Prévia do material em texto
1 FACULDADE PAULO PICANÇO CURSO DE ODONTOLOGIA RAFAELA BRAGA ARAÚJO TRATAMENTO ENDODÔNTICO EM UM DENTE COM FÍSTULA: RELATO DE CASO FORTALEZA 2024 RAFAELA BRAGA ARAÚJO TRATAMENTO ENDODÔNTICO EM UM DENTE COM FÍSTULA: RELATO DE CASO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Odontologia da Faculdade Paulo Picanço, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Odontologia. Orientador: Prof. Me. Francisco Nathizael Ribeiro Gonçalves FORTALEZA 2024 RAFAELA BRAGA ARAÚJO TRATAMENTO ENDODÔNTICO EM UM DENTE COM FÍSTULA: RELATO DE CASO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Odontologia da Faculdade Paulo Picanço, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Odontologia. Data de aprovação: __/__/_____ BANCA EXAMINADORA: _______________________________________________________ Prof. Me. Francisco Nathizael Ribeiro Gonçalves (Orientador) Faculdade Paulo Picanço (FACPP) _______________________________________________________ Prof. Dr. Universidade Federal do Ceará (UFC) _______________________________________________________ Prof. Me. Faculdade Paulo Picanço (FACPP) RESUMO A polpa dentária sofre influência de vários fatores, tais como cáries, restaurações profundas, desgastes e traumas podem afetar a vitalidade da polpa, desencadeando o processo inflamatório chamado pulpite ou até mesmo a necrose. Nestes casos, é necessário o tratamento endodôntico, que visa a limpeza e desinfecção completa da cavidade pulpar, juntamente com a modelagem e obturação adequada do sistema de canais radiculares. Objetivo desse estudo foi relatar o tratamento endodôntico feito em um dente anterior com necrose pulpar e fístula. O tratamento foi realizado no incisivo lateral superior direito (elemento 12), em múltiplas sessões, com utilização da medicação intracanal a base de hidróxido de cálcio. Foi também realizado a fistulografia para registrar o trajeto da drenagem e identificação do elemento dental que originou a fístula. O manejo do caso foi orientado pela presença da infecção endodôntica. Na sessão da finalização do tratamento, a fístula havia reduzido, demonstrando a diminuição da carga microbiana, e a paciente não apresentava mais nenhuma sintomatologia, sendo possível a finalização do tratamento endodôntico. Foi orientado o retorno da paciente após 06 meses para confirmar o êxito do tratamento. Palavras-chave: infecção bacteriana; necrose pulpar; tratamento endodôntico; lesões periapicais. ABSTRACT The dental pulp, located in the pulp cavity, is divided into the pulp chamber and root canals, which can vary in number depending on the tooth. Factors such as caries, deep restorations, wear, and trauma can affect the pulp's vitality, triggering an inflammatory process called pulpitis or even necrosis. In these cases, endodontic treatment is necessary, aiming for the complete debridement of the pulp from the canal, along with proper shaping and obturation of the root canal system. The objective of this study is to report an endodontic treatment performed on an anterior tooth with pulp necrosis and a fistula. The treatment was carried out on the upper right lateral incisor in multiple sessions, using calcium hydroxide-based intracanal medication. Fistulography was also performed to record the drainage path and identify the tooth causing the fistula. The case management was guided by the presence of endodontic infection. At the final treatment session, the fistula had reduced, demonstrating a decrease in microbial load, and the patient showed no signs or symptoms. The patient was advised to return after six months to confirm the treatment's success. Keywords: bacterial infection; pulp necrosis; endodontic treatment; periapical lesions. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO GERAL…………………………………………………..... 7 2 REFERENCIAL TEÓRICO…………………………………………………. 9 2.1 Patologias pulpares e perirradiculares………………………………… 9 2.2 Fistula e formas de tratamento………………………………………..... 10 3 RELATO DE CASO CLÍNICO: TRATAMENTO ENDODÔNTICO EM UM DENTE COM FÍSTULA: RELATO DE CASO…………………….... 12 3.1 Caso clínico…………………………………………………………………. 12 4 DISCUSSÃO…………………………………………………………………. 17 5 CONCLUSÃO………………………………………………………………... 19 REFERÊNCIAS……………………………………………………………… 20 APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)........................................................................ 22 1 INTRODUÇÃO GERAL Anatomicamente, na cavidade pulpar existe uma estrutura chamada polpa dentária. Dependendo do elemento dentário, pode haver um ou mais canais radiculares. A polpa dentária pode ser afetada por vários fatores como cáries profundas, restaurações profundas, desgastes, traumas, dentre outros. O processo inflamatório inicia-se com a pulpite que geralmente é acompanhada por intensa sensibilidade ao frio e a alimentos doces, seguida, evolutivamente, por dor espontânea e/ou necrose pulpar. Nesse caso, o tratamento endodôntico é necessário. O objetivo principal do tratamento endodôntico é a desinfecção da cavidade pulpar, combinado com a modelagem e obturação suficiente do sistema de canais radiculares (Istanto; Indah; Fibryanto, 2019). Hoje, a Endodontia Contemporânea tem como base fundamental a necessidade de se prevenir ou controlar a infecção endodôntica, visando o reparo das estruturas perirradiculares e o restabelecimento da função dentária normal e da saúde bucal (Siqueira Jr. et al., 2012). Entretanto, construir um diagnóstico correto das patologias e seu tratamento são um desafio para os profissionais (Silva; Santos; Neves, 2018), já que existem mais de 400 espécies bacterianas diferentes nos canais radiculares infectados, sendo as mais comuns as espécies anaeróbicas graves (Trponema, Tannerella, Fusobacterium, Dialister, Prevotella, Porphyromonas, Parvimonas, Peptostreptococus, Pseudobacterum e Pseudoubacterium) (Siqueira Jr. et al., 2012). Clinicamente, essas patologias perirradiculares são comumente caracterizados pela presença de lesão periapical, achado radiográfico como uma imagem radiolúcida ao ápice radicular do elemento dentário (Ribeiro; Ferreira, 2015), presença de sintomas (dor à percussão e palpação), além da presença de edema e fístula (Januário et al., 2020). As fístulas têm à presença do conteúdo microbiano intracanal, representado pelos microrganismos e suas toxinas, o sistema imunológico determina a destruição localizada dos tecidos conjuntivo e ósseo, na tentativa de formar uma barreira biológica às lesões periapicais e de impedir a ocorrência de uma osteomielite (Mortensen; Winther; Born, 1970; Soares; César, 2001). Nesse estágio do processo evolutivo, o exsudato purulento, que inicialmente encontra-se localizado nas adjacências do forame periapical, avança ao aumentar de quantidade, perfazendo trajetos tortuosos por vias de menor resistência tecidual. Assim, após romper a cortical do alvéolo dentário, a medular do osso alveolar e transpassar a cortical vestibular ou palatina do processo alveolar, o exsudato purulendo atinge o periósteo. Ultrapassando essa última barreira óssea, dependendo de fatores, como a gravidade, virulência dos microrganismos e, sobretudo, do arranjo anatômico dos músculos e fáscias musculares adjacentes, ocorrerá espontaneamente a drenagem no tecido epitelial de revestimento, por uma fístula mucosa ou cutânea (Mittal; Gupta, 2004; Soares et al., 2008; Pasternak-Júnior et al., 2009). Devido a todos esses fatores, sua localização dificulta-se, muitas vezes podendo levar a um incorreto diagnóstico do dente acometido, haja vista que, o trajeto de drenagem não necessita de ter a sua abertura no tecido adjacente ao dente envolvido, podendo encontrar-se distante, sendo necessário determinar a sua origem para poder definir um plano de tratamento adequado (Biz, 2013). Como uma forma de auxiliar o diagnóstico diferencial, além da verificação da vitalidade pulpar por meios dos testes térmicos (de sensibilidadeao frio e ao calor), elétricos (pulp test) e de oximetria pulpar (oxímetro de pulso), o rastreamento da fístula está indicado para verificar ou confirmar a origem do trajeto fistuloso. O procedimento técnico do rastreamento é geralmente realizado pela inserção cuidadosa de material radiopaco (geralmente cone de guta percha) através do trajeto fistuloso até encontrar resistência. Na sequência é obtida a tomada radiográfica da área. Idealmente, a imagem irá mostrar a ponta do cone na lesão causadora da fístula, da infecção que está causando a patologia, a qual, pode ter origem endodôntica ou periodontal (Melo et al., 2022). O objetivo do presente trabalho foi relatar um caso clínico de um tratamento endodôntico no elemento 12, em paciente que apresenta necrose pulpar e fístula. 2 REFERENCIAL TEÓRICO A presente seção apresenta o referencial teórico e está dividida em duas seções, tratando a primeira de “patologias pulpares e perirradiculares” e a segunda “fistula e formas de tratamento”. 2.1 Patologias pulpares e perirradiculares Siqueira Junior et al. (2012) aponta que o tratamento endodôntico de elementos dentários portadores de processos infecciosos deverá ser personalizado para cada pessoa. O tratamento personalizado é uma tendência que explora informações sobre vários fatores como os aspectos clínicos, genética e ambientais exclusivos de casa indivíduo, não apenas para prever os riscos da doença, mas para ter intervenções personalizadas melhorando o resultado do tratamento. Pacher (2017) afirma que as patologias que acometem a polpa dentária advêm de fatores químicos, físicos e principalmente microbianos, que podem progredir rápida ou lentamente para uma necrose pulpar sendo um processo inflamatório onde ocorre a desvitalização da polpa sendo silenciosa e sem presença de sintomatologia. Estudos revelam que a necrose pulpar causada por agentes microbianos são, geralmente, devidos a má higienização, resultando em placa dental bacteriana, ocorrendo o processo de desmineralização do esmalte, ocasionando a doença cárie. Segundo Istanto, Indah e Fibryanto (2019) relatou um caso para mostrar o manejo adequado de um dente que estava com abscesso apical crônico e revelar a regeneração óssea depois do tratamento, onde uma mulher de 27 anos queixou-se de cáries no dente em questão e queria que fosse preenchido. No exame radiográfico mostrou que a cárie já estava em íntimo contato com a cavidade pulpar, seguida de uma lesão periapical com destruição óssea. Concluiu que o tratamento endodôntico pode resultar na cicatrização de lesões periapicais e regeneração do osso em abscessos apicais crônicos. O abcesso dentário inicial costuma ser lento ao longo de vários meses, tendo como consequência a cárie que também leva vários meses para chegar à polpa como afirma Bayetto, Cheng e Goss (2020), esses abcessos podem ser agudos e crônicos sendo que um abcesso apical crônico é definido como uma resposta inflamatória mais branda à infecção pulpar dentária e consequentemente sua necrose, que tem baixa intensidade (Istanto; Indah; Fibryanto, 2019). O desenvolvimento do abscesso periapical agudo é acompanhado de uma sintomatologia severa, edema e muitas vezes comprometimento sistêmico como febre, mal-estar ou linfadenopatia cervical. 2.2 Fistula e formas de tratamento Soares et al. (2008) relatou um caso de uma paciente com fístula na região do mento com exsudação purulenta comprometendo a estética, onde foi diagnosticada com necrose pulpar do elemento 31. Foi realizado o tratamento endodôntico com instrumentação seguida de renovação mensal de pasta de hidróxido de cálcio durante 3 meses. Obteve uma regressão da fístula num período de 10 dias. Não houve recidiva da fístula após 20 meses de preservação, tendo uma completa reparação periapical. Não houve necessidade de cirurgia plástica no mento para restabelecer a estética. De acordo com Suárez (2018), o diagnóstico da fístula é realizado com base na suspeita clínica onde podemos utilizar radiografias periapical convencional ou radiografia panorâmica para a sua detecção, seja pela identificação de áreas radiolúcidas sugestivas de lesões perirradiculares ou pela fistulografia. O mapeamento da fístula é realizado inserindo com o auxílio de uma pinça clínica a guta percha na região com ponto flutuante, e em seguida é feito uma radiografia para identificar o local responsável pela lesão. Com isso o profissional terá condições de identificar a fonte da inflamação e diferenciar entre outras doenças de origem endodôntica e periapical. A quantidade de sessões utilizadas para tratar os canais radiculares infectados tem sido uma questão divergente na endodontia, pois o tratamento endodôntico pode levar várias sessões para poder ser concluído. Contudo, existem vários fatores a serem considerados na escolha de uma ou mais sessões, como as condições do dente se encontra vital ou necrosado, presença ou ausência de aumento de volume, limitações do paciente e sua história médica, habilidades do profissional e sua experiência clínica e as variações anatômicas do dente em questão (Mohammadi; Farhad; Tabrizizadeh, 2006). As vantagens da sessão única se dão pela economia do tempo, melhor aceitação do paciente, custo-benefício favorável e uma menor redução dos riscos de infecção entre as sessões. Porém, quando há a presença de exsudato é importante considerar essa opção. Portanto, vale ressaltar que o sucesso do tratamento endodôntico depende da execução de várias etapas como acesso aos condutos, limpeza, modelagem e a obturação onde cada etapa tem que ser realizada criteriosamente (Hizatugu et al., 2012). Oliveira et al. (2012) em seu estudo relata que a função da medicação intracanal é combater os microrganismos que resistiram à sanificação do sistema de canais radiculares oriundo do preparo químico-mecânico e amenizar a reação inflamatória que ocorre depois do preparo do canal radicular obtendo assim, o sucesso da terapia endodôntica. Todos os canais radiculares que apresentam inflamação, sangramento necessitam do auxílio da medicação intracanal com intuito de complementar a eficácia antimicrobiana. O Hidróxido de Cálcio é um medicamento, como um agente de capeamento pulpar, pois ele estimula a mineralização. Tem um alto poder antimicrobiano, antiexsudativo e biocompatível, neutraliza as toxinas e mantém o selamento provisório. Além de inibir enzimas relacionadas aos processos elásticos, o hidróxido de cálcio estimula enzimas relacionadas a produção de tecido duro e dentina reparadora, por isso, ele é altamente indicado em casos de dentes com necrose pulpar por conta da sua ação antisséptica e reparo tecidual. De acordo com Casado (2015) o uso do hidróxido de cálcio é usado como medicação intracanal, incluindo a prevenção de sintomas após o tratamento. Em contrapartida, Klimpel (2016) afirma que apesar do uso do hidróxido de cálcio poder auxiliar na reparação dos tecidos apicais e periapicais e deposição de tecido mineralizado, existem outros materiais como o MTA (Agregado de Trióxido Mineral), que apresentam essas propriedades tendo como uma vantagem a possibilidade de conclusão do tratamento endodôntico com um número de sessões reduzidos. 3 RELATO DE CASO CLÍNICO: TRATAMENTO ENDODÔNTICO EM UM DENTE COM FÍSTULA: RELATO DE CASO Este trabalho de conclusão de curso está baseado no Art.° 3 do Regulamento de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da Faculdade Paulo Picanço, que regulamenta os formatos aceitos para TCCs de graduação e permite a inserção de Relato de Caso Clínico de autoria ou coautoria do candidato. 3.1 Caso clínico Paciente C.L.S., sexo masculino, pardo, 37 anos, compareceu ao consultório odontológico da Faculdade Paulo Picanço se queixando de dor ao toque no dente 12. Durante a anamnese, normossistemico, não possuía hipersensibilidade medicamentosa e a anestésico local. Ao exame clínico, foi constatado presença de fratura coronária, sendo indicado para a reabilitação o tratamento protético. O paciente relatou dor a palpação no fundo de saco daregião e na percussão vertical do elemento 12, além de ser visualizado a presença da fístula na região. No exame radiográfico periapical (Figura 01), foi observado uma área radiolúcida próximo ao ápice radicular, sugestiva de lesão perirradicular. Figura 1 - Dente 12, raio x inicial para auxiliar no diagnóstico. Fonte: Fotografia produzida pelo autor (2023). Para auxiliar o diagnóstico, foi realizado a fistulografia, introduzindo um cone de fita percha acessório FF no trajeto da fístula (Figura 2). Figura 2 - Exame de fistulografia Fonte: Fotografia produzida pelo autor (2021). Sendo assim, o elemento foi anestesiado pela técnica infiltrativa com articaina, isolado com lençol de borracha, arco de ostby plástico. Devido à condição da fratura, o dente já se apresentava acessado. Após o preparo da câmara pulpar, não houve presença de sangramento, conforme o diagnóstico, o dente estava necrosado. Por se tratar de um dente com necrose pulpar, foi realizado irrigação abundante com clorexidina 2% líquida. Em seguida, para localizar ambos os canais foram utilizados uma Lima #15 em 12 mm (comprimento provisório) em seguida utilizou-se limas tipo kerr #30 e #35 para neutralização do conteúdo necrótico nos terços cervical e médio, sempre acompanhada de copiosa irrigação/aspiração com clorexidina 2%. Dando continuidade ao preparo biomecânico, foi mensurado o comprimento real do elemento, com localizador eletrônico foraminal RomiApex A-15 e Lima # 15, localizando o comprimento de trabalho (CT) de 17 mm. A sequência de instrumentais da técnica escalonada foram: #25, #30, #35 e #40, sendo a última lima utilizada a Lima memória (LM). Sempre irrigando abundantemente a cada troca de instrumental. Na sequência, para finalizar a instrumentação, foram feitos três recuos programados com as limas #45, #50 e #55. Seguindo o protocolo de irrigação final, foi feito 3 trocas alternadas de CLX 2% e Ácido etilenodiamino tetra-acético 17% (EDTA), com agitação das soluções químicas auxiliares por 20 segundos com a LM. Para finalizar a primeira sessão, foi manipulada pasta de hidróxido de cálcio com soro e introduzida no interior do canal e realizada a restauração provisória com ionômero de vidro (CIV). O paciente retornou 7 dias depois, com ausência de sensação dolorosa à percussão vertical e a palpação no fundo de saco, sendo decidido realizar a obturação do sistema de canais. Aplicou-se a anestesia local infiltrativa com articaina, seguido de remoção do CIV com ponta diamantadas em alta rotação n.° 1014 e isolamento absoluto, conforme foi feito na primeira sessão. Após ter acesso aos sistemas de canais radiculares novamente, foi bastante irrigado/aspirado com CLX 2% e recaptulação com a LM no CT até a remoção completa de toda a medicação intracanal. A patência foi alcançada novamente com a lima #15, e o cone de guta-percha selecionado foi o extra longo médio (M), com sua extremidade menos calibrosa adaptada com referência a LM #40. O cone foi desinfectado com álcool 70, testado e aprovado nos 3 critérios: tátil, visual e radiográfico. O protocolo de irrigação final foi realizado novamente, como na primeira sessão e a rinsagem final ficou a cargo da solução de soro fisiológico. Os canais foram secos com pontas de papel estéreis, e a obturação feita com o cone de guta-percha e cimento endodôntico a base de óxido de zinco e eugenol (endofill). Em seguida foi feito o corte da massa obturadora com calcador de Paiva aquecido até o limite da entrada do canal, feito a compactação vertical com calcador de Paiva frio, a limpeza da câmara pulpar com algodão e álcool, restauração provisória com CIV, remoção do isolamento absoluto e radiografia final (Figura 3). Figura 3 - Radiografia final do tratamento endodôntico Fonte: Fotografia produzida pelo autor (2023). Ao analisar a radiografia final, é vista a adequada obturação do sistema de canais radiculares. Foi salientado ao paciente a importância da confecção da prótese fixa e sobre o retorno com (06) seis meses para a proservação. 4 DISCUSSÃO A literatura nos mostra a importância do correto diagnóstico na Endodontia para se obter um correto tratamento, que por muitas vezes, se torna complexo diagnosticar. Portanto, isso envolve a utilização de ferramentas, testes de sensibilidade pulpar, checagem e ajuste oclusal, percussão, equipamento de teste elétrico e principalmente exames de imagem como a radiográfica periapical além de realizar uma boa anamnese do paciente. A presença da fístula, clinicamente não há sintomatologia, mas aparentemente notamos o espessamento da periadontal no exame radiográfico (Holland; Torabinejad, 2010), a fístula tem origens diferentes onde o mapeamento se torna o procedimento de escolha, e nunca renunciar ao acompanhamento clínico e radiográfico após o tratamento sendo indispensável como Nascimento et al. (2019) aborda em seu estudo. A presença da fístula indica na sua maioria uma infecção periapical resultando em uma necrose pulpar e precisa ter seu curso rastreado com o auxílio de um cone de guta-percha a fim de localizar a sua origem (Holland; Torabinejad, 2010). Borges (2011) aborda em seu estudo que a fistulografia auxilia no diagnóstico diferencial e está indicado para verificar a causa do processo infeccioso. Neste relato de caso o paciente apresentava uma fístula oriunda de uma necrose pulpar, devido uma fratura coronária no dente 12 que infeccionou o sistema de canal radicular. Portanto, lançamos mão de todos os recursos possíveis para obter um correto diagnóstico e um excelente tratamento. A literatura nos mostra que não existe tanta diferença na escolha do tratamento entre sessões múltiplas ou únicas, mas sabendo que a sessão única é mais vantajosa pelo fato de não ser um tratamento demorado, menos doloroso e menos atraumático temos que considerar a situação clínica do paciente e do dente em questão, se ele está vital ou necrosado e com presença de exsudato, além da experiência clínica do profissional e suas habilidades, pois esses fatores são importantes para escolha do tratamento das sessões. Neste relato de caso escolhemos o tratamento em sessões múltiplas como Álvarez-López et al. (2017) recomenda, pois apesar da presença da fístula, o dente estava necrosado e com exsudação, onde na primeira sessão se controla a fase aguda, e depois realiza o tratamento definitivo de controle dos desencadeadores e possíveis sequelas. Sobre a medicação intracanal utilizamos no paciente a pasta de hidróxido de cálcio entre sessões onde Mohammadi e Dummer (2011) afirmam que por se tratar de uma polpa necrosada, essa substância tem uma atividade antibacteriana, anti-endotoxina, e induz a formação de tecido mineralizado, além de prevenir a reinfecção dos canais radiculares entre as sessões do tratamento, resultando em melhores condições microbiológicas do sistema de canais radiculares. E como principal irrigante utilizamos a clorexidina a 2%, por apresentar boa atividade microbiana permitindo ter um período mais prolongado onde Okino et al. (2004) afirma que essa substância a medida que sua concentração no meio decresce, às moléculas ligadas a hidroxiapatita e a porção orgânica são liberadas. Realizamos uma boa obturação tridimensional com a técnica de compactação termodinâmica da guta-percha que foi concebida por LD Caulk Company (1980) selando toda a extensão da cavidade endodôntica desde a embocadura do canal até término apical por meio do aquecimento da guta-percha com o auxílio de compactadores, preenchendo todo o espaço que antes era ocupado pelo tecido pulpar, visando vedar o sistema de canais radiculares isolando o meio interno do meio externo mantendo a limpeza adquirida ao logo do tratamento (Lopes; Siqueira Junior, 2020). É de suma importância após o tratamento endodôntico o acompanhamento clínico para a constatação do reparo da lesão (Holland; Torabinejad, 2010). 5 CONCLUSÃO Um plano de tratamento deve ser sempre realizado após a anamnese e confirmação do diagnóstico, objetivando eliminar o processo patológicoda fístula dento alveolar. Para o sucesso do tratamento é fundamental que o elemento dentário se reintegre fisiologicamente ao sistema estomatognático, onde cada caso deve ser analisado de maneira exclusiva. Neste relato de caso obtemos um tratamento endodôntico satisfatório do dente que se encontrava necrosado e com presença de fístula, em que todas as etapas do tratamento foram realizadas com total atenção e cuidado. REFERÊNCIAS ÁLVAREZ-LÓPEZ, M. I. et al. Presencia de fístula enunabsceso dental. Revista Mexicana de Estomatología, v. 4, n. 2, 2017. BAYETTO, K.; CHENG, A.; GOSS, A. Dental abscess: a potential cause of death and morbidity. Australian Journal of General Practice, Victoria, v. 49, n. 9, set. 2020. BIZ, M. T. Eventos agudos na atenção básica: dor de origem endodôntica. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2013. BORGES, M. C. FÍSTULA EXTRAORAL ASSOCIADA À LESÃO PERIAPICAL DE ORIGEM ENDODÔNTICA: embasamento para o clínico. 2011. Monografia (Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família), Universidade Federal de Minas Gerais, Campos Gerais, 2011. CASADO, R. E. Tratamiento de reagudizaciones post terapia endodóntica. Facultad de Odontología, v. 1, n. 1, p. 11-17, 2015. HIZATUGU, R. et al. Endodontia em Sessão Única. São Paulo: Editora Santos, 2012. HOLLAND, G. R.; TORABINEJAD, M. A Polpa Dental e os Tecidos Perirradiculares. In: TORABINEJAD, M.; WALTON, R.E. Endodontia: princípios e práticas. 4 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. ISTANTO, L.; INDAH, D.; FIBRYANTO, E. Bone regeneration on chronic apical abscess after root canal treatment on left mandibular first molar: a case report. Scientific Dental Journal, Califórnia, v. 3, n. 3, p. 100-104, out. 2019. JANUÁRIO, M. V. S. et al. Abordagem odontológica dos processos infecciosos purulentos maxilo faciais. Salusvita, Bauru, v. 39, n. 2, p. 523-548, 2020. KLIMPEL, M. F. Uso do MTA em retrobturação endodôntica: caso clínico. Angelus Ciência e Tecnologia, p.1-7, 2016. LD CAULK COMPANY. McSpadden Compactor, Endodontic Filling Instrument: self-study course for the thermatic condensation of gutta percha. Milford: L.D. Caulk Company, 1980. LOPES, H.; SIQUEIRA JUNIOR, J. Endodontia: biologia e técnica. Barueri: Gen Guanabara Koogan, 2020. MELO, S. L. et al. TRATAMENTO ENDODÔNTICO COM PRESENÇA DE FÍSTULA: revisão de literatura. Revista Cathedral, Caçari, v. 4, n. 1, p. 71-84, jan. 2022. MITTAL, N.; GUPTA, P. Management of Extra Oral Sinus Cases: a clinical dilemma. Journal Of Endodontics, Maryland Heights, v. 30, n. 7, p. 541-547, jul. 2004. MOHAMMADI, Z.; DUMMER, P. M. H. Properties and applications of calcium hydroxide in endodontics and dental traumatology. International Endodontic Journal, Aylesbury, v. 44, n. 8, p. 697-730, maio 2011. MOHAMMADI, Z.; FARHAD, A.; TABRIZIZADEH, M. One-visit versus multiple-visit endodontic therapy — a review. International Dental Journal, Genebra, v. 56, n. 5, p. 289-293, out. 2006. MORTENSEN, H; WINTHER, J.; BIRN, H. Periapical granulomas and cysts: an investigation of 1,600 cases. Scand J Dent Res. Oxford, v. 78, n. 3, p. 241-250, 1970. OKINO, L. A. et al. Dissolution of pulp tissue by aqueous solution of chlorhexidine digluconate and chlorhexidine digluconate gel. International Endodontic Journal, Aylesbury, v. 37, n. 1, p. 38-41, jan. 2004. OLIVEIRA, L. D. et al. Efficacy of endodontic treatment for endotoxin reduction in primarily infected root canals and evaluation of cytotoxic effects. J Endod, Maryland Heights, v. 38, n. 8, p. 1053-1057, ago. 2012. PACHER, M. R. Necrose pulpar causada por agentes microbianos: revisão de literatura. 2017. 16 f. Artigo (Graduação em Odontologia), Centro Universitário São Lucas, Porto Velho, 2017. PASTERNAK‐JÚNIOR, B. et al. Diagnosis and treatment of odontogenic cutaneous sinus tracts of endodontic origin: three case studies. International Endodontic Journal, Aylesbury, v. 42, n. 3, p. 271-276, fev. 2009. RIBEIRO, I. L. A.; FERREIRA, M. G. R. Diagnóstico diferencial de imagem sugestiva de lesão periapical. Revista Cubana de Estomatologia, v. 52, n. 1, p. 0, Mar de 2015. SILVA, F. A.; SANTOS, K. S.; NEVES, G. V. O RASTREAMENTO DE FISTULA COMO RECURSO DIAGNÓSTICO NO TRATAMENTO ENDODÔNTICO. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE REABILITAÇÃO ORAL, 1., 2018, João Pessoa. Anais [...] . João Pessoa: Arch Health Invest, 2018. p. 134. SIQUEIRA JUNIOR, J. F. et al. Princípios biológicos do tratamento endodôntico de dentes com polpa necrosada e lesão perirradicular. Rev. Bras. Odontol., Rio de Janeiro, v. 69, n. 1, p. 8-14, jan. 2012. SOARES, J. A.; CÉSAR, C. A. S. Avaliação clínica e radiográfica do tratamento endodôntico em sessão única de dentes com lesões periapicais crônicas. Pesqui. Odontol. Bras., v. 15, n. 2, p. 138-144, abr./jun. 2001. SOARES, J. Tratamento não-cirúrgico de lesão periapical de origem endodôntica associada à fístula extra-oral. Rev. Assoc. Paul. Cir. Dent, São Paulo, v. 62, n.3, p.204-208, maio-jun. 2008. SUÁREZ, C. E. C. Avaliação do desempenho e estabilidade de sistemas adesivos universais. 2018. 184 f. Tese (Doutorado) - Curso de Programa de Pós-Graduação em Odontologia, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2018. APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) image3.jpg image4.jpg image5.png image6.png image7.png image1.png image2.jpg