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82 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II Unidade II 5 BARREIRAS ESTRATÉGICAS À ENTRADA Como vimos antes, quando uma empresa atua para aumentar sua participação futura em determinado mercado, dizemos que ela está envolvida em uma competição estratégica. Uma das muitas maneiras pelas quais ela pode alcançar esse intuito é através do aumento proposital do custo de entrada. Desse modo, haveria necessariamente uma redução do número de futuros entrantes. Outra forma de instituir uma barreira é por meio de um investimento em capital que proporcione redução nos gastos com materiais e/ou trabalho, a fim de obter uma vantagem, em termos de custos, sobre as concorrentes. Veremos agora uma introdução à análise da prevenção estratégica à entrada com o objetivo de maximizar o lucro dos acionistas. A determinação da estratégia de maximização depende da capacidade de produção, dos níveis de custo, das características da demanda e do potencial de concorrência imediata. Entre as inúmeras estratégias que poderiam ser abordadas, selecionamos as seguintes: • As estratégias competitivas e o modelo das cinco forças de Porter. • A estratégia do preço-limite. • O modelo de Dixit de prevenção à entrada. • Os modelos de contestabilidade como explicação para a existência de barreiras à saída. 5.1 Estratégia competitiva Para permanecer competitiva, uma firma lança mão, muitas vezes, de planejamento estratégico e processos de melhoria contínua. A análise de estratégias competitivas fornece uma estrutura para que a firma antecipe tanto as ameaças ao modelo de negócio da empresa quanto novas oportunidades de negócio e futuros ajustes nos principais recursos, capacidades e competências da firma. A próxima figura ilustra os componentes de um processo estratégico dentro do contexto de conhecimento dos pré-requisitos e do elenco de decisões estratégicas que uma firma pode empregar. Basicamente, um processo estratégico inclui: • A identificação do mercado-alvo: isso abrange os fatores que determinam em quais negócios uma firma pode entrar e permanecer – fatores como as categorias de cliente, as condições de mercado e a disponibilidade de recursos físicos, humanos e tecnológicos. Essa fase põe em relevo a análise de quais setores seriam atraentes para realizar negócios. 83 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA • Os componentes de um modelo de negócios: além da identificação do mercado-alvo, um modelo de negócios deve projetar fontes de receita, cadeias de valores e margens brutas e líquidas que variam de acordo com a estrutura de custos da empresa. Para que o modelo de negócio seja bem-sucedido, é necessário desenvolver uma estratégia competitiva. • As decisões: decorrem das estratégias competitivas baseadas, principalmente, na capacidade dos recursos, nas políticas de precificação, nos processos de marketing e nas inovações, que proporcionarão a maximização de lucros dos acionistas. Mercado-alvo Clientes Concorrentes Condições de mercado Levantamento de capital Disponibilidade de recursos Restrições sociopolíticas Mercado-alvo Proposição de valor Papel na cadeia de valores Fontes de receita Margens definidas Valor de rede Investimento necessário Estratégia competitiva Produto Preços Planos de marketing Cadeia de suprimentos Canais de distribuição Fluxos de caixa para credores e acionistas Componentes de um modelo de negócios Decisões Figura 15 – Processo estratégico Ainda de acordo com essa figura, a tomada de decisão da firma, decorrente da definição da estratégia competitiva apropriada, visa a garantir o acesso a recursos diferenciados, como patentes e canais exclusivos de distribuição. Além disso, a estratégia competitiva fornece um plano de suporte para a rentabilidade da firma por meio de inovação. A rentabilidade das empresas, portanto, depende claramente das estratégias adotadas e da capacidade – baseada nos recursos disponíveis – para identificar as vantagens competitivas sobre seus concorrentes em um mercado relevante. Observação Uma empresa apresenta vantagem competitiva quando a soma do excedente dos consumidores com o excedente desse produtor é maior do que a soma do excedente dos consumidores com o excedente da empresa concorrente. Dessa forma, a empresa com vantagem competitiva obtém lucratividade suficiente para cobrir o custo de oportunidade de seu capital investido. 84 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II Lembrete Mercado relevante é o grupo de empresas que interagem entre si vendendo um bem ou serviço com características similares, tanto em termos físicos quanto geográficos. Alguns tipos de estratégia podem ser adotados como barreiras à entrada de novos concorrentes. Consideremos os seguintes tipos genéricos de estratégia: • Estratégia de diferenciação de produto: envolve a competição em inovação, emprego de marcas registradas ou criação de patentes. Essas ações determinam um preço especial ao produto em função da imagem e da capacidade estratégica de se tornar bem-sucedido no mercado. • Estratégia baseada em custo: focaliza tanto a limitação do plano de negócios que permite reduzir os custos como a ampliação da linha de produtos (a ponto de fazer com que seus concorrentes desejem sair do mercado em função dos altos custos envolvidos). • Estratégia de tecnologia da informação: refere-se à busca de uma vantagem competitiva sustentável entre concorrentes de mercado – por exemplo, via comércio eletrônico –, de modo a alcançar a maior parcela de consumidores e comercializar a maior quantidade de itens. Observação Vantagens competitivas sustentáveis são aquelas que definem características de processos, capacidades ou produtos associadas a uma firma e cuja imitação por outras empresas é muito difícil. A utilização de estratégias competitivas por uma empresa busca, portanto, obter parcelas maiores de mercado e alcançar lucros mais altos. O efeito colateral da adoção de estratégias desse tipo é a ameaça à competição e a modificação na estrutura de mercado ao longo do tempo, com tendência à concentração do mercado relevante em poucas empresas (ou até mesmo monopolização). Porter (1980) desenvolveu uma estrutura conceitual para identificar as ameaças à competição em um mercado relevante. Essa estrutura, esquematizada na próxima figura, é conhecida como modelo das cinco forças de Porter e inclui os seguintes elementos relacionados ao aumento da lucratividade sustentável da firma: • Ameaça de substitutos. • Concorrentes potenciais (ameaça à entrada). 85 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA • Poder dos compradores. • Poder dos fornecedores. • Intensidade da rivalidade (concorrência). Substitutos Intensidade de rivalidade Concorrentes potenciais Poder do comprador Poder do fornecedor Rentabilidade sustentável do setor Fornecedores únicos Falta/Excesso de suprimento Contratação de exigências verticais Concentração de compradores Capacidade do setor Homogeneidade dos compradores Concentração do setor Concorrência via preços Barreiras à saída Rigidez de custos Poder de substitutos Fidelidade à marca Propaganda Marca x genérico Ameaça de produtos e serviços substitutos Ameaça de novos concorrentes Nível de concorrência no setor Poder de negociação dos fornecedores Poder de negociação dos compradores Custos de capital elevados Economias de escala Custos de troca elevados Falta de acesso a canais de distribuição Diferenciação objetiva do produto Figura 16 – Modelo estratégico das cinco forças de Porter O modelo das cinco forçasm aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II 7.1.1 Análise custo-benefício da fusão considerando competição perfeita no estágio pré-fusão O modelo de Williamson (1968), que compara os custos e os benefícios de uma fusão, considerando que, antes da concentração horizontal, o mercado é perfeitamente competitivo, é ilustrado na figura a seguir: P P1 P0 A2 A1 0 q1 q0 Q D RM g0 CM g0 CM g1 ∆CMg RM g1 Figura 30 – Benefícios sociais (A2) e custos (A1) decorrentes de uma fusão – competição perfeita no estágio pré-fusão Nessa figura, a linha horizontal CMg0 representa o nível dos custos marginais de duas empresas antes da fusão, e a linha CMg1 ilustra os custos marginais após a fusão. Antes da fusão, o grau de competição é suficiente para forçar que o preço se iguale a CMg0. Após a fusão, os custos caem, mas um poder de monopólio é criado, levando a um aumento de preço de P0 para P1. A fusão resulta em uma perda de peso morto igual à área sombreada A1. No entanto, há um ganho para a sociedade devido à economia de custos, representada pela área sombreada A2, que descreve a economia de custos na quantidade produzida q1 com o menor custo médio. O principal resultado dessa análise é que uma redução percentual no custo, mesmo que relativamente pequena, compensará um aumento de preço relativamente grande, tornando a sociedade indiferente à fusão. Existe uma lógica simples por trás do motivo pelo qual o efeito do bem-estar das reduções de custo tende a suplantar o aumento no preço. Primeiro, observe que a área correspondente à perda de peso morto A1 é igual a: A q q P P1 0 1 1 0 1 2 O exemplo está ilustrando um caso que era concorrência perfeita e virou monopólio. Na concorrência perfeita, não há lucro econômico para as empresas, somente consumidores. Ao virar monopólio, os consumidores não perdem só A1, perdem a área amarela também. Mas essa área amarela é tomada pela empresa, por isso não foi contabilizada como perda pra sociedade. Além disso, as empresas também ganharam a área A2 através da redução de custo. Isso contabiliza ganho pra sociedade, mas na verdade foi tudo pras empresas. Highlight 115 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Note também que a área equivalente ao benefício da sociedade A2 é: A q CMg CMg2 1 0 1 Assim, se a redução do custo marginal for suficientemente grande em relação ao aumento do preço, a área A2 será maior do que A1 e a fusão aumentará o bem-estar. Da mesma forma, se o aumento de preço for suficientemente grande em relação à redução do custo marginal, a fusão reduzirá o bem-estar. Mais interessante é analisar o ganho de bem-estar quando a mudança de custo é comparável em tamanho à mudança de preço. Para considerar esse caso, suponhamos que ambas as mudanças sejam proporcionais, de modo que: CMg CMg a P P0 1 1 0 (7.1) Em que a é uma constante positiva (a > 0). Por facilidade, vamos supor que essa constante seja próxima de 1. Como a variação de bem-estar é o ganho devido à economia de custos A2 menos o excedente perdido devido à oferta reduzida A1: bem estar A A bem estar q CMg CMg q q P P - - 2 1 1 0 1 0 1 1 0 1 2 bbem estar aq P P q q P P- 1 1 0 0 1 1 0 1 2 (7.2) Colocando-se em evidência a variação nos preços (P1 - P0), a mudança de bem-estar torna-se: bem estar P P aq q q bem estar P P a - - 1 0 1 0 1 1 0 1 2 1 22 1 21 0 q q (7.3) Se a mudança de custo for comparável em tamanho à mudança de preço e o aumento no preço não for muito grande (ou a demanda não for muito elástica), de modo que q1 não seja muito menor que q0, seguirá que: a q q 1 2 1 2 01 0 Essa última condição mostra que uma fusão para a qual a diminuição do custo é comparável em tamanho ao aumento de preço sempre aumentará o bem-estar. 116 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II Supondo-se uma fusão que provoque uma pequena variação no preço (e na quantidade produzida) e uma pequena variação no custo marginal, o ganho de bem-estar decorrente da fusão será reduzido. Quando dois lados do triângulo A1forem pequenos e apenas um lado de um retângulo A2 for pequeno, a área do retângulo excederá a do triângulo e, assim, haverá benefícios em termos de bem-estar. Portanto, mesmo com o aumento de preço pós-fusão, uma pequena redução no custo unitário compensa a perda de peso morto, gerando, dessa forma, ganho de bem-estar para a sociedade. Exemplo de aplicação Análise custo-benefício da fusão e elasticidade-preço da demanda O principal resultado da abordagem de Williamson (1968) no que diz respeito aos efeitos da fusão no bem-estar da sociedade, a partir de uma análise que considera que o mercado seja competitivo antes da concentração horizontal, é que uma pequena redução percentual nos custos, mesmo com aumento nos preços, torna a população indiferente à fusão. Para verificar esse fato, suponhamos que o custo marginal seja constante (logo, CMg = CMe) e levemos em conta as seguintes fórmulas para calcular as áreas A1 e A2 da figura anterior: A p q A CMe q 1 2 1 1 2 Em que ∆p = p1 - p0 e ∆q = q1 - q0 e representam, respectivamente, as variações de preço e produção decorrentes da fusão, ∆CMe é a variação do custo médio e q1 é o nível de produção da empresa pós-fusão. Dada a definição de elasticidade-preço da demanda: P D p q q p 0 0 Podemos substituir (∆q) na expressão da área A1, de modo que: A p q p p P D 1 0 0 1 2 Igualando A1 e A2, temos: CMe q p q p p P D 1 0 0 1 2 117 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Sabemos que, em concorrência perfeita, P0 = CMg0. Como nosso custo marginal é constante, p0 =CMe0. Dessa forma, podemos tomar a última expressão e dividir o lado esquerdo por CMe0q1 e o lado direito por p0q1: CMe q CMe q p q p p p q CMe CMe p P D P D 1 0 1 0 0 0 1 0 1 2 1 2 qq p p p q CMe CMe q q p pP D 0 0 0 1 0 0 1 0 2 1 1 2 Em que ∆CMe / CMe0 representa a variação de custos necessária para tornar a sociedade indiferente à fusão, mesmo que esta provoque uma variação no preço de venda das mercadorias (∆p / p0). Finalmente, assumindo que a elasticidade-preço seja constante ao longo da curva de demanda, temos, de acordo com Viscusi, Vernon e Harrington (2005), que: q q p p P D 0 1 0 1 1 Substituindo esse resultado na expressão da variação nos custos pós-fusão, chegamos a: CMe CMe p p p pP D P D 0 0 0 2 1 2 1 1 A tabela a seguir apresenta a redução de custo necessária para diversas hipóteses alternativas de aumento de preço e elasticidade-preço da demanda: 118 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II Tabela 8 – Redução percentual de custos suficiente para compensar aumentos percentuais de preço para valores selecionados de εP D Variação de preço p p0 Elasticidade-preço da demanda P D 3 2 1 0,5 5% 0,43% 0,28% 0,13% 0,06% 10% 2,00% 1,21% 0,55% 0,26% 20% 10,37% 5,76% 2,40% 1,10% Observe que, se uma fusão provocasse uma expectativa de aumento de preço de 5% e a elasticidade-preço da demanda fosse igual a 3 (em termos absolutos), uma redução nos custos de apenas 0,43% seriasuficiente para igualar o benefício social (área A2) ao custo social (A1). Nesse mesmo nível de elasticidade, se a expectativa de variação de preços dobrasse para 10%, a redução de custo necessária para tornar a sociedade indiferente à fusão seria de 1/5 desse percentual (2%). Se a expectativa de aumento de preço continuasse dobrando, agora para 20%, a necessidade de redução de custo seria ainda maior (quase metade da variação de preços). Por outro lado, à medida que o bem vai se tornando menos elástico, bastam pequenas reduções de custo para compensar grandes variações de preço. Por exemplo, no caso de elasticidade unitária e expectativa de aumento de preço de 5%, a redução de custo que torna a sociedade indiferente à fusão é de apenas 0,13%. Mesmo que a tendência de aumento de preços com a fusão fosse de 20%, a redução de custo necessária seria de pouco mais que 1/10 dessa variação (2,40%). 7.1.2 Análise custo-benefício da fusão considerando competição imperfeita no estágio pré-fusão Infelizmente, a conclusão da subseção antecedente será enfraquecida se presumirmos que a indústria não é competitiva antes da fusão. Considere a figura a seguir, que só difere da figura anterior pelo fato de que o preço pré-fusão, P0, excede o custo marginal pré-fusão (P0 > CMg0): a perda de peso morto decorrente da redução da oferta é representada pela área do trapézio B1, enquanto o ganho devido à economia de custos continua sendo a área do retângulo, denotado agora por B2. 119 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA P P1 P0 0 q1 q0 Q D RM g0 CM g0 CM g1 ∆CMg RM g1 B2 B1 Figura 31 – Benefícios sociais (B2) e custos (B1) decorrentes de uma fusão – competição imperfeita no estágio pré-fusão Ao analisar essa figura, nota-se que o excedente perdido devido à redução da produção (de q0 para q1) é maior, pois a quantidade produzida pré-fusão já estava abaixo do nível competitivo. Nota-se ainda que a área B1 é a soma de um retângulo com um triângulo; uma vez que a porção do retângulo de B1 não pode ser assegurada como menor que B2, quando a variação de preço e custo é suficientemente pequena, o argumento associado à figura 30 (isto é, que a pequena redução de custo compensa o aumento de preço) não se aplica. Assim, quando o mercado de pré-fusão é imperfeito, a redução de custo necessária para compensar um aumento no preço não pode ser tão pequena. A argumentação aqui concentrou-se exclusivamente na análise das empresas que tomam a decisão de se fundir e ignorou o efeito da fusão nas decisões de outras empresas no mercado. Por exemplo, se a empresa resultante da fusão praticar um preço mais alto, isso deverá induzir as outras empresas a também aumentar os preços, já que o aumento no preço de um competidor serve para alterar a função de demanda de uma empresa. A resposta dos rivais à fusão serve para aumentar as perdas de bem-estar de um poder de mercado melhorado. 7.2 O uso de indicadores de concentração na análise da concentração horizontal Quando as vendas de determinado segmento econômico são concentradas em função do aumento no número de fusões, o desempenho desse mercado torna-se menos propenso a ser competitivo. Abordamos anteriormente diversos indicadores de concentração de mercado que podem ser utilizados pelos órgãos de defesa da concorrência para avaliar as implicações da concentração horizontal. Os indicadores mais utilizados são: • As razões de concentração (C4 ou C8). 120 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II • O índice Herfindahl-Hirschman (IHH). Conforme visto, a razão de concentração de ordem k mede a taxa de participação das k primeiras empresas com maior participação (Si) em determinado segmento de mercado: C Sk i k i 1 Quanto maior é o valor do índice, maior é o poder de mercado exercido pelas k maiores empresas. Nas aplicações empíricas, utilizam-se frequentemente k = 4 ou k = 8, isto é, considera-se apenas a participação das quatro ou das oito maiores empresas. Exemplo de aplicação Ganhos potenciais de eficiência após a fusão Brahma-Antarctica A participação de mercado das principais cervejarias brasileiras no ano de 2001, ordenada do maior para o menor market share, é indicada na tabela a seguir: Tabela 9 – Participação de mercado das principais cervejarias e marcas no mercado brasileiro (2001) Marcas de cerveja Participação de mercado (%) Skol 32,6 Brahma 22,1 Antarctica 15,0 Kaiser 13,6 Schincariol 8,9 Bavaria (Molson) 3,5 Outras 4,3 Total 100,0 Fonte: Farina e Azevedo (2003, p. 153). O índice C4, que mede a participação das vendas da indústria de cerveja representada pelas quatro maiores marcas (k = 4), é igual a: C S i i4 1 4 32 6 22 1 15 0 13 6 83 3 , , , , , Ou seja, as quatro maiores marcas de cervejas em 2001 representavam 83,3% do mercado nacional. 121 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA No ano de 2001, foi aprovada a fusão entre as cervejarias Brahma e Antarctica, ocorrida em 1999. Com isso, fundou-se a Companhia de Bebidas das Américas (Ambev), que incluía as seguintes marcas: Skol, Brahma, Antarctica e Bavaria. Entretanto, o órgão de defesa da concorrência – o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) – obrigou a Ambev a vender a marca Bavaria, como medida de compensação pela concentração de mercado. Com isso, o mercado passou a apresentar a configuração indicada nesta tabela: Tabela 10 – Participação de mercado das principais cervejarias e marcas após a fusão Brahma-Antarctica (2001) Marcas de cerveja Participação de mercado (%) Ambev 69,7 Kaiser 13,6 Schincariol 8,9 Bavaria (Molson) 3,5 Outras 4,3 Total 100,0 Fonte: Farina e Azevedo (2003, p. 153). O índice C4, após a fundação da Ambev, passou para: C S i i4 1 4 69 7 13 6 8 9 3 5 95 7 , , , , , Portanto, pela comparação dos índices C4, antes e após a fusão, houve um crescimento de 15% na concentração do mercado de cervejas. Dessa forma, a fundação da Ambev criou um potencial para a elevação de preços ao consumidor (prejudicando o bem-estar deste) por meio da eliminação de concorrentes a partir do uso de seu portfólio de marcas. Apesar da facilidade de cálculo e da interpretação dos resultados, são observadas algumas deficiências imediatas nos índices Ck: • Eles ignoram a presença das n - k empresas menores do segmento em análise. Desse modo, fusões horizontais não alterarão substancialmente o valor do índice se a participação de mercado da nova empresa (resultante da fusão) se mantiver abaixo da k -ésima posição. • Eles não levam em conta a participação relativa de cada empresa no grupo das k maiores. Com isso, significativas transferências de mercado que ocorrerem no interior do grupo (sem a exclusão de nenhuma empresa) não afetarão a concentração medida pelo índice. 122 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II Essas omissões dificultam o uso de Ck como uma medida do poder de mercado (ou do grau de competição) existente em certo segmento de mercado. Mas há outro indicador importante para a medida de concentração de mercado, também baseado na taxa de participação de mercado (Si) – o IHH, definido pela fórmula: IHH S i n i 1 2 100 Em que n é o número de empresas estabelecidas em determinado setor. Existem valores indicativos para os níveis de IHH para análises preliminares de processos de fusão. Vários países do mundo, inclusive o Brasil, consideram três faixas de valor crítico de IHH assumidas pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, conforme apresenta o quadro a seguir: Quadro3 – Valores críticos do IHH em análises de fusão Valor do IHH Interpretação Ação associada a uma operação de concentração (fusão ou aquisição) 0 1 000 1 000 1 800 1 800 IHH IHH IHH . . . . Concentração baixa Concentração moderada Concentração elevada Não existirá preocupação quanto à competição na indústria se uma fusão se concretizar Existirá preocupação quanto à competição se o aumento do índice for maior ou igual a 100 pontos em relação ao índice pré-fusão Existirá preocupação quanto à competição se o aumento do índice for maior ou igual a 50 pontos em relação ao índice pré-fusão Nota: na União Europeia, os valores críticos do IHH após uma operação de concentração são: entre 1.000 e 2.000 (com aumento de 250 pontos) para casos de concentração moderada; acima de 2.000 (com aumento de 150 pontos) para casos de concentração elevada. Em casos de fusão ou aquisição, portanto, as autoridades devem analisar o IHH antes e depois da operação de concentração e avaliá-la nos casos em que promova uma variação do IHH superior a 100 (nos casos de concentração moderada) e a 50 (nos casos de concentração elevada). Considere uma operação de concentração (fusão ou aquisição) entre duas empresas, i e j, que atuam em determinado mercado. Se a participação de mercado da empresa decorrente da operação de concentração for a soma da participação de mercado pré-concentração das empresas envolvidas, a variação do IHH será dada por: IHH IHH IHH s si j 1 0 2 100 100 Em que IHH0 e IHH1 são os valores do índice, respectivamente, antes e depois da operação de concentração. 123 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Exemplo de aplicação Considere uma indústria composta de quatro empresas com as seguintes participações de mercado: • s1 =40% • s2 =30% • s3 =20% • s4 =10% a) Calcule o IHH desse mercado e classifique-o de acordo com a tabela de valores críticos. Resolução O IHH inicial desse mercado (IHH0), ou seja, antes de qualquer operação de concentração, é igual a: IHH S i i0 1 4 2 2 2 2100 100 0 4 100 0 3 100 0 2 100 0 , , , ,11 3 000 2 0 IHH . De acordo com a tabela de valores críticos de IHH, pode-se dizer que esse mercado tem elevada concentração. b) Suponha que as empresas s3 e s4 abram um processo de fusão. Calcule o IHH pós-fusão e indique a ação associada a essa operação de concentração. Resolução A nova empresa formada pela fusão de s3 e s4 deterá 30% do mercado (s3 + s4 = 20% + 10% = 30%). O IHH desse mercado após a fusão (IHH1) é igual a: IHH S IHH i i1 1 3 2 2 2 2 1 100 100 0 4 100 0 3 100 0 3 3 , , , .4400 Logo, o IHH de 3.400 pontos inclui o processo de fusão na terceira faixa de concentração. A variação do índice (∆IHH) é igual a: IHH IHH IHH 1 0 3 400 3 000 400. . 124 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II Alternativamente: IHH s s 2 2 100 0 20 100 0 10 4003 4 , , A variação do IHH é, portanto, maior do que 50 pontos, e o órgão regulador antitruste terá um sinal de alerta contra tal operação de concentração. 7.3 Conluio O oligopólio pode ser classificado como puro, quando as empresas produzem bens homogêneos (bens substitutos perfeitos), ou diferenciado, quando as empresas produzem bens substitutos próximos. As firmas que pertencem a um oligopólio podem agir de duas formas: • Cooperativa: o grau de concorrência é baixo ou inexistente, ou seja, as empresas formam conluios e cartéis. • Não cooperativa: há um elevado grau de concorrência entre as empresas participantes do mercado. Vimos anteriormente a solução de Cournot para oligopólios que atuam na forma cooperativa. A solução de Cournot, no entanto, é inadequada por causa das limitações do modelo de concorrência oligopolística via definição das quantidades. Um dos problemas é que as firmas tomam a decisão sobre o nível de produção apenas uma vez. Mas, na realidade, as firmas vivem por muitos períodos e estão continuamente tomando decisões sobre as quantidades produzidas. 7.3.1 A estratégia do gatilho Para corrigir o problema da solução de Cournot, vamos considerar uma versão infinitamente repetida do modelo de Cournot. Em cada período, as firmas fazem decisões simultâneas de produção e esperam continuar fazendo tais decisões no futuro (que é indefinido). Por simplicidade, consideremos a hipótese de que a curva de demanda e a função de custo não variam com o tempo. Lembrete No jogo padrão de Cournot, a decisão sobre as quantidades produzidas é realizada simultaneamente pelos jogadores (firmas). Há importantes diferenças entre o jogo padrão de Cournot (em um único período) e sua versão repetida infinitamente. A principal delas é que cada firma receberá informação ao longo do tempo na forma de preços e quantidades passadas. Embora as firmas escolham simultaneamente a quantidade produzida num dado período, cada uma delas pode observar as quantidades produzidas pela outra nos 125 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA períodos anteriores, além do preço de mercado resultante. Outra diferença é que as firmas agem para maximizar a soma dos seus lucros descontados, em vez de maximizar apenas o lucro presente. Observação Taxa de desconto, ou taxa mínima de atratividade, é aquela que permite encontrar o valor presente de um fluxo de caixa líquido ou de uma série de pagamentos a receber. Considere as seguintes informações para um duopólio cuja produção total do setor é igual a Q = q1 + q2: • Curva de demanda: P = 100 - Q • Custo marginal constante: CMg = 40 Utilizando as equações 3.7, 3.8 e 3.9, o equilíbrio de Nash é definido com cada firma produzindo 20 unidades (com a produção total da indústria igual a 40 unidades), o lucro auferido de cada firma é $ 400 e o preço praticado pelo duopólio é $ 60. Seja r a taxa de juros (ou taxa de desconto) para cada firma, e sejam qt 1 e qt 2 as quantidades produzidas pelas firmas 1 e 2, respectivamente, no período t, com t = 1, 2, 3..., o objetivo inicial é mostrar que um equilíbrio de Nash para esse jogo poderá ser obtido se cada firma produzir a quantidade relativa à solução de Cournot em cada período, ou seja: q q tt t 1 2 20 1 2 3= = =; , , ... Essa produção proporciona um lucro, para cada firma, de $ 400 por período. O payoff (Πi) de uma firma (i = 1, 2) é a soma dos seus lucros de todos os períodos descontados pela taxa r: i r r r 400 1 400 1 400 11 2 3 (7.4) Multiplicando os dois lados da equação 7.4 por [1 / (1 + r)], chegamos a: i r r r r( )1 400 1 400 1 400 11 2 3 (7.5) Fazendo a subtração de ambos os lados da equação 7.5 por ambos os lados da equação 7.4, obtemos: 126 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II r r r i 1 400 1 (7.6) Resolvendo a equação 7.6 para Πi, encontramos: i r 400 1 (7.7) Assim, por exemplo, se a taxa de juros for de 10% em cada período (r = 0,10), o payoff da firma (o valor presente do lucro de cada firma) será $ 4 mil. Suponha agora que a firma 1 adote uma estratégia em que sua quantidade produzida seja diferente de 20 unidades em um ou mais períodos. Em todos os períodos para os quais qt 1 20≠ , seus lucros serão menores (pois 20 unidades são necessárias para ela maximizar seu lucro), enquanto o lucro no período em que a firma continuar produzindo 20 unidades seguirá o mesmo. A soma dos lucros descontados, portanto, será menor. Dessa maneira, o comportamentoótimo da firma 1 será produzir 20 unidades em cada período sempre que ela esperar que o concorrente faça o mesmo. Em outras palavras, a repetição de um equilíbrio de Nash do jogo de período único é um equilíbrio de Nash do jogo infinitamente repetido. Embora tenhamos encontrado um equilíbrio de Nash para o jogo de Cournot repetido, ainda não compreendemos como as firmas podem sustentar uma situação de lucro conjunto máximo. Para isso, vamos supor uma estratégia diferente, que permita que a quantidade produzida pela firma dependa de quanto sua concorrente produziu no passado. Consideremos, em primeiro lugar, que a firma 1 defina sua produção no período 1 em 15 unidades (q1 1) se a firma 2 também decidir que passará a produzir essa mesma quantidade (q1 2). Caso a firma 2 decida fazer seu melhor em t = 1 (q1 2 = 20), a firma 1 responderá produzindo a mesma quantidade (q1 1 = 20). A estratégia para a firma 1 nos períodos seguintes pode ser esquematizada da seguinte forma: q se q e q t t caso contr t t t1 1 215 15 15 1 2 1 20 , , , , ..., , árrio (7.8) Essa estratégia mostra que a firma 1 deve produzir 15 unidades no primeiro período. Em qualquer período futuro, a firma 1 deverá produzir 15 unidades se, e somente se, ambas as firmas tiverem produzido 15 unidades em todos os períodos anteriores. Isso significa que, se uma das firmas tiver produzido uma quantidade diferente de 15 unidades em algum período passado – por exemplo, 20 unidades –, a firma 1 deverá produzir 20 unidades em todos os períodos subsequentes. Essa tática é chamada de estratégia do gatilho, porque um pequeno desvio do acordo de produção fixado em 15 unidades resulta em uma quebra do conluio. 127 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Observação Estratégia do gatilho é uma tática empresarial que envolve esquemas de trapaças e punições em jogos infinitamente longos. Desse modo, a estratégia da firma 2 com q1 2 = 15 é definida de forma análoga à da firma 1: q se q e q t t caso contr t t t2 1 215 15 15 1 2 1 20 , , , , ..., , árrio (7.9) Se as duas firmas utilizarem as estratégias apontadas em 7.8 e 7.9, ambas passarão a produzir 15 unidades no primeiro período. Se as duas produzem 15 unidades no primeiro período, a estratégia do gatilho mostra que elas devem produzir 15 unidades no segundo; como ambas produzem 15 unidades no segundo período, devem produzir 15 unidades no terceiro, e assim por diante, em todos os períodos. Logo, em todos os períodos, a produção total do duopólio será de 30 unidades. No entanto, observe que, se esse mercado fosse um monopólio, com a mesma curva de demanda (P = 100 - Q) e condições de custo marginal (CMg = 40), teríamos o equilíbrio definido com a firma monopolista produzindo 30 unidades e praticando preço de $ 70. A estratégia do gatilho, portanto, impõe uma situação em que o preço de monopólio poderá ser observado em todos os períodos. Se pudermos mostrar que essas estratégias formam um equilíbrio de Nash (nenhuma firma tem incentivo para desviar de sua estratégia), teremos uma teoria que explica como um conluio pode ser sustentado por firmas maximizadoras de lucro. Caso a firma 2 utilize a estratégia 7.9, a firma 1 terá um lucro de $ 450 em cada período ao usar a estratégia 7.8: 1 100 30 15 40 15 450 Dessa maneira, seu payoff torna-se 450 / r. Considere agora que a firma 1 escolha uma estratégia diferente. Qualquer estratégia diferente deve implicar a firma 1 produzindo uma quantidade distinta de 15 unidades em algum período. Caso qt 1 15≠ , a firma 2 descobrirá após o período 1 que a firma 1 se desviou do acordo de conluio. Segundo a estratégia adotada pela firma 2, ela responderá produzindo 20 unidades em todos os períodos subsequentes. Como a firma 1 sabe que a firma 2 vai responder assim, ela também vai produzir 20 unidades nos períodos futuros depois de se desviar das 15 unidades no período 1, já que produzir qualquer outra quantidade diminuiria seus lucros do período 2 em diante. Temos que, se qt 1 15≠ , o payoff da firma 1 será: 128 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II 1 1 1 1 1 1 1100 15 40 1 q q q r Valor presente dos lucros no período Soma do valor presente d r r 1 400 1� ����� ����� oos lucros futuros ��� (7.10) O primeiro termo do lado direito da equação 7.10 representa o lucro descontado do período 1, e o segundo termo, a soma dos lucros descontados dos períodos futuros. Dado que a firma 1 se desvia do nível de produto de conluio (15 unidades) no primeiro período, a equação 7.10 mostra que o tamanho da diferença entre q1 t e 15 afeta os lucros presentes, mas não os lucros futuros. Isso acontece porque a punição decorrente da trapaça é independente do quanto que a firma trapaceou. Portanto, de acordo com a função de reação da firma 1, esta maximiza o payoff descrito em 7.10, produzindo: q q1 1 1 230 0 5 30 0 5 15 22 5 , , , A quantidade q1 1 = 22,5 maximiza o lucro do período atual para a firma 1. Substituindo esse resultado na equação 7.10, encontramos o maior payoff que a firma 1 pode obter ao escolher uma estratégia diferente de 7.8: � 1 100 22 5 15 22 5 40 22 5 1 400 1 , , , r r r 1 506 25 1 400 1 , r r r (7.11) O gráfico a seguir ilustra a trajetória temporal do lucro obtido por uma das firmas ao permanecer no conluio (receber $ 450 todo período) e do lucro obtido ao trapacear o conluio (receber $ 506,25 no primeiro período e $ 400 em cada período posterior). Assim, a trapaça fornece lucros maiores no início, mas lucros menores no futuro, pois ela intensifica a competição. 129 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Lucro de conluio Lucro depois da trapaça Tempo t = – 1t = 10 400 450 506,25 Πi Figura 32 – Lucro de conluio versus lucro de trapaça Portanto, visto que a firma 2 adota a estratégia 7.9, a firma 1 auferirá lucro descontado de 450 / r se adotar a estratégia 7.8. Por outro lado, o maior payoff que a firma 1 poderá obter ocorrerá se ela escolher a estratégia 7.10. Dessa forma, a estratégia 7.8 maximiza o payoff da firma 1 se, e somente se: 450 506 25 1 400 1r r r r , ( ) (7.12) Isolando r na equação 7.12: 450 506 25 1 400 1 450 506 25 400 1 450 1 r r r r r r r , ( ) , 506 25 400 56 25 50 0 8889 , , , r r r Ou seja, a condição 7.12 acabará tornando-se válida se a taxa de desconto for inferior a 0,89. Em outras palavras, se a firma 1 valorizar suficientemente os lucros futuros (isto é, se r for suficientemente pequeno), ela preferirá produzir 15 unidades em cada período em vez de trapacear e produzir mais do que 15 unidades. Pelo mesmo argumento, podemos mostrar que a estratégia da firma 2 em 7.9 maximizará a soma de seus lucros descontados se rlucros futuros, ela escolherá não trapacear. Torna-se claro que, se r > 0,89, a estratégia do gatilho não proporciona um equilíbrio de Nash. Nesse caso, cada firma preferiria trapacear a produzir 15 unidades. No entanto, estratégias similares com um produto de conluio maior podem formar um equilíbrio de Nash. Por exemplo, se a taxa de desconto estivesse dentro de um intervalo em que 0,89o mercado deve apresentar demanda relativamente inelástica. De outro modo, o preço não poderia ser muito mais alto que o preço competitivo, sob pena de forte queda da demanda. São exemplos de cartel a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), o Conselho Intergovernamental dos Países Exportadores de Cobre (Cipec) e a International Bauxite Association (IBA). Todos os cartéis citados são internacionais, e seus participantes são países. Isso ocorre porque, em praticamente todos os países, os cartéis de empresas são proibidos por lei, ou seja, as firmas que formam cartéis agem, de modo geral, ilegalmente – e, ainda que atuantes, esses cartéis não vêm a público anunciar sua existência. Por outro lado, os cartéis cujos participantes são países não enfrentam o mesmo problema, pois os países são soberanos. Não há uma instância superior que possa impedi-los de formar cartéis. Em função da existência de legislação antitruste, muitas empresas tornam-se receosas de coordenar seus esforços de maneira explícita, caracterizando, assim, a formação de cartel. Quando é esse o intuito, elas recorrem a métodos mais ardilosos de coordenação de esforços. Entre esses métodos estão a sinalização de preços e a liderança de preços. A sinalização de preços é uma forma de conluio na qual algumas firmas de determinada indústria se revezam no anúncio de aumento de preços, esperando que as outras as acompanhem. Dessa maneira, mesmo sem estar em comunicação direta, as firmas podem aumentar periodicamente os preços cobrados pela indústria. A liderança de preços é uma forma de determinação de preços na qual a empresa líder do setor anuncia regularmente alterações de preços que, mais tarde, serão acompanhadas pelas outras empresas pertencentes à indústria. Esse padrão ocorre quando uma empresa (a líder) detém grande market share em relação às outras empresas da indústria, e um grupo de empresas menores (as seguidoras) provê o restante do mercado. A empresa líder, desse modo, escolhe o preço que maximiza seus lucros, e as outras a seguem. Ao fazer isso, as empresas da indústria se comportam como se fossem um monopólio. 135 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Exemplo de aplicação Liderança de preços Suponha que uma grande empresa (líder, L) e outras seis empresas menores (seguidoras, S) forneçam equipamentos eletrônicos para maquinários. As seguidoras vendem os componentes ao mesmo preço que a líder. Por sua vez, a líder permite que outras empresas vendam a quantidade que desejarem ao preço estabelecido. A demanda total pelos equipamentos é dada pela seguinte função: P = 10.000 - 10Q Em que Q = qL +qS, ou seja, a produção total (Q) é a soma da produção da líder (qL) com a das seguidoras (qS). A função de custo marginal da líder é: CMgL = 100 + 3qL A função de custo marginal agregado das outras seis seguidoras é: S S SCMg q 1 6 50 2 Estamos interessados em determinar a produção ótima da líder e das seguidoras, bem como o preço de venda dos equipamentos, visto que todas as firmas estão empenhadas em maximizar seus lucros. A firma líder maximiza seus lucros igualando seu custo marginal (CMgL ) à sua receita marginal (RMgL), obtida a partir da diferenciação de sua receita total (RTL), dada por: RTL = PqL Sabendo-se que Q = qL + qS, então qL = Q - qS. Pela função de demanda, a quantidade total do setor (Q) é: Q = 1.000 - 0,10P Para obter qs, devemos observar que a líder permite que as empresas seguidoras vendam a quantidade que desejarem ao preço (P) determinado por ela. Logo, as empresas seguidoras enfrentam uma função de demanda horizontal dada por: RMgs = P Para maximizar seus lucros, as empresas seguidoras operarão no ponto em que: 136 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II RMg CMg P q q P S S S S S 1 6 50 2 0 50 25, Como qL = Q - qS e Q = 1.000 - 0,10P, então: q P P q P P L L 1 000 0 10 0 50 25 1 025 0 60 1 708 3333 166 . , , . , . , , 667qL Agora podemos calcular a receita total e a receita marginal da firma líder: RT Pq RT q q RMg RT q L L L L L L L L 1 708 3333 16667 1 708 3333 . , , . , 33 3334, qL Fazendo CMgL = RMgL: 100 3 1 708 3333 3 3334 253 945 q q q L L L . , , ,* Ou seja, o nível de produção ótimo da firma líder é de 253,9 unidades. Substituindo esse valor na função de demanda: P P * * . , , ( , ) . , 1 708 333 16667 253 945 1 285 083 Logo, o preço de venda desse mercado será de $1.285,08. O nível de produção ótimo das firmas seguidoras, por sua vez, será igual a: q q S S * * , . , , 0 50 1 285 083 25 617 542 Isto é, o nível de produção ótimo das firmas seguidoras será de 617,5 unidades. 137 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA 8 INTRODUÇÃO A POLÍTICAS ANTITRUSTE E REGULAÇÃO ECONÔMICA Apresentaremos agora as razões e a forma pelas quais os governos utilizam o seu poder de coerção para afetar o processo de decisão dos agentes econômicos que atuam em estruturas caracterizadas pela existência de significativo poder de mercado. Se os mercados pudessem ser completamente descritos pelas hipóteses do que caracteriza a competição perfeita (ou até mesmo os oligopólios competitivos), não haveria nenhum motivo para que o poder público utilizasse o seu poder coercitivo a fim de limitar o universo de escolha dos agentes que exercem poder de mercado excessivo. Com isso, os teoremas do bem-estar garantiriam que a ação dos agentes econômicos automaticamente geraria uma situação de ótimo de Pareto, isto é, em que seria impossível elevar o bem-estar de um agente sem reduzir o bem-estar de outro. Observação O primeiro teorema do bem-estar afirma que qualquer equilíbrio competitivo é Pareto eficiente, ou seja, uma alocação alcançada por um conjunto de mercados competitivos será necessariamente eficiente no sentido de Pareto. Inicialmente, serão abordadas as razões que poderiam justificar a intervenção governamental. Na sequência, serão estudadas as duas formas pelas quais o poder público tenta corrigir as falhas de mercado que surgem quando as hipóteses de concorrência perfeita não são aplicadas: a legislação antitruste e a regulação econômica. 8.1 Políticas públicas antitruste A cooperação entre oligopolistas (seja via concentração horizontal, seja via conluio) pode não ser desejável do ponto de vista do bem-estar social, pois em geral determina um nível de produção menor e um preço de venda maior do que o socialmente ótimo. Por isso, torna-se necessário que o Estado desempenhe seu papel regulador a fim de salvaguardar a concorrência, através de agências reguladoras, de órgãos públicos de defesa da concorrência ou de leis antitruste. A legislação antitruste proíbe explicitamente acordos entre oligopolistas. Entretanto, oligopolistas desejam criar fusões ou conluios para obter lucros de monopólio. As leis antitruste, para impedir que ações anticompetitivas sejam possíveis, devem tornar ilegais os atos de agentes econômicos que procuram restringir o comércio ou a tentativa de monopolização do mercado. As primeiras leis antitruste surgiram nos Estados Unidos, no fim do século XIX. A evolução das leis e da teoria econômica no século XX levou a justiça americana a adotar duas abordagens diferentes ao julgar casos de antitruste nos EUA: o critério per se e a regra da razoabilidade. 138 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II O critério per se implica uma proibição absoluta de certo tipo de comportamento: o órgão de defesada concorrência precisa apenas certificar-se de que o comportamento efetivamente ocorreu para punir a firma que agiu de forma a restringir a competição. Quando esse critério é aplicado, o ato de concentração (a prática restritiva) é considerado ilegal, sem que para isso seja necessário investigar os efeitos obtidos, danosos ou benéficos. Observação Ato de concentração é a fusão de duas ou mais empresas anteriormente independentes, a aquisição de controle ou de partes de uma ou mais empresas por outras, a incorporação de uma ou mais empresas por outras, ou ainda a celebração de contrato associativo, consórcio ou joint venture entre duas ou mais empresas. Em geral, o critério per se é aplicado quando a lei requer menos esforços dos agentes reguladores e não há necessidade de grande dispêndio de recursos para a investigação. Esse critério também é utilizado em algumas situações específicas, como a cartelização e a fixação de preços. Desse modo, se houver fixação de preços acima do nível competitivo pelas maiores firmas pertencentes a determinado mercado relevante e isso reduzir a quantidade ofertada e o excedente do consumidor (além de não criar redução de custos), essa ação restringirá a competição e causará perda relativa de bem-estar. A aplicação da regra per se a esse caso, proibindo esse tipo de conduta, seria eficaz do ponto de vista do bem-estar social. As leis que obedecem à regra da razoabilidade, por sua vez, requerem análises mais aprofundadas do que a mera constatação da ocorrência do fato. A conduta é ilegal apenas se apresentar um efeito anticompetitivo líquido. A agência observa os efeitos do comportamento e contrabalança os prejuízos com os eventuais benefícios do ato. O exame é feito caso a caso, e não há punição se as eficiências econômicas compensam os efeitos anticompetitivos. Assim, diferentemente do critério per se, a ilegalidade não é presumida a priori pela regra da razão, pois se considera que o efeito líquido anticompetitivo, por razões econômicas antes que legais, não pode ser presumido sem um exame minucioso da ponderação entre os dois tipos de efeito. A razoabilidade é a forma de aplicação da lei mais difundida entre os países industrializados. No Brasil, a Lei nº 8.884/94 adota esse critério tanto para a análise dos atos de concentração quanto para a das condutas anticompetitivas. 139 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Saiba mais A primeira lei antitruste americana foi a Sherman Act, de 1890. Em essência, essa lei consolidou e sistematizou as questões que eram antes contestadas judicialmente sob o ponto de vista de prejuízos individuais. A inovação mais importante da Sherman Act foi permitir a contestação de contratos, acordos ou práticas comerciais por iniciativa do Estado ou de terceiros. Com isso, a legislação antitruste passou a tratar a concorrência como um bem jurídico de interesse da sociedade, e não apenas um direito das empresas eventualmente prejudicadas por práticas anticompetitivas. Leia mais a respeito em: VISCUSI, W. K.; VERNON, J. M.; HARRINGTON, J. E. Economics of regulation and antitrust. 4th ed. Cambridge: The MIT Press, 2005. 8.2 Análise de antitruste no Brasil A base legal do controle de fusões no Brasil encontra-se definida pela Lei nº 8.884/94, de 11 de junho de 1994. Essa lei propõe o sistema atual de defesa da concorrência (controle de estrutura e conduta), que é composto dos seguintes órgãos: • Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) – ligado ao Ministério da Justiça. • Secretaria de Direito Econômico (SDE) – também ligado ao Ministério da Justiça. • Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) – ligado ao Ministério da Fazenda. A Lei nº 8.884/94 prevê que esses órgãos analisem todas as práticas anticompetitivas que ocorrem em território nacional. Ao Cade é reservada a análise das ações anticompetitivas apresentadas no quadro a seguir: Quadro 4 Horizontais Verticais Condutas Acordo de preços entre competidores Exclusividade na distribuição Atos de concentração Fusão entre concorrentes Aquisição, pelo produtor, do fornecedor de matéria-prima De acordo com a Lei nº 8.884/94, os atos de concentração deverão ser notificados quando: • O market share resultante for superior a 20% do mercado relevante. 140 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II • Uma das empresas envolvidas apresentar um faturamento bruto maior ou igual a R$ 400 milhões. A operação de concentração horizontal ou vertical poderá ser aprovada pelos órgãos de defesa da concorrência se ocorrer compromisso de desempenho ou se ela produzir benefícios como: • Aumento de produtividade. • Melhoria da qualidade de bens e serviços. • Incremento da eficiência e do desenvolvimento econômico e tecnológico. O procedimento adotado pelos órgãos brasileiros de defesa da concorrência para a análise de atos de concentração consta de cinco etapas principais, ilustradas na figura a seguir: ETAPA I Há impacto estrutural? ETAPA II Há efeitos notoriamente nocivos? ETAPA III Há barreiras à entrada tempestiva, possível e suficiente? ETAPA IV Há eficiências compensatórias? ETAPA V Há razões de bem comum? Definição do mercado relevante Há parcela substancial de mercado? Exercício de poder de mercado é provável? Eficiências Custo do exercício de poder de mercado é maior do que as eficiências geradas? SIM SIM SIM NÃO NÃO NÃO % de mercadoo exercício unilateral de poder de mercado. Na avaliação sobre o exercício coordenado de poder de mercado, entram as avaliações de estrutura, para a averiguação da existência de condições que possibilitem essa prática. 8.3 Fundamentos de regulação econômica Regulação refere-se à limitação imposta sobre a decisão discricionária dos indivíduos ou organizações, garantida pelo poder de sanção e/ou coerção. A intervenção do Estado no intuito de regular os mercados pode ocorrer de duas formas: • Direta: a partir da utilização de propriedades públicas. • Indireta: a partir da regulação dos mercados. 142 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II Observação Regulação econômica refere-se a substituição dos mecanismos de mercado, metas mais amplas, como universalização dos serviços, integração regional e proteção ambiental, e depende de ações contínuas. Trataremos agora da forma de intervenção indireta dos governos no mercado. De um modo geral, a teoria econômica identifica duas situações nas quais a intervenção governamental poderia levar a resultados superiores em termos de bem-estar em relação à solução de equilíbrio competitivo: a ocorrência de monopólios naturais e a existência de externalidades. 8.3.1 Monopólios naturais Determinado mercado é caracterizado como monopólio natural quando, em um nível de produção socialmente ótimo, os custos da indústria são minimizados contando apenas com uma firma. Na prática, a produção de um bem ou serviço em particular é realizada de tal forma que minimiza o custo médio de produção da indústria. Ou seja, se a oferta de dado volume de produção em certo mercado fosse realizada por várias empresas, a soma dos custos de produção delas seria superior aos custos que uma eventual firma monopolista teria ao oferecer sozinha a mesma quantidade que todas as outras firmas produziriam. Lembrete O monopólio natural ocorre quando uma empresa é capaz de produzir a quantidade total ofertada por uma indústria a um custo inferior ao de várias empresas. O monopólio natural, portanto, surge nos mercados em que ocorrem grandes economias de escala. Logo, para o caso de uma única firma, se os custos médios de longo prazo são declinantes para todas as quantidades, o custo de produzir qualquer quantidade é minimizado por termos uma única firma produzindo o produto. Nesse caso, o mercado é um monopólio natural independentemente da demanda de mercado. Se uma empresa tem o monopólio natural de um setor, é mais prático deixar que ela sirva sozinha a esse mercado do que deixar outras entrarem para competir. Formalmente, suponha que CMe(q) é o custo médio associado com a produção de certa quantidade q. Esse mercado se caracterizaria como um monopólio natural se: CMe q CMe q CMe q q1 1 2 2 1 1 2 (7.13) 143 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Em que q1 e q2 representam dois níveis de produção dados e q1 + q2 é a produção total do setor. Logo, se duas firmas diferentes produzirem q1 e q2 e o custo médio desse nível de produção for superior ao que uma empresa teria se produzisse todas as unidades sozinha, teremos uma situação propícia à existência de monopólio natural. Essa função de custo médio (7.13) é conhecida como subaditiva e é ilustrada no gráfico a seguir: $ CMe(q1) CMe(q2) CMe(q1 + q2) 0 q1 q2 C B A q CMe(q) q1 + q2 Figura 34 – Função de custo médio subaditiva A função de custo subaditiva pode caracterizar a existência de significantes economias de escala. Esse é o caso em que o nível tecnológico existente impõe grandes custos fixos e baixos custos marginais, e assim o intercepto das curvas de custo marginal e de demanda fica abaixo da curva de custo médio. Esse fato é demonstrado na figura que se segue: 144 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II $ PM PMN PCP 0 RMg(q) qM qMN qCP D(q) CMg(q) CMe(q) Fixando-se o preço máximo em PMN, obtém-se maior nível possível de produção, o lucro é zero e CMe = RMe Lucro de monopólio na ausência de regulação Prejuízo quando P = CMg q Figura 35 – Regulamentação de mercado em monopólio natural Em primeiro lugar, façamos uma análise do monopólio tradicional. De acordo com essa figura, um monopólio irá produzir a quantidade qM ao preço pM. Nesse ponto, em que o custo marginal cruza com a receita marginal, dá-se a maximização do lucro do monopolista. Constata-se que a quantidade qM é bastante baixa, e o preço pM, por outro lado, é consideravelmente elevado. Com isso, há uma piora no bem-estar da sociedade em relação ao que ela poderia obter se a produção se desse em seu nível ótimo, de concorrência perfeita, indicado pelo par que representa a quantidade qCP e o preço pCP. Observa-se ainda que o preço PCP é muito inferior ao preço de monopólio e que a quantidade qCP é muito maior do que a quantidade de monopólio. No ponto de competição perfeita, ocorre um prejuízo para a empresa, indicado pela área do retângulo destacado de verde na figura. Os monopólios naturais costumam ser regulados ou operados pelo governo. Quando atua como regulador, o governo pode reduzir o poder de mercado dos monopólios a partir de instrumentos de controle de preços. A autoridade reguladora, por exemplo, pode forçar o monopólio a operar no ponto em que o preço iguala o custo marginal, PCP = CMg, o que não cobriria seus custos representados pela área de prejuízo na figura anterior, e o monopólio abandonaria o negócio. O método mais utilizado para regulamentar monopólios naturais é o average cost pricing, ou seja, o preço fixado ao nível do custo médio. Na figura anterior, essa produção pode ser visualizada ao preço PMN e à quantidade qMN. A empresa que produz nesse nível não obtém lucro extraordinário, mas também não incorre em prejuízo, ou seja, os custos são cobertos, mas a produção fica abaixo do nível eficiente. A sociedade, por outro lado, teria a perda de bem-estar reduzida pelo fato de poder contar com uma produção maior a um preço mais baixo do que o que vigoraria no caso de um monopólio tradicional. 145 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Em geral, o controle de preços pode ser efetuado de várias maneiras. Uma delas é a imposição de uma limitação sobre o valor nominal do preço, também conhecida como fixação de um preço-teto (ou price cap). Uma forma usual de controle de preços via preço-teto é a aplicação de limitadores sobre a taxa máxima de reajuste permitida para determinado serviço. Por exemplo, no Brasil, frequentemente utiliza-se a regra de reajuste de preços a partir de um índice de inflação (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna [IGP-DI], Índice Geral de Preços do Mercado [IGP-M] ou Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo [IPCA]) descontado de um fator atribuído pela agência reguladora. Uma das formas de controle de preços mais usadas, principalmente nos marcos regulatórios executados nos Estados Unidos, é a limitação da taxa de retorno sobre o capital (R). Nesse caso, a agência reguladora pode controlar os preços indiretamente a partir de outras variáveis econômicas fixadas pelas firmas, que não o preço ou a quantidade produzida. De maneira específica, é calculado um índice no qual: R RT wL rK p KK Em que RT denota o faturamento total derivado da venda dos vários produtos oferecidos pela firma regulada, wL representa o custo com mão de obra (L) a uma taxa de salário (w) e rK é o custo de utilização do capital (K) empregado na produção e ponderado pela taxa de utilização de capital (r). O denominador PKK representa o valor do estoque de capital instaladoda firma, em que Pk é o preço unitário de cada unidade instalada. A variável PKK também pode ser entendida como o custo de oportunidade do investimento dos proprietários. De posse dessas informações, a agência reguladora pode agir estipulando valores para a variável R, que representa a taxa de retorno sobre o capital. Por esse critério, os preços devem remunerar os custos totais e conter uma margem que proporcione uma taxa de retorno positiva aos investidores. Lembrete Como o índice de monopólio de Bain, a taxa de retorno sobre o capital representa um índice de lucratividade, pois ambos os indicadores relacionam as receitas auferidas pela firma e subtraem os custos envolvidos na produção. Além do controle de preços, existem outros métodos de regulamentação de monopólios naturais. O governo também pode obrigar a empresa monopolista a atuar com níveis de preço e produção diferentes dos de um monopólio através da imposição de uma tarifa (sistema conhecido como marginal cost pricing with lump taxes). Outro método de regulamentação de monopólios naturais é a utilização do sistema de tarifa em duas partes (two-part tariff), em que é cobrada uma taxa de ingresso a quem desejar adquirir o bem. Em qualquer um dos casos, a regulamentação torna-se necessária para cobrir o prejuízo imposto à sociedade. 146 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II Além de poder regular monopólios naturais, o governo pode operá-los. Quando o governo opera o monopólio, ele cobra um preço igual ao custo marginal, PMN = CMg, e compensa o prejuízo com um subsídio fixo. São exemplos de monopólio natural operado pelo governo o transporte público de ônibus e de metrô. Muitos monopólios fazem parte dos serviços chamados de utilidade pública. Alguns exemplos são a transmissão e distribuição de energia elétrica e o fornecimento de água encanada e do sistema de esgotos. A grande maioria deles é formada por monopólios naturais, pois as empresas que os fornecem incorrem em situações de mercado em que há significativas economias de escala, de modo que apenas uma empresa é capaz de suprir a demanda pelo produto ou serviço, com custos inferiores aos que existiriam se houvesse mais de uma empresa atuando nesses mercados. Em setores como o de fornecimento de gás, a construção (e manutenção) de gasodutos envolve custos fixos altos, enquanto bombear gás para dentro de um gasoduto já pronto (custo marginal) custa muito pouco. Em empresas de telefonia, há um alto custo na instalação de fios e redes de comutação, mas um baixo custo em uma unidade extra de serviço telefônico. Exemplo de aplicação Precificação avançada no setor de energia elétrica O setor de energia elétrica se divide em dois segmentos principais: geração e distribuição. No segmento de distribuição atuam empresas como a Eletropaulo, que administram os postes e fios que transportam a energia até os consumidores finais. Já empresas de geração de energia, como Furnas, são proprietárias das usinas hidrelétricas ou termelétricas, que produzem a energia. O setor de distribuição pode ser considerado um monopólio natural. Em países onde esse setor é predominantemente controlado por empresas privadas, como o Brasil, os preços que o monopolista pode cobrar são normalmente regulados pelo governo. Já o setor de geração não é – por natureza – um monopólio natural. No Brasil, esse setor torna-se cada vez mais competitivo à medida que empresas privadas começam a concorrer com as tradicionais empresas estatais, como Eletrobras e Cemig. A Eletropaulo é a empresa responsável pela distribuição de energia na cidade de São Paulo, vendendo o produto no “varejo” para consumidores finais, como residências e indústrias. Suponha que a curva de demanda por energia elétrica em São Paulo possa ser descrita pela seguinte equação: P = 350 - 0,05Q Por sua vez, a função de custo total para a distribuição de energia elétrica é: CT = 100.000 + 150Q Em que o preço (P) é dado em reais por megawatt-hora (MWh) e a quantidade (Q) em milhares de MWh por mês. 147 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA a) Calcule o preço e a quantidade que seriam praticados se a empresa operasse em um mercado de perfeita competição. Resolução Para um mercado de perfeita competição, o preço deve ser igual ao custo marginal, P = CMg. Como: CMg CT Q 150 Portanto, P = 150. Substituindo esse resultado na função de demanda: 150 350 0 05 4 000 – , . Q Q Ou seja, a quantidade demandada de energia elétrica em São Paulo será de 4.000.000 de MWh por mês. b) A Eletropaulo, entretanto, é um monopólio. Suponha que o governo não controle o preço cobrado pela concessionária. Calcule o preço e a quantidade com que a empresa monopolista maximizaria seu lucro, assumindo que a empresa cobre um único preço de todos os consumidores. Resolução Para um monopólio, a maximização de lucro ocorre onde a receita marginal é igual ao custo marginal. A receita marginal da empresa é dada por: RT PQ Q Q RMg RT Q Q 350 0 05 350 0 1 – , , Fazendo RMg = CMg, a fim de chegar ao lucro máximo, temos: 350 0 1 150 2 000 , . Q QM Portanto, a empresa produz 2.000.000 de MWh por mês. Usando-se a curva de demanda dada pelo enunciado, o preço a ser praticado será: 148 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II P PM 350 0 05 2 000 250 – , . $ Como o preço será de R$ 250 e a quantidade vendida de 2.000, para calcular o lucro, basta fazer: RT CT 250 2 000 100 000 150 2 000 100 000 . . . . c) Sabendo que se trata de um monopólio natural, o governo, por meio da agência reguladora do setor, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), estabelece regras regulamentando o preço que a empresa pode cobrar através de um sistema de preço-teto. Supondo que o governo queira maximizar a eficiência econômica (ou seja, minimizar o peso morto), qual preço-teto o governo irá estabelecer? (Assuma que seria um único preço para todos os consumidores.) O governo conseguirá eliminar o peso morto nesse caso? Resolução O governo não consegue eliminar o peso morto de um monopólio natural. Isso acontece porque, por definição, um monopólio natural tem custo total médio sempre decrescente (ou economia de escala). Para que ocorra um monopólio natural, portanto, o custo marginal deve ser menor do que o custo total médio para qualquer quantidade. Assim, se o governo fizer P = CMg para zerar o peso morto, mas CMgregulado será de: PR 350 0 05 3 414 21 179 29, . , $ , Observe que o preço regulado é inferior ao preço de monopólio, mas superior ao preço que vigoraria em competição perfeita: P P PM R 250 179 29 150, 8.3.2 Externalidades Externalidades são ações de algum indivíduo ou empresa que impõem custos (ou benefícios) a outro indivíduo ou empresa. Quando a ação de um agente gera custos a outrem, temos uma externalidade negativa. Quando a ação gera um benefício, temos uma externalidade positiva. Observação Externalidades ocorrem quando a ação de um agente econômico afeta o bem-estar de outro agente econômico. Há externalidade de consumo se um consumidor é afetado pelo consumo de outro ou pela produção de uma empresa. São exemplos de externalidade de consumo negativa a poluição e o trânsito produzidos pelos automóveis. Um exemplo de externalidade de consumo positiva é ter prazer em observar as flores e a vegetação no jardim cuidado pelo vizinho. 150 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II Uma externalidade na produção de um bem ou serviço acontece quando as possibilidades de produção de uma empresa são afetadas pelas escolhas de outra empresa ou consumidor. Um exemplo de externalidade de produção negativa é a situação em que uma empresa de pesca é afetada por poluentes jogados por outras empresas ou consumidores na área de pesca. Um exemplo de externalidade de produção positiva é um pomar de maçãs localizado próximo a uma colmeia, que gera uma produção adicional de mel. O aspecto mais importante das externalidades é a existência de bens que não são vendidos em mercados. Por exemplo, não há mercado para poluição ou para trânsito; ambos são resultado da produção e do consumo de bens que geram externalidades negativas. É essa falta de mercados para externalidades que causa a falha de mercado. No modelo básico de externalidades, conhecendo suas próprias possibilidades de consumo ou produção, cada agente econômico toma decisões sem se preocupar com o que os outros estão fazendo. Eles interagem apenas quando existe mercado e toda a informação necessária é dada pelos preços de mercado. O mecanismo de mercado, entretanto, deve levar a alocações eficientes de Pareto, já que nessa situação não ocorrem externalidades. Porém, se cada consumidor ou produtor se importar com o consumo ou com a produção dos outros, ocorrerão externalidades e não se chegará a alocações eficientes de Pareto. Assim, o governo ou o sistema legal deve contribuir para que se atinja o maior nível de eficiência. Para entender de maneira mais completa as consequências das externalidades, podemos considerar o setor de telecomunicações. As atividades de telecomunicações (telefonia fixa, telefonia móvel, serviços de internet, TV a cabo etc.) são um exemplo de externalidade no consumo, pois a natureza desse serviço envolve a comunicação entre um grande número de usuários. Formalmente, esse tipo de indústria apresenta externalidades de rede. Lembrete Externalidade de rede é definida como aquela em que a utilidade derivada de consumir um produto é afetada pelo número de pessoas que usam produtos similares ou compatíveis. O benefício primário para um novo assinante de telefonia celular é igual à capacidade que ele tem de receber e efetuar chamadas. No entanto, essa decisão de se juntar à rede de assinantes afeta outros agentes, que agora têm o benefício de poder fazer chamadas para esse novo assinante, bem como receber as chamadas dele. Como resultado, o benefício social decorrente da adição desse assinante é muito maior do que somente o benefício primário. Pode-se entender o bem-estar para a sociedade como a soma do benefício individual com os benefícios que todos os outros assinantes da rede terão por poder ligar para esse novo assinante. Isso pode ser entendido melhor com a ajuda do gráfico a seguir: 151 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA $ P* PS 0 qP qS q CMg(q) Peso morto Benefício marginal (BMg) Curva de demanda (D) Figura 36 – Externalidades de rede na telefonia celular Nessa figura, a curva de demanda (D) representa justamente o benefício para a sociedade decorrente do número de assinantes que acessam os serviços de telefonia celular. Por outro lado, a curva de benefício marginal (BMg) denota o ganho que cada assinante individual auferiria com a sua decisão de se juntar à rede. Em uma solução de mercado livre, com CMg = BMg, a empresa de telefonia celular cobraria dos assinantes somente o custo marginal – o que está denotado por P* no gráfico. No entanto, a esse preço, a quantidade de assinantes disposta a se juntar à rede é apenas qP. Para que a quantidade de assinantes fosse a socialmente ótima qS*, o preço cobrado por assinante deveria ser PS. A esse preço, porém, a empresa prestadora do serviço também não obteria lucro. O ótimo social, qS*, pode ser alcançado com um subsídio governamental. O subsídio ótimo por assinante pode ser definido pela diferença entre o preço recebido pelas empresas de telefonia (P*) e o preço pago pelos consumidores (PS) no ponto em que a quantidade é socialmente eficiente (qS). O subsídio ótimo elimina a perda de peso morto que surgiria sem ele. Esse tipo de argumentação fundamenta o uso das metas de universalização de serviços telefônicos atualmente vigentes. Exemplo de aplicação Taxas de emissão Um estudo científico sobre gases de efeito estufa na atmosfera mostrou as seguintes informações sobre os benefícios e os custos de emissão de dióxido de enxofre: • Benefícios da redução da emissão: BMg = 500 - 20Q • Custos da redução da emissão: CMg = 200 + 5Q 152 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II Em que Q é a quantidade reduzida de poluente em milhões de toneladas. Os benefícios e os custos são medidos em US$/tonelada. a) Qual o nível socialmente eficiente de redução da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera? Resolução O nível socialmente eficiente de redução de emissão de poluentes ocorre no ponto em que o benefício marginal iguala o custo marginal, BMg = CMg. Assim: 500 20 200 5 12 Q Q Q Portanto, no nível socialmente ótimo, a redução de emissão de poluentes deveria ser igual a 12 milhões de toneladas. b) Quais são os benefícios e os custos marginais da redução nos níveis socialmente eficientes? Resolução Como Q = 12, substituindo esse resultado nas funções relativas a BMg e CMg, encontramos, respectivamente: BMg CMg 500 20 20 260 200 5 20 260 Ou seja, a redução da poluição ao nível de 12 milhões de toneladas iguala o benefício ao custo marginal social. c) O que ocorre com os benefícios sociais líquidos quando o governo impõe uma taxa de emissão que reduz o lançamento de poluentes a 1 milhão de toneladas acima do nível eficiente? Resolução O benefício social líquido é a diferença entre benefícios e custos. Esse resultado é representado no gráfico a seguir: 153 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA 500 280 265 260 255 240 200 $ 0 A B C D E 11 12 13 25 Q Benefício marginal (BMg) Custo marginal (CMg) Figura 37 O benefício social líquido é a área abaixo da curva de benefício marginal menos a área sob a curva de custo marginal. No nível socialmente eficiente de redução de poluentes, o benefício social líquido (BSL) é igual à área A + B + C + D na figura, ou seja: BSL 1 2 500 200 12 1 800$ . Logo, o benefício social líquido da redução de poluentes equivale a $ 1.800.000. Se a taxa de emissão for reduzida a 1 milhão de toneladas de poluentes acima do mínimo eficiente,de Porter inicia-se com a ideia de que a rentabilidade da empresa é determinada pela ameaça de substitutos. De acordo com o modelo, quanto maior a fidelidade à marca, menor o poder de bens substitutos e, consequentemente, maior a lucratividade da empresa. Por outro lado, quanto mais distantes do mercado relevante da firma estiverem os fornecedores de bens substitutos, menos o preço reagirá à demanda e a margem de lucro tenderá a aumentar. A segunda força determinante da lucratividade é a ameaça de novos entrantes, ou seja, de concorrentes potenciais. Quanto maiores forem as barreiras à entrada, mais lucrativa será uma empresa. Tais barreiras podem surgir a partir de custos de capital elevados, economias de escala (ou vantagem absoluta de custos), fidelidade à marca (diferenciação objetiva do produto) e acesso exclusivo a canais de distribuição. Cada um desses elementos dificulta substancialmente a entrada de potenciais concorrentes. A rentabilidade da firma também pode ser determinada pelo poder de negociação de compradores e fornecedores. Os compradores, por exemplo, podem ser altamente concentrados, o que aumenta o poder de negociação deles, resultando assim em menores margens de lucro. Fornecedores exclusivos também podem reduzir a lucratividade de determinada atividade. Além disso, o poder relativo de compradores 86 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II e fornecedores na cadeia de valor pode aumentar devido a falta de suprimento, estoques esgotados e ambiente de produção que envolve pedidos não processados. A firma, por sua vez, deve buscar reduzir o poder de barganha de compradores e fornecedores (procurando novas alternativas ou integrando verticalmente a indústria), de modo a aumentar a rentabilidade do setor. A última opção para sustentar a lucratividade da firma em alta é evitar grandes rivalidades e manter relações próximas e cooperativas com os concorrentes. A intensidade da rivalidade em determinado mercado relevante depende de diversos fatores, como concentração do setor, grau de concorrência via preços, presença de barreiras à saída, taxa de crescimento do setor e rigidez de custos. Observação Rigidez de custos é a manutenção de uma relação percentual estável entre custos fixos e custo total na estrutura típica de custos da firma. As margens de lucro tendem a ser maiores quando a relação custo fixo/custo total é elevada. Normalmente, a rivalidade é evitada quando uma firma deixa de concorrer via definição de preços para concorrer em outras modalidades – por exemplo, qualidade do serviço, tecnologia, conforto, pós-vendas etc. Saiba mais O professor Michael Porter, da Harvard Business School, é atualmente a principal autoridade em estratégia competitiva. Ele recomendou três tipos de estratégia de negócios, além da venda a preços baixos, para conquistar maior participação de mercado e se proteger da ameaça de concorrentes: baixo custo, segmentação de mercado e diferenciação de produto. Leia mais a respeito em: PORTER, M. Competitive strategy: techniques for analyzing industries and competitors. New York: The Free Press, 1980. Exemplo de aplicação Concorrência via preços versus concorrência não relacionada a preços no setor aeroviário Muitas vezes, a concorrência por outras modalidades que não o preço reflete a diferenciação do produto disponível. Por outro lado, a incidência de concorrência via preços pode ser determinada pela estrutura de custos prevalecente no setor em que se dá a disputa. Se os custos fixos forem elevados (relativamente ao custo total), a firma deverá captar clientes adicionais para cobrir esses custos. 87 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Dessa forma, para obter uma maior parcela de mercado, a firma deverá oferecer descontos cada vez maiores, reduzindo sua margem bruta. Esse é o caso, por exemplo, do setor aeroviário, cuja margem bruta consideravelmente alta reflete os enormes custos fixos envolvidos no arrendamento de aviões e das instalações aeroportuárias. Considere a seguinte análise da alteração de venda no ponto de equilíbrio de uma empresa aérea que procura aumentar sua participação no mercado através da redução em 10% (1 - 0,1 = 0,9) no preço das passagens (P0). Nesse caso, temos: P CMg Q P CMg Q P CMg Q P CMg Q Q 0 0 0 1 0 0 0 0 0 9 0 9 , , Em que Q0 e Q1 representam, respectivamente, as quantidades antes e depois da decisão de aumentar a participação de mercado, CMg é o custo marginal da firma e P0 é a receita média unitária. A receita menos o custo variável (medido por CMg x Q) representa a contribuição total. Se a firma deseja aumentar sua participação, ela deve aumentar suas contribuições totais concomitantemente a um desconto de 10% em seus preços. Se o desconto for bem-sucedido no aumento da contribuição total, a variação nas vendas (∆Q) deverá ser suficientemente grande para compensar a redução de 10% na receita média. Rearranjando os termos da inequação anterior e fazendo a divisão em ambos os lados por P0, obtemos: P CMg Q P P CMe P Q Q P CMg Q P P CMg 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 9 , PP P P Q Q MPC Q MPC Q Q 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 , , Em que MPC é a margem de lucro, ou a margem preço-custo, ou ainda a margem de contribuição da firma. Façamos, agora, a seguinte alteração no último resultado: MPC MPC Q Q Q MPC MPC Q Q 0 1 0 1 1 0 0 0 , , Assim, poderemos efetuar simulações de quanto deve ser o aumento nas vendas para sustentar determinada margem de contribuição definida a priori. Por exemplo, uma margem de contribuição de 80% implicaria um aumento de vendas mínimo de 14,3% para justificar um desconto de 10% nos preços, ou seja: 88 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II 0 8 0 8 0 1 1 1143 1 0 143 14 3 0 0 0 , , , , , , % Q Q Q Q Q Q ou 5.2 Estratégia do preço-limite Vimos que uma das formas de manutenção ou ampliação de poder de mercado depende da instituição de barreiras à entrada de potenciais concorrentes. Há, no entanto, algumas questões centrais na literatura de prevenção estratégica à entrada. São elas: • Como as firmas incumbentes podem afetar a decisão de entrada de uma potencial concorrente? • Se as incumbentes podem influenciar a decisão de entrada, como isso afeta o comportamento das firmas incumbentes? • Se a entrada de uma nova rival não for verificada, a ameaça de entrada incentivará as firmas incumbentes a agir de maneira mais competitiva? Um dos principais modelos que procuraram responder a essas questões é o de preço-limite, que é o uso de preços pelas firmas estabelecidas para impedir a entrada de concorrentes na indústria. Veremos, na sequência, como essa estratégia pode ser posta em ação. 5.2.1 Modelo Bain-Sylos O primeiro modelo de preço-limite estabelecido na teoria econômica foi o de Bain-Sylos, desenvolvido de forma independente por Bain (1956) e Sylos-Labini (1969), e reproduzido por Viscusi, Vernon e Harrington (2005). A hipótese central desse modelo ficou conhecida como postulado de Bain-Sylos. Observação Postulado de Bain-Sylos: um entrante acredita que, em resposta à sua entrada (ou ameaça à entrada), cada firma incumbente continuará produzindo na mesma taxa de produção pré-entrada da nova firma. 89 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA O postulado de Bain-Sylos pode ser entendido a partir da visualização do gráfico a seguir: 0 C D B’ q”0o benefício social líquido será igual à área A + B + C + D - E, ou seja: BSL 1 800 1 2 265 240 1 1 787 5. $ . , Portanto, quando a redução de poluentes fica acima do nível eficiente, o benefício social líquido cai para $ 1.787.500. d) O que ocorre com os benefícios sociais líquidos quando o governo impõe uma taxa de emissão que reduz o lançamento de poluentes em 1 milhão de toneladas abaixo do nível eficiente? Resolução Se a política pública reduzir o lançamento de poluentes em 1 milhão de toneladas abaixo do nível eficiente, o benefício social líquido será igual à área A + B na figura anterior. Logo: 154 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II BSL 1 2 500 280 11 280 260 11 1 2 255 200 11 2600 255 11 1 787 5 $ . , Ou seja, o resultado, em termos de bem-estar, será o mesmo que uma redução além do nível eficiente. e) Por que é socialmente eficiente estabelecer benefícios marginais iguais aos custos marginais em vez de reduzi-los até que o benefício total se iguale ao custo total? Resolução Torna-se socialmente eficiente estabelecer BMg = CMg, em vez de benefício total (BT) igual a custo total (CT), porque desejamos maximizar os benefícios líquidos, ou seja: Benef cios L quidos BT CT BT Q CT Q BMg CM Q BMg CMg í í max 0 gg Portanto, maximizar o benefício líquido total seria análogo a escolher o ponto em que o benefício marginal social iguala o custo marginal social. Nesse caso, como os recursos financeiros são escassos, estes devem ser alocados apenas para a redução dos poluentes, desde que o benefício da última unidade de redução seja maior ou igual ao custo da última unidade de redução. 8.4 Regulação no Brasil De modo geral, os setores econômicos de infraestrutura (energia elétrica, telecomunicações, petróleo e gás, transportes etc.) têm características que os tornam candidatos a monopólios naturais. Em primeiro lugar, esses setores exigem grandes investimentos, principalmente em capital e em execução de projetos com longo prazo de maturação. Em segundo lugar, esses investimentos podem gerar importantes externalidades positivas (ação sobre o meio ambiente, transbordamento de tecnologia, crescimento econômico de outros setores etc.) e significativos custos irrecuperáveis. Em terceiro lugar, no Brasil, esses serviços estão sujeitos à obrigação jurídica de fornecimento. Observação Como exemplos de externalidade positiva decorrente de serviços de infraestrutura, podemos citar a melhoria da qualidade de vida em face dos investimentos em geração e distribuição de energia elétrica, 155 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA a universalização dos serviços de telecomunicações e transportes e a melhoria de saúde da população com o aumento de investimentos em saneamento básico. Com a primeira onda de privatizações ocorrida no Brasil nos anos 1990, houve o fim dos monopólios estatais nas áreas de energia, telecomunicações e gás canalizado, além da permissão para que outras empresas operassem na exploração e extração de petróleo. A reestruturação desses setores de infraestrutura, como resultado da substituição do Estado pela iniciativa privada, exigiu o desenvolvimento de novos marcos regulatórios. Observação Privatização é a transferência de propriedade do setor público para o setor privado. As principais características da desregulamentação, fruto da quebra dos monopólios estatais e das privatizações, foram: • A separação entre funções de suprimento e regulação dos serviços. • A criação de agências reguladoras com maior autonomia. • A abertura comercial, com redução significativa das alíquotas de impostos de importação. • Substituição do controle de preços (via Superintendência Nacional do Abastecimento [Sunab] ou Conselho Interministerial de Preços) pela instituição de políticas de defesa da concorrência (via Cade, SDE e Seae). As agências reguladoras brasileiras, criadas para aprimorar a governança regulatória, sinalizaram o compromisso dos legisladores de não interferir no processo regulatório e tranquilizaram os investidores potenciais e efetivos quanto ao risco, por parte do poder concedente (o governo), de não cumprimento dos contratos administrativos, além de reduzirem o risco regulatório e os ágios sobre os mercados financeiros. As principais agências reguladoras federais do setor de infraestrutura são as seguintes: • Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), criada em 1997. • Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), criada em 1997. • Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), criada em 1997. • Agência Nacional de Águas (ANA), criada em 2000. • Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), criada em 2001. 156 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II • Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), criada em 2001. • Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), criada em 2005. O modelo das agências reguladoras brasileiras apresenta algumas características dos modelos utilizados nos Estados Unidos e na França. São características e instrumentos das agências regulatórias: • Mandato fixo dos gestores (independência): indicado pelo Poder Executivo e aprovado pelo Poder Legislativo. • Independência orçamentária. • Independência decisória. No Brasil, as agências reguladoras, assim com as demais entidades da administração pública que exercem o poder de polícia, integram o Poder Executivo. Têm personalidade jurídica própria, natureza de autarquia e executam atividades típicas ou exclusivas da administração pública que, para seu melhor funcionamento, requerem gestão administrativa e financeira descentralizada. O grau de autonomia é característica indissociável desse tipo de instituição. Por lei, as agências reguladoras são classificadas como autarquias especiais, em face dos atributos de autonomia administrativa e financeira diferenciada e mandato fixo para seus dirigentes. A maioria das agências reguladoras foi criada a partir de estruturas preexistentes na administração pública. Por exemplo, a Anatel aproveitou-se da estrutura do antigo Departamento Nacional de Telecomunicações (Dentel); a ANP, do Departamento Nacional de Combustíveis (DNC); e a Aneel, do Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE). Em alguns casos, na ausência de órgãos reguladores preexistentes, a herança institucional preservou relações de dependência com as entidades reguladas que estavam presentes no antigo modelo. As agências reguladoras dos setores de infraestrutura foram criadas com o objetivo de proporcionar um ambiente que atraia os investimentos privados, especialmente para a modernização e expansão dos diversos segmentos, e promova um aumento de bem-estar para os consumidores. Para atender esses objetivos, é fundamental que as agências utilizem os instrumentos regulatórios adequados (controle de entrada e saída, controle de preços, regulação da conduta das empresas, coibição ao exercício de poder econômico etc.). Desse modo, serão criados incentivos para o alcance da eficiência produtiva, a elevação da produtividade e o cumprimento dos contratos de concessão. Resumo Nesta unidade, vimos uma introdução a diversos tipos de análise sobre as práticas do exercício de poder de mercado por parte das firmas e as formas como o Estado tenta limitar essas ações. Tratamos da prevenção estratégica à entrada com o objetivo de maximizar o lucro dos acionistas. As estratégias 157 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA abordadasforam as seguintes: estratégias competitivas e o modelo das cinco forças de Porter; a estratégia do preço-limite baseada na hipótese Bain-Sylos; o modelo de Dixit de prevenção à entrada; e os modelos de contestabilidade como explicação para a existência de barreiras à saída. Na sequência, o estudo da integração vertical de uma indústria mostrou como uma firma pode se estabelecer em diversos estágios da cadeia produtiva – por exemplo: a extração de matérias-primas, o processamento, a distribuição e o fornecimento dos produtos aos mercados finais. Nesse caso, a integração vertical de determinado mercado relevante torna os diferentes processos produtivos, que poderiam ser realizados separadamente por diversas firmas, passíveis de serem operados por uma única firma, com o intuito de maximizar o lucro e exercer poder de mercado. Na análise sobre concentração horizontal, vimos que as fusões ou aquisições, ou seja, a integração de duas ou mais empresas distintas que se posicionam no mesmo elo da cadeia produtiva, podem servir como prevenção ou barreira à entrada. As firmas se valem desse processo para obter ganhos de eficiência – que podem decorrer, por exemplo, da exploração de economias de escala ou de escopo e da redução da incerteza – e aumento do poder de mercado – podendo levar à monopolização do mercado. O resultado final das fusões e aquisições poderá trazer reflexos positivos para a sociedade se os ganhos de eficiência forem o efeito dominante. Por outro lado, a integração horizontal poderá representar uma perda de bem-estar se o exercício de poder de mercado elevar o preço, sem redundar em ganhos de eficiência. Por fim, foram apresentadas as razões e a forma pelas quais os governos podem utilizar o seu poder de coerção para afetar o processo de decisão dos agentes econômicos que atuam no sentido de provocar um aumento significativo de poder de mercado. Utiliza-se a legislação antitruste para proibir acordos explícitos entre oligopolistas. Essa legislação, além disso, deve impedir que ações anticompetitivas tornem-se possíveis, considerando ilegais os atos de agentes econômicos que procuram restringir o comércio ou a tentativa de monopolização do mercado. No Brasil, a base legal do controle de fusões é definida pela Lei nº 8.884, de 11 de junho de 1994, que instituiu, entre outros órgãos reguladores, o Cade. Outra forma de controle da atuação do mercado é a regulação econômica. Essa ação do Estado refere-se à criação de marcos regulatórios que regem a substituição dos mecanismos de mercado, estabelecem metas mais amplas (como a universalização de serviços, a integração regional e a proteção ambiental) e dependem de ações contínuas. Normalmente a regulação tenta controlar as ações de monopólios naturais e cria formas de internalizar para a sociedade as externalidades positivas. As principais agências reguladoras federais 158 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II brasileiras (por exemplo, a Aneel, a Anatel e a ANP) estabelecem mecanismos de controle e fiscalização de empresas do setor de infraestrutura, tradicionalmente classificadas como monopólios naturais. Exercícios Questão 1. (Cespe 2006) No que diz respeito às estruturas de mercado, assinale a alternativa correta: A) No modelo de Porter, em qualquer indústria, as regras da concorrência estão englobadas em cinco forças competitivas: a entrada de novos concorrentes, a ameaça de substitutos, o poder de negociação dos compradores, o poder de negociação dos fornecedores e a rivalidade entre as empresas concorrentes. B) Os novos padrões de concorrência internacional, por acentuarem a importância do comércio de bens e serviços e da inovação tecnológica, como fontes de sustentação do desempenho exportador das economias nacionais, levaram ao aumento da eficácia dos instrumentos convencionais de política comercial, como tarifas e quotas. C) Em cadeias produtivas de commodities, a competitividade é estabelecida, unicamente, pela diferenciação dos produtos, que permite lucratividade para os segmentos da cadeia produtiva, mesmo quando os preços dos produtos são baixos. D) A competitividade é uma característica intrínseca da empresa, pois advém de fatores internos que podem ser controlados pelas firmas. E) As vantagens competitivas derivam dos fatores de produção tradicionais, como o capital e a mão de obra, e portanto não levam em conta o capital intelectual das empresas, incluindo-se aí o capital humano. Resposta correta: alternativa A. Análise das alternativas A) Alternativa correta. Justificativa: essa é a sucinta explicação para o modelo de cinco forças de Porter sobre as estratégias competitivas. B) Alternativa incorreta. Justificativa: os novos padrões de concorrência internacional, além de introduzir o papel do avanço tecnológico, também buscam diminuir a imposição de barreiras às exportações, como tarifas e quotas no comércio de bens e serviços. 159 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA C) Alternativa incorreta. Justificativa: no mercado de commodities, a característica dos produtos é sua homogeneidade; assim, a diferenciação ocorre com mais recorrência no mercado de bens industrializados e nos serviços. D) Alternativa incorreta. Justificativa: a competitividade de uma empresa pode ter relação com fatores internos e fatores externos a ela; os externos não são controlados pela empresa. E) Alternativa incorreta. Justificativa: as vantagens competitivas originam-se principalmente do capital intelectual da empresa. Questão 2. (Cespe 2006) Nas economias de mercado, os preços se formam diferentemente segundo as estruturas de mercado vigentes. Considerando que o estudo dessas estruturas é fundamental para o entendimento do sistema de preços, assinale a alternativa correta: A) Em mercados monopolistas, o preço é superior ao custo marginal, porém o markup sobre o custo marginal será tanto maior quanto mais elevada for a elasticidade preço da demanda do produto transacionado nesses mercados. B) O processo de captura da renda (rent-seeking), que contribui para aumentar o custo social do poder de monopólio, corresponde aos gastos da empresa com esforços socialmente improdutivos que visam adquirir, preservar ou exercer o poder de monopólio. C) Em concorrência perfeita, os lucros econômicos no longo prazo são nulos e, portanto, o preço se iguala ao custo variável. D) No Brasil, a cartelização das revendedoras de gás liquefeito de petróleo deve-se à existência de disparidades substanciais nas elasticidades preço e renda, que sumariam as condições de demanda, com as quais se confrontam as firmas que atuam nesse mercado. E) No mercado de café solúvel, que atua em regime de concorrência monopolística, a disputa entre as diferentes marcas faz que o equilíbrio, no longo prazo, caracterizado pela existência de lucro zero, ocorra no ponto mínimo da curva de custo médio, o que permite a utilização ótima da capacidade de produção. Resolução desta questão na plataforma. 160 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 FIGURAS E ILUSTRAÇÕES Figura 1 CARLTON, D. W.; PERLOFF, J. M. Modern industrial organization. 4th ed. New York: Prentice Hall, 2004, p. 4. Adaptado. Figura 2 SHY, O. Industrial organization: theory and applications. Cambridge: The MIT Press, 1995, p. 61. Adaptado. Figura 15 McGUIGAN, J. R.; MOYER, R. C.; HARRIS, F. H. de B. Economia de empresas: aplicações, estratégia e táticas. São Paulo: Cengage Learning, 2016, p. 310. Adaptado. Figura 16 McGUIGAN, J. R.; MOYER, R. C.; HARRIS, F. H. de B. Economia de empresas: aplicações, estratégia e táticas. São Paulo: Cengage Learning, 2016, p. 315. Adaptado. Figura 33 BRASIL. Ministério da Fazenda.Ministério da Justiça. Portaria conjunta Seae/SDE nº 50, de 1º de agosto de 2001. Brasília, 2001. Adaptado. Disponível em: . Acesso em: 10 jul. 2017. REFERÊNCIAS Textuais AGHION, P.; HOWITT, P. Endogenous growth theory. Cambridge: The MIT Press, 1998. BAIN, J. Barriers to new competition. Cambridge: Harvard University Press, 1956. ___. A note on pricing in monopoly and oligopoly. The American Economic Review, Pittsburgh, v. 39, p. 448-469, Mar. 1960. BAUMOL, W. J.; PANZAR, J. C.; WILLIG, R. D. Contestable markets and the theory of industry structure. New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1982. BIERMAN, H. S.; FERNANDEZ, L. 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Unidade II – Questão 2: CENTRO DE SELEÇÃO E DE PROMOÇÃO DE EVENTOS (CESPE). Concurso Público Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) 2006: Analista em Ciência e Tecnologia. Questão 31. Disponível em: . Acesso em: 4 jun. 2018. 164 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Informações: www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000q’0 q q0 p0 A B p Figura 17 – Demanda residual sob o postulado de Bain-Sylos Considere que há apenas uma firma incumbente e que ela, antes da entrada do novo concorrente, esteja produzindo no nível q0 e vendendo sua produção ao preço p0. Pelo postulado de Bain-Sylos, essa situação denota que o produto da entrante simplesmente será adicionado ao mercado em níveis iguais a q0, causando a queda do preço e, consequentemente, do lucro do setor. Dessa forma, o segmento de reta AB é a demanda residual que o potencial entrante enfrenta (em que a origem da entrante está situada em q0). Por conveniência, podemos deslocar a curva de demanda residual AB para baixo, à esquerda, até a reta p0B’, situando a origem da entrante ao longo do eixo vertical. Repare que a firma incumbente pode manipular a curva de demanda residual através da sua escolha de produto pré-entrada. Por exemplo, uma produção maior que q0 implicaria uma curva de demanda residual menor (isto é, a reta pontilhada CD). Isso significa que a firma incumbente poderia escolher seu nível de produção (q0) de modo que a curva de demanda residual a ser enfrentada pelo potencial entrante tornasse a quantidade produzida por ele (q0”) não lucrativa. Esse resultado é demonstrado na próxima figura. A curva de custo médio de longo prazo para uma firma típica nessa indústria é CMe(q). Essa função de custo médio é válida tanto para firmas incumbentes como para potenciais entrantes, de forma que não há barreiras à entrada em termos de uma vantagem em custo absoluto. Conforme ilustrado, o custo médio cai até atingir q̂ , a escala mínima eficiente, e então ele se torna constante. A firma A vai produzir e vender no preço do ponto A. A firma B vai começar a participar a partir do demanda que sobrou, do que A não supriu. Ou seja, se A diminuir o preço pra conseguir suprir mais demanda, ela aperta mais a participação de B. 90 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II Observação A escala mínima eficiente indica o nível de produção que minimiza o custo médio comparando-o com o tamanho da demanda. p 0 q’0 B A A’ B’ CMe(q) A” q qq̂ p Figura 18 – Determinação do preço-limite no modelo Bain-Sylos A questão central que envolve esse gráfico é: a firma incumbente pode criar uma curva de demanda residual para a entrante de modo que a entrada não seja lucrativa? A resposta é sim. A demanda residual pB’, que tangencia a curva de custo médio CMe(q) no ponto A’, é uma curva na qual não há produção para a nova firma que lhe dê resultado (lucro) positivo. Por outro lado, a quantidade q é o nível de produção necessário para a firma incumbente gerar essa curva de demanda residual (ponto A”). O preço associado a q, denominado p, é o preço-limite, ou seja, é o máximo preço que impede a entrada de firmas rivais. Concluímos assim que, se a firma incumbente cobre um preço p, ela impede a entrada e recebe lucro extraordinário igual a [p - CMe(q)] . q. Em resumo, a teoria do preço-limite implica que a firma incumbente pode adotar políticas de preço que, ao baixarem o preço até determinado limite, obrigariam os potenciais entrantes a enfrentar prejuízos se decidissem entrar no mercado. 5.2.2 Teorias estratégicas de preço-limite Para uma firma incumbente afetar decisões de entrada, seu comportamento pré-entrada deve afetar a lucratividade do entrante. O que pode ser a causa disso? A ideia é que, se a entrada de uma nova firma acontecer, todas as firmas ativas vão recorrer a alguma solução de oligopólio. Como vimos anteriormente, os fatores determinantes de uma solução de oligopólio incluem a curva de demanda 91 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA de mercado, as funções de custo das firmas e o número de firmas, bem como, em algumas situações, a taxa de desconto das firmas. Dessa forma, para que uma firma incumbente influencie a lucratividade de entrada, ela deve afetar a função de demanda pós-entrada, sua própria função de custo ou, ainda, a função de custo da nova firma. Como exemplo, vamos admitir que apenas uma firma incumbente e um potencial entrante formam determinado mercado relevante. Ao tentar encontrar maneiras pelas quais o nível de produção pré-entrada da firma incumbente possa afetar o equilíbrio pós-entrada, precisamos imaginar as razões pelas quais o nível de produção passado afetaria as atuais funções de demanda e de custo. Uma fonte dessa ligação intertemporal são os custos de ajustamento. Observação Custos de ajustamento são os custos em que uma firma incorre ao mudar sua taxa de produção. Em muitos processos industriais existem custos que alteram a taxa de produção. Por exemplo, para aumentar a quantidade produzida, uma firma pode necessitar de novos equipamentos para a linha de produção. A instalação desses equipamentos pode forçar a parada temporária do processo de produção, o que é custoso em função da redução da quantidade produzida. Para reduzir o nível de produção, uma firma pode ter que demitir trabalhadores, o que também é custoso. Podemos representar um exemplo de função de custo com ajustamento assim: C q q q qt t t t 100 20 1 2 1 2 Em que qt é a quantidade produzida no período t e qt-1 é o produto do período anterior. O custo de ajustamento do produto é medido por 1/2 (Qt - qt-1). Ao minimizar esse custo, chegamos a: min qt t t t t t t t t t C q q q C q q q q q q 1 2 0 1 2 1 1 Portanto, o custo de ajustamento é mínimo quando não há mudança no produto. De outra forma, ele aumenta quanto maior for a mudança no produto. Podemos argumentar que, quando a firma incumbente incorre em custos para ajustar sua taxa de produção, seu nível de produção pré-entrada vai afetar a lucratividade do entrante. Assim, quanto mais uma 92 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II firma produzir hoje, maior será o seu nível de produto que maximiza o lucro no futuro. Devido ao custo de ajustamento, uma firma tenderá a produzir uma quantidade próxima a suas quantidades produzidas no passado. Dessa forma, se o equilíbrio pós-entrada for a solução de Cournot, quanto mais a firma incumbente produzir no período pré-entrada, maior será sua taxa de produção após a entrada da nova firma. Lembrete A solução de Cournot para duas firmas que apresentam função de demanda linear inversa (P = A - bQ) e custo marginal constante (c) é dada por: q A c b ii 1 3 12, , Conforme apresentado na figura a seguir, o aumento do produto pré-entrada desloca a curva de reação pós-entrada da firma incumbente: Qentrante QA ent A B QB ent 0 QB inc QincumbenteQA inc Função de reação do incumbente Função de reação do entrante Figura 19 – O efeito no nível de produção pré-entrada sobre o equilíbrio pós-entrada com custo de ajustamento Um aumento na quantidade produzida pré-entrada muda o equilíbrio pós-entrada do ponto A para o ponto B. Como a firma incumbente produz mais em B, o lucro pós-entrada para a nova firma torna-se menor. Uma firma incumbente pode, então, ser capaz de impedir a entrada ao produzir numa taxa suficientemente alta antes da decisão de entrada. Por essa análise, podemos justificar o postulado de Bain-Sylos através da hipótese de que a firma incumbente enfrenta custos de ajustamento infinitamente grandes, de modo que seria custoso demais alterar o seu produto em resposta à entrada de uma nova firma. 93 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Existem outros processos de produção pelos quais o preço ou o produto pré-entrada da firma incumbente podemafetar a lucratividade do entrante. Por exemplo, alguns processos têm uma curva de aprendizado. Observação A curva de aprendizado mostra que, quanto mais experiência uma firma tem com o processo industrial, mais ela encontra maneiras de diminuir seus custos de produção. Usando a quantidade produzida no passado, de forma acumulada, como uma medida da experiência da firma, uma função de custo com um efeito de curva de aprendizado pode ser representada por: C q q Yt t t 100 20 1 1 Em que Yt é a soma da produção passada, ou seja: Y q q q j nt t t t j 1 2 1 , , , Observe que, quanto mais a firma produziu no passado, menor é o custo marginal no momento atual t. Portanto, quanto maior se tornar a quantidade produzida pré-entrada da firma incumbente, menor será seu custo marginal pós-entrada, o que significa uma maior produção no equilíbrio pós-entrada. Desse modo, a prevenção à entrada poderia ocorrer estabelecendo-se um alto nível de produção pré-entrada, o que poderia diminuir o custo marginal da firma incumbente e, consequentemente, dar-lhe uma vantagem sobre a firma entrante. Outro tipo de prevenção à entrada é representado pelo custo de troca ou fidelidade à marca. Nesse caso, os consumidores podem hesitar em trocar de marca na demanda por um produto, pois existem certos custos em que se incorre ao fazê-lo. Por exemplo, para trocar de banco é necessário que o consumidor feche sua atual conta corrente, o que requer certa quantidade de tempo e esforço. Se a qualidade de uma marca não testada é incerta, o consumidor incorre em custos de aprendizado sobre a nova marca. Tais custos, de modo geral, são evitados, permanecendo o consumidor com a marca que ele usa normalmente, porque a experiência pessoal já amenizou essa incerteza. Em suma, há duas importantes conclusões sobre a literatura de preço-limite: • Existem diferentes maneiras pelas quais o produto ou o preço pré-entrada podem afetar o equilíbrio pós-entrada e influenciar a decisão de entrada de potenciais concorrentes. • Mesmo que a entrada seja impedida, a ameaça de entrada geralmente induz as firmas incumbentes a produzir a uma taxa maior. 94 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II 5.3 Prevenção estratégica à entrada: o modelo de Dixit O modelo de Dixit (1980), assim como o modelo Bain-Sylos, parte de uma situação em que há uma firma incumbente e outra entrante. Existem apenas dois períodos: o período 0, anterior à entrada, e o período 1, posterior à entrada. As firmas produzem bens homogêneos. A função de custo apresenta uma pequena alteração e passa a ser subdividida em: • Custo fixo. • Custo da capacidade instalada. • Custo de produção variável. Para operar nessa indústria, a firma precisa arcar com um custo fixo K. Para produzir uma unidade, ela precisa de uma unidade de capacidade produtiva, que custa r, e insumos variáveis, que custam w. Se uma firma tem, no presente, uma capacidade instalada x, sua função de custo, C(q), é representada por: C q K rx wq q x K w r q q x , , Logo, dada uma capacidade instalada preexistente x, a firma deve apresentar um sunk cost igual a K + rx. Lembrete Sunk costs ou custos irrecuperáveis são os custos que a empresa não conseguirá recuperar se ela tiver que sair do negócio. Para produzir a quantidade q quando ela não ultrapassa a capacidade instalada x, a firma entrante precisa apenas dos insumos variáveis que custam wq. No entanto, se o nível de produção excede a capacidade instalada, a firma precisa adquirir (q - x) unidades adicionais de capacidade, que custam r (q - x). Dessa forma, o custo total C(q) passará a ser: C q K wq rx r q x C q K w r q Essas informações de custo permitem que o modelo de Dixit seja desenhado como um jogo de três estágios e duas firmas (uma firma incumbente e outra potencial entrante). Cada firma escolhe a quantidade produzida a fim de maximizar seu lucro, o que constitui um equilíbrio de Nash-Cournot. 95 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Observação O equilíbrio de Nash-Cournot é a solução única e particular do jogo de Cournot com duas empresas na qual, se cada jogador estiver adotando a melhor estratégia, o equilíbrio ocorrerá e será a melhor resposta à estratégia adotada pelo outro jogador. Inicialmente, nenhuma firma tem qualquer capacidade produtiva. Na sequência, temos as seguintes situações: • Estágio 1: A firma incumbente investe em aumento da capacidade instalada, denominada x. • Estágio 2: O potencial entrante observa a capacidade da firma incumbente e decide se entra ou não. Os custos de entrada são K > 0. • Estágio 3: As firmas ativas escolhem simultaneamente quanto investir na capacidade instalada e quanto produzir. A firma incumbente já tem x do estágio 1. Se a entrada ocorrer, haverá duas firmas no estágio 3; caso contrário, haverá apenas uma, a firma incumbente. A próxima figura mostra a curva de custo marginal que a firma incumbente enfrenta no estágio 3 dada uma capacidade inicial de x1. O custo marginal é w se a firma incumbente produz abaixo de sua capacidade inicial, e aumenta para w + r se ela decide produzir acima de x1, pois ela precisa adicionar capacidade, que custa r por unidade de capacidade a ser adquirida. Se a capacidade instalada inicial da firma incumbente for x1 0, seu custo marginal será menor para todas as quantidades produzidas entre x1 e x1 0. Geralmente, quando uma firma tem custo marginal menor, ela decide produzir mais. Como resultado, no jogo pós-entrada, a escolha ótima da firma incumbente será produzir mais quando sua capacidade for x1 0 do que quando for x1. 96 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II p w + r CMg x1 x1 0 q w 0 Figura 20 – Custo marginal da firma incumbente Como essa quantidade maior significa que a firma entrante pode esperar um preço de mercado menor para qualquer quantidade que ela produza, a sua escolha ótima será produzir uma quantidade menor. Em outras palavras, uma capacidade inicial maior para a firma incumbente a compromete, de maneira crível, a produzir uma quantidade maior no estágio 3, pois seu custo marginal é menor. Esse comprometimento induz o entrante a produzir menos. Podemos concluir também que, quanto maior for o investimento inicial em capacidade da firma incumbente (no estágio 1), menor será o lucro pós-entrada da nova firma, pois o lucro de qualquer firma é menor quando o rival produz mais. O modelo de Dixit descreve uma conexão entre a capacidade pré-entrada da firma incumbente e o lucro pós-entrada do potencial entrante. Através dessa conexão, a firma incumbente pode ter um instrumento para deter a entrada da rival. Se ela tiver uma capacidade suficientemente grande, poderá diminuir o lucro pós-entrada da nova firma a ponto de esta decidir não entrar. Exemplo de aplicação Jogo sequencial de Dixit Considere a representação extensiva do jogo na figura a seguir. No primeiro estágio, a firma incumbente tem duas escolhas: investir em baixa capacidade ou alta capacidade. Como exemplo, podemos pressupor que ela deve decidir entre construir uma fábrica grande ou pequena. No segundo estágio, o entrante potencial decide se entra ou não. Se a entrada não ocorre, a firma incumbente aufere lucro de monopolista, que é $ 25 quando ela escolhe baixa capacidade e $ 20 quando escolhe alta capacidade (lembre-se: a capacidade tem custo). Portanto, se não existisse a ameaça de entrada, a firma estabelecida escolheria sempre investir em baixa capacidade. 97 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 2017 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Firma incumbente Entra Entra Baixa capacidade Não entra Não entra Alta capacidade Firma incumbente Firma nova Firma nova Firma incumbente Potencial entrante qb qb qa qa $ 25 $ 20 (10 ; 10 - k) (7 ; 5 - k) (6 ; 7 - k) (5 ; 4 - k) qb qb qa qa (6 ; 10 - k) (7 ; 5 - k) (3 ; 7 - k) (5 ; 4 - k) Figura 21 Se a entrada ocorre, então as firmas decidem simultaneamente se vão produzir uma baixa quantidade (qb) ou uma alta quantidade (qa). A matriz de resultados representa os payoffs de cada firma para os quatro possíveis pares de ganho. O primeiro número em cada célula é o payoff da firma incumbente, e o segundo é o payoff do entrante. O custo fixo é representado por K. Se a firma incumbente escolher baixa capacidade e a entrada da nova firma ocorrer, o equilíbrio de Nash pós-entrada acontecerá quando as duas firmas produzirem com baixa quantidade (qb ). Assim, a firma incumbente terá um ganho de $ 10 e a firma nova ganhará 10 - K. Firma incumbente Firma nova qb qb qa qa (10 ; 10 - k) (7 ; 5 - k) (6 ; 7 - k) (5 ; 4 - k) Figura 22 Logo, sempre que produzir uma alta quantidade, a firma incumbente lucrará menos. Isso ocorrerá porque ela investiu inicialmente em uma baixa capacidade, e portanto seu custo para produzir qa é maior do que para produzir qb . Se a firma incumbente escolher alta capacidade e a entrada ocorrer, o equilíbrio de Nash pós-entrada acontecerá quando a firma incumbente produzir uma alta quantidade qa, lucrando $ 7, e a firma nova produzir uma baixa quantidade qb, lucrando 5 - k. 98 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II Firma nova Firma incumbente qb qb qa qa (6 ; 10 - k) (7 ; 5 - k) (3 ; 7 - k) (5 ; 4 - k) Figura 23 Como o potencial entrante vai se comportar? Isso depende do custo de entrada K e da capacidade instalada da firma incumbente. Se x1 = baixa capacidade, o lucro do equilíbrio pós-entrada da firma entrante é 10 - K. Portanto, nessa situação, a entrada só ocorrerá (isto é, só será lucrativa) se, e somente se, K 10. Como a entrada não é lucrativa, independentemente da capacidade da firma incumbente esta escolherá sempre investir em baixa capacidade, pois a situação é similar ao caso em que não há ameaça de entrada. • Caso 2: ocorre quando o custo de entrada é intermediário, 5– desde a aquisição do insumo até a venda final ao consumidor –, que, dada a tecnologia disponível, poderiam ser realizados separadamente por diversas firmas, passam a ser produzidos por uma única firma. A análise da integração vertical de uma indústria ou setor deve incluir a ideia de multiplicidade de estágios, ou seja, as diversas fases de produção, como a extração de matérias-primas, o processamento, a distribuição e a chegada dos produtos aos mercados finais. Esses estágios são conhecidos como cadeias produtivas. A figura a seguir apresenta um exemplo de cadeia de produção na indústria farmacêutica e de saúde: Matérias-primas: extração e refino de petróleo Substâncias químicas: petroquímica de base Armazenagem e distribuição Comércio: fármacias, drogarias e hospitais Produto final: medicamentos defensivos Produto farmacêutico (fármacos): princípios ativos e moléculas Bem primário Bem final Bens intermediáriosProcesso produtivo Distribuição e comercialização Figura 24 – Cadeia produtiva da indústria farmacêutica O tamanho da organização de uma empresa tem relação com a opção de que ela dispõe a cada etapa do processo produtivo. A firma, portanto, deve se decidir entre realizar ela mesma a etapa do processo em questão ou adquirir um insumo de um fornecedor no mercado. Fiani (2015) destaca as seguintes decisões disponíveis para a delimitação da atuação da empresa na cadeia produtiva 101 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA • Centralização da produção: o nível de centralização da produção no interior da empresa se tornará cada vez maior quanto maior for o número de etapas no processo produtivo que a própria empresa realiza. • Descentralização da produção: nesse caso, quanto maior for a quantidade de estágios em que a empresa recorre ao mercado (seja para obter o insumo de que precisa, seja para distribuir o produto final), maior será a descentralização da produção. A decisão entre centralizar ou descentralizar a produção em cada etapa do processo produtivo – também conhecida como make or buy decisions – define os limites da empresa, isto é, onde a empresa como agente de centralização e coordenação da produção termina, e onde outras empresas iniciam o comando do processo produtivo. Em razão desse ponto de vista, é interessante reconhecer quando passa a ser interessante para uma empresa descentralizar ou não sua produção. É necessária alguma explicação para os motivos que levam uma empresa a se concentrar verticalmente nos diversos elos da cadeia produtiva. A integração vertical pode acontecer entre dois ou mais processos contínuos de produção, em que o produto de um processo é o insumo para o estágio subsequente. No limite, uma empresa pode estar presente na totalidade da cadeia de produção. A integração vertical pode ocorrer de três formas: • Para trás, também conhecida como backward ou upstream. • Para a frente, também conhecida como forward ou downstream. • Conglomeral, quando apresenta elementos tanto de integração backward como de integração forward. O esquema ilustrado na figura a seguir exibe essas três formas de integração vertical: 102 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II Integração backward Integração conglomeralProcesso produtivo Marketing e distribuição P&D Integração forward Figura 25 – Cadeia de valores e formas de integração vertical Uma firma apresenta integração vertical backward quando controla empresas subsidiárias que produzem alguns dos insumos usados na produção de seus produtos. Por exemplo, uma companhia de automóveis pode ser dona de uma fábrica de pneus, de uma fábrica de vidros e de uma metalúrgica. O controle dessas subsidiárias tem o objetivo de criar uma oferta estável de insumos e garantir qualidade consistente ao produto final. Isso era feito pela Ford e por outras companhias automobilísticas nos anos 1920, pois procuravam minimizar custos com a centralização da produção de automóveis e de suas partes. Uma firma tende a se integrar verticalmente de modo forward quando ela controla centros de distribuição, o comércio varejista em que seus produtos finais são comercializados e a prestação de serviços pós-vendas. Nesse caso, é possível que o processo de integração para a frente envolva a entrada da empresa em atividades não estritamente industriais. A integração vertical conglomeral (ou balanceada), por sua vez, ocorre quando uma firma controla todos os componentes do processo produtivo, desde a aquisição da matéria-prima até a distribuição e comercialização do produto final ao consumidor. 6.1 Vantagens e desvantagens da integração vertical A integração vertical representa, muitas vezes, uma importante barreira à entrada, pois pode acarretar elevados custos para o início das operações. Em alguns casos, as firmas podem evitar integração vertical remunerando outras firmas para realizar algumas atividades-meio para elas (terceirização de serviços, por exemplo) ou usando contratos detalhados (contratos complexos). Há pelo menos três custos decorrentes da integração vertical: 103 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA • O custo de fornecer seus próprios fatores de produção ou de distribuir seu próprio produto pode ser maior para uma firma verticalmente integrada do que para uma firma que dependa de um mercado competitivo, contexto este que permite realizar os processos produtivos de maneira mais eficiente. • À medida que o tamanho de uma firma aumenta com a integração vertical, a dificuldade e o custo de administrá-la também aumentam. A vantagem de lidar com um mercado competitivo é que outras firmas são encarregadas de supervisionar a produção em cada processo produtivo. • A firma pode incorrer em custos legais substanciais no processo de fusão ou aquisição de outras firmas situadas upstream ou downstream na cadeia produtiva do setor. Por exemplo, a empresa que pretende se integrar verticalmente terá que arcar com custos advocatícios para defender o processo de fusão ou aquisição perante os órgãos de defesa da concorrência ou antitruste. Por causa desses custos, as firmas se integrarão verticalmente apenas se os benefícios forem superiores aos custos. O argumento tradicional em favor da integração vertical é o de que a divisão do trabalho é limitada pela extensão do mercado. Atualmente, leva-se em consideração a existência de core competencies para influenciar a integração vertical de um mercado. Observação Core competencies são argumentos em favor da integração vertical de um segmento industrial em face da existência de incertezas, da procura de maior eficiência e da necessidade de contornar regulamentações e regimes fiscais complexos. É possível elencar cinco grandes vantagens associadas à integração vertical. Vantagem 1: redução dos custos de transação. A integração vertical evita a ocorrência de alguns custos associados à compra de insumos e à venda de bens finais, como os custos de redigir e fazer valer os contratos (enforcement) com outras firmas. Lembrete Custos de transação são os custos associados às trocas ou à comercialização do produto e que não dizem respeito estritamente ao custo de produção do bem ou serviço. A explicação clássica sobre a abordagem dos custos de transação segue Coase (1937). O argumento é o seguinte: se o sistema de preços de mercado organizasse a produção perfeitamente, a divisão do trabalho conduziria à inexistência de empresas devido à eliminação da possibilidade de lucros no longo prazo. Por outro lado, em virtude da existência de imperfeições no funcionamento do mercado e do sistema de preços, surgem empresas para reduzir os custos de transação.Essa proposição ficou conhecida como teorema de Coase. 104 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II Observação Teorema de Coase: quando os custos de transação são nulos, um uso eficiente dos recursos resulta da negociação privada. Corolário: quando os custos de transação forem altos a ponto de impedir a negociação, o uso eficiente dos recursos dependerá de como os direitos de propriedade são atribuídos. Os custos de transação, portanto, estimulam a integração vertical. Por sua vez, o limite da integração vertical ocorre quando o custo de coordenação é exatamente igual ao custo de transação. Há quatro tipos de situação em que os custos de transação tendem a ser suficientemente substanciais para tornar a integração vertical desejável: • Quando os custos de transação envolvem ativos especializados (specialized assets). Por exemplo, a produção de certos bens/serviços (aço, cimento, pasta de papel, químicos etc.) exige proximidade geográfica entre as sucessivas etapas do processo produtivo. A produção desses insumos em localidades distantes acarreta elevação nos custos de coordenação. Para evitar esse tipo de custo, há a criação de ativos especializados específicos na relação das empresas integradas verticalmente. • Quando há incerteza, o que torna difícil o monitoramento (observar uma máquina sendo construída para garantir a qualidade). A integração vertical pode surgir por incertezas relativas a garantia de abastecimento, instabilidade de preços etc. • Quando existe a necessidade de informação, pois não há como saber se o fornecedor ou o distribuidor fizeram um bom trabalho. Pode haver assimetrias de informação entre diferentes segmentos da cadeia produtiva. Por exemplo: empresas a montante da cadeia têm mais informação sobre as condições de custo e sobre o preço das matérias-primas do que empresas a jusante. • Quando é necessária uma coordenação extensiva, principalmente em casos de indústrias com externalidades de rede ou com rotas, como a indústria ferroviária ou a aérea. Vantagem 2: garantia de oferta. Com a integração vertical, uma firma pode assegurar a oferta constante de um insumo-chave. Nesse caso, a firma se integra verticalmente de modo backward, comprando ou construindo a capacidade de produzir o insumo necessário para a produção do bem final. Com isso, problemas de entrega podem ser evitados, porque é geralmente mais fácil trocar informações dentro de uma firma do que entre várias firmas fornecedoras. Vantagem 3: contorno de regras governamentais. Uma firma pode conseguir evitar impostos, regulações e outros tipos de restrição governamental integrando-se verticalmente. Exemplos de intervenção governamental incluem controle de preços, regulações (econômicas, legais e/ou sanitárias) que restringem as taxas de lucro e impostos sobre receitas ou lucros. 105 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Vantagem 4: ganho e/ou eliminação de poder de mercado. Uma firma pode se integrar verticalmente para obter ou explorar melhor o poder de mercado, como ilustrado na figura a seguir: Poder de mercado Rivalidade Novas entradas Novos produtos Fornecedores Clientes Figura 26 – Integração vertical e poder de mercado O fornecedor único de um insumo pode se integrar verticalmente de modo forward comprando companhias manufatureiras, a fim de exercer poder absoluto de mercado do produto final e aumentar os lucros de monopólio. Analogamente, uma firma pode adquirir seu fornecedor único para aumentar os lucros combinados. Portanto, ao se integrar verticalmente, uma firma pode criar ou aumentar seus lucros de monopólio, pois será capaz de discriminar preços, eliminar competidores e impedir a entrada de novos concorrentes. A figura anterior sugere que o poder de mercado pode ser reduzido com a intensificação da rivalidade gerada por novas entradas (busca de novos fornecedores) ou diferenciação (criação de novos produtos). No entanto, quando a intensificação da rivalidade não for possível, a vítima do poder de mercado exercido por outra firma poderá integrar-se verticalmente para eliminar esse poder. Vantagem 5: correção de falhas de mercado. As falhas de mercado decorrentes de externalidades podem ser resolvidas com a internalização destas. Por exemplo, a rede de lanchonetes McDonald’s garante um nível de qualidade uniforme sendo a dona ou controlando todos os seus restaurantes, o que resulta numa boa reputação (externalidade positiva). A integração vertical também pode acontecer como resposta às imperfeições de mercado, como a assimetria de informações, a interdependência tecnológica e as incertezas. 6.2 Monopolização vertical A competição imperfeita em um estágio do processo de produção cria incentivos para que as firmas atuantes nesse mercado específico se integrem com seus vizinhos de estágio competitivo. Esses incentivos podem decorrer da possibilidade de internalização da perda de eficiência devido a: • Comportamento imperfeito dos mercados. 106 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II • Capacidade de extrair renda adicional extraordinária do estágio competitivo. • Oportunidade de discriminar preços dentro do estágio competitivo. O caso mais discutido na literatura econômica sobre integração vertical é a implicação desta na extensão de um monopólio. O argumento parte do incentivo para a ocorrência de integração forward de uma indústria monopolista no processo produtivo upstream com uma indústria competitiva no processo produtivo downstream que utiliza o bem produzido pelo monopolista no estágio anterior como insumo em proporções variáveis. Os resultados desse tipo de integração devem ser analisados em termos do efeito sobre o bem-estar social. O preço fixado pelo monopolista induz as firmas competitivas downstream a substituir o insumo produzido pelo primeiro por outros insumos que possam ser ofertados competitivamente. A perda de eficiência passível de ocorrer no processo produtivo downstream pode ser convertida em lucro para o monopolista quando este se integra verticalmente com o estágio de produção downstream e, assim, expande o uso do seu insumo para o nível eficiente. Exemplo de aplicação Monopolização vertical com produção em proporções variáveis Suponha que um segmento industrial produtor de calçados seja caracterizado por uma oferta competitiva. Além disso, a produção dessa indústria é identificada pela utilização de insumos em proporções variáveis. Por simplicidade, imagine que são necessários apenas dois insumos: equipamentos para a produção de calçados, K, e mão de obra, L. Logo, uma quantidade determinada de calçados, Q, pode ser produzida com quantidades alternativas de K e L. A figura a seguir mostra as diversas possibilidades de produção na isoquanta Q = Q*: Elevação dos custos A 0 L w B P r↑ N M K Q = Q* Figura 27 107 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Em seguida, suponha que seja exercido um monopólio no fornecimento de K para todas as fábricas de calçados. O objetivo é examinar os incentivos e as consequências de eficiência de uma aquisição vertical desse produtor na indústria de fabricação de calçados. O monopolista extrai todo o lucro por uma escolha apropriada do preço de K? O preço dos sapatos é afetado pela aquisição vertical? Imagine que o custo do trabalho seja avaliado pelo seu verdadeiro custo de oportunidade (ou seja, a oferta de trabalho é competitiva) e tome o custo marginal de K como CMgk. Como r, o preço de K, é aumentado pelo monopólio vertical (r > CMgk), a indústria de calçados substituirá K e usará maiso insumo L, tornando o produto final mais intensivo em mão de obra. A inclinação da linha de isocusto N na figura é a proporção entre CMgk e o preço do trabalho w. Assim, o ponto B representa o mix de insumos de menor custo, do ponto de vista do bem-estar social, para a produção ótima de calçados Q*. Por conta da hipótese r > CMgk, a linha de isocusto real considerada na pré-integração tem uma inclinação mais acentuada, indicada pela curva P. Daí a indústria de calçados escolher o mix de insumos indicado no ponto A, que minimiza os seus gastos com insumos. No entanto, nesse ponto, a linha de isocusto M aponta que o custo de produção é mais alto do que em N. Como os pagamentos dos fabricantes de calçados ao monopolista incluem um lucro de monopólio, as despesas com insumos que devem ser minimizadas não são equivalentes aos verdadeiros custos dos insumos. Os verdadeiros custos dos insumos em A são maiores do que em B devido à distância vertical entre as linhas de isocusto M e N (medida em unidades de L). Em outras palavras, estabelecer um preço de monopólio em K provoca uma produção ineficiente na fabricação de calçados – os custos de produção são muito elevados porque o mix de insumos está incorreto. Do ponto de vista do bem-estar, portanto, haverá perdas em virtude da elevação do preço final do calçado. Se o fornecedor monopolista de K efetuasse uma integração vertical com os produtores de calçados, a quantidade ótima de calçados a ser produzida se deslocaria de A para B, porque o monopólio integrado minimizaria os custos usando os verdadeiros custos de oportunidade de K e L. A redução de custos (distância MN) constituiria um incentivo de lucro extraordinário para a integração vertical. No entanto, o efeito da integração vertical no preço final ao consumidor será ambíguo, pois dependerá de como os consumidores classificam os calçados – se como um bem necessário (demanda inelástica) ou um bem superior (demanda elástica). Se o preço ao consumidor aumentar, haverá um tradeoff entre os custos e os benefícios da integração, em que os custos são perdas de peso morto devido ao preço do monopólio e os benefícios são o melhor emprego dos fatores de produção. Em resumo, no caso de produção em proporções variáveis, a monopolização vertical será lucrativa para o monopolista. Os efeitos do bem-estar, entretanto, podem ser positivos ou negativos, dependendo dos parâmetros particulares (elasticidade-preço da demanda, elasticidade de substituição na produção etc.). Quando as firmas competitivas no processo produtivo downstream utilizam o produto do monopólio como insumo em proporções fixas, a integração forward pela firma upstream não afeta o preço final 108 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II do produto. Essa hipótese é aplicável a situações em que um fabricante vende diretamente seu produto final para o elo seguinte da cadeia. Assim, os demandantes combinam os bens adquiridos do fabricante monopolista com outros insumos em proporções fixas. Observação Produção em proporções fixas, ou função de produção Leontief, significa que cada unidade produzida requer uma proporção fixa dos vários insumos utilizados em sua produção. Nesse caso, a demanda pelo monopólio upstream é o reflexo da demanda final do processo produtivo downstream. Dessa forma, o fornecedor monopolista pode maximizar seus lucros sem a integração vertical. Duas conclusões podem ser consideradas a partir dos efeitos desse tipo de integração. Em primeiro lugar, é de esperar que o preço final do produto aumente com a estrutura de mercado verticalmente integrada. Em segundo lugar, existe um forte incentivo para a integração por parte da firma monopolista upstream, devido ao aumento dos seus lucros, por meio da internalização dos ganhos de eficiência e do aumento do preço final. Exemplo de aplicação Monopolização vertical com produção em proporções fixas Considere uma indústria de transportes composta de um fornecedor de motores monopolista e de fabricantes de ônibus cuja oferta seja perfeitamente competitiva. Cada ônibus produzido requer exatamente um motor mais um custo fixo (CF) relativo à transformação do produto final (custo de conversão). O objetivo é avaliar as consequências da monopolização vertical do segmento industrial de ônibus pelo produtor de motores. A figura a seguir ilustra esse caso: 800 700 500 400 200 100 p RMg´ D´ D CF 0 1 3 2 RMg 300 700 800 Preço pré e pós-integração Demanda por ônibus CMg´ (motores + CF) CMg (motores) Oferta (preço dos motores + CF) Demanda derivada por motores Figura 28 109 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA Primeiro, considere a situação pré-integração. A demanda final por ônibus é determinada pela curva D. Subtraindo o custo fixo por unidade produzida, CF, obtemos a demanda derivada por motores, D’. A indústria de ônibus competitiva está em equilíbrio quando: P0 = CF + Pm Ou seja, quando o preço dos ônibus P0 iguala o custo marginal (que é a soma do custo fixo CF com o preço dos motores Pm). Logo, reescrevendo essa condição como: P0 = CF + Pm Chegamos à curva de demanda derivada: D´= P0 - CF O fabricante monopolista de motores iguala sua receita marginal (RMg’) ao seu custo marginal (CMg) no ponto 1. Dessa forma, o monopolista passa a cobrar um preço de $ 400 ao vender 300 motores. A indústria competitiva de ônibus tem um cronograma de fornecimento vertical de $ 400/motor, mais o custo fixo de $ 100, isto é, $ 500. Logo, ela vende 300 ônibus a $ 500 cada (ponto 2). O monopolista fornecedor de motores lucra $ 400 menos $ 100, multiplicado por 300 unidades, ou seja, $ 90 mil. Suponha agora que o monopolista fornecedor de motores integre-se verticalmente para a frente (forward). A receita marginal correspondente à demanda final por ônibus é RMg. O custo marginal da operação combinada (CMg’) é de $ 200, ou a soma do custo marginal dos motores ($ 100) e do custo fixo ($ 100). Fazendo-se RMg = CMg’ (ponto 3), gera-se uma quantidade produzida de 300 ônibus a um preço de $ 500 (ponto 2). A empresa integrada tem lucro de $ 500 menos $ 200, multiplicado por 300 unidades, isto é, $ 90 mil. O resultado, portanto, revela que o monopolista não aufere lucro extraordinário com a monopolização vertical para a frente. Ou seja, o lucro é o mesmo pré e pós-integração. O monopolista fornecedor de motores é capaz de extrair todo o lucro potencial escolhendo o preço dos motores. Do ponto de vista do bem-estar social, não há absolutamente nenhuma diferença. Em suma, nos casos em que há produção em proporções fixas, a monopolização vertical deve ter algum incentivo extra além do aumento dos lucros de monopólio. 6.3 Integração vertical e discriminação de preços A integração forward é um importante instrumento para exercer uma discriminação de preços implicitamente quando, por razões econômicas ou legais, não é possível praticar uma discriminação de forma explícita. 110 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II Observação Discriminação de preços representa o ato de vender o mesmo bem ou serviço, distribuído em um único canal, por preços diferentes a compradores diferentes durante o mesmo período de tempo. Nesse caso, podemos verificar duas situações: • A integração vertical pode ser neutra para as empresas (o lucro não se altera mesmo com a discriminação) e, nesse caso, elas optam por não se integrar (admitindo-se que existam custos de transação relacionados à negociação e custos legais associados a um processo de integração). • A integração vertical pode ser vantajosa para as empresas e também para os consumidores, e, dessa forma, a empresa decide se integrar para a frente, pois seubenefício é maior do que o custo de transação. Em nenhum dos dois casos descritos existem razões para considerar que a integração vertical possa ter efeitos negativos em termos de bem-estar. Por outro lado, um produtor monopolista pode utilizar a integração forward para tornar eficaz a discriminação em seu favor. Nesse caso, como um dos problemas das estratégias de discriminação é impedir a revenda, isso pode ser alcançado através da integração vertical. Em tal situação, a integração vertical pode ter efeitos negativos em termos de bem-estar por diminuir as possibilidades de negociação de preços. Mas, dependendo do tipo de discriminação (por exemplo, se estabelecida na forma de terceiro grau), os efeitos, em termos de bem-estar, podem não ser inequívocos. Observação Discriminação de preços de terceiro grau é a prática de dividir os consumidores em dois ou mais grupos (como idosos ou estudantes e o resto da população), com curvas de demanda separadas, e cobrar preços diferentes de cada grupo. 6.4 Integração vertical e informação assimétrica A verificação de que no mundo real a informação é assimétrica e imperfeita tem servido também como incentivo para a integração vertical. Muitas vezes, as decisões de investimento por parte das firmas seriam facilitadas e mais lucrativas se elas tivessem conhecimento de variáveis, como os preços do insumo intermediário e a demanda dos consumidores. A integração vertical permite maior viabilidade e duração nas relações de troca entre as subsidiárias, assegurando assim um relacionamento contínuo entre as partes, com a possibilidade de transferências 111 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA de informação. Além disso, a integração vertical funciona como uma espécie de mecanismo de monitoramento das transações e resolve o problema de agenciamento. Malmgren (1961) argumentou que a integração vertical requer simplesmente um número menor de informações do que requer um contrato complexo ou o próprio mercado. Por meio de um acordo, a firma integrada verticalmente não necessita arcar com os custos de acompanhar o desenvolvimento do mercado, de investigar fontes alternativas de insumo ou, ainda, de buscar novas formas de distribuição de sua produção. 7 CONCENTRAÇÃO HORIZONTAL Concentração horizontal é a integração de duas ou mais empresas que se encontram no mesmo elo da cadeia produtiva. Esse modelo de prevenção ou barreira à entrada é também conhecido como fusão ou aquisição. Se as firmas decidem incorrer em processos de fusão e aquisição é porque, pelo menos ex ante, pensam em se beneficiar dessas decisões. Podem ser identificados dois tipos de ganho para as firmas com tais processos: • Aumento de eficiência, que pode resultar, por exemplo, da exploração de economias de escala ou de escopo, da redução da incerteza etc. • Aumento do poder de mercado. No limite, o excesso de fusões e/ou aquisições pode levar à monopolização do mercado. O resultado final de fusões e aquisições, em termos de bem-estar, depende muito do efeito dominante. Por um lado, uma fusão ou uma aquisição terão reflexos positivos para a sociedade se os ganhos de eficiência forem o efeito dominante. Por outro, a integração horizontal poderá representar uma perda de bem-estar se o exercício de poder de mercado elevar o preço sem redundar em ganhos de eficiência. Uma intensa movimentação de fusões, no entanto, pode criar preocupações em relação ao aumento da concentração e às suas implicações econômicas e políticas. Restringiremos a análise aqui às questões antitruste básicas, ou seja, se as fusões permitem que as empresas explorem o poder de mercado em mercados relevantes individuais, levando a perda ou ganho em termos de bem-estar. 7.1 Análise custo-benefício de fusões horizontais Suponha que determinada indústria apresente estrutura de mercado em duopólio e que as empresas produzam bens homogêneos. O preço e a quantidade produzida nessa indústria são representados na figura a seguir: 112 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 Unidade II Q D Qcp RMg P qFirma 2qFirma 1 0 PCompetitivo PMonopólio PDuopólio QMonopólio QDuopólio CMg = CMe Figura 29 – O efeito de uma fusão sobre o preço e o excedente líquido total Se as duas empresas se fundirem, o preço aumentará para o nível de preço de monopólio, com uma perda no benefício líquido total, indicado pela área sombreada da figura. Essa é a essência da preocupação antitruste com fusões horizontais. Como podemos identificar o equilíbrio de oligopólio correto que prevalece antes e depois da fusão, é possível calcular o quanto o excedente total é reduzido como resultado da concentração. Exemplo de aplicação Fusão em um duopólio de Cournot Suponha um mercado composto de duas empresas (i = 1; 2) que concorram ofertando um bem homogêneo pelo modelo de Cournot (concorrência via quantidades). Desse modo, a produção total do mercado é dada por Q = q1 + q2. A função de demanda desse mercado é dada por P = 1 - Q, e ambas as empresas apresentam a seguinte função de custo: C = 0,1qi. Já vimos que as quantidades de cada firma no equilíbrio de Cournot são dadas por: q q N A c b1 2 1 1 1 2 1 1 0 1 1 0 3 , , Logo, a produção total do duopólio será: QD = 2 x 0,3 = 0,6. Por sua vez, o preço praticado nesse duopólio será: Pelo que entendo do gráfico, o Preço de equilibrio em duopólio se dá com RMg=0 e em monopólio quando RMg=CMg 113 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 27 /0 7/ 20 17 ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL / REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA P N A NcD 1 1 1 2 1 1 2 0 1 0 4, , A empresa resultante da fusão estabelecerá quantidade produzida e preço de monopólio dados, respectivamente, por: Q N A c b P N A Nc M M 1 1 1 1 1 1 0 1 1 0 45 1 1 1 1 1 1 1 0 1 0 5 , , , , 55 Observa-se que a fusão fez o preço aumentar, embora os custos permaneçam inalterados. Desse modo, o excedente total se reduz claramente. Para saber quanto foi a redução do benefício total líquido, devemos calcular a área sombreada do trapézio identificado na figura anterior. Esse resultado pode ser obtido pela soma da área do triângulo com a do retângulo, dadas por: Área do triângulo Área do r , , , , , 1 2 0 6 0 55 0 45 0 4 0 00125 eetângulo 0 6 0 55 0 45 0 1 0 015, , , , , Portanto, a perda total de bem-estar será: 0,00125 + 0,015 = 0,01625. Quando duas empresas efetuam uma fusão, a realidade institucional é muito mais complexa do que a de duas funções de custo fundindo-se em uma função de custo, que é tudo o que pode ser capturado no exemplo do modelo de Cournot simples. As empresas que se fundem promovem, frequentemente, economias de escala. Ao explorar ativos complementares – ou sinergias de custo –, a firma resultante da fusão poderá alcançar custos de produção inferiores àqueles percebidos pelas empresas antes da fusão. A fusão abre duas possibilidades. Em primeiro lugar, se a redução de custos for grande o suficiente, o preço poderá cair mesmo após a fusão, de modo que tanto a empresa resultante como os consumidores fiquem em situação melhor do que antes da fusão. Nesse caso, nenhum cálculo detalhado será necessário, porque o excedente total aumentará claramente, nem haverá necessidade de qualquer intervenção das agências antitruste. Em segundo lugar, no caso mais típico, o preço pós-fusão aumentará, mas agora as economias de custo deverão ser levadas em consideração no cálculo do efeito líquido sobre o excedente total da sociedade. Esse caso foi estudado pela primeira vez em um importante artigo de Oliver Williamson (1968). 114 Re vi sã o: R ic ar do D ua rt e - Di ag ra