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Hardy Schilgen_SJ_Tu e Ele

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Camila

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HARDY SCHILGEN. S. J. 
TU E ELE 
Versão portuguesa de 
D. PEDRO ROESER O. S. B.
(ABADE DE OLINDA)
EDITORA VOZES LTDA. 
PETRóPOLIS, EST. DO RIO 
https://alexandriacatolica.blogspot.com/
NIHIL OBSTAT. PETROPOLI, CA­
LENDIS AUGUSTIS ANNI MCMXL. 
FR. FREDERICUS VIER O. F. M., 
CENSOR. 
IMPRIMATUR. POR COMISSÃO ES­
PECIAL DO EXMO. E REVMO. SR. 
BISPO DE NITERôI, D. JOSE' PE­
REIRA ALVES. PETROPOLIS, 25 DE 
AGOSTO DE 1940. FR. HELIODORO 
MULLER O. F. M. 
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS 
https://alexandriacatolica.blogspot.com/
UMA PALAVRA DO TRADUTOR 
O livro do padre Hardy Schilgen "Tu e 
t>la" Ja conseguiu uma segunda edição em 
língua portuguesa. Este resultado muito ani­
ma o tradutor a fazer tambem a tradu­
ção do outro livro do mesmo autor: "Tu e 
ele". Fora deste motivo, me anima a este 
trabalho tambem e sobretudo a situação 
atual, que preocupa o espírito de todos, mes­
mo daqueles que não querem se preocupar 
com a era de cinismo, de imoralidade inter­
nacional, em que parece ter submergido 
grande parte da velha Europa. O moderno 
exegeta da Universidade de Salzburgo, dr. 
José Dillersberger, diz na sua explicação da 
Salve Rainha: "Podemos dizer que, em geral, 
a miséria do tempo atual vem do sexo mas­
culino. O que hoje apreciamos e ainda no 
futuro talvez muito mais apreciaremos, é o 
fracasso do estado construido pelo homem, 
da vida econômica dirigida pelo homem, 
da ciência cultivada pelo homem, o fracasso 
completo da cultura do homem. Os homens 
não serão mais os construtores do novo im­
pério; ele nos será dado pela bendita entre as 
mulheres" (Dillersberger, pg. 71). 
5 
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Se, no decurso dos séculos, o homem reco­
nheceu sua incapacidade para dirigir o mun­
do, a quem poderá Deus confiá-lo para o fu­
turo, senão à mulher? Esta opinião do pro­
fessor da Universidade de Salzburgo não é 
monopólio dele. O dr. Dillersberger tem ape­
nas o mérito da coragem de pronunciar o 
que pensam muitos contemporâneos, repre­
sentantes do sexo masculino. Entre eles en­
contramos uma figura mui conhecida e não 
suspeita, Bernard Shaw, que publicamente 
anuncia a perda da sua fé ateística: "A ciên­
cia, em que eu acreditava, faliu. Suas anedo­
tas eram sandices maiores que todos os mi­
lagres dos padres. O que ela difundiu, não 
foi luz, foi uma funesta pestilência. Seus 
conselhos, destinados a fundamentar o im­
pério milenar, foram resultar em linha reta 
no suicídio da Europa. Nela acreditei, como 
jamais fanático algum acreditou cm sua su­
perstição. Pois foi por causa dela c111c c11 aj u­
dei a demolir a fé dalguns milhiíl's de oran­
tes em templos de mil religiõ s. E agora, todo 
o mundo me fita, e todos param a olhar a
tragédia de um ateu, que p rque ele. Por iss� toma a ino­
cência com que ela procura e deseja ser 
amada e acariciada, como sinal de que e la 
lambem desej� a satisfação do prazer sexual. 
Revelando-se na moça naturalmente a ten­
dência sexual, a saber, conforme o seu sexo, 
como inclinação da alma com este desejo de 
amar e ser amada, ela muitas vezes levia-
58 
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namente despreza as reclamações da sua r,on­
ciência, dos pais e da lgrej a, que não que­
rem deixá-la gozar esta inocente alegria, 
como julga. Uma vez que tenha gozado estes 
carinhos, ela não resiste mais ao namorado, 
e a desgraça está feita, como diremos mais 
abaixo. 
Se, porém, as delícias que Deus ligou à in­
clinação natural são procuradas independen­
temente do seu fim sublime, mas somente por 
causa delas cm si mesmas; se ela sem um 
fim sério segue a. sua inclinação de amar e 
ser amada, e -ele a sua natural propensão, 
sendo a entrega não mai:5 a expressão de um 
amor casto_ santificado por um sacramento, 
mas de uma paixão pecaminosa, então ela 
se transforma em mero meio de gozo para o 
homem; ela cai da altura da sua dignidade 
feminina, e dependerá desde esse momento 
de cirscunstâncias que não estão mais em 
suas mãos, até que chegue o dia em que se 
despenhe na profundidade do abismo em que 
se tinha lançado ao dar este passo errado. 
Ela; e geralmente só ela, paga as custas, e 
muitas vezes pelo mais alto pr�ço, isto é, a 
honra,. e muitas ezes com a vida. Mesmo no 
matrimônio há ameaças deste perigo. E' re­
voltante para a moça de nobres sentimentos 
verificar que o marido não compreende os 
seus desejos superiores, isto é, de·ser amada, 
nem as suas necessidades espirituais, vendo 
nela apenas um instrumento para satisfazer 
a sua inclinação. Que desgraça, que este ho-
59 
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mem não possa ser estimado e muito menos 
amado por ela! Esta é a sorte ameaçadma 
da mulher!
No seu drama "Fausto", Goethe descreveu 
a sorte de inúmeras moças, na personag8m 
de Gretchen. No princípio Margarida é uma 
criatura inocente, "que nada tinha para con­
fessar". Fausto, que fez o seu conhecimento, 
e logo procurou a satisfação de seus desejos, 
foi animado daquele "bem querer da besta" e 
por isso não se conteve enquanto não a se­
duziu. 
Naturalmente fez tudo isto, sem que ela o 
percebesse ou suspeitasse de nada. Para isto 
despertou a sua inclinação, isto é, o desejo de 
amar e ser amada, e quando ela começar a 
amá-lo, já não pode recusar-lhe mais nada. 
"Envergonhada estou diante dele, e a tudo 
digo "sim". Preciso só olhar para ti, meu que­
rido. Não sei o que é que me obriga a fazer a 
tua vontade". E, mesmo assim, ela ainda não 
quer nada de mal. "Ah! se eu ·pt1desse prendê­
lo ! beijá-lo! Queria que me désses tantos bei­
jos até eu morrer!" E' a única coisa que de­
seja, provas do seu am9r, amá-lo e ser ama­
da I Ela nota sempre que alguma coisa nele 
não está em boa ordem, e por isso pergunta­
lhe se ele pratica a religião. Ele conta muita 
coisa, tranquiliza seus receios, e ela deixa-se 
enganar. 
Em seguida vem a desgraça, por que? Por­
que ela confiou! O narcótico que lhe deu, 
para que ela o désse à sua mãe af ini de que 
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não acordasse, é um veneno, que a mata. E 
naqu�la mesma noite ela caiu! Na catedral, 
durante a missa de requiem, ela, diante da 
imagem da Mater Dolorosa, na sua angústia 
chora, e pensa horrorizada e cheia de remor­
sos, de tal form·a impressionada, que perde os 
sentidos. . . No seu medo de vergonha, ela 
mata o filho que acabava de dar à luz. E' pro­
cessada e condenada à morte. Fausto quer sal­
vá-la e procura-a na prisão, mas ela não o re­
conhece, porque tinha enlouquecido! Ele não 
consegue convencê-la a que o acompanhe, e 
retira-se -impune! ele, o verdadeiro culpado! o 
sedutor da menina! E Margarida morre no 
cadafalso. Quando se sentiu na sua desgraça, 
ela exclama da maneira mais inocente: "Con­
tudo, meu Deus, tudo que a isto o impeliu, era 
tão bom, era tão doce!" 
Sim, justamente isto é que foi a sua des­
graça! Ela não adivinhou o que Fausto real­
mente procurava, e deixou-!le enganar pelas 
delícias nas suas relações para com ele, pois 
lhe pareciam tão boas e bem intencionadas, 
nunca as julgou ilícitas, e assim perdeu-se 
miseravelmente. A desgraça de Gretchen não 
é um caso singular! Ele repete-se continua­
mente, porque as moças não querem desistir 
de carinhos que lhes parecem inocentes. 
Por isso quero avisar-te, chamando com 
toda a energia tua atenção para a índole do 
jovem, que é totalmente divers� da tua, para 
que esta ignorância não se torne perigosa 
para ti. Antigamente as moças viviam mais 
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tempo retiradas, e por isso mais tempo pro­
tegidas, dado o que, não havia perigo em dei­
xá-las numa tranquila ignorância. Hoje, po­
rém, que se desenvolvem em maior liberda­
de, e já muito cedo se querem ver indepen­
dentes, por isso é mais prudente que se lhes dê 
o necessário conhecimento, para que se tor­
nem firmes e enérgicas, e possam se defender
dos perigos que as ameaçam. Pode ser de
maior alcance para ti, que conheças bem a
fundo o característico da natureza do jovem,
afim de que sirva de norma em todas as tuas
relações com ele e particularmente na esco­
lha do futuro companheiro de tua vida!
Esta reflexão tem por fim despertar e con­
solidar em tua alma a resolução: 
a) de resistir a todas as tentações e anima­
ções da ttia tendência sexual, ainda que te 
pareçam muito boas; 
b) de nunca humilhar-te de tal forma que
te tornasses a escrava do prazer do homem; 
c) de desistir de um namoro prematuro,
e somente quando o jovem, movido por um 
amor sincero e nobre, te tiver escolhido como 
companheira de sua vida, tu lhe darás teu 
coração com a firme resolução de nunca lhe 
pertencer inteiramente, até que nosso ·bom 
Deus tenha abençoado a união dos vossos co­
rações. Por isso fica alerta, e toma sempre 
a peito o a viso muito sério, que Mefistófeles 
"o demônio em figura de homem" - dá 
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às moças, no qual se revela um profundo 
conhecimento da vida: 
Tenha cuidado! 
Pois uma vez feito, 
Então, boa noite! 
Vós, pobres criaturas! 
POUCO A POUCO SE CAII 
É permissão de Deus que a inclinação se re­
vele e_m uma idade em que a menina ainda 
não pode pensar em matrimônio. Desde ten­
ra idade deve-se aprender a dominá-la, para 
que mais tarde já esteja debaixo do nosso 
poder. Sendo a princípio esse movimento 
ainda muito fraco, é facil resistir-lhe; pouco 
a pouco, porém, torna-se mais forte e pode 
vir a ser bem desagradavel. 
E' de suma importância que a menina no 
seu desenvolvimento físico tome logo a ati­
tude correta em vista destas manµestações. 
Ela deve saber que o desenvolvimento na pu­
berdade é mn processo natural do qual não 
deve se admirar nem espantar. Pois a ten­
dência natural em si nada tem de pecamino­
so, nem é coisa má, mas foi Deus mesmo que a 
colocou na natureza humana. A moça deve ter 
sempre diante dos olhos a importância da mis­
são daquela mclinação, e sabendo que não 
pode satisfazer esta inclinação, enquanto não 
puder conseguir o fim por Deus determinado, 
deve estar resolvida a não lhe corresponder. 
63 
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Nestas tentações ela não pode se deixar guiar 
por inclinações cegas, mas pela razão esclare­
cida pela fé. 
A alma deve dominar e adaptar com, firme­
za a tendência sexual à sua futura função, 
para que mais tarde ela não destrua, mas pro­
mova e gloriosamente desenvolva sua vocação, 
de forma que esta tendência não a desvie da 
plenitude de sua vida, e deste modo a faça 
desgraçada. 
Quero, pois, tranquilamente descrever como 
esta inclinação se manifesta, pouco a pouco, 
na menina ainda educanda, e de como procura 
arrastá-la de degrau em degrau para o abismo, 
mas lambem como pode de degrau em degrau 
elevar-te à verdadeira dignidade da mulher. 
Se descrevo asconsequências naturais que 
o pecado pode ter, quero desde já chamar
tua atenção para este fato, que estes motivos
sózinhos não são bastante fortes para te
afastar do pecado.
O único motivo, que resiste em todas as 
tempestades da paixão, é a compreensão da 
proibição divina, oriunda de uma fé viva_!
Ele, teu Senhor e Deus, te admoesta: "nun­
ca deves ceder ilicitamente a esta inclina­
ção". "Não tens o direito de formar tua vida, 
seguindo unicamente tua vontade " Ele é teu 
Senhor! Ele tem o Qireito de mandar e tu 
o dever de obedecer! Ele te proibiu severa­
mente estes gozos só por eles mesmos. Tu
não estás nesta terra para gozar sem limites
a vida, e te permitir todas as alegrias possí-
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veis! Tu foste criada somente para glori­
ficar a Deus, reconhecê-lo como teu Senhor 
e Deus e sujeitar-te à vontade dele. Só assim 
tomarás parte nas imensas alegrias de sua in­
finita glória por toda a eternidade. 
Uma das maneiras principais com que de­
ves reconhecê-lo como teu Deus e Senhor con­
siste em que não abuses das suas ordens na 
missão que te foi confiada, de propagar o 
gênero humano. Só enquanto te lembrares nas 
tuas tentações da severa palavra: "Eu sou o 
Senhor teu Deus!", não te animarás a ir de 
encontro à sua vontade, e ao contrário terás 
a força de desistir generosamente dos praze­
res ilícitos. A força para conseguires sem­
pre estas vitórias só encontrarás nas tuas 
orações e na comunhão frequente. 
Mas para poder vencer energicamente uma 
tentação é necessário saber que alguma coi­
sa é realmente proibida e ilícita. Em muitos 
casos a mocidade simples e inexperiente pen­
sa que certas coisas não podem ser tão ruins, 
e por isso não devem ser proibidas; ela não 
vê naôa de perigoso em certas manifestações 
que de si já são muito tendenciosas. Por isso 
é preciso abrir-lhes os olhos e mostrar as 
consequências que tem uma leviandade e fal­
ta de reflexão, afim de que compreendam 
que o manescreve sobre 
este desejo de ser admirada: "Mulheres há, 
tão vaidosas, que exploram a natural ame­
nidade e beleza do seu sexo e da sua pessoa 
não só para conquistar os homens e agradar­
lhes, mas ainda para brilhar entre as suas 
iguais, para vencer as outras pela beleza ou 
pelos atavios. E' inacreditavel quanta arte e 
esforço dispendem estas vaidosas em tais oca­
siões I Todo o pensar e desejar tende para os 
vestidos, os brilhantes e a refinada arte da toi­
lette, para completar os seus encantos. A ma­
neira ridícula e mesquinha, corno isto se faz, 
é muitas vezes significativa para a fraqueza 
feminina. Tudo isso são revelações da ten­
dência sexual e da paixão de agradar ao ou­
tro sexo". Já compreendestes claramente 
quais são as consequências para uma moça 
que se deixa enganar pela reclame e pelo 
exemplo destas celebridades da beleza? 
Quanto mais importância e cuidado se atri­
bue às coisas exteriores, tanto menos tempo e 
interesse resta para as coisas interiores. 
Pessoas há que têm um lindo semblante, mas 
cujo coração não raro é duro e frio. Querendo 
cativar unicamente pe]a beleza exterior, não 
se esforçam em se recomendar pela nobreza 
das qualidades da alma. São em geral as bo-
70 
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nitas, que justamente negligenciam mais fa­
cilmente a formação do coração, porque, 
mesmo sem ela, já agradam tanto, que a jul­
gam desnecessária. 
Este desejo- exagerado de ser admirada e 
adulada torna-a escrava da apreciação dos 
outros, pois aixão de ser admirada se apode­
ra de uma moça, �la não se contenta mais de 
alcançar o seu fim somente pela toilette. Neste 
ponto o coração feminino é realmente inson­
davel ! São incri veis os meios de que lançam 
mão moças e senhoras para chamar a aten­
ção, despertar pena nos outros, fazer falar de 
si, tornar-se o centro de todas as considera­
ções e cortesias, vencendo assim as concorren­
tes! A ambição, o ciume, os j uizos temerá­
rios são cultivados carinhosamente como num 
viveiro. Esta disposição da alma conduz 
pouco a pouco ao histerismo doentio com 
todas as suas consequências. Não se pode 
contar com tais criatura&, pois tornam-se 
uma verdadeira praga para o próximo! 
Que diremos ainda sobre os perig08 da 
alma? Esta tendência de procurar cativá-los 
unicamente pela beleza exterior raras vezes 
fica sem efeito. Mas levanta-se aquí a ques­
tão: que homens são estes, que se deixam 
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levar unicamente pelo exterior dela, ao se 
lhe aproximar? E com que intenção? Da in­
clinação de cativá-lo desenvolve-se necessa­
riamente o desejo de prendê-lo e de não per­
dê-lo mais ... Esta paixão pode levá-la a de­
sejar agradar-lhe tambem de outro modo. Não 
tendo já considerações mais sublimes, su­
cumbirá à sua paixão. O homem, que casa
'com uma moça, unicamente fascinado por 
sua beleza exterior, é porque um merece o 
outro. Este matrimônio nunca será uma fon­
te de felicidade. Um mútuo complemento 
torna-se impossivel, porque nenhuma parte 
tem valor interior que possa dar à outra. A 
verdadeira felicidade matrimonial está ba­
seada sobre o amor sincero, que nunca mor­
re, mas jamais sobre uma efêmera beleza 
que passa tão depressa. 
Por último, façamos ainda uma pergunta: 
pode este desejo de cultivar a beleza exterior 
dar-te de fato esta satisfação interior, esta fe­
licidade que só encontramos na boa conciên­
cia e na paz da alma? Ainda que tu, minha 
filha, conseguisses tão inauditos sucessos, ela 
seria bem precária. 
A beleza da marquesa de Maintenon cha­
mou a atenção do rei Luiz XIV, que se casou 
com ela secretamente, depois da morte da 
rainha. Mais tarde, numa carta a uma ami­
ga, ela confessou: "Não vês que morro de 
1 risteza no meio de gozos que excedem tudo 
que se possa sonhar, e que somente a mi­
sericórdia divina evita que eu sucumba sob 
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este jugo de ouro? Fui jovem e fui bela; to.:. 
dos me queriam bem. Mantive, mais tarde, 
relações com pessoas ilustres. Consegui a 
maior graça possivel. Mas juro-te, minha fi­
lha, que todas estas coisas deixaram em mim 
um vácuo horroroso, uma inquietação, e um 
cansaço e verdadeiras saudades de uma si­
tuação mais pura, porque em tudo isso j a­
mais encontrei completa satisfação". 
Já compreendemos que o coração feminino 
só encontra o calor da felicidade e uma con­
soladora satisfação na sua missão da mater­
nidade, mas nunca em desvios preparados 
pelo desejo de ser admirada! 
Deves agora decidir a atitude que vais to­
mar em vista desta inclinação. Tudo que se 
encontra no fundo da tua natureza, lá foi 
posto pelo próprio Criador; por conseguinte 
não pode ser ruim. Deves fazer com que esta 
tendência obedeça à tua alma criada, que 
deve ajudar-te a cumprir com tua missão, 
pois não te podes transformar em sua es­
crava! 
Podes e deves vestir-te com gosto, cuidar 
de tua toilette e de um exterior agradavel. 
Considera tudo isso como coisa natur�l, o 
que, corresponde inteiramente à vontade de 
Deus. O próximo tem o direito de. se alegrar 
no teu porte, no modo com que te apresen­
tas, como pode nos alegrar a vista uma linda 
flor! Quando chegar a ocasião azada de s� 
cogitar da vocação matrimonial, tens o direi­
to de procurar cativar a simpatia de um ho-
74 
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mem. Esta inclinação só seria perigosa e er­
rada, se te contentasses com isso, sem um 
desejo mais sublime. 
Por conseguinte não procures fazer-te rdeveres, sem 
ligar aos teus caprichos nem às tuas impres­
sões, fazendo consistir tua alegria em fazer 
a felicidade dos outros. Com este intento pro­
cura ser benquista de todos, que teu exterior 
simpático seja o reflexo de tua bela e nobre 
alma. 
Assim, e só assim agradarás lambem a 
Deus, e esta tendência de agradar será sem 
perigo, e até muito recomendavel. Sê orgu­
lhosa na convicção de que Deus no céu e os 
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homens bons e virtuosos terão alegria e pra­
zer ao ver que és uma jovem cheia de senti­
mentos nobres. Teu principío supremo deve 
ser: nunca fazer coisa alguma que possa des­
agradar a Deus ou aos teus pais, assim como 
às almas boas! 
DESEJOS INDEFINIDOS 
.ENTUSIASMOS ... 
Revelam-se na vida das jovens na idade 
da puberdade, principalmente entre as que 
durante o dia não estão bastante ocupadas, 
entusiasmos e aspirações indefinidas. Esta 
maneira de viver mergulhada em fantasias 
e imaginações pode se manifestar tamhem 
em uma época posterior, e mesmo numa ida­
de mais avançada, quando as manifestações 
da puberdade já devem ter desaparecido. 
E' necessário conhecer bem nitidamente a 
causa e a importância destas manifestações 
na vida de certas jovens, para que estas não 
sejam impelidas à prática de tolices, mas sir­
va para a formação do seu carater. 
A moça é menina até à idade de 13 anos 
mais ou menos. Daí em diante começam os 
anos da puberdade; ela torna-se moça quan­
to ao corpo e alma. 
O crescimento físico acompanha o desen­
volvimento da tendência sexual. Unia me­
nina normal, (ainda não seduzida), não pode 
pensar nem sentir duma maneira sexual. 
Com o começo da puberdade isto muda. 
76 
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Como o homem, durante estes anos de desen­
volvimento, amadurece devagar, e portanto 
durante este tempo ainda é imperfeito, o 
mesmo acontece com a tendência natural. 
Esta época traz consigo uma extraordinária 
irritação e bruscas mudanças de humor. Em 
geral ela se move entre os extremos dos con­
trastes, porque ainda faltam maturidade, a 
tranquilidade e a igualdade de temperamen­
to. Nem era de se esperar outros resultados 
nesta época. Não se pode exigir frutos sazo­
nados na primavera. 
Mas seria perigoso correr atrás de todas as 
aspirações e ceder a todas as impressões sem 
a menor resistência. Nesta época a alma tam­
hem deve manter o seu domínio. E' preciso 
combater a leviandade, a falta de reflexão e 
a superficialidade. Antes de tudo, falta nes­
ta idade a experiência da vida, que só se con­
segue pouco a pouco, para que se possa com­
penetrar da responsabilidade e da trágica 
consequência de certo atos, que à primeira 
vista parecem sem perigo, esta experiência 
que se abstém de certas asneiras da mocida­
de, que podem desgraçar à felicidade da 
vida toda. 
Conforme o característico da menina que 
está crescendo, desenvolve-se antes de tudo a 
tendência da alma, isto é, o desejo de amar 
e ser amada. Não se manifesta, naturalmen­
te, logo no princípio, como encontramos na 
moça ou na mulher já feita, mas é ainda in­
certa e vaga. Aparecem certas sensações e 
77 
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um desejo indefinido traspassa todo o seu 
ser, sem que possa compreendê-lo. Ao mes­
mo tempo se revela o desejo de se achegar· 
a uma pessoa, afim de encontrar apoio e o 
complemento do seu próprio ser. 
Com isto começa quasi que uma procura 
pelo objeto de seu desejo, um menino, que, 
ainda não maduro e imperfeito, não pode 
satisfazê-la. Com perfeito desprezo olha para 
este selvagem. Entre as companheiras de sua 
idade ela encontra melhor compreensão para 
o que a interessa, e desta forma começam
muitas vezes estas amizades entre meninas
que em delicadeza e intimidade alcançam o
ponto mais elevado do seu íntimo. No prin­
cípio ou no fim das férias, por ocasiãode tal modo que chegamos a considerá-los 
incapazes de qualquer imperfeição ou fa­
lha ... E' preciso aprender a julgar a vida 
tal qual é, e não como uma fantasia amorosa 
:.i pinta. 
Antes de tudo deves aprender a não te 
deixar iludir pelas preferências dos homens, 
porque desta maneira sucumbirás facilmente 
à sua imposição. Encontrarás frequentemen­
te na tua vida rapazes da tua idade, de cujo 
exterior e maneiras te agradarás e simpati­
zarás, sentindo que te cativaram o coração. 
Seria de consequências funestas se deixasses 
perceber este sentimento, pois é de grande 
importância que saibas dominar teu coração 
e tuas impressões, para que tenhas sempre 
nas tuas mãos o governo dos teus sentimen­
tos. E' óbvio que se apresentem muitas oca­
siões na lua mocidade para exercer este do­
mínio de ti mesma; não deves, todavia, te 
Tu e ele - 8 81 
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preocupar com estas impressões, e tranquili­
zar sempre as agitações do teu coração, não 
desperdiçar o teu favor e teu amor e admi­
ração com o primeiro que encontres no teu 
caminho! 
Por causa deste tolo culto do homem, ela 
torna-se ridícula, e fornece argumento aos 
que acham que não se pode levar a sério, 
pois ainda não sabe se .dominar nem se guiar 
pela razão. 
Sê bastante orgulhosa, para te deixar pren­
der como uma escrava, pelos sentimentos, 
obedecendo-lhes cegamente. 
E' preciso repelir as primeiras impressões 
de corar e perder a tranquilidade de espíri­
to. Deves ser senhora de ti interiormente, tor­
nar-te livre e desembaraçada, e defender-te 
contra os laços com que se procura prender 
o teu coração, até que um belo dia o possas
dar intato àquele que escolheste _livremente,
ao qualos seus 
negócios, planos e peripécias. Experimentam 
nisso um doce prazer que ainda não é de 
ordem sexual, necessariamente. A boa edu­
cação de ambos, a natural repugnância ao 
pecado, porém, não admitem uma maldade. 
E' justamente entre pessoas ainda muito jo­
vens que encontramos esta atitude, mas ve­
rificamos um fato que a pode tornar perigo­
sa; eles já sentem tanta necessidade de se 
encontrar, que a falta começa a causar tris­
teza, melancolia e não raro coisa ainda peior ! 
Os casos mencionados admitem a observa­
ção de que há namoros que são inocentes, sem 
que deles advenham peiores consequências, 
senão a tristeza quando acabam. Mas, mesmo 
assim, podem resultar de tais brincadeiras 
prejuizos, dos quais vamos falar; na maioria 
dos casos as consequências são desastrosas, 
pelo menos para -as jovens, nos namoros pro­
longados sem fundamento nem fim sério. 
Quanto tempo e forças preciosos perdidos, 
tão necessários para a formação moral e in­
telectual, trazem consigo estes divertimentos 
levianos, estes passeios noturnos, estas de­
moras nas esquinas escuras, e estas corres­
pondências secretas. O que poderão eles ter 
para dizer em tais . encontros, senão boba-
87 
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gens ! Duas pessoas ainda na adolescência 
não podem ter assunto util e necessário para 
se comunicarem mutuamente. Faltando a 
-estas relações toda intenção séria, todo fim
lícito e altamente moral, esta inclinação di­
rige toda a atenção para uma satisfação pou­
co qualificavel.
Psicologicamente cada tendência tem esta
particularidade de absorver todos os pensa­
mento5 da pessoa, e de repelir todos os outros
interesses. Uma tal inclinação, com seu efei­
to tirânico, quanto prejuizo deve causar na
vida duma jovem! A paz e a tranquilidade só
voltarão quando o fim for conseguido! Que
tolice, portanto, manter durante anos um de­
sejo, sem querer ou poder realizá-lo! Muitos
iludem-se pretendendo poder casar-se mais
tarde; a experiência mostra que raramente
isto se torna uma realidade, ou se por acaso
acontecer, o caminho para a vida matrimo­
nial estará muitas vezes coberto de pecados,
que nunca poderão atrair as bençãos do céu
para um feliz futuro!
As jovens nesta idade são incapazes de
compreender a importância e o alcance desta
escolha, e por isso devem considerar qual­
quer passo neste sentido como uma precipi­
tação ou uma desgraça.
Estes namoros prematuros representam
não só um desperdício de tempo e força, mas,
e muito mais ainda, como um impedimento
para a formação do carater, porque estra�
gam o espírito de responsabilidade! Ela,
88
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J a não pergunta mais o que o direito ou o 
dever exigem dela. Cega contra todo o ra­
ciocínio, contra toda a conciência, torna-se 
joguete das suas paixões! O meio mais efi­
caz para se poder tornar uma personalidade 
forte e enérgica é a disciplina, o governo das 
inclinações e o governo de si mesma. A moça 
namoradeira negligencia e despreza este 
meio -indispensavel para a formação do ca­
rater. As mais preciosas ocasiões para se 
aprender a dizer "não" a si própria, para con­
trariar as suas inclinações, e assim aumentar 
as forças morais e na verdadeira liberdade, 
ela sempre as deixa passar despercebidas. Se 
ela for escrava submissa das suas inclinações, 
caprichos e paixões, man!f estações estas de 
uma natureza inferior, terá por único fim a 
satisfação egoísta dos seus desejos, aos. quais 
devem ceder todos os verdadeiros interesses 
da sua personalidade e da sua alma imortal. 
Daqui por diante quem governará é o ins­
tinto, que mata pouco a pouco toda a nobreza 
de sentimentos. 
Vendo este processo psicológico do namoro 
ilícito, compreendemos que ele é o pai de uma 
incrível fraqueza, para não se dizer misera­
vel. Ela não se reconhece mais a si mesma, 
nesta fraqueza que se apoderou de sua pessoa. 
Vê horrorizada que não tem mais força para 
resistir àquele instinto, e abandona sem escrú­
pulo toda a sublimidade da sua alma, para 
poder se entregar a quem queira fazer dela o 
que bem quiser! 
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Julgando erroneamente poder desta manei­
ra "cativar" ao outro, que muito bem sabe se 
aproveitar da sua vil escrava, tudo que ela 
faz não é mais a expressão da sua alma imor­
tal, do seu nobre "eu" e sim do seu instinto se­
xual, que nunca lhe dará verdadeira satisfa­
ção, e só poderá mais tarde ou mais cedo pro­
vocar aquele nojo, que é o princípio do deses-
pero!. . . • 
POR QUE? 
Porque toda a sua nobre natureza humana 
está sexualmente infestada. Para se tornar 
uma personalidade nobre, equilibrada e in­
dependente no bom sentido da palavra, é in­
dispensavel o desenvolvimento tranquilo, li­
vre de influências desfavoraveis, que possam 
perturbar ou apressar este processo fisiológi­
co. Sabemos que nada pode perturbar e ar­
ruinar tanto a vida toda do homem, como esta 
inclinação. Não é de se estranhar, portanto, 
que o namoro prematuro estrague completa­
mente a vida de uma jovem. 
Sendo o instinto sexual artificialmente des­
pertado e excitado numa idade, em que toda 
a natureza ainda se encontra no processo do 
desenvolvimento, o seu sistema nervoso �gi­
ta-se de uma maneira doentia, e deixa no or­
ganismo uma contínua e pouco sadia irrita­
ção, que se pode tornar fonte de graves ten­
tações, não raro para a vida toda. Todos os 
pensamentos são penetrados por imagens se-
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xuais, de forma que não encontram nenhum 
interesse para coisas mais sublimes e eleva­
das. Faltam a maturidade intelectual e espi­
ritual, e o modo de pensar torna-se muito 
baixo, levando a um verdadeiro desprezo 
pelos valores superiores e não materiais. 
A moça sob todo o ponto de vista fica 
numa verdadeira inferioridade perante suas 
companheiras! 
Uma menina conhecida como namoradeira 
fica imensamente prejudicada no seu valor 
moral e na sua honra, o que lhe causará tam­
bem uma diminuição da estima geral, pois 
será considerada do número das levianas; 
esta reputação de leviandade é proposital­
mente exibida como prova de independência 
dos bons costumes, o que muito faz recear 
pela moralidade de tão frívolas meninas 1 
. Quantas moças têm perdido sua boa repu­
tação unicamente por pa5searem e conver­
sarem com um rapaz na rua! Não resta dú­
vida que ninguem sabe o assunto de tal con­
versa, se foi uma inocente troca de idéas ou 
uma combinação para ulteriores encontros. 
Deve-se, todavia, levar em conta a facilida­
de com a qual o gênero humano costuma in­
terpretar malevolamente tais ocorrências, 
abrindo portas e janelas para os j uizos teme­
rários. Quanto mais alta for a classe da so­
ciedade à qual a menina pertence, e maior 
consideração gozar a sua família• tanto mais
severamente · criticada será a sua atitude 
para com um rapaz, que nªo seja estrita-
91 
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mente correta. E' interessante notar que tal 
menina encontre justamente entre os rapazes 
a crítica mais severa, embora eles mesmos a 
tenham induzido à prática de tais futilidades! 
Este fato é natural, pois ninguem melhor 
do que eles sabe o que vale uma namoradei­
ra, cuja leviandade é capaz de tudo a seus 
olhos. Por isso a ridicularizam e desprezam, 
emb0ra gostem de brincar com ela; quando, 
porém, conversam entre eles, contam minu­
ciosamente tudo que disseram e se permiti­
ram com tais meninas nas suas relações com 
elas! 
Acontece, geralmente, que, logo que uma 
delas se torne livre, porque o "cavalheiro" a 
abandonou, é logo procurada por uma por­
ção deles, pois sabem que ela facilmente 
atende a estes galanteios pecaminosos. 
Esta é a acusação mais grave, que pode­
mos levantar contra esses namoros prematu­
ros e por isso mesmo ilícitos. Devemos ainda 
ouvir a objeç.ão de que não é impossível que 
tais relações fiquem num simples - querer 
hem, - numa brincadeira inocente. Mudan­
do-se, porém, as circunstâncias, com as re­
lações mais íntimas apresentar-se-ão lambem 
as duvidosasconsequência&. 
As jovens, que têm assim este modo de 
pensar, esquecem-se por completo que, ce­
dendo a tal inclinação, despertam o instinto 
sexual, e a moral não o permite a uma moça 
solteira, porque sabe que esta força tremenda 
na vida humana deviistará iuqo
1 
s� obtiver 
92 
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liberdade para agir. Toda e qualquer incli­
nação tem tendência para se manifestar por 
sinais, daí a facilidade para todos estes ca­
rinhos, beijos e abraços. Infelizmente eles 
não dão a plena satisfação que prometeram! 
A Gretchen de Fausto desejaria morrer em 
consequência dos seus beijos; contudo sente 
que isto não a satisfaz, porque o instinto uma 
vez despertado exige sempre mais e mais, e 
ela vê-se obrigada a fazer novas concessões 
que quasi sempre acabam em desgraça. O que 
dizíamos a r�spcito da parte trágica da mu­
lher, encontra hem a sua ilustração nessas 
palavras. 
Compreende-se agora por que estes cari­
nhos provocam necessariamente o instinto 
sextial do rapaz, que reconhecerá, se for sin­
cero e não pervertido, que deve acabar ime­
dia tamente com estas libocdades, se não qui­
ser fazer a desgraça da menina. Felizmente 
ainda existem moços que possuem o senso 
da responsabilidade e não se deixam levar 
pela frivolidade. 
Forel, certamente não suspeito de exage­
ro, diz: "Na n10ça os sentimentos amorosos 
produzem um estado de excitação, que que­
bra qualquer resistência da vontade e da ra­
zão. Ela se rende ao joven, sucumbe aos seus 
abraços, segue-o sem relutância, e em tal es­
tado é capaz de todas as loucuras". O pro­
fessor Forel é um perfeito materialista! 
Tendo uma vez provado esta paixão, já 
nã0 sabem onde irão parar. O instinto quer 
93 
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ir adiante e não se cansa até que tenha con­
seguido completa satisfação. Eis o trágico re­
sultado dum namoro que se procurou somen­
te corno divertimento e gozo. Aos namorados 
faltou a compreensão de que ele não é a .meta, 
mas unicamente um meio para se chegar a 
um fim grandioso, isto é, a fundação dum 
lar feliz! Este fim altamente moral é a vo­
cação para um sacramento, pois se trata do 
único freio capaz de conter o instinto. Con­
duindo estas reflexões, ficamos convencidos 
de que a jovem que não é capaz de resistir às 
seduções do instinto, quando se aproxima 
apenas com carinhos. Como poderá ter a fir­
meza necessária, quando este lhe acenar 
com o mais alto, que pode dar? Se ela não 
tiver a força moral de renunciar a um na­
moro ilícito, muito menos a terá para resis­
tir, quando vierem os assaltos veementes da 
paixão. Isto é o resultado natural duma ex­
periência que se pode fazer diaTiamente, pois 
é a lei do plano inclinado. 
Como já temos explicado acima, a parte 
trágica da mulher consiste que nestas oca­
siões sua inconcebível credulidade torna a sé­
rio o'que para o rapaz não passa duma brin­
cadeira. 
Esta tragédia tem seu fundamento no ar­
dente desejo da mulher de amar e ser ama­
da, desejo que tem seu predomínio na natu­
reza, e justamente no primeiro namoro sua 
força é mais enérgica. Acresce ainda que o 
processo da puberdade completa-se na meni-
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na mais rapidamente do que no menino. En­
tre a adolescência e a possibilidade de se oa­
sar, decorrem para ela muito menos. anos do 
que para ele. Ela, portanto, pode muito mais 
cedo pensar em casamento; infelizmente ela 
não toma este fato em consideração. Supo­
nhamos que exista um namoro entre jovens 
da mesma idade. Se, ela refletir um pouco, 
terá forçosamente de compreender que ele 
ainda não pode pensar em casamento, e que 
daquí a uns 10 e mesmo 15 anos ela encon­
trará rivais, muito mais moças e bonitas. 
Não podemos negar tambem que há ra­
pazes· que provocam um namoro ilícito, mas, 
com o firme propósito de procederem neste 
caso como Fausto com Gretchen, não deixam 
perceber sua verdadeira intenção. Nestas ab­
surdas circunstâncias sua inclinação torna-se 
mais forte e arraigada, porque ela confia na 
sinceridade dele. Com toda a alma aceita seus 
galanteios, porque nem sonha com n possi­
bilidade de que ele a possa iludir. Para o 
prender mais fortemente e não perdê-lo por 
sua própria culpa, não tem coragem de lhe 
recusar coisa alguma. Quando chega o mo­
mento em que o rapaz julga conveniente 
romper as relações, que ele aliás nunca to­
mou a sério, e a abandona, vem a cruel des­
ilusão, que tem causado já tantas vezes a lou­
cura ou o suicídio da infeliz ! 
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UMA REFLEXÃO 
Deixando de lado a parte trágica da mulher, 
- que é aliás o seu mais precioso apanágio,
isto é, a forte tendência da alma feminina:
"amar e ser mnada", - e procurando a causa
mais profunda destas tragédias, devemos con­
fessar o seguinte: todas �stas manifestações
da vida de uma jovem são consequências de
uma vaidade, - perdoem-me - de um or­
gulho tolo de ter quanto antes o maior número
de galanteios, para não ser vencida por outras
coleguinhas, que são mais felizes!
Para que serve esta vaidade a uma meni­
na? Para nada, muito pelo contrário. Uma 
jovem ajuizada, que não se quer deixar domi­
nar pela paixão da vaidade, tem a coragem de 
confessar a si mesma que estas inclinações 
de um rapaz em tais condições não passam 
de um instinto animal, e por isso acha ridí­
culo atribuir demasiada importância a uma 
atitude, que amanhã será causa de verda­
deiros desgostos e crueis sofrimentos! 
Outras querem ser mais prudentes e di­
zem: logo que as coisas se me afigurarem pe­
rigosas, "corto as relações". Muito bem, mas 
elas não tomam em consideração que as que­
das, pelo menos a primeira, não é o produto 
duma reflexão b.·anquila, mas sim de uma 
precipitação e de um momento de fraqueza, 
ao qual se deixaram arrastar pela paixão. 
Além disso, não -se lembram de que uma j o­
vem pelas atenções de um homem entra numa 
96 
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disposição em que não pode negar· nada. 
Ignoram, enfim, que pelos carinhos, palavras, 
olhares e talvez por uma influência magnéti­
ca ainda não bastante conhecida, prepara-se 
uma situação em que elas próprias não mais 
se conhecem, pois parecem totalmentede 
carinho, e nelas se deleita, é muito possivel 
que se deixe levar sempre mais longe. 
Não é raro que os moços comecem com tais 
carinhos quando querem seduzir uma moça, 
pois pelo modo como receberem estas carícias 
poderão saber se outras petulâncias darão re­
sultado. . . Logo é muito facil de se compre­
ender que não é raro que a causa da queda 
duma jovem tem sua origem no modo pelo 
qual receberam estas tentativas. 
Outro perigo que a moça encontra é quan­
do por ocasião de certos jogos ela perde sua 
nobre reserva, para com os rapazes que ne­
les tomam parte; pois a prenda . para aquele 
que ganhar é o direito de heij ar a companhei­
ra de jogo. Pouco a pouco- estas bagatelas vão 
perdendo sua importância, e começa-se a 
achar graça nestas brincadeiras, e é assim que 
98 
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se cai mais depressa vitima da sedução. Este 
perigo cresce ainda mais, porque, por estes 
divertimentos, os rapazes chegam a concluir 
da existência duma disposição interior, que 
facilitará outras liberdades mais audaciosas. 
Todas estas considerações provam_ à sacie­
dade que o valor do beijo entre namorados 
não é igual para ambas as partes. Para o ra­
paz, ele pode, como outros carinhos, abraços, 
etc., ter a significação dum desejo ilícito, en­
quanto que para ela o mesmo ato é apenas a 
expressão dum mero "querer bem". Muitas 
vezes não lhe é possivel compreender clara­
mente o que significa aquele beijo, a menos 
que se trate duma inclinação que a leve para 
o matrimônio. Parece-nos nina questão de
dignidade feminina e de alta moralidade, que
ela não se deixe levianamente beijar por
qualquer um, mas que deve reservar este ca-
• 
rinho unicamente para aquele ao qual irá per-
tencer no matrimônio.
A verdadeira riqueza da moça é um cora­
ção puro, piedoso, delicado, bondoso, compas­
sivo, altruísta e generoso. E' dotada de uma 
extraordinária perspicácia em tudo aquilo 
que é conveniente, correto e nobre. 
Sem muita reflexão, acerta espontaneamen­
te o que convém fazer. Nunca está mais sa­
tisfeita, do que quando tem ocasião de se sa­
crificar altruisticamente e mesmo sem pen­
sar cm si dá-se toda aos cuidados pelos ou­
tros. Vivendo animada pelo altruísmo, este 
frequentamente se lhe reflete na face e no 
,,. 99 
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olhar. Recebe-nos com tal bondade e meiguice, 
tal amabilidade e modéstia, tal disposição 
para o sacrifício, tanta resignação, tanta pu­
reza e nobreza, que ficamos encantados e 
presos, lembrados dos versos: 
Sois como a flor, formosa e pura, 
um encanto: 
Fixo teu olhar e a melancolia me 
invade. 
E sem querer estendo as mãos 
sobre tua fronte 
Pedindo a Deus que te conserve 
assim pura e formosa. 
Nisto apreciamos o primor com que o 
Criador adornou a virgindade. E' a pátina 
subtil das coisas não profanadas, que cobre 
todo seu ser, esta integridade, esta voluntária 
reserva aliando uma espécie de intangibili­
dade com verdadeira amabilidade, e manifes­
tando-se num porte cheio de dignidade e no­
bre modéstia. O seu afeto eleva o homem e 
lhe instila reverência diante da dignidade 
feminina. 
Não será criminoso quebrar, por amor do 
J,)róprio prazer, esta bela flor humana, a pon­
to de deixar pender em breve a cabecinha 
cansada para murchar e morrer? 
As tristes consequências, mesmo de um úni­
co passo errado, não se podem avaliar. Para 
sempre desapareceu a intangibilidade do cor­
po; foi profanadQ. Irremediavelmente perdi­
da está a inocência. O sentimento altivo de 
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não ter dedo um passo falim, o doce pensa­
mento de estar sem culpa estão destruidos. 
Como outrora Adãt, e Eva estavam diante das 
portas fechadas do paraiso, volvendo olhares 
saudosos para ·o perdido jardim de delícias, 
assim as pobres estão diante do paraisa da 
perdida inocência do coração, exiladas pelo 
pecado, e para sempre as portas lhes perma­
necem fechadas. Aquelas alegrias puras e ino­
centes que antes gozavam não voltam mais. 
Tambem a eles se abriram os olhos, vendo a 
desgraça em que o passo falso os lançou. Ge­
mam, lamentem-se e chorem - nada lhes res­
titue o paraiso da inocência, - todavia, estas 
jovens ainda podem tornar-se castas. 
Além disso, foi-se a repugnância natural, 
que o homem tem diante deste pecado. A 
1·esistência contra as tentações está vencida, a 
energia e força interior diminuiram. A pai­
xão tira capital da falta, para despertar o 
desejo de repetí-la. Sempre e sempre se re­
pete o cântico impressionante de Daví: "O 
meu pecado está sempre diante de mim". Estas 
faltas não se esquecem facilmente, envene­
nando toda a alegria de viver. 
Peiores ainda são as consequências, quando, 
depois da primeira queda, ela continua com 
as relações ilícitas. Degradando-se a joguete 
do namoro, a moça renuncia à sua dignidade, 
ao melhor de si mesma, em benefício de quem 
nunca lhe poderia merecer tal sacrifício. Com 
este "sacrifício" ela perde tudo, torna-se frí­
vola, leviana, sem modéstia. O olhar, a ex-
101 
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pres11ão fisionômica. torne.-se livre, atrevida, 
sem reserva porque cairam todos os véus. 
Este aspeto exterior esconde a rui.na inte­
rior, um modo de pensar, de apreciar inteira­
mente novo entrou naquele coração, no qual 
todas as cGmsiderações antigas se calaram. 
Ela não atende mais à voz da conciência, às 
lágrimas dos seus pais, nem aos chamados 
do nosso bom Deus, do bom Pastor! 
Quem governa é a paixão, da qual se fez 
escrava. Ela não compreende que sua única 
obrigação é a de se corrigir, para poder se 
tornar digna da sua futura vocação, isto é, a 
missão de ser uma hoa mãe! Quantas e quan­
tas moças, levantando-se da queda, consegui­
ram ainda regenerar-se, e alcançaram a des­
merecida graça de poder fundar o próprio 
lar, fazendo azsim a própria felicidade e a 
dos seus queridos pais! 
Os jovens de hoje, e em particular certos 
rapazes de sempre, acreditam em uma dupla 
moral, como se certas faltas cometidas por 
moças fossem mais graves do que para eles 
nas mesmas condições. A religião não admite 
esta dúplice moral; o mesmo pecado não é 
mai3 grave por ser cometido por uma pessoa 
do sexo feminino ou do masculino. Este modo 
de pensar tem, todavia, uma certa razão, por­
que para uma moça, nas mesmas condições 
do moço, é muito mais facil conservar-se pura 
do que para ele. 
Por outro lado, ela sofre muito mais as 
consequências duma falta do que ele, que 
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pode neutralizar estas mesmas consequências 
mediante o seu ulterior proceder e querer, 
pelo menos em parte, visto tratar-se nele so­
bretudo de uma aberração da tendência na­
tural. Nas moças, porém, trata-se de uma 
aberração das jnclinaç.ões psíquicas, produ­
zindo as. mais graves feridas no íntimo do 
seu ser. 
Esta tendência da alma pelo pecado sofre 
um prejuizo muito maior, porque, desejando 
uma coisa sublime, admitiu um ato muito 
n:iaterial, indigno daquela inclinação; por isso 
o que para ela é uma tragédia, não passa
aos olhos dele de um episódio. A moça adoe­
ceu para toda a vida e. frequentemente se
arruinou completamente; o homem doudeja
de flor em flor corno uma borboleta.
Felizes aquelas que abrem mais cedo os 
olhos para compreenderem sua situação; 
como já dissemos, muitas delas foram mais 
vítimas duma leviandade do que do pecado. 
Com uma firmeza, que só podemos conside­
rar uma graça especial do bom Pastor, aban­
donaram o sedutor, compreendeµdo que ele 
não queria o seu amor, mas apenas a satisfa­
ção do seu desejo. Deus, que veio à terra para 
salvar o que se tinha perdido, Deus, que teve 
palavras consoladoras para a adúltera, dizen­
do: "Eu tão pouco te condeno, vai em paz, e 
não peques mais", este Deus mostra com estas 
palavras que acredita na possibilidade duma 
conversão. E' lambem para estas almas ou­
tra palavra confortadora: "Vinde a núm to-
103 
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dos que sofreis, e eu vos aliviarei!"O esfor­
ço sincero alcança para a alma contrita a 
graça de poder reparar completamente o pre­
j uizo. No caminho para o céu encontraremos 
muito mais o rasto dos filhos de Deus, que se 
transviaram uma vez no caminho, do que os 
vestígios daqueles que uareciam andar como 
anjos aquí na terra. 
Ainda que o paraíso da inocência tenha 
sido perdido, a castidade está ao alcance de 
todos. Muitas ajuizadamente tiraram da sua 
queda a grande vantagem de aprender a co­
nhecer o perigo e a fugir dele, tornando sem­
pre perante o homem a indispensavel atitu­
de de reserva. Muitas se arrependeram e con­
seguiram pela nobreza de sua conduta recon­
quistar a dignidade da· mulher e a estima dos 
homens bons. 
Outras há, infelizmente, que na ânsia de 
não perder o namorado e na esperança de que 
ele acabe por desposá-la, satisfazem-lhe todos 
os desejos. Na maioria dos casos ele nem pen­
sa nisso e mais cedo ou mais tarde abandona 
a infeliz, que se deixa iludir por um outro, e 
se este tambem a abandonar, começará com 
um terceiro, para enfim ficar desprezada de 
todos, e tornar-se uma pobre criatura, que 
nada ganhou de tantos sacrifícios e humilha­
ções! Como sabem os homens humilhar uma 
pobre mulher! Calcá-la aos pés! E se nada 
ganhou, tudo perdeu! A paz da alma, os sen­
timentos religiosos, que ficaram embotados, a 
conciência t E o que ficou, no lugar de tudo o 
104 
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que perdeu, foi um coração desejoso de vin­
gança, desiludido, e que da vida só sente 
imenso nojo! 
E estas moças, mais tarde, deviam se tor­
nar "mães" ! 
Oh! quão preciosa e necessária é uma boa 
mãe! 
Numuma jovem não aprende a 
regularizar seus instintos de conformidade 
com as leis .da moral, para dominá-los, não 
conhece mais reserva nem medida nas tenta-
109 
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ções. e vive mergulhada num mar de pensa­
mentos, fantasias e desejos maus. O cora­
ção feminino é verdadeiramente insondavel 
nas suas aspirações e nos meios para alcan­
çá-las. 
Uma das espécies mais perigosas e detesta­
veis do flirt é a habilidade de certas mulhe­
res em provocar a paixão do homem, por in­
termédio da vaidade, do luxo e da sua refi­
nada astúcia. Elas consideram simplesmente 
um record do seu funesto esporte, quando 
conseguem cativar o coração dum homem ca­
sado, sem levar em conta a desgraça, e mui­
tas vezes a derrocada de um lar feliz. Con­
tentam-se em ter provocado uma tal paixão! 
Neste triste jogo sua atitude é verdadeira­
mente satânica, pois, tendo alcançado a vi­
tória, é capaz de dizer hipocritamente que 
suas palavras e atenções eram tão inocentes, 
que nunca lhe passou pela cabeça que se pu­
desse interpretá-las de maneira tão malicio­
$8; mostra-se indignadíssima de que a tenham 
acusado de tais infâmias. 
Não há expressão bastante forte para iftis­
trar a malícia e perversidade da mulher que 
se entrega ao flirt. Este comportamento só 
pode ser explicado por um vil egoísmo, que 
não conhece maj.s nenhuma responsabilidade 
perante Deus e os homens. 
Deus deu ao homem e à mulher disposições 
muito diferentes. Elas consideram este modo 
de viver como a única satisfação que podem 
usufruir; isto é, de �rincar com a felicidade 
110 
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dos outros, provocando-llies pruxoes ilícitas, 
que não raro o desgraçam irremediavelmente. 
Tais excessos e anormalidades da vida se­
xual mostram justamente para a jovem o 
enorme perigo que há em não se esforçar por 
cultivar as mais dignas qualidades do cora­
ção feminino. 
Ela poderá chegar à perfeição da sua na­
tureza, e atingir a felicidade, se procurar des­
envolver o verdadeiro amor, único capaz de 
todos os sacrifícios a favor do ente amado. 
Não coi1seguindo este ideal, quasi sempre 
acaba perdendo sua dignidade de mulher ou 
se tornando "uma egoista, psiquicamente 
anormal, uma degenerada e inutil" (Forel), 
a moç:;i. que não é capaz de aprender a ver­
dade ensinada por l\fantegazza em seu livro 
"a arte de se tornar feliz", a qual consiste em 
fazer a felicidade dos outros, mesmo à custa 
da própria felicidade. 
O flirt começa a criar raiz no coração duma 
jovem, quando por toda a lei ela quer fazer 
fig ra, chamar a atenção. Diretamen�e peri­
gosas são aquelas, cujo instinto sexual as ani­
ma a substituir pelo flirt o que lhes faltava 
na: satisfação do seus desejos talvez justos e 
santos. Entre elas encontramos não só soltei­
ras, mas tambem casadas, que se sentem in­
felizes na vida matrimonial, ou evitam filhos, 
porque a única tendência delas é gozar, ou 
não gostam da tranquilidade da vida do lar, e 
por isso procuram as aventuras do flirt. 
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Uma jovem que não quer se transformar 
em caricatura. de mulher, deve se compene­
trar desde tenra idade da beleza da majesta­
de, da importância e da felicidade, que ela 
encontra na dignidade de mãe ou na virgin­
dade dedicada exclusivamente a Deus. Ela 
precisa defender este ideal contra a frivoli­
dade do nosso tempo, e contra as baixas in­
clinações da natureza. A força para esta luta 
não se encontra na sua pessoa, mas precisa 
buscá-la e achá-la numa vida cristã, baseada 
sobre uma fé profunda! 
AMIZADE 
E', de fato, impossivel manter relações de 
amizade entre jovens de sexo diferente? 
Para se responder a esta pergunta é preciso 
indicar primeiramente o que se entende· por 
amizade. E' claro que as relações amigaveis, 
que naturalmente se originam entre famílias, 
que se conhecem, podem estender-se lambem 
aos jovens. E' natural que em certas ocaslfies
festivas ou recreativas se revistam de um 
candor e de um brilho maior, quando ambos 
os sexos participam delas. Tambêm é natu­
l'.al que uma moça estude as qualidades e as 
diferentes inclinações dos homens, para :ti.ão 
se mostrar ignorante, quando vierem os mo­
mentos mais sérios da sua vida. Seria -11 um 
triste sinal. se uma jovem em tais ocasiões 
não pudesse ser alegre e atenciosa nas suas 
112 
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relações com os rapazes, sem provocar uma 
aproximação mais íntima. 
Ela faz muito bem de aproveitar-se des­
tas ocasiões para alcançar uma certa tran­
quilidade e firmeza nas relações com os ho­
mens, para que vejam e compreendam que 
ela não é apenas um objeto para se brincar 
ou se dizer graças. Ela fará muito bem, se se 
utilizar destas ocasiões, para bem conhecê-los 
e estudá-los afim de poder formar o seu pró­
prio j uizo sobre o seu valor moral, e não se 
deixar fascinar pelas exterioridades. Nosso 
encontro com os homens não deve ter por 
único objetivo o casamento, mas o de estudá.­
los e ver se entre eles não haverá algum no 
qual se possa confiar, e que seja capaz de 
fundar um lar, no qual a gente possa viver 
feliz. Em tai.s ocasiões, a jovem mais feliz 
será aquela que souber aliar uma alegria 
simples e sem afetação, a uma reserva e aten­
ção sincera e bem controlada. Deve apro­
veitar estas relações, com a firme resolução 
de não ceder facilmente a certas inclinações, 
e 9e, por acaso, se apresentarem, deve do­
miná-las, e não achar graça quando algum 
rapaz se mostrar mais particularmente obse­
quioso. A jovem deve conservar sua liberda­
de o mais tempo possível, até ao instante em 
que por si mesma saiba o que tem a fazer. 
Para tal fim precisa ser igualmente atenciosa 
para com todos, e fechar as portas elo coração 
a qualquer extemporânea inclinação. Nada 
entra! Nada sai! Tomada esta resolução, po-
Tu e ele - 8 113 
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demos confiar em que não nos deixaremos 
guiar pelas delícias do momento. 
Devemos observa't a mesma atitude, se em 
virtude da nossa profissão formos obrigadas 
a trabalhar juntos. Outra ocasião para a 
moça de mostrar a sua mentalidade. Muitos 
não deixarão de servir-se de tais ensejos 
para entabolar namoros com as moças. Esta 
atitude nada tem· de inocente, porque mos­
tra logo o desejo de se servir dela para sa­
tisfazer seus vis desejos. Egoísmo instinti­
vo 1... Nunca mostres satisfação ou alegria 
por estas atenções, que são perniciosas; ao 
contrário, dá a perceber que te desagradam, 
e que não estás disposta a servir para seme­
lhantes divertimentos. Sê inacessível a estas 
tristes figuras, e protesta energicamente con­
tra qualquer inconve::niência. Por outro lado 
aproveita esta convivência para aprender 
firmeza de carater tão necessária em todas as 
tuas relações com o outro sexo, e estuda 
aqueles que são passiveis de serem tratados 
como colegas, e com os quais podes con­
versar, e aqueles dos quais deves afastar-te. 
As relações sociais, que acabamos de exa­
minar, são muitas vezes motivo de se iniciar 
uma amizade. Duas pessoas aprendem a se 
apreciar e conhecer mutuamente, desejam. 
continuar essa amizade, pois se entendem 
bem e gostam de trocar suas idéas. O que de­
vemos dizer deste desejo? A experiência nos 
ensina que é impossível que possa existir uma 
íntima amizade entre um rapaz e uma moça, 
114 
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tal como pode existir entre dois rapazes e 
duas moças. 
Mesmo entre pessoas maduras e pondera­
das seria ela possível, em alguns casos, so­
mente cm condições inteiramente especiais, a 
saber, quando, no dizer de Albano Stolz, "a 
alma conquistou uma alta e forte mentalida­
de, e a tendência sexual tem a sua satisfação 
na vida matrimonial ou é dominada por uma 
virtude conquistada em longa luta e experi­
mentada em 1nuitos casos". 
Entre jovens, porém, é incontestavel a se­
guinte verdade: as inclinações entre eles são 
desde o princípio sexuais ou assim se torna­
rão necessariamente mais tarde. O processo 
é inteiramentesugestões e 
idéas preciosíssimas, que realmente muito 
melhoraram as minhas, pelo que muito agra-
deço. 
Conhecedores repararão facilmente nas mi­
nhas explicações a colaboração da mulher. 
Além disso, seja-me permitida a observa­
ção de que é impossiveJ na apreciação dos 
diversos casos examiná-los todos ninucio­
samente. Podemos apenas indicar, em linhas 
gerais, o que pode ser aplicado nas diversas 
ocasiões conforme as circunstâncias. 
Certos leitores coQ.siderarão meu modo de 
pensar, sobre certas questões, rigoroso de­
mais, para ser aplicado às suas filhas, por­
que isso não . acontece na sua roda. Neste 
caso não devem esquecer que este livro é 
11 
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escrito por um sacerdote, que formou seu 
juizo na própria experiência e nn discussão 
de muitos casos de alma, e de pais católicos, 
por um sacerdote, que fez sempre de novo a 
observação de que certas manifestações, que 
pareciam a princípio inteiramente inocentes, 
não o eram, e que possibilidanatural, pois eles querem amar 
e serem amados! Isto é o que os liga! 
Talvez no princípio eles não reparem este 
processo, ou não o queiram confessar, iludin­
do-se a si mesmos. Na realidade não se con­
seguem evitar os efeitos das inclinações de 
ambos os sexos. Seria mesmo anormai, se o 
a rativo natural e necessário dos sexos jus­
tamente em homens jovens e muito sensíveis 
não produzisse o seu efeito, enquanto que ho­
mens maduTos e ponderados às vezes com 
muito custo se podem defender contra esta 
influência! E' particularmente difícil para a 
moça perceber a diferença entre uma ami­
zade e a inclinação da alma, estando nela a 
tendência natural ordinariamente calada, ao 
passo que seus movimentos fazem advertên-
115 
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ci:a ao moço do qual se apoderou uma incli­
nação sexual. 
O que deixamos dito é confirmado pelas 
confissões de jovens, que pretendiam ser seus 
amigos, mas finalmente chegaram a compre­
ender que já não era mera amizade o que os 
ligava. Um jovem, que desejava fazer-se pa­
dre, travou conhecimento com uma moça, 
pela qual se afeiçoou. Ela sabia da sua voca­
ção. Era uma amizade pura e nobre, que ha­
via de existir enlre eles. Em virtude disso 
não se permitiam carícias e beijos. Termina­
dos os exames, viram-se por alg_uns meses 
separados, e, voltando ele, declarou-lhe que 
continuava firme em seu propósito de tor­
nar-se sacerdote. Ela respondeu: "Isto pro­
priamente me devia causar alegria; mas com­
preendes que me custa". Depois ele con­
tou esta conversa a um amigo, dizendo: "Eu 
não devia ter feito isto, pois não sei se ela 
mais tarde será capaz de amar a um outro 
homem tão afetuosamente como a mim t" 
Mais tarde ele confessou que se iludiram 
mutuamente, quando pensavam que suas rt­
lações eram meramente amistosas. 
Análogo é o caso de um outro moço. Sen­
tiram o despertar da tendência sexual, mas 
tomaram logo a resolução de lutar, para não 
serem mais que amigos. Quando, algum tem­
po depois, fizeram ao rapaz esta pergunta: 
como imaginava o futuro, respondeu: "Eu 
creio, sou capaz de fazer o sacrifício; se ela 
o será, não sei". "E que farás, se ela decla-
116 
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rar que não o pode, que é incapaz de um.a re-
1,1úncia completa? Se disser que não pode vi­
ver sem ti? Que faria uma loucura?" Não le­
vou muito tempo, ele abandonou a sua vo­
cação eclesiástica e casou-se! 
Estes e outros exemplos mostram que em 
tais casos a afeição já não era de caratcr 
amistoso, mas manifestação da tendência da 
alma. 
Mesmo que queiram viver como irmãos, a 
convivência provocará naturalmente o des­
envolvimento do processo físico e psicológi­
co. Querer impedir isso violentamente é des­
natural e acarreta necessariamente conse­
quências funestas, como de fato aprecianun 
nas pessoas que mantinham relações de ir­
mãos. Tratando-se de uma supressão violen­
ta das tendências psicológicas, os estragos ma­
nifestam-se principalmente na moça, porque 
nela as tendências são m-;-is sensíveis. 
E' muito significativo que tais relações de 
irmãos quasi só se conseguem em pessoas já 
adultas, mas não nos anos da adolescência 
e do desenvolvimento. Depois dum certo 
tempo da convivência como irmãos, mani­
festou-se o fato de que a jovem não sentia 
mais inclinação para a vida matrimonial. De­
corridos depois disso mais alguns anos, sur­
gindo este desejo, reconheciam que pelo seu 
procedimento perderam o acesso à materni­
dade, almejada agora com todas as veras do 
coraç�o e que lhes escapou a felicidade da 
sua vida. A moça, sobretudo, ficou prej udi-
l f7 
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cada, pois tinha rejeitado muitos pretendentes, 
não se incomodando com eles. Agora passou 
a idade, envelheceu. O rapaz confessou que a 
jovem foi para ele um verdadeiro anjo da 
guarda; mas foi-o à custa da felicidade da 
sua própria vida. Podemos ácreditar que foi 
Deus que exigiu tamanho sacrifício, onde 
existem tantos outros meios para salvar uma 
alma? 
Outras n10ças, contudo, casaram-se mais 
tarde, mas não acharam a plenitude psicoló­
gica para com seu marido, tornando-se o ma­
trimônio infeliz. 
Nada melhor do que o caminho normal, 
designado por Deus mesmo, desde a criação 
do gênero humano! 
Concluindo estas reflexões, diremos: duran­
te o tempo do desenvolvimento da jovem é 
pare ela da maior vantagem que nenhum 
moço entre na esfera dos seus interesses, que­
rendo perturbar o processo tranquilo da sua 
adolescência. Nesta época, em que ainda 
nada é maduro, na formação física, intele­
ctual ou moral, devemos considerar como 
uma verdadeira tragédia a aproximação de 
qualquer rapaz sob pretexto de uma amiza­
de. Ninguem tem o direito de prejudicar esta 
.felicidade ainda inocente da jovem que tem 
o direito de em toda a tranquilidade da alma
poder amadurecer para a vocação que Deus
lhe confiar.
Se meninos irrefletidos e meninas precoces 
entram em relações mais íntimas, o efeito 
118 
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menos desgraçado será sempre o seguinte: 
ambos perdem o seu sexo, os rapazes tornam­
se meninas, e as meninas tornam-se mole­
ques! 
Prescindindo das relações entre pais e fi­
lhos, as relações entre pessoas de sexo dif e­
rente só correspondem à natureza, quando 
existem entre marido e mulher, no matrimônio. 
Exprimiu-o acertadamente Coloma, no seu 
romance "Boy": "De direito só duas mulhe­
res têm lug:u na vida dum homem: a sua 
mãe e a mãe de seus filhos. O que sai fora 
deste amor puro e casto é um desvio· perigo­
so, pecaminoso!" Não é possivel deixar de 
lado esta ordem intencionada por Deus, sem 
que se apresentem as perigosas consequên­
cias. 
AS RELAÇÕES 
Entendo com este termo a convivência imo­
ral, que em geral não visa o casamento. 
Seria ilusão querer pensar qüe uma jovem, 
uma v_ez incomodada inconvenientemente por 
um moço, possa cortar logo as relações. Mui­
tas não acham em si forças para isto. Pouco 
a pouco deixam-se fascinar pelas delícias des­
te carinho, ao qual não querem mais renun­
ciar. 
Um jovem declarou: "Tive relações com 
moças, que ficaram muito agarradas comi­
go! Aconteceu que recebí o primeiro beijo! 
Em consequência disso formou-se em mim a 
119 
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idéa de que elas fossem ainda inocentes, e 
isso ainda mais excitou a minha inclinação. 
Reclam,ii todas as liberdades e todas me fo­
ram concedidas. Mas depois mostravam-se 
muito perturbadas e despediam-se às pres­
sas. Na noite seguinte o processo j á foi menos 
custoso, e na terceira foi tudo facil. Somente 
depois destas experiências compreendi que 
tinham feito estas concessões unicamente 
para não me perderem. Tinham medo que 
do contrário eu não me casasse com elas. 
Quando cheguei a esta compreensão, senti 
nojo e acabei com tudo. Depois de pequeno 
intervalo, encontrei uma outra com a qual 
comecei o mesmo jogo. Nunca mais me in­
comodei, quando começaram a chorar". 
Esta triste declaração nos faz crer que estas 
m.oças eram inocentes, e que se voltaram de­
pois de uma queda tão deplora vel foi unica­
mente para não perder o sedutor.
Como já mencionúmos, muitos rapazes co­
meçam as suas relações com má intenção, 
sem contudo dá-lo a perceber à jovem. A 
degeneração moral da mocidade masculina, 
excitada pelo cinema, pela leitura e pelas 
conversas imorais, é hoje em dia muitas ve­
zes desastrosa, desanimadora. Podemos pro­
var isso tudo pelas observações que fazemos 
frequentemente: "Considero a coisa mais na­
tural do mundo entabolar relações com qual­
quer moça para pecar!" "Sei que ela foi 
louca por mim, mas mantive as relações so­
mente para me satisfazer". "Meus colegas 
120 
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contaram-se na segunda-feira as suas entre­
vistas do domingo, dizendo que sem a mu­
lher a vida não tem valor". "Já conheces meu 
modo de pensar s·obre a mulher. Quando en­
co11tro dificuldades, gosto ainda mais! Mui­
tas vezes consegui o que era dificil, depois 
dei um ponta-pé. Nuncasenti arrependimen­
to, somente a grande satisfaçã0: "ganhei a 
vitória!" 
E' de se pasmar à vista de tudo quanto 
vêem, ouvem, lêem, e sobretudo diante da 
leviandade de tantas moças, que lhes impõem 
a compreensão, que um deles exprimiu com 
as palavras: "Até hoje considerei as jovens 
corno um mero instrumento para a satisfa­
ção da paixão do homem! ... " 
Esta é mais ou menos a teoria de muitos 
homens, ao iniciarem relacões com o outro 
sexo. Eles declaram que · não têm vontade 
nem coragem para esperar até ao matrimô­
nio para cederem ao instinto, e por isso pro­
curam estas relações ilícitas. Existem médi­
cos sem ciênciar que declaram que a conti­
nência é prejudicial à saudc. Anteriormente 
já provamos a inverdade desta asserção. 
A jovem àe hoje não pode dizer: nada 
quero sabeT sobre este assunto, porque me 
causa horror! E' verdade que em todas as 
camadas da sociedade há muita nobreza de 
sentimentos, tanto entre as moças como en­
tre os moços. Mas tambem não é menos ver­
dade que encontramos muitos e muitos ou-
121 
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tros que em nada se racomendam, por isso é 
preciso ficar de sobreaviso. 
Mesmo uma jovem pertencente à melhor 
classe da sociedade não está isenta de que 
qualquer ·mal intencionado, casado ou solteI­
ro, procure travar relações. Ele toma uma 
atitude muito cativante e sabe agradar por 
todos 05i modos, mas o perigo de se tornar ví­
tima não estará muito longe, se ela não es­
tiver ao par da trama desses enredos, e por 
isso não tomar a firme resolução de tudo lhe 
recusar. Em tais casos é bom que ela saiba o 
que na realidade se dissim.ula com estas j u­
ra1 de amizade e de amor! 
Por várias circunstàncias o perigo de iniciar 
estas relações pode se tornar muito grande. A 
proteção da casa paterna falta a muitas mo­
ças; pois o mau exemplo das suas frívolas ami­
guinhas, que aceitam presentes, e até a toilette 
da moda, dos seus admiradores, as incita a fa­
zerem o mesmo, visto que o dei.ej o de fazer 
figura e a emulação de não deixar que alguem 
lhe passe à frente é inerente ao sexo fragil. 
Quem não acompanha a moda, e aj uizadamen­
te quer economizar, vestindo-se modestamente, 
fica só e, não atraindo a atenção, tambem não 
fará carreira. A insignificância do ordenado, 
entretanto, não permite tais despesas, vem ·daí 
a tentaç�o de seguir o exemplo das amigas, 
cujos companheiros as presenteiam com tão· 
lindas coisas! Eis o motivo pelo qual tantas e 
tantas jovens se perdem, vendendo a sua ino� 
cência. 
122 
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Por outro lado, em muitos casos os homens, 
desejando seduzí-las, exploram a sua conheci­
da vaidade, para fazê-las cair. Adiantam a 
quantia necessária para as compras. Mais tar­
de, quando vão fazer a cobrança, encontram­
nas em sérias dificuldades para solverem o 
débito, e assim se aproveitam da situação para 
obrigá-las a ceder aos seus desejos. Não há 
negar, infelizmente, que existem moças que 
não se deixam vencer pelos .homens na liber­
dade do gozo, pois querem fruir da vida tudo 
que ela pode dar, mas, como as condições são 
diversas, acabam por se tornarem escravas 
dos apetites desses homens. 
Logicamente, a tais "relações" são inerentes 
em grau mais acentuado os danos que se dão 
nos namoros. Por isso chamamos a atenção 
apenas para aqueles que mais se salientaJil. 
A pena recusa-se a analisar o triste papel da 
pobrezinha perante o moço. A sexualidade, 
longe do fim nobre, determinado pelo Criador, 
e daquele amor generoso e santificado pelo sa­
cramento do matrimônio, é procurada unica­
mente para satisfazer o prazer carnal. A moça 
é taxada, não como ser racional, mas como 
simples coisa da qual ele se serve para a satis­
fação de seus desejos e de suas baixas inclina­
ções. Que lhe importa a alma, o futuro, a feli­
cidade dela? Não precisando mais, e desgos­
tando-se, sacode-a fora, como as crianças fa­
zem com as suas bonecas despedaçadas. Não 
se importa mais com ela. 
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As consequências devastadoras, quer para o 
coração e para o carater, quer para a mentali­
dade, ne!a sa deixam descrever, uma vez que a 
vida interior nestes anos se encontra em pleno" 
desenvolvimento. E' nessa época justamente 
em que, para qualquer homem, a influência 
daqueles com quem tem trato é de magna im­
portância. Impercepthelmente adota as suas 
opiniões, e deixa-se dominar pelos seus dese­
jos e pareceres. Todas as idéias dos outros che­
gam-lhe a penetrar no interior e ficam-lhe 
gravadas na memória e na fantasia. Pelas re­
lações ilícitas, ambos rebaixaram o nivel moral 
daquele ato que receheu do Criador a missão 
altamente nobre da propagação do gênero hu­
nrnno. FaJta-lhes exatamente aquele poder que 
eleva e enobrece o respeito mútuo, o amor puro, 
como Deus o quer. Neles governa a paixão, o 
lado animal da tendência sexual, perdendo-se 
assim o senso moral com o calcar aos pés o 
pudor e a delicadeza naquilo que convém. A 
resistência contra o instinto torna-se, ademais, 
sempre mais fraca, e a compreensão da subli­
midade do ato diminue cada vez mais, e o gôzo 
animal é o mero objeto do desejo mais ar­
dente. 
A jovem, além disso, se incapacita �ara
aquele amor sincero e profundo, com que mais 
tarde poderia constituir o seu lar. Ainda que 
conseguisse essa sorte, as reminiscências do 
passado sempre perturbariam as relações com 
seu esposo. Ela compreende agora o crime que 
cometeu contra sua própria felicidade, sacrifi-
124 
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cando seu amor por um homem que não o me­
recia. O que resta para o esposo é uma coisa 
deploravel. 
Concordamos de novo com o único motivo 
em abono da jovem: é que ela iniciou tudo 
isso na esperança de que ele se casaria mais 
tarde com ela. Mas como poderá Deus aben­
çoar um matrimônio, para o qual eles se pre­
pararam de uma rrianeira tão indigna? Como 
já temos visto, a maior parte deles nunca 
pensam em casamento! Contra todas as pos­
sibilidades ela alimenta, todavia, a esperança 
tão conforme às inclinações da sua alma de 
amar e ser amada; enquanto que ele procu­
ra unicamente satisfazer seus desejos. Com 
todo o amor, ela abraça ainda assim obj elo 
tão vil, porque não pode acreditar que ele 
não tenha o mesmo modo seu de sentir, e 
possa abandoná-la. Ela não quer e não pode 
admitir isso, e assim o satisfaz em tudo, con­
tanto que ele não se torne infiel. Tanto maior 
será a desilusão, quando o sedutor cortar as 
relações. As consequêndas para a alma e o 
corpo são desastrosas, porque muitas jovens 
não podem admitir que isso seja a realidade. 
O sofrimento traz consigo profunda melan­
col.ip e com ela uma alienação do espírito. 
Outras abandonam Deus e a religião, porque 
não podem compreender como um_ moço ca­
tólico pode proceder desta forma. Um rapaz 
procurou indenizar a moça pecuniariamente, 
porém ela retrucou: "Não quero o dinheiro 
dele, quero a ele mesmo!" 
125 
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Neste fato, de que a moça não poda esque­
cer-se do homem que amou, encontramos 
mais um motivo por que ela não pode ser 
feliz ainda que se case mais tarde com um 
outro. O amor feminino é diferente, pois 
nela a entrega é sem reserva, e mais tarde 
quando quer se dar a um outro, nunca pode 
fazê-lo integralmente. A felicidade conjugal 
tem por condição indispensavel que o amor 
é ciumento, e não pode permitir que alguem 
o compartilhe. Muita felicidade tem-se des­
feito, porque uma das partes veio a desco­
brir que a outra havia mantido relações an­
tes do casamento.
A vida matrimonial em geral traz con­
sigo certas divergências, equívocos, contra­
tempos, e é natural, porque todos nós temos 
nossas imperfeições. Estas indisposições po­
dem perturbar a paz dos esposos; mas ela 
somente se manterá, se ambos tomarem a fir­
me resolução de procurar um mútuo enten­
dimento. Pode acontecer que a esposa tenha 
mantido certas relações antes do casamento, 
e a tentação se apresente de novo. Calcula­
se facilmente:tivesse casado com fulano ou 
sicrano, tal não aconteceria. Peiora o caso, 
• 
quando ela procura queixar-se ao antigo ami-
go, em vez de entender-se lealmente com seu 
marido; então a desgraça será fatal, e o 
adultério será o efeito. E se o marido desco­
brir isso! ... Os jornais relatam diariamente 
estes fatos tristes. 
126 
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Ainda não falamos das consequências mais 
terríveis que se dão nestas relações ilicitas, 
facilidade de 
contágio do que aquela, pois muitas vezes 
o uso de um objeto e mesmo simples beijo
maternal, pode determinar a terrível des­
graça.
O seu início, dissimulando a gravidade fu­
tura, muitas vezes é quasi imperceptivel. 
Uma pequena erosão no tecido de qualquer 
região, que desaparecerá em horas, assinala 
o começo da doença. Dias depois, pequenas
manchas instalam-se no corpo inteiro e, com
132 
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o desaparecimento destas, todo o organismo
está contaminado.
A sífilis, ao contrário da gonorréa, não se 
localiza; invade todo o ser, destruindo os 
mais nobres tecidos. 
A intervenção do médico, aqui, deve ser 
enérgica e conciente, pois, do contrário, será 
absolutamente impossivel obter-se a cura. 
Os efeitos maléficos da sífilis são os mais 
horrorosos que se possa imaginar. 
Uma das grandes causas das doenças do 
coração e das moléstias mentais (loucuras 
10%) é' a sífilis. Os sifilíticos não tratados 
acabam em miseravel ruína orgânica e in-
lclectual. 
E o que mais se deve lamentar é a heredi-
tariedade do mal. 
Os filhos já nascem infectados. Se algumas 
vezes são cobertos de feridas, outras vezes 
são verdadeiras feridas. 
O maior benefício que Deus pode propor­
cionar a estes infelizes é a morte prematura, 
que às vezes ocorre. 
O filho de um sifilítico será sempre um 
ente infeliz, um tarado, um monstro, um epi­
léptico, um · louco. A palavra do profeta tor­
na-se nestas circunstâncias a mais horrorosa 
realidade. 
"Os nossos pais cometeram pecados, e nós 
suportamos as consequências dos mesmos". 
Não bastassem estas palavras para dizer 
do quanto é capaz a sífilis, teríamos ainda 
que ela, minando e destruindo as resistências 
133 
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humanas, prepara um campo prop1c10 à sua 
rival, que é a tuberculose. 
Encontramo-nos, pois, diante um abismo 
de infelicidade e de desgraça, no qual um 
sem número desaparece para a vida matri­
monial, para a sociedade humana e para sua 
vocação que se perdeu. 
E tudo por que? Por um único passo er­
rado. 
Contra toda esta miséria há uma única e 
infalivel proteção: 
Para mim não haverá relações ilícitas com 
nenhum homem! 
ENIGMAS INSOLÚVEIS? 
Vimos as consequências funestas da le­
viandade da jovem nas relações com os ho­
mens. Não seria lógico pensar que justamen­
te por isso elas se tornariam muito cautelo­
sas, reservadas, fugindo de todas as ocasiões 
em que pudesse· haver qualquer perigo? In­
felizmente é o contrário que podemos obser­
var. 
Com este fato, o homem se encontra dian­
te dum enigma quasi insoluvel. Um psiquia­
tra moderno julga poder explicá-lo como 
sendo uma fraqueza mental da mulher; mas 
a sua psicologia toda refuta esta explicação, 
tão humilhante quão deprimente para elia. 
Este modo de pensar prova, entretanto, um 
fato, que devemos lembrar, isto é, que para 
o sexo masculino é absolutamente incompre-
134 
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ensivel a atitude da mulher, pois ele não ati­
na com nenhuma outra interpretação para as 
manifestações da sua "psiqué". 
Este problema encontra facilmente sua so­
lução, quando se atenta um pouco na lógica 
peculiar ao coração feminino, cujos pensa­
mentos são dirigidos mais pelo sentimento do 
que pelo raciocínio. Pascal, como profundo 
psicólogo, explica muito bem este enigma por 
estas palavras: "O coraç.ão tem suas razões, 
que a razão não conhece". A vida sentimen­
tal tem tal primazia no coração feminino, 
que o raciocínio tranquilo da razão não pode 
existir, ou pelo menos raramente ganha a vi­
tória, sobretudo quando se trata da questão 
de agradar ao outro sexo. 
A última solução deste enigma é a vaida­
de feminina, que se declara satisfeita se con­
segue atrair o interesse dum homem, tudo sa­
crificando por um triunfo tal. Diz o profes­
sor Forel: "Inúmeros casos há de jovens que, 
conhecendo as horriveis censequências das 
suas fraquezas, seja por teima ou pela pró­
pria experiência, deixam-se ludibriar pelo 
homem sem urna queixa, sem uma revolta, 
só porque ele assim o quer, porque o amam 
tanto, e ele é tão bom! Por isso consentem 
que eles a ar1·astem na lama, que lhes ar­
ruinem a boa reputação, a fortuna e a pró­
pria família. Continuam amando àqueles que 
as tratam a ponta-pés, depois de abusar delas 
da maneira mais vergonhosa. . . Este des­
prezo da sua própria pessoa, este desdem dos 
135 
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seus próprios interesse!'! é que o homem não 
pode compreender". Até aqui citamos pro­
positalmente Forel, que, sendo materialista, 
não pode causar suspeita de excessivo rigo­
rismo. 
Vamos agora chegar a compreender o 
enigma. 
Como para todas as virtudes, sobretudo 
para a castidade, existem perigos, aos quais 
o homem sucumbe facilmente. Os mais per­
niciosos são os que não provocam uma que­
da visivel, mas que todavia exercem uma in­
fluência funesta para a mentalidade, e para
o sentir, sem que seus efeitos transpareçam.
Provocam contudo uma disposição infeliz da
alma, que pouco a pouco prevalece na vida
toda.
A segunda consideração que temos a fazer 
é que os perigos não são igualmente graves e 
funestos para todos. Para uns terão pouca 
importância po1· causa da índole feliz, da boa 
educação e do ambiente sadio em que vivem. 
Particularmente nos círculos mais elevados 
ainda existe uma etiqueta mais rigorosa, 
cujas conveniências não admitem felizmente 
uma mais evidente má conduta. Não temos, 
contudo, nenhuma prova de que em geral 
não existam os perigos nem ameaças. 
Muitas pessoas que se julgam cautelosas, 
e que pensam que certas circunstâncias não 
são perigosas, são muito faceis em negar a 
tentação, e acusam a Igreja de exagerada 
nos seus avisos a este respeito! Este modo de 
,., .. 
136 
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pensar e estes exemplos são nefastos para as 
jovens, que daí tiram a conclusão que os pe­
rigos não existem, que os padres são ntrasa­
dos e não compreendem o tempo moderno. 
A Igreja compreende muito bem o tempo, 
porque ela tem a experiência de dois mil 
anos e observa consternada que os mesmos 
sinais da degeneração e da decadência regis­
tados na Grécia e no império romano tor­
nam a aparecer em nosso tempo, com a 
mesma ameaça. A lgrej a não observa so­
mente a vida social nas suas exterioridades, 
mas ela· tem a possibilidade de olhar a parte 
mais recôndita das coisas, e repara com tris­
teza os resultados do progresso moderno. 
Quando ela, portanto, levanta a sua voz ma­
lernal, não é por falta de compreensão, mas 
sim por conhecimento perfeito da importân­
cia do perigo que existe! 
Hoje, como em todos os tempos, levantam­
se vozes, para insinuar que a Igreja devia 
tomar uma atitude diferente, se não quiser 
perder muitos dos seus fiéis. A Igreja com­
preende perfeitamente a sua ·grande respon­
sabilidade perante Deus e não só perante os 
homens. Como ensina a história, a Igreja 
prefere antes perder vastos impérios do que 
fazer concessões em questões do dogma e da 
moral. 
Por isso o mundo a acusapara que não se esqueça da sua 
dignidade, afim de não recair na sua antiga 
miséria. A regra é sempre esta: se nas rela­
ções normais entram certas liberdades, se se 
não observa mais um profundo respeito, 
quem paga é sempre a honra e a dignidade 
da mulher. 
Uma vez perdida a dignidade, corre risco 
o pudor, e não encontrando ela mais resis-­
tência, já não sabe onde irn parar. Por isso
é justo o aviso da Igreja de que a jovem não
pode partilhar de certos costumes néo-pa­
gãos, e deixar de temer a censura de ser re­
trógrada, com o perigo de recair na deca­
dência dos bons costumes.
138 
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Compreende-se, tambem, por que os pais 
concienciosos não permitem que suas· filhas 
adotem opiniões e costumes prejudiciais à 
felicidade dos seus queridos. Uma jovem pru­
dente será sempre grata por esta atitude dos 
seus pais, que provam deste modo que real­
mente querem bem aos seus filhos. 
Precisamos demorar um instante num as­
sunto de suma importância. 
A LEITURA E O CINEMA 
A mocidade reclama divertimentos, e com 
toda a razão, contanto que sua personalida­
de tire deste desejo um verdadeiro proveito. 
Pois o que torna a pessoa melhor é que tem 
real valor. Mas o desejo de muitos é em pri­
meiro lugar o gozo, e por isso a moça quer 
uma leitura interessante e não instrutiva, ela 
quer ler sem se cansar, sem dar trabalho ao 
espírito, mesmo que nada aproveite dela. 
Certas livrarias satisfazem esta tendência 
mórbida da maneira mais reprovavel, con­
tanto que façam bons negócios. Nossos lite­
ratos produzem em excesso e à porfia ro­
mances sensacionais, completando-os com 
ilustrações picantes, que estimulam ainda 
mais a sensualidade que o próprio texto. 
Certas revistas são mais fascinantes que os 
romances, pois a gravura necessita; pouco tex­
to, e por isso agradam mais, atraindo maior 
a tenção, pois em vez de fazer trabalhar a 
139 
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cab�ça, é a imaginação, que leva ao sonho, - e 
fanfa�;ia que entram em função. 
Desta forma a jovem acostuma-se a procu­
rar sempre o que diverte e agrada, despre­
zando tudo quanto lhe poderia aperfeiçoar o 
espírito e o carater. 
O que dissemos da leitura vale tambem 
quanto à frequência do cinema. Os empresá­
rios já sabem por que a casa fica repleta, e 
o negócio torna-se lucrativo. O mal para a
imaginação criadora. da juventude é indiscri­
tivel, pois lá a mulher verdadeiramente ideal
raramente é representada, mas, sim, a sua
caricatura em toda a sua triste miséria. E as­
sim desaparece o pudor, a fidelidade e o res­
peito ante a dignidade da futura mãe, que
cede a uma vida frívola com todas as suas
deploraveis aspirações.
Causa tristíssima impressão ver a atitude 
feminina diante de todas estas representa­
ções. Em todas a mulher aparece sempre ser­
vindo como excitante da sensualidade mas­
culina, concorrendo para isto a reclame nos 
jornais, revistas, romances, cinema e teatros. 
Certas mercadorias, como cigarros, charu­
tos e outras, conseguem sua mais vantajosa 
saida devido à provocadora imagem da mu­
lher nos seus invólucros. Romances, cinemas 
e teatros ensinam continuamente como sedu­
zir solteiras e casadas, pois mostram como 
estão sempre prontas para entreterem e ser­
virem à paixão do homem. Varia-se o tema, 
140 
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mas a mulher é sempre a mesma criatura
feita para o gozo do homem. 
Mas a coisa mais incrivel é esta: a mulher 
não se revolta, não protesta contra estes abo­
minaveis abusos! Deixam passar tudo isso, e 
acham, ou, pelo menos, assim parece, que 
tudo isso é natural, que assim é que deve 
ser, e até parece que ela julga ser estn a. sua 
verdadeira missão. Elas pagam para ver, ler, 
ouvir e apreciar todas essas coisas, que of en­
dem e calcam aos pés a sua honra e a sua 
dignidade. Riem-se e até muito se divertem 
com isso! E' sabido que as revistas mais in­
fames são compradas pelas moças, e os cine­
mas com avisos "só para homens" são os mais 
procurados pelas mulheres! 
A gente leva a mão à cabeça e pergunta 
pasmado: como explicar esta aberração? 
Todos sabem que tambem neste caso a res­
posta é sempre a mesma, isto é: "a vaidade 
feminina", que fica satisfeita quando pode 
fazer figura, embora tristíssima, mas, sempre 
fazendo figura, tornar-se o centro de atra­
ção, ainda que seja somente para atrair as 
mais baixas paixões do homem. Neste caso 
pode ela estranhar que eles a não respeitem 
mais do que ela mesma se respeita? 
Conclusão: se uma moça deseja que a sua 
atitude não seja incompreensivel para os ho­
niens, e se quer ser respeitada, não se esque­
ça jamais da sua dignidade de mulher, não 
pérmita que se escarneça e a ridicularizem em 
sua presença. Fuja dos lugares e das pessoas 
141 
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que não a sabem respeitar, e proteste assim 
que alguem não a trate com a devida delica­
deza. 
Procure aperfeiçoar-se por leitura séria e 
instrutiva, que forme o seu carater e desen­
volva a sua vida interior. Para não ser me­
díocre e inferior, a jovem precisa tomar gosto 
por uma distração e formação que eleve e 
enobreça. 
MODA 
Um outro enigma é a atitude da mulher em 
questões de moda e toilette. 
E' geral a queixa de que o homem está per­
dendo o respeito à mulher, e que seu tradi­
cional cavalheirismo desapareceu. A degene­
ração dos costumes leva naturalmente ao des­
respeito da mulher, que é relegada e rebai­
xada a vil instrumento da sensualidade. As­
sim sendo, era de se esperar que as senhoras 
tudo fariam para readquirir de novo essa es­
tima, mostrando o seu verdadeiro valor, as 
preferências da alma e as riquezas do cora­
ção, evitando tudo que pudesse atrair a aten­
ção para o corpo e despertar os desejos se­
xuais do homem. 
Na realidade, o que se vê é justamente o 
contrário! 
Se quisermos compreender a contínua mu­
dança da moda, com todas as suas consequên­
cias, devemos observar que seus dirigentes 
têm o maior interesse em poder variá-la ao 
infinito. E' preciso, aliás, lembrar esta in-
142 
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dinação da mulher de atrair sobre si a aten­
ção do homem, ao qual deseja agradar. Por 
isso para muitas moças o pensamento de não 
seguir a moda é insuportavel. Quanto mais 
este desejo de agradar se apodera dela, tan­
to maior é a importância que atribue à ri­
gorosa observância da moda, e desta forma 
o comércio faz negócios muito lucrativos.
Mas os exageros são introduzidos ordina­
riamente pelas mulheres de vida facil. Pro­
va-o o dr. Liepman, dizendo: "que as saias 
curtas e as meias de seda transparentes fo­
ram usadas em primeiro lugar pelas demi­
mondaines em Paris, muito antes que che­
gassem a qualquer outra parte da Europa. 
A principio todo o mundo ficou indignado 
com estas indecências, mas pouco a pouco 
toleraram-nas e acabaram por imitá-las". 
Em vista destes estudos, continua o dr. Liep­
man: "E' sempre a mesma coisa; modas 
extravagantes são introduzidas por prostitu­
tas, a princípio rejeitadas pela sociedade 
como muito vulgares e sensuais, e pouco a 
pouco adotadas por essa mesma sociedade, 
que as havia condenado. . . Esta atitude é 
apoiada principalmente pelas mães, que não 
conseguem um genro assaz depressa. Como 
poderia tal educação produzir outros resul­
tados, se tem em vista unicamente a caça ao 
marido, e tornar a moça apta à realização 
desle intento?" Até aquí o nosso autor. Aten­
ção: Os srs. bispos alemães publicaram uma 
pastoral acerca deste mesmo assunto; ale-
143 
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gam como causa desta desordem o alvo a 
atingir, isto é, de incitar a sensualidade do 
homem pelo modo tendencioso de se desnu­
dar e salientar certas partes do corpo. 
Depois destas reflexões, podemos distin­
guir tres classes escravas da moda. A pri­
meira pertencem as que seguem simples­
mente a tendência do demi-monde, procu­
rando alcançar o mesmo resultado. Parece, 
felizmente, que é a menor parte. A segunda 
classe receia ser consideradacomo atrasada, 
se não seguir em tudo a última moda. Vendo 
que as outras já usam essas toilettes, tal moda 
perde para elas o seu carater obscuro e vul­
gar. Elas aliás não procedem assim por ma­
lícia, mas, o que é peior, por respeito huma­
no, vaidade e falta de carater. A terceira 
classe pertencem as comodistas, que obede­
cem à lei do menor esforço. Entram na pri­
meira loja que encontram, onde elas com­
pram sem pensar na figura que irão fazer 
com semelhante toilette. 
Em si dever-se-ia ter somente um sorriso 
desdenhoso para esta tola vaidade, se o efeito 
deste traje não fosse tantas vezes lamentavel. 
Entre nós, ainda há moças que não apro­
vam esta disposição da mulher, pelo contrá­
rio, a condenam, pois as relações com tais 
criaturas são causa de muitas tentações. O 
jovem já tem as suas dificuldades em refrear 
o instinto natural. Se, além disso, a moda
lasciva aumenta esta luta com a natureza,
pode-se compreender então o direito que o
144 
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moço realmente cavalheiro tem de condenar 
uma tal moça, posto que ela julgue a sua 
atitude perfeitamente correta e inocente, vis­
to que nada sabe das .tendências do outro 
sexo, e que ela pode ser causa da perdição 
de tantas almas. . . Não aprendemos nós que 
é pecado mortal provocar deliberadamente 
graves tentações no coração do próximo? 
Esta atitude é absolutamente incompreen­
sivel, se refletirmos que tais pessoas, soltei­
ras ou casadas, perdem a sua dignidade e 
expõem sua inocência, acompanhando seme­
lhante moda, pois elas são a involuntária 
confissão da sua disposição interior a tão pe­
tulantes quão presunçosos homens. Os que 
se deixam atrair já sabem que tais criaturas 
são mais acessíveis à tentação, do que a moça 
que revela sua personalidade pelo modo de 
se trajar, e que não a quer perder. 
As primeíras não devem estranhar que eles 
não procurem nelas. outra coisa, senão o que 
elas tão ostensivamente apresentam. 
E' certo, aliás, que os homens são muit:: : 
vezes os culpados das excentricidades da 
moda, pois a sua petulância as anima a acom­
panhar estas leviandades, e a este respeito os 
bailes e outras reuniões mostram que as que não 
se trajam no rigor da moda estão expostas ao 
seu pouco caso. Não se pode, naturalmente, 
assaz condenar esta disposição imoral, que 
revela a baixeza no modo de apreciar a mu­
lher, que nada vale para eles, se não sabe 
despertar a sua sensualidade. Qualidades e 
Tu e ele - 10 145 
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nobreza da alma não encontram mais apre­
ciação, porque no seu materialismo não têm 
mais noção da distinção e nobreza do verda­
deiro encanto da mulher. E quanto mais se 
deixam impressionar por essa baixeza e essa 
inferioridade dos homens, tanto mais contri­
buem para que eles se confirmem nesta apre­
ciação e se sintam encorajados na sua inso­
lência. Como sempre, quem perde é a mu­
lher 1. .. 
Mas quando encontram moças que com sua 
atitude correta provam: "Olhe, rapaz, ainda 
existem moças que não são assim como está 
pensando!" - eles vêem-se obrigados a emen­
dar pouco a pouco o seu modo de pensar, e 
desta maneira a se corrigir, e a distinguir 
entre as que merecem respeito, e as que não o 
merecem. 
Eis uma ocasião propícia para dizer uma 
palavra contra a leviandade das nossas mo­
distas, que julgam que seu dever é de adu­
lar a vaidade das suas freguesas e favorecê­
las em todos os seus caprichos e excentrici­
dades. A modista deve ter a coragem de pre­
venir o mau gosto destas levianas, e mostrar 
que uma toilette, quanto mais simples, maior 
fineza e bom gosto revela de quem a usa. 
Se a jovem quiser que os homens a res­
peitem, que não vejam nela apenas o obje­
to sexual, mas, sim, a verdadeira mulher, 
com todas as suas preferências e belas qua­
lidades interiores, então procure cobrir o seu 
corpo com os vestidos, de tal forma que não 
í46 
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excite a sensualidade do homem, e que pelo 
modo de se trajar e comportar resplandeça 
em todo o seu ser a nobreza da sua alma. De­
vemos reconhecer indubitavelmente que a 
moda de hoje corresponde mais à saude que 
antigamente; e com alguma boa vontade e 
bom senso para aquilo que convém e o que 
corresponde ao físico da pessoa e ao seu tem­
peramento, achará a jovem facilmente um 
caminho, pelo qual satisfaça de um modo 
lícito à tendência da moda moderna, e que 
contudo vista o corpo de uma maneira decen­
te e airadavel. 
O BAILE 
A moral cristã diz que a dansa é um di­
vertimento lícito, se revela a arte de mover­
se amenamente, ao som e ritmo de uma me­
lodia doce. Desta forma, a dansa afirma o 
domínio do espírito sobre o corpo, e torna-se 
realmente a cxpresão duma harmonia e dwna 
alegria sadia. Esta linda moderação no passo 
e no movimento oferece de fato um gozo de 
arte e beleza aos espectadores e participantes 
da dansa. 
Por isso compreendemos que uma moça, 
pela gracilidade e elegância do seu físico, tem 
uma disposição muito mais natural para a 
dansa do que o rapaz. Este talento é inato 
cm uma jovem inocente, e não revela nenhum 
carater sexual, porque as mocinhas ainda sim­
ples gostam muito de dansar entre si, o que 
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não acontece ordinariamente com QS rapa­
zes. 
E', todavia, lambem natural que mais tar­
de prefiram dansar com um cavalheiro, pois 
conforme a sua índole preferem se deixar 
guiar. Nem isso é ainda a expressão de uma 
sensualidade, pois observamos que muitas 
moças há que gostam mais de dansar com 
seu pai ou irmão, do que com um estranho. 
Encontramos, em todas as épocas, um cer­
to modo de dansa r como símbolo e sinal do 
amor. O rapaz convida a moça, e ela concor­
da, e ambos se alegram mutuamente na 
aproximação e domínio passageiro de parte 
a parte. Este simbolismo pode conservar-se 
de forma decente e digna, e sendo assim em 
certas festas familiares, nada há que se con­
dene neste modo de dansar. 
Tambem é natural que os baixos instintos 
do homem queiram abusar deste simbolismo 
do amor, apresentando este sentimento a seu 
modo. Assim se formaram e formam certos 
modos de dansar, muitos dos quais tendem a 
servir e lisonjear u sensualidade, e não mais 
a simbolizar um sentimento nobre como o 
amor. Em vez de se moverem ao som e com­
passo de uma melodia amena e harmoniosa, 
acompanha-se o jazz e as modinhas das va­
riedades, que despertam e promovem facil­
mente impressões muito pouco harmoniosas ... 
Em vez de gozar a alegria na beleza do ritmo 
e da elegância, é já o gozo da aproximação 
quanto mais íntima que se procura. 
148 
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Recordando mais uma vez que a índole da 
mulher é totalmente diferente da do homem, 
compreende-se facilmente que a disposição 
interior da jovem durante o baile pode ser 
muito diversa da do seu parceiro de dansa. 
A moça ainda correta, pela sua natureza tal­
vez nem de longe adivinhe o simbolismo assaz 
claro dessas dansas um tanto livres, e as 
acompanhe com uma atitude despretenciosa. 
Para o rapaz, porém, o caso muda de figura, 
pois ele não tem esta alegria natural da 
moça no movimento rítmico, e em lugar desta 
alegria · é o instinto sexual que irrompe, o 
qual procura a sua satisfação conforme sua 
índole mais ou menos moderada. 
Com esta inclinação diferente em ambos os 
sexos, começa a luta: quem prevalecerá? Um 
moço delicado saberá dominar o seu instinto 
natural, e gozará as alegrias lícitas durante 
o baile. Mas o pouco delicado procurará no
baile apenas a ocasião propícia para satisfa­
zer a sua paixão.
Mesmo para os jovens bem intencionados 
de ambos os sexos há perigo nas dansas mo­
dernas. Elas são a simbolização da vida 
amorosa; música e ritmo nasceram deste sim­
bolismo. Assim é que uma dansa, que foi co­
meçada sem a menor intenção· má, pode pelo 
movimento e pelo contato despertar o desejo 
de um prazer ilícito. Maior é ainda o perigo 
para ela, se o moço desde o princípio acom­
panha os movimentos com urna intençãopou­
co pura. 
149 
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Todas estas perigosas circunstâncias podem 
ser aumentadas pela atitude diferente de am­
bos. As moças vão a estes divertimentos mui­
tas vezes em toilettes muito leves e transpa­
rentes, que já de si excitam a sensualidade 
do homem. A música, com seu ritmo e me­
lodia futeis, influe bastante para aumentar 
elita frivolidade. Tudo isto contrihue para que 
a jovem se entregue inteiramente ao simbo­
lismo da dansa, a saber, de unir-se mais inti­
mamente ao cavalheiro, pelo modo agarrado 
de dansar. 
Um rapaz pouco delicado deduzirá infali­
velmente de todas estas circunstâncias, a co­
meçar pela toilette, o modo com que se aban­
dona em seus braços, e procura uma aproxi­
mação mais íntima, da disposição dela, isto 
é, de querer corresponder aos seus desejos. 
Este por seu lado procura uma ocasião de 
poder ficar a �ós com ela ; em tais ocasiões, a 
situação pode se tornar verdadeiramente crí­
tica e perigôsa. Esta de�crição nos mostra que 
em geral é difícil formar uma opinião sobre 
a liberdade do baile. 
Este j uizo depende, em cada caso, da qua­
lidade, do modo, enfim da disposição moral 
com que se dansa. A intenção de uma pessoa 
pode diferir totalmente da intenção de outra. 
Para uma jovem que não quer pecar por 
ocasião deste divertimento, serve este aviso: 
"preste atenção para que seu cavalheiro, abu­
sando da sua natural alegria e ingenuidade 
durante a dansa, não a arraste para a sensua-
150 
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)idade. Procure acima de tudo evitar a pre­
tensão de ser a dansarina mais requestada 
do baile, o que não conseguirá, se não lhes 
corresponder com uma atitude livre. 
Quem sabe como nestes divertimentos se 
soltam as rédeas que governam os maus es­
piritos, para serem entregues à sensualidade 
em virtude de vergonhosas concessões, fica 
pasmado da leviandade de tantas moças, que, 
sem um acompanham�nto sério e ponderado, 
frequentemente vão a certos clubes, divertem­
se com toda a liberdade, e por fim voltam 
para casa sozinhas em companhia de um ra­
paz não \·aro recém-conhecido; não é o caso 
de se dizer que elas querem se expor deli-· 
beradamente ao perigo? Um passo errado 
pode arruinar uma vida inteira! . . . E' ver­
dadeiramente incompréensivel que estas jo­
vens recusem sistematicamente a proteção dos 
seus pais. e além de tudo os ridicularizem 
como atrasados! 
Que homens, cujos pensamentos e disposi­
ções convergem para este único fim-gozar,­
não gostem disso, é natural, mas que as moças 
concordem com semelhante ·modo de pensar, 
é incrível, porque os pais não ignoram os 
perigos que as ameaçam de serem vítimas da 
sua sensualidadé, e, depois de vilmente ilu­
didas, serem abandonadas com todas as in­
fames e tristes consequências. 
Uma jovem que se preze, portanto, nunca 
poderá tomar parte em diversões públicas, 
pnde a virtude pode correr perigo. Nunca 
151 
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participará de bailes, onde sabe de antemão 
que alguns moços que lá vão dansar o fazem 
duma maneira indecente, e se observar que 
numa reunião familiar a\gum cavalheiro não 
respeita os bons costumes aí reinantes, quan­
do ele a convidar para dansar, deve respon­
der sem falta negativamente. Nessas reuniões 
ela deve se apresentar sempre decentemente 
vestida, e ser muito comedida nas bebidas ofe­
recidas durante o baile. 
A sua atitude fará compreender a todos que 
só aprecia os divertimentos convenientes e 
honestos. Nos intervalos e na volta para casa 
deve evitar cuidadosamente ficar sozinha com 
algum moço, porque é de se esperar que ele 15e 
aproveite disso para abusar. 
O melhor remédio contra estes perigos, em 
nossas grandes cidades, está na formação de 
um grupo de moças que se comprometam a 
tomar parte somente nos divertimentos, em 
que os rapazes lambem se obrigam a evitar 
tudo que possa constranger as moças, sob pena 
de ser expulso no meio da festa caso não res­
peite as regras do compromisso. Estas moças 
desejam provar, desta maneira, que podem di­
vertir-se mui alegremente no baile, e que se 
sentem bem quando não estão expostas à la­
scívia de certos pretensos cavalheiros. Não é 
de bom aviso aconselhar às jovens corretas 
a se afastarem destes divertimentos lícitos, 
afim de evitar que as levianas governem sem­
pre e estraguem tudo com os seus desmandos. 
E' necessário, aliás, que os nossos homens se 
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convençam de que nem todas as jovens são 
iguais. 
Há rapazes piedosos e honestos, que sabem 
se divertir alegremente num baile, sem que 
em nada ofendam à moral. E' o que um distin­
to chefe de família disse à vista de certas 
proibições: Sr. padre, não acha que temos 
pelo menos o mesmo interesse na virtude das 
nossas filhas que os senhores? Por isso, nos 
sentimos ofendidos com tantas medidas, que 
expõem as nossas filhas ao risco de serem 
consideradas menos dignas do que as suas 
companheiras, que não têm todos estes cons­
trangimentos sociais como nós, os católicos. 
Onde o pai pode ir, a filha lambem pode, pois 
não há melhor garantia para ela do que a 
presença do pai! Já é tempo de se provar 
que a educação que nossas filhas receberam, 
durante os longos anos de colégio, não foi 
mera fita, e que elas são capazes de mostrar 
e provar aos cavalheiros o que Beatriz di�se 
a Dante: "Quero mostrar que tenho valores 
muito superiores aos que procura em mim. A 
minha missão é de levantar e não de abaixar 
o seu espírito".
Digamos com toda a coragem: é justamente
por isto que os nossos moços esperam por 
essas mãos benfazej us que os saibam levan­
tar e guiar o seu espírito, sem menosprezá­
los. Será que a longa educação nos colégios 
católicos ainda não conseguiu esse bom re­
sultado? 
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ESPORTE 
E' realmente um progesso que hoje se 
atribua muito mais importância aos esportes, 
ao qual pertencem a natação, a ginástica, o 
tenis, etc., do que antigamente se lhe atribuia. 
Onde ele é razoavelmente cultivado, contribue 
muito para a diminuição da disposição para 
a tuberculose e anemia. 
As pessoas que mais necessitam de esporte 
são _as que em razão das suas ocupações tra­
balham pouco ou quasi nada ao ar livre. O 
fim de toda esta tendência moderna deve ser 
a· de fortalecer a saude, contra as influências 
contrárias; desta forma o organismo alcança 
todo o bem-estar de que necessita. O espor­
te, portanto, é um excelente e razoavel meio 
de recrear e descansar. 
Não é, pois, de se estranhar que a sensua­
lidade, que a todo custo procura conquistar 
os corações juvenis, encontre nesta inclina­
ção uma ocasião propícia para alcançar os 
seus fins. Já conseguiu adaptar aos seus de­
sejos estes exercícios, aliás inocentes. Daí pro­
vêm os excessos, que vemos no esporte. Seria 
grave erro se quiséssemos hostilizar o esporte 
por esse motivo; não, o que temos em vista é 
tão somente eliminar a sua deturpação. 
Estes excessos têm, portanto, o seu funda­
mento nas intenções secundárias e pouco ho­
nestas, que se querem infiltrar neste movi­
mento. Em primeiro lugar é a vaidade femi­
nina, com a sua inerente inclinação de atrair 
154 
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sobre si a atenção e os olhares masculinos. 
O outro perigo consiste em que, sob a apa­
rência de esporte, ambos os sexos procuram 
uma aproximação mais íntima, livre de incô­
modas testemunhas. Estes excessos facilitam 
principalmente a moda desnatural de se que­
rer imitar o homem. Compreende-se, facil­
mente, que esta satisfação cause enorme dano 
às nossas jovens. 
O que ainda mais deve despertar a aten­
ção das pessoas sensatas é o costume que mui­
tas jovens têm de se exibir em traje de espor­
te ou de banho, conversando, deitando-se na 
praia horas a fio na companhia de rapazes. 
Neste caso já não é mais o esporte o alvo 
principal, mas apenas o pretexto de que se 
serve a sensualidade. 
A regra básica para uma moça, neste assun­
to, há de ser que o esportedeve tomar em 
consideração o seu sexo e o pudor. As expe­
riências que se têm feito demonstram clara­
mente que o esporte, como luta, pertence ex­
clusivamente ao homem, e como jogo corres­
ponde inteiramente à natureza feminina. 
Quer-se admirar no homem a coragem e a 
energia, na moça é a elegância e _a graça que 
apreciamos. 
Uma jovem, que se esforça por alcançar 
um record no esporte, causa em geral uma 
certa aversão, pois vai de encontro à sua na­
tureza feminina. A tendência de em tudo se 
imitar o homem, se faz sempre em detrimen­
to elas melhores qualidades e aptidões femi-
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ninas, o que arruina por completo o seu ca­
racterístico. Esta virtude vale mais que todas 
as tendências de se procurar n'ivelar a mu­
lher ao homem, pois, em tal caso, nada mais 
há que se lhe possa oferec-er, O significado 
do termo é: - destruir o característico -­
por isso as pessoas normais e ponderadas re­
compensam este esforço da jovem com relu­
tância! 
Antes de tudo o esporte deve respeitar e 
poupar a decência feminina. O dicionário de 
Figueiredo diz: - decente, adj. que fica bem, 
que é apropriado, honesto, bem comportado. 
- A decência é o característico mais apro­
priado da mulher. Este tem por fim não pro­
fanar o que há de mais íntimo na nossa per­
sonalidade; isto não quer dizer que este ín­
timo seja uma coisa indecente, mas porque
é um segredo pessoal, que temos o direito de
não revelar a ninguem. Este segredo pode ser
físico ou espiritual. Com razão ternos pudor
de deixar perceber as impressões mais delica­
das do nosso íntimo. A poucas pessoas, e so­
mente àquelas que merecem a nossa parti­
cular confiança, revelamos os sentimentos do
nosso coração, mas nunca inteiramente l! sem­
pre com certa reserva, e mesmo assim com
receio e aversão.
Evitamos igualmente profanar as partes do 
nosso corpo, que são destinadas unicamente 
para nós, pois são tambem o nosso segredo, e 
queremos guardá-lo ciosamente aos olhos dos 
estranhos. A pessoas delicadamente mQdestas 
156 
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e sensíveis custa muito quando precisam se 
mostrar a um médico, e se deixar tocar por 
ele! 
Esta decência, este pudor é particularmente 
sensível, quando se trata de qualquer assunto 
referente à vida sexual. Em geral, todos evi­
tam de profanar os sentimentos da alma, e 
só confiam seu segredo, quando têm necessi­
dade de pedir algum conselho. 
Consideramos os órgãos, destinados à pro­
pagação do gênero humano, corno o mais ín­
timo d9 nosso ser, sobretudo se, em conse­
quência do pecado original, os instintos se­
xuais se revelam contra a nossa vontade. 
Quanto mais delicada é a pessoa, tanto mais 
penosamente se sente, quando estes instintos, 
independentemente da sua própria vontade, 
reclamam a sua satisfação. Por nada do mun­
do uma pessoa decente deixa perceber isto 
a alguem. 
A parte sexual abrange, enfim, os proble­
mas mais poderosos e sublimes, perante os 
quais o homem pode ser colocado: "a missão 
de propagar o gênero humano", a capacida­
de de poder transmitir a vida a outros seres. 
Em vista destas considerações, portanto, 
ninguem nega que a única atitude possivel é
a dum profundo e respeitoso acatamento 
diante de uma grandeza, cujo característico 
é o poder de facilmente ficar exposta a uma 
profanação sacrílega. Quem ousará zombar 
de uma pessoa, que procura -ocultar as suas 
intimidades aos olhares profanos? Sentimos 
157 
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urna penosa impressão quando uma pessoa 
irreverente e indi5,cretarnente tenta se imis­
cuir no segredo de alguern, ou se desata des­
respeitosamente o véu do seu próprio segre­
do. Um único caso admitimos, no qual o amor 
pode vencer o pudor, a saber, quando o pró­
prio Criador no sacramento do matrimônio 
autoriza a esposa e o esposo para este pro­
cedimento. Sem prejuízo para a alma, e sem 
ofender o natural respeito, um deixa que o 
outro partilhe da sua intimidade. Mas mesmo 
assim permanece ainda corno segredo de am­
bos, e do qual devem guardar reserva peran­
te terceiros. 
A jovem, que naturalmente se guia mais
pelos valores sentimentais, encontra pela von­
tade do Criador na sua índole um sentimento 
de pudor muito mais delicado e sensível, en­
quanto que o homem se deixa influenciar pe­
las deliberações. do raciocínio e da razão. 
Para ela, e para a sua pureza, o pudor é, por­
tanto, a mais forte e preciosa garantia, per­
dendo ordinariamente, com a falta, qualquer 
resistência moral. 
A experiência mostra que ele procede mais 
deliberadamente do que ela até no momento 
da queda; por isso, depois de um passo er­
rado, consegue facilmente levantar-se, em 
consequência da sua tranquila resolução, ao 
passo que a jovem, perdido o pudor, não en­
contra mais o meio natural em que se apoiava. 
A vista destas considerações, temos o direi­
to de culpar a moda frívola e o exagero do 
158 
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esporte, pois quando uma }ovem não respeita 
o seu pudor, e inconsequente e levianamente
cobre apenas com diáfano véu aquilo que os
vestidos deveriam ocultar, isto é, os segredos
do seu corpo, expõe-se ao grande perigo de
não hesitar diante da última profanação çlo
seu mistério virginal, pois perdida está a de­
cência que deveria protegê-lo.
Tem ela o direito com este procedimento de 
contribuir para a provocação da paixão e 
da fantasia libidinosa que acompanha o moço, 
talvez o. dia inteiro? 
Compreendemos por que os bispos e o pró­
prio papa protestam contra as exibições pú­
blicas dos exercícios de ginástica e natação 
das jovens. O protesto destes prelados tem -em 
vista que em primeiro lugar, por este modo 
de se exibir, está se formando na mulher um 
jeito muito contrário ao seu característico. E' 
e fica missão da mulher o manifestar-se na 
tranquilidade e na paz do lar, ocupando-se 
principalmente com os deveres de niãe e de 
esposa. A exibição em exercícios esportivos, 
diante dos olhares do público, tem sua origem 
na aspiração de imitar aos jovens até nisso. 
Devemos condenar severa1nente o mau cos­
tume que -os jovens têm, de sairem da arena 
nos seus trajes de esporte, e se meterem no 
meio do público. 
O segundo e principal motivo do protesto 
do papa contra estas exibições públicas de 
jovens encontra-se no efeito perigoso que elas 
devem produzir nos jovens que assistem a 
159 
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elas. Estando eles em geral habituados a ver 
o corpo feminino vestido, esses trajes de es­
porte, curtos e transparentes, fazem com que
as moças ao menor movimento fiquem des­
compostas, atraindo os olhares maliciosos da
turba. A jovem precisa se convencer de que,
pela moda frívola e indecente, provoca neces­
sariamente esta decomposição moral que se
nota na atualidade.
A experiência prova que o sentido da vista 
exerce uma influência muito excitante na 
mentalidade juvenil. Neutralizar estes efeitos, 
causados pelos trajes de banho ou esporte 
das jovens, só o pode conseguir um homem 
maduro e de carater firme, mas raramente 
um jovem com sua sensualidade tão facil­
mente excitavel. E' natural que estas exibi­
ções atraiam principalmente os jovens, que 
acompanham estes exerc1c10s com olhos 
cheios de malícia, e neles se deleitam. Até os 
hem intencionados correm risco de sucumbir 
a esta influência perniciosa; eles mesmos con­
fessam que prestam mais atenção a estes des­
nudamentos,Quem tiver qualquer conhecimento 
da vida da alma dos moços, sabe o quanto 
eles sofrem sob as impressões destas ré�­
dações. O moço, que quiser conservar a sua 
castidade, precisa evitar que surjam nos seus 
pensamentos tais imagens. A palavra que Jó 
diz: "Fiz pacto com os meus olhos, de nem 
sequer pensar numa virgem" (Jó 31, 1), tem 
o seu valor para os nossos jovens, convidan­
do-os a · que evitem toda curiosidade, pela
qual estas imagens se. poderiam tornar peri-
·,
gosas para a sua pureza.
Depois destas reflexões, pergunta-se: "não 
seria mais prudente acostumar a mocidade a 
estes espetáculos, pois assim o corpo do outro 
sexo perderia pouco a pouco este estímulo 
para a sensualidade, não causando mais ne­
nhuma impressão?" 
Esta objeção revela a grande superficiali­
dade com que certas pessoas formam uma 
opinião sobre tão sérios e importantes pro­
blemas. 
Por este modo inconsequente de pensar não 
se observa a grande diferença que existe en­
tre o desejo de saber e a mera curiosidade. O 
primeiro, tendo encontrado a solução do pro­
blema, fica satisfeito, porque ficou sabendo 
o que desejava. Muito diferente é a curiosi­
dade, pois o seu motivo não é a vontade de
saber alguma coisa, mas a sensualidade, que
Tu e ele - 11 161 
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procura um estimulante, consistindo a sua 
natureza em nunca se saciar, mas em procu­
rar sempre novas sensações. 
A resposta, portanto, é a seguinte: é possi­
vel que tais excitantes pelo costume percam 
a sua impressão sobre a curiosidade, mas não 
acontecerá isto com a sensualidade, que, ao 
contrário, procurará novos estimulantes que 
despertem os nervos insensiveis. O costume, 
portanto, não faz desaparecer a sensuali­
ao contrá­
rio, comportemo-nos sempre de tal modo, 
que conservemos a nossa dignidade, a nos­
sa honra. Cuidando, enfim, do esporte, não 
nos esqueçamos da formação do coração e da 
cultura da alma. 
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ANJO DA GUARDA OU SEDUTORA 
Quem conhece a vida e a história não igno­
ra a· enorme influência da mulher sobre o 
homem, tanto. para o bem como para o· mal. 
O "cherchez la femme !" tem aplicação para 
tudo que é grande, para os · rn.aiores crimes, 
como para os atos mais heróicos. Windhorst 
declarou um dia num congresso dos católicos 
alemães: "A influência da mulher é extra­
ordinariamente grande em todas as situações 
da vida humana. E se fizermos um estudo 
aprofundado da história, teremos de conf es­
sar que, desde Eva até nossos dias, as mulhe­
res tiveram muitas vezes maior influência n� 
marcha dos acontecimentos do que os orgulho­
sos filhos de Adão". 
A causa disto está nas particularidades mui 
sabiamente combinadas de ambos os sexos. 
No primeiro capítülo da Sagrada Escritura 
Deus diz: "Não é bom ao homem estar só; 
façamos-lhe uma companheira". O homem 
adulto e nobre começa a sentir um vácuo na 
sua vida. Deseja a companheira que com seu 
ser calmo, bondoso, luminoso e alegre possa 
embelezar-lhe a vida, que o compreenda, que 
do íntimo da alma tome parte nos seus sa­
crifícios e nos seus interesses, o alivie e con­
sole no duro trabalho e nos reveses da vida, 
que lhes torne o lar atraente e agradaveL 
Para ele o sexo feminino na sua particulari-
167 
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d ade exerce um atrativo indescritivel, um ef ei­
to cativante e encantador. Facilita-lhe duas 
vezes o trabalho o pensamento de que traba­
lha pela mulher querida, junto à qual en­
contrará, após o peso do dia, benéfico des­
canso. Por ela está pronto para tudo. E é 
realmente admiravel a influência da mulher 
sobre o homem; ela pode ser salutar ou des­
graçada, conforme a índole da mulher. Mui­
tas virtudes do homem são apenas o reflexo 
das virtudes de sua esposa ou o resultado da 
educação recebida da sua mãe. Muitos crimes 
do homem são a consequência da inspiração 
de uma mulher diabólica. 
A jovem pode exercer um influxo enobre­
cedor sobre um moço, sem que todavia o 
adivinhe. 
Nos anos da puberdade ele sofre ordina­
riamente muito pelas tentações contra a pu­
reza, que é a consequência natural do seu 
sexo. Pela paixão sente-se impelido a ver­
dadeiras misérias, e contudo encontra em si 
o desejo de viver casta e dignamente, em­
bora já tenha caido desastrosamente. Não é
raro que a imagem e a lembrança duma jo­
vem pura e casta o tire da lama em que se
encontrava.
"Eu era bastante corrompido; todavia uma 
jovem causou-me uma impressão tão profun­
da, que comecei a fugir do pecado". Assim o 
confessa alguem que teve relações com ela. 
Mais algum11s confissões. "Há pouco, fiz co­
nhecimento de urna moça pura e de nobres 
168 
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sentimentos. A sua presença fez com que des­
aparecessem meus antigos desejos sGxuais. 
Se deles ainda me lembrei, foi com verda­
deiro asco. Não puàe mais pensar com pra­
zer nos divertimentos com outras jovens". 
"Muitas vezes, quando estava em perigo de 
cair, sua imagem me preservou da queda, 
aparecendo-me diante dos olhos. E eu disse 
comigo mesmo: se caires, não serás mais 
digno nem de olhar para ela!" "Muitas vezes 
pequei por pensamentos. Mas quando via seus 
olhos tão inocentes, vinha-me o desejo de es­
hof e tear-me a mim mesmo. Ficava indignado 
só com a possibilidade de poder pensar em 
coisas ohcenas". "Quando me vêm pensamen­
tos impuros e a natureza inferior quer obri­
gar-me a ceder à tentação, lembro-me dela e 
apodera-se de mim uma verdadeira raiva, e 
uma sincera repugnância contra mim mes­
mo". "Travei relações com uma jovem, que 
me inspirou desde logo uma grande estima. 
Ela tornou-se o meu anjo da guarda, e ainda 
hoje continua fazendo este papel". Semelhan­
tes confissões são ouvidas constantemente, e, 
o que é mais interessante, na maioria dos
casos, os jovens nem tinham tido relações
mais íntimas com a moça, diversos nem se­
quer lhes tinham falado. Somente o aspeto
desta índole pura, nobre, reservada, foi sufi­
ciente para exercer tamanha influência so­
bre eles, que se tornaram outras criaturas.
Tiveram a felicidade de ver o que no fundo
da sua alma sempre desejariam aí encontrar:
169 
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a pureza, a nobreza de sentinlentos, a digni­
dade, a paz e a beleza quasi personificada, e 
essa iinagem ou mesmo o seu pensamento 
lhes elevou o espírito. 
E' bom, porém, que ouça outras confissões, 
que nos revelam o influxo desastroso das mu­
lheres levianas sobre os homens. 
"Até hoje ainda não tive estiina por ne­
nhuma jovem. Pois muitas me foram a cau­
sa para o pecado". "Atualmente a maioria das 
jovens são tão caprichosas, impertinentes e 
sem pudor, que não posso compreender o seu 
modo de agir". "Muitas vezes o aspeto de uma 
moça sentada dum modo tão afetado, incon­
veniente e petulante, foi a causa de se des­
pertarem os meus peiores instintos". Vendo 
sempre a mulher tão indiscretamente atavia­
da, a começar pelos cabelos e saias excessi­
vamente curtas, torna-se dificil para o ho­
mem consagrar-lhes qualquer sentiinento de 
estima. Encontram-se hoje, mesmo na melhor 
sociedade, jovens tão afetadas e atrevidas, 
que são capazes de arruinar a alma e a vida 
de muitos moços; por isso muitos rapazes 
negam que se possa ter alguma delas em 
muito alta estiina. 
Sem exagero pode-sé dizer que o valor de 
um homem depende da sua atitude em face 
da mulher. E esta posição por sua vez depen­
de da atitude da mulher para com o homem. 
Se encontrar nela a expressão da pureza, da 
majestade e da dignidade, sente-se elevado 
até às alturas morais. Se ela, porém, se apro-
170 
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xima dele como a personificação do prazer 
sensual, arrasta-o para um abismo de malí­
cia e perversidade, no qual ela mesma tam­
bem se despenhará. 
Jovens, ternos à escolha o que desejaremos 
ser para o homem: "um anjo da guarda ou 
uma sedutora?" Seremos para ele aquilo que 
nós mesmas quisermos ser! Assim, pois, está 
em nossas mãos o seu compartamento para 
conosco! 
A COMPANHERA DA VIDA 
Para a felicidade do matrimônio e da fa­
mília, é de decisiva importância a escolha do 
companheiro da vida. Pois é uma escolha 
para a vida inteira, e as consequências dela 
se fazem sentir em sentido positivo ou nega­
tivo nos filhos, nos netos, em todos os descen­
dentes. 
A palavra, já citada, de Coloma diz muito 
finamente: "Na vida de um homem de bem 
só têm lugar duas mulheres: sua mãe e a 
mãe de seus filhos". Não diz: sua mãe e sua 
esposa. O que o obriga a usar esta termino­
logia? Ele quer dizer que o marido não deve 
ver nela em primeiro lugar o que ela signi­
fica para ele, mas o que ela deve ser para os 
seus filhos, a mãe, e como tal deverá tratá-la. 
Um pensamento muito fino, muito efica�! 
Na escolha da sua companheira, não procure 
em primeiro lugar uma esposa, mas sim uma 
mãe para os seus filhos, �om as qualidades 
171 
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que os tornarão felizes. Do mesmo modo deve 
pensQr uma jovem. Quando um moço a pro­
cura, ela não pode se esquecer de que este 
será amanhã o pai de seus filhos, e por isso 
deve seriamente verificar se ele será um pai 
cuidadoso e zeloso para os seus filhos. Ela 
não deve recear o que irá sofrer com esta 
atitude tão desinteressada, pelo contrário, des­
te modo, evita o perigo de se deixar influen­
ciar por motivos que pouco ou nada signifi­
cam para a sua própria felicidade, e que até 
poderiam ser prejudiciais para o seu hem 
estar. 
Ordinariamente os homens se casam por 
mútua Inclinação, como é próprio da sua na­
tureza. Seguir, porém, cegamente uma incli­
nação pessoal sem tomar em consideração se 
a aliança garante um matrimônio feliz, e se 
a prole desta união será sadia, é uma atitude 
que se podesua obra é tudo e ele é ca­
paz de sacrificar tudo por ela. Uma missão 
muito diferente confiou o Criador à mulher, 
indicatornar desastrosa. 
Nos últimos decênios, formou-se um ramo 
especial da ciência, a se ocupar com a here­
ditariedade. Já se têm verificado fatores de 
extraordinário alcance. A hereditariedade se 
estende não somente a característicos exte­
riores, como à forma do rosto, nariz, etc., mas 
lambem ao carater em geral, e este é de sum.a 
importância para a vida psíquica dõs descen­
dentes. Não se trata, portanto, de transmis­
são de propriedades da alma. Esta última é 
impossivel, porque a alma é criada imedia­
tamente por Deus e unida ao novel homem 
em formação. A alma, porém, precisando do 
172 
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corpo como de um instrumento par·a a sua 
atividade espiritual, está claro que depende­
rá essencialmente da natureza do mesmo. 
Ora, a qualidade deste instrumento não é 
obra do acaso, mas consequência fatal da he­
reditariedade. Depende das disposições here­
maternidade. Pela gravidez 
cada disposição doentia será despertada: fra­
queza do coração, tuberculose, varizes, mo­
léstias dos rins, etc. Por isso, nossa regra deve 
ser a de fortificar o organismo nos anos do 
desenvolvimento pelos exercícios ao ar livre, 
pelas horas de sono antes da meia noite, evi­
tando toda a intoxicação do organismo, e ali­
mentando-nos sadia e suficientemente, por 
conseguinte, nada de dietas para não engor­
dar. Quanto menos a nossa índole favorecer 
este desenvolvimento, tanto mais devemos es­
forçar-nos de fortalecer o organismo de qual­
quer outra maneira. 
Tratando da cultura do corpo, não nos es­
queçamos do aperfeiçoamento da alma. Uma 
vez casada, poucas horas tereis para uma 
leitura, meditação ou recolhimento. Devemos, 
portanto, agora, enquanto é tempo, fazer uma 
boa provisão de cultura espiritual. Quem não 
tiver aproveitado a mocidade para este fim, 
casando-se nunc1 mais encontrará tempo 
para se aprofundar nesta cultura do espí­
rito, pois, aléni .do tempo escasso, faltará lam­
bem a coragem e a compreensão llaJ·a isto. 
Deste modo vão aumentando o exército das
superficiais, que aos 15 anos já se julgam 
formadas e preparadas para a vida, e por 
isso não têm mais vontade de se aperfeiçoar. 
To.das as mães sentem necessidade de poder 
dispensar aos seus filhinhos a maior soma de 
ensinamentos possíveis, tanto morais, como 
para a vida. l\fas donde tirar esta riqueza in-
178 
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tcrior, se para isto não tiver feito em tempo 
oportuno uma preciosa reserva? 
Os hodiernos mal entendidos entre pais e 
filhos têm sua origem em grande parte no 
comodismo dos pais, que na mocidade não 
sentiram necessidade nenhuma de uma for­
mação espiritual. Mais tarde, quando vierem 
os filhos, se estes forem inteligentes, ela que 
não se preparou para sua sagrada missão de 
primeira preceptora dos filhos, nada terá 
para lhes dar espiritualmente, e assim se tor­
nará cada vez mais uma estranha para eles. 
Se eles forem. pouco inteligentes, seguirão as 
pegadas da sua mãe ignorante, tornando-se 
homens superficiais e incapazes para a luta 
pela vida; nada acontecendo, poderão viver 
com mediocridade, mas, em sobrevindo con­
tra-tempos e contrariedades, perecerão à mín­
gua de recursos. 
A jovem precisa, além disso, pensai· tam­
hem no seu enxoval. Quanto desgosto causa­
do por cssn negligência, e quanta satisfação 
se originou de um lar agradavel e organiza­
do! Com uma certa economia, e uma pru­
dente renúncia a tudo que é desnecessário, 
pode-se aprontar um lar realmente atraente, 
Para este fim é preciso que tambem se in­
teresse por todas as qu�stões relativas à dire­
ção e administração duma casa de família. 
Muitos vexames na vida matrimonial provêm 
da ignorância em todos os afazeres, e na eco­
nomia doméstica. A causa desta falta reside 
na tendência das moças em levar uma vida 
179 
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cheia de distrações, divertimentos, comodi­
dades e confortos, etc.; e por isso não têm 
gosto pelos trabalhos e ocupações do lar. Em 
razão da grande falla de serviçais, adotou-se 
o costume moderno de se confiar todos os ser­
viços domésticos a uma única empregada.
Não obstante, quão grande é a satisfação
duma dona de casa; quando vê que pelos seus
cuidados tudo marcha eficiente e tranquila­
mente no seu lar! Quanto descanso moral e
físico sente o marido com esta qualidade da
esposa! Com estas ocupações sentimos a ale­
gria que vem do fiel cumprimento do dever.
A vida no seio da família torna-se por isso 
mais interessante e agradavel. Ela nunca se 
aborrece da sua vocação materna, porque pe­
las ocupações da vida quotidiana a jovem 
mãe já ganhou a coragem e confiança que 
traz consi�o a vida prática. Já não lhe é tão 
difícil renunciar a certos divertimentos, pois 
encontra no fiel cumprimento do dever uma 
verdadeira satisfação. E este é o seu melhor 
galardão pelos sacrifícios de cada dia. 
Voltando ao assunto, devemos ainda fazer 
a seguinte reflexão: a jovem não deve entre­
gar o coração logo ao primeiro pretendente; 
mas antes deve refletir e se informar, para 
ver se esta união poderá ser feliz. Uma im­
pressão momentânea dos nossos sentimentos 
não pode influir na nossa decisão. E' preciso 
compreender que um bom dansarino, que se 
veste elegantemente, não é a melhor garan­
tia de que ele será um chefe de família, ca-
180 
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paz de fazer a felicidade dos seus. Pode ser 
até que para m,11nter esta vida elegante ele 
já tenha esbanjado tudo, sem se lembrar de 
deixar de parte uma certa quantia para sua 
futura família. Como poderá com o mesmo or­
denado, que mal lhe chegava para as suas des­
pesas, sustentar ainda mais a família? Como 
fará ele face a certas dificuldades, se até 
hoje só tem pensado na satisfação dos pró­
prios desejos! Será capaz de renunciar a es­
tes por amor à sua nova família? Nunca 
aprendeu a sacrificar as suas aspirações! Ele 
há de querer continuar gozando, semelhante 
homem não tem gosto pela vida de familia, 
pelas modestas alegrias do lar. Que vida po­
derá proporcionar à família cristã a compa­
nhia de um moço com tais disposições? 
Uma séria deliberação merece principal­
mente o pensamento de que a vida matrimo­
nial reclama um pai sadio e generoso, Clljas 
nobres qualidades possam ser uma preciosa 
herança para os filhos. 
Na escolha do esposo deve, portanto, apli­
car-se a lei da seleção, i. é, em primeiro lugar 
vem a consideração das qualidades que hu­
manamente falando garantam uma prole sa­
dia e bem dotada. Esta garantia está antes de 
mais nada na saude moral e física. Contêm 
ambas tanto as predisposições como as qua­
lidades adquiridas. 
A jovem tão pouco deve desdenhar de pro­
curar verificar por intermédio de pessoas al­
truístas se na família do pretendente existe 
181 
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qualquer predisposição doentia, qual a men­
talidade nela reinante, quais as idéas morais 
e religiosas que elas nutrem. Igualmente 
procure conhecer exatamente as qualidades 
e os hábitos pessoais do pretendente, para 
poder avaliar se há possibilidade de harmo­
nia de vistas. Certamente o carater feminino 
em geral possue bastante adaptabilidade, de 
modo que uma mulher com relativa facili­
dade se acomoda a outros caracteres i'nteira­
mente diferentes, modificando consequente­
mente todo seu procedimento. 
Por isso, a questão principal é saber se, 
suposta a natureza normal, uma educação 
verdadeiramente cristã despertou e desenvol­
veu nele todas estas virtudes que o habilitam 
a ser um marido fiel, e um pai generoso. 
Mencionemos ainda alguns pontos de vista, 
de particular importância. 
O homem é a cabeça da família, conforme 
a vontade de Deus, e portanto a mulher deve 
se submeter a ele. Ela aceitará de bom grado 
este papel, se ele tiver as qualidades que 
atraiam a sua alta estima. Mas isto só se dará, 
se ele for um caratP-r firme e religioso, e que 
fielmente cumpre todos os seus deveres para 
com Deus e com os pais. Todas as famílias 
são visitadas por apreensões, sofrimentos e 
reveses. Somente a religião nos pode orientar 
nestas situações, e conservar o equilíbrio no 
meio deles e não sucumbir ao peso do sofri­
mento. 
182 
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Por esse motivo não se pode desaconselhar 
com suficiente insistência o casamento mixto.
Todo católico crente tem a convicção de que 
a Igreja católica é a Igreja de Cristo, por ele 
fundada. Todas as demais comunidades reli­
giosas que se dizem cristãs apartam-se dela 
e se encontram em erro. Sem dúvida, os que 
sem culpa se acham fora da verdadeira Igre­
ja podem se salvar, obedecendo aos ditames 
da conc1ência. Mas não é o caminho do céu 
intencionado por Deus. Os acatólicos nutrem, 
além disso, uma profunda aversão à lgrej a 
católica; porque só conhecem a sua carica­
tura, que 9s enche de antipatia. 
A condição básica, porém, da felicidade ma­
trimonial é a harmonia das almas. E essa, 
comoserá ela realizavel, reinando opiniões 
opostas nas questões mais vitais? Nas adver­
sidades da vida, verd_adeiro consolo só se en­
contra na religião. Quem mais aspira por 
essas fontes de consolação e delas vai haurir 
é o coração sensível da esposa para se recon­
fortar não somente a si senão tambem ao es­
poso e aos filhos. Mas ao marido acatólico 
são' inacessíveis todas as ricas fontes da nossa 
Igreja. 
Relativamente aos filhos, existem ainda ou­
tras co�siderações mais gra".es. Que imprei:.­
são estranha deve sentir o coração inocente 
da criança, se o pai nada acredita daquilo 
que lhe foi ensinado como a parte mais im­
portante da vida humana, como a vontade de 
Deus? E' desolador para a criança quando, 
183 
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no dia da primeira comunhão,· o pai não a 
acompanha e não pode ter parte na sua f e­
licidade. A influência funesta, que o casa­
mento mixto exerce sobre os filhos, vê-se 
claramente no foto de que eles com muita 
facilidade por sua vez contraem casamentos 
mixtos, frequentemente sem casamento cató­
lico e educação católica dos filhos, de manei­
ra que os netos ou o mais tardar os bisnetos, 
cm grande parle já não são católicos. Comove 
tristemente contemplar a àrvore genealógica 
de uma família, ao verificar que em tempos 
idos algum membro contraiu matrimônio 
mixto, perdendo com isto a Igreja católica 
todo tronco lateral. Causa horror pensar na 
responsabilidade que tal passo trouxe con­
sigo. 
Mencionemos ainda que acatólicos acredi­
tam na possibilidade de um divórcio e que, 
entre eles, reinam geralmente opiniões mui­
to largas com relação à �xtensão do sexto 
m�mdamento. E' muito frequente não se cum­
prirem as promessas feitas sobre a educação 
católica dos filhos, ou a mulher coloca o ma­
rido diante da possibilidade de lhe tornar a 
vida insuportavel se não se acomoda aos seus 
desejos. 
Os prejuizos dos casamentos mixtos são de 
tanta gravidade, que a Igreja se julgou obri­
gada a proibi-los no novo código do direito 
canônico. "Rigorosamente proibe a Igreja con­
trair matrimônio mixto" - Canon 1060. Ha� 
vendo perigo de a parte católica ou os filhos 
184 
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perderem a fé católica, o casamento é proibi­
do lambem por lei divina. O católico que 
realizar o seu casamento perante o ministro 
acatólico, �stá excomungado. E', portanto, er­
rôneo. pensar ser lícito contrair matrimônio 
mixto, contanto que se peça antes dispensa. 
Quem levianamente, sem razões graves e jus­
tas, e sem ser humanamente certo não existir 
perigo para a parte católica e os filhos, co­
meçar a travar relações mixtas ou noivado, 
peca gravemente e está obrigado em conciên­
cia a rompê-las. 
Com relação à saude, queremos referir ain­
da e sobretudo as razões que se opõem aos 
casamentos entre parentes. E' muito facil en­
contrar-se em alguma árvore genealógica 
qualquer predisposição perigosa que absolu­
tamente não se manifesta, ou só fracamente 
enquanto os membros não contraem casa­
mentos senão com estranhos. Numa união 
conjugal, porém, entre parentes, essas infeli­
zes predisposições hereditárias vêm juntar-se, 
acarretando terríveis consequêncas, como são: 
morte prematura, esterilidade, decadência. De 
modo terrivel pode isso acontecer havendo 
parentesco duplo. Seria, p. e., o caso que, en­
tre os ascendentes, dois irmãos se tivessem 
casado com dois outros. Na hipótese, todos 05 
seus descendentes teriam entre si duplo pa­
rentesco. Ficando latentes muitas disposições 
doentias, impossibilitando a sua verificação, 
é preciso dissuadir de um casamento entre 
parentes, mesmo quando não haja indício al-
185 
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gum de predisposições hereditárias. As tris­
tes consequências dos casamentos entre pa­
rentes se verificam com facilidade nos distri­
tos onde há disso prática. As escolas para 
crianças inferiores são frequentadas sobretu­
do por descendentes de tais famílias. Por isso 
a lei da Igreja, proibindo casamentos entre 
parentes, tem sua profunda razão de ser. 
Aumenta em nossos dias o número dos que 
exigem, antes do casamento, o atestado de um 
médico conciencioso, certificando a saude de 
ambos os contraentes e a capacidade física da 
moça para a maternidade. Muitas decepções 
cruéis e muitos sofrimentos se poupariam, se 
essa medida bem intencionada e fundada se 
aplicasse sempre. 
E' muito necessário, por isso, que a jovem 
se informe seriamente sobre o passado do 
pretendente, antes de deixar entrar no seu 
coração uma afeição. Para este fim vamos 
distinguir tres classes de moços. 
A primeira pertencem aqueles que têm um 
passado puro e limpo. Tanto no comporta­
mento para com os pais como no· seu procedi­
mento moral, nunca deram motivo para quei­
xas. Será uma felicidade para uma jovem, se 
puder casar-se com um jovem nestas condi­
ções. E' natural que ela tambem seja digna 
de um tal moço; 
Na segunda classe formam aqueles cuja ori­
gem e educação foram boas, porém, em con­
sequência de contratempos, sofreram diversas 
quedas. Mas, enfim, vencendo a boa índole, 
186 
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voltam a uma vida normal e cristã. Pede-se 
ompreender que uma jovem perdoe todo o 
passado, e se resolva a casar com um moço 
('111 tais condições. E' necessário, todavia, não 
dar este passo senão depois de uma séria deli-­
hcração com pessoas que coinpreenda.m esta 
situação benevolamente. Se declararem que 
11este caso se trata mais de um descaminho, 
que de faltas provenientes de um carater ou 
índole déf eituosos, e quando se provar que 
o moço muito antes de iniciar as relações com
a moça começara por endireitar as suas faltas,
vemos entãi;:, que há suficientes motivos para
se aprovar esse projeto. Uma· precaução es­
pecial seria, porém, necessária, quando o
moço começar uma vida normal apenas ao
iniciár o seu namoro.
Em rµuitos casos, contudo, veio a saber-se 
mais tarde que o moço tinha apenas simu­
lado a emenda da sua vida, com o fito de se 
aproveitar de algum partido rico e vantajoso 
que encontrara. Desta maneira c0nseguiu ca­
sar-se com a filha duma família rica e fidal­
ga. Para alcançar isto, começou a ir à missa 
todos os domingos, e recebeu todos os santos 
sacramentos. Mas no primeiro domingo de­
pois do casamento, quando ela o convidou 
para irem juntos à santa missa, o marido lhe 
declarou que tudo aquilo fora uma comédia 
para poder casar-se com ela. "Daquí em dian­
te será favor não me incomodar mais com 
tais desejos". 
187 
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A terceira classe pertencem aqueles que 
têm atrás de si uma vida mais ou menos des­
regrada, conhecida como tal, cujo modo de 
pensar sobre a vida matrimonial é pouco ele­
vada, e qt1e agora por qualquer motivo pen­
sam em casar-se. Há motivos bastantes para
se dissuadir de tal casamento, Ele trará para 
a nova vida o mesmo modo de pensar, e por 
conseguinte amanhã tratará a esposa da mes­
ma forma como pensa. A circunstância de 
que ele trata e se compqrta direitinho com 
ela, não refuta o nosso modo de pensar. Pois 
muitas vezes continuam sua vida desregrada 
durante o tempo do noivado, para "muitas 
vozes continuá-la depois do casamento. Or­
dinariamente a jo-vem vê no objeto de seu 
amor o ideal, e as qualidades, que desejaria, 
julga ver nele personificadas. Durante o noi­
vado aumenta esta ilusão, e depois do casa­
mento VOO'l o cruel desengano. 
Como dizem os médicos, é necessário uma 
grande delicadeza da parte do marido para 
convencer a jovem esposa de que a entrega, 
instituida por Deus, é uma prova de amor, 
e o sinal da união íntima das almas. Como é 
que homens com um passado tão triste pode­
rão ter essa delicadeza e essa alta compreen­
são, se na mulher não vêem outra coisa mais 
que o meio de satisfazer suas· baixas paixões? 
Assim, pois, não é de se estranhar se tantas 
vezes acontece que, apenas casadas, algumas 
enlouqueçam e vão parar no hospício de alie­
nados, porque depois do casamento descobri .. 
188 
https://alexandriacatolica.blogspot.com.brram o que ele realmente desejava dela! Ou­
t 1·as desde o dia do casamento não têm mais 
uma hora sequer de felicidade, porque sa­
hem a triste sorte· que as espera pela convi­
vência com tão execravel vilão! 
Ouçamos o que diz o professor Forel, um 
dos mais competentes médicos psiquiatras: 
"Conheço um,a série de casos em que o mari­
do libidinoso não só transformou a afeição 
ilusória da jovem esposa em um profundo 
horror, mas até provocou a sua alienação men­
lal. Peior ainda é a situação, se ela mais tar­
de descobrir os sentimentos indecorosos do 
seu marido na vida sexual, vendo que seu 
amor não é mais que uma paixão vil. Levan­
ta-se então na alma da jovem uma luta tre­
menda pela desilusão e felicidade perdidas, 
e muitas vezes os sentimentos sublimes do 
amor são sufocados, e breve nada mais res­
tará que a grande tristeza de suportar e so­
frer". Até aqui o médico Forel. 
Mais um perigo ameaça a mulher. Como 
dizem ·os especialistas, acontece que uma mu­
lher nunca pode encontrar satisfação em um 
homem, que ela não pode amar, (mas o 
contrário acontece). Desta forma o desejo 
muito natural e justo, que sempre vai ser pro­
vocado, fica· sem satisfação. Acontece, entre­
tanto, que ela faz o conhecimento de um ho­
mem, que talvez logo no primeiro encontro 
lhe faz profunda impressão. Sentirá imedia­
lamente um verdadeiro atrativo, e urna voz 
interna lhe segreda que nele encontrará o 
189 
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que até alí em vão t�m procurado. Muitas 
sucumbem a esta tentação da atração ilícita. 
Se ele não for um· homem de cara ter, terá 
início um adultério, este talvez seja o prin­
cípio de um escândalo, de uma tragédia, que 
pode acabar num assassm10. 
Devemos, além disso, compreender que a 
vida matrimonial não pode ser uma série 
ininterrupta de prazeres carnais. Ainda que 
ela permita satisfazê-los de uma maneira lí­
cita, todavia esta permissão não é ilimitada. 
Em primeiro lugar, um amor verdadeiro exi­
ge uma delicada consideração para com os 
desejos e a situação da esposa; e esta delica­
deza e consideração são a coroa do amor. Há · 
tempos e circunstâncias, além disso, que re­
clamam do marido completa continência. Os 
maridos jovens, que não têm esta reserva e 
este domínio sobre si mesmos, toniam a vida 
da esposa insuportavel, pela falta de consi­
deração e impertinência. Donde vem que na 
Alemanha encontramos a enorme cifra de 
50.000 divórcios em um ano? 
Por isso é necessário, se ela não conhecer 
mais intimamente o pretendente pelas rela­
ções com sua família, que procure informar­
se sobre seu passado por intermédio dos pais 
ou irmãos, para que o esclarecimento não 
chegue quando já for muito tarde ... 
Para a felicidade conjugal, finalmente, é 
indispensavel que ambas as partes se enten­
dam e se amem verdadeiramente. Uma dife­
rença demasiadamente grande entre a edu-
190 
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cação e as opiniões frequentemente impedem 
os esposos de se aproximarem intimamente. A 
parte mais distintamente educada sempre de 
novo se sente repelida pelas maneiras vul­
gares do outro. Por onde se compreende e 
justifica plenamente o exigir-se certa igual­
dade de condições, se bem que em casos fa­
voraveis haja possibilidade de exceções e não 
se devem por orgulho traçar limites dema­
siadamente estreitos. 
Por verdadeiro amor não se há de entender 
o "amor ardente" dos namorados, que fre­
quentemente esfria com rapidez, quando não
se -transforma em aversão" e mesmo ódio;
mas a profunda simpatia mútua que se ba­
seia na recíproca estima e se patenteia em
benevolência. Tal amor não se procura em
primeiro lugar a si e aos seus interesses, mas
o bem do outro. Esforça-se por ser-lhe e dar­
lhe aquilo que o bem do amado exige.
Devemos notar aquí que os homens absolu­
rncnte não amam de preferência àqueles dos 
quais recebem muitos benefícios e mesmo a 
satisfação de todos os seus desejos, mas antes 
aos que lhes custam fadiga e sacrifícios. O 
verdadeiro amor se revela não só pelo dar, 
mas ainda mais por vezes se manifesta pela 
negação de pedidos não justificados e pelo 
sacrifício de desejos próprios. Praticando am­
bas as partes constantemente o que possa f a­
vo1·ecer o verdadeiro bem do outro, só então 
o mútuo amor se há de tornar mais forte e
mais profundo.
191 
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Este amor altruista deve aprender-se. Não 
se apresenta espontaneamente. A força de 
praticú-lo, conquisía-se pela fidelidade íntima 
e abnegada ao dever, pelo corajoso domínio 
de si mesmo e pela obediência resoluta na 
casa paterna. 
Do que dissemos, resulta com evidência 
que estas considerações devem ser feitas an­
tes de o indivíduo estar "enamorado", pois 
tal estado é capaz de cegá-lo a ponto de pen­
sar que a atual inclinação é duradoura e de 
persuadir-se que todas as qualidades divinas 
que vê na pessoa amada a adornam real­
mente ... " O ímpeto da inclinação, no dizer de 
um médico, falseia o juizo, encobr� as faltas 
mais palpaveis, pinta tudo cor de rosa, torna 
o homem enamorado ou os dois entes ena­
morados mutuamente cegos e esconde a cada
um a verdadeira natureza do outro. Só de­
pois de ter passado o primeiro ímpeto duma
tendência aparentemente insaciavel, passada
a lua de mel do matrimônio, passa a embria­
guez e aparece o verdadeiro amor ou a in­
diferença ou mesmo ódio, ou tambem um
amálgama intermitente dos tres, produzindo
uma adaptação mais ou menos viavel. Por
essa razão os amores repentinos são sempre
perigosos, podendo somente um conhecimento
mais prolongado e mais íntimo antes da união
dar alguma certeza de que esta terá felici­
dade duradoura".
Toda a cautela e reserva, portanto, será 
pouca quando a jovem sentir pela primeira 
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vez o despertar duma inclinação. Trata-se de 
conservar o equilíbrio para que a mesma não 
se apodere impetuosamente do coração, não 
perturbe a razão e acorrente a vontade. A 
experiência ensina que jovens enamorados 
chegam a um estado em que não são capazes 
de julgar com calma nem são acessíveis a 
argumentos da razão. "O amor cega", diz o 
provérbio. O que, além disso, desperta a afei­
ção demasiada, frequentemente são apenas 
qualidades do corpo : a voz, o cabelo, o olhar. 
Ora, a vida real exige que o jovem aprenda 
a fechar o coração -a tais estímulos dos sen­
tidos, e não se deixar influenciar por eles. 
Deve ser capaz de tratar despreocupadamente 
com. pessoas de outro sexo, com as quais sim­
patiza, sem mesmo pensar em se convém ou 
não manifestar de qualquer forma a sua sim­
patia. Só assim estará em conpo­
derão se unir por toda a vida. 
O noivado, porém, deve ser dominado pela 
resolução de ambos, de comparecerem peran­
te o altar intatos, para atrairem as bênçãos 
de Deus sobre a sua união. E' ponto de honra 
para o jovem dominar os apetites impetuo­
sos da tendência natural, para que não ve­
nham a sacrificar a inocência e a honra da 
noiva. Para ela provém daqui o dever de evi­
tar tudo que possa provocar a paixão do seu 
noivo, e aproveitar eficazmente toda a sua 
influência, para que ele domine a sua natu­
reza. 
Modelo grandioso de nobre amor os noivos 
cristãos o têm em Tobias e Sara. Tobias pôde 
dirigir a Deus esta prece: "Tu sabes, Senhor, 
194 
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que não é para satisfazer o meu apetite que 
eu tomo a minha irmã (na linguagem bí­
blica sinônimo de parente) por mulher; mas 
só por amor dos filhos, pelos quais o teu 
nome seja bendito pelos séculos dos séculos" 
(Tb 8, 9). E Sara disse : "Tu sabes, Senhor, 
que eu nunca desejei marido; e que conser­
vei a minha alma pura de toda a- concupiscên­
cia. Consentí, porém, em receber marido no 
teu temor, e não por prazer meu" (Tb 3, 16, 
18). Após o casamento, abstiveram-se por tres 
dins dos deveres conjugais, afim de implora­
rem as 'bênçãos- de Deus. Semelhante propó­
sito traria as consequências mais salutares, 
sobretudo ao jovem, ultrapassando a resolu­
ção de conservar intata a noiva e arraigan­
do-a ainda mais na sua vontade. 
Ela tomará na vida conjugal a posição 
que tiver conquistado nos dias do noivado. 
Decide-se aí o futuro, a saber se daí em dian­
te ela será a digna companheira do marido 
ou a escrava da paixão do homem. 
Em consequência desta leitura, não estra­
nhará ao ver que ele com paixão procura a 
satisfação natural. Por isso é realmente difi­
dl, quando os noivos devem esperar tanto 
tempo o dia do casamento; compreende-se 
assim que a inclinação se torne dia .a dia mais 
forte, reclamando entrega completa. Sendo 
isto, porém, permitido somente na vida ma­
trimonial, devem lutar e renunciar a este de­
sejo, para que o noivado não fique maculado 
por um pecado mortal. 
195 
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Há moças que se deixam seduzir, pelo re­
ceio de perder o noivo, se não satisfizerem 
aos desejos dele. Fato é que moços de nobres 
e delicados sentimentos sentir-se-ão felizes, 
quando ela resiste a estas exigências, às quais 
não deve ceder de maneira nenhuma. Sen­
tir-se-ão até orgulhosos por terem encontrado 
uma jovem tão enérgica, pois compreendem 
muito bem a preciosa garantia que lhes é 
dada por esta enérgica recusa, refletindo: "se 
esta moça, como noiva, resiste ao próprio 
noivo, gaberá mais tarde resistir a qualquer 
atrevido que se lhe aproxime!" 
O fato é que os moços, que sentem lam­
bem a paixão da sua natureza, declaram con­
tudo: "nunca me casarei com uma jovem, 
da qual tenha obtido certos ·favores".·. . Ou­
tro moço, que tambem tinha uma noiva, en­
controu-se um belo dia com seu ainigo, ao 
qual contou que havia acabado com seu noi­
vado: "Há poucos dias cometí com ela uma 
falta!" O amigo perguntou-lhe: "E por isso 
ela acabou com o noivado?" "Não ela, mas 
eu! Tinha tomado a resolução de levá-la in­
tata e pura até ao altar! Aconteceu, porém, 
que uma noite embriaguei-me e deixei-me 
levar pela paixão. Mas o modo com que con­
cordou, e entregou-se a mim, causou-me asco, 
e tanto desprezo que já não posso me casar 
com semelhante criatura!" 
Não é raro que moços, que estavam real­
mente resolvidos a se casarem com uma jo• 
vem, exigiram desde logo a satisfação de sua 
196 
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pa1xao; mas pouco a pouco foram-lhe per­
ou por comodidade, ou para poder gozar a 
vida, por medo das exigências da maternida­
de, por desejo de independência, ou que de­
sejariam se casar e não podem. 
A distinção se refere unicamente àquela 
virgindade que for escolhida espontaneamen­
te e prometida a Deus, por motivos superio­
res, sobrenaturais, ou por outro, "por cau­
sa elo reino dos céus", no dizer do divino 
Mestre. (Cada vez q\,l,t no tratado seguinte se 
falar em "virgem", tal palavra deverá ser en­
tendida no sentido aqui exposto). 
O voto de virgindade é mais do que um 
simples propósito ou resolução. E' a promessa 
feita a Deus de querer permanecer virgem 
a vida inteira. E somente o papa pode dispen­
sá-lo, suposto que o voto tenha sido incondi­
cionalmente feito e com a idade de ao menos 
dezoito anos completos. Quem faltasse gra­
vemente conira este voto cometeria simulta­
neamente um sacrilégio. Por isso uma jovem, 
entusiasmada para fazer o voto de castidade, 
a título de experiência o faça só por certo 
tempo, orientada por um confessor experi-• 
rnentado. Tambem aquelas que entram numa 
ordem ou associação religiosa duranie anos fi­
cam provadas até admissão aos votos perpé­
tuos. Elas primeiramente podem prometer 
200 
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castidade por um ano, e depois renovar o 
voto até alcançar a compreensão e a prova 
de que poderão observá-lo para sempre. Se­
ria imprudência e temeridade fazer este voto 
perpétuo sem ter consultado o confessor e sem 
analisar primeiro a fundo o alcance duma 
resolução momentânea. 
·Que quer dizer: a virgindade deve ser es­
colhida "por amor do reino dos céus?", para 
estar acima do matrimônio? Quais os moti­
vos que impelem uma virgem a tal passo? 
Que a dignidade de mãe é grande, imensa­
mente grande, não padece dúvida. Pois ela 
até certo ponto deixa a criatura partilhar do 
poder de Deus Criador. · O próprio Cristo a 
enobreceu, santificando-a por um sacramento. 
Mas esta dignidade ao mesmo tempo realiza 
o anelo natural de cada jovem. Dada sua
índole - a tendência psíquica nela goza dum
desenvolvimento notadamente forte - ela
descj a antes de tudo um marido nobre e
excelente, para o qual ela olha respeitosa­
mente, junto ao qual se sente amparada. Mas
o objeto primário a que se referem os desejos
mais ardentes de cada esposa genuina é o
lar com os filhos. Ou não é que ela, digamos
o coração dela, quer acompanhar tudo e to­
dos, e quão contente se sente quando pode à
vontade fazer isso de plenos poderes na vida
doméstica e dispensar ao esposo e aos filhos
cuidados amorosos e felicitadores.
Inegavelmente nobres e belas são estas ten­
dências, mas elas criam apego a este mundo. 
201 
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08 cuidados diários em prol da casa em ge­
ral vão consumindo o tempo todo, o interes­
s�, a força de que dispõe. Assim com nímia 
facilidade se deixa absorver. 
Acresce que a união matrimonial inclue 
gozos sensuais que, apesar de transfigurados 
por amor nobilitante, nunca são de ordem 
meramente espiritual. Existe tambem na 
vida matrimõnial o perigo duma dependência 
do espírito aos desejos da carne; estes ten­
dem a abaixar o homem, coagem a excessos, 
abusos do que é lícito. Por isso diz são Paulo 
(1 Cr 7, 28) : "Todavia, os casados padecerão 
tribulações da carne". 
Quanto mais cândida uma alma, tanto màis 
profundamente sente o peso da matéria. Pre­
feriria estar livre de cuidados exclusivamente 
mundanos e reservar o coração às coisas su­
periores. Sendo assim, é mais de estranhar que 
almas nobres se decidam a renunciar a tudo 
que é do mundo, a desprender, desapegar in­
teiramente o coração dos bens desta terra e 
a consagrar o amor exclusivamente ao Filho 
de Deus, a ponto de pertencerem a ele em 
corpo e alma, estabeleceram relações espon­
sais. Somente no seu serviço e por seu amor, 
elas querem valorizar a índole maternal. 
Uma expressão extraordinariamente bela dis­
to nos oferece o Breviário Eclesiástico nas pala­
vras proferidas por sta. Inez. Ei-las em compo­
sição livre: "Amo a Cristo que me conduz 
ao tálamo, cuja Mãe é virgem, e cujo Pai 
não conhece esposa. Amando, sou casta; to-
202 
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cando-o, permaneço pura; aceitando-o, con­
tinuo virgem. A ele sou desposada, de quem 
os anjos são servidores e cuja beleza ultrzi­
passa o esplendor do sol e da lua. A ele só 
dou minha palavra, a ele entrego-me aflitís­
sima. A minha dextra e o meu colo ele os 
cingiu com pedras preciosas, e para brincos 
auriculares me deu pérolas de valor incal­
culavel. Mostrou-me os seus tesouros incom­
paraveis e mos prometeu. Ornou-me de jóias 
de lindo fulgor e em minha testa pôs um si­
nal para eu não admitir outro amante. Ou­
trora pôs uma aliança em meu dedo e um 
diadema de brilhantes em minha cabeça". 
Conduzida ao martírio, ela, saudosa, levantou 
os braços para o céu e orou. "Eis-me chegan­
do a ti, o amado, o procurado, o sempre de­
sejado. Pereça o corpo com que eu poderia 
agradar a olhos que não me interessam. A 
ti pertenço, meu Salvador, e desejo de todo o 
coração". E lá do céu ouvimo-Ia proclaman­
do: "Vejo agvra o Qlle desejei; possuo o que 
esperei; sou desposada no céu àquele que tão 
intimamente amei na terra!" 
Esta virgindade vitalícia, escolhida espon­
taneamente por amor de Deus- e prometida 
a Deus, explic_a prática e nitidamente em que 
consiste um sentimento casto irmanado com 
a magnanimidade do amor a Deus. Ela não 
indaga pelo que deve dar a Deus, mas sim 
pelo quanto pode dar. Ainda não satisfeita 
cm tei: cumprido os deveres ordinários, trilha 
203 
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
as sendas íngremes da perfeição e se compraz 
em obras superrogatórias. 
A missão é por sua própria e livre decü;ão 
submeter-se à vontade divina, entregar-se sem 
reserva a Deus, e assim glorificá-lo. A virgem 
cumpre isso tudo prodigamente. Ela não so­
mente se oferece na medida por ele exigida, 
mas ainda para a maior glória livremente 
deposita no altar divertimentos e gozos dos 
quais podia fazer uso sem contrariá-lo. 
O maior distintivo do homem consiste em 
ser ele imagem de Deus, espírito perfeito. 
Logo sua vida deverá exteriorizá-lo, dando o 
domínio ao espírito e sujeitando a carne ao 
governo da vontade. A virgem, longe de sa­
tisfazar apetites carnais ilícitos, se despren­
de tanto da influência do corpo, que nem 
aprecia e por isso dispensa os gozos sensuais 
lícitos aos esposos. Ela procura o bem-estar 
unicamente cm Deus. Somente em coisas su­
blimes ela quer alegrar--se. Quer agradar ao 
divino esposo cada vez mais por uma vida o 
quanto possivel espiritual. 
Ela ultrapassa as exigências das virtudes. 
A prudência conhece o que é verdadeiramen­
te bom; a virgem, divinamente iluminada, 
escolhe, porém, o que há de melhor. A jus­
tiça dá a cada um o que de direito, mas ela 
dá mais. A temperança vai regulando os go­
zos conforme os ditames da conciência. Ela, 
porém, dispensa o que é lícito. 
A fortaleza suporta sofrimentos com cons­
tância e vence dificuldades; ela aceita yolun-
204 
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tariamente sacrifícios e lutas maiores. Liber­
dade, bondade fervorosa nela triunfam es­
plendidamente. E' ela que faz desabrochar 
plenamente a bela flor. Aquilo que Deus não 
ousa exigir e apenas aconselha, é para ela na­
tural, proporcionado. De ordinário ela coroa 
sua obra com ingresso numa ordem religio­
sa, afim de pôr-se totalmente ao serviço de 
Deus. 
O que lheem indefinivel amor, se 
entrega para alimentá-la, se une com ela do 
modo mais íntimo. Sacrifício, entrega por en­
trega, amor por amor. 
Como recompensa já neste mundo, Cristo 
promete à virgem o cêntuplo (Mt 19, 23). Ale­
grias de ordem superior indenizam-na sobe­
j arnente por tudo que ela sacrificou. Natu­
ralmente não lhe é pequeno o sacrifício de 
nunca poder oferecer o coração a um marido, 
de ficar só a vida inteira. Mas no amor ao 
esposo celeste ela encontra um substituto mais 
205 
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que equivalente. Ou não é a ele que con­
sagra toda sua vida amorosa! A ele pode re­
correr sempre em todas as necessidades, unir­
se diariamente na santa comunhão. E' junto 
dele que encontra a paz profunda da alma 
como o mundo gozador não sabe dá-la (Jo 14, 
27). Não fica ela molestada por cuidados pela 
família, acompanhados de inquietude, angús­
tia, esperanças, ânsias, decepções. Inúmeras 
são as considerações que a esposa deve tomar 
do esposo, dos filhos; dos seus desejos, há­
bitos, vícios; de sua saudesejas um 
coração extremamente bondoso, nobre, arna­
vel. Cada vez que descobres numa senhora 
alguma qualidade boa, queres que tambern 
tua mãe a tenha. Ela há de ser o ideal que se 
possa imaginar duma mulher nobilíssima. 
Continuas a pensar: de que família será ela 
descendente? A mais rica, ilustrada que tu 
podes achar, será escolhida. Terá um palá­
cio disponível tão lindo como o mundo nun­
ca viu. Toda a instalação será a melhor, mais 
rica e cômoda possível, e em redor tudo bem 
ajardinado. És inca�savel em fazer descober­
tas do mais esplêndido e belo que a terra 
pode dar. 
Eis o teu sonho que para alguem veio a 
realizar-se; este único é: o filho de Deus. 
Não somente à prudência humana era dado 
excogitar o modo de dotar a mãe, tambem a 
infinita sabedoria divina tinha disponível 
uma eternidade para deliberá-lo. E Deus 
amava sua Mãe! Se juntássemos o amor que 
os homens todos podem ter por suas mães, 
não teríamos ainda assim a medida .do amor 
de Deus para com aquela da qual quis na­
scer. Maria tambem devia tornar-�e grande e 
quanto possível digna dele. Ela devia poder 
exclamar: "Obrou em mim grandes coisas 
aquele que é onipotente, e por isso todas as 
gerações me chamarão bem-aventurada!" 
w 211 
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O que foi que Deus, numa eternidade de 
pensar, achou de dotes magníficos e lindos 
que desse à sua Mãe? Tambem ele lhe deu 
as qualidades mais esplêndidas do espírito e 
do coração. Coisa, porém, que descendente 
algum de Adão e Eva jamais recebeu, ela 
ganhou já no momento da conceição: a graça 
santificante, e por causa dela inúmeras outras 
graças. E o que mais ela recebeu de Deus? 
Daqueles bens terrestres todos, que tu terias 
desejado à tua mãe: nada, absolutamente 
nada. Ela não era rica, nem recebia distin­
ções, nada desses gozos do mundo. Mas por 
que, por que é. que Deus não quis dar-lhe 
nada desses bens'? Ao pensar nisso, deverás 
chegar imediatamente à conclusão: E' im­
possivel que Deus se tenha simplesmente es­
quecido disso; ou então Deus não tem cui­
dado dela tão bem como deveria. Mas, então, 
por que não a deb.:ou partilhar disso? 
Assim como um multimilionário apresen­
tará à filha noiva somente adornos de ouro 
com diamantes e outras jóias e não de ambar 
e vidro, olha, assim Deus dotou sua Mãe so­
mente com aquilo que tem verdadeiro valor, 
com tesouros genuínos, incorruptíveis, mas não 
esses brinquedos terrestres sem valor! Mas, 
então, não teria sido Maria mais feliz e res­
peitada se Deus lhe tivesse dado de acrésci­
mo os bens terrenos? Tão pouco mais feliz, 
como filha de multimilionário que recebesse 
ainda caixas e caixas de jóias falsificadas. 
212 
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Compree_ndes agora em que consiste tam­
bem a tua grandeza e dignidade? Não em 
exterioridades, não em bens terrestres; no teu 
íntimo está tua grandeza, tua riqueza! Prin­
cipalmente na graça santificante, dote único 
com que Deus agraciou sua Mãe quando ela 
começou a existir. 
Nessas condições a bem-aventurada Virgem 
está diante de ti, dizendo: "Filha dos homen�, 
não queiras procurar tua felicidade e gran­
deza nos bens e pràzeres mundanos! Vê, a 
mim Deus escolheu para ser sua Mãe, a rai­
nha do céu e da terra, e entretanto não tirei 
nenhum lucro material!" 
Maria tambem. explica tua tarefa neste 
mundo. Quando o anjo lhe comunicou o pla­
no divino, ela disse: "Eis aqui a escrava do 
Senhor, faça-se em mim segundo a vossa pa­
lavra!" Cumprimento da vontade divina, 
eis seu único programa de vida. E já não se 
importava mais de analisar as exigências de 
Deus. Quer a elevasse a uma dignidade, quer 
a obrigasse a ficar junto da cruz, ela conhece 
um só pensamento básico: Ele é o Senhor, 
ele é quem manda; eu sou sua escrava, eu é 
quem devo obedecer! O contendo da sua vida 
era então cultivar o senti.J.nento maternal e 
a yiver completamente retraída. E ela cum­
priu o dever, alegre e bem generosamente. 
Mas nesta vida retirada ela desenvolvia uma 
atividade que ainda hoje, depois de quasi 
2.000 anos, espalha bênçãos em demonstrar 
precisamente às virgens que ela não tem ou-
213 
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tra m1ssao senão orientá-las, pelo sentimento 
maternal, a fazer o bem segundo a vontade 
de Deus de uma maneira desinteressada, 
pronta a sacrificar-se caridosamente. Tam­
bem agora, elevada a rainha do céu, não co­
nhece incumbência mais agradavcl do que, 
seguindo o impulso do coração, traduzir o 
sentimento maternal praticamente. E é por 
isso que nós a chamamos "saude dos enf er­
mos, refúgio dos pecadores, consoladora dos 
aflitos, auxílio dos cristãos". Aprende dela a 
caridade que se compadece, que é benigna e 
desinteressada, que oferece auxílio e consolo. 
Maria se te apresenta numa forma admira­
bilíssima como MODELO brilhante de purez:l 
virginal. 
Em que ponto está a moralidade dos ho­
mens? Esta pergunta equivale a outra: Como 
se respeita a mulher? Imoralidade é sinôni­
mo de depravação da mulher. Prova disso 
temos na história dos povos e de cada indiví­
duo. Quando Cristo veio, reinava a imorali­
dade mais hedionda. Pois bem, precisamente 
naquela época a situação da mulher era a 
mais desprezivel e ignominiosa possivel e 
imaginavel ! 
Hoje o mesmo quadro. Lá, onde o senti­
mento cristão desaparectu do coração huma­
no, escondem-se, atrás dos modos amigaveis 
e obsequiosos no trato com as mulheres, tan­
tas vezes as tendências mais baixas, mais or­
dinárias. Cada moça que preza a própria 
honra, soltaria um grito de pavor e correria 
214 
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às pressas, se pudesse, em certas ocas10es, 
desvendar o coração dum homem que a tra­
ta coni exquisita polidez. 
Se Cristo veio para elevar a humanidade 
a uma vida digna, então ele tinha primeira­
mente que restituir a dignidade à mulher e 
insinuar aos homens o respeito perante ela. 
Foi por isso que ele apresentou sua mui ben­
dita Mãe como modelo esplendidíssimo de 
uma virgem e mãe. Nela o mundo feminino 
devia conhecer em que consiste a própria 
dignidade. 
Pondera o que nos ensina a fé em relação 
a Maria. Ela foi escolhida por Deus para ser 
sua Mãe. Ele podia formá-la como desejasse. 
Bens terrestres lhe pareciam sem importân­
cia, eram insignificantes demais para ele. Um 
só bem lhe parecia além da graça tão magní­
fico, tão extremamente lindo, que não pou­
paria milagres para proporcioná-lo à sua 
l\:Iãe: pureza imaculada, virgindade ilibada. 
Ela foi concebida sem mancha alguma de 
pecado. Enquanto cada mortal entra no mun­
do com a mancha original, a alma de Maria
surgiu da mão divina do Criador puríssima, 
intata do pecado original. E isso lhe bastou. 
Nunca ela cometeria a mínima falta. Por isso 
recebeu dele graças superabundantes que a 
preservassem de qualquer pecado. Isso ain­
da não lhe bastou. Nunca uma sensação car­
nal, mesmo involuntária, deveria profanar o 
seu santo corpo. Para este fim ele cuidou 
que tal sensação nem se levantasse nela. Pen-
215 
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sarnento feio, ordinário, nenhum incomodou 
jamais a sua alma pura. Mesmo isso ainda 
não lhe bastou. MARIA, ao tornar-se sua Mãe, 
devia não somente ser uma virgem puríssi­
ma, imaculada, mas tambem permanecer tão 
pura e imaculada apesar da· maternicladf' . 
. Por causa disto ele realizou esse milagre 
inaudito: MARIA se fez Mãe e permaneceu 
Virgem intata. Nota bem: o gozo sensual 
parece a muitos homens o que há d€ mais 
belo e apetecivel ncsi:.a terra, a ponto de. sa­
crificarem. os seus tesouros para terem em 
troca prazeres sensuais, não importa se ilí­
citos. 
E Deus, par llll milagre todo especial, pre­
servou MARIA na fase da maternidade de go­
zos sensuais lícitos. Por que isso? Porque eles 
não alcançaram o predicado de suficiente­
mente bons para ela. Quis, finalmente, a 
Providência que tamhem o nascimento do 
Salvador tivesse o mesmo característico de 
virginal como a conceição. Analogamente à 
saida misteriosa do sepulcro na manhã pas­
cal,sem violação da chancela, ele na ocasião 
do parto sai do seio virginal intato. Costu­
mamos rezar: Jesus, quem, Virgo, genuisti. 
Jesus, a quem, ó Virgem, destes à luz. Ma­
ria permaneceu virgem inviolada como o ti­
nha sido antes do dia da anunciação. 
Toda vez que Deus nos quer entusiasmar 
por uma virtude, constuma no-la apresentar 
por intermédio de seus santos duma forma 
que ficamos arrebatados por sua beleza. Nã.o 
216 
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estamos, geralmente, em condições de imi­
tá-la exatamente; devemos, porém, esforçar­
nos a uma imitação que esteja proporciona­
da às nossas forças. Dirás, pois, no nosso 
caso: Quão esplêndida, quão admiravelmente 
bela julga Deus a pureza inviolada, a inte­
gridade do corpo, se ele fez tais milagres uni­
camente para conservú-lu em sua Mãe! 
E agora te pergunto: Podes pôr a vista nes­
ta virgem admiravel que está diante do teu 
espírito circunfusa daquela majestade, ame­
nidade, dignidade e tal pureza que necessa­
riamente encanta o coração humano, sem que 
em. teu coração desperte o deseJo, volte o 
anelo: "Quem me dera ser semelhante a ela, 
nobre e pura?!" És capaz de considerar como 
centenas de milhões de cristãos de qualquer 
época chamam a MAmA de bem-aventurada 
por ter permanecido tão singularmente pura, 
imaculada, sem que teu coração fique preso 
de estima pernnte esta pureza tão encanta­
dora? Sem que te sintas internamente como­
vidíssima de alegria por possuir o mesmo te­
souro que Deus tão extraordinariamente 
aprecia? Poderias, cheia de admiração, pon­
derar o esfo,rço do grande Deus em engastar 
esta pedra preciosa da virgindade intata 
como esplendidíssimo brilhante na coroa ful­
gente de sua Mãe, e em seguida sacudir le­
vianamente no esterco este mesmo tesouro, 
só para gozar um instante de sensualidade'? 
Poderias imaginar a conservação singular­
mente milagrosa deste tesouro da virgine entretanto quão de­
ploravel é o fato de que hoje em dia mais e 
mais aconteça o contrário, apesar de cele­
brarmos, para não dizer "forçarmos", atual­
mente os tais "dias da mãe". Todos os dias 
somos testemunhas do pouco apreço que se 
faz da dignidade e vocação da mulher em 
todas as camadas populares. 
Que importância ainda têm mulher e mãe 
perante a nossa sociedade modernamente 
orientada? A vida exterior, representada com 
frequência terrivel no teatro, cinema, livro e 
reclamo, nos mostra a dignidade feminina 
ridicularizada. Abstraindo mesmo os excessos 
mais crassos de imoralidade, vemos infeliz­
mente, pela experiência, que a mulher é con­
siderada tão somente como um ente sexual, 
ao qual se nega concientemente ou inconcien­
temente todo valor e personalidade. 
Fala-se, é verdade, de vários movimentos 
afim de garantir a todo custo estes valores; 
mas quer me parecer que afinal o mundo 
feminino mesmo tem nas mãos o auxílio mais 
eficaz na resolução cada vez mais firme -
mau grado as aberrações de conceitos e moda 
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- de querer respeitar o ideal feminino, pa­
leo-cristão e ao mesmo tempo arqui-germâ­
nico, e de reconhecer que primeiramente nós
e nós mesmas devemos formar o genuino con­
ceito sobre a dignidade da mulher e sobre as
profissões femininas de responsabilidade.
Não foi nossa própria maioria que correu
atrás das tendências modernas, que não po­
dem combinar com o verdadeiro cristianis­
mo? A mulher de forma alguma poderá fa­
zer questão de ser respeitada pelos outros,
enquanto pelo porte, isto é, pelo modo de se
vestir ou pelas maneiras demasiadamente li­
vres e emancipadas, mostrar que não possue
o respeito de si mesma 1
Não podemos assaz salientar a grave res­
ponsabilidade que a mãe assume, quando 
confia crianças, maxime os filhos, ao mundo, 
sem lhes ter dado antes o exemplo ideal do 
genuino e puro sentimento materno. Então 
não se pode mais estranhar que eles, ao se en­
contrarem com outras mulheres, não saibam 
tratá-las com respeito, fineza e cavalheirismo. 
Não se lhes ensinou o conceito "dignidade" e 
"pureza" femininas, e com isto ficou o campo 
aberto para uma vida de paixões sexuais irre­
freadas. 
Na ;ducação das jovens apresentam-se hoje 
em dia problemas de imensa complicação. O 
enorme excesso de mulheres, estatisticamente 
comprovado, afasta para muitíssimas jovens 
a possibilidade de realizar mai:. tarde sua 
inata vocação como esposa e mãe. Ligada a 
223 
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isto, está sem dúvida esta triste e agitada 
caça ao marido, este "querer casar" custe o 
que custar; ou �ntão a tendência inversa: a 
masculinização da juventude feminina. Oxa­
lá consigah1os espalhar a convicção de que a 
felicidade do lar fica demasiado cara, quan­
do obtida à custa da pureza e dignidade da 
esposa, e que entre solteiras a verdadeira fe­
licidade do coração, e a íntima satisfação fe­
minina só se encontram, onde a mulher guar­
de plena fidelidade à sua especialidade". 
Na "Ética" (1926, pg. 71) escreve S. Pa­
chali, Berlim: "Na luta pela alma do povo 
alemão, no labor do seu soerguimento e da 
renovação moral, dirijo-me em forma de uma 
séria admoestação à mulher alemã, visto ser 
decisiva sua influência no terreno moral, 
como destruidora ou como salvadora .. Quem 
preferir a vida à perdição lembre-se de sua 
responsabilidade, de sua missão auxiliadora. 
Para isto fez-se mister orientarmo-nos sem ro­
deio nas ficções, em que ponto está o mun­
do feminino, na Alemanha de hoje? Durante 
decênios trabalhei a meudo e em regra rio 
serviço de bom pastor, e entretanto aguçou-se 
minha vista pelos perigos e necessidades, pe­
los deveres e programas do sexo feminino, e 
agora tentarei dizer em palavras singelas 
aquilo que me agita ao ver este "hoje". 
A mulher alemã na atualidade - esta pa­
lavra logo provoca um tom de profunda dor, 
pois esta atualidade sabe de muita miséria 
feminina. Trata-se aquí de males que bra-
224 
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dam ao céu, e entretanto são apenas um éa"'" 
pítulo do triste conexo entre as condições 
atuais e a miséria interna e moral da mu­
lher; a miséria das prostitutas, que afinal 
ainda são nossas irmãs; a miséria das mui­
tas pobres moças que caem vitimadas pela 
concupiscência masculina, visto não poderem 
sustentar a vida por uma profissão honesta; 
a miséria daquelas que se consideram tão 
desnecessárias; a miséria daquelas que no de­
sespero se ofendem com o próprio Deus e 
a ordem moral, e que põem termo à pró­
pria existência ou então acabam os seus dias 
na casa dos mentecaptos. Eis a miséria femi­
nina em nossos dias, rascunhadas em poucos 
traços. Mais sério, porém, é o segundo tom 
que soa: "a culpa feminina". 
Disse uma vez ulguem a frase dura, mas 
bem verdadeira: "se a moralidade dum povo 
é precária, vem do descuido das mulheres". 
Outra vez perguntamos com circunspeção 
clara e sóbria: "Onde está a culpa da mu­
lher alemã a respeito da decadência moral?" 
No nosso caso não basta o intento de julgar 
simplesmente as respetivas culpadas e deno­
miná-las membros condenados, caídos, cor­
rompidos do sexo feminino; é preciso per­
guntar-lhes tambem como chegaram a esse 
ponto. E' devido - para começarmos com o 
capítulo mais sombrio - ao supremo distin­
tivo da mulher, isto é, a sua nobreza e digni­
dade, que a mulher, caso desdenhe esta fi­
dalguia, cai mais depressa e mais fundo que 
Tu e ele - 16 225 
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o homem. Basta, citemos: "Muitos dos Hvros
mais perigosos são escritos precisamente por
mulheres, e a influência perniciosa duma
mulher sedutora, que já se esqueceu da sua
dignidade, quer sobre jovens, quer sobre ó
homem em geral, encontra ilustração por não
poucos 'exemplos tristes. Por isso não é exa­
gero quando uma senhora alemã que ama
seu povo com fidelidade ardente assim se
expande com o coração sangrando: ''Tanta
avidez de gozar". A leviandade e superficia­
lidade, tanto a respeito da moral relaxada da
vida conjugal, como hoje se encontra nos cír­
culos mais extensos do mundo feminino, não
permite mais que estranhemos a existência
entre nós de graves estragos morais. Quantas
mulheres, p. ex., entre nós que "sem pensar
coisa alguma" imitam a moda dum vestido
que por seu defeituoso encobrir acaba natu­
ralmente com toda a decência, excitando e
incitando à lascívia.
Mas, afinal, elas o fazem, como já ficou 
dito acima, "sem pensar em nada" - e é 
aqui que devo falar do último capítulo da cul­
pa cheio da mais grave responsabilidade. Tra­
ta-se do terrivel indiferentismo de inúmeras 
mulheres para com a miséria do próprio 
povo, e a saber: a núséria moral. Não que­
rem absolutamente ouvir falar sobre assunto 
tão sombrio como as questões sexuais os in-
digitam. 
Mas o que ficou dito sobre miséria da mu­
lher e sobre culpa da mulher é apenas maté-
226 
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ria preparatória para o terceiro tom: Missão
da mulher! Num romance que ilustra muito 
seriamente a situação moral, diz um escritor 
mais recente: "A Alemanha adoeceu devido à 
mulher, e ela reconvalescerá sómente se pu­
der novamente purificar-se, robustecer-se e 
engrandecer-se pela mulher alemã". O ho­
mem que tem a dita de aproximar-se· amoro­
samente duma mulher pura, terá a impres­
são de se ter aproximado dalguma coisa san­
ta que não se toca com mãos e coração im­
puros. 
Missão feminina na miséria da atualidade! 
Precisamos para o nosso povo de mulheres 
que sejam mães, mães primeiramente no sen­
tido de que elas o considerem não como de­
ver de escravas, mas como suma dignidade e 
consagração conferida por Deus à mulher, 
dar vida a uma criancinha, educá-la com todo 
o cuidado física e moralmente. Mães para os
adolescentes, precisamente naquela fase da
evolução, em que tudo fermenta e se agita
na jovem alma, e a criança se transforma
em homem adulto. Que as mães dêem ao povo
alemão uma educação para a simplicidade
e parcimônia, para o gosto do trabalho e oseu in­
Leress� por estas questões? A esta pergunta 
responderei assim como a compreendo A 
causa destas objeções, (é que ainda não se 
reparou na sua atividade, porque ela não se 
patenteia de um modo manifesto), não se 
encontra na atitude da mulher, mas no modo 
de apreciá-la. Em todas as ocasiões, aplicam­
se sempre as medidas do homem e rarame:Q.­
te as da mulher. Mas o maior culp�do não é 
o homem, pois que nós mesmas já nos habi­
tua:rp.os a apreciar os nossos próprios traba­
lhos por esse mesmo prisma, e depois nos
mostramos desiludidas, se eles não são con­
siderados iguais aos do homem. Deus criou
o homem, como homem e mulher, para que
reproduzissem com perfeição a sua imagem
e semelhança.
Somente a colaboração de ambos na sua 
heterogênea e inalteravel diferença produz a 
cópia da plenitude divina. . . Acho que na 
nossa associação (Quickborn) ainda não for­
mamos o campo que garanta à mulher a pos­
sibilidade de atividades caracteristicamente 
femininas. 
São exatamente os homens que na nossa 
associação querem conceder à mulher as oca­
siões necessárias para seu livre desenvolvi­
mento, que fazem muitas vezes a comparação 
25 
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entre a sua atividade e a do homem, e de seu 
respetivo resultado. Não.é possivel fazer uma 
comparação a respeito do valor, porque a 
desigualdade natural dos seres e dos produ­
tos não a admite ... 
Devemos olhar e escutar o outro como um 
ser heterogêneo, que se revela ao nosso pró­
prio ser como uma coisa inteiramente nova. 
A situação, vista deste ângulo, fará desapare­
cer na mulher esta dolorosa contingência de 
precisar manifestar sua vida e seu pensamen­
to pelo modo masculino, e talvez um belo dia 
ele descubra que a mulher o admira, mas ele 
mesmo falhou na capacidade de observar 
isto. 
As mulheres em geral gostam mais das 
ocupações tranquilas e silenciosas, e perdem­
se facilrilente nas coisas grandes. Por isso nas 
reuniões o homem tem a precedência, por­
que recebeu o dom da objetividade no modo 
de propor e resolver os problemas; em média 
ela não o pode fazer; porque no mesmo ins­
tant� em que pensa sobre uma questão, vê e 
sente aquele que a ouve ou que fala sobre ela. 
'Mas, mesmo que os pensamentos a animem a 
falar, não pode expressá-los perante um au­
•ditório numeroso, porque sente demasiada­
mente as pessoas em particular. Se, contudo, 
fala, perde-se em generalidades e incoerên­
cias. Ela só pode falar em um ambiente me­
nor, ou conversando de pessoa a pessoa. 
Diversas vezes fiz a experiência de que, du­
rante a reunião, um rapaz num� çontrovér"' 
26 
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sia repetira tudo que momentos antes ouvira 
duma moça, em particular. Nessa ocasião 
realizou-se uma lei da natureza: o quadro 
mais simples do trabalho em comum que se 
dá no matrimônio, em que o homem do ser 
e das forças originais da mulher cria às ve­
zes as obras da vida". 
De propósito referimos tão minuciosamente 
estas idéas, porque elas confirmam as ques­
tões acima propostas sobre a mentalidade fe­
minina. Aquí fala uma mulher perfeita, que 
conhece a sua fraqueza e a sua força, que 
corajosamente confessa que o homem lhe é 
superior em muitas coisas, e que sabe tam­
bem que ela pode dar imensamente muito 
do que lhe falta. 
Um homem como \Vindhorst diz que sua 
esposa exerceu grande influência sobre tudo 
o que ele fez e conseguiu realizar.
Bismarck tambem declara que deve à sua
esposa o que ele veio a ser. 
No que acima dissemos não nos devemos 
esquecer de que a mulher desenvolve no lar 
a sua· clarividência, no preparo da atividade 
da familia, mas de tal forma que nunca se 
evidencia. Como conselh�ira do homem e 
mais ainda como educadora dos filhos, o va­
lor moral da atividade feminina pode ser 
muito superior ao trabalho dele, ainda que os 
de fora não o percebam. 
Se pudéssemos colocá-los numa balança, 
seria ainda muito duvidoso a quem caberia a 
predominância. Se ele, portanto, a despre-
27 
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zasse por encontrar em sua própria pessoa 
qualidad�s que faltam a"ela, isto seria o ar­
gumento de que lhe faltou a verdadeira com­
preensão das suas qualidades espirituais. Não 
menos imprudente seria uma moça que se 
envergonhasse do seu característico particu­
lar, e negando o pormenor quisesse imitar 
os modos masculinos; ela desistiria do melhor 
que e.la tem, sem conseguir o seu equivalente. 
Ainda, portanto, que a atividade feminina 
correspondente à sua disposição seja total­
mente diversa da do homem, nem por isso é 
de menor valor, pois ao lado do seu trabalho 
pode até ultrapassá-lo. A atividade dele ma­
nifesta-se com mais veemência, mas não seria 
acertado apreciar o seu valor somente sob 
este ponto de vista. Esta falsa apreciação da 
parte exterior do trabalho provoca em geral 
a expressão: "é somente uma moça. . . uma 
mulher! ... " Deste modo pode pensar so­
mente quem tenha absoluta falta de com­
preensão das inapreciaveis e indispensaveis 
qualidades femininas, e que julga pelas apa­
rências. 
Da maneira mais linda e significativa sa­
lienta-se a importância característica da sua 
atividade no matrimônio, em que ela con­
serva a vida criada pelo homem, a alimenta, 
desenvolve e protege; igualmente providen­
cia assim na vida em geral. 
Que sucederia a inúmeras obras dos ho­
mens, se as mulheres não tornassem conta de­
las, as protegessem, desenvolvessem e con-
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servassem? A atividade da professora, da di­
retora de jardiminteresse no lar, então haverá de novo a pos­
sibilidade de aumentar os contratos matri­
moniais.
Nobilíssima missão das mulheres! serem 
guard:;ls da disciplina e dos bons costumes, 
de pureza e castidade. Repito de novo: nosso 
povo é capaz de reconvalescer moralmente 
ir 227 
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por intermédio da mulher pura! Combato 
tudo que é impuro e feio, a literatura baixa 
e imunda, a pornografia e a pornogravura, a 
moda indecente, a prosa lasciva; combato em 
prol da pureza da vida familiar, e da santif i­
cação do matrimônio - e nota-bene: a ·arma 
essencial deste combate é o próprio exem­
plo, até mesmo a simples existência de mu­
lheres puras, fortes, castas. Reconheçam a 
grande, a grave responsabilidade de acompa­
nhar a moda atôa e vulgar. E finalmente: 
que as mulheres alemãs se tornem sacerdoti­
sas que levantam a voz para protestar contra 
as influências fatalmente prejudiciais, bem 
como para admoestar, precaver, exigir em 
tudo que diz respeito à moralidade. Que a 
mulher tire proveito dos direitos que a atua­
lidade lhe subministrou, afim de que os faça 
valer na vida eclesiástica, municipal, social e 
governamental. 
E agora a conclusão! Dois quadros vejo 
diante de mim, concernentes ao futuro de 
nosso povo - e um deles há realizar-se, 
não de modo espontâneo, mas por nosso in­
termédio. 
O primeiro representa - DESTRUIÇÃO -
mostra uma Alemanha moralmente perversa, 
que ignora o que seja família pura, matrimô­
nio santo, uma Alemanha vitimada pela devas­
sidão, doença venérea, redução de nascimentos 
e mania de gozo irrefreado. 
O outro quadro, porém, representa - VIDA 
- mostra uma Alemanha que, apesar de exte-
228 
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riormente pobre, é fortalecida pela disciplina, 
temperança, simplicidade e parcimônia, cora­
gem e pureza moral! 
Não seria uma idéa sublime, magnífica, se se 
pudesse dizer um belo dia: a Alemanha estava 
em perigo de sofrer dano nalma, na energia 
popular, surgiram então no cenário as mulhe­
res alemãs, uma coorte coesa, cheia de santo 
brio guerreiro, e a elas é que a pátria deve o 
progresso na disciplina, na moralidade, no vi­
gor e na saude!" 
As explanações agora mesmo citadas são 
tanto mais louvaveis porque se encontram 
numa revista que não tem orientação católica, 
e que encara a questão meramente sob o ponto 
de vista natural e patriótico. Para católicos, 
isso tudo tem um valor mais elevado, por se 
tratar da vontade de Deus! 
E se agora pergunto: "E TU?" isso signifi­
ca: terás que decidir tua atitude para com a 
missão que Deus te impõe. Não há recuar. 
Caso avançares sem te importar com a sua san­
ta vontade, isto equivaleria a agires contra ele. 
Estarias assim vivendo contra o mandamento 
divino, e não poderias mais confessar-te va­
lidamente, nem comungar dignamente, a não 
ser que resolvas curvar-te daqui em diante pe­
rante sua santa vontade. Não tens direito de 
fazer restrições a Deus e de declarar-lhe que 
não se intrometa em negócios inteiramente 
teus. Não há terreno em que ele não seja o So­
berano! 
229 
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Mas poderei tranquilamente supor que estas 
exposições fizeram nascer em ti ou solidificar­
se tua resolução de tudo fazer, ( tua própria 
dignidade, tua própria felicidade o exigem 
tambem) para tornar-te mulher às direitas, 
nobre, completa, e não uma paródia, ou uma 
figura deploravel ! 
Bem conheces a proposição: "O caminho 
para o inferno está coberto de bons propósi­
tos". Se contares as pedras que vão da tua 
casa até à igreja, saberás quantos bons propó­
sitos se fazem, e quantos não se realizam! Todo 
aquele que quiser ficar fiel a algum propósito, 
imediatamente depois de o ter feito, deverá 
pensar: que farei para executá-lo? E' o que 
tantas vezes se omite, impedindo assim a reali­
zação de tantos propósitos bons. Há outras que 
facilmente se entusiasmam por alguma resolu­
ção, mas apenas vêm as dificuldades, lhes foge 
a coragem imediatamente! Se a tua resolução 
for séria, deves estar disposta a envidar tudo, 
não recuar diante de nenhum• sacrifício, não 
horrorizat-te com nenhuma dificuldade, para 
torná-lo realidade. A resolução não é tudo. Não 
podemos de uma vez .para sempre fixar a nos­
sa vontade. Em milhares e milhares de oca­
siões, é preciso concretizar o propósito, e em 
cada uma, a vontade deve estar obrigada a se 
decidir de novo. Espera-te uma luta que pode 
durar um ano, um decênio, talvez a vida toda! 
O apetite será incansavel em conciliar a tua 
vontade. Após centenas e milhares dê recusas, 
ainda não abandonará a esperança de chegar 
230 
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ao fim cubiçado. Ele te diz que deves ceder por 
amor da tua felicidade. E' mestre em cair nas 
boas graças, em fazer-te a boca doce, em apro­
veitar qualquer ocasião que surgir, para lem­
brar os seus anelos, ou utilizar qualquer con­
cessão da tua parte para prevalecer totalmen­
te. Serve-se de todos os teus sentidos para 
conquistar a tua imaginação e por meio dela 
iludir-te a vontade. Dispõe de um exército 
de aliados que te cercam o coração e com 
fraude e força nele querem penetrar: livros, 
imagen.s, revistas, cinemas, teatros, varieda­
des, etc. Mosh·a-te o exemplo das outras para 
obter o teu consentimento. Chama o alcool 
para anuviar-te o espírito e açoitar a paixão, 
para que, despojada do domínio de ti mesma, 
sucumbas. Zombarias e troças de pessoas le­
vianas que estão ao seu serviço, não visam 
senão fazer-te vacilar, pareceres de médicos 
sem escrúpulo não visam senão convencer-te 
que é impossível, desnatural, prejudicial à 
saude renunciares a tudo. O pecado se apro­
xima de ti sob as aparências de amor e de 
prazer. Nem precisas procurá-lo, pois ele se 
oferece mesmo; basta que digas sim sem te 
opôr. Talvez te encontras sózinha no meio do 
mundo corrupto, que não conhece ideal mais 
alto do que o prazer sensual, e que te con­
vida a não recusar os prazeres mais belos, 
mas a gozar a vida porque só uma vez se é 
moça! · 
E' uma luta titânica, uma verdadeira guer­
ra geral de todos contra ti. Corrío vencerás? E' 
231 
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só não desanimar! Se outras venceram, tam­
bem tu sairás vencedora, contanto que tenhas 
a vontade e a força de empregar sempre os 
meios que garantam a vitória! 
A tua resolução de conservar-te casta deve 
fundamentar-se em primeiro lugar numa con­
cepção da vida inteiramente cristã: As verda­
des da nossa fé devem não apenas estar depo­
sitadas no recôndito de tua memória, de modo 
a poderes tirá-las oportunamente. Deverão 
dominar por completo o teu espírito, todo teu 
pensar e querer, a ponto de ficar tudo im­
pregnado com elas. 
Deves inteiramente estar possuída da con­
vicção de que não te encontras neste mundo 
para gozar, para desfrutar o maior número 
possivel de prazeres, mas para glorificar a 
Deus, pelo reconhecimento da sua soberania. 
"Santificado seja o vosso nome/" "Não se faça 
a minha vontade, mas a vossa!" E' mais iln­
portante, e o único necessário que nesta terra 
deves realizar. Pois é o próprio filn, por amor 
do qual Deus criou o mundo. Todo o resto, 
por grande, grave e importante, que possa 
parecer, em comparação com ele é secundá­
rio. Quem não cumprir esta tarefa principal, 
está destituido de valor diante de Deus, seja 
quem for. A esse tal se aplicará sem conside­
ração: "Afasta-te de MIM!", ao passo que 
àquelas que glorificam a Deus sobre a terra 
espera inefavel e eterna bem-aventw-ança. 
Deus, teu Criador e juiz, é teu legislador 
sem restrição. A ele pertence o mandar; a 
232 
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ti, o obedecer. Não é, certamente, tirano 
cruel, com vontade de engrandecer e tornar­
se f(diz à tua custa. Nada pode ganhar con­
tigo, só podendo fazer-te participar do que 
já possue. E não vedou senão o que te é 
prejudicial. Não exige senão o que te serve 
de bem a ti e à humanidade. Perante Deus 
só há uma posição a tomar: reconhecer in­
condicionalmentea sua soberania pela com­
pleta sujeição à sua santa lei. 
Tão pouco esquecerás a origem do pri­
meiro pecado. "Por que vos mandou Deus 
que não comesseis do fruto daquela árvore 
do paraisa?". segredou o tentador aos ouvidos 
de Eva. "Por qu� ?"; e este "por que" a enga­
nou, e engana ainda hoje a muitas ... Mas a 
perspetiva: "Sereis como Deus, conhecendo 
o bem e o mal", isto é, "Sereis autônomos e
direis por vós o que é lícito ou não. Não vos
deixeis fazer prescrições, deixisi vociferarem
Deus e a lgrej a, uma vez que nada disso en­
tendem; fazei o que vos parece bem e não
vos deixeis influenciar por outros". A expe­
riência de milênios não logrou ensinar os ho­
mens, e sempre de novo se deixam iludir
pela mesma tentação, cujas consequências pe­
sam sobre a humanidade inteira.
Diante da vontade de Deus claramente co­
nhecida não cabe ao homem discutir o "Por 
que?", e muito menos colocar-se em oposição 
à sua santa lei. Viste, além disso - e era o 
que visavam as nossas exposições - que Deus 
não deu a lei arbitrariamente, mas, sim, por-
Tu• ele -18 233 
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que tem íntrmo fundamento no nosso pró­
prio bem-estar. 
Acima de tudo, temos diante dos olhos o 
exemplo do divino Salvador, mostrando-nos 
a que ponto devemos ir no cumprimento do 
nosso dever para com Deus. Olha a sua vida , 
e a sua paixão! 'tudo está baseado na entre­
ga incondicional ao. Pai, até ao momento da 
morte, em que diz: '"Está consumado!" Como 
homem Deus, não conheceu nada mais im­
portante do que fazer a vontade do Pai, até 
nas menores particularidades. A sua morte 
de cruz não é somente o fato mais horren­
do, que jamais aconteceu, mas tambem o 
mais glorioso: a confissão mais grandiosa da 
soberania de Deus, pelo sacrifício da entrega 
perfeita à vontade do Pai por parte do Filho. 
O Gólgota é o auge da glorifiéação divina e 
não pode ser excedida. E esse sacrifício dia­
riamente se renova nas nossas igrejas, sím­
bolo e aviso de que tamhem nós temos o in­
declinavel dever de glorificar a Deus pelo sa� 
crifício da sujeição à sua vontade. 
Do céu nos ac·ena a turba bem-aventurada 
dos santos. Foram homens como nós, homens 
dotados de sensibilidade, que gemeram por 
sua vez sob o jugo da tentação da carne, e 
que tantas vezes - lembra-te dos márUres 
- estiveram na necessidade de reconhecer a
soberania de Deus com os maiores sacrifí­
cios. Que mal lhes tem causado a eles o terem
perdido seus haveres e. suas famílias, e o pe­
recer do corpo após atrozes tormentos? "Sunt
234 
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in pace;,, diz belamente a Escritura. Desfru­
tam há mais de um milênio bem-aventuran­
ças inefaveis, bendizendo o martírio que lhes 
mereceu tão grande brilho e vitória. 
Não são frases, mas realidades. Mas é pre­
ciso cómpreendê-=-las, vivê-las. Essas verdades 
devem compenetrar toda a nossa mentalida­
de, de modo a caminharmos sob a luz que 
projetam. Mas sobretudo devem servir-nos de 
norma na posição a tomar em relação à ques­
tão sexual. Uma parte do nosso dever de nos 
sujeitarll).os à majestade divina se encontra 
neste domínio. Só podemos ceder à inclinação 
sexual enquanto corresponde à vontade di­
vina. Mas não é lícito ao homem procurar o 
que lhe lisonjeia os sentidos em oposiçãp ao 
santo mandamento de Deus. 
Originando-se nesta convicção, e só então, 
a resolução de levar uma vida pura, será 
bastante vigorosa para vencer todas as difi­
culdades que a procuram abalar. 
Um segundo fator, todavia, é indispensa­
vel. Há situações, em que as impressões dos 
sentidos· ou certos conhecimentos atuam tão 
violentamente sobre o espírito, que eliminam 
quaisquer outros pensame�tos, reclamando 
to9a a atenção· para si. Na luta pela castida­
de; o prazer dos sentidos tem a vantagem de 
poder apresentar os seus motivos de um 
modo mais palpavel e de dar resultados mais 
sensíveis. Com as sensações poderosíssimas, o 
organismo está em condições de exercer so­
bre o epírito uma influência tão forte, de es-
235 
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torvar as reflexões calmas da razão a tal 
ponto e de dirigir a vontade de tal maneira 
que a queda se torna quasi fatal. Geralmen­
te estamos na contingência ou de procurar 
evitar tais situações, ou de permanecer nelas 
ou não. As influências da situação livremen­
te escolhida não nos podemos subtrair. Por 
isso é lei absoluta evitar tais ocasiões capa­
zes de atuar poderosamente sobre os desejos 
sexuais. Vou resumindo o que a respeito já 
ficou dito nos diversos trechos, 
Pode tratar-se, antes do mais, de influên­
cias cuja natureza envenena completamente 
as tuas idéas sobre o matrimônio e a casti­
dade. Pois a vontade segue o entendimento, e 
a atividade do homem não é senão o resulta­
do das suas opiniões. Querendo, portanto, 
conservar a castidade, não permitirás que 
sej arn roubados os teus pensamentos altos e 
nobres; roubo que facilmente poderia acon­
tecer se gostosamente ouvires discursos levia­
nos, leres livros lúbricos ou imorais, vires fil­
mes cinematográficos imorais ou exibições 
congêneres. Arrancam do coração o respeito 
ao matrimônio, a estima à mulher, o amor à
castidade, exibindu o prazer sensual como 
gozo supremo da vida. O pecado é apresenta­
do como coisa muito natural, o escârneo cai 
sobre a fidelidade e a continência, homens 
puros são entregues ao riso e à troça como 
hipócritas ou retrógrados. E' impossível viver 
conciente e deliberadamente em tal mundo 
236 
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de idéas, sem que estas se apoderem do co­
ração. 
Estas ocasiões atuam ao mesmo tempo forte­
mente sobre os apetites inferiores, porque os 
pensamentos lêm íntima conexão com os ner­
vos sexuais, provocando-os tão poderosamente 
que entram num estado de tensão que com 
toda a veemência impele à satisfação desses 
apetites. Apresentando-se a ocasião, a queda se 
realiza. 
Sobre a dansa já dissemos bastante na pg. 
147 e seg. Ainda uma palavrinha sobre o al­
cool. Um psicólogo ateu de nossos dias escre­
ve: "O homem que na vida ordinária resiste às 
seduções do prazer sensual em virtude de cer­
tos impedimentos (quais os que provêm de 
pensamentos e princípios elevados) torna-se 
exatamente vítima dessas provocações quando 
venenos químicos (álcool) afastam os impedi­
mentos, abrindo caminho à atividade das ten­
dências sexuais". O efeito principal do álcool 
é precisamente um certo entorpecimento das 
faculdades mais altas do espírito, de modo a 
se tornarem insensiveis às coisas sublimes e 
sagradas, ao passo que as sensações do prazer 
acham maior provocação. 
Trata-se de fugir antes de tudo quando em 
alguma parte se te apresentar a ocasião do 
pecado. A sensualidade tem milhares de ca­
minhos para se insinuar, e quem fôr mesmo 
um pouco só descuidado, já está mais perto 
do que pensa. Voga aí tambem o dito poético: 
"os que acordarem o leão, em perigo estarão". 
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Por princípio e incondicionalmente, deves evi­
tar todas as intimidades, senão se verificará a 
palavra: "Meio fascinado, meio acometido". 
Só uma energia inexoravel te conservará pura 
e intata; essa energia que o Salvador nos ensi­
na: "Se o teu olho direito te escandalizar (isto 
é, se for ocasião para pecares) arranca-o e 
lança-o fora de ti!" - Deves estar resolvida a 
evitar tudo que desnecessariamente possa des­
pertar a tendência natural. 
Resolvida a permanecer casta, não verás 
nessas prescrições de cautela um duro dever, 
uma dolorosa renúncia: mas de bom grado 
renunciarás a estes agradabilíssimos praze­
res da natureza inferior, por amor do subli­
me ideal, porque não há possibilidade de 
união entre eles. Pretendes uma felicidade 
sem remorsos 1 
Desviar a atenção é complemento precioso 
das medidas de precaução. Um dos profissio­
nais mais; eminentes - ele não defende o 
ponto de vista cristão - diz: "uma ocupação 
séria e contínua, aliada ao afastamento de 
todos os meios de provocação, conserva ge­
ralmente o apetite sexual dentrodos limites 
justos". E acrescenta que nada o provoca mais 
do que os desejos dos p·razeres que ordinaria­
mente se encontram em companhia de 
uma vida preguiçosa e de excessos. "E' pala­
vra antiga e sempre verdadeira que o espírito 
humano é semelhante "a um moinho continua­
mente am atividade. Não se providenciando 
que sempre tenha trigo a moer, vem o ini-
238 
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·migo e deita erva ruim. O espírito juvenil é
extraordinariamente movel. Sempre está a
refletir, a projetar, e a aspirar. À semelhança
do organismo crescente amplia-se, distende­
se e procura alvos dignos das suas aspira­
ções. Por isso deves conceber ideais altos que
prendam o teu espírito, a tua atenção a ponto
de já não restar tempo nem espaço para ou­
tros.
Por -esta razão significa um verdadeiro be­
nefício para o corpo e a alma ter um cam­
po de atividade e expansão, e desgraça, o
estar desocupada. Não podes deixar de lucrar
com um trabalho sério e conciencioso. Antei:­
de tudo, ele fortifica a energia moral, e te
confere fortaleza, pac1encia e confiança.
Quem olha o trabalho apenas como fonte de
renda, que permite -desperdícios indignos,
para essa o trabalho é jugo opres.sor, origem
de descontentamento e invejas. Se vires, po­
-rém, nele a vontade de Deus, o trabalho mais
pesado se te tornará facil, e te rodeará de
uma coroa de ouro· o sacrifício que fizeres
por teus pais, teus irmãos, tua futura famí­
lia, e pelo ideal da tua vida.
Ao lado do trabalho, n�o deves descuidar o
teu aperfeiçoamento na tua profissão ou em
· outros ramos. Um bom recreio num despor­
to moderado, em passeios, etc., retempera o
corpo e a alma. O tal dia de oito horas só se
torna fonte de bênçãos para a mocidade, se
ela aproveitar as horas 11.vres, assim utilmen­
te, e não matá-las com vadiação, fumar ci-
239 
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garras, visitas, cinema5. Moças que não co-'­
nhecem ideal acima do prazer, desviam-se 
breve para o lodaçal da imoralidade. 
Em terceiro lugar se requer, para a con­
servação da pureza do coração, o vencer-se a 
jovem a si mesma. A vida é uma luta contí­
nua, em que se decide a quem há de caber 
em ti o predomínio: Se ao espírito, se à car­
ne. A natureza inferior é um monstro de 
muitas cabeças. Agora se levanta esta, depois 
aquela, ou ainda outra, para prevalecer. Ago­
ra é a preguiça, a comodidade, depois a in­
subordinação, a teimosia, depois o amor pró­
prio, o egoísmo, a susceptibilidade, o orgulho, 
o espírito de contradição, outras vezes a sen­
sualidade, a gula, ou· falta de sinceridade e
espírito de mentira, e todos os mais defeitos
que apresentam ao espírito as suas vontades,
exigindo pronta satisfação. Quem lhes cede,
torna-se sua escrava. Sempre a resposta: Não
tenho vontade para isso. Isso não me agra­
da. Não estou disposta para isso. A nature­
za inferior triunfa, o espírito é feito escravo.
Vencer-se é hoje em dia urna coisa bem di­
ficil, porque o espírito mundano alheio a
Deus e à moral facilita em tudo a satisfação
da natureza inferior, vem adulando, e até
afirma não haver coisa mais importante e
desejavel, que inteiramente conforme ao pró­
prio arbítrio, arruma a vida de sorte que per.,.
mita os máximos cômodos e os maiores go­
zos. E' preciso ser corajosa, direi mesmo he-:
róica, para resistires externa e internam�nte
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ff todas as seduções, e - apesar do exemp°Jo 
daquelas inúmeras cujo supremo ideal é con­
sumar os prazeres da vida - permaneceres 
no bom caminho, renunciares a tanto que a 
natureza inferior reclama ardentemente, dis­
pensares vários divertimentos qµe outras não 
dispensam, e além disso correres perigo, que 
o mundo leviano por isso zombe e se ria de ti.
Que fazer? Recordarmo-nos de novo e bem
cl�ramente: que a estrada LARGA do prazer 
mundano continua ainda hoje interdita aos 
que querem cumprir seus deveres para com 
Deus e salvar sua alma, que no fim da mesma 
se abre grande portão, e que está perdida 
para sempre toda aquela que passar por ele. 
Fato irremediavel, apesar do progresso, das 
descobertas e invenções. Ainda hoje vale a 
palavra do divino Salvador, e valerá até ao 
fim do mundo: "Se alguem quer vir após 
mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz 
 o seu socorro. Devesmostrar aos 
celícolas. que a tua pureza muito te preocupa. 
Na santa comunhão encontrarás a fonte mais 
abundante de graças. Pergunta a sacerdotes e 
religiosos donde receberam a força de resistir 
uma vida inteira a todos os desejos da sensua­
.lidade, e eles mostrar-te-ão o altar, a mesa· da 
comunhão. A experiência ensina não haver 
meio mais eficaz para conservar a pureza do 
que o pão que desceu do céu. Inúmeros são os 
que lhe conheceram os efeitos verdadeira­
mente milagrosos. Frequentemente as tenta­
ções não se apresentam durante longo tempo, 
ou são vencidas com facilidade. 
As armas com que poderás vencer são estas: 
O arnez da fé, a couraça da vigilância, o escu­
do da disciplina, o gládio da oração. Toman­
do-as, vencerás, sobretudo se lutares sob a 
bandeira liríf era da Rainha dos céus. 
, Terminar.emos com as palavras da magnifi­
ca pastoral dos srs. bispos alemães do ano de
1908, quando apelaram às virgens de comba­
ter contra a imoralidade: 
"A vós, virgens, como a heroinas desejamos 
ver incorporadas ao nosso exército guerreiro. 
Realmente é intodas as qualidádes que a distingui­
rão, quando for mãe fiel e cuidadosa. Ache­
ga-se de bom grado ao pai, para o qual olha 
com veneração e de todos os modos procura 
alegrá-lo. 
Depois, com sábia providência o Criador 
.iotou o homem de forte impulso, ou, por ou-
30 
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tras palavras, de tendência sexual. Seria er­
rôneo considerar este impulso apenas como 
simples tendência, que se diferencia de um 
homem a outro unicamente por uma maior 
ou menor impetuosidade. O simples fato de 
abranger o corpo e. espírito indica a possibi­
lidade de ser considerado sob vários aspetos. 
Apontando com um psicólogo moderno tres 
elementos componentes da tendência sexual, 
deixamos posto o problema se sobre tal f un­
damento ela possa ser triplamente dividida. 
Ac�itamos tal divisão, porque nos oferece en­
sejo de ·explicarmos muitas coisas de uma 
maneira extraordinariamente clara e efi­
ciente. Os tres elementos, que em graus di­
versos se encontram nos indivíduos, denomi­
nam-se:. 1) Tendência natural inerente ao or­
ganismo, isto é, o elemento corporal da ten­
dência sexual, que visa unicamente a satis­
fação do prazer dos sentidos; 2) Tendência 
da alma, isto é, o desejo de amar e ser ama­
da; 3) Tendência da propagação, ou o desejo 
de ter filhos. 
Da tarefa que incumbe ao homem na vida 
matrimonial segue-se que nele a tendência 
natural está fortemente desenvolvida, ao pas­
so que cala completamente na moça normal 
ainda não pervertida. A ela falta geralmente 
urna certa compreensão do que frequente­
mente excita apaixonadamente o moço, sem 
nada suspeitar do quanto pode o seu impulso 
inferior. Certamente, tarnbem nela é passivei 
despertar de tal modo a tendência natural até 
31 
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chegar â formidavel impetuosidade. Notaveis 
autoridades nesta matéria afirmam, contudo, 
que este despertar provém sempre de fato.., 
res externos, como são leituras, conversas, CÍ"' 
nemas, seduções, etc., a não ser que haja pre"' 
disposição anormal. 
Por outro lado, a tendência da alma é muito 
mais poderosa na mulher do que no homem. 
E' inteiramente normal que a moça, per­
feitamente côncia da fraqueza da natureza 
feminina, procure um homem corajoso, vigo­
roso, empreendedor e superior a ela intele­
ctualmente, para chegar-se a ele, para levan­
tar para ele os seus olhos e sentir"'se segura 
sob sua tutela. Antes de tudo, trata-se para 
ela de ser amada pelo homem como com­
panheira igual e ser tratada por ele como tal. 
Essa tendência da alma, porém, encontra­
se tambem no homem, e tanto mais inten­
samente se fará sentir, quanto melhor o moço 
souber dominar a tendência natural. Ainda 
tem valor a palavra de Deus: "Não é bom ao 
homem estar só; façamos-lhe uma compa:.. 
nheira". O homem adulto e nobre começa a 
sentir um vácuo na sua vida. Deseja a com­
panheira que com o seu ser calmo, bondoso, 
luminoso e alegre possa embelezar-lhe a 
vida, que do íntimo da alma tome parte nos 
seus interesses, o alivie e console no duro la­
bor e nos reveses da vida, que lhe torne o lar 
atraente e agradavel. Facilita-lhe e as atividades da alma. Assim como 
aa tempestades no fim do inverno anunciam 
o princípio da primavera, assim se faz sentir
na puberdade a tendência sexual. As disposi­
ções da alma mudam repentinamente: o mati
e o bom humor se revezam sem cessar. A jo­
vem sente-se dominada por um desejo vago e
incerto, que não saberiaexplicar. Ela é um
eniillla para si própria.
Realizando-se o desenvolvimento de uma 
maneira normal, o que supõe antes de mais 
uma ocupação regular, séria, capaz de pren­
dê-la inteiramente, o seu interior se esclare­
ce pouco a pouco, e em vez do desejo vago 
aparece a tendência sexual; essa se manifes­
ta com força diferente nas diversas pessoas. 
Muitas andam tão preocupadas com os seus 
trabalhos, que mal percebem o que se passa 
na sua vida interior. Outras sentem um certo 
desco.µtentamento intimo, sem perceber bem 
a sua causa mais profunda. Várias circuns­
tâncias poderão despertar as agitaçõei do 
jovem coração. 
Circunstâncias diversíssimas poderão nesta 
ai tura ocasionar no coração de uma pessoa a 
inclinação para uma outra de sexo diferente. 
E quando esta corresponde, invade então a 
ambos uma verdadeira impressão voluptuosa 
de alegria intima. Esta conciência de poder 
36 
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possuir exclusiva e inteiramente a pessoa que 
se ama e de ser amado por ela, é uma tenta­
ção paradisíaca. Sentem-se os seres mais fo­
lizes da terra, de uma felicidade plena, como 
se eles ambos se bastassem tohtlmente a si 
mesmos na vida. O amor naturalmente im­
pele _à união. Que atração existe mais pro­
funda e sensivel que o amor? Estando sepa­
rados, há o pensamento para uni-los. A se­
paração é muitas vezes um ponto de amar­
guras e de saudades do amado, podendo 
lorturar o coração a ponto de já não achar 
interesse em coisa alguma. Todo seu ardor é 
pela doce hora em que se possam rever. 
O fim essencial e último de Deus com esta
tendência sexual, posta no coração do ho­
mem, é o filho. Não podemos deixar de for­
mar ainda mais algumas considerações so­
bre este ponto: O motivo por que Deus criou 
dois sexos diferentes, o fim principal do amor 
com todo o seu fundo de ternura e poesia 
e o fim do matrimônio com todos os seus cas­
tos gozos e com todas as suas alegrias, nõo 
é a satisfação dos próprios desejos, não é Q 
gozo pessoal, o bem-estar das pessoas casa­
das. Tudo isso é fim secundário, ou, melhor, 
é apenas um meio para se conseguir um fi­
lho. O filho, este é que é o elemento princi­
pal. A aspiração do filho é a mais concentrada 
e viva de todo casal. E' que o filho não deve 
ser olhado tão somente como mero encanto 
fortuito do casamento; ele incarna antes o fim 
mesmo do ce.samento, o seu objetivo princi-
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pal. Sentindo-se, pois, atraída para um moço; 
sentindo-se feliz quando o conquistou e cha­
ma seu; indo-lhe pela alma um júbilo sem 
nome e julgando que já não precisa de mais 
nada para sua felicidade, saberá todavia que 
todos estes sentimentos não lhe foram conce­
didos no seu próprio interesse, mas que são 
outros tantos atrativos para a levarem ao ma­
trimônio e tornarem-na mãe. 
Verdade é que, entrando no estado matri­
monial, muitos se guiam aptes de tudo pelas 
vantagens pessoais que os esperam. Este não 
visa senão garantir o futuro; aquele nutre ape­
nas o desejo de adquirir fortuna, de entrar em 
alguma empresa ou de conseguir qualquer ou­
tro bem de ordem material; e enfim há natu­
rezas inferiores cujas aspirações não vão além 
da satisfação dos apetites carnais. Mas, seja 
como for, sejam quais forem os motivos que 
levam o homem ao matrimônio, na maioria 
dos casos o fim principal do casamento, fim 
visado por Deus, sempre está garantido e este 
é o filho. 
Tão pouco devemos esquecer que toda a 
evolução do apetite sexual, a começar pelas 
suas raizes que é a diferença das qualidades 
naturais e a exigência de mútuo complemen­
to, através da simpatia nascente na adole­
scência até ao júbilo dos noivos e o doce con­
chego da vida matrimonial, é intencionada 
por Deus, que a deitou no coração do homem. 
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Não é, portanto, alguma descoberta humana, 
ulguma coisa em que Deus não tivesse pen­
sado e o que não pretendeu. Na primeira pá­
gina da Escritura lemos a frase: "Deixará o 
homem a seu pai e sua mãe e se unirá à sua 
mulher, e serão dois em uma só carne" ( Gn 
:!, 24). E, ao mesmo tempo, a felicidade deste 
amor terrestre tem uma significaçâo mais su­
blime: Aponta ao homem e ihe proporciona 
11m antegozo dum amor imensamente maior 
e mais h1tenso, produzindo não uma felici­
dade p:;i.ssageira e imperfeita, mas perma­
nente e ímutavel, absoluta - a felicidade do 
amor divino. No livro dos Cantares, o amor 
dos noivos é símbolo do ardente desejo com 
que a nossa alma aspira por Deus, e de que 
como ela se sente feliz em possuir este Deus. 
Pois as aspir_ações do coração humano são tão 
profundas que um amor terrestre não é nunca 
capaz de contentá-las de um modo duradou­
ro. Além disso, sabemos todos quanto a felici­
dade mesmo do mais puro amor conjugal não 
deixa, às vezes, de ser perturbada por fraque­
zas humanas, por golpes inesperados, ou se­
jam moléstias, contratempos e provações de 
toda ordem, e como alf im é transformada em 
tristeza pela morte. E' a hora em qu� o espí­
rito se deve alevantar, esperando a plena sa­
tisfação do seu profundo desejo de amor na 
outra vida, em Deus. 
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NÃO TE É LÍCITO 
Como vimos, no princ1p10, o homem é li­
vre. Enquanto todos os demais seres vivos são 
conduzidos divinamente para o seu fim, me­
diante uma vida puramente instintiva, o ho­
mem deve dirigir a sua vida para seu fim de 
uma maneira conciente e deliberada. P�lo re­
curso de sua inteligência ele t chamado 
com autonomia a dispor com ordem das suas 
inclinações e tendências. Esta autonomia não 
deve, todavia, ser tomada no sentido de ele 
poder decidir arbitrariamente, a seu bel pra­
zer, qual a norma do bom e do justo. Pelo 
contrário, deverá cingir-se àquela ordem 
cujos fundamentos se encontram na sua natu­
reza humana, traçando-a Deus em sua bonda­
de, de um modo visível, e manifestando-a cla­
ramente pela voz d1J. conciência. Só a submis­
são a esta ordem pode conduzí-lo à felicidade 
que Deus lhe consignou. Proscrito está ape­
nas o que é nocivo à humanidade. Louco se­
ria o homem qu.!:! pretendesse procurar a feli­
cidade por caminho que se lhe vedou, por­
que o precipitaria na desgraça. 
Deus criou Adão e Eva tais · que gozassem 
de pleno domínio sobre a natureza inferior. 
Foram criados num estado que lhes aperfei­
çoava a natureza de uma maneira superior às 
exigências da natureza humana como tal. Por 
amor e bondade, Deus os elevara a essa or­
dem superior, deixando-lhes, todavia, a in­
cumbência de merecê-la ulteriormente, para 
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si e os seus descendentes, pela submissão à 
sua vontade. Pecaram, porém, contra o man­
damento divino, e porque pecaram foram ex­
pulsos do paraiso e voltaram para a ordem 
condizente com a sua natureza. 
Em parte alguma as consequências da queda 
dos primeiros pais se fizeram sentir de ma­
neira tão terrivel como na esfera sexual. A 
tendência natural, este elemento inferior da 
sexualidade, não está sujeita a certas esta­
ções nem a quaisquer limites, como no ani­
mal. Ela, ao contrário, é livre de todo impedi­
mento �spontâneo interior, devendo por isso 
mesmo estar sob o domínio e o governo da ra­
zão do homem. E!a, porém, não se deixa go­
vernar facilmente; e antes insurge-se contra 
o domínio do espírito, procura livrar-se e apo­
derar-se dele. Logo que aparece, procura in­
duzir o espírito a ceder às suas !'lolicitações.
Repelida mil vezes, volta com a mesma força.
Mais. Reforça-se por si cada vez em novos mo­
tivos, chegando a invadir com notavel vee­
mência todo o sistema nervoso e a vida da
alma, de maneira que, traspassando o homem
de uma tão enganosa volutuosidade, podero­
samente o impele a ceder.
· A isso se acrescentam as impressões dos
sentidos exteriores ca·pazes de excitar forte­
mente a propensão natural. A figura toda da
pessoa do outro sexo, os cabelos, os olhos, o
rosto, a linguagem podem influenciá-la viva­
mente. Além disso, propositadamente ou não,
e sobretudono sexo feminino, reside a pre-
41 
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ocupação de agradar aos homens e de atrai­
los. Os vestidos, o modo de usar os cabelos, o 
gosto dos perfumes; pelo olhar, por toda a sua 
maneira de agir, transparece o desejo de ca­
tivar. 
Por tudo isso, se a adolescente não se acau­
telar, mas pelo contrário ceder às solicitações 
exteriores, ela tomará, forçosamente, a pre­
ponderância. Fortificando-se cada vez mais, 
torna-se sempre mais impetuosa, mais audaz 
e como outra força desencadeada da natureza 
é capaz de causar enormes desgraças. A ten­
dência natural é cega e seu único objetivo é 
fazer valer as suas aspirações. Tudo o mais 
lhe é alheio, tanto o verdadeiro bem-estar do 
indivíduo em que se encontra, quanto o de ou­
tras pessoas. Se o que acontece é coisa perni­
ciosa, repelente, criminosa, ou não, é-lhe in­
düerente. Não pesa nada disso. O que ela quer 
é conseguir sua plena satisfação. Prejudicar-se 
o homem no corpo e na alma, desgraçar-se ele
a si mesmo e lançar outros numa miséria
sem remédio, a ruína de famílias e a existên­
cia de filhos que nascem na vergonha e cre­
scem na miséria, grandes escândalos e des­
truição de imensos valores morais - tudo isso
é indiferente à tendência natural, contanto
que o seu apetite seja satisfeito. Não se con­
tenta com algumas con.ceisões; exige satis­
fação completa de todos os seus desejos. Não
dá paz se se lhe faz a vontade no momento;
torna-se mais arrogante e impetuosa. A desgra­
ça que causa não a impressiona; as lágrimas
4.2 
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que provoca não a comovem. Não a demovem 
preces e súplicas, e não larga a vítima nem 
quando a levou ao desmoronamento das suas 
forças físicas e morais. Rouba ao homem, 
além disso, a compreensão de todos os valo­
res superiores; torna-lhe insuportavel u reli­
gião, único poder ainda capaz de o arrancar 
do lodaçal; apaga a luz da fé e as estrelas da 
esperança, impelindo-o para as trevas do de­
sespero e da eterna condenação. 
Não há tirano mais desapiedado, mais ego­
ista, mais cruel nem mais sem respeito do que 
a tendência natural, uma vez que se apodera 
do predomínio do homem. Pois qualquer for­
ça natural está destinada a viver sob a disci­
plina do espírito capaz de guiar. Assim, e só 
assim, é que verdadeiramente chegará a des­
empenhar sua tarefa no matrimônio institui­
do por Deus, a saber, de ser fonte de castos go­
zos e de profunda felicidade. 
Agora já podemos compreender o sentido, a 
conveniência e mesmo a necessidade do sexto 
e nonp mandamentos. O que dizem é: deves 
dominar o apetite sexual e só podes satisfa­
zê-lo no matrimônio legítimo, de modo cor­
respondente à sua finalidade. 
Conforme o característico do seu sexo, 
manifesta-se na moça em primeiro lugar a 
tendência da alma, isto é, o desejo de amai 
e ser amada. Como diz um médico, "ela se 
revela em uma mistura de admiração amoro­
sa da coragem e da grandeza masculina, com 
o desejo de amor, de carinho, de ser dirigida
43 
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exteriormente e interiormente poder gover­
nar e dominar pelo amor. 
Ligada ao papel passivo, que observa, a se­
xualidade feminina desperta um estado de 
excitação, que quebra qualquer resistência da 
vontade e da razão. 
Em nossos tempos esta tendência natural 
é muitas vezes provocada por inúmeras in­
fluências, por toda a vida e o movimento de 
um mundo que se preocupa unicamente com 
os sentidos e desperta continuamente a ten­
dência sexual. 
Aquí estamos diante da questão decisiv�: 
queremos sujeitar-nos às ordens de Deus ou 
não? Devemos decidir-nos! Não podemos 
nos esquivar. Urna grande parte das prova­
ções que encontramos em nossa vida é o re­
sultado da nossa atitude para com o sexto e 
nono mandamentos de Deus. Não ternos o 
direito de seguir o nosso capricho! Ele é o 
Senhor! Ele tem o ilimitado poder de nos 
dar mandamentos, e nós temos o inevitavel 
dever de nos sujeitarmos à sua yontade. 
No matrimônio o homem pode ceder à sua 
tendência conforme a vontade de Deus, fora 
dele deve desistir de toda a satisfação volun­
tária. De conformidade eom a palavra do di­
vino Salvador: "Todo o que olhar para uma 
mulher, cobiçando-a, já no seu coração adul­
terou com ela" (Mt 5, 28), comete, portanto, 
ação impura quem, ciente e voluntariamen­
te, ceder à afeição sexual a uma pessoa do 
outro sexo, desejando possuí-la d� modo ilí-
44 
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cito. Não nos esqueçamos que a tendência 
da alma, isto é, o desejo de amar e ser ama­
do, da mesma forma que a tendência natu­
ral, é um elemento da inclinação sexual, e 
como tal fica inteira e essencialmente em co­
nexão com esta tendência, e mantém relações 
recíprocas uma com a outra, visto que na so­
licitação mais forte da primeira tendência 
existe o perigo de provocar a solicitação do 
outro. 
Não queremos dizer com isso que sempre 
se manifestem juntas; muitas vezes aparece 
a tendência da alma sozinha. Esta, porém, 
tem por fim natural o desejo de possuir a 
pessoa amada, o que somente é possível pela 
satisfação natural, que visa unicamente o 
prazer dos sentidos. Daí se depreende que só 
se pode ceder à tendência da alma, se ela 
tiver como fim a propriedade lícita da ou­
tra pessoa no matrimônio. E' proibido, por 
conseguinte, provarem-se tais desejos ilíci­
tos pelos vestidos, pelas palavras ou pelo 
olhar em geral em outras pessoas. Tem-se 
costume de empregar muitas vezes a pala­
vra amor, para exprimir qualquer afeição da 
alma por outra pessoa, enquanto que a pa­
lavra sexualidade explica a tendência, que 
se revela em sensações sinjlulares e procura 
a satisfação no prazer dos sentidos. 
Conforme esta terminologia: namoro não 
tem a mesma significação que tendência da 
alma, mas, sim, uma coisa que dá mais na 
vista. Mas este termo inclue em si o perigo 
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da ilusão, como se namc,ro não tivesse nada 
de comum com a tendência sexual, e con­
seguintemente com o sexto e nono manda­
mentos. 
Pensa-se que somente uma sexualidade ilí­
cita ofende estes mandamentos. E pode-se, 
por conseguinte, ceder tranquilamente ao na­
moro. · Eis o motivo por que temos evitado 
propositalmente esta palavra, substituindo-a 
pela expressão tendência da alma, que, da 
mesma forma que a tendência natural, é um 
elemento da paixão sexual, e com ela inti­
mamente ligada. 
E' igual:rp.ente ilícita a satisfação da ten­
dência natural fora das relações matrimo­
niais legítimas, bem como tudo quanto se faz 
consentindo neste prazer que se chama sensa­
ções. Não se pode desejá-los nem manter a 
intenção de realizá-los. 
E' proibido voluntariamente demorar ou Si\ 
deleitar em imaginações que grave perigo 
apresentam, com recordarem desejos luxurio­
sos ou excitarem o prazer carnal. São impu­
ras as conversas que se fazem por compla-
. cência no prazer sexual ilícitb, ou com inten­
ção de provocá-lo em outros, assim como 
tambem quando trazem grave perigo a quem 
fala e aos ouvintes de consentirem em coisas 
deshonestas, os olhares, as leituras, as dan­
sas, as exibições no éinema, no teatro, etc. 
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O DESTINO DA MULHER 
Poder tornar-se mãe significa uma incal­
culavel felicidade. Quando Deus criou o ho­
mem, já poderia ter combinado as coisas de 
tal modo, que todo o homem recebesse sua 
existência diretamente dele, como fez com 
Adão e• Eva. Como seriam então as coisas 
nesta terra? Não teríamos pai e mãe, esposo, 
irmãos ou parentes, todos estes laços tão deli­
cados e tão íntimos com que o sangue liga os 
homens; faltaria, pois, a fonte de felicidade 
serena que é o amor. Isto encontramos na 
própria divindade, pois as tres pessoas divi­
nas são imensamente felizes no amor mútuo 
que se dedicam, e este amor· tem seu funda­
mento no misterioso modo pelo qual o Pai 
quer muito a seu Filho, e o divino Espírito 
Santo é o produto do amor do Pai e do Fi­
olh. Deus viu a possibilidade de poder o ho­
mem tornar-sea sua imagem, encontrando 
a felicidade pelo amor mútuo dos pais, que é 
a fonte em que os filhos encontram a sua 
existência. 
Por isso iesolveu conceder aos homens par­
te no. seu poder de Criador. E' um privilégio 
exclusivo e só próprio de Deus o "criar", isto 
é, de um certo modo estender a mão e tirar 
do nada seres, que antes não eram, e que 
sem este gesto nunca seriam. Deus quis, por­
tanto, que os homens partilhassem da sua 
dignidade e alegria de Criador, dando-lhes a 
possibilidade de dar vida às crianças. E' uma 
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felicidade que não se pode descrever. Ne­
nhuma moça poderia gozar a dignidade de 
mãe, se Deus assim não dispusesse. Quanta fe­
licidade para a jovem mãe, ao levantar em 
seus braços este lindo ser, que a olha com 
uns olhos tão grandes e profundos, no qual 
resplandece a sua alma imortal! Se ela re­
fletir que a alma de seu filhinho viverá eter­
namente, que o filho de Deus deu sua vidn. 
por essa ahna, e que um príncipe do céu 
acompanha constantemente seu filhinho des­
de o primeiro instante de sua existência, po­
derá então dizer: este é meu filho; eu lhe 
dei a existência. Sem mãe ele não existiria! 
Com indizivel enlevo o contemplará de novo, 
e o beijará com ternura, mas nunca gozará 
esta felicidade até ao auge! 
Quando Deus fundou sua Igreja, compre­
endeu logo os relevantes serviços que os ca­
sados poderiam prestar ao seu reino, pois 
aceitando os filhos que lhes são enviados, e 
levando-os a batizar, educando-os na reli­
gião, contribuem de uma maneira maravi­
lhosa na propagação da sua lgrej a. A voca­
ção dos pais é tarnbe.m pesada e cheia de 
sacrifícios; por isso nosso Senhor quis aj u­
dá-los com graças especiais; quis enfim que 
compreendessem que o matrimônio, sendo 
imensamente grande e santo, ele o elevaria à 
misteriosa dignidade de um sacramento. 
Assim como o sacerdote é ordenado e santi­
ficado para a sua vocação, tambem os casa­
dos são igualmente ordenados para a sua, 
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por um sacramento que os prepara para a 
�nblime missão de criar e educar os filhos.
Assim a tarefa dos pais é elevada a uma
dignidade sacerdotal, pela qual criam e for­
mam os membros da Igreja e os futuros her­
pornográfica! Com urna indignação 
farisaica contra os que pensam de outra for­
ma, defendem-se muitas vezes os mais incri­
veis meios da lascívia, sob pretexto de arte l 
Em uma palavra: a criação artificial da in­
clinação sexual do homem tornou-se uma 
verdadeira escola superior para os.vícios. Não 
há dúvida alguma de que a concupiscência 
tornou-se exagerada com a intervenção de 
tais artifícios, e dos mais variados excitantes 
que se possam imaginar, variação que au­
menta os objetos da inclinação e os torna ain­
da mais atraentes. 
A prática artificial do prazer, além disso, 
provoca hoje entre os homens a paixão de um 
record da perversidade, que tem produzido as 
mais funestas consequências. Os rapazes pen­
sam que, se não se entregarem a estas depra­
vações, não se podem considerar como ver­
dadeiros -homens. Esta estúpida crença é ain­
da acrescida pelo mau costume de se ridicu­
larizar quem se mostre ignorante nesta mi­
seravel ciência, ou tenha vergonha de se ocu­
par com elas. -- Se se continua a alimentar 
artificialmente estas relações, sem um fim su-
53 
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perior, unicamente para satisfazer à tendên­
cia natural, formam-se na alma manifesta­
ções, ou "irradações" que se explcarn pela 
terminologia, "espírito pornográfico". 
A mentalidade de tais homens fica infesta­
da pela volúpia, e nas coisas mais simples e 
naturais encontram elemento para alimentar 
a sensualidade. Na mulher vêem somente um 
instrumento de gozo. Tudo faz crer que o úni­
co objeto de seus pensamentos, das suas con­
versas é a perícia alcançada nesta matéria, e 
ordinariamente ela só é vencida por uma 
completa ignorância em todos os outros ra­
mos da vida. . . Esta descrição pode parecer 
exagerada em certas esferas da sociedade, 
porque têm uma natureza mais fina e deli­
cada, e usam o sistema do avestruz: afastam 
os olhos com repugnância daquelas misérias 
que evitam instintivamente". 
Propositalmente fizemos falar in e.rtenso a 
competente autoridade deste homem, que não 
é católico, e portanto não pode ser taxado de 
partidarismo. 
Como se vê destas palavras de um sábio de 
fama mundial, a tendência natural do jovem 
é excitada por inúmeras influências exterio­
res. Cinemas, teatros, livros e conversas for­
mam nele a idéa de que o prazer sexual é o 
único e mais sublime gozo da terra. Esta idéa 
desperta o desejo, que por sua vez excita e in­
siste para que ele ceda à tentação. 
A triste consequência é que em muitos jo­
vens desaparece a compreensão mais �ubli� 
54 
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me do amor conjugal. Conforme as palavras 
,lo autor acima citado, a mulher é conside­
rada somente como um instrumento de gozo. 
Nestas circunstâncias, vale a pena recordar a 
palavra que Mefistófeles diz no Fausto: -
"Com esta bebida em teu corpo vês em cada 
mulher uma Helena" (igual ao objeto do 
gozo). Eles não conseguem mais olhar para 
uma mulher ou uma moça com olhos puros. 
Confessou-me um rapaz de 18 anos: "se vejo 
uma moça, penso e digo: que prazer deve ser 
o poder tê-la em meus braços e possuí-la". E
um outró: "Já me tornei tão perverso, que
considero na minha fantasia que toda moça é
um objeto de meu prazer!"
A tendência natural tão pervertida e artifi­
cialmente exagerada procura desprender-se 
de todas as considerações, para poder satisfa­
zer-se ilicitamente. Uns procuram então tra­
var relações com uma moça, que talvez pu­
desse corresponder às suas aspirações, e ou­
tros se contentam com as prostitutas, que se 
vendem por dinheiro, esquecendo sua digni­
dade feminina. 
A que ponto de perversidad� esta tendência 
pode chegar, nos é revelada de modo seguro 
pelo comércio de moças brancas. Homens e 
mulheres procuram levar moças inexperien­
tes, sob falsas promessas de colocações muito 
favoraveis ou de casamentos, e até mesmo por 
meio da força para, o estrangeiro, onde elas 
caem nas :inêíos de homens perversos, ficando 
55 
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irremediavelmente perdidas como escravas do 
prazer de tais homens! ... 
No mês de outubro de 1923 os jornais rela­
taram que um destes monstros levou 50 moças 
para a Holanda. Ao mesmo tempo apanhou-se 
uma carta, em que se dizia: "as cincoenta 
moças chegaram sem novidade e estão em se­
gurança, e já seguiram para Nova York. O 
cais do porto de Hamburgo estava cheio de 
detetives e policiais, mas apesar disto e depois 
de enormes esforços conseguimos levá-las 
para bordo. Duas delas quasi nos traíram com 
suas lágrimas, mas tu sabes que o clorofórmio 
sempre prestou bom serviço. . . Bill firou 
preso, mas foi substituído por Jonny. Levei-as 
para S. Francisco, lá podem gritar à vontade 
por papai e mamãe. Se encontrares de novo 
mercadoria, leva-a logo para Hamburgo, para 
a bolsa de moças. Se a atenção da polícia cair 
sobre tua pessoa, foge incontinente para Bre­
men. Segue uma letra de um milhão de dóla­
res. Se fizerem dificuldades leva .. as para 
onde te disse, lá tomarão juízo! ... " 
Pensando na sorte destas infelizes, para as 
quais não há fuga possível, só morte, a natu­
reza humana se horripila! O que causa ainda 
mais horror é o pensamento de até que 
ponto pode chegar a bestialidade do homem, 
que não pensa noutra coisa a não ser na sa­
tisfação de seus peiores instintos!. . . Que po­
der infernal e cruel tem e1,ta paixão, que calca 
aos pés a dignidade e a felicidade de tantas 
56 
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infelizes, que paga somas fabulosas somente 
para gozar esta paixão! 
Por que relatamos il.to? Para chamar a 
atenção, pois aquí tambem já aconteceu que 
homens bem vestidos oferecessem seu auto a 
moças, que, f elizmentc, suspeitaram a tempo 
do perigo. Mas o principal motivo por que to­
camos nestas circunstâncias sobre tal assunto 
é mostrar que, na realidade, "o poder tornar­
se mãe" representa um grande perigo para a 
jovem. E este perigo está no fato de que esta 
entrega, que sp é permitida no matrimônio, e 
que devia ser a expressão do amor puro e no­
bre, é para certos homens, cuja inclinação na­
tural tornou-se toda poderosa, procurada uni­
camente para a satisfação carnal, e assim es­
tragam para sempre a felicidade íntima, dei­
xando no coração de muitas jovens amarga 
desilusão. 
1) Este perigo é grande e continua sempre
ameaçador, porque a maior parte dos moços 
não o compreende em toda a sua extensão. 
E', de fato, um "fatum" (fatalidade), que o 
sexo dela seja tão diferente do do homem. 
Como mencionamos acima, a moça normal, 
não pervertidh completamente pela tendên­
cia natural, ordinariamente não adivinha 
que o homem pensa e sente de maneira to­
talmente diversa da sua. E por isso sem re­
ceio, sem suspeitar sequer, ela se expõe ao 
seu perigoso poder. Ela não adivinha o que 
o sedutor, que lhe quer tão bem, realmente de­
seja dela, porque ainda não teve as sensa-
57 
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ções desta paixão por sua própria experiên­
cia. E por isso não compreende como se pos­
sa falar sempre em perigo, logo que ela co­
meça a namorar, pois ela não t.em nenhuma 
intenção maliciosa, e por isso tem a convi­
eção de que ele, qÚe mostra querer-lhe tão 
bem, certamente tão pouco terá aspirações 
ilícitas, pois está convencida de que ele tem 
o seu mesmo modo de pensar e sentir.
2) E' fatal para ela que, devido à sua ín­
dole, ela não tire as consequências dos fatos 
por ela conhecidns. Ela ouve e lê as sensa­
cionais notícias dos crimes e horrorosas aber­
rações praticadas com outras moças. Não 
sentindo, porém, em si nenhuma destas pai­
xões, que levam a estes crimes, não pode com­
preender que haja criaturas capazes de co­
meter tantos horrores. Ela só conhece certos 
casos particulares, porém não conclue daí em 
uma força natural, no homem já forte­
mente desenvolvida, mas para ela ainda des­
conhecida, que impetuosamente reclama sa­
tisfação, e arrasta-o para estes crimes. 
3) E' uma sorte triste que o rapaz muitas
vezes tambem ignore que ela não sente de 
mesmo modo