Prévia do material em texto
¹ Graduados do curso de Bacharel em Geografia na Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC) Aplicação das métricas da paisagem em ambiente SIG para análise de impactos ambientais decorrentes da implantação de um empreendimento linear Aurélio Herzer¹ Giovana Pereira Carraro D’Espindula¹ Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC Departamento de Geografia – Centro de Ciências Humanas e da Educação Av. Madre Benvenuta, 2007 – CEP 88035-001 - Florianópolis - SC, Brasil aurelioherzer@gmail.com; gp.carraro07@gmail.com Resumo: Com a necessidade crescente de tentar entender melhor como os ecossistemas interagem e sobrevivem em meio ao crescimento galopante da sociedade e seus meios produtivos, profissionais das áreas bióticas, apropriando-se de uma gama de informações coletadas por anos e anos de pesquisas e observações, desenvolveram metodologias e ferramentais com base científica para não só compreender os mecanismos de sobrevivência destes ecossistemas, bem como desenvolver e aprimorar técnicas já existentes com o intuito de antever os impactos da antropização e aplicar medidas que irão amenizar o efeito dos impactos propondo um menor tempo de recuperação para as comunidades bióticas atingidas (ecossistemas). Neste trabalho foi realizada uma análise temporal com a apropriação dos conceitos vinculados às Métricas da Paisagem, utilizando como plataforma operacional ferramentas de geoprocessamento atreladas a algoritmos específicos desenvolvidos unicamente para a obtenção de resultados mais próximos possíveis da realidade. Palavras-chave: Geoprocessamento; Métricas; Paisagem. INTRODUÇÃO A Mata Atlântica que é, por sua alta diversidade de espécies e nível de endemismo, um dos complexos vegetacionais mais singulares no mundo (Mori et al., 1981; Fonseca, 1985), vem sofrendo historicamente as consequências do intenso processo de fragmentação (Dean, 1996; Viana e Tabanez, 1996; Ranta et al, 1998). Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE (2009) restam atualmente apenas 7,91%, ou seja, 102.012 km² da área originalmente coberta pela Mata Atlântica. Esta mensuração referencia-se apenas aos fragmentos superiores a 100 Ha de área, perfazendo um total de 18.397 fragmentos. Cabe ressaltar que os fragmentos do Bioma Mata Atlântica do estado do Piauí não estão contabilizados por ainda não terem sido devidamente cartografados. Conforme Viana (1990), um fragmento florestal é qualquer área de vegetação natural contínua, interrompida por barreiras antrópicas (estradas, cidades, culturas agrícolas, pastagens, etc.) ou naturais (montanhas, lagos, outras formações vegetacionais, etc.), capazes de diminuir significativamente o fluxo de animais, pólen e/ou sementes. É, portanto, produto de uma ação natural ou antrópica. No entanto, para Ishihata (1999) a fragmentação é a separação artificial do hábitat em fragmentos espacialmente isolados e envolvidos por uma matriz altamente modificada ou degradada, que pode ser constituída por culturas agrícolas ou outro tipo de uso do solo. A maior parte das áreas remanescentes de Mata Atlântica é representada por fragmentos pequenos, de domínio privado (Fonseca, 1985; Ranta et al, 1998), submetidos a diferentes pressões, como relevo acidentado. Segundo Dent e Young (1993 apud Pirovani, 2010), as consequências da fragmentação florestal são: redução da área de ecossistemas naturais; distúrbio no regime hidrológico das bacias hidrográficas; mudanças climáticas; erosão do solo; inundações e assoreamento das bacias hidrográficas; degradação dos recursos naturais; favorecimento ao estabelecimento de espécies invasoras; e, ainda, mudanças nos fluxos químicos e físicos da paisagem, incluindo os movimentos de calor, vento, água e nutrientes. Além disso, a fragmentação resulta em remanescentes de vegetação nativa que se avizinham a usos agrícolas e a outras formas de uso, e como resultado o fluxo de radiação, a água e os nutrientes dos solos são alterados significativamente (Saunders et al, 1991). Algumas vezes até a reprodução dos indivíduos pode ser comprometida, como no caso de espécies de fecundação cruzada obrigatória (Dias et al, 2000). De acordo com Metzger (2001) o processo de fragmentação leva à formação de uma paisagem em mosaico com a estrutura constituída por manchas ou fragmentos, corredores e a matriz. O estudo desses elementos da paisagem, bem como as suas interações, é de grande importância para a compreensão dinâmica da paisagem, auxiliando na definição de técnicas de manejo visando à recuperação e ou a conservação dos remanescentes florestais. Ecologia da Paisagem Risser et al (1984) definem ecologia de paisagens como uma área de conhecimento que considera o desenvolvimento e a dinâmica da heterogeneidade espacial, as interações e trocas espaciais e temporais através de paisagens heterogêneas, as influências da heterogeneidade espacial nos processos bióticos e abióticos e o manejo da heterogeneidade espacial. A ecologia de paisagens segundo Naveh e Lieberman (1994) é uma ciência interdisciplinar que lida com as interações entre a sociedade humana e seu espaço de vida, natural e construído. Essa última definição aponta para uma ecologia humana de paisagens, representando a abordagem geográfica, enquanto as demais definições apontam para uma ecologia espacial de paisagens preocupada com a consequência dos padrões espaciais e a forma pela qual a heterogeneidade se expressa nos processos ecológicos (Metzger, 2001), representando assim a abordagem ecológica. A paisagem é interpretada de uma forma geral como um componente do geossistema espacializada de forma heterogênea e segundo Turner e Gardner (1990), estrutura, função e alterações fundamentam sua existência. A estrutura da paisagem compreende todas as relações espaciais dos elementos e ecossistemas que as compõem. Esta relação implica diretamente na distribuição de materiais e espécies presentes no sistema. A função compreende a interatividade entre todos os elementos, como por exemplo, a troca, ou o fluxo de informações genéticas, perpetuação das espécies, etc. As alterações nada mais são do que todas as transformações exercidas sobre a paisagem, seja de forma natural, seja de forma antrópica, onde a função e a estrutura original sofrerão alterações (Forman e Godron 1986). Estrutura da Paisagem O conceito de “estrutura da paisagem” é relativamente jovem dentro da ecologia de paisagens. Trata-se do estudo do mosaico da paisagem que aparece como o padrão e ordenamento espacial específico das unidades de paisagem numa determinada seção de pesquisa. Trabalha com as feições espaciais/estruturais observáveis e mensuráveis na paisagem e caracteriza as suas condições, seu desenvolvimento e sua mudança temporal (Blaschke, 2000; Turner et al, 2001 apud Lang e Blaschke, 2009). Trata-se, em síntese, das causas e efeitos da heterogeneidade espacial sobre os diferentes processos ecológicos. Segundo Loffler (2003 apud Lang e Blaschke, 2009), estruturas da paisagem são fortemente formadas e alteradas pelo homem, por isso, a paisagem também é vista como um tipo de interface entre as esferas biótica, abiótica e humana. O conceito de estrutura da paisagem foi fortemente determinado por ferramentas apoiadas em computador e por métodos do processamento de informações geográficas, bem como do processamento digital de imagens (Lang e Blaschke, 2009). O mesmo autor cita ainda que para a avaliação analítica da estrutura da paisagem, desenvolveu-se um conjunto de métodos designados medidas da estrutura da paisagem (métricas), que deve ser considerado como o coração metodológico do conceito de estrutura da paisagem. Por apoiar-se numa forma de observação espacial, do conceito de estrutura da paisagem, resulta a necessidade de modernos métodos de processamento de informações geográficas, bem como de teorias fundamentais da divisão hierárquica de paisagense do holismo (Lang et al, 2004). Segundo Forman e Godron (1986); Metzger (2001) a estrutura da paisagem é composta pelos elementos: fragmento, matriz e corredor. De acordo com Valente (2001), o conhecimento dos elementos ou os componentes de uma paisagem é essencial para a caracterização de sua estrutura e para a identificação de seus padrões. Quantificação da Estrutura da Paisagem Conforme o autor Pereira et al (2001), a ecologia da paisagem fundamenta-se no princípio de que os padrões dos elementos que compõem a paisagem influenciam significativamente nos processos ecológicos atuantes nos ecossistemas. Portanto saber quantificar a estrutura da paisagem é um pré-requisito para os estudos das funções e das mudanças ou alterações das características mater da paisagem em questão. Esta premissa é enfática para o desenvolvimento de métodos de pesquisa que tem por função a quantificação de toda a estrutura da paisagem para futura análise ecológica da mesma. Na visão de Carrão et al (2001), o universo de medidas quantitativas que compõem a paisagem, denominadas de “Métricas da Paisagem”, torna-se cada vez mais notórias haja vista que estas, ao serem devidamente processadas, geram indicadores que nos fazem compreender melhor a estrutura dos sistemas integradores da paisagem de uma forma geral, bem como a relação intrínseca dos ecossistemas ali operantes. Para otimizar os processos, alguns autores criaram o sistema de agrupamento destes índices considerando particularidades como unidades métricas, formas, densidade, tamanho e variabilidade métrica dos fragmentos, fatores ou índices de bordas, fatores ou índices de área central, etc. Diante do exposto, o presente trabalho abordará um total de cinco índices que foram propositadamente escolhidos em detrimento a execução do projeto de ampliação da malha viária na região norte do Estado de Santa Catarina. Estes índices estão relacionados diretamente com o impacto exercido sobre eles na implantação dos projetos de ampliação. MATERIAIS E MÉTODOS Como subsídio para análise da paisagem e mapeamento da vegetação, técnicas de geoprocessamento e fotointerpretação foram aplicadas através de ferramentas computacionais (Hardware e Software), imagens de satélite, GPS (Global Positioning System), além de uma gama de informações coletadas em campo que terão como finalidade a aferição e validação de dados gerados em gabinete. Conhecer a cobertura vegetal é de suma importância para gestor do empreendimento fornecendo subsídios para os estudos de alternativas antevendo assim a proteção e manutenção dos ecossistemas presentes em detrimento à implantação do projeto, pois toda e qualquer alteração antrópica altera a paisagem e compromete os ecossistemas por meio do ato da supressão que acaba sendo muito mais impactante. O processo tem início na obtenção de imagens orbitais de alta resolução, multiespectrais, as quais serão a base para a fotointerpretação e vetorização das feições que compõem a paisagem da área de estudo. A área de estudo compreende um corredor de 300,0 metros de largura e que se estende ao longo de todo o eixo da rodovia (Figura 1). Figura 1: Localização da área de estudo. Fonte: Elaborado pelos autores. O fator humano associado a sua experiência no processo que envolve a fotointerpretação é muito importante para que o resultado obtido apresente uma retratação do cenário mais próximo da realidade possível. Todos os dados gerados e os resultados alcançados só foram possíveis em virtude do uso de Softwares e Hardwares de alto desempenho e específicos para as metas propositadas, e que serão listados a seguir: 1) Softwares: Erdas Imagine Advantage; Corel Draw X6; Microstation (Bentley); ArcGis/AcView; Office 2016; GPS TrackMaker PRO; Fragstats V4.2.1 App Patch Analyst para ArcView 2) Hardwares periféricos: Processador i7 3, 40 GHz / 8 GB de Memória RAM / Placa de vídeo dedicada: 2 GB; Sistemas Operacional Windows 7 - 64 bits; Plotter HP Designjet T1200 PostScript (Formato A1, A0 e outros); Impressora Xerox C75 (Formato A4 e A3); Drivers de Multimídia; 3) Base cartográfica: Base cartográfica IBGE (diversas escalas); Mapeamento Sistemático Brasileiro e Base Vetorial Contínua ao Censo 2010; 4) Sensoriamento Remoto e Imageamento Aerolevantado: Imagem de domínio e distribuição pela Digital Globe dos anos de 20014 e 2017 Imagem de domínio e distribuição pela CNS/Astrium do ano de 2013/14 5) Equipamentos: Sistema de Posicionamento Global (GPS) Garmin 12XL; Maquina fotográfica com abertura focal de 35 mm Para melhor entender as dinâmicas da paisagem, considerando um período que antecede e um período que sucede a implantação da duplicação da rodovia, fez-se uso de imagens temporais entre 2014 a 2017 que foram comparadas com o cenário atual para compor uma matriz resultante e definir se houve ou não regeneração e qual o grau de alteração foi inferido aos fragmentos com a implantação da duplicação. Uma vez concluído o processo de vetorização, os arquivos em shapefile foram depurados para eliminar inconsistências de ordem geométrica e os mesmos foram submetidos posteriormente aos algoritmos denominados Patch Analyst e Fragstats que, após terem sido previamente programados com os índices de interesse, resultaram em um arquivo no formato shapefile cujos resultados abastecerão planilhas de comparação para entender as relações dos fragmentos quanto a sua forma, área, etc. Os cinco índices usados para a realização deste trabalho estão detalhados a seguir: 1) Índices de Área: A maioria dos autores reconhece os índices de área como a base mais importante na análise das métricas da paisagem, haja visto que os valores obtidos servirão de base primária para obtenção de outros índices, o que tornam estes índices prioritários e importantes por si só. Saber a quantia de fragmentos e a área ocupada respectivamente em uma determinada região é de grande valia para entender as relações entre os vários ecossistemas que ali habitam e entender como e se as espécies, tanto da flora quanto da fauna, terão condições de se manter sem ter que passar por processos mais severos de adaptação. 2) Índices de Densidade e Tamanho: Os valores aqui obtidos não são medidos necessariamente espaciais; na verdade a finalidade destes índices alicerça-se na representação da configuração do cenário paisagístico quanto a suas formas, tamanho médio, densidade, variação, etc. 3) Índices de Borda: Ressalta a relação dos efeitos dos diversos fenômenos meteorológicos atuantes sobre o fragmento vegetacional em relação ao número de bordas existente no fragmento e como estas bordas se configuram. A configuração e disposição deste índice, pode influenciar na intensidade do vento que incide sobre o fragmento, o mesmo pode ser inferido para a questão da umidade e iluminação solar que, dependendo de como atuam sobre o sistema, podem gerar microclimas e consequentemente taxas de distúrbios. 4) Índices de Forma: Estes índices estão relacionados diretamente com o tamanho e forma dos fragmentos e a relação direta com os ecossistemas que habitam estes fragmentos e a conectividade entre eles exercendo influência direta como, por exemplo, em ações como a migração de pequenos mamíferos e a colonização de plantas de médio e grande porte, bem como influenciar na estratégia de fuga da fauna ao se sentirem ameaçadas em algum momento em seu habitat. 5) Índices de Proximidade: Estes tem por finalidade determinar as distâncias entre os vizinhos mais próximo de um fragmento e a distância deste entre os demais considerando a distância entre suas bordas. São índices quantificadores que salientam a necessidade de identificar o quão os fragmentos estão próximos entre i, pois esta distância inferirá no grau de isolamento entre os mesmos e consecutivamente estes resultados apontarão para as dificuldades de relação entre todos os processos ecológicos que envolvem estes fragmentos. Como asfitofisionomias interceptadas pelo empreendimento vão desde formações de Restinga, passando por manguezais até a Floresta Ombrófila Densa, será apresentado um resumo geral sobre os resultados obtidos considerando todas as formações com ênfase nos resultados obtidos para a Floresta Ombrófila Densa. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para analisar a paisagem foi dividida em quatro classes: muito pequenos ( 100ha). Nos fragmentos de Floresta Ombrófila Densa – F.O.D., em 2014, representavam uma área total de 1.662 hectares, sendo os fragmentos médios a classe de maior representatividade. Comparando com o ano 2017 ocorreu redução de área total para 1.537,6 hectares, porém as classes dos fragmentos muito pequenos que são mais susceptíveis a extinção observou-se um aumento de 5,2%. Para os fragmentos de Manguezal ocorreram mudanças na faixa 0,2-0,4 hectares; na formação de Restinga, as variações mais significativas foram um aumento de 49% da área da classe 5-10 hectares e uma redução de 19% na classe de 10-100 hectares. Tabela 1: Métricas da Floresta Ombrófila Densa em 2014 FOD Classe de Áreas 2014 Sigla Unidade 100 ha Total CA Hectare (ha) 262,4 298,7 918,6 182,3 1662,0 NUMP Adimensional 210,0 41,0 42,0 1,0 294,0 TE Metros (m) 128195,0 73807,4 142248,3 14281,8 358532,5 ED m/ha 65,2 37,5 72,3 7,3 45,6 MSI Adimensional 1,7 1,9 2,0 3,0 2,1 MNN Metros (m) 515,7 1491,5 1012,4 1,0 755,1 Fonte: Elaborado pelos autores. Tabela 2: Métricas da Floresta Ombrófila Densa em 2017 FOD Classe de Áreas 2017 Sigla Unidade 100 ha Total CA Hectare (ha) 276,0 262,6 820,1 178,8 1537,6 NUMP Adimensional 230,0 36,0 38,0 1,0 305,0 TE Metros (m) 135927,6 65710,0 129027,0 15344,1 346008,7 ED m/ha 74,6 36,1 70,8 8,4 47,5 MSI Adimensional 1,7 1,9 2,1 3,2 2,2 MNN Metros (m) 455,6 1508,9 1223,9 1,0 797,3 Fonte: Elaborado pelos autores. No ano de 2014 havia um total de 294 fragmentos para F.O.D. sendo: 71,1 % muito pequenos ( 100ha). Em 2017 ocorreu uma redução para 305 manchas, um fator positivo quando se analisa conjuntamente com outros indicadores como área, bordas e proximidade, mostrando que os pequenos fragmentos estão se unindo por meio de corredores ecológicos, mantendo o fluxo gênico. As métricas de borda apresentaram proporcionalmente na extensão do levantamento menor valor no total de borda (TE) para a classe dos fragmentos considerados grandes da Floresta Ombrófila Densa (15.344,1), ao passo que os fragmentos pequenos apresentaram maior representatividade além de apresentarem densidade de bodas de forma considerável. Considerando os dados depurados e planilhados, chegou-se a um cenário que inspira um olhar mais crítico, pois os mesmos indicam um alto grau do efeito de borda indicando assim um menor grau de conservação. Em fragmentos menores onde a transição entre o fragmento florestal e o meio adjacente é abismal, cria-se uma borda de entorno que deixa a floresta vulnerável às condições encontradas na periferia. A porção externa da floresta torna-se parte de um ecótono, ou seja, zona de transição entre os fragmentos e a vizinhança existente, que pode ser desde uma área antropizada até uma área em estágio inicial de regeneração manifestando a possibilidade de se criar pequenas zonas microclimáticas, como oscilação termal e estresse hídrico, comprometendo assim a consistência deste fragmento e, dependendo do seu grau de estágio sucessional, até a capacidade de resiliência será comprometida. Outro ponto fatídico é a forma dos fragmentos que também impacta diretamente no que se refere ao efeito de borda, incluindo os fluxos biótico e abiótico (Farina, 1998). Para que as formas fossem analisadas, conforme os inúmeros conceitos pesquisados, chegou-se a um padrão que se refere à forma mais ideal de um fragmento para que haja condições perfeitas para a manutenção de sua existência. O valor adotado é igual a um, valor este que está atrelado a forma mais esférica possível. Quanto mais gradiente numeral se afastar do valor padrão, mais irregular e mais comprometedora será a forma do fragmento. O grau de isolamento dos fragmentos, caraterizado pela distância média do vizinho mais próximo (MNN), apresentou resultados semelhantes e ao mesmo tempo preocupantes, pois se detectou um alto grau de isolamento dentro da área de estudo e que por consequência, acarretará dificuldades de interação ecológica tanto para a flora como para a fauna. Para dar ênfase na metodologia aplicada neste estudo, foram exemplificadas três áreas ao longo da rodovia onde os fragmentos florestais foram identificados para dar uma visão mais clara de como os ecossistemas podem ser afetados pelos processos de antropização, neste caso, pela ampliação da malha viária (Figuras 2). Figura 3: Demonstração de fragmentação da vegetação em detrimento à ampliação da malha viária. Fonte: Elaborado pelos autores. CONCLUSÕES Apesar da forma sintética como foram abordados os processos e metodologias aplicadas a leitura da paisagem interferida pelo empreendimento, foi possível mensurar o impacto ambiental exercido sobre o sistema. Os resultados obtidos forneceram indicadores que serviram de subsídio para as devidas tomadas de decisões quanto aos procedimentos a serem adotados para a manutenção e/ou recuperação das áreas degradadas. A seara abordada nos faz entender que para toda e qualquer obra de infraestrutura a ser implantada, alterações físicas nos componentes da paisagem se tornam inevitáveis, contudo, apropriando-se de novas tecnologias e conceitos científicos torna-se possível o monitoramento das áreas impactadas bem como a aplicação de medidas mitigadoras mais eficazes intrínsecas aos projetos de reposição e compensação florestal. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Almeida, C.G. Análise espacial dos fragmentos florestais na área do Parque Nacional dos Campos Gerais, Paraná. Dissertação (Mestrado em Gestão do território), Universidade Estadual de Ponta Grossa, Paraná, 2008. Blaschke, T. Landscape Metrics: Konzepte eines jungen Ansatzes der Landschaftsokologie und Anwendungen in Naturschutz und Landschaftsforschung. Archiv fur Naturschutz und Landschaftsforschung, p.267-299, 2000. Carrão, H. et al. LANDIC: cálculo de indicadores de paisagem em ambiente SIG. In: Encontro de Utilizadores de Informação Geográfica - ESIG 2001, 6., Oeiras, Portugal, 28-30 nov., 2001. Anais.... Lisboa: Associação dos Utilizadores de Sistema de Informações Geográficas - USIG, 2001. Dean, W. A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica Brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. Dias, A.; et al. Projeto corredor ecológico Bananal Araguaia, Brasília, 120 p. 2000. Farina, A. Principles and methods in landscape ecology. Londres: Chapman e Hall.1998. Fonseca, G. A. B. The vanishing Brazilian Atlantic forest. Biological Conservation, Liverpool, v. 34,p. 17-34, 1985. Forman, R.T.T; Godron, M. Landscape Ecology. New York, John Wilwy e Sons, 619p, 1986. INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Ministério da Ciência e Tecnologia. 2009. Disponível em: . Acesso em 24 de agosto de 2018. Ishihata, L. Bases para seleção de áreas prioritárias para a implantação de unidades de conservação em regiões fragmentadas. Dissertação (Mestrado em Ciência Ambiental) – Universidade de São Paulo, São Paulo.1999. Lang, S.; Blaschke, T. Análise da paisagem com SIG. Tradução: Hermann Kux, São Paulo: Oficina de Textos, 2009. Lang, S.;et al. Multiescale object – based image analysis – a key to the hierarchical organisation of landscapes. Ekológia (Bratislavia), n.23, p.1-9, 2004. Mcgarigal and Marks. Fragstats: Spatial pattern analysis program for quantifying landscape structure. Reference manual. For. Sci. Dep. OregonState University. Corvallis Oregon 59 p.+ Append. 1995. Metzger, J. P. O que é ecologia de paisagens? Biota Neotropica, v.1,n. 1/2, Campinas, SP, 2001. MMA/SBF – Ministério do Meio Ambiente/Secretaria de Biodiversidade e Floresta. 2003. Fragmentação de Ecossistemas: Causas, efeitos sobre a biodiversidade e recomendações de políticas públicas. Denise Marçal Rambaldi, Daniela América Suárez de Oliveira (orgd.), Brasília, 510 p. Mori S. A.; et al. Distribution patterns and conservation of eastern Brazilian coastal forest tree species. Brittonia, New York, v. 33, p. 233-245, 1981. Naveg, Z. Lieberman, A. Landscape ecology: theory and application. Springer-Verlag, New York, 1994. Pereira, J.L.G. et al. Métricas da paisagem na caracterização da evolução da ocupação da Amazônia. Geografia, v. 26, n. 1, p. 59-90, abr. 2001. Pirovani, D.B. FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL, DINÂMICA E ECOLOGIA DA PAISAGEM NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ITAPEMIRIM, ES. Tese (Mestrado em Ciências Florestais) – Universidade Federal do Espírito Santo. Jerônimo Monteiro, 2010. Ranta, P. et al. The fragmented Atlantic rain forest of Brazil: size, shape and distribution of forest fragments. Biodiversity and Conservation, Amsterdam, v. 7, p. 385-403, 1998. Risser, P.G., et al. Landscape ecology, directions and approaches. Illinois Natural History Surveys. Special Publications, 1984. Saunders, D. A.; et al. Biological consequences of ecosystem fragmentation: a review. Conservation Biology, v. 5, n. 1, p. 18- 35, 1991. Turner, M.G. Gardner, R.H. Quantitative methods in landscape ecology: the analysis and interpretation of landscape heterogeneity. Springer-Verlag, New York, 1990. Valente, R.O.A. Análise da estrutura da paisagem na bacia do rio Corumbataí, SP. Dissertação (Mestrado em Recursos Florestais) – Escola Superior de Agricultura “Luis de Queiroz”, USP, Piracicaba, 2001. Viana, V. M. Biologia e manejo de fragmentos florestais naturais. In: Congresso Florestal Brasileiro, 6, 1990, Campos do Jordão. Anais... Campos do Jordão: SBS/SBEF, 1990. p. 113-118. Viana, V. M.; Tabanez, A. A. J. Biology and conservation of forest fragments in the Brazilian Atlantic moist forest. In: Schelhas, J.; Greenberg, R. Forest patches in tropical landscapes. Washington, D.C.: Island, p. 151- 167.1996