está sujeito a acidentes que tiram vidas ou membros. Dessa 
forma, o relato da ocorrência de acidentes vão surgindo na fala dos entrevistados, como 
na de Francisco. 
 
 
61 
 
 
Eu trabalhava lá fora, a caixa bateu de ponta e bateu em mim e eu tenho cicatriz 
até hoje, (...) um outro prendeu o dedo, (pausa) as meninas lá viviam cortadas 
(Francisco, 43 anos, 4 meses de trabalho). 
 
 
Júlio também relata que apesar de não ter sofrido acidentes durante o período em 
que trabalhou no frigorifico, ele presenciou a ocorrência de acidentes com colegas de 
trabalho. 
A moça enroscou o braço no chiller de pé, teve o rapaz que prendeu o pé na 
rosca também (Júlio, 32 anos, 5 anos e 3 meses de trabalho). 
 
Paulo, outro entrevistado, relata que apesar de não ter sofrido lesão grave por 
acidente e nem ter adoecido em decorrência do trabalho, se lembra dos acidentes que 
presenciou no período em que trabalhou no frigorífico. 
 
Já tive cortinho na mão, machucadinho, assim né. Mas já vi gente perder o dedo 
na máquina, lá, na linha. Pendurar o dedo na linha. Já vi gente cair na câmara 
fria, problema nas costas, quebrar a bacia na câmara fria (Paulo, 32 anos, 7 anos 
de trabalho). 
 
 
Ruth relata que também foi vítima de um corte no braço, entretanto ela se comove 
ao contar os acidentes que presenciou quando trabalhava no frigorífico. 
 
Eu cheguei a ver um acidente feio, o rapaz que tinha acabado de chegar lá 
colocou a perna dentro da máquina, teve aquele que ficou pendurado pelos 3 
dedos quando subiu na linha. Já cortaram o meu braço trabalhando na linha, um 
homem acabou passando a faca no meu braço (Ruth, 32 anos, 8 anos de 
trabalho). 
 
 
 Os constrangimentos relatados pelos entrevistados vão tomando forma, pouco a 
pouco, do relato de acidentes a doenças ocupacionais. Assim surge a figura da 
supervisão. Francisco se emociona ao lembrar da forma como o encarregado de 
produção da empresa abordava os trabalhadores. 
 
O encarregado, ele fazia pressão.Você não podia parar que ele gritava e 
perguntava o que você estava fazendo. (Francisco, 43 anos, 4 meses de 
trabalho). 
 
 
 
62 
 
 A hostilidade da chefia vai se repetindo nas falas dos entrevistados, o que nos 
parece ser traço marcante do trabalho em frigorífico, como pode ser apreendido na fala 
de Paulo. 
 
O encarregado era meio bruto, ele não deixava nada passar, ele não quer saber 
por que a pessoa não está trabalhando. (Paulo, 34 anos, 7 anos de trabalho). 
 
 
Francisco também relatou ter sido constrangido pelo encarregado de produção: 
 
O encarregado, ele fazia pressão, você não podia parar que ele gritava e 
perguntava o que você estava fazendo (...) Um dia (...) ele começou a gritar 
comigo, saiu e voltou depois gritando comigo ainda. Eu tirei o uniforme e queria 
ir embora e ele não queria me deixar ir. (...) Ele é insuportável, não tinha um pingo 
de educação (Francisco, 43 anos, 4 meses de trabalho). 
 
 
Os depoimentos dos entrevistados expressam as situações de medo de ser 
demitido do trabalho ao medo de ser degradado por ele. Neste cenário cheio de tensões, 
a supervisão aparece na figura de constrangimento e aviltamento. Nos resta então 
compreender como os trabalhadores conseguem resistir a este ambiente. 
 
 
4.2.3. Enfrentamento do sofrimento 
 
 As estratégias defensivas, segundo Dejours (1992), são mecanismos aos quais os 
trabalhadores lançam mão na tentativa de amenizar a dor e enfrentar o sofrimento no 
trabalho. Para este autor, o conformismo, a negação do perigo, individualismo, entre 
outros, são comportamentos utilizados pelo sujeito com a finalidade de dar conta do 
sofrimento vivido no ambiente de trabalho. Paulo, em sua fala demonstra duas 
estratégias de defesa citadas por Dejours, o conformismo e a negação do risco. 
 
Vencer a linha, você acaba acostumando com aquilo e acaba nem pensando, (...) 
o complicado era a dor nas juntas, o cansaço, era mais difícil, (...) você pegava 
caixas de 50 kg e tinha que carregar e jogar lá em cima, (...) umas mil ou duas 
mil caixas por dia (Paulo, 32 anos, 7 anos de trabalho). 
 
 
Do exposto acima podemos apreender que Paulo, apesar da dor física e do 
cansaço, nega sua dor ao dizer que se acostumou com a atividade. É importante observar 
 
 
63 
 
na fala de Paulo que o não pensar na atividade o impede até de ter precisão da 
“quantidade” de caixas transportadas por ele no dia-a-dia. É como se Paulo esquesse de 
sua liberdade de escolha e aceitasse conformadamente o seu destino. 
 
Como Paulo, Ruth também expressou sentimentos de negação do perigo e 
conformismo. 
 
Tinha medo, medo de sair de lá e não servir mais para trabalhar, (...) Se eusaisse 
de lá e não conseguisse encontrar outro emprego que pagasse o mesmo, (...) 
chegava no fim do mês e chegava o salário “nossa, um salario e meio! ” dava um 
incentivo (Ruth, 32 anos, 8 anos de trabalho). 
 
 
Tal relato nos indica que apesar de Ruth ter consciência de estar se degradando, a 
relação com o trabalho continuava graças ao incentivo financeiro. É interessante ressaltar 
que em todas as entrevistas constatamos que a falta de qualificação profissional do 
trabalhador de frigorífico e o sentimento de conformismo do mesmo, atuavam como fator 
impossibilitante de mudança de trabalho e, consequentemente, de vida. Podemos 
verificar isso na fala de Milton. 
 
Na roça eu trabalhei desde os meus quartorze até os dezoito, dezenove, é, 
dezenove, que eu saí da roça e fui direto para o frigorifico, (...) você tem que 
trabalhar e a cidade não dá muita escolha (Milton, 30 anos, 6 anos de trabalho). 
 
 
O conformismo e a falta de possibilidades são traços marcantes na fala dos 
entrevistados, assim, trazemos de volta a questão da alienação em Marx (1844), aonde 
o trabalhador vai contra os seus desejos, necessidades e saúde. Isso pode ser observado 
na fala de Júlio, que ao ser questionado sobre o que sentia por querer sair do frigorífico 
e não conseguir, argumentou: 
 
Não tinha sentimento por isso não, (...) a vontade era só de sair, quando não 
conseguia só ficava mais desanimado ainda, (...) pensava em fazer outra coisa, 
voltar pra roça (Júlio, 32 anos, 5 anos e 3 meses de trabalho). 
 
 
 Júlio em sua fala demonstrou não pensar muito em relação às suas condições de 
trabalho, segundo ele, só pensava em sair de lá. Júlio, no final da entrevista, revelou ser 
 
 
64 
 
casado com Ruth. Emocionado, ele relembrou o sofrimento vivenciado pela esposa no 
período em que ambos trabalhavam no frigorífico. Diferente de Júlio, Ruth utilizava de 
outras estretégias para permanecer na linha de produção, ou seja negar o risco. 
 
 
A gente fazia de tudo pra distrair, conversava e até cantava pra passar o tempo 
(Ruth, 32 anos, 8 anos de trabalho). 
 
 
 Do exposto acima podemos apreender que os entrevistados reagiam de forma 
diferente para enfrentar as tensões do dia-a-dia. Milton relata que só pensava em vencer 
a linha e em mais nada. 
 
Tinha, tinha que vencer a linha e ajudar os que não conseguiam vencer, (...) lá 
tinha muita distração, a gente conversava para distrair a cabeça, se ficasse ali 
sem conversar seria muito pior (Milton, 30 anos, 6 anos de trabalho). 
 
 A linha que Milton se refere, transportava na época 70 mil frangos por dia, segundo 
ele, a metade ía para o corte e a outra metade ía para embalagem. No setor de 
embalagem, os 35 mil frangos eram divididos para oito pessoas, dentre elas, Milton. 
Retomamos Dejours (1988), ultrapassado pelas cadências, o operário que não 
acompanha, atrasa os que estão atrás dele na corrente dos gestos produtivos. 
 
 Nesse sentido, as estratégias defensivas e suas formas de enfrentamento do 
sofrimento são vividas de forma individual, pois, mesmo os trabalhadores compartilhando 
do ruído proveniente das máquinas e equipamentos, da cadência da linha e exigência 
das tarefas, das temperaturas extremas, da umidade e do odor de sangue e vísceras do 
frango abatido, é na solidão que eles lutam contra as violências da produtividade. 
 
 
4.2.4. Compartilhamento do sofrimento 
 
O trabalho nos moldes taylorista-fordista, para Dejours (1988), gera mais 
separações entre os indivíduos do que laços de união. Dessa forma, mesmo que os 
trabalhadores experimentem a mesma vivência no local de trabalho, compartilhem dos 
 
 
65 
 
mesmos riscos e da mesma estrutura organizacional, eles são confrontados 
individualmente, e assim, conduzidos ao sofrimento individual. 
 
Nesse sentido, a condição essencial da vida social propiciada pela solidariedade 
não encontra lugar na linha de produção. O que se vê nos depoimentos dos trabalhadores 
de linha de produção são estratégias de defesa individuais e formas de compartilhamento 
de vivências, não há solidariedade entre eles, como pode ser apreendido na fala de Ruth. 
 
Tinha amizade, tinha fofoca, tinha briga. Sabe quando você faz uma amizade? 
(...) então, eu tinha uma amiga que era parceira mesmo, que tinha intimidade de 
conversar de brincar, (...) quando gostava da pessoa que estava com você, ai o 
tempo passava e nem percebia. Mas quando era aquela pessoa que não gostava, 
ai o tempo não passava (Ruth, 32 anos, 8 anos de trabalho). 
 
Do exposto acima podemos perceber que as relações afetivas construídas no 
ambiente de trabalho amenizam o sofrimento, embora não sejam constituidas de 
cooperação ou solidariedade, ao contrário, a rigidez da organização do trabalho, em 
certos momentos, coloca o trabalhador em oposição ao próprio colega. Isto pode ser 
observado na fala de Ruth. 
 
Eu ficava irritada, tem pessoas que por natureza já não conseguem fazer tão 
rápido. Eles colocavam pessoas rápidas com pessoas muito lentas. Enquanto eu 
embalava três frangos a outra pessoa embalava um. Eu tinha que fazer o trabalho 
pelo outro (Ruth, 32 anos, 8 anos de trabalho). 
 
 
A fala de Ruth nos remete aos estudos da administração científica, ao qual Taylor 
apropriou-se do saber fazer do operário, da diversidade dos modos operatórios, 
justamente, para ajustar a variabilidade do trabalhador. Esta variabilidade ele atribuí à 
burrice ou má vontade dos mais lentos. No caso de Ruth, ela conta que era considerada 
pelo encarregado de produção como sendo muito rápida e ágil no desempenho de suas 
funções. 
 (...) um dia o encarregado falou pra mim, tem muito homem que não consegue 
fazer o serviço que você faz, ele olhava pra mim, eu estava chorando e ele nem 
se sensibilizava (Ruth, 32 anos, 8 anos de trabalho). 
 
Dessa forma, podemos afirmar que o contato entre os trabalhadores taylorizados 
não passa de compartilhamento de vivências, boas ou ruins, mas apenas experiências 
 
 
66 
 
vividas. Para Dejours (1988) a Administração Científica não se limita apenas em 
desapropriar o trabalhador do saber, ela cala a liberdade de organização, de 
reorganização ou de adaptação do trabalho. No trabalho taylorista-fordista o que resta 
para o trabalhador são os laços de afinidade que vão sendo tecidos pela vivência de 
sofrimento do dia-a-dia, conforme pode ser apreendido na fala de Paulo. 
 
(...) lá tinha muita afinidade, apesar de lá ser um serviço corrido né, um serviço 
sofrido, ter que trabalhar na correria, tinha amizade (Paulo, 32 anos, 7 anos de 
trabalho). 
 
A afinidade de que Paulo se refere se trata do fato dos trabalhadores 
compartilharem o sofrimento decorrente do trabalho estranhado, aviltado e degradante. 
Outro entrevistado também nos revela que a proximidade entre os colegas de trabalho 
no frigorífico e o convívio ameniza o sofrimento e distraí a mente. 
 
Eu tinha muito contato, trabalhava bem perto e conversava bastante, então 
distraía bem a mente. Naquele tempo que eu trabalhava lá, tinha nem vinte 
centímetros de distância, hoje, para sair pra conversar tem que andar quase três 
metros pra poder conversar um pouquinho e depois voltar. Lá tinha muita 
distração, a gente conversava para distrair a cabeça, se ficasse ali sem conversar 
seria muito pior (Milton, 30 anos, 6 anos de trabalho). 
 
Milton compara o trabalho em frigorífico à ocupação que ele tem hoje. A empresa 
que Milton trabalha atualmente não possui linha de produção, lá os setores são divididos 
em células produtivas, por esta razão, o entrevistado tem que se deslocar para conversar 
com o colega de trabalho. Apesar da distração descrita por Milton em sua fala, um atraso 
no gesto produtivo poderia por fim no que os entrevistados chamavam de “união”. 
 
(...) três horas da tarde, a pessoa tá cansada e tem serviço pra fazer, não pode 
deixar o frango passar na linha, tem que fazer e ponto, (...) dava uma sensação 
ruim, tá vendoque a pessoa tá cansada dessa correria e ainda vem xingar a 
gente ou o companheiro (Paulo, 32 anos, 7 anos de trabalho). 
 
Paulo apesar da indignição por ser constrangido pelo encarregado de produção, 
revela ter feito muitos amigos no frigorífico, segundo ele, lá tinha gente ruím, mas 
sobretudo, muita gente boa. Em suas palavras: 
 
 
 
67 
 
O pessoal que trabalhava lá é como uma segunda família, por causa da 
convivência, você acaba convivendo mais lá do que em casa mesmo. Eles 
acabam se tornando uma segunda família, acaba criando um vínculo. Qualquer 
coisa que acontece com um colega de trabalho, você acaba ficando comovido 
(Paulo, 32 anos, 7 anos de trabalho). 
 
E é no depoimento de Paulo que surge a sobrecarga de trabalho e 
consequentemente a quebra da “união”. Esta “união” é vencida pela cadência da 
produção, ela se manifesta quando o trabalhador perde a luta pra linha, deixando o frango 
passar ou faltando ao trabalho por fadiga. Nas palavras de Paulo: 
 
Sobrecarrega, se uma pessoa falta, pesa para todos os outros. Tem um a menos, 
mas a produção continua a mesma então sobrecarrega os outros (Paulo, 32 
anos, 7 anos de trabalho). 
 
 
 Júlio, marido de Ruth vivenciou de forma intensa o sofrimento da esposa, ele relata 
o que de ruim o marcou no período em que trabalhou no frigorífico. 
 
Ver a minha esposa lá, até que quando ela saiu eu desanimei e saí. O que me 
dava força era ela, eu e ela. A gente ia junto e voltava junto (Júlio, 32 anos, 5 
anos e 3 meses de trabalho). 
 
 
 O compartilhamento do sofrimento fica claro na fala de Júlio ao dizer que desanimou 
do trabalho quando a esposa saiu do frigorífico. O sentimento de alívio pela cessação do 
sofrimento dela veio junto com a sensação de desânimo por ter que enfrentar a jornada 
de trabalho sozinho. 
 
Observa-se, pela análise de conteúdo das entrevistas realizadas, que foi possível 
identificar a percepção do trabalhador sobre as formas de enfrentamento da adversidade 
inerente ao tipo de trabalho realizado e as implicações sobre seu cotidiano e de sua 
família. Constata-se o prejuízo à saúde psíquica e física e ainda que este ônus é vivido 
individualmente pelo empregado como se fosse uma externalidade do processo 
produtivo. Ao empresário cabe a lucratividade e ao empregado cabe a perda de sua 
saúde e a alienação da vida politica e social, quando lhe é negado o pleno exercício da 
cidadania. 
 
 
 
68 
 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O processo perverso de acumulação e reprodução do capital vem, ao longo do 
tempo, causando efeitos devastadores à vida humana e ao meio ambiente. A ausência 
de ética na vida em sociedade, impulsionada pela lei da mais-valia, pode ser observada 
em diversos territórios, inclusive nos fabris. 
 
Por essa razão, acreditamos que com este trabalho possamos contribuir com o 
debate sobre as transformações da organização do trabalho, seguindo os paradigmas do 
desenvolvimento sustentável, principalmente nas dimensões da justiça social e cultural, 
dos grupos de trabalhadores empregados na produção avícola, no segmento de 
frigorífico. 
 
 Pensar em desenvolvimento sustentável nos sugere levar em consideração três 
critérios: o economicamente viável, socialmente justo e ecologicamente inofensivo. Neste 
sentido, o conceito de sustentabilidade não pode ser reduzido ao ecologicamente correto 
e, tampouco, ao economicamente viável. Um dos pilares em que se estrutura o 
paradigma do desenvolvimento sustentável refere-se à equidade social, que deve 
prevalecer nas relações entre as pessoas e seu ambiente. Assim, a dimensão social e 
ética deve ser priorizada, assegurando os direitos humanos e a justiça social para todos. 
 
 Ao referirmos a equidade social pensamos no cidadão como sendo portador de 
direitos básicos, como saúde, distribuição econômica de renda, liberdade de fazer 
escolhas, e de trabalhar e conviver em arranjos sociais adequados e seguros. Isto implica 
no direito de escolher sobre quais bens serão produzidos, como e para usufruto de quem. 
 
 Quebrar com o ciclo vicioso do capital requer que nós sejamos capazes de 
compreendermos nosso papel como cidadãos, trabalhadores, consumidores e, 
principalmente como seres políticos e sociais. 
 
 
 
69 
 
 Todavia, a sociedade do capital produz controvérsias. O Brasil é o maior exportador 
de carne de frango do mundo, contudo sua produção é marcada pelo desgaste da 
população de trabalhadores, que segue um ritmo alucinante para garantir uma oferta que 
é muitas vezes acima da demanda. Este sistema produtivo leva à exaustão do 
trabalhador e também da matéria prima. A produção de aves em massa requer uma 
alimentação enriquecida de hormônios que irão com o passar do tempo, trazer 
consequências ainda não inteiramente mapeadas para os consumidores. 
 
 Durante esta pesquisa, pudemos observar que o trabalho rígido, parcelado e 
fragmentado nos moldes taylorista-fordista, mesclado às fortes cadências da 
reestruturação produtiva, produzem a desumanização do trabalhador e a degradação de 
sua saúde. Neste cenário, o trabalhador de frigorífico convive diariamente com uma 
realidade dicotômica, pois de um lado um sistema de produção maquinal e arcaico, de 
outro, o acesso à era digital, em que o trabalhador pode observar os recursos 
tecnológicos disponíveis que reduziriam o seu sofrimento, se o dono dos meios de 
produção assim o quisesse. Dessa forma, o setor de frigorífico vai deixando suas 
impressões, ao mesmo tempo que produz riqueza, gera miséria ao trabalhador. 
 
 A hostilidade do ambiente de trabalho dos frigoríficos, as fortes cadências, o ritmo 
intenso de trabalho e a falta de sentido do mesmo, domestica o corpo e captura a 
subjetividade do trabalhador. 
 
Não há estranheza que o trabalhador de frigorífico só se sinta bem fora do trabalho 
e que sinta se mal ao ter que retornar à produção no dia seguinte. A indignação em 
relação ao trabalho, as jornadas excessivas, o medo do adoecimento, da mutilação e a 
falta de perspectiva de vida é traço marcante na fala dos entrevistados. Isto nos leva a 
pensar sobre o compromisso de refletir sobre este tipo de atividade laboral, bem como, o 
nosso papel político e social, pois, os impactos causados aos trabalhadores são 
imensuráveis e os custos dessas mazelas podem ser expressados de diversas formas 
na sociedade, como violência, dependências químicas, pensões por invalidez, pensões 
por morte do trabalhador e as formas de depressão e sofrimento do ser. 
 
 
70 
 
Diante do exposto, é possível imaginar uma sociedade capaz de equalizar 
desenvolvimento econômico, preservação do meio ambiente e desenvolvimento 
humano? É possível pensar no trabalho como sendo fonte de realização do ser? Quais 
os rumos que a humanidade deve percorrer para isto? 
 
A este despeito, o que sabemos até então, é que a mudança depende de uma 
quebra de paradigma. Isto envolve modos de vida sustentável e uma nova visão e 
consciência ambiental. Os novos rumos para esta mudança dependem da participação 
politica e social da sociedade, do uso sustentável dos recursos naturais, de uma 
educação voltada para o desenvolvimento humano, do uso da tecnologia e ciência a favor 
da sustentabilidade e da emancipação do homem. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
71 
 
REFERÊNCIAS 
 
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74 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APÊNDICES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
75 
 
 
 
 
APÊNDICE I - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E 
ESCLARECIDO (TCLE) 
 
 
___________________________ (nome), _______________ (nacionalidade), 
____________ (idade), ___________ (estado civil), ______________ (profissão), 
_____________ (endereço), ______________(Rg), participar de um estudo denominado 
"Um estudo da percepção do trabalhador de frigorífico sobre as suas condições de 
trabalho, saúde e vida” cujos objetivos e justificativas são: contribuir com o debate sobre 
as transformações da organização do trabalho, seguindo os paradigmas do 
desenvolvimento sustentável. 
A minha participação no referido estudo será no sentido de participar de uma 
entrevista, respondendo às perguntas formuladas. 
Fui alertado de que, da pesquisa a se realizar, posso esperar alguns benefícios, tal 
como o beneficio indireto, pois as informações aqui recolhidas serão utilizadas para a 
construção de conhecimento das condições de trabalho, saúde e vida do trabalhador do 
setor de frigorífico. 
Recebi, por outro lado, os esclarecimentos necessários sobre os possíveis 
desconfortos e riscos decorrentes do estudo, levando-se em conta que é uma pesquisa, 
e os resultados positivos ou negativos somente serão obtidos após a sua realização. 
Assim, como cansaço, desconforto pelo tempo gasto na entrevista, e ao relembrar 
algumas sensações diante do vivido com situações altamente desgastantes. Se isto 
ocorrer eu poderei interromper a entrevista e retomá-la posteriormente, se desejar. 
Estou ciente de que minha privacidade será respeitada, ou seja, meu nome ou 
qualquer outro dado ou elemento que possa, de qualquer forma, me identificar, será 
mantido em sigilo. 
Também fui informado de que posso me recusar a participar do estudo, ou retirar 
meu consentimento a qualquer momento, sem precisar justificar, e de, por desejar sair 
da pesquisa, não sofrerei qualquer prejuízo à assistência que venho recebendo. Foi- me 
esclarecido, igualmente, que eu posso optar por métodos alternativos, que é, o 
preenchimento de formulários.
 
 
76 
 
A pesquisadora envolvida com o referido projeto é Juliana Dias Pinto Ribeiro, vinculada 
ao Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino- FAE e com ela poderei 
manter contato pelos telefones (19) 3662 1098. 
É assegurada a assistência durante toda pesquisa, bem como me é garantido o livre 
acesso a todas as informações e esclarecimentos adicionais sobre o estudo e suas 
consequências, enfim, tudo o que eu queira saber antes, durante e depois da minha 
participação. 
Enfim, tendo sido orientado quanto ao teorde todo o aqui mencionado e 
compreendido a natureza e o objetivo do já referido estudo, manifesto meu livre 
consentimento em participar, estando totalmente ciente de que não há nenhum valor 
econômico, a receber ou a pagar, por minha participação. 
No entanto, caso eu tenha qualquer despesa decorrente da participação na 
pesquisa, haverá ressarcimento na forma de depósito em conta-correntes. De igual 
maneira, caso ocorra algum dano decorrente da minha participação no estudo, serei 
devidamente indenizado, conforme determina a Lei. 
Em caso de reclamação ou qualquer tipo de denúncia sobre este estudo devo ligar 
para o CEP UNIFAE (19) 0800173022 Ramal 228, ou mandar um email para 
comiteetica@fae.br 
Declaro que estou recebendo nesta oportunidade uma via deste documento com 
todas as assinaturas. 
 
 
São José do Rio Pardo, 29 de novembro de 2016. 
 
 
 
 
_______________________________________________________ 
Nome e assinatura do participante da pesquisa 
Juliana Dias Pinto Ribeiro 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
77 
 
 
 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE ENSINO – FAE 
 
 
APÊNDICE II – CARTA DE AUTORIZAÇÃO PARA 
PESQUISA DE CAMPO 
 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE ENSINO – FAE 
APÊNDICE II - CARTA DE AUTORIZAÇÃO PARA PESQUISA DE CAMPO Informamos 
que AUTORIZAMOS que à acadêmica JULIANA DIAS PINTO RIBEIRO do Curso de 
MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E QUALIDADE DE VIDA, está 
autorizada a realizar sua pesquisa de campo nesta empresa, cuja denominação é a 
seguinte: VILLA COSTINA FRANGOS LTDA, CGC N° 00.377.944/0001-82, ramo de 
atividade FRIGORÍFICO AVÍCOLA. A presente pesquisa é requisito parcial para 
obtenção do título de mestre em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida será 
realizada na área de Desenvolvimento Sustentável, tendo seu período e término 
compreendido entre dezembro de 2016 a fevereiro de 2017. 
Outrossim, informamos ainda que a acadêmica está autorizado a divulgar o nome desta 
instituição em sua pesquisa de mestrado e/ou artigo científico. 
 
 
 
 
 
 
Moises Teixeira 
Gerente Administrativo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
78 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANEXO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
79 
 
 
 
ANEXO I – COMPROVANTE DE SUBMISSÃO DE PROJETO 
DE PESQUISAin poultry 
production in the fridge segment. This is an exploratory research with three basic 
approaches: first, it was sought to characterize the current conditions of the slaughtering 
and processing of birds by means of a bibliographical research about the transformations 
that occurred in the productive processes throughout the decades and their impacts Life 
and health of poultry workers. Then we proceed with the participant observation in the 
company object of study. The visit to the fridge occurred in December 2016, and enabled 
us to understand how the work is organized in this segment, as well as to describe it in 
this research. The field study also allowed us to prepare a script of interviews for the 
survey of the perception of the workers of the refrigerator on their conditions of work, 
health and life. As a form of data collection we opted for the semi-structured interview with 
guiding questions for the development of the theme. For that, we sought support in the 
qualitative method by allowing a critical and reflexive reading on the facts raised, besides 
providing the direct relationship between the researcher and the research subject. The 
research had as a cut, the Poultry Industry located in the Municipality of São José do Rio 
Pardo, southeast of São Paulo. It is justified the insertion in such company, as it presents 
high rates of occupational diseases and absenteeism, a predominant feature of cold 
stores. A total of five former employees of the slaughterhouse were interviewed, one 
woman and four mens, aged between 30 and 45 years, totaling about 2 hours and 30 
minutes of recording. The data were processed and analyzed in three phases, the first 
one consisted of the transcription of the statements. The second included categorization 
according to the following descriptors: estrangement, fear, confrontation and sharing of 
suffering. The data were analyzed under the qualitative aspect of content analysis. Thus, 
it was possible to identify the worker's perception about the ways of coping with the 
inherent adversity of the type of work performed and the implications on his daily life and 
his family. It is observed the damage to the physical and mental health and even though 
this burden is experienced individually by the employee as if it were an externality of the 
productive process. The employer is responsible for profitability and the employee is 
responsible for the loss of his health and the alienation of political and social life when he 
is denied the full exercise of citizenship. 
 
Keywords: Perception; Fridge; Work conditions. 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1 Localização geográfica de São José do Rio Pardo/SP............................................. 35 
Figura 2 Fluxograma produtivo da empresa............................................................................ 42 
Figura 3 Plataforma de carga e descarga............................................................................... 43 
Figura 4 Esteira de pendura nórea.......................................................................................... 43 
Figura 5 Processo de insensibilização.................................................................................... 44 
Figura 6 Processo de sangria.................................................................................................. 44 
Figura 7 Processo de escaldagem e depenagem................................................................... 44 
Figura 8 Processo de rependura, acondicionamento de charuto de pés e inspeção da 
carcaça....................................................................................................................... 
45 
Figura 9 Setor de evisceração................................................................................................. 46 
Figura 10 Setor de resfriamento................................................................................................. 47 
Figura 11 Envase manual de embalagem................................................................................. 48 
Figura 12 Coleta de miúdos do chiller........................................................................................ 48 
Figura 13 Setor de embalagem ................................................................................................. 49 
Figura 14 Setor de cortes........................................................................................................... 49 
Figura 15 Setor de pesagem...................................................................................................... 50 
Figura 16 Câmara de refrigeração ............................................................................................ 50 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
 
Quadro 1 Temas tratados, contribuições e principais autores referenciados em cada seção 
do referencial teórico.................................................................................................. 
17 
Quadro 2 Síntese das informações dos sujeitos entrevistados.................................................. 37 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO 12 
1.1 Objetivo geral.................................................................................................................... 14 
1.1.1 Objetivos específicos......................................................................................................... 14 
1.2 Justificativa e problema de pesquisa ............................................................................... 14 
2 REFERENCIAL TEÓRICO 17 
2.1 Condições de trabalho e sofrimento do trabalhador: uma perspectiva histórica............... 18 
2.2 Formas de intensificação do trabalho e controle do trabalhador....................................... 20 
2.3 A reestruturação produtiva na agroindústria avícola......................................................... 25 
2.4 A reestruturação produtiva e a saúde do trabalhador da indústria avícola....................... 27 
2.5 Desenvolvimento Sustentável: justiça social, equidade e autonomia............................... 31 
3 MÉTODO 34 
3.1 Caracterização do campo de pesquisa: Frigorífico Avícola localizado em São José do 
Rio Pardo/SP..................................................................................................................... 
35 
3.1.1 Município de São José do Rio Pardo................................................................................ 35 
3.1.2 Registro histórico do município......................................................................................... 36 
3.1.3 Dados econômicos do município....................................................................................... 36 
3.1.4 Apresentação dos sujeitos de pesquisa............................................................................ 36 
3.1.5 Procedimentos de coleta de dados.................................................................................. 38 
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 41 
4.1 Frigrífico Avícola................................................................................................................ 41 
4.1.1 Descrição dos processos produtivos................................................................................. 41 
4.1.2 Processo de recepção de aves......................................................................................... 42 
4.1.3 Processo de insensibilização e sangria............................................................................. 43 
4.1.4 Processo de escaldagem e depenagem........................................................................... 44 
4.1.5 Processo de evisceração.................................................................................................. 45 
4.1.6 Processo de pré-resfriamento...........................................................................................46 
4.1.7 Processo de embalagem de miúdos................................................................................. 47 
4.1.8 Processo de embalagem do frango inteiro........................................................................ 48 
4.1.9 Processo de cortes............................................................................................................ 49 
4.1.10 Processo de resfriamento e congelamento....................................................................... 50 
4.2 Análise dos resultados...................................................................................................... 51 
4.2.1 Trabalho estranhado......................................................................................................... 51 
4.2.2 O medo.............................................................................................................................. 59 
4.2.3 Enfrentamento do sofrimento............................................................................................ 62 
4.2.4 Compartilhamento do sofrimento...................................................................................... 64 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 68 
 REFERÊNCIAS 71 
 ANEXOS/ APÊNDICES 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 O crescimento econômico e a diversificação dos processos produtivos vêm sendo, 
historicamente, acompanhados de agravos à saúde dos trabalhadores. A percepção de 
que o trabalho traz consequências a saúde dos indivíduos é antiga e pode ser encontrada 
no clássico Tempos Modernos de Charlie Chaplin – o qual demonstra as degradações 
física e mental sobre os trabalhadores, provocadas pelo modelo taylorista/fordista – e nas 
pesquisas de Friedrick Engels (1985), que relatam situações cruéis não só do trabalho 
nas fábricas mas também da vida dos trabalhadores, ou ainda, mais recentemente, no 
documentário Carne e Osso, de Caio Cavechinni e Carlos Juliano de Barros – o qual 
mostra as condições precárias de trabalho e o adoecimento e sofrimento de 
trabalhadores nos frigoríficos brasileiros. 
 
 Heck (2013), estudando o território fabril da Sadia de Toledo - PR, descreve o caso 
de uma trabalhadora de cinquenta e dois anos, que teve artrose nos dois braços, 
desgaste no osso da perna, quatro desgastes na coluna e um acidente de trabalho, o 
qual abriu sua mão. Para Heck, os inúmeros exemplos de adoecimento de trabalhadores 
do setor de frigoríficos no Brasil e no mundo são exemplos de que há uma degradação 
anunciada. O que para ele significa pensar que a condição para mutilar, adoecer e matar, 
é estar empregado no Brasil, com registro em carteira. 
 
 Neli (2006) constatou em sua pesquisa que o adoecimento ou os riscos a que os 
trabalhadores de frigorífico estão expostos são vistos pela indústria avícola como sendo 
inerentes ao descuido ou ao próprio organismo do trabalhador. Para o mesmo autor, o 
sofrimento alheio é negado em nome do aumento da produtividade e dos lucros, e o 
desmonte de seres humanos se processa em conformidade com as etapas de produção. 
Nas palavras de Marx (1985, p.215) “o capital não tem a menor consideração pela saúde 
e duração da vida do trabalhador, a não ser quando é coagido pela sociedade para ter 
consideração”. 
 
 
 
13 
 
 Assim, o trabalho no modo de produção capitalista é determinado pela eficácia da 
produção, no qual acidentar e adoecer são resultantes de relações sociais em que o 
trabalhador é apenas um complemento da máquina. O trabalho que deveria ser fonte de 
prazer e realização, sob a égide do capital, causa fadiga, doenças e acidentes de trabalho 
que, quando não matam, podem deixar mutilações e dependências. 
 
Weil (1996), ao longo de sua produção teórica dedicou diversos textos à discussão 
das causas da opressão social e sua forma capitalista de organização do trabalho. No 
seu texto Diário de vida na fábrica, a autora afirma que o trabalho está intrinsicamente 
ligado a humilhação social. Segundo a autora, à humilhação é determinada pela pressão 
de se alcançar uma forte cadência produtiva, pela ameaça constante de demissão caso 
não se alcance esta meta, pela maneira de suportar as ordens e pela contínua 
simplificação e fragmentação das atividades. 
 
Nesse sentido, apesar dos importantes avanços científicos e tecnológicos 
alcançados em todo planeta, o trabalho contemporâneo se apresenta como um paradoxo, 
sendo uma combinação de precarização social, adoecimento do trabalhador e destruição 
ambiental. 
 
Assim, esta pesquisa dedica-se a descrever a percepção que o trabalhador de 
frigorífico tem sobre suas condições de saúde, trabalho e vida sob a luz do 
desenvolvimento sustentável. A pesquisa parte do pressuposto de que os trabalhadores 
de frigorífico, para darem conta da tarefa prescrita sem adoecerem, lançam mão de 
estratégias de enfrentamento, ou seja, estratégias defensivas. 
 
 A razão da escolha do tema de pesquisa decorreu da atuação profissional desta 
pesquisadora neste ramo de atividade. Durante o trabalho em um frigorífico avícola, no 
período de 2011 à 2012, esta pesquisadora testemunhou altos índices de doenças do 
trabalho e sofrimento humano. Desta forma, surgiu a inquietação e o desejo de 
compreender a problemática das transformações no mundo do trabalho e suas 
consequências para a vida e saúde do trabalhador de frigorífico. 
 
 
14 
 
1.1. Objetivo Geral 
 
A pesquisa visa contribuir com o debate sobre as transformações da organização 
do trabalho, seguindo os paradigmas do desenvolvimento sustentável, principalmente 
nas dimensões da justiça social e cultural, dos grupos de trabalhadores empregados na 
produção avícola no segmento de frigorífico. 
 
1.1.1. Objetivos Específicos 
1. Caracterizar as condições atuais da atividade de abate e processamento de aves 
com relação as situações de risco bio-psico-social. 
2. Recolher a percepção do trabalhador com relação as suas condições de trabalho e 
suas implicações sobre o seu cotidiano. 
3. Identificar a relação entre o trabalho e o adoecimento com base na percepção dos 
trabalhadores de frigorífico avícola. 
 
1.2. Justificativa e Problema de Pesquisa 
 
 Um levantamento, realizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores das 
Indústrias de Alimentos e Afins, revelou que pelo menos 30% dos frigoríficos brasileiros 
apresentam condições inadequadas de trabalho e, 25% dos trabalhadores da indústria 
de frigoríficos estavam ou deveriam estar afastados em função de acidentes e doenças 
ocupacionais (CAMARGO, 2013). 
 
Segundo Cerigueli (2013), o setor Frigorífico Brasileiro se profissionalizou, 
estabeleceu altas escalas de produção e se tornou o maior exportador de carnes do 
mundo, no entanto, se deparou com enormes desafios no campo de seus recursos 
humanos. 
 
O trabalho fragmentado e parcelado reduzido a tarefas mecânicas e repetitivas, nos 
moldes do trabalho taylorista-fordista, é traço característico na seção de abate e corte 
 
 
15 
 
das indústrias avícolas do Brasil. Tal atividade faz parte da cadeia produtiva da 
agroindústria avícola, de grande destaque na economia nacional (NELI; NAVARRO, 
2013). 
 
Apesar de o processo produtivo da agroindústria ter sido alvo de constantes 
inovações tecnológicas na década de 1970, nem todas as etapas de produção industrial 
puderam ser mecanizadas (RIZZI, 1993). 
 
Nas últimas décadas, observou-se nessa atividade a intensificação crescente do ritmo 
de trabalho para cumprir metas diárias de produção. Em virtude da repetição de 
movimentos, do ambiente insalubre e do ritmo intenso de produção, que oscila de acordo 
com a necessidade do mercado consumidor, a atividade de processamento de aves 
apresenta altos índices de adoecimento e de acidentes do trabalho (NELI; NAVARRO, 
2013). 
 
 Dessa forma, ainda há muitas questões a serem investigadas quanto aos impactos 
do trabalho em frigorífico na saúde ena vida dos trabalhadores. O tema do presente 
estudo se justifica principalmente pelo momento histórico atual da luta dos trabalhadores 
de frigorífico por melhores condições de trabalho. 
 
A luta por melhores condições de trabalho no seto iniciou-se em Santa Catarina em 
1999, com o projeto “Frigo” desencadeado pela Secretaria Regional do Trabalho e 
Emprego (SRTE), com fiscalizações focadas junto às empresas frigoríficas. 
 
 Em 2001, diversas empresas do segmento do estado de Santa Catarina assinaram 
um Termo de Ajustamento e Conduta coletivo, comprometendo-se a trabalhar um 
conjunto de melhorias em Saúde e Segurança do Trabalho (SST). 
 
Em 2003, surge a Proposta de Norma Técnica para o segmento por parte do 
Ministério do Trabalho e Emprego, entretanto, não foi publicada. No ano de 2007, houve 
 
 
16 
 
a estruturação e implementação do Protocolo de Segurança & Saúde do Trabalho (PSST) 
por parte das principais empresas vinculadas ao Sindicarne/SC. 
 
Em 2008, surgem as primeiras Ações Civis Públicas (ACPs) contra as empresas do 
segmento, tendo como foco aspectos exclusivos de SST, promovidas pelo Ministério 
Público do Trabalho com apoio da Secretaria Regional do Trabalho e Emprego 
(CERIGUELI, 2013). Em 2010, iniciam-se as tratativas para a criação da Norma 
Regulamentadora para o setor. 
 
 Em 2011, a ONG Repórter Brasil produziu o documentário “Carne Osso: um 
mergulho no mundo dos frigoríficos brasileiros”. O documentário mostra a dura realidade 
do trabalho dentro dos frigoríficos. 
 
Finalmente, em abril de 2013, foi publicada pelo Ministério do Trabalho e Emprego 
a Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho em Empresas de Abate 
e Processamento de Carnes e Derivados (NR-36). A NR 36 é fruto de mais de nove anos 
de discussões e de dois anos de trabalho do Grupo de Estudos Tripartite (GET), que 
reuniu representantes dos trabalhadores, do Governo Federal e dos empresários, a 
norma surgiu atendendo as antigas reivindicações da classe trabalhadora. 
 
Dessa forma, este trabalho busca responder a seguinte questão: Qual a percepção 
do trabalhador de frigorífico sobre as suas condições de trabalho, saúde e vida? 
 
A pesquisa visa contribuir com o debate sobre as transformações da organização 
do trabalho, seguindo os paradigmas do desenvolvimento sustentável, principalmente 
nas dimensões da justiça social e cultural, dos grupos de trabalhadores empregados na 
produção avícola no segmento de frigorífico. 
 
 Para tanto, partimos do pressuposto de que as relações interpessoais 
desenvolvidas entre os trabalhadores no ambiente de trabalho são importantes para o 
enfrentamento das condições adversas do trabalho em frigorífico. 
 
 
17 
 
2. REFERENCIAL TEÓRICO 
 
Qadro 1: Temas tratados, contribuições e principais autores referendados em cada seção do referencial 
teórico. 
 
Temas abordados Tópicos ou 
Contribuições 
Referências ou Fontes 
 
 
 
 
Condições de Trabalho e 
Sofrimento do Trabalhador 
 
 
 
 
Perspectiva Histórica 
 
 
Bosi, 1983 
Decca, 1988 
Dejours, 1998 
Engels, 1985 
Heck, 2013 
Marglin, 1989 
Thomaz Junior, 2007 
 
 
 
Formas de Intensificação 
do Trabalho e Controle do 
Trabalhador 
 
 
Taylorismo, Fordismo e 
Toyotismo 
 
Antunes, 1999 
Braverman, 1987 
Gramsci, 1978 
Harvey, 1992 
Sanches, 2006 
 
 
A Reestruturação Produtiva 
na Agroindústria Avícola 
Brasileira 
 
O Crescimento do Setor 
 
Rizzi, 1993 
UBABEF, 2011 
UBABEF, 2012 
UBABEF, 2014 
 
A Reestruturação Produtiva 
na Agroindústria Avícola 
Brasileira e a Saúde do 
Trabalhador 
 
O Adoecimento na 
Indústria Avícola 
 
Camargo, 2013 
Heck, 2013 
Neli e Navarro, 2013 
Neli, 2006 
Rizzi, 1993 
 
 
Desenvolvimento 
Sustentável 
 
Justiça Social, Equidade e 
Autonomia 
 
Sen; Kliksberg, 2010 
 
Fonte: Elaborado pela autora 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
2.1. Condições de Trabalho e Sofrimento do Trabalhador: uma perspectiva 
histórica 
 
 
 O período de desenvolvimento do capitalismo industrial caracteriza-se pelo 
crescimento da produção, pelo êxodo rural e pela concentração de novas populações 
urbanas. Segundo Dejours (1988), esse período foi marcado por precárias condições de 
trabalho, emprego de crianças na produção industrial, salários insuficientes para a 
subsistência e elevado número de acidentes. 
 
 A sociedade industrial convivia com alta morbidade, crescente mortalidade e uma 
longevidade extremamente reduzida, e a batalha pela saúde era a própria luta pela 
sobrevivência (DEJOURS, 1988). Em 1845, Engels apresentava o retrato de uma 
situação cruel não só no trabalho nas fábricas, mas também da vida dos trabalhadores. 
 
 
Na maior parte dos ramos, a atividade do operário reduz-se a um gesto 
mesquinho, puramente mecânico, que se repete minuto a minuto, ano após ano, 
sempre o mesmo. Quem quer que tenha trabalhado a mais tenra idade doze e 
mais horas por dia, fabricando cabeças de prego ou limando rodas dentadas, e 
que viva nas condições de vida de um proletário inglês, quantas faculdades e 
sentimentos humanos pode conservar aos trinta anos? A atividade do operário 
encontra-se facilitada, o esforço muscular reduzido, e o próprio trabalho é 
insignificante, mas extremamente monótono (ENGELS, 1985, p. 139). 
 
 
 Se a natureza do trabalho, no seu modo de execução, por si só já era suficiente 
para embrutecer os trabalhadores, suas condições de realização os humilhavam ainda 
mais, pois o ambiente de trabalho era insalubre, as condições de trabalho degradantes e 
o salário insuficiente para garantir aos trabalhadores condições adequadas de moradia, 
alimentação e saúde. O trabalho tornou-se mecânico e repetitivo, um meio de tortura já 
que a máquina não livra o trabalhador do trabalho, mas o trabalho de seu conteúdo. 
 
 Dessa forma, pode se afirmar que o avanço das forças produtivas ao mesmo tempo 
em que capacita o capital, suprime o trabalho e intensifica o estranhamento. A lógica 
deste avanço tecnológico é a lógica do capital. O capital conseguiu que a ciência se 
colocasse a seu serviço, o que se deu num processo de docilização da mão-de-obra 
 
 
19 
 
(DECCA, 1988). Isso fica claro quando conhecemos a história do surgimento das 
fábricas: 
 
Dentre todas as utopias criadas a partir do século XVI, nenhuma se realizou tão 
desgraçadamente como a sociedade do trabalho. Fábricas-prisões, fábricas-
conventos, fábricas sem salário, que aos nossos olhos adquirem um aspecto 
caricaturial, foram sonhos realizados pelos patrões e que tornaram possível esse 
espetáculo atual da glorificação do trabalho (DECCA, 1998, p. 7). 
 
 
A dimensão crucial da glorificação do trabalho deu-se com o surgimento da fábrica 
mecanizada que aparecia aos olhos do mundo ocidental como a nova ilusão de que não 
haveria limites para a produtividade humana. Assim o sucesso da fábrica não decorre da 
mecanização e do desenvolvimento tecnológico, mas sim do fato dela ter sido um local 
priveligiado da disciplinarização dos trabalhadores que acabaram por introjetar dentro de 
cada um o relógio moral do desenvolvimento capitalista. Dessa forma, a tecnologia pode 
ser vista como mais um mecanismo de controle social. Esse processo pode ser abordado: 
 
A origem e o sucesso da fábrica não se explicam por uma superioridade 
tecnológica, mas pelo fato dela despojar o operário a qualquer controle e de dar 
ao capitalista o poder de prescrever a natureza do trabalho e a quantidade a 
produzir. A partir disso, o operário não é livre para decidir como e quanto quer 
trabalhar para produzir o que lhe é necessário; mas é preciso que ele escolha 
trabalhar nas condições do patrão ou não trabalhar, o que não lhe deixa nenhuma 
escolha (MARGLIN, 1989, p.41). 
 
 
É na lógica do capitalismo que o trabalhador torna-se um complemento da máquina, 
ou seja um homem alienado, pois é ele que deve se ajustar ao aparato produtivo. Os 
relatos de Weil, professora de filosofia na França que optou portrabalhar como operária 
na fábrica durante os anos 1935 e 1936 demonstra o sofrimento do jovem aprendiz que 
sai da escola e entra na fábrica tornado-se assim um complemento da máquina: 
 
Precocemente ele ingressa na fábrica. Da noite para o dia ele se torna um 
complemento de máquina, uma coisa que deve obedecer ao ritmo da produção, 
e não importa quais sejam seus motivos para obedecer. Começa para o jovem, 
para a criança egressa da escola, uma existência dobrada sobre a matéria, atenta 
às exigências da máquina, segregada como se fora outra humanidade: o operário 
imagina uma repetição interrupta de peças sempre idênticas, regiões tristes e 
desérticas que o pensamento não consegue percorrer. Para mudar de região, só 
através de uma ordem súbita; imprevisível; portanto, de uma humilhação. Esse 
dobrar-se sobre o presente produz uma espécie de estupor. (BOSI, 1983, p. 21). 
 
 
 
20 
 
 
 No seu texto Diário de vida nas fábricas, Weil (1996) afirma que o trabalho fábril 
está intrinsicamente relacionado a uma experiência de humilhação social. A humilhação 
é determinada pela pressão de se alcançar uma forte cadência produtiva, pela ameaça 
constante de demissão caso não alcance esta meta, pela maneira de suportar as ordens, 
pela contínua simplificação e fragmentação das atividades. Assim o estranhamento, nas 
palavras de Weil, refere-se a humilhação social. 
 
Portanto, ao longo do desenvolvimento do processo de trabalho nos séculos XIX e 
XX, apesar de algumas transformações, não houve uma verdadeira ruptura com o caráter 
capitalista do modo de produção. Os avanços científicos ocorridos em nome do progresso 
não conseguiram eliminar as formas de exploração física e psíquica dos trabalhadores, 
nas fábricas e fora delas. 
 
Os instrumentos de trabalho altamente desenvolvidos não facilitaram ou diminuíram 
o esforço do trabalhador no processo de trabalho. Nas palavras de Thomaz Júnior (2007, 
p. 8) “seja na cana, seja na laranja, seja na Scania, seja na IBM, seja no Bradesco, seja 
no McDonald´s, seja na Odebrecht, enfim o trabalho é precarizado”. Nas palavras de 
Hech (2013, p. 48): 
A degradação do trabalho se expressa nas diferentes escalas territoriais, com 
diferentes formas e procedimentos que só as pesquisas poderão ajudar a 
desvendar. É por esse motivo que seja na cana, nos frigoríficos, nos bancos, nos 
call centers, o trabalho, sob a égide do capital, é e será degradado. 
 
 
2.2. Formas de Intensificação do Trabalho e Controle do Trabalhador: 
Taylorismo/Fordismo/Toyotismo 
 
 
No final do século XIX, novos modelos de produção industrial capitalista são 
desenvolvidos com objetivo de racionalizar a organização do trabalho visando garantir 
melhores resultados na produção e aumento na produtividade. Os modelos Taylorista e 
Fordista surgiram nesta fase. 
 
 
 
21 
 
O modelo Taylorista surgiu nos EUA, no final do século XIX e início do século XX, 
período em que a eletricidade passou gradativamente a fazer parte do cotidiano das 
cidades e a alimentar os motores das fábricas. Esse período caracterizou-se pela 
administração científica do trabalho e pela produção em série. Nesta fase, o 
conhecimento científico se tornou relevante, sobretudo para o desenvolvimento das 
indústrias. 
 
A preocupação original do taylorismo era eliminar o fantasma do desperdício das 
perdas sofridas pelas indústrias e aumentar os níveis de produtividade com aplicação de 
métodos e técnicas da engenharia industrial. Para Taylor, boa parte dos problemas 
estava na baixa produtividade das fábricas provocada pela enorme variação de tempo e 
de rendimento do trabalho individual dos operários, pois existiam na mesma empresa 
diversas maneiras de executar uma mesma atividade. 
 
Taylor percebeu que a perda na produtividade era resultado do desconhecimento 
dos empregadores quanto ao conteúdo do trabalho e do tempo necessário para a 
execução de cada atividade, somado ao fato dos operários deterem o conhecimento de 
parte do processo de trabalho. A questão implicava em buscar métodos objetivos de 
execução, os quais, além de serem uniformes, deveriam ser determinados de forma 
externa, prescritos pela gerência. 
 
Assim, o taylorismo teve como principal preocupação desenvolver métodos de 
trabalho que permitissem à gerência controlar o tempo do trabalhador. Isso só foi possível 
por meio da divisão planejada do trabalho em tarefas padronizadas e realizáveis no 
menor tempo possível, o que por sua vez, possibilitou a total ruptura entre as atividades 
de concepção e de execução. No taylorismo, o trabalhador deve ser poupado de pensar 
para que possa repetir os movimentos ininterruptamente, ganhando rapidez e exatidão. 
Assim, foi retirada do trabalhador qualquer possibilidade de iniciativa e liberdade de 
movimento. Nas palavras de Gramsci: 
 
 
 
22 
 
Taylor de fato exprime, com cinismo brutal, o fim da sociedade americana: 
desenvolver no trabalhador, no máximo grau, atitudes maquinais e automáticas, 
despedaçar o velho nexo psicofísico do trabalho profissional qualificado, que 
exigia uma certa participação ativa da inteligência, da fantasia, da iniciativa do 
trabalhador e reduzir as operações produtivas ao seu único aspecto físico 
maquinal (GRAMSCI, 1978, p.328). 
 
Portanto, no modelo taylorista, a principal fonte de agressão à saúde do trabalhador 
é a própria organização do trabalho, na medida em que a concepção passa a ser posse 
exclusiva da gerência científica. Segundo Braverman (1987), Taylor alegava que a 
gerência se tornaria um empreendimento limitado e frustrado se deixasse ao trabalhador 
qualquer tipo de decisão sobre o trabalho. Para o mesmo autor, o que Taylor buscava 
não era a melhor maneira de trabalhar em geral mas uma resposta ao problema 
específico de como controlar o trabalhador alienado (BRAVERMAN, 1987). 
 
 O fordismo, por sua vez, manteve as características essenciais do taylorismo, mas 
aprofundou-as ao introduzir a linha de montagem e um novo modo de gerir a força de 
trabalho, com destaque aos incentivos dados aos trabalhadores através de aumento de 
níveis salariais. 
 
 A divisão do trabalho e a parcealização das tarefas foram intensificadas no fordismo. 
Os trabalhadores ficaram mais submetidos ao ritmo automático, à cadência das 
máquinas, à rotina, executando, várias vezes, um mesmo movimento em uma linha de 
montagem. A esteira rolante reduzia o transporte entre as operações e fixava a cadência 
regular de trabalho. Este processo fica claro na citação de Antunes: 
 
Esse padrão produtivo estruturou-se com base no trabalho parcelar e 
fragmentado, na decomposição das tarefas, que reduzia a ação operária a um 
conjunto repetitivo de atividades cuja somatória resultava no trabalho coletivo 
produtor dos veículos. Uma linha rígida de produção articulava os diferentes 
trabalhos, tecendo vínculos entre as ações individuais da qual a esteira fazia as 
interligações, dando o ritmo e o tempo necessário para a realização das tarefas. 
Esse processo produtivo caracterizou-se, portanto, pela mescla da produção em 
série fordista com o crônometro taylorista, além da vigência de uma separação 
nítida entre a elaboração e execução. A atividade de trabalho reduzia-se a uma 
ação mecânica e repetitiva (ANTUNES, 1999, p.37). 
 
 
 
23 
 
Dessa forma, as políticas salarial e de benefícios tornavam-se então os estímulos 
mais imediatos para que os trabalhadores se submetessem às exigências de ritmos e de 
produção nos moldes definidos pela gerência. 
 
Assim, o fordismo consolidou um novo modelo de desenvolvimento, caracterizado 
pela produção em massa e pelo consumo de massa, o que colocava as necessidades de 
ampliar mercados e de estabelecer um novo patamar de rendimentos para os 
trabalhadores. Ford propôs a jornada de oito horas e quase dobrou o salário médio do 
trabalhador, como forma de estimular a produção e o consumo. Segundo Harvey (1996, 
p. 121), especiale inovador em Ford foi: 
 
seu reconhecimento explícito de que a produção de massa significava consumo 
de massa, um novo sistema de reprodução da força de trabalho, uma nova 
política de controle e gerência do trabalho, uma nova estética e uma nova 
psicologia, em suma, um novo tipo de sociedade democrática, racionalizada, 
modernista e populista. 
 
Em sua análise sobre a expansão do fordismo nos EUA, Gramsci (1978) salienta 
que novos métodos de trabalho são inseparáveis de um novo modo de viver. Questões 
relacionadas à sexualidade, à moralidade e ao consumismo estavam vinculadas ao 
surgimento de um novo tipo de trabalhador, de um novo padrão de produção e de 
consumo, enfim, de um novo tipo de sociedade. 
 
Assim, o modelo fordista está estreitamente associado ao modo norte-americano 
de trabalhar e viver, quanto aos aumentos salariais para estimular o consumo e, de certa 
forma, convencer o trabalhador a submeter-se ao ritmo acelerado de trabalho. 
 
 
A produção em série atingia seu ápice ligada, inevitavelmente, ao triunfo da 
sociedade de consumo e à melhoria do nível de vida norte-americano de 1920 a 1929. O 
modelo fordista foi recebido, no mundo, como o american way of life no final da Segunda 
Guerra Mundial, fundado no hedonismo – na busca da felicidade por meio do aumento 
do consumo como uma meta a ser alcançada. 
 
 
 
24 
 
O modelo taylorista/fordista, com suas particularidades, prevaleceu como modo de 
organizar o trabalho e a produção nos países capitalistas desenvolvidos até meados dos 
anos 70. Nessa época, a “era de ouro” do capitalismo, com crescimento econômico e 
relativa redistribuição de renda, estava chegando ao fim. O modelo de produção em 
massa exigia crescimento estável em mercados de consumo constantes. Os modelos 
taylorista e fordista começam a dar sinais de esgotamento devido a crise estrututural 
vivida pelo capitalismo. O taylorismo e o fordismo passam a conviver ou mesmo a ser 
substituídos por outros modelos considerados mais enxutos e flexíveis, melhor adequado 
às novas exigências capitalistas de um mercado cada vez mais globalizado. 
 
 A partir de 1980, obeserva-se os sinais da chamada reestruturação produtiva. Em 
um cenário de competitividade, as empresas visando a redução dos custos de produção, 
a maior variabilidade de suas mercadorias, a melhoria da qualidade de seus produtos e 
serviços e de sua produtividade, investiram em mudanças de ordem tecnológica e 
organizacionais. 
 
Assim, surgem em várias partes do mundo novas formas de organização do 
trabalho, alternativas à “rigidez” do taylorismo-fordismo. São exemplos destas novas 
experiências o modelo sueco, o modelo italiano e o modelo japonês. No entanto, foi este 
último que conseguiu maior capacidade de propagação. 
 
Este modelo é marcado pela forte precarização do trabalho e pelo crescente 
processo de terceirização. No toyotismo a produção em série e de massa é substituída 
pela flexibilização da produção e pela flexibilidade, através de novos padrões de 
produtividade e novas formas de adequação à lógica do mercado. Nas palavras de 
Sanches: 
O toyotismo traz em seu bojo uma verdadeira revolução tecnológica e imensa 
capacidade de propagação. A produção é bastante heterogênea, os estoques 
são reduzidos e há forte processo de terceirização e precarização do trabalho. 
Para efetiva flexibilização do aparato produtivo, é também imprescindível a 
flexibilização dos trabalhadores, o que implica na consequente 
desregulamentação/flexibilização de seus direitos e conquistas históricas. As 
novas formas de gestão do trabalho assumem cada vez mais um caráter de 
superexploração dos trabalhadores (SANCHES, 2006, p.25). 
 
 
 
25 
 
O toyotismo causou grande impacto tanto pela resolução técnica que operou na 
indústria japonesa, quanto pela potencialidade de propagação. Alguns pontos básicos do 
toyotismo têm demonstrado expansão e hoje atingem uma escala mundial. 
 
 
2.3. A Reestruturação Produtiva na Agroindústria Avícola Brasileira 
 
Em 2012, o Brasil teve uma produção de carne de frango de 12,645 milhões de 
toneladas. Manteve a posição de maior exportador mundial e de terceiro maior produtor 
de carne de frango, atrás dos Estados Unidos e da China (UBABEF, 2012). Do volume 
total de frangos produzido pelo país, 69% foi destinado ao consumo interno, e 31% para 
exportações. Com isto, o consumo per capita de carne de frango atingiu 45 quilos por 
pessoa. 
 
A produção brasileira de frangos teve um crescimento de 118% no período de 
2000 a 2012, e a exportação cresceu 330%. As exportações alcançaram mais de 150 
países. 
 
As indústrias de abate de aves estão presentes em todo território nacional, 
principalmente nos estados do Paraná, com 30,39% da produção, Santa Catarina com 
17,29%; Rio Grande do Sul com 14,12% e São Paulo com 12,96% (UBABEF, 2014). 
 
Segundo dados da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), o setor de avicultura 
gera 3,5 milhões de empregos diretos e indiretos, com movimentação de R$ 36 bilhões 
em negócios e participação em 1,5% do Produto Interno Bruto (UBABEF, 2011). 
 
No Brasil, embora a criação de aves tenha iniciado na década de trinta, os reflexos 
desses avanços começaram a ser percebidos no final da década de 50 e início da década 
de 60, quando inciaram as importações de linhagens híbridas americanas de frangos, 
mais resistentes e produtivas. 
 
 
 
26 
 
No entanto, foi na década de 1970 que a indústria de frangos brasileira passou por 
redefinições comerciais e produtivas, com importantes transformações na agricultura e 
na indústria. Essas transformações envolvem o consumo, os aspectos tecnológicos, bem 
como o comércio internacional. 
 
Segundo Rizzi (1993), a agroindústria avícola brasileira passou por profundas 
alterações, com a instalação de modernos frigoríficos e abatedouros de aves, a partir dos 
anos 1970. Esse processo foi viabilizado pela política agrícola, que subsidiou a instalação 
de frigoríficos, a comercialização e a instalação de aviários fornecedores de matérias-
primas, via produtor integrado. 
 
O consumo de carne de frango está diretamente ligado à reestruturação do 
processo de produção da agroindústria avícola. As implementações tecnológicas 
permitiram o aumento da produção, bem como diminuição do preço final ao consumidor. 
O consumo de carnes de frango, ainda segundo Rizzi (1993), representa a partir da 
década de 1990 mais de 40% do consumo total de proteínas no Brasil. 
 
A implementação tecnológica na agroindústria avícola brasileira, a partir do fim da 
década de 1960 e início de 1970 permitiu a substituição de procedimentos manuais por 
outros automáticos. 
 
As operações de evisceração, que eram feitas manualmente, passaram a ser 
realizadas automaticamente, como alternativa a escassez de mão de obra. 
Assim, uma das primeiras operações a serem automatizadas depois da 
escaldagem e depenagem foi o corte das pernas, seguido pelo corte automático 
do rabo e do pescoço. Também se introduziu a pistola automática para a remoção 
das vísceras e o separador de moelas. Introduziu-se ainda o eviscerador 
totalmente automatizado, que se constitui na mais significativa inovação no 
processo de produção na indústria de aves, realizando assim, numerosas 
operações em um único ciclo. A capacidade de produção aumentou sem a 
necessidade de aumentar o departamento de evisceração, pois diversas 
operações formam combinadas em uma mesma máquina (RIZZI, 1993, p. 39-
40). 
 
 
Entretanto, ainda segundo o mesmo autor, a produção agroindustrial de aves 
durante a década de 1970 é marcada por grande homogeneidade da produção, tendo 
 
 
27 
 
como principal produto o processamento da ave inteira. A partir da década de 1980, 
começam a ocorrer mudanças significativas no processo de abate com a introdução de 
máquinas automáticas, como também em etapas subsequentes, com vistas à produção 
de cortes especiais e fabricaçãode produtos diferenciados. 
 
 
 
2.4. A Reestruturação Produtiva e a Saúde do Trabalhador da Indústria Avícola 
 
O aumento significativo das exportações no setor agroindustrial avícola brasileiro, 
principalmente a partir da segunda metade da década de 1990, originou uma exploração 
extrema do trabalho vivo no interior dessas empresas (NELI, 2006). 
 
Nas últimas décadas, observou-se nessa atividade a intensificação crescente do 
ritmo de trabalho para cumprir metas diárias de produção. Em virtude da repetição de 
movimentos, do ambiente insalubre e do ritmo intenso de produção, que oscila de acordo 
com a necessidade do mercado consumidor, a atividade de processamento de aves 
apresenta altos índices de adoecimento e de acidentes do trabalho (NELI; NAVARRO, 
2013). 
 
O trabalho parcelado, fragmentado, estruturado na decomposição crescente das 
tarefas, reduzido a ações mecânicas e repetitivas, nos moldes do trabalho fundado pelo 
taylorismo-fordismo, é traço marcante e característico na seção de abate e corte das 
indústrias avícolas do Brasil (NELI; NAVARRO, 2013). 
 
Segundo Rizzi (1993), apesar de o processo produtivo da agroindústria ter sido alvo 
de constantes inovações tecnológicas na década de 1970, nem todas as etapas de 
produção industrial puderam ser mecanizadas. 
 
As atividades realizadas em abatedouros e frigoríficos estão sujeitas a riscos 
diversos. A cadência fixa imposta pelas máquinas, com ciclos curtos, caracteriza 
repetitividade, o que favorece o aparecimento de LER (Lesão por Esforço Repetitivo) e 
 
 
28 
 
DORT (Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho). Aliadas à crescente pressão 
por produtividade, em um momento em que o Brasil bate recordes de consumo interno e 
de exportação de carne, essas atividades repetitivas podem também contribuir para o 
aparecimento de uma série de problemas psíquicos, como estresse, insatisfação e 
depressão (CAMARGO, 2013). 
 
Os trabalhadores desses estabelecimentos realizam também atividades que 
mantêm os membros superiores e inferiores estáticos, resultando em tensão muscular 
prolongada e prejuízos ao fluxo sanguíneo, o que pode ocasionar o surgimento de 
doenças vasculares, como as varizes. 
 
A exposição prolongada ao frio e manuseio de produtos com baixa temperatura 
também são problemas relacionados ao trabalho em frigoríficos, e podem causar 
vasoconstrição. Combinada ao uso de luvas e aos movimentos repetitivos, a exposição 
ao frio pode contribuir ainda para o desenvolvimento da LER e da Sindrome do Túnel do 
Carpo, que pode gerar dormência, formigamentos, fraqueza e danos muscalares nas 
regiões afetadas. 
 
Outras doenças que podem estar relacionadas ao trabalho em abatedouros e 
frigoríficos são contaminações por agentes biológicos e perdas auditivas, em função da 
exposição contínua a ruídos acima de 80 dB (A). A exposição ao barulho pode ainda 
contribuir para o aumento dos níveis de estresse e contração dos vasos sanguíneos. 
 
Segundo dados do Ministério da Previdência Social (MPAS), em 2012 ocorreram 
18.952 acidentes de trabalho em frigoríficos (suíno, bovino e avícola). Esse número 
representa cerca de 2,68% de todos os demais acidentes de trabalho registrados no 
mesmo ano. Ainda segundo dados do MPAS, do número total de acidentes registrados 
pelo setor de abate e processamento de carnes, 687 resultaram em doença ocupacional. 
 
Um levantamento, realizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores das 
Indústrias de Alimentos e Afins, revelou que pelo menos 30% dos frigoríficos brasileiros 
 
 
29 
 
apresentam condições inadequadas de trabalho e, 25% dos trabalhadores da indústria 
de frigoríficos estavam ou deveriam estar afastados em função de acidentes e doenças 
ocupacionais (CAMARGO, 2013). 
 
Em nível internacional o emprego nas atividades frigoríficas de carnes, segundo 
Heck (2013) também é extremamente degradante, seja nos frigoríficos americanos, 
franceses e italianos, salvo as especialidades, a degradação do trabalho é evidenciada 
pelo elevado risco de adoecer física e mentalmente (HECK, 2013). Portanto nas palavras 
de Heck: 
Fica claro que o adoecimento desses trabalhadores não é fruto do acaso, mas 
antes, a imposição de um metabolismo em que o trabalho é reduzido à mera 
mercadoria vendável (HECK, 2013, p.47). 
 
 
 Para o mesmo autor, a degradação do trabalho é consentânea na atividade 
frigorífica, as publicações citadas que tratam do trabalho em frigoríficos americanos, 
italianos e franceses apontam para os esforços repetitivos constantes, ritmos de trabalho 
intensos e pressão por produção, o que resulta no adoecimento físico e mental dos 
trabalhadores. 
 
 No Brasil, em abril de 2013, foi publicada pelo Ministério do Trabalho e Emprego a 
Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho em Empresas de Abate e 
Processamento de Carnes e Derivados (NR-36). 
 
 A NR-36 fornece diretrizes para 15 itens relativos à segurança do trabalhador e 
proteção ao meio ambiente: mobiliário e postos de trabalho; estrados, passarelas e 
plataformas; manuseio de produtos; levantamento e transporte de produtos e cargas; 
recepção e descarga de animais; máquinas; equipamentos e ferramentas; condições 
ambientais de trabalho; equipamentos de proteção individual (EPI) e vestimentas de 
trabalho; gerenciamento dos riscos; programa de prevenção de riscos ambientais e 
controle médico de saúde ocupacional; organização temporal do trabalho; organização 
das atividades; análise ergonômica do trabalho; informações e treinamentos em 
segurança e saúde no trabalho. 
 
 
30 
 
 
 Entre as principais ações introduzidas pela norma estão a regulamentação do uso 
de amônia e da concentração de dióxido de carbono nos ambientes, a exigência de 
treinamento específico para a realização de cada função e a alternância entre funções 
que demandam diferentes atividades físico-motoras. Também devem ser garantidas 
pausas aos trabalhadores de todas as etapas do processo produtivo com objetivo de 
amenizar os impactos físicos e psicológicos das atividades. Para jornadas de até 6h20, 
a pausa deve ser de 20 minutos; para jornadas de 6h20 a 7h40, 30 minutos; de 7h40 a 
9h10, 40 minutos; e de 9h10, de 60 minutos. 
 
 A Norma também estabelece importantes exigências relativas a alterações no 
mobiliário, que visam aliviar os impactos relacionados a movimentos repetitivos e a 
postura dos trabalhadores: “ A Norma estabelece que sejam fornecidos bancos para que 
o funcionário possa trabalhar algumas horas em pé e algumas horas sentado. Também 
se exige que as próprias bancadas sejam adequadas ao trabalho”. Para trabalhos 
realizados exclusivamente em pé, devem ser disponibilizados assentos ou bancos 
próximos ao local de trabalho a serem utilizados durante as pausas. 
 
 Os postos de trabalho, segundo a NR-36, deverão possuir ainda pisos com 
características antederrapantes, sistema de escoamento de água e resíduos, áreas de 
trabalho e de circulação dimensionadas de forma a permitir a movimentação segura de 
materiais e pessoas, proteção contra intempéries quando as atividades forem realizadas 
em área externa e limpeza e higienização constantes. 
 
 As máquinas utilizadas no trabalho, bem como plataformas, escadas fixas e 
passarelas, devem atender às exigências da NR-12 (Segurança e Saúde no Trabalho em 
Máquinas e Equipamentos). Também devem ser adotadas medidas de proteção contra 
riscos químicos e biológicos. 
 
Dessa forma, a NR-36 traz para o setor de frigorífico o desafio de tornar as 
atividades de abate e processamento de carnes menos árdua. 
 
 
31 
 
2.5. Desenvolvimento Sustentável 
 
O modelo presente de desenvolvimento do mundo não é sustentável e o grande 
desafio que se impõe a humanidade é o desenvolvimento com sustentabilidade. O 
conceito de sustentabilidade surgiu pela primeira vez na década de 1980, quando a 
Organização das Nações Unidas retomouo debate das questões ambientais e criou uma 
Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. 
 
Criada após uma avaliação dos dez anos da Conferência de Estocolmo, a Comissão 
Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento foi liderada pela primeira-ministra da 
Noruega, Gro Harlem Brundtland (indicada pela ONU) com o propósito de promover 
audiências em todo o mundo e produzir um resultado formal das discussões. 
 
O documento final desses estudos chamou-se Nosso Futuro Comum ou Relatório 
Brundtland. O relatório foi publicado após três anos de audiências com líderes de governo 
e o público em geral, ouvidos em todo o mundo, sobre questões relacionadas ao meio 
ambiente e ao desenvolvimento. 
 
No Relatório Brundtland, a primeira ministra norueguesa, Gro Harlem Brundtland, 
apresentou a seguinte definição para o conceito de desenvolvimento sustentável: 
 
 É a forma com atuais gerações satisfazem as suas necessidades sem, no 
entanto, comprometer a capacidade de gerações futuras satisfazerem as suas 
próprias necessidades (Brundtland apud Scharf, 2004, p.19). 
 
 
Em Camargo (2003, p.43) encontra-se outra definição para o termo, também 
apresentado no relatório de Bundtland: 
 
Em essência, o desenvolvimento sustentável é um processo de transformação 
no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do 
desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e 
reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades e 
aspirações humanas. 
 
 
 
 
32 
 
Durante a ECO-92 realizada no Rio de Janeiro, o plano de sustentabilidade resultou 
na Agenda 21 fixando três dimensões do desenvolvimento sustentável: economicamente 
viável; socialmente equitativo e ecologicamente inofensivo. 
 
Embora tenha ocorrido uma evolução sobre o conceito de desenvolvimento 
sustentável ao longo das décadas, o desenvolvimento econômico se sobrepõe, aos 
interesses sociais e ambientais. Assim, o conceito de desenvolvimento tem sido objeto 
de controvérsia, e, até recentemente, a abordagem era de ver desenvolvimento e 
crescimento econômico como sinônimos. 
 
O crescimento econômico, muitas vezes refletido como ter um melhor PIB, não 
significa melhor qualidade de vida, em termos de saúde, educação e mais liberdade de 
opções. Número crescente de estudiosos consideram o crescimento econômico como 
condição necessária, porém não suficiente para o desenvolvimento. 
 
Para Kliksberg e Sen (2010), as profundas frustrações experimentadas nas últimas 
décadas por muitas sociedades, dentre elas várias latino-americanas, que avaliadas 
pelos critérios usuais de taxas de crescimento anual, Produto Interno Bruto per capita, 
baixos níveis de inflação, pareciam exibir todos os sinais do progresso, mas nas quais, 
no entanto, produziram-se profundos processos de deteriorização nas bases 
econômicas, com parcelas crescentes da população sendo excluídas. 
 
Segundo os mesmos autores, no cenário internacional renovado em que vivemos, 
surgem mudanças fundamentais na visão de como saber se as sociedades estão 
realmente progredindo e de como mensurar o desenvolvimento. 
 
Nesse sentido, a nova visão, que começa a ganhar força crescentemente, amplia 
totalmente as dimensões a serem levadas em conta para saber se uma sociedade 
progride ou não, inclue, ao lado dos indicadores econômicos comuns, aspectos que têm 
a ver com o desenvolvimento social, o desenvolvimento ambiental, o acesso a cultura, as 
liberdades e a construção da cidadania (KLIKSBERG; SEN, 2010). 
 
 
33 
 
Em setembro de 2015, líderes mundiais reuniram-se na sede da Organização das 
Nações Unidas, em Nova York, e decidiram um plano de ação para as pessoas, o planeta 
e a prosperidade: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, a qual contém o 
conjunto dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Nesta agenda estão 
previstas ações mundiais nas áreas de erradicação da pobreza, segurança alimentar, 
agricultura, saúde, educação, igualdade de gênero, redução das desigualdades, energia, 
água e saneamento, padrões sustentáveis de produção e de consumo, mudança do 
clima, cidades sustentáveis, proteção e uso sustentável dos oceanos e dos ecossistemas 
terrestres, crescimento econômico inclusivo, infraestrutura, industrialização, entre outros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
3. MÉTODO 
 
 A presente pesquisa teve por objetivo contribuir com o debate sobre as 
transformações da organização do trabalho, seguindo os paradigmas do 
desenvolvimento sustentável, principalmente nas dimensões da justiça social e cultural, 
dos grupos de trabalhadores empregados na produção avícola no segmento de 
frigorífico. 
 
Trata-se de uma pesquisa de caráter exploratório com três enfoques básicos: 
primeiramente, buscou-se caracterizar as condições atuais da atividade de abate e 
processamento de aves por meio de pesquisa bibliográfica acerca das transformações 
ocorridas nos processos produtivos ao longo das décadas e seus impactos na vida e na 
saúde dos trabalhadores do segmento avícola. 
 
 Em seguida procedemos com a observação participante na empresa objeto de 
estudo. A visita ao frigorífico ocorreu em dezembro de 2016, e nos possibilitou 
compreender como o trabalho é organizado neste segmento, bem como, descrevê-lo 
nesta pesquisa. O estudo de campo nos permitiu ainda, a preparação de um roteiro de 
entrevistas para o levantamento da percepção dos trabalhadores de frigorífico sobre as 
suas condições de trabalho, saúde e vida. 
 
 Para Gil (2008), a pesquisa exploratória visa proporcionar maior familiaridade com 
o problema, envolvendo levantamento bibliográfico e entrevistas com pessoas 
experientes no problema pesquisado. 
 
Como forma de coleta de dados optou-se pela entrevista semi-estruturada com 
questões norteadoras para o desenvolvimento do tema. Para tanto, buscou-se respaldo 
no método qualitativo por permitir uma leitura crítica e reflexiva sobre os fatos levantados, 
além de proporcionar a relação direta entre o pesquisador e o sujeito de pesquisa. 
 
 
 
35 
 
A pesquisa teve como recorte a indústria avícola localizada no município de São 
José do Rio Pardo, sudeste de São Paulo. Justifica-se a inserção em tal empresa, em 
razão da mesma apresentar altos índices de doenças profissionais e de absenteísmo, 
traço predominante das empresas frigoríficas. 
 
 
3.1. Caracterização do campo de pesquisa: frigorífico avícola localizado em São 
José do Rio Pardo/SP 
 
3.1.1 . Município de São José do Rio Pardo/SP 
 
 A indústria avícola objeto de pesquisa está localizada no município de São José do 
Rio Pardo Estado de São Paulo. Segundo levantamento realizado no último censo 
demográfico, com dados referentes ao ano de 2010, São José do Rio Pardo possui uma 
população de 51.900 habitantes distribuída numa unidade territorial de 419,186 km², o 
que resulta numa densidade demográfica de 123,81 hab/km² (IBGE, 2014). A figura 1 
mostra a localização geográfica do município de São José do Rio Pardo/SP. 
 
 
 Figura 1: Localização geográfica de São José do Rio Pardo-SP 
Fonte: Portal cidades paulistas 
 
 
 
36 
 
3.1.2. Registro Histórico do Município 
 
Os primeiros registros históricos relativos a São José do Rio Pardo datam de 1870, 
quando o coronel Antônio Marçal Nogueira de Barros, proprietário de um vasto território 
na região, congregou os fazendeiros locais para a construção de uma pousada no 
caminho entre Caconde e Casa Branca, junto ao rio pardo, onde foi construída uma 
capela sob a invocação de São José. Ao redor da capela formou-se um povoado que os 
antigos chamavam de Cabeceiras do Rio Pardo. O progresso justificou a criação, em 
1874, da freguesia de São José do Rio Pardo. Em 1885 foi elevado à categoria de 
Município. A cidade de São José do Rio Pardo situa-se à 34 kmde Casa Branca, à 23,6 
km de Mococa, 165,8 km de Campinas, 131,2 km Ribeirão Preto 54,3 km de São João 
da Boa Vista. 
 
3.1.3. Dados Econômicos do Município 
 
 O município de São José do Rio Pardo, segundo dados do IBGE (2011), possui 
2.750 empresas com uma população ocupada assalariada de 15.875 pessoas, sendo a 
média salarial de 2,5 salários minímos. 
 
3.1.4. Apresentação dos Sujeitos da Pesquisa 
 
Ao todo foram entrevistados cinco ex-trabalhadores do frigorífico objeto de análise, 
sendo uma mulher e quatro homens, com idade entre 30 e 45 anos, totalizando cerca de 
2h e 30 minutos de gravação. O grau de instrução dos entrevistados varia entre o ensino 
fundamental e o ensino médio. Os entrevistados autorizaram as gravações para posterior 
transcrição, compilação e análise de dados. O quadro 2 apresenta uma sintese com base 
nos dados coletados nas entrevistas com os sujeitos de pesquisa (S1 a S5). 
 
 
 
 
 
 
37 
 
Quadro 2 – Sintese das informações dos sujeitos entrevistados 
 Nome fictício Idade Descrição 
 
S1 
 
Ruth 
 
32 anos 
Casada, 2 filhos, trabalhou no frigorífico por 8 anos, foi seu 
primeiro emprego. No frigorífico trabalhou nos setores de corte, 
evisceração, embalagem e carimbo. 
 
S2 
Francisco 43 anos Casado, sem filhos, trabalhou no frigorífico por 4 meses. 
Trabalhou nos setores de chiller, lavagem de caixas e câmara 
fria. 
 
S3 
 
Paulo 
 
34 anos 
Casado, dois filhos, trabalhou no frigorífico por 7 anos. 
Trabalhou na roça antes do frigorífico. No frigorífico, trabalhou 
na plataforma, evisceração, embalagem, corte e câmara fria. 
 
S4 
 
Milton 
 
30 anos 
Casado, dois filhos, trabalhou no frigorífico por seis anos e 
meio. Trabalhou na pendura, evisceração, escaldagem, 
plataforma, corte, embalagem e câmara fria. Trabalhava na 
roça antes do frigorífico. 
 
S5 
 
Júlio 
 
32 anos 
Casado, dois filhos, trabalhou no frigorífico por 5 anos e 3 
meses. Trabalhou nos setores de embalagem e câmara fria. 
Trabalhou na roça antes do frigorífico. 
Fonte: Pesquisa de Campo, 2017 
 
As entrevistas foram realizadas no atual local de trabalho dos sujeitos de pesquisa. 
O roteiro de entrevistas foi elaborado sem perguntas fechadas, assim, a partir de uma 
questão disparadora (como é a vida de um trabalhador de frigorífico?) o sujeito estava 
livre para relatar suas experiências. No desenrolar das entrevistas foram feitas perguntas 
norteadoras com objetivo de conduzir as conversas e atingir os objetivos da pesquisa. As 
perguntas que nortearam as entrevistas consistiram em: No que você pensava quando 
estava na linha de produção? O que você sentia, no corpo e na alma? Você chegou a 
adoecer ou a se acidentar no trabalho? Você chegou a afastar do trabalho? Quando o 
trabalhador voltava ao trabalho depois de um afastamento, como era? Como era a 
relação com as pessoas no trabalho? Quando você pensa naquele ambiente, o que te 
vem na cabeça? O que era pior? O que era melhor? 
 
 
 
 
 
38 
 
3.2. Procedimentos de Coleta de Dados 
 
A realização deste estudo foi baseada na Resolução CNS Nº 404, de 1º de agosto 
de 2008. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEPE) do UNIFAE. 
CAAE: 65971816.2.0000.5382 (Anexo I – Comprovante de Submissão de Pesquisa). 
Para realização da pesquisa, primeiramente foi feito um contato prévio com os 
responsáveis pela empresa com a intenção de se obter a permissão para a condução 
deste estudo através de um termo de autorização (Carta de autorização - Apêndice II). 
De posse da autorização concedida pela empresa, fizemos uma visita ao frigorífico 
objeto de análise, a fim de caracterizar o ambiente de trabalho. 
 
Em seguida, foi feito contato com um possível sujeito de pesquisa, empregado do 
frigorífico, escolhido aleatoriamente. Por telefone, por meio de uma conversa rápida, 
marcamos uma entrevista, a ser realizada, a pedido do mesmo, na sua residência. 
Dirigimos então, na data e no horário combinado até a residência do possível 
entrevistado. Contudo, por razões não reveladas, ele decidiu por não nos conceder a 
entrevista. 
 
Foram feitas várias tentativas no sentido de selecionar sujeitos para pesquisa dentre 
os funcionários da empresa. Entretanto, todas foram em vão. Diante do exposto, 
procuramos por ex-trabalhadores do frigorífico objeto de análise. 
 
A primeira entrevistada, Sra. Ruth (nome fictício) foi indicada por um colega de 
trabalho desta pesquisadora. A Sra. Ruth nos concedeu a entrevista no local onde 
trabalha atualmente. Após a entrevista, ela nos indicou um segundo participante, 
chamado por mim de Francisco. No final da entrevista, Francisco nos indicou Paulo que 
sucessivamente indicou Milton que indicou Júlio. 
 
O métoto de indicação sucessiva ou bola de neve consiste segundo Biernacki e 
Waldorf (1981), numa técnica que possibilita o encontro de pessoas com características 
 
 
39 
 
definidas de acordo com pressupostos e necessidades da pesquisa. Desta forma, um 
entrevistado indica o outro até que se obtenha um ponto de saturação. 
 
A identidade dos entrevistados foi preservada. Para tanto, conforme já mencionado, 
foram utilizados nomes fictícios. Os funcionários que participaram da presente pesquisa 
assinaram um termo de consentimento e receberam cópia deste termo (Termo de 
Consentimento Livre e Esclarecido - Apêndice I). As entrevistas foram gravadas e 
transcritas para posterior compilação e análise de dados. 
 
Na sequência fizemos uso da análise de conteúdo das entrevistas, objetivando 
evidenciar as categorias significativas baseadas nos questionamentos que nortearam 
este estudo. 
 
O processamento e análise dos dados foi realizado em três fases: a primeira 
consistiu na transcrição dos depoimentos; a segunda compreendeu a categorização 
segundo os seguintes descritores: estranhamento, medo, enfrentamento e 
compartilhamento do sofrimento. Destaca-se aqui, que a escolha dos descritores teve 
como base o referencial bibliográfico escolhido, bem como os questionamentos que 
surgiram durante as entrevistas. 
 
Finalmente, a terceira fase consistiu na análise do conteúdo. Os dados foram 
analisados sob o aspecto qualitativo que consiste na análise de conteúdo. Segundo 
Bardin (1979), o método de análise de conteúdo compreende as iniciativas de 
explicitação, sistematização e expressão do conteúdo de mensagens, com a finalidade 
de se efetuarem deduções lógicas e justificadas a respeito da origem dessas mensagens, 
levando em consideração quem as emitiu, em que contexto e ou quais efeitos se pretende 
causar por meio delas. Mais especificamente, a análise de conteúdo constitui: 
 
Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando a obter, por 
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das 
mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de 
conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens 
(BARDIN, 1979,p. 42). 
 
 
40 
 
As narrativas dos sujeitos de pesquisa foram fundamentais para compreender como 
o trabalhador de frigorífico percebe suas condições de trabalho, saúde e vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 
4.1. Frigoríco Avícola 
 
 A indústria frigorífica está situada às margens da rodovia que liga o município de 
São José do Rio Pardo ao município de Itobi. A empresa tem como atividade econômica 
o abate e processamento de frangos inteiros e em cortes; a empresa foi instalada no ano 
de 1994 e atualmente conta com 420 empregados diretos, operando em dois turnos, com 
8 horas diárias, de segunda à sexta-feira, com produção média de 70.000 frangos 
abatidos por dia, conforme informações fornecidas pela empresa. 
 
 
4.1.1. Descrição dos Processos Produtivos 
 
A estrutura do ambiente de trabalho, bem como a forma de organização das 
atividades,

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