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A VISÃO DA BRUCELOSE BOVINA COMO ANTROPOZOONOSE 
ARTIGO CIENTÍFICO 
 
 
AMANDA FERNANDES LUCKE 
CLEBISON PEDRONESI 
 
 
Brucelose é uma antropozoonose, (doença que se transmite dos animais ao 
homem e não entre os homens) de distribuição mundial, causada por bactérias da 
espécie Brucella sp. que infectam animais como suínos, caprinos, bovinos e cães, e dessa 
forma, direta ou indiretamente, os homens. A doença é evitável através de rastreio de 
rotina e vacinação dos animais. A partir do estudo, constatou-se que a atenção dos 
sistemas de saúde está voltada para os impactos econômicos e acaba sendo 
negligenciada como zoonose, sem o conhecimento das causas e sintomas em humanos. 
Dessa forma deve- se conscientizar e esclarecer os grupos de risco e as formas de 
infecção para o homem, como forma de prevenção. 
Palavras-chave: Brucelose; aborto; bovinos. 
 
 
Brucellosis is an anthropozoonosis (a disease that is transmitted from animals to 
humans and not between humans) with worldwide distribution, caused by bacteria of 
the species Brucella sp. that infect animals such as pigs, goats, cattle and dogs, and thus, 
directly or indirectly, men. The disease is preventable through routine screening and 
vaccination of animals. From the study, it was found that the attention of health systems 
is focused on economic impacts and ends up being neglected as a zoonosis, without 
knowledge of the causes and symptoms in humans. Therefore, awareness should be 
raised and the risk groups and forms of infection for humans should be clarified, as a 
form of prevention. 
Keywords: Brucellosis; abortion; cattle. 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
A brucelose é uma antropozoonose, isto é, uma doença que se transmite dos 
animais ao homem e não entre os homens, de distribuição mundial, sendo causada por 
bactérias intracelulares Gram-negativa pertencentes ao gênero Brucella spp, que 
infectam o sistema mononuclear fagocitário. A importância da brucelose animal varia 
de um país a outro, dependendo da população animal exposta, da espécie de Brucella 
envolvida e das medidas tomadas para combatê-las. 
O grupo com risco de contaminação pela Brucella é composto por veterinários, 
tratadores e laboratoristas, justamente pelo fato de terem contato direto com os 
animais infectados (LORENZAO, 2009). Este é o primeiro grupo a ser conscientizado da 
importância dos cuidados sanitários e dos danos econômicos desta enfermidade, como: 
restrições comerciais, surtos de aborto, distúrbios reprodutivos, queda na produção 
leiteira, aumento na taxa de reposição de animais (30%), morte de bezerros e aumento 
do intervalo entre partos (20 meses). É estimado que a brucelose cause perdas de 20-
25% na produção leiteira, devido aos abortos e aos problemas de fertilidade 
(BEVILACQUA, 2008). 
Os prejuízos diretos oriundos da brucelose são descritos principalmente por abortos, 
baixos índices reprodutivos, aumento do intervalo entre partos, morte de bezerros, queda 
da produção de leite (10 a 25%) e da conversão alimentar (10 a 15%), interrupção de 
linhagens genéticas, depreciação dos produtos no mercado e desvalorização da pecuária 
(PAULIN, 2003; TENÓRIO et al., 2008; CARDOSO, et al., 2012). No Brasil, em 2013, essa perda 
superou os 800 milhões de reais (SANTOS et al., 2013). 
Dentre as zoonoses que afetam o homem, a brucelose é uma das mais 
disseminadas, sendo que acarreta grandes problemas para saúde pública e economia se 
não for controlada, tendo uma ocorrência mundial, tem sido uma doença em 
permanente evolução desde sua identificação em 1887 (PESEGUEIRO, 2003). 
No Brasil, são raros os estudos bem planejados e de grande abrangência sobre a 
situação da brucelose bovina. O último estudo nacional, que envolveu 19 estados, foi 
realizado em 1975. Depois disso, apenas cinco estados realizaram trabalhos que 
envolveram todo o seu território, com uso de diferentes metodologias. Portanto, a 
situação epidemiológica da brucelose bovina no Brasil não é adequadamente conhecida 
(POESTER, et al., 2009). 
No início de 2001, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) 
instituiu o PNCEBT que normatiza as estratégias e ações para o controle de brucelose e 
tuberculose no país, no intuito de criar propriedades livres e propriedades monitoradas 
para ambas as doenças. Informações mais aprofundadas sobre tuberculose bovina no 
país estão contidas em revisões recentes sobre o tema. A partir da implantação e 
divulgação do PNCEBT os focos e os casos de brucelose aumentaram nos primeiros anos, 
evidenciando a atuação do serviço de defesa sanitária com relação ao diagnóstico da 
enfermidade, que provavelmente estariam subestimados nos anos anteriores, assim como 
uma maior preocupação por parte dos proprietários quanto a sanidade dos seus rebanhos, 
acarretando o aumento da notificação da doença no início do programa (GUIMARÃES, 
2011). 
Do ponto de vista da Saúde Pública deve ser considerada não só como causa de 
enfermidade, de incapacidade para o trabalho e de diminuição do rendimento, mas 
também como fator nocivo para a produção de alimentos, principalmente de proteínas 
de origem animal que são indispensáveis para a saúde e bem-estar. 
Este trabalho tem como objetivo descrever e conscientizar sobre a importância 
do conhecimento dos meios de contaminação, assim como os grupos de risco, buscando 
proporcionar esclarecimento sobre a brucelose. 
 
AGENTE PATOGÊNICO 
A brucelose, também chamada de mal de Bang ou aborto infeccioso, é uma das 
doenças mais importantes nos bovinos, nos quais é quase sempre causada por Brucella 
abortus, que foi reconhecida pela primeira vez em 1897. Trata-se de microrganismo 
altamente infeccioso, uma bactéria, que normalmente entra no corpo por meio de: 
ingestão de comida, água e leite contaminado com descargas uterinas, urina ou fezes de 
um animal infectado; pele lesada ou não lesada ou sêmen de touro infectado. 
As Brucellas são pequenos bastonetes, chamados de cocobactérias Gram-
negativos, aeróbias ou microaerófilas, não capsuladas e não formadoras de esporos, são 
aeróbias e carboxifílicas, catalase e urease positivas e não produzem ácidos de 
carboidratos em meio convencional com peptona. Resistem bem à inativação no meio 
ambiente. Se as condições de pH, temperatura e luz são favoráveis, elas resistem vários 
meses na água, fetos, restos de placenta, fezes, lã, feno, materiais e vestimentas e, 
também, em locais secos (pó, solo) e a baixas temperaturas. No leite e produtos lácteos 
sua sobrevivência depende da quantidade de água, temperatura, pH e presença de 
outros microorganismos. Quando em baixa concentração, as Brucellas são facilmente 
destruídas pelo calor (LAGE, 2008). A maioria dos desinfetantes (formol, hipoclorito, 
fenol, xileno) são ativos contra as Brucellas em soluções aquosas, já os desinfetantes 
amoniacais não apresentam uma boa atividade para desinfecção. Os raios ultravioletas 
e ionizantes também destroem essas bactérias (BEVILACQUA, 2008). Os 
microorganismos deste gênero eram considerados incapazes de se locomover, mas, 
recentemente a presença de flagelo e de um gene codificador de flagelo foram 
demonstrados nas espécies (MEGID e MATHIAS, 2016). 
Estas bactérias podem ser divididas em dois grupos antigenicamente distintos, 
denominadas lisas ou rugosas, com base nas características de multiplicação em meios 
de cultura no cultivo primário e na constituição química do lipopolissacarídeo (LPS) de 
superfície da parede celular, principal antígeno responsável pela indução de anticorpos 
e virulência de superfície. As colônias lisas possuem como constituinte do LPS, o lipídeo 
A, o núcleo oligossacarídeo e na porção hidrofílica a cadeia O, sendo por este motivo 
extremamente virulentas. As colônias rugosas diferem da anterior pela cadeia O ser 
ausente ou reduzida a poucos resíduos. As espécies B. canis e B. ovis apresentam 
morfologia de colônia predominantementedo tipo rugosa enquanto que as demais 
normalmente apresentam morfologia de colônia lisa e quando sofrem mutações para 
formas rugosas, deixam de ser patogênicas (PAULIN, 2003; SOLA et al., 2014; MEGID e 
MATHIAS, 2016). 
Outros antígenos externos, internos e citoplasmáticos, como as proteínas 
ribossômicas L7 e L12, são reconhecidos pelo sistema imune durante a infecção, 
ocasionando hipersensibilidade tardia, mas com resposta indutora inferior a encontrada 
contra o LPS (MEGID e MATHIAS, 2016). 
A brucelose humana pode ser causada por quatro espécies, sendo elas: Brucella 
abortus, B. melitensis, B. suis e B. canis. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e 
Abastecimento (MAPA), a brucelose causada pela Brucella melitensis é considerada a 
mais virulenta para o homem, entretanto no Brasil esta espécie é exótica (PESSEGUEIRO 
et al., 2003; BRASIL, 2006; GOMES, 2013). 
Bovinos e bubalinos são suscetíveis à B. suis e B. melitensis, quando estes estão 
em contato com suínos, caprinos ou ovinos, mas a espécie que possui a maior 
distribuição territorial e importância é a B. abortus, responsável pela grande maioria das 
infecções, sendo este o agente etiológico da brucelose bovina (QUINN et al., 2005; 
TENÓRIO et al., 2008; MESQUITA FILHO, 2013). 
As Brucellas spp. não são hospedeiro-específicas e várias espécies domésticas ou 
silvestres são suscetíveis à infecção por B. abortus, entretanto, são consideradas como 
hospedeiros finais da infecção, pois não transmitem o agente novamente aos bovinos. 
Entre as espécies acidentais que possuem importância epidemiológica, podemos citar: 
a equina, que podem apresentar lesões articulares, principalmente em região de 
cernelha; a canina, que por carrearem produtos de aborto de um local para outro podem 
disseminar a doença, além das fêmeas sofrerem aborto pela infecção; e outras como a 
suína, ovina e caprina (POESTER et al., 2002; BARBOSA, 2009). 
Apesar de permanecerem por longos períodos em materiais como esterco, água, 
fetos abortados, solo, carne, leite e produtos lácteos, chegando a se manterem viáveis 
por seis meses ou mais em alguns destes, as Brucella spp. não se multiplicam nestes 
ambientes, e são sensíveis a determinados fatores, o que faz com que sua resistência 
seja variável de acordo com a natureza do substrato, temperatura, luz solar direta, pH, 
número de organismos presentes, umidade e presença de outros microrganismos 
contaminantes. Quanto maior a temperatura, exposição solar, menor umidade e pH (4 
– 3,5), menos tempo este tipo de microrganismo sobrevive. Desinfetantes como cal 
hidratada, cloro, soda cáustica, amônia quaternária, formol e fenol, com tempo mínimo 
de uma hora e em concentrações ideais, podem ser utilizados na desinfecção de 
instalações, utensílios e ambiente. 
Geralmente, a remoção dos animais infectados, a limpeza e a desinfecção de 
locais contaminados (eliminar toda matéria orgânica antes da aplicação dos produtos é 
essencial para que atinjam sua total eficácia) e o vazio sanitário de no mínimo dois meses 
são suficientes para evitar a sua transmissão. Submetida à ação de desinfetantes como 
produtos clorados (2,5% de cloro ativo), soluções de formaldeídos a 2% em temperatura 
ambiente acima de 15º C ou compostos fenólicos a 2,5%, a brucela é eliminada no prazo 
máximo de 15 minutos. Álcool 70º destrói prontamente a bactéria. Sob a ação do 
carbonato de cálcio (1:10), é destruída em 30 minutos. 
As brucelas entram no organismo hospedeiro pelas mucosas do trato digestivo, 
genital ou nasal, conjuntiva ocular ou por soluções de continuidade da pele. A principal 
porta de entrada para os bovinos é a mucosa orofaringeana (BISHOP et al., 1994). Em 
seguida, são fagocitadas principalmente pelos macrófagos e carreadas até os linfonodos 
regionais (como pode ser observado na Figura 1), onde se multiplicam e podem 
permanecer por semanas a meses (BATHKE, 1988; BISHOP et al., 1994). Após esta 
multiplicação inicial, ganham a corrente sangüínea por meio do duto torácico, dentro 
dos macrófagos ou livres no plasma. Vários períodos de bacteremia podem ocorrer. A 
partir da circulação, difundem-se para os tecidos do hospedeiro, colonizando 
principalmente órgãos ricos em células do sistema mononuclear fagocitário, quais 
sejam, baço, fígado e linfonodos (principalmente os supra mamários), onde podem 
acarretar alterações inflamatórias e anátomopatológicas caracterizadas por granulomas 
difusos levando à esplenomegalia, hepatomegalia e, às vezes, hiperplasia linfoide. 
Os órgãos de predileção são aqueles em que há maior disponibilidade de 
elementos necessários para seu metabolismo, como o eritritol (álcool polihídrico de 
quatro carbonos), que está presente no útero gravídico, tecidos mamários e ósteo 
articulares e órgãos do sistema reprodutor masculino. A partir do quinto mês de 
gestação, a concentração do eritritol eleva-se atingindo níveis máximos próximo ao 
parto, estimulando a multiplicação da bactéria de forma crescente. Na fêmea, a infecção 
deixa de ser latente geralmente no terço final da gestação, quando o tecido córion-
alantoideano está bem desenvolvido e há disponibilidade dos metabólitos. Neste 
período, a multiplicação da brucela é intensa e as endotoxinas liberadas após sua 
destruição geram lesões na placenta, principalmente, no tecido córion alantoideano, 
levando a processo inflamatório dos tecidos e órgãos, causando placentite necrótica dos 
cotilédones, resultando no seu descolamento pela lise das suas vilosidades. Essas lesões 
comprometem a circulação materno-fetal, prejudicando sua respiração e alimentação, 
podendo levá-lo à morte. Nos casos agudos da doença, quanto maior a necrose, maior 
a chance de ocorrer abortamento, único sintoma aparente na maioria das infecções 
brucélicas. Por outro lado, quanto menos intensa a necrose maior será a deposição de 
fibrina e mais tardio o abortamento. Nesse caso, pode ocorrer a retenção de placenta, 
ou a gestação vir a termo, porém gerando produtos fracos que poderão morrer em 
alguns dias. O quadro pode evoluir para metrite ou endometrite crônica e consequente 
subfertilidade, infertilidade ou esterilidade com ou sem presença de corrimento vaginal. 
 
PREVENÇÃO 
Para a brucelose bovina, as estratégias de combate podem ser resumidas em 
vacinação, certificação de propriedades livres por rotinas de testes indiretos, controle 
da movimentação de animais e sistema de vigilância específico. Os resultados 
alcançados pelos países, segundo os programas de controle, variam muito, pois há 
registros de sucessos e fracassos citados na literatura especializada (POESTER et al., 
2009). Ainda segundo Lage (2008) uma das mais poderosas estratégias na estruturação 
de um programa de controle de brucelose bovina é a vacinação, principalmente a 
vacinação de fêmeas jovens (3 a 8 meses) com B19. Esta vacinação de animais jovens 
associada à vacinação estratégica com RB51 em fêmeas com idade superior a oito meses 
acarreta um aumento da cobertura vacinal, de tal forma que diminui a percentagem de 
indivíduos susceptíveis da população, diminui a taxa de abortos e, consequentemente, 
diminui a taxa de infecção. 
O segundo ponto no controle da doença é a eliminação do rebanho de animais 
positivos aos testes diagnósticos o mais rápido possível para se evitar que permaneçam 
como fontes de infecção para os animais susceptíveis. É de grande importância que 
estes animais sejam separados do rebanho logo após o diagnóstico, evitando-se que eles 
abortem ou venham a parir junto aos animais negativos. Associadas a estas duas 
estratégias, a aquisição criteriosa de animais, sempre com exames negativos para 
brucelose, é uma medida que deve ser adotada para se evitar a entrada de animais 
infectados na propriedade (LAGE, 2008). 
 
MEIOS DE TRANSMISSÃO 
Embora a brucelose humana chame atenção dos sistemas de saúde em todo o 
mundo por ser uma doença que apresenta importantesimpactos, desde o ponto de vista 
ocupacional, problemas sanitários e até prejuízos econômicos, ela ainda é pouco 
conhecida, de difícil diagnóstico, subnotificada e negligenciada. É um problema de 
distribuição mundial principalmente em países com baixo investimento na pecuária de 
leite e carne. Sua incidência causa barreiras sanitárias de exportação de produtos de 
origem animal (PACHECO, 2008). 
Os meios de contaminação mais frequentes para o homem são: produtos 
alimentícios preparados do leite cru de animais infectados; legumes crus contaminados 
por excrementos de animais infectados; vísceras, medula espinhal e gânglios linfáticos 
de carnes infectadas, nas quais a Brucella pode permanecer viável por mais de um mês 
após o abate, e mais tempo ainda se congeladas ou refrigeradas e água de cisternas e 
poços contaminados por excrementos de animais doentes. A transmissão de Brucella ao 
homem pela ingestão e/ou manipulação do leite/carne contaminado, e seus derivados, 
está bem comprovada, e sabe-se que as três espécies principais de Brucella (B. abortus; 
B. suis e B. melitensis) podem ser transmitidas pelo leite. 
A capacidade de sobrevivência da brucela em condições naturais é grande se 
comparada a de outras bactérias patogênicas não esporuladas, principalmente em 
ambiente úmido ao abrigo da luz solar direta, pH neutro e em ambiente contendo 
matéria orgânica. 
 
SINAIS CLÍNICOS 
A brucelose tanto pelo número e enfermos que causa, como pelas importantes 
perdas econômicas que provoca, constitui um grave motivo de preocupação, por ser 
uma doença de evolução crônica e de caráter granulomatoso típico, que acomete 
principalmente o sistema reprodutivo e ostearticular de animais domésticos, silvestres 
e seres humanos (PACHECO, 2008). 
Em função dos sintomas difusos da brucelose tanto em humanos como em 
animais, a suspeita clínica inclui sintomas como febre, mal-estar, sudorese, calafrios, 
fraqueza, cansaço, perda de peso, dores nas articulações, musculares, abdômen e nas 
costas, e deve ser confirmada por testes sorológicos e de preferência confirmados pelo 
isolamento e identificação do agente (MARQUES, 2008). Muitas vezes é tratado como 
outras doenças ou ‘febre de origem desconhecida’, por isso é de extrema importância 
realizar a investigação epidemiológica e sanitária, para avaliar uma possível vinculação 
e exposição no ambiente de trabalho do paciente, além do consumo de alimentos 
lácteos sem tratamento térmico adequado, como a pasteurização e a fervura 
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019). 
 
DIAGNÓSTICO 
O diagnóstico da brucelose bovina é realizado por meio de exames 
complementares. Entretanto, a associação dos sinais clínicos de cunho reprodutivo 
(aborto, infertilidade e perdas de bezerros) com os dados epidemiológicos, 
proporcionam uma indicação da provável presença da enfermidade no rebanho (LAGE 
et al., 2008). 
Os testes permitem o monitoramento tanto de propriedades como de regiões 
inteiras, além de vigiar zonas de onde a doença já foi erradicada. Todos os testes devem 
ser utilizados respeitando-se as normas técnicas estabelecidas pelos organismos 
internacionais, com antígenos padronizados e específicos para cada prova. O Programa 
Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (PNCEBT) no Brasil, em 
10 de janeiro de 2001, preconiza o TAAT (Teste do antígeno acidificado tamponado ) 
como prova de triagem e, como provas confirmatórias, o 2-ME (Teste do 
Mercaptoetanol ) e a RFC' (Reação de fixação do complemento). Segue descrição dos 
principais testes indiretos para o diagnóstico da brucelose bovina são: 
 
Teste do antígeno acidificado tamponado (TAAT) 
O TAAT é uma prova qualitativa rápida, prática e de boa sensibilidade, 
(ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD, 1986). Foi desenvolvido a partir da observação 
de que a IgG1 bovina é menos ativa em pH 7, mudando de comportamento com a 
acidificação do meio. Como se trata de um processo físico, é provável que nem todas as 
IgM tenham sua reatividade reduzida. Ao compararem diferentes provas sorológicas, 
constataram que o TAAT detectou o maior número de reatores positivos ao cultivo. O 
TAAT é considerado a melhor alternativa para o diagnóstico massal de rebanhos 
(ORGANIZACIÓN INTERNACIONAL DE LA SALUD, 2002) 
 
Teste do Mercaptoetanol (2-ME) 
O teste do Mercaptoetanol tem sua especificidade aumentada por inibição da 
atividade aglutinante da IgM mediante processo químico, que consiste no tratamento 
do soro com a droga 2-mercaptoetanol. A droga degrada a IgM em cinco sub unidades 
monoméricas semelhantes não aglutinantes, por redução branda das pontes 
dissulfídicas desestabilizando o polímero ao degradá-lo em sub unidades que conservam 
suas características de antigenicidade, mas deixam de compor o anticorpo plurivalente 
(IgM) e não passam a se comportar como anticorpos univalentes. Ainda que as sub 
unidades estejam integradas por suas cadeias pesadas e leves, ao combinarem-se com 
o antígeno não originam complexos suficientemente grandes para provocarem o 
fenômeno da aglutinação, provavelmente devido a algum impedimento estérico em 
conseqüência de sua nova conformação espacial. 
 
Reação de fixação do complemento (RFC') 
A RFC' é considerada a melhor prova para a confirmação da brucelose pelo 
sorodiagnóstico, mostrando a melhor correlação com os isolamentos em animais 
natural ou experimentalmente infectados. Porém, trata-se de uma prova mais laboriosa 
e mais cara que as de aglutinação, por isso recomenda-se seu uso como confirmatória 
para os soros positivos à triagem. A variação da técnica a quente é mais prática, diminui 
as reações anticomplementares e elimina a IgM, aumentando a especificidade do teste. 
A RFC' a quente tem sido usada como prova confirmatória em programas de controle e 
erradicação de muitos países. A técnica detecta precocemente IgG1 no soro, em torno 
do 14º dia e também é capaz de revelar casos crônicos, onde a IgM já desapareceu e os 
níveis de IgG1 são baixos, devido ao seu baixo limiar de detecção. Para os resultados da 
RFC' sejam comparáveis é necessária a adoção de um padrão internacional único. 
Muitos países possuem um padrão nacional e, na Comunidade Européia, o teste é 
padronizado pelo Laboratório Central de Veterinária em Weybridge, Reino Unido 
(MINISTRY OF AGRICULTURE, FISHERIES AND FOOD, 1991). O Código Zoosanitánio 
Internacional da OIE refere a RFC’ como um importante suporte técnico e exigência do 
mercado externo e a recomenda como prova confirmatória, triada pela TAAT 
(ORGANIZACIÓN INTERNACIONAL DE EPIZOOTIES, 2002). 
 
Prova do anel em leite (PAL) 
Revela anticorpos preferencialmente da classe IgA, presentes no leite e aderidos 
às moléculas de gordura pela sua fração Fc. Geralmente é utilizada em amostras 
compostas em média por leite de 15 animais e deve ser realizada de três a quatro vezes 
ao ano, com a finalidade de triar rebanhos infectados a partir das plataformas de usinas 
de beneficiamento de leite (ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD, 1986). A prova é 
prática, rápida, barata e de alta sensibilidade. Tem grande valor em investigações 
epidemiológicas como teste presuntivo para a identificação de rebanhos 
potencialmente infectados em áreas problema. Também é empregado na vigilância 
epidemiológica para controlar sistematicamente áreas livres. Quando o anticorpo 
interage com o antígeno corado (hematoxilina ou tetrazólio), forma- se a malha de 
aglutinação que flutua, junto com a gordura, para a superfície da amostra, revelando o 
anel colorido. 
 
Sêmen plasma aglutinação (SPA) 
Trata-se o sêmen com azida sódica 1%, centrifugase e retira-se o seu plasma, que 
será submetido às provas usuais: TAAT, RFC' ou 2-ME. Se o teste for positivo há fortes 
indícios da doença. Como se trata de prova individual, a possibilidade de reação falso 
negativa não deve ser afastada. Por isso, o ideal seria utilizá-la junto com o 
sorodiagnósticoconvencional. 
 
Testes imunoenzimáticos (ELISA) 
Os testes imunoenzimáticos que têm apresentado melhores resultados para 
brucelose são os ELISA indiretos e competitivos. São muito utilizados na Europa e 
América do Norte. Possuem boa especificidade e sensibilidade com a vantagem de não 
ocorrer o fenômeno de zona como ocorre na RFC'. Uma das limitações do ELISA é que 
requer um laboratório equipado e pessoal treinado para a sua execução. Devido as suas 
vantagens, alguns países já estão empregando o IELISA e o CELISA nas rotinas 
sorológicas, em substituição à tradicional combinação do TAAT para triagem e RFC' para 
confirmação. 
O IELISA apresenta como vantagens altas sensibilidade e especificidade e a 
possibilidade de automatização total do processo. Os problemas estão no investimento 
inicial e na impossibilidade, tal e qual os demais testes, de se distinguir animais 
vacinados dos infectados, além do tempo para sua realização ser relativamente maior 
que o TAAT. Porém, em processo automatizado, é possível realizar uma média de 1.000 
soros por dia. 
O CELISA também apresenta altas especificidade e sensibilidade no diagnóstico 
da brucelose bovina e é tecnicamente menos trabalhoso, além de poder diferenciar 
animais vacinados dos naturalmente infectados. Além disso, um mesmo conjugado 
pode ser utilizado para testar soros de diversas espécies animais. Os custos para a 
realização do ELISA competitivo ou indireto são similares, porém superiores aos do TAAT 
e, inicialmente, semelhantes aos da RFC' e aos do Teste da polarização da fluorescênci 
a - FPA. 
 
 
CONCLUSÃO 
Com a realização desta revisão foi possível concluir que a brucelose bovina é uma 
doença zoonótica de grande importância no âmbito da Medicina Veterinária e de saúde 
pública. Acomete bovinos de todas as idades e raças, não tendo tratamento indicado, 
portanto de notificação obrigatória e abate sanitário dos animais acometidos, com isso 
podemos compreender importância da vacinação como medida de prevenção correta 
para maior controle da enfermidade e estabelecimento de propriedades livres. 
Sob o ponto de vista da saúde pública, podemos concluir que deve haver 
esclarecimentos dos meios de contaminação para humanos, o que auxiliaria no 
diagnóstico. E que há a necessidade de medidas que reduzam o risco de infecção, assim 
como medidas de proteção nas diferentes atividades profissionais (proteção individual 
ao manipular fetos, produtos de abortos, vacinas vivas) e associadas à higiene alimentar 
(pasteurização de produtos lácteos). 
Além disso, o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza o tratamento gratuito 
da brucelose humana aos estados e seus municípios. Os medicamentos da terapia 
antibacteriana poderão ser receitados após avaliação médica e confirmação do 
diagnóstico por exames laboratoriais. 
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