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1 Pós Graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho NOÇÕES DE TOXICOLOGIA Prof.:Mário Parreiras de Faria E-mail: marioparreiras55@gmail.com 2 PLANO DE ENSINO Disciplina: Noções de Toxicologia Carga Horária: 30 horas/aulas (sendo 6 horas em sistema EaD de atividades prévias) Professor: MÁRIO PARREIRAS DE FARIA Graduado em Medicina em 1979 e Mestre em Saúde Pública, área de concentração Saúde e Trabalho, pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Especialista em Medicina do Trabalho pela Associação Nacional de Medicina do Trabalho. Auditor fiscal do trabalho, da área de segurança e saúde do trabalhador do Ministério do Trabalho e Emprego (atualmente Ministério da Economia), desde 1984. Professor do curso de Pós-Graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho da Universidade FUMEC, de Belo Horizonte, M.G no período de 2009 a 2020. Professor convidado do Curso de Especialização em Medicina do Trabalho da Faculdade de Ciências Médicas de Belo Horizonte, M.G. Professor do curso de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho do IPOG, desde 2014. Instrutor em cursos de formação de Auditores Fiscais do Trabalho da Escola Nacional da Inspeção do Trabalho. Coordenador da Comissão Permanente Nacional do Setor Mineral de 2000 a 2019 (quando a Comissão foi extinta). Coordenador da Comissão Tripartite Temática Permanente da Norma Regulamentadora nº. 22. Membro do Grupo Técnico Tripartite de reação do anexo de Agentes Químicos da NR-9. Membro do Comitê Interministerial de Segurança de Barragens. Tem experiência na área de segurança e saúde no trabalho, atuando principalmente nos seguintes temas: Legislação de segurança e saúde ocupacional, Mineração, Ergonomia, Toxicologia Ocupacional, Gestão de Riscos e análises de acidentes do trabalho. http://lattes.cnpq.br/8029644604432600 Ementa A disciplina fornecerá conhecimentos básicos de Toxicologia Ocupacional permitindo ao aluno avaliar os riscos para a saúde dos trabalhadores expostos aos produtos químicos mais utilizados em ambientes de trabalho. Parte da carga horária será cumprida em sistema EaD referente à leitura da Apostila disponibilizada aos alunos e resposta a teste da disciplina respondido no sistema AVA Objetivos Objetivo Geral Apresentar noções sobre toxicologia ocupacional permitindo ao aluno conhecer as definições básicas de Toxicologia Ocupacional, os mecanismos de ação tóxica e os agravos à saúde da exposição aos principais agentes químicos presentes nos ambientes de trabalho. Objetivos Específicos • Possibilitar a compreensão dos mecanismos de ação tóxica e dos principais produtos químicos utilizados em ambiente ocupacional • Possibilitar a compreensão dos efeitos da exposição dos agentes químicos presentes nos ambientes de trabalho • Fornecer conhecimento sobre os mecanismos de penetração, distribuição, metabolismo, deposição e eliminação dos agentes tóxicos • Possibilitar a compreensão da relação entre exposição ambiental e indicadores biológicos de exposição e Limites de Tolerância dos principais agentes tóxicos • Conteúdo Programático UNIDADE I: Sexta-feira (noturno) • Noções de Toxicologia • O problema dos agentes químicos para a saúde • Definições básicas: Intoxicação, efeito, dose, dose-resposta, dose-efeito • Mecanismos de Ação Tóxica • Classificação dos Agentes Tóxicos • Ações Tóxicas dos Produtos Químicos: Irritantes Primários, Irritantes Secundários, Asfixiantes, Ação http://lattes.cnpq.br/8029644604432600 3 sobre os Sistemas: Respiratório, Hepático, Hematopoiético, Nervoso Central e Periférico e Renal. • Cancerígenos • Interação entre agentes químicos UNIDADE II: Sábado (matutino) • Vias de Penetração/Absorção, Metabolismo, Armazenamento e Eliminação dos Tóxicos no Organismo • Mecanismos de proteção do organismo • Mecanismo de ação tóxica e Indicadores biológicos de exposição • Limites de tolerância biológicos e Limites de Tolerância ambiental Unidade III: Sábado (vespertino) • Principais metais utilizados em ambientes de trabalho: Chumbo, cádmio, cromo, manganês, arsênio e mercúrio. UNIDADE IV: Domingo (matutino) • Metais pesados (continuação) • Agrotóxicos e solventes e seu mecanismo de ação tóxica Metodologia (Dinâmica das Aulas) - Exposição dialogada, com apresentação de slides e apresentação de casos reais. - Apresentação de filme sobre riscos no setor de galvanoplastia. Material e Recursos Utilizados Computador com internet e sonorização, data show Avaliação Atividades Específicas Modalidade Nota 1. Atividade prévia 1,5 2. Teste de múltipla escolha disponibilizado no AVA 8,5 Total 10,0 Bibliografia Básica 1. BUSCHINELLI, J.T.P. – Manual de orientação sobre controle médico ocupacional da exposição1a substâncias químicas. – São Paulo: Fundacentro, 2014. 88 p. Disponível em: http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/biblioteca-digital/publicacao/detalhe/2014/3/manual-de-orientacao- sobre-controle-medico-ocupacional-da-exposicao-a-substancias-quimicas 2. BUSCHINELI,J.T.P. -Toxicologia ocupacional [Texto]José Tarcísio Penteado Buschinelli.– São Paulo: Fundacentro, 2020. 622 f. : il. 3. GILBERT, S. G. - A Small Dose of Toxicology. Seattle Healthy World Press, Second edition, January 2012 4. Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego. Disponíveis em: https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de- trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/ctpp-nrs/normas-regulamentadoras-nrs 5. Ministério da Saúde do Brasil. Representação no Brasil da OPAS/OMS. – Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde. Organizado por Elizabeth Costa Dias; colaboradores Ildeberto Muniz de Almeida et al. – Brasília: Ministério da Saúde do Brasil, 2011. 580 p. il. (Série A. Normas e Manuais Técnicos). Disponível em: http://dtr2004.saude.gov.br/susdeaz/instrumento/arquivo/16_Doencas_Trabalho.pdf 6. NIOSH. Pocket Guide to Chemical Hazards – Department of Health and Human Services, Center for Disease Control and Prevention, National Institute for Occupational Safety and Health – DHHS (NIOSH) Publication No 2005-149, Third printing, September 2007. 424 p. Disponível em: http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/biblioteca-digital/publicacao/detalhe/2014/3/manual-de-orientacao-sobre-controle-medico-ocupacional-da-exposicao-a-substancias-quimicas http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/biblioteca-digital/publicacao/detalhe/2014/3/manual-de-orientacao-sobre-controle-medico-ocupacional-da-exposicao-a-substancias-quimicas https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/ctpp-nrs/normas-regulamentadoras-nrs https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/ctpp-nrs/normas-regulamentadoras-nrs http://dtr2004.saude.gov.br/susdeaz/instrumento/arquivo/16_Doencas_Trabalho.pdf 4 http://www.cdc.gov/niosh/docs/2005-149/pdfs/2005-149.pdf 7. PATNAIK, P. – Guia Geral: Propriedades Nocivas das Substâncias Químicas. [Tradução de Ricardo Maurício Soares Baptista]. 2ª. ed. Belo Horizonte, Ergo Editora, 2011. 2 v. 9. RAMAZZINI, Bernardino – As Doenças dos Trabalhadores: Tradução de Raimundo Estrela, 3. ed. - São Paulo: FUNDACENTRO, 2000. 325 p. http://www.cdc.gov/niosh/docs/2005-149/pdfs/2005-149.pdf 5 PREFÁCIO Esta apostila tem como objetivo servir de apoio para a Disciplina de Noções de Toxicologia do curso de Pós-Graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho, sensu lato, dochumbo e cádmio é maior do que aquele provocado pela administração isolada desses agentes químicos. Da mesma forma o inseticida fosforado EPN aumenta a toxicidade do Malation, assim como a exposição simultânea ao tetracloreto de carbono e metanol. 34 Também podemos citar o efeito da MEK (metil-etil cetona) e o n-hexano que juntos aumentam o risco de lesão de nervos periféricos. Outro exemplo é o efeito da exposição simultânea a fibras de amianto e à fumaça de cigarro que aumenta em quarenta vezes o risco de câncer de pulmão, muito acima do risco associada a exposições independentes19. d) Efeito de Potenciação Ocorre quando um agente químico não possui efeito tóxico em um órgão ou tecido, mas quando adicionado a outro agente específico leva a um efeito tóxico. Assim a toxicidade de uma substância é aumentada pela presença de outra substância que, isoladamente, não tem efeito tóxico. Por exemplo, o isopropanol, em concentrações não nocivas para o fígado, potencia os danos hepáticos provocados pelo tetracloreto de carbono. e) Efeito Antagônico ou antagonismo A interação pode ser negativa ou antagônica quando o efeito simultâneo de duas substâncias produz um efeito menor que soma das duas. Neste caso a toxicidade de um composto é reduzida na presença de outro composto ou agente químico fazendo com que o efeito de uma substância reduza o efeito de outra. Como exemplos de efeitos antagônicos podemos citar: - Ação do chumbo e zinco sobre a atividade enzimática do ácido delta- aminolevulínico desidratasse (ALA-D) na biossíntese do heme. - A ingestão de metanol causa cegueira, mas a intoxicação por metanol é tratada com a administração de etanol (álcool etílico), pois este compete pelo metabolismo do metanol reduzindo a formação de subprodutos tóxicos do metanol e mantendo seus níveis baixos o suficiente para evitar o dano sobre o sistema óptico VI. VIAS DE PENETRAÇÃO DOS AGENTES TÓXICOS NO ORGANISMO 1 VIA RESPIRATÓRIA 1.1 Absorção A via respiratória tem uma importância fundamental em Toxicologia Ocupacional pelas seguintes razões: 19 Torloni, M., Vieira, A.V. Manual de Proteção Respiratória – São Paulo, 2003. 520 p.: il. 35 • Pelas características físicas dos agentes químicos mais comuns: gases, vapores e partículas • Pelo constante contato que o sistema respiratório mantém com o meio ambiente externo • Pela extensa área que é de aproximadamente 90 m², tendo a superfície alveolar cerca de 70 m², mantendo, assim, um íntimo contato com os contaminantes atmosféricos • Por ser permeável e ricamente vascularizada, permitindo rápida e eficiente absorção • Por não apresentar, praticamente, defesa de retaguarda, sem passar por vias de metabolização. Desta maneira, as substâncias químicas presentes no ar atmosférico, ao entrar em contato com a via respiratória poderão agir localmente provocando irritação, inflamação, edema pulmonar e outras alterações ou serem absorvidas atuando sistemicamente. Nos alvéolos pulmonares duas fases estão presentes, uma gasosa, formada pelo ar alveolar e outra líquida constituída pelo sangue; separadas uma da outra por dupla barreira: o epitélio alveolar e o endotélio capilar, com uma espessura de apenas 10. Os agentes químicos mais hidrossolúveis são retidos primariamente nas vias aéreas superiores. Não somente a passagem através dos alvéolos, mas a própria distribuição o agente químico no plasma ou eritrócito se faz em função da sua lipossolubilidade. Os hidrocarbonetos aromáticos, por exemplo, possuem afinidade particular pelos glóbulos vermelhos mais ricos em lipídios que o plasma. 1.2 Deposição de Partículas A deposição de partículas na via respiratória está associada a vários fatores: • Características físicas das partículas • Configuração morfológica do trato respiratório; • Características ventilatórias: volume, fluxo e velocidade do ar. Com relação à partícula devemos considerar além da forma a higroscopicidade (afinidade pela água), a densidade e o tamanho da partícula. A deposição de partículas ocorre em três regiões: Naso-faringe: Região onde ocorrem mudanças bruscas na direção do ar inalado, que está com sua máxima velocidade. 36 Tráqueo-bronquiolar: as vias respiratórias nessa região são menos tortuosas, a velocidade do ar inalado é menor e a ação da força de gravidade é importante para a deposição de partículas com 1 a 5, pelo processo sedimentação. Alveolar: nesta região a velocidade do ar é praticamente zero, as mudanças de direção não são significativas e a ação da gravidade não é importante, pois, somente partículas menores que 1m se depositam. Partículas maiores que 30 alcançam velocidade elevada pela força de gravidade e as possibilidades de deposição são pequenas se forem inaladas nas condições normais de inspiração, a não ser que a atividade exija esforço físico que modifique as características ventilatórias. 1.3 Destino das partículas As partículas depositadas podem ter os seguintes destinos: • Naso-faringe As partículas depositadas nessa região poderão ser eliminadas como poderão ser deglutidas juntamente com o muco ou ainda, se solúveis no muco, absorvidas pelo sangue. • Tráqueo-bronquiolar Por meio de movimentos ciliares (clearence muco-ciliar) e da presença de muco serão removidas até a glote e posteriormente expectoradas ou deglutidas. • Alveolar Por meio de movimentos alveolares e fluídos secretados nesta região, as partículas poderão alcançar a região tráqueo-bronquiolar, e aí, através de movimentos ciliares e auxiliados pelo muco, chegam até à glote, podendo ser expectoradas ou deglutidas. Também podem ocorrer os seguintes fenômenos: • fagocitose pelos macrófagos alveolares que serão removidos até o epitélio ciliado, ou penetrarão no sistema linfático, via intersticial • partículas muito pequenas cujas dimensões se aproximam das moléculas gasosas, se difundem alcançando a corrente sanguínea; • partículas solúveis rapidamente atingem a corrente sanguínea; • partículas pouco solúveis sofrerão um lento processo de "erosão", até que possam ser absorvidas ou eliminadas. • partículas insolúveis (sílica, asbesto e poeira de carvão mineral) podem ficar retidas provocando uma reação inflamatória que leva a uma fibrose tecidual pulmonar. 37 2 VIA CUTÂNEA A via cutânea é constituída fundamentalmente pela epiderme e derme. A epiderme corresponde à região mais externa, e possui uma cobertura hidro-lipídica, composta por água e eletrólitos (suor) secretados pelas glândulas sudoríparas e por ácidos graxos secretados pelas glândulas sebáceas. A epiderme é constituída por várias camadas denominadas, respectivamente, córnea, lúcida, granulosa espinhosa e germinativa. A camada córnea que se constitui na principal barreira às substâncias químicas, é formada por proteínas diversas, principalmente a queratina muito rica em cistina com as ligações dissulfeto (-S-S-). Esta proteção pode ser alterada por substâncias como os metais (também denominados tiol-privos) que interferem nesse mecanismo de formação de ligações de dissulfeto. Abaixo da epiderme, temos a derme que é constituída pelo tecido conjuntivo, encontrando-se aí as glândulas sebáceas, folículos pilosos, vasos sanguíneos e linfáticos. A rica vascularização desta região permite uma eficiente absorção e distribuição dos agentes químicos que conseguem chegar até a derme. O tecido subcutâneo situado após a derme é rico em lipídios e, além de servir como reserva energética, funciona como absorvedor de impactos. A pele normalmente é uma barreira efetiva para a proteção dos tecidos que estão sob ela. Relativamentepoucas substâncias são absorvidas por veia cutânea possibilitando sua ação sistêmica. Os agentes tóxicos para penetrarem por via cutânea devem ser solúveis em água ou gordura. Exemplo: fenol, anilinas fenil-hidrazina, solventes orgânicos e alifáticos. Para avaliar a exposição dérmica devem-se considerar, no mínimo, os seguintes fatores: a) quantidade e concentração do agente; b) estado físico do agente; c) propriedades físico-químicas relacionadas com ação local e penetração dérmica; d) área corporal de contato; e) tipo, duração e frequência da atividade e f) medidas de controle existentes. 38 Após um agente químico entrar em contato com o tecido cutâneo, quatro fenômenos poderão ocorrer: 1 - A epiderme, com a película de gordura e suor, atua como barreira efetiva e o agente químico não é capaz de alterá-la ou danificá-la; 2 - O agente químico reage com a superfície cutânea provocando irritações 3 – O agente químico penetra, se liga a proteínas teciduais e produz sensibilização e 4 - O agente químico se difunde pela epiderme, glândulas sebáceas, sudoríparas ou, através dos folículos pilosos, ingressa na corrente sangüínea e atua sistemicamente. Por outro lado, a permeabilidade cutânea pode ser alterada por uma série de fatores e condições, tais como: • Propriedades físico-químicas do agente químico: solubilidade (hidro/lipossolubilidade), peso molecular, tamanho molecular • Teor de umidade do tecido • Presença de surfactantes ou tenso-ativos • Variação da espessura do tecido • Temperatura • Circulação periférica • Idade • Integridade da pele • Capacidade dos constituintes tissulares se ligarem ao agente químico • Potencial de biotransformação do tecido cutâneo. 2.1 DERMATOSES OCUPACIONAIS Há dois tipos de dermatoses ocupacionais: • Primária por irritação • Por sensibilização 2.2 Primária por irritação Esse termo é utilizado para designar uma inflamação da pele, resultante da exposição aos produtos químicos irritantes presentes no ambiente de trabalho. A irritação pode variar desde uma pequena vermelhidão, prurido até erupções e inflamação grave, dependendo do tempo de contato. Existem centenas de produtos que exercem ação irritante após um contato quase imediato como: 39 • ácidos clorídrico e sulfúrico • ácido perclórico • formol, pentaclorofenato de sódio • fenol, clorofenol • amoníaco • permanganato de potássio • ácidos oxálico e pícrico • anidridos Os sabões detergentes e solventes são considerados irritantes suaves e geralmente requerem exposições repetidas para provocarem irritação. 2.3 Por sensibilização A dermatose por sensibilização e produzida por agentes químicos e plantas principalmente, que ao entrarem em contato com o tecido cutâneo desenvolvem, em algumas pessoas, reações alérgicas. Entre esses tipos de agentes químicos podemos citar: • resinas epóxi • corantes azóicos • derivados do alcatrão do carvão mineral (hulha) • metais como níquel, cromo e cobalto • di-isocianatos • etilamina, • trietilamina • trietilenodiamina • peróxido de benzoila • dietilanilina • anidrido ftálico Alguns agentes produzem despigmentação da pele, como certos herbicidas, detergentes fenólicos e hidroquinona cujo mecanismo possivelmente está associado com a síntese de melanina. Outros agentes produzem hiperpigmentacão como prata (por deposição) e arsênico (que favorece a síntese de melanina) e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos presentes no negro de fumo. 3 VIA DIGESTIVA A via digestiva é a terceira via em importância para a Toxicologia Ocupacional no que se refere à introdução de substâncias tóxicas no organismo. Algumas substâncias químicas ao serem introduzidas pela via digestiva podem provocar unicamente efeitos sobre os tecidos do sistema digestivo, como acontece com ácidos e álcalis ou, ainda, serem absorvidas e agirem sistemicamente. 40 Quando não existem hábitos de higiene adequados (comer, beber ou fumar no próprio local de trabalho, ou não lavar as mãos e rosto antes das refeições), os agentes químicos presentes no ambiente de trabalho poderão ser introduzidos pelo trato gastrointestinal. Por outro lado, quando o contato do trabalhador se dá com partículas, estas após penetrar nas vias aéreas, serão transportadas, por meio do clearence (limpeza) muco ciliar, até a região bucal e, eventualmente, deglutidas. Os riscos de intoxicação por esta via são menores, principalmente pelos seguintes fatores e características do sistema digestivo: a) pela pequena absorção na corrente sangüínea b) os agentes químicos estão sujeitos ao pH ácido do estômago (pH entre 1 e 2) c) o pH alcalino do suco pancreático no intestino delgado: d) pela ação das enzimas digestivas. Devemos ainda considerar que a baixa absorção por via digestiva ocorre pelos seguintes fatores: a) diluição dos agentes químicos com água e alimentos e formação de produtos menos solúveis por interação com os componentes da dieta e sucos intestinais b) haver seletividade na absorção intestinal e c) alcançarem o sistema hepático, submetendo-se aos processos de biotransformação antes de os agentes químicos serem distribuídos para os demais órgãos. Entretanto, não devemos esquecer que a via digestiva é uma via complementar de introdução de substâncias tóxicas do ponto de vista ocupacional pois a maior parcela dos agentes tóxicos é introduzida pelas vias respiratória e/ou cutânea. VII – DISTRIBUIÇÃO E DEPOSIÇÃO DOS AGENTES TÓXICOS Os agentes tóxicos após serem absorvidos são distribuídos pelo organismo e essa distribuição está condicionada a vários fatores associados tanto ao agente tóxico como ao próprio organismo. Os fatores mais importantes na distribuição de deposição dos agentes tóxicos são: 41 • Solubilidade do agente químico (Hidro e lipossolubilidade) • Grau de ionização do agente tóxico no meio biológico • Afinidade química do agente tóxico com os constituintes orgânicos • Maior ou menor vascularização de determinadas áreas do organismo • Fração aquosa e lipídica dos órgãos e tecidos • Capacidade de biotransformação do organismo e • Condições orgânicas (existência ou não de lesões orgânicas). Devemos lembrar que os fluídos orgânicos estão distribuídos por três compartimentos: plasmático, intersticial e intracelular. Assim, o agente tóxico na corrente sanguínea poderá se distribuir tanto no fluído plasmático como na fração eritrocitária (hemácias). Por exemplo, o mercúrio orgânico, o chumbo e o cádmio, após absorção se concentram mais nas hemácias que na fração plasmática. Os agentes tóxicos ao serem distribuídos pelo organismo poderão se acumular no próprio sítio de ação, se depositar em sítios (locais) específicos ou serem transportados a órgãos com capacidade de biotransformá-los e/ou eliminá-los. Entretanto, o processo de distribuição está condicionado à maior ou menor capacidade do agente químico de se ligar às proteínas plasmáticas. VIII SÍTIOS DE DEPOSIÇÃO DOS AGENTES TÓXICOS 1 PROTEÍNAS PLASMÁTICAS A ligação da maioria dos agentes tóxicos com as proteínas plasmáticas ocorre com a albumina por meio de ligações reversíveis. Existe sempre um equilíbrio entre o agente tóxico na forma livre e na forma ligada às proteínas plasmáticas, sendo que somente a fração livre é a forma ativa e distribuída aos tecidos, enquanto que a fração ligada às proteínas comporta-se como um reservatório, portanto sem atividade e portanto inerte. Além da albumina a ligação ocorre com lipoproteínas e glicoproteinas. A importância desta ligação no efeito tóxico dos compostos pode ser entendida pelo exemplodo paration etílico e o paraoxon etílico. O primeiro é convertido no organismo na sua correspondente forma oxon, responsável pela atividade anticolinesterásica. 42 Alguns exemplos de agentes químicos que se ligam às proteínas plasmáticas: - DDT e o DDE à albumina - Ferro à Transferrina - Cobre à Ceruloplasmina - Dieldrin à alfa e beta-lipoproteínas 2 TECIDOS LIPÍDICOS A lipossolubilidade é uma característica de vários agentes químicos que, além de permitir rápida absorção e distribuição no organismo, confere também uma maior capacidade de deposição dessas substâncias. Substâncias como o clordano, DDT, bifenilos policlorados (PCB) e bifenilos poli-bromados ao serem distribuídas se depositam no tecido lipídico. 3 OSSOS Os ossos constituem um local de deposição para alguns agentes químicos como chumbo (cerca de 90% do chumbo se deposita nos ossos), fluoreto, estrôncio e urânio. No caso do chumbo a deposição óssea não se caracteriza como sítio de ação tóxica, enquanto que para o fluoreto a sua presença provoca a fluorose óssea. 4 FÍGADO E RINS Estes órgãos têm grande capacidade de armazenar substâncias além de serem importantes para o processo de eliminação de agentes tóxicos. Além disso, o fígado tem grande capacidade de biotransformação. O mecanismo pelo qual removem os agentes químicos do sangue, ainda não está bem definido, todavia, parece estar envolvido com transporte ativo ou ainda através de ligações com componentes teciduais. 5 BARREIRAS HEMATO-ENCEFÁLICA E PLANCENTÁRIA A barreira hemato-encefálica representa a barreira menos permeável do organismo para a passagem de substâncias do sangue ao sistema nervoso central por razões de ordem anátomo-fisiológicas. A passagem dos agentes tóxicos através da barreira hemato- encefálica segue, em geral, os mesmos princípios que orientam a passagem por outras áreas do organismo. Essa passagem ocorre com o agente tóxico livre, isto é, não combinado às proteínas plasmáticas que deve ser lipossolúvel. Constituem exemplos de substâncias neurotóxicas: • Inseticidas organofosforados 43 • Inseticidas organoclorados • Sulfeto de carbono • Tetracloreto de carbono • Clorofórmio • Monóxido de carbono • Chumbo tetraetila • Organo-mercuriais • Mercúrio elementar • Arsênico. Quanto à barreira placentária a importância toxicológica se faz com relação ao novo organismo em formação e os mecanismos de transporte envolvidos são: • difusão simples • difusão facilitada • transporte ativo • pinocitose e • através de fendas na membrana placentária. Como exemplo de compostos que atravessam a barreira placentária temos: DDT, tricloroetileno, chumbo, mercúrio e cádmio. IX BIOTRANSFORMAÇÃO DE AGENTES TÓXICOS A biotransformação tem por objetivo neutralizar a ação tóxica dos agentes químicos e facilitar sua eliminação transformando-os em produtos mais ionizados, mais polares e mais hidrossolúveis. A idéia que se tem é que a biotransformação sempre resulta em inativação do agente tóxico, entretanto, em alguns casos, a biotransformação leva à formação de produtos mais tóxicos. Como exemplos deste fenômeno podemos citar: a) Metanol oxidado em ácido fórmico, afetando o nervo ótico e as células da retina, ocasionando cequeira e lesões renais. b) Paration quando oxidado se transforma em Paraoxon e inibindo a acetilcolinesterase c) Anilina oxidase é transformada em Fenil-Hidroxialamina que é um agente asfixiante face ao seu efeito metahemoglobinizante. d) Naftaleno oxidado a Di-hidroxinaftaleno levando a casos de catarata. O fígado é o principal órgão envolvido na biotransformação de agentes químicos, embora outros órgãos participem também dessa função em graus variáveis. 44 As principais reações que ocorrem são: Oxidação, Redução, Hidrólise e Conjugação As reações de oxidação, redução e hidrólise fazem parte da fase pré-sintética, enquanto que as reações de conjugação correspondem à fase sintética. As reações pré-sintéticas podem resultar em ativação, alteração de atividade ou inativação do agente tóxico. As reações sintéticas ou de conjugação envolvem a interação entre o agente tóxico ou o produto da biotransformação (originário das reações de oxidação, redução ou hidrólise) e um substrato endógeno, formando compostos inativos, altamente polarizados e hidrossolúveis, prontamente excretados pela urina X INDUTORES E INIBIDORES DA BIOTRANSFORMAÇÃO As enzimas responsáveis pelo processo da biotransformação poderão ter sua atividade aumentada, por determinados produtos químicos, como por exemplo, fenobarbital, álcool etílico, inseticidas organoclorados, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos que funcionam como indutores da atividade enzimática. Esta indução resulta sempre numa aceleração do processo de biotransformação, interferindo assim, na ação tóxica e na eliminação dos agentes químicos absorvidos. Por outro lado, os inibidores têm a capacidade de diminuir a atividade de enzimas envolvidas nos processos de biotransformação, diminuindo sua velocidade. Como exemplos, podemos citar o dissulfiram (inibidor da aldeído- desidrogenase), o mercúrio que é inibidor da monoaminoxidase (MAO) e os inseticidas organofosforados (inibidores da acetilcolinesterase). XI ELIMINAÇÃO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS Os agentes químicos absorvidos pelo organismo serão eliminados na forma inalterada ou por meio de seus produtos de biotransformação por várias vias. As principais vias de eliminação são: 1 Renal A excreção o renal dos agentes tóxicos ocorre por processos de filtração glomerular passiva, difusão tubular passiva e secreção tubular ativa. Durante a passagem pelos túbulos glomerulares renais as moléculas filtradas poderão se difundir ou ser ativamente transportadas do lúmen ao sangue, ocorrendo um processo de reabsorção. 45 Os agentes tóxicos com elevado coeficiente de partição lipídeo/água serão reabsorvidos passivamente, enquanto que os produtos polares são incapazes de se difundir, sendo excretados. Através dos rins, portanto, são eliminadas substâncias polares e suficientemente hidrossolúveis. 2 Pulmonar Os agentes químicos passíveis de ser eliminados pela via pulmonar são os gases, vapores e partículas e, no caso dos gases e vapores, na forma primitiva (inalterada) ou sob a forma de produtos de biotransformação. A eliminação de gases e vapores se faz por difusão simples, não existindo um sistema especial de transporte. A proporção do agente tóxico eliminado sob a forma inalterada é bastante variável, e depende da intensidade da ventilação pulmonar, da sua solubilidade no sangue, do coeficiente de difusão, da tensão de vapor do agente tóxico no sangue e da pressão alveolar da substância. Assim, a eliminação ocorre quando a pressão alveolar de um gás ou vapor for menor que a pressão do mesmo no sangue. 3 Outras vias de eliminação. Existem outras vias de eliminação dos produtos tóxicos que são secundárias do ponto de vista da Toxicologia Ocupacional. São elas: a bile, o suor, a saliva e o leite (sendo este último de importância em casos de trabalhadoras em fase de amamentação). XI INDICADORES BIOLÓGICOS DE EXPOSIÇÃO HUMANA (I.B.E.) Conceito: Compreende todo e qualquer xenobiótico ou seu produto de biotransformação, assim como, qualquer alteração bioquímica precoce cuja determinação nos fluídos biológicos, tecidos ou ar exalado avalie a intensidade da exposição ao agente químico contaminante ambiental ou ocupacional. O indicador ideal é o que fornece boa relação exposição/absorção/efeito nocivo. Utilizados em Toxicologia Ocupacional para avaliar o grau de exposição dos trabalhadores expostosa produtos químicos em seu ambiente de trabalho Podem ser classificados em: - indicadores de efeito - indicadores de dose interna (absorção) Indicadores de efeito: são aqueles que revelam alterações no organismo resultantes da ação do agente químico em qualquer tecido, órgão ou sistema. 46 Estas alterações devem ser identificadas precocemente e ser reversíveis. Tais indicadores permitem avaliar diretamente o risco e prevenir a manifestação de efeitos nocivos. Este tipo de indicador também é denominado do Tipo 1. No caso de alteração destes indicadores deve ser emitida a CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) Exemplos: • Plumbemia, ALA-U na indicação da exposição ao chumbo inorgânico. • Cádmio urinário • Colinesterase intra-eritrocitária para indicar exposição a inseticidas organofosforados e carbamatos. • Meta-hemoglobina indica a exposição à anilina e nitrobenzeno. • Carboxi-hemoglobina indica a exposição ao Monóxido de carbono. Indicadores de dose interna (absorção): refletem a dose real da substância no sitio onde ela exerce exposição desde que o nível da substância no material biológico esteja correlacionado a sua ação ou estima, de forma indireta, o grau de com a concentração ambiental. Além disso, permitem avaliar a concentração do agente nos órgãos e/ou tecidos a partir dos quais, uma vez acumulada a substância, esta é lentamente liberada. São também conhecidos como indicadores de exposição ou indicadores do Tipo II e não indicam necessariamente a ocorrência de doença. Exemplos: • Fenol urinário indica a exposição ao benzeno, mas também indica seu efeito tóxico • Fluoretos urinários indicam a exposição ao flúor e seus derivados inorgânicos • Mercúrio urinário indica exposição a mercúrio metálico e derivados inorgânicos • Ácido hipúrico: indicador de exposição ao tolueno • Ácido metil-hipúrico: indicador de exposição ao xileno •Triclorocompostos totais na urina: indicam a exposição a Tetracloroetileno, Tricloroetileno, 1,1,1, tricloroetano XII– OUTROS AGENTES TÓXICOS DE INTERESSE OCUPACIONAL 1 AGROTÓXICOS De acordo com o inciso XXVI da Lei 14.785/2023, agrotóxicos são definidos como: 47 Produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e no beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens ou na proteção de florestas plantadas, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos 1.1 Inseticidas organofosforados Um efeito agudo dos compostos organofosforados é a síndrome produzida pela ação desses compostos pela inibição da ação da enzima acetilcolinesterase (AChE) nas terminações nervosas colinérgicas. A acetilcolinesterase (AChE) tem a função de hidrolisar a acetilcolina, mediador do sistema nervoso, ao nível das terminações das fibras pós- ganglionares do sistema nervoso parassimpático, dos gânglios do sistema parassimpático, da junção neuromuscular e do sistema nervoso central, produzindo Colina e Acetato A acetilcolinesterase tem dois sítios ativos: um sítio aniônico (negativo) e um sítio catiônico (positivo) ou esterásico. O sítio mais comum de reacão é o esterásico. Os sinais e sintomas comuns a essas intoxicações ocorrem por acúmulo da acetilcolina nos receptores da junção neuro-muscular. Os efeitos imediatos do neurotransmissor acumulado nas sinapses poderão ser bloqueados usando atropina que é um inibidor competitivo ao receptor. Sinais e Sintomas de intoxicação por organofosforados Podem ser resumidos em: • síndrome colinérgica: tosse, vômito, cólica, diarreia, sudorese, sialorreia (salivação excessiva), miose, hipersecreção brônquica e colapso respiratório. • síndrome nicotínica: fasciculações (tremores) musculares, hipertensão arterial transitória. • síndrome neurológica: confusão mental, ataxia (perda do equilíbrio), convulsões, depressão cardiorrespiratória, coma e morte. 1. 2 Inseticidas Carbamatos São compostos derivados do ácido carbâmico, particularmente do ácido N- metil carbâmico. Entre os principais nomes comerciais podemos citar: Carbaril, Baygon, Moban e Zectram. Absorção 48 Em formulações sólidas são pouco absorvidos, sendo a absorção dérmica pouco importante no aparecimento de efeitos tóxicos em indivíduos ocupacionalmente expostos. O maior risco está relacionado à absorção via respiratória em aplicações por meio de pulverizações. A eliminação é bastante rápida. Por exemplo, uma dose única de Carbaril é 70 a 80% eliminada na urina nas primeiras 24 horas. Mecanismo de ação dos inseticidas carbamatos: Inibição da acetilcolinesterase, de modo mais reversível que os inseticidas organofosforados. O efeito anti-colinesterásico é explicado pela sua configuração química semelhante à acetilcolina. Os sinais e sintomas da intoxicação por carbamatos são semelhantes aos da intoxicação por inseticidas organofosforados. Tratamento A enzima AChE fosforilada pode ser reativada com utilização de produtos como as oximas (pralidoxima), que deslocam o fosfato ligado à enzima. Uma importante diferença entre os inseticidas organofosforados e os carbamatos é que estes últimos são inibidores reversíveis da acetil- colinesterase, ou seja, a ligação com a enzima é fraca sendo, portanto, contra- indicado o uso da pralidoxina (Contration®). As oximas não têm demonstrado bons resultados no tratamento das intoxicações com carbamatos. Estudos em animais demonstram que a pralidoxina e a toxogonina aumentam a toxicidade do Carbaril®. O sulfato de atropina via Intramuscular ou venosa, deve ser utilizado até a melhora do quadro clínico. 1.3 Inseticidas Organoclorados Exemplos: Hexaclorociclohexano (BHC) Lindano (isómero gama do BHC), DDT, Metoxicloro, Heptacloro, Aldrin, Dieldrin, Endrin, Clordano, Endossulfan. Absorção. São altamente lipossolúveis e são rápida e eficazmente absorvidos pelo trato gastrointestinal. Absorção pela pele: grupo dos cíclodienos (Aldrin, Dieldrín, Endrin) cuja DL 50 dérmica bastante próxima da DL 50 oral. A absorção pela via respiratória tem importância quando usados na forma pulverizada. Os inseticidas organoclorados são distribuídos uniformemente no organismo concentrando-se nos tecidos gordurosos (abdome, cérebro e fígado). 49 Biotransformação. Variável dependendo do grupo químico Mecanismo de ação tóxica. Variado em função de possuírem as estruturas químicas diferentes. Sinais e sintomas de Intoxicação por inseticidas organoclorados Cefaleia, que não cede a analgésicos comuns, náuseas, vertigens, obnubilação passageira e sudorese fria. Em alguns casos sinais de incoordenação motora cerebelar, podendo ocorrer ataques do tipo epiléptico de duração variável. Outros sinais e sintomas: anorexia, emagrecimento. Mal estar geral, dores generalizadas, transpiração excessiva, alteração (aumento ou diminuição) de reflexos profundos e superficiais, reflexos pupilares lentos, depressão respiratória, dispnéia, salivação, tremores e hepatomegalia, principalmente em casos de intoxicação crônica. Tratamento: São contra-indicados laxantes oleosos, leite e alimentos gordurosos. Nas intoxicações leves: indicada sedação com benzodiazepinicos. Nas intoxicações graves devem ser tratadas as convulsões. 1.4 Inseticidas Piretróides Exemplos: Decis, Ambush, K-Othrine, Protector, SBP, Fuminset São absorvidos pela pele, por ingestão e inalação. Pouco tóxicos do ponto de vista agudo são, entretanto irritantes para os olhos e mucosas e são, principalmente, hipersensibilizantes, causando tanto alergia de pele como asma brônquica. Seu uso abusivo no ambiente doméstico vem ocasionando um aumento de caso de sintomas alérgicos.1.5 Pentaclororenol O Pentaclorofenol e o seu sal sódico (PCFNa - pentaclorofenato de sódio) são usados como inseticidas, herbicida, fungicida e bactericida, sendo 80% de sua produção destinada ao tratamento da madeira, protegendo-a contra fungos, cupins e outros insetos. Durante sua produção ocorre a formação de diversos compostos, em virtude o emprego de altas temperaturas e da condensação de duas moléculas do mesmo e que constituem contaminantes tanto do chamado produto técnico como no grau puro. Entre estes contaminantes destacam-se éteres difenilclorados, dihidroxibilfenis clorados e dibenzodioxinas. (PCDD). 50 Entre as dibenzodioxinas destaca-se a 2, 3, 7, 8 tetraclorodibenzo-p- dioxina (TCDD), que é um dos mais potentes agentes tóxicos de síntese conhecido além de possuir efeito teratogênico e carcinogênico, como as demais dioxinas. 2. METAIS 2.1 Cádmio (Cd) O minério de cádmio é encontrado na natureza junto com minérios de outros metais, principalmente zinco, mas também do cobre e do chumbo. É um metal pesado (densidade 8,6 g/cm3), maleável, branco prateado, e a maioria dos seus compostos inorgânicos são insolúveis na água, exceto o acetato, o cloreto e fluoreto. Tem pontos de fusão e ebulição relativamente baixos. O cádmio e seus compostos são utilizados como estabilizantes de plásticos, na produção de ligas especiais com outros metais, esmaltação de cerâmicas, solda e em ligas especiais, tratamento de superfície em galvânicas, produção de células fotovoltaicas, indústria de vidro, fabricação de lâmpadas de vapores de cádmio, na produção de pigmentos, na construção de reatores nucleares e em alguns componentes eletrônicos de informática. A produção de baterias de níquel-cádmio em um passado recente era uma das indústrias consumidoras de cádmio mais importantes, mas a produção deste tipo de bateria diminuiu muito com a surgimento das baterias de íon lítio. Também há exposição na produção primária de cádmio extraído dos minérios de zinco, chumbo e cobre. A exposição ocupacional ocorre principalmente por inalação de poeiras e fumos de compostos de cádmio. A exposição ambiental por alimentos e bebidas é baixa, até porque os compostos do metal são muito pouco absorvidos por via gastrointestinal, mas o tabagismo é uma fonte significativa de absorção de cádmio. 2.1.1 Toxicocinética do Cádmio A absorção pelo trato gastrointestinal é muito baixa, menos que 5%, mas pode ser aumentada se a dieta tiver uma deficiência de cálcio, ferro e zinco, pois nos indivíduos com deficiências destes metais há um aumento da produção da proteína de transporte (DMT-1), que transporta cádmio, aumentando a absorção do metal proveniente da dieta. Já na pele íntegra não há absorção do metal ou de seus compostos inorgânicos. O cádmio inalado em forma de fumos e poeiras é mais bem absorvido. As partículas menores, como poeiras e fumos, atingem os alvéolos, onde até 50% é absorvido. Já a poeira com particulado de maior diâmetro aerodinâmico tende a ter a maior parte retida na região traqueobrônquica. A parcela que não atinge os alvéolos permanece na região traqueobrônquica e acaba chegando à boca pelo movimento mucociliar, e sendo deglutida. Como o tabaco contém cádmio e é inalado em forma de fumos, os fumantes possuem um maior acúmulo corporal de cádmio no organismo em relação aos não fumantes. 51 O cádmio absorvido é transportado no sangue, sendo a maior parte ligado a hemácias (70-90%) e o restante no plasma ligado a proteínas de alto peso molecular como a albumina. Há uma proteína de baixo peso molecular, a metalotioneína que tem grande afinidade pelo Cd e outros metais, como cobre, mercúrio, zinco, prata. Esta proteína possui grande afinidade por metais, pois é rica em grupo S-H do aminoácido cisteína que compõe cerca de 35% desta proteína. A ligação dos metais como a proteína nos sítios S-H forma o complexo metal-tioneína, também denominado de metalotioneína (MT). A metalotioneína é sintetizada no fígado e o cádmio induz a sua produção. Além do fígado há grande quantidade desta proteína nos rins e nas hemácias. O complexo cádmio-metalotioneína (Cd-MT) é pequeno e pode ser filtrado pelo glomérulo e ser reabsorvido pelo túbulo proximal, onde é catabolizado e o cádmio liberado é ligado a uma outra tioneína sintetizada pelas células tubulares renais e assim pode permanecer por longos períodos nos rins. Em todos os seres humanos há um aumento de cádmio depositado com a idade, sendo maior nos fumantes. Do total depositado no organismo, cerca de 50% está nos rins, especialmente no córtex renal, 20% nos músculos e 15% no fígado, e o restante distribuído por outros tecidos. Nos indivíduos com exposição ocupacional a proporção do depósito hepático aumenta em relação ao renal, e esta proporção fígado/rins é maior quanto maior o depósito corporal. A meia vida biológica do cádmio é entre 10 a 30 anos, com uma média de 20 anos, no músculo, fígado e rins. No sangue é de duas fases, sendo a rápida de cerca de 90 dias e uma lenta de cerca de 10 anos. A excreção diária do cádmio é muito baixa, menos que 0,01% do depósito do organismo, o que explica a longa meia-vida biológica do metal. A eliminação é feita basicamente por via urinária na forma de cádmio complexado com metalotioneína. Em casos de exposições ocupacionais elevadas, o cádmio em excesso no fígado pode ser liberado à circulação levando a danos aos órgãos alvo mesmo após cessada a exposição. 2.1.1.1 Toxicodinâmica e efeitos O principal efeito do cádmio é a sua nefrotoxicidade crônica, mas existem efeitos agudos que ocorrem em exposições a concentrações muito elevadas. 2.1.1.1.1 EFEITOS AGUDOS Seu efeito agudo mais importante do cádmio é o dano pulmonar. Este efeito é causado por uma exposição extremamente elevada a poeiras com cádmio, por ocasião de moagem e empacotamento de compostos inorgânicos do metal, ou a fumos, que podem atingir soldadores de ligas de prata-cádmio. Também incêndios de baterias níquel-cádmio podem levar a quadros pulmonares graves, tanto pelo cádmio, quanto pelo níquel. A inalação maciça de fumos de cádmio leva ao aparecimento de sintomas cerca de 24 horas após a exposição e provoca sensação de secura no nariz e garganta, tosse intensa, cefaleia, dor torácica, febre e calafrios. O 52 quadro lembra o quadro de febre dos fumos metálicos, mas com maior gravidade dos sintomas respiratórios. Geralmente há recuperação dos pacientes, mas nos quadros mais graves há progressão para pneumonite química e edema pulmonar, com alta letalidade. Também já foram descritos casos que evoluíram com necrose tubular aguda, além do edema de pulmão. Há estimativas que níveis de exposição de cerca de 1 mg/m3 já provocam sintomas respiratórios, enquanto que concentrações por volta de 5 mg/m3 por 8 horas de exposição é potencialmente letal a quase todos os expostos. Deve-se atentar que estas concentrações são da ordem de milhares de vezes maiores que os limites ocupacionais de exposição. Não se conhece o mecanismo deste efeito pulmonar. 2.2.1.1.1.1 EFEITOS CRÔNICOS Respiratórios A exposição por longos períodos (10 a 30 anos) aos compostos de cádmio pode levar lentamente a uma doença obstrutiva caracterizado por bronquite e fibrose progressiva de vias aéreas inferiores e dano alveolar, que pode ser denominado de enfisema do cádmio, pois tem características próprias nas provas de função pulmonar e nos exames anatomopatológicos, sendo desta forma uma entidade diferente do enfisema clássico. Os quadros geralmente são leves, e não há clareza da existência de dose resposta deste efeito. O mecanismo deve ser similar ao que ocorre na doença pulmonar aguda. Anosmia Outro efeito crônico do cádmio é a diminuição do olfato, que pode chegar a anosmia (perda do olfato). Mesmo baixas exposições que não determinam danos em outros órgãos alvos, como os rins, podem levara perda de olfato e o mecanismo parece ser específico do cádmio nos neurônios olfatórios, ou não inespecífico, por irritação. Renais O cádmio provoca um dano tubular proximal, caracterizado pela excreção de proteínas de baixo peso molecular: β-2-microglobulina que é um marcador de danos às células tubulares. Além da proteinúria de baixo peso molecular pode haver presença de outros marcadores de dano tubular, como aminoácidúria, glicosúria, calciúria, fosfatúria. A ocorrência de cálculo renal, comum nestes pacientes, poderia ser explicada pela hipercalciúria (aumento da excreção de cálcio uirinário). Mais raramente pode aparecer proteinúria de alto peso molecular (albuminúria, imunoglobinúria) mostrando um dano glomelular, que pode se seguir à proteinúria de baixo peso molecular, nas há relatos de casos nos quais era a única alteração encontrada. O dano renal é proporcional a concentração de cádmio no córtex renal. Quando esta atinge 200 ppm já há possibilidade de início de dano. A concentração de cádmio no córtex renal é bem correlacionada com a concentração de Cádmio urinário (Cd-U). Quando atinge os 200 ppm, o Cd-U é 53 por volta de 10 µg/g.creat. e há uma prevalência de cerca de 10% de indivíduos com a proteinúria de baixo peso molecular. Com o aumento de Cd-U para 20 µg/g.creat. a prevalência de proteinúria aumenta para 20%. Esta alteração de renal pode não significar perda de função renal significativa no momento, mas pode comprometer a reserva funcional e ter repercussões no futuro em consequência do declínio da função renal pela idade. Efeitos ósseos A ação direta do cádmio sobre os ossos foi constatada em 1968 no Japão onde a população de uma localidade utilizou água contaminada por cádmio para irrigar uma plantação de arroz, que era consumido rotineiramente pelos habitantes da região. A água provinha da drenagem de uma mina de zinco abandonada. O quadro era caracterizado por osteomalácia, osteoporose, fraturas múltiplas, danos renais, intensas dores articulares e lombares. Foi denominada de Itai-Itai, que em japonês significa Dói-Dói, em consequência do enorme sofrimento das vítimas. Estas eram mulheres multíparas e em pós- menopausas, e foram considerados co-fatores para a instalação da doença a falta de vitamina D e a carência nutricional de cálcio, típica da dieta japonesa da época. A exposição ambiental a cádmio por água e/ou alimentos contaminados é associado a osteoporose por perda de densidade óssea, e aumento do risco de fratura em mulheres e pessoas idosas. Entre trabalhadores expostos os dados sobre efeitos ósseos são poucos e controversos, mas há algumas evidências que sustentam a existência de alterações da via metabólica da vitamina D e da densidade óssea, mesmo em baixas exposições a cádmio. A fisiopatologia não é elucidada, não estando claro se há algum efeito direto do cádmio no metabolismo da matriz óssea, ou se os efeitos são secundários ao dano renal, como a perda cálcio, fosfato ou a acidose. Carcinogênese A IARC classifica o Cádmio e seus compostos como carcinogênicos para humanos (Grupo1), sendo ligado a câncer de pulmão. Para câncer renal e de próstata há evidências limitadas. Já a ACGIH classifica-o como A2, ou seja, suspeito de ser carcinogênico em humanos. 2.1.2 Tratamento Não há tratamento específico para os efeitos do cádmio. A terapia quelante não tem se mostrado eficaz, mesmo em intoxicações agudas. 2.1.3 Controle da exposição e monitoramento biológico Existem limites estabelecidos para cádmio e seus compostos em vários países e instituições, conforme o quadro a seguir. 54 Limites de exposição para cádmio e seus compostos adotados em alguns países e instituições País / Instituição Limite para 8 horas de exposição (mg/m3) Obs ACGIH (EUA, 2024) 0,01 Particulado respirável para 8 horas ACGIH (EUA, 2024) 0,002 Compostos de cádmio China 0,01 Particulado total para 8 horas EUA (NIOSH) 0,01 Particulado total para 8 horas EUA (OSHA) 0,005 Particulado total para 8 horas Japão 0,05 Particulado total para 8 horas Existem dois indicadores biológicos possíveis para o controle da exposição a cádmio: o Cádmio no sangue (Cd-S) e o Cádmio urinário (Cd- U). O primeiro é um indicador de exposição corrente ou excessiva e indica se o ambiente de trabalho está controlado ou não. O segundo (cádmio urinário) é um indicador tanto de exposição corrente, quanto de acúmulo, dependendo do momento da coleta. Como indicador de acúmulo possui uma correlação com o dano renal, e não com a exposição corrente. O monitoramento biológico da exposição deve ser iniciado no mínimo após 6 meses do início da exposição, pois nos primeiros meses há um grande número de sítios de ligação de S-H disponíveis em muitas proteínas do organismo, principalmente nas metalotioneínas, e somente depois de um certo tempo há o estabelecimento de uma correlação entre a exposição e os indicadores. No caso do Cd-S, há uma subida rápida nos primeiros meses e depois permanece em um nível mais constante que realmente reflete o nível de exposição ambiental. Desta forma, dosa-lo no início do trabalho com exposição ao metal fornece a informação errônea, minimizando a real concentração no ambiente de trabalho. Também o Cd-U é muito baixo no início pois só vai se correlacionar com a exposição ocupacional após a saturação dos sítios da metalotioneína renal. Por este motivo o monitoramento biológico só deve ser iniciado após no mínimo 6 meses de exposição Indicador biológico de exposição ocupacional (IBE) ao Cd (Quadro 2 do Anexo I NR-7) Material biológico: urina. Valor de referência: até 2g/g de creatinina. IBE: 5 g/g de creatinina. No caso do Cádmio a ultrapassagem do IBE, além de mostrar exposição excessiva, tem significado clínico ou toxicológico próprio, ou 55 seja, pode indicar doença ou disfunção renal e neste caso deve ser emitida a CAT. Não há limite de tolerância ambiental para o Cádmio na legislação brasileira atual. 2.2 Cromo (Cr) Usos do Cromo: • ligas metálicas ácido resistentes • cromagem eletrolítica de metais (ácido crômico) • tratamento de madeiras (sais diversos) Fontes de exposição ocupacional • névoas de ácido crômico na cromagem eletrolítica de metais • produção e processamento de cromatos e bicromatos e ácido crômico. • Produção e uso do cimento (que contém quantidades variáveis de cromatos e bicromatos). Absorção, distribuição e excreção • Vias de penetração: oral, dérmica ou pulmonar. • A absorção depende do estado de oxidação, sendo que o cromo hexavalente (Cromo VI) tem uma absorção gastrointestinal de 2 a 6% e o cromo trivalente (Cromo III) tem uma absorção menor que 1%. • O cromo tem uma alta ligação com as proteínas plasmáticas (86 a 90%) e é armazenado nos pulmões, pele, músculos e tecido adiposo. Ação Tóxica 0 cromo III tem baixa toxicidade enquanto o cromo VI é o de maior toxicidade. A absorção por via oral produz vômitos e diarréia persistente com hemorragia intestinal grave devido a ulcerações por ação cáustica do metal. São descritos casos letais com doses de 1,5g de dicromato de potássio e para o ácido crômico a dose letal considerada é de 3,0g. Os agravos decorrentes da exposição ao Cromo são: • Na pele o cromo provoca dermatites de contato, eczema alérgico, ulcerações típicas (úlceras profundas, dolorosas e de difícil cicatrização) • Conjuntivites e ceratites superficiais. 56 • Perfuração do septo nasal, precedida de alterações no olfato e sangramento e ulcerações. • Rinite, laringite, pneumoconiose provocada pela poeira de cromita e asma (poeiras de cromato ou névoas de ácido). • Anemia em exposições prolongadas e comprometimento renal e hepático. • Carcinogênese: as poeiras de cromita e cromatos insolúveis são consideradas potencialmente cancerígenas,sendo que a incidência de câncer pulmonar (carcinoma broncogênico) em trabalhadores expostos ao cromo está demonstrada epidemiologicamente. Indicador biológico de exposição ocupacional (IBE) ao cromo hexavalente (compostos solúveis) (Quadro 1 do Anexo I da NR-7) Material biológico: urina Valor de referência: até 5g/g de creatinina. IBE: 25 µg/L ou 10 µg/L (conforme o momento da coleta da amostra). A ultrapassagem do IBE indica exposição ambiental excessiva não possuindo isoladamente significado clinico ou toxicológico próprio, ou seja, não indica doença nem está associado a um efeito ou disfunção de qualquer sistema biológico. Ou seja, é um Indicador do Tipo II. Não há limite de tolerância ambiental para o cromo na legislação brasileira A ACGIH (2024) estabeleceu para o cromo os seguintes valores de TLV-TWA: – Cromo Metálico: 0,5 mg/m³ – Compostos de Cromo III (compostos solúveis em água): 0,003 mg/m3 – Compostos VI (solúveis em água): 0,0002 mg/m3 2.3 Manganês (Mn) È um metal pesado e ocorre na natureza sob a forma mais abundante de carbonatos e silicatos. Os óxidos estão presentes na pirolusita (40 a 80% de MnO), braunita e manganita. Usos: fabricação de pilhas secas, eletrodos para solda, na indústria de ferro-ligas e com níquel e cobre, na fabricação de fertilizantes e fungicidas. Absorção, distribuição e excreção • Via respiratória: aerodispersóides (poeiras e fumos) com diâmetro menor de 1 micra atingem as porções inferiores do trato respiratório e podem ser absorvidas. 57 • Absorção gastrintestinal: maior em indivíduos anêmicos, guardando relação com o teor de ferro na dieta. Dieta pobre em ferro aumenta a absorção de manganês. • Armazenamento: fígado, pâncreas, rins. • A meia-vida plasmática, no homem, é de no máximo 5 minutos e a meia vida biológica de 37 dias, sendo nos ossos e cérebro os locais em que a remoção é mais lenta. • Excretado principalmente pela bile. Ação Tóxica Os estudos toxicodinâmicos são inconclusos quanto aos mecanismos da ação tóxica do manganês. O Manganês atravessa a barreira hemato-encefálica distribuindo- se com predominância para o gânglio basal o que justificaria a semelhança do quadro clínico de intoxicação por manganês com o Parkinsonismo. Sinais e Sintomas - Fase prodrômica (pré-clínica): anorexia, cefaleia, insônia e fraqueza geral. - Fase clínica inicial: inicio de manifestações extrapiramidais, tendo como sinais precoces os distúrbios da fala. Menor habilidade para realizar movimentos finos, hiperreflexia de tendões dos membros inferiores e aumento do tônus dos músculos faciais. - Fase clínica estabelecida: alterações psicomotoras e neurológicas, hipertonia muscular da face (“riso sardônico”) e dos membros inferiores. Astenia, dores musculares, parestesias, alterações da fala e da libido, micrografia e escrita irregular. Limite de tolerância ambiental para o manganês (Anexo 12 da NR- 15) • Operações de extração, tratamento, moagem do minério ou a outras operações com exposição a poeiras de manganês e seus compostos: 5,0 mg/m³ no ar, para jornada de até 8 horas/dia. • Operações de metalurgia de minerais de manganês, fabricação de compostos de manganês, baterias e pilhas secas, fabricação de vidros especiais e cerâmicas, fabricação de eletrodos de solda, de produtos químicos, fertilizantes ou operações com exposição a fumos de manganês ou seus compostos: 1,0 mg/m³ no ar, para jornada até 8/dia A ACGIH (2024) estabelece os seguintes limites: 58 - Manganês elementar: 0,02 mg/m³ - Manganês (compostos inorgânicos como Mn): 0,1 mg/m³ Não há indicador biológico de exposição ao manganês. Poderia ser usada a dosagem de manganês urinário mas esta não tem significado prático. 2.4 Chumbo (Pb) Propriedades físicas e químicas do Chumbo - Número atômico: 82. Peso Atômico: 207. - Densidade específica: 11,34 - Metal de cor cinza azulado - Temperatura de fusão: 327,5 °C - Temperatura de ebulição: 1.740°C, à pressão atmosférica - 4 isótopos naturais: 208, 206, 207 e 24 (em ordem de importância) - Estado de oxidação: 0, +2 (mais habitual) e + 4 - Sais inorgânicos (pouco solúveis): Sulfetos e óxidos de chumbo - Sais orgânicos: chumbo tetraetila e chumbo trietila - Outros sais orgânicos: acetato, estearato e oxalato Ocorrência e fontes de contaminação O chumbo existe de forma natural no ar, água, solo e plantas. Minerais: galena (PbS), cerusita [Pb(CO3)2] e anglesita (PbSO4) Fontes de exposição Mineração, fundição, refino Indústria e reforma de acumuladores elétricos (baterias) Aditivos de gasolina (chumbo trietila e tetraetila): em desuso Revestimentos de cabos (telefonia): em desuso) Pigmentos de tintas Explosivos (fuminato e azida de chumbo) Soldagens (solda de chumbo-estanho: solda branca) Tipos gráficos: em desuso Vias de Introdução, Absorção, Distribuição, Deposição e Eliminação O chumbo existente no ambiente pode ser introduzido no organismo por meio da inalação do ar atmosférico, ingestão (contaminação da água, alimentos, solo e clearance mucociliar das partículas depositadas na via respiratória), bem como pela via cutânea (compostos lipossolúveis) A deposição, retenção e a absorção de partículas no trato respiratório são muito complexas e de difícil avaliação, devido às diferenças existentes no tamanho, densidade, solubilidade das partículas, higroscopicidade, ritmo respiratório e duração de exposição, entre outros fatores. Calcula-se que 39 a 47% do chumbo inalado sejam retidos nos pulmões. 59 Pela via digestiva o chumbo é absorvido em cerca de 10%. Esta absorção é dependente, além das propriedades físico-químicas dos compostos de chumbo, dos níveis de cálcio, magnésio, ferro, fósforo e vitamina D presentes na dieta. Com relação à via cutânea as camadas superficiais, são muito densas, constituídas por queratina, apresentando cargas eletronegativas que repelem os anions e impedem a penetração profunda dos cátions, constituindo assim, numa barreira eficiente do tecido cutâneo na absorção de compostos metálicos. Por outro lado, os compostos orgânicos de chumbo, por exemplo, o chumbo tetra-etila e o chumbo tri-metila, são absorvidos pela pele intacta devida sua alta lipossolubilidade. Após ser absorvido, no sangue liga-se aos eritrócitos numa proporção superior a 90%. A concentração de chumbo no sangue é de fundamental importância na avaliação da exposição ao agente químico. Na distribuição do chumbo no organismo, dois compartimentos são de fundamental importância: o chamado compartimento de permuta, constituído pelo sangue e tecidos moles e o chamado compartimento de armazenamento, constituído principalmente pelos ossos. Nos tecidos moles é encontrado em baixas concentrações, sendo relativamente mais altas no fígado e nos rins. Cerca de 90% do chumbo normalmente encontrado no organismo está depositado nos ossos sob a forma de trifosfato. O teor total de chumbo no organismo normal, não ocupacionalmente exposto, oscila entre 100 da 400mg e aumenta com a idade. O chumbo absorvido é eliminado principalmente por meio da urina e fezes Ação tóxica e sinais e sintomas As principais ações tóxicas do chumbo no organismo compreendem: a) Na biossíntese do Heme da Hemoglobina O chumbo provoca diversas alterações bioquímicas não existindo evidências de uma função essencial do mesmo no organismo humano. O chumbo interfere em várias fases da biossíntese do heme onde se destaca as inibições da enzima “ácido delta aminolevulínico desidratase” (ALA-D) e heme-sintetase, e provavelmente da coproporfirinogênio descarboxilase. Consequentemente após essas interferências temos um aumento da excreção urinária do “ácido delta- aminolevulínico” (ALA-U), aumento da excreçãourinária de coproporfirina (COPRO-U) e aumento dos níveis eritrocitários de protoporfirina. 60 O aumento dos níveis de absorção de chumbo (Pb-S=Chumbo no sangue) produz: - diminuição da atividade enzimática da ALA-D - aumento da excreção urinária do ALA: ALA-U; - aumento da excreção urinaria da COPRO: COPRO-U - aumento dos níveis sanguíneos de FEP, PROTO-IX ou Zn-PPP. O ALA-U sofre interferência de outros metais no sentido de que estes aumentariam ou diminuíram sua excreção. b) No sistema nervoso Os efeitos dos compostos inorgânicos de chumbo no sistema nervoso variam com a duração e intensidade de exposição. Nas exposições crônicas os efeitos mais evidentes referem-se à encefalopatia, com irritabilidade, cefaléia, tremor muscular, alucinações, perda da memória e da capacidade de concentração. Esses sinais e sintomas podem progredir até o delírio, mania, convulsões, paralisias e coma. A encefalopatia provocada por compostos orgânicos de chumbo é até certo ponto diferente da provocada pelo chumbo inorgânico, com o aparecimento de alterações psiquiátricas com alucinações, tremores, delírio, insônia, cefaléia e profundas alterações do humor. No sistema nervoso periférico os efeitos tóxicos do chumbo inorgânico incluem fraqueza muscular, hiperestesia, analgesia e anestesia da área afetada caracterizando um quadro de polineuropatia periférica. c) No sistema renal O chumbo provoca dois efeitos distintos ao nível renal: um dano reversível no túbulo proximal e uma lenta e progressiva deficiência renal envolvendo redução na função glomerular associada a danos vasculares e fibrose. d) No fígado Não há evidências definitivas dos efeitos tóxicos do chumbo a nível hepático. Existe uma correlação estatisticamente significativa entre os teores de chumbo e a atividade da SGOT (transaminase oxalacética glutâmica sérica), entretanto a ausência de informações quanto à dieta, hábitos pessoais e infecções, não permitem conclusão definitiva. 61 e) Trato gastrointestinal As cólicas intestinais, denominadas cólicas satúrnicas, refletem quadro avançado dos efeitos tóxicos do chumbo. f) Outras ações Podem ocorrer ainda outras ações no sistema cardiovascular (hipertensão arterial e alterações no eletrocardiograma), no sistema reprodutor (infertilidade masculina), e em órgãos endócrinos (abortamentos espontâneos e partos prematuros) e diminuição da audição. O chumbo tem uma ação hemolítica, provocando anemia levemente hipocrômica e microcítica com aniso e poiquilocitose evidentes dos glóbulos vermelhos. Carcinogenicidade e teratogenicidade: os estudos epidemiológicos na área ocupacional, não fornecem evidências seguras dessas ações no homem. Limites de Tolerância - Chumbo Inorgânico: Poeiras e fumos – 0,1 mg/m3 (Anexo 11 da NR-15 (para exposições até 48 horas/semana) – 0,05 mg/m3 (ACGIH 2024) - Chumbo tetraetila como Pb: 0,1 mg/m3 (ACGIH 2024) - Chumbo tetrametila como PB: 0,15 mg/m3 (ACGIH 2024) VALORES DE ÍNDICADORES BIOLÓGICOS DE EXPOSIÇÃO (IBE) Chumbo e seus compostos inorgânicos (Indicadores do Tipo 1 com significado clínico) Chumbo no sangue (Pb-S) 60 µg/100ml(M) Ácido Delta Amino Levulínico na urina (ALA-U): 10 mg/g de creatinina. Mulheres em idade fértil, com valores de Chumbo no sangue (Pb-S) a partir de 30 µg/100ml, devem ser afastadas da exposição ao agente Chumbo tetraetila: Chumbo na urina 50 µg/L colhida no Final da Jornada de trabalho. É um indicador do Tipo II, revela exposição excessiva, mas não necessariamente adoecimento. 62 Tratamento das intoxicações por chumbo O tratamento da intoxicação por chumbo (saturnismo) consiste principalmente em afastar o paciente da fonte de exposição. Pode ser necessário o uso de hipotensores, antiarrítmicos e analgésicos O tratamento especifico consiste no uso de quelantes sendo os mais usados o sal cálcio dissódio do ácido etilenodiaminotetracético (CaNa2 EDTA), o dimercaprol (BAL) e a D-penicilamina. 3 OUTROS AGENTES QUÍMICOS DE IMPORTÂNCIA OCUPACIONAL 3.1 Monóxido de Carbono (CO) O monóxido de carbono é um gás incolor, inodoro, de densidades de 0,967 e dotado de grande poder de difusão. Resulta da combustão incompleta do carvão ou de materiais ricos em carbono. O CO compete com o oxigênio pela hemoglobina. Quando inalado, e absorvido ao nível do alvéolo pulmonar, combina-se com a hemoglobina para formar a carboxihemoglobina. A afinidade do CO pela hemoglobina é cerca de 200-250 vezes àquela do oxigênio, sendo, portanto, um asfixiante químico por impedir o transporte de oxigênio até os tecidos. 3.2 Cianetos O cianeto tem a capacidade de inibir enzimas possuidoras de metais em suas estruturas, especialmente o ferro e o cobre. O íon cianeto tem especial afinidade pela citocromo oxidase, enzima da fase final do mecanismo de transferência de elétrons para o oxigênio molecular, inibindo a respiração celular e provocando uma hipóxia histotóxica. O cianeto se liga ao ferro trivalente (Fé+³) formando o complexo cianocitocromo oxidase. Desta forma o cianeto é um asfixiante químico por impedir a utilização do oxigênio pelas células. 3.3 Sulfeto de Carbono (CS2) O sulfeto de carbono é bastante reativo para com os agentes nucleofílicos que se caracterizam pela presença de 1 par de elétrons livres na molécula, reagindo prontamente com grupos: amino (-NH2) mercapto (-SH) e hidroxila (-OH) A maioria das substâncias de interesse bioquímico (aminoácidos, animas biogênicas etc.) possui estes grupos nucleofílicos podendo, portanto, reagir com o sulfeto de carbono. Os produtos formados, ditiocarbamatos e 63 tiotiazolidona teriam a capacidade de quelar metais essenciais, especialmente, cobre e zinco, através dos grupos sulfidrilas. Outra ação tóxica do sulfeto de carbono provavelmente ocorre com a piridoxamina (uma das formas fundamentais da vitamina B6), provocando inibição em sistemas enzimáticos nos quais a vitamina B6 esteja envolvida como coenzima. A exposição ao sulfeto de carbono está associada à aterosclerose precoce, com ocorrência de infarto do miocárdio, além de distúrbios psiquiátricos. 3.4 Anilina A anilina líquida pode ocasionalmente produzir dermatite alérgicas por contato. A anilina pode ingressar no organismo pela inalação de vapor ou por absorção pela pele. A principal ação exercida pela anilina se situa ao nível da hemoglobina convertendo–a em meta-hemoglobina, provocada pela fenil-hidroxilamina e nitro-benzeno produtos resultantes da sua biotransformação. A meta-hemoglobina não pode transportar oxigênio e, portanto, uma metahemoglobinemia elevada é incompatível com a vida. Exposições prolongadas ou repetidas podem ocasionar anemia. Segundo o Anexo 11 da NR-15 o Limite de tolerância para a anilina é de 4 ppm ou 15mg/m³ para 48 horas/semanais, sendo também absorvida pela pele. 3.5 Arsênio Os efeitos da intoxicação arsenical podem ser explicados pelo ataque ao sistema responsável pela descarboxilação oxidativa dos ácidos cetônicos especialmente o ácido pirúvico. Deve ser lembrado que há também evidências experimentais de que um grande número de outros sistemas enzimáticos essenciais para equilíbrio orgânico (homeostase) é atacado sendo que já foi demonstrado que todos esses sistemas possuem grupos -SH como fator comum de inativação. Na descarboxilação do ácido pirúvico o arsênico trivalente interfere no processo inibindo o ácido lipóico que é o responsável pela conversão do piruvato a acetil Coenzima A. Como conseqüência, tem-se um acúmulo de ácido pirúvico no sangue e alterações na formação da Acetil CoA (acetilcoenzimaA) em vários tecidos, inclusive resultando em alterações ao nível do sistema nervoso central, particularmente sensível às perturbações desta natureza. As manifestações clínicas da exposição ao arsênio dependem da espécie química do arsênio envolvida, além da dose e do tempo de exposição. 64 O principal órgão afetado pela exposição ao arsênio é a pele que apresenta lesões eritematosas que podem progredir para a hiperpigmentação (melanose). Ocorre ainda hiperqueratose típica na plantas dos pés e nas palmas das mãos, progredindo para os dedos das mãos e pés. São lesões de aparecimento tardio com tempo médio de latência de 23 a 28 anos e podem regredir ou persistir mesmos depois de cessada a exposição. Carcimomas espino-celulares induzidos pelo arsênio são frequentemente múltiplos e mais comuns nas extremidades. Efeitos neurológicos tardios do sistema nervoso central e periférico, após 1 a 5 dias após ingestão aguda de altas doses de arsênio inorgânico. Outros efeitos do arsênio: cardiovasculares (arritmias cardíacas, hipertensão arterial e cardiopatia isquêmica); hematológicos (anemia, leucopenia, trombocitopenia); gastrointestinais (náusea, vômitos, diarréia, dor abdominal e hemorragia gastrointestinal), hepáticos (alteração nas enzimas hepáticas podendo evoluir paar fibrose hepática, sendo que angiossarcomas tem sido atribuídos à exposição crônica ao arsênico). Ocorrem ainda efeitos renais (falência renal), efeitos respiratórios (rinites, laringites, traqueobronquites e asma), efeitos reprodutivos (mal-formações em espécies de animais). Ocorre aumento da prevalência de diabetes. A IARC considera o arsênio como cancerígeno, sendo que há evidências suficientes de que a ingestão de água com arsênico causa câncer de bexiga, pulmão e pele em humanos. Indicador biológico de exposição (IBE) ao Arsênico conforme o Quadro do Anexo I da NR 7. Arsênico elementar e seus compostos inorgânicos solúveis, exceto Arsina e Arsenato de Gálio: Arsênio inorgânico mais metabólitos metilados na urina 35 µg/L, colhida após 4 ou 5 jornadas de trabalho consecutivas. São indicadores do Tipo, isto, é, revelam exposição excessiva e não necessariamente adoecimento. Não há limite de tolerância ambiental para o arsênico na legislação brasileira. A ACGIH (2024) determina para os compostos inorgânicos de Arsênio como As o valor de 0,01 mg/m3 4 SOLVENTES 4.1 Definição Qualquer substância (usualmente líquida) que dissolve outra substância, resultando em uma solução uniformemente dispersa como mistura. 65 Os solventes podem ser classificados como AQUOSOS (baseados em água) ou ORGÂNICOS (baseado em hidrocarbonetos). A maioria dos solventes industriais é constituída de compostos orgânicos e usados para: LIMPEZA, DESENGRAXE OU EXTRAÇÃO 4.2 Classificação dos solventes a) HIDROCARBONETOS ALIFÁTICOS: Pentano, Hexano, Heptano b) HIDROCARBONETOS ALIFÁTICOS CÍCLICOS: Ciclopentano, ciclohexano c) HIDROCARBONETOS AROMÁTICOS: Benzeno, Tolueno, Xileno, Estireno d) HIDROCARBONETOS ALIFÁTICOS HALOGENADOS: Tricloroetano, percloroetileno, tricloroetileno, tetracloreto de carbono e) ALCOÓIS: metílico, etílico f) CETONAS: Acetona, MEK (metil-etil cetona), MIBK (metil-iso-butil-cetona) g) ÉSTERES: acetato de etila, de propila h) ÉTERES: éter etílico i) GLICÓIS: etileno glicol, dietileno glicol, trietileno glicol, propileno glicol j) Outros compostos: dissulfeto de carbono, benzina, terebentina. 4.3 Efeitos dos solventes 4.3.1 Sobre a Pele: Dermatite: 20% dos casos A maioria é irritante primário, provocando um efeito desengordurante na pele. Alguns provocam dermatite de contato alérgica. 4.2.2 Sobre Sistema Nervoso Central - Efeitos agudos: Depressão do SNC ou anestesia - Efeitos crônicos: Distúrbios neurocomportamentais como, por exemplo, os causados pelo Dissulfeto de Carbono. - Outros efeitos sobre o SNC: sintomas subjetivos, mudanças de personalidade ou do humor (depressão, ansiedade), função intelectual reduzida, cefaléia, fadiga, perda da memória recente, dificuldade de concentração. 66 4.2.3 Efeitos Hepatotóxicos Ocorrem principalmente com os solventes halogenados e com radicais nitrosos. São fracamente hepatóxicos o benzeno, tolueno, xileno, ésteres e cetonas. São também descritos casos de necrose hepática aguda por exposição ao 2- nitropropano e de hepatite crônica por exposição ao Tetracloreto de Carbono (CCl4) 4.2.4 Efeitos renais Insuficiência renal aguda: intoxicação aguda por solventes halogenados 4.2.5 Efeitos Hematológicos a) Anemia aplástica/leucemia: Benzeno b) Anemia hemolítica: glico-éteres 4.2.6 Outros efeitos São descritos ainda efeitos sobre o sistema reprodutivo, defeitos congênitos do SNC e efeitos teratogênicos (por exemplo: álcool etílico) ANEXO I - CANCERÍGENOS 67 Grupo 1: Produtos ou processos carcinogênicos para seres humanos (IARC)20 Aflatoxinas 4-Aminobifenil Arsênico e seus compostos Asbestos (Amianto) Azatioprina Benzeno Benzidina Berílio e compostos de berílio (avaliados como um grupo) N,N-Bis(2-cloroetil)-2-naftilamina (Clornafazina) Bis(clorometil)eter e clorometil metil eter 1,4-Butanediol dimetanosulfonato (Busulphan; Myleran) Cádmio e compostos de cádmio (avaliados como grupo) Clorambucil 1-(2-Cloroetill)-3-(4-metilciclohexil)-1-nitrosourea (Metil-CCNU; Semustine) Cromo e seus compostos (avaliados como grupo) Ciclosporina Ciclofosfamida Dietilestilbestrol Virus de Epstein-Barr Erionita Óxido de etileno Etoposida em combinação com cisplatina e bleomicina Radiação Gama Infecção com Helicobacter pylori Infecção crônica com Vírus da Hepatite B Infecção crônica com Vírus da Hepatite C Infecção com o vírus tipo 1 da Imunodeficiência Humana Papilomavirus Humano dos tipos 16 e 18 Vírus linfotrópico tipo I da célula T Melfalan 8-Metoxipsoralen (Methoxsalen) com radiação ultavioleta MOPP e outras quimioterapias combinadas incluindo agentes alquilantes Gás Mustarda 20 Ver lista atualizada em: www.iarc.fr http://www.iarc.fr/ 68 2-Naftilamina Neutrons Compostos de níquel (Avaliados como um grupo) Terapia pós-menopausa com Estrógenos Estrógenos não esteróides (Aplica-se ao grupo de compostos e não a um composto individual dentro do grupo) Estrógenos esteróides (Aplica-se ao grupo de compostos e não a um composto individual dentro do grupo) Contraceptivos orais combinados (Há também evidências conclusivas que estes agentes têm um efeito protetivo contra câncer de ovário e de endométrio) Contraceptivos orais sequenciais Fósforo -32, como fosfato Plutônio-239 e seus produtos de decaimento Iodo Radioativo, isótopos de vida curta, incluindo o I -131, proveniente de acidentes com reatores atômicos e de detonação de armas nucleares Radionuclídeos, emissores de partículas alfa e beta Rádio -222 , 224 , 226 e 228 e seus produtos de decaimneto Infecção com Schistosoma haematobium Sílica cristalina (Inalada na forma de quartzo ou cristobalita de fontes ocupacionais) Radiação Solar Talco contendo fibras asbestiformes Tamoxifen (Há também evidências conclusivas que o Temoxifen reduz o risco de cancer de mama contralateral) 2,3,7,8-Tetraclorodibenzo-para-dioxina Tiotepa Tório-232 e seus produtos de decaimento e dióxido de tório –232 Treosulfan Cloreto de vinila R-X e Raios Gama Misturas Bebidas alcoólicas Misturas Analgésicas contendo Fenacetina Tabaco e seus produtos Piches de alcatrão Alcatrão de carvão mineral Óleos minerais não tratados ou pouco tratados (não purificados) 69 Peixe Salgado (Estilo Chinês) Óleos de XistoFuligem Tabagismo Poeiras de madeira Exposições circunstanciais Produção de Alumínio Produção de Auramina Manufatura e reparo de calçados Gaseificação de carvão mineral Produção de Coque Fabricação de móveis Mineração subterrânea de Hematita com exposição a Radônio Fundição de ferro e aço Manufatura de Isopropanol por processo de ácido forte Manufatura de Magenta Exposição ocupacional como Pintor Indústria da Borracha Misturas de ácido fortes inorgânicos contendo ácido sulfúrico ANEXO II TABELA DE CLASSIFICAÇÃO QUÍMICA DOS PRINCIPAIS AGENTES TÓXICOS OCUPACIONAIS E EFEITOS GERAIS 70 Agentes Tóxicos Efeitos (Sinais e sintomas) 1. HALOGENOS (BR2, Cl2 F2) Irritação da via respiratória. Danos severos na via respiratória. Edema pulmonar, hemorragia nasal, vertigens e cefaléia 2. PRODUTOS ALCALINOS: Hidróxido de Amônia, Hidróxido de Cálcio, Óxido de Cálcio, Hidróxido de Potássio, Carbonato de Sódio e Hidróxido de Sódio Danos irreversíveis na via respiratória (necrose) Pneumonia química e edema pulmonar: Hidróxido de amônia e Óxido de Cálcio 3. COMPOSTOS INORGÂNICOS DE O, N e C Ozona (O3) Irritante, congestão e edema pulmonar, cefaléia, vertigens Nitrogênio Asfixiante simples N2O (óxido nitroso) Narcótico leve NO2 e NO4 Irritantes. Edema pulmonar NO (óxido nítrico) Paralisia do SNC e Meta-hemoglobinemia CO Carboxi-hemoglobina; asfixiante químico (ou bioquímico) CO2 Asfixiante simples COCl2 (Fosgênio) Irritante pulmonar 4. HIDROCARBONETOS ALIFÁTICOS 4.1. Hidrocarbonetos alifáticos saturados (parafinas) (CnH2n+2) CH4 (Metano) e C2H6 (etano) Asfixiantes simples C3H8 (propano) e C4H10 (butano) Depressores do SNC e irritantes moderados das mucosas C5H12(Pentano),C6H14(Hexano),C7H16 (Heptano) e C8H18 Neurotóxicos periféricos Etileno, Propileno, 1,3-Butadieno, e Isopreno Asfixiantes simples ou anestésicos leves. O 1,3 Butadieno é também cancerígeno 5 . HIDROCARBONETOS ALICÍCLICOS CicloHexano, Metilciclohexano, Decalino, diciclopentadieno, hidrocarbonetos terpênicos Ação anestésica e Depressão. Irritação das mucosas 6. HIDROCARBONETOS AROMÁTICOS Benzeno (C6H6) Ação mielotóxica e Carcinogênica Tolueno, Etilbenzeno, Xileno, Naftaleno Edema pulmonar, pneumonites, hemorragias, depressão do S.N.C e narcose Estireno Náuseas, vômitos, anorexia, astenia, leucopenia (rapidamente reversível) Mutações somáticas, depressão do Sistema Nervoso Central. 7. HIDROCARBONETOS HALOGENADOS Cloreto de Metila, Cloreto de Metileno, Clorofórmio, Bromofórmio, Tetracloreto de Carbono, Cloreto de Etila, 1,1,1 – tricloroetano, Cloreto de Vinila, Tricloroetileno., Percloroetileno, Diclorodiflurometano (Freon), Clorobenzeno, O-diclorobenzeno, Dieldrin Depressores do Sistema Nervoso Central e Hepatotóxicos 8. FENÓIS E COMPOSTOS FENÓLICOS 71 Fenos, Hidroquinona, Cresol, Pentaclorofenol Vômitos, dificuldades de deglutição, diarréia, tremores, convulsões, cefaléias, desmaios, cianose (metahemoglobinemia), danos hepáticos e renais. 9. ÁLCOOIS Álcool metílico, álcool etílico, álcool propílico e isopropílico, álcool isobutílico, álcool alílico. Narcóticos, irritação das vias respiratórias superiores, espasmos musculares, tremores, cefaléias, edema pulmonar, diarréia, convulsões, vômitos, danos hepáticos e renais 10 – GLICÓIS Etileno Glicol Alterações hematopoiéticas, falência cardíaca, danos renais e cerebrais Etileno Glicol Ésteres Danos severos no fígado e rins. Encefalopatia 11- COMPOSTOS EPÓXI ALFA EPÓXI COMPOSTOS Suspeitas de carcinogênese Epiclorhidina Irritante dos olhos, pele e via respiratória. Náuseas e vômitos. Desconforto abdominal, danos hepáticos renais e pulmonares Óxido de Etileno Náuseas, vômitos, irritação nasal, de garganta e pulmões. Edema pulmonar. Carcinogênico, teratogênico e mutagênico Óxido de propileno Irritante respiratório, leve depressor do S.N.C., lesões hepáticas e renais pouco significativas 12 – ÉTERES Metílico, etílico, isopropílico, éter bis- clorometílico, éter clorometilmetílico Anestésicos, irritação de mucosas, edema pulmonar, danos renais, câncer (brônquio) 13 – CETONAS Metiletilcetona, metilisobutilcetona, diisobutilcetona Narcose, cefaléia, fotofobia, náuseas e vômitos, vertigens, Incoordenação motora, inconsciência, irritação de mucosas, neuropatias periférica (cetonas específicas) 14- ALDEÍDOS Acetaldeído, acroleina, formaldeído, furfural Irritantes de mucosas, narcose, edema pulmonar, bronquite e broncopenumonite, sensibilização pulmonar e crises asmáticas 15- ÁCIDOS ORGÂNICOS E ANIDRIDOS Ácido acético, anidrido acético, ácido fórmico, ácido oxálico, anidrido ftálico Irritantes, sensibilizantes (anidridos), broncopneumonite, edema pulmonar e danos renais 16- ÉSTERES Acetato de etila, silicato de etila, formato de etila, formato de metila Anestésicos e irritantes (ésteres alifáticos) lacrimejamento, produção de vesículas e irritação pulmonar (ésteres halogenados), sistema nervos e neuropatia (ésteres fosfatos) 17– FOSFATOS ORGÂNICOS (INSETICIDAS) Diazinon, DDVP, Malation e outros, Paration e outros Sinais e sintomas que mimetizam a acetilcolina (efeitos muscarínicos) e nicotínicos, atuam sobre o S.N.C e periférico 72 18 – CIANETOS E NITRILAS E COMPOSTOS RELACIONADOS HCN (cianeto de hidrogênio), NaCN (cianeto de sódio{), KCN (Cianeto de potássio) Prostração, cefaléia, convulsões, náuseas, vômitos, edema pulmonar, choque, inconsciência, morte, asfixiante químico Acrilonitrila Câncer de colo uterino e de pulmão Di-isocianato de Tolueno (TDI) Cefaléia, insônia, e asma alérgica 19 –COMPOSTOS DE NITROGÊNIO Alquilnitritos, Alquilnitratos, Cloronitroparafinas, compostos Nitroaromáticos, Nitrometano, Nitropropano, Nitrato de Metila, Nitrito de Amila, Benzidina, Cloroanilina, Dinitrobenzeno, Nitrotolueno, Toluidina Exposições agudas: cianose Exposições crônicas: anemia, irritação local e danos hepáticos, metahemoglobinemia e suspeitos de carcinogenicidade. ANEXO III SITES DE INTERESSE PARA PESQUISAS DE TOXICOLOGIA 1) www.ccohs.ca - Centro Canadense de Segurança e Saúde Ocupacional 2) www.occuphealth.fi Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional 3) www.asse.org Sociedade Americana de Engenheiros de Segurança 4) www.acgih.org Conferência Americana de Higienistas Industriais Governamentais 5) 6) www.osha-public.gov/Public Agência de Segurança e Saúde Ocupacional do Governo Americano 7) 8) www.cdc.gov/niosh Instituto Nacional para Segurança e Saúde Ocupacional – Fichas de Segurança Química Internacional 9) www.iarc.fr – Internacional Agency for Research on Cancer 10) www.ilo.org - Organização Internacional do Trabalho 11) www.mtas.es/Publica/enciclo/default.htm Enciclopédia de Segurança e Saúde Ocupacional da O.I.T. (em espanhol) 12) www.mtas.es/insht - Fichas de Segurança Química do Instituto Nacional de Segurança e Higiene do Trabalho no Ministério de Previdência e Assuntos Sociais da Espanha. 13) -https://www.dguv.de/ifa/gestis/gestis-stoffdatenbank/index-2.jsp - GESTIS Banco de dados alemão de informação sobre substâncias perigosas http://www.ccohs.ca/ http://www.occuphealth.fi/ http://www.asse.org/ http://www.acgih.org/ http://www.osha-public.gov/Public http://www.cdc.gov/niosh http://www.iarc.fr/ http://www.ilo.org/ http://www.mtas.es/Publica/enciclo/default.htm http://www.mtas.es/insht https://www.dguv.de/ifa/gestis/gestis-stoffdatenbank/index-2.jspIPOG - Instituto de Pós- Graduação e Graduação. Os dados e informações aqui contidas não eximem de consulta e do estudo da legislação pertinente. Trechos e excertos desta Apostila poderão ser utilizados apenas para fins didáticos e desde que façam referência ao autor que detém os direitos autorais. Mário Parreiras de Faria Mestre em Saúde Pública pela Faculdade de Medicina da UFMG Especialista em Medicina do Trabalho pela Associação Nacional de Medicina do Trabalho/AMB 6 I – INTRODUÇÃO Durante séculos a Toxicologia apresentou um caráter forense quando os eventos letais, provocados por exposições ou envenenamentos acidentais ou intencionais, eram o centro dos interesses toxicológicos. O estudo dos venenos e da toxicologia se iniciou cerca de 500 anos atrás, durante a Renascença, um período de grandes mudanças e de desafios ao pensamento tradicional. Paracelsus1, considerado pai da Toxicologia, estabeleceu o princípio de dose/resposta: "Todas as substâncias são venenos. Não há nenhuma que não seja veneno. A dose correta faz a diferença entre um veneno e um remédio.” Este princípio é muitas vezes usado para afirmar que mesmo a ingestão de uma grande quantidade de água pode ser prejudicial, assim como se deve notar que pequenas quantidades de algumas substâncias também podem causar sérios agravos à saúde. Em 1775 o cirurgião inglês Percivall Pott fez o primeiro reconhecimento de um câncer de origem ocupacional ao observar que a exposição à fuligem estava relacionada ao câncer escrotal em limpadores de chaminés. Credita-se ao toxicologista e químico francês Mathieu Orfila (1787- 1853), a fundação da moderna ciência toxicológica, em parte por meio de seus estudos e análises forenses relacionados ao envenenamento por arsênico, procurando associá-lo à jurisprudência, ou seja, à necessidade das análises toxicológicas como prova legal das intoxicações (Gilbert, 20122). A Toxicologia pode ser definida como o estudo dos efeitos adversos de agentes químicos sobre organismos vivos. Embora esta definição possa parecer relativamente simples há alguns aspectos que valem a pena ser explorados. Efeitos adversos podem variar desde efeitos óbvios como morte, câncer e lesões como uma queimadura por ácido a efeitos indesejados como excesso de cafeína. Como nossa compreensão da toxicologia tem aumentado, tem havido uma mudança no foco para reconhecer a sensibilidade individual e os efeitos adversos mais sutis tais como uma diminuição na aprendizagem e memória (Gilbert, op. cit.). A Toxicologia como ciência pode ser dividida em várias áreas de conhecimento como mostrado na Figura 1. 1 Phillippus Aureolus (1493-1541), nascido na Suíça, tomou o pseudônimo de Theophrastus Bombastus von Hohenheim e mais tarde assumiu o nome Paracelsus (1493-1541). Este nome significaria seu desejo de se aproximar do filósofo e escritor médico romano Aulus Cornelius Celsus (3 AC-64 DC), que propagou a necessidade limpeza e recomendou lavar as feridas com anti-séptico como o vinagre. 2 Gilbert S.G. A Small Dose of Toxicology, Healthy World Press. A project of the Institute of Neurotoxicology and Neurological Disorders (INND) Seattle, Second edition, January 2012 7 FIGURA 1: Áreas de conhecimento da Toxicologia O CAS (Chemical Abstract Service) da Sociedade Americana de Química tinha registradas, em novembro de 2024, cerca de 279 milhões de substâncias químicas registradas entre orgânicas e inorgânicas, como ligas, compostos, minerais, misturas, polímeros e sais3. Esta produção acelerada de substâncias químicas não tem sido acompanhada, na mesma velocidade, pelas pesquisas sobre os seus efeitos negativos sobre o ser humano. Das substâncias químicas conhecidas cerca de 1.200 têm Limites de Exposição Ocupacional estabelecidos em diversos países, sendo que no Brasil temos apenas 143 Limites de Tolerância4 para os produtos químicos e apenas 38 constam do Anexo II do Decreto 3.048/99 que lista os agentes patogênicos causadores de doenças profissionais ou do trabalho reconhecidas pela previdência social no Brasil. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2021), todos os anos, mais de 1 bilhão de trabalhadores são expostos em seus ambientes de trabalho a substâncias perigosas, incluindo poluentes, poeiras, vapores e fumos. Muitos destes trabalhadores perdem a vida após tais exposições, sucumbindo a doenças, como câncer e envenenamentos e a lesões após incêndios ou explosões. Também devemos considerar ao risco adicional que trabalhadores e suas famílias enfrentam com lesões não fatais que resultam em invalidez, doenças crônicas debilitantes e outras sequelas de saúde, que 3 CAS- Chemical Abstract Service: https://www.cas.org/cas-data/cas-registry. Acesso em 02 de março de 2023 4 Anexo 11 da Nora Regulamentadora-15 – Atividades e Operações Insalubres (em vigor) https://www.cas.org/cas-data/cas-registry 8 infelizmente, em muitos casos, permanecem invisíveis. Todas essas mortes, lesões e doenças são totalmente evitáveis.5 Estimativas publicadas pela OIT (OIT, 2021. op.cit.) revelam que mais de 2.780.000 trabalhadores morrem no mundo a cada ano devido às suas condições de trabalho e que a exposição a substâncias perigosas. Isso se traduz em que pelo menos um trabalhador morre a cada 30 segundos devido a exposição ocupacional a substâncias químicas perigosas. A OIT (OIT, 2021, op. cit.) reconheceu que a proteção dos trabalhadores contra produtos químicos perigosos é essencial para garantir populações saudáveis e ambientes sustentáveis. No entanto, os trabalhadores continuam a ser desproporcionalmente expostos a produtos químicos em quase todos os setores de trabalho. Por outro lado, a produção de agentes químicos bem como as indústrias que os utilizam vem se expandindo, o que significa um alto potencial para maior exposição ocupacional. Além disso, com novos produtos químicos introduzidos a cada ano, há um esforço para introduzir mecanismos para regular a exposição, como o estabelecimento de limites de exposição ocupacional que procuram acompanhar a velocidade com que as substâncias químicas são introduzidas nos processos e ambientes de trabalho. As exposições ocupacionais a produtos químicos têm efeitos tóxicos em diferentes sistemas do corpo humano, incluindo os sistemas reprodutivo, cardiovascular, respiratório e imunológico, bem como em órgãos específicos, como o fígado e cérebro. Entre os principais agravos à saúde relacionados à exposição a substâncias químicas podemos citar: a) Intoxicações exógenas b) Drogas que causam dependência c) Exposição ocupacional d) Exposição ambiental da comunidade e) Poluição urbana f) Resíduos e contaminantes em ar, solo e água g) Acidentes ou catástrofes ambientais Ia. Princípios da Toxicologia6 Há três princípios ou conceitos básicos em Toxicologia: 1. Dose/resposta; 5 ILO. International Labour Office. Exposure to hazardous chemicals at work and resulting health impacts: A global review. International Labour Office – Geneva: ILO, 2021. Disponível em: http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_dialogue/--- lab_admin/documents/publication/wcms_795460.pdf Acesso em 10 nov 2021 6 Modificado de Gilbert, S.G, 2012, op. cit. http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_dialogue/---lab_admin/documents/publication/wcms_795460.pdfhttp://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_dialogue/---lab_admin/documents/publication/wcms_795460.pdf 9 2. Perigo (ou fator de risco) e exposição que produz ou eleva o risco e 3. Sensibilidade e susceptibilidade individuais. Suscetibilidade e Sensibilidade Suscetibilidade se refere às diferenças individuais na sensibilidade a agentes tóxicos, levando as pessoas a sofrer maiores efeitos que outras em face de uma mesma exposição. Isto é um conceito básico em toxicologia e deve ser levado em conta na análise e na gestão de risco. Susceptibilidade está relacionada a diversos fatores, incluindo idade, gênero (sexo), antecedentes genéticos e de saúde. Sensibilidade está relacionada à suscetibilidade, mas geralmente se refere a casos de extrema susceptibilidade a certos agentes por determinadas pessoas. Alguém que é alérgico a picadas de abelha pode ter uma reação fatal quando picada por uma única abelha, enquanto, para a maioria das pessoas, uma única picada não é motivo de preocupação. Por outro lado, uma maior sensibilidade pode se desenvolver após a exposição repetida a um agente ou um agente semelhante. Alergia a pelos de animais como gatos ou cães são exemplos de sensibilidades específicas a pelos destes animais. Outros indivíduos podem desenvolver sensibilidade aos resíduos de ácaros. Idade. Em geral pessoas jovens ou idosos são mais suscetíveis a efeitos adversos de um determinado agente químico. Os jovens, particularmente os muito jovens, são mais sucetíveis porque seu organismo está rapidamente se desenvolvendo e células em divisão são mais facilmente lesadas que as células maduras. Por exemplo, o chumbo afeta o desenvolvimento do sistema nervoso de um jovem em maior grau que no cérebro de pessoas adultas, pois o cérebro se desenvolve mais rapidamente após o nascimento e especialmente nos primeiros sete anos de vida, sendo que este não está completamente desenvolvido até a adolescência. Além do mais, durante os primeiros anos de vida o metabolismo hepático dos agentes químicos também está reduzido. Por outro lado, os idosos são mais sensíveis aos agentes químicos por causa de sua reduzida capacidade de metabolizá-los e compensar seus efeitos O gênero também tem um papel importante na suscetibilidade aos agentes químicos, em parte devido às influências hormonais. Neste caso, uma pequena exposição a hormônios específicos tem uma grande influência na fertilidade, como é o caso dos anticoncepcionais. Outros agentes como os PCB (policlorobifenilas) também parecem afetar alguns hormônios femininos. Mulheres têm problemas adicionais relacionados à gravidez, que causam mudanças fisiológicas que podem alterar a absorção, distribuição e metabolismo de um agente químico e influenciar seus efeitos. Por exemplo, durante a gravidez há um decréscimo no metabolismo hepático que aumenta a meia-vida da cafeína, enquanto a mobilização de cálcio durante a gravidez também pode provocar a redistribuição chumbo dos ossos se houver ocorrido uma exposição prévia ao chumbo. 10 Saúde individual é outro fator que pode influenciar a susceptibilidade a um agente químico. Um órgão como o fígado ou um sistema imunológico comprometido pode fazer com que baixos níveis de exposição a um agente sejam intoleráveis. Um diabético pode ter um efeito tóxico ao açúcar e pode encontrar um benefício considerável nos adoçantes. Por outro lado, os indivíduos que não podem metabolizar a fenil-alanina, uma substância natural e essencial e que pode ser encontrada em adoçantes artificiais, podem sofrer um efeito tóxico ao beber refrigerantes com adoçantes artificiais. Um indivíduo asmático pode ter agravo extremamente sério se for exposto à fumaça de queima de madeira ou a inseticidas do grupo dos piretróides, enquanto muitas pessoas toleram exposições curtas. A fumaça de madeira é, no entanto, tóxica e exposições crônicas podem ocasionar problemas de saúde. As alterações fisiológicas de algumas doenças ou doenças crônicas são, portanto, considerações muito importantes na avaliação da exposição a um agente químico. Finalmente, nossas variações genéticas podem nos tornar mais ou menos propensos a doenças ou aos efeitos tóxicos dos agentes químicos. Alguns podem tolerar cafeína antes de dormir, enquanto para outros a exposição pode resultar em uma noite mal dormida. Assim, é sempre importante considerar as características individuais em uma situação de exposição a agentes químicos. Embora estes princípios possam formar a base da toxicologia, podem ocorrer divergências sobre a importância relativa de qualquer um desses princípios quando tentamos avaliar as implicações para a saúde pública. Explorar estes princípios é um primeiro passo essencial antes de examinar a sua aplicação para qualquer substância específica II – TOXICOLOGIA OCUPACIONAL A partir de observações e publicações, entre as quais, de Bernardino Ramazzini (1.638-1.714), Percival Pott (1.765) e K.B. Lehmann de Wutzburg (1.884), surge a denominada Toxicologia Ocupacional, considerada uma das áreas mais importantes da Toxicologia, não apenas pela existência de um grande número de substâncias químicas e principalmente pelos trabalhadores que, dia após dia, desempenham suas atividades profissionais com frequentes exposições a agentes químicos. Podemos conceituar Toxicologia Ocupacional “como a área da Toxicologia que estuda a interação entre os agentes químicos, caracterizados como matérias-primas, produtos intermediários e/ou produtos acabados, e a saúde do Homem no seu ambiente de trabalho com o objetivo de detectar possíveis alterações biológicas" Vários aspectos entre outros, são estudados pela Toxicologia Ocupacional sob forma mais abrangente: • os agentes tóxicos no ambiente ocupacional 11 • as características físicas e químicas dessas substâncias • aspectos toxicocinéticos • grau de toxicidade • mecanismos de ação tóxica • estudo das intoxicações agudas, subagudas e crônicas • controle ambiental e biológico. Por outro lado, a Toxicologia Ocupacional, se apóia em três elementos básicos: a) a existência de uma substância química (agente tóxico) capaz de produzir uma determinada resposta no organismo vivo; b) a identificação do sistema biológico sobre o qual a substância química poderá interagir e c) a necessidade de que a resposta possa ser considerada nociva ao sistema orgânico com o qual interage. III - INTOXICAÇÕES Conceito: Conjunto de sinais e sintomas que revela o desequilíbrio orgânico produzido pela absorção e interação do agente tóxico com o organismo. • INTOXICAÇÃO efeito • INTOXICAÇÃO = sinais + sintomas = soma de efeitos. Quanto à intensidade as intoxicações podem ser: • letais • graves • moderadas e • leves Quanto à duração da exposição ao agente tóxico no ambiente ocupacional as intoxicações podem ser: • de curto prazo (intoxicações agudas) • de médio prazo (intoxicações sub-agudas) • de longo prazo (intoxicações crônicas) lntoxicações agudas ou de curto prazo São aquelas em que a dose introduzida no organismo, ocorre de forma única ou múltipla, porém num período máximo de 24 horas. Portanto, a exposição é de curta duração com rápida absorção do agente tóxico. 12 Intoxicação de médio prazo Ocorre num período de vários dias ou semanas durante os quais o organismo está sujeito a exposições repetidas. Intoxicações de longo prazo ou crônicas Ocorrem por períodos longos, de meses ou anos, muitas vezes durante toda a vida profissional do trabalhador. Neste caso, tem-se geralmente acúmulo do agente tóxico com os efeitos se manifestando posteriormente ou ainda efeitos aditivos conseqüentes de exposições sucessivas. IV - TOXICIDADE 1. Definição TOXICIDADE de uma substância pode ser definida como sendo a capacidade da substância de provocar lesões aum organismo vivo. Deste modo, a toxicidade é a propriedade potencial que as substâncias químicas possuem, em maior ou menor grau, de instalar um estado patológico em consequência de sua introdução e interação com o organismo, sob determinadas condições. Esta maior ou menor intensidade de ação dependerá de diversos fatores relacionados com a substância química e com o organismo ou de seu(s) produto(s) de biotransformação, em determinada(s) concentração (ões), no sítio especifico de ação. Assim, quando definimos a toxicidade de uma substância temos que mencionar: a quantidade da substância administrada ou absorvida (dose), a forma pela qual foi administrada (inalação, ingestão, cutânea ou injetável), a frequência das doses (simples ou repetidas), o tipo e a severidade da lesão, e o tempo necessário para produzi-la. A caracterização do risco decorrente da exposição a determinada substância química e os valores limites de exposição estão diretamente relacionados ao seu modo de ação tóxica. Assim os valores de exposição considerados seguros, também chamados de Limites de Exposição Ocupacional (LEO), são definidos a partir de estudos de avaliação de toxicidade a partir de evidências geradas pelos estudos em animais de experimentação, estudos epidemiológicos e outros dados e estudos in vitro. A ação das substâncias químicas sobre o organismo humano se dá de diferentes formas sendo que os principais mecanismos de sua ação tóxica são: • Interferência em sistemas enzimáticos de forma reversível ou irreversível; 13 • Interferência no transporte de oxigênio como a formação de carboxi-hemoglobina e metahemoglobina; • Interferências genéticas: ação citostática, carcinogênica, genotóxica direta ou indireta ou mutagênese e teratogênese; • Interferência nas funções gerais das células: ações anestésicas e de interferência na neurotransmissão; • Irritação direta dos tecidos: dermatite química e gases irritantes; • Reações de hipersensibilidade: alergia e fotossensibilização. 2. Dose, resposta e efeito Três termos importantes em toxicologia são “dose” e “resposta” e “efeito”. DOSE: A dose é a quantidade de exposição a um agente. É uma medida quantitativa da exposição em relação a um indivíduo. Para um agente químico ou droga a dose é quantidade do produto em relação ao peso corpóreo. A quantidade (medida em gramas ou miligramas) e o peso corpóreo (medido em quilogramas). Assim a dose é a quantidade do agente químico dividida pelo peso corpóreo, isto é, em mg/kg. RESPOSTA: corresponde à proporção da população que apresentou uma alteração orgânica (efeito) definida pela substância química. EFEITO: corresponde à alteração orgânica produzida pela exposição ao agente químico. Como exemplo podemos citar os efeitos do chumbo sobre vários produtos intermediários do Heme da Hemoglobina: FEP = protoporfirina eritrocitária livre; ALA-D = atividade da enzima ácido delta-aminolevulínico desidratasse e ALA-U = Ácido delta aminolevulínico na Urina 2.2 - Relações: dose-efeito e dose-resposta DOSE-EFEITO: demonstram uma relação entre a concentração no sangue e a magnitude do efeito por meio de curvas de “dose-efeito”. DOSE-RESPOSTA: as curvas de “dose-resposta’ demonstram uma relação entre a dose e a proporção de indivíduos que apresentam um efeito definido e quantitativo. Em geral, quanto maior a dose maior será a resposta. Um exemplo de dose-resposta é dado pela Figura 2. 14 Figura 2: Dose-resposta em função da dificuldade de caminhar e o número de copos de vinho consumidos. (Fonte: Gilbert, 2012, op. cit.) A Figura 2 apresenta uma curva ideal de dose-resposta e ilustra o princípio de que em baixas doses (i.e. poucos copos) há uma pequena resposta e aumentando a dose (mais copos) há uma resposta maior. Devemos notar que este gráfico não leva em consideração o peso corpóreo e outras variáveis como gênero ou frequência da exposição, ou seja, o tempo decorrido entre as ingestões dos copos de vinho. 2.3. Dose efetiva média (DE50), dose letal média (DL50), concentração efetiva média (CE50) e concentração letal média (CL50). DE50 - Corresponde à quantidade de substância que afeta metade de um grupo de animais de certa espécie provocando um determinado efeito. É um método experimental reprodutível e confiável. DL50 - Corresponde à quantidade (em mg/kg de peso corpóreo) necessária para provocar a morte de 50% de um grupo de animais submetidos à experiência. CE50 - Corresponde à concentração (em ppm ou mg/m 3 ) de uma substância química que afeta a metade de um grupo de animais submetidos à exposição. Neste caso deve-se mencionar o tempo de duração da exposição ao agente tóxico. CL50 - Corresponde à concentração (em ppm ou mg/m 3 ) de uma substância química na atmosfera capaz de provocar a morte de 50% dos animais submetidos à experiência, por um determinado tempo. O cálculo destes dados se faz por meio de experimentos que exigem condições e dados específicos que, entre outros, podemos mencionar: espécie animal, gênero, idade, peso, estado de nutrição, via de administração, temperatura, umidade ambiente, estado físico do agente químico utilizado etc. 15 Os valores numéricos de DL50 (oral ou dérmica) e de CL50 são obtidos a partir dos índices de mortalidade observados, empregando-se diversos métodos estatísticos. V - CLASSIFICAÇÃO DOS AGENTES TÓXICOS Existem diversas formas de classificar os agentes tóxicos presentes nos ambientes de trabalho sendo difícil apresentar uma que possa ser considerada melhor. Adotaremos três formas de classificação: física, fisiológica e química. 1 CLASSIFICAÇÃO FÍSICA Baseia-se na forma física em que se apresentam os agentes químicos nos ambientes ocupacionais. a) GASES: São substâncias que se apresentam no estado gasoso nas condições normais de pressão e temperatura (25°C, 760 mmHg) podendo passar ao estado líquido por meio do aumento de pressão e diminuição da temperatura. Exemplos: monóxido de carbono (CO), sulfeto de hidrogênio (H2S), óxidos de nitrogênio (NO e N02) Ozona (03) anidrido sulfuroso (SO2). b) VAPORES: Fase gasosa de substâncias que são naturalmente sólidas ou líquidas. Exemplos: vapores resultantes da volatilização de solventes orgânicos (benzeno, sulfeto de carbono, tetracloreto de carbono, tolueno, xileno), alcoóis e éteres. c) AERODISPERSÓIDES c. 1 - SÓLIDOS c. 1.1- Poeiras: formam-se pela ruptura mecânica de sólidos maiores como rochas, madeiras, cereais, amianto. c. 1.2 - Fumos: São gerados na fusão de metais, pela condensação ou oxidação dos vapores metálicos. Geralmente são muito pequenos, menores de que 1,0. Exemplos: óxido de chumbo (PbO), óxido de ferro (Fe203), óxido de cádmio (CdO). c. 2 – LÍQUIDOS c. 2.1 - Neblinas: resultam da condensação de vapores de substâncias naturalmente liquidas c. 2.2 - Névoas: Resultam da ruptura mecânica de substâncias líquidas. Exemplo: pinturas com sprays. 16 2 CLASSIFICAÇÃO FISIOLÓGICA Baseia-se na ação tóxica exercida pelos agentes químicos. Não é uma classificação satisfatória, pois vários fatores podem interferir quanto ao local e intensidade dessas ações sendo quase impossível agrupar número tão grande de agentes químicos sob esse aspecto. Além disto, um mesmo produto químico pode ter ações fisiológicas em vários órgãos ou sistemas orgânicos. Entre os principais fatores que influenciam a resposta orgânica à exposição a agentes tóxicos podemos citar: ❖ Fatores enzimáticos ❖ Suscetibilidade ou sensibilidade individuais que levam a reações alérgicas ❖ Idade ❖ Gênero em virtude das diferenças hormonais ❖ Doenças preexistentes ❖ Natureza e duração da jornada de trabalho ❖ Exposição prévia que pode ocasionar sensibilização ❖ Condições sócio-econômicas❖ Diferenças genéticas e hereditárias ❖ Diferenças anatômicas 3 CLASSIFICAÇÃO QUÍMICA Baseia-se na estrutura química dos principais contaminantes presentes nos ambientes de trabalho. 4 CLASSIFICAÇÃO QUANTO A AÇÃO TÓXICA DOS AGENTES QUÍMICOS A ação tóxica depende fundamentalmente de: • Concentração do agente químico na atmosfera • Tempo de exposição à substância química • Estado físico dos agentes químicos contaminantes • Solubilidade (hidro e lipossolubilidade) • Afinidade com constituintes orgânicos • Susceptibilidade individual. 17 4.1 IRRITANTES Os irritantes são substâncias químicas que exercem ação inflamatória na pele e nas mucosas pelo contato direto. São produtos corrosivos e a intensidade da ação depende principalmente da sua concentração. Geralmente afetam o trato respiratório, a pele e os olhos Irritantes Primários: Exercem apenas ação local. Têm uma ação sobre as vias respiratórias superiores (nariz, garganta) São produtos de alta solubilidade em água tais como: HCl (ácido clorídrico), H2SO4 (ácido sulfúrico), NH3 (amônia), Formaldeído ou formol. Podem também ter uma ação sobre os brônquios, podendo em alguns casos agir em todo o trato respiratório, principalmente os produtos com solubilidade moderada em água como: SO2, BR2, F2, I2 Por outro lado, produtos com baixa solubilidade em água provocam irritação principalmente sobre os pulmões e neste caso merecem destaque o O3, NO2, e o Fosgênio. Por outro lado, existem produtos que tem uma ação atípica, pois são altamente irritantes das vias aéreas superiores apesar de sua baixa solubilidade em água tais como: acroleína e gases lacrimogênicos Irritantes secundários: Quando além da ação local tem uma ação geral sistêmica. Exemplos: a) Sulfeto de Hidrogênio (H2S) • Irritante local • Tosse • Expectoração sanguinolenta • Polipneia (aumento da frequência respiratória) • Espasmo brônquico • Edema agudo de pulmão. b) Fosfina (PH3) • Irritante local • Dores abdominais • Vômitos • Diarreia • Sede • Cefaleia 18 • Midríase (dilatação das pupilas) • Sensação de opressão torácica • Hipotensão arterial • Vertigens • Tremor de extremidades • Convulsão Quanto à ação no sistema respiratório podemos dividir os irritantes em: a) Irritantes das vias aéreas superiores São os que têm maior solubilidade em água. Exemplos: • Névoas e poeiras alcalinas • Amônia • Ácido crômico • Ácido clorídrico • Ácido fluorídrico b) Irritantes das vias aéreas superiores, das vias aéreas inferiores e do tecido pulmonar Possuem solubilidade intermediária em água. Exemplos: • Halogênios: cloro, bromo, iodo e flúor • Brometo de cianogênio • Ozona (03) • Dióxido de Enxofre (SO2) • Cloretos de Enxofre • Tricloreto de Fósforo • Pentacloreto de Fósforo c) Irritantes das vias áreas profundas (principalmente vias respiratórias terminais e sacos alveolares) São pouco solúveis na água, como por exemplo: Tricloreto de Arsênico, Dióxido de Nitrogênio, Tetróxido de Nitrogênio e Fosgênio. 4.2 ASFIXIANTES São substâncias que provocam deficiência na oxigenação dos tecidos sem interferir no mecanismo de ventilação pulmonar. Podem ser divididos em duas categorias 19 • Asfixiantes simples: São considerados fisiologicamente inertes e atuam principalmente, por meio da diminuição da concentração de oxigênio no ar reduzindo-a a níveis inferiores a 18%. Exemplos: • Nitrogênio • Dióxido de carbono • Hidrogênio • Metano • Etano • Asfixiantes químicos (bioquímicos): São substâncias que provocam asfixia por agirem bioquimicamente, evitando o transporte de eficiente de oxigênio na corrente sanguínea ou impedindo a oxigenação normal dos tecidos. Os asfixiantes químicos clássicos são: • Monóxido de carbono (CO): interfere no transporte de oxigênio pela hemoglobina ao se combinar com a mesma e formando a carboxi-hemoglobina. O monóxido de carbono é um gás incolor, inodoro e sem gosto. A principal fonte de emissão do monóxido de carbono é a queima incompleta de combustíveis derivados de petróleo, como a gasolina e o diesel, ou seja, substâncias ricas em carbono. O monóxido de carbono também é liberado por fontes naturais, como atividade vulcânica e emissão de gás natural; sistemas de aquecimento, usinas termelétricas a carvão, queima de biomassa e de fornos de indústrias siderúrgicas. As moléculas de monóxido de carbono se ligam à hemoglobina presente no sangue. O CO tem uma afinidade pela hemoglobina cerca de 200 a 250 maior que o Oxigênio e impedindo o seu transporte para os tecidos. • Cianeto: interfere na utilização do oxigênio pelos tecidos, atuando na cadeia respiratória por inibição da enzima citocromo-oxidase mitocondrial. As principais fontes de emissão antropogênica são mineração de ouro (nos processos de lixiviação), indústrias químicas, de processamento de metais (galvanoplastia) e exaustão veículos. • Outros asfixiantes: Anilina, metil-anilína, dimetilanilina, toluidina, nitrobenzeno e nitritos: atuam sobre a hemoglobina formando meta-hemoglobina e interferindo no transporte de oxigênio. 20 4.3 ANESTÉSICOS E NARCÓTICOS Com ação depressora do sistema nervoso central cuja intensidade depende principalmente da concentração da substância e de sua ação especifica: • Hidrocarbonetos acetilênicos (acetileno, alilenos etc.) • Hidrocarbonetos olefinícos (etileno) • Éter etílico e isopropílico • Hidrocarbonetos parafínicos (propano a decano) • Cetonas alifáticas (acetona a octanona) • Alcoóis alifáticos (etílico, propílico, butílico e amílico) • Ésteres que se hidrolisam no organismo a ácidos orgânicos e alcoóis. 4.4 TÓXICOS SISTÊMICOS São aqueles em que a principal ação consiste em provocar danos em vários sistemas como Hepático, Renal, Nervoso Central e Hematopoiético. 4.4.1 AGENTES HEPATOTÓXICOS • Clorofórmio • Tetracloreto de carbono • Bromotriclorometano • Cloroacetaldeido • Compostos clorados em geral (Exemplo: Tetracloroetileno) 4.4.2 AGENTES NEFROTÓXICOS • Clorofórmio e tetracloreto de carbono (também são hepatotóxicos) • Mercúrio, cádmio e cromo • PCBs (policloreto de bifenila ou policloro-bifenilas) • TCDD (tetraclorodibenzo-p-dioxina) 4.4.3 AGENTES NEUROTÓXICOS • Sulfeto de carbono (CS2) • Tricloreto de nitrogênio • Álcool etílico • Manganês • Mercúrio orgânico • Brometo de metila • DDT • Compostos organofosforados 21 4.4.4 AGENTES COM AÇÃO A NIVEL SANGUÍNEO OU SISTEMA HEMATOPOIÉTICO (MIELOTÓXICOS) • Acetato de cellosolve (2- Butoxietanol): também genotóxico e tóxico para a reprodução • Benzeno • 2- Metoxietanol (utilzado em tintas) • Nitritos, anilina e toludina • Arsênico: provoca hemólise 4.4.5 AGENTES OTOTÓXICOS • Hidrocarbonetos: Estireno, Tolueno, Xileno, Etil-benzeno e n-hexano • Asfixiantes e outros compostos orgânicos: monóxido de carbono, disssulfeto de carbono, HCN (cianeto de hidrogênio), tricloroetileno e acrilonitrila • Metais pesados: chumbo, mercúrio, manganês, arsênico. É importante salientar que os agentes ototóxicos também podem ser nefrotóxicos, uma vez que o rim e o ouvido interno têm a mesma origem embriológica, além de terem um efeito sinérgico com o ruído.7 4.4.6 CARCINOGÊNICOS Em 2008, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou que dos 12,7 milhões de casos novos de câncer e 19% foram atribuídos a exposição ambiental, incluindo os locais de trabalho, resultando em 1,3 milhões de mortes por ano. Câncer de pulmão, mesotelioma e câncer de bexiga são os tipos maiscomuns de cânceres ocupacionais. Estimou-se que a radiação UV causou 60.000 mortes em 2002, das quais 48.000 foram melanomas e 12.000 foram carcinomas escamosos e basocelulares (WHO, 20118). O câncer é a principal causa de morte relacionada ao trabalho e mais de 200 substâncias diferentes foram identificadas como cancerígenos para o ser humano conhecidos ou prováveis, com muitas dessas exposições ocorrendo no local de trabalho. Várias instituições científicas possuem uma classificação de substâncias cancerígenas baseada em estudos epidemiológicos atualizados periodicamente. A classificação mais conhecida é da IARC – International Agency for Research on Cancer 9. 7 Robert M.Ghent, Jr. Can Industrial Chemical Exposure Cause Hearing Loss? In: Occupational Health and Safety, June, 2016. p 16-20 8 WHO – World Health Organisation – Fact Sheet n°. 350, March 2011. Disponível em: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs350/en/. 9 A lista de cancerígenos é atualizada periodicamente e disponível no site: www.iarc.fr http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs350/en/ http://www.iarc.fr/ 22 A classificação adotada pela IARC10 é a seguinte: GRUPO 1 – Substâncias Cancerígenas (carcinogênicas) para o Homem Grupo de substâncias, processos industriais ou exposições ocupacionais que em determinadas circunstâncias acarretam exposição que são cancerígenas para seres humanos. 129 agentes. GRUPO 2 – Dividido em dois subgrupos: GRUPO 2A – O agente (mistura) é provavelmente cancerígeno para seres humanos. Determinadas circunstâncias que acarretam exposição que são provavelmente cancerígenas para seres humanos. Dados limitados em humanos e dados suficientes em animais. 96 agentes GRUPO 2B – O agente (mistura) é possivelmente cancerígeno para seres humanos. Determinadas circunstâncias que acarretam exposição que são possivelmente cancerígenas para seres humanos (evidências suficientes em animais e dados inadequados em humanos). 321 agentes GRUPO 3 – Substâncias ou grupo de substâncias, processos industriais ou exposições ocupacionais não classificáveis como cancerígenos para humanos. Dados ausentes ou inadequados em humanos ou em animais.499 agentes As substâncias químicas ou processos de trabalho reconhecidamente cancerígenos encontram-se listadas no Anexo I desta Apostila. Dentre as substâncias reconhecidamente cancerígenas (Grupo 1 da IARC) destacamos: • Arsênico • Acrilonitrila • Benzeno • Benzidina: câncer de bexiga devido ao efeito da urina sobre o seu metabólito no interior da bexiga • 1,3 Butadieno • 2 - Naftilamina • p naftilamina; • 4 - aminobofenila • 4 - nitrodifenil • Cromo (VI) • Niquel • Cloreto de vinila • Cromatos 10 Atualizado em 08 de novembro de 2024. Disponível emhttps://monographs.iarc.who.int/agents- classified-by-the-iarc/ acess0 em 08 nov 2024 23 • Bi(clorometil) éter • Asbestos • Óleo isopropílico e óleo mineral No Brasil os Ministérios do Trabalho e da Saúde publicaram em 8 de outubro de 2014 a Lista Nacional de Agentes Cancerígenos para Humanos (LINACH11), baseada na classificação da IARC. Os agentes cancerígenos de que trata a LINACH são classificados de acordo com os seguintes grupos: I - Grupo 1 - carcinogênicos para humanos; II - Grupo 2A - provavelmente carcinogênicos para humanos e III - Grupo 2B - possivelmente carcinogênicos para humanos. A Tabela 1 apresenta os principais cânceres relacionados à exposição a agentes químicos conforme publicação da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 2021. TABELA 1 – Exposição ocupacional a agentes químicos e câncer Fator de Risco (Exposição) Localização do câncer Ácido sulfúrico Laringe Asbestos Traqueia, brônquios, pulmão, ovários e laringe Asbestos Mesotelioma Arsênico Traquea, brônquios e pulmão Benzeno Leucemia Berílio Traqueia, brônquios e pulmão Cádmio Traqueia, brônquios e pulmão Cromo Traqueia, brônquios e pulmão Produtos de exaustão de motores a diesel Traqueia, brônquios e pulmão Formaldeído Nasofaringe e Leucemia Níquel Traqueia, brônquios e pulmão HPA (Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos) Traqueia, brônquios e pulmão Sílica Traqueia, brônquios e pulmão Tricloroetileno Rim Fonte: WHO/ILO joint estimates of the work-related burden of disease and injury, 2000- 2016: global monitoring report: Geneva: World Health Organization and the International Labour Organization, 2021. Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO. Disponível em: http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_dialogue/--- lab_admin/documents/publication/wcms_819788.pdf 11 Ver PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 9, DE 7 DE OUTUBRO DE 2014, publicada no D.O.U de 08 de outubro de 2014, disponível em: http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=140&data=08/10/2014 http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_dialogue/---lab_admin/documents/publication/wcms_819788.pdf http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_dialogue/---lab_admin/documents/publication/wcms_819788.pdf 24 4.4.7 PARTICULADOS COM AÇÃO RESPIRATÓRIA (NÃO SISTÊMICA) • Fibrogênicos: Sílica livre cristalizada, asbestos e carvão mineral • Não Fibrogênicos: cassiterita, cimento, silicatos, mica, feldspato e sílica amorfa. Os particulados ou aerodispersóides não fibrogênicos não modificam o tecido pulmonar, produzindo uma reação tecidual relativamente leve e potencialmente reversível. 4.4.7.1 Sílica livre cristalina Exposições ocupacionais à sílica cristalina respirável são associadas ao desenvolvimento de silicose, câncer de pulmão, tuberculose pulmonar e doenças das vias aéreas. As doenças pulmonares causadas pela inalação de poeiras minerais, incluindo a sílica, são denominadas pneumoconioses. A inalação de poeiras contendo sílica livre pode ocasionar, entre outras doenças, a silicose. A silicose tem é uma doença evitável, irreversível, sem tratamento específico, que pode progredir para formas graves e levar à morte. Muitas vezes, acomete indivíduos jovens, interrompendo e interferindo na capacidade laborativa, acarretando impactos sócio-econômico importantes. A exposição à poeira de sílica, também está associada aos seguintes agravos: tuberculose (TB) - nos quadros de sílico-tuberculose; doenças respiratórias obstrutivas, que inclui a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), bronquite crônica, doenças auto-imunes como a Síndrome de Caplan e o câncer de pulmão. Tais doenças podem ocorrer independentemente da presença de silicose, embora sejam mais comuns em sua presença (Carneiro e Algranti, 201412) A silicose é caracterizada pela formação de cicatrizes permanentes nos pulmões provocada pela inalação da poeira de sílica livre cristalina (quartzo), sendo a mais antiga doença ocupacional conhecida. A sílica é o principal constituinte da areia e, por essa razão, a exposição a essa substância é comum entre os trabalhadores de minerações, os cortadores de arenito e de granito, os trabalhadores de fundições e indústrias metal-mecânicas e de vidro e os ceramistas e outras relacionadas no Quadro 1. 12 Carneiro, A.P.S; Algranti, E. – Silicose e Doenças não malignas relacionadas à sílica. In: Pneumologia ocupacional ilustrada.: fotos e fatos/ Organizador Ubiratan de Paula Santos. 1. ed. São Paulo: Ed. Atheneu, 2014. p. 81-89. 25 QUADRO 1 – Principais Fontes de Exposição à Sílica Ramo de Atividade Tipo de Operação CONSTRUÇÃO CIVIL • CORTE E POLIMENTO DE BLOCOS DE PEDRA, GRANITOS, CONCRETO e QUARTZO DECORATIVO e ROCHAS ARTIFICIAIS METAL – MECÂNICA • CORTE DE TIJOLOS REFRATÁRIOS PARA MANUTENÇÃO DE FORNOS• USO DE AREIA PARA MOLDES DE FUNDIÇÃO • JATEAMENTO DE AREIA (Proibido pela Portaria 99/2004) • POLIMENTO COM ABRASIVOS E MOAGEM MINERAÇÃO • LAVRA COM EXPLOSIVOS • PERFURAÇÃO • TRANSPORTE E MOAGEM CERÂMICA • REBARBAÇÃO DE PEÇAS • PREPARAÇÃO DE MASSA • TORNEAÇÃO A SECO • PREPARAÇÃO DE FORMAS REFRATÁRIAS • ESMALTAÇÃO A REVÓLVER • CARGA E RETIRADA DE PEÇAS DO FORNO • POLIMENTO A SECO DE PRODUTOS ACABADOS VIDRO • MANUSEIO DE MATÉRIAS–PRIMAS • CARGA DE FORNO • CORTE DE TIJOLOS REFRATÁRIOS E MANUTENÇÃO DE FORNOS CIMENTO • PROCESSOS EM GERAL ATÉ A CARGA DOS FORNOS TINTAS • MANUSEIO DE MATÉRIAS – PRIMAS USADAS COM CARGA INERTE POLIDORES DOMÉSTICOS • PRODUÇÃO DE SABÕES E ABRASIVOS. Os sintomas de silicose se manifestam após um período de 15 a 20 anos de exposição. No entanto, em ocupações que envolvem a utilização de jatos de areia, a perfuração de túneis e a utilização de abrasivos, que produzem concentrações elevadas de poeira de sílica, os sintomas podem ocorrer em menos de dez anos, levando a quadros de silicose aguda. Quando inalada, a poeira de sílica atinge os pulmões, onde os fagócitos (p.ex., macrófagos) englobam as partículas de poeira. As enzimas liberadas pelos fagócitos provocam a formação de tecido cicatricial nos pulmões. Inicialmente, as áreas cicatriciais são pequenos nódulos arredondados ou irregulares (silicose nodular simples), mas esses nódulos podem evoluir para formar grandes massas (silicose conglomerada). Essas áreas cicatriciais não permitem a passagem normal de oxigênio ao sangue, os pulmões perdem a elasticidade e a respiração exige um maior esforço. Nas fases iniciais os portadores de silicose nodular simples não apresentam dificuldade respiratória, mas apresentam tosse e catarro em decorrência da irritação das grandes vias aéreas, uma condição denominada bronquite. A silicose conglomerada pode produzir tosse, escarro e dificuldade respiratória grave. No início da doença, a dificuldade respiratória pode ocorrer 26 somente durante a realização de exercícios, mas no estágio final ela ocorre mesmo durante o repouso. A respiração pode piorar de dois a cinco anos após o indivíduo estar afastado da exposição. A lesão pulmonar sobrecarrega o coração e, algumas vezes, acarreta a insuficiência cardíaca, potencialmente letal. Além disso, quando os indivíduos com silicose são expostos ao agente causador da tuberculose (Mycobacterium tuberculosis), a probabilidade de contraírem a infecção é três vezes maior do que a dos indivíduos que não sofrem de silicose. A associação de silicose e tuberculose é denominada sílico- tuberculose. O diagnóstico de silicose é estabelecido quando um indivíduo que trabalhou exposto a poeira de sílica cristalina apresenta uma radiografia torácica com as alterações características de cicatrização e nódulos. Cabe destacar que a silicose é irreversível, mas prevenível.13 O controle da poeira no local de trabalho pode ajudar a evitar a silicose, sendo preconizada a utilização de métodos umidificados de trabalho para evitar a geração de poeira ou a utilização de medidas de exaustão. Os expostos à poeira contendo sílica devem realizar regularmente uma radiografia de tórax, para sua detecção precoce. Se as radiografias indicarem a presença de silicose, trabalhador deve ser imediatamente afastado da exposição à sílica. O exame de espirometria é indicado para avaliar o grau de incapacidade respiratória e acompanhar a evolução da doença. Apesar de a silicose não ter cura, os silicóticos com dificuldade respiratória podem beneficiar-se com os tratamentos utilizados para a doença pulmonar obstrutiva crônica, como a terapia medicamentosa que visa manter as vias aéreas desobstruídas e livres de secreções. Como os silicóticos apresentam um alto risco de tuberculose, eles devem ser submetidos a exames de controle regulares que incluam um teste cutâneo para a tuberculose. Em trabalhadores expostos à poeira de sílica, o risco de desenvolver silicose e a gravidade do quadro dependem das características da exposição e de fatores individuais relacionados à suscetibilidade individual. Entre os fatores relacionados à exposição destacam-se: • concentração da sílica livre na poeira respirável (mais de 7,5% de sílica livre). • duração da exposição, • tamanho da partícula (partículas menores do que 5 micrômetros são mais suscetíveis de alcançar os alvéolos pulmonares), • tempo de latência (tempo decorrido desde o início da exposição até 13 National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH). Disponível em: https://www.cdc.gov/niosh/topics/silica/ Acesso em: 28 jul 2016 https://www.cdc.gov/niosh/topics/silica/ 27 o início da doença ou dos sintomas) Além destes fatores a sílica recentemente fraturada possui toxicidade ampliada. Assim a vigilância dos ambientes de trabalho deve ser baseada especialmente em avaliações qualitativas e quantitativas da poeira respirável14. A silicose apresenta forte correlação dose-resposta, ou seja, sua prevalência e gravidade crescem com o aumento da “dose” de sílica inalada, dada pela duração da exposição e pela concentração de sílica na partícula. A doença pode progredir mesmo após o afastamento da exposição, sendo a probabilidade de progressão mais frequente naqueles que tiveram exposição excessiva, nos casos de silicose precoce e reação orgânica intensa. Assim, a manutenção do trabalhador na exposição após o diagnóstico da doença é contra-indiciada, pois favorece a progressão da doença e a piora o prognóstico. Na fisiopatologia da doença, após a inalação de poeiras contendo partículas de sílica inicia-se o processo de fagocitose pelos macrófagos alveolares, com conseqüente morte destes e liberação de enzimas ativas, lipídios, cristais de sílica e radicais livres. Quando a geração destes radicais supera os mecanismos de defesa antioxidantes, pode haver lesão de células epiteliais tipo I, aumento da ativação de macrófagos e indução de proliferação de células epiteliais tipo II. Se a inalação de sílica é mantida, este processo amplia-se, havendo liberação de enzimas proteolíticas, geração de mais radicais livres e liberação de citocinas inflamatórias. Estas substâncias atraem macrófagos, neutrófilos e linfócitos, dando origem à alveolite. O transporte linfático atrai para o local mais fibroblastos e macrófagos. A contínua exposição perpetua essas reações, cujo resultado final é a proliferação de fibras de reticulina e de colágeno, dispostos de maneira concêntrica, caracterizando o nódulo silicótico. Os cristais de sílica podem ainda atingir, via linfáticos, a pleura visceral, desenvolvendo nódulos subpleurais. O processo dissemina-se pelo interstício peri-bronco-vascular, sendo mais comum nos ápices dos lobos superiores e inferiores 4.4.7.1.1 A Silicose no Brasil A larga distribuição da silicose, em escala global e de outras doenças relacionadas à exposição à poeira de sílica também é explicada pela presença de sílica (SiO2) na maioria das rochas, constituindo cerca de 60% da crosta terrestre. Existem três formas de sílica livre cristalina: quartzo, cristobalita e tridimita, sendo o quartzo a forma mais comum. Apesar de sua ocorrência guardar estreita relação com as atividades de trabalho, registros na literatura demonstram que a doença também pode estar associada a exposições ambientais como, por exemplo, entre comunidades que habitam regiões desérticas ou no entorno de atividades produtivas nas quais ocorra geração de 14 Poeira respirável: Poeiras cujo tamanho ou diâmetro são menores que 5 micrômetros e assim são capazes de chegar até aos alvéolos pulmonares, ultrapassando os mecanismos de defesa naturais do sistema respiratório 28 poeira contendo sílica. A silicose é considerada grave problema de Saúde Pública em muitospaíses, entre eles, China, Índia, África do Sul e Brasil, que apresentam elevados índices de prevalência e incidência da doença, resultantes de situações de trabalho com grande exposição à poeira. Para o enfrentamento do problema, em 1995, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), e a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceram o Programa Mundial de Eliminação de Silicose por meio da adoção de medidas de controle ambiental, e de mudanças nos processos de trabalho, com substituição da sílica em algumas operações industriais e maior conscientização de empresas e trabalhadores. No Brasil, o Programa Nacional de Eliminação de Silicose teve início em 2002, porém casos de silicose, alguns muito graves e acometendo trabalhadores jovens continuam sendo notificados pelos sistemas de vigilância. O problema ganha contornos mais dramáticos nas situações de trabalho desenvolvidas em domicílio e no peridomicílio, como, por exemplo, a lapidação, corte e beneficiamento de pedras, com exposição de trabalhadores, familiares e vizinhança, à poeira contendo sílica, em atividades fora do alcance das ações de fiscalização do trabalho e de outras formas de proteção social. Neste caso, aumenta a responsabilidade do sistema público de saúde, do SUS e das equipes da atenção básica para o cuidado desses trabalhadores pela possibilidade de se desenvolver ações de saúde o mais próximo de onde as pessoas vivem e trabalham e de acionar outras instâncias de governo e da sociedade para a solução do problema. 4.4.7.1.1.1. Doenças relacionadas à exposição à sílica: Conceito, formas clínicas e aspectos epidemiológicos No Brasil a Lista Brasileira de Doenças Relacionadas ao Trabalho – Lista A elaborada pelo Ministério da Saúde e publicada em 1999 (Brasil, 1999) e adotada pela Previdência Social para fins de concessão de benefícios previdenciários em casos de incapacidade para o trabalho reconhece as seguintes doenças relacionadas à exposição à sílica: • Silicose • Tuberculose (TB) nos quadros de sílico-tuberculose; • Doença pulmonar obstrutiva crônica – DPOC, que inclui a asma obstrutiva, bronquite crônica, e a bronquite obstrutiva crônica; • Doenças auto-imunes como a Síndrome de Caplan e • Neoplasia maligna dos brônquios e dos pulmões. 29 No Brasil, estima-se que mais de três milhões de trabalhadores do mercado formal de trabalho estão expostos a poeiras contendo sílica por pelo menos 30% da jornada de trabalho, sendo que em média 14,4% dos trabalhadores do mercado formal estiveram expostos à algum nível de sílica na jornada de trabalho no período de 1985 a 2001 (Ribeiro, 2004)15. Segundo Ribeiro (op. cit.), 98% dos trabalhadores expostos se concentraram em sete setores econômicos: extração mineral, construção civil, metalurgia, indústria de minerais não metálicos, administração de serviços técnicos e pessoal, agricultura e indústria da borracha. Por outro lado os homens apresentam uma prevalências de exposição muito maior que as mulheres (Ribeiro, op. cit.) sugere que a exposição à sílica no Brasil pode ser mais preocupante que a identificada em virtude das peculiaridades nacionais relacionadas à precarização do emprego, falta de controle das exposições nos ambientes de trabalho, a convivência próxima de setores com níveis de exposição distintos, bem com a falta de cultura de gestão dos riscos ambientais e ocupacionais. Assim, no setor informal, que abrange os trabalhadores sem registro (carteira assinada) ou vínculo de trabalho este número parece ser muito maior. Aspectos Epidemiológicos No Brasil, apesar da melhoria nas condições de trabalho em alguns setores da economia e da proibição formal de algumas atividades como o jateamento com areia para limpeza de peças na indústria metalúrgica e do vidro, nas últimas duas a três décadas, persistem inúmeras situações de trabalho com risco de silicose e o diagnóstico numerosos casos de silicose em vários ramos de atividades, em diversas regiões do país. Estudos realizados nas últimas quatro décadas mostram taxas de prevalência diferenciadas que refletem distintas condições de exposição: indústria cerâmica: 3,9%, atividades em pedreiras: 3,0%, jateamento de areia na indústria naval: 23,6%, perfuração de poços: 17%. Minas Gerais concentra a maioria dos casos de silicose registrados no Brasil, provenientes de mineração de ouro nos municípios de Nova Lima e Raposos, e extração e beneficiamento de pedras observando-se crescente registro de novos casos em trabalhadores inseridos no setor informal de trabalho, particularmente entre lapidários e garimpeiros de pedras preciosas e semipreciosas. O mesmo fenômeno é observado no município de Ametista do Sul-RS com predomínio de indivíduos jovens e com alterações radiológicas avançadas. Entretanto, é grande a subnotificação de casos uma vez que os registros disponíveis se referem na quase totalidade, à concessão de benefícios pela Previdência Social por incapacidade para o trabalho. Segundo Faria e Dwyer (201316), no Brasil, o reconhecimento da silicose pelo INSS 15 Ribeiro, F.S.N. – Exposição Ocupacional à sílica: Tendência temporal, 1985-2001. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, Faculdade de Saúde Púbica, Departamento de Epidemiologia. São Paulo, 2004 16 Faria, M.P,; Dwyer, T. – Safety and health in mining in Brazil. In: OCCUPATIONAL SAFETY AND HEALTH IN MINING - ANTHOLOGY ON THE SITUATION IN 16 MINING COUNTRIES. 30 adota critérios extremamente rígidos e casos iniciais de silicose não são reconhecidos, fazendo com que apenas os casos mais graves e incapacitantes sejam reconhecidos e registrados, sendo que entre os anos de 2000 e 2006 foram concedidos apenas 892 benefícios por silicose. Os registros de casos diagnosticados pelos serviços de saúde e notificados ao SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), do Ministério da Saúde, ainda são inexpressivos e não refletem a realidade epidemiológica, particularmente a ocorrência da doença em trabalhadores do setor informal de trabalho e em pequenas empresas, que apesar de formais, apresentam situações de trabalho semelhantes as da informalidade, como observado em pedreiras e beneficiadoras de quartzito em MG. 4.4.7.2 Asbesto ou amianto A exposição ocupacional ao amianto ocorre pela inalação de suas fibras no ambiente de trabalho. Trabalhadores na mineração, construção civil, agricultura, indústria mecânica e automotiva, térmica e outros setores industriais de isolamento, construção naval, desmontagem de navios e estão entre aqueles em risco de exposição ocupacional ao amianto. Há também um risco de exposição ocupacional durante a fabricação de novos produtos de amianto onde isso ainda ocorre. Além disso, os trabalhadores que limpam e constroem uma nova infra-estrutura após um desastre natural estão sob risco de exposição ocupacional, visto que produtos de amianto antigos e/ou novos podem estar presentes no ambiente pós-desastre.17 Conforme dados da Organização Mundial de Saúde de 2018 a OIT (ILO, 202118) estima que cerca de 125 milhões de pessoas no mundo estão expostas ao asbesto nos locais de trabalho. Por sua vez, a OSHA (United States Occupational Safety and Health Administration) estimou que em 2008 1,3 milhões de trabalhadores na construção e nas indústrias em geral estavam expostos de forma significativa ao asbesto durante seu trabalho nos Estados Unidos da América. Na Europa o número de trabalhadores expostos ao asbesto tem sido avaliado pelo estudo CAREX. Baseado em estudos de exposição conhecida ou suspeita coletados durante o período de 1990–93, a base de dados do CAREX estimou um total de 1.2 milhões de trabalhadores expostos ao asbesto em 41 indústrias em 15 membros de União Europeia. Por sua vez o CAREX do Canadá estima que 152.000 canadenses estão expostos ao amianto em seus locais de trabalho (CAREXCanada, 2020).Arbete och Hälsa (Work and Health), Elgstrand, K & E Vingård (Eds.): Vol 47, No. 2013:2. p. 149-159 17 Asbestos - hazards and safe practice for clear-up after tsunami. Geneva: World Health Organization; 2006 disponível em :https://www.who.int/publications/m/item/asbestos---hazards-and-safe-practice-for-clear-up-after- tsunami 18 ILO. International Labour Office. Exposure to hazardous chemicals at work and resulting health impacts: A global review. International Labour Office – Geneva: ILO, 2021. Disponível em: http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_dialogue/--- lab_admin/documents/publication/wcms_795460.pdf Acesso em 10 nov 2021 http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_dialogue/---lab_admin/documents/publication/wcms_795460.pdf http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_dialogue/---lab_admin/documents/publication/wcms_795460.pdf 31 A OMS/OIT com base nos dados de 2016 estimam a ocorrência de cerca de 209 mil mortes devido a exposição ao asbesto, com 3,97 milhões de anos perdidos por incapacidade (WHO/ILO, 2021, op. cit., pg. 20) O asbesto é composto por silicatos minerais fibrosos com diferentes composições químicas. Quando inaladas, as fibras de asbesto depositam-se nos pulmões, provocando a formação de cicatrizes, caracterizando um quadro de asbestose. Os sintomas da asbestose aparecem gradualmente, tendo um período de latência de cerca de 20 anos após ter ocorrido a formação de cicatrizes e os pulmões terem perdido a elasticidade. Os sintomas iniciais são uma dificuldade respiratória discreta e a diminuição da capacidade de realizar exercícios. A respiração torna-se cada vez mais difícil. Ocasionalmente, a inalação de fibras de asbesto pode provocar o acúmulo de líquido no espaço existente entre as duas membranas pleurais (derrame no espaço pleural). A inalação de fibras de asbesto também pode acarretar o espessamento das membranas que revestem os pulmões (placas pleurais) e câncer de pulmão. Em casos raros, o asbesto acarreta a formação de tumores malignos pleurais, denominados mesoteliomas pleurais ou no peritônio (membrana que reveste externamente o intestino e internamente o abdômen), denominados mesoteliomas peritoneais. Geralmente, câncer de pulmão e os mesoteliomas ocorrem trinta ou quarenta anos após a exposição, sendo que o seu diagnóstico se faz por meio de biópsias e exames especializados de histoquímica. Em um trabalhador com história de exposição ao asbesto, o diagnóstico de asbestose se dá por meio de uma radiografia torácica que revela as alterações características e nos casos duvidosos por meio de Tomografia de Tórax computadorizada de Alta Resolução (TCAR). Geralmente o paciente também apresenta uma função pulmonar anormal. As doenças causadas pela inalação de asbesto podem ser evitadas com a eliminação da poeira e fibras de asbesto nos locais de trabalho. Os tratamentos para asbestose incluem medidas paliativas para aliviar os sintomas como, por exemplo, a oxigenoterapia para reduzir a dificuldade respiratória. A drenagem do líquido acumulado em torno dos pulmões pode facilitar a respiração. O transplante de pulmão tem sido bem-sucedido no tratamento da asbestose. Já os mesoteliomas não têm tratamento específico e são invariavelmente fatais, pois a quimioterapia não produz bons resultados e a remoção cirúrgica do tumor não leva à cura. Além das patologias citadas a exposição ao amianto está relacionada a casos de câncer de laringe e ovários. Importante destacar que o Supremo Tribunal Federal, em decisão proferida em 23 fevereiro de 2023, manteve a decisão proferida em 2017 que declarou inconstitucional um artigo da Lei Federal 9.055/1995 que permitia o uso controlado do amianto crisotila no Brasil. Assim ficou 32 proibida a extração, industrialização, a comercialização e a distribuição do amianto crisotila no país. 4.4.8 – SENSIBILIZANTES Substâncias químicas ou produtos que desenvolvem processos alérgicos. Exemplos: Óleos, resinas, pólen, isocianatos. V - INTERAÇÃO ENTRE AGENTES QUÍMICOS No mundo real não estamos expostos a um único agente químico em determinado momento. O ar que respiramos contém diversos produtos químicos. O ar no interior de nossas casas pode conter vários agentes químicos provenientes da fumaça de cigarros, cola de carpetes e produtos de limpeza, por exemplo. O mesmo se aplica quando se trata de ambientes de trabalho quando pode ocorrer exposição simultânea a solventes e metais pesados, sendo difícil determinar o risco de cada uma destas múltiplas exposições porque o nosso organismo não responde da mesma forma a cada produto químico da mistura se outros agentes químicos estão presentes. As interações entre os agentes químicos ocorrem quando o trabalhador está exposto ocupacionalmente a duas ou mais substâncias químicas, resultando em alterações da biodisponibilidade dessas substâncias e/ou nos seus efeitos produzidos. A exposição simultânea a duas ou mais substâncias pode levar a vários tipos de situações, podendo ou não ocorrer interação entre elas. Estas interações podem levar a uma das seguinte situações ou efeito: a) Efeito aditivo b) Efeito sinérgico c) Efeito de potenciação d) Efeito antagônico Assim, quando ocorre a exposição a dois ou mais agentes químicos a determinação do risco se torna mais complexa. Estudos científicos são limitados por causa do grande número de combinações possíveis. Assim, se o os efeitos resultantes da exposição a misturas são desconhecidos a melhor estratégia ainda é reduzir a exposição para reduzir o risco. Em resumo a exposição a dois ou mais produtos químicos podem resultar em ações independente, aditiva, sinérgica, de potenciação ou antagônica. a) Efeito independente Neste caso a toxicidade dos compostos ocorre por mecanismo independente ou os compostos atuam sobre diferentes órgãos-alvo e cada um 33 dos agentes tem uma toxicidade independente um do outro, produzindo efeitos distintos. b) Efeito aditivo Em toxicologia ocupacional a interação mais frequente é a aditiva. O efeito aditivo ocorre quando o efeito conjunto de duas substâncias é igual à soma dos efeitos de cada uma isoladamente. Neste caso os agentes químicos possuem toxicidade do tipo análogo, determinando uma resposta que é igual à soma simples de seus efeitos isoladamente. Em outras palavras, o efeito resultante é soma dos efeitos isolados de dois ou mais agentes químicos por apresentarem efeito adverso semelhante no mesmo órgão ou sistema-alvo, e que serviu de base para estabelecimento do Limite de Exposição Ocupacional. Neste caso a magnitude do efeito ou resposta, produzida por duas ou mais substâncias químicas é numericamente igual à soma dos efeitos ou respostas produzidas individualmente. Como exemplo podemos citar: 1. a ação do chumbo e do arsênico na biossíntese do heme, aumentando a excreção de coproporfirina é aproximadamente aditiva. 2. a ação da anilina e dos nitritos sobre a hemoglobina formando a metahemoglobina levando a asfixia. 3. os efeitos dos agrotóxicos organofosforados geralmente são aditivos 4. o efeito leucemogênico do 1,3 butadieno e benzeno. c) Efeito Sinérgico . Às vezes, um produto químico pode fazer com que nosso organismo responda mais fortemente a outro agente químico gerando um efeito sinérgico. Neste caso as duas substâncias atuam em conjunto, determinando uma toxicidade maior que aquela derivada de cada uma das substâncias tomadas isoladamente, levando a um efeito multiplicador. Assim o efeito ou resposta à exposição a substâncias químicas de forma combinada é maior que o efeito aditivo, ou seja, ocorre um efeito que é maior que a simples adição ou soma de seus efeitos. Por exemplo é o efeito teratogênico combinado, em animais, provocado pelo