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Módulo Incidência e Crédito Tributário
SEMINÁRIO I - ISENÇÕES TRIBUTÁRIAS E REGRA-MATRIZ DE INCIDÊNCIA
TRIBUTÁRIA
MARIA LÚCIA PAVANI BUENO
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Questões
1. Defina o que é isenção, considerando ao menos duas das teorias existentes
sobre o tema e justificando o motivo pelo qual você adota uma delas. A partir disso,
explique as diferenças e as semelhanças que existem em relação: (i) à imunidade; (ii)
à não incidência; (iii) à anistia; (iv) à remissão; (v) à alíquota 0% e (vi) à redução da
base de cálculo.
A isenção tributária é a dispensa legal de tributo devido. Nesse sentido, há um
fato gerador para a aplicação da norma tributária, mas que é extinta pela atuação
secundária de uma norma isencional.
Podemos até mesmo dizer que a aplicação da isenção se equipara ao pagamento
do tributo devido, assim como explica o autor André Mendes Moreira1, ao utilizar o
entendimento do STF sobre o que é a isenção tributária:
(...) tendo havido o surgimento da obrigação tributária e, a posteriori, dispensando-
se o seu pagamento, o crédito tributário restaria extinto – operando os mesmos
efeitos das outras causas extintivas no artigo 156 do CTN.
Desta forma, vemos que a tributação acontece, vez que ocorreu o fato gerador.
Ele é na realidade uma forma de benefício fiscal concedido pelo governo a pessoas
físicas e jurídicas, podendo ser temporária ou permanente, devendo seguir uma série
de critérios e requisitos estabelecidos em lei.
Mas custa salientar que a isenção não implica em renúncia da obrigação
tributária. Ela em verdade altera a regra matriz de incidência tributária, suprimindo sua
funcionalidade, se transformando num “encontro de normas com a mutilação da regra-
1 Moreira, André Mendes. A não-cumulatividade dos tributos / André Mendes Moreira. – São Paulo:
Noeses, 2012. p.156
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matriz de incidência” conforme leciona o professor Paulo de Barros Carvalho2.
São diversas as teorias da aplicação e objetivo da isenção tributárias, mas entre
elas, as que se destacam sem dúvidas, são a teoria clássica.
A teoria clássica, teoria esta que eu concordo, defende que a isenção é uma
iniciativa do legislador, que, mesmo após a incidência da regra de tributação, dispensava
o pagamento deste determinado tributo. Nas palavras do professor Paulo de Barros
Carvalho “pressupunha a incidência da regra de tributação e, de seguida, o efeito da
norma exoneratória que cumpria, por essa forma, o papel de desqualificar,
juridicamente, o dever obrigacional nascido com o impacto da primeira3”.
Para o professor, a regra isencional se trataria em realidade a uma regra
estrutural e não comportamental, de forma que sua aplicação modifica a regra matriz
de incidência, tanto no caso de elementos antecedentes, como nos consequentes.
Agora, indo de contramão ao entendimento clássico, estamos diante da teoria
exposta por Alfredo Augusto Becker, tal qual dispõe que a isenção se trataria de favor
legal que desobriga o devedor ao cumprimento da obrigação tributária. Para ele, a
isenção tem como objetivo negar a existência da relação jurídico tributária. Ou seja, para
ele, “A regra de isenção incide para que a de tributação não possa incidir “4.
Agora, para não haver confusão entre as diferenças e similaridades de
imunidade, não incidência, anistia, remissão, alíquota 0% e redução da base de cálculo,
cumpre indicar cada um separadamente:
IMUNIDADE: A imunidade é uma limitação constitucional ao poder de tributar.
Certos entes, como a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios, são proibidos
de instituir impostos sobre determinadas entidades, bens, serviços ou operações. A
2 Carvalho, Paulo de Barros. Direito tributário: linguagem e método / Paulo de Barros Carvalho. - 7. ed.
rev. - São Paulo: Noeses, 2018 p 646.
3 Iden. p 647.
4 Becker, Alfredo Augusto, Teoria geral do direito tributário. 5. ed. São Paulo, Noeses, 2010 p. 277.
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imunidade é prevista na Constituição Federal e é absoluta, ou seja, não admite qualquer
exceção ou interpretação restritiva por parte do legislador ordinário.
Assim, é uma proteção constitucional que impede que certas situações ou
sujeitos sejam considerados hipóteses de incidência de tributos ou sujeitos passivos
destes.
NÃO INCIDÊNCIA: Refere-se a situações em que uma norma tributária não se
aplica a determinado fato, seja por ausência de previsão legal ou por expressa exclusão
legal. É diferente da imunidade, pois esta última é uma limitação constitucional
específica, enquanto a não incidência pode ser derivada de diversas razões, como falta
de previsão legal específica.
Ou seja, ocorre quando uma situação não se enquadra nos critérios
estabelecidos pela regra-matriz de incidência, mas não está prevista na legislação
ordinária. Tem efeitos prospectivos e afeta o exercício da competência tributária.
Vale dizer, que segundo lições de Paulo de Barros Carvalho5, a isenção, não
incidência e imunidade estão mais interligadas do que separadas. Veja-se:
Há consenso entre os especialistas no consignar as diferenças entre imunidade,
isenção e não incidência, convindo dizer que, ultimamente, vem prosperando a lição
mediante a qual as três categorias mereceriam considerar-se casos de não
incidência, agregando-se a cada uma, pela ordem, as seguintes expressões:
estabelecida na Constituição (imunidade); prevista em lei (isenção); e pura e simples
(não incidência em sentido estreito).
ANISTIA: A anistia fiscal consiste no perdão ou na dispensa total ou parcial de
dívidas tributárias. É uma medida que o Estado pode adotar para aliviar a carga tributária
de determinados contribuintes em situações específicas, incidindo sobre o fato gerador
do tributo. Ela possui efeitos retroativos, impactando o exercício da competência
5 Carvalho, Paulo de Barros Curso de direito tributário / Paulo de Barros Carvalho. - 31. ed. rev. atual. -
São Paulo: Noeses, 2021. p. 190
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tributária, e é concedida por meio de lei.
Assim como explicado pelo professor Paulo de Barros Carvalho,o perdão pode
ser sobre ilícito ou então sobre multa, podendo ser aplicada de forma tácita ou expressa.
REMISSÃO: Similar à anistia, é o perdão total ou parcial de uma dívida tributária.
Mas diferentemente da anistia, geralmente, ocorre por meio de um ato administrativo
ou legislativo e pode ser aplicada a um contribuinte específico ou a uma categoria de
contribuintes.
Nesse sentido da similaridade com a anistia, o professor Paulo de Barros
Carvalho6 dispõe que:
Apresenta grande similitude com a remissão, mas com ela não se confunde. Ao
remitir, o legislador tributário perdoa o débito do tributo, abrindo mão do seu
direito subjetivo de percebê-lo; ao anistiar, todavia, a desculpa recai sobre o ato da
infração ou sobre a penalidade que lhe foi aplicada.
ALÍQUOTA 0%: Refere-se à aplicação de uma taxa de imposto de renda zero
sobre determinado produto, serviço ou operação. Isso significa que o tributo é devido,
mas a alíquota é zero, o que resulta na não cobrança do imposto.
REDUÇÃO DA BASE DE CÁLCULO: Significa diminuir o valor sobre o qual será
calculado o tributo devido. Em vez de reduzir a alíquota do imposto, o que diminuiria
diretamente o montante a ser pago, a redução da base de cálculo altera o valor ou a
quantidade que servirá de referência para o cálculo do tributo, geralmente visando
beneficiar determinados setores ou atividades econômicas.
6 Carvalho, Paulo de Barros Curso de direito tributário / Paulo de Barros Carvalho. - 31. ed. rev. atual. -
São Paulo: Noeses, 2021. p. 536
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2. A que se refere a expressão “crédito tributário” utilizada no art. 175 do CTN no
contexto da isençãotributária (inciso I)? E no contexto da anistia (inciso II)?
Inicialmente, cabe relembrar o que queremos dizer quando falamos de “crédito
tributário”. Segundo Paulo de Barros Carvalho7 ele é “o direito subjetivo de que é
portador o sujeito ativo de uma obrigação tributária, que lhe permite exigir o objeto
prestacional representado por uma importância em dinheiro”.
Ou seja, é um valor X exigido ao sujeito passivo pelo sujeito ativo da obrigação
tributária, após a ocorrência de um fato gerador Y. Sendo constituído pelo fato gerador,
previsão legal e lançamento tributário. Quando tratado no artigo 175 do Código
Tributário Nacional (CTN), a expressão "crédito tributário" assume diferentes
significados, dependendo do contexto em que é mencionada.
No caso da isenção tributária, essa expressão está associada ao próprio tributo
devido pelo contribuinte, ou seja, ao montante que seria devido caso não houvesse a
dispensa estabelecida pela legislação. Nesse contexto, o crédito tributário representa o
valor do tributo que não precisa ser pago devido à isenção concedida.
Por outro lado, no contexto da anistia, o termo "crédito tributário" refere-se ao
montante constituído pela inobservância de deveres instrumentais ou infrações que
levaram à aplicação de multas. Portanto, quando se fala em anistia, está se referindo à
extinção ou perdão desse crédito tributário, que inclui não apenas o tributo devido, mas
também as penalidades impostas ao contribuinte, como multas e outros encargos
decorrentes da infração.
Assim, enquanto na isenção tributária o crédito tributário está relacionado
diretamente ao valor do tributo dispensado de pagamento, na anistia, ele engloba não
apenas o tributo devido, mas também as multas e penalidades decorrentes de infrações.
7 Carvalho, Paulo de Barros Curso de direito tributário / Paulo de Barros Carvalho. - 31. ed. rev. atual. -
São Paulo: Noeses, 2021. p. 399
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3. É possível afirmar que uma isenção por prazo certo sempre será uma isenção
condicionada e que uma isenção por prazo indeterminado sempre será uma isenção
incondicionada? Quais critérios são utilizados nessas classificações? A revogação de
uma isenção incondicionada reinstitui a regra-matriz de incidência tributária no
sistema ou é necessária a publicação de nova regra-matriz de incidência tributária no
ordenamento jurídico? E no caso da revogação de uma isenção condicionada? Há que
se falar em direito adquirido? É necessário que se observe o princípio da anterioridade
de exercício e da anterioridade nonagesimal na hipótese de revogação de isenção por
prazo certo quano isso ocorre antes do termo final desse prazo? (Vide anexos I, II, III e
IV)?
A legislação tributária frequentemente estabelece isenções como forma de
incentivar determinadas atividades econômicas, aliviar o ônus fiscal sobre certos
contribuintes ou promover objetivos sociais e políticos. No entanto, a distinção entre
isenções incondicionais e condicionadas, bem como a relação entre prazo certo e
indeterminado, suscita debates acerca de sua natureza e aplicação.
No âmbito das isenções tributárias, destaca-se a dicotomia entre
incondicionalidade e condicionalidade. Segundo a doutrina, as isenções incondicionais
são aquelas concedidas sem a imposição de requisitos específicos ao contribuinte,
enquanto as condicionais estão atreladas ao cumprimento de certas condições
estipuladas pela legislação. Essa distinção é fundamental para determinar a
possibilidade de revogação ou modificação das isenções pelo poder público.
De forma mais específica, a isenção incondicionada é aquela concedida sem a
imposição de requisitos específicos ao contribuinte. Em outras palavras, o beneficiário
da isenção não precisa cumprir qualquer condição ou realizar determinada atividade
para usufruir do benefício fiscal. Tal disposição se encontra no artigo 178 do Código
Tributário Nacional:
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Art. 178. A isenção, salvo se concedida por prazo certo e em função de determinadas
condições, pode ser revogada ou modificada por lei, a qualquer tempo, observado o
disposto no inciso III do art. 104.
Esse tipo de isenção é geralmente aplicado de maneira ampla, beneficiando uma
categoria de contribuintes ou atividades econômicas de forma indiscriminada.
Por exemplo, isenções concedidas a determinados produtos de primeira
necessidade ou a entidades sem fins lucrativos podem ser consideradas
incondicionadas, pois não estão sujeitas ao cumprimento de requisitos adicionais além
da simples caracterização do objeto isento.
Dessa forma, a isenção incondicionada representa uma forma direta de alívio
fiscal, sem exigir contrapartidas específicas por parte do contribuinte.
Agora, a isenção condicionada é aquela concedida mediante o cumprimento de
certas condições específicas estabelecidas pela legislação tributária. Ou seja, o
contribuinte somente faz jus à isenção se atender aos requisitos determinados pela lei,
os quais podem variar de acordo com o contexto e os objetivos da norma isentiva,
conforme disposto no artigo 179 do CTN:
Art. 179. A isenção, quando não concedida em caráter geral, é efetivada, em cada caso,
por despacho da autoridade administrativa, em requerimento com o qual o interessado
faça prova do preenchimento das condições e do cumprimento dos requisitos previstos
em lei ou contrato para sua concessão.
§ 1º. Tratando-se de tributo lançado por período certo de tempo, o despacho referido
neste artigo será renovado antes da expiração de cada período, cessando
automaticamente os seus efeitos a partir do primeiro dia do período para o qual o
interessado deixar de promover a continuidade do reconhecimento da isenção.
§ 2º. O despacho referido neste artigo não gera direito adquirido, aplicando-se, quando
cabível, o disposto no artigo 155.
Essas condições podem incluir, por exemplo, a realização de determinadas
atividades econômicas, o enquadramento em certos critérios socioeconômicos ou o
cumprimento de obrigações acessórias previstas em lei.
Dessa forma, a isenção condicionada está diretamente vinculada ao
preenchimento desses requisitos, não sendo concedida de forma automática ou
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irrestrita ao contribuinte.
É importante ressaltar que, embora seja comum associar isenções por prazo
certo às condicionadas e isenções por prazo indeterminado às incondicionadas, essa
correlação não é absoluta.
Enquanto as isenções por prazo certo geralmente estão sujeitas a condições
específicas durante o período concedido, poderia haver casos em que uma isenção por
prazo certo seja incondicional, ou seja, concedida sem a necessidade de cumprimento
de condições específicas durante o período concedido.
Da mesma forma, embora muitas isenções por prazo indeterminado possam ser
incondicionadas, isso não é uma regra rígida. Poderia haver situações em que uma
isenção por prazo indeterminado esteja condicionada ao cumprimento de certas
condições, mas sem um prazo específico para sua duração.
Essa complexidade evidencia a necessidade de análise detalhada de cada
situação, considerando os termos específicos da legislação aplicável.
Ademais, a jurisprudência e a doutrina têm contribuído para a interpretação e
aplicação das normas relacionadas às isenções tributárias. O entendimento consolidado
nos tribunais, bem como os posicionamentos doutrinários, auxilia na compreensão das
nuances desses institutos e na definição de seus limites e alcances.
Mas vale ressaltar que a mesmo que a isenção por prazo certo não
necessariamente se encaixe como isenção condicionada, toda isenção condicionada
DEVE ser por prazo certo, não podendo ser revogada pela Administração Pública a
qualquer momento.
Nesse sentido, o autor Ricardo Alexandre8 ensina que:
Para ser abrangida pela exceção à plena revogabilidade,a isenção precisa ser concedida
8 ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributário. 11ª ed. Salvador: JusPodivm, 2017.
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em função de determinadas condições (onerosa) e por prazo certo. Atualmente, tem-se
definido como onerosa apenas a isenção que cumpra ambos os requisitos, de forma que
o conceito se tornou bem mais restrito.
O mesmo deve ser aplicado no caso das isenções incondicionadas. Nem sempre
a isenção por prazo indeterminado é considerada incondicionada, mas sempre que a
isenção for incondicionada, ela será por prazo indeterminado.
Veja-se entendimento do STF, por meio da súmula 544 sobre o assunto:
Súmula 544 - Isenções tributárias concedidas, sob condição onerosa, não podem
ser livremente suprimidas.
Tendo isso como base, assim como a legislação vigente, é possível identificar que
a revogação de uma isenção incondicionada, reestabelece a eficácia da norma tributária.
Ou seja, reinstituí a regra-matriz de incidência tributária no âmbito legal, tal qual passa
a fazer efeitos novamente, não havendo necessidade de determinação de noma regra-
matriz no ordenamento pátrio.
Veja-se que para firmar esse entendimento, é necessário observar os critérios
impostos à isenção, e existência de condições para usufruir de tal benefício. Nesse
sentido, Lucas Galvão de Britto dispõe sobre os critérios para sua aplicação, analisando
a presença de condições para a utilização do benefício, assim como se há limite temporal
para tal.
Em se tratando de direito adquirido, tal discussão já foi motivo de debate pelo
Superior Tribunal de Justiça, vez que o ordenamento jurídico brasileiro, assim como a
grande maioria, entende que não há de se falar em direito adquirido, vez que os Entes
Federados podem criar isenções e revogá-las (desde que concedida por prazo
indeterminado) a qualquer tempo, conforme dispõe o artigo 178 do CTN.
Entendimento este muito diferente quando tratamos de isenções condicionadas
por prazo certo, no qual tanto doutrinadores, como o STJ entendem pelo direito
adquirido do contribuinte até o final do prazo estabelecido em lei.
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Veja-se a opinião de Antonio Carrazza Roque9 acerca disso:
Assim, as vantagens da isenção transitória condicional incorporam-se ao patrimônio de seu
destinatário (quem cumpriu a condição), que passa a ter o direito adquirido de continuar
desfrutando do benefício, até a expiração do prazo fixado na lei isentiva. O patrimônio da
pessoa beneficiada por esta modalidade de isenção não pode ser prejudicado, sob pena de
burla ao inciso XXXVI do art. 5º da CF ("a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato
jurídico perfeito e a coisa julgada").
E nesse sentido firmou o STJ quando do julgamento do Recurso Especial nº
1.133.032-PR:
TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA. ALIENAÇÃO DE PARTICIPAÇÃO SOCIETÁRIA. ISENÇÃO
ONEROSA POR PRAZO INDETERMINADO. DECRETO-LEI 1.510/76. DIREITO ADQUIRIDO.
REVOGAÇÃO. ART. 178 DO CTN. 1. Os recorrentes impugnam acórdão proferido pelo
Tribunal Regional Federal da 4ª Região, o qual entendeu não persistir a isenção conferida
pelo art. 4º, alínea "d", do Decreto-Lei nº 1.510/76 ao acréscimo patrimonial decorrente
da alienação de participação societária realizada após a entrada em vigor da Lei nº
7.713/88. 2. Não obstante as ponderáveis razões do voto apresentado pelo Sr. Ministro
Relator, reconheço o direito adquirido do contribuinte que alienou a participação
societária após o decurso de cinco anos, ainda que essa alienação tenha ocorrido na
vigência da Lei nº 7.713/88, tendo em vista os reiterados pronunciamentos da Fazenda
Nacional, pelo órgão máximo de sua instância administrativa, o Conselho Superior de
Recursos Fiscais nesse sentido. 3. Recurso especial provido. (STJ - REsp: 1133032 PR
2009/0121466-0, Relator: Ministro Castro Meira, Data de Julgamento: 14/03/2011, T2 -
SEGUNDA TURMA)
Sendo assim, identifico que o direito adquirido, apesar de condicionado, é uma
possibilidade.
Por fim, em se tratando da necessidade de observância dos princípios da
anterioridade nonagesimal e anual, vemos que no caso da anterioridade nonagesimal
no caso de revogação de isenção, conforme o próprio autor Lucas Galvão dispõe, temos
que inicialmente observar se a isenção se trata de norma incondicionadas por prazo
certo ou não, isenções condicionadas com prazo certo e isenções condicionadas por
prazo indeterminado.
Para o autor, no caso da revogação de isenções incondicionadas, se a retirada do
benefício atinge casos antes não abarcada pela hipótese de incidência da regra-matriz,
9 Roque, Antonio Carrazza. Curso de Direito Constitucional Tributário. 25a ed. São Paulo: Malheiros, 2009,
p. 898
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deverão ser observados os ditames para a instituição de tributo novo, assim como
acontece normalmente quando a tributação é inserida no ordenamento jurídico. Ou
seja, deve ser observada a anterioridade nonagesimal, conforme dita o CTN e a
Constituição Federal, conforme dita o doutrinador10:
Se a revogação da isenção equivale em tudo à qualquer outra produção de enunciado que
modifique a regra-matriz de incidência, terá ela de obedecer à regra de anterioridade
prescrita para aquele tributo pela norma de competência tributária porquanto sempre será
uma majoração ou instituição de tributo.
Agora, se formos falar das isenções condicionadas por prazo certo, o autor muda
seu entendimento.
Isso, porque segundo Lucas de Britto, basta observar o artigo 179 do CTN para
identificar que a revogação da isenção, e consequentemente aplicação da tributação, só
será necessária a publicação de despacho administrativo, tal qual é o caminho
necessário para a produção de norma individual11:
A isenção, quando outorgada pela lei como condicionada e por prazo certo, se processa
segundo os trâmites do art. 179 do Código Tributário Nacional. É, normalmente, efetivada
com a emissão do despacho administrativo que, como tive a oportunidade de descrever
algumas linhas acima, é veículo introdutor de normas individuais que prescrevem a isenção
pelo tempo legalmente predeterminado e para aquele sujeito.
Mas vale lembrar, que com a aplicação do direito adquirido na norma individual,
o artigo 5º, inciso XXXVI da Constituição determina que a lei não poderá prejudicar
direito adquirido, de modo que o beneficiário desta isenção terá direito de usufruí-la até
a finalização do prazo determinado quando da instauração da isenção.
10 Britto, Lucas Galvão. Revista de Direito Tributário 114 ed. São Paulo: Malheiros, 2011, p. 5
11 Iden, p 7.
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4. A aquisição de insumos isentos a serem utilizados no processo de
industrialização confere direito a crédito tributário de IPI? Por quê? Em caso
afirmativo, qual critério deve ser utilizado para determinar o valor desse crédito
presumido de IPI? Suas respostas seriam as mesmas se o insumo adquirido estivesse
previsto como “não tributado” (NT) na TIPI? E se estivesse previsto como alíquota 0%?
E se for um insumo adquirido na Zona Franca de Manaus? (Vide anexos V, VI, VII, VIII
e IX)
A legislação tributária brasileira estabelece uma série de princípios e normas
para reger a tributação sobre a produção e circulação de mercadorias. Dentre esses
princípios, destaca-se o da não cumulatividade, especialmente aplicável ao Imposto
sobre Produtos Industrializados (IPI). A não cumulatividade visa evitar a incidência
múltipla do tributo sobre um mesmo produto em diferentes etapas da cadeia produtiva,
permitindo que o contribuinte deduza o valor do imposto pago nas etapas anteriores.
A questão sobre se a aquisição de insumos isentos a serem utilizados no processo
de industrialização confere direito a crédito tributário de IPI é complexa e tem sido
objeto de debate nos círculos jurídicos e tributários.
Inicialmente, é importanteressaltar que o entendimento consolidado pelo STF,
no julgamento do RE nº 550.218/SP, é pela impossibilidade de outorga de créditos
presumidos de IPI nos casos de aquisição de insumos isentos, imunes ou sujeitos à
alíquota zero. Isso porque, segundo essa posição, não haveria incidência efetiva do
imposto na etapa anterior da cadeia produtiva.
Conforme decisões do CARF, como no Acórdão 3301-010.772, e do STF, como no
RE n. 550.218 ED/SP, a aquisição de insumos isentos não gera direito a crédito tributário
de IPI. Isso ocorre porque, segundo a interpretação desses órgãos, a não incidência do
imposto na etapa de aquisição dos insumos inviabiliza a compensação do tributo na
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operação subsequente de industrialização.
No entanto, há divergências em relação a essa posição, e alguns juristas, como
Paulo de Barros Carvalho, sustentam que a aquisição de insumos isentos confere sim
direito a crédito tributário de IPI. Esse posicionamento se baseia na interpretação da
Constituição Federal de 1988, que estabelece que tanto o IPI quanto o ICMS são não
cumulativos, devendo-se compensar o que for devido em cada operação com o
montante cobrado nas anteriores.
De acordo com Carvalho, o princípio da não cumulatividade é um "limite
objetivo" de estatura constitucional e não pode sofrer qualquer alteração por força de
preceitos jurídicos infraconstitucionais.
Além disso, Carvalho argumenta que, diferentemente do ICMS, para o qual a
Constituição expressamente prevê a vedação de créditos nas operações isentas, o IPI
não possui essa restrição. Ele aponta que a autonomia da norma do direito ao crédito
em relação à norma relativa à imposição tributária permite a manutenção do direito ao
crédito mesmo nos casos de isenção ou alíquota zero.
Isso porque o direito ao crédito do IPI não decorre da regra-matriz de incidência
tributária, mas sim da regra-matriz de direito ao crédito, que incide sobre o mesmo
suporte fático, recortando seu próprio fato jurídico e produzindo seus efeitos
específicos. Veja-se trecho da opinião de Paulo de Barros, tal qual concordo com a
afirmação12:
Na verdade, a cobrança da dívida, a instalação da obrigação tributária, a concretude do fato
jurídico, a dinâmica da regra-matriz de incidência e a atuação da regra isentiva são
momentos da fenomenologia jurídica dos tributos que não influem na composição do direito
ao crédito.
Movimenta-se a regra de isenção num setor que não chega a macular o direito ao crédito.
Por isso, sempre me pareceu que o estudo da trajetória da regra de isenção não seria o
caminho adequado para tratar-se a questão da não-cumulatividade, governada por outros
preceitos e voltada a objetivo bem determinado. Desnecessário, portanto, saber se nasceu
12 Carvalho, Paulo de Barros. Revista Dialética de Direito Tributário nº 33. – texto concedido por IBET.
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ou não o fato jurídico tributário, se a isenção é dispensa legal do pagamento devido ou é,
como diria José Souto Maior Borges, hipótese de não incidência legalmente qualificada.
A norma isentiva existe para inibir a incidência da norma tributária, nos específicos casos
nela previstos e não para prejudicar o direito ao crédito, comprometendo, de algum modo,
as metas constitucionais da não-cumulatividade.
Desta forma, quanto ao critério utilizado para determinar o valor desse crédito
presumido de IPI, o STJ, assim como o professor Paulo de Barros Carvalho argumenta
que não existe previsão normativa que restrinja o direito ao crédito nos casos de
isenção, imunidade ou alíquota zero. Portanto, o contribuinte teria direito ao crédito
presumido de IPI independentemente da tributação do insumo adquirido.
Agora, se formos falar de aquisição de insumos previstos como não tributados,
a utilização do crédito tributário de IPI não será possível. Isso se dá devido a distinção
entre isenção e não incidência tributária, conforme mencionado anteriormente.
Enquanto a isenção implica em uma limitação parcial da regra-matriz de
incidência tributária, a não incidência representa a completa ausência dessa regra-
matriz.
Assim, quando um insumo é considerado não tributado, significa que nunca
houve uma norma que estabelecesse a tributação sobre esse fato específico, não
havendo a aplicação da regra-matriz de incidência tributária. Dessa forma, não há base
legal para aplicar o princípio da não cumulatividade e, consequentemente, não há
surgimento da regra-matriz de direito ao crédito de IPI.
Em relação aos insumos adquiridos na Zona Franca de Manaus, Carvalho
também defende a manutenção do direito ao crédito de IPI, argumentando que a
isenção da operação de aquisição não afeta o direito ao crédito. Ele destaca que, se fosse
diferente, o imposto se tornaria cumulativo, o que vai de encontro ao princípio
constitucional da não cumulatividade.
Portanto, diante desses argumentos, mesmo que o entendimento do STF seja
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pela impossibilidade de créditos presumidos de IPI nos casos de aquisição de insumos
isentos, há uma corrente jurídica que sustenta o contrário, baseando-se em
interpretações constitucionais e na autonomia da norma do direito ao crédito. Assim, a
resposta à questão inicial pode variar dependendo da linha interpretativa adotada, na
qual eu entendo que sim, terá o direito ao crédito.
Essa interpretação se baseia no entendimento de que a não cumulatividade do
IPI pressupõe a existência de um montante de imposto a ser compensado nas etapas
seguintes da produção. Quando os insumos são adquiridos sem a incidência do IPI, não
há valor de imposto a ser compensado, o que inviabiliza a aplicação do princípio da não
cumulatividade.
5. Um Estado federado é obrigado a conceder isenção de IPVA para proprietários de
veículos automotores que tenham alguma deficiência física e precisem de veículos
adaptados? Há uma garantia constitucional a esse “benefício” ou a sua concessão
depende da liberalidade de cada Estado?
Considerando que o IPVA é um tributo que, em regra, incide anualmente, se
determinado Estado editou lei concedendo isenção condicionada desse imposto a esse
tipo de contribuinte, esse mesmo Estado pode alterar essas condições para evitar
fraudes? Em caso positivo, a partir de quando essas novas condições podem ser
aplicadas? O contribuinte que era isento até então e não conseguir cumprir as novas
condições poderá sofrer a cobrança do IPVA ou terá direito adquirido a essa isenção?
(Vide anexo X)
O Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) é um tributo
estadual aplicado sobre a propriedade de veículos automotores, sejam eles carros,
motocicletas, caminhões, entre outros. Este imposto é anual e seu valor varia de acordo
com o modelo, ano de fabricação e valor venal do veículo automotor.
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No Brasil, a competência para instituir e regulamentar o IPVA é atribuída aos
estados e ao Distrito Federal, conforme estabelece o artigo 155, inciso III da Constituição
Federal:
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos;
II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de
transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as
prestações se iniciem no exterior;
III - propriedade de veículos automotores.
Essa competência dá aos estados a autonomia para determinar as alíquotas, as
formas de pagamento e, em especial para a resposta desta questão, as condições para
isenção desse tributo, conforme as necessidades e particularidades de cada região.
A partir dessa prerrogativa constitucional, os estados brasileiros têm liberdade
para criar suas próprias regras em relação ao IPVA. Essa autonomiapermite que cada
estado ajuste suas políticas tributárias de acordo com sua realidade econômica e social,
bem como com as demandas de seus cidadãos.
Dessa forma, as condições para isenção do IPVA, como para pessoas com
deficiência física que necessitam de veículos adaptados, são estabelecidas por cada
legislação estadual, dentro do arcabouço constitucional estabelecido.
Tendo isso em mente, e levando em consideração que cabe aos estados a
implementação ou não da isenção ao tributo para pessoas com deficiência física, não há
de se falar de obrigatoriedade do Ente Federado à disponibilização da isenção.
Isso, porque os critérios de isenção são aplicados de acordo com a necessidade
e interesse de cada estado. Não podendo a federação impor regras que vão em
contramão ao artigo 155 da Constituição Federal.
Em geral, muitos estados brasileiros oferecem isenção total ou parcial do IPVA
para pessoas com deficiência física que necessitam de veículos adaptados. No entanto,
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as condições e os critérios para a concessão dessa isenção podem variar, e é necessário
verificar a legislação específica de cada estado para entender os requisitos exatos, não
havendo assim qualquer garantia constitucional que conceda tal “benefício” ao
portador de deficiência física.
Ora, qualquer tentativa do governo federal de impor condições para a aplicação
de isenções de IPVA representa um risco significativo para a autonomia dos estados,
conforme estabelecido pela Constituição Federal brasileira no artigo 155.
Ao tentar impor condições para a concessão de isenções de IPVA, o governo
federal pode violar a autonomia dos estados e interferir em suas competências
constitucionais. Isso pode resultar em conflitos políticos e jurídicos, além de
comprometer a eficácia das políticas públicas estaduais, que são mais adequadas para
atender às necessidades e particularidades de cada região.
Além disso, a imposição de condições pelo governo federal pode prejudicar a
gestão fiscal dos estados, uma vez que eles têm o conhecimento mais aprofundado das
realidades econômicas e sociais de suas respectivas jurisdições. A interferência do
governo federal nesse aspecto pode comprometer a eficiência e a eficácia das medidas
tributárias estaduais, impactando diretamente a população e a economia local.
Assim, podemos dizer que cabe ao estado a aplicação de critérios e condições
para a isenção de IPVA para pessoas com deficiência, não havendo qualquer direito
constitucional ao benefício.
Tendo isso como base, possível identificar que um estado tem a prerrogativa de
alterar as condições para a concessão de isenção de IPVA, incluindo a imposição de
novos requisitos para evitar fraudes ou ajustar a política tributária de acordo com as
necessidades do momento, conforme disposto no artigo 179 do CTN.
No entanto, as alterações nas condições devem respeitar os princípios
constitucionais, garantindo segurança jurídica e protegendo eventuais direitos
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adquiridos e em especial os princípios da anterioridade anual e nonagesimal.
Aqui entra também a possibilidade do direito adquirido, conforme levantada a
possibilidade na questão 3.
Vejamos que se as novas condições forem aplicadas de forma retroativa, os
contribuintes que não conseguirem cumprir os novos requisitos podem, em tese, serem
sujeitos à cobrança do IPVA. No entanto, se as novas condições forem aplicadas apenas
para o futuro, esses contribuintes poderiam manter o direito adquirido à isenção até o
final do período estabelecido pela legislação anterior, desde que continuem a atender
aos critérios estabelecidos na lei anterior durante esse período.
Como estamos diante de uma isenção condicionada, sendo a isenção anual, visto
que o recolhimento do tributo é feito de forma anual, caberá o direito adquirido do
contribuinte, de forma que no caso da revogação da isenção, (observados os princípios
da anterioridade) o contribuinte não será obrigado ao recolhimento no ano-calendário
visto seu direito adquirido à isenção, em cumprimento e defesa da segurança jurídica.
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6. Há relação entre isenção tributária e o princípio da legalidade estrita tributária? O
contribuinte pode optar por pagar um tributo que é isento? Esse valor pago por quem
renuncia à isenção é tributo?
Considere o exemplo de determinado Estado que institui isenção de ICMS, com
fundamento em convênio CONFAZ, exclusivamente para operações realizadas pelo
contribuinte atacadista de determinado produto. A legislação (i) expressamente veda
que essa isenção seja utilizada por estabelecimentos industriais e varejistas e (ii) nada
fala sobre a possibilidade de manutenção de crédito pelo atacadista. Qual o efeito
prático desta isenção para a cadeia do ICMS? Essa isenção é constitucional? Poderia o
estabelecimento atacadista renunciar à isenção tributária e decidir tributar
regularmente sua operação?
No universo tributário, a isenção fiscal figura como um instrumento relevante,
muitas vezes utilizado pelos legisladores para fomentar determinadas atividades
econômicas, promover o desenvolvimento regional ou social, ou até mesmo para
corrigir distorções do sistema. Entretanto, sua concessão não pode ocorrer à revelia dos
preceitos estabelecidos pelo princípio da legalidade estrita, que determina que o poder
público está estritamente sujeito ao que está previsto em lei.
O princípio da legalidade estrita estabelece que nenhum tributo pode ser
instituído, aumentado ou diminuído sem que a lei o estabeleça de forma clara e
específica. Isso significa que o poder público está estritamente sujeito ao que está
previsto na legislação tributária.
Por sua vez, a isenção tributária é uma forma de dispensa legal da obrigação de
pagamento de um tributo para determinadas situações, atividades, ou contribuintes
específicos. Essa dispensa também deve estar prevista de forma clara e específica na
legislação tributária.
Portanto, para que uma isenção tributária seja válida e eficaz, ela deve estar em
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conformidade com o princípio da legalidade estrita. Isso significa que a concessão de
uma isenção deve ser prevista de forma explícita na lei tributária, sem margem para
interpretações divergentes ou arbitrárias por parte do poder público. Qualquer violação
desse princípio pode acarretar questionamentos legais sobre a validade da isenção
concedida.
Em virtude dessa premissa, a isenção tributária deve necessariamente emergir
de uma disposição legal clara e específica, conferindo ao poder legislativo uma ampla
margem de atuação na regulamentação das condições aplicáveis a determinado
território, atividade ou categoria de contribuintes. Nesse contexto, surge a indagação:
seria possível ao contribuinte renunciar à isenção e efetuar o pagamento do tributo?
A resposta a essa questão encontra fundamentação na própria natureza da
isenção fiscal. Ao ser concedida por meio de um dispositivo legal, a obrigação tributária
é temporariamente suspensa para determinadas situações ou contribuintes. Dessa
forma, a renúncia à isenção por parte do contribuinte se afigura como uma
possibilidade, desde que respaldada pela legislação aplicável.
É importante ressaltar que, ao renunciar à isenção, o contribuinte assume
voluntariamente a obrigação de recolher o tributo devido, desfazendo-se da dispensa
legal ao recolhimento. Nesse sentido, o valor pago por quem renuncia à isenção não
poderia ser caracterizado como tributo, uma vez que não há a compulsoriedade que
caracteriza essa obrigação.
Mas vale dizer que em geral, o contribuinte não pode optar por pagar um tributo
que é isento, uma vez que a isenção implica na não incidência do tributo sobre
determinada situação, atividade ou contribuinte, conformeprevisto na legislação
tributária.
Quando uma isenção é concedida, o contribuinte beneficiado não está sujeito à
obrigação de pagar o tributo em questão, pois a legislação tributária a dispensa desse
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pagamento em circunstâncias específicas.
Portanto, se um tributo é isento para determinado contribuinte ou operação,
não há a possibilidade de esse contribuinte simplesmente optar por pagar o tributo em
vez de se beneficiar da isenção. A legislação tributária estabelece as condições sob as
quais a isenção é aplicável, e o contribuinte está vinculado a essas condições, não
podendo escolher pagar o tributo quando a isenção está prevista e aplicável à sua
situação.
Contudo, as ramificações dessa renúncia vão além da esfera individual do
contribuinte.
No exemplo de uma isenção de ICMS concedida exclusivamente aos atacadistas,
com vedação aos estabelecimentos industriais e varejistas, a renúncia à isenção pode
acarretar efeitos significativos na cadeia tributária. A não utilização do benefício pelos
atacadistas implica na incidência do imposto sobre as operações subsequentes, gerando
um ônus tributário adicional para os demais elos da cadeia, como os varejistas.
Além disso, a restrição da isenção apenas aos atacadistas pode ferir o princípio
constitucional da não-cumulatividade, uma vez que os varejistas serão obrigados a arcar
com o ICMS sobre suas operações sem poder se creditar do imposto incidente nas
operações anteriores. Nesse sentido, a isenção tributária pode ser considerada
inconstitucional por gerar uma cumulatividade do imposto, contrariando os preceitos
fundamentais do sistema tributário nacional.
A concessão de uma isenção de ICMS exclusivamente para operações realizadas
pelo contribuinte atacadista de determinado produto pode ter diversos efeitos na
cadeia do ICMS. Primeiramente, os atacadistas beneficiados pela isenção terão uma
redução de custos, uma vez que estarão dispensados do pagamento do ICMS sobre
essas operações. Isso pode gerar uma vantagem competitiva para esses atacadistas em
relação a outros agentes da cadeia que não desfrutam da mesma isenção.
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No entanto, o efeito prático para os demais agentes da cadeia, como os
varejistas, pode ser o aumento da carga tributária. Isso ocorre porque, ao não poderem
se creditar do ICMS das operações anteriores, os varejistas serão obrigados a arcar com
o imposto sobre suas operações sem a possibilidade de dedução, o que pode resultar
em um encarecimento dos produtos para o consumidor final.
Quanto à constitucionalidade da isenção, ela depende da conformidade com os
princípios e normas estabelecidos na Constituição Federal. Se a isenção respeitar os
limites impostos pela Constituição, como o princípio da igualdade tributária, por
exemplo, ela será considerada constitucional. No entanto, é importante ressaltar que a
isenção exclusiva para atacadistas pode levantar questionamentos quanto à sua
constitucionalidade, especialmente se ela violar princípios como a não discriminação
entre contribuintes.
No que diz respeito à renúncia à isenção tributária por parte do estabelecimento
atacadista, isso geralmente é possível se houver previsão legal para tal. Caso a legislação
permita que o atacadista renuncie à isenção e decida tributar regularmente suas
operações, ele poderá optar por pagar o ICMS sobre suas operações, revertendo assim
a isenção concedida. No entanto, é necessário verificar se a legislação estadual prevê
essa possibilidade e quais são as condições para isso, uma vez que as regras podem
variar de acordo com o estado em questão.