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Apostila - Direito civil

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Rafael Lima

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Pelo Direito Civil constituir uma disciplina amplamente 
cobrada em concursos, começaremos nosso estudo com a abordagem de aspectos 
gerais dessa disciplina e avançaremos, até o infinito, rsrs, você terá um material amplo 
de Direito Civil, abordando todo o contéudo cobrado nos Concursos Públicos. 
Por esse motivo, eu, Professor Roberto Figueiredo, preparei esse material 
objetivo e direcionado para auxiliá-lo nessa jornada de aprendizado. 
Aproveite! 
 
Alias, sou procurador do Estado da Bahia e Advogado, também já fui Defensoria 
Público, e sei muito bem que a sua luta é diária e nem sempre o percurso é fácil, mas 
hoje o motivo de lhe escrever é muito simples, vai dar certo! 
Estou aqui para lhe dar boas-vindas! Estou há 20 anos nesse mercado e posso 
assegurar, pela longa experiência adquirida, que você está em boas mãos. 
 
Abaixo, suscintamente, quero me apresentar: 
 
Olá, concurseiro(a)! 
 
 
Procurador do Estado da Bahia e Advogado. Mestre em Direito pela Universidade 
Federal da Bahia. Professor de Direito Civil do Complexo de Ensino Renato Saraiva – CERS 
e da Universidade Salvador (UNIFACS). Professor da Escola Superior de Magistrados da 
Bahia – EMAB e da Escola Superior de Advocacia Orlando Gomes – ESAB/OAB. Professor 
do curso Múltipla/CERS presencial em Salvador. Autor de Diversos Livros em Direito Civil, 
inclusive a coleção completa para Concursos Públicos da Editora JusPodivm. Palestrante e 
autor de artigos científicos. 
 
Se surgir alguma dúvida no caminho, não deixe de perguntar, tá? estarei sempre 
no plantão de dúvidas para lhe responder. 
 
 E também, quero deixar meu Instagram, diariamente posto conteúdo que lhe 
ajudará na sua aprovação, como também possuo um canal no Telegram de Estudos de 
Direito Civil, para estreitar ainda mais a nossa relação, no Youtube posto vídeos e pílulas 
sobre Direito Civil. 
 
 @Roberto_Civil 
 https://t.me/joinchat/AAAAAFkYYWZrmHvBTgLonw 
 Professor Roberto Figueiredo 
 
Bons estudos! 
https://t.me/joinchat/AAAAAFkYYWZrmHvBTgLonw
https://t.me/joinchat/AAAAAFkYYWZrmHvBTgLonw
 
 
DIREITO CIVIL: 
 
 
1. LINDB 
 
A chamada Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro está disciplinada em 
um Decreto-Lei de 1942 (DL nº 4657/42) recepcionado como lei ordinária em razão da 
inexistência dessa espécie normativa na atual Constituição da República de 1988. 
1.1 VIGÊNCIA E REVOGAÇÃO DE LEI 
 
Salvo disposição em contrário na própria lei, que pode inclusive suprimir a sua vacatio 
legis, a norma entra em vigor em todo o território nacional 45 dias depois de 
oficialmente publicada. Todavia, nos Estados estrangeiros a obrigatoriedade da lei 
brasileira, quando admitida, inicia-se três meses depois de oficialmente publicada. 
Quanto ao alcance (extensão) da revogação é possível identificar duas modalidades: 
a ab-rogação (revogação total) e a derrogação (revogação parcial). 
As correções a texto de lei já em vigor se consideram leis novas. Entretanto, se essas 
alterações forem feitas durante o período de vacatio legis, a hipótese será de mera causa 
interruptiva do prazo de vacatio, pois a sua contagem se reiniciará da publicação do 
novo texto da lei. O tema é tratado no art. 1º, §§ 3º e 4º da LINDB. 
 
 
 
2. PESSOA NATURAL 
 
É o ente dotado de personalidade jurídica, ou seja, aptidão para adquirir direitos e 
contrair deveres. Nos termos do art. 2º do CC, a pessoa natural adquire personalidade 
jurídica desde o seu nascimento com vida. 
A pessoa natural perde personalidade jurídica com a morte, que pode ser real ou 
presumida. Morte real se dá quando há certeza do óbito, uma vez que existe um cadáver. 
Morte presumida ocorre quando dela não se tem certeza, pois, embora não haja um 
cadáver, há motivos para presumir que a pessoa morreu. 
Há dois tipos de morte presumida no Brasil: com prévia declaração de ausência e 
sem prévia declaração de ausência. 
CAPACIDADE JURÍDICA 
2.1. CONCEITO E TIPOS 
Capacidade de direito é a aptidão genérica para titularizar direitos e deveres na 
ordem jurídica. De fato, toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. 
Apesar de todos, indistintamente, terem capacidade de direito, nem todos possuem 
capacidade de fato, pois nem todos poderão, pessoalmente, exercitar os atos da vida 
civil. 
 
 
INCAPACIDADE 
O incapaz não pode praticar atos jurídicos em razão de não ter discernimento para 
tanto, devendo ser protegido por lei. A incapacidade pode ser absoluta ou relativa. A 
incapacidade absoluta está prevista no art. 3 do CC, enquanto os casos de incapacidade 
relativa no art. 4 do CC. 
Atualmente é absolutamente somente o menor de 16 (dezesseis) anos. O art. 4 do 
CC elenca como relativamente incapazes os maiores de dezesseis e menores de dezoito 
anos; os ébrios habituais e os viciados em tóxico; aqueles que, por causa transitória ou 
permanente, não puderem exprimir sua vontade e os pródigos. 
EMANCIPAÇÃO 
Emancipação é a antecipação da capacidade civil plena, ou seja, o menor de idade 
tornando-se plenamente capaz para praticar pessoalmente os atos da vida civil. Existem 
três tipos de emancipação: 
 
a) Emancipação voluntária: concedida pelos pais, através de instrumento público, ao 
menor que tenha mais de dezesseis anos. 
b) Emancipação judicial: concedida pelo tutor ou diante da divergência dos pais 
através de uma sentença. 
c) Emancipação legal: são casos de emancipação automática, que ocorrem diante de 
casos previstos em lei, quais sejam: casamento, exercício de emprego público efetivo, 
colação de grau em curso de ensino superior, pelo estabelecimento civil ou comercial 
 
 
ou por uma relação de emprego em que o menor com mais de dezesseis anos tenha 
economia própria. 
3. PESSOA JURÍDICA 
 
A pessoa jurídica não tem existência concreta, mas, como o nome indica, é uma 
pessoa para o direito. Isso significa que ela nada mais é do que um ente abstrato que 
pode ter direitos e deveres próprios. 
Pessoa jurídica, portanto, é um ente abstrato formado por um conjunto de pessoas 
naturais ou de bens reunidos para um determinado fim, a quem a lei reconhece 
personalidade jurídica, ou seja, aptidão para ter direitos e deveres próprios. 
Por ser dotado de personalidade jurídica, a pessoa jurídica tem a proteção dos 
direitos da personalidade, mas não de todos, pois alguns são incompatíveis com sua 
natureza abstrata. Por isso, o art. 52 do CC diz que se aplica às pessoas jurídicas, no que 
couber, a proteção dos direitos da personalidade. 
Importante: uma vez violado um direito da personalidade da pessoa jurídica, ela poderá 
cobrar indenização por dano moral? 
Nos termos da súmula 227 do STJ, a pessoa jurídica pode sofrer dano moral. A honra 
pode ser de dois tipos: honra subjetiva (o que eu penso de mim, ou seja, minha 
autoestima) e honra objetiva (o que as pessoas pensam de mim). Por ser um ente 
abstrato, a pessoa jurídica não tem honra subjetiva, mas tem honra objetiva, podendo, 
portanto, sofrer dano moral. 
Cuidado: ao criar a pessoa jurídica, os membros podem colocar no ato constitutivo 
 
 
limitações à sua atuação. Caso ele pratique algum ato excedendo, seus poderes definidos 
no ato constitutivo, excepcionalmente obrigarão a si próprio e não à pessoa jurídica 
(art. 47 do CC). 
3.1 TIPOS 
A pessoa jurídica pode ser de três tipos: de direito público interno, de direito público 
externo ou de direito privado. 
a) Pessoas jurídicas de direito público interno: Entes federativos (União, Estados, 
Distrito Federal, Territórios e Municípios), autarquias, associações públicas (entes 
federativos que se associam para realizar alguma atividade conjuntamente) e demais 
entidades de caráter público criadas por lei (ex. agências reguladoras). 
b) Pessoas jurídicas de direito público externo: São as pessoas jurídicas que têm 
representatividade internacional, que são reconhecidas no cenário internacional. 
Exemplos recorrentes em prova: Estadosevitar 
as consequências de sua mora. 
Poderá o devedor consignar pagamento basicamente quando houver mora do credor 
ou algum risco para o devedor na realização do pagamento direto. Nesse sentido, o 
art. 335 do CC arrola casos de cabimento da consignação em pagamento: se o credor 
se recusar sem justa causa a receber o pagamento ou não puder recebê-lo, se o devedor 
tiver dúvida sobre quem é o verdadeiro credor ou se o credor for desconhecido, entre 
outros. 
9.4.3. PAGAMENTO COM SUB-ROGAÇÃO 
Pagamento com sub-rogação é a operação pela qual o crédito se transfere com todos 
os seus acessórios a um terceiro que paga dívida alheia. Sub-rogar é substituir, o que 
significa que haverá aqui uma substituição de credor, extinguindo a obrigação com 
relação ao credor originário. 
Como é uma simples substituição no polo ativo, o vínculo se mantém e o novo credor 
tem todos os privilégios e garantias que tinha o credor originário (art. 349 do CC). 
A sub-rogação pode ser de dois tipos: legal ou convencional, a depender se decorre 
de lei ou da vontade das partes. O CC prevê, em art. 346, os casos em que a sub-rogação 
se opera de pleno direito, ou seja, se um terceiro paga a dívida, ele se sub-roga 
automaticamente nos direitos do credor primitivo, independente da vontade das partes. 
 
 
Se a lei não prevê como caso de sub-rogação, teria o terceiro mero direito de reembolso, 
mas as partes poderão prever a sub-rogação. 
9.4.4. NOVAÇÃO 
Novação é o meio de extinção da obrigação pelo surgimento de uma nova obrigação. 
A novação pode ser de dois tipos: objetiva ou subjetiva. A novação é objetiva quando a 
nova obrigação difere da obrigação anterior pela substituição da prestação. A novação 
será subjetiva quando a nova obrigação difere da obrigação anterior pela substituição 
do credor (novação subjetiva ativa) ou do devedor (novação subjetiva passiva). 
Importante: qual a diferença entre pagamento com sub-rogação e novação subjetiva 
ativa? Em ambos os casos, há troca do credor, mas diferem porque no pagamento com 
sub-rogação se mantém para o novo credor os privilégios e garantias do credor 
primitivo, enquanto que na novação, extinguem-se os privilégios e garantias do credor 
primitivo, não as tendo o novo credor. 
9.4.5. IMPUTAÇÃO AO PAGAMENTO 
Imputação ao pagamento é a indicação da dívida a ser paga quando uma pessoa se 
encontra obrigada por dois ou mais débitos com o mesmo credor, sem poder pagar 
todos eles. Note que imputação ao pagamento não é bem um meio de extinção da 
obrigação, mas sim a determinação de que obrigação está extinta quando nem todas 
forem pagas. 
Antes de a lei definir quais obrigações estão extintas (imputação legal), as partes têm 
o direto assim de o fazer (imputação convencional). Assim, em primeiro lugar, quem 
 
 
define é o devedor. No seu silêncio, o credor define em quais dá quitação. Se nenhum 
deles definir, a lei definirá, estabelecendo a seguinte ordem: (i) primeiro se pagam os 
juros vencidos e só depois o capital; (ii) pagamento imputado às dívidas vencidas há 
mais tempo; (iii) se todas vencidas no mesmo tempo, a imputação será na mais onerosa 
(maiores juros ou multas); (iv) se todas no mesmo tempo e mesmos ônus, a lei não dá 
solução, mas jurisprudência diz ser de forma proporcional em cada uma das obrigações. 
9.4.6. DAÇÃO EM PAGAMENTO 
Dação em pagamento é a forma de extinção da obrigação através da qual o credor 
aceita receber prestação diversa da que lhe é devida. Conforme visto, nos termos do 
art. 313 do CC, o credor não é obrigado a aceitar prestação diversa da contratada, ainda 
que mais valiosa. Porém, nada impede que o credor aceite prestação diversa, caso em 
que haverá extinção da obrigação de uma forma anormal, que não pelo pagamento, 
chamada de dação em pagamento. 
9.4.7. COMPENSAÇÃO 
Compensação é a forma de extinção das obrigações entre duas pessoas que são, ao 
mesmo tempo, credora e devedora uma da outra. 
A compensação pode ser de dois tipos: legal ou convencional, a depender se decorre 
da lei ou da vontade das partes. A compensação legal se dará automaticamente, 
bastando presentes os requisitos legais, quais sejam: reciprocidade das obrigações 
(um deve ao outro e vice versa), liquidez e vencimento das prestações e envolverem 
bens fungíveis entre si (não basta serem bens fungíveis, devem ser substituíveis entre 
 
 
si). Mesmo ausentes tais requisitos, ainda assim poderá haver compensação, mas será 
convencional, por depender da vontade das partes. 
A reciprocidade é um requisito para a compensação legal, ou seja, devedor deve ao 
credor e vice-versa, mas há uma exceção: quando envolver o fiador, a teor do art. 371 
do CC. 
9.4.8. CONFUSÃO E REMISSÃO 
Confusão é a forma de extinção das obrigações por reunirem na mesma pessoa a 
qualidade de credor e devedor. 
Remissão é a forma de extinção da obrigação com o perdão da dívida pelo credor. 
Cuidado: não confunda remissão com remição. A causa de extinção da obrigação é a 
remissão, é o ato de remitir, que significa perdão, perdoar. Remição ou ato de remir não 
é causa de extinção da obrigação, pois significa resgate, resgatar. 
Importante: confusão ou remissão entre credor e um dos devedores solidários ou entre 
o devedor e um dos credores solidários: mantém-se a solidariedade entre os demais, 
descontada a parte remitida ou da confusão parcial. 
9.5. INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES 
9.5.1. DIFERENÇA ENTRE INADIMPLEMENTO E MORA 
Quando o devedor não cumpre a prestação, estamos diante do inadimplemento, que 
pode ser de dois tipos: absoluto ou relativo. O inadimplemento é absoluto quando a 
 
 
prestação não é cumprida e não é mais útil ao credor que o devedor a cumpra – por 
exemplo, contratação de cantor para cantar em um casamento que não comparece à 
cerimônia. O inadimplemento é relativo quando a prestação não é cumprida, mas ainda 
é útil ao credor que o devedor a cumpra – por exemplo, não pagamento de uma dívida 
em dinheiro no dia do vencimento. O inadimplemento absoluto é chamado 
simplesmente de inadimplemento, e o inadimplemento relativo é chamado de mora. 
Por que diferenciar mora e inadimplemento? Se o caso é de inadimplemento, como 
a prestação não é mais útil ao credor, a única solução é o pagamento de indenização 
por perdas e danos (ar. 389 do CC). Por outro lado, se o caso é de mora, cabe o que 
chamamos de purgação ou emenda da mora. O que é isso? É cumprir a obrigação, 
porque ainda útil para o credor, acrescido dos encargos moratórios. Purga-se a mora 
pagando-se com retardo, acrescido de: correção monetária, juros de mora, perdas e 
danos decorrentes da mora e eventual honorários de advogado (art. 395 do CC). 
9.5.2. MORA 
O art. 394 do CC diz que se considera em mora o devedor que não efetuar o 
pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou 
a convenção estabelecer. Note haver mora não apenas quando não se paga no tempo 
devido, mas também se não se paga no lugar e na forma devida. 
Segundo art. 395 do CC, configurada a mora, o devedor pode purgá-la, cumprindo 
a prestação acrescida dos encargos moratórios. Todavia, se a prestação tornar-se inútil 
ao credor, este poderá enjeitá-la e pedir perdas e danos. A razão é simples: se inútil ao 
credor, deixou de ser mora e se transformou em inadimplemento absoluto. 
 
 
Completa a ideia de mora o art. 396 do CC, que preceitua não incorrer em mora o 
devedor quando não haja fato ou omissão imposta a ele. Significa que a mora é o não 
cumprimento culposo da obrigação. Se não há culpa, não há mora. 
O art. 397 do CC nos faz perceber haver dois tipos de mora: ex re e ex persona. 
A mora ex re é automática, ou seja, é aquela que independe de ato do credor para o 
devedor ser constituído em mora (interpelação judicial ou extrajudicial, notificação, 
protesto ou citação do devedor). Por sua vez, a mora ex persona é aquela que precisa 
de um dos citados atos do credorpara o devedor ser constituído em mora. Quando a 
mora é ex re e quando é ex persona? 
Há dois tipos de obrigações: com dia certo de vencimento e sem dia certo de 
vencimento. Quando a obrigação tem um dia certo de vencimento, o devedor não 
precisa ser constituído em mora por ato do credor, pois o simples não pagamento no 
vencimento o constitui em mora (dies interpellat pro homine, ou seja, o próprio dia 
interpela o devedor). Por outro lado, quando a obrigação não tem dia certo de 
vencimento, o devedor só estará em mora se for constituído por ato do credor. Assim, 
quando a obrigação é com dia certo de vencimento, a mora é ex re, e quando a 
obrigação é sem dia certo de vencimento, a mora é ex persona. 
O art. 398 do CC demonstra que a mora é ex re quando a obrigação não cumprida 
decorre de ato ilícito. Com efeito, ato ilícito civil é causar dano a alguém, gerando ao 
causador o dever de indenizá-lo. 
Os arts. 399 e 400 do CC trazem dois efeitos da mora, um para mora do devedor e 
outro para a mora do credor: 
a) Efeito da mora do devedor (art. 399 do CC): O devedor em mora responde pela 
impossibilidade da prestação, ainda que esta se dê por caso fortuito ou força maior. Se a 
 
 
prestação do devedor se torna impossível sem culpa do devedor, simplesmente se 
resolve a obrigação sem qualquer ônus a lhe ser imposto. Todavia, se a impossibilidade 
ocorrer durante seu atraso, o devedor ficará obrigado a indenizar o credor pela 
impossibilidade da prestação, mesmo que esta tenha se dado por caso fortuito ou por 
força maior. Apenas em dois casos, estará desobrigado de indenização: quando provar 
isenção de culpa no seu atraso (evidente, pois nesse caso não há mora, pois a mora é o 
não cumprimento culposo da obrigação) e se provar que o dano ocorreria mesmo se a 
prestação tivesse sido cumprida no tempo, lugar ou forma devida, ou seja, mesmo se 
não houvesse mora. 
b) Efeito da mora do credor (art. 400 do CC): A mora do credor, ou seja, se o credor 
se recusar injustificadamente a receber o pagamento, gera três efeitos: (i) retira do 
devedor isento de dolo a responsabilidade pela conservação da coisa (só indeniza perda 
ou deterioração do bem se teve dolo, não respondendo se teve culpa stricto sensu, ou 
seja, imprudência, negligência ou imperícia); (ii) obriga o credor a ressarcir o devedor 
das despesas que teve para conservar o bem; e (iii) sujeita o credor a receber o bem 
pela estimação mais favorável ao devedor se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido 
para o pagamento e o da sua efetivação. 
9.5.3. RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL 
Responsabilidade civil é o dever de indenizar um prejuízo causado. Há dois tipos de 
responsabilidade civil: contratual e extracontratual. A responsabilidade civil contratual é 
aquela em que há um contrato entre as partes, ou seja, um contratante não cumpre o 
contrato, causando prejuízo ao outro contratante, gerando dever de indenização. 
 
 
A responsabilidade civil extracontratual, também chamada de aquiliana, é aquela em que 
não existe um contrato entre quem causa e quem sofre o dano, como no caso de alguém 
bater no carro de outrem, tendo que indenizá-lo. Responsabilidade civil extracontratual 
é tema do capítulo responsabilidade civil. Responsabilidade civil contratual é estudada 
aqui em obrigações, pois ocorre diante de mora e inadimplemento. 
O contratante que não cumpre o contrato será civilmente responsabilizado, mas 
apenas se isso gerar um dano ao outro contratante, pois responsabilidade civil é o dever 
de indenizar um dano causado. Conforme o art. 402 do CC, o inadimplente deverá 
indenizar não só o dano emergente, mas também os lucros cessantes, que são os dois 
tipos de dano material. Dano emergente: prejuízo efetivamente experimentado; lucro 
cessante: o que se legitimamente se deixou de ganhar. A eles se acrescenta dano moral. 
A responsabilidade civil contratual é subjetiva, pois só há mora se o não cumprimento 
da prestação for culposo. 
Importante: O art. 393 do CC dispõe que “o devedor não responde pelos prejuízos 
resultantes do caso fortuito ou de força maior, se expressamente não se houver por eles 
responsabilizado” Note que, conforme visto, a responsabilidade civil contratual é 
subjetiva, mas as partes podem expressamente prever no contrato que o inadimplente 
responderá mesmo que não tenha cumprido o contrato por caso fortuito ou motivo de 
força maior, ou seja, sem ter tido culpa. 
Nos termos do art. 392 do CC, se o contrato é oneroso, o contratante inadimplente 
responde por não ter cumprido o contrato por dolo ou por culpa, mas, se for um 
contrato benéfico ou gratuito, a parte que não é favorecida só responde pelo 
inadimplemento se agiu com dolo, ou seja, não será responsabilizado civilmente pelo 
não cumprimento do contrato por culpa em sentido estrito. 
 
 
9.5.4. CLÁUSULA PENAL 
Cláusula penal é um pacto inserido no contrato, impondo multa ao devedor que não 
cumpre ou que retarda o cumprimento da prestação. 
Note que há multa tanto para o caso de mora quanto de inadimplemento. Assim, há 
dois tipos de cláusula penal: moratória e compensatória. A cláusula penal moratória é 
para prefixar perdas e danos em razão da mora, ou seja, pelo retardamento no 
cumprimento da obrigação, e a cláusula penal compensatória é para prefixar perdas e 
danos em caso de inadimplemento absoluto, ou seja, pelo não cumprimento da 
prestação. 
Note que há dois tipos de cláusula penal, cada uma com uma finalidade específica. 
A cláusula penal compensatória tem a função de compensar o contratante por não ter 
o outro contratante cumprido sua prestação. Já a cláusula penal moratória tem a função 
de intimidar, pois o contratante pagará uma multa se retardar o cumprimento da 
prestação. 
O art. 408 do CC demonstra que a cláusula penal é uma prefixação de perdas e danos 
e que a responsabilidade civil contratual é subjetiva, pois diz que incorre de pleno direito 
na cláusula penal o devedor que culposamente deixe de cumprir a obrigação ou que se 
constitua em mora. Significa que, em caso de inadimplemento, o outro contratante pode 
executar a multa, independente de provar a extensão do dano em ação de 
conhecimento. E a lei vai mais longe ainda com o art. 416 do CC, prevendo que sequer 
é necessário provar que houve dano, se este foi prefixado no contrato. 
Uma questão pode ser levantada: se o prejuízo do contratante for maior do que o 
valor da multa, poderá ele cobrar a diferença? A princípio não, pois o parágrafo único 
 
 
do art. 416 do CC diz que só poderá cobrar eventual valor a mais, se esta possibilidade 
estiver expressa no contrato. 
Há importante diferença na cobrança da cláusula penal a depender se compensatória 
ou se moratória (arts. 410 e 411 do CC): no inadimplemento o credor cobra cláusula 
penal compensatória ou o cumprimento da prestação, enquanto que na mora o credor 
cobra cumprimento da prestação e cláusula penal moratória. 
No caso da cláusula penal compensatória, havendo inadimplemento, esta se 
converterá em alternativa a benefício do credor, ou seja, este poderá escolher entre 
cobrar do contratante inadimplente a multa ou o cumprimento da prestação. Sendo 
cláusula penal moratória, sobrevindo mora, o credor pode exigir o cumprimento da 
prestação acrescido da multa, pois, se não pagou a dívida no dia, o credor a cobrará 
acrescido da multa com os demais encargos moratórios. 
Para fechar o tema, é preciso saber que o juiz pode reduzir o valor da cláusula penal 
compensatória em dois casos previsto no art. 413 do CC: 
a) Se o valor é manifestamente excessivo: O art. 412 do CC estipula um valor máximo 
da cláusula penal compensatória ao afirmar que ela não pode exceder o valor da 
obrigação principal. No entanto, mesmo dentro desse limite, o juiz poderá reduzi-la a 
pedido da parte se manifestamente excessivo segundo as circunstâncias do caso. 
b) Se a prestação tiver sido cumprida em parte: se écumprida parte da prestação, a 
compensação deve ser apenas da parte não cumprida. 
9.5.5. ARRAS 
Arras significam sinal, ou seja, é aquilo que é entregue por um dos contratantes ao 
 
 
outro como princípio de pagamento quando da celebração do contrato para 
confirmação do acordo. Se quem deu o sinal desistir, não poderá cobrá-lo de volta; se 
quem o recebeu desistir, devolverá o valor em dobro (como recebeu arras, a perda 
efetiva será no valor das arras). 
São dois os tipos de arras: confirmatória e penitenciais. A diferença decorre se no 
contrato existe ou não cláusula de arrependimento. 
a) Arras confirmatórias: As arras serão confirmatórias quando não houver previsão no 
contrato de direito de arrependimento. Se quem deu arras desistir, perderá o sinal dado, 
mas se quem desistir foi quem recebeu o sinal, devolverá o dobro do valor. 
b) Arras penitenciais: As arras serão penitenciais quando houver previsão no contrato 
de direito de arrependimento. Se quem desiste deu arras, perderá o sinal dado, mas se 
quem desistir foi quem recebeu o sinal, devolverá o dobro do valor. 
Diferença: nas arras confirmatórias (quando não há direito de arrependimento), o 
contratante pode cobrar indenização suplementar, enquanto que não poderá fazê-lo nas 
arras penitenciais (quando há direito de arrependimento), pois se fixou um preço para 
isso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10. TEORIA GERAL DOS CONTRATOS 
10.1. CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA 
 
O contrato é um encontro de vontades contrapostas, com o escopo de regulamentar 
interesses particulares (entre as partes), visando criar, modificar, conservar ou extinguir 
relações jurídicas de natureza patrimonial, nos limites positivados e principiológicos do 
ordenamento jurídico nacional, com especial atenção à função social (art. 421, CC) e 
boa-fé objetiva (art. 422, CC). Como negócio jurídico deve-se levar em conta planos da 
existência, validade e eficácia. 
10.2. PRINCÍPIOS 
10.2.1. PRINCÍPIOS LIBERAIS 
Os princípios liberais remontam o constitucionalismo de primeira dimensão (geração), 
veiculando liberdades privadas. 
 
10.2.1.1. PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PRIVADA 
Consiste na liberdade contratual em sua máxima expressão. Hoje, os princípios do 
Código Civil: eticidade (boa-fé), sociabilidade (função social), e operabilidade, além dos 
postulados constitucionais da dignidade humana, justiça distributiva e solidariedade, 
mitigam a liberdade absoluta, otimizando as relações contratuais. 
 
 
10.2.1.2. PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE 
Pelo princípio da relatividade, o contrato só surte efeito (obriga) entre as próprias 
partes contratantes subscritoras da avença, isto é, possui efeito inter-partes, e não contra 
todos, erga-omnes. O próprio direito positivo, na teoria geral dos contratos, veicula 
abrandamentos, especialmente na estipulação em favor de terceiro, promessa de fato 
de terceiro e contrato com pessoa a declarar. 
2.1.3. PRINCÍPIO DA FORÇA OBRIGATÓRIA DO CONTRATO (OU PACTA SUNT SERVANDA) 
Traduz a obrigatoriedade que emana de todo o contrato, consubstanciando-se na 
noção de que o contrato faz lei entre as partes. Importante exceção à força obrigatória 
dos contratos é a denominada teoria da imprevisão. 
 
10.2.1.3. Teorias da imprevisão e da onerosidade excessiva 
A Teoria da Imprevisão consiste no reconhecimento de que a ocorrência de 
acontecimento novo, superveniente, imprevisível e extraordinário, em contrato 
comutativo e de duração, que desequilibre a base econômica (objetiva) contratual, com 
extrema vantagem para uma das partes e onerosidade excessiva para a outra, possibilita 
a sua resolução ou revisão. A configuração da Teoria da Onerosidade Excessiva exige os 
mesmos requisitos da Imprevisão, à exceção do fato ser imprevisível. 
A teoria da imprevisão ou onerosidade excessiva atinge o plano de eficácia do 
negócio jurídico, e não a sua validade, por ser posterior à sua formação, configurada a 
imprevisibilidade, ou onerosidade excessiva, a consequência não é a anulabilidade, mas 
revisão ou resolução do contrato. 
 
 
10.2.2. PRINCÍPIOS SOCIAIS 
Os princípios sociais, fruto do constitucionalismo de segunda e terceira dimensão, 
configuram limitações às amplas liberdades de outrora, objetivando igualdade material 
e solidarismo social. 
 
10.2.2.1. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO E A EQUIVALÊNCIA MATERIAL 
A função social do contrato significa que o mesmo deverá ter uma dada finalidade, 
a qual é qualificada pelo termo social, atendendo interesses da sociedade. A autonomia 
contratual persiste como um princípio dos contratos, porém mitigado pela tutela externa 
do crédito (função social). 
O princípio da equivalência material ou justiça contratual diz respeito à necessidade 
dos negócios jurídicos gerarem trocas úteis e justas, em uma equivalência material ou 
justiça contratual cujo desrespeito justifica intervenção judicial a igualar o pêndulo 
contratual. 
 
10.2.2.2. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA 
A boa-fé pode ser dividida em subjetiva (interna) e objetiva (externa). Revela-se uma 
cláusula geral e implícita, tendo como funções a interpretativa, integrativa e restritiva 
(ou limitadora). 
Há necessidade de observância à boa-fé em todas as fases de formação do contrato. 
 
 
10.3. FORMAÇÃO DOS CONTRATOS 
10.3.1. TRATATIVAS (OU PONTUAÇÃO) 
As tratativas são negociações preliminares, que podem ser formais ou informais,. Não 
há contrato ainda, e por isso inexiste exigibilidade. Porém, há necessidade de respeito à 
boa-fé e à função social. 
Ao final das tratativas, as partes poderão desembocar em um contrato definitivo, em 
um contrato preliminar, ou simplesmente na não-contratação. 
10.3.2. PROPOSTA 
É uma declaração receptícia de vontade dirigida pelo policitante (proponente) ao 
oblato (aquele que poderá aceitar a proposta). A proposta pode ser individual ou coletiva 
e, em regra, obrigam o proponente. 
O art. 427, CC dispõe que a regra é a obrigatoriedade da proposta, não persistindo 
esta, porém, se o contrário resultar dos termos dela, da natureza do negócio ou das 
circunstâncias do caso. Segundo o art. 428, CC a proposta pode ser realizada entre 
presentes ou entre ausentes. 
A proposta feita pode ser revogada mediante o mesmo mecanismo (meio) que foi 
realizada, em respeito ao princípio da simetria das formas ou paralelismo das formas. 
O contrato se considera formado no local no qual foi feita a proposta e será, em 
regra, o foro competente para dirimir as controvérsias relativas ao contrato, ressalvadas 
as hipóteses de foro de eleição ou de foro privilegiado. 
 
 
10.3.3. ACEITAÇÃO 
O ato fundamental a ser praticado pelo policitante é a proposta, ao passo que o ato 
principal do oblato é a aceitação. Tal aceitação há de ser feita nos exatos termos da 
proposta, sob pena de configurar contraproposta. 
10.4. CONTRATO PRELIMINAR 
 
O contrato preliminar, também conhecido como antecontrato, pré-contrato ou 
promessa, consiste em um pacto através do qual as partes se comprometem a celebrar 
posterior contrato futuro. Deverá conter todos os requisitos do definitivo, à exceção da 
forma, segundo o art. 462 do CC. É, em regra, irretratável, salvo se possuir cláusula de 
arrependimento (art. 463, CC). O contrato preliminar deve ser levado ao registro 
competente (art. 463, parágrafo único). 
10.5. VÍCIOS REDIBITÓRIOS 
 
Consiste o vício redibitório no vício ou defeito, presente em contrato comutativo, que 
diminui o valor e/ou prejudica a utilização da coisa alienada. O defeito há de existir 
anteriormente à tradição, acompanhar a coisa após a sua entrega e ter a sua descoberta 
apenas posteriormente (art. 441, CC). Se o suposto defeito for do gênero da coisa, não 
se deve cogitar do vício redibitório, pois se trata de característica inerente ao gênero. 
 
 
10.6. EXCEÇÃO DO CONTRATO NÃO CUMPRIDO (EXCEPTIO NON 
ADIMPLETI CONTRACTUS) 
 
Consiste a Exceção do Contrato Não Cumprido em defesaindireta de mérito através 
da qual a parte demandada pela execução de um contrato pode arguir que deixou de 
cumpri-lo pelo fato de a outra parte ainda não ter satisfeito a prestação correspondente. 
Está o tema regulado no art. 476 do CC, o qual prevê como pressupostos para o exercício 
da exceção do contrato não cumprido: a) Existência de um contrato bilateral 
sinalagmático; b) Demanda de uma das partes pelo cumprimento do pactuado; c) Prévio 
descumprimento da prestação pelo demandante. 
10.7. EVICÇÃO 
 
É uma garantia contratual do adquirente típica dos contratos onerosos, translativos 
de propriedade, que se opera quando o adquirente vem a perder a posse e a 
propriedade da coisa em virtude do reconhecimento judicial ou administrativo do direito 
anterior de outrem. 
10.8. EXTINÇÃO DOS CONTRATOS 
10.8.1. RESOLUÇÃO (ART. 475, CC) 
Traduz o desfazimento (ou dissolução) contratual em caso de inadimplemento, a 
 
 
exemplo de imprevisão, exceção do contrato não cumprido e vícios redibitórios. 
O inadimplemento contratual é combatido pelo pleito específico (tutela específica) de 
cumprimento, ou pedido de resolução, havendo a possibilidade da cumulação de ambos 
com perdas e danos (art. 475, CC). Por óbvio, tais possibilidades não incidem caso haja 
excludente de responsabilidade civil. 
10.8.2. RESILIÇÃO 
Traduz o desfazimento contratual por simples manifestação de vontade de uma das 
partes (resilição unilateral ou denúncia) ou de ambas as partes (resilição bilateral ou 
distrato). A resilição unilateral (art. 473, CC) opera-se por meio de um ato jurídico 
chamado denúncia. Não se pode resilir unilateralmente todo e qualquer contrato, 
somente pode fazê-lo através de uma permissão implícita ou explícita da lei. 
10.8.3. RESCISÃO 
Trata-se do desfazimento do contrato por fato concomitante ou posterior à sua 
formação. 
10.9. CLASSIFICAÇÕES DOS CONTRATOS 
 
a) Quanto à Natureza da Obrigação: I. Contratos Unilaterais, Bilaterais ou Plurilaterais; 
II. Contratos Onerosos ou Gratuitos; III. Contratos Comutativos ou Aleatórios; IV. 
Contratos Paritários ou por Adesão. 
 
 
b) Classificação dos Contratos quanto à Disciplina Jurídica: Civis, comerciais, 
trabalhistas, consumeristas e administrativos. 
c) Classificação dos Contratos quanto à Forma: I. Solenes ou Não-Solenes; II. 
Consensuais ou Reais. 
d) Classificação dos Contratos quanto à Designação (nominados e inominados) 
e) Classificação dos Contratos quanto à Pessoa do Contratante: I. Pessoais ou 
Impessoais; II. Individuais ou Coletivos. 
f) Classificação dos Contratos quanto ao Tempo: I. Instantâneos (execução imediata 
ou execução diferida); II. De duração (determinada ou indeterminada) 
g) Classificação dos Contratos quanto à Disciplina Legal Específica: Típicos e atípicos. 
h) Classificação pelo Motivo Determinante do Negócio: Causais e abstratos 
i) Classificação pela Função Econômica: I. De troca; II. Associativos; III. De prevenção 
de riscos; IV. De crédito; V. De atividade. 
j) Contratos Reciprocamente Considerados: I. Classificação quanto à Relação de 
Dependência: principais e acessórios; II. Classificação quanto à Definitividade: 
preliminares e definitivos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
11. CONTRATOS EM ESPÉCIE 
11.1. COMPRA E VENDA 
11.1.1. CONCEITO 
Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga 
a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em 
dinheiro. 
11.2. NATUREZA JURÍDICA 
Contrato bilateral ou sinalagmático, oneroso, aleatórios ou comutativos, consensual, 
formal ou informal, instantâneo ou de longa duração, paritário ou de adesão. 
11.3. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS 
a) Partes: capazes (aptidão genérica) e a legitimação (aptidão específica). 
b) Coisa: objeto tem de ser lícito e determinado ou determinável. 
c) Preço: justo, certo, determinado e em moeda corrente. 
 
 
11.4. TROCA OU PERMUTA 
11.4.1. CONCEITO 
Nessa modalidade contratual prevista no art. 533, CC, as partes pactuam suas 
obrigações, remunerando-se, através da compensação dos ofícios estabelecidos por cada 
uma delas. 
11.4.2. NATUREZA JURÍDICA 
Contrato bilateral ou sinalagmático, comutativo, consensual, formal ou informal, 
solene ou não solene, translativo, oneroso. 
11.5. CONTRATO ESTIMATÓRIO 
11.5.1. CONCEITO 
Esse contrato pode ser chamado também de venda em consignação, tem por 
finalidade vender, em nome próprio, bens móveis de propriedade de terceiros. 
O proprietário/consignante dará somente a posse do bem ao vendedor/consignatário, 
não sendo entregue o domínio da coisa. 
11.5.2. NATUREZA JURÍDICA 
Contrato bilateral ou sinalagmático, oneroso, real, comutativo, informal ou não 
 
 
solene, instantâneo e temporário. 
11.5.3. EFEITOS E REGRAS 
É análogo a uma obrigação alternativa, pois o vendedor/consignatário poderá 
devolver o valor inicialmente estimado ou a própria coisa. 
A coisa deve ser móvel e livre para alienação, não podendo estar gravada com 
cláusula de inalienabilidade. 
11.6. DOAÇÃO 
11.6.1. CONCEITO 
Art. 538. Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por 
liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de 
outra. 
11.6.2. NATUREZA JURÍDICA 
Contrato unilateral/bilateral, gratuito, consensual, real, comutativo, formal e solene 
(desde que a doação do bem imóvel seja superior a 30 salários mínimos), formal e não 
solene (todas as vezes que o bem imóvel for superior a 30 salários mínimos, porém não 
há necessidade de escritura pública). 
 
 
11.6.3. ESPÉCIES DE DOAÇÃO 
Pode ser: a) pura e simples; b) contemplativa; c) remuneratória; d) ao nascituro; e) ao 
absolutamente incapaz; f) de ascendente a descendente ou de um cônjuge ao outro; g) 
em forma de subvenção periódica; h) propter nuptias; i) com cláusula de reversão ou 
retorno; j) universal; l) inoficiosa; m) do cônjuge adúltero ao seu cúmplice; n) conjuntiva; 
o) modal ou onerosa; p) à entidade futura. 
11.6.4. REVOGAÇÃO DA DOAÇÃO 
São os casos definidos nos arts. 555 ao 564, CC. 
11.7. LOCAÇÃO DE COISAS 
11.7.1. CONCEITO 
É o contrato em que o locador cede ao locatário determinado bem, objetivando que 
o mesmo use e goze da coisa de forma contínua e temporária, mediante o pagamento 
de aluguel. 
 
11.7.2. Natureza jurídica 
 
Contrato bilateral ou sinalagmático, oneroso, comutativo, consensual, informal e não 
solene, execução continuada, típico, paritário ou de adesão. 
 
 
11.7.3. PRESSUPOSTOS 
a) coisa; 
b) temporariedade; 
c) aluguel. 
11.7.4. A LOCAÇÃO NA LEI Nº 8.245/91 
Esta lei se aplica somente nas relações locatícias de imóvel urbano, consoante previsto 
em seu art. 1º. 
5.4.1. AÇÕES INQUILINÁRIAS OU LOCATÍCIAS: ESPÉCIES 
a) Ação de despejo (arts. 59 a 66 da Lei nº 8.245/91) 
b) Ação consignatória de aluguéis e acessórios na locação (art. 67 da Lei nº 8.245/91) 
c) Ação revisional de aluguel (arts. 68 a 70 da Lei nº 8.245/91) 
d) Ação renovatória de contrato (arts. 71 a 75 da Lei nº 8.245/91) 
11.8. EMPRÉSTIMO 
11.8.1. ASPECTOS GERAIS 
Esse tipo de contrato abrange tanto o comodato como o mútuo. Diferenciam-se em 
razão da natureza da coisa emprestada, pois, se o bem for fungível, o contrato será de 
mútuo e, se o mesmo for infungível, comodato. 
 
 
11.8.2. DO COMODATO (EMPRÉSTIMO DE USO) 
11.8.2.1. CONCEITO 
Art. 579. O comodato é o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis. 
Perfaz-se com a tradição do objeto. 
11.8.2.2. NATUREZA JURÍDICA 
Contrato real, gratuito, informal e não solene, unilateral, personalíssimo, fiduciário. 
 
11.8.2.3. LEGITIMAÇÃO PARA CELEBRAR O CONTRATO 
Em regra, todos os bens imóveis/móveis são passíveis de ser objeto de contrato de 
comodato, salvo, sem autorização especial, os bens confiados à guarda dos tutores, 
curadores e todos os administradores de bens alheios, em geral. 
 
11.8.2.4. DESPESAS DO CONTRATO 
Não é possível o comodatário recobrar do comodante as despesas feitas com o usoe gozo da coisa emprestada. 
11.9. DO MÚTUO (EMPRÉSTIMO DE CONSUMO) 
11.9.1. CONCEITO 
Art. 586. O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário é 
obrigado a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo 
gênero, qualidade e quantidade. 
 
 
 
11.9.2. NATUREZA JURÍDICA 
Contrato unilateral, gratuito, informal e não solene, real. 
 
11.9.3. A TRANSFERÊNCIA DA COISA 
Este contrato se caracteriza pela transferência do domínio da coisa emprestada ao 
mutuário, que assume todos os riscos do bem fungível desde a tradição. 
6.3.4. PRAZO PARA A REALIZAÇÃO DO PAGAMENTO DO MÚTUO 
Inexistindo convenção entre as partes, o mútuo será devido: a) se for de produtos 
agrícolas, até a próxima colheita quando já estiverem prontos para o consumo ou para 
a semeadura; b) pelo prazo de 30 dias, se ele for de dinheiro; c) se for de qualquer outra 
coisa fungível sempre que declarar o mutuante. 
11.10. DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO 
11.10.1. CONCEITO 
São aquelas reguladas pelo Código Civil, como toda espécie de serviço ou trabalho 
lícito, material ou imaterial que pode ser contratada mediante retribuição, e que não 
esteja sujeita às leis trabalhistas ou à lei especial. 
11.10.2. NATUREZA JURÍDICA 
Contrato bilateral, comutativo, personalíssimo/intuitu personae, oneroso, 
 
 
informal/não solene, consensual. 
11.10.3. OBJETO DO CONTRATO 
É toda espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial que pode ser 
contratada mediante retribuição. 
A REMUNERAÇÃO (A NÃO PRESUNÇÃO DE GRATUIDADE) 
A remuneração será, em regra, paga após a prestação do serviço, podendo ser 
convencionada de forma diversa, ou seja, o pagamento poderá se concretizar no início 
dos trabalhos ou, também, ser dividido em três parcelas. No que tange aos valores 
devidos, deverá ser proposta ação para que o juiz arbitre a remuneração de acordo com 
o costume do lugar, o tempo de serviço e sua qualidade. 
PRAZO MÁXIMO DO CONTRATO 
A prestação de serviço não se poderá convencionar por mais de quatro anos (art. 598, 
CC). 
FORMAS DE EXTINÇÃO DO CONTRATO 
Formas de extinção do contrato: a morte de qualquer das partes, escoamento do 
prazo contratualmente determinado, conclusão da obra, rescisão do contrato mediante 
aviso prévio, inadimplemento de qualquer das partes ou impossibilidade da continuação 
do contrato motivada por força maior. 
 
 
12. EMPREITADA 
CONCEITO 
Trata-se de contrato em que o contratado/empreiteiro se obriga, sem subordinação 
ou dependência, a realizar, pessoalmente ou por terceiros, determinada obra para o 
dono ou para o empreiteiro contratado, com material próprio ou fornecido pelo dono 
da obra, mediante remuneração determinada ou proporcional ao trabalho executado. 
NATUREZA JURÍDICA 
Contrato bilateral, comutativo, oneroso, informal e não solene, consensual, 
instantâneo ou de longa duração, não personalíssimo. 
ESPÉCIES 
Podem ser: a) de lavor; b) mista; c) de projeto; d) instantânea; e) por medida/ad 
mensuram; f) por administração. 
SUBEMPREITADA 
Esta modalidade contratual não possui natureza personalíssima, podendo a execução 
da obra ser confiada a terceiros, desde que os mesmos não assumam a direção ou 
fiscalização do serviço, ficando limitados os danos resultantes de defeitos durante o 
irredutível prazo de cinco anos. 
 
 
13. DEPÓSITO 
CONCEITO 
O depositário recebe um objeto móvel para guardar até que o depositante o reclame, 
sendo em regra gratuito, exceto se houver convenção em contrário e for fruto de 
atividade negocial ou se o depositário o praticar por profissão. 
NATUREZA JURÍDICA 
Contrato real, unilateral (no caso do art. 643 CC, poderá ser contrato bilateral 
imperfeito), gratuito, informal, não solene, personalíssimo, temporário. 
MODALIDADES 
a) voluntário; 
b) necessário: 
b.1) legal; 
b.2) miserável; 
b.3) hospedeiro; 
c) regular; 
d) irregular; 
e) judicial; 
f) bem indivisível; 
g) fechado. 
 
 
EXTINÇÃO DO DEPÓSITO 
Será extinto por resilição unilateral, pelo término do prazo estabelecido, pelo 
perecimento da coisa, morte do depositário e pela incapacidade civil do depositário. 
14. DO MANDATO 
CONCEITO 
Ocorre enquanto alguém substitui outra pessoa, com poderes legais necessários 
confiados para agir em nome do representado, atuando consoante sua vontade. 
NATUREZA JURÍDICA 
Contrato unilateral, gratuito, oneroso, consensual, comutativo, preparatório, informal 
e não solene. 
ESPÉCIES 
Pode ser: a) Judicial; b) Legal; c) Escrito; d) Verbal; e) Expresso e tácito; f) Aparente; 
g) Salariado; h) Geral; i) Especial; j) Conjunto; l) Solidário; m) Fracionário; n) Singular; 
o) plural. 
SUBMANDATO 
Contrato acessório ao mandato principal, devendo ser escrito, por meio do 
 
 
instrumento de substabelecimento, e tem como objeto obrigação de fazer fungível. 
Se houver reservas, tanto o mandatário quanto o submandatário podem realizar as 
tarefas. Todavia, quando este instrumento for sem reservas, o mandatário revoga os seus 
próprios poderes perante o mandante, repassando-os para o submandatário. 
EXTINÇÃO DO CONTRATO 
O tema está disposto nos arts. 682 a 691 determinando a extinção nas hipóteses de 
revogação, renúncia, morte de uma das partes, interdição de uma das partes, mudança 
de estado de uma das partes, término do prazo e conclusão do negócio. 
15. CONTRATO DE TRANSPORTE 
CONCEITO 
Art. 730. Pelo contrato de transporte alguém se obriga, mediante 
retribuição, a transportar, de um lugar para outro, pessoas ou coisas. 
NATUREZA JURÍDICA 
Contrato bilateral ou sinalagmático, consensual, comutativo, de adesão, informal e 
não solene. 
 
 
TRANSPORTE DE PESSOAS 
O transportador responde pelos danos causados às pessoas transportadas e suas 
bagagens, salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da 
responsabilidade. É lícito ao transportador exigir a declaração do valor da bagagem a 
fim de fixar o limite da indenização. 
TRANSPORTE DE COISAS 
A coisa, entregue ao transportador, deve ser identificada e o destinatário ser indicado 
ao menos pelo nome e endereço. Ao receber a coisa, o transportador emitirá 
conhecimento (arts. 743 e 744, CC). Em caso de informação inexata ou falsa descrição 
no documento, o transportador será indenizado pelo prejuízo que sofrer, devendo a 
ação ser ajuizada no prazo de 120 dias, a contar daquele ato. 
16. CONTRATO DE SEGURO 
CONCEITO 
Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o 
pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo 
à pessoa ou à coisa, contra riscos predeterminados. 
Parágrafo único. Somente pode ser parte, no contrato de seguro, como 
segurador, entidade para tal fim legalmente autorizada. 
 
 
NATUREZA JURÍDICA 
Contrato bilateral ou sinalagmático, oneroso, consensual, aleatório, adesão. 
PRECEITOS DO CONTRATO 
a) prova-se com a exibição da apólice ou do bilhete do seguro ou por documento 
comprobatório do pagamento do respectivo prêmio. (art. 758, CC); 
b) emissão da apólice deverá ser precedida de proposta escrita com a declaração dos 
elementos essenciais do interesse a ser garantido e do risco (art. 759, CC) 
c) serão nominativos, à ordem ou ao portador, e mencionarão os riscos assumidos, 
o início e o fim de sua validade, o limite da garantia e o prêmio devido, e, quando for 
o caso, o nome do segurado e o do beneficiário. No seguro de pessoas, a apólice ou o 
bilhete não podem ser ao portador. (art. 760, CC) 
SEGURO DE DANO 
Nos seguros de dano, a garantia prometida não pode ultrapassar o valor do interesse 
segurado no momento da conclusão do contrato, sob pena do disposto no art. 766, e 
sem prejuízo da ação penal que no caso couber. 
O risco do seguro compreenderá todos os prejuízos resultantes ou consequentes, 
como sejam os estragos ocasionados para evitar o sinistro, minorar o dano, ou salvar a 
coisa. Sobre o tema ver os arts.778 a 788, CC. 
 
 
SEGURO DE PESSOANos seguros de pessoas, o capital segurado é livremente estipulado pelo proponente, 
que pode contratar mais de um seguro sobre o mesmo interesse, com o mesmo ou 
diversos seguradores. Sobre o tema ver os arts. 789 a 802, CC. 
17. CONTRATO DE FIANÇA 
CONCEITO 
Trata-se de garantia fidejussória em que um terceiro (fiador) passa a garantir 
pessoalmente perante o credor a dívida do devedor com seu patrimônio, tendo dessa 
forma uma responsabilidade sem débito. 
NATUREZA JURÍDICA 
Contrato gratuito, consensual, formal, não solene, obrigação acessória, típico, 
fiduciário. 
EXTINÇÃO DA FIANÇA 
A matéria é tratada nos arts. 837 a 839, CC. 
 
 
18. RESPONSABILIDADE CIVIL 
CONCEITO 
Vincula-se ao dever de não causar prejuízo injustamente, buscando-se a indenização 
pelos danos sofridos, com a finalidade de reparação na medida do injusto causado 
resultante da violação do dever de cuidado. 
PRESSUPOSTOS 
a) ato ilícito ou conduta; b) culpa; c) dano; d) nexo causal. 
ATO ILÍCITO OU CONDUTA 
Conduta contrária ao direito positivado, tendo por elementos a antijuridicidade. 
2.1.1. ESPÉCIES 
a) indenizatório – busca a reparação do estado inicial da vítima (status quo ante); 
b) invalidante – tem como objetivo a invalidade do ato praticado de forma ilícita; 
c) caducificante – resulta na efetiva perda do direito; 
d) autorizante – a lei autoriza a prática de uma conduta em rejeição a um ilícito. 
CULPA 
A culpa pode ser dividida em dois casos: 
a) culpa latu sensu: tem o dolo como sua modalidade mais grave, podendo o mesmo 
ser encontrado nas seguintes formas: dolo direto; dolo necessário e dolo eventual. 
 
 
b) culpa strictu sensu (mera culpa): o agente pratica o ilícito com a ausência do dever 
de cuidado, gerando as seguintes espécies: negligência; imprudência; imperícia. 
 
ESPÉCIES DE CULPA STRICTU SENSU 
a) contratual; 
b) extracontratual ou aquiliana; 
c) in comitendo; 
d) in omitendo; 
e) in vigilando; 
f) in eligendo; 
g) in custodiando; 
h) presumida; 
i) concorrente. 
DANO 
ESPÉCIES 
a) Dano material – Trata-se de uma efetiva lesão patrimonial, podendo ser total ou 
parcial, suscetível de avaliação pecuniária. 
a.1) Danos emergentes e lucros cessantes: danos emergentes – significa a perda 
efetivamente sofrida; lucros cessantes – atinge o patrimônio futuro (ganho esperável). 
b) Dano incerto – Não se pode indenizar um dano incerto, em razão da própria 
natureza da responsabilidade civil, que é a efetiva reparação de dano causado ao 
patrimônio. 
 
 
c) Dano material futuro – Inexiste a possibilidade desta modalidade. 
d) Dano moral – É uma espécie de dano, extrapatrimonial, por violação aos direitos 
inerentes à pessoa, contidos nos direitos da personalidade. 
e) Dano estético – É a efetiva lesão à integridade corporal da vítima e, podendo ser 
indenizável, o dano deve ser duradouro ou permanente ou, em alguns casos, impedir as 
capacidades laborativas. Ver Súmula nº 387: “É lícita a cumulação das indenizações de 
dano estético e dano moral.” 
f) Perda de uma chance – Ocorre quando a vítima possui uma chance séria e real, 
englobando tanto o dano moral quanto o material. 
 
DANO MORAL 
 
Formas de fixação do dano moral 
a) Compensatório: extensão do dano + condições pessoais da vítima. 
b) Punitiva: condições econômicas + grau de culpa do ofensor. 
b.1) Punitive damages 
 
Dano moral direto e indireto ou ricochete 
Ocorre o dano moral direto quando o ofendido é diretamente atingido nos seus 
direitos da personalidade. O sofrimento, a dor e o trauma provocados pela morte de um 
ente querido podem gerar o dever de indenizar. Trata-se de dano moral reflexo ou 
indireto, também denominado dano moral por ricochete. 
 
 
Dano moral à pessoa jurídica 
Súmula nº 227 do STJ: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.” 
 
A não possibilidade de incidência de imposto de renda 
Súmula 498, STJ: “Não incide imposto de renda sobre a indenização por danos 
morais.” 
 
Dano moral coletivo e social. Diferenças. 
O dano moral coletivo é a lesão extrapatrimonial aos direitos da personalidade de 
um determinado grupo. Já o dano moral social envolve a sociedade, ou seja, um grupo 
indeterminado, não se podendo medir a quantidade de pessoas lesionadas. 
 
Prova do dano moral 
Segundo entendimento pacífico do STJ, o dano moral é chamado de in re ipsa 
(presumido), ou dano na própria coisa, bastando demonstrar unicamente o fato. 
 
Quantificação dos danos morais 
No momento de fixar o quantum debeatur, o magistrado deverá estabelecer uma 
reparação equitativa, baseada na culpa do agente, na extensão e na gravidade do 
prejuízo causado, bem como na capacidade econômica das partes. A indenização deve 
apresentar um critério de razoabilidade, proporcionalidade e ao mesmo tempo 
necessária à condenação do agente. 
 
 
NEXO CAUSAL 
É o vínculo ou relação de causa e efeito entre a conduta e o resultado, existindo 
diversas teorias, sendo adotada pela jurisprudência a Teoria do Dano Direto e Imediato. 
Principais teorias existentes: 
a) Teoria da equivalência das condições/conditio sinequa non – nesta teoria não há 
diferença entre os antecedentes do resultado danoso, de forma que tudo irá concorrer 
para o evento considerado causador. Ela não é adotada em nosso ordenamento. 
b) Teoria da causalidade adequada – adotada pelo CC/2002 nos arts. 944 e 945, para 
esta teoria, considera-se como causa todo e qualquer evento que haja contribuído para 
a efetiva ocorrência do resultado. Portanto, para que ela possa ser adotada, deve-se 
estar diante de uma causa adequada e apta à efetivação do resultado. 
c) Teoria do dano direto e imediato – segundo essa teoria, será indenizável todo o 
dano que se filia a uma causa, ainda que remota, desde que necessária, encontrando 
respaldo no art. 403 do atual Código Civil. 
 
CONCORRÊNCIA DE CAUSAS 
a) Subsequentes – é causado pela prática de conduta oriunda de um ato 
fundamentando por prática posterior. 
b) Complementares – é gerado pela prática da conduta de dois ou mais agentes que, 
sem a ajuda do outro, não seria atingido o fim pretendido. 
c) Cumulativas – não haveria necessidade da conduta dos agentes somarem-se, em 
razão de que ambas atingiriam o objetivo-fim da mesma maneira. 
d) Alternativas – não há como definir o agente causador do dano. 
 
 
e) Preexistentes – a conduta do agente por si só não atingiria o resultado-fim se já 
existisse outra causa. 
f) Concomitantes – são causas geradoras do dano que são produzidas ao mesmo 
tempo. 
g) Supervenientes – surgem após o evento danoso. 
O RISCO 
Principais espécies de risco dispostas no ordenamento jurídico, devendo ser 
mencionadas as principais: a) risco proveito – todo ônus deve ser suportado por quem 
recebe o bônus; b) risco profissional – deriva das relações de trabalho; c) risco 
excepcional – origina-se de atividades que exigem elevado grau de perigo; d) risco 
integral – modalidade mais elevada de responsabilidade objetiva por não admitir 
exclusão de culpabilidade, em razão de o agente ser o responsável universal, adotado 
excepcionalmente no ordenamento jurídico nas seguintes formas: dano ambiental 
(art. 225, § 3º, CRFB/88/88 c/c o art. 14, § 1º, da Lei nº 6.931/81); seguro obrigatório 
(DPVAT: Lei nº 6.194/74 com posterior alteração pela Lei nº 8.441/92); danos nucleares 
(art. 21, inc. XXIII, “d”, CRFB/88, foi adotada a teoria do risco integral). 
RESPONSABILIDADE POR ATO PRÓPRIO 
Transcorre por ato do próprio agente, ora causador do dano. Está disposta nos artigos 
939 e 940 do CC. 
 
 
RESPONSABILIDADE POR ATO DE OUTREM OU RESPONSABILIDADE INDIRETA 
De acordo com os ditames do artigo 932 da norma civilista, é o caso que terceiros 
praticam o ilícito e o responsável legal responde pelo fato, isto é, responde (Haftung) 
mesmo sem ter contraído o débito (Schuld). O CC/2002 adotou para esses casos a 
responsabilidade objetiva, conforme redação do artigo 933.A responsabilidade solidária prevista no artigo 942 da Lei Civil é aplicável nos casos 
dos incisos III, IV e V do artigo 932. 
INDEPENDÊNCIA DAS RESPONSABILIDADES CIVIL E CRIMINAL 
Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se 
podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o 
seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal. 
 
RESPONSABILIDADE POR FATO DA COISA OU DO ANIMAL 
A matéria se encontra disposta nos arts. 936 a 938 do Código Civil. 
EXCLUDENTES DE ILICITUDE E EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE 
As excludentes de ilicitude afastam a ilicitude da conduta, mas não o dever de 
indenizar, respondendo o agente pelos atos lícitos. Têm-se, como exemplos, o estado 
de necessidade (arts. 188, inc. II, c/c 929, CC), a legítima defesa (art. 188, inc. I, 1ª parte, 
CC) e o exercício regular do direito (art. 188, inc. I, 2ª parte, CC). 
 
 
Por sua vez, as excludentes de responsabilidade rompem o nexo causal e afastam o 
dever de indenizar. Exemplos: o caso fortuito (imprevisibilidade/causa desconhecida), a 
força maior (inevitabilidade/causa conhecida) e a culpa exclusiva da vítima (art. 14, § 3º, 
inc. II, da Lei nº 8.078/90). 
Ainda há fato de terceiro e a cláusula de não indenizar. 
 
DIREITOS REAIS 
I. POSSE 
1. CONCEITO 
Nos termos do art. 1.196 do CC possuidor é aquele que tem algum dos poderes 
inerentes à propriedade. Portanto, posse é direito autônomo à propriedade e com esta 
não se confunde. A posse é um estado de fato, de poder, sobre coisa corpórea. 
2. CLASSIFICAÇÕES DA POSSE 
2.1. POSSE DIRETA E POSSE INDIRETA 
É possível ter a posse de um bem sem com ele ter contato físico: é o que ocorre na 
posse indireta. É o caso do aluguel. O proprietário cede ao inquilino o poder de usar 
temporariamente o bem, permanecendo com os poderes de fruição, disposição e 
sequela. O locador (proprietário) neste exemplo será o possuidor indireto. O locatário 
será o possuidor direto. Como ambos têm a posse, ambos podem defendê-la. Aliás, é 
possível até mesmo litígio entre o possuidor direto e o indireto (art. 1.197 do CC). 
 
 
Detalhe: composse é uma situação jurídica em que duas ou mais pessoas têm, 
simultaneamente, a posse de uma coisa indivisa, à exemplo dos co-herdeiros, dos 
aquestos no casamento ou de locatários. 
2.2. POSSE JUSTA E POSSE INJUSTA 
Nos termos do art. 1.200 do CC, a posse é injusta quando for violenta, clandestina 
ou precária. Posse violenta é aquela que foi adquirida mediante esbulho (violência ou 
grave ameaça), posse clandestina é aquela adquirida às escondidas e posse precária é a 
que decorre de um negócio jurídico condicionado a uma devolução futura. 
2.3. POSSE DE BOA-FÉ E POSSE DE MÁ-FÉ 
É de boa-fé a posse quando aquele que nela se encontra ignora o vício, ou o 
obstáculo, a exemplo de alguém que ocupa um imóvel acreditando que este se encontra 
abandonado. A posse será de má-fé quando a pessoa, mesmo conhecendo do vício, 
ocupa o bem. Sobre o tema, o art. 1.201 do CC. 
3. AQUISIÇÃO DA POSSE 
 
Como ter a posse é ter o exercício de algum dos poderes de proprietário, será a 
mesma adquirida quando se tornar possível exercer em nome próprio os poderes de 
proprietário. Um belo exemplo ocorre com a tradição do bem móvel. É a partir do 
momento da entrega do bem que se torna possível exercer os poderes de proprietário. 
São três tipos de tradição: real, simbólica ou ficta. A tradição real é quando se entrega 
 
 
o próprio bem. Tradição simbólica ocorre quando não se entrega o bem, mas sim um 
símbolo que o representa (ex. entrega das chaves de um carro). Por fim, tradição ficta 
ocorre quando a tradição se dá por ficção jurídica, podendo ser de dois tipos: constituto 
possessório e traditio brevi manu. 
a) Constituto Possessório: haverá tradição ficta pelo constituto possessório quando 
houver uma mudança na natureza da posse de modo que aquele que a possuía em 
nome próprio passa a possuir em nome alheio (ex: tenho uma posse de proprietário e 
passo a ter uma posse de locatário, como ocorre quando o proprietário vende um imóvel 
nele permanecendo como inquilino). 
b) Traditio Brevi Manu: haverá tradição brevi manu quando houver mudança da 
natureza da posse em sentido inverso, ou seja, quando me torno dono de um bem que 
já tinha a posse (ex: tenho a posse em nome alheio e passo a ter a posse em nome 
próprio). 
A posse pode ser adquirida através de um terceiro que represente o possuidor ou 
até por um terceiro sem mandato, mas nesse caso só se considera adquirida a posse 
quando o possuidor ratificar, ou seja, confirmar que o terceiro age em seu nome (art. 
1.205 do CC). 
A aquisição da posse pode ser de dois tipos: originária ou derivada. Aquisição 
originária se dá quando não existir um vínculo jurídico com o possuidor anterior (ex: 
alguém adquire a posse de coisa sem dono por ter sido abandonada). Aquisição derivada 
se dá quando houver vínculo jurídico com o possuidor anterior (ex: compra de um 
terreno). 
Quando a aquisição é derivada eventuais vícios na posse são transmitidos para o 
novo possuidor, seja uma transmissão inter vivos ou causa mortis. Assim, se um invasor 
 
 
transmite a posse para um terceiro, a posse desse terceiro até pode ser de boa-fé, mas 
será injusta tal como era a posse do invasor. 
4. PERDA DA POSSE 
Como ter a posse é ter o exercício de algum dos poderes de proprietário, perde–se 
a posse quando não for mais possível exercer os poderes de proprietário. Por exemplo, 
o possuidor de um terreno é expulso do imóvel por ter sido ameaçado pelo invasor. 
Ocorre que se o possuidor não presenciou a agressão, só se considera perdida a posse 
quando tomar ciência da agressão e se abstiver de retomar a coisa ou, tentando 
recuperá-la, for violentamente repelido (art. 1.224 do CC). 
5. EFEITOS DA POSSE 
O CC trata de importante tema na preparação da prova da OAB entre os seus arts. 
1.210 e 1.222, quando prevê quatro efeitos da posse. Vejamos: 
5.1. PROTEÇÃO POSSESSÓRIA 
Não confunda ação reivindicatória e ação possessória. Ação reivindicatória é a ação 
que o proprietário tem para reclamar o que é seu (discute-se propriedade), enquanto 
que a ação possessória é para o possuidor reclamar sua posse agredida (discute-se 
posse). Para bem entendermos a proteção possessória é imperioso conhecermos os tipos 
de agressão à posse: 
a) Esbulho: o possuidor é retirado da posse, ou seja, o bem já foi tomado, como 
ocorre quando alguém é expulso de um terreno. 
 
 
b) Turbação: atos concretos que molestam ou dificultam o exercício da posse sem 
haver esbulho. 
c) Ameaça: é promessa de agressão, sem existir uma agressão concreta. 
Há dois tipos de defesa da posse: autotutela e heterotutela. Autotutela é quando o 
próprio possuidor defende a sua posse diretamente sem judicializar. A heterotutela se 
realiza por meio do ajuizamento das ações possessórias. 
 
5.1.1. AUTOTUTELA 
O art. 1.210, parágrafo único, do CC permite a autotutela para os casos de turbação 
e esbulho, hipóteses nas quais será possível o uso da força não só para defender a posse 
de atual agressão, como também para retomá-la após o esbulho. Para tanto, é mister 
que o possuidor atue imediatamente e de forma proporcional. A autotutela no caso de 
turbação é chamada de legítima defesa da posse (para a qual se exige os requisitos da 
legítima defesa do Direito Penal) e no caso de esbulho é chamado de desforço imediato 
(esforço para retomada, que deve ser imediato). 
 
5.1.2. HETEROTUTELA 
É a defesa da posse através do ajuizamento das ações possessórias. Aqui há proteção 
para os três tipos de agressão, inclusive diante da ameaça, pois a lei prevê uma ação 
possessória preventiva, tentando evitar a concretização da ameaça. São, portanto, três 
os tipos de ação possessória, um para cada tipo de agressão à posse: 
a) Ação de reintegração de posse: cabe diante de esbulho. 
b) Ação de manutençãode posse: cabe diante de turbação. 
 
 
c) Ação de interdito proibitório: cabe diante de ameaça. 
Importante: fique atento para a fungibilidade das ações possessórias, ou seja, o juiz pode 
substituir uma ação possessória por outra, recebendo uma pela outra. Ressalta-se que a 
fungibilidade é apenas entre as ações possessórias, ou seja, caso o cabimento seja de 
ação reintegração de posse e seja proposta ação de despejo, não há de se falar em 
fungibilidade de ações, sendo extinto o processo sem julgamento do mérito. 
Sobre ação possessória, necessário conhecer a regra do art. 1.212 do CC. O dispositivo 
legal diz só caber ação possessória e de indenização contra terceiro que tenha posse de 
má-fé, só restando ação indenizatória contra o agressor da posse, pois quem causa dano 
é obrigado a indenizar. 
5.2. POSSE E FRUTOS 
O possuidor que colhe frutos de um bem e vem a perdê-lo tem que indenizar os 
frutos colhidos? Depende se tinha posse de boa-fé ou de má-fé: 
a) possuidor de boa-fé (art. 1.214 do CC): Faz seus os frutos colhidos enquanto durar 
a boa-fé. Se quando cessar a boa-fé houver frutos pendentes, estes serão do reclamante 
da posse, depois de ressarcir os custos da produção para evitar o seu enriquecimento 
sem causa. 
b) possuidor de má-fé (art. 1216 do CC): Deve indenizar não só os frutos colhidos, 
mas também os que se perderam por sua causa. Todavia, será ressarcido nos custos da 
produção para evitar o enriquecimento sem causa da outra parte. 
 
 
5.3. POSSE E BENFEITORIAS 
O possuidor que faz benfeitorias em um bem e vem a perdê-lo tem direito de ser 
indenizado? Depende, além do tipo de benfeitoria, se tinha posse de boa-fé ou de má-fé. 
a) possuidor de boa-fé (art. 1.219 do CC): tem direito de ser indenizado pelas 
benfeitorias necessárias e úteis. As voluptuárias, se não lhe forem pagas, poderá 
retirá-las, desde que não prejudique o bem principal. 
b) possuidor de má-fé (art. 1.220 do Diploma Civil): poderá ser indenizado apenas 
pelas benfeitorias necessárias. 
Note que em ambos os casos, o possuidor tem direito de ser indenizado. A questão 
é: haverá direito de retenção, ou seja, o direito de reter legitimamente o bem até ser 
indenizado? O possuidor de boa-fé tem direito de retenção. O possuidor de má-fé não 
o terá. 
O reclamante da posse tem que indenizar o possuidor estando ele de boa-fé ou de 
má-fé. Conforme art. 1.222 do CC, se indenizar o possuidor de boa-fé, será pelo valor 
atual da benfeitoria, mas se for indenizar possuidor de má-fé, poderá optar pelo valor 
atual da benfeitoria ou pelo seu valor de custo. 
5.4. POSSE E RESPONSABILIDADE PELA PERDA OU DETERIORAÇÃO DO BEM 
O possuidor que perde o bem para o proprietário ou um melhor possuidor que o 
reclama terá que indenizá-lo se o bem se perdeu ou se deteriorou durante sua posse? 
Tanto na posse de má-fé como na de boa-fé o possuidor deverá indenizar o reclamante. 
a) possuidor de boa-fé (art. 1.217 do CC): responde pela perda ou deterioração do 
bem apenas se der causa a isto. 
 
 
b) possuidor de má-fé (art. 1.218 do CC): responde pela perda ou deterioração do 
bem mesmo que não tenha dado causa, ou seja, mesmo que acidental. 
II. PROPRIEDADE 
1. CONCEITO E LIMITAÇÕES 
 
Direito de propriedade é o direito real mais amplo, pois confere ao seu titular a maior 
gama de poderes sobre o bem. São quatro os poderes que o proprietário tem sobre ele: 
uso, fruição ou gozo, disposição e sequela. 
O direito de propriedade abrange o subsolo e o espaço aéreo correspondente, mas 
em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário impedir 
atividades além nem aquém desses limites. A regra se completa com o art. 1.230 do CC, 
que afirma que a propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos 
minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros 
bens referidos por leis especiais. 
As limitações jurídicas estão previstas nos parágrafos do art. 1.228 do CC, 
consubstanciadas em restrições ao poder de disposição do proprietário e até em 
situações que podem gerar a perda do seu direito de propriedade. São elas: 
a) O direito de propriedade deve ser exercido observando a sua função social, sob 
pena de perda da propriedade pela reforma agrária em razão de injustificada 
improdutividade. Ademais, deve ser respeitada a flora, a fauna, as belezas naturais, o 
 
 
equilíbrio ecológico, o patrimônio histórico e artístico e de modo a evitar a poluição do 
ar e das águas. 
b) Respeito aos direitos de vizinhança, que são regras que limitam a atuação do 
proprietário em seu imóvel para preservar os direitos dos vizinhos. Uma vez violadas, 
legitima interferência na propriedade. 
c) Possibilidade de perda da propriedade pela desapropriação, quando o interesse 
público reclamar, mediante percebimento de justa indenização. 
d) Os §§ 4º e 5º trouxeram uma possibilidade de perda da propriedade. 
2. AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE DE BEM IMÓVEL 
São três as formas de aquisição da propriedade de bem imóvel: registro, acessão e 
usucapião. Note que, em regra, adquire-se a propriedade de um bem imóvel com o 
registro do título constitutivo em cartório, mas há casos em que a adquirimos 
independente de registro, como veremos a seguir. 
Considerando que herança é tema de direito das sucessões, aqui estudaremos três 
formas de aquisição da propriedade de bem imóvel: registro, acessão e usucapião. 
2.1. REGISTRO 
Em regra, a aquisição da propriedade de bem imóvel se dá com o registro do título 
aquisitivo em cartório. O direito de propriedade nasce a partir da prática de um negócio 
jurídico, como um contrato de compra e venda ou de doação. Todavia, não basta a 
celebração do ato para aquisição da propriedade, que só se dá com a prática de um ato 
posterior: o registro desse documento no cartório de registro de imóveis. 
 
 
O registro do imóvel em cartório faz presumir propriedade. Entretanto, essa 
presunção é relativa, ou seja, admite prova em contrário. 
2.2. ACESSÃO 
Acessão vem de acessio, que significa soma. A aquisição da propriedade pela acessão 
independe de registro, pois o dono do terreno adquire a propriedade do que se soma 
a seu terreno, que já está registrado. São cinco as formas de acessão: formação de ilhas, 
aluvião, avulsão, álveo abandonado e construções e plantações. 
a) Formação de ilhas: quem é dono de uma ilha se ela surgir no meio de um rio, 
caso este diminua o seu volume ou se surgir pelo acúmulo de areia levado pela 
correnteza? Caso surja no meio de uma propriedade, por evidente, a esse proprietário 
pertencerá. A questão é: e se o rio corre entre duas propriedades? Dividimos o álveo ao 
meio com uma linha divisória imaginária, acrescendo o terreno que estiver em cada lado 
dessa linha à respectiva propriedade ribeirinha. Com efeito, álveo é a superfície coberta 
pelas águas sem transbordamento, ou seja, é a terra embaixo das águas do rio quando 
está no seu volume normal. 
b) Aluvião e avulsão: Tanto na aluvião quanto na avulsão temos um acréscimo de 
terra a um terreno trazido pela correnteza das águas. Diferença: na aluvião o fenômeno 
é imperceptível, pois de minúsculas partículas só perceptível com o acúmulo resultante 
do passar do tempo, enquanto que na avulsão é perceptível, pois é abrupto, ou seja, 
decorre de uma porção de terra arrancada pela força das águas. O dono do terreno 
adquire, por acessão, a propriedade da porção que se somou a seu terreno, mas diferem 
na aquisição da propriedade porque na aluvião independe de indenização, enquanto 
 
 
que na avulsão é condicionada ao pagamento de indenização ao proprietário que perdeu 
a porção de terra pela força das águas. Em caso de recusa, deverá permitir a retirada da 
porção de terra acrescida. Na avulsão, há prazo de um ano para cobrança, sob pena de 
afastar a necessidade de indenização para aquisição de propriedade. 
c) Álveo abandonado: Haverá álveo abandonadoquando o rio tiver um novo curso, 
ficando o álveo exposto. Quem será o dono? Se em meio a uma propriedade, por 
evidente, a esse proprietário pertencerá. Todavia, se era um rio entre duas propriedades, 
dividimos o álveo ao meio com uma linha divisória imaginária, acrescendo o terreno que 
estiver em cada lado dessa linha à respectiva propriedade ribeirinha. Detalhe: sem direito 
de indenização aos proprietários do terreno por onde passar o novo curso do rio. 
d) Construções e plantações: O dono do terreno é dono por acessão de tudo que é 
construído ou plantado em seu terreno. Assim, o dono do terreno é dono da construção 
ou plantação, mas, se o construtor ou plantador agiu de boa-fé, terá direito de 
indenização pelo material empregado. Se procedeu de má-fé, não só não é indenizado, 
como tem que indenizar o dono do terreno por perdas e danos. Há, todavia, um caso 
em que o dono da construção ou plantação adquire a propriedade do terreno: se o valor 
da construção ou plantação exceder consideravelmente o valor do terreno e o construtor 
ou plantador agiu de boa-fé, mediante pagamento de indenização fixada judicialmente. 
2.3. USUCAPIÃO 
Usucapião vem do latim usucapio, que significa adquirir pelo uso. O possuidor que, 
mediante observância de requisitos legais, tem a posse prolongada no tempo, adquire 
a propriedade. Existe usucapião de bem móvel e de bem imóvel, mas aqui nos ocupamos 
 
 
do bem imóvel, pois estamos vendo aquisição de propriedade imóvel. 
A aquisição da propriedade por usucapião independe de registro, ocorrendo quando 
se completa o prazo legal. O posterior ajuizamento da ação de usucapião é apenas para 
regularização da situação em cartório, pois o arquivamento da sentença transfere o 
registro para o nome do usucapiente. Por isso afirmamos que a ação de usucapião é 
declaratória e não constitutiva. 
Disso decorre algo importante: usucapião pode ser usada como exceção, ou seja, 
como matéria de defesa. 
A ideia da usucapião é o possuidor ter uma posse injusta, mas comportando-se como 
se dono fosse e o verdadeiro dono não reclama sua propriedade. Por isso, para gerar 
usucapião, a posse deve ser animus domini (ânimo de dono) e incontestada (não 
reclamada), além de dever ser contínua, pacífica e pública. Quando a posse tem as 
características que permitem a usucapião, ela é chamada de posse ad usucapionem. 
Nem todo bem pode ser objeto de usucapião. Não podem ser usucapidos os bens 
legalmente inalienáveis nem os bens públicos, seja qual for a sua espécie, inclusive os 
dominicais. 
A usucapião extraordinária é prevista no art. 1.238 do CC, e exigem apenas a presença 
dos requisitos gerais (posse qualificada, objeto idôneo e decurso de tempo de 15 ou 10 
anos. A ordinária exigirá, para além disto, justo título e boa-fé, no prazo de 10 ou 5 
anos, conforme art. 1.242 do CC, ambos de leitura recomendada. 
Nos termos do art. 1.244 do CC, aplicamos ao prazo de usucapião as causas que 
impedem, suspendem ou interrompem o prazo prescricional, tema já visto na parte geral 
do Direito Civil deste livro, para onde remetemos a sua leitura. 
Ainda no que se refere à contagem do prazo, o CC, no art. 1.243, permite a chamada 
 
 
acessio temporis ou acessio possessionis, ou seja, a soma dos tempos ou das posses 
para efeito de usucapião. Significa que o possuidor pode acrescentar à sua posse a dos 
seus antecessores para contagem do prazo para usucapir, contanto que sejam contínuas. 
A Constituição da República criou dois tipos de usucapião especial, em que o prazo 
para usucapir será de cinco anos. São eles: usucapião especial urbana (pro misero) e 
usucapião especial rural (pro labore). Não se exige posse de boa-fé para aqui se inserir, 
mas, além dos requisitos gerais já vistos, o possuidor deve preencher as seguintes 
condições: 
a) Usucapião especial urbana: área urbana, não ter outro imóvel, área menor que 
duzentos e cinquenta metros quadrados, usar para sua moradia ou de sua família. 
b) Usucapião especial rural: área rural, não ter outro imóvel, área menor que 
cinquenta hectares, dar-lhe destinação produtiva e usar como sua moradia ou de sua 
família. 
O art. 1.240-A do CC também instituiu uma nova modalidade, qual seja a usucapião 
de meação, por abandono do lar, quando cônjuge ou companheiro permanece por dois 
anos na posse direta do bem, utilizando-o como moradia sua ou de sua família, nas 
hipóteses delineadas no alusivo dispositivo legal, de leitura recomendada. 
3. AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE DE BEM MÓVEL 
Em regra, adquire-se a propriedade de bem móvel com a tradição, mas há formas 
de aquisição que independem da entrega do bem. São as formas de aquisição: 
 
 
3.1. TRADIÇÃO 
Não se adquire a propriedade de um bem móvel com a prática do ato jurídico, mas 
sim com a prática de um ato posterior: a tradição, que é a entrega do bem com a 
intenção de transferir a propriedade. O elemento subjetivo é fundamental para aquisição 
da propriedade, pois se entrego um bem a um ladrão em um assalto, não há 
transferência da propriedade. Aplica-se aqui o que visto sobre tradição na aquisição de 
posse, para onde remetemos sua leitura, lembrando que a tradição pode ser real, 
simbólica e ficta, podendo esta última ser pelo constituto possessório ou pela traditio 
brevi manu. A diferença é que a tradição é forma de aquisição de posse de bens móveis 
ou imóveis, mas é forma de aquisição de propriedade apenas de bens móveis. Assim, as 
considerações feitas sobre tradição no estudo da posse só se aplicam, em termos de 
aquisição de propriedade, para bens móveis. 
3.2. USUCAPIÃO 
É forma de aquisição de propriedade móvel que independente da tradição, pois se 
dá com o término do prazo. Aplica-se aqui o que visto em usucapião de bem imóvel, 
sendo a única diferença o tempo exigido para usucapir: usucapião extraordinária (posse 
de má-fé) exige prazo de cinco anos e usucapião ordinária (posse de boa-fé) exige prazo 
de três anos. Não há as usucapiões especiais (urbana e rural) de bens móveis, pois vimos 
ser para ajudar a dar teto para morar ou terra para trabalhar para quem não os tem, o 
que é incompatível com a aquisição de propriedade móvel. 
 
 
3.3. OCUPAÇÃO 
É o ato de se assenhorear de coisa sem dono, fazendo a pessoa adquirir a 
propriedade móvel, quando a ocupação não é defesa em lei. Coisa sem dono é chamada 
res nullius, também sendo coisa sem dono a coisa abandonada, chamada res derelicta, 
pois abandono é causa de perda da propriedade. Sendo bem móvel e não defesa a 
ocupação, o ato de se apoderar da res nullius ou res derelicta faz da pessoa o seu dono. 
3.4. ACHADO DE TESOURO 
Tesouro é a coisa de valor encontrada em bem imóvel, que se achava oculta, não se 
conhecendo o dono ou cujo dono não haja mais memória. Quem acha o tesouro adquire 
a propriedade de metade do tesouro, sendo a outra metade do dono do imóvel. 
3.5. ESPECIFICAÇÃO 
É forma de aquisição de propriedade móvel em razão do trabalho humano 
transformando matéria prima alheia (exemplos: couro em calçado, barra em escultura). 
Se for possível reverter a transformação, o especificador não adquire propriedade do 
bem. Se não for possível a reversão, dependerá se agiu de boa-fé ou se de má-fé, pois 
diferente se roubou a matéria prima ou se a transformou acreditando ser sua. Se de 
má-fé, não adquire a propriedade, mas se de boa-fé sim, desde que indenize o dono da 
matéria prima pelo seu valor correspondente. 
 
 
3.6. CONFUSÃO, COMISTÃO E ADJUNÇÃO 
São situações em que coisas móveis, que pertencem a donos diferentes, se misturam. 
Confusão é mistura de líquidos (ex. dois vinhos de espécies diferentes), comistão (a lei 
diz equivocadamente comissão) é a mistura de coisas secas (ex: dois cafés de qualidades 
diferentes) e adjunção é a justaposição de uma coisa a outra (ex. quando se molda uma 
peça a um motor). Se há como separá-las, os bens retornam a seus respectivos donos. 
O problema é quandonão for possível a separação ou quando esta for muito 
dispendiosa. Quem será dono da mistura? Depende se a mistura se deu de boa-fé ou 
de má-fé. Se de boa-fé, havendo bem principal e acessório (adjunção), o dono do 
principal adquire a propriedade do acessório, por este indenizando seu dono. Se não 
houver bem principal e acessório (confusão e comistão), ambos são donos em 
condomínio. Se a mistura se deu de má-fé, a outra parte poderá optar em adquirir a 
propriedade, indenizando o que não era seu ou renunciar sua propriedade, optando 
pelo recebimento da indenização. 
4. PERDA DA PROPRIEDADE 
O art. 1.275 do CC traz as seguintes causas de perda da propriedade: alienação, 
renúncia, abandono, perecimento da coisa e desapropriação. 
Abandono é causa de perda da propriedade, sendo o bem chamado de res derelicta. 
Importante destacar que há diferença se for abandonado bem móvel ou imóvel. Se 
abandonado bem móvel, quem se apoderar dele adquire imediatamente a propriedade 
pela ocupação. Se abandonado bem imóvel, quem se apoderar não adquire 
automaticamente a sua propriedade, o que poderá ocorrer apenas anos depois, se 
 
 
preenchidos os requisitos da usucapião. Se o bem imóvel abandonado não for 
apoderado por ninguém, será, através de processo próprio, arrecadado pelo poder 
público. 
5. DIREITO DE VIZINHANÇA 
O direito de propriedade não é ilimitado. O direito de vizinhança é uma das limitações 
legais ao poder de disposição do proprietário, pois deve respeitar os direitos dos 
vizinhos. 
Direito de vizinhança, portanto, são limitações ao direito de propriedade impostas 
por lei, traduzidas em obrigações propter rem, visando evitar ou compor conflitos 
decorrentes da proximidade de imóveis. Em razão de ser dono de um imóvel, a lei impõe 
obrigações de não fazer, no sentido de respeito ao interesse dos vizinhos. As regras 
estão previstas no CC em seus arts. 1.277/1.313, podendo de tal modo ser sintetizadas: 
a) Uso anormal da propriedade: É o mau uso, provocando interferências prejudiciais 
na propriedade vizinha, tendo o proprietário ou possuidor o direito de, embargando a 
obra, fazer cessar interferências prejudiciais à segurança, sossego e saúde provocadas 
por vizinho. 
b) Árvores Limítrofes: Se uma árvore está no limite entre duas propriedades, esta 
pertence, em condomínio, a ambos os proprietários vizinhos. As raízes e os ramos de 
árvores que invadam terreno vizinho poderão ser cortados pelo dono do terreno 
invadido até o limite de sua propriedade. Por fim, se uma árvore está em um terreno e 
os frutos caírem em terreno vizinho, estes serão do dono do terreno onde caíram. 
c) Passagem Forçada: Se um prédio está encravado em outro, sem acesso à via 
 
 
pública, nascente ou porto, seu proprietário poderá constranger o vizinho a lhe dar 
passagem, mediante pagamento de indenização. 
d) Passagem de cabos e tubulações: O proprietário é obrigado a tolerar a passagem 
de cabos e tubulações em seu imóvel quando reclamar o interesse público. Receberá 
indenização e poderá exigir ser feito do meio menos gravoso e, se houver risco, exigir 
obras de segurança. 
e) Das águas: Pela importância da água para sobrevivência humana, tenho direito de 
constranger o vizinho, mediante pagamento de indenização, a aceitar a construção de 
canais para recebimento de água indispensável às primeiras necessidades da vida. Águas 
pluviais são res nullius, mas será do dono do terreno se escorrer por terrenos particulares 
(aquisição da propriedade pela ocupação). Posso usá-las por inteiro, como dono que 
sou, podendo construir barragens, açudes ou outras obras para represamento. Quando 
houver prédio superior e inferior, o dono ou possuidor de prédio inferior é obrigado a 
receber as águas que correm naturalmente do superior. Todavia, se a ele chegar 
artificialmente, poderá exigir seu desvio ou indenização pelo prejuízo sofrido. 
f) Limites entre prédios e o direito de tapagem: Tapar é de qualquer forma vedar um 
prédio do prédio vizinho (lembre-se que prédio é sinônimo de imóvel). O proprietário 
tem o direito de cercar, murar, valar ou tapar de qualquer modo o seu imóvel e até 
aviventar rumos apagados e renovar marcos divisórios destruídos, dividindo com o 
proprietário vizinho os custos da tapagem, que pertencerão em condomínio a ambos 
vizinhos. Detalhe para a prova: se um dos vizinhos quer uma tapagem de melhor 
qualidade ou der causa à construção de uma tapagem especial, por exemplo, 
necessidade de um muro maior porque comprou um cachorro que pula sobre o muro 
existente, deverá arcar sozinho com os custos da tapagem. O direito de tapagem é 
 
 
exigido judicialmente através de uma ação judicial chamada ação demarcatória. 
g) Direito de construir: A lei limita o poder de construção do proprietário, em razão 
do prejuízo que causaria ao vizinho, que poderá embargar a obra, caso as proibições 
sejam desrespeitadas. Algumas limitações que devem ser conhecidas: o proprietário não 
pode abrir janelas e varandas a menos de um metro e meio do terreno vizinho, na zona 
rural não é permitido levantar edificações a menos de três metros do terreno vizinho, 
não pode construir de modo a despejar água em prédio vizinho ou chaminés nele 
interferindo prejudicialmente, entre outras, nos termos dos arts. 1.299/1.313 do CC. 
6. CONDOMÍNIO 
Haverá condomínio quando houver mais de um proprietário ao mesmo tempo de 
um bem. Só há condomínio se houver o que chamamos de fração ideal. O que significa 
isso? Há mais de um proprietário, mas não há uma definição da parte do terreno que 
pertence a cada um deles. 
O CC trata de dois tipos de condomínio: geral e edilício. Condomínio geral é o que 
acabamos de definir e condomínio edilício é o condomínio de apartamentos quando se 
mora em um edifício. Condomínio edilício não é verdadeiramente condomínio, pois há 
vários donos de um edifício, mas é definida a área de propriedade exclusiva de cada um, 
só havendo verdadeiro condomínio nas áreas comuns. Por isso, aqui trataremos do 
condomínio geral, que é o verdadeiro condomínio. 
Quanto à origem, o condomínio pode ser convencional, eventual ou legal 
(necessário). Será convencional quando decorrer da vontade dos condôminos, como no 
exemplo em que dois amigos compram, juntos, um terreno. Será eventual quando 
 
 
decorrer da vontade de um terceiro, tal como a doação de um terreno do pai para seus 
dois filhos. Por fim, será legal ou necessário quando decorrer de lei. 
 Importante: condomínio pro diviso ou pro indiviso. Não podemos definir a área de 
propriedade que pertence a cada dono, pois representaria o fim do condomínio. Todavia, 
podemos definir a área em que cada condômino exerce a posse com exclusividade. 
Assim sendo, condomínio pro diviso é aquele em que as posses são delimitadas. Já o 
condomínio pro indiviso é aquele em que não há delimitação das áreas de posse, todos 
exercendo posse sobre todo bem, tal como cônjuges donos de um apartamento. 
 
São três os principais direitos dos condôminos: 
(i) todos os condôminos têm direito de usar a coisa conforme sua destinação, 
exercendo todos os direitos compatíveis com a indivisão, respeitando igual direito dos 
demais; 
(ii) reivindicar a coisa comum, bem como defender a posse; e 
(iii) vender ou gravar a sua fração ideal, devendo conferir direito de preferência para 
os demais condôminos. 
 
São três os principais deveres dos condôminos: 
(i) não alterar a coisa comum nem dar posse a estranho sem autorização dos demais; 
(ii) dever de arcar com as despesas comuns na proporção de suas frações ideais; e 
(iii) responder perante os demais pelos frutos colhidos, pois pertencem a todos. 
 
 
 
 
A extinção se dará de forma diferente a depender se o condomínio for de bem 
divisível ou de bem indivisível. 
a) Bem divisível: Se o bem é divisível, divido o bem em tantas partes quantos 
condôminos tiverem. Se houver acordo e todos forem maiores e capazes,estrangeiros, organismos internacionais (ex. 
ONU) e a República Federativa do Brasil. 
c) Pessoas jurídicas de direito privado: sociedades, associações, fundações, partidos 
políticos, organizações religiosas e a empresa individual de responsabilidade limitada. 
A rigor, podemos afirmar que são as sociedades, associações e as fundações, pois 
partidos políticos e organizações religiosas são espécies de associações e a empresa 
individual de responsabilidade limitada nada mais é do que uma sociedade que só tem 
um único sócio. 
Vale a pena lembrar, outrossim, para a prova da OAB, que os sindicatos também são 
pessoas jurídicas de direito privado, pois têm natureza associativa, bem como as 
 
 
cooperativas, que, os termos do parágrafo único do art. 982 do CC, são sociedades 
simples. 
Qual a diferença entre sociedade, associação e fundação? Sociedade tem finalidade 
lucrativa, enquanto que associação e fundação não visam ao lucro. Diferenciando as 
entidades não lucrativas, a associação é formada por um conjunto de pessoas (universitas 
personarum), enquanto que a fundação é formada por um conjunto de bens (universitas 
bonorum). 
O que são entes despersonalizados? É o ente que não tem personalidade jurídica, 
mas que tem capacidade de ser parte em um processo judicial, ou seja, embora não 
possa ter direitos e deveres, pode ser autor ou réu em demandas judiciais por expressa 
previsão legal (art. 12 do CPC). Exemplos: condomínio edifício, espólio, herança jacente, 
herança vacante, massa falida, pessoa jurídica sem registro do ato constitutivo. 
3.2 AQUISIÇÃO E TÉRMINO DA PERSONALIDADE JURÍDICA 
Quando a pessoa jurídica adquire personalidade jurídica? Com o registro de seu ato 
constitutivo em cartório, averbando-se todas as modificações por que passar. Todavia, 
algumas pessoas jurídicas necessitam de uma prévia autorização do governo para 
funcionarem. Por exemplo, os bancos pelo Banco Central e as faculdades pelo MEC. 
Quando a pessoa jurídica perde personalidade jurídica? Essa perda só pode ocorrer 
depois que todos os credores forem pagos, pois a partir daí ela não pode mais ter 
deveres. Esse pagamento se dá na chamada fase de liquidação, onde é nomeado um 
liquidante, que tem a função de arrecadar os bens da pessoa jurídica e negociá-los para 
o pagamento dos seus credores. Por isso, o art. 51 do CC prevê que a pessoa jurídica 
 
 
subsistirá para fins de liquidação, até que esta se conclua. 
3.3 ASSOCIAÇÕES 
 
Associação é a pessoa jurídica formada por um conjunto de pessoas naturais que se 
reúnem para praticar atividade não econômica. A associação até pode cobrar ou receber 
valores, o que não retira sua natureza associativa, desde que investidos na própria 
associação. 
O parágrafo único do art. 53 do CC estabelece não haver direitos e deveres entre os 
associados. 
O ato constitutivo da associação é o Estatuto. Como a associação não visa ao lucro, 
em regra todos os associados devem ter iguais direitos. O atual CC conferiu caráter 
personalíssimo para as associações. Isto é a regra, assim, nos termos do seu art. 56, salvo 
previsão em contrário no estatuto, a qualidade de associado é intransmissível. 
Um associado pode ser excluído da associação, mas isso exige dois requisitos: justa 
causa (condutas previstas no estatuto que legitimam sua exclusão) e procedimento 
próprio que garanta ao associado o direito de contraditório e de ampla defesa. 
3.4 FUNDAÇÕES (UNIVERSITAS BONORUM) 
 
As fundações são o resultado da afetação de um patrimônio livre, desembaraçado e 
idôneo, por escritura pública (ato inter vivos), ou testamento (ato mortis causa). Resulta 
da personificação de um patrimônio, com o fito de realizar uma finalidade ideal. 
 
 
No que tange às finalidades fundacionais, digno de nota que a Lei 13.151/2015 
operou recente modificação no Código Civil, especificamente no parágrafo único do art. 
62. Assim, passou o vigente Código a adotar a linha já defendida pelos Enunciados 8 e 
9 do Conselho da Justiça Federal, dilatando o rol de finalidade fundacionais em relação 
à lei pretérita. 
Hoje, portanto, a fundação somente poderá constituir-se para fins de: I – assistência 
social; II – cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; III – educação; 
IV – saúde; V – segurança alimentar e nutricional; VI – defesa, preservação e conservação 
do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável; VII – pesquisa científica, 
desenvolvimento de tecnologias alternativas, modernização de sistemas de gestão, 
produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos; VIII – 
promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos e IX – atividades 
religiosas; 
A criação da fundação dar-se-á consoante os seguintes passos: 
1º) Afetação de Bens Livres, por meio do Ato de Dotação Patrimonial. Esta se dará 
por Escritura Pública (para atos inter vivos) ou Testamento (para atos causa mortis) O 
dito testamento poderá ser público, particular ou cerrado. 
A instituição é o ato pelo qual cria-se a fundação. Aplicam-se a ela as mesmas 
restrições de todo e qualquer ato de disposição patrimonial, à exemplo da doação 
inoficiosa – que desrespeite a legítima, conforme dispõe o artigo 549 do CC – e da 
doação de todo patrimônio – chamada de universal e expressamente vedada pelo artigo 
548 do CC. 
A finalidade fundacional deverá sempre ser indicada pelo instituidor e o ato de 
criação poderá mencionar, caso queira, o modo de administrar a fundação. 
 
 
Em ocorrendo por ato inter vivos, a instituição fundacional será irretratável. Nessa 
hipótese, caso o instituidor tenha criado uma fundação, detalhado seu patrimônio e não 
tenha transferido os bens, o interessado, ou o Ministério Público, poderá requerê-lo, 
através de tutela específica (artigo 64 do CC). 
Sendo insuficiente o patrimônio afetado, seguir-se-á o destino indicado no ato da 
instituição (estatuto). Na hipótese de omissão do ato de instituição, o patrimônio, nos 
moldes do artigo 63 do CC, deverá ser transferido para entidade de finalidade igual ou 
semelhante. Não havendo entidade alguma desse tipo, o juiz indicará o destino a ser 
dado ao aludido patrimônio, tudo na forma do artigo 63 do CC. 
2º) Elaboração dos Estatutos (não é contrato social). Pode ser: 
a) Direta – realizada pelo próprio instituidor;
 
b) Indireta ou fiduciária – quando alguém é nomeado para fazê-lo. Fiduciária pois 
decorre da confiança e, por isso, se a pessoa não cumprir o encargo no prazo 
determinado, o Ministério Público o fará, de maneira compulsória; 
3º) Aprovação dos Estatutos, por parte do Ministério Público (art. 65 do CC). 
A única hipótese em que o Ministério Público não será o responsável pela aprovação 
do estatutos será quando ele próprio elaborá-lo, em decorrência da inércia do criador, 
ou de terceiro. Assim, segundo a doutrina, aqui a aprovação deverá ser feita pelo juiz, 
por meio da jurisdição voluntária, para ser efetivado o controle buscado. 
4º) Realização do Registro Civil, no Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas. 
A partir da realização do registro civil, a fundação adquiri sua personalidade jurídica. 
O estatuto é o ato constitutivo das fundações. O estatuto já registrado só poderá ser 
modificado se observados os seguintes requisitos, todos dispostos no artigo 67 do CC: 
 
 
I) Quorum para aprovação – maioria qualificada (2/3) dos gestores; 
II) Não modificação da finalidade; 
III) Aprovação do Ministério Público no prazo máximo de 45 (quarenta e cinco) dias, 
findo o qual, ou no caso de o Ministério Público a denegar, poderá o juiz supri-la, a 
requerimento do interessado. Este item se trata de mais uma das recentes modificações 
insertas pela Lei 13.151/2015. 
Conforme o artigo 68 do CC, a minoria vencida dos gestores terá o prazo decadencial 
de 10 (dez) dias para impugnar a modificação estatutária. 
Nas pegadas do art. 66 do Código Civil, a fiscalizaçãopode ser feito 
extrajudicialmente. Contudo, se não houver acordo ou se houver algum menor ou 
incapaz, deve ser feito judicialmente, através de uma ação chamada ação divisória. 
b) Bem indivisível: Se o bem é indivisível, a única solução para a sua extinção é a 
alienação da coisa comum. Se houver acordo e todos forem capazes, pode ser feita 
extrajudicialmente, mas se não houver acordo ou se houver algum menor ou incapaz, 
deve ser feita judicialmente, através da ação de alienação da coisa comum. 
III. DIREITOS REAIS SOBRE COISAS ALHEIAS 
 
Haverá direito real sobre coisas alheias quando houver um desmembramento dos 
poderes de proprietário, ou seja, quando o proprietário ceder para alguém um ou alguns 
de seus poderes, permanecendo com os demais. Quem os recebe poderá ter um direito 
real sobre algo que não lhe pertence, tal como o direito real de usufruto. Também são 
chamados de direitos reais limitados, pois o seu titular tem menos poderes do que o 
proprietário. 
Assim sendo, haverá dois atores envolvidos nos direitos reais sobre coisas alheias. De 
um lado o proprietário, que não tem mais a propriedade plena, passa a ser chamado de 
nu proprietário, e a propriedade não plena é chamada de nua propriedade. De outro 
 
 
lado, o titular do direito real sobre coisas alheias, cujo nome varia a depender do direito 
real sobre coisas alheias em questão. 
Nos termos do art. 1225 do CC, são os direitos reais sobre coisas alheias: superfície, 
servidão, usufruto, uso, habitação, direito do promitente comprador de imóveis, hipoteca, 
penhor, anticrese, concessão de uso especial para fins de moradia e concessão de direito 
real de uso. 
1. DIREITO REAL DE SUPERFÍCIE 
É o direito real em que o proprietário cede por tempo determinado a alguém o 
direito de construir ou plantar em seu terreno. O nu proprietário é chamado de fundeiro 
e o titular do direito real de superfície é chamado de superficiário. 
O nome é direito de superfície, pois o superficiário só pode usar a superfície, não 
podendo explorar o subsolo. Ele só poderá usar o subsolo no que for indispensável para 
a construção ou plantação. 
É obrigatoriamente temporário, o que significa que o superficiário devolve o terreno 
ao fundeiro ao final do prazo contratado. Pode ser gratuito ou oneroso, se há ou não 
um valor a ser pago pela exploração do terreno, pagamento que recebe o nome de 
cânon superficiário. 
O superficiário pode alienar o direito real de superfície a um terceiro. Se o nu 
proprietário alienar a nua propriedade ou se o superficiário alienar o direito de superfície, 
deverá dar direito de preferência ao outro. 
 
 
2. DIREITO REAL DE SERVIDÃO 
No direito real de servidão, há um prédio (chamado de serviente) servindo a outro 
prédio (chamado de dominante). Sem esquecer que prédio é sinônimo de imóvel, direito 
real de servidão, portanto, é o direito pelo qual o proprietário do prédio dominante 
desfruta de alguma vantagem sobre o prédio serviente. 
Não há na lei um rol de vantagens que podem ser desfrutadas, todavia, há tipos mais 
comuns, podendo ser citados: servidão de pasto (pastagem para animais), servidão de 
cacimba (busca de água em poço), servidão de passagem (direito de passar no terreno 
alheio), servidão de aqueduto (passar aquedutos no prédio serviente), servidão de vista 
(não haver construção acima de certa altura para não tirar a vista do prédio dominante). 
Cuidado: não confundir servidão de passagem com direito de passagem forçada. Aqui 
na servidão de passagem há acordo de vontade das partes ao estabelecer um direito 
real, pois nasce de um contrato. Já na passagem forçada, como o nome sinaliza, é forçar 
o vizinho, mediante indenização, a dar passagem quando não há acesso à via pública, 
nascente ou porto, sendo uma limitação decorrente do direito de vizinhança. 
Atenção: o proprietário do prédio serviente pode aliená-lo, mas o adquirente deverá 
suportar o ônus real. Como nasce com o registro, não poderá alegar desconhecimento 
do fato, pois o registro confere publicidade. O dono do prédio dominante também 
poderá aliená-lo, caso em que o adquirente desfrutará da vantagem do prédio serviente. 
Não é temporário, só chegando a termo nas hipóteses previstas em lei, casos que 
estão arrolados no art. 1388 do CC. 
 
 
3. DIREITO REAL DE USUFRUTO 
O nu proprietário cede ao usufrutuário temporariamente o direito de usar e fruir de 
seu bem, permanecendo com os poderes de disposição e sequela. Assim, o usufrutuário 
pode não só morar no apartamento, mas também alugá-lo. Embora seja mais comum 
recair sobre bem imóvel, pode ter por objeto também bem móvel. 
São duas as principais características do usufruto: 
a) Temporário: não pode haver usufruto eterno, tendo o usufrutuário o dever de 
devolver o bem ao final do prazo. Até pode haver concessão de usufruto para pessoa 
jurídica, mas a lei limita com prazo máximo de trinta anos. 
b) Intransmissível: o direito de usufruto é personalíssimo, ou seja, o usufrutuário não 
pode cedê-lo (inter vivos ou causa mortis). A consequência da intransmissibilidade é a 
morte do usufrutuário gerar extinção do usufruto. Cuidado: a morte do nu proprietário 
não gera extinção do usufruto, pois ele pode ceder a nua propriedade em razão de 
permanecer com o poder de disposição do bem, sendo os herdeiros o nu proprietário. 
Sobre a intransmissibilidade, cuidado com o art. 1393 do CC, que dispõe: “Não se 
pode transferir o usufruto por alienação, mas o seu exercício pode ceder-se por título 
gratuito ou oneroso”. O art. afirma ser o usufruto intransmissível, mas prevê que o seu 
exercício pode ser transmitido a terceiros. O que significa isso? O usufrutuário não pode 
ceder o direito real de usufruto, mas pode ceder os direitos que decorrem do usufruto, 
ou seja, o direito de usar e de fruir do bem. 
O direito real de usufruto surge a partir de um contrato em que as partes acordam 
na cessão do uso e da fruição do bem, mas só há direito real de usufruto com a prática 
de ato posterior: se usufruto de imóvel, com o registro desse contrato no cartório de 
 
 
imóveis; se usufruto de bem móvel, com a tradição do bem. No entanto, o usufruto 
pode decorrer de lei, sendo chamado de usufruto legal, adquirido independente de 
registro ou tradição. Conforme art. 1689 do CC, os pais têm a administração e o usufruto 
legal dos bens dos filhos menores durante o poder familiar. 
Há dois tipos específicos de usufruto: 
a) Usufruto deducto ou retenção: É quando o proprietário transfere a propriedade do 
bem, reservando para si o usufruto. 
b) Usufruto impróprio ou quase usufruto: É o usufruto que recai sobre bens 
consumíveis e fungíveis. A lei afirma ser possível usufruto de bem consumível, desde 
que também seja fungível, pois será possível devolver outro idêntico no fim do prazo. 
4. DIREITO REAL DE USO E DIREITO REAL DE HABITAÇÃO 
O direito real de uso não permite ao usuário apenas usar bem alheio, como o nome 
faz parecer, mas também dele fruir. Não se confunde com usufruto, pois o fruir é limitado 
para atendimento das necessidades do usuário e de sua família. Para efeitos do fruir no 
direito real de uso, família tem sentido peculiar, compreendendo o cônjuge, os filhos 
solteiros e as pessoas do serviço doméstico. 
Quando o uso consistir no habitar gratuitamente, haverá direito real de habitação. 
Assim, no direito real de habitação, não pode este ser oneroso, nem o imóvel ser usado 
para outro fim. 
 
 
5. CONCESSÃO DE USO ESPECIAL PARA FINS DE MORADIA E CONCESSÃO DE 
DIREITO REAL DE USO 
A Lei 1.1481/07 trata da possibilidade do Poder Público ceder a particulares o direito 
de usar ou habitar bens públicos. Para que essas pessoas tenham um direito com força 
de direito real, a referida lei administrativa criou dois novos direitos reais em 2007. Criou 
a concessão de direito real de uso para o particular usar bem público, bem como a 
concessão de uso especial para fins demoradia, podendo o particular habitar bens 
públicos, segundo regras de Direito Administrativo. No mesmo sentido, a Medida 
Provisória nº 759 de 22 de dezembro de 2016. 
6. DIREITO REAL DE PROMITENTE COMPRADOR DE IMÓVEL 
No caso da promessa de compra e venda, durante o pagamento das prestações 
mensais, o promitente comprador não é dono, pois só adquire a propriedade quando 
pagar a última prestação e, celebrando o contrato de compra e venda, registrá-lo no 
cartório de imóveis. Para que o promitente comprador tenha um direito real antes da 
celebração do contrato de compra e venda, ou seja, durante o pagamento das prestações 
mensais, a lei diz que o registro do contrato de promessa de compra e venda faz nascer 
o direito real de promitente comprador de imóvel. 
Atenção: o contrato de promessa de compra e venda pode ser por instrumento 
particular, mesmo sendo exigido que o contrato de compra e venda seja por escritura 
pública. 
Com a celebração do contrato de promessa de compra e venda, o promitente 
comprador assume a obrigação de pagar as prestações mensais determinadas no 
 
 
contrato e o promitente vendedor assume a obrigação de entregar-lhe ao final a 
escritura pública assinada para aquisição da propriedade com o registro. Caso o 
promitente vendedor não a entregue, o promitente comprador poderá propor uma ação 
judicial chamada ação de adjudicação compulsória para entrega forçada do bem, pois a 
sentença de procedência vale como título para registro no cartório de imóveis para 
aquisição da propriedade. 
7. DIREITOS REAIS DE GARANTIA: HIPOTECA, PENHOR E ANTICRESE 
Os direitos reais sobre coisas alheias podem ser de dois tipos: 
a) Direito real de fruição: Concede ao seu titular o direito de, nas mais diferentes 
formas, usar ou fruir do bem. É o caso de todos os direitos reais sobre coisas alheias até 
aqui estudados. 
b) Direito real de garantia: O seu titular não tem a prerrogativa de usar ou fruir do 
bem, mas apenas de tê-lo como garantia de pagamento. São três os direitos reais sobre 
coisas alheias de garantia: hipoteca, penhor e anticrese. 
7.1. DISPOSIÇÕES COMUNS À HIPOTECA, PENHOR E ANTICRESE 
Primeiramente, importante conhecermos três diferenças entre hipoteca e penhor: 
a) Objeto: A hipoteca se dá sobre bem imóvel e o penhor se dá sobre bem móvel. 
O detalhe é que navios e aeronaves, embora sejam bens móveis, se dados em garantia, 
é caso de hipoteca em razão de seus altos valores. 
b) Posse do bem: Na hipoteca, o devedor continua com a posse do bem dado em 
garantia, enquanto que no penhor, o devedor transfere a posse do bem ao credor. 
 
 
c) Registro: A hipoteca é registrada no cartório de registro de imóveis e o penhor é 
registrado no cartório de registro de títulos e documentos. 
Quanto às disposições comuns, os direitos reais de garantia têm como característica 
a indivisibilidade. Significa que o pagamento parcial da dívida não corresponde à 
exoneração da parte correspondente da garantia, mesmo que a garantia compreenda 
mais de um bem (art. 1421 do CC). 
Nos termos do art. 1.428 do CC, é nulo o chamado pacto comissório, ou seja, a 
cláusula contratual que autoriza o credor a ficar com bem objeto da garantia se o 
devedor não pagar a dívida. O correto é a venda processual do bem em processo de 
execução, para, com o dinheiro obtido, o credor ser pago, sendo devolvido eventual 
saldo ao devedor. 
Todavia, conforme preceitua o seu parágrafo único, nada impede que o devedor, 
após o vencimento, ofereça ao credor o bem dado em garantia como forma de 
pagamento. Embora não seja obrigado, o credor poderá aceitar, caso em que haverá 
extinção da obrigação pela dação em pagamento. 
7.2. HIPOTECA 
É o direito real de garantia que tem por objeto bens imóveis, navios ou aeronaves e 
que, embora não entregues ao credor, assegura preferência no recebimento de seus 
créditos. 
Só pode hipotecar bem imóvel quem tem legitimidade para vendê-lo. Por isso é 
exigido outorga uxória ou marital, salvo se casados no regime da separação de bens, 
conforme prevê o art. 1647, I, do CC. 
 
 
Atenção: sobre o objeto da hipoteca, bem de família pode ser validamente hipotecado. 
Se a dívida não é paga, o bem hipotecado é penhorado e vendido no processo de 
execução. É bem verdade que o bem de família é impenhorável, mas o entendimento 
jurisprudencial é pela validade da hipoteca de bem imóvel, representando renúncia da 
impenhorabilidade. 
Pode o devedor dar o mesmo bem em garantia hipotecária a mais de um credor? É 
possível sim, conforme permissivo do art. 1476 do CC. É o que chamamos de subipoteca 
ou hipoteca de segundo grau. Se a venda do bem não gerar recursos suficientes para o 
pagamento de todos os créditos, terá preferência no recebimento não quem primeiro 
contraiu o empréstimo, mas sim quem primeiro registrou a hipoteca. 
Importante: um bem hipotecado pode ser validamente vendido a um terceiro? Sim. A lei 
ainda diz ser nula a cláusula que proíbe a venda (art. 1475 do CC). É, no entanto, uma 
compra arriscada, pois se o devedor não pagar a dívida, o credor hipotecário poderá 
executar o bem, mesmo já pertencendo a um terceiro. E não poderá o comprador do 
bem alegar desconhecimento do fato, pois esta situação é facilmente apurada em uma 
certidão de ônus reais do imóvel. 
 
São três os tipos de hipoteca: 
a) Hipoteca Convencional: É o caso mais comum, ou seja, a hipoteca que surge do 
acordo de vontade das partes, após seu registro no cartório de registro de imóveis. 
b) Hipoteca Legal: É a hipoteca que decorre da lei, independendo da vontade das 
partes e de registro. Os casos estão previstos no art. 1497 do CC. 
c) Hipoteca Judicial: É a hipoteca fixada pelo juiz em processo judicial sobre bens 
 
 
imóveis do devedor sucumbente no processo, para que o credor tenha uma garantia 
com força de direito real para recebimento do seu crédito. 
7.3. PENHOR 
Penhor é o direito real de garantia que tem por objeto bens móveis, cuja posse se 
transfere ao credor, assegurando preferência no recebimento de seus créditos. O credor 
garantido pelo penhor é chamado de credor pignoratício e o bem dado em penhor é 
dito bem empenhado. 
Conforme vimos, a posse do bem empenhado é transferida ao credor. Todavia, há 
importante exceção. O penhor industrial, mercantil ou rural (agrícola ou pecuário) 
consiste no penhor em que o empresário oferece em garantia pignoratícia os bens que 
integram o seu estabelecimento. Assim sendo, penhor industrial, mercantil ou rural, há 
uma tradição ficta, ou seja, por ficção jurídica, não havendo entrega real do bem ao 
credor pignoratício. 
 
São dois os tipos de penhor: 
a) Penhor convencional: o penhor que surge do acordo de vontade das partes, após 
a tradição do bem empenhado e o registro do penhor no cartório de registro de títulos 
e documentos. 
b) Penhor legal: É o penhor que decorre da lei, independendo da vontade das partes, 
tradição e registro. Nos termos do art. 1467 do CC, é admitido em dois casos, devendo 
ser homologado judicialmente, segundo ação judicial com procedimento previsto nos 
arts. 874/876 do CPC: 
 
 
(i) hospedeiros, ou fornecedores de pousada ou alimento, sobre as bagagens, móveis, 
joias ou dinheiro que seus consumidores ou fregueses tiverem consigo nas respectivas 
casas ou estabelecimentos, pelas despesas ou consumo que aí tiverem feito; e 
(ii) o dono do prédio rústico ou urbano, sobre os bens móveis que o rendeiro ou 
inquilino tiver guarnecendo o mesmo prédio, pelos aluguéis ou rendas. 
8. DIREITO REAL DE LAJE, SOBRE A LAJE OU DIREITO DE SOBRELEVAÇÃO 
 
Nos termos do art. 1.510-A do CC, introduzido pela Medida Provisória nº 759/16 “O 
direito real de laje consiste na possibilidade de coexistência de unidades imobiliárias 
autônomas e titularidades distintas, situadas em uma mesma área, de maneira a permitir 
que o proprietário ceda a superfície de sua construção a fim de que terceiro edifique 
unidadedistinta daquela originalmente construída sobre o solo”. O titular do direito real 
de laje responde pelos encargos e tributos que incidirem sobre a sua unidade, mas não 
terá fração ideal do terreno, muito menos participação proporcional na área originária 
já edificada. 
 
Para todos os efeitos legais, consideram-se unidades imobiliárias autônomas aquelas 
que possuam isolamento funcional e acesso independente, qualquer que seja o seu uso. 
Desta forma, em não havendo isolamento funcional, ou mesmo acesso independente, 
não será possível reconhecer o direito de sobrelevação. 
 
O direito de laje somente será reconhecido pela legislação para o caso de se constatar 
 
 
a impossibilidade de individualização de lotes, sobreposição ou a solidariedade de 
edificações ou de terrenos e contemplará o espaço aéreo e o subsolo de terrenos 
públicos, ou privados tomados em projeção vertical como unidade imobiliária autônoma, 
não contemplando as demais áreas edificadas ou não pertencente ao proprietário do 
imóvel original. 
 
Adquirido o direito real sobre a unidade autônoma (sobre a laje), o seu titular estará 
autorizado a realizar matricula própria, alienar, alugar ou mesmo gravar livremente a 
referida unidade autônoma. 
Atenção! A norma proíbe ao adquirente da laje instituir sobrelevações sucessivas. 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO DE FAMÍLIA 
1. VISÃO CONSTITUCIONAL 
Este tema visa abordar a constitucionalização do Direito Civil nos Direitos de Família 
e Sucessório. 
A família brasileira é a base da sociedade, merecendo hoje proteção especial do 
Estado, independente da origem. Essa proteção deverá abranger tanto a família 
constituída pelo o casamento como por qualquer outro meio de convivência. 
Devemos ressaltar que a união estável foi reconhecida no § 3º do art. 226 da CF/88 
e que teve seu rol ampliado pelo STF, por força do julgamento da ADI 4277, entendendo 
ser constitucional a união entre pessoas do mesmo sexo (homoafetiva) a ser equiparada 
à união estável. 
2. PRINCÍPIOS 
2.1. DE PROTEÇÃO À DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
Atualmente, a constitucionalização do Direito Privado visa despatrimonializá-lo, tendo 
aplicabilidade tanto na indenização por abandono afetivo, como em proteção ao bem 
 
 
de família, conforme Súmula 364 do STJ, em que “o conceito de impenhorabilidade de 
bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e 
viúvas”. 
2.2. PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE 
Para a existência da entidade familiar há necessidade que exista compreensão, 
cooperação, afeto e respaldo psicológico. 
2.3. DA IGUALDADE ENTRE OS CÔNJUGES E COMPANHEIROS 
A CRFB/88/88, no § 5º, do art. 226, igualou os direitos e deveres referentes à 
sociedade conjugal, exercida pelo homem e pela mulher. Importante mencionar que o 
CC/02 manteve esta disposição no art. 1.511. 
2.4. PRINCÍPIO DA IGUALDADE ENTRE O HOMEM E A MULHER NA CHEFIA 
FAMILIAR 
É dever de ambos a assistência moral e material em todos os momentos à prole. 
2.5. PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DE INTERFERÊNCIA 
Não é permitida a interferência de terceiros no modo de vida da família. 
 
 
2.6. PRINCÍPIO DO MAIOR INTERESSE DA CRIANÇA 
Em toda e qualquer decisão envolvendo a entidade familiar, deverá ser observado o 
que melhor interessa à criança. Este postulado encontra-se fundamentado no art. 227 
da CRFB/88 e nos arts. 1.583 e 1.584 do CC. 
2.7. PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE 
O afeto é o pilar das relações de convívio entre as entidades familiares e decorre da 
dignidade da pessoa humana, solidariedade social e da igualdade entre os filhos. O seu 
descumprimento, segundo o STJ, poderá gerar indenização por danos morais, 
principalmente se comprovado o descumprimento do dever de convivência, bem como 
a participação ativa no desenvolvimento do filho. 
2.8. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL 
Trata-se de princípio sintetizador de tudo o que foi apresentado até então, como a 
igualdade entre os cônjuges ou companheiros, a igualdade dos filhos havidos fora do 
casamento, paternidade socioafetiva, impenhorabilidade do bem de família de pessoa 
solteira, separada e viúva. 
3. O DIREITO DE FAMÍLIA: DIREITO PÚBLICO OU PRIVADO? 
Inexiste relação de direito público entre os cônjuges, companheiros, filhos e parentes 
entre si, sendo então, genuinamente de direito privado. 
 
 
4. O CONCEITO AMPLIADO DE FAMÍLIA 
O art. 226 da CRFB/88 visa tutelar algumas das espécies familiares, no entanto este 
rol não é taxativo, vez que a doutrina traz algumas hipóteses não previstas no texto 
político. 
Pela leitura dos parágrafos do art. 226 da Constituição Federal, temos três espécies 
de família, quais sejam: a família matrimonializada, a família socioafetiva e a família 
monoparental. 
Alguns doutrinadores sustentam que o elenco das famílias protegidas pela CRFB/88 
não é numerus clausus, ou seja, podendo-se vislumbrar outras espécies de família. Eis 
as principais trazidas pela doutrina: 
a) Família Matrimonial – inicialmente formada pelo casamento, prevista nos §§ 1º e 
2º do art. 226 da CRFB/88; 
b) Família Informal – é aquela que se forma sem cumprir com as formalidades do 
casamento, podendo existir os impedimentos matrimoniais ou não; 
c) Família Monoparental – conforme dispõe o artigo 226, § 4º, da CRFB/88, 
“entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos 
pais e seus descendentes”; 
d) Família Anaparental – é a relação que possui vínculo de parentesco, mas não 
possui vínculo de ascendência e descendência, inexistindo relação de verticalidade. É a 
hipótese de dois irmãos que vivam juntos. Neste sentido, Súmula 380 STF: “comprovada 
a existência de sociedade de fato entre os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, 
com a partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum”. 
e) Família Unipessoal – composta por apenas uma pessoa. O STJ já lhe conferiu a 
 
 
proteção do bem de família, como se infere da Súmula 364: “o conceito de 
impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas 
solteiras, separadas e viúvas”. 
f) Família Afetiva ou Socioafetiva– está relacionada ao afeto gerado dentro das 
relações familiares. 
f.1) Família Recomposta – Constituída por pessoas que já tiveram relacionamento 
anterior ou o casamento ou união estável desfeitos, sendo também nomeada pela 
doutrina como família pluriparental. 
f.2) Família Homoafetiva – Constituída por uma relação de amor e afeto entre pessoas 
do mesmo sexo, quer seja masculino ou feminino. Conforme ADI 4277, é possível aplicar 
à união homoafetiva o regime jurídico da união estável, apesar de o texto do § 3º do 
art. 226, da CRFB/88, e do caput do art. 1.723, CC, preconizarem pela relação entre 
homem e mulher, o referido julgado entendeu que este rol é exemplificativo. 
Fundamento: Existe o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana (art. 1º, 
III, CRFB/88), além disso, o princípio da igualdade e da solidariedade (art. 3º, I). 
g) Família Eudemonística – é a verdadeira busca pela felicidade, constituindo-se para 
uma parte isolada da doutrina como direitos fundamentais de sexta dimensão. 
5. O CASAMENTO 
Segundo patamar constitucional, ao casamento foi atribuído pelo texto político e 
pelo CC/02 a natureza civil e a gratuidade. Quanto aos requisitos, a doutrina ainda 
entende que, neste caso, o rol é taxativo, sendo necessária a diversidade de sexos, além 
da composição de afeto, respeito e solidariedade. 
 
 
5.1. NATUREZA JURÍDICA 
Possuem três correntes divergindo sobre esta matéria: 
a) Teoria institucionalista – em que o casamento seria uma instituição social; 
b) Teoria contratualista – consiste no casamento ser uma espécie de contrato especial 
de direito de família; 
c) Teoria mista ou eclética – o casamento é uma instituição quanto ao conteúdo e 
um contrato especial quanto à formação; 
5.2. DA CAPACIDADE PARA O CASAMENTO 
A capacidade núbil se incia aos dezesseisanos. Logo, a partir dos dezesseis anos é 
possível casar-se no Brasil, servindo o parâmetro tanto para os homens, como para as 
mulheres. 
Caso, porém, o nubente tenha entre dezesseis e dezoito anos, para que possa casar 
dependerá de autorização dos pais ou responsáveis. Até a data da celebração do 
casamento, a dita autorização poderá ser revogada pelos pais ou tutores. 
Caso haja discordância sobre a autorização por parte dos pais ou responsáveis, ou 
denegação injusta, deverá o nubente requerer judicialmente o suprimento de vontade. 
Uma vez casado, o cônjuge menor restará automaticamente emancipado. 
Excepcionalmente, na forma do art. 1.520 do CC, o menor de dezesseis anos poderá 
se casar, com o fito de evitar imposição ou cumprimento de pena criminal, ou em caso 
de gravidez. 
Registra-se que por conta da Lei 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), 
o deficiente físico passou a ser visto como plenamente capaz, salvo se sofrer futura 
 
 
interdição. Nessa ordem de ideias, casará independentemente da intervenção de curador 
e o casamento será plenamente válido, não se falando em invalidade matrimonial (CC, 
arts. 1.518, 1.548 e 1.550). 
5.3. CAUSAS IMPEDITIVAS DO MATRIMÔNIO 
São causas que tornam o casamento nulo, por se tratarem de normas de ordem 
pública, devendo ser analisado o dispositivo legal: 
Art. 1.521. Não podem casar: 
I – os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou 
civil; 
II – os afins em linha reta; 
III – o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com 
quem o foi do adotante; 
IV – os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro 
grau inclusive; 
V – o adotado com o filho do adotante; 
VI – as pessoas casadas; 
VII – o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou 
tentativa de homicídio contra o seu consorte. 
Os impedimentos podem ser opostos até o momento da celebração do casamento, 
por qualquer pessoa capaz, bem como se o juiz, ou o oficial de registro, tiver 
conhecimento da existência de algum impedimento, será obrigado a declará-lo. 
Não sendo observados os procedimentos de habilitação, deverá ser proposta ação 
 
 
visando à nulidade do casamento, em que funcionará obrigatoriamente o Ministério 
Público, por se tratar de direito de estado, tendo estas ações como característica a 
imprescritibilidade. 
O casamento celebrado que desrespeitar o impedimento será considerado casamento 
nulo, nos termos do art. 1.548 do CC. 
5.4. CAUSAS SUSPENSIVAS DO MATRIMÔNIO 
São obstáculos ao casamento, em que o legislador aconselha aos nubentes a não 
casar, não sendo, porém, uma proibição especifica, cujo texto é conveniente analisar: 
Art. 1.523. Não devem casar: 
I – o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não 
fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros; 
II – a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter 
sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução 
da sociedade conjugal; 
III – o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a 
partilha dos bens do casal; 
IV – o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, 
cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto 
não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas 
contas. 
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes 
sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste 
 
 
artigo, provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o 
herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no 
caso do inciso II, a nubente deverá provar nascimento de filho, ou 
inexistência de gravidez, na fluência do prazo. 
O regime de bens do casamento realizado nas hipóteses acima mencionadas deverá 
ser o da separação obrigatória, conforme art. 1.641, inciso I do CC, com a finalidade de 
não haver confusão patrimonial entre o matrimônio anterior e o atual. 
As causas suspensivas da celebração do casamento podem ser arguidas pelos 
parentes em linha reta de um dos nubentes, sejam consanguíneos ou afins, e pelos 
colaterais em segundo grau, sejam também consanguíneos ou afins, não podendo ser 
decretada de oficio pelo juiz. 
5.5. ESPONSAIS 
Popularmente conhecido como noivado, que possui natureza de promessa de 
casamento, mas não é referido no CC/02. 
5.6. HABILITAÇÃO PARA O CASAMENTO 
A lei trouxe alguns requisitos para a habilitação: 
Art. 1.525. O requerimento de habilitação para o casamento será firmado 
por ambos os nubentes, de próprio punho, ou, a seu pedido, por 
procurador, e deve ser instruído com os seguintes documentos: 
I – certidão de nascimento ou documento equivalente; 
II – autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal 
 
 
estiverem, ou ato judicial que a supra; 
III – declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que 
atestem conhecê-los e afirmem não existir impedimento que os iniba de 
casar; 
IV – declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos 
contraentes e de seus pais, se forem conhecidos; 
V – certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de 
nulidade ou de anulação de casamento, transitada em julgado, ou do 
registro da sentença de divórcio. 
A habilitação será feita pessoalmente perante o oficial do Registro Civil, com a 
audiência do Ministério Público e, caso haja impugnação do oficial, do Ministério Público 
ou de terceiro, a habilitação será submetida ao juiz. 
Estando toda a documentação em ordem, o oficial extrairá o edital, que se afixará 
durante quinze dias nas circunscrições do Registro Civil de ambos os nubentes e, 
obrigatoriamente, se publicará na imprensa local, se houver, podendo ser dispensada a 
publicação pela autoridade competente se verificada urgência. 
Importante se faz recordar que é dever do oficial do registro esclarecer os nubentes 
a respeito dos fatos que podem ocasionar a invalidade do casamento, bem como sobre 
os diversos regimes de bens. 
Devemos lembrar que tanto os impedimentos quanto as causas suspensivas serão 
opostos em declaração escrita e assinada, instruída com as provas do fato alegado, ou 
com a indicação do lugar onde possam ser obtidas. 
O oficial do registro dará aos nubentes ou a seus representantes nota da oposição, 
indicando os fundamentos, as provas e o nome de quem a ofereceu, podendo os 
 
 
nubentes requerer prazo razoável para fazer prova contrária aos fatos alegados, e 
promover as ações civis e criminais contra o oponente de má-fé. 
Cumpridas as formalidades dos arts. 1.526 e 1.527 do Código Civil e verificada a 
inexistência de fato obstativo, o oficial do registro extrairá o certificado de habilitação, 
cuja eficácia será de noventa dias, a contar da data em que foi extraído o certificado. 
5.7. DA CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO 
A solenidade será realizada sede do cartório ou em outro edifício público ou 
particular, mediante consentimento da autoridade celebrante. Deverá ser dada a esta 
solenidade toda a publicidade com portas abertas ou, caso o casamento seja em edifício 
particular, ficará este de portas abertas durante o ato. 
Pelo menos duas testemunhas deverão estar presentes, parentes ou não dos 
contraentes, devendo, excepcionalmente, conter a presença de quatro as testemunhas 
na hipótese da cerimônia não ser realizada no cartório e se algum dos contraentes não 
souber ou não puder escrever. 
A autoridade celebrante deverá ainda proferir as palavras sacramentais, nos termos 
do art. 1.535 do CC. Após a celebração do casamento, o ato será lavrado no livro de 
registro, em assento, assinado pelo presidente do ato, pelos cônjuges, as testemunhas, 
e o oficial do registro, exarando o seguinte: 
a) os prenomes, sobrenomes, datas de nascimento, profissão, domicílio e residência 
atual dos cônjuges; 
b) os prenomes, sobrenomes, datas denascimento ou de morte, domicílio e 
residência atual dos pais; 
 
 
c) o prenome e sobrenome do cônjuge precedente e a data da dissolução do 
casamento anterior; 
d) a data da publicação dos proclamas e da celebração do casamento; 
e) a relação dos documentos apresentados ao oficial do registro; 
f) o prenome, sobrenome, profissão, domicílio e residência atual das testemunhas; 
g) o regime do casamento, com a declaração da data e do cartório, onde foi lavrada 
a escritura antenupcial. 
Importante mencionar que o instrumento da autorização para casar será transcrito 
integralmente na escritura antenupcial. 
A celebração do casamento será imediatamente suspensa se algum dos contraentes 
se recusar à solene afirmação da sua vontade. 
5.8. CASAMENTO NOS CASOS DE MOLÉSTIA GRAVE 
Nestes casos, o presidente do ato irá celebrá-lo onde se encontrar o impedido, sendo 
urgente, ainda que à noite, perante duas testemunhas que saibam ler e escrever. 
A falta ou impedimento da autoridade competente para presidir o casamento será 
suprido por qualquer dos seus substitutos legais e a do oficial do Registro Civil por outro 
ad hoc, nomeado pelo presidente do ato. 
O termo avulso, lavrado pelo oficial ad hoc, será registrado no respectivo registro 
dentro em cinco dias, perante duas testemunhas, ficando arquivado. 
5.9. O CASAMENTO NUNCUPATIVO 
Também é chamado pela doutrina por casamento in extremis vitae momentis, 
 
 
nuncupativo ou in artículo mortis, é aquele em que um dos nubentes está em iminente 
risco de vida. Não obtendo a presença da autoridade à qual incumba presidir o ato, nem 
a de seu substituto, poderá o casamento ser celebrado na presença de seis testemunhas, 
que com os nubentes não tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, até segundo 
grau. 
Depois de realizado o casamento, as testemunhas deverão comparecer perante a 
autoridade judicial mais próxima no prazo de dez dias, pedindo que lhes tome por termo 
a declaração de: 
a) que foram convocadas por parte do enfermo; 
b) que este parecia em perigo de vida, mas consciente; 
c) que, em sua presença, declararam os contraentes, livre e espontaneamente, 
receber-se por marido e mulher. 
5.10. O CASAMENTO POR PROCURAÇÃO? 
Ocorrerá quando um dos nubentes ou ambos não puderem comparecer. Nesse caso, 
se os dois cônjuges não estiverem presentes na cerimônia, haverá a necessidade de 
ambos serem representados por procuradores diferentes, não havendo a necessidade 
de diversidade de sexo entre os mesmos, podendo também ser casados. Nesse sentido, 
importante a leitura do art. 1.542 do CC. A procuração deverá ser por instrumento 
público, com poderes específicos e com prazo de 90 dias. 
5.11. CASAMENTO RELIGIOSO E SEUS EFEITOS CIVIS 
Baseando-se na previsão constitucional, não será admitida qualquer discriminação a 
 
 
qualquer religião ou culto. Esta modalidade se submeterá aos mesmos requisitos da lei 
civil e produzindo também os mesmos efeitos. Poderá ser anterior ao casamento civil 
ou posterior, sendo certo que será nulo se antes dele qualquer dos nubentes já tiver 
contraído com outrem casamento civil. 
5.12. CASAMENTO PERANTE A AUTORIDADE CONSULAR 
Dispõe o art. 1.544 do Código Civil: “o casamento de brasileiro, celebrado no 
estrangeiro, perante as respectivas autoridades ou os cônsules brasileiros, deverá ser 
registrado em cento e oitenta dias, a contar da volta de um ou de ambos os cônjuges 
ao Brasil, no cartório do respectivo domicílio, ou, em sua falta, no 1º Ofício da Capital 
do Estado em que passarem a residir”. Acerca do tema, importante a leitura do art. 7 da 
LINDB, já comentado nesta obra. 
5.13. INVALIDADE DO MATRIMÔNIO 
As invalidades matrimoniais seguem critério de opção legislativa. Assim, as nulidades 
absolutas estão estampadas no art. 1.548 do CC, enquanto as anulabilidades estão no 
art. 1.550. 
O sistema de invalidades matrimoniais teve importante e recente modificação com o 
Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015), o qual passou a considerar o 
deficiente físico como plenamente capaz para o casamento. Nessa senda, seu casamento 
passou a ser válido, não sendo eivado nem de nulidade absoluta e nem relativa. Cita-se 
a novel redação: 
 
 
 
Art. 1.548. É nulo o casamento contraído: 
[…] 
II – por infringência de impedimento. 
Art. 1.550. É anulável o casamento: 
I – de quem não completou a idade mínima para casar; 
II – do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu 
representante legal; 
III – por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558; 
IV – do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o 
consentimento; 
V – realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente 
soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os 
cônjuges; 
VI – por incompetência da autoridade celebrante. 
§ 1º. Equipara-se à revogação a invalidade do mandato judicialmente 
decretada. 
§ 2º. A pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbia 
poderá contrair matrimônio, expressando sua vontade diretamente ou por 
meio de seu responsável ou curador. 
 
Outrossim, diuturnamente o deficiente, com capacidade núbil, poderá casar-se, até 
mesmo, expressando sua vontade pessoalmente, sem a necessidade de responsável 
interposto. Caso, porém, deseje manifestar sua vontade através de responsável, 
igualmente será possível. Em todos os casos o casamento será tido como válido. 
 
 
5.14. O CASAMENTO PUTATIVO 
Casamento poderá ser nulo ou anulável, somente sendo validados os efeitos para o 
cônjuge de boa-fé, persistindo destas consequências o direito de usar o nome, a 
emancipação e a pensão alimentícia, não havendo efeitos ao cônjuge de má-fé, exceto 
aos filhos, que será eficaz. O casamento putativo, portanto, é o contraído de boa-fé, sem 
que um dos nubentes, ou ambos, soubessem do vício. 
5.15. DA PROVA DO CASAMENTO 
O casamento no Brasil, regra geral, será provado pela certidão de registro, sendo 
admissível qualquer outra espécie de prova desde que justificada a falta ou perda do 
registro civil. 
Se realizado no exterior, mas por nubente brasileiro, perante as respectivas 
autoridades ou os cônsules brasileiros, deverá ser registrado em cento e oitenta dias, a 
contar da volta de um ou de ambos os cônjuges ao Brasil, no cartório do respectivo 
domicílio, ou, em sua falta, no 1º Ofício da Capital do Estado em que passarem a residir. 
5.16. DA EFICÁCIA PESSOAL DO CASAMENTO (DIREITOS E DEVERES DOS 
CÔNJUGES). 
A lei civil dispõe que são deveres de ambos os cônjuges: 
a) fidelidade recíproca; 
b) vida em comum, no domicílio conjugal; 
c) mútua assistência; 
 
 
d) sustento, guarda e educação dos filhos; 
e) respeito e consideração mútuos. 
5.17. DA EFICÁCIA PATRIMONIAL DO CASAMENTO (REGIME DE BENS). 
Possui alguns postulados próprios, devendo ser elencados para melhor compreensão: 
a) da autonomia privada ou da livre estipulação – consiste em ser lícito aos nubentes, 
antes de celebrado o casamento estipular o regime de bens; 
b) da variedade de regimes – é possível utilizar os regimes de bens previstos nas leis; 
c) mutabilidade justificada – consiste na admissibilidade de alteração do regime de 
bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada 
a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros; 
d) da indivisibilidade do regime de bens – o cônjuge pode pedir a separação judicial 
quando o outro estiver acometido de doença mental grave. No entanto, reverterão ao 
cônjuge enfermo, que não houver pedido a separação judicial, os remanescentes dos 
bens que levou para o casamento, e se o regime dos bens adotados permitir a meação 
dos adquiridos na constância da sociedade conjugal; 
 
5.18. DO PACTO ANTENUPCIAL 
Tem como finalidade constar a vontade dos cônjuges antes de realizado o casamento, 
dentre eles, estabelecer o regime de bens, quando não adotarem o regimelegal. Tem 
por natureza jurídica ser um negócio jurídico bilateral, solene– pois a lei exige que além 
de escrito, seja feito por escritura pública – e condicional, por estar condicionado à 
existência do casamento. 
 
 
5.19. DAS ESPÉCIES DE REGIME DE BENS. 
a) Do regime da comunhão parcial de bens 
Trata-se do regime legal de casamento, como também da união estável, quando não 
houver disposição em contrário, conforme art. 1.725 da lei civil. Integram no patrimônio 
comum todos os bens adquiridos durante o matrimônio de forma onerosa. É o regime 
legal, para o caso de não estipulação. A responsabilidade pelos débitos, regra geral, é 
dos cônjuges. 
O art. 1.659, do CC, dispõe sobre o que está excluído da comunhão e o art. 1.660 
deste diploma, informa o que entra no monte. Necessária a leitura dos mencionados 
dispositivos legais. 
b) Do regime da comunhão universal 
Este regime abrange todos os bens adquiridos a título oneroso e gratuito na 
constância ou não do casamento, podendo ser posterior ou durante o mesmo. 
A responsabilidade pelas dívidas será de ambos durante o casamento e excluídas se 
anteriores a este, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ou reverterem em 
proveito comum. 
Os bens excluídos da comunhão encontram-se arrolados no art. 1.668 do CC: 
Art. 1.668. São excluídos da comunhão: 
I – os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e 
os sub-rogados em seu lugar; 
II – os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro 
fideicomissário, antes de realizada a condição suspensiva; 
III – as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas 
 
 
com seus aprestos, ou reverterem em proveito comum; 
IV – as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com 
a cláusula de incomunicabilidade; 
V – Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659. 
 
c). Regime de participação final nos aquestos 
Trata-se do regime de bens mais voltado para a economia do que ao afeto, estando, 
porém, em desuso. Constituem-se 5 universalidades de bens: 
Bens adquiridos pelo homem antes do casamento – pertencem a ele 
Bens adquiridos pela mulher antes do casamento – pertencem a ela 
Bens adquiridos pelo homem durante do casamento – pertencem a ele 
Bens adquiridos pela mulher durante do casamento – pertencem a ela 
Bens adquiridos por ambos os cônjuges durante ao casamento – pertencem aos dois 
 
d) Do regime da separação de bens (obrigatório x convencional) 
Excepcionalmente é o regime de bens obrigatório, visto que ocorre por imposição 
legal– art.1.641 CC, podendo também ser convencional, através do pacto antenupcial. 
Neste regime, ocorrerá isolamento patrimonial dos cônjuges, havendo comunicação 
somente dos bens adquiridos durante o casamento. Importante recordar que a Lei 
12.344/10 alterou a obrigatoriedade deste regime para os maiores de 70 anos e não 
mais 60 anos de idade, como antes vigorava. 
Mas as partes também poderão, por livre expressão da vontade, optarem pela 
incomunicabilidade dos bens, caso em que mediante pacto antenupcial celebração o 
 
 
regime da separação convencional, caso em que os bens permanecerão sobre 
administração exclusiva de cada um dos cônjuges, que os poderá livremente alienar ou 
gravar de ônus real, na forma do art. 1.687 do CC. 
5.20. DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL. A SEPARAÇÃO. 
 
A dissolução da sociedade conjugal termina pela morte de um dos cônjuges, pela 
nulidade, ou anulação do matrimônio, pela separação judicial e pelo divórcio, nos termos 
do art. 1.571 do CC. 
 
A dissolução da sociedade conjugal (que não se confunde com a dissolução do 
casamento, do vínculo matrimonial) enseja a quebra do dever de fidelidade, do regime 
de bens, da moradia conjunta, de modo que atinge os efeitos pessoais e patrimoniais 
do casamento, sem extinguir o matrimônio em si. 
 
A separação é o instrumento jurídico que dissolve a sociedade conjugal e se desdobra 
em várias espécies, ou modalidades, que serão agora analisadas. 
Espécies de separação: 
a) separação judicial consensual ou por mútuo consentimento dos cônjuges (Art. 
1.574 CC) Procedimento de jurisdição voluntária, por ser de vontade das partes, 
buscando-se a homologação judicial do acordo celebrado (Art. 1.574 CC). 
b) separação judicial litigiosa (Art.1.572 CC), caracterizada pela existência de 
pretensão resistida e, portanto, pela ausência de consenso. Submete-se ao rito especial 
 
 
dos artigos 693 a 699 do CPC/15, que passou a disciplinar as ações de família. É 
subdividida em: 
I) Separação judicial litigiosa sanção – Art. 1.572, caput CC: quando se imputa ao 
outro cônjuge a prática de grave ilícito conjugal a tornar insuportável a vida em comum. 
II) Separação judicial litigiosa falência – Art. 1.572, § 1º CC: quando não há imputação 
de ilícito conjugal, mas o outro cônjuge não aceita se separar, resistindo à pretensão. 
III) Separação judicial litigiosa remédio – Art. 1.572, § 2º CC; quando há doença mental 
grave manifestada há dois anos, de forma superveniente e desconhecida até então do 
cônjuge autor do pedido. 
c) Separação consensual administrativa ou extrajudicial. Prevista na Lei Federal nº 
11.441/07 e no art. 733 do CPC/15. Exige escritura pública, presença de advogado ou 
defensor, e ausência de litígios, incapazes ou nascituro. É lavrada por tabelião. 
d) Separação cautelar de corpos. É a prevista no art. 1.585 do CC e autoriza ao 
cônjuge postular, em sede de medida cautelar, a própria separação de corpos, sem ser 
futuramente acusado de abandono do lar, ou mesmo para casos de maus tratos, ou 
violência doméstica. 
 
5.21. DA DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO. 
 
O casamento válido somente será dissolvido pela morte de um dos cônjuges, ou pelo 
divórcio, aplicando-se evidentemente a disciplina da ausência como hipótese extintiva 
do vínculo matrimonial, a teor do §1º do art. 1.571 do CC. 
 
 
 
O divórcio extrajudicial, ou administrativo, também está previsto na Lei Federal nº 
11.441/07 e no artigo 733 do CPC/15, exigindo os mesmos requisitos da separação 
administrativa. Portanto, havendo interesse de incapaz, o divórcio necessariamente será 
judicial, pois há intervenção obrigatória do MP. 
 
O divórcio judicial poderá ser litigioso ou consensual. A ação de divórcio é 
personalíssima, pois competirá somente aos cônjuges, podendo fazê-lo o curador, o 
ascendente ou o irmão caso o cônjuge seja incapaz para propor a ação ou defender-se. 
 
Por força da Emenda Constitucional nº 66/10 não há mais prazo mínimo para o 
ajuizamento do divórcio. Significa dizer que o divórcio poderá ser requerido a qualquer 
tempo. 
 
Ademais disto, é possível o divórcio sem que haja prévia partilha de bens, conforme 
autoriza o art. 1.581 do CC e a Súmula 197 do STJ. 
6. DA PROTEÇÃO DA PESSOA DOS FILHOS 
A guarda consiste no direito de os genitores ver, proteger, conviver e orientar os 
filhos, tendo-os consigo. Deverá ser analisado a todo momento o princípio do melhor 
interesse dos filhos, até mesmo, quando for apreciada a cautelar de separação de corpos. 
No caso de haver proibição ou dificuldades ao direito de visitação da mãe ou pai 
preterido, poderá se vislumbrar a possibilidade da propositura de uma ação 
indenizatória. 
 
 
A guarda poderá ser unilateral, quando atribuída a um só dos genitores ou a alguém 
que o substitua, ou compartilhada, quando há responsabilização conjunta e quando for 
comum o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sobre o mesmo 
teto. 
A regra é a guarda compartilhada, quando o tempo de convívio com os filhos deve 
ser dividido de forma equilibrada com os genitores, sempre considerando as condições 
fáticas e os interesses dos filhos. A cidade considerada base de moradia dos filhos, na 
guarda compartilhada, será aquela que melhor atender aos interesses dos filhos. 
Contudo, se o Juiz da Causa verificar que o filho não deve permanecer sob a guardado pai ou da mãe, deferirá a guarda a pessoa que revele compatibilidade com a natureza 
da medida, considerados, de preferência, o grau de parentesco, as relações de afinidade 
e de afetividade. 
Independente disto, qualquer estabelecimento público, ou privado, será obrigado a 
prestar informações a qualquer dos genitores sobre os filhos destes, sob pena de multa 
de R$ 200,00 (duzentos reais) a R$ 500,00 (quinhentos reais) por dia pelo não 
atendimento da solicitação. 
Nada impedirá, a par de tudo que foi dito, que o Juiz da Causa em observando a 
ocorrência de motivos graves, a bem dos filhos, regule a guarda de maneira diferente 
da estabelecida para a guarda unilateral, ou compartilhada. É o que autoriza o art. 1.586 
do CC. 
Em arremate, recorde-se que o fato de um dos genitores contrair novas núpcias não 
ensejará a perda ao direito de ter consigo os filhos, que só poderão lhe ser retirados 
por mandado judicial, provado que não são tratados convenientemente. 
 
 
 
A legislação prevê ainda o direito fundamental de convivência daquele que não 
detém a guarda dos filhos, na forma de regulamentação de visitas a ser judicialmente 
fixada em benefício do pai, ou da mãe, extensivo aos avós, a critério do magistrado e 
observados os interesses da criança, ou do adolescente. (Art. 1.586, do CC). 
Importa notar que a disciplina sobre a guarda da criança e do adolescente também 
se aplicará aos adultos incapazes. 
 
7. DA UNIÃO ESTÁVEL 
Tem por base legal o art. 226, § 3º da CF/88, as Leis 8.971/94 e 9.278/96 e arts. 1.723 
ao 1.726 da lei civil. Exige-se para a sua caracterização a convivência pública, contínua e 
duradoura, estabelecida com o fim de constituir família. 
Os mesmos impedimentos aplicados ao casamento são utilizados para a união 
estável. Constitui-se comunhão de vidas, no sentido material e imaterial, em semelhante 
situação dos casados, envolvendo mútua assistência material e moral, soma de interesses 
da vida em comum, atenção ao tratamento que sustenta a entidade familiar. O sistema 
familiar adotado é o da monogamia. 
Requisitos da união estável: 
a) publicidade – não pode ser clandestino, tem que ser público; 
b) continuidade – não podem existir breves períodos de interrupção; 
c) estabilidade – o relacionamento deverá ser sólido, sério; 
Cumpre ressaltar que o STF se manifestou no julgamento da ADI 4277, afirmando 
que é possível aplicar à união homoafetiva o regime jurídico da união estável, apesar da 
 
 
disposição do § 3º do art. 226, da CRFB/88, bem como do caput do art. 1723 CC, 
conforme já mencionado anteriormente. 
7.1. OS EFEITOS DA UNIÃO ESTÁVEL 
O principal efeito da união estável consiste nas relações pessoais entre os 
companheiros: obedecerão aos deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, 
sustento e educação dos filhos. 
Regra geral, na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se 
às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens. 
Não obstante, conforme prevê o § 3º do art. 226 da CRFB/88, combinado com o 
art. 1.726 da lei civil, a união estável poderá converter-se em casamento, mediante 
pedido dos companheiros ao juiz e assento no Registro Civil, devendo ser cumpridas as 
formalidades para a habilitação do casamento. 
8. RELAÇÕES DE PARENTESCO 
8.1. O PARENTESCO 
a) natural ou consanguíneo – aquele decorrente de ancestral comum; 
b) por afinidade – aquele existente entre cônjuge/companheiro e os parentes do 
outro cônjuge/companheiro; 
c) civil – aquele que decorre de afeto, inexistindo consanguinidade, ex: adoção 
(art. 1.618 e seguintes do CC) e parentesco que decorre de fecundação heteróloga 
(art. 1.597, V do CC); 
 
 
d) em linha reta – descendem de um mesmo tronco ancestral; exemplo: meu pai e 
minha mãe são meus parentes de 1º grau em linha reta; meu avô e minha avó são meus 
parentes em linha reta de 2º grau. 
e) em linha colateral ou transversal – é aquele decorre de um tronco ancestral em 
comum; exemplo: meu irmão é parente colateral de 2º grau e meu tio, colateral de 3º 
grau. 
8.2. FILIAÇÃO 
Com fundamento no art. 227, § 6º da CRFB/88, art. 20 da Lei 8.069/90 e art. 1.596 do 
Código Civil, os filhos havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão 
os mesmos direitos e qualificações, sendo proibida qualquer designação discriminatória 
relativa à filiação. 
A lei civil ainda irá dispor sobre a presunção de paternidade e maternidade dos filhos 
concebidos na constância do casamento, de maneira taxativa, aqueles nascidos cento e 
oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal; os nascidos nos 
trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação 
judicial, nulidade e anulação do casamento; os havidos por fecundação artificial 
homóloga, mesmo que falecido o marido; aqueles havidos, a qualquer tempo, quando 
se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga; além 
dos havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização 
do marido. 
Importante se faz mencionar que esta presunção é iuris tantum, admite prova em 
contrário. 
 
 
O direito de contestar a paternidade dos filhos nascidos de sua esposa competirá ao 
suposto pai, sendo tal ação imprescritível, não podendo vindicar estado contrário ao que 
resulta do registro de nascimento, salvo se provar erro ou falsidade do registro. No caso 
da filiação ser contestada, os herdeiros do impugnante tem direito de prosseguir na 
ação. 
Na falta, ou defeito, do termo de nascimento, poderá ser provada a filiação por 
qualquer modo admissível em direito quando houver começo de prova por escrito, 
proveniente dos pais, conjunta ou separadamente, ou quando existirem veementes 
presunções resultantes de fatos já certos. 
8.3. DO RECONHECIMENTO DOS FILHOS 
O filho havido fora do casamento pode ser reconhecido pelos pais, conjunta ou 
separadamente, não podendo ter discriminações, conforme art. 227, § 6º da CRFB/88. 
Existem duas maneiras de reconhecer os filhos, uma delas é voluntariamente e a outra, 
de maneira judicial. 
O reconhecimento de forma voluntária dos filhos havidos fora do casamento é 
irrevogável e será feito no registro do nascimento; por escritura pública ou escrito 
particular, a ser arquivado em cartório; por testamento, ainda que incidentalmente 
manifestado; por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o 
reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém. Este 
reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu 
falecimento, se ele deixar descendentes. 
O reconhecimento judicial se dá através da ação de investigação de paternidade ou 
 
 
maternidade, sob o rito ordinário, tendo natureza declaratória e será imprescritível. 
Contrariamente, a ação de petição de herança possui o prazo prescricional de 10 anos, 
conforme art. 205 da lei civil. 
Ressalta-se que o parâmetro binário de filiação – um único pai e uma única mãe – 
já foi vencido no Brasil, por decisão expressa do Supremo Tribunal Federal. Assim, 
acolhendo relevante doutrina familiarista sobre o tema, entendeu o STF pela 
possibilidade da multiparentalidade, sendo factível haver, no registro de nascimento, 
mais de um pai e/ou de uma mãe (Tema de Repercussão Geral 622, RE 898060/SC). 
Nessa toada, inaugura-se no Brasil a possibilidade de pleito alimentar e sucessório em 
face de mais de uma pai e/ou mais de uma mãe, devendo o Colega ficar atento às 
manifestações posteriores derredor do assunto. 
8.4. DA ADOÇÃO 
Com o advento da Lei 12.010/09 que alterou a adoção estabelecida no ECA e no 
Código Civil, tendo como principais mudanças o seguinte: 
a) família extensa – regra geral, a criança ou adolescente deverá ser criado e educado 
por sua família natural, aquela formada pelos pais ou qualquer deles com os seus 
descendentes, salvo nos casosde família substituta, sob a modalidade de guarda, tutela 
ou adoção para a preservação da vida em família; 
b) prazo máximo para abrigamento – com vistas a proteger o desenvolvimento físico, 
emocional e social, o ambiente familiar adequado atua como elemento estrutural da 
personalidade da criança e do adolescente, limitando a Lei 12.010/09 o tempo máximo 
em programa de acolhimento institucional para dois anos, salvo comprovada 
 
 
necessidade que atenda ao seu superior interesse, devidamente fundamentada pela 
autoridade judiciária, utilizado de maneira subsidiária às medidas protetivas.. Tal medida 
deverá ser reavaliada a cada seis meses. 
c) assistência à gestante – incluiu a Lei 12.010/09 os §§ 4º e 5º no art. 8 do ECA em 
que incumbe ao poder público proporcionar assistência psicológica à gestante e à mãe, 
no período pré e pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as 
consequências do estado puerperal, devendo ser também prestada às gestantes ou mães 
que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção; 
d) preparação dos adotantes – a adoção, além de carinho e afeto à criança ou 
adolescente, exige plena consciência da medida, pois este ato é irrevogável. Portanto, a 
Lei 12.010/09 tornou mais rígida a exigência do prévio cadastro de quem deseja adotar, 
somente sendo deferida adoção em favor de candidato domiciliado no Brasil, não 
cadastrado previamente nos termos desta lei quando se tratar de pedido de adoção 
unilateral; for formulada por parente com o qual a criança ou adolescente mantenha 
vínculos de afinidade e afetividade; oriundo o pedido de tutor ou guardião de criança 
maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde que o lapso de tempo de convivência 
comprove a fixação de laços de afinidade e afetividade, tendo análise psicossocial por 
equipe técnica do Juizado da infância e da juventude; 
e) adoção internacional – forma excepcional de colocação de criança e adolescente 
em família substituta, somente será deferida se consultado o cadastro de pessoas 
interessadas quando for demonstrado que a colocação em família substituta é a solução 
adequada ao caso concreto; que foram esgotadas todas as possibilidades de colocação 
da criança ou adolescente em família substituta brasileira, após consulta aos cadastros 
de interessados em adoção; que, em se tratando de adoção de adolescente, este foi 
 
 
consultado, por meios adequados ao seu estágio de desenvolvimento, e que se encontra 
preparado para a medida, mediante parecer elaborado por equipe interprofissional; 
 
O tema adoção, tendo em vista o seu locus legislativo de tratamento, deve ser melhor 
verticalizado no item dedicado ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). 
8.5. PODER FAMILIAR 
Este tema se define como um conjunto de direitos e deveres legais atribuídos aos 
pais, no tocante à pessoa e aos bens dos filhos menores, sendo um munus público de 
relação de autoridade em que será irrenunciável, indelegável, imprescritível, incompatível 
com a tutela. Os filhos sujeitar-se-ão ao poder familiar enquanto menores. Não incorre 
em perda do poder familiar a separação do filho com um dos genitores, com o advento 
do divórcio entre os pais. 
 
8.5.1. DO EXERCÍCIO DO PODER FAMILIAR 
A lei traz todos os requisitos referentes ao exercício do poder familiar no art. 1.634 
do Código Civil, merecendo a sua análise: 
Art. 1.634. Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores: 
I – dirigir-lhes a criação e educação; 
II – tê-los em sua companhia e guarda; 
III – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem; 
IV – nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o 
outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o 
 
 
poder familiar; 
V – representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e 
assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o 
consentimento; 
VI – reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; 
VII – exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios 
de sua idade e condição. 
 
8.5.2. DA SUSPENSÃO DO PODER FAMÍLIA 
A suspensão tem por finalidade a proteção ao menor, podendo ser facultativa, 
temporária, até se mostrar necessária, e pode referir-se unicamente a determinado filho. 
Ocorrerá nas hipóteses trazidas pelo art. 1.637, do CC. 
9. DOS ALIMENTOS 
Podemos definir alimentos como a constituição à subsistência do ser humano, sendo 
tutelada por todos os princípios de direito de família. Os alimentos poderão ser naturais 
ou civis. Serão naturais aqueles destinados ao mínimo existencial do filho, como a 
alimentação, vestuário, educação, saúde e habitação. Por sua vez, serão civis aqueles 
alimentos que buscam dar a seu credor padrão social semelhante ao do devedor de 
alimentos. 
Com a finalidade de pleitear alimentos, podem os parentes, os cônjuges ou 
companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo 
compatível com a sua condição social, inclusive para atender as necessidades de sua 
 
 
educação. 
É pacífico o entendimento de que este benefício será estendido aos filhos maiores 
de 18 anos, e àqueles que possuam até 24 anos completos e estejam exercendo curso 
superior, politécnico ou concluindo o ensino médio. 
Os alimentos serão pagos inicialmente pela existência de um vínculo obrigacional 
legal, de acordo com o binômio alimentar POSSIBILIDADE da pessoa obrigada e a 
NECESSIDADE de quem pede alimentos, conforme dispõe Art. 1.694, § 1º CC. Atualmente 
se inclui um terceiro requisito, que é o da proporcionalidade entre as necessidades do 
alimentário e os recursos do alimentante. 
9.1. ALIMENTOS GRAVÍDICOS 
Em síntese, é a possibilidade do nascituro, representado pela mãe, requerer alimentos 
do possível pai. 
A simples possibilidade de ser o suposto pai já é motivo para requerer alimentos, 
devendo a genitora trazer os elementos que comprovem a probabilidade do indivíduo 
ser o pai, sendo certo que exame de DNA não é seguro ao feto, apenas sendo feito em 
extrema necessidade. 
Os alimentos gravídicos possuem as mesmas características das demais espécies de 
alimentos, inclusive, a irrepetibilidade. Com o nascimento da criança e realizado o exame 
de DNA, se constatado que a criança não é filha do alimentante gravídico, os valores 
pagos a título de alimentos não poderão ser devolvidos. Todavia nada impede a 
propositura de ação indenizatória por responsabilidade civil. 
Tais alimentos visam cobrir despesas adicionais que decorrem da concepção ao parto, 
 
 
sendo certo que o juiz decidirá os valores dos alimentos por equidade. Em geral, a 
doutrina entende que as despesas seriam para alimentação especial, assistência médica 
e psicológica, exames complementares, internação, parto, medicamentos e demais 
prescrições preventivas e terapêuticas indispensáveis. 
Posteriormente, se houver confirmação da paternidade, é possível pedir revisão, 
majorando ou reduzindo os valores dos alimentos, sendo aplicado o rito mais célere da 
Lei de Alimentos. 
9.2. REQUISITOS PARA A PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS 
Os alimentos serão devidos quando quem os pretende não têm bens suficientes, nem 
pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam, 
pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento. 
O dever alimentar será recíproco entre pais e filhos e extensivo a todos os 
ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros. 
Na falta dos ascendentes cabe a obrigação aos descendentes, guardada a ordem de 
sucessão e, faltando estes, aos irmãos, assim germanos como unilaterais. Além disso, os 
pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, enquanto os filhos maiores 
têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. 
Devemos frisar a importância do entendimento do STJ de que a obrigação alimentar 
do art. 1.698 da lei civil é subsidiária.Todavia, caso o dever alimentar seja de filho para 
o pai, amparado pelo Estatuto do Idoso, o dever alimentar é solidário, por força do 
art. 12 da Lei 10.741/03. 
 
 
9.3. ATUALIZAÇÃO DA DÍVIDA ALIMENTAR 
No art. 1.710 do Código Civil, a atualização monetária é feita por fórmula mais ampla 
(índice oficial regularmente estabelecido) que subsiste por tempo indeterminado, sem 
risco de perda de parâmetro oficial quando da desvalorização da moeda nacional. 
Atenção: LEI Nº 12.415, DE 9 DE JUNHO DE 2011. Acrescenta parágrafo único ao art. 130 
da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), para 
determinar que alimentos provisórios sejam fixados cautelarmente em favor da criança 
ou adolescente cujo agressor seja afastado da moradia comum por determinação 
judicial. 
10. DO BEM DE FAMÍLIA 
Existem duas modalidades de bem de família: a voluntária e a legal. A modalidade 
voluntária reserva-se àquele que possui mais de um bem imóvel e resolve escolher um 
dos bens para não ser objeto de penhora. Já o bem de família legal é imposto por lei, 
recaindo sobre o imóvel residencial. 
O bem de família voluntário está regulamentado nos arts. 1.711 ao 1.722 do Código 
Civil, enquanto o bem de família legal, na Lei 8.009/90. 
Em relação ao bem de família legal, observa-se que o art. 3 da Lei Federal n 8.009/90, 
apresenta rol taxativo de exceções à impenhorabilidade. Tal artigo sofreu recente 
mudança através da Lei Complementar número 150/2015 e da Lei 13.144/2015. Dessa 
forma, hodiernamente, são penhoráveis: a) os bens pelo titular do crédito decorrente do 
financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos 
e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato; b) pelo credor da pensão 
 
 
alimentícia, resguardados os direitos, sobre o bem, do seu coproprietário que, com o 
devedor, integre união estável ou conjugal, observadas as hipóteses em que ambos 
responderão pela dívida; c) para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e 
contribuições devidas em função do imóvel familiar; d) para execução de hipoteca sobre 
o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar; e) por ter 
sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória 
a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens e f) por obrigação decorrente de 
fiança concedida em contrato de locação. 
Por fim, importante destacar alguns entendimentos sumulados do Superior Tribunal 
de Justiça sobre bem de família: 
Súmula 205, STJ. A lei 8009/90 aplica-se às penhoras realizadas antes de 
sua vigência; 
Súmula 364, STJ. O conceito de impenhorabilidade de bem de família 
abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e 
viúvas; 
Súmula 449, STJ. A vaga de garagem que possui matrícula própria no 
registro de imóveis não constitui bem de família para efeitos de penhora; 
Súmula 486, STJ. É impenhorável o único imóvel residencial do devedor 
que esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja 
revertida para a subsistência ou a moradia da sua família. 
 
 
11. DO DIREITO ASSISTENCIAL 
11.1. DA TUTELA 
Em breve síntese, tutela consiste na supressão da falta de capacidade de menores 
aos quais tenham os pais falecidos, encontram-se ausentes ou estejam destituídos do 
poder familiar. 
Tem como espécies as seguintes: 
a) tutela testamentária – consta a nomeação em testamento ou de qualquer outro 
documento autêntico, desde que o genitor nomeante possua o poder familiar, sob pena 
de nulidade; 
b) tutela legítima – com fundamento nos princípios do melhor interesse da criança e 
da proteção integral, na faltas dos pais, a ordem para incumbir a tutela está conferida 
aos parentes consanguíneos de acordo com o disposto no art. 1.731 da lei civil; 
c) tutela dativa – ocorre nos casos do art. 1.732, do CC; 
No exercício da tutela, incumbe ao tutor, quanto à pessoa do menor, dirigir a sua 
educação, defendê-lo e prestar-lhe alimentos, conforme os seus haveres e condição; 
reclamar ao juiz que providencie, como houver por bem, quando o menor haja mister 
correção; e, por fim, adimplir os demais deveres que normalmente cabem aos pais, 
ouvida a opinião do menor, se este já contar doze anos de idade; representar o menor, 
até os dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-lo, após essa idade, nos atos em 
que for parte; receber as rendas e pensões do menor, e as quantias a ele devidas; 
fazer-lhe as despesas de subsistência e educação, bem como as de administração, 
conservação e melhoramentos de seus bens; alienar os bens do menor destinados a 
 
 
venda; promover-lhe, mediante preço conveniente, o arrendamento de bens de raiz. 
Ainda no desempenho da mesma, mas com autorização judicial, competirá ao tutor 
pagar as dívidas do menor; aceitar por ele heranças, legados ou doações, ainda que com 
encargos; transigir; vender-lhe os bens móveis, cuja conservação não convier, e os 
imóveis nos casos em que for permitido; propor em juízo as ações, ou nelas assistir o 
menor, e promover todas as diligências a bem deste, assim como defendê-lo nos pleitos 
contra ele movidos. No caso de falta de autorização, a eficácia de ato do tutor depende 
da aprovação ulterior do juiz. 
A lei impõe também ao tutor a vedação em adquirir para si, ou por interposta pessoa, 
mediante contrato particular, bens móveis ou imóveis pertencentes ao menor; dispor 
dos bens do mesmo a título gratuito; constituir-se cessionário de crédito ou de direito, 
contra este. 
A condição de tutelado cessará com a maioridade ou a emancipação do menor; ao 
cair este sob o poder familiar, no caso de reconhecimento ou adoção. Já as funções de 
tutor, ao expirar o termo, em que era obrigado a servir; ao sobrevir escusa legítima; ao 
ser removido. 
11.2. DA CURATELA 
Curatela é o encargo deferido por lei, a outrem, para reger e administrar o patrimônio 
de quem não possui capacidade para exercitar, sozinho, os atos da vida civil, seja em 
razão de ausência, moléstia ou até mesmo por ainda ser um nascituro. 
Curatela e tutela são institutos próximos, pois tem, na sua gênese, o ideal 
assistencialista, destinado à proteção de incapazes. 
 
 
O tema curatela sofreu importantes impactos em virtude da recente Lei 13.146/2015 
(Estatuto da Pessoa com Deficiência – EPD), e posterior modificações da Lei 13.105/15 
(Novo Código de Processo Civil - NCPC). Percebe-se, em relação ao tema, uma espécie 
de atropelamento legislativo, sendo primeiro modificado o Código Civil por força do 
EPD e, posteriormente, por força do Novo Código de Processo Civil (NCPC). 
O EPD , como já consignado em algumas oportunidades nesta obra, tratou de conferir 
autonomia aos deficientes, os quais passaram a ser vistos como capazes, ressalvada a 
existência de eventual interdição. Tal eventual interdição - diante de sua eventualidade 
- para muitos deve passar a ser chamada, inclusive, de curatela extraordinária, nas 
pegadas do art. 84 do EPD. Entretanto, o NCPC segue referindo-se ao clássico processo 
de interdição. 
Uma vez existindo a aludida interdição – processo necessário para a incapacitação 
em função de uma questão subjetiva (psíquica) – haverá de ser nomeado um curador 
para o direcionamento e gestão do patrimônio do incapaz. 
Mas quem está sujeito à curatela? 
Em função da novel Lei 13.146/2015, hodiernamente estão sujeitos à curatela aqueles 
que por causa transitória ou permanente não puderem exprimir a sua vontade, os ébrios 
habituais, os viciados em tóxico e os pródigos (CC, art. 1.767). 
E quem poderá pleitear a curatela de outrem? 
A legitimidade ativa abrange o cônjuge, o companheiro, parentes, tutores, 
representante de entidade em que se encontra abrigado o interditando e o Ministério 
Público, na forma do art. art. 747 do NCPC. As novidades no rol de legitimados são 
duas: i. inserção do companheiro e ii. referênciaao representante da entidade onde se 
encontra abrigado o interditando. Ambas a inserções são digna de aplausos, posto que 
 
 
tutela a entidade familiar da união estável e soluciona a casuística de legitimidade 
daqueles que foram abandonados por seus familiares em abrigos. 
Os legitimados ativos o são de forma concorrente, não havendo de falar-se em 
preferência entre eles. Ademais estão listados de forma disjuntiva, não demandando a 
formação de litisconsórcio necessário. Caso, facultativamente, porém, desejem formar 
litisconsórcio, não haverá vedação. 
No que tange ao Ministério Público, apenas poderá promover a interdição no caso 
de doença mental grave e se: a) nenhum dos legitimados do art. 747 do NCPC o tenha 
feito ou b) se o cônjuge, o companheiro, parentes e tutores sejam incapazes (NCPC, art. 
748). Percebe-se, por conseguinte, uma legitimidade subsidiária do Ministério Público. 
Durante o processo de interdição, o interditado haverá de ser entrevistado. Na dita 
entrevista o juiz procederá com minuciosas perguntas sobre a vida do interditando, 
negócios, bens, vontades, preferências, laços familiares e afetivos e tudo mais o que 
entenda pertinente para verificação da (in)capacidade, sendo as perguntas e respostas 
reduzidas à termo (NCPC, art. 751). O juiz poderá valer-se de critérios de tecnologia 
assistiva, com recursos teconológicos capazes de efetivar e entrevista do interditando. 
Permite-se, por exemplo, que aquele que não consiga falar, se comunique digitando. 
Outrossim, entendendo o magistrado pertinente, poderá requisitar a oitiva de parentes 
e pessoas próximas 
Outrossim, procedimentalmente far-se-á necessária perícia médica obrigatória, a 
qual poderá ser realizada por equipe composta por expertos e com formação 
multidisciplinar. Tal perícia deverá gerar laudo com especificidades derredor de quais 
situações demanda-se a curatela e servirá para guiar o juiz na sua decisão (NCPC, 753). 
 
 
Apresentado o laudo, produzidas as demais provas e ouvidos os interessados, o juiz 
pronunciará a sentença (NCPC, art. 754), adequando os limites da interdição às 
necessidades do interditando. A decisão de interdição necessita ser registrada para que 
produza efeitos erga omnes, na forma do art. 9º do Código Civil. Ademais, o NCPC, 
inovando no tema, aduz que deva ser a decisão publicada na rede mundiais de 
computadores, especificamente no sítio do Tribunal a que estiver vinculado o juízo e na 
plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça, onde permanecerá por 6 (seis) 
meses. Além disso, segue o NCPC firmando publicação na imprensa local, uma vez, e no 
órgão oficial, por três vezes e com intervalo de dez dias, constando do edital os nomes 
do interdito e do curador, a causa da interdição, os limites da curatela e os atos que 
poderá o interdito praticar de forma autônoma. 
A procedência da interdição impõe a nomeação de um curador. Nessa toada, o art. 
1.775 do CC veicula uma ordem de preferências, iniciando-se pelo cônjuge ou 
companheiro não separado judicialmente ou de fato, avançando aos pais, descendente 
mais apto, preferindo os mais próximos aos mais remotos, e finalizando a com um 
curador escolhido pelo Juiz – curador dativo. 
Destarte, ainda nas novidades do Estatuto da Pessoa com Deficiência, nada impede a 
adoção de uma curatela compartilhada, deferindo-se o múnus a mais de uma pessoa, 
concomitantemente (CC, art. 1.775-A). 
A autoridade do curador se estenderá à pessoas e bens dos filhos do curatelado, salvo 
se o magistrado enxergar solução diversa. Aplica-se a regra geral da extensão, quando 
ter-se-á a denominada curatela estendida ou prorrogada (CC, art. 1779 e NCPC, art. 
757). 
 
 
O curador deverá não apenas administrar os bens do curatelado, mas também o 
auxiliar na sua recuperação, conferindo direito à convivência familiar e comunitária e 
evitando seu recolhimento em estabelecimento que afaste o curatelado deste convívio 
(CC, art. 1777). 
Ademais tal curatela deverá ser deferida sob medida para o caso concreto, mantendo, 
sempre que possível e de maneira mais ampla, a autonomia do interditado para os atos 
da vida civil. Tal percepção de uma curatela sob medida já acontecia, por exemplo, na 
situação do pródigo, quando estabelece o art. 1.782 do Código Civil que “a interdição 
do pródigo só o privará de, sem curador, emprestar, transigir, dar quitação, alienar, 
hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral, os atos que não sejam de 
mera administração”. 
11.3. DA TOMADA DE DECISÃO APOIADA 
Inovando a legislação pretérita, a Lei 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com 
Deficiência) inaugurou todo um novo capítulo, com um único artigo (art. 1783-A), o qual 
contém onze parágrafos. Trata o artigo em comento da chamada Tomada de Decisão 
Apoiada, tema sobre o qual passaremos a tratar. 
A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com deficiência elege, 
ao menos, 2 (duas) pessoas idôneas com as quais mantenha vínculos e que gozem de 
sua confiança. Tais pessoas irão prestar ao deficiente apoio na tomada de decisões sobre 
atos da vida civil, fornecendo elementos e informações necessárias para o pleno exercício 
da capacidade. 
Procedimentalmente, o pedido de tomada de decisão apoiada será feito pela pessoa 
 
 
com deficiência e os respectivos apoiadores, junto ao Poder Judiciário. Neste pedido há 
de constar termo em que limite-se o apoio a ser oferecido e os compromissos dos 
apoiadores, bem como o prazo de vigência do acordo e o respeito a ̀ vontade, aos 
direitos e aos interesses da pessoa apoiada. 
Que fique claro: pedido de tomada de decisão apoiada será requerido pela pessoa a 
ser apoiada, com indicação expressa das pessoas aptas a prestarem o apoio, as quais 
estarão concordes em prestar o aludido apoio. 
Antes de se pronunciar sobre o pedido, o juiz, assistido por equipe multidisciplinar e 
após a oitiva do Ministério Público, ouvirá pessoalmente o deficiente e as pessoas que 
lhe prestarão apoio. 
Em sendo um apoio limitado aos termos do acordo, a tomada de decisão por pessoa 
apoiada terá validade e efeitos sobre terceiros, sem restrições, desde que, obviamente, 
inserida nos limites do apoio acordado. Outrossim, terceiros com quem a pessoa apoiada 
mantenha relação negocial poderão solicitar que os apoiadores assinem o documento, 
especificando, por escrito, sua função em relação ao apoiado. 
Para clarificar a situação, imagina-se que João, deficiente, ajuíze um procedimento de 
tomada de decisão apoiada, indicando como seus apoiadores Caio e Hugo, ambos 
concordes. João indica como limites do apoio a alienação de bens. Nessa esteira, sempre 
que houver alienações patrimoniais, haverá de existir apoio, podendo o comprador do 
imóvel de João exigir que o ato seja subscrito por Caio e Hugo. 
Caso o negócio jurídico possa trazer risco ou prejuízo relevante, havendo divergência 
de opiniões entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores, deverá o juiz, ouvido o 
Ministério Público, decidir sobre a questão. Fala-se, aqui, em conflito entre os apoiadores 
apto a ocasionar suprimento judicial. O juiz, obviamente, após a oitiva do Ministério 
 
 
Público, decidirá atento ao pilar de proteção do vulnerável. Perguntar-se-á o juiz: afinal, 
é bom para o apoiado a alienação deste bem? 
Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão indevida ou não adimplir com 
suas respectivas obrigações, poderá a pessoa apoiada, ou qualquer interessado, 
apresentar denúncia ao Ministério Público, ou ao juiz. Procedente a denúncia, o juiz 
destituirá o apoiador. Havendo a destituição, o juiz ouvirá a pessoa apoiada e, em sendo 
do interesse do apoiado, nomeará outrem para a prestação do apoio. 
Mesmo tendo sido fixado prazo no termo de apoio, a pessoa apoiada poderá, a 
qualquer tempo, solicitar o término do acordo firmado, destituindo o apoio. Destarte, o 
apoiador também poderá solicitar ao juiz a exclusão dedas fundações deverá ser feita 
pelo Ministério Público Estadual. Consoante mais uma modificação da Lei 13.151/2015 – 
agora adequando o texto do Código Civil à ADI 21.794 –, se as fundações funcionarem 
no Distrito Federal, ou em Territórios, caberá o encargo ao Ministério Público do Distrito 
Federal e Territórios. Outrossim, caso as fundações estendam suas atividades por mais 
de um Estado, caberá o encargo, em cada um dos Estados, ao respectivo Ministério 
Público Estadual. 
Finda a Fundação a destinação de seu patrimônio deverá estar expressa no estatuto. 
Porém, caso este quede-se omisso, o magistrado, com a oitiva do Ministério Público, o 
destinará para um fundação similar, nos moldes do artigo 69 do CC. 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. DO DOMICÍLIO 
 
É importante para o Estado saber onde a pessoa presumivelmente está, pois é 
necessário que todos tenham um local onde possam ser encontrados para responder 
por suas obrigações. A esse local damos o nome de domicílio, que se constitui na sede 
jurídica de uma pessoa. 
Nos termos do art. 70 do CC, domicílio é a residência com ânimo definitivo, ou seja, 
o lugar onde tenho minha morada habitual com a intenção de aí permanecer. Note que 
o conceito de domicílio exige a soma de dois elementos: um elemento objetivo (ser a 
residência da pessoa) e um elemento subjetivo (a intenção de permanecer, conhecido 
como animus manendi). 
É possível a pessoa ter mais de um domicílio? Naturalmente que sim. Se a pessoa 
tem mais de uma morada habitual, terá mais de uma residência; se tem mais de uma 
residência com ânimo definitivo, terá mais de um domicílio. 
E mais: o lugar em que a pessoa exerce permanentemente sua profissão é chamado 
de domicílio profissional, pois, nos termos do art. 72 do CC, é o domicílio da pessoa 
para as questões concernentes ao exercício de sua profissão. Caso a pessoa exerça 
permanentemente sua profissão em mais de um lugar, será seu domicílio profissional 
qualquer deles. 
Em sentido inverso, é possível a pessoa não ter residência com ânimo definitivo. 
Nesse caso, como não há qualquer ponto onde fique habitualmente com a intenção de 
permanecer, seu domicílio será variável, pois será o lugar em que for encontrado, 
conforme determina o art. 73 do CC. 
 
 
O art. 75 do CC traz o domicílio das pessoas jurídicas. O domicílio da União é o 
Distrito Federal, dos Estados e Territórios são suas capitais e do Município é o lugar 
onde funciona a sua administração. O domicílio da pessoa jurídica de direito privado é 
o lugar onde funcione a sua administração ou onde escolhido no seu ato constitutivo. 
Podemos apontar três tipos de domicílio: domicílio voluntário comum, domicílio 
voluntário especial ou de eleição e domicílio necessário ou legal. 
Domicílio voluntário é aquele em que escolhemos, podendo ser comum ou especial. 
Domicílio voluntário comum é a regra. É chamado de voluntário comum para 
diferenciá-lo do voluntário especial, que é aquele escolhido especialmente para um 
contrato. Conforme art. 78 do CC, quando as partes celebram um contrato escrito, 
podem escolher um domicílio especialmente para esse contrato, ou seja, o lugar onde 
serão cumpridos os direitos e deveres desse contrato, também sendo chamado de 
domicílio de eleição. 
Domicílio necessário ou legal é aquele imposto por lei a certas pessoas em razão de 
sua condição especial. Conforme art. 76 do CC, têm domicílio necessário ou legal o 
incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso. O parágrafo único lista seus 
domicílios necessários: do incapaz é o do seu representante ou assistente; do servidor 
público é o lugar em que exerce permanentemente suas funções; do militar é o lugar 
onde servir, mas se for da marinha ou da aeronáutica é a sede do comando a que estiver 
imediatamente subordinado; do marítimo é onde o navio estiver matriculado; do preso 
é o lugar em que cumprir a sentença. 
 
 
 
 
5. DOS BENS 
 
5.1 BENS MÓVEIS E BENS IMÓVEIS 
 
Bem móvel é aquele que pode ser transportado sem perder as suas características, 
diferente do bem imóvel. O normal é o bem móvel se mover por força alheia, mas 
poderá se mover por movimento próprio, quando é chamado de bem semovente (são 
os animais). 
Quanto ao bem imóvel, a lei diz ser a edificação que, separada do solo, mas 
conservando a sua unidade, é removida para outro local (art. 81, I, do CC). 
Não se esqueça de que, quando falamos em bens, há bens corpóreos e bens 
incorpóreos. Bens corpóreos são os bens materiais, tais como uma mesa ou uma casa. 
Já os bens incorpóreos são os direitos, ou seja, os bens imateriais. A lei se ocupou em 
determinar se os bens incorpóreos são móveis ou imóveis, sendo o que chamamos de 
bens móveis e imóveis por determinação legal. Vale a pena memorizar tais hipóteses: 
a) Bens imóveis por determinação legal (art. 80 do CC): direitos reais sobre bens 
imóveis (assim como o direito de ação correspondente) e o direito à sucessão aberta 
(direito de herança depois da morte do de cujos, ou seja, da abertura da sucessão). 
b) Bens móveis por determinação legal (art. 83 do CC): energia com valor econômico, 
direito real sobre bem móvel e os direitos pessoais de caráter patrimonial (assim como 
os respectivos direitos de ação correspondentes). 
 
 
5.2 BENS FUNGÍVEIS E INFUNGÍVEIS, BENS CONSUMÍVEIS E 
INCONSUMÍVEIS. 
 
Trataremos destas classificações simultaneamente, pois são duas classificações 
específicas para bens móveis. Cuidado na prova: não classificamos bens imóveis em 
fungíveis ou infungíveis nem em consumíveis ou inconsumíveis. 
Bem fungível é o bem que pode ser substituído por outro de mesma espécie, 
qualidade e quantidade, diferente do bem infungível, que não pode ser substituído por 
ser único. 
Bem consumível é o bem cujo uso gera destruição imediata de sua substância. Por 
sua vez, no caso do bem inconsumível, o uso não gera tal destruição imediata. 
Cuidado: seja qual for o bem móvel, se estiver destinado à alienação, é considerado bem 
consumível. 
5.3 BENS DIVISÍVEIS E BENS INDIVISÍVEIS 
 
Bem divisível é aquele que pode ser dividido sem perder as suas características e 
consideravelmente o valor, tal como um terreno (dividido em lotes). Bem indivisível não 
pode assim ser dividido, como ocorre com um carro. 
Um bem naturalmente divisível pode tornar-se indivisível tanto por vontade das 
partes como por determinação da lei. Um terreno se torna indivisível por vontade das 
partes quando é feita uma doação com cláusula de indivisibilidade e por determinação 
da lei quando penso no chamado módulo rural, que consiste no tamanho mínimo que 
 
 
um terreno pode ter em determinado município. 
5.4 BENS SINGULARES E BENS COLETIVOS 
 
A lei trata um conjunto de bens como sendo um único bem, chamando-o de bem 
coletivo, para que esse conjunto tenha o seu próprio tratamento jurídico. Por outro 
lado, bens singulares são os bens que compõem essa coletividade. Exemplo: o espólio 
é um bem coletivo, sendo considerado bem imóvel pela lei, mesmo que só composto 
por bens móveis. 
Os bens coletivos são chamados de universalidades. A lei prevê dois tipos de 
universalidades: de fato e de direito, que assim são definidos pela lei: 
a) Universalidade de fato: é o conjunto de bens singulares que pertencem a uma 
pessoa, reunidos em razão de uma destinação unitária, tal como a biblioteca enquanto 
conjunto de livros de uma pessoa. 
b) Universalidade de direito: é todo o patrimônio de uma pessoa, razão pela qual é 
definida pela lei como o complexo de relações jurídicas de uma pessoa, dotadas de valor 
econômico, tal como o patrimônio, o espólio e a massa falida. 
5.5 BEM PRINCIPAL E BENS ACESSÓRIOS 
 
Bem principal é o bem que tem existência autônoma, enquanto que bem acessório 
é aquele que necessita de outro para existir, pois a sua existência supõe a do principal. 
No Brasil, há quatro tipos de bens acessórios: frutos, produtos, benfeitoriassua participação do processo de 
tomada de decisão apoiada, sendo seu desligamento condicionado a ̀ manifestação do 
juiz sobre a matéria. 
Por fim, em sendo a tomada de decisão apoiada, em certa medida, gestão de 
patrimônio alheio, os apoiadores haverão de prestar contas. Logo, aplicar-se-á, no que 
couber, as disposições referentes à prestação de contas da curatela à tomada de decisão 
apoiada. 
 
 
DIREITO DAS SUCESSÕES 
1. INTRODUÇÃO 
O direito da sucessão inicia-se com a morte de alguém, vindo os sucessores, e 
ocupando a posição do finado, vislumbrando dessa maneira uma das formas de extinção 
da personalidade. Tanto que a expressão de cujus é uma abreviação da expressão latina 
de cujus sucessione agitur, ou seja, de cuja sucessão se trata. 
A abertura da sucessão ocorre no mesmo instante da morte do de cujus, 
transmitindo-se automaticamente a herança aos seus herdeiros legítimos e 
testamentários, consistindo nesta forma o Princípio da Saisine, em que a pessoa falecida 
transmite aos sucessores o domínio e a posse da herança (lemort saisit le vif). Neste 
sentido, o art. 1.784 do CC. 
O direito de Saisine tem como efeito a transmissão da posse aos herdeiros com os 
mesmos caracteres. A abertura da sucessão se dará no lugar do último domicílio do 
falecido, e será regulada – sendo regulada e legitimada pela lei vigente ao tempo da 
morte do de cujus, além de todos os herdeiros sobreviventes herdarem o quinhão 
hereditário. 
Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade da herança. 
 
 
Importante se faz a leitura do art. 1.790 do Código Civil. Note que o companheiro 
irá concorrer somente nos casos do dispositivo mencionado, não participando de 
maneira alguma nos bens adquiridos antes ou gratuitamente à união, ou seja, os bens 
particulares. 
2. DA HERANÇA E SUA ADMINISTRAÇÃO 
A herança só passa a existir com a morte, sendo vedada o pacto de corvina, regra 
instituída no art.426 da lei civil. A natureza jurídica da herança é de bem indivisível, 
sendo ineficaz qualquer cessão anterior à partilha. 
Em caso de alienação, terá direito de preferência os demais herdeiros que não tiverem 
conhecimento da cessão, podendo depositar o preço e obter a quota cedida a terceiros 
estranhos a sucessão, desde que se o requeira em até cento e oitenta dias após a 
transmissão. 
Quando um herdeiro cede para outro a sua quota, esta cessão pode ser parcial 
(ou até de apenas um determinado bem) ou total ou, ainda, renuncia a sua quota em 
nome de outro herdeiro. Tal instituto é chamado de “cessão de direitos hereditários”, 
devendo ser lavrado por escritura pública e será normalmente tributado. 
O art. 1.792 do Código Civil prevê a responsabilidade dos herdeiros ou “benefício de 
inventário” em que protege o patrimônio pessoal dos mesmos, respondendo pelas 
dividas deixadas pelo de cujus somente com o patrimônio deixado. 
A administração da herança caberá até o compromisso do inventariante ao cônjuge 
ou companheiro, se com o outro convivia ao tempo da abertura da sucessão; no caso 
de não possuir cônjuge ou companheiro, competirá ao herdeiro que estiver na posse e 
 
 
administração dos bens, e, se houver mais de um nessas condições, ao mais velho; ao 
testamenteiro; a pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas nos incisos 
antecedentes, ou quando tiverem de ser afastadas por motivo grave levado ao 
conhecimento do juiz, também conhecido por inventariante judicial. O administrador da 
herança deverá abrir o inventário no prazo de 60 dias, sob pena de multa. 
3. DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA 
Estão legitimados a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da 
abertura da sucessão. Portanto, de acordo com este conceito, inclui-se o nascituro. 
No que tange à sucessão testamentária, podem ainda ser chamados a suceder os 
filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas 
ao abrir a sucessão; as pessoas jurídicas; bem como aquelas, cuja organização for 
determinada pelo testador sob a forma de fundação. 
Os bens da herança serão confiados, após a liquidação ou partilha, a curador 
nomeado pelo juiz, quando o sucessor testamentário for nascituro, sendo lícito deixar 
bens ao filho da concubina, quando também for filho do de cujus, podendo fazer este 
reconhecimento inclusive em testamento. 
Quanto aos não legitimados a suceder, não podem ser nomeados herdeiros nem 
legatários a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou 
companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos; as testemunhas do testamento; o 
concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato do 
cônjuge há mais de cinco anos; o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, 
perante quem se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento. 
 
 
Por fim, serão nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não 
legitimadas a suceder, ainda quando simuladas sob a forma de contrato oneroso, ou 
feitas mediante interposta pessoa, sendo presumida se pessoas interpostas os 
ascendentes, os descendentes, os irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado 
a suceder. 
4. DA ACEITAÇÃO E DA RENÚNCIA DA HERANÇA 
O instituto da aceitação define-se como ato de confirmação da transmissão 
hereditária que ocorre no momento de abertura da sucessão. 
Ela poderá ser expressa, tácita ou presumida. Será expressa quando feita por 
declaração; tácita, quando resultar tão-somente de atos próprios da qualidade de 
herdeiro; e presumida, quando existir interessado na declaração de aceitação do 
herdeiro, vinte dias após aberta a sucessão, requerer ao juiz prazo razoável não superior 
de trinta dias para o herdeiro se pronunciar, sob pena de se considerar a herança aceita. 
A natureza da aceitação é de ato jurídico em sentido estrito, pois seus efeitos 
decorrem da lei; não receptícia, por não depender da comunicação ou autorização de 
outrem para exercitar este direito; indivisível, incondicionada e irrevogável. Este ato 
retroage os efeitos à data da abertura da sucessão, possuindo efeitos declaratórios. 
A renúncia poderá abdicativa ou translativa. Será abdicativa quando o sucessor 
renunciar em favor do monte, não havendo pagamento de tributo por sequer tocar no 
patrimônio renunciado. Já a renúncia translativa ocorre quando o sucessor renunciar em 
favor de 3ª pessoa, sendo equiparada a cessão de direitos hereditários, havendo dessa 
maneira, incidência de tributo, devendo dar o direito de preferência aos demais 
 
 
sucessores. 
Ambas as espécies de renúncia deverão ser expressas, declaradas através de um ato 
solene, visto que tem exigência de instrumento público ou termo judicial, sendo os 
mesmos irrevogáveis. 
A renúncia terá como pressupostos a capacidade do renunciante; a anuência do 
cônjuge, se casado for; e a inexistência de prejuízo para os credores. 
A capacidade do renunciante está de acordo com os requisitos presentes no negócio 
jurídico. Quanto à anuência dos cônjuges, esta exigência se verifica no art. 80, II c/c 
art. 1.647, I da lei civil. No condizente ao terceiro requisito, ninguém poderá praticar um 
ato com o fim específico de causar prejuízo a terceiros, vez que a ninguém é lícito se 
valer de sua própria torpeza. 
A renúncia terá como efeitos a exclusão do herdeiro renunciante, acréscimo da parte 
renunciante aos demais herdeiros de mesma classe e a proibição da sucessão por direito 
de representação, já que inexiste representação de herdeiro renunciante. 
5. DOS EXCLUÍDOS DA SUCESSÃO 
As causas de exclusão da sucessão serão aplicadas para aqueles que praticaremos 
atos elencados no art. 1.814 do CC, qual seja, atentados contra a vida, honra e liberdade 
do de cujus. 
Este instituto tem como natureza jurídica de pena civil, não tendo o excluído direito 
de receber os bens do falecido. 
As causas de exclusão farão com que o indigno seja tratado como se mortofosse, 
sendo então chamada pela doutrina de “morte civil”, e este afeito somente ocorrerá com 
 
 
o trânsito em julgado da sentença que declarará a indignidade do ofensor, afirmando 
que o mesmo não poderá herdar os bens deixados pelo de cujus. Os efeitos da sentença 
irão retroagir a data da abertura do inventário. 
O direito de demandar a exclusão do herdeiro ou legatário irá extinguir no prazo de 
quatro anos, contados da abertura da sucessão, tendo este prazo natureza decadencial. 
Cumpre salientar que, apesar de os herdeiros do indigno poderem herdar, o excluído 
da sucessão não terá direito ao usufruto ou à administração dos bens que a seus 
sucessores couberem na herança, nem à sucessão eventual desses bens. 
Esta ação tem a participação obrigatória do Ministério Público. No entanto, a referida 
instituição não poderá propor a referida ação, por não ser o titular do direito. Esta ação 
será distribuída por dependência dos autos de inventário. 
6. DA HERANÇA JACENTE 
Trata-se da abertura da sucessão quando inexistir herdeiro e/ou testamento. 
A herança jacente não possui personalidade jurídica, mas possui legitimidade ativa e 
passiva para comparecer em juízo, a sua arrecadação será feita nos termos dos arts. 1.142 
ao 1.158 CPC. 
Com o pronunciamento judicial de vacância da herança, encerra-se a herança jacente. 
Importante mencionar que o Estado não adquire a propriedade dos bens que 
integram a herança jacente, até que seja declarada a vacância, de modo que, nesse 
interregno, os bens estarão sujeitos a usucapião. 
 
 
7. DA PETIÇÃO DE HERANÇA 
Trata-se da possibilidade do herdeiro, em ação de petição de herança, demandar o 
reconhecimento de seu direito sucessório para obter a restituição da herança, ou de 
parte dela, contra quem na qualidade de herdeiro ou mesmo sem título a possua. 
A legitimidade ativa será de quem se intitula herdeiro e reivindica o título e apassiva, 
de quem está na posse da herança (possuidor pro herede). 
O efeito desta ação é o reconhecimento da ineficácia da partilha em relação ao autor 
da ação, dispensando a sua anulação. A ação de petição de herança possui o prazo 
prescricional de dez anos. No entanto, pode ser cumulada com a investigação de 
paternidade, e esta última será imprescritível. 
8. DA SUCESSÃO LEGÍTIMA 
8.1. DA ORDEM DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA 
Para iniciar o estudo referente a esta matéria, é indispensável à análise do art.1.829 
do CC: 
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: 
I – aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo 
se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da 
separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no 
regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens 
particulares; 
II – aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; 
 
 
III – ao cônjuge sobrevivente; 
IV – aos colaterais. 
Este dispositivo trata dos herdeiros legais, ou seja, morrendo o autor da herança, a 
lei informará quem sucederá. Importante também analisar a questão do companheiro, 
prevista no art. 1.790 do Código Civil: 
 
Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do 
outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união 
estável, nas condições seguintes: 
I – se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente 
à que por lei for atribuída ao filho; 
II – se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á 
a metade do que couber a cada um daqueles; 
III – se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço 
da herança; 
IV – não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da 
herança. 
 
Percebe-se que o companheiro filia-se, ainda hoje, a um sistema sucessório à parte, 
diverso daquele relacionado ao cônjuge. Entretanto recorda-se haver julgamento em 
curso, no Supremo Tribunal Federal, objetivando a declaração de inconstitucionalidade 
do art. 1.790 do CC e isonomia sucessória dos sistemas do cônjuge e do companheiro. 
 
 
 
Mas atenção! Em 31 de agosto de 2016 o Plenário do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, NO 
RECURSO EXTRAORDINÁRIO 878694, iniciou o julgamento de uma das mais relevantes 
questões jurídicas do direito sucessório na atualidade brasileira, qual seja a sucessão na 
união estável, notadamente no que diz respeito à inconstitucionalidade do art. 1.790 
do CC. Trata-se de julgamento ainda não concluído. 
Após o voto do Ministro Roberto Barroso (Relator) pela inconstitucionalidade do art. 
1.790 do CC, no que foi acompanhado pelos Ministros Edson Fachin, Teori Zavascki, Rosa 
Weber, Luiz Fux, Celso de Mello e Cármen Lúcia, houve a suspensão do julgamento 
decorrente do pedido de vista apresentado pelo Ministro Dias Toffoli (que devolveu o 
processo em dezembro de 2016). Discute-se neste recurso extraordinário a legitimidade 
do tratamento diferenciado dado a cônjuge e a companheiro, pelo artigo 1.790 do 
Código Civil, para fins de sucessão. Até o momento, sete ministros votaram pela 
inconstitucionalidade da norma, por entenderem que a Constituição Federal garante a 
equiparação entre os regimes da união estável e do casamento no tocante ao regime 
sucessório. O recurso, que começou a ser julgado, teve repercussão geral reconhecida 
pela Corte em abril de 2015. 
A tese que até o presente momento está prevalecendo é a de ser inconstitucional a 
distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, 
em ambos os casos, o regime estabelecido no artigo 1.829 do Código Civil de 2002”. 
Como se pode observar, o tema da sucessão na união estável é atual e socialmente 
relevante. Contudo, ainda não há acórdão definitivo da Suprema Corte, nem conclusão 
de julgamento sobre a matéria. 
 
 
Voltando à sucessão do cônjuge, somente será reconhecido direito sucessório ao 
cônjuge sobrevivente se, ao tempo da morte do outro, não estavam separados 
judicialmente ou de fato há mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa 
convivência se tornara impossível sem culpa do sobrevivente. 
É essencial frisar que, enquanto não se pacificar o entendimento acerca dos separados 
judicialmente que não propuseram o respectivo divórcio, se irá considerar divorciados 
ou permanecerão até extinguir no ordenamento resquícios da separação judicial, esta 
regra continuará. 
Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será assegurado, sem 
prejuízo da participação que lhe caiba na herança, o direito real de habitação 
relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único 
daquela natureza a inventariar. Por outro lado, se houver mais de um imóvel residencial, 
não se pode falar neste direito. 
A sucessão pode se dar por direito próprio e direito de representação e direito de 
transmissão. 
a) Direito próprio – ocorre quando não existem indivíduos com capacidade sucessória 
entre autor da herança demais herdeiros; 
b) Por direito de representação – ocorre quando existem indivíduos com capacidade 
sucessória entre autor da herança e demais herdeiros. Regra geral acontece na hipótese 
de existir herdeiro pré-morto; 
c) Por direito de transmissão – é a mesma coisa que direito de representação só que 
na presença de pós-morto; 
Obs.: Os ascendentes sempre irão receber por direito próprio, não se admitindo 
representação na ascendência. 
 
 
Quanto à forma de partilhar, existem 3 modos: 
a) por cabeça – ocorre quando os sucessores são parentes de mesmo grau e recebem 
frações iguais da herança; 
b) por estirpe – ocorre quando os sucessores não recebem frações iguais; 
c) por linha – é aquela que ocorre na sucessão de ascendente; 
 
8.1.1. DOS HERDEIROS NECESSÁRIOS 
A lei dispõe que são herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o 
cônjuge, sendo este rol taxativo. Por este motivo, o companheiro ou convivente não é 
herdeiro necessário. 
Vale informarque é possível a exclusão dos colaterais, por disposição testamentária. 
Regra geral, não poderá o testador estabelecer cláusula de inalienabilidade, 
impenhorabilidade, e de incomunicabilidade, sobre os bens da legítima, salvo se houver 
justa causa. 
Além disso, não é permitido ao testador estabelecer a conversão dos bens da legítima 
em outros de espécie diversa. 
Poderá ainda, mediante autorização judicial e havendo justa causa, ser alienados os 
bens gravados, convertendo-se o produto em outros bens, que ficarão sub-rogados nos 
ônus dos primeiros. 
 
8.1.2. DIREITO DE REPRESENTAÇÃO 
Segundo o Código Civil, o direito de representação se dará quando a lei chama certos 
parentes do falecido a suceder em todos os direitos, em que ele sucederia, se vivo fosse. 
 
 
Este direito se dá na linha reta descendente, mas nunca na ascendente. 
Na linha transversal, somente se dá o direito de representação em favor dos filhos 
de irmãos do falecido, quando com irmãos deste concorrerem. 
Herdam os representantes somente o que herdaria o representado, se vivo fosse, 
sendo o quinhão do representado partido igualmente entre os representantes. 
9. DA SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA 
Toda pessoa capaz poderá dispor, por testamento, da totalidade dos seus bens, ou 
de parte deles, para depois de sua morte. O testamento é ato personalíssimo, podendo 
ser mudado a qualquer tempo. 
Importante lembrar que havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor 
da metade da herança e a legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída 
no testamento. 
As disposições testamentárias de caráter não patrimonial serão válidas ainda que o 
testador somente a elas se tenha limitado, e será extinto no prazo de cinco anos o 
direito de impugnar a validade do testamento, contado o prazo da data do seu registro. 
9.1. DA CAPACIDADE DE TESTAR 
Segundo disposição da lei, os maiores de dezesseis anos podem testar, vedando a 
possibilidade somente dos incapazes e de quem não tiver pleno discernimento no ato 
de sua elaboração, pois a incapacidade superveniente do testador não invalida o 
testamento, nem o testamento do incapaz se valida com a superveniência da capacidade, 
respaldada no princípio do tempus regit actum, em que será validado pela capacidade 
 
 
da época do ato. 
9.2. DO TESTAMENTO 
Caracteriza-se como negócio jurídico solene, escrito, patrimonial e/ou 
extrapatrimonial pelo qual alguém, nos termos da lei, dispõe de seus bens, no todo ou 
em parte, para depois de sua morte. 
9.2.1. CARACTERÍSTICAS DO TESTAMENTO 
a) ato personalíssimo – seja pela disposição legal, seja pela razão de que somente o 
testador poderá dispor sobre o ato de sua vontade; 
b) intuito personae – não existe direito de representação na sucessão testamentária, 
ou seja, somente a pessoa designada receberá o patrimônio descriminado; 
c) ato escrito – regra geral, a lei determina a forma escrita, existindo 
excepcionalmente o testamento realizado na forma oral, nos casos de testamento 
nuncupativo (art. 1.896 do CC); 
d) unilateral – somente poderá constar a vontade do autor da herança, não podendo 
ocorrer mais de uma vontade no mesmo testamento, salvo no caso de nomeação de 
tutor dos filhos, em que se determinará que além do testador o outro genitor da prole 
designe tal incumbência; 
e) solene – devem ser cumpridas todas as solenidades previstas em lei, sob pena de 
nulidade; 
f) gratuito – não será gratuito no que condiz a taxas, mas será gratuito na relação 
entre testador e testado, em que não existirão vantagens recíprocas, apenas a uma das 
partes; 
 
 
g) eficácia post mortem – se não existe herança de pessoa viva, então somente com 
a morte o testamento terá eficácia; 
 
9.2.2. DAS FORMAS ORDINÁRIAS DO TESTAMENTO 
Dispõe a lei as seguintes espécies testamentárias: 
a) público 
b) cerrado 
c) particular 
 
9.2.2.1. Do testamento público 
A lei dispõe os seus requisitos: 
Art. 1.864. São requisitos essenciais do testamento público: 
I – ser escrito por tabelião ou por seu substituto legal em seu livro de 
notas, de acordo com as declarações do testador, podendo este servir-se 
de minuta, notas ou apontamentos; 
II – lavrado o instrumento, ser lido em voz alta pelo tabelião ao testador 
e a duas testemunhas, a um só tempo; ou pelo testador, se o quiser, na 
presença destas e do oficial; 
III – ser o instrumento, em seguida à leitura, assinado pelo testador, pelas 
testemunhas e pelo tabelião. 
Parágrafo único. O testamento público pode ser escrito manualmente ou 
mecanicamente, bem como ser feito pela inserção da declaração de 
vontade em partes impressas de livro de notas, desde que rubricadas todas 
 
 
as páginas pelo testador, se mais de uma. 
Além disso, se o testador não souber ou não puder assinar, o tabelião ou seu 
substituto legal assim o declarará, assinando o referido ato a rogo mediante a assinatura 
de uma das testemunhas instrumentárias. 
Aos deficientes auditivos que saibam ler, lerá o seu testamento; já os que não sabem 
ler, designarão quem leia em seu lugar, na presença de testemunhas. 
Já aos deficientes visuais, só será permitido o testamento público, que deverá ser lido 
em voz alta duas vezes, uma pelo tabelião ou por seu substituto legal e a outra por uma 
das testemunhas, designada pelo testador, fazendo-se menção no testamento de todas 
as circunstâncias. 
 
9.2.2.2. Do testamento cerrado 
Constituem os requisitos desta modalidade de testamento: 
Art. 1.868. O testamento escrito pelo testador, ou por outra pessoa, a seu 
rogo, e por aquele assinado, será válido se aprovado pelo tabelião ou seu 
substituto legal, observadas as seguintes formalidades: 
I – que o testador o entregue ao tabelião em presença de duas 
testemunhas; 
II – que o testador declare que aquele é o seu testamento e quer que 
seja aprovado; 
III – que o tabelião lavre, desde logo, o auto de aprovação, na presença 
de duas testemunhas, e o leia, em seguida, ao testador e testemunhas; 
IV – que o auto de aprovação seja assinado pelo tabelião, pelas 
 
 
testemunhas e pelo testador. 
Parágrafo único. O testamento cerrado pode ser escrito mecanicamente, 
desde que seu subscritor numere e autentique, com a sua assinatura, todas 
as páginas. 
O testamento cerrado em que o testador abrir ou dilacerar, ou for aberto ou 
dilacerado com seu consentimento, haver-se-á como revogado. 
 
9.2.2.3. Do testamento particular ou hológrafo 
Estes são os requisitos legais: 
Art. 1.876. O testamento particular pode ser escrito de próprio punho ou 
mediante processo mecânico. 
§ 1º. Se escrito de próprio punho, é requisito essencial à sua validade 
que seja lido e assinado por quem o escreveu, na presença de pelo menos 
três testemunhas, que o devem subscrever. 
§ 2º. Se elaborado por processo mecânico, não pode conter rasuras ou 
espaços em branco, devendo ser assinado pelo testador, depois de o ter 
lido na presença de pelo menos três testemunhas, que o subscreverão. 
9.3. DOS CODICILOS 
Caracterizam-se como ato de última vontade destinado as disposições de objetos de 
pequeno valor somente. Dentre outras disposições, poderá nos codicilos estabelecer 
disposições sobre o enterro do testador, esmolas de pouca monta a certas e 
determinadas pessoas, reabilitação do indigno, reconhecimento de filho, assim como 
 
 
legar móveis, roupas ou joias, de pouco valor, de seu uso pessoal. 
Serão revogados por atos iguais, e consideram-se revogados, se, havendo testamento 
posterior, de qualquer natureza, se este os não confirmar ou modificar. Todavia o codicilo 
jamais revogará testamento. 
9.4. DOS TESTAMENTOS ESPECIAIS 
A lei estabelece os testamentos especiais: 
a) marítimo 
b) aeronáutico 
c) militar 
 
9.4.1. DO TESTAMENTO MARÍTIMO E DO AERONÁUTICO 
Convém mencionar a disposição legal: 
Art. 1.888. Quem estiver em viagem, a bordo de navio nacional, de guerra 
ou mercante, pode testar perante o comandante, empresença de duas 
testemunhas, por forma que corresponda ao testamento público ou ao 
cerrado. 
Parágrafo único. O registro do testamento será feito no diário de bordo. 
 
Art. 1.889. Quem estiver em viagem, a bordo de aeronave militar ou 
comercial, pode testar perante pessoa designada pelo comandante, 
observado o disposto no artigo antecedente. 
 
 
 
Art. 1.890. O testamento marítimo ou aeronáutico ficará sob a guarda do 
comandante, que o entregará às autoridades administrativas do primeiro 
porto ou aeroporto nacional, contra recibo averbado no diário de bordo. 
 
Art. 1.891. Caducará o testamento marítimo, ou aeronáutico, se o 
testador não morrer na viagem, nem nos noventa dias subsequentes ao 
seu desembarque em terra, onde possa fazer, na forma ordinária, outro 
testamento. 
 
Art. 1.892. Não valerá o testamento marítimo, ainda que feito no curso 
de uma viagem, se, ao tempo em que se fez, o navio estava em porto onde 
o testador pudesse desembarcar e testar na forma ordinária. 
 
9.4.2. DO TESTAMENTO MILITAR 
Importante se faz analisar a lei civil: 
Art. 1.893. O testamento dos militares e demais pessoas a serviço das 
Forças Armadas em campanha, dentro do País ou fora dele, assim como 
em praça sitiada, ou que esteja de comunicações interrompidas, poderá 
fazer-se, não havendo tabelião ou seu substituto legal, ante duas, ou três 
testemunhas, se o testador não puder, ou não souber assinar, caso em que 
assinará por ele uma delas. 
§ 1º. Se o testador pertencer a corpo ou seção de corpo destacado, o 
testamento será escrito pelo respectivo comandante, ainda que de 
 
 
graduação ou posto inferior. 
§ 2º. Se o testador estiver em tratamento em hospital, o testamento será 
escrito pelo respectivo oficial de saúde, ou pelo diretor do estabelecimento. 
§ 3º. Se o testador for o oficial mais graduado, o testamento será escrito 
por aquele que o substituir. 
 
Art. 1.894. Se o testador souber escrever, poderá fazer o testamento de 
seu punho, contanto que o date e assine por extenso, e o apresente aberto 
ou cerrado, na presença de duas testemunhas ao auditor, ou ao oficial de 
patente, que lhe faça as vezes neste mister. 
Parágrafo único. O auditor, ou o oficial a quem o testamento se 
apresente, notará, em qualquer parte dele, lugar, dia, mês e ano, em que 
lhe for apresentado, nota esta que será assinada por ele e pelas 
testemunhas. 
 
Art. 1.895. Caduca o testamento militar, desde que, depois dele, o 
testador esteja, noventa dias seguidos, em lugar onde possa testar na forma 
ordinária, salvo se esse testamento apresentar as solenidades prescritas no 
parágrafo único do artigo antecedente. 
 
Art. 1.896. As pessoas designadas no art. 1.893, estando empenhadas em 
combate, ou feridas, podem testar oralmente, confiando a sua última 
vontade a duas testemunhas. 
 
 
Parágrafo único. Não terá efeito o testamento se o testador não morrer 
na guerra ou convalescer do ferimento. 
9.5. DAS DISPOSIÇÕES TESTAMENTÁRIAS 
No que tange, às disposições testamentárias, a lei civil dispõe que a nomeação de 
herdeiro, ou legatário, pode fazer-se pura e simplesmente, sob condição, para certo fim 
ou modo, ou por certo motivo. A condição pura é a que não possui condição suspensiva, 
e a condição simples é a que possui condição suspensiva. 
É valida a instituição do herdeiro desde a abertura da sucessão, devendo a designação 
do tempo em que deva começar ou cessar o direito do herdeiro, salvo nas disposições 
fideicomissárias, ter-se-á por não escrita. Quando a cláusula testamentária for suscetível 
de interpretações diferentes, prevalecerá a que melhor assegure a observância da 
vontade do testador. 
Os casos de nulidade de disposições, segundo a lei civil são: 
Art. 1.900. É nula a disposição: 
I – que institua herdeiro ou legatário sob a condição captatória de que 
este disponha, também por testamento, em benefício do testador, ou de 
terceiro; 
II – que se refira à pessoa incerta, cuja identidade não se possa averiguar; 
III – que favoreça a pessoa incerta, cometendo a determinação de sua 
identidade a terceiro; 
IV – que deixe a arbítrio do herdeiro, ou de outrem, fixar o valor do 
legado; 
 
 
V – que favoreça as pessoas a que se referem os arts. 1.801 e 1.802. 
No inciso I do dispositivo acima, há a vedação à condição captatória, que consiste 
em levar a pessoa a criar em sua mente uma desafeição, desamor ou até um rancor 
infundado aos seus herdeiros, sendo nulo o testamento pela lei se verificar que a vontade 
do testador está viciada por conter dolo. 
A lei civil ainda preceitua que são válidas as disposições em favor de pessoa incerta 
que deva ser determinada por terceiro, dentre duas ou mais pessoas mencionadas pelo 
testador, ou pertencentes a uma família, ou a um corpo coletivo, ou a um 
estabelecimento por ele designado; bem como, em remuneração de serviços prestados 
ao testador, por ocasião da moléstia de que faleceu, ainda que fique ao arbítrio do 
herdeiro ou de outrem determinar o valor do legado. 
A disposição geral em favor dos pobres, dos estabelecimentos particulares de 
caridade, ou dos de assistência pública, entender-se-á relativa aos pobres do lugar do 
domicílio do testador ao tempo de sua morte, ou dos estabelecimentos aí sitos, salvo se 
manifestamente constar que tinha em mente beneficiar os de outra localidade, dando-se 
sempre preferência às instituições públicas. 
O erro na designação da pessoa do herdeiro, do legatário, ou da coisa legada anula 
a disposição, salvo se, pelo contexto do testamento, por outros documentos, ou por 
fatos inequívocos, se puder identificar a pessoa ou coisa a que o testador queria 
referir-se. 
As disposições testamentárias serão anuláveis se inquinadas de erro, dolo ou coação, 
extinguindo-se em quatro anos o direito de anular a disposição, contados de quando o 
interessado tiver conhecimento do vício. Este prazo possui natureza decadencial. 
A ineficácia de uma disposição testamentária importa a das outras que, sem aquela, não 
 
 
teriam sido determinadas pelo testador. 
A cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de liberalidade, implica 
impenhorabilidade e incomunicabilidade e, no caso de desapropriação de bens 
clausulados, ou de sua alienação, por conveniência econômica do donatário ou do 
herdeiro, mediante autorização judicial, o produto da venda converter-se-á em outros 
bens, sobre os quais incidirão as restrições apostas aos primeiros. 
9.6. DOS LEGADOS 
O legado é a disposição testamentária a título singular, em que o testador deixa a 
uma pessoa, estranha ou não à sucessão legítima, um ou outros objetos individualizados 
ou uma quantia definida em dinheiro, em testamento ou codicilo. 
 
9.6.1. MODALIDADES 
a) legado de coisas 
b) legado de crédito 
c) legado de alimentos 
d) legado de usufruto 
e) legado de imóvel 
f) legado de dinheiro 
g) legado de renda ou pensão periódica 
h) legado de alternativo 
 
 
 
9.6.2. DA RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO DO LEGADO 
Assim dispõe a lei: 
Art. 1.934. No silêncio do testamento, o cumprimento dos legados 
incumbe aos herdeiros e, não os havendo, aos legatários, na proporção do 
que herdaram. 
Parágrafo único. O encargo estabelecido neste artigo, não havendo 
disposição testamentária em contrário, caberá ao herdeiro ou legatário 
incumbido pelo testador da execução do legado; quando indicados mais 
de um, os onerados dividirão entre si o ônus, na proporção do que recebam 
da herança. 
 
9.6.3. DA CADUCIDADE DOS LEGADOS 
Assim está regulamentado no Código Civil: 
Art. 1.939. Caducará o legado: 
I – se, depois do testamento, o testador modificar a coisa legada, ao 
ponto de já não ter a forma nem lhe caber a denominação que possuía; 
II – se o testador, por qualquer título, alienar no todo ou em parte a coisa 
legada; nesse caso, caducará até onde ela deixou de pertencer ao testador; 
III – se a coisa perecer ou forevicta, vivo ou morto o testador, sem culpa 
do herdeiro ou legatário incumbido do seu cumprimento; 
IV – se o legatário for excluído da sucessão, nos termos do art. 1.815; 
V – se o legatário falecer antes do testador. 
 
 
A lei prevê ainda o legado alternativo, em que se for de duas ou mais coisas 
alternativamente, e algumas delas perecerem, subsistirá quanto às restantes; perecendo 
parte de uma, valerá, quanto ao seu remanescente, o legado. 
9.7. DO DIREITO DE ACRESCER ENTRE OS HERDEIROS E LEGATÁRIOS 
Ocorre quando vários herdeiros, pela mesma disposição testamentária, forem 
conjuntamente chamados à herança em quinhões não determinados, e qualquer deles 
não puder ou não quiser aceitá-la, a sua parte acrescerá à dos coerdeiros, salvo o direito 
do substituto. 
Para existir e ser válido o direito de acrescer entre os herdeiros e legatários, a 
nomeação conjunta de herdeiros será pela mesma cláusula testamentária; tem que faltar 
a discriminação da quota hereditária de cada herdeiro; há de ser ausente a designação 
do substituto pelo testador; e, por fim, tem que ocorrer a impossibilidade de aceitação 
ou renúncia à herança por um ou alguns dos herdeiros nomeados conjuntamente. 
O direito de acrescer competirá aos colegatários, quando nomeados conjuntamente 
a respeito de uma só coisa, determinada e certa, ou quando o objeto do legado não 
puder ser dividido sem risco de desvalorização. 
Quando não se vislumbra o direito de acrescer, transmite-se aos herdeiros legítimos 
a quota vaga do nomeado, não existindo o direito de acrescer entre os co-legatários, a 
quota do que faltar acresce ao herdeiro ou ao legatário incumbido de satisfazer esse 
legado, ou a todos os herdeiros, na proporção dos seus quinhões, se o legado se deduziu 
da herança. 
 
 
9.8. DAS SUBSTITUIÇÕES 
É permitido ao testador substituir outra pessoa ao herdeiro ou ao legatário nomeado, 
para o caso de um ou outro não querer ou não poder aceitar a herança ou o legado. 
 
9.8.1. DA SUBSTITUIÇÃO VULGAR 
É considerada vulgar a substituição quando o testador indica outra pessoa para 
receber a herança ou o legado, indicando, primeiramente, não poder ou não querer 
fazê-lo. 
 
9.8.2. DA SUBSTITUIÇÃO RECÍPROCA 
A substituição recíproca ocorrerá quando os coerdeiros ou colegatários são 
substitutos uns dos outros, podendo esta substituição ser geral ou particular. Será geral 
quando todos substituem o herdeiro ou legatário faltante, e será particular, quando os 
herdeiros ou legatários determinados substituírem outros determinados reciprocamente. 
 
9.8.3. DA SUBSTITUIÇÃO FIDEICOMISSÁRIA 
Assim dispõe a lei: 
Art. 1.951. Pode o testador instituir herdeiros ou legatários, 
estabelecendo que, por ocasião de sua morte, a herança ou o legado se 
transmita ao fiduciário, resolvendo-se o direito deste, por sua morte, a certo 
tempo ou sob certa condição, em favor de outrem, que se qualifica de 
fideicomissário. 
 
 
9.8.3.1. Figurante do fideicomisso 
a) fideicomitente – aquele que institui o fideicomisso; 
b) fiduciário – primeiro instituído, que vai receber a herança ou o legado; 
c) fideicomissário – instituído em segundo lugar, para ficar com a herança ou legado, 
sendo nulos os instituídos além do segundo lugar; 
A substituição fideicomissária somente será permitida em favor dos não concebidos 
ao tempo da morte do testador. No entanto, se ao tempo da morte do testador já 
houver nascido o fideicomissário, adquirirá este a propriedade dos bens fideicometidos, 
convertendo-se em usufruto o direito do fiduciário. 
O fiduciário tem a propriedade da herança ou legado, porém, a mesma será restrita 
e resolúvel, sendo obrigado a proceder ao inventário dos bens gravados, e a prestar 
caução se exigir o fideicomissário. A propriedade do fiduciário deixará de ser resolúvel 
se o fideicomissário renunciar a herança ou o legado, salvo se existir disposição contrária 
do testador. 
Regra geral, se o fiduciário renunciar a herança ou o legado, defere-se ao 
fideicomissário o poder de aceitar, salvo disposição em contrário do testador. Se o 
fideicomissário aceitar a herança ou o legado, terá direito à parte que, ao fiduciário, em 
qualquer tempo acrescer. 
9.9. DA DESERDAÇÃO 
Podemos definir como uma punição unilateral e será feita em testamento, desde que 
fundada em motivo legal, somente podendo ocorrer em sucessão testamentária utilizada 
pelo testador para afastar de sua sucessão os herdeiros necessários. 
 
 
Os motivos legais estão dispostos na lei civil: 
Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários: 
I – que houverem sido autores, coautores ou partícipes de homicídio 
doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu 
cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente; 
II – que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança 
ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou 
companheiro; 
III – que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o 
autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última 
vontade. 
 
Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814, autorizam a 
deserdação dos descendentes por seus ascendentes: 
I – ofensa física; 
II – injúria grave; 
III – relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto; 
IV – desamparo do ascendente em alienação mental ou grave 
enfermidade. 
 
Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1.814, autorizam a 
deserdação dos ascendentes pelos descendentes: 
I – ofensa física; 
 
 
II – injúria grave; 
III – relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou a do neto, 
ou com o marido ou companheiro da filha ou o da neta; 
IV – desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou grave 
enfermidade. 
9.10. DA REDUÇÃO DAS DISPOSIÇÕES TESTAMENTÁRIAS 
O remanescente pertencerá aos herdeiros legítimos, quando o testador só em parte 
dispuser da quota hereditária disponível e, as disposições que excederem a parte 
disponível se reduzirão aos limites dela. 
Quando consistir em prédio divisível o legado sujeito à redução, far-se-á esta 
dividindo-o proporcionalmente, dispondo a lei os casos de impossibilidade. 
9.11. DA REVOGAÇÃO DO TESTAMENTO 
O testamento pode ser revogado pelo mesmo modo e forma como pode ser feito e 
tal ato poderá ser total ou parcial. Se parcial ou se o testamento posterior não contiver 
cláusula revogatória expressa, o anterior subsiste em tudo que não for contrário ao 
posterior. 
9.12. DO ROMPIMENTO DO TESTAMENTO 
Romperá o testamento em todas as suas disposições se sobrevindo descendente 
sucessível ao testador, que testador não tinha ou não o conhecia quando testou caso 
 
 
esse descendente sobreviver ao testador. Será mantido o tratamento isonômico aos 
filhos, conforme mandamento do art. 227, § 6 da CRFB/88. Romperá, também, o 
testamento feito na ignorância de existirem outros herdeiros necessários. 
O testamento não será rompido se o testador dispuser da sua metade, não 
contemplando os herdeiros necessários de cuja existência saiba, ou quando os exclua 
dessa parte. 
9.13. DO TESTAMENTEIRO 
É executor do testamento em si, tendo por fim a busca pelo cumprimento das 
disposições de ultima vontade, tendo natureza de encargo privativo e facultativo, 
porquanto a sua ausência não compromete a efetivação das disposições testamentárias. 
O testamenteiro nomeado, ou qualquer parte interessada, pode requerer, assim como 
o juiz pode ordenar, de ofício, ao detentor do testamento, que o leve a registro. 
10. DO INVENTÁRIO E DA PARTILHA 
A abertura do inventário gera imediata transmissão da herança aos herdeiros, 
representando a universalidade que representa o patrimônio, onde será individualizado 
o quinhão de cada herdeiro. 
10.1. CONCEITO DE INVENTÁRIO 
É a ação que apura o patrimônio do de cujus, seus herdeiros, os bônus e os ônus 
deixados. Será negativo quando inexistir patrimônio. 
 
 
10.1.1. O INVENTARIANTEEm razão da universalidade de direitos, há necessidade de se ter um administrador 
da herança, o qual defenderá judicialmente e extrajudicialmente através do espólio, que 
não possui personalidade jurídica, mas possui personalidade judiciária. 
 
10.1.2. ESPÉCIES DE INVENTÁRIO 
a) judicial: litigioso (arts. 987 a 1.030 do CPC) ou amigável (arts. 1.031 e 1.038 do 
CPC); 
b) extrajudicial: partilha amigável (art. 982 do CPC e art. 2.015 do CC); 
Obs.: O inventário deverá ser aberto no prazo de 60 dias, conforme arts. 982 e 
1.124-A do CPC, com redação alterada pela Lei 11.965/09. 
 
10.1.3. LEGITIMADOS 
Assim dispõem os arts. 987 e 988, do CPC, informando quem são os legitimados: 
Art. 987. A quem estiver na posse e administração do espólio incumbe, 
no prazo estabelecido no art. 983, requerer o inventário e a partilha. 
Parágrafo único. O requerimento será instruído com a certidão de óbito 
do autor da herança. 
 
Art. 988. Tem, contudo, legitimidade concorrente: 
I – o cônjuge supérstite; 
II – o herdeiro; 
III – o legatário; 
 
 
IV – o testamenteiro; 
V – o cessionário do herdeiro ou do legatário; 
VI – o credor do herdeiro, do legatário ou do autor da herança; 
VII – o síndico da falência do herdeiro, do legatário, do autor da herança 
ou do cônjuge supérstite; 
VIII – o Ministério Público, havendo herdeiros incapazes; 
IX – a Fazenda Pública, quando tiver interesse. 
10.2. DOS SONEGADOS 
O herdeiro que sonegar bens da herança, não os descrevendo no inventário quando 
estejam em seu poder, ou, com o seu conhecimento, no de outrem, ou que os omitir na 
colação, a que os deva levar, ou que deixar de restituí-los, perderá o direito que sobre 
eles lhe cabia. 
Refere-se a pena civil que só merece ser aplicada após a real constatação do dolo e 
da inércia maliciosa do herdeiro no período de tramitação do inventário. Se o sonegador 
for o inventariante, este será removido. A ação de sonegados deverá ser proposta após 
as ultimas declarações apresentadas no inventário. 
10.3. DO PAGAMENTO DAS DÍVIDAS 
A lei civil preceitua da seguinte forma: 
Art. 1.997. A herança responde pelo pagamento das dívidas do falecido; 
mas, feita a partilha, só respondem os herdeiros, cada qual em proporção 
da parte que na herança lhe coube. 
 
 
§ 1º. Quando, antes da partilha, for requerido no inventário o pagamento 
de dívidas constantes de documentos, revestidos de formalidades legais, 
constituindo prova bastante da obrigação, e houver impugnação, que não 
se funde na alegação de pagamento, acompanhada de prova valiosa, o juiz 
mandará reservar, em poder do inventariante, bens suficientes para solução 
do débito, sobre os quais venha a recair oportunamente a execução. 
§ 2º. No caso previsto no parágrafo antecedente, o credor será obrigado 
a iniciar a ação de cobrança no prazo de trinta dias, sob pena de se tornar 
de nenhum efeito a providência indicada. 
10.4. DA COLAÇÃO 
Importante analisar o dispositivo legal, podendo ser constatada a adoção da teoria 
da estimação: 
Art. 2.002. Os descendentes que concorrerem à sucessão do ascendente 
comum são obrigados, para igualar as legítimas, a conferir o valor das 
doações que dele em vida receberam, sob pena de sonegação. 
Parágrafo único. Para cálculo da legítima, o valor dos bens conferidos 
será computado na parte indisponível, sem aumentar a disponível. 
Os bens colacionados serão trazidos à legítima, mas sem acrescentar, fazendo-se pelo 
valor do bem doado ao tempo da doação. 
10.5. DA PARTILHA 
É o ato pelo qual se atribui aos herdeiros os bens sucedidos no seu devido quinhão, 
 
 
compondo este ato de duas etapas: 
a) auto de orçamento 
b) folha de pagamento 
Com o trânsito em julgado da sentença da partilha, deverão os herdeiros registrar a 
partilha dos bens registráveis, a fim de adquirirem a propriedade. 
 
10.5.1. DA ANULAÇÃO DA PARTILHA 
Será anulada a partilha pelos mesmos vícios do negócio jurídico que acarretarão a 
anulabilidade, estabelecendo a lei o prazo de um ano para anular a partilha. Este prazo 
possui natureza decadencial.e pertenças. 
 
 
5.5.1. FRUTOS E PRODUTOS 
Frutos e produtos são bens acessórios que são produzidos pelo bem principal. 
A diferença é que os frutos são renováveis e os produtos são não renováveis, de modo 
que a retirada de um fruto não diminui a substância do bem principal, mas a retirada 
do produto sim. Como exemplos, o fruto de uma árvore ou um bezerro são frutos, 
enquanto que ouro e petróleo são produtos. 
Detalhe PARA A PROVA: frutos e produtos podem ser objetos de negócios jurídicos 
mesmo ainda ligados ao bem principal, como ocorre na compra de uma safra ainda não 
colhida. 
5.5.2. BENFEITORIAS 
Benfeitorias são obras ou despesas feitas em um bem para conservá-lo, melhorá-lo 
ou simplesmente tornar o seu uso mais agradável. 
Se há uma melhora ou acréscimo no bem sem a intervenção do homem, não estamos 
diante de uma benfeitoria, mas sim de um melhoramento ou acrescido. É o que ocorre 
com o florescimento de um jardim por fatos naturais ou com alguma acessão natural, 
como no caso da aluvião ou da avulsão. 
São três os tipos de benfeitorias de acordo com a sua finalidade: 
a) Benfeitoria necessária: benfeitoria para conservação do bem. 
b) Benfeitoria útil: benfeitoria para melhora da utilização do bem. 
c) Benfeitoria voluptuária: benfeitoria apenas para tornar o uso mais agradável do 
bem, seja porque o embeleza, seja para mero divertimento. 
 
 
5.5.3. PERTENÇAS 
Pertenças são bens naturalmente móveis que são afetados de forma duradoura a um 
bem principal para servir a seus fins, ou seja, destinados ao seu uso, serviço ou 
aformoseamento. 
Quando uma casa é vendida, não segue junto os móveis que a guarnecem, a não ser 
que combinado pelas partes. Por isso, nos termos do art. 94 do CC, os negócios jurídicos 
que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário 
resultar da lei, da manifestação de vontade ou das circunstâncias do caso. É, portanto, 
uma exceção à regra de que o bem acessório segue a sorte do bem principal. 
5.6. BENS PÚBLICOS 
 
Bem público é o bem que pertence às pessoas jurídicas de direito público interno 
(União, Estados, Distrito Federal, Municípios e suas respectivas autarquias e fundações 
públicas); por sua vez, os bens particulares são os demais. São três os tipos de bens 
públicos: 
a) Bem público de uso comum do povo: é o bem destinado ao uso coletivo, tal como 
ruas, praças, estradas, rios e mares. 
b) Bem público de uso especial: é o bem público que está afetado para a prestação 
de um serviço público, tal como o terreno e o edifício destinado a um hospital público. 
c) Bem público dominical: definido por exclusão, é o bem que não se destina ao uso 
do povo nem tampouco à prestação de um serviço público, razão pela qual o Estado 
pode usar como se particular fosse, ou seja, objeto de suas relações jurídicas de direito 
 
 
pessoal ou real. 
 
DICAS IMPORTANTES: 
 
(i) os bens públicos de uso comum do povo e de uso especial não podem ser 
alienados, enquanto os dominicais podem; 
(ii) nenhum bem público pode ser objeto de usucapião; e 
(iii) o uso comum de bens públicos pode ser gratuito ou retribuído, ou seja, pago, 
não lhe retirando a natureza de uso comum do povo, tal como o pedágio, cobrado para 
o uso de estradas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6. NEGÓCIO JURÍDICO 
 
6.1. INTRODUÇÃO 
 
Inicialmente, necessário conceituar fato jurídico, o qual consiste em qualquer 
acontecimento que gera efeitos jurídicos. Quando decorre de uma atuação humana, é 
chamado de ato jurídico. Todavia, em uma visão mais restrita, podemos diferenciar essa 
atuação humana em ato jurídico e em negócio jurídico. 
Apesar de ambos gerarem efeitos jurídicos, há diferença, uma vez que no negócio 
jurídico escolhemos os efeitos que serão produzidos (ex. contrato e testamento), 
enquanto que no ato jurídico em sentido estrito não há essa escolha, porque os efeitos 
são previamente determinados em lei (ex. adoção, emancipação, reconhecimento de 
filiação). 
Em regra, o negócio jurídico é de forma livre. A sua validade só requer forma especial 
quando a lei exigir. 
Cumpre ressaltar que é necessária a declaração de vontade. Sendo um negócio 
jurídico bilateral, como é o caso do contrato, essa vontade se dá em mão dupla, na 
forma de consentimento. O detalhe é que o silêncio, excepcionalmente, pode valer como 
anuência, o que ocorre quando as circunstâncias assim indicarem. É o caso de aceitação 
tácita, que é presumida quando se pratica um ato incompatível com a recusa. 
Ainda sobre vontade, importante conhecer a regra do art. 110 do CC. Quando declaro 
algo diferente do que penso (vontade), faço uma reserva mental. Nesse caso valerá a 
minha declaração de vontade, pois é o que chega ao conhecimento da outra parte. 
 
 
Atenção: não se pode confundir plano de validade com plano de eficácia. Ato válido é 
aquele que está de acordo com a lei, já ato eficaz é aquele que produz seus regulares 
efeitos. De início, analisaremos a eficácia do negócio jurídico para, a seguir, desenvolver 
o estudo do seu plano de validade. 
6.2. PLANO DE EFICÁCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO 
 
O ato válido, em regra, é eficaz, pois está de acordo com a lei, produz seus regulares 
efeitos. Todavia, as partes podem inserir no ato jurídico válido cláusulas que afetam a 
sua eficácia, quais sejam: condição, termo ou encargo. 
6.2.1. CONDIÇÃO 
Condição é o evento futuro e incerto, podendo ser de dois tipos: condição suspensiva 
e condição resolutiva. A condição suspensiva é aquela que suspende a produção de 
efeitos, ou seja, o ato não produz efeitos até eventual advento da condição. Já a 
condição resolutiva é aquela que resolve a produção de efeitos, ou seja, o ato produz 
de início seus efeitos regularmente, mas o advento da condição põe fim à produção de 
efeitos, como ocorre no ato de dar mesada a um estudante até ele concluir o ensino 
superior. 
Conforme previsão do art. 122 do CC, são proibidas as condições ilícitas, que são de 
cinco tipos: contra a lei, contra a ordem pública, contra os bons costumes, que sujeitam 
o efeito do negócio jurídico ao puro arbítrio de uma das partes (chamada de condição 
potestativa pura) e aquelas que privam de todo o efeito o negócio jurídico. A aposição 
 
 
de qualquer dessas condições invalida o negócio jurídico. 
6.2.2. TERMO 
Termo é evento futuro e certo. São dois tipos: termo inicial e termo final. O termo 
inicial é aquele que dá início à produção de efeitos do ato jurídico, como a doação de 
um bem com a morte do doador (morte é termo, pois é evento futuro e certo). Já o 
termo final é aquele que põe fim à produção de efeitos do negócio jurídico, como o 
aluguel de um apartamento até a morte do pai do locador pela necessidade de regressar 
ao seu imóvel. 
6.2.3. ENCARGO 
Também chamado de modus, o encargo é um ônus, uma prestação imposta à outra 
parte. Ao doar um apartamento, estamos diante de uma doação simples, mas se exigir 
do donatário a contribuição de algum valor a uma instituição de caridade, temos uma 
doação com encargo. Se não realizar a prestação, poderá o doador pedir em juízo a 
devolução do bem doado. 
6.3. PLANO DE VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO: ATO NULO E ATO 
ANULÁVEL 
 
O ato jurídico praticado em desacordo com a lei é um ato inválido. Nesse sentido, a 
lei fixou os requisitos gerais de validade do ato jurídico no art. 104 do CC, afirmando 
 
 
que a validade do ato jurídico requer: agente capaz; objeto lícito, possível e determinado 
ou determinável; e forma prescrita ou não defesa em lei. 
Ocorre que a lei graduou a invalidade do ato jurídico, podendo ser mais grave ou 
menos grave. Assim, há dois tipos de ato inválido: ato nulo (invalidade mais grave) e ato 
anulável (invalidade menos grave). Quando o ato é nulo, falamos em nulidade ou 
nulidade absoluta; quando anulável, falamos em anulabilidade ou nulidade relativa. 
Qual a diferença entre o ato nulo e o atoanulável? Perceba que o ato nulo já é nulo 
de per si, diferente do ato anulável, que é inválido, porém está aguardando que a parte 
peça ao juiz a sua anulação, havendo um prazo para isso, sob pena de tornar-se válido, 
ou seja, convalescer. A razão é que há ato nulo quando se viola norma de interesse 
público e ato anulável quando é violada norma de interesse privado. 
Note que, se o ato é nulo, o juiz pode declarar de ofício, enquanto o ato anulável 
não pode ser declarado pelo juiz sem o requerimento da parte. 
Ademais, o ato anulável pode ser confirmado ou ratificado, ao contrário do ato nulo. 
Há várias hipóteses de ato nulo e de ato anulável espalhadas pela lei. Ressalta-se que 
os arts. 166 e 171 do CC listam casos em que o negócio jurídico é, respectivamente, 
nulo e anulável. 
a) Ato nulo: quando celebrado por agente absolutamente incapaz; quando o objeto 
for ilícito, impossível ou indeterminável; quando o motivo determinante, comum a ambas 
as partes, for ilícito; quando não revestir a forma prescrita em lei; quando for preterida 
solenidade que a lei considere essencial para validade do ato; quando tiver por objetivo 
fraudar lei imperativa e quando a lei proibir-lhe a prática sem cominar sanção. 
b) Ato anulável: quando celebrado por agente relativamente incapaz e quando 
ocorrer defeito do negócio jurídico, que é o nosso próximo tema de estudo. 
 
 
6.4. DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO 
 
Defeitos do negócio jurídico são vícios que nele incidem, tornando-o inválido, do 
tipo anulável. São dois os tipos de defeitos do negócio jurídico: vícios da vontade (vícios 
do consentimento) e vícios sociais. 
São cinco os vícios da vontade: erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão. Por 
outro lado, só há um vício social: fraude contra credores. Detalhe: a simulação era um 
defeito do negócio jurídico (vício social), mas deixou de ser com o novo CC. A razão é 
que os defeitos do negócio jurídico tornam o ato anulável e a simulação, que antes 
também o fazia, agora torna o ato nulo, sendo uma causa autônoma de nulidade do ato 
jurídico. 
Dica PARA A PROVA DA OAB: todos esses casos de defeitos do negócio jurídico tornam 
o ato anulável e a simulação torna o ato nulo. 
6.4.1. ERRO 
Erro é a falsa percepção da realidade. Nos termos do art. 138 do CC, o erro só torna 
o ato anulável se for substancial (também chamado de essencial) e percebível por uma 
pessoa de diligência normal em face das circunstâncias do caso. 
O erro é substancial quando for a causa do negócio jurídico. Exemplo: compro um 
relógio folheado a ouro achando ser de ouro. Difere do erro acidental, que não torna o 
ato anulável, por ser um erro que não é a causa, pois é sobre um aspecto secundário, 
irrelevante na decisão de praticar o ato. Nessa situação o erro não foi determinante para 
a realização do ato. 
 
 
Ademais, só é possível anular o negócio jurídico provando que o erro é percebível 
pela parte contrária em face das circunstâncias do caso, tendo como parâmetro o 
homem médio. A razão é que devemos preservar o interesse da outra parte, que só tem 
como avisar o possível erro se tiver razões para prevê-lo. 
Importante: O erro pode ser de fato ou de direito. Erro de fato é uma falsa percepção 
da realidade fática, e erro de direito é uma falsa percepção da realidade jurídica, ou seja, 
desconhecimento da lei. 
No entanto, só posso anular o ato alegando que errei por desconhecer a lei se estiver 
de boa-fé. Acerca do tema, a lei dispõe que o erro é substancial quando, sendo de 
direito, não implicar recusa à aplicação da lei. 
De tal modo, o art. 140 do CC se refere ao erro como sendo o falso motivo para a 
prática do ato. O falso motivo só vicia a declaração de vontade se expresso como razão 
determinante. 
O art. 141 do CC traz o erro por meios interpostos, ou seja, quando o erro é de 
alguém que veicula a vontade de outrem, como ocorre no erro de digitação de um 
anúncio de jornal. Anulável nas mesmas condições que a declaração feita diretamente. 
Os arts. 142/144 do CC trazem hipóteses em que há erro na prática do ato, contudo 
não será esse anulado em razão da possibilidade de retificação. 
6.4.2. DOLO 
Dolo é intenção. No dolo alguém intencionalmente provoca o erro de outrem. 
O dolo só torna o ato anulável se for substancial ou essencial. Há de ser substancial, 
ou seja, a causa da prática do ato. Por sua vez, dolo acidental não é a causa para a 
 
 
realização do ato. Por isso não torna o mesmo anulável, mas gera o dever de indenizar 
perdas e danos. 
O dolo pode ser comissivo (por ação) ou omissivo. Nos termos do art. 147 do CC, o 
silêncio intencional de fato relevante ignorado pela outra parte torna anulável, pois sem 
esse silêncio o negócio não teria sido celebrado. 
O ato pode ser anulado por dolo de terceiro, ou seja, quem engana não é o outro 
contratante beneficiado, mas um terceiro. O dolo de terceiro sempre torna o ato 
anulável? Não. Se o outro contratante sabia ou deveria saber do dolo do terceiro, o ato 
é considerado anulável. Todavia, caso não saiba ou não teria como saber, o negócio é 
válido, mas caberá o pedido de indenização em face do terceiro que agiu com dolo. 
Há dolo recíproco quando ambas as partes procederem com dolo, caso em que 
nenhuma delas poderá pedir a anulação do ato, tampouco pedir indenização (art. 150 
do CC). 
6.4.3. COAÇÃO 
A coação moral torna o ato anulável quando for irresistível. Ao analisar a coação, 
serão considerados o sexo, a idade, a condição, o temperamento do paciente e as demais 
circunstâncias que possam interferir na gravidade da coação. 
Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples 
temor reverencial, entendido como o medo de alguém a quem se deve obediência. 
Nos mesmos moldes do dolo de terceiro, a coação de terceiro também pode tornar 
o ato anulável. Se o outro contratante sabe ou devesse saber da coação do terceiro, o 
ato é anulável, mas se não sabe e não tem como saber, o negócio será válido, mas a 
 
 
parte vítima da coação poderá cobrar indenização do terceiro coator. 
6.4.4. ESTADO DE PERIGO E LESÃO 
A lesão e o estado de perigo são semelhantes, pois possuem característica comum: 
existência de uma situação que faz com que, em um negócio jurídico entre A e B, uma 
das partes se veja forçada a contratar e assumir prestação excessivamente onerosa. 
E qual a diferença entre eles? É a situação que gera a excessiva onerosidade para uma 
das partes. 
Quanto ao estado de perigo, nos termos do art. 156 do CC, é a pessoa estar premida 
da necessidade de se salvar, ou alguém de sua família, de sofrer grave dano. Por conta 
disso, aceita cumprir uma obrigação excessivamente onerosa. 
Ressalta-se que a lei diz ser possível evitar a anulação do ato no caso das prestações 
se reequilibrarem. Essa regra está prevista para lesão no art. 157 do CC, mas se aplica 
analogicamente ao estado de perigo. 
No que diz respeito à lesão, são duas as situações que geram excessiva onerosidade 
para uma das partes: premente necessidade e inexperiência. A necessidade que 
caracteriza a lesão consiste na necessidade contratual, que se configura quando preciso 
contratar e tenho apenas aquela opção. Já na inexperiência, a lesão decorre do pouco 
ou nenhum conhecimento sobre o ato. 
6.4.5. FRAUDE CONTRA CREDORES 
O patrimônio do devedor é a garantia do credor, ou seja, se o devedor não paga 
suas dívidas, seus bens serão penhorados e vendidos judicialmente para pagamento dos 
 
 
seus débitos. Contudo, há comportamentos fraudulentos, a fim de burlar a lei, pois basta 
transferir seus bens para outra pessoa para frustrar a possibilidade dos credores 
receberem. 
Para resolver esse problema, criou-se a figura da fraude contra credores como causa 
de anulabilidade do negócio jurídico. Essa anulação do ato fraudulento poderá ser 
requerida através de uma ação judicial chamada de ação pauliana. 
Há dois tipos de credores:credor com garantia e credor sem garantia – este último 
chamado de credor quirografário. O credor com garantia específica, como o caso da 
hipoteca, não se prejudica com o ato fraudulento, pois pode buscar sua garantia em 
juízo. É o credor quirografário que tem legitimidade para propor a ação pauliana, pois é 
ele que se prejudica com a fragilização do patrimônio do devedor fraudulento. 
Atenção: ato a título gratuito por parte do devedor pode ser anulado pelos credores 
quirografários como lesivos aos seus direitos. O detalhe é que até os atos onerosos 
podem ser anulados por tais credores, pois embora não haja uma diminuição patrimonial 
em razão do recebimento de algo equivalente, como ocorre na compra e venda, dificulta 
aos credores buscarem e receberem seus créditos. 
Se o ato for gratuito, como dito, facilmente poderá ser anulado, bastando a 
insolvência do devedor ou sua redução à insolvência com a prática do ato, pois 
independe se quem contrata com o fraudador sabendo ou não da fraude contra credores 
por ele perpetrada. O ato oneroso pode ser anulado pelos credores, mas estes terão 
que provar que a outra parte do negócio jurídico sabia da fraude contra credores quando 
negociou com o fraudador. Significa que, no ato gratuito, o ato é anulado mesmo que 
haja boa-fé do outro contratante, diferente do ato oneroso, que só pode ser anulado 
diante da má-fé de quem contrata com o fraudador, o que chamamos de consilium 
 
 
fraudis, ou seja, o conluio, a armação entre os contratantes para fraudar credores. Note 
que o consilium fraudis só é requisito para a anulação de atos em fraude contra credores 
quando o ato for oneroso. Esse tema é retratado pelos arts. 158 e 159 do Código Civil. 
Em razão do comportamento fraudulento do devedor, anulado o ato praticado em 
fraude contra credores, o bem não retorna ao devedor como ordinariamente seria, mas 
sim formará um patrimônio especial, que ficará a cargo dos credores para buscarem 
seus créditos, conforme prevê o art. 165 do CC. 
Dois tipos de atos não podem ser questionados pelos credores e, portanto, não serão 
anulados: atos praticados para subsistência do devedor e de sua família e atos 
indispensáveis para manutenção da empresa do devedor, pois é dela que virão recursos 
para pagamento das dívidas. 
O Código Civil traz casos exemplificativos de fraude contra credores nos seus 
arts. 162, 163 e 165, parágrafo único. 
7. SIMULAÇÃO 
 
A simulação não é um defeito do negócio jurídico, pois a partir do atual CC, torna o 
ato nulo, sendo uma causa autônoma de nulidade. Assim, simular é mascarar a realidade. 
A simulação pode ser de dois tipos: absoluta ou relativa. 
7.1. SIMULAÇÃO RELATIVA 
A simulação relativa ocorre quando as partes celebram um ato aparente para 
esconder o ato que traduz a real vontade das partes. O ato aparente, que é externado, 
 
 
é chamado de ato simulado, enquanto que o ato escondido, que traduz a real vontade 
das partes, é chamado de ato dissimulado. 
O art. 167 do CC preceitua que o ato simulado é nulo, mas subsiste o que se 
dissimulou, contanto que seja válido na substância e na forma. 
A simulação relativa pode ser objetiva ou subjetiva. Será objetiva quando a diferença 
do ato simulado para o dissimulado decorrer de uma declaração, confissão, condição ou 
cláusula não verdadeira ou quando se antedatar ou se pós-datar documento, (art. 167, 
II e III, do CC). Por sua vez, será subjetiva a simulação quando a diferença do ato simulado 
para o ato dissimulado for em virtude da pessoa que celebra o contrato (art. 167, I, do 
CC). 
7.2. SIMULAÇÃO ABSOLUTA 
A simulação será absoluta quando não houver ato dissimulado. Assim, na simulação 
absoluta é simulado um ato quando na verdade não se quer praticar ato algum. 
De tal sorte, ao contrário do que normalmente ocorre com a simulação relativa, na 
absoluta, a nulidade do ato simulado não faz florescer ato algum, por inexistir ato 
dissimulado, apenas sendo nulo o ato simulado. 
8. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA 
 
Prescrição e decadência são institutos postos para garantir segurança jurídica, paz 
social e equilíbrio das relações sociais. 
Qual a diferença entre prescrição e decadência? O prazo para exercer um direito será 
 
 
prescricional ou decadencial a depender do direito a ser exercido: direito subjetivo se 
sujeita à prescrição, e direito potestativo se sujeita à decadência. 
Direito subjetivo é aquele ao qual corresponde um dever jurídico de outra parte. Já o 
direito potestativo é aquele ao qual corresponde a uma mera sujeição. 
Sendo assim, direito subjetivo, como equivale a um dever jurídico, pode ser chamado 
de direito a uma prestação. O não cumprimento espontâneo da prestação significa 
violação de um direito. Assim, nasce para o seu titular uma pretensão, que poderá ser 
cobrada judicialmente. Todavia, há prazo para reclamar o direito subjetivo, ou seja, para 
exercer a pretensão, sob pena de perdê-la: prazo prescricional. 
Em sentido oposto, no direito potestativo a outra parte nada tem a fazer, senão se 
sujeitar. Às vezes, a lei exige que se exerça esse poder judicialmente e, em alguns casos, 
há prazo para exercê-lo em prol da segurança jurídica, da paz social e do equilíbrio das 
relações sociais: prazo decadencial. 
Atenção: direito subjetivo e ação ou pretensão condenatória se sujeitam à prescrição; 
direito potestativo e ação ou pretensão constitutiva se sujeitam à decadência. 
Na prescrição, perdemos a pretensão; enquanto na decadência, perdemos o próprio 
direito. Se não cobro uma dívida no prazo prescricional, o direito de crédito não 
desaparece; apenas perco o poder de cobrar em juízo em razão de minha inércia. Por 
outro lado, se não peço a anulação do contrato no prazo decadencial, eu perco o próprio 
direito, pois o ato que era inválido (anulável) – convalesceu, tornando-se válido. 
Lembrando que exceção significa defesa em direito processual, indago: se a pretensão 
prescreve, podemos afirmar que a exceção também prescreve? A resposta está no artigo 
190 do CC, que preceitua: “A exceção prescreve no mesmo prazo em que a pretensão”. 
É importante diferenciar prescrição e decadência, fazendo um estudo comparativo 
 
 
sobre os dois institutos. 
8.1. IMPEDIMENTO, SUSPENSÃO E INTERRUPÇÃO DO PRAZO 
Em regra, o prazo decadencial se inicia e chega a termo sem sofrer ataques. Já o 
prazo prescricional pode ser impedido, suspenso ou interrompido. Qual a diferença? As 
causas suspensivas se prolongam no tempo, durante o qual o prazo prescricional não 
corre. Ao final, o prazo volta a correr de onde parou. Já as causas interruptivas são 
pontuais e fazem reiniciar o prazo desde o início, independentemente do prazo já 
transcorrido. Por fim, as causas impeditivas são as mesmas causas temporárias que 
suspendem o prazo. Essas causas serão impeditivas quando já se verificarem no início 
do prazo, pois, ao invés de suspender, impedirão que o prazo prescricional se inicie. 
As causas impeditivas ou suspensivas do prazo prescricional estão previstas nos 
artigos 197/200 do CC. Imprescindível a leitura! 
Atenção NA HORA DA PROVA: é errado afirmar que não corre prazo prescricional contra 
incapaz. O art. 198, I, do CC diz não correr o prazo contra o absolutamente incapaz. Já o 
relativamente incapaz poderá perder a pretensão pela prescrição, pois o prazo 
prescricional corre normalmente contra ele. No entanto, nos termos do art. 195 do CC, 
pode-se cobrar indenização de seu assistente, que deveria tê-lo auxiliado, mas não o 
fez. 
As causas interruptivas do prazo prescricional estão previstas no art. 202 do CC. 
Representam situações em que o credor pratica um ato positivo de cobrança, zerando 
a contagem do prazo, pois a prescrição só pode se configurar diante de inércia do 
agente por todo o prazo. São as causas interruptivas do prazo prescricional: despacho 
 
 
do juiz que ordene a citação, protesto judicial, protesto cambial (extrajudicial),apresentação do título em juízo de inventário ou em concurso de credores, por 
qualquer ato que constitua o devedor em mora, qualquer ato inequívoco que importe 
reconhecimento da dívida pelo devedor. 
Atenção: o prazo prescricional até pode ser interrompido, mas apenas uma única vez. 
O artigo 207 do CC prevê não se aplicar à decadência as causas que impedem, 
suspendem ou interrompem o prazo prescricional. Todavia, essa regra não é absoluta, 
pois o artigo ressalva a possibilidade da lei prever causa suspensiva, impeditiva ou 
interruptiva do prazo decadencial. É exatamente o que ocorre no artigo seguinte, quando 
manda aplicar à decadência o art. 198, I e o art. 195, ambos do CC. Significa que não 
corre prazo decadencial contra absolutamente incapaz, nos mesmos moldes da 
prescrição. 
8.2. POSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO DE OFÍCIO 
Com a atual redação legal, introduzida pela Lei 11280/2006, o juiz deve conhecer de 
ofício tanto a prescrição como a decadência. 
Todavia, em se tratando de decadência, a questão tem que ser minudenciada. Existem 
dois tipos de decadência: legal e convencional. Decadência legal é aquela que decorre 
de lei; já decadência convencional decorre da vontade das partes. Como exemplo de 
decadência legal, tem-se o prazo para pleitear anulação do negócio jurídico em razão 
de defeito do negócio jurídico. 
Sendo decadência legal, o juiz deve declará-la de ofício. Mas em se tratando de 
decadência convencional, não poderá, exigindo-se requerimento da parte, pois o prazo 
 
 
é estabelecido pelo interesse das partes. 
Seja prescrição ou decadência (legal ou convencional), as partes podem alegá-las em 
qualquer grau de jurisdição. 
8.3. POSSIBILIDADE DE RENÚNCIA 
O que aqui se indaga é se a prescrição ou decadência podem ser renunciadas. 
O artigo 209 do CC diz ser nula a renúncia à decadência fixada em lei. Nada obsta 
renunciar a decadência convencional, pois foi fixada no interesse das partes. 
Só que a prescrição, por gerar perda da pretensão e não do direito, apresenta uma 
peculiaridade: pode ser renunciada, mas só depois consumada. Isso porque a prescrição 
não pode ser renunciada pelas partes no contrato, pois seria renunciar segurança jurídica, 
paz social e equilíbrio das relações sociais. Assim, a prescrição pode ser renunciada de 
forma expressa, mas também tacitamente, ou seja, quando presumida pela prática de 
ato incompatível com a prescrição. Para isso se exigem dois requisitos: a prescrição já 
estar consumada e não prejudicar terceiros (art. 191 do CC). 
8.4. POSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO DO PRAZO POR ACORDO DAS 
PARTES 
Nos termos do art. 192 do CC, os prazos prescricionais não podem ser alterados por 
acordo das partes. Quanto ao prazo decadencial, este também não poderá ser alterado 
por vontade das partes quando a decadência for legal. No entanto, tratando-se de 
decadência convencional, é cabível a alteração do prazo decadencial, uma vez que foi 
 
 
estabelecido pelas partes, as quais podem inserir o prazo e podem não só retirá-lo, mas 
também modificá-lo através de simples alteração contratual. 
9. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 
 
9.1. INTRODUÇÃO 
 
O direito das obrigações é o ramo do Direito Civil que se ocupa em estudar a relação 
jurídica que existe entre devedor e credor, onde este pode exigir daquele o cumprimento 
de uma prestação, que pode consistir em: dar, fazer ou não fazer. 
A obrigação tem, portanto, três elementos: devedor, credor e vínculo jurídico. 
O vínculo jurídico é a ligação que existe entre o devedor e o credor, que é composta 
por dois elementos: débito e responsabilidade. Significa que há duas questões ligando 
devedor e credor: a existência de uma dívida (débito) e a possibilidade de cobrança 
judicial em caso de inadimplemento (responsabilidade). 
Importante: obrigação natural – é a obrigação em que o vínculo jurídico é formado 
apenas pelo débito, não existindo responsabilidade. Existe uma dívida, mas se não for 
cumprida a prestação, o credor não tem o poder de exigi-la judicialmente. No entanto, 
se adimplida espontaneamente ou até mesmo por engano, não se pode exigir devolução, 
pois o débito existe (art. 882 do CC). É o que chamamos de soluti retentio (retenção de 
pagamento). Exemplo de obrigação natural: dívida de jogo ou aposta. 
Importante: obrigação propter rem (em razão da coisa). Como o nome sinaliza, é direito 
obrigacional (confrontando devedor e credor) e não direito real. Todavia, tem uma 
especificidade: é a obrigação que surge em razão da aquisição de um direito real. Ao se 
 
 
adquirir um direito real, seu titular adquire algumas obrigações de devedor perante 
credor. A obrigação propter rem acompanha o bem se houver transferência dele, ou 
seja, o novo titular do direito real a assume. Exemplo: obrigação de pagar condomínio. 
9.2. MODALIDADE DAS OBRIGAÇÕES 
 
As modalidades de obrigações decorrem de dois tipos de classificações: básica e 
especial. Em uma classificação básica, a depender da natureza da prestação, a obrigação 
pode ser de três tipos: obrigação de dar, de fazer e de não fazer. Em uma classificação 
especial, o CC trata de mais três tipos de modalidades: obrigação alternativa, obrigação 
divisível ou indivisível e obrigação solidária. 
9.2.1. OBRIGAÇÃO DE DAR 
A obrigação de dar é aquela em que a prestação do devedor consiste na entrega de 
um bem. A obrigação de dar pode ser de dois tipos: dar coisa certa ou dar coisa incerta. 
Na obrigação de dar coisa certa, o devedor tem a prestação de entregar um bem 
específico. Já a obrigação de dar coisa incerta é aquela em que o devedor assume a 
obrigação de dar um gênero em certa quantidade. 
 
9.2.1.1. OBRIGAÇÃO DE DAR COISA CERTA 
O tema vem previsto entre os arts. 233 e 242 do CC. Será abordada a perda ou 
deterioração do bem depois de assumida a obrigação de dar, mas antes da efetiva 
entrega, ou seja, antes da tradição. 
 
 
REGRA BÁSICA: Se o devedor teve culpa na perda do bem, a regra sempre será a mesma: 
deverá pagar ao credor o equivalente acrescido de perdas e danos. Se o devedor não 
teve culpa na perda do bem, a regra será: res perit domino (a coisa perece para o dono), 
será dele o prejuízo. E quem é o dono? Depende se a obrigação é de dar ou de restituir. 
Na obrigação de dar, antes da entrega o dono é o devedor, pois a aquisição da 
propriedade só se dá com a entrega do bem. Na obrigação de restituir, o dono é o 
credor, pois ele sempre foi o dono, 
REGRA ACESSÓRIA 1: Se ao invés de perda, houver apenas deterioração do bem, a 
solução é: ele poderá optar entre a solução da perda supramencionada ou receber o 
bem deteriorado, abatendo-se o valor da deterioração. 
REGRA ACESSÓRIA 2: Se a coisa perece para o dono, a coisa também melhora para o 
dono, ou seja, se, ao invés da perda ou deterioração, houver uma melhora no bem antes 
da entrega, quem dela se beneficiará será o dono. 
 
9.2.1.2. OBRIGAÇÃO DE DAR COISA INCERTA 
É a obrigação de dar um gênero em certa quantidade. Em dado momento, os bens 
a serem entregues deverão ser escolhidos, o que chamamos de concentração da 
prestação. A quem cabe a escolha? A quem estiver definido no contrato. Se nada for 
dito, a escolha caberá ao devedor, que não poderá escolher o pior nem ser obrigado a 
escolher o melhor. 
Feita a escolha, a obrigação de dar coisa incerta se transforma em obrigação de dar 
coisa certa, aplicando-se as regras que lhe são próprias. No entanto, se antes da escolha 
o bem se perder ou se deteriorar, mesmo que por caso fortuito ou motivo de força 
 
 
maior, o devedor não se exime de cumprir a prestação, pois o gênero não perece, 
podendo o bem ser substituído por outro da mesma espécie para ser entregue ao credor. 
9.2.2. OBRIGAÇÃO DE FAZER 
A obrigação de fazer é aquela em que a prestação do devedor consiste na realização 
de uma atividade, como na contratação da prestação de um serviço. A obrigação de 
fazer pode ser de dois tipos: personalíssima(infungível) ou não personalíssima (fungível). 
Será personalíssima quando só o devedor puder cumprir a prestação, como na 
contratação de uma banda famosa. Por sua vez, será não personalíssima quando não só 
o devedor, mas outra pessoa também puder cumprir a prestação. 
Se for obrigação personalíssima e o devedor se recusa a cumpri-la ou por sua culpa 
se tornou impossível, responde por perdas e danos. Já se for obrigação não 
personalíssima, poderá o credor optar em reclamar indenização por perdas e danos ou 
mandar executar às custas do devedor. 
As obrigações de fazer podem ser classificadas em obrigação de meio e de resultado 
ou de fim. Nas obrigações de resultado, o devedor se vincula a atingir determinado 
resultado, sob pena de inadimplemento e, consequentemente, dever de indenizar perdas 
e danos. Já na obrigação de meio, o devedor não se vincula a atingir determinado 
resultado, mas sim a empregar a diligência na busca do resultado. Não responde se o 
resultado não for atingido, apenas se não empregou a diligência necessária. 
Um advogado ou um médico tem obrigação de meio, enquanto que, segundo a 
jurisprudência do STJ, o cirurgião plástico, embora seja um médico, tem obrigação de 
resultado, quando se tratar de intervenção meramente estética ou embelezadora. 
 
 
 
9.2.3. OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER 
A obrigação de não fazer é uma obrigação a uma abstenção, por exemplo, não 
levantar um muro divisório. Se o devedor descumprir a obrigação, fazendo o que se 
obrigou a não fazer, deverá indenizar o credor em perdas e danos? Nem sempre, pois 
às vezes se tornou impossível, sem culpa do devedor, abster-se do ato. Nesse caso, 
apenas se resolve a obrigação (volta ao estado anterior do negócio), não tendo que 
indenizar perdas e danos. Se for urgente, a outra parte poderá mandar desfazer 
independente de autorização judicial, buscando em juízo o ressarcimento. 
9.2.4. OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS 
A obrigação alternativa é aquela que compreende duas ou mais prestações, mas se 
extingue com a realização de apenas uma delas. A quem cabe a escolha de que 
prestação cumprir? Em regra, cabe ao devedor, pois a obrigação se extingue com ele 
cumprindo uma ou outra prestação. Todavia, o contrato pode prever que a escolha cabe 
ao credor. É o que diz o art. 252 do CC, que completa: não pode o devedor obrigar o 
credor a receber parte em uma prestação e parte em outra. 
Importante: o que ocorre quando uma ou todas as prestações não puderem ser 
cumpridas? A resposta irá variar se a escolha cabia ao devedor ou ao credor. 
a) Impossibilidade de uma das prestações: Se a escolha couber ao devedor, subsiste 
a obrigação com a outra prestação (art. 253 do CC). Mesma solução, se a escolha couber 
ao credor e a impossibilidade se deu sem culpa do devedor. Todavia, se por culpa dele, 
 
 
o credor poderá exigir a prestação subsistente ou o valor em dinheiro da prestação 
impossibilitada, acrescido de perdas e danos (art. 255 do CC). 
b) Impossibilidade de ambas as prestações: Se a escolha couber ao devedor e este 
tiver culpa, ficará obrigado a pagar o valor da prestação que se impossibilitou por último, 
acrescido de perdas e danos (art. 254 do CC). Se a escolha couber ao credor e o devedor 
culpado, poderá reclamar o valor de qualquer uma delas acrescido de perdas e danos 
(art. 255 do CC, in fine). No entanto, se ambas as prestações tornaram-se impossíveis 
sem culpa do devedor, independe da pessoa a quem cabe a escolha: extinta estará a 
obrigação, ou seja, desfeito o negócio jurídico (art. 256 do CC). 
9.2.5. OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS 
Obrigação divisível é aquela em que pode ser fracionado o objeto da prestação, o 
que não é possível na obrigação indivisível. 
Só há importância em determinar o tipo de obrigação quando houver pluralidade de 
devedores e/ou credores. Sendo a obrigação divisível, cada um cobra ou é cobrado em 
sua cota parte (se não for determinada a parte que cabe a cada um, presume-se dividida 
em partes iguais). 
Entretanto, sendo obrigação indivisível, cada devedor responde por toda a dívida, 
pois não há como fracionar a cobrança. Agora, aquele que pagar a dívida, sub-roga-se 
nos direitos do credor perante os demais coobrigados (art. 259 do CC). 
Havendo mais de um credor em obrigação indivisível, qualquer um deles poderá 
cobrar a dívida por inteiro, tornando-se devedor perante os demais credores nas suas 
respectivas partes em dinheiro (art. 261 do CC). 
 
 
9.2.6. OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS 
Na pluralidade de credores ou devedores em obrigação indivisível, todos são 
obrigados ou têm direito a toda dívida por ser fisicamente impossível dividir o objeto 
da prestação. Todavia, é possível haver obrigação divisível em que todos são obrigados 
ou têm direito a toda a dívida por determinação da lei ou da vontade das partes: é a 
obrigação solidária. 
Portanto, haverá solidariedade quando houver mais de um devedor ou mais de um 
credor obrigados ou com direito à totalidade da dívida. A solidariedade não se presume, 
resultando apenas da lei ou da vontade das partes. A solidariedade pode ser ativa ou 
passiva, a depender se a pluralidade está no polo ativo ou passivo da obrigação. 
 
9.2.6.1. SOLIDARIEDADE ATIVA 
É a obrigação em que há mais de um credor, cada um deles com direito a toda a 
dívida. No vencimento, qualquer credor pode se antecipar e cobrar toda a dívida ou, 
enquanto nenhum deles a cobrar, o devedor se libera pagando a qualquer deles. Quem 
receber, responde perante os demais credores, tornando-se devedor na parte que lhe 
cabe. 
O mesmo ocorre se um dos credores remitir (perdoar) a dívida. Cuidado: é diferente 
quando o credor solidário perdoa a sua parte. Nesse caso, subsiste a solidariedade para 
os demais credores após a sua parte ser descontada. 
A solidariedade é personalíssima, ou seja, se um dos credores falecer e deixar 
herdeiros, estes não se tornarão credores solidários. Todavia, em dois casos, os herdeiros 
poderão cobrar a dívida toda: se a obrigação for indivisível ou, segundo jurisprudência 
 
 
do STJ, se os herdeiros cobrarem juntos através do espólio, pois no direito das sucessões 
aprendemos que o espólio se sub-roga nos direitos do de cujos. 
Nos termos do art. 271 do CC, convertendo-se a prestação em perdas e danos, nelas 
subsistem a solidariedade. 
 
9.2.6.2. SOLIDARIEDADE PASSIVA 
É a obrigação em que há mais de um devedor, cada um deles obrigados a toda a 
dívida. Se o credor optar cobrar apenas parcialmente de um dos devedores solidários, 
os demais continuam obrigados solidariamente pelo resto. 
Se um dos devedores solidários falecer, a solidariedade é transferida aos seus 
herdeiros? Não, pois, como visto, a solidariedade é personalíssima. Significa que os 
herdeiros só podem ser cobrados na quota que corresponde ao seu quinhão hereditário. 
Todavia, há duas exceções: se a obrigação for indivisível ou se os herdeiros forem 
cobrados juntos através do espólio. 
Atenção: a lei dá tratamento diferente quanto à manutenção da solidariedade no que se 
refere ao pagamento de perdas e danos e de juros que podem ser irradiados da 
obrigação, pois nas perdas e danos não subsiste a solidariedade. Mas nos juros, sim. 
Importante (art. 285 do CC): Conforme vimos, o devedor solidário que paga a dívida 
pode cobrar dos demais devedores a parte que lhes cabe. Contudo, se a dívida solidária 
interessar exclusivamente a um dos devedores solidários, responderá este por toda a 
dívida quando da ação regressiva aos demais credores. O exemplo típico é o contrato 
de fiança. 
 
 
9.3. TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES 
 
Haverá transmissão da obrigação quando houver uma substituição subjetiva em seus 
polos, ou seja, uma troca de devedor ou de credor. São dois os tipos de transmissão 
das obrigações: cessão de crédito e assunção de dívida. 
9.3.1. CESSÃO DE CRÉDITO 
A cessão de crédito se caracteriza pela substituição no polo ativo da obrigação,havendo uma troca de credores em razão da alienação, gratuita ou onerosa, de um 
crédito a um terceiro, que se tornará o novo credor da obrigação. Quem cede o crédito 
é chamado de cedente, e quem o recebe é chamado de cessionário. 
A cessão do crédito independe da concordância do devedor. A lei exige apenas a 
notificação da cessão, para que ele não pague à pessoa errada. Caso o devedor não seja 
notificado e pague de boa-fé ao antigo credor, ele estará desobrigado, só restando ao 
verdadeiro credor cobrar do cedente, que indevidamente recebeu o pagamento. 
Em regra, o cedente não responde pela solvência do devedor, ou seja, caso o 
cessionário não consiga receber o crédito em razão da insolvência do devedor, não 
poderá cobrar a dívida do cedente. No entanto, ele responderá se vier expresso no 
contrato. Quando o cedente não responde pela solvência do devedor, a cessão é 
chamada de cessão de crédito pro soluto; quando o cedente responde pela solvência 
do devedor, é chamada de cessão de crédito pro solvendo. 
Embora o cedente, em regra, não responda pela solvência do devedor, ele responde 
pela existência do crédito, ou seja, se ceder um crédito que não existe, aí sim poderá ser 
 
 
cobrado pelo cessionário. O cedente responderá pela existência do crédito se a cessão 
for gratuita ou onerosa. Se ceder de forma onerosa, responderá tendo agido de má-fé 
ou até mesmo de boa-fé, pois recebeu pela cessão, devolvendo o valor auferido. 
No entanto, na cessão gratuita, como nada recebeu em troca, só responderá se tiver 
procedido de má-fé. 
Por fim, na cessão de crédito vigora o princípio da oponibilidade das exceções 
pessoais contra terceiros. O que significa isso? Quando o cessionário cobrar a dívida do 
devedor, este poderá se defender alegando as defesas pessoais que cabiam contra o 
cedente (art. 294 do CC). 
9.3.2. ASSUNÇÃO DE DÍVIDA 
A assunção de dívida se caracteriza pela substituição no polo passivo da obrigação, 
havendo uma troca de devedores. A lei permite que terceiro assuma a dívida do devedor, 
mas exige a concordância expressa do credor. No entanto, independe de consentimento 
do devedor, podendo a assunção de dívida ser por delegação (com consentimento do 
devedor) ou por expromissão (sem consentimento do devedor). 
O terceiro que assume a obrigação é chamado de assuntor. Quando ele assume a 
obrigação, o devedor primitivo está exonerado, pois deixou de ser o devedor. Todavia, 
há um caso em que o devedor primitivo não estará exonerado, podendo ser cobrado 
pelo credor: se a cessão foi feita a alguém insolvente e o credor a aceitou por não saber 
do fato. 
O assuntor, como novo devedor, poderá alegar que tipo de defesa ao ser cobrado 
pelo credor? Com efeito, a defesa pode ser de dois tipos: comum ou pessoal. Será 
 
 
comum quando for defesa de qualquer pessoa que venha a ser cobrada pelo credor (ex. 
prescrição da dívida). Por outro lado, será defesa pessoal quando for exclusiva de uma 
pessoa (ex. compensação de dívida). O assuntor, ao ser cobrado, poderá se valer das 
defesas comuns ou das suas pessoais, não podendo se valer das defesas pessoais que 
cabiam ao devedor primitivo (art. 302 do CC). 
9.4. ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES 
 
O meio normal de extinção da obrigação é o devedor cumprir a prestação, o que 
chamamos de pagamento. Note que o sentido técnico de pagamento difere do seu 
sentido leigo, pois pagamento é coloquialmente usado no sentido de dar dinheiro. 
Pagamento em sentido técnico é cumprir a prestação, seja um dar (dinheiro ou qualquer 
outro bem), um fazer ou até um não fazer. 
No entanto, a obrigação pode ser extinta por meios anormais, havendo extinção da 
obrigação de uma forma alternativa, de uma forma diferente do que o cumprimento da 
prestação. Assim, a obrigação poderá ser extinta através de: pagamento em consignação, 
pagamento com sub-rogação, imputação de pagamento, dação em pagamento, 
novação, compensação, confusão e remissão. 
9.4.1. PAGAMENTO 
Pagamento é o meio normal de extinção da obrigação, ou seja, o cumprimento da 
prestação (dar, fazer ou não fazer). O CC inicia o tema abordando quem deve pagar 
(chamado de solvens) e a quem se deve pagar (chamado de accipiens). 
 
 
O CC trata de quem deve pagar, mas, na verdade, o que se estabelece são regras 
sobre quem pode pagar. A obrigação pode ser paga por qualquer pessoa que tenha 
algum tipo de interesse, ou seja, pelo devedor ou por um terceiro. A lei, no entanto, 
estabelece consequências diferentes para o pagamento sendo feito pelo devedor, por 
terceiro interessado ou por terceiro não interessado. Quando se fala em terceiro 
interessado ou não interessado, fala-se em interesse jurídico. O terceiro será interessado 
quando puder ser cobrado pela dívida. Assim, um fiador que paga a dívida do afiançado 
é um terceiro interessado. 
Se o devedor efetuar o pagamento, extinta estará a obrigação e ele estará exonerado. 
Se um terceiro pagar, também estará extinta, mas ele poderá reaver o valor pago, 
embora de forma diferente a depender de quem pagou: se terceiro interessado, sub-
roga-se nos direitos do credor; se terceiro não interessado, apenas tem direito de 
reembolso, não se sub-rogando nos direitos do credor. Em ambos os casos, o terceiro 
cobra do devedor o que pagou por ele. Detalhe: isso ocorrerá se o terceiro pagar em 
seu nome, pois se pagar em nome do devedor, não terá direito de reaver o que pagou. 
A quem se deve pagar? O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito 
o represente. Se o pagamento foi feito à pessoa errada, pagou-se mal e quem paga mal, 
paga duas vezes, pois o verdadeiro credor poderá cobrá-lo. No entanto, em dois casos, 
o pagamento feito a um terceiro libera o devedor: se o credor confirmar o pagamento 
ou tanto quanto provar ter se revertido ao credor. 
Há um caso em que o pagamento é feito a um terceiro e o devedor está liberado, 
mesmo que o credor não confirme, nem se prove a reversão em seu benefício. É o caso 
do pagamento feito ao chamado credor putativo. Haverá credor putativo quando se 
paga de boa-fé a quem não é o credor, ou seja, se pagou à pessoa errada, mas havia 
 
 
motivos para acreditar ser ele o credor. 
No que se refere ao objeto do pagamento, este será o cumprimento da prestação. 
O credor não é obrigado a aceitar prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais 
valiosa, afirma o art. 313 do CC. 
Quem paga tem direito de receber uma prova de que pagou. É o que chamamos de 
quitação. O instrumento da quitação é o recibo, que sempre pode ser por instrumento 
particular. Se o credor se recusar a dar quitação, o devedor pode legitimamente reter o 
pagamento enquanto não lhe for dada. 
Assim sendo, em regra, quem prova o pagamento é o devedor. No entanto, em três 
casos haverá presunção de pagamento, dispensando o devedor de provar a quitação. 
Ocorre que é uma presunção relativa, ou seja, aquela que admite prova em contrário. 
São as três hipóteses de presunção de pagamento: 
a) Art. 322 do CC: quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da 
última estabelece, até em prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as 
anteriores; 
b) Art. 323 do CC: sendo a quitação do capital sem fazer reserva que os juros não 
foram pagos, estes se presumem pagos; e 
c) Art. 324 do CC: a entrega do título firma presunção do pagamento, presunção que 
pode ser elidida no prazo de sessenta dias. 
Para se efetuar o pagamento, importa saber o lugar do cumprimento da obrigação. 
É nesse lugar que se devem reunir credor e devedor na data marcada, não podendo o 
devedor oferecer e nem o credor exigir o cumprimento em lugar diverso. 
 
 
9.4.2. PAGAMENTO EM CONSIGNAÇÃO 
Consignação em pagamento significa o depósito judicial ou em estabelecimento 
bancário da coisa devida, o que a lei equipara a pagamento, extinguindo a obrigação. 
O devedor tem não só o dever de pagar, mas também o direito de fazê-lo para

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