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1 DIREITO AMBIENTAL 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA ..................................................................................................... 2 DIREITO AMBIENTAL ............................................................................................... 3 PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL ................................................................... 6 PRINCÍPIO DO DIREITO AO MEIO AMBIENTE EQUILIBRADO COMO UM DIREITO HUMANO FUNDAMENTAL ....................................................................................... 6 PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO (PRUDÊNCIA OU CAUTELA) ................................... 7 PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO ................................................................................... 8 PRINCÍPIO DO UNIVERSALISMO ............................................................................ 9 PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ......................................... 10 PRINCÍPIO DO ACESSO EQUITATIVO AOS RECURSOS NATURAIS ................. 11 PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO ............................................................................. 11 PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO .............................................................................. 12 PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR .................................................................. 12 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS DA UNIÃO E DOS ESTADOS ...................... 14 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 18 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 DIREITO AMBIENTAL A Revolução Industrial é o marco desencadeador de uma sociedade fundada no consumo. Esta sociedade impõe pressões cada vez maiores sobre os recursos naturais, fazendo crescer preocupações com o equilíbrio do meio ambiente e com a própria sobrevivência da vida no planeta. Fonte: Google, 2019. Diante das constantes agressões ao meio ambiente, confirmadas pela ciência e condenadas pela ética e pela moral, surge a necessidade de se repensar conceitos desenvolvimentistas clássicos. Neste sentido, torna-se imperiosa a agregação de diversas áreas do conhecimento científico, técnico e jurídico, aliados aos conhecimentos locais e de comunidades tradicionais em torno da construção de uma nova teoria de desenvolvimento econômico que agregue a noção de sustentabilidade. Em outras palavras, significa a internalização pelo processo produtivo de externalidades que até então não eram computadas nos custos de produção. A sustentação jurídica desta nova forma de encarar a relação do homem com o meio ambiente reside justamente no reconhecimento do direito das futuras gerações de usufruírem, em igualdade de condições, os recursos naturais disponíveis hodiernamente. A Lei 6.983, de 1981, que trata da Política Nacional do Meio Ambiente, no art. 3º, inc. I, dispõe que “Meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e 4 interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. A redação é clara e precisa, porém restringe o tema aos recursos naturais, quando se reconhece maior amplitude ao meio ambiente (FREITAS, 2001). Terence Dornelles Trennepohl (2007, p. 27) explica, e também assim entende Celso Antonio Pacheco Fiorillo, que o meio ambiente, para fins didáticos, pode ser dividido em quatro pontos de abordagem: natural, cultural, artificial e do trabalho. O natural trata diretamente da flora e fauna e envolve também atmosfera, água, solo, subsolo, os elementos da biosfera e recursos minerais. O cultural refere-se aos elementos referentes à formação dos grupos nacionais de expressão, criações artísticas, tecnológicas, obras, objetos, documentos, edificações em sentido amplo, conjuntos urbanos, paisagísticos, arqueológicos, paleontológicos, ecológicos e científicos. Inserem-se, neste contexto cultural, atividades como a música, as religiões, a literatura, o teatro, a dança, entre outras manifestações existentes. O meio ambiente artificial representa o direito ao bem estar, relacionado às cidades sustentáveis e aos objetivos da política urbana, diz respeito ao espaço urbano construído pelo homem. Finalmente, o meio ambiente do trabalho é aquele com enfoque na segurança da pessoa humana no local de seu trabalho, envolvendo saúde, prevenção de acidentes, dignidade da pessoa humana, salubridade e condições de exercício saudável do trabalho. Ressalta-se que, dessas análises, será objeto da presente dissertação somente o meio ambiente natural, o físico. A preocupação do homem com o meio ambiente não é recente. Desde tempos remotos, nas regiões mediterrâneas, os povos nômades necessitavam de fortificações tanto para a defesa contra ataques de inimigos naturais, bem como de povos hostis, como para proporcionar melhores condições de suas populações, levando essas comunidades a uma preocupação com o meio com o qual interagiam (TRENNENPOHL, 2007). A crescente preocupação social com as questões ambientais influenciou a comunidade internacional e as legislações constitucionais e infraconstitucionais de diversos países a enveredarem para a elaboração de normas de proteção do meio ambiente. A conscientização de que os recursos naturais renováveis ou não renováveis são limitados, clamou por uma intervenção legislativa capaz de reconstruir modelos clássicos desenvolvimentistas. Esta reconstrução passou a impor ao 5 desenvolvimento econômico a racional utilização dos recursos naturais e fez com que os processos industriais passassem a internalizar as externalidades ambientais. O direito ambiental está inserido neste contexto. Um ramo do direito que regula a relação entre a atividade humana e o meio ambiente. Por sua natureza interdisciplinar, o direito do ambiente acaba se comunicando com outras áreas da ciência jurídica. Em alguns casos com peculiaridades próprias e distintas, em outros, socorrendo-se de noções e conceitos clássicos de outras áreas. Assim, o direito ambiental está intimamente relacionado ao direito constitucional, administrativo, civil, penal e processual. O Direito Ambiental é referido como um dos chamados "direitos de terceira geração", juntamente com o direito ao desenvolvimento, o direito à paz, o direito de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade e o direito de comunicação. Como “Ciência jurídica que estuda os princípios e normas relativas ao meio ambiente, especialmente naquilo que diz respeito a sua interação com o homem” (TRENNEPOHL, 2007, p. 35), o direito ambiental apresenta-se como instrumento de adequação das políticas de crescimento, promovendo um ajustamento dos custos privados aos custos públicos e sociais. Certamenteesse ramo do direito também representa objetivos econômicos, mas que não podem ser distanciados da preservação, compelindo o desenvolvimento a uma atitude mais racional e controlada de insumos naturais (CARNEIRO, 2001, p. 10). Fonte: Google, 2019. 6 A ideia do direito ambiental brasileiro é que ele está intimamente ligado com o desenvolvimento econômico e com o desenvolvimento social e não apenas em matéria de preservação ambiental propriamente dita. O direito ambiental não foi criado apenas para proteger, preservar o meio ambiental. Esta seria uma visão equivocada, pois o direito ambiental brasileiro em momento algum quer frear o desenvolvimento sócio econômico. Pelo contrário, se frear o desenvolvimento sócio econômico, com certeza, estará gerando indiretamente uma maior agressão ao meio ambiente, pois atividades irregulares começarão a aparecer. Princípios do Direito Ambiental Os princípios do direito ambiental são frutos de uma construção jurídica originada no direito internacional ambiental, a partir das conferências ambientais internacionais. Por exemplo, a Conferência de Estocolmo (1972), a Cúpula da Terra ou Conferência do Rio (1992) e a Convenção Quadro das Nações Unidas Sobre as Mudanças do Clima (1992). Os princípios do direito ambiental são muito importantes e relevantes, pois, de acordo com Paulo de Bessa Antunes (2005, p. 24), “é a partir deles que as matérias que ainda não foram objeto de legislação específica podem ser tratadas pelo Poder Judiciário”. Porém o recurso aos princípios jurídicos é uma tarefa árdua, pois não há consenso doutrinário acerca dos reconhecidos pelo Direito Ambiental, assim como há divergência entre o significado de cada um deles. Os princípios do direito ambiental foram elaborados para dar legitimidade jurídica aos Estados a criarem políticas públicas voltadas à proteção ambiental. Por isso, os princípios do direito ambiental possuem a função de ordenar a construção normativa ambiental internacional, regional e nacional. Princípio do direito ao meio ambiente equilibrado como um direito humano fundamental Se por muito tempo o meio ambiente foi visto como algo dissociado dos direitos humanos, a partir do Século XX, com o aumento significativo das tragédias ambientais, ele passou a ser reconhecido como um valor autônomo no meio jurídico, acabando com a visão utilitarista das normas ambientais antigas, para passar a considerar a proteção ao meio ambiente um direito de todos. 7 O Princípio do Direito Humano ao Meio Ambiente Sadio tem berço no art. 225, caput da Constituição da República. Este princípio busca garantir a utilização continuidade dos recursos naturais, que apesar de poderem ser utilizados, carecem de proteção, para que também possam ser dispostos pelas futuras gerações. Para tanto é necessário que as atuais gerações tenham o direito de não serem postas em situações de total desarmonia ambiental. Temos o direito de viver em um ambiente sadio e livre de poluição sobre qualquer das formas, sem que sejamos postos diante de situações que acarretem prejuízos à qualidade de vida, em razão de posturas contrárias aos dogmas de preservação do meio ambiente. Trata-se de um dos mais importantes princípios do Direito Ambiental, tanto no âmbito nacional, como no internacional. Tanto é que a Declaração de Estocolmo de 1972 trouxe como direito fundamental do ser humano, a garantia de condições de vida adequadas, em um meio ambiente de qualidade, suficiente para assegurar o bem-estar. Na Conferência do Rio, realizada em 1992 da Cidade do Rio de Janeiro, o Princípio do Direito Humano ao Meio Ambiente Sadio foi reconhecido como o direito dos seres humanos a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza. Este princípio, que reputamos ser o mais importante a sustentar o Direito Ambiental, deve ser lido como um alerta ao aplicador das normas ambientais. Isto porque além de representar uma garantia ao ser humano, representa também a exigência de que o administrador público destine especial atenção à preservação do meio ambiente nas mais diversas formas apresentadas pela legislação ambiental. Neste sentido e, por sua topografia no texto constitucional, o Princípio do Direito Humano Fundamental ao Meio Ambiente Sadio deve ser interpretado como a necessidade de o Estado focar suas ações em medidas de preservação, apenas acolhendo subsidiariamente outras medidas de repressão ou de recomposição dos prejuízos ambientais. Princípio da Precaução (Prudência ou Cautela) O Princípio da Precaução, ao lado do Princípio do Direito Humano Fundamental ao Meio Ambiente Sadio representa a grande base de sustentação da 8 manutenção da sadia qualidade de gozo e disposição dos bens ambientais para a atual e para as futuras gerações. O fato é que a efetivação da tutela ambiental deve impor limitações à plena liberdade de manifestação em outros segmentos da sociedade, de modo a que sejam conservadas as condições ambientais necessárias à sadia qualidade de vida. No entanto, antes de impor limitações com o propósito de guardar proteção à tutela do meio ambiente, deve ser garantida a possibilidade ao titular do direito em contraposição ao meio ambiente, demonstrar que adota medidas aptas a garantir a não ocorrência de danos ou mesmo, que venham a reduzir os impactos ambientais negativos. A não demonstração destas circunstâncias e, a falta de solução técnica, de acordo com o estado da arte, capaz de reduzir ou eliminar os impactos ambientais negativos, deve ser própria a dar efetividade ao Princípio de Precaução, no sentido de que não seja permitida a disposição do direito que pode ocasionar prejuízos ao meio ambiente. Este princípio se consubstancia pela adoção de posturas conservadoras, ou seja, na dúvida ou na incerteza, não se deve praticar tal ato ou permitir o uso ou a produção de determinadas substâncias e/ou o desenvolvimento de certa atividades ou implantação do empreendimento. Diante da incerteza científica, tem sido entendido que a prudência é o melhor caminho, evitando-se a ocorrência de danos que, muitas vezes, não poderão ser recuperados. Ou seja, o princípio da precaução orienta que não seja produzida intervenção no meio ambiente antes de se ter a certeza de que ela não se qualifica como adversa, a partir de um juízo de valor sobre a sua qualidade e uma análise do custo/benefício do resultado da intervenção projetada. Princípio da Prevenção O Princípio da Prevenção em muito se aproxima do Princípio da Precaução, embora com ele não se confunda. O objetivo do Princípio da Prevenção é o de impedir que ocorram danos ao meio ambiente, concretizando-se, portanto, pela adoção de cautelas, antes da efetiva 9 execução de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras de recursos naturais. Aplica-se o Princípio da Prevenção naquelas hipóteses onde os riscos são conhecidos e previsíveis, de modo a se exigir do responsável pela atividade impactante a adoção de providências visando, senão eliminar, minimizar os danos causados ao meio ambiente. Portanto, a definição de Impacto Ambiental está associada à alteração ou efeito ambiental considerado significativo por meio da avaliação do projeto de um determinado empreendimento, podendo ser negativo ou positivo (Bitar & Ortega, 1998). Para que sejam tomados os procedimentos adequados à proteção do meio ambiente, torna-se necessário existir permanente sistema de informação e séria pesquisa para resolver os problemas ambientais já na sua origem. Nesse sentido, Paulo Affonso Leme Machado organiza em cinco itens a aplicação do princípio da prevenção: “1º) identificação e inventário das espécies animais e vegetais de um território, quanto à conservação da natureza e identificação das fontes contaminantes das águas do mar, quanto ao controle da poluição; 2º)identificação e inventário dos ecossistemas, com a elaboração de um mapa ecológico; 3º) planejamentos ambiental e econômico integrados; 4º) ordenamento territorial ambiental para a valorização das áreas de acordo com a sua aptidão; e 5º) Estudo de Impacto Ambiental”. Assim como o Princípio da Precaução, o Princípio da Prevenção será exercido de forma ordinária no curso do processo administrativo de licenciamento ambiental e, em circunstâncias que envolvam impactos ambientais significativos, diante dos resultados do estudo de impacto ambiental. Como exemplo podemos citar a construção de uma fábrica que lançará partículas poluentes para a atmosfera por sua chaminé. Neste caso poderá ser exigida a instalação de um filtro tecnicamente selecionado, para que se elimine o grau de contaminação capaz de ocasionar prejuízos à saúde da comunidade vizinha de onde se instalará o empreendimento. Princípio do Universalismo 10 Aja localmente e pense globalmente! A poluição não guarda respeito às fronteiras criadas por convenções do ser humano, os rios e os mares começam e terminam onde a natureza os coloca. De mesma forma, os danos ambientais gerados em determinada localidade podem alcançar extensões diferentes daquelas que inicialmente sustentavam a pretensão do poluidor, na medida em que não há como controlar as consequências dos danos ao meio ambiente. Exemplo claro desta característica universalista do meio ambiente é a geração de gases do efeito estufa. A redução da emissão de poluentes empreendida no Brasil tem a capacidade de alcançar regiões muito distantes, na medida em que reduzem a possibilidade global de aumento das temperaturas, ocasionando a minoração dos danos ambientais pelo descongelamento das geleiras. Diante da amplitude dos impactos que podem ser ocasionados pelo não atendimento das normas de natureza ambiental, deve ser validada a vocação universalista do Direito Ambiental, mormente no âmbito internacional. É diante deste cenário e como forma de efetivação do Princípio do Universalismo que surge a necessidade de os Estados nacionais buscarem, no âmbito internacional, ajustes que primem pela preservação do meio ambiente, mediante o estabelecimento de metas de redução dos fatos geradores da poluição. Princípio do desenvolvimento sustentável Provavelmente seja o mais controverso dos princípios do direito ambiental devido ao seu alto grau de abstração, não obrigatoriedade, ou até mesmo se discute se é realmente um princípio ou um conceito. O conceito do princípio do desenvolvimento sustentável foi se construindo ao longo dos debates de Conferências Internacionais. Ganhou força a partir da Conferência do Rio, em 1992. Nessa ocasião, foi reconhecida a necessidade de assegurar o desenvolvimento sustentável ao longo de 12 dos 27 princípios fundamentais da Conferência. Segundo relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente da ONU, publicado em 1987, e conhecido como “Nosso Futuro Comum”, “é sustentável o desenvolvimento tal que permite satisfazer nossas necessidades atuais sem 11 comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer as suas”. Nesse sentido, a ideia de um desenvolvimento sustentável diz respeito à exploração de recursos naturais no presente sem comprometer os recursos naturais à disposição das gerações futuras (DERANI, 2001, p. 126), o que implica na necessidade de conciliação entre os interesses econômicos e a preservação do meio ambiente. O Princípio do Desenvolvimento Sustentável operacionaliza os demais princípios, pois permite o consensualismos entre as perspectivas de desenvolvimento econômico, tecnológico e social e, garante a preservação dos recursos ambientais para as presentes e futuras gerações. Este Princípio tem por berço no caput do art. 225 da Constituição da República. Nada obstante, temos ainda no ordenamento jurídico brasileiro outras normas que apontam este princípio como pilar, como por exemplo, o art. 2º, II, da Lei nº 9.433/97, Lei de Gerenciamento de Recursos Hídricos e o art. 4º, IV, da Lei nº 9.985/2000, Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, sem prejuízo de sua reprodução em outros dispositivos normativos. Princípio do Acesso Equitativo aos Recursos Naturais A Constituição da República, em seu art. 225, destacou o meio ambiente como bem difuso. Neste sentido, mostra-se equivocada qualquer restrição não fundamentada e desarrazoada, que venha a ser imposta ao acesso aos recursos naturais. É, portanto inconstitucional, as limitações de acesso e uso dos recursos naturais, desde que seus utilitários ajam no sentido de preservar o meio ambiente. Nada obstante, esclareça-se que existem situações em que a própria Constituição da República reserva caráter privado a determinados bens que à primeira vista poderiam ser listados como públicos. É o que ocorre, por exemplo, em relação art. 26, II da CRFB in fine, que refere a possibilidade de haver ilhas sob o domínio de terceiros. Nestes casos, carece de efetividade o Princípio do Acesso Equitativo aos Recursos Naturais, pois em relação àqueles recursos que estiverem nestas ilhas não serão usufruídos por aqueles que sobre elas não tenham domínio. Princípio da Preservação 12 O Princípio da Preservação do Meio Ambiente está vinculado à ideia de proteção e conservação da boa qualidade do meio ambiente, de modo a garantir existência digna. Consiste em uma decorrência lógica e direta do dever imposto a todos - Poder Público e coletividade – de manter o meio ambiente ecologicamente equilibrado. Decerto que o contexto de preservação do meio ambiente não se sustenta apenas de primados conservadores. É necessário e efetivado por normas legais de proteção ambiental, que haja a responsabilização pela prática de condutas contrárias à conservação do meio ambiente. Neste contexto temos, por exemplo, a previsão constitucional inserta no §3º do art. 225, de responsabilização administrativa, cível e penal daqueles que adotarem condutas contrárias à garantia de preservação do meio ambiente. Princípio da Cooperação O princípio da cooperação, insculpido no art. 225 da Constituição Federal, é aquele que afirma ser dever de todos, coletividade e Poder Público, defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações. Existem, hoje, na doutrina, duas concepções acerca do princípio da cooperação. A primeira afirma ser este preceito instituidor das ingerências particulares nas decisões de ordem ambiental. Outra concepção, no entanto, segue entendimento através do qual vê-se a cooperação como uma imposição do dever de todos os brasileiros em preservar e proteger os recursos naturais. Destarte, a amplitude do princípio da cooperação alcança a necessidade de atuação de todos no sentido de preservação e proteção dos recursos naturais. Entendemos, desta forma, ter o legislador constitucional instituído verdadeiro dever a ser obrigatoriamente observado por todos os cidadãos, independente de fazerem parte de organizações ou grupos sociais voltados à proteção do meio ambiente. Logo, podemos concluir que o princípio da cooperação consiste na observação, por toda a coletividade, do dever de atuar positivamente no sentido de tentar alcançar a prevenção do dano ambiental e a proteção dos recursos naturais disponíveis. Princípio do Poluidor-Pagador 13 O princípio do poluidor-pagador pode ser entendido como sendo um instrumento econômico e também ambiental, que exige do poluidor, uma vez identificado, suportar os custos das medidas preventivas e/ou das medidas cabíveis para, senão a eliminação pelo menos a neutralização dos danos ambientais. É oportuno detalhar que este princípio não permite a poluição e nem pagar para poluir. Embora a prevenção seja sempre objetivada, uma vez ocorrido o dano, a degradação, a poluição,cabe ao causador arcar com o ônus da sua atividade danosa. Cada Estado tem a obrigação de adotar medidas legais que levem os poluidores a pagar por esses custos. Assim, utiliza-se de recurso econômico para que o poluidor arque com os custos da atividade poluidora, que confirma que os Estados desenvolvidos são os maiores causadores e responsáveis pelo efeito estufa no Planeta Terra, sendo de sua responsabilidade tomar medidas para combater os desgastes ambientais. De acordo com Antônio Herman Benjamin (1993, p. 227), o princípio poluidor- pagador não é um princípio de compensação dos danos causados pela poluição, pois seu “alcance é mais amplo, incluídos todos os custos da proteção ambiental, quaisquer que eles sejam, abarcando, a nosso ver, os custos de prevenção, de reparação e de repressão do dano ambiental [...]”. O princípio do poluidor-pagador parte da constatação de que os recursos ambientais são escassos e que seu uso na produção e no consumo acarretam a sua redução e degradação, sendo que “o custo a ser imputado ao poluidor não está exclusivamente vinculado à imediata reparação do dano, o verdadeiro custo está numa ação preventiva” (DERANI, 2001, p. 297). Com muita acuidade, Cristiane Derani (2001, p. 162) ensina que, durante o processo produtivo, são produzidas “externalidades negativas” que, embora sejam resultantes da produção, são recebidas pela coletividade, enquanto o lucro restringe- se somente ao produtor. Diante desse cenário, fica evidente a necessidade de internalização dessas externalidades. Ao arcar com esses custos é natural estes serem repassados, em última análise, ao consumidor final, que arcará com o custo de utilização do produto que não degrade o meio ambiente. 14 Repartição de Competências da União e dos Estados Para Celso Ribeiro Bastos (2001, p. 107), competência são os poderes que a lei confere para que cada órgão público possa desempenhar suas atribuições específicas. Toshio Mukai (1999, p. 210) doutrina que competência é a medida de poder que a Constituição ou a lei atribui ao agente público para a prática de determinados atos. A organização administrativa do Estado brasileiro está diretamente relacionada à distribuição dessas competências. O Brasil adotou o federalismo, forma de Estado que atribui a cada ente federativo uma determinada autonomia política. Manoel Gonçalves Ferreira Filho (1999, p. 51) afirma que a autonomia administrativa dos entes federativos pressupõe a divisão de competências entre o poder central e os poderes regionais e locais. Na opinião de Lúcia Valle Figueiredo (2004, p. 43), o federalismo é o modelo constitucional que prevê a descentralização do poder em vários centros autônomos coordenados por um poder central que é o responsável pelo exercício da soberania no plano internacional. A Constituição Federal dispõe basicamente sobre dois tipos de competência: a competência administrativa e a competência legislativa. A primeira cabe ao Poder Executivo e diz respeito à faculdade para atuar com base no poder de polícia (preventivo, repressivo ou simplesmente ordenador), ao passo que a segunda cabe ao Poder Legislativo e diz respeito à faculdade para legislar a respeito dos temas de interesse da coletividade. José Afonso da Silva (2003, p. 75) ressalta que a distribuição de competências entre os entes federativos em matéria ambiental segue os mesmos parâmetros adotados pela Constituição Federal em relação à repartição de competências das outras matérias. Nesse sentido, a competência administrativa é a atribuição que o Poder Executivo tem de proteger o meio ambiente, enquanto a competência legislativa é a atribuição do Poder Legislativo de legislar a respeito de temas ligados ao meio ambiente (FIORILLO, 2003, p. 61-63). A competência legislativa subdivide-se em remanescente, exclusiva, privativa, concorrente, suplementar e reservada. A competência remanescente é estadual e permite a atividade legislativa em relação às matérias não vedadas implícita ou expressamente, estando prevista no § 1o do artigo 25 da Constituição Federal. 15 A competência exclusiva diz respeito aos Estados e aos Municípios e é reservada unicamente a uma entidade, sem a possibilidade de delegação (CF, arts. 25, § 2o , e 30, I). A competência privativa diz respeito à União e, embora seja própria de uma entidade, pode ser delegada ou suplementada desde que respeitados os requisitos legais (CF, art. 22). É preciso destacar que a competência legislativa privativa da União prevista no artigo 22 e a competência legislativa exclusiva prevista no artigo 25 da Carta Magna, embora tratem em diversos dispositivos da questão ambiental, possuem um caráter mais voltado à gestão administrativa e econômica do que à proteção ambiental propriamente dita. A competência concorrente é reservada à União, aos Estados e ao Distrito Federal, cabendo à União a primazia de legislar sobre normas gerais (CF, art. 24), o que é, sem dúvida, o maior foco de conflitos. A competência suplementar é aquela que atribui aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a faculdade de complementar os princípios e normas gerais ou de suprir a omissão destes (CF, arts. 24, §§ 2o e 3o , e 30, II). Tércio Ferraz Júnior (1995, p. 250) adverte que a competência suplementar é para a edição de legislação decorrente e não de legislação concorrente, e, por ser uma legislação de regulamentação, seria inconstitucional qualquer concorrência entre a legislação dos Estados e do Distrito Federal e as normas gerais da União. Trata-se de um tipo de competência que deve ser exercido em concordância com as normas gerais da União, e não na ausência delas. Finalmente, a competência reservada é aquela que atribui ao Distrito Federal a competência reservada aos Estados e aos Municípios, excetuada à relativa à organização judiciária (CF, art. 32, § 1o ). Na prática, o que predomina em relação à competência legislativa em matéria ambiental é a competência concorrente entre a União e os Estados e o Distrito Federal, cabendo à União a competência para legislar sobre normas gerais e, aos Estados e ao Distrito Federal, a para suplementar as normas gerais editadas pela União. Estados e Municípios devem respeitar as normas gerais da União, ainda que elas simplesmente deixem espaço para a regulação administrativa, que, uma vez implementada, também é norma geral. Assim, norma administrativa de alguma agência reguladora ou ministério, por exemplo, é, para fins de competência 16 concorrente, norma geral da União tanto quanto a lei federal que autorizou tal regulação. Segundo a Agência Senado, Federação é uma forma de organização do Estado, composta por diversas entidades territoriais, com autonomia relativa e governo próprio para assuntos locais, unidas numa parceria que visa ao bem comum. Essa parceria é regulada pela constituição de cada país, que estabelece a divisão do poder e a dinâmica das relações entre as unidades federadas, além de toda a moldura jurídica, como direitos e deveres que determinam a atuação dos entes federados. De acordo com a Constituição de 1988, a República Federativa do Brasil é composta pela parceria indissolúvel de estados, municípios e distrito federal. A organização político-administrativa brasileira compreende a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios, todos autônomos, nos termos da Constituição. O pacto federativo é o conjunto de dispositivos constitucionais que configuram a moldura jurídica, as obrigações financeiras, a arrecadação de recurso e os campos de atuação dos entes federados. O debate em torno do pacto federativo que está sendo travado atualmente no Congresso Nacional gira em torno, sobretudo, de questões fiscais. 17 18 REFERÊNCIAS ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 8. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2005.BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 13. ed. reformulada de acordo com a Constituição Federal de 1988. São Paulo: Saraiva, 1990. BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos. Direito constitucional ambiental brasileiro. BDJur, Brasília, DF, 11 de fevereiro 2019. Disponível em: . BITAR, O.Y & ORTEGA, R.D. Gestão Ambiental. In: OLIVEIRA, A.M.S. & BRITO, S.N.A. (Eds.). Geologia de Engenharia. São Paulo: Associação Brasileira de Geologia de Engenharia (ABGE), 1998. cap. 32, p.499-508. CARNEIRO, Ricardo. Direito Ambiental. Uma abordagem econômica. Rio de Janeiro: Forense, 2001. DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. 2. ed. São Paulo: Max Limonad, 2001. FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. 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