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Tutoria 5 – Módulo 2 – Eduarda Miranda 
Reações Alérgicas 
CONHECER A RESPOSTA IMUNE DAS REAÇÕES ALÉGICAS 
→ Os distúrbios causados por respostas imunes são chamados de hipersensibilidade. 
→ Uma resposta imune a um antígeno pode resultar em sensibilidade à provocação com aquele 
antígeno e, portanto, a hipersensibilidade é um reflexo de respostas imunes excessivas ou 
aberrantes. As reações de hipersensibilidade podem ocorrer em duas situações. 
Primeiramente, as respostas a antígenos estranhos (microrganismos e antígenos ambientais 
não infecciosos) podem ser desreguladas ou descontroladas, resultando em lesão tecidual. 
Em segundo lugar, as respostas imunes podem ser direcionadas contra os antígenos próprios 
(autólogos), como resultado da falha de autotolerância. Respostas contra os antígenos 
próprios são denominadas autoimunidade, e os distúrbios de hipersensibilidade causados por 
elas são denominados doenças autoimunes. 
• As reações podem ser desencadeadas tanto por: Agentes exógenos – ex: poeira, pólen, comida, 
drogas, agentes microbiológicos, químicos e outros. Agentes endógenos ex: doenças autoimunes. 
• CAUSAS DA HIPERSENSIBILIDADE 
• Autoimunidade: reações contra antígenos próprios. A falha dos mecanismos normais de 
autotolerância resulta em reações contra as próprias células e tecidos. 
• Reações contra microrganismos: As respostas imunes contra antígenos microbianos podem 
causar doença se as reações forem excessivas ou se os microrganismos forem 
anormalmente persistentes. 
• Reações contra antígenos ambientais: A maioria dos indivíduos saudáveis não reage contra 
substâncias ambientais comuns, em geral inofensivas, mas quase 20% da população é 
anormalmente responsiva a uma ou mais destas substâncias. Esses indivíduos produzem 
anticorpos imunoglobulina E (IgE) que causam doenças alérgicas. 
COMPREENDER AS REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE 
TIPOS 
• Tipo I: a resposta imune libera substâncias vasoativas e espasmogênicas, que agem nos vasos e nas 
células musculares lisas, e citocinas pró-inflamatórias que ativam as células inflamatórias. Ex: rinite 
alérgica, asma, anafilaxia sistêmica. Ex: Anemia Hemolítica; Trombocitopenia (penicilina e outras 
drogas); Doença Hemolítica do recém nascido (DHRN); Reações de transfusão de sangue 
e Doenças autoimunes. 
• Tipo II: os anticorpos participam diretamente na injúria celular, predispondo-as à fagocitose ou lise 
(alergias a drogas). 
• Tipo III: também chamadas de doenças dos imunocomplexos, em que anticorpos se ligam aos 
antígenos e ativam o sistema complemento. As frações do complemento atraem neutrófilos que 
destroem o tecido pela liberação de enzimas lisossomais e formação de radicais livres. Ex: doença 
do soro, reação de Arthus e febre hemorrágica do Dengue. 
• Tipo IV: causa injúria tecidual pela resposta imune mediada por células, com linfócitos T 
sensibilizados. Ex: asma crônica, dermatite de contato. 
 
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REAÇÕES ALÉRGICAS MEDIADAS POR IGE: 
• Os indivíduos atópicos produzem altos níveis de IgE em resposta a alérgenos ambientais, 
enquanto os indivíduos normais geralmente produzem outros isótopos de Ig, como IgM e 
IgG, e apenas pequenas quantidades de IgE. A quantidade de IgE sintetizada depende da 
propensão de um indivíduo a gerar células T auxiliares específicas de alérgenos que 
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produzem IL-4 e IL-13, porque estas citocinas estimulam a mudança da classe dos 
anticorpos de células B para IgE. O desenvolvimento de IL-4 e IL-13 que expressam as 
respostas das células T contra antígenos específicos pode ser influenciado por uma série de 
fatores, incluindo os genes herdados, a natureza dos antígenos e o histórico de exposição 
ao antígeno. O anticorpo IgE é responsável pela sensibilização dos mastócitos e fornece o 
reconhecimento de antígenos para as reações de hipersensibilidade imediata. A IgE é o 
isótopo de anticorpo que possui a cadeia pesada. Ele se liga aos receptores de Fc 
específicos em mastócitos e ativa estas células. 
 
COMPLEXOS IMUNE: 
• Antígenos de imunocomplexos podem se ligar a receptores do complemento 
(particularmente, ao receptor do complemento do tipo 2 ou CR2) em células B da zona 
marginal, e estas células, então, podem transferir os antígenos contendo imunocomplexos 
para as células B foliculares. 
• Os imunocomplexos também podem se ligar ao receptor do complemento CR2 na 
superfície das células dendríticas foliculares e os antígenos presentes nesses complexos são 
então apresentados às células B antígeno-específicas. 
• A ativação da célula B é facilitada pelo correceptor CR2/CD21 em células B, que 
reconhece fragmentos de complemento covalentemente ligados ao antígeno ou que 
fazem parte dos imunocomplexos contendo o antígeno. 
Complexos imunes, imunocomplexo ou complexo anticorpo-antígeno 
Ativação de complemento c3b e CAM - C3e C5a (anafilotoxinas) 
Ativação de macrófagos através de Fe ou C3b - fagocitose - produção de citocinas 
inflamatórias 
Ativação de plaquetas e basófilos através de Fe: liberação de aminas vasoativas (ex.: 
histamina) 
 
→ Fatores de risco para o desenvolvimento de alergia alimentar: 
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• Imaturidade do sistema imune das mucosas 
• introdução precoce de alimentos sólidos 
• Aumento hereditário da permeabilidade mucosa 
• Deficiência de IgA ou produção atrasada de IgA 
• Contato inadequado do sistema imune intestinal com a flora comensal 
• Polarização geneticamente determinada para um ambiente TH2 
• Polimorfismo em genes de citocinas TH2 ou receptor de IgE 
• Sistema nervoso entérico danificado 
• Alterações imunes (ex.: baixos níveis de TGF-β) 
• Infecções gastrintestinais 
VARIANTES DA HIPERSENSIBILIDADE TARDIA (TIPO IV) 
• A reação típica mediada pelas citocinas da célula T é a hipersensibilidade de tipo tardio 
(HTT), assim chamada porque ocorre de 24 a 48 horas após um indivíduo anteriormente 
exposto a um antígeno protéico ser desafiado com o antígeno. A reação ocorre 
tardiamente, porque leva muitas horas para os linfócitos T efetores circulantes voltarem ao 
local de teste do antígeno, responderem ao antígeno nesse local e induzirem uma reação 
detectável. Reações de HTT são manifestadas por infiltrados de células T e monócitos nos 
tecidos, edema e deposição de fibrina causada pela permeabilidade vascular aumentada 
em resposta às citocinas produzidas pelas células T CD4+ , e dano tecidual induzido por 
produtos leucocitários, sobretudo macrófagos, ativados pelas células T. Reações de HTT são 
frequentemente utilizadas para determinar se indivíduos foram expostos previamente ao 
antígeno e responderam a ele. Por exemplo, uma reação de HTT para um antígeno 
micobacteriano, PPD (derivado de proteína purificada, do inglês, purified protein 
derivative), é indicativa de uma resposta de célula T para micobactéria. 
 
 
 
 
 
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EXPLICAR OS TIPOS DE IMUNODEFIÊNCIAS 
→ Defeitos em um ou mais componentes do sistema imune podem desencadear distúrbios graves e 
muitas vezes fatais, que são chamados conjuntamente de imunodeficiências. Estas doenças são 
amplamente classificadas em dois grupos. As imunodeficiências congênitas ou primarias são 
defeitos genéticos que resultam no aumento da susceptibilidade à infecção, que frequentemente 
se manifesta na infância e início da adolescência, mas às vezes é clinicamente detectada mais 
tarde na vida. As imunodeficiências adquiridas, ou secundarias, não são doenças hereditárias, mas 
ocorrem como consequência de desnutrição, câncer disseminado, tratamento com fármacos 
imunossupressores ou infecção das células do sistema imune, especialmente pelo vírus da 
imunodeficiência humana (HIV), agente etiológico da síndrome da imunodeficiência adquirida 
(AIDS). 
→ Características gerais: 
• A principal consequência da imunodeficiência é o aumento da susceptibilidade à infecção. A 
natureza da infecção em umdeterminado paciente depende em grande parte do componente 
do sistema imune que está defeituoso. A imunidade humoral defeituosa normalmente desencadeia 
o aumento da susceptibilidade à infecção por bactérias encapsuladas, formadoras de pus e 
alguns vírus, enquanto os defeitos na imunidade mediada por célula levam à infecção por vírus e 
outros microrganismos intracelulares. As deficiências combinadas, tanto da imunidade humoral 
como da mediada por células, tornam os pacientes susceptíveis à infecção por todas as classes de 
microrganismos. 
• Pacientes com imunodeficiências também são suscetíveis a certos tipos de câncer. Muitos destes 
cânceres parecem ser causados por vírus oncogênicos, como o vírus EpsteinBarr e o papilomavírus 
humano. Um aumento da incidência de câncer é, mais frequentemente observado nas 
imunodeficiências de células T as células T desempenham uma função importante na vigilância 
contra tumores malignos. 
• Paradoxalmente, algumas imunodeficiências estão associadas a maior incidência de 
autoimunidade. Os mecanismos subjacentes desta associação ainda não são totalmente 
compreendidos. 
• A imunodeficiência pode ser resultado de defeitos do desenvolvimento ou da ativação dos 
linfócitos ou de defeitos nos mecanismos efetores da imunidade inata e adaptativa. As 
imunodeficiências são clínica e patologicamente heterogêneas, em parte porque diferentes 
doenças envolvem diferentes componentes do sistema imune. 
IMUNODEFICIÊNCIAS CONGÊNITAS (PRIMÁRIA) 
• Em diferentes imunodeficiências congênitas, a anormalidade etiológica pode estar em 
componentes do sistema inato, em diferentes estágios de desenvolvimento dos linfócitos ou nas 
respostas dos linfócitos maduros aos estímulos antigênicos. As anormalidades herdadas 
relacionadas à imunidade inata mais comumente envolvem a via do complemento ou os 
fagócitos. Anormalidades no desenvolvimento dos linfócitos podem ser causadas por mutações em 
genes que codificam enzimas, proteínas de transporte, adaptadores e fatores de transcrição. Estes 
defeitos hereditários e as anomalias correspondentes específicas em camundongos foram úteis na 
elucidação de mecanismos de desenvolvimento dos linfócitos e sua função. Anormalidades no 
desenvolvimento e na função dos linfócitos B resultam na produção de anticorpos deficiente e são 
diagnosticadas pelos níveis reduzidos de imunoglobulina (Ig) sérica, respostas defeituosas dos 
anticorpos à vacinação e, em alguns casos, números reduzidos de células B circulantes ou tecidos 
linfoides ou ausência de plasmócitos nos tecidos. 
 
 
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IMUNODEFICIÊNCIAS CONGÊNITAS (SECUNDÁRIA) 
• As deficiências do sistema imunológico, muitas vezes se desenvolvem devido a normalidades que 
não são genéticas, mas adquiridas durante a vida. Doenças de imunodeficiência adquirida são 
causadas por diversos mecanismos patogênicos. Em primeiro lugar, a imunossupressão pode 
ocorrer como uma complicação biológica de outro processo de doença. Em segundo lugar, as 
chamadas imunodeficiências iatrogênicas podem se desenvolver como complicações do 
tratamento de outras doenças. Em terceiro lugar, a imunodeficiência pode ser adquirida por uma 
infecção que deleta as células do sistema imune. 
Causa Mecanismo 
Infecção pelo HIV Depleção de células T CD4+ 
Desnutrição proteico-calo ́rica Desarranjo metabólico inibe a maturação e a função dos 
linfócitos 
Irradiação e quimioterapia para o câncer Diminuição de precursores dos linfócitos na medula óssea 
Metástases do câncer e leucemia envolvendo a medula 
óssea 
Redução do desenvolvimento de leucócitos 
Imunossupressão para transplantes, doenças autoimunes Redução da ativação de linfócitos, bloqueio de citocinas, 
problemas no trânsito de leucócitos 
Remoção do baço Diminuição da fagocitose de microrganismos 
• Imunodeficiências Adquiridas: Doenças nas quais a imunodeficiência é um elemento complicador 
frequente incluem desnutrição, neoplasias e infecções. A desnutrição proteico-calórica é comum 
nos países em desenvolvimento e está associada à imunidade celular e humoral diminuída contra 
microrganismos. Grande parte da morbidade e mortalidade que atingem as pessoas desnutridas 
deve-se a infecções. A base para a imunodeficiência não está bem definida, mas é razoável 
presumir que os distúrbios metabólicos globais nestes indivíduos, causados pela ingestão deficiente 
de proteína, gordura, vitaminas, minerais afeta de forma adversa a maturação e a função das 
células do sistema imune. 
• HIV: O HIV é um membro da família dos Lentivírus de retrovírus animais. Os Lentivírus, incluindo o vírus 
Visna dos ovinos e bovinos, felinos, e o vírus da imunodeficiência símia, são capazes de 
desencadear uma infecção latente de longo prazo nas células e efeitos citoplásticos de curto 
prazo, e todos eles são causadores de doenças fatais de progressão lenta, que incluem síndromes 
de emaciação e degeneração do SNC. Dois tipos de HIV intimamente relacionados, denominados 
de HIV-1 e HIV-2, foram identificados. O HIV-1 é, de longe, a causa mais comum de AIDS; o HIV-2, 
que é diferente na sua estrutura genômica e antigenicidade, causa uma forma de AIDS de 
progressão mais lenta do que a doença desencadeada pelo HIV-1. 
ENTENDER AS DOENÇAS AUTOIMUNES 
→ Um individuo adulto normalmente apresenta tolerância a antígenos teciduais apresentados 
durante a vida fetal, os quais são reconhecidos como “próprios”. Entretanto, em certas 
circunstâncias, a tolerância pode ser perdida e reações imunes a antígenos próprios podem se 
desenvolver, resultando em uma doença autoimune. A etapa mais importante na geração de uma 
doença autoimune é a ativação de células T auxiliares (CD4-positivas) autor reativas. Estas células 
autor reativas Th-1 ou Th-2 podem induzir tanto reações mediadas por células quanto mediadas por 
anticorpos, respectivamente. A maioria das doenças autoimunes é mediada por anticorpos. 
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FATORES GENÉTICOS 
• Muitas doenças autoimunes apresentam uma incidência marcadamente familiar, o que sugere 
uma predisposição genética para essas desordens. Há uma forte associação de algumas doenças 
autoimunes com algumas especificidades de certos antígenos leucocitários humanos (HLAs), 
especialmente no caso dos genes de classe II. Por exemplo, a artrite reumatoide ocorre 
predominantemente em indivíduos que carreiam o gene de HLA-DR4. A espondilite anquilosante é 
100 vezes mais prevalente em pessoas que carreiam HLA-B27, um gene de classe I, do que nas que 
não possuem esse gene. 
• Há duas hipóteses para explicar a relação entre certos genes do HLA e doenças autoimunes. Uma 
delas sugere que esses genes codificam proteínas do MHC de classes I ou II que apresentam 
autoantígenos com maior eficiência do que proteínas do MHC que não estão associadas a 
doenças autoimunes. A outra sugere que células T autorreativas escapam da seleção negativa no 
timo porque elas se ligam fracamente as proteínas do MHC de classes I ou II na superfície do 
epitélio tímico. 
• Deve-se observar, no entanto, que o desenvolvimento ou não de uma doença autoimune é um 
fenômeno multifatorial, já́ que muitas pessoas que carreiam genes do HLA com predisposição 
conhecida para o desenvolvimento de certas doenças autoimunes ainda assim não desenvolvem 
a doença (p. ex., muitas pessoas que carreiam o gene de HLA-DR4 não desenvolvem artrite 
reumatoide). Isso significa que genes do HLA são aparentemente necessários, mas não suficientes 
para causar uma doença autoimune. Geralmente, doenças relacionadas ao MHC de classe II (p. 
ex., atrite reumatoide, doença de Graves [hipertireoidismo] e lúpus eritematoso sistêmico) ocorrem 
mais frequentemente em mulheres, enquanto doenças associadas ao MHC de classe I (p. ex., 
espondilite anquilosante e síndrome de Reiter) ocorrem mais comumente em homens. 
FATORES HORMONAIS 
• Aproximadamente 90% de todas as doenças autoimunes ocorrem em mulheres. Embora a 
explicaçãopara esta razão marcadamente desigual entre os gêneros seja desconhecida, há 
evidências obtidas de modelos animais em que o estrogênio pode alterar o repertorio de células B 
e intensificar a formação de anticorpos contra DNA. Clinicamente, a observação de que o lúpus 
eritematoso sistêmico surge ou é exacerbado durante a gravidez (ou imediatamente após o parto) 
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suporta a ideia de que hormônios possuem um papel importante na predisposição de mulheres a 
doenças autoimunes. 
FATORES AMBIENTAIS 
• Existem diversos agentes ambientais que iniciam doenças autoimunes, sendo a maioria composta 
por bactérias ou vírus. Por exemplo, a faringite causada por Streptococcus pyogenes predispõe à 
febre reumática. Outros exemplos são descritos na Tabela 66-2. Embora seja apenas especulativo 
até o momento, acredita- -se que membros da microbiota normal do intestino possuam um papel 
importante na gênese de doenças inflamatórias do intestino, como na doença de Crohn e na colite 
ulcerativa. 
• Algumas infecções causam doenças autoimunes em animais (p. ex., infecções por vírus Coxsackie 
em camundongos causam diabetes do tipo I nesses animais, embora esta não seja uma causa 
estabelecida para a doença em humanos). Outros iniciadores ambientais incluem certos fármacos, 
como a procainamida, capaz de causar lúpus eritematoso sistêmico, e certos metais pesados, 
como ouro e mercúrio, os quais causam doenças autoimunes em animais experimentais. 
• Existem dois mecanismos principais pelos quais os fatores ambientais podem iniciar doenças 
autoimunes. Um deles é o mimetismo molecular, no qual agentes infecciosos possuem antígenos 
que geram uma resposta imune capaz de reagir de forma cruzada com componentes de células 
humanas. O outro sugere que a lesão tecidual libera antígenos intracelulares (sequestrados) que 
induzem uma resposta imune. Esses mecanismos são descritos em detalhes na próxima secado. 
• Em suma, no modelo corrente as doenças autoimunes ocorrem em pessoas (1) com uma 
predisposição genética determinada pelos seus genes do MHC e (2) que são expostas a um 
agente ambiental que inicia uma resposta imune cruzada contra algum componente normal dos 
tecidos. Além disso, em razão do fato de que doenças autoimunes aumentam em número com o 
avanço da idade, outro possível fator predisponente é o declínio no número de células T 
reguladoras, o que permite que quaisquer células T autor reativas sobreviventes proliferem e 
causem doença. 
MECANISMOS 
• Mimetismo Molecular: Várias bactérias e vírus são implicados como a fonte de antígenos cruzada 
mente reativos que iniciam a ativação de células T ou B autor reativas. Por exemplo, a síndrome de 
Reiter ocorre após a infecção com Shigella ou Chlamydia, e a síndrome de Guillain-Barré ocorre 
após infecções por Campylobacter. O conceito de mimetismo molecular é utilizado para explicar 
esses fenômenos (i.e., o iniciador ambiental assemelha-se [mimetiza] suficientemente a um 
componente do corpo de forma que uma reação imune é direcionada de forma cruzada contra 
esse componente). Um dos exemplos mais bem caracterizados de mimetismo molecular é a 
relação entre a proteína M de S. pyogenes e a miosina dos músculos cardíacos. Anticorpos contra 
certas proteínas M reagem cruzada mente com a miosina cardíaca, levando à febre reumática. 
Uma evidência adicional que suporta a hipótese do mimetismo molecular inclui o fato de que 
existem sequencias de aminoácidos idênticos entre certas proteínas virais e certas proteínas 
humanas. Por exemplo, há uma sequência de seis aminoácidos na polimerase do vírus da hepatite 
B que é idêntica a uma sequência presente na proteína básica mielínica humana. 
• Alteração de proteínas normais: Fármacos podem ligar-se a proteínas normais e torna-las 
imunogênicas. O lúpus eritematoso sistêmico induzido pela procainamida é um exemplo desse 
mecanismo. 
• Liberação de antígenos sequestrados: Certos tecidos (p. ex., esperma, sistema nervoso central e as 
lentes e os tratos uveais oculares) são sequestrados, de forma que seus antígenos não são expostos 
ao sistema imune. Eles são chamados de sítios imunologicamente privilegiados. Quando tais 
antígenos entram acidentalmente na circulação sanguínea (p. ex., após algum dano), eles geram 
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tanto respostas humorais quanto celulares, produzindo espermatogênese, encefalite ou 
endoftalmite, respectivamente. O esperma, em particular, precisa estar sequestrado em um sítio 
imunologicamente privilegiado porque ele se desenvolve depois que a maturidade imunológica foi 
alcançada, e ainda assim não é sujeito à ação do sistema imune. Antígenos intracelulares, como o 
DNA, as histonas e as enzimas mitocondriais, são normalmente sequestrados e não são expostos ao 
sistema imune. Entretanto, infecções por vírus ou bactérias podem danificar as células e causar a 
liberação dos antígenos sequestrados, os quais geram respostas imunes. Uma vez que 
autoanticorpos são formados, a subsequente liberação de antígenos sequestrados resulta na 
formação de imunocomplexos e nos sintomas da doença autoimune. Além da infecção, radiação 
e compostos químicos também podem danificar células e liberar componentes intracelulares 
sequestrados. Por exemplo, a luz do sol é conhecida por exacerbar o exantema de pele em 
pacientes com lúpus eritematoso sistêmico. Acredita-se que a radiação UV danifique células, o que 
libera DNA e histonas normalmente sequestrados, os quais são os antígenos principais nessa 
doença. 
• Espalhamento de epítopos: Espalhamento de epiítopos é o termo usado para descrever a 
exposição de autoantígenos sequestrados como resultado do dano às células causados por 
infecções virais. Estes autoantígenos expostos estimulam células T autorreativas e doenças 
autoimunes ocorrem. Em um modelo animal, uma doença semelhante à esclerose múltipla foi 
causada pela infecção com um vírus da encefalomielite. Neste caso, células T autorreativas foram 
direciona- das contra antígenos celulares em vez de antígenos virais. 
• Falha das células T reguladoras: As células T reguladoras (Tr) suprimem os efeitos pró-inflamatórios 
de outras células T. Células Tr são caracterizadas como CD4-positivas, CD25-positivas e FoxP3-
positivas. Uma função importante das células Tr é a produção de IL-10, que inibe a ação de células 
Th-1 pró-inflamatórias. Pacientes com mutação no gene que codifica FoxP3 apresentam um 
aumento na ocorrência de doenças autoimunes, como lúpus eritematoso sistêmico, uma vez que 
eles perdem a função de suas células T reguladoras 
PRINCIPAIS DOENÇAS AUTOIMUNES 
• Encefalite alérgica – um exemplo clinicamente importante de encefalite alérgica ocorre quando 
indivínciaduos são injetados com a vacina antirrábica produzida em encéfalos de coelhos. A res- 
posta imune desencadeada contra a mielina estranha presente na vacina reage cruzadamente 
com a mielina humana, o que leva à inflamação do encéfalo. Embora rara, essa é uma doença 
grave e a vacina antirrábica produzida em encéfalo de coelho não é mais utilizada em alguns 
países, como nos Estados Unidos*. Encefalites alérgicas podem também ocorrer após certas 
infecções virais (p. ex., sarampo ou influenza) ou após imunizações contras essas infecções. Tais 
reações são raras e as bases da reação autoimune, nestes casos, são incertas. A encefalite 
alérgica pode ser reproduzida em laboratório por meio da injeção da proteína mielínica básica no 
encéfalo de roedores, o que inicia uma resposta mediada por células que leva à desmielinização. 
• Esclerose múltipla – nessa doença, células T autorreativas e macrófagos ativados provocam a 
desmielinização da substância branca do encéfalo. Acredita-se que o iniciador que estimula as 
células T autorreativas seja uma infecção viral. Existem evidências moleculares que sugerem que a 
polimerase do vírus Epstein-Barr possa ser o iniciador. Indivíduos que apresentam certos alelosna 
região HLA-DR possuem um risco aumentado de contrair a esclerose múltipla. Os sinais clínicos na 
esclerose múltipla são inconstantes e afetam tanto as funções sensoriais quanto as motoras. 
Ressonâncias magnéticas do encéfalo revelam placas na substância branca. Bandas oligoclonais 
de IgG são encontradas no líquido cérebros pinal da maioria dos pacientes. Fármacos 
imunossupressores (p. ex., prednisona, metotrexato ou interferon-b) são eficientes na redução da 
gravidade de alguns dos sintomas. 
• Tireoidite crônica – quando animais são injetados com material proveniente da glândula tireoide 
eles desenvolvem imunidade humoral e mediada por células contra antígenos da tireoide e 
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tireoidite. Humanos com a tireoidite crônica de Hashimoto apresentam anticorpos contra a 
tiroglobulina, o que sugere que esses anticorpos provoquem um processo inflamatório que leva à 
fibrose da glândula. 
• Diabetes melito dependente de insulina (IDDM) – nessa doença, células T autorreativas destroem as 
células das ilhotas pancreáticas. O principal antígeno contra o qual é direcionado o ataque das 
células T é a enzima descarboxilase do acido glutâmico, presente nas células das ilhotas. Infecções 
pelo vírus Coxsackie B4 têm sido consideradas como um iniciador de IDDM em camundongos, mas 
ainda não foram confirmadas como causa do diabetes em humanos. Há uma sequência de seis 
aminoácidos que é comum entre uma proteína do vírus Coxsackie e a descarboxilase ácido 
glutâmico. Anticorpos contra vários antígenos das células b também são produzidos, mas o 
principal dano é mediado por células T. 
• Síndrome de Guillain-Barré – essa doença é a causa mais comum de paralisia aguda nos Estados 
Unidos. Ela segue-se a uma variedade de doenças infecciosas como infecções virais (p. ex., 
infecções do trato respiratório superior, infecção pelo HIV e mononucleose causada pelos vírus 
Epstein-Barr e citomegalovírus) e diarreia causada pela bactéria Campylobacter jejuni. A infecção 
pela C. jejuni, sintomática ou não, é considerada o antecedente mais comum da síndrome de 
Guillain-Barré. Anticorpos contra a proteína mielínica são formados e resultam em polineuropatia 
desmielinizante. Os principais sintomas são os relacionados a uma rápida paralisia ascendente. O 
tratamento envolve tanto imunoglobulinas intravenosas quanto a plasmaférese. 
• Lúpus eritematoso sistêmico – nessa doença, autoanticorpos são formados contra DNA, histonas, 
proteínas nucleares e outros componentes do núcleo celular. Anticorpos contra DNA de fita dupla 
são uma marca registrada do lúpus eritematoso sistêmico. A doença afeta principalmente 
mulheres com idades entre 20 e 60 anos. Indivíduos que carreiam genes de HLA-DR2 ou HLA- -DR3 
apresentam predisposição para o lúpus eritematoso sistêmico. O agente que induz estes 
autoanticorpos é desconhecido. Entretanto, dois fármacos – a procainamida e a hidralazina são 
conhecidos por causar o lúpus eritematoso sistêmico. 
• Febre reumática – infecções por estreptococos do grupo A geralmente precedem o 
desenvolvimento da febre reumática. Anticorpos contra a proteína M dos estreptococos do grupo 
A que reagem cruzadamente com a miosina dos músculos cardíacos e com proteínas das 
articulações e dos tecidos cerebrais estão envolvidos na patogênese da febre reumática. 
• Artrite reumatoide – nessa doença, autoanticorpos são formados contra a IgG. Esses 
autoanticorpos são chamados de fatores reumatoides e são da classe IgM. A artrite reumatoide 
afeta principalmente mulheres entre os 30 e os 50 anos de idade. Pessoas com os genes de HLA-
DR4 são predispostas à artrite reumatoide. O agente que induz a produção dos autoanticorpos é 
desconhecido. No interior das articulações inflamadas, a membrana sinovial encontra-se infiltrada 
por células T, células plasmáticas e macrófagos, e o líquido sinovial contém altos níveis de citocinas 
inflamatórias produzidas por macrófagos, como o fator de necrose tumoral (TNF), a IL-1 e a IL-8. 
 
TRATAMENTO 
• A base conceitual para o tratamento de doenças autoimunes é a redução da resposta imune do 
paciente de forma suficiente para eliminar os sintomas. Os corticosteroides, como a prednisona, 
formam o cerne do tratamento, aos quais antimetabólitos como a azatioprina e o metotrexato 
podem ser adicionados. Estes últimos são análogos de nucleosídeos que inibem a síntese de DNA 
em células imunes. A terapia imunossupressora deve ser administrada com cautela devido ao risco 
do surgimento de infecções oportunistas. 
• Duas abordagens terapêuticas que não envolvem a supressão sistêmica da imunidade incluem 
anticorpos contra TNF e receptores solúveis para TNF que agem como “iscas” que sequestram essa 
citocina. Infliximabe e adalimumabe (anticorpos contra TNF) e etanercepte (receptor de TNF) têm 
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sido capazes de induzir uma melhora na inflamação das articulações na artrite reumatoide e nas 
lesões de pele durante episódios de psoríase. Entre- tanto, as terapias anti-TNF aumentam o risco de 
infecções, como a ativação da tuberculose latente, infecções graves por Legionella e Listeria, e 
infecções da pele e de tecidos moles por bactérias piogênicas. Esses fármacos também 
aumentam o risco de ativação de infecções fúngicas latentes, como a histoplasmose. 
• Certas doenças autoimunes mediadas por anticorpos, como a síndrome de Guillain-Barré e a 
miastenia grave, podem ser tratadas por plasmaférese, que remove os anticorpos autoimunes, ou 
com altas doses de IgG obtidas de doadores saudáveis. Uma hipótese relativa ao modo de ação 
da terapia de alta dose intravenosa de IgG é que esses anticorpos se ligam aos receptores Fc na 
superfície de neutrófilos e bloqueiam a ligação de imunocomplexos que ativariam os neutrófilos. 
Outra hipótese considera que o excesso de IgG satura os receptores FcRn na superfície de células 
endoteliais vasculares, o que acelera o catabolismo de IgG e, por- tanto, reduz os níveis de 
anticorpos autorreativos.

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