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Tornar-se
terapeuta
 
Gabriela F. Almeida 
Larissa Abrão
exercícios de presença e escuta
 
 
 
 
 
Para colegas terapeutas, 
uma pergunta que não pode descansar: 
“Como melhorar presença e escuta?” 
 
 
4 
 
GABRIELA FRANCO DE ALMEIDA 
 LARISSA GUIMARÃES MARTINS ABRÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
TORNAR-SE TERAPEUTA: 
EXERCÍCIOS DE PRESENÇA E ESCUTA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 E-BOOK COM DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. 
 DISPONÍVEL EM: WWW.NOSSOGABINETE.COM 
ILUSTRAÇÕES: MARIANE GONDIM 
PRIMEIRA EDIÇÃO: JUNHO DE 2020 
SEGUNDA EDIÇÃO: AGOSTO DE 2023 
 
 
 
 
UBERLÂNDIA, MG 
 
 
 
 
 
5 
 
SUMÁRIO 
 
APRESENTAÇÃO................................................................................................... pg.06 
COMECE POR AQUI ............................................................................................. pg.07 
INSTRUÇÕES DE 
LEITURA................................................................................................................... pg.09 
EXERCÍCIO DE PRESENÇA 01 - COMO O MEU CORPO ACOLHE A 
CONVERSA?............................................................................................................. pg.10 
EXERCÍCIO DE PRESENÇA 02 - É PRECISO LER ADÉLIA PRADO 
..................................................................................................................................... pg.12 
EXERCÍCIO DE PRESENÇA 03 - AS PALAVRAS E A MELODIA SÃO UM 
CONVITE ............................................................................................................... pg.13 
EXERCÍCIO DE PRESENÇA 04 - ATENÇÃO ÀS EXPECTATIVAS E ÀS 
POSIÇÕES ............................................................................................................. pg.15 
EXERCÍCIO DE PRESENÇA 05 - TODA PLANTA TEM COLO 
.................................................................................................................................... pg.17 
EXERCÍCIO DE PRESENÇA 06 - NÃO MATE CONVERSAS, FAÇA BOAS 
PERGUNTAS............................................................................................................ pg.19 
EXERCÍCIO DE PRESENÇA 07 - FIQUE COM A GENTE NESTE TEXTO 
SOBRE O BUBER..................................................................................................... pg.21 
EXERCÍCIO DE PRESENÇA 08 - JOGUEMOS NO TIME DO JORDAN 
..................................................................................................................................... pg.23 
EXERCÍCIO DE PRESENÇA 09 - FAZER-SE PRESENTE NA AUSÊNCIA 
..................................................................................................................................... pg.24 
EXERCÍCIO DE PRESENÇA 10 – REPETIR O TRECHO COMPLICADO 
..................................................................................................................................... pg.25 
EXERCÍCIO DE PRESENÇA 11 – QUAL O SOM DAS COISAS? 
..................................................................................................................................... pg.26 
EXERCÍCIO DE PRESENÇA 12 - SEMPRE QUE PUDER OU ACHAR 
NECESSÁRIO, REVISITE TABACARIA 
..................................................................................................................................... pg.28 
EPÍLOGO.................................................................................................................. pg.29 
NOTA SOBRE AS 
AUTORAS................................................................................................................. pg. 31 
 
 
 
 
 
6 
 
APRESENTAÇÃO 
 
O Nosso Gabinete nasceu no final de 2019 e não tínhamos a mínima noção do que 
estava por vir. Em 2020, quando a pandemia provocou em nós muitos ajustamentos, Gabi 
fortaleceu a ideia de seguir na prosa digital com terapeutas e estudantes de psicologia 
interessados em saber mais sobre o trabalho na clínica. Naquele momento, em que já 
tínhamos experiência como professoras do ensino superior, percebíamos que a maioria 
dos currículos acadêmicos deixava lacunas e rastros de insegurança no exercício da 
prática psicoterapêutica. Ela e eu pensamos nos próprios percursos e em como nos fez 
falta uma orientação mais diretiva e ao mesmo tempo não veementemente técnica pra que 
pudéssemos fazer nossos passos clínicos menos titubeantes. Quase vinte anos separam a 
minha graduação da graduação da Gabi e ainda assim essa orientação se mantinha como 
uma ausência significativa nas academias. 
Pensando nessa necessidade, Gabi deu início aos primeiros esboços do que seria 
um texto para a interlocução com psicólogos em formação e terapeutas, que juntasse 
linguagem poética, experiência clínica e a velha e boa arte de bem perguntar voltada para 
a prática terapêutica. Quando ela me convidou, de fato, para colaborar com o texto, o tom 
era todo dialógico e interativo e, claro, eu adorei que o projeto estivesse ficando com essa 
cara! 
Mantivemos o tópico introdutório, datado, para que não nos esqueçamos de que 
sobrevivemos a um vírus que sacudiu nossas crenças e de que podemos celebrar uma das 
profissões da interseção entre humanidades e saúde que mais crescem no país. A clínica 
é um ofício de artesania que desafia perenemente nosso desejo de aprender. Queremos 
que você se sinta instigada a estar diante do outro com curiosidade fresca e disposição 
para as interrogações. 
 
 
Larissa Guimarães Martins Abrão 
Psicóloga Clínica, Professora e Doutora em Psicologia 
Agosto de 2023 
 
 
 
 
 
7 
 
COMECE POR AQUI 
 
Mamãe achava estudo 
a coisa mais fina do mundo. 
 Não é. A coisa mais fina 
do mundo é o sentimento. 
(Trecho de Ensinamento - Adélia Prado) 
 
Há muito para se pensar sobre a nossa construção enquanto terapeutas. 
Trabalhar na clínica é viver constantemente encarando o real do humano, como se 
não bastasse a nossa íntima fragilidade cotidiana. A clínica escancara a imperfeição, o 
sofrimento, a injustiça, mas, obviamente e para alívio de todos, nos abraça também com 
as porções mais generosas da humanidade: o amor, a realização e a felicidade. 
Enquanto mergulhamos numa história, nosso corpo está ali exposto, atento, 
escolhendo com cuidado as palavras. 
O quanto de conteúdo precisamos saber para fazermos a melhor apreensão e 
devolutiva de tudo o que ouvimos de nossos clientes?... 
No exercício de repensar a prática clínica e enquanto supervisora de estágio, surge 
uma inquietação com cara de constatação. Parece haver algo anterior ao conteúdo 
aprendido e, estranhamente, chego a uma conclusão: a clínica não é um lugar de saber 
formal. Pelo menos não como a gente rapidamente se apressa a achar que é. Explico... 
No ensino da Psicologia, temos a tarefa presunçosa, ousada e necessária de 
ensinarmos sobre a clínica. Nesse movimento, me chama atenção, por exemplo, uma 
aluna que chega com um caderno de pensamentos, que se senta em posição de escuta e 
segura firmemente a caneta contra o queixo, atenta, me acompanhando com alguma 
pergunta curiosa. Essa menina provavelmente já leu poesia, gosta de cinema, respeita a 
arte e carrega consigo, além do caderno, algumas inconformidades. Se saio dessa esfera 
e reparo em meus colegas terapeutas, algo semelhante acontece: aqueles que mais admiro 
são notáveis em sua sensibilidade; são atentos, perspicazes. Obviamente, se eu anuncio 
que os admiro, isso conta de mim, mas não tenho aqui a pretensão de neutralidade e 
partilho com você essa “minha” (não inédita, nem brilhante) constatação: para sermos 
bons terapeutas, precisamos de sensibilidade. 
Chegamos então diante dessa palavra importante: sensibilidade. No corre-corre da 
vida e das conversas, nos automatismos, no desejo de conhecer técnicas e dominar algum 
saber, por vezes, a gente se perde, se acostuma, se anestesia. Mas parece que não dá pra 
 
8 
 
ser um bomterapeuta sem nos sujarmos, sem brincarmos com as experiências, sem 
habitar o cosmos e usufruir da vida. Ou, como diria o Manoel de Barros, é preciso 
desaprender e apalpar as intimidades do mundo. 
Este livro, então, surge dessa constatação: é preciso romper com o saber 
conteudista e repetitivo e exercitar a sensibilidade da presença. Sensibilidade também é 
exercício e a proposta aqui é nos posicionarmos mais atentos e curiosos no mundo e em 
conversas através de exercícios que oportunizem nosso repensar de práticas e favoreçam 
nossa aproximação com o estudo formal e a aplicação da Psicologia. A pergunta que 
tomamos como norte para toda a elaboração dos exercícios é: “Como melhorar presença 
e escuta?”. 
Agradeço formalmente à minha amiga e colega de profissão, Ana Flávia Manfrim, 
por ter me apresentado em uma bonita expressão algo que defendo tanto: o exercício de 
presença. Ana Flávia, você está no meu hall de terapeutas sensíveis e admiráveis! É um 
prazer dividir a mesa e risadas com você! 
 Convidei a professora Larissa Abrão, doutora em Psicologia e Gestalt-terapeuta, 
para me ajudar na elaboração deste E-Book. Ela é uma das pessoas mais sensíveis que 
conheço - com quem tive a sorte de me casar - e alguém que me ajuda há bastante tempo 
a ser uma pessoa e uma terapeuta melhor. 
Um beijo em todo mundo, 
 
 
 
Gabriela Franco de Almeida 
Doutora em Ciências da Saúde e Psicóloga clínica 
Junho de 2020 
 
 
 
_______________ 
Sobre o nome “exercício de presença”: a primeira vez que vi essa expressão foi em uma publicação da Ana 
Flávia Manfrim, amiga citada acima. Ela escreveu espontaneamente, fruto de seu exercício pessoal, 
reunindo palavras a partir de coisas que já vinha estudando e pensando. Exercitar a presença é a 
possibilidade de nos situarmos em um momento (geralmente o momento presente) e nos entregarmos à 
experiência, prestando atenção nos afetos provocados. De forma semelhante, na Esquizoanálise, há o nome 
“experiência estética”. Nos escritos do Viktor Frankl, por sua vez, talvez pudéssemos identificar a 
expressão “valores de experiência” (ou “valores de vivência”). Por fim, outra expressão de significado 
semelhante e que muito me toca, foi criada pelo Paulo Brabo e é apresentada na ilustração de um homem 
bebendo café: “a disciplina da pausa”. Se você conhecer mais expressões com significados parecidos, fique 
à vontade para compartilhar comigo. 
 
9 
 
 
INSTRUÇÕES DE LEITURA 
 
1) Comece pela introdução acima. 
2) Como este é um livro interativo, tenha sempre em mãos papel e caneta para fazer os 
exercícios sugeridos. Quem acompanha o Nosso Gabinete provavelmente já tem um 
caderninho separado para o aprimoramento na clínica, né?... 
3) Achamos importante ressaltar que todo este livro é pensado a partir de uma pergunta: 
“Como melhorar a presença e a escuta?”. 
4) Às vezes nos utilizamos da palavra cliente e outras nos utilizamos da palavra paciente. 
Mas, não se preocupe, elas não carregam aqui nenhuma diferença. 
5) Se você é iniciante na Psicologia e ainda não atendeu, também não se preocupe: faça 
os exercícios pensando em conversas importantes de seu cotidiano. 
6) Se suje com esses exercícios. 
 
 
 
 
 
 
 
UMA NOTA: Somos muito atentas às questões de gênero que atravessam a linguagem e 
pra que esse não seja um texto que vai te cansar com vários malabarismos linguísticos 
buscando contemplar os gêneros masculino e feminino na redação (p.ex., terminar as 
frases com o/a), vamos considerar o fato de que a psicologia é uma profissão 
majoritariamente feminina, que ainda somos um pouco menosprezadas pela gramática e 
vamos assumir nossa conversa aqui usando o gênero feminino pra nos dirigirmos a você, 
terapeuta. Isso não quer dizer que queremos dialogar apenas com psicólogas! Vocês, 
rapazes, são muito bem-vindos, mas caso se sintam excluídos no estilo redacional, 
aproveitem pra já começar um exercício importantíssimo na clínica: a empatia. 
 
Boa leitura pra todas! 
 
10 
 
EXERCÍCIO DE PRESENÇA 01 – COMO O MEU CORPO ACOLHE A 
CONVERSA? 
 
Para realizar um atendimento clínico nos paramentamos de intervenções e 
recursos. Estamos com a teoria prontinha na cabeça ou desesperados procurando alguma 
frase de efeito. Mas, antes até da palavra, falemos do corpo e de suas gentilezas. 
 Conta-se uma história interessante do ex-Presidente dos Estados Unidos, o 
Abraham Lincoln. A secretária o avisa da chegada de um homem que estava agendado 
para uma conversa e Lincoln se levanta, olha pela porta, e diz à secretária que não iria 
recebê-lo. A secretária se desculpa, mas ousadamente questiona: “Por quê?... Ele estava 
agendado”. O ex-Presidente explica sem rodeios: “Não fui com a cara dele!” A secretária 
insiste: “Mas senhor Presidente, com todo respeito, que culpa ele tem de ter a cara que 
tem?...” Lincoln responde: “Depois dos trinta anos, todo mundo tem culpa de ter a cara 
que tem”. 
Essa história está muito implicada com a perspectiva existencial, não é verdade? 
Caberia aqui uma pergunta: “E a participação desse homem em ter a cara que tem?”. 
A conversa aqui, terapeuta, está longe de ser uma conversa sobre beleza ou 
estética. É uma conversa sobre simpatia. 
Meu corpo acolhe o outro?... Como está a minha habilidade de acolhimento?... 
Enquanto escrevemos este material, estamos passando pela pandemia causada 
pelo Coronavírus e os psicólogos estão com um desafio: o atendimento on-line. Atender 
on-line permite que a gente se olhe durante todo o atendimento e isso é interessante 
demais. Enquanto escuto, como o meu corpo se posiciona? Transmito confiança? 
Transmito segurança? Corporalmente tolero a palavra vinda do outro? 
Bem, agora é com você... Papel e caneta em mãos, vamos para o primeiro 
exercício: 
A) Escolha uma conversa presencial que você considera muito especial. Pode ser 
uma conversa de trabalho ou uma conversa pessoal. 
B) Corporalmente, como você se posicionou nessa conversa?... 
C) Gaste um tempinho pensando em uma pessoa que te deixa super à vontade. 
Não vale namorad@ ou “ficante” (porque a ideia aqui não é a de erotização). 
Corporalmente, como essa pessoa age com você? 
D) Provavelmente você conhece vários psicólogos. Corporalmente, o que te 
incomoda ou o que te chama atenção positivamente? 
 
11 
 
E) Considerando unicamente sua postura corporal, como um paciente saberia que 
você o está acolhendo? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
EXERCÍCIO DE PRESENÇA 02 – É PRECISO LER ADÉLIA PRADO (E 
QUINTANA, LEMINSKI, DRUMMOND...) 
 
Copiamos aqui o poema que foi citado lá na nossa introdução, Ensinamento. É de 
Adélia Prado e está no livro Bagagem, de 1975. Não tenha pressa em passar por ele. 
Minha mãe achava estudo 
a coisa mais fina do mundo. 
Não é. 
A coisa mais fina do mundo é o sentimento. 
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, 
ela falou comigo: 
"Coitado, até essa hora no serviço pesado". 
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente. 
Não me falou em amor. 
Essa palavra de luxo... 
 
A poesia está cheia de delicadezas e fala bem fundo das nossas humanidades, por 
isso nos ajuda muitíssimo na clínica. 
Poesia não precisa ser escrita, nem dita, ela está nas miudezas, nos gestos, nos 
olhos. O outro, que recebe a sua poesia, muitas vezes não vai saber nomeá-la assim (nem 
é necessário), mas vai reconhecê-la. 
E não é só você, a poeta. Também é preciso enxergar a poesia no seu paciente, no 
seu interlocutor. Às vezes ela vai estar num abraço mais demorado que seu paciente te dá 
e que contém ali, no gesto, muitas lágrimas, muitos “obrigados” e a sensação de ter sido 
visto e de estar te dando um presente que não se descreve. 
A poesia treina a alma para traduzir o que não cabe no ordinário do verbo. Então, 
demore-se nas poesias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
EXERCÍCIO DE PRESENÇA 03 – AS PALAVRASE A MELODIA SÃO UM 
CONVITE 
 
A vida é curta demais para 
contentar-se com palavras. 
E difícil demais, porém, 
para dispensá-las. 
(André Comte-Sponville) 
 
Quando estamos diante da leitura de um texto ou dentro de uma conversa, a 
palavra nos convida a habitar novas percepções, novos espaços, novos entendimentos e 
isso pode ser mais profundo à medida que pensamos sobre os termos escolhidos. Numa 
música, não apenas a palavra nos convida, mas a melodia (que é o seu conjunto de sons). 
E aqui vai um alerta: as conversas também têm melodias. 
Você já pensou em como escolhe a sua prosódia ao falar com seu paciente? A 
prosódia é o ritmo, a melodia da fala. O que você acentua quando fala? Qual a tônica e, 
portanto, a energia empregada no seu jeito de se colocar? Isso faz diferença, por exemplo, 
para dizer que você acolhe, que presta atenção, que está viva diante do que te contam. A 
prosódia produz reações, inclusive corporais, no interlocutor. Uma ilustração disso são 
aquelas sessões em que o paciente sai dizendo que ali, na conversa com você, é o único 
momento do dia em que ele se sente entendido. Por que será? Claro que não se trata só 
da prosódia, mas comece a tomar consciência de como você fala. Certamente, vai 
perceber que esse elemento é mais significativo do que você imaginava. 
Com relação à fala do paciente, enquanto terapeutas precisamos (ou deveríamos!) 
estar atentos à linguagem que ele usa e ao jeito como fala. Algumas perguntas precisam 
ser feitas diretamente ao longo das sessões, em nossos rascunhos ou reflexões futuras: 
Por que o paciente usou a palavra X e não a palavra Y? 
Uma sugestão: Quando essa dúvida surgir, pergunte ao seu paciente. Isso é 
importante, pois o convida a repensar de um jeito prático o uso das palavras e, na vida 
dele, nas conversas diárias, pode alterar o rumo de muitos conflitos. 
Bem, agora é para você se exercitar... 
A) Puxe em sua memória uma de suas últimas conversas 
“conflituosas”. Qual era o tema da conversa? 
B) Como você entrou nesse diálogo? (aflito, irritado, calmo...) 
C) Como seu interlocutor soube que você entrou dessa forma? 
 
14 
 
D) Qual era a sua expectativa sobre seu interlocutor? 
E) Qual era a expectativa de seu interlocutor sobre você nessa 
conversa? 
F) Repassando esse diálogo em sua cabeça, como você escolheu as 
palavras para habitar essa conversa? 
G) Se você pudesse trocar algumas palavras, quais palavras você 
trocaria? Existiria outra forma de dizer o que você gostaria? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
_________________________________ 
COMTE-SPONVILLE, A. Bom dia, angústia! São Paulo: Martins Fontes, 1997. 
 
 
 
15 
 
EXERCÍCIO DE PRESENÇA 04 – ATENÇÃO ÀS EXPECTATIVAS E ÀS 
POSIÇÕES 
 
No exercício 03, especialmente nos itens C), D) e E), quisemos insinuar o óbvio: 
as tais das expectativas... E como elas são perigosas, não? 
Num diálogo, a expectativa muitas vezes nos coloca lentes para enxergar o outro 
e, a partir dessas lentes, estabelecemos posições para as pessoas. Explicaremos melhor 
esse tal conceito de posição: cada frase carrega em si algo não só sobre mim, mas sobre 
como enxergo o outro. Portanto, quando falo, estou estabelecendo lugar para esse outro 
existir diante de mim. Aqui, cabe um repeat: nos diálogos, estou constantemente 
estabelecendo e negociando lugares para esse outro existir diante de mim. Se falo de um 
jeito, posso colocar essa pessoa numa posição mais ou menos confortável, o que vai 
provocar uma reação do meu interlocutor. 
Para exemplificar e chegar diretamente ao ponto, a Gabi tem uma história 
importante do consultório. 
O paciente Guilherme (nome fictício) conta que a esposa é muito autoritária e em 
muitas conversas complicadas, ele acaba explodindo. A expectativa dele que comumente 
aparecia em relação à esposa nos diálogos, é a de que ela era controladora, dominadora. 
Consequentemente, ela se irritava, também explodia, e a conversa acabava gerando uma 
briga e algumas noites mal dormidas. Guilherme a descrevia unicamente como 
controladora e ele entrava em muitas conversas se colocando assim, como o sufocado. 
Portanto, qual era o espaço que ele oferecia para ela existir nessa conversa?... Ela poderia 
ser outra coisa?... A expectativa dele enrijecia tanto a posição dela que parecia não haver 
espaço para outro funcionamento. Além disso, ele estava muito focado em uma única 
descrição sobre ela: “A minha esposa é controladora”. 
Olhando melhor para as necessidades de Guilherme (quais eram essas 
necessidades? Haveria alguma outra forma de cuidar disso?), ele começa a perceber o 
quanto se coloca pouco participativo em muitas situações. Nesse sentido, outra descrição 
para a esposa acontece: ela precisa acionar muitas vezes o modo cuidadosa, zelosa, 
superprotetora, que se confundia para Guilherme com o modo controladora. 
O que acontecia nos diálogos entre eles, então, era que Guilherme já esperava que 
a esposa se comportasse sendo controladora, pois era assim que ele a via. Esta era uma 
cristalização da posição da mulher tecida por ele – não quer dizer que ela era de fato isso 
e apenas assim. Diante desse controle que o paciente atribuía à esposa, ele se encolhia, 
 
16 
 
pois já imaginava que ela não lhe permitiria participar e, com isso, abria mais espaço para 
o controle dela. Esse modo de se enxergarem, com posições rígidas e expectativas pré-
definidas de comportamento, criava um círculo vicioso de insatisfação um com o outro e 
só reforçava os enrijecimentos. 
Então, tendo dito tudo isso, vamos exercitar: 
A) Escolha uma conversa conflituosa para repensar aqui - talvez essa 
possa ser a mesma conversa escolhida no exercício 03... Como a sua expectativa 
te coloca lentes para enxergar esse outro? Que lentes são essas? 
B) Quais necessidades suas te ajudaram a construir essas lentes? 
C) Qual lugar você estabelece para essa pessoa existir? 
D) Como é o conforto desse lugar para você e para ela? 
E) Negocie essa expectativa com você: como você poderia cuidar 
melhor dessas suas necessidades mencionadas no item B)? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
EXERCÍCIO DE PRESENÇA 05 – TODA PLANTA TEM COLO 
 
Toda planta tem colo, pode reparar. Olhe atentamente para alguma... O que 
aconteceria se numa mágica você se aninhasse ali?... O que aconteceria se numa pausa, a 
gente, de fato, só tomasse um café enquanto observa e acolhesse essas miudezas que 
insistimos em atropelar? 
O quanto nossas certezas e costumes nos impediriam de experimentar novas 
porções da vida?... Quantas sensações potentes poderíamos experimentar se a gente 
topasse um dia de sol?... Se a gente se afagasse no movimento e reparasse mais no que há 
fora?... 
Do jeito que o mundo vem se organizando, o convite é para produzirmos e 
consumirmos mais, muitas vezes sem o filtro do próprio desejo. Por isso é preciso, muitas 
vezes ao dia, parar para perceber se estamos mesmo presentes naquilo que fazemos. Buber 
falava da relação Eu-Isso que estabelecemos nos diálogos e o que ele quer dizer com esse 
termo é que objetificamos muito das nossas relações cotidianas, transformando o contato 
em automatismo útil, sem que o encontro autêntico aconteça. 
Além do Buber, Frankl também nos ensinou muito sobre isso e sugerimos que 
você veja as videoaulas sobre eles lá no Nosso Gabinete no YouTube. 
Um minuto a mais na obviedade automatizada e a gente não viu, não viveu. 
Sair das obviedades, se desapegar de conceitos, repensar certezas. É isso o que 
Manoel de Barros nos propõe em Uma didática da invenção, olha só... 
 
Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber: 
a) Que o esplendor da manhã não se abre com faca 
b) O modo como as violetas preparam o dia para morrer 
c) Por que é que as borboletas de tarjas vermelhas têm devoção 
por túmulos 
d) Se o homem que toca de tarde sua existência num fagote, temsalvação 
e) Que um rio que flui entre dois jacintos carrega mais ternura que 
um rio que flui entre dois lagartos 
f) Como pegar na voz de um peixe 
g) Qual lado da noite que umedece primeiro 
Etc 
Etc 
Etc 
Desaprender oito horas por dia ensina os princípios 
 
18 
 
 
Depois da ajuda do Manoel, vamos para o nosso exercício... 
A) No poema a gente se sente meio embaralhado, não é? Parece que 
não entendemos direito porque o autor nos convida a desaprender; a 
desacostumar, a dar outros lugares para as coisas que habitualmente estamos 
acostumados demais. O exercício, então é... Qual automatismo você poderia 
quebrar? O que você poderia inserir ou retirar de sua rotina que te ajudaria a 
quebrar esse automatismo? 
 
(Um alerta: se na nossa agenda não cabem quinze minutos de 
contemplação ou de meditação ou de leitura ou de carinho nas plantas ou em 
seus bichos, muita coisa precisa ser revista. O “colo das plantas” também é 
saúde mental.) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
______________________________ 
BARROS, M. O livro das ignorãças. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1993. 
 
 
19 
 
EXERCÍCIO DE PRESENÇA 06 – NÃO MATE CONVERSAS, FAÇA BOAS 
PERGUNTAS 
 
Que mania a gente tem de encher tudo com as palavras - mas nem sempre com as 
melhores palavras, não é mesmo? Podemos trocar muitas afirmações, julgamentos e 
conflitos por boas perguntas, mas muito frequentemente estamos interessados em ter 
razão e funcionamos de forma maniqueísta: “X é melhor que Y”; “Se eu estou certa, logo, 
ela está errada”. Numa tentativa de amenizar as coisas, a gente pode sacar de uma 
costumeira pergunta: “Você quer ter razão ou ser feliz?” 
Aqui em casa nós adoramos a frase do Paulo Brabo: “Não quero partir do 
pressuposto que um de nós esteja certo e o outro errado, apenas porque discordamos”. 
Ela combate qualquer recurso infantil de polarizar. Não é preciso concordar sempre, eis 
o clichê salvador dos mundos e das relações. Podemos caber todos... Garçom, mais uma 
cadeira, por favor. 
Citamos esse exemplo claramente conflituoso e maniqueísta, de “X ser melhor 
que Y”, mas rotineiramente perdemos a chance de nos encontrarmos com as pessoas e de 
criarmos mais possibilidades de diálogo toda vez que matamos uma conversa com 
afirmações (e certezas). 
As perguntas nos ajudam a demonstrar disposição para estar com o outro: 
funcionam como tentativa de compartilhar entendimentos e curiosidade. A gente 
conversa melhor com as perguntas. Posicionar-me com as perguntas me ajuda e ajuda o 
outro a repensar certezas, evitando muitas confusões. Que coisa boa é mudar e ampliar 
uma ideia. Assim o mundo muda para a gente e as mesmices tediosas podem ser vencidas. 
Guarde uma coisa: se você fizer uma afirmação radical, ela pode matar a conversa. 
Se você fizer uma pergunta, por outro lado, ela pode abrir muitas possibilidades, gerando 
um repensar e uma novidade. Isso costuma gerar uma agradabilidade, pois na curiosidade 
queremos habitar; costuma ser gostoso. 
Uma colocação que Larissa sempre usa para que um pensamento possa ser 
compartilhado com o paciente, sem que isso se apresente como uma interpretação 
autoritária, é algo do tipo: “o que você me fala me leva a pensar que... O que te parece?”. 
Mas, cuidado. Sua pergunta demonstra e gera curiosidade ou ela é simplesmente 
para você reafirmar certezas, razões e demonstrar o quanto sabe sobre algo? No 
consultório devemos cuidar para que as intervenções afirmativas não sejam confundidas 
com intervenções interrogativas. Veja só... Podemos perguntar para o paciente: “Isso é 
 
20 
 
bom, não é?”. Se fizermos isso, nos adiantamos oferecendo um sentido, entregando com 
a pergunta a resposta desejada, ideal. No fundo, então, essa intervenção não é uma 
intervenção interrogativa, e sim afirmativa. Uma pergunta melhor, para esse exemplo, 
seria: “Como é isso para você?.”. Há uma diferença gigante aqui. 
Também é necessário que a suspensão das reações rápidas e óbvias seja uma regra. 
Uma das situações clínicas vividas pela Larissa pode servir de exemplo: um paciente e 
sua esposa estavam tentando ter um filho há algum tempo, sem sucesso. Numa sessão, 
logo ao chegar, ele contou: minha esposa está grávida. Talvez, num primeiro ímpeto, a 
reação da Larissa pudesse ser de alegria, ou de apresentar as felicitações, especialmente 
por se tratar de uma batalha do casal. Mas, a escuta atenta da frase (que reúne, também 
elementos do exercício 03, já mencionado), a percepção da baixa energia envolvida no 
relato da notícia, levou a uma outra reação da terapeuta, que foi simplesmente a de 
perguntar: “e como você está se sentindo?”. Essa pergunta, que não pressupôs a felicidade 
do paciente, permitiu que ele falasse de todas as dúvidas e ambiguidades que estava 
vivendo com um fato tão aparentemente desejado. 
É preciso encontrar perguntas úteis para construirmos as diferenças que desejamos 
em determinadas conversas. 
Nesse clima, resolvemos propor a tarefa em forma de pergunta: Vamos para o 
exercício agora? 
A) Puxe em sua memória e anote uma situação em que você ou alguém 
te perguntou algo, mas não houve de fato interesse pela resposta. Como você sabe 
que não houve interesse pela resposta? 
B) Agora puxe em sua memória uma conversa em que a pergunta foi 
feita e houve interesse pela resposta. Como você sabe que houve interesse pela 
resposta? 
C) Na situação A e na situação B houve diferença na forma como a 
pergunta foi elaborada? 
D) Quais são as perguntas mais agradáveis para fazer e para ouvir? 
Como essas perguntas são feitas? Elas geram curiosidade e a conversa se 
transforma em mais gostosa ou matam a conversa? 
E) No seu cotidiano, escolha alguém para treinar (essa pessoa pode ou 
não ser avisada). Experimente habitar nesse diálogo com curiosidade, sem achar 
que entendeu tudo rápido demais. Boas perguntas precisarão ser elaboradas 
inevitavelmente. 
 
21 
 
 
EXERCÍCIO DE PRESENÇA 07 – FIQUE COM A GENTE NESTE TEXTO 
SOBRE O BUBER 
 
Todo viver verdadeiro é encontro. 
(Buber) 
 
Martin Buber é um autor muito importante para a psicologia e oferece para a 
prática clínica a noção do dialogismo. O dialogismo nos permite tomar a terapia como 
diálogo, como conversa, e isso significa dizer que o terapeuta não se coloca acima, como 
quem sabe mais, mas curioso para ouvir e aprender com o cliente sobre os fenômenos - 
daí a importância das boas perguntas. No dialogismo a teoria não é dada a priori, antes 
do paciente e do encontro terapeuta-cliente. É preciso encontro, é preciso conversa, é 
preciso presença, e a verdade não está na fala do terapeuta oferecida em uma 
interpretação, por exemplo. 
Sobre o encontro, Buber é bastante enfático ao dizer que ele só acontece “pela 
graça”. Significa que quanto mais a gente procura o encontro e, quanto mais você, como 
terapeuta, procura se conectar e dizer coisas impactantes para causar boa impressão, mais 
artificial você corre o risco de ser e, consequentemente, mais distante estará do encontro. 
O terapeuta oferece como devolutiva a sua compreensão (“Interessante, eu não 
entendi assim...”) e outras novas perguntas (“Como você imagina que seria?”; “O que te 
faz pensar isso?”) que convidam o paciente a uma nova percepção. Afinal, é nossa função 
não fazer descansarem as certezas. 
Como a mudança vem, então? Ela vem a partir desse movimento de jogar luz ao 
fenômeno contado. Poder (re)pensá-lo de outra forma, de outro lugar, com outra pessoa. 
As percepções e descrições não são estáticas, estão constantemente em negociação com 
as palavras, com o tempo, com os novos acontecimentos, com o compartilhar da 
experiência. Ao nos oferecer a sua experiência, o cliente tenta apresentar o fenômeno com 
a perspectiva que tem no aqui-agora. São as nossas intervenções que podem oferecer 
outros jeitos de olhar, outras respostas e posições e, assim, permitem ao cliente sair da 
condiçãode solidão. Nesse tempo-espaço em que estamos genuinamente juntos, o que há 
de mais sagrado em meu cliente, toca o que há de mais sagrado em mim. 
Voltando ao Buber e à sua história que muito influenciou sua teoria, ele passou 
vinte anos afastado de sua mãe e em seus relatos revela que passou esse tempo procurando 
o encontro com ela. Quando finalmente se viram, uma frustração acontece: não foi como 
 
22 
 
imaginado, como ele havia “treinado” em seus pensamentos e expectativas. Tudo o que 
ele escreveu sobre encontro autêntico tem relação, então, com esse momento de aguardar 
o retorno da mãe. A reparação não acontece, há um encontro de certa maneira frio e ele 
percebe a artificialidade. Ele esperou demais por esse momento, ensaiou como deveria 
ser e as coisas no mundo real não fluíram. Buber aposta que o verdadeiro encontro só 
existe na manifestação do autêntico entre as coisas. Sendo assim, ou as pessoas se 
encontram ou não se encontram. A noção de encontro tem muita relação com a noção de 
autenticidade: duas autenticidades se tocam e podem existir ali. 
Tendo dito tudo isso e fazendo uma transposição para a nossa construção enquanto 
psicólogas clínicas, resgatamos aqui a fala da Larissa em um vídeo sobre o Buber no 
Nosso Gabinete (perdão pelo “merchan”!): “Se quero ser a terapeuta que vai tocar e dizer 
tudo, o terapeuta perfeito (...) me afasto de uma autenticidade para entrar num papel.”. 
Certamente a gente aprende a ser terapeuta com a experiência de outros, com a 
vivência na clínica enquanto paciente de outros psicólogos, com as leituras, com os 
vídeos, com os cursos, com as referências que nos inspiram. Mas ninguém pode ser o 
terapeuta que você tem se tornado, só você. 
Só a sua experiência pode contribuir com alguma diferença no mundo. Sim, tem 
uma porção que só você pode fazer. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
___________________________ 
BUBER, M. Eu e tu. São Paulo: Centauro. 8 ed., 2001. (Originalmente publicado em 1923) 
 
 
 
23 
 
EXERCÍCIO DE PRESENÇA 08 – JOGUEMOS NO TIME DO JORDAN 
 
O Exercício 07 pode te conectar com uma insegurança: Tem muita gente melhor. 
OK, “ela” pode ser melhor, mas, o que a gente vai fazer enquanto isso? Algumas 
outras perguntas talvez te ajudem a repensar... Você só conta sobre o mundo a partir 
desses conceitos de “melhor” e “pior”? Só dá pra descrever assim? 
Se você ainda não pegou a referência do título, “Jordan” é o Michael Jordan do 
basquete. Basta uma olhada rápida na Internet para você ver o cara voar e descobrir que 
ele foi um gigante, talvez tecnicamente o melhor até agora. Mas, e quantos outros caras 
precisaram também jogar para o basquete acontecer? 
Na história sobre Jordan e seu time, ouvimos as pessoas em volta contarem que 
precisavam batalhar por um espaço próprio ao coabitarem com um jogador tão genial. Aí 
entra a atitude a ser tomada por você: encontrar seu território de potencialidades 
particulares. Jordan era incrível nos dribles, ficava no ar mais segundos do que todos os 
seus colegas e adversários e tinha um poder enorme de liderança dentro do time, mas era 
absolutamente suscetível ao ímpeto competitivo e tinha um modo de exortar os colegas 
que beirava ao assédio moral. O que isso traduz, então? Que ninguém é genial em todas 
as habilidades e que não vai funcionar se você quiser simplesmente se igualar ao outro 
fazendo “como ele”. Se estamos falando aqui do quanto o autêntico é importante na vida 
do seu cliente, isso serve para você também. Seja a melhor terapeuta que você consegue 
a partir das SUAS habilidades, do SEU conhecimento de si. O parâmetro competitivo 
pode ser fundamental no esporte, por exemplo, onde há de fato uma competição, mas na 
sua profissão, cabe perguntar: você está competindo com quem? Descobrir seu próprio 
potencial tem que fazer sentido para você, não pra uma convenção social. 
De novo, a gente se repete: sim, tem uma porção que só você pode fazer. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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EXERCÍCIO DE PRESENÇA 09 – FAZER-SE PRESENTE NA AUSÊNCIA 
 
Escrevemos a crônica abaixo depois de uma experiência bonita, em junho de 2020. 
O título é “Bolo na terapia em tempos de pandemia”. 
Oito horas e um minuto, envio mensagem para Artur (nome fictício): “Estou 
pronta, pode me ligar quando estiver disponível”. Espero e nada. Oito horas e dez 
minutos, mas Artur não retorna... Começo a pensar: “O que houve?...” 
Em nossa última sessão, ele me conta que estava se sentindo muito cansado. Esse 
não era um relato inédito, tampouco o cansaço de Artur era inédito. Lembro-me disso e 
desejo que ele estivesse dormindo. 
Oito horas e vinte minutos... e nada de Artur. 
De cá, do celular, velo o silêncio e o possível sono dele. 
Artur me conta mais tarde que estava dormindo e compartilho que fiquei de cá 
torcendo por isso. Para ele, certamente não poderia ter algo mais terapêutico. 
 
Depois de ler o relato acima, te convidamos para o exercício de se colocar presente 
na ausência. Isso significa ser capaz de dividir com seu cliente aquilo que não 
necessariamente está no mesmo espaço-tempo que ele. Nesse momento das nossas vidas 
profissionais, muitas de nós são convidadas a experimentar atendimentos por uma 
plataforma virtual, por um outro tipo de mediação. É um desafio para quem está 
acostumada com o corpo físico, e não só com a imagem, com os cheiros, com a 
possibilidade do abraço depois de uma sessão doída. A despedida na sessão virtual é mais 
abrupta, com um clique a pessoa desaparece. 
 Não queremos defender aqui uma tutela ou confluência, além disso, sabemos que 
a distância não é definida apenas pela tecnologia. Com a crônica sobre o bolo desejamos 
nos lembrar da ressonância. A ressonância te conta o que é preciso e com isso permite 
que as questões daquela pessoa a quem você assiste reverberem, te ocupem e te iluminem. 
Como você poderia realizar a presença apesar da ausência? Escolha pelo menos 
um cliente, ou uma pessoa querida para oferecer essa presença. Seja criativa. 
 
 
 
 
 
25 
 
EXERCÍCIO DE PRESENÇA 10 – REPETIR O TRECHO COMPLICADO 
 
Numa ida ao YouTube, digite “De samba e flor – Marcos Paiva Sexteto & Kivitz”. 
São sete minutos de jazz, rap, poesia e convocação, no registro de um ensaio. Se em 
algum momento a música em questão for retirada do ar, escolha outra do Kivitz (ou de As 
Bahias e a Cozinha Mineira... ou do eterno-maravilhoso Caetano). 
Fica uma pergunta, o quanto é possível captar da música, das notas, da poesia ali 
cantada? Ouvidos treinados o fazem, não sem atenção; não sem repetição. Um professor 
de música é capaz de ouvir nuances que nós não conseguimos e se você já tocou algum 
instrumento, poderá atestar: é preciso treinar repetindo aquele trecho complicado algumas 
vezes até que ele se torne mais fácil e exequível. Aí está um dos desafios da clínica, pois 
nem sempre tudo o que o paciente diz é inteligível naquele momento. Às vezes, a gente 
pensa que compreendeu, como diante de um quebra-cabeça do qual, por enquanto, só 
temos algumas partes. O sentido vai aparecendo à medida que juntamos outras peças. 
Para acontecer assim, é preciso não ignorar o que parece complicado ou dissonante e 
entregar-se ao que você ainda não entendeu, o que envolve, também e sempre, mais 
estudo e mais disposição de alma. 
Alguns abandonam o desafio e ficam estagnados na repetição das músicas que já 
sabem tocar. Nossa amiga queridíssima e terapeuta analítico-comportamental, Graziela 
Siebert, diria: “É preciso ampliar o repertório”. 
Isso posto, vamos para o exercício reflexivo?... 
A) Em sua jornada de tornar-se terapeuta, qual seria esse “trecho 
complicado” do momento? Identificar esse “trecho” é importante porque muitas 
vezes a gente nem reconhece a paralisação que vivemos. 
B) Como você pode cuidar melhor dele? Qual o seu plano para ele? 
C) Quem pode te ajudar nisso? Como? 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
EXERCÍCIO DE PRESENÇA11 – QUAL O SOM DAS COISAS? 
 
Ainda no clima de música do exercício anterior, queremos te contar sobre o nome 
de nossa clínica em Uberlândia, inspirado também por uma canção do Caetano, Terceira 
Margem do Rio. O texto de apresentação é o seguinte: 
O Senhor sabe o que é o silêncio? 
É a gente mesmo, demais. 
(Trecho de Grande Sertão: Veredas – Guimarães Rosa) 
 
Essa frase de Guimarães Rosa vem de ‘Grande Sertão: Veredas’ 
e, ao falar da existência de todos nós pelo verbo do jagunço 
Riobaldo, fala daquilo que também é matéria do ofício do 
psicoterapeuta: o não-dito. Se a palavra nos é importante e conta 
do universo simbólico que nos compõe, a margem da palavra tem 
a mesma importância e revela de nós tanto quanto aquilo que 
pronunciamos. À sua margem transitam ainda outros elementos 
do trabalho terapêutico: as sinuosidades do que se fala e o 
sentimento que isso provoca, o corpo, e o próprio terapeuta, 
como um co-viajante. É daí a ideia de um barco que possa singrar 
os veios, os desvãos do que vai pela alma do paciente. Então, 
numa homenagem a tudo o que podemos ao margear a palavra, 
apresentamos nossa proposta de intervenções psicoterapêuticas, 
numa clínica que decidimos nomear como “Margem da 
Palavra”. 
 
Durante as sessões, podemos ouvir o relato do cliente de diversas formas. Aliás, 
um relato pode ser contado e ouvido de diferentes maneiras. Se me posiciono para escutar 
como terapeuta, minha escuta é diferente da escuta de amiga, da escuta de esposa, da 
escuta de mãe. Mas, muitas vezes, é preciso sair da escuta de terapeuta para ouvir além. 
Nesse sentido, é importante convidarmos o cliente para se ouvir e falar de diferentes 
posições. Na clínica, por exemplo, há aquele experimento interessante de troca de lugares, 
que na Gestalt-terapia leva o nome de “Cadeira Vazia”: por alguns momentos a gente 
pede para o cliente sentar-se em nossa poltrona e se ouvir um pouco. Nessa proposta, 
você pode pedir ao paciente para que se ouça, por exemplo, como sua mãe ou como seu 
marido. Essa é a segunda etapa do experimento, depois que o cliente já dirigiu suas 
palavras à poltrona vazia, como se ali houvesse uma pessoa a quem ele quer falar e não 
consegue. Após ter dito o que desejava, o cliente se coloca no lugar daquele para quem 
ele falou. O convite feito na Cadeira Vazia, portanto, é para desbloquear os não-ditos, 
 
27 
 
mas é também para ouvir: o cliente se senta no lugar da pessoa a quem direcionou sua 
fala, de modo, agora, a ouvir o que foi dito a partir de uma outra perspectiva. Ouvir sempre 
de um mesmo lugar, sempre de um mesmo jeito, é perigoso demais. 
Aqui, o exercício é: tem muita coisa para ser ouvida para além do aparente, mas, 
com quais ouvidos a gente ouve? 
A) Faça um relato de uma sessão (ou de uma conversa do cotidiano). 
O que foi ouvido apressadamente? O que se perdeu enquanto vocês olharam só 
para o aparente? 
B) Como seria implantar o recurso apresentado acima nessa conversa? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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EXERCÍCIO DE PRESENÇA 12 - SEMPRE QUE PUDER OU ACHAR 
NECESSÁRIO, REVISITE “TABACARIA” 
 
Não sou nada. 
Nunca serei nada. 
Não posso querer ser nada. 
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. 
(Trecho de Tabacaria – Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa) 
 
Fernando Pessoa, com o heterônimo Álvaro de Campos, escreveu coisas lindas 
demais para serem lidas apenas uma vez ou para ficarem resumidas nesses quatro versos. 
É preciso ler Tabacaria. Você vai descobrir por quê. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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EPÍLOGO 
 
Antes de vocês ir embora, quero dividir uma última curiosidade sobre a confecção 
dessas páginas. Quando a Gabi me apresentou a ideia do livro e me fez o convite para 
escrevermos juntas, eu me lembrei de uma história lida há muito tempo, provavelmente 
no livro “O Mercador e o Papagaio” (de Nossrat Peseschkian) informação que não vou 
conseguir checar porque não o tenho mais (perdeu-se num dos meus muitos 
“empréstimos”). A história, com todas as falhas de memória que o tempo produz, contava 
algo próximo disso: 
Um grupo de cientistas havia descoberto um navio muito engenhoso e nenhum 
dos especialistas convidados conseguia colocar a embarcação em marcha. Engenheiros 
náuticos de toda parte do mundo chegavam lá, faziam cálculos, usavam seus dispositivos, 
suas máquinas e até punham as engrenagens para funcionar, mas o navio não dava de si, 
não saía do lugar. Esse era o mistério: por que é que mesmo com tudo em funcionamento, 
a engenhoca não se movia? 
Quase desistindo do intento, alguém se lembra do seu Zé Canoeiro, que já havia 
construído muitos barcos, navegado por muitas águas, estado em muitos navios de grande 
porte e ajudado em muitas casas de máquinas de naus variadas por aí afora. Obviamente, 
os cientistas desmereceram a participação dele, alegaram que as embarcações que ele 
construíra eram todas muito singelas e que nas outras mais complexas onde ele estivera, 
sua função era a de um simples operador, portanto, ele deveria entender apenas de fazer 
jangadas e canoas ou de obedecer a ordens nas casas de máquinas. Discussão de cá, de lá 
e resolvem que não havia nada a perder com essa tentativa, até porque o homem era da 
localidade mesmo, estava à mão. Chamam, então, seu Zé Canoeiro. 
Eis que ele entra na casa de máquinas do navio e não calcula nada, não leva um 
dispositivo sequer. Ele passa horas ali ouvindo e observando as engrenagens roncarem. 
No pequeno embornal que ele tinha levado, uma ou duas ferramentas. De repente, seu Zé 
Canoeiro tira do embornal um martelinho, chega bem perto da junção de uma engrenagem 
com uma tubulação qualquer e dá uma martelada. Pronto, o navio se move! O preço do 
conserto: 10 mil reais. A equipe acha um absurdo! 
- Mas o senhor é canoeiro, não tem estudo, não tem 
ciência, quer cobrar 10 mil por uma martelada?? 
Ao que ele responde: 
 
30 
 
- Não, moço. A martelada custou só 5 reais. O restante, 
estou cobrando porque eu sabia ONDE e COMO martelar. 
Se você chegou até aqui, imagino que tenha lido todo o livro. Então, quero te 
perguntar: qual o significado dessa história para nós, psicólogas, terapeutas, aprendizes 
do “funcionamento das relações"? 
Se você respondeu que a história fala do embate entre ciência e sabedoria popular, 
que a narrativa trata da necessidade de valorização do conhecimento que se faz pelas vias 
da experiência, está certo, mas não é isso, ainda, que mais me parece dialogar com o teor 
desse livro. 
Para mim, o que fez com que essa história me saltasse dos recôncavos da memória 
foi a importância do processo que o canoeiro escolhe. A sabedoria romantizada e mágica 
que o protagonista demonstra não é o que vai acontecer nos nossos consultórios, na nossa 
prática clínica, mesmo extra-setting. 
O que provavelmente vai nos ocorrer é que à medida que vamos estabelecendo 
um lugar como terapeutas, vamos entendendo que é o processo de estar junto com o 
paciente que importa. São a observação, a escuta e a entrega para o momento de estar 
diante de uma pessoa e seus fenômenos que podem nos garantir a possibilidade de 
iluminar aquele caminho. Por isso, escolhemos falar da presença e tudo o que envolve o 
ato de estar presente, como o canoeiro fez diante das engrenagens. 
Que nossa conversa com você reverbere e que, sobretudo, esse livro sirva para as 
suas próprias descobertas. 
Obrigada pela leitura! 
 
 
Larissa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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SOBRE AS AUTORAS 
 
GABRIELA FRANCO DE ALMEIDA 
 
Psicóloga, trabalha na perspectiva existencial-humanista e é idealizadora e 
produtora do projeto “Nosso Gabinete”, que começou como um canal do YT e página do 
Instagram voltados para a psicologia e é hoje um instituto de educação que oferece cursos 
voltados para a instrumentalização da prática clínica. Gabi tem mestrado edoutorado em 
Ciências da Saúde e além do trabalho clínico no setting da psicoterapia, atua como 
supervisora no contexto da clínica ambulante e saúde mental. Desde 2015 trabalha como 
professora universitária e atualmente é professora efetiva da Universidade do Estado de 
Minas Gerais (UEMG). 
 
 
LARISSA GUIMARÃES MARTINS ABRÃO 
 
Professora na UEMG desde 1997, concluiu seu doutorado em Psicologia pela 
UnB em 2009 e ama seus ofícios de professora e de terapeuta. Psicóloga com atuação 
em Gestalt-terapia, é pesquisadora na área de gênero e na psicologia clínica. 
Larissa Abrão é sócia-fundadora do Instituto Verus, instituição de formação em 
Gestalt-terapia. Até 2021, manteve com sua irmã Ludmilla, que é pedagoga, um canal e 
uma página no Instagram, intitulada “Prosa em Família”. Lá, se dispuseram a conversar 
sobre conflitos e processos de comunicação intrafamiliares. Atualmente, junto com a 
Gabi, é gestora do projeto “Nosso Gabinete” e comanda o quadro “Fala, Linduca!”. 
 
Aliás, um dos cursos no “Nosso Gabinete” que você precisa conhecer é o 
Conduções Clínicas, ministrado por Gabi e Larissa. Imagine que a mesma tonalidade 
usada aqui no livro, a mesma ênfase na proposta de esmiuçamento das intervenções 
clínicas estão lá no curso, de modo ampliado e detalhado. Há outros cursos também, para 
gostos variados! Só pra citar alguns do nosso catálogo: 
- Clínica da Existência 
- Facilitando a Clínica com Adolescentes 
-Cuidado Medicamentoso 
- Manejo de Conflitos 
-Terapia Narrativa 
 
32 
 
-Clínica do Amor 
E outros mais! 
 
Gabi e Larissa também fundaram em Uberlândia, em 2014, a clínica de Psicologia 
Margem da Palavra. 
Para trocas bonitas, mande um e-mail para: gabrielafrancoalmeida@hotmail.com 
ou larissapesquisas@hotmail.com 
Ficaremos felizes em receber um pouquinho da sua experiência com o E-book. 
 
 
 
 
 
mailto:gabrielafrancoalmeida@hotmail.com
mailto:larissapesquisas@hotmail.com

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