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Extinção de Punibilidade

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Universidade Estácio de Sá
Direito Penal II
Extinção de Punibilidade
Art. 107 do Código Penal 
Introdução
A punibilidade é uma consequência natural da prática de uma conduta típica, ilicita e culpável levada a efeito pelo agente. Toda vez que o agente pratica uma infração penal, isto é, toda vez que infringe o nosso direito penal objetivo, abre-se a possibilidade para o Estado de fazer valer o seu ius puniendi.
Houve, portanto, uma evolução significativa entre a primeira forma de resolução dos conflitos – autotutela -, até a atual fase da jurisdição, na qual os particulares e também o próprio Estado, quando estiverem diante de um conflito de interesses que não pode ou não teve condições de ser resolvido pela autocomposição entre as próprias partes, e deverão levá-lo até o Estado-Juiz que, com imparcialidade e justiça, deverá decidi-lo, trazendo, assim de volta a paz social.
Efeitos da aplicação de pena
É certo que quando alguém pratica determinada infração penal, o Estado sofre, mesmo que indiretamente, com esse tipo de comportamento, devendo outrossim, punir o infrator para que este não volte a delinquir (efeito preventivo especial da pena), bem como para que os demais cidadãos não o tomem como exemplo (efeito preventivo geral da pena).
Dispensa Estatal do Direito de Punir
Entretanto, também é certo que o Estado, em determinadas situações previstas expressamente em seus diplomas legais, pode abrir mão ou mesmo perder esse direito de punir.
O Estado pode, em algumas situações por ele previstas expressamente, entender por bem em não fazer valer o seu ius puniendi, razão pela qual haverá aquilo que o Código Penal denominou de extinção de punibilidade.
Deve ser frisado que quando nos referimos a causas de extinção de punibilidade estamos diante de dados que não interferem na infração penal em si, mas, sim que a existência desse dados pode impedir o Estado, mesmo existindo a infração penal, seja impedido de exercitar o seu direito de punir.
Não se inclui a punibilidade no conceito de crime, dentro da teoria analítico tripartido do crime: “O crime é todo fato, tipico e culpável.”
Para os autores que adotam a divisão quadripartida do conceito analítico do crime, as causas extintivas da punibilidade conduzirão ao afastamento da própria infração penal.
“Crime é todo fato tipico, ilícito, culpável e punível.”
Art. 107 do CP – Rol das Causas de Extinção de Punibilidade
O Código Penal, em seu Art. 107, trouxe o rol das chamadas causas extintivas da punibilidade. Embora o Art. 107 do CP faça elenco das causas de extinção da punibilidade, este não é taxativo, pois em outras de suas passagens, também fatos que possuem a mesma natureza jurídica, a exemplo do parágrafo 3º do Art. 312 do Código Penal, bem como do parágrafo 5º do Art. 89 da Lei n. 9.099/95.
Fase para constatação da extinção de punibilidade
É preciso ressaltar que o Art. 61 do CPP determina que, em qualquer fase do processo o juiz, se reconhecer extinta a punibilidade, deverá declará-la de ofício.
A redação do Art. 61 da legislação processual penal deixa entrever que a declaração de extinção da punibilidade somente poderá ocorrer após o inicio da ação penal, quando já se puder falar em processo. Caso haja ocorrido, em tese, causa extintitiva da punibilidade ainda durante a fase do inquérito policial, entende-se que o juiz não poderá declará-la, mas, sim tão somente depois de ouvido o Ministério Público, determinar seu arquivamento.
A lei processual penal, fala em fase do processo.
Arquivamento de Inquérito Policial e Extinção de Punibilidade
A exemplo, rever um erro ocorrido quando da determinação do arquivamento do inquérito policial, cuja decisão fora fundamentada na suposta ocorrência de uma causa extintiva da punibilidade.
Caso surja uma nova prova no decorrer do Inquérito Policial, demonstrando a pela possibilidade do prosseguimento do procedimento apuratório, poderá ser reaberto, permitindo-se ao Ministério Público, formar a sua opinio delicti, a fim de oferecer a denuncia. 
Caso o juiz, em vez de determinar tão somente o arquivamento do Inquérito Policial, tivesse declarado a extinção da punibilidade, não poderia o Promotor de Justiça dar início a ação penal, embora como se verificará, existe posição doutrinária contrária.
Assim, concluindo a declaração de extinção de punibilidade somente poderá ocorrer nos autos de processo penal, e não quando o feito ainda estiver em fase de inquérito policial.
Quando o pedido de extinção da punibilidade for levado a efeito pelo Ministério Público, pelo Querelante ou pelo agente, o parágrafo único do Art. 61 do CPP, diz que “o juiz mandará autuá-lo em apartado, ouvirá a parte contrária e, se o julgar conveniente, concederá o prazo de cinco dias para a prova, proferindo a decisão dentro de cinco dias ou reservando-se para apreciar a matéria na sentença final.”
Morte do Agente
o Art. 62 do Código de Processo Penal determina: “No caso de morte do acusado, o juiz somente a vista da certidão de óbito, e depois de ouvido o Ministério Público, declarará a extinção da punibilidade.
Não é incomum o fato de o agente fazer juntar certidão de óbito falsa aos autos do processo no qual figura como acusado. Antes de opinar pela extinção da punibilidade, por medida de segurança entende-se que o Ministério Público deverá requerer ao juiz que confirme o documento apresentado aos autos, expedindo ofício ao cartório de registro civil indicado no documento apresentado em juízo, a fim de que este seja ratificado pelo tabelião. Até mesmo essa medida pode não ser eficaz, pois, como sabemos, se o agente falsificar um documento médico, atestando o seu óbito, poderá levá-lo ao cartório e o registro será realizado.
Morte declarada falsamente
Contudo, se declarada a extinção da punibilidade depois de tomadas todas as providencias a fim de se certificar sobre a autenticidade do documento, se o juiz descobrir que a certidão de óbito apresentada era falsa, poderá, uma vez transitada em julgado a referida decisão, retomar o curso normal da ação penal, desconsiderando-se a decisão anterior? Duas correntes se formaram a esse respeito:
a) A MAIORIA DA DOUTRINA entende que não, podendo o réu ser processado tão somente pela crime de falso, uma vez que nosso ordenamento jurídico não tolera a chamada revisão pro societate.
B) O STF, POSICIONANDO-SE CONTRARIAMENTE AO ENTENDIMENTO ANTERIOR, DECIDIU:
“Revogação do despacho que julgou extinta a punibilidade do réu, a vista de atestado de óbito baseado em registro comprovadamente falso; sua admissibilidade, uma que o referido despacho, além de não fazer coisa julgada em sentido estrito, funda-se exclusivamente em fato juridicamente inexistente, não produzindo quaisquer efeitos.”
Morte do Agente e Pena de Multa
A morte do agente extinguindo a punibilidade também terá o condão de impedir que a pena de multa aplicada ao condenado seja executada em face dos seus herdeiros. Isso porque o fato de o Art. 51 do Código Penal considerá-la como dívida de valor não afasta a sua natureza penal, e como tal deverá ser tratada, não podendo ultrapassar a pessoa do condenado, de acordo com o princípio da intranscendência da pena, previsto pelo Inciso XLV do Art. 5º da CRFB.
Anistia, Graça e Indulto
Uma das mais antigas formas de extinção da pretensão punitiva é a indulgência do príncipe, que se expressa em três instituições: a anistia, o indulto e a graça. A indulgência principis se justifica como uma medida equitativa endereçada a suavizar a aspereza da justiça (supplementum istitiae).
a) Anistia
Pela anistia, o Estado renuncia ao seu ius puniendi, perdoando a prática de infrações penais que, normalmente, tem cunho politico. A regra, portanto, é de que a anistia se dirija aos chamados crimes políticos. Contudo, nada impede que a anistia também seja concedida a crimes comuns. A concessão de anistia é de competência da União, conforme preceitua o Art. 21, XVII da CRFB, e se encontra no rol das atribuições do Congresso Nacional.
Pode ser concedida antes ou depois da sentença penalcondenatória, sempre retroagindo a fim de beneficiar os agentes.
Quando a anistia restrita exclui determinados fatos, ou determinados indivíduos, ou grupos, ou classes de indivíduos, diz-se parcial quando estabelece clausulas pra fruição do benefício, diz-se condicional. A Anistia geral ou absoluta não conhece exceção de crimes ou de pessoas, nem se subordina a limitações de qualquer espécie. 
Os crimes hediondos, na forma da Lei n. 8.072/90, são insuscetíveis de anistia, bem como aqueles tratados como sendo hediondos.
O Art. 187 da LEP determina: “Concedida a anistia, o juiz, de ofício, a requerimento do interessado ou do Ministério Público, por proposta da autoridade administrativa ou do Conselho Penitenciário, declarará extinta a punibilidade.”
Graça e Indulto
A Graça e o Indulto são da competência do Presidente da República, embora o Art. 84, XII da CRFB, somente faça menção a este ultimo, subentendendo-se ser a graça o indulto individual. 
Diferença entre graça e indulto
A diferença entre os dois institutos é que a graça é concedida individualmente a uma pessoa específica, sendo que o indulto é concedido de maneira coletiva a fatos determinados pelo Chefe do Poder Executivo.
Quem poderá provocar o pedido de Graça
Na forma do Art. 188 da LEP, a graça, modernamente conhecida como indulto individual, poderá ser provocada por petição do condenado, por iniciativa do Ministério Público, do Conselho Penitenciário ou da autoridade administrativa.
Recebido o pedido será entregue ao Conselho Penitenciário para elaboração de parecer e posterior encaminhamento ao Ministério da Justiça (Art. 189 da LEP).
Indulto
O indulto coletivo ou simplesmente indulto, é, normalmente, concedido anualmente pelo Presidente da República, por meio de decreto. Pelo fato de ser editado próximo ao final do ano, esse indulto acabou sendo conhecido como indulto de natal.
Não é possível conceder a graça (indulto individual) ou o indulto (indulto coletivo) as infrações penais previstas pela Lei n. 8.072/90.
Lei de Tortura
Merece registro, ainda o fato de que a Lei n. 9.455/97 omitiu-se com relação ao indulto, dizendo no seu parágrafo 6º do Art. 1º que o crime de tortura é inafiançável, insuscetível de graça ou anistia.
Retroatividade de Lei que não considera o fato como criminoso
Ocorre a chamada abolitio criminis quando o Estado, por razões de politica criminal, entende por bem em não mais considerar determinado fato como criminoso.
Pelos princípios da intervenção mínima e da lesividade, por exemplo, o legislador deve entender que somente poderá legislar em matéria penal proibindo determinadas condutas, sob a ameaça de uma sanção de natureza penal, se o bem sobre o qual estiver recaindo a proteção da lei for significante, ou seja, for relevante a ponto de merecer tutela do Direito Penal.
O mesmo raciocínio que se faz quando da criação de tipos penais incriminadores também é realizado para a sua revogação. Se o bem que, antes, gozava de certa importância e hoje, em virtude da evolução da sociedade, já não possui o mesmo status, deverá o legislador retirá-lo do nosso ordenamento jurídico-penal, surgindo o fenômeno da abolitio criminis.
Nenhum efeito da pena permanecerá, tais como a reincidência e maus antecedentes, permanecendo, contudo, os efeitos de natureza civil, a exemplo da possibilidade de que tem a vítima de proceder a execução de seu titulo executivo judicial, conquistado em razão do transito em julgado da sentença penal que condenou o agente pela infração penal por ele cometida.
A vitima da infração penal poderá levar a efeito a liquidação de seu titulo executivo judicial, a fim de proceder a sua execução, pois esse efeito da condenação ainda se encontra mantido, mesmo que a infração penal já não mais exista quando da efetiva execução do seu titulo.
Decadência
A decadência é o instituto jurídico mediante o qual a vítima, ou quem tenha qualidade de representa-la, perde o sei direito de queixa ou de representação em virtude do decurso de um certo espaço de tempo.
O Art. 103 do CP cria uma regra geral relativa ao prazo para o exercício do direito de queixa e de representação.
Exemplo: Pode acontecer que a vítima tenha sofrido uma lesão corporal de natureza culposa, após ter-se submetido a uma intervenção médica qualquer, produzida em razão da imperícia profissional, que a todo custo, tentou ocultá-la. 
Mais tarde, mesmo depois de decorridos seis meses depois da primeira intervenção na qual ocorreram lesões, a vítima descobriu o suposto erro médico. A partir desse instante é que se tem por iniciado o prazo decadencial. 
Caso contrário, teria a situação absurda de o próprio médico tentar encobrir por durante seis meses o seu erro, determinando sucessivo retorno da vítima ao seu consultório para conseguir, ao final, fazer com que esta ultima perdesse o seu direito de representar, em virtude da ocorrência da decadência.
Perempção
A perempção é o instituto jurídico aplicável às ações penais de iniciativa privada propriamente dita ou personalíssimas, não se destinando, contudo, aquela considerada como privada subsidiária da pública. Não tem aplicação, portando nas ações penais de iniciativa pública incondicionada ou condicionada à representação do ofendido, uma vez que o Art. 60 do Código de Processo Penal determina:
“Art. 60.  Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal:
 I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos;
 II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;
 III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.”
Além das hipóteses previstas pelo Art. 60 do CPP, entende-se pela perempção, também, havendo a morte do querelante no caso de induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento (Art. 236 do CP), haja vista que pela natureza dação penal, que é personalíssima, a morte do querelante impede o prosseguimento da ação penal.
Como bem destacou Mirabete, a perempção, como perda do direito de prosseguir na ação penal de iniciativa privada, é uma sanção jurídica imposta ao querelante por sua inércia, negligencia ou contumácia. Não pode ocorrer, portanto antes da proposta da queixa.
Para que se tenha decretada a perempção com base na inércia do querelante é preciso que este tenha sido intimado para o ato, deixando contudo de promover o regular andamento do processo pelo período de 30 dias, nos moldes já decididos pelo STF.
Ao contrário do que acontece na situação anterior, na qual o querelante deverá ser intimado para promover o ato que se lhe exige praticar, quando ocorrer a sua morte ou sobrevindo-lhe incapacidade, as pessoas referidas pelo parágrafo 4º do Art. 100 do CP, deverão habilitar-se em juízo, no prazo de sessenta dias, independente da intimação sob pena de perempção.
O inciso III do Art. 60 destaca duas importantes situações: A primeira diz que a ação penal considera-se perempta quando o querelante deixa de comparecer sem motivo justificado, a qualquer ato do processo. Por ato do processo deve-se entender somente aqueles nos quais a sua presença é necessária, não ocorrendo a perempção quando o querelante tiver contratado advogado para representá-lo nos autos, e este comparece regularmente a todos os atos.
A segunda parte do Inciso III do Art. 60 do CPP fala em perempção quando o querelante em suas alegações finais deixa de pedir a condenação do querelado. É um formalismo legal que deve ser obedecido, evidenciando-se o propósito do querelante de perseguir o seu pedido formulado em sua peça inicial de acusação.
Caso o querelante tão somente peça que se façajustiça, deve ser declarada a perempção, porque a justiça importa, tanto na condenação como na absolvição.
Por fim, sendo o querelante pessoa jurídica, se esta se extinguir sem deixar sucessor, também deverá ser declarada a perempção.
Aplica-se a regra do Art. 60, Inciso II do CPP, devendo a habilitação do representante legal da pessoa jurídica ocorrer no prazo de sessenta dias, a contar da data em que ocorreu a extinção da pessoa jurídica.
Renuncia ao Direito de Queixa ou Perdão Aceito nos Crimes de Ação Privada
Renuncia ao Direito de Queixa
A renuncia ao direito de queixa pode ser expressa ou tácita. Diz-se expressa a renuncia quando formalizada por meio de declaração assinada pelo ofendido, por seu representante legal ou procurador com poderes especiais, na forma do Art. 50 do CPP.
Renuncia tácita ao direito de queixa é aquela na qual, nos termos do parágrafo único do Art. 104 do CP, o ofendido pratica atos incompatíveis com a vontade de exercê-lo, como nas hipóteses daquele que convida o autor do crime para ser seu padrinho de casamento ou para ele constituir sociedade, a exemplo.
Renuncia na forma do parágrafo único do Art. 50 do CPP
Greco entende como revogado o Art. 50 parágrafo único do CPP, com o advento do Novo Código Civil.
Renuncia com a reparação de danos
O Art, 74 parágrafo único da Lei n. 9.099/95 diz ainda haver renuncia ao direito de queixa ou de representação quando tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação publica condicionada a representação do ofendido, houver composição dos danos civis pelo autor do fato com a vítima, desde que tal acordo seja homologado pelo juiz.
Renuncia a todos os envolvidos no crime
O Art. 49 do Código de Processo Penal determina que a renuncia do direito de queixa, em relação a um dos autores, a todos se estenderá, entendendo Mirabete o seguinte:
“O principio da indivisibilidade obriga ao querelante a promover ação penal contra todos os coautores do fato delituoso em tese, não podendo abstrair nenhum, a menos que seja desconhecido. Excluído algum deles, tem-se que o querelante tacitamente renunciou ao direito de processá-lo, devendo ser estendida a todos sua abdicação.”
Tal entendimento acima esposado por Mirabete é acolhido pelo STJ.
Perdão do Ofendido
O perdão do ofendido, somente poderá ser concedido nas hipóteses onde se procede mediante queixa se subdivide:
Processual: quando levar a efeito intra-autos, quando iniciada ação penal de iniciativa privada;
Extraprocessual: quando procedido fora dos autos da ação de iniciativa privada;
Expresso: quando constar de declaração assinada pelo ofendido, por seu representante legal ou por procurador com poderes especais na forma do Art. 56 do CPP;
Tácito: quando o ofendido pratica ato incompatível com a vontade de prosseguir não ação penal por ele iniciada na forma do Art. 106, parágrafo 1º do CP.
Perdão na forma do Art. 106, Inciso I do CP
Assim de acordo com o Inciso I do Art. 106 do CP, o perdão do ofendido deverá ser dirigido a todos aqueles que, em tese, praticaram a infração penal, não podendo o querelante portanto, escolher contra quem deverá prosseguir a ação penal por ele intentada. Caso seja vontade dos demais querelados, o perdão do ofendido concedido a um deles deverá ser estendido a todos.
Perdão na forma do Art. 106, Inciso II do CP
A segunda hipótese prevista pelo Inciso II do Art. 106 do CP, diz que se o perdão for concedido por um dos ofendidos isso não prejudica o direito dos outros. Isso que dizer que sendo a ação penal proposta por vários querelantes , pode cada um deles, individualmente, se for da sua vontade, conceder o perdão sem que com isso os demais se vejam também obrigados a perdoar.
Natureza Bilateral do Perdão
O inciso III do Art. 106 do CP, demonstra a natureza bilateral do perdão, esclarecendo que o querelado tem o direito de recusá-lo, caso ele seja oferecido pelo ofendido. O querelado, entendendo que não praticou qualquer infração penal, pode não aceitar o perdão, pugnando pelo regular andamento do processo, a fim de alcançar um provimento jurisdicional absolutório. 
Mesmo que o querelado não aceite o perdão apresentado pelo querelante, poderá a pessoa do querelante gerar a extinção da punibilidade fazendo com que a acão penal seja considerada perempta, como na hipótese em que o querelante deixa de promover o andamento do processo durante trinta dias seguidos.
Quem pode ofertar o perdão
Se o querelante for maior de 18 anos somente ele poderá conceder o perdão judicial, estando revogado pelo Código Civil, a primeira parte do Art. 52 do CPP.
Curador representando o Querelado
Se o querelado for mentalmente enfermo ou retardado mental não tiver representante legal, ou colidirem os interesses deste com os do querelado, a aceitação caberá ao curador que o juiz lhe nomear (Art. 53 do CPP).
Procedimento
Concedido o perdão mediante declaração expressa no autos, o querelado será intimado a dizer, dentro de três dias, se o aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que seu silêncio importará em aceitação (Art. 58 do CPP).
A aceitação do perdão fora do processo constará de declaração assinada pelo querelado, por seu representante legal ou procurador com poderes especiais (Art. 59 do CPP).
Aceito o perdão, o juiz julgará extinta a punibilidade (Art. 58 parágrafo único do CPP).
Retratação do Agente nos Casos em que a Lei a admite
A retratação, na definição de Guilherme de Souza Nucci, “é o ato pelo qual o agente reconhece o erro que cometeu e o denuncia a autoridade, retirando o que anteriormente havia dito”.
Em várias de suas passagens a legislação penal admitiu ao autor do fato retratar-se, como ocorre nos crimes de calunia (Art. 143 do CP) e nos de falso testemunho e de falsa perícia (Art. 342 parágrafo 2º do CP).
O Art. 143 do CP, diz que o querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calunia ou da difamação fica isento de pena. Pela redação do mencionado artigo, podemos destacar dois pontos relevantes: O primeiro diz respeito ao termo ad quem para que o querelado leve a efeito a sua retratação, sendo que a lei penal determinou que seria até antes da prolação da sentença. Isso quer dizer que, uma vez proferida a decisão, a retratação do agente já não mais terá o condão de extinguir a punibilidade. O segundo ponto que merece destaque no aludido artigo refere-se ao fato de que somente nos delitos de calunia e difamação é que caberá a RETRATAÇÃO, NÃO SENDO PERMITIDA, PORTANTO NO CRIME DE INJÚRIA.
Nos crimes de falso testemunho ou falsa perícia, o parágrafo 2º do Art. 342, com a nova redação da pela Lei n. 10.268, de 28 de agosto de 2001, diz que o fato deixa de ser punível, se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ato ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.
Perdão Judicial, nos casos previstos em lei
Primeiramente, é preciso destacar que o perdão judicial não se dirige a toda e qualquer infração penal, mas, sim, aquelas previamente determinadas pela lei. Assim não cabe ao julgador aplicar o perdão judicial nas hipóteses em que bem entender, mas tão somente nos casos predeterminados pela lei penal.
Com esse raciocínio, pelo menos ab initio, torna-se impossível a aplicação da analogia in bonan partem quando se tratar de ampliação das hipóteses de perdão judicial. Isso porque a lei penal afirmou categoricamente que o perdão judicial somente seria concedido nos casos por ela previstos, afastando-se, portanto, qualquer outra interpretação.
Natureza Jurídica do Perdão Judicial
O STJ por intermédio da Súmula n. 18, posicionou-se neste sentido, afirmando que a sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não substituindo qualquer efeito condenatório, devendo ser realizada uma releitura do Art. 120 do CP.
Perdão Judicial Direito ou Faculdade do Juiz
A forma como o perdão judicial, normalmente vem previsto a fim de ser aplicado a determinada infração penal nos deixa a duvida se ele é uma faculdade do juiz ou um direito subjetivo do agente. A exemplo o Art. 121parágrafo 5º do CP.
O entendimento consolidado é retratado por Damásio de Jesus, na forma a seguir: “Um direito penal público subjetivo de liberdade. Não é um favor concedido pelo juiz. É um direito do réu. Se presentes as circunstâncias exigidas pelo tipo, o juiz não pode segundo puro arbítrio, deixar de aplicá-lo”.
Perdão Judicial nos crimes da Lei n. 9.503 de 23 de setembro de 1997
Perdão Judicial e a Lei n. 9.807/99 (Art. 13 parágrafo único da Lei n. 9.807/99) – Lei de Proteção a Testemunhas e Acusados
“DA PROTEÇÃO AOS RÉUS COLABORADORES
Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão judicial e a conseqüente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado:
I - a identificação dos demais co-autores ou partícipes da ação criminosa;
II - a localização da vítima com a sua integridade física preservada;
III - a recuperação total ou parcial do produto do crime.
Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso.”

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