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Título	da	obra	original,	em	inglês,	publicada	pela	Self-Realization	Fellowship,
Los	Angeles	(Califórnia):
The	Science	of	Religion
ISBN:	978-0-87612-005-7
Copyright	©	2011,	2021	Self-Realization	Fellowship
Todos	os	direitos	desta	edição	digital	de	A	Ciência	da	Religião	(The	Science	of
Religion)	são	reservados	pela	Self-Realization	Fellowship.
Nota	ao	leitor
A	Self-Realization	Fellowship	tem	o	prazer	de	lhe	dar	a	permissão	para	baixar
esta	edição	para	seu	uso	individual,	não	comercial,	e	imprimir,	para	consulta,
quaisquer	excertos	que	possam	atender	às	suas	necessidades	pessoais.
Tenha	a	bondade	de	observar,	todavia,	que	ao	adquirir	esta	edição,	o	leitor
concorda	em	cumprir	as	leis	de	direitos	autorais	nacionais	e	internacionais
aplicáveis	e	abster-se	de	distribuir,	reproduzir	ou	transmitir	o	conteúdo	para
outros	indivíduos	ou	entidades,	por	quaisquer	meios	(mecânico,	eletrônico	ou
outros),	sem	a	autorização	prévia,	por	escrito,	da	Self-Realization	Fellowship.
Agradecemos	sua	consideração	em	ajudar	a	preservar	a	integridade	da	obra	do
autor,	defendendo	esses	princípios.
Obrigado	por	apoiar	nossos	esforços	de	publicação,	sem	fins	lucrativos,	em
conexão	com	o	legado	de	Paramahansa	Yogananda.
Autorizado	pelo	Conselho	de	Publicações	Internacionais	da
SELF-REALIZATION	FELLOWSHIP
3880	San	Rafael	Avenue	•	Los	Angeles,	California	90065-3219	USA
O	nome	Self-Realization	Fellowship	e	o	emblema	(mostrados	acima)	aparecem
em	todos	os	livros,	gravações	e	demais	publicações	da	SRF,	sendo,	para	o	leitor,
a	garantia	de	que	a	obra	provém	da	sociedade	estabelecida	por	Paramahansa
Yogananda	e	transmite	fielmente	seus	ensinamentos.
Primeira	edição,	2011.	E-book	edição,	2022.
ISBN:	978-0-87612-109-2
ISBN:	978-0-87612-990-6	(Kindle	edição)
ISBN:	978-0-87612-991-3	(ePub	edição)
A	Respeito	deste	Livro
A	primeira	das	obras	publicadas	de	Paramahansa	Yogananda,	A	Ciência	da
Religião	(The	Science	of	Religion)	ocupa	um	lugar	especial	na	biblioteca	da
Self-Realization	Fellowship,	junto	com	seus	outros	livros	e	gravações.	Este	livro
é	uma	ampliação	do	discurso	inaugural	de	Sri	Yogananda	na	América,	a	palestra
histórica	que	apresentou	pela	primeira	vez	seus	ensinamentos	ao	mundo
ocidental.	A	conferência,	feita	em	1920	em	um	congresso	internacional	de
religiosos	liberais	realizado	em	Boston,	foi	recebida	com	entusiasmo	pelos
delegados	–	e	também	pelo	público,	para	quem	se	fez	disponível	em	forma	de
panfleto.	Em	1924,	Sri	Yogananda	providenciou	para	que	sua	organização
publicasse	uma	edição	revisada	e	ampliada;	e	desde	então	o	livro	tem	estado
permanentemente	impresso.	Em	1928,	um	prefácio	de	autoria	do	eminente
estadista	e	filósofo	britânico	Douglas	Grant	Duff	Ainslie	foi	acrescentado	e
incluído	em	todas	as	edições	subsequentes.
O	Legado	Espiritual	de	Paramahansa	Yogananda
(Seus	escritos	completos,	conferências	e	palestras	informais)
Paramahansa	Yogananda	fundou	a	Self-Realization	Fellowship	em	1920,	para
difundir	seus	ensinamentos	em	todo	o	mundo	e	lhes	preservar	a	pureza	e	a
integridade	para	as	gerações	futuras.	Prolífico	escritor	e	palestrante	desde	os	seus
primeiros	anos	na	América,	ele	produziu	um	corpo	volumoso	e	respeitado	de
trabalhos	que	abordam	a	ciência	iogue	da	meditação,	a	arte	da	vida	equilibrada	e
a	unidade	fundamental	de	todas	as	grandes	religiões.	Hoje,	esse	legado	espiritual
único	e	de	grande	alcance	se	mantém	vivo,	inspirando	milhões	de	buscadores	da
verdade	em	todo	o	mundo.
Obediente	aos	desejos	expressos	do	grande	mestre,	a	Self-Realization
Fellowship	tem	prosseguido	na	tarefa	contínua	de	publicar	e	manter
permanentemente	impressas	As	Obras	Completas	de	Paramahansa	Yogananda,
as	quais	incluem	não	apenas	as	edições	definitivas	de	todos	os	livros	que	ele
publicou	em	vida,	mas	também	numerosos	títulos	inéditos	–	trabalhos	que	não
foram	publicados	até	o	seu	falecimento	em	1952,	ou	que	tinham	sido	publicados
em	série,	mas	de	forma	incompleta,	através	dos	anos,	na	revista	da	Self-
Realization	Fellowship,	bem	como	centenas	de	conferências	e	palestras
informais,	profundamente	inspiradoras,	que	foram	transcritas	ou	gravadas,
porém	não	publicadas	antes	de	sua	morte.
Paramahansa	Yogananda	pessoalmente	escolheu	e	instruiu	seus	discípulos
diretos	que	formaram	o	Conselho	de	Publicações	da	Self-Realization	Fellowship
e	lhes	deu	diretrizes	específicas	para	a	preparação	e	publicação	de	seus
ensinamentos.	Os	membros	do	Conselho	de	Publicações	da	SRF	(monges	e
monjas	que	fizeram	votos	vitalícios	de	renúncia	e	serviço	altruísta)	zelam	por
essas	diretrizes	como	uma	confiança	sagrada	para	que	a	mensagem	universal
desse	bem-amado	instrutor	mundial	se	mantenha	viva	com	a	força	e	a
autenticidade	originais.
O	emblema	da	Self-Realization	Fellowship	(que	se	vê	na	página	anterior)	foi
desenhado	por	Paramahansa	Yogananda	para	identificar	a	organização	sem	fins
lucrativos	que	ele	fundou	como	a	fonte	autorizada	de	seus	ensinamentos.	O
nome	e	o	emblema	da	SRF	aparecem	em	todas	as	publicações	e	gravações	da
Self-Realization	Fellowship,	garantindo	ao	leitor	que	o	trabalho	provém	da
organização	fundada	por	Paramahansa	Yogananda	e	transmite	seus	ensinamentos
do	modo	que	ele	próprio	idealizou.
Self-Realization	Fellowship
Por	sua	piedade	e	generosidade	para	com	muitos	movimentos	importantes	e	por
seu	pioneirismo	em	patrocinar	a	fundação	de	uma	escola	residencial	para
meninos	da	Yogoda	Satsanga,	em	Ranchi	(Bihar,	Índia),	este	livro	é	dedicado
com	amor	ao	saudoso	e	venerável	marajá	Sri	Manindra	Chandra	Nundy,	de
Kasimbazar,	Bengala.
Índice
Prefácio
Prólogo
Introdução
A	universalidade,	necessidade	e	unidade	da	religião
O	objetivo	comum	da	vida
Definição	universal	de	religião
O	que	significa	ser	religioso
A	religião	nos	“liga”	às	leis	benevolentes
Religião	é	questão	de	fundamentos
A	Religião	Universal	é	pragmaticamente	necessária
Dor,	prazer	e	Bem-aventurança:	suas	diferenças
A	causa	fundamental	da	dor	e	do	sofrimento
As	causas	imediatas	da	dor
O	prazer	é	uma	consciência	dúplice
Confundir	os	meios	com	o	fim
A	consciência	de	Bem-aventurança	surge	do	rompimento	da	identificação	com	o
corpo
Deus	como	Bem-aventurança
O	motivo	comum	de	todas	as	ações
Apenas	a	consciência	de	Bem-aventurança	pode	efetivamente	apaziguar	a
excitação
Que	é	Deus?
A	prova	da	existência	de	Deus	está	dentro	de	nós
A	religião	só	se	torna	universalmente	necessária	quando	Deus	é	concebido
como	Bem-aventurança
Em	Deus	ou	consciência	de	Bem-aventurança	nossas	aspirações	espirituais	se
realizam
A	vida:	grande	peça	teatral
Quatro	métodos	fundamentais	de	realização	divina
A	necessidade	de	métodos	religiosos
O	“Filho	de	Deus”	e	o	“filho	do	homem”
A	origem	do	sectarismo
Quatro	métodos	religiosos	fundamentais
1.	O	método	do	intelecto
2.	O	método	da	devoção
3.	O	método	da	meditação
4.	O	método	científico	ouYoga
Explicação	fisiológica	do	método	científico
A	prática	do	método	científico	resulta	em	libertar-se	das	distrações	corporais	e
mentais
A	prática	continuada	do	método	científico	leva	à	consciência	de	Bem-
aventurança	ou	Deus
O	método	científico	trabalha	diretamente	com	a	força	vital
Os	instrumentos	do	conhecimento	e	a	validez	teórica	dos	métodos	religiosos
Os	três	instrumentos	do	conhecimento
1.	Percepção
2.	Inferência
3.	Intuição
Por	meio	da	intuição,	Deus	pode	ser	experimentado	em	todos	os	Seus	aspectos
A	respeito	do	autor
Paramahansa	Yogananda:	um	iogue	na	vida	e	na	morte
Recursos	adicionais	aos	ensinamentos	de	Kriya	Yoga	de	Paramahansa
Yogananda
Lições	da	Self-Realization	Fellowship
Objetivos	e	Ideais	da	Self-Realization	Fellowship
Prefácio
Douglas	Grant	Duff	Ainslie
(1865-1952)
(Estadista,	poeta	e	filósofo	inglês;	delegado	do	Congresso	Internacional	de
Filosofia,	Universidade	de	Harvard)
Este	pequeno	livro	traz	a	chave	do	universo.
Seu	valor	não	pode	ser	medido	com	palavras,	porquanto,	dentro	destas	estreitas
capas,	poderão	ser	encontrados,	postos	pela	primeira	vez	ao	alcance	da	multidão,
a	flor	dos	Vedas	e	dos	Upanishads,	o	essencial	de	Patânjali	(o	principal	expositordualidade	–	prazer	e	dor,	amor	e	ódio	mesquinhos,	etc.	–	afastava-se	de	sua
mente.	Bem-aventurança	pura	e	serenidade	brotaram	em	seu	coração,	e	você
experimentou	uma	tranquilidade	imperturbável:	Bem-aventurança	e
contentamento.	Embora	esse	tipo	de	experiência	superior	nem	sempre	ocorra	a
todos,	não	pode	haver	dúvida	de	que	todas	as	pessoas,	uma	vez	ou	outra,	durante
a	oração	ou	em	estado	de	adoração	ou	meditação,	experimentaram	alguns
momentos	de	perfeita	paz.
Não	é	essa	uma	prova	da	existência	de	Deus?	Que	outra	prova	direta	da
existência	e	da	natureza	de	Deus	podemos	dar,	além	da	existência	da	Bem-
aventurança	dentro	de	nós	nos	momentos	de	verdadeira	oração	ou	culto?	Há,
porém,	outras	provas	da	existência	de	Deus:	a	prova	cosmológica	(do	efeito
elevamo-nos	à	causa;	do	mundo,	ao	Criador	do	Mundo),	a	prova	teleológica	(do
telos	[plano,	adaptação]	do	mundo	elevamo-nos	à	Inteligência	Suprema	que
criou	o	plano	e	a	adaptação)	e	também	a	prova	moral	(da	consciência	e	do
sentimento	de	perfeição	elevamo-nos	ao	Ser	Perfeito,	diante	de	quem	somos
responsáveis).
Ainda	assim,	devemos	admitir	que	essas	provas	são,	em	certa	medida,	produtos
da	inferência.	Não	podemos	ter	conhecimento	pleno	ou	direto	de	Deus	por	meio
das	faculdades	limitadas	do	intelecto.	O	intelecto	proporciona	apenas	uma	visão
parcial	e	indireta	das	coisas.	Ver	uma	coisa	intelectualmente	não	é	o	mesmo	que
experimentá-la	ao	se	unificar	com	ela;	é	ver	uma	coisa	à	distância	estando
separado	dela.	A	intuição,	porém,	que	mais	tarde	analisaremos,	é	a	apreensão
direta	da	verdade.	É	na	intuição	que	a	consciência	de	Bem-aventurança,	ou
consciência	de	Deus,	é	experimentada.
Não	há	sombra	de	dúvida	quanto	à	identidade	absoluta	entre	a	consciência	de
Bem-aventurança	e	a	consciência	de	Deus,	porque	quando	temos	essa
consciência	de	Bem-aventurança	sentimos	que	nossa	estreita	individualidade	foi
transformada	e	que	transcendemos	a	dualidade	do	amor	e	do	ódio	mesquinhos,
do	prazer	e	da	dor;	alcançamos	um	nível	a	partir	do	qual	se	torna	extremamente
óbvio	o	caráter	doloroso	e	inútil	da	consciência	comum.
E	também	sentimos	uma	expansão	interior	e	uma	compaixão	para	com	todas	as
coisas.	Os	tumultos	do	mundo	extinguem-se,	as	agitações	desaparecem	e
começamos	a	sentir	a	consciência	de	“todos	em	Um	e	Um	em	todos”.	Surge	uma
gloriosa	visão	de	luz.	Todas	as	imperfeições,	todas	as	asperezas	reduzem-se	a
nada.	Somos	transportados	a	outra	esfera,	à	origem	da	perene	Bem-aventurança,
o	ponto	de	partida	de	uma	interminável	continuidade.	Não	é,	pois,	a	consciência
de	Bem-aventurança	a	mesma	consciência	de	Deus,	na	qual	aparecem	os	estados
de	percepção	acima	citados?
É	evidente,	portanto,	que	Deus	não	poderá	ser	mais	bem	concebido	do	que	como
Bem-aventurança	se	tentarmos	trazê-Lo	para	o	âmbito	da	experiência	de
tranquilidade	de	cada	um.	Deus	não	continuará	sendo	então	uma	hipótese,
sujeito	à	formulação	de	teorias.	Não	é	essa	uma	concepção	mais	nobre	de	Deus?
Ele	é	percebido	manifestando-Se	em	nossos	corações,	na	forma	de	Bem-
aventurança	na	meditação	–	em	espírito	de	oração	ou	de	reverente	adoração.
A	religião	só	se	torna	universalmente	necessária
quando	Deus	é	concebido	como	Bem-aventurança
Se	concebemos	Deus	deste	modo,	como	Bem-aventurança,	então	(e	só	então)
podemos	tornar	a	religião	universalmente	necessária.	Pois	ninguém	pode	negar
que	deseja	alcançar	a	Bem-aventurança	e,	se	deseja	alcançá-la	de	maneira
apropriada,	há	de	ser	religioso	ao	buscar	e	sentir	Deus,	que	é	descrito	como
íntimo	a	seu	coração	na	forma	de	Bem-aventurança.
Essa	consciência	de	Bem-aventurança,	ou	consciência	de	Deus,	pode	permear
todas	as	nossas	ações	e	disposições,	basta	que	o	permitamos.	Se	dela	pudermos
nos	apoderar	firmemente,	seremos	capazes	de	julgar	o	valor	religioso	relativo	de
todas	as	ações	e	motivações	humanas	neste	mundo.
Assim	que	nos	convencermos	de	que	a	obtenção	dessa	consciência	de	Bem-
aventurança	é	a	nossa	religião,	a	nossa	meta,	o	nosso	fim	supremo,	então
desaparecerão	todas	as	dúvidas	a	respeito	do	significado	dos	múltiplos
ensinamentos,	injunções	e	proibições	dos	diferentes	credos	do	mundo.	Tudo	será
interpretado	à	luz	do	estágio	de	crescimento	para	o	qual	eles	foram	prescritos.
A	verdade	brilhará,	o	mistério	da	existência	será	resolvido	e	a	luz	incidirá	sobre
os	detalhes	de	nossa	vida,	com	suas	numerosas	ações	e	motivações.	Seremos
capazes	de	extrair	a	verdade	nua	que	se	acha	encerrada	nos	aditamentos
exteriores	das	doutrinas	religiosas	e	perceber	a	inutilidade	das	convenções	que,
com	tanta	frequência,	extraviam	as	pessoas	e	criam	diferenças	entre	elas.
Além	disso,	se	compreendemos	a	religião	dessa	maneira,	não	há	ninguém	neste
mundo	–	criança,	jovem	ou	idoso	–	que	não	possa	praticá-la,	qualquer	que	seja
sua	profissão	–	estudante,	operário,	advogado,	médico,	carpinteiro,	acadêmico
ou	filantropo.	Se	religião	significa	abolir	o	sentimento	de	carência	e	alcançar	a
Bem-aventurança,	quem	há	que	não	esteja	tentando	ser	religioso	e	que	não
tentará	sê-lo	em	grau	maior	se	os	métodos	apropriados	lhe	forem	ensinados?
Não	nos	interessa	aqui	a	questão	da	variedade	de	religiões	–	a	de	Cristo,	a	de
Maomé	ou	a	de	Sri	Krishna.	Todos	neste	mundo	estão	inevitavelmente	tentando
ser	religiosos,	e	poderão	sê-lo,	de	forma	ainda	mais	plena,	se	adotarem	os
métodos	apropriados.	Aqui	não	há	distinção	de	casta	ou	credo,	seita	ou	fé,	roupa
ou	clima,	idade	ou	sexo,	profissão	ou	posição.	Pois	esta	religião	é	universal.
Se	disséssemos	que	todas	as	pessoas	do	mundo	deveriam	reconhecer	Sri	Krishna
como	seu	Salvador,	aceitariam	isso	todos	os	cristãos	e	muçulmanos?	Se
pedíssemos	a	todos	para	aceitarem	Jesus	como	seu	Senhor,	fariam	isso	todos	os
hindus	e	muçulmanos?	E	se	ordenássemos	que	todos	aceitem	Maomé	como	seu
Profeta,	concordariam	com	isso	cristãos	e	hindus?	Se,	porém,	dissermos:	“Ó
meus	irmãos	cristãos,	muçulmanos	e	hindus:	o	Senhor	nosso	Deus	é	a	Existência
(Ser)	Eternamente	Consciente	e	Bem-aventurada”,	não	aceitarão	eles	esta
verdade?	Poderão	acaso	rejeitá-la?	Não	apelarão	todos	a	Ele	como	o	Único	que
pode	acabar	com	todos	os	seus	sofrimentos?
Nem	se	pode	fugir	dessa	conclusão	afirmando	que	os	cristãos,	hindus	e
muçulmanos	não	concebem	Jesus,	Krishna	e	Maomé,	respectivamente,	como	o
Próprio	Deus,	mas	os	consideram	unicamente	como	mensageiros	de	Deus,
encarnações	humanas	da	divindade.	Que	importa	se	alguém	pensa	assim?	Não
são	os	corpos	físicos	de	Jesus,	de	Krishna	e	de	Maomé	o	que	nos	interessa
fundamentalmente,	nem	nos	importamos	muito	com	o	lugar	que	ocupam	na
história.	Nem	tampouco	nos	são	eles	memoráveis	apenas	por	causa	de	suas
maneiras	diferentes	e	interessantes	de	pregar	a	verdade.	Nós	os	reverenciamos
porque	eles	conheceram	e	sentiram	Deus.	Esse	é	o	fato	que	nos	interessa	em	sua
existência	histórica	e	em	suas	múltiplas	maneiras	de	expressar	a	verdade.
Acaso	todos	eles	não	experimentaram	Deus	como	Bem-aventurança	e	revelaram
a	verdadeira	beatitude	como	sendo	o	autêntico	estado	divino?	Não	é	esse	entre
eles	um	laço	de	unidade	suficiente	–	deixando	de	lado	outros	aspectos	da
Divindade	e	da	verdade	que	eles	possam	ter	percebido	e	expressado?	Não
deveriam	o	cristão,	o	hindu	e	o	muçulmano	interessar-se	em	conhecer	os	profetas
uns	dos	outros,	uma	vez	que	todos	eles	alcançaram	a	consciência	de	Deus?
Assim	como	Deus	une	todas	as	religiões,	é	a	experiência	Dele	como	Bem-
aventurança	que	une	a	consciência	dos	profetas	de	todas	as	religiões.¹
Em	Deus	ou	consciência	de	Bem-aventurança	nossas
aspirações	espirituais	se	realizam
Ninguém	deve	pensar	que	tal	concepção	de	Deus	é	demasiadamente	abstrata,
nada	tendo	a	ver	com	nossas	esperanças	e	aspirações	espirituais,	as	quais
requerem	uma	concepção	de	Deus	como	um	ser	pessoal.	Não	se	trata	da
concepção	de	um	ser	impessoal,	como	geralmente	se	compreende,	nem	de	um
ser	pessoal,	estreitamente	definido.
Deus	não	é	uma	pessoa,	como	nós	somos	em	nossa	estreiteza.	Nosso	ser,
consciência,	sentimentos,	volição	têm	apenas	um	vestígio	de	semelhança	com	o
Ser	(Existência),	Consciência	e	Bem-aventurança	de	Deus.	Ele	é	pessoa	no
sentido	transcendental.Nosso	ser,	consciência	e	sentimento	são	limitados	e
empíricos;	os	de	Deus	são	ilimitados	e	transcendentais.	Ele	tem	um	aspecto
impessoal	e	absoluto,	mas	não	devemos	pensar	que	Ele	esteja	fora	do	alcance	de
todas	as	experiências	–	inclusive	de	nossa	experiência	interior.
Deus	pode	ser	percebido	por	todas	as	pessoas	no	estado	de	tranquilidade.	É	na
consciência	de	Bem-aventurança	que	nós	O	experimentamos.	Não	pode	haver
qualquer	outra	prova	direta	da	Sua	existência.	É	Nele,	como	Bem-aventurança,
que	nossas	esperanças	e	aspirações	espirituais	se	realizam	–	nossa	devoção	e
amor	encontram	Nele	o	seu	propósito.
Não	se	exige	a	concepção	de	um	ser	pessoal,	que	vem	a	ser	apenas	uma
ampliação	de	nós	mesmos.	Deus	pode	ser	ou	tornar-Se	qualquer	coisa:	pessoal,
impessoal,	todo-misericordioso,	onipotente	e	assim	por	diante.	Mas	não	temos
que	nos	preocupar	com	esses	qualificativos.	A	concepção	de	Deus	como	Bem-
aventurança	atende	precisamente	aos	nossos	objetivos,	esperanças,	aspirações	e
à	nossa	perfeição.
Nem	devemos	pensar	que	tal	concepção	de	Deus	nos	tornará	idealistas
sonhadores,	rompendo	nosso	vínculo	com	as	ocupações	e	responsabilidades,	as
alegrias	e	mágoas	do	mundo	concreto.	Se	Deus	é	Bem-aventurança	e	se
buscamos	a	Bem-aventurança	para	conhecê-Lo,	não	podemos	negligenciar	os
deveres	e	as	responsabilidades	do	mundo.	No	exercício	dessas	funções	podemos
ainda	sentir	a	Bem-aventurança,	porque	esta	situa-se	para	além	daquelas,	as
quais	portanto	não	podem	afetá-la.	Na	Bem-aventurança,	transcendemos	as
alegrias	e	mágoas	do	mundo,	mas	não	transcendemos	a	necessidade	de	cumprir
nossos	legítimos	deveres	no	mundo.
O	homem	de	Autorrealização	sabe	que	Deus	é	o	Autor	de	todas	as	ações;	todo
poder	de	agir	flui	Dele	para	nós.	Quem	está	centrado	no	Eu	espiritual	sente-se
como	o	desapaixonado	observador	de	todas	as	ações,	esteja	ele	vendo,	ouvindo,
tocando,	cheirando,	saboreando	ou	passando	por	várias	outras	experiências	no
mundo.	Imersos	na	Bem-aventurança,	tais	homens	vivem	sua	vida	de	acordo
com	a	vontade	de	Deus.
Quando	se	cultiva	o	desapego,	o	estreito	egoísmo	desaparece.	Sentimos	que
estamos	representando	os	papéis	que	nos	foram	atribuídos	no	palco	do	mundo,
sem	sermos	afetados	intimamente	pelas	alegrias	e	mágoas,	amores	e	ódios	que	a
encenação	envolve.
A	vida:	grande	peça	teatral
Na	verdade,	o	mundo,	em	todos	os	seus	aspectos,	pode	ser	comparado	a	um
palco.	O	diretor	escolhe	pessoas	para	ajudá-lo	na	encenação	de	certa	peça	teatral
e	atribui	papéis	específicos	a	determinados	indivíduos.	Todos	trabalham	segundo
suas	instruções.	A	um,	o	diretor	atribui	o	papel	de	rei,	a	outro	o	de	ministro;	a
um,	o	de	servidor,	a	outro	o	de	herói,	e	assim	por	diante.	Uma	pessoa	tem	de
representar	um	papel	triste;	outra,	um	papel	alegre.
Se	cada	um	representa	sua	parte	de	acordo	com	as	instruções	do	diretor,	então	a
peça,	com	todas	as	suas	diversidades	de	papéis	cômicos,	sérios	e	tristes,	torna-se
um	sucesso.	Mesmo	os	papéis	insignificantes	são	indispensáveis	na
representação.
O	êxito	da	peça	está	na	perfeita	encenação	de	cada	papel.	Cada	ator	representa
seu	papel	de	tristeza	ou	prazer	com	realismo	e,	externamente,	parece	ser	afetado
por	seu	papel;	interiormente,	porém,	ele	não	é	afetado	pelo	papel	nem	pelas
paixões	que	retrata:	amor,	ódio,	desejo,	malícia,	orgulho,	humildade.
Se	um	ator,	porém,	ao	encenar	seu	papel,	se	identificasse	com	determinada
situação	ou	sentimento	particular	expressos	na	representação	e	perdesse	sua
própria	individualidade,	seria	considerado	um	tolo,	para	dizer	o	mínimo.	Uma
história	esclarecerá	este	último	ponto.
Uma	vez,	na	casa	de	um	homem	rico,	foi	encenada	a	peça	Ramayana.²	Durante	a
encenação,	descobriu-se	que	o	homem	que	deveria	representar	o	papel	de
Hanuman	(um	macaco),	amigo	e	servidor	de	Rama,³	estava	ausente.
Desesperado,	o	diretor	apelou	para	um	simplório	muito	feio,	chamado	Nilkamal,
e	pediu-lhe	que	fizesse	o	papel	de	Hanuman.
Nilkamal	a	princípio	recusou-se,	mas	foi	forçado	a	aparecer	no	palco.	Sua
aparência	feia	provocou	gargalhadas	entre	os	espectadores,	que	começaram	a
gritar,	em	tom	de	escárnio:	“Hanuman,	Hanuman!”
Nilkamal	não	conseguiu	suportar	isso.	Esquecendo-se	de	que	era	apenas	teatro,
exclamou,	exasperado:	“Senhores,	por	que	me	chamam	de	Hanuman?	Por	que
estão	rindo?	Eu	não	sou	Hanuman.	O	diretor	me	obrigou	a	aparecer	aqui,	vestido
assim.”
Neste	mundo	complexo,	nossas	vidas	não	passam	de	peças	teatrais.	Mas	–	que
pena!	–	identificamo-nos	com	a	peça	e,	por	isso,	experimentamos	dissabores,
tristeza	e	prazer.	Esquecemos	a	orientação	e	as	instruções	do	Grande	Diretor.	No
ato	de	viver	a	vida	–	desempenhando	nossos	papéis	–	sentimos	como	se	fossem
reais	todas	as	nossas	mágoas	e	prazeres,	amores	e	ódios	–	numa	palavra,
tornamo-nos	apegados,	afetados.
Esta	peça	que	é	o	mundo	não	tem	começo	nem	fim.	Todos	devem	representar	o
papel	que	lhes	foi	atribuído	pelo	Grande	Diretor,	sem	resmungar,	apenas	por
amor	à	própria	peça.	Devem	expressar	tristeza	quando	representarem	um	papel
triste,	ou	prazer	quando	encenarem	um	papel	prazeroso,	porém	nunca	se
identificar	com	a	peça.
Também	não	deve	uma	pessoa	querer	representar	o	papel	de	outra.	Se	todos
neste	mundo	representassem	o	papel	de	rei,	a	peça	perderia	interesse	e	sentido.
Aquele	que	alcançou	a	consciência	de	Bem-aventurança	sentirá	que	o	mundo	é
um	palco	e	representará	seu	papel	da	melhor	maneira	possível,	lembrando-se	de
Deus,	o	Grande	Diretor,	assim	como	conhecendo	e	sentindo	Seu	plano	e
orientação.
Paramahansa	Yogananda	discursando	em	Denver,	Colorado,	agosto	de	1924.
1	A	consciência	de	Bem-aventurança	é	também	enfatizada	nas	religiões
consideradas	ateístas,	como	o	budismo.	O	Nirvana	budista	não	é,	como
erradamente	supõem	os	escritores	ocidentais,	um	“apagar	da	luz”,	a	extinção	da
existência.	Ao	contrário,	é	o	estado	em	que	a	estreita	individualidade	se	apaga	e
em	que	se	alcança	a	tranquilidade	transcendental	da	universalidade.	Isso	é
exatamente	o	que	ocorre	na	consciência	superior	de	Bem-aventurança,	embora
os	budistas	não	associem	a	ela	o	nome	de	Deus.
2	Dramatização	baseada	na	antiga	epopeia	sânscrita	do	mesmo	nome.	(Nota	da
Editora)
3	Personagem	central	e	sagrada	do	Ramayana.	(Nota	da	Editora)
PARTE	4
Quatro	métodos	fundamentais	de	realização	divina
A	necessidade	de	métodos	religiosos
Vimos	nas	Partes	1,	2	e	3	que	a	identificação	do	Eu	espiritual	com	o	corpo	e	a
mente	é	a	causa	fundamental	de	nossa	dor,	de	nosso	sofrimento	e	de	nossas
limitações;	e	que,	por	causa	dessa	identificação,	sentimos	a	excitação	causada
pela	dor	e	prazer,	ficando	quase	cegos	para	o	estado	de	Bem-aventurança	ou
consciência	de	Deus.	Vimos	também	que	a	religião	consiste,	essencialmente,	em
evitar	de	maneira	permanente	a	dor	e	obter	a	pura	Bem-aventurança	ou	Deus.
Assim	como	a	verdadeira	imagem	do	sol	não	pode	ser	percebida	na	superfície	da
água	em	movimento,	também	a	verdadeira	natureza	bem-aventurada	do	Eu
espiritual	–	reflexo	do	Espírito	Universal	–	não	pode	ser	compreendida,	devido
às	ondas	da	inquietude	que	surgem	da	identificação	de	si	próprio	com	os	estados
mutáveis	do	corpo	e	da	mente.	Assim	como	as	águas	em	movimento	distorcem	a
verdadeira	imagem	do	sol,	também	a	mente,	em	seu	estado	inquieto	decorrente
da	identificação,	distorce	a	natureza	verdadeira	e	sempre	bem-aventurada	do	Eu
interior.
O	propósito	deste	capítulo	é	analisar	os	métodos	mais	fáceis,	racionais	e
fundamentais	–	práticos	para	todos	–	que	libertarão	o	Eu	espiritual	sempre	bem-
aventurado	de	sua	perniciosa	conexão	e	identificação	com	o	corpo	e	a	mente
transitórios,	assim	fazendo	com	que	ele	evite	a	dor	permanentemente	e	alcance	a
Bem-aventurança,	o	que	se	constitui	em	religião.
Portanto,	os	métodos	fundamentais	a	serem	considerados	aqui	são	religiosos	e
compreendem	ações	religiosas,	porque	apenas	por	meio	deles	pode	o	Eu
espiritual	libertar-se	da	identificação	com	o	corpo	e	a	mente,	e
consequentemente	da	dor,	e	ser	capaz	de	alcançar	a	permanente	Bem-
aventurança	ou	Deus.
O	“Filho	de	Deus”	e	o	“filho	do	homem”
Quando	Cristo	se	denominava	“Filhode	Deus”,	referia-se	ao	Espírito	Universal
que	nele	habitava.	Em	João	10:36,	Jesus	diz:	“Aquele	a	quem	o	Pai	santificou	e
enviou	ao	mundo	(…)	eu	disse:	Sou	Filho	de	Deus”.
Em	outras	ocasiões,	porém,	quando	Cristo	usou	outra	expressão	–	o	“filho	do
homem”	–	referia-se	à	forma	física,	a	criatura	humana,	o	corpo	que	nasce	de
outro	corpo	humano.	Por	exemplo,	em	Mateus	20:18-19,	Jesus	diz	aos
discípulos:	“Eis	que	vamos	para	Jerusalém,	e	o	filho	do	homem	será	entregue
aos	príncipes	dos	sacerdotes	(…)	e	eles	(…)	o	entregarão	aos	gentios	para	que
(…)	o	crucifiquem.”
Em	João	3:5-6,	Cristo	diz:	“Aquele	que	não	nascer	da	água	(a	vibração	oceânica
de	Om,	o	Espírito	Santo,	a	Força	Invisível	que	sustenta	toda	a	criação;	Deus	em
Seu	aspecto	imanente	de	Criador)	e	do	Espírito,	não	pode	entrar	no	reino	de
Deus.	O	que	é	nascido	da	carne	é	carne,	e	o	que	é	nascido	do	Espírito	é	espírito.”
Essas	palavras	significam	que,	a	menos	que	possamos	transcender	o	corpo	e
perceber	que	somos	o	Espírito,	não	poderemos	entrar	no	reino	ou	no	estado
desse	Espírito	Universal.
Há	um	eco	desse	pensamento	em	uma	quadra	sânscrita	das	escrituras	hindus:	“Se
puderes	transcender	o	corpo	e	perceber	a	ti	mesmo	como	Espírito,	serás
eternamente	bem-aventurado	e	livre	de	toda	dor”.
Ora,	existem	quatro	métodos	religiosos	universais	e	fundamentais	que,	se
seguidos	na	vida	diária,	libertarão	em	certo	tempo	o	Eu	espiritual	das	limitações
de	seus	veículos	mentais	e	corporais.	Nessas	quatro	classes	de	métodos
religiosos	incluo	todas	as	práticas	religiosas	possíveis	que	já	foram	prescritas	por
qualquer	santo,	sábio	ou	profeta	de	Deus.
A	origem	do	sectarismo
As	práticas	religiosas	são	estabelecidas	pelos	profetas	na	forma	de	doutrinas.
Homens	de	intelecto	limitado,	não	conseguindo	interpretar	o	verdadeiro
significado	dessas	doutrinas,	aceitam	sua	expressão	exotérica	ou	externa	e,
gradualmente,	caem	nas	formalidades,	convenções	e	práticas	rígidas.	Essa	é	a
origem	do	sectarismo.
O	descanso	no	dia	de	sábado	foi	erroneamente	interpretado	como	a	obrigação	de
evitar	todo	tipo	de	trabalho	–	inclusive	o	trabalho	religioso.	Esse	é	o	perigo	em
que	incorrem	os	homens	de	entendimento	limitado.	Devemos	recordar	que	não
fomos	feitos	para	o	sábado,	mas	o	sábado	foi	feito	para	nós;	não	fomos	feitos
para	as	regras,	mas	as	regras	foram	feitas	para	nós:	elas	mudam	conforme
mudamos.	Devemos	aderir	à	essência	de	uma	regra,	e	não	nos	aferrar
dogmaticamente	à	sua	forma.
Para	muitos,	mudar	as	formas	e	os	costumes	implica	mudar	de	uma	religião	para
outra.	Não	obstante,	o	significado	mais	profundo	das	doutrinas	de	todos	os
diferentes	profetas	é	essencialmente	o	mesmo.	A	maioria	das	pessoas	não
compreende	isso.
Há	um	perigo	semelhante	no	caso	daqueles	que	são	dotados	de	grande
capacidade	intelectual:	eles	tentam	conhecer	a	Verdade	Suprema	apenas	pelo
exercício	do	intelecto;	mas	a	Verdade	Suprema	só	pode	ser	conhecida	por
experiência	direta.	A	experiência	direta	é	diferente	da	mera	compreensão.	Não
nos	é	possível	compreender	intelectualmente	a	doçura	do	açúcar	se	não	o
tivermos	provado.	Do	mesmo	modo,	o	conhecimento	religioso	decorre	da
experiência	mais	profunda	de	nossa	própria	alma.	Frequentemente	nos
esquecemos	disso	quando	procuramos	aprender	a	respeito	de	Deus,	dos	dogmas
religiosos	e	da	moralidade.	Raramente	buscamos	conhecer	essas	coisas	através
da	experiência	religiosa	interior.
É	lamentável	que	homens	de	grande	capacidade	intelectual	–	bem-sucedidos	no
uso	da	razão	para	descobrirem	as	verdades	profundas	das	ciências	naturais	e	de
outros	campos	do	saber	–	pensem	que	também	serão	capazes	de	compreender
intelectualmente	as	verdades	religiosas	e	morais	superiores.	É	também
lamentável	que	o	intelecto	ou	a	razão	desses	homens,	em	vez	de	lhes	servir	de
ajuda,	frequentemente	constituem	barreiras	à	sua	compreensão	da	Verdade
Suprema	pelo	único	meio	possível:	experimentá-la	na	própria	vida.
Vamos	analisar	os	quatro	métodos	que	caracterizam	o	progresso	religioso.
QUATRO	MÉTODOS	RELIGIOSOS	FUNDAMENTAIS
1.	O	método	do	intelecto
O	método	do	intelecto	é	o	método	natural	comumente	adotado	e	que,	no	entanto,
não	produz	efeitos	rápidos	no	alcance	do	objetivo.
O	desenvolvimento	e	o	progresso	intelectual	têm	sido	naturais	e	portanto
comuns	a	todas	as	criaturas	racionais.	É	a	nossa	compreensão	autoconsciente	que
nos	diferencia	dos	animais	inferiores,	os	quais	são	conscientes	porém	não
autoconscientes.
Nas	etapas	e	processos	da	evolução,	vemos	que	essa	consciência	gradualmente
se	converte	em	autoconsciência	–	a	autoconsciência	surge	a	partir	da	consciência
animal.	A	consciência	procura	gradualmente	libertar-se	e	conhecer-se	por	si
mesma;	desse	modo,	ela	se	converte	em	autoconsciência.	Tal	mudança	se	deve	a
uma	necessidade	evolutiva,	e	o	impulso	universal	para	os	processos	intelectuais
também	se	deve	a	essa	tendência	evolutiva.	O	Eu	espiritual,	identificado	com
vários	graus	e	espécies	de	estados	corporais	e	mentais,	tenta	de	maneira
gradativa	e	natural	retornar	a	si	próprio	por	si	mesmo.
O	desenvolvimento	do	processo	do	pensamento	consciente	é	um	dos	métodos
que	o	Eu	espiritual	adota	para	colocar-se	acima	das	limitações	do	corpo	e	da
mente.	O	esforço	que	o	Eu	espiritual	faz,	por	meio	do	processo	do	pensamento,
para	retornar	a	si	próprio	–	à	sua	condição	perdida	–	é	um	fenômeno	natural.	É	o
processo	seguido	pelo	mundo.
O	Espírito	Universal	se	expressa	em	graus	diferentes	de	desenvolvimento,	desde
o	mais	baixo	até	o	mais	elevado.	Na	pedra	e	no	torrão	de	terra	não	há	vida	ou
consciência	como	podemos	concebê-la.	Nas	árvores	há	um	crescimento
vegetativo,	uma	aproximação	da	vida.	Contudo,	não	existe	aí	qualquer
manifestação	desembaraçada	de	vida	e	nenhum	processo	de	pensamento
consciente.	Nos	animais	existe	vida	e	também	consciência	de	vida.	No	homem	–
o	ponto	culminante	–	há	vida,	consciência	de	vida	e	também	consciência	do	Eu
(Autoconsciência).
Por	isso,	é	natural	que	o	homem	se	desenvolva	por	meio	do	pensamento	e	do
raciocínio,	pelo	estudo	profundo	de	livros,	pelo	engenhoso	trabalho	de	pesquisa
e	pelas	laboriosas	investigações	das	causas	e	dos	efeitos	no	mundo	natural.
Quanto	mais	profundamente	o	homem	se	ocupa	de	processos	de	pensamento,
pode-se	dizer	que	mais	ele	utiliza	o	“método”	pelo	qual	ele	se	tornou	o	que	é	no
curso	da	evolução	do	mundo	(quer	dizer,	o	método	pelo	qual	a	consciência	se
desenvolveu	até	tornar-se	Autoconsciência)	e	mais	ele	se	aproxima,	consciente
ou	inconscientemente,	do	Eu	–	pois	pelo	pensamento	nós	nos	colocamos	acima
do	corpo.
Seguindo-se	deliberadamente	esse	método,	obter-se-ão	resultados	seguros.	O
exercício	do	pensamento	por	meio	do	estudo,	com	o	objetivo	de	adquirir
conhecimento	em	determinado	campo,	até	certo	ponto	aprimora	a
Autoconsciência,	mas	não	é	tão	eficaz	nesse	sentido	quanto	o	processo
intelectivo	que	tem	como	único	objetivo	transcender	o	corpo	e	perceber	a
verdade.
Na	Índia,	o	método	do	intelecto	em	sua	forma	mais	elevada	é	chamado	Jnana
Yoga:	o	alcance	da	verdadeira	sabedoria	por	meio	da	reminiscência	e	do
discernimento,	como	por	exemplo	recordar-se	constantemente:	“Eu	não	sou	o
corpo.	Meu	verdadeiro	Eu	não	pode	ser	afetado	pelo	espetáculo	passageiro	da
criação.	Eu	sou	Espírito.”
Um	dos	defeitos	deste	método	intelectual	é	ser	um	processo	muito	vagaroso.
Pode	demorar	muito	tempo	para	que	o	Eu	espiritual	possa,	dessa	maneira,
perceber	a	si	mesmo.	Enquanto	o	Eu	espiritual	começa	a	perceber	a
Autoconsciência	por	esse	método,	está	ainda	comprometido	com	uma	série	de
pensamentos	passageiros	com	os	quais	não	tem	qualquer	relação.
A	tranquilidade	do	Espírito	é	algo	que	está	para	além	do	pensamento	e	da
sensação	corporal;	todavia,	uma	vez	alcançada,	ela	transborda	e	os	inunda.
2.	O	método	da	devoção
Este	método	consiste	na	tentativa	de	fixar	nossa	atenção	em	um	objeto	de
pensamento,	em	vez	de	fixá-la	em	diferentes	séries	de	pensamentos	ou	em	vários
objetos	(como	no	método	do	intelecto).
No	método	da	devoção	estão	incluídas	todas	as	formas	de	culto,	como	por
exemplo	a	oração	(em	cuja	prática	devemos	eliminar	todos	os	pensamentosrelacionados	com	objetos	mundanos).	O	Eu	espiritual	deve	fixar	a	atenção	de
maneira	profunda	e	reverente	naquilo	que	escolheu	como	foco	de	sua
concentração	–	seja	a	ideia	de	um	Deus	pessoal,	seja	a	de	uma	Onipresença
impessoal.	O	ponto-chave	é	que	o	devoto	se	concentre,	com	suficiente
sinceridade,	em	um	único	pensamento	devocional.
Por	este	processo	o	Eu	espiritual	torna-se	gradualmente	liberto	do	tumulto	de
numerosos	pensamentos	–	a	segunda	série	de	perturbações	–	e	consegue	tempo	e
oportunidade	para	pensar	em	si	mesmo.	Quando	oramos	fervorosamente,
esquecemos	todas	as	sensações	corporais	e	expulsamos	todos	os	pensamentos
intrusos	que	tentam	ocupar	nossa	atenção.
Quanto	mais	profunda	é	nossa	oração,	mais	intensa	é	a	satisfação	que	sentimos,
e	essa	satisfação	torna-se	o	critério	com	que	medimos	até	que	ponto	nos
aproximamos	da	Bem-aventurança	ou	Deus.	À	medida	que	as	sensações	do
corpo	são	deixadas	para	trás	e	os	pensamentos	errantes	são	controlados,	a
superioridade	do	método	da	devoção	sobre	o	intelectual	se	evidencia.
No	entanto,	o	método	da	devoção	apresenta	certos	defeitos	e	dificuldades.
Devido	ao	arraigado	hábito	que	leva	o	Eu	espiritual	a	manter-se	apegado	e
escravizado	ao	corpo,	ele	se	esforça	em	vão	para	desviar	a	atenção	da	esfera	das
sensações	corporais	e	mentais.	Todavia,	por	mais	que	a	pessoa	deseje	orar	ou
unir-se	de	todo	o	coração	a	qualquer	forma	de	culto,	a	atenção	é	invadida
impiedosamente	pelo	ataque	de	sensações	corporais	e	pensamentos	velozes
trazidos	pela	memória.	Frequentemente,	quando	oramos,	ficamos	completamente
absorvidos	em	dar	atenção	às	circunstâncias	que	são	favoráveis	à	oração,	ou
sucumbimos	facilmente	à	tentação	de	buscar	alívio	ao	menor	desconforto	físico
que	apareça	durante	ela.
Apesar	de	todos	os	nossos	esforços	conscientes,	nosso	mau	hábito	de	inquietude
–	que	já	se	tornou	para	nós	uma	segunda	natureza	–	predomina	sobre	os	desejos
do	Eu.	A	despeito	do	desejo	de	nos	concentrarmos,	a	mente	se	torna	inquieta	e,
parafraseando,	poderíamos	dizer:	“Onde	estiver	a	nossa	mente,	ali	estará	também
o	nosso	coração”.	Dizem-nos	para	orar	a	Deus	de	todo	o	coração.	Em	vez	disso,
geralmente	nossas	mentes	e	corações	são	distraídos	por	impressões	sensoriais	e
pensamentos	errantes	durante	a	oração.
3.	O	método	da	meditação
Este	e	o	método	seguinte	são	puramente	científicos,	envolvendo	um	curso
prático	de	treinamento,	e	são	prescritos	pelos	grandes	sábios	que
experimentaram	pessoalmente	a	verdade	em	sua	própria	vida.	Eu	mesmo	aprendi
com	um	desses	sábios.
Nada	existe	de	misterioso	ou	potencialmente	nocivo	nesses	métodos;	tão	logo	a
pessoa	se	familiarize	com	eles	de	maneira	apropriada,	são	de	fácil	aplicação.
Descobrir-se-á	que	são	universalmente	aplicáveis.	A	melhor	prova	de	sua
eficácia	e	utilidade	reside	no	conhecimento	experimentado	na	prática.
Praticando	regularmente	os	métodos	de	meditação	até	que	se	tornem	um	hábito,
podemos	produzir	para	nós	próprios	o	estado	de	“sono	consciente”.	Geralmente
experimentamos	esse	estado	de	tranquilidade	e	agradável	serenidade	justamente
quando	caímos	em	sono	profundo	e	nos	aproximamos	do	estado	de
inconsciência,	ou	quando	dele	saímos	e	nos	acercamos	da	consciência.
No	estado	de	sono	consciente	tornamo-nos	livres	de	todos	os	pensamentos	e	das
sensações	externas	do	corpo,	e	o	Eu	tem	a	oportunidade	de	pensar	em	si	mesmo.
Chega-se	a	esse	estado	de	bem-aventurança	de	vez	em	quando,	de	acordo	com	a
profundidade	e	a	frequência	da	prática	da	meditação.	Nesse	estado,	esquecemos
e	nos	libertamos,	temporariamente,	de	todas	as	perturbações	da	mente	e	do	corpo
que	costumam	distrair	a	atenção	do	Eu.	Por	esse	processo	de	meditação,	os
órgãos	externos	ou	sensoriais	são	controlados	quando	se	acalmam	os	nervos
voluntários,	como	acontece	no	sono.
Esse	estado	de	meditação	é	apenas	a	primeira	e	não	a	última	etapa	da	verdadeira
meditação.	No	sono	consciente	aprendemos	a	controlar	apenas	os	órgãos
externos	ou	sensoriais,	sendo	a	única	diferença	que,	no	sono	comum,	os	órgãos
sensoriais	são	automaticamente	controlados,	enquanto	que	na	meditação	os
órgãos	sensoriais	são	controlados	voluntariamente.
No	entanto,	nesse	primeiro	estágio	de	meditação	o	Eu	espiritual	ainda	está
sujeito	a	ser	perturbado	pelos	órgãos	internos	ou	involuntários,	tais	como	os
pulmões,	o	coração	e	outras	partes	do	corpo	que	erradamente	supomos	estarem
fora	de	nosso	controle.¹
Precisamos	então	procurar	um	método	melhor	do	que	o	da	meditação.	Pois
enquanto	não	for	capaz	de	voluntariamente	desconectar-se	de	todas	as	sensações
do	corpo	–	até	mesmo	as	sensações	internas,	que	acarretam	o	brotar	dos
pensamentos	–	mas	continuar	vulnerável	a	essas	perturbações,	o	Eu	espiritual
não	poderá	ter	qualquer	esperança	de	controle	nem	de	tempo	ou	oportunidade
para	conhecer	a	si	mesmo.
4.	O	método	científico	ou	Yoga
São	Paulo	afirmou:	“Todo	dia	morro”.²	Com	isso	ele	quis	dizer	que	conhecia	o
processo	de	controlar	os	órgãos	internos	e	que	podia,	voluntariamente,	libertar
do	corpo	e	da	mente	o	seu	Eu	espiritual	–	uma	experiência	que	as	pessoas
comuns,	destreinadas,	sentem	apenas	no	momento	final	da	morte,	quando	o	Eu
espiritual	liberta-se	do	corpo	esgotado.
Ora,	é	possível	ter	a	experiência	de	que	o	Eu	está	separado	do	corpo,	sem
experimentar	a	morte	definitiva,	submetendo-se	a	um	curso	de	treinamento
prático	e	regular	neste	método	científico.³
Darei	apenas	uma	ideia	geral	do	processo	e	da	verdadeira	teoria	científica	em
que	ele	está	baseado.	Apresentarei	o	assunto	aqui	nos	termos	de	minha	própria
experiência.	Verificar-se-á,	afirmo,	que	é	universalmente	aplicável.	E	também
posso	dizer,	com	plena	garantia,	que	a	Bem-aventurança	–	que	é,	como	indiquei,
nosso	objetivo	final	–	é	sentida	em	grau	intenso	durante	a	prática	deste	método.
Sua	prática	é	em	si	intensamente	bem-aventurada	–	muito	mais	bem-aventurança
pura	do	que	o	maior	de	todos	os	prazeres	que	qualquer	de	nossos	cincos	sentidos
ou	a	mente	jamais	poderão	nos	oferecer.
Não	desejo	dar	a	ninguém	outra	prova	de	sua	verdade	que	não	seja	a
proporcionada	por	sua	própria	experiência.	Quanto	mais	alguém	a	pratica	com
paciência	e	regularidade,	tanto	mais	sente,	de	maneira	intensa	e	duradoura,	que
está	estabelecido	na	Bem-aventurança	ou	Deus.
Devido	à	persistência	de	maus	hábitos,	a	consciência	da	existência	corporal,	com
todas	as	suas	lembranças,	revive	ocasionalmente	e	combate	essa	tranquilidade.
Se,	porém,	qualquer	um	praticar	este	método	regularmente	e	por	períodos
prolongados,	pode	ter	a	certeza	de	que,	em	tempo,	encontrar-se-á	em	elevado
estado	supramental	de	Bem-aventurança.
Não	devemos,	todavia,	imaginar	antecipadamente	os	resultados	possíveis	a	que
este	processo	conduz	e,	então,	parar	de	praticá-lo	após	curta	tentativa.	Para	fazer
real	progresso,	são	necessários	os	seguintes	fatores:	primeiro,	dedicada	atenção
ao	assunto	que	vai	ser	aprendido;	segundo,	o	desejo	de	aprender	e	um	espírito
sério	de	investigação;	terceiro,	firmeza	até	o	objetivo	colimado	ser	alcançado.
Se	apenas	trabalharmos	parcialmente	e,	após	uma	prática	limitada,	a
interrompermos,	o	resultado	almejado	não	virá.	Um	neófito	em	práticas
espirituais,	que	tenta	prejulgar	a	experiência	dos	peritos	(os	mestres	e	profetas	de
todos	os	tempos)	assemelha-se	à	criança	que	procura	imaginar	como	serão	os
cursos	de	pós-graduação.
É	uma	grande	pena	que	os	homens	despendam	seu	tempo	e	seus	melhores
esforços	em	conseguir	o	que	é	necessário	à	sua	existência	no	mundo	ou	em
controvérsias	intelectuais	acerca	de	teorias.	Parece	que	raramente	pensam	valer	a
pena	perceber	e	pacientemente	experimentar	na	vida	as	verdades	que	não	só
estimulam	como	também	conferem	significado	à	existência.	Esforços	mal
orientados	prendem	a	atenção	dessas	pessoas	durante	mais	tempo	do	que	as
iniciativas	bem	conduzidas.
Eu	venho	praticando	o	método	mencionado	por	muitos	anos	e,	quanto	mais	o
pratico,	mais	sinto	a	alegria	de	um	estado	de	Bem-aventurança	permanente	e
infalível.
Devemos	recordar	que	o	Eu	espiritual	tem	estado	no	cativeiro	do	corpo	por
séculos	e	séculos	que	não	sabemos.	Não	se	pode	libertá-loem	um	dia,	nem	a
prática	curta	ou	inconstante	deste	método	leva	alguém	ao	supremo	estado	de
Bem-aventurança	ou	lhe	dá	controle	sobre	os	órgãos	internos.	Isso	pode	requerer
uma	prática	paciente	por	muito,	muito	tempo.
Pode-se	garantir,	entretanto,	que	a	observância	deste	processo	trará	a	grande
alegria	da	consciência	pura	da	Bem-aventurança.	Quanto	mais	o	praticamos,
mais	rapidamente	alcançamos	essa	Bem-aventurança.	Desejo	que	vocês,	como
buscadores	da	Bem-aventurança	–	o	que	todos	nós	somos	–,	tentem	experimentar
por	si	mesmos	a	verdade	universal	que	está	em	todos	e	pode	ser	por	todos
sentida.	Esse	estado	não	é	invenção.	Já	está	dentro	de	nós.	Temos	apenas	que
descobri-lo.
Até	que	tenham	testado	esta	verdade,	não	considerem	com	indiferença	o	que
estou	escrevendo.	Vocês	podem	estar	cansados	de	ouvir	muitas	teorias,	que	até
agora	não	tiveram	influência	direta	em	sua	vida.	O	que	lhes	digo	não	é	teoria,
mas	sim	verdade	comprovada.	Estou	tentando	lhes	dar	uma	ideia	do	que	pode
realmente	ser	experimentado.
Eu	tive	a	felicidade	de	aprender	esta	verdade	científica	sagrada	com	um	grande
santo⁴	da	Índia,	há	muitos	anos.	Vocês	podem	se	perguntar	por	que	os	estimulo	a
praticar	este	método,	por	que	procuro	atrair	sua	atenção	para	esses	fatores.
Estarei	acaso	movido	por	algum	interesse	egoísta?	A	essa	pergunta	devo	dar	uma
resposta	afirmativa.	Quero	dar-lhes	esta	verdade	com	a	esperança	de	receber	em
troca	a	alegria	pura	de	tê-los	ajudado	a	encontrar	a	felicidade	por	havê-la
praticado	e	experimentado.
Explicação	fisiológica	do	método	científico
Agora,	preciso	adentrar-me	um	pouco	em	fisiologia,	que	nos	capacitará	a
compreender	este	método,	pelo	menos	de	maneira	geral.	Vou-me	reportar	à
função	dos	centros	principais	e	à	corrente	elétrica	que	flui	do	cérebro,	através
desses	centros,	em	direção	aos	órgãos	externos	(sensoriais)	e	internos,
mantendo-os	vibrantes	com	vida.
Existem	seis	centros	principais	por	meio	dos	quais	a	corrente	prânica	(a	corrente
de	vida	ou	eletricidade	vital)⁵	é	distribuída	a	partir	do	cérebro	para	todo	o
sistema	nervoso.	São	eles:
Centro	relacionado	ao	bulbo	raquiano
Centro	cervical
Centro	dorsal
Centro	lombar
Centro	sacro
Centro	coccígeo
O	cérebro	é	o	supremo	dínamo	elétrico	(o	centro	superior).	Todos	os	centros
estão	conectados	uns	aos	outros	e	atuam	sob	a	influência	do	centro	supremo	(as
células	cerebrais).	As	células	cerebrais	distribuem	a	corrente	ou	eletricidade	vital
através	desses	centros,	os	quais,	por	sua	vez,	distribuem	a	eletricidade	aos
diferentes	nervos	eferentes	e	aferentes,	que	respectivamente	transportam
impulsos	motores	e	sensações	de	tato,	visão,	etc.
Esse	fluxo	elétrico	a	partir	do	cérebro	é	a	vida	do	organismo	(de	seus	órgãos
internos	e	externos),	e	é	através	desse	agente	elétrico	que	todas	as	mensagens
sensoriais	alcançam	o	cérebro	e	provocam	reações	na	forma	de	pensamentos.
Se	o	Eu	deseja	desconectar,	de	maneira	eficaz,	as	mensagens	perturbadoras	das
sensações	corporais	(que	estimulam	o	surgimento	dos	mais	variados
pensamentos),	ele	precisa	controlar	e	concentrar	o	fluxo	elétrico	e	atraí-lo	de
volta,	desde	o	sistema	nervoso	como	um	todo,	para	os	sete	centros	principais
(inclusive	o	cérebro),	de	modo	que	por	esse	processo	ele	possa	dar	aos	órgãos
internos	e	externos	um	perfeito	descanso.
Durante	o	sono,	a	condutividade	elétrica	entre	o	cérebro	e	os	órgãos	sensoriais	é
parcialmente	inibida,	de	modo	que	as	sensações	comuns	do	som,	do	tato,	etc.
não	alcançam	o	cérebro.	Entretanto,	como	essa	inibição	não	é	completa,	um
estímulo	exterior	suficientemente	forte	restaura	essa	condutividade	elétrica	e	é
transmitido	ao	cérebro,	despertando	a	pessoa.	Todavia,	durante	o	sono,	sempre
há	um	fluxo	elétrico	estável	para	os	órgãos	internos	–	coração,	pulmões	e	demais
partes	–	de	modo	que	eles	continuam	pulsando	e	funcionando.
A	prática	do	método	científico	resulta	em	libertar-se
das	distrações	corporais	e	mentais
O	controle	da	vida	não	é	completo	durante	o	sono,	por	isso	ele	é	perturbado
pelas	sensações	corporais	de	desconforto,	pela	doença	ou	por	fortes	estímulos
exteriores.	No	entanto,	por	meio	de	um	processo	de	controle	científico,	que	não
se	pode	descrever	com	detalhes	aqui,	podemos	controlar	simultaneamente	os
órgãos	internos	e	externos	do	organismo	de	maneira	perfeita.	Esse	é	o	resultado
final	da	prática.	Mas	pode	levar	anos	para	se	alcançar	esse	controle	perfeito.
Assim	como,	depois	do	sono	(que	é	descanso),	os	órgãos	externos	são
revigorados,	também	depois	do	descanso	que	resulta	da	prática	deste	método
científico	os	órgãos	internos	são	notavelmente	vitalizados	e,	com	o	consequente
aumento	de	sua	capacidade	funcional,	a	vida	é	prolongada.
Quando	vamos	dormir,	não	tememos	que	os	órgãos	sensoriais	permaneçam
inertes;	da	mesma	forma,	não	devemos	temer	a	prática	da	morte	consciente,	isto
é,	de	dar	descanso	aos	órgãos	internos.	A	morte	estará	então	sob	nosso	controle;
pois	quando	acharmos	que	esta	casa	corporal	perdeu	sua	utilidade	e	encontra-se
em	mau	estado,	poderemos	abandoná-la	à	vontade.	“O	último	inimigo	a	ser
destruído	é	a	morte.”
Podemos	descrever	o	processo	desta	maneira:	se	a	central	telefônica	de	uma
cidade	encontra-se	permanentemente	conectada,	por	meio	dos	respectivos	cabos,
às	diferentes	partes	da	cidade,	qualquer	pessoa,	de	qualquer	bairro,	poderá	enviar
uma	mensagem	à	agência	central	–	mesmo	contra	a	vontade	das	autoridades	da
referida	agência	–	fazendo	uso	da	corrente	elétrica	que	circula	através	dos	cabos
telefônicos.	Se	a	central	telefônica	quiser	interromper	a	comunicação	entre	as
diferentes	partes	da	cidade,	basta	que	desligue	o	comutador	elétrico	principal	e
não	haverá	fluxo	elétrico	aos	diferentes	bairros	da	cidade.
De	maneira	parecida,	o	método	científico	ensina	o	processo	que	nos	possibilita
retirar	para	a	nossa	central	–	a	coluna	vertebral	e	o	cérebro	–	a	corrente	vital
distribuída	por	todos	os	órgãos	e	demais	partes	do	corpo.	O	processo	consiste	em
magnetizar	a	coluna	vertebral	e	o	cérebro,	que	contêm	os	sete	centros	principais;
em	consequência,	a	eletricidade	vital	que	se	encontra	dispersa	é	devolvida	aos
centros	originais	de	distribuição	e	experimentada	na	forma	de	luz.	Nesse	estado,
o	Eu	espiritual	pode	se	libertar	conscientemente	de	suas	distrações	corporais	e
mentais.
Podemos	dizer	que	o	Eu	espiritual,	mesmo	contra	sua	vontade,	está	sendo
perturbado	pelas	chamadas	telefônicas	de	dois	tipos	de	pessoas:	aristocratas	(os
pensamentos)	e	plebeus	(as	sensações	corporais).	Para	cortar	a	comunicação	com
eles	e	encontrar	alívio,	basta	que	o	Eu	desligue	o	comutador	(por	meio	da	prática
do	quarto	método),	retirando	para	a	bateria	central	a	eletricidade	que	flui	através
dos	cabos	telefônicos.
A	atenção	é	o	supremo	fator	que	dirige	e	distribui	a	energia.	É	a	causa	ativa	da
descarga	da	corrente	elétrica	vital	desde	o	cérebro	para	os	nervos	sensoriais	e
motores.	Por	exemplo,	nós	afugentamos	uma	mosca	importuna	descarregando,
pelo	poder	da	atenção,	uma	corrente	elétrica	através	dos	nervos	motores,	assim
produzindo	o	desejado	movimento	da	mão.	Cito	isso	para	dar	uma	ideia	do
poder	pelo	qual	o	fluxo	elétrico	do	organismo	pode	ser	controlado	e	devolvido	a
seus	sete	centros.	São	esses	os	sete	centros	cerebrospinais,	semelhantes	a
estrelas	(astrais),	a	cujo	“mistério”	se	refere	a	Bíblia,	no	livro	do	Apocalipse.
São	João,	abrindo	as	portas	secretas	dos	sete	centros,	ascendeu	para	a
verdadeira	compreensão	de	si	mesmo	como	Espírito.	“Escreve	as	coisas	que
viste	(…)	o	mistério	das	sete	estrelas.”⁷
A	prática	continuada	do	método	científico	leva	à
consciência	de	Bem-aventurança	ou	Deus
Para	concluir,	desejo	descrever	a	natureza	dos	estados	que	surgem	quando	o
fluxo	elétrico	está	completamente	controlado.	No	começo,	uma	sensação
muitíssimo	atrativa	é	sentida	durante	a	magnetização	da	coluna	vertebral.	A
prática	contínua	e	prolongada	proporcionará	um	estado	de	Bem-aventurança
consciente,	que	neutraliza	o	estado	de	excitação	produzido	por	nossa	consciência
corporal.
Esse	estado	bem-aventurado	foi	descrito	como	sendo	o	nosso	objetivo	universale	a	maior	de	todas	as	necessidades,	pois	nele	estamos	realmente	conscientes	de
Deus	ou	Bem-aventurança	e	sentimos	a	expansão	do	que	verdadeiramente
somos.	Quanto	maior	for	a	frequência	com	que	experimentamos	esse	estado,
tanto	mais	se	enfraquece	nossa	estreita	individualidade	e	mais	cedo	alcançamos
o	estado	de	universalidade,	sendo	mais	íntima	e	mais	direta	nossa	comunhão
com	Deus.
Religião	é,	realmente,	nada	mais	do	que	a	união	de	nossa	individualidade	com	a
universalidade.	Portanto,	na	consciência	desse	estado	de	bem-aventurança
galgamos	os	degraus	da	religião.	Abandonamos	a	atmosfera	nociva	dos	sentidos
e	pensamentos	errantes,	chegando	a	uma	região	de	Bem-aventurança	celestial.
Aprendemos	por	este	processo	o	que	se	verificará	ser	de	caráter	universalmente
aplicável.	Quando,	pela	prática	constante,	a	consciência	desse	estado	bem-
aventurado	do	Eu	espiritual	torna-se	real,	encontramo-nos	sempre	na	santa
presença	do	Deus	de	bem-aventurança	dentro	de	nós.	Cumprimos	melhor	nossas
obrigações,	dando	mais	atenção	ao	nosso	próprio	dever	do	que	ao	nosso	egoísmo
e	à	sua	resultante	consciência	de	prazer	ou	de	dor.	Podemos,	então,	resolver	o
mistério	da	existência	e	conferir	um	significado	verdadeiro	à	vida.
Nos	ensinamentos	de	todas	as	religiões	–	cristianismo,	islamismo,	hinduísmo,
etc.	–	uma	verdade	é	posta	em	destaque:	até	que	o	homem	se	conheça	como
Espírito,	a	fonte	da	Bem-aventurança,	ele	estará	limitado	a	conceitos	mortais	e
sujeito	às	leis	inexoráveis	da	natureza.	O	conhecimento	do	que	ele
verdadeiramente	é	lhe	trará	liberdade	eterna.
Só	podemos	conhecer	Deus	conhecendo	a	nós	mesmos,	pois	nossa	verdadeira
natureza	é	semelhante	à	Dele.	O	homem	foi	criado	à	imagem	de	Deus.
Aprendendo	os	métodos	aqui	sugeridos	e	praticando-os	com	seriedade,	você	se
conhecerá	como	espírito	bem-aventurado	e	experimentará	Deus.
Os	métodos	mencionados	neste	livro	abrangem	todos	os	meios	imagináveis,
essenciais	à	realização	divina.	Não	consideramos	aqui	as	mil	e	uma	regras
convencionais	e	práticas	menores	inculcadas	pelas	chamadas	diferentes
religiões,	que	foram	deixadas	de	lado,	porque	algumas	se	relacionam	com	as
diferenças	entre	as	mentalidades	individuais,	e	portanto,	embora	não	sejam
absolutamente	desnecessárias,	também	não	têm	maior	importância.	E	outras
aparecem	durante	a	prática	desses	métodos,	por	isso	não	precisam	ser	discutidas
de	modo	mais	completo	neste	espaço	limitado.
O	método	científico	trabalha	diretamente	com	a	força
vital
A	superioridade	deste	método	sobre	os	outros	está	no	fato	de	que	ele	trabalha
com	o	exato	fator	que	nos	amarra	à	nossa	estreita	individualidade:	a	força	vital.
Na	pessoa	comum	essa	força	vital,	ao	invés	de	ser	interiorizada	e	absorvida	na
força	expansiva	autoconsciente	do	Eu,	dirige-se	para	fora,	conservando	o	corpo	e
a	mente	em	constante	movimento	e	causando	perturbações	ao	Eu	espiritual	na
forma	de	sensações	corporais	e	pensamentos	transitórios.
Enquanto	a	força	vital	mover-se	para	o	exterior,	sensações	e	pensamentos
perturbarão	e	deformarão	a	tranquila	imagem	do	Eu	ou	Alma.	Este	método	nos
ensina	a	inverter	o	sentido	da	força	vital,	dirigindo-a	para	o	interior.	Daí	seu
efeito	direto	e	imediato.	Leva-nos	diretamente	à	consciência	do	Eu:	a	Bem-
aventurança	Divina.	Não	requer	o	auxílio	de	nenhum	intermediário.
Este	método	controla	e	dirige	o	curso	da	força	vital	através	do	controle	e
regulação	de	uma	manifestação	conhecida	da	própria	força	vital	e	que	está
diretamente	conectada	a	ela.	Outros	métodos	religiosos	utilizam	o	recurso	do
intelecto	ou	de	processos	mentais	para	controlar	a	força	vital,	com	o	objetivo	de
induzir	a	consciência	do	Eu	em	seu	aspecto	de	bem-aventurança	e	outros
aspectos.
Deve-se	observar	que	todos	os	métodos	religiosos	do	mundo,	direta	ou
indiretamente,	tácita	ou	expressamente,	implicam	o	controle,	o	ajuste	e	a
inversão	do	curso	da	força	vital,	de	modo	que	possamos	transcender	o	corpo	e	a
mente	e	conhecer	o	Eu	em	seu	estado	original.	O	quarto	método	controla
diretamente	a	força	vital	por	si	mesma,	enquanto	os	outros	métodos	controlam	a
força	vital	por	algum	intermediário	–	o	pensamento,	a	oração,	as	boas	obras,	o
culto	ou	o	“sono	consciente”.
A	presença	da	força	vital	no	homem	significa	existência;	sua	ausência	é	a	morte.
Daí	que	o	método	que	orienta	o	poder	direto	da	vida	para	seu	próprio	controle
deve	ser	o	melhor	de	todos.
Sábios	de	vários	séculos	e	regiões	têm	sugerido	métodos	adaptados	à
constituição	mental	e	às	condições	físicas	dos	povos	entre	os	quais	viveram	e
pregaram.	Alguns	têm	dado	ênfase	à	oração,	outros	ao	sentimento;	alguns,	às
boas	obras,	outros	ao	amor;	alguns,	à	razão	ou	ao	pensamento,	outros	à
meditação;	porém	suas	motivações	têm	sido	as	mesmas.	Todos	pretenderam	que
a	consciência	corporal	fosse	transcendida	pela	inversão	do	curso	da	força	vital
para	o	interior	e	que	o	Eu	espiritual	fosse	percebido,	tal	como	a	imagem	do	sol
se	reflete	na	água	tranquila,	imperturbada.	O	propósito	desses	sábios	é	inculcar
precisamente	essa	interiorização	da	força	vital	–	que	o	quarto	método	ensina	de
modo	direto,	sem	o	auxílio	de	intermediários.
Ao	mesmo	tempo,	deve-se	observar	que	a	prática	deste	método	não	impede	o
cultivo	do	intelecto,	o	desenvolvimento	físico	ou	a	atividade	de	uma	vida	social
e	útil	–	uma	vida	com	os	melhores	sentimentos	e	motivações,	dedicada	a	obras
filantrópicas.	Para	falar	a	verdade,	em	vez	de	retardar,	o	treinamento	em	todos	os
aspectos	deve	ser	receitado	a	todos,	pois	auxilia	positivamente	a	prática	do
referido	método.	A	única	coisa	necessária	é	que	se	mantenha	uma	perspectiva
espiritual.	Então,	todas	as	ações,	todas	as	buscas	resultarão	em	benefício	da
pessoa.
O	ponto	principal	com	respeito	a	este	processo	é	compreender	completamente	o
mistério	da	força	vital	que	sustenta	o	organismo	físico	do	homem,	fazendo-o
vibrar	com	vida	e	energia.
Paramahansa	Yogananda	em	Nova	York,	1926.
1	Raras	são	as	pessoas	que	sabem	como	fazer	descansar	esses	órgãos	internos,
processo	conhecido	pelos	grandes	santos	e	sábios.	Como	supomos	estarem	esses
órgãos	fora	de	nosso	controle,	eles	se	tornam	sobrecarregados	até	que	param
subitamente,	interrupção	essa	que	denominamos	“morte”	ou	“grande	sono”.
2	I	Coríntios	15:31.
3	O	método	científico	referido	aqui	e	em	todo	o	restante	do	livro	é	Kriya	Yoga,
antiga	ciência	espiritual	que	inclui	certas	técnicas	iogues	de	meditação	ensinadas
por	Paramahansa	Yogananda	nas	Lições	da	Self-Realization	Fellowship.	(Nota
da	Editora)
4	Swami	Sri	Yukteswar,	guru	de	Paramahansa	Yogananda.	(Nota	da	Editora)
5	A	energia	(prana	ou	força	vital)	inteligente,	mais	sutil	que	a	energia	atômica,
que	ativa	e	sustenta	a	vida	no	corpo.	(Nota	da	Editora)
6	I	Coríntios	15:26.
7	Apocalipse	1:19,	20.
PARTE	5
Os	instrumentos	do	conhecimento	e	a	validez	teórica
dos	métodos	religiosos
A	universalidade	e	a	necessidade	do	ideal	religioso	(a	Bem-aventurança	sempre-
existente	e	sempre-consciente,	ou	Deus)	e	os	métodos	práticos	para	alcançá-lo	já
foram	analisados	nos	capítulos	anteriores.	Agora,	queremos	discutir	a	eficácia
dos	métodos.
Os	métodos	são	essencialmente	práticos	e,	se	forem	seguidos,	o	ideal	será
alcançado,	quer	nos	ocupemos	das	teorias,	quer	não.	Sua	eficácia	é	demonstrada
pelo	resultado	prático	em	si	mesmo,	o	qual	é	palpável	e	real.
Compreenda-se	que	não	é	realmente	necessário	demonstrar	as	bases	teóricas
dessa	eficácia.	Todavia,	simplesmente	para	satisfazer	as	diversas	mentalidades,
discutiremos	a	priori	a	validez	das	teorias	do	conhecimento	nas	quais	esses
métodos	estão	baseados,	com	o	objetivo	de	que	essa	validez	seja	compreendida
também	do	ponto	de	vista	teórico.
Isso	nos	lança	a	uma	questão	epistemológica:	como	e	até	que	ponto	podemos
conhecer	o	ideal	ou	a	verdade?	Para	demonstrar	como	podemos	chegar	a
conhecer	o	ideal,	precisamos	estudar	de	que	maneira	conhecemos	o	mundo	que
nos	rodeia.	Precisamos	investigar	o	processo	que	leva	ao	conhecimento	deste
mundo.	Então,	veremos	se	esse	processo	é	o	mesmo	que	leva	ao	conhecimento
do	ideal	e	se	o	mundo	exterior	encontra-se	separado	do	ideal,	ou	seeste
compreende	em	si	mesmo	o	primeiro	–	sendo	diferentes,	neste	caso,	apenas	os
processos	de	conhecer	os	dois.
Antes	de	prosseguir,	vamos	discutir	os	“instrumentos”	do	conhecimento:	o	modo
pelo	qual	o	conhecimento	do	mundo	se	faz	possível	para	nós.	Há	três
instrumentos	ou	meios	de	conhecimento:	a	percepção,	a	inferência	e	a	intuição.
OS	TRÊS	INSTRUMENTOS	DO	CONHECIMENTO
1.	Percepção
Nossos	sentidos	são	como	janelas	através	das	quais	os	estímulos	do	exterior
penetram	e	alcançam	a	mente,	que	recebe	passivamente	essas	impressões.	Sem	o
funcionamento	da	mente,	os	estímulos	que	vêm	do	exterior	através	das	janelas
dos	sentidos	não	podem	em	absoluto	imprimir-se	nela.
A	mente	não	apenas	relaciona	entre	si	os	estímulos	recebidos	através	dos
diferentes	sentidos,	mas	também	armazena	suas	influências	na	forma	de
impressões.	Tais	impressões,	no	entanto,	não	passam	de	um	conjunto	confuso,
desconexo,	até	que	a	faculdade	do	discernimento	(buddhi)	intervenha,
classificando-as.	Essa	faculdade	estabelece	então	as	relações	mais	importantes
entre	cada	impressão,	assim	permitindo	reconhecer	os	detalhes	do	mundo
exterior	como	tais.	Cada	impressão	é	projetada,	por	assim	dizer,	no	tempo	e	no
espaço,	sendo	reconhecida	e	relacionada	com	o	conjunto	em	termos	de
quantidade,	qualidade,	dimensão	e	significado.	Uma	casa	é	então	conhecida
como	tal,	e	não	como	um	poste.	Isso	resulta	da	operação	do	intelecto	(buddhi).
Podemos	ver	um	objeto,	apalpá-lo	e	ouvir	o	som	que	produz	ao	ser	golpeado.
Nossa	mente	recebe	essas	impressões	e	as	armazena.	Buddhi	as	interpreta	e
parece	projetá-las	no	tempo	e	no	espaço,	reconhecendo	o	objeto,	por	exemplo,
como	uma	casa	com	diversas	qualidades	de	tamanho,	aspecto,	forma,	cor,	estilo,
bem	como	sua	relação	com	outras	casas	no	presente,	passado	ou	futuro.	É	dessa
maneira	que	surge	em	nós	o	conhecimento	do	mundo.
A	mente	de	uma	pessoa	insana	contém	impressões	armazenadas	em	seu	íntimo,
mas	elas	se	encontram	em	estado	caótico;	o	intelecto	não	as	classificou	nem	as
reuniu	claramente	em	grupos	distintos	e	bem	ordenados.
Agora	surge	a	seguinte	questão:	é	possível	conhecer	a	Realidade	(o	ideal,	a	Bem-
aventurança	sempre-consciente	e	sempre-existente	ou	Deus)	por	meio	desse	tipo
de	percepção?	Será	o	processo	de	conhecimento	deste	mundo	(o	processo	da
percepção)	válido	para	conhecer	a	verdade	suprema?
Sabemos	que	o	intelecto	só	pode	trabalhar	com	os	elementos	fornecidos	pelos
sentidos.	É	certo	que	os	sentidos	nos	fornecem	apenas	impressões	de	qualidade	e
variedade.	Não	só	nos	proporcionam	a	variedade,	como	também	o	próprio
intelecto	opera	com	ela	e	permanece	limitado	nessa	esfera.	Embora	lhe	seja
possível	pensar	na	“unidade	em	meio	à	diversidade”,	o	intelecto	não	pode	se
tornar	um	com	essa	verdade.	E	aí	reside	a	sua	limitação.	A	percepção	intelectual
é	incapaz	de	apreender	a	verdadeira	natureza	da	única	Substância	Universal	que
jaz	no	fundo	de	todas	as	manifestações.
Esse	é	o	veredito	da	própria	razão.	Quando	buddhi	se	volta	sobre	si	mesmo	e
procura	julgar	até	que	ponto	é	capaz	de	conhecer	a	Realidade	mediante	a
interpretação	das	impressões	dos	sentidos,	comprova	que	se	encontra
impotentemente	confinado	ao	domínio	do	mundo	sensório.	Não	há	fresta	alguma
pela	qual	ele	possa	assomar	à	esfera	suprassensória.
Algumas	pessoas	podem	dizer	que	o	motivo	pelo	qual	a	razão	se	recusa	a	se
considerar	capaz	de	ter	qualquer	conhecimento	do	mundo	suprassensório	está	em
que	nós	mesmos	erguemos	uma	barreira	entre	os	mundos	sensório	e
suprassensório.	Elas	dizem	que,	se	considerarmos	que	o	mundo	suprassensório
manifesta-se	no	mundo	sensório	e	através	dele,	conheceremos	o	primeiro,
manifestado	como	“unidade	em	meio	à	diversidade”,	por	meio	do	conhecimento
intelectual	do	segundo	–	com	sua	conexão	(teleologia	ou	adaptação)	e	todos	os
detalhes	e	variedades.
Não	obstante,	podemos	perguntar:	qual	é	a	natureza	desse	“conhecimento”?	É
um	simples	conceito	mental,	ou	implica	a	visão	direta,	face	a	face,	em	primeira
mão,	da	verdade	(a	unidade	em	meio	à	diversidade)?	Traz	essa	forma	de
conhecer	a	verdade	a	mesma	convicção	que	traria	o	tornar-se	um	com	essa
verdade?	Seguramente	que	não,	pois	esse	conhecimento	é	apenas	parcial,
deficiente.	Assemelha-se	a	contemplar	a	realidade	através	de	um	vidro	colorido.
O	mundo	suprassensório	está	mais	além.	Esses	são	os	argumentos	a	priori	que
permitem	rejeitar	a	percepção	como	um	instrumento	válido	para	se	conhecer	a
Realidade	ou	Deus.
A	experiência	de	tranquilidade	demonstra,	também,	que	não	podemos	alcançar	o
estado	de	Bem-aventurança,	que	é	a	Realidade	e	o	ideal	em	si	mesmo	(conforme
foi	mostrado	nos	capítulos	anteriores),	enquanto	não	nos	colocarmos,	em	grau
considerável,	acima	do	inquieto	estado	perceptivo.	Quanto	mais	nos	afastarmos
das	perturbadoras	percepções	sensoriais	e	dos	pensamentos	internos,	tanto	maior
será	a	possibilidade	de	surgir	em	nós	a	consciência	supramental	de	Bem-
aventurança,	a	Beatitude	Divina.
Na	experiência	corrente,	a	percepção	comum	e	a	Bem-aventurança	parecem
excluir-se	mutuamente.	Todavia,	nenhum	desses	métodos	baseia-se	na	percepção
pura,	por	isso	carece	de	importância	a	incapacidade	desta	última	para	conhecer	a
Realidade.
2.	Inferência
Este	é	outro	meio	de	obter	o	conhecimento	do	mundo.	Entretanto,	a	inferência
em	si	baseia-se	na	experiência	ou	percepção,	seja	ela	indutiva	ou	dedutiva.	Em
nossa	experiência,	onde	quer	que	exista	fumaça	há	fogo;	logo,	toda	vez	que
vemos	fumaça	deduzimos	que	há	fogo.	Essa	é	uma	inferência	dedutiva.	Só	é
possível	porque	nossa	experiência	anterior,	baseada	na	percepção,	indica	que	a
fumaça	está	associada	com	o	fogo.	A	inferência	indutiva	depende,	igualmente,
da	percepção.
Observamos	que	certo	tipo	de	bacilo	é	a	causa	do	cólera.	Descobrimos	a	relação
causal	entre	a	presença	desse	tipo	de	bacilo	e	o	cólera	e,	de	imediato,	inferimos
indutivamente	que	onde	quer	que	esse	bacilo	apareça	o	cólera	estará	presente.
Embora	haja	aqui	um	salto	dos	casos	conhecidos	de	cólera	aos	casos
desconhecidos,	esse	tipo	de	inferência	não	nos	leva	a	qualquer	fato	novo,	ainda
que	os	casos	sejam	novos.	A	possibilidade	mesma	de	estabelecer	uma	relação
causal	entre	certos	bacilos	e	o	cólera	baseou-se	na	observação,	quer	dizer,	na
percepção	de	dois	casos	específicos.
Portanto,	a	inferência	depende,	em	última	análise,	da	percepção.	Nos	casos
inferidos	não	chegamos	a	qualquer	verdade	nova,	nada	realmente	novo	que	não
tenha	sido	encontrado	nos	casos	observados.	Nestes,	os	bacilos	são	seguidos
pelo	cólera	e,	nos	casos	inferidos,	também	os	bacilos	são	seguidos	pelo	cólera;
não	houve	qualquer	verdade	nova,	embora	os	casos	sejam	novos	e	inéditos.
Não	importa	que	tipo	de	pensamento,	raciocínio,	inferência	ou	imaginação
empreguemos,	eles	não	nos	levam	a	encarar	face	a	face	a	Realidade.	A	razão	ou
o	pensamento	podem	organizar	e	sistematizar	os	fatos	da	experiência.	Podem
procurar	ver	as	coisas	como	um	todo.	Podem	tentar	esclarecer	o	mistério	do
mundo.	Seus	esforços,	porém,	são	dificultados	pelos	elementos	com	que
trabalham:	os	dados	da	experiência,	as	impressões	dos	sentidos.	São	dados	crus	e
grosseiros,	desconexos,	limitados	por	nossa	capacidade	de	percepção.	Nosso
processo	de	pensamento,	longe	de	ser	beneficiado	por	esse	elemento,	é
perturbado	por	ele,	que	flui	em	constante	inquietude.
O	primeiro	método	religioso	que	destacamos	é	o	intelectual,	que	utiliza	o
pensamento	discursivo	como	meio	para	conhecer	a	Realidade,	o	estado	de	Bem-
aventurança	e	de	tranquila	percepção.	Mas	ele	fracassa.	As	percepções	corporais
nos	perturbam;	o	processo	do	pensamento	também,	já	que	ele,	operando	com	as
variadas	e	inquietas	percepções	sensoriais,	nos	impede	de	permanecer	por	muito
tempo	em	estado	concentrado.	Portanto,	pelo	intelecto,	fracassamos	em	alcançar
a	consciência	da	unidade	na	diversidade.	Um	dos	méritos	do	método	intelectual,
entretanto,	está	em	que,	quando	estamos	absortos	no	mundo	dos	pensamentos,	de
certo	modo	nos	elevamos	para	além	das	sensações	corporais;	mas	isso	é	sempre
temporário.
Nos	dois	outros	métodos	–	o	da	devoção	e	o	da	meditação	–	oprocesso	de
pensamento	é	reduzido;	contudo,	está	presente.	No	método	da	devoção	(quer
dizer,	no	culto	ritualístico	ou	cerimonial	e	na	oração	coletiva	ou	individual),
grande	parte	do	processo	do	pensamento	está	ocupada	no	preparativo	de
condições	favoráveis.	Contudo,	existe	a	tentativa	de	concentrar-se	em	algum
objeto	de	culto	ou	oração.
O	método	da	devoção	consegue	ter	êxito	na	medida	em	que	a	diversidade	dos
processos	de	pensamentos	é	detectada	ou	controlada.	O	defeito,	porém,	é	este:
devido	a	um	mau	hábito	que	tem	se	prolongado	através	dos	séculos,	nossa
concentração	não	é	profunda,	deixando	a	possibilidade	de	que	os	diversos
processos	de	pensamento	voltem	a	agir	diante	da	mais	leve	distração.
No	método	da	meditação,	a	concentração	se	fixa	em	um	único	objeto	de
pensamento	(tendo	sido	dispensadas	as	formalidades	exteriores,	as	convenções	e
os	ritos,	assim	diminuindo	a	possibilidade	de	que	os	processos	de	pensamentos
sejam	postos	em	movimento	com	a	mesma	facilidade	que	no	método	da
devoção).	Existe	então	a	tendência	gradual	de	se	abandonar	a	esfera	do
pensamento	e	entrar	no	domínio	da	intuição,	que	analisaremos	a	seguir.
3.	Intuição
Até	aqui,	analisamos	os	instrumentos	e	os	processos	para	se	conhecer	este
mundo	sensório.	A	intuição,	com	que	nos	ocuparemos	agora,	é	o	processo	pelo
qual	conhecemos	o	mundo	suprassensório,	o	mundo	que	está	além	dos	sentidos	e
dos	pensamentos.	É	verdade	que	o	suprassensório	se	expressa	no	sensório	e
através	dele,	e	conhecer	o	último	de	maneira	completa	implica	conhecer	o
primeiro,	mas	o	processo	para	se	conhecer	os	dois	é	diferente.
Será	que	somos	capazes	de	conhecer	com	precisão	o	mundo	sensório	em	toda	a
sua	plenitude	apenas	por	meio	da	percepção	e	do	pensamento?	Seguramente	que
não.	Inumeráveis	são	os	fatos,	fenômenos,	conexões	e	leis	da	Natureza,	inclusive
de	nosso	próprio	organismo,	que	ainda	permanecem	desconhecidos	para	a
humanidade.	Se	não	nos	é	possível	conhecer	plenamente	o	sensório	sequer	por
meio	da	percepção	e	do	pensamento,	muito	menos	seremos	capazes	de	conhecer
o	reino	suprassensório	mediante	tais	processos.
A	intuição	nasce	do	interior;	o	pensamento,	do	exterior.	A	intuição	proporciona
a	visão	direta	da	Realidade;	o	pensamento	oferece	uma	visão	indireta.	A
intuição,	graças	a	uma	empatia	especial,	capta	a	Realidade	em	sua	totalidade,
enquanto	o	pensamento	a	divide	em	muitas	partes.
Todo	ser	humano	tem	o	poder	da	intuição,	bem	como	a	capacidade	de	pensar.
Assim	como	o	pensamento	pode	ser	cultivado,	a	intuição	também	pode	ser
desenvolvida.	Por	meio	da	intuição,	sintonizamo-nos	com	a	Realidade	–	com	o
mundo	da	Bem-aventurança,	com	a	“unidade	em	meio	à	diversidade”,	com	as
leis	interiores	que	governam	o	mundo	espiritual,	com	Deus.
Como	sabemos	que	existimos?	Por	meio	da	percepção	sensorial?	São	os	sentidos
que	nos	dizem	primeiro	que	existimos	e	deles	nasce	a	consciência	de	existir?
Isso	é	impossível,	pois	essa	consciência	baseia-se	na	intenção	dos	sentidos	de
nos	dar	a	conhecer	nossa	existência.	Se	não	temos	consciência	de	que	existimos
no	ato	mesmo	da	percepção	sensorial,	não	nos	é	possível	tampouco	tomar
consciência	de	objeto	algum	por	meio	dos	sentidos.
A	inferência	–	o	processo	do	pensamento	–	nos	diz	que	existimos?	Seguramente
que	não,	pois	a	matéria-prima	do	pensamento	são	as	impressões	sensoriais	e
estas,	como	já	vimos,	não	nos	podem	dizer	que	existimos,	uma	vez	que	tal	saber
já	está	implícito	nelas.	Nem	pode	o	processo	do	pensamento	nos	dar	a
consciência	de	existir,	pois	esta	já	está	implícita	naquele.	Quando,	ao	nos
compararmos	com	o	mundo	exterior,	pensamos	ou	inferimos	que	existimos	nele,
a	consciência	de	existir	já	está	presente	no	próprio	ato	de	pensar	e	inferir.
Então,	se	os	sentidos	e	o	pensamento	falham,	como	sabemos	que	existimos?	É
somente	por	meio	da	intuição	que	conhecemos	esse	fato.	Tal	saber	é	uma	espécie
de	intuição,	e	está	mais	além	dos	sentidos	e	do	pensamento;	e	estes	últimos	são
possíveis	graças	ao	primeiro.
É	muito	difícil	definir	o	que	é	a	intuição,	pois	ela	está	muito	próxima	de	cada	um
de	nós.	Todos	a	sentimos.	Não	sabemos	o	que	é	ter	a	consciência	de	existir?
Todos	a	conhecem.	Ela	é	tão	familiar	que	nos	é	impossível	defini-la.	Perguntem
a	alguém	como	sabe	que	existe	e	ele	permanecerá	calado.	Ele	sabe,	mas	não
pode	definir.	Poderá,	talvez,	tentar	explicar,	mas	sua	explicação	não	revelará	o
que	sente	no	íntimo.	Todo	tipo	de	intuição	tem	essa	mesma	característica
peculiar.
O	quarto	método	religioso,	explicado	no	último	capítulo,	baseia-se	na	intuição.
Quanto	mais	sinceros	formos	em	relação	a	ela,	tanto	mais	ampla	e	segura	será	a
nossa	visão	da	Realidade,	que	é	Deus.
É	por	meio	da	intuição	que	a	humanidade	alcança	a	Divindade,	que	o	mundo
sensório	entra	em	conexão	com	o	suprassensório,	e	que	o	suprassensório	é
sentido	expressando-se	no	mundo	sensório	e	através	dele.	A	influência	dos
sentidos	desaparece,	os	pensamentos	intrusos	se	desvanecem,	a	Bem-
aventurança	Divina	é	percebida;	a	consciência	de	“todos	em	Um	e	Um	em
todos”	floresce	em	nós.	Todos	os	grandes	sábios	e	profetas	do	mundo	tinham
essa	intuição.
O	terceiro	método,	o	da	meditação,	explicado	na	Parte	4,	quando	é	praticado
com	seriedade	também	nos	leva	à	esfera	da	intuição.	Mas	ele	tem	seus	rodeios	e,
ordinariamente,	exige	um	tempo	maior	para	produzir	em	nós	os	estados
sucessivos	do	processo	intuitivo	ou	de	realização.
Por	meio	da	intuição,	Deus	pode	ser	experimentado
em	todos	os	Seus	aspectos
Assim,	é	pela	intuição	que	Deus	pode	ser	experimentado	em	todos	os	Seus
aspectos.	Não	temos	qualquer	outro	sentido	que	possa	revelar	o	conhecimento
Dele.	Os	sentidos	proporcionam	apenas	o	conhecimento	das	manifestações
divinas.	Nem	o	pensamento	ou	a	inferência	nos	podem	capacitar	a	conhecer
Deus	como	Ele	verdadeiramente	é.	Pois	o	intelecto	não	pode	transcender	os
dados	dos	sentidos.	Só	pode	organizar	e	interpretar	as	impressões	sensoriais.
Já	que	os	sentidos	são	incapazes	de	nos	levar	a	Deus,	o	pensamento	–	que
depende	deles	–	é	também	incapaz	de	nos	conduzir	a	Ele.	Portanto,	é	para	a
intuição	que	teremos	de	nos	voltar	para	conhecer	Deus	como	Bem-aventurança	e
Seus	outros	aspectos.
Há,	todavia,	muitos	obstáculos	a	essa	visão	intuitiva,	muitas	barreiras	para	a
percepção	da	verdade.	Eis	algumas	delas:	a	doença,	a	incapacidade	mental,	a
dúvida,	a	indolência,	o	mundanismo,	os	falsos	conceitos	e	a	instabilidade.
Esses	obstáculos	ou	são	inerentes	à	associação	com	as	pessoas,	ou	são	gerados	e
agravados	por	tal	associação.	Nossas	tendências	intrínsecas	(samskaras)	para
com	certos	defeitos	podem	ser	superadas	pelo	esforço	resoluto	(purushakara).
Pelo	exercício	da	força	de	vontade,	podemos	remover	todas	as	nossas
deficiências.	É	pelo	esforço	correto	e	pela	associação	com	pessoas	boas,
devotadas	a	Deus,	que	podemos	erradicar	os	maus	hábitos	e	formar	os	bons.	Até
que	nos	associemos	com	aqueles	que	viram,	sentiram	e	experimentaram	a
verdadeira	religião	em	sua	vida,	não	poderemos	saber	plenamente	o	que	ela	é	e
em	que	reside	sua	universalidade	e	necessidade.
O	espírito	de	investigação	está	em	todos.	Neste	mundo,	todos	estão	buscando	a
verdade.	É	sua	herança	imortal,	e	eles	a	procuram	cegamente	ou	com	sabedoria,
até	tê-la	recuperado	em	sua	plenitude.	Nunca	é	tarde	demais	para	nos
reformarmos.	“Buscai,	e	encontrareis;	batei,	e	abrir-se-vos-á.”¹
Um	dos	primeiros	encontros	dirigidos	por	Paramahansa	Yogananda	na	Sede
Internacional	da	SRF	em	Los	Angeles,	1925.
Sede	Internacional	da	Self-Realization	Fellowship,	1982.
1	Mateus	7:7.
A	respeito	do	autor
Os	ideais	do	amor	por	Deus	e	de	serviço	à	humanidade	manifestaram-se
plenamente	na	vida	de	Paramahansa	Yogananda.	(…)	Embora	tenha	passado
fora	da	Índia	a	maior	parte	de	sua	vida,	seu	lugar	é	entre	os	nossos	grandes
santos.	Sua	obra	continua	a	crescer	e	a	luzir	cada	vez	mais,	sempre	com	maior
brilho,	levando	pessoas	de	todos	os	recantos	para	o	caminho	da	peregrinação
em	busca	do	Espírito.
Excerto	da	homenagem	feita	pelo	Governo	da	Índia	ao	lançar	um	selo
comemorativo	de	Paramahansa	Yogananda	por	ocasião	do	25ºaniversário	de	seu
falecimento.
Paramahansa	Yogananda	nasceu	em	5	de	janeiro	de	1893,	com	o	nome	de
Mukunda	Lal	Ghosh,	no	norte	da	Índia,	na	cidade	de	Gorakhpur,	nos
contrafortes	das	montanhas	do	Himalaia.	Desde	os	primeiros	anos,	ficou
evidente	que	sua	vida	estava	marcada	por	uma	destinação	divina.	Segundo	os
que	lhe	eram	mais	íntimos,	mesmo	em	criança	a	profundeza	da	sua	percepção	e
experiência	do	mundo	espiritual	estava	muito	além	do	comum.	Na	juventude,	ele
procurou	muitos	sábios	e	santos	da	Índia,	esperando	encontrar	um	mestre
iluminado	que	o	guiasse	em	sua	busca	espiritual.
Foi	em	1910,	com	a	idade	de	17	anos,	que	ele	conheceu	o	venerado	Swami	Sri
Yukteswar	e	dele	se	tornou	discípulo.	No	eremitério	desse	grande	mestre	de
Yoga,	ele	passou	a	melhor	parte	dos	dez	anos	seguintes,	recebendo	a	estrita,
porém	amorosa,	disciplina	espiritual	de	Sri	Yukteswarji.	Em	1915,	após
diplomar-se	pela	Universidade	de	Calcutá,	fez	os	votos	formais	como	monge	da
venerável	Ordem	monástica	indiana	dos	Swamis,	e	nessa	ocasião	recebeu	o
nome	de	Yogananda	(que	significa	bem-aventurança,	ananda,	por	meio	da	união
divina,	yoga).
Em	1917,	Sri	Yogananda	iniciou	o	trabalho	de	sua	vida	com	a	fundação	de	uma
escola	da	“arte	de	viver”	para	meninos,	em	que	modernos	métodos	educacionais
combinavam-se	com	treinamento	em	yoga	e	educação	nos	ideais	espirituais.	Três
anos	depois,	ele	foi	convidado	para	ser	representante	da	Índia	em	um	Congresso
Internacional	de	Religiosos	Liberais	que	se	realizaria	em	Boston.	Seu	discurso
no	Congresso	a	respeito	do	tema	“A	Ciência	da	Religião”	foi	recebido	com
entusiasmo.
Nos	diversos	anos	que	se	seguiram,	ele	ministrou	conferências	e	ensinou	na
costa	leste	dos	Estados	Unidos	e,	em	1924,	empreendeu	uma	viagem
transcontinental	para	dar	conferências.	Em	janeiro	de	1925,	em	Los	Angeles,	deu
início	a	uma	série	de	palestras	e	aulas,	com	duração	de	dois	meses.	Como	em
toda	a	parte,	suas	palestras	foram	acolhidas	com	interesse	e	aplauso.	Narrou	o
Los	Angeles	Times:	“O	Philharmonic	Auditorium	apresenta	o	espetáculo
extraordinário	de	milhares	de	pessoas	(…)	sendo	informadas	de	que	não
poderiam	entrar,	uma	hora	antes	da	divulgada	abertura	de	uma	conferência,	com
o	auditório	de	3.000	lugares	completamente	lotado.”
No	final	daquele	ano,	Sri	Yogananda	estabeleceu	em	Los	Angeles	a	sede
internacional	da	Self-Realization	Fellowship,	a	organização	que	fundara,	em
1920,	para	disseminar	seus	ensinamentos	a	respeito	da	antiga	ciência	e	filosofia
da	Yoga	e	de	seus	métodos	imemoriais	de	meditação.¹	Por	toda	a	década
seguinte,	ele	viajou	extensivamente,	falando	nas	principais	cidades	de	todo	o
país.	Entre	os	que	se	tornaram	seus	estudantes,	muitos	eram	figuras	de	destaque
na	ciência,	nos	negócios	e	nas	artes,	incluindo	o	horticultor	Luther	Burbank,	o
soprano	do	Metropolitan	Amelita	Galli-Curci,	Margaret	Wilson,	filha	do
presidente	Woodrow	Wilson,	o	poeta	Edwin	Markham	e	o	maestro	Leopoldo
Stokowsky.
Após	uma	viagem	de	18	meses	pela	Europa	e	pela	Índia,	em	1935-36,	ele
começou	a	afastar-se	um	pouco	de	suas	conferências	públicas	por	toda	a	nação,
de	modo	a	poder	dedicar-se	à	edificação	de	um	alicerce	permanente	à	sua	obra
mundial,	bem	como	aos	seus	escritos,	que	haveriam	de	levar	sua	mensagem	às
gerações	futuras.	A	história	de	sua	vida,	Autobiografia	de	um	Iogue,	foi
publicada	em	1946.	Permanentemente	reeditado	desde	então,	esse	livro	vem
sendo	traduzido	para	muitos	idiomas,	tendo	alcançado	renome	como	um	clássico
da	literatura	espiritual	moderna.
Hoje,	a	obra	humanitária	e	espiritual	iniciada	por	Paramahansa	Yogananda
continua	sob	a	direção	de	Irmão	Chidananda,	presidente	da	Self-Realization
Fellowship/Yogoda	Satsanga	Society	of	India.²	Além	de	publicar	as
conferências,	obras	e	palestras	informais	de	Paramahansa	Yogananda	(inclusive
a	série	abrangente	das	Lições	da	Self-Realization	Fellowship	para	estudo	por
correspondência),	a	sociedade	orienta	os	membros	da	Self-Realization	em	sua
prática	dos	ensinamentos	de	Sri	Yogananda,	supervisiona	templos,	retiros	e
centros	em	todo	o	mundo	bem	como	as	comunidades	monásticas	da	Self-
Realization,	e	coordena	um	Círculo	Mundial	de	Orações,	que	serve	como	um
instrumento	que	ajuda	a	curar	os	que	têm	alguma	carência	física,	mental	ou
espiritual	e	a	produzir	maior	harmonia	entre	as	nações.
Desde	o	seu	falecimento	em	1952,	Paramahansa	Yogananda	veio	a	ser
reconhecido	como	uma	das	personalidades	espirituais	realmente	grandes	do
século	20.	Através	de	seus	ensinamentos	universais	e	de	sua	vida	exemplar,	ele
tem	auxiliado	pessoas	de	todas	as	raças,	culturas	e	credos	a	compreender	e
expressar,	mais	plenamente,	em	suas	próprias	vidas,	a	beleza	e	a	nobreza	do
espírito	humano.	Em	um	artigo	a	respeito	da	vida	e	da	obra	de	Sri	Yogananda,
Dr.	Quincy	Howe	Jr.,	professor	de	idiomas	antigos	do	Scripps	College,	escreveu:
“Paramahansa	Yogananda	trouxe	para	o	Ocidente	não	apenas	a	promessa	eterna
da	realização	divina	que	a	Índia	nos	oferece,	mas	também	um	método	prático
pelo	qual	os	que	aspiram	à	espiritualidade,	em	todos	os	caminhos	da	vida,
podem	perseguir	essa	meta	com	rapidez.	Apreciado	no	Ocidente,	inicialmente,
apenas	em	nível	mais	elevado	e	abstrato,	o	legado	espiritual	da	Índia	está	agora
acessível	como	experiência	prática	para	todos	aqueles	que	anelam	por	conhecer
Deus,	não	no	além,	mas	aqui	e	agora.	(…)	Yogananda	pôs	ao	alcance	de	todos	os
métodos	de	contemplação	mais	elevados.”
1	O	caminho	específico	de	meditação	e	comunhão	com	Deus,	ensinado	por
Paramahansa	Yogananda,	é	conhecido	por	Kriya	Yoga,	uma	sagrada	ciência
espiritual	originada	há	milênios	na	Índia.	O	livro	Autobiografia	de	um	Iogue,	de
Sri	Yogananda,	oferece	uma	introdução	geral	à	filosofia	e	aos	métodos	de	Kriya
Yoga.	Instruções	minuciosas	quanto	às	técnicas	são	postas	à	disposição	dos
estudantes	das	Lições	da	Self-Realization	Fellowship	que	se	qualifiquem	a
recebê-las.
2	Na	Índia,	a	obra	de	Paramahansa	Yogananda	é	conhecida	pelo	nome	de
Yogoda	Satsanga	Society.
Paramahansa	Yogananda:	um	iogue	na	vida	e	na
morte
Paramahansa	Yogananda	entrou	em	mahasamadhi	(a	derradeira	vez	que	um
iogue	abandona	conscientemente	seu	corpo)	em	Los	Angeles,	Califórnia,	em	7
de	março	de	1952,	após	concluir	seu	discurso	num	banquete	em	homenagem	a
Sua	Excelência	Binay	R.	Sen,	embaixador	da	Índia.
O	grande	instrutor	mundial	demonstrou	o	valor	da	yoga	(técnicas	científicas	para
chegar	à	realização	divina)	não	apenas	em	vida,	como	também	na	morte.
Semanas	após	haver	partido,	sua	face	inalterada	brilhava	com	o	divino	esplendor
da	incorruptibilidade.
O	Sr.	Harry	T.	Rowe,	diretor	do	Cemitério	de	Forest	Lawn,	de	Los	Angeles
(onde	o	corpo	do	grande	mestre	jaz	temporariamente),	enviou	à	Self-Realization
Fellowship	uma	carta	autenticada	da	qual	se	extraem	os	seguintes	trechos:
“A	ausência	de	quaisquer	sinais	visíveis	de	decomposição	no	cadáver	de
Paramahansa	Yogananda	constitui	o	mais	extraordinário	caso	de	nossa
experiência.	(…)	Nenhuma	desintegração	física	era	visível	no	corpo,	mesmo
vinte	dias	após	a	morte.	(…)	Nenhum	indício	de	bolor	revelava-se	em	sua	pele	e
nenhum	dessecamento	(secagem)	ocorreu	nos	tecidos	orgânicos.	Tal	estado	de
preservação	perfeita	de	um	corpo,	até	onde	vão	nossos	conhecimentos	dos	anais
mortuários,	não	tem	paralelo.	(…)	Ao	receber	o	corpo	de	Yogananda,	os
funcionários	do	cemitério	esperavam	observar,	através	da	tampa	de	vidro	do
ataúde,	os	costumeiros	e	progressivos	sinais	de	decomposição	física.	Nossa
admiração	crescia	à	medida	que	os	dias	passavam	sem	trazer	qualquer	mudança
visível	no	corpo	em	observação.	O	corpo	de	Yogananda	estava	aparentemente
num	estado	fenomenal	de	imutabilidade.
“Nenhum	odor	de	decomposição	emanou	de	seu	corpo	em	qualquer	momento.
(…)	A	aparência	física	de	Yogananda	em	27	de	março,	pouco	antes	de	ser
colocada	a	tampa	de	bronze	no	ataúde,	era	a	mesma	de	7	de	março.	Ele	parecia,
em	27	de	março,	tão	cheio	de	frescor	e	intocado	pela	corruptibilidade	como	na
noite	de	sua	morte.	Em	27	de	março	não	havia,	em	absoluto,	motivo	para	se
afirmar	que	seu	corpo	houvesse	sofrido	qualquer	desintegraçãofísica	visível.	Por
essas	razões,	declaramos	novamente	que	o	caso	de	Paramahansa	Yogananda	é
único	em	nossa	experiência.”
Recursos	adicionais	aos	ensinamentos	de	Kriya	Yoga
de	Paramahansa	Yogananda
A	Self-Realization	Fellowship	dedica-se	a	auxiliar	sem	restrições	os	que	buscam
a	verdade	em	todo	o	mundo.	Para	informações	a	respeito	de	nossas	séries	anuais
de	aulas	e	conferências	públicas,	meditações	e	serviços	inspiradores	em	nossos
templos	e	centros	em	todo	o	mundo,	agendamento	de	retiros	e	outras	atividades,
convidamos	o	leitor	a	visitar	nosso	website	ou	nossa	Sede	Internacional:
www.yogananda.org
Self-Realization	Fellowship
3880	San	Rafael	Avenue
Los	Angeles,	CA	90065-3219	USA
Tel.:	+1	(323)	225-2471
Fax:	+1	(323)	225-5088
https://yogananda.org/pt/
Lições	da	Self-Realization	Fellowship
Orientação	pessoal	e	instruções	de	Paramahansa	Yogananda	acerca	das
técnicas	de	meditação	iogue	e	princípios	de	uma	vida	espiritual
Se	você	se	sentiu	atraído	pelas	verdades	espirituais	apresentadas	em	A	Ciência
da	Religião,	está	convidado	a	inscrever-se	para	receber	as	Lições	da	Self-
Realization	Fellowship.
Durante	suas	viagens,	Paramahansa	Yogananda	ministrou	aulas	aos	aspirantes	à
verdade	que	estavam	interessados	num	estudo	mais	profundo	de	seus
ensinamentos.	Essas	instruções	pessoais	foram	mais	tarde	compiladas,	sob	sua
orientação,	numa	série	especial	de	Lições	da	Self-Realization	Fellowship.
Paramahansa	Yogananda	criou	esta	série	de	lições	para	estudo	em	casa,	a	fim	de
dar	aos	buscadores	sinceros	da	verdade	a	oportunidade	de	aprenderem	e
praticarem	as	antigas	técnicas	de	meditação	iogue	apresentadas	neste	livro	–
inclusive	a	ciência	de	Kriya	Yoga.	As	Lições	também	contêm	a	orientação
prática	dele	para	que	se	alcance	o	bem-estar	físico,	mental	e	espiritual.
As	Lições	da	Self-Realization	Fellowship	estão	disponíveis	a	uma	taxa	nominal
(apenas	para	ajudar	a	cobrir	os	custos	de	impressão	e	correio).	A	todos	os
estudantes	é	dada,	gratuitamente,	por	monges	e	monjas	da	Self-Realization
Fellowship,	orientação	pessoal	em	sua	prática.
Para	mais	informações…
Para	solicitar	um	pacote	abrangente	de	informações	suplementares	sobre	as
Lições,	visite	www.srflessons.org.
Objetivos	e	Ideais	da	Self-Realization	Fellowship
Estabelecidos	por
Paramahansa	Yogananda,	Fundador
Irmão	Chidananda,	Presidente
Disseminar	entre	as	nações	o	conhecimento	de	técnicas	científicas	definidas	para
atingir	a	experiência	pessoal	e	direta	de	Deus.
Ensinar	que	o	propósito	da	vida	é	a	evolução,	mediante	o	esforço	pessoal,	da
consciência	mortal	limitada	do	homem	para	a	Consciência	de	Deus	e,	para	esse
fim,	estabelecer	templos	da	Self-Realization	Fellowship,	no	mundo	todo,	para	a
comunhão	com	Deus,	e	estimular	o	estabelecimento	de	templos	individuais	para
Deus	nos	lares	e	nos	corações	dos	homens.
Revelar	a	unidade	básica	e	a	completa	harmonia	entre	o	Cristianismo	original
ensinado	por	Jesus	Cristo	e	a	Yoga	original	ensinada	por	Bhagavan	Krishna,	e
mostrar	que	esses	princípios	da	verdade	são	o	fundamento	científico	comum	de
todas	as	verdadeiras	religiões.
Apontar	a	divina	e	única	estrada	preferencial	para	a	qual	todas	as	sendas	das
verdadeiras	crenças	religiosas	levam	afinal:	a	estrada	da	meditação	em	Deus,
diária,	científica	e	devocional.
Libertar	o	homem	de	seu	tríplice	sofrimento:	a	doença	física,	as	desarmonias
mentais	e	a	ignorância	espiritual.
Estimular	o	“viver	com	simplicidade	e	pensar	com	elevação”	e	difundir	o
espírito	de	fraternidade	entre	todos	os	povos,	ensinando-lhes	o	eterno	alicerce	de
sua	unidade:	a	filiação	a	Deus.
Demonstrar	a	superioridade	da	mente	sobre	o	corpo,	e	da	alma	sobre	a	mente.
Vencer	o	mal	com	o	bem,	a	tristeza	com	a	alegria,	a	crueldade	com	a	afabilidade,
a	ignorância	com	a	sabedoria.
Unir	a	ciência	e	a	religião	mediante	a	compreensão	da	unidade	de	seus	princípios
subjacentes.
Preconizar	a	compreensão	cultural	e	espiritual	entre	o	Oriente	e	o	Ocidente	e	o
intercâmbio	de	suas	características	distintivas	mais	refinadas.
Servir	a	humanidade	como	seu	próprio	Eu	ampliado.
Também	publicada	pela	Self-Realization	Fellowship…
Autobiografia	de	um	Iogue
Esta	consagrada	autobiografia	apresenta	o	retrato	fascinante	de	um	dos	maiores
vultos	espirituais	contemporâneos.	Com	envolvente	franqueza,	eloquência	e	fino
humor,	Paramahansa	Yogananda	narra	as	passagens	inspiradoras	de	sua	vida:	as
experiências	de	sua	infância	extraordinária,	os	encontros	com	muitos	santos	e
sábios	durante	sua	busca	na	juventude,	por	toda	a	Índia,	de	um	instrutor
iluminado,	os	dez	anos	de	treinamento	no	eremitério	de	um	respeitado	mestre
iogue	e	os	trinta	anos	que	viveu	–	e	durante	os	quais	ensinou	–	na	América.
Registra	também	seus	encontros	com	Mahatma	Gandhi,	Rabindranath	Tagore,
Luther	Burbank,	a	estigmatizada	católica	Theresa	Neumann	e	outras
personalidades	espirituais	do	Oriente	e	do	Ocidente.
A	Autobiografia	de	um	Iogue	é,	a	um	tempo,	belo	relato	de	uma	vida
excepcional	e	introdução	profunda	à	ciência	milenar	da	yoga,	com	sua	tradição
imemorial	de	meditação.	O	autor	explica	claramente	as	leis	sutis,	mas	definidas,
implícitas	tanto	nos	fatos	corriqueiros	da	vida	cotidiana	quanto	nos
acontecimentos	extraordinários	que	costumam	ser	chamados	milagres.	A	história
absorvente	de	sua	vida	se	torna,	então,	o	pano	de	fundo	de	um	exame	penetrante
e	inesquecível	dos	mistérios	supremos	da	existência	humana.
Publicado	em	1946	e	ampliado	por	Paramahansa	Yogananda	em	1951,	o	livro
tem	sido	reimpresso	permanentemente	pela	Self-Realization	Fellowship.
Considerada	um	clássico	espiritual	moderno,	a	obra	já	foi	traduzida	em	mais	de
50	idiomas	e	é	amplamente	utilizada	como	livro	de	texto	e	de	referência	em
escolas	e	universidades.	Esta	edição	completa	é	a	única	que	reúne	todas	as
modificações	que	o	autor	desejou	para	a	versão	final	do	texto,	inclusive	o
extenso	material	que	ele	acrescentou	à	edição	original	de	1946.	Best-seller
permanente	desde	sua	primeira	edição,	há	mais	de	70	anos,	a	Autobiografia	de
um	Iogue	tem	conquistado	o	coração	de	milhões	de	leitores	ao	redor	do	mundo.
“Um	raro	relato.”
The	New	York	Times
“Um	estudo	fascinante	comentado	com	clareza.”
Newsweek
“Mantenho	exemplares	da	Autobiografia	de	um	Iogue	espalhados	pela	casa
e	constantemente	a	dou	de	presente	a	pessoas	que	precisam	mudar	de	vida.
Eu	digo:	Leia	isto,	porque	este	livro	toca	o	coração	de	todas	as	religiões.”
George	Harrison
“Jamais	houve,	em	inglês	ou	em	qualquer	outra	língua	europeia,	algo	como
esta	apresentação	da	Yoga.”
Columbia	University	Press
Outros	livros	de	Paramahansa	Yogananda
Disponíveis	nas	livrarias	ou	por	intermédio	da:
Distribuidora	Omnisciência
www.omnisciencia.com.br
A	Eterna	Busca	do	Homem
O	Romance	com	Deus
Jornada	para	a	Autorrealização
Deus	Fala	com	Arjuna:	O	Bhagavad	Gita
(Volumes	I	e	II)
A	Segunda	Vinda	de	Cristo:	A	ressurreição	do	Cristo	interior
https://www.omnisciencia.com.br
(Volumes	I,	II	e	III)
A	Yoga	do	Bhagavad	Gita
A	Yoga	de	Jesus
Afirmações	Científicas	de	Cura
Meditações	Metafísicas
Onde	Existe	Luz:
Discernimento	e	inspiração	para	enfrentar	os	desafios	da	vida
No	Santuário	da	Alma:
Como	orar	para	obter	a	resposta	divina
Paz	Interior:
Como	ser	calmamente	ativo	e	ativamente	calmo
Assim	Falava	Paramahansa	Yogananda
A	Lei	do	Sucesso
Como	Falar	com	Deus
Viva	Sem	Medo
Para	Ser	Vitorioso	na	Vida
Por	Que	Deus	Permite	o	Mal	e	Como	Superá-lo
Livros	de	outros	autores
Swami	Sri	Yukteswar
A	Ciência	Sagrada
Sri	Daya	Mata
“Só	o	Amor”:
Como	viver	espiritualmente	num	mundo	em	transformação
No	Silêncio	do	Coração:
Como	criar	um	relacionamento	amoroso	com	Deus
Intuição:
Orientação	da	alma	para	as	decisões	da	vida
Coleção	“A	Arte	de	Viver”
Livretos	contendo	palestras	de	Paramahansa	Yogananda	ou	de	discípulos	seus
Paramahansa	Yogananda
A	Cura	pelo	Poder	Ilimitado	de	Deus
Mrinalini	Mata
O	Relacionamento	Guru-Discípulo
Irmão	Anandamoy
Casamento	Espiritual
Coleção	Infantojuvenil
Dois	Sapos	em	Apuros
(Baseado	numa	fábula	narrada	por	Paramahansa	Yogananda)
DVD	(documentário)da	filosofia	e	do	método	da	Yoga)	e	o	pensamento	de	Shânkara	(a	mente	mais
larga	que	já	habitou	um	corpo	mortal).
Essa	é	a	deliberada	declaração	de	alguém	que	afinal	encontrou	no	Oriente,	após
muitas	perambulações,	a	solução	para	os	enigmas	do	universo.	Os	hindus
revelaram	a	Verdade	ao	mundo	inteiro.	E	isso	não	nos	pode	senão	parecer
natural,	se	considerarmos	que	há	mais	de	cinco	mil	anos,	quando	os	ancestrais	de
bretões	e	gauleses,	de	gregos	e	latinos,	vagavam	pelas	imensas	florestas	da
Europa	à	procura	de	alimento,	em	plena	barbárie,	os	hindus	já	se	dedicavam	a
meditar	no	mistério	da	vida	e	da	morte,	que	agora	sabemos	que	são	uma	e	a
mesma	coisa.
O	aspecto	essencial	a	ser	destacado	a	respeito	do	ensinamento	de	Paramahansa
Yogananda,	em	contraposição	ao	dos	filósofos	europeus	como	Bergson,	Hegel	e
outros,	é	que	não	é	especulativo,	porém	prático,	mesmo	quando	trata	das	mais
elevadas	esferas	da	metafísica.	O	motivo	é	que,	em	toda	a	humanidade,	somente
os	hindus	penetraram	além	do	véu	e	obtiveram	o	conhecimento	que,	na	verdade,
não	é	meramente	filosófico	(quer	dizer,	amante	da	sabedoria),	mas	é	a	própria
sabedoria.	Pois,	quando	expresso	em	termos	de	dialética	verbal,	tal
conhecimento	se	vê	forçosamente	exposto	à	crítica	dos	filósofos,	cuja	vida,
conforme	diz	Platão,	há	de	ser	constantemente	dedicada	à	discussão.	A	verdade
não	pode	ser	expressa	em	palavras,	e	quando	estas	são	usadas,	mesmo	por	um
Shânkara,	as	mentes	aguçadas	podem	sempre	encontrar	um	ponto	fraco	para
atacar.	Com	efeito,	o	finito	não	pode	conter	o	infinito.	A	Verdade	não	é	uma
eterna	discussão;	é	a	Verdade.	Segue-se	daí	que	somente	por	meio	da	autêntica
experiência	pessoal	–	obtida	pela	prática	de	um	método	semelhante	ao	que
Paramahansa	Yogananda	oferece	–	pode	a	Verdade	chegar	a	ser	conhecida	para
além	de	qualquer	dúvida.
Todo	mundo	deseja	a	bem-aventurança	–	como	Paramahansaji	afirma	e	prova	–,
mas	a	maioria	tem	sido	enganada	pelo	desejo	de	prazer.	O	próprio	Buda	afirmou
com	a	máxima	clareza	que	é	o	desejo,	perseguido	de	forma	ignorante,	que	leva
ao	pântano	do	sofrimento	no	qual	a	imensa	maioria	da	humanidade	em	vão	se
debate.	Entretanto,	Buda	não	ensinou,	com	a	mesma	clareza,	o	quarto	dos	quatro
métodos	para	se	alcançar	o	estado	de	bem-aventurança	que	todos	almejamos.
Esse	quarto	método	é	de	longe	o	mais	fácil,	embora	necessite,	para	sua	aplicação
prática,	da	orientação	de	um	perito.	Esse	perito	encontra-se	agora	entre	nós,	para
dar	ao	Ocidente	a	técnica,	as	regras	simples	que	foram	legadas	há	séculos	pelos
antigos	filósofos	da	Índia	e	que	levam	à	realização	ou	ao	estado	de	permanente
bem-aventurança.
Esse	contato	direto	é	sempre	destacado,	tanto	na	doutrina	quanto	na	prática
hindu,	como	de	grande	importância.	Até	hoje,	permanece	fora	do	alcance	de
todos,	exceto	daqueles	afortunados	que	vivem	na	Índia.	Agora	que	a	temos	no
Ocidente,	tão	perto,	seria	em	verdade	pouco	sensato	rejeitar	ou	deixar	de
submeter	à	prova	uma	prática	que,	por	si	mesma,	é	intensamente	bem-
aventurada	–	“muito	mais	bem-aventurança	pura	do	que	o	maior	prazer	que
qualquer	um	dos	cinco	sentidos	ou	a	mente	podem	jamais	nos	proporcionar”,
conforme	Paramahansa	Yogananda	exatamente	declara,	acrescentando:	“Não
desejo	dar	a	ninguém	outra	prova	dessa	verdade	que	não	seja	a	proporcionada
por	sua	própria	experiência”.
O	primeiro	passo	pode	ser	dado	com	a	leitura	deste	pequeno	livro;	os	outros
necessários	para	alcançar	o	supremo	estado	de	bem-aventurança	se	seguirão
naturalmente.
Concluo	citando	algumas	linhas	de	minha	obra	John	of	Damascus,	na	qual
procuro	sugerir,	em	forma	poética,	o	que	se	expõe	neste	livro.	Fala	o	Buda	–	que
para	nós	é	Paramahansa	Yogananda,	uma	vez	que	“Buddha”	significa
simplesmente	“Aquele	que	sabe”:
Há	tanto	–	ele	canta	–,	há	tanto	tenho	vagado,
Sob	grilhões,	muitas	vidas	sofrendo,
Incontáveis	dores,	garras	do	passado,
De	feroz	desejo,	a	alma	ardendo.
Encontrei	–	ele	canta	–	a	Causa,	encontrada,
Da	alma	ardendo,	do	desejo	tresloucado.
A	mim,	ó	Arquiteto,	nenhuma	morada
Nem	novo	lar	será	edificado.
Tuas	vigas	sucumbiram,	arrasadas.
Nada	restou	inteiro,	tão	destroçado:
E	outra	morada	não	me	darás	como	legado.
Meu	é	o	Nirvana,	meu;	é	logo	ali,
Tão	perto,	foi	assim	que	o	vi.
E	agora,	sim,	basta	querer,	agora,
Eternamente	livre,	sem	demora,
Incógnito,	da	bem-aventurança	desfrutar,
Dentro	de	mim,	em	todo	lugar.
Pelo	amor,	porém,	pelo	amor	fiquei,
Servindo	ao	mundo,	a	meus	irmãos,
Uma	ponte	ergui,	co’as	próprias	mãos,
Se	a	cruzares,	também	deixarás
Nascimento,	morte	e	dor	para	trás,
E	bem-aventurança	eterna	terás.
O	construtor	da	ponte	encontra-se	entre	nós.	Com	as	próprias	mãos,	erguerá	a
ponte,	se	realmente	quisermos	que	o	faça.
Londres,	Inglaterra
Fevereiro	de	1927
Prólogo
Uma	espiritualidade	universal	para	a	civilização
global	que	se	aproxima
Introdução	a	esta	edição	especial	de	“A	Ciência	da	Religião”	para	comemorar
o	100	 	aniversário	da	chegada	de	Paramahansa	Yogananda	ao	Ocidente	e	da
fundação	de	sua	associação	internacional,	a	Self-Realization	Fellowship.
Em	19	de	setembro	de	1920	chegou	ao	Porto	de	Chelsea,	em	Boston,	o	City	of
Sparta,	o	primeiro	navio	a	vapor	a	sair	da	Índia	para	a	América	após	o	término
da	Primeira	Guerra	Mundial.	Entre	os	passageiros	que	desembarcavam	estava
uma	“figura	pitoresca”,	como	descreveu	o	The	Boston	Globe,	que	“veio
participar	de	uma	conferência	religiosa	em	Boston	e	mais	tarde	planeja	fazer
uma	ciclo	de	palestras	pelo	país”.	Praticamente	desconhecido	na	América	à	sua
chegada,	Paramahansa	Yogananda	mais	tarde	se	tornaria	conhecido	como	“o	pai
da	Yoga	no	Ocidente”.
Trezentos	anos	antes,	no	outono	de	1620,	os	Pais	Peregrinos	da	América	haviam
desembarcado	ao	sul	de	Boston,	em	Plymouth.	Sua	chegada	resultou	no
nascimento	de	uma	nova	nação,	que	proclamou	a	liberdade	religiosa	como	um
direito	inalienável	do	povo.	Para	comemorar	o	trigésimo	aniversário	deste
acontecimento,	a	American	Unitarian	Association	organizou	o	“Encontro	do
Tricentenário	dos	Peregrinos”	no	Congresso	Internacional	de	Religiosos
Liberais,	que	começaria	no	início	de	outubro	de	1920	com	o	intuito	de	discutir,
do	ponto	de	vista	religioso,	o	significado	da	liberdade.	Foi	a	essa	conferência
histórica	que	o	jovem	Swami	Yogananda	havia	sido	convidado.	Ele	falaria	sobre
o	tema	da	ciência	da	religião	e	abordaria	a	mais	elevada	liberdade	do	homem:
aquela	que	vem	da	percepção	da	unidade	eterna	e	imutável	da	alma	com	Deus.
Entre	os	organizadores	do	evento	estava	Charles	Wendte,	um	ministro	unitário
americano	que	esteve	envolvido	na	criação	do	Parlamento	das	Religiões	do
Mundo	em	Chicago	em	1893	e	que,	juntamente	com	outros	líderes	unitários,
pioneiros	neste	novo	esforço,	foi	bem-sucedido	em	atrair	delegados	religiosos	de
outras	tradições	religiosas	do	mundo	inteiro.	Wendte	e	os	outros	organizadores
do	Congresso	apelavam	para	a	criação	de	uma	base	para	uma	“Liga	das
Religiões,	que	será	a	contrapartida	e	aliada	da	Liga	das	Nações	de	natureza
política”.
Tal	visão	tinha	muito	em	comum	com	o	próprio	Paramahansa	Yogananda.	Em
seu	discurso	aos	delegados	do	Congresso,	o	swami	ressaltaria	a	espiritualidade
universal	subjacente	a	todas	as	religiões,	e	alguns	anos	depois	ele	invocaria
“uma	Liga	de	Almas	e	um	Mundo	Unido	[...]	em	que	todas	as	nações	façam
parte	de	maneira	proveitosa,	guiadas	por	Deus,	por	meio	da	consciência
iluminada	do	homem”.
Swami	Yogananda	fora	convidado	a	participar	do	Congresso	de	1920	por
intermédio	do	Dr.	Heramba	Maitra,	professor	do	City	College	de	Calcutá,	que
tinha	se	programado	para	ir	como	representante	do	Brahmo	Samaj	(um
movimento	de	reforma	religiosa	e	social	na	Índia	que	ajudou	a	moldar	o
Renascimento	de	Bengala),	mas	teve	que	cancelar	a	viagem	por	motivo	de
doença.
“No	lugar	dele	[Dr.	Maitra],”	registrou	o	New	Pilgrimages	of	the	Spirit,	“Swami
Yogananda	Giri,	representando	o	teísta	Brahmacharya	Sanghashram,	participou
de	nossas	conferências	e	fez	um	marcante	discurso	[…].”
A	publicação	também	registrou:	“Em	inglês	fluente	e	vigorosa	expressão,
[Yogananda]	fez	uma	palestra	de	caráterAWAKE:	A	Vida	de	Yogananda
Um	filme	de	CounterPoint	Films
O	catálogo	completo	das	publicações	da	Self-Realization	Fellowship,	incluindo
CDs	e	DVDs,	está	disponível	em	nosso	website	ou	pode	ser	solicitado
diretamente	à	nossa	Sede	Internacional.
Self-Realization	Fellowship
3880	San	Rafael	Avenue	•	Los	Angeles,	CA	90065-3219	USA
Tel.:	+1	(323)	225-2471
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	Cover Page
	A Ciência da Religião
	Direito autoral
	A Respeito deste Livro
	Índice
	Prefácio
	Prólogo
	Introdução
	PARTE 1: A universalidade, necessidade e unidade da religião
	O objetivo comum da vida
	Definição universal de religião
	O que significa ser religioso
	A religião nos “liga” às leis benevolentes
	Religião é questão de fundamentos
	A Religião Universal é pragmaticamente necessária
	PARTE 2: Dor, prazer e Bem-aventurança: suas diferenças
	A causa fundamental da dor e do sofrimento
	As causas imediatas da dor
	O prazer é uma consciência dúplice
	Confundir os meios com o fim
	A consciência de Bem-aventurança surge do rompimento da identificação com o corpo
	PARTE 3: Deus como Bem-aventurança
	O motivo comum de todas as ações
	Apenas a consciência de Bem-aventurança pode efetivamente apaziguar a excitação
	Que é Deus?
	A prova da existência de Deus está dentro de nós
	A religião só se torna universalmente necessária quando Deus é concebido como Bem-aventurança
	Em Deus ou consciência de Bem-aventurança nossas aspirações espirituais se realizam
	A vida: grande peça teatral
	PARTE 4: Quatro métodos fundamentais de realização divina
	A necessidade de métodos religiosos
	O “Filho de Deus” e o “filho do homem”
	A origem do sectarismo
	Quatro Métodos Religiosos Fundamentais
	1. O método do intelecto
	2. O método da devoção
	3. O método da meditação
	4. O método científico ou Yoga
	Explicação fisiológica do método científico
	A prática do método científico resulta em libertar-se das distrações corporais e mentais
	A prática continuada do método científico leva à consciência de Bem-aventurança ou Deus
	O método científico trabalha diretamente com a força vital
	PARTE 5: Os instrumentos do conhecimento e a validez teórica dos métodos religiosos
	Os Três Instrumentos Do Conhecimento
	1. Percepção
	2. Inferência
	3. Intuição
	Por meio da intuição, Deus pode ser experimentado em todos os Seus aspectos
	A respeito do autor
	Paramahansa Yogananda: um iogue na vida e na morte
	Recursos adicionais aos ensinamentos de Kriya Yoga de Paramahansa Yogananda
	Lições da Self-Realization Fellowship
	Objetivos e Ideais da Self-Realization Fellowship
	Autobiografia de um Iogue
	Outros livros de Paramahansa Yogananda
	Livros de outros autores
	Coleção “A Arte de Viver”
	Coleção Infantojuvenilfilosófico	sobre	‘A	Ciência	da	Religião’
[…].	A	religião,	ele	sustentou,	é	uma	só	e	universal.	Talvez	não	seja	possível
universalizar	costumes	e	convenções	particulares,	mas	o	elemento	comum	nas
religiões	pode	ser	universalizado,	e	a	todos	podemos	pedir	que	o	sigam	e
cumpram.	Na	medida	em	que	Deus	é	um	só,	necessário	a	todos	nós,	também	a
religião	é	uma	só,	necessária	e	universal.	É	apenas	o	ponto	de	vista	humano,
limitado,	que	fecha	os	olhos	para	o	elemento	universal	subjacente	às	assim
chamadas	diferentes	religiões	do	mundo.”
O	discurso	de	Yogananda,	que	ocorreu	em	6	de	outubro	de	1920,	na	Unity
House,	perto	da	câmara	municipal	de	Boston,	foi	um	dos	acontecimentos	mais
significativos	na	história	da	aceitação	e	compreensão,	pela	América,	da	ciência
indiana	da	Yoga,	na	medida	em	que	marcou	o	começo	do	trabalho	do	“homem
que	mais	do	que	ninguém	tornou	[a	Yoga]	acessível	ao	Ocidente”.¹
O	jovem	e	vibrante	swami	da	Índia	não	tinha	por	objetivo	converter	seus
ouvintes	ao	Hinduísmo	ou	a	qualquer	outra	religião.	Em	vez	disso,	ele	abordava
a	ciência	universal	que	fundamenta	e	unifica	todos	os	caminhos	religiosos	e	dizia
que	cada	indivíduo,	independentemente	de	sua	filiação	sectária,	poderia
efetivamente	experimentar	Deus	como	uma	realidade	viva	em	sua	vida.	Seu
discurso	tocou	um	ponto	sensível	em	Boston:	aqui	estava	o	que	os
transcendentalistas	da	Nova	Inglaterra	haviam	procurado	em	sua	solidão	e
contemplação	algumas	décadas	antes	–	uma	liberdade	maior	do	que	a	libertação
social	e	política,	uma	experiência	da	Divindade	que	não	dependia	de	credos	ou
dogmas.
Ele	estava	apresentando	aos	ocidentais	um	conceito	inteiramente	novo	do
propósito	da	religião,	do	propósito	mesmo	da	vida	–	como	remover
permanentemente	a	dor	e	o	sofrimento	e	encontrar	a	felicidade	duradoura	como
Bem-aventurança,	a	presença	de	Deus	na	própria	pessoa.	E	mostrava	uma
metodologia	passo	a	passo	pela	qual	toda	pessoa	poderia	experimentar	por	si
mesma	essa	Bem-aventurança:	a	meditação	de	Yoga,	a	universal	ciência	da	alma,
originária	da	Índia.
Foi	nesse	discurso	histórico,	a	partir	do	qual	se	desenvolveu	o	presente	livro,	que
Yogananda	falou	pela	primeira	vez	a	um	público	ocidental	sobre	a	eficácia	da
meditação	de	Kriya	Yoga	para	alcançar	essa	meta	universal.	Suas	palestras
subsequentes	sobre	o	assunto	receberiam	cobertura	da	mídia	em	todos	os
principais	jornais	dos	EUA	e	atrairiam	milhares	de	buscadores	que	lotavam	os
maiores	auditórios	do	país	para	aprender,	com	esse	orador	divinamente
carismático,	a	antiga	“ciência	da	alma”.
No	mesmo	ano	de	sua	histórica	chegada	ao	Ocidente,	Yogananda	fundou	a
organização	que	mais	tarde	denominaria	Self-Realization	Fellowship	(SRF)	para
difundir	os	ensinamentos	de	Kriya	Yoga	em	todo	o	mundo.	Seus	esforços
incessantes	para	promover	a	universalidade	da	religião	e	ensinar	a	suprema
ciência	da	religião	tiveram	um	profundo	impacto	em	todo	o	tecido	da	vida
religiosa	e	espiritual	do	Ocidente.
Anos	mais	tarde,	ao	narrar	a	história	do	Congresso	de	1920,	a	Associação
Internacional	de	Religiosos	Liberais	(como	o	Congresso	de	Religiosos	Liberais	é
conhecido	hoje)	escreveu:	“Um	dos	palestrantes	proeminentes	deste	congresso
que	reuniu	mais	de	duas	mil	pessoas	foi	Paramahansa	Yogananda,	que	hoje	é
altamente	respeitado	na	Índia	e	reverenciado	em	todo	o	mundo	como	um	santo.
Yogananda	[…]	trabalhou	ininterruptamente,	de	1920	a	1952,	para	promover	o
entendimento	entre	Oriente	e	Ocidente	[…].	Dos	líderes	religiosos	do	Oriente
que	viveram	e	trabalharam	no	Ocidente,	foi	um	dos	mais	influentes	e
respeitados.	Durante	os	32	anos	que	se	seguiram,	ele	foi	um	dos	grandes
pioneiros	do	encontro	entre	Oriente	e	Ocidente	e	continua	sendo,	hoje,	um
instrutor	espiritual	amado	por	milhões	de	pessoas.”
Desde	que	desembarcou	em	solo	americano,	ele	trabalhou	incansavelmente	para
trazer	a	mais	elevada	sabedoria	e	as	supremas	técnicas	de	meditação	da	Índia	aos
buscadores	ao	redor	do	mundo,	lançando	os	alicerces	para	o	início	de	uma	nova
civilização	global	baseada	nos	princípios	eternos	da	espiritualidade	universal,	em
que	cada	homem	e	mulher	tem	o	potencial	de	se	comunicar	pessoalmente	com
Deus,	trazendo	assim	uma	consciência	maior	e	mais	iluminada	para	os	interesses
cívicos,	nacionais	e	internacionais	da	família	humana.
Ao	celebrarmos	o	histórico	centenário	da	chegada	de	Paramahansa	Yogananda
ao	Ocidente	e	da	fundação	de	sua	associação,	a	Self-Realization	Fellowship,	é
com	este	mesmo	sentimento	de	esperança	–	por	todos	aqueles	que	seguem
sinceramente	o	caminho	de	Kriya	Yoga	e	pela	humanidade	em	geral	–	que
entramos	com	alegria	e	entusiasmo	nos	próximos	100	anos	da	SRF,	nos	quais	um
número	cada	vez	maior	de	buscadores	da	Verdade	irá	descobrir	os	métodos
espirituais	universais	para	alcançar	a	liberdade	suprema:	a	libertação	da	alma.
Self-Realization	Fellowship
1	Robert	S.	Ellwood,	Ph.D.,	Professor	de	Religião,	Universidade	do	Sul	da
Califórnia,	em	Religious	and	Spiritual	Groups	in	Modern	America	(Routledge,
1973).
A	CIÊNCIA	DA	RELIGIÃO
Introdução
O	propósito	deste	livro	é	definir	o	que	deve	ser	compreendido	por	religião,	a	fim
de	que	possamos	concebê-la	como	universal	e	pragmaticamente	necessária.
Também	busca	tratar	daquele	aspecto	da	concepção	da	Divindade	que	sustenta
diretamente	as	motivações	e	os	atos	de	cada	minuto	de	nossa	vida.
É	verdade	que	Deus	é	infinito	em	Sua	natureza	e	aspectos;	e	é	também	verdade
que,	dentro	das	possibilidades	da	razão,	pintar	um	quadro	detalhado	das
características	de	Deus	é	pura	evidência	das	limitações	da	mente	humana	em	sua
tentativa	de	sondá-Lo.	Contudo,	é	igualmente	verdade	que	a	mente	humana,
apesar	de	todas	as	suas	imperfeições,	não	pode	se	sentir	plenamente	satisfeita
com	o	que	é	finito.	Ela	tem	o	anseio	natural	de	interpretar	o	que	é	humano	e
finito	à	luz	do	que	é	sobre-humano	e	infinito	–	o	que	ela	sente	mas	não	pode
expressar,	o	que	interiormente	acha-se	implícito	mas	que,	sob	as	circunstâncias,
recusa	tornar-se	explícito.
Nossa	ideia	comum	de	Deus	é	a	de	que	Ele	é	sobre-humano,	infinito,
onipresente,	onisciente	e	semelhantes	qualificações.	Nessa	concepção	geral	há
numerosas	variações.	Alguns	dizem	que	Deus	é	pessoal,	outros	O	veem	como
impessoal.	Seja	qual	for	a	ideia	que	tenhamos	de	Deus,	se	ela	não	influencia
nossa	conduta	diária,	se	nela	a	vida	cotidiana	não	encontra	inspiração	e	se	ela
não	é	universalmente	necessária,	tal	concepção	não	tem	utilidade.
Se	a	ideia	de	Deus	não	for	de	tal	maneira	que	não	possamos	dispensá-Lo	na
satisfação	de	uma	carência,	em	nosso	relacionamento	com	as	pessoas,	no	ganhar
dinheiro,	na	leitura	de	um	livro,	na	prestação	de	um	exame,	no	cumprimento	das
obrigações	mais	insignificantes	ou	mais	relevantes,	então	é	claro	que	não
sentimos	qualquer	ligação	entre	Deus	e	a	vida.
Deus	pode	ser	infinito,	onipresente,	onisciente,	pessoal	e	misericordioso,	mas
tais	concepções	não	bastam	para	nos	estimular	a	procurar	conhecê-Lo.	Podemos
muito	bem	passar	sem	Ele.	Ele	pode	ser	infinito,	onipresente	e	assim	por	diante,
mas	não	temos	necessidade	prática	e	imediata	dessas	concepções	em	nossa	vida
ocupada	e	corrida.
Recorremos	a	essas	concepções	apenas	quando	procuramos	justificar,	em
composições	filosóficas	ou	poéticas,	na	arte	ou	em	palestras	idealistas,	o	anseio
finito	por	algo	transcendental;	quando	nós,	com	todo	o	nosso	conhecimento
presunçoso,	não	conseguimos	explicar	alguns	dos	fenômenos	mais	comuns	do
universo;	ou	quando	as	vicissitudes	do	mundo	nos	criam	dificuldades.	“Oramos
ao	Todo-misericordioso	quando	estamos	em	apuros”,	diz	a	máxima	oriental.
Caso	contrário,	parece	que	vamos	indo	bem	sem	Ele,	em	nosso	mundo	rotineiro.
Essas	concepções	estereotipadas	parecem	ser	válvulas	de	segurança	para	o	nosso
pensamento	humano	encurralado.	Oferecem	uma	explicação	a	respeito	de	Deus,
mas	não	nos	fazem	buscá-Lo.	Carecem	de	poder	motivador.	Não	estamos
necessariamente	buscando	Deus	quando	O	chamamos	de	infinito,	onipresente,
todo-misericordioso	e	onisciente.	Tais	concepções	satisfazem	o	intelecto,	mas
não	confortam	a	alma.	Se	respeitadas	e	acalentadas	em	nossoscorações,	podem
nos	expandir	até	certo	ponto	–	podem	nos	moralizar	e	nos	tornar	resignados
perante	Ele.	Mas	não	são	suficientemente	íntimas,	e	Deus	não	Se	faz	nosso.	Elas
O	colocam	distante	das	preocupações	diárias	do	mundo.
Tais	concepções	têm	sabor	exótico	quando	estamos	na	rua,	na	fábrica,	atrás	do
balcão	ou	no	escritório.	Não	porque	estejamos	realmente	mortos	para	Deus	e
para	a	religião,	mas	porque	nos	falta	uma	concepção	correta	a	respeito	dos	dois	–
uma	concepção	que	possa	entrelaçar-se	com	o	tecido	da	vida	cotidiana.	O	modo
de	conceber	Deus	deve	ser	para	nós	uma	orientação	diária,	ou	melhor,	de	cada
hora.	A	própria	ideia	de	Deus	nos	deve	estimular	a	buscá-Lo	em	nossa	vida
cotidiana.	É	o	que	significa	uma	concepção	pragmática	e	motivadora	de	Deus.
Precisamos	transferir	Deus	e	a	religião	da	esfera	da	crença	para	o	âmbito	da	vida
cotidiana.
Se	não	acentuamos	a	necessidade	de	Deus	em	todo	aspecto	de	nossa	vida	e	o
imperativo	da	religião	em	cada	minuto	de	nossa	existência,	então	Deus	e	a
religião	escapam	da	intimidade	de	nossa	consideração	diária,	tornando-se	apenas
assunto	de	um	dia	da	semana.	A	fim	de	compreendermos	a	real	necessidade	de
Deus	e	da	religião,	devemos	dar	ênfase	à	concepção	que	seja	mais	relevante	para
o	principal	objetivo	de	nossas	ações	de	cada	dia	e	de	cada	hora.
Este	livro	também	pretende	mostrar	a	universalidade	e	a	unidade	da	religião.
Diversas	religiões	têm	surgido	em	diferentes	épocas.	Acaloradas	controvérsias,
guerras	prolongadas	e	muito	derramamento	de	sangue	têm	ocorrido	por	causa
delas.	Uma	religião	se	ergue	contra	outra,	uma	seita	luta	contra	outra.	Não
apenas	existe	uma	diversidade	de	religiões,	mas	também	uma	ampla	variedade
de	seitas	e	opiniões	dentro	da	mesma	religião.	Surge,	porém,	a	pergunta:	“Se	só
existe	um	Deus,	por	que	haveria	tantas	religiões?”
Pode-se	argumentar	que	os	estágios	particulares	do	crescimento	intelectual	e	os
tipos	especiais	de	mentalidades	correspondentes	às	diversas	nações	(devidos	a
diferentes	condições	geográficas	e	outras	circunstâncias	externas)	determinam	a
origem	das	diversas	religiões	–	como	hinduísmo,	islamismo	e	budismo	para	os
asiáticos;	cristianismo	para	os	ocidentais,	etc.	Se	por	religião	compreendemos
apenas	as	práticas,	doutrinas,	dogmas,	costumes	e	convenções	particulares,	então
pode	haver	espaço	para	a	existência	de	tantas	religiões;	mas	se	religião	significa
primordialmente	consciência	de	Deus	ou	a	experiência	de	Deus	tanto	dentro
quanto	fora	de	nós,	e	secundariamente	um	conjunto	de	crenças,	doutrinas	e
dogmas,	então,	estritamente	falando,	só	há	uma	religião	no	mundo,	pois	só	existe
um	Deus.
Os	diferentes	costumes,	formas	de	culto,	doutrinas	e	convenções	podem	ser
considerados	solos	em	que	medram	as	diversas	denominações	e	seitas	incluídas
nessa	religião	única.	Se	a	religião	é	compreendida	dessa	maneira,	então	–	e	só
então	–	pode	sua	universalidade	ser	defendida;	pois	talvez	não	nos	seja	possível
universalizar	costumes	e	convenções	particulares.	Apenas	o	elemento	comum	a
todas	as	religiões	pode	ser	universalizado,	e	a	todos	podemos	pedir	que	o	sigam
e	cumpram.	Assim,	poder-se-á	verdadeiramente	declarar	que	a	religião	não	é
somente	necessária	mas	também	universal.	Todos	podem	seguir	a	mesma
religião,	pois	só	existe	uma,	visto	que	o	elemento	universal	de	todas	as	religiões
é	um	só	e	o	mesmo.
Procuro	mostrar	neste	livro	que,	na	medida	em	que	Deus	é	um	só,	necessário	a
todos	nós,	também	a	religião	é	uma	só,	necessária	e	universal.	Apenas	os
caminhos	para	ela	podem,	no	começo,	diferir	em	alguns	aspectos.	Para	falar	a
verdade,	não	é	razoável	dizer	que	há	mais	de	uma	religião,	quando	só	existe	um
Deus.	Pode	haver	duas	denominações	ou	seitas,	mas	apenas	uma	religião.	O	que
agora	chamamos	diferentes	religiões	deveria	ser	conhecido	como	diferentes
denominações;	e	as	seitas	devem	ser	especificadas	como	diferentes	cultos	ou
credos	secundários.	Se	conhecêssemos	o	significado	da	palavra	“religião”,
seríamos	naturalmente	muito	cautelosos	em	empregá-la.	É	apenas	a	opinião
humana,	limitada,	que	fecha	os	olhos	para	o	elemento	universal	nas	chamadas
diferentes	religiões	do	mundo,	e	tal	omissão	tem	sido	a	causa	de	muitos	males.
Este	livro	apresenta	uma	definição	psicológica	da	religião,	não	uma	definição
objetiva,	baseada	em	dogmas	e	doutrinas.	Em	outras	palavras,	ele	procura	fazer
da	religião	um	assunto	que	comprometa	nossa	atitude	interior	e	nosso	ser	inteiro,
e	não	uma	mera	observância	de	determinadas	regras	e	conceitos.
PARTE	1
A	universalidade,	necessidade	e	unidade	da	religião
O	objetivo	comum	da	vida
Em	primeiro	lugar,	precisamos	saber	o	que	é	religião;	só	então	poderemos	julgar
se	é	necessário	para	todos	nós	sermos	religiosos.
Sem	necessidade,	não	há	ação.	Toda	ação	nossa	tem	um	fim	próprio,	por	cujo
alcance	nós	a	praticamos.	Neste	mundo	as	pessoas	agem	de	maneiras	várias	para
conseguir	variados	objetivos;	existe	uma	multiplicidade	de	fins	que	determinam
as	ações	de	todos.
Mas	existe	algum	objetivo	comum	e	universal	em	todos	os	atos	de	todas	as
pessoas	do	mundo?	Existe	para	todos	nós	alguma	necessidade	comum,	superior,
que	nos	estimula	na	prática	de	todas	as	ações?	Uma	pequena	análise	das
motivações	e	dos	objetivos	dos	atos	humanos	no	mundo	mostra	que,	embora
haja	mil	e	um	fins	próximos	e	imediatos	do	homem	em	relação	à	sua	vocação	ou
profissão	específica,	o	objetivo	máximo	–	ao	qual	todos	os	outros	fins	apenas	se
subordinam	–	é	evitar	a	dor	e	a	carência	e	adquirir	a	permanente	Bem-
aventurança.	Se	somos	capazes	de	evitar	a	dor	e	a	carência	permanentemente	e
obter	a	Bem-aventurança	é	outra	questão;	mas,	de	fato,	em	todas	as	nossas	ações
obviamente	procuramos	evitar	a	dor	e	ganhar	o	prazer.
Por	que	um	homem	se	submete	ao	processo	de	aprendizado?	Porque	deseja
aprimorar-se	em	certo	trabalho.	Por	que	ele	escolhe	esse	trabalho	específico?
Porque	nele	pode	ganhar	dinheiro.	Por	que	deve	ganhar	dinheiro	afinal?	Porque
satisfará	suas	carências	pessoais	e	familiares.	Por	que	devem	suas	carências	ser
satisfeitas?	Porque	será	assim	removida	a	dor	e	adquirida	a	felicidade.
Para	falar	a	verdade,	felicidade	e	Bem-aventurança	não	são	a	mesma	coisa.
Todos	nós	almejamos	a	Bem-aventurança,	mas	por	um	grande	equívoco
imaginamos	que	o	prazer	e	a	felicidade	são	Bem-aventurança.	Explicarei,	logo
em	seguida,	como	isso	acontece.	A	motivação	máxima	é	realmente	a	Bem-
aventurança,	sentida	interiormente;	mas,	por	erro	nosso,	a	felicidade	–	ou	o
prazer	–	tomou	o	seu	lugar,	e	o	prazer	veio	a	ser	considerado	a	motivação
máxima.
Vemos	assim	que	a	satisfação	de	alguma	carência,	a	remoção	de	alguma	dor
física	ou	mental	–	da	mais	leve	à	mais	aguda	–	e	a	obtenção	da	Bem-aventurança
constituem	nosso	objetivo	máximo.	Não	podemos	mais	discutir	por	que	se	deve
obter	a	Bem-aventurança,	pois	nenhuma	resposta	pode	ser	dada.	Ela	é	o	objetivo
máximo,	não	importa	o	que	façamos	–	abrir	um	negócio,	ganhar	dinheiro,	reunir
amigos,	escrever	livros,	adquirir	conhecimento,	governar	reinos,	doar	milhões,
explorar	terras,	buscar	fama,	ajudar	os	necessitados,	tornar-se	filantropo	ou
abraçar	o	martírio.	E	ficará	evidente	que	a	busca	de	Deus	torna-se	para	nós	um
fato	real	quando	se	tem	a	atenção	rigorosamente	aplicada	ao	nosso	verdadeiro
objetivo.	Pode	haver	milhões	de	passos,	miríades	de	atos	e	motivos
intermediários;	mas	o	motivo	máximo	é	sempre	o	mesmo:	alcançar	permanente
Bem-aventurança,	mesmo	que	seja	por	uma	longa	cadeia	de	ações.
O	homem	geralmente	gosta	de	prosseguir	no	encadeamento	para	chegar	ao
objetivo	final.	Ele	pode	suicidar-se	para	fazer	cessar	alguma	dor,	ou	cometer
assassinato	para	livrar-se	de	alguma	forma	de	carência,	dor	ou	cruel	desgosto,
pensando	que	assim	alcançará	real	satisfação	ou	alívio,	os	quais	confunde	com
Bem-aventurança.	Mas	o	ponto	a	notar	é	que	aqui,	também,	é	o	mesmo	trabalho
(embora	equivocado)	em	direção	ao	objetivo	máximo.
Alguém	dirá:	“Não	me	interesso	por	prazer	ou	felicidade.	Vivo	a	vida	para
conseguir	algo,	para	lograr	êxito.”	Outro	dirá:	“Quero	fazer	o	bem	no	mundo.
Não	me	importa	se	eu	sofra	ou	não.”	Mas	se	examinarmosa	mente	dessas
pessoas,	verificaremos	que	existe	o	mesmo	trabalho	em	direção	a	um	objetivo	de
felicidade.	Desejará	o	primeiro	homem	um	êxito	em	que	na	sua	obtenção	não
haja	prazer	ou	felicidade?	Desejará	o	segundo	fazer	bem	aos	outros,	sem
contudo	lograr	felicidade	para	si	quando	assim	procede?	Obviamente,	não.	Eles
podem	não	se	importar	com	mil	e	uma	dores	físicas	ou	sofrimentos	mentais,
infligidos	por	terceiros	ou	surgidos	acidentalmente	durante	a	busca	do	êxito	ou	a
prática	do	bem	aos	outros;	isso	porque	um	encontra	satisfação	no	êxito	e	o	outro
goza	intensamente	a	felicidade	de	fazer	o	bem	ao	próximo,	a	despeito	das
dificuldades	acidentais.
Mesmo	o	mais	abnegado	de	todos	os	motivos	e	a	mais	sincera	das	intenções	de
promover	o	bem	da	humanidade,	para	o	próprio	bem	dela	mesma,	nasceram	do
impulso	básico	voltado	para	um	tipo	de	felicidade	pessoal	que	se	aproxima	da
Bem-aventurança.	Mas	não	é	a	felicidade	de	um	egoísta	tacanho.	É	a	felicidade
de	um	buscador	generoso	desse	“eu	puro”	que	está	em	você,	em	mim	e	em
todos.	Essa	felicidade	é	Bem-aventurança	–	um	pouco	misturada.	Desse	modo,
tendo	a	Bem-aventurança	pura	como	motivação	pessoal	para	ações	abnegadas,	o
altruísta	não	se	expõe	à	acusação	de	egoísmo	estreito,	pois	não	se	pode	ter	Bem-
aventurança	pura	a	menos	que	se	seja	bastante	generoso	para	desejá-la	e	buscá-la
também	para	os	outros.	Essa	é	a	lei	universal.
Definição	universal	de	religião
Assim,	quando	remontamos	às	mais	afastadas	origens	dos	motivos	das	ações	de
todos	os	homens,	encontramos	a	mesma	motivação	básica	para	todos:	remoção
da	dor	e	obtenção	da	Bem-aventurança.	Sendo	esse	um	objetivo	universal,
precisa	ser	considerado	como	o	mais	necessário.	E	o	que	é	universal	e	mais
necessário	para	o	homem	é,	naturalmente,	religião	para	ele.	Daí	a	religião
consistir	necessariamente	na	permanente	remoção	da	dor	e	na	experiência	da
Bem-aventurança	ou	Deus.	E	as	ações	que	precisamos	adotar	para	evitar
permanentemente	a	dor	e	experimentar	a	Bem-aventurança	ou	Deus	são
chamadas	religiosas.	Se	compreendemos	religião	nesses	termos,	torna-se	óbvia	a
sua	universalidade.	Pois	ninguém	pode	negar	que	deseja	evitar	definitivamente	a
dor	e	alcançar	permanente	Bem-aventurança.	Isso	precisa	ser	universalmente
admitido,	porquanto	ninguém	pode	contradizer	essa	verdade.	A	própria
existência	do	homem	está	com	ela	comprometida.
Todos	querem	viver	porque	amam	a	religião.	Mesmo	o	homem	que	comete
suicídio	age	também	movido	por	esse	mesmo	amor;	por	esse	ato,	ele	espera
alcançar	um	estado	mais	feliz	do	que	encontra	enquanto	está	vivendo.	De
qualquer	modo,	pensa	em	livrar-se	de	uma	dor	que	o	importuna.	Nesse	caso	sua
religião	é	grosseira,	mas	não	deixa	de	ser	religião.	O	objetivo	desse	homem	é
perfeitamente	justo	e	coincide	com	o	de	todas	as	pessoas;	pois	todos	querem
obter	a	felicidade	ou	Bem-aventurança.	Entretanto,	o	método	que	o	suicida
empregou	é	insensato.	Por	ignorância,	ele	não	distingue	o	que	realmente	o	levará
à	Bem-aventurança,	a	meta	de	todos	os	homens.
O	que	significa	ser	religioso
Assim,	em	certo	sentido,	toda	pessoa	neste	mundo	é	religiosa,	porque	cada	uma
está	tentando	livrar-se	da	carência	e	da	dor	e	obter	a	Bem-aventurança.	Todas
trabalham	para	o	mesmo	objetivo.	Em	sentido	estrito,	porém,	somente	poucos
neste	mundo	são	religiosos,	porque	não	são	muitos	os	que	conhecem	os	métodos
mais	eficazes	para	remover,	permanentemente,	toda	dor	e	carência	–	física,
mental	ou	espiritual	–	e	obter	a	verdadeira	Bem-aventurança.
O	devoto	genuíno	não	pode	se	aferrar	a	um	conceito	rigidamente	estreito	e
ortodoxo	da	religião,	mesmo	que	tal	conceito	esteja	remotamente	relacionado	à
ideia	de	religião	que	estou	procurando	elucidar	aqui.	Se	você,	durante	algum
tempo,	não	frequentar	igreja	ou	templo,	nem	participar	de	qualquer	cerimônia	ou
formalidade	religiosa	–	mesmo	que	se	comporte	religiosamente	em	sua	vida
diária	sendo	tranquilo,	equilibrado,	concentrado,	caridoso	e	extraindo	felicidade
até	das	situações	mais	difíceis	–,	então	as	pessoas	comuns	de	tendências
marcadamente	ortodoxas	ou	estreitas	moverão	a	cabeça	e	afirmarão	que,	embora
você	esteja	tentando	ser	bom,	ainda	assim,	do	ponto	de	vista	da	religião	ou	aos
olhos	de	Deus,	você	está	“se	perdendo”,	já	que	nos	últimos	tempos	não	tem
entrado	nos	limites	dos	lugares	sagrados.
É	claro	que,	embora	não	possa	haver	desculpa	válida	para	a	pessoa	se	excluir
permanentemente	de	tais	lugares	sagrados,	não	pode	haver,	por	outro	lado,	razão
legítima	para	ela	ser	considerada	mais	religiosa	por	frequentar	a	igreja	se,	ao
mesmo	tempo,	não	aplica	na	vida	cotidiana	os	princípios	que	a	religião	sustenta,
quer	dizer,	aqueles	que	contribuem	afinal	para	a	obtenção	da	Bem-aventurança
permanente.	A	religião	não	está	atarraxada	aos	bancos	da	igreja,	nem	tampouco
limitada	às	cerimônias	que	ali	se	realizam.	Se	você	tem	uma	atitude	de
reverência,	se	vive	cotidianamente	sempre	com	a	perspectiva	de	trazer	a
imperturbável	consciência	de	Bem-aventurança	para	sua	vida,	será	tão	religioso
dentro	quanto	fora	da	igreja.
Naturalmente,	isso	não	deve	ser	entendido	como	argumento	para	abandonar	a
igreja,	a	qual	é,	geralmente,	um	grande	auxílio	em	muitos	aspectos.	O	que	se
deseja	destacar	é	que	não	basta	se	sentar	no	banco	da	igreja	e	apreciar
passivamente	uma	pregação;	é	indispensável	não	economizar	esforços	para
alcançar	a	felicidade	eterna	também	nas	horas	em	que	se	está	fora	do	templo.
Não	se	trata	de	que	ouvir	uma	pregação	não	seja	em	si	uma	coisa	boa;
certamente	que	é.
A	religião	nos	“liga”	às	leis	benevolentes
A	palavra	“religião”	deriva	do	latim	religare:	ligar.	O	que	liga?	Quem	é	ligado?	E
por	quê?	Afastando	qualquer	explicação	ortodoxa,	é	lógico	que	“nós”	é	que
somos	ligados.	O	que	nos	liga?	Nenhuma	corrente	ou	algema,	é	claro.	Pode-se
dizer	que	a	religião	nos	liga	apenas	por	suas	regras,	leis	ou	preceitos.	E	por	quê?
Para	nos	fazer	escravos?	Para	nos	privar	de	nosso	direito	inato	à	liberdade	de
pensar	e	agir?	Isso	não	é	razoável.	Assim	como	a	religião	precisa	ter	um	motivo
suficiente,	também	seu	motivo	para	“ligar-nos”	precisa	ser	bom.	Qual	é	esse
motivo?	A	única	resposta	racional	que	podemos	dar	é	que	a	religião	nos	liga	por
meio	de	regras,	leis	e	preceitos	para	não	degenerarmos,	para	não	cairmos	no
sofrimento	–	seja	ele	físico,	mental	ou	espiritual.
O	sofrimento	físico	e	mental	já	o	conhecemos.	Mas	o	que	é	o	sofrimento
espiritual?	É	ignorar	o	Espírito.	O	sofrimento	espiritual	está	sempre	presente	em
toda	criatura	limitada,	embora	muitas	vezes	sem	ser	notado,	enquanto	a	dor
física	e	mental	vai	e	vem.	Que	outro	motivo	da	palavra	“ligar”,	senão	o	acima
mencionado,	podemos	atribuir	à	religião	que	não	seja	ilógico	ou	repulsivo?
Obviamente,	os	outros	motivos,	se	existem,	precisam	estar	subordinados	ao
acima	exposto.
Não	é	a	definição	de	religião	dada	no	início	consistente	com	o	motivo	acima
mencionado	da	palavra	“ligar”,	o	significado	fundamental	da	religião?	Dissemos
que	a	religião	consiste,	em	parte,	na	erradicação	definitiva	da	dor,	da	infelicidade
e	do	sofrimento.	Bem,	a	religião	não	pode	consistir	meramente	em	suprimir
alguma	coisa,	como	a	dor,	mas	precisa	consistir	também	na	aquisição	de	algo
mais.	Não	pode	ser	puramente	negativa,	mas	precisa	ser	também	positiva.	Como
poderemos	nos	livrar	permanentemente	da	dor	sem	aderir	a	seu	oposto,	a	Bem-
aventurança?	Embora	a	Bem-aventurança	não	seja	exatamente	o	oposto	da	dor,	é
de	qualquer	modo	um	estado	de	consciência	positivo,	no	qual	podemos	nos
refugiar	a	fim	de	evitar	a	dor.	É	claro	que	não	podemos	ficar	para	sempre
suspensos	na	atmosfera	de	um	sentimento	neutro,	que	não	seja	dor	ou	seu
oposto.	Repito	que	a	religião	consiste	não	apenas	em	evitar	o	sofrimento	e	a
infelicidade,	mas	também	em	alcançar	a	Bem-aventurança	ou	Deus	(mais
adiante	será	explicado	que	Bem-aventurança	e	Deus	são,	em	certo	sentido,
sinônimos).
Examinando,	então,	o	motivo	do	significado	fundamental	da	religião	(ligar)
chegamos	à	mesma	definição	de	religião	que	havíamos	alcançado	antes,	ao
analisar	a	motivação	das	ações	humanas.
Religião	é	questão	defundamentos
Religião	é	questão	de	fundamentos.	Se	nossa	motivação	fundamental	é	a	procura
da	Bem-aventurança	ou	felicidade,	se	não	há	um	só	ato,	um	só	momento	de
nossa	vida	que	não	esteja	definitivamente	determinado	por	esse	motivo	final,	não
deveríamos	considerar	que	esse	anseio	é	a	mais	profunda	e	arraigada	motivação
da	natureza	humana?	E	o	que	pode	ser	a	religião	se	ela	não	se	encontra
entrelaçada	de	alguma	maneira	com	o	anseio	mais	profundamente	arraigado	da
natureza	humana?	Se	há	de	ter	algum	valor	existencial,	a	religião	precisa	estar
alicerçada	em	algum	instinto	ou	anelo	vital.	Esse	é	um	postulado	a	priori	sobre	o
qual	se	baseia	o	conceito	de	religião	exposto	neste	livro.
Alguém	poderia	argumentar	que,	ao	lado	do	anseio	pela	felicidade,	existem
muitos	outros	instintos	humanos	(o	instinto	gregário,	o	instinto	de
autoconservação,	etc.).	Por	que	não	deveríamos	interpretar	a	religião	também	à
luz	desses	outros	instintos?	A	resposta	é	que	esses	instintos	ou	são	expressões
secundárias	do	instinto	de	buscar	a	felicidade	ou	já	estão	indissoluvelmente
ligados	a	ele	para	afetar	de	maneira	substancial	nossa	interpretação	da	religião.
Voltemos	mais	uma	vez	ao	argumento	anterior:	aquilo	que	é	universal	e	mais
necessário	ao	homem	é	religião	para	ele.	Se	não	for	assim,	o	que	então	pode	ser?
Naturalmente,	o	que	é	apenas	acidental	e	variável	não	pode	ser.	Se	procuramos
fazer	do	dinheiro	a	única	coisa	da	vida	que	requeira	nossa	atenção,	o	dinheiro
então	se	converte	em	nossa	religião	–	“nosso	deus	é	o	dólar”.	Seja	qual	for	a
motivação	predominante	de	nossa	existência,	essa	é	a	nossa	religião.
Deixemos	de	lado	aqui	as	interpretações	ortodoxas,	porquanto	são	os	princípios
em	que	se	baseiam	nossas	ações	–	e	não	nosso	credo	intelectual	dogmático	ou
nossa	observância	de	cerimônias	–	que	determinam	qual	é	a	nossa	religião,	sem	a
necessidade	de	a	anunciarmos	pessoalmente.	Não	precisamos	esperar	que	o
teólogo	ou	o	sacerdote	nos	revelem	o	nome	da	seita	ou	da	religião	a	que
pertencemos	–	nossos	princípios	e	ações	têm	milhões	de	línguas	para	proclamá-
la	a	nós	mesmos	e	aos	outros.
A	parte	importante	disso	é	que	por	trás	das	coisas	que	cultuamos	com
exclusividade	cega	está	sempre	um	motivo	fundamental.	Quer	dizer,	se	fazemos
do	dinheiro,	do	trabalho	ou	da	obtenção	das	coisas	da	vida,	necessárias	ou
supérfluas,	o	motivo	e	o	fim	último	de	nossa	existência,	ainda	assim,	por	trás	de
nossas	ações	permanece	um	motivo	mais	profundo:	procuramos	tais	coisas	para
banir	a	dor	e	obter	a	felicidade.	Esse	motivo	fundamental	é	a	verdadeira	religião
da	humanidade;	outros	motivos	secundários	formam	as	pseudorreligiões.	Por	não
ser	a	religião	concebida	de	maneira	universal,	ela	é	relegada	às	nuvens	ou
considerada	por	muitos	como	uma	diversão	elegante	para	senhoras,	idosos	e
fracos.
A	Religião	Universal	é	pragmaticamente	necessária
Vemos	assim	que	a	Religião	Universal	(ou	a	religião	concebida	dessa	maneira
universal)	é	uma	necessidade	prática	ou	pragmática.	Tal	necessidade	não	é
artificial	ou	forçada.	Embora	sentida	no	coração,	infelizmente	nem	sempre
estamos	plenamente	conscientes	dela.	Se	o	estivéssemos,	a	dor	há	muito	tempo
teria	desaparecido	do	mundo.	Pois,	de	modo	geral,	o	homem	vai	atrás	do	que
julga	ser	realmente	indispensável,	apesar	de	todos	os	obstáculos.	Se	alguém
pensa	que	ganhar	dinheiro	é	absolutamente	necessário	para	sustentar	a	família,
ele	não	hesita	em	enfrentar	todos	os	riscos	para	consegui-lo.	É	pena	que	não
consideremos	a	religião	igualmente	necessária.	Em	vez	disso,	nós	a
consideramos	um	ornamento,	uma	decoração,	e	não	um	elemento	constitutivo	da
vida	humana.
Grande	lástima	é	que,	embora	o	alvo	de	todo	homem	neste	mundo	seja
necessariamente	religioso	–	já	que	ele	está	sempre	trabalhando	para	remover	a
carência	e	alcançar	a	felicidade	–,	contudo,	devido	a	certos	erros	graves,	a
humanidade	foi	mal	orientada	e	levada	a	considerar	como	de	menor	importância
a	verdadeira	religião,	cuja	definição	acabamos	de	apresentar.	Qual	é	a	causa
disso?	Por	que	nos	apercebemos	da	aparente	falta	de	importância	que	a	religião
tem,	e	não	da	sua	verdadeira	necessidade?	A	resposta	está	no	comportamento
errôneo	da	sociedade	e	em	nosso	próprio	apego	aos	sentidos.
A	influência	das	pessoas	e	das	circunstâncias	que	nos	rodeiam,	ou	seja,	a
companhia	que	mantemos	é	o	que	determina,	para	nós,	a	necessidade	que
sentimos	de	diferentes	coisas.	Assim,	se	quisermos	“orientalizar”	um	ocidental,
coloquemo-lo	no	meio	de	asiáticos,	e	se	quisermos	“ocidentalizar”	um	oriental,
ponhamo-lo	entre	europeus…	e	vejamos	os	resultados.	É	óbvio,	inevitável.	O
homem	do	Ocidente	aprende	a	amar	os	costumes,	hábitos,	roupas	e	o	modo	de
viver,	pensar	e	ver	as	coisas	do	Oriente;	já	o	homem	do	Oriente	passa	a	gostar
das	coisas	do	Ocidente.	Parece	que	o	próprio	padrão	da	verdade	varia	para	eles.
Numa	coisa,	porém,	a	maioria	das	pessoas	há	de	concordar:	a	vida	terrena,	com
suas	preocupações	e	prazeres,	bens	e	males,	merece	ser	vivida.	Contudo,	são
poucas	ou	quase	inexistentes	as	pessoas	que	alguma	vez	nos	lembrarão	da
necessidade	da	Religião	Universal;	é	por	isso	que	não	estamos	absolutamente
conscientes	dela.
Que	o	homem	raramente	enxergue	além	de	seu	próprio	círculo	é	um	truísmo.
Tudo	aquilo	que	cai	dentro	do	seu	círculo	ele	justifica,	segue,	imita,	disputa	e
sente	que	é	padrão	de	pensamento	e	de	conduta.	Um	advogado,	por	exemplo,
elogiará	e	prestará	mais	atenção	ao	que	diz	respeito	à	lei.	Outras	coisas	terão,	via
de	regra,	menor	importância	para	ele.
A	necessidade	prática	ou	pragmática	da	Religião	Universal	costuma	ser
entendida	como	necessidade	meramente	teórica,	sendo	a	religião	considerada	um
objeto	que	concerne	ao	intelecto.	Se	conhecemos	o	ideal	religioso	apenas	por
meio	do	intelecto,	pensamos	que	já	alcançamos	esse	ideal	e	que	não	precisamos
vivê-lo	ou	realizá-lo.
É	grande	erro	de	nossa	parte	confundir	necessidade	prática	com	necessidade
teórica.	Muitos	talvez	hão	de	admitir,	com	uma	pequena	reflexão,	que	a	Religião
Universal	consiste,	com	certeza,	na	permanente	erradicação	da	dor	e	na
experiência	consciente	da	Bem-aventurança,	mas	poucos	compreenderão
realmente	a	importância	e	a	necessidade	prática	que	essa	religião	proporciona.
Paramahansa	Yogananda	com	alguns	delegados	do	Congresso	Internacional	de
Religiosos	Liberais,	em	outubro	de	1920,	Boston,	Massachusetts.	Sri	Yogananda
falou	à	distinta	audiência	a	respeito	de	“A	Ciência	da	Religião”.
PARTE	2
Dor,	prazer	e	Bem-aventurança:	suas	diferenças
A	causa	fundamental	da	dor	e	do	sofrimento
Agora	é	necessário	que	investiguemos	a	causa	fundamental	da	dor	e	do
sofrimento,	tanto	físico	quanto	mental,	já	que	evitá-los	constitui,	em	parte,	a
Religião	Universal.
Antes	de	tudo,	devemos	afirmar,	com	base	em	nossa	experiência	universal,	que
estamos	sempre	conscientes	de	nós	mesmos	como	o	poder	ativo	que	desempenha
todos	os	nossos	atos	mentais	e	corporais.	Com	efeito,	estamos	desempenhando
muitas	funções	diferentes:	perceber,	pensar,	recordar,	sentir,	agir,	etc.	Contudo,
sob	essas	funções	podemos	perceber	que	existe	um	“ego”	ou	“eu”	que	as
governa	e	que	se	julga	substancialmente	o	mesmo	ao	longo	de	toda	a	sua
existência	passada	e	presente.
Diz	a	Bíblia:	“Não	sabeis	que	sois	o	templo	de	Deus,	e	que	o	Espírito	de	Deus
habita	em	vós?”¹	Todos	nós,	como	indivíduos,	somos	muitos	Entes	espirituais,
reflexos	do	bem-aventurado	Espírito	universal:	Deus.	Assim	como	aparecem
muitas	imagens	do	único	sol	quando	este	se	reflete	em	diversas	vasilhas	cheias
d’água,	também	a	humanidade	está	dividida	em	muitas	almas,	que	ocupam	esses
veículos	corporais	e	mentais,	estando	portanto	externamente	separadas	do	único
Espírito	universal.	Na	realidade,	Deus	e	o	homem	são	um,	e	a	separação	é
apenas	aparente.
Então,	se	somos	bem-aventurados	Entes	espirituais	refletidos,	por	que	é	que
somos	totalmente	inconscientes	de	nosso	estado	de	bem-aventurança,	estando
sujeitos	à	dor	e	ao	sofrimento	físico	e	mental?	A	resposta	é	que	o	Eu²	espiritual
foi	trazido	ao	presente	estado	(não	importa	por	qual	processo)	quando	se
identificoucom	um	veículo	corporal	transitório	e	uma	mente	inquieta.	Assim
identificado,	o	Eu	espiritual	sente-se	triste	ou	feliz	quando	o	corpo	e	a	mente
experimentam,	respectivamente,	um	estado	doentio	e	desagradável	ou	um	estado
saudável	e	agradável.	Por	causa	dessa	identificação,	o	Eu	espiritual	está	sendo	o
tempo	todo	perturbado	pelos	estados	transitórios	do	corpo	e	da	mente.
Tomemos	como	exemplo	um	fenômeno	de	identificação	imaginária:	a	mãe	que
se	identifica	profundamente	com	seu	filho	único	sofre	e	sente	dor	intensa	ao
saber	da	morte	dele	–	seja	uma	morte	real,	seja	um	simples	boato	–,	embora	ela
possa	não	sentir	tal	aflição	se	vier	a	saber	da	morte	do	filho	de	uma	vizinha	com
o	qual	não	se	identifica.	Agora	podemos	ter	uma	ideia	da	consciência	quando	a
identificação	é	real	e	não	apenas	imaginária.	Portanto,	o	sentimento	de
identificação	com	o	corpo	transitório	e	com	a	mente	inquieta	é	a	fonte	ou	a	causa
fundamental	da	infelicidade	de	nosso	Eu	espiritual.
Compreendendo	que	a	identificação	do	Eu	espiritual	com	o	corpo	e	a	mente	é	a
causa	primordial	da	dor,	devemos	agora	analisar,	do	ponto	de	vista	psicológico,
as	causas	imediatas	ou	próximas	da	dor,	e	as	diferenças	entre	dor,	prazer	e	Bem-
aventurança.
As	causas	imediatas	da	dor
Em	virtude	dessa	identificação,	o	Eu	espiritual	parece	ter	certas	tendências
mentais	e	físicas.	O	desejo	de	satisfazer	essas	tendências	cria	uma	carência,	e
carência	produz	dor.	Pois	bem,	essas	tendências	ou	inclinações	são	naturais	ou
artificiais:	tendências	naturais	que	produzem	necessidades	naturais,	e	tendências
artificiais	que	produzem	necessidades	artificiais.
Com	o	tempo,	devido	ao	hábito,	uma	carência	artificial	torna-se	uma
necessidade	natural.	A	carência,	seja	de	que	espécie	for,	produz	dor.	Quanto	mais
carências	temos,	maiores	as	possibilidades	de	sofrer;	porque,	quanto	mais
carências	temos,	mais	difícil	é	satisfazê-las,	e	quanto	mais	elas	permanecem
insatisfeitas,	maior	é	a	dor.	Aumentemos	nossos	desejos	e	carências,	e	a	dor
também	aumentará.	Portanto,	se	um	desejo	não	encontra	uma	perspectiva	de
satisfação	imediata,	ou	se	encontra	um	obstáculo,	a	dor	surge	imediatamente.
E	o	que	é	o	desejo?	Nada	mais	que	uma	nova	condição	de	“excitação”	assumida
pela	mente	–	um	capricho	mental	criado	por	causa	das	companhias.	Assim,	o
desejo,	ou	o	aumento	das	condições	de	excitação	da	mente,	é	a	origem	da	dor	ou
da	infelicidade	e,	também,	do	equívoco	de	procurar	satisfazer	as	carências	–
primeiro,	criando-as	e	aumentando-as	e,	depois,	tentando	satisfazê-las	com
objetos,	em	vez	de	diminuí-las	desde	o	início.
Pode	parecer	que	a	dor	seja	algo	produzido	sem	a	presença	de	um	desejo	prévio,
como,	por	exemplo,	a	dor	de	um	ferimento.	Devemos,	porém,	observar	aqui	que
o	desejo	de	permanecer	saudável	–	o	qual	está,	consciente	ou
subconscientemente,	presente	em	nossa	mente	e	cristalizado	em	nosso
organismo	fisiológico	–	foi	contrariado,	no	caso	acima,	pela	presença	de	um
estado	patológico,	ou	seja,	a	presença	do	ferimento.	Desse	modo,	quando
determinada	condição	mental	de	excitação,	na	forma	de	um	desejo,	não	é
satisfeita	ou	removida,	o	resultado	é	a	dor.
Assim	como	o	desejo	leva	à	dor,	também	leva	ao	prazer,	sendo	a	única	diferença
a	de	que,	no	primeiro	caso,	a	carência	envolvida	no	desejo	não	é	satisfeita,	ao
passo	que,	no	segundo,	a	carência	envolvida	no	desejo	parece	ser	satisfeita	pela
presença	de	objetos	externos.	Mas	essa	experiência	de	prazer	–	resultante	da
satisfação	da	carência	por	meio	de	objetos	–	não	dura,	se	desvanece,	e	retemos
apenas	a	lembrança	dos	objetos	que	pareciam	ter	removido	essa	carência.	Eis	por
que,	no	futuro,	o	desejo	desses	objetos,	introduzido	pela	memória,	ressuscita	e
desperta	uma	sensação	de	carência,	a	qual,	se	não	satisfeita,	novamente	leva	à
dor.
O	prazer	é	uma	consciência	dúplice
O	prazer	é	uma	consciência	dúplice,	constituída	de	uma	“consciência	de
excitação”	por	possuir	a	coisa	desejada	e	uma	consciência	de	já	não	sentir	a	dor
provocada	por	sua	carência.	Quer	dizer:	há	no	desejo	tanto	um	elemento	de
sentimento	quanto	de	pensamento.	Essa	posterior	“consciência	de	contraste”,
vale	dizer,	a	consciência	inteira	(como	eu	sofria	quando	não	possuía	o	objeto
desejado	e	como	agora	não	sofro	porque	consegui	o	que	eu	queria)	é	o	que
essencialmente	constitui	o	encanto	do	prazer.	Por	isso,	vemos	que	a	consciência
da	necessidade	antecede	à	consciência	do	prazer	–	e	que	a	consciência	da
satisfação	de	tal	carência	nela	está	inserida.	Portanto,	a	consciência	do	prazer
está	relacionada	com	a	carência	e	sua	satisfação.	É	a	mente	que	cria	a	carência	e
a	satisfaz.
É	grande	equívoco	considerar	determinado	objeto	como	prazeroso	em	si	mesmo
e	guardar	na	mente	a	ideia	dele,	na	esperança	de	satisfazer	uma	carência	pela
presença	real	desse	objeto	no	futuro.	Se	os	objetos	fossem	em	si	mesmos
prazerosos,	a	mesma	roupa	ou	alimento	contentariam	sempre	a	todos,	o	que	não
ocorre.	O	que	se	chama	prazer	é	criação	da	mente:	é	uma	consciência	enganosa
de	excitação,	que	depende	da	satisfação	do	estado	anterior	de	desejo	e	da	atual
consciência	de	contraste.	Quanto	mais	se	pensa	que	um	objeto	estimula	a
consciência	do	prazer	e	quanto	mais	se	nutre	na	mente	o	desejo	de	possuí-lo,
maior	é	o	apetite	para	esse	objeto,	cuja	presença	considera-se	que	trará	uma
consciência	de	prazer	e	sua	ausência,	um	sentimento	de	carência.	Os	dois	estados
de	consciência	levam,	por	fim,	à	dor.
Logo,	se	queremos	realmente	diminuir	a	dor,	temos	que,	tanto	quanto	possível,
libertar	a	mente,	de	forma	gradual,	de	todo	desejo	e	ideia	de	carência.	Se
eliminamos	o	desejo	de	determinado	objeto	–	ao	qual	se	atribui	a	remoção	da
carência	–,	nem	mesmo	a	presença	desse	objeto	diante	de	nós	pode	despertar	a
consciência	enganosa	e	excitante	do	prazer.
Todavia,	em	vez	de	diminuirmos	ou	restringirmos	a	noção	de	carência,	nós
habitualmente	a	aumentamos	e,	satisfazendo	uma	carência,	criamos	várias
outras,	o	que	resulta	no	desejo	de	satisfazer	todas	elas.	Por	exemplo,	para	evitar
a	falta	de	dinheiro,	abrimos	um	negócio.	A	fim	de	levar	adiante	o	negócio,	temos
de	dar	atenção	a	milhares	de	carências	e	necessidades	que	a	manutenção	desse
negócio	requer.	Cada	carência	e	necessidade,	por	sua	vez,	envolve	outras
carências	e	mais	atenção,	e	assim	por	diante.
Vemos,	assim,	que	a	dor	original	envolvida	na	carência	de	dinheiro	é	mil	vezes
multiplicada	pela	criação	de	outras	carências	e	interesses.	Naturalmente,	não
significa	que	dirigir	um	negócio	ou	ganhar	dinheiro	seja	ruim	ou	desnecessário.
O	que	é	ruim	é	o	desejo	de	gerar	carências	cada	vez	maiores.
Confundir	os	meios	com	o	fim
Se,	na	tentativa	de	ganhar	dinheiro	para	alguma	finalidade,	fazemos	do	dinheiro
a	nossa	meta,	começa	nossa	loucura.	Pois	o	meio	torna-se	fim,	e	o	verdadeiro
objetivo	perde-se	de	vista.	E	assim	recomeça	a	nossa	infelicidade.	Neste	mundo
todos	têm	seus	deveres	a	cumprir.	Vamos,	por	questão	de	conveniência,
reexaminar	o	exemplo	anterior.
O	dono	de	casa	tem	de	ganhar	dinheiro	para	sustentar	a	família.	Ele	inicia	certo
negócio	e	começa	a	ocupar-se	dos	detalhes	que	o	tornarão	bem-sucedido.	Ora,	o
que	acontece	depois	de	algum	tempo?	O	negócio	progride	bem	e	o	dinheiro
talvez	se	acumule	ao	ponto	em	que	há	muito	mais	que	o	necessário	para	a
satisfação	das	carências	dele	e	de	sua	família.
Agora,	uma	das	duas	coisas	acontece.	Ou	o	dinheiro	vem	a	ser	ganho	por	causa
dele	próprio	e	um	prazer	peculiar	chega	a	ser	sentido	por	acumulá-lo,	ou	pode
acontecer	que	o	prazer	de	dirigir	esse	negócio	por	sua	própria	causa	persiste	ou
aumenta	ainda	mais.	Vemos	que,	em	ambos	os	casos,	o	meio	de	satisfazer
carências	originais	–	que	eram	o	fim	–	tornou-se	um	fim	em	si	mesmo:	o
dinheiro	ou	o	negócio	tornaram-se	o	objetivo.
Ou	ainda	pode	acontecer	que	carências	novas	e	supérfluas	sejam	criadas	e	se
faça	o	esforço	para	satisfazê-las	com	“objetos”.	Em	qualquer	caso,	nossa	atenção
desvia-se	da	Bem-aventurança	(a	qual	nós,	por	natureza,	confundimos	com	o
prazer,	e	este	torna-se	o	nosso	objetivo).	Então,	o	propósito	pelo	qual	nós,
aparentemente,	abrimos	um	negóciotorna-se	secundário	em	relação	à	criação	ou
ao	aumento	das	condições	ou	dos	meios.	E,	na	raiz	da	criação	ou	do	aumento	das
condições	ou	dos	meios,	existe	o	desejo	deles	e	esse	desejo	é	uma	excitação	ou
sentimento	e,	também,	uma	imagem	mental	do	passado,	quando	essas	condições
deram	origem	ao	prazer.
Naturalmente,	o	desejo	procura	satisfação	mediante	a	presença	destas	condições:
quando	é	satisfeito,	surge	o	prazer;	quando	não,	surge	a	dor.	E,	visto	que	o	prazer
nasce	do	desejo	e	está	relacionado	com	as	coisas	transitórias,	ele	leva	à	excitação
e	à	dor	quando	ocorre	o	desaparecimento	delas.	É	assim	que	começa	nossa
infelicidade.
Resumindo:	do	propósito	original	do	negócio,	que	era	a	remoção	das	carências
físicas,	desviamo-nos	para	os	meios	–	seja	para	o	negócio	em	si,	seja	para	o
acúmulo	da	riqueza	que	dele	provém	–	ou,	às	vezes,	para	a	criação	de	novas
carências;	e,	visto	que	nelas	encontramos	prazer,	somos	arrastados	para	a	dor,	a
qual,	como	já	frisamos,	é	sempre	uma	consequência	indireta	do	prazer.
O	que	sucede	com	a	aquisição	de	dinheiro	também	se	aplica	a	qualquer	ação
neste	mundo.	Sempre	que	esquecemos	nosso	verdadeiro	objetivo	–	a	obtenção	da
Bem-aventurança,	ou	o	estado,	a	condição	ou	o	modo	de	vida	que	finalmente
conduzem	a	ela	–	e	dirigimos	toda	a	nossa	atenção	para	os	objetos	que
erradamente	consideramos	como	meios	ou	condições	da	Bem-aventurança	e	os
transformamos	em	fins	–	nossas	carências,	desejos	e	excitações	continuam
aumentando,	e	empreendemos	então	a	viagem	que	leva	à	infelicidade	ou	à	dor.
Jamais	devemos	esquecer	nossa	meta.	Devemos	construir	uma	cerca	em	torno	de
nossas	carências.	Não	devemos	continuar	a	aumentá-las	cada	vez	mais,	pois	isso
finalmente	trará	infelicidade.	Não	digo,	entretanto,	que	não	devamos	satisfazer
necessidades	básicas,	que	surgem	de	nossa	relação	com	o	mundo	inteiro,	ou
tornarmo-nos	sonhadores	e	idealistas	ociosos,	ignorando	nosso	próprio	papel
essencial	na	promoção	do	progresso	humano.
Em	suma:	a	dor	resulta	do	desejo	e	também,	indiretamente,	do	prazer,	o	qual	se
apresenta	como	um	fogo-fátuo,	atraindo	as	pessoas	para	o	pântano	das	carências,
que	as	tornam	cada	vez	mais	infelizes.
Vemos,	assim,	que	o	desejo	é	a	raiz	de	toda	infelicidade	e	surge	do	sentido	de
identificação	do	Eu	com	o	corpo	e	a	mente.	Portanto,	o	que	devemos	fazer	é
eliminar	o	apego,	banindo	o	sentido	de	identificação.	Simplesmente	romper	o
laço	do	apego	e	da	identificação.	Devemos	representar	nossos	papéis	no	palco	do
mundo	conforme	assinalado	pelo	Grande	Diretor,	com	toda	a	nossa	mente,
intelecto	e	corpo,	porém	mantendo-nos	interiormente	tão	invulneráveis	ou
imperturbados	pela	consciência	do	prazer	e	da	dor	como	fazem	os	atores	no
palco.
A	consciência	de	Bem-aventurança	surge	do
rompimento	da	identificação	com	o	corpo
Quando	rompemos	a	identificação	e	vemos	a	vida	de	maneira	desapaixonada,
surge	em	nós	a	consciência	da	Bem-aventurança.	Enquanto	formos	humanos,
não	podemos	deixar	de	ter	desejos.	Sendo	humanos,	como	podemos	então
perceber	nossa	divindade?	Primeiro,	tenhamos	desejos	racionais,	e	depois
estimulemos	nosso	desejo	de	coisas	mais	nobres,	esforçando-nos	o	tempo	todo
por	alcançar	a	consciência	da	Bem-aventurança.	Sentiremos	que	a	corda	de
nosso	apego	individual	aos	diversos	desejos	está	se	afrouxando	de	maneira
automática.
Em	outras	palavras,	no	centro	tranquilo	da	Bem-aventurança	aprenderemos
afinal	a	renegar	nossos	próprios	desejos	insignificantes	e	sentir	apenas	os	que
parecem	ser	estimulados	em	nosso	íntimo	por	uma	lei	maior.	Por	isso,	disse
Jesus	Cristo:	“Não	se	faça	a	minha	vontade,	mas	a	Tua”.³
Quando	afirmo	que	a	obtenção	da	Bem-aventurança	é	o	objetivo	universal	da
religião,	não	pretendo	dizer	por	Bem-aventurança	aquilo	que	se	costuma	chamar
de	prazer,	ou	a	satisfação	intelectual	que	surge	da	realização	de	um	desejo	e
carência	e	que	está	misturado	com	uma	excitação,	como	quando	dizemos	que
estamos	“prazerosamente	animados”.	Na	Bem-aventurança	não	há	excitação,
nem	é	ela	uma	consciência	de	contraste:	“Minha	dor	ou	carência	foi	removida
pela	presença	de	tais	e	tais	objetos”.	É	uma	consciência	de	perfeita	serenidade	–
a	consciência	de	nossa	natureza	tranquila,	não	poluída	pela	intromissão	da
consciência	de	que	a	dor	não	existe	mais.
Uma	ilustração	esclarecerá	esse	ponto.	Suponhamos	que	fui	ferido	e	sinto	dor;
depois	de	curado,	sinto	prazer.	Essa	consciência	de	prazer	consiste	de	uma
excitação	ou	sentimento	e	de	uma	constante	consciência	mental	de	que	não	estou
mais	sentindo	a	dor	do	ferimento.
Ora,	o	homem	que	alcançou	a	Bem-aventurança,	mesmo	que	sofra	um	ferimento
físico,	sentirá,	quando	curado,	que	seu	estado	de	serenidade	não	foi	perturbado
quando	a	ferida	existia,	nem	foi	recuperado	após	a	cura.	Esse	homem	sente	que
está	passando	por	um	universo	de	prazer	e	dor	com	o	qual	não	tem	qualquer
conexão	e	o	qual	não	pode	perturbar	ou	aumentar	o	estado	tranquilo	e	bem-
aventurado	que	flui	dentro	dele	sem	cessar.	Esse	estado	de	Bem-aventurança
encontra-se	livre	das	inclinações	e	das	excitações	envolvidas	no	prazer	e	na	dor.
Existe,	na	consciência	de	Bem-aventurança,	um	aspecto	positivo	e	outro
negativo.	O	aspecto	negativo	é	a	ausência	da	consciência	de	prazer	e	dor;	o
positivo	é	o	estado	transcendental	de	tranquilidade	superior,	no	qual	está	incluída
uma	consciência	de	grande	expansão	e	de	“todos	em	Um	e	Um	em	todos”.	Esse
estado	tem	gradações.	Quem	busca	a	verdade	com	seriedade	provará	dele	um
pouco;	um	vidente	ou	profeta	está	impregnado	desse	estado.
Já	que	o	prazer	e	a	dor	têm	origem	no	desejo	e	na	carência,	deve	ser	nossa
obrigação	–	se	quisermos	alcançar	a	Bem-aventurança	–	eliminar	todos	os
desejos,	exceto	o	desejo	de	Bem-aventurança,	nossa	verdadeira	natureza.	Se
todos	os	nossos	progressos	–	científico,	social	e	político	–	são	orientados	por
esse	único	objetivo	comum	e	universal	(a	remoção	da	dor),	por	que	deveríamos
adotar	um	elemento	estranho	(o	prazer)	e	esquecermos	de	estar
permanentemente	atentos	ao	que	é	tranquilidade	e	Bem-aventurança?
Inevitavelmente,	quem	desfruta	o	prazer	da	saúde	experimentará,	vez	por	outra,
a	dor	produzida	pela	doença,	porque	o	prazer	depende	de	uma	condição	mental,
a	saber,	a	ideia	de	saúde.	Ter	boa	saúde	não	é	ruim,	nem	está	errado	buscá-la.
Todavia,	a	única	objeção	é	estar	apegado	a	ela	ou	a	se	deixar	afetar	interiormente
por	ela.	Pois	desse	modo	a	pessoa	está	cultivando	o	desejo,	que	a	levará	à
infelicidade.	Precisamos	buscar	a	saúde	não	pelo	prazer	que	ela	encerra,	mas
porque	ela	torna	possível	o	cumprimento	de	nossos	deveres	e	a	consecução	de
nosso	objetivo.	A	saúde	se	verá,	ocasionalmente,	obstruída	pela	condição	oposta:
a	doença.	Mas	a	Bem-aventurança	não	depende	de	nenhuma	condição
determinada,	externa	ou	interna.	É	o	estado	inato	do	Espírito.	Portanto,	ela	não
receia	ser	contrariada	por	qualquer	outra	condição.	Fluirá	continuamente,	para
sempre,	na	derrota	ou	na	vitória,	na	saúde	ou	na	doença,	na	riqueza	ou	na
pobreza.
Unity	House,	palco	do	Congresso	Internacional	de	Religiosos	Liberais.
1	I	Coríntios	3:16.
2	Literalmente,	“Self”.	Com	letra	maiúscula,	designa	o	atman,	a	alma,	diferente
do	eu	comum,	que	constitui	a	personalidade	ou	ego.	O	Eu	é	o	Espírito
individualizado,	cuja	natureza	é	alegria	sempre-existente,	sempre-consciente,
sempre-nova.	Pela	meditação	obtém-se	a	experiência	desses	atributos	divinos	da
natureza	da	alma.	[Dependendo	do	contexto,	Self	foi	traduzido	pelos	termos	Eu,
Auto-	ou	Si-Mesmo.]	(Nota	da	Editora)
3	Lucas	22:42.
PARTE	3
Deus	como	Bem-aventurança
O	motivo	comum	de	todas	as	ações
A	discussão	psicológica	anterior	a	respeito	da	dor,	do	prazer	e	da	Bem-
aventurança,	com	a	ajuda	dos	dois	exemplos	seguintes,	esclarecerá	minha
concepção	da	suprema	necessidade	comum	e	da	Divindade,	à	qual	aludi	apenas
de	modo	incidental,	no	começo.
Ressaltei	no	início	que,	se	observássemos	detidamente	as	ações	humanas,
comprovaríamos	que	a	motivação	fundamental	e	universal	pela	qual	o	homem
age	é	a	de	evitar	a	dor	e	a	consequente	obtenção	da	Bem-aventurança	ou	Deus.	A
primeira	parte	dessa	motivação–	evitar	a	dor	–	é	algo	que	não	podemos	negar,	se
observarmos	os	motivos	de	todas	as	ações,	boas	ou	más,	praticadas	no	mundo.
Tomemos,	por	exemplo,	o	caso	da	pessoa	que	deseja	cometer	suicídio	e	do
homem	verdadeiramente	religioso	que	considera	desapaixonadamente	as	coisas
deste	mundo.	Não	pode	haver	dúvida	de	que	ambos	estão	procurando	livrar-se	da
dor	que	os	perturba;	ambos	pretendem	acabar	com	a	dor	definitivamente.	Se	são
bem-sucedidos	ou	não,	é	outra	questão,	mas	no	que	se	refere	aos	motivos	que	os
guiam,	existe	unidade	entre	ambos.
Será,	porém,	que	todas	as	ações	deste	mundo	são	diretamente	motivadas	pelo
desejo	de	alcançar	a	permanente	Bem-aventurança	ou	Deus	–	que	é	a	segunda
parte	da	motivação	comum	de	todas	as	ações?	Por	acaso	um	criminoso	tem
como	motivação	imediata	alcançar	a	Bem-aventurança?	Parece	difícil	que	seja
assim.	A	razão	disso	foi	assinalada	na	discussão	a	respeito	do	prazer	e	da	Bem-
aventurança.	Constatamos	que	o	Eu	espiritual,	por	causa	de	sua	identificação
com	o	corpo,	contraiu	o	hábito	de	cultivar	desejos	e	a	consequente	criação	de
carências.	Tais	desejos	e	carências,	se	não	forem	satisfeitos	por	meio	de	objetos,
levam	à	dor	–	ou	ao	prazer,	se	forem	satisfeitos.
Mas	é	aqui	que	o	homem	comete	um	erro	fatal.	Quando	uma	carência	é	atendida,
a	pessoa	sente	uma	agitação	prazerosa	e,	por	um	triste	equívoco,	fixa	sua	atenção
exclusivamente	nos	objetos	que	criam	essa	excitação,	supondo	que	são	eles	a
causa	principal	desse	prazer.	Esquece-se	por	completo	de	que	tinha	antes,	em	sua
mente,	uma	agitação	–	na	forma	de	desejo	ou	carência	–	e	que	mais	tarde	teve
outra	agitação	–	na	forma	de	prazer,	aparentemente	provocado	pela	obtenção	dos
objetos	–	que	suplantou	a	primeira.	Assim,	com	efeito,	uma	excitação	surgiu	em
sua	mente	e	foi	suplantada	por	outra	excitação	na	mesma	mente.
Objetos	externos	são	apenas	ocasiões	de	prazer	–	não	são	causas.	Uma	pessoa
pobre	com	desejo	de	guloseimas	pode	contentar-se	com	um	doce	qualquer,	e
essa	satisfação	despertará	nela	um	certo	prazer.	Uma	pessoa	rica,	porém,	talvez
não	possa	satisfazer	um	desejo	semelhante	senão	com	o	mais	fino	dos	manjares;
mas	tal	satisfação	dará	origem	a	um	prazer	de	igual	intensidade.	Então:	o	prazer
depende	dos	objetos	externos	ou	do	estado	mental?	Certamente,	deste	último.
Mas	o	prazer	é,	como	já	dissemos,	uma	excitação.	Portanto,	jamais	se	justifica
procurar	eliminar	a	excitação	do	desejo	com	outra	excitação,	a	saber,	a	que	é
sentida	no	prazer.	É	porque	agimos	assim	que	nossas	excitações	nunca	terminam
e,	consequentemente,	nossa	dor	e	infelicidade	jamais	cessam.
Apenas	a	consciência	de	Bem-aventurança	pode
efetivamente	apaziguar	a	excitação
O	que	devemos	fazer	é	apaziguar	a	excitação	que	se	encontra	no	desejo,	em	vez
de	estimulá-la	ou	perpetuá-la	por	meio	da	agitação	do	prazer.	E	somente	a
consciência	de	Bem-aventurança	–	que	não	significa	insensibilidade,	porém	um
estado	superior	de	indiferença	tanto	ao	prazer	quanto	à	dor	–	é	capaz	de
tranquilizar,	de	maneira	efetiva,	a	excitação	do	desejo.	Todo	ser	humano	procura
alcançar	a	Bem-aventurança	satisfazendo	seus	desejos,	mas	comete	o	erro	de
deter-se	no	prazer;	por	isso	seus	desejos	nunca	terminam,	e	ele	é	arrastado	para	o
redemoinho	da	dor.
O	prazer	é	um	perigoso	fogo-fátuo	e,	no	entanto,	é	essa	associação	prazerosa	que
se	torna	nossa	motivação	para	futuras	ações.	E	isso	já	se	provou	ser	tão	enganoso
quanto	a	miragem	no	deserto.	Uma	vez	que	o	prazer,	como	já	dissemos,	consiste
numa	consciência	de	excitação	juntamente	com	a	consciência	de	contraste	de
que	a	dor	não	mais	existe,	quando	o	buscamos	no	lugar	da	Bem-aventurança,
preparamo-nos	para	nos	atirar	de	cabeça	no	ciclo	de	existência	ignorante
caracterizado	por	uma	sucessão	de	prazeres	e	dores.
Vemos	assim	que,	embora	o	verdadeiro	objetivo	da	humanidade	seja	evitar	a	dor
e	alcançar	a	Bem-aventurança,	o	homem,	por	causa	de	um	erro	fatal,	ao	tentar
evitar	a	dor,	persegue	algo	enganoso	denominado	prazer,	o	qual	se	confunde	com
Bem-aventurança.
O	fato	de	que	o	ser	humano	jamais	se	satisfaz	com	um	único	objeto	de	prazer
comprova,	indiretamente,	que	a	obtenção	da	Bem-aventurança,	e	não	o	prazer,	é
sua	necessidade	suprema	e	universal.	Ele	sempre	corre	de	um	prazer	a	outro:	do
dinheiro	ao	vestuário,	deste	às	propriedades,	daí	ao	prazer	conjugal…	é	uma
inquietude	permanente.	E,	assim,	embora	deseje	evitar	a	dor	adotando	todos	os
meios	que	julga	serem	adequados,	o	homem	continua	sempre	sujeito	a	ela.
Contudo,	um	anseio	desconhecido	e	insatisfeito	parece	subsistir	em	seu	coração.
Mas	o	homem	religioso	(o	segundo	exemplo	que	propus)	sempre	se	esforça	em
adotar	os	meios	religiosos	adequados	para	entrar	em	contato	com	a	Bem-
aventurança	ou	Deus.
Naturalmente,	quando	afirmo	que	Deus	é	Bem-aventurança,	também	quero	dizer
que	Ele	é	sempre-existente	e	é	também	consciente	de	Sua	existência	bem-
aventurada.	E	quando	desejamos	a	Bem-aventurança	Eterna	ou	Deus,	está
implícito	que	com	Bem-aventurança	também	queremos	existência	eterna,
imortal,	imutável	e	sempre-consciente.	Já	demonstramos	–	tanto	a	priori	quanto
por	meio	da	análise	das	motivações	e	dos	atos	humanos	–	que	todos	nós,	desde	o
mais	importante	até	o	mais	humilde,	desejamos	viver	na	Bem-aventurança.
Repetindo	o	mesmo	argumento	de	uma	forma	um	pouco	diferente:	suponhamos
que	algum	ente	superior	descesse	à	Terra	e	nos	dissesse:	“Ó	criaturas	do	mundo!
Eu	lhes	darei	eternos	sofrimentos	e	infelicidade,	juntamente	com	existência
eterna;	aceitarão	isso?”	Alguém	gostaria	dessa	perspectiva?	Ninguém.	Todos
querem	eterna	Bem-aventurança	(Ananda)	junto	com	existência	(Sat)	eterna.
Para	falar	a	verdade,	considerações	sobre	as	motivações	do	mundo	também
demonstram	que	não	há	ninguém	que	não	gostaria	de	ter	Bem-aventurança.
De	modo	parecido,	ninguém	gosta	da	expectativa	de	aniquilamento;	se	for
sugerida,	estremeceremos	ante	a	ideia.	Todos	desejam	existir	permanentemente
(Sat).	Mas	se	nos	oferecessem	existência	eterna	sem	a	consciência	dessa
existência,	nós	a	rejeitaríamos.	Pois	quem	aceitaria	uma	existência	inconsciente?
Ninguém.	Todos	queremos	uma	existência	consciente.
Em	suma:	queremos	existência	eterna,	bem-aventurada	e	consciente:	Sat-Chit-
Ananda	(Existência	–	Consciência	–	Bem-aventurança).	Esse	é	o	nome	hindu
para	Deus.	Mas	apenas	por	questão	pragmática,	destacamos	o	Seu	aspecto	de
Bem-aventurança	e	a	nossa	motivação	para	alcançá-la,	omitindo	os	dois	outros
aspectos:	Sat	e	Chit,	ou	seja,	existência	consciente	(também	não	vamos	tratar
aqui	de	outros	aspectos	Dele).
Que	é	Deus?
Agora:	que	é	Deus?	Se	Deus	não	for	Bem-aventurança	e	se	Seu	contato	não
produzir	em	nós	Bem-aventurança,	ou	se	nos	trouxer	apenas	dor,	ou	se	Seu
contato	não	afastar	de	nós	a	dor,	haveremos	de	desejá-Lo?	Não.	Se	Deus	é	inútil
para	nós,	não	O	queremos.	Para	que	serve	um	Deus	que	permanece	sempre
desconhecido,	cuja	presença	não	se	manifesta	interiormente	em	nós,	pelo	menos
em	algumas	circunstâncias	de	nossa	vida?
Qualquer	concepção	que	formemos	de	Deus	pelo	exercício	da	razão	(por
exemplo:	“Ele	é	transcendente”	ou	“Ele	é	imanente”)	sempre	permanecerá	vaga,
confusa,	a	menos	que	Deus	seja	realmente	sentido	como	tal.	Para	falar	a	verdade,
mantemos	Deus,	cautelosamente,	distante	de	nós,	concebendo-O	às	vezes	apenas
como	um	ser	pessoal,	e	depois,	também	teoricamente,	pensando	que	Ele	está	em
nosso	interior.
Por	essa	imprecisão	de	nossa	ideia	e	experiência	de	Deus,	não	somos	capazes	de
compreender	a	verdadeira	necessidade	que	temos	Dele	e	o	valor	pragmático	da
religião.	Essa	teoria	ou	ideia	monótona	deixa	de	ser	convincente	para	nós.	Não
muda	nossa	vida,	não	influencia	nossa	conduta	de	modo	apreciável,	nem	nos
induz	a	tentar	conhecer	Deus.
A	prova	da	existência	de	Deus	está	dentro	de	nós
Que	diz	a	Religião	Universal	a	respeito	de	Deus?	Diz	que	a	prova	da	existência
de	Deus	está	dentro	de	nós.	É	uma	experiência	íntima.	Com	certeza	você	pode	se
lembrar	de	pelo	menos	uma	ocasião	na	vida	em	que,	durante	a	oração	ou	um
culto,	sentiu	que	as	limitações	do	corpo	quase	se	desvaneciam,	que	a	experiência
de

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