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Lei Geral de Proteção de Dados e a Administração Pública Módulo III Tratamento de Dados Pessoais CURITIBA - 2021 Rua Jacy Loureiro de Campos S/N I Palácio das Araucárias I Centro Cívico I Curitiba/PR I CEP 80.530-915 I 41 3313.6264 I 3313.6670 www.administracao.pr.gov.br Sumário Apresentação ......................................................................................................... 5 Módulo III TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS ................................................................. 6 1.1 Tratamento de Dados Pessoais .............................................................. 6 1.1.1 Tratamento dos Dados Pessoais Sensíveis ............................................... 10 1.1.2 Tratamento de Dados Pessoais de Crianças e Adolescentes .................... 10 1.1.3 Ciclo de Vida de Dados Pessoais .............................................................. 12 1.2 Tratamento de Dados Pessoais Pelo Poder Público ............................. 12 1.2.1 Compartilhamento de Dados Entre Órgãos e Entidades da Administração Pública................................................................................ 14 1.2.2 Compartilhamento de Dados Entre Órgãos e Entidades Privadas ............. 16 1.3 Transferência Internacional de Dados ................................................... 17 Referências ............................................................................................................ 20 Rua Jacy Loureiro de Campos S/N I Palácio das Araucárias I Centro Cívico I Curitiba/PR I CEP 80.530-915 I 41 3313.6264 I 3313.6670 www.administracao.pr.gov.br 5 Apresentação Este módulo versa sobre os conceitos e requisitos envolvidos no tratamento de dados pessoais, com ênfase ao tratamento efetuado pelo Poder Público. Serão apresentadas ainda informações e orientações sobre o compartilhamento de dados e acerca da transferência internacional de dados. Rua Jacy Loureiro de Campos S/N I Palácio das Araucárias I Centro Cívico I Curitiba/PR I CEP 80.530-915 I 41 3313.6264 I 3313.6670 www.administracao.pr.gov.br 6 Módulo III TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS Mineia Luckfett de Oliveira* 1.1 Tratamento de Dados Pessoais O tratamento de dados pessoais poderá ser realizado desde que enquadrado em uma das hipóteses enumeradas no art. 7º1 ou ainda no art. 112 , em se tratando de dados sensíveis, ambos da LGPD. Além dos casos previstos nos dispositivos legais citados, o tratamento de dados pessoais deve observar a boa-fé e os princípios fundamentais previstos no art. 6º da Lei. 1 “Art. 7º O tratamento de dados pessoais somente poderá ser realizado nas seguintes hipóteses: I - mediante o fornecimento de consentimento pelo titular; II - para o cumprimento de obrigação legal ou regulatória pelo controlador; III - pela administração pública, para o tratamento e uso compartilhado de dados necessários à execução de políticas públicas previstas em leis e regulamentos ou respaldadas em contratos, convênios ou instrumentos congêneres, observadas as disposições do Capítulo IV desta Lei; IV - para a realização de estudos por órgão de pesquisa, garantida, sempre que possível, a anonimização dos dados pessoais; V - quando necessário para a execução de contrato ou de procedimentos preliminares relacionados a contrato do qual seja parte o titular, a pedido do titular dos dados; VI - para o exercício regular de direitos em processo judicial, administrativo ou arbitral, esse último nos termos da Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996 (Lei de Arbitragem) ; VII - para a proteção da vida ou da incolumidade física do titular ou de terceiro; VIII - para a tutela da saúde, em procedimento realizado por profissionais da área da saúde ou por entidades sanitárias; VIII - para a tutela da saúde, exclusivamente, em procedimento realizado por profissionais de saúde, serviços de saúde ou autoridade sanitária; (Redação dada pela Lei nº 13.853, de 2019) Vigência IX - quando necessário para atender aos interesses legítimos do controlador ou de terceiro, exceto no caso de prevalecerem direitos e liberdades fundamentais do titular que exijam a proteção dos dados pessoais; ou X - para a proteção do crédito, inclusive quanto ao disposto na legislação pertinente.” 2 “Art. 11. O tratamento de dados pessoais sensíveis somente poderá ocorrer nas seguintes hipóteses: I - quando o titular ou seu responsável legal consentir, de forma específica e destacada, para finalidades específicas; II - sem fornecimento de consentimento do titular, nas hipóteses em que for indispensável para: a) cumprimento de obrigação legal ou regulatória pelo controlador; b) tratamento compartilhado de dados necessários à execução, pela administração pública, de políticas públicas previstas em leis ou regulamentos; c) realização de estudos por órgão de pesquisa, garantida, sempre que possível, a anonimização dos dados pessoais sensíveis; d) exercício regular de direitos, inclusive em contrato e em processo judicial, administrativo e arbitral, este último nos termos da Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996 (Lei de Arbitragem); e) proteção da vida ou da incolumidade física do titular ou de terceiro; f) tutela da saúde, em procedimento realizado por profissionais da área da saúde ou por entidades sanitárias; ou f) tutela da saúde, exclusivamente, em procedimento realizado por profissionais de saúde, serviços de saúde ou autoridade sanitária; ou (Redação dada pela Lei nº 13.853, de 2019) g) garantia da prevenção à fraude e à segurança do titular, nos processos de identificação e autenticação de cadastro em sistemas eletrônicos, resguardados os direitos mencionados no art. 9º desta Lei e exceto no caso de prevalecerem direitos e liberdades fundamentais do titular que exijam a proteção dos dados pessoais.” * Graduada em Direito pela Universidade Tuiuti do Paraná (2003). Advogada. Assessora Técnica da Controladoria- Geral do Estado do Paraná. Autora das Cartilhas: Lei Geral de Proteção de Dados, da Controladoria-Geral do Estado do Paraná e Encarregado pelo Tratamento de Dados Pessoais. Participante do processo de elaboração do Decreto Estadual nº 6.474/2020, que regulamenta a aplicação da LGPD, no âmbito do Poder Executivo do Estado do Paraná. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9307.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9307.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13853.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm#art65.. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9307.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13853.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13853.htm#art2 mailto:mineial@cge.pr.gov.br Rua Jacy Loureiro de Campos S/N I Palácio das Araucárias I Centro Cívico I Curitiba/PR I CEP 80.530-915 I 41 3313.6264 I 3313.6670 www.administracao.pr.gov.br 7 HIPÓTESE DE TRATAMENTO DISPOSITIVO LEGAL REQUER CONSENTIMENTO DO TITULAR? Hipótese 1: Mediante consentimento do titular LGPD, art. 7º, inciso I Sim Hipótese 2: Para o cumprimento de obrigação legal ou regulatória LGPD, art. 7º, inciso II Não Hipótese 3: Para a execução de políticas públicas LGPD, art. 7º, inciso III Não Hipótese 4: Para a realização de estudos e pesquisas LGPD, art. 7º, inciso IV Não Hipótese 5: Para a execução ou preparação de contrato LGPD, art. 7º, inciso V Termos de consentimento definidos no contrato ou decorrentes da autonomia da vontade. Hipótese 6: Para o exercício de direitos em processo judicial, administrativo ou arbitral LGPD, art. 7º, inciso VI Não Hipótese 7: Para a proteção da vida ou da incolumidade física do titular ou de terceiroLGPD, art. 7º, inciso VII Não Hipótese 8: Para a tutela da saúde do titular LGPD, art. 7º, inciso VIII Não Hipótese 9: Para atender interesses legítimos do controlador ou de terceiro LGPD, art. 7º, inciso IX Não Hipótese 10: Para proteção do crédito LGPD, art. 7º, inciso X Não Fonte: Guia de Boas Práticas - Lei Geral de Proteção de Dados - Comitê Central de Governança de Dados. Para os para órgãos e entidades públicas, as hipóteses mais comuns seriam as elencadas nos itens 2, 3 e 5 do Quadro. Porém, existem outras situações, cabendo inclusive o enquadramento em mais de uma hipótese legal. A identificação das hipóteses de tratamento de dados aplicáveis dependerá da análise das finalidades e contextos específicos de cada situação. Considerando o exposto, segue uma breve descrição de cada uma delas: a) Tratamento mediante consentimento do titular: o titular tem a opção de escolha sobre o tratamento de seus dados; b) Tratamento para o cumprimento de obrigação legal ou regulatória: aplicável quando necessário processar dados pessoais para o cumprimento de obrigações legais ou regulatórias específicas. Não abrange as obrigações estabelecidas por contrato; c) Tratamento para a execução de políticas públicas: aplicável para o tratamento e uso compartilhado de dados necessários à execução de políticas públicas, previstas em leis e regulamentos, ou respaldadas em contratos, convênios ou instrumentos congêneres. Deve ser realizado por controladores que sejam pessoas jurídicas de Rua Jacy Loureiro de Campos S/N I Palácio das Araucárias I Centro Cívico I Curitiba/PR I CEP 80.530-915 I 41 3313.6264 I 3313.6670 www.administracao.pr.gov.br 8 direito público, podendo envolver operadores para a realização do tratamento de dados pessoais necessários à consecução de políticas públicas, que podem ser pessoas jurídicas de direito privado; d) Tratamento para a realização de estudos e pesquisas: aplicável para o tratamento de dados para realização de estudos por órgão de pesquisa, garantida, sempre que possível, a anonimização dos dados pessoais. Em se tratando de estudos em saúde pública, o art. 133, da LGPD possibilita que os órgãos tenham acesso a bases de dados pessoais, inclusive os atributos sensíveis, que serão tratados exclusivamente dentro do referido órgão e estritamente para a finalidade de realização de estudos e pesquisas, devendo o órgão ou entidade garantir que os dados sejam mantidos em ambiente controlado e seguro, e, sempre que possível, sejam anonimizados ou pseudonimizados. e) Tratamento para a execução de contrato ou de procedimentos preliminares relacionados a contrato: hipótese aplicável para o tratamento de dados necessário à execução de contrato ou de procedimentos preliminares relacionados ao contrato do qual seja parte o titular. As hipóteses de tratamento de dados estarão previstas no contrato. O consentimento é fornecido no ato de formalização do termo ou decorrente desse; f) Tratamento para o exercício de direitos em processo judicial, administrativo ou arbitral: hipótese aplicável para o tratamento de dados quando necessário, ao exercício regular de direitos do titular em processo judicial, administrativo ou arbitral, por quaisquer das partes envolvidas; g) Tratamento para a proteção da vida ou da incolumidade física do titular ou de terceiros: hipótese aplicável para o tratamento de dados para a proteção da vida ou da incolumidade física do titular ou de terceiros; 3 “Art. 13. Na realização de estudos em saúde pública, os órgãos de pesquisa poderão ter acesso a bases de dados pessoais, que serão tratados exclusivamente dentro do órgão e estritamente para a finalidade de realização de estudos e pesquisas e mantidos em ambiente controlado e seguro, conforme práticas de segurança previstas em regulamento específico e que incluam, sempre que possível, a anonimização ou pseudonimização dos dados, bem como considerem os devidos padrões éticos relacionados a estudos e pesquisas. § 1º A divulgação dos resultados ou de qualquer excerto do estudo ou da pesquisa de que trata o caput deste artigo em nenhuma hipótese poderá revelar dados pessoais. § 2º O órgão de pesquisa será o responsável pela segurança da informação prevista no caput deste artigo, não permitida, em circunstância alguma, a transferência dos dados a terceiro. § 3º O acesso aos dados de que trata este artigo será objeto de regulamentação por parte da autoridade nacional e das autoridades da área de saúde e sanitárias, no âmbito de suas competências. § 4º Para os efeitos deste artigo, a pseudonimização é o tratamento por meio do qual um dado perde a possibilidade de associação, direta ou indireta, a um indivíduo, senão pelo uso de informação adicional mantida separadamente pelo controlador em ambiente controlado e seguro.” Rua Jacy Loureiro de Campos S/N I Palácio das Araucárias I Centro Cívico I Curitiba/PR I CEP 80.530-915 I 41 3313.6264 I 3313.6670 www.administracao.pr.gov.br 9 h) Tratamento para a tutela da saúde do titular: hipótese aplicável para o tratamento de dados para a tutela da saúde, exclusivamente, em procedimento realizado por profissionais de saúde, serviços de saúde ou autoridade sanitária. i) Tratamento para atender interesses legítimos do controlador ou de terceiros: hipótese aplicável para o tratamento de dados quando necessário, para atender aos interesses legítimos do controlador ou de terceiros, exceto no caso de prevalecerem direitos e liberdades fundamentais do titular que exijam a proteção dos dados pessoais. Os órgãos e entidades públicos não poderão se valer dessa hipótese de tratamento de dados para a execução de políticas públicas ou de suas próprias competências legais. Somente nos casos de finalidade diversa; j) Tratamento para proteção do crédito: aplicável para o tratamento de dados para proteção do crédito do titular; k) Tratamento para a garantia da prevenção à fraude e à segurança do titular nos processos de identificação e autenticação de cadastro em sistemas eletrônicos: aplicável para o tratamento de dados de pessoas sensíveis, para assegurar a identificação do titular para a autenticação de cadastro em sistemas eletrônicos, visando à prevenção de fraudes e à garantia da segurança do titular. Não pode ser utilizada no caso de prevalecerem direitos e liberdades fundamentais do titular que exijam a proteção dos dados pessoais. Existem hipóteses de não aplicabilidade da LGPD ao tratamento de dados pessoais, quais são: I - realizado por pessoa natural para fins exclusivamente particulares e não econômicos; II - realizado para fins exclusivamente: a) jornalístico e artísticos; ou b) acadêmicos, aplicando-se a esta hipótese os arts. 7º e 11 da Lei; III - realizado para fins exclusivos de: a) segurança pública; b) defesa nacional; c) segurança do Estado; ou d) atividades de investigação e repressão de infrações penais; ou IV - provenientes de fora do território nacional e que não sejam objeto de comunicação; uso compartilhado de dados com agentes de tratamento brasileiros; ou objeto de transferência internacional de dados com outro país que não o de proveniência, desde que o país de origem proporcione grau de proteção de dados pessoais adequado ao previsto na Lei. Rua Jacy Loureiro de Campos S/N I Palácio das Araucárias I Centro Cívico I Curitiba/PR I CEP 80.530-915 I 41 3313.6264 I 3313.6670 www.administracao.pr.gov.br 10 1.1.1 Tratamento dos Dados Pessoais Sensíveis O tratamento de dados pessoais sensíveis pelo Estado não necessita de consentimento, conforme art. 11, inciso II, "b" da LGPD, quando necessários à execução, pela administração pública, de políticas públicas previstas em leis ou regulamentos. A dispensa de consentimento deverá ser comunicada ao titularde dados, pelos órgãos e pelas entidades públicas, mediante o fornecimento de informações claras e atualizadas sobre a previsão legal, a finalidade, os procedimentos e as práticas utilizadas para a execução de suas atividades, em veículos de fácil acesso, preferencialmente em seus sítios eletrônicos. 1.1.2 Tratamento de Dados Pessoais de Crianças e Adolescentes A Lei Geral de Proteção de Dados consagrou uma seção especial para assegurar a proteção ao tratamento de dados pessoais de crianças e adolescentes (Seção III - "Do Tratamento de Dados Pessoais de Crianças e Adolescentes"). Para a efetividade do art. 14 da LGPD4, é importante que sejam observadas também as demais normas protetivas contidas na Constituição Federal, no Estatuto da Criança e do Adolescente e na Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança. No aspecto relacionado ao tratamento de dados de menores, a legislação não traz distinção para dados sensíveis ou não sensíveis, e determina que as informações sobre o uso de dados sejam fornecidas de forma fácil e compreensível. 4 "Art. 14. O tratamento de dados pessoais de crianças e de adolescentes deverá ser realizado em seu melhor interesse, nos termos deste artigo e da legislação pertinente. § 1º O tratamento de dados pessoais de crianças deverá ser realizado com o consentimento específico e em destaque dado por pelo menos um dos pais ou pelo responsável legal. § 2º No tratamento de dados de que trata o § 1º deste artigo, os controladores deverão manter pública a informação sobre os tipos de dados coletados, a forma de sua utilização e os procedimentos para o exercício dos direitos a que se refere o art. 18 desta Lei. § 3º Poderão ser coletados dados pessoais de crianças sem o consentimento a que se refere o § 1º deste artigo quando a coleta for necessária para contatar os pais ou o responsável legal, utilizados uma única vez e sem armazenamento, ou para sua proteção, e em nenhum caso poderão ser repassados a terceiro sem o consentimento de que trata o § 1º deste artigo. § 4º Os controladores não deverão condicionar a participação dos titulares de que trata o § 1º deste artigo em jogos, aplicações de internet ou outras atividades ao fornecimento de informações pessoais além das estritamente necessárias à atividade. § 5º O controlador deve realizar todos os esforços razoáveis para verificar que o consentimento a que se refere o § 1º deste artigo foi dado pelo responsável pela criança, consideradas as tecnologias disponíveis. § 6º As informações sobre o tratamento de dados referidas neste artigo deverão ser fornecidas de maneira simples, clara e acessível, consideradas as características físico-motoras, perceptivas, sensoriais, intelectuais e mentais do usuário, com uso de recursos audiovisuais quando adequado, de forma a proporcionar a informação necessária aos pais ou ao responsável legal e adequada ao entendimento da criança." Rua Jacy Loureiro de Campos S/N I Palácio das Araucárias I Centro Cívico I Curitiba/PR I CEP 80.530-915 I 41 3313.6264 I 3313.6670 www.administracao.pr.gov.br 11 Importante observar, que a redação dos parágrafos 1º a 5º do art. 14, que tratam do consentimento para o tratamento de dados, não se estende aos adolescentes, ficando restrita às crianças. Esse entendimento é baseado no Relatório da Comissão Especial Destinada a Proferir Parecer ao Projeto de Lei nº 4.060/2021 (que deu ensejo à LGPD), cujo conteúdo é no sentido de que a necessidade de consentimento especial fica restrita aos menores com até 12 anos. Sendo assim, a obtenção do consentimento simples, no caso de adolescentes, já seria suficiente. Contudo, existem entendimentos contrários, no sentido de que essa obrigação do agente não estaria excluída. O consentimento será considerado "específico/especial" quando, antes da coleta dos dados, houver o detalhamento sobre o ciclo de vida do tratamento dos dados pessoais, quais os tipos de dados coletados, as formas, os limites e as finalidades de utilização, e os procedimentos para o exercício dos direitos do titular previstos no artigo 18 da LGPD. Os pais ou responsáveis devem ter, inclusive, a possibilidade de selecionar qual tratamento desejam autorizar. Convém ressaltar que essa publicidade de informações se estende também aos adolescentes (§ 2º do art. 14 da LGPD). Um dos grandes desafios do controlador de dados será conseguir identificar se o consentimento foi realmente fornecido pelos pais ou responsável legal pela criança, conforme determina o § 5º do art. 14 da LGPD. Para tanto, deverão utilizar de recursos técnicos disponíveis. A legislação estabelece exceção ao consentimento prévio para o tratamento de crianças e adolescentes, quando a coleta for necessária para estabelecer comunicação com os pais ou responsável legal da criança. Nesse caso, o dado poderá ser utilizado uma única vez, sem a possibilidade de armazenamento e em nenhuma hipótese poderão ser repassados a terceiros. Rua Jacy Loureiro de Campos S/N I Palácio das Araucárias I Centro Cívico I Curitiba/PR I CEP 80.530-915 I 41 3313.6264 I 3313.6670 www.administracao.pr.gov.br 12 1.1.3 Ciclo de Vida de Dados Pessoais O ciclo de vida do tratamento dos dados pessoais se divide em cinco fases, sendo: Coleta: obtenção, recepção ou produção de dados pessoais, independente do meio utilizado (documento em papel, documento eletrônico, sistema de informação etc.); Retenção: arquivamento ou armazenamento de dados pessoais, independente do meio utilizado (documento em papel, documento eletrônico, banco de dados, arquivo de aço etc.); Processamento: qualquer operação que envolva classificação, utilização, reprodução, processamento, avaliação ou controle da informação, extração e modificação de dados pessoais; Compartilhamento: qualquer operação que envolva transmissão, distribuição, comunicação, transferência, difusão e compartilhamento de dados pessoais; Eliminação: qualquer operação que visa apagar ou eliminar dados pessoais. Essa fase também contempla descarte dos ativos organizacionais, nos casos necessários ao negócio da instituição. Dentro desse panorama, o ciclo de vida do tratamento tem início com a coleta do dado e encerra-se com a eliminação ou descarte. Salienta-se que, no caso de cumprimento de obrigação legal, como ocorre com a administração pública, na maioria dos casos, a conservação do dado é permitida (LGPD, art. 16, I), ou seja, assim como o titular dos dados não precisa consentir o tratamento dos dados pessoais pela administração pública em casos determinados, também não é possível ao titular do dado solicitar a eliminação. 1.2 Tratamento de Dados Pessoais Pelo Poder Público O tratamento de dados pessoais pelo Poder Público está previsto no Capítulo IV da LGPD, onde estão estabelecidas as hipóteses em que o Estado pode tratar dados pessoais, desde que com o propósito de cumprir sua finalidade pública e que tenha como premissa o interesse público. Dessa forma, a atuação do Poder Público é, excepcional e condicionada. Rua Jacy Loureiro de Campos S/N I Palácio das Araucárias I Centro Cívico I Curitiba/PR I CEP 80.530-915 I 41 3313.6264 I 3313.6670 www.administracao.pr.gov.br 13 O artigo 23 da LGPD5 estabelece quais são as pessoas jurídicas de direito público interno que se submetem aos termos da lei quando realizam tratamento de dados pessoais, sendo terminante quanto a necessária relação dessa atividade a uma finalidade, a um conceito de valor e a objetivos estritos. Portanto, o tratamento de dados pessoais, inclusive os sensíveis, será realizado para o atendimento de sua finalidade pública, na persecução do interesse público, com o objetivo de executar as competências legais ou cumprir suas atribuições. Atendimento da finalidade pública A finalidadepública será atendida, para fins da LGPD, quando o Poder Público executar o tratamento de dados pessoais dos titulares, rigorosamente nos termos da lei para a execução de políticas públicas. Busca do interesse público O interesse público compartilha com o atendimento do bem comum da coletividade, buscando a preservação dos direitos e garantias fundamentais dos administrados. Execução das competências legais ou atribuições O Poder Público existe para cumprir uma função legal, e para que possa fazê-lo, está investido de poder, em observância e na medida da lei. 5 Art. 23. O tratamento de dados pessoais pelas pessoas jurídicas de direito público referidas no parágrafo único do art. 1º da Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 (Lei de Acesso à Informação) , deverá ser realizado para o atendimento de sua finalidade pública, na persecução do interesse público, com o objetivo de executar as competências legais ou cumprir as atribuições legais do serviço público, desde que: I - sejam informadas as hipóteses em que, no exercício de suas competências, realizam o tratamento de dados pessoais, fornecendo informações claras e atualizadas sobre a previsão legal, a finalidade, os procedimentos e as práticas utilizadas para a execução dessas atividades, em veículos de fácil acesso, preferencialmente em seus sítios eletrônicos; II - (VETADO); e III - seja indicado um encarregado quando realizarem operações de tratamento de dados pessoais, nos termos do art. 39 desta Lei. III - seja indicado um encarregado quando realizarem operações de tratamento de dados pessoais, nos termos do art. 39 desta Lei; e (Redação dada pela Lei nº 13.853, de 2019) Vigência IV - (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.853, de 2019) Vigência § 1º A autoridade nacional poderá dispor sobre as formas de publicidade das operações de tratamento. § 2º O disposto nesta Lei não dispensa as pessoas jurídicas mencionadas no caput deste artigo de instituir as autoridades de que trata a Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 (Lei de Acesso à Informação) . § 3º Os prazos e procedimentos para exercício dos direitos do titular perante o Poder Público observarão o disposto em legislação específica, em especial as disposições constantes da Lei nº 9.507, de 12 de novembro de 1997 (Lei do Habeas Data) , da Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999 (Lei Geral do Processo Administrativo) , e da Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 (Lei de Acesso à Informação) . § 4º Os serviços notariais e de registro exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público, terão o mesmo tratamento dispensado às pessoas jurídicas referidas no caput deste artigo, nos termos desta Lei. § 5º Os órgãos notariais e de registro devem fornecer acesso aos dados por meio eletrônico para a administração pública, tendo em vista as finalidades de que trata o caput deste artigo. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12527.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13853.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm#art65.. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Msg/VEP/VEP-288.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13853.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm#art65.. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12527.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9507.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9507.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9784.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12527.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12527.htm Rua Jacy Loureiro de Campos S/N I Palácio das Araucárias I Centro Cívico I Curitiba/PR I CEP 80.530-915 I 41 3313.6264 I 3313.6670 www.administracao.pr.gov.br 14 Execução de Políticas Públicas Entre as bases legais para a realização de tratamento de dados pessoais da LGPD, está o artigo 7º, inciso III, específico para a Administração Pública, que estabelece a execução de políticas públicas, previstas em leis, regulamentos ou respaldadas em contratos, convênios ou instrumentos congêneres. Importante ressaltar que a operação de tratamento de dados pessoais deve ter relação com a missão institucional do órgão ou entidade detentora da base de dados, sobre a qual está fundamentada a execução de política pública para o qual foi investido por lei. Transparência no tratamento de dados Quando do tratamento dos dados pessoais, o Estado deverá fornecer informações claras e atualizadas sobre a previsão legal, a finalidade, os procedimentos e as práticas utilizadas para a execução de suas atividades, em veículos de fácil acesso, preferencialmente em seus sítios eletrônicos, buscando a transparência de procedimentos. Essa obrigação aplica-se também ao tratamento de dados pessoais sensíveis. A transparência objetiva conquistar a credibilidade do titular de dados (pessoa natural) junto ao controlador de dados, demonstrando a responsabilidade a que está submetido. Critério da mínima coleta Os dados coletados devem se restringir ao mínimo necessário para a execução de políticas públicas. Portanto, a coleta deve compreender somente dados pertinentes, proporcionais à finalidade da operação e que não sejam excessivos. Dessa forma, os riscos de violação dos direitos e garantias fundamentais do indivíduo, no caso de falhas no tratamento de dados pessoais, serão minimizados. 1.2.1 Compartilhamento de Dados Entre Órgãos e Entidades da Administração Pública O uso compartilhado de dados está configurado por operações como transmissão, comunicação, transferência, difusão, interconexão ou tratamento compartilhado de banco de dados pessoais. Rua Jacy Loureiro de Campos S/N I Palácio das Araucárias I Centro Cívico I Curitiba/PR I CEP 80.530-915 I 41 3313.6264 I 3313.6670 www.administracao.pr.gov.br 15 Para que haja esse compartilhamento da base dados sob o controle do poder público, por entes públicos, são necessários os seguintes requisitos cumulativos: a) existência de finalidade específica no compartilhamento; b) existência de base legal para os entes envolvidos (artigo 7º, inciso III e artigo 23 da LGPD, e art. 14 do Decreto Estadual nº 6.474/2020); c) validação do compartilhamento decorrente do atendimento aos princípios de proteção de dados pessoais previstos no art. 6º da LGPD6. Portanto, não é suficiente que o compartilhamento possua base legal (art. 7º, inciso III e art. 23 da LGPD, e art. 14 do Decreto Estadual nº 6.474/2020), satisfaça às finalidades específicas de execução de políticas públicas ou provenha de atribuição legal do órgão ou entidade pública, sendo primordial a observância dos princípios de proteção de dados pessoais. Já, em relação a dados pessoais sensíveis referentes à saúde, é proibida a comunicação ou o uso compartilhado entre controladores com o objetivo de obter vantagem econômica, exceto nas hipóteses relativas à prestação de serviços de saúde, de assistência farmacêutica e de assistência à saúde, incluídos os serviços auxiliares de diagnose e terapia, em benefício dos interesses dos titulares de dados, e para permitir: I - a portabilidade de dados quando solicitada pelo titular; ou II - as transações financeiras e administrativas resultantes do uso e da prestação dos serviços de saúde, de assistência farmacêutica e de assistência à saúde, e os serviços auxiliares de diagnose e terapia. 6 Art. 6º As atividades de tratamento de dados pessoais deverão observar a boa-fé e os seguintes princípios: I - finalidade: realização do tratamento para propósitos legítimos, específicos, explícitos e informados ao titular, sem possibilidade de tratamentoposterior de forma incompatível com essas finalidades; II - adequação: compatibilidade do tratamento com as finalidades informadas ao titular, de acordo com o contexto do tratamento; III - necessidade: limitação do tratamento ao mínimo necessário para a realização de suas finalidades, com abrangência dos dados pertinentes, proporcionais e não excessivos em relação às finalidades do tratamento de dados; IV - livre acesso: garantia, aos titulares, de consulta facilitada e gratuita sobre a forma e a duração do tratamento, bem como sobre a integralidade de seus dados pessoais; V - qualidade dos dados: garantia, aos titulares, de exatidão, clareza, relevância e atualização dos dados, de acordo com a necessidade e para o cumprimento da finalidade de seu tratamento; VI - transparência: garantia, aos titulares, de informações claras, precisas e facilmente acessíveis sobre a realização do tratamento e os respectivos agentes de tratamento, observados os segredos comercial e industrial; VII - segurança: utilização de medidas técnicas e administrativas aptas a proteger os dados pessoais de acessos não autorizados e de situações acidentais ou ilícitas de destruição, perda, alteração, comunicação ou difusão; VIII - prevenção: adoção de medidas para prevenir a ocorrência de danos em virtude do tratamento de dados pessoais; IX - não discriminação: impossibilidade de realização do tratamento para fins discriminatórios ilícitos ou abusivos; X - responsabilização e prestação de contas: demonstração, pelo agente, da adoção de medidas eficazes e capazes de comprovar a observância e o cumprimento das normas de proteção de dados pessoais e, inclusive, da eficácia dessas medidas." Rua Jacy Loureiro de Campos S/N I Palácio das Araucárias I Centro Cívico I Curitiba/PR I CEP 80.530-915 I 41 3313.6264 I 3313.6670 www.administracao.pr.gov.br 16 1.2.2 Compartilhamento de Dados Entre Órgãos e Entidades Privadas As normas que tratam do compartilhamento de dados entre órgãos públicos e entidades privadas estão previstas nos art. 26, § 1º e no art. 27 da LGPD, bem como, no art. 15 do Decreto Estadual nº 6.474/2020. Em regra, é vedada a transferência pelo Poder Público de dados pessoais constantes de suas bases e entidades privadas, exceto nas hipóteses sequentes: a) em casos de execução descentralizada de atividade pública que exija a transferência, exclusivamente para esse fim específico e determinado, observado o disposto na LAI. Quando a execução descentralizada de atividade pública é atribuída a pessoa jurídica de direito público (autarquias e fundações) ou a entidades paraestatais (empresas públicas e sociedade de economia mista) que estiverem operacionalizando políticas públicas (em regime de monopólio), será aplicado o mesmo regime de proteção de dados atribuído aos entes e órgãos públicos (art. 24, parágrafo único da LGPD) e, consequentemente, o mesmo procedimento em relação ao compartilhamento. b) nos casos em que os dados forem acessíveis publicamente, observadas as disposições da LGPD. Importante observar que os dados pessoais ou sensíveis que integram a base de dados públicos, acessíveis abertamente, também estão sujeitos a proteção legal, e, portanto, a transferência será possível desde que observados os princípios da proteção de dados, atendendo à finalidade pública e ao interesse público. c) quando houver previsão legal ou a transferência for respaldada em contratos, convênios ou instrumentos congêneres. Nesse caso, a transferência de dados amparada na previsão legal ou em contratos e convênios, deve guardar também a importância da obediência ao princípio da legalidade dos atos administrativos e aos princípios da LGPD. d) na hipótese de a transferência dos dados objetivar exclusivamente a prevenção de fraudes e irregularidades, ou proteger e resguardar a segurança e a integridade do titular dos dados, desde que vedado o tratamento para outras finalidades. Por se tratar de uma hipótese excepcional, deve-se observar com muita cautela os princípios da finalidade e da adequação. Rua Jacy Loureiro de Campos S/N I Palácio das Araucárias I Centro Cívico I Curitiba/PR I CEP 80.530-915 I 41 3313.6264 I 3313.6670 www.administracao.pr.gov.br 17 1.3 Transferência Internacional de Dados Considera-se transferência internacional de dados, quando os dados pessoais são transferidos para um país estrangeiro ou organismo internacional do qual o país seja membro. A transferência internacional implica o uso compartilhado de dados. É importante esclarecer que o simples transporte de informações, por meio de provedores da internet, não se caracteriza como transferência internacional de dados. Porém, quando agentes, situados em diferentes países, desejam realizar uso compartilhado de informações de pessoas naturais identificadas ou identificáveis para a consecução de determinadas finalidades, isso implicará transferência internacional e ela apenas poderá ser realizada quando cumprir determinados requisitos legais (ou regulatórios) para tanto. A transferência internacional de dados somente será permitida nas seguintes hipóteses: a) Os países ou organismos internacionais proporcionarem grau de proteção de dados pessoais adequado ao previsto na LGPD. O nível de proteção de dados do país estrangeiro ou do organismo internacional será avaliado pela ANPD. As pessoas jurídicas de direito público poderão requerer à ANPD a avaliação do nível de proteção a dados pessoais conferido por país ou organismo internacional; b) O controlador oferecer e comprovar garantias de cumprimento dos princípios, dos direitos do titular e do regime de proteção de dados previsto na LGPD. O controlador deverá garantir a segurança dos dados e proteção dos direitos e garantias dos titulares de dados; c) A transferência for necessária para a cooperação jurídica internacional entre órgãos públicos de inteligência, de investigação e de persecução, de acordo com os instrumentos de direito internacional; d) A transferência for necessária para a proteção da vida ou da incolumidade física do titular ou de terceiros; e) A autoridade nacional autorizar a transferência; f) A transferência resultar em compromisso assumido em acordo de cooperação internacional. Nesse caso, a transferência pode ser realizada mediante acordo bilateral entre Ministérios de diferentes países, por exemplo. Rua Jacy Loureiro de Campos S/N I Palácio das Araucárias I Centro Cívico I Curitiba/PR I CEP 80.530-915 I 41 3313.6264 I 3313.6670 www.administracao.pr.gov.br 18 g) A transferência for necessária para a execução de política pública ou atribuição legal do serviço público (Art. 33, VII, da LGPD7). h) O titular tiver fornecido o seu consentimento específico e em destaque para a transferência, com informação prévia sobre o caráter internacional da operação, distinguindo claramente essa e outras finalidades; ou i) É necessária para atender as hipóteses previstas nos incisos II, V e VI do art. 7º da LGPD, ou seja, para o cumprimento de obrigação legal ou regulatória pelo Controlador, quando necessário para a execução de contrato ou de procedimentos preliminares relacionados ao contrato do qual seja parte o titular, a pedido do titular dos dados e para o exercício regular de direitos em processo judicial, administrativo ou arbitral. Nesse contexto, a transferência internacional de dados pode acontecer para países ou organismos internacionais que proporcionem grau de proteção adequado ao previsto na Lei, visto que se o país ou organismo para o qual será realizada a transferência não demonstrar um nivelamento com essa proteção, serão colocados em risco direitos e liberdades fundamentais dos titulares. A avaliação do nível de proteção de dados, do país estrangeiro ou do organismo internacional mencionado, será realizada pela AutoridadeNacional de Proteção de Dados Pessoais (ANPD), com base nos seguintes critérios: a) as normas gerais e setoriais da legislação em vigor no país de destino ou no organismo internacional; b) a natureza dos dados; c) a observância dos princípios gerais de proteção de dados pessoais e direitos dos titulares previstos na LGPD; d) a adoção de medidas de segurança previstas em regulamento; e) a existência de garantias judiciais e institucionais para o respeito aos direitos de proteção de dados pessoais; e f) outras circunstâncias específicas relativas à transferência. Considerando que até agora o Brasil ainda não reconheceu outro país como tendo nível adequado de proteção de dados e, também, por outro lado, ainda não teve esse reconhecimento por parte de autoridades estrangeiras, cada fluxo de dados deve 7 "Art. 33. A transferência internacional de dados pessoais somente é permitida nos seguintes casos: ... VII - quando a transferência for necessária para a execução de política pública ou atribuição legal do serviço público, sendo dada publicidade nos termos do inciso I do caput do art. 23 desta Lei;" Rua Jacy Loureiro de Campos S/N I Palácio das Araucárias I Centro Cívico I Curitiba/PR I CEP 80.530-915 I 41 3313.6264 I 3313.6670 www.administracao.pr.gov.br 19 ser avaliado caso a caso, para a consideração de determinada autorização específica ou de medida compensatória, conforme explanado a seguir: I. Quando o controlador oferece e comprova garantias de cumprimento de princípios, direitos do titular e do regime de proteção de dados previsto na LGPD (art. 33, II da LGPD8), por meio de: (a) cláusulas contratuais específicas para determinada transferência; (b) cláusulas-padrão contratuais; (c) normas corporativas globais; (d) selos, certificados e códigos de conduta regularmente emitidos. São consideradas "medidas compensatórias" aquelas que podem ser adotadas pelo controlador para garantir que um nível não idêntico, mas equivalente de proteção de dados pessoais, seja garantido com relação aos direitos e liberdades dos titulares e suas salvaguardas, buscando compensar essa diferenciação de níveis. Em ocorrendo a transferência internacional de dados, caberá aos controladores informar para os titulares, detalhes sobre a mesma, principalmente quando a operação envolver dados sensíveis. II. Atribuições da ANPD em relação à transferência internacional de dados e à comprovação de “medidas compensatórias” pelo controlador. Compete à ANPD definir o conteúdo de cláusulas-padrão contratuais e verificar cláusulas contratuais específicas para uma determinada transferência, normas corporativas globais ou selos, certificados e códigos de conduta. Essa verificação será realizada considerando os requisitos, as condições e as garantias mínimas para a transferência que observem os direitos, as garantias e os princípios da LGPD. Poderão ainda, ser requeridas informações suplementares ou realizadas diligências de verificação quanto às operações de tratamento, quando necessário. Eventuais alterações nas garantias apresentadas como suficientes de observância dos princípios gerais de proteção e dos direitos do titular deverão ser comunicadas à autoridade nacional. 8 "Art. 33. A transferência internacional de dados pessoais somente é permitida nos seguintes casos: ... II - quando o controlador oferecer e comprovar garantias de cumprimento dos princípios, dos direitos do titular e do regime de proteção de dados previstos nesta Lei, na forma de: a) cláusulas contratuais específicas para determinada transferência; b) cláusulas-padrão contratuais; c) normas corporativas globais; d) selos, certificados e códigos de conduta regularmente emitidos;" Rua Jacy Loureiro de Campos S/N I Palácio das Araucárias I Centro Cívico I Curitiba/PR I CEP 80.530-915 I 41 3313.6264 I 3313.6670 www.administracao.pr.gov.br 20 Referências BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2018/lei/l13709.htm>. Acesso em: 03 maio 2021. DAL POZZO, Augusto Neves; MARTINS, Ricardo Marcondes. LGPD & Administração Pública: uma análise ampla dos impactos. São Paulo: Thomson Reuters, 2020. GOVERNO FEDERAL. Guia de boas práticas: Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). 10 abr. 2020. Disponível em: <https://www.gov.br/governodigital/pt- br/governanca-de-dados/guia-de-boas-praticas-lei-geral-de-protecao-de-dados-lgpd>. Acesso em: 27 abr. 2021. PARANÁ. Decreto nº 6.474, de 14 de dezembro de 2020. Regulamenta a aplicação da Lei Federal nº 13.709, de 14 de agosto de 2018 – Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), no âmbito da Administração Pública Estadual direta, autárquica e fundacional do Poder Executivo do Estado do Paraná. Disponível em: <https://www.legislacao.pr.gov.br/legislacao/pesquisarAto.do?action=exibir&codAto=244 066&indice=1&totalRegistros=1&dt=16.7.2021.11.15.40.391>. Acesso em: 27 abr. 2021. TEPEDINO, Gustavo; LOPES, Ana Frazão de Azevedo; OLIVA, Milena Donato. Lei Geral de Proteção de Dados e suas repercussões no direito brasileiro. São Paulo: Thomson Reuters, 2019. VAINZOF, Rony. LGPD: Lei Geral de Proteção de Dados comentada. Coordenação de Viviane Nóbrega Maldonado e Renato Ópice Blum). 3.ed. São Paulo: Thomson Reuters, 2021. Rua: Jacy Loureiro de Campos, s/n - Térreo Centro Cívico | Curitiba/PR | CEP 80530-140 https://www.administracao.pr.gov.br/Escola-de-Gestao